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INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação. ISSN 2179-7498 Volume 1| número 4 | dez. 2014

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INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação.

ISSN 2179-7498

Volume 1| número 4 | dez. 2014

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INTERESPE:

Interdisciplinaridade e

Espiritualidade na Educação

ISSN 2179-7498

volume 1 número 4 dez. 2014

============================================================= Publicação Oficial do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e

Espiritualidade na Educação (INTERESPE) – Educação: Fundamentos da Educação –

Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP.

=============================================================

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INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação Publicação Oficial do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (INTERESPE) - Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP Site: http://www.pucsp.br/interespe/ © Copyright 2014

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação / Grupo

de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação (INTERESPE) – Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade – v. 1, n. 4 (Dez.. 2014) – São Paulo: PUCSP, 2014.

Periodicidade anual, com possibilidade de números eventuais.

ISSN 2179-7498

.

As opiniões emitidas nas matérias desta Revista são de inteira responsabilidade dos seus autores. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, porém, deve-se citar a fonte.

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Revista

INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação

Editor Científico Ruy Cezar do Espírito Santo ([email protected])

Editora Executiva Herminia Prado Godoy (hermí[email protected])

Editores de seções Artigos e pesquisas: Herminia Prado Godoy (hermí[email protected]) Textos: Jerley Pereira da Silva ([email protected])

Narrativas: Mônica Vieira de Araújo Franco ([email protected]) Expressão corporal: Telma Teixeira Oliveira de Almeida ([email protected]) Expressão poética e simbólica: Simone Andrioli Andrade ([email protected]) Expressão artística: Gazy Andraus ([email protected]) Expressão musical: Jaime Paulino ([email protected]) Espaço aberto: Ana Maria Ramos Sanchez Varella ([email protected]) Convite a leituras: Flávio Bordezan ([email protected])

Pareceristas Ana Maria Ramos Sanchez Varella Elenice Giosa Flávio Bordezan Gazy Andraus

Ivani Catarina Arantes Fazenda Herminia Prado Godoy

Jaime Paulino Jerley Pereira da Silva Monica Vieira de Araujo Franco Rodrigo Mendes Rodrigues Simone Andrioli Andrade Telma Teixeira Oliveira de Almeida

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INTERESPE: Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação

ISSN 2179-7498

Publicação oficial do INTERESPE- Grupo de Estudos e Pesquisa sobre

Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação – Fundamentos da Educação – Linha

de Pesquisa: Interdisciplinaridade e Espiritualidade: PUC/SP.

R. INTERESPE, São Paulo, Volume 1, número 4, Dez, 2014

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SUMÁRIO

EDITORIAL............................................................ 08

ARTIGOS

1. EXPERIÊNCIA MÍSTICA OU LOUCURA? UMA DISTINÇÃO SOCIOCULTURAL? (Denise de Assis).............................................................. 2. INTER SUBJETIVIDADE, DISCIPLINARIDADE e ESPIRITUALIDADE: um tripé na nossa busca pelo Graal (Elenice Giosa)...............................................

3. A ETERNIDADE DO AGORA (Ruy Cezar do Espírito Santo)...................

PESQUISAS

PESQUISAS E PARECERES (Ruy Cezar do Espírito Santo e Herminia Prado Godoy).....................................................................................................

TEXTOS

1. BELEZA, ALEGRIA E AMOR (Ruy Cezar do Espírito Santo)....................... 2. O ESSENCIAL, UMA MENTE/CORPO APRENDIZ (Cristina Belfort).......

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NARRATIVAS

UM CACHORRO CHAMADO FÉ (Flávio Bordezan).........................................

ESPAÇO ABERTO

REFLEXÕES......................................................................................................

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EXPRESSÃO POÉTICA E SIMBÓLICA.

1. CRISES (Simone Andrade)............................................................................. 2. POR ONDE ANDEI?(M. Cristina Belfort)........................................................ 3. DESVELAR-SE: um caminho para o autoconhecimento (Simone Andrade).. 4. POESIA DO TEMPO (Marcos José Pires)....................................................

EXPRESSÃO MUSICAL

METAMORFOSE AMBULANTE. Autor: Raul Seixas (Jaime Paulino)............

CONVITE A LEITURAS

A EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE (EQM) PODE SER NARRADA? PODEMOS COMPREENDER A ESPIRITUALIDADE DOS ANIMAIS? (Flávio Bordezan)........................................................................................................

INDICAÇÃO DE FILMES

1. A CRIANÇA PORTADORA DE DISLEXIA OU TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM COM PREJU’IZO DA ESCRITA (Mônica Vieira de Araújo Franco)......................................................................................

. 2. PONTO DE MUTAÇÃO (Flávio Bordezan).....................................................

INTERESPE..................................................................

DIRETRIZES E NORMAS DE SUBMISSÃO E REVISÃO TÉCNICA

PARA AUTORES E PARCERISTAS........................................

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EDITORIAL

O presente editorial é mais um convite ao leitor para que perceba com a leitura desta revista o momento que lhe está sendo oferecido para que perceba o sentido significativo de sua presença neste momento da História.

Nada é “por acaso”, ao contrário, tudo aquilo que nos envolve é pleno de sentido, porém caberá a cada um “buscar tal sentido”, nas coisas mais simples, como por exemplo, a leitura desta revista.

A maioria dos leitores busca tão somente o entendimento racional, daquilo que está lendo, sem levar em conta a existência de permanentemente haver um “self” a ser integrado ao ego presente, em qualquer ato praticado. É aquilo que Amit Goswami em sua obra “O Ativista Quântico” denomina de encontro do Ser com o Fazer.

Cada momento de nossa Vida será visto como ato rotineiro e frequentemente descartável, porque somente nosso “self” consciente poderá voltar-se verdadeiramente para a busca do “sentido” referido...

A leitura de uma revista, no caso, poderá ser considerado uma “mesmice”, fruto de um “fazer” onde o Ser está ausente...

Assim, meu convite é que a leitura da revista ocorra num momento em que teu “Ser” esteja presente e você perceba então o “sentido” daquilo que está sendo lido.

Torne-se um “eterno aprendiz, na eternidade do Agora”.

Até Sempre.

Ruy1

1 Ruy Cezar do Espírito Santo: graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (1957),

mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Atualmente é professor titular da Fundação Armando Alvares Penteado; professor de graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professor na UNIMESP, no programa latu-sensu denominado "Docência do Ensino Superior". Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Auto Conhecimento na Formação do Educador, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, auto-conhecimento, formação do educador, fragmentação e transformações. É autor dos livros: Pedagogia da Transgressão (SP: Papirus, 1996); O renascimento do Sagrado na Educação (SP: Vozes, 2008) e Autoconhecimento na formação do educador (SP: Ágora. 2007) dentre outros. Contato: [email protected]

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ARTIGOS

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1 EXPERIÊNCIA MÍSTICA OU LOUCURA? UMA DISTINÇÃO

SOCIOCULTURAL?

Denise de Assis2

Entre um grande místico indiano nascido na província de Bengala em pleno século XIX e uma louca internada em Paris no serviço do professor Janet na mesma época, que relação pode haver? Por que comparar um santo altamente reconhecido, objeto de veneração coletiva e de sábios comentários e uma pobre delirante, enclausurada na Salpetrière porque dormia com Deus?

(CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.11)

Em 1989, o psicanalista indiano Sudhir Kakar, enquanto preparava um ciclo de conferências para a Universidade de Chicago, ao comentar incidentalmente sobre seu trabalho a respeito do grande místico Ramakrishna, chamou a atenção da filósofa francesa Catherine Clément, ao descrever seus sintomas. O livro de Pierre Janet (De l’angoisse à l’extase)3, que Catherine tinha em sua biblioteca, narrava a história da “louca” Madeleine, paciente de Janet por vinte anos, que apresentava fenômenos muito semelhantes ao do mestre indiano: êxtases, sintomas orgânicos e hábitos místicos. Havia apenas uma única diferença e que se constituía como viga mestra entre ambos: enquanto o místico vivia em Calcutá “como um santo venerado por todos, a doente francesa foi hospitalizada durante longos anos no hospital da Salpetrière, por delírio místico. O santo estava livre, a louca trancafiada” (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.14).

Este foi o ponto de partida para que Clément e Kakar se unissem com o objetivo de estudar A Louca e o Santo (livro publicado com este título em 1997), desde suas surpreendentes semelhanças até pequenas disparidades. Ramakrishna e Madeleine foram quase contemporâneos. Ramakrishna morreu em 1886 e Madeleine foi internada no hospício da Salpetrière em 1896 (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.15).

O verdadeiro nome de Madeleine não é conhecido, mas foi uma “louca” tratada por Pierre Janet durante 20 anos. Autodenominava-se “O Bode”, para expiar os pecados do mundo. Madeleine atingia o estado de êxtase somente por períodos, depois de um encaminhamento metódico e doloroso. Gostava de falar e escrevia muito, além de pintar desenhos com temas religiosos. De um modo

2 Denise de Assis: Doutoranda em Psicologia Clínica (PUC-SP), Mestre em Psicanálise

(Universidade Veiga de Almeida-RJ), Psicóloga (Universidade Estácio de Sá- RJ), Pesquisadora na área de Teologia, Religião e Espiritualidade (Duke University- EUA). 3 Da Agonia ao Êxtase

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geral, as manifestações religiosas de Madeleine foram encontradas em registros e relatos de outros místicos. O que pode ser considerado como excepcional neste caso foi o fato de Madeleine ter permanecido hospitalizada por tanto tempo sendo observada minuciosa e pacientemente (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.26).

Madeleine pertencia a uma família de ricos industriais do norte da França e foi a quarta filha do casal. Sua família era católica praticante, sem nenhum traço de devoção particular. A família não apresentava grandes problemas, além de numerosas perturbações da saúde, aparentemente psicossomáticas. Madeleine não escapou destes sintomas. Andou muito tarde, pois foi afetada por uma fraqueza nas pernas até os nove ou dez anos: caía frequentemente, sem que fosse possível detectar qualquer anomalia muscular ou neurológica. Durante a juventude, Madeleine apresentou vários sintomas classificados como histéricos (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.29-30).

Ao aprofundar sua história, no entanto, foi constatado que desde os cinco anos, Madeleine apresentava caracteristicas semelhantes aos místicos: por exemplo, acreditava que deveria sofrer as dores de outras pessoas (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.29-30).

Em casa, era uma menina de suavidade marcante. Sua professora afirmava: “Não sei o que tem esta criança, não se pode resistir a ela. Pois apesar das suas dificuldades psicológicas, ela se instrui.”. Madeleine adquiriu uma cultura geral muito boa e formou-se professora. Conhecia o Velho e o Novo Testamento, leu Blaise Pascal, escrevia e pintava muito bem. Em termos religiosos, identificava-se com São Francisco de Assis: “Eu fui acometida da sua loucura desde a infância; em todo caso, sentia como ele o amor das flores, dos animais, dos pequenos e dos pobres.“ (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.30-31).

Seu percurso até chegar na Salpetrière iniciou-se quando, aos 24 anos, Madeleine resolveu sair de casa decidida a se consagrar à verdadeira miséria. Foi doméstica em uma fazenda, enfermeira em uma província, operária em Paris, até que resolveu passar a noite em um banco de rua. Os policiais a prenderam, como era usual nestes casos. Ela foi condenada a um ano de prisão fechada por vadiagem e por ter se recusado a dar alguma explicação plausível ao comissário de justiça. Alegou apenas que ela era “Madeleine, O Bode, a amante de Cristo e bode expiatório dos pecados do mundo” (p.34). Ficou presa em Saint-Lazare, onde era “naturalmente perfeita” e encarregou-se de cuidar das prostitutas que lá estavam. Depois de solta, continuou sua vida de miséria, até ser presa novamente por fraude, vadiagem, sendo “prostituição” acrescentada à lista mecanicamente (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.32-34).

Para Clément & Kakar (idem, ibidem, p. 35, 36), o comportamento de Madeleine apresentava as mesmas características dos Renunciantes da Índia. O termo sânscrito sannyasin significa Renunciante: aquele que decide morrer ao mundo e errar nas estradas, devotando sua vida à contemplação e ao mais completo despojamento. Para os pesquisadores, Madeleine tornou-se uma Renunciante, investida de um forte impulso interior que resistiu à pressão social que lhe foi imposta. A busca pelo isolamento, desde a infância, o profundo sentimento de relação com a natureza, apontavam para as características de um renunciante.

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No entanto, Madeleine viveu em uma sociedade intolerante ao errante e, infelizmente, em nenhum momento a cultura indiana aflorou no pensamento de Janet.

O mundo que Michel Foucault descreve em História da Loucura, a Idade Média da Nave dos Loucos, admitia a escolha do renunciante e o vaguear solitário; na França republicana e leiga do final do século XIX, o vaguear é um delito que o Código Penal chama de vagabundagem. Implacavelmente, Madeleine vai de encontro aos interditos da lei: passar a noite num banco de praça sem dinheiro no bolso é condenável e ela é condenada. [...] Para o renunciante no hinduísmo, a escolha está entre o povoado e a floresta. Povoado: no sentido metafórico do termo, o povoado é a sociedade, a “cité” com suas hierarquias estritas, sua aparência familiar, suas tarefas coletivas cuidadosamente repartidas em função das castas. A floresta é o espaço do de fora, a selva, quer dizer, o que não é mais povoado, a imensidão para os vagabundos, a área da liberdade. [...] Bergson, em As duas Fontes da Moral e da Religião, opera uma distinção capital entre “sociedade fechada” e “sociedade aberta”: sociedade fechada, o povoado; sociedade aberta, a floresta. Madeleine, como todos os místicos, está do lado da sociedade aberta; mas seu destino foi esmagado pela sociedade fechada, cujas figuras rígidas – pais, policiais, comissários, médicos – são os vetores da intervenção. Quando, enfim, ela chega ao serviço de Pierre Janet, encontra, e esta é a sua sorte, um psiquiatra que não está isento de aspiração à floresta (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.36-38).

Para Clément & Kakar (1997), a diferença entre um indiano hindu de Calcutá e uma francesa católica de Paris aponta aparentemente para uma distância intransponível entre o monoteísmo cristão e o politeísmo hindu. Madeleine pensava ser a Virgem em uma época em que o culto a Maria era signo do seu tempo, na França, e Ramakrishna, identificava-se com Hanuman, o deus-macaco, modelo do devoto perfeito. Outras vezes, identificava-se com Krishna. Assim, as divindades masculinas e femininas de suas religiões perpassaram uma a outra: Madeleine, apesar da dominância masculina no catolicismo, identificou-se com aquela que seria equivalente à deusa-mãe. Ramakrisha, embora carregasse o selo da Grande Mãe indiana, buscou os deuses masculinos. Porém, “ao mergulharem ambos no centro do turbilhão místico, não encontram nada além de uma percepção cósmica que chamam pelo mesmo nome: Deus. Nesse momento nada mais os diferencia” (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.17).

Ramakrishna foi considerado um dos últimos grandes santos hindus4. Nasceu em 1836, numa família brâmane, em Bengala, na Índia. Seus pais eram devotos muito pobres. Ramakrishna foi o penúltimo de seis filhos. Embora a longevidade média do povo indiano no século XIX fosse inferior aos trinta anos e a mortalidade materna no parto muito comum, quando Ramakrishna nasceu,

4 http://pensar.tripod.com/ramakrishna.htm

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seu pai contava sessenta anos de idade e sua mãe quarenta e cinco (CLÉMENT; KAKAR, 1997).

Ramakrishna lembrava-se de sua mãe como uma alma simples, sem qualquer conhecimento da vida e que sequer conseguia contar dinheiro. Ela dizia o que lhe viesse à cabeça, sem reservas ou disfarces e as pessoas a consideravam “simplória” (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.111).

O pai de Ramakrishna era um homem doce que não repreendia o filho. Sentia um orgulho discreto de sua inteligência evidente e memória fenomenal. Ramakrishna começou a frequentar a escola do povoado quando contava cinco anos de idade. Entretanto, mesmo tendo bom desempenho na escola (apesar de ter dificuldades em aritmética), o que ele mais gostava era de pintar quadros e passar o tempo com os oleiros do povoado aprendendo a fazer imagens de argila dos deuses e deusas. Sua veia artística era acentuada e seu primeiro êxtase, aos seis anos de idade, foi evocado pela emanação de uma visão da natureza:

Eu estava passando por um caminho estreito entre dois arrozais. Mascando meu arroz, ergui os olhos para o céu. Vi uma grande nuvem negra expandindo-se rapidamente até cobri-lo inteiramente. Subitamente, da borda da nuvem, uma revoada de garças brancas como a neve passou sobre minha cabeça. O contraste foi tão bonito que meu espírito perdeu-se em regiões distantes. Perdi a consciência e caí no chão; o arroz expelido espalhou-se. Alguém pegou-me e levou-me nos braços até em casa. Um acesso de alegria e de emoção dominou-me... Esta foi a primeira vez que fui tomado pelo êxtase (CLÉMENT; KAKAR, p.113).

Ramakrishna tinha cerca de oito anos de idade quando seu pai morreu. A morte do pai produziu no menino um efeito de retração e amor pela solidão. A frequência à escola passou a ser intermitente, aproximou-se mais de sua mãe ajudando-a por longos períodos nas tarefas domésticas e em suas orações diárias aos deuses. Ficava horas em uma casa de peregrinação, onde ascetas errantes pernoitavam por no máximo duas noites antes de retomarem suas caminhadas. Em vista desse comportamento, sua mãe começou a temer que Ramakrishna saísse de casa e se tranformasse em um errante (CLÉMENT; KAKAR, 1997).

Ramakrishna teve várias “crises”, por exemplo, a caminho do templo de uma deusa ou quando atuava como Shiva em uma peça religiosa. Posteriormente, ele atribuiu estes estados a movimentos espirituais, mas sua família suspeitava de alguma doença física (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.113).

Por volta dos dezoito anos, Ramakrishna passou a servir em um templo consagrado à deusa Kali absorvendo-se na adoração à deusa. A partir daí foram várias as experiências místicas, entre elas, as visões que não diferem muito dos relatos encontrados em casos semelhantes em várias partes do mundo, no entanto, o comportamento de Ramkrishna parecia bizarro até mesmo para visitantes devotos do templo que já estavam acostumados a

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presenciar inúmeras manifestações de fervor religioso (CLÉMENT; KAKAR, 1997).

Ramakrisha ornava seu próprio corpo com flores e com pomada de sândalo, trazidos para a adoração à deusa, via a estátua da deusa respirar, tentava alimentar a estátua em sua boca de pedra e mantinha conversações brincalhonas com ela. Na sua percepção, qualquer sentimento de indiferença da deusa à sua presença fazia com que ele se jogasse ao chão e rolasse violentamente, preenchendo o templo com os altos lamentos. Nestes momentos, a sua respiração quase parava e ele parecia lutar pela vida. Quando recebia novamente a visão da deusa, ficava radiante de alegria e tornava-se uma pessoa totalmente diferente. Era consenso entre seus empregadores e outras pessoas que Ramakrishna estava insano. O sobrinho que o ajudava no templo, ao vê-lo seguidamente sentado nu sob uma árvore durante a noite, despojado de suas roupas e até mesmo da faixa sagrada brâmane ou ao vê-lo por na boca ou esfregar nos cabelos os restos de comida deixados pelos mendigos nas folhas que lhes serviam como pratos, temia por sua sanidade (CLÉMENT; KAKAR, 1997).

Ramakrishna foi trazido de volta a seu povoado natal e sua mãe submeteu-o a exames médicos relacionados à medicina tradicional hindu e a um ojha, -exorcismo hindu para extirpar espíritos maléficos (CLÉMENT; KAKAR, 1997).

Aos poucos, Ramakrishna recuperou seu estado normal de saúde e para mantê-lo neste estado, sua família arranjou-lhe um casamento. Este tipo de decisão é até hoje, na Índia, visto como o melhor antídoto para um colapso psíquico real ou potencial. No entanto, Ramakrishna sequer pensou na ideia de consumar este casamento (CLÉMENT; KAKAR, 1997).

Aos vinte e quatro anos, Ramakrishna retornou a Calcutá e reassumiu suas responsabilidades sacerdotais no templo da deusa Kali. Durante oito anos dedicou-se sistematicamente às diferentes práticas disciplinares das escolas do misticismo hindu. Seus gurus salientavam a facilidade natural e a rapidez com que alcançava o samadhi5 extático, capacidade que seus próprios gurus admitiram conseguir após décadas de esforços incansáveis (CLÉMENT; KAKAR, 1997).

A partir deste momento, Ramakrishna foi rapidamente reconhecido como místico tanto por leigos quanto por autoridades. Teólogos eruditos, os pânditas, iam visitá-lo para partilhar com ele sua intuição luminosa do espectro metafísico hindu. Embora, Ramakrishna fosse pouco letrado, comunicava suas experiências de modo simples e forte, por meio de cantos devocionais, analogias, metáforas e parábolas elaboradas a partir dos detalhes da vida cotidiana de seus ouvintes. Ele passou a controlar os seus estados de samadhi e se tornou ao mesmo tempo um grande mestre e um grande místico, sem perder sua inocência infantil e espontaneidade, características que conservou até o fim de seus dias (CLÉMENT; KAKAR, 1997).

5 Segundo Lucila Silva (2007, p.171), Samadhi é o estado de megalucidez que conduz ao

autoconhecimento, a identificação com o Absoluto; estado de hiperconsciência.

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Segundo Goleman (1997, p.157), cada cultura tem um vocabulário especializado e molda a percepção para conformá-la a certas normas. Dessa forma, limita os tipos de experiência ou as categoriza e determina a adequabilidade ou aceitabilidade de um dado estado de consciência ou sua comunicação em situação social. Estes princípios se aplicam à psicopatologia em nossa cultura e os estados alterados de consciência estão sujeitos às mesmas influências.

Neste sentido, com relação à questão cultural, estamos presos de antemão ao crivo da linguagem. Segundo Lacan, “a lei do homem é a lei da linguagem” (LACAN, 1998, p.273). A linguagem é preexistente à entrada de cada sujeito no momento de seu desenvolvimento mental LACAN, 1998, p.498). Ou seja, para Lacan o inconsciente possui uma estrutura e esta estrutura é a linguagem (LACAN, 2002, p.139).

Segundo Valas (2001, p. 88), os místicos, por não se sentirem ameaçados pela castração conseguem ir além, por meio de experiências que rompem suas amarras simbólicas, permitindo suas experiências de êxtase. Ou seja, sendo o registro simbólico da ordem da linguagem, conseguem ir além de toda a estrutura inconsciente.

Em 1974, Lacan concedeu uma entrevista coletiva em Roma a jornalistas italianos. Esta entrevista foi publicada com o título O Triunfo da Religião, em 2005. Uma argumentação interessante feita pelos jornalistas e desenvolvida por Lacan dizia respeito à base da teoria lacaniana. Segundo o entendimento de um dos jornalistas, a base da teoria de Lacan, não estaria na biologia e nem na fisiologia, mas na linguagem. Assim, Lacan não teria acrescentado nada em sua teoria além do que se pode ler no Capítulo 1, verso 1 do Evangelho de João (“No começo era o Verbo...”) (LACAN, 2005, p. 73). Ao que Lacan respondeu:

Acrescentei uma coisinha. “No começo era o Verbo”, concordo plenamente. Mas antes do começo, onde é que ele estava? É isso que é verdadeiramente impenetrável. Há o Evangelho do são João, só que há também uma outra coisa que se chama Gênesis, e que não é absolutamente desvinculado do Verbo. Conjugaram os dois dizendo que o Verbo era assunto de Deus Pai, reconhecendo-se que o Gênesis era tão verdadeiro quanto o Evangelho de são João, uma vez que era com o Verbo que Deus criava o mundo. É uma coisa engraçada. Na Escritura judaica, a Escritura sagrada, vê-se muito bem para que serve que o Verbo tenha sido não no começo, mas antes do começo. É que como ele era antes do começo, Deus se julga no direito de fazer todo tipo de reprimenda às pessoas, a quem dá um pequeno presente, do gênero “petit-petit-petit”, como se dá às galinhas. Ele ensinou Adão a nomear as coisas. Não lhe deu o Verbo, porque seria um negócio grande demais, ensinou-o a nomear. Não é grande coisa nomear, está totalmente na medida humana. Os seres humanos não pedem mais que isso, que as luzes sejam moderadas. A luz em si é absolutamente insuportável.

