interaÇÕes entre medicamentos e o chÁ da ayahuasca: …

48
FACULDADE MARIA MILZA BACHARELADO EM FARMÁCIA AISLANE SILVA DOS SANTOS INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA GOVERNADOR MANGABEIRA-BA 2021

Upload: others

Post on 16-Oct-2021

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

FACULDADE MARIA MILZA

BACHARELADO EM FARMÁCIA

AISLANE SILVA DOS SANTOS

INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

GOVERNADOR MANGABEIRA-BA

2021

Page 2: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

AISLANE SILVA DOS SANTOS

INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA:

UMA REVISÃO INTEGRATIAVA

Trabalho de conclusão de curso apresentado na Faculdade Maria Milza, curso de Bacharelado em Farmácia, como requisito para obtenção do título de graduanda em Farmácia.

Orientadora: Prof.ª M.ª Larissa de Mattos Oliveira

GOVERNADOR MANGABEIRA-BA

2021

Page 3: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

Ficha catalográfica elaborada pela Faculdade Maria Milza, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Bibliotecárias responsáveis pela estrutura de catalogação na publicação:

Marise Nascimento Flores Moreira - CRB-5/1289 / Priscila dos Santos Dias - CRB-

5/1824

Santos, Aislane Silva dos S237i

Interações entre medicamentos e o chá da ayahuasca: uma revisão integrativa / Aislane Silva dos Santos. - Governador Mangabeira - BA , 2021.

48 f.

Orientadora: Larissa de Mattos Oliveira.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia) - Faculdade

Maria Milza, 2021 .

1. Ayahuasca. 2. Banisteriopsis Caapi. 3. Psychotria Viridis. 4. Interações Medicamentosas. 5. Plantas Medicinais. I. Oliveira, Larissa de Mattos, II. Título.

CDD 633.88

Page 4: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

AISLANE SILVA DOS SANTOS

INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA:

UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Aprovado em 11/01/2021

BANCA DE APRESENTAÇÃO

_________________________________

Prof.ᵃ M.ª Larissa de Mattos Oliveira

Faculdade Maria Milza– FAMAM

_________________________________

Prof.ᵃ M.ª Deyse Brito Barbosa

Faculdade Maria Milza– FAMAM

________________________________

Prof.ᵃ Dr.ª Vania Jesus dos Santos de Oliveira

Faculdade Maria Milza– FAMAM

GOVERNADOR MANGABEIRA- BA

2021

Page 5: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

Dedico este trabalho a minha

filha Alice, minha cor, minha

flor, minha cara.

Page 6: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

AGRADECIMENTOS

Sou só gratidão! Primeiramente, agradeço a Deus, ao universo, aos meus

irmãos de luz por ter me guiado e por ter me dado forças para encerrar esse ciclo. A

VIDA SEMPRE VENCE!

Aos meus pais Ana e Milton e meu irmão Aislan, por nunca ter soltado a minha

mão, por ter cuidado, pelo amor e carinho que deu a minha filha Alice nos momentos

em que estive ausente. Minha eterna gratidão, eu amo vocês.

A minha filha Alice, a luz da minha vida, minha maior fonte de inspiração, sem

você eu não conseguiria, tudo é por você. Ao pai da minha filha Marcio, obrigada por

todo apoio e amizade.

A minha avó Marina, a matriarca da família, exemplo de mulher forte, guerreira,

você é meu espelho para continuar a lutar, aos meus tios e primos, obrigada pelo

apoio.

Ao meu amor Lukas, por ter entrado na minha vida para somar, por todo

incentivo, companheirismo, carinho e cuidado, por ser meu porto seguro.

As minhas amigas, Alene, Lai, May, Nanda, Dai e Sil, por sempre me lembrar

a força que tenho e serem inspiração na minha vida, somos Girl Power, porra! “com

elas, o meu coração descansa”

Aos amigos da Farmácia da cidade, minha segunda casa, em especial a

Roberto Reis e Marcos Brito, obrigada por acreditarem em mim e me mostrar o quanto

sou capaz me ajudando no meu crescimento profissional e pessoal, minha eterna

gratidão. Aos amigos do marketing da Natulab que abriu as portas e permitiu viver

uma experiência enriquecedora no SAC por dois anos.

Aos meus queridos amigos, que fiz durante a graduação, em especial à Aline,

Lorenna, Luana, Taiane, Elaine, Amanda, Josy, Bianca, obrigada pela força, sem

vocês eu não conseguiria.

Aos professores da FAMAM por toda dedicação, ao professor e coordenador

do curso de farmácia Antônio Anderson, por sempre me ouvir e me ajudar nessa

caminhada.

E para finalizar não poderia deixar de agradecer a minha orientadora Larissa,

pela paciência, amizade, ensinamentos, pelo comprometimento na construção desse

Page 7: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

trabalho, pedia tanto a Deus uma orientadora que me ajudasse nesse processo, e Ele

me ouviu. OBRIGADAAA, MEU DEEEEUS!

Page 8: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

“Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”

Belchior

Page 9: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

RESUMO

A ayahuasca é uma bebida enteógena, cujo preparo é feito através da infusão do cipó da Banisteriopsis caapi e das folhas da Psychotria viridis, no princípio ativo da Banisteriopsis caapi contém os alcaloides harmina, tetra-hidro-harmina e harmalina e na Psychotria viridis contém N, N-dimetiltriptamina (DMT). Na Amazônia é usado tradicionalmente para fins rituais e terapêutico, no decorrer dos anos, o uso do chá da ayahuasca tem ganhando popularidade e se expandido além da cultura indígena, sendo utilizado em movimentos sincréticos religiosos e fins recreativos. Devido ao aumento da quantidade de pessoas que fazem uso do chá da ayahuasca e a diversidade na composição química do chá, acredita-se que existam interações de significância, devido à inibição da monoaminoxidase (MAO) presentes em grandes quantidades no chá da ayahuasca, apresentando um risco maior de interações medicamentosas e alimentares comparada com outras plantas medicinais. O uso de plantas medicinais concomitantes tratamentos medicamentosos devem ter uma atenção mais crítica voltada para os efeitos adversos e problemas que oferecem ao organismo. Por esse motivo é importante o conhecimento sobre o efeito farmacológico do chá da ayahuasca e quais tipos de medicamentosos consumidores fazem uso, para que sejam evitados ou minimizados os efeitos adversos. Este estudo teve como objetivo, investigar na literatura atual, através de uma revisão integrativa, as possíveis interações entre medicamentos e os compostos presentes no chá da ayahuasca. Foi realizada uma revisão integrativa, a partir da pergunta “Quais as possíveis interações entre medicamentos utilizados pela população e os compostos presentes no chá da ayahuasca?”, foi utilizado a base de dados Pubmed, Scielo, LILACS, Embase, Google Scholar, Science Direct, e as palavras-chave Ayahuasca, Banisteriopsis caapi, Psychotria viridis, drug interactions, pharmacology, side effects. Os estudos mostraram que, com a crescente populariedade da ayahuasca, é necessário estabelecer parâmetros claros para eficácia e seguraça, e investigar os riscos de interações entre medicamentos e os alcaloides presentes no chá e medicamentos. A partir dos estudos analisados, observou-se que as interações com o chá da ayahuasca são mal compreendidas, mas se sabe que o consumo do chá deve ser evitado em associação com medicamentos com potencial serotoninérgico.

Palavras-chave: Ayahuasca. Banisteriopsis caapi. Psychotria viridis. Interações medicamentosas. Farmacologia. Efeitos colaterais.

Page 10: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

ABSTRACT

Ayahuasca is an entheogenous drink, whose preparation is made through the infusion of Banisteriopsis caapi vine and Psychotria viridis leaves, in the active principle of Banisteriopsis caapi it contains the alkaloids harmine, tetrahydro-harmine and harmaline and in Psychotria viridis it contains N , N-dimethyltryptamine (DMT). In the Amazon it is traditionally used for ritual and therapeutic purposes, over the years, the use of ayahuasca tea has gained popularity and expanded beyond the indigenous culture, being used in syncretic religious movements and recreational purposes. Due to the increase in the number of people who use ayahuasca tea and the diversity in the chemical composition of the tea, it is believed that there are significant interactions, due to the inhibition of monoaminoxidase (MAO) present in large quantities in ayahuasca tea, presenting a greater risk of drug and food interactions compared to other medicinal plants. The use of medicinal plants concomitant with drug treatments should pay more critical attention to the adverse effects and problems they offer to the body. For this reason, it is important to know about the pharmacological effect of ayahuasca tea and what types of medicinal products consumers use, so that adverse effects are avoided or minimized. This study aimed to investigate in the current literature, through an integrative review, the possible interactions between drugs and the compounds present in ayahuasca tea. An integrative review was carried out, based on the question “What are the possible interactions between medicines used by the population and the compounds present in ayahuasca tea?”, The Pubmed, Scielo, LILACS, Embase, Google Scholar, Science Direct database was used , and keywords Ayahuasca, Banisteriopsis caapi, Psychotria viridis, drug interactions, pharmacology, side effects. Studies have shown that, with the increasing popularity of ayahuasca, it is necessary to establish clear parameters for efficacy and safety, and to investigate the risks of interactions between medicines and the alkaloids present in tea and medicines. From the studies analyzed, it was observed that interactions with ayahuasca tea are poorly understood, but it is known that tea consumption should be avoided in combination with drugs with serotonergic potential.

Keywords: Ayahuasca. Banisteriopsis caapi. Psychotria viridis. Drug interactions.

Pharmacology. Side effects.

Page 11: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1:Folhas- Psychotria viridis, Cipó- Banisteriopsis caapi ................................ 19

Figura 2: Preparo do chá da ayahuasca................................................................... 19

Figura 3: Estruturas químicas dos compostos ativos encontrados no chá da ayahuasca..................................................................................................................22

Page 12: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Caracterização do PICOT dos estudos incluídos. .................................. 33

Page 13: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

LISTA DE ABREVIATURAS

UDV- União do vegetal

THH- Tetra-hidro-harmina

DMT- N, N- dimetiltriptamina

MAO- Monoaminoxidase

SNC- Sistema nervoso central

IMAO- Inibidores da monoaminoxidase

EAM- Eventos adversos a medicamentos

ISRS- Inibidores seletivos da recaptação da serotonina

OMS- Organização mundial da saúde

ECs- Endocanabinoides

Page 14: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

14

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 15

2. REFERÊNCIAL TEÓRICO ............................................................................... 18

2.1 HISTÓRIA DO CHÁ DA AYAHUASCA ............................................................... 18

2.2 FARMACOLOGIA DO CHÁ DA AYAHUASCA ................................................... 21

2.3 INTERAÇÕES ENTRE O CHÁ DA AYAHUASCA E MEDICAMENTOS ............. 24

2.3.1 INTERAÇÕES ENTRE O CHÁ DA AYAHUSCA E ALIMENTOS ..................... 26

2.4 POTENCIAL TERAPÊUTICO DO CHÁ DA AYAHUSCA ................................... 27

3. METODOLOGIA ............................................................................................... 30

3.1TIPO DE PESQUISA .......................................................................................... 30

3.2 PERGUNTA DA PESQUISA E TERMOS DE BUSCA ........................................ 30

3.3 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE ...................................................................... 31

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 32

5. CONCLUSÃO ................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 43

Page 15: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

15

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, são descritas cerca de meio milhão de espécies vegetais

(CUNNINGHAM, 2008). Dentre estas, destacam-se espécies com propriedades

alucinógenas e potencial psicoativo já caracterizadas, em sua maioria ervas e fungos,

por conta do seu uso secular associado a costumes religiosos e medicinais, e

consequentemente de viés cultural (PIRES et al., 2010). Plantas alucinógenas estão

entre as drogas mais antigas usadas pelos homens e, durante séculos, essas plantas

eram utilizadas somente associadas à religião, magia e medicina.

Em 1815, Jacques Moreau publicou o primeiro texto sobre alucinógenos, e

observou através de relatos, que alguns compostos encontrados em plantas

permitiam a transformação de seus pensamentos em experiências sensoriais

(MERES; CECCHETTO; CAZANAVE, 2005).

A partir dessa publicação, em 1924, o alemão Louis Lewin iniciou estudo sobre

toxicologia e psicofarmacologia, e escreveu a monografia nomeada “Phatastica - um

estudo clássico sobre o uso e abuso de plantas que alteram a consciência”. Em seu

estudo, foram analisadas e catalogadas plantas que alteram a consciência e na sua

obra já se citava o chá da ayahuasca (CUNNINGHAM, 2008).

Historicamente, na Amazônia, o consumo do chá da ayahuasca começa em

1851 quando o botânico inglês Richard Spruce relata que o uso de bebidas

consumidas intoxicava os índios. R. Spruce participou de uma cerimônia que incluía

a infusão que eles chamavam “caapi”. A partir disso, ele coletou espécies da planta e

das flores, realizando analises em qual chamou de Banisteria caapi e, logo após,

alguns estudos levaram a concluir que caapi, yagé e ayahuasca eram nomes

indígenas para a mesma poção feita daquela videira Banisteria caapi de Spruce, em

1931 foi reclassificada como Banisteriopsis caapi pelo taxonomista Morton (BRITO et

al., 2002).

O consumo do chá da ayahuasca nas aldeias indígenas teve início a partir do

século XX, e consequentemente ocorreu a expansão do uso do chá para outros países

como no Chile, Peru, Bolívia e Colômbia. Com o decorrer dos anos, o uso do chá da

ayahuasca tem se expandido além da cultura indígena e vem sendo utilizada em

Page 16: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

16

alguns movimentos sincréticos religiosos (LABETE et al., 2002). Dentre esses grupos

religiosos que atuam no Brasil, destacam-se: o Santo Daime, a União do Vegetal

(UDV) e a Barquinha.

O chá da Ayahuasca é uma bebida composta pela associação de duas plantas

primordiais: o cipó Banisteriopsis caapi e as folhas do arbusto Psycotria viridis.

Existem variações nos princípios ativos de ambas: Banisteriopsis caapi que contém

os alcaloides harmina, tetra-hidro-harmina (THH) e em menor quantidade a harmalina.

Já Psycotria. viridis, contém N, N-dimetiltriptamina (DMT), sustância que pertence ao

grupo das triptaminas, que promove a recaptação de serotonina (GUIMARÃES, 2007).

O efeito alucinógeno do chá é promovido pela ação somatória do DMT com as

demais substâncias cujo efeito é bloquear a ação da enzima monoaminoxidase

(MAO), causando mudanças emocionais e cognitivas. Assim, indivíduos que fazem

uso do chá podem vivenciar a ação alucinógena denominada como "miração"

(manifestação específica a cada indivíduo), definida por visões de animais, "seres da

floresta", demônios, divindades, sensação de voar, alteração do corpo pelo de outro

ser (homem ou animal), de acordo com a experiência individual (CAZANAVE, 2000).

Devido a uma crescente expansão no consumo do chá da ayahuasca, a

ingestão da bebida vem ganhando espaço na sociedade brasileira para diversos usos

(COSTA; FIGUEREDO; CAZANAVE, 2005). O Brasil é o único país em que o uso da

ayahuasca é liberado para fins religiosos. O Uso da bebida foi concebida em 2004

pelo Conselho Nacional Anti-drogas (BARKER et al., 2001; MCKENNA, 2004).

Embora vários países da América do Sul tenham como tradição o consumo do

chá por xamã e vegetalistas, somente no Brasil o consumo se desenvolveu através

de religiões de populações não indígenas. Devido ao aumento da quantidade de

pessoas que fazem uso do chá da Ayahuasca e à diversidade da composição química

do chá, acredita-se que existam interações de significância, devido à inibição da MAO

pelas beta-carbonilas harmina, tetra-hidro-harmina (THH) e harmalina presentes em

grandes quantidades no chá, apresentando um risco maior de interações

medicamentosas e alimentares comparada com outras plantas medicinais

(GUIMARÃES, 2007).

Outro efeito colateral do uso do chá da ayahuasca é a inibição da enzima

monoaminoxidase (MAO), cuja atividade é essencial na degradação de monoaminas

Page 17: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

17

biogênicas presentes em alguns alimentos, como no queijo, alimentos fermentados,

algumas carnes e vinhos. (CALLAWAY et al., 1999; GUIMARÃES, 2007).

Componentes químicos da ayahuasca interagem com os componentes químicos

naturais de alguns alimentos e podem levar ao aparecimento de efeitos colaterais

indesejáveis.

O uso de plantas medicinais concomitantes tratamentos medicamentosos

devem ter uma atenção mais crítica voltada para os efeitos adversos e problemas que

oferecem ao organismo. Por esse motivo é importante o conhecimento sobre o efeito

farmacológico do chá da ayahuasca e quais tipos de medicamentosos consumidores

fazem uso, para que sejam evitados ou minimizados os efeitos adversos. Neste

contexto, esse estudo tem como problema o seguinte questionamento: “Quais as

possíveis interações entre medicamentos utilizados pela população e os compostos

presentes no chá da ayahuasca?” O objetivo da pesquisa é investigar na literatura

atual, através de uma revisão integrativa, as possíveis interações entre medicamentos

e os compostos presentes no chá da ayahuasca.

Page 18: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

18

2. REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 HISTÓRIA DO CHÁ DA AYAHUASCA

Os primeiros registros históricos da Ayahuasca surgiram entre o século XVII e

XVII (ANTUNES, 2011). No início do século XIX o botânico Richard Spruce que

durante 15 anos explorou a Amazônia, participou de uma cerimônia indígena em que

os participantes faziam uso da bebida da trepadeira dominada Caapi permitindo que

o botânico identificasse o vegetal (ANTUNES, 2011). Um dos seus principais

trabalhos, junto com Alfred Russel Wallace e Henry Walter Bates, reuniu mais de

30.000 espécies vegetais da Amazônia. Entre as espécies novas descritas e

classificadas, estava a Banisteria caapi da família das Malpighiaceae (FERREIRA,

2004).

A palavra Ayahuasca é de origem indígena. Aya significa "pessoa morta, alma

espírito" e waska "corda, liana, cipó ou vinho". Assim, em português a palavra

significaria "corda dos mortos" ou "vinho dos mortos". Encontrou-se outra

denominação no Peru, que significa a seguinte denominação: "soga de los muertos"

Além dessa denominação, na bacia Amazônica, é também conhecido por outros

nomes, como, hoasca, yagé, caapi, mihi, natema, pindé, daime, vegetal, entre outros

(COSTA et al., 2005).

O chá da Ayahuasca constitui-se pela mistura das folhas do arbusto Psychotria

viridis e do cipó Banisteriopsis caapi. (Figura 1), e o seu preparo é feito através de

infusão, iniciando pelo cozimento da folha de do cipó. (Figura 2). O seu uso, a

princípio, foi restringido aos povos indígenas e passou a ser utilizado na cultura e no

povoado da Amazônia Ocidental, surgindo o vegetalismo1 (BENEDITO, 2017).

1 Termo usado para se referir a uma prática de Xamanismo que utiliza a medicina popular de civilizações rurais do Peru e da Colômbia, que mantém tradições antigas sobre plantas, absorvidos das tribos indígenas e influências do esoterismo, conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões, que busca transmitir informações sobre determinados assuntos de tradições antigas sobre plantas, de uma forma em que seus princípios e conhecimentos não sejam divulgados, sendo restrito aos seus adeptos.

Page 19: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

19

Figura 1: Folhas- Psychotria viridis, Cipó- Banisteriopsis caapi.

Fonte: Motta, 2013

Figura 2: Preparo do chá da ayahuasca

Fonte: Motta, 2013

Tribos brasileiras como Ashaninka e diversas tribos que pertencem ao tronco

linguístico Pano (Kaxinawá, Yawanawá, Shawadawã, Shanenawá, Jaminawá,

Marubo, Katukina, entre outros) faziam uso tradicionalmente da ayahuasca em rituais

Page 20: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

20

ligados a pajelança, em que o pajé indígena tem como objetivo específico à cura

através da magia. Os índios conheciam a ayahuasca como nixi pae e kawa, que para

nós é o cipó e a folha. A compreensão na cultura indígena sobre a farmacognosia da

ayahuasca foi alcançada através de um ser encantado: Yube (a “jiboia branca”) que

invocava nos rituais, que era altamente respeitada e considerada um ser divino pelos

Kaxinawá aprendendo todos os ensinamentos do canto, do mantra, que a chamava

de “miração da jiboia encantada” quando bebia o chá (OLIVEIRA, 2018).

No Brasil, após o início do ciclo da borracha, em 1930, a ayahuasca começou

a ser utilizada em um contexto diferente daquele usado nas tribos indígenas ligadas

ao xamanismo. Isso porque aconteceu um período de urbanização da região norte

que permitiu a interação entre seringueiros e indígenas de tribos xamânicas

(ALBUQUERQUE, 2011). Em Rio Branco, capital do Acre, Raimundo Irineu Serra, ex-

seringueiro conhecido como “curador”, experimentou a bebida oferecida por pessoas

que tiveram contato com costumes indígenas, após o consumo do chá passou a ter

visões que mudaram seu comportamento e qualidade de vida (OLIVEIRA; AMARAL,

2016). Mais tarde, essa prática deu origem ao Santo Daime, cuja origem da palavra

vem do verbo “dar” junto com o pronome “me”, significando “dai-me força”, “dai-me

luz”, e resultando na criação de religiões que utilizava a bebida em rituais ligados a

catolicismo, espiritismo, tradições afro-brasileiras e esoterismo (LABATE; GOULART,

2005).

As três principais vertentes (Santo Daime, UDV e Barquinha) têm em comum o

fato de pertencerem a uma mesma tradição de religiosidade não indígena de consumo

da ayahuasca no Brasil. Iguala-se em relação ao preparo do chá, à cerimônia e às

regras para a participação dos membros nos rituais. Todavia, cada uma delas possui

diferenças de contexto religioso e social significativas entre si, o que veio a originar

discussões em relação aos grupos originais (REHEN, 2013).

Os inúmeros grupos religiosos que se iniciaram têm influência de religiões

africanas, catolicismo e espiritismo, ligado ao conhecimento botânico de pajés e de

tribos indígenas formando o sincretismo religioso (LABATE; ARAUJO, 2004).

O Santo Daime preserva o catolicismo popular, originário do caráter sagrado

da festa e danças, suas divindades são Deus, Jesus e Virgem Maria, santos católicos

e entidades afro-brasileiras. O núcleo canta coletivamente seus hinos e dançam

Page 21: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

21

alternado com períodos de silêncio e meditação. As cerimônias ocorrem em datas pré-

determinadas para cada grupo, geralmente duas vezes no mês ou nos dias de santos

diferentes conforme a seita (LABATE; ARAUJO, 2004). No ritual os presentes se

assim desejarem podem manifestarem suas experiências daquele dia referente ao

trabalho e junto orar “Pai Nosso” e “Ave Maria” (FRANCO; CONCEICAO, 2004).

A barquinha é a mais diversificada possui influência da umbanda, após a

ingestão do chá em cerimônias ocorre incorporações de entidade espirituais que

expressão os três planos cósmicos: a terra o mar e o astral. A barquinha representa a

viagem de cada indivíduo dentro da trajetória de vida de cada um (LABATE; ARAUJO,

2004).

A união do vegetal possui (UDV) uma relação forte com o espiritismo

Kadescista, seus princípios são através da evolução espiritual e da reencarnação. As

figuras de Jesus Cristo e Nossa Senhora possuem um lugar em destaque através da

sua influência cristã (LABATE; ARAUJO, 2004).

2.2 FARMACOLOGIA DO CHÁ DA AYAHUASCA

A ayahuasca é uma bebida enteógena, usada como um medicamento

tradicional em várias regiões da Amazônia, que altera o estado de consciência

induzindo o estado xamânico ou de êxtase, constituída através do cozimento de duas

plantas, o cipó da família Malpighiaceae, Banisteriopsis caapi, e caules da família

Rubiaceae Psychotria viridis. A Banisteriopsis caapi possui em sua composição

alcaloides betas-carbolinas inibidoras da MAO, os de maiores concentrações são:

harmina, harmalina, tetra-hidro-harmalina. As concentrações desses alcaloides

variam de 0,05% a 1,95% (MCKENNA, 2004).

A Psychotria viridis, na sua composição possui o alcaloide derivado indólico

N, N-dimetiltriptamina (DMT) em concentração de 0,1% a 0,66% que atua sobre os

receptores da serotonina (ALMEIDA, et al., 2018).

Page 22: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

22

Figura 3: Estruturas químicas dos compostos ativos encontrados no chá da ayahuasca.

Fonte: Dominguéz-Clavé et al., 2018

O DMT é uma substância presente em diversas partes das plantas, nas raízes,

caules e folhas, presente em tecidos de mamíferos, animais marinhos e anfíbios, é

conhecido como a “molécula do espirito” devido à intensa experiência psicodélica

gerada pela sua ação. É um neurotransmissor endógeno, encontrado em humanos e

está presente no fluido cérebro-espinhal, sangue e urina. O DMT é considerado um

agonista dos receptores de serotonina, ou seja, uma substância que apresenta

afinidade pelos receptores serotoninérgicos, especialmente 5HT-2A, receptores que

estão envolvidos em diferentes funções como no sono, humor, regulação da

temperatura, assimilação à dor, regulação da pressão arterial e tem a capacidade de

estimular a atividade fisiológica nos receptores celulares, simulando o efeito desse

neurotransmissor (SMITH et al., 1998; KATZUNG, 1998; STRASSMAN, 2001).

Page 23: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

23

O efeito dessa interação é o aumento das vias serotoninérgicas, levando a

grande potencial terapêutico, mas também a graves interações com outros fármacos

que atuem no sistema nervoso central (DOMÍNGUEZ-CLAVÉ et al., 2016).

O DMT é eficaz somente quando é administrado por via endovenosa,

intramuscular, subcutânea e por vias aéreas. (GARRIDO et al., 2009). Por se tratar de

um psicoativo altamente potente, quando a DMT é ingerida separadamente por via

oral, mesmo em doses altas, não produz tais efeitos, certamente pela metabolização

feita pela enzima MAO (monoaminoxidase) que se associa a essas moléculas

evitando que alcance a circulação sanguínea evitando que atinja o sistema nervoso

central (SNC). No entanto as beta-carbonilas encontradas no cipó Banisteriopsis caapi

apresentam uma especificidade em inibir a MAO, assim, a ingestão da bebida

proporciona aumento das concentrações dos neurotransmissores como a dopamina,

noradrenalina e da serotonina, tornando biodisponível o DMT por via oral, provocando

ação alucinógena, compreendida com a experiência individual de cada indivíduo e

levando a alterações sensoriais, mudanças emocionais e cognitivas (MCKENNA et

al., 1998; YRITIA et al., 2002).

A ação inibidora da monoaminoxidase (IMAO) na ayahuasca parece ser

mediada principalmente pela harmina, beta-carbolina produzida em maiores

quantidades no cipó da Banisteriopsis caapi. A harmalina é encontrada em menores

quantidades, já a tetra-hidro-harmalina (THH) é entre as três beta-carbolinas, que

possui menor atividade como IMAO, sobretudo elas atuam na MAO-A se ligando

preferencialmente aos neurotransmissores agonistas serotoninérgicos (MCKENNA et

al., 1998).

Page 24: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

24

2.3 INTERAÇÕES ENTRE O CHÁ DA AYAHUASCA E MEDICAMENTOS

A interação medicamentosa é descrita pela resposta farmacológica ou clínica,

causada pela combinação de medicamentos, diferente dos efeitos de dois

medicamentos ingeridos individualmente (FELTEN et al., 2015).

As interações medicamentosas podem acontecer durante o preparo do

medicamento, na absorção, na distribuição, na metabolização, na eliminação ou na

ligação ao receptor. Assim, os mecanismos envolvidos no procedimento interativo são

classificados de acordo com o tipo predominante de fase farmacológica em que

ocorrem os processos farmacocinéticos e farmacodinâmicos (SECOLI, 2001).

Os medicamentos estabelecem uma grande importância na estratégia

terapêutica atualmente e são utilizados em grande proporção. Ainda assim, existem

riscos específicos diante a sua ação farmacológica, podendo agir de uma forma

independente ou interagir entre si, diminuindo seu efeito terapêutico ou aumentar seu

efeito tóxico, desenvolvendo eventos adversos a medicamentos (EAM) (ELOISA et

al., 2017).

O número de adeptos ao ritual da ayahuasca aumentou e chamou a atenção

para seu potencial farmacoterapeutico, principalmente no tratamento de doenças

mentais, transtornos depressivos, ansiedade, alcoolismo, etc. Devido à diversidade

na sua composição química, existem sérias interações medicamentosas que podem

ser motivo de preocupação entre as pessoas que consomem o chá da ayahuasca. A

inibição da MAO pelas betas-carbonilas presentes no chá apresenta o maior risco em

relação às interações medicamentosas, a ayahuasca já foi reconhecida pelo seu

potencial de interação com a classe de medicamento (ISRS) Inibidores Seletivos da

Recaptação da Serotonina (CALLAWAY et al., 1998).

Na literatura tem poucas pesquisas sobre as interações psicofarmacológicas

na ayahuasca, o foco das pesquisas é sobre a interação da DMT e IMAO,

impossibilitando descobertas sobre as interações farmacológicas e como elas

contribuem para o efeito ou para os efeitos colaterais experimentados pelos

consumidores do chá (RUFFELL et al., 2020).

Page 25: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

25

A ayahuasca deve ser evitada com outros agentes serotoninérgicos, por

exemplo, antidepressivos tricíclicos, inibidores da recaptação da serotonina e

noradrenalina, trazodona e erva de são joão.

Antidepressivos, como lítio, indicado para transtornos bipolares, triptanos,

usado para enxaquecas, metoclopramida, levodopa, fentermina, pseudoefedrina,

linezolida, metadona e dextrometorfano, podem aumentar efeitos serotoninérgicos

que agem potencializando niveis de serotonina, norepinedrina e dopamina

(CALLAWAY et al., 1998; MCKENNA, 2004; PIRES, 2009). Além disso, sabe-se que

a classe de medicamentos Inibidores da monoaminooxidase (IMAO) pode aumentar

os efeitos depressivos e analgésicos da morfina (KITANAKA, et al., 2006;

STOCKLEY, 2007).

A utilização desses medicamentos associado ao chá da ayahuasca podem

estimular de forma excessiva de receptores serotoninérgicos em nível central e

periférico que estão normalmente envolvidos no mecanismo de diversos fármacos,

podendo levar a síndrome serotoninérgica, que é descrita por uma série de efeitos

adversos como mudanças no estado mental, hiperatividade autonômica, agitação,

insônia, alucinações e anormalidades neuromusculares (BOYER, SHANNON, 2005).

As propriedades ansiolíticas da ayahuasca são descritas em estudos pré-

clínicos e clínicos e podem estar correrelacionadas à sua atividade serotoninérgica.

Foi evidenciado que os componentes da ayahuasca interferem nos níveis cerebrais

dos neurotransmissores monoaminérgicos e aminoacidérgicos, incluindo o GABA

(CASTRO-NETO et al., 2013).

Como alguns inibidores seletivos da recaptação de serotonina, antipsicóticos

e psicotrópicos são metabolizados pelo CYP2D6, que também metaboliza harmina e

harmalina, o uso simultaneo dessas substâncias podem causar graves problemas e

devem ser evitado (CALLAWAY, GROB, 1998; CALLAWAY, 2003).

Além disso, sabe-se que inibidores de monoaminoxidase (IMAO) podem

aumentar os efeitos depressivos e analgésicos da morfina (KITANAKA, et al., 2006;

STOCKLEY, 2007).

Page 26: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

26

2.3.1 INTERAÇÕES ENTRE O CHÁ DA AYAHUASCA E ALIMENTOS

A ayahuasca atua na inibição da enzima monoaminoxidase (MAO), existem

interações conhecidas entre as IMAOS e alguns alimentos, como no queijo, alimentos

fermentandos, carnes e vinhos (RUFFEL, 2020).

A tiramina presente nesses alimentos é um dos grandes problemas em

indivíduos que consomem o chá da ayahuasca, pois ocorre a interação da MAO

presente no chá da ayahuasca e aminas simpatomiméticas presentes em alguns

alimentos (YOUDIM et al., 2006; WIMBISCUS et al., 2010).

A interação dessas aminas biogênicas com a MAO libera altas concentrações

de serotonina, noradrenalina e dopamina em seus neurotransmissores, causando

efeitos indesejáveis como aparecimento de crises hipertensivas, aumento da pressão

arterial, náuseas, vômitos, entre outros (YOUDIM et al., 2006; WIMBISCUS et al.,

2010). Dietas devem ser feitas para o uso ritual da ayahuasca, evitando efeitos

adversos e efeitos indesejáveis decorrentes de interações.

A tiramina ingerida por via oral é metabolizada na maior parte da MAO presente

no figado e intestino. Cerca e 1% acaba entrando na circulação sistêmica pois não

consegue ser metabolizada pelo figado e intestino sendo captado pelos neurônios

noradrenérgicos onde possui maior afinidade.

Por possuir maior afinidade pela noradrenalina o neurotransmissor é deslocado

liberado, a inibição não seletiva da MAO leva a dimunuição da desaminação da

tiramina e o aumento da absorção no instestino consequentemnte o aumento da

tiramina na corrente sanguinea. A consequência é um aumento da liberação de

noradrenalina de seus estoques neuronais, que é responsável por alguns sintomas,

características como hipertensão, dor de cabeça, palpitações, anormalidades

eletrocardiográficas e arritmias) (BERLIM, 1996).

Page 27: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

27

2.4 POTENCIAL TERAPÊUTICO DO CHÁ DA AYAHUASCA

Em 1993, na Amazônia, ocorreram os primeiros estudos biomédicos que

analisaram o potencial terapêutico da ayahuasca em relação ao alcoolismo, onde

individuos alcançaram abstinência completa do alcool e mudanças comportamentais

significativas (GROB et. al., 1996).

Comunidades indígenas e adeptos usam com frequencia o chá da ayahuasca

para tratar um conjunto de condições médicas, incluindo saúde mental. Além disso, é

usado pela comunidade para lidar com seus problemas sociais e na cura espiritual

(ALMEIDA, 2019).

Vários estudos descrevem o abandono do vício alcoólico dos usuários da

ayahuasca (LABIGALINI, 1998; MCKENNA, 2004; SANTOS et al., 2006).

Existem centros de tratamentos para dependentes químicos que utilizam o chá

da ayahuasca como alternativa terapêutica. Também é observado que norte

americanos e europeus migram para Amazônia com intenção de participar de

cerimônias para se libertar de dependências químicas, e esse tipo de tratamento foi

abordado e discutido e colocado em pauta na BBC, onde indivíduos demostraram

sucesso com o uso da ayahuasca em tratamento de dependência de cocaína em uma

clínica peruana (MCKENNA, 2004).Outros dados satisfatórios encontrados são o

abandono do uso de nicotina, cocaína, anfetamina e outros entorpecentes (SANTOS

et. al., 2006).

Atualmente centros de recuperação de indivíduos com toxicomania, ou seja,

hábito patológico de ingerir doses crescentes de substâncias tóxicas ou entorpecentes

veem na ayahuasca uma nova alternativa de tratamento. Representantes de centros

de recuperação do Peru, Argentina e Uruguai se fizeram presentes no I Encontro

Ayahuasca e o Tratamento da Dependência ocorrido no Brasil nos dias 12 e 14 de

setembro de 2011. O evento juntou psiquiatras, pacientes e familiares, terapeutas,

pesquisadores, antropólogos e representantes dos diversos centros à luz de uma nova

esperança de tratamento para a dependência (VOLKOV, 2011).

Sabe-se que a depressão vem aumentando significativamente nos últimos

anos. Segundo a OMS, a depressão atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo

o mundo (OPAS/OMS BRASIL, 2018).

Page 28: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

28

Diversas pesquisas feitas no Brasil sobre o uso da ayahuasca alcançaram

respostas significativas sobre a melhora da dependência química e depressão,

gerando efeitos benéficos no humor e ansiedade (ALMEIDA, 2010; DOS SANTOS et

al., 2011). A possiblidade terapêutica é de grande escala, no artigo de Domínguez e

colaboradores (2016), observaram que o consumo da ayahuasca ajuda o indivíduo a

superar doenças relacionadas à sua auto-aceitação, aumentando a capacidade de

pensamentos e emoções de uma forma positiva.

Foram feitas investigações a curto prazo sobre os sintomas psicológicos e

psiquiátricos em consumidores novatos da ayahuasca. Após uma semana de

experiências com o uso da ayahuasca, foi relatado uma redução considerável na

intensidade dos sintomas psiquiátricos (BARBOSA et al., 2005).

Também foi encontrado na literatura que o uso da ayahuasca melhorou a

autoaceitação de lésbicas e gays: aprofundou seus relacionamentos e ajudou a se

redefinir de forma positiva, incluindo a aceitação de sua orientação sexual (CAVNAR,

2011).

Sabe-se que a inibição da MAO pelas betas-carbonilas presentes no chá da

ayahuasca, possibilita proteção da neurodegeneração, perda continua dos neurônios,

sendo um grande aliado para ação terapêutica contra o Parkinson e doença de

Alzheimer (SERRANO-DUENAS et. al., 2001, BARNHAM et al., 2004). Através

desses resultados, cientistas apoiam uso tradicional de extrato de Banisteriopsis.

caapi para o tratamento da depressão, e doenças neurodegenerativas, presentes na

atualidade (SERRANO-DUEÑAS et al., 2001; SCHWARZ et al., 2003, HOU et al.,

2005).

No Brasil foi realizada uma pesquisa através de entrevistas, que obteve

resultados satisfatórios em relação ao consumo de álcool aos adolescentes usuários

da ayahuasca do grupo União do Vegetal (UDV). Após o consumo do chá

adolescentes passaram a consumir menos álcool (32,5%) do que os adolescentes não

usuários da ayahuasca (65,1%), assim como outras drogas psicoativas como

cannabis, anfetaminas, cocaína, sedativos, tranquilizantes, tabaco, entre outros

(DOERING et al., 2005).

Consta que a Harmina presente no chá da ayahuasca é apontado como um

novo ativador de p53, gene supressor tumoral que desempenha uma função

Page 29: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

29

importante no controle do ciclo celular, agindo no reparo do DNA e na indução do

apoptose (DAI et al., 2012).

Page 30: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

30

3. METODOLOGIA

3.1TIPO DE PESQUISA

O presente trabalho trata-se de uma revisão integrativa, com elaboração da

pergunta norteadora, busca ou amostragem na literatura, coleta de dados, análise

crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação, que consiste

em sintetizar evidências científicas disponíveis em diferentes estudos realizados

anteriormente sobre o mesmo tema (ROEVER, 2017).

3.2 PERGUNTA DA PESQUISA E TERMOS DE BUSCA

A pergunta da pesquisa foi construída a partir do acrônimo PICOT -

Participantes, Intervenção, Comparador, Outcome/Desfecho e Tipo de estudo

(KLODA et al., 2014; MUELLER et al., 2018).

P (Participantes): Consumidores do chá da ayahuasca e animais de

experimentação.

I (Intervenção): Intervenção terapêutica do chá da ayahuasca associado

ao uso de outros medicamentos

C (Comparador): Sem comparador.

O (Outcome/Desfecho): Foram estabelecidas como desfechos quaisquer

medidas de qualidade de vida desses consumidores, efeitos colaterais ao uso dos

medicamentos ou do chá quando associados e interações medicamentosas.

T (Tipo de estudo): Estudos observacionais, estudos experimentais in

vivo, revisão sistemática e revisões de literatura.

A partir da pergunta “Quais as possíveis interações entre medicamentos

utilizados pela população e os compostos presentes no chá da ayahuasca? ”, foram

realizadas pesquisas individualizadas em bases de dados (Pubmed, Scielo, LILACS

e Embase) através de combinações das seguintes palavras-chaves: ayahuasca,

Banisteriopsis caapi, Psychotria viridis, drug interactions, pharmacology, side effects

sem restrição de idioma ou restrição de período. As buscas foram realizadas no

período compreendido entre 3 de outubro a 25 de outubro de 2020. Outras fontes de

Page 31: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

31

dados foram consultadas também como Google Scholar e Science Direct para a

adição manual de estudos não identificados nas buscas nas bases selecionadas.

3.3 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE

Para a realização desta revisão foram incluídos os estudos transversais e

estudos in vivo que associaram as interações entre medicamentos e o chá da

ayahuasca. Por outro lado, foram excluídos estudos nos quais não foi possível extrair

dados relevantes como características da população descrita, além de estudos onde

não eram disponibilizados o texto completo.

Page 32: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

32

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram selecionados 31 artigos compatíveis com o tema do estudo, os quais

estavam disponíveis 28 na base de dados Pubmed e 3 artigos no Scielo. Destes

artigos, 21 foram excluídos após a leitura de título e resumo, 10 foram selecionados

para leitura completa e 7 estudos incluídos. Dos artigos remanescentes, 2 foram

revisão de literatura, 1 revisão sistemática, 1 revisão transversal, 2 estudos in vivo

e 1 estudo de caso (Figura 4). Nesses estudos, pôde-se observar as possíveis

interações entre medicamentos utilizados pela população e os compostos

presentes no chá da ayahuasca.

Figura 4: Fluxograma de seleção dos estudos

Referências identificadas em bases

bibliográficas: 31

Pubmed (28)

Scielo (3)

Embase (0)

Lilacs (0)

Publicações excluídas pela leitura de título e

resumo:

21

Publicações selecionadas para leitura

completa:

10

Estudos incluídos:

7

Iden

tificaçã

o

Sele

çã

o

Ele

gib

ilida

de

In

cluíd

os

Referências identificadas em outras fontes

(Listas de referências):

Google Scholar (0)

Science Direct (0)

Publicações excluídas pela leitura do texto completo: 3

Razões: 2 - Desfecho não aplicável 1 - Não foi possível obter o texto completo

Page 33: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

33

Os dados obtidos com o levantamento dos estudos são mostrados no quadro 1. Quadro 1 – Caracterização do PICOT dos estudos incluídos.

1º autor (ano)

População

Exposição Comparação Desfechos avaliados Desenho do estudo

Malcolm et

al. (2017)

Foi realizada uma busca no Pubmed usando o termo “ayahuasca” desde o início do banco de dados até 6 de setembro de 2016, foi conduzida para estudos que investigam os efeitos da ayahuasca para tratamento de doenças psiquiátricas

Relatórios clínicos anedóticos e estudos naturalísticos

N. A A ayahuasca tem um mecanismo farmacológico complexo, as interações medicamentosas são mal compreendidas e a ayahuasca deve ser evitada com medicamentos com potencial serotoninérgico. Abordagens para minimizar os danos, maximizar os benefícios são necessárias a fim de reduzir barreiras para pesquisas médicas legítimas e proteger os pacientes que podem estar desesperados e procurando alternativas para o tratamento de doenças psiquiátricas

Revisão de literatura

Page 34: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

34

Ruffell et al.

(2020)

N. A Foi realizada uma busca nos bancos de dados PubMed, PsycINFO e Web of Science até setembro de 2019 para os seguintes termos: (ayahuasca OU DMT OU dimetiltriptamina) E (B- carbonila OU constituentes OU quimica OU harmina OU harmalina OU alcalóides harmala OU tetrahidroarmina OU hrmalol OU IMAO inibidor da monoaminaoxidase OU farmacologia OU farmacocinética OU farmacodinâmica OU psicofarmacologia OU sinergia)

N. A Esta revisão demostra claramente que a pesquisa publicada é insuficiente para determinar as potencias interações sinérgicas entre os compostos conhecidos da ayahuasca

Revisão sistemática

Durante et al. (2020)

614 integrantes da UDV

Foi desenvolvido um questionário

sobre uso e IMAOs e psicodélicos,

alucinógenos em um contexto

religioso. O questionário foi

elaborado para reunir dados

sociodemográficos básicos e

decrever aspectos relevantes do

uso da ayahuasca , especiamente

a segurança geral dos IMAOs,

caracteristicas sugestivas de um

risco aumentado de reações grave

e efeitos adversos comuns a

toxidade serotoninérgica. As

questões foram elaboradas para

explorar a frequencia de uso da

ayahuasca e uso de

medicamentos (principalmente

psiquiátricos e efeito adversos )

N. A Os dados mostram efeitos adversos mais frequentes entre os 614 participantes foram efeitos gastrointestinais transitórios (náuseas e vômitos). Cinquenta participantes relataram um diagnóstico psiquiátrico (depressão e ansiedade foram os mais prevalentes), e esses participantes experimentaram efeitos adversos com mais frequência. O uso de medicamentos psiquiátricos foi relatado por 31 participantes. Nenhuma indicação de aumento de efeito adversos devido a interações medicamentosas foi encontrada

Estudo transversal

Page 35: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

35

Pires et al. (2018)

Camundongos Swiss machos, de 3-4 meses de idade, pesando 30-50 g.

