integração sul-americana: um balanço crítico

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  • 7/21/2019 Integrao sul-americana: um balano crtico

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    76Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 76-102, jul./dez. 2014.

    Integrao sul-americana: um balano crtico

    South American integration: a critical assessment

    Alexis SALUDJIAN1

    Resumo:Esse artigo trata da dimenso regional do modelo de desenvolvimento da Amrica do Sul. A pri-meira seo apresentar um balano dos modelos de integrao econmica regional a partir do conceito deregionalismo aberto. A segunda tratar dos processos de integrao regional na Amrica do Sul (Mercosul eComunidade Andina de Naes) depois da dcada de 1990. A terceira discutir o panorama poltico da regiona dcada de 2000 e a tentativa de renovao das proposies sobre integrao regional. Finalmente, sero

    analisados os resultados empricos da integrao econmica e da insero internacional da Amrica do Sul naeconomia mundial em termos comerciais (1985-2009).Palavras-chave: Integrao Regional. Amrica Latina. Modelo de Desenvolvimento. Comrcio.

    Abstract:This article deals with the regional dimension of the South American development model The firstsection presents an assessment of regional economic integration models based on the concept of open region-alism. The second will deal with regional integration processes in South America (MERCOSUR and the An-dean Community of Nations) after the 1990s The third will discuss the political landscape of the region in the2000s and the attempted renewal of proposals on regional integration. Finally, we will analyze the empiricalresults of economic integration and international insertion of South America in the world economy in termsof trade (1985-2009).

    Keywords: Regional Integration. Latin America. Development Model. Trade.

    Submetido em: 02/09/2014. Aceito em: 30/09/2014.

    1Graduado em Cincias Econmicas (Universidade Paris 10 - Nanterre), doutorado em Economia (UniversitParis 13 Villetaneuse) e ps-doutorado na Universidade Federal do Esprito Santo (UFES, Brasil). ProfessorAdjunto do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Brasil) e pesquisadorassociado do CEPN (Centre d'Economie de Paris Nord). E-mail: . Esse trabalho teve fi-nanciamento do IPEA (2010-2011), Projeto IPEA/PNPD N 015/2010 Governana Global e Integrao da Am-rica do Sul. Uma verso anterior do trabalho recebeu os comentrios dos membros da pesquisa e pareceresda equipe do IPEA. Agradecemos a todos, assim como a Paulo Kliass. A extrao dos dados teve o apoio de

    Wesley Silva, consultor em estatstica do IPEA/DEINT. A reviso final do texto foi realizado pela professoraMrcia dos Santos Silva, a quem agradecemos. A responsabilidade das opinies do presente trabalho doautor.

    ARTIGO

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    77Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 76-102, jul./dez. 2014.

    Introduo

    o incio dos anos 1990, ao sair dadcada perdida, os pases daAmrica do Sul estavam pro-

    cura de modelos de desenvolvimento al-ternativos aos que foram - corretamenteou no - implementados nos anos 1960-1980. O peso da dvida e as consequnciaseconmicas e sociais foram to fortes, quea opo por um apoio pblico forte pareciadescartada e irrelevante pela ortodoxia no

    poder. A via alternativa e transformadoramais radical estava um tanto descartadadevido ao fim da Guerra Fria e ao capita-lismo triunfante.

    O Regionalismo Aberto ou novo regiona-lismo foi uma maneira de incluir as novasteorias econmicas sobre comrcio inter-nacional e desenvolvimento na temtica

    da integrao regional que acontecia emtodas as regies do mundo: a reconfigura-o dos espaos econmicos e geopolticosfoi muito forte, no unicamente nas Am-ricas. Assim, nesses anos (1994-1996) v-rios acordos e novos tratados ou amplia-es foram firmados: Unio Europia(UE), UE-Mercosul, UMEAO (Unio Mo-netria dos Estados da frica Ocidental),

    ASEAN (Associao das Naes do Su-deste Asitico), APEC (Associao Econ-mica sia-Pacfico), por exemplo2. A inte-grao econmica regional, desde a pers-pectiva da economia ortodoxa era apre-sentada como forma de melhorar a compe-

    2O nmero de acordos regionais notificados na OMC (anteriormente GATT - General Agreement on Tariffs

    and Trade) passou de menos de 20 nos anos 1970, a menos de 10 nos anos 1980, mas chegou a mais de 60 nosanos 1995-1999 segundo (BID, 2002, p. 29).

    titividade sistmica, aproveitando as eco-nomias de escala a nvel regional em situ-ao econmica favorvel e, em caso de re-cesso, a defesa com base na demanda domercado regional. O regionalismo aberto(CEPAL, 1994) ou novo regionalismo(Estevadeordal e outros, 2000) foi uma ten-tativa de compatibilizar a globalizao li-

    beral e as normas da Organizao mundialdo Comrcio (OMC) com os blocos regio-

    nais (seo 1). Um rpido panorama dosprocessos de integrao econmicos regio-nais nos anos 1990-2000 (Mercosul e Co-munidade Andina de Naes) ser apre-sentado na segunda seo.

    Esse tipo de modelo legitimado pelos go-vernos abertamente liberais ficou enfra-quecido com as crises mexicana em 1994,

    asitica de 1997, russa de 1998, brasileirade 1999 e a crise Argentina de 2001 (ver osgrficos 1 e 2 no anexo 1). Desde 2007, osgovernos crticos ao discurso neoliberal(principalmente Venezuela e Equador) ti-veram que se defrontar com uma crisemais geral. O impacto social, poltico e aca-dmico foi muito forte (para alm da Am-rica do Sul) e as previses em termos de

    estabilidade, melhorias sociais e melhorinsero internacional, ficaram distantesdos resultados de quase 20 anos de polti-cas liberais. Desde a volta democracia, odiscurso liberal estava totalmente desacre-ditado e incapaz de gerar a legitimidade,como anteriormente. Nessa terceira seo,

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    apresenta-se uma rpida anlise sobre aeventual modificao dos modelos mobili-zados para pensar a integrao econmicasul-americana e a sua articulao com os

    projetos subcontinentais existentes (Inicia-tiva para a Integrao da Infra-estruturaRegional Sul Americana- IIRSA, Mercosul,CAN) e novos Unin de Naciones Sul-americanas (UNASUL), Alternativa Boli-variana para las Amricas (ALBA).

    Finalmente, ser apresentado na ltimaparte do trabalho, um estudo emprico so-

    bre a insero internacional da Amrica doSul para a discusso das eventuais polti-cas tecnolgicas. Para esse fim, sero mo-

    bilizados dados da UN-COMTRADE paraanlise do perodo 1985-2009, com a dis-tino entre produtos primrios e indus-triais, mas tambm sobre o tipo de tecno-logia utilizada (baixa, mdia ou alta) almdo carter ligado aos recursos naturais eao trabalho intensivo. Desta maneira, ser

    possvel verificar a forma de participaoda Amrica do Sul no comrcio mundial ese a regio teve algum benefcio dessa po-ltica econmica para melhorar efetiva esustentavelmente a sua insero na econo-mia mundial. Sero tratados tambm al-guns elementos relativos ao modelo de de-senvolvimento oriundo dessa insero naeconomia mundial, verificando se o

    mesmo permitiu a reduo da heteroge-neidade estrutural e social da regio.

    Nesse trabalho, ser tentada a demonstra-o das seguintes hipteses:

    - dominao da viso ortodoxa nas deci-ses sobre os processos de integrao regi-

    3Ver os trabalhos clssicos de economistas orto-doxos como (Viner, 1950) ou (Balassa, 1962).

    onal - super-determinao do macroeco-nmico ortodoxo sobre o poltico- fa-zendo com que uma poltica e um discursodiferentes possam continuar tendo com

    base os modelos econmicos semelhantesaos anteriores do perodo liberal nos obje-tivos, ou quando houver diferenas, a or-todoxia macro-econmica ter prefernciana hora das definies dos tomadores dedecises.

    - inrcia das vises dominantes nos anos1990 sobre a integrao econmica regio-nal nos anos 2000. Essa viso continua in-fluindo sobre os tomadores de deciso enas polticas de integrao regional fa-zendo com que estas no rompam com omodelo de acumulao sob domnio do se-tor financeiro, sendo fortemente influenci-ado pelo novo peso da economia chinesana economia mundial. A forma de legiti-mar a poltica pode ter se modificado e cer-tas iniciativas podem ter mudado, mas o

    compromisso sobre a macro-estabilidadeno permite que o essencial do regime deacumulao desigual dominante finan-ceiraseja modificado profundamente.