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[...] Sou por são João e o seu “No começo era o Verbo”, mas esse é um começo enigmático. Isso quer dizer o seguinte: para esse ser carnal, esse personagem repugnante que é um homem mediano, o drama só começa quando o Verbo está na jogada, quando ele se encarna. É quando o Verbo se encarna que a coisa começa a ir muito mal. Ele não é mais feliz de forma alguma. [...] Não se parece com mais nada. Está devastado pelo Verbo. Eu também acho que esse é o começo. Você me diz que eu não descobri nada. É verdade. Nunca pretendi descobrir nada. Todas as coisas que apreendi são coisas que colei daqui e dali (LACAN, 2005, p. 73, 74).

Assim, é importante notar que a importância da palavra vai muito além da cultura ocidental, pois encontra semelhanças com a cultural oriental. Segundo Padoux (1990, p.10), “a importância da Palavra (Vac) forma a base do pensamento indiano (primeiro o védico, depois o bramânico e finalmente, o hindu)”. A Palavra, desde os primórdios, possuía a conotação de símbolo da verdade ou mais especificamente, como a revelação da presença de Deus no Cosmos, como a força que cria, mantém e sustenta o universo. Tais noções ancestrais, mesmo diante das transformações do tempo, nunca foram desprezadas, mas passaram por um processo constante de evolução e ajuste.

Para os indianos, a palavra é energia e esta energia pode ser bem empregada por aquele que for capaz de penetrar sua natureza secreta e seus mistérios. Segundo o profundo pensamento indiano,” no princípio havia a Palavra, mas no sentido de que é uma força, que está ativa e pode ser usada para ação” (PADOUX,1990, p.11). No entanto, se os seres humanos conseguirem identificar a pura fundação desta linguagem, atrás das aparências,

poderão reconectar-se com a pura fonte e como se estivessem livres enquanto ainda vivem, identificam-se com a espontaneidade e com a autonomia criativa da fonte da Palavra. Este retorno à fonte da Palavra realmente aparecerá não apenas como uma identificação da Palavra em statu nascenti, mas também como uma fusão do lugar de origem da Palavra e que está muito além: uma área de constância, de estabilidade, de silêncio, de pura transcendência (grifo nosso). Uma noção que, segundo o tantrismo6, mantém o ponto de vista de que a Palavra é subordinada ao silêncio, a dita para a não dita. Noção que surgiu nos primórdios do pensamento indiano (PADOUX, 1990, p.12-15).

Esta colocação vai de encontro ao discurso de Lacan sobre o que estava antes do Verbo, do começo: “uma área de constância, de silêncio e de pura transcendência...” (PADOUX, 1990, p.15) e, ainda: “ [...] deixe-o contemplar o silêncio supremo; por meio da contemplação do silêncio, alcança-se o ser e não o não-ser “ (PADOUX, 1990, p.21).

6 O Tantrismo caracteriza-se principalmente por ser uma filosofia comportamental matriarcal,

sensorial e desrepressora. Aplicado ao Yôga resulta no Tântra Yôga; aplicado ao Budismo resulta no Budismo Tântrico; à arte, Arte Tântrica, etc. (SILVA, 2007, p.205).

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Este trecho, retirado do Brahmabindu Upanishad7, aborda especificamente, os processos da mente e a natureza de Brahman, O Absoluto. Segundo Padoux (1990, p.21), pode-se notar que há uma transição da palavra ao silêncio, que se estende além dela.

Segundo estas escrituras, a Palavra aparece como um aspecto da Consciência; ambas são inseparáveis. A grosso modo, não há reflexão ou ideia, que não venha acompanhada de um discurso. No entanto, existe um princípio primordial, transcendente e indiferente ao universo como conhecemos, onde esta pura Consciência ainda não se transformou em Palavra, um reino além da Palavra, um ponto inconcebível ou inimaginável de onde a Palavra emergiria ou seria reabsorvida em silêncio (PADOUX, 1990, p.78).

No entanto, o padrão mais elevado desta Palavra, da Suprema Palavra, encontra-se tão próximo ao silêncio, que se torna difícil distingui-la do princípio primário. Assim, o ponto de encontro entre este padrão mais elevado da Palavra e a Pura Transcendência é chamado, algumas vezes de unmana. Manter-se neste supremo estágio de pura e silenciosa transcendência, permite a manutenção do transcendente absoluto em um sistema naturalmente averso a ele (PADOUX, 1990, p.78).

Segundo Abhinavagupta, um dos maiores filósofos, teólogos, místicos e ascetas indianos (950-1020 d.C.),

existe um tipo de nó interno, ou seja, um estado de consciência que poderia ser expresso em palavras, mas de forma não tão precisa, que apenas indica ou sugere um movimento do pensamento, e portanto, uma expressão que está além da linguagem; cuja intenção ou padrão, pode se alcançar de alguma forma, mas que mesmo assim, não se consegue expressar (PADOUX, 1990, p.180).

Este papel como fonte e sustentação da linguagem, desempenhado pela suprema Palavra, é justificado por Abhinavagupta sob um ponto de vista lógico: paräväc8 é o não tempo e a fundação do absoluto sobre o qual estão baseados todos os significados da linguagem “convencional” (PADOUX, 1990, p.180).

Segundo Jorge (1991 apud SOUZA, 2008, p.68), a experiência mística remete ao despertar. Este despertar refere-se ao “êxtase, à aniquilação de toda a subjetividade na qual, ascendendo a uma região para além dos sentidos e da linguagem, o sujeito se funde num espaço de indiferença e neutralidades absolutas”.

Para Souza (2008, p.69), “a experiência do despertar tem como consequência a perda do nome, a perda das amarras simbólicas”. Citando Jorge, Souza (2008,

7 Coleção de textos filosóficos que formam a base do hinduísmo. Formam a parte final dos

Vedas (escritura mais antiga e sagrada da Índia). Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Upanishads. Acesso em 18/08/2013. 8 Vac significa palavra, paräväc, é o que vem antes da Palavra.

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p.69) confirma que tal experiência restaura “um lugar que o sujeito ocupara quando ainda não o haviam limitado a um nome”.

Assim, a experiência mística indica a existência de um lugar onde não se é limitado pelo nome. Quando não se é limitado por títulos, posses e tudo o que é regido pela fantasia (considerada como algo fálico), o sujeito pode experimentar o gozo de Deus, que é sentido como liberdade, paz e alegria (SOUZA, 2008, p. 73,74).

Segundo Souza (2008, p.101):

O gozo místico é da ordem da experiência, não da palavra. [...] Os relatos místicos atestam que Deus não está fora, Ele está dentro do próprio sujeito. Por isto, buscam o encontro com Ele através do silenciar das palavras. Eles buscam um estado de quietude que os possibilita acessar um território que pertence ao registro do Real. É desse encontro com o Real [...] que os místicos usufruem de um gozo além das palavras, além da norma fálica. E, por isso, percebido como um gozo estranho e enigmático (SOUZA, 2008, p.98, 101).

Segundo Lacan, o sujeito nasce em um universo cheio de possibilidades, mas restrito de antemão pelas determinações feitas principalmente pelas figuras parentais e pelo meio em que está inserido (LACAN, 1998, p.266).

Para Clément & Kakar (1997, p.15),

Na França, de 1896, Madeleine não tinha nenhuma chance de desenvolver livremente seu misticismo. Enjaulado, cercado de cuidados múltiplos, quase todos físicos, e tão bem que esse misticismo radical é afinal “curado”, quer dizer aniquilado pela instituição hospitalar. Mas na Índia, na mesma época, Ramakrishna encontra com incrível rapidez o caminho do reconhecimento devido a um misticismo resplandecente (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p. 15).

A conclusão de Clément & Kakar aponta para a obra de William James, As Variedades da Experiência Religiosa, publicada inicialmente, em 1902. Nesta obra, entre vários pontos, James abordou a questão do materialismo médico com relação a encontrar diagnósticos que justificavam certas experiências que poderiam ultrapassar o âmbito fisiológico:

Materialismo médico afigura-se-nos, com efeito, uma boa apelação para o sistema de pensamento demasiado simplista que estamos considerando. O materialismo médico dá cabo de São Paulo explicando sua visão na estrada de Damasco como uma descarga violenta do córtex occipital, visto ter sido ele epilético. Tacha Santa Teresa de histérica, São Francisco de Assis de vítima de uma degenerescência hereditária. O descontentamento de George Fox com as imposturas do seu tempo e o anseio de veracidade espiritual são consequência de um desarranjo no cólon. [...] Todas essas hipertensões mentais,

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afiança o materialismo médico, revelam-se-nos, quando chegamos ao âmago da questão, meras questões de diátese (mais provavelmente autointoxicações), devido à ação viciosa de várias glândulas que a fisiologia ainda descobrirá. E o materialismo médico julga, então, bem solapada a autoridade espiritual de todos esses personagens (JAMES, 1995, p.22,23).

Com base no exposto até aqui, como distinguir um fenômeno psicopatológico de uma experiência mística?

Madeleine não teve a mesma “sorte” que Ramakrishna, que nasceu em uma cultura que não reprimia certos estados alterados de consciência; mas mesmo nessa cultura, na qual o transcendente é visto como um pressuposto, o próprio Ramakrishna reconheceu que passou por uma fase de loucura, que chamou de unmada. Para ele, a “loucura” era mais uma desintegração humana do que uma elevação divina, por mais necessária que aquela pudesse servir como antecessora desta (CLÉMENT; KAKAR, 1997, p.118).

Para Françoise Dolto (2010, p.129), colaboradora de Lacan, as experiências espirituais estão para além do inconsciente e ultrapassam aquilo que podemos compreender. E para Lacan, certas experiências relacionadas aos místicos, estão para além da linguagem (LACAN, 1988 [1966], p.581).

Se tais experiências estão para além do inconsciente e para além da linguagem, elas ultrapassam a cultura. Assim, as colocações de Lacan e Dolto aproximam Madeleine e Ramakrishna.

Com relação à cultura, segundo Lacan, entre todos os grupos humanos, a família desempenha um papel primordial na transmissão da cultura e preside os processos fundamentais do desenvolvimento psíquico, além da organização de emoções segundo tipos condicionados pelo meio-ambiente. Em um sentido mais amplo, transmite estruturas de comportamento e de representação “cujo jogo ultrapassa os limites da consciência”. Deste modo, surge entre as gerações uma continuidade psíquica cuja causalidade é de ordem mental (LACAN, 2002, p.13). Assim, se há possibilidade de distinção entre a experiência mística e o fenômeno psicopatológico, na mesma proporção em que a influência cultural se afasta da primeira, mais se aproxima do segundo.

Referências. CLÉMENT, C. & KAKAR, S. A Louca e o Santo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997. DOLTO, F. & SÉVÉRIN, G. A Fé à Luz da Psicanálise. Campinas: Verus Editora Ltda., 2010. GOLEMAN, D. A Mente Meditativa. São Paulo: Editora Ática, 1997.

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LACAN, J. (1938). Os Complexos Familiares na Formação do Indivíduo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. ______ (1956). O Seminário, Livro 3: As Psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. ______ (1964). O Seminário, Livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, RJ, 2008. ______ (1966) Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. ______ (1974). O Triunfo da Religião. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. ______ (1975). O Seminário, Livro 20: Mais, Ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. VALAS, P. As Dimensões do Gozo: Do Mito da Pulsão à Deriva do Gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. História da Índia. Disponível em < http://www.infoescola.com/india/historia-da-india>. Acesso em 14/08/2012 Ramakrisha. Disponível em http://pensar.tripod.com/ramakrishna.htm. Acesso em 21/04/2013. SOUZA, C.A. Gozo Místico: Testemunho do Feminino. Disponível na Internet: http://www.pgpsa.uerj.br/dissertacoes/2008/Cristiane%20Almeida/Diss_Cristiane.pdf (01/09/2013).

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2 INTER SUBJETIVIDADE, DISCIPLINARIDADE e ESPIRITUALIDADE: um tripé na nossa busca pelo Graal. Elenice Giosa9

“Para quem bem viveu o amor Duas vidas que abrem Não acabam com a luz

São pequenas estrelas que correm no céu Trajetórias opostas

Sem jamais deixar de se olhar É um carinho guardado no cofre de um coração que voou

É um afeto deixado nas veias de um coração que ficou É a certeza da eterna presença Da vida que foi na vida que vai

É saudade da boa Feliz cantar

Que foi, foi, foi, Foi bom e prá sempre será

Maravilhosamente amar”. (Feliz, Gonzaguinha)

Um dos aspectos da interdisciplinaridade que vem me acompanhando é o papel da intersubjetividade não somente na educação, mas na vida diária. Fazenda (2006, p. 50) discute que a intersubjetividade poderia ser “eternamente alimentada: numa troca contínua de experiências – o que adquiriria um formato de dignidade científica”. Pode-se dizer então, que Inter é troca, doação, conhecimento do outro e para chegarmos nesse patamar, precisaríamos assumir uma postura filosófica de reflexão sobre o nosso papel de seres humanos na sociedade: como percorremos nosso caminho, como compreendemos nossas atitudes e o outro para podermos “começar tudo de novo”. Sim, porque Fazenda (2006, p.47) aponta que uma atitude interdisciplinar necessita de decisões pessoais, coragem de romper com padrões obsoletos e “começar tudo de novo”.

Dessa forma, senti a necessidade de começar a relatar sobre a minha busca do meu próprio Graal, reportando-me às minhas bases educacionais familiares, à minha ancestralidade. Assim, “começo tudo de novo ”para tentar trilhar o caminho de uma educação inter-disciplinar-espiritual. Vamos entender esse último termo, segundo o Prof.Dr. Ruy Cesar do Espírito Santo (2011, p.s/n): “A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior... Fruto do autoconhecimento”.

9 Elenice Giosa: Doutora pelo Instituto de Psicologia e Faculdade de Educação da Universidade

de São Paulo. Participa de projetos voltados ao ensino de Inglês em universidades e empresas. Foi professora da PUC/SP, ministrando cursos específicos na área de ensino de Inglês pela Educação de Sensibilidade. É membro do GEPI (PUC/SP) e do INTERESPE –Interdisciplinaridade e Espiritualidade na educação. CV: http://lattes.cnpq.br/6173021984292370; E-mail: [email protected]

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Reforço, portanto, a importância de uma auto-reflexão em direção não somente a uma educação, como também à um projeto de vida interdisciplinar e inter-espiritual.

Portanto, começo reportando-me aos meus avós. Meu avô era cantor de ópera e fazia guarda-chuvas artesanais. Logo, seu olhar já se direcionava às artes. Era o coração vivo e pulsante da família cuja sensibilidade feminina ficava evidente em cada palavra e ação. Minha avó, também grande artesã de tais guarda-chuvas, cozinhava como ninguém – cujo bife que preparava, sinto o cheiro e gosto até hoje. Ao mesmo tempo, mostrava-me o rigor das ações porque era a minha avó que mandava na casa e cuidava das finanças. Ambos faziam-me sentir o mundo pela sensibilidade de suas ações.

A partir de então, no meu trabalho como professora de inglês, resgatei as bases da cultura britânica – a tradição cultural celta - e, ao mesmo tempo, a minha própria ancestralidade. Por isso, inicio essas palavras com a música acima – que é uma homenagem aos meus iniciadores no terreno educacional. Foi com eles que vivenciei o que se chama hoje, no terreno educacional, de Educação de Sensibilidade.

Ampliando o termo, uma educação com o objetivo de sensualizar o pensamento racional; uma direção ao sentir, fazendo com que o indivíduo sinta o mundo por meio de seu campo perceptivo: o incentivo à intuição, à criatividade, à imaginação – assim como a minha ancestralidade me levou a sentir a música, o alimento, o acolhimento, o rigor das ações. Com essa base educacional comecei a formar as minhas Távolas Redondas – cujo símbolo para mim, é muito forte.

A Távola era a mesa em forma de círculo, onde o Rei Arthur reunia seus cavaleiros antes das batalhas e discutia assuntos do reino. Merlin, o mago e conselheiro de Arthur, construiu a Távola como forma de fortificação do grupo porque o círculo traz a posição de igualdade. Lá, compartilhavam da melhor comida e bebida.

Essa minha Távola-base foi que me deu sustentação para eu seguir o caminho que escolhi seguir em meio ao qual construí outras Távolas: os grupos de oração; do clube, da dança, do inglês, das amigas, os grupos de estudo, os meus alunos, o grupo GEPI e INTERESPE. Estes dois últimos, por sua vez, unindo interdisciplinaridade e espiritualidade, ajudaram-me a caminhar intersubjetivamente, na minha longa e infinda busca pelo meu próprio Graal.

A Távola evoca o grupo – o que para mim é fundamental para podermos trilhar o nosso caminho de individuação, como proposto por Jung (1983) ou indiviDOAÇÃO, (Bernardi, 2006) – termo que creio não ser necessário explicar teoricamente, apenas imaginá-lo. Complemento com uma citação de Gusdorf (1987) que diz o seguinte: “Será a boa orquestra que faz os bons instrumentistas ou os instrumentistas é que fazem o valor da orquestra?”.

Nas estórias arturianas, os cavaleiros de Arthur sempre saem em grupo para as batalhas, mas a busca pelo Graal é individual. Ou seja, o grupo faz parte da identidade do cavaleiro porque constitui a Távola Redonda do Rei Arthur e

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essa, por sua vez, a identidade de cada cavaleiro; e cada um, com sua individualidade, suas características de um bom cavaleiro (guerreiro, respeitador, fiel ao rei e, sobretudo, respeitador da dama) é que davam sustentação à Távola de Arthur. O aspecto de “respeitar a dama”, simbolicamente refere-se ao nosso encontro com a nossa interioridade, com a nossa alma de aprendiz da vida, à busca do nosso Graal, ou à busca de nossa espiritualidade como discute o Prof. Ruy Cesar do Espírito Santo (2008).

Para os celtas, o Graal é o caldeirão do Renascimento, da Abundância e da Inspiração. Também abarca o conceito de círculo– processo da vida, do nascimento e da morte. Significa taça, caldeirão e é um objeto de onde se irradia a graça. Ao mesmo tempo, evoca a imagem do alimento – que na sexta-feira santa é trazido para ser colocado dentro do recipiente com o objetivo de renovar seu poder de doador de alimento. O Graal – enquanto doador de alimento e enquanto objeto que irradia a graça, encontra-se no meio da minha Távola Redonda, alimentando-a.

Cada cavaleiro sai em busca de sua alma escondida, do Graal, ou seja, do enfrentamento do guerreiro com o amante limpo de coração – que é o que permite ouvir a voz desse coração ao tomar suas decisões. Portanto, essa busca é árdua.

Perceval, o cavaleiro tolo que sofre todas as intempéries para ir atrás do Graal, sai para tentar fazer parte da Távola de Arthur. Sua mãe o previne para ficar sempre de boca fechada, não responder perguntas ou fazer perguntas indevidas. E a pergunta que o acompanha é: A que serve o Graal? – pergunta essa que ele não responde. Em meio à sua aventura, depois de momentos de extrema dificuldade, após a morte de todos os cavaleiros da Távola Redonda, restando, portanto, somente ele, Perceval é jogado nas águas de um rio com sua forte e pesada armadura, até que ele começa a se desfazer da armadura e sai quase desnudo da profundidade das águas e depara-se com a porta do castelo onde o Rei Pescador (Arthur) encontrava-se gravemente ferido. É nesse momento que Perceval responde a pergunta: A que serve o Graal? - cuja resposta é “A ti, senhor”. Ou seja, quando Perceval reconhece a importância do Outro, do rei, é que ele consegue responder à pergunta e assim, salvar o rei de sua enfermidade.

Lógico, que isso não significa o fim dos problemas de Perceval, mas o reconhecimento de ações, de relações consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Jung chama esse reconhecimento de “alteridade”. Durand (2001) chama de Trajeto Antropológico. Espiritualidade, segundo o Prof. Ruy do Espírito Santo (2008), no sentido de chegar ao seu auto-conhecimento, percebendo todo o seu caminho percorrido. No sentido de perceber e, principalmente sentir o que somos e como podemos agir nesse mundo e, se quisermos, transformar nossas ações, baseio-me em Durand (2001), no que se refere ao Trajeto Antropológico. O autor diz que possuímos sensibilidades no nosso corpo e que as desenvolvemos ao longo do nosso Trajeto Antropológico. São elas:

- Sensibilidade heróica – que nos impulsiona para o novo, para a luta e que hoje em dia pode caracterizar um herói mais racionalista, mais guerreiro, cujo

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símbolo, de modo mais exacerbado, pode ser a espada sangrenta, a luz excessiva, a ascensão; os heróis americanos que assolam as telas de TV, mostrando-se cada vez mais “bravos”. Atento para o fato de que não se trata de uma sensibilidade ruim, mas sim, um excesso da sensibilidade heróica no século XXI, dificultando o emergir outras duas sensibilidades abaixo:

- Sensibilidade mística – que nos impulsiona para a profundidade, cujos símbolos podem ser a água, o Graal, caracterizando um herói mais preocupado com sua interioridade, como Perceval.

- Sensibilidade dramática – que seria um equilíbrio entre as duas sensibilidades anteriores. O conceito de “alteridade”, proposto por Jung. Como símbolo, a Roda, a Távola. Aqui, o exercício da espiritualidade se faz presente.

Com isso, quero dizer que no decorrer dessa nossa Trajetória Antropológica, buscamos nosso Graal e formamos nossas próprias Távolas.

Trilhando esse meu caminho de individuação, comecei a conhecer e a me apaixonar pelo herói arturiano e a me embrenhar nessa jornada com o Rei e seus cavaleiros porque o Ciclo do Rei Arthur marca a passagem de um herói patriarcal, digamos, racional, mais guerreiro, para o herói Perceval, que ouve a sua voz interior, o coração – ou o herói Arthur quando ouve a Dama do Lago e, por isso, é capaz de entregar a espada a ela ao final de sua jornada. Ou seja, o herói arturiano desenvolve o sentir e passa a ter a dama, sua alma ou anima como guia. Então, o grande desafio de Arthur e seus cavaleiros é conciliar razão e sensibilidade – é o conhecer-se internamente; agir pela via da sensibilidade. Por isso é que fiquei fascinada pelo mito arturiano. Sinto a necessidade desse herói em pleno século XXI – que deveria ser uma época já de alta evolução da humanidade, mas, ao contrário, encontramo-nos envolvidos por guerras por todos os lados, homens destruindo homens somente para alimentar seus egos inflados. Ao mesmo tempo, creio que este é o meu momento de conhecimento próprio, desse mundo conturbado e daqueles com quem convivo. Portanto, preocupo-me com uma busca espiritual, com formações de Távolas Redondas alimentadas, buscando e fazendo alma. Estariam esses heróis arturianos realizando uma jornada INTER-disciplinar-subjetiva-espiritual?

Creio que sim porque INTER, como apontado leva a um termo extremamente profundo e importante nessa jornada: Alma, como diz Jung é Psique = sopro vital, sede dos desejos, das emoções, dos mistérios; alma é construção, um movimento de enfrentamento das sensibilidades que nos habitam; é o “fazer junto” para nos indiviDOARMOS. Semelhantemente, segundo o Prof. Dr.Ruy Cesar do Espírito Santo (2008), espiritualidade é mergulhar no significado da nossa existência, fazendo com que nossa trilha de individuação – Doação - faça sentido para nós. Para tanto, a via de ação pode ser pelo símbólico por ser algo importante, significativo para cada um porque o símbolo ativa a imaginação, a criatividade e a narrativa mítica faz com que cada símbolo tenha um significado específico para cada pessoa em cada momento de sua vida. Portanto, quando falamos em “simbólico”, segundo Jung (1992), falamos no que é mais significativo para nós em diferentes momentos de nossas vidas.

