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Intelectuais e política: observações acerca do transformismo nos escritos de Antonio Gramsci Anita Helena Schlesener Professora do Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná e professora (aposentada) de Filosofia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

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Intelectuais e política: observações acerca do transformismo nos

escritos de Antonio Gramsci

Anita Helena Schlesener

Professora do Mestrado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná e professora

(aposentada) de Filosofia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Intelectuais e política: observações acerca do transformismo nos escritos de Antonio GramsciTomando como referência os escritos de Antonio Gramsci o objetivo

desse artigo é tecer algumas considerações sobre um fenômeno ca-

racterístico das democracias modernas: o processo de transferência

dos dirigentes dos partidos dos trabalhadores para os grupos que

controlam o poder. A estrutura da democracia moderna permite a

assimilação dos dirigentes e este fenômeno desmobiliza os movi-

mentos organizados e instaura um processo de “revolução passiva”.

O objetivo de Gramsci é esclarecer a noção de hegemonia para criar

novas condições de confronto político para as classes dominadas.

Palavras-chave: intelectuais, política, Antonio Gramsci.

Intelectuals and politics: notes on transformism in Antonio Gram-sci’s writings Taking as a reference Antonio Gramscis’s Writings, the objective of

this article is to make some considerations about a characteristic

phenomenon of modern democracies: the process of transference

of the leaders of the workers’ parties to ruling groups. The structure

of modern democracy enables the assimilation of the leadership and

this phenomenon disarms the organized movements and begins a

process of “passive revolution”. Gramsci’s intention is to clarify the

notion of hegemony as to create news conditions of political con-

frontation for the dominated classes.

Keywords: intellectuals, politics, Antonio Gramsci.

O presente trabalho visa a refletir sobre a questão dos intelectuais

e das práticas partidárias nos escritos carcerários de Antonio

Gramsci a fim de explicitar a noção de transformismo e de consciên-

cia de classe, bem como a sua atualidade ante situações políticas que,

no contexto da democracia burguesa, enfraquecem a luta política

dos trabalhadores. O transformismo se configura, em linhas gerais

como o processo de cooptação dos potenciais dirigentes das classes

subalternas, os elementos mais capazes de organizar e dirigir um

movimento por parte das elites dominantes. A consciência de classe

traduz-se na nova concepção de mundo que as classes dominadas

precisam elaborar no bojo de suas lutas políticas.

Ora, o que ocorre insere-se no contexto de uma estrutura partidá-

ria hierárquica e de uma prática política na qual as formas de repre-

sentação distanciam os dirigentes das massas por eles representadas.

Trata-se, para Gramsci, de uma realidade construída historicamente

a partir das bases de representação da democracia burguesa e que é

consequência do modo de organização partidária. O distanciamen-

to entre intelectuais e massas favorece o processo de cooptação e a

impotência das massas de reagir positivamente reconstruindo suas

relações políticas no curso de suas lutas. Trata-se, no fundo, de ex-

plicitar as relações de hegemonia e o compromisso dos intelectuais

das classes subalternas enquanto dirigentes que as representem de

modo estável, acentuando o significado e a importância de relações

efetivamente democráticas.

O primeiro aspecto a acentuar como pressuposto são as caracte-

rísticas da democracia burguesa que Gramsci entende que devam

ser criticadas veementemente por seu caráter instrumental e misti-

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ficador, bem como aquelas que ele considera importantes como

conquista histórica, ou seja, herança cultural e política que precisa

ser ampliada no contexto do socialismo. A crítica ao ideário libe-

ral como modelo utópico e como base de sustentação da ordem

burguesa é um dos pressupostos para que as classes trabalhadoras

se apropriem da herança cultural e histórica na construção da de-

mocracia socialista.

O segundo ponto a desenvolver é como esse fenômeno se pro-

duziu na Itália e quais as bases de sua superação no contexto da

organização política dos trabalhadores. Trata-se de contrapor duas

concepções diversas de conceber a política: uma a partir da afir-

mação de lideranças que, por sua origem e formação, atribuem-se

o direito de dirigir e comandar as massas populares as quais, por

sua condição social e histórica, não estão aptas a governar. As ba-

ses de sustentação do elitismo são, entre outras, o individualismo

que fundamenta o modo de ser e pensar na sociedade burguesa

na crença de que o indivíduo escolhe livremente entre aqueles que

se apresentam a cada nova eleição o seu governante; e a separação

entre trabalho intelectual e trabalho manual que funda a hierar-

quia de poder que sustenta as relações sociais e políticas. Além

desses pressupostos, as mudanças geradas por novas tecnologias

de comunicação, acentuam as desigualdades sociais, tornam-se

mecanismos potentes que permitem ampliar o controle e a mani-

pulação (governar) com muito mais eficiência, mantendo a gran-

de parcela da população trabalhadora em situação de passividade

política. Outra concepção de política apresenta-se na proposição

de uma nova prática construída no interior do partido, pela qual

as massas criam seus próprios intelectuais orgânicos, o que exige

aprofundar a noção de hegemonia e a sua relação com a cultura

enquanto processo de transformação das classes subalternas em

protagonistas conscientes de sua história.

