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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA COMUNIDADE DE INVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO FERRAMENTA PARA AVALIAR O EFEITO DO USO DA TERRA SOBRE RIACHOS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, BRASIL JANAINA GOMES DE BRITO Manaus, Amazonas Agosto, 2016

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA

COMUNIDADE DE INVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO

FERRAMENTA PARA AVALIAR O EFEITO DO USO DA TERRA

SOBRE RIACHOS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, BRASIL

JANAINA GOMES DE BRITO

Manaus, Amazonas

Agosto, 2016

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JANAINA GOMES DE BRITO

COMUNIDADE DE INVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO

FERRAMENTA PARA AVALIAR O EFEITO DO USO DA TERRA

SOBRE RIACHOS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, BRASIL

ORIENTADORA: DRA. NEUSA HAMADA

COORIENTADOR: DR. JORGE LUIZ NESSIMIAN

Tese apresentada ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Ciências Biológicas (Entomologia).

Manaus, Amazonas Agosto, 2016

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Sinopse:

O presente estudo avaliou a existência de um ponto ou zona de mudança da comunidade de

invertebrados aquáticos ao longo de um gradiente de perda de cobertura vegetal em riachos

da Amazônia Oriental– Pará. Adicionalmente, foi analisada a congruência entre a

comunidade de invertebrados de riachos e três subgrupos (1. Ephemeroptera, Plecoptera e

Trichoptera-EPT; 2. Odonata; 3. Trichoptera) e em dois níveis de resolução taxonômica

(gênero e família). Também foi avaliado o efeito do uso da terra e cobertura do solo e de

características naturais do habitat sobre a diversidade e composição funcional da comunidade

de EPT em diferentes escalas espaciais (local, microbacia, corredor de vegetação ripária e

integrada- local+ microbacia e local+corredor de vegetação ripária).

Palavras-chave: Agricultura, EPT, invertebrados aquáticos, perda de habitat, uso da terra.

B862 Brito, Janaina Gomes de Comunidade de invertebrados aquáticos como ferramenta para

avaliar o efeito do uso da terra sobre riachos da Amazônia Oriental, Brasil / Janaina Gomes de Brito. --- Manaus: [s.n.], 2016. 139 f.

Tese (Doutorado) --- INPA, Manaus, 2016. Orientadora: Neusa Hamada Coorientador: Jorge Luiz Nessimian Área de concentração: Entomologia

1. Invertebrados aquáticos. 2. Ecologia de paisagem. 3. Riachos. I.

Título.

CDD 592

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Dedico essa tese às pessoas mais

importante da minha vida: meus pais

Sueli e Edgard (in memória); minhas

irmãs Jaqueline e Raquel e aos meus

sobrinhos Paulo Vitor e Luiz Felipe.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela companhia, conforto nas horas difíceis e pela força e

paciência para suportar as dificuldades encontradas no decorrer deste trabalho.

À Dra. Neusa Hamada, pelo comprometimento durante todo o processo de

realização desse estudo e principalmente por sempre estimular e criar condições para o

crescimento profissional dos seus alunos. Agradeço também pela orientação e correção

dessa tese.

Ao Dr. Jorge Luiz Nessimian, pela orientação e correção dessa tese.

Ao Dr. Luiz Fernando Alves, por disponibilizar equipamentos de laboratório para a

execução deste estudo e pelo carinho e preocupação.

À minha família pelo apoio e compreensão, que foram fundamentais para suportar

os momentos de saudade.

Ao Nino, meu gatinho querido, pelo companheirismo e carinho.

À todos os professores do programa de Pos-graduação em Entomologia, pelo

comprometimento com a formação dos alunos e pelos conhecimento transmitido.

À equipe aquática do projeto- “Rede Amazônia Sustentável”- pelo auxílio nos

trabalhos de campo.

Ao José Max B. Oliveira Jr., pelo companheirismo, boa vontade, disposição e bom

humor durante as coletas.

Ao Renato T. Martins, pela revisão dessa tese, ainda, pelo bom humor e boa

vontade.

À Vívian C. Oliveira, pelas dicas importante no período em que estava aprendendo

a identificar a fauna e por me acompanhar durante as primeiras coletas de campo. Pela

parceria no desenvolvimento dos índices de distúrbios e nas disciplinas de campo e por

estar sempre disposta a ajudar.

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Ao Paulo V. Cruz (Baetidae), Ana M. O. Pes (Trichoptera), Karina D. Silva

(Hemiptera), Ulisses G. Neiss (Odonata), Nikolas G. Cipola (Collembola), Célio U.

Magalhães (Decapoda); Renato T. Martins (Oligochaeta), Daniara Colpani (Gyrinidae) e

César João Benetti (Coleoptera), pela ajuda na identificação ou confirmação da

identificação dos invertebrados. Agradeço também à Jeane M. C. Nascimento pelas dicas

sobre a identificação dos Leptophlebiidae.

Aos membros da banca examinadora, Jansen Alfredo Sampaio Zuanon, Ana Maria

Oliveira Pes, Sheyla Regina Marques Couceiro, Karina Dias da Silva e Aline Lopes, pelas

sugestões e revisão dessa tese.

Ao Dr. Philip Fearnside, pela revisão dos abstracts.

Ao Jefferson Oliveira, pelo suporte de laboratório e por estar sempre disposto a

ajudar.

Aos bolsistas de apoio técnico (Hillary, Dayane, Léo, Evelyn e Kleicy), pelo auxilio

na triagem das amostras de substrato.

À Gizelli Amora, Daniara Colpani e Perla, pela amizade, pelo carinho e pela

descontração, que tornaram este período bem mais divertido. Especialmente, durante os

instrutivos “cafés da tarde”.

Aos meus colegas de laboratório, que de uma forma ou de outra contribuíram para o

desenvolvimento desta tese.

Ao instituto Nacional de pesquisa da Amazônia (INPA), pela estrutura logística.

À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), pelo apoio

financeiro, por meio da concessão da bolsa da doutoranda.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo

apoio financeiro, por meio da concessão de bolsas para a orientadora e o coorientador deste

estudo.

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Às fontes financiadoras desse estudo: os projetos Sistemática integrada de insetos

aquáticos com ênfase em Simuliidae Neotropical, Pronex/CNPq/Fapeam – Insetos

aquáticos e Rede Amazônia Sustentável (RAS). A RAS recebeu apoio financeiro do

Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia

(CNPq 574008/2008-0), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa (SEG

02.08.06.005.00), Governo britânico: Darwin Initiative (17-023), TNC-The Nature

Conservancy e Natural Environment Research Council (NERC; NE/F01614X/1 e

NE/G000816/1).

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Um abismo. Uma ponte a ser construída. Não somente como um monumento, mas para permitir que outros prossigam com menos dificuldade.

Phillip Ross

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RESUMO

O uso da terra é a principal ameaça à biodiversidade e aos ecossistemas naturais, especialmente nos trópicos, onde a vegetação original está sendo substituída por cultivos agrícolas para suprir a demanda mundial por alimentos. Compreender a dinâmica dos ecossistemas em paisagens dominadas pela agricultura é fundamental para a implantação de medidas de conservação. O objetivo desta tese foi avaliar o efeito do uso da terra sobre riachos de baixa ordem na Amazônia Oriental, por meio da análise de variações na estrutura taxonômica e funcional da comunidade de invertebrados aquáticos. Esta tese foi subdividida em três capítulos. No primeiro, foi avaliada a existência de um ponto de mudança na comunidade de invertebrados em relação à perda de cobertura vegetal. Os resultados da análise de limiar de táxons indicadores (TITAN) indicaram a existência de um ponto de mudança para os táxons mais sensíveis entre 4,4 e 5,9% de perda de cobertura vegetal. Essa acentuada perda de táxons sensíveis em resposta a uma pequena perda de cobertura vegetal na faixa de 30 m de largura em cada margem dos riachos é um forte indício de que as atuais dimensões da Área de Preservação Permanente no Brasil é insuficiente para proteger os invertebrados de riachos e, possivelmente, outros organismos em áreas de floresta Amazônica. No segundo capítulo, foi avaliada a congruência entre a comunidade de invertebrados aquáticos e três de seus subgrupos (EPT [Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera]; Odonata; e Trichoptera), e em dois níveis de resolução taxonômica (gênero e família) da comunidade com uso da análise Procustes. Houve alta congruência entre a comunidade e EPT (94% e 96%) e a comunidade e Trichoptera (73% e 84%). Odonata apresentou uma congruência moderada com a comunidade (68%). As duas resoluções taxonômica também apresentaram forte correlação entre si (85% e 91%). Considerando a relação custo-benefício, sugere-se o uso de Trichoptera (abundância) ou invertebrados em nível de família como substitutos da comunidade de invertebrados em medidas de avaliação e de conservação de riachos sob efeito do uso da terra para atividades agrícolas. No terceiro capítulo, foi abordado o efeito do uso da terra e cobertura do solo e de características naturais do habitat sobre a diversidade e composição funcional da comunidade de EPT nos riachos. A intensificação no distúrbio antrópico levou à redução na riqueza e diversidade funcional de EPT em Paragominas e Santarém. A composição da comunidade também mudou com a intensificação no distúrbio antrópico, especialmente em Paragominas, onde a perda de cobertura vegetal na zona ripária foi maior. Esses resultados mostram que a perda de espécies afeta a funcionalidade das comunidades aquáticas e deve refletir sobre o funcionamento dos riachos. Por fim, conclui-se que foi possível identificar os efeitos do uso da terra (agricultura) sobre riachos de baixa ordem na Amazônia Oriental utilizando as variações na estrutura taxonômica e funcional da comunidade de invertebrados aquáticos. Palavras chave: agricultura, congruênce, composição funcional, insetos aquáticos, ponto

de mudança.

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ABSTRACT

Land use is the main threat to biodiversity and natural ecosystems, especially in the tropics, where original vegetation has been replaced by agricultural crops to meet global demand for food. Understanding ecosystem dynamics in landscapes dominated by agriculture is critical to implementation of conservation measures. The aim of the present thesis was to evaluate effects of land use on low-order streams in the eastern Amazon using variations in taxonomic and functional structure of aquatic invertebrate communities. For better understanding, this thesis was divided into three chapters. The first chapter evaluated the existence of a change point in the invertebrate community in relation to vegetation cover loss. Threshold indicator taxa analysis (TITAN) results indicated existence of a change point for the most sensitive taxa at 4.4 and 5.9% of vegetation cover loss. This sharp decline of sensitive taxa in response to a small loss of vegetation in a 30 m wide buffer on each stream bank is a strong indication that the required “Permanent Preservation Area” is insufficient to protect stream invertebrates and possibly other organisms in Amazon rainforest areas. In the second chapter, congruence between the aquatic invertebrate community and three subgroups of the community: (EPT [Ephemeroptera, Plecoptera and Trichoptera], Odonata and Trichoptera) and within the community at the genus and family levels were assessed using Procustes analysis. High congruence was recorded between community and EPT (94% and 96%) and between community and Trichoptera (73% and 84%). Odonata presented moderate congruence with community (68%). The two taxonomic resolutions also showed strong correlation (85% and 91%). Due to cost-benefit it is suggested that Trichoptera (abundance) or invertebrates at the family level be used as substitutes for the invertebrate community in assessments and in conservation of streams under the influence of agriculture. The third chapter evaluated effects of land use/ cover and natural habitat metrics on diversity and functional structure of the EPT community in lower order streams of the eastern Amazon. Increase in anthropogenic disturbance reduces EPT richness and functional diversity in Paragominas and Santarém. Community structure has also changed with intensification of anthropic disturbance, especially in Paragominas, where vegetation loss in the riparian zone was higher. These results show that species loss affects aquatic community functionality, and this should reflect on stream functioning. Finally, it was possible identify the effects of land use (agriculture) on the low-order streams in the eastern Amazon using variations in the taxonomic and functional structure of aquatic invertebrates community. Key words: agriculture, aquatic insects, change point, congruence, functional structure.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL .......................................................................................................1

CAPÍTULO 1 - Efeito da retirada da vegetação ripária sobre invertebrados aquáticos na

Amazônia brasileira: pequena perda de floresta resulta em alteração abrupta na composição

da comunidade…… …………......................……………………....…………...................6

CAPÍTULO 2 - Indicadores biológicos da diversidade de riachos amazônicos: congruência

na similaridade da comunidade de invertebrados entre grupos e resolução

taxonômica............................................................................................................................49

CAPÍTULO 3 - Efeito do uso da terra e da variabilidade natural do habitat sobre a

diversidade e composição funcional da comunidade de EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e

Trichoptera) de riachos da Amazônia em diferentes escalas espaciais.................................80

SÍNTESE ............................................................................................................................136

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................138

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2

Tabela 1 - Resultados das análises de regressão simples entre a comunidade de

invertebrados aquáticos (em duas resoluções taxonômicas e três subgrupos- EPT, Odonata e

Trichoptera) e as variáveis ambientais, Paragominas, Pará..................................................60

CAPÍTULO 3

Tabela 1 - Variáveis ambientais não correlacionadas com o distúrbio humano...................97

Tabela 2 - Porcentagem dos gêneros e do número de exemplares representados por cada

grupo funcional de EPT para todo o conjunto de riachos estudados e para Paragominas e

Santarém, separadamente. Também são apresentados os gêneros pertencentes a cada grupo

funcional..............................................................................................................................102

Tabela 3- Comparação entre os modelos de regressão simples do bloco 1 (variável resposta

~ IDI) e modelos de regressão múltipla do bloco 2 (variável resposta ~ IDI + variáveis

naturais de habitat) para as regiões de Paragominas, Santarém e para as duas regiões juntas.

São apresentados os modelos construídos com o IDI calculado tanto para a escala de

microbacia quanto para o corredor de vegetação riparia (IDIM e IDIC)..............................110

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

Figura 1 - Localização geográfica do município de Paragominas, Pará, Amazônia Oriental,

Brasil. Os pontos pretos representam os locais de amostragem dos invertebrados..............14

Figura 2 - Análise de limiar de táxons indicadores (TITAN) para a comunidade de

invertebrados aquáticos em um gradiente de perda de vegetação (n = 51 riachos),

evidenciando os táxons indicadores significativos (p≤ 0,05). Os táxons estão plotados em

ordem crescente em relação ao seu ponto de mudança. Z- = táxons que diminuíram em

frequência de ocorrência e abundância com o aumento da perda de vegetação nativa. Z+ =

táxons que aumentaram em frequência de ocorrência e abundância com o aumento da perda

de vegetação nativa. Os círculos representam o ponto de mudança de cada táxon e o

diâmetro destes é proporcional à magnitude de resposta de cada táxon ao gradiente de

distúrbio.................................................................................................................................20

Figura 3 - Os valores de soma Z-, em preto, e de soma Z+ (em cinza) correspondentes aos

pontos candidatos a serem o ponto de mudança ao longo do gradiente de perda de

vegetação nativa. Os picos na soma de Z- e Z+ são os locais ao longo do gradiente onde

ocorreram declínios e incrementos sincrônicos de táxons, respectivamente. O maior pico

para ambas as direções de resposta ocorreu em 5,9% de perda de vegetação nativa. As

linhas sólidas e tracejadas representam a distribuição da frequência cumulativa dos limiares

de soma (Z-) e (Z+) para as 500 repetições (bootstraps), respectivamente. Z- = táxons com

resposta negativa à perda de cobertura vegetal e Z+ = táxons com resposta positiva à perda

de cobertura vegetal..............................................................................................................21

Figura 4 - Análise de regressão segmentada mostrando o ponto de mudança da riqueza (A)

e da composição da comunidade (B) de invertebrados aquáticos em um gradiente de perda

de vegetação nativa. O ponto de mudança ocorreu em 79,3 ± 31,4% (Média e erro padrão)

de perda de vegetação para a riqueza e em 4,1 ± 5,7% para a composição da comunidade.

Esses valores são representados pelo ponto cinza com a barra horizontal no alto de cada

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gráfico...................................................................................................................................22

CAPÍTULO 2

Figura 1 - Localização geográfica do município de Paragominas, Amazônia Oriental, Pará,

Brasil. Os pontos pretos representam os locais de amostragem de

invertebrados.......................................................................................................................55

Figura 2 - Congruência (%) entre as duas resoluções taxonômicas (família e gênero da

comunidade de invertebrados) e entre os diferentes grupos de táxons (gênero da

comunidade de invertebrados, EPT [Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera], Odonata e

Trichoptera), obtidas com uso da análise Procustes. Linhas tracejadas indicam as avaliações

de congruência realizadas com base na incidência de táxons e as linhas sólidas representam

comparações com base na abundância de táxons..................................................................61

CAPÍTULO 3

Figura 1 - Esquema representando o efeito das condições de uso da terra nas escalas de

microbacia e corredor de vegetação ripária e da variabilidade natural do habitat sobre a

riqueza, diversidade e composição funcional da comunidade de Ephemeroptera, Plecoptera

e Trichoptera (EPT) de riachos da Amazônia Oriental, Pará, Brasil. IDL = índice de

distúrbio local; IDM = índice de distúrbio na microbacia; IDIM = índice de distúrbio

integrado (IDL+IDM) na escala de microbacia; IDC = índice de distúrbio no corredor de

vegetação ripária; IDIC = índice de distúrbio integrado (IDL+IDM) na escala de corredor de

vegetação ripária...................................................................................................................86

Figura 2 - Localização geográfica das áreas de estudo em Santarém e Paragominas,

Amazônia Oriental, Pará, Brasil. Os pontos pretos representam os locais de amostragem. A

= Brasil; B = Estado do Pará; C = Santarém; D = Paragominas...........................................89

Figura 3 - Valores do índice de distúrbio local (A), do índice de distúrbio no corredor de

vegetação ripária (B) e do índice de distúrbio na microbacia (C) registrados nas áreas de

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Paragominas, Santarém e para as duas regiões juntas. PGM_STM = Conjunto de riachos de

Paragominas e Santarém. A caixa representa o valor médio (segmento horizontal), o

intervalo que contém 50% dos indivíduos (caixa) e segmentos verticais representam 1,5

vezes o intervalo interquartil.................................................................................................99

Figura 4 - Porcentagem de floresta secundária jovem no corredor de vegetação ripária (A) e

Floresta secundária jovem na microbacia de drenagem (B) para as regiões de Paragominas,

Santarém e as duas regiões juntas. A caixa representa o valor médio (segmento horizontal),

o intervalo que contém 50% dos indivíduos (caixa) e segmentos verticais representam 1,5

vezes o intervalo interquartil. PGM_STM = Conjunto de riachos de Paragominas e

Santarém………………………………………………………………………………..…100

Figura 5 - Porcentagem de área aberta no corredor de vegetação ripária (A) e área aberta na

microbacia de drenagem (B) para as regiões de Paragominas, Santarém e as duas regiões

juntas. PGM_STM = Conjunto de riachos de Paragominas mais Santarém. A caixa

representa o valor médio (segmento horizontal), o intervalo que contém 50% dos

indivíduos (caixa) e segmentos verticais representam 1,5 vezes o intervalo interquartil...100

Figura 6 - Posição dos riachos de Paragominas e Santarém no plano bidimensional formado

pela relação entre os índices de distúrbio local e de corredor de vegetação ripária (A) e

entre os índices de distúrbio local e de microbacia (B)......................................................101

Figura 7 - Posição dos riachos em ordem crescente de perturbação, com base nos valores do

IDI, para Paragominas e Santarém. A = IDI obtido por meio da relação entre IDL e IDC

(IDIC) e B = IDI obtido por meio da relação entre IDL e IDM (IDIM). IDI = índice de

distúrbio integrado; IDL = índice de distúrbio local; IDM = índice de distúrbio na

microbacia; IDC = índice de distúrbio no corredor de vegetação ripária...........................101

Figura 8 - Relação entre a riqueza funcional (RF), diversidade funcional (DF) e composição

funcional (CF) da comunidade de EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera) e o

índice de distúrbio integrado (IDI) calculado para as escalas de microbacia e de corredor de

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vegetação ripária (IDIM e IDIC; variável preditora) nas regiões de Paragominas (D, E, F e

N, O, P) e Santarém (G, H, I e Q, R, S), isoladamente, e para o conjunto total de riachos

(duas regiões juntas; A, B, C e J, L, M). IDIM = índice de distúrbio integrado (IDL+IDM)

na escala de microbacia; IDIC = índice de distúrbio integrado (IDL+IDM) na escala de

corredor de vegetação ripária; IDL = índice de distúrbio local; IDM = índice de distúrbio na

microbacia; IDC = índice de distúrbio no corredor de vegetação ripária...........................106

Figura 9 - Resultados das regressões simples (bloco 1) e a riqueza funcional (RF),

diversidade funcional (DF) e composição funcional (CF) da comunidade de EPT (variáveis

respostas) e o índice de distúrbio integrado calculado para a escala de microbacia e para o

corredor de vegetação ripária (IDIM e IDIC; variável preditora) das regiões de Paragominas,

Santarém e o conjunto total de riachos (em branco, a esquerda). Em cinza, a direita, os

resultados das regressões multiplas (bloco 2) entre as variaveis resposta (RF, DF, CF), os

IDIs e as variáveis naturais do habitat nas duas escalas de estudo. Em cinza escuro, as

variáveis resposta que melhor responderam ao distúrbio antrópico e a variabilidade natural

do habitat. Espessura das setas proporcional a intensidade das respostas..........................108

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1

INTRODUÇÃO GERAL

Rios e riachos possuem importante papel ecológico e econômico. Atuam como

agentes integradores da paisagem, ao interagirem com o entorno por meio do fluxo de

matéria e energia, sustentam uma complexa e diversificada biota e fornecem inúmeros bens

e serviços ambientais (e.g., alimento, água, recreação e transporte; Meyer et al.

2007;Vörösmarty et al. 2010). Contudo, apesar do papel fundamental que exercem, esses

sistemas estão sendo fortemente ameaçados pela expansão das atividades humanas

(Vörösmarty et al. 2010), especialmente pelas atividades agrícolas (Allan et al. 2004).

As atividades agrícolas promovem amplas e intensas alterações nos ambientes

aquáticos e terrestres (Allan at al. 2004; Gardner et al. 2009; Brando et al. 2013). Por

exemplo, para suprir a demanda mundial por alimentos, grandes áreas de paisagem natural

(florestas, savanas e campos) foram convertidas em áreas de plantações e pastagens no

mundo inteiro (Barnosky et al. 2011; Ferreira et al. 2012), e a perspectiva é de que a

expansão agrícola continue a aumentar, especialmente nos trópicos (Sala et al. 2000). Essa

previsão é preocupante, uma vez que muitos animais, plantas e micro-organismos são

incapazes de persistir em uma paisagem impactada pela agricultura (Allan 2004; Oliveira-

Junior et al. 2015). Além disso, a perda de habitat promove o declínio da funcionalidade

dos ecossistemas e, consequentemente, leva à perda de bens e serviços importantes para a

população humana.

A agricultura altera a paisagem por meio da perda e fragmentação de habitats, que,

por sua vez, influenciam a distribuição das espécies. Esta influência ocorre por meio da

alteração das taxas de reprodução, mortalidade, dispersão e extinção das populações em

cada mancha (mancha= pedeço de habitat natural envolto pela matrix de uso da terra;

Thomas 2000; Püttker et al. 2011). Além da perda e fragmentação do habitat, as atividades

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2

agrícolas podem afetar negativamente a estrutura dos habitats e a fauna associada ao

reduzir a qualidade das manchas remanescentes. Em riachos, esse efeito negativo é

representado pela redução na quantidade e qualidade da cobertura vegetal na zona ripária e

na microbacia, alteração na estrutura física do canal e no fluxo de água, e aumento na

temperatura da água e na entrada de luz, sedimentos e poluentes oriundos de fontes não

pontuais (Johnson et al. 1997; Lammert e Allan 1999; Allan 2004; Leal et al. 2016).

Entre as comunidades encontradas nos riachos, os invertebrados, especialmente os

insetos, desempenham papel importante no funcionamento dos ecossistemas lóticos de

cabeceira (Wallace e Webster 1996). Esses organismos influenciam a ciclagem de

nutrientes, a produtividade primária, a decomposição e translocação de material (Wallace e

Webster 1996). Como consumidores de um nível trófico intermediário, os invertebrados

são influenciados tanto por forças de controle bottom-up quanto top-down nos riachos

(Wallace e Webster 1996). Os invertebrados aquáticos constituem, também, uma

importante fonte de alimento para os peixes (e.g., Moreira e Zuanon 2002) e outros

vertebrados.

Os invertebrados aquáticos são os organismos mais amplamente utilizados na

avaliação e biomonitoramento de ecossistemas aquáticos continentais (Bonada et al. 2006),

devido a sua ampla distribuição, grande número de táxons com diferentes sensibilidades

aos impactos (sensíveis e tolerantes), mobilidade relativamente baixa e por serem

facilmente amostrados. Além do mais, muitos táxons podem ser facilmente utilizados em

experimentos de laboratório (Rosenberg e Resh 1993; Bonada et al. 2006). Devido à alta

diversidade funcional e à importância ecológica desses organismos, também são boas

ferramentas para avaliar o efeito do uso da terra sobre a funcionalidade dos ecossistemas

aquáticos (Bonada et al. 2006).

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3

Nesta tese foram avaliados os efeitos do uso da terra (perda de cobertura vegetal,

agricultura e distúrbios antropogênicos diversos) sobre invertebrados aquáticos em riachos

da Amazônia Oriental. Para melhor compreensão dos temas abordados, a tese foi dividida

em três capítulos. O primeiro capítulo refere-se à identificação de possíveis limites

ecológicos críticos na resposta da biota aquática em relação à perda e fragmentação de

habitat. O limite crítico é definido como uma mudança não linear abrupta em alguma

medida descritora da população ou comunidade, em resposta a uma variação relativamente

pequena do estressor (Huggett 2005; Swift e Hannon 2010). Determinar este possível limite

crítico tem implicações práticas importantes para o planejamento de medidas de

conservação, pois, possibilita intervir no sistema antes que o limite seja atingido,

prevenindo a perda de biodiversidade e de funções ecológicas (Radford e Bennett 2004).

O segundo capítulo aborda os padrões de congruência entre grupos de invertebrados

aquáticos e entre diferentes níveis de resolução taxonômica, na tentativa de encontrar

caminhos alternativos para suprir a escassez de informações sobre a biodiversidade para

uso na conservação. O levantamento preciso da biodiversidade, geralmente, é demorado e

demanda recursos financeiros que nem sempre estão disponíveis. Uma forma de superar

esta limitação é encontrar abordagens eficientes, rápidas e econômicas, como a dos

“substitutos da biodiversidade” (Heino et al. 2005; Giehl et al. 2014). Nessa abordagem,

parte da comunidade, condições ambientais ou, ainda, níveis taxonômicos mais elevados

são utilizados para representar outros táxons ou a comunidade como um todo. Contudo, o

uso de substitutos requer alta correlação entre o grupo selecionado e aquele que ele deverá

representar (Heino 2010). Até o momento, a aplicabilidade deste método ainda é incerta, o

que tem intensificado o número de estudos que buscam por uma resposta.