    1 Balano dos processos de integrao re-

    gionais na Amrica Latina desde a d-

    cada de 1990

    O estudo da integrao econmica regio-nal foi durante muito tempo relegado pelosimples fato da noo de espao geogr-fico no ser considerada nas formulaesneoclssicas da teoria econmica3. O de-senvolvimento econmico foi (e continuasendo) fortemente influenciado pela teoriadas vantagens comparativas de D. Ri-cardo, posteriormente formalizada pelos

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    trabalhos de Heckscher-Ohlin-Samuelsone modernizadas pela nova economia geo-grfica de P. Krugman nos anos 1990.

    Assim, a lgica ortodoxa do desenvolvi-mento econmico seria de dentro parafora: para poder se desenvolver, o graude abertura e a grande insero na econo-mia mundial (demanda mundial) seriamessenciais. A reduo das barreiras tarif-rias (liberalismo comercial) seria o instru-mento fundamental para que os pases e aseconomias pudessem aproveitar plena-

    mente das vantagens comparativas (su-postamente naturais4).

    Para a viso ortodoxa, a integrao econ-mica sul-americana pode contribuir paraesse ciclo da seguinte maneira5:

    - na fase de expanso da economia mun-dial, aproveitando a criao de comrcio

    gerada por mercados mais abertos;

    - nos perodos de recesso, se apoiando nomercado regional, como base de uma de-manda mais estvel e supostamentesustentvel.

    A resposta em termos de modelos econ-micos integrao sul-americana foi, nos

    anos 1990, alinhada corrente conserva-dora, liberalizante da poca do fim dahistria e do triunfo do liberalismo ps-guerra fria.

    4No entramos nesse artigo na discusso sobre ocarter natural ou estrategicamente construdo de

    tais vantagens. Ver Chang (2003) e Bairoch (1994).5Ver por exemplo nas referncias bibliogrficas ostrabalhos de P. Krugman e A. Venables.

    No que se refere insero internacional,num contexto de liberalizao (Consensode Washington) a procura do aumento dovalor agregado dos bens produzidos e ex-portados combinou com a corrente das no-vas teorias do comrcio internacional (RO-MER, 1990, influenciando CEPAL 1990),que visava aumentar o contedo tecnol-gico dos bens comercializados atravs daliberalizao (trans-nacionalizaes dasempresas e importaes das tecnologiasde fora com tentativa de internalizar osprocessos e adapt-los)6. Na viso da Co-

    misso Econmica para a Amrica Latinae o Caribe (CEPAL) dos anos 1990, essa li-

    beralizao era tambm uma maneira deestimular a eficincia produtiva e assimromper a inrcia de preos nos oligopliosnacionais graas concorrncia internaci-onal.

    As ideias neo-schumpeterianas relativas

    ao desenvolvimento do sistema produtivoe tecnolgico, seja nacional ou regionalque teve fora nos anos 1970 e que conti-nuou influenciado pela viso dominanteliberal dos anos 1990-2000, terminaramsendo super determinadas pelas polticasmacroeconmicas de cunho liberal (ou ne-oliberal, sem entrar nesse debate). Essaspolticas de ajuste sejam da primeira (anos1980), segunda (1990) ou mesmo, terceira(2000) gerao, consolidaram o fato que omarco macro-econmico estvel graasa polticas de cunho liberal era um bempblico favorvel ao conjunto da socie-dade e que tinha que ser preservado aqualquer custo7.

    6Ver Saludjian (2010).7No caso do Brasil se deu com o sistema de metas

    de inflao do Banco Central independente euma taxa de juros, a maior do mundo, mas essesarranjos macroeconmicos tm idiossincrasias -

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    A integrao econmica acompanhou essetipo de viso de insero internacionalcomo foi estudado a partir do livro da CE-PAL em 1994 titulado El regionalismo abi-

    erto en Amrica Latina y el Caribe; la integra-cin econmica al servicio de la Transforma-

    cin Productiva con Equidad(ver Saludjian,2005). Mesmo advertindo sobre os riscosde uma abertura completa, a CEPAL ade-riu viso da integrao econmica regio-nal como etapa prvia uma maior globa-lizao comercial. O Banco Interamericanode Desenvolvimento (BID) trabalhou so-

    bre essa mesma problemtica sendo maiscategrico quanto aos beneficios do livrecomercio. Essa ltima instituio promo-via um tipo de regionalismo aberto cujavantagem era de assegurar, num marcoanaltico neoclssico, que o nvel de satis-fao dos indivduos representativosdos pases do bloco regional, assim comoos do resto do mundo (pases fora doacordo regional) atinja o nvel mximo no

    caso de barreiras tarifrias nulas8. A partirde uma anlise esttico-comparativa, omodelo do BID apresenta os resultados re-ferentes aos nveis de satisfao numa fun-o neoclssica de utilidade. Numa situa-o de Regionalismo Aberto, todos os pa-ses se beneficiam atingindo um mximode nvel de satisfao.No sero reproduzidas as crticas inter-

    nas e externas feitas a esse tipo de modelosneoclssicos; mas elas so numerosas9.

    ver o caso, por exemplo, da Argentina, entre ou-tros.8Ver Saludjian (2005).9Ausncia da moeda no modelo, estudo esttico,ausncia de estudo sobre o papel das Empresas

    Trans-Nacionais e o nvel organizacional das em-presas, direitos alfandegrios tudo ou nada. Ver(SALUDJIAN, 2005).

    Assim mostrada a superioridade do Re-gionalismo Aberto (vis--vis um hipot-tico regionalismo fechado ao comrciomundial, tambm hipoteticamente sub-

    metido a elevadas barreiras tarifrias), omodelo de integrao econmica aceita aspolticas de macro-estabilidade ortodoxasque seriam uma base para o desenvolvi-mento de uma poltica regional, seja co-mercial ou tecnolgica.

    interessante ressaltar que a integrao vista como uma etapa para o livre-comr-cio global e que a lgica liberal prevalece(criao de comrcio e do seu impacto po-sitivo para atingir um nvel superior de sa-tisfao). Os efeitos em termos de custosde transao (nesse caso de barreiras al-fandegrias) continuam constituindo oponto central do argumento a favor do re-gionalismo aberto. Os efeitos de criaopermitidos pela reduo dessas barreirasalfandegrias devem se tornar maiores do

    que os efeitos de desvio para que o regio-nalismo seja considerado eficiente. Essaviso compatvel em todos os nveis como receiturio neoclssico, que v na redu-o dos custos de transao a respostaapropriada ao aumento do livre-comr-cio10.

    Da mesma maneira que a poltica de In-

    dustrializao por Substituio de Impor-taes dos anos 1950-1970 contribuiu paraa consolidao de certos setores e gruposeconmicos na Amrica do Sul, o perodo

    10Na seo seguinte, sero analisadas como algu-mas iniciativas visando reduo dos custos detransao, por exemplo, aumentando a infra-estru-tura para o comrcio de bens e servios (IIRSA),contriburam a essa mesma viso.

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    de liberalizao mais forte do final dosanos 1980 e 1990, tambm criou o fortale-cimento de outros setores empresariais (fi-nanceiros, produtivos, acadmicos sejameles nacionais ou estrangeiros11). Isso tam-

    bm vale para a maneira que os modeloseconmicos so aceitos, entendidos e di-vulgados seja na academia seja no mbitodos policy-makers. Uma hiptese que seprocura mostrar que a super determina-o das variveis macroeconmicas sobreuma viso mais homogeneizadora (estru-tural e socialmente) continuou influenci-

    ando e ditando a poltica econmica apsa srie de crises que indicamos acima. Es-sas crises tiveram um forte impacto sobrea maneira de aplicar e apresentar a polticaeconmica e o adjetivo neoliberal, para ca-racterizar as polticas dos anos 1980/1990,levou a modificar em grande medida amaneira de legitimar as polticas a partirdessa poca. No foi diferente para as po-

    lticas e vises da integrao regional naAmrica do Sul fortemente influenciadaspelos modelos de base (neoclssicos) que

    justificam economicamente a integraoeconmica (reduo das barreiras tarif-rias e aumento do livre-comrcio). Era im-possvel legitimar polticas econmicas(macroeconmicas, integrao regional)

    11Sobre o tema dos setores dominantes ver Basu-aldo e Arceo (2006). De maneira mais terica, a fun-damentao pode ser encontrada nos trabalhos deR. Cox, representante da viso gramsciana da he-gemonia e da constituio de grupos/elites de inte-resses internacionais.12Como foi a sada de helicptero do Presidente F.De la Rua em dezembro 2001 da Casa Rosada apsa crise econmica, poltica e social na Argentina.13No caso do Brasil, pas central e de peso funda-mental para qualquer orientao relativa integra-

    o regional de Amrica do Sul, trata-se por exem-plo da estabilizao da inflao atravs do sistemade meta de inflao do Banco Central, da Lei de

    com o discurso neoliberal dos anos1980/1990 sem graves consequncias emtermos de legitimidade poltica12. Porm,os modelos econmicos e as justificativasde resultados na estabilizao macroe-conmica13 deixaram espao para conti-nuar utilizando esses modelos (Regiona-lismo Aberto, economia do conhecimentoe de abertura comercial) s que com outrotipo de discurso - novo-desenvolvimen-tista no Brasil, neo-estruturalista na ter-minologia da nova CEPAL- e para lutarcontra as polticas do passado neolibe-

    ral14. Certos autores caracterizaram essetipo de modelo como Modelo Liberal Peri-frico15. Existia uma dificuldade adicional:em pocas de crise, os pases em vez de de-senvolverem uma poltica de coordenaomacroeconmica conjunta atuaram exata-mente na direo contrria sendo influen-ciados pelos grupos econmicos dos pa-ses respectivos e os seus interesses nacio-

    nais16.

