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INSTITUTO PEDAGÓGICO DE
MINAS GERAIS
História da Educação Inclusiva e Especial
no Brasil
Coordenação Pedagógica – IPEMIG
Belo Horizonte
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03
1 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA NO BRASIL ............ 05
2 A SOCIEDADE, A EDUCAÇÃO, A CULTURA NA INCLUSÃO ESCOLAR ... 17
3 A LEGISLAÇÃO E AS POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
E INCLUSIVA ................................................................................................. 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ............ 46
AVALIAÇÃO ..................................................................................................... 48
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INTRODUÇÃO
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Bem vindos ao Curso de Especialização em elaborado pelo IPEMIG
– Instituto Pedagógico de Minas Gerais. Este curso foi organizado
de maneira a proporcionar um diálogo com algumas especificidades da
área, possibilitando uma formação mais ampla do professor no sentido de tornar o
conhecimento mais ativo e relevante para ele e, consequentemente, para o aluno.
Salientamos que o material contido nas apostilas é bastante atualizado, e
condizente com o magistério superior. Salientamos ainda que foram também
consideradas a leitura e utilização de autores e livros considerados clássicos, que
são sempre base para novas discussões e novas pesquisas. Também é fato que
não há nenhuma pretensão de esgotar os assuntos, apenas lançar as discussões e
deixar uma extensa bibliografia ao final de cada caderno da apostila que possibilitará
novas pesquisas e esclarecimentos de dúvidas que poderão surgir.
Este curso tem objetivos claros e específicos no sentido capacitar mais e
melhor o graduado para o exercício da docência no ensino em Educação Especial e
Inclusiva, no entanto, colocamo-nos à disposição para eventuais críticas e opiniões
que certamente poderão aperfeiçoar mais e melhor os nossos trabalhos.
Tratando-se de um curso EAD – Ensino à distância os alunos que ingressam
nesta especialização podem escolher a melhor forma para estudar e se preparar. O
que gostaríamos de colocar é que quanto mais capacitado estiver o professor,
melhor poderá desempenhar as suas funções e, também, mais preparado estará
para enfrentar o mercado de trabalho na área da educação.
Este curso é composto por quatro apostilas sendo que esta primeira apostila
contempla assuntos que julgamos iniciais para desenvolver uma melhor capacitação
do professor. Trazemos a história da Educação Especial e Inclusiva no Brasil. Como
a sociedade e a cultura atuam na inclusão escolar. Trabalhamos também com a
legislação acerca da Educação Especial e Inclusiva, como ela é proposta pelo MEC
e como se dá na prática nas escolas.
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A segunda apostila aborda os assuntos relativos aos conceitos fundamentais
em Educação Especial, os aspectos éticos na educação Especial e nas práticas de
Inclusão escolar. Abordamos como se dá na educação infantil e no ensino regular.
Trabalhamos com as dificuldades de aprendizagem e como o professor deve atuar
em seu dia-a-dia. Trazemos o assunto da rotulação dos alunos e como o educador
deve se colocar em relação a isso.
Na terceira apostila tratamos da escola para todos. Como se dá essa
máxima na Educação Especial e Inclusiva. Trabalhamos com o processo de LIBRAS
nas escolas brasileiras. Trabalhamos com as deficiências: mental, visual, auditiva e
motora, abordando o tratamento dessas necessidades especiais na escola.
Na quarta apostila tratamos efetivamente da acessibilidade na escola que
não passa apenas pelos projetos arquitetônicos, mas deve levar em consideração
outras facetas na educação. Tratamos também das deficiências múltiplas, das altas
habilidades e da avaliação das aptidões cognitivas dos alunos portadores de
necessidades especiais, bem como avaliação psicológica e avaliação assistida.
Nós lhes desejamos uma boa leitura e bons estudos.
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1 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA NO BRASIL
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Para Soares, Paulino (2009, s/p) como introdução será abordado o advento
da República que se acrescentava a Constituição de 1891 a Lei de 24 de fevereiro
de 1891, a qual atribuía ao Governo Federal a tarefa de oferecer o ensino superior e
secundário, e ao município o ensino primário. Assim, os Estados poderiam organizar
seus próprios sistemas de ensino primário, secundário e superior. Ressalta-se ainda
que coube ao Governo Federal preparar o ensino secundário e superior em cada
Estado.
No período do advento da República, a educação básica e a Educação
Especial não foram totalmente assumidas pelo Estado, assim se encontrava
diferentes situações no território nacional, como nos estados de São Paulo e Rio de
Janeiro. Após um determinado período, começaram a funcionar algumas classes
especiais vinculadas as escolas públicas, sendo que no final de 1920 já se
encontravam em funcionamento algumas classes em escolas estaduais, a maioria
no Rio de Janeiro.
Na década de 1920, o Estado não se destacou na área educacional, pois as
instituições não governamentais, sobretudo as religiosas, passaram a se
responsabilizar pela educação no Brasil. Para as pessoas com deficiências não foi
diferente, ficando a oferta dos serviços da educação especial configurada entre o
poder público e a sociedade. O governo brasileiro, após a década de 1920, iniciou
as reformas de ensino em diversos Estados. Embora, cada Estado pudesse
organizar o sistema de ensino desde o primário, até o superior, as reformas
apresentavam limitações em relação à estrutura, pois as instituições de ensino
superior eram administradas pelo Governo Federal contando com mais apoio para
seu desenvolvimento. O ensino secundário não era obrigatório para a admissão aos
cursos superiores, assim este era tido como um curso preparatório, com exceção,
em alguns colégios do Rio de Janeiro que exigiam esse pré-requisito.
O fato do Estado não assumir totalmente a escolarização das pessoas com
deficiência, abriu espaço para que as instituições assistenciais assumissem esse
ramo da educação, o que pode ser constatado com a criação da Sociedade
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Pestalozzi, na década de 1930, das Associações de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE), na década de 1950, e das unidades de reabilitação no início
dos anos 1960. A seguir, apresenta-se uma análise das Políticas Públicas na
Educação Especial do Brasil: (SOARES, PAULINO, 2009, s/p)
Conforme Soares, Paulino (2009, s/p) em 14 de novembro de 1930, foi
criado o Ministério da Educação, conhecido primeiramente como “Ministério da
Educa ão e Sa de P blica” que tratava dos assuntos educacionais e área da saúde.
Com esse Ministério, o Governo Federal criou instituições de ensino superior,
efetuou reformas no ensino secundário e providenciou serviços e tratamento
direcionado a saúde pública. No cenário internacional, podem-se encontrar
movimentos importantes no que tange a Educação Inclusiva, entre eles a
Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em 1990, na Tailândia, que
defendeu a equidade social nos países mais pobres e populosos, garantindo a
democratização da educação, independentemente das diferenças individuais.
A Educação Inclusiva tomada como uma proposta de aplicação prática ao
campo da educação, denominado de inclusão social, proposta como um novo
paradigma implica na construção de um processo bilateral no qual as pessoas
excluídas e a sociedade buscam, em conjunto, efetivar a equiparação de
oportunidades para todos. Esse movimento está atrelado à construção de uma
sociedade democrática, onde todos conquistam sua cidadania e na qual a
diversidade é respeitada, ou seja, as diferenças de cada um são reconhecidas e
aceitas. A discussão sobre o assunto “inclusão” vem ocorrendo no Brasil há mais de
uma década, mas a maioria dos alunos com necessidades especiais ainda estão
fora das escolas.
A preocupação maior está em oferecer a criança com alguma deficiência,
além do espaço físico em sala de aula, o respeito e a compreensão pelas suas
habilidades. Reconhecer que um indivíduo possui limitações não significa que não
seja participativo, e capaz de aprender. Seria um ponto de partida para refletir o
como trabalhar as diferenças de modo a satisfazer as necessidades básicas e sua
inclusão no meio social. Por outro lado, as leis e declarações que fundamentam o
movimento de inclusão por si só não bastam. Muitos documentos importantes
afirmam e fundamentam a prática da Educação Inclusiva, como a Conferência
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Mundial de Educação para Todos. Mas, no cotidiano das escolas, verificam-se
diferenças entre o que é proposto e o que é feito na prática. A grande barreira está
no despreparo dos professores do ensino regular em receber esses alunos. Assim, a
Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (LDB) reserva um capítulo para embasar a
educação especial, o que reafirma o direito de educação pública e gratuita aos
deficientes. A escola inclusiva ocorre num contexto de garantir os direitos sociais de
cada indivíduo previsto na Constituição, aumentando assim os desafios e a
responsabilidade do sistema educacional. Para tanto, a formação do professor para
a Educação Especial deveria ser oferecida em cursos de graduação e pós-
graduação potencializando uma melhor qualificação e capacitação do profissional.
A maioria dos estudiosos concorda que a capacitação e sensibilização do
professor nessa área educacional se fazem necessários para que ocorra a
diminuição da exclusão escolar. Mas, delegar ao professor toda a responsabilidade
de promover essa inclusão é de certa forma um erro, pois muitos não estão
preparados para lidar com o assunto. Deveria ser elaborado um currículo com as
possíveis adaptações cabíveis as necessidades individuais dos alunos, assim como
a metodologia a ser aplicada em sala de aula. Ou seja, qualificar a educação para
trabalhar com alunos deficientes e incluí-los nas escolas regulares requer trabalho
em equipe, política de suporte para formar profissionais capacitados, planejamento
pedagógico e prática educacional flexível.
Em 1994, em Salamanca, na Espanha, foi realizado a Conferência Mundial
sobre Necessidades Educativas Especiais, que foi decisiva contribuindo para
impulsionar a Educação Inclusiva em todo o mundo. A Declaração de Salamanca
cujo princípio norteador mostrava que as escolas deveriam acolher a todas as
crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais,
emocionais, linguísticas e outras. Esta declaração, foi adotada pelo Brasil e por
diversos países e organizações internacionais, assim nos sistemas educacionais,
nota-se que houve reforma dando ênfase nesse assunto, já que as escolas precisam
atender as necessidades de cada educando. (SOARES, PAULINO, 2009, s/p)
De acordo com Soares, Paulino (2009, s/p) Tierney (1993), aponta que as
escolas se encontram frente ao desafio de desenvolver uma pedagogia capaz de
educar com êxito a todas as crianças, inclusive àquelas portadoras de deficiências
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graves. Além disso, planeja-se uma escola que atenda a todos, já que as diferenças
humanas são naturais, havendo, portanto a necessidade de adaptar o currículo a
cada criança. Nessa perspectiva, a Declaração de Salamanca (1994) afirma que:
Cada criança tem direito à educação e deve ter a oportunidade de conseguir e
manter um nível aceitável de aprendizagem;
A criança é única e tem características, interesses, capacidades e
necessidades de aprendizagem que lhe são próprias;
Os sistemas de educação devem ser planejados e os programas educativos
implementados tendo em vista a diversidade destas características e
necessidades;
As crianças e jovens com necessidades especiais devem ter acesso às
escolas regulares, cabendo a escola se adequar através de uma pedagogia
centralizada no potencial da criança, e de suas necessidades;
As escolas regulares, através desta orientação inclusiva, constituem os meios
capazes para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades
abertas e solidárias, construindo uma sociedade justa e com educação para
todos; além de, promover eficiência, ótima relação custo-qualidade, de todo o
sistema educativo.
A Declaração de Salamanca pede que as instituições escolares verifiquem
as necessidades do educando, e se ajustem de forma adequada e inclusiva. No
contexto seguinte, refere-se às Leis que amparam à Educação Especial no Brasil.