Camundongos foram pré-tratados com ayahuasca e, em seguida tratados com morfina ou propofol para verificar uma possivél interação farmácologica entre esses agentes

N. A O estudo mostra que o liofilizado da ayahuasca modificou efeitos analgésicos da morfina em comundongos. Além disso, o efeito relaxante muscular do propofol foi prolongado, enquanto seu efeito sedativo parecia reduzido. Esses dados sugerem que os anestesistas devem tomar alguns cuidados ao usar morfina ou propofol em seguidores de cultos do chá da ayahuasca submetidos a procedimentos cirúgicos. Mais estudos são necessários para investigar melhor interações entre ayahuasca e morfina/propofol, e estudos farmacocinéticos são sugeridos para abordar essa questão

Estudos in vivo

Page 36: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

36

Callaway. et al. (1998)

1 voluntário Administração de 100 ml do chá da ayahuasca concomitante ao uso de fluoxetina de 20 mg

N. A O voluntário uma hora depois de ingerir aproximadamente 100 ml do chá da ayahuasca, começou a sentir tremores, suores, calafrios e confusão. Rapidamente seus sintomas se intensicaram nas 3 horas seguintes, além de estar desorientado, relatou profundo desespero e angústia. Após 4 horas de ingestão se tornou assintomático, não havia sequelas adversas aparentemente

Estudo de caso

Brierley et al. (2012)

N. A Foi realizada uma busca na literatura em pesquisas recentes sobre harmine, um dos principais compostos ativos no chá da ayahuasca onde tem sido o assunto da maioria das investigações médicas

N. A

Esta revisão se concentrou em harmine, um dos compostos presente no chá, pois tem uma diversidade e intrigante sobre o perfil farmacológico que poderia mediar a terapêutica efeitos na dependência de drogas e outras condições do SNC. A harmine é um composto que pode provocar um gama de efeitos além da inibição periférica de MAO

Revisão de literatura

Page 37: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

37

Dos santos et al. (2018)

1 voluntário Foi administrado dose de ayahuasca 1 mL /kg por via oral

N. A Considerando que o receptor 5-HT2A e o endocanabinoides são co-expressos nas regiões do cérebro e está associado aos receptores de serotonina, é plausível especular que a interação entre esses sistemas pode estar relacionada ao antidepressivo e ansiolítico presente nos compostos da ayahuasca

Estudos in vivo

Page 38: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

38

Malcolm e colaboradores (2017) realizou uma busca no banco de dados

Pubmed usando o termo “ayahuasca”, no qual foi direcionado estudos que investigam

o uso dos efeitos da ayahuasca para tratamento de doenças psiquiátricas. Nos

estudos avaliados na revisão, observou-se que a ayahuasca apresenta um risco maior

em relação a interações com medicamentos devido à inibição da MAO pelos

alcaloides harmalina, harmina e tetra-hidroarmina, extraídos da Banisteriopsis caapi,

que pertencem a um grupo de β-carbolinas conhecidas como alcaloides da harmala

(MALCOLM et al., 2017). Callaway e Grob (1998) realizaram um estudo de caso e

concluíram que a ayahuasca possui um risco de interações medicamentosas maior

referente a outros psicodélicos devido a inibição da MAO. A ayahuasca primeiramente

foi reconhecida pelo potencial de interações com inibidores seletivos da recaptação

de serotonina, que geralmente é utilizada em doenças psiquiátricas e devem ser

evitadas com outros agentes serotoninérgicos. Drogas psicodélicas utilizadas para

fins recreativos que, em combinação com o composto harmala, também apresentam

alto risco de interação.

Malcolm et al. (2017), em seu estudo concluiu que a ayahuasca apresenta um

mecanismo farmacológico que ainda não está totalmente esclarecido, embora sabe-

se que a inibição da MAO acontece por causa dos compostos presentes no cipó da

Banisteriopsis caapi, o DMT presente nas folhas da Psychotria viridis é um forte

agonista do receptor de serotonina e tem um grande potencial de interagir com outros

alvos moleculares (DOMÍNGUEZ-CLAVÉ et al., 2016).

A revisão de Ruffel et al. (2020) demostra que a pesquisa realizada em bancos

de dados até setembro de 2019 é insuficiente para determinar potenciais interações

sinérgicas entre os compostos da ayahuasca. A maioria dos estudos avaliados na

revisão de Ruffel e colaboradores, destacou que a harmina e o DMT, os dois

compostos, quando utilizados juntamente inibem a desaminação do DMT no fígado e

intestino. É importante destacar que a maioria dos dados obtidos de estudos são in

vitro, amostras humanas são limitadas.

Callaway e Grob (1998) relataram um caso de síndrome da serotonina em um

paciente que usou fluoxetina, um inibidor seletivo de recaptação de serotonina em

conjunto com a ayahuasca, através de alguns estudos, descobriram que a harmina,

um dos compostos presentes no chá da ayahuasca é um inibidor seletivo da isoenzima

CYP2D6 do citocromo P450 humano. O CYP2D6 é responsável também por

Page 39: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

39

metabolizar alguns inibidores seletivos da recaptação da serotonina, antipsicóticos e

outros psicotrópicos (CALLAWAY et al., 1998; CALLAWAY, 2005).

Sabe-se que a junção de medicamentos que inibem isoforma CYP2D6 e o chá

da ayahuasca gera uma síndrome serotoninérgica, estimulando de forma excessiva

os receptores serotoninérgicos periféricos e centrais causando alguns sintomas,

como por exemplo, anormalidades neuromusculares, hiperatividade autonômica e

alteração do estado mental.

Durante e colaboradores (2020) realizou um estudo transversal com

integrantes do núcleo UDV nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa

Catarina, no qual foi aplicado um questionário explorando a frequência do uso da

ayahuasca e medicamentos (principalmente psiquiátricos). O questionário reuniu

dados sociodemográficos que descreveu aspectos importantes sobre o uso da

ayahuasca, principalmente com relação à segurança geral dos IMAOs.

Os efeitos adversos mais frequentes relatados entre os 614 participantes

foram efeitos gastrointestinais transitórios (náuseas e vômitos). Cinquenta

participantes relataram um diagnóstico psiquiátrico (depressão e ansiedade foram os

mais prevalentes), e esses participantes relataram efeitos adversos com mais

frequência. O uso de medicamentos psiquiátricos foi relatado por 31 participantes.

Sendo assim, não foi relatado nenhum aumento de efeitos adversos devido a

interações medicamentosas.

Os dados obtidos no estudo transversal de Durante et al., (2020) mostraram

que 48% dos participantes usa medicamentos psiquiátricos. Trinta e um participantes

relataram fazer uso de algum medicamento psiquiátrico, dos quais, 87,1% relataram

ter sido informados sobre possíveis interações com a ayahuasca. Vinte e cinco

participantes (4,07% da amostra) relataram que faziam uso de antidepressivos,

sendo que os mais utilizados foram bupropiona, citalopram, venlafaxina, citalopram,

fluoxetina, mirtazapina, sertralina. Usuários de medicamentos psiquiátricos devem

informar ao profissional responsável sobre a intenção de usar a ayahuasca, para que

ocorra monitoração de possíveis interações medicamentosas.

Efeitos físicos mais comuns relatados no estudo foram vômitos e náuseas,

entre 96,74% e 91,53% dos participantes. Diarreia, calafrios, taquicardia, tremor e

zumbido foram outros efeitos frequentes, com 5 a 10% dos

Page 40: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

40

participantes. Participantes com um diagnóstico psiquiátrico relatado

experimentaram efeitos adversos mais frequentemente (DURANTE et al., 2020).

Pires (2019) realizou um estudo in vivo com camundongos Swiss, no qual

liofilizou amostra da ayahuasca e administrou concomitante, por via intraperitoneal,

amostras de propofol e sulfato de morfina. Foi possível avaliar interação entre

ayahuasca e propofol em dois testes comportamentais: coordenação motora; e hora

de dormir - efeito sedativo / hipnótico. O estudo piloto mostrou que ayahuasca a 120

e 1200 mg / kg ou propofol a 25 e 50 mg / kg não interferiu na coordenação motora

de camundongos, mas o propofol na dose de 100 mg / kg reduziu o tempo no rota

rod, teste que mede parâmetros como tempo de pilotagem ou resistência,

apresentando incoordenação motora, reduzindo o desempenho dos animais na barra

giratória.

Entre ayahuasca e a morfina, foram realizados quatro testes para avaliar uma

possível redução na capacidade de perceber a dor, um quarto teste avaliou os efeitos

da morfina, ayahuasca e sua interação no trânsito intestinal, no qual as dosagens da

ayahuasca não foram capazes de alterar significativamente o trânsito intestinal ou

interferir no efeito da mofina.

Grella et al., (1998) e Glennon et al., (2000) detectaram que a harmina tem

afinidade moderada no receptor 5-HT2A, a ligação das β-carbolinas (incluindo

harmina) nos receptores 5-HT2A tem sido revisado costantemente.

Dos Santos et al., (2018) realizou o primeiro estudo in vivo, no qual avaliou

as possiveis interações entre o receptor 5-HT2A e o sistema endocanabinoides (Ecs). Para Dos santos e colaboradores (2018) a ativação do receptor 5-HT2A

desencadeia a liberação de endocanabinoides (ECs), se ligando ao 2-

araquidonoilglicerol (2-AG), agonista endogéno do receptor CB2 que está presente

nas celulas imunes e no sangue, e o receptor 5-HT2A e o sistema endocanabinoide

(ECS) são co-expressos em regiões do cérebro no qual estão relacionados ao

processo emocional.

Para testar a possível interação, foi administrado por via oral uma unica dose

de 1mL / kg de ayahuasca em um voluntário do sexo masculino saudavél. O voluntário

não estava tomando nenhum medicamento, foi pedido para não ingerir alcool, tabaco

e cafeína, evitando que ocorra um possível interação.