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Assim sendo, voltando ao símbolo da Távola, o que é necessário é ´fazer alma´– quando é possível, então, emergir a interioridade do grupo (e suas diversas sensibilidades). Ë necessário sentir a espiritualidade em nós. “Aprender a lição, é descobrir o mistério do ‘mais dentro’: “A espiritualidade

questiona tudo na busca do ―saber...”. (ESPÍRITO SANTO, 2011, p. s/n).

Portanto, compreendo meu caminho de individuação – tentando efetuar uma mudança de olhar, de encarar o mundo e, sobretudo, o campo educacional: uma tentativa inter-disciplinar-subjetiva-espiritual.

Creio que é um modo também de desenvolver, a cada dia, a espiritualidade em mim. É observando as sensibilidades que nos envolvem e tentando trazer, um pouco mais à tona, o emergir da sensibilidade mística e dramática neste mundo racionalizado em que vivemos, é que proponho trabalhar o ensino de inglês pela mitologia – encarando-o como meu grande desafio. As estórias míticas estão presentes na mente de todos os povos, sendo semelhantes, porém com nomes diferentes em diversas partes do mundo – o que é fascinante porque à medida em que ouvimos uma narrativa mítica, vivemos diferentes modalidades de encarar a vida. Então, o mito, por sua vez, é o que eu chamo de “sensibilidade da alma”.

Então, busco na mitologia arturiana, conhecer as minhas próprias experiências de vida. Por exemplo, a minha ancestralidade, a educação de sensibilidade que começou com meus avós. Começo a experimentar a espiritualidade em mim.

Parto do mito arturiano para um conhecimento mais intenso da cultura inglesa, para tentar observar o meu fascínio por essa cultura, e como eu poderia partilhar esse sentimento com meus alunos. Como eu poderia ensinar Inglês pela mitologia, ou seja, além da língua pela língua, construindo uma prática em que cada aluno pudesse mergulhar um pouco na aprendizagem dessa língua, compreendendo sua cultura, os costumes de um povo, contribuindo, talvez, para a diminuição da aridez educacional, no momento em que encorajo meus alunos a criarem, a imaginarem sua relação com a língua. Dessa forma, ajudo a mim mesma, pois acabei me envolvendo num ambiente educacional extremamente prazeroso.

Assim sendo, a Távola Redonda, é um símbolo altamente significativo para mim – que me deu e dá sustentação para eu ir em busca de meu próprio Graal. E com as minhas Távolas, compartilho novos conhecimentos, tentando exercer a inter-disciplinaridade-subjetividade-espiritualidade que Fazenda e Espírito Santo tanto discutem.

Portanto, caro leitor,deixo-os alimentados pela imagem abaixo com o intuito de que, cada um, ao olhar para ela, pense nos seus próprios símbolos significativos e pense, também, como uma espada devolvida para uma dama, para a profundidade das águas pode levar cada um a buscar seu próprio Graal, nesse tripé inter-disciplinar-subjetivo-espiritual.

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Referências.

BERNARDI, C. Individoação: do eu para o outro, eticamente. In: MONTEIRO, D. M. R. Espiritualidade e finitude. São Paulo: Paulus, 2006. DURAND, G. As estruturas antropológicas do imaginário. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ESPÍRITO SANTO, R. C. O renascimento do sagrado na educação. Petrópolis: RJ, 2008. ______. Espiritualidade. Revista INTERESPE, 2011. FAZENDA, I. Interdisciplinaridade: qual o sentido? 2ª ed. São Paulo: Paulus, 2006. GONZAGUINHA. Perfil. Manaus: Som Livre, 2004. 1 CD (53´28). GUSDORF, G. Professores para quê?: uma pedagogia da pedagogia. São Paulo: Martins Fontes, 1987. ______. O desenvolvimento da personalidade. Tradução Frei Valdemar do Amaral. Petrópolis: Vozes, 1983. (Obras completas de C. G. Jung, 17.) ______. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

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3 A ETERNIDADE DO AGORA.

Ruy Cezar do Espírito Santo10

O “eterno presente” não é um tema novo. De forma direta ou indireta as Tradições sempre se referiram ao momento presente e a atenção a esse momento. No Evangelho cristão, em Lucas 12,56 Jesus interroga seus discípulos dizendo: “Como é que vocês não conseguem interpretar o tempo presente ?”· No Oriente, Krishnamurti, expressando uma linha de pensamento peculiar das Tradições Hindus diz: “Se não houvesse o amanhã , somente o agora, o medo, enquanto movimento de pensamento, terminaria”. (LUTIENS, 1996, p.204). Huxley (1991, p.201) assim se expressa:

O momento presente é a única abertura através da qual a alma pode passar do tempo para a eternidade, através do qual a graça pode passar da eternidade para a alma, e através do qual a caridade pode passar de uma alma no tempo para outra alma no tempo.

Não são só os místicos ou os filósofos que se voltaram para a questão do ´tempo presente´. O cientista Wilber (1990, p.75) assim afirma:

Nesse sentido, a alegria é o “Eterno Deleite” de Blake, o deleite intemporal, o deleite que não conhece futuro e,por conseguinte, o deleite que exige a aceitação da morte. O ego, porém não aceita a morte, por esse motivo não encontra a felicidade.

Poderia trazer outros autores que também abordaram o tema, mas não caberia no limitado espaço dessa reflexão. O que importa é a convergência de afirmações no sentido da relevância de ´estarmos presentes no momento que passa´.

10

Ruy Cezar do Espírito Santo: graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (1957),

mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Atualmente é professor titular da Fundação Armando Alvares Penteado; professor de graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professor na UNIMESP, no programa latu-sensu denominado "Docência do Ensino Superior". Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Auto Conhecimento na Formação do Educador, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, auto-conhecimento, formação do educador, fragmentação e transformações. É autor dos livros: Pedagogia da Transgressão (SP: Papirus, 1996); O renascimento do Sagrado na Educação (SP: Vozes, 2008) e Autoconhecimento na formação do educador (SP: Ágora. 2007) dentre outros. Contato: [email protected]

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A grande dificuldade é nossa ´prisão´ ao tempo passado ou ao tempo futuro. Ficamos prisioneiros das mágoas e angústias de ontem ou da ansiedade do amanhã. Ou ainda da tecnologia, como os celulares. A liberdade de tal “prisão”, somente é possível quando percebemos nossa dimensão transcendente, sabendo, que além do “ego”, numa linguagem “junguiana”, possuímos um self, uma alma individual ou em outros termos um “espírito”. O Ser referido por Goswami... O nível de consciência a que chegou hoje a humanidade permite-nos saber que a realidade espiritual do ser humano não é mais uma questão de “crença”, mas uma constatação de várias linhas de pesquisa científica!

Podemos hoje ter a clareza, que à semelhança de um artista, que dá expressão a um quadro, assim também, há um “artista interior”, que elabora a “obra prima” de nós mesmos. Sim, da tela, moldura, tintas e cores surgem uma ´Monalisa´ de Leonardo da Vinci ou ´Os Girassóis´ de Van Gogh. Da mesma forma, da matéria que somos feitos – ossos, músculos, tecidos, sangue... – surge um ser singular, numa expressão única dada pelo ´artista interior´.

Viver a ´Eternidade do Agora´ é estabelecer o vínculo com tal artista, que nos trará a plenitude da significação e do sentido da existência.

Escrevi uma breve poesia que foi publicada em livro de minha autoria – ´Pedagogia da Transgressão´ (ESPIRITO SANTO, 1996, p.120) que transcrevo para finalizar este artigo:

Despertar no presente é estar vivo É sair das culpas e angústias de ontem Ou dos sonhos e ansiedades de amanhã É descobrir o Agora. Descobrir o Agora é também “descobrir-se” · Saber-se “quem é” · “De onde veio” “Para onde vai”. Perceber a profundidade do momento presente É deixar que “os mortos enterrem seus mortos”. É desvelar a fonte única da alegria do “mais dentro”. É mergulhar no sentido lúdico da Vida. Assim, conhecer-se profundamente, É saber-se um com a Vida É vislumbrar a realidade do Amor É mergulhar na Eternidade do Agora.

Até Sempre! Ruy.

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Referências.

ESPIRITO SANTO, Ruy Cezar do. Pedagogia da Transgressão. Campinas: Papirus, 1996.

HUXLEY. Filosofia Perene. São Paulo: Cultrix, 1991. LUTIENS, Mary. Vida e Morte de Krishnamurti. SÃO Paulo: Teosófica, 1996. WILBER, Ken. Espectro da Consciência. São Paulo: Cultrix 1990.

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PESQUISAS

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PESQUISAS E PARECERES.

Ruy Cezar do Espírito Santo11 e Herminia Prado Godoy12

O INTERESPE é composto por profissionais das diversas vertentes do conhecimento que possuem o objetivo de estudar e pesquisar sobre interdisciplinaridade e espiritualidade com uma visão ecumênica e com fundamentação no campo das ciências.

Nesta linha de pesquisa que obedece a um caminho interdisciplinar e espiritual, cada um dos seus integrantes conduz pesquisas sobre o campo de conhecimento que lhe ‘e de domínio.

Resolvemos abrir este espaço de artigos para apresentar os projetos, pesquisas e outros trabalhos que foram e estão sendo realizados pelos integrantes do INTERESPE.

Iniciamos apresentando três trabalhos de pesquisa de doutorado e dois de mestrado de integrantes do INTERESPE.

Junto com a síntese da pesquisa apresentamos os pareceres emitidos sobre os trabalhos pelo prof. Dr. Ruy Cezar do Espirito Santo que tem o cuidado e carinho de realizá-los de uma forma poética.

11

Ruy Cezar do Espírito Santo: graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (1957),

mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Atualmente é professor titular da Fundação Armando Alvares Penteado; professor de graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professor na UNIMESP, no programa latu-sensu denominado "Docência do Ensino Superior". Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Auto Conhecimento na Formação do Educador, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, auto-conhecimento, formação do educador, fragmentação e transformações. É autor dos livros: Pedagogia da Transgressão (SP: Papirus, 1996); O renascimento do Sagrado na Educação (SP: Vozes, 2008) e Autoconhecimento na formação do educador (SP: Ágora. 2007) dentre outros. Contato: [email protected] 12

Herminia Prado Godoy: Pós Doutora em Interdisciplinaridade pelo GEPI/PUCSP (2011). Doutora em Educação/Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP/2011). Mestra em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mackenzie/1999). PhD em Regression Therapy em 2000 pela AAPLE (USA). Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP/1978). Especialista pelo CRP/06 em Psicologia Clínica e Forense. Integrante dos grupos de pesquisa pela PUCSP (GEPI, INTERESPE) e UNIFESP (GEH). CV: http://lattes.cnpq.br/1130515834292714 E-mail: [email protected]

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TESE 1: Ana Maria Ramos Sanchez Varella13.

Data da defesa: 23/11/2006

Interdisciplinaridade, comunicação, educação, leituras, narrativas e metáforas. Tese de doutorado sob a orientação da Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda. Programa de Educação/Currículo. São Paulo: PUC, 2013.

Resumo: Como os princípios e procedimentos da teoria Interdisciplinar podem ajudar em mudanças na prática docente? Esta é a pergunta geradora desta investigação, que nasceu de uma intervenção durante as aulas de Língua Portuguesa, em uma Universidade privada, em São Paulo, nos anos de 2000 a 2006 e deu origem ao Projeto Incentivo à leitura e escrita. O registro ocorreu de diferentes formas: depoimentos escritos, vídeos, fotos, desenhos e livros. A relevância desta investigação encontra-se no fato de que muitos alunos, ao ingressarem na Universidade, apresentam dificuldades em relação às linguagens oral e escrita. Alguns não conseguem refletir, argumentar a respeito de temas expostos, por não terem uma bagagem cultural tão aprimorada. Escrevem da forma que falam, não se preocupam com coerência, clareza e coesão das ideias. Fazenda, Fourez, Ricoeur e outros autores subsidiaram teoricamente o trabalho. A metodologia utilizada fundou-se em princípios anteriormente construídos por Gauthier, com a metáfora como referência, Pineau, com as Histórias de vida e Fazenda traçando caminhos para uma investigação que tem a Ego-história como pressuposto. Escuta, desafio, desapego e humildade foram alguns dos princípios interdisciplinares geradores de atitudes, que impulsionaram ações integradas em aulas de Língua Portuguesa. Entre elas recursos como leitura de diferentes textos, elaboração de narrativas, busca de metáforas. Procurou-se analisar em que medida eles contribuem para uma melhor comunicação na educação. As conclusões do trabalho revelaram que as aulas, com incursão na literatura, mobilizam, no aluno, o sentido de investigar-se, ajudando-o a enfrentar desafios e abrindo novos horizontes em sua vida. As ações integradas podem tornar-se elementos mobilizadores, capazes de gerar auto-identificação e auto-transformação.

Palavras - chave: Interdisciplinaridade, Comunicação, Educação, Leitura,

Narrativa, Metáfora.

PARECER.

Ana Maria,

Foi um dos mais belos trabalhos que já li. Aprendi muito. Surgiram-me ideias para aplicação imediata em meu trabalho na FAAP.

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Ana Maria Ramos Sanchez Varella: Pós-doutora em Interdisciplinaridade. Doutora em

Educação: Currículo, linha de pesquisa Interdisciplinaridade. Mestre em Gerontologia, Psicopedagoga - PUC/SP. Graduada em Letras: Língua Portuguesa e Inglesa - UniPaulistana. Pesquisadora da PUC/SP dos grupos de pesquisa: GEPI (Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade) LEC (Longevidade, Envelhecimento e Comunicação) e INTERESPE (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação). Autora das obras: A Comunicação Interdisciplinar na Educação, Envelhecer com desenvolvimento pessoal e Quinta série, um bicho de sete cabeças? Contato: [email protected]. Site Pessoal: http://www.anamariavarella.com.br

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Seu “inverno”, no projeto final descrito, tinha a “mala cheia” de seu “saber”, que não levava em conta os alunos... Essa mala teria que ser esvaziada... Significava a bagagem de uma crença, normalmente, egóica, que os docentes carregam, antes de atingir o verdadeiro saber... Claro que o “ego” precisa ser construído... Assim a “mala” precisa estar “cheia”... O desafio é saber depois esvaziá-la... O corpo físico precisa de roupas...

Veio o outono, na sua sequência, e veio um pouco mais de “consciência”. Veio um “saber racional” mais evoluído, porém ainda egóico... Houve , de qualquer forma um passo adiante com a abertura da mente.

Em seguida o “verão” surge e tem início o esvaziamento da “mala”... Há um mergulho no mar... Em si mesmo: o autoconhecimento tem início... As “roupas” já não são tão necessárias... O “corpo emocional” as dispensa...

Finalmente a “primavera”... Malas vazias... A busca do caranguejo, que segundo o dicionário de símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, significa um “avatar das forças vitais transcendentes”... Em outras palavras o autoconhecimento a conduz ao despertar da consciência de sua dimensão espiritual... “Malas” vazias... Plenitude.

Deu-se o acolhimento dos alunos. A compaixão...

Beleza! Emocionei-me várias vezes lendo seu trabalho!

Será urgente a publicação...

É possível que V. conheça o livro de Anne Brennan e Janice Brewi, denominado “Arquétipos Junguianos” que poderá se visitado, nessa undécima hora, enriquecer seu trabalho (se é que isso é possível...).

Digo isso porque a obra trata das quatro “mortes” do ser humano, que se ligam a seu itinerário nas estações... Mais que isso, a meu ver se ligam ao próprio momento global que estamos vivendo, com o surgimento da inter e da transdisciplinaridade e de trabalhos como esse seu. Trarei, para seu exame, artigo que escrevi sobre a questão.

No seu capítulo sobre a “escuta”, poderia sugerir que o trabalho que V. descreve na quinta série, ensejaria uma iniciação a um “rito de passagem” , eis que aproxima-se o tempo, em que as autoras acima referidas, situam como a segunda morte: a “morte” da infância .( A primeira foi o nascimento, simbolizado como sendo a “morte” para a vida intra-uterina)

Julgo, que será de fundamental importância para as escolas tomarem consciência da importância dessa “passagem”, da infância para a adolescência, criando atividades, que permitam aos educandos uma saudável iniciação para o jovem. Há muito desses elementos em seu texto. Trabalhei essa questão num capítulo de meu livro “Desafios na Formação do Educador”, da Papirus, que terei prazer em lhe ceder.

Nas páginas 35 e 36 de seu trabalho, fica clara a importância da leitura na elaboração de um “rito de passagem”! (na página 48 do capítulo sobre os

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desafios, há um retorno a essa questão, quando é citado o artigo “Adeus Primário, Olá Ginásio”).

No capítulo dos “desafios”, é tratada uma questão, que considero fundamental na educação, que é o problema das “conexões”, que é apontado como o momento da “comunicação”.

No episódio descrito nas páginas 53/54, fica clara a importância do “acolhimento”, levando, inclusive, aos pais a importância de tal gesto, que é uma continuidade da verdadeira comunicação ou conexão.

Na página 54, são retomados os fundamentos, que sinto voltarem-se ao que chamei acima de “rito de passagem”. Minha sugestão aqui (entenda que se trata mais de uma troca, sem qualquer sentido de crítica) é que você assista ao vídeo “Ponto de Mutação”, baseado em obra do mesmo nome, de Fritjof Capra, e que ressalta uma incrível “sincronicidade” entre o que existe no coração da matéria, que Capra denomina como sendo “possibilidades de conexões” e a visão das Tradições, quando apresentam um Criador, como sendo “Amor” e o Ser Humano, Sua Imagem e Semelhança... Ora, Amor é conexão... Vejo aí um sinal do encontro da ciência com a Fé e um forte fundamento para essa visão de acolhimento e compaixão, que V. aponta em sua obra, em especial no enfrentamento do “desafio”...

No capítulo do “desapego”, as magníficas cartas a Ivani dizem tudo... É mais que um desapego: é um “nascer de novo”... É o momento do desenvolvimento de seu autoconhecimento: o “verão”. Na página 65 isso fica bem claro... Então, como afirmado na página 67, você não apenas acolhe seus alunos, mas “ouve seus gritos calados”...

Beleza! Creio que é o ponto culminante de sua trajetória, rumo a esse trabalho.

Somente com o desenvolvimento da consciência de sua espiritualidade isso se tornou possível... É o ouvido interior, aquele que permitiu a Beethoven surdo, compor sonatas...

Seu conceito de resiliência vai conduzir a Ana a esse estágio dos olhos e ouvidos interiores... (página 75 e seguintes). É aí também que surge a percepção da profundidade da questão da interdisciplinaridade... Na página 79, em especial, você deixa clara a inter-relação da espiritualidade com a interdisciplinaridade. Aliás, tal percepção é que conduz muitos autores à denominada transdisciplinaridade, que no fundo, a meu ver, são denominações diversas para uma mesma realidade.

Na página 86 você fecha com precisão sua visão da interdisciplinaridade, chegando até a citar, com precisão, Sócrates, com seu preceito délfico do “conhece-te a ti mesmo”. Sim, somente o autoconhecimento pode conduzir o ser humano a sair do universo disciplinar e egóico, para mergulhar na visão global e interdisciplinar.

Finalmente veio a sua “primavera”, a “humildade”, que já comentei acima ao abrir essas minhas anotações.

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Parabéns Ana. Senti muita alegria em tornar-me seu discípulo, lendo esse trabalho, sem falar do prazer de estar aqui, com a mestra de todos nós Ivani Fazenda.

Obrigado pelo convite. Parabéns.

Ruy Espírito Santo

Comentário da pesquisadora sobre o parecer: Querido Ruy

Suas palavras soaram profundamente dentro de mim, desde sua participação em minha banca de qualificação. Senti-me desde ali percebida por inteiro, segui suas orientações para que não maculasse suas observações.

Agradeço seu carinho da leitura sentida, carinhosamente em cada linha, descobrindo e articulando seus pensamentos aos meus. Respeito, carinho, amizade, generosidade são suas marcas profundas em nossa convivência e nos seus escritos de minha tese elaborada a partir de uma metáfora: a dos caranguejos gigantes. Você teve o olhar sensível, espiritualizado e captou o meu ser em profundidade.

Depois da defesa da tese, segui seu conselho de publicação e mais uma vez suas palavras ecoaram.

Quero homenageá-lo por inteiro, você também fez o sumário do livro e dividiu seu saber comigo em uma poesia publicada na mesma obra. Seu desapego, sua generosidade, seu conhecimento puderam me ajudar a trilhar o caminho do autoconhecimento. Meu carinho profundo e agradecimento eterno a você, amigo Ruy do Espírito Santo!

A tese que se transformou em livro: A comunicação Interdisciplinar na Educação

Retomo também o sumário que você escreveu, Ruy:

A obra de Ana Maria nos traz, dentre outras metáforas, uma viagem em busca de caranguejos gigantes, que junto com outros símbolos, permite-nos uma profunda reflexão sobre o processo educativo. Em minha leitura procurei fazer uma interpretação de tal metáfora, dentro de uma linha de busca do Autoconhecimento. A descrição de Ana nos dá conta de uma viagem no sentido inverso das estações, para encontro do caranguejo gigante, que simboliza o “avatar de forças transcendentes”. Não tenho dúvida da relevância de tal metáfora para uma leitura do processo educativo hoje em curso, como passarei a relatar. A viagem em busca do caranguejo implica num carregar de “malas”

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que irão se esvaziando até o “encontro” do símbolo em questão. Assim, no inverno havia a “mala cheia” de um “saber”, que não levava em conta os alunos... Essa mala tinha que ser esvaziada... Significava a bagagem de uma crença, normalmente, egóica, que os docentes carregam antes de atingir seu verdadeiro saber: o autoconhecimento o “princípio de toda a sabedoria” (Sócrates). Claro que o ego precisa ser construído... Assim a mala precisa estar cheia... O desafio é saber depois esvaziá-la... O corpo físico precisa de roupas... Ainda mais no inverno... Vem o outono (a viagem é feita no sentido contrário das estações...), na sua sequência e veio um pouco mais de consciência. Veio um saber racional mais evoluído, porém ainda egóico...Houve de qualquer forma um passo adiante com a abertura da mente.

Em seguida surge o verão e com ele tem início o esvaziamento da mala... Há um mergulho no mar. O Autoconhecimento tem início... As roupas já não são tão necessárias... O corpo emocional as dispensa...

Finalmente chega a primavera... Malas vazias... A busca do caranguejo chega ao fim... Em outras palavras, o Autoconhecimento conduz ao despertar da consciência da dimensão espiritual... Malas vazias... Plenitude. O ego integrado ao self, numa linguagem junguiana. O Avatar da transcendência se faz presente...

Assim, pode dar-se o acolhimento dos alunos. A compaixão... O percurso metafórico do percorrer a praia no sentido inverso das estações pode ser apontado como um Caminho interdisciplinar conducente ao Autoconhecimento.

Fiz inclusive, um paralelo com o mito do Graal, sugerindo que permanecer na praia com as “malas cheias” era na verdade o mesmo que a terra infértil do “rei pecador ferido”, que somente o Graal poderia curar... Na verdade tal “cura” é o acesso à sabedoria... É o despojar-se do conhecimento egóico, quando então a terra seria tornada fértil... O mesmo com os alunos de um Educador, que tenha a humildade de despejar sua mala do limitado conhecimento egóico, para abrir-se ao Saber maior iniciado pelo Autoconhecimento...

Enfim sinto a importância e a profundidade da obra que está nesse momento sendo partilhada com os verdadeiros buscadores.

Mais uma vez, parabéns Ana pela beleza de seu trabalho.