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No terceiro capítulo foi avaliado o efeito do uso/cobertura da terra e de

características naturais do habitat sobre a diversidade e composição funcional da

comunidade de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT) em riachos de abaixa

ordem da Amazônia Oriental. Comumente, assume-se que as condições do habitat físico

moldam as comunidades selecionando apenas os táxons que possuem atributos favoráveis

para se estabelecer em um dado local. Essa interpretação cria um elo direto entre as

condições dos habitats e os atributos dos táxons (Heino 2005), sugerindo que os atributos

dos organismos poderiam ser bons indicadores de alterações nas condições ambientais

(Bonada et al. 2006). Contudo, apesar dessa conexão ser lógica, estudos que a testam ainda

são escassos especialmente em ecossistemas aquáticos tropicais. Neste capítulo, a

existência e a força dessas relações foram testadas.

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OBJETIVO GERAL

Avaliar os efeitos do uso da terra (perda de cobertura vegetal, agricultura e

distúrbios antropogênicos diversos) sobre comunidades de invertebrados aquáticos em

riachos da Amazônia Oriental brasileira.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

i) Identificar a existência de um ponto de mudança da comunidade de

invertebrados aquáticos ao longo de um gradiente de perda de cobertura vegetal

(Capítulo 1).

ii) Avaliar a congruência entre os padrões de similaridade da comunidade de

invertebrados de riachos na floresta amazônica e três de seus subgrupos (EPT;

Odonata; Trichoptera) e o uso de família como substituto dos padrões de

similaridade da comunidade de invertebrados em nível de gênero (Capítulo 2).

iii) Avaliar o efeito do uso/cobertura da terra e de características naturais do habitat

sobre a diversidade e composição funcional da comunidade de Ephemeroptera,

Plecoptera e Trichoptera (EPT) de riachos em diferentes escalas espaciais (local,

microbacia, corredor de vegetação ripária e integrada (Capítulo 3).

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Capítulo 1

Efeito da retirada da vegetação ripária sobre

invertebrados aquáticos na Amazônia Oriental

brasileira: pequena perda de floresta resulta em

alteração abrupta na composição da comunidade.

Manuscrito formatado segundo as normas da Acta

Amazonica.

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Efeito da retirada da vegetação ripária sobre invertebrados aquáticos na Amazônia

Oriental brasileira: pequena perda de floresta resulta em alteração abrupta na

composição da comunidade

Resumo

A perda e fragmentação de habitats geralmente afeta negativamente a biota, no entanto, esta resposta nem sempre é linear. Respostas não lineares sugerem a existência de um limiar na perda de habitat a partir do qual a comunidade biológica muda abruptamente. O objetivo do presente estudo foi identificar um possível ponto de mudança da comunidade de invertebrados aquáticos ao longo de um gradiente de perda de vegetação ripária em riachos da Amazônia Oriental brasileira. Para isso, foi utilizada a análise de limiar de táxons indicadores (TITAN). Análise de regressão segmentada foi utilizada para identificar um possível ponto de mudança nas medidas agregadas da comunidade (riqueza e composição). Mais da metade (n = 22) dos táxons indicadores afetados negativamente (Z-) responderam a perdas menores que 10% da vegetação nativa. As curvas de probabilidade acumulada da análise TITAN indicaram que perdas de 4 a 6% de vegetação geram mudanças abrupta da comunidade para (Z-). Para as medidas agregadas da comunidade, a análise de regressão segmentada determinou o ponto de mudança da riqueza e da composição da comunidade de invertebrados aquáticos com perda de vegetação em 79,3% e 4,1%, respectivamente. Essa acentuada perda de táxons sensíveis em resposta a uma pequena perda de cobertura vegetal na faixa de 30 m de largura em cada margem dos riachos é um forte indício de que as dimensões atualmente definidas para as Áreas de Preservação Permanente são insuficiente para proteger os invertebrados aquáticos e, possivelmente, outros organismos em áreas de floresta na Amazônia. Palavras chave: insetos aquáticos, resposta não linear, regressão segmentada, riachos,

TITAN.

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Effects of riparian vegetation removal on stream-dwelling aquatic invertebrates in the

Eastern Brazilian Amazon: small forest losses result in abrupt changes in community

structure

Abstract

Generally, habitat loss and fragmentation affects the biota negatively, but this response is not always linear. Nonlinear responses suggest existence of a critical limit to habitat loss, beyond which communities change abruptly. The aim of this study was to identify a possible change point for stream-dwelling aquatic invertebrate communities along a riparian vegetation loss gradient. Threshold indicator taxa analysis (TITAN) was used to identify change points for the individual taxa and for aquatic invertebrate communities. Segmented regression analysis was used to identify a possible change point in aggregate community measures (richness and composition). More than half (n = 22) of the indicator taxa with negative responses (Z-) responded before 10% of native vegetation had been lost. Cumulative probability curves from TITAN analysis indicated that a vegetation loss of 4 to 6% generates an abrupt change in the community measures (Z-). For community aggregate measures, segmented regression analysis determined a change point for richness and structure of the community of aquatic invertebrates at 79.3% and 4.1% vegetation loss, respectively. This sharp decline of sensitive taxa in response to a small vegetation loss in a 30 m wide buffer on each streams bank is a strong indication that the officially defined “Permanent Preservation Area” is insufficient to protect stream invertebrates and possibly other organisms in Amazon rainforest areas. Key words: aquatic insects, non-linear response, segmented regression, streams, TITAN.

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Introdução

A agricultura é uma atividade que ocupa grandes áreas e provoca intensas alterações

na paisagem, devido à conversão, perda e fragmentação da vegetação nativa (Laurance et

al. 2013). A perda e fragmentação de habitats representam forte ameaça aos processos

ecossistêmicos e à biodiversidade, especialmente em ecossistemas altamente diversos,

como as florestas tropicais (Gardner et al. 2009). Atualmente, o avanço das fronteiras

agrícolas na Amazônia brasileira é responsável pela perda de aproximadamente 18% da

vegetação nativa, e a previsão é de que essa proporção aumente (Ferreira et al. 2012),

intensificando os impactos sobre o bioma (Brando et al. 2013). Apesar da ausência de

estudos que comparem o nível de vulnerabilidade dos ecossistemas amazônicos, a densa e

complexa rede de pequenos riachos deve estar entre os ecossistemas mais ameaçados pelas

atividades agrícolas nesse bioma (e.g., Durigan et al. 2013; Castello et al. 2013; Leal et al.

2016).

A perda e fragmentação de habitats influencia a distribuição das espécies na

paisagem ao alterar as taxas de reprodução, mortalidade, dispersão e extinção local das

populações (With e King 1999; Thomas 2000; Fahrig 2002; Püttker et al. 2011). As

espécies sensíveis ao tamanho das manchas ou especialista nas condições e recursos

disponibilizados por um tipo de habitat são influenciadas negativamente pelas mudanças,

podendo sofrer redução no tamanho de suas populações ou aumento no grau de isolamento

destas na paisagem, aumentando o risco de extinção (Thomas 2000; Haddad et al. 2015).

Geralmente, os efeitos da perda e fragmentação de habitats sobre a biota são descritos como

lineares e negativos, no entanto, o número de registros que descrevem respostas não

lineares para essas relações vem aumentando na literatura (Swift e Hannon 2010; Pardini et

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al. 2010). Respostas não lineares sugerem a existência de um limite crítico na perda de

habitat a partir do qual a população ou a comunidade muda abruptamente para um estado

alternativo (Huggett 2005). Esta mudança, geralmente ocorre em resposta a uma mudança

pequena e contínua de uma ou mais variáveis causais (e.g., With e King 1999; Huggett

2005).

A explicação mais comum para a existência de um limite crítico na perda de habitat

é a configuração da paisagem (Swift e Hannon 2010). Segundo essa hipótese, o efeito da

fragmentação é intensificado à medida que aumenta a perda de habitat, resultando em maior

taxa de extinção de espécies, principalmente pelas limitações à dispersão (Andrén 1994;

Pardini et al. 2010; Ochoa-Quintero 2015). Outro mecanismo proposto para explicar a

existência de um limite crítico para as populações é o efeito Allee, que prevê que os

padrões do comportamento social tornam-se disfuncionais abaixo de certo tamanho da

população (Allee 1930). Dessa forma, esses dois mecanismos, além de outros

desconhecidos, podem agir em conjunto dando origem a um ponto de mudança, acima do

qual, os efeitos da redução da quantidade de habitat tornam-se mais exacerbados do que

abaixo desse limite (Huggett 2005; Pardini et al. 2010; Swift e Hannon 2010).

A existência de um limiar de mudança de comunidades biológicas é atribuída à

resposta simultânea de vários táxons diante de uma pequena variação do estressor (Baker e

King 2010). Essa sincronia nas respostas requer algum tipo de relação entre os táxons (e.g.,

atributos, nicho estreito, facilitação; Lindmeyeier et al. 2005), que pode ser fruto de

coevolução (King et al. 2011). Reconhecer os limites ecológicos críticos permite

quantificar as condições sob as quais as comunidades estão em risco (Radford e Bennett

2004). Isto é fundamental para realizar intervenções antes que este limite seja atingido,

prevenindo a perda da biodiversidade e da função dos ecossistemas (Radford e Bennett

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2004; Baker e King 2010). Dessa forma, identificar o possível limite e quantificar o ponto

de mudança da comunidade em relação à perda de habitat se torna importante para o

planejamento e aplicação de medidas de manejo, conservação e restauração dos

ecossistemas naturais (Barnosky et al. 2012; Richmond et al. 2015).

Para avaliar a existência de um limite crítico da comunidade em resposta à perda de

habitat, é necessário levar em consideração as exigências dos táxons por habitat e suas

respostas às condições predominantes na matriz modificada pelo uso da terra (Estavillo et

al. 2013). Em sistemas de riachos, muitos táxons de invertebrados aquáticos são afetados,

em diferentes níveis, pela conversão da vegetação natural na microbacia e na zona ripária

(e.g., Lammert e Allan 1999; Allan 2004; Couceiro et al. 2009; Monteiro Junior et al.

2013). As diferenças na sensibilidade dos táxons desse grupo às mudanças locais e na

paisagem devem-se as diferenças no ciclo de vida, na morfologia, fisiologia e

comportamento das espécies (Bonada et al. 2006). A existência de diferentes atributos

possibilita uma ampla variedade de mecanismos para a exploração do habitat, aquisição de

recursos, termorregulação (Odonata) e dispersão (Rosenberg e Resh 1993; Dutra e De

Marco 2014). Assim, a sensibilidade ao estressor, a ampla distribuição geográfica e a

especialização por habitat tornam os invertebrados aquáticos bons modelos para testar o

efeito da perda de vegetação ripária sobre as comunidades de riachos de floresta (Lenat e

Resh 2001; Bonada et al. 2006). Adicionalmente, muitos desses invertebrados possuem a

fase adulta terrestre e a larval aquática (Merritt e Cummins 1996). Por esse fato, esses

organismos podem acumular os efeitos da conversão da cobertura vegetal sobre a estrutura

dos riachos (habitat físico e qualidade da água) e da paisagem do entorno (configuração

espacial e quantidade de vegetação natural remanescente), aumentando a sensibilidade

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desses organismos às mudanças induzidas pelo uso agrícula da terra (Valente-Neto et al.

2015; Rodrigues et al. 2016).

A conversão da vegetação natural na bacia de drenagem exerce forte efeito sobre a

biota dos riachos. Em áreas urbanas, há registros de declínio abrupto e sincrônico de táxons

sensíveis de invertebrados de riachos em resposta à impermeabilização do solo e perda de

qualidade da água, evidenciando forte limite da comunidade a esses estressores (Baker e

King 2010; King et al. 2011; Keil et al. 2012). Em áreas de agricultura, embora os danos à

biota aquática sejam relativamente bem documentados (e.g., Ometo et al. 2000; Allan 2004;

Arnaiz et al. 2011; Leal et al. 2016), pouco se sabe sobre a existência de limites

consistentes da comunidade de riachos em resposta à perda da cobertura vegetal na zona

ripária (e.g., Rodrigues et al. 2016), especialmente em florestas tropicais. Como as florestas

tropicais possuem alta estabilidade ambiental (e.g., Juen e De Marco 2011) e características

climáticas peculiares (e.g., umidade, sombreamento, precipitação, temperatura), é provável

que a conversão da vegetação gere ambientes com condições e recursos que algumas

espécies não experimentaram ao longo da evolução. Isto pode resultar em mudanças

abruptas na composição das comunidades em florestas tropicais, ainda mais fortes que as

documentadas em outros sistemas, como savanas (Rodrigues et al. 2016) e florestas

temperadas (Betts et al. 2007; Richmond et al. 2015).

Com o objetivo de identificar a existência de um ponto de mudança da comunidade

de invertebrados aquáticos ao longo de um gradiente de perda de vegetação, foi avaliada a

relação entre a fauna e a cobertura vegetal na zona ripária de riachos da Amazônia Oriental

brasileira. As hipóteses do presente estudo são: i) táxons sensíveis à perda da floresta

ripária responderão negativamente ao gradiente de impacto; ii) táxons com preferência por

áreas abertas responderão positivamente à perda de cobertura vegetal na zona ripária e iii)

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haverá uma mudança não linear abrupta na comunidade de invertebrados aquáticos em

resposta a uma pequena variação na quantidade de cobertura vegetal na zona ripária.

Material e métodos

Área de estudo

O estudo foi realizado no município de Paragominas, localizado na região nordeste

do estado do Pará, Brasil (Figura 1). Os riachos avaliados fazem parte das bacias do rio

Capim e Gurupi, subunidades da Bacia Amazônica. A vegetação da região é classificada

como Floresta ombrófila densa e o clima é tropical chuvoso, com expressivo período de

estiagem (tipo Awi da classificação de Köppen; Radambrasil 1974). Nos últimos 65 anos, a

floresta da região vem sendo convertida em pastagens e áreas de cultivo (ver Rodrigues et

al. 2003; Gardner et al. 2013), resultando na fragmentação da paisagem original. Devido à

esses impactos, a zona ripária dos riachos está sujeita a diferentes níveis de alteração,

formando um gradiente de perda de cobertura vegetal (Apêndice A).

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Figura 1. Localização geográfica do município de Paragominas, Pará, Amazônia Oriental,

Brasil. Os pontos pretos representam os locais de amostragem dos invertebrados.

Coleta dos invertebrados

Foram amostrados 51 riachos durante o período de junho a agosto de 2011

(estiagem). Os riachos foram selecionados de forma a representar um gradiente de perda de

vegetação natural. Este gradiente foi identificado por meio da mensuração prévia da

porcentagem de área aberta (desmatamento) na zona ripária dos riachos, com uso de

imagens de satélite e validação em campo antes das coletas. Outros fatores considerados

durante a seleção dos riachos foram a ordem (1ª a 3ª ordem na classificação de Strahler) e

distribuição nas microbacias (~ três riachos por microbacia).

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As coletas foram realizadas em um trecho de 150 m de cada riacho estudado. Esse

trecho foi subdividido por 11 transectos transversais, criando 10 seções contínuas de 15 m.

Nos 10 primeiros transectos transversais, uma amostra de substrato foi coletada para

caracterizar a fauna de invertebrados, totalizando 10 subamostras por riacho. Em cada

transecto foi amostrado o substrato mais frequente e abundante (Peck et al. 2006). A

unidade amostral considerada nesse estudo foi o riacho, assim, os invertebrados coletados

nas 10 subamostras foram agrupados para as análises.

O substrato foi coletado com uso de uma rede entomológica aquática em forma de

“D” (900 cm2 e malha de 1mm2) e fixados com álcool (93%). No laboratório, o material foi

triado em bandejas transiluminadas e os organismos encontrados preservados em álcool

(80%). A identificação dos invertebrados foi feita até o menor nível taxonômico possível,

utilizando microscópio estereoscópico, chaves de identificação específicas (e.g., Hamada et

al. 2014) e o auxílio de especialistas (ver Agradecimentos).

Gradiente de perda de cobertura vegetal

Para avaliar o efeito da perda de vegetação sobre a fauna de invertebrados

aquáticos, as proporções de cobertura florestal e área desmatada foram quantificadas em

três escalas espaciais: microbacia, rede de drenagem acima do ponto de coleta e zona

ripária no trecho de coleta. Como as proporções de área desmatada entre as três escalas

espaciais foram correlacionadas (Pearson r2= 0,50-0,93) e os insetos aquáticos usam mais a

mata ao redor dos riachos, especialmente, porque muitos têm capacidade de dispersão

realtivamente baixa, optou-se por usar o buffer local. Assim, para este estudo, foram usados

buffers retangulares de 100 m em cada margem dos riachos ao longo dos trechos amostrais.

As bases de dados utilizadas para a avaliação da cobertura vegetal em cada buffer foram

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disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) (Paragominas:

TopoData; resolução 30 x 30m).

Os limites das redes de drenagem e das microbacias foram gerados a partir de

modelagem hidrológica no programa SWAT, utilizando o modelo digital do terreno (MDT)

e as coordenadas dos pontos de amostragem. Para o cálculo das proporções das categorias

de uso e cobertura da terra, o arquivo com a delimitação dos buffers foi sobreposto ao mapa

de uso da terra e, com isso, a área referente a cada polígono de uso dentro da microbacia,

rede de drenagem e local foi obtida. De posse da área de cada polígono, as proporções das

categorias de uso foram obtidas por meio da soma da área dos polígonos de cada categoria

de uso em cada escala de estudo e, posterior, divisão pela área total das respectivas escalas

espaciais. As imagens Landsat foram classificadas em cinco classes: floresta primária,

floresta madura, floresta secundária, floresta secundária jovem e não floresta (área aberta).

Essa classificação seguiu metodologia descrita em Gardner et al. (2013). Para este estudo, a

perda de cobertura vegetal foi estimada com base na proporção de área aberta em cada

buffer.

Análise dos dados

Para avaliar uma possível dependência entre os pontos amostrais devido à

autocorrelação espacial (Legendre 1993), a relação entre a riqueza de invertebrados em

cada riacho e sua localização geográfica foi testada por meio do Correlograma do índice de

Moran (Bjornstad 2016). Adicionalmente, uma possível autocorrelação espacial da

cobertura vegetal foi testada. Nessas análises, a perda de vegetação e a riqueza de táxons de

invertebrados aquáticos não apresentaram autocorrelação espacial (Apêndice B).

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Para identificar os pontos de mudança de táxons individuais e da comunidade de

invertebrados aquáticos ao longo do gradiente de perda de vegetação foi utilizada a análise

de limiar de táxons indicadores (TITAN). Essa análise utiliza os scores da Análise de

Espécies Indicadoras (IndVal) para detectar potenciais pontos de mudança dos táxons,

avaliando alterações abruptas na frequência de ocorrência e abundância relativa destes ao

longo de um gradiente ambiental. A sincronia entre os pontos de mudança de cada táxon é

considerada evidência do limiar de mudança da comunidade (Baker e King 2010). Os

táxons que ocorreram em menos de 5% das amostras foram eliminados, a fim de minimizar

o efeito potencial de viés operacional e de valores ao acaso (Arscott et al. 2006). Para

reduzir o efeito de táxons altamente variáveis sobre o cálculo dos scores indicadores, os

dados de abundância foram logaritimizados (log(x+1)).

A análise TITAN distingui os táxons com respostas positivas (Z+) e negativas (Z-)

em relação ao gradiente de impacto. Resposta positiva (Z+) indica que o táxon aumenta em

frequência de ocorrência e abundância a partir do ponto de mudança, enquanto que resposta

negativa (Z-) indica que o táxon diminui em frequência de ocorrência e abundância no

ponto de mudança. A qualidade da resposta de cada táxon indicador é avaliada por dois

índices (pureza e confiabilidade) que são obtidos a partir de reamostragens (n = 500)

realizadas pelo método bootstrap. A pureza é mensurada como a proporção das repetições

da análise bootstrap com a mesma direção de resposta (positiva ou negativa). A

confiabilidade é estimada como a proporção de pontos de mudança obtida pelas

reamostragens bootstrap na qual os resultados da análise IndVal sejam significativos.

Para identificar um possível ponto de mudança da comunidade (riqueza e

composição da comunidade; variável resposta) de invertebrados aquáticos em relação ao

gradiente de perda de vegetação (variável explanatória), foi utilizada a analise de regressão

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segmentada. Esta análise divide as variáveis explanatórias em duas ou mais regressões

lineares com o objetivo de localizar os pontos onde ocorre a mudança da relação entre as

variáveis explanatória e a variável resposta (Muggeo 2003). Os limites ou pontos de quebra

são estimados usando diferentes pontos de inicialização e a identificação destes é baseada

no maior valor da regressão (R2; Muggeo 2003). A composição da comunidade foi

sumarizada a partir do primeiro eixo da Análise de Coordenadas Principais (PCoA; Bray-

Curtis; log (x + 1)). A riqueza foi definida como o número de táxons registrados em cada

riacho. Todas as análises foram realizadas no programa estatístico R (R Development Core

Team 2010), utilizando os pacotes: segmented (Muggeo 2004), ncf (Bjornstad 2016) e titan

(Baker e King 2010).

Resultados

No total foram coletados 25.142 invertebrados pertencentes a 66 famílias e 143

gêneros. As ordens com maior número de táxons foram Odonata (n = 41), Coleoptera (n =

37), Ephemeroptera (n = 25) e Trichoptera (n = 21; Apêndice C). A ordem mais abundante

foi Trichoptera (52,0%), seguida por Diptera (22,4%) e Ephemeroptera (14,2%). Entre os

159 táxons identificados, 112 foram registrados em três ou mais riachos (ocorrência > 5%)

e foram incluídos na análise TITAN.

Entre os táxons avaliados na análise TITAN, 57 (~51%) foram identificados como

indicadores ao longo do gradiente de perda de vegetação (pval < 0,05; Apêndice D).

Destes, 40 táxons foram identificados como indicadores negativos (Z-), ou seja, diminuíram

em abundância e frequência de ocorrência à medida que o gradiente de perda de vegetação

aumentou, e 17 como indicadores positivos (Z+), tendo aumentado em abundância e

frequência de ocorrência com a perda de vegetação (Apêndice D). Odonata, Trichoptera e

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Ephemeroptera foram as ordens com maior número de táxons identificados como

indicadores em ambas as direções de resposta. Essas ordens representaram 77,5% dos

táxons com respostas negativas (Odonata = 13; Trichoptera = 11; Ephemeroptera = 7) e

58,8% daqueles com respostas positivas (Odonata = 4; Trichoptera = 5; Ephemeroptera = 1;

Figura 3; Apêndice C).

Mais da metade (n = 22) dos táxons indicadores com resposta negativa

apresentaram declínio acentuado e significativo com perdas de vegetação nativa inferiores a

10%, e destes, 11 táxons responderam sincronicamente entre 4,4 e 5,9% (Figura 2). Os

demais táxons Z- apresentaram limiar de declínio gradual até cerca de 68% de perda de

vegetação. Cerca de metade dos táxons indicadores com resposta positiva (Z+; n = 8)

apresentaram aumento de abundância e frequência de ocorrência com menos de 20% de

perda de vegetação nativa (Apêndice D).

Quanto ao limiar de mudança da comunidade, as curvas de probabilidade

acumulada da análise TITAN indicaram que a perda de 4 a 6% de vegetação gera mudança

da comunidade para (Z-) e (Z+) (Figura 3). A partir dessa proporção de perda de vegetação,

os táxons especialistas decrescem em abundância e frequência, enquanto os táxons

generalistas tendem a aumentar. O número de indicadores com altos valores de pureza e

confiabilidade reforça a evidência da existência de um ponto ou zona de mudança da

comunidade de invertebrados (Figura 2). Para as medidas agregadas da comunidade, a

análise de regressão segmentada determinou o ponto de mudança da riqueza e da

composição da comunidade de invertebrados aquáticos em 79,3% (EP (Erro Padrão) =

31,4%) e 4,1% (EP = 5,7%) da perda de vegetação, respectivamente (Figura 4a e 4b).

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Figura 2- Análise de limiar de táxons indicadores (TITAN) para a

invertebrados aquáticos em um gradiente de perda de vegetação (n = 51 riachos),

evidenciando os táxons indicadores significativos

ordem crescente em relação

frequência de ocorrência e abundância com o aumento da perda de vegetação nativa. Z

táxons que aumentaram em frequência de ocorrência e abundância com o aumento da perda

de vegetação nativa. Os círculos representam o ponto de

Análise de limiar de táxons indicadores (TITAN) para a comunidade de

invertebrados aquáticos em um gradiente de perda de vegetação (n = 51 riachos),

evidenciando os táxons indicadores significativos (p≤ 0,05). Os táxons estão plotados em

ao seu ponto de mudança. Z- = táxons que diminuíram em

frequência de ocorrência e abundância com o aumento da perda de vegetação nativa. Z

táxons que aumentaram em frequência de ocorrência e abundância com o aumento da perda

de vegetação nativa. Os círculos representam o ponto de mudança de cada táxon e o

20

comunidade de

invertebrados aquáticos em um gradiente de perda de vegetação (n = 51 riachos),

. Os táxons estão plotados em

= táxons que diminuíram em

frequência de ocorrência e abundância com o aumento da perda de vegetação nativa. Z+ =

táxons que aumentaram em frequência de ocorrência e abundância com o aumento da perda

mudança de cada táxon e o

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diâmetro destes é proporcional à magnitude de resposta de cada táxon ao gradiente de

distúrbio.

Figura 3- Os valores de soma Z-, em preto, e de soma Z+ (em cinza) correspondentes aos

pontos candidatos a serem o ponto de mudança ao longo do gradiente de perda de

vegetação nativa. Os picos na soma de Z- e Z+ são os locais ao longo do gradiente onde

ocorreram declínios e incrementos sincrônicos de táxons, respectivamente. O maior pico

para ambas as direções de resposta ocorreu em 5,9% de perda de vegetação nativa. As

linhas sólidas e tracejadas representam a distribuição da frequência cumulativa dos limiares

de soma (Z-) e (Z+) para as 500 repetições (bootstraps), respectivamente. Z- = táxons com

resposta negativa à perda de cobertura vegetal e Z+ = táxons com resposta positiva à perda

de cobertura vegetal.

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Figura 4- Análise de regressão segmentada mostrando o ponto de mudança da riqueza (A) e

da composição da comunidade (B) de invertebrados aquáticos em um gradiente de perda de

vegetação nativa. O ponto de mudança ocorreu em 79,3 ± 31,4% (Média e erro padrão) de

perda de vegetação para a riqueza e em 4,1 ± 5,7% para a composição da comunidade.

Esses valores são representados pelo ponto cinza com a barra horizontal no alto de cada

gráfico.

Discussão

Os resultados obtidos neste estudo forneceram evidencias consistentes de que a

perda de cobertura vegetal na zona ripária, mesmo em pequenas proporções, é um fator

limitante para a comunidade de invertebrados em pequenos riachos de floresta da

Amazônia. A detecção do ponto de mudança da comunidade no início do gradiente de

distúrbio (4 a 6%) e sua confirmação pela alteração na composição da comunidade indicam

um limiar muito estreito de tolerância à perda de vegetação ripária para os táxons mais

sensíveis. Por outro lado, quando utilizamos a riqueza como medida agregada da

comunidade, o ponto de mudança foi transferido para cerca de 80% de perda de cobertura

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vegetal, com ampla margem de erro. Essa disparidade nos resultados é comumente

atribuída à incapacidade da métrica riqueza de separar os efeitos do declínio rápido e

sincrônico dos táxons sensíveis do aumento gradual dos táxons tolerantes, podendo

esconder ou suavizar a resposta simultânea dos táxons (Lindenmayer et al. 2005; Baker e

King 2010; King e Baker 2011).

O limite crítico da comunidade de invertebrados aquáticos à perda de cobertura

vegetal (4 a 6%) foi muito inferior aos valores anteriormente registrados para mamíferos,

anfíbios e aves em florestas tropicais (50% a 60%; Pardini et al. 2010; Estavillo et al.,

2013; Banks-Leite et al. 2014; Ochoa-Quintero 2015; Muylaert et al. in press). A alta

intolerância dos táxons sensíveis de invertebrados à perda da zona ripária pode estar

associada ao fato de que: (i) em cadeias tróficas baseadas em detritos (e.g., sistema riacho-

zona ripária Amazônico; Walker 1985; 1987) muitos táxons são fortemente associados aos

microhabitats e recursos propiciados pela vegetação ripária (Vinson e Hawkins 1998); (ii)

alguns destes táxons de zona ripária apresentam adaptações morfológicas, comportamentais

e fisiológicas similares, em resposta à uma variação predominantemente pequena nas

condições ambientais; (iii) nichos funcionais estreitos resultam em muitos táxons

intolerantes a condições que estão fora daquelas experimentadas no tempo evolutivo (King

e Baker 2011). Assim, nossos resultados indicam uma intrínseca conexão entre os riachos

de floresta e sua zona ripária (Vannote et al. 1980; Wallace et al. 1999), e reforçam a

necessidade de preservação desta vegetação para a manutenção da biodiversidade e,

consequentemente, dos processos e serviços ecossistêmicos.

A direção da reposta e os atributos específicos de cada táxon ajudam a compreender

os mecanismos por trás das mudanças da biota a um estressor (King et al. 2011), pois

devem estar diretamente associados às tolerâncias e exigências de cada grupo de

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organismos (Poff 1997). No presente estudo, os atributos dos táxons com resposta positiva

sugerem que a perda da cobertura vegetal induziu alterações na fonte e qualidade da

matéria orgânica disponível para a fauna (alóctone → autóctone) e redução no grau de

sombreamento, favorecendo os táxons que possuem preferência por áreas abertas (Diptera:

Simulium; Hamada e McCreadie 1999; Odonata: Anisoptera: Brechmorhoga, Diastatops e

Erythrodiplax; Corbi 1999; Remsburg et al. 2008; Calvão et al. 2013; Oliveira-Junior et al.

2015), os que se alimentam de algas e herbáceas aquáticas (e.g., Parapoynx, Oxyethira,

Hydroptila; Nessimian e Da Silva, 1994; Merrit e Cummins 1996) e os tolerantes aos

impactos humanos (Glossiphoniidae e Limnodrilus; Simpson et al. 1993).

A complexidade das relações e a falta de informações detalhadas sobre a história

natural, os aspectos biológicos e ecológicos dos invertebrados (Bonada et al. 2006) dificulta

a compreensão mais ampla dos mecanismos por trás das mudanças na comunidade aquática

(Heino e Peckarsky 2014). Contudo, analisando os táxons sensíveis foi possível observar a

conexão de alguns deles com a vegetação ripária. Os Plecoptera típicos de ambientes

florestais, como Anacroneuria e Macroginoplax, possuem capacidade (Briers et al. 2002) e

restrições fisiológicas às altas temperaturas (Hynes 1976; Gray 1981). Os Chalcopteryx e

Heteragrion (Odonata, Zygoptera) possuem alta seletividade de habitat e dispersão limitada

(Corbi 1999; Loiola e De Marco 2011; Oliveira-Junior et al. 2015). Por exemplo,

Chalcopteryx rutilans (Rambur, 1842) dependem da presença de troncos caídos sobre os

riachos para sua reprodução, uma vez que, as fêmeas utilizam estes locais para postura dos

ovos (Resende e De Marco 2010). O fragmentador Phylloicus (Trichoptera), é outro táxon

típico de riachos da floresta amazônica e que depende das folhas disponibilizadas pela

vegetação ripária como alimento e matéria prima para a construção de abrigo (Landeiro et

al. 2008; Martins et al. 2015).

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A distribuição dos táxons que não responderam à perda da vegetação natural e

daqueles que responderam, mas tiveram amplos intervalos de confiança, deve estar

associada à amplitude de tolerância das espécies presentes nos gêneros. Gêneros com

espécies que possuem diferentes níveis de tolerância ou apenas espécies tolerantes

geralmente apresentam ausência de resposta ou amplo intervalo de confiança (Lenat e Resh

2001). Neste estudo, Simulium (Diptera) foi um exemplo de táxon com amplo intervalo de

confiança. Apesar do nível de desenvolvimento das larvas de Simulium não ter permitido

identificar todos os organismos até espécie, foi possível constatar que as espécies das áreas

com maior cobertura vegetal (S. goeldii, S. incrustatum e S. quadrifidum) diferiram daquela

dominante em áreas degradadas (Simulium perflavum), estabelecendo um gradiente de

resposta, o que é condizente com o intervalo de confiança observado. Enquanto S. goeldii é

característico de áreas florestadas, S. perflavum é uma espécie de área aberta (Hamada e

McCreadie 1999), podendo ser considerada uma espécie invasora em riachos de floresta de

baixa ordem na Amazônia (N. Hamada, com. pess.). Outros gêneros multiespecíficos como

Argia e Epipleoneura (Odonata) também possuem representantes com níveis variados de

tolerância à degradação no sistema riacho-vegetação ripária (Monteiro Junior et al. 2013;

Dutra e De Marco 2015; Rodrigues et al. 2016). Da mesma forma, os táxons que não

responderam à perda da vegetação natural ou tiveram sua resposta anulada por possuírem

representantes com níveis opostos de tolerância ou possuem espécies com nichos mais

amplos podendo explorar uma gama maior de condições e recursos do seu habitat e de

habitats vizinhos, por meio de dispersão. Assim, a distribuição destes táxons independe da

perda e fragmentação de habitat na paisagem modificada pelo homem (Thomas 2000).

O avanço das fronteiras agrícolas no norte do Brasil é o principal responsável pela

perda, fragmentação e conversão da floresta Amazônica. Estima-se que a área total de

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floresta perdida hoje seja de 413.506 Km2 e que, apenas no estado do Pará, a perda exceda

a área ocupada pela Inglaterra (139.862 Km2; INPE 2015). Apesar da taxa de

desmatamento da Amazônia brasileira ter caído nos últimos anos, atualmente (2010 -

2015), ainda se perde cerca de 5.850 km2 de floresta anualmente (INPE 2015) em

consequência do avanço das fronteiras agrícolas. Recentemente, Barlow et al. (2016)

demonstraram que apesar do ganho com a redução nas taxas de perda de vegetação natural

na Amazônia, a fragmentação, o efeito de borda, a retirada seletiva de árvores e a caça são

fatores que tem levado à perda da biodiversidade e diminuição da qualidade dos fragmentos

de vegetação nativa remanescentes. Além das implicações locais e regionais da perda e

fragementação de habitat, como por exemplo, a perda da biodiversidade, degradação de

ecosistemas aquáticos e terrestres, aumento da temperatura do ar e água, queda da umidade

relativa do ar e a redução na frequência e quantidade de precipitação (Martinelli et al. 2010;

Brando et al. 2013; Macedo et al. 2013; Coe et al. 2013), a perda da floresta amazônica

deve contribuir com o aquecimento global, uma vez que, as florestas tropicais tem potencial

para suavizar o aquecimento por meio da evaporação (Bonan et al. 2008). Sob esse

contexto, estudos que visam compreender e mensurar as exigências da fauna em áreas de

florestas tropicais, como este, ganham significado expressivo, tanto para orientar a conduta

de proprietários rurais que buscam melhorar suas práticas de produção, como é o caso de

centros agrícolas na Amazônia brasileira (e.g., “Selo Verde” em Paragominas; Gardner et

al. 2013), quanto para nortear leis de políticas públicas de ampla vigência.

Nossos resultados trazem importantes implicações para as políticas de gestão de

recursos naturais em zonas ripárias vigentes no país. O Código Florestal Brasileiro (Lei nº

12.651 / 2012), que visa proteger o equilíbrio ecológico e a qualidade dos recursos hídricos,

estabelece uma faixa de 130 m de largura em cada margem dos riachos (≤ 10m de largura)

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como Área de Preservação Permanente (APP). Embora tenhamos utilizado uma largura

3,33 vezes maior que a determinada pela lei, o ponto de mudança da comunidade em

aproximadamente 5% de perda de vegetação indíca que a área recomendada para a APP é

insuficiente para proteger os táxons sensíveis de invertebrados nos riachos Amazônicos.

Agradecimentos

Agradeço a José M. B. Oliveira Jr. e a equipe aquática do projeto- “Rede Amazônia

Sustentável”- pelo auxílio nos trabalhos de campo; ao Paulo V. Cruz (Baetidae), Ana M. O.

Pes (Trichoptera), Karina D. Silva (Hemiptera), Ulisses G. Neiss (Odonata), Nikolas G.

Cipola (Collembola), Célio U. Magalhães (Decapoda); Renato T. Martins (Oligochaeta),

Daniara Colpani (Gyrinidae) e César João Benetti (Coleoptera) pela ajuda na identificação

ou confirmação da identificação dos invertebrados e a Renato T. Martins pelo auxílio nas

análises. Agradeço também à Jeane M. C. Nascimento pelas dicas de identificação dos

Leptophlebiidae. JGB recebeu bolsa de doutorado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado do Amazonas (FAPEAM) e NH e JLN receberam bolsas de pesquisa do Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os projetos Sistemática

integrada de insetos aquáticos com ênfase em Simuliidae Neotropical,

Pronex/CNPq/Fapeam – Insetos aquáticos e Rede Amazônia Sustentável (RAS)

financiaram as coletas e o processamento das amostras. A RAS recebeu apoio financeiro do

Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia

(CNPq 574008/2008-0), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa (SEG

02.08.06.005.00), Governo britânico: Darwin Initiative (17-023), TNC-The Nature

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39

Apêndices

Apêndice A- Posição dos riachos em ordem crescente de perturbação, representando o

gradiente completo de perda da vegetação nativa no buffer local de 100 m.

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40

Apêndice B- Correlograma do índice de Moran testando autocorrelação espacial entre (A) a

riqueza da fauna de invertebrados em cada ponto amostral e a sua localização geográfica e

(B) a vegetação nativa remanescente em cada ponto amostral e a sua localização

geográfica. Não houve autocorrelação significativa (círculos fechados).

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41

Apêndice C- Valores médios e desvio padrão da abundância e frequência de ocorrência

(F.O.) de cada táxon de invertebrados coletados nos 51 riachos da Amazônia Oriental,

Paragominas, Pará, Brasil, no período de junho a agosto de 2011. Riachos representam um

gradiente de distúrbio, incluindo desde riachos pouco impactados até aqueles com alto nível

de impacto causado por atividades agropastoris. *= Táxons não incluídos na Análise de

Táxons Indicadores (TITAN).

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Annelida Hirudinea Glossiphoniidae - 0,78±2,89 13

Oligochaeta Enchytraeidae - 0,57±2,74 5

Naididae-Tubificinae Bothrioneurum* 0,02±0,14 1

Limnodrilus 0,72±2,32 13

Naididae_Naidinae Nais 0,20±0,53 8

Slavina* 0,35±2,52 1

Pristininae Pristina 0,06±0,34 3

Pristinella* 0,04±0,20 2

Opistocystidae Opistocysta 0,02±0,14 3

Crustacea Decapoda Palaemonidae Macrobrachium 0,14±0,45 5

Trichodactylidae - 0,04±0,28 1

Hexapoda Collembola Entomobryidae Lepidosira 0,04 ± 0,44 3

Paronellidae Salina* 0,08 ± 0,20 2

Ephemeroptera Baetidae Americabaetis 3,04±14,92 6

Aturbina 0,37±2,12 4

Callibaetis 0,16±0,61 4

Cryptonympha 13,74±47,69 23

Paracleodes 1,18±4,65 5

Waltzoyphius 1,92±5,87 19

Zelusia 0,71±1,87 12

Caenidae Brasilocaenis 2,82±8,82 12

Caenis 2,96±4,20 34

Coryphoridae Coryphorus* 0,06±0,31 2

Euthyplociidae Campylocia 7,04±11,79 29

Leptohyphidae Amanahyphes 3,27±9,26 21

Tricorythodes* 0,06±0,31 2

Tricorythopsis 3,86±19,71 10

Leptophebiidae Askola* 0,04±0,20 2

Farrodes 1,65±6,97 15

Fittkaulus 0,74±3,49 5

Hagenulopsis 0,18±0,89 3

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42

Continuação

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Hydrosmilodon 2,16±14,69 7

Miroculis 7,23±12,58 27

Paramaka/Needhamella* 0,02±0,14 1

Thraulodes* 0,02±0,14 1

Simothraulopsis* 0,06±0,31 2

Ulmeritoides 6,98±11,56 30

Polymitarcyidae Asthenopus 1,31±5,95 6

Campsurus 0,45±1,30 8

Odonata Aeshnidae Coryphaeschna* 0,02±0,04 1

Hexapoda

Calopterygidae Hetaerina 1,37±0,46 25

Coenagrionidae Argia 1,41±0,58 25

Acanthagrion 0,16±0,17 5

Corduliidae Aeschnosoma 0,25±0,22 11

Lauromacromia 0,20±0,24 4

Neocordulia* 0,02±0,04 1

Paracordulia 0,04±0,06 3

Dicteriadidae Dicterias* 0,02±0,04 1

Heliocharis amazona 0,10±0,10 5

Gomphidae Agriogomphus 0,43±0,27 9

Aphylla* 0,04±0,06 1

Archaeogomphus 0,06±0,08 3

Desmogomphus* 0,04±0,06 2

Ebegomphus 0,25±0,21 6

Epigomphus 0,71±0,49 12

Phyllocycla 0,55±0,32 13

Phyllogomphoides 0,14±0,13 5

Progomphus 0,71±0,34 18

Zonophora 1,14±0,51 21

Libellulidae Brechmorhoga 0,78±0,68 5

Dasythemis* 0,02±0,04 1

Diastatops 3,96±16,16 14

Dythemis* 0,12±0,19 1

Elasmothemis 1,78±1,06 11

Elga 1,41±0,57 23

Erythrodiplax 0,23±0,37 6

Gynothemis 1,02±0,47 20

Libellulidae sp.* 0,16±0,21 2

Macrothemis 1,20±0,55 17

Oligoclada 0,31±0,27 10

Orthemis* 0,040±0,09 1

Perithemis* 0,14±0,27 2

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43

Continuação

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Planiplax* 0,06±0,10 2

Megapodagrionidae Heteragrion 0,61±0,27 17

Perilestidae Perilestes 0,18±0,15 6

Polythoridae Chalcopteryx 0,18±0,21 3

Protoneuridae Epipleoneura 2,92±3,96 31

Plecoptera Perlidae Anacroneuria 1,67±4,37 12

Macrogynoplax 2,22±4,46 18

Blattaria Blaberidae Epilamprinae 0,14 ± 0,35 11

Heteroptera Corixidae Tenagobia 0,04±0,20 3

Gerridae Tachygeris* 0,02±0,14 1

Naucoridae Ambrysus 0,47±1,15 12

Limnocoris 0,10±0,46 3

Veliidae Paravelia 0,06±0,24 6

Rhagovelia 0,04±0,20 3

Stridulivelia* 0,02±0,14 1

Coleoptera Dryopidae Onopelmus* 0,04±0,28 1

Dytiscidae Bidessini* 0,02±0,14 1

Hexapoda

Celina 0,16±0,54 7

Desmopachria* 0,06±0,31 2

Hydrodessus 0,22±0,70 6

Laccophilus 0,02±0,14 3

Platynectes 0,20±0,92 3

Elmidae Cylloepus* 0,04±0,28 2

Gyrelmis 0,16±0,70 3

Heterelmis 0,22±0,68 6

Hexacylloepus 1,10±4,97 11

Hintonelmis* 0,02±0,14 1

Macrelmis 0,82±3,27 7

Microcylloepus 0,06±0,24 5

Neoelmis 0,31±0,62 13

Neolimnius* 0,06±0,31 2

Pilielmis 0,82±3,04 10

Stegoelmis 0,41±0,90 12

Tyletelmis* 0,06±0,31 2

Xenelmis 0,22±0,70 6

Gyrinidae Gyretes 2,04±3,68 28

Hydraenidae - 0,02±0,14 1

Hydrochidae - 0,04±0,20 2

Hydrophilidae Anacaena* 0,04±0,28 1

Chasmogenus* 0,02±0,14 1

Derallus* 0,02±0,14 1

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44

Continuação

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Enochrus* 0,04±0,20 1

Helochares* 0,02±0,14 1

Tropisternus* 0,06±0,42 1

Limnichidae - 0,02±0,14 1

Noteridae Hydrocanthus 0,02±0,14 3

Liocanthydrus 0,43±1,24 11

Suphisellus 0,04±0,20 3

Ptilodactylidae - 0,18±0,86 5

Scirtidae Cyphon* 0,02±0,14 1

Scirtes 1,72±4,90 22

Staphylinidae - 0,29±1,04 6

Megaloptera Sialidae Ilyobius* 0,06±0,31 2

Corydalidae - 0,47±1,60 9

Trichoptera Calamoceratidae Phylloicus 1,57±3,52 18

Ecnomidae Austrotinodes 0,06±0,24 3

Glossosomatidae Mortoniella 0,14±0,60 4

Helicopsychidae Helicopsyche* 0,02±0,14 1

Hydropsychidae Leptonema 21,14±81,05 35

Macronema 16,33±22,59 40

Macrostemum 103,63±297,99 36

Smicridea 47,82±122,04 43

Trichoptera Hydroptilidae Flintiella 0,69±3,14 5

Hydroptila 3,45±12,47 11

Neotrichia 0,49±1,54 11

Oxyethira 1,10±2,70 17

Hexapoda

Leptoceridae Nectopsyche 0,33±0,71 13

Oecetis 1,49±3,12 23

Triplectides 0,39±0,98 11

Odontoceridae Marilia* 0,06±0,31 2

Philopotamidae Wormaldia 0,67±3,03 5

Polycentropodidae Cernotina 12,65±16,97 42

Cyrnellus 1,41±3,09 20

Nyctiophilax 0,37±0,98 10

Polyplectropus 0,63±2,13 9

Lepidoptera Crambidae Parapoynx 2,16±5,02 22

Petrophila 6,18±10,84 35

Synclita* 0,04±0,20 2

Diptera Ceratopogonidae - 0,41±1,98 7

Chironomidae - 37,33±43,97 45

Dolichopodidae - 0,02±0,14 1

Empididae - 0,45±1,27 13

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45

Continuação

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Simuliidae Simulium 28,80±140,93 34

Stratiomyidae - 0,02±0,14 1

Tabanidae - 0,22±1,01 5

Tipulidae - 1,57±3,03 26

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46

Apêndice D - Resumo dos resultados da análise de limiar de táxons indicadores (TITAN),

inclusos os índices de qualidade (Pureza = Pur; Confiabilidade com nível de significância

de 0,05% = Conf.05) e o intervalo de confiança para mais (95%) e menos (5%). P.M. =

ponto de mudança de cada táxon. IndVal = Valor indicador de cada taxon; p = Valor de

probabilidade; Z = valores de IndVal escalonados pela TITAN; Intervalo de confiança: 5%

= valor mínimo de perda de vegetação capaz de afetar a distribuição do taxon; 95% = valor

da perda de vegetação em que ocorre a extinção do taxon na paisagem.

Táxons P. M. IndVal p z

Intervalo de confiança

Pur. (%)

Conf.05 (%)

5% 95% Ephemeroptera Americabaetis 0,141 15,46 0,268 0,87 6,0 72,8 63,0 17,6 Aturbina 0,141 12,50 0,220 1,07 11,1 93,9 43,6 13,4 Callibaetis 0,164 10,81 0,316 0,73 0,0 72,9 69,0 28,2 Cryptonympha 0,059 54,59 0,028 2,28 0,0 61,6 83,2 69,2 Paracleodes 0,141 11,81 0,316 0,47 0,0 78,2 56,0 13,0 Waltzoyphius 0,682 38,15 0,124 1,16 0,0 75,4 64,2 40,2 Zelusia 0,044 59,61 0,004 6,31 0,0 13,2 97,0 96,0 Brasilocaenis 0,059 31,58 0,044 2,10 1,4 78,2 76,8 48,6 Caenis 0,332 64,59 0,004 4,27 14,1 93,9 98,8 96,8 Campylocia 0,000 65,74 0,004 3,33 0,0 90,9 99,2 95,2 Amanahyphes 0,332 41,94 0,060 2,14 0,0 88,6 95,6 80,2 Tricorythopsis 0,599 19,89 0,348 0,49 0,0 72,8 61,0 18,4 Farrodes 0,826 35,71 0,064 1,59 4,4 82,6 68,6 44,8 Fittkaulus 0,059 13,16 0,144 0,64 9,1 90,9 68,8 39,2 Hagenulopsis 0,014 27,27 0,012 5,70 0,0 6,0 100 78,2 Hydrosmilodon 0,599 23,10 0,072 2,09 5,9 75,4 82,4 36,2 Miroculis 0,059 90,02 0,004 7,97 0,0 36,8 100 100 Ulmeritoides 0,332 50,74 0,016 2,72 0,0 75,4 91,0 80,8 Asthenopus 0,059 15,79 0,260 1,17 5,9 88,6 72,4 31,6 Campsurus 0,000 52,43 0,004 6,54 0,0 33,2 97,8 94,2 Plecoptera Anacroneuria 0,044 60,20 0,004 6,92 0,0 24,5 99,8 98,6 Macrogynoplax 0,141 59,27 0,004 6,00 0,0 46,5 100 99,8 Trichoptera Phylloicus 0,059 75,83 0,004 7,59 0,0 27,3 100 100 Austrotinodes 0,000 42,86 0,004 9,66 0,0 7,3 100 82,0 Mortoniella 0,059 30,77 0,008 5,83 0,0 14,1 100 89,0 Leptonema 0,710 62,55 0,100 1,29 0,0 82,6 83,0 61,8 Macronema 0,515 64,75 0,008 3,52 20,5 90,9 99,6 99,0 Macrostemum 0,465 68,71 0,012 2,64 1,4 60,0 94,6 89,2 Smicridea 0,111 76,38 0,004 2,65 0,0 60,0 93,0 87,8 Flintiella 0,245 17,24 0,104 1,94 13,1 78,2 83,2 43,0 Hydroptila 0,132 33,33 0,020 2,86 7,3 78,2 97,6 89,0 Neotrichia 0,682 29,73 0,040 2,33 0,0 75,4 96,2 69,2 Oxyethira 0,599 41,29 0,012 3,14 4,4 72,8 96,6 94,0 Nectopsyche 0,205 34,29 0,028 3,01 0,0 71,0 98,8 90,0 Oecetis 0,332 63,62 0,004 5,58 4,4 54,8 100 99,8 Triplectides 0,728 28,21 0,084 1,82 4,4 78,2 83,8 41,8 Wormaldia 0,059 30,45 0,016 4,46 0,0 20,5 98,2 86,6 Cernotina 0,297 64,57 0,004 3,16 11,1 98,4 95,2 90,4 Cyrnellus 0,060 54,05 0,004 4,59 0,0 64,8 97,2 96,4 Nyctiophilax 0,000 38,14 0,040 2,56 0,0 82,6 7,06 59,4 Polyplectropus 0,044 56,53 0,004 7,53 0,0 13,2 99,8 99,8

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47

Continuação

Táxons P. M. IndVal p z Intervalo de

confiança Pur. (%)

Conf.05 (%)

5% 95% Lepidoptera Parapoynx 0,465 60,89 0,004 5,78 13,9 64,6 99,8 99,8 Petrophila 0,886 61,11 0,056 1,83 0,0 93,9 68,6 51,8 Coleoptera Gyrelmis 0,111 8,82 0,164 0,61 7,2 68,2 58,8 6,2 Heterelmis 0,515 13,96 0,296 0,80 0,0 98,4 56,2 20,0 Hexacylloepus 0,616 27,60 0,080 1,52 11,1 90,9 86,8 50,4 Macrelmis 0,073 15,75 0,236 0,67 7,3 82,6 59,0 16,2 Microcylloepus 0,060 13,51 0,304 0,87 4,4 90,9 56,4 13,0 Neoelmis 0,073 29,41 0,068 1,72 4,2 98,4 90,4 59,6 Coleoptera Pilielmis 0,616 29,67 0,024 2,35 4,4 82,6 92,6 69,8 Stegoelmis 0,515 33,15 0,012 2,90 1,4 68,3 100 92,6 Xenelmis 0,059 37,19 0,004 5,76 0,0 27,6 99,2 92,2 Ptilodactylidae 0,000 26,75 0,072 2,78 0,0 75,4 75,2 40,8 Gyretes 0,132 45,98 0,104 1,58 1,4 78,2 91,0 69,2 Laccophilus 0,616 10,17 0,232 0,94 0,0 93,9 67,8 20,8 Celina 0,273 18,88 0,076 1,89 6,0 90,9 91,4 59,2 Hydrodessus 0,000 46,46 0,004 5,21 0,0 51,5 99,0 82,0 Platynectes 0,646 12,08 0,168 1,48 0,0 88,6 64,2 29,2 Hydrocanthus 0,616 10,17 0,232 0,94 0,0 93,9 67,8 20,8 Liocanthydrus 0,682 51,57 0,004 6,24 49,3 98,4 100 98,8 Suphisellus 0,091 8,57 0,508 0,62 0,0 78,2 50,2 6,4 Scirtes 0,367 57,55 0,004 4,08 0,0 54,8 99,4 97,8 Staphilinidae 0,044 15,38 0,152 0,71 5,9 75,4 51,0 11,8 Hemiptera Tenagobia 0,984 16,43 0,308 1,14 0,0 98,4 67,8 23,4 Ambrysus 0,984 30.16 0,180 0,83 5,9 98,4 69,2 42,4 Limnocoris 0,132 9,78 0,084 0,69 0,0 75,4 65,6 14,4 Paravelia 0,060 16,22 0,220 1,15 5,9 82,6 59,4 17,2 Rhagovelia 0,984 16,43 0,272 1,31 9,1 98,4 60,4 16,0 Megaloptera Corydalidae 0,044 46,28 0,004 5,17 0,0 46,8 98,0 95,2 Diptera Ceratopogonidae 0,646 19,44 0,136 1,24 11,0 68,2 60,2 21,6 Chironomidae 0,984 58,08 0,296 0,36 0,0 93,9 46,0 19,6 Empididae 0,425 41,61 0,004 4,44 20,5 93,9 99,4 97,6 Simulium 0,059 72,16 0,016 1,74 1,4 90,9 84,0 74,0 Tabanidae 0,616 14,29 0,276 1,03 0,0 64,8 60,2 17,8 Tipulidae 0,394 49,91 0,024 2,81 0,0 68,2 95,6 85,4 Odonata Hetaerina 0,710 38,12 0,216 0,71 0,0 90,9 80,8 50,0 Argia 0,000 65,39 0,004 4,55 0,0 58,0 99,4 98,0 Acanthagrion 0,599 13,39 0,208 1,14 6,0 82,6 81,0 39,0 Aeschnosoma 0,273 34,74 0,004 4,36 9,1 51,5 98,6 95,0 Lauromacromia 0,273 17,39 0,020 2,75 0,0 39,4 99,0 63,8 Paracordulia 0,205 10,00 0,264 1,12 9,0 93,9 79,0 22,4 Helicharis 0,580 15,15 0,132 1,52 0,0 68,2 78,4 24,8 Brechmorhoga 0,465 17,83 0,032 2,36 13,2 71,0 91,8 50,6 Diastatops 0,059 36,84 0,048 2,15 4,4 72,8 86,6 75,0 Elasmothemis 0,059 28,95 0,072 1,56 1,4 71,0 75,6 43,8 Elga 0,297 62,85 0,004 6,19 0,0 46,5 100 100 Erythrodiplax 0,616 23,23 0,004 2,51 7,3 93,9 88,8 59,6 Gynothemis 0,014 40,69 0,060 1,73 0,0 88,6 78,0 59,6 Macrothemis 0,000 37,78 0,072 1,56 0,0 93,9 56,4 31,8 Oligoclada 0,091 30,52 0,016 2,97 0,0 75,4 86,4 73,8 Agriogomphus 0,132 30,81 0,008 3,48 0,0 51,8 93,0 83,0 Archaeogomphus 0,332 12,00 0,108 2,05 0,0 46,5 97,2 38,6 Ebegomphus 0,465 20,69 0,048 2,47 0,0 54,8 98,2 75,6 Epigomphus 0,091 29,80 0,044 2,17 0,0 71,0 88,8 67,0 Phyllocycla 0,000 29,55 0,208 1,03 0,0 75,4 34,6 13,6 Phyllogomphoides 0,580 15,15 0,108 1,81 0,0 59,9 91,2 52,6 Progomphus 0,984 43,12 0,116 1,22 0,0 98,4 43,8 27,6 Zonophora 0,141 48,70 0,004 3,66 0,0 68,2 97,8 89,8 Heteragrion 0,059 76,27 0,004 8,17 0,0 39,5 100 100

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48

Continuação

Táxons P. M. IndVal p z Intervalo de

confiança Pur. (%)

Conf.05 (%)

5% 95% Perilestes 0,273 26,09 0,008 4,56 0,0 39,4 100 92,6 Chalcopteryx 0,044 25,00 0,012 5,50 0,0 6,0 100 80,2 Epipleoneura 0,014 60,73 0,020 2,78 0,0 82,6 89,2 82,8 Psaironeura 0,014 23,98 0,032 3,18 0,0 82,6 82,8 64,8 Crustacea Macrobrachium 0,000 38,29 0,012 5,33 0,0 54,8 91,8 64,4 Annelida Enchytraeidae 0,599 14,71 0,248 1,19 9,0 61,6 48,2 13,4 Limnodrilus 0,273 34,92 0,016 2,74 7,3 71,0 86,8 78,8 Nais 0,728 19,12 0,248 0,78 5,9 88,6 65,4 31,6 Annelida Pristina 0,580 9,40 0,232 0,75 0,0 68,3 51,6 15,6 Opistocysta 0,091 8,57 0,512 0,65 4,2 78,4 44,0 6,2 Glossiphoniidae 0,059 34,21 0,028 2,31 0,0 68,2 87,6 57,2 Collembola Lepidosira 0,073 10,16 0,120 0,80 0,0 64,6 72,2 25,4 Blattaria Blaberidae 0,782 26,83 0,124 1,47 6,0 78,2 69,0 41,8

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49

Capítulo 2

Indicadores biológicos da diversidade em riachos

tropicais: congruência na similaridade da

comunidade de invertebrados entre grupos e

resoluções taxonômicas. Manuscrito formatado para

Acta Amazonica.

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Indicadores biológicos da diversidade em riachos tropicais: congruência na

similaridade da comunidade de invertebrados entre grupos e resoluções taxonômicas

Resumo

Uma importante alternativa para contornar a escassez de dados da biodiversidade durante o planejamento e implantação de medidas de conservação é o uso da abordagem de substitutos. A premissa mais importante dessa abordagem é a congruência entre os candidatos a substituto e a comunidade. O objetivo do presente estudo foi avaliar a congruência entre os padrões de similaridade da comunidade de invertebrados de riachos na floresta amazônica e três de seus subgrupos (EPT [Ephemeroptera, Plecoptera, Trichoptera], Odonata e Trichoptera). Foi avaliado também o uso de família como substituto dos padrões de similaridade da comunidade de invertebrados em nível de gênero. Para isso, 51 riachos distribuídos ao longo de microbacias localizadas na área rural do município de Paragominas (Pará) foram amostrados. Para testar a congruência entre a comunidade de invertebrados em duas resoluções taxonômicas e entre a comunidade de invertebrados e três subgrupos de táxons foi utilizada a análise Procrustes. A congruência entre famílias e gêneros de invertebrados foi forte (abundância = 90,9%; incidência = 84,9%). EPT apresentou elevada correlação (> 93%) com a comunidade total de invertebrados. Quando utilizamos apenas uma das ordens de invertebrados nas comparações, Trichoptera apresentou maiores valores de correlação (73-84%) com os grupos testados do que Odonata (53-68%). Considerando a relação custo-benefício, sugere-se o uso de Trichoptera (abundância) ou invertebrados em nível de família como substitutos da comunidade de invertebrados em medidas de avaliação e conservação de riachos em áreas impactadas pelo uso agrícola da terra. Palavras chave: táxons indicadores, concordância, insetos aquáticos, floresta amazônica, Trichoptera.

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Biological indicators of diversity in tropical streams: congruence in the similarity of invertebrate communities among groups and taxonomic resolutions Abstract An important alternative to overcome the shortage of biodiversity data for planning and implementation of conservation measures is the use of surrogate. The most important premise of this approach is congruence among candidates for surrogate and among communities. The aim of this study was to evaluate congruence among similarity patterns of invertebrate communities in streams in the Amazon rainforest and three of its subgroups: Eplemeroptera, Plecoptera, Trichoptera (EPT), Odonata and Trichoptera. Use of insect families as surrogate for patterns of invertebrate community similarity was also evaluated at the genus level. Sampling was done in 51 streams distributed along watersheds in the rural area of Paragominas municipalities (Pará). Procrustes analysis was used to test congruence between invertebrate community at two taxonomic resolutions and, within the invertebrate communities, based on three taxa subgroups. Congruence between families and genera of invertebrates was strong (abundance = 90.9%; incidence = 84.9%). EPT had high correlation (> 93%) with complete invertebrate communities. Using only one invertebrate order in the comparisons, Trichoptera had higher correlation values with the tested groups (73-84%) as compared to Odonata (53-68%). Considering cost-benefit, use of Trichoptera (abundance) or invertebrates at the family level are suggested as surrogate for the invertebrate community as measures for assessment and conservation of streams under the influence of agriculture. Key words: aquatic insects, indicators taxa, congruence, Amazon forest, Trichoptera.

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Introdução

Previsões indicam que o uso da terra será o impacto mais importante na

determinação dos padrões globais de biodiversidade (Sala et al. 2000) devido ao seu efeito

negativo sobre a disponibilidade de habitats, e consequentemente, sobre as taxa de extinção

de espécies (With e King 1999). Atualmente, cerca de 43% da superfície terrestre do

planeta foram convertidos em paisagens agrícolas e urbanas (Barnosky et al. 2011)., e as

florestas e ambientes aquáticos tropicais estão entre os biomas mais impactados (Macedo et

al. 2013; Laurance et al. 2013). Somente na Amazônia, aproximadamente 18% da floresta

foram desmatados, principalmente para fins agrícolas (Ferreira et al. 2012). Este cenário

tem despertado os conservacionistas para a necessidade de proteger o que ainda resta da

biodiversidade, o que tem ocorrido por meio da preservação de áreas focais, manejo de

remanescentes florestais, e (em menor proporção) por restauração de ecossistemas alterados

(e.g., Howard et al. 1998; Palmer et al. 2009).

A conservação da biodiversidade requer o conhecimento dos padrões de distribuição

da biota, que é obtido através de levantamentos florísticos e faunísticos criteriosos. Esse

procedimento pode consumir muito tempo e ser bastante oneroso, pois requer uma estrutura

complexa de campo e laboratório, e demanda profissinais altamente qualificados (Lovell et

al. 2007). Em biomas tropicais, os custos e o tempo gasto nos levantamentos são ainda

maiores devido às limitações de conhecimento taxonômico da biota e à alta biodiversidade

(Lund e Rahbek 2002).

Uma importante alternativa para contornar a escassez de dados da biodiversidade é

o uso de substitutos, que consiste no uso de características ambientais ou de grupos/táxons

indicadores no lugar de toda a comunidade (Heino et al. 2005). Esta abordagem também

pode ser utilizada para avaliar o uso d e níveis taxonômicos m ais inclusivos (e.g., família)

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53

em substituição a resoluções taxonômicas mais refinadas (e.g., gênero e espécies; Heino e

Soininen 2007). Contudo, a aplicação eficiente dessa abordagem requer alto nível de

congruência entre os candidatos a substitutos da biodiversidade e a comunidade completa

ou ambiente (Lovell et al. 2007; Heino 2010). Por exemplo, duas comunidades são

congruentes quando os valores da métrica utilizada para descrevê-las forem altamente

correlacionados. Os estudos que testam a aplicabilidade da abordagem dos substitutos têm

encontrado resultados contraditórios (Su et al. 2004; Heino 2010; Westgate et al. 2014;

Landeiro et al. 2012). Essa incerteza sobre a eficiência da abordagem tem estimulado o

aumento no número de estudos que testam a congruência de descritores da comunidade e de

seus componentes (e.g., Landeiro et al. 2012).

Os invertebrados aquáticos possuem características que favorecem seu uso como

indicadores biológicos e são amplamente utilizados no biomonitoramento de ambientes de

água doce (e.g., Bonada et al. 2006). Entre os invertebrados, Ephemeroptera, Plecoptera e

Trichoptera (EPT) e Odonata são candidatos promissores a substitutos da comunidade, pois

são sensíveis a alterações ambientais, relativamente fáceis de identificar, possuem número

relativamente alto de táxons e ampla distribuição na zona ripária de riachos tropicais de

baixa ordem (Rosenberg e Resh 1993). Além disso, as libélulas (Odonata) são animais

carismáticos, com forte apelo para conservação da biodiversidade (Curry et al. 2012).

Com a atual crise econômica mundial, os recursos destinados à pesquisa e

conservação da biodiversidade estão cada vez mais escassos. Por exemplo, no Brasil, o

orçamento da pesquisa nos últimos dois anos (2015-2016) sofreu cortes substanciais

(~36%), compromentendo projetos e a formação/qualificação de profissionais (Angelo

2016). Diante desse cenário de crise e da crescente pressão de expansão das fronteiras

agrícolas sobre a floresta amazônica, é necessário achar atalhos por meio de abordagens

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54

sensíveis, precisas e econômicas para a avaliação e definição de estratégias de conservação

da biodiversidade. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar a congruência

entre os padrões de similaridade da comunidade de invertebrados aquáticos em riachos na

floresta amazônica e três de seus subgrupos (EPT, Odonata e Trichoptera). Foi avaliado

também o uso do nível taxonômico de família como substituto dos padrões de similaridade

mensurados em nível de gênero. Adicionalmente, para determinar a sensibilidade da

comunidade de invertebrados, foi avaliada a relação entre as métricas biológicas

(comunidade completa, família e gênero; EPT, Odonata e Trichoptera) e as características

ambientais (variáveis física, química e físico-química da água; morfologia do canal;

substrato; cobertura da vegetação ripária e área aberta na zona ripária).

Material e Métodos

Área de estudo

Os riachos amostrados fazem parte da rede de drenagem localizada na área rural do

município de Paragominas (02° 59' 45" S e 47° 21' 10" O), estado do Pará, Brasil (Figura

1). Essa região é atualmente considerada um dos maiores centros agropecuários do estado

do Pará (El-Husny 2003). Impulsionada pela chegada de produtores rurais do sul do Brasil

(1950-1960), a criação de gado foi a primeira atividade de uso da terra de grande escala

estabelecida naquele município. Nas décadas de 1980 e 1990 ocorreu uma rápida expansão

da indústria madeireira e, a partir dos anos 2000, a agricultura mecanizada vem se

expandindo rapidamente nas áreas de pastagem e florestas secundárias da região. Outra

atividade que tem ganhado importância no município é a silvicultura, principalmente, de

Eucalyptus spp. e Schizolobium amazonicum (Gardner et al. 2013).

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Figura 1. Localização geográfica do município de Paragominas, Amazônia Oriental, Pará,

Brasil. Os pontos pretos representam os locais de amostragem de invertebrados.

Período de coleta e Amostragem

Foram amostrados 51 riachos de baixa ordem (1ª a 3ª ordem) durante o período de

estiagem de 2011 (junho a agosto). As coletas de invertebrados e a caracterização do

hábitat físico foram realizadas em um trecho de 150 m de cada riacho estudado. Esse trecho

foi subdividido por 11 transectos transversais, criando 10 seções contínuas de 15 m.

Para caracterizar a fauna de invertebrados, uma amostra de substrato foi coletada

nos 10 primeiros transectos transversais, totalizando 10 subamostras por riacho estudado.

Em cada transecto, foi amostrado o substrato mais frequente e abundante. O substrato e a

fauna associada foram coletados com uso de um rapiché (rede entomológica em forma de

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“D”; 900 cm2 e malha de 1mm2) e fixados com álcool (93%). No laboratório, o material

coletado foi triado em bandejas transiluminadas e os organismos encontrados preservados

em álcool (80%). A identificação dos invertebrados foi feita até o menor nível taxonômico

possível, utilizando microscópio estereoscópico, chaves de identificação específicas (e.g.,

Hamada et al. 2014) e, quando necessário, o auxílio de especialistas (ver agradecimentos).

A caracterização do habitat físico dos riachos e da zona ripária foi realizada com

base na metodologia proposta por Peck et al. (2006). Foram mensuradas variáveis abióticas

da água (pH, Condutividade elétrica [µScm-1], Temperatura [ºC], Oxigênio dissolvido

[mgL-1], Velocidade [m/s] e Vazão da água [m3/s]), da morfologia do canal (Largura [m] e

Profundidade [cm]), dos substratos (Madeira [%], Banco de folhas [%], Herbáceas

aquáticas [%], Sedimento Fino [%] ) e a cobertura da vegetação ripária (% de

sombreamento no canal, medida com densiômetro côncavo). A proporção de área aberta na

zona ripária foi obtida por meio de imagens de satélite (Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais - INPE; Paragominas: TopoData; resolution = 30 x 30 m) (Apêndice A). A área

avaliada foi delimitada com uso de buffers retangulares ao longo do trecho de coleta (base

= 200 m [100 m em cada margem do riacho] e altura = 150 m [trecho de coleta]) (ver Leal

et al. 2016). As bases de dados utilizadas para a avaliação da cobertura vegetal em cada

buffer foram disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE;

Paragominas: TopoData; resolução 30 x 30m). Para o cálculo da proporção de áreas

abertas, o arquivo com a delimitação dos buffers foi sobreposto ao mapa de uso da terra e, a

área de cada polígono de uso dentro do buffer foi obtida. De posse da área de cada

polígono, as proporções das áreas abertas foram obtidas por meio da soma da área dos

polígonos referentes à categoria não floresta (área aberta) e, posterior, divisão pela área

total do buffer.

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Análise dos dados

A unidade amostral considerada nesse estudo foi o riacho, assim, os invertebrados

aquáticos capturados nas 10 subamostras foram somados para as análises. Os animais que

não puderam ser identificados até o nível de gênero (e.g., Diptera: n = 8 famílias;

Hirudinea: n = 1) foram excluídos das comparações. Antes das análises, as matrizes de

abundância (famílias e gêneros de invertebrados da comunidade completa, gêneros de EPT,

gêneros de Odonata e gêneros de Trichoptera) foram logaritimizadas (log (x+1)) para

reduzir a influência dos táxons mais abundantes nas análises.

Para avaliar a relação entre as variáveis explanatórias (variáveis ambientais) e as

variáveis resposta (abundância e incidência [presença/ausência] da comunidade de

invertebrados, EPT, Odonata e Trichoptera) foi utilizada uma análise de regressão simples.

Antes de realizar estas análises, as variáveis ambientais e bióticas foram sumarizadas com

uso das Análises de Componentes Principais (PCA; distância Euclidiana; Apêndice B) e

Análise de Coordenadas Principais (PCoA; incidência (presença/ausência) = Índice de

Sørensen; abundância = Índice de Bray-Curtis; Apêndices C e D), respectivamente. As

análises de regressão foram realizadas utilizando o primeiro eixo da PCA e PCoA (Borcard

et al. 2011).

Para testar a congruência entre a comunidade de invertebrados em duas resoluções

taxonômicas (família x gênero) e entre a comunidade de invertebrados (gênero) e três

subgrupos de táxons (Invertebrados x EPT; Invertebrados x Odonata, Invertebrados x

Trichoptera) foi utilizada a análise Procrustes. Os scores de cada local para todos os eixos

gerados pela PCoA foram utilizados na Análise Procrustes. Esta análise minimiza as

diferenças na soma dos quadrados entre duas ou mais matrizes de dados, por meio da

sobreposição dos mínimos quadrados de uma matriz Y para uma matriz referência X,

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resultando na estatística m2, a partir da qual é derivada a correlação estatística r (raiz

quadrada de 1 - m2). A estatística de correlação indica o grau de associação entre os pares

de matrizes resposta, onde, 0 e 1 indicam diferença completa e sobreposição total,

respectivamente. A significância estatística do ajuste da análise Procrustes foi testada por

um procedimento de permutação (PROTEST; com 10.000 permutações; Peres-Neto e

Jackson 2001). Foram avaliados o poder de explicação das variáveis explanatórias (r) e a

significância (p). Segundo Heino et al. (2010), valores de r superiores a 70% indicam forte

relação entre as variáveis. Todas as análises foram realizadas no programa R, versão 3.1.1,

utilizando o pacote vegan (R Development Team 2010).

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Resultados

Composição da comunidade

Foram coletados 25.142 invertebrados pertencentes a 66 famílias e 143 gêneros.

Odonata (n = 41) foi a ordem com maior número de táxons, seguida por Coleoptera (n =

37), Ephemeroptera (n = 25) e Trichoptera (n = 21). Os táxons mais abundantes foram:

Macrostemum (n = 6.423), Smicridea (n = 3.000), Leptonema (n = 1.150) e Cernotina (n =

882), todos representantes de Trichoptera (Apêndice E).

Relação entre as variáveis ambientais e o padrão de similaridade da biota

Os dois primeiros eixos da PCA explicaram 43,7% (PCA 1 = 26,4%; PCA 2 =

17,3%) da variação das métricas ambientais. As variáveis que mais contribuíram para a

formação do primeiro eixo foram a proporção de área aberta na zona ripária (+) e a

cobertura de banco de liteira submersa (-). O segundo eixo foi associado principalmente à

madeira (%, +) e herbáceas aquáticas (%; -).

De modo geral, a relação entre as variáveis ambientais e a composição da fauna de

invertebrados aquáticos foi baixa ou moderada (Tabela 1). Utilizando dados de abundância,

esta relação variou de 22,3% (Odonata) a 49,0% (famílias de invertebrados). Para dados de

incidência, as relações entre as variáveis abióticas e o padrão de similaridade da fauna

variaram de 19,4% (Odonata) a 44,8% (gêneros de invertebrados; Tabela 1).

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Tabela 1 - Resultados das análises de regressão simples entre a comunidade de

invertebrados aquáticos (em duas resoluções taxonômicas e três subgrupos- EPT, Odonata e

Trichoptera) e as variáveis ambientais, Paragominas, Pará.

F1,49 r (%) P

Dados de abundância

Ambiente vs. Família Inv. (PCA 1 vs. PCoA 1) 49,09 49,0 < 0,001

Ambiente vs. Gênero Inv. (PCA 1 vs. PCoA 1) 46,36 47,6 < 0,001

Ambiente vs. EPT (PCA 1 vs. PCoA 1) 41,32 44,6 < 0,001

Ambiente vs. Odonata (PCA 1 vs. PCoA 1) 15,39 22,3 < 0,001

Ambiente vs. Trichoptera (PCA 1 vs. PCoA 1) 27,96 35,0 < 0,001

Dados de incidência

Ambiente vs. Família Inv. (PCA 1 vs. PCoA 1) 36,69 43,6 < 0,001

Ambiente vs. Gênero Inv. (PCA 1 vs. PCoA 1) 41,67 44,8 < 0,001

Ambiente vs. EPT (PCA 1 vs. PCoA 1) 41,00 44,4 < 0,001

Ambiente vs. Odonata (PCA 1 vs. PCoA 1) 13,04 19,4 < 0,001

Ambiente vs. Trichoptera (PCA 1 vs. PCoA 1) 26,16 33,5 < 0,001 Inv. = Invertebrados; Ambiente = Variáveis ambientais; EPT = Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera; PCA 1 = Primeiro eixo da análise de componentes principais; PCoA 1 = Primeiro eixo da análise de coordenadas principais.

Nível de congruência entre grupos de táxons e resolução taxonômica

A congruência entre famílias e gêneros de invertebrados foi forte (abundância =

90,9%; incidência = 84,9%; Figura 3; Apêndice F). EPT apresentou elevada correlação (>

93%) com a comunidade total de invertebrados. Quando utilizamos apenas uma das ordens

de invertebrados nas comparações, Trichoptera (73-84%) apresentou maiores valores de

correlação com os grupos testados quando comparada com Odonata (53-68%). Além disso,

essas duas ordens apresentaram baixa correlação entre si (abundância = 56,3%; incidência

= 44,2%; Figura 3). O uso de dados de incidência resultou em perda de informação até 12%

maior do que com o uso de dados de abundância.

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Figura 2- Congruência (%) entre as duas resoluções taxonômicas (família e gênero da

comunidade de invertebrados) e entre os diferentes grupos de táxons (gênero da

comunidade de invertebrados, EPT [Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera], Odonata e

Trichoptera), obtidas com uso da

entre as duas resoluções taxonômicas (família e gênero da

comunidade de invertebrados) e entre os diferentes grupos de táxons (gênero da

comunidade de invertebrados, EPT [Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera], Odonata e

Trichoptera), obtidas com uso da análise Procustes. Linhas tracejadas indicam as avaliações

61

entre as duas resoluções taxonômicas (família e gênero da

comunidade de invertebrados) e entre os diferentes grupos de táxons (gênero da

comunidade de invertebrados, EPT [Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera], Odonata e

análise Procustes. Linhas tracejadas indicam as avaliações

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de congruência realizadas com base na incidência e as linhas sólidas representam

comparações com base na abundância de táxons.

Discussão

No presente estudo, a composição das amostras da comunidade de invertebrados e

seus subgrupos (EPT, Odonata e Trichoptera) foram moderada ou fortemente congruentes

entre si. A explicação mais comum para a congruência entre grupos biológicos é a resposta

similar das comunidades em relação ao gradiente ambiental (e.g., Heino 2003; Landeiro et

al. 2012). Aqui, os grupos responderam de forma similar às mesmas variáveis ambientais,

especialmente, a porcentagem de cobertura vegetal na zona ripária e porcentagem de banco

de folhas no canal dos riachos, o que gerou a congruência de padrões observada. A

vegetação ripária molda muitos microhabitats e é a principal fonte de recursos para a biota

nos riachos de baixa ordem em ecossistemas de floresta (Walker 1987). A conversão e

perda da cobertura vegetal induzem à extinção local das espécies mais sensíveis e

estimulam o crescimento populacional de táxons tolerantes (Rodrigues et al. 2016). Essa

dinâmica pode sincronizar a resposta dos táxons, aumentando o nível de congruência entre

as comunidades biológicas (Heino 2003).

Apesar do efeito significativo das variáveis ambientais sobre a fauna, a intensidade

da resposta variou entre os grupos de invertebrados, possivelmente devido a diferenças nos

atributos dos táxons. A relação entre as variáveis ambientais e a comunidade completa (43

a 49%) ou EPT (44 e 45%) foram superiores às registradas quando usamos dados de

Trichoptera (33% e 35%) ou Odonata (19% e 22%). A menor intensidade de resposta de

Odonata ao gradiente ambiental pode estar associada principalmente à sua alta capacidade

de dispersão e menor sensibilidade à perda de cobertura vegetal na zona ripária quando

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comparada com outros grupos de insetos (Corbet 1999). Por exemplo, larvas e adultos de

Odonata são predadores, sendo sua abundância e ocorrência fortemente influenciadas pela

disponibilidade de presas (Corbet 1999). Outro fator que pode ter influenciado na baixa

resposta de Odonata, é o fato de as subordens Zygoptera e Anisoptera possuírem diferentes

comportamentos e sensibilidades aos impactos (Oliveira-Junior et al. 2015), o que pode

resultar em ausência ou menor resposta da ordem.

O uso de Trichoptera e EPT como substitutos da comunidade de invertebrados em

áreas alteradas pelo uso agrícola da terra foi fortemente suportado pelos nossos resultados.

Em termos de perda de informação em relação à comunidade completa, EPT (4%,

abundância e 6%, incidência) seria o melhor substituto. Este resultado reforça a idéia de

que índices compostos por dois ou mais táxons são mais indicados para serem usados como

substitutos da comunidade (Lovell et al. 2007; Larsen et al. 2012). Geralmente,

representantes de famílias ou ordens diferentes possuem peculiaridades ecológicas e

comportamentais que, em conjunto, podem representar melhor os padrões da comunidade.

Contudo, a facilidade na identificação de Trichoptera (abundância: 84% de congruência)

pode favorecer seu uso em detrimento a EPT. Por exemplo, as chaves de identificação de

Ephemeroptera são baseadas em características de estruturas frágeis (e.g., brânquias e

pernas; Salles et al. 2014), que geralmente são perdidas durante os procedimentos de coleta

e fixação. Esse fato aumenta a exigência por especialistas e tempo de campo, o que

intensifica a demanda por recursos financeiros. Além disso, os Trichoptera possuem

diferentes categorias tróficas (e.g., herbívoros, carnívoros e detritívoros) e níveis de

sensibilidade a perturbações ambientais, o que deve resultar em respostas rápidas e

evidentes a pequenas alterações ambientais (Merrit e Cummins 1996).

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No presente estudo, a congruência entre a comunidade de invertebrados nas duas

resoluções taxonômicas (gênero e família) foi forte. Esse fato indica que os padrões de

similaridade da comunidade são representados adequadamente quando o nível de família é

utilizado. Forte congruência entre diferentes níveis taxonômicos tem sido amplamente

suportada pela literatura para invertebrados aquáticos (e.g., Heino et al. 2007; Lovell et al.

2007; Valente-Neto et al. 2015). Segundo Heino et al. (2007), a comunidade de

invertebrados, mesmo em nível de família, pode ser utilizada para avaliar os padrões da

biodiversidade e classificar áreas de acordo com seu valor para a conservação.

O uso dos dados de incidência aumentou a perda de informação em até 12%

(Trichoptera vs. Odonata) em relação aos valores de abundância. A mesma tendência foi

observada para Nepomorpha (Hemiptera) e Odonata em áreas de savana impactadas pela

agricultura (Giehl et al. 2014; Valente-Neto et al. 2015). O efeito positivo da abundância

sobre nossos resultados deve estar associado ao gradiente de distúrbio. Em paisagens

agrícolas, espera-se que o primeiro efeito da perda e conversão da vegetação sobre as

comunidades aquáticas seja a mudança na abundância das populações, que culmina em

extinção local de táxons sensíveis. Por outro lado, em áreas pouco impactadas, a diferença

na abundância entre grupos de insetos aquáticos (e.g., Odonata e Trichoptera) pode afetar

negativamente a congruência entre táxons (Curry et al. 2012)

A conservação de ecossistemas naturais requer o uso de abordagens que conciliem

baixo custo, esforço reduzido e alta eficiência. Por outro lado, em áreas tropicais, dada a

enorme lacuna de conhecimento sobre os padrões de distribuição da biodiversidade, a

realização de extensos levantamentos é fundamental antes de qualquer tipo de intervenção

antrópica. Dessa forma, considerando a relação custo-benefício, sugere-se o uso de

Trichoptera (abundância) ou invertebrados em nível de família como substitutos da

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comunidade de invertebrados em medidas de avaliação e conservação de riachos em áreas

sob efeito do uso do solo para agricultura.

Agradecimentos

À José Max Barbosa de Oliveira Jr. e à equipe aquática do projeto- “Rede

Amazônia Sustentável”- pelo auxílio nos trabalhos de campo; ao Paulo V. Cruz (Baetidae),

Ana M. O. Pes (Trichoptera), Karina D. Silva (Hemiptera), Ulisses G. Neiss (Odonata),

Nikolas G. Cipola (Collembola), Célio U. Magalhães (Decapoda); Renato T. Martins

(Oligochaeta), Daniara Colpani (Gyrinidae) e César João Benetti (Coleoptera) pela ajuda na

identificação ou confirmação da identificação dos invertebrados; à Jeane M. C. Nascimento

pela montagem das pranchas e dicas de identificação dos Leptophlebiidae, e a Renato T.

Martins pelas sugestões. JGB recebeu bolsa de doutorado pela Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e NH e JLN receberam bolsas de pesquisa do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Os projetos

Sistemática integrada de insetos aquáticos com ênfase em Simuliidae Neotropical,

Pronex/CNPq/Fapeam – Insetos aquáticos e Rede Amazônia Sustentável (RAS)

financiaram as coletas e o processamento das amostras. A RAS recebeu apoio financeiro do

Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia

(CNPq 574008/2008-0), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa (SEG

02.08.06.005.00), Governo britânico: Darwin Initiative (17-023), TNC-The Nature

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71

Apêndices

Apêndice A- Valores mínimos (Min), máximos (Max) e médios (± desvio padrão) das

variáveis ambientais dos riachos amostrados no município de Paragominas, Pará, Brasil, no

período de junho a agosto de 2011. (N= 51).

Variáveis ambientais Min Max Média ± DP

Condutividade elétrica (µS cm-1) 15,40 76,20 32,58 ± 13,05

Oxigênio dissolvido (mg L-1) 1,96 6,83 4,65 ± 1,20

pH 3,02 7,75 5,34 ± 0,95

Temperatura da água (ºC) 23,70 29,20 25,60 ± 1,42

Largura do canal (m) 1,95 12,35 3,35 ± 1,63

Profundidade do canal (cm) 13,24 98,41 48,56 ± 19,37

Velocidade da água (m s-1) 0,06 1,82 0,31 ± 0,33

Vazão da água (m3s-1) 0,01 1,45 0,24 ± 0,27

Banco de folhas (%) 0,00 64,80 17,20 ± 16,94

Cobertura da vegetação ripária (%) 13,80 100,00 77,90 ± 25,88

Herbáceas aquáticas (%) 0,00 75,20 7,90 ± 14,71

Madeira (%) 0,00 25,70 7,60 ± 6,26

Sedimento Fino (%) 0,00 40,90 9,30 ± 9,12

Área aberta (%) 0,00 100,00 40,37 ± 36,00

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72

Apêndice B- Resultado da Análise de Componentes Principais (PCA) sumarizando os

dados ambientais em dois eixos. As variáveis que mais contribuíram para a formação do

primeiro eixo foram a proporção de área aberta na zona ripária (-) e a proporção de banco

de folhas (+). As variáveis que mais contribuíram para a formação do segundo eixo foram

madeira (%, +) e herbáceas aquáticas (-).

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Apêndice C- Resultado das Análises de Coordenadas Principais (PCoA) utilizando dados

de abundância na ordenação dos pontos de coleta de acordo com a similaridade da

comunidade de invertebrados no nível de família (A) e gênero (B) e dos subgrupos, EPT

(Ephemeroptera, Plecoptera, Trichoptera; C), Odonata (D) e Trichoptera (E).

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Apêndice D- Resultado das Análises de Coordenadas Principais (PCoA) utilizando dados

de incidência (presença / ausência) na ordenação dos pontos de coleta de acordo com a

similaridade da comunidade de invertebrados no nível de família (A) e gênero (B) e dos

subgrupos, EPT (Ephemeroptera, Plecoptera, Trichoptera; C), Odonata (D) e Trichoptera

(E).

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75

Apêndice E- Valores médios e desvio padrão da abundância e frequência de ocorrência (F.O.)

de cada táxon de invertebrados coletados nos 51 riachos da Amazônia Oriental,

Paragominas, Pará, Brasil, no período de junho a agosto de 2011. Os riachos representam

um gradiente de distúrbio, incluindo desde riachos pouco impactados até aqueles com alto

nível de impacto causado por atividades agrícolas.

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Annelida Hirudinea Glossiphoniidae - 0,78±2,89 13

Oligochaeta Enchytraeidae - 0,57±2,74 5

Naididae-Tubificinae Bothrioneurum 0,02±0,14 1

Limnodrilus 0,72±2,32 13

Naididae_Naidinae Nais 0,20±0,53 8

Slavina 0,35±2,52 1

Pristininae Pristina 0,06±0,34 3

Pristinella 0,04±0,20 2

Opistocystidae Opistocysta 0,02±0,14 3

Crustacea Decapoda Palaemonidae Macrobrachium 0,14±0,45 5

Trichodactylidae - 0,04±0,28 1

Hexapoda Collembola Entomobryidae Lepidosira 0,04 ± 0,44 3

Paronellidae Salina 0,08 ± 0,20 2

Ephemeroptera Baetidae Americabaetis 3,04±14,92 6

Aturbina 0,37±2,12 4

Callibaetis 0,16±0,61 4

Cryptonympha 13,74±47,69 23

Paracleodes 1,18±4,65 5

Waltzoyphius 1,92±5,87 19

Zelusia 0,71±1,87 12

Caenidae Brasilocaenis 2,82±8,82 12

Caenis 2,96±4,20 34

Coryphoridae Coryphorus 0,06±0,31 2

Euthyplociidae Campylocia 7,04±11,79 29

Leptohyphidae Amanahyphes 3,27±9,26 21

Tricorythodes 0,06±0,31 2

Tricorythopsis 3,86±19,71 10

Leptophebiidae Askola 0,04±0,20 2

Farrodes 1,65±6,97 15

Fittkaulus 0,74±3,49 5

Hagenulopsis 0,18±0,89 3

Hydrosmilodon 2,16±14,69 7

Miroculis 7,23±12,58 27

Paramaka/Needhamella 0,02±0,14 1

Thraulodes 0,02±0,14 1

Simothraulopsis 0,06±0,31 2

Ulmeritoides 6,98±11,56 30

Polymitarcyidae Asthenopus 1,31±5,95 6

Campsurus 0,45±1,30 8

Odonata Aeshnidae Coryphaeschna 0,02±0,04 1

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Continuação

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Hexapoda Calopterygidae Hetaerina 1,37±0,46 25

Coenagrionidae Argia 1,41±0,58 25

Acanthagrion 0,16±0,17 5

Corduliidae Aeschnosoma 0,25±0,22 11

Lauromacromia 0,20±0,24 4

Neocordulia 0,02±0,04 1

Paracordulia 0,04±0,06 3

Dicteriadidae Dicterias 0,02±0,04 1

Heliocharis amazona 0,10±0,10 5

Gomphidae Agriogomphus 0,43±0,27 9

Aphylla 0,04±0,06 1

Archaeogomphus 0,06±0,08 3

Desmogomphus 0,04±0,06 2

Ebegomphus 0,25±0,21 6

Epigomphus 0,71±0,49 12

Phyllocycla 0,55±0,32 13

Phyllogomphoides 0,14±0,13 5

Progomphus 0,71±0,34 18

Zonophora 1,14±0,51 21

Libellulidae Brechmorhoga 0,78±0,68 5

Dasythemis 0,02±0,04 1

Diastatops 3,96±16,16 14

Dythemis 0,12±0,19 1

Elasmothemis 1,78±1,06 11

Elga 1,41±0,57 23

Erythrodiplax 0,23±0,37 6

Gynothemis 1,02±0,47 20

Libellulidae morfo 1 0,16±0,21 2

Macrothemis 1,20±0,55 17

Oligoclada 0,31±0,27 10

Orthemis 0,040±0,09 1

Perithemis 0,14±0,27 2

Planiplax 0,06±0,10 2

Megapodagrionidae Heteragrion 0,61±0,27 17

Perilestidae Perilestes 0,18±0,15 6

Polythoridae Chalcopteryx 0,18±0,21 3

Protoneuridae Epipleoneura 2,92±3,96 31

Plecoptera Perlidae Anacroneuria 1,67±4,37 12

Macrogynoplax 2,22±4,46 18

Blattaria Blaberidae Epilamprinae 0,14 ± 0,35 11

Heteroptera Corixidae Tenagobia 0,04±0,20 3

Gerridae Tachygeris 0,02±0,14 1

Naucoridae Ambrysus 0,47±1,15 12

Limnocoris 0,10±0,46 3

Veliidae Paravelia 0,06±0,24 6

Rhagovelia 0,04±0,20 3

Stridulivelia 0,02±0,14 1

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77

Continuação

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Coleoptera Dryopidae Onopelmus 0,04±0,28 1

Dytiscidae Bidessini 0,02±0,14 1

Hexapoda Celina 0,16±0,54 7

Desmopachria 0,06±0,31 2

Hydrodessus 0,22±0,70 6

Laccophilus 0,02±0,14 3

Platynectes 0,20±0,92 3

Elmidae Cylloepus 0,04±0,28 2

Gyrelmis 0,16±0,70 3

Heterelmis 0,22±0,68 6

Hexacylloepus 1,10±4,97 11

Hintonelmis 0,02±0,14 1

Macrelmis 0,82±3,27 7

Microcylloepus 0,06±0,24 5

Neoelmis 0,31±0,62 13

Neolimnius 0,06±0,31 2

Pilielmis 0,82±3,04 10

Stegoelmis 0,41±0,90 12

Tyletelmis 0,06±0,31 2

Xenelmis 0,22±0,70 6

Gyrinidae Gyretes 2,04±3,68 28

Hydraenidae - 0,02±0,14 1

Hydrochidae - 0,04±0,20 2

Hydrophilidae Anacaena 0,04±0,28 1

Chasmogenus 0,02±0,14 1

Derallus 0,02±0,14 1

Enochrus 0,04±0,20 1

Helochares 0,02±0,14 1

Tropisternus 0,06±0,42 1

Limnichidae - 0,02±0,14 1

Noteridae Hydrocanthus 0,02±0,14 3

Liocanthydrus 0,43±1,24 11

Suphisellus 0,04±0,20 3

Ptilodactylidae - 0,18±0,86 5

Scirtidae Cyphon 0,02±0,14 1

Scirtes 1,72±4,90 22

Staphylinidae - 0,29±1,04 6

Megaloptera Sialidae Ilyobius 0,06±0,31 2

Corydalidae - 0,47±1,60 9

Trichoptera Calamoceratidae Phylloicus 1,57±3,52 18

Ecnomidae Austrotinodes 0,06±0,24 3

Glossosomatidae Mortoniella 0,14±0,60 4

Helicopsychidae Helicopsyche 0,02±0,14 1

Hydropsychidae Leptonema 21,14±81,05 35

Macronema 16,33±22,59 40

Macrostemum 103,63±297,99 36

Smicridea 47,82±122,04 43

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Continuação

Ordem Família Táxons Abundância F.O.

Trichoptera Hydroptilidae Flintiella 0,69±3,14 5

Hydroptila 3,45±12,47 11

Neotrichia 0,49±1,54 11

Oxyethira 1,10±2,70 17

Hexapoda Leptoceridae Nectopsyche 0,33±0,71 13

Oecetis 1,49±3,12 23

Triplectides 0,39±0,98 11

Odontoceridae Marilia 0,06±0,31 2

Philopotamidae Wormaldia 0,67±3,03 5

Polycentropodidae Cernotina 12,65±16,97 42

Cyrnellus 1,41±3,09 20

Nyctiophilax 0,37±0,98 10

Polyplectropus 0,63±2,13 9

Lepidoptera Crambidae Parapoynx 2,16±5,02 22

Petrophila 6,18±10,84 35

Synclita 0,04±0,20 2

Diptera Ceratopogonidae - 0,41±1,98 7

Chironomidae - 37,33±43,97 45

Dolichopodidae - 0,02±0,14 1

Empididae - 0,45±1,27 13

Simuliidae Simulium 28,80±140,93 34

Stratiomyidae - 0,02±0,14 1

Tabanidae - 0,22±1,01 5

Tipulidae - 1,57±3,03 26

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79

Apêndice F- Resultados da análise Procrustes testando a congruência entre a comunidade

de invertebrados e três subgrupos de táxons (Invertebrados vs. EPT; Invertebrados vs.

Odonata; Invertebrados vs. Trichoptera; em gênero) e entre duas resoluções taxonômicas

(família vs. gênero de invertebrados) da comunidade.

Grupos Abundância Incidência

m2 r (%) p m2 r (%) p

Família vs. Gênero Invert. 0,173 90,9 < 0,001 0,279 84,9 < 0,001

Invertebrados vs. EPT 0,080 95,9 < 0,001 0,120 93,8 < 0,001

Invertebrados vs.Odonata 0,535 68,2 < 0,001 0,532 68,4 < 0,001

Invertebrados vs. Trichoptera 0,299 83,7 < 0,001 0,467 73,0 < 0,001

EPT vs. Odonata 0,683 56,3 < 0,001 0,715 53,4 < 0,001

EPT vs. Trichoptera 0,167 91,3 < 0,001 0,305 83,3 < 0,001

Odonata vs. Trichoptera 0,683 56,3 < 0,001 0,804 44,2 < 0,001

Invert. = Invertebrados aquáticos; EPT = Gêneros de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera; Invertebrados = Gêneros de invertebrados aquáticos; Odonata = Gêneros de Odonata.

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80

Capítulo 3

Efeito do uso da terra e da variabilidade natural

do habitat sobre a diversidade e composição

funcional da comunidade de Ephemeroptera,

Plecoptera e Trichoptera de riachos da

Amazônia brasileira em diferentes escalas

espaciais. Manuscrito formatado para Ecological

Indicators.

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81

Efeito do uso da terra e da variabilidade natural do habitat sobre a diversidade e

composição funcional da comunidade de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera de

riachos da Amazônia brasileira em diferentes escalas espaciais

RESUMO

Dada a intrínseca conexão entre os organismos e seu habitat, os atributos (e.g., características morfológicas, história de vida, comportamento) dos membros de uma comunidade podem ser vistos como uma função de seu habitat. Assim, mudanças nos habitats em ecossistemas aquáticos decorrentes de perturbações antrópicas devem afetar a forma como as comunidades aquáticas desempenham suas funções, o que pode interferir negativamente no funcionamento desses ecossistemas. O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito do uso/cobertura da terra e de características naturais do habitat sobre a diversidade (Riqueza funcional-RF e Diversidade funcional-DF) e composição funcional (EF) da comunidade de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT) de riachos da Amazônia Oriental brasileira em diferentes escalas espaciais. Para isso, 96 riachos distribuídos ao longo de microbacias localizadas na área rural dos municípios de Santarém e Paragominas (Pará) foram amostrados. Esses riachos foram escolhidos de modo a representar um gradiente de impactos, desde aqueles minimamente impactados até alguns fortemente impactados por atividades agropecuárias. As variáveis respostas (RF, DF, EF) foram relacionadas com índices de distúrbios do habitat físico na escala local, de microbacia, corredor de vegetação ripária, e com índices que integraram o distúrbio na escala local e de paisagem (IDI). Adicionalmente, as variáveis respostas foram relacionadas com métricas naturais do habitat. A composição funcional de EPT foi a variável que melhor respondeu à variação do IDI em Paragominas. Em Santarém, o IDI explicou melhor a variação da diversidade funcional (RF e DF). A adição de métricas de habitat aos modelos que descrevem a relação entre o IDI e RF, e entre DF e CF, contribuiu significativamente para o aumento da explicação da RF, DF e CF nas duas regiões de estudo e no conjunto total de riachos. A combinação entre os índices de distúrbio utilizados e as variáveis naturais dos habitats explicou entre 32 e 61% da variação total da RF, DF e CF. Os índices de distúrbio e as condições funcionais da fauna de EPT propiciaram um retrato acurado da qualidade ecológica dos riachos das áreas de estudo, mostrando que são ferramentas importantes para o planejamento e execução de atividades de conservação, manejo e restauraçãodesses ecossistemas lóticos. A composição funcional de EPT e a qualidade do habitat físico dos riachos da região de estudo ainda se encontram em nível intermediário de distúrbio, indicando boas perspectivas de resposta a eventuais medidas de restauração.

Palavras-chave: Agricultura, insetos aquáticos, perda de habitat, índices de distúrbio.

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82

Effects of land use and natural habitat variability on the functional diversity and

composition of Ephemeroptera, Plecoptera and Trichoptera communities in

Amazonian streams at different spatial scales

Abstract Organisms and their habitats are intrinsicly connected and, attributes (e.g., morphology, life history, behavior) of aquatic insect communities can be seen as a function of habitat. Thus, changes in aquatic ecosystem habitats due to different human activities should affect aquatic community functions, which can negatively affect ecosystem functioning. The aim of this study was to evaluate the effect of land use/ cover and natural habitat metrics on diversity (Functional richness-RF and Functional Diversity -DF) and functional composition (CF) of Ephemeroptera, Plecoptera and Trichoptera (EPT) communities in the Brazilian Amazon streams at different spatial scales. Sampling was conducted in 96 streams distributed along watersheds in rural areas of the municipalities of Santarém and Paragominas (Pará). Streams were selected to obtain an impact gradient ranging from minimally impacted streams until strongly impacted (agropastoril activities). Response variables were related to physical habitat disturbances at local, watershed and riparian-vegetation corridor scale and to indices that integrate disturbance at local and landscape scales (IDI). Additionally, response variables were related to natural habitat metrics. In Paragominas the functional composition of EPT was the variable that best responded to variation in IDI. In Santarém, variation in functional diversity (RF and DF) is best explained by IDI. Addition of habitat metrics to models that describe relationships among IDI and RF, DF and CF contributed significantly to the increase in RF, DF and CF explanation in both study areas and to the total number of streams. A combination of disturbance indices and natural habitat variables explained between 32 and 61% of the total variation in RF, DF and CF. Disturbance indices and functional conditions of EPT fauna provided an accurate picture of ecological quality of streams in the study areas, showing that these are important tools for planning and implementation of restoration activities and for management and conservation of these stream ecosystems. According to evidence obtained, the functional structure of EPT and the quality of the physical habitat of streams in the study areas are still at intermediate levels of disturbance, indicating good prospects for response to restoration measures. Key words: agriculture, aquatic insects, disturbance indices, habitat loss.

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83

Introdução

O habitat é considerado um elemento fundamental na estruturação das comunidades

de ambientes aquáticos lóticos (Richards et al. 1997; Lamouroux et al. 2004; Landeiro et al.

2012). Este atua como um arcabouço que molda as comunidades locais, selecionando

espécies que possuem atributos (ex. características morfológicas, história de vida,

comportamento) adequados para se estabelecer naquele local (Townsend e Hildrew 1994).

Essa relação sugere que os atributos presentes em uma comunidade podem representar uma

função de seu habitat (Lamouroux et al. 2004). Com base nessa perspectiva, mudanças nos

ecossistemas devido às diferentes atividades humanas devem afetar a forma como as

comunidades desempenham suas funções, o que pode interferir negativamente no

funcionamento desses ecossistemas.

As diferentes formas de uso/cobertura da terra são consideradas o principal fator

responsável pela degradação dos ecossistemas aquáticos (Ometo et al. 2000; Nessimian et

al. 2008). Dentre as formas de uso da terra, a atividade agropastoril necessita de grandes

áreas e por isso, é, frequentemente, a principal fonte de perturbações ambientais em muitas

bacias de drenagem (Allan 2004). Esta atividade afeta riachos por meio da degradação dos

habitats da zona ripária e do canal, alteração do fluxo de água e aumento da entrada de

poluentes oriundos de fontes não pontuais, por exemplo, sedimentos (Johnson et al. 1997;

Lammert e Allan 1999; Allan 2004). A remoção da vegetação ripária torna as áreas

marginais aos canais desprotegidas e consequentemente mais suscetíveis a processos de

erosão os quais podem promover a descaracterização do canal tanto em relação a sua forma

(sinuosidade) como a suas dimensões (largura, profundidade) (Neill et al. 2006). Além

disso, a estrutura interna do canal tende a se tornar mais simples, devido à indisponibilidade

de substratos orgânicos (como folhas e gravetos) e de dispositivos de retenção (troncos e

galhos) (Neill et al. 2006; Nessimian et al. 2008), que eram fornecidos pela vegetação do

entorno (Gonçalves Jr. e Callisto 2013). A intensidade luminosa e a temperatura da água

aumentam (Sponseller et al. 2001; Neill et al. 2013; Macedo et al. 2013) e, em muitos

casos, há aumento da biomassa de algas (ex. Mosisch et al. 2001). Devido às mudanças na

permeabilidade do solo, os fluxos de alta vazão normalmente aumentam em magnitude e

frequência em áreas de agricultura (Allan 2004; Niell et al. 2006; Coe et al. 2013). O aporte

de sedimento, nutrientes e poluentes químicos se dá, principalmente, pelo escoamento

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superficial (Williams et al. 1997; Neill et al. 2001). Tem sido mostrado que à medida que a

agricultura se intensifica ocorrem perdas na diversidade biológica dos riachos e o declínio

na riqueza das comunidades aquáticas (Richards et al. 1996).

As comunidades de macroinvertebrados aquáticos desempenham um papel

importante no funcionamento dos ecossistemas lóticos. Influenciam a produtividade

primária, a ciclagem de nutrientes, a decomposição e translocação de material e

estabelecem o elo entre os microrganismos e níveis mais altos da cadeia alimentar (Wallace

e Webster 1996). Toda essa diversidade funcional e biológica reflete as adaptações desses

organismos para se estabelecerem nesses ecossistemas complexos e heterogêneos espacial e

temporalmente (Vinson e Hawkins 1998; Heino 2005). Devido a essa intrínseca conexão,

alterações na fauna de invertebrados aquáticos devem promover perdas na funcionalidade

dos ecossistemas lóticos (ex. resistência e resiliência). Geralmente, o uso da terra para

atividades agropastoris exerce um efeito deletério sobre os invertebrados mais sensíveis,

como é o caso dos insetos pertencentes às ordens Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera

(EPT) (Rosenberg e Resh 1993). Assim, avaliar a diversidade e a composição funcional

destes organismos pode auxiloiar no planejamento e execução de atividades de

conservação, manejo e restauração de ecossistemas lóticos (Statzner e Bêche 2010).

Contudo, é consenso que compreender apenas as condições do habitat não é

suficiente para prever os padrões da composição funcional das comunidades aquáticas. Isso

porque os processos que controlam as condições dos habitats ocorrem em múltiplas escalas

(Cooper et al.1998), o que nos leva ao conceito dos filtros ecológicos (Poff 1997). Sob esta

perspectiva, só os táxons cujos atributos são adequados para transpor as restrições impostas

em cada escala espacial e temporal poderiam fazer parte da comunidade local. Em

ecossistemas aquáticos lóticos, as espécies teriam que passar por filtros na escala regional,

microbacia, unidade do canal e microhabitat (Frissell et al. 1986). Esses filtros podem ser

de origem natural ou antropogênica (Heino et al. 2013). Assim, tanto os processos naturais

quanto as diferentes formas de uso da terra podem ser vistas como filtros que impõem

restrições ao estabelecimento ou permanência da entomofauna aquática em diferentes

escalas (e.g., Richards et al. 1996).

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Sob esta perspectiva hierárquica, a estrutura e função dos pequenos riachos podem

ser influenciadas por uma série de fatores que ocorrem em cascata, de uma escala espacial

mais ampla para uma mais restrita (Frissell et al. 1986; Poff 1997). Na escala regional,

aspectos como clima e geologia devem influenciar os riachos (Allan, 2004), enquanto que

na escala de paisagem, há influência da bacia de drenagem e das diferentes formas de uso

da terra. Já na escala local (trecho), os riachos sofrem influência das condições hidráulicas

(e.g., fluxo da água e velocidade da corrente), morfológicas (e.g., profundidade, largura e

sinuosidade), químicas e físico-químicas da água (e.g., pH, condutividade elétrica,

temperatura e oxigênio dissolvido) e da zona ripária. Assim, esses fatores e suas inúmeras

interações determinam a qualidade da água e as condições do habitat físico dos riachos

(Richards et al. 1996; Jhonson et al. 1997), que, por sua vez, influenciam a composição e

distribuição funcional da comunidade de insetos aquáticos (Poff 1997; Richards et al. 1997;

Lamouroux et al. 2004).

Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo avaliar o efeito do uso da terra e

cobertura do solo e de métricas naturais do habitat sobre a diversidade e composição

funcional da comunidade de EPT de riachos da Amazônia brasileira em diferentes escalas

espaciais (local, microbacia, corredor de vegetação ripária e integrada; Figura 1). Para este

fim, trabalhamos com as seguintes hipóteses: (a) a retirada da vegetação nativa altera os

padrões e processos do habitat físico dos riachos, levando à perda de espécies que não

possuem atributos funcionais apropriados para permanecerem sob as condições de estresse

geradas. Assim, esperamos que a diversidade funcional das comunidades de EPT decresça

com o aumento da retirada de vegetação nativa tanto na escala local quanto de paisagem.

Simultaneamente, esperamos uma mudança na composição funcional da comunidade de

EPT mediada pela intensidade do uso da terra; (b) dada a relação intrínseca entre os

atributos das espécies e os habitats, esperamos que as características naturais do habitat

físico contribuam substancialmente para a explicação das variações na diversidade e

composição funcional de EPT nos riachos.

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Figura 1- Esquema representando o efeito das condições de uso da terra nas escalas de

microbacia e corredor de vegetação ripária e da variabilidade natural do habitat sobre a

riqueza, diversidade e composição funcional da comunidade de Ephemeroptera, Plecoptera

e Trichoptera (EPT) de riachos da Amazônia Oriental, Pará, Brasil. IDL = índice de

distúrbio local; IDM = índice de distúrbio na microbacia; IDIM = índice de distúrbio

integrado (IDL+IDM) na escala de microbacia; IDC = índice de distúrbio no corredor de

vegetação ripária; IDIC = índice de distúrbio integrado (IDL+IDM) na escala de corredor de

vegetação ripária.

Material e Métodos

Área de estudo

Os riachos amostrados neste estudo estão localizados no município de Paragominas

(02° 59' 45" S e 47° 21' 10" O; PGM) e no conjunto de municípios composto por Santarém,

Belterra e Mojuí dos Campos (02º 24" 52" S e 54º 42" 36" O; STM), Pará, Brasil (Figura

2). A partir de agora, denominaremos este conjunto de municípios por Santarém, que é o

município mais antigo. Estas duas regiões estão situadas na porção oriental da Amazônia

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brasileira, mas diferem quanto a características biofísicas (Amanajás e Braga 2012) e tempo

de ocupação e uso da terra (Gardner et al. 2013). Estas duas áreas foram classificadas como

diferentes ecorregiões (STM = Ecorregião Tapajós-Xingu; PGM = Ecorregião Tocantins-

Piedade), com base na presença de comunidades biológicas e espécies distintas (e.g.,

mamíferos e vegetação; Olson et al. 2001).

O município de Paragominas ocupa uma área com altitude de 85 m acima do nível

do mar. O clima é tropical chuvoso e a temperatura média anual é de 26 °C. A umidade

relativa do ar é de 81% e a precipitação média anual de 1.800 mm. Possui estação chuvosa

de dezembro a maio e estação seca de junho a novembro (Embrapa, 1986). A vegetação da

região é classificada como Floresta ombrófila densa, segundo sistema fisionômico-

ecológico (Radambrasil, 1974). O solo da área do município é representado,

principalmente, pelo tipo latossolo vermelho amarelo, podzólico vermelho amarelo,

podzólico vermelho amarelo plintítico (Vieira et al. 1971). As redes de drenagem

localizadas na área de estudo pertencem às bacias dos rios Capim e Gurupi.

O município de Santarém está a 50 m acima do nível do mar. O clima é tropical

úmido, com temperatura média anual de 27,5 °C. A umidade relativa do ar é de 81% e a

precipitação média anual de 1.950 mm (INMET, 2015). A região possui estação chuvosa de

janeiro a maio e estação seca pronunciada de junho a dezembro. O solo onde o município

está localizado é bastante heterogêneo, composto por quatro grupos: (a) Glei pouco húmico,

glei húmico, aluvial, laterita hidromórfica e hidromórficos indiscriminados; (b) areia

quartzosa vermelho-amarela, latossolo amarelo húmico antropogênico elatossolo amarelo;

(c) latossolo roxo e laterítico bruno avermelhado e (d) latossolo amarelo, podzólico

vermelho-amarelo e concrecionário laterítico (Vieira et al. 1971). De acordo com o sistema

fisionômico-ecológico, a vegetação da região é classificada como Floresta ombrófila densa,

Savana arbórea densa e Savana parque (Projeto Radambrasil, 1976; Magnusson et al.

2008). As redes de drenagem localizadas na área de estudo pertencem às bacias dos rios

Tapajós, Amazonas e Curuá-Una.

O território ocupado pela cidade de Santarém já era habitado por povos pré-

colombianos (Gardner et al. 2013), mas a atual cidade foi fundada em 1661. A ocupação da

região de Paragominas, por outro lado, teve início nos anos 1950, por imigrantes do sudeste

e centro-sul do país, sendo fundada em 1959. O desenvolvimento atual das duas regiões foi

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estimulado pela construção de rodovias federais e incentivos governamentais à ocupação e

desenvolvimento da porção norte do país, que ocorreram entre as décadas de 1960-70. A

princípio, a região de Santarém foi colonizada por pequenos produtores, enquanto que,

Paragominas foi ocupada por grandes produtores rurais, com auge da indústria madeireira

nas décadas de 1980 e 1990. A partir dos anos 2000, a agricultura mecanizada foi

implantada nas duas regiões e tem se expandido rapidamente nas terras de pastagem e

florestas secundárias (Gardner et al. 2013).

Atualmente, as duas regiões têm estabelecido medidas que estimulam o

desenvolvimento de práticas agropastoris sustentáveis. Paragominas, com a implantação do

selo “Município Verde” e Santarém, com o embargo à expansão da soja em áreas

desflorestadas do município (Gardner et al. 2013).

Período e escolha das áreas de amostragem

A comunidade de EPT foi amostrada em 96 riachos distribuídos ao longo de

microbacias localizadas na área rural dos municípios de Santarém (45 riachos) e

Paragominas (51 riachos). Em Santarém as amostragens foram realizadas nos meses de

julho e agosto de 2010 e em Paragominas entre os meses de junho e agosto de 2011, que

correspondem ao período de estiagem nas duas regiões. Os riachos foram escolhidos de

modo a representar um gradiente de impacto (degradação de habitats). Na escala local, este

gradiente foi identificado por meio de observação direta da cobertura do solo na zona

ripária e das condições do canal dos riachos e abrangeu desde áreas fortemente degradadas

até áreas de referência (minimamente perturbadas). Na escala de microbacia, o gradiente de

cobertura florestal foi avaliado com uso de imagens de satélite (Gardner et al. 2013). Outro

fator levado em consideração durante a escolha dos riachos foi a ordem (1ª a 3ª ordem, na

escala se Strahler).

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Figura 2- Localização geográfica das áreas de estudo em Santarém e Paragominas,

Amazônia Oriental, Pará, Brasil. Os pontos pretos representam os locais de amostragem.

A = Brasil; B = Estado do Pará; C = Santarém; D = Paragominas.

Amostragem de EPT e procedimentos de laboratório

Os insetos aquáticos foram coletados em 10 trechos contíguos, de 15 m cada, em

cada riacho. Em cada trecho, uma única amostra abrangendo o substrato predominante

(folhiço, areia, macrófitas, raiz) foi coletada. As amostragens foram realizadas no

sentidofoz-cabeceira.

Os substratos foram coletados com uso de uma rede entomológica em forma de D

(900 cm2 e malha de 1mm2) e submetidos a uma pré-triagem ainda em campo para

preservar melhor os espécimes mais frágeis e, dessa forma, facilitar a identificação

taxonômica dos exemplares coletados. O restante do material coletado foi armazenado em

potes plásticos e fixado com álcool (90%); no laboratório, foram triados em bandejas

transiluminadas e preservados em álcool (80º). A fauna de EPT foi triada e identificada sob

D

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microscópio estereoscópico utilizando chaves de identificação e o auxílio de especialistas,

quando necessário.

Grupos funcionais

Os grupos funcionais de EPT foram obtidos a partir da combinação entre grupos

funcionais alimentares e de habitat característicos de cada táxon. A classificação dos grupos

funcionais alimentares (raspadores, fragmentadores, sugadores, coletores, filtradores e

predadores) foi realizada com base nas categorias propostas por Cummins et al. (2005),

baseadas nos mecanismos morfo-comportamentais utilizados pelos insetos na aquisição do

alimento. Os atributos de hábito (nadadores, agarradores, escaladores, rastejantes,

cavadores e mergulhadores) foram classificados de acordo com Merritt e Cummins (1996),

e fornecem informações sobre a mobilidade relativa dos táxons e o local onde o alimento é

obtido (Merritt e Cummins 1996). Estes atributos têm grande potencial para a ecologia

preditiva, pois são instáveis evolutivamente, o que significa que são pouco limitados pela

filogenia (fraca afinidade taxonômica e correlação estatística) e que são sensíveis à seleção

local (Poff et al. 2006). Estudos empíricos têm destacado a importância desses atributos

para avaliar o papel funcional da comunidade de insetos aquáticos em gradientes

ambientais (e.g., Heino 2005; Heino et al. 2007). Neste estudo, cada táxon de EPT foi

alocado em um grupo funcional com base em informações de estudos da entomofauna

neotropical (Sattler 1967; Mol 1986; Alencar et al. 1999; Oliveira et al. 1999; Buss et al.

2002; Polegatto e Froehlich 2003; Cummins et al. 2005; Tomanova et al. 2006; Da-Silva et

al. 2010; Pes et al. 2013), em observações de campo e na opinião de especialistas (ver

Agradecimentos).

Avaliação do uso da terra

Para identificar uma possível relação preditiva entre os padrões de uso da terra e a

composição da comunidade de EPT de riachos de cabeceira, as proporções das categorias

de uso e cobertura do solo foram quantificadas em diferentes escalas espaciais: toda a

microbacia e zona tampão (“buffer”) de 30 m de largura (em cada margem) contornando a

rede de drenagem acima do ponto de coleta (corredores de vegetação ripária) (ver Gardner

et al. 2013) As bases de dados necessárias para a realização dessa avaliação foram

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fornecidas pela NASA - Administração Espacial e Aeronáutica Nacional (Santarém:

Modelo Digital do Terreno SRTM; resolução 90 x 90m; http://relevobr.cnpm.embrapa.br) e

pelo INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Paragominas: TopoData; resolução

30 x 30m).

Os limites das microbacias e da rede de drenagem (corredor de vegetação ripária)

foram gerados a partir de modelagem hidrológica no software SWAT, utilizando o modelo

digital do terreno (MDT) e as coordenadas dos pontos de amostragem. O cálculo das

proporções das categorias de uso e cobertura do solo na microbacia e no corredor de

vegetação ripária foi obtido por meio da sobreposição entre o arquivo com os limites das

microbacias e das redes de drenagem e o mapa de uso e cobertura do solo, o que forneceu a

área referente a cada polígono de uso dentro da microbacia e da zona tampão de 30m. As

áreas destes polígonos foram somadas considerando-se os tipos de cobertura e cobertura

presentes (corpos d’água, floresta primária, floresta secundária, floresta secundária jovem e

área aberta) e divididas pela área total da microbacia ou da zona tampão da rede de

drenagem, obtendo-se os valores proporcionais dessas categorias para cada escala espacial

(Gardner et al 2013).

Hábitat físico e qualidade da água

Com a finalidade de caracterizar o ambiente e verificar possíveis relações entre as

características ambientais e a composição e estrutura trófica da comunidade de EPT, 167

variáveis estruturais, químicas e físico-químicas dos riachos e da mata ripária foram

mensuradas. As características químicas, físicas e físico-químicas das águas foram

avaliadas em um único ponto dentro de cada riacho estudado e as variáveis de habitat físico

(estruturais) foram amostradas de acordo com Peck et al. (2006).

A avaliação do hábitat físico foi realizada ao longo dos 150m demarcados para a

coleta da entomofauna. Em cada uma das 11 seções transversais e ao longo das seções

longitudinais, a morfologia da área adjacente ao canal e a do canal do riacho (e.g.,

declividade, sinuosidade, ângulo de inclinação das margens), as características da

vegetação ripária (e.g., sombreamento das margens e canal) e as do habitat físico dentro dos

riachos (e.g., tipos e tamanho de substrato, imersão do substrato, tipo de fluxo e diâmetro

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de madeiras submersas) e as evidências de distúrbio humano (e.g., presença de pastagem,

agricultura, estradas e lixo) foram avaliadas.

Além disso, foram avaliados os valores do pH, temperatura (°C) e condutividade

elétrica (μS.cm-1) e a concentração de oxigênio dissolvido (mg.l-1) na água. As medidas

foram obtidas em campo com o uso de medidores portáteis (marca OAKTON modelos

Waterproof Multiparameter PC Tester 35 e Waterproof DO 300 Meter).

Diversidade funcional e composição funcional

Para avaliar a relação entre a comunidade de EPT e as medidas de distúrbios

antropogênicos nas escalas local, de microbacia e de corredor de vegetação ripária, duas

medidas de diversidade (riqueza - RF e diversidade alfa; DF) e uma de composição

funcional (CF) foram utilizadas como variáveis respostas. A diversidade funcional da

comunidade de EPT foi descrita por meio dos índices de riqueza funcional e diversidade

funcional (alfa). A riqueza funcional denota o número de grupos funcionais presentes em

uma comunidade, enquanto que, a diversidade funcional de cada comunidade foi expressa

pela combinação entre o número de grupos funcionais (riqueza funcional) e a distribuição

dos indivíduos entre os grupos funcionais (equitabilidade funcional). A diversidade

funcional foi calculada por meio da equação proposta por Shannon-Wiener:

H’ = -∑pi.log pi

Onde:

pi representa a razão entre ni e n. ni representa o número de indivíduos de um dado grupo

funcional em uma amostra e n o número total de indivíduos presentes na amostra.

A composição funcional foi quantificada a partir do primeiro eixo de uma Análise de

Coordenadas Principais (PCoA). Nas análises, os valores dos pontos de cada riacho,

obtidos a partir do primeiro eixo da PCoA, foram usados como substitutos da composição

funcional. A medida de distância utilizada foi a de Bray_Curtis para dados de abundância

das espécies. Antes das análises, os dados foram log transformados (log (x + 1)) para

diminuir o efeito dos táxons muito abundantes. A ordenação dos dados (PCoA) foi

realizada usando a função cmdscale da livraria vegan (Oksanen et al. 2010). As análises

foram realizadas no programa estatístico R, versão 3.1.1 (R Development Team 2010).

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Determinação do gradiente de distúrbio ambiental

Para determinar o nível de distúrbio total imposto pela pressão humana sobre os

riachos, foi calculado o índice de distúrbio integrado (IDI; veja Ligeiro et al. 2013). Este

índice leva em consideração o impacto antropogênico registrado no habitat físico no trecho

do riacho, ou seja, em uma escala local (índice de distúrbio local = IDL), e o observado na

microbacia ou na rede de drenagem, ou seja, em uma escala de paisagem (índices de

distúrbio na microbacia = IDM e no corredor de vegetação ripária = IDC). O IDI foi

escolhido porque o impacto observado na microbacia ou no corredor de vegetação ripária

nem sempre tem padrões semelhantes àquele observado localmente (Ligeiro et al. 2013).

O índice de distúrbio local (IDL) foi quantificado a partir da métrica W1_hall,

calculada como descrito por Kaufmann et al. (1999). Esta métrica sintetiza 11 tipos de uso

da terra ou distúrbios (estradas, pavimento, tubulações, lixo e aterros sanitários,

estacionamentos e gramados, construções, canal de revestimento, agricultura, pastagens e

exploração madeireira e mineração) registrados no canal dos riachos e na zona ripária, em

11 pontos equidistantes. O valor de cada evidência do distúrbio humano foi pesado de

acordo com a proximidade deste em relação ao riacho (ver Kaufmann et al. 1999).

O IDM e o IDC foram quantificados a partir das proporções de floresta secundária

jovem e de área aberta (não floresta) presentes na microbacia e no corredor de vegetação

ripária (rede de drenagem) de cada riacho. Estas métricas de distúrbio descrevem a pressão

das atividades humanas na área de estudo. As florestas secundárias em áreas de floresta

tropical são altamente correlacionadas com o impacto humano e fatores socioeconômicos

(Helmer 2000) e representam áreas potenciais para suprir a demanda por novas terras

produtivas (Ferraz 2009). As áreas abertas, neste estudo, representam basicamente áreas

que foram desmatadas e estão sendo utilizadas em atividades agropastoris (agricultura e

pecuária; Gardner et al. 2013).

O IDM e o IDC foram calculados segundo equação adaptada de Rawer-Jos et al.

(2004):

Índice (IDM ou IDC) = 2 * (% área aberta) + % floresta secundária jovem.

Como os valores dos índices de distúrbio local e paisagem (microbacia e corredor

de vegetação ripária) estão em diferentes escalas, ambos foram individualmente

padronizados, dividindo cada valor por 75% do seu máximo (veja Ligeiro et al. 2013). Esta

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padronização é necessária para a determinação do índice de distúrbio integrado (IDI) para

cada escala de paisagem. O IDI foi medido como a distância Euclidiana entre a posição do

riacho no plano bidimensional, formado pela relação entre o IDL e IDM ou IDL e IDC, e o

ponto de origem do plano, utilizando o teorema de Pitágoras (Ligeiro et al. 2013):

IDI = [(IDL/5)2 + (IDC/300)2]1/2

Quanto mais próximo estava o riacho da origem (zero) do plano, mais próximo da

condição ideal de referência e quanto mais distante maior o impacto na escala local e/ou de

paisagem. Assim, o gradiente de distúrbio foi determinado pela posição ascendente dos

IDIs no conjunto de riachos (Ligeiro et al. 2013). A classificação dos riachos segundo o IDI

foi realizada separadamente para cada região de estudo (Paragominas e Santarém) e para

todo o conjunto de riachos.

Relação entre a diversidade e a composição funcional da comunidade de EPT e os índices

de distúrbio

Para verificar a resposta da comunidade de EPT a diferentes níveis de impacto

humano nas escalas locais e de paisagem, foram realizadas regressões múltiplas entre a

diversidade (RF e DF) e a composição funcional (CF) da comunidade de EPT e o IDL e

IDM e o IDL e IDC. Para quantificar o poder de explicação do IDI sobre as variações

observadas na comunidade de EPT, também foram realizadas regressões simples entre a

diversidade e a composição funcional da comunidade de EPT e o IDI calculado a partir do

IDL e IDM (IDIM) e daquele obtido a partir da relação entre o IDL e IDC (IDIC) (bloco 1).

Os índices de distúrbio e a porcentagem de área aberta e de floresta secundária jovem

foram comparados entre as regiões e o conjunto total de dados, com uso de Análise de

Variância unifatorial (ANOVA) ou pelo seu correspondente não paramétrico (Zar 2010).

Contribuição das variáveis naturais para a explicação da diversidade e composição

funcional de EPT

Para avaliar a contribuição de explicação das variáveis naturais sobre a comunidade

de EPT, variáveis físicas, químicas e físico-químicas da água e do habitat físico foram

previamente selecionadas (Tabela 1). Como as variáveis ambientais podem ser

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influenciadas pela pressão humana, o primeiro passo da seleção foi avaliar a relação entre

as variáveis ambientais e as métricas de distúrbio, por meio da análise de correlação de

Pearson. Aquelas variáveis que apresentaram correlação significativa (p<0,05) com o

impacto humano foram retiradas dos passos seguintes da análise. Assim, as métricas

restantes foram consideradas fontes de variações naturais nos riachos. Posteriormente, uma

matriz de correlação de Pearson foi calculada entre as variáveis não relacionadas com o

impacto humano. Apenas uma das variáveis com autorrelação igual ou superior a 0,4 foi

mantida na análise. Nesta etapa, a seleção das variáveis naturais remanescentes foi

realizada com base em critérios ecológicos (veja Ligeiro et al. 2013).

Para quantificar o efeito do IDI (IDIM e IDIC) e das variáveis naturais sobre a

diversidade (RF e DF) e composição funcional (CF) da comunidade de EPT em cada uma

das regiões e em todo o conjunto de dados, análises de regressão linear múltipla foram

utilizadas. Considerando que o número de variáveis naturais escolhidas previamente

excedeu os limites ideais determinados pelo número de amostras disponíveis para análise,

as variáveis naturais (variáveis explanatórias) remanescentes foram selecionadas com uso

de regressão “stepwise backward”. Assim, um conjunto reduzido de variáveis naturais foi

obtido para uso no modelo de regressão final (bloco 2). A escolha do melhor modelo foi

realizada com base no critério de informação de Akaike (AIC), que é uma medida relativa

da qualidade de um modelo estatístico para certo conjunto de dados. O AIC fornece uma

estimativa da informação perdida quando um determinado modelo é usado, para tanto, ele

leva em consideração a qualidade do ajuste e a complexidade do modelo. O melhor modelo

é aquele que apresentar o menor valor de AIC (Bocard et al. 2011).

Para testar se a adição de variáveis naturais (métricas de habitat não relacionadas

com o distúrbio) aos modelos de regressão simples entre a diversidade (RF e DF) e a

composição funcional (CF) de EPT e o IDI (IDIM e IDIC) contribui significativamente na

explicação das variações observadas na composição da comunidade de EPT, o teste t foi

usado. Assim, o bloco 1, que descreve o quanto da variação da diversidade (RF e DF) e da

composição funcional (CF) de EPT é explicada pelo IDI (e.g., riqueza funcional de EPT ~

IDIM), foi comparado com o bloco 2, que descreve a contribuição de explicação do IDI e

das variáveis naturais (e.g: riqueza funcional de EPT ~ IDI + variáveis naturais) (veja

Ligeiro et al. 2013). A contribuição das variáveis naturais foi avaliada para as duas regiões

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96

separadamente (Paragominas e Santarém) e para todo o conjunto de riachos (duas regiões

juntas). As análises foram realizadas no programa estatístico R, versão 3.1.1 (R

Development Team 2010).

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97

Tabela 1- Variáveis ambientais não correlacionadas com o distúrbio humano.

Métricas Código

das métricas

Métricas não correlacionadas com o distúrbio Métricas selecionadas - com baixa correlação

entre si (r<0,4) Seleção critério de informação Akaik

Microbacia Cor. V. Ripária Microbacia Cor. V. Ripária Microbacia Cor. V. Ripária

S_P PGM STM S_P PGM STM S_P PGM STM S_P PGM STM S_P PGM STM S_P PGM STM

Média da profundidade da água na seção (cm) XP

X

X

X

X

X

Desvio padrão da profundidade da água na seção (cm) DPP X X X

X X X

X X X

X X X

X

Média largura molhada do transecto (m) XLM X

X

X

X

X

X

Desvio padrão largura molhada do transecto (m) DPLM

X

X

X

X

Média do ângulo das margens (graus) XAM X X

X X

X X

X X

X X

X X

Declividade do trecho (cm) Decliv.

Sinuosidade do trecho Sinu

X X

X X

X X

X X

Desvio padrão imersão (Canal + Margens) (%) DPI X X X

X X X

X X X

X X X

X

X

X

Cascalho fino (%) CF X X

X

X X

X X

Serrapilheira fina (%) SF X X X

X X X

X X

X X X

X

X

Desvio padrão tamanho substrato DPTS

X

X X

X

X X

X

Substrato < 16 mm S<16

X

X X

X

X X

X

X X

Sedimento fino (%) SedF

Presença de sedimento pequeno no talvegue (%) PSFT X X

X X

X X

X X

X

X

Estabilidade relativa do fundo (Diâmetro crítico) ERF X X

X

X X

X

X

Madeira (%) Mad

X

X X

X

X X

X

Macrófitas (%) Mac

X

X

X

X

X

Diversidade de abrigo Div_Abrig

X

X X

X

X

X

X

Descarga de água Des

Média velocidade da água (m/s) XVel

Desvio padrão da velocidade da água (m/s) DPVel X

X

X

X

X

X

Sequência de fluxo (rápido, suave e piscinas) Seq_F

X X

X X

X X

X X

X

Fluxo suave (%) FS

X

X

X

Corredeiras (%) Cor

X

X

X

X

Desvio padrão do dossel no canal (densiômetro) DPDC

X

X

X

X

X

X

Média dossel no canal (densiômetro) MDC

X

X

Potencial hidrogeniônico pH

Oxigênio (mgL-1) Oxi

Temperatura (ºC) Tem

Condutividade elétrica (µScm-1) Cond

X X

X X

X X

X X

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98

Resultados

Índices de distúrbio local, do corredor de vegetação ripária e da microbacia

Não houve diferença significativa nos valores do IDL (F(2,189) = 0,0353; p = 0,965) e

do IDM (F(2,189) = 0,010; p = 0,990) entre os riachos em Paragominas, Santarém e nas duas

regiões juntas (Figura 3A; 3C). Contudo, o IDC em Santarém foi significativamente menor

do que o de Paragominas (KW-H(2,192) = 10,555, p = 0,005) e igual ao do conjunto total de

riachos (Figura 3B). A porcentagem de floresta secundária jovem (F(2,189) = 0,005; p =

0,995), tanto na escala de microbacia quanto de corredor de vegetação ripária, e a

porcentagem de áreas abertas (F(2,189) = 0,018; p = 0,982), na escala de microbacia, não

variaram significativamente entre as duas regiões e o conjunto total de riachos (Figura 4A;

4B; 5B). Todavia, na escala de corredor da vegetação ripária, as proporções de áreas abertas

em Santarém foram significativamente menores que as de Paragominas (KW-H(2,192) =

9,388, p = 0,009; Figura 5A). A intensidade média de uso agrícola da terra na escala de

microbacia (áreas abertas; principalmente agricultura e pecuária) foi de aproximadamente

20%, tanto em Santarém (20,63%±16,99; Máx. = 62,89% e Mín. = 0,00%) quanto em

Paragominas (20%±19,94; Máx. = 67,87% e Mín. = 0,00%). Na escala de corredor de

vegetação ripária, Santarém apresentou 17,48%±22,07 (Máx. = 78% e Mín. = 0,00%) da

área utilizada para fins agropastoris e Paragominas 40,37%±36,00 (Máx. = 100% e Mín. =

0,00%). Houve correlação entre os valores do IDL e IDM (Paragominas: r = 0,49;

Santarém: r = 0,40; Regiões juntas r = 0,40) e do IDL e IDC (Paragominas: r = 0,40;

Santarém: r = 0,36; Regiões juntas r = 0,40).

Poucos riachos apresentavam condições próximas às de referência nas duas regiões

e escalas de paisagem (Figura 6). De modo geral, na escala de corredor da vegetação

ripária, os valores do IDI para Paragominas foram superiores aos registrados para Santarém

e ocorreu o inverso para o IDIM, mesmo que em menor intensidade (Figura 7).

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Figura 3- Valores do índice de distúrbio local (A), do índice de distúrbio no corredor de

vegetação ripária (B) e do índice de distúrbio na microbacia (C) registrados nas áreas de

Paragominas, Santarém e para as duas regiões juntas. PGM_STM = Conjunto de riachos de

Paragominas e Santarém. A caixa representa o valor médio (segmento horizontal), o

intervalo que contém 50% dos indivíduos (caixa) e segmentos verticais representam 1,5

vezes o intervalo interquartil.

a a a a b b

a a a

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Figura 4- Porcentagem de floresta secundária jovem no corredor de vegetação ripária (A) e

Floresta secundária jovem na microbacia de drenagem (B) para as regiões de Paragominas,

Santarém e as duas regiões juntas. A caixa representa o valor médio (segmento horizontal),

o intervalo que contém 50% dos indivíduos (caixa) e segmentos verticais representam 1,5

vezes o intervalo interquartil. PGM_STM = Conjunto de riachos de Paragominas e

Santarém.

Figura 5- Porcentagem de área aberta no corredor de vegetação ripária (A) e área aberta na

microbacia de drenagem (B) para as regiões de Paragominas, Santarém e as duas regiões

juntas. PGM_STM = Conjunto de riachos de Paragominas mais Santarém. A caixa

representa o valor médio (segmento horizontal), o intervalo que contém 50% dos

indivíduos (caixa) e segmentos verticais representam 1,5 vezes o intervalo interquartil.

a a a a a a

a b b a a a

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Figura 6- Posição dos riachos de Paragominas e Santarém no plano bidimensional formado

pela relação entre os índices de distúrbio local e de corredor de vegetação ripária (A) e

entre os índices de distúrbio local e de microbacia (B).

Figura 7- Posição dos riachos em ordem crescente de perturbação, com base nos valores do

IDI, para Paragominas e Santarém. A = IDI obtido por meio da relação entre IDL e IDC

(IDIC) e B = IDI obtido por meio da relação entre IDL e IDM (IDIM). IDI = índice de

distúrbio integrado; IDL = índice de distúrbio local; IDM = índice de distúrbio na

microbacia; IDC = índice de distúrbio no corredor de vegetação ripária.

Descrição da comunidade e dos grupos funcionais de EPT

No total, foram coletados 22.233 exemplares, pertencentes a 58 gêneros distribuídos

em Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera. A ordem mais abundante foi Trichoptera,

com 16.701 indivíduos (75,1%), seguida por Ephemeroptera, com 4.715 (21,2%), e

Plecoptera, com 819 indivíduos (3,7%). Ephemeroptera e Trichoptera apresentaram maior

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riqueza, 28 e 27 gêneros, respectivamente, enquanto que Plecoptera apresentou apenas três

gêneros. Paragominas apresentou 14.298 exemplares e riqueza de 49 gêneros e em

Santarém foram registrados 7.935 exemplares e riqueza de 53.

Com base na combinação dos grupos funcionais alimentares e de habitat, os gêneros

de EPT foram classificados em 20 grupos funcionais (Tabela 2). Os grupos funcionais com

o maior número de gêneros foram Filtrador-Agarrador, com sete gêneros, e Apanhador-

Nadador e Raspador-Agarrador, com seis gêneros cada. Filtrador-Agarrador foi o grupo

mais abundante, com 12.485 exemplares, aproximadamente 56% do total coletado. Esta

alta abundância deve-se aos Trichoptera (Hydropsychidae) pertencentes aos gêneros

Macrostemum (n = 6.026), Smicridea (n = 4.047) e Leptonema (n = 2.144) (Tabela 2).

Tabela 2 - Porcentagem dos gêneros e do número de exemplares representados por cada

grupo funcional de EPT para todo o conjunto de riachos estudados e para Paragominas e

Santarém, separadamente. Também são apresentados os gêneros pertencentes a cada grupo

funcional.

Grupo funcional Gêneros

(%)

Indivíduos

(%) Gêneros

S_P PGM STM S_P PGM STM

Filtrador- Rastejante 3,4 4,1 1,9

1,0 0,8 1,4 Hydrosmilodon,

Paramaka/Needhamella

Filtrador- Cavador 3,4 4,1 3,8

0,6 0,6 0,6 Asthenopus, Campsurus

Filtrador- Agarrador 12,1 12,2 13,2

56,2 62,3 45,1

Austrotinodes, Leptonema,

Macrostemum, Smicridea, Chimarra,

Wormaldia,Cyrnellus

Apanhador- Nadador 10,3 12,2 9,4

5,0 7,1 1,2 Americabaetis, Aturbina, Callibaetis,

Waltzoyphius, Zelusia

Apanhador- Rastejante 8,6 8,2 9,4

6,6 5,1 9,3 Coryphorus, Campylocia,

Amanahyphes, Traverhyphes

Apanhador- Agarrador 3,4 4,1 1,9

0,0 0,0 0,1 Tricorythodes, Thraulodes

Predador- Nadador 1,7 - 1,9

0,0 0,0 0,0 Harpagobaetis

Predador- Rastejante 5,2 4,1 5,7

3,7 1,4 7,9 Anacroneuria, Enderleina,

Macrogynoplax

Predador- Escalador 3,4 4,1 3,8

1,1 0,6 2,0 Oecetis, Marilia

Predador- Agarrador 5,2 6,1 5,7

5,1 4,9 5,4 Cernotina, Nyctiophilax,

Polyplectropus

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Sugador- Agarrador 5,2 4,1 5,7

1,2 1,5 0,6 Flintiella, Hydroptila, Metrichia

Sugador- Escalador 1,7 2,0 1,9

2,5 0,4 6,3 Oxyethira

Raspador- Escalador 5,2 4,1 5,7

1,5 2,1 0,6 Brasilocaenis, Caenis, Amazonatolica

Raspador- Agarrador 10,3 8,2 11,3

2,5 0,8 5,5

Farrodes, Mortoniella, Protoptila,

Helicopsyche, Neotrichia,

Xiphocentron/Machairocentron

Raspador- Rastejante 6,9 8,2 7,5

3,1 2,7 4,0 Askola, Hagenulopsis,Miroculis,

Simothraulopsis

Raspador- Nadador 3,4 2,0 1,9

0,3 0,4 0,2 Paracloeodes, Amphoropsyche

Fragmentador- Nadador 1,7 2,0 -

0,2 0,3 0,0 Fittkaulus

Fragmentador- Rastejante 1,7 2,0 1,9

1,6 2,5 0,1 Ulmeritoides

Fragmentador- Agarrador 1,7 2,0 1,9

5,6 5,8 5,2 Macronema

Fragmentador- Escalador 5,2 6,1 5,7

2,2 0,8 4,6 Phylloicus, Nectopsyche, Triplectides

S_P = Santarém e Paragominas; PGM = Paragominas; STM = Santarém.

Gradiente de composição da comunidade de macroinvertebrados

O primeiro eixo da PCoA ordenou os táxon de acordo com o nível de impacto dos

riachos, especialmente em Paragominas e com os dados totais. Os riachos dispostos no

extremo negativo apresentaram fauna funcionalmente mais rica (e.g., Paragominas:

10,3±2,6; Máx. = 17 e Mín. = 7), composta por grupos funcionais especialistas e

generalistas. Os riachos localizados no extremo positivo do eixo de ordenação possuem

fauna funcionalmente mais pobre (e.g., Paragominas: 4,0±1,7; Máx. = 7 e Mín. = 2) e

composta por grupos funcionais considerados mais tolerantes à perda e/ou substituição da

vegetação natural (e.g., filtrador- agarrador, principalmente Hydropsychidae; apanhador-

nadador, Baetidae).

Em Paragominas, os grupos funcionais Raspador - Rastejante (r = -0,53);

Fragmentador - Rastejante (r = -0,44); Fragmentador - Escalador (r = -0,47); Predador -

Rastejante (r = -0,38); Predador - Agarrador (r = -0,38) e Apanhador - Rastejante (r = -0,38)

apresentaram correlação negativa com a composição funcional (CF; primeiro eixo da

PCoA). Relação positiva significativa foi observada apenas com o grupo Filtrador -

Agarrador (r = 0,53). Em Santarém, oito grupos funcionais relacionaram-se negativamente

com o eixo representativo da composição funcional de EPT (Raspador - Agarrador: r = -

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0,60; Raspador - Rastejante: r = -0,59; Raspador - Nadador: r = -0,31; Fragmentador -

Escalador r = -0,39; Fragmentador - Agarrador: r = -0,39; Predador - Rastejante: r = -0,65;

Predador - Escalador: r = -0,36 e Apanhador - Rastejante: r = -0,58).

Relação entre a diversidade e a composição funcional da comunidade de EPT e os índices

de distúrbio

Escala local e de microbacia

Avaliando conjuntamente a escala local e de microbacia, a riqueza funcional (RF)

de EPT foi a variável que melhor respondeu à variação do IDM e IDL em Santarém

(Regressão múltipla, R2 = 0,31). Em Paragominas e para o conjunto total de riachos, o IDM

e IDL explicaram melhor a variação da composição funcional (CF; Regressão múltipla, R2

= 0,27 e R2 = 0,25, respectivamente) (Apêndice 1). Tendo em vista o conjunto total de

riachos, ambos os índices, IDM e IDL, explicaram uma parcela significativa da variação da

RF, DF e CF. Em Paragominas, apenas o IDM contribuiu significativamente para a

explicação da variação na diversidade (RF e DF) e composição funcional (CF) de EPT. Em

Santarém, o IDL explicou melhor a variação da RF e DF. A variável CF não respondeu

significativamente às variações de nenhum dos dois índices (Apêndice 1). Embora

significativas, as porcentagens de explicação do IDIM para as variações da RF, DF e CF de

EPT foram fracas, principalmente na região de Santarém, onde o IDIM explicou 13 e 17%

da variação da DF e da CF, respectivamente (Figura 9; Apêndice 2; Bloco 1). Seguindo a

mesma tendência observada nas relações entre as variáveis respostas e o IDM e IDL, a RF e

DF aumentaram com o aumento do IDIM, enquanto que, CF diminuiu com o seu

incremento (Figura 8; Figura 9; Apêndice 2).

Escala local e de corredor da vegetação ripária

Tendo em vista as escalas local e de corredor de vegetação ripária, a composição

funcional (CF) de EPT foi a variável resposta que melhor respondeu a variação do IDL e

IDC em Paragominas (Regressão múltipla, R2 = 0,43) e para o conjunto total de riachos

(Regressão múltipla, R2 = 0,36). Em Santarém, o IDL e IDC explicaram melhor a variação

da diversidade funcional (DF; Regressão múltipla, R2 = 0,38). De modo geral, ambos os

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índices explicaram parte da variação da RF, DF e CF de EPT, contudo, o IDL não

contribuiu significativamente para a explicação das variáveis resposta em Paragominas. Em

Santarém, o IDC não contribuiu para a explicação da CF. Apesar de significativas, as

explicações das variações da RF, DF e CF obtidas pelo IDIC foram de fracas a moderadas

(14 a 44%; Apêndice 1).

Contribuição das variáveis naturais na organização funcional da comunidade de EPT

Escala local e de microbacia

O uso de métricas de habitat aos modelos que descrevem a relação entre o IDIM e

RF, DF e CF resultou em um aumento da explicação da RF, DF e CF nas duas regiões de

estudo e para o conjunto total de riachos (Tabela 3). Quando todo o conjunto de riachos foi

utilizado nas análises, as variáveis naturais contribuíram com 42 a 50% da explicação final

da RF, DF e CF. Em Paragominas, a contribuição das variáveis naturais para a explicação

da RF, DF e CF variou entre 38 e 56%, enquanto que, em Santarém, a contribuição

representou de 60 a 73% do total de explicação da RF, DF e CF. Os modelos finais de

regressão múltipla (IDIM+variáveis naturais) explicaram entre 36 e 61% da variação total

das variáveis respostas analisadas (Figura 9; Apêndice 3).

Para o conjunto total de riachos, os modelos finais de regressão múltipla (bloco 2)

da RF, DF e CF incorporaram, além do IDIM, uma variável descritora da morfologia do

canal e três do substrato (Apêndice 3). Nos modelos de RF e DF, o IDIM, cascalho fino

(CF) e presença de sedimento pequeno no talvegue (%; PSFT) contribuíram negativamente

e o ângulo da margem (XAM) e o desvio padrão da imersão (DPI) contribuíram

positivamente para a explicação da diversidade funcional. No modelo de CF, o IDIM, CF e

PSFT contribuíram positivamente, enquanto que, o XAM contribuiu negativamente para a

explicação da composição funcional de EPT (bloco 2).

Em Paragominas, os modelos de regressão múltipla incluíram duas variáveis

descritoras da morfologia do canal, duas do substrato e uma da cobertura da vegetação

ripária. No modelo da RF, o IDIM contribuiu negativamente e o XAM e o desvio padrão da

cobertura do dossel no canal (DPDC) contribuíram positivamente para a formação do

modelo final de regressão múltipla (bloco 2). No modelo da DF, o IDIM, CF e o desvio

padrão do tamanho do substrato (DPTS) contribuíram negativamente e o DPDC e o XAM,

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positivamente. No modelo da CF, o IDIM, CF contribuíram positivamente para a explicação

da composição funcional de EPT e o XAM, negativamente (Tabela 3).

Figura 8- Relação entre a riqueza funcional (RF), diversidade funcional (DF) e composição

funcional (CF) da comunidade de EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera) e o

índice de distúrbio integrado (IDI) calculado para as escalas de microbacia e de corredor de

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vegetação ripária (IDIM e IDIC; variável preditora) nas regiões de Paragominas (D, E, F e

N, O, P) e Santarém (G, H, I e Q, R, S), isoladamente, e para o conjunto total de riachos

(duas regiões juntas; A, B, C e J, L, M). IDIM = índice de distúrbio integrado (IDL+IDM)

na escala de microbacia; IDIC = índice de distúrbio integrado (IDL+IDM) na escala de

corredor de vegetação ripária; IDL = índice de distúrbio local; IDM = índice de distúrbio na

microbacia; IDC = índice de distúrbio no corredor de vegetação ripária.

As variáveis naturais incorporadas aos modelos finais de regressão da RF, DF e CF

(bloco 2), em Santarém, foram variáveis descritoras do substrato (2), fluxo (1), abrigo (1) e

morfologia do canal (1). No modelo da RF, o IDIM, substrato < 16 mm (S<16), SF e

sequência de fluxo (rápido, suave e piscina; Seq_F) contribuíram negativamente e a

diversidade de abrigos (Div_Abrig) contribuiu positivamente para a explicação da RF e DF.

No modelo da DF, foram incorporadas as mesmas variáveis, exceto pela SF, que foi

substituída pelo desvio padrão da profundidade (DPP). No modelo da CF, o IDIM, S<16 e a

serrapilheira fina (SF) contribuíram positivamente e a Div_Abrig contribuiu negativamente

para a explicação da composição funcional de EPT (Apêndice 3).

Escala local e de corredor da vegetação ripária

Assim como o observado para o IDIM, a adição de variáveis naturais aos modelos

que descrevem a relação entre o IDIc e RF, DF e CF contribuiu significativamente para a

explicação das variáveis resposta nas duas regiões de estudo e no conjunto total de riachos

(Tabela 3). Quando o conjunto total de riachos foi analisado, as variáveis de habitat não

relacionadas diretamente com medidas do impacto contribuíram com 57, 42 e 21% do total

de explicação da RF, DF e CF, respectivamente. Em Paragominas, as variáveis naturais

contribuíram com 58, 55 e 16% do total de explicação da RF, DF e CF, respectivamente.

Em Santarém, as variáveis naturais contribuíram com 46, 28 e 62% do total de explicação

da RF, DF e CF, respectivamente. Os modelos finais de regressão múltipla (variáveis

resposta~IDIC+variáveis naturais) explicaram entre 32 e 53% da variação total da RF, DF e

CF de EPT (Figura 9; Apêndice 3).

De modo geral, as variáveis naturais incorporadas aos modelos de regressão entre

IDIC e RF, DF e CF em Paragominas, Santarém e o conjunto total de riachos foram

variáveis descritoras da morfologia do canal e do tipo e tamanho do substrato.

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108

Adicionalmente, a diversidade de abrigo foi incorporada em um dos modelos gerados

(Apêndice 3).

Figura 9 - Resultados das regressões simples (bloco 1) e a riqueza funcional (RF),

diversidade funcional (DF) e composição funcional (CF) da comunidade de EPT (variáveis

respostas) e o índice de distúrbio integrado calculado para a escala de microbacia e para o

corredor de vegetação ripária (IDIM e IDIC; variável preditora) das regiões de Paragominas,

Santarém e o conjunto total de riachos (em branco, a esquerda). Em cinza médio, a direita,

os resultados das regressões multiplas (bloco 2) entre as variaveis resposta (RF, DF, CF), os

IDIs e as variáveis naturais do habitat nas duas escalas de estudo. Em cinza escuro, as

variáveis resposta que melhor responderam ao distúrbio antrópico e a variabilidade natural

do habitat. Espessura das setas proporcional a intensidade das respostas. Números = R2.

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Tabela 3- Comparação entre os modelos de regressão simples do bloco 1 (variável resposta

~ IDI) e modelos de regressão múltipla do bloco 2 (variável resposta ~ IDI + variáveis

naturais de habitat) para as regiões de Paragominas, Santarém e para as duas regiões juntas.

São apresentados os modelos construídos com o IDI calculado tanto para a escala de

microbacia quanto para o corredor de vegetação riparia (IDIM e IDIC). Regiões Variável resposta Teste t (IDIM) Teste t (IDIC)

Gl t P Gl t P

Riqueza funcional 94 6,996 5,967e-05 *** 94 6,626 1,015 e-04 ***

PGM e STM Diversidade funcional 94 8,890 4,274e-06 *** 94 8,097 7,729e-05 ***

Composição funcional 94 8,085 1,291e-05 *** 94 7,354 1,814e-04***

Riqueza funcional 49 7,425 1,577e-03 ** 49 10,05 2,623 e-03**

Paragominas Diversidade funcional 49 16,93 1,479 e-04 *** 49 11,12 6,884 e-03**

Composição funcional 49 8,926 5,175e-04 *** 49 4,560 1,549 e-02*

Riqueza funcional 43 11,053 4,342e-06 *** 43 7,880 1,271 e-03**

Santarém Diversidade funcional 43 8,5168 4,866e-05 *** 43 5,088 1,062 e-02*

Composição funcional 43 6,759 8,548e-04*** 43 10,607 1,938 e-04***

Bloco 1 = variável resposta ~ IDI; Bloco 2 = variável resposta ~ IDI(M ou C) + variáveis naturais; PGM = Paragominas; STM = Santarém-Belterra; Nível de significância: p< 0,001***; p< 0,01 ** e p<0,05*.

Discussão

Relação entre a diversidade e a composição funcional da comunidade de EPT e os índices

de distúrbio

Segundo evidências atuais, as diversas atividades de uso da terra atuam como filtros

que agem em diferentes escalas e influenciam a função, a estruturação e a identidade das

comunidades aquáticas. Por meio de mecanismos difusos, as atividades agropastoris

alteram as condições (e.g., temperatura, qualidade da água; Ometo et al. 2000; Sponseller et

al 2001) e os recursos (e.g., fontes alimentares, habitat; Wallace e Gurtz 1986) nos riachos

e determinam o arranjo e o tipo de vegetação (e.g., manchas de vegetação nativa,

monocultura de plantas anuais, capim) que compõem a paisagem (e.g., zona ripária,

microbacia, bacia de drenagem). A atuação dos agentes estressores e a crescente perda da

vegetação nativa em decorrência das atividades humanas promovem a perda e a alteração

de habitats e reduzem a capacidade de resiliência dos ecossistemas aquáticos

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remanescentes, levando à extinção das espécies detentoras de atributos específicos. Este

fato compromete a composição e tende a reduzir a diversidade taxonômica, funcional e

genética da entomofauna (Richards et al. 1997; Sponseller et al. 2001; Watts et al. 2006).

No presente estudo, a perda da diversidade funcional e a alteração na composição funcional

da fauna de EPT com o aumento da perturbação corroboram essa tendência.

Nossos resultados enfatizam a relevância das atividades de uso/cobertura da terra

(agropastoris) na organização da diversidade e composição funcional de EPT em riachos da

Amazônia Oriental. Os riachos referência, de modo geral, apresentaram comunidades

funcionalmente mais semelhantes entre si. O aumento no distúrbio promoveu perda da

diversidade funcional de EPT, contudo, riachos com níveis intermediários de distúrbio

apresentaram alta variabilidade nas respostas. Ecossistemas pouco perturbados (seja por

distúrbios naturais ou antropogênicos) tendem a ter um habitat mais estável e sua

comunidade pode conter espécies com ampla variedade de atributos, inclusive aquelas

características presentes em habitats perturbados (Townsend e Hildrew 1994). Já em

habitats altamente perturbados, a comunidade geralmente contêm apenas as espécies

tolerantes à perturbação (Allan 2004). Em nosso estudo, este comportamento foi mais

evidente em Paragominas, que apresentou maior impacto na escala de corredor da

vegetação ripária. Os riachos referência apresentaram comunidades com ampla variedade

de atributos e os riachos mais perturbados tiveram fauna funcionalmente restrita, composta

principalmente por organismos do grupo Filtrador - Agarrador (principalmente,

Trichoptera: Hydropsychidae). Os membros desse grupo funcional possuem a capacidade

de fixar-se ao substrato, tornando-se mais resistentes aos eventos de alta descarga

(Townsend e Hildrew 1994), comuns em áreas de agricultura (Allan 2004) devido a

alterações na permeabilidade do solo e morfologia do canal. Além disso, os

Hydropsychidae possuem dieta bastante variada, podendo consumir animais, algas ou

detritos (e.g., Lecerf et al. 2006), o que pode torná-los tolerantes a variações nas fontes

alimentares.

Definir a escala em que as atividades antrópicas exercem maior efeito sobre a

comunidade de macroinvertebrados aquáticos possui função prática. Pois essas informações

podem ser utilizadas para subsidiar a implantação de medidas de uso que visem preservar

as áreas consideradas críticas para a manutenção da integridade funcional e biológica dos

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ecossistemas aquáticos, sem abrir mão do desenvolvimento econômico. Nossos resultados

indicam que a escala em que as atividades antrópicas exercem maior efeito sobre a

comunidade de macroinvertebrados aquáticos pode variar de acordo com a variável

resposta utilizada e com a região. Em Paragominas, as condições de uso da terra na

paisagem do entorno (microbacia de drenagem e corredor de vegetação ripária) explicaram

melhor as variações da diversidade e composição funcional de EPT. Isso também foi

observado por Ligeiro et al. (2013), ao avaliarem o efeito do uso da terra sobre a riqueza

taxonômica da fauna de EPT em riachos da Floresta Atlântica (Brasil). Em Santarém, as

medidas de distúrbio local explicaram melhor a RF e CF de EPT, exceto pela DF na escala

de corredor ripário, em que as medidas de distúrbio pelo uso da terra em ambas as escalas

(IDL e IDC) foram semelhantes. Essa diferença pode estar associada ao tipo de ocupação

das duas áreas. Enquanto Santarém foi densamente povoada por pequenos produtores há

cerca de um século, Paragominas foi povoada por grandes fazendeiros e pela indústria

madeireira (Gardner et al. 2013). Os pequenos agricultores preferem se estabelecer próximo

aos corpos de água para facilitar o acesso à água para uso doméstico e para a criação de

animais enquanto que para os grandes produtores essa não é uma questão essencial, uma

vez que suas atividades ocupam mais amplamente a paisagem e as pessoas podem se

concentrar em pequenas cidades.

Comparando as duas escalas de paisagem (microbacia e corredor de vegetação

ripária), as condições de uso da terra na microbacia apresentaram, de modo geral, melhor

capacidade de prever o comportamento das variáveis respostas em Paragominas (DF > 11%

e RF > 24%), nas duas regiões juntas (RF > 26% e DF > 3%) e Santarém (RF > 5% ).

Contudo, quando o IDM foi substituído pelo IDC nas análises de regressão múltipla, a

capacidade de explicação do modelo da EF, em Paragominas, aumentou ~ 83%. Esta maior

explicação da CF deve estar associada ao aumento na intensidade de uso da terra, nesta

escala (~ 40% da área total da zona tampão). O aumento na extensão média de áreas abertas

no corredor de vegetação ripária representa perda da vegetação ripária natural, o que altera

a origem (e.g., alóctone para autóctone) e o tipo (e.g., matéria orgânica grossa proveniente

da vegetação marginal para algas) das fontes alimentares (Gurtz e Wallace 1986; Bis et al.

2000, Thomas et al. 2004) e as condições e a disponibilidade dos habitats (e.g., incidência

luminosa, aporte de sedimento, fluxo da água, tipo e tamanho dos substratos) nos riachos.

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112

Esta nova configuração deve estabelecer restrições à entomofauna local e só as espécies

cujos atributos conferem vantagens reprodutivas e de sobrevivência conseguirão

permanecer. Contudo, estas novas condições podem ser propícias ao estabelecimento de

táxons que eram incapazes de ocupar os riachos sob as condições originais, diminuindo a

resistência a invasões (e.g., Paillex et al. 2013). Esta dinâmica deve levar a alterações nos

padrões e processos funcionais da entomofauna, especialmente na composição, como

sugerido pelos nossos resultados. Em Santarém, as condições da vegetação ripária foram

importantes na determinação do padrão de distribuição dos indivíduos entre os táxons,

como indicado pelo aumento na explicação da diversidade funcional (DF > 123%) mesmo

com a redução da RF.

Contraditoriamente, mesmo com o aumento na intensidade de uso da terra no

corredor de vegetação ripária, a capacidade de explicação dos modelos de RF e a DF de

EPT em Paragominas reduziram ~24 e 11%, respectivamente, quando o IDM foi

substituído pelo IDC. Isto sugere que o pool regional de espécies de EPT está contribuindo

com espécies para áreas perturbadas, o que aumenta a imprevisibilidade nos padrões das

comunidades e, com isso, adiciona mais ruídos às análises. Em tese, riachos localizados em

áreas perturbadas, mas próximos a áreas florestadas, podem estar sendo constantemente

recolonizados (Townsend e Hildrew 1994). Estudos mostram que a composição da fauna de

insetos de riachos de áreas próximas pode contribuir para a formação da comunidade local

(Sanderson et al. 2005), especialmente pelo fato de alguns grupos de insetos apresentarem

capacidade relativamente alta de dispersão lateral (Briers et al. 2004; Chaput-Bardy et al.

2008; Keller et al. 2012).

O índice de distúrbio integrado (IDI) mostrou ser uma ferramenta univariada útil na

avaliação de distúrbios decorrentes das atividades humanas. Assim como registrado por

Ligeiro et al. (2013), o IDI descreveu melhor a variabilidade das variáveis resposta do que

os índices de distúrbio local e de paisagem isoladamente, e quase tão bem quanto estes

quando avaliados separados na regressão múltipla, especialmente para Paragominas e para

o conjunto total de riachos.

