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UNIVERSIDADE DO PORTO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DE ABEL SALAZAR 7 o CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DE ENFERMAGEM STRESS E COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL CONTEXTO DE URGÊNCIA / CONTEXTO DE CIRURGIA JOSÉ LUIS NUNES RAMOS PORTO 2002

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UNIVERSIDADE DO PORTO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DE ABEL SALAZAR

7o CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DE ENFERMAGEM

STRESS E COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL CONTEXTO DE URGÊNCIA / CONTEXTO DE CIRURGIA

JOSÉ LUIS NUNES RAMOS

PORTO 2002

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STRESS E COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL CONTEXTO DE URGÊNCIA/ CONTEXTO DE CIRURGIA

JOSÉ LUIS NUNES RAMOS

PORTO 2002

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DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE CIÊNCIAS

BIOMÉDICAS DE ABEL SALAZAR PARA OBTENÇÃO DO

GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS DE ENFERMAGEM

Professora Orientadora: Graça Maria Ferreira Pimenta

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AGRADECIMENTOS

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AGRADECIMENTOS

A concretização deste trabalho só foi possível com múltiplos

incentivos e apoios de diversas pessoas, a quem se deseja expressar

os mais sinceros agradecimentos.

À Senhora Enfermeira Graça Maria Ferreira Pimenta, pela orientação

exigente, bem como pelo acompanhamento e apoio neste percurso de

formação.

Ao Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, e a todos

quantos nele contribuíram para a construção de um percurso

académico que conduziu à concretização deste trabalho.

Aos enfermeiros que se disponibilizaram a colaborar nesta

investigação, constituindo a amostra para a colheita de dados, sem os

quais este trabalho não seria viável.

Aos colegas com quem foi possível reflectir conjuntamente e cujo

apoio directo ou indirecto foi decisivo em todo este processo.

À minha Família pela tolerância, afecto e apoio dispensado.

A todos aqueles, que embora não tendo sido mencionados,

contribuíram para a realização deste trabalho.

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RESUMO / ABSTRACT

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RESUMO

Esta investigação, centrada em torno da problemática do stress e do coping dos enfermeiros prestadores de cuidados hospitalares em contextos de serviços de internamento de cirurgia e de urgência, tem por objectivo compreender de que modo as estratégias adaptativas de resolução de problemas que o enfermeiro possui, estão associadas ao nível de stress que experimenta, pelo que pretendemos desenvolver um estudo de tipo descritivo de modo a conhecer a dinâmica destes fenómenos nos enfermeiros alvo do estudo. Os dados foram obtidos com o recurso a dois instrumentos validados para a população portuguesa: Maslach Burnout Inventory (1986) e Inventário de Resolução de Problemas (Vaz Serra, 1988) Constatou-5e que os enfermeiros apresentam elevados níveis de stress, particularmente evidente entre os enfermeiros do serviço de urgência. Observou-se uma associação inversa entre os níveis de stress e as estratégias de coping utilizadas, sendo esta correlação mais marcada entre os enfermeiros do serviço de cirurgia. Verificou-se também, que os enfermeiros recorrem a diferentes estratégias de coping para lidar com o stress, evidenciando^ a utilização de estratégias de tipo agressivo.

Pelas inúmeras implicações do stress na vida dos enfermeiros, seria importante dar continuidade a este trabalho, que pensamos, venha a ser um contributo para outras investigações.

ABSTRACT

This research study, focused around the issue of stress and coping of hospital' nurses working in surgery and emergency wards, aims at understanding the association between the problems solving strategies the nurse possesses, and the level of stress he/she

experiences. Because we wanted to know the dynamics of these phenomena in the nurses we are studying, we designed a descriptive study. The data was obtained using two research tools, validated for the Portuguese population: Maslach Burnout Inventory (1986) and Inventário

de Resolução de Problemas (Vaz Serra, 1988). We have realized that nurses present high levels of stress, predominantly among emergency nurses. It was observed a reverse association between stress levels and coping strategies, more noticeable among the nurses working at the surgery wards. It was also observed that nurses use different coping strategies to deal with stress, being the strategies of aggressive

kind more evident Because of the countless implications of stress in nurse's everyday life, it would be important

to continue this research and contribute to further studies.

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ÍNDICE

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INDICE

INTRODUÇÃO 1 3

PARTE I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO 1 7

CAPÍTULO 1 -STRESS E MECANISMOS DE COPING 18

1.1 - STRESS 1 8

1.1.1- CONCEITO E MODELOS TEÓRICOS 18

1.1.2 -O SÍNDROME DE BURNOUT 25

1.1.3 - RESPOSTAS INDIVIDUAIS AO STRESS 29

1.1.4 - O STRESS / BURNOUT OCUPACIONAL 33

1.1.5-AVALIAÇÃO DO STRESS/BURNOUT 36

1.2-COPING 3 8

1.2.1 -CONCEITO E CATEGORIAS DE COPING 38

1.2.2 - FUNÇÕES DO COPING 4 3

1.2.3 -APRENDIZAGEM DAS ESTRATÉGIAS DE COPING 44

1.2.4 - AVALIAÇÃO DO COPING 4 6

1.3-STRESSE COPING 4 6

1.3.1 - O PAPEL DO COPING NO CONTROLO DAS SITUAÇÕES

INDUTORAS DE STRESS 4 7

CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING

DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL 50

2.1 - O CONTEXTO HOSPITALAR - SUAS PARTICULARIDADES 50

2 2 - STRESS OCUPACIONAL NOS ENFERMEIROS 52

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2.3 -AS ESTRATÉGIAS DE COPING NOS ENFERMEIROS 56

2.4 - O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE FORMAÇÃO AO NÍVEL DESTA

PROBLEMÁTICA 58

PARTE II - ESTUDO EMPÍRICO 61

CAPÍTULO 3- FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES

METODOLÓGICAS 62

3.1 -CONCEPTUALIZAÇÃO E OBJECTIVOS DO ESTUDO 62

3.2 - HIPÓTESES 65

3.3 - SELECÇÃO DA POPULAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA 68

3.4 - VARIÁVEIS 68

3.5 - INSTRUMENTOS 69

3.5.1 - QUESTIONÁRIO DEMOGRÁFICO 69

3.5.2 - MASLACH BURNOUT INVENTORY 69

3.5.3 - INVENTÁRIO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 73

3.6 - PROCEDIMENTOS 76

CAPÍTULO 4 -APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS 77

4.1 -TRATAMENTO DOS DADOS 77

4.2 -APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 78

4.2.1 - CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA 78

4.2.2 -RESULTADOS DESCRITIVOS DO BURNOUT 82

4.2.3 - RESULTADOS DESCRITIVOS DO COPING 89

4.2.4 - ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS 92

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4.3 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 96

BIBLIOGRAFIA 106

ANEXOS 1 1 9

ANEXO I - QUESTIONÁRIO DEMOGRÁFICO 118

ANEXO II - MASLACH BURNOUT INVENTORY 120

ANEXO III -INVENTÁRIO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 122

ANEXO IV-RELAÇÃO DOS ITENS QUE INTEGRAM CADA UMA DAS

DIMENSÕES DO MASLASH BURNOUT INVETORY 126

ANEXO V - RELAÇÃO DOS ITENS QUE INTEGRAM CADA UM DOS

FACTORES DO INVENTÁRIO DE RESOLUÇÃO DE

PROBLEMAS 128

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índice de figuras

Figura 1 - Modelo de stress baseado na inibição da acção 24

Figura 2 - Eixos de actuação da resposta fisiológica ao stress 30

Figura 3 - Efeitos da activação dos eixos neuronal, neuroendocrine

e endócrino 32

índice de tabelas

Tabela 1 - Distribuição dos enfermeiros por tipo de serviço 79

Tabela 2 - Idade dos enfermeiros por serviço- estatística descritiva.. 79

Tabela 3 - Distribuição dos enfermeiros por tipo de serviço e por

género 80

Tabela 4 - Distribuição dos enfermeiros por estado civil 81

Tabela 5 - Distribuição dos enfermeiros pela categoria profissional.. 81

Tabela 6 - Burnout total por serviço - estatística descritiva 82

Tabela 7 - Distribuição dos enfermeiros pelos graus de severidade

das dimensões do burnout 83

Tabela 8 - Exaustão Emocional por serviço - estatística descritiva .... 84

Tabela 9 - Distribuição dos enfermeiros pelos graus de exaustão emocional (EE) e por tipo de serviço 85

Tabela 10 - Despersonalização por serviço - estatística descritiva 86

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Tabela 11 - Distribuição dos enfermeiros pelos graus de

despersonalização(DP) e por tipo de serviço 86

Tabela 12 - Dificuldade de Realização Pessoal por serviço - estatística

descritiva 87

Tabela 13 - Distribuição dos enfermeiros pelos graus de dificuldade

de realização pessoal(DP) e por tipo de serviço 88

Tabela 14 - Coping total e factores - médias e desvios padrão da

amostra e valores obtidos por Vaz Serra (1988) na

construção do IRP 90

Tabela 15 - Coping total por serviço - estatística descritiva 91

Tabela 16- Coeficientes de correlação de Pearson entre burnout e

coping dos enfermeiros por serviço 92

Tabela 17 - Coeficientes de correlação de Pearson entre as 9

dimensões do IRP e os valores do burnout (total global)... 93

Tabela 18 - Distribuição das médias e desvios padrão do coping

total e suas dimensões por género 95

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INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho surge como o resultado de todo um percurso

profissional e pessoal, enquadrado no contexto do 7o Curso de

Mestrado em Ciências de Enfermagem do Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar.

A opção pela realização de um trabalho subordinado ao tema "Stress

e Coping dos Enfermeiros no Hospital - Contexto de urgência /

contexto de internamento", resultou essencialmente de duas ordens

de razões. Por um lado, uma grande motivação pessoal para o assunto

pelo facto de exercer funções docentes numa Escola Superior de

Enfermagem, leccionando, nomeadamente, na área da Enfermagem

Médico-Cirúrgica; por outro, trata-se de uma problemática que temos

vindo a trabalhar especialmente na área dos Cuidados Intensivos.

As consequências do stress fazem-se sentir ao nível dos diversos

sistemas do indivíduo, sendo referidas por Vellucci (1997) as

alterações biológicas, cognitivas, emocionais e do comportamento

observável, que concorrem de forma concomitante e se influenciam

mutuamente. Os seus efeitos variam em função dos contextos em que

ocorre, das características dos sujeitos e dos recursos e aptidões que

estes têm disponíveis.

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I N T R O D U Ç Ã O

Por outro lado, Vaz Serra (1999), considera que o stress interfere com

o desempenho do indivíduo, sendo que, quanto maior for a sua

intensidade, pior o desempenho e mais difícil a tomada de decisões.

Os mecanismos de coping são mediadores do impacto que as

situações geradoras de stress exercem nos indivíduos, por acção sobre

as características ameaçadoras do meio, por controlo do seu

significado, por redução da sobrecarga emocional e pela manutenção

de um auto-conceito positivo (Pearlin & Schooler, 1998).

A literatura científica existente relativa a stress e coping tem vindo a

realçar o seu papel na vida das pessoas em geral, com grande

relevância nos contextos ocupacionais.

Assim, algumas questões se levantam: Será que o stress ocupacional

dos enfermeiros que prestam cuidados de enfermagem nos hospitais,

se relaciona com as estratégias de coping por estes utilizadas? E quais

as características desta relação?

A necessidade de encontrar algumas pistas orientadoras que permitam

compreender e explicar estas questões serviu de incentivo para o

desenvolvimento desta investigação.

Este projecto de trabalho tem como objectivo o estudo da relação do

stress com o coping dos enfermeiros, pretendendo compreender em

que medida o stress ocupacional é mediado pelos mecanismos de

coping utilizados por estes.

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I N T R O D U Ç Ã O

O estudo empírico que se apresenta, tem como característica

particular, incidir a sua atenção sobre enfermeiros que prestam

cuidados de enfermagem a doentes adultos, em contextos de serviços

de urgência e em contextos de serviços de cirurgia, em hospitais

públicos.

De uma forma sumária, este trabalho é composto por duas partes

interdependentes, que integram diversos capítulos. Uma primeira de

enquadramento teórico, onde se procura apresentar os aspectos

relevantes da revisão bibliográfica efectuada, explicitando conceitos

e referências teóricas, que sirvam de suporte à investigação em curso.

Na segunda parte, que se ocupa do estudo de campo, serão

inicialmente explicitados os critérios de escolha e apresentadas

algumas das qualidades psicométricas dos instrumentos de medida

das variáveis em estudo. Serão ainda descritos os procedimentos

relacionados com a recolha e tratamento de dados e, posteriormente,

apresentados e discutidos os resultados, procurando confrontá-los

com estudos anteriores, que fundamentaram as hipóteses desta

investigação.

Por f im, serão sistematizadas as principais conclusões obtidas neste

trabalho, de modo a que possam contribuir para uma melhor

compreensão das relações entre stress ocupacional e mecanismos de

coping e abrir pistas a possíveis intervenções e a outras investigações.

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PARTE I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO

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CAPITULO 1

STRESS E MECANISMOS DE COPING

1.1 -STRESS

Nas duas últimas décadas, muitos são os autores que descreveram os

efeitos fisiológicos, emocionais, cognitivos e sociais que os estímulos

stressantes provocam nas pessoas. Nos sub-capítulos que se seguem

serão abordados os aspectos que nos parecem mais relevantes para

compreender esta problemática.

1.1.1 - CONCEITO E MODELOS TEÓRICOS

O conceito de stress tem originado muita controvérsia. Alguns

autores põem mesmo em questão a sua utilização pela grande

ambiguidade que o termo apresenta. Por vezes, ele é usado para

descrever uma sensação de perturbação face a um estímulo, outras

vezes, para descrever a fonte dessa mesma perturbação.

Para (Pearlin & Schooler, 1998), o conceito não deverá, no entanto,

ser rejeitado pela falta de consenso existente, sendo preferível lidar

com toda a complexidade que ele envolve. Este autor integra o

18

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

conceito no âmbito alargado de um modelo que denomina de -

Modelo de Adaptação Pessoa-Meio - que é constituído por uma

matriz que permite tratar a complexidade do stress nas relações que

se estabelecem entre o trabalho e a saúde.

Nesta perspectiva, o stress é sentido quando existem discrepâncias entre

as exigências ambientais, tal como são percebidas pelos indivíduos e as

capacidades que cada um possui para lhes dar resposta.

Este enquadramento é compatível com a definição proposta por Lazarus

& Folkman (1984), de que o stress é uma relação particular entre a

pessoa e o meio, que é avaliada pelo próprio como penalizadora, ou

excedendo os seus próprios recursos e ameaçadora do seu bem estar.

Uma outra definição, entre nós uma das mais divulgadas, é a de Hans

Selye (1956), que considera que o stress é uma resposta não

específica do organismo a todas as solicitações que lhe são feitas

(percebidas como agradáveis ou desagradáveis) e se traduzem por um

síndrome específico - o Síndrome Geral de Adaptação.

Esta definição é considerada por alguns autores como reducionista e

organicista, por ter como base o modelo de estímulo-resposta.

Segundo Graça & Reis (1993), o stress tem vindo, também, a ser

estudado através de modelos interactivos ou transaccionais defendidos

por autores como Cooper & Marshal (1976); Cox (1985); Ross (1994).

Para Albuquerque (1990) os estudos sobre o stress encontram-se

divididos em três tipos:

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

■ Modelos baseados na resposta

■ Modelos baseados no estímulo

■ Modelos interaccionistas ou transaccionais

MODELOS BASEADOS NA RESPOSTA

Para Albuquerque (1990) as teorias de Levi e Selye enquadram-se dentro

destes modelos. O stress é entendido em termos de resposta que o

organismo dá quando confrontado com estímulos vindos do meio

envolvente e que o perturbam, provocando alterações do seu equilíbrio.

Segundo este modelo, os seres humanos produziriam uma resposta

única e específica a um determinado estímulo, desencadeando o

síndrome geral de adaptação.

A pessoa mobiliza energias para reagir ao que considera ser uma

ameaça. Esta situação de ameaça será mantida até que o indivíduo

tenha a percepção de que o perigo passou, ou então, evolui para a

fase seguinte - fase de resistência - em que a pessoa usa diferentes

estratégias para restabelecer o equilíbrio. Se o estímulo stressante se

mantém por muito tempo, a situação evolui para a fase seguinte, de

colapso ou ruptura.

MODELOS BASEADOS NO ESTÍMULO

Caracterizam-se, na perspectiva de Albuquerque (1990), por

centrarem a sua atenção nos factores causadores do stress e não no

efeito que eles vão produzir na pessoa.

20

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

Estes modelos têm sido alvo de várias críticas por darem demasiada

ênfase à acção de factores externos ao indivíduo, não os relacionando

com as características particulares de cada sujeito. No entanto,

permitiram consideráveis progressos relativamente aos modelos

anteriores, ao nível do estudo das características das situações

geradoras de stress.

Weitz (1970) construiu uma lista de oito características que provocam

stress, à qual, mais tarde, Lazarus (1999) juntou mais duas. Assim a

lista é composta por:

■ Processamento acelerado da informação

■ Estímulos traumáticos do ambiente

■ Sensação de ameaça

■ Alterações fisiológicas (doença, insónia, medicamentos)

■ Isolamento

■ Repressão

■ Pressão de um grupo

■ Frustração

■ Ameaça dos valores e objectivos pessoais

■ Falta de controlo sobre os acontecimentos

Esta abordagem clarifica alguns aspectos, mas não explica, por

exemplo, as diferenças individuais no modo das pessoas reagirem ao

stress.