Ruy Cezar do Espírito Santo

Para encerrar registro a poesia que escrevi em agradecimento aos que estiveram comigo até aqui introjetando luz, amizade e conhecimento e você, Ruy, fez a delicadeza de entrelaçar suas ideias às minhas. Agradeço eternamente seus ensinamentos!

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Metamorfose Entre no mundo da imaginação e se deixe levar pelos sonhos *Andando pelas praias sem fi m: inverno, outono, verão e primavera... Sonhar? Viajar? Flutuar ... *Viver... Sonhar que tudo é possível, as emoções vividas, pensadas, idealizadas, concretizadas... *Buscadas desde sempre... Sonhar o sonho da infância, a lembrança de histórias que marcaram época *E precisam retornar... Sonhar com a beleza da vida, com a simplicidade e generosidade!!!! *Oriundas do mais dentro... Sonhar com um novo amor, novas esperanças, união. *É comungar com a Vida... Sonhar com um mundo mais digno, mais amoroso, mais sensível, mais... tudo... *Será descobri-lo em mim mesma... É possível querer viver sem fronteiras, sem amarras, sem preconceitos, simplesmente viver a vida como ela é, na sua simplicidade e acima de tudo na sua magia. *Magia já presente em nossa essência, embora tantas vezes ignorada... Viver, simplesmente, viver, intensamente, viver... somente assim percebe-se o tesouro maior da existência, os valores, ideais e sonhos... *É mergulhar, ainda uma vez, no Oceano presente no Verão... Viver a realidade com sonhos, um sonhar constante, um amanhecer sempre e um raiar do sol para apagar a tristeza da escuridão da noite. *Até encontrar o Caranguejo Vermelho... É proibido desperdiçar a chance do viver e sonhar com sabedoria! Sonhe o seu viver!!! *Faça sua poesia... Não tenha medo de se metamorfosear! *Não tenha medo do Agora!

Ana Maria Ramos Sanchez Varella Parceria nas entrelinhas (*) de Ruy do Espírito Santo

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TESE 2: Herminia Prado Godoy14

Data da defesa: 23/03/2011

A consciência espiritual na educação interdisciplinar. Tese de doutorado sob a orientação da Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda. Programa de Educação/Currículo. São Paulo: PUC, 2013. Resumo: Este trabalho trata da ampliação da consciência espiritual como possibilidade de realizar uma Educação Interdisciplinar. A linha metodológica que segui foi a investigação interdisciplinar utilizando-me da narrativa reativando a memória escrita, falada e socializada. Registrei dados de minhas vivências em consultório que permitiram transformações e revoluções de minha consciência. Procedi ao registro das observações reflexivas a partir das aulas de Interdisciplinaridade professadas por Fazenda no período de 2008 a 2010. Realizei cuidadoso levantamento dos escritos, dissertações e teses que Fazenda orientou no período de 1986 a 2010. Tabulei as respostas a 21 questionários que apliquei aos meus colegas de classe do programa de Educação/Currículo, no primeiro semestre de 2008. Três questionamentos fundamentais acompanharam esta investigação: o primeiro foi à conceituação sobre o que é a espiritualidade; o segundo tratou da espiritualidade no contexto educacional brasileiro e, o terceiro buscou respostas sobre o que é a Interdisciplinaridade vivida, praticada e teorizada por Fazenda e sua possível relação com a espiritualidade. Verifiquei que a atuação interdisciplinar de Fazenda aproxima-se do trabalho de um terapeuta de consciências, assim sendo, a espiritualidade está intrínseca na Educação interdisciplinar exercida por ela. Se considerarmos a espiritualidade como princípio da Interdisciplinaridade, poderíamos revelar que a busca da espiritualidade contemplaria os princípios: da espera, do desapego, da humildade, do respeito e da coerência. A Interdisciplinaridade assim seria um vetor de abertura à espiritualidade, e o educador interdisciplinar um terapeuta de consciências. Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Educação, Espiritualidade e Consciência.

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Herminia Prado Godoy: Pós Doutora em Interdisciplinaridade pelo GEPI/PUCSP (2011). Doutora em Educação/Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP/2011). Mestra em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mackenzie/1999). PhD em Regression Therapy em 2000 pela AAPLE (USA). Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista (UNIP/1978). Especialista pelo CRP/06 em Psicologia Clínica e Forense. Integrante dos grupos de pesquisa pela PUCSP (GEPI, INTERESPE) e UNIFESP (GEH). CV: http://lattes.cnpq.br/1130515834292714 E-mail: [email protected]

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PARECERES.

Qualificação:

Herminia,

Li seu trabalho! Creio que você está na direção correta. Sim, se na área da saúde você conseguiu desenvolver uma atividade tão vital, qual seja, a de levar uma consciência da espiritualidade na ação curativa, por que não fazê-lo na área educativa? Creio mesmo que sua tarefa é fazer o paralelo das ações mostrando a relevância que há para a educação de tal nível de consciência. Acredito que o resgate que você faz da ação na área da saúde deverá conduzi-la ao mesmo na área da educação. Na minha visão, o autoconhecimento será um dos pontos chaves do seu procedimento, eis que, a consciência da realidade da identidade espiritual do aluno, possibilitara percurso claramente direcionado ao processo junguiano de individuação. Creio que a identificação do “self” com a espiritualidade será passo também importante em seu percurso. O capítulo IV- “A Espiritualidade na Minha Prática”, em especial, já traz um vínculo inequívoco com um processo educativo. Acredito que o paralelo poderá, talvez, ir sendo feito a cada passo... Não sei se isso será fácil, mas é uma ideia para você pensar. Querendo poderemos agendar um encontro para conversarmos mais. O Capítulo seguinte que seria a espiritualidade na dimensão interdisciplinar já seria uma consequência da “Espiritualidade no Campo da Educação”. Este deveria ser o título do capítulo V. A interdisciplinaridade surgiria do “encontro” de seu trabalho na área da saúde, com sua proposta para a área educativa! Seria o capítulo VI, se necessário... Na área educativa você poderia distribuir as etapas do Caminho para a espiritualidade desvelando, por exemplo, que na infância deveria haver algo na direção da Pedagogia Waldorf, com ênfase nas Artes, o que seria uma boa indicação. Mais tarde, na adolescência um “Rito de Passagem” tal como trabalhado nas culturas indígenas. E mais tarde, então, aquilo que será o “mais novo” de seu trabalho, seria trazer para a prática educativa o que você já faz na saúde! Enfim, poderia continuar dando sugestões, porém acredito muito na sua imaginação e experiência já vivida com o tema! Parabéns pelo escrito!

Abraço grande. Ruy

Defesa:

Herminia,

Importante sua tese de doutorado! Vejo que o Sagrado está realmente “renascendo”... Sim, sua busca da espiritualidade, que a conduziu ao GEPI e a interdisciplinaridade trazida por Fazenda, é muito significativa. Sem dúvida a humanidade caminha como você longamente apontou, para um momento de “conscencialização” segundo Teilhard, conforme mencionado em seu trabalho. A educação como fonte da interdisciplinaridade, precisa mesmo acentuar o “encontro” profundo com a unidade do saber, onde as terapias por você assinaladas fazem parte. Para mim é bastante clara a figura de um terapeuta-

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educador ou vice-versa, um educador-terapeuta... Na verdade, a Unidade do Saber é cada vez mais evidente! Teilhard de Chardin, já referido, diz em sua obra “Fenômeno Humano”, que “depois de percorrer longamente o caminho da análise, o Ser Humano chega à luminosa síntese”... Tal afirmativa vem exatamente de encontro com toda a sua busca acadêmica! Lendo sua tese senti-me diante de tal “encontro” da síntese! Na Tradição Cristã, Jesus dizia que “temos olhos e não vemos e ouvidos e não ouvimos”... Claro, que tal falta de percepção é fruto da inconsciência de si mesmo que nos conduzirá a uma egoidade distante do saber único... Literalmente como o próprio Jesus Cristo irá dizer por ocasião de sua morte, seus assassinos “não sabiam o que estavam fazendo” e deviam ser perdoados... Na verdade, fica claro, que tal ausência de visão ou audição está profundamente vinculada à ignorância de si mesmo ainda hoje presente, porém já com largos espaços percorridos na direção de um saber oriundo do processo de individuação como referido em seu trabalho. O grande mistério e que merece ser aprofundado em sua tese é porque tal processo de individuação, que é o “conhece-te a ti mesmo” anunciado por Sócrates, “como principio de toda a sabedoria” ainda é tão “lento”... Creio que o ponto nuclear a ser aprofundado diz respeito a uma menção, que você faz na página 67 onde anota que o “self” é amor... Sinto que tal afirmativa metafórica, vem de uma afirmação bíblica, que diz que “Deus é Amor e o Homem Sua Imagem e Semelhança”... Ou seja, nossa essência apontada por Jung como sendo o “self”, seria como acima colocado, amor... Pois bem, observe que se somos, em nossa essência, “Amor”, ele deverá ser integrado ao ego para que ocorra nosso processo de individuação, ficando evidente o “mistério” daí decorrente, que chamamos de livre arbítrio ou liberdade. Sim, um pai pode exigir do filho, respeito ou obediência, mas amor é impossível... O amor é fruto de um livre querer! Assim o ser humano para integrar o amor como parte de seu Ser precisa “querer”... Por isso é que somos o único ser vivo, conhecido, que não nasce “pronto”! Precisamos ser “educados”... Curiosamente “educar” que vem do latim “educere” significa “tirar de dentro”... Assim caberá à Educação “tirar de dentro” de cada educando a consciência de sua essência amorosa a ser integrada! Só que “ele” precisa querer... Por isso Sócrates insistia no “autoconhecimento”, como iniciação ao saber... Não basta o educador ou terapeuta conhecer seu aluno ou paciente, ele precisa querer se conhecer... Sei que nada disso é simples, mas, entendo que deva estar presente na beleza de seu trabalho, que significará um grande passo em seu Caminhar na direção do “Renascimento do Sagrado”...

Outra questão que acredito deva ser ressaltada em seu trabalho, muito embora esteja implícita, é a questão dos sinais indicativos do “acordar” para a consciência da espiritualidade, ou seja, para o conhecimento de si mesmo. Como um educador pode “sentir” a percepção de seus alunos nesse “Acordar”? Sempre que toco em tal assunto lembro-me de Beethoven, que surdo, compunha incríveis sonatas... Ou seja, a “beleza” habita um “artista interior” a ser desvelado, como dizia Steiner! Assim a beleza é um dos primeiros sinais da consciência profunda de si mesmo ou da espiritualidade presente... Há mais dois sinais, que são a alegria e o amor. Assim, beleza, alegria e amor são os indicativos para o Educador do “nascer para o espírito”! Por tal razão Steiner, por meio da Pedagogia Waldorf, por ele gestada, insistia na importância das Artes... Sim, a presença das Artes, tanto na terapia como na educação podem

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significar o ponto de partida para o despertar do paciente ou educando para seu processo de individuação. Note que ao fazer uma música ou um desenho, ou ainda uma poesia fica claro para o autor sua singularidade, que é um dos primeiros passos para o se conhecer a si mesmo: o saber-se único! Sim, um dos problemas enfrentados pela ignorância de si mesmo é “sentir-se” identificado, ou mesmo “aprisionado” por um grupo, uma seita, um time de futebol, seja o que for, e com isso desenvolver exageradamente o ego, distanciando-se de sua verdadeira identidade! Por isso, de uma mesma Tradição Cristã, por exemplo, tantas “religiões” se enfrentaram, como até recentemente, católicos x protestantes na Irlanda! O “egoísmo” é a busca que parte de um interior ainda ignorado (o self), mas “forte”, e que conduz o Ser humano aos confrontos, lutas, perseguições e tantos sofrimentos, que no fundo significam “apelos” para o encontro da Verdade, que o libertará! Sinto que este é um dos aspectos fundamentais a estarem presentes no quadro educativo que você colocou! Entendo importante, que além, digamos assim, de todo o fundamento teórico que você traz, haja uma ênfase no “despertar” do si mesmo dos educandos, com a presença de pontos, como os acima colocados e mais ainda como “tarefa” para um educador ou terapeuta já “acordado” (espera-se...). Eu diria que há uma diferença importante entre o “crer” e o “saber”... Seu trabalho volta-se exatamente para o saber... Em primeiro lugar o “saber de si mesmo”, mas há outros pontos importantes, a serem conhecidos, e que foram trazidos pelos documentos de Nag Hamadi surgidos, sincronisticamente, no mesmo ano de 1.945, quando o “adolescente humano” percebeu que podia destruir o planeta com as bombas atômicas e que nos conduzem, exatamente, a um saber, além da crença... Importante observar que é, entorno deste ano de 45, que o trabalho de Jung, de Chardin e ainda Paulo Freire com a expressão “conscientizar antes de alfabetizar” vão surgir. Não se trata de menosprezar a Fé ou as Crenças, mas investir um passo adiante na direção do saber! Escrevi um texto a respeito desse ponto que trago aqui, para sua reflexão. Com a leitura de tal texto, encerrarei minhas observações. Gostaria de ouví-la a respeito de minhas questões, mas, desde já, cumprimento a você e a sua orientadora pela beleza desta tese!

Ruy

Comentário da pesquisadora sobre o parecer:

O professor tem uma maneira toda particular de ler o trabalho do pesquisador.

Ele é capaz de ler a alma do trabalho do aluno, descortinando facetas da trajetória percorrida ou a ser percorrida pelo aluno que nem mesmo este tinha consciência.

No meu trabalho de pesquisa com a consciência chamo este aspecto de plano ou programação existencial que significa que todos nós temos um plano

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existencial a desenvolver aqui na Terra que nos trará em sua execução uma evolução consciencial.

O problema é que este plano existencial não nos é revelado e nem poderia, pois é mutável devido ao nosso livre arbítrio. Ele é, então, por nós construído e desenvolvido. Muitas vezes somente quando executamos uma atividade, completamos uma programação é que ganhamos a consciência de que estávamos executando algo que pertencia ao nosso plano existencial.

Por vezes somos intuídos quanto ao caminho que devemos seguir e por vezes encontramos pessoas, tais como considero que foram em minha vida o Prof. Dr. Ruy Cezar do Espírito Santo e a Profa. Dra. Ivani Fazenda que sem mesmo terem consciência nos apontam com pequenos toques, palavras, gestos, ações como estes pareceres expressos de forma poética o caminho que podemos seguir.

Podemos seguir porque temos sempre o nosso livre arbítrio funcionando e nada e ninguém consegue direcionar nossas vidas não formos concordantes.

Termos consciência de que somos seres espirituais e com responsabilidades espirituais ‘e que faz com que consigamos enxergar, escutar e introjetar os sábios ensinamentos que estas pessoas nos passam.

Evolução espiritual significa nos tornarmos mais sábios, mais cientes de nossos direitos, deveres e responsabilidades de termos a intenção de a cada dia aprimorarmos mais e mais nossas qualidades espirituais, ou simplesmente sermos a cada dia melhores do que fomos ontem.

‘E vivermos a cada dia os princípios da interdisciplinaridade pontuados por Fazenda que são: a espera, a humildade, a coerência, o desapego e o respeito. Para Godoy são as qualidades espirituais ou virtudes humanas, tais como: a paciência, a tolerância, a cooperação, a solidariedade, o fraternismo, a alteridade, dentre tantas, acrescentando os princípios da interdisciplinaridade e mais do que tudo o amor que ‘e a síntese de tudo como nos aponta Espírito Santo.

Minha eterna gratidão ao prof. Rui Cezar do Espírito Santo por fazer parte desse momento de sua vida!.

Herminia Prado Godoy

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TESE 3: Telma Teixeira de Oliveira Almeida15.

Data da defesa: 08/11/2013. Práticas Corporais Educativas: movimento interno e externo do ser

interdisciplinar. Tese de Doutorado sob a orientação da Profa. Dra. Ivani

Catarina Arantes Fazenda. Programa de Educação/Currículo. São Paulo:

PUC/SP, 2013. RESUMO: Este estudo inicia-se a partir da criação de uma disciplina intitulada “Interdisciplinaridade, Autoconhecimento e Práticas educativas” como proposta para agregar aos movimentos de práticas corporais as experiências de sala de aula, possibilitando a construção do ser interdisciplinar. A pesquisa teve lugar no currículo do Curso de Pedagogia em um Centro Universitário da Grande São Paulo e o campo metodológico envolve coletas de registros de depoimentos descritos na bibliografia sobre pesquisa do cotidiano e pesquisa do tipo intervenção. Tais registros representam o universo dos alunos que vivenciaram as práticas educativas propostas. Durante o processo no qual fui construindo meu percurso interdisciplinar, vivenciei encontros presenciais valiosos, leituras de livros, artigos, experiências imagéticas, debates e registros minuciosos sobre os encontros e as pesquisas desenvolvidas, em especial no movimento do Grupo de Pesquisa sobre Interdisciplinaridade – GEPI/PUC/SP. No arcabouço teórico da pesquisa, encontrei referenciais em autores como Fazenda, Merleau-Ponty, Pineau, Espírito Santo, Nonaka e Takeuchi, Capra, entre outros considerados importantes para o estudo. Pude constatar que o processo de criação do conhecimento como alimento à inovação promove o sentido e reforça a percepção de cada pesquisado. Quando o sujeito vivencia situações, faz suas próprias reflexões, internas ou externas ao grupo onde está inserido, discute, registra, narra suas histórias e cria novos entendimentos e novas formas de percepções, torna-se elemento fundamental para novas atividades dentro ou fora do ambiente escolar. Vivenciar essas etapas e processos, habitados pela interdisciplinaridade e totalidade do ser humano, como possibilidades inovadoras no desencadear da criatividade, será, sem dúvida, uma contribuição para os educadores da área de formação de professores. Processos interdisciplinares e autoconhecimento podem, efetivamente, embasar práticas mais elaboradas que envolvam os conceitos de corpo e de movimento, contribuindo para o processo de (trans)formação de educadores. Educadores mais conscientes de que o fazer só é possível se estiver centrado no ser em movimento.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Movimento. Práticas Educativas.

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Telma Teixeira de Oliveira Almeida: Doutora em Educação: Currículo, PUC/SP. Mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMESP– SP) ano 2000. Especialista em Docência no Ensino Superior pela FIG/UNIMESP/Guarulhos/SP ano 2010. Graduada em Licenciatura em Educação Física pelo Instituto Gammon – Lavras/MG ano 1995. Integrante do INTERESPE (Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação) e GEPI da PUC/SP). Colaboradora do NEF/PUC/SP (Núcleo de Estudos do Futuro). CV: http://lattes.cnpq.br/1406608653225183; E-mail: [email protected]

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PARECER. Telma, Você conseguiu ao redigir sua tese de doutorado dar origem a uma publicação que será inesquecível! Sim, desde as fotos do Japão e da França e mesmo dos companheiros do GEPI há uma sensibilidade e beleza que nunca pude perceber numa tese de doutorado! Você já começa num mergulho na sua história de Vida, que vai significar como dizia Sócrates, “O princípio de toda a Sabedoria”. Incríveis suas vivências até oito anos na Fazenda onde o indispensável “brincar” combinava com a Liberdade... Foi mesmo o nascer de uma “Telma” hoje presente nesta tese de doutorado, que já na qualificação deixa marcas profundas. Já na sua primeira Escola você traz fotos de uma jovem claramente feliz no desabrochar de sua adolescência. Como você anotou na página 18 seu envolvimento com as expressões corporais já apontavam para o futuro da docente em Educação Física... Em sua formação, como constante da página 20, fica demonstrada sua iniciação religiosa, o que seguramente, virá conduzi-la no futuro a busca da espiritualidade na Educação. Aliás, sua formação seguirá numa Escola de Freiras em Minas Gerais, onde se vê a bela foto na página 21... Na sequência vem a formação já esperada numa Faculdade de Educação Física... Vem então sua busca da superação dos aspectos mecanicistas do movimento do corpo. Sinto que todo este trajeto até a Universidade é mais importante em sua tese do que as citações teóricas... Sim, ninguém chegaria aonde você chegou neste trabalho simplesmente pela leitura de obras diversas como as que você trouxe... Nada de errado com sua bela pesquisa para fundamentar seu percurso... Mas o fundamental é realmente sua vivência e a sequência de seu trabalho vai revelar exatamente a importância do Caminho até então percorrido... Uma futura consulta a seu trabalho a ser publicado será mais importante do que a dos autores que você traz para fundamentar seu trabalho... Observe, que assim que formada em Educação Física você dirige-se a um curso de especialização voltado para a Educação Física Escolar... Na sequência vem o seu Mestrado também na mesma direção corporal... Na página 24 você aponta para a “busca das questões que existiam dentro de mim”... Percebe? Quando você vai buscar a interdisciplinaridade e a espiritualidade nos grupos que frequenta hoje há, seguramente, uma realização pessoal, que este trabalho revela! Não só suas viagens ao exterior, na busca de mais conhecimento, mas sua integração com o trabalho de Ivani Fazenda, as Atas das Reuniões, aqui presentes, vão significar mesmo o sentido profundo de sua meta no doutorado, neste momento. Não tenho qualquer dúvida da importância de sua presença no INTERESPE e no GEPI, com sua significativa participação das atividades externas desses grupos! Minha única sugestão para uma pequena complementação em seu trabalho é você dedicar no final um capítulo que enfatize com mais ênfase o indispensável vínculo do autoconhecimento, com a interdisciplinaridade e a espiritualidade. Ou seja, a visão integral do Ser Humano, que você, com sua trajetória existencial, vêm vivenciando e é de grande relevância para todos que forem ler sua obra. Eu diria que a consciência profunda de si mesma traz a raiz da unidade do saber, que é por sua vez o nascer da Interdisciplinaridade e a vivência de uma indispensável espiritualidade. Claro que a dimensão espiritual será enfatizada cientificamente com os trabalhos de Goswami e Jung que você

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traz em sua reflexão. Enfim, somente tenho a intenção com minhas observações de deixar registrados meus cumprimentos a você e sua orientadora Ivani Fazenda pela beleza do trajeto percorrido nesta Tese.

Ruy Espírito Santo

DISSERTAÇÃO 1: Jerley Pereira da Silva16.

Data da arguição: 10/12/2013.

Interdisciplinaridade na Gestão Educacional: Utopia ou Possibilidade? Dissertação de Mestrado sob a orientação da Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda. Programa de Educação/Currículo. São Paulo: PUC, 2013. A experiência de mais de 10 anos do pesquisador, como Gestor Educacional, levou-o a esta dissertação de Mestrado. O pesquisador se valeu de instrumental de narrativa para expor sua trajetória pessoal e profissional. Mencionou, em seus estudos, que a partir da década de 80, surgiram reflexões mais significativas e inovadoras em relação às escolas, principalmente ao se tratar de Gestão Educacional. Por esse motivo, esta pesquisa tem por objetivos apresentar as novas proposições sobre aspectos históricos da área da Administração e de que maneira o pesquisador abriu sua consciência, mediante os estudos da Interdisciplinaridade. A abordagem teórica na área da Interdisciplinaridade foi fundamentada em Ivani Fazenda e no campo da Administração, em Idalberto Chiavenatto. O pesquisador estruturou o sumário de maneira simbólica, enfatizando um dos pressupostos da Interdisciplinaridade: a escuta. Para ele, é de suma importância esse destaque, pois ela faz parte de seu dia a dia e a considera um dos recursos fundamentais para o exercício diário de um Gestor Educacional. Comparou-a metaforicamente com as etapas de plantio, que também fazem parte de sua formação inicial do mexer com a terra. A narrativa do pesquisador Gestor Educacional mostrou sua preocupação no constante aprimoramento de saberes e habilidades de sua função, por meio de capacitação e da prática. Por esse motivo, propôs ao Gestor Educacional do século XXI, a possibilidade do repensar dessa função, a fim de que, ao incluir o estudo dos pressupostos interdisciplinares em sua formação, alunos, professores e Instituição de ensino sejam beneficiados com sua postura. Palavras-chave: Gestor Educacional, Interdisciplinaridade, Ensino Superior.