Page 41: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

41

Após a ingestão do chá da ayahuasca ocorreu uma diminuição dos niveis

plasmáticos, seguido de aumento no plasma 2-araquidonoilglicerol (2-AG). Estudos

anteriores mostraram que 5-HT2A agonistas do receptor aumentam a formação e

liberação de ECs (PARRISH, et al., 2006; BEST et al., 2008).

Sabe-se que o receptor 5-HT2A e o endocanabinoides (ECs) são co-

expressos nas regiões do cérebro (SANCHES et al., 2016; LISBOA, et al., 2017), é

viável investigar possiveis interações entre esses sistemas, associado com

medicamentos com potencial serotoninérgicos.

Interações entre harmina ou harmalina e enzimas metabólicas dentro do

superfamília do citocromo P450 humano foram descobertas (YU et al., 2003). Essas

interações têm várias consequências, como por exemplo, diminuir o efeito

terapêutico, potencializar o efeito ou até anular o efeito do medicamento. Para o

potencial de interações medicamentosas entre os consumidores do chá da

ayahuasca e dado que essas isoformas estão envolvidas no metabolismo de 80%

dos medicamentos em uso atual (ZHAO et al., 2011).

A área com maior preocupação em relação às interações medicamentosas

adversas envolvendo ayahuasca é o tratamento do câncer. O uso da ayahuasca para

autotratamento por pacientes com câncer foi descrito por (TOPPING, 1998; SCHMID

et al., 2010).

Brierley e colaboradores (2012) tem como conclusão que o consumo do chá

da ayahuasca de forma não tradicional está crescendo a cada dia, antigamente

ligado ao contexto religioso, no entanto consumidores estão utilizando para fins

recreativos ou como uma forma de terapia alternativa. Porém estas pessoas podem

estar fazendo algum tratamento crônico ou utilizando algum medicamento que tenha

interações medicamentosas com os compostos químicos presentes na ayahuasca.

Page 42: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

42

5. CONCLUSÃO

Com base nos 7 estudos selecionados, pode-se observar que a ayahuasca tem o

mecanismo farmacológico complexo e que, com a crescente popularidade do

consumo do chá ayahuasca, é necessário investigar os riscos de interações

medicamentosas. As interações medicamentosas com a ayahuasca são poucas

compreendidas, mas a literatura atual deixa claro que o consumo da bebida deve ser

evitado em associação a medicamentos com potencial serotoninérgico devido à

inibição da MAO para evitar crises serotoninérgicas. Como a temática é pouco

discutida no meio científico e há uma escassez de estudos que associem o uso da

ayahuasca com medicamentos amplamente utilizados pela população, são

necessárias mais pesquisas com propósito de investigar as potenciais interações

entre esses medicamentos e os alcaloides presentes no chá da ayahuasca.

Page 43: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, M. B; Religião e educação: os saberes da ayahuasca no Santo Daime. In: Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano IV, nº 10, maio 2011. ALMEIDA, C. A. F. Ayahuasca no tratamento da farmacodependência ao etanol em camundongos: possível intervenção terapêutica? 2019. Dissertação de mestrado (Mestrado em Farmácia) – Faculdade de ciências Farmacêuticas, Universidade Federal de Alfenas, Minas Gerais, 2019. ALMEIDA, D. F; SILVA, A. L. P; ASSIS; T. J. C. F. Dimetiltriptamina: alcaloide alucinógeno e seus efeitos no sistema nervoso central. Paraíba, 2018. ANTUNES, H. F. A literatura antropológica e a reconstituição histórica do uso da ayahuasca no Brasil. Revista de Antropologia da UFSCar, São Carlos, v. 3, n. 2, p. 76-103, 2011. Aquiver Brasileiro Scientific Phytomedicine. The Scientific Review of Alternative Medicine v. 5, p.127-132, 2001. BARKER, S; LITTLEFIELD-CHAUBAUD, A; DAVID, C. Distribution of the hallucinogens N, N-dimethyltryptamine and 5-methoxy N, N-dimethyltryptamine in rat brain following intraperitoneal injection: application of a new solid-phase extraction LCAPcI-MS-MS isotope dilution method. J Chromatogr B, 2001. BARNHAM, K.J.; MASTERS, C.L.; BUSH, A.I. Neurodegenerative diseases and oxidative stress. Nature Reviews Drug Discovery, v.3, n.3, p.205–214, 2004. BENEDITO, C. P; Entre o sacramento e o narcótico: Analisando discursos de deslegitimação dos saberes da Ayahuasca. Revista labirinto, Rondônia, v. 26, p. 163-181, Janeiro-março, 2017. BEST A. R; REGEHR W. G; Serotonin evokes endocannabinoid release and retrogradely suppresses excitatory synapses. J Neurosci, 2018. BOUSO, J. C.; GONZÁLEZ, D.; FONDEVILA, S.; CUTCHET, M.; FERNPANDEZ, X.; BARBOSA. P. C. R.; ALCÁZAR-CÓCOLES, M.; ARAÚJO, W. S.; BARBANO, M. J.; FÁBREGAS, J. M.; RIBA, J. Personality, Psychopathology, Life Attitudes and Neuropsychological Performance among Ritual Users of Ayahuasca: A Longitudinal Study. Plos One, v. 7, n. 8, p. 1-13, August, 2012. BOYER, E. W.; SHANNON, M. The serotonin syndrome - Reply. New England Journal of Medicine, v. 352, n. 23, 2005. BRIERLEY, D. I; DAVIDSON, C. Developments in harmine pharmacology — Implications for ayahuasca use and drug-dependence treatment. Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological Psychiatry, 2012.

Page 44: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

44

CALLAWAY J.C.; GROB C.S. Ayahuasca preparations and serotonin reuptake inhibitors: a potential combination for severe adverse interactions. J Psychoactive Drugs, v. 30 p. 367-9, September, 1998. CALLAWAY J.C; BRITO G.S; NEVES E, S; Análises fitoquímicas de Banisteriopsis

caapi e Psychotria viridis. J Psychoactive Drugs, 2005.

CALLAWAY, J. C. A review of the phytochemistry and neuropharmacology of

ayahuasca. Aquiver Brasileiro Scientific Phytomedicine, v.1, p.134-142, 2003.

CALLAWAY, J. C.; MCKENNA, D.J.; GROB, C. S.; BRITO, G. S.; RAYMON, A. P.; POLAND, R.E.; ANDRADE, E. N.; ANDRADE, E. O.; MASH, D. C. Pharmacokinetics of Hoasca alkaloids in healthy humans. Journal of ethnopharmacology, v. 65, n. 3, p. 243-256, 1999. CASTRO-NETO, E. F.; DA CUNHA R. H; DA SILVEIRA, D.X.; YONAMINE, M.; GOUVEIA, T. L. F.; CAVALHEIRO, E. A.; AMADO, D.; NAFFAH- MAZZACORATTI, M. DA G. Changes in amino acid and monoaminergic neurotransmission in the hippocampus and amygdala of rats after ingestion of ayahuasca. World J Biol Chem, v. 4, p. 141, October, 2013. COSTA, M.C.M.; FIGUEIREDO, M.C.; CAZENAVE, S.O.S. Ayahuasca: Uma abordagem toxicológica do uso ritualístico. Revista Psiquiatria Clinica, Campinas, v. 32, n, 6, p. 310-318, 2005. CUNNINGHAM, N. Hallucinogenic plants of abuse. Emergency Medicine Australasia, v. 20 n. 2, p. 167–174, 2008. DOERING-SILVEIRA, E.; GROB, C. S.; DE RIOS, M. D.; LOPEZ, E.; ALONSO, L. K.; TACLA, C.; DA SILVEIRA, D. X. Report on psychoactive drug use among adolescents using ayahuasca within a religious context. J Psychoact. Drugs, v. 37, p. 123-128, June, 2005. DOMÍNGUEZ-CLAVÉ E.; SOLER J.; ELICE, M.; PASCUAL, JC.; JC, ÁLVAREZ, E.; REVENGA, M.F.; FRIEDLANDER, P.; FEILDING, A.; RIBA, J. Ayahuasca: pharmacology, neuroscience and therapeutic potential. Brain Research Bulletin, v. 126, p. 89-101, March, 2016. DOS SANTOS, G. R; CRIPPA, J. A; ROCHA, M. J; MARCHIONI, C; QUEIROZ, C. E. M; SILVEIRA, O. G; HALLAK, C. E J. Possible Interactions Between 5-HT2A receptors and the endocannabinoid system in humans preliminary evidence of interactive effects of ayahuasca and endocannabinoids in a healthy human subject. Journal of Clinical Psychopharmacology, v 38, n 6, December 2018. DOS SANTOS, R. G.; DE MORAES, C. C.; HOLANDA, A. Ayahuasca e redução do uso abusivo de psicoativos: eficácia terapêutica? Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 22, n. 3, p. 363-370, 2006.

