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i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia INSTITUIÇÕES E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS: CONSTRUINDO UMA NOVA INSTITUCIONALIDADE Adriana Carvalho Pinto Vieira Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da UNICAMP para obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Econômico área de concentração: Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente, sob a orientação do Prof. Dr. Antonio Marcio Buainain. Este exemplar corresponde ao original da tese defendida por Adriana Carvalho Pinto Vieira em 30/07/2009 e orientada pelo Prof. Dr. Antonio Marcio Buainain. CPG, 30 / 07 / 2009 ___________________________ Campinas, 2009

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Page 1: INSTITUIÇÕES E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS ......iii Tese de Doutorado Aluna: ADRIANA CARVALHO PINTO VIEIRA “Instituições e Segurança dos Alimentos: Construindo uma Nova Institucionalidade“

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

INSTITUIÇÕES E SEGURANÇA DOS ALIMENTOS:

CONSTRUINDO UMA NOVA INSTITUCIONALIDADE

Adriana Carvalho Pinto Vieira

Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da UNICAMP para obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Econômico – área de concentração: Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente, sob a orientação do Prof. Dr. Antonio Marcio Buainain.

Este exemplar corresponde ao original

da tese defendida por Adriana Carvalho

Pinto Vieira em 30/07/2009 e orientada

pelo Prof. Dr. Antonio Marcio

Buainain.

CPG, 30 / 07 / 2009

___________________________

Campinas, 2009

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Ficha catalográfica elaborada pela biblioteca do Instituto de Economia/UNICAMP

Título em Inglês: Institutions and food safety: building a new institutionality Keywords : Food Service; Food safety; Institutions Área de concentração : Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente Titulação : Doutor em Desenvolvimento Econômico Banca examinadora : Prof. Dr. Antonio Marcio Buainain Prof. Dr. José Maria Ferreira Jardim da Silveira Prof. Dr. Ademar Ribeiro Romeiro Prof. Dr. Eduardo Eugênio Spers Profa. Dra. Maria Éster Soares Dal Poz Data da defesa: 30-07-2009 Programa de Pós-Graduação: Desenvolvimento econômico

Vieira, Adriana Carvalho Pinto. V673c Instituições e segurança dos alimentos: construindo uma nova institucionalidade / Adriana Carvalho Pinto Vieira. – Campinas, SP: [s.n.]. 2009. Orientador : Antonio Marcio Buainain. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia. 1. Serviço de alimentação. 2. Segurança alimentar. 3. Instituições. I. Buainain, Antonio Marcio. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia. III. Titulo. 09-023-BIE

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Tese de Doutorado

Aluna: ADRIANA CARVALHO PINTO VIEIRA

“Instituições e Segurança dos Alimentos:

Construindo uma Nova Institucionalidade“

Defendida em 30 / 07 / 2009

COMISSÃO JULGADORA Prof. Dr. ANTONIO MARCIO BUAINAIN Orientador – IE / UNICAMP Prof. Dr. JOSÉ MARIA FERREIRA JARDIM DA SILVEIRA IE/UNICAMP Prof. Dr. ADEMAR RIBEIRO ROMEIRO IE/UNICAMP Prof. Dr. EDUARDO EUGÊNIO SPERS ESALQ/USP Profa. Dra. MARIA ESTER SOARES DAL POZ Nox – Consultoria/SP

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AGRADECIMENTOS

A conclusão deste trabalho representa o cumprimento de mais uma etapa

em minha vida. Uma etapa com muitos sacrifícios, tendo em vista não ser apenas

a realização de um trabalho acadêmico, mas todo um processo de crescimento.

Agradeço, particularmente, o Prof. Dr. Antonio Márcio Buainain, (Tuca -

como todos o conhecem), pelo estímulo e apoio constante, e por acreditar em

mim, mesmo quando eu mesma não acreditava, não possuindo palavras para

agradecer sua preciosa instrução, e acima de tudo, sua amizade.

Ao Prof. José Maria Ferreira Jardim da Silveira, meu co-orientador, pela

dedicação em ajudar a desvendar os novos caminhos.