21

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

MODELOS TRANSACCIONAIS

Estes modelos tomam em linha de conta a multiplicidade de variáveis

que actuam nas situações em que o indivíduo é confrontado com

factores percebidos como negativos (conflitos, risco de perda de auto-

estima, violência, ruídos, ameaça à segurança).

O indivíduo faz uma avaliação, a nível cognitivo, dos dados que

recebe do exterior. Esta avaliação é condicionada pelas características

individuais do sujeito (como por exemplo pela personalidade, nível

de conhecimentos, competências cognitivas, estrutura genética) e

pelo apoio que lhe é dado pelos outros.

A forma como o indivíduo organiza esses dados, traduz-se em

determinadas respostas, que podem ter consequências positivas ou

negativas sobre o desempenho dos seus papéis (profissionais ou

outros), a sua saúde e o seu bem-estar.

Para Graça & Reis (1993) este é um modelo que aplica a interacção

entre o Homem e o meio ambiente, em que o stress (na sua forma

positiva ou negativa), aparece como parte integrante desse complexo

sistema.

Trata-se de um modelo ecléctico, que se baseia nos dados fornecidos

pelos modelos anteriores, mas também sofre influências das teorias

cognitivistas e interaccionistas da Psicologia, entre outras.

É um modelo defendido por autores como Cooper & Marshal (1976);

Cox (1985); Ross (1994).

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

Quando o indivíduo lida com o stress, entram em acção mecanismos

psicológicos e fisiológicos para elaboração de uma resposta o mais

adequada possível à situação stressante. Se a resposta não é eficaz e o

stress é prolongado podem ocorrer, segundo Graça & Reis (1993),

situações anómalas, o que pode conduzir a danos funcionais e/ou

estruturais no indivíduo.

Outros autores, nomeadamente Ausloos (1996), tem vindo a procurar

introduzir outros modelos explicativos, nos quais é salientado o papel

dos factores de ordem psicossocial e neurofisiológico.

O referido autor, salienta que o stress ocorre quando surgem

alterações patológicas inerentes ao indivíduo, que são provocadas ou

transmitidas pela família, pela escola, pelo trabalho, pelas

circunstâncias de vida e pela situação económica, que podem ser

explicadas através de um mecanismo essencialmente

neurofisiológico, a que chama inibição da acção. Desta forma, as

situações de alarme, a curto ou a longo prazo, como por exemplo,

ameaça ou violência física, insucesso escolar, problemas laborais e

situações de luto, de entre outras, podem provocar stress.

Para Ausloos (1996) são três as reacções possíveis do indivíduo

perante as situações ameaçadoras: a acção, a fuga ou a agressão. Estas

reacções podem revelar-se eficazes quando conduzem a uma

diminuição do stress e ineficazes quando induzem o stress e, após um

certo tempo, a inibição da acção.

A inibição da acção é, segundo Ausloos, um mecanismo induzido por

um stress demasiado importante ou demasiado prolongado, com

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

origem no fracasso das reacções de alarme. Assim, o sistema de feixes

neurofisiológicos inibidores da acção (SAI), originam uma retroacção

positiva ( + ), que reforça o stress o os mecanismos de inibição.

Perante tal situação, se o indivíduo não consegue encontrar um meio

de acção eficaz e se o alarme persiste, então poderão surgir

perturbações físicas, psíquicas ou comportamentos aditivos.

Mas, se pelo contrário o indivíduo encontra uma acção eficaz, que

estimula o sistema activador da acção (SAA), que por sua vez produz

uma retroacção negativa (-), levará ao desaparecimento do stress.

O modelo de stress baseado na inibição da acção pode,

esquematicamente, ser explicitado pela figura seguinte.

Figura 1 - Modelo de stress baseado na inibição da acção

Adaptado de : AUSLOOS,G.(1996). A competência das

famílias: tempo, caos, processo. Coimbra: CLIMEPSI, 149

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C A P Í T U L O \ - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

O modelo referido, embora possa sugerir uma grande aproximação a

leituras de tipo comportamental, não deixa de ser um modelo teórico

alternativo com particular interesse, nomeadamente, quando se

pretende compreender o indivíduo a nível das organizações.

Qualquer dos modelos apresentados apontam para os riscos

decorrentes de situações prolongadas de stress que podem eclodir em

exaustão, que habitualmente se denomina como burnout, temática

que será abordada no sub-capítulo que se segue.

1.1.2 - O SÍNDROME DE BURNOUT

Define-se o burnout como sendo um estado psicológico debilitado,

resultante da combinação de altas expectativas pessoais e stress

crónico, que resulta num esgotamento de energia, menor resistência à

doença, aumento de insatisfação e pessimismo relativamente ao

próprio indivíduo e ao trabalho, aumento de absentismo e

ineficiência ao nível laboral (Pines & Aronson, 1989; Vininga &

Spradley, 1987).

O burnout é um síndrome simultaneamente emocional e físico, no

qual o desgaste se instala progressivamente, até que surge o colapso.

Caracteriza-se por apresentar sinais e sintomas de exaustão emocional

e física, despersonalização e ausência de realização (Matteson &

Ivanevich, 1989; Ross & Altwaier, 1994). Os mesmos autores referem

que esta é a mais grave consequência do stress mal gerido.

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C A P I T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

O síndrome de burnout geralmente ocorre de forma lenta e

progressiva, embora haja situações em que se pode desencadear

bruscamente. A doença ou morte de um familiar próximo, o

investimento excessivo num projecto, podem ser situações

desencadeantes do burnout.

Ross & Altwaier (1994) referem que esta situação pode apresentar

vários níveis e ter alta incidência em profissões consideradas de ajuda

e que exigem contacto directo com pessoas. Regra geral, não é

identificável nos primeiros estádios de desenvolvimento, dado que a

maioria das pessoas susceptíveis de sofrerem de burnout, são

competentes, auto-suficientes e tendem a esconder as suas fraquezas

perante elas e os outros.

Este síndrome agrupa sinais e sintomas relativo a três dimensões: o

cansaço físico, o esgotamento emocional e o esgotamento mental

(Ross & Altwaier, 1994).

A fadiga, o desinteresse, o cinismo e os sentimentos desagradáveis,

acompanhados por sintomatologia de natureza psicossomática, como

cefaleias frequentes, tensão muscular, problemas gastrointestinais,

alterações dos hábitos alimentares e do padrão do sono, são sintomas

e sinais que caracterizam a fase de exaustão física.

A pessoa torna-se impaciente e desinteressada de aspectos

importantes da sua vida e do seu trabalho, afastando-se dos seus

amigos e familiares, deixa de ter tempo e disponibilidade para os

outros, limitando o seu universo. Estes são indicadores de que o

esgotamento emocional já se iniciou.

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C A P I T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

Os sintomas que mais frequentemente acompanham esta situação são:

a depressão, sentimentos de desamparo, sentimentos de desencanto,

desmotivação e em casos extremos o suicídio.

A diminuição da capacidade mental manifesta-se por

despersonalização, auto-avaliação negativa, dificuldade em resolver

problemas, falta de criatividade, atitudes negativas em relação a si

mesmo, aos outros e ao trabalho.

Existem diferenças inter-individuais nas manifestações deste

síndrome, podendo identificar-se estádios diferentes de

desenvolvimento desta situação patológica e personalidades mais

susceptíveis que outras ao burnout.

Vários autores são unânimes em considerar a multicausalidade, uma

das características deste síndrome. Por uma questão de

operacionalização elas podem, no entanto, ser divididas em dois tipos:

as genéricas, que são aquelas que estão ligadas às exigências e desafios

da vida moderna; e as específicas, que se relacionam com as situações

mais restritas, como a especificidade do trabalho e as condições

oferecidas pela organização (Ross & Altwaier, 1994; Moss, 1989).

De seguida serão apontados alguns exemplos de causas genéricas:

■ Trabalhar excessivamente para conseguir vencimentos mais elevados.

■ Elevar o prestígio e posição social.

■ Adaptação constante às mudanças introduzidas pelos novos

conhecimentos e novas tecnologias.

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

■ Exigência de formação complementar, nomeadamente para poder

progredir na carreira profissional.

As causas específicas mais referidas são:

■ Carga excessiva de trabalho.

■ Baixos salários.

■ Prazos a cumprir.

■ Trabalho por turnos.

■ Pouco tempo de descanso.

■ Falta de condições físicas.

■ Contratos de trabalho precários.

Tal como já foi referido, nem todas as pessoas que sofrem a

influência de factores stressantes acabam por desencadear o burnout.

A influência das condições acima descritas e eventualmente outras,

por si sós, não podem ser consideradas como responsáveis pelo

desenvolvimento do síndrome. É necessário também a existência de

determinadas características ao nível da personalidade individual que

facilitem o seu aparecimento.

Parecem ser mais propensas as pessoas com altos padrões de

expectativas, dinâmicas, idealistas e determinadas a alcançar os

seus objectivos e que não admitem o fracasso pessoal (Pines &

Aronson, 1989).

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

1.1.3 - RESPOSTAS INDIVIDUAIS AO STRESS

Fernándes-Balesteres (1996) sistematiza em três grandes grupos as

respostas do indivíduo ao stress: um primeiro relacionado com os

aspectos cognitivos; um segundo ligado com os aspectos motores; e

um terceiro relativo aos aspectos fisiológicos.

O citado autor, considera que no que se refere aos aspectos

cognitivos, a forma como o sujeito percebe o seu meio, filtra e

processa a informação proveniente desse mesmo meio, avalia se as

situações devem ser consideradas como relevantes ou irrelevantes,

agradáveis ou aterradoras, determinará em grande medida o seu

modo de resposta e a forma como a pessoa se sentirá afectada pelo

stress.

Quanto aos aspectos motores, Labrador (1992) considera que as

respostas motoras básicas perante o stress podem ser de

enfrentamento (ataque), evitamento (fuga) ou passividade (colapso).

Dispor de habilidades adequadas para enfrentar situações de stress

dependeria da aprendizagem de condutas pertinentes e do seu

reforço em ocorrências anteriores.

Os aspectos fisiológicos, têm sido descritos com maior pormenor,

uma vez que são as manifestações que apresentam maior visibilidade.

As situações de stress produzem um aumento generalizado da

actividade do organismo (Burchfield, 1998; Everly, 1989), não

obstante, inicialmente, ter sido considerado que esta activação

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fisiológica era genérica e indiferenciada para qualquer stressor (Selye,

1956). Mais recentemente, têm sido valorizados diferentes

mecanismos neuronais e endócrinos na resposta ao stress, que podem

ser activados selectivamente (Everly, 1989; Fernándes-Balesteres,

1996). Assim, tal como se pode observar pela figura seguinte,

distinguem-se três eixos de actuação de resposta de nível fisiológico

ao stress.

Figura 2 - Eixos de actuação da resposta fisiológica ao stress

Elxol Eíxol

I 1 Hpotólamo

Eixo III

SN Periférico

SNA Simpático

Medula espinal

Factores libertadores

1 Glândula

suprarenal (medula)

Hipófise anterior

Musculatura Órgão esquelética implicado

ACTH TSH

Hipófise posterior

Hormona do crescimento

v Adrenalina

Noradrenaline

Glândula suprarrenal

(cortex)

Mineralocorticoides Glucocorticoides

Androgéneos

Tiroide

Tiroxina o

Vasoptessina Oxitocina

Sistema circulatório

Órgão Implicado

Adaptado de: EVERLY, G. (1989) - A clinical guide to the treatment of the human stress response. New York: Plenum Press, p 488.

Everly (1989), expl ic i ta a f igura apresentada do seguinte modo:

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O eixo neuronal - eixo I - é activado de forma imediata perante uma

situação de stress, dado que a sua via de actuação é exclusivamente

neurológica. Implica a activação do Sistema Nervoso Autónomo

(SNA) ramo simpático (em casos excepcionais pode ser acompanhado

da activação do parassimpático), e a activação do Sistema Nervoso

Periférico (SNP). A actuação deste eixo induz uma excessiva tensão

muscular, por activação do SNP, e a transtornos ao nível orgânico,

provocadas por uma intensa activação do Sistema Nervoso Simpático.

O eixo neuroendocrine - eixo II - é mais lento na sua actuação e

necessita de condições mais intensas de stress. A sua activação

estimula a espinal medula e as cápsulas supra-renais, provocando a

secreção de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), o que ajuda

a aumentar a actividade adrenégica somática, produzindo efeitos

similares aos gerados por activação simpática.

O eixo endócrino - eixo III - pode, por sua vez, dividir-se em quatro

sub-eixos. O primeiro e mais importante é o eixo adrenal-hipofisário,

que provoca a libertação de glucocorticoides (Cortisol e

corticosterona), mineralocorticoides (aldosterona e desoxicorticosterona)

e androgénios (testosterona). O disparar deste terceiro eixo, mais

lento do que os anteriores e de efeitos mais duradoiros, necessita de

uma situação de stress mais permanente. Fernándes-Balesteres (1 996),

refere que este eixo dispara selectivamente quando a pessoa não

dispõe de estratégias de defesa em situações de stress.

As principais manifestações da resposta ao stress decorrentes da

activação de cada um destes três eixos I, Il e III encontram-se

explicitadas no quadro seguinte:

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Figura 3 - Efeitos da activação dos eixos neuronal, neuroendocrine e endocrine

Efeitos da activação do eixo neuronal:

f r i tmo cardíaco (SNA) tpressão arterial (SNA) Secura da boca (SNA) Sudorese intensa (SNA) "Nó de garganta"(SNA) Adormecimento/ formigueiro nos membros (SNP) Di lataçõo das pupilas (SNP) Dif iculdade para respirar (SNP)

Efeitos da activação do eixo neuroendocrinal

tpressão arterial t apo r t e sanguíneo ao cérebro t r i tmo cardíaco Testimulação dos músculos estriados tác idos gordos, triglicerídeos e colesterol no sangue tsecreção de opiáceos endógenos ^débi to sanguíneo aos rins ^débi to sanguíneo ao sistema gastrointestinal 4-débito sanguíneo à pele tr isco de hipertensão tr isco de formação de trombos tr isco de angina de peito em pessoas susceptíveis tr isco de arritmias tr isco de morte súbita por arritmia letal, isquemia do miocárdio,

f ibri laçâo e enfarte do miocárdio

Efeitos da activação do eixo endócrino fsub-eixo adreno-hipofisár/oj:

t p rodução de glicose (glicogénese) Exacerbação de irritação gástrica t p rodução de muco t l iber tação de ácidos gordos livres no sistema circulatório tsuscept ibi l idade a processos artereoescleróticos tsuscept ibi l idade a necroses miocárdicas não tromboembólicas Supressão dos mecanismos imunológicos Exacerbação do herpes simples t p rodução de corpos cetónicos Supressão do apeti te Sentimentos associados de depressão, desespero, abandono e perda de controlo

EVERLY, G. (1989) - A clinical guide to the treatment of the

human stress response. New York: Plenum Press, p 489.

Em suma, as respostas fisiológicas que se põem em marcha e os

órgãos implicados, dependem do tipo de estímulo stressor e da

valorização que a pessoa lhe atribui. O desenrolar de um transtorno

será tanto mais fácil, quanto maior for a frequência e duração da

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resposta de activação provocada pela situação que o sujeito considera

stressante. Deste modo, se a pessoa dispõe de estratégias adequadas

para enfrentar as situações de stress, rapidamente recuperará do seu

efeito pelo uso dessas estratégias, impedindo a manutenção de uma

activação excessiva e diminuindo a probabilidade de desenvolver

transtornos psicofisiológicos (Labrador, 1992).

1.1.4 - O STRESS / BURNOUT OCUPACIONAL

As manifestações e as fontes de stress laboral variam conforme as

diferentes profissões e respectivas situações de trabalho e também, de

acordo com as características individuais e com factores intra e

extraorganizacionais (Graça & Reis, 1993).

Diversas investigações têm vindo a procurar identificar as principais

fontes de stress organizacional.

A generalidade dos autores dividem essas fontes em dois grupos:

■ Factores intraorganizacionais - considerados intrínsecos ao

trabalho, papel ou lugar ocupado na organização,

desenvolvimento da carreira, relações no trabalho, estrutura e

clima organizacional.

■ Factores exteriores à organização - são exemplos, as dificuldades

financeiras, problemas familiares e outras situações de crise na

vida pessoal.

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Será no entanto importante referir, mais uma vez, que estes factores

serão modelados pelas características individuais dos sujeitos, o que

provoca diferenças na forma como os indivíduos lidam com o stress.

Relativamente aos factores intraorganizacionais e nomeadamente aos

intrínsecos às actividades desenvolvidas, Cooper & Marshall (1975)

Dejours (1993) e Moss (1989) referem uma relação entre a natureza

das tarefas realizadas e a saúde dos trabalhadores.

Assim, Cooper & Marshall (1975) relacionam a saúde mental dos

profissionais, com condições de trabalho consideradas desagradáveis,

com esforço físico elevado e com horários de trabalho excessivos.

Na perspectiva de Dejours (1993), o principal problema

psicopatológico na execução de tarefas nas linhas de montagem, e

actualmente, ao nível da informática, advém das pressões psíquicas

que a separação taylorista, entre trabalho de concepção e de

execução, ocasiona. "Confiscando-lhe a concepção e a iniciativa, a

organização científica do trabalho cria entre os trabalhadores uma

separação entre o corpo e o pensamento" (Dejours, 1993: 162).

