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Instituto Federal do Espírito Santo PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática

Danielly Fraga Santana

Maria Auxiliadora Vilela Paiva

O CONCEITO DE DIVISÃO NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR

Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática do Espírito Santo – GEPEM

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Vitória, Espírito Santo

2018

Copyright @ 2017 by Instituto Federal do Espírito Santo Depósito legal na Biblioteca

Nacional conforme Decreto nº. 1.825 de 20 de dezembro de 1907. O conteúdo dos

textos é de inteira responsabilidade dos respectivos autores.

Material didático público para livre reprodução. Material bibliográfico eletrônico.

(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

S232c

Santana, Danielly Fraga. O conceito de divisão na formação inicial do professor [recurso

eletrônico] / Danielly Fraga Santana, Maria Auxiliadora Vilela Paiva. –

Vitória: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito

Santo, 2018. 47 p. : il.

ISBN: 978-85-8263-339-7

1. Professores – Formação. 2. Professores de matemática –

Formação. 3. Aritmética – Divisão. I. Paiva, Maria Auxiliadora Vilela. II.

Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título

CDD: 370.71

Realização

Instituto Federal do Espírito Santo

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática

Danielly Fraga Santana

Maria Auxiliadora Vilela Paiva

O CONCEITO DE DIVISÃO NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR

Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática do Espírito Santo – GEPEM

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo

Vitória, Espírito Santo 2018

Editora do IFES Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Pró-Reitoria

de Extensão e Produção

Av. Rio Branco, nº 50, Santa Lúcia

Vitória – Espírito Santo - CEP 29056-255

Tel. (27) 3227-5564

E-mail: [email protected]

Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática

Centro de Referência em Formação e Educação a Distância – Cefor/Ifes

Rua Barão de Mauá, 30 – Jucutuquara

Vitória – Espírito Santo – CEP.: 29040-860.

Comissão Científica Alexandre Krüger Zocolotti

Bárbara Lutaif Bianchini

Sandra Aparecida Fraga da Silva

Coordenação Editorial Maria Auxiliadora Vilela Paiva

Revisão textual Rita Lélia Guimarães Granha

Capa e Editoração Eletrônica Katy Kenyo Ribeiro e Wendel Alexandre Albino Filho

Produção e Divulgação Programa Educimat (Ifes Campus Vitória)

Jadir José Pella Reitor

Lezi José Ferreira

Pró-Reitoria de Administração e Orçamento

Renato Tannure Rotta de Almeida Pró-Reitoria de Extensão

Adriana Pionttkovsky Barcellos

Pró-Reitoria de Ensino

Andre Romero da Silva Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Ademar Manoel Stange

Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional

Centro de Referência em Formação e Educação a Distância Vanessa Battestin Nunes

Diretora

Campus Vitória Hudson Luiz Côgo

Diretor-Geral

Márcio de Almeida Có Diretor de Ensino

Marcia Regina Pereira Lima

Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação

MINICURRÍCULO DAS AUTORAS

DANIELLY FRAGA SANTANA é Mestre em Educação em Ciências e Matemática pelo Instituto Federal do Espírito Santo (2018), atua na linha de pesquisa formação de professores, licenciada em Matemática, pelo Instituto Federal do Espírito Santo (2014), em Pedagogia pelo Instituto de Educação e Tecnologias (2015) e pós-graduada em Gestão Educacional Integrada pelo Centro de Estudos Avançados em Pós-Graduação e Pesquisas (2015). É servidora efetiva do Instituto Federal do Espírito Santo desde 2014, no cargo de Auxiliar de Biblioteca e membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática do ES- GEPEM-ES. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1354102489481785 Email: [email protected]

MARIA AUXILIADORA VILELA PAIVA possui graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal do Espírito Santo (1972), mestrado em Matemática pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (1980), e doutorado em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1999). Professora aposentada da UFES – ES, atualmente, é professora efetiva do CEFOR – Centro de Referência em Formação e em EaD, do IFES, atua no programa de Mestrado Profissional EDUCIMAT. Coordena o curso de Especialização Lato Sensu de Práticas Pedagógicas para Professores do Cefor/Ifes. Tem experiência na área de Educação Matemática no ensino fundamental, médio superior e na educação de jovens e adultos, com os temas: Matemática, Formação do Professor, Ensino e Aprendizagem da Matemática. É líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Matemática

do ES- GEPEM-ES e fundadora da Sociedade Brasileira de Educação Matemática do ES. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/215851931321050 Email: [email protected]

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO………………………………………….……………… 8

1 INTRODUÇÃO..………………………………………….………………… 10

2 DIVISÃO PARTITATIVA E QUANTITATIVA .……………...………….. 14

3 ESTRATÉGIAS DE DIVISÃO NÃO CONVENCIONAIS..………….… 21

4 UM OLHAR SOBRE O ALGORITMO DA DIVISÃO ………………….. 27

5 UM OLHAR SOBRE O ALGORITMO DE EUCLIDES ……………….. 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS........………………………………………… 44

LEITURAS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES….………………… 45

REFERÊNCIAS……………….…………………………………………… 46

8

APRESENTAÇÃO Trabalhar na Formação Inicial de professores e com um conteúdo do ensino

fundamental foi um desafio por pertencer ao quadro de operações aritméticas e,

portanto, conteúdo considerado já dominado pelos licenciandos. Mas a motivação foi

o fato de que, para tratar qualquer conteúdo, mesmo que elementar, o professor

necessita construir um saber diferenciado, que vai além dos procedimentos de

cálculos. Assim, neste livro, a intenção foi discutir teorias que embasam o ensino e

aprendizagem do conceito de divisão e trazer experiências vivenciadas na

intervenção trabalhada com ingressantes na licenciatura em Matemática, de uma

instituição pública do Estado do Espírito Santo.

Este material é produto de uma pesquisa de mestrado realizada no âmbito do

Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática

(EDUCIMAT), vinculado ao Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes Campus Vitória.

Contém algumas abordagens que consideramos mais relevantes para trabalhar o

conceito de divisão no contexto da formação inicial. Para isso, algumas alterações

foram feitas nas atividades aplicadas na pesquisa, trazendo contribuições dos

participantes e, ao aplica-lo, pretendemos ampliar potencialidades de estudos

acerca do conceito de divisão na formação do professor de Matemática.

Durante as intervenções, realizadas no contexto da disciplina Fundamentos da

Matemática Elementar I, foram aplicadas atividades com sobre divisão abordando

calculadora, cálculo mental, estimativa, algoritmo da divisão, divisão partitiva e

quotativa e algoritmo de Euclides. Como os três últimos temas foram os mais

discutidos nas aulas no decorrer da pesquisa, este produto educacional contempla

esses temas diretamente. Dessa maneira, vale ressaltar, que não apresentamos

aqui todas as abordagens consideradas relevantes para (re)construir

adequadamente o conhecimento sobre o conceito de divisão, mas sim algumas

discussões e atividades pertinentes para tal objetivo.

Assim como em nossa pesquisa (SANTANA, 2018), a proposta do material é

valorizar conhecimentos prévios dos licenciandos e, por isso, recomendamos que

9

nenhuma formalização seja apresentada antes de os participantes refletirem,

discutirem e apresentarem suas estratégias de solução das atividades propostas.

Dessa maneira, criar um ambiente propício para a partilha de ideias e respeito

mútuo é essencial para um bom aproveitamento da formação aqui proposta. Além

disso, no decorrer deste material alertamos o leitor sobre expressões e atitudes

equivocadas que, geralmente, são utilizadas ao explicar procedimentos de resolução

do algoritmo da divisão; elas acabam gerando, nos alunos do ensino fundamental e

médio, algumas dificuldades conceituais.

Embora este material seja direcionado ao trabalho com a licenciatura em

Matemática, pessoas que estejam interessadas em (re)construir os aprendizados

sobre o conceito da divisão, tais como formadores de professores e professores de

Matemática de todas as modalidades de ensino, podem fazer adaptações para

utilizá-lo, adequando-o ao seu contexto escolar.

10

1 INTRODUÇÃO Com o propósito de desenvolver um material que se distancie da constatação de

que, ainda hoje, algumas licenciaturas de Instituições de Ensino Superior (IES) “[...]

se pautam por uma tradição reificada de que licenciatura é apenas complemento de

um bacharelado e não um curso de graduação pleno com perfil próprio [...]” (GATTI,

2014, p. 36), propusemos um estudo com licenciandos ingressantes no curso de

licenciatura em Matemática para discutir situações direcionadas à sala de aula da

educação básica, mesclando conhecimentos que integrem o conhecimento escolar e

o científico.