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Repensando a noção de democracia

Parte-se de uma observação de Valentino Gerratana a propósito

dos objetivos de Gramsci na redação dos Cadernos do Cárcere: para

Gerratana, ante a derrota da classe operária italiana e a ascensão

do fascismo, o objetivo central de Gramsci na prisão era “compre-

ender as razões da derrota, única maneira de continuar a obra da

revolução”. Trata-se, conforme Gerratana, de um trabalho teórico

de análise detalhada da história da Itália para esclarecer os meca-

nismos políticos que sustentam a moderna sociedade capitalista e

a contínua reprodução da hegemonia burguesa, bem como expli-

citar as possibilidades de uma “hegemonia alternativa” (GerrataNa,

1997, p. 55-56). Na leitura de Domenico Losurdo, Gramsci reflete

em uma nova perspectiva: a compreensão de que “a passagem do

capitalismo à ‘sociedade regulada’, isto é, o comunismo, ‘durará

provavelmente séculos’ (Q, p. 882)”, coloca a exigência de elaborar

uma nova “teoria da revolução e da transformação política e social”

(losUrdo, 1997, p. 137).

Embora tais observações sejam justificáveis tanto pelos escritos

quanto pela situação de prisioneiro, cabe acentuar que essa nova

perspectiva não significa a negação ou o esquecimento da experi-

ência política dos anos anteriores ao cárcere, como os Conselhos

de Fábrica e a prática do jornal L’Ordine Nuovo. Para compreender

a noção de democracia proposta como a nova experiência a ser

construída não basta, como acentua Leonardo Paggi, contrapor

“o novo poder soviético e a tradição liberal”, mas implica refletir

sobre o significado da representação e da atitude parlamentar, bem

como explicitar o desenvolvimento da liberdade interna do parti-

do, bem além dos limites do liberalismo (paGGi, 1984, p. 367). Para

explicitar a noção gramsciana de democracia e a nova perspectiva

da revolução no contexto dos Cadernos do Cárcere é necessário

considerar a experiência política dos anos 1918-1926.

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O ideário liberal, que assumiu formas diferentes na história da

política moderna, sedimentou-se no senso comum e se consolidou

a partir de um discurso que separa dicotomicamente o econômico

do político e faz do Estado a instância neutra de garantia dos direi-

tos e interesses das partes. Ao pressupor esta separação, a concep-

ção liberal transformou a teoria em um instrumento mistificador

que se constituiu historicamente em sua força política, tanto que o

discurso mecanicista de esquerda, principalmente no movimento

sindical, acabou por entender que as mudanças se desencadeiam

a partir do econômico. Gramsci acentua que nenhum equilíbrio

de forças se rompe por causas mecânicas imediatas, mas sim pelo

modo como os problemas econômicos imediatos se entrelaçam

com o ideológico no quadro dos conflitos políticos que se mani-

festam como “exasperação dos sentimentos de independência, de

autonomia e de poder”. Pode-se separar as instâncias para análise,

“por razões didáticas”, mas a realidade é sempre mais complexa e

precisa ser abordada como um conjunto orgânico de relações de

força (Q 13, § 17, p. 1587).1

A democracia, pensada como um conjunto de relações de força

por meio das quais se constrói a hegemonia já se delineia nos es-

critos de 1924-1926; na leitura de Paggi, “é precisamente enquanto

ciência das forças que o ‘leninismo’ de Gramsci encontra no libe-

ralismo e no sindicalismo os seus principais adversários”, no sen-

tido que estes expressam uma situação própria da cultura italiana,

que é pressupor a separação entre Estado e sociedade civil, política

e economia (paGGi, 1984, p. 249).2

1 Os Cadernos do Cárcere de Antonio Gramsci (1977) serão citados pela letra Q segui- Os Cadernos do Cárcere de Antonio Gramsci (1977) serão citados pela letra Q segui-Os Cadernos do Cárcere de Antonio Gramsci (1977) serão citados pela letra Q segui-

da do número do caderno, parágrafo e página.

2 Paggi acentua que o que Gramsci entende por leninismo apresenta uma temática que já

é pós-leniniana; a partir dessa leitura, Gramsci não rompe os elos com a idéia de revolu-

ção que, “transferida para o mundo das superestruturas organizadas, ativa um processo

cognoscitivo no curso do qual as noções de partido e de Estado são as primeiras a sofrer

uma mudança de substância em relação ao universo teórico leniniano” (PAGGI, 1984,

p. 249).