Uma outra fonte de stress laboral encontra-se ligada ao papel da

pessoa dentro da organização, centrando-se a problemática

essencialmente em torno da ambiguidade e no conflito associado ao

papel desempenhado. O problema da ambiguidade coloca-se, quando

o indivíduo não tem informação adequada sobre as suas funções no

trabalho, quando não há clareza relativamente aos objectivos

associados ao papel a desempenhar, às expectativas dos colegas de

trabalho e responsabilidades do mesmo. O conflito associado ao

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papel surge quando um indivíduo que desempenha um papel

específico no trabalho é pressionado por exigências conflituosas ou

faz coisas que na verdade não quer, ou pensa que não fazem parte da

sua tarefa Moss (1989).

Um outro conjunto de agentes de stress está relacionado com o

desenvolvimento da carreira, o impacto de uma possível despromoção, a

incongruência de status e a ambição frustrada. A inconsistência de status

funciona como indutor de stress porque "o conflito gerado por

expectativas incompatíveis com a posição social ocupada, pode levar a

distúrbios psicológicos e frustrações, que por sua vez são elos da cadeia

Stress-Doença". (Cooper & Marshall, 1989; 161)

Relativamente à importância das relações de trabalho como agente

indutor de stress, tem sido valorizado por diversos autores,

nomeadamente, Argyris (1964) e Cooper (1983), sugerindo que as

boas relações entre os membros de um grupo de trabalho são um

factor central para a saúde individual e organizacional.

O modelo de gestão e o clima organizacional têm também sido

frequentemente associados ao conflito, à ambiguidade de papéis, à

falta de autonomia e de participação na tomada de decisão, ao

empobrecimento nas relações de trabalho e à falta de suporte social,

contribuindo desta forma para o stress ocupacional (Graça & Reis,

1993).

Para além dos factores intrínsecos a que se fez referência, existem

outros que são externos ao contexto organizacional, mas que também

podem ser responsáveis por afectarem o bem estar físico e mental dos

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trabalhadores, como por exemplo, os problemas familiares,

económicos entre outros.

As designadas profissões de ajuda, nas quais se situa a enfermagem,

são apontadas como profissões de maior risco físico e psicossocial.

Este assunto será alvo de uma abordagem mais exaustiva no capítulo

2, dedicado às particularidades da enfermagem.

1.1.5 - AVALIAÇÃO DO STRESS / BURNOUT

Constituem métodos de avaliação do stress, a observação, a

entrevista, o auto-registo ou o uso de instrumentos escritos sendo,

dentro destes, segundo Montenegro (1995), as escalas de avaliação,

os questionários e os inventários, os mais utilizados.

A observação, frequentemente utilizada para avaliações individuais,

consiste no registo e análise imparcial dos acontecimentos, de modo

a obter percepções objectivas do comportamento do indivíduo e

posteriormente, ser inferido o seu nível de stress (Pereira, 1991).

As escalas de avaliação, os questionários e os inventários são

instrumentos constituídos por um conjunto de itens que incluem

várias dimensões do funcionamento psicológico, quer

comportamentais, cognitivos e emocionais, quer globais e

específicos, podendo ser utilizados num primeiro momento (como

ponto de partida na identificação de problemas e na determinação da

gravidade dos comportamentos), durante e após a implementação de

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um programa de intervenção (como medida de resultados). Segundo

Montenegro (1995), têm como vantagens tratarem-se de instrumentos

estandardizados, serem de aplicação e cotação fácil e rápida e

permitirem a identificação de problemas facilmente omitidos por

outros métodos, nomeadamente pela observação directa ou pela

entrevista.

De entre as várias escalas utilizadas na avaliação do stress e do

burnout pode referir-se um primeiro grupo destinado a avaliar

factores ambientais desencadeadores de stress, de que se destaca a

LES (Life Experience Survey) de Sarason, Johnson & Siegel (1978),

constituída por 57 itens, que listam uma série de acontecimentos

vitais stressantes, e um segundo grupo de escalas, que avaliam as suas

consequências. Relativamente a este ultimo grupo é, de referir o MBI

(Maslach Burnout Inventory) de Maslach (1986), composto por vinte e

duas afirmações relacionadas com os sentimentos que o trabalho

provoca nas pessoas.

O MBI, resultou de várias investigações sobre o burnout realizadas

por Christine Maslach, da Universidade de Berkeley e Susan Jackson,

da Universidade de New Hampshire. Em Portugal foi aferido e

utilizado por Falcão (1990). Este mesmo inventário foi também

seleccionado pelo programa EURICUS II (European Research in

Intensive Care Units - Second Study - 1997) como um dos

instrumentos a utilizar numa investigação para avaliar o efeito da

harmonização e estandardização das tarefas de enfermagem, nas

unidades de cuidados intensivos da Europa Comunitária.

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1.2 - COPING

O ser humano vive numa sociedade em continua mudança, que lhe

exige uma constante adaptação. Por tal, utiliza um sem número de

estratégias, algumas das quais mais específicas para lidar com

determinadas situações. É destas últimas, também designadas de

estratégias ou mecanismos de coping, que nos iremos ocupar de

seguida.

1.2.1 - CONCEITO E CATEGORIAS DE COPING

"Formas de lidar com... ", ou "estratégias de confronto..." ou "esforços

de lidar com..."são algumas das expressões utilizadas na definição de

coping, o que nos remete para uma grande diversidade de definições

do termo.

Numa abordagem sistémica, Cardoso et. a/.O 988:252) encaram o

coping como "...mecanismos de auto-regulação do Sistema que lidam

com o Meio e a sua avaliação, com o Núcleo Significante, que os

determina tanto, ou talvez mais, que os próprios desafios ambientais,

e ainda, com as consequências emocionais na pessoa das exigências

da situação".

Nesta perspectiva, sempre que esses mecanismos falham, o sistema

destabiliza e surgem dados sintomáticos.

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

Outros autores, como iremos ver, embora usando uma linguagem

mais simples, apresentam conceitos de coping próximos do acima

citado.

Folkman (1984) diz que o coping é um conjunto de recursos

cognitivos e comportamentais, que o indivíduo utiliza para lidar com

situações indutoras de stress. Estes recursos podem ser de carácter

fisiológico, psicológico, social e material.

Para Pereira (1991), o coping refere-se às estratégias que o indivíduo

pensa empreender em situações que implicam modificações drásticas,

as quais por sua vez, têm repercussões desagradáveis como a

ansiedade, o desespero, a culpa, a vergonha ou o pesar.

Monat & Lazarus (1985: 101) a propósito de coping afirmam ser "...

um termo que se aplica às estratégias que uma pessoa utiliza para

lidar com as situações de dano, ameaça e desafio com que se depara

e para as quais não tem respostas de rotina preparadas".

Os mesmos autores, referem ainda, que embora as situações sejam

diferentes entre si, falar em dano corresponde ao confronto com

situações desagradáveis, tais como a doença, perda de

relacionamento significativo, perda de status, problemas e morte,

entre outros. Os mecanismos de coping, neste caso, são dirigidos ao

presente, com a função de reinterpretação do mal acontecido ou da

tolerância dos mesmos. A ameaça é uma antecipação do que ainda

não aconteceu, mas pode vir a suceder. Os factos que poderão

ocorrer, tal como no dano, são negativos. As estratégias de coping

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orientam-se para o futuro e têm em vista a neutralização dos efeitos

negativos das situações e a manutenção do estatuto do indivíduo. No

caso do desafio, a pessoa considera ser capaz de alcançar e/ou

ultrapassar as exigências que se lhe deparam, pelo que se sente

confiante e as avaliações que faz podem provocar emoções positivas

de satisfação. No entanto, pode ocorrer uma forma de auto-engano ou

distorção da realidade.

Pereira (1991), apresenta uma perspectiva consonante com a anterior,

no que se refere ao processo avaliativo que o indivíduo efectua. Este

considera a avaliação cognitiva como um processo através do qual a

pessoa analisa a situação, prevendo até que ponto ela é ou não

relevante para o seu equilíbrio. Este tipo de avaliação é constituído

por uma avaliação primária, uma secundária e reavaliação. A primária

corresponde ao momento em que o indivíduo avalia até que ponto a

relação entre ele e o meio é ou não significativa em termos do seu

bem estar, podendo ter consequências positivas, negativas

(apresentadas como ameaças, dano ou desafio) ou serem irrelevantes.

Num segundo momento, o indivíduo procura saber se pode fazer algo

para superar os prejuízos, ou melhorar as probabilidades de

benefício, estando, desta forma, a fazer uma avaliação secundária da

situação. A reavaliação, corresponde à fase de reflexão sobre a

avaliação primária e secundária. Ao fazê-la, o indivíduo vai verificar

novamente se a situação é ou não significativa para o seu bem estar,

correndo, no entanto, o risco de entrar em stress, se verificar não ter

aptidões para lidar com a situação.

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Algumas investigações, de que se destacam as de Stone, Hélder e

Schneider, citados por Pereira (1991), procuraram identificar

diferentes categorias de coping, tendo chegado a uma listagem de

sete categorias distintas: resolução de problemas; apoio social;

evitamento; redução de tensão; redefinição da situação; procura de

informação; e religiosidade.

Os referidos autores, explicitam cada uma destas categorias do

seguinte modo:

A resolução de problemas é, habitualmente a estratégia mais utilizada

e por esse motivo, a mais estudada e avaliada em termos

comportamentais e cognitivos. Sob o ponto de vista comportamental,

implica comportamentos que modificam e alteram as situações

indutoras de stress. Já o processo cognitivo, comporta formas do

indivíduo avaliar as situações e as tomadas de decisão necessárias

para a acção.

O apoio social, mais procurado pelas mulheres do que pelos homens

(Vaz Serra, 1988), pode ser visto como um tipo de coping ou como

um mediador desse mesmo processo. Quando o indivíduo sente

necessidade de expressar os seus sentimentos, esperando

compreensão e não conselhos, os esforços estão a ser orientados no

sentido do apoio emocional. As estratégias de coping são

direccionadas para o problema, sempre que o indivíduo procura

apoio e/ou conselho junto de familiares ou amigos.

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O evitamento, que pode ser de dois tipos, o comportamental e o

cognitivo, é uma estratégia também muito utilizada, sobretudo

quando se pretende evitar uma situação e as suas consequências. O

primeiro, diz respeito aos comportamentos de fuga ou evitamento

usados para fugir a uma situação difícil ou retirar o indivíduo dessa

mesma situação. O segundo, prende-se com técnicas para ocupar o

pensamento com algo diferente do problema.

A redução de tensão, consiste num conjunto de comportamentos, do

tipo beber e fumar mais do que o habitual, fazer exercício físico, etc.,

utilizados pelo indivíduo para reduzir o stress, uma vez que

promovem relaxamento imediato ou a curto prazo, não tendo para tal

que evitar as causas ou retirar-se da situação indutora de stress.

A redefinição da situação, consiste em fazer uma nova análise da

situação de stress, sobre diferentes perspectivas. Esta estratégia,

parece ser bastante eficaz e contribuir para a promoção da auto-

estima e diminuição do stress.

A procura de informação é uma estratégia que assenta basicamente na

pesquisa de informação específica para lidar e/ou resolver os

problemas.

Por último, a religiosidade é uma estratégia não dirigida para a

resolução do problema. Ela serve sobretudo para aliviar angústias e

tensões.

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1.2.2 - FUNÇÕES DO COPING

Os mecanismos de coping, são mediadores do impacto que as

sociedades exercem sobre os seus membros, podendo a sua acção

protectora, na perspectiva de Vaz Serra et. a/.(1988: 303), actuar de

três formas distintas:

■ "- pela eliminação ou modificação das condições que criam os

problemas;

■ - pelo controlo perceptivo do significado da experiência ou das

suas consequências e;

■ - pela manutenção, dento de limites razoáveis, das consequências

emocionais dos problemas. "

Vaz Serra et. a/.(1988), explicitam que estas três formas de protecção,

que o coping desempenha, podem ser explicadas do modo que a

seguir se apresenta:

- Para o indivíduo conseguir eliminar ou modificar as condições

que estão na origem dos problemas, tem que investir em acções de

busca de informação que lhe possibilitem saber o que fazer; tem que

ter auto-controlo quando lida com os acontecimentos e, por vezes,

tem que se confrontar com os factores determinantes dos problemas.

- O controlo perceptivo do significado da experiência ou das

suas consequências, ao qual correspondem os clássicos mecanismos

de defesa, pode ser exercido pela neutralização da ameaça ou pela

ignorância selectiva. A primeira consegue-se fazendo comparações

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

positivas do problema, do tipo "podia ser pior" ou "apesar de

tudo...correu bem" e, a segunda, "banalizando" o significado da

ocorrência.

- Por último, a manutenção, dentro de limites razoáveis, das

consequências emocionais dos problemas, é conseguida através de

mecanismos, pelos quais o indivíduo evita lidar com eles

frontalmente.

Os argumentos apresentados anteriormente, relativamente às funções

desempenhadas pelas estratégias de coping, estão em consonância

com as propostas por Girot (1993: 85) que refere, que a sua

finalidade é "...dissipar a relação perturbadora do indivíduo com o

meio ambiente, ou reduzir a emoção sentida ".

1.2.3 - APRENDIZAGEM DAS ESTRATÉGIAS DE COPING

Existe uma vasta gama de estratégias de coping que não nasce com o

indivíduo. Estas estratégias são resultantes de uma aprendizagem que

se deseja o mais eficaz e eficiente possível, de modo a evitar o

aparecimento de doença física e mental (Endler & Parker, 1999). Estes

autores, referem ainda, que esta aprendizagem está condicionada por

uma série de factores, nomeadamente a personalidade do indivíduo, a

sua idade, as influências culturais, o processo de socialização, a

história pessoal e as relações parentais.

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

Uma questão se coloca: como se faz a aprendizagem dos mecanismos

de coping?

Vaz Serra (1988), enuncia a possibilidade de ela se efectuar através

de processos de condicionamento clássico e operante.

Por outro lado, Bernard (1990), refere a importância dos processos de

modelagem na aprendizagem das estratégias de coping, em que o

indivíduo faz o que vê e como vê fazer. Salienta que o papel do

modelo é fundamental como padrão de referência na aprendizagem

das aptidões necessárias para lidar com uma determinada situação

problema.

As correntes cognitivistas, na perspectiva de Ferreira (1993),

partilham, no entanto, da convicção de que os processos cognitivos

que estão na base da aprendizagem das estratégias de coping, são

mediados por factores de natureza individual e ambiental,

salientando de entre os primeiros, os da personalidade e motivação

(auto-estima, crenças pessoais, auto-eficácia, traços de ansiedade,

etc.), e quanto aos ambientais, aponta como variáveis a considerar o

clima de trabalho, a competição social, as características e condições

de realização das tarefas, entre outros.

Mas, independentemente do modelo explicativo encontrado, é de

realçar a importância da aprendizagem eficaz de estratégias de

coping, pois elas "...permitem a construção de uma personalidade

resistente que manifesta controlo sobre os acontecimentos, um bom

compromisso em relação às várias áreas da sua vida e capaz de

considerar mudanças e desafios. " (Vaz Serra, 1988:304).

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1.2.4 - AVALIAÇÃO DO COPING

A avaliação das estratégias de coping, faz-se preferencialmente

através de escalas e inventários, permitindo estes últimos "...para

além de uma nota global, extrair vários índices também com valor

informativo."'(Vaz Serra, 1988: 308).

Folkman & Lazarus (1980), elaboraram uma lista de mecanismos de

coping, com 67 itens, que procurava representar uma gama completa

de mecanismos cognitivo-comportamentais, utilizados em situações

que envolviam a utilização deste tipo de estratégias.

Vaz Serra (1988), criou o Inventário de Resolução de Problemas

(IPR), único instrumento construído originalmente para avaliar as

estratégias de coping na população portuguesa. Trata-se de um

inventário constituído por 40 itens que registam as respostas

específicas do indivíduo a três tipos de ocorrências: ameaça, dano e

desafio. Após uma análise factorial para análise das componentes

principais por rotação varimax, o autor identificou nove factores

explicativos da variância do coping.

1.3 - STRESS E COPING

Folkman (1984) ao definir o conceito de coping, fá-lo associando-o

ao stress, referindo-se-lhe como um conjunto de estratégias cognitivas

e comportamentais, que o indivíduo utiliza para lidar com as

situações indutoras de stress.

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Como mecanismo mediador, o coping actua por acção directa sobre

as características ameaçadoras do meio, por controlo do seu

significado, por redução da sobrecarga emocional e pela manutenção

de um auto-conceito positivo (Pearlin & Schooler, 1998).

A este propósito, Vaz Serra et. ai, (1988 b), afirmam que a

importância deste tipo de estratégias advém do papel que ocupam em

relação à saúde mental do indivíduo.

A análise destas referências leva-nos a concluir que as estratégias de

coping têm uma acção protectora, pois são basicamente mecanismos

para lidar com o stress, que permitem ao indivíduo manter-se

saudável e ajustado.

A Organização Mundial de Saúde, considera na Classificação de

Transtornos Mentais e de Comportamento da CID - 10 (1993), a

Reacção a Stress Grave e Transtornos de Ajustamento, como situações

patológicas devidas a stress.

1.3.1 - O PAPEL DO COPING NO CONTROLO DAS SITUAÇÕES INDUTORAS DE STRESS

As situações indutoras de stress ao longo da vida são inúmeras e

muito diversificadas, o que leva o indivíduo ao uso de estratégias de

coping necessariamente diferentes e não uniformes, uma vez que se

pretende, em alguns casos anular a situação, e noutros alterar o seu

significado ou consequência (Pearlin & Schooler, 1998).