A intenção foi evitar o que Felix Klein (2009) denomina dupla descontinuidade entre

esses conhecimentos. Esse fenômeno ocorre quando os licenciandos aprendem

conteúdos sem se atentar para a matemática escolar, porém, quando se tornam

professores e, diante da necessidade de ensinar a matemática elementar, tendem a

aceitar o ensino tradicional, reproduzindo o cenário da educação básica, em que

foram submetidos (KLEIN, 2009). Ao evitar a dupla descontinuidade, também nos

confrontamos com uma proposta curricular baseada no sistema 3+1, no qual “o

princípio basilar ainda é o mesmo: a separação entre as disciplinas de conteúdo e as

disciplinas de ensino” (MOREIRA, 2012, p. 1140), as quais continuam sendo

executadas de maneira independente, o que ainda remete à estrutura de formação

de professores advinda da década de 1930.

Uma maneira de se distanciar dessa perspectiva é valorizar ações dos formadores

de políticas públicas e de formadores de professores que consideram que, para

ensinar, existem certos conhecimentos necessários ao professor. Nessa direção,

“[...] uma boa formação matemática para o professor acaba produzindo um olhar

único para a sala de aula da escola; único, no sentido de singular, um olhar que só o

professor tem” (MOREIRA, 2012, p. 1144-1145). Com base nessa afirmação,

identificamos a necessidade de projetar disciplinas dentro da licenciatura que

priorizem aprendizagem matemática de maneira integrada com aprendizagem

docente.

11

Nesse sentido, nossa proposta é utilizar situações relevantes para estimular os

licenciandos a refletir, mobilizando estratégias para (re)construir saberes

relacionados ao conceito de divisão. Para isso, é importante e necessário: [...] conhecer bem os participantes – saber o que os preocupa, o que lhes interessa, até que ponto estão dispostos a questionar-se e a expor-se perante os outros e até que ponto estão dispostos a investir na formação enquanto processo de aprendizagem (PONTE, 2014, p. 354-355).

Ao corroborar com a ideia de que a formação é um processo de aprendizagem,

entendemos que ela se faz presente desde o ingresso na licenciatura. No decorrer

da pesquisa, ela esteve presente quando, coletivamente, os licenciandos foram

incentivados a apresentar suas opiniões, foram ao quadro expor suas estratégias de

solução ou argumentaram diante das dúvidas e soluções apresentadas.

Nessa dinâmica, a interação entre conteúdo e pedagogia estabelece relação entre

os conhecimentos matemáticos aprendidos e as necessidades surgidas nas

situações durante a prática do professor. Ponte (2014) afirma que essa articulação é

insuficiente, pois é preciso estabelecer essa ligação, analisando em cada caso os

aspectos matemáticos, didáticos e pedagógicos. É por meio dessa interação que: O professor e o futuro professor compreendem melhor um conceito ou representação matemática, [...] pensando nas tarefas que podem usar para o ensinar, analisando resoluções diferentes dos alunos e observando as suas dificuldades em compreender esse conceito, do que aprendendo esse conceito de forma totalmente abstrata, tal como ele surge num livro de Matemática (PONTE, 2014, p. 351).

Essa interação entre teoria e prática, além de ser uma recomendação para uma

apreensão de conhecimentos necessários à docência, é uma garantia de lei,

proposta pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em ensino

superior e para a formação continuada. No capítulo V das diretrizes, intitulado “Da

formação inicial do magistério da educação básica em nível superior: estrutura e

currículo”, Art. 13, § 3º, temos: “Deverá ser garantida, ao longo do processo, efetiva

e concomitante relação entre teoria e prática, ambas fornecendo elementos básicos

para o desenvolvimento dos conhecimentos e habilidades necessários à docência”

(BRASIL, 2015).

12

Portanto, a necessidade de articular teoria e prática no processo de formação inicial,

não deve se limitar somente ao estágio e ocorrer de maneira desarticulada do curso.

Assim, buscando trabalhar com a prática e formar professores pesquisadores,

nossas intervenções foram realizadas com ingressantes do curso de licenciatura em

Matemática. As ações buscam articular teoria e prática desde o início da formação

docente e contribuem para se distanciar dos estudos que “mostram que os

currículos oferecidos pelas IES estão longe de realizar na prática esse conceito”

(GATTI, 2014, p. 38).

Nas seções seguintes, apresentamos algumas ideias consideradas importantes para

realizar um trabalho sobre o conceito de divisão no contexto da formação inicial de

professores. Certamente, inúmeras são as possibilidades para o trabalho na

licenciatura em Matemática sobre o conceito de divisão, bem como há diferentes

maneiras de abordar esse conteúdo. Nossa proposta é que, por meio e com este

material, os licenciandos conheçam algumas das possíveis abordagens para se

trabalhar com o conceito de divisão. As abordagens apresentadas neste livro trazem

para discussão a sala de aula da educação básica, com exemplos e atividades que

podem ser adaptadas e utilizadas para apresentar o conceito de divisão na

educação básica e, ao mesmo tempo, valorizar o saber específico do ser professor.

Com o objetivo de garantir a potencialidade das atividades propostas neste livro, é

fundamental a formação de grupos para que os licenciandos possam discutir entre si

as ideias. Pela nossa vivência e experiência, observamos que a formação de trios ou

duplas promove e garante uma dinâmica melhor de socialização e apresentação das

estratégias de solução. A etapa seguinte, de validação e reflexão no coletivo, amplia

as discussões e contribui para (re)construir conhecimentos sobre o conceito

estudado.

Como a proposta também é valorizar o conhecimento prévio dos participantes,

recomendamos que as atividades sejam apresentadas aos grupos para que possam

solucioná-las. Posteriormente, deve-se iniciar a socialização das respostas para a

turma. Somente após essas etapas e contribuições é que o professor mediador deve

começar a fazer suas inferências. Para essa dinâmica funcionar adequadamente é

13

imprescindível criar um ambiente de respeito mútuo, em que cada dúvida, solução e

erro sejam valorizados, de maneira a produzir (re)construções dos conhecimentos

apresentados no início das intervenções.

14

2 DIVISÃO PARTITIVA E QUOTATIVA O trabalho em sala de aula com questões envolvendo situações-problema, além de

possibilitar interpretação e raciocínio do aluno, permite que as diferentes ideias da

divisão sejam apresentadas a ele. O desenvolvimento de um algoritmo por si só não

envolve o desenvolvimento das ideias da divisão, para isso, é preciso utilizar

situações-problema. Nessa proposta, os PCN, quando apresentam situações-

problema envolvendo o conceito de multiplicação e divisão, denominadas campo

multiplicativo, ressaltam a utilização de quatro ideias, são elas: 1)Comparação

Multiplicativa; 2)Comparação entre razões/ proporcionalidade; 3)Configuração

Retangular; 4)Combinatória. No trabalho de Santana (2018), as atividades de

produções de enunciados envolvendo divisão partitiva e quotativa surgiram dos

estudos da teoria dos campos conceituais de Vergnaud (2014).

Quadro 1 - Ideias da divisão nos PCN

Comparação Multiplicativa

Lia tem R$10,00. Sabendo que ela tem o dobro da quantia de Pedro, quanto tem Pedro?

R$ 10,00

R$ 5,00

Comparação entre razões/

proporcionalidade

Marta pagou R$ 24,00 por 3 pacotes de chocolate. Quanto custou cada pacote? Marta gastou R$ 24,00 na compra de pacotes de chocolate que custavam R$ 3,00 cada um. Quantos pacotes de chocolate ela comprou?

R$ 24,00 3 pacotes

R$ 8,00 1 pacote

R$ 24,00 8 pacotes

R$ 3,00 1 pacote

Configuração retangular

A área de uma figura retangular é de 54 cm². Se um dos lados mede 6 cm, quanto mede o outro lado? As 56 cadeiras de um auditório estão dispostas em fileiras e colunas. Se são 7 as fileiras, quantas são as colunas?

54 cm²

9 cm

56 cadeiras

8 colunas

Combinatória

Em uma festa, foi possível formar 12 casais diferentes para dançar. Se havia 3 moças e todos os presentes dançaram, quantos eram os rapazes?

12 casais

4 rapazes

Fonte: Elaborado pela autora com situações-problema de BRASIL, 1998, p.72-73.

15

Nesses grupos, há ideias de divisão que estabelecem uma relação ternária ou

quaternária. A relação ternária é constituída de dois elementos e de uma relação-

elemento (VERGNAUD, 2014), e a relação quaternária ocorre entre quatro

quantidades, sendo duas de cada tipo. Nessa relação existem três informações e é

preciso encontrar a que falta (VERGNAUD, 2014).