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Na análise de Gramsci, o liberalismo enquanto política tem uma

função econômica precisa:

é um programa político destinado a alterar, enquanto triunfa, o pes-

soal dirigente de um Estado e o programa econômico do próprio Es-

tado, ou seja, a mudar a distribuição de renda nacional.

A defesa da separação entre sociedade civil e Estado atua como

discurso ideológico, com uma força desagregadora das classes tra-

balhadoras; na prática, o Estado liberal tem uma função regulado-

ra da ordem econômica, à medida que estabelece leis e regras de

caráter estatal que garantem o funcionamento do mercado (Q, p.

1590). Já o sindicalismo teórico, ao separar a economia da política

e privilegiar a primeira, exclui “a transformação do grupo subor-

dinado em dominante”, ou porque “o problema sequer é coloca-

do (fabianismo)”, ou porque é apresentado de modo “ineficiente

(tendências social-democratas em geral)”, a partir da redução de

todo o processo político ao seu significado econômico (idem, p.

1590-1591). Na perspectiva do novo poder soviético Gramsci parece identi-

ficar a prática economicista prevalecendo sobre a política princi-

palmente nas novas medidas instauradas pela Nep, no que se refere

à questão da aliança operário-camponesa, que tem como pano de

fundo a convicção fatalista de que “existem, para o desenvolvi-

mento histórico, leis objetivas do mesmo caráter das leis naturais”

(Q 13, § 23, p. 1611-1612). Também critica aqueles que confiam

“cegamente e sem critérios à virtude reguladora das armas”, fato

que possui uma certa lógica e coerência, “porque se pensa que a

intervenção da vontade é útil para a destruição, não para a recons-

trução”, pois a destruição vem concebida mecanicamente e não em

relação dialética com a reconstrução. A “força pode ser empregada

contra os inimigos, não contra uma parte de si próprio que se quer

assimilar e da qual é necessário a “boa vontade” e o entusiasmo”

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(Q, p. 1612-1613). O plano de coletivização implantado por Stalin

na Rússia, nas condições em que estava sendo desenvolvido, criava

uma separação entre duas forças potencialmente aliadas, de modo

irreparável para a construção da democracia.

A questão da democracia relaciona-se ao processo de constru-

ção da hegemonia, que se produz por meio da capacidade de orga-

nização e de persuasão de um grupo político, que pode atuar tanto

na formação de um consenso passivo quanto empenhar-se na

formação de uma consciência crítica, possibilitando a cada um de

seus membros a compreensão do conjunto de relações que carac-

terizam a disputa política em determinada conjuntura. As alianças

políticas entre grupos com os mesmos interesses são necessárias e

exigem clareza e transparência dos dirigentes, cujas decisões preci-

sam ser compartilhadas e respaldadas por todo o grupo.

A base do sistema representativo moderno está na formação da

opinião pública no seio da sociedade civil enquanto espaço de en-

frentamento político: na sociedade capitalista o poder econômico

pode determinar o processo de decisão agindo no âmbito da for-

mação de opinião, tanto que os grupos dominantes se empenham

em controlar os meios de comunicação, instrumentos privilegia-

dos de divulgação e persuasão. A desigualdade econômica torna a

luta política desigual e debilita a participação das classes trabalha-

doras no processo democrático burguês.

Nos Cadernos do Cárcere as reflexões sobre hegemonia no

contexto da “sociedade regulada” ou da nova sociedade civil que

se pretende fundar com o socialismo mostram que a democra-

cia deve ser entendida como um processo político, econômico e

cultural em que exista uma “unidade ativa, vivente”, entre povo e

nação, “qualquer que seja o conteúdo dessa vida” (Q 14, § 72, p.

1740), de modo que a organização política “favoreça a passagem

(molecular) dos grupos dirigidos ao grupo dirigente” (Q 8, § 191,

p. 1056). A questão de fundo é saber se o objetivo político que

um movimento se põe é o de superar a separação milenar entre

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dirigentes e dirigidos ou o de conservá-la em benefício do grupo

no poder (Q 15, § 4, p. 1752). O que se confronta aqui são duas

noções diversas de democracia, que Gramsci explicita na reflexão

sobre o significado da representação e da atitude parlamentar.