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A importância do coping decorre, segundo Lazarus et. ai.(1990), do

seu papel regulador orientado para a resolução de problemas, ou

seja, pela modificação da relação indivíduo/situação, através de

esforços para lidar com os agentes de stress, pela alteração do

comportamento do indivíduo e/ou mudando as condições ambientais.

Este processo poderá ser ainda reforçado pela função que o coping

desempenha a nível emocional, isto é, pela regulação do estado

emocional do indivíduo, através de esforços que possibilitam à

pessoa pensar e agir, utilizando por exemplo, estratégias de

valorização de aspectos positivos da sua personalidade ou da

situação, ou evitando o agente de stress (Compas, 1998).

Assim, os mecanismos de coping são considerados mediadores

relevantes que se interpõem entre as exigências psicológicas e sociais

que se estabelecem e as consequências que podem ter para o

indivíduo.

Tem sido constatado em diversas investigações (Endler & Parker,

1999; Fisher, 1986; Lazarus et. <3/.1990) que os padrões de tolerância

ao stress são variáveis entre as pessoas, observando-se que alguns

indivíduos toleram níveis altos de stress sem adoecerem e outros não.

Nas explicações propostas pelos autores para justificar estas

diferenças, têm sido apontadas com particular realce as formas

utilizadas pelas pessoas para lidarem com os problemas.

Tendo em conta que as estratégias de coping são recursos adaptativos

não automáticos, mobilizáveis pelo indivíduo para fazer face aos

agentes agressores existentes (Compas, 1998), e que o stress surge

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C A P Í T U L O 1 - STRESS E M E C A N I S M O S DE C O P I N G

quando "as exigências excedem os recursos do sistema, ou quando

não existem recursos adaptativos automáticos ou prontamente

disponíveis para fazer face ás exigências" (Lazarus et. a/.1990), o

coping apresenta-se como um dos diversos mecanismos para controlar

as situações geradoras de stress, ou minorar as consequências

decorrentes dessas situações.

Sendo os enfermeiros um grupo profissional que apresenta

particularidades decorrentes das suas práticas profissionais e dos

contextos em que trabalha, faremos de seguida uma abordagem que

permita conhecer as características da sua actividade profissional, de

modo a enquadrar a problemática do stress e do coping nessa

realidade específica.

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CAPITULO 2

STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS

ENFERMEIROS NO HOSPITAL

2.1 - O CONTEXTO HOSPITALAR - SUAS PARTICULARIDADES

As organizações de saúde podem ser definidas como unidades

estruturais e funcionais que asseguram a prestação de serviços de

saúde a indivíduos, famílias, grupos e sociedade, diferindo entre si de

acordo com a finalidade dos serviços que prestam, do t ipo de

unidades que dispõem e da população a que se destinam. Desta rede

organizacional fazem parte os hospitais, que são instituições

prestadoras de cuidados e tratamentos médicos e cirúrgicos a

indivíduos doentes. Estes, integram componentes distintas que têm

funções definidas, a que habitualmente se dá o nome de

departamento ou serviço, como por exemplo medicina interna,

cirurgia, ortopedia ou serviço de urgência (Bolander, 1998).

Uma vez que a presente investigação se vai centrar nos enfermeiros

que prestam cuidados em serviços de cirurgia e de urgência,

procuraremos restringir esta abordagem aos referidos contextos.

Assim, os serviços de cirurgia dirigem a sua actividade para uma área

particular, a do doente do foro cirúrgico, nomeadamente no período

pré-operatório e pós-operatório. No período que antecede a cirurgia

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

o enfermeiro orienta a sua intervenção com vista à preparação do

doente para o acto cirúrgico, que passa pelo desenvolvimento de

intervenções técnicas dirigidas aos aspectos físicos, mas também ao

apoio emocional. O confronto com uma cirurgia gera no doente e na

família preocupação e medo relacionados com a eventual dor, perda

do controlo, desfiguramento e morte. Após o acto cirúrgico o doente

regressa à unidade de internamento, onde lhe vai ser assegurada a

continuidade de cuidados de forma a recuperar tão rapidamente

quanto possível. Apesar das demoras médias de internamento serem

relativamente reduzidas, a dependência do doente é grande e a

relação estabelecida com o enfermeiro é de muita proximidade. A

prestação de cuidados de enfermagem pauta-se, de um modo geral,

por intervenções planeadas e protocoladas, onde a possibilidade de

ocorrência de situações imprevistas é reduzida, embora possível. As

situações que implicam intervenções de emergência são

habitualmente encaminhadas para serviços mais diferenciados nestas

matérias, como é o caso das unidades de cuidados intensivos e

serviço de urgência. (Shoemaker et al., 1992).

Relativamente ao serviço de urgência, é comumente comparado à

porta de entrada do hospital nas situações de doença súbita ou

acidente. Trata-se de uma unidade em que, regra geral, os doentes

que a ele recorrem vivenciam sentimentos de angústia pela instalação

súbita de um quadro imprevisto de dependência e incapacidade que

envolve um sem número de preocupações, implicando a necessidade

de solicitar alguém que possa tirar dúvidas, receios e que não o

abandone. O enfermeiro é muito frequentemente essa figura a quem

os pedidos, as perguntas e as mais diversas solicitações são

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

formuladas, ultrapassando, por vezes, o seu limiar de resposta eficaz,

atempada e tranquila. Acresce ainda que a procura dos serviços de

urgência é elevada, para colmatar a dificuldade de resposta dos

cuidados de saúde primários, o que acarreta um grande volume de

pedidos, aumentando a conflitualidade, as dificuldades de triagem e a

quantidade de trabalho. A necessidade de estabelecer prioridades de

intervenção, a imprevisibilidade causada pela grande variedade e

gravidade de situações com que se depara, assim como o confronto

com a dor física, a angústia intensa, doenças fatais, acidentes,

incapacidades e morte, são factores que predispõem os enfermeiros a

uma maior vulnerabilidade ao stress (Camacho, 1997).

Retomando o tema central deste trabalho, e após uma breve

exposição sobre as particularidades dos serviços de urgência e

serviços de cirurgia, abordaremos de seguida a problemática do stress

ocupacional nestes contextos.

2.2 - STRESS OCUPACIONAL NOS ENFERMEIROS

A Enfermagem é uma profissão geralmente caracterizada por altos

ideais de ajuda, onde o contacto com a doença, o sofrimento e a

morte, são uma constante. Por outro lado, o trabalho num ambiente

hospitalar está sujeito a uma multiplicidade de riscos, de que

resultam cargas físicas e mentais, que quando ultrapassam

determinados limites, podem tornar-se nocivas para o enfermeiro,

para os utentes e para a própria organização (Blach & Matassarin-

Jacobs, 1996).

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

Graça & Reis (1993) referem alguns estudos feitos nesta área, nos

quais se aponta, que no caso das organizações de saúde, o stress dos

seus profissionais se manifesta por atitudes e comportamentos

negativos, baixa produtividade, absentismo, mortes prematuras

(incluindo o suicídio), maior sinistralidade, maior mobilidade, maior

número de erros, baixa qualidade dos cuidados. A acrescentar a este

quadro, referem ainda o "efeito da bola de neve", ou seja, a

repercussão dos problemas de trabalho na vida familiar e social.

Vives (1994) agrupa as fontes potenciais de stress em Enfermagem em

cinco tipos:

- Factores ambientais (relacionados directamente com o trabalho)

■Condições físicas da unidade ou serviço

■Estado dos pacientes e t ipo de cuidados

■Perigos físicos (contágio, produtos medicamentosos,...)

■Exigência de formação e especializações

■Escassos recursos materiais disponíveis

- Factores relacionais (relações interpessoais e inter-equipa)

■Más relações com os superiores, subordinados e colegas

■Receber ordens contraditórias

■Falta de confiança e restrição da autonomia pessoal

■Falta de informação médica

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

- Factores organizacionais e burocráticos (inclui os estilos de

organização do trabalho próprio de cada unidade)

■Má organização na distribuição de tarefas

■Excessiva burocracia

■Horários sobrecarregados

■Aumento da responsabilidade administrativa

■Falta de recompensas administrativas

- Factores profissionais inerentes ao desempenho de papéis (engloba

as exigências ligadas ao desempenho de papéis inerentes á profissão)

■Percepções de défices ao nível da formação profissional

■Medo da morte

■Contacto com utentes agressivos, exigentes e pouco colaboradores

■Presença constante da dor e morte dos outros

■Medo de errar

■Tarefas ingratas, pesadas e repetitivas

■Papéis ambíguos, conflito

■Promoção excessiva ou insuficiente

■Ambições pessoais frustradas

■ Baixos salários

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

- Factores relacionados com precisão e exigência (inclui todas as

causas que submetem o enfermeiro a uma tensão constante por ter

que realizar acções contrárias ás suas próprias expectativas)

■Escassez de pessoal

■Solicitações para estar em vários sítios ao mesmo tempo

■Imposição de prazos estabelecidos por outras pessoas

■Pouco tempo para realizar as tarefas que dão mais satisfação

■Cumprir ordens dadas por duas ou mais pessoas simultaneamente

■Necessidades e exigências dos familiares

Uma outra dimensão que actualmente se encontra referenciada com

frequência, relaciona-se com os custos económicos que o stress

ocupacional origina. Para além dos casos mais graves de doença e

incapacidade, os custos do stress têm que ser avaliados tomando em

consideração o absentismo, os erros provocados pelos trabalhadores e

especialmente, se eles podem colocar em perigo vidas humanas. Os

custos na qualidade de vida das pessoas, associado com os encargos

económicos decorrentes do stress laboral, tornaram-se num grave

problema na gestão estratégica ao nível organizacional, originando

um importante problema social (Ross, 1994).

Ainda segundo Ross (1994), o estado de burnout nos trabalhadores

atinge elevados custos de natureza individual e organizacional, pelo

que se exige um investimento pessoal e das organizações, conducente

à prevenção, ao diagnóstico diferencial precoce e ao tratamento

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

adequado, para que as situações não se arrastem e cheguem a

situações irreversíveis.

O quadro anteriormente descrito aplica-se à generalidade dos

enfermeiros, incluindo os que prestam cuidados em serviços de

cirurgia e serviços de urgência, no entanto, estes últimos parecem

particularmente expostos, não só a um maior número de agentes

indutores de stress, como a uma maior intensidade desses agentes

(Sharp, 1997).

Diversos estudos realizados (Estean & Ballesteres, 1993; Rebelo,

1988) assumem que os serviços com doentes de alto risco, rodeados

de equipamentos sofisticados, que implicam a tomada de decisões

eficazes, num curto espaço de tempo, e nem sempre fáceis são, de

um modo geral, geradores de grande tensão física e emocional.

2.3 - AS ESTRATÉGIAS DE COPING NOS ENFERMEIROS

Perante um problema ou situação geradora de tensão, nem todos os

indivíduos utilizam as mesmas estratégias de coping para as

resolverem. Lazarus & Folkman (1984), referem dois grupos de

estratégias para lidar com as situações problema: um primeiro

centrado no problema, que os autores denominam por "Problem-

Focused Coping"; e um segundo, centrado nas emoções "Emotions-

Focused Coping".

Continuando a referenciar Lazarus & Folkman (1984), o primeiro

grupo de estratégias de coping, assentes na premissa - centrar-se no

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

problema - implica uma procura de soluções, uma reformulação do

mesmo e uma avaliação dos prós e contras, de um determinado curso

de acção, de modo a minimizar o problema e a adaptar-se

continuamente consoante as contingências. Bil l ing & Moos (1994),

desenvolveram uma investigação em que constataram que as pessoas

que utilizam este tipo de estratégias possuem maior auto-controlo das

situações e têm índices menos elevados de depressão.

Relativamente às estratégias de coping centradas nas emoções,

Lazarus & Folkman (1984), consideram que ao recorrerem a este tipo

de mecanismos os indivíduos procuram libertar-se das emoções

negativas que resultam de acontecimentos stressantes, que geralmente

são incontroláveis e se centram em aspectos emocionais de tipo

perda, frustração, insucesso, evitando reagir ao problema.

Estas estratégias foram, também, identificadas por Mclntyre (1994)

como sendo utilizadas pelos profissionais de saúde portugueses,

nomeadamente, pelos enfermeiros.

A Classificação Internacional para a Prática da Enfermagem (CIPE)

refere o coping como sendo "...um fenómeno de enfermagem que

pertence à adaptação individual com as seguintes características

especificas: acções de resolução de problemas individuais para fazer

face às suas necessidades e aos seus papeis." (Mortensen & Nielsen,

1996: 30), considerando-o como uma acção interdependente que o

enfermeiro pode utilizar na sua prática como profissional.

Esta última abordagem vem colocar em evidência a importância das

estratégias de coping, não só numa perspectiva meramente de

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

adaptação individual do enfermeiro como pessoa, mas também, como

instrumento de intervenção profissional na prestação de cuidados de

enfermagem.

Neste contexto, as organizações escolares poderão ter um papel de

relevo ao nível da promoção e do desenvolvimento de competências

pessoais e profissionais dos enfermeiros, que poderá passar, quer

pelos aspectos que se prendem com a utilização adequada das

estratégias de coping, quer pela gestão das questões ligadas ao stress

ocupacional.

2.4 - O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE FORMAÇÃO AO NÍVEL DESTA PROBLEMÁTICA

Nos últimos anos temos assistido ao debate sobre as questões em

torno da qualidade dos cuidados de saúde, debate esse que envolve a

necessidade de coordenação de uma multiplicidade de factores.

As instituições formadoras, como intervenientes nesta problemática,

colocam-se como sistema de apoio, numa visão integrada de

desenvolvimento de recursos humanos e da saúde, devendo por isso

orientar-se por uma lógica social aberta aos modos de vida das

populações, às transformações das relações entre os serviços e aos

profissionais que forma.

A articulação da formação com a problemática da saúde e da

prestação de cuidados, passa pela promoção nas Escolas Superiores

de Enfermagem de uma cultura prospectiva, que potencialize uma

relação personalizada com os serviços de saúde e a comunidade.

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

A solidez pessoal e profissional dos alunos de Enfermagem,

construída no apelo aos diversos saberes, exige uma "escola

humanizada, aberta à renovação, mais competente, mais exigente e

mais interactiva com o contexto social" (Correia, 1994).

A escola transforma-se, assim, num espaço social de reflexão,

investigação e saber criativo, capaz de mobilizar outros espaços no

desenvolvimento das competências dos formandos.

Potenciar a qualidade da formação é, no fundo, saber fazer a

articulação da formação com os contextos de trabalho.

A formação não pode ser reduzida a uma lógica de mera resposta á

preparação para as competências previamente definidas, mas terá de

se preocupar também com algumas determinantes sócio-técnico-

organizacionais do campo profissional, nomeadamente, com os

aspectos relacionados com o stress laboral.

A escolha de profissões, como a Enfermagem e a Medicina, é na

maioria das vezes acompanhada de altos ideais de ajuda ao próximo,

o que é reforçado pelo ensino ministrado nas escolas, criando altas

expectativas nos futuros profissionais (Pines e Aronson, 1981).

As pessoas partem de crenças e valores de que ajudar os outros é

importante e necessário, sendo simultaneamente gratificante. Serão

apreciadas pelo trabalho que desenvolvem, obterão admiração e

reconhecimento por parte da sociedade, mas nem sempre os reforços

procurados se materializam na prática do dia-a-dia. O contacto com a

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CAPÍTULO 2 - STRESS OCUPACIONAL E MECANISMOS DE COPING DOS ENFERMEIROS NO HOSPITAL

doença, o sofrimento e a morte criam nos profissionais angústias,

incertezas e ambivalências.

Se a pessoa persistir em não baixar os seus ideais e tentar aproximar

o real do imaginário, não criando mecanismos de defesa, corre um

sério risco de ser um candidato ao burnout.

Neste sentido, torna-se importante que as Escolas Superiores de

Enfermagem sejam capazes de organizar a formação em torno de um

modelo escolar preocupado com a produção de competências

cumulativas, transferíveis para os postos de trabalho, nomeadamente,

que lhes permitam assumir comportamentos ajustados face aos

agentes indutores de stress laboral, mobilizando de modo eficiente

recursos defensivos para as situações em que esse confronto é

inevitável.

Assim, tomando em consideração a relevância dos argumentos

teóricos apresentada nos capítulos precedentes, a reduzida

investigação existente em Portugal sobre o stress laboral e a relação

desta problemática com as estratégias de coping, torna oportuno

desenvolver um trabalho de campo nesta área.

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PARTE II - ESTUDO EMPÍRICO

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CAPITULO 3

FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES

METODOLÓGICAS

3.1 - CONCEPTUALIZAÇÃO E OBJECTIVOS DO ESTUDO

Da contextualização teórica efectuada, foi possível evidenciar que a

noção de stress ocupacional tem vindo a ser a problemática alvo de

alguma atenção nas últimas décadas, decorrente da sua intima relação

com a saúde e com questões organizacionais, como por exemplo, a

diminuição da produtividade, os erros de desempenho, entre outros.

Os estudos efectuados no sector da saúde sobre stress ocupacional

revelaram que as profissões ligadas aos cuidados de saúde são

especialmente stressantes.

A enfermagem tem sido descrita (Vives, 1994) como sendo uma

profissão com elevado nível de stress, devido à especificidade das

suas tarefas e das pessoas que cuida, mas também, devido às

dificuldades na delimitação da autonomia profissional, e à

indefinição de algumas tarefas. A acrescer a estes aspectos têm vindo

a ser valorizadas, as exigências e responsabilidades de natureza

social e legal, decorrentes do contacto social inerente aos

profissionais de saúde (Carcia,1997).