Apesar de Vergnaud (2014) definir a relação, ternária ou quaternária, estabelecida

em cada uma das categorias, preferimos não fazer essa restrição, pois entendemos

que a relação, dependendo da maneira de elaborar o enunciado, pode ser

compreendida como ternária ou quaternária. Para compreender melhor essas

diferenças, recomendamos a leitura de Santana (2018) e de trabalhos do próprio

autor.

Portanto, mais importante do que estabelecer essas diferenças, deve-se privilegiar o

estudo de elementos que determinam a natureza de seus enunciados. Assim, a

divisão pode ser definida como partitiva ou quotativa com base nas informações

existentes no enunciado do problema. Selva e Borba (2005, p.55) consideram que: Problemas de partição são aqueles em que é dado um conjunto maior e o número de partes em que o mesmo deve ser distribuído, o resultado é o valor de cada parte. Problemas de quotição consistem em problemas em que é dado o valor do conjunto maior e o valor das quotas em que se deseja dividir o mesmo, o resultado consiste no número de partes obtidas (SELVA; BORBA, 2005, p. 55).

A identificação dessa diferença, embora seja importante discuti-la em cursos de

formação de professores, não precisa ser apresentada aos alunos da educação

básica. Corroboramos com Jesus (2005) quando afirma que o propósito não é que

os alunos (dos ensinos fundamental e médio) saibam distinguir ou classificar a

divisão como partitiva ou quotativa, mas que o professor possibilite tais experiências

com diferentes tipos de situação.

Embora essa definição de divisão partitiva e quotativa tenha sido utilizada em

nossas intervenções, em uma análise posterior percebemos que ela não abrangia

todas as possibilidades das situações-problema. Na pesquisa de Selva e Borba

(2005), os participantes eram alunos da educação básica e, por isso, os problemas

16

contemplavam apenas o conjunto dos números naturais. Quando trabalhamos com o

conjunto dos números racionais, em uma situação partitiva o dividendo pode ser

menor do que o divisor, como, por exemplo: Tenho 5 pães e quero distribuir

igualmente para 15 pessoas. Quanto cada uma vai receber? Assim, ao adaptar a

classificação de Selva e Borba (2005), o mais correto é dizer que: Problemas de

partição são aqueles em que é dado um conjunto e o número de partes em que ele

deve ser distribuído. O resultado é o valor de cada parte. Já para problemas de

quotição, há sempre um conjunto maior no dividendo e, portanto, a definição inicial

foi válida para nosso estudo.

Diante da definição de divisão partitiva e quotativa, e identificando que os exemplos

dados pelos PCN não contemplam tal classificação, é possível propor um trabalho

com divisão que aborde as situações associadas à: 1)Comparação Multiplicativa;

2)Comparação entre razões/ proporcionalidade; 3)Configuração Retangular;

4)Combinatória, com o uso de exemplos de divisão partitiva e quotativa.

Quadro 2 - Exemplos das ideias x tipo de divisão IDEIAS DA DIVISÃO DIVISÃO PARTITIVA DIVISÃO QUOTATIVA

Comparação Multiplicativa

Rosangela possui 15 bonecas, sabemos que ela tem três vezes mais bonecas que Ana. Quantas bonecas Ana têm?

Rosangela possui 15 bonecas e Ana 5 bonecas. Rosangela tem quantas vezes mais bonecas que Ana?

Comparação entre razões/

proporcionalidade

Um carro percorreu 300 km em 5 horas. Se percorrer sempre a mesma velocidade, quantos km andou por hora?

Um carro se move a uma velocidade média de 60 km por hora. Quantas horas ele demora para percorrer 300 km?

Matheus comprou 5 pacotes de figurinhas e agora tem 15 figurinhas. Quantas figurinhas têm em cada pacote?

Matheus comprou pacotes de figurinhas e agora tem 15 figurinhas. Se em cada pacote tem 3 figurinhas, quantos pacotes ele comprou?

Representação Retangular

Em uma sala de aula tem 30 carteiras dispostas em cinco filas com a mesma quantidade de carteiras. Quantas carteiras têm em cada fila?

Em uma sala de aula tem 30 carteiras dispostas em filas com seis carteiras em cada. Em quantas fileiras a sala foi organizada?

Combinatória Uma sorveteria faz 15 tipos de sorvetes com coberturas diferentes. Sabendo que essa sorveteria oferece 5 sabores de sorvete, quantas são as coberturas?

Fonte: Adaptado de Silva (2009).

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No Quadro 2, adaptamos também a classificação de divisão partitiva e quotativa da

representação retangular, pois, na tese de Silva (2009), não há essa separação

dessa ideia de divisão. Além disso, percebe-se que no grupo da ideia de

combinatória não é possível definir o enunciado como partitivo ou quotativo. Essa

impossibilidade é justificada, pois esse tipo de questão apresenta grandezas

distintas.

Assim, a proposta de fazer distinção entre os tipos de divisão é importante, visto que

a divisão partitiva está mais presente no cotidiano, enquanto a divisão quotativa não

se apresenta com tanta frequência em experiências sociais informais (LAUTERT;

SPINILLO, 2002). Portanto, a diversificação de atividades propostas pelo professor é

necessária para que alunos tenham oportunidade de experienciar essas abordagens

no ambiente de aprendizagem formal e tenham contato com diferentes

possibilidades de questões envolvendo situações-problema.

ENCAMINHAMENTO: Entregue a primeira questão e, após recolher o enunciado produzido, comece a

explorar o conhecimento prévio dos licenciandos sobre o assunto. Caso eles ainda

não tenham esse conhecimento incorporado corretamente, apresente-lhes alguns

exemplos de divisão partitiva e quotativa. E somente após a turma construir uma

ideia adequada desses dois tipos de divisão é que se define cada uma. Sugerimos

que as questões 2 e 3 sejam apresentadas após a definição de divisão partitiva e

quotativa.

1. Elabore e resolva uma situação-problema de divisão, próxima da realidade,

em que o dividendo 5535 e o divisor seja 54.

2. Analise o enunciado que foi produzido e o classifique como divisão partitiva

ou quotativa, justificando sua resposta.

3. Agora, produza um enunciado com o mesmo contexto do enunciado

produzido anteriormente e o transforme utilizando a outra ideia de divisão, em

seguida, o resolva.

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COMENTÁRIOS: Ao analisar as produções dos enunciados, percebemos que seria interessante a

resolução, pelos próprios elaboradores, dos problemas propostos. Algumas das

situações-problema produzidas são questões abertas, ou seja, aceita mais de uma

resposta. Somente com a resolução das questões, teríamos indícios para dizer se o

enunciado com possibilidade de diferentes resoluções foi proposital ou se não se

atentaram à escrita do enunciado. Também sugerimos ao professor uma análise

posterior dos enunciados, buscando situações-problema com diferentes

possibilidades de resolução, como: problemas de única resposta, de resposta

aberta, questões que apresentem quantidades contínuas (peso, altura, tempo,

volume, dentre outros exemplos) ou discretas (número de pessoas, balas, biscoitos,

objetos, entre outros exemplos que podem ser quantificados), questões com

resultados exatos e não exatos e socialização das produções, para que os

licenciandos possam conhecer essa diversidade de possibilidades.

Na primeira socialização, para definir o conceito de divisão partitiva e quotativa, o

professor mediador pode propor problemas e pedir para transformá-los em outro tipo

de divisão, isto é, de divisão partitiva para quotativa e vice-versa. Os enunciados

sugeridos podem ser exemplos simples, como:

João quer dividir igualmente R$250,00 entre seus quatro sobrinhos. Quantos reais

cada sobrinho vai receber?

Diante do exemplo dado, peça que a turma o classifique como partitivo ou quotativo

e, em seguida, o transforme em outra ideia. Assim como o exemplo dado foi

partitivo, o novo problema deve ser quotativo e, mantendo-se o contexto produzido,

o novo enunciado deve conter o valor total e quanto cada sobrinho receberá:

João quer dividir igualmente R$ 250,00 entre seus sobrinhos. Sabendo que cada um

receberá R$ 62,50. Quantos sobrinhos serão contemplados?

19

Caso os licenciandos encontrem dificuldades para conservar o contexto da questão,

peça a eles sugestões de problemas aleatórios envolvendo os dois tipos de divisão

aqui apresentados. Um exemplo quotativo poderia ser dado, por exemplo,

envolvendo a distribuição de balas, e um problema partitivo, envolvendo o valor de

uma compra com prestações a serem pagas, entre outros exemplos.

