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Interação primária e prática narrativa Shaun Gallagher e Daniel D. Hutto

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Page 1: Interação primária e prática narrativa Shaun Gallagher e Daniel D. Hutto

Interação primária e prática narrativa

Shaun Gallagher e Daniel D. Hutto

Page 2: Interação primária e prática narrativa Shaun Gallagher e Daniel D. Hutto

Objetivos explicar como chegamos a compreender as

intenções e o comportamento dos outros Fazer uma crítica a teoria dominante da

mente da Teoria teoria (TT) e da teoria da simulação (ST)

definir uma forma mais adequada de dar conta das habilidades intersubjetivas quotidianas sem recorrer à mentalização ou a leitura da mente.

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Processos

Capacidade diferenciada dos adultos de entendimento (e não-entendimento) dos outros:

(1) processos intersubjetivos perceptuais (2) compreensão pragmaticamente

contextualizada (3) competência narrativa

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Teoria da Mente TT: apela para teoria de como as pessoas se

comportam em geral, estados mentais (por exemplo, crenças e desejos) causando ou motivando comportamentos.

ST: não usa teoria, mas a nossa própria mente como modelo para simular estados mentais nos outros. Atribuímos crenças e desejos nos outros nos colocando em sua situação.

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Ponto de vista fenomenológico: rejeita idéia de que a simulação dos processos é

explícita (consciente). Esses processos não se evidenciam na experiência.

rejeita a idéia que contatos quotidianos com outros envolvem uma postura observacional na terceira pessoa - observando-as e tentando chegar a explicações sobre o seu comportamento.

Encontros quotidianos com outras pessoas tendem a ser na segunda pessoa e interativos.

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Percepção intersubjetiva antes dos 4 anos, capacidade de interação

humana e entendimento intersubjetivo já se realizam em algumas práticas corporificadas - práticas que são emocionais, sensorio-motoras, perceptivas, e não conceituais.

Estas práticas são o principal acesso corporificado para compreender outros, e continuam a sê-lo mesmo qdo atingimos capacidades mais sofisticadas (Gallagher 2001).

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Na percepção intersubjetiva o conhecimento das intenções da outra pessoa é direto

suas intenções são explicitamente expressas em suas ações e em seus comportamentos expressivos corporificados.

Não é necessário postular ou inferir uma crença ou um desejo escondido na mente de outra pessoa.

O que poderíamos reflexivamente ou abstratamente chamar de crença ou desejo é expressa diretamente em suas ações e comportamentos.

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A criança segue os olhos de outra pessoa, percebe movimentos de cabeça, boca, mãos, e movimentos mais gerais como significativos, movimentos dirigidos a uma meta.

Essas percepções dão ao bebê, até ao final do primeiro ano de vida, uma compreensão não-mentalista das intenções e disposições de outras pessoas.

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Bebês não apenas observam os outros; mas interagem com eles, compartilham a atenção (em torno de 9-14 meses)

Olham para o corpo e os movimentos expressivos dos outros para discernir a intenção da pessoa ou para encontrar o significado de alguns objetos

podem entender que outra pessoa quer um alimento ou intenciona abrir uma porta; que o outro os olha ou olha a porta

a intencionalidade é percebida nas ações corporificadas dos outros

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inclui a coordenação afetiva entre os gestos e expressões das crianças e dos adultos com quem interagem

Bebês de 5 a 7 meses detectam correspondências entre informações visuais e auditivas que especificam a expressão de emoções

não implica uma tomada de posição teórica ou a criação de uma simulação de algum estado interior.

É uma experiência perceptual de um comportamento corporificado

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antes de estarmos em posição de teorizar, simular, explicar ou predizer estados mentais, já estamos em condições de compreender e interagir com outros em termos das suas expressões, gestos, intenções, e emoções e, como eles, agir em direção a nós mesmos e aos outros

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Intersubjetividade Pragmática interações face-a-face não esgotam as possibilidades de

compreensão intersubjetiva . Bebês começarão a notar como outras pessoas interagem com

o mundo, assimilando ações a contextos pragmáticos ( “intersubjetividade secundária").

Em torno da idade de 1 ano, entram em contextos de atenção compartilhada - situações compartilhadas - em que se sabe o que significam as coisas e para o que servem

começam a ver que os movimentos dos outros e suas expressões freqüentemente dependem do sentido e do contexto pragmático.