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

O síndrome de burnout tem sido identificado em diversos contextos

de trabalho dos enfermeiros (Garcia,1997; Rebelo, 1988) e descrito

como uma reacção adversa extrema ao stress ocupacional, com

manifestações de tipo psicofisiológico e comportamental.

Relativamente à especificidade da enfermagem em contextos

hospitalares, diversos estudos realizados (Aider, 1999; Estean &

Ballesteres, 1993; Rebelo, 1988) identificaram elevados níveis de

stress ocupacional.

Por outro lado, dado que a importância das estratégias de coping se

faz sentir na vida quotidiana das pessoas, possivelmente, também

interfere, de forma acrescida, ao nível do desempenho nas situações

geradoras de stress dos enfermeiros prestadores de cuidados a

doentes em situação de internamento e em situação de urgência.

Tal como já foi enunciado, Folkman (1984), ao definir o conceito de

coping, fá-lo associando-o ao stress, referindo-se-lhe como sendo um

conjunto de estratégias cognitivas e comportamentais, que o

indivíduo utiliza para lidar com as situações indutoras de stress.

Mas, independentemente do modelo explicativo encontrado, é de

realçar a importância da aprendizagem eficaz de estratégias de

coping, pois elas "...permitem a construção de uma personalidade

resistente que manifesta controlo sobre os acontecimentos, um bom

compromisso em relação às várias áreas da sua vida e capaz de

considerar mudanças e desafios."(Vaz Serra, 1 988b).

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

O coping actua por acção directa sobre as características

ameaçadoras do meio, por controlo do seu significado, por redução

da sobrecarga emocional e pela manutenção de um auto-conceito

positivo (Pearlin & Schooler, 1998).

O desempenho decorrente de um dado papel profissional, avaliado e

interpretado pelo próprio indivíduo, pode levar a satisfação ou

insatisfação pessoal, dando lugar a emoções agradáveis ou

desagradáveis. Se o resultado decorrente da utilização de estratégias

de adaptação for agradável, pode estimular o investimento em

comportamentos e objectivos similares. Pelo contrário, se for

desagradável, pode acarretar uma inibição da acção neste domínio.

Se aplicarmos estes princípios básicos ao comportamento de todos os

dias, somos levados a concluir que a maneira como uma pessoa se

percepciona e se avalia, pode ditar a forma como se relaciona com os

outros, as tarefas que experimenta, as tensões emocionais que

vivência e o modo como consequentemente vai desenvolver as suas

competências.

Assim, o objectivo desta investigação é contribuir para um melhor

conhecimento sobre a relação entre o stress ocupacional e os

mecanismos de coping nos enfermeiros que desempenham a sua

actividade em contexto hospitalar, cuidando de doentes adultos em

situação de urgência e em internamento de cirurgia, por se tratar de

dois serviços com características diferenciadas quer ao nível da

dinâmica organizacional, quer ao nível do tipo de doentes que

atende. Os serviços de urgência são por natureza unidades em que a

possibilidade de prever e planear as intervenções estão imbuídas de

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

um carácter de imprevisibilidade e muitas vezes de emergência. Por

outro lado, nos serviços de internamento, nomeadamente nas

unidades de cirurgia, os cuidados são, de uma maneira geral,

programados e continuados, havendo no entanto a possibilidade de

ocorrências de incidentes, embora com uma probabilidade

substancialmente mais reduzida.

Pretende-se investigar até que ponto estas estratégias adaptativas de

resolução de problemas (coping) que o enfermeiro possui, estão ou

não associadas ao nível de stress que experimenta, pelo que é nossa

intenção desenvolver um estudo de tipo descritivo de modo a

compreender a dinâmica destes fenómenos nos enfermeiros que

prestam cuidados nesses serviços.

3.2 - HIPÓTESES

As hipóteses desta investigação, cuja fundamentação tem por base o

enquadramento teórico geral apresentado na primeira parte deste

trabalho, são as seguintes:

■ Hipótese 1(H1): Os enfermeiros prestadores de cuidados

hospitalares em serviços de cirurgia e em serviços de urgência

estarão sujeitos a elevados níveis de stress ocupacional - burnout.

Diversos estudos realizados (Aider, 1999; Estean & Ballesteres, 1993;

Rebelo, 1988) assumem que os hospitais são, geralmente, instituições

caracterizadas por uma atmosfera geradora de grande tensão física e

emocional, decorrente das particularidades dos doentes, da utilização

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

de equipamentos sofisticados e da prestação de cuidados

diferenciados que implicam a tomada de decisões eficazes, num curto

espaço de tempo, e nem sempre fáceis.

■ Hipótese 2(H2): O stress dos enfermeiros prestadores de cuidados

hospitalares em serviços de cirurgia e em serviços de urgência é

tanto maior quanto mais baixo for o coping.

Folkman (1984), refere que o coping é um conjunto de recursos

cognitivos e comportamentais, que o indivíduo utiliza para lidar com

situações indutoras de stress. Os estudos realizados por Mclntyre

(1994) apresentam evidências empíricas que apoiam a estreita relação

da utilização das estratégias de coping pelos profissionais de saúde

portugueses, com o controlo das situações stressantes.

■ Hipótese 3(H3): A relação entre stress e coping dos enfermeiros

dos serviços de cirurgia e serviços de urgência diferenciam-se

entre si.

O trabalho num ambiente hospitalar está sujeito a uma multiplicidade

de riscos, de que resultam cargas físicas e mentais, que quando

ultrapassam determinados limites, podem tornar-se nocivas para o

enfermeiro (Blach & Matassarin-Jacobs, 1996). Estes autores

identificaram diversos factores ambientais geradores de stress, de

entre os quais salientam, os relacionados directamente com as

condições físicas da unidade ou serviço, o estado dos pacientes e o

tipo de cuidados prestados.

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CAPITULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

■ ■ Hipótese 4 (H4): A relação entre o stress e as dimensões do

coping dos enfermeiros varia conforme as dimensões

consideradas.

Tem sido constatado em diversas investigações (Endler & Parker,

1999; Fisher, 1986; Lazarus et. a/.1990) que os padrões de tolerância

ao stress são variáveis entre as pessoas, observando-se que os

indivíduos apresentam diferentes modos de adaptação às situações

geradoras de tensão. De entre explicações propostas pelos autores

para justificar estas diferenças, têm sido apontadas com particular

realce, a diversidade de formas utilizadas pelas pessoas para lidarem

com os problemas. Folkman (1984) considera que essas formas, que

denominou de coping, se materializam num conjunto diversificado de

dimensões que podem ser de carácter fisiológico, psicológico, social

e material.

■ Hipótese 5(H5): O coping dos enfermeiros prestadores de

cuidados hospitalares aumenta com a idade.

Endler & Parker (1999), referem a existência de uma vasta gama de

estratégias de coping que não nascem com o indivíduo e que são

resultantes de uma aprendizagem, que está condicionada por uma

série de factores, de entre os quais é referenciada a idade, não como

uma variável exclusivamente decorrente do passar dos anos, mas pelo

numero de experiências que proporciona ao sujeito.

■ Hipótese 6(H6) :0 coping dos enfermeiros prestadores de cuidados

hospitalares diferencia-se em função do género.

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

As "...mulheres tendem a ser significativamente diferentes dos

homens em relação às estratégias de coping utilizadas" (Vaz Serra,

1988). O autor explicita que as mulheres utilizam mais apoios sociais

do que os homens e tendem a referir sentirem-se "...com mais

dificuldade de controlo dos problemas".

3.3 - SELECÇÃO DA POPULAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA

A população alvo deste estudo são os enfermeiros prestadores de

cuidados de enfermagem a doentes adultos, em serviços de

internamento de cirurgia e de urgência, de dois Hospitais Públicos da

Área Metropolitana do Porto. Foram seleccionados quatro serviços de

cirurgia e dois de urgência com a intenção de equilibrar na amostra o

peso das duas populações. A população total é de 235 sujeitos, dos

quais foi colhida uma amostra de 148 enfermeiros.

3.4 - VARIÃVEIS

Tomando em consideração os objectivos do estudo, bem como as

hipóteses experimentais formuladas, foi definido para as variáveis H2,

H3 e H4 como variável dependente o stress, e como variável

independente ou explicativa a variável coping. Para as hipóteses H5 e

H6 foi seleccionada como variável dependente o coping e como

variáveis independentes a idade e o género, respectivamente.

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

Tendo em vista apenas a caracterização da amostra, serão ainda

consideradas as variáveis: estado civil e categoria profissional.

3.5 - INSTRUMENTOS

No estudo foram utilizados três instrumentos distintos: um

questionário de caracterização demográfica por nós construído, o

Maslach Burnout Inventory e o Inventário de Resolução de Problemas

de A. Vaz Serra. Nos sub-capítulos que se seguem serão apresentadas

as razões para a sua utilização, bem como a sua descrição.

3.5.1 -QUESTIONÁRIO DEMOGRÁFICO

A caracterização demográfica foi efectuada utilizando uma ficha de

registo de dados por nós elaborada (Anexo I). Foi concebida para

colher elementos com vista à caracterização da amostra,

relativamente à idade, género, estado civil e categoria profissional.

3.5.2 - MASLACH BURNOUT INVENTORY

A recolha dos dados relativos ao stress foi feita por recurso ao

Maslach Burnout Inventory (Anexo II). A opção por um Inventário

decorreu do facto de, tal como já foi referido no sub-capítulo 1.1.5,

ser um dos tipos de instrumentos mais utilizados para estudar este

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

género de variável (Montenegro, 1995). Por outro lado, pretendíamos

avaliar as situações de stress ocupacional nas suas manifestações mais

exacerbadas - burnout.

O Maslach Burnout Inventory foi construído, por Christine Maslach

na Universidade de Berkeley, com a finalidade de avaliar o burnout

nos profissionais de saúde (Maslach,1986). Tem vindo a ser util izado

em diversas investigações, para avaliação do burnout, em contextos

laborais, tendo inclusive sido seleccionado pelos responsáveis do

programa EURICUS II (European Research in Intensive Care Units -

Second Study) como um dos instrumentos a utilizar numa

investigação, que se encontra em fase final, para avaliar o efeito da

harmonização e estandardização das tarefas de enfermagem nas

unidades de cuidados intensivos da Europa Comunitária. Em Portugal,

o MBI foi aferido e utilizado por Falcão, (1990) num estudo realizado

com de profissionais de saúde.

O MBI è uma escala composta por 22 afirmações relacionadas com os

sentimentos que o trabalho provoca nas pessoas, que permite fazer a

identificação dos níveis de burnout nas três dimensões que o

compõem: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DP) e

Dificuldade de Realização Pessoal (RP), (Maslach, 1986). A autora

descreve as características de cada uma das três dimensões do

seguinte modo:

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

EXAUSTÃO EMOCIONAL (EE)

■ Fadiga provocada por uma progressiva perda de energia.

■ Impaciência e irritabilidade. À medida que a própria eficiência

diminui aumenta a impaciência e a irritabilidade para com as

pessoas que o rodeiam.

■ Queixas psicossomáticas como cefaleias, dores musculares e

gastralgias.

■ Depressão.

DESPERSONALIZAÇÃO (DP)

■ Distanciamento: manifestação de expressões do tipo "não me

importo, quero lá saber".

■ Aborrecimento e cinismo.

■ Suspeita de não ser apreciado: diminuição da energia e

aumento do esforço que não é acompanhado dos resultados

desejados.

■ Sentimento de desconfiança: tendência a culpar outros pelos seus

insucessos (os colaboradores, o chefe, colegas, família, ...).

DIFICULDADE DE REALIZAÇÃO PESSOAL (RP)

■ Desorientação: à medida que o burnout avança, o indivíduo

exprime uma crescente separação dos seus interesses.

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

■ Falta de concentração: sentimento de limitação das capacidades

cognitivas manifestado por esquecimentos (do que ia dizer, nomes,

datas,...).

O MBI é uma escala de tipo Likert, formado por 22 questões

diferentes, tendo cada uma a possibilidade de 7 hipóteses de

resposta: nunca; poucas vezes (ou menos de uma por ano); uma vez

por mês (ou menos); poucas vezes por mês; uma vez por semana;

poucas vezes por semana; todos os dias. A cada resposta é atribuída

uma pontuação de zero a seis, sendo que, de um modo geral, o MBI

está concebido de forma a que as pontuações vão subindo da

esquerda para a direita, embora nas questões elaboradas pela positiva

as pontuações sejam revertidas. Cada uma das dimensões resulta da

soma das pontuações de diversos itens cujo elenco se encontra no

Anexo IV.

O burnout foi conceptualizado por Maslach (1986), como uma

variável contínua ordenada em três graus — alto, moderado e baixo,

tendo Falcão (1990), determinado um quadro de referência para a

população portuguesa relativamente a cada uma das subescalas. Os

valores que propõe para cada uma delas são os seguintes:

EXAUSTÃO EMOCIONAL

- Valor alto >27

Valor moderado 17 a 26

Valor baixo 0 a 16

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

AUTO-DESVALORIZAÇÃO

- Valor alto >13

Valor moderado 7 a 12

Valor baixo 0 a 6

DIFICULDADE DE REALIZAÇÃO PESSOAL

- Valor alto >39

Valor moderado 33 a 38

Valor baixo 0 a 32

Para além da obtenção de scores parcelares por subescalas, o MBI

permite também determinar uma pontuação total de burnout, o que

viabiliza a realização de estudos correlacionais. Para calcular a

pontuação global, torna-se necessário inverter previamente os valores

relativos à subescala "Dificuldade de Realização Pessoal", em virtude

do significado da valorização dos itens ser oposto aos das restantes.

O Inventário tem uma pontuação mínima de zero pontos e um valor

máximo de 132 pontos. A pontuação mais alta exprime um maior

burnout.

3.5.3 - INVENTÁRIO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Os dados referentes ao coping foram colhidos utilizando o Inventário

de Resolução de Problemas (IRP), de Adriano Vaz Serra. A escolha

deste inventário deveu-se ao facto de, na perspectiva de Vaz Serra

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

(1998)ser um instrumento desenvolvido especificamente para avaliar

os mecanismos cognitivo-comportamentais do coping habitualmente

usados em situações indutoras de tensão.

O referido Inventário (Anexo III) foi construído, aferido e validado

para a população portuguesa em 1988 pelo Professor Doutor Adriano

Vaz Serra - Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de

Coimbra, tendo vindo a ser um instrumento utilizado em Portugal,

em diversas áreas de investigação, para avaliação do coping.

O autor refere ter optado pela designação de Inventário de Resolução

de Problemas pelos seguintes motivos: "...um inventário, porque para

além de uma nota global, permite extrair vários índices que trazem

consigo igualmente informação sobre a pessoa (...), de resolução de

problemas porque o que se pretende é saber como a pessoa lida com

os diferentes problemas apresentados (Vaz Serra, 1988:308).

É uma escala de tipo Likert, formada por 40 questões diferentes,

tendo cada uma a possibilidade de 5 hipóteses de resposta: não

concordo; concordo pouco; concordo moderadamente; concordo

muito; concordo muitíssimo. A cada resposta é atribuída uma

pontuação de um a cinco, sendo que, de um modo geral, o Inventário

está concebido de forma a que as pontuações vão subindo da

esquerda para a direita, embora nas questões elaboradas pela

negativa as pontuações sejam revertidas. É pedido ao indivíduo que

indique o seu comportamento usual, e não o que possa resultar do

seu estado de espírito momentâneo, pelo risco de este não traduzir as

estratégias de coping normalmente utilizadas, nomeadamente pelo

facto de estar a ser inquirido.

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

O Inventário tem uma pontuação mínima de quarenta pontos e um

valor máximo de duzentos pontos. À medida que a pontuação sobe

melhoram as estratégias de coping do indivíduo.

Um aspecto importante a salientar, e continuando a apresentar a

perspectiva do autor (Vaz Serra, 1988), é o facto de este Inventário,

para além de atribuir uma quantificação global ao auto-conceito,

permitir extrair outros índices, correspondentes aos diversos factores

seus constituintes.

Vaz Serra (1988), após uma análise factorial seguida de rotação

varimax, identificou nove factores correspondentes a diferentes

dimensões, denominados pelo autor do seguinte modo:

■ Factor 1 - Pedido de Ajuda

■ Factor 2 - Confronto e Resolução Activa dos Problemas

■ Factor 3 - Abandono Passivo Perante a Situação

■ Factor 4 - Controlo Interno/ Externo dos Problemas

■ Factor 5 - Estratégias de Controlo das Emoções

■ Factor 6 - Atitude Activa de Não Interferência da Vida Quotidiana

Pelas Ocorrências

■ Factor 7 - Agressividade Internalizada/ Externalizada

■ Factor 8 - Auto Responsabilização e Medo das Consequências

■ Factor 9 - Confronto com o Problema e Planificação da Estratégia

A discriminação dos itens que constituem cada um dos factores

encontra-se no Anexo V.

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CAPÍTULO 3 - FINALIDADE DO ESTUDO E CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

3.6 - PROCEDIMENTOS

Tal como foi referido, o estudo incidiu sobre os enfermeiros

prestadores de cuidados de enfermagem a doentes adultos, em

serviços de internamento de cirurgia e de urgência, de dois Hospitais

Públicos da Área Metropolitana do Porto. Foram seleccionados quatro

serviços de cirurgia e dois de urgência com a intenção de equilibrar

na amostra o peso das duas populações, num total de 235 sujeitos, no

entanto apenas 148 foram alvo de estudo (62%), por razões que serão

expressas, mais adiante, na caracterização da amostra.