Em uma festa de aniversário foram compradas 329 balas para distribuir igualmente

entre as crianças convidadas. Sabendo que foram confeccionadas 20 lembranças,

quantas balas ficaram em cada lembrança?

Nota-se aqui uma situação-problema que, ao ser resolvida, apresenta uma solução

não exata. Essa proposta é importante para que licenciandos não tenham a ideia

errada de que problemas partitivos e quotativos são sempre exatos.

Outra situação importante de ser discutida são problemas de única ou múltiplas

soluções. Até aqui apresentamos questões que admitem apenas uma solução, mas

os problemas também podem ser abertos:

Um atleta está treinando para uma maratona. Seu objetivo é percorrer em uma

semana 200 km. Sabendo que ele percorre até 40 km por dia, determine quantos

dias serão necessários para alcançar seu objetivo.

Embora esse problema não possa ser classificado como quotativo, pois as cotas não

estão definidas, consideramos que esse tipo de questão ajuda a desenvolver o

raciocínio, exigindo mais atenção do aluno ao enunciado. É importante que o

professor formador incentive a participação dos licenciandos e permita que eles

expressem suas opiniões. Não informaram quantos dias o atleta treinaria, nem se a

distância percorrida diariamente seria sempre igual. Ambas as omissões foram

propositais. Diante das informações apresentadas no enunciado, o atleta pode

percorrer a distância de 200 km em, no mínimo, 5 dias e, no máximo, 7 dias, e a

distância percorrida diariamente pode ser igual ou não, dependendo da interpretação

do licenciando.

20

AS IDEIAS ENVOLVIDAS NA DIVISÃO

ENCAMINHAMENTO: Após apresentar à turma cada uma das ideias envolvidas na divisão, deve-se

sugerir a eles que escolham duas dessas ideias e produzam enunciados de divisão

partitiva e quotativa e, em seguida, resolvam os problemas propostos.

4. Escolha duas entre as três ideias da divisão (Comparação multiplicativa, Comparação entre razões (proporção), Representação retangular), e elabore enunciados envolvendo a ideia de Divisão Partitiva (DP) e Divisão Quotativa (DQ). a. Ideia da divisão: ________________________________________ DP: ______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ DQ: ______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ b. Ideia da divisão: ________________________________________

DP: ______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ DQ: ______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

COMENTÁRIOS: Nessas produções também sugerimos que os problemas sejam resolvidos, pelos mesmos motivos das produções iniciais.

21

3 ESTRATÉGIAS DE DIVISÃO NÃO CONVENCIONAIS Ao trabalhar com divisão, principalmente nos primeiros anos do ensino fundamental,

deveria ser comum encontrar estratégias de resolução não convencionais, ou seja,

que não se refiram somente ao uso do algoritmo da divisão.

Pelo que apresenta os PCN, utilizar cálculo mental, por estimativa e aproximações

são estratégias não convencionais, uma vez que é utilizado em ambientes fora da

escola e em situações cotidianas. Ainda se insere nessa categoria a utilização de

somas ou subtrações sucessivas, o uso de multiplicação, tentativa e erro, a

decomposição do dividendo e até mesmo o uso de desenhos e formação de tabelas

para determinar o valor desejado, entre outras resoluções que possam ser adotadas

no estudo dessa operação. Todas essas estratégias elencadas distanciam-se do

algoritmo da divisão e, de acordo com Jesus (2005, p.97), ao “criar e explorar os

seus próprios processos de resolver problemas prepara os alunos para uma

aprendizagem significativa dos algoritmos estandardizados”.

Essa experiência inicial antes de inserir o algoritmo das operações está confirmada

nos PCN ao considerar como um dos conteúdos conceituais e procedimentais do

primeiro ciclo do ensino fundamental os “cálculos de multiplicação e divisão por meio

de estratégias pessoais” (BRASIL, 1998, p.51). Vale ressaltar que o documento

recomenda o uso de estratégias pessoais para os cálculos de multiplicação e

divisão, ou seja, sem rigor procedimental. No segundo ciclo do ensino fundamental,

entre o 6º e 9º ano, o documento norteador recomenda que o professor inicie o

trabalho por meio de técnicas convencionais, mas valorizando sempre hipóteses e

estratégias pessoais, uma vez que elas representam a maneira de pensar do aluno.

Como um dos conteúdos conceituais e procedimentais do segundo ciclo do ensino

fundamental recomenda-se a “resolução das operações com números naturais, por

meio de estratégias pessoais e do uso de técnicas operatórias convencionais, com

compreensão dos processos nelas envolvidos” (BRASIL, 1998, p. 59). Fica evidente,

22

na leitura do documento norteador, a necessidade de articular diferentes estratégias

pessoais com convencionais, de forma a evitar a inserção prematura e sem

significado do algoritmo da divisão, assim como de outras operações aritméticas no

ensino fundamental.

Em contrapartida, como a experiência está sendo desenvolvida com licenciandos

que já apresentam um conhecimento mais formalizado, é comum haver a

predominância de algoritmos. Essa constatação pode ser justificada por Duval

(2009, p. 91), quando afirma que “um sujeito no qual a coordenação dos registros é

encontrada suficientemente desenvolvida pode muito bem se ater às representações

de um só registro”. Como os licenciandos já apresentam uma vivência com esse

conteúdo, pois já passaram pelas estratégias de divisão não convencionais e

convencionais, acabam priorizando o algoritmo da divisão em suas soluções. Na

pesquisa de Santana (2018), ao solicitar aos licenciandos outras maneiras de

resolver um problema, eles apresentaram à turma diferentes estratégias de

resolução. Assim, eles são capazes de recorrer a outros registros de representação

semiótica para solucionar um problema. Logo, diferentes estratégias de solução

devem ser valorizadas, pois representam a maneira individual de raciocínio.

ENCAMINHAMENTO: Nesta seção, as questões de 5 e 6 são propostas para identificar os conhecimentos

dos licenciandos enquanto resolvem situações-problema e os recursos utilizados

por eles. Professor, incentive a participação dos grupos, a socialização das

estratégias de solução e, posteriormente, valide com a turma as respostas ou

proponha sugestões de melhorias para cada uma das resoluções apresentadas.

5. Uma escola com 300 alunos está organizando um passeio e orçou os custos

para o aluguel de ônibus com duas empresas de transportes. Nos contratos de

ambas as empresas, uma cláusula permitia a inclusão de novos alunos - mesmo

após fechar o contrato, desde que arcassem com os custos da viagem. A escola

estabeleceu que:

23

Todos os alunos pagariam um mesmo valor; O dia 30 de junho seria o último dia para os alunos confirmarem a participação

no evento.

O quadro a seguir apresenta os valores praticados por cada uma das empresas.

Empresa Capacidade de pessoas por ônibus Custo por ônibus A 45 R$ 1.000,00 B 30 R$ 700,00

a) No dia 29 de junho, 210 alunos já haviam confirmado que iriam à viagem. A

diretora, na tarde desse mesmo dia, fechou o contrato com a empresa que

apresentou o menor custo para essa quantidade de alunos. Qual foi essa

empresa?

b) No dia 30 de junho, mais 20 alunos também confirmaram que iriam à viagem.

Como ainda estavam no prazo, a diretora precisou incluí-los. O aumento no

número de alunos interessados na viagem representou uma diminuição no valor

pago por pessoa? Justifique sua resposta. (Vale lembrar que os custos do

transporte serão divididos igualmente entre os alunos)

COMENTÁRIOS: Nessa atividade, é importante o professor formador observar se os grupos prestam

atenção à informação dada no enunciado da letra b, se eles utilizam apenas os

cálculos necessários para resolver o problema proposto ou se buscam um caminho

mais longo (ver dissertação de Santana (2018)).

VALORIZAÇÃO DE DIFERENTES ESTRATÉGIAS DE RESOLUÇÃO

ENCAMINHAMENTO: Entregue as atividades juntas e inicie a socialização após os grupos resolverem as

três atividades.

24

6. Uma biblioteca escolar possuía 20 estantes, com 150 livros cada. Por ocasião

de uma reforma, foram solicitadas estantes menores e mais ergonômicas, com

capacidade para 120 livros cada.

a) Calcule o número de novas estantes que deve ser comprada para acomodar

todos os livros da biblioteca.

b) Calcule a quantidade mínima de novas estantes que deve ser comprada, de

modo a acomodar todos os livros da biblioteca.

c) Experimente traçar outra estratégia de solução para a questão 6, diferente da

utilizada na letra b.