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Jerley Pereira da Silva: Mestre do Programa de Educação:Currículo- PUC/SP. Pós-Graduado em Gestão de Pessoas para Negócios e Consultoria Empresarial. Bacharel em Administração - UNIB (Universidade Ibirapuera). Gestor Educacional dos Cursos de Pós- Graduação nas Áreas de Negócios, Saúde e Educação. Coordenador Adjunto do Curso de Administração e Docente na UNIÍTALO (Centro Universitário Ítalo Brasileiro). Diretor Executivo em empresa de Consultoria Educacional, com ênfase em elaboração de provas para concursos públicos. Integrante do GEPI e INTERESPE - PUC/SP). CV: http://lattes.cnpq.br/1012314103423287; E-mail: [email protected]

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PARECER. Jerley! Você é o primeiro gestor interdisciplinar que estou conhecendo! Somente a nossa Mestra Ivani para “gestar” tal “Figura”... Você começa sua dissertação apontando os problemas presentes em nossa educação de um modo geral e não só no seu posto de comando. Você vai situar, em primeiro lugar, a fundamental questão do “ouvir” o aluno, que considero mesmo indispensável, porém, docentes, na maior parte, como dizia Jesus “tem ouvidos e não ouvem”... Assim o desafio é enfrentar tal nível de surdez ainda tão presente em tantos professores... Ligado a tal questão você aponta para o resgate das histórias de vida, o que vai estar ligado a tão propalada hoje “inclusão”... A inclusão não é do aluno de raça diferente ou deficiente físico, mas de cada um, após “ouvirmos” suas histórias de vida... O filme “Escritores da Liberdade”, fundado em história verídica, nos traz um excepcional Caminho para o resgate das histórias de vida, que é a escrita pelos alunos de seus “diários”... Isto deu origem a um livro já publicado, “Diário dos Escritores da Liberdade”, de onde foi elaborado o filme referido. Vale à pena refletir sobre tal ponto... Seria um Caminho para nosso Gestor, exibir tal filme aos professores no inicio das aulas, sugerindo, então, o ouvir os alunos... Na sequencia você vai apontar para a relevância do bom humor e do acolhimento do aluno. Sem dúvida, você tem toda a razão. Ocorre que bom humor e acolhimento são frutos do autoconhecimento... O professor que “ignora a si mesmo” sequer “acolhe” a ele mesmo... É aquilo que temos também no cristianismo do “amar o próximo como a si mesmo”... Costumo insistir que Alegria, Beleza e Amor são as três vivências decorrentes do conhecimento de si mesmo... Sem isto não haverá acolhimento e menos ainda bom humor... Em seguida você vai situar a questão da liberdade, que ainda uma vez, será também fruto do conhecer a si mesmo... O drama do sofrimento e da violência presente no mundo é decorrência das pessoas “não saberem o que estão fazendo”... A ignorância de si mesmo torna inviável a percepção da liberdade, que é fruto da criatividade... Há necessidade de você ser livre para realizar seu potencial criativo... Aí você tem o quadro dos obstáculos presentes na vida de um gestor e que você vem experenciando... Então você vai trazer a interdisciplinaridade como “saída” para o enfrentamento de tal quadro... Na página 61 você vai revelar que percebeu o que estou aqui situando. Sim, citando Japiassu sua colocação é no sentido da “cegueira intelectual” dos professores e um “esmigalhamento do conhecimento” o que resultará em inteligências esfaceladas... Percebe? Adiante na mesma página você vai afirmar que “não somos seres prontos” e, portanto precisamos de uma verdadeira “educação”... Ainda nesta página você vai se referir a ajuda aos pedagogos a “mudar o mundo”... Percebe Jerley, o desafio que você está enfrentando? Na sequencia você vai se referir ao aprendizado a que este mestrado o conduziu... Citando Fazenda você vai apontar para o mergulho profundo no trabalho cotidiano... Isto sem perder a humildade, que é também um desafio! Na página 63 citando Varella você anota a importância do professor ter tempo para a revelação de sua essência... É exatamente o autoconhecimento já referido! Ainda com Varella você registra a questão da

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amorosidade, que vai permitir o verdadeiro acolhimento do aluno! Ainda nesta página você faz fundamental pergunta: “O que posso fazer para colaborar no desenvolvimento da sociedade em que vivemos?” Você quer saber como a interdisciplinaridade lhe ajudará neste Caminhar... Diria que este seu trabalho, que merece publicação, é o Caminho que você já iniciou... Sugiro que você quando for publicá-lo faça um acréscimo de estratégias, algumas aqui referidas, para o enfrentamento das questões levantadas! Será uma obra que seguramente irá ajudar a “gerenciar os conflitos”, como você deseja e deixou registrado! Na página 67 você indaga se os alunos estão preparados para um professor com atitudes interdisciplinares... Jerley! É tudo que os alunos querem... Eles precisam perceber a unidade do saber, ou seja, como qualquer conteúdo trazido pelo professor está ligado a sua própria Vida. Tenho indagado a meus alunos de Pedagogia no primeiro ano, quais as questões que “nunca” foram tratadas nas Escolas que frequentaram. O número de questões trazidas é incrível, vindo desde sexualidade, alimentação, saúde, espiritualidade e assim vai. São cerca de 12 questões que eles sentem que deveriam ter sido tratadas nas Escolas, porém cada professor permanecia restrito aos conteúdos de suas disciplinas... Organizo então seminários sobre tais assuntos com resultados incríveis e uma percepção das alunas de como a consciência de tais aspectos da Vida, nunca deveriam estar ausentes da Educação! Digo isso porque a interdisciplinaridade, exatamente, abre espaço para tal atitude do Educador trazendo para sua sala de aula as questões que ele perceba que os alunos estão carentes... Esta percepção virá exatamente do conhecimento das histórias de vida... Sei que o assunto é sutil, mas estou trazendo aqui para sua reflexão porque sinto que você iniciou uma jornada com esta dissertação, que merece mesmo ir adiante... Na página 70 você coloca a questão da existência de um curso para gestores interdisciplinares... Estou de pleno acordo e esta sua dissertação poderia ser o ponto de partida para tal atividade! Por tal razão insisto na necessidade da publicação de seu trabalho com os acréscimos estratégicos que sugeri! Na página 77 você traz um texto poético de minha autoria que, exatamente, o convida para realizar os sonhos que você traz guardados no “mais dentro”... É isso aí Jerley! Realize seus sonhos! Parabéns a você e a sua orientadora pela realização deste trabalho, que poderá significar um grande passo na atividade de gestores de ensino!

Abraço grande. Ruy

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DISSERTAÇÃO 2: Simone de Andrade17

Data da arguição: 15/09/2009

Autoconhecimento e pedagogia simbólica Junguiana: uma trilha interdisciplinar transformadora na educação. Dissertação de Mestrado sob a orientação da Profa. Dra. Ivani Catarina Arantes Fazenda. Programa de Educação/Currículo. São Paulo: PUC, 2009.

RESUMO: Esta pesquisa de mestrado resultou da experiência profissional e vivencial de uma psicóloga e educadora atuante com crianças e famílias. A partir da metáfora da “Flor de Lótus” e da “escuta sensível”, questionou–se de que forma estaria relacionado o que se vivencia com a prática. Trata- se de uma pesquisa qualitativa, realizada por meio da investigação interdisciplinar, cujo sujeito foi a própria pesquisadora. Partindo da pergunta: “Como o autoconhecimento poderia contribuir para a construção de um caminho transformador interdisciplinar utilizando a linguagem simbólica para uma educação integral?”, o que corresponde ao primeiro ponto da espiral interdisciplinar, foram contemplados registros de vivências simbólicas que emergiram do autoconhecimento à luz da interdisciplinaridade e foram articulados com a pedagogia simbólica Junguiana. Outros pontos da espiral foram sendo delineados a partir das articulações das vivências simbólicas, do autoconhecimento e da interdisciplinaridade, e revelaram alguns elementos vivenciados na trilha da pesquisadora, tais como: criatividade, solidariedade, amor, alegria , gratidão, humildade, espera, desapego, coerência e respeito, que ajudaram a construir a trilha ou espiral interdisciplinar transformadora. A pesquisadora seguiu o seu mito pessoal ou metáfora: “Transformar-se para poder transformar”, o que apontou para a reflexão sobre a importância do educador conhecer-se para construir caminhos que possam direcionar à educação integradora. Para que este caminho possa ser concretizado, na pesquisa foi apontada outro elemento necessário ao processo educacional que diz respeito à vivência da consciência humanizadora propiciado pelo caminho vivencial da elaboração simbólica, que envolve a Totalidade do Ser e, por conseguinte, engloba as funções sentimento, intuição, pensamento e a sensação. Palavras-chave: Autoconhecimento, Pedagogia simbólica Junguiana. Interdisciplinaridade.

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Simone Moura Andrioli de Castro Andrade: Mestra em Educação: Currículo - PUC/SP.

Especialista em psicoterapia de orientação Junguiana - Instituto Sedes Sapiente. Graduada em Psicologia - PUC/SP. Psicoterapeuta da Regressão pelo CDEC, Terapeuta da Consciência Multidimensional - Centro de Estudos e Pesquisas da Consciência. Pesquisadora do GEPI, Prof. Aliança pela Infância e INTERESPE. Contato: [email protected]

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PARECERES.

Qualificação: Simone, Não fosse você oriunda de outro planeta... Sua tentativa de juntar autoconhecimento, com interdisciplinaridade e pedagogia simbólica é mesmo do “outro mundo”... Ainda por cima cria uma comunidade para receber os benefícios de tais reflexões... Sinto a força de tua busca e teu desejo de chegar a um resultado acadêmico significativo. Como trazer isso para a Terra? Você buscou na flor de lótus a transformação perseguida! Sair do lodo para a Luz! Alcançar o Sagrado! Tudo começa com a cura da asma, por meio de uma terapia Junguiana... Depois Weiss com sua terapia regressiva... Seu mergulho com Herminia numa prática que finda terminando com a asma... É a “Simone” que surge em busca de um mestrado interdisciplinar, realmente hoje indispensável. Sua ação voltada para crianças é um sinal de um profundo “recomeçar” existencial... Aí o Espírito Santo surgiu na tela e a conduziu a incrível Fazenda interdisciplinar. Temos então esta dissertação... Vem o trabalho de Byington, com o sentido do simbólico completando sua meta de pesquisadora... E surge a poesia de fls. 13: o sair do lodo... A busca da flor de lótus que então surgiria... Depara-se no caminho com Vygotsky, introduzindo a arte, em especial o desenho em seu trabalho com as crianças... Há um mergulho em várias teorias com a vinda de Furlanetto e Gasparello, dentre outros, e o “racional” vem juntar-se ao espiritual na busca da totalidade... É a Simone se transformando para poder transformar. O mistério da transformação permanente presente no Universo, sendo o Ser Humano o único que tendo consciência dessa realidade pode se auto-transformar e transformar à sua volta: é o surgimento da consciência ecológica... O Ponto Ômega, como referido por Chardin... Todo esse seu “caminhar” vai se encontrar sincronisticamente, como você o afirma com o “correr dos lobos” de Clarissa Estes e o encontro com o arquétipo do feminino. Nova poesia na página 21... Então vem a primeira pétala da flor de lótus!O trabalho com as crianças das favelas... E assim vai surgir a poesia de fls. 27: Caminhos... (homenagem a Ivani!) Vem, então, a segunda pétala. Aí sinto os primeiros problemas. Alguns autores escolhidos vão apontar para questões ditas globais que a meu ver destoam de seu percurso... Nesse momento sinto que presenças de Paulo Freire e Rubem Alves diriam muito mais do que aqueles eleitos para esta pétala... Sim, sinto que você “caiu” numa racionalidade estrita, distante do percurso feito até então. Um dos livros que escrevi e que não constam de sua bibliografia entra também numa visão distinta que é mais próxima de Freire e Alves como referido acima. É o “Autoconhecimento na Formação do Educador”. Sacristan e Tardiff no final desta pétala vêm como “salvadores” do até então colocado... Creio que é um capítulo que merece sua reflexão. A formação de educadores e o sentido dos problemas globais precisam de outro enfoque, que os autores referidos não trazem. Curiosamente, quando chegamos à terceira pétala você vai buscar em Freire e Maturana uma “retomada” de seu Caminho anterior! Wilber também colaborará para tanto e finalmente a presença mais explicita da interdisciplinaridade, com os autores sempre trazidos por Fazenda.

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Assim chega você na quarta pétala. Temos inicialmente a Fase I com seu sonho da casa vazia e limpa... Sinto, no contexto desse trabalho a construção feita com o “sair do lodo”... Sim, trata-se de uma nova Casa que a Simone recém-saída do lodo (ou chegada de Marte...) precisava para habitar em seu contexto transformado! Você situa bem a questão quando se refere ao processo de individuação (autoconhecimento) apontado por Jung . Realmente é seu processo existencial trazido no bojo desta dissertação... O encontro de seu “self”... Nova poesia na página 52 e a Fase II com a presença de Teilhard, já referida, com a menção da chegada ao Ponto Ômega e ainda outros autores referidos na página 53 que vão completar significativamente todo seu percurso. Quando você se refere a uma colocação minha da passagem da infância para a adolescência no ano zero e depois de 1.945 o inicio da maturidade com o processo de conscientização trazido por Freire ou conscencialização apontado por Chardin, temos o ponto fulcral para você reexaminar a segunda pétala... Repare que você está num percurso de maturidade e de completude e alguns dos autores ali trazidos ainda estão, seguramente, vivendo a adolescência da humanidade. Não se trata de “erro” mas, de visão despida da espiritualidade que você tão sabiamente coloca no cerne de todo seu trabalho! Pense nisso. No mais somente tenho elogios ao seu trabalho e as duas últimas fases somente significam mesmo o desabrochar da flor de lótus! Com a bela poesia final de fls. 66.

Parabéns a você e sua Orientadora! Ruy

Arguição: Simone! Já havia comentado, quando de sua qualificação a beleza de sua “flor de lótus” significativa de seu percurso do “lodo” para um “renascimento”, percorrendo o Caminho da Interdisciplinaridade, tendo como parteira sua Orientadora... Na verdade, trata-se de uma dissertação “sui generis” em que a pesquisadora é o objeto da pesquisa... Realmente quem vem de outro Planeta precisava mesmo, para se adaptar à Terra de percorrer tal Caminho... Meu primeiro questionamento diz respeito a uma indagação que vai mais à sua condição de psicóloga do que de educadora. Diz respeito à natureza do “lodo” de onde saiu a flor de lótus... Não será sua “sombra” o lodo? Indago isto porque se você aprofundar tal reflexão poderá, num pequeno apêndice de seu trabalho, estar resgatando muitas flores, que não conseguem “brotar”... Será que a escuridão simbolizada pelo lodo não é esta sombra gerada pelo nosso percurso ainda ignorante de si mesmo? Na verdade, na página 80, mencionando Byington, você se refere a “Sombra Circunstancial” presente em seu passado... Se isto não ficar claro, alguns leitores poderão imaginar que seria um “mal”, a ser superado, quando na verdade, a sombra, como você sabe melhor que eu, resulta de vivências, na maior parte vindas da infância e da adolescência, quando a consciência ainda não desenvolveu-se na sua plenitude. Nesse sentido, entendo que tal “lodo” é mais que uma “sombra circunstancial”, como referido... A menção que você fez ao percurso adolescente da própria

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humanidade revela como o afirma Teilhard de Chardin, um caminho de análise até chegarmos a uma síntese, ou seja, na chegada ao Ponto Ômega! Ora, tal metáfora trazida simbolicamente para a humanidade, como um todo se refere a uma vivência ainda presente, no próprio ser humano, que para chegar à referida “conscencialização” ou Ponto Ômega, como já referido, precisa superar os níveis de ignorância vividos até então. Claro que a “ignorância” da humanidade é entendida, como disse acima, simbolicamente, mas cada um de nós continua passando pelas etapas infantis e adolescentes, para que se chegue ao ponto Ômega, ou seja, a Flor de Lótus possa florescer. Por que estou colocando tal questão? O autoconhecimento, como principio de toda a sabedoria, como anunciado por Sócrates, precisa de uma plenitude de saber de nossa própria História. Por que todos os seres vivos “nascem prontos” e o único que precisa ser “educado” é o Ser Humano? Ou ainda, porque é o único ser vivo conhecido que tem o “livre arbítrio”, ou seja, traz o mistério da “liberdade”? Responder a tais questões é um desafio, mas a psicologia, especialmente a junguiana, a que você recorreu nos traz a visão da “sombra” gerada pela nossa ignorância e/ou falta de “educação”, que como você mesma afirmou em seu trabalho, significa “tirar de dentro”. Tal sombra, portanto, que já foi por tantas crenças, chamada de “mal”, precisa nesse momento ser “entendida” como o inevitável lodo, fruto da ignorância, de onde brota a “flor de lótus”! Gostaria de ouví-la a este respeito e sugerir mesmo, como disse acima, que você incluísse um apêndice sobre a questão, especialmente se esta dissertação for publicada! O que espero que seja! Resumindo e concluindo veja que seu percurso de “nascimento” – a Flor de Lótus aqui descrita – foi fruto de um Caminho aqui revelado, que teve o “lodo” na Origem... Será que cada Ser Humano não deverá “querer” viver tal “novo nascimento” a partir do autoconhecimento? Sinto que sua resposta a tal questão trará importante contribuição no Caminhar dos Educadores, de forma especial, mas também para aqueles que lerem seu “percurso”, no livro aqui imaginado e desejado! Veja que o sonho que você descreve no final de sua dissertação diz respeito à integração do masculino com o feminino, que é um dos pontos significativos presentes na “sombra”, dados valores culturais e religiosos discriminadores, ainda presentes dentre nós... Importante esta visão que você foi buscar na Tradição Hindu, da integração dos opostos, Unindo masculino e feminino! Lembro que como também dizia Jung, tratava-se do “animus” presente na mulher e da “anima” presente no homem! Entendo perfeitamente o valor que você deu a este sonho arquetípico! A beleza de seu trabalho precisa trazer ao leitor à visão de um percurso em direção a “Flor de Lótus”, que cada um deve buscar! Não tenho qualquer dúvida que é um símbolo do autoconhecimento! Repare o “casamento” havido com o título de seu trabalho: “Autoconhecimento e Pedagogia Simbólica” Assim, como já deixei claro na sua qualificação todo seu percurso foi muito significativo e deixo aqui meus cumprimentos a você e a sua Orientadora pelo Trabalho.

Ruy Espírito Santo

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Comentário da pesquisadora sobre o parecer:

A minha mais profunda gratidão ao professor Ruy Cesar que sempre me acolheu com sua sabedoria e sensibilidade.

Inspirou-me a desbravar ‘matas’ e ‘trilhas’ propondo reflexões e profundas percepções com sua escuta sensível e amorosa.

Desta e de outras dimensões meu profundo agradecimento por todo o sua dedicação e fonte de inspiração criativa e poética.

Sementes de uma flor que desabrocha.

Ainda entorpecida por tanta luz por vocês refletida, resolvo compartilhar esse momento de percurso em nossa trilha percorrida.

Sim, nossa! Pois, aos poucos, senti que não estava mais sozinha. Pude convidar ou vocês foram sendo convidados a me convidar? Sei que estou muito agradecida pelo convite inicial que me levou a fazenda interdisciplinar, no entanto, às vezes sozinha, não conseguia nela chegar. Sentia dificuldade em identificar todos os sinais e no trajeto, ficava a perambular. Questionava-me se estava perdida, iludida ou se não conseguia enxergar. Ficava angustiada ao pensar que poderia me perder e nela não conseguir retornar. Foi então, um dia que, ao olhar em volta, entregue ao caminho, com esperança, mas sem procurar, recebi um sinal de uma frondosa árvore. Parecia precisar de socorro e cuidado, precisava também de uma reviravolta. Suas raízes pareciam fracas, precisavam ser nutridas e fortalecidas. Impulsionada pela própria natureza e intuição, pude ouvir das minhas entranhas que poderia ajudar. Novamente, o sábio mestre sinalizou o caminho e juntos pudermos socorrer a frondosa árvore. Era só um indicador para o início de uma trilha que mais pareceu um Triaton ou uma tríade construída? Elenice aparece pedalando comigo em uma mesma bicicleta. sonho ou realidade? Tentávamos juntas nos equilibrar.

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Ruy propicia a largada, me ensina a nadar e como um sábio guia que, já aprendeu a voar, com o seu Espírito Santo, sinaliza que me esqueci de colocar na bagagem da trilha justo o que vou mais precisar?! E quando exausta avisto a Fazenda, adentro correndo e percebo a beleza que me orienta. Respeitando a minha natureza, ela me aponta que estava a minha espera e que era só ter coragem para caminhar! Percorremos um trecho da trilha, aprendi com tantos mestres o caminho e agora sim, posso revisar a minha bagagem escolhendo o que realmente vou precisar. Senti - me compreendida, acolhida por olhares e braços fraternos. Senti muitas vibrações de amor. Assim, pude mostrar- me em minha inteireza, podendo ao me desnudar, sentir a alma purificar. Sinto profundamente agradecida ao universo por vocês poderem participar desse Triaton comigo. Recebam todo o meu carinho e amor que aprendi com vocês, que é o essencial a ser levado na bagagem, de todas as trilhas que ainda por nós serão construídas e percorridas. (OBS: esta poesia foi fruto de dois sonhos: um com Elenice que fez parte da minha banca de defesa da dissertação: “nós estávamos pedalando juntas uma bicicleta”. O outro no dia anterior a qualificação: ”estava entrando, em um navio, só com uma mochila, fiquei angustiada porque achava que faltavam as roupas que precisava usar, mas fui conseguindo algumas coisas emprestadas e outras coisas tive que ficar sem e aceitar, ou seja, não coloquei tudo na mochila porque tinha que perceber a essência? Ou reconhecer meus próprios recursos?)

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TEXTOS

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1 BELEZA, ALEGRIA E AMOR. Ruy Cezar do Espírito Santo18

Trago aqui a vocês aquilo que sinto que é o âmago do processo do autoconhecimento: a percepção da Beleza, da Alegria e do Amor (muito do aqui constante já consta de alguns capítulos do livro “O Autoconhecimento na Formação do Educador”, porém quis acentuar a questão da importância, não só da beleza, mas do autoconhecimento como parte indispensável de seu “surgimento”).

Beleza, Alegria e Amor...

O grande mistério de nossa existência percorre o Caminho dessa “trilha”...