Na democracia burguesa todos são formalmente iguais para

fins de representação política e a desigualdade econômica não é

um pressuposto porque o econômico é pensado separadamente

do político. A existência de governantes e governados é um fato

primordial da ação política, mas a superação da divisão entre

governantes e governados jamais será colocada no âmbito da de-

mocracia burguesa porque se entende que qualquer cidadão tem

formalmente o direito de candidatar-se a dirigente; efetivamente

sabe-se que se elegem os que possuem sustentação econômica para

a sua campanha política ou que representam interesses de grupos

econômicos, tendo condições de acesso aos meios de comunica-

ção. A desigualdade social que é produzida no modo de produ-

ção capitalista estende-se à vida política e cultural; dessa forma,

a igualdade que sustenta a representação política é, na realidade,

uma utopia que não se realiza, mas alimenta o imaginário social,

de modo que se acredita realmente que se está participando de

maneira igualitária no processo eleitoral.

A ideia de igualdade que sustenta a democracia burguesa, prin-

cipalmente na prática do sufrágio universal e da crença comum

de que o número seja a “lei suprema” e a expressão da vontade

comum, que se traduziria na quantidade como garantia da quali-

dade e da igualdade de representação, não se efetiva porque, além

da desigualdade instaurada, a ausência de transparência e de me-

canismos de controle da representação transformam o voto em

mero simbolismo legitimador da ação de políticos que agem em

nome de interesses individuais ou de grupos.

Sabe-se que tais limites não são colocados para declarar a inuti-

lidade do sufrágio universal, que foi uma conquista histórica. Gra-

msci reflete num contexto político preciso e tem o objetivo princi-

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pal de combater o argumento dos que desejam suprimir o estreito

limite de liberdade política que existe no âmbito da democracia

burguesa (no caso, o argumento da Crítica Fascista) e tolher ao ho-

mem comum “aquela infinitésima fração de poder que ele possui

no decidir sobre o curso da vida estatal”. Gramsci afirma que de

modo algum é verdadeiro que “o número seja a ‘lei suprema’ nem

que o peso da opinião de cada eleitor seja exatamente igual”. Em

qualquer caso em que se empregue a estatística, os números têm

apenas um valor instrumental e possibilitam uma margem de me-

dida para mostrar a correlação de forças em um dado momento

político (Q 13, § 30, p. 1624-1625).

A questão política deve ser abordada em seu aspecto qualitativo

a fim de mostrar as limitações da participação das classes trabalha-

doras no bojo da estrutura de poder da sociedade capitalista. Em

novas situações, para além da democracia formal, “o consenso não

tem no momento do voto uma fase final”, mas “é suposto como

permanentemente ativo, até o ponto em que os que consentem

poderiam ser considerados como ‘funcionários’ do Estado e as

eleições como um modo de recrutamento voluntário de funcioná-

rios estatais de certo tipo” (Q 13, p. 1626), ou seja, um momento

do engajamento político.

Outra questão importante para a compreensão da democracia

burguesa na leitura de Gramsci é o funcionamento do Parlamento.

É no interior da democracia burguesa e dos fundamentos do capi-

talismo que o sistema de representação parlamentar é limitado, em

decorrência da própria estrutura política no contexto da sociedade

capitalista; sua função e ação certamente se ampliariam em uma

nova ordem social em que as barreiras da desigualdade econômica

fossem superadas. Embora acentue em alguns fragmentos que, na

Itália, a atuação de políticos como Giolitti geraram o descrédito

do Parlamento, a questão principal é que o parlamentarismo não

esgota a função representativa:

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Mesmo admitindo que o parlamentarismo tornou-se ineficiente e

até danoso, não se pode concluir que o regime burocrático deva ser

reabilitado e exaltado. É necessário ver se parlamentarismo e regime

representativo se identificam e se não é possível uma solução diversa

tanto do parlamentarismo quanto do regime burocrático, com um

novo tipo de regime representativo. (Q 14, § 49, p. 1708).

A partir da reflexão sobre os limites dos regimes representativos

burgueses Gramsci sugere que as formas de representação preci-

sariam ser reformuladas no processo de construção de uma nova

ordem social e política. A idéia de “sociedade regulada” enquanto

“Estado sem Estado” parece ser o caminho sugerido por Gramsci

para aprofundar a questão, embora não haja referência às novas

formas de representação: a “sociedade regulada” se caracteriza

como um momento em que o “Estado se identificará com a socie-

dade civil” que, para ser alcançado, supõe “passar por uma fase de

Estado-guardião noturno, isto é, uma organização coercitiva que

tutelará o desenvolvimento dos elementos de sociedade regulada

em contínuo incremento e, portanto, reduzindo gradativamente

as suas intervenções autoritárias e coercitivas”. Os elementos de

coerção exaurem-se “à medida que se afirmam elementos próprios

da sociedade civil”. E Gramsci salienta que “tal situação não pode

fazer pensar em um novo ‘liberalismo’, embora seja para ser o iní-

cio de uma era de liberdade orgânica” (Q 6, § 88, p. 764).