Variabilidade natural

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Estudos sugerem que os atributos das espécies de insetos (e.g., história de vida,

grupos funcionais alimentares e habitat) estão intimamente relacionados com as condições

locais do seu habitat (Richards et al. 1997; Lamouroux et al. 2004). Sob esta perspectiva, a

variabilidade natural do habitat atua como filtro que controla a permanência das espécies de

insetos nos riachos com base em seus atributos (Townsend et al. 1997; Heino 2005). No

presente estudo, a adição de variáveis naturais de habitat (não correlacionadas com o

impacto humano) aos modelos que visam explicar a variabilidade da RF, DF e CF da

comunidade de EPT ao longo do gradiente de impacto aumentou significativamente o poder

de explicação de todos os modelos.

Assim como observado na literatura, a morfologia do canal, o tipo e tamanho das

partículas que compõem o substrato e as características do fluxo da água foram importantes

para explicar a variabilidade funcional da entomofauna (Richards et al. 1997; Lamouroux et

al. 2004). Embora algumas métricas tenham sido substituídas, de modo geral, os modelos

criados para a escala de microbacia e para a escala de corredor de vegetação ripária

incorporaram métricas naturais semelhantes.

Entre as métricas de morfologia do canal, o ângulo da margem dos riachos foi

incorporado aos modelos de regressão múltipla e contribuiu positivamente para a

explicação da RF, DF e CF em Paragominas e para todo o conjunto de riachos. Esta métrica

é indicadora da estabilidade das margens (Gordon et al. 1992), e riachos com ângulo aberto

das margens aberto geralmente passaram por processos de erosão, associados ao uso da

terra (Lammert e Allan 1999). Contudo, muitos riachos da área de estudo estão localizados

em vales largos e não são, naturalmente, encaixados; ao contrário, possuem margens pouco

íngremes e fundo plano. Estas características aumentam a conectividade entre o canal do

riacho e áreas marginais (Nessimian et al. 2008), especialmente durante as inundações,

criando e/ou mantendo habitats, como poças marginais e áreas alagadas adjacentes

(Espírito-Santo et al. 2009). Medidas da morfologia dos riachos, como a incisão, têm sido

utilizadas como indicadores de conectividade hídrica entre o canal principal de riachos e a

mata ripária (e.g., Sullivan e Watzin 2009). Além disso, neste tipo de sistema, o

deslocamento da água em direção às margens deve reduzir a força da descarga, impedindo

que grande parte do substrato do riacho e a fauna associada sejam carreados a jusante.

Assim, o efeito positivo do aumento do ângulo das margens dos riachos, registrado no

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presente estudo, deve estar associado à maior complexidade estrutural desses riachos

(relação canal e entorno) e à capacidade de dissipar a energia cinética da água durante os

eventos de grande descarga.

A profundidade média e o desvio padrão da profundidade (heterogeneidade da

profundidade) da seção transversal também foram incorporados aos modelos que

descrevem a Composição Funcional de EPT, em Paragominas, e a Diversidade Funcional,

em Santarém, respectivamente. Em Santarém, o desvio padrão da profundidade apresentou

relação positiva com a área da microbacia de captação (r = 0,46), evidenciando o efeito do

tamanho dos riachos sobre a diversidade funcional da entomofauna. Embora tenhamos

delimitado o estudo a riachos de 1a a 3a ordem, variações nas dimensões dos riachos ainda

são esperadas (Richards et al. 1996; Ferreira e Forsberg, 2001). Richards et al. (1996)

observaram que a área da microbacia de captação foi a métrica de paisagem que melhor

explicou a variação dos grupos tróficos funcionais em riachos de cabeceira de Michigan,

USA (1a a 4a ordem). Todavia, o efeito da preferência e necessidade de habitat pela fauna

deve ser considerado. Em muitos casos, a fauna de EPT mostra-se negativamente

relacionada à profundidade (e.g., Richards et al. 1996). Em Paragominas, a relação entre a

profundidade média e a composição da fauna de EPT não foi clara. Contudo, observamos

que houve relação negativa significativa entre a Composição Funcional e o grupo

Raspador-Rastejante (r = -0,49) e que este se relacionoue negativamente com a

profundidade média (r = -0,29). Esta relação inversa deve estar associada com a fonte

alimentar destes organismos. As áreas mais profundas dos riachos possuem fluxo de água

mais lento e, em consequência, maior deposição de sedimentos finos. Aliada a essa maior

deposição, a menor incidência luminosa que atinge o substrato deve prejudicar a produção

de biofilme e, com isso, afetar negativamente os raspadores.

Outra métrica selecionada pelos modelos de RF e DF em Paragominas foi o desvio

padrão da cobertura do dossel sobre o canal. Esta medida indica variação na largura do

canal, o que cria ambientes com maior e menor incidência luminosa (Richards et al. 1996).

Usualmente, aumento na heterogeneidade de habitat propicia o estabelecimento de uma

comunidade mais rica. Este comportamento é, geralmente, atribuído ao efeito positivo da

heterogeneidade sobre o “número de nichos” nos riachos. Ambientes mais heterogêneos

têm habitats mais variados, e um maior número de táxons pode encontrar nichos ecológicos

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(Beisel et al. 2000). Neste caso, riachos com maior variabilidade na cobertura do dossel no

canal podem ser capazes de abrigar tanto táxons cuja fonte alimentar requer alta incidência

luminosa, quanto aqueles cujo alimento independe da luz que atinge o riacho, o que

justificaria a relação positiva encontrada entre esta métrica e as medidas de diversidade

utilizadas.

Os substratos presentes nos riachos servem como fonte de alimento (Wallace et al.

1999; Ely e Wallace 2010), abrigo (Beisel et al. 2000; Robinson et al. 2004) e área de

desova para os insetos aquáticos (e.g., Peckarsky et al. 2000). Contudo, a relação entre a

entomofauna e certos tipos de substrato nem sempre é positiva, ela depende do tamanho e

da porosidade do substrato (Cummins e Lauff 1969; Lamouroux et al. 2004). Substratos

pequenos são facilmente carreados por correntes turbulentas de água no fundo dos riachos.

Leitos de riachos com grande porcentagem de sedimento fino, cascalho pequeno e

serapilheira fina, por exemplo, não proporcionam áreas estáveis que possam ser utilizadas

como refúgio pela entomofauna durante os eventos de inundação (Townsend et al. 1997).

Além disso, estes substratos podem reduzir a disponibilidade de habitats por soterramento,

reduzindo áreas de oviposição, abrigo e fontes de alimento. Richards et al. (1997)

registraram relação negativa entre a porcentagem de sedimento fino e a fauna de

macroinvertebrados que detém atributos específicos, como os escaladores, raspadores,

merovoltinos, multivoltinos, corpos grandes e aqueles que obrigatoriamente habitam áreas

de erosão. Relação positiva foi observada com os cavadores.

No presente estudo, a maior parte das métricas de substrato incorporadas aos

modelos de regressão múltipla retrata o efeito negativo de substratos com pequeno diâmetro

sobre a diversidade funcional (RF e DF) de EPT nas duas áreas de estudo e para o conjunto

total de riachos. Considerando as relações entre sedimento fino e as características da

macrofauna bentônica descritas Richards et al. (1997), nossos resultados poderiam ser

justificados pelo fato de que muitos táxons de EPT têm corpos relativamente grandes, são

associados a substratos de áreas de erosão e possuem brânquias sensíveis à abrasão e

entupimento. Quando utilizamos todo o conjunto de dados para relacionar os raspadores

com as métricas de substratos com pequeno diâmetro, obtivemos relação negativa

significativa para aporcentagem de sedimento fino no talvegue (r = -22%). O mesmo não

foi observado para os escaladores. Geralmente, a perda da vegetação nativa na zona ripária

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é a principal responsável pelo incremento de sedimento fino nos riachos e,

consequentemente, pela perda de táxons (Nessimian et al. 2008; Couceiro et al. 2010) e

redução na proporção relativa de fragmentadores (Couceiro et al. 2011). Contudo, na área

de estudo, especialmente em Santarém, mesmo os riachos minimamente impactados pelo

uso da terra apresentam grande proporção de sedimento fino de origem natural,

provavelmente devido ao tipo de solo e a morfologia das bacias.

Por outro lado, a presença de madeira e macrófitas tende a garantir maior

estabilidade ao leito (Grubaugh et al. 1997), aumentar a retenção de detritos (Lemly e

Hilderbrand 2000; Nessimian et al 2008) e a promover maior heterogeneidade de habitat

(e.g., Lemly e Hilderbrand 2000; Thomaz et al. 2008), além de servirem como alimento

para a entomofauna. Em Paragominas, na escala do corredor de vegetação ripária, a

presença de macrófitas esteve relacionada positivamente com a riqueza funcional de EPT.

Já para o conjunto total de riachos, a presença/ausência de madeira foi uma das variáveis

que mediou a mudança de uma comunidade funcionalmente mais diversificada (e.g.,

raspadores, fragmentadores, predadores) para uma mais pobre, composta, nos casos mais

extremos, por filtrador-agarrador (principalmente, Hydropsychidae) e apanhador-nadador

(Baetidae). A complexidade de habitat promovida pela presença de madeira geralmente

resulta em comunidades bentônicas mais ricas (Richards et al. 1996) e podem favorecer os

agarradores e macroinvertebrados com maior tamanho corporal (Richards et al. 1997).

Riachos com maior homogeneidade de fluxo na superfície da água apresentaram

maior diversidade funcional de EPT. Na escala de microbacia, a heterogeneidade de fluxo

(sequência de corredeiras, fluxo suave e piscinas) teve relação inversa com a RF e a DF de

EPT, em Santarém. Quando todos os riachos foram avaliados em conjunto, a proporção de

fluxo suave apresentou relação direta com a RF, na escala de corredor da vegetação ripária.

Embora este resultado possa parecer contraditório, é preciso ter em mente que os padrões

de fluxo nos riachos moldaram, em parte, a evolução da fauna residente (Poff e Ward 1989)

e que, nem sempre, os riachos possuem alta heterogeneidade de fluxo. Os padrões de fluxo

dos riachos dependem da geologia (e.g., declividade, escoamento superficial e aporte de

sedimento) e do clima (Gordon et al. 1992). Acentuado padrão de alternância entre

corredeiras, remanso e piscinas é esperado em riachos que possuem fundo de pedras

(Knighton 1984) e representa um mecanismo de autoajuste. Em riachos com fundo de areia,

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como os da maioria da área de estudo, o fluxo da água tende a ser suave (fluxo de baixa-

energia, Mendoza-Lera e Mutz 2013) e o autoajuste é realizado pela formação de

ondulações e/ou dunas no fundo dos riachos (Gordon et al. 1992). Assim, nossos resultados

podem ser um indício de que a maior parte do pool de espécies da região está adaptada a

riachos com padrão de fluxo mais suave e homogêneo. No entanto, mesmo riachos com

fluxo suave na camada superior da massa de água podem apresentar condições turbulentas

em um perfil vertical. Esta turbulência pode ser causada pelo atrito entre a água e as

margens e os substratos, tais como madeira ou as ondulações e dunas de areia do fundo dos

riachos (Garcia et al. 2012). Atualmente, as condições hidráulicas próximas ao fundo dos

riachos têm sido usadas para descrever, de forma mais acurada, os microhabitats da fauna

de invertebrados bentônicos (Mérigoux e Dolédec 2004; Dolédec et al. 2007).

Embora uma parcela significativa da variação da RF, DF e CF (32 a 61 %) tenha

sido explicada pela combinação entre os índices de distúrbio utilizados e as variáveis

naturais dos habitats, essa porção ainda pode ser considerada moderada. Recentemente, o

poder de explicação de modelos criados para prever padrões de diversidade das

comunidades de ecossistemas aquáticos foi estimado como sendo de cerca de 57%

(Siqueira et al. 2015). Para os riachos, a dificuldade para obtenção de bons modelos tem

sido associada à natureza complexa e pouco previsível desses sistemas, além da baixa

resolução temporal de nossas amostragens, que ficam assim sujeitas aos efeitos imediatos

das perturbações ambientais (naturais ou antropogênicas; Harris e Heathwaite 2012; Ligeiro

et al. 2013). Nós acreditamos que, aliado a isso, a capacidade baixa ou moderada dos

nossos modelos de explicar as variações das características funcionais de EPT deve estar

associada a três fatores (a) intensidade relativamente baixa de uso da terra nas microbacias

estudadas. Neste caso, a perda e/ou substituição da vegetação nativa pode não ser forte o

suficiente para provocar alterações drásticas na diversidade e composição funcional de

EPT. Estudos desenvolvidos em áreas sujeitas aos efeitos das atividades agropastoris têm

registrado alto limiar de tolerância por parte da entomofauna aquática. Respostas fortes têm

sido observadas apenas quando a área ocupada pela agricultura atinge cerca de 50% ou

mais da área da microbacia (Allan 2004); (b) a resposta da entomofauna aos distúrbios

humanos nem sempre é linear. Quando em pequenas doses, o efeito das alterações humanas

pode promover maior heterogeneidade de habitats e disponibilizar fontes alternativas de

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alimento, o que pode promover incremento na abundância e diversidade taxonômica (Allan

2004; Niyogi et al. 2007) e, possivelmente, na diversidade e composição funcional da

entomofauna; (c) o efeito das fontes de variação que não foram consideradas no presente

estudo, como o legado histórico, a sazonalidade, a localização geográfica dos riachos e a

interação entre o uso da terra e certas métricas de habitat. Neste último caso, acreditamos

que na tentativa de isolar o efeito do uso da terra, excluindo das análises as métricas de

habitat correlacionadas com o impacto humano, deixamos de quantificar o efeito de

variáveis importantes na explicação da variação funcional da comunidade de EPT (Ligeiro

et al. 2013).

Contudo, apesar das limitações inerentes, os índices de distúrbio e as condições

funcionais da fauna de EPT forneceram um retrato acurado da qualidade ecológica dos

riachos das áreas de estudo, mostrando que esses podem ser utilizados como ferramentas

para planejar e executar atividades de restauração, manejo e conservação de ecossistemas

lóticos. Nossas análises indicam que a composição funcional de EPT e a qualidade do

habitat físico dos riachos da região de estudo ainda encontram-se em nível intermediário de

distúrbio, indicando boas perspectivas de resposta a futuras medidas de restauração (Pardini

et al. 2010).

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a José Max Barbosa de Oliveira Jr. e a equipe aquática do

projeto- “Rede Amazônia Sustentável”- pelo auxílio nos trabalhos de campo; a Paulo Vilela

Cruz (Baetidae) e Ana M. O. Pes (Trichoptera) pela ajuda na identificação dos insetos e a

Renato T. Martins pelas sugestões. Agradeço também à Jeane M. C. Nascimento pelas

dicas de identificação dos Leptophlebiidae. JGB recebeu bolsa de doutorado pela Fundação

de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e NH e JLN receberam bolsas

de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os projetos Sistemática integrada de insetos aquáticos com ênfase em Simuliidae

Neotropical, Pronex/CNPq/Fapeam – Insetos aquáticos e Rede Amazônia Sustentável

(RAS) financiaram as coletas e o processamento das amostras. A RAS recebeu apoio

financeiro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Biodiversidade e Uso da Terra

na Amazônia (CNPq 574008/2008-0), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –

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119

Embrapa (SEG 02.08.06.005.00), Governo britânico: Darwin Initiative (17-023), TNC-The

Nature Conservancy, e Natural Environment Research Council (NERC) (NE/F01614X/1 e

NE/G000816/1).

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129

Apêndices

Apêndice 1 - Resultados das regressões múltiplas entre a riqueza funcional (RF),

diversidade funcional (DF) e a composição funcional (CF) da comunidade de EPT (como

variáveis respostas) e o índice de distúrbio da microbacia (IDM) e o índice de distúrbio

local (IDL) (como variáveis preditoras) para as regiões de Paragominas, Santarém e o

conjunto total de riachos (duas regiões juntas). São descritos os modelos de regressões

múltiplas entre RF, DF e CF e o índice de distúrbio no corredor de vegetação ripária (IDC)

e o índice de distúrbio local (IDL) para as mesmas regiões. Escala

Paisagem Modelos Beta EP Beta T F Gl R2

Microbacia

Regiões juntas

Intercepto 20,193***

RF~ IDM+IDL IDM -4,501 1,214 -3,710*** 15,59 93 0,239***

IDL -5,621 2,670 -2,080

Intercepto 18,325***

DF~ IDM+IDL IDM -0,721 0,223 -3,227** 14,30 93 0,219***

IDL -1,174 0,496 -2,368*

Intercepto -4,594***

CF~ IDM+IDL IDM 0,434 0,125 3,460*** 17,16 93 0,254***

IDL 0,744 0,278 2,677**

Paragominas

Intercepto 14,389***

RF~ IDM+IDL IDM -4,959 1,671 -2,967** 6,55 48 0,182***

IDL -1,368 3,896 -0,351

Intercepto 13.657 ***

DF~ IDM+IDL IDM -1,076 0,298 -3,615*** 8,58 48 0,233***

IDL 0,005 0,694 0,008

Intercepto -3,370**

CF~ IDM+IDL IDM 0,589 0,167 3,529*** 10,17 48 0,268***

IDL 0,279 0,389 0,718

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130

Santarém

Intercepto 14,147***

RF~ IDM+IDL IDM -4,251 1,778 -2,391* 10,87 42 0,310***

IDL -10,194 3,712 -2,746**

Intercepto 12,428***

DF~ IDM+IDL IDM -0,336 0,327 -1,028 9,50 42 0,279***

IDL -2,387 0,683 -3,494**

Intercepto -2,621**

CF~ IDM+IDL IDM 0,279 0,171 1,625 8,946 42 0,265***

IDL 1,051 0,357 2,943**

Corredor de

Vegetação

ripária

Regiões juntas

Intercepto 18,197***

RF~ IDC+IDL IDC -1,942 0,787 -2,468* 11,23 93 0,177***

IDL -7,390 2,734 -2,703**

Intercepto 18,635***

DF~ IDC+IDL IDC -0,481 0,138 -3,476*** 15,28 93 0,231***

IDL -1,214 0,481 -2,526*

Intercepto -5,010***

CF~ IDC+IDL IDC 0,390 0,073 5,379*** 27,44 93 0,358***

IDL 0,626 0,252 2,483*

Paragominas

Intercepto 12,927***

RF~ IDC+IDL IDC -2,5705 1,052 -2,442* 5,02 48 0,139**

IDL -2,444 3,958 -0,617

Intercepto 12,663***

DF~ IDC+IDL IDC -0,621 0,186 -3,344** 7,57 48 0,208***

IDL -0,116 0,698 -0,166

Intercepto -5,057***

CF~ IDC+IDL IDC 0,494 0,090 5,470*** 20,04 48 0,432***

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131

IDL 0,071 0,339 0,209

Santarém

Intercepto 14,616***

RF~ IDC+IDL IDC -3,243 1,500 -2,162* 10,18 42 0,294***

IDL -10,754 3,707 -2,901**

Intercepto 15,065***

DF~ IDC+IDL IDC -0,711 0,254 -2,804** 14,32 42 0,377***

IDL -2,022 0,627 -3,225**

Intercepto -2,306*

CF~ IDC+IDL IDC 0,280 0,141 1,983 9,631 42 0,282***

IDL 1,022 0,349 2,925**

Gl = graus de liberdade; Nível de significância: p< 0,001***; p< 0,01 ** e p<0,05*. EP Beta= Erro padrão.

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132

Apêndice 2 - Resultados das regressões simples (bloco 1) entre a riqueza funcional (RF),

diversidade funcional (DF) e composição funcional (CF) da comunidade de EPT (variáveis

respostas) e o índice de distúrbio integrado calculado para a escala de microbacia e para o

corredor de vegetação ripária (IDIM e IDIC; variável preditora) das regiões de Paragominas,

Santarém e o conjunto total de riachos (duas regiões juntas). EPT = Ephemeroptera,

Plecoptera e Trichoptera.

Variável resposta

_Região_

Escalas de paisagem

Microbacia Corredor de

vegetação ripária

Beta Gl R2 F Beta Gl R2 F

Regiões juntas IDIM IDIC

RF -5,628 94 0,222*** 28,06 -3,004 94 0,139*** 16,31

DF -0,972 94 0,199*** 24,58 -0,657 94 0,205*** 25,51

CF 0,597 94 0,229*** 29,22 0,482 94 0,342*** 50,50

Paragominas_PGM IDIM IDIC

RF -5,055 49 0,192*** 12,90 -2,936 49 0,153** 10,05

DF -1,029 49 0,240*** 16,80 -0,642 49 0,225*** 15,51

CF 0,641 49 0,286*** 20,99 0,505 49 0,439*** 40,14

Santarém_STM IDIM IDIC

RF -6,431 43 0,243*** 15,15 -5,337 43 0,219*** 13,31

DF -0,886 43 0,133** 7,75 -1,097 43 0,292*** 19,14

CF 0,511 43 0,170** 10,00 0,694 43 0,203** 6,177

Gl = graus de liberdade; Nível de significância: p< 0,001***; p< 0,01 ** e p<0,05*.

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133

Apêndice 3- Resultados das regressões múltiplas (bloco 2) entre a RF, DF e CF, como

variáveis resposta, e o IDI + variáveis naturais, como variáveis preditoras, para as regiões

de Paragominas, Santarém e o conjunto total de riachos (duas regiões juntas). São

apresentados os modelos construídos com o IDI calculado tanto para a escala de microbacia

quanto para o corredor de vegetação riparia (IDIM e IDIC). Variável resposta

_Região_ Valor médio de beta das métricas Gl R2 F

IDI Microbacia

Regiões juntas

RF IDIM XAM DPI CF PSFT 90 0,380*** 12,64

-4,837 0,061 0,073 -0,064 -3,695

DF IDIM XAM DPI CF PSFT 90 0,400*** 13,68

-0,817 0,013 0,010 -0,017 -0,767

CF IDIM XAM DPI CF PSFT 90 0,408*** 14,07

0,511 -0,005 -0,005 0,010 0,464

Paragominas_PGM

RF IDIM XAM DPDC 47 0,360*** 10,38

-4,931 0,121 0,121

DF IDIM XAM CF DPTS DPDC 45 0,552*** 13,31

-0,856 0,026 -0,012 -1,092 0,020

CF IDIM XAM CF 47 0,460*** 15,21

0,594 -0,012 0,008

Santarém_STM

RF IDIM S<16 Div_Abrig SF Seq_Flo 39 0,609*** 14,71

-5,426 -0,078 6,650 -0,156 -19,741

DF IDIM S<16 Div_Abrig DPP Seq_Flo 39 0,490*** 9,455

-0,657 -0,011 1,582 -0,023 -3,536

CF IDIM S<16 Div_Abrig SF 40 0,578*** 16,07

0,430 0,007 -0,873 0,016

IDI Corredor de vegetação ripária

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134

Regiões juntas

RF IDIC XAM DPI PSFT FS 90 0,322*** 10,01

-2,803 0,054 0,080 -3,340 0,031

DF IDIC XAM DPI PSFT 91 0,352*** 13,9

-0,641 0,011 0,012 -0,573

CF IDIC Mad PSFT 92 0,437*** 25,54

0,465 -0,016 0,338

Paragominas_PGM

RF IDIC XAM Mac DPDC 46 0,369*** 8,316

-3,005 0,104 0,047 0,168

DF IDIC XAM S<16 ERF DPDC 45 0,503*** 11,12

-0,655 0,019 -0,006 0,281 0,022

CF IDIC XP ERF 47 0,520*** 19,04

0,563 -0,006 -0,172

Santarém_STM

RF IDIC DPI S<16 41 0,408*** 11,11

-3,863 0,079 -0,046

DF IDIC DPI S<16 41 0,405*** 10,99

-0,870 0,007 -0,009

CF IDI S<16 Div_Abrig SF 40 0,531*** 13,46

0,325 0,006 -0,827 0,017

Riqueza funcional (RF), diversidade funcional (DF) e composição funcional (CF) de EPT; IDI = índice de distúrbio integrado; IDIM = índice de distúrbio integrado (IDL+IDM) na escala de microbacia; IDIC = índice de distúrbio integrado (IDL+IDM) na escala de corredor de vegetação ripária; Bloco 2 = variável resposta ~ IDI + variáveis naturais. Nível de significância: p< 0,001***; p< 0,01 ** e p<0,05*.

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135

SÍNTESE No presente estudo foi possível identificar o efeito do uso da terra (agricultura)

sobre os riachos de baixa ordem na Amazônia Oriental utilizando as variações na estrutura

taxonômica e funcional da comunidade de invertebrados aquáticos. A perda mínima de

cobertura vegetal na zona ripária levou a uma mudança abrupta dos táxons sensíveis de

invertebrados, o que sugere que o tamanho da área de preservação permanente (APP) é

insuficiente para proteger a fauna em riachos amazônicos. Esse fato mostra que a escolha

aleatória da área (30 m de cada margem do riacho que se estende por toda a microbacia) da

APP é uma abordagem ineficiente e que estudos são fundamentais para definir qual é a área

necessária para garantir a sua funcionalidade. Trichoptera (abundância), EPT

(Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera) e a comunidade de invertebrados, em família,

foram fortemente correlacionados com a comunidade, em gênero. Esse fato sugere que a

comunidade identificada em níveis taxonômicos superiores, Trichoptera (abundância), e

EPT podem ser utilizados na avaliação das condições de conservação de riachos sujeitos a

agricultura na Amazônia. A utilização dessa abordagem deve resultar em maior ecomomia

de tempo e recursos financeiros, sem grande perda de informação sobre a biodiversidade. A

intensificação no distúrbio antrópico levou a redução na riqueza e diversidade funcional de

EPT em Paragominas e Santarém. A composição da comunidade também mudou com o

aumento no distúrbio antrópico na paisagem e localmente, especialmente, em Paragominas

onde a perda de cobertura vegetal na zona ripária foi maior.

Com base nos resultados do presente estudo foram identificadas algumas lacunas no

conhecimento da dinâmica dos riachos de áreas agrícolas na Amazônia que podem servir de

tema para estudos futuros, dentre eles temos:

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136

1- O efeito da configuração da paisagem (e.g., quantidade e qualidade dos fragmentos

de vegetação natural e distância entre eles) sobre a dispersão de invertebrados.

2- O efeito da heterogeneidade de habitat ao longo do gradiente de perda de cobertura

vegetal sobre a distribuição da fauna de invertebrados.

3- Relação entre a diversidade funcional e a riqueza de espécies em diferentes níveis

de intensidade agrícola.

4- A congruência entre a comunidade de invertebrados e outros grupos de organismos

aquáticos, como peixes, anuros, répteis, fitoplancton e zooplancton.

5- Os padrões da diversidade beta da comunidade de invertebrados entre os riachos.

6- A tolerância dos táxons de invertebrados aquáticos de floresta (áreas de referência)

a variações na temperatura, pH, condutividade, nível de oxigênio, nutrientes,

pesticidas e luminosidade.

7- Aspectos bionômicos dos táxons de invertebrados de riachos de floresta como: ciclo

de vida, tamanho, áreas de oviposição e mobilidade.

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