Aos professores que me receberam na Espanha, Prof. Ignácio Trueba,

Julián Briz e Isabel de Felipe, pelo apoio dado na minha estadia para a pesquisa.

Ainda, a Ricardo e Blanka, pela assistência que me deram no período de minha

permanência no país.

Aos professores do Instituto de Economia da Unicamp, por sua dedicação

em ensinar aqueles que não são economistas, pois o “professor é sempre uma luz

para iluminar caminhos”, em especial, Profª. Maria Alejandra, Prof. Wilson Cano e

Profª. Carol. Ainda ao Prof. Sergio Salles, Profª. Maria Beatriz Bonacelli e Bastiaan

Philip Reydon pelos preciosos ensinamentos.

Dedico em especial, aos amigos, sempre presentes, Divina, Vanessa Pardi,

Fernando Lima, José Eustáquio e Thiago Ademir, pelo apoio incondicional dado

nos momentos mais difíceis da minha caminhada para conseguir terminar esta

pesquisa e nos momentos em que mais precisei de um ombro amigo.

Aos demais colegas Andrea Leda, Carolina Barbosa, Paulo, Leonardo,

Thiago Romanelli, Marisa e Gustavo, Adriana e Adriano (Tereré), José Victor,

Christiano Bertoldo, Beatriz (Bia), Maria Laura (Lala), entre outros pelos momentos

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de convivência no decorrer destes últimos anos. As novas amigas da Inova

Unicamp Mariana, Veronique, Nanci, Letícia, Iara, Janaína e Karina pelo convívio.

Mas, preciso agradecer ainda mais, a Leonora, que me ajudou neste último

ano a superar todos os desafios e a transpor as pedras que apareceram em meu

caminho.

Ao Banco Santander pela possibilidade de desenvolver parte da minha

pesquisa na Espanha, por me conceder uma bolsa de estudos.

Aos funcionários da Unicamp, em especial Tiana e Marinete pela atenção e

carinho sempre dispensados.

Ao Prof. Eduardo Spers, da Esalq/USP, por suas importantes dicas.

Por sua presença sempre desejada e imprescindível, por seu carinho, por

sua sabedoria e companheirismo, pelo simples fato de existirem, quero agradecer

aos meus filhos Nicolle, Gabriella e Lucas, pelo apoio incondicional em todos os

momentos em minha vida. A Tia Neide e a Tia Cordélia, pela amizade e carinho.

A chamada da vida o nosso coração relutante precisa estar sempre pronto

para aceitar as mudanças, com despedida e recomeço. Tem que estar pronto para

dar outros laços sem tristeza, mas com coragem. É com carinho que digo

OBRIGADA a todas as pessoas, que direta ou indiretamente me ajudaram a

remover as pedras e a trilhar novos caminhos. Os momentos partilhados e as mais

simples alegrias estão guardados em meu coração como preciosas lembranças,

que foram lapidadas ao longo desses últimos anos.

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Aos meus filhos, simplesmente por existirem:

Nicolle, Gabriella e Lucas

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“De tudo ficam três coisas:

A certeza de que estamos começando,

A certeza de que é preciso continuar e

a certeza de que podemos ser interrompidos

antes de terminar.

Fazer da interrupção um novo caminho,

da queda um passo de dança,

do medo uma escola, do sonho uma ponte,

da procura um encontro.

E assim terá valido a pena”.

(Fernando Pessoa)

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RESUMO

A valorização dos atributos de qualidade e de responsabilidade social vem

crescendo significativamente no mercado mundial de alimentos. Percebe-se que

as estratégias competitivas dos grandes grupos do setor agroalimentar procuram

conquistar a confiança do consumidor no que tange à qualidade, à procedência e

à sanidade dos alimentos na produção final. O problema da presente tese tem por

análise questionar de que forma a complexidade institucional do ambiente

econômico, notadamente no Brasil, influencia na dinâmica dos processos de

segurança alimentar. Com a industrialização progressiva e a liberalização dos

mercados, ocorreram diversas mudanças no setor alimentício, tanto na produção

quanto na comercialização. Uma das principais transformações foi justamente o

aumento da preocupação social relativa à questão da segurança alimentar. A

alteração do ambiente institucional propiciou uma maior difusão do conhecimento

sobre a segurança dos alimentos como resultado de processo complexo, que

perpassa toda a cadeia produtiva, atitudes dos consumidores e da sociedade em

geral, o que implicou em novas formas organizacionais das indústrias de alimentos