O ano de 1996 foi reconhecido como Ano Internacional contra a Exclusão,
decisão tomada na Conferência dos Direitos da Criança para o século XXI, realizada
neste mesmo ano em Salamanca. O “Informe à UNESCO”, realizado pela Comissão
Internacional, sobre a Educação para o século XXI, apresenta o mesmo seguimento,
pois estabelece que a educação tenha por finalidade transmitir conhecimentos
teóricos e técnicos, estando ao alcance de todos. Segundo a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB), lei 9.394/96 (Brasil, 1996), o artigo 58 esclarece que a
Educação Especial, é a modalidade de educação escolar, oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de
necessidades especiais. Segue em destaque os parágrafos desta lei:
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1) Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular,
para atender às peculiaridades da clientela de educação especial;
2) O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não
for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular;
3) A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa
etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. (BRASIL, 1996)
Ainda de acordo com a Lei de Diretrizes, o artigo 59, inciso I, II, III e IV da lei
9.394/96 (Brasil, 1996) os sistemas de ensino assegurarão aos educando com
necessidades especiais tratamento diferenciado, ou seja:
I - Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para
atender às suas necessidades;
II - Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido
para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os
superdotados;
III - Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para
atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados
para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV - Educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em
sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade
de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais
afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas
artística, intelectual ou psicomotora. (BRASIL, 1996, apud SOARES, PAULINO,
2009, s/p)
A partir da inclusão, de acordo com Soares, Paulino (2009, s/p) o mundo
caminha para a construção de uma sociedade mais justa. Nota-se que este
processo de construção é crescente em diversos ambientes, tais como:
estabelecimentos de ensino, sociedade em geral, mídia, serviços públicos e
recursos disponíveis.
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Observa-se que o sistema educativo inclusivo traz benefícios a toda a
sociedade, pois não havendo discriminação entre as pessoas, os valores universais
da democracia, tolerância e respeito às diferenças estarão garantidas.
Posteriormente, registram-se alguns comentários e debates encontrados na
Educação Inclusiva. A inclusão social e os direitos humanos são expressões de
justiça social e fundamentam-se nos princípios de uma sociedade democrática, e na
compreensão da diversidade humana concebida como “(...) o processo pelo qual a
sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas gerais, pessoas com
necessidades especiais”. (SASSAKI, 1997, p. 41) Nessa concepção, cada ser
humano se prepara para exercer seu papel na sociedade, sendo que a educação é
fundamental para seu desenvolvimento, assim como para o exercício da cidadania e
na inserção dos diferentes meios e culturas.
Conforme Ainscow (1999, p. 25) “tem-se utilizado a palavra integração para
descrever processos mediante os quais as crianças recebem apoio com o propósito
de poder participar dos programas existentes, programas esses em grande parte
sem modificações nos colégios; ao contrário, a inclusão sugere um desejo de
reestruturação do programa para que possa responder diversidade dos alunos”.
A inclusão está sendo adotada no contexto internacional com o intuito de
progressão. Entre as razões que justificam essas mudanças, Stainback, Stainback,
Jackson (1999), destacam:
O conceito de inclusão comunica mais claramente e com maior exatidão, que
todas as crianças precisam estar incluídas na vida educativa e social das
escolas comuns, e na sociedade em geral, não unicamente na escola regular;
O termo integração está sendo abandonado, já que implica que a meta é
integrar na vida escolar e comunitária alguém ou algum grupo que está sendo
certamente excluído. A inclusão tem por finalidade não deixar ninguém de
fora da escola comum, incluindo tanto no ponto de vista educativo, físico e
social;
A atenção nas escolas inclusivas centra-se em como construir e elaborar um
sistema educacional que inclua e que esteja estruturado para frente às
necessidades de um dos estudantes. Não se assume que as escolas e salas
tradicionais, que estão estruturadas para satisfazer as necessidades dos
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chamados normais ou da maioria, sejam apropriadas e que qualquer aluno
deva encaixar-se no que tenha sido desenhado para a maioria;
A integração desses alunos deixa implícito que realmente estejam incluídos e
tenham participação da vida acadêmica. Nessa perspectiva, destaca-se a
responsabilidade da equipe docente da escola, sendo que se acomoda às
necessidades de todos e a cada um de seus alunos;
Assim mesmo, há uma mudança em relação ao delineamento de ajudar
somente os alunos com deficiência. Agora, o interesse centra-se no apoio à
necessidade de cada membro da instituição escolar. (STAINBACK,
STAINBACK, JACKSON, 1999)
Pode-se dizer que a inclusão surge como uma alternativa à integração; bem
como uma tentativa de eliminar as situações de exclusão em que se encontravam
muitos alunos. A seguir, será apresentado um quadro relatando as principais
diferenças entre os conceitos de Integração e Inclusão:
INTEGRAÇÃO
- Competição
- Seleção
- Individualidade
- Preconceitos
- Visão individualizada
INCLUSÃO
- Cooperação/solidariedade
- Respeito às diferenças
- Comunidade
- Valorização das diferenças
- Melhora para todos
- Modelo técnico-racional - Pesquisa reflexiva
Fonte: Revista de Educação Especial (2005)
A inclusão para Soares, Paulino (2009, s/p) é considerada uma tentativa de
reconstruir o deficitário e individualista analisando primeiramente os casos mais
complexos, assim como as relações de poder implicadas nesses debates, e por fim
é tida como reivindicação de todos os alunos sejam eles deficientes ou não, pois a
educação de qualidade é direito de todos. De acordo com a Revista da Educação
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Especial (2005), para concretizar estes objetivos, apresentados pela Comissão
Internacional, deve-se direcionar e centrar-se nos quatro pilares básicos da
educação:
Aprender a Conhecer: consiste em adquirir os instrumentos que se requer
para a compreensão do que nos cerca. Para isto, deve-se combinar o
conhecimento de uma cultura suficientemente ampla, com algo mais objetivo,
concreto referido a uma determinada matéria. Não se trata, portanto, de
adquirir conhecimentos classificados e codificados, mas de ajudar a cada
pessoa a compreender o mundo que a cerca, para viver com dignidade,
desenvolver sua capacidade profissional e comunicar-se com os demais. Isto
supõe aprender a aprender, exercitando a atenção, a memória e o
pensamento, aproveitando as possibilidades que a educação oferece, posto
que o processo de aquisição do conhecimento, este sempre aberto, pode
nutrir-se de novas experiências.
Aprender a Fazer: está diretamente ligado a aprender a conhecer e se refere
à possibilidade de interagir sobre o próprio meio. Ocupa-se de como ensinar
ao aluno a colocar em prática seus conhecimentos adaptando-os a um
mercado de trabalho que, por diferentes circunstâncias, é bastante
imprevisível. Portanto, é preciso formar as pessoas para trabalhar em equipe
em variadas situações. Mas, preciso lhes ensinar “o fazer” nos diferentes
meios sociais e profissionais. Em suma, este princípio pretende possibilitar o
desenvolvimento de sua capacidade de comunicar-se e trabalhar com os
demais, enfrentando e solucionando os conflitos que possam ser
apresentados a ele.
Aprender a Viver Juntos: trata-se de uns dos principais objetivos da educação
contemporânea, pois supõe participação e cooperação com os demais em
todas as atividades. Essa educação requer, sem dúvida, o desenvolvimento
da compreensão com o outro, e a percepção de formas de interdependência,
respeitando os valores do pluralismo, a compreensão mútua e a paz. Assim,
luta contra a exclusão por meio de traçados que favorecem o contato e a
comunicação entre os membros de grupos diferentes, em contextos de
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igualdade, por meio do descobrimento gradual do outro e do desenvolvimento
de projetos de trabalho em comum.
Aprender a Ser: implica dotar cada pessoa de meios e pontos de referência
intelectuais permanentes, que lhe permita compreender o mundo que a cerca
e a comportar-se como um elemento responsável e justo. Assim, significa
conferir, a cada ser humano, liberdade de pensamento, de juízo, de
sentimentos e de imaginação para desenvolver-se em plenitude estética,
artística, desportiva, científica, cultural e social, e a trabalhar com
responsabilidade individual.
Fonseca (1987, apud Soares, Paulino 2009, s/p) relata que, analisando a
História, percebe-se que sempre houve pessoas vítimas de abusos, e por serem
consideradas “indesejáveis”, foram excluídas ou afastadas seja por sexo, raça,
religião, política ou até mesmo pela idade. Esse estigma se estende às pessoas
portadoras de deficiências e essa mesma realidade obscura e confusa que procura
“afastar” ou “excluir” os “indesejáveis” cuja presença nos “perturba”. A seguir, faz-se
uma breve análise do desenrolar histórico da Educação Especial no Brasil.
De acordo com reportagem publicada na Revista Nova Escola, Editora Abril
(2009), o desenrolar da Educação Especial no Brasil segue em destaque a ordem
relacionada:
1854 – Problema médico: Dom Pedro II funda o Imperial Instituto dos Meninos
Cegos no Rio de Janeiro e não há preocupação com a aprendizagem.
1948 – Escola para todos: é assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
que garante o direito de todas as pessoas à Educação.
1954 – Ensino especial: é fundada a primeira Associação de Pais e amigos (APAE),
na qual o ensino especial surge como opção para escola regular.
1961 – LDB inova: proclamada a lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional
(LDB), a qual garante o direito da criança com deficiência à Educação,
preferencialmente na escola regular.
1971 – Retrocesso jurídico: foi estabelecida a Lei nº 5692/71 que determina
“tratamento especial” para crianças com deficiência.
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1973 – Segregação: é criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP)
que tem a perspectiva de integrar os alunos que acompanharem o ritmo de estudos.
Os demais estudantes ingressariam na Educação Especial.
1988 – Avanço na nova Carta: a Constituição estabelece a igualdade no acesso à
escola. O Estado deve dar atendimento especializado, de preferência na rede
regular.
1989 – Agora é crime: aprovada a Lei n. 7853/89 que criminaliza o preconceito. Esta
lei só entrou em vigor em 1999.
1990 – O dever da família; direito universal: o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) estabelece aos pais ou responsáveis a obrigatoriedade da matrícula dos filhos
em rede pública. Com o Direito Universal, houve a Declaração Mundial de Educação
para Todos reforça a Declaração Mundial dos Direitos Humanos e estabelece que
todos devem ter acesso à Educação.
1994 – Influência externa; Mesmo Ritmo: a Declaração de Salamanca define
políticas, princípios e práticas da Educação Especial e influi nas políticas públicas da
Educação. No Mesmo Ritmo, a Política Nacional de Educação Especial condiciona o
acesso ao ensino regular àqueles que possuem condições de acompanhar “os
alunos ditos normais”.
1996 – LDB muda só na teoria: a nova lei atribui às redes de ensino o dever de
assegurar currículo, métodos, recursos e organização para atender às necessidades
dos educandos.
1999 – Decreto nº 3298: é criada a Coordenadoria Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, e define a Educação Especial como ensino
complementar.
2001 – As redes se abrem; Direitos: a Resolução CNE/CEB2 divulga a
criminalização da recusa em matricular crianças com deficiência, com isso aumentou
o número de dessas crianças no ensino regular. Em relação aos direitos, o Brasil
promulga a Convenção de Guatemala, que define como discriminação, com base na
deficiência, o que impede o exercício dos direitos humanos.
2002 – Formação docente; LIBRAS reconhecida; Braile em classe: a Resolução
CNE/CP1 define que o ensino superior deve preparar os professores na formação
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acadêmica para atender alunos com necessidades especiais. A Lei n. 10436/02
reconhece a língua brasileira de sinais como meio de comunicação e expressão. Em
relação ao Braile em classe, houve a Portaria nº 2278/02 que aprova normas para
uso, o ensino, a produção e difusão do braile em todas as modalidades de
Educação;
2003 – Inclusão se difunde: o Ministério da Educação (MEC) cria o Programa
Educação Inclusiva: direito à Diversidade, que forma professores para atuar na
disseminação da Educação Inclusiva;
2004 – Diretrizes gerais: o Ministério Público Federal reafirma o direito à
escolarização de alunos com e sem deficiência no ensino regular;
2006 – Direitos iguais: convenção aprovada pela Organização das Nações Unidas
(ONU) estabelece que as pessoas com deficiência tenham acesso ao ensino
inclusivo;
2008 – Fim da segregação; Curva inversa; Confirmação: a Política Nacional de
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva define: todos devem
estudar na escola comum. Já a Curva Inversa ocorreu devido ao fato, de que pela
primeira vez, o número de crianças com deficiência, matriculadas na escola regular
ultrapassa a quantidade das que se encontram na escola especial. Em 2008,
ocorreu a confirmação, pois o Brasil ratifica a convenção dos direitos das pessoas
com deficiência, da ONU, fazendo da norma parte da legislação nacional.
Percebe-se que no Brasil a Educação Especial, passou por várias reformas
legislativas e políticas, mas não foram disponibilizadas verbas suficientes para a
educação, principalmente para Educação Inclusiva, como as instituições
especializadas, escolas para cegos, ou escolas para atender pessoas que
apresentam deficiência mental, física, auditiva entre outras. Nota-se também em
relação à preparação de educadores da Educação Especial e Inclusiva, pelo
despreparo dos mesmos para trabalhar com essas pessoas. Como conclusão
aponta-se as principais observações sobre o contexto do artigo. O desafio a ser
vencido é construir e pôr em prática no ambiente escolar uma pedagogia que
consiga ser comum ou válida para todos os alunos, porém capaz de atender
diferencialmente aos alunos cujas características requeiram um trabalho
diferenciado. (BEYER, 2007)
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Verifica-se assim que para a construção de uma Educação Inclusiva e
inovadora no sistema educacional, um dos princípios, é obter novos paradigmas e
estratégias de ensino-aprendizagem. De acordo com (Suzano, 2008), cada
deficiência requer estratégias e materiais específicos, estar atento às pesquisas que
tragam conhecimento que beneficiem a inclusão do aluno deficiente é parte
fundamental para o sucesso da mesma (...) aceitar esses desafios é tornar a escola
representativa, justa e democrática. Para tanto, é imprescindível que políticas
públicas disponibilizem recursos suficientes à educação, para essas metas sejam
atingidas e trabalhadas de maneira eficiente possibilitando a inclusão dos alunos.
Para finalizar, constata-se que a Educação Inclusiva se encontra em um contexto
maior no próprio mundo globalizado, e no âmbito histórico, verifica-se que a redução
das quebras dos processos de exclusão e marginalização não se caracteriza apenas
por meio do ambiente educacional.
Portanto, observa-se por meio deste artigo, que as reformas históricas nos
sistemas educacionais se concretizaram a partir do momento que as nações
começaram a adotar a Declaração de Salamanca, a qual tinha por finalidade atender
as necessidades individuais dos alunos. Conclui-se ainda que é necessário que seja
analisada a capacitação e o ensino-aprendizagem da Educação Inclusiva que está
sendo oferecida aos deficientes no século XXI, bem como quais caminhos e
tendências que se pretende obter na educação, para que se tenham pessoas
inseridas no mundo científico e tecnológico, e para que se obtenha na sociedade
agentes transformadores. (SOARES, PAULINO, 2009, s/p)
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2 A SOCIEDADE, A EDUCAÇÃO, A CULTURA NA INCLUSÃO ESCOLAR
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De acordo com Fernandes, Lopes (2004, s/p) com o presente artigo
pretendemos levar ao conhecimento e discussão sobre esse desafio que é
verdadeiramente incluir os portadores de necessidades especiais não somente na
escola, mas em um contexto mais amplo que é a sociedade. Sentimos a
necessidade de esclarecer alguns pontos que permeiam a educação (educação
especial e a educação inclusiva). Para que a educação seja realmente uma
realidade no qual todos aprendam o verdadeiro sentido de se tornar um cidadão
pleno, antes temos um ideal que é o de elevar o conhecimento cultural a todos, sem
exceção. Isso inclui, é claro, os portadores de necessidades especiais. Mas, antes,
temos que esclarecer o que é educação especial e educação inclusiva.
- Educação especial: Almeida (Abril-2002, Revista Pedagógica), nos da uma ideia da
verdadeira educação especial, seguindo os referenciais teóricos e práticos da
educação. Educação Especial é uma modalidade de ensino que visa promover o
desenvolvimento das potencialidades de pessoas portadoras de necessidades
especiais, condutas típicas ou altas habilidades e, que abrange os diferentes níveis
e graus do sistema de ensino. Fundamenta-se em referenciais teóricos e práticos
compatíveis com as necessidades específicas de seu alunado. A educação especial
se trata de uma educação voltada para os portadores de deficiências, como
deficiências auditivas, visuais, intelectual, física, sensorial, surdez, cegueira e as
múltiplas deficiências.
Para que esses educandos tão especiais possam ser educados e reabilitados,
é de extrema importância a participação deles em escolas e instituições
especializadas. E que eles disponham de tudo o que for necessário para o seu
desenvolvimento cognitivo. A mesma autora nos apresenta uma visão sobre um
ambiente mais apropriado às crianças com necessidades educativas especiais: a
Classe Especial é uma sala de aula preferencialmente distribuída na educação
infantil e ensino fundamental, organizada de forma a se constituir em ambiente
próprio e adequado ao processo ensino/aprendizagem do educando portador de
necessidades educacionais especiais. Na Classe Especial tentamos encontrar
caminhos e meios facilitadores para a aprendizagem dos educandos com
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necessidades educacionais especiais, através de uma política de ação pedagógica,
recursos educacionais mais individualizados e conta com o professor especializado.
A educa ão especial faz parte de “um todo” que é a educação, e ter o seu valor
reconhecido é de fundamental importância para que os educandos tenham seu
crescimento e desempenho educacional satisfatório. (FERNANDES, LOPES, 2004,
s/p)
- Educação inclusiva: para Fernandes, Lopes (2004, s/p) a educação inclusiva é uma
educação voltada de TODOS PARA TODOS onde os ditos “normais” e os
portadores de algum tipo de deficiência poderão aprender uns com os outros. Uma
depende da outra para que realmente exista uma educação de qualidade. A
educação inclusiva no Brasil é um desafio a todos os profissionais de educação.
Mrech faz considerações sobre a educação inclusiva e nos da um panorama
sobre a mesma. O conceito de inclusão é:
Atender aos estudantes portadores de necessidades especiais na vizinhança
da sua residência;
Propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes regulares;
Propiciar aos professores da classe regular um suporte técnico;
Perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e
processos diferentes;
Levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as
crianças portadoras de deficiência;
Propiciar um atendimento integrado ao professor de classe comum do ensino
regular;
O conceito de inclusão não é:
Levar crianças às classes comuns sem o acompanhamento do professor
especializado;
Ignorar as necessidades específicas da criança;
Fazer as crianças seguirem um processo único de desenvolvimento, ao
mesmo tempo e para todas as idades;
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Extinguir o atendimento de educação especial antes do tempo;
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Esperar que os professores de classes regulares ensinem as crianças
portadoras de necessidades especiais sem um suporte técnico.
Para Fernandes, Lopes (2004, s/p) a educação inclusiva tem de atender
esses educandos com qualidade, mas tem que dar condições e especializações aos
profissionais, para que os objetivos e o desenvolvimento aconteçam. Percebemos
ao longo da história e, também na atualidade, que a maioria dos profissionais
envolvidos na educação não sabe, ou desconhece a importância e a diferença da
educação especial e educação inclusiva. (...)
Primeiramente, quando descobrimos uma determinada deficiência em uma
pessoa ela deveria ser encaminhada aos profissionais especializados: psicólogos,
neuropediatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e pedagogos especializados, entre
outros. Isso é de extrema importância para o desenvolvimento físico e também
cognitivo desse educando tão especial.
Segundo Sá (2002), a educação destas pessoas tem sido objeto de
inquietações e constitui um sistema paralelo de instituições e serviços
especializados no qual a inclusão escolar desponta como um ideal utópico e
inviável. Para autora, o sujeito com deficiência um “aluno especial”, cujas
necessidades específicas demandam recursos, equipamentos e níveis de
especialização definidos de acordo com a condição física, sensorial ou intelectual.
Colocando dessa forma, Sá nos leva a uma reflexão: a educação tem que ser algo
maior e única ou fragmentada? Mudando a postura e as concepções por parte de
nós educadores e pesquisadores, consideramos as diferenças como sendo atributos
naturais da humanidade.
- A criança especial e a escola normal: a criança portadora de necessidades
especiais, como qualquer outra criança tem o direito de cursar uma escola e ter
expectativas em relação ao seu futuro. Mas infelizmente, ainda no século XXI, existe
um preconceito exagerado por parte da sociedade em geral e o mais grave: por
parte daqueles que deveriam vir a lutar e dar exemplos dentro de uma sociedade,
que são os educadores. Isto infelizmente ocorre em todo o segmento educacional
brasileiro. Mas ainda existem pessoas e profissionais que vem trabalhando para
minimizar essa vergonha que é o preconceito por parte dos educadores. Como vem
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realizando a Psicóloga Marilda Da Silva na escola Carlos Saloni, em São José dos
Campos (SP), onde aos poucos foi abrindo espaço para crianças com os mais
diferentes tipos de deficiências. Ela relata que as crianças a ensinaram muito,
melhorando-a como profissional e também como ser humano. Ela enfatiza que a
diferença só acrescenta. No início, como tudo que é novo causa muitas ansiedades,
foram necessárias reuniões periódicas com todos os profissionais, mas hoje os
encontros são mais esporádicos. Todas essas reuniões serviram de estímulo para
esses profissionais, pois as aulas foram melhores preparadas enfatizando a
socialização. Infelizmente, essa é uma realidade e um sonho distante, de realmente
incluir essas crianças em escola comum e atingir todos os objetivos, almejados por
pessoas como, por exemplo, Hellen Keller: (Publicação Comemorativa do
Centenário de Nascimento de Hellen Keller - Editada pela Fundação Para o Livro do
Cego no Brasil - 1980). Hellen Keller nasceu em 27 de junho de 1880 em Tuscumbia
Estado de Alabama USA. Aos 18 meses ficou surda e cega, devido a uma doença
que foi diagnosticada na época como febre cerebral. Passou os seus primeiros anos
de sua infância sem orientação adequada, até a chegada de sua professora Anne
Sullivan, em março de 1887. A menina Hellen, aos 7 anos, ainda não falava e não
compreendia os significados das coisas. Com o auxílio da professora Hellen,
aprendeu a comunicação de sinais, o alfabeto manual, o sistema Braille e, com dez
anos de idade, ela aprendeu a falar.
Com muita força de vontade cursou a faculdade de Filosofia, também
aprendeu diversos idiomas. Ao longo de sua vida Hellen Keller escreveu inúmeros
artigos e livros: O mundo em que vivo, A história de minha vida, entre outros. Hellen
Keller faleceu aos 88 anos em sua casa Arcan Ridge, em 1968. Hellen Keller foi uma
grande heroína, apesar de ser uma surdo/cega. Com o auxílio da digníssima
professora Anne Sullivan viajou por todo o mundo dando uma grande contribuição
para o avanço de políticas educacionais para a melhoria da qualidade do ensino e
de vida dessas pessoas. (FERNANDES, LOPES 2004, s/p)
Enfim, de acordo com Fernandes, Lopes (2004, s/p) todos podem aprender e
ensinar, e também ensinar e principalmente aprender.
- Oportunidade de aprender: Souza (2002) nos apresenta um testemunho que
emociona e simplesmente nos leva a refletir sobre o que nós educadores podemos
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fazer em nome de um sentimento, sendo o mais sublime deles o amor. Ela inicia seu
relato com um questionamento: o que se espera de uma mãe de uma criança
deficiente? Sempre o óbvio... Que fale de suas frustrações ao descobrir um filho que
não é perfeito; de suas ansiedades e pela procura da “cura” e, por fim, que fale de
seu amor pelo seu filho e o quanto ele é maravilhoso. Mas a história é contada de
uma outra forma, e não deixa de ser diferente das demais. Ela pensa que a vida
reservou para ela e a filha esse dom de ser “especial” e colocou nela esta “luz” que é
a Elis, uma menina muito carinhosa, sorridente, cheia de ternura e amor. Elis nasceu
com insuficiência cardíaca, com comprometimentos motores sérios (quadriplegia),
enfrentou cirurgias, gessos e terapias sem fim, até conseguir dar seus passos
sozinha; mesmo com mãozinhas que nunca seguravam e ainda se movem de
maneira desajeitada, consegue expressar palavras e pensamentos em LIBRAS
(Língua Brasileira de Sinais).
Sempre buscamos tratamentos e profissionais da melhor qualidade para ela,
o que, na maioria das vezes, significa pagá-los. Sempre nos sentimos indignados
pela falta de atenção e despreparo que o Estado dá às nossas crianças, chegando
quase a ignorá-las. Os poucos serviços gratuitos que são oferecidos em sua maioria
são precários, a não ser em hospitais-escolas, que em sua infraestrutura, possuem
profissionais especializados e, em sua maioria, interessados pela evolução da
criança. Ao final disso meu trabalho foi reconhecido quando fui convidada a atender
alunos surdos, cegos e múltiplos deficientes sensoriais na AHIMSA (Associação
Educacional para a Múltipla Deficiência), colocando assim em práticas suas
experiências. Na educação em geral é necessário, pesquisa, interesse e amor pelo
semelhante. Já na educação especial e educação inclusiva é preciso tudo isso em
dobro.
Carvalho (2000) em seu trabalho ressalta sob o enfoque da esperança, os
movimentos em prol da qualidade de vida dessas pessoas e a crença de que a
conscientização da sociedade acerca de seus direitos, e de suas potencialidades
terão eco, mais cedo ou mais tarde. A possibilidade de construirmos cenários
otimistas a movimentos a partir dos movimentos para a inclusão/integração dessas
pessoas, o que significa oferecer educação de qualidade para todos.
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Segundo Sobrinho, Maujorks (2001) as pesquisas no Brasil, dirigidas às
pessoas com necessidades educativas especiais sugerem a concentração da
produção do conhecimento nos programas de Pós-Graduação stricto sensu sob a
forma de dissertações e teses. Essa produção do saber, entretanto, deveria estar
diluída nos demais segmentos, envolvendo desde o ensino básico até os estágios
mais avançados do sistema educacional. Os resultados dessas mesmas pesquisas
talvez pudessem ser adequadamente utilizados para a melhoria da qualidade de
vida dos indivíduos com necessidades educativas especiais. (FERNANDES, LOPES,
2004, s/p)
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3A LEGISLAÇÃO E AS POLÍTICAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA
Conforme Marcelos (2009, s/p) o Brasil demonstrou traços de uma política
educacional inclusiva já na promulgação da Constituição Federal em 1988, no
TÍTULO VIII, capítulo Da Ordem Social:
Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de:
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-
escola às crianças de 0 a 6 anos de idade.
Art. 227. II §- 1º criação de programas de prevenção e atendimento especializado
para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de
integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento
para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços
coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. § 2.º A lei
disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público
e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso
adequado às pessoas portadoras de deficiência.
Desde então nosso país vem reunindo esforços para assegurar o direito à
educação de qualidade a todos os portadores de necessidades especiais
preferencialmente em escolas regulares. Em 1989 a lei n. 7.853, de 24 de outubro
de 1989 foi implantada e em linhas gerais dispõe sobre o apoio às pessoas com
deficiências, sua integração social, assegurando o pleno exercício de seus direitos
individuais e sociais. (MARCELOS, 2009, s/p)
De acordo com Marcelos (2009, s/p) ao participar em 1990, em Jomtien, na
Tailândia o Brasil optou pela construção de um sistema inclusivo concordando com a
Declaração Mundial de Educação para todos. Também em 1990 a lei n. 8.069/90,
Estatuto da Criança e do Adolescente de 13 de julho de 1990 estabelece entre
outras determinações: Art. 5. Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
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direitos fundamentais. Art. 11. § 1º. A criança e o adolescente portadores de
deficiência receberão atendimento especializado.
E o caminho aberto para a mudança na educação especial não para por aqui.
o Brasil esteve em consonância com as propostas da conferência Mundial sobre
Necessidades Educacionais Especiais em Salamanca (Espanha, 1994). Propostas
denominadas DECLARAÇÃO DE SALAMANCA que tiveram a participação de
delegados de 88 governos e 25 organizações internacionais e o objetivo de
estabelecer princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas
especiais. O documento oficial foi adaptado à terminologia educacional brasileira
onde foi alterado o termo “necessidades educativas especiais” por “necessidades
educacionais especiais” e da mesma forma, a expressão “integrada” ou “integradora”
foi também substituída por “inclusiva”. A expressão necessidades educacionais
especiais é utilizada para referir-se a crianças e jovens cujas necessidades
decorrem de sua elevada capacidade ou de suas dificuldades para aprender. Está
associada, portanto, a dificuldades de aprendizagem, não necessariamente
vinculada a deficiência(s). As Necessidades educacionais podem ser identificadas
em diversas situações representativas de dificuldades de aprendizagem, como
decorrência de condições individuais, econômicas ou socioculturais dos alunos:
• Crianças com condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e sensoriais
diferenciadas;
• Crianças com deficiência e bem dotadas;
• Crianças trabalhadoras ou que vivem nas ruas;
• Crianças de populações distantes ou nômades;
• Crian as de minorias linguísticas, étnicas ou culturais;
• Crianças de grupos desfavorecidos ou marginalizados.
Nesta perspectiva, segundo Marcelos (2009, s/p) a atenção dada à
diversidade cultural colabora para a melhoria da qualidade de ensino e
aprendizagem para todos. A educação especial como modalidade da educação
escolar ganha mais um dispositivo legal e político-filosófico a seu favor a lei n. 9.394
de 20 de dezembro de 1996. LDB, capítulo V. Da educação especial: Art. 58.
Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de
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educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos portadores de necessidades especiais. §1º Haverá, quando necessário,
serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades
da clientela de educação especial. §2º O atendimento educacional será feito em
classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do
ensino regular. §3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado,
tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais: I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específica, para atender às suas necessidades; II - terminalidade
específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do
ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em
menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com
especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento
especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a
integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o
trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para
aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou
psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios
de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com
atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo
Poder público. Parágrafo único. O poder Público adotará, como alternativa
preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades
especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às
instituições previstas neste artigo.
Através do censo escolar podemos observar o crescimento de 640% das
matrículas do ensino especial em escolas regulares/classes comuns de 1998 a
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2006 resultados claros do sucesso da política inclusiva no Brasil. Com objetivo de
organizar a modalidade de educação especial e aproximá-la cada vez mais dos
pressupostos e da prática pedagógica social da educação inclusiva, em 20 de
dezembro de 1999 o decreto n. 3.298 regulamenta a lei n. 7.853, dispõe sobre a
Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida
as normas de proteção e dá outras providências. (MARCELOS, 2009, s/p)
A lei n. 10.172/01 aprova o Plano Nacional de Educação que estabelece
vinte e oito objetivos e metas para a educação das pessoas com necessidades
educacionais especiais que de forma sintética tratam: ampliação da oferta de
atendimento desde a educação infantil até a qualificação profissional dos alunos
partindo do desenvolvimento de programas educacionais em todos os municípios
com parcerias nas áreas de saúde e assistência social; Atendimento preferencial na
rede regular de ensino e atendimento extraordinário em classes e escolas especiais;
Estabelecimento de ações preventivas e parcerias necessárias ao pleno
desenvolvimento do portador de necessidades educacionais especiais em escola
inclusiva; Promoção da educação continuada de professores em exercício.
Em 2006 os objetivos e metas traçados pelo Plano Nacional de Educação no
que diz respeito à ampliação dos atendimentos da educação infantil até a
qualificação profissional em escolas regulares já podem ser vistos através do censo
escolar. Embora timidamente, os portadores de necessidades educacionais
especiais, estão sendo matriculados em quase todas as etapas e se concentram em
sua maioria no ensino fundamental. A habilitação dos profissionais em exercício de
2002 a 2006 cresceu 33,3% resultado da política de incentivo na formação
continuada de professores do Plano Nacional de Educação.
Enfim após a análise histórica da legislação brasileira podemos concluir que
todas garantem o direito de qualquer aluno à educação regular e que esta política já
vem dando resultados. O nosso papel neste momento é de reflexão sincera, sem
resistência às mudanças e inovações, a fim de promover a reforma estrutural e
organizacional das instituições de ensino e assegurar efetivamente a inclusão dos
portadores de necessidades especiais. (MARCELOS, 2009, s/p)
Já para Ross (s/d, s/p) é notícia comum nos debates teóricos sobre educação
e seus determinantes sociais, econômicos, políticos e culturais a crise da educação
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especial. Com efeito, crise, vem do latim crisis, que significa quebra, transformação
em curso “fase difícil na evolu ão das coisas, dos sentimentos, dos fatos; colapso;
deficiência, penúria; ponto de transição entre uma época de prosperidade e outra de
depressão, ou vice-versa.” (FERREIRA, 1993, p. 154) A ideia de crise põe em xeque
os paradigmas que interpretam os modelos de economia, de organização política de
educação etc. Mas qual é a crise da educação especial? Suas causas teriam relação
com as transformações mais amplas que se processam em nossa sociedade? O
fenômeno da globalização estaria produzindo efeitos sobre essa modalidade de
educação? Sua situação de crise seria uma manifestação positiva de sua integração
e intersubjetividade científica, atribuindo-lhe maior importância e significação social?
O ponto de partida para tais questionamentos pode ser tomado na insatisfação ou
inconformidade que caracteriza as produções teóricas acerca desse campo.
- A crise de educação especial e as possibilidades da produção do novo: a crise da
educação especial seria o reflexo das teses que proclamam o fim da história, o fim
da política e o fim da igualdade? Se essa for uma hipótese afirmativa pode-se inferir
que a educação especial teria exercido papel de reabilitação das pessoas com
deficiência visando sua plena integração na sociedade. Já com o fim do socialismo
real e consequentemente das teses igualitaristas não haveria mais sentido manter a
organização de um serviço especializado para o atendimento às pessoas com
deficiência, tendo em vista a não realização do sonho de integração. Neste sentido,
as teses inclusivistas, ao invés de serem as respostas possíveis de nosso tempo às
crises paradigmáticas, passam a ser um acobertamento ideológico de algo que a
sociedade não conseguiu realizar: a integração social de todos. A educação
especial, uma vez não tendo atingido o suposto desenvolvimento ilimitado do ser
humano, teria de fechar suas portas.
Para Ross (s/d, s/p) a crise atual é uma crise radical, quer dizer, do sentido
fundamental de nossa cultura. Em termos abstratos significa a crise do nosso
paradigma. Em termos concretos, expressa a crise do sonho maior e da utopia que
deu sentido ao mundo moderno nos últimos séculos. Qual era este sonho? O
desenvolvimento ilimitado, a vontade de poder como dominação sobre os outros,
sobre os povos e sobre a natureza. (BOFF, 1994, p. 66)
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É comum se encontrar escritos que produzam a crítica aos modelos clínicos,
historicamente predominantes na educação especial. É certo, porém, que só se
avança em determinado campo da ciência quando se produzem desequilíbrios. Com
efeito, desequilíbrio é resultado da crítica, é a crise. (...) mas quem se sente de
algum modo responsável pela qualidade de vida de portadores de deficiência? Essa
é a crise da sociedade civil a que me refiro. Uma crise de falta de perguntas e de
falta de respostas. Uma crise de desleixo coletivo, com doses variáveis de
leviandade, resultado da „falta de forma ão‟ e do individualismo que nos norteia há
quase dois mil anos de civilização judaico-cristã. Como a deficiência há que se
tornar uma questão social se nem chega a ser uma questão humana? (WERNECK,
1997, p. 186)
O estado de barbárie atingido pela sociedade civil, segundo relato de
Werneck, pode sofrer uma nova direção através da união dos cidadãos e de suas
organizações. O que ela não explica é quais os determinantes que podem justificar
as ações dos cidadãos voltadas para o altruísmo e não mais para o individualismo
posto que estejam situados no modo de produção capitalista, fundado no princípio
da propriedade privada. Primeiramente, é preciso ter claro que os encaminhamentos
e respostas levadas a cabo para a solução da problemática da educação especial
dependem necessariamente do modo como a interpretamos. Pode-se dizer, então,
que, diferentes encaminhamentos e respostas são resultados de diferentes formas
de interpretação da educação especial e de suas novas funções no contexto mais
amplo da sociedade. Ao se optar por uma determinada ação e ao se comprometer
com uma determinada concepção dessa modalidade de educação, necessariamente
se põe em prática um tipo de concepção da própria deficiência e a função que a
pessoa dessa condição deve exercer em nossa sociedade. Ao voltar à tona a
necessidade de explicitar as funções da educação especial, questionam-se as
razões que justificaram uma forma especial de educar esses sujeitos. Acredita-se
que, ao desvelar essas razões, pode-se reconceitualizar o que é e o que não é a
educação especial hoje.
A educação teria sofrido o recorte e, nesse sentido, considerada especial em
razão da restrição característica de seus sujeitos ou alunos? Se for aceita essa
possibilidade, pode-se inferir que a educação especial tenha sido a resposta
possível às características especiais de seu público alvo. Seus defensores
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argumentariam favoravelmente à permanência de suas tradicionais funções, tendo
em vista a possibilidade de oferecer-lhes melhor qualidade, a partir da relação direta
entre as características dos alunos e a especialização dos serviços prestados. Esta
é uma interpretação considerada técnica. Suas implicações atingem tanto as
instituições que a realizam, como as valorações éticas, política e profissional que se
lhe atribui. Neste caso, as instituições educacionais especiais teriam ideologias
distintas das demais escolas. Contraditoriamente à sua condição de especial, não
lhes seria exigido cumprir objetivos pré-fixados, tampouco prestar contas quanto à
eficiência, à eficácia e à efetividade de seus serviços.
Isso equivale dizer que não lhe caberia sofrer processos de avaliação quanto
à qualidade, quer do trabalho prestado, quer do processo de aprendizagem dos
alunos. Uma vez consideradas especiais, essas instituições teriam funções
diferentes daquelas da educação geral. Outra implicação decorrente da versão
mecanicista da educação especial é sua consideração como objeto científico menor,
irrelevante e incompleto. Nessa perspectiva, são secundários, portanto menores em
importância e significação social, tanto a instituição educacional como os sujeitos
que apresentem necessidades especiais. Aos professores envolvidos nessa
modalidade de educação, ainda que percebam gratificações para o exercício de sua
atividade nesse campo, não lhes é exigido um processo de reciclagem pedagógica
permanente, nem um compromisso político firmado com a apropriação dos saberes
socialmente produzidos, e, por consequência, o exercício da cidadania dessas
pessoas.
Se se pode aceitar que toda ciência que nasce e se consolida a partir de uma
necessidade social, a educação especial, na perspectiva tecnicista, não ofereceria
razões suficientes para se empreender pesquisas e se fixar, por exemplo, como
objeto científico, o processo de ensino-aprendizagem. Se aceitar que a pedagogia
somente recebeu seus fundamentos científicos a partir do imperativo posto pela
Idade Moderna da educação “para todos”, a educa ão especial, contrariamente, não
sofreu, até poucos anos, implicações sociais, econômicas, políticas e culturais
significativas para se por a necessidade e emergência de educar todos os sujeitos
que apresentem características chamadas especiais. Enquanto a era da
industrialização impôs a necessidade da educação da maioria dos trabalhadores, e,
por consequência, justificou o investimento na realização de pesquisas
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educacionais, a educação especial surgiria com uma finalidade diametralmente
oposta à educação geral. Firmava-se a era da institucionalização das pessoas que
apresentassem algum tipo de deficiência. (ROSS, s/d, s/p)
Trata-se de questionar também, segundo Ross (s/d, s/p) que razões
justificaram a consideração de cegos, surdos, deficientes mentais e outros como
sujeitos especiais e diferentes de outros segmentos sociais que poderiam ser, porém
não foram considerados especiais, e tampouco submetidos a essa particular
cosmovisão, ou seja, a organização e institucionalização da educação especial. A
ideia de “educa ão”, apesar de sua adjetiva ão especial, teria sido elaborada com
finalidades semelhantes à educação pensada e organizada para os demais
trabalhadores, ou serviria para mascarar as implicações clínicas desse conceito? Se
o critério para afirmar a singularidade educativa desses sujeitos é o de uma
caracterização excludente a partir da deficiência que possuem, então não se está
falando de educação, mas de uma intervenção; se se acredita que a deficiência, por
si mesma, em si mesma, é o eixo que define e domina toda a vida pessoal e social
dos sujeitos, então não se estará construindo um verdadeiro processo educativo,
mas um vulgar processo clínico. (SKLIAR, 1997, p. 9, apud ROSS, s/d, s/p)
Com efeito, tomar a deficiência como critério para se levar a cabo o processo
de institucionalização, não atribui à modalidade de educação que vier a ser
organizada para essas pessoas a caracterização de especial. Qual a razão para
considerá-la especial? Por outro lado: em que sentido falar de uma instituição
escolar especial? Se for porque contém fisicamente aqueles sujeitos especiais,
então não se trata de uma escola, mas de um hospital. Se, por outro lado, se trata
de que as instituições são especiais porque pretendem desenvolver uma didática
especial para aqueles sujeitos deficientes, então pode ocorrer que, em vez de
processos interativos de educação exista uma aplicação sistemática de recursos,
exercitações e metodologias neutras e desideologizadas. (SKLIAR, 1997, p. 10,
apud ROSS, s/d, s/p)
Historicamente, conforme Ross (s/d, s/p) pode-se encontrar nas relações
entre a presença da deficiência e o processo de institucionalização nos leprosários
e, em seguida, em grandes hospitais europeus que abrigavam pessoas com
diferentes rotulações e estas justificavam sua segregação para a preservação
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daquela ordem social. A ideia de organizar um tipo de educação e dotá-la de
recursos, sistematização e metodologias poderia ter constituído avanço histórico
significativo frente às velhas concepções inatistas e deterministas sobre esses
seres, como seres inadaptados e menos válidos.
Contudo, tal finalidade nunca fora concretizada em prol do abandono real do
processo de institucionalização, o que se justifica afirmar que se isso não ocorrera,
não foram organizadas práticas pedagógicas coerentes com tais finalidades ou,
então, essas finalidades nunca foram proclamadas anteriormente. Por último, se a
caracterização de especial estiver vinculada à ideia de educação menor, incompleta
e irrelevante, confirma-se a partir do discurso aparentemente desideologizado que
se difunde na organização das políticas educacionais e na realização das práticas
pedagógicas nesse campo. A aparente neutralidade dos organizadores das políticas,
dos dirigentes e, mesmo, dos professores vinculados a este campo da educação,
transmite socialmente a mensagem de que as condições sociais de tais pessoas
estejam atendidas e que, portanto, as relações sociais por elas produzidas estejam
marcadas por condições de igualdade. Nesse sentido, a caracterização de especial
à educação atribui aos seus agentes a função de protecionismo, assistencialismo e
não a de fornecer elementos culturais essenciais rumo à emancipação desses
sujeitos. O estigma da falta de inteligência, defeito, falha, ou déficit, impõe às
pessoas com deficiência a condição de seres desacreditados socialmente, o que as
reduz a uma espécie de destino pré-determinado.
O mote, citado por Ceccim (apud Skliar, 1997, p. 47), confirma algo já
constatado denunciado pelas pessoas com deficiência que tomaram consciência de
que “qualquer atitude de uma pessoa com DM ser interpretada como originária,
essencialmente, da própria deficiência.” Assim, para al m da deficiência
objetivamente detectável, há uma produção social da subjetividade de deficiente. Na
cotidianidade, as pessoas são guiadas pelo imediato e pelas referências locais. A
presença de uma deficiência suplanta qualquer concepção que se pretenda integral
do ser humano. Toma-se, à parte, a deficiência como determinante para a formação
de uma visão de todo o ser.
É nesse sentido que as ações e as decisões dessas pessoas acabam por ser
insignificantes diante da deficiência, a qual é isolada como determinante
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fundamental para uma concepção unilateral de homem. Socialmente, a deficiência
teria mais importância que as atitudes dos indivíduos, suas ações e decisões não
produziriam transformações no real, porque são vistos como não capazes de
produzir. O critério que é tomado para afastá-lo da normalidade obedece a uma
visão histórica da realidade, desconsiderando-se inventos e instrumentos já
produzidos pela cultura humana. A cultura não é apenas um código comum nem
mesmo um repertório comum de respostas a problemas recorrentes. Ela constitui um
conjunto comum de esquemas fundamentais, previamente assimilados, e a partir
dos quais se articula, segundo uma „arte da inven ão‟ an loga da escrita musical,
uma infinidade de esquemas particulares diretamente aplicados a situações
particulares. (...) Tais esquemas de invenção também podem ter a função de
remediar a falta de invenção, no sentido comum do termo. (...) Os automatismos
verbais e os hábitos de pensamento têm por função sustentar o pensamento, mas
também podem, nos momentos de „baixa tensão‟ intelectual, dispensar de pensar.
Embora devam auxiliar a dominar o real com poucos gastos, podem também
encorajar aos que a eles recorrem para fazer economia da referência ao real.
(BOURDIEU, 1974, p. 208, apud ROSS, s/d, s/p)
Ainda de acordo com Ross (s/d, s/p) aos dirigentes, professores e outros
profissionais, ao assumirem sua função, não se põem implícita ou explicitamente o
compromisso de transformação das condições objetivas e sociais dessas pessoas.
Consta de algumas entrevistas, realizadas para este trabalho de pesquisa, algo que
já é conhecido publicamente. Muitos professores não atuam conscientemente em
prol da emancipação social de seus alunos que apresentem necessidades
educacionais especiais. Fazê-lo, equivale a pôr em risco sua própria função. Este é
mais um dado que reforça a ideia clínica da educação, tendo em vista que só se
poderia aceitar uma relação direta entre agente e paciente, na perspectiva do
trabalho médico. O significado da educação especial está diretamente relacionado à
concepção clínica da pessoa, na qual, a deficiência exerce o papel de determinante
na relação entre o profissional e o sujeito. Porém, no momento em que a perspectiva
clínica invade o campo educacional, perdem-se as especificidades de um e de outro.
A manutenção da relação de dependência é o resultado possível quando os
objetivos educacionais e compromissos políticos firmados com a transformação
social desses sujeitos não estão produzindo práticas pedagógicas emancipadoras.
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Por modelo clínico-terapêutico considero toda a opinião e toda prática que
anteponha valor e determinações acerca do tipo e nível da deficiência acima da ideia
da construção do sujeito como pessoa integral, apesar de e com sua deficiência
específica. A obstinação do modelo clínico dentro da educação especial nos revela
um clássico problema, ainda não explicado, dentro desse contexto: a necessidade
de definir com clareza se esta perspectiva educativa é aliada da prática e do
discurso da medicina ou se é aliada da pedagogia ou, como muitos outros supõem,
se deve existir uma combinação, uma somatória das prováveis estratégias, tanto
terapêuticas, como pedagógicas. (SKLIAR, 1997, p. 10)
A predominância da abordagem clínica sobre a abordagem educacional
cumpre a exigência social de isolar as pessoas portadoras de uma condição
biológica, física e sensorial distinta para evitar a perturbação da ordem. Já a
denominação e a prática de educação especial, neste determinado momento
histórico, confirma a função de não educar na perspectiva de conduzir as pessoas
ao processo de emancipação social. Nesse sentido, a educação social cumpre a
função ideológica de formar socialmente uma representação da reparação das
fraquezas e limitações sociais e humanas.
O “mal da humanidade” estaria sendo sanado com a instala ão de programas
ditos de educação especial, levados a cabo na perspectiva clínico terapêutica. A
concepção do sujeito, a imagem de Homem, a construção social da pessoa, etc.,
desenvolve-se em linhas opostas ao contrastar a versão incompleta de sujeito que
oferece o modelo clínico-terapêutico e a versão de diversidade que oferece - ou,
melhor, que deveria oferecer - o modelo sócio-antropológico da educação. Disso
resultam, por outro lado, consequências futuras bem diferentes: uma questão seria a
do completamento do sujeito e outra, contrária, seria a questão do aprofundamento
dos aspectos comuns próprios da diversidade cultural. (SKLIAR, 1997, p. 11, apud
ROSS, s/d, s/p)
Na verdade, a abordagem clínica da educação especial se presta à função
social de manter os supostamente inferiorizados, incapacitados, à margem da
produção e usufruto dos bens e serviços sociais. Fica claro que a pretensão de
definir os sujeitos com alguma deficiência como pessoas incompletas faz parte de
uma concepção etnocêntrica do homem e da humanidade. O etnocentrismo – junto
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a um de seus derivados mais perigosos na educação especial: o paternalismo – é
um reflexo da intolerância e do racismo gerado por um modelo econômico-político
concêntrico, que utiliza os meios de comunicação de massa – ou o contrário – para
exercer sua teoria e sua práxis de globalização. Então, a homogeneidade humana é
a notícia e a diversidade, incluída a população especial, aparece sob forma de um
assassinato, sob o rosto de uma pobreza que se sugere voluntária, da violação, etc.,
fatos que se consomem pelo resto da população com uma certa curiosidade e
voracidade antropofágica. (SKLIAR, 1997, p. 11, apud ROSS, s/d, s/p)
O indivíduo só existe, de acordo com Ross (s/d, s/p) na perspectiva da
comunicação de massa, na medida em que possa representar potencial de consumo
dos produtos padronizados. A diversidade antropológica é objeto da curiosidade, e
suas manifestações culturais são vistas como pitorescas, servindo para combater a
tragédia do imaginário. É nesse sentido que o discurso da medicina se torna um
aliado incomparável da concepção clínica dentro da educação especial: os esforços
pedagógicos devem submeter-se previamente a uma potencial e quimérica cura da
deficiência. O questionamento implícito desta concepção seria o seguinte: se se tira
ou se reduz o tamanho da deficiência, se tiram ou se reduzem as consequências
sociais. O Homem seria Homem se não fosse surdo, se não fosse cego, se não
fosse retardado mental, se não fosse negro, se não fosse homossexual, se não
fosse fanático religioso, se não fosse indígena, etc. Nada mais absurdo. (SKLIAR,
1997, p. 11)
Nesta perspectiva, a cegueira, a surdez, a deficiência mental, seriam
limitadores e impeditivos à conquista da condição humana. Essas condições não
permitiriam a conquista da condição do ser universal, livre e consciente, própria do
humano genérico. O cego, o surdo, o deficiente mental, não passariam além da
condição de animal. Segundo Gagnebin: assim, Platão, que nos assegura nas Leis
(808 d/e) que como as ovelhas não podem ficar sem pastor, senão se perdem,
assim também que a vigie e controle em todos os seus movimentos, pois a „crian a
é de todos os animais o mais intrat vel („ho de pais pantôn theriôn esti
dusmetacheiristotaton‟ ), na medida de seu pensamento, ao mesmo tempo cheio de
potencialidade e sem nenhuma orientação reta ainda, o torna ardiloso, o mais hábil e
o mais atrevido de todos os bichos‟ („epiboulon kai drinu kai hybristotaton theriôn
gignetai‟ ). (GHIRALDELLI, 1997, p. 85, apud ROSS, s/d, s/p)
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A pessoa com deficiência afastada da “normalidade da razão”, própria da
idade adulta, e, ao mesmo tempo, considerada uma ameaça a uma pretensa ordem
e harmonia sociais. “Essa crian a amea adora na sua for a animal bruta, essa
criança deve ser domesticada e amestrada segundo normas e regras educacionais
fundadas na ordem da razão (logos) e do bem tanto ético quanto político, em vista
da constru ão da cidade justa.” (GHIRALDELLI, 1997, p. 86, apud ROSS, s/d, s/p)
A pessoa com deficiência teria toda sua produção, toda sua vida relacionada
à condição física imediata. O animal produz unilateralmente, enquanto o homem
produz universalmente; produz unicamente devido à necessidade física imediata,
enquanto o homem produz inclusive livre da necessidade física e só produz
realmente liberto dela; o animal produz só a si mesmo, enquanto o homem reproduz
a natureza inteira; o produto do animal pertence imediatamente a seu corpo físico,
enquanto o homem se enfrenta livremente com seu produto. O animal cria
unicamente segundo a necessidade e à medida da espécie a que pertence,
enquanto o homem sabe produzir segundo a medida de qualquer espécie e sabe
sempre impor ao objeto à medida que lhe é inerente; por isso o homem cria também
segundo as leis da beleza. (ENGUITA, 1993, p. 104, apud ROSS, s/d, s/p)
Na perspectiva local, conforme Ross (s/d, s/p) alienada e imediata, a pessoa
não produziria livre e universalmente; a pessoa com deficiência, ao invés de impor-
se ao objeto, estaria submissa a ele, presa e limitada. Não há nenhuma relação
entre a deficiência e seus supostos derivados sociais diretos, pois estes não são
uma consequência direta daquela, mas sim das formas e dos mecanismos em que
estão organizadas e de que dispõem as sociedades para não exercer restrições no
acesso a papéis sociais e à cultura das pessoas, de todas as pessoas. De fato, duas
pessoas com idênticas deficiências, e que vivem em sociedades diferentes,
possuem, obviamente, trajetórias de desenvolvimento diferentes. O papel que
desempenha uma deficiência no começo da vida de um sujeito não é de ser o centro
inevitável de seu desenvolvimento, mas, pelo contrário, a força motriz de seu
desenvolvimento. (SKLIAR, 1997, p. 12)
A deficiência exerce uma dupla função sobre o processo de desenvolvimento.
A função limitadora conjuga-se com a função fortalecedora do indivíduo. Segundo
Vygotsky (1989), aceitar a deficiência e tomar consciência de um certo sentimento
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de inferioridade atribui ao indivíduo um instrumento de força superior ao próprio
sentimento. Segundo Adler, citado pelo autor: o sentimento de uma perturbação
constitui o estímulo constante para o seu desenvolvimento do psiquismo. Sentimento
de um órgão defeituoso constitui o estímulo constante para desenvolvimento
psíquico do indivíduo. O defeito determina a orientação das formas psíquicas e, bem
como as vias para o sucesso do processo de crescimento e de formação da
personalidade. (VYGOTSKY, 1989, p. 6, apud ROSS, s/d, s/p)
E o próprio Vygotsky (1986, p. 6) acrescenta: a posição social
conscientemente avaliada constitui-se a força do desenvolvimento psíquico. Os
mecanismos funcionais como a memória, a intuição, a atenção, a sensibilidade e o
interesse frente às adversidades enfrentadas conduzem à constituição de uma
super-resistência e à transformação de inferioridade em superioridade, a
incapacidade em competência e talento. Este é o princípio antropológico segundo o
qual as resistências naturais se convertem dialeticamente em transformações
recíprocas, gerando, ao mesmo tempo técnicas em instrumentos objetivos, de um
lado, e saberes, capacidades e competências subjetivas, de outro. Essa perspectiva
dialética, - negação da negação, instaurada individual e socialmente - é possível a
partir das leis da contradição, movimento e da relação.
Já, do ponto de vista biológico, tal questão é esclarecida na seguinte
afirmação de Skliar: o cérebro dos primeiros anos de vida é de tal flexibilidade e
plasticidade que só uma profunda e errada abordagem clínica negaria todo o
potencial de compensação que se reúne na direção contrária ao déficit. Em outras
palavras, a criança não vive a partir de sua deficiência, mas a partir daquilo que para
ela resulta ser equivalente funcional. Tudo isto seria certo se, desde já, o modelo
clínico-terapêutico não se obstinasse tanto em lutar contra a deficiência, o que
implica em geral originar consequências sociais ainda maiores. Reeducação ou
Compensação, essa é a questão. Obstinar-se contra o déficit, esse é o erro.
(SKLIAR, 1997, p. 12)
Neste caso, a deficiência é, ao mesmo tempo, um desvio da norma social e
algo a ser naturalizado. Nesse sentido, o limite é natural; a existência de barreiras
arquitetônicas e pedagógicas é natural; o isolamento e a não oportunidade de
acesso à produção cultural são naturais. É evidente que o ser humano só se
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constitui progressivamente, no curso de um longo devenir que se inicia com o
nascimento para só acabar na maturidade. Suponha-se, porém, que esse devenir
nada mais faça que atualizar virtualidades, retirar reluzentes energias latentes que já
existiam (...). O educador não teria, portanto, nada de essencial a acrescentar à obra
da natureza. Não criaria nada novo. Seu papel limitar-se-ia a impedir que essas
virtualidades existentes se atrofiassem devido à inação, ou se desviassem de seus
cursos normais, ou se desenvolvessem com muita lentidão. (GHIRALDELLI, 1997, p.
75, apud ROSS, s/d, s/p) A organização de práticas e a teorização dessas práticas,
caracterizada pelas baixas expectativas dos professores em relação aos alunos que
apresentem necessidades especiais, também são consideradas naturais.
Para muitos, o fracasso educativo massivo se traduz na verdadeira obrigação
de pensar que são as próprias limitações dos sujeitos educativos o que origina esse
fracasso. Entretanto, existe uma interpretação alternativa contra esse fácil silogismo.
Se a escola especial parte do pressuposto de que os sujeitos estão naturalmente
limitados, toda a orientação educativa está obrigada a orientar-se naturalmente em
direção a essa ideia e os resultados, finalmente, concorrem com essa percepção.
Através dessa particular perspectiva, o círculo das baixas expectativas se fecha com
uma notável facilidade: os magros resultados são um produto direto da
inconsistência dos próprios alunos e não da natureza do projeto educativo. Não há
que se ruborizar se se afirma que, na realidade, o fracasso é resultado de uma
pressão metafísica que se exerce sobre os sujeitos especiais: eles estão presos por
uma falsa concepção ideológico-pedagógica, estão condicionados a respirar através
de falsas representações sociais, regulados por meios de normas e hábitos
medievais, não podem comunicar-se, pois têm que aprender como superar a
deficiência e ser iguais aos demais - onde estão e quais são os demais? - em vez de
jogar, repetem, em vez de mover-se, exercitam-se.
Para Ross (s/d, s/p) há uma certa hipocrisia quando se atribui toda a
responsabilidade do fracasso da educação especial, justamente, aos alunos
especiais. O fracasso é o resultado de um complexo mecanismo que reúne fatores
sociais, políticos, linguísticos, históricos e culturais, e que provém daqueles
profissionais que, dando-se conta ou não, voluntariamente ou não, representam e
reproduzem a ideia de um mundo homogêneo, compacto, sem variações, sem
fissura. (SKLIAR, 1997, p. 12-13)
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Na verdade, os fracassos não são tomados como tais. São tidos como
naturais. São os resultados da inconsciência dos alunos. O processo pedagógico em
curso é apenas um ritual para confirmar a cotidianidade imutável dessas pessoas. A
concepção de educação que toma o desenvolvimento humano como sucessão de
etapas progressivas de um possível curso natural da vida e das coisas, reforça a
manutenção da condição a priori limitada e limitadora dos sujeitos com
necessidades especiais. Nesta perspectiva, espera-se que as capacidades de cada
um se potencializem naturalmente. A proclamada desigualdade natural entre estes
sujeitos seria justificada pelas diferenças intrínsecas e não pelas diferenças e
mediações culturais e sociais existentes nas relações entre os sujeitos.
Esses sujeitos estão condicionados a pensar e agir segundo representações
daqueles que, em não apresentando uma deficiência aparente, se defendem contra
os que a apresentem para não revelar suas próprias deficiências, aquelas não
aparentes. Da pretensão à normalidade surge o individualismo. Cada uma por si.
Deus por todos. Esta é a frase-tema do individualismo. Torna-se convincente e
simpática quando justifica o argumento de que, se uma família tem filhos perfeitos,
seu compromisso social e humano se resume a cuidar bem deles. Evitar que se
tornem um peso para a comunidade. Prepará-los para produzir. E para gerar novos
descendentes, igualmente saudáveis, que férteis se reproduzirão, perpetuando
como educadores a mesma linha individualista na condução da prole. Por esse
caminho chegaremos à sociedade inclusiva? Não. Cuidar apenas da educação dos
nossos próprios descendentes não deve mais nos satisfazer. Os problemas de uns
têm de ser os problemas de todos. Social e politicamente, o reflexo mais óbvio da
cultura do individualismo é a exclusão das minorias. Minorias no sentido dos
desfavorecidos pela legislação de seu país ou pelas posturas e decisões de sua
comunidade. Cada um de nós é perito na arte de disfarçar nosso desejo de excluir.
Ou de achar que as soluções para a não violação de direitos virão como mágica.
(WERNECK, 1997, p. 162-164, apud ROSS, s/d, s/p)
Ao tomar o processo de exclusão como algo que se tornou habitual por estar
incorporado à cultura individualista, atribui aos sujeitos humanos uma condição
mecânica e linear, segundo a qual, a naturalização do modo de pensar e agir próprio
do senso comum determina, em última análise, a exclusão das pessoas com
deficiência. Ao situar no indivíduo tanto a responsabilidade pela exclusão social
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como o dever de superá-la por conta da adoção de comportamentos de
solidariedade e cooperação, processa-se o desvinculamento entre o problema da
exclusão social, sua superação e o modo como se organiza estrutural e
politicamente a sociedade. Analogamente, pode-se afirmar que a simples
convivência entre brancos e negros, por exemplo, possa determinar a crise na
sociedade individualista e, por consequência, a crise dos preconceitos, ou seja, sua
superação.
Há apenas governos mais ou menos preocupados em seguir a linha do
politicamente correto. Com a crescente autonomia dos jovens adultos com Síndrome
de Down no Brasil e no mundo a cultura do individualismo está em crise. Mesmo
poucos, estão em número suficiente para desestabilizar a rotina de relações
pessoais e sociais entre nós e eles, entre eles e seus governos, rotina inspirada na
cultura da tolerância. Tolerar é permitir, com ressalvas. Quem permite não pode ser
incomodado com grandes reformulações de pensamentos e de atitudes. Inclusão e
individualismo são posturas incompatíveis. Para combater o individualismo a
humanidade deve perceber que a deficiência é uma questão humana. Tão humana
quanto o sentimento de individualismo que nos faz esquecer-se disso. (WERNECK,
1997, p. 165).
Valendo-se de uma visão individualista de sociedade, Werneck se sensibiliza
com o esforço percebido por ela nas pessoas com deficiência para garantirem sua
existência, apontando a necessidade de que os “normais” ou os “dominantes”
também se esforcem para estabelecer elos de comunicação e intercâmbio com os
“dominados”. Ela assume a perspectiva de que as rela es de poder se reproduzem
nas diferentes relações sociais em cuja corrente encontram-se as pessoas com
deficiência na condição de dominados. Os “dominantes” passam a ser referência
para os “dominados”. Werneck é contundente ao afirmar a necessidade dessas
pessoas estabelecerem canais sólidos de comunicação, liberdade de pensamento e
expressão, serem ouvidas e partícipes da direção dos processos sociais. Tal
consideração, a seguir, tem particular importância em razão de se tratar de um
profissional sem os clássicos vínculos de atendimento às pessoas com deficiência,
que consegue perceber, contudo, as diferentes formas de opressão e de morte de
suas individualidades. Começa, assim, o resgate antropológico desses sujeitos, sem
que isto venha a se chamar sociedade inclusiva. Merece destaque a riqueza e a
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sensibilidade de seu pensamento: “(...) para mim, está relacionado a algo além do
que apenas abrirmos e oficializarmos espaços para que pessoas com
comprometimento intelectual se expressem”. “O grande salto é aprender a ouvi-las.
Quanto mais legítimo for esse processo, mais iremos descaracterizá-las como seres
passivos (...)”. (WERNECK, 1997, p. 168-169, apud ROSS, s/d, s/p)
As pessoas que apresentem tais necessidades especiais não podem pensar o
que pensam, nem expressar os saberes extraídos de suas experiências, mas pensar
e expressar apenas o conteúdo daqueles que os conduzem. Como não são
conduzidos rumo ao desvelar do real e à apropriação dos princípios e fundamentos
das ciências, da comunicação e da natureza, esses indivíduos devem permanecer
na “mesmice”, o território local de suas individualidades físicas, semelhante à
condição dos animais. A diferença colocada por Marx entre o animal que se
reproduz a si mesmo e o homem que reproduz a natureza inteira só pode ser
compreendida atentando-se para o aspecto consciente que distingue a produção
humana da do animal; efetivamente, o homem, no seu trabalho produtivo, propõe-se
a conservar ou modificar a natureza, coisa que não se pode dizer do animal. É neste
sentido que se pode afirmar que o produto do animal se incorpora imediatamente a
este, enquanto o homem se enfrenta com seu produto como algo distinto,
objetivado, ou que o animal produz unilateralmente – segundo sua própria medida –
e o homem universalmente – sem limites, ou sem outros limites que os da própria
natureza em si. (ENGUITA, 1993, p. 104, apud ROSS, s/d, s/p)
Gagnebin de acordo com Ross (s/d, s/p) encontra na república de Platão,
depois da famosa “Alegoria da Caverna”, a afirma ão enfática da capacidade de
aprender humana, faculdade inata e universal em todos, mesmo que não sempre na
mesma proporção. Esse idealismo responde à pré-concepção das características
intrínsecas das pessoas como pré-requisito para sua educação. As rotulações e
classificações das pessoas seriam consequência natural das diferenças. Assim diz
Platão: A educação (Paidéia) é, portanto, a arte que se propõe este fim, a conversão
(periagoge) da alma, e que procura os meios mais fáceis e mais eficazes de operá-
la; ela não consiste em dar a vista ao órgão da alma, pois que este já a possui; mas
como ele está mal disposto e não olha para onde deveria, a educação se esforça por
levá-lo à boa direção.(GHIRALDELLI, 1997, p. 86, apud ROSS, s/d, s/p)
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Segundo Ross (s/d, s/p) uma das razões para a perpetuação da concepção
clínica na educação especial é a ausência da reflexão de caráter educativo sobre os
princípios e finalidades que regem este campo científico. Trata-se do exercício da
autorreflexão, na qual são analisados e questionados os procedimentos e conteúdos
do tipo do trabalho historicamente levado a termo junto às pessoas com
necessidades especiais. A análise e o questionamento quanto à natureza técnica e
política das escolhas realizadas, as estruturas arquitetônicas e pedagógicas e de
serviços organizados, o grau de participação dos pais, comunidade e pessoas com
necessidades especiais nos processos decisórios, quer no planejamento, quer no
acontecimento desse tipo de educação, necessitam constar das pesquisas e dos
debates de todo o sistema educacional, em todos os seus níveis. Discutir suas
especificidades e os pressupostos que governam a educação das pessoas que
apresentem necessidades educativas especiais é uma urgência, um dever e um
direito do Estado, família e sociedade, no mesmo grau de interesse, respeitabilidade
e valoração ética que o problema da educação das crianças de rua, dos filhos dos
sem terra, dos próprios sem terra e da educação de outras minorias.
Se, de um lado, esses segmentos sociais possuem especificidades
metodológicas, de outro, possuem um traço comum. São minorias que sofrem o
processo de exclusão social que se expressa nas oportunidades educacionais, nas
relações de trabalho e no acesso aos bens e serviços culturais. A fronteira entre
educação e educação especial constitui desse ponto de vista, uma primeira
discriminação: a de impedir que a pedagogia especial discuta afazeres educativos; a
de ter que, como consequência, refugiar-se e envergonhar-se como se se tratasse
de um tema sem importância. O fato de que a educação especial está virtualmente
excluída do debate educativo é a primeira e mais importante discriminação sobre a
qual, depois, se projetam sutilmente todas as demais discriminações - por exemplo,
as civis, legais, laborais, culturais, etc. Entretanto, não estou falando simplesmente
do direito à educação que também assiste aos surdos; não é que as crianças
especiais têm que ir, como todos os demais, à escola, à instituição escolar entendida
como um ente físico, material. Estou afirmando que esse direito deve ser analisado,
avaliado e planificado conjuntamente a partir do conceito de uma educação plena,
significativa, justa, participativa; sem as restrições impostas pela beneficência e a
caridade; sem a obsessão curativa da medicina; evitando toda generalização que
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pretenda discutir educação só a partir e para as míticas crianças normais. (SKLIAR,
1997, p. 14, apud ROSS, s/d, s/p)
Impor a educação especial à ditadura do modelo médico-clínico significa a lei
do silêncio, da subserviência e a anulação de seu caráter político, científico e
profissional. Trata-se do exercício de uma função que discrimina e segrega tanto
seus agentes como seus alunos. Contra a lei do silêncio e da subserviência, não se
pode erguer nenhuma voz, não se pode reivindicar nenhum direito; contra a
ausência do caráter profissional da educação, não se pode requerer a apropriação
dos saberes acumulados, tampouco organizar as situações educativas para criá-los
ou produzi-los; diante da aparente neutralidade política, as desigualdades não
podem ser questionadas, pois são todas elas mascaradas, negadas e proclamadas
na forma da igualdade entre todos. O cidadão-pela-metade será um profissional
despreparado. Violará pequenos e grandes direitos das pessoas com deficiência e
talvez morra sem perceber isso. (...) Quando o adulto nega a seus filhos o direito de
receberem informações sobre o que ele considera serem anormalidades, pratica
uma das formas mais sutis de discriminação.
Ao optar por só falar do bom, do bonito e do belo, o adulto vira um deturpador
da realidade. Passa a sonegar dados sobre um mundo real (nele estão incluídas as
doenças e as deficiências) que as crianças percebem como sendo parte do mundo
delas, mas que nós insistimos em ignorar ou esconder. Aprender sobre artrite,
diabetes, hemofilia, paralisia cerebral, lábio leporino, gagueira, dislexia, ostomia,
dislalia, doença renal, epilepsia, paraplegia, cegueira, surdez, alergias alimentares,
câncer, prevenção de deficiência é útil para a formação de um cidadão? Defendo
que sim. Essas informações fazem parte da construção da cidadania. (...) As
crianças de hoje são muito espertas. Nós ainda não somos. Por isso, quando a
garotada nos interroga sobre temas relacionados à deficiência raramente
associamos tal interesse à inteligência e à precocidade intelectual. Eu sei, nada é
tão simples. Mas é também por não termos sido educados para entender a
diversidade como situação natural da vida que hoje lutamos em seguir regras que
deem ao indivíduo com deficiência, direitos assegurados na Constituição Brasileira.
Por isso acredito na força de um lar transformador. Nele, quando questionados
sobre temas que lhe incomodam, os adultos abrem seus dicionários e... seus
corações. (WERNECK, 1997, p. 140-141, apud ROSS, s/d, s/p)
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Discutir coletivamente o direito à educação e à participação é mais do que
incluir as pessoas, em suas diversidades, no mesmo ambiente escolar. Discutir o
direito à educação plena é questionar modelos protecionistas, a natureza e as
implicações da beneficência, do autoritarismo, das relações arcaicas do poder e das
formas de exclusão. Incluir a pesquisa e o debate sobre o direito à educação plena
dessas pessoas ditas especiais, sob condição de que estes participem ativamente,
trata-se de pôr em marcha a estratégia social mais transformadora e agregadora de
direitos. Na medida em que o homem submete sua ação produtiva a um projeto
consciente, deixa de ter uma existência limitada ao fenomênico e se manifesta como
ser livre. “O homem é um ser genérico não só porque na teoria e na prática toma
como seu objeto o gênero, tanto o seu próprio como o das demais coisas, mas
também, e isto não é mais que outra expressão para a mesma coisa, porque se
relaciona consigo mesmo como gênero atual, vivente, porque se relaciona consigo
mesmo como um ser universal e por isso livre.” (ENGUITA, 1992, p. 105, apud
ROSS, s/d, s/p)
Tal como o homem se produz como um ser livre, o faz como um ser político.