A “sociedade regulada” apresenta-se como um “novo nível de

civilização”, que redefine a “função e a atitude de cada indivíduo

físico no homem coletivo” e também as estratégias políticas, que

Gramsci identifica no conceito de “hegemonia civil” (Q 8, § 52,

p. 972-973, reescrito em Q 13, § 7, p. 1566-1567). Expandir esse

conceito para o objetivar uma nova ordem social significa enten-

der a democracia como uma nova experiência de vida econômica,

social, política e cultural. Estas colocações ficam em aberto, como

caminhos instigantes a serem percorridos e a serem completados

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com novas reflexões de acordo com as circunstâncias históricas

nas quais se pretende agir e modificar. O que fica claro é que a he-

gemonia enquanto democracia pode assumir novas configurações

a partir de novas práticas de direção política e de formação de um

consenso permanentemente ativo e operante.

Condições históricas e políticas para o transformismo

Gramsci reflete sobre as condições históricas e políticas que

produziram o transformismo na Itália e quais as bases de sua

superação no contexto de uma nova ordem social e política na

qual se efetivaria a democracia socialista. Nessa leitura, contrapõe

duas concepções diversas de conceber a política e os intelectuais:

a característica da democracia burguesa, a partir da afirmação de

lideranças que se atribuem o direito de dirigir e comandar as mas-

sas populares por sua condição social e formação cultural; a que se

apresenta na proposição de uma nova prática política construída

no interior do partido, pela qual as massas criam seus próprios

intelectuais orgânicos, bem como participam ativamente da for-

mação da hegemonia.

O ponto de partida de Gramsci é a constatação de que

cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função so-

cial no mundo da produção econômica, cria para si, organicamente,

uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e

consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas

também no social e no político (Q 12, § 1, p. 1513).

Nesse campo, os intelectuais são os organizadores da hegemo-

nia de um grupo social, que se traduz tanto na elaboração da teoria

quanto no exercício de funções de dominação e direção política.

É no contexto das relações de hegemonia que se formam os

intelectuais e, a partir de condições históricas precisas, as classes

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subalternas sofrem o processo de cooptação de seus líderes, cha-

mados para defender a estrutura de poder vigente. À medida que

são ainda dirigentes de “um grupo subalterno, que não conquistou

ainda consciência de sua força e das suas possibilidades e modos

de desenvolvimento”, debilitam todo o movimento, que precisa

reiniciar seu processo de formação de intelectuais (Q 13, § 18, p.

1589). A permanência de um grupo subalterno no âmbito de uma

concepção de mundo econômico-corporativa (como foi o caso do

sindicalismo teórico) abre a possibilidade de migração de dirigen-

tes do movimento operário que, em determinado momento de sua

vida política, são levados a deixar seu posto crítico e a defender a

ordem existente.

Esta migração que, em outros fragmentos Gramsci denomina

transformismo, demonstra a extrema dificuldade que as classes su-

balternas enfrentam não somente para formar os seus próprios in-

telectuais orgânicos como também para manter os seus dirigentes.

Além da cooptação de dirigentes por parte da classe dominante, a

debilidade organizativa dos trabalhadores possibilita a atuação de

políticos escusos, que conseguem o apoio das massas com astúcia

e promessas, as quais não pretendem cumprir, mas que servem

para mantê-los no poder a serviço da elite dominante. Trata-se

de mecanismo que faz parte do exercício da hegemonia burguesa,

levado a efeito por seus intelectuais.

Na realidade italiana da década de 1920, a política historicamen-

te centralizada e paternalista, o elitismo dos intelectuais e a ação da

Igreja Católica debilitavam a sociedade civil e dificultavam a sua

organização política, gerando o conformismo, que é a aceitação

passiva da sociedade ante o desconhecimento das formas de agir e

modificar esta situação.

Gramsci considera o Risorgimento, no século XIX, como o mo-

mento histórico no qual o transformismo se evidenciou de forma

mais contundente, na atuação do Partido da Ação. Foi também

um processo que marcou a história política posterior, porque se

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efetivou como uma “revolução pelo alto” ou “revolução passiva” e

consolidou um processo político que, pela atitude dos intelectu-

ais, tinha conotações autoritárias. Ocorre uma revolução passiva

quando, por intervenção do Estado, introduzem-se mudanças no

setor produtivo sem tocar nos mecanismos de apropriação do lu-

cro. O processo conservador que realizou a unificação italiana teve

estas características, isto é, com o apoio de um Estado já organi-

zado, o Piemonte, foram criadas as condições para a hegemonia

da burguesia do Norte, abrindo caminho ao desenvolvimento do

capitalismo industrial. Para tanto, foi essencial a atuação do Par-

tido moderado:

Todo o problema da conexão entre as várias correntes políticas do

Risorgimento (...) reduz-se a este dado fundamental de fato: os mo-

derados representavam um grupo social relativamente homogêneo,

pelo qual sua direção assumia oscilações relativamente limitadas (...),

enquanto o assim chamado Partido da Ação não se apoiava especifi-

camente em nenhuma classe histórica e as oscilações sofridas por seus

órgãos dirigentes compunham-se, em última análise, conforme os in-

teresses dos moderados (...). Estes continuaram a dirigir o Partido da

Ação depois de 1870 e 1876 e o assim chamado “transformismo” não

foi mais que a expressão parlamentar desta ação hegemônica intelec-

tual, moral e política. (Q. 19, p. 2010-2011).

O transformismo faz parte do exercício da hegemonia no con-

texto da democracia burguesa e consolida a ação e a direção in-

telectual, moral e política dos intelectuais do grupo dominante.

Pode-se dizer, conforme Gramsci, que “toda a vida estatal italiana

desde 1848 em diante foi caracterizada pelo transformismo, isto

é, pela formação de uma classe dirigente sempre mais ampla”,

constituída pela “absorção gradual, porém contínua e obtida com

métodos diversos na sua eficácia, dos elementos ativos dos grupos

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aliados e também dos adversários e que pareciam irreconciliavel-

mente inimigos” (idem, p. 2011).

O conceito de “revolução passiva” permite entender a forma

adotada pela política burguesa em determinados momentos da

história, não tanto para conquistar, mas para restaurar sua hege-

monia. Esse conceito permite também compreender a participação

das massas na democracia burguesa e na constituição do poder

burguês. A dialética entre conservação e inovação, que permeia

o conceito de “revolução passiva” e que, na linguagem moderna

pode traduzir-se em “reformismo” assumido como programa, é

um mecanismo político das sociedades modernas, nas quais as

organizações internas tornam-se mais complexas e o exercício do

poder exige a formação do consentimento passivo de grandes mas-

sas. Assim como o Risorgimento, também o fascismo apresenta-se

como “a ‘forma’ de revolução passiva própria do século XX, como

o liberalismo o foi do século XIX” (Q 8, p. 1089).

Por suas características, esta prática torna-se também uma fun-

ção de domínio, porque o transformismo deixa acéfalos os grupos

dominados por um longo período: o “‘transformismo’ não é mais

que a expressão parlamentar do fato que o Partido da Ação é mo-

lecularmente incorporado pelos moderados e as massas populares

são decapitadas, não absorvidas no âmbito do novo Estado” (Q

19, p. 2042).

O transformismo, enquanto “revolução–passiva”, isto é, uma

mudança sem transformações radicais, demonstra a fragilidade

dos partidos políticos que, historicamente, não conseguem con-

solidar-se em torno de um programa para comprometer radical-

mente os seus representantes, os quais atuam conforme interesses

específicos. Há períodos em que a absorção foi molecular, isto é,

realizada pela iniciativa individual e não de grupos. Um exemplo

foi a amizade entre Garibaldi e Cavour. A partir do século XX,

“grupos inteiros de extrema passam ao campo moderado” (Q 8,

p. 962).

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Esse processo estabelece uma determinada relação entre cida-

de e campo que possibilita uma forma de exploração capitalista

a partir da concentração industrial no Norte da Itália: “As forças

urbanas do Norte deviam obter daquelas do Sul que a sua função

dirigente se limitasse a assegurar a direção do Norte em relação ao

Sul”, isto é, a função dirigente das cidades do Sul “não podiam ser

mais que um momento subordinado da mais ampla função diri-

gente do Norte” (idem, p. 2043). Esta situação não se justifica pelo

desenvolvimento industrial, já que muitas cidades relativamente

populosas da Itália são bem anteriores e não dependem organica-

mente do sistema industrial sendo que, historicamente, em crises

políticas, assumiram atitudes progressistas. O processo de unifi-

cação não respondeu a anseios populares vindos do Sul e, nesse

contexto, conforme Gramsci, não cumpriu a sua função histórica

de direção política e, assim, acentuou “o espírito rebelde elementar

e endêmico das classes populares”, aumentou a distância entre in-

telectuais e povo e enfraqueceu o novo Estado (idem, p. 1931). Em

linhas gerais, a política conservadora que se desenvolveu a partir

do Risorgimento conseguiu desagregar socialmente o Sul e deixar

a população camponesa sem condições de organizar-se num mo-

vimento unificado.