(latu sensu) e dos países envolvidos. O aparato de regulação pública e privada

tem crescido e se desenvolvido nos vários mercados. A importância da avaliação

da conformidade, a identificação de origem e a rastreabilidade de processos

produtivos adotados são exemplos deste tipo de controle e regulamento. A

complexidade institucional (governo, setor privado e o terceiro setor), que visa

assegurar a qualidade sanitária da oferta de alimentos, ainda que possa ser

necessária, impôs custos de transação ex-ante elevados, - talvez exagerados –

diante de uma percepção de risco ditada tanto por eventos e constatações de

base científica como por propagação de “crenças” que, embora legítima

socialmente, carecem de fundamentações objetivas. O mercado mundial de

alimentos tem valorizado atributos de qualidade e responsabilidade social e cada

vez mais as estratégias competitivas dos grupos do setor agroalimentar passa

pela conquista da confiança do consumidor quanto à qualidade, procedência e

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sanidade dos alimentos. Ao mesmo tempo, tem crescido e se desenvolvido o

aparato de regulação público e privado, formais e informais, de avaliação da

conformidade, identificação de origem e a rastreabilidade de processos produtivos

adotados. A institucionalidade necessária para assegurar a oferta de alimentos

seguros pelo governo, setor privado e terceiro setor, cada um movido por

racionalidade própria em um contexto de mercados, é caracterizada/sofre pela

forte imperfeição informacional. O presente estudo tem por objetivo analisar como

as instituições tem se adaptado às mudanças e às necessidades de segurança

dos alimentos no Brasil, dentro de um contexto de informação imperfeita e

comportamento do consumidor no setor alimentício. Entretanto, no Brasil ainda há

uma descoordenação entre as instituições que fiscalizam a qualidade dos

alimentos, mesmo o país adotando um marco regulatório comum ao adotado em

nível internacional, principalmente pelo fato do Brasil ser membro do Codex

Alimentarius.

Palavras-Chave: ambiente institucional, mudança institucional, Codex Alimentarius, segurança e inocuidade dos alimentos.

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ABSTRACT

The importance of quality and social responsibility have been increasing

meaningfully in the world food market. It has been observed that the competitive

strategies of the big groups in agro food sector are seeking to boost consumer

confidence related to quality, origin and sanitary conditions of food in final

production. This thesis questions the way the institutional complexity of economic

environment, as seen in Brazil, induces the dynamics of the food safety process.

Due to progressive industrialization and market liberalization, varied changes in the

food sector occurred, either in production or commercialization. One of the biggest

changes was the rise of social concern regarding to the food safety issue. The

change of the institutional environment provided a larger propagation of knowledge

about food safety as a result of a complex process, which passes over the entire

productive chain, general attitude of consumers and society, which implied a re-

organization of the food industry and the countries involved (latu sensu). Public

and private systems of regulation have been grown and developed in several

markets. The importance of compliance evaluation, origin identification and

tracking of productive processes adopted are examples of this kind of control and

regulation. Institutional complexity (government, private and non-profit sector,

which aims to ensure the safety quality of food supplies, even if necessary,

demanded high ex-ante transaction costs (perhaps excessive ones) against a

perception of risk dictated as much by events and scientific verification as by the

spread of “beliefs” without objective substantiation, though they may be socially

legitimate. The world food market has placed importance on quality and social

responsibility, while competitive strategies of the agro-food sector groups have

increasingly been conquering consumer trust regarding quality, origin and sanitary

conditions of food. At the same time, the systems of private and public regulation,

both formal and informal, have developed and grown, in relation to compliance

evaluation, origin identification and traceability of adopted productive processes.