Sim, a Vida à nossa volta é marcada por profunda beleza oriunda do próprio Universo e da Natureza à nossa volta... Se não a poluímos há uma fantástica beleza desde a asa de uma borboleta até a fragrância de uma rosa... São tantos os insetos com incríveis detalhes e cores e mais ainda a pluralidade de flores... Assim vivemos imersos num infindo Universo pleno de astros e estrelas que nos aparecem à noite, especialmente, como também diante de um fantástico oceano e imensas florestas... Enfim, a Vida à nossa volta é de uma beleza inacreditável, que tantas vezes nos escapa, “por termos olhos e não vermos”... Não é só a beleza visual... Há também aquela que ouvimos: pássaros cantando, cascatas soltando suas águas, ondas do mar a se derramar... Há também a beleza do toque com as mãos: troncos de árvores, pelo de animais, areia de uma praia e assim vai... O Ser Humano já nasceu imerso nesse universo de beleza e, sincronisticamente pode também produzir beleza: pintura de quadros, como uma “Monalisa”... Sinfonias com as de Mozart... Danças incríveis como as geradas no Bolchoi, dentre outros, poemas e histórias e assim vamos vivendo como artistas, músicos, dançarinos e tantas outras manifestações de beleza, como nas artes manuais, como as de Michelangelo... Cada criança em suas aulas é estimulada, e deveriam ainda ser mais, a criar tais belezas... Quando mergulhamos profundamente numa das belezas acima referidas surge um segundo mistério presente ao ser humano

18

Ruy Cezar do Espírito Santo: graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (1957),

mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Atualmente é professor titular da Fundação Armando Alvares Penteado; professor de graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professor na UNIMESP, no programa latu-sensu denominado "Docência do Ensino Superior". Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Auto Conhecimento na Formação do Educador, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, auto-conhecimento, formação do educador, fragmentação e transformações. É autor dos livros: Pedagogia da Transgressão (SP: Papirus, 1996); O renascimento do Sagrado na Educação (SP: Vozes, 2008) e Autoconhecimento na formação do educador (SP: Ágora. 2007) dentre outros. Contato: [email protected]

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que é a alegria! Tal alegria quando “aprofundada” nos conduz a “alegria de estar vivo”... O poder vivenciar a beleza que nos envolve! Quando começamos a nos indagar qual a origem de tal beleza e desta alegria daí resultante vamos encontrar no “mais dentro” a energia do Amor! Sim, há um mistério de Amor que gerou a Vida em nosso entorno para desfrutarmos a beleza e a alegria... Sim, flores, músicas, animais, estrelas, mares e rios nos envolvem misteriosamente e nos conduzem a fundamental pergunta: de onde vieram? Quem desenhou o contorno das asas de uma borboleta? Ou gerou uma Via Láctea? Porque o Ser Humano é o único ser vivo conhecido capaz de fazer música, desenhar, de fazer uma poesia ou dar uma aula? Surge então a terceira parte do mistério existencial, como acima referido: o Amor...

Não é, por acaso, que a Tradição Cristã, nos diz que “Deus é Amor”... E ainda que o “Ser Humano é “Sua Imagem e Semelhança”... Ou seja, o “Mistério” da existência que podemos denominar como sendo “Deus” nos é apresentado como sendo “Amor”, que seria a fonte de toda a beleza surgida à nossa volta e nós, como portadores de parte de tal mistério, também podemos criar tal beleza geradora da alegria... A grande indagação é: porque se assim se apresenta a realidade há tanta poluição, destruição, fome, miséria e guerras infindáveis?

A resposta que me vem diz respeito a outro mistério: de todos os seres vivos existentes somente o Ser Humano não nasce “pronto”... Ele precisa ser educado... Ele traz no mais dentro de si mesmo o desafio da “liberdade”... Nenhum coelho poderá ser “outra coisa”, porém, um Ser Humano irá buscar seu Caminho... Este o ponto de partida de nossa existência e notemos que ao apontarmos para a metáfora do “Amor”, como sendo nossa “essência”, vamos verificar que a vivência do “Amor” somente é possível com a “presença” da Liberdade!

Sim, um pai pode exigir do filho obediência ou respeito, porém “Amor” é impossível...

Assim, Beleza, Alegria e Amor significam o ponto de partida para o “principio de toda a sabedoria”, que é o famoso “conhece-te a ti mesmo” trazido por Sócrates há mais de dois mil anos.

Trago toda esta reflexão para alertar aos Educadores o ponto de partida de todo o trabalho a ser realizado nas Escolas, qual seja, despertar nos seus alunos a capacidade de realizar a Beleza aqui referida, presente em todo o Universo, e potencialmente no “mais dentro de cada um de nós”. Como “educar” é “tirar de dentro”, caberá aos Educadores “tirar” tal beleza de cada aluno... Em outras palavras trazer de forma abrangente a Arte para a sala de aula. Num segundo momento conduzir seus alunos sentirem a Alegria de estarem vivos por participarem do mistério da existência... Finalmente fazê-los vivenciarem o Amor, que os conduzirá a querer “cuidar da Natureza” e do “Outro”, seja seu companheiro de classe, seja, de forma muito especial daqueles, que por força da ignorância ainda presente no planeta, os conduzem a situações de extrema miséria e sofrimento... Mostrar-lhes que com a ampliação do nível de consciência da humanidade estamos, especialmente a partir do século passado assistindo ao surgimento de tantas Organizações Não Governamentais, como Médicos Sem Fronteiras ou Anistia Internacional. Trata-

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se do “despertar” de uma consciência ecológica, para cuidar do planeta poluído pelas gerações passadas, ainda sem a consciência que hoje trazemos, ou ainda “cuidar”, como dito acima, daquelas vítimas da mesma inconsciência presente a nosso passado histórico. Lembro especialmente na área da educação, que foi somente na metade do século passado que um educador como Paulo Freire proclamou o “conscientizar antes de alfabetizar”... Assim, fica aqui um convite para que nos “mudemos” para a “eternidade do agora” a fim de vivermos a cada instante toda a beleza, a alegria e o amor possíveis.

É preciso que a gestão de uma Escola conscientize-se das medidas que devem ser tomadas para que a Educação possa trazer aos alunos a percepção profunda do sentido da Vida, com a vivência da Beleza, da Alegria e do Amor. Seguramente será o despertar da relevância da interdisciplinaridade em qualquer curso trabalhado.

Esta ”introdução” visou revelar a beleza presente em reflexões feitas por alunos após o desenvolvimento de um trabalho na direção do acima indicado. Transcrevo na sequência trechos das reflexões referidas para que o leitor perceba o efeito de um trabalho de “conscientização”.

Até sempre Ruy!

Descobrindo o Ser... A Voz do Aluno...

1. “Durante o curso sempre esteve imbuída a questão da criatividade, no sentido de incentivarmos aquilo que nos é próprio, que nos caracteriza de modo único. E assim devo ser em meu ato pedagógico . Devo não só enquanto futura pedagoga , mas enquanto ser humano, ter um real conhecimento da importância, que a minha presença tem no mundo. Com o autoconhecimento podemos perceber essa importância, pois na medida em que estamos no mundo e com o mundo , somos o mundo . Não o mundo humano, mas o universo inteiro, pois somos componentes na sua evolução e transformação.” “Hoje, posso dizer que sou uma menina-mulher, onde tenho momentos mesclados desses dois papéis, acho que me encontro num momento de dúvidas e incertezas, quanto ao que farei, mas considero esse meu estado como necessário à minha existência e que é passageiro, pois sei que farei o que quero, já que sou livre e autônoma no meu caminho, mas também dependo dos outros para agir e reagir. Hoje sou a M. ser humano, menina-mulher, futura pedagoga, mas sou mais, além disso: sou vida diante da beleza do universo” (M.C.E. - Pedagogia PUC – 2.000).

2. “Acredito ser esta palavra a síntese do meu caminho de aprofundamento

na sua disciplina: COMPAIXÃO. Esta palavra para mim possui um sabor novo, o de comunhão. Realmente todos nós possuímos uma mesma essência, que nos leva a nos acolhermos como diferentes. Eu agora digo não a um relacionamento de suportar um ao outro. Eu parto agora com o desejo de conhecer a mim mesma partindo do outro, que é a ‘ visão de nós mesmos’. É o amor, como você sempre nos repetiu o fundamento e

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o motivo do nosso viver e que nos faz sempre livres, saboreando o gosto de viver” (R.B.X. – Pedagogia PUC 2.002)

3. “O que mais pude desenvolver ao longo de nossas aulas foi a minha

sensibilidade, que estava perdida, ou talvez não fizesse parte, para mim, da didática. Didática, vai muito além de modelos prontos e receitas.”... “No meu estágio pude ter contato e ver como tudo isto está perdido. Os professores tratam e agem com os alunos, como se todos fossem iguais, com os mesmos sentimentos e expectativas. Já vem com uma receita pronta (BA, BE, BI, BO, BU) e a passa para a lousa, para o aluno copiar e ela corrigir.”...” Deve fazer parte da didática do professor a compreensão de que o aluno não é apenas um corpo, com um cérebro e sim um ser que possui também um espírito e que ele é individual. Quando o professor possui esta compreensão de que cada ser é único e aprende a respeitar esta individualidade, sua relação com o aluno fica mais próxima e o ensino e a aprendizagem mais prazerosos . ( R.E.C. – PUC Pedagogia 2.001 )

4. “Os professores ainda acreditam que ‘sabem tudo’ e que os alunos ‘não

sabem nada’, assim não há ‘autotransformação’ nem para o professor, nem para o aluno. O primeiro passo para a mudança interior é assumir que ‘nada sabemos’; essa afirmação trará a humildade necessária ao educador, para ‘ouvir seus alunos’ , o que trará a possibilidade de conexão . Não posso querer obter conexão com o Outro sem primeiro conectar-me com o Outro em mim mesma . Essa busca interior faz toda a diferença. Deveria existir em todas as séries a disciplina do autoconhecimento , assim seria trabalhada com os alunos a conscientização por meio de diários , de conversas em grupo , da arte... Seria discutido o quanto criamos ilusões para nós mesmos , quanto poder existe em nossos pensamentos e ações, como podemos destruir e criar.” (P.C.L. - PUC – Pedagogia 2.003)

5. “È impossível voltar ao tempo passado para que possa resgatar algo

perdido. O que vale realmente é a consciência adquirida do que se perdeu e a criação de uma disposição para mudar, ou seja, fazer com que minha auto-compreensão acorde, para que a luz da consciência brilhe em mim. Dessa maneira, naturalmente eu resgato o sentido de mim mesma, pois novos domínios de compreensão, como a investigação, a observações e o olhar se fazem presentes; por isso é fundamental escrever, para que eu registre meu pensamento e reescreva quando necessário a respeito de minhas novas experiências.”...” Pessoalmente o que foi mais importante, sem dúvida, são os questionamentos que faço sobre mim mesma; os caminhos que estou escolhendo; se são suficientes para que eu atinja meus objetivos; em que posso melhorar; se estou lidando bem comigo e com as pessoas à minha volta...” (L.M. PUC – Pedagogia – 2.003)

6. “Assim como todas as criaturas afundadas em suas rotinas, o tempo

ainda é um dominante em tudo que faço. Admiro a R. por ter conseguido se abster do uso dos ponteiros, que giram incansavelmente , noite e

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dia, dia e noite, nos tornando escravos de seu funcionamento . Talvez por isso , não sou capaz de manter uma disciplina ao longo da vida ; encontro-me numa constante corrida contra os minutos que escapam-me dos dedos”.... “Acorde, olhe para o céu , fale alto para que todos lhe ouçam , grite se for preciso, sorria para o homem enfezado, mesmo sem ser correspondido, escolha um dia para não se importar com os comentários alheios, aproveite para dar um abraço em quem você gosta e nunca teve coragem, elogie alguém, sem esperar que seja recíproco, cumprimente o motorista vizinho, quando o trânsito for intenso , tome sorvete, enquanto todos reclamam do frio, vista aquela sua blusa fora de moda, e se alguém criticar, diga que o chique é ser autêntico e “démodé”, cante no corredor e surpreenda-se com a beleza de seu próprio eco, estacione o carro a cinco quadras de seu destino e contemple o caminho, mude o caminho e olhe o entorno , mantenha calma quando todos arrancarem os cabelos, leia a coluna de fofocas sem a culpa de um ato frívolo, tome suco ao cair da tarde, ligue para um amigo distante, não importa o motivo, apenas ligue, e diga que se lembrou dele hoje, coma um doce, dois se quiser, deixe para amanhã os efeitos calóricos, desprenda-se das horas, oriente-se pela luz nas janelas, roube um beijo, sem pedir desculpas, ouça aquele vinil velho e riscado, resgate as memórias, emocione-se, volte ao presente, olhe para o céu novamente, observe as cores, as nuvens, suas formas e movimentos, ouça mais e fale menos, sente do lado esquerdo ao invés do usual direito, saboreie um hot dog no lugar do arroz com feijão, por um breve momento aposente o celular, esqueça os compromissos, mentalize um desejo, o céu mais uma vez, olhe, extasiante não é mesmo?! Pronto, mais um dia diferente de todos os outros” (F.I. PUC Pedagogia – 2.002). 7. “Educar, “Pantomima” em vários atos, bailado interpretado principalmente pelo indivíduo agente do processo educativo. Figurino utilizado: a malha mais confortável para viver o dia-a-dia plenamente e que melhor adapte-se ao seu movimento interior. Realmente, o artista em sua fantasia consegue vencer dragões, conquistar o amor impossível e erguer máquinas e engenhocas incríveis, mas basta desfazer-se da personagem, que volta novamente a ser aquele individuo frágil, inseguro e prisioneiro da própria sombra, mortal como todos os outros mortais. Acredito que a arte está totalmente ligada a educação, por meio da percepção, da expressão, da explosão de ideias e da construção de características de uma determinada personagem”... “Pode ser que quando eu termine o curso, não me recorde da teoria, dos filósofos ou dos pensadores vistos no decorrer de todos esses anos, mas com certeza recordarei da essência de suas aulas. Recordarei que nelas encontrei o que tanto procurava na educação, e que por momentos pensava serem só coisas vistas na infância, com um mestre querido e que ficaram guardadas na memória ; encontrei nas suas aulas o que as lembranças me fizeram tentar colocar em prática.” (J.V.R. PUC – Pedagogia 2002).

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8. (parte do relato de aluna que fez o exercício de olhar os olhos no espelho, e depois buscou os olhos de um seu aluno). “No começo me deu um certo pavor, depois percebi que existo e faço parte da minha própria vida ; isso me trouxe satisfação e ao mesmo tempo um certo medo por conseguir me enxergar, como uma pessoa única e que faço parte de um mundo enorme , que ao mesmo tempo é pequeno porque consegui me encontrar diante dele. No dia seguinte resolvi fazer o exercício com um aluno que dá muito trabalho na sala de aula. Na hora do recreio todos os alunos saíram e pedi para que ele ficasse. Olhando nos seus olhos, coloquei a mão em seu ombro e perguntei: - O que está acontecendo com você? Ele ficou assustado e não respondeu nada. Ficamos alguns instantes em silêncio. Novamente perguntei: - O que está acontecendo com você? Pode contar comigo, estou aqui como amiga. Ele encheu seus olhos de lágrimas e me falou: - Não posso falar, pois você vai contar ao meu pai. Respondi: - Sou sua amiga. Ele não aguentou e começou a chorar e me contou toda a sua vida e suas mágoas. Comecei a entender porque ele é bagunceiro; é uma maneira de sufocar sua dor e seus problemas que são sérios. Depois disso mudei minha postura com ele, por compreender e entender sua vida; ele também mudou comigo. Hoje vejo que ele me vê como amiga e tem muita confiança, pois tudo que precisa vem falar comigo. Todos os dias chega à sala e me dá um enorme abraço, senta e participa da aula. Olhei o tempo todo em seus olhos fisicamente; foi como descobrir, que eu me “Amo” e posso transmitir esse amor. (E.C. PUC – Pedagogia 2.003). 9. (outra experiência do exercício referido no item anterior) “Ruy, em primeiro lugar quero lhe confessar que venho tentando fazer essa experiência há muitos anos. Só que nunca consegui me olhar mais que um minuto. E agora me deparava com um exercício que tinha que fazer, não poderia mais fugir. Demorei uma semana para conseguir, foi muito difícil. Sentia medo, quando percebia que alguma coisa estava mudando dentro de mim. Então parava de me olhar. Na sexta feira sua aula mexeu muito comigo e pensei: vai ser hoje. Cheguei em casa a meia-noite , tomei banho, jantei e quando percebi que só eu estava acordada resolvi fazer o exercício do espelho . Primeiro voltei a sentir aquele medo como de costume, mas fui forte e não parei de me olhar. Depois fui superando o medo e cada vez mais me buscando de dentro de meus olhos . Ruy... Algo extraordinário aconteceu! Eu pude ver minha alma. Senti uma emoção que jamais conseguirei lhe explicar em palavras. Chorei muito, sorri muito, e o melhor de tudo: pela primeira vez eu me amei muito! Sim, pode acreditar; em 26 anos de vida era a primeira vez que me amava de verdade. Sempre me achei feia, sem graça e inferior às outras pessoas. Acho que deve ser por isso que me tornei uma pessoa muito carente. Pensei tudo isso a meu respeito por longos anos e de repente uma pessoa maravilhosa me aparece e o mais curioso é que “ela” sempre esteve ali e eu nunca percebi...

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Como pude demorar 26 anos para me amar e dizer isso com todas as letras, olhando para os meus próprios olhos? ! Sempre vivi como se fosse incompleta, parecia que me faltava alguma coisa. Agora não me falta nada, sou completa e sou feliz. Cheguei a conclusão de que ninguém tem o poder de nos fazer felizes a não ser nós mesmos.” ( E.A.A.- PUC Pedagogia 2.003). 10. “Novamente dirijo-lhe a palavra (com muita alegria) e hoje digo que tudo é “conexão”, aliás, essa palavra se tornou muito significativa para mim. É necessário conhecermos a nós mesmos para agirmos na Educação com o outro, o que geralmente não ocorre. Para muitos professores , os alunos são somente cérebros que devem receber informações , esquecendo-se que existe o aluno que sente, percebe, tem Luz e pode refletir essa Luz para o mundo. Não consigo perceber a Filosofia desprendida do autoconhecimento. E novamente conexão! Tudo é conexão!!! Como é belo perceber essa imensidão !! Essa amplitude, a dimensão !! Novamente tudo é importante, porque aprendi a arte de viver a vida... REALMENTE ! É desfrutar cada coisa , assim como enxergar uma flor no meio do trânsito ; enxergar o movimento dos carros como uma dança ; enxergar a beleza do olhar no outro, num ato de olhar sincero, um olhar com carinho. Não somente na Educação... A vida deve ser assim, vivida PLENAMENTE!! “(E.A.C. – PUC – Pedagogia 2002). 11. “O mais importante para mim, foi conhecer um pouco da C.. Andávamos tão distantes, e embora estejamos sempre tão juntas não a via, não a ouvia, não a sentia há muito tempo, foi um encontro muito significativo, que mudará as duas daqui para a frente. Levamos um objeto significativo para nós, e se hoje a pergunta se repetisse: - Qual o objeto mais significativo para você? Por quê? Minha resposta seria outra, com certeza o desenho da “Ferida Aberta” e do encontro com o Graal. Nada jamais me tocou em tal profundidade, aquele desenho “sou eu”, explica minhas atitudes, virtudes, sentimentos... Foi a maior expressão que já fiz, expressei minha alma sem saber, fazendo um desenho pensando mais no Rei do que em mim, e o Ruy, com sua sabedoria suprema, relatou o que viu naquele desenho, e neste momento senti arrepios, meu coração bateu mais forte e eu me encontrei por inteira. Senti vontade de chorar, não nego, mas também senti alegria, pois foi a primeira vez que uma pessoa falou das minhas atitudes sem crítica, e sim como uma razão, um sentido. Assim como eu sempre digo, as pessoas têm atitudes que condizem com sentimentos, com um motivo, por isso nunca julgue, pois você nunca esteve em seu coração para lhe sentir. Por mais que eu gostasse dos demais trabalhos, sei que aprendi com todos, esse foi o melhor, o auge. É difícil uma pessoa sozinha, sem esse respaldo que as aulas nos deram, conseguir ter esse nível de percepção de si mesma; percebo que este é um processo, que no início foi difícil, tanto me “abrir” quanto me descobrir, mas hoje vejo tudo diferente e claro. “(C.R.S. – PUC- Pedagogia 2003).

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2 O ESSENCIAL, UMA MENTE/CORPO APRENDIZ. Cristina Belfort19

Observo que em meu processo o despertar, se deu em pequenos e grandes momentos significativos, e como num desabrochar dos sentidos do corpo e dos mecanismos da mente maior, tenho descoberto dimensões de mim e da natureza em minha volta que tem dado uma nova conformação na maneira como me relaciono com a vida. Hoje ela me parece muito maior, mais bela do que há anos atrás.

Difícil, colocar em poucas palavras, os saberes que o corpo, a alquimia interna desenvolve. Ainda mais quando o “Corpo” que detém os códigos desse saber está distante. É como se reduzíssemos ao mínimo a dimensão que toca, que se manifesta, enquadrando-a, dentro de estreitos limites. E o conhecimento perde sua dimensão vibrátil (termo perfeito, usado por Suely Rolnik)4 tornando-se alguma outra coisa.

A partir de um tempo, não muito distante,

Descobri que meu corpo vibrátil, acrescenta às palavras,

dimensões que elas não conseguem expressar.

Às vezes poucas palavras,

tão carregadas de significados, bastam.

Elas tocam profundamente.

E em algum ponto, algo acontece.

Um nível acima compreende e integra.

Como num caldeirão, ou numa nebulosa, onde a formação de estrelas acontece, é daí, deste lugar impalpável, de infinitas possibilidades mantidas em suspenso a enriquecer o colapso que se precipita na criação. Às vezes basta um gesto, uma palavra e percepções, antes nem pensadas, jorram numa relação cheia de significantes. Elas brotam e suscitam mais e mais reflexões sobre a complexidade do que acontece nesse nível de relação com a vida. Vejo que o corpo é repleto de sensores internos e externos, que captam e emitem informações, de todos os níveis e não nos damos conta disso acontecendo. É no silêncio e na ociosidade que me dou conta dessa profusão.

Silêncio nutridor de minha alma.

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Cristina Belfort: Educadora Pesquisadora Transdisciplinar, Designer em Sustentabilidade e Artista Plastica e Designer em Tecelagem.

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E ela responde com

Beleza, com criação.

Nascida em São Paulo, mas criada no interior, tive uma infância e adolescência rica no contato humano e natural. Bastava necessitar de refúgio e lá estava minha árvore favorita com um grande galho que era minha poltrona, meu lugar de contemplação, de contato com meus sonhos e sensações.

Havia também ou um minúsculo quarto, onde fiz meu estúdio de criação, e ali passava horas sozinha, ou melhor, com a infinidade de mim mesma, escrevendo, pintando, fazendo artesanato, ou não fazendo nada, apenas divagando.

Uma família um tanto difícil mobilizou altos níveis de elaboração para a preservação de minha identidade. Aos vinte e quatro anos, ao terminar a universidade, saí da casa de meus pais e me mudei para São Paulo. Foi como se a vida começasse ali. Até então a vida era apenas um turbilhão de sensações que não se apresentavam de forma confortável, mas me mobilizavam em busca de alguma coisa que não podia identificar.

Casei, tive uma filha, e por 18 anos vivi a partir de meu trabalho como tecelã, e a produção de moda com tecidos exclusivos. Mas havia a sensação de que algo estava faltando. E, apesar do fascínio que essas criações causavam nas pessoas, fui empurrada por algum nível de mim mesma para uma formação terapêutica. Paralelamente, investi nos dois universos por mais ou menos oito anos. Aos 33 anos comecei a trajetória de meu desenvolvimento pessoal.

Devido a uma sinusite de oito anos, e por ter passado por todos os tipos de tratamentos possíveis, comecei sessões de cromoterapia e meditação numa tentativa de fugir de uma cirurgia. Em um mês e meio, não tinha mais sinusite e a partir daí, até os dias de hoje, nem mais um sintoma.

Nessa estrada, fui sendo conduzida para as mais diversas experiências, onde aos poucos fui amadurecendo o contato com universos de realidade que se comprovavam na trajetória do “mundo real”. Era como se pudesse ler o que estava no nível invisível aos olhos, mas estava lá em algum lugar. Era só levantar a cortina e um universo me contava coisas. No início, não podia entender o que as sensações incômodas de meu corpo queriam dizer.

Os contatos com níveis profundos da natureza puderam ajustar, relembrar meu corpo da ordem natural de sua estrutura. Por meio de rituais xamânicos, saunas sagradas, conversas com as pedras dos rios, florais, sessões de cura, meu consultório terapêutico e os processos de cura que aconteciam ali dentro, foram me fazendo compreender uma outra dinâmica na relação da vida.

Mergulhei em muitas filosofias, religiões e seitas, e cada uma delas me trouxe parte do que precisava saber. Consegui perceber que todas buscam a mesma coisa, por meio de nomes, imagens e personificações aparentemente diferentes. Cada uma delas me mostrou aspectos importantes para a compreensão cosmológica. Hoje, quando leio com olhos de leiga, é verdade.