As consequências do transformismo já haviam sido abordadas

no escrito inacabado de 1926, sobre A questão Meridional. Confor-

me Fresu, neste escrito Gramsci retoma alguns temas das Tese de

Lion “com a intenção precisa de desenvolvê-las e dar-lhes forma

orgânica”, a fim de criar um instrumento de análise “para melhor

compreender a gênese histórica do fascismo” (FresU, 2005, p. 220).

O ensaio insere-se em um debate que vinha sendo desenvolvido

sobre a Questão Meridional e Gramsci introduz o texto defenden-

do-se de acusações dirigidas a seus artigos publicados em L’Ordine

Nuovo, para colocar a discussão no âmbito da estrutura do Estado

italiano e das relações de hegemonia. Retoma a análise das relações

políticas de subordinação, nas quais o Sul mantém o equilíbrio da

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dominação burguesa e acentua a necessidade de aliança operário-

camponesa para gerar as condições revolucionárias.

Entre as questões abordadas salienta-se a necessidade de incen-

tivar o proletariado a efetivar alianças com os camponeses, o que

exigiria romper com os preconceitos difundidos sobre os meridio-

nais, isto é, a elaboração de uma nova concepção de mundo que

modificasse a própria perspectiva política e ideológica, como parte

do processo de construção da hegemonia. A função dos intelectu-

ais e a formação dos próprios intelectuais orgânicos assume im-

portância fundamental no contexto das relações político-culturais,

como organizadores da hegemonia e mobilizadores das massas

na formação de um consenso ativo. Para tanto, faz-se necessário

superar o corporativismo e sair dos limites do sindicalismo para

propor-se como classe dirigente e revolucionária.

Mudanças políticas e culturais implicam tanto a compreensão

das correlações de forças que se constituem no presente, como o

seu movimento de formação na releitura da história dessas rela-

ções: os desdobramentos da luta política, bem como os seus re-

sultados dependem, em grande medida, da clareza que as classes

sociais em luta apresentem, não apenas de sua tarefa histórica, mas

também do papel que o adversário desempenha e defende. Grams-

ci procura mostrar que em outros momentos históricos, como na

França de 1830 (Orleans) ou nos desdobramentos de 1789 (ascen-

são de Napoleão), pode-se perceber a “ausência, nas forças radicais

populares, de uma consciência das tarefas da outra parte”, o que

impediu a essas classes “de ter plena consciência de sua própria

função” e de avaliar a conjuntura histórica e, consequentemente,

influir no equilíbrio final das forças, de modo a “determinar um

resultado mais avançado no sentido do progresso e da moderni-

dade” (Q 15, p. 1773-1774). No caso do Risorgimento, o processo

de absorção dos dirigentes populares foi facilitado porque Cavour

“compreendia tanto a sua tarefa quanto a tarefa de Mazzini, en-

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quanto esse parece que não estava consciente da sua função ou

daquela de Cavour” (Q 15, p. 1767).

A superação do transformismo implica a geração de novos

mecanismos políticos que possibilitem a ampla participação da

sociedade no processo de decisão política. Tais mecanismos, para

Gramsci, foram experimentados nos Conselhos de Fábrica e na

redação de L’Ordine Nuovo e que podem ser vislumbrados nos Ca-

dernos do Cárcere, no âmbito do processo permanente de educação

no processo de organização política.

Conclusão

Se a sociedade civil precisa tornar-se o centro do poder políti-

co, é nas instituições da sociedade civil que devem organizar-se

os sujeitos da ação política e tal ação deve ter como pressuposto o

empenho de todos na superação da divisão milenar existente entre

governantes e governados. Não se trata, portanto, de investir um

líder de poder, mas de criar as condições da participação de todos

no exercício do poder, de unificar-se para subverter os mecanismos

de dominação e de conformismo que predominam na sociedade

capitalista, de organizar-se em instituições renovadoras no seio da

sociedade civil. Esta tarefa cabe, em grande parte, ao partido, com

a função de preparar as classes trabalhadoras para o exercício do

poder unificando as várias forças existentes nos vários setores da

produção em torno de um pensamento orgânico e crítico, o que

exige a renovação interna de suas práticas e a experiência cotidiana

da gestão democrática.

Trata-se de superar as condições impostas pela ordem burguesa,

hierárquica, mantida por uma disciplina mecânica e autoritária,

que exclui o compromisso e a responsabilidade do indivíduo com a

coletividade: na sociedade burguesa basta obedecer à lei e à ordem

e deixar que as ambições e paixões pessoais dos pequenos grupos

ativos decidam os destinos da sociedade. Para os trabalhadores, a

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vivência da liberdade individual supõe superar o individualismo

com um crescimento da própria personalidade na vida coletiva,

na qual o indivíduo “se enriquece com as experiências de todos os

outros homens, que vivem as mesmas dores e esperanças” (Gra-

msci, 1978, p. 372). Na verdade, uma nova ordem social implica

a “convicção de que a liberdade para todos é a única garantia das

liberdades individuais” opondo ao vago conceito de liberdade de

pensamento da sociedade burguesa, uma nova noção de liberdade,

construída a partir de um novo modo de ser e de pensar gerados

pelo espírito de iniciativa, pela solidariedade e respeito (Gramsci,

1975, p. 186).