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The needed institutionalism to assure a safe food supply by government, private

and non-profit sector, which are driven by their own market rationality, have to

cope with strong information asymmetry. The current study aims to analyze how

the institutions have been adapting themselves to changes and food security

requirements in Brazil, within a context of information asymmetry and food sector

consumer behavior. However, there is still an incongruence in Brazil amongst

institutions which supervise food quality, using, even, a common international

regulatory guide, chiefly for being a member country of the Codex Alimentarius.

Key words: institutional environment, institutional changes, Codex Alimentarius,

food safety and sanitary conditions.

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RESUMEN

La valorización de los atributos de calidad y de responsabilidad social crece de

manera significativa en el mercado mundial de alimentos. Se percibe que las

estrategias competitivas de los grandes grupos del sector agroalimentario buscan

conquistar la confianza del consumidor en lo que se refiere a calidad, al origen y a

la sanidad de los alimentos en la producción final. El problema de la presente tesis

tiene como análisis cuestionar de qué forma la complejidad institucional del

ambiente económico, marcadamente en Brasil, influencia la dinámica de los

procesos de inocuidad de los alimentos. Con la industrialización progresiva y la

liberación de los mercados, ocurrieron diversas mudanzas en el sector alimentario,

tanto para la producción como para la comercialización. Una de las principales

transformaciones fue justamente el aumento de la preocupación social relacionada

a la inocuidad de los alimentos. La alteración del ambiente institucional fue

favorable para una mayor divulgación del conocimiento sobre la inocuidad de los

alimentos como resultado del complejo proceso, que supera toda la cadena

productiva, actitudes de los consumidores y de la sociedad en general, lo que

generó nuevas formas de organización de las industrias alimentarias (latu sensu) y

de los países involucrados. El aparato de regulación pública y privada ha crecido y

se ha desarrollado en varios mercados. La importancia de la evaluación de la

conformidad, la identificación del origen y acompañar los procesos productivos

adoptados son ejemplos de este tipo de control y reglamentación. La complejidad

institucional (gobierno, sector privado y tercer sector), que tiene el objetivo de

asegurar la calidad sanitaria de la oferta de alimentos, aunque pueda ser

necesaria, impone costos de transacción ex-ante elevados - tal vez exagerados –

delante de la percepción del riesgo dado por eventos y comprobaciones de base

científica como por la divulgación de “creencias” que, aunque verídicas

socialmente, carecen de fundamentos objetivos. El mercado mundial de alimentos

valora atributos de calidad y de responsabilidad social y cada vez más las

estrategias competitivas de los grupos del sector agroalimentario pasan por la

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conquista de la confianza del consumidor en relación a la calidad, origen y sanidad

de los alimentos. Al mismo tiempo, ha crecido y se ha desarrollado el aparato de

regulación público y privado, formal e informal, de evaluación de la conformidad,

identificación del origen y acompañamiento de los procesos productivos

adoptados. La institucionalidad necesaria para asegurar la oferta de alimentos

seguros por el gobierno, sector privado y el tercer sector, cada uno movido por la

racionalidad propia en un contexto de mercado, se caracteriza por proveer

informaciones imperfectas. El presente estudio tiene por objetivo analizar como las

instituciones han adoptado las mudanzas y las necesidades de inocuidad de los

alimentos en Brasil, dentro de un contexto de información imperfecta y

comportamiento del consumidor en el sector alimentario. Pero, en Brasil aún hay

una desconexión entre las instituciones que fiscalizan la calidad de los alimentos,

mismo que el país adopte una única legislación común como la adoptada a nivel

internacional, principalmente porque Brasil es miembro del Codex Alimentarius.

Palabras clave: ambiente institucional, mudanza institucional, Codex Alimentarius,

seguridad e inocuidad de los alimentos.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Níveis e dimensões do sistema de controle dos alimentos. ........ 29

Figura 2. Esquema de três níveis de Williamson ........................................ 36

Figura 3: Organizações referentes à segurança dos alimentos.................. 46

Figura 4. Gestores Governamentais da Saúde Envolvidos no Controle

Sanitário de Alimentos. ......................................................................................... 75

Figura 5. Organograma Mapa (2009) ......................................................... 89

Figura 6. O Sistema de Certificação ......................................................... 124

Figura 7. Estrutura do Programa PAS Campo à Mesa. ............................ 180