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18 meses: compreendem o que a outra pessoa tem a intenção de fazer com um instrumento num contexto específico. Eles são capazes de concluir a realização do comportamento dirigido a uma meta que alguém não completa.

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Competência narrativa e prática narrativa Como chegamos a mais complexa e

diferenciada compreensão de por que as pessoas fazem o que fazem?

Começamos a compreender que uma pessoa pode saber coisas que outra pessoa não sabe ou que outros podem pensar algo muito diferente de nós.

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A competência em diferentes tipos de narrativa permite compreender outros, de diferentes formas.

A capacidade narrativa permite desenvolver uma psicologia popular como recurso para facilitar o entendimento de ações intencionais (hipótese da prática narrativa)

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Hipótese da Prática Narrativa através de encontros diretos com histórias

que exploram as razões do agir, oferecidos em contextos interativos por cuidadores interessados, crianças se familiarizam com (i) a estrutura do núcleo da psicologia popular e (ii) as normas possíveis de exercê-la na prática, além de saber como e quando utilizá-la (Hutto 2007c).

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Outros tipos de competências narrativas vão complementando e permitindo uma interpretação direta das ações e intenções dos outros, sem a mediação da psicologia popular.

Desenvolver uma compreensão diferenciada dos outros pode envolver um ou vários destes caminhos - empregando uma narrativa da psicologia popular, e / ou uma narrativa prática direta – o que é apropriado dependerá do contexto.

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Moldar minha compreensão a partir de uma narrativa pode acontecer de forma explicita ou implícita.

A facilidade das crianças em lidar com estas narrativas deriva do bom suporte de seus cuidadores.

Aqueles que contam histórias envolvem interativamente as crianças durante o processo, introduzindo e fazendo perguntas em termos mentalistas e mostrando como se comportam em relação a esses termos.

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Isto se faz em um contexto mais amplo para mostrar como e porque estas atitudes importam ao protagonista da história e como ajustar a experiência em uma escala de interações com outros.

As razões para agir, de tipos e de complexidade diferentes, são de tempos em tempos postas em demonstração.

Ocupando-se desses exemplos, as crianças conseguem uma compreensão prática implícita de como entender as pessoas e as razões de suas atuações.

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Compreender as razões do agir requer situar-se em uma prática narrativa.

Envolve habituar-se a normas locais, e a utilizá-las através de hábitos e práticas.

é o fundo crucial através do qual ações ganham sentido via narrativas da psicologia popular e de outros tipos.

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Narrativas do tipo que explica ações em termos de motivos podem ser chamadas narrativas da psicologia popular

nossa compreensão dos outros exige a capacidade de ver / enquadrar a outra pessoa em uma pragmática detalhada ou contexto social, e entender esse contexto de uma forma narrativa .

Para um observador, ou para um participante, uma ação tem inteligibilidade quando ele consegue encontrar um lugar em uma narrativa.

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não usamos a narrativa da psicologia popular tanto quanto a tradição supõe.

Ela não é, por exemplo, a base de toda a interação interpessoal.

Ao contrário, ela geralmente só entra em jogo nos casos nos quais as ações dos outros se desviam do que é normalmente esperado, de tal modo que encontramos dificuldade em entendê-las.

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A psicologia popular só é necessária nos casos onde não estamos familiarizados com a história de outra pessoa, ou ficamos desconcertados com suas ações .

“Quando as coisas ‘são como elas devem ser’, as narrativas da psicologia popular são desnecessárias” (Bruner 1990, p. 40).

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Quando as crianças escutam histórias, ou no ato de jogar (também quando adultos são expostos a parábolas, jogos, mitos,romances, etc.) vão se familiarizando com personagens e com uma variedade de situações comuns ou incomuns e suas ações esperadas, tudo isso ajuda a formar um conjunto de expectativas.

Uma educação em narrativas de muitos tipos – até do tipo mais geral e menos pessoal – fornece o conhecimento de quais ações são aceitáveis e em quais circunstâncias, que tipo de eventos são importantes e relevantes, que explicações dão conta da ação, e que tipo de explicações são plausíveis.

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As crianças são apoiadas neste processo. Comentários correntes sobre histórias

ensinam como ajustar ações a determinadas situações, mas também quais raciocínios são aceitáveis e quais não são.

Absorvendo padrões aprendemos como julgar uma ação (embora, naturalmente, esses padrões sejam às vezes interrogados e derrubados).

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A ressonância emocional que cada um encontra na infância, na intersubjetividade primária, parece desempenhar um papel importante na competência narrativa futura.