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sobre as descobertas das novas ciências, percebo que apesar de tudo já ter sido ensinado pelas tradições ancestrais, essa é mais uma forma de compreender o funcionamento do universo.

Observo em mim uma eterna curiosidade que aprende e se encanta com cada encontro. Uma disponibilidade e confiança para correr riscos me impelem para o desconhecido, pois o prazer que as descobertas do novo e as interconexões que possibilitam, superam qualquer possível receio.

A arte também foi para mim uma escola, escola que ensinava a ler o que não estava manifesto no cotidiano agitado da cidade. Ajudou-me a compreender que apesar do tumulto, muitas vezes sufocante de um momento de vida, havia aí, um nível que estava em completa tranquilidade, como se estivesse tudo certo. Ou ao contrário, era o aviso de que uma tempestade se iniciaria em breve. Muitas vezes, um desenho ou uma poesia só puderam ser compreendidos muitos anos depois. E sempre me surpreendia com sua revelação tardia. Meus olhos e percepção precisaram amadurecer para que compreendesse a dimensão do que havia criado.

Minha vida foi marcada por ciclos muito definidos. O início e o fechamento desses ciclos sempre foram muito claros. A princípio eu resistia a eles, mas como eram inevitáveis, acabei confiando e fluindo ao comando interno. ,

O último ciclo encerrou minha atividade profissional de restauração dos sistemas energéticos dos ambientes, onde trabalhei com Feng Shui e Geomância, restaurando lay lines da terra, (meridianos) e recriando a ordem natural dos ambientes para torná-los saudáveis novamente, após terem sofrido intervenções destrutivas, com bases na ação humana, inconsciente de seus efeitos sobre si mesma. Esses trabalhos ocorreram no âmbito da cidade como corpo, em indústrias e residências. Após 15 anos de atuação, comecei a ir arrastada para os projetos, e percebi nesse tempo que não queria mais fazer esse trabalho, não queria mais trabalhar com a dor, a dificuldade. Ainda fiz por um ano esses projetos, até o dia que decidi fazer um retiro de meditação Vipassana. No dia 13 de agosto entrei num processo de dez dias de meditação e silêncio, com o intuito de fazer um ritual de passagem, e finalizar o ciclo. Embora não tivesse nada em vista que pudesse me dar um retorno financeiro, confiei.

Percebo que a desintoxicação mental, resultado desses dez dias, possibilitou um aquietamento de minha mente. Foi como se tivesse eliminado a estática (como das TVs) que turvava o diálogo com o mundo. Logo em seguida fui convidada para criar um curso que integrasse tecelagem e questões ambientais, e foi aí que surgiu o Teia da Vida, e com ele mais três cursos, cada um com um tipo diferente de trabalho criativo, que casava com o tema proposto. No primeiro momento fiquei apavorada com a responsabilidade, mas naturalmente foi acontecendo uma síntese dos vários ciclos e experiências de vida, que ao se entrelaçarem, criaram corpo e então não queriam parar: e foi aí que mais 7cursos nasceram. No intuito de integrar as teorias do programa com a arte, criatividade, reflexão e processos de interconexão dos vários aspectos da questão ambiental, que vai da célula (indivíduo) a questões como política e sistemas de mercado.

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Após esse início, os cursos surgem como expressão natural de focos de interesse que me mobilizam no momento. O estímulo pode vir de um livro, um filme, uma notícia, e quando toma conta de mim, é como uma fornalha que não para até que o pão esteja pronto. Depois é só provar e os ajustes e a dinâmica acontece na interação com os protagonistas com os quais compartilho o trajeto. Mesmo quando o curso se repete, nunca é igual. Para minha surpresa, tive alunos que já fizeram duas vezes o mesmo curso, e muitos deles emendam vários cursos, até se sentirem saciados.

Hoje compreendo o quanto as experiências das trajetórias pessoais podem potencializar processos de transformações. É como se qualidade incorporada a partir de vivencias e reflexões na estrutura de nossos diversos corpos, agora simplesmente irradiassem, contagiando tudo a nossa volta.

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NARRATIVAS

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UM CACHORRO CHAMADO FÉ. Flávio Bordezan20

"Mesmo sem um corpo perfeito, podemos ter uma alma perfeita."

Esta é a história de um cachorro que nasceu na véspera do Natal de 2002...

Ele nasceu com 3 pernas - duas saudáveis e uma anormal, na frente, que teve de ser amputada. Certamente ele não conseguia andar quando nasceu.

Mesmo assim, a sua mãe não o aceitou. Ele foi rejeitado e desdenhado. Seu primeiro dono também nem acreditou que ele sobreviveria. Assim sendo ele até pensou em sacrificá-lo. Naquela época sua atual dona, Jude Stringfellow, entrou em sua vida e desejou cuidar dele.

Ela estava determinada a ensiná-lo e treiná-lo para andar por si só. Ela acreditava que só precisava de um pouco de “FÉ”. Por isso lhe deu o nome de "Faith", fé em inglês.

No começo ela colocava Faith numa prancha de surf para que ele sentisse os movimentos da água. Mais tarde lhe dava pasta de amendoim, numa colher, como um prêmio e recompensa por ter ficado ereto e realizar “ pequenos saltos” pela casa.

Até os outros cães da casa o ajudavam e encorajavam a caminhar. Surpreendentemente, depois de apenas seis meses, como que num milagre, Faith aprendeu a se equilibrar em suas duas patas traseiras e a saltar se movendo para a frente. Depois de mais algum treinamento na neve ele pôde caminhar como um ser humano!

Faith adora passear. Ele sempre atrai as pessoas à sua volta. Está ficando famoso no cenário internacional. Ele já apareceu em vários jornais e espetáculos de TV.

Sua atual proprietária, Jude Stringfellow deixou seu trabalho, para levá-lo pelo do mundo, ministrando palestras e conferências.

Referência.

Stringfellow, Jude: With a Little Faith. Paperback, Edmond, 2005.

20

Flávio Bordezan: Pós graduando em Filosofia, Sociologia e Religião – Universidade Bráz Cubas, MBA em Gestão Escolar - F.M.U, Pós graduado em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho - R.J, Pós graduado em Educação Física Escolar F.M.U e graduado em Educação Física pela F.M.U. Coordenador Pedagógico do Colégio Prigule, Integrante do grupo de pesquisa INTERESPE/PUC e Professor dos cursos de pós graduação em Psicomotricidade e Psicopedagogia do INEC - Universidade Cruzeiro do Sul.

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ESPAÇO ABERTO

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REFLEXÕES. Ana Maria Ramos Sanchez Varella21

Olhar para si

Olhar para a escola Olhar para os professores

Olhar para os alunos Olhar para os pais

Olhar para o mundo em volta da escola... Levar os alunos a pensar cada vez mais em suas vidas para ter o equilíbrio de que

precisam para ultrapassar barreiras... principalmente as internas ... Ana Maria

Clamo a todos para se reverem, repensarem nosso tempo, que não é novo. Está ficando mais velho a cada dia, porque ao invés de renovações surgirem para nos fazer desenvolver, nos desanimamos com tantos discursos inúteis, fúteis, repetitivos, sem sentido... estamos vivendo e vivenciando o velho ser...

Parece mesmo que as pessoas estão fazendo questão de mostrar que os discursos devem soar falsos, que atitudes podem ser impensadas e chocantes.

Estou me sentindo dentro de discursos vazios, as pessoas apenas repetem o que já foi dito e escrito e não se renovam, não colocam em prática, o verdadeiro ser com consciência.

Quem está preocupado realmente em desenvolver o ser aluno com sentido? Do ser jovem com sentido? Levá-los a essa reflexão dá muito trabalho e será que estamos preparados para ter trabalho? Porque isso exige de nós muitos movimentos essenciais, de nos conhecer, saber nossos limites físicos e psicológicos. Percebemos que quando levamos ideias para serem desenvolvidas por alunos nas salas, temos muito trabalho de harmonizar, de ouvir, de aceitar. Eles também não estando acostumados a isso, levam um choque, porque precisam se posicionar, se apaixonar pelo que irão fazer.

Em cada encontro com os alunos que fazem parte do meu dia a dia na universidade, procuro abraça-los levando textos que possam estimulá-los a se reverem. Desejo estimulá-los a pensar, pensar, pensar sobre o mundo em que estamos, o que temos feito de nossas vidas, o que temos feito com o nosso tempo, o que deixamos de fazer, quero alertá-los a viver um tempo em que se

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Ana Maria Ramos Sanchez Varella: Pós-doutora em Interdisciplinaridade. Doutora em

Educação: Currículo, linha de pesquisa Interdisciplinaridade. Mestre em Gerontologia, Psicopedagoga - PUC/SP. Graduada em Letras: Língua Portuguesa e Inglesa - UniPaulistana. Pesquisadora da PUC/SP dos grupos de pesquisa: GEPI (Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade) LEC (Longevidade, Envelhecimento e Comunicação) e INTERESPE (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação). Autora das obras: A Comunicação Interdisciplinar na Educação, Envelhecer com desenvolvimento pessoal e Quinta série, um bicho de sete cabeças? Contato: [email protected]. Site Pessoal: http://www.anamariavarella.com.br

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esconder atrás de teclas, de perfis falsos, deixa-nos mais afastados de nossa verdadeira essência. Não podemos nos esquecer de nós mesmos...

Optei resgatar no semestre o tema valores e para isso os estímulos escolhidos foram os desenhos de Quino, cartunista argentino, e sua desilusão com os tempos modernos, charges intituladas Assim caminha a humanidade. Ele apresenta em seus quadrinhos desenhos e palavras que juntas formam analogias para compreendermos o pensamento atual da humanidade. Entre as palavras estão: cérebro, cultura, pernas, o próximo a quem amar, ideais, moral, honestidade, Deus, contato humano

Ele aponta para um carro e escreve pernas, quanto podemos pensar com essa comparação, o que temos deixado de exercitar, o que temos feito com nosso corpo, que cuidados derivam desse falta de caminhar. Além do que caminhar nos proporciona também estar conosco, revendo nossos pensamentos.

Em outro quadrinho Quino menciona a palavra cultura e aponta para telas de tevê com mulheres seminuas. Como está o olhar das crianças, dos adolescentes frente a tudo isso? Mulheres comparadas a frutas, enquanto sites de educação mencionam apenas homens como grandes educadores, enquanto as empresas ainda somente contratam homens porque mulheres dão muito trabalho: menstruam e podem engravidar?

Cérebro? Ele aponta para o computador, o que temos feito do nosso pensar? Estamos escravos da tecnologia, que traz tantas informações, mas ao mesmo tempo ficamos acomodados a elas.

Contato humano ele aponta para o celular, a realidade atual, atrai e afasta. Nunca nos comunicamos tanto, mas também nunca estivemos tão sozinhos.

Os novos aparelhos nos conectam ao mundo, nos ligam a pessoas, mas nos afastam também dos olhares mais sensíveis. Mesmo em datas tão especiais, que eram marcadas por palavras tão delicadas e sensíveis de verdadeiros amigos, hoje a própria máquina nos alerta a datas e as mensagens saem automaticamente, sem que tenhamos o cuidado de personalizar os sentimentos.

Ideais, moral e honestidade ele aponta para uma lata do lixo. O que temos feito dessas palavras? O que parece é a própria inversão de valores, quem tem atitudes que deveriam ser consideradas normais são destacadas como comportamentos de excelência.

Deus ele aponta para uma cédula de dinheiro... o que dizer desse valor importante mas que não pode deixar de lado os valores pessoais mais importantes....

O próximo a quem amar, ele destaca o olhar-se no espelho, o “conhece-te a ti mesmo” citado por Sócrates, até quando seremos resistentes a nos conhecer melhor, conseguirmos nos desapegar de tudo que não nos constrói?

Após essas reflexões com Quino, somados a mais alguns textos estímulos entre eles, Tempo Incerto de Cecília Meirelles e Tempo sem futuro de Luís

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Jardim, os alunos foram convidados a escrever e selecionei 3 deles, escritos por alunas do curso de Psicologia, da Universidade Paulista. Agradeço sempre aos alunos que fazem parte de minha história, a oportunidade que me dão de eu poder me reciclar, de repensar, porque ao escolher os textos para dialogarmos, posso me rever e perceber em mim, o quanto ainda preciso me transformar, para me tornar uma pessoa melhor. Assim é o nosso diálogo, a oportunidade de nos expressarmos livremente!

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22

Quino. Disponivel no site: http://mateussz.blogspot.com.br/2010/05/des-valores-humanos.html> Acesso

em 12/11/2014. 23

Ibidem.

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Ibdem 28

Ibdem

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Valores morais (Tatiana Dias).

Valores têm peso

Valores têm alma

Valores não são vendidos; emprestam-se, talvez

Simplesmente os têm ou não!

Valores pulsam!

Ter valores é não tirar o certo pelo errado

É viver de verdade e com verdade

Sem ter que ter memória para não se complicar.

Valores se aprendem quando pequeno ou grande

Mas nunca mais se largam!

Tempo, tempo bom; tempo incerto ou temporal

Sua vida fundamentada está, quando com eles.

Quem os têm não se arrepende,

Nem se envergonha!

Ou talvez se envergonhe de não os ter defendido com veemência

Falado em brados para quem quiser ouvir:

Valores de verdade, como a verdade, não se mudam!

Vale a pena os ter e morrer por eles!

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Medo (Natalie J. C. Pontes).

“Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos presenciamos – ou temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso tempo, ou desconfiaremos do nosso próprio testemunho e acabaremos no hospício!” (Tempo incerto, Cecília Meireles).

Este trecho retirado do texto Tempo Incerto de Cecília Meireles nos leva a vários questionamentos: Você presta atenção a tudo o que dizem? Acredita em tudo o que lhe é falado? O que é verdade? O que é mentira?

Estes e tantos outros questionamentos que temos sobre as coisas podem nos impulsionar a buscar estas respostas ou podem nos bloquear, mostrando-nos que, por mais racionais que sejamos, “na verdade temos medo – como disse o poeta” (Tempo sem futuro, Luís Martins). Medo do incerto, medo do futuro, medo que os valores e crenças nos quais acreditamos sejam mentira, medo de sermos marionetes de circo com um roteiro de vida pronto a ser seguido... Medo.

Mas, afinal, o que é o medo?

Medo, segundo o dicionário Aurélio, é o “estado emocional resultante da consciência de perigo ou ameaças reais, hipotéticas ou imaginárias”. Ora, se pararmos para pensar nesta definição, podemos entender que é possível ter medo de ter medo, uma vez que o próprio medo é algo incerto.

Em uma tentativa de enfrentamento do incerto e da busca por algo mais palpável e concreto, Auguste Comte, sociólogo positivista, tentou explicar e estudar a sociedade utilizando-se dos mesmos métodos científicos e rigorosos que usam a Física e a Química para estudar o mundo físico.

Não é necessário dizer que sua teoria foi e continua sendo severamente criticada por conta deste fato, uma vez que não existe uma fórmula matemática que explique o “modus operandi” do homem, quanto mais o da sociedade em que este se encontra inserido.

Porém, podemos notar que nem sempre o incerto ou o desconhecido pode ser considerado algo negativo. Nossas crenças, valores e princípios também são abstratos e, de certa forma, incertos – pois o que é considerado bom pra mim pode não ser considerado bom para você e vice-versa – mas, mesmo assim, consideramo-nos positivos por serem parte de nossa essência.

Talvez se nós, seres humanos, únicos de nossa espécie dotados de racionalidade, andássemos com placas de identificação mostrando quais são os nossos valores, princípios e crenças e quais os significados dos mesmos para

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nós, sofreríamos menos tentando responder nossos questionamentos e “com uma calma dignidade, esperaríamos que as coisas que têm de acontecer, aconteçam, que o destino se cumpra, que a longa sucessão dos minutos desvende o terrível enigma do futuro e não teríamos medo.” (Tempo sem futuro, Luís Martins). Medo de confiar nos outros, medo de expressar nossos sentimentos, medo de ser feliz.

Tempos de Hoje (Bianca Chaves Domingues).

Tempo, Tempo, Tempo Uns o almejam, outros simplesmente odeiam

As crianças desejam ser adultos Para liberdade possuir

Os adultos querem voltar à infância Para preocupação da mente sumir

Tempo que vai e não volta mais Do passado me alegro

Do presente me assusto Do futuro me angustio

Oh saudades da minha amada infância Meus desenhos animados, se tornaram em jornais de noticiário

As brincadeiras de casinha, por reuniões mesquinhas Ao me lembrar sobre a virtude da verdade

Descobri que não vivemos mais essa realidade Progredi ou regredi?

Os tempos mudaram! Isso que ouço dizer Sinto-me obrigada a me juntar nessa nova Era

E me distrair nos joguinhos e telenovelas Percebi que o que antes era, hoje já não é Percebi que o que antes era, hoje já não é

E o que não era, hoje já é Valores invertidos!

Continuarei a me socializar, mas não a me alienar Sobreviverei sim nesse mundo de gigantes

Mas jamais deixarei morrer em mim Aquela eterna criança

Porque sei que no futuro próximo Olharei para trás e direi mais uma vez

Como os tempos mudaram.

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EXPRESSÃO SIMBÓLICA

E

POÉTICA

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1 CRISES.

Crise ou solução? Como é a sua visão? Enxergar a crise ou doença como uma oportunidade de amadurecer? Ou tornar-se vítima da situação? Qual seria a sua ação? A partir das lágrimas podemos encontrar a purificação? Como um rio que às vezes chora silenciosamente E a água continua o seu fluxo em sua direção .... Se nos permitirmos entrar nesse rio, limpamos a alma com renovação? Talvez, possamos sair da negação e passamos para a aceitação. Fácil? Talvez não! Mas a vida sempre nos traz chances de amadurecer e evoluir Para isso temos que questionar O que essa situação está pedindo para eu transformar Qual é o despertar dessa crise? Desse adoecer? Dessa perda? Ouvimos o coração e talvez aí venham os sinais E alguma possibilidade de iluminação... Podemos a partir destas experiências, compartilhar a dor, a alegria, o amor em Nossa evolução .... Agora talvez possamos voltar para aquele rio que nos acolheu e convidar outros companheiros para que conosco venham navegar...

Simone Andrade29

29

Simone Moura Andrioli de Castro Andrade: Mestra em Educação: Currículo - PUC/SP.

Especialista em psicoterapia de orientação Junguiana - Instituto Sedes Sapiente. Graduada em Psicologia - PUC/SP. Psicoterapeuta da Regressão pelo CDEC, Terapeuta da Consciência Multidimensional - Centro de Estudos e Pesquisas da Consciência. Pesquisadora do GEPI, Prof. Aliança pela Infância e INTERESPE. Contato: [email protected]

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2 POR ONDE ANDEI?

Na busca de mim mesma, Corri mundos... Acreditei verdades, criei. Realidades, prisões, falsas liberdades. Corri, corri, corri, para alcançar... o que mesmo? Um Vazio, cheio. De necessidades cotidianas, responsabilidades. Escrever em forma de poesia. Faz-me sorrir, e a Alma me parece presente. A Alma, o corpo, a mente, o coração. E a paisagem, muda, e ai, faço parte dela.

M Christina Belfort30

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Cristina Belfort: Educadora Pesquisadora Transdisciplinar, Designer em Sustentabilidade e

Artista Plastica e Designer em Tecelagem.

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3 DESVELAR-SE: um caminho para o autoconhecimento.

Tal como, podemos observar, em um bebê, que chora, mama e suplica ao Outro a sua existência, para crescermos é necessário nos entregarmos ao Universo. Assim, despertaremos em seus braços e seremos acolhidos com a pródiga beleza, pela mãe natureza. É necessária a espera para que naturalmente possamos nos desenvolver confiar, amar, sermos amados e SE ME AR. Como ocorre, quando estamos na plateia de um espetáculo, mesmo se desejarmos ver o que está por trás das cortinas, somos obrigados, às vezes, mesmo sem querer a presenciar todas as cenas. Reconhecendo o sentido em cada cenário ou atuação, desvelaremos aos poucos, algumas partes do Todo, ocultas em nosso coração. Nesse momento, seremos os atores desse palco. Com gratidão e esperança ocorrerá a transformação. Somos agraciados então pela Vida, sentiremos acesas as nossas chamas: As cortinas novamente se abrem, recomeça o espetáculo. Juntos celebraremos ao experienciarmos o que podemos em Essência Ser. É com essa energia que precisamos nos conscientizar da necessidade de nos reconectar. Sinto gratidão pedindo proteção e força para que possamos continuar com a nossa missão de educadores ou “fertilizadores de solo ou fundações”. Assim, guiados pelo sagrado e amor, poderemos ajudar outros seres que mesmo vivos, já se sentem mortos e enterrados, mas mesmo em contato com a terra, não conseguem mais SEMEAR.

Com Amor, Simone Andrade31

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Simone Moura Andrioli de Castro Andrade: Mestra em Educação: Currículo - PUC/SP.

Especialista em psicoterapia de orientação Junguiana - Instituto Sedes Sapiente. Graduada em Psicologia - PUC/SP. Psicoterapeuta da Regressão pelo CDEC, Terapeuta da Consciência Multidimensional - Centro de Estudos e Pesquisas da Consciência. Pesquisadora do GEPI, Prof. Aliança pela Infância e INTERESPE. Contato: [email protected]

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4 POESIA DO TEMPO. Se eu pudesse voltar no tempo, eu não voltaria Não voltaria porque faria as mesmas coisas, a mesma forma, a mesma razão E quando eu chegasse no agora, eterno agora, eu não teria mudado Eu seria o mesmo que sou, eterno Eu Se eu pudesse andar no tempo, ir para o futuro, eu não iria Não iria porque sabendo como sou, sei como eu seria Sei como eu seria porque teria feito as mesmas coisas, a mesma forma, a mesma razão E quando eu chegasse lá, no agora futuro, eterno agora, eu não teria mudado Eu seria o mesmo que sou, eterno eu Mas se eu pudesse ficar no tempo, eterno momento, ai sim eu ficaria Eu ficaria porque olharia para dentro, análise profunda, paciência absoluta E quanto mais eu caminhasse, mais profundo eu chegaria, até a essência da alma Que não está no passado, nem no futuro, está no sempre instante presente Então eu não seria mais o mesmo, eu teria mudado, eterno mutante, eterno eu

Marcos José Pires32

32

Marcos Jose Pires: Médico formado pela PUC-Campinas, 1984. Residência médica em Ginecologia e Obstetrícia pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. Especialista em Ginecologia e Obstetrícia ela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia se São Paulo. Especialista em Ginecologia e Obstretícia pela FEBRASGO em 1987. Médico especialista em Acupuntura pelo Conselho Federal de Medicina AMBA. Contato: home: www.clinicamjp.com.br

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EXPRESSAO MUSICAL

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METAMORFOSE AMBULANTE. Autor: Raul Seixas.