Nos Cadernos do Cárcere esta questão é recolocada na proposi-

ção de uma nova prática política que se produz como formação de

novos intelectuais orgânicos no interior do partido:

O elemento popular “sente”, mas nem sempre compreende ou sabe;

o elemento intelectual “sabe”, mas nem sempre compreende e, espe-

cialmente, “sente”. Os dois extremos traduzem, por um lado, o pe-

dantismo e o filisteismo e, por outro, a paixão cega e o sectarismo.

(...) O erro do intelectual consiste em crer que se possa saber sem

compreender e, especialmente sem sentir e estar apaixonado (não só

pelo saber em si, mas pelo objeto do saber), isto é, em acreditar que

o intelectual possa ser tal (e não um puro pedante) quando distinto e

separado do povo-nação, isto é, sem sentir as paixões elementares do

povo, compreendendo-as e, assim, explicando-as e justificando-as em

determinada situação histórica, vinculando-as dialeticamente às leis

da história, a uma concepção de mundo superior, científica e coeren-

temente elaborada, o “saber”; não se faz política-história sem esta pai-

xão, isto é, sem este elo sentimental entre intelectuais e povo-nação.

Na ausência desse elo, as relações do intelectual com o povo-nação

são ou se reduzem a relações de ordem puramente burocrática e for-

mal; os intelectuais tornam-se uma casta ou um sacerdócio (assim

chamado centralismo orgânico). (Q 11, p. 1505.)

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Estas observações de Gramsci podem ser tomadas como a mais

severa crítica ao elitismo, característico da intelectualidade italiana,

que se considerava “superior” e, por isso, mantinha-se distante do

povo e da cultura popular, desconhecendo as experiências políticas

da grande parcela da população de operários e camponeses. Mas

a crítica também se dirige ao stalinismo, na referência ao centra-

lismo orgânico e na afirmação de que a divisão entre governantes

e governados só poderá ser superada no estabelecimento desse elo

entre teoria e prática, saber e paixão política, que se tornam com-

preensão do conjunto de relações e transformam a própria noção

de representação. Uma nova prática que acontece com a troca de

“elementos individuais entre governados e governantes, dirigidos

e dirigentes, na qual se realiza a vida do conjunto, a única que é

força social e cria o ‘bloco-histórico’” (idem). Trata-se de mostrar

os limites do sistema representativo parlamentar no contexto da

estrutura política na sociedade capitalista e buscar uma “solução

diversa tanto do parlamentarismo quanto do regime burocrático,

com um novo tipo de regime representativo” (Q 14, p. 1708).

Esta nova experiência de gestão, que implica um processo per-

manente de educação e participação política, é algo muito difícil

de se construir, principalmente porque estas novas relações preci-

sam ser geradas no contexto da sociedade burguesa, isto é, na con-

tra corrente, vencendo todos os mecanismos que, historicamente,

têm submetido as classes trabalhadoras, entre eles, a própria teoria

do elitismo, interiorizada no processo de educação e acrescida,

nos dias atuais, pelos meios de comunicação de massa que, na sua

atuação totalitária, enquanto via de mão única, formam um modo

de pensar uniforme, dificultam a elaboração de uma consciência

critica. Gramsci percebe as dificuldades de se construir, por exem-

plo, um partido político que realize internamente a relação entre

“saber” e “sentir”, que torne os homens coletivamente capazes de

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alcançar os objetivos propostos, sem dogmatismos e sem a forma-

ção de uma casta dirigente.

Ao delinear a situação das classes subalternas no contexto da

sociedade capitalista e nos limites da democracia burguesa, Gra-

msci propõe uma nova estratégia que ainda não se conseguiu ex-

plicitar completamente, já que ele não recorre à noção de demo-

cracia direta, mas sugere um novo tipo de regime representativo.

As questões que ficam em aberto e instigam o debate são: como

organizar-se na sociedade civil e reconstruir a história sem abrir

brechas de cooptação? Ou como redimensionar o movimento das

classes subalternas a cada momento em que ocorrer a absorção

de seus dirigentes? São questões prementes e profundamente atu-

ais, quando se constata que o transformismo continua sendo um

mecanismo atual de cooptação e consequente desarticulação dos

movimentos populares e das organizações nascentes no processo

político contemporâneo.

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