Page 45: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

45

DOS SANTOS, R. G.; VALLE, M.; BOUSO, J.C.; NOMDEDEU, J. F.; RODRIGUEZ-ESPINOSA J.; MCILHENNY, E. H.; BARKER, S. A.; BARBANOJ, M. J.; RIBA, J. Efeitos autonômicos, neuroendócrinos e imunológicos da ayahuasca: um estudo comparativo com a D-anfetamina. Journal of Clinical Psychopharmacology, v. 31, n. 6, p. 717-726, Dezembro, 2011. DURANTE, I; DOS SANTOS, R. G; BOUSO, J. C; HALLAK, J. E; Risk assessment of ayahuasca use in a religious context: self-reported risk factors and adverse effects. Braz J Psychiatry, 2020. FELTEN, R. D.; MAGNUS, K.; SANTOS, L.; SOUZA, A. H. Interações medicamentosas associadas a fitoterápicos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde. Revista Nova Saúde, v. 4, n. 1, 2015. FERREIRA, R. D. S. Henry Water Bates: Um viajante naturalista na Amazônia e processo de transparência da informação. Brasília, 2004. GARRIDO, R.G.; SABINO, B. D. Ayahuasca: entre o legal e o cultural. Revista Saúde, Ética e Justiça, v. 14, p. 44-53, 2009. GLENNON RA; DUKAT M; GRELLA B; HONG S; COSTANTINO L; TEITLER M. Binding of β-carbolines and related agents at serotonin (5-HT2 and 5-HT1A), dopamine (D2) and benzodiazepine receptors. Drug Alcohol Depend, 2000. GRELLA B; DUKAT M; YOUNG R; TEITLER M; HERRICK-DAVIS K; GAUTHIER CB; GLENNON, RA. Investigation of hallucinogenic and related β-carbolines. Drug Alcohol Depend, 1998. GROB, C. S.; MCKENNA, D. J.; CALLAWAY, J. C.; BRITO, G. S.; NEVES, E. S.; OBERLAENDER, G.; SAIDE, O. L.; LABIGALINI, E.; TACLA, C.; MIRANDA, C. T.; STRASSMANN, R. J.; BOONE, K. B. Human psychopharmacology of hoasca, a plant hallucinogen used in ritual context in Brazil. Journal of Nervous and Mental Disease, Baltimore, v.184, n. 2, p. 86–94, 1996. GUIMARÃES, R. Ayahuasca: Neuroquímica e farmacologia, Brasília, 2007. HOU, W.C.; LIN, R.D.; CHEN, C.T.; LEE, M.H. Monoamine oxidase B (MAO-B) inhibition by active principles from Uncaria rhynchophylla. Journal of Ethnopharmacology, v.100, p.216–220, 2005. KATSZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 6ª edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. KITANAKA, N.; KITANAKA, J.; TAKEMURA, M. Modification of hyperlocomotion and antinociception induced by morphine in mice by clorgyline, a monoamine oxidase-A inhibitor. Neurochem Res, v. 31, p. 829-37, June, 2006. LABATE, B. C. ARAÚJO, W.S. O uso Ritual da Ayahuasca. Mercado das Letras FAPESP, São Paulo, 2002.

Page 46: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

46

LABATE, B. C. Dimensões legais, éticas e políticas da expansão do consumo da ayahuasca. In: LABATE, B.; GOULART, S. O uso ritual das plantas de poder. Campinas: Mercado de Letras, p.397-457, 2005. LABIGALINI, E. O uso de ayahuasca em um contexto religioso por ex-dependentes de álcool - um estudo qualitativo. 1998. Dissertação de Mestrado- Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 1998. LISBOA S.F; GOMES F. V; TERZIAN. B. The endocannabinoid system and anxiety. Vitam Horm, 2017. MALCOLM, B. J; LEE, K. C. Ayahuasca: An ancient sacrament for treatment of contemporary psychiatric illness? Mental Health Clinician, 2017. MCKENNA, D. J. Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca: rationale and regulatory challenges. Pharmacology & therapeutics, v. 102, n. 2, p. 111-129, 2004. MCKENNA, D.J.; CALLAWAY, J.C.; GROB, C.S. The scientific investigation of Ayahuasca: a review of past and current research. The Heffer Review of Psychedelic Research, v. 1, p. 65-77, 1998. OLIVEIRA, A. F; Os outros da festa: Um sobrevoo por festivais Yawanawa e Huni Kuin. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 24 n. 51, p. 167-201, 2018. OLIVEIRA, R. B. D. S; AMARAL, R. G. Ayahuasca: Um Caminho para o Equilíbrio. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 09, p 724-738, outubro / November, 2016. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE /ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Glossary of terms used in Pharmacovigilance. Disponível em: http://who-umc.org/Graphics/24729.pdf. Acesso em 21/06/2020. OSÓRIO, F. DE L.; SANCHES, R. F.; MACEDO, R. L.; DOS SANTOS, R. G.; MAIA-DE-OLIVEIRA, J. P.; WICHERT-ANA, L.; DE ARAUJO, D. B.; RIBA, J.; CRIPPA, J. A.; HALLAK, J. E.; Antidepressant effects of a single dose of ayahuasca in patients with recurrent depression: a preliminary report. Rev. Bras. Psiquiatria, v. 37, n. 1, p.13-20, March, 2015. PARRISH J. C; NICHOLS D. E; Serotonin 5-HT(2A) receptor activation induces 2 arachidonoylglycerol release through a phospholipase c–dependent mechanism. J Neurochem, 2006. PIRES A. P. S; OLIVEIRA C. D. R; YONAMINE, M; Ayahuasca: uma revisão dos aspectos farmacológicos e toxicológicos, São Paulo, 2010.

Page 47: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

47

PIRES, M.J; MENDES, R. F; PIRES; S. A. P; YONAMINE, M; AMARAL, J. L G; CARLINI, A. E. Pre-clinical interaction of ayahuasca, a brew used in spiritual movements, with morphine and propofol. Braz. J. Pharm. Sci, 2018. REHEN, L. K. F. Musica e Ayahuasca em duas religiões brasileiras. Religião & Sociedade, Rio de Janeiro, v. 33 n.1, 2013. RUFFEL, S; NETZBAND, N; BIRD, C; YOUNG, H; JURUENA, M. The pharmacological interaction of compounds in ayahuasca: a systematic review. Braz J Psychiatry, 2020. SANCHES R. F; DE LIMA O. F; DOS SANTOS R. G; Antidepressant effects of a single dose of ayahuasca in patients with recurrent depression: a SPECT study. J Clin Psychopharmacol, 2016. SCHMID, J. T; JUNGABERLE. H; VERRES, R. Subjective theories about (self) treatment with ayahuasca. Anthropology of Consciousness, v 21, ed 2, 2010. SCHWARZ, M. J.; HOUGHTON, P.; ROSE, S.; JENNER, P. Activities of extract and constituents of Banisteriopsis caapi relevant to Parkinsonism. Pharmacology, Bio chemistry and Behavior, v. 75, p.627- 633, July, 2003. SECOLI, S. R. Interações medicamentosas: fundamentos para a prática clínica da enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v.35, no. 1, 2001. SECOLI, S. R. Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de medicamentos por idosos. Rev Bras Enferm. v. 63, p. 136-40, 2010. SMITH, R. L.; CANTON, H; BARRETT, R. J.; SANDERS-BUSH, E. Agonist properties of N,N-Dimethyltryptamine at serotonin 5-HT2A and 5-HT2C receptors. Pharmacology Biochemistry and Behavior, v. 61, n. 3, 1998. STRASSMAN, R. J. DMT: the spirit molecule. 1 ed. Rochester, Vermont: Park Street Press, p 358, 2001. TOPPING, D. Ayahuasca and cancer: one man's experience. MAPS, v 8, ed 3, 1998.

VOLCOV, K.; ANTUNES, H.; COSTA, R.; MERCANTE, M. S. «Observações do não-observável: breve relato sobre o I Encontro “Ayahuasca e o Tratamento da dependência », Ponto Urbe [Online], 9 | 2011, posto online no dia 14 agosto 2014, consultado o 19 fevereiro 2016. URL: http://pontourbe.revues.org/1948; DOI :10.4000/pontourbe.1948. WIMBISCUS, M.; Kostenko, O; MALONE, D. MAO inhibitors: risks, benefits and tradition. Cleveland Clinic Journal of Medicine, vol. 77, n. 12, p. 859-882, 2010.

Page 48: INTERAÇÕES ENTRE MEDICAMENTOS E O CHÁ DA AYAHUASCA: …

48

YOUDIM, M. B. H.; EDMONDSON, D.; TIPTON, K. F. The therapeutic potential of monoamine oxidase inhibitors. Nature Reviews Neuroscience, v. 7, n. 4, p. 295-309, 2006. YRITIA, M.; RIBA, J.; ORTUÑO, J.; RAMIREZ, A.; CASTILLO, A.; ALFARO, Y.; DE LA TORRE R.; BARBANOJ, MJ. Determination of N, N-dimethyltryptamine and β-carboline alkaloids in human plasma following oral administration of Ayahuasca. Journal of Chromatography B, v. 779, p. 271–281, November, 2002. YU A.M; IDLE J. R; KRAUSZ K.W; KUPFER A; GONZALEZ F. J. Contribution of individual cytochrome P450 isozymes to the o-demethylation of the psychotropic beta-carboline alkaloids harmaline and harmine. J Pharmacol Exp Ther, 2003. ZHAO, T; HE Y. Q; WANG, J; DING, K. M; WANG, C. H; WANG, Z. T. Inhibition of human cytochrome P450 enzymes 3A4 and 2D6 by beta-carboline alkaloids, harmine derivatives. Phytother Res, 2011.