Figura 8: Análise do Risco ........................................................................ 197

Figura 9 . Estrutura Básica do Ministério de Sanidad y Consumo - MISACO

(2008).................................................................................................................. 213

Figura 10. Esquema Geral de Certificação na Espanha........................... 230

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Marco institucional da ANVISA .................................................. 77

Quadro 2. Marco institucional do MAPA ..................................................... 91

Quadro 3: Informação Nutricional ............................................................. 167

Quadro 4. Decretos de regulamentação da rotulagem ............................. 169

Quadro 5. Diretivas em matéria de proteção dos consumidores na União

Européia. ............................................................................................................. 207

Quadro 5. Complexidade ambiente institucional internacional e nacional

após o advento de alguns episódios sanitários. .................................................. 242

Quadro 7. Quadro comparativo ambiente institucional União

Européia/Espanha x Brasil .................................................................................. 249

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Tipos de Instituições ................................................................... 33

Tabela 2. Classificação dos mecanismos organizacionais ....................... 116

Tabela 3. Adesão de produtores, área colhida e produção sob o regime da

Produção Integrada de Frutas – PIF em 2007. ................................................... 141

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LISTA DE SIGLAS

ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABIOVE - Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais

Acordo SPS – Agreement on the Aplication of Sanitary and Phytosanitary

Measures (Acordo sobre a aplicação das medidas sanitárias e fitossanitárias)

Acordo TBT - Acordo sobre os obstáculos técnicos de comércio (Agreement on

Technical Barriers to Trade)

AESAN - Agencia Española de Seguridad Alimentaria y Nutrición

AGE - Administração Geral do Estado

AGEMDE - Agencia Española de Medicamentos y Productos Sanitarios

ANEC - Associação Nacional dos Exportadores de Cereais

ANVISA – Agência Nacional da Vigilância Sanitária

AoA - Acordo sobre Agricultura

APPCC - Análise de Perigos (riscos) e Pontos Críticos de Controle

APROVALE - Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos

ASGECO - Asociación General de Consumidores

BPA – Boas Práticas Agrícolas

BPF - Boas Práticas de Fabricação

BRC - Food Technical Standard

BRC/IOP - Packaging Standard

BSE – Encefalopatia Espongiforme Bovina

CA - Comunidades Autônomas

CF – Constituição Federal

CCAB - Comitê do Codex Alimentarius do Brasil

CCFL - Comitê do Codex Alimentarius sobre Rotulagem de Alimentos

CDC – Código de Defesa do Consumidor

CEACU - Confederación Estatal de Consumidores y Usuarios

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CEACCU – Confederación Española de Organizaciones de Amas de Casa

Consumidores y Usuarios

CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

CFO - Certificado Fitossanitário de Origem

CI - Consumers International

CIG - Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos

Agropecuários

CGS - Coordenação Geral do Sistema de Vigilância Agropecuária

CNA – Confederação Nacional da Agricultura Industrial

CNC – Conselho Nacional do Café

CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

CONASS - Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde

Conmetro - Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Metrologia,

Normalização e Qualidade

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CSs - Comitês Setoriais

DAP - Deutsches Akkreditierungssystem Prüfwesen GmbH

DEPROS - Departamento de Sistemas de Produção e Sustentabilidade

DEPTA - Departamento de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária

DIPOA – Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal

DO – Denominação de Origem

DPDC - Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor

DTA - doenças transmitidas pelos alimentos

EFSA – European Safety Food Authority

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ENAC - Entidad Nacional de Acreditación

EUROPGAP - Euro-Retailer Produce Working Group

FDA - Food and Drug Administration

FANFC - Fundo para a Aplicação de Normas e Fomento do Comércio

FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

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FFA - Fiscal Federal Agropecuário

FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz

FUCI - Federación de Usuarios-Consumidores Independentes

GATT - General Agreement on Trade and Tarifs

CGN - Comissão do Gestor Nacional

GICRA - Gerencia de Inspeção e Controle de Riscos de Alimentos

GLOBALGAP - The Global Partnership for Good Agricultural Practice

GTFH - Grupo Técnico sobre Higiene dos Alimentos

GTFICS - Grupo Técnico sobre Sistema de Inspeção e Certificação de

Importações e Exportações de Alimentos

GTTN - Grupos de Trabalho Técnico Nacionais

ha - hectares

HACCP - Hazard Analysis and Critical Control Points

HISPACOP - Confederación Española de Cooperativas de Consumidores y

Usuarios

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEC – Instituto de Defesa dos Consumidores

IFA - Integrated Farm Assurance

IG – Indicação Geográfica

INC - Instituto Nacional del Consumo

INCQS - Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde

Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual

INPM - Instituto Nacional de Pesos e Medidas

IP – Indicação de Procedência

ISO - Organização Internacional de Normalização

JAS-ANZ - Joint Accreditation System of Austrália and New Zealand

JECFA - Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives

JEMRA - Joint Expert Committee on Microbiological Risk Assessment

JMPR - Joint Meeting on Pesticides Residues

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LACENS - Laboratórios Centrais de Saúde Pública

LPI – Lei de Propriedade Industrial

MMA - Ministério do Meio Ambiente

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MAPA - Ministerio de Medio Ambiente y Medio Rural y Marino

MICT – Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo

MISACO - Ministerio de Sanidad y Consumo

MJ – Ministério da Justiça

MS – Ministério da Saúde

MSF - Comitê de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias

NACMCF - National Advisory Committee on Microbiological Criteria for Foods

NASA - National Aeronautic and Space Administration

NEI – Nova Economia Institucional

OCs - Organismos de Certificação

OCU - Organización de Consumidores y Usuarios

OECD - Economic Commission for Economic Cooperation and Development

OGM – Organismo geneticamente modificado

OMC – Organização Mundial do Comércio

OMPI – Organização Mundial de Propriedade Intelectual

OMS – Organização Mundial da Saúde

ONGs – Organizações não governamentais

PAC – Política Agricola

PAS – Programa de Alimentos Seguros

PARA - Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos

PDVISA - Plano Diretor de Vigilância Sanitária

P&D – Pesquisa & Desenvolvimento

PI – Produção Integrada

PIF - Programa Integrado de Fruta

PIQ - padrão de identidade e qualidade

PNCR - Plano Nacional de Controle de Resíduos

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PPHO - Procedimentos Padrão de Higiene Operacional

PROCON - Órgãos de Proteção e Defesa do Consumidor estaduais e municipais

PROFRUTA - Programa de Desenvolvimento da Fruticultura

PTV - Permissão de Trânsito Vegeta

RASFF - Rapid Alert System for Food and Feed

RIISPOA - Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitário de Produtos de Origem

Animal

RSI - Regulamento Sanitário Internacional

SAPI - Sistema Agropecuário de Produção Integrada

SDA – Secretaria de Desenvolvimento Agrário

SEBRAE - Agência de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresário

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SIF - Serviço de Inspeção Federal

Sinmetro - Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial

SCIRI - Sistema Coordinado de Intercambio Rápido de Informacción

SISBI - Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal

SISBOV - Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos

SNVS - Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

SUASA - Sistema Unificado de Atenção a Sanidade Agropecuária

TRIPS - Trade-Related Intellectual Property Rights

UE – União Européia

VIGIAGRO - Manual de Procedimentos Operacionais do Sistema de Vigilância

Agropecuária Internacional

VISA - Centros de Vigilância Sanitária Estaduais, do Distrito Federal e Municipais

WHO - World Health Organization

WTO - World Trade Organization

UCE - Unión de Consumidores y Usuarios

UNAE - Federación Unión Cívica Nacional de Consumidores y Amas de Hogar de

España

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS ............................................................................................XXIII

INTRODUÇÃO ........................................................................................................1

CAPÍTULO 1. ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE O AMBIENTE INSTITUCIONAL NA SEGURANÇA DOS ALIMENTOS: CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS ........7

1.1 CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO DO ALIMENTO......7

1.2 A Qualidade e a Segurança do Alimento ......................................................15

1.3 Instituições, Custos de Transação e Assimetria de Informação na Questão da

Segurança dos Alimentos .............................................................................29

CAPÍTULO 2. AMBIENTE INTITUCIONAL NA QUESTÃO DA SