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INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO, DESENVOLVIMENTO E PESQUISA IDP CURSO DE MESTRADO EM DIREITO, JUSTIÇA E DESENVOLVIMENTO FERNANDO CLEMENTE DA ROCHA A NOVA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO E O CONSEQUENCIALISMO NAS AÇÕES FORMATIVAS DA MAGISTRATURA BRASILEIRA São Paulo 2021

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INSTITUTO BRASILEIRO DE ENSINO, DESENVOLVIMENTO E PESQUISA – IDP

CURSO DE MESTRADO EM DIREITO, JUSTIÇA E DESENVOLVIMENTO

FERNANDO CLEMENTE DA ROCHA

A NOVA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO E O CONSEQUENCIALISMO NAS AÇÕES FORMATIVAS DA MAGISTRATURA

BRASILEIRA

São Paulo 2021

FERNANDO CLEMENTE DA ROCHA

A NOVA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO E O CONSEQUENCIALISMO NAS AÇÕES FORMATIVAS DA MAGISTRATURA

BRASILEIRA

Defesa de dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Direito do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa – IDP, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito, Justiça e Desenvolvimento. Data da defesa: BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Luciano Benneti Timm Orientador Prof. Dr. Ricardo Villas Bôas Cueva Examinador 1 Prof. Dr. Thomas Victor Conti Examinador 2

São Paulo

2021

AGRADECIMENTOS

Muitos contribuíram para a conclusão com êxito deste trabalho, e começo por agradecer à

minha esposa Lourdes, companheira de longa jornada, pelo incentivo paciente nos momentos

mais atribulados dos estudos; igualmente aos colegas e professores do IDP/SP pelos edificantes

debates travados no curso, em especial ao coordenador/professor Flávio Unes pelos

aconselhamentos sempre disponíveis; sou imensamente grato também aos membros do Tribunal

de Justiça de Sergipe e à equipe da Escola Judicial de Sergipe - EJUSE, pelo integral apoio

dispensado em toda a jornada do mestrado. Coroando tudo, por ser a razão e o sentido de

qualquer trajetória humana de sucesso, agradeço a Deus!

LISTA DE SIGLAS ABRAPP Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

AED Análise Econômica do Direito

AMB Associação dos Magistrados Brasileiros

ANAMATRA Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho

CDC Código de Defesa do Consumidor

CF Constituição Federal

CF/88 Constituição Federal de 1988

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNJ Conselho Nacional de Justiça

CPC Código de Processo Civil

EC Emenda Constitucional

EJUSE Escola Judicial de Sergipe

ENAMATRA Escola Nacional Associativa dos Magistrados da Justiça do Trabalho

ENFAM Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados

FGV Fundação Getúlio Vargas

FUNCEF Fundação dos Economiários Federais

IPESPE Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas

LC Lei Complementar

LINDB Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

NUGEP Núcleo de Gerenciamento de Precedentes

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PETROS Fundação Petrobras de Seguridade Social

PL Projeto de Lei

PIB Produto Interno Bruto

PREVI Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil

PREVIC Superintendência Nacional de Previdência Complementar

PUC/RJ Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

PUC/SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

REsp Recurso Especial

RUF Ranking Universitário Folha

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

TCU Tribunal de Contas da União

TJCE Tribunal de Justiça do Ceará

TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais

TJMS Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul

TJMT Tribunal de Justiça do Mato Grosso

TJPA Tribunal de Justiça do Pará

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo

TRF1 Tribunal Regional Federal da 1ª Região

TRF4 Tribunal Regional Federal da 4ª Região

TRF5 Tribunal Regional Federal da 5ª Região

TRT2 Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região

UEL Universidade Estadual de Londrina

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFBA Universidade Federal da Bahia

UFF Universidade Federal Fluminense

UFG Universidade Federal de Goiás

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UFPR Universidade Federal do Paraná

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

UnB Universidade de Brasília

UNESP Universidade Estadual Paulista

UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos

USP Universidade de São Paulo

RESUMO

Aborda as decisões judiciais na perspectiva do consequencialismo jurídico, segundo o padrão estabelecido no art. 20, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657/42), incluído pela Lei nº 13.655/18. Examina o efeito de decisões desatentas a consequências e o que podem impactar em atividades de significativa repercussão social e econômica, inclusive diante do objetivo fundamental estabelecido no art. 3º, II, da Constituição Federal de 1988. Expõe dados reveladores da tendência, extraídos de ações envolvendo previdência privada complementar fechada e um outro campo em menor escala empírica, causa de elevados custos socioeconômicos. Explora as ações formativas dos magistrados brasileiros, estaduais e federais, abordando aspectos da dogmática jurídica e a inclinação para decisões baseadas exclusivamente em princípios, sem considerar consequências. Destaca, nesses programas estabelecidos, a insuficiência da abordagem dos impactos sociais e econômicos de decisões judiciais sob um viés protecionista individual ou de grupos, sem análise sistêmica de interdependências. Delineado o problema no âmbito profissional da magistratura, propõe-se método de resolução dentro da formação inicial e continuada de juízes federais e estaduais, integrando aos programas das escolas judiciais curso voltado ao consequencialismo como padrão decisório, ancorado no diálogo interdisciplinar Direito & Economia.

Palavras-chave: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Consequencialismo jurídico. Padrão decisório judicial. Ações formativas da magistratura.

RESUMEN

Aborda las decisiones judiciales en la perspectiva del consecuencialismo jurídico, conforme al estándar establecido en el art. 20, de la Ley de Introducción a las Normas del Derecho Brasileño (Decreto-Ley nº 4.657 / 42), incluida por la Ley nº 13.655 / 18. Examina el efecto de decisiones desatendidas a las consecuencias y lo que puede impactar en actividades de importante repercusión social y económica, incluso en vista del objetivo fundamental establecido en el art. 3º, II, de la Constitución Federal de 1988. Expone datos que revelan la tendencia, extraídos de acciones que involucran planes de pensiones privados cerrados y otro campo de menor escala empírica, que genera altos costos socioeconómicos. Explora las acciones de formación de los magistrados brasileños, estatales y federales, abordando aspectos de la dogmática jurídica y la inclinación hacia decisiones basadas exclusivamente en principios, sin considerar las consecuencias. Destaca, en estos programas establecidos, la insuficiencia del abordaje de los impactos sociales y económicos de las decisiones judiciales bajo un sesgo proteccionista individual o grupal, sin un análisis sistémico de interdependencias. Esbozada la problemática en el ámbito profesional del poder judicial, se propone un método de resolución dentro de la formación inicial y continua de los jueces federales y estatales, integrando en los programas de las escuelas judiciales un curso dirigido al consecuencialismo como estándar de decisión, anclado en el diálogo interdisciplinario Derecho & Economía. Palabras clave: Ley de Introducción a las Normas de Derecho Brasileño. Consecuencialismo legal. Estándar de toma de decisiones judiciales. Acciones formativas del poder judicial.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................... .........09

CAPÍTULO 1 - ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS NAS DECISÕES JUDICIAIS:

ASPECTOS CONTROVERTIDOS............................................................................................15

1.1. O PADRÃO DECISÓRIO INSTITUÍDO PELA NOVA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS

NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB)..............................................................19

1.2. O APELO AOS PRINCÍPIOS NAS DECISÕES JUDICIAIS E A APLICAÇÃO DO ART.

20, CAPUT, DA LINDB EXTENSÍVEL ÀS RELAÇÕES PRIVADAS..............................23

1.3. ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS COMO ENGAJAMENTO INSTITUCIONAL NO

PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO............................................................................29

CAPÍTULO 2 - EFEITOS DE INTERVENÇÕES JUDICIAIS NAS RELAÇÕES

CONTRATUAIS DE ALTO IMPACTO SOCIOECONÔMICO SEM ANÁLISE DE

CONSEQUÊNCIAS: O CASO DA PREVIDÊNCIA PRIVADA.............................................37

2.1 O MITO DO SOLIDARISMO ACRÍTICO NAS DECISÕES SEM CONSIDERAR

CONSEQUÊNCIAS.............................................................................................................42

2.2 BREVE CASUÍSTICA DE REFORÇO NA ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS EM

DECISÕES JUDICIAIS: O CASO DA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL DOS JUROS

REAIS...................................................................................................................................48

CAPÍTULO 3 - O DESAFIO DA ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS FRENTE AO PERFIL

ÉTICO-HUMANISTA DAS AÇÕES FORMATIVAS DA MAGISTRATURA......................55

3.1 A GRADE NACIONAL OBRIGATÓRIA E UNIFICADA DE DISCIPLINAS E O

ESPAÇO RESIDUAL FORMATIVO DAS ESCOLAS JUDICIAIS REGIONAIS E

ESTADUAIS.........................................................................................................................59

3.2 REFLEXOS NA MAGISTRATURA DA FORMAÇÃO JURÍDICA DOGMÁTICA NO

BRASIL.................................................................................................................................60

3.3 VIESES COGNITIVOS NA ABORDAGEM DE IMPACTOS DECISÓRIOS NAS AÇÕES

FORMATIVAS VIGENTES.................................................................................................65

3.4 A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR DIREITO & ECONOMIA NA

CONSIDERAÇÃO DE CONSEQUÊNCIAS DAS DECISÕES JUDICIAIS: MÉTODOS

EMPÍRICOS DA BUSCA DA EFICIÊNCIA SEM O SACRIFÍCIO DA

JUSTIÇA...............................................................................................................................69

3.5 PROPOSTA DE AJUSTES DE PRÁTICAS NAS AÇÕES FORMATIVAS

PROFISSIONAIS NA PERSPECTIVA DO CONSEQUENCIALISMO DA

LINDB...................................................................................................................................76

.

CONCLUSÃO............................................................................................................. ..................81

REFERÊNCIAS............................................................................................................................83

ANEXO........................................................................................................................ ................101

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INTRODUÇÃO

Não é nova a discussão sobre o papel ideal dos juízes nas sociedades modernas, sendo

formuladas múltiplas teorias acerca das decisões judiciais, umas mais e outras menos dogmáticas,

e até antidogmáticas. Qualquer que seja o sentido, quando se cuida da atuação desses agentes

institucionalmente incumbidos da pacificação de conflitos, o fato é que perpassam diferentes

concepções ao longo do tempo. Abrange, assim, desde uma perspectiva de realismo pragmático

puro, enxergando o direito no que dizem os juízes, modelo anglo-americano que carregaria

inúmeras vantagens na distribuição da justiça (POUND, 1976), passando pelo positivismo legal

até as versões mais modernas que exaltam os princípios.

Ao que interessa como objetivo deste trabalho, importa investigar a atuação desses

profissionais nos diversos contextos da realidade empírica, dados os desafios de um país como o

Brasil, socialmente multicomplexo, a reclamar o enfrentamento de demandas crescentes de forma

eficiente. Com efeito, ao tratar da realidade brasileira ao longo de décadas, significa explorar a

importância a ser dada pelos juízes brasileiros ao resultado concreto de sua atividade decisória,

especificamente ao avaliar consequências sistêmicas, opondo-se a juízos metafísicos

especulativos. Isso passa necessariamente por compromissos que devem ir muito além do foco da

resolução do litígio no âmbito individual, entre as partes do processo, alcançando dimensões em

contextos socioeconômicos diversificados da sociedade brasileira.

A proposta da dissertação, portanto, ao cuidar da análise de consequências em decisões

judiciais, não tem o sentido de se marcar posição em determinada corrente filosófica (política ou

moral), sequer de colaborar teoricamente com inúmeras discussões acadêmicas acerca de

significados do ato de julgar. Longe disso, busca um sentido muito mais realista, pragmático por

se referir ao cotidiano de uma classe de operadores jurídicos, os magistrados, a partir de

disposição expressa da nova Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), assim

nominada depois da inserção de novos artigos promovida pela Lei nº 13.655/18 (BRASIL, 2018).

E nessa linha, voltada a esse segmento profissional (esfera decisória judicial), busca trabalhar

propostas objetivas no âmbito que se acredita dotado de maior eficácia, o das ações formativas da

magistratura brasileira.

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Os juízes brasileiros, com maior ênfase no 1º grau de jurisdição, mas não

exclusivamente, conforme será demonstrado por dados empíricos utilizados no trabalho, tendem

em muitos casos a não levar em conta esses reflexos. E quando avaliam consequências possíveis,

reitere-se, costumam se esgotar no âmbito estreito do conflito individual, carregadas de vieses

cognitivos protecionistas, considerando que ações da espécie superam em muito a quantidade de

litígios coletivos ajuizados no país. O que se pretende defender, tomando contribuições da cultura

moderna das organizações, é a incorporação pelos magistrados do pensamento sistêmico no

enfrentamento de litígios com alto potencial de impacto socioeconômico, capacidade de se

enxergar interdependências, o universo da floresta e não as árvores, individualmente (SENGE,

2013).

Não se nega a necessidade de atuação dos juízes, quaisquer que sejam as posições que

ocupem no judiciário brasileiro, rente aos valores consagrados na Constituição Federal (BRASIL,

1988), pilares do estado democrático de direito. Até porque nela se destaca um farto catálogo de

direitos fundamentais, inclusive a defesa do consumidor (apenas para pontuar uma esfera já

objeto de forte tutela intervencionista estatal), princípio ínsito à ordem econômica ao lado de

vários outros, os quais, somados, conformam as condições de justiça social reclamadas pela

sociedade brasileira.

O problema surge quando, dados os vieses da retórica abstrata nas decisões judiciais,

sobretudo nas intervenções contratuais em setores vitais da sociedade, por vezes embaladas numa

espécie de euforia de princípios, destituídas da correta compreensão do contexto onde produzirão

seus efeitos (MACEDO Jr, 2011), apela-se para um recorrente solidarismo. Nesse modelo,

quando se considera a hipercomplexidade social da realidade contemporânea brasileira, o efeito

mais sensível seria a renúncia da racionalidade econômica (TIMM, 2015).

Portanto, nesse tipo de decisão, desatenta a consequências por não considerar aspectos

da realidade que subjaz ao litígio, e as limitações por ela impostas, inclusive, mas não somente,

os custos envolvidos e a forma com que riscos são distribuídos para o conjunto da sociedade,

pode afetar setores vitais do país. E na esteira dessa afetação negativa, dada a geração de

externalidades com potencial de incentivar comportamentos distorcidos de pessoas, grupos e

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organizações, a consequência é o recrudescimento da insegurança jurídica, acarretando

instabilidade nas relações sociais e econômicas.

Não se trata da reafirmação do papel desses agentes como mera simbologia de poder,

cuja legitimação, de qualquer forma, eleva-se ao patamar do interesse público que o justifica

dentro da moldura institucional em que atuam. Mas, orientados pelas consequências de suas

próprias decisões, sem desgarrar dos valores constitucionais, atuando como elementos

indispensáveis nos arranjos garantidores de estabilidade das relações sociais e econômicas. Esse

será o sentido do trabalho, objetivamente voltado ao agir consequencial desses agentes

institucionais que importam para essa meta, os juízes (justiça comum federal e estadual).

O trabalho se justifica porque, ao propor métodos profissionais de atuação decisória

aptos ao enfrentamento e resolução da problemática nele colocada para discussão, mormente para

um país como o Brasil que ainda patina na rota para o desenvolvimento, também se mostra viável

por meio do ajuste de práticas nas ações formativas judiciais. O ponto central a ser defendido é o

agir consequencialista nos termos da LINDB, trabalhado como disciplina obrigatória e

permanente nos cursos oficiais de formação inicial e continuada de juízes, a partir de um modelo

já estabelecido de conteúdos unificados nacionalmente, a serem explicitados em detalhes no

curso do trabalho.

Também será feita, nesse novo contexto que se pretende implementado na prática

profissional da magistratura (a pesquisa é do tipo propositiva de soluções), abordado o problema

das decisões não orientadas em consequências, a defesa do diálogo interdisciplinar Direito &

Economia. De fato, considerando que se tratará de consenquencialismo jurídico como padrão

decisório agora positivado, e não meramente idealizado como desejável, reclama a abordagem de

contribuições oriundas da Análise Econômica do Direito (AED). Isso pela chamada ética

consequencialista em que se apoia o referido movimento, inspirada na racionalidade, justificando

a inserção nas ações formativas judiciais de estudos e experiências empíricas das ciências

econômicas.

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Com esse objetivo, a dissertação adotará uma estrutura simplificada de capítulos, a ser

empregada metodologia preponderante de pesquisa bibliográfica, e na parte do referencial

teórico, o consequencialismo jurídico como padrão decisório estabelecido pelo art. 20, da

LINDB. Haverá, ainda, a par da pesquisa bibliográfica, o emprego de mais duas estratégias

metodológicas, assentadas na análise de registros em outros meios, dados documentais e de

jurisprudência.

No primeiro campo, o objeto de exame serão os conteúdos das ações formativas

profissionais da magistratura brasileira, buscando daí se extrair explicações para as tendências

decisórias desatentas a consequências. Basicamente, são os regulamentos normativos

estabelecidos pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados – ENFAM.

Paralelamente a essas fontes internas, também pesquisas no próprio seio da classe jurídica em

estudo, coordenadas por meio de parcerias da Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB

com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC/RJ e a Fundação Getúlio Vargas

– FGV/IPESPE, em períodos distintos.

No segundo campo serão trabalhados os dados empíricos da pesquisa, mediante a

seleção de casos no âmbito da previdência privada complementar fechada (e outro em abordagem

mais reduzida, os contratos bancários), destacando-se dois como significativos em termos de

repercussão no setor por mais de uma década. O objetivo, nesse ponto, a partir de um número

expressivo de ações ajuizadas no país, até o estabelecimento recente de precedentes pelo Superior

Tribunal de Justiça, será revelar os impactos das decisões neste que, historicamente, tem se

revelado como importante setor socioeconômico do país.

Ainda no acervo documental da pesquisa, serão tratados dados empíricos de outras

fontes relacionados à geração de déficits nas reservas desses fundos, fruto da judicialização

intensiva da matéria. Visando aferir a repercussão dessas decisões em termos quantitativos,

consideradas no trabalho como desatentas a consequências, serão expostos dados obtidos junto ao

Núcleo de Gerenciamento de Precedentes (NUGEP) do Tribunal de Justiça do Estado de São

Paulo, e bem assim do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

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Serão objeto de exame, ainda, registros constantes de publicações setoriais

especializadas, como a Revista da Previdência Complementar Fechada, da Associação Brasileira

das Entidades Fechadas de Previdência Complementar – ABRAPP, relatórios e estudos da

Superintendência Nacional de Previdência Complementar – PREVIC (Relatório de Estabilidade

da Previdência Complementar – Julho 2020) e da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico - OCDE (relatório Pension Markets in focus 2019). A finalidade

aqui será demonstrar, nesse setor escolhido, as consequências também em números das decisões

judiciais interventivas em contratos celebrados por milhares de pessoas em todo o país.

Posta a estrutura, o trabalho inicia (capítulo 1) com a discussão de alguns aspectos

controvertidos do tema em decisões judiciais, e deles se extraindo a defesa da análise de

consequências não como argumento meramente subsidiário, ou no máximo reservado a casos

difíceis. O objetivo, assim, será sustentar que juízes, ao decidirem, no dizer de Amartya Sen,

devem encarar as consequências porque “facilita o discernimento quando investigamos os

inescapáveis problemas de interdependência envolvidos na apreciação do valor dos direitos em

uma sociedade” (1999, p. 89). No desdobramento dos itens serão tratadas questões correlatas,

destacando-se o consequencialismo como padrão decisório da nova LINDB frente aos princípios

jurídicos e aspectos relacionados ao desenvolvimento do país.

Nos dois últimos capítulos (2 e 3) e respectivos itens, o primeiro será dedicado a análise

em parte dos dados empíricos da pesquisa, sendo exposta uma breve casuística a partir de outras

situações de decisões judiciais consideradas desatentas, reveladoras de solidarismo acrítico e

incentivos a uma cultura de litigância. No outro o foco da análise serão as características da

formação profissional dos magistrados brasileiros, circunscrita ao já citado ramo comum de

jurisdição (justiças federal e estadual). A crítica terá por base a preponderância de um

dogmatismo jurídico fechado, infenso a contribuições interdisciplinares, o que se verifica pela

abordagem de consequências impregnada de vieses nas grades de disciplinas, sob uma

perspectiva protecionista de grupos, não sistêmica.

O trabalho será finalizado com oferta de método de resolução do problema identificado

nessas ações formativas, mediante elaboração de programa de curso voltado ao

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consequencialismo como padrão decisório, veiculando proposta de aplicação nas escolas judiciais

regionais e estaduais. Também será defendida a inserção no programa de estudos relacionados à

AED, considerados essenciais a um padrão argumentativo judicial consequencialista nos termos

da LINDB, bem como o aprimoramento das chamadas capacidades institucionais. A mesma

proposta, considerado o projeto pedagógico como um todo, contemplará a organização prévia em

nível nacional de cursos de capacitação dos formadores, os quais, a partir dessas novas diretrizes

assentadas na análise de consequências, replicariam aos juízes por regiões e estados.

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CAPÍTULO 1 - ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS NAS DECISÕES JUDICIAIS:

ASPECTOS POLÊMICOS

É controverso o tema do consequencialismo no campo das decisões judiciais,

interessando ao trabalho a sua análise no âmbito da linguagem jurídica e não no da filosofia como

teoria ética normativa, mesmo em sua vertente mais conhecida e comumente ligada às polêmicas,

o utilitarismo (NAHRA, 2014). Sob esse enfoque restrito, estando voltado à atuação da

magistratura na resolução de conflitos concretos na sociedade, terá uma abordagem de

consequências no plano da prática, sem imiscuir-se em questões profundas de deontologia. Será,

portanto, tratar o consequencialismo no sentido que o termo tem nessa linguagem (jurídica),

apenas, considerando que “os problemas filosóficos nascem quando a linguagem entra em férias”

(WITTGENSTEIN, 1996, p.42).

Resumindo os propósitos centrais do trabalho, sobre o qual guiou-se o objeto da

pesquisa: seria, precisamente, estudar o papel do juiz orientado por consequências como aquele

profissional atento aos fatos e suas interdependências, um pragmático cotidiano, não filosófico, o

que se interessa pelo que está em jogo sem ignorar o ordenamento jurídico (POSNER, 2010).

No âmbito da polêmica, para o lado da crítica, atribui-se a esse tipo de argumento um

objetivo de manipulação de resultados, qualquer que seja ele (ocorrência ou não de determinados

efeitos), espécie de voluntarismo a serviço das preferências do juiz. O próprio termo

“consequencialismo”, conforme outro registro de Amartya Sen (2011), teria sido utilizado pelos

detratores desse tipo de análise como algo desagradável, pejorativamente em tom negativo nos

debates sobre uma deontologia sensível ou insensível a consequências. Originalmente, o

vocábulo surgiu, já com seu sentido crítico, no artigo Modern Moral Philosophy, de autoria da

filósofa britânica Elizabeth Anscombe (1958).

Prosseguindo no sentido da crítica, igualmente se encontra na doutrina nacional um

número significativo de manifestações de autores que se dedicam ao estudo da teoria geral do

direito. Assim, o juiz que avalia consequências seria o que intenta ajustar o direito ao seu gosto,

algo grave por ignorar, deliberadamente, a “estrutura normativa diretamente aplicável, dos efeitos

16

diretamente produzidos nos bens jurídicos protegidos pelos direitos fundamentais e dos princípios

fundamentais imediatamente aplicáveis à matéria” (ÁVILA, 2019, p. 52).

Portanto, agir com atenção aos efeitos práticos, sob tais visões críticas, significaria

perseguir resultados prévia e meramente idealizados, ainda que em prejuízo de valores

consagrados no ordenamento jurídico, aos quais os juízes devem fiel obediência. Tal quadro

revelaria, até mesmo, uma perniciosa justificação para o ativismo como resultado de uma

dogmática jurídica desorientada (ou até repudiada), expondo, inclusive, questões sensíveis de

legitimação democrática de juízes adeptos do consequencialismo (FERRAZ Jr, 2019).

O que se verifica nesses debates, a rigor, quando circunscrito o tema do

consequencialismo ao campo jurídico, são visões contrapostas que partem de um ponto comum

em que repousa a verdadeira polêmica. Com efeito, esse ponto, ao se tratar no trabalho

especificamente de decisões judiciais (e não aquelas proferidas em outras esferas do poder

estatal), diz respeito ao pragmatismo que é requerido ao juiz que deve analisar consequências

práticas.

O fato é que, quando se foca no cerne dessa polêmica da análise de consequências em

decisões judiciais, parece que tudo remonta ao realismo jurídico como teoria em que o

pragmatismo extrai os seus fundamentos, e por extensão o consequencialismo em sua forma

recepcionada pelo direito. É dessa fonte que as críticas se originam, porque centralizadas nas

objeções ao que se entende como excesso de protagonismo judicial.

Surgida na primeira metade do século passado, sobretudo nos Estados Unidos da

América e em países escandinavos (embora com versões diferenciadas), a teoria que parece

subsidiar o conjunto dessas críticas até os dias atuais, fortemente, é a norte-americana. Mais de

perto a que foi sustentada por Oliver Wendell Holmes Jr, sua maior referência, defensor do

pragmatismo jurídico levado ao extremo, avesso a conceituações metafísicas (GODOY, 2006),

fundado num realismo que propugna uma visão descritiva do direito, o que os juízes efetivamente

produzem em seu labor diário.

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No Brasil, estando o receio de tantos centrado no ativismo judicial que animaria essa

postura decisória, talvez fosse útil recorrer a um realista do outro lado do atlântico, justamente

sobre avaliação de fatos e considerações pragmáticas, nada mais significando que “deliberações a

respeito das consequências que uma certa interpretação acarretará, estimadas e mutuamente

ponderadas à luz de valores fundamentais” (ROSS, 2007, p. 176). Nesses termos, o pensar

consequencial dos juízes em ação, sobretudo em setores vitais para a sociedade, não deveria ser

(sempre) encarado como manipulativo de resultados, indiferente à moldura

institucional/normativa com os seus valores.

Vê-se, portanto, tratar-se de uma abordagem enviesada, de fora pra dentro do sistema

judicial, marcada por um tipo de desconfiança automática e que beira ao preconceito, ainda que

temerosa do arbítrio. Muito pelo contrário, o consequencialismo que se defende no trabalho, a ser

objeto de estudos permanentes nas ações formativas da magistratura, justamente por agora

emergir como contingência do direito posto, legislado (art. 20, da LINDB), é o tipo

compreendido nos limites do ordenamento jurídico e não, conforme temido por alguns, “por uma

vulgata pragmaticista qualquer” (ABBOUD, 2019).

Ainda no campo das controvérsias, até então destacados argumentos relacionados aos

voluntarismos a serviço de visões ideológicas de mundo, ou mesmos ativismos judiciais

impregnados de problemas de legitimação democrática, há um outro menos abstrato, agora mais

colado à realidade. Aqui ele se apoia em um problema de assimetria informacional, a questão das

chamadas capacidades institucionais (SUNSTEIN; VERMEULE, 2003), daí que se sustenta

faltar aos juízes, limitados os seus conhecimentos fora da dogmática jurídica, a especialização

necessária para avaliação de efeitos sistêmicos (consequências) de suas decisões.

Aliás, esse aspecto da assimetria, a envolver, especificamente, os juízes na construção da

decisão, opera-se já na própria atividade probatória interna do processo, muitas vezes ditada por

oportunismos de partes que almejam dela tirar proveito. Na doutrina, exemplifica-se com os

contratos de cumprimento diferido no tempo, mediante a inserção de cláusulas que subtraiam, do

julgador, a possibilidade de verificação de todas as implicações futuras, e a menos que as partes

18

atuem cooperativamente no processo, finda ocorrendo uma manipulação dos limites do agente

encarregado da resolução do conflito (CRISTOFANI, 2020).

São aspectos, assim, muito importantes da crítica, sem dúvida, embora se deva ter o

cuidado - tomada a realidade brasileira - do uso do argumento da maneira que Diego Arguelhes e

Fernando Leal rotulam de banal, redundante ou até mesmo absurda, por lhes faltar clareza

estrutural (2011). É aqui que entram, voltando-se aos efeitos externos das decisões, para além dos

interesses individuais das partes em litígio, as questões das chamadas deferências institucionais,

hoje tão em voga nos debates sobre as relações entre poderes. Ou seja, do judiciário para fora,

justificando certa contenção nas decisões quando estão em jogo o domínio de capacidades

técnicas extrajurídicas complexas, a considerar, dentre outras, expertises da administração

executiva e de agências reguladoras.

Estando o trabalho focado nas ações formativas desses profissionais, o que se defende é

que as capacidades institucionais, também elas, não podem ser negligenciadas nos programas de

disciplinas voltadas aos impactos das decisões judiciais em setores vitais da sociedade. Significa

que não basta a temática ser tratada, como hoje, exemplificando, apenas no plano das ações de

coordenação administrativa do Conselho Nacional de Justiça, mormente no campo dos direitos

sociais, relacionadas a demandas envolvendo o direito de assistência à saúde, pública e

suplementar (CNJ, 2019).

Com efeito, pesado o conteúdo técnico de algumas controvérsias judiciais, e por isso

restrito, reitere-se, aos questionamentos em matérias de outros campos do conhecimento, fora do

direito (por exemplo, áreas da economia, da medicina e da engenharia), justificando assessorias

especializadas, as ações formativas em muito podem contribuir para o fortalecimento das

capacidades institucionais. Assim, quando se cuida da avaliação de consequências em decisões

judiciais, ao se incorporar nos projetos pedagógicos da magistratura essa abertura para a

interdisciplinaridade, cujo foco do trabalho, nesse particular, serão os aportes da análise

econômica do direito, essas capacidades tenderão a fazer parte do próprio labor diário desses

agentes institucionais. Nesse sentido, cabe o registro de importante ferramenta auxiliar a ser

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trabalhada, consistente nos mecanismos de cooperação interinstitucional estabelecidos na

Resolução nº 350, do CNJ (CNJ, 2020).

Portanto, os ganhos das capacidades institucionais adquiridas são, pois, vitais a serem

trabalhados nos projetos formativos profissionais, sobretudo pelo tempo das respostas que se

requer do juiz em uma sociedade em rápida transformação como a brasileira, e a consequente

demanda crescente por direitos. Atualmente, no país, esse é um quadro que bem se ajusta ao que

disse Jacques Derrida no sentido de que a justiça não espera e nem a decisão justa pode tardar,

concluindo com acerto que “ela não pode se permitir a informação infinita e buscar o saber sem

limites das condições, das regras ou dos imperativos hipotéticos que poderiam justificá-la” (2018,

p. 51).

Concluindo o ponto, vê-se que as polêmicas que cercam o consequencialismo jurídico,

até mesmo por envolver diferentes visões de mundo, haverão de persistir nos diversos

ordenamentos jurídicos. No Brasil, sobretudo em um contexto atual de economia globalizada,

requerer do juiz a ponderação de consequências nas decisões não significa chancela para a

afirmação de preferências pessoais de resultados. Ao contrário, justamente pelos múltiplos

princípios albergados na CF/88, é que esses agentes estão cada vez mais “impingidos a pensar

seriamente sobre relações de adequação entre meios jurídicos e fins normativos, relações essas

que não podem ser obtidas somente com a filosofia, a lógica, a filologia ou a gramática”

(PARGENDLER; SALAMA, 2013).

1.1. O PADRÃO DECISÓRIO INSTITUÍDO PELA NOVA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS

NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB)

Editada a Lei nº 13.655/18, inserindo dispositivos (artigos 20 a 30) no vetusto Decreto-

Lei nº 4.657/42 (BRASIL, 1942), conferiu a este o rótulo de nova Lei de Introdução às normas do

Direito Brasileiro (LINDB). Segundo consta da ementa oficial, as suas disposições se destinam a

conferir segurança jurídica e eficiência na criação e aplicação do direito público. Cuidando-se de

uma lei geral, se tradicionalmente estava voltada, quase integralmente, aos padrões de aplicação

20

da lei brasileira no tempo e no espaço, agora se ocupa do campo decisório também em termos de

previsibilidade e estabilidade das relações jurídicas.

Interessa aos objetivos do trabalho, essencialmente, o art. 20, da LINDB1, o primeiro do

elenco de dispositivos a ela acrescentados, começando por indagar se por ele o legislador, ampla

ou restritivamente, teria instituído um padrão argumentativo de decisões nas esferas

administrativa, controladora e judicial. A própria lei no seu conjunto, e o problema que se

pretende erradicar no dispositivo em particular, surgiu já sob suspeita de poder alcançar concreta

aplicação, sobretudo de autodeclarados pragmatistas desconfiados. São tipos descrentes da

dogmática jurídica aprisionadora, e essencialmente da parte daqueles envolvidos em pesquisas da

forma como majoritariamente são proferidas as decisões no judiciário brasileiro, lançam dúvidas

de que consequências, agora, serão efetivamente levadas a sério (TIMM, 2019).

Pessimismos à parte, não se pode ignorar o fato de que um tema como esse, a análise de

consequências em todas as instâncias institucionais decisórias, tenha agora, expressamente,

ocupado espaço em um diploma legal que é referencial de todo o ordenamento jurídico no Brasil,

a despeito de qual seja o ramo do direito. É dizer, não mais se resume ao campo das especulações

filosóficas ou mesmo dogmáticas enquanto teoria da decisão judicial, migrando para a prática

cotidiana, normativamente cogente. Significa, por assim dizer, uma virada pragmática, a busca do

domínio das perspectivas dos fatos demonstrados no processo judicial, permitindo ao juiz a

avaliação prospectiva da decisão a ser tomada (MEDAUAR, 2019).

O referido dispositivo, inserido em uma lei geral, parece indicar um padrão a ser

obrigatoriamente observado na tomada de decisões judiciais, orientado na avaliação de

consequências. Cuida, portanto, de um consequencialismo jurídico agora positivado no país, e

dele os juízes não podem se afastar, embora, segundo a literal dicção legal, ao menos nos casos

em que forem exaltados valores jurídicos abstratos nas decisões.

Assim, não são poucas, e certamente haverão de persistir ao sabor das diferentes visões

dogmáticas, as suspeitas de que o dispositivo efetivamente irá provocar impactos significativos 1 Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

21

no cotidiano das decisões do poder estatal, sendo improvável que se alcance uma sistematização

como regra desse tipo de argumentação (MORAIS; ZOLET, 2018). É bem no sentido contrário

em que se pauta a proposta do trabalho, pois, se há no imaginário popular a crença de que, no

Brasil, algumas leis pegam e outras não, o que se defende é que a LINDB, e em particular o

dispositivo em estudo, haverá de encontrar nas ações formativas da magistratura a sua devida

consideração e efetiva aplicação no cotidiano forense.

Não há no dispositivo, cabe também o registro, uma espécie de redundância normativa

frente ao que já estava disposto no art. 489, §1º, II, do Código de Processo Civil2 (BRASIL,

2015), senão um necessário reforço argumentativo no esquema decisório judicial. Com efeito, a

norma processual civil, detalhando um comando constitucional (art. 93, IX, da CF/883), foca no

dever de explicitação da relação do conceito jurídico indeterminado ao caso concreto sob

julgamento. O enunciado do art. 20, da LINDB vai além, prevendo também, na esfera judicial, a

adição de elemento necessário da fundamentação da decisão, precisamente a consideração de

suas consequências práticas.

Há também, por outro lado, percepções similares por parte de outros, não se enxergando

nessas disposições da LINDB a afirmação da prevalência de uma visão consequencialista do

direito, senão apenas um comando a que se leve em conta os resultados práticos das decisões,

permitindo que se avalie a proporcionalidade da medida adotada (JUSTEN FILHO, 2018). Seria,

segundo essa compreensão, nada mais que uma especificação da referência ao juiz contida na

mesma lei geral, atento que deve estar às exigências do bem comum (art. 5º), daí que o

dispositivo finda por conferir a este uma dupla eficácia.

A rigor, nem seria o caso de se temer preponderância ou não desse tipo de argumento,

uma discussão que se mostra secundária e que tem mais a ver com embates teóricos filosóficos, já

destacados em tópicos anteriores do presente trabalho. O que efetivamente importa, alinhado aos

2 São elementos essenciais da sentença[...]empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso. 3 Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

22

propósitos de se inserir o tema com critérios racionais nas ações formativas da magistratura

(questionando-se o modelo vigente, impregnado de vieses protecionistas), é que a análise de

consequências passe a integrar todos os processos decisórios judiciais. E mais, sem distinção de

se tratar de casos fáceis ou difíceis, ressaltando os vários outros escopos da jurisdição que vão

além dos limites da resolução de conflitos individuais, os potenciais impactos socioeconômicos

sistêmicos não desejados, indiretos e não devidamente ponderados (VIARO, 2019).

Tudo isso permite afirmar que, num sentido pragmático, nos termos do art. 20, da

LINDB, a mensagem que dele se extrai, certamente, não é a da submissão da consideração de

valores jurídicos abstratos nas decisões diante da análise de consequências. Ou seja, justamente

por não vetar decisões baseadas nesses conceitos jurídicos indeterminados, não compele o juiz a

nelas imprimir uma interpretação do direito apenas em função dos seus resultados. Essa seria

mesmo uma tarefa inglória do legislador ordinário, diante de uma Constituição como a brasileira

que inundou o sistema jurídico de normas conceitualmente abertas.

Oportuno aqui, a propósito dessas temáticas em que se confrontam a consideração do

que está em jogo ex ante (valores) ou ex post (resultados práticos), o registro no sentido de que “o

processo de avaliação de consequências depende muito de seu meticuloso exame à luz daqueles

que são considerados os princípios constitucionais fundamentais”, conforme elucida Neil

MacCormick (2006, p. 171). O próprio autor adverte, na mesma obra (Legal reasoning and legal

theory), não se tratar de argumentos apenas disponíveis no sistema da common law, igualmente

adequando-se aos modelos de interpretação de normas que emanam de leis promulgadas.

No contexto da magistratura brasileira, particularmente nas ações formativas de juízes,

ao se pretender trabalhar modelos decisórios baseados na análise de consequências, essas

questões adquirem uma relevância destacada. Isso decorre agora das disposições do art. 20, da

LINDB, numa linguagem clara, frente a uma cultura dos valores jurídicos abstratos muito

influente no Poder Judiciário, daí a proposta do trabalho ser no sentido do estímulo a esses

profissionais de não se negligenciar a perspectiva de mundo real. É dizer, visão não meramente

idealizada, moldada por preferências e indiferente a potenciais efeitos sistêmicos, algo

considerado até por filósofos, quando advertem aqueles que insistem em não encontrar “um

23

argumento definitivo sobre a diferença entre a realidade e a fantasia, mas a realidade tem o peso

da gravidade (e da contabilidade) ao seu lado” (PONDÉ, 2019, p. 27).

Assim, foi mesmo instituído um padrão decisório consequencialista no dispositivo em

questão, normativamente cogente, embora, reitere-se, sem o significado de método preponderante

de interpretação do direito aplicado nas decisões judiciais. Ao contrário, realça a convivência dos

argumentos do tipo com a consideração de valores jurídicos abstratos, mostrando que o

dispositivo, longe dos receios de tantos, mais que enaltecer o consequencialismo, chama a

atenção para a necessária responsividade das decisões judiciais (MARQUES NETO; FREITAS,

2019).

Em suma, há um parâmetro de equilíbrio a ser observado nesse modelo inaugurado pelo

art. 20, da LINDB, e que foi bem sintetizado por Ruy Pereira Camilo Junior em uma linguagem

de sentido conotativo místico:

Repudia-se os xamãs que imaginavam deter alguma ligação transcendental com o universo jurídico, que lhes permitiria dizer o direito pela mera invocação extática de valores genéricos. Mas não podemos substituí-los por pitonisas que se limitem a imaginar os resultados futuros de suas decisões, para cumprir prima facie a letra da nova lei, sem efetivamente estudar os impactos de seus atos, por técnicas e meios consagrados. Não podemos admitir que o voluntarismo dos adivinhos do direito, com suas fórmulas abstratas, seja substituído pelas profecias mal justificadas a respeito dos desdobramentos que advirão (2019, p. 89).

1.2 O APELO AOS PRINCÍPIOS NAS DECISÕES JUDICIAIS E A APLICAÇÃO DO

ART. 20, CAPUT, DA LINDB ÀS RELAÇÕES PRIVADAS

Abordou-se até aqui que o dispositivo em questão, segundo uma perspectiva restrita ao

campo da decisão judicial, indica um padrão que envolve a análise de consequências a ser

seguido pelos juízes. É certo que, também isso foi salientado, o legislador estabeleceu uma

espécie de recorte no âmbito da interpretação do direito aplicável ao caso concreto, vale dizer, os

casos em que as decisões estejam alicerçadas em valores jurídicos abstratos.

24

Melhor andaria o legislador, ao menos na linha da proposta defendida nesse trabalho, se

tivesse emitido o enunciado cogente para todas as situações em que conflitos são levados à

resolução pelos tribunais. Quaisquer que sejam elas, independentemente do recurso aos conceitos

jurídicos abertos. Isso porque, embora constituam situações menos frequentes, algumas decisões,

ainda que não apelem para os fraseados retóricos profundos, insistem em divagar na

normatividade do dever ser do mundo do direito, revelando abstrações que findam por se impor à

realidade do mundo do ser, o plano dos fatos concretos (POGREBINSCHI, 2008).

A própria expressão legal, dada a referência no dispositivo a valores jurídicos

“abstratos”, não deixa de ser curiosa. É como se estivesse admitindo a existência no ordenamento

jurídico de outra categoria de valores, e estes seriam os “valores concretos”, hipoteticamente

liberados da análise de consequências práticas quando invocados em decisões judiciais. A rigor,

essa dubiedade interpretativa iria no sentido contrário aos próprios objetivos da lei, o de reforçar

o postulado da segurança jurídica na aplicação do direito, ao lado da eficiência.

O trabalho, ao se dirigir a um segmento profissional da operação cotidiana do direito, a

magistratura, só reflexamente poderá atrair interesse acadêmico genérico, uma vez que formula

proposta apta a produzir efeitos nas ações formativas específicas da categoria. Portanto, sem

recorrer à filosofia kantiana, não se ocupará de questões conceituais aprofundadas acerca do que

significam esses valores de que trata o art. 20, da LINDB, pontualmente. Até porque não há,

sequer, consenso de que valores abstratos, enquanto conceitos abertos, derivam de uma

consciência histórica ou se variam de significado em função das distintas realidades sociais,

enfim, se gozam ou não de aprovação quanto a serem categorias universais (RAZ, 2004).

Suficiente, ao que interessa para o trabalho, a compreensão de que o legislador, ao se

referir a valores jurídicos abstratos, positivou a exigência da análise de consequências práticas em

decisões judiciais amparadas em quaisquer conceitos indeterminados. Pouco importa, nesse

sentido, se a invocação é direta ou indireta a valores, a princípios, a cláusulas gerais, a

postulados, a fraseados retóricos ou ao que mais possa animar o abstracionismo do prolator da

decisão.

25

Tomado o enfoque particular de dois desses conceitos citados, não interessa também ao

trabalho discutir com profundidade se valor é o mesmo que princípio. Estando voltado à atividade

cotidiana dos juízes, pode-se destacar uma certa propensão dos tribunais brasileiros por decisões

na linha da chamada jurisprudência dos valores, meios de criação do direito pela via judicial,

sem as amarras excessivas da legalidade (LARENZ, 1997), sendo, nesse sentido, conceitos

equivalentes. Sob um enfoque distintivo, princípios seriam manifestações imutáveis que o

homem não inventa, apenas descobre e sacraliza, ao passo que valores seriam criações humanas,

sujeitos a interesses mutantes, circunstanciais (GUTIÉRREZ, 2018).

Seja como for, essa distinção parece não haver no âmbito da CF/88, bastando a menção

aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa como exemplos de princípios fundamentais da

república (art. 1º, IV). A própria LINDB, conforme já foi visto, traz em sua ementa o destaque da

“segurança jurídica”, conceito que, ao tratar da relação tempo e direito e sua respectiva função

estabilizadora em um mundo de incertezas (CUEVA, 2016), encontra na análise de

consequências das decisões judiciais a sua esperada observância pelos juízes. E ele mesmo é

tratado indistintamente, ora como princípio ora como valor, e isso não tem nenhuma relevância

para os fins deste trabalho.

Assim, conforme foi medianamente captado - até então - em comentários doutrinários

sobre o art. 20, da LINDB, é possível afirmar que o alvo primordial do legislador foi a decisão (a

judicial, dentro do recorte do trabalho) baseada, exclusiva ou preponderantemente, em princípios

jurídicos. Princípios, de fato, encantam, trazendo o risco de serem sacados nas decisões judiciais

como alívio do fardo argumentativo, e a prática da ponderação entre eles, quando verificada no

STF, segundo crítica de Eros Roberto Grau, significa a imposição de juízos de valor de forma

arbitrária, despedaçando a segurança jurídica (2017).

Com efeito, essa prática de se apelar a esses meios interpretativos do direito, aplicados

nas soluções dos litígios, a rigor, conforme foi visto em passagens anteriores deste trabalho, pode

ser explicada pelo caráter acentuadamente principiológico da Constituição Federal de 1988. Se

decorre ou não de leitura na linha do que se convencionou chamar de neoconstitucionalismo e sua

correlata exaltação aos princípios, não é o caso de se enveredar aqui por essas discussões de

26

cunho teórico. Basta que não se ignore, considerados os fins de um trabalho dirigido a produzir

efeitos nas ações formativas da magistratura, o caráter normativo dos princípios na forma como

foram incorporados no texto (explícita ou implicitamente), surgindo a ideia da força normativa da

Constituição como meta a ser explorada pelo Direito Constitucional (HESSE, 1991).

Portanto, sendo normativos os princípios, pode surgir, no campo das decisões judiciais,

o apelo excessivo e que se esgota na simples invocação, resultando na construção de soluções

abstratas, meramente idealizadas para quase todos os tipos de conflitos. O legislador

infraconstitucional, ao editar a LINDB, procurou, no art. 20, justamente prevenir esse tipo de

problema, vale dizer, evitar o decisionismo arbitrário disfarçado em argumentos retóricos

profundos, porém rasos de sentido, ao exigir a análise fundamentada de consequências práticas

nas decisões judiciais. Seria, por assim dizer, uma atenção que se cobra do juiz também acerca da

normatividade dos fatos, estes que antecedem ao próprio direito e ao mesmo tempo integram o

ordenamento jurídico (ROMANO, 2008), visão que em muito contribui para uma correta

avaliação de possíveis efeitos futuros de suas decisões.

Por outro lado, é evidente que toda decisão judicial por si só traz consequências no plano

da realidade, variando apenas, quanto à esfera de direitos dos sujeitos atingidos (dentro ou fora da

relação processual), em termos de amplitude e intensidade. O sentido da lei, assim, bem revela a

preocupação com a análise de consequências nesses casos específicos de utilização de valores

jurídicos abstratos, inclusive para se desnudar tentativas ocultas de mera afirmação pessoal de

autoridade do prolator da decisão (ANDRADE, 2019).

O apego aos princípios pelos juízes brasileiros, portanto, tem muitas vezes o objetivo

deliberado de produzir consequências. O problema é que, sendo previamente idealizadas,

conforme será adiante objeto de exame específico do trabalho, as ações formativas desses

profissionais, tal como hoje orientada para a abordagem dos impactos econômicos e sociais das

decisões judiciais, apresenta um claro viés tutelar de grupos e setores. Ignora, nesse sentido, as

interdependências sistêmicas entre eles em uma sociedade multicomplexa como a brasileira, e na

opção entre as retóricas dos princípios e das consequências, a última se sai melhor pela conexão

com a realidade, o que lhe permite ser falseada (MENDONÇA, 2018).

27

Assim, constitui registro sintomático o que foi revelado em pesquisa de opinião

patrocinada pela Associação dos Magistrados Brasileiros - AMB, acerca do compromisso desses

profissionais em termos de consequências sociais ou econômicas das decisões prolatadas. Tome-

se, nesse particular, as respostas colhidas na instância mais numerosa de juízes atuantes, o 1º grau

de jurisdição, onde 80,3% desses agentes marcaram preferência para o lado social, contra 37,3%

para o aspecto econômico. O primeiro percentual, quando se trata dos juízes com menor tempo na

carreira (até cinco anos), eleva-se para 90,2% (SADECK, 2011).

Diante de um panorama como esse, ao se produzir um trabalho com pretensões de tratar

do tema no âmbito das ações formativas desses profissionais, corre-se o risco (consciente) da

absorção na classe de uma das vertentes do que seria um modelo “à brasileira” de

consequencialismo jurídico, descritas por Luís Fernando Schuartz. Dadas as pertinentes

observações do autor nessa temática, importante que a elas se reserve, na sequência, alguns

comentários mais detidos, todos contextualmente extraídos do artigo “Consequencialismo

Jurídico, Racionalidade Decisória e Malandragem” (2011).

Segundo o autor, seriam tipos ideais de recurso ao argumento consequencialista que

qualifica de “festivo”, “militante” e “malandro”, não necessariamente com conotação negativa,

mas dependentes das circunstâncias. A variação entre eles, dentre outros aspectos, estaria no grau

maior ou menor de respeito à dogmática jurídica, bem como a outras formas tradicionais de

argumentação nas decisões judiciais.

O tipo “festivo”, caricatural, seria o que se caracteriza pelo desprezo ao modelo

tradicional dogmático de argumentação das decisões judiciais no Brasil, inspirado, segundo ele,

no transplante entusiasmado e elitista da doutrina norte-americana da Análise Econômica do

Direito, acriticamente. Sob essa roupagem, a considerar o conteúdo a ser tratado no capítulo 3,

itens 3.4 e 3.5, deste trabalho, o ponto tratará de esclarecer que, na proposta final a ser formulada,

serão evitados quaisquer incentivos a posturas decisórias festivas de juízes no cumprimento do

art. 20, da LINDB.

28

Seguindo a ordem, o consequencialismo “militante” seria o que, embalado pelo

encantamento dos princípios (sobretudo constitucionais), abraça uma causa (normalmente do lado

da parte considerada mais fraca) a defender, e com ela os riscos da ausência de imparcialidade do

julgador. Voltando ao dispositivo legal, colocado neste trabalho sob o que seria a percepção do

articulista, esse do tipo militante seria a burla do agora padrão legal argumentativo, tal como a

LINDB intenta evitar. Isso porque, nos termos do autor, estando a militância judicial ancorada na

aplicação direta de princípios, colocados a serviço de uma concepção própria de justiça material,

tudo seria (orgulhosamente declarado) uma questão de merecimento da parte A ou B, desde que

carregue o rótulo da vulnerabilidade.

Por derradeiro, o tipo “malandro” de consequencialismo jurídico seria, na visão do

mesmo autor, o mais refinado, esperto por assim dizer, o que lança mão da dogmática, só que de

uma maneira reconfigurada, ao gosto do julgador. São nessas situações em que são criados

verdadeiros estados de exceção, colocando-se o ordenamento jurídico, habilidosamente, a serviço

muitas vezes de privilégios, verdadeira destruição criativa com feições de acomodação de atritos

nos conflitos, sem alardes.

Vê-se, portanto, a partir dessas argutas considerações, o grau elevado de sensibilidade (e

na mesma medida controverso) com que é tratado o tema do consequencialismo jurídico no

campo das decisões judiciais. De uma maneira geral, cabe reiterar, a mira central do art. 20, da

LINDB, parece ser mesmo o problema das decisões judiciais com aplicação direta ou indireta de

princípios jurídicos. Um dos idealizadores do projeto da lei chegou certa feita a indagar se

princípio é preguiça, isso no sentido do comodismo argumentativo de juízes, e embora não os

reconheça como imperfeições do sistema, adverte que “é preciso insistir nisto: citar múltiplos,

belos e vagos princípios, transcrever páginas e páginas de elogios a eles, manifestar propósitos

generosos, nada disso é motivar; é soltar fumaça” (SUNDFELD, 2011, p. 287-305).

Fechando o tópico e à luz de tudo que foi até aqui considerado, defende-se no trabalho a

aplicação do dispositivo legal em análise também às relações privadas. Isso porque, ainda que a

Lei nº 13.655/18 disponha em sua ementa o direito público como campo de incidência, ao menos

o caput do art. 20, naquilo que igualmente se refere à esfera judicial, não reserva ao âmbito

29

administrativo os elementos da motivação da medida, como especificamente fez na descrição do

parágrafo único. E nem poderia ser diferente, cuidando-se a LINDB de uma lei geral,

tradicionalmente entendida como um feixe de normas de sobredireito (BENETON, 2019),

aplicável a todo o ordenamento jurídico, sem distinção entre relações públicas e privadas.

1.3 ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS COMO ENGAJAMENTO INSTITUCIONAL NO

PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO

O Conselho Nacional de Justiça estabeleceu, por meio da Resolução nº 325/2020, a

Estratégia Nacional do Poder Judiciário para o período 2021-2026 (CNJ, 2020), assentando a

VISÃO do órgão face a um “Poder Judiciário efetivo e ágil na garantia dos direitos e que

contribua para a pacificação social e o desenvolvimento do país” (Anexo I). Importante destacar,

para os fins deste trabalho, o registro agora expresso da contribuição institucional voltada ao

“desenvolvimento do país”, aspecto não abarcado pelo raio de visão do Poder Judiciário nas

metas estratégicas do período anterior (2015/2020), conforme definidas na Resolução nº

198/2014, do mesmo órgão (CNJ, 2014).

O ponto é muito importante e trata de um compromisso institucional também

relacionado às disposições do art. 20, da LINDB, certamente. E por sua origem remontar, no

tema do desenvolvimento, ao próprio texto constitucional como um dos objetivos fundamentais

da república (CF/88, art. 3º, II), requer neste trabalho uma abordagem particular, ainda que

sucinta. Isso se justifica porque em decisões judiciais, ao se exigir a análise de consequências

práticas, as metas do desenvolvimento pressupõem em larga medida esse tipo de ponderação

sistêmica pelos juízes, sobretudo os efeitos mediatos em setores socioeconômicos vitais para o

país.

Assim, é possível se compreender o desenvolvimento como um amálgama dos próprios

ideais do iluminismo, envolvendo razão, ciência, humanismo, progresso e paz (PINKER, 2018),

os quais perpassam gerações desde o século XVIII. Quanto ao progresso, comumente se associa

ao crescimento econômico e a prosperidade das nações, e sob essa perspectiva, resultaria que os

30

frutos do iluminismo, avançando-se já pela segunda década do século XXI, não teriam vingado

na sua plenitude em diversos países, inclusive do ocidente, o Brasil em particular.

Portanto, riqueza e pobreza continuam a marcar a realidade de inúmeras sociedades,

certo que abordagens históricas nunca se mostraram suficientemente explicativas do fenômeno da

diversidade do grau de desenvolvimento entre elas. A mais comum é a do ocidente dito civilizado

frente ao resto, no dizer de David S. Landes (1998), para quem pode ou não ser uma visão falsa,

dependendo dos distintos pontos de partida. O fato é que, no campo das ideologias, tanto

filosóficas quanto políticas, e até dos dogmas religiosos, a chamada ocidentalização como

sinônimo de desenvolvimento ainda vem produzindo, ao longo do tempo, análises em polos

opostos.

Com efeito, desde uma concepção de haver um lado certo da história, sugerida, por

exemplo, a partir da visão conservadora de Benjamin Aaron Shapiro (2019), para quem as

profundas estruturas civilizatórias, aglutinando noções modernas de valores, ciência e razão,

foram fincadas no ocidente, até - na outra ponta do espectro filosófico/ideológico – a percepção

de Serge Latouche de que não passa de um rolo compressor, processo em que “tudo parece já ter

sido destruído, nivelado, esmagado” (1994, p.14). Sobre o correlato fenômeno da globalização,

há quem afirme que “à porta do galinheiro, como se sabe, é a raposa que reivindica a derrubada

dos obstáculos à livre circulação”, na visão de René Passet (2003, p. 27) que nele enxerga um

caráter predatório, estimulador e não redutor das desigualdades.

O certo é que, consideradas as diversas correntes de pensamento e de análises, umas

findam se entrelaçando a outras em pontos específicos, concordantes e discordantes, e muitas,

aqui e ali, esbarrando e sendo desmentidas pelos dados empíricos da realidade mutante. E é

dentro dessa realidade do mundo globalizado, e nela inserido um Brasil socialmente

multicomplexo, que atuam os juízes na resolução de conflitos de alto impacto socioeconômico,

daí a relevância da atenção que deles se espera com a análise de consequências nas decisões

proferidas, porque devem estar institucionalmente engajados no processo de desenvolvimento.

31

Havendo um campo de estudos relacionando o direito ao desenvolvimento, hoje

revitalizado com o aprendizado sobre os erros do passado, propondo-se novas linhas de ação,

nem por isso deixa de continuar a ser objeto de acesos debates, opondo-se otimistas (o direito

importa) e pessimistas (céticos) quanto aos impactos efetivos desta relação nos arranjos

institucionais (DAVIS; TREBILCOCK, 2009). O traço distintivo das duas correntes (crentes e

descrentes), basicamente, repousa naquilo que se enxerga como estado de tensão entre justiça

social e eficiência, panorama que se relaciona diretamente com o processo decisório dos juízes e

suas consequências na resolução de conflitos de amplo impacto para a sociedade como um todo.

Voltando ao texto constitucional de 1988, no campo do desenvolvimento, originalmente

os programas a ele relacionados exaltavam, fortemente, metas típicas do Estado social. Com o

passar do tempo, sobretudo na década de 1990, objeto de emendas diversas, o caráter nacionalista

desses programas foi sendo paulatinamente mitigado, entrando em cena pautas do liberalismo

econômico, a exemplo das privatizações e extinção de monopólios estatais, segundo registro de

Dimitri Dimoulis e Oscar Vilhena Vieira (2011).

Neste sentido é que, ainda que a Constituição não preveja, textualmente, o

desenvolvimento como um direito fundamental expresso, individual, coletivo ou social, quer no

rol elencado no Título II, Capítulos I e II, quer em outros dispositivos espaços, tomado o

fenômeno sob uma perspectiva ampla, o erige, reitere-se, como um dos objetivos fundamentais

da república (art. 3º, II). Portanto, cuidando-se de autêntico princípio fundamental, perfilado ao

lado de outros do Título I, da CF/88, sem embargo dos diferenciados enfoques da doutrina

constitucionalista, parece minimamente razoável admitir o desenvolvimento como um direito

fundamental social não escrito.

Tudo isso realça a função primária de tutela desse direito pelos juízes, pesando

consequências sistêmicas nos termos exigidos pelo art. 20, da LINDB. Vale dizer, prestando

atenção em efeitos para além do foco individual dos litígios, prevenindo-se de vieses

protecionistas ineficientes (como consta nos programas formativos profissionais atuais), uma

visão genuinamente institucional nos termos da Resolução nº 325/2020, do CNJ.

32

A análise de consequências nas decisões judiciais, portanto, na forma do art. 20, da

LINDB, ao se defender no trabalho como pressuposto também para promoção do

desenvolvimento, significa realçar o que foi dito até aqui no tópico, o compromisso institucional

dos juízes nesse processo. Aliás, não custa também reiterar, compromisso que agora mereceu

expressa referência do Poder Judiciário como um todo, por seu órgão de cúpula administrativa, o

Conselho Nacional de Justiça.

Interessa também ao trabalho, estando direcionado às ações formativas de juízes

brasileiros, destacar alguns aspectos explicativos dessa relação entre instituições e

desenvolvimento. É que estando o direito dentro dessa moldura geral, e o Poder Judiciário em

particular, não é tema tratado nesses programas de formação profissional da classe, daí a utilidade

de se expor aqui algumas considerações a partir do que é considerada uma obra de referência, do

economista Douglass North. Versando o trabalho uma defesa do consequencialismo jurídico nas

decisões judiciais, nos termos agora normativamente exigidos pela LINDB, isso em muito

auxiliará na assimilação desse padrão argumentativo no âmbito da magistratura brasileira.

A obra referida de Douglass North é Institutions, Institutional Change and Economic

Performance, onde o autor começa por definir as instituições como “as regras do jogo em uma

sociedade ou, em definição mais formal, as restrições concebidas pelo homem que moldam a

interação humana” (2018, p. 13-14), estabelecendo uma estrutura que permite diminuir as

incertezas nessa rede. As instituições são inúmeras nas sociedades atuais, muitas delas

multicomplexas, atuando formal ou informalmente, moldando comportamentos e estimulando,

notadamente pelo desempenho econômico (eficiente ou ineficiente), padrões de desenvolvimento

de um país. Considerado o direito, a ordem jurídica em particular (além da legislação e da

regulação setorial), no caso do Brasil, as decisões judiciais, quando submetidas a análises críticas,

nesses tempos pós-CF/88, significando manifestações institucionais de impactos sistêmicos,

muitas vezes costumam se situar mais para a linha do ativismo, atrelado a um problema de

legitimação democrática de seus prolatores.

Assim, quando se toma a obra de Douglass North tendo por objetivo realçar, no atacado,

a relevância das instituições, e no varejo as decisões judiciais, porque inseridas no contexto do

33

quadro institucional do país, dada a perspectiva do autor nos reflexos do desempenho econômico,

pode ativar uma espécie de primeiro obstáculo ao tratamento do tema nesse âmbito formativo

profissional. É que performance econômica, inadvertidamente, tende a gerar uma percepção de

atenção prioritária a custos, ou até mesmo, no limite da dogmática jurídica fechada, a

exclusividade da visão pragmática financeira, como se infensa a valores caros à ordem

constitucional.

De fato, o autor, embora trate de custos de transação mais elevados como sendo o

aspecto mais visível da estrutura institucional, voltando a atenção para o Terceiro Mundo,

enfatiza em seus estudos que o problema da periferia vai além disso, por abrigar, ainda, questões

culturalmente enraizadas geradoras de subdesenvolvimento. Sob esse aspecto, serão tratadas,

neste trabalho, na parte das evidências empíricas (intervenções contratuais em setores

socioeconômicos de alto significado no processo de desenvolvimento do país), questões de

oportunismo como resultado de incentivos à litigância sistêmica que se instaurou no Brasil pós-

CF/88. Portanto, custos de transação, na forma conceituada por Ronald Coase (2017), é tudo que

está em jogo na dinâmica de uma sociedade, e se refere ao que North chama de condicionamentos

institucionais, ditando a boa (eficiente) ou má (ineficiente) trajetória do desenvolvimento,

reclamando, por isso, a devida consideração de consequências no processo decisório judicial.

Tudo isso quer dizer que, quando se intenta uma abordagem como a deste trabalho,

voltada a uma defesa do consequencialismo nas decisões judiciais, os meios a se alcançar esse

objetivo vão muito além de uma questão de ponderação de custos financeiros, orçamentos, enfim,

impactos econômicos. Mesmo porque, se o problema repousa numa espécie de preconceito

terminológico, vale aqui a advertência de Stephen Holmes e Cass Sunstein para quem “perguntar

quanto custam os direitos não é o mesmo que perguntar o quanto eles valem” (2019, p. 16). Em

termos argumentativos, há muito mais além disso a se refletir, e se não é possível cogitar de

desenvolvimento sem desempenho econômico satisfatório, os juízes e as decisões judiciais,

segundo Douglass North, despontam como fatores institucionais imprescindíveis pelo papel

(principal) de enforcement que exercem nesse processo, o que vai exigir a análise de

consequências.

34

A base dos arranjos institucionais, portanto, na linha defendida pela obra em questão, é o

que primordialmente dita as condições do processo de desenvolvimento, certo que, nela, o

desempenho econômico é tratado de modo amplo, não ficando adstrito a uma visão exclusiva de

crescimento da economia. Tem, assim, o sentido maior da expansão do desenvolvimento dos

países em todos os setores da sociedade, social, político, ambiental, científico e outros, e nenhum

deles prescinde da intervenção circunstancial dos juízes na resolução de conflitos e respectiva

avaliação das consequências. A pesquisa engendrada no trabalho, longe de uma pretensa e

imediata virada pragmática total na atuação desses profissionais, a partir das disposições do art.

20, da LINDB, visa, ao menos, tomada a expressão de José Rodrigo Rodriguez, “aliviar um

pouco seu fardo, ao esclarecer as consequências de determinadas alternativas, atividade que pode

ajudar a eliminar algumas das alternativas que o tomador de decisões tem diante de si” (2009, p.

XVIII-XIX).

Ainda no texto da CF/88, e no que importa aos juízes como agentes ativos da instituição

Poder Judiciário, cabe o destaque da ampla reforma que se deu em 2004, promovida pela Emenda

Constitucional nº 45 (BRASIL, 2004).

Conhecida como “Reforma do Judiciário”, no âmbito da qual foi criado o Conselho

Nacional de Justiça, ocupou-se em boa medida de diagnósticos que visaram um ajuste de sintonia

institucional com as metas de desenvolvimento do país. Nesse sentido, concernente ao valor

constitucional da segurança jurídica e previsibilidade de decisões judiciais, importantes para se

dimensionar consequências nas decisões judiciais, o ponto sensível foi na estrutura funcional do

STF com o surgimento dos institutos da súmula vinculante e da repercussão geral em recursos

extraordinários.

O propósito, por assim dizer, seria mesmo a racionalização de padrões de atuação do

judiciário e seus juízes sob a perspectiva institucional, exatamente no que decisões judiciais,

sobretudo em setores importantes do país, tanto do ponto de vista social quanto econômico, dadas

as suas consequências sistêmicas, afetam direta ou indiretamente o processo de desenvolvimento

como um todo. Realmente, se o direito importa, essa compreensão do peso da instituição no

processo, a par de outras manifestações institucionais, segundo demonstrado na obra de Douglass

35

North, necessariamente vai exigir de seus agentes, aqui importando o papel dos juízes atentos aos

efeitos sistêmicos de suas decisões, uma visão de prestação da jurisdição engajada com o

desenvolvimento.

Houve, a esse tempo, quem enxergasse esse diagnóstico da reforma como propósito de

se arredar entraves, a partir da atuação do judiciário como obstáculo à expansão econômica do

país, mais precisamente no interesse de setores privados do mercado. Seria uma espécie de

sobrevalorização dos direitos de propriedade em detrimento dos direitos sociais. É nesse sentido,

identificando aí a relação do Judiciário e economia como pano de fundo geral, que Luciana Gross

e Frederico de Almeida atribuem a estratégia à influência de estudos da Análise Econômica do

Direito, uma vez que “importou categorias analíticas do sistema jurídico de common law, no qual

prevalecem as vontades das partes por meio de contratos, sem se dar de conta de que, no caso

brasileiro, estamos em um sistema jurídico de civil law” (2012, p. 367).

No dizer da mesma autora, em outro trabalho, onde também se reporta aos estudos de

North, seria o conceito de Rule of Law aí empregado com o foco na eficiência do sistema de

justiça (e nenhum terá essa qualidade sem análise de consequências nas decisões judiciais),

segundo parâmetros traçados por agências internacionais (mais ou menos na linha do citado

consequencialismo festivo), e a resultante centralidade do Poder Judiciário (2011). Vê-se,

portanto, também aqui, o componente da desconfiança que ronda o tema, e nem por isso deve

afastar o interesse da consideração nos compromissos institucionais dos juízes brasileiros nas

diversas instâncias, agora significativamente realçado com as disposições do art. 20, da LINDB.

Assim, transformar a atividade de juízes a um nível de contribuição efetiva para o

desenvolvimento do país, ajustando-a, nos termos da Resolução nº 325/2020, do CNJ (claramente

inspirada no art. 3º, II, da CF/88), a uma visão estratégica do próprio Poder Judiciário como um

todo, passa necessariamente pela análise de consequências das decisões prolatadas por esses

agentes institucionais. No mesmo sentido a gestão do STF, no período 2020/2022, sob a

presidência do Ministro Luís Fux, para quem “o Direito e o Judiciário não podem ser museus de

princípios” (FUX, 2020), anunciando o que seriam os “5 Eixos da Justiça”, estabeleceu um deles

(nº 2) como sendo a “promoção da estabilidade e do ambiente de negócios para o

36

desenvolvimento nacional” (CNJ, 2020). As ações formativas, conforme sustentado no trabalho,

constituem meios eficientes de se alcançar esses objetivos, despertando na classe a percepção de

um compromisso não individual e que se esgota na mera afirmação de poder, e sim pelo

engajamento nos arranjos institucionais exigidos no processo.

Conveniente, nesse ponto, reiterar os propósitos de segurança jurídica que nortearam a

inclusão dos dispositivos na LINDB (ao lado da eficiência), conceito que, estando diretamente

ligado aos objetivos institucionais de se promover o desenvolvimento, não se mostra relevante

apenas no âmbito do judiciário. Ao contrário, quando se tem em vista metas de ampliação da

competitividade do país, elevando-o no ranking mundial das economias mais desenvolvidas,

importante o registro da recente edição, pelo governo federal, do Decreto nº 10.531/2020

(BRASIL, 2020). Por ele foi instituída a estratégia federal de desenvolvimento para o país no

período de 2020 a 2031, sendo que um de seus desafios, dentre outros ligados ao eixo

institucional, é justamente o de promover “o aumento da segurança jurídica nas relações públicas

e privadas” (Anexo, item 2, subitem 2.3.2.).

Concluindo o tópico, esses estudos especializados podem conferir as balizas necessárias

a serem trabalhadas nas ações formativas desses profissionais, uma vez que, no campo acadêmico

universitário que a isso precede, conforme será exposto mais adiante no trabalho (inclusive a

repercussão nos concursos da magistratura), reflexões sobre desenvolvimento e consequências de

decisões judiciais são praticamente ausentes. A escolha do ambiente de formação profissional dos

juízes como campo de experimentação do trabalho, assim, tem o objetivo de submissão da

proposta a um escrutínio de alta qualificação, e, também, a vantagem de alcançar um perfil

diversificado de agentes a serem envolvidos, nos níveis de formação inicial e continuada.

37

CAPÍTULO 2 - EFEITOS DE INTERVENÇÕES JUDICIAIS NAS RELAÇÕES

CONTRATUAIS DE ALTO IMPACTO SOCIOECONÔMICO SEM ANÁLISE DE

CONSEQUÊNCIAS: O CASO DA PREVIDÊNCIA PRIVADA

Houve, nessas duas últimas décadas, uma intensa onda de litigiosidade em um setor com

significativa repercussão socioeconômica no país, o que permitiu se aferir, empiricamente, efeitos

sistêmicos de decisões judiciais desatentas a consequências. Com idêntica finalidade, outro

segmento será tratado em tópico específico, igualmente bem representativo do que a ausência de

uma cuidadosa análise de consequências, na esfera judicial, pode comprometer a estabilidade e a

boa performance de setores vitais da sociedade brasileira, inclusive o mercado de consumo.

No caso da previdência privada, trata-se de sistema inserido na Constituição Federal por

meio da EC nº 20 (BRASIL, 1998) para funcionar de forma autônoma, facultativa e

complementar ao regime geral da previdência social (CF, art. 202). No que importa a este

trabalho, especificamente para fins de avaliação de impactos decisórios interventivos nesse tipo

de relação jurídica, o foco serão as entidades fechadas de previdência complementar privada, os

conhecidos fundos de pensão.

Não integram os objetivos da pesquisa, por outro lado, incursões profundas nas

características desses contratos que foram alvo de decisões judiciais interventivas, senão

demonstrar, sob um ângulo de consequências, o que essas organizações representam para

milhares de famílias brasileiras, bem como a atuação como agentes ativos de peso no processo de

desenvolvimento do país. Reitera-se que não se trata apenas do aspecto econômico (o que por si

só já seria fundamental, porque dele outros estão necessariamente interligados), senão também

pelas repercussões sociais aí envolvidas, panorama objeto da síntese de Ivy Cassa: Considere-se a importantíssima função social que cumpre à previdência privada no sentido de funcionar como uma extensão da previdência social, protegendo as pessoas em situações de necessidade, ou outro papel fundamental seu, que é o de fomentar a economia nacional, estimulando a formação de poupança interna, a qual financia importantes investimentos no país, propiciando o seu desenvolvimento. (2009, p. 25)

38

Esta é uma realidade não apenas local, senão também mundial, aliás, numa escala muito

superior à do Brasil. Com efeito, segundo dados divulgados no relatório Pension Markets in

Focus 2019, a soma de ativos nesse mercado em todo o mundo, posição de dezembro de 2018,

alcançou o montante dos US$ 42,5 trilhões na área da OCDE, e US$ 1,6 trilhão em outras

jurisdições. E como nota significativa da forte vinculação desses investimentos a países que

alcançaram grau elevado de desenvolvimento, em apenas seis deles (Estados Unidos, Canadá,

Inglaterra, Holanda, Japão e Austrália) o total ultrapassou a casa de US$ 1 trilhão, no mesmo ano

de 2018 (OCDE, 2019). Tomada a medida não em números absolutos, mas pela relação com o

produto interno bruto (PIB) de diversos países constantes do mesmo relatório, esses ativos

alcançam as expressivas marcas de 198,6% na Dinamarca (líder do ranking), 173,3% na Holanda

e 142% na Suíça, apenas para citar alguns da Europa.

Mesmo no grupo daqueles países ainda na rota do desenvolvimento, fora do âmbito da

OCDE, o caso da África do Sul, segundo dados do relatório, a relação ativos/PIB foi da ordem de

95,1% no referido ano de 2018. No caso do Brasil, os fundos de pensão atuam como os maiores

investidores institucionais, sobretudo nos médio e longo prazos em múltiplos setores da economia

nacional, contribuindo, apenas para citar alguns, para a formação de poupança interna, a

capitalização de empresas (mercado acionário) e nos programas de privatizações. Também nos

indicadores da OCDE (2018), específicos dessa relação ativos/PIB para o período de 2008 a 2018

(Funded Pensions Indicators), o país oscilou numa linha média de 13,3% a 12,5%, fechando em

dezembro de 2019 com participação de 13,7%, segundo o último Relatório de Estabilidade da

Previdência Complementar (julho de 2020), emitido pela Superintendência Nacional de

Previdência Complementar (PREVIC, 2020).

Atualizando-se os dados para o 1º trimestre de 2020, de acordo com o relatório

“Consolidado Estatístico” da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência

Complementar para o 1º trimestre de 2020, esses investidores institucionais qualificados contam

com ativos da ordem de R$ 911 bilhões, correspondendo a 12,4% do PIB brasileiro (ABRAPP,

2020). Vale o registro, ainda, de que projeções estatísticas apontam para o potencial do país

alcançar os 100% do PIB com o acumulado de ativos em cinquenta anos, a depender de reformas

estruturais ainda demandadas no sistema de previdência (CARVALHO, 2020). Um exemplo a

39

destacar foi a última operada por meio da EC nº 103 (BRASIL, 2019), tornando obrigatório,

dentre outras medidas (médio e longo prazos), o regime complementar privado para os servidores

públicos de todos os entes da federação.

O registro breve desses dados, naquilo que interessa aos objetivos do trabalho, bem

revelam, conforme assinalado no início do tópico, o que esse tipo de atividade socioeconômica

representa em termos de impactos na sociedade, e o Brasil não constitui exceção. Com efeito, a

exemplo de diversos outros setores de atividades do país, o da previdência privada complementar

fechada foi (e continua sendo) objeto de intensa litigiosidade. Embora essas ações abarquem uma

gama diversificada de questões, quando envolvem os participantes de planos, entidades gestoras e

patrocinadores, o foco maior é na revisão de benefícios.

O que não significa afirmar, por outro lado, que o contencioso com os seus participantes,

nesse segmento, seja o único ou mesmo em alguns casos o principal problema enfrentado por

essas entidades em face de decisões judiciais desatentas a consequências. Por certo não, e a

depender dos tipos de planos com que operam, outras situações também concorrem para os

déficits circunstanciais dos fundos de pensão, aí incluídos, exemplificando, aspectos de má

gestão, inclusive fraudulentas, acarretando a necessidade de equacionamentos sazonais das

diversas modalidades de produtos oferecidos aos participantes. O que nem de longe reduz em

importância, a partir das consequências verificadas, a questão da litigiosidade intensiva, geradora

de decisões judiciais intervencionistas nesse tipo de negócio jurídico.

Assim, tomando apenas um exemplo, colhido da realidade do contencioso do terceiro

maior fundo de pensão do país, considerada a posição média de setembro de 2017, um número

superior a doze mil processos tramitavam em desfavor da entidade, exigindo dela um

provisionamento da ordem de R$ 2,6 bilhões para cobertura de perdas decorrentes de decisões

judiciais. Nesse mesmo fundo, no período de 2015 a 2016, ao se considerar o contencioso

possível, houve um aumento de 76%, saltando de R$ 7,2 bilhões para R$ 12,7 bilhões (FUNCEF,

2017), o que revela, subjacente ao processo interventivo judicial, incentivos realimentando a

litigiosidade sistêmica.

40

No maior dos fundos de pensão do Brasil, responsável sozinho por quase 24% dos ativos

de todo o sistema de previdência complementar fechada em 2019 (R$ 216,1 bilhões), o montante

provisionado nessa posição para suprir a necessidade estimada de depósitos e bloqueios judiciais

foi da ordem de R$ 3,31 bilhões (PREVI, 2020). O segundo maior fundo do país, também na

posição de 2019, detentor de ativos no montante de R$ 107,97 bilhões, acusou cerca de vinte e

oito mil processos judiciais ativos em seu contencioso, e provisionamento da ordem de R$ 2,64

bilhões para depósitos em juízo e recursais (PETROS, 2020).

Extraídos de um setor com forte presença na economia do Brasil (o maior montante de

ativos da América Latina), são números que mostram, significativamente, reitere-se, os efeitos

nos mercados e em milhares de famílias em um cenário de decisões judiciais interventivas das

relações contratuais entre os fundos e seus participantes, quando desatentas a consequências

sistêmicas. Cumpre reiterar que o universo desse contencioso envolve demandas com

diversificados questionamentos, mas, nesse tipo específico de relação conflituosa, preponderam

em larga escala os litígios sobre benefícios, direta ou indiretamente. Ao que aqui interessa, foi

possível extrair desse conjunto de dados empíricos gerais um recorte particular de evidências, a

partir de dois casos pesquisados por meio dos quais se constatou a nota do solidarismo em

decisões judiciais interventivas desses contratos, sem considerar consequências.

Com efeito, o quadro de litigiosidade que se verificou no setor, caracterizado por várias

frentes de intervenções judiciais, remonta, desde a origem, a uma questão relacionada à própria

competência para solução das controvérsias, se da Justiça do Trabalho ou da Justiça Estadual

(comum). Algo que pareceria, a princípio, comum em se tratando de uma relação envolvendo três

agentes (não exatamente partes contratuais), na qual figuram, além da própria entidade gestora do

fundo de pensão, uma organização (empresa patrocinadora) e os seus empregados

(participantes/assistidos). Tem-se ainda, a par desses aspectos, o fato de que as adesões aos

planos - como regra - são formalizadas ao tempo e no âmbito da celebração dos respectivos

contratos de trabalho, daí o que se poderia intuir como uma espécie de força atrativa desse ramo

especializado da justiça.

41

A questão é que decorre do próprio texto constitucional a não integração desse tipo de

benefício ao contrato de trabalho (art. 202, §2º), e ainda assim, por muitos anos, paralelamente à

Justiça Estadual comum, a Justiça do Trabalho arrostou para si igual competência para a

resolução dos litígios envolvendo as complementações contratadas com os fundos de pensão. O

fundamento era, na essência, a tutela diferenciada que se dispensava a um dos agentes da relação,

os empregados das empresas patrocinadoras, considerando os benefícios previdenciários como

extensão daqueles típicos laborais, sem atentar – na outra ponta – para consequências nos fundos

regidos por mutualismo, patrimônio dos próprios trabalhadores. A insegurança jurídica no setor,

também nesse aspecto, perdurou por cerca de uma década e meia, até uma definição do STF no

âmbito do Recurso Extraordinário nº 586.453/SE, proclamando (com repercussão geral) a

competência da Justiça Estadual, solução tida como aquela “que concretamente trará maior

efetividade e racionalidade ao sistema” (BRASIL, 2013).

Saindo da esfera desse dissenso de natureza processual, causa de insegurança jurídica e

instabilidade no setor já na origem de tudo, inúmeras outras controvérsias foram objeto de

decisões judiciais que de uma forma ou outra, mais ou menos intensa, impactaram negativamente

esse segmento de forte repercussão socioeconômica no país. Duas delas em particular,

anteriormente destacadas, referem-se a temáticas que, depois de vários anos de entendimentos

díspares nas instâncias inferiores da justiça (1º e 2º graus), foram objeto do estabelecimento de

precedentes pelo Superior Tribunal de Justiça. Trata-se dos Recursos Especiais nº 1.312.736/RS e

nº 1.435.837/RS, ambos submetidos nos respectivos julgamentos à técnica dos recursos

repetitivos.

O primeiro deles (BRASIL, 2018) envolveu controvérsia oriunda também da Justiça do

Trabalho, onde se vindicava a inclusão de verbas remuneratórias nela reconhecidas (horas extras)

no cálculo dos proventos de complementação da aposentadoria dos participantes dos planos. O

segundo, cujo precedente foi firmado pelo STJ no ano seguinte (BRASIL, 2019), adveio da

postulação massiva de que no cálculo da renda mensal inicial, representativa da complementação,

deveria ser aplicado o regulamento vigente ao tempo da adesão do participante ao plano de

benefícios, e não o da época da sua aposentadoria. Em ambos (e outros mais de idêntica

inspiração hermenêutica, protecionista individual) havia, quase sempre, o traço comum da

42

decisão por princípios, a partir mesmo do mais poroso deles (dignidade humana), passando pela

isonomia e função social do contrato, e sob uma roupagem de (pretensa) segurança jurídica,

questões de direito adquirido e ato jurídico perfeito.

Assim, milhares de decisões se inclinaram no sentido afirmativo das pretensões, e dada a

multiplicidade de recursos que justificaram a fixação dos precedentes, anos foram consumidos

com impactos significativos nas reservas e na própria estrutura mutualista desses fundos. Os dois

recursos especiais foram afetados à Segunda Seção do STJ nos anos de 2014 e 2016, e quando

firmados os precedentes (2018 e 2019) para os fins do art. 927, III, do CPC4, conforme dados do

Tribunal de Justiça de São Paulo, exemplificando, os dois temas (907 e 955) alcançaram mais de

setecentos feitos em andamento (TJSP/NUGEP, 2020). E nos tribunais do país inteiro, um

montante superior a sete mil processos sobrestados (CNJ, 2020), números que revelam, conforme

abordado no tópico seguinte, um solidarismo desatento a consequências sistêmicas.

2.1. O MITO DO SOLIDARISMO ACRÍTICO NAS DECISÕES SEM CONSIDERAR

CONSEQUÊNCIAS

A escolha desse conjunto de evidências empíricas, a ser reforçado mais adiante por

outros registros de impactos decisórios, justificou-se, reitere-se, pelo que esse setor representa

para o desenvolvimento do país não somente no aspecto econômico, senão também pelos efeitos

sociais, sistemicamente interligados. Assim, ao se firmar no judiciário brasileiro uma visão

voltada a uma contribuição da instituição para o desenvolvimento do país, a avaliação de

consequências nas decisões judiciais constitui pressuposto necessário para se garantir a plena

efetividade desse compromisso. Esta é uma exigência ainda mais aguda, para além da agora

positivação normativa (art. 20, da LINDB), sobretudo em setores como este da previdência

privada, e vários outros em que vieses protecionistas individuais, ao comprometer uma ampla

coletividade de interesses envolvidos, os efeitos sistêmicos podem ser ainda mais devastadores.

4 Os juízes e os tribunais observarão: (...)III – os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinários e especial repetitivos.

43

Ainda com referência a registros da OCDE, ao estabelecer princípios e boas práticas de

educação e conscientização financeira, é significativo o dado da previdência privada integrar o

elenco de recomendações voltadas aos objetivos do desenvolvimento socioeconômico (2005). De

fato, considerada a realidade brasileira atual, são quase sete milhões de pessoas (6.874.113)

vinculadas aos diversos planos de benefícios operados por esses fundos, entre participantes ativos

(2.493.428), dependentes (3.595.166) e assistidos (785.519), segundo o mesmo relatório do setor

referente ao 1º trimestre de 2020 (ABRAPP, 2020).

Portanto, dadas as limitações da política distributiva social por meio da previdência

pública, considerados os déficits do custeio intergeracional, a solução de complementação da

renda futura de milhões de trabalhadores passa pelo modelo privado. Não à toa, esse caminho foi

a tônica de várias reformas previdenciárias pós-CF/88, até a mais recente (EC 103/2019), donde

se pode constatar a dimensão social que se expande no setor. E no caso dos fundos de pensão,

tudo isso para além da repercussão econômica dos investimentos de médio e longo prazos,

institucionalmente relevantes para o desenvolvimento.

A questão a ponderar é que, diversamente do modelo de repartição da previdência

pública, próprio, reitere-se, a objetivos distributivos, o privado persegue a formação de fundos

capitalizados (REIS; BRESCIANI; MENDES, 2019), e dentre os princípios que regem os planos

de benefícios, pode-se afirmar a centralidade do mutualismo nesse tipo de atividade

socioeconômica. Com ele se assegura, solidariamente, a convergência de esforços individuais

visando se alcançar benefícios futuros coletivos, significando dizer que o sentido da

associatividade não pode ser negligenciado no enfrentamento de eventuais controvérsias em

juízo. Assim, quando irrompidos vieses protecionistas individuais nas decisões, tipo as exaltações

genéricas da dignidade humana e função social do contrato, findam por revelar aquelas situações

em que, nos dizeres de Luiz Fux e Bruno Bodart, num sentido genérico, “a argumentação jurídica

ordinária constitui um misto confuso de elementos deontológicos com doses esparsas e

desconexas de consenquencialismo” (2019, p. 25).

Volta-se, nesse passo, ao recorte desses dois casos reveladores de evidências empíricas

pesquisadas. Na verdade, vários outros poderiam ser citados no mesmo setor da previdência

44

privada fechada, não tratados neste trabalho pela suficiência dos registros dos escolhidos para a

compreensão de um quadro de milhares de decisões judiciais desatentas a consequências.

Antes mesmo do tema da previdência privada ganhar assento constitucional, o setor já

contava com disciplina regulatória por meio da Lei nº 6.435/77 (BRASIL, 1977), atualmente

revogada, e após a CF/88, dois outros conjuntos de normas concretizaram o programa

constitucional, através das Leis Complementares 108/2001 e 109/2001 (BRASIL, 2001). Não

integram os objetivos deste trabalho, por certo, o exame pormenorizado de dispositivos das

referidas leis. Basta registrar aqui, sobre todas elas, constitucionalmente respaldadas e naquilo

que interessa a análise de consequências em decisões judiciais, o que assentou o Ministro Ricardo

Villas Bôas Cueva, do STJ, na relatoria do Recurso Especial nº 1.421.951/SE (BRASIL, 2014) no

sentido de que:

[...]sempre foi permitida à entidade fechada de previdência privada alterar os regulamentos dos planos de custeio e de benefícios como forma de manter o equilíbrio atuarial das reservas e cumprir os compromissos assumidos diante das novas realidades econômicas e de mercado que vão surgindo ao longo do tempo. Por isso é que periodicamente há adaptações e revisões dos planos de benefícios a conceder, incidindo as modificações a todos os participantes do fundo de pensão após a devida aprovação pelos órgãos competentes (regulador e fiscalizador), observado, em qualquer caso, o direito acumulado de cada aderente.

Assim, já naqueles idos de 2014 se encontrava nesse fragmento de voto,

suficientemente, o resumo dos marcos principais que balizam toda essa atividade de significativo

peso socioeconômico no país, dentro dos quais deveria se operar uma cuidadosa análise de

consequências das intervenções judiciais nas relações nela travadas. A razão disso parece ser

evidente, por envolver espécies contratuais de longo prazo, sujeitos em décadas a inúmeras

contingências de percurso. Pode-se dizer, com Oliver E. Williamson, que são estruturas que

escapam ao modelo clássico em que se tem o domínio completo e antecipado das condições e

seus efeitos, liquidáveis automaticamente, porém:

45

No todas las transacciones encajan comodamente em el esquema de la contratación clássica. Em particular, em los contratos a largo plazo, ejecutados em condiciones de incertidumbre, la presentación completa tiende a ser prohibitivamente costosa, si no es que imposible. Surgen problemas de varias clases. Primeiro, no todas las contingencias futuras para las que se requieren adaptaciones pueden preverse desde el principio. Segundo, las adaptaciones apropiadas no serán evidentes para muchas contingencias mientras no se materialicen las circunstancias. Tercero, excepto em el caso de que los cambios ocurridos em los estados del mundo sean claros, la contratación dura entre partes autónomas puede originar disputas tremendas cuando se formulen reclamaciones em relación com tales estados. En un mundo donde las partes (por lo menos algunas de ellas) se inclinan a ser oportunistas, cuáles representaciones habrán de creerse? (1989, p. 78)

Nas intervenções judiciais que foram objeto do Tema 907, no STJ (REsp. nº

1.435.837/RS), conforme foi salientado no tópico de abertura do capítulo, milhares de decisões

pelo país, apoiadas simplesmente em invocações genéricas de princípios, arrostaram a

imutabilidade de pactos em louvor ao direito adquirido. Inspiração argumentativa, aliás, muitas

vezes com origem declarada no mais abstrato dos valores, o de se assegurar a dignidade humana

de um dos agentes da relação, eleita como a parte vulnerável. É como se no transcurso de vários

anos, até décadas, a realidade permaneceria a mesma, e o Brasil, tal uma sociedade primitiva de

caçadores coletores, seria imune ao ritmo do mundo globalizado, estando os direitos

transacionados nesses pactos blindados contra quaisquer mudanças nos cenários

socioeconômicos.

Trata-se de exemplo cristalino do que a ausência de uma correta avaliação de

consequências sistêmicas em decisões judiciais, sem prospectar efeitos de médio e longo prazos,

provoca em um setor das dimensões deste objeto de análise no trabalho. São exaltações genéricas

em que situações de meras expectativas de direitos, numa penada voluntarista, saltam para um

patamar de direitos consolidados, mesmo que não se cogite ainda da implementação de condições

de elegibilidade aos benefícios contratuais.

Idêntico quadro se verificou nas discussões do Tema 955 (REsp. nº 1.312.736/RS), e

aqui com um componente que é comum ao problema anterior, e de resto a quase todas as outras

questões de litigância massiva no setor. Sem dúvida é aquela de maior feição pragmática, e nem

46

por isso deixa de ter previsão expressa na Constituição principiológica de 1988, a que trata do

necessário equilíbrio atuarial por meio de reservas suficientes para garantia de pagamento dos

benefícios contratados (art. 202, caput5).

Curioso, nesse aspecto, é que a desatenção a consequências nas decisões judiciais

proferidas nesses litígios, segundo o padrão hoje positivado no art. 20, da LINDB, indica o que

seria a negação a algo elevado à categoria de princípio, vigente tanto na previdência social quanto

na complementar privada. Trata-se do referido e necessário equilíbrio financeiro/atuarial, estando

na base desses sistemas e largamente invocado pelo STF, bastando citar, dentre inúmeros,

inclusive no setor de previdência privada, o recente julgamento proferido na Ação Direta de

Inconstitucionalidade nº 3948/PR (BRASIL, 2020). A curiosidade, aqui, é que o referido

princípio nada expressa em termos de valores abstratos, ao contrário, relaciona-se a um critério

puramente contábil, simples batimento de contas, estado real das coisas no mundo (aqui pela

expressão dos números frios) que deve compor o raio de visão dos julgadores.

Nesses casos do Tema 955, e no aspecto, sendo um distintivo do tema anterior, o que

estava em jogo não era propriamente a existência de um direito a ser reconhecido em favor dos

postulantes. Isso porque horas extras, quando deferidas, constituindo parcela da remuneração do

empregado/associado, deveria esta compor a base de cálculo das contribuições aos fundos, nos

termos das leis e regulamentos setoriais.

O problema é que, se havia na origem, acerca desse trabalho extraordinário, um litígio

entre empresa/patrocinadora e empregado/associado, não se verificava, da parte de ambos, essas

contribuições, e ainda assim inúmeras decisões compeliram os fundos a majorar os benefícios de

complementação das aposentadorias. O que significa dizer que, nessa relação triangular de

previdência privada, elegeu-se como responsável por danos o único agente que não havia

5 O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar.

47

interferido naquela entre os dois outros (de natureza trabalhista), e na qual se revelou, entre estes,

uma violação de direitos.

E nem poderia ser diferente. Os fundos de pensão, não custa reiterar, atuam na relação

como gestores de fundos capitalizados e regidos por mutualismo, sendo o pagamento de

benefícios, sem dúvida, a principal de suas obrigações contratuais. Disso decorre um dever

constitucional e legal de correta observância do equilíbrio financeiro/atuarial dos planos, o que

somente se alcança com a garantia de contribuições suficientes de ambas as partes (empresas

patrocinadoras e empregados associados) para a concessão ou majoração de benefícios.

Não há, assim, uma relação de consumo e que dela se pudesse extrair uma condição

intrínseca de vulnerabilidade de um participante individualmente considerado, uma vez que a

marca da coletividade é imperativa no esquema mutualista de convergência de esforços no rumo

do objetivo comum. O próprio STJ, nesse aspecto, adotando inicialmente orientação no sentido

da incidência do CDC nesse tipo de relação contratual, findava por estimular, nas decisões

judiciais interventivas, uma certa negligência na análise de consequências sistêmicas. Com o

passar dos anos e os efeitos concretamente verificados (diga-se, a realidade impondo-se sobre

princípios vagos), esse quadro mudou, sendo cancelada a Súmula 321 (BRASIL, 2005) e editada

a de nº 563 (BRASIL, 2016), afastando dos fundos de pensão um dirigismo gerador de

consequências negativas no setor, ainda que não desejadas.

Portanto, a análise de consequências nas decisões judiciais interventivas desses

contratos, nesses casos, haveria de partir desse elemento basilar, nada além de uma equação

rudimentar do tipo orçamento/dispêndio. Reiterando, não estando questionado o direito em si,

uma ponderação mais refletida de impactos estava ao alcance dos decisores mediante uma

alocação correta de responsabilidades, inclusive da parte dos postulantes, aqueles

equivocadamente declarados vulneráveis, exatamente na forma como procedeu o STJ no referido

julgamento, após muitos anos de dissensos.

48

É importante notar que, ao ser estabelecido o precedente pela Corte Federal, ao se

modular efeitos, tudo girou em torno desse ponto nuclear, a garantia dos aportes financeiros

suficientes aos fundos, atribuindo-se de forma eficiente responsabilidades. É dizer, atento ao fato

de que o proveito de alguns, os que ajuizaram as ações, não projetasse efeitos perniciosos

(externalidades negativas) sobre a massa de associados, os que não provocaram a jurisdição, e

que seriam coercitivamente inseridos na distribuição dos riscos provocados pela escassez de

recursos até se atingir o equilíbrio. Tudo isso reforça a convicção de que as ações formativas dos

juízes, focando na meta do pensar consequencial nos termos do art. 20, da LINDB, podem

estimular competências que incorporem, permanentemente, a noção de escassez aos processos

decisórios mentais desses profissionais, isso no sentido de torná-los mais atentos e eficientes,

migrando das abstrações para a realidade (MULLAINATHAN; SHAFIR, 2016).

2.2. BREVE CASUÍSTICA DE REFORÇO NA ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS EM

DECISÕES JUDICIAIS: O CASO DA LIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL DOS

JUROS REAIS

O tema da previdência privada, tratado até então para se mostrar com dados empíricos os

efeitos de milhares de decisões judiciais desatentas a consequências, foi trazido ao trabalho pela

importância do setor em termos de impactos socioeconômicos no Brasil. Além disso, levou-se

também em conta as definições recentes de precedentes pelo STJ (nas duas temáticas escolhidas),

isso depois de muitos anos de instabilidade jurídica nessas relações do setor privado, embora

historicamente contasse com significativa fiscalização estatal.

Conveniente, ainda nesse ambiente dos impactos de decisões judiciais em setores vitais

do país, o registro do que sucedeu em um outro, embora em menor extensão na pesquisa, mas que

reforça a defesa que se faz de se trabalhar, intensamente, as disposições do art. 20, da LINDB nas

ações formativas da magistratura. Nesse caso de abordagem adicional, são situações de decisões

que igualmente perduraram por tempo significativo até o estabelecimento de jurisprudência

uniformizadora no STJ, também elas indutoras de insegurança jurídica em importante setor da

economia do país.

49

Trata-se de um dos mais emblemáticos pela origem da disfunção em um regime

capitalista, e dizia respeito a uma disposição constitucional relativa ao sistema financeiro

nacional, mediante a qual o constituinte originário limitou em 12% ao ano a taxa dos juros reais a

serem praticados no país (então §3º do art. 192, da CF6). Algo assim sem precedentes na história

das constituições modernas, o que demandou, já no dia seguinte ao da promulgação da CF/88, a

emissão do Parecer SR nº 70, da Consultoria Geral da República (BRASIL, 1988), orientando os

órgãos da administração federal no sentido da não autoaplicabilidade do dispositivo

constitucional. No mesmo passo e data seguiu o Banco Central, baixando na ocasião a Circular nº

1.365 (BCB, 1988) ao sistema financeiro nacional para que fossem observadas, na matéria, as

normas anteriores à Constituição Federal.

O fato é que o próprio caput do art. 193, da CF/88, continha (e assim se mantém7)

previsão de regulamentação do sistema financeiro nacional por meio de leis complementares,

inexistindo razões hermenêuticas suficientes a afastar o §3º da integração normativa

infraconstitucional. Sobretudo ele, ao versar sobre um tema (juros reais) diretamente relacionado

ao funcionamento de vários mercados, internos e externos, repercutindo na economia do país

como um todo.

No entanto, acerca de uma esperada visão ponderada sobre consequências em diversos

contextos da vida nacional, o que se constatou em milhares de decisões judiciais, embaladas em

conceitos abertos como o da supremacia constitucional, foi o tabelamento irrestrito dos juros em

12% ao ano nas transações bancárias. Não importavam, assim, razões técnicas envolvendo a

variação do custo do capital, implicações setoriais, diversidade de perfis dos agentes, questões

cambiais e outras, enfim, nada além dos encantos do passe de mágica idealizado pelo constituinte

originário.

6 As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar. 7 O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por lei complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.

50

Alguns anos depois, o STF, instado a se manifestar na Ação Direta de

Inconstitucionalidade nº 4/DF (BRASIL, 1991) proposta em face do referido documento

executivo, ao ensejo em que a ele conferiu caráter normativo (e, portanto, passível de controle de

constitucionalidade), rejeitou a pretensão e assentou, reflexamente, a não autoaplicabilidade do

dispositivo em discussão. Não havendo, naqueles idos, disposição como a que surgiu,

posteriormente, no art. 28, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99 (BRASIL, 1999), tratando do

efeito vinculante de decisões do tipo desta proferida, continuou em larga medida o número de

decisões judiciais no sentido do tabelamento constitucional dos juros reais. Ou, quando não,

aparentando o que seria uma deferência dos órgãos jurisdicionais inferiores à Corte Suprema no

que decidiu para o caso específico do dispositivo constitucional, foi mantida a mesma visão

desatenta a consequências, só que agora com invocação ao art. 25, caput, do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias8.

Em termos de consequências sistêmicas, a ausência de uma ponderação refletida, nas

decisões judiciais, o impacto significativo, por certo, deu-se no âmbito do sistema financeiro

nacional, na parte dos juros remuneratórios dos contratos bancários. Na análise de consequências,

nenhum problema nas relações entre particulares, a tanto ainda incidindo, quanto às limitações

autorizadas, os preceitos do Decreto nº 22.626/33 (BRASIL, 1933), a octogenária Lei de Usura,

associados a dispositivos da legislação civil estipulantes do que se intitulou de “taxa legal”, para

se aferir o teto (o dobro), especificamente o Código Civil.

No entanto, ainda por inspiração direta de princípios, mormente por uma idealizada

isonomia constitucional (pós-CF/88) entre operações no mercado financeiro e aquelas entre

particulares, o argumento da usura também surgiu em intervenções em contratos bancários, a

despeito de antiga jurisprudência do STF cristalizada na Súmula 596 (BRASIL, 1977). Esse

nivelamento de fundamentos, nas decisões judiciais, ao revelar a ausência de uma análise mínima

de consequências, expõe, ao mesmo tempo, uma clara deficiência nas já reportadas capacidades

institucionais, aqui específica das nuances do mercado de crédito. 8 Ficam revogados, a partir de cento e oitenta dias da promulgação da Constituição, sujeito este prazo a prorrogação por lei, todos os dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo competência assinalada pele Constituição ao Congresso Nacional, especialmente no que tange a[...]

51

É certo que cabe ao juiz, sobretudo nas relações bancárias de consumo, ao resolver o

conflito, estar atento a questões de falhas que podem ocorrer nesse tipo de contratação, e não são

propriamente raras, sobretudo aquelas relacionadas a assimetrias informacionais e a condição em

si de vulnerabilidade do consumidor (SADI, 2019). O problema reside é na falta de consideração

aos efeitos nesse mercado, ao não ponderar normas regulatórias da política monetária, daí que,

principalmente nos tempos presentes de pandemia, aumentadas as incertezas e as dificuldades

econômicas, “a consequência é a de que o efeito de decisões não sistemáticas, atentas às

consequências estruturais, geram a tragédia do crédito” (GUASQUE; ROSA, 2020).

Ainda nessa seara da limitação de juros bancários por meio de decisões judiciais, a

despeito da decisão do STF, o quadro se manteve, sendo que a Emenda Constitucional nº 40

(BRASIL, 2003), desconstitucionalizando toda a matéria disposta nos parágrafos e incisos do art.

192, da CF/88, não foi suficiente a inibir o ativismo inconsequente no setor. Adveio, então, a

Súmula 648 (BRASIL, 2003), da mesma Corte, cujo enunciado, anos depois, adquiriu natureza

vinculante pela de nº 7 (BRASIL, 2008), até finalmente sair de cena o fundamento constitucional

do tabelamento judicial dos juros bancários.

No entanto, continuou o limite dos doze por cento ao ano em discussão no âmbito do

STJ, para onde aporta o volume maior de recursos tirados dessa multiplicidade de decisões,

concentrando-se o argumento na abusividade repelida pelo CDC. O que demandou, já naqueles

idos de 2008, a formação de incidente de processo repetitivo no âmbito do REsp nº 1.061.530/RS

(BRASIL, 2008). Dentre várias orientações firmadas no julgamento, na temática em exame neste

trabalho, assentou a Corte que a) As instituições financeiras não se limitam à limitação dos juros

remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto 22.626), Súmula 596/STF; b) A estipulação

de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade; c) São

inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as disposições do art. 591

c/c o art. 406 do CC/02; d) É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações

excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade (capaz de

52

colocar o consumidor em desvantagem exagerada – art. 51, §1º, do CDC9) fique cabalmente

demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em concreto. Uma delas (item b), na

sequência, resultou na edição da Súmula nº 382, da mesma Corte (BRASIL, 2009).

Assim, amenizando esse quadro que se intitulou como de incertezas jurisdicionais

(BACHA; ARIDA; LARA-RESENDE, 2005) no mercado de crédito, consolidou-se, na esfera do

STJ, acerca de taxas remuneratórias de juros bancários, o conceito de média de mercado, um

dado concreto a balizar a análise de consequências nas instâncias inferiores. Significa dizer que,

dentro desse escopo de deferência institucional, fundamental em inúmeras situações em que o

exame de consequências se impõe em decisões judiciais, reconheceu-se no STJ a necessidade de

se apelar a esses dados divulgados pela autoridade monetária nacional (Banco Central do Brasil),

porque expressivos da realidade desse mercado. Aliás, servindo até para os casos de

indeterminação circunstancial das taxas de juros nos contratos bancários de consumo, ainda com

vista a se aferir eventual abusividade, conforme precedente firmado na Súmula nº 530 (BRASIL,

2015).

A questão é que, ainda que bem postas essas balizas para uma análise racional de

consequências na intervenção judicial desses contratos, decisões ainda se inclinam no sentido da

negação da racionalidade em tema de juros remuneratórios bancários e suas distintas médias de

mercado. Exemplo recente, dentre inúmeros outros, inclusive ainda nos dias atuais, pode ser

colhido no julgamento do REsp nº 1.860.665/RS (BRASIL, 2020), o que revela a persistência de

uma linha decisória carregada de vieses protecionistas, sem análise de efeitos sistêmicos.

Melhor resumindo, seria algo assim como se marcar posição preferencial a priori,

elegendo-se a parte fraca dentro de uma concepção genérica e excessivamente abstrata da

vulnerabilidade intrínseca do consumidor. É nessa concepção enviesada em que se elege o

tomador do crédito sempre como parte mais fraca (volta-se aqui a uma daquelas espécies

disfuncionais de consequencialismo, batizado por Luís Fernando Schuartz de militante), vítima 9 São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...)§1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que: (...).

53

do que seria uma usura intrínseca do setor. Há quem sustente, inclusive, tratar-se de efeito

perverso do processo de globalização, uniformizante e fragmentador, marcado pela prevalência

de interesses econômicos sobre os existenciais mínimos do consumidor/tomador do crédito,

aviltado em sua dignidade como vítima de uma sociedade de mercado (CAVALLAZZI; LIMA,

2019).

É como se fosse ignorada, nesses pendores doutrinários e decisórios protecionistas,

estimulados por discursos ideológicos do tipo que denuncia que “a simples leitura de qualquer

periódico nacional evidenciará que as práticas bancárias estão destruindo os setores produtivos

nacionais” (CASADO, 2006, p. 114), a grande dificuldade de se tratar judicialmente de usura

(real ou pecuniária), dentro do sistema financeiro, sem o domínio mínimo dessas qualificadas

expertises de mercado. Ou seja, ignorar o que representa para uma sociedade que persegue

objetivos de prosperidade, somente factíveis em um processo sustentável de desenvolvimento do

país, um sistema financeiro sólido e eficiente, indicando que não há, nessas questões, espaço para

essas ilusões provincianas desinformadas.

Não é objetivo do trabalho, por outro lado, nessa abordagem de um campo específico de

decisões desatentas a consequências, aprofundar-se nas inúmeras análises já feitas e que discutem

a existência ou não de tendência decisória pró-devedor ou pró-credor. Ainda com Bruno M.

Salama, por exemplo, ao se debruçar sobre dados a respeito (e reconhecer as particularidades

distintivas dos diversos métodos de captura desses dados), conclui por haver nos tribunais

brasileiros a primeira tendência, embora ele levante uma terceira hipótese para essa relação do

spread bancário com o enforcement contratual. Segundo o referido autor, seria uma hipótese de

causalidade reversa, explicativa de que o julgamento favorável se opera na proporção do

aumento das taxas de juros praticadas em cada contrato sob revisão. Ou seja, a cisma do juiz seria

com a taxa dos juros em si e não com parte devedora ou credora, aprioristicamente, algo que

considera como uma “explicação alternativa à própria discussão de viés”. (2020, p. 285).

Seja como for, viés para um lado ou para o outro, ou explicação alternativa (má vontade

do juiz com as altas taxas de juros no Brasil, um sentimento, por certo, compartilhado por todos

54

que não sejam banqueiros), não se pode, insista-se, negar uma realidade que há muito sugere uma

perspectiva global do direito, quando se cogita de uma necessária e cuidadosa análise de

consequências de decisões judiciais interventivas nesse e em outros setores vitais. Não se trata,

pois, nos termos do art. 20, da LINDB, de submissão acrítica do decisor, mas de atenção a um

regime vigente de mercado livre (e, também, das possibilidades de falhas) e que se caracteriza

pela interdependência entre setores. E sendo assim, o trabalho visa contribuir para o

estabelecimento de uma cultura do pensar consequencial/sistêmico, daí que para os juízes em

formação (sobretudo inicial) “significa buscar compreender os mecanismos que fornecem a

estrutura jurídica para todos esses processos complexos e contraditórios de integração e

exclusão”, conforme sintetizam Oscar Vilhena Vieira e Carlos Ary Sundfeld na apresentação da

obra “Direito Global” (1999, p. 11).

Em uma palavra, estimular a percepção da globalização como fenômeno que, no dizer

de Celso Fernandes Campilongo, na mesma obra acima citada, “cria complexidade e aumenta a

interdependência do sistema jurídico em relação ao seu ambiente externo” (1999, p. 83), neste

último incluído, para os fins do tópico em análise, o sistema financeiro e o inegável predomínio

de sua lógica sobre a economia real (FARIA; KUNTZ, 2001). Tudo isso reforça a necessidade -

ao se trabalhar as ações formativas da magistratura - de se ampliar as capacidades desses

profissionais nesse e em outros campos estratégicos da vida nacional, facilitando a análise de

consequências sistêmicas que, sem melindres de uma responsável deferência institucional, no

caso em particular do sistema financeiro nacional, parta por exemplo de elementos objetivos

assim sintetizados pela autoridade monetária:

O sistema financeiro só assume o papel de financiador do consumo e do investimento, caso haja segurança para os poupadores, fortalecimento das instituições financeiras e liberdade para que sejam criadas inovações de produtos e serviços. O desenvolvimento saudável da intermediação financeira é condição necessária para que seja consolidada a estabilização econômica de um país, assim como ´para criar requisitos essenciais à retomada da atividade econômica, de maneira autossustentada. (BCB, 1999)

55

CAPÍTULO 3 - O DESAFIO DA ANÁLISE DE CONSEQUÊNCIAS FRENTE AO

PERFIL ÉTICO-HUMANISTA DAS AÇÕES FORMATIVAS DA MAGISTRATURA

A Constituição Federal de 1988 estabelece o concurso público de provas e títulos como

forma de ingresso na carreira da magistratura (art. 93, I), e foi pela já citada Emenda

Constitucional nº 45, que o tema das atividades formativas desses profissionais ganhou assento

constitucional. Nesse intuito, direcionou ao Estatuto da Magistratura, mediante lei complementar

de iniciativa do STF a ser encaminhado ao Congresso Nacional, a previsão de cursos oficiais de

formação e aperfeiçoamento como etapa obrigatória do processo de vitaliciamento e critério de

promoção por merecimento (incisos II, alínea “c”, e IV).

Até o momento não houve o envio ao Congresso Nacional do projeto de Lei Orgânica da

Magistratura, permanecendo vigente o estatuto de 1979 (BRASIL, 1979), gestado, portanto,

ainda na ordem constitucional anterior. Na parte da regulamentação geral dos concursos para

ingresso na carreira, o CNJ, exercendo papel de orientação e fiscalização administrativa dos

órgãos judiciários (com exceção do Supremo), editou a Resolução nº 75, de 12 de maio de 2009

(CNJ, 2009). Ainda no texto constitucional, e, também, no influxo da reforma do judiciário de

2004, o constituinte derivado criou a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de

Magistrados - ENFAM, integrando-a como órgão da estrutura do STJ, a se ocupar das ações

formativas dos magistrados, começando pela regulamentação dos cursos oficiais para o ingresso e

promoção na carreira (art. 105, parágrafo único, inciso I).

Assim foi que, em 30 de novembro de 2006, regulamentando o dispositivo

constitucional, foi editada pelo STJ a Resolução nº 3, sendo instalada concretamente a referida

escola nacional (STJ, 2006). Principal entusiasta das ações formativas de juízes, e idealizador da

entidade, o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, integrante do mesmo tribunal e muito antes

do surgimento da ENFAM, já chamava a atenção para o desempenho desses profissionais num

contexto de globalização econômica e do surgimento de blocos regionais. Ou seja, a exigir

formação especializada, expansiva como resposta a esses novos desafios, não aferíveis em

56

certames públicos, segundo ele “banalizados pelo método da múltipla escolha e pelo simples

critério do conhecimento científico” (TEIXEIRA, 1998, p. 141).

Buscou-se, naqueles primórdios da entidade, edificar a figura do juiz ideal nos arranjos

institucionais que se fariam necessários na nova ordem constitucional, e um eixo logo se firmou

no centro das discussões, o de uma formação ética-humanista. Com efeito, a partir dessa filosofia

pedagógica, o resultado esperado estaria na abertura transdisciplinar de conhecimentos desses

profissionais, porém sem o registro do foco desse desempenho, essencialmente, voltado a uma

cultura de análise de consequências nas decisões judiciais. Difícil, assim, compreender-se que

uma coisa, o desempenho da magistratura em um contexto de globalização, pudesse estar

desvinculada de outra, a incorporação de competências por esses profissionais aptas a esse fim, a

visão sistêmica na consideração de impactos.

Era o juiz do futuro que se preconizava formar, ético e humanista, cuja missão estava

sendo confiada à ENFAM, e naqueles primeiros debates, predominantemente, exaltavam-se

atributos pessoais do agente. A macrovisão do quadro institucional, cuja compreensão - em

grande medida - emergiria da percepção de contexto, conjuntural, ali aparecia de forma

fragmentária, encoberta, limitada ao desafio dos novos direitos surgentes com a chamada pós-

modernidade. Ao que interessa mais de perto a este trabalho, sobretudo na temática a ser adiante

objeto de exame, cumpre aqui o registro feito por um observador de então, atento às questões dos

modelos de formação profissional dos juízes no Brasil:

O desafio é treinar o raciocínio abstrato para a solução de questões concretas. Acima de tudo, formar o juiz para a postura consenquencial. O consequencialismo deve merecer ênfase na formação dos novos juízes. O juiz precisa ter consciência da repercussão de sua decisão no âmbito da sociedade em que atuar. Não vale mais o faça-se o direito e pereça o mundo. (NALINI, 2006, p. 17-24)

As ações formativas avançaram ao longo desses anos em seus modelos pedagógicos e

propostas, mas nesse aspecto reportado pelo autor, cabe o registro, não angariou prestígio

suficiente, ao menos na perspectiva defendida nesse trabalho. Houve, cumpre também o registro,

57

conforme já explicitado em passagens anteriores do trabalho, inserção relativamente recente de

disciplina formativa que aborda o tema do impacto socioeconômico das decisões, porém sob uma

perspectiva diferenciada, vinculada a um esquema seletivo de tutela na atuação jurisdicional. O

tema será, adiante, igualmente objeto de análise apartada, verificando-se, nessas ações

formativas, a primazia das vulnerabilidades sobre o contexto institucional, sistêmico.

A entidade nacional, foi visto, ao surgir por obra de reforma na Constituição Federal

(Reforma do Judiciário) em 2004, indica que nos anos precedentes, pós-1988, até sua efetiva

concretização em 2006, a formação profissional dos juízes brasileiros manteve-se fragmentada

como no passado, oferecida de forma totalmente descentralizada por escolas regionais ou

estaduais. Normalmente eram entidades vinculadas aos tribunais ou a associações de classe,

cumprindo anotar que, nesse interregno temporal, na década de 1990, observa-se fenômeno

identificado por Fabiano Engelmann (2006) como indutor de uma sociologia do campo jurídico e

seus usos. Segundo o autor, apontando a origem no sul do país (estados de Santa Catarina e Rio

Grande do Sul), no influxo da abertura democrática e da criação de novos direitos pela CF/88,

setores diversificados de atuação dos juristas, aí incluídos os juízes, desfraldaram a bandeira da

defesa de novos usos do direito nesse campo, inclusive de forma alternativa.

O componente marcante de referidos movimentos, cujos canais de manifestação, no caso

do Poder Judiciário, eram precipuamente as decisões judiciais, e bem assim as posições

associativas, era o ideológico, embalado na politização do Direito como desafio às estruturas

tradicionais de poder. Com efeito, significava a concepção do Direito como instrumento de

transformação social, daí a exaltação da democracia como traço argumentativo frequente no

enfrentamento e resolução de conflitos judicializados, visando a redução de desigualdades que se

combatia entre incluídos e excluídos do sistema. Ou seja, reflexo de um engajamento social

direto, militante (um dos tipos distorcidos de consequencialismo, porque ideológico, ainda no

dizer de Luís Fernando Schuartz), materializado em decisões judiciais distributivas, por vezes

revolucionárias, daí – prossegue o autor - as sentenças inspiradas em doutrinas que exaltavam um

“conjunto de fundamentações filosóficas que põe em jogo as definições de Justiça, Estado e

Direito” (op. cit., p. 33).

58

Ainda por esses idos aproximados, agora saindo da região sul e pendendo para o lado do

cerrado brasileiro, surgiu outro movimento de inspiração similar, denominado “O Direito Achado

na Rua” (expressão de Roberto Lyra Filho), este mais especificamente voltado aos novos

movimentos sociais surgidos com a CF/88. Estaria, portanto, focado no estabelecimento de

espaços políticos onde se estimula e se reconhece a criação de direitos a partir de experiências de

grupos tidos como excluídos, mediante o combate à opressão entre classes sociais (SOUZA Jr.,

2019). Tal a corrente do chamado Direito Alternativo, parte de posicionamentos claramente

ideológicos, os quais, embora tenham os direitos humanos como base de legitimação de decisões

judiciais nesse sentido, encerram o traço comum do engajamento político/institucional, expressão

do já reportado consequencialismo militante.

Nas ações formativas da ENFAM, a partir do ato de sua instituição formal, ao se

estabelecerem por documentos posteriores, ao longo dos anos, os seus modelos educacionais, não

há registro explícito de direcionamento pedagógico indicativo de engajamentos ideológicos. No

seu vigente projeto de desenvolvimento institucional, estabelecendo diretrizes gerais das ações

formativas para o quinquênio 2019-2023, assume como missão nacional da entidade a preparação

desses profissionais no sentido de garantir que “a Justiça esteja em sintonia com a demanda

social”. Segundo o documento, esse objetivo reclama “habilitar o juiz para exercer a função

jurisdicional com qualidade técnica, humanismo, ética e imparcialidade, bem como para que

julgue com independência em relação aos demais poderes e à opinião pública” (STJ, 2019).

Trata-se de missão que antes se declarava afinada com aquela assumida pelo próprio

Poder Judiciário como um todo, nos termos da então vigente e já citada Resolução nº 198/2014,

do CNJ, com a redação dada pela Resolução nº 204/2015 que dispunha sobre seu planejamento e

gestão estratégica. Assim, a par da missão reitora de “realizar justiça”, descrevia a missão no

sentido de “fortalecer o estado democrático e fomentar a construção de uma sociedade livre, justa

e solidária, por meio de uma efetiva prestação jurisdicional” (Anexo único).

Atualmente, conforme foi salientado no item 1.3, do Capítulo 1, deste trabalho, há um

aspecto que merece ser novamente enfatizado. Trata-se do normativo que sucedeu o anterior no

59

estabelecimento das linhas de gestão e planejamento do Poder Judiciário, a também já citada

Resolução nº 325/2020, do CNJ. No caso, a visão que dele se espera projetar, para além da

agilidade e efetividade na garantia de direitos e resolução dos conflitos sociais, agora também

voltada ao desenvolvimento do país. Portanto, o referido destaque, não previsto ao tempo do

estabelecimento do projeto de desenvolvimento institucional da ENFAM, passa a ser

expressamente afirmativo de objetivos fundamentais como delineados na Constituição Federal

(art. 3º, II), o que requer o engajamento de juízes de uma forma institucionalmente mais ampla, e

isso perpassa necessariamente pela análise de consequências nas decisões judiciais.

3.1. A GRADE NACIONAL OBRIGATÓRIA E UNIFICADA DE DISCIPLINAS E O

ESPAÇO RESIDUAL FORMATIVO DAS ESCOLAS JUDICIAIS REGIONAIS E

ESTADUAIS

Com essa estrutura nacional, a ENFAM, conforme disposto no reportado documento,

assume seu papel de centro regulador de orientação e fiscalização das escolas que atuam nos

Estados e no Distrito Federal (Justiças Estadual e Distrital), bem como nas regiões (Justiça

Federal), no 1º grau de jurisdição. Averba, ainda, a preservação da autonomia dessas unidades,

inclusive didática, embora estabeleça uma grade nacional de disciplinas obrigatórias, como foi

reportado na introdução deste trabalho. No caso, são conteúdos mínimos que devem constar nos

cursos ministrados a magistrados, tanto para aqueles envolvidos nas ações de formação inicial

(etapa preparatória para o vitaliciamento), bem como os aplicados na formação continuada

(critérios objetivos de movimentação na carreira por merecimento, promoções e acessos ao 2º

grau).

A partir daí, preservada essa estrutura verticalizada, e naquilo que se persegue como

objetivo propositivo deste trabalho, há espaço residual para se ampliar o foco das ações

formativas desses profissionais, voltadas ao compromisso institucional reclamado pelo art. 20, da

LINDB. Isso tão mais se justifica na medida em que, conforme será abordado mais adiante, o

consequencialismo jurídico não constitui exatamente objeto de interesse destacado na própria

formação jurídica no Brasil, atingindo os diversos segmentos dos operadores do Direito, não

60

somente os juízes, e que antecede ao ingresso na carreira. Ao menos isso não ocorre - no campo

dos estudos de teoria da decisão judicial - em uma medida suficiente a garantir, sobretudo agora

que foi positivado o consequencialismo jurídico como padrão decisório, comportamento geral

desses agentes a ele afinado.

Tudo isso reforça, também por esse aspecto, os propósitos deste trabalho na defesa que

se faz das ações formativas profissionais internas, corporativas, como instrumentos aptos ao

resgate desta carência. Não custa reiterar, valores abstratos/princípios permeiam o tecido da

Constituição Federal de 1988, e nela os juízes encontram os limites instransponíveis de atuação

como agentes de estado, e a LINDB chancela o processo decisório com essa ampla abertura de

sentidos. Busca-se, assim, firmar no trabalho as ações formativas como espaços adequados de se

aliviar esses profissionais de uma (possível) submissão a um estado que poderia se caracterizar

como uma não desejada tirania dos valores (SCHMITT, 1961), nada além desse objetivo. E isso

passa, necessariamente, segundo o comando normativo, pela análise de consequências práticas

nas decisões.

3.2. REFLEXOS NA MAGISTRATURA DA FORMAÇÃO JURÍDICA DOGMÁTICA NO

BRASIL

Ainda na década de 1960, atribui-se a Edgar de Moura Bittencourt, magistrado do TJSP,

autor da obra “O Juiz”, as primeiras defesas enfáticas do processo de formação dos juízes, cujos

objetivos visados, dentre outros, estava o de “imprimir ao curso de estágio ou tirocínio o caráter

de realidade efetiva, sem definição dogmática de instituto” (2012, p. 26). Identificou-se, pois, já

naqueles idos, a necessidade de se adequar a formação jurídica universitária, tradicional e

largamente dogmática, aos atributos exigidos para o exercício da judicatura. Conforme foi

anteriormente visto, apenas com a chamada Reforma do Judiciário, de 2004, mediante emenda à

CF/88 (EC 45), foi que o tema adquiriu estatura constitucional, e somente em 2006 tomou rumo

na prática com a criação oficial de entidade com atuação nacional.

61

O presente trabalho, ao focar a ausência de estudos do (verdadeiro) consequencialismo

jurídico nas ações formativas dos juízes, reclama investigação, ainda que sumária, acerca da

formação jurídica precedente desses profissionais. E disso decorre, conforme hipótese levantada

para o problema de pesquisa, o surgimento de decisões judiciais desatentas a consequências em

setores de alto impacto socioeconômico para o país. Interessa, assim, a análise em dois ambientes

distintos dessa trajetória pregressa, relacionada às exigências do conhecimento jurídico,

precisamente os bancos universitários e os concursos públicos para ingresso na magistratura.

No primeiro campo, feita pesquisa em grades de cursos de graduação de Direito, a partir

de ranking anualmente publicado por prestigiada empresa jornalística, denominado “Ranking

Universitário Folha – RUF” (FOLHA DE SÃO PAULO, 2019), foram colhidos dados das 20

(vinte) faculdades posicionadas como as melhores em 2019. Assim, seguindo a ordem da

primeira à vigésima, são elas: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG), Fundação Getúlio Vargas – São Paulo (FGV Direito/SP), Universidade de

Brasília (UnB), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Paraná

(UFPR), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Rio Grande do

Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), Universidade do Estado

do Rio de Janeiro (UERJ), Fundação Getúlio Vargas – Rio de Janeiro (FGV/Rio), Universidade

Federal Fluminense (UFF), Universidade do Estado de Santa Catarina (UFSC), Mackenzie (SP),

Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade

Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) e Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

Em nenhuma delas foi possível verificar, ao menos com algum destaque, mediante a

análise dos tópicos de disciplinas em grades curriculares que contemplam assuntos correlatos

(teoria do direito/teoria da decisão judicial), o consequencialismo pragmático como objeto de

estudos. Nem mesmo referências a adaptações, quanto a esse campo, impulsionadas

expressamente pelas disposições introduzidas na LINDB pela Lei nº 13.655/18, o que mostra não

desfrutar nos meios acadêmicos locais de prestígio suficiente, quadro esse que se espera alterado

num futuro breve. O que em certa medida se justifica até pelo pouco tempo de vigência da norma,

62

daí que o tema do consequencialismo jurídico, nessas grades curriculares pesquisadas, finda por

se situar como abordagem da base ética da própria AED, isso nas poucas instituições onde o

movimento aparece, mas sem o destaque da referida lei.

Esse panorama finda por refletir no repertório de conhecimentos dos operadores

jurídicos, aí incluídos os juízes em suas práticas formativas profissionais, inicial e continuada,

quando se leva em conta – e isso deve ser salientado – um estado da arte de momento, dado,

repita-se, o surgimento relativamente recente da lei. Portanto, há um vácuo a ser superado, e

dentro dos objetivos deste trabalho, uma oportunidade a ser agarrada, e se as ações formativas de

hoje devem ter por foco os saberes transdisciplinares, o referido campo de estudos pode suprir

esse espaço, a partir mesmo do concurso público de ingresso na carreira. E uma boa estratégia é

justamente situá-lo no âmbito da AED, adequada a uma eficaz assimilação do dispositivo legal na

educação profissional de juízes.

No caso do concurso público da magistratura, o CNJ tratou do tema por meio da

Resolução nº 75/2009 (CNJ, 2009), e no que interessa ao trabalho, traz ela um curioso preceito,

ao estabelecer que “as questões da prova objetiva seletiva serão formuladas de modo a que,

necessariamente, a resposta reflita a posição doutrinária dominante ou a jurisprudência pacificada

dos Tribunais Superiores” (art. 33). Disposição essa que já foi tida como uma pérola jurídica

(SALOMÃO, 2009), para além da questionável constitucionalidade (CF, art. 99, caput),

praticamente deixa de fora, coercitivamente, ao menos nessa fase do certame, a possibilidade de

se explorar temas relacionados ao consequencialismo jurídico. A esse respeito, tomando-se

evidências empíricas atualizadas de âmbito nacional com amostra significativa por todas as

regiões do país, abrangendo certames de tribunais diversos (estaduais e regionais federais), a

referida temática não constou em nenhum deles: Tribunais Regionais Federais da 1ª Região

(TRF1, 2015) e 4ª Região (TRF4, 2016), Tribunais de Justiça dos Estados de São Paulo (TJSP,

2018), Santa Catarina (TJSC, 2019), Minas Gerais (TJMG, 2018), Pará (TJPA), Mato Grosso do

Sul (TJMS, 2019) e Ceará (TJCE, 2018).

63

O documento normativo, por outro lado, ao conformar o que intitula de “relação mínima

de disciplinas” a integrar os referidos concursos em todas as fases, específicos para as

magistraturas federal (anexo I) e estadual (anexo IV), o referido campo de estudos não aparece

em nenhuma delas, mesmo que figurando de forma desdobrada em tópicos de cada uma das áreas

do Direito exploradas nos certames. De qualquer sorte, conforme o documento, cuidando-se de

pautas temáticas “mínimas”, pressupõe um espaço residual para esses entes (União, Estados e

Distrito Federal) no sentido da inclusão do referido campo de estudos, mormente em face das

disposições do art. 20, da LINDB.

Porém, impõe-se, antes, ao menos enquanto a referida temática não ganha mais corpo

nos meios acadêmicos, a superação do entrave regulatório do CNJ, e isso pela simplória razão de

inexistir no país “posição dominante” na matéria. Com efeito, no campo da jurisprudência

superior, ao que se relaciona com as recentes alterações da LINDB, particularmente o artigo

anteriormente reportado, mediante pesquisa na base de dados do projeto Corpus 927, parceria do

STJ com a ENFAM, nada se encontra como referência expressa à instituição desse padrão

decisório na prática jurisdicional do país (STJ, 2018).

Na esfera de controle, dignas de nota foram as manifestações contrárias do Tribunal de

Contas da União – TCU já ao projeto da LINDB (PL nº 7448/2017), por ocasião dos debates no

país durante a sua tramitação no Congresso Nacional (TCU, 2018), a começar pelo próprio art.

20. Uma vez vigente a lei, ainda com relação ao dispositivo específico, o quadro parece dar sinais

de mudança de rumo nessa compreensão por parte da instância administrativa controladora da

União, havendo registro recente da consideração de consequências práticas no Acórdão nº

1.045/2020 (KANAYAMA, 2021). Ou seja, o tema, aos poucos, vai sendo considerado nas

instâncias decisórias, indicativo de que, na esfera judicial, as ações formativas, situadas que estão

na base da instituição, não podem ficar de fora do processo.

Voltando às citadas constatações empíricas, reitere-se, relacionadas à formação jurídica

que os juízes carregam, já desde a faculdade de Direito, mostram um sólido lastro de

conhecimentos, não há negar, e a tanto comprova o rigor dos concursos para ingresso na carreira

64

em que poucos são selecionados. Mas revelam, por outro lado, uma cultura dogmática por vezes

ainda excessiva, fechada em torno de temáticas tradicionais do Direito como são tratadas no

Brasil, envoltas em teorias analíticas das normas jurídicas, e um dos efeitos, não raro, são certos

preconceitos em relação ao que se discute e se aplica em outros países ou outras áreas do

conhecimento. Nesse aspecto, dada a diversidade de sistemas jurídicos (common law/civil law), o

consequencialismo jurídico, e de resto como ainda ocorre com a Análise Econômica do Direito,

campos eticamente interligados e originados da cultura jurídica comunitária, finda se deparando

com barreiras dogmáticas do pensamento jurídico local, o qual se atualiza como meras cópias

autorizadas sem nenhum sentido de transformação (LIMA; BAPTISTA, 2014).

Assim, ao se propor no trabalho o envolvimento de juízes nas questões de análise

pragmática de consequências de suas decisões, oriundos que são de uma formação jurídica

fortemente baseada em dogmas da tradição legal, não se defende o abandono total da dogmática

jurídica como se estivesse esgotada, reduzida entre nós a um corpo sem vida, sem nenhum traço

remanescente de vitalidade (TIMM, 2017). Não chega a tanto, e nem também se intenta dela

extrair, por outro lado, uma alvitrada função social (FERRAZ Jr, 2015), a ser observada nos

processos decisórios da magistratura que se pretende rentes a um compromisso com os impactos

de suas respectivas decisões. O que se defende, nesse aspecto, é a atenção ao fato de que

continua, em certa medida, atual o questionamento feito por José Eduardo Faria há mais de duas

décadas:

Em que medida continuam os magistrados sendo ainda formados na tradição formalista da dogmática jurídica, valorizando apenas os aspectos lógico-formais do direito positivo, ou, pelo contrário, já estarão recebendo uma formação capaz de levá-los a preencher, na aplicação de normas abstratas aos casos concretos, o hiato existente entre a igualdade jurídico-formal e as desigualdades socioeconômicas? (1994, p. 12)

A pesquisa se ocupa, insista-se, em revelar a existência de lacuna, nesse espaço

formativo profissional da magistratura, apta a ser suprida com os estudos voltados ao

consequencialismo jurídico, segundo as balizas do art. 20, da LINDB. Cabe também salientar

que, nessa questão da formação dogmática dos juízes, quando se cuida de consequências de

decisões, aqui retornando ao enfoque específico tratado no capítulo 1, item 1.3, supra, eventuais

65

entraves conciliatórios no Brasil, conforme pondera José Rodrigo Rodriguez, estariam apenas na

hipótese de se “pensar as instituições em abstrato e tratar o direito como mero instrumento”

(2011, p. 139).

O que se propõe perseguir, diversamente, ao se trabalhar o consequencialismo jurídico

do art. 20, da LINDB, uma vez que dos bancos universitários somente se pode esperar como um

projeto de futuro, é a compreensão e a atenta consideração do contexto, a realidade amplificada e

multicomplexa. Vale dizer, no ato de decidir questões de significativo impacto socioeconômico

em setores vitais do país, treinar o raciocínio para a capacitação - cumpre reiterar - de percepção

da floresta e não apenas da árvore, entendendo a estrutura, enxergando menos as ações judiciais e

mais as atividades e suas repercussões socioeconômicas (LOPES, 1994).

3.3. VIESES COGNITIVOS NA ABORDAGEM DE IMPACTOS DECISÓRIOS NAS

AÇÕES FORMATIVAS VIGENTES

O item anterior, mais focado na abordagem da formação dogmática de magistrados,

convém seja sucedido por um registro retroativo. Trata-se da referência feita no trabalho, já a

partir da introdução e, também, nos capítulos 1 (itens 1.1, 1.2 e 1.3) e 3 (caput), da sequência,

acerca do tema de impactos de decisões judiciais como objeto de estudos nas ações formativas da

magistratura. Ou seja, uma visão do estado presente da arte, sobre o qual se orienta a proposta do

trabalho, cujo intuito se limita, apenas, a procedimentos de ajustes.

É que foi salientado, nesses registros pontuais, a existência de disciplina com o título

“impacto social, econômico e ambiental das decisões judiciais e a proteção do vulnerável”,

compondo, ao lado de outras, um rol de conteúdos programáticos mínimos dos cursos oficiais de

formação inicial e continuada dos magistrados. São diretrizes nacionais, conforme estabelecidas

na Resolução nº 2, de 8 de junho de 2016, da ENFAM (STJ, 2016), estando as temáticas

desdobradas nos anexos I, II e III, do documento, respectivamente tratando dos cursos de

ingresso na carreira, formação inicial e aperfeiçoamento (formação continuada).

66

A previsão, portanto, remontando o documento ao ano de 2016, antecede ao próprio

dispositivo da LINDB (art. 20), de 2018. No entanto, ainda que aparentemente demonstre o que

seria um objetivo com ele já alinhado, na previsão de estudos voltados - nos termos do normativo

- aos “impactos em face das pretensões individuais e coletivas que se apresentam ao Estado-

Juiz”, há indícios de que isso finda não ocorrendo na linha da hipótese levantada, ao menos para

os fins propositivos do presente trabalho.

Com efeito, são indícios justamente pelo que aqui se sustenta como uma inserção de viés

que finda atuando na abordagem da disciplina, compreendida pela vinculação das ações

formativas a uma espécie de objetivo intrínseco (como consta no normativo), o da “proteção do

vulnerável”. Ou seja, apresenta-se como meta um tipo de tutela vinculada na proteção de direitos

dos litigantes, aprioristicamente, próprio dos raciocínios judiciais que não se projetam além dos

limites individuais dos conflitos. E como tal, dependendo do que possa ser considerado pelo

decisor como parte fraca da relação, acaba criando vieses cognitivos que podem dificultar a

correta percepção do agente para uma adequada análise de consequências.

Não se contesta que cabe ao juiz, conforme já foi assinalado, estar atento e efetivamente

promover a correção das distorções nessas relações conflitivas, sobretudo em setores mais

sensíveis como o mercado de consumo, e um exemplo sempre destacado são as assimetrias

informacionais entre fornecedor/consumidor. O problema reside em que, ao se insistir em um

projeto formativo com expressa referência vinculativa da proteção de vulneráveis na avaliação

ampla de impactos das decisões judiciais, automaticamente, os vieses estimulados pela orientação

podem vir a afetar, mais adiante ou num contexto maior, justamente os interesses daqueles que se

pretendia proteger. É o que tem sido chamado de efeito bumerangue, e “todos os dias, dezenas ou

centenas de bumerangues são lançados por juízes bem-intencionados, gerando consequências

perversas, se não desastrosas, no resultado final” (YEUNG, 2020, p.338).

O que se defende, assim, é o necessário afastamento do que aqui se considera um viés

prejudicial para uma correta análise de consequências nas decisões judiciais. Isso porque a

vulnerabilidade em destaque, ela mesma enquanto conceito juridicamente aberto, convertida em

67

valor abstrato, acaba por estimular análises de impactos de acordo com objetivos previamente

desejados, num sentido protetivo especial de parte A ou B do conflito. Insista-se, finda

convolando-se na espécie reportada de consequencialismo militante, o que aqui se sustenta como

contrário ao padrão normativo instituído pelo art. 20, da LINDB, daí a proposta dos ajustes nas

ações formativas das escolas judiciais.

Voltando aos dados empíricos utilizados no trabalho, nos dois campos pesquisados

(previdência privada e contratos bancários de consumo), o raciocínio enviesado nas decisões

interventivas, ao menos até as temáticas alcançarem ponto de estabilização por precedentes, após

longo percurso de instabilidades geradoras de distorções sistêmicas, fica evidenciado. Assim, no

primeiro caso, busca-se proteger um indivíduo ou grupo de indivíduos previamente rotulados de

vulneráveis, frente a um organismo que nada mais é que mero gestor de interesses coletivos. Na

outra situação, parte-se de verdadeiras crenças que demonizam o capital financeiro frente aos

tantos que dele necessitam, automaticamente eleitos como partes fracas, pessoas físicas ou

jurídicas, tudo em prejuízo de se intentar uma abordagem minimamente adequada de conjuntura

em que todos estão inseridos, vulneráveis ou não.

Portanto, o que se sustenta é que, a orientação formativa vigente, ainda que nela se

busque firmar a atenção para esses impactos (sociais, econômicos, ambientais), incidindo um tipo

em destaque de condicionante prévio (a proteção do vulnerável) nas intervenções nos mais

diversos campos constantes da disciplina, não atende o objetivo visado pelo legislador da

LINDB. Sim, porque no dispositivo em questão (art. 20), ao ser exigir a análise de consequências

práticas, os valores abstratos lançados na decisão tendem a ser aqueles que unicamente se

compatibilizam com a proteção da parte considerada fraca da relação, o que finda por distorcer os

raciocínios pragmáticos que se pretende cultivados nessas ações formativas.

É um tipo de orientação formativa, hoje vigente, que pode ser bem sintetizada, em

termos de consequências, a um quadro como esse descrito:

68

Se o juiz, em alguma medida, passa por cima da lei e do contrato para aplicar o seu critério de justiça social ex-post em favor da parte que considera hipossuficiente, independente do benefício dela ex-ante, toda a família de contratos iguais ou análogos é comprometida, várias transações mutuamente benéficas entre as partes deixam de ser realizadas, esfriando o processo de geração de valor na economia. O indivíduo específico considerado hipossuficiente e “protegido” pelo juiz pela realização do risco a ele alocado fica melhor ex-post. No entanto, ou nem ele, nem ninguém mais poderá realizar aquele tipo de contrato ou este último ficará muito mais caro do que antes para as partes consideradas ex-post hipossuficientes, simplesmente porque o risco é ineficientemente alocado pelo judiciário, à revelia do contrato, sobre a parte menos preparada para lidar com aquele risco. (MATTOS, 2020, p. 397-398, sem destaque em itálico no original)

Tudo isso significa dizer que, nem sempre a proteção das vulnerabilidades intrínsecas,

dentro ou fora das relações de consumo, opera-se com a decisão dos conflitos judicializados a

favor daquela parte considerada mais fraca, isso numa perspectiva estreita do julgador, porque

reduzida aos limites do processo individual. Em muitos casos não, ao menos de forma eficiente,

porquanto um impacto mal avaliado, dentro de um contexto maior em que se insere o conflito, as

externalidades provocadas, quando negativas, exigirão ajustes sistêmicos que, ao fim e ao cabo,

serão suportados também pelo vulnerável.

A propósito, ainda com referência aos dados empíricos da pesquisa (capítulo 2),

coletados da área contratual, esse tipo de distorção do raciocínio decisório em muito se explica

por uma visão paternalista de função social daqueles contratos, porque apoiada na perspectiva de

justiça distributiva. Não por outra razão é que se defende, a ser detalhado no próximo item, a

incorporação da AED nessas ações formativas, ferramentas reputadas eficazes para a

compreensão de que “a proteção dos interesses sociais nem sempre é entendida como

interferência em favor da parte mais fraca nos casos em que haja desnível de poder de barganha

entre os contratantes” (TIMM, 2008, p. 65).

Resumindo, apenas para ilustrar com um exemplo muito recente de um quadro desse

provável, por se relacionar à quase totalidade do mercado de trabalho (a única exceção prevista é

a dos aeronautas), observou-se no início do julgamento conjunto no STF das ADI’s 5826, 5829 e

69

6154, propositivas de inconstitucionalidade de dispositivos da CLT com as redações conferidas

pela Lei nº 13.467/2017.

Trata-se daquela que ficou conhecida como Lei da Reforma Trabalhista (BRASIL,

2017), especificamente na parte em que foi criado o contrato intermitente e que tem por objetivo,

dentre outros, minimizar os índices alarmantes de desemprego no país, sobretudo ao facilitar a

migração para a formalidade de milhares de trabalhadores informais. O relator, Ministro Luís

Edson Fachin, ao votar pelo acolhimento dos pedidos, identificou violação ao princípio da

dignidade humana, vale dizer, a partir de uma valoração protecionista abstrata da lide objetiva em

termos de consequências (e que se esperava fossem sistêmicas), esses trabalhadores estariam com

as suas vidas dignas preservadas se mantidos no mesmo lugar onde se encontram, na precária

informalidade (BRASIL, 2020).

3.4. A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO INTERDISCIPLINAR DIREITO & ECONOMIA

NA CONSIDERAÇÃO DE CONSEQUÊNCIAS DAS DECISÕES JUDICIAIS:

MÉTODOS EMPÍRICOS DA BUSCA DA EFICIÊNCIA SEM O SACRIFÍCIO DA

JUSTIÇA.

Na proposta do trabalho, ao se firmar o referencial teórico no consequencialismo

jurídico da LINDB, foi feito, já na introdução, o registro daquilo que se sustenta como um meio

adequado e fundamental de se trabalhar o tema nas ações formativas da magistratura. Trata-se da

incorporação nos programas oficiais de estudos voltados à Análise Econômica do Direito (AED),

exatamente por se tratar de movimento alicerçado em uma ética que é essencialmente

consequencialista (GICO Jr, 2016), pragmática. O que se defende é que seus métodos,

desenvolvidos que são a partir de experimentações empíricas no campo das ciências econômicas,

auxiliarão em muito para o estabelecimento de uma cultura judicial brasileira que

verdadeiramente se preocupe com a análise de consequências nas decisões.

O referido campo de estudos nunca foi e permanece sem ser objeto de abordagem na

grade nacional unificada de disciplinas obrigatórias da ENFAM, os já reportados conteúdos

70

mínimos das ações formativas inicial e continuada da magistratura nas escolas estaduais e

regionais. Há, quando muito, conforme anteriormente abordado no trabalho, estudos de impactos

de decisões, porém com a marca do viés protecionista que em nada se relaciona com uma correta

análise de consequências conjunturais. Há também, cabe o registro, dada a relativa autonomia

dessas escolas, a abordagem esparsa por deliberação de cada uma, daí que, inexistindo orientação

nacional vinculativa mínima, a fragmentação finda por comprometer a assimilação permanente

desses conteúdos, só ocasionalmente disponibilizados e para grupos específicos de juízes em

alguns estados ou regiões.

O quadro não é muito distinto no campo da jurisdição constitucional, considerando que

foram pesquisados dados consistentes de referência ao movimento em decisões proferidas no

Supremo Tribunal Federal. Com efeito, pesquisa recente (CAON, 2020) identificou o emprego da

AED em julgados proferidos no período de 1991 a 2019, embora em reduzido número para os

padrões superlativos da Corte (trinta e nove). Sendo nela utilizado o método da análise de

conteúdo (qualitativa quanto aos acórdãos), constatou-se em uma primeira fase (até 2014) a

abordagem pouco sistemática dos argumentos econômicos, crescendo em consistência e

qualidade a partir de então (2015). São números que revelam, pelo que se apurou na pesquisa, a

importância de já se trabalhar o tema de forma permanente nas escolas judiciais, a base adequada,

sob influxo das disposições do art. 20, da LINDB.

Não são propósitos do trabalho, por certo, incursões profundas no tema ou de perpassar

por todas as categorias conhecidas da AED, senão apenas destacar, sucintamente, algumas mais

diretamente relacionadas ao ato decisório judicial, quando há disposição de se levar a sério

consequências. Não é tarefa fácil burilar essas questões no modelo formativo vigente, mormente

quando o título de agente humanista, a que aspira todo juiz (e com razões de sobra, uma vez que

nenhum deles, sendo razoavelmente sensato, pode cogitar de negar a importância de direitos

humanos), estimula a falsa percepção de que são temas a serviço, por exemplo, de interesses

financeiros de grupos, de elites privilegiadas. Nessa concepção enviesada, direitos humanos não

seriam compatíveis com esse tipo de competência a ser adquirida nas escolas judiciais, visão que

71

pode ser afastada nas ações pedagógicas, mesmo em um sistema de civil law como o Brasil, ao se

assimilar que:

A análise econômica do direito não se limita aos aspectos “econômicos” em

sentido estrito, o que se refere a comércio, moeda, bancos e concorrência. Não prioriza o emprego da relação custo-benefício presente nas decisões judiciais ou administrativas. Ao revés, pretende explicitar a lógica, nem sempre consciente de quem decide, e que não se traduz, expressamente, nos motivos das decisões. Nisso a análise econômica do direito concorre, nos sistemas civilistas, para a nobre missão da doutrina. A de desvendar e exprimir a ordem subjacente nos textos de direito positivo visando a permitir sua melhor compreensão pelos juristas e, através da interpretação dos conceitos, estender essa lógica a eventuais novas disputas. (MACKAY; ROUSSEAU, 2015, p. 8)

Cogitando-se da análise de consequências em decisões judiciais, inserindo-a, por efeito

do art. 20, da LINDB, nas ações formativas da magistratura, se nesse âmbito a abertura

interdisciplinar se faz necessária face a outros campos distintos do direito, como a sociologia, a

filosofia e a psicologia, as contribuições da economia, nesse propósito, são fundamentais. As

bases formativas atuais, reitere-se, naquilo que estabelecem conteúdos mínimos de aplicação

nacional, a AED, ainda que majoritariamente reconhecida como um movimento de sucesso

(WILLIAMSON, 2005), permanece sem espaço, encoberta por um véu de preconceito que,

felizmente, com o passar do tempo vem sendo paulatinamente levantado nos meios jurídicos

locais. Aliás, no caso do Brasil, o país tem sido apontado por especialistas como o de maior

crescimento nesses estudos em toda a América Latina (ACCIARI, 2014).

No intuito da proposta, assim como observaram Robert D. Cooter e Thomas Ulen

(2016), referindo-se aos juristas nos sistemas por eles estudados, o trabalho parte da presunção de

não ser difícil, também no Brasil, convencer juízes do fato de que não dominam (como regra)

conceitos econômicos. Diversamente, a tarefa mais complicada, em termos pedagógicos (a rigor,

andragógicos), talvez seja, ainda com os autores, convencer esses agentes que devem apreender

economia. Justamente aí é que se tem nas ações formativas o campo adequado, sobretudo, mas

não exclusivamente, a formação inicial, ao menos em suas categorias elementares, relacionadas

aos efeitos nas tomadas de decisões, agora sob o impulso normativo da nova LINDB.

72

Traçadas essas perspectivas no âmbito das ações formativas para as quais o trabalho, a

partir de ferramentas disponibilizadas pela AED, intenta formular proposta para uma adequada

análise de consequências em decisões judiciais, um dos primeiros pontos a se desmistificar,

certamente, são esses embates conceituais entre eficiência (tamanho do bolo) e justiça

(distribuição do bolo). O primeiro conceito, embora originado da economia como base clássica

dos estudos na área, e ainda que tenha migrado para o ordenamento jurídico brasileiro com a

categoria de princípio, a partir mesmo da CF/88 (art. 37, caput), bem como no processo civil (art.

8º, do CPC), apenas para citar duas esferas normativas fundamentais, costuma ser confundido

como sinônimo de primazia do elemento financeiro. Vale dizer, atenção exclusiva aos custos

envolvidos na avaliação de benefícios, daí que se ocupar com a eficiência do produto que resulta

das decisões judiciais, nesse tipo de viés cognitivo, conduziria ao sacrifício da justiça, mormente

justiça social e os consectários problemas de distribuição.

Assim, num quadro como esse, estabelecer ações formativas voltadas ao agir dos juízes

orientado por consequências, nos termos da LINDB, envolve o afastamento desse tipo de dogma,

responsável pelo estímulo a esses agentes da prática de justiça distributiva por meio de decisões

judiciais, papel que deve ser reservado à tributação e às políticas públicas. Conveniente, nesse

esforço, recorrer a John Rawls, quando, buscando um conceito de justiça, esclarece

suficientemente o ponto da atenção a consequências:

Não podemos, em geral, avaliar a concepção de justiça unicamente por seu papel distributivo, por mais útil que seja esse papel na identificação do conceito de justiça. Precisamos levar em conta suas relações mais amplas, pois, embora a justiça tenha certa prioridade por ser a mais importante virtude das instituições, ainda assim é verdade que, permanecendo constantes as demais condições, uma concepção de justiça é preferível a outra quando suas consequências mais amplas são mais desejáveis. (2016, p. 7-8)

Portanto, eficiência nem de longe sacrifica os ideais de justiça que podem nortear o

operador do direito, aí incluídos os juízes. É bem por isso que, ainda com Bruno M. Salama, não

interessa “saber se a eficiência pode ser igualada à justiça; ela não pode. A questão é pensar como

a busca da justiça pode se beneficiar do exame de prós e contras, dos custos e benefícios” (2017,

p. 99-100). É curial, nesses termos, atentar que a eficiência se mostra como instrumento de

73

otimização da efetividade de direitos, inclusive dos fundamentais, e não como argumento que

conduz à negação dessa classe superior de direitos (LEITE, 2018), a propósito de certas

desconfianças dogmáticas.

Os métodos da AED se apresentam, justamente, aptos a municiar as ações formativas

com elementos de compreensão dessa compatibilidade de conceitos e outros tantos sob uma

perspectiva de consequências. Nesse sentido, apropriado se mostra a inserção, nos projetos

pedagógicos da magistratura, permanentes e obrigatórios, de estudos que abordem, dentre outras,

questões sobre racionalidade de comportamentos dos agentes envolvidos no conflito, entender a

dinâmica dos incentivos (nudges) que podem advir de decisões judiciais de resultados não

prospectados.

E mais, ainda nessa linha comportamental, compreender até mesmo os sistemas de

funcionamento cerebral, divididos entre automático e reflexivo, conhecidos como sistemas 1 e 2,

respectivamente (SUNSTEIN; THALER, 2019), o que se mostra útil no instante decisório. É

dizer, se movido por exaltações entusiasmadas de valores abstratos puros (sobretudo nas tutelas

de urgência), não reflexivas, ou, diversamente, se foram cuidadosamente pesadas as

consequências, racionalmente construindo as decisões. A defesa que se faz, portanto, é que

juízes, tomada uma metáfora de Joshua Greene (2018), enxergando-se como pastores modernos

dos novos pastos, deparando-se com dilemas morais no ato de decidir, devem despir-se de

ideologias em favor de um pragmatismo profundo, daí a consideração de consequências, segundo

ele, como melhor caminho para se fazer o que efetivamente funciona em termos de bem estar da

sociedade.

Sendo amplos esses aportes possíveis da AED nas ações formativas, além da eficiência

alocativa, conferindo ao direito operado pelos juízes o que se convencionou chamar de

neutralidade redistributiva, o conhecimento e estudo das chamadas falhas de mercado se mostram

essenciais para os fins da proposta do trabalho. Assim, conforme algumas já destacadas

anteriormente, cumpre que sejam assimilados conceitos como assimetrias informacionais,

concentração de poder econômico, bens públicos (no sentido econômico) e externalidades

74

(positivas e negativas), esta última em conexão direta e mais enfática com a análise de

consequências. Se não sobre todas, porquanto a intervenção estatal em algumas somente se

legitima pela via dos outros poderes (aí incluídas atividades regulatórias de agências), sobre

outras, notadamente as assimetrias informacionais e as externalidades, encontram nas decisões

judiciais, ao se ponderar adequadamente as consequências, o devido tratamento corretivo.

Não é o caso de se aprofundar no presente trabalho, reitere-se, acerca de cada uma

dessas categorias, sendo bastante, para o objetivo da proposta, apontar no âmbito da AED aquelas

de maior relevância para formatação dos projetos formativos da magistratura. Não se defende,

por óbvio, nelas residir a solução para todos os males da atividade decisória judicial, agora nesse

propósito de ajuste ao padrão normativo instituído pelo art. 20, da LINDB. Evidente que não, o

que se sustenta é a sua utilidade como instrumento auxiliar, complementar, útil pelo que já se

demonstrou em estudos empíricos, uma vez que o Direito, comprovadamente, exerce influência

sobre a Economia, sendo por ela, a um só tempo, influenciado (ZYLBERSZTAJN; SZTAJN,

2005).

Portanto, a AED não é campo propício a incitar juízes para o mergulho em mistificações

ou menos ainda se perder em paranoias (FORGIONI, 2006), bastando o exemplo de não haver,

sequer, consenso entre os especialistas em torno de determinadas temáticas que também se ligam

à atividade decisória judicial. É o caso do que se entende como desacerto em pugnar, segundo

consensos na AED, pela decretação de inconstitucionalidade de lei, admitida que seria, no

máximo, uma análise consequencialista da norma (TIMM; CONTI, 2020), entendendo outros

inexistir esse consenso no referido campo de estudos (GOUVÊA; PARGENDLER, 2020). O

debate, salutar como todos nos diversos ramos do conhecimento, bem evidencia que não se trata

da inserção na proposta do trabalho de verdades absolutas, ao contrário, suscetível se mostra ao

escrutínio de críticas diversas, ainda mais em um campo de elevado nível onde se intenta

produzir efeitos, as ações formativas da magistratura.

Todo esse conjunto de saberes interdisciplinares, uma vez incorporados nas ações

formativas da magistratura, inicial e continuada (aperfeiçoamento), auxiliarão na compreensão

75

por esses agentes acerca dos benefícios de um objetivo maior, justamente o que se relaciona

diretamente com os propósitos da nova LINDB. No que interessa ao trabalho que cuida da

avaliação de consequências em decisões judiciais, reitera-se, conforme ementado no diploma

legal, o objetivo de se conferir segurança e eficiência na aplicação do direito. Em uma palavra:

segurança jurídica e previsibilidade no resultado da atividade, engrenagem essencial nos arranjos

institucionais.

Com esse objetivo, ao se propor construir e manter um ambiente de estabilidade das

relações sociais e econômicas, por meio dessas ações formativas, insere-se nesse contexto como

técnica eficiente a cultura do respeito aos precedentes judiciais já sedimentados, sobretudo nos

tribunais superiores. A propósito, revelando um caminho a percorrer na busca dessa meta por

meio dos estudos da AED, cabe o registro do que foi colhido em pesquisa recente no seio da

magistratura, intitulada “Quem somos – A magistratura que queremos”, de 2018, fruto de uma

parceria da AMB com a PUC/RJ. Segundo foi apurado, mais da metade dos juízes de 1º e 2º

graus, em atividade, concordam (muito ou pouco) que o sistema de súmulas e precedentes

vinculantes afeta a independência do magistrado (AMB, 2018).

Curioso, agora sob um ângulo diferenciado, externo, o que revelou outra pesquisa mais

recente ainda (anos 2018/2019), também envolvendo o Poder Judiciário brasileiro, qualitativa e

quantitativa, produzida por um convênio AMB/FGV/IPESPE e intitulada “Estudo da Imagem do

Judiciário Brasileiro”. Com efeito, sob o ponto de vista da sociedade, sendo indagado na pesquisa

o que seriam os “atributos mais importantes para o judiciário”, o conceito de “eficiente em

resolver os casos” foi mencionado por apenas 14% dos entrevistados (AMB, 2019).

Encaminhando-se para a finalização do tópico, cabe uma referência ao que foi tratado no

capítulo 2, cuja abordagem da litigância massiva, sistêmica, remonta a um outro aspecto essencial

e, também, relacionado à análise de consequências em decisões judiciais. É um problema que se

circunscreve ao âmbito do processo civil, especificamente o da geração de incentivos que se

retroalimentam por uma disfunção do próprio sistema judiciário brasileiro, o das custas

processuais. Nesse campo, dado o regime pouco racional que o CPC dispensa ao tema, acaba que,

76

no Brasil, há um relativo consenso de que a Justiça não é cara para o litigante, sobretudo o

contumaz, e sim para os contribuintes como um todo, a sociedade é que finda arcando com a

parcela significativa dos custos do sistema (WOLKART, 2019).

De fato, segundo revela o relatório “Justiça em Números - 2020”, do CNJ, a partir de

dados relacionados a casos solucionados em que foi concedida assistência judiciária gratuita,

tomada a média de todos os tribunais do país e em todos os ramos da justiça, atingiram os

percentuais de 34% e 31%, respectivamente nos anos de 2018 e 2019 (CNJ, 2020). Quando se

tomam percentuais específicos por tribunais, envolvendo os ramos que concentram a quase

totalidade dos feitos judicializados (estadual, federal e trabalhista), o quadro exibe números

superlativos em 2019, tipo 94% (TRT2), 78% (TRF5) e 77% (TJMT).

São números que bem revelam a necessidade de se repensar a temática sem mais

demora, e não se pode ignorar, certamente, a relação que daí também se impõe em uma correta

análise de consequências nas decisões concessivas do benefício, afastando os incentivos para a

litigância frívola. Também aqui a AED pode contribuir com subsídios úteis para um adequado

tratamento do problema, podendo se materializar, ainda com o mesmo autor anteriormente citado,

por algumas estratégias processualmente eficientes. Passaria, assim, pelo aumento significativo

de custas, extinguindo a fixação de tetos, pelo remanejamento desses valores no curso da

demanda e pela desvinculação parcial entre o desembolso e a sucumbência, enfim, empregando

critérios mais racionais na concessão do benefício sem malferir o princípio constitucional de

amplo acesso à justiça (op. cit., 2019).

3.5. PROPOSTA DE AJUSTES DE PRÁTICAS NAS AÇÕES FORMATIVAS

PROFISSIONAIS DA MAGISTRATURA NA PERSPECTIVA DO

CONSEQUENCIALISMO DA LINDB.

Expostas as ideias até aqui defendidas, dentre os aspectos discutidos, é possível perceber

que um deles em particular aponta com mais ênfase na direção da plena viabilidade da proposta

77

no âmbito das ações formativas da magistratura. É que ela, vinculada que se acha ao referencial

teórico do art. 20, da LINDB, e ainda que esse padrão normativo consequencialista instituído para

as decisões judiciais decorra de lei posterior (2018) às diretrizes vigentes da ENFAM (2016), não

traz em si nada de revolucionário, isso no sentido de elocubrações teóricas profundas, inaptas a

um objetivo de prática profissional.

Ao contrário, reclama tão-somente, conforme antes abordado, ajustes (e não utópicas

transformações verticalizadas) nas referidas práticas no âmbito de uma disciplina voltada aos

estudos dos impactos das decisões judiciais em amplas frentes (econômica, social e ambiental),

inserindo um componente pragmático na atuação decisória judicial. Com esse sentido, não se

intenta desconstruir a cultura dos princípios (e de resto os valores abstratos em sentido amplo)

entre esses agentes, projeto que já nasceria natimorto nos padrões constitucionais da ordem

jurídica brasileira. Longe disso, até porque, mesmo para um crítico agudo do pragmatismo como

Ronald Dworkin, e por extensão da própria AED que considerava como um movimento

antiteórico populista, análise de consequências nas decisões são necessárias, e o conjunto da

principiologia não há de ser ignorado, antes atuam como guias na correta avaliação dos impactos,

o que afasta o risco dos decisionismos ditados por opções pessoais ou políticas (2010).

O projeto a ser apresentado, nesse sentido, terá uma abordagem simplificada,

basicamente sobre três eixos, mantendo-se a estrutura descritiva do modelo vigente no que

enfatiza as áreas mais sensíveis do Direito em termos de repercussão na sociedade. A missão,

com isso, torna-se menos árdua, factível de assimilação ao menos numa perspectiva de médio

prazo, o que será considerado um avanço dentro de uma cultura dogmática quase intimidante na

classe da magistratura.

Em termos resumidos, são ajustes que, embora pensados para produzir efeitos em uma

estrutura já posta, os meios propostos é que serão responsáveis pela eliminação de vieses na

análise de consequências. É dizer, novos serão eles, os meios, as ferramentas que se pretende

introduzidas nas práticas pedagógicas da magistratura, o que reclama, convém reiterar, o estímulo

à abertura do conhecimento interdisciplinar, que no âmbito da proposta deve vir da AED. E tudo

78

de uma forma atenta a se evitar cair nos pontos sensíveis da crítica, as já citadas paranoias ou

mistificações, os arroubos festivos, militantes ou malandros desses agentes.

O primeiro deles, por constituir o eixo central da proposta, relaciona-se à defesa que se

faz no trabalho de uma efetiva introdução pela LINDB de um padrão decisório consequencialista,

vinculativo de todas as esferas de decisão, aí incluída a judicial nas áreas pública e privada do

Direito. Esse é o ponto de partida a se trabalhar nas ações formativas, e como já visto lida

diretamente com uma questão sensível no âmbito da magistratura, a cultura de princípios e a

correlata jurisprudência dos valores.

Nesse primeiro eixo, apenas para destacar um aspecto, enfatizar que a Constituição

Federal também alberga alguns princípios que não necessariamente se relacionam a um dirigismo

estimulador de se promover justiça social por meio de decisões judiciais. Um exemplo pertinente

é o da livre iniciativa, pouco percebido como direito fundamental nela assegurado, ínsito à

liberdade humana e que inspirou (TIMM; MAIOLINO, 2020), a propósito, a recente edição da

chamada Lei de Liberdade Econômica – Lei nº 13.874/19 (BRASIL, 2019).

No segundo e terceiro eixos deverão estar agregados, porque intrinsicamente

relacionados, os aportes necessários dos estudos da AED, reputados no trabalho como

indispensáveis para uma adequada análise de consequências, minimamente informada, bem como

o aprimoramento das chamadas competências institucionais. Trata-se, neste último aspecto, do

suprimento nas ações formativas dessa verdadeira carência, instituindo-se um modelo que

permita a esses agentes se familiarizarem com expertises de setores socioeconômicos vitais para

o país, compreendendo, por exemplo, as estruturas complexas de uma economia globalizada de

mercado, aí incluído o espaço reservado à atividade de regulação.

Enfim, capacitar esses agentes acerca de todas essas nuances que caracterizam uma

sociedade multicomplexa como a brasileira, a partir de métodos empíricos disponibilizados pela

Análise Econômica do Direito. Com esse objetivo a ser perseguido nas ações formativas da

79

magistratura, apropriado se mostra o diagnóstico de Thomas Víctor Conti, sobre os contextos

local e mundial:

Se hoje no Brasil vemos a Análise Econômica do Direito enfrentar resistência e dificuldade em avançar na pauta de que a avaliação rigorosa de consequências importam para o Direito, na fronteira do conhecimento mundial é possível que a dificuldade maior da AED nas próximas décadas será manter a importância metodológica das teorias econômicas e jurídicas clássicas ante a avalanche de novas áreas, métodos e estudos que avaliarão as consequências do Direito. (2020, p. 440)

Com tudo o que foi exposto até esse ponto de chegada, ao se apostar nessas ações

formativas como ambiente mais adequado para se incorporar na classe o padrão decisório

instituído pelo art. 20, da LINDB, a proposta não desconhece as dificuldades de se trabalhar uma

compatibilização de raciocínios decisórios tradicionais, ancorados no passado, para uma

perspectiva de futuro, consequencialista. Certamente não é tarefa fácil, mormente pelo respeito ao

estado de direito e os correlatos desafios ao se lidar com os diferentes níveis de previsibilidade e

incerteza que caracterizam o futuro, vale dizer, os problemas estruturais intrínsecos às decisões

orientadas por consequências, positiva e normativamente (LEAL, 2019). Isso não se ignora, e

como proposta, por certo não se apresenta como excludente de outras possibilidades fora do

campo formativo dos juízes, senão pelo alto poder de reflexão que o ambiente educacional

oferece a qualquer classe profissional, e a dos juízes não constitui nenhuma exceção.

Um último registro, antes das considerações finais do trabalho: ele não se volta,

conforme foi perceptível ao longo de seu desenvolvimento, às ações formativas da magistratura

trabalhista. Isso porque, esse ramo especializado da justiça, no campo da educação profissional,

não se vincula à ENFAM, mas a uma outra entidade, a Escola Nacional Associativa dos

Magistrados da Justiça do Trabalho – ENAMATRA, ostentando perfil pedagógico distinto do

ramo comum da jurisdição considerado no trabalho (justiças federal e estadual).

A propósito, a classe desses magistrados, por sua entidade de representação nacional

(ANAMATRA), ajuizou perante o STF a ADI nº 6146/DF (BRASIL, 2019), ainda em curso e

80

atualmente sob relatoria do Ministro Nunes Marques, questionando a constitucionalidade do art.

20, da LINDB e dos três outros da sequência. Somente ela enxergou o referido vício, o que não

ocorreu, por exemplo, da parte daquela que ostenta a maior representação nacional da classe, a

AMB, que conta com associados de todos os ramos da justiça, inclusive o trabalhista. O

argumento da impugnação, basicamente, conforme petição inicial, estaria em que o dispositivo

“exige um exercício de futurologia ou de conhecimento de fatos que o juiz não necessariamente

está obrigado a ter conhecimento”, quadro esse, prossegue a peça, “que se situa no campo da

hipótese, da consulta sobre o que deverá ocorrer”, função que não caberia ao judiciário.

81

CONCLUSÃO

Uma vez editada pelo Congresso Nacional a Lei nº 13.655/18, por meio da qual foram

inseridos diversos dispositivos no antigo Decreto-Lei nº 4.657/42, o que lhe conferiu o título de

“Nova Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro” (LINDB), o primeiro deles (art. 20)

estabeleceu a vedação de decisões baseadas em valores jurídicos abstratos sem a concomitante

análise de suas consequências práticas, abarcando todas as esferas decisórias.

No presente trabalho, partindo da compreensão de que aí estaria positivado um padrão

decisório vinculante, formulou-se a hipótese de que na esfera judicial, considerada a forte

tradição dogmática dos juízes brasileiros, o referido padrão seria de difícil assimilação sem a

mudança de determinados paradigmas no âmbito dessa classe profissional. Isso se deve, dentre

outros fatores, a uma influente cultura de princípios que se projeta da própria Constituição

Federal de 1988, e que são habitualmente pronunciados nas decisões sem uma correta avaliação

de consequências sistêmicas, efeitos que se projetam para além dos limites dos conflitos

individuais.

No intento de se formular uma proposta apta a se contornar o problema identificado,

foram abordados no trabalho aspectos diretamente relacionados a esse estado presente da prática

decisória judicial no Brasil, além da referida cultura de valores abstratos, começando por um de

ordem institucional abrangente. Nesse sentido, a partir de eixos estratégicos traçados pela própria

instituição Poder Judiciário, sendo firmado, por um deles, um compromisso com as metas de

desenvolvimento do país, discutiu-se o papel dos magistrados nesses arranjos institucionais,

defendendo-se como pressuposto essencial, para tanto, a necessidade de se levar em conta

consequências conjunturais.

Subsidiando o conteúdo da pesquisa, a par da revisão de literatura relacionada ao tema,

voltou-se para a coleta e exposição de dados empíricos do cotidiano forense a partir de dois

grupos de decisões, previdência privada e contratos bancários, significativos em termos de

82

demonstração de impactos em importantes setores socioeconômicos. Ainda no campo

documental, foi demonstrado em números outros reflexos considerados como decorrentes da

ausência adequada de consequências nas decisões, impregnadas de exaltações principiológicas

que se esgotam em si mesmas, gerando, como regra, vieses protetivos de partes consideradas

fracas na resolução dos litígios.

Ao se estudar as características vigentes das ações formativas da magistratura brasileira,

a partir de diretrizes nacionais unificadas da entidade nacional (ENFAM), fortemente dogmática

e com uma abordagem de impactos decisórios impregnada de vieses protecionistas ineficientes,

foi possível concluir no sentido do acerto da hipótese formulada no trabalho. No caso, os

obstáculos a que sejam incorporados, na prática decisória cotidiana dos juízes, o padrão

consequencialista do art. 20, da LINDB, consistem no que se verificou como carências

especificas nas ações formativas profissionais dessa classe de operadores jurídicos, isso nos

níveis inicial e continuado (aperfeiçoamento) da formação.

Por fim, revelado o quadro investigado na pesquisa, a proposta que se oferece como seu

produto final, visando à superação dessas carências, materializa-se como projeto de curso que

tem por finalidade os ajustes dessas ações formativas, aproveitando-se modelo existente que trata

dos impactos sociais, econômicos e ambientais das decisões judiciais (Resolução ENFAM nº

02/2016). Em termos de conteúdo, congrega no projeto três eixos básicos, a começar pelo

elemento essencial, vale dizer, a assimilação do art. 20, da LINDB, como efetivo padrão

decisório atento a consequências práticas, agora positivado, quando do emprego de valores

jurídicos abstratos nas decisões. Segue com a proposta de aplicação nessas ações formativas das

ferramentas disponibilizadas pela Análise Econômica do Direito, hoje ausentes, dada a ética

consequencialista em que se apoia o movimento, bem como se trabalhar o aprimoramento de

capacidades institucionais ainda deficitárias desses agentes, ligadas a expertises fora do campo

jurídico.

83

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janeiro de 2002 (Código Civil), 6.404, de 15 de dezembro de 1976, 11.598, de 3 de dezembro de 2007, 12.682, de 9 de julho de 2012, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 10.522, de 19 de julho de 2002, 8.934, de 18 de novembro 1994, o Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro de 1946 e a Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943; revoga a Lei Delegada nº 4, de 26 de setembro de 1962, a Lei nº 11.887, de 24 de dezembro de 2008, e dispositivos do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm. Acesso em: 14 dez. 2020. ----------Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Brasília, DF: Presidência da República, [1942]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Decreto-Lei/Del4657.htm. Acesso em: 31 ago. 2020.

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----------Ação Direta de Inconstitucionalidade 3948/PR – Paraná. Direito Previdenciário. Ação direta de inconstitucionalidade. Previdência complementar privada. Deputados estaduais. Estado patrocinador. Improcedência. 1. Ação direta de inconstitucionalidade em face da Lei Complementar nº 120/2007, do Estado do Paraná, que prevê a instituição de regime de previdência complementar privada para Deputados estaduais, com contrapartida da Assembleia Legislativa. Lei complementar passível de controle de constitucionalidade, pois a controvérsia constitucional foi suscitada em abstrato. Preliminar rejeitada. 2. A Constituição prevê a criação de regimes de previdência complementar tanto para os segurados do regime geral (art. 202, CF) quanto para os servidores titulares de cargo efetivo, vinculados aos regimes próprios (art. 40, §§ 14 a 16, CF). Como exercentes de mandatos eletivos, os parlamentares não se inserem no regime próprio, mas, sim, no regime geral e, por isso, se submetem ao disposto no art. 202 da Carta

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Federal. 3. A lei complementar que regula o regime de previdência privada, a que se refere o art. 202 e seu § 4º, destina-se à criação de regras e princípios gerais a que todos os regimes devem submeter-se, e foi cumprida com a edição das Leis Complementares nº 108/2001 e nº 109/2001. Não há exigência constitucional de que os planos de custeio e benefício sejam feitos por lei complementar. 4. A previdência complementar e o regime geral de previdência social (RGPS) são regimes jurídicos diversos e autônomos, com regramentos específicos em níveis constitucional e infraconstitucional. Não há inconstitucionalidade na concessão de benefício da previdência complementar sem a existência de aposentadoria pelo regime geral. 5. Não há vedação, em sede constitucional, para que entes federativos sejam patrocinadores de entidades fechadas de previdência privada, diante da previsão do § 4º do art. 202, da CF/88. A Lei Complementar Estadual impugnada deixa clara a determinação de instituição de plano de previdência que observe o caráter facultativo, contributivo e suplementar, bem como determina a observância de critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e assegurem financiamento por meio de capitalização. Compatibilidade com a Constituição. 6. Demais impugnações relacionadas a matérias disciplinadas em âmbito infraconstitucional dependem da análise do regramento das LC nº 108/2001 e LC nº 109/2001 e escapam ao controle concentrado. 7. Improcedência do pedido na ação direta, com a fixação da seguinte tese: “Não há vedação, em sede constitucional, para que

entes federativos sejam patrocinadores de entidades fechadas de previdência privada para parlamentares, diante da previsão do § 4º do art. 202, da CF/88. Impugnações aos respectivos planos de custeio e benefício relacionadas a matérias disciplinadas nas LC nº 108/2001 e LC nº 109/2001 possuem natureza infraconstitucional.” Relator: Min. Luís Roberto Barroso, 14 de abril

de 2020. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=754006849. Acesso em: 28 out. 2020. ----------Ação Direta de Inconstitucionalidade 5826/DF – Distrito Federal. Relator: Min. Luís Edson Fachin, 02 de dezembro de 2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5317595. Acesso em: 02 dez. 2020.

----------Ação Direta de Inconstitucionalidade 6146/DF – Distrito Federal. Relator: Min. Nunes Marque, 23 de maio de 2019. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=5702503. Acesso em: 02 dez. 2020. ----------Recurso Extraordinário 586453/SE – Sergipe. Repercussão geral. Competência para o processamento de ação ajuizada contra entidade de previdência privada e com o fito de obter complementação de aposentadoria. Afirmação da autonomia do Direito Previdenciário em relação ao Direito do Trabalho. Litígio de natureza eminentemente constitucional, cuja solução deve buscar trazer maior efetividade e racionalidade ao sistema. Recurso provido para afirmar a competência da Justiça comum para o processamento da demanda. Modulação dos efeitos do julgamento, para manter, na Justiça federal do Trabalho, até final execução, todos os processos dessa espécie em que já tenha sido proferida sentença de mérito, até o dia da conclusão do julgamento do recurso (20/2/13). Relatora: Min. Ellen Gracie, 20 de fevereiro de 2013. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=630014. Acesso em: 01 set. 2020. --------------------Súmula nº 596. As disposições do Decreto 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições financeiras públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional. Brasília, DF: Supremo

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Tribunal Federal, [1977]. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2017#:~:text=Data%20de%20publica%C3%A7%C3%A3o%20do%20enunciado,crit%C3%A9rio%20de%20pesquisa%2C%20clique%20aqui. Acesso em: 11 nov. 2020. ----------Súmula nº 648. A norma do §3º do art. 192, da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicabilidade condicionada à edição de Lei Complementar. Brasília, DF: Supremo Tribunal Federal, [2003]. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2170. Acesso em 11 nov. 2020. ----------Súmula Vinculante nº 7. A norma do §3º do art. 192, da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicabilidade condicionada à edição de Lei Complementar. Brasília, DF: Supremo Tribunal Federal, [2003]. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1205. Acesso em: 11 nov. 2020. ----------Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1312736/RS – Rio Grande do Sul. Recurso Repetitivo. Inclusão, nos cálculos dos proventos de complementação de aposentadoria das horas extraordinárias habituais, incorporadas a salário do participante de plano de previdência por decisão da justiça trabalhista. Relator: Min. Antônio Carlos Ferreira, 16 de agosto de 2018. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201200647966. Acesso em: 3 ago. 2020.

----------Recurso Especial 1061530/RS – Rio Grande do Sul. Recurso Repetitivo. Direito Processual Civil e Bancário. Recurso Especial. Ação Revisional de Cláusulas de Contrato Bancário. Incidente de Processo Repetitivo. Juros Remuneratórios. Configuração da Mora. Juros Moratórios. Inscrição/Manutenção em Cadastro de Inadimplentes. Disposições de Ofício. Relatora: Min. Nancy Andrighi, 22 de outubro de 2008. Disponível em: https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=4382151&num_registro=200801199924&data=20090310&tipo=5&formato=PDF. Acesso em: 12 nov. 2020.

----------Recurso Especial 1435837/RS – Rio Grande do Sul. Recurso Repetitivo. Discute a definição sobre o regulamento aplicável ao participante de plano de previdência privada para fins de cálculo da renda mensal inicial do benefício complementar. Relator: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 27 de fevereiro de 2019. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroRegistro&termo=201400313793. Acesso em: 3 ago. 2020.

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101

ANEXO

PROJETO DE CURSO: “A NOVA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO

BRASILEIRO E O PADRÃO CONSEQUENCIALISTA DAS DECISÕES JUDICIAIS”

Carga Horária: 40 horas.

Justificativa:

A Lei nº 13.655/18, ao inserir dispositivos (artigos 20 a 30) no Decreto-Lei nº 4.657/42,

transformando-o em uma nova Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), foi

editada com o propósito expresso de conferir segurança jurídica e eficiência na criação e

aplicação do direito.

Um de seus dispositivos (art. 20, caput) tem por foco específico a aplicação do direito,

ao estabelecer que “nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base

em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão”.

O que significa ter introduzido no país, sem distinção entre relações de direito público e de direito

privado, um padrão normativo decisório do tipo consequencialista, a ser observado pelos agentes

nesses três níveis.

Vigente a lei há mais de dois anos, o tema, ao que diz respeito ao Poder Judiciário, nesse

recorte específico do art. 20, vem suscitando questionamentos na doutrina e pouca ou quase

nenhuma repercussão na prática cotidiana dos juízes e tribunais do país. No primeiro aspecto se

aponta o risco de haver, sob o argumento da consideração de consequências práticas, estímulo ao

ativismo judicial com a busca da produção (ou não produção) de resultados ao gosto do julgador,

muitas vezes sacrificando o estado de direito.

102

O fato é que a lei em questão cuida da análise de consequências no campo jurídico, não

filosófico, reclamando uma visão pragmática da realidade em que atuam esses agentes numa

sociedade multicomplexa como a brasileira. Assim, considerando a forte tradição dogmática em

que são formados os juízes brasileiros, e por extensão o apego desses agentes aos princípios

como fundamentos decisórios, a exigência da análise de consequências práticas das decisões se

mostra importante. É daí que surgem, por exemplo, os embates em torno das opções dos

magistrados entre justiça social e eficiência, conceitos que na prática judicante não devem ser

tomados como necessariamente excludentes, mas combinados na medida certa para se atingir o

máximo de utilidade social como resultado das decisões judiciais.

Nesse sentido, uma vez instituído esse padrão de aplicação do direito pelos juízes, ou

seja, necessariamente orientado nas consequências práticas quando baseiam suas decisões em

valores jurídicos abstratos, a assimilação do dispositivo da LINDB requer desses agentes uma

efetiva abertura para o diálogo interdisciplinar. O destaque aqui é para a economia, daí a

importância de se trabalhar no projeto educacional os instrumentos disponibilizados pela Análise

Econômica do Direito (AED), movimento que se baseia em uma ética essencialmente

consequencialista.

Isso porque, quando se trata de levar em conta os impactos do direito (e nesse âmbito as

decisões judiciais) nos arranjos institucionais, os métodos experimentais que caracterizam as

teorias econômicas auxiliam, eficazmente, a compreensão de muitos fenômenos jurídicos que

surgem e continuarão a surgir nos mais variados aspectos socioeconômicos da coletividade. Além

da incorporação das contribuições da AED, e que irá romper uma tradição de completa ausência

desses estudos nos programas formativos oficiais nacionais da magistratura (federal e estadual),

até então, importante também se trabalhar o fortalecimento das chamadas capacidades

institucionais desses agentes. O objetivo aqui será a compreensão de complexidades que marcam

determinados setores da vida nacional, fora da esfera judicial, ainda que medianamente, mas

suficientes a se estimular a prática do diálogo institucional, reconhecendo os momentos de

deferências às outras esferas de poder (ou atividades de regulação), quando se fazem necessárias.

103

Assim, o curso se justifica pelo padrão de aplicação do direito que surge do art. 20, da

LINDB, nos casos que a norma explicita, ao propiciar um relevante espaço de discussão sobre a

análise de consequências nas decisões judiciais. Ele propicia, resumidamente, nesse recorte

sugerido, um momento de reflexão entre os juízes acerca do modelo tradicional de aplicação do

direito, baseado em um dogmatismo infenso a contribuições interdisciplinares, acentuadamente

com relação à economia. Ou ainda por uma espécie de solidarismo acrítico, muitas vezes

ignorando (ainda que imbuídos das melhores intenções), dentre outras questões, que todo direito

tem um custo (não exclusivamente financeiro, mas também social), e que pode gerar socialização

de riscos, visando a um equilíbrio positivo com a redução do referido espaço de tensão entre

justiça e eficiência, maximizando benefícios coletivamente.

Cuida-se, afinal, de um compromisso institucional que deve ser incorporado pelo

magistrado brasileiro, e que se projeta para além dos limites de resolução dos litígios individuais

sob sua responsabilidade, alcançando o conjunto da sociedade brasileira. A análise de

consequências práticas nas decisões judiciais, nos termos agora normativamente cogentes e que

se pretende assimilados por meio do curso, auxiliará em muito esse processo.

OBJETIVOS GERAIS

Auxiliar magistrados federais e estaduais na assimilação e prática do padrão de

aplicação do direito instituído pelo art. 20, da LINDB e que se relaciona à análise de

consequências práticas das decisões judiciais, quando utilizados valores jurídicos abstratos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Considerar a importância da análise de consequências práticas das decisões judiciais

nas relações públicas e privadas, preservando a integridade do estado de direito;

- Refletir sobre os novos paradigmas instituídos pela LINDB em seu art. 20, sem os

riscos da análise de consequências das decisões com inspiração ativista;

104

- Analisar criticamente os dilemas ideológicos que envolvem a relação justiça social e

eficiência, a partir dos valores consagrados na Constituição Federal de 1988;

- Identificar o sentido da função social do contrato em harmonia com a economia de

mercado, sob a perspectiva de um direito fundamental à livre iniciativa;

- Reconhecer o valor da abordagem interdisciplinar na interpretação de fenômenos

jurídicos que repercutem em setores vitais da sociedade brasileira, particularmente as teorias

econômicas;

- Aplicar os métodos da análise econômica do direito na resolução de litígios judiciais,

individuais e coletivos, quando se fizer necessário o exame de impactos sistêmicos;

- Compreender os conceitos básicos da Escola Law & Economics, segundo uma

perspectiva de contribuição e não de preponderância;

- Desenvolver capacidades institucionais para a compreensão de complexidades fora do

círculo judiciário (expertises extrajurídicas);

- Estimular a prática do diálogo e da deferência institucionais.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

I – Tradição dogmática e as decisões judiciais baseadas em valores abstratos;

II – O padrão consequencialista de decisões instituído pelo art. 20, da LINDB (Lei nº 13.655/19):

visão pragmatista de aplicação do direito;

III – A Análise Econômica do Direito (AED) como instrumento auxiliar de compreensão e

prática da análise de consequências das decisões judiciais;

IV – Principais conceitos relacionados à Law & Economics - aspectos gerais:

AED e Direito Econômico;

Os métodos da teoria microeconômica;

A análise custo-benefício (ética consequencialista);

Custos de Transação e Custos de Oportunidade;

105

A racionalidade dos agentes e os desvios cognitivos;

Utilitarismo e medida de bem estar social;

Eficiência e justiça distributiva;

Critérios clássicos de eficiência: Pareto/Kaldor-Hicks.

V – Desenvolvimento de capacidades institucionais:

Tutela de direitos sociais e impactos orçamentários;

Aspectos gerais da intervenção do estado na ordem econômica;

Atividades econômicas objeto de regulação.

VI – A importância dos diálogos e das deferências institucionais.

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