COMENTÁRIOS: O professor deve recolher as folhas e analisar as respostas dos grupos, observando

se o uso do algoritmo da divisão predomina em detrimento de outras estratégias de

solução. Na socialização, ressalte a diferença entre os enunciados das questões a e

b, e como isso pode alterar as respostas do problema. Esteja atento para os tipos

de soluções apresentadas, bem como se os licenciandos cometem erros

conceituais nas soluções, como o uso de igualdades falsas (ver dissertação de

Santana (2018)). Caso os licenciandos simplifiquem dividendo e divisor, o professor

pode perguntar se a resolução está correta e instigá-los, de maneira a prepará-los

para a próxima questão.

SIMPLIFICAÇÃO DO DIVIDENDO E DIVISOR

ENCAMINHAMENTO: Nessa questão enfatize a necessidade de avaliar as resoluções apresentadas com

um posicionamento como professores, julgando e tentando compreender o que

motivou os erros apresentados em ambas as resoluções. Caso isso não esteja

presente nas folhas de resolução, explore essa abordagem na socialização das

questões.

25

7. Você é o professor de uma turma de ensino fundamental e propôs a situação a seguir para a sua turma: Gabriela, todo ano, faz uma poupança para garantir o pagamento das primeiras mensalidades da escola de sua filha do ano seguinte; assim, ela consegue organizar suas finanças para que não tenha que recorrer a nenhum tipo de empréstimo. Sabendo que: - os valores economizados por Gabriela, ao longo de 2015, totalizaram R$1.480,00. - a mensalidade da escola da sua filha, em 2016, é de R$360,00, Determine o número de mensalidades que Gabriela conseguiu pagar usando apenas os R$ 1.480,00, e quanto sobrou para a mensalidade seguinte. Em seguida, seus alunos se empenharam em resolvê-la e algo na resolução lhe chamou atenção:

Aluno 1

Aluno 2

a. Avalie as resoluções apresentadas pelos alunos 1 e 2. Identifique os possíveis erros, analise se há erros conceituais e justifique-os.

COMENTÁRIOS: Caso os licenciandos não percebam os erros das resoluções, o professor pode

iniciar a discussão pela diferença existente no valor dos restos das divisões. O

objetivo é fazer com que eles percebam essa diferença e, o professor, na função de

mediador, deve discutir as alterações no resto diante da simplificação do dividendo

e divisor.

É fundamental também o professor observar se os participantes têm consciência de

que ao simplificar o dividendo e divisor, também simplificam o resto. Essa

consequência das simplificações foi ressaltada em uma das resoluções propostas

26

por um grupo da pesquisa de Santana (2018).

Caso os licenciandos não alcancem essa generalização, recomendamos que o

professor proponha essa discussão. Durante a análise sobre as possíbilidades do

resto, observou-se nas falas dos licenciandos um esquecimento do resto igual a

zero. E, em uma situação hipotética, em que não foi informado o valor do dividendo,

e o divisor era igual a 360, alguns licenciandos no início da discussão disseram que

o resto poderia variar de 1 a 359 (para ambas as situações, ver pesquisa de

Santana (2018)).

ATENÇÃO PARA A EXPRESSÃO: “SIMPLIFICAR O DIVIDENDO E O DIVISOR”

Alguns professores sugerem realizar simplificações no dividendo e divisor para que

os alunos possam trabalhar com números menores. Nas situações propostas, o

resto é igual a zero ou a situação prioriza o valor do quociente. Mas ao sugerir essa

ação, é importante alertá-los e apresentar exemplos de divisões com resto diferente

de zero e explicar que ele interfere na resposta do problema proposto. Com isso, os

licenciandos perceberão que, ao simplificar o dividendo e divisor, o resto também é

simplificado.

27

4 UM OLHAR SOBRE O ALGORITMO DA DIVISÃO Ao se trabalhar com algoritmo da divisão, os alunos constroem registros de

representação que traduzem muitas vezes sua maneira diferente de pensar. E

mesmo que o algoritmo da divisão seja apresentado utilizando classes numéricas e

sistema posicional, é importante demonstrar diferentes maneiras de resolver o

algoritmo da divisão. Ao se apropriar do conceito, os alunos podem utilizar

estratégias de decomposição, estimativa, entre outras.

4.1 Algoritmo de divisão com subtrações sucessivas

No início do estudo do conceito de divisão são apresentadas apenas situações com

números naturais e, “muitas vezes, o algoritmo da divisão é apresentado à criança

sem justificativas, simplesmente a partir do princípio fundamental da divisão,

exigindo-se que a criança faça o processo mais curto desde o início” (BITTAR;

FREITAS, 2005, p.78), mas a maneira natural de aprendizagem é associar a

introdução do algoritmo da divisão com estratégias pessoais.

No método de subtrações sucessivas existe a ideia de repartir igualmente uma

quantidade de objetos, assim como se fazia antes da aprendizagem formal

(TOLEDO e TOLEDO, 2010; BITTAR e FREITAS, 2005). A distribuição ocorre uma a

uma e, a cada etapa, o aluno verifica se é possível dividir novamente.

PARA DISCUTIR: Antes de apresentar atividades e discussão envolvendo o algoritmo da divisão,

geralmente enfatizadas no segundo ciclo do ensino fundamental, proponha à turma

analisar um problema com algumas soluções possíveis:

Dado o problema: João tem 16 balas e quer dividir igualmente entre 3 pessoas,

quantas balas cada um vai receber? O aluno pode resolver o problema de maneiras

distintas:

28

16 3 16 3 16 3 - 3 13 - 3 10 - 3 7 - 3 4 - 3 1

1 1 1 + 1 1 5

- 3 13 - 3 10 - 3 7 - 3 4 - 3 1

1+1+1+1+1=5 - 6 10 - 9

1

2+3

Essa análise inicial é importante para que os licenciandos compreendam o passo a

passo até o aluno se familiarizar com o algoritmo da divisão. Caso pule algumas

dessas etapas e apresente ao aluno, de imediato, o algoritmo tradicional da divisão,

pode fazer com que ele tenha um aprendizado mecanizado do procedimento.

As resoluções apresentadas sugerem um primeiro contato com o método de

subtrações sucessivas, ao fazer a distribuição das 16 balas uma a uma. A diferença

está na maneira de representar o quociente. No primeiro caso, o registro das

unidades está um abaixo do outro; já no segundo caso, como o aluno optou por

representar os resultados do quociente ao lado, foi preciso inserir o sinal de adição,

uma vez que sua não representação geraria um valor indevido de quociente, devido

ao nosso sistema de numeração ser posicional.

Por meio do contato com o algoritmo da divisão, o aluno vai percebendo que é

possível determinar mais de uma unidade no quociente e, consequentemente, uma

economia de tempo e espaço na resolução de um problema. Essa percepção pode

resultar em estimativas maiores para o valor do quociente, como na terceira

representação, até que o aluno consiga determinar de imediato o valor final do

quociente. Na realização dos três processos, o professor precisa informar ao aluno

que o resto da divisão é sempre menor do que o divisor1, para que entenda o

1 Como nos primeiros contatos com o algoritmo da divisão as situações propostas estão no

conjunto dos números naturais, dizer que o resto deve ser menor do que o divisor é suficiente.

29

momento de finalizar a divisão, e para que não confunda o resultado de uma

subtração referente a uma estimativa feita com o resto da divisão.

Com o passar dos anos escolares, as situações-problema passam a apresentar

números maiores de dividendo e divisor, o que pode tornar o método de subtrações

sucessivas ou por estimativa mais demorada. Assim, faz-se necessário desenvolver

a divisão utilizando um algoritmo por ordens numéricas decrescentes, inicialmente,

pelo método longo e, posteriormente, pelo método curto.

4.2 Algoritmo de divisão pelos métodos Longo e Curto

O algoritmo da divisão utilizando ordens numéricas, geralmente, começa pelo

algoritmo longo. Nesse processo, a cada número registrado no quociente é realizada

uma subtração. O valor da subtração é produto entre quociente e divisor.

Posteriormente, passa-se a utilizar o algoritmo curto em que, após o registro do

quociente, somente se registra o resto de cada procedimento realizado.

ENCAMINHAMENTO: Nesse momento, as atividades devem ser apresentadas uma a uma ao licenciando

e também reforçar a proposta de representar no papel a maneira para explicar o

desenvolvimento do algoritmo da divisão a uma turma de 6º ano. Durante a

socialização, explore também o algoritmo por estimativas, decomposição do

dividendo, além do processo longo e curto do algoritmo da divisão.

8. Agora, você é o professor. Imagine que você está em uma turma de 6º ano.

Então, e explique a eles as divisões a seguir (escreva as estratégias que adotaria e

como explicaria o passo a passo da resolução):

a. 687÷3= b. 325÷4=

c. 436÷4=

d. 553÷5=

e. 6141÷6=

30

Nos processos longo e curto da divisão de 5530 por 54, representamos de vermelho

o valor referente ao resto de cada etapa da divisão que está sendo realizada.

Algoritmo Longo Algoritmo Curto

UM C D U UM C D U

5 5 3 0 54 5 5 3 0 54 -0 0 1 0 2 5 5 0 1 0 2 5 5 UM C D U 1 3 UM C D U -5 4 1 3 0 0 1 3 2 2 -0 0 1 3 0 -1 0 8 0 2 2

Em cada etapa da divisão é importante o professor prestar atenção às falas

expressadas enquanto o licenciando resolve o algoritmo da divisão.

ATENÇÃO PARA A EXPRESSÃO: “NÃO DÁ PARA DIVIDIR”

Quando o dividendo selecionado é menor do que o divisor, os professores e

licenciandos se expressam, geralmente, de duas maneiras, dependendo da

situação. No início da divisão, ao dividir, por exemplo, 325 por 4: “como 3 não dá

para dividir por 4, pego o 32”, e, no meio ou final da divisão, ao dividir, 526 por 5, “2

dividido por 5, não dá para dividir, então, eu coloco zero no quociente”.

Portanto, a expressão “não dá para dividir” está incorreta e pode gerar,

posteriormente, um erro conceitual. Logo, o correto é dizer “3 centenas dividido por

4 é igual a 0 centenas”, fazendo o registro do número zero no quociente. Esse

registro é necessário, principalmente, quando os alunos estão aprendendo o

algoritmo da divisão, seja pelo processo longo ou curto. Posteriormente, esse

registro inicial não será mais necessário, porém, inicialmente, é preciso fazer essa

etapa para aprender corretamente o algoritmo da divisão, bem como compreender o

número zero no quociente.

31

Assim, ao se depararem com divisões do tipo das letras c, d ou e, a etapa da

divisão em que o quociente deve ser igual a zero no quociente já não será mais

uma dificuldade para os alunos.

Diante da expressão “não dá para dividir” também reaproveitam a escrita de uma

divisão, de maneira que o aluno não saiba quem é resto ou quem é o dividendo da

divisão.

Algoritmo Curto Algoritmo Curto UM C D U UM C D U 5 0 2 0 5 5 0 2 0 5 0 0 2 0 1 0 0 4 0 0 1 0 0 4 0 UM C D U 0 2 UM C D U 2 0 0

Na primeira resolução de 5020÷5, embora apresente um quociente e resto corretos,

os procedimentos realizados podem fazer com que alunos não compreendam o

algoritmo da divisão. Inicialmente, realizou-se a divisão de 5 unidades de milhar por

5, encontrando uma unidade de milhar como quociente e resto igual a 0.

Posteriormente, o trabalho começou com as centenas e, ao realizar a divisão de 0

centenas por 5, o quociente encontrado foi igual a 0 centenas e, por isso, continuou

a reaproveitar o registro anterior do dividendo. Nesse desenvolvimento, percebe-se

a ausência do resto em cada uma das etapas.

No segundo desenvolvimento do algoritmo curto, diferentemente da primeira

resolução, o resto de cada etapa da divisão está representado em vermelho e, a

cada determinação de quociente, indica-se o valor do resto. O professor deve

atentar-se para falar “cinco unidades de milhar dividido por 5, é igual a quantas

unidades de milhar?” Assim, se o dividendo é menor do que o divisor, a pergunta

deve ser formulada da mesma maneira, como, por exemplo, “duas dezenas dividido

por 5 é igual a quantas dezenas?” Nesse último caso, é possível determinar o

quociente igual a zero, e prosseguir a operação determinando o resto de cada etapa,

seja no processo longo ou curto do algoritmo da divisão.

32

Certamente, que essa expressão “não dá para dividir” refere-se à distribuição

igualitária e unitária de objetos, e significa que os grupos não receberam nenhuma

unidade. No entanto, se eu dividir duas balas igualmente entre cinco crianças (no

conjunto dos números naturais), a distribuição unitária não será possível e ninguém

receberá bala, ou seja, cada um recebeu zero bala. A representação do zero no

quociente é tópico especial em alguns livros que sugerem estratégias para que o

aluno não tenha dificuldades com esse número. Alguns autores, como Vergnaud

(2014) e Toledo e Toledo (2010), sugerem tratar o número zero como outro número

qualquer e, independentemente da ordem numérica representá-lo no quociente. Os

autores sugerem também trabalhar com material dourado para auxiliar essa

compreensão.

Ao recorrer a essa proposta, na divisão de 121 por 4, as ordens numéricas de cada

algarismo do dividendo são identificadas, e as mesmas ordens ficam reservadas no

quociente da divisão. Ordem por ordem, os algarismos do dividendo vão sendo

divididos pelo divisor e são calculados os algarismos referentes ao resultado da

divisão no quociente. A escrita das ordens numéricas tanto no dividendo quanto no

quociente é necessária para que os alunos compreendam que, ao dividir as

centenas, deve-se determinar um valor para o quociente que corresponda à mesma

ordem. Assim, ao dividir uma centena por 4, teremos como quociente 0 centena e

uma centena como resto.

Algoritmo Curto Algoritmo Longo C D U C D U C D U 1 2 1 4 1 2 1 4 1 2 1 4 1 2 0 3 0 -0 0 3 0 C D U 0 1 C D U 1 2 C D U 1 -1 2 0 0 1 -0 1

No processo longo e curto do algoritmo da divisão o resto de cada etapa está

identificado na cor vermelha, sendo possível acompanhar o preenchimento das

centenas, dezenas e unidades no quociente.

33

Para desenvolver o algoritmo da divisão, os autores Vergnaud (2014) e Toledo,

Toledo (2010), sugerem a construção da tabuada do divisor. O primeiro autor

apresenta a tabuada do divisor pelos números de 1 a 9, e Toledo, Toledo (2010)

sugere que o divisor seja multiplicado pelos números de 0 a 10. Por isso, vale

ressaltar:

ATENÇÃO PARA O USO DA TABUADA

Ao utilizar a tabuada como um recurso auxiliar para resolver o algoritmo da divisão,

deve-se atentar para que seu uso não acabe promovendo erros conceituais.

Preferencialmente, o mais adequado é construir a tabuada do divisor pelos números

de 0 a 9, uma vez que trabalhamos com a base decimal, e os algarismos de 0 a 9

representam todas as possibilidades para representar as divisões com o uso do

algoritmo tradicional.

Assim, na divisão de 235 por 13, o professor pode sugerir o desenvolvimento da

tabuada, encontrando na coluna destacada os possíveis algarismos para compor o

quociente da divisão. Posteriormente, os alunos devem identificar as centenas,

dezenas e unidades do dividendo, reservando o espaço no quociente para, então,

dar início ao algoritmo da divisão.

Divisor UM C D U 13x 0 =0 2 3 5 0 13 13x 1 =13 2 3 0 1 8 0 13x 2 =26 1 0 5 UM C D U 13x 3 =39 1 0 13x 4 =52 1 0 13x 5 =65 13x 6 =78 13x 7 =91 13x 8 =104 13x 9 =117

34

ATENÇÃO PARA A EXPRESSÃO: “IGUAL OU MENOR E O MAIS PRÓXIMO DO DIVIDENDO”

É comum que, em sala de aula, os professores digam “para dividir 8 por 4, eu

procuro o número que, multiplicado por 4, dá resultado 8 ou o mais próximo

possível de 8” (BITTAR; FREITAS, 2005, p.78). Apesar desse tipo de expressão ser

fortemente utilizada durante o estudo da divisão, ela pode ser inadequada. No

exemplo dado de 2350÷13, ao dividir 23 centenas por 13, determinou-se como

quociente uma centena. Contudo, ao analisar a expressão usual em sala de aula o

quociente deveria ser 2, uma vez que o produto igual a 26 é mais próximo de 23 do

que o produto igual a 13. Portanto, ao buscar um quociente, o correto seria:

procuramos um número que, ao ser multiplicado pelo divisor, seja igual ou menor e o mais próximo possível do dividendo. Ao considerar a divisão

euclidiana, outra argumentação é que o resto deve ser maior ou igual a zero e

menor do que o divisor.

Para uma assimilação correta, é importante que os licenciandos compreendam

também os casos em que a expressão “não dá para dividir” é aceita. Para isso,

sugere-se algumas atividades para estimular essa discussão.

DIVIDENDO E/OU DIVISOR IGUAL A ZERO

ENCAMINHAMENTO: Nessa atividade, todas as alternativas devem ser resolvidas pelos grupos. Além

disso, todas as questões devem ser resolvidas e justificadas.

9. Considerando o conjunto dos números reais, resolva as divisões a seguir,

justificando sua resposta:

a) 9÷2= b) 0÷2=

c) 2÷0= d) 0÷0=

35

COMENTÁRIOS: Recomendamos que os grupos apresentem para a turma suas estratégias de

solução, para, juntos, identificar as diferentes opiniões e estratégias adotadas em

cada caso e refletir sobre as dificuldades vivenciadas.

ATENÇÃO PARA A EXPRESSÃO: “NÃO DÁ PARA DIVIDIR POR ZERO”

Nos casos em que o divisor é igual a zero, realmente não dá para dividir. Contudo,

mesmo que a divisão por zero não seja possível, não quer dizer que as

impossibilidades tenham um mesmo significado. Quando o dividendo é diferente de

zero, e o divisor é zero, nenhum número satisfaz a igualdade, e, portanto, essa

divisão é impossível. Já na divisão em que dividendo e divisor são zero, qualquer

número colocado no quociente torna a igualdade verdadeira e, assim, a divisão é

indeterminada.

c) 2÷0=

Sendo, , Se , significa dizer que

Na divisão dada, temos que e . Logo:

Não existe nenhum número no conjunto dos números reais que torne a igualdade

verdadeira, pois . Sendo essa igualdade falsa, essa divisão é

impossível.

Por outro lado, ao se basear na afirmação de que 0 divide 2, teremos resto .

Pelo algoritmo da divisão temos que:

D d Ou seja 2 0 r q 0 q

36

Ao realizar a substituição na igualdade , temos que: . Isto é,

2=0. Logo, essa divisão é impossível.

d) 0÷0=

Sendo, , Se , significa dizer que

Na divisão dada, temos que e . Logo,

Qualquer número do conjunto dos números reais torna a igualdade verdadeira, pois

. Pode-se concluir que essa divisão é indeterminada.

Por outro lado, ao se basear na afirmação de que 0 divide 0, obtém-se resto .

Pelo algoritmo da divisão temos que:

D d Ou seja 0 0 r q 0 q

Ao realizar a substituição na igualdade , temos que: . Isto é,

0=0. Logo, essa divisão é indeterminada.

Diante dessas questões, o professor precisa compreender bem as particularidades

da divisão. Assim, para uma compreensão aprofundada, sugerimos o estudo do

algoritmo de Euclides.

37

5 UM OLHAR SOBRE O ALGORITMO DE EUCLIDES

Pela classificação de Caraça (2010), a divisão é uma das quatro operações

fundamentais (adição, subtração, multiplicação e divisão), sendo definida como uma

operação de segundo grau e inversa da multiplicação (quando esta é exata). Para

representar uma divisão há dois símbolos, logo, para representar ‘a dividido por b’,

podemos ter ou e, como definição, temos . Nessa

representação, a é dividendo, b é divisor e c é quociente. Nesse caso em particular,

a divisão é exata e, portanto, o dividendo é múltiplo do divisor. Em situações em que

a condição anterior não é satisfeita, existe um quarto número denominado resto, de

modo que . Nessa situação, satisfaz-se a igualdade (CARAÇA,

2010).

Como a definição de divisão de Caraça (2010) é feita no conjunto dos números

naturais, optamos por ampliá-la utilizando o algoritmo de Euclides para o conjunto

dos números inteiros, enunciado por Domingues (2009, p.131):

Para quaisquer , existe um único par de inteiros de

maneira que . Na igualdade que expressa o teorema, os elementos são

chamados respectivamente dividendo, divisor, quociente e resto, na divisão euclidiana de .

Apesar de a definição abranger, inicialmente, o conjunto dos números inteiros

com , a restrição de limita as possibilidades do divisor sendo apenas

positivo, de maneira que b não engloba todos os números inteiros. A apresentação

do algoritmo de Euclides, definido sem restrição de quaisquer elementos é a

seguinte: Para quaisquer , com existe um único par , de maneira

que , no qual .

38

Pelas abordagens apresentadas até aqui, é possível compreender a complexidade e

a amplitude do trabalho com o conceito da divisão. O que está sendo abordado

neste livro não representa todas as possibilidades de estudar a divisão, mas

propiciar diferentes abordagens para estudá-la são essenciais para que os

licenciandos possam (re)construir saberes acerca do conceito da divisão e tenham

consciência da complexidade dessa operação aritmética.

10. Na divisão de 28 por um número natural, o resto é 8. Determine todas as

possibilidades do quociente (q) e do divisor (d).

11. Na divisão de 88 por um número natural, o resto é 8. Determine todas as

possibilidades do quociente (q) e do divisor (d).

12. Na divisão de 98 por um número natural, o resto é 8. Determine todas as

possibilidades do quociente (q) e do divisor (d).

Comentário: No final das socializações, a turma deve ser capaz de perceber os

números possíveis para divisor e quociente. Essa restrição está diretamente

associada ao algoritmo de Euclides. Um exemplo seria o problema: Na divisão de 98

por um número natural, o resto é 8. Determine todas as possibilidades do quociente

(q) e do divisor (d). Nesse sentido, uma possível resolução para o problema pode

ser encontrada nas seguintes etapas:

Pela representação usual do algoritmo da divisão, temos:

D d Ou seja: 98 d

r q 8 q

Que pode ser representada pela igualdade: Ao fazer a substituição para o problema dado, temos:

Assim, o divisor (d) e quociente (q) são divisores de 90.

39

Ao decompor 90 em fatores primos, temos:

A partir daí os divisores podem ser encontrados pelo método descrito a seguir:

Divisores de 90

1

90

45

15

5

1

2

3

3

5

2

3, 6

9, 18

5, 10, 15, 30, 45

90

Portanto, os divisores de 90 são D(90)= {1, 2, 3, 5, 6, 9, 10, 15, 18, 30, 45, 90}.

Como d>r, temos d>8, logo, as opções para possíveis divisores são encontradas em d={9, 10, 15, 18, 30, 45, 90}.

Como , a seguir apresentamos o valor de divisores (d) e quocientes (q) possíveis:

d q 9 10 10 9 15 6 18 5 30 3 45 2 90 1

ALGORITMO DE EUCLIDES

ENCAMINHAMENTO: A cada situação proposta o professor deve estimular os licenciandos a apresentar

seus conhecimentos prévios. Deve também observar se eles utilizam

adequadamente o algoritmo de Euclides. Para isso, deve entregar para os grupos

formados as questões a seguir. E, ao recolher as folhas de respostas, observar se

as soluções em ambas as questões estão corretas.

40

Considerando o conjunto dos números inteiros:

13. Obtenha o quociente(q) e o resto (r) da divisão de 307 por 3.

14. Obtenha o quociente(q) e o resto (r) da divisão de -307 por 3.

15. Obtenha o quociente(q) e o resto (r) da divisão de 307 por -3.

16. Obtenha o quociente(q) e o resto (r) da divisão de -307 por -3.

COMENTÁRIOS: Nas questões foram propostos os mesmos valores absolutos de dividendo e divisor,

mas o professor pode optar por variar tais valores. Recomendamos que as duas

primeiras sejam entregues juntas para diagnosticar o conhecimento prévio dos

licenciandos.

RESOLUÇÕES: Apresentamos uma possível resolução para a questão 16. As demais alternativas

podem ser discutidas seguindo a mesma proposta. 16. Obtenha o quociente(q) e o resto (r) da divisão de -307 por -3.

Pela representação usual do algoritmo da divisão, temos:

D d Ou seja: -307 -3

r q r q

Que pode ser representada pela igualdade:

Ao fazer a substituição para o problema dado, temos:

Pelo algoritmo de Euclides:

Diante dessa restrição, temos que:

Assim, como solução, temos: q=103 e r= 2, sendo eles únicos.

41

COMENTÁRIOS: Embora o enunciado não peça para utilizar o algoritmo de Euclides, o resto deve

respeitar o que diz o teorema. Na socialização, é importante que os grupos

apresentem as próprias impressões e soluções, pois, embora o algoritmo de

Euclides refira-se ao conjunto dos números inteiros, os licenciandos podem

estranhar que, ao dividir um número negativo, o resto seja um valor positivo. Assim,

é comum ao dividir -307 por 3 encontrar como divisor -102 e como resto -1.

