instrumentos de gestão ambiental integrada · capÍtulo 4 - instrumentos de gestÃo ambiental...

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87 4 Instrumentos de Gestão Ambiental Integrada A implementação de um modelo de gestão ambiental adequado a um empreendimento habitacional de in- teresse social requer, preferencialmente, es- tudos de detalhe ou semidetalhe, os quais de- vem ser iniciados desde a concepção do pro- jeto na fase de planejamento, passando pela sua construção e avançando continuamente durante toda a sua ocupação. Os requisitos ambientais em desenvolvimento no País, tanto legais quanto normativos, em especial os que se referem à Avaliação de Impacto Ambiental - AIA (conforme ampla legislação correlata vigente) e ao Sistema de Gestão Ambiental - SGA (conforme normas técnicas nacionais e internacionais editadas), fornecem alguns fundamentos essenciais para o estabeleci- mento de um modelo de gestão integrada, ou seja, aplicável às relações do empreen- dimento com o meio ambiente desde sua origem e ao longo de toda sua vida útil. No caso de AIA, de acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n o 6.938/81) e o dispositivo constitucional que estabelece a exigência de Estudo Prévio de Impacto Am- biental - Epia para “instalação de obra ou ati- vidade potencialmente causadora de signifi- cativa degradação do meio ambiente” (Cons- tituição Federal, Artigo 225, parágrafo 1 o , inci- so IV), deve-se, ainda, considerar o conteúdo técnico presente nas regulamentações fede- rais associadas e em suas variantes estabe- lecidas em cada estado e, em alguns casos, municípios (BRASIL, 1981; 1988). Em princípio, dada a inegável tendência de intervenção significativa no meio físico, todo e qualquer empreendimento habitacio- nal é potencialmente causador de impacto ambiental e, portanto, sujeito aos princípios do processo de AIA e aos procedimentos de licenciamento ambiental. Contudo, conforme a legislação básica que regulamenta aquele dispositivo constitucional (Resolução Conama 001/86), além dos projetos urbanísticos acima de 100 ha, apenas os empreendimen- tos que podem interferir em áreas conside- radas de relevante interesse ambiental, a critério do Instituto Brasileiro do Meio Am- biente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama e dos órgãos ambientais estaduais e municipais competentes, dependem de licen- ça ambiental prévia (BRASIL, 1992a). De qualquer modo, mesmo consideran- do a incerteza de exigência de licenciamento prévio, visando a interação adequada e sus- tentável entre as ações de engenharia e o meio ambiente, pode-se estabelecer uma re- lação integrada entre as fases do empreen-

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

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Instrumentos de GestãoAmbiental Integrada

Aimplementação de um modelo degestão ambiental adequado a umempreendimento habitacional de in-

teresse social requer, preferencialmente, es-tudos de detalhe ou semidetalhe, os quais de-vem ser iniciados desde a concepção do pro-jeto na fase de planejamento, passando pelasua construção e avançando continuamentedurante toda a sua ocupação. Os requisitosambientais em desenvolvimento no País, tantolegais quanto normativos, em especial os quese referem à Avaliação de Impacto Ambiental- AIA (conforme ampla legislação correlatavigente) e ao Sistema de Gestão Ambiental -SGA (conforme normas técnicas nacionais einternacionais editadas), fornecem algunsfundamentos essenciais para o estabeleci-mento de um modelo de gestão integrada,ou seja, aplicável às relações do empreen-dimento com o meio ambiente desde suaorigem e ao longo de toda sua vida útil.

No caso de AIA, de acordo com a PolíticaNacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938/81)e o dispositivo constitucional que estabelecea exigência de Estudo Prévio de Impacto Am-biental - Epia para “instalação de obra ou ati-vidade potencialmente causadora de signifi-cativa degradação do meio ambiente” (Cons-tituição Federal, Artigo 225, parágrafo 1o, inci-

so IV), deve-se, ainda, considerar o conteúdotécnico presente nas regulamentações fede-rais associadas e em suas variantes estabe-lecidas em cada estado e, em alguns casos,municípios (BRASIL, 1981; 1988).

Em princípio, dada a inegável tendênciade intervenção significativa no meio físico,todo e qualquer empreendimento habitacio-nal é potencialmente causador de impactoambiental e, portanto, sujeito aos princípiosdo processo de AIA e aos procedimentos delicenciamento ambiental. Contudo, conformea legislação básica que regulamenta aqueledispositivo constitucional (Resolução Conama001/86), além dos projetos urbanísticosacima de 100 ha, apenas os empreendimen-tos que podem interferir em áreas conside-radas de relevante interesse ambiental, acritério do Instituto Brasileiro do Meio Am-biente e dos Recursos Naturais Renováveis -Ibama e dos órgãos ambientais estaduais emunicipais competentes, dependem de licen-ça ambiental prévia (BRASIL, 1992a).

De qualquer modo, mesmo consideran-do a incerteza de exigência de licenciamentoprévio, visando a interação adequada e sus-tentável entre as ações de engenharia e omeio ambiente, pode-se estabelecer uma re-lação integrada entre as fases do empreen-

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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

dimento, os estudos de engenharia, os instru-mentos de planejamento e gestão ambientalaplicáveis (particularmente AIA e SGA, alémda Auditoria Ambiental – AA e da Recupera-ção de Áreas Degradadas – RAD, conformeprevistos em normas legais e jurídicas), osestudos ambientais necessários e o licencia-mento ambiental (Quadro 9).

Convém salientar que, dependendo daregulamentação estadual e municipal referen-te ao licenciamento ambiental, o Epia podecorresponder ao EIA/Rima ou outro estudotécnico relativo à fase de Licença Prévia - LP,como o Relatório Ambiental Preliminar - RAP,vigente no caso do Estado de São Paulo desde1994. Nesse estado, o RAP é o primeiro do-cumento técnico a ser apresentado para finsde licenciamento ambiental, com a função deinstrumentalizar a decisão de exigência ou nãode EIA/Rima para obtenção de LP. Em casode exigência de EIA/Rima, o RAP tende a sub-sidiar a definição do Termo de Referência paraa elaboração do EIA/Rima. Quando o órgãoambiental considerar, com base no RAP, quenão há necessidade de EIA/Rima, o mesmoRAP é utilizado como referência para avaliaro empreendimento e conceder ou não a LP.

Portanto, sob qualquer forma, o conteú-do de um Epia deve propiciar a avaliação dasprováveis conseqüências ambientais futurasdecorrentes de um empreendimento a serinstalado. Constitui-se, assim, como pontode partida para realização continuada de es-tudos ambientais, os quais deverão conduzir,no final do processo de AIA, à formulação de

um Plano de Gestão Ambiental - PGA do em-preendimento que, por usa vez, subsidiará aestruturação do SGA.

4.1 AVALIAÇÃO DE IMPACTOAMBIENTAL

Considerando o contexto do processode AIA, tal como se encontra instituído noPaís, bem como requisitos exigidos no casode estados que adotam o RAP para projetosurbanísticos, como São Paulo, apresentam-se a seguir os principais tópicos que devemcompor um Epia de um determinado empre-endimento habitacional de interesse social:

a) justificativa do empreendimento;

b) caracterização do empreendimento comdiscussão das alternativas locacionais etecnológicas;

c) apresentação de diagnóstico integrado dasáreas de influência do projeto, abordandoa interação entre elementos dos meios físi-co, biótico e antrópico;

d) avaliação dos impactos resultantes daconstrução e da ocupação do empreendi-mento;

e) definição das medidas mitigadoras e com-pensatórias dos impactos identificados; e

f) programas necessários à viabilidade am-biental do empreendimento.

4.1.1 Justificativa do Empreendimentoe das Alternativas

As considerações sobre a justificativapara a construção tratam basicamente das

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

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Quadro 9 – Relações potenciais entre fases do empreendimento, estudos de

engenharia, instrumentos aplicáveis, estudos ambientais e fases do licenciamento ambiental

Fase doFase do Estudos de Instrumentos e Estudos ambientais e docu- licencia-

empreendimento engenharia procedimentos aplicáveis mentos técnicos de referência mentoambiental

- IPA;Projeto - AIA (análise inicial, revisão - Relatório da IPA; Emissão

conceitual de EIA/Rima, inspeção de - EIA/Rima e eventuais comple- de LPou campo, consulta pública e mentações, incluindo PGA ou

Anteprojeto tomada de decisão). preliminar. equivalente

PLANEJAMENTO - AIA e AA (acompanha- - EIA/Rima e eventuais comple- mento pós-aprovação); mentações, incluindo PGA- Implementação de preliminar; Emissão

Projeto básico resultados da fase - Pareceres e relatórios (análises, de LI de LP e sua inclusão no recomendações e exigências) ou projeto básico; resultantes da fase de equivalente- AA para emissão de LI. emissão de LP;

- Relatórios de AA.

- AIA e AA (acompanha- - EIA/Rima e eventuais mento pós-aprovação). complementações, incluindo- Início da transição PGA preliminar; Vigência AIA/SGA; - Pareceres e relatórios (análises, de LI- Implementação de recomendações e exigências) ou resultados das fases resultantes das fases de equivalente de LP e LI e sua inclusão emissão de LP e LI; no projeto executivo. - Relatórios de AA.

CONSTRUÇÃO Projetoexecutivo - EIA/Rima e eventuais comple-

mentações, incluindo PGA preliminar; Emissão- AIA e AA (acompanha- - Pareceres e relatórios (análises, de LO mento pós-aprovação); recomendações e exigências) ou- RAD; resultantes das fases de equivalente- AA para emissão de LO. emissão de LP e LI;- Relatórios de AA;- PGA e programas ambientais.

- PGA incorporando conteúdo do EIA/Rima e eventuais comple-

Projetos de mentações, pareceres e relatórios Vigência emanutenção e (análises, recomendações e exi- renovação

OCUPAÇÃO de eventuais - SGA e AA; gências) resultantes das fases de contínuareformas e - RAD. emissão de LP, LI e LO e de LOampliações relatórios de AA; ou

- Manual do SGA; equivalente- Relatórios de AA.

NOTA: AIA - Avaliação de Impacto Ambiental; EIA/Rima - Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental; LP - Licença Prévia; LI - Licença de Instalação;LO - Licença de Operação; SGA - Sistema de Gestão Ambiental; AA -Auditoria Ambiental; PGA - Plano de Gestão Ambiental; IPA - Investigação de Passivo Ambiental;RAD - Recuperação de Áreas Degradadas.

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questões relativas às etapas de identificaçãoda demanda e seleção de áreas, na fase deplanejamento (ver Quadro 2 - Capítulo 3).Assim, devem ser efetuadas principalmentecom base na análise da demanda a ser aten-dida e na justificativa de utilização de umadada gleba por esse mesmo empreendimen-to, constituindo a alternativa locacional esco-lhida. A área selecionada deve estar alicer-çada em três aspectos básicos:

1. Localização da gleba, em que convém ana-lisar as barreiras físicas e naturais do mu-nicípio no qual se insere e identificar asrelações do local com os vetores vocacio-nais de expansão urbana.

2. Qualidade ambiental da área e de sua cir-cunvizinhança.

3. Demanda por qualidade de vida, em quea expressão “qualidade de vida” pode serentendida como o conjunto de condiçõesobjetivas presentes em uma determinadaárea e da atitude subjetiva dos indivíduosmoradores nessa área, frente a essas con-dições (HORNBACK et al., 1974).