Jaime Paulino33

Ah Ah Ah! Ah Ah Ah! Ah Ah Ah!…

Prefiro ser Essa Metamorfose Ambulante Eu prefiro ser Essa Metamorfose Ambulante Do que ter aquela velha Opinião formada sobre tudo Do que ter aquela velha Opinião formada sobre tudo…

Eu quero dizer Agora o oposto Do que eu disse antes Eu prefiro ser Essa Metamorfose Ambulante Do que ter aquela velha Opinião formada sobre tudo Do que ter aquela velha Opinião formada sobre tudo…

Sobre o que é o amor Sobre que eu Nem sei quem sou Se hoje eu sou estrela Amanhã já se apagou Se hoje eu te odeio Amanhã lhe tenho amor Lhe tenho amor! Lhe tenho horror! Lhe faço amor! Eu sou um ator!…

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JAIME PAULINO: Possui graduação em Instrutor de Educação Física pela Escola de Educação Física da Policia Militar (1982), graduação em Direito - Faculdades Integradas de Guarulhos (1993) e graduação em Formação de Oficiais da PM pela Academia de Policia Militar do Barro Branco (1979). Atualmente é professor especialista do Centro Universitário Metropolitano de São Paulo e coordenador do curso de Educação. Física do Centro Universitário Metropolitano de São Paulo. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Educação Física. CV: http://lattes.cnpq.br/4791430094740262; E-MAIL: [email protected]

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É chato chegar A um objetivo num instante Eu quero viver Nessa Metamorfose Ambulante Do que ter aquela velha Opinião formada sobre tudo Do que ter aquela velha Opinião formada sobre tudo…

Sobre o que é o amor Sobre que eu Nem sei quem sou Se hoje eu sou estrela Amanhã já se apagou Se hoje eu te odeio Amanhã lhe tenho amor Lhe tenho amor! Lhe tenho horror! Lhe faço amor! Eu sou um ator!…

Eu vou lhes dizer Aquilo tudo que eu Lhe disse antes Eu prefiro ser essa Essa Metamorfose ambulante Do que ter aquela velha Opinião formada sobre tudo Do que ter aquela velha Opinião formada sobre tudo Do que ter aquela velha Velha, velha, velha, velha Opinião formada sobre tudo Do que ter aquela velha Velha, velha, velha, velha Opinião formada sobre tudo Do que ter aquela velha Velha, velha, velha, velha Opinião formada sobre tudo…

O professor Ruy Cesar do Espírito Santo em nossos encontros na PUC, em seus livros sobre educação, em suas belas poesias, em seus artigos e em suas palestras sempre nos trás a mensagem do quebrar de cascas, da constante transformação no aqui e agora, do autoconhecimento. Essa letra de música e sua melodia também expressa à alegria, beleza e amor com as quais encerra suas mensagens.

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Esse mensageiro chamado Raul Seixas deixou escrita essa bela poesia para a vida para que sejamos capazes de entender que não devemos aceitar as chamadas verdades absolutas e imutáveis e sim para que sejamos um constante momento de transformação. E se assim o formos o magnetismo da constante transformação atingirá aqueles que nos rodeiam e onde quer que estejamos, seja em sala de aula, nos consultórios, nos tribunais, na política, Etc.

É preciso entender também que as rápidas transformações pessoais, enseja também mudanças sociais, tecnológicas, educacionais, políticas, científicas, econômicas, religiosas muito mais rápidas e que pode parecer conflitivas entre as gerações anteriores e as atuais, porém, essa magnífica poesia é atemporal e que deve atingir principalmente os conservadores.

Essa bela poesia nos mostra que a vida está disponível e em abundância, que ela deve fluir através de nós a todo instante e em eterna metamorfose, assim como o próprio universo se expandindo.

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CONVITE A LEITURAS

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A EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE (EQM) PODE SER NARRADA? PODEMOS COMPREENDER A ESPIRITUALIDADE DOS ANIMAIS?

Flávio Bordezan34

Cético, defensor da lógica científica e neurocirurgião há mais de 25 anos, o Dr. Eben Alexander viu sua vida virar do avesso quando passou por uma experiência que ele mesmo considerava impossível. Vítima de uma meningite bacteriana grave ficou em coma por sete dias, como nos diz, neste trecho:

Em 10 de novembro de 2008, entretanto, aos 54 anos, a sorte pareceu me abondonar. Fui surpreendido por uma doença rara e fiquei em coma durante sete dias. Nesse período, todo o meu neocórtex – a superfície externa do cérebro, aparte que nos torna humanos – ficou paralisado. Inoperante. Completamente ausente (ALEXANDER, 2013, p.14).

Enquanto os médicos tentavam controlar a doença, algo extraordinário aconteceu. Eben embarcou numa jornada por um mundo completamente estranho. Sem consciência da própria identidade, foi mergulhando cada vez mais fundo nessa realidade difusa, onde conheceu seres celestiais e fez descobertas transformadoras sobre a existência da vida após a morte e a profunda relação que todos nós temos com Deus.

Agora eu estava em um lugar cheio de nuvens. Nuvens grandes, fofas, brancas com tons rosados de destacavam no céu de anil... Pássaros? Anjos? Estas palavras me ocorreram quando eu escrevia minhas recordações, mas nenhuma delas faz jus àqueles seres, que emana muito diferente de qualquer coisa que eu tivesse conhecido neste planeta. Eles eram mais evoluídos. Superiores. (ALEXANDER, 2013, p.49).

Quando os médicos já pensavam em suspender seu tratamento, o inesperado aconteceu. Ele estava de volta. Mas nunca mais seria o mesmo. Aquela experiência o levou a questionar tudo em que acreditava até então. Afinal, como neurocirurgião, ele sabia que o que vivenciou não poderia ter sido uma mera fantasia produzida por seu cérebro, que estava praticamente destruído. Analisando as evidências à luz dos conhecimentos científicos,

Eles lembravam não os olhos de um adulto emergindo de um coma de sete dias, mas os de um bebê – de alguém que acabava de chegar a este mundo, olhando em volta e

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Flávio Bordezan: Pós graduando em Filosofia, Sociologia e Religião – Universidade Bráz

Cubas, MBA em Gestão Escolar - F.M.U, Pós graduado em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho - R.J, Pós graduado em Educação Física Escolar F.M.U e graduado em Educação Física pela F.M.U. Coordenador Pedagógico do Colégio Prigule, Integrante do grupo de pesquisa INTERESPE/PUC e Professor dos cursos de pós graduação em Psicomotricidade e Psicopedagogia do INEC - Universidade Cruzeiro do Sul.

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observando tudo pela primeira vez. (ALEXANDER, 2013, p.107).

Dr. Eben decidiu compartilhar essa incrível história para mostrar que ciência e espiritualidade podem e devem andar juntas em seu livro: Uma prova do céu: a jornada de um neurocirurgião à vida após a morte. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2013. Narrado com o fascínio de um paciente que visitou o “outro lado” e com a objetividade de um médico que tenta comprovar a veracidade de sua experiência, este é um livro emocionante sobre a cura física e espiritual e a vida que se esconde nas diversas dimensões do Universo.

O sentimento de perda e luto por um animal de estimação, pode ser comparado com o sentimento de partida, de um parente muito próximo. A compreensão deste fato se torna um fator de difícil assimilação. Especialmente as crianças, transpõem uma certa dificuldade de entender o que acontece com seus animais quando eles morrem. Muitos pais costumam dizer que eles ´vão para o céu´. Mas na verdade, o que podemos compreender, é o fato de que a espiritualidade dos animais é muito pouco discutida.

Em Céu dos Bichos: a vida espiritual dos Animais que Amamos (1ªed. São Paulo: Ideia e Ação, 2010) a mestre espiritual Sylvia Browne tenta decifrar este complexo enigma. O livro é resultado de 40 anos de pesquisas e depoimentos.

Em determinados trechos do livro, a autora conclui que os animais têm personalidades distintas, particularidades e hábitos que compõem seu espírito e sua alma. E é enfática ao afirmar que eles vão para o céu.

Nós o levamos para enterrar no quintal e, enquanto dissemos nossas orações, minha filha plantou um ramo de flores no túmulo. Cerca de duas horas mais tarde, saímos de casa e vimos a mãe coelha sentada imóvel à beira do túmulo - foi um momento carregado de espiritualidade, muito comovente. Muitas vezes, as pessoas dizem que os animais não têm sentimentos ou que são incapazes de ter emoções, mas, depois desse episódio com o coelhinho, nunca mais pensei dessa forma. Já se passaram muitos anos desde o incidente, mas as

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flores continuam crescendo no local exato onde enterramos o coelhinho (BROWNE, 2010, p.15).

Para a autora, os animais possuem a capacidade de neutralizar energias negativas sem sequer precisarem absorvê-las, como se fossem espécies de anjos da guarda na Terra. Nós, humanos, não somos os únicos a ter corações, mentes e espíritos sujeitos a sentir luto, dor e arrependimento. Por este motivo, não conseguimos entender, quando os animais se sentem solitários, abandonados e enlutados da mesma maneira que nós, humanos:

Todos os animais têm sentimento de luto. Há alguns anos, um dos meus dois lhasa apsos amados faleceu. Os dois eram irmãos e haviam sido criados juntos desde que nasceram, sem jamais se separarem. Mitsy, a cadelinha que ficou, meteu-se debaixo da cama de tão triste e, por mais que eu a chamasse, não conseguia fazer com que viesse brincar, comer ou beber água. Por fim, eu tive a ideia de sair e comprar um novo filhote, o mais parecido possível com nosso falecido Chewy.(BROWNE, 2010, p.27).

O livro explora, a partir de pesquisas científicas e relatos pessoais, histórias de amor e lealdade entre os seres humanos e seus animais de estimação. Uma simétrica reflexão, conscientização e a harmonia com os elementos da natureza:

“Mas tenho a esperança de que, um dia, com o trabalho educativo que fazemos com as pessoas e os protestos constantes, o ser humano acabe com a brutalidade contra essas criaturas maravilhosas que nada fazem senão nos ajudar e, muitas vezes, salvar nossas vidas.”

Fica a indicação de duas leituras com foco no autoconhecimento e na espiritualidade, para que posteriormente, saibamos direcionar o nosso destino de maneira harmoniosa, correta e justa, sempre sob o olhar do poder divino.

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INDICAÇÕES DE FILMES

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1 A CRIANÇA PORTADORA DE DISLEXIA OU TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM COM PREJUÍZO DA ESCRITA.

Monica Vieira de Araujo Franco35

“Tudo é uma questão de manter a mente certa, a espinha ereta e o coração tranqüilo. A toda hora a todo momento de dentro pra fora de fora pra dentro”.

(Música: Serra do luar – Cantora: Leila Pinheiro)

Preguiça, má vontade, falta de atenção, cabeça na lua, esses são alguns aspectos ressaltados às crianças que tem dislexia, atualmente denominada transtorno específico da aprendizagem com prejuízo da escrita (DSMV, 2014), um rótulo que se dá sem que os pais e professores investiguem o ´problema´ que acontece no processo do ensino-aprendizagem o qual inicia na tenra idade, entretanto, será revelado no momento da leitura e da escrita dessas crianças.

O filme Como estrelas na Terra, toda criança é especial, com a produção e direção de Aamir Khan, nos revela o mundo conturbado e ao mesmo tempo maravilhoso do disléxico que vê o tudo com os outros olhos, o sentir, tocar, experimentar para depois compreender, os seus sentidos estão aflorados, porém a forma de demonstrá-los ao mundo do alfabeto o torna incompreendido.

De um lado letras que dançam, números invertidos, palavras espelhadas, do outro lado imaginação fértil e criativa, imagens que pulsam a cada desenho, revelando assim, um mundo interno cheio de riquezas, possibilidades, uma leitura do mundo por meio de outras formas, mais significativas ao que chamamos de aprendizagem. Esta está relacionada com todas as maneiras de expressar o que conseguimos abstrair de tudo que vemos, sentimos, temos contato, passando posteriormente, para a grafia, para a comunicação universal em que as palavras são interpretadas por muitos, nos tornando aceitos e compreendidos pela sociedade.

A dificuldade de aprender é revelada em situações simples como: não conseguir amarrar os cadarços dos sapatos, não percebe a lateralidade, não mantém a concentração, não há temporalidade; o pensamento está a ´todo vapor´, mas a formação da cognição necessita de todos esses aspectos positivamente, os quais terão que ser estimulados diariamente pelo professor, sendo este o seu mediador entre a imaginação e a realidade do aluno.

35Monica Vieira de Araujo Franco: Bacharel/ Licenciatura e Clínica em Psicologia ano de formação

2000 UNIP Universidade Paulista, Orientadora Educacional durante 13 anos na Prefeitura de Barueri,

Curdo de PNL Programação Neuro Linguistica e Linguagem do Corpo. Integrante do INTERESPE-

PUC/SP.

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Quando há o respeito, a dedicação, o amor e a persistência, há muitas possibilidades, pois quem quer encontra meios e quem não quer encontra desculpas; e foi por meio da vivência e da fé no outro, que o professor de arte demonstrou um ´olhar´ do possível ao aluno com o mesmo problema que ele enfrentou na sua infância.

O transtorno específico da aprendizagem com prejuízo da escrita é algo difícil de diagnosticar, por isso que precisa da intervenção de uma equipe interdisciplinar composta por neurolofgista, psiquiatra, fonoaudiólogo, psicopedagogo e psicólogo para que receba o tratamento adequado. O professor orientado por esta equipe pode auxiliar o aluno valorizando o que ele sabia fazer, os desenhos eram códigos que ligavam sua mente ao mundo acadêmico, no qual o professor soube, com muita paciência e disponibilidade, extrair o que havia de melhor em seu ser, a capacidade do aluno por meio da interpretação e ajuda incessante daquele que um dia superou o desafio de transformar o transtorno em algo que as pessoas pudessem acessar sem o pré-conceito, e é o Professor, o mestre dessas possibilidades; quando acreditamos em nós abrimos novos caminhos para que o outro encontre motivação para continuar aprendendo, pois a educação se faz a medida que os nossos horizontes se ampliam quando há a junção da mente, corpo e alma em prol do ser humano.

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2 PONTO DE MUTAÇÃO. Flávio Bordezan36

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O filme Ponto de Mutação sob a direção de Bernt Amadeus Capra (EUA, 112 min) baseia-se na obra homônima de Fritjof Capra, de 1982. Capra nasceu na Áustria em 1939, físico renomado, é Doutor na Universidade de Viena. O filme é dirigido por seu irmão, Bernt Capra e tem como autores principais do enredo Liv Ullmann, Saw Waterston e John Heard. O cenário onde o filme transcorre é a ilha de Mont Saint Michel, na França. Ao longo dos 126 minutos do filme as personagens Sonia Hoffman (interpretado por Liv Ullmann), Jack Edwards (interpretado por Sam Waterston) e poeta Thomas Harriman (interpretado por John Heard) apresentam-nos a problemática do atual paradigma científico, que permeia as relações político-econômicas de nossa sociedade: o paradigma newtoniano-cartesiano. O encontro dos personagens se dá de maneira quase casual. O Senador Jack Edwards, após sofrer uma derrota na disputa presidencial, entra em contato com seu amigo, o poeta Thomas Harriman, para conversarem e trocarem algumas ideias. Thomas Harriman é um poeta, que por muito tempo fez redações de discursos políticos, porém, vivenciando a angústia na busca pelo sentido da vida procurou se afastar de todo o enredo político em que vivia. Já a personagem de Liv Ullmann - Sonia Hoffman - é uma cientista que alçou posto de destaque como física de seu país. Trabalhando na área da física quântica, vê-se apunhalada pelo sistema ao testemunhar o uso dos conhecimentos resultantes de seu trabalho para fins militares.

Em um único dia, a partir do encontro das três personagens, desenrolam-se diálogos significativos e reflexivos da história do pensamento humano. Newton,

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Flávio Bordezan: Pós graduando em Filosofia, Sociologia e Religião – Universidade Bráz

Cubas, MBA em Gestão Escolar - F.M.U, Pós graduado em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho - R.J, Pós graduado em Educação Física Escolar F.M.U e graduado em Educação Física pela F.M.U. Coordenador Pedagógico do Colégio Prigule, Integrante do grupo de pesquisa INTERESPE/PUC e Professor dos cursos de pós graduação em Psicomotricidade e Psicopedagogia do INEC - Universidade Cruzeiro do Sul.

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Descartes, Einstein, biologia, evolução, ecologia, física quântica, poesia e política são temas que entrelaçam um pano de fundo denso das reais necessidades de uma autocrítica do pensamento atual da humanidade. Ao longo do dia, a partir das mais diversas questões, os personagens buscam refletir a respeito de uma nova visão de mundo, onde tudo está interconectado, onde está estabelecida uma relação de tudo com o todo. Esse novo paradigma urge sobre o comportamento da realidade humanidade atual. Não há mais espaço e tempo para que as relações interpessoais e as relações humanas com natureza continuem sendo conduzidas de maneira individualista e fragmentária. As reflexões dos personagens reproduzem as problemáticas a serem discutidas e o paradigma reducionista/mecanicista – o cartesianismo – a ser vencido por novos paradigmas que inclua o todo de maneira sistêmica na realidade humana.

Podemos perceber que o filme trabalha a transversalidade da educação ambiental e noz conduza a uma reflexão sobre a importância da interdisciplinaridade como uma ´grande teia´ ligadas a diferentes disciplinas, podendo relacionar-se com a ciência e a espiritualidade, mudando inclusive, a nossa maneira de ver o mundo.

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INTERESPE

O Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade na

Educação, teve seu início em 2005. É formado por uma equipe de profissionais

multidisciplinares, que estuda e respeita a diversidade de crenças. Sendo um

grupo Interdisciplinar, estuda o aprofundamento de questões ligadas ao

processo do Autoconhecimento e Espiritualidade dentro e fora da Escola. A

linha central do Grupo INTERESPE é aprofundar a temática Espiritualidade, em

diferentes áreas de conhecimento e nas práticas dos pesquisadores.

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DIRETRIZES E NORMAS DE SUBMISSÃO E REVISÃO TÉCNICA PARA

AUTORES E PARCERISTAS

Interdisciplinaridade e Espiritualidade na Educação é uma revista de periodicidade anual, cujo volume de cada ano será publicado em dezembro e poderão ser realizadas edições extras. É uma publicação Oficial do INTERESPE- Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Interdisciplinaridade e Espiritualidade em Educação – Educação: Fundamentos da Educação – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade e espiritualidade: PUC/SP. Tem por objetivo publicar textos e artigos nacionais e internacionais sobre a Interdisciplinaridade e Espiritualidade, bem como do campo da Educação, da Arte e da Cultura, dentre outros que contribuam para a ampliação do conhecimento sobre a Interdisciplinaridade e Espiritualidade.

OBJETIVOS: Investigar a relação entre Educação e Espiritualidade com a preocupação de explicitar e problematizar o lugar do Autoconhecimento nos processos de formação e gestão da Educação. Ser um canal para a transmissão de estudos e pesquisas sobre interdisciplinaridade. Estimular a escrita dos integrantes do INTERESPE e parceiros e ser um ponto agregador de trabalhos sobre a interdisciplinaridade Nacional e Internacional. PALAVRAS CHAVES: Autoconhecimento- Interdisciplinaridade – Espiritualidade Periodicidade: anual (Dezembro)- com eventuais edições especiais. CATEGORIAS DE ARTIGOS: Serão publicados: Artigos Científicos: Originais, Revisões, Atualizações e Resultados de Pesquisas. Resumo e resenhas de livros, Filmes. Relatos e/ou Sugestões de Práticas e Vivências Interdisciplinares e Espirituais. Trabalhos de Expressões artísticas como: poesia, música, desenhos, dentre outras artes. Espaço aberto para: depoimentos, entrevistas, comunicações breves. Cartas ao Editor, Notícias e Agenda. Artigos originais: são contribuições destinadas a divulgar resultados de pesquisa original inédita, que possam ser replicados e/ou generalizados. Devem ter a objetividade como princípio básico. O autor deve deixar claro quais as questões que pretende responder. O texto deve conter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo tabelas, figuras e referências. A estrutura dos artigos é a convencional: introdução, métodos, resultados e discussão. A introdução deve ser curta, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento que serão abordados no artigo. Os métodos empregados, a população estudada, a

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fonte de dados e critérios de seleção, dentre outros, devem ser descritos de forma compreensiva e completa, mas sem prolixidade. A seção de resultados deve se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações/comparações. O texto deve ser complementar e não repetir o que está descrito em tabelas e figuras. Deve ser separado da discussão. A discussão deve começar apreciando as limitações do estudo, seguida da comparação com a literatura e da interpretação dos autores, extraindo as conclusões e indicando os caminhos para novas pesquisas. Revisões: Avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão é de no máximo 5.000 palavras. Atualizações: São trabalhos descritivos e interpretativos baseados na literatura recente sobre a situação global em que se encontra determinado assunto investigativo. Sua extensão deve ser de no máximo 3.000 palavras. Notas e informações: São relatos curtos decorrentes de estudos originais ou avaliativos. Podem incluir também notas preliminares de pesquisa. Sua extensão deve ser de 800 a 1.600 palavras. Cartas ao editor: Inclui cartas que visam a discutir artigos recentes publicados na Revista ou a relatar pesquisas originais ou achados científicos significativos. Não devem exceder a 600 palavras. Observação: Trabalhos que ultrapassem as extensões acima estipuladas serão objeto de análise por parte do Conselho Editorial. Demais categorias de trabalhos: serão definidos quanto a forma e tamanho pelos editores das referidas seções. AUTORIA: O conceito de autoria está baseado na contribuição substancial de cada uma das pessoas listadas como autores, no que se refere sobretudo à concepção do projeto de pesquisa, análise e interpretação dos dados, redação e revisão crítica. PREPARO DOS ARTIGOS: Os artigos devem ser digitados em letra arial, corpo 12, no Word, plataforma PC, incluindo página de identificação, resumos, referências, tabelas e numeração das páginas. Sugerimos que sejam submetidos à revisão do Português por profissional competente antes de ser encaminhado à publicação. ENTREGA DOS TRABALHOS: Todo e qualquer trabalho a ser editado pela revista deve ser entregue no PORTAL DE REVISTA DIGITAL DA PUC para a Revista INTERESPE no site: http://revistas.pucsp.br/ PROCESSO DE ESCOLHA DOS ARTIGOS: Os editores encaminharão os artigos para os pareceristas que procederão a análise obedecendo as normas da ABNT para a avaliação do material recebido e responderão ao autor do

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artigo avaliado de forma clara e objetiva no prazo máximo de 30 dias pelo Portal de Revistas Digitais da PUCSP: http://revistas.pucsp.br/ Artigos recusados, mas com possibilidade de reformulação, poderão retornar como novo trabalho e devem ser reapresentados no site do portal. Artigos aceitos sob condição serão retornados aos autores pelo site do portal para alterações necessárias e normatização solicitadas. NORMAS DA ABNT UTILIZADAS NA ELABORAÇÃO DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS:

NBR 14724:2001 - Informação e documentação - Trabalhos acadêmicos - Apresentação.

NBR 10520:2001 - Informação e documentação - Apresentação de citações em documentos.

NBR 6022:2003 - Informação e documentação - Artigo em documentação periódica e científica impressa – Apresentação.

NBR 6023:2002 - Informação e documentação- Referências- Elaboração.

NBR 6024:2003 - Informação e documentação- Numeração progressiva das seções de um documento.

NBR 6028:2002 - Informação e documentação- Resumos - Apresentação: noções básicas.

NBR 12256:1992 - Apresentação de originais. OBSERVAÇÕES GERAIS 1. As pesquisas que envolvam seres humanos devem mencionar a devida

aprovação prévia pelo Comitê de ética da instituição de origem. 3. Caberá aos autores a total responsabilidade sobre o conteúdo dos artigos

publicados. 4. Os artigos devem conter: nomes completos dos autores com suas titulações

acadêmicas, instituição, departamento e disciplina a que pertencem, endereço para correspondência e, telefones, palavras-chaves em português e em inglês (NBR 12256 - 1992), resumo do artigo, (no máximo 250 palavras) em português e em inglês (NBR 6028 - 2002), e referências (NBR 6023-2002).

5. As tabelas, gráficos, figuras, desenhos feitos por profissionais e fotografias que permitam boa reprodução, devem ser citados no texto em ordem cronológica e, devem ser enviadas com título, legenda e, respectiva numeração. As ilustrações escanerizadas deverão ser enviadas na forma original e no formato .tif ou .jpg e ter no mínimo 270 dpi. As fotografias não devem permitir a identificação dos sujeitos, preservando assim o anonimato. Caso seja impossível, deve-se incluir uma permissão do sujeito, por escrito, para a publicação de suas fotografias. Deve-se também incluir a permissão

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por escrito para reproduzir figuras já publicadas, constando um agradecimento para a fonte original (NBR 12256 - 1992).