NOSSA VIVÊNCIA: Em nossa intervenção, quando nos deparamos com tal situação, optamos por outra

abordagem e apresentamos a definição do algoritmo de Euclides somente no final

das discussões. Durante resolução nos grupos e nas socializações das duas

atividades propostas, os licenciandos reproduziram as resoluções dos algoritmos,

alterando apenas os sinais do quociente e resto encontrados.

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

Resposta da

questão 3

Resposta da

questão 4

Na socialização, esperávamos que eles dissessem que a divisão de 307 por 3 não

poderia dar 101 como quociente, pois uma nova divisão pode ser realizada. E não

poderia dar 103 como quociente, pois o valor obtido no produto entre quociente e

divisor é maior do que o valor do dividendo.

42

Assim, para determinar o quociente correto, o produto entre quociente e divisor deve

ser igual ou menor e o mais próximo possível do dividendo (essa observação será importante para compreender a divisão com dividendo negativo). Optamos

naquele momento2 por trabalhar dessa maneira, pois essa é uma expressão muito

utilizada no ensino fundamental, seja nas séries iniciais ou finais desse ciclo.

No processo de socialização dessa questão, um licenciando discordou da resposta

apresentada e disse que, ao dividir -307 por 3, o quociente deveria ser igual a -103 e

o resto igual a 2. Como apenas ele tinha esta convicção, um de seus colegas disse

que fazer dessa maneira geraria mais possibilidades de resposta, e sugeriu -120

como quociente. Registramos no quadro esse resultado, porém ao realizar a

subtração, perceberam que o resultado 53, que seria o “resto”, poderia ser dividido

novamente, encontrando o quociente igual a 17 e o resto igual a 2. Ao somarmos

-120+17 tem-se como quociente -103, sendo que o licenciando que propôs de início

a solução correta disse: “Ah, chegou no meu -103, só fez o caminho mais difícil, mas

chegou”.

Outro recurso utilizado para que os licenciandos compreendessem a solução foi o

uso da reta numérica. Caso o professor opte por esse recurso, sugerimos que

identifique na reta numérica o dividendo, o número zero e, em seguida, localize o

produto dos resultados que surgirem. No caso da pesquisa realizada, os valores

sugeridos, como produto entre quociente e divisor, foram -306 (resultado de 102x3)

e -309 (resultado de -103x3).

2 A maneira mais adequada para apresentar a solução correta é com o auxílio do algoritmo de Euclides em sua essência. Porém, como estamos apresentando o produto de nossa pesquisa, é importante mostrar o caminho utilizado naquele momento.

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Após identificá-los na reta numérica, os licenciandos perceberam que -306 é maior

do que o dividendo e, portanto, a resposta correta é -309 e, consequentemente, -103

como quociente e 2 como resto.

COMENTÁRIOS: Após as duas primeiras socializações, proponha as duas últimas questões. A cada

validação de resposta, reforce a definição do algoritmo de Euclides, garantindo que

os participantes tenham compreendido que o resto deve ser sempre positivo, pois,

para quaisquer , com existe um único par , de maneira que

, em que . Ao finalizar as questões os participantes terão

vivenciado as quatro situações possíveis referentes aos valores positivos ou

negativos de dividendo e divisor.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades propostas neste livro são algumas de muitas possibilidades de se

trabalhar com o conceito de divisão e, assim, articular o conhecimento científico e o

escolar. Portanto, não se trata de um manual, mas algumas sugestões de atividades

que foram aplicadas na pesquisa de Santana (2018), intitulada “Formação inicial de

licenciandos em matemática: um estudo sobre o conceito de divisão”, que podem

ser adaptadas para atender melhor ao público a que se destina. Além disso, mais

importante do que a seleção das atividades, este material busca valorizar o

conhecimento prévio dos participantes. Durante a proposta de intervenção e

socializações, com análise das resoluções iniciais, validação das respostas,

construção de soluções adequadas, o professor conseguirá identificar e analisar

(re)construções do conhecimento sobre o conceito de divisão.

Recomendamos a leitura da dissertação de Santana (2018), de maneira a

enriquecer a proposta deste livro. Neste trabalho é possível encontrar nossas

motivações iniciais, vivências em sala de aula, com narrativas e diálogos dos

licenciandos, bem como resoluções apresentadas pelos grupos nas folhas respostas

e análise dos dados apresentados.

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LEITURAS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES BORIN, J. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de matemática. São Paulo: USP, 1995. BRITO, K. L. G.; PAIVA, M. A. V. O conceito de divisão na formação continuada do professor [recurso eletrônico]. Vitória: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, 2017. LAUTERT, S.L.; SPINILLO, A. G. As relações entre o desempenho em problemas de divisão e as concepções de crianças sobre a divisão. In: Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, vol. 18, n. 3, p. 237-246. SELVA, A. C. V.; BORBA, R. E. de S. R. O uso de diferentes representações na resolução de problemas de divisão inexata: analisando a contribuição da calculadora. Boletim GEPEM, Rio de Janeiro: o grupo, n. 47, p. 51-72, jul./dez. 2005. SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I.; MILANI, E. Jogos de matemática de 1º a 5º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007. (Série Cadernos Mathema: ensino fundamental) SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I.; MILANI, E. Jogos de matemática de 6º a 9º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007. (Série Cadernos Mathema: ensino fundamental)

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REFERÊNCIAS

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial e a formação continuada, resolução nº 2 de 1º de julho de 2015. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=17719-res-cne-cp-002-03072015&category_slug=julho-2015-pdf&Itemid=30192> Acesso em: 4 jul. 2017. BITTAR, M., FREITAS, J. L. M. Fundamentos e metodologia de matemática para os ciclos iniciais do ensino fundamental. 2ª Ed. Campo Grande: Ed. UFMS, 2005. CARAÇA, B. de J. Conceitos fundamentais da matemática. 7ª ed. Lisboa: Gradiva, 2010. DINIZ, J. E. Formação de professores – pesquisa, representações e poder. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. DOMINGUES, H. H. Fundamentos da aritmética. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2009. DUVAL, R. Semiósis e pensamento humano: Registros semióticos e aprendizagens intelectuais. Tradução: Lênio Fernandes Levy; Marisa Rosâni Abreu da Silveira. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2009. GATTI, B. A. Formação inicial de professores para a educação básica: pesquisas e políticas educacionais. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 25, n. 57, p. 24-54, jan./abr. 2014. JESUS, A. M. Construir o conceito de divisão, resolvendo problemas: um estudo de caso. In: GTI (Org.). O professor e o desenvolvimento curricular. Lisboa: Associação de Professores de Matemática - APM, 2005, p. 91-111. KLEIN, F. Matemática Elementar de um Ponto de Vista Superior. Volume I, Parte I: Aritmética. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Matemática, 2009. LAUTERT, S.L.; SPINILLO, A. G. As relações entre o desempenho em problemas de divisão e as concepções de crianças sobre a divisão. In: Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília, vol. 18, n. 3, p. 237-246. MOREIRA, P. C. 3+1 e suas (In)Variantes (Reflexões sobre as possibilidades de uma nova estrutura curricular na Licenciatura em Matemática. Bolema: Boletim de Educação Matemática, vol.26, n.44, Rio Claro, dez. 2012. PONTE, J. P. Formação do professor de Matemática: Perspectivas atuais. In: PONTE, J. P. Práticas Profissionais dos Professores de Matemática. Lisboa: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, p. 343-360, 2014. SANTANA, D. F.; PAIVA, M. A. V. Formação inicial de licenciandos em matemática: um estudo sobre o conceito de divisão. 2018. 170f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemática) – Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática, Instituto Federal do Espírito Santo, Vitória, 2018.

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SELVA, A. C. V.; BORBA, R. E. de S. R. O uso de diferentes representações na resolução de problemas de divisão inexata: analisando a contribuição da calculadora. Boletim GEPEM, Rio de Janeiro: o grupo, n. 47, p. 51-72, jul./dez. 2005. SILVA, S. A. F. Aprendizagens de professores num grupo de estudos sobre matemática nas séries iniciais. 2009. 364f. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Educação. Vitória, 2009. SANTANA, D. F. Formação Inicial de licenciandos em Matemática: Um estudo sobre o conceito de divisão. 2018. 161f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática). Instituto Federal do Espírito Santo. Vitória, 2018. TOLEDO, M.; TOLEDO, M. Teoria e prática de matemática: como dois e dois. Volume único: Livro do professor. 1ª Ed. São Paulo: FTD, 2010. VERGNAUD, G. A criança, a matemática e a realidade: problemas do ensino de matemática na escola elementar. Tradução: Maria Lucia Faria Moro. ed. rev. Curitiba: Ed. da UFPR, 2014. 322p.