inteligência artificial, watson e o último xeque-mate
DESCRIPTION
A Inteligência Artificial (IA) é uma área de pesquisa ao mesmo tempo fascinante e misteriosa, contaminada pela ficção científica a tal ponto que para muitos é impossível saber o que representa a verdade e o que é fruto da imaginação de escritores e diretores de Hollywood.TRANSCRIPT
1
Inteligência artificial, Watson e o último xeque-‐mate O encontro da genética com os bits, a fusão essencial
03 de março de 2011, 11:14
De Ricardo Murer Graduado em Ciências da Computação (USP) e mestre em Comunicação (USP). Especialista em estratégia digital e novas tecnologias. Follow @rdmurer
A Inteligência Artificial (IA) é uma área de pesquisa ao mesmo tempo fascinante e misteriosa, contaminada pela ficção científica a tal ponto que para muitos é impossível saber o que representa a verdade e o que é fruto da imaginação de escritores e diretores de Hollywood.
O tema reencontrou a mídia recentemente, quando o computador “Watson” da IBM, uma máquina de “perguntas e respostas profundas” (DeepQA ), participou do programa de TV norte-‐americano Jeopardy! vencendo seus dois concorrentes humanos. O programa foge do lugar comum ao submeter respostas aos participantes, que devem descobrir a pergunta correspondente.
Watson é na verdade um conjunto de 90 servidores, 16 Terabytes de memória e capacidade de processamento de 180.000 Gigabytes por segundo! A mais bela e pura força bruta paralela da computação atual. Esta não é a primeira vez que um “deep” vence um ser-‐humano numa competição. Em 1997, “Deep Blue” (você deve se lembrar) um computador enxadrista da IBM venceu o então campeão Garry Kasparov. Estaríamos vivendo o início de nosso declínio, nossa submissão diante de máquinas mais inteligentes do que nós, seres-‐humanos?
Felizmente ainda não. Em ambos os casos, estamos falando de máquinas especialistas, computadores capazes de realizar, de forma eficiente, probabilística e extremamente rápida, a análise e ponderação de milhões de possibilidades e, por meio de um conjunto de algoritmos, tomar a decisão menos desfavorável.
Se no início das pesquisas em IA os cientistas desejavam reproduzir as leis do pensamento e construir uma máquina espelho do ser-‐humano, hoje a abordagem é diferente. Isto porque o objetivo de se chegar a uma máquina com a habilidade de aprender, contemplar, pensar e raciocinar mostrou-‐se muito além de nossa capacidade.
A complexidade desta tarefa reside no fato de que a inteligência não pode ser definida e compreendida somente por uma área do conhecimento, mas pela soma de diferentes áreas tais como biologia, filosofia, psicologia e matemática. Entre as novas abordagens a conexionista tenta aproximar os processos computacionais do cérebro humano por meio das “redes neurais” enquanto a simbólica está por trás dos sistemas especialistas.
2
Hoje, a IA tem focado muitos de seus esforços na simulação de capacidades cognitivas humanas como a simulação e entendimento da linguagem natural, o reconhecimento de padrões e a aprendizagem.
Entretanto, ainda estamos longe de criar uma simulação perfeita do cérebro humano e consequentemente produzir algo que possa ser considerado fruto da inteligência, mesmo que de uma inteligência rudimentar. Talvez porque o computer – aquele que conta ou ordinateur – aquele que põe ordem, classifica, seja ainda, apesar de todos os avanços da tecnociência, uma espetacular máquina de calcular e contar, somente isto.
Talvez porque ainda não houve o encontro da genética com os bits, a fusão essencial capaz de dar luz ao primeiro andróide pensante, que de geração em geração, irá criar novas máquinas capazes de evoluir de simples fazedoras de ferramentas para construtores de sociedades complexas. E, com o tempo, elas serão capazes de simular não só a inteligência, mas outras capacidades humanas tais como o sentido estético, o juízo moral, a amizade e as emoções, transformando o que antes era artificial em natural. O último xeque-‐mate.