    No que se refere ao tipo de integrao (li-beral) ou alternativo, mesmo depois doperodo dos anos 2000, continuam sendoapresentados um nmero expressivo detrabalhos e documentos oficiais como do

    Responsabilidade Fiscal e do supervit primrio.Essas medidas esto de acordo com os objetivos li-berais. Sobre a LRF, como notam Nascimento e De-bus (2002, p. 6,nosso grifo) [...] os modelos queforam tomados como referencial para a elaboraoda Lei de Responsabilidade Fiscal, so: o FundoMonetrio Internacional, organismo do qual oBrasil Estado-membro, e que tem editado e difun-dido algumas normas de gesto pblica em diver-sos pases; [] a Comunidade Econmica Euro-pia, a partir do Tratado de Maastricht; [].

    14Ver Carcanholo (2010) e Saludjian (2010).15Ver Filgueiras e Gonalves (2007, p. 96).16Ver Basualdo e Arceo (2006).

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    SELA (Sistema Econmico Latinoameri-cano y del Caribe) no Informe sobre elProceso de Integracin Regional, 2009 -2010 que continua entendendo a integra-

    o regional como espao de eficinciapara o capital produtivo, e eventualmentefinanceiro, no qual o debate sobre os temasde desvios e criao de comrcio, barreirastarifrias e efeitos de escalas (ou seja, a te-mtica da teoria liberal do comrcio inter-nacional) tem destaque quase exclusivonas medidas econmicas. Note-se que odiscurso poltico mudou (especialmentena Bolvia, Venezuela e Equador) o queconstitui um avano para definir uma es-tratgia alternativa mesmo com as limita-es indicadas.

    Essa seo teve como objetivo mostrarquais so os fundamentos econmicos dotipo de modelo de integrao econmicaque prevaleceu desde os anos 1990. Termi-nou-se por apontar alguns elementos rela-

    tivos ao predomnio dessa viso mesmodepois da mudana do panorama polticoda regio, que ser rapidamente apresen-tado na seo a seguir.

    2 Integrao econmica Regional na

    Amrica do Sul: rpido panorama hist-

    rico dos anos 1990

    A viso ortodoxa e tradicional da integra-o econmica toma como indicador de di-namismo de um bloco regional a evoluodo comrcio intra-bloco. Em 1990, o nvelera menos de 15% contra um pouco menosde 20% das exportaes da Amrica doSul. Em 2008 4/5 do comrcio era realizadocom outras regies (ver Grfico 3 noAnexo 1). Esse nvel, comparado com ou-

    tras zonas/blocos econmicos, era muitobaixo - em torno de 60 - 80% nos casos da

    UE, North America Free Trade Agreement(NAFTA ou ASEAN), ver dados da OMCe mostrava o elevado grau de internacio-nalizao comercial da regio.

    A integrao latino-americana recente (verQuadro 1 a seguir) tem uma longa histriadesde a tentativa de reestruturao produ-tiva regional dos cepalinos originais daCEPAL (ALADI) dos anos 1980. Tais inte-graes tiveram um cunho principalmenteliberal, com a retomada nos anos ps-dita-dura dos acordos setoriais e de coordena-o produtiva entre Argentina e BrasilPrograma de Integrao e CooperaoEconmica, em 1986 (PICE). A assinaturaem 1991 do Mercosul pelos Presidentes dapoca C. Menem e F. Collor de Mello ba-seou-se numa viso (neo) liberal domi-nante na Amrica do Sul do Consenso deWashington. O ento melhor aluno doFundo Monetrio Internacional (FMI), Ar-gentina, aproveitou-se da taxa de cmbiodo peso uno a uno com o dlar norte

    americano (Lei de Convertibilidade de1991) para impulsionar uma forte elevaodo nvel de comrcio intra-Mercosul. A es-tabilizao e o Plano Real no Brasil, a criseMexicana do Tequla (1994-1995) e acrise asitica subsequente fizeram rapida-mente com que a quarta zona comercial domundo (aps ALENA, UE e APEC) vol-tasse a nveis de comrcio intrabloco seme-

    lhantes aos nveis de pr-integrao a par-tir de 1999-2000 (ver Grfico 3 nos anexos).

    A opo da rea de Livre Comrcio dasAmricas (ALCA) apoiada pelos EstadosUnidos de Amrica (EUA) desde 1990(Amrica da Alasca at Terra do Fogo) en-controu com o Mercosul uma proposta al-ternativa mesmo com as dificuldades vi-

    venciadas pelo do bloco sul-americano.

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    Quadro 1: Principais acordos de integrao econmica regional na Amrica latina

    1960:Acordos regionais para um Mercado Comum Latino-americano do tipo Prebisch (chamado de regio-nalismo fechado pelos autores defensores do novo Regionalismo ou Regionalismo aberto);1969:Acordo de integrao subregional no norte da Amrica do Sul (Acordo de Cartagena);

    1979-1983:Incio da Institucionalizao da CAN (Comunidade Andina de Naes) e regionalismo aberto; 1980:Crise da dvida, Associao Latino-Americana de Integrao (ALADI);1986:Programa de Integracin y Cooperacin Econmica (PICE) Brasil-Argentina no marco do desenvolvi-mentismo cepalino;1991:Mercosul no marco analtico liberal dos anos 1990;1994:Encontro de Miami (ALCA);2000:IIRSA (Modelos do BID, 2000, com o objetivo de justificar a ALCA promovida por G. Bush em 1990,rea de livre-comrcio do Alasca at a Terra do Fogo); 2004:Comunidad Sudamericana de Naciones (CSN) e ALBA;2005:Encontro de Mar del Plata (fim do ALCA);2006:Entrada do Venezuela no Mercosul

    2008:UNASUL.Fonte: Elaborao do autor a partir dos diversos acordos de integrao regional e subregional.

    No que diz respeito integrao sub-regi-onal do norte da Amrica do Sul, a assina-tura do Acordo de Cartagena em 1969 en-tre Bolvia, Colmbia, Chile, Peru, Equa-dor marca o incio de um processo que le-var criao em 1979 da Comunidad An-dina de Naciones (CAN). Os pases adota-

    ram em 1983 um modelo aberto de inte-grao onde regia explicitamente a lgicado mercado. A nfase do processo era emi-nentemente comercial e os resultados emtermos de comrcio intrabloco estavamem alta at 1998. (de 5% do comrcio totalem 1980 para 15% em 1998 (Ver Grfico 3no Anexo). Desta maneira, houve umaconsolidao institucional dos anos 1979 e

    1983 (criao do Conselho Andino de Mi-nistros de Assuntos Externos, da TribunaAndina de Justia e do Parlamento An-dino) e em 1995 foi criada uma zona de li-vre comrcio e adotou-se uma tarifa ex-terna comum. A eleio de H. Chaves em1998 gerou problemas polticos que termi-naram paralisando a CAN.

    Como sero vistos na prxima seo, a re-novao poltica nos anos posteriores

    crise Argentina de 2001 terminou com a le-gitimidade do discurso (neo) liberal e v-rios pases como Argentina, Brasil, Vene-zuela se posicionaram contra a ALCA. Talfato se concretizou com a criao namesma poca (2004) da Comunidade Sul-americana de Naes (CSN) e da ALBA e

    o encontro de Mar del Plata em 2005.

    3 O panorama poltico da regio na d-

    cada de 2000 e a tentativa de renovao

    das proposies sobre integrao regio-

    nal

    3.1 Os processos de integrao nos anos

    2000

    No incio dos anos 2000, o cenrio polticode grande parte da regio mudou em fun-o das consequncias econmicas e soci-ais de vrios pases da Amrica do Sul. Aesperana de mudana de orientao dapoltica econmica e em certos casos dapoltica (que se vayan todos na Argen-tina) motivou a eleio de vrios governos

    chamados de progressistas (no-libe-rais) na Amrica do Sul. Tal como aponta:

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    Todos os novos governos de esquerdaou progressistas, se opuseram s ideiase polticas neoliberais que haviam sidohegemnicas na dcada de 1990, masmantiveram a poltica macroeconmica

    ortodoxa daquele perodo, e s aos pou-cos foram mudando (em alguns casos), asua estratgia econmica, sem ter conse-guido alterar ainda, substantivamente, omodelo tradicional de insero da eco-nomia sul-americana. Mesmo assim, to-dos os novos governos mudaram, quaseimediatamente, a poltica externa do pe-rodo anterior e passaram a apoiar ativa-mente a integrao autnoma da Am-

    rica do Sul, opondo-se ao intervencio-nismo norte-americano no continente.Este giro poltico esquerda ocorreu deforma quase simultnea, e coincidiucom a mudana da poltica externa ame-ricana, da nova administrao republi-cana, de George Bush, que engavetou,na prtica, o globalismo liberal, daAdministrao Clinton, e o seu projetode criao da ALCA, para as Amricas

    (FIORI, 2011, p. 2). 17

    O objetivo desta seo mostrar que,mesmo com governos crticos ao neolibe-ralismo, os modelos vigentes implementa-dos na poca liberal anterior, pouco foramalterados (especialmente no Brasil e na Ar-gentina).

    No caso do Mercosul, os governos da Ar-gentina (ps-crise de 2001), do Brasil (ps-eleio do Presidente Lula), do Uruguai (apartir da eleio do Presidente Tabar V-zquez) e do Paraguai (perodo do Presi-dente Lugo) multiplicaram os discursos derenovao e reorientao do Mercosul

    17Obviamente existem casos especficos como esse

    da Bolvia em que o problemas sociais levaram eleio de Evo Morales. No Paraguai, F. Lugo foieleito em 2008.

    como futuro comum dos pases membros.Porm, as divergncias econmicas conti-nuaram entre os membros sem que o me-canismo de soluo de controvrsias (Pro-

    tocolo de Olivos em 2002) conseguisse im-pedir tenses comerciais e at diplomti-cas18. A dificuldade de aprovao da en-trada da Venezuela no Mercosul pelosparlamentos dos quatro pases membrosmostrou a existncia de interesses contra-ditrios entre os pases e entre os grupospolticos e econmicos desses pases. Departe da Venezuela, alm do interesse dese aproximar institucionalmente com oprincipal pas da regio, Brasil, a entradano Mercosul garantia tambm certa estabi-lidade poltica (como mostrou a reao doMercosul durante a tentativa de golpe deEstado no Paraguai em 1999).

    Em pases como Bolvia e Equador a mu-dana de modelo econmico aconteceucom um maior grau de profundidade e

    com choques polticos mais claros j que asmedidas contrrias ao funcionamentopleno do modelo neoliberal levaram apresses polticas (e/ou militares) fortes.

    Em escala sul-americana, pode-se falar deum esgotamento do referencial legitima-dor do modelo liberal. Essa exausto deuespao para vrias iniciativas. Primeira-

    mente, a proposta da Alternativa Bolivari-ana para las Amricas de 2004 a 2009(ALBA) e Alianza Bolivariana Para LosPueblos de Nuestra Amrica (ALBA-TCP)desde ento continuou relativamente inci-piente com intercmbios entre Venezuelae Cuba (petrleo contra servios mdicos e

    18Por exemplo o caso Botnia entre Argentina e Uru-

    guai, o caso de Itaipu entre Brasil e Paraguai e asinmeras controvrsias comerciais entre Brasil eArgentina sobre um amplo nmero de produtos.

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    de educao) o entre Bolvia y Cuba (apoiotcnico). Desde 2009 a ALBA est com-posta de nove membros: Repblica Boliva-riana da Venezuela, Repblica de Cuba,Repblica de Bolvia, Repblica de Nica-rgua e a Mancomunidad de Dominica,Repblica de Honduras, Repblica deEcuador, San Vicente e as Granadinas eAntigua e Barbuda19.

    A Comunidade Andina das Naes(CAN) sofreu uma grave crise em 2006com a sada da Venezuela devido a ten-

    ses polticas entre os dois pases (CEPAL,2010, p. 124-126). Essa situao mostra queda mesma maneira que as decises polti-cas sozinhas no tm a capacidade de mo-dificar os fundamentos dos regimes deacumulao, tampouco pode se realizaruma integrao econmica alternativaplena sem uma viso estratgica e polticacomum. A aproximao da CAN com a

    UNASUL20e com o Mercosul21no impli-cou numa mudana da trajetria de regio-nalismo aberto existente no bloco desde1983. Os recentes debates em abril e maiode 2011 sobre a criao de um bloco eco-nmico para ser um contraponto hege-monia do Brasil e do bloco boliviano naCAN (Equador e Bolvia) mostraram que aintegrao e a forma dessa integrao pro-

    vocou debates de natureza econmica epoltica.

    19Ver: http://www.alianzabolivariana.org/ >. Nose trata aqui de minimizar os problemas e limitesdesse tipo de experincia tanto no que diz respeito construo de uma trajetria soberana de desen-volvimento (frente forte presena de empresastransnacionais e oligoplios nacionais) quanto aosproblemas de pobreza e a forte demanda social in-

    satisfeita.20Ver .

    No que diz respeito aos fundamentos dosmodelos de integrao econmica especi-almente no Cone Sul, estes foram manti-dos em grande parte, porque a partir de2000 se iniciou um ciclo de preo alto dematrias primas produzidas por vriospases da zona e com forte demanda porparte da China (atualmente maior parceirocomercial e investidor na Amrica doSul22). Essa situao favorvel permitiuque vrios atores econmicos nacionais(agronegcio, financeiro) estivessem emcondio privilegiada, apoiando a manu-

    teno da macro estabilidade ortodoxa. Ocomponente nacional um elemento quecontraria os efeitos integradores entre pa-ses. Os ajustes em termos de polticas eprogramas procura de maior legitimi-dade popular (interna), internacional (ex-terna na ONU, Davos, OMC) e at mesmopopular internacionalmente (Fruns Soci-ais Mundiais, ONGs, sindicatos) no afe-

    taram o funcionamento do modelo de de-senvolvimento, nem a hierarquia de po-der23.

    Note-se que, longe de ter desaparecidodurante a dcada dos anos 2000, os Acor-dos de Livre comrcio se multiplicaram naregio. Assim, Peru, Chile, mas tambmColmbia, Bolvia e Uruguai continuaram

    assinando acordos de livre comrcio comparceiros da regio da Amrica do Sul

    21Relao Mercosul-CAN: ver .22No se trata aqui de negar os esforos polticosmas de avaliar se esses so suficientes para modifi-car o projeto econmica de integrao econmicaalternativo.23Isso no se aplica nesses termos para Venezuela,

    Bolvia e, como vimos no incio de outubro 2010, noEquador.

    http://www.alianzabolivariana.org/http://www.alianzabolivariana.org/http://www.comunidadandina.org/sudamerica.htmhttp://www.comunidadandina.org/sudamerica.htmhttp://www.comunidadandina.org/sudamerica.htmhttp://www.comunidadandina.org/sudamerica.htmhttp://www.comunidadandina.org/sudamerica.htmhttp://www.alianzabolivariana.org/
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    86Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 76-102, jul./dez. 2014.

    como os que se encontravam fora damesma. Assim, v-se que no existe in-compatibilidade entre acordos de livre co-mrcio e os perodos de avanos retricos

    e institucionais na integrao sul-ameri-cana.

    As dificuldades no que diz respeito s fon-tes, formas do financiamento dos projetos,modelos de desenvolvimento e de integra-o econmica so um exemplo desse mo-vimento contraditrio: liberal em termosde pressupostos e modelo, permanecendoalternativo ou progressista no dis-curso. O peso do Banco Nacional de De-senvolvimento Econmico e Social(BNDES) desde o final da dcada dos anos2000 e a estratgia de grandes empresasprivadas (ou semiprivadas) brasileiras naAmrica do Sul no deixou muito espaopara uma proposta alternativa como a pro-posta original relativa ao banco do Sul daVenezuela e do Equador.

    3.2. Os novos projetos de integrao

    Projetos diferentes na essncia e nos obje-tivos, mas que acabam se aproximando se-ro discutidos a seguir.

    3.2.1 Integrao fsica (IIRSA)24

    24Nessa parte nos centraremos sobre o impacto deessa iniciativa sobre a integrao econmica no quediz respeito ao Regionalismo Aberto e a reduo decustos de transao (argumentos mobilizados nosmodelos de integrao regional neoclssicos apre-sentados na primeira seo).25Ver .26A seguir duas citaes da SELA (2010) sobre omesmo tipo de argumento: 1. La importancia de

    Nos princpios orientadores da IIRSA, Ini-ciativa para a Integrao da Infra-estru-tura Regional Sul Americana25, constamem primeiro lugar o Regionalismo Aberto

    cujo objetivo a liberalizao e aberturacomercial atravs da reduo das barrei-

    ras internas ao comrcio. A viso de Am-rica do Sul como [...] uma economia s(IIRSA, 2009, p.7) teria como interesseaproveitar as economias de escalas comodeduz a economia neoclssica (nova eco-nomia geogrfica de P. Krugman) e conti-nua analisando o interesse da integraoeconmica em termos de criao de co-mrcio (versus desvio de comrcio) 26. Afonte de financiamento dessa iniciativa tambm relevante para entender a estrat-gia que guia seus princpios gerais: BID,Comunidade Andina de Fomento (CAF),Fonplata. Essa estratgia de grandes corre-dores visa dar apoio a um tipo de inserointernacional e de capacidade exportadorasem levar em conta de maneira significa-

    tiva o espao, o meio ambiente e as comu-nidades presentes.

    3.2.2 UNASUL

    No se pretende discutir em detalhe aUNASUL, mas a maneira pela qual essainiciativa de 200427ocorreu num contextode modificaes polticas importantes na

    Amrica do Sul, com impacto no processo

    mejorar la competitividad internacional y reducir

    los costos y tiempos de transaccin en el comercio

    internacional, ha estimulado en los ltimos tiem-pos un inters creciente en los pases de ALC porel desarrollo de instrumentos para la facilitacindel comercio (SELA, 2010, p. 6, grifo nosso). 2.Ver SELA (2010, p. 8).27Comunidad Sudamericana de Naciones (CSN) a

    partir da Declaracin del Cusco (dezembro de 2004)e UNASUL a partir da assinatura do Tratado Cons-titutivo da UNASUL em Braslia em maio de 2008.

    http://www.iirsa.org/BancoConocimiento/%20p/principios_orientadores/principios_orientadores_POR.asp?CodIdioma=PORhttp://www.iirsa.org/BancoConocimiento/%20p/principios_orientadores/principios_orientadores_POR.asp?CodIdioma=PORhttp://www.iirsa.org/BancoConocimiento/%20p/principios_orientadores/principios_orientadores_POR.asp?CodIdioma=PORhttp://www.iirsa.org/BancoConocimiento/%20p/principios_orientadores/principios_orientadores_POR.asp?CodIdioma=PORhttp://www.iirsa.org/BancoConocimiento/%20p/principios_orientadores/principios_orientadores_POR.asp?CodIdioma=PORhttp://www.iirsa.org/BancoConocimiento/%20p/principios_orientadores/principios_orientadores_POR.asp?CodIdioma=PORhttp://www.iirsa.org/BancoConocimiento/%20p/principios_orientadores/principios_orientadores_POR.asp?CodIdioma=PORhttp://www.iirsa.org/BancoConocimiento/%20p/principios_orientadores/principios_orientadores_POR.asp?CodIdioma=POR
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    de integrao econmica regional. Existeuma dicotomia entre a integrao polticae a integrao econmica, pelo menos ato perodo recente. Essa separao faz comque a capacidade poltica de orientaopara um rumo alternativo, homogeneiza-dor seja reduzida possibilidade de influ-enciar os atores (nacionais, internacionais,financeiros ou industriais, grupos de inte-resse dos empresrios ou dos trabalhado-res). Politicamente, o estabelecimento deuma clusula democrtica em outubro2010 foi importante, principalmente aps

    a tentativa de golpe de Estado no Equador.

    Tal como estabelece a Declarao deCusco:

    Los aspectos que incluy la Declaracin(de Cusco) fueron: la concertacin ycoordinacin poltica y diplomtica; laprofundizacin de la convergencia en-

    tre Mercosur, y Chilea travs del per-

    feccionamiento de la zona de libre co-

    mercio; la integracin fsica, energticay de comunicaciones; la armonizacinde polticas de desarrollo rural y agroa-limentario; la transferencia de tecnolo-ga en materia de ciencia, educacin ycultura; y, la interaccin entre empresasy sociedad civil, teniendo en considera-cin la responsabilidad social empresa-

    rial. (UNASUL,grifo nosso

    ).

    Aparece claramente a meno ao livre co-mrcio como vetor integrador da Amricado Sul o que perfeitamente compatvelcom o modelo econmico do Regiona-lismo aberto. Se a citao levada emconta, v-se que em alguns casos a UNA-SUL serviu como ponto de apoio para ou-tras iniciativas como a IIRSA, que tem umenfoque num modelo de desenvolvimentopara fora de cunho mais ortodoxo.

    UNASUR y el proyecto integracionista:La UNASUR puede ser un espacio ade-cuado para tratar algunos temas delica-dos que no han podido abordarse plena-

    mente en la Comunidad Andina y elMERCOSUR. Por ejemplo, los temas re-lativos a la infraestructura fsica y lacomplementacin en materia de energapodran resolverse en el mbito geogr-fico ms amplio de la UNASUR, quepermitira el equilibrio de intereses. LaIniciativa para la Integracin de la Infra-estructura Regional Suramericana(IIRSA) podra ser una de las principales

    beneficiarias de este enfoque subregio-nal ms amplio (CEPAL, 2009).

    Como foi visto acima, a IIRSA tem comoprimero princpio o regionalismo abertoque discutimos na seo 1.

    A iniciativa recente, em 2010, de mobilizarum projeto de integrao em infra-estru-

    tura a partir da UNASUL atravs do CO-SIPLAN parece relevante porm, o tipo demodelo utilizado no deve afetar a pro-posta da IIRSA dentro da UNASUL j queso as mesmas equipes da IIRSA que con-tinuaro o trabalho agora dentro da UNA-SUL.

    Al respecto, en 2010, la IIRSA se ha in-sertado en la estructura de la Unin de

    Naciones Sul-americanas (UNASUR),especficamente en el marco del trabajodel Consejo Suramericano de Infraes-tructura y Planificacin (COSIPLAN)(CEPAL, 2010, p. 138).

    Vale a pena ressaltar que o discurso pol-tico e o papel da integrao fsica mudounos ltimos anos integrando por exemplo

    as dimenses sociais. Contudo, os funda-mentos tericos da necessidade de reduzir

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    ataques permanentes durante os anos1980-1990 (liberalizao comercial, finan-ceira, destruio da confiana nas institui-es pblicas). Apontou-se alguns ele-mentos estruturais que mostraram que talquadro no se reverte facilmente.

    Na seo seguinte sero vistos os resulta-dos empricos do tipo de integrao eco-nmica em termos de insero na econo-mia mundial.

    4 Resultados empricos da integrao

    econmica e da insero internacionalda Amrica do Sul na economia mun-

    dial32

    4.1 Comrcio, desenvolvimento e

    insero na economia mundial

    Esse modelo de acumulao baseado nasexportaes (desenvolvimento para fora)

    conheceu uma breve mudana durante o(curto) perodo da Industrializao porSubstituio de Exportaes, mas a partirdo final dos anos 1980 e incio dos 1990,volta a ser um dos eixos fundamentais domodelo de acumulao j financeirizadonuma economia mundial em profundamutao com o peso crescente da China ede reconfigurao das Cadeias de Valores

    32A temtica da integrao econmica regional porseguir modelos na procura da reduo das barrei-ras tarifrias para melhor o comrcio (como discu-timos na seo 1) deve tambm se interessar naseventuais mudanas da pauta comercial da Am-rica do Sul e precisa assim de uma avaliao daspolticas econmicas aplicadas com base nos resul-tados dos fluxos comerciais. A especificidade doestudo apresentado nessa seo diz respeito apre-

    sentao de sries temporais em grficos permi-tindo a anlise de tendncias. As tabelas dispon-veis na base de dados da UN-COMTRADE assim

    Globais33. Estudos recentes mostraram queapesar do discurso sobre a importnciadas exportaes e da insero mais pro-funda (liberal) na economia mundial - opeso das exportaes no crescimento eco-nmico foi fraco na Amrica Latina,quando comparado a outras regies, comoa sia, por exemplo34.

    A Comisso Econmica das Naes Uni-das para o Comrcio e o Desenvolvimento(UNCTAD) traz elementos importantessobre esse tema no seu ltimo relatrio pu-

    blicado em setembro de 2010. Nesse docu-mento, a UNCTAD critica a viso neocls-sica do desenvolvimento pela aberturaeconmica e a insero na economia mun-dial a qualquer custo. Especialmente, noque se refere especializao em setoresnos quais a demanda mundial forte ouquando o baixo custo da fora de trabalho um elemento essencial da competitivi-

    dade do pas ou da regio. Assim, os fun-damentos da viso liberal apresentados naseo 1 do presente artigo foram questio-nados. A relao entre mercado interno eexterno, assim como os determinantesdesses diferentes mercados so colocadosem questo: os pases em desenvolvi-mento podem no se beneficiar de uma

    como trabalhos da CEPAL no disponibilizam taisgrficos e no especificam os resultados para Am-rica do Sul (e sim para Amrica Latina). A escolhadas origens e destinos (Amrica do Sul ou pasesou regies mais desenvolvidas como EUA ou UE)visa a discutir o carter dependente da Amrica doSul e se esse padro se modificou ao longo do per-odo considerado.33No se entrou em detalhes sobre essa literatura

    que pode ser encontrada em Kaplinsky e Morris(2000).34Ver Mulder (2009) e Palma (2010).

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    maior insero na economia mundial. Por-tanto, sem instituies referentes forade trabalho35, sem seguridade social, semgerao prpria de bens de capitais ou tec-

    nologia, a combinao entre progresso tec-nolgico, investimento e aumento da pro-dutividade podem no ter consequnciasna criao de emprego decente, bem re-munerado, fatores essenciais para a dina-mizao do mercado interno.

    Na viso ortodoxa criticada pela UNC-TAD nesse relatrio, pouco importa seexiste diferena entre pases mais desen-volvidos que j tm uma base de demandainterna robusta e estvel (alm de uma in-dependncia tecnolgica) e pases menosdesenvolvidos e com uma heterogenei-dade estrutural e social muito pronunci-ada36.

    A relao entre a insero na economiamundial e a especializao da fora de tra-

    balho mostra que a viso ortodoxa de alo-cao tima dos agentes econmicos raci-onais no tem se revelado sustentvel,alm de no considerar as consequnciassobre o nvel de salrios37. Como o mesmorelatrio da UNCTAD aponta, o modelode desenvolvimento para fora (export-led)pode promover uma corrida para o fundodo poo (race-to-the-bottom) em relao

    ao nvel dos salrios. Isso leva a problemasde demanda interna e de poder de comprainsuficiente para os trabalhadores, tor-

    35Carteira de trabalho, salrio mnimo, seguranado trabalho, mecanismos de seguro-desemprego,sindicatos e representatividade, etc.36Ver UNCTAD (2010, p. 79).

    37Ver UNCTAD (2010, p. 78).38No se trata aqui de negligenciar a experincia decertos pases asiticos, mas sim de perceber as di-

    nando o modelo de desenvolvimento in-sustentvel e muito vulnervel s oscila-es do mercado mundial38.

    4.2 Estrutura e qualidade do comrcio

    da Amrica do Sul (1985-2009)

    Neste tpico ser apresentado um estudoda evoluo do comrcio, pela Composi-o das exportaes/importaes com

    base nos dados da UN-COMTRADE e es-pecialmente a (Classificao Uniformepara o Comrcio Internacional (CUCI), se-gundo a metodologia de S. Lall (2000) eUNCTAD (2002, p. 87-95). A partir dessa

    base de dados, o objetivo entender o pa-pel da integrao regional nesse processoe confirmar a hiptese de no contribui-o da integrao ou at mesmo de pa-pel perverso, que possa piorar a j prec-ria insero da Amrica do Sul nas cadeiasde valor globais, as consequncias negati-

    vas sobre o nvel de formao/qualifica-o/remunerao da fora de trabalho e omeio ambiente.

    Os grficos (Anexo II) indicam a estruturadas exportaes, das importaes totais eo saldo comercial da Amrica do Sul dife-renciando em produtos primrios e pro-dutos industrializados por uma parte e -

    para esses ltimos - em funo do conte-do tecnolgico, seguindo a classificaoinformada anteriormente39.

    ferenas com o caso das economias latino - ameri-canas. Sobre esse ponto ver (Salama, 2000). Almdo mais, como a crise de 1997 evidenciou, o mila-gre asitico no ficou imune.

    39Nessa classificao, o petrleo e produtos deriva-dos no so considerados. Ver detalhes em UNC-TAD (2002).

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    Deve ser salientado que existe uma dife-rena terica entre um enfoque ortodoxo eum enfoque crtico, no que diz respeito aoestudo sobre o contedo tecnolgico dos

    bens no comrcio internacional. Para osortodoxos, o contedo em tecnologia im-portante, na medida em que a produode um bem de alta tecnologia acarreta emmaior valor agregado. O fato de que a tec-nologia seja importada ou resulte de umprocesso local (ou regional) de acumula-o de conhecimentos no tem tanta rele-vncia. Como indica Romer (1990), autor

    das teorias do crescimento endgeno, oque importa ter certeza que o livre co-mrcio possa garantir a alocao tima dosrecursos (inclusive o capital humano).Nesse tipo de modelos e viso ortodoxa,no importa muito saber de onde vem atecnologia e se ela adaptada, custosa,desvinculada do aparelho produtivo, dei-xando o pas ou a regio mais vulnervel

    quando as decises estratgicas so toma-das nas matrizes fora da regio (EUA, UEetc.).

    Ao contrrio, privilegia-se um enfoque noqual a homogeneidade entre os diferentesnveis de tecnologia to importantequanto a origem da mesma40. Assim, o pla-nejamento da tecnologia permite a aplica-

    o de uma poltica industrial integrada(entre os nveis de tecnologia e a escala re-gional), ativa e adaptada s necessidadesdos pases e das suas populaes, em fun-o da sua insero na economia mundial.

    40Ver UNCTAD (2010, p. 79).41Para chegar a 100% deve se considerar a categoria

    outras transaes, que -para no poluir os grfi-cos- no representamos em curva.

    O processo local de acumulao de conhe-cimento implica igualmente um esforosuperior (educao, pesquisa e desenvol-vimento) e tem conseqncias fortes sobreo tipo de modelo de desenvolvimento eco-nmico e social.

    A leitura dos grficos e a anlise se desdo-bram em trs etapas que sero detalhadasa seguir:

    Etapa 1: Para Amrica do Sul, se analisa acomposio das exportaes em produtos

    primrios e industriais41.

    Esse primeiro passo se d tanto para as eexportaes, como para as importaes(respectivamente para e do):i.i) Mundo;i.ii) Amrica do Sul;i.iii) EUA;i.iv) UE;

    i.v)

    China42.

    Etapa 2: Para as exportaes e as importa-es, a parte dos bens industrializados secompe em 4 categorias:

    i) Alta intensidade tecnolgica;ii) Mdia intensidade tecnolgica;iii) Baixa intensidade tecnolgica;

    iv) Intensiva em trabalho e recursosnaturais.

    Etapa 3: Para concluir esse estudo, soanalisados os saldos (em volumes e nomais em porcentagem do total).

    42Na base de dados da UN-COMTRADE, tambmesto disponveis os destinos/origens: Japo, sia-

    Pacfico, entre outros, mas para no complexificaros grficos, preferimos no representar essas s-ries.

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    92Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 76-102, jul./dez. 2014.

    A seguir ser apresentada a anlise dosdados de acordo com esse roteiro.

    A partir dos resultados possvel ter-se

    uma viso mais detalhada do tipo de in-sero da Amrica do Sul na economiamundial assim como o padro de comr-cio (e de produo) da zona. Ser prestadaespecial ateno s modificaes e inver-ses de tendncias, dando nfase aos per-odos em que isso ocorreu para poder rela-cionar essas evolues, com eventuais po-lticas especficas de integrao regionalou de abertura comercial com um ou outroparceiro.

    Preferiu-se estudar as relaes comerciaiscom os EUA e a UE por representarem pa-ses /zonas que historicamente tiveramuma grande influncia na configurao docomrcio mundial, pois tiveram a capaci-dade de modelar as relaes comerciaisatravs de seu poder hegemnico (no caso

    dos EUA) e da antiga relao com a Am-rica do Sul, durante o perodo colonial edepois. Esses pases/zonas centrais nas ca-tegorias da CEPAL original e da Teoria daDependncia43a partir do processo de in-ternacionalizao da produo e do papeldas Empresas Transnacionais (ETN) tm acapacidade de articular na escala mundiala produo atravs de cadeias de valores

    globais projetando plantas, fbricas, cen-tros de pesquisa e desenvolvimento emqualquer lugar do mundo dependendo deuma estratgia definida nas suas casas ma-trizes.

    O caso da China tornou-se essencial paragarantir o crescimento (ou boa parte dele)e manter a estabilidade macro (liberal). As

    43Ver Santo (2000) e Marini (1977).

    informaes relativas composio es-cassa em bens industrializados e com umaintensidade quase nula em tecnologia nosindicam o carter sustentvel ou no desse

    tipo de modelo para Amrica do Sul.

    - Comrcio com o resto do mundo:Emtermos gerais, a composio das exporta-es da Amrica do Sul continuam est-veis desde 1985, com predomnio de pro-dutos primrios (em torno de 40% do totaldesde os anos 2000). Os produtos industri-alizados representam cerca de 30% das ex-portaes da regio. Desse montante, osprodutos intensivos em tecnologia mdiarepresentam a maior parte com 30 a 35%desde 1996, os produtos intensivos em tec-nologia alta representam 25% em 2008 de-pois de terem atingido mais de 30% em2000. Os produtos respectivamente inten-sivos em trabalho e recursos naturais e em

    baixa tecnologia representam algo emtorno de 20% do total dos bens industriali-

    zados. As importaes da Amrica do Sulcontinuam sendo mais de 70% compostasde bens industrializados, constituindo-sea sua maior parte de bens de mdia e dealta tecnologia (40% para cada categoria).Finalmente, se for considerado o saldo(Exportaes menos Importaes por tipode produto e por tipo de tecnologia), ob-serva-se que o mesmo positivo (exporta-

    es superiores s importaes) desde1985 para os produtos primrios com umforte aumento desse supervit a partir de2003/2004. Nesse mesmo perodo, o dficit(importaes superiores s exportaes)dos produtos industrializados se tornoumuito mais forte (cinquenta bilhes de d-lares em 2004 para quase duzentos bilhes

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    de dlares em 2008/2009). Os saldos nega-tivos dos bens industrializados com alto emdio nvel tecnolgico chegaram a repre-sentar noventa e oitenta bilhes de dlaresrespectivamente.

    Nessa primeira aproximao geral do co-mrcio com o resto do mundo, o padro deexportador de produtos primrios e de im-portador de produtos industrializados semanteve estvel no perodo estudado.Desde 2003, o dficit em bens industriaisvai se aprofundando, mas sendo compen-

    sado pelo excedente tambm em aumentode bens primrios. Como ser visto adi-ante, o peso da China e o perodo de altosnveis dos preos das commodities foramfatores importantes. A Amrica do Sulvem mantendo um padro de insero naeconomia mundial semelhante aos dosanos 1990 com uma ligeira melhora emcontedo em tecnologia mdia e alta44.

    - Comrcio com a Amrica do Sul (ou seja,comrcio intra-regional, indicador da mo-dificao efetiva ou no do tipo de integra-o econmica sul-americana): As expor-taes para a prpria Amrica do Sul con-solidaram uma predominncia de bens in-dustrializados de 45% em 1985 a 55% em2008. Dessa porcentagem a maioria so

    bens intensivos em tecnologia mdia quevariou de 35% (nos anos 1980) at 45% nosanos 1990 e de volta desde 2003. Os bensindustrializados de alta tecnologia chega-ram a representar 30% nos anos 1980 para

    44Nesse ponto do trabalho no se discutiu se essamelhora relativa foi suficiente ao nvel mundial.

    Outros trabalhos mostraram que a melhora em ter-mos de capacidade de exportao de bens industri-alizados de mdia e alta tecnologia na Amrica do

    cair a uns 20% nos anos 1990 e vm se es-tabilizando em torno dos 30% desde 1998.As duas outras categorias (intensiva emtrabalho e recursos naturais e em baixa tec-nologia) representam menos de 15% cadauma. No que se refere s importaes daAmrica do Sul a partir da prpria Am-rica do Sul, se mantm a tendncia inici-ada nos anos 1980 com mais de 50% de

    bens industrializados e 30% de bens pri-mrios. Os bens industrializados de alta emdia tecnologia representam 30% e 40%do total, respectivamente. O saldo comer-

    cial foi praticamente nulo em bens prim-rios e bens industriais nos anos 1985-1990,levemente superavitrio em bens industri-alizados nos anos 1990 para se tornar defi-citrio a partir dos anos 2000 nos dois seg-mentos considerados (primrios e indus-trializados). Em 2007, teve um supervitde 2 bilhes de dlares em bens industria-lizados e 1,5 bilho em bens primrios o

    que no se repetiu em 2008 e 2009 (dficitnovamente). Os volumes considerados sorelativamente reduzidos, corroborando osnveis baixos de comrcio intra-Amricada Sul apesar dos modelos (e discursos)sobre integrao econmica latino ou sul-americana. Uma hiptese que pode serformulada que o modelo de integraoaberto (e liberal) dos anos 1990 no mo-

    dificou substancialmente o padro de co-mrcio ao longo das duas ltimas dcadas.Pelo menos, esse tipo de integrao noconseguiu os impactos desejados no co-mrcio intra-Amrica do Sul. O carteraberto e voltado para fora dominou o

    Sul ficou muito aqum da modificao em regiescomo o Leste Asatico. Ver o trabalho de Palma

    (2010).

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    Integrao sul-americana

    94Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 76-102, jul./dez. 2014.

    padro de insero na economia mundial.Essa caracterstica no se modificou du-rante os anos 2000-2009.Convm estudar as relaes com os trs

    pases (ou grupo de pases) importantes:EUA, UE e China. Os dois primeiros pa-ses ou grupo de pases so regies maisdesenvolvidas enquanto a China vem mo-dificando o comrcio mundial e para al-guns, a ordem econmica mundial desdeos anos 2000.

    - Comrcio da Amrica do Sul com os

    EUA e a UE:o padro de comrcio com ospases do Centro (EUA e UE) dife-rente, j que quase todas as exportaespara a UE da Amrica do Sul so de pro-dutos primrios enquanto para os EUA, aproporo igual (30% para cada45).

    Com os EUA: As exportaes debens de alta tecnologia aumentaram demenos de 20% em 1985 para quase 40% em

    2001 para finalmente se estabilizar emtorno de 30% nos anos 2003-2009. Os bensintensivos em trabalho e recursos naturaisque representaram cerca de 15% das ex-portaes entre 1985-2003 e aumentarampara 25% em 2009. No que se refere s im-portaes, 70% so bens industrializados(e 10% primrios) dos quais 50% so dealta tecnologia e 40% de mdia tecnologia.

    Quando analisamos os saldos, observa-mos 3 perodos: i) 1985-1997: dficits im-portantes e crescentes em bens industriali-zados de at quase 30 bilhes de dlaresem 1997; ii) 1998-2003: reduo desse dfi-cit para praticamente 5 bilhes de dlarese iii) 2004-2009: forte e rpido aumento do

    45Ressalta-se que para chegar a 100% faltam as ca-

    tegorias no classificados que no so contem-plados por essa classificao, seja por no ser pro-dutos cujos mercados tenham aumentado muito

    dficit de at 40 bilhes em 2008 e 2009. Osaldo dos bens primrios de Amrica doSul com os EUA, levemente superavit-rio de 1985-2006 e tende a se reduzir desde

    2007.

    Com a UE: 70% das exportaes sode bens primrios. As importaes socompostas de 90% de bens industrializa-dos de alta (quase 50%) e mdia (40%) tec-nologias. O saldo superavitrio em bensprimrios (em aumento desde 2003 com 60

    bilhes em 2008) e deficitrio em bens in-dustrializados (mais de 40 bilhes em2008). O padro primrio-exportador deAmrica do Sul com a UE se manteve aolongo do perodo estudado e parece ter-seconsolidado, deixando as tentativas pro-movidas pela nova CEPAL neo-estrutura-lista dos anos 1990-2000 frustradas.

    No que se refere China, a inverso se dno final dos anos 1980 quando os bens pri-

    mrios chegam a representar a maior partedas exportaes da Amrica do Sul (maisde 80%). O nvel tecnolgico dos menos de10% de bens industrializados exportados irrisrio. Pelo contrrio, nas importaesda China, pelo mesmo perodo mais de90% dos bens so industrializados e maisde 40% desses so de alta tecnologia. Os

    bens industrializados intensivos em traba-

    lho e recursos naturais importados daChina pela Amrica do Sul decresceram apartir de 1992 para chegar a menos de 20%do total dos bens industrializados. O saldocomercial em bens primrios vem cres-cendo a partir de 2002-2003 para atingirquase 40 bilhes de dlares em 2009. Em

    nas ltimas duas ou trs dcadas (ou seja produtos

    pouco dinmicos), seja por ser produtos de tipocombustveis que a classificao tampouco tomaem considerao. Ver UNCTAD (2002, p. 87).

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    contrapartida, o saldo dos bens industria-lizados (50% em alta tecnologia) teve umaevoluo inversa atingindo um dficit demais de 40 bilhes em 2008-2009. Ou seja,o comrcio com o novo principal parceirocomercial de Amrica do Sul mostroudesde final dos anos 1980 um padro decomrcio reprimarizado46.

    O presente estudo sobre o comrcio daAmrica do Sul no perodo 1985-2009tende a mostrar que o padro de inserona economia mundial se manteve pratica-

    mente inalterado. verdade que o nveltecnolgico do comrcio (exportaes eimportaes) aumentou ao longo do per-odo, mas ao nvel mundial a Amrica doSul se situa aqum de outras regies emdesenvolvimento, como a sia47. Nopode ser negada uma maior integraodas cadeias produtivas de valor escalamundial. Todavia, o aumento do nvel tec-

    nolgico das exportaes da Amrica doSul se deve ao aumento das importaesde bens de elevado nvel tecnolgico mos-trando a fraqueza da capacidade de cria-o, manuteno e desenvolvimento deuma base cientifica-tecnolgica a nvel re-gional. Essa deficincia tem sido apontadadesde o fim do perodo neoliberal por au-tores da CEPAL. A diferena com os pa-

    ses asiticos na gerao de inovao e co-nhecimento gritante (1,5 a 2,5% do PIBpara as despesas em Pesquisa e Desenvol-vimento (P&D) contra 0,5-0,7% do PIB na

    46Assim, pode existir um Efeito commodities.Ver UNCTAD (2010, p. 85-86).47A mesma concluso pode ser observada no que serefere ao setor de servio. Mesmo no sendo o temacentral do presente trabalho recomenda-se a leitura

    do trabalho da Red Mercosur sobre esse tema (REDMERCOSUR, 2010b).

    Amrica Latina)48. O projeto de uma Agn-cia de Inovao em escala sul-americana um desafio fundamental para a definiode uma estratgia alternativa e progres-sista de integrao econmica regional. Arecente reunio do Conselho Andino deCincia e Tecnologia em julho de 2010 foium sinal interessante j que pretendia de-finir a agenda de trabalho relativa for-mulao de uma poltica comunitria emcincia e tecnologia, coordenar aes con-

    juntas entre os pases andinos, atualizar osprogramas de pesquisa e formao e criar

    um fundo para financiar projetos (CEPAL,2010, p. 126). Novamente, ficou claro quetal projeto tem um custo muito elevado eque precisa ter uma viso estratgica. AUNASUL poderia colocar esse tema comoelemento estratgico prioritrio com os re-cursos e financiamento associados. A inci-ativa da CAN em 2010 de promover umcentro de pesquisa regional se tornaria

    fundamental na hora de pensar de ma-neira estratgica e dinmica49a insero daAmrica do Sul na economia mundial.

    Junto com essa poltica tecnolgica caberiaa discusso sobre a poltica de defesa daAmrica do Sul. Sem autonomia tecnol-gica e articulao poltica perene entre ospases qualquer poltica de defesa resulta-ria incerta, fragilizando assim a capaci-

    dade de projeo fora do espao regionalsul-americano50.

    48Ver Katz (2001, p. 116-120), o trabalho j citado dePalma (2010), Perez (2001) ou de um ponto de vistamais crtico Varsavsky (1974).49[...] as a moving target [...] usando a expresso dePerez, (2001).

    50A controversa no Brasil desde 2008 referente compra de avies militares mostra a dependnciatecnolgica nesse aspecto estratgico.

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    As caractersticas do regime de acumula-o financeirizado e excludente predomi-nante na Amrica do Sul parecem no per-mitir o desenvolvimento de um modelo de

    acumulao mais homogeneizador e me-nos desigual51, nem uma insero menospredatria social e ambientalmente na di-viso internacional do trabalho.

    Concluso

    A dificuldade da integrao econmica emtermos de polticas integradas j foi estu-dada em Furtado (1968, grifo nosso):

    [...] la integracin econmica constituyeun esfuerzo que busca maximizar laseconomas de escala de produccin enfuncin de la tcnica disponible, bus-cando estimular las economas de aglo-meracin o compensando correctamentelos efectos negativos que podran pro-ducirse sobre colectividades especficas(...) As, la teora de la integracin cons-tituye una etapa superior de la teora

    del desarrollo y la poltica de la integra-

    cin adquiere la forma de una poltica

    de desarrollo. La planificacin de la in-tegracin ser, en consecuencia, laforma ms compleja de coordinacin

    de las decisiones econmicas. En losque concierne a los pases subdesarrolla-dos, la integracin no planificada con-lleva necesariamente una agravacin delos desequilibrios regionales y una ma-yor concentracin geogrfica de los in-gresos.

    Entretanto, a integrao econmica a ser-vio do emprego decente e qualificado

    51Ver Salama (2010).52Ver UNCTAD (2010, p. 79).53Ver UNCTAD (2010, p. 88).

    com direitos universais e visando uma es-tratgia de homogeneidade social plena,segue demandante de argumentos ao seufavor52

    O que se observa uma incompatibilidadeentre um regime de acumulao voltadopara fora e uma integrao econmica, po-ltica e social com homogeneidade estrutu-ral e social53.

    Existem vrias janelas de oportunidadepara uma estratgia de insero alterna-tiva da Amrica do Sul na economia mun-dial, mas ela precisa de um modelo econ-mico e poltico tambm alternativo.

    As escolhas de estratgias para o principalpas de Amrica do Sul, Brasil, so entodeterminantes para o conjunto dos pasesda regio. As polticas relativas tecnolo-gia, infraestrutura, defesa da regio ficam,ento, em grande medida dependente da

    viso brasileira que continua no gerandoum consenso poltico na Amrica do Sulcomo um todo.

    Apesar dos esforos de vrios dirigentespolticos na dcada de 2000 na proposiode mudana do modelo de desenvolvi-mento, incluindo uma poltica integradaao nvel sul-americano, os primeiros resul-

    tados empricos tendem a mostrar a per-manncia do padro de desenvolvimentodependente nos seus aspectos mais essen-ciais, dando suporte hiptese referente inrcia dos processos de formulao depolticas de integrao econmica regio-nal54.

    54Assim J. Gambina nota: La crtica popular al li-bre comercio y al orden econmico hegemnico, en

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    Existem idiossincrasias e modificaes namargem do sistema econmico capitalista,mas no de natureza a modificar substan-cialmente o funcionamento do modelo vi-gente. Da a hiptese de sobre determina-o do nvel macrofinanceiro e do tipo deinsero na economia mundial sobre umaintegrao econmica sul-americana maissoberana, independente, homogeneiza-dora e igualitria para a qual contribumoscom alguns elementos empricos e analti-cos nesse trabalho.

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    101

    Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 76-102, jul./dez. 2014.

    ANEXOS

    Grfico 1 - Taxas de crescimento do PIB Real por dcadas e por regies (%)

    Grfico 2 - Taxa de crescimento do PIB real Amrica Latina (%)

    1 2 3 4 5 6 7 8

    -8

    -6

    -4

    -2

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    Argentina

    Brasil

    Chile

    Mxico

    Amrica Latina

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    Integrao sul-americana

    102

    Grfico 3 - Comrcio intra-bloco regional 1990-2007 (% exportaes intrabloco / exportaes totais)

    Anexo II a

    19901995

    19982001

    20022003

    20042005

    2006jan-mar 2006

    Jan-Mar 2007

    ,0

    7,5

    15,0

    22,5

    30,0

    Comrcio intra-bloco regional 1990-2007 (% exportaes intrabloco/ exportaes totais)

    LAIA

    Andean Community

    Mercosur

    CACM

    LAC