Para a colheita de dados foram usados os três instrumentos descritos

nos sub-capítulos anteriores - Questionário de Caracterização

Demográfica, Maslach Burnout Inventory e Inventário de Resolução

de Problemas - que foram preenchidos anonimamente de forma

individual pelos próprios enfermeiros, após a devida autorização

pelos autores dos inventários e das entidades responsáveis pelas

instituições hospitalares.

A recolha ocorreu, simultaneamente nos seis serviços estudados, no

período de tempo compreendido entre 2001-11-05 e 2001-11-30.

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CAPITULO 4

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1 - TRATAMENTO DOS DADOS

Após a fase de colheita de dados, procedeu-se às tarefas relacionadas

com o seu tratamento.

Inicialmente, foi efectuada uma verificação global dos dados

colhidos, procedendo-se à organização dos instrumentos aplicados à

população alvo, de acordo com um número de ordem arbitrariamente

atribuído a cada enfermeiro. Posteriormente, foi feita a análise

individualizada de cada um dos Inventários e atribuída uma

quantificação às diferentes questões que o compõem. Esta

quantificação resultou da utilização de grelhas de correcção

construídas pelos autores dos Inventários. Foram, também,

codificadas as variáveis correspondentes aos itens do questionário de

caracterização demográfica.

Procedeu-se de seguida ao tratamento informático dos dados, com

recurso ao programa SPSS for Windows, tendo sido avaliada a relação

entre o coping e o burnout, bem como das suas respectivas

dimensões, através do estudo de correlação e teste de médias.

Efectuou-se ainda a análise estatística descritiva para o conjunto da

amostra.

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

4.2 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Serão apresentadas tabelas de frequências absoluta (fi), acumulada

(Fi) e relativa (fi%) respeitantes a todas a variáveis, sendo

complementadas pelos resultados estatísticos encontrados.

Relativamente ao estudo da relação entre as variáveis referiremos os

valores, nomeadamente, do coeficiente de correlação (r), do nível de

significância (p) e da diferença de médias.

4.2.1 - CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

O estudo incidiu, tal como foi já referido, sobre os enfermeiros que

prestam cuidados de enfermagem em serviços de cirurgia e de

urgência em dois Hospitais Públicos da Área Metropolitana do Porto.

Foram alvo do estudo um total de 148 enfermeiros que prestam

cuidados de enfermagem em dois serviços de urgência e quatro

serviços de cirurgia. É de referir que, o número total de enfermeiros

que exercem actividade nos serviços estudados é de 235, tendo sido

eliminados da amostra 21, pelo facto de não terem preenchido

correctamente os instrumentos de recolha de dados, e 60, por não

terem aderido ao estudo. Assim a amostra representa 62% da

população alvo. Apresentaremos de seguida os dados de

caracterização da amostra que consideramos mais relevantes.

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

Tabela 1 - Distribuição dos enfermeiros por t ipo de serviço

Tipo de serviço fi f i% Fi%

Urgência 80 54,1 54,1

Cirurgia 68 45,9 100,0

Total 148 100,0

Pela análise da tabela, verifica-se que, embora o número de

respondentes ao estudo tenha sido mais elevado nos serviços de

urgência, a amostra obtida reflecte um equilíbrio na sua distribuição

pelos dois tipos de serviços.

Tabela 2 - Idade dos enfermeiros por serviço- estatística descritiva

Serviço N Amplitude Mínimo Máximo Média Mediana Desvio padrão Variância

Cirurgia 68 37 21 58 28,63(a) 24,5 8,30 68,92

Urgência 80 46 22 68 32.81(a) 29 10,10 102,08

Total 148 47 21 68 30,89 28 9,52 90,64

(a)Diferença de médias entre serviços é de 4,18 anos (p<0,01)

Observando a tabela anterior verifica-se que, a idade média dos

enfermeiros é de 31 anos, a amplitude da amostra é de 47 anos, até à

idade de 28 anos se distribuem 50% dos amostrados e que, o desvio

padrão representa 3 1 % da média. Deste conjunto de dados podemos

concluir que, se trata de uma população muito jovem e com idades

concentradas num intervalo muito pequeno. A diferença de média de

idades dos enfermeiros dos dois serviços é de 4,18 anos, que embora

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C A P I T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

sendo estatisticamente significativo (P<0,01), não nos parece

relevante atendendo à grande amplitude de idades da amostra.

Tabela 3 - Distr ibuição dos enfermeiros por t ipo de serviço e por género

Género Total

masculino feminino Total

Tipo de serviço

urgência fi 30 50 80

Tipo de serviço

urgência fi% 66.7% 48.5% 54.1% Tipo de

serviço cirurgia

fi 15 53 68

Tipo de serviço

cirurgia f i% 33.3% 51.5% 45.9%

Total fi 45 103 148

Total f i% 100.0% 100.0% 100.0%

Pela leitura da tabela, pode constatar-se que a amostra é

essencialmente constituída por enfermeiros do género feminino

(70%). À semelhança do que ocorre na generalidade da profissão de

enfermagem, a população alvo deste estudo reproduz essa realidade

no que se refere à alta feminização. No entanto, o peso relativo do

género masculino no serviço de urgência é preponderante, enquanto

que, no serviço de cirurgia ocorre fenómeno idêntico em relação ao

género feminino.

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

Tabela 4 - Distr ibuição dos enfermeiros por estado civi l

Estado civil f i f i% Fi%

Solteiro 88 59,5 59,5

Casado 54 36,5 95,9

União de facto 2 1,4 97,3

Divorciado 4 2,7 100,0

Total 148 100,0

De acordo com os dados da tabela acima apresentada, observa-se que

há um predomínio de enfermeiros solteiros (60%).

Tabela 5 - Distribuição dos enfermeiros pela categoria profissional

Categoria profissional f i f i% Fi%

Enfermeiro 84 56,8 56,8

Enfermeiro graduado 55 37,2 93,9

Enfermeiro especialista 8 5,4 99,3

Enfermeiro chefe 1 0,7 100,0

Total 148 100,0

Como se pode verificar pela tabela, a maioria dos inquiridos (60%)

têm a categoria profissional de enfermeiros, seguindo-se, por ordem

decrescente, as restantes categorias. Podemos constatar ainda que, a

proporção entre enfermeiros especialistas e enfermeiros generalistas

(enfermeiros e enfermeiros graduados) é apenas de 1 para 17, o que

81

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atendendo à grande diferenciação dos cuidados de enfermagem

prestados neste tipo de unidades, nos parece pequena.

A título de conclusão é de reter que, a amostra é essencialmente

feminina, com uma média de idades baixa (31 anos), um predomínio

de solteiros e essencialmente constituída por enfermeiros

generalistas.

4.2.2 - RESULTADOS DESCRITIVOS DO BURNOUT

Descriminam-se, de seguida, os resultados referentes ao burnout dos

enfermeiros, que tal como já se referiu, foram determinados

utilizando a pontuação total do Maslach Burnout Inventory e as

pontuações de cada uma das três dimensões, Exaustão Emocional

(EE), Despersonalização (DP) e Dificuldade de Realização Pessoal

(RP). Na tabela seguinte, apresentam-se os dados descritivos relativos

ao burnout total dos enfermeiros nos serviços de cirurgia e urgência,

assim como no total da amostra.

Tabela 6 - Burnout total por serviço - estatística descritiva

Burnout total N Amplitude Mínimo Máximo Média Desvio padrão Variância

Cirurgia 68 73 13 86 43.15(a) 16,69 278,605

Urgência 80 74 36 110 70.45(a) 17,63 310,656

Total 148 97 13 110 57,91 21,92 480,331

(a) Diferença de médias entre serviços é de 27,30 (p<0,001)

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Como se constata, os valores distribuem-se por uma amplitude de 97

pontos, que representam 73,5% dos 132 pontos possíveis no MBI.

Verifica-se uma dispersão elevada das pontuações obtidas, tendo o

coeficiente de variação atingido o valor de 37,85% com a média de

57,91 (±21,92). Quando observamos, de forma descriminada, os dois

serviços estudados, constatamos uma diferença estatisticamente

significativa (p<0,001) ao nível dos valores da média do burnout-

bastante mais elevada no serviço de urgência (27,30 pontos).

Para aferirmos do grau de severidade em cada uma das três

dimensões do MBI, seguiremos a metodologia da autora

(Maslasch,1986) e o padrão proposto por Falcão (1990) para a

população portuguesa. Como afirma Maslach, as dimensões do

burnout são variáveis contínuas ordenadas em três graus — alto,

moderado e baixo. Analisemos cada uma dessas dimensões para o

total dos enfermeiros da amostra.

Tabela 7 - Distr ibuição dos enfermeiros pelos graus de severidade das dimensões

do burnout

Exaustão Emocional Des personal ização Dificuldade de Realização Pessoal

Graus de severidade fi fi% fi fi% fi f i %

Valor baixo 34 23,0% 42 28,4% 112 82,4%

Valor moderado 52 35,1% 55 37,2% 23 15,5%

Valor alto 62 41,9% 51 34,5% 3 2,0%

Total 148 100% 148 100% 148 100%

Pela análise da tabela podemos constatar que, é na dimensão Exaustão

Emocional que encontramos um maior número de sujeitos com grau de

83

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severidade alto (42%), que quando considerados conjuntamente com

os que apresentam valor moderado (35%), totalizam 77%.

Relativamente á Despersonalização, 72% dos enfermeiros situam-se

entre os valores moderado e alto. A dimensão Dificuldade de

Realização Pessoal é a que na amostra surge como a menos

valorizada, o que evidencia uma boa capacidade de realização

pessoal por parte da generalidade dos enfermeiros (82%).

Passemos, agora, à apresentação dos dados particularizando a

distribuição para cada dimensão por tipo de serviço, começando pela

estatística descritiva relativamente à dimensão Exaustão Emocional.

Tabela 8 - Exaustão Emocional por serviço - estatística descritiva

Exaustão Emocional N Amplitude Mínimo Máximo Média Desvio

padrão Variância

Cirurgia 68 37 3 40 20.09(a) 9,41 88,62

Urgência 80 48 5 53 28.90(a) 10,71 114,60

Total 148 50 3 53 24,85 11,02 121,39

(a) Diferença de médias entre serviços é de 8,81 (p< 0,001)

Da observação da tabela, realçamos a existência de uma diferença

estatisticamente significativa ao nível dos valores da média da

Exaustão Emocional- ligeiramente mais elevada no serviço de

urgência (8,81 pontos).

De seguida, será analisada a distribuição dos enfermeiros pelos três

graus de severidade da dimensão Exaustão Emocional, discriminando-

os por serviço.

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Tabela 9 - Distr ibuição dos enfermeiros pelos graus de exaustão emocional (EE) e

por t ipo de serviço

Grau de Exaustão Emocional(EE)

Total Valor baixo Valor moderado Valor alto Total

Tipo de serviço

urgência

fi 9 28 43 80

Tipo de serviço

urgência f i% no Grau de Exaustão Emocional 26.5% 53.8% 69.4% 54.1%

Tipo de serviço

urgência

fi% do Total 6.1% 18.9% 29.1% 54.1% Tipo de serviço

cirurgia

fi 25 24 19 68 Tipo de serviço

cirurgia f i% do Grau de Exaustão Emocional 73.5% 46.2% 30.6% 45.9%

Tipo de serviço

cirurgia

% do Total 16.9% 16.2% 12.8% 45.9%

Total

fi 34 52 62 148

Total % no Grau de Exaustão Emocional 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%

% do Total 23.0% 35.1% 41.9% 100.0%

Verificamos que, 42% do total de enfermeiros apresentam um grau

alto de Exaustão Emocional. Por outro lado na análise por serviços

constata-se que, 69% dos enfermeiros que exercem funções na

urgência revelam um alto índice de EE e pelo contrário, é nos

enfermeiros do serviço de cirurgia que o peso relativo de grau baixo

(74%) tem maior expressão.

Passemos à análise do comportamento da amostra relativamente à

dimensão Despersonalização.

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Tabela 10 - Despersonalização por serviço - estatística descritiva

Desperso­nalização N Amplitude Mínimo Máximo Média Desvio

padrão Variância

Cirurgia 68 16 3 19 8.75(a) 4,19 17,53

Urgência 80 28 1 29 12.66(a) 6,55 42,88

Total 148 28 1 29 10,86 5,90 34,87

(a) Diferença de médias entre serviços é de 3,91 (p<0,001)

Como se pode verificar, é no serviço de urgência que se observa uma

média mais elevada de despersonalização, com uma diferença

estatisticamente significativa de 3,91 pontos.

Tabela 11 - Distribuição dos enfermeiros pelos graus de despersonalização(DP)

e por t ipo de serviço

Grau de Despersonalização(DP)

Total Valor baixo Valor moderado Valor alto Total

Tipo de serviço

urgência

fi 15 27 38 80

Tipo de serviço

urgência f i% no Grau de Despersonalização 35,7% 49,1% 74,5% 54.1%

Tipo de serviço

urgência

f i% do Total 10.1% 18.2% 25,7% 54.1% Tipo de serviço

cirurgia

fi 27 28 13 68 Tipo de serviço

cirurgia f i% do Grau de Despersonalização 64,3% 50,9% 25,5% 45.9%

Tipo de serviço

cirurgia

% do Total 18,2% 18,9% 8.8% 45.9%

Total

fi 42 55 51 148

Total % no Grau de Despersonalização 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%

% do Total 28,4% 37,2% 34,5% 100.0%

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Constatou-se que, 37% do total da amostra apresenta um valor

moderado de Despersonalização e 35% um valor alto. Por outro lado,

é de realçar que, 75% dos enfermeiros que na amostra manifestam

grau alto se situam na urgência, enquanto que 64% daqueles que

apresentam valores baixos trabalham em serviços de cirurgia.

Por último analisamos a dimensão Dificuldade de Realização Pessoal.

As 8 questões do MBI incluídas nesta subescala foram pontuadas em

sentido inverso, por serem formuladas pela positiva. Da distribuição

obtida, apresentam-se os dados de estatística descritiva na tabela

seguinte.

Tabela 12 - Dificuldade de Realização Pessoal por serviço - estatística descritiva

Dificuldade de Realização Pessoal N Amplitude Mínimo Máximo Média Desvio

padrão Variância

Cirurgia 68 31 3 34 14.31(a) 7,34 53,86

Urgência 80 25 20 45 28.89(a) 5.61 31,44

Total 148 42 3 45 22,19 9,73 94,59

(a) Diferença de médias entre serviços é de 14.58 (p<0,001)

Da análise da tabela, realçamos a existência de uma diferença

estatisticamente significativa ao nível dos valores da média da

Dificuldade de Realização Pessoal dos enfermeiros dos dois tipos de

serviços- bastante mais elevada no serviço de urgência (14,58

pontos), o que equivale a dizer que a média de Dificuldade de

Realização Pessoal destes enfermeiros é o dobro da dos seus colegas

da cirurgia.

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Tabela 13 - Distr ibuição dos enfermeiros pelos graus de dif iculdade de

realização pessoal(DP) e por t ipo de serviço

Grau de Dil iculdade de Pessoal (RP

Realização

Total Valor baixo Valor moderado Valor alto Total

Tipo de serviço

urgência

Fi 59 18 3 80

Tipo de serviço

urgência f i% no Grau Dificuldade de Realização Pessoal 48,4% 78,3% 100,0% 54.1%

Tipo de serviço

urgência

f i% do Total 39,9% 12,2% 2,0% 54.1% Tipo de serviço

cirurgia

Fi 63 5 68 Tipo de serviço

cirurgia f i% no Grau Dificuldade de Realização Pessoal 51,6% 21,7% 45.9%

Tipo de serviço

cirurgia

% do Total 42,6% 3,4% 45.9%

Total

Fi 122 23 3 148

Total % no Grau Dificuldade de Realização Pessoal 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%

% do Total 82,4% 15,5% 2,0% 100.0%

Pela interpretação da tabela constatamos que, apenas 2% do total de

enfermeiros apresentam um grau alto de Dificuldade de Realização

Pessoal, situando-se todos eles no serviço de urgência. Por outro

lado, observa-se que, é nos enfermeiros do serviço de cirurgia que o

peso relativo de grau baixo (52%) tem maior preponderância.

Aparentemente, parece existir alguma contradição entre a

interpretação das duas tabelas anteriores, onde considerando as

médias das pontuações totais por serviço se observam diferenças

significativas, no entanto na distribuição pelos graus de severidade,

os enfermeiros apresentam uma concentração elevada no intervalo de

valores considerados baixos. De facto a aparente incoerência não é

real, dado que, apesar dos enfermeiros se situarem

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predominantemente no grau baixo não impede uma apreciável

dispersão das pontuações.

Resumindo a apreciação relativamente ao burnout e suas

componentes podemos concluir que, se observam diferenças

significativas ao nível do burnout total e das suas três dimensões,

quando comparamos os enfermeiros dos serviços de cirurgia e de

urgência. Pode concluir-se também que, as dimensões Exaustão

Emocional e Despersonalização se encontram particularmente

elevadas na amostra global dos enfermeiros prestadores de cuidados

hospitalares, sendo mais evidente nos enfermeiros que prestam

cuidados em serviços de urgência, isto é, apesar de todos os

enfermeiros sofrerem de evidências de stress ocupacional, este é mais

expressivo nos que trabalham em contexto de urgência.

4.2.3 - RESULTADOS DESCRITIVOS DO COPING

Vamos agora observar o que se passa relativamente ao coping. O

Inventário de Resolução de Problemas, é uma escala de tipo Likert,

formado por 40 questões diferentes, tendo cada uma a possibilidade

de 5 hipóteses de resposta. A cada resposta corresponde uma

pontuação de 1 a 5 de forma a que as pontuações vão subindo da

esquerda para a direita, embora nas questões elaboradas pela

negativa as pontuações sejam revertidas.

O Inventário tem uma pontuação mínima de 40 pontos e um valor

máximo de 200 pontos. À medida que a pontuação sobe melhoram as

estratégias de coping do indivíduo.

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Na perspectiva do autor (Vaz Serra, 1988), este Inventário, para além

de atribuir uma quantificação global ao coping, permite extrair outros

índices correspondentes a nove factores. Iremos analisar as médias e

desvios padrão da pontuação do total de coping e dos seus factores,

comparando-os com os valores obtidos por Vaz Serra (1988) aquando

da construção do Inventário de Resolução de Problemas.

Tabela 1 4 - Coping total e factores - médias e desvios padrão da amostra e valores obtidos

por Vaz Serra (1988) na construção do IRP

Vaz Serra

Média Desvio padrão

153,83 16,40

17,15 4,11

24,70 4,71

13,09 2,01

31,35 4,99

16,66 3,00

13,30 2,87

9,34 1,32

16,58 2,88

11,66 2,01

Amostra

Média Desvio padrão

Coping total 141,70 17,83

F1 - Pedido de Ajuda 13.15 4.15

F2 - Confronto e resolução activa dos problemas

23.62 4.19

F3 - Abandono passivo perante a situação 13.33 2.07

F4 - Controlo interno/ externo dos problemas 29.09 6.15

F5 - Estratégias de controle das emoções 16.20 2.50

F6 - Atitude activa de não interferência da vida quotidiana

11.74 2.36

F7 - Agressividade internalizada/ externalizada

8.08 2.31

F8 - Responsabil ização e medo das consequências

16.11 2.96

F9 - Confronto com o problema e planif icação da estratégia

10.38 2.59

Analisando a tabela podemos constatar a existência de diferenças

pouco expressivas entre os valores encontrados na nossa amostra e os

obtidos por Vaz Serra. Os valores por nós obtidos são todos

ligeiramente inferiores, embora essa diferença seja um pouco mais

marcada no valor das médias do coping total e do F1 - Pedido de

Ajuda.

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Passamos a apresentar os dados de estatística descritiva do coping

total por serviço.

Tabela 15 - Coping total por serviço - estatística descritiva

Coping total N Amplitude Mínimo Máximo Média Desvio padrão Variância

Cirurgia 68 78 96 174 142.79(a) 17,95 332,05

Urgência 80 74 100 174 140,78(a) 17,80 316,68

Total 148 78 96 174 141,70 17,83 317,99

(a) Diferença de médias entre serviços é de 2,02, não significativa no intervalo

de confiança de 95%(p = 0,494)

Observando a tabela, constata-se que os valores se distribuem por

uma amplitude de 78 pontos que representam 49% dos 160 pontos

possíveis no IRP. Verifica-se também que as pontuações estão algo

dispersas (o desvio padrão representa 13% da média da amostra).

Analisando as pontuações do coping total por serviço, constatamos

não existirem diferenças significativas.

No final deste sub-capítulo, convém referir que ele apenas teve por

objectivo apresentar uma descrição da amostra global, no que se

refere ao burnout e ao coping e seus diferentes factores, uma vez

que, no sub-capítulo que se segue, será apresentado o estudo da

relação entre essas variáveis, de modo a possibilitar uma

confrontação com as hipóteses previamente formuladas.

91

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4.2.4 - ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS

Por uma questão metodológica serão apresentados separadamente os

aspectos das relações das variáveis, uma vez que, ut i l izaremos

diferentes testes estatísticos.

BURNOUT E COPING

Com vista a testar as hipóteses formuladas, foi analisado o

comportamento conjunto das variáveis burnout (total global) e coping

(total global) para o total da amostra e discriminado pelo t ipo de serviço,

através do cálculo do coeficiente de correlação de Pearson (r).

Tabela 16 - Coeficientes de correlação de Pearson entre burnout e coping dos

enfermeiros por serviço

Serviço Coping

Serviço r

3 O c 3 m

Cirurgia -0,800** 3 O c 3 m

Urgência -0,522** 3 O c 3 m Total -0,540**

**p<0,01

Os coeficientes de correlação de Pearson entre burnout e coping

encontrados foram de, r=-0,540 para o total dos enfermeiros, r—0,800

para os enfermeiros que prestam cuidados em serviços de cirurgia e de r = -

0,522 para os que trabalham em serviços de urgência.

Estes resultados configuram a existência de uma correlação negativa entre

coping e burnout , isto é, á medida que os valores de coping sobem,

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observa-se uma descida dos valores de burnout e vice-versa, o que vai de

encontro à hipótese H2 por nós formulada, que aponta para uma associação

das duas variáveis neste sentido. Apesar deste comportamento associado

das variáveis ser globalmente extensivo à totalidade dos enfermeiros da

amostra, ele é, no entanto, mais fortemente correlacionado nos enfermeiros

de cirurgia, o que confirma a hipótese (H3) de que, a relação entre stress e

coping dos enfermeiros do serviço de cirurgia e do serviço de urgência se

diferenciam entre si.

Passamos agora a analisar a relação entre o burnout as dimensões de

coping. Calculamos os coeficientes de correlação entre as pontuações

globais do burnout e os 9 factores do Inventário de Resolução de

Problemas. Com os resultados construímos o tabela seguinte.

Tabela 17 - Coeficientes de correlação de Pearson entre as 9 dimensões do IRP e

os valores do burnout (total global)

Dimensões de Cop ing Burnout (total)

F1 - Pedido de ajuda -0 ,381* *

F2 - Confronto e resolução activa dos problemas -0.206*

F3 - Abandono passivo perante a situação -0.187*

F4 - Controlo interno/ externo dos problemas -0.427**

F5 - Estratégias de controle das emoções -0.163*

F6 - Atitude activa de não interferência da vida quotidiana pelas ocorrências -0.234**

F7 - Agressividade internalizada/externalizada -0.564**

F8 - Auto-responsabilização e medo das consequências -0.259**

F9 - Confronto com o problema e planificação da estratégia -0 .441* *

** p<0,01

* p<0,05

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Como se pode verificar, todos os valores de r indicam a existência de

correlações negativas entre as dimensões de coping e burnout,

embora com valores variáveis. È na dimensão F7 - Agressividade

internalizada/externalizada, que a correlação é mais forte (r = -0,564)

e na dimensão F5 - Estratégias de controle das emoções, que esta é

mais fraca (r = -0,163). Pode concluir-se, que na generalidade, à

medida que os valores das diversas dimensões de coping sobem, se

observa uma descida dos valores do burnout e vice-versa, com pesos

ligeiramente diferenciados por dimensão. Estes resultados vão no

sentido da hipótese H4 por nós formulada, de que a relação entre

stress e as dimensões de coping são variáveis.

COPING E IDADE

Para o estudo da relação entre o coping dos enfermeiros e a idade,

calculamos o coeficiente de correlação de Pearson, cujo valor foi de

r = 0,01 7. Tal como se pode constatar pelo valor obtido, a associação

entre as duas variáveis é muito próxima de zero, o que nos leva a

concluir, que pela sua pouca expressividade, não nos é possível ver

confirmada a hipótese H4, onde admitíamos a possibilidade de uma

correlação positiva entre as duas variáveis.

COPING E GÉNERO

Passamos a analisar o comportamento conjunto das variáveis coping e

género dos enfermeiros. Da amostra, foram seleccionados os dois

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grupos - homens (45) e mulheres (103). Para este estudo, optamos

por realizar os testes F e T pois pretendíamos verificar se as médias

do coping e respectivas dimensões eram significativamente diferentes

nos dois grupos. Construímos uma tabela com os resultados, que a

seguir se apresenta.

Tabela 18 - Distribuição das médias e desvios padrão do coping total e suas

dimensões por género

Homens Mulheres Diferença de

médias P

Média Desvio padrão Média Desvio

padrão

Diferença de

médias P

Coping total 138,38 17,16 143,16 18,01 ^ ,78 0,134

F1 - Pedido de Ajuda 12,13 4,01 13,59 4,15 -1,46 0,059

F2 - Confronto e resolução activa dos problemas 23,04 3,18 23,87 4,56 -0,83 0,206

F3 - Abandono passivo perante a situação

13,11 1,77 13,43 2,19 -0,32 0,395

F4 - Controlo interno/ externo dos problemas

28,11 6,50 29,52 5,97 -1,41 0,199

F5 - Estratégias de controle das emoções

16,56 2,07 16,05 2,66 0,51 0,258

F6 - Atitude activa de não inter­ferência da vida quotidiana

12,02 2,48 11,61 2,30 0,41 0,331

F7 - Agressividade internalizada/ externalizada

7,53 2,58 8,32 2,15 -0,79 0,056

F8 - Responsabil ização e medo das consequências

15,84 3,08 16,22 2,92 -0,38 0,476

F9 - Confronto com o problema e planificação da estratégia 10,02 2,77 10,53 2,51 -0,51 0,271

O teste T foi realizado para um intervalo de confiança de 95%

(p<0,05), tendo-se verificado que não existem diferenças

significativas entre as médias de coping de homens e mulheres, o que

não confirma a hipótese H6 de que, o coping se diferenciava em

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

função do género. No capítulo da discussão de resultados

procuraremos desenvolver com pormenor, possíveis notas

explicativas deste comportamento.

4.3 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os objectivos desta investigação tinham em vista conhecer os níveis

de burnout dos enfermeiros prestadores de cuidados hospitalares em

serviços de cirurgia e em serviços de urgência, a associação entre o

burnout e o coping e também a variação do coping em função da

idade e do género desses mesmos enfermeiros

O tratamento e análise dos dados, evidenciaram os resultados

seguintes:

- Os enfermeiros da amostra em estudo possuem graus

significativos de Exaustão Emocional e Despersonalização, que

são indicadores da existência de níveis apreciáveis de burnout,

confirmando-se assim, a hipótese H l , referente à existência de

stress ocupacional nos enfermeiros prestadores de cuidados

hospitalares em serviços de cirurgia e urgência. É de salientar

ainda que, são os enfermeiros do serviço de urgência que

apresentam valores médios mais elevados de burnout.

Alguns autores, nomeadamente Maslach (1986), Matteson & Ivanevich

(1989) e Ross & Altwaier (1994) referem-se ao burnout como um

síndrome caracterizado por apresentar sinais de exaustão emocional e

física e despersonalização, que aparece como a mais grave

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

consequência do stress mal gerido. Ross & Altwaier (1994) referem

que, esta situação pode apresentar vários níveis e tem alta incidência

em profissões consideradas de ajuda e que exigem contacto directo

com pessoas. Uma outra explicação, que tem sido apresentada para

justificar esta constatação relaciona-se, segundo Graça e Reis (1993),

com o modelo de gestão e o clima organizacional dos serviços, em

que a ambiguidade de papeis, a falta de autonomia e de participação

na tomada de decisão, o empobrecimento das relações de trabalho e

a falta de suporte emocional, são alguns aspectos que contribuem

para a manutenção de elevados níveis de stress ocupacional. Miranda

(1998), no âmbito do programa EURICUS II, admite como hipótese

central desta investigação que, a eficácia e a eficiência poderão ser

promovidas pelo incremento da autonomia ao nível da tomada de

decisão pelos enfermeiros. Estean & Ballesteres (1993) e Rebelo

(1998), acrescentam que, os hospitais se caracterizam por

apresentarem atmosferas geradoras de tensão. Para além dos

argumentos apresentados, pensamos que, a incidência de níveis mais

elevados de burnout nos enfermeiros do serviço de urgência pode

estar relacionada com, a prestação de cuidados a doentes de alto

risco, da utilização de equipamentos sofisticados e serem unidades

em que a possibilidade de prever e planear as intervenções estão

imbuídas de um carácter de imprevisibilidade e muitas vezes de

emergência.

- Um outro aspecto que merece relevo ao nível desta discussão é

a relação evidenciada entre o burnout e o coping. Foi

encontrada uma correlação negativa significativa entre burnout

e coping, em que, na generalidade, à medida que o coping

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

aumenta o burnout diminui, o que confirma a hipótese H2

referente à existência de uma relação inversa entre estas duas

variáveis, no sentido de que, o stress dos enfermeiros é tanto

maior quanto mais baixo for o seu coping.

Folkman (1984) considera o coping como um conjunto de recursos

cognitivos e comportamentais, que o indivíduo utiliza para lidar com

situações indutoras de stress. Alguns autores, nomeadamente

Mclntyre (1994), têm destacado este tipo de relação do stress com o

coping em profissionais de saúde portugueses, colocando em

evidência a importância das estratégias de coping no controlo das

situações stressantes.

- Uma particularidade observada no estudo do comportamento

associado das variáveis coping e stress é que, esta associação,

para além de ser globalmente extensiva à totalidade na amostra

(r =-0,540), ela é mais fortemente correlacionada nos

enfermeiros do serviço de cirurgia (r = -0,800) do que no serviço

de urgência (r = -0,522), confirmando-se assim, a hipótese H3,

de que a relação entre stress e coping se diferencia em função

dos serviços onde os enfermeiros trabalham.

Nos serviços de internamento, nomeadamente nos serviços de

cirurgia, os cuidados são, de uma maneira geral, programados e

continuados, com uma probabilidade de ocorrências de incidentes

substancialmente menor da que é característica dos serviços de

urgência, onde a necessidade de estabelecer prioridades de

intervenção, a imprevisibilidade causada pela grande variedade e

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

gravidade de situações, são factores que predispõem a uma maior

vulnerabilidade (Camacho, 1997).

Como já referimos na apresentação dos resultados relativos à hipótese

H l , o nível de stress manifestado pelos enfermeiros do serviço de

cirurgia é menor do que o dos enfermeiros do serviço de urgência.

Este dado, pode encontrar-se relacionado com a maior intensidade da

associação inversa entre o stress e o coping dos enfermeiros da

cirurgia.

- No estudo efectuado, relativamente às dimensões constituintes

do coping, foram encontradas correlações negativas, embora

com intensidades diferentes, entre as diversas dimensões do

coping e o burnout, que apontam no sentido da hipótese H3

relativa à existência de uma relação diferenciada de cada uma

das dimensões com o burnout. É com a dimensão F7 -

Agressividade Internalizada/Externalizada, que a correlação

com o stress é mais forte.

Estes resultados, embora pouco expressivos em algumas das

dimensões, poderão apontar no sentido da utilização pelos diferentes

enfermeiros de diferentes estratégias perante situações de stress. A

este propósito, Endler & Parker (1999), referem que os indivíduos

apresentam diferentes modos de adaptação às situações geradoras de

tensão. Pensamos que, esta diversidade de estratégias poderá

eventualmente ser justificada pelas características individuais de cada

sujeito, embora seja de admitir, que a sua pouca expressividade se

possa ficar a dever a um conjunto de valores normativos veiculados

nos contextos profissionais.

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

Uma das queixas frequentes dos utentes dos serviços de saúde

públicos, incide sobre a assunção, por parte dos profissionais de

saúde, de atitudes negativas de hostilidade, cinismo e desinteresse,

que poderão estar relacionadas com a valorização da dimensão

Agressividade Internalizada/Externalizada do coping, como uma

estratégia de protecção da sua própria integridade.

- Foi estudada, também, a relação existente entre o coping dos

enfermeiros e a idade. A correlação encontrada entre estas duas

variáveis foi praticamente nula.

Destes resultados, não poderemos extrair conclusões relevantes

quanto à relação entre coping e idade, nesta população. As limitações

decorrentes de uma concentração dos sujeitos da amostra em idades

jovens, num intervalo muito pequeno -média 31 anos e mediana 28

anos - poderá ocultar a possibilidade da existência de uma relação

mais evidente. De facto, a idade tem sido referenciada,

nomeadamente por Endler & Parker (1999), como um dos factores

que condiciona a aprendizagem das estratégias de coping,

essencialmente, pela possibilidade de experiências que proporciona à

pessoa e não como uma mais valia automática, dependente

exclusivamente da passagem do tempo.

- Por f im, foi analisado o comportamento das variáveis coping e

género dos enfermeiros, tendo-se concluído pela não existência

de diferenças significativas entre enfermeiros do sexo masculino

e feminino, relativamente ao tipo de estratégias de coping

utilizadas.

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C A P Í T U L O 4 - A P R E S E N T A Ç Ã O DOS R E S U L T A D O S

Esta constatação, parece colidir com os resultados encontrados por

Vaz Serra(1988), que identificou a utilização pelas mulheres, de

estratégias de coping diferentes das utilizadas pelos homens. A

população em estudo, essencialmente constituída por mulheres

(70%), poderá enviesar estes resultados, pelo que não poderemos

descurar a possibilidade da existência de um estereótipo ligado ao

género feminino. Acresce ainda que, estes enfermeiros e enfermeiras

foram sujeitos a processos de formação escolar e profissional

idênticos, o que poderá ter contribuído para uma certa

estandardização das estratégias que util izam, nomeadamente, as de

coping. Em suma, as variações encontradas relativamente às diversas

estratégias de coping utilizadas pelos enfermeiros apresentam

variações de cariz individual, que parecem não estar directamente

relacionadas com o género. Tais resultados, podem pôr em evidência

as particularidades da enfermagem, cuja identidade profissional

continua ainda muito associada a padrões tipicamente femininos, no

entanto, para uma melhor compreensão deste fenómeno será,

concerteza, necessário proceder á realização de outros estudos

posteriores.

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CONCLUSÕES

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CONCLUSÕES

O tema seleccionado, "Stress e coping dos Enfermeiros no Hospital -

Contexto de urgência / contexto de internamento" parece-nos ter sido

útil para uma melhor compreensão dos aspectos relevantes nesta

matéria.

Este trabalho, iniciou-se por uma primeira parte, o enquadramento

teórico da investigação, abordando duas grandes áreas temáticas.

Uma primeira incidiu sobre o stress e mecanismos de coping, dando

particular realce aos modelos conceptuais e ao papel do coping no

controlo das situações indutoras de stress. Uma segunda, relacionou-

se com o stress ocupacional e os mecanismos de coping nos

enfermeiros prestadores de cuidados hospitalares, de modo a

contextualizar esta investigação nesta realidade.

De seguida, foi apresentado o trabalho empírico desenvolvido,

descrevendo-se a finalidade e objectivos do estudo, os procedimentos

metodológicos efectuados, bem como, os resultados encontrados e a

sua discussão.

Constatou-se que, os enfermeiros prestadores de cuidados

hospitalares em serviços de cirurgia e em serviços de urgência

apresentam elevados níveis de stress ocupacional, particularmente

evidente, entre os enfermeiros do serviço de urgência. Observou-se,

uma associação inversa entre os níveis de stress e as estratégias de

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C O N C L U S Õ E S

coping utilizadas, isto é, à medida que as estratégias de coping

sobem, os valores de stress descem e vice-versa. Esta correlação foi

mais marcada entre os enfermeiros do serviço de cirurgia.

Verificou-se também, a existência de uma correlação negativa

significativa entre o burnout e as dimensões do coping, evidenciando-

se a relação do stress com a utilização de estratégias de tipo

agressivo. Não se encontraram relações expressivas no estudo da

associação dos mecanismos de coping, quer com a idade, quer com o

género dos enfermeiros.

Os objectivos inicialmente propostos foram de uma maneira geral

atingidos. Há, no entanto, consciência de algumas limitações

nomeadamente pelo facto de este ser um estudo do tipo "transversal",

tornando impossível determinar o sentido da causalidade, colocando-

se a questão, se será a utilização de adequadas estratégias de coping

que contribuem para a redução dos níveis de stress ocupacional, ou

se serão os baixos níveis de stress que permitem utilizar estratégias

ajustadas.

Por f im, são de referir ainda, as dificuldades decorrentes da dimensão

da amostra, que implicou um esforço acrescido quer ao nível da

recolha de dados, quer ao nível do tratamento estatístico, em virtude

do volume de informação a tratar. No entanto, temos consciência de

que a extrapolação dos resultados apenas poderá ser feita para a

população estudada, sendo necessário desenvolver a replicação deste

estudo para tornar válidas as suas conclusões a um universo mais

alargado.

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C O N C L U S Õ E S

Pela vastidão do tema e suas inúmeras implicações na vida dos

enfermeiros, seria importante dar continuidade a este trabalho, para o

qual foi fornecido um contributo, nomeadamente abrindo pistas para

outras investigações.

Por outro lado, sendo o coping definido por Folkman (1984), como

um conjunto de recursos que o sujeito utiliza para lidar com as

situações indutoras de stress, o desenvolvimento de programas de

treino de competências nesta área poderá, provavelmente, contribuir

para a melhor adaptação dos enfermeiros face às situações indutoras

de stress ocupacional. Pensamos que, estes resultados poderiam,

também, servir de incentivo a possíveis intervenções das instituições

prestadoras de cuidados em colaboração com as escolas de

enfermagem, no sentido de tomar em consideração estas

problemáticas ao nível da formação.

Para concluir este trabalho, é importante referir o quanto ele foi útil

para o crescimento pessoal e para a consolidação de todo um

percurso profissional que se vem desenvolvendo.

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BIBLIOGRAFIA

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B I B L I O G R A F I A

TH ELAN, L. (1993) - Enfermagem em Cuidados Intensivos,

diagnóstico e intervenção. Lusodidática - Sociedade Portuguesa de

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VALERIANO, M. J. (1996) - A auto-imagem no contexto do cuidar.

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115

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B I B L I O G R A F I A

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116

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ANEXOS

117

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A N E X O S

ANEXO I - QUESTIONÁRIO DEMOGRÁFICO

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C a r a c t e r i z a ç ã o da a m o s t r a

Não escreva o nome. Responda com o n° de anos ou assinale com uma X a resposta

1 Idade (anos).

2 Sexo:

Masculino

Feminino..

3 Estado civil:

Solteiro(a)

Casado(a)

União de facto

Divorciado(a)..

Viúvo

4 Categoria profissional:

Enfermeiro(a)

Enfermeiro(a) Graduado

Enfermeiro(a) Especialista...

Enfermeiro(a) Chefe

Enfermeiro(a) Supervisor(a).

5 Há quanto tempo trabalha neste serviço (anos)

6 A colocação no serviço foi de sua iniciativa?

Sim

Não

D D

D D D D D

D D D D D

D D

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A NI E X O S

A N E X O U - MASLACH BURNOUT INVENTORY

120

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M a s I a c h B u r n o u t I n v e n t o r y

M B I - Maslach Burnout Inventory

Nesta página encontra 22 afirmações relacionadas com os sentimentos que o trabalho

com as pessoas envolve. Leia cada uma delas cuidadosamente e pense se alguma vez

sentiu algum dos sentimentos referidos. Preencha a quadrícula com o n° a que

corresponde a sua opção.

0 1 2 3 4 5 6

Nunca Poucas vezes (ou menos de uma por ano)

Uma vez por mes (ou menos)

Poucas vezes por mês

Uma vez por semana

Poucas vezes por semana

Todos os dias

1. Sinto-me emocionalmente afastado/a do meu trabalho I—I

2. Sinto-me "gasto(a)" no fim de um dia de trabalho I—'

3. Sinto-me cansado(a) quando me levanto de manhã e tenho de enfrentar um novo dia de trabalho.. I—I

4. Posso compreender facilmente o que os doentes sentem I—I

5 Sinto que trato alguns doentes como se fossem objectos impessoais I—I n 6. Trabalhar com pessoas o dia todo é realmente um grande esforço para mim I—i

7. Lido com os problemas dos doentes muito eficientemente I—I

8. Sinto-me "gastoía)" pelo meu trabalho L ! 9 Sinto que influencio a vida das pessoas através do meu trabalho I—I n 10. Tenho-me tornado mais indiferente em relação às pessoas desde que trabalho neste serviço I—I 11 Preocupa-me que este serviço me esteja a tornar insensível (ou a endurecer) I—I

12. Sinto-me cheio de energia '—'

13. Sinto-me frustrado com o meu trabalho '—'

14. Sinto que trabalho de mais '—' n 15. Realmente não me interessa o que acontece aos meus doentes i—i

16. Trabalhar directamente com as pessoas causa-me muito "stress" I—I

17. Consigo criar facilmente um ambiente descontraído com os meus doentes I—I

18. Sinto-me satisfeito/a depois de ter trabalhado tão próximo dos meus doentes I—"

19. Tenho feito no meu trabalho muitas coisas que valem a pena I—I

20. Sinto que estou "nas últimas" *- J n 21. No meu trabalho, lido com os problemas emocionais muito calmamente I—' 22. Sinto que os doentes me culpam por alguns dos seus problemas '—'

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A N E X O S

ANEXO 111 - INVENTÁRIO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

122

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Inventário de Resolução de Problemas

(Copyright A. Vaz Serra, 1987)

INSTRUÇÕES

Ao longo da vida todas as pessoas atravessam situações difíceis com que se têm de defrontar. Os indivíduos não são todos iguais a lidar com os seus problemas. Cada uma das questões representa uma forma específica de reagir, quando um agente de stress pressiona um indivíduo. Refira, quando se encontra numa situação difícil, semelhante à que é apresentada, quais são, das questões seguintes, aquelas que

melhor traduzem os seus comportamentos habituais. Coloque uma cruz (x) no quadrado que, em cada questão, melhor relata a sua maneira usual de reagir. Não há respostas certas ou erradas. Apenas existem as suas respostas possíveis. Responda, por isso, rápida, espontânea e honestamente a cada uma delas. Não se trata de procurar saber o que considera melhor, mas sim o que se passa realmente consigo.

- / -

Imagine que teve uma discussão séria com uma pessoa amiga de longa data. Deve-lhe bastante dinheiro, que já devia ter sido pago, e ainda outros favores. Existem numerosos conhecidos comuns. Na discussão que tiveram, a razão está do seu lado. Contudo, a outra pessoa, muito zangada, acabou por lhe dizer. "Dou-te uma semana para pensares no que me fizeste e me ires pedir desculpa. Se o não fizeres, hei-de dizer aos outros que não passas de um vigarista e exijo-te que me entregues todo o dinheiro que me deves". Muito no seu intimo tem quase a certeza de que a outra pessoa é capaz de cumprir com o que esté a dizer. Sabe ainda que não tem todo o dinheiro que precisa para lhe devolver.

Conhece bem que muitos dos amigos comuns são capazes de acreditar no que o outro lhe disser. Esta situação é susceptível de se prolongar ao longo do tempo, envolvendo indivíduos com quem lida todos os dias. O assunto resolver-se-ia se tivesse uma conversa séria com essa pessoa, em que fosse capaz de esclarecer, uma vez por todas, os mal-entendidos. É natural que essa conversa fosse, pelo menos de princípio, bastante desagradável. Mas é possível que pudessem voltar afazer as pazes, a serem amigos como dantes e a ser adiado o problema da dívida. Contudo, ao relembrar o que se passou por um lado, sente-se ofendido com a prepotência da outra pessoa, por outro lado receia as consequências.

Numa situação deste tipo tem tendência a pensar:

Vou deixar correr esta situação: o tempo ajuda a resolver os problemas.

Numa situação deste tipo o melhor é evitar encontra-me como indivíduo e não ligar ao que possa dizer ou fazer.

Não vou permitir que este acontecimento interfira no que tenho que fazer no meu dia-a-dia

Se não me tivesse comportado daquela maneira isto nunca teria ocorrido: tive toda a culpa no que aconteceu.

Vou-me aconselhar com pessoas amigas para saber o que devo fazer.

Não Concordo

Concordo Pouco

Concordo Moderadamente

Concordo Muito

Concordo Muitíssimo

D D D □ □ D D D D D

D D D D D

D D D D D

D D D D D .../...

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I n v e n t á r i o d e R e s o l u ç ã o d e P r o b l e m a s

II-

Considere agora que teve uma situação da sua vida em que ocorreu uma perda económica substancial. Imagine, por exemplo, que segue numa estrada com um veículo novo, acabado de comprar com a ajuda de um empréstimo grande e com bastante sacrifício. Uma camioneta, a certa altura, vem contra si e o seu carro fica bastante danificado. A camioneta põe-se em fuga, não é capaz de lhe ver a matrícula, não consegue sair do local em que se encontra e não vai

ninguém a passar que possa servir de testemunha Pensa então no transtorno que tudo isto causa à sua vida, a despesa que representa, tendo na altura bastantes dificuldades em a poder enfrentar. Acaba por apanhar uma boleia de uma pessoa que por ali passou, bastante tempo depois e segue para casa. É um problema aparentemente sem solução e que lhe causa dano.

Numa situação deste tipo tem tendência a pensar:

6. Estou perdido: este acontecimento deu cabo da minha vida

7. O melhor é não fazer nada até ver onde isto vai parar

8. Lá por isto me ter acontecido, não vou deixar que a minha vida seja constantemente interferida por esta questão

9. Apesar de tudo tive muita sorte: as coisas poderiam ser bem piores do que realmente são

10. No fundo reconheço que me comportei de uma maneira estúpida: devido a mim é que este problema está como está.

11. Vou pedh-consefrio aos meus amigos para poder sair deste problema.

Não Concordo

Concordo Pouco

Concordo Moderadamente

Concordo Muito

Concordo Muitíssimo

D D D D D

D D D D D

□ D D D □ D D D D D

D D D D D

D D D D D

- / / / -

Sentindo-se uma pessoa competente, em determinada área, vai ser posto à prova daí a algum tempo, numa situação competitiva importante. Verifica, entretanto, com estranheza, que há um indivíduo que anda a diminuí-to e a dizer aos outros

que é uma pessoa que não vale o que aparenta Este facto ofende-o mas, daí a três meses, vai poder provar, aos olhos de todos, se é ou não um indivíduo capaz.

Numa situação deste tipo tem tendência a pensar:

12. As pessoas hão-de sempre dizer mal de mim: que azar o meu.

13. Não me vou aborrecer com esta situação: o tempo há-de correr a meu favor.

14. Estou-me a sentir destruído pelo que me está a acontecer: não vou conseguir desenvencilhar-me desta situação.

15. Vou pensar com calma sobre este assunto, de modo a que possa sair-me bem e, ao mesmo tempo, calar aquele indivíduo.

16. Com o que me está a acontecer o melhor é evitar por agora submeter-me às provas, em que podem ver como me saio, de forma a que o acontecimento seja esquecido.

17. Se querem guerra, tê-la-ão: não posso deixar de lutar por aquilo que para mim é importante.

18. Acho melhor perguntar aos meus familiares o que devo fazer para resolver este assunto.

19. Sinto que tenho a responsabilidade daquilo que agora me está acontecer.

20. Vou pecír conselho, a amigos meus, sobre a melha atitude a tomar.

21. De modo algum me deixo esmagar peto que me está a acontecer, hei-de remover os obstáculos, um a um, até provar aos outros que realmente sou uma pessoa capaz: sei que hei-de conseguir.

D D □ D

Não Concordo

Concordo Pouco

Concordo Moderadamente

Concordo Muito

Concordo Muitíssimo

D D D D D

D D D □ D

D D D D D

D D D D D

D

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D D D D D

D D D D D

D D D D D

.../..

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I n v e n t á r i o d e R e s o l u ç ã o d e P r o b l e m a s

-IV-

Quando me sinto muito tenso, a fim de aliviar o meu estado de tensão:

22. Passo longas horas a ver televisão, sem querer fazer mais nada.

23. RaramentB consigo passar sem tarar medicamentes que me acalmem.

24. Meto-me na cama durante longas horas.

25. Procuro fazer uma pequena soneca, pois sinto que, nessas ocasiões, tem em mim grandes efeitos reparadores.

26. Desabafo com alguém, procurando que, ao fim, essa pessoa tome o meu partido e me ajude a resolver as dificuldades.

27. Dá-me para partir tudo o que tenho à minha volta.

28. Chego a bater em mim próprio.

29. Raramente deixo de pedir ajuda profissional, a um médico ou um psicólogo.

Não Concordo

Concordo Pouco

Concordo Moderadamente

Concordo Multo

Concordo Muitíssimo

D D D D D

D D D D D

D D D D D

D D D D D

D D D D D

D D D D D

D D D D D

D D D D D

- V -

A minha maneira de ser habitual leva-me a que, não só nestas situações como em todos os meus problemas, tenha tendência a: .

30. Pensar continuadamente sobre os factos que me preocupam.

31. Não fugir do confronto com as situações que me são desagradáveis.

32. Adaptar-me com facilidade às pressões psicológicas e exigências da vida de todos os dias.

33. Não deixar de lutar, quando quero atingir os meus objectivos.

34. Conseguir pôr em prática os planos que arquitecto para resolver os meus problemas.

35. Reconhecer que sou, com frequência, vítima dos outros.

36. Ter sempre coragem para resolver os problemas da minha vida, mesmo que por vezes me incomodem bastante.

37. Envolver-me apenas naquelas acções, de resolução de problemas, que tenho a certeza não me deixem ficar mal.

38. Permitir que os objectivos principais da minha vida sejam facilmente interferidos pelos problemas com que me defronto.

39. Ver sempre os aspectos negativos, mais do que os aspectos positivos dos acontecimentos.

40. Preferir, num problema desagradável, procurar obter informações e tentar resolvê-lo, do que estar a evitá-lo.

Não Concordo

Concordo Pouco

Concordo Moderadamente

Concordo Muito

Concordo Muitíssimo

D D D D D

D D D D D

D D D □ D

□ D D □ D

D □ D D D

D D D D D

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D D D D D

D D D D D

D D D D D

D D □ D □

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A N E X O S

ANEXO IV - RELAÇÃO DOS ITENS QUE INTEGRAM CADA

UMA DAS DIMENSÕES DO MASLASH BURNOUT

INVETORY

126

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RELAÇÃO DOS ITENS QUE INTEGRAM CADA UMA DAS

DIMENSÕES DO MASLASH BURNOUT INVETORY.

EXAUSTÃO EMOCIONAL DESPERSONALIZAÇÃO REALIZAÇÃO PESSOAL

• Item 1 • Item 5 • Item 4 *

• Item 2 • Item 10 • Item 7*

• Item 3 • Item 11 • Item 9*

• Item 6 • Item 15 • Item 12*

• Item 8 • Item 22 • Item 17*

• Item 13 • Item 18*

• Item 14 • Item 19*

• Item 16 • Item 21 *

• Item 20

*lnverter pontuação dos itens

Fonte: MASLACH, C. (1986) - Burnout. Human Behaviour, 4, 161-194.

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A N E X O S

ANEXO V - RELAÇÃO DOS ITENS QUE INTEGRAM CADA UM

DOS FACTORES DO INVENTÁRIO DE

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

128

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