Ser cidadão significa compartilhar dos bens sociais, o que supõe participação (...) na
esfera da existência política. O tecido social é atravessado pelas relações de poder,
ou seja, os homens não se relacionam automaticamente entre si por relações de
igualdade; ao contrário, perpassam, entre eles, relações de poder que se
transmutam muito facilmente em relações de dominação, de opressão, de
exploração. (SEVERINO et al, 1992, p. 11, apud ROSS, s/d, s/p)
Ao se afastar da educação geral e ao eliminar a perspectiva autorreflexiva, a
educação especial tende a fixar-se sobre os problemas imediatos que são,
obviamente, aqueles relacionados à condição biológico-físico-sensorial de seus
alunos. A ênfase no trabalho coletivo é centrada em atividades que se prestam à
manutenção das pessoas em sua localidade imediata. O problema que lhes é
imediato e aparente é uma suposta incompletude dos alunos, porque justifica a
existência de um trabalho para corrigir a aparente não integração dos sujeitos. A
necessidade de adotar uma concepção corretiva desse modelo de educação obriga
os profissionais a se dedicarem na busca tão somente de recursos, metodologias e
técnicas as quais deverão ser aplicadas, desvinculadas de um compromisso político,
quer dos profissionais, quer dos sujeitos que apresentem as necessidades
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educacionais especiais. A neutralidade deve ser o princípio orientador do trabalho.
Reflexão para quê? Refletir, debater, rever objetivos, princípios e finalidades
poderiam pôr em xeque as velhas formas de organização do trabalho educacional,
quer o especial, quer o geral.
Uma demonstração da falta de crítica e reflexão no trabalho pedagógico é o
modo como se encaminha a questão da linguagem na educação de surdos e a
educação dos cegos. Questões de tamanha relevância se restringem, na maioria
das vezes, às discussões exclusivas entre ouvintes e videntes, sendo excluídos os
principais interessados. Esse processo de exclusão de surdos e cegos sobre
questões educativas que lhes dizem respeito é uma demonstração tanto do atraso
científico neste campo quanto do autoritarismo e poderio débil que caracteriza
relações sociais estruturadas sob formas arcaicas, resultados de relações
pedagógicas que excluem os verdadeiros sujeitos do processo educativo, como
surdos, cegos e outros, aparecem na forma do fracasso escolar, da evasão e da não
conquista da cidadania por esses sujeitos.
Essa é uma patética amostra da incapacidade dos ouvintes e videntes de
ouvir e aprender com as experiências acumuladas por séculos e séculos de surdez,
cegueira e de outras deficiências ou necessidades especiais. Estas são experiências
individuais e coletivas, locais e universais que não podem jamais ser subestimadas
ou substituídas tão somente pela visão técnica. Aquilo que aparece como
neutralidade do currículo na educação especial é, na verdade, uma organização
intencional para manter os sujeitos marginalizados da informação e destituídos de
identidade cultural e social. É preciso que se assuma uma neutralidade científica e
cultural para que os sujeitos que apresentem necessidades especiais dimensionem
suas reais necessidades que são políticas, de conhecimento, de trabalho e de
cidadania. Portanto, são necessidades que vão além daquelas vinculadas ao seu
equipamento biológico-físico-sensorial. (ROSS, s/d, s/p)
Para Ross (s/d, s/p) a consideração ampliada de tais necessidades vem
sendo interpretada como necessidade de integração física de tais pessoas no
sistema geral de educação. Contudo, é certo que as políticas inclusivas de tais
pessoas resultam de constatações de sérios problemas na educação especial. Seus
resultados têm sido limitados, assim como são poucas as pessoas que se
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emancipam das práticas assistencialistas e caritativas alcançando condição de
cidadania real e plena. A integração física dessas crianças em escolas comuns seria
um avanço, mas, ao mesmo tempo, a perda de especificidades metodológicas já
construídas historicamente. A desconsideração de um conjunto de experiências
profissionais já acumuladas, ainda que marcadas pelo viés tecnicista e clínico da
educação especial, pode trazer aos novos profissionais responsáveis pela educação
dessas crianças funções para as quais podem alegar não terem sido preparados. A
justificativa centrada no processo de formação profissional pode ser o ponto de
apoio para a adoção de novas práticas consideradas neutras, acríticas e marcadas
por novas formas de assistencialismo. O descompromisso político poderá ser
encoberto com aumentos e fatos convincentes no plano do discurso ideológico, ou
seja, as crianças estão, agora, incluídas no mesmo ambiente escolar de todos.
Vygotsky (1989, p. 8) afirma que os estigmas resultantes do processo de
institucionalização da pessoa com deficiência provoca o enfraquecimento de sua
posição social sendo esse um estímulo para se forjar um ser único, ou seja,
integrado social e culturalmente. É, pois, no processo da vida social coletiva que se
edifica, que se desenvolvem todas as formas superiores de atividade intelectual
características do homem. O processo histórico instrumental de educação e
mediação entre as gerações e as culturas obedece ao princípio histórico de
transformação, contrário às leis do desenvolvimento biológico e à hereditariedade,
que obedecem ao inatismo. Este é o princípio antropológico segundo o qual as
resistências naturais se convertem dialeticamente em transformações recíprocas
gerando, ao mesmo tempo, técnicas em instrumentos objetivos, de um lado, os
saberes, capacidades e competências subjetivas, de outro. Qual é a condição para
chegar aos objetivos? A existência de obstáculos.
As pessoas com deficiência necessitam se liberar dos quadros restritivos que
supostamente a natureza lhes fixou. Neste sentido, é essencial que a educação seja
organizada com vistas à formação das pessoas plenamente valorizadas do ponto de
vista social. O ponto de partida é livrá-las da condenação à inferioridade. Em última
análise, o grau das expectativas e exigências sobre a pessoa com deficiência
determina a qualidade de sua educação e o estágio de seu desenvolvimento. Os
imperativos sociais materializam a transformação da condição de desvantagem,
desigualdade ou inferioridade em impulso e força. (ROSS, s/d, s/p)
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AVALIAÇÃO
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1)
Para Soares, Paulino (2009, s/p) como introdução será abordado o advento
da República que se acrescentava a Constituição de 1891 a Lei de 24 de fevereiro
de 1891, a qual atribuía ao Governo Federal a tarefa de:
A ( ) oferecer o ensino superior e secundário, e ao município o ensino primário.
B ( ) ofertar serviços da educação especial configurada entre o poder público e a
sociedade.
C ( ) assumir totalmente a escolarização das pessoas com deficiência.
D ( ) n.r.a
2)
Complete as sentenças abaixo e assinale a alternativa correta:
No período do advento da ____________, a educação básica e a Educação
________________ não foram totalmente assumidas pelo _________________,
assim se encontrava diferentes situações no território nacional, como nos estados de
São Paulo e Rio de Janeiro.
A ( ) República, Infantil, Estado
B ( ) Monarquia, Especial, Governo
C ( ) República, Especial, Município
D ( )n.r.a
3)
I-
Leia atentamente as afirmativas abaixo e assinale a opção correta:
Na década de 1920, o Estado não se destacou na área educacional, pois as
instituições não governamentais, sobretudo as religiosas, passaram a se
responsabilizar pela educação no Brasil.
II-
O governo brasileiro, após a década de 1920, iniciou as reformas de ensino
em diversos Estados.
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III- O ensino secundário não era obrigatório para a admissão aos cursos
superiores, assim este era tido como um curso preparatório, com exceção, em
alguns colégios do Rio de Janeiro que exigiam esse pré-requisito.
A ( ) Estão corretas as afirmativas I e II
B ( ) Estão corretas as afirmativas II e III
C ( ) Todas as afirmativas estão erradas
D ( ) Todas as afirmativas estão corretas
4)
O fato do Estado não assumir totalmente a escolarização das pessoas com
deficiência, abriu espaço para que as instituições assistenciais assumissem esse
ramo da educação. Com base nisso, marque a alternativa que não corresponde a
uma instituição assistencial:
A ( ) Sociedade Pestalozzi
B ( ) Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE)
C ( ) Sociedade Montessori
D ( ) Unidades de reabilitação
5) Em 1994, em Salamanca, na Espanha, foi realizado a Conferência Mundial sobre
Necessidades Educativas Especiais, que foi decisiva contribuindo para impulsionar a
Educação Inclusiva em todo o mundo. A Declaração de Salamanca dizia que:
A ( ) as escolas deveriam acolher a todas as crianças, independentemente de suas
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas e outras.
B ( ) deveria ser elaborado um currículo com as possíveis adaptações cabíveis as
necessidades individuais dos alunos, assim como a metodologia a ser aplicada em
sala de aula.
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C ( ) qualificar a educação para trabalhar com alunos deficientes e incluí-los nas
escolas regulares requer trabalho em equipe, política de suporte para formar
profissionais capacitados, planejamento pedagógico e prática educacional flexível.
D ( ) n.r.a
6)
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), lei 9.394/96 (Brasil,
1996), o artigo 58 esclarece que a Educação Especial, é a modalidade de educação
escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
portadores de necessidades especiais. Segue em destaque os parágrafos desta lei,
EXCETO:
A ( ) a oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na
faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. (BRASIL, 1996)
B ( ) haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular,
para atender às peculiaridades da clientela de educação especial
C ( ) Os sistemas de educação devem ser planejados e os programas educativos
implementados tendo em vista a diversidade destas características e necessidades
D ( ) O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não
for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular
7)
De acordo com a Revista da Educação Especial (2005), para concretizar
estes objetivos, apresentados pela Comissão Internacional, deve-se direcionar e
centrar-se nos quatro pilares básicos da educação. Com base nisso, estabeleça a
relação entre as duas colunas, e marque a alternativa correta:
1- 1- Aprender a Conhecer
2-Aprender a Fazer:
A( )consiste em adquirir os instrumentos
que se requer para a compreensão do que nos cerca.
B( )implica dotar cada pessoa de meios e pontos de referência intelectuais permanentes, que lhe permita compreender o mundo que a cerca e a comportar-se
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como um elemento responsável e
justo.
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3-Aprender a Viver Juntos
4- Aprender a Ser
A ( ) 1-A, 2-B, 3-D, 4-A
B ( ) 1-A, 2-C, 3-D, 4-B
C ( )1-D, 2-C, 3-A, 4-B
D ( ) 1-C, 2-A, 3-B, 4-D
C( )está diretamente ligado a aprender a conhecer e se refere à possibilidade de interagir sobre o próprio meio.
D( )trata-se de uns dos principais objetivos
da educação contemporânea, pois supõe participação e cooperação com os demais em todas as atividades.
8)
As Necessidades educacionais podem ser identificadas em diversas
situações representativas de dificuldades de aprendizagem, como decorrência de
condições individuais, econômicas ou socioculturais dos alunos. Assinale a
alternativa que não corresponde a esses fatores:
A ( ) Crianças trabalhadoras ou que vivem nas ruas
B ( ) Crianças de populações distantes ou nômades
C ( ) Crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais
D ( ) Crianças sem deficiência e super dotadas
9)
Para Ross (s/d, s/p) há uma certa hipocrisia quando se atribui toda a
responsabilidade do fracasso da educação especial, justamente, aos alunos
especiais. O fracasso segundo esse autor é resultado de:
A ( ) um complexo mecanismo que reúne fatores sociais, políticos, linguísticos,
históricos e culturais, e que provém daqueles profissionais que, dando-se conta ou
não, voluntariamente ou não, representam e reproduzem a ideia de um mundo
homogêneo, compacto, sem variações, sem fissura.
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B ( ) uma posição social conscientemente avaliada que constitui-se na força do
desenvolvimento psíquico.
C ( ) estigma da falta de inteligência, defeito, falha, ou déficit, impõe às pessoas
com deficiência a condição de seres desacreditados socialmente, o que as reduz a
uma espécie de destino pré-determinado.
D ( ) n.r.a
10) Vygotsky (1989, p. 8) afirma que os estigmas resultantes do processo de
institucionalização da pessoa com deficiência provoca algumas alterações em sua
vida. Segundo a afirmativa desse autor, no que resultaria essas alterações? Assinale
a alternativa correta
A ( ) hemofilia, paralisia cerebral, lábio leporino, gagueira, dislexia, ostomia, dislalia,
doença renal, dentre outras alterações
B ( ) enfraquecimento de sua posição social sendo esse um estímulo para se forjar
um ser único, ou seja, integrado social e culturalmente
C ( ) crianças com condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e sensoriais
diferenciadas
D ( ) n.r.a
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GABARITO
Nome do aluno:_______________________________________
Matrícula:___________
Curso:_______________________________________________
Data do envio:____/____/_______.
Ass. do aluno: ______________________________________________
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ESPECIAL NO
BRASIL
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