A discussão das alternativas tecnoló-gicas pressupõe análise comparativa em faceda tipologia do empreendimento adotada (re-sidências unifamiliares ou plurifamiliares),compreendendo essencialmente loteamentoscom uso residencial predominante, condo-mínios ou conjuntos habitacionais (casas,prédios, blocos de apartamentos isolados ouarticulados, entre outros).

4.1.2 Caracterização doEmpreendimento

A caracterização do empreendimentotrata basicamente das questões relativas àetapa de projeto, na fase de planejamento,devendo incluir a descrição da sua tipologia edefinir porte e usos previstos, além de outrasmedidas e ações recomendadas (ver Quadro3 - Capítulo 3). A localização geral do empre-endimento e da gleba deve ser indicada emcarta topográfica adequada (em escala1:50.000, ou maior). As instalações previstasdevem estar expressas em planta planialti-métrica (em escala 1:10.000, ou maior), indi-cando áreas com declividade superior a 30%,usos previstos, sistema viário, especificaçãodos lotes (número, dimensões), estimativa dapopulação e densidade de ocupação previstas,estimativa da demanda a ser gerada pelo em-preendimento (indicando sistemas previstosde abastecimento de água e de disposição fi-nal de efluentes e resíduos sólidos). Além dis-so, devem ser indicados aspectos das obras,como cortes e aterros, áreas de empréstimoe bota-fora (com a especificação da origem evolume do material), canteiros e alojamentos,acessos e condições de tráfego, bem comoestimativa da mão-de-obra necessária parasua implementação, estimativa do custo to-tal do empreendimento e cronograma e des-crição das etapas da fase de construção.

Visando preparar a análise dos prová-veis impactos ambientais, deve-se identificartambém as principais atividades ou opera-ções a serem realizadas nas fases de cons-

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

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trução e ocupação do empreendimento, comoas ilustradas anteriormente (ver Quadros 7e 8 - Capítulo 3). As atividades relativas àeventual desativação geralmente não sãoconsideradas, dado que, em princípio, assu-me-se que esta fase não deverá ser realiza-da. Contudo, caso se cogite, em algum mo-mento da vida útil do empreendimento, suadesativação, estudos específicos deverão serrealizados, no sentido de que o ambiente re-sultante esteja em condições sustentáveis.

4.1.3 Diagnóstico Ambientalda Área de Influência

A rigor, a delimitação da área de influ-ência do empreendimento somente poderiaser estabelecida após a análise dos impactosambientais (identificação, previsão e hierar-quização dos impactos ambientais). Porém,para o planejamento e execução dos levan-tamentos de campo, necessários ao diagnós-tico ambiental, convém definir inicialmenteáreas de estudo, delineadas a partir de exer-cício preliminar de identificação dos impactosambientais esperados.

Os impactos mais freqüentes se rela-cionam a interferências na infra-estruturaexistente, interferências no processo de urba-nização da região; intensificação de tráfegona área, valorização/desvalorização imobi-liária, erosão e assoreamento e remoção decobertura vegetal, os quais podem orientara delimitação dessas áreas de estudo. Poste-riormente, caso a análise dos impactos am-

bientais revele abrangências territoriais alémdas áreas de estudo previstas, deve-se rea-lizar uma revisão para fins de eventuais com-plementações necessárias.

A abordagem das áreas de estudo deveser efetuada em três níveis: Área de Influên-cia Direta - AID; Área de Influência Indireta- AII; e Área de Influência Regional - AIR.Nos três níveis devem ser realizadas a descri-ção e a análise dos fatores ambientais e suasinterações, caracterizando a situação da qua-lidade ambiental antes da construção e ocu-pação do empreendimento.

A AID deve ser delimitada para os meiosfísico, biótico e antrópico (socioeconômico/cultural), baseando-se na abrangência dos fa-tores ambientais diretamente afetados peloempreendimento. A AII deve ser delimitadapara os meios físico, biótico e antrópico, ba-seando-se na abrangência dos fatores am-bientais indiretamente afetados pelo empre-endimento. A AIR tende a ser delimitada ape-nas para o meio antrópico, baseando-se naabrangência dos fatores ambientais regionaisindiretamente afetados pelo empreendimento.

Assim, antes de proceder à realizaçãodo diagnóstico ambiental, convém definir, deacordo com as características de cada seg-mento do ambiente, as áreas de estudo/in-fluência do empreendimento, as quais devemabranger, no mínimo, as seguintes dimensões:

a) meio físico: a menor bacia hidrográficaonde está contida, totalmente, a área doempreendimento;

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b) meio biótico: área de ocorrência das tipo-logias de cobertura vegetal inseridas namenor bacia hidrográfica onde está con-tida a área do empreendimento; e

c) meio antrópico: distrito/bairro ou muni-cípio onde se localiza o empreendimento.

4.1.3.1 Diagnóstico do meio físico

O diagnóstico ambiental preliminar domeio físico, na área de influência direta, deveser realizado por meio da caracterização dosprocessos do meio físico, atuantes na área epassíveis de alteração em decorrência da rea-lização das operações necessárias para cons-trução e ocupação do empreendimento (verQuadros 7 e 8 - Capítulo 3).

Para tanto, podem ser desenvolvidosos seguintes estudos:

1. Identificação dos processos do meio físicoatuantes na área e passíveis de alteração,em que pode-se considerar o contextogeológico-geomorfológico da área e pro-ceder à análise preliminar de cada opera-ção a ser realizada nas fases de construçãoe ocupação do empreendimento.

2. Caracterização de aspectos geológicos egeomorfológicos para subsidiar a caracte-rização dos processos do meio físico pas-síveis de alteração, efetuando: caracteriza-ção de aspectos geológicos básicos (lito-logia e pedologia) da área de influência di-reta, com detalhamento na área da gleba;e caracterização de aspectos geomor-

fológicos (sistema de relevo), com de-talhamento na área da gleba (declividades).

3. Caracterização dos processos do meio fí-sico, passíveis de alteração.

A realização do diagnóstico ambientaldo meio físico pela caracterização de seusprocessos permite o conhecimento da dinâ-mica do meio físico. A importância do conhe-cimento dessa dinâmica reside no fato de queé ela que tende a ser efetivamente alteradaquando da construção e ocupação de um em-preendimento. Como exemplo, dentre osprocessos geralmente identificados, e quesão passíveis de alteração pelas operaçõesnessas fases de um empreendimento habita-cional, incluem-se: erosão pela água; escor-regamento; escoamento das águas em su-perfície; movimentação das águas em subsu-perfície; interações físico-químicas nas águas(superficiais e subterrâneas) e no solo; circu-lação de partículas e gases na atmosfera; epropagação de ondas sonoras.

4.1.3.2 Diagnóstico do meio biótico

O conhecimento da cobertura vegetale da fauna a ela associada, na área doempreendimento, visa subsidiar as decisõestécnicas referentes às etapas do plane-jamento, com o objetivo de reduzir o cortede elementos arbóreos e a supressão decobertura vegetal natural, além de protegera fauna.

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

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A identificação de categorias de cober-tura vegetal da área deve ser estruturadacom base na presença de elementos fitofisio-nômicos específicos (bio-indicadores), bemcomo no grau de alteração observado, sobre-tudo no que se refere aos parâmetros florís-ticos básicos como composição florística, fi-sionomia, CAP (circunferência na altura dopeito), altura total, densidade de indivíduose regularidade de espaçamento.

Assim, as atividades desenvolvidas naelaboração do diagnóstico ambiental preli-minar referente à cobertura vegetal, devemcompreender:

a) levantamento de campo para validação dedados obtidos em fotografias aéreas esobrevôo de helicóptero, e reconhecimen-to de tipologias de cobertura vegetal, nonível de identificação dos estágios suces-sionais em desenvolvimento;

b) observação e identificação de espécies bo-tânicas indicadoras da qualidade ambientale elementos arbóreos isolados;

c) definição dos estágios sucessionais emcurso e descrição de fitofisionomias prin-cipais da área de estudo, interfaceadascom processos de uso e ocupação dosrecursos naturais; e

d) elaboração de mapa temático, contendoa espacialização das formações encontra-das, incluindo a indicação de áreas de pre-servação permanente.

Para a identificação e caracterização dafauna, podem ser consideradas referências

obtidas em bibliografia especializada, efe-tuando-se a confirmação a partir de levan-tamento de campo.

4.1.3.3 Diagnóstico do meio antrópico

Para o diagnóstico do meio antrópicodevem ser considerados fatores como popu-lação, atividades econômicas, emprego, ren-da, infra-estrutura, habitação, tráfego, lazer,esportes, recreação, atividades culturais e,ainda, a percepção ambiental que a comu-nidade tem em relação à área onde será ins-talado o empreendimento. Deve considerartambém o uso do solo atual, com destaquepara núcleos urbanos, habitações isoladas,equipamentos urbanos e sociais, atividadeseconômicas predominantes e, especial-mente, outros empreendimentos similares.Deve-se, ainda, caracterizar a tendência deuso do solo, indicando especialmente os ve-tores de expansão urbana.

A percepção ambiental é entendida, deacordo com RIO & OLIVEIRA (1996), comoum processo mental de interação do indivíduocom o meio ambiente que ocorre por meca-nismos perceptivos propriamente ditos e,principalmente, cognitivos. Os primeiros sãodirigidos pelos estímulos externos, captadospelo cinco sentidos, onde a visão é o quemais se destaca. Os segundos são aquelesque compreendem a contribuição da inteli-gência, uma vez que, admitindo-se que amente não funciona apenas a partir dos sen-tidos e nem recebe essas sensações passi-

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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

vamente, existem contribuições ativas dosujeito ao processo perceptivo desde a mo-tivação à decisão e conduta. Esses mecanis-mos cognitivos incluem motivações, humo-res, necessidades, conhecimentos prévios,valores, julgamentos e expectativas.

4.1.4 Análise dos ImpactosAmbientais

Essa atividade compreende a execuçãodas tarefas necessárias à identificação, pre-visão e hierarquização das alterações ambien-tais decorrentes do empreendimento e defi-nição dos impactos ambientais a serem con-siderados para fins de estabelecimento demedidas mitigadoras, compensatórias e demonitoramento.

Para tal, a análise dos impactos am-bientais decorrentes da instalação e uso deum empreendimento habitacional pode serrealizada com o desenvolvimento de trêsetapas de estudo, quais sejam:

4.1.4.1 Identificação das prováveis

alterações ambientais

Para identificação das prováveis alte-rações ambientais decorrentes do empreen-dimento, pode-se utilizar matrizes de corre-lação, em que cada operação do empreen-dimento deve ser analisada visando iden-tificar as alterações que elas podem provocarem cada processo ou fator do meio ambiente.Observe-se, como já citado, que o termo pro-cesso visa refletir a dinâmica do meio am-biente, pois é ela que será alterada quandoda instalação e funcionamento de uma ati-vidade modificadora do meio ambiente.

Como exemplo, para o caso do meiofísico, pode-se ter uma matriz de correlaçãoem que as linhas (1 até 4) abrigam as prin-cipais atividades ou operações do empre-endimento e as colunas (a até n) os proces-sos ou fatores do meio físico passíveisde alteração, na fase de construção (Qua-dro 10).

Quadro 10 – Esquema de matriz para identificaçãode alterações ambientais no meio físico

para a fase de construção

a b c d e f ... n

1 (terraplenagem) 1a 1b 1c 1d ... ... ... 1n

2 (edificação e demais obras) 2a 2b 2c ... ... ... ... 2n

3 (bota-fora) 3a 3a ... ... ... ... ... 3n

4 (paisagismo) 4a ... ... ... ... ... ... 4n

1. Identificação das prováveisalterações ambientais, de-correntes das diferentesoperações do empreendi-mento.

2. Caracterização das altera-ções ambientais identifica-das.

3. Hierarquização das altera-ções ambientais caracteriza-das e definição dos impactosambientais.

Atividades

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

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Dessa forma, o cruzamento dos conteú-dos de cada linha (operações ou processostecnológicos) com os de cada coluna (fatorese processos do meio físico) propicia a iden-tificação das prováveis alterações no meiofísico. Exemplo disso pode ser obtido em 1a(considerando 1 como sendo a operação rela-tiva à terraplenagem e a como o processode erosão), cuja alteração pode ser o au-mento das áreas expostas à erosão e forma-ção de depósitos de assoreamento.

Da mesma forma, devem ser montadasmatrizes de correlação para as fases de pla-nejamento e ocupação, bem como para osmeios biótico e antrópico, o que resultaráem um total de (6) seis matrizes básicas.

Considerando os processos ou fatoresambientais, conforme já exemplificado (verQuadro 1 - Capítulo 2), algumas das altera-ções ambientais que podem ser identificadas,na análise de cada operação das fases deconstrução e ocupação de um projeto habi-tacional, a partir dos cruzamentos mencio-nados são:

A) Meio físico:

1. Aceleração do processo erosivo em super-fície, pela intensificação do escoamento daságuas pluviais em superfície, em detri-mento da infiltração, decorrente da retiradada vegetação e da movimentação de solo(particularmente na canalização da drena-gem). Poderá, ainda, ocorrer erosão empontos específicos quando da impermea-bilização de superfícies (bordas das super-

fícies revestidas) ou da inserção de obs-táculos ao escoamento das águas pluviais(pontos onde a água retida escoa).

2. Aceleração do processo erosivo em sub-superfície, decorrente de eventuais va-zamentos ao longo de tubulações de águae esgoto.

3. Ocorrência de escorregamentos, pelaeventual intervenção em taludes e em áreade empréstimo (caso seja necessária a ob-tenção de solo em locais externos ao em-preendimento). Poderão ocorrer, também,escorregamentos, em corpos de bota-fora,caso haja necessidade de descarte de soloou rocha alterada.

4. Diminuição da quantidade de água que seinfiltra no solo, a partir da retirada da vege-tação, da movimentação de solo e do re-vestimento e impermeabilização superficial.

5. Introdução de substância contaminante,no solo e nas águas superficiais e subter-râneas, a partir do vazamento de óleosdos equipamentos utilizados em diversasoperações; de resíduos sólidos e líquidosdispostos sobre o solo sem revestimento;de eventuais acidentes com derramamen-to de produtos contaminantes (por exem-plo, óleo, graxa, tinta, solventes e verni-zes) no solo; de vazamento em rede deesgotos; da disposição transitória deresíduos sólidos sobre a superfície do solosem revestimento.

6. Aumento da quantidade de partículas sóli-das e gases na atmosfera, a partir do fun-cionamento de motores movidos a com-

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HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

bustível, utilizados nas diversas opera-ções, além do fluxo de veículos e do rola-mento de equipamentos sobre superfíciesnão-pavimentadas.

7. Aumento da propagação de ondas so-noras, a partir do funcionamento deequipamentos e veículos, bem como deeventual emprego de explosivos.

B) Meio biótico:

8. Supressão da vegetação de forma irre-versível ao longo dos acessos e de locaisedificáveis.

9. Degradação da vegetação pelo efeito deborda nos fragmentos de vegetação queeventualmente serão mantidos no em-preendimento.

10. Degradação da vegetação pela deposiçãode partículas sólidas sobre folhas e tron-cos, decorrente do rolamento de equipa-mentos sobre superfícies não-pavi-mentadas.

11. Danos à fauna, a partir da supressão davegetação e de eventual caça realizadapor funcionários trabalhando nas obrasou, ainda, por atropelamentos.

12. Incômodos à fauna, que utiliza o localcomo passagem ou hábitat, em decor-rência de ruídos, da movimentação depessoas, do tráfego e da emissão departículas sólidas e gases para at-mosfera.

C) Meio antrópico:

13. Redução do déficit habitacional do mu-nicípio, considerando a identificação dademanda de moradias e o atendimentoprevisto.

14. Aumento pela demanda por infra-es-trutura, especificamente em relação aosserviços de abastecimento de água,energia e telefonia; coleta, tratamentoe disposição de esgoto; coleta, trata-mento e disposição de resíduos sólidos;e à manutenção desses serviços e dasvias de acesso (ruas, estradas).

15. Aumento do consumo de água e ener-gia no uso do empreendimento.

16. Aumento de transações comerciais nomunicípio, pela comercialização de ma-teriais de construção (tais como agre-gados, materiais elétricos e de reves-timento).

17. Aumento da arrecadação de impostos,devido ao incremento das transaçõescomerciais (bens e serviços).

18. Aumento da oferta de emprego de mão-de-obra qualificada e não-qualificada,nas fases de construção e de ocupaçãodo empreendimento.

19. Aumento do tráfego nas vias de acessoe nas proximidades do empreendi-mento.

20. Alteração na percepção ambiental de-vido às edificações, pela presença do

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

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esqueleto das construções e das edi-ficações finais.

21. Alteração da percepção ambiental peladisposição de resíduos sólidos de formainadequada.

4.1.4.2 Caracterização das alterações

ambientais identificadas

As alterações ambientais identificadasdevem ser caracterizadas e qualificadas, oque pode ser efetuado por meio de quatroparâmetros básicos, geralmente utilizadosem avaliações ambientais, quais sejam: mag-nitude, reversibilidade, duração e abrangên-cia. Esses parâmetros podem ser conside-rados da seguinte forma:

a)magnitude: cuja qualidade pode ser pe-quena, média ou grande; é um parâmetrobásico para avaliar a importância da alte-ração, pois reflete a dimensão dos efeitosassociados. Assim, por exemplo, em umsolo com alta suscetibilidade à erosão, aaceleração do processo erosivo é uma alte-ração com magnitude grande, pois poderáhaver perda de grande quantidade de solo,podendo, conseqüentemente, ocorrer tur-vamento expressivo da água de cursosd’água e o assoreamento, também signifi-cativo, do seu canal;

b)reversibilidade: cuja qualidade pode sertotal, parcial ou nula, isto é, irreversível;reflete a possibilidade de cessar os efeitosdecorrentes da alteração, sem adoção de

medidas de mitigação, caso a ação queprovoque a alteração seja interrompida.Assim, por exemplo, em um solo com altasuscetibilidade à erosão, a aceleração doprocesso erosivo é uma alteração irrever-sível, pois, ainda que cesse a ação, se nãofor adotada qualquer medida de mitigação,as feições erosivas tendem a adquirir, cadavez mais, maior expressão;

c) duração: cuja qualidade pode ser curta(como menor que 1 ano), média (comoentre 1 e 5 anos) ou longa (como maiorque 5 anos); reflete a continuidade, notempo, dos efeitos da alteração, sem con-siderar a adoção de medidas de mitigação.Assim, por exemplo, em um solo com altasuscetibilidade à erosão, a aceleração doprocesso erosivo é uma alteração de du-ração longa, pois não cessa sem a adoçãode medidas de mitigação;

d)abrangência: que pode ser pontual (in-terior à área do empreendimento), local(interior da área de influência direta) ouregional (excede a área de influência dire-ta). No caso dos meios físico e biótico, aqualidade da abrangência reflete o alcan-ce, em área, dos efeitos da alteração. As-sim, por exemplo, em um solo com altasuscetibilidade à erosão, a aceleração doprocesso erosivo possui abrangência re-gional, pois seus efeitos, como o turva-mento das águas e o assoreamento do ca-nal, podem extrapolar a área de influênciadireta. No caso do meio antrópico, a qua-lidade da abrangência, que pode ser pon-

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tual (restrita a um setor do município),local (restrita ao município) e regional(restrita, por exemplo, à Região de Gover-no ou Região Administrativa em que seinsere o município), reflete, também, oalcance em área dos efeitos, mas, tendoem vista o critério específico de área deinfluência, podem ser consideradas outrasáreas de alcance. Assim, por exemplo, nocaso da geração de emprego, na fase deconstrução, quando se pretende empregarapenas mão-de-obra do município, aabrangência tende a ser local.

Em síntese, o Quadro 11 ilustra os pa-râmetros básicos considerados e suas respec-tivas qualificações, conforme utilizados na ca-racterização das alterações ambientais.

Quadro 11 – Parâmetros básicos e suasqualidades, utilizados na caracterização das

prováveis alterações ambientais

Considerando apenas um dos exemplosanteriores, dentre as possíveis alteraçõesambientais identificadas, aceleração do pro-cesso erosivo em superfície, sua caracteri-zação pode ser realizada conforme apre-sentado a seguir.

• Aceleração do processo erosivo em su-perfície: o empreendimento poderá ocuparárea onde predominam terrenos com altasuscetibilidade à erosão, sendo o materialerodível rico em partículas finas (argila) quedificilmente poderão ser retidas em es-truturas. Assim, qualquer intervenção queprovoque alteração no escoamento daságuas pluviais sobre a superfície do solo,como a retirada da vegetação e a mo-vimentação de solo, concorrerá para a ace-leração do processo erosivo. Essa acelera-ção implica a perda de solo, podendo ocor-rer incremento no aporte de sedimentospara os cursos d’água. As conseqüênciaspossíveis incluem o aumento do turvamentodas águas e do assoreamento, que poderáprejudicar o uso da água para abasteci-mento, implicando a elevação dos custosde tratamento de água. O turvamento daságuas poderá, também, provocar a mortede organismos aquáticos. A magnitude dasconseqüências da intensificação do escoa-mento das águas em superfície e decorrenteaceleração do processo erosivo em super-fície tende a ser grande, em função de oempreendimento ocupar terrenos com altasuscetibilidade à erosão. A reversibilidadedas conseqüências da aceleração do pro-

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

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cesso erosivo tende a ser nula, isto é, semmedidas de mitigação, e as condições deperda de solo, de turvamento das águas ede assoreamento de cursos d’água tende-rão a ser agravadas. A duração da altera-ção é longa, pois os processos de escoa-mento das águas em superfície e erosãopela água tendem a se acentuar com o tem-po. A abrangência das conseqüências daaceleração do processo erosivo é local, poisestão restritas à área de influência diretado empreendimento.

Dependendo do caso considerado, po-der-se-ia incluir outros parâmetros, como re-levância social e confiabilidade da alteraçãoprevista, embora ambos possam estar, de al-gum modo, relacionados com aqueles parâ-metros básicos.

4.1.4.3 Hierarquização das alterações

e definição dos impactos

ambientais

Identificadas e caracterizadas todas asalterações ambientais negativas e positivasnos meios físico, biótico e antrópico, deveser realizada uma integração dos resultadoscom vistas à identificação das inter-relaçõesentre os meios e as alterações ambientaisde caráter geral.

Em seguida, deve ser efetuada, parafins de hierarquização, a avaliação da impor-tância de cada uma dessas alterações am-bientais, utilizando-se para tal uma combi-nação dos resultados de dois procedimentos

básicos: análise técnico-científica por parteda equipe que realizou a identificação e ca-racterização; e consulta à comunidade (mo-radores potencialmente afetados, autorida-des públicas, pesquisadores da região, ONGs,entre outros), esta última podendo envolvercontatos, reuniões dirigidas e preenchimentode questionário orientativo previamenteelaborado.

Esses procedimentos devem visar aclassificação das alterações ambientais pre-vistas em uma de três categorias fundamen-tais, a saber:

a) muito significativa;

b) significativa; ou

c) pouco significativa.

A alteração pode ser considerada poucosignificativa quando, simultaneamente, amagnitude é pequena, a reversibilidade é to-tal, a duração é curta e a abrangência é pon-tual. A alteração pode ser considerada muitosignificativa quando, simultaneamente, amagnitude é grande, a reversibilidade é nula,a duração é longa e a abrangência é regional.A alteração pode ser considerada significativanas situações intermediárias às duas an-teriores.

As alterações ambientais classificadasnas categorias “a” e “b”, ou seja, muitosignificativa e significativa, tendem a ser con-sideradas como impactos ambientais (nega-tivos ou positivos) e, como tal, merecedoresde medidas mitigadoras ou compensatórias

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e, ainda, objeto de monitoramento específico.Para as alterações classificadas em “c”, por-tanto consideradas pouco significativa, de-vem ser indicadas apenas recomendaçõesgerais com vistas ao seu acompanhamento.

Exemplo de alteração ambiental cujaavaliação tende geralmente a considerá-lacomo muito significativa em um empreen-dimento habitacional é a aceleração do pro-cesso erosivo em superfície, que, então,passa a ser tratada como provável impactoambiental negativo.

4.1.5 Definição das Medidas deMitigação, Compensação eMonitoramento

Para cada um dos impactos ambientaisnegativos identificados, ou seja, para cada al-teração ambiental avaliada como muitosignificativa ou significativa, deverão serapresentadas medidas mitigadoras, compen-satórias e de monitoramento ambiental, comrespectivo cronograma de execução. Pode ha-ver uma distinção entre os impactos consi-derados muito significativos e os significativos,sendo que os primeiros provavelmente serãoobjeto de propostas de soluções mais exi-gentes. Preferencialmente, todas essas infor-mações deverão ser apresentadas na formade quadro-síntese, relacionando os impactosambientais com as medidas propostas.

A adoção dessas medidas permite queas alterações sejam atenuadas ou mesmo nãoocorram e, portanto, suas possíveis conse-

qüências tendem a ser reduzidas ou elimina-das. Exemplificando, para o caso do impactoambiental denominado aceleração do pro-cesso erosivo em superfície, deverão seradotadas as seguintes medidas de mitigação:

1. Quaisquer operações que envolvam reti-rada de vegetação e movimentação desolo deverão ser realizadas no período demenor precipitação pluviométrica.

2. Como a construção de residências serápaulatina, deverá ser mantida a vegetaçãodos lotes, para que se favoreça a infiltraçãoda água e se evite o escoamento superfi-cial concentrado.

3. A implementação do sistema de drenagemdeverá ocorrer acompanhando o capea-mento asfáltico, sempre de jusante paraa montante, para que seja evitada a im-permeabilização de montante e formaçãode escoamento concentrado a jusante.

4. A preparação dos lotes deverá ser pla-nejada, de modo a permitir o mínimo pos-sível de movimentação de solo.

5. O projeto da residência de cada lote deverábuscar reduzir a terraplenagem e mantero máximo possível da co–bertura vegetal.

6. Todo material escavado deverá ser reapro-veitado, evitando-se a formação de corposde bota-fora e a obtenção de material deempréstimo em áreas externas ao em-preendimento.

7. Os materiais escavados, dispostos transi-toriamente, deverão ser protegidos da

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CAPÍTULO 4 - INSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA

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ação erosiva da água pluvial, realizando-se sua disposição em local sem linhas defluxo de água superficial e munido de bar-reiras físicas para contenção da base.

8. Na fase de ocupação, os pontos de deságüenos córregos são locais que deverão serobjetos de vistorias em curto intervalo daperiodicidade, no sentido de não afetar aeficiência do sistema inteiro. No caso deserem observados grandes volumes de se-dimento nos pontos de deságüe, procurar-se-á impedir a continuidade desses proces-sos em suas origens, por meio da identifi-cação da causa e da adoção de medidas cor-retivas eficazes, como o uso de revesti-mentos vegetais apropriados. Os dispositi-vos de deságüe deverão ser limpos, remo-vendo-se todo o material acumulado. De-verá, também, ser observado o nível de des-gaste das peças estruturais (como das caixase escadas d’água) e, se necessário, deverãoser reparadas.

O estabelecimento de medidas compen-satórias se impõe em situações em que algunsimpactos não encontrem solução de mitigação.Exemplos disso são os casos em que asupressão da vegetação é inevitável e, comocompensação, propõe plantios em outros lo-cais, abrangendo áreas, no mínimo, em dobro.

A partir da definição dos impactos e dasmedidas de mitigação e compensatórias, de-verão ser estabelecidas, ainda, medidas demonitoramento ambiental. Objetiva-se acom-

panhar, tanto por parte do empreendedorcomo do órgão ambiental de fiscalização e dopróprio morador, o desempenho e a eficáciadas medidas implementadas no controle dosimpactos ambientais previstos.

Considerando os indicadores ambien-tais estabelecidos, a conjugação das medidasde mitigação, compensação e monitoramentodeverão interagir para o desenvolvimento deprogramas de gestão ambiental, contemplan-do procedimentos práticos e exeqüíveis.

Alguns dos programas comumente lem-brados em processos de AIA de empreen-dimentos habitacionais são:

a) programa de controle de erosão;

b) programa de controle de escorregamento;

c) programa de controle da poluição químicaa partir de máquinas utilizadas;

d) programa de controle de poluição bacte-riana a partir de fossas sépticas;

e) programa de redução de resíduos (sóli-dos, líquidos e gasosos);

f) programa de disposição controlada de re-síduos (sólidos, líquidos e gasosos);

g) programa de recuperação de áreas de-gradadas pela obtenção de material deempréstimo;

h) programa de proteção à fauna e à flora(bosques/matas internos e/ou vizinhos);

i) programa de monitoramento de áreas derisco;

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j) programa de comunicação externa (popu-lação vizinha, órgão ambiental estadual;órgão ambiental municipal; demais ór-gãos da prefeitura; órgãos prestadores deserviço, entre outros);

k) programa de redução do consumo deágua;

l) programa de redução de consumo deenergia;

m)programa de educação no trânsito;

n) programa de manutenção da arborizaçãointerna;

o) programa de educação ambiental; e

p) programa de treinamentos.

O conteúdo dos programas deverá pro-piciar a elaboração do Plano de Gestão Am-biental - PGA que, conforme mencionado,subsidiará a estruturação do SGA. Não obs-tante, considerando um contexto mais geral,válido para a maioria dos empreendimentos,pode-se agrupá-los de acordo com situaçõesespecíficas e para facilidade de gestão (verCapítulo 5).

4.1.6 Elaboração do Documentode Conclusões

Quando necessário, como ocorre emrelação ao Relatório de Impacto Ambiental -Rima, cujo objetivo é dar conhecimento aopúblico sobre a viabilidade ambiental do em-preendimento, mediante a apresentação dasconclusões e recomendações obtidas com a

realização do Estudo de Impacto Ambiental- EIA, deve-se elaborar um documento espe-cífico para tal.

Dessa forma, no Rima, ou em outro do-cumento correlato, o texto não deve ser um“corte-e-cola” do EIA (ou do Epia, sob qual-quer forma), mas sim um documento dosresultados obtidos, traduzidos em linguagemacessível a um público mais amplo e que per-mita o entendimento das vantagens e des-vantagens da construção do empreendimen-to, bem como todas as conseqüências am-bientais de sua implementação.

O documento deve ser ilustrado, visan-do facilitar o entendimento da obra e de suasprováveis conseqüências ambientais, deven-do conter, necessariamente:

a) apresentação da metodologia utilizada noestudo, especialmente na realização dodiagnóstico ambiental e análise de impac-tos ambientais;

b) caracterização do empreendimento, deforma clara, privilegiando desenhos ilus-trativos;

c) importância, objetivos e justificativas doempreendimento;

d) discussão sobre as alternativas locacio-nais e tecnológicas;

e) descrição das diferentes etapas e opera-ções do empreendimento;

f) resultados mais importantes dos estudosde diagnóstico ambiental da área de in-fluência do projeto;

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g) descrição dos prováveis impactos ambien-tais das fases de construção e ocupaçãodo empreendimento;

h) descrição das medidas de mitigação ecompensatórias;

i) descrição dos programas de implemen-tação das medidas de mitigação e com-pensatórias (PGA);

j) descrição das medidas de monitoramentopara acompanhamento dos programas deimplementação das medidas de mitigaçãoe compensatórias;

k) caracterização da qualidade ambiental fu-tura da área de influência considerandoos cenários com e sem a realização doempreendimento;

l) recomendações de ordem geral.

4.2 SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTALPara garantir que as medidas de miti-

gação estabelecidas na fase de planejamentosejam efetivamente adotadas, é importantea utilização de um instrumento de gestão am-biental adequado para este fim.

Entre os instrumentos de gestão ambien-tal disponíveis, o Sistema de Gestão Ambiental- SGA é o que permite o controle dos aspectosambientais do empreendimento, em sua cons-trução e ocupação, de forma organizada. OSGA encontra-se, inclusive, normalizado pormeio da NBR ISO 14001 (ABNT, 1996a).

De acordo com essa norma, sistema degestão ambiental é a parte do sistema de

gestão global que inclui estrutura organiza-cional, atividades de planejamento, respon-sabilidades, práticas, procedimentos, proces-sos e recursos para desenvolver, implemen-tar, atingir, analisar criticamente e manter apolítica ambiental.

O diferencial na adoção do SGA norma-lizado é que seus requisitos são padrões; as-sim, há uniformidade de conceitos e procedi-mentos. Além disso, a normalização permitea certificação do SGA.

Como exemplo, no Brasil, de empreen-dimento habitacional com SGA certificadotem-se o Riviera de São Lourenço, situadono Município de Bertioga, em São Paulo. Ape-sar de não se constituir ocupação de interes-se social, seu estabelecimento pode ser refe-rência para qualquer tipo de conjunto habita-cional, com as devidas adaptações e transfe-rências de responsabilidades ao Poder Público.

4.2.1 As Normas de Sistema deGestão Ambiental

As normas relativas a sistema de gestãoambiental (ABNT, 1996a,b) foram publicadascomo normas internacionais em setembro de1996, tendo sido traduzidas, votadas e publi-cadas no Brasil (dezembro de 1996), comoNBR ISO.

A NBR ISO 14001 Sistemas de gestãoambiental - Especificações e diretrizes parauso e a NBR ISO 14004 Sistemas de gestãoambiental - Diretrizes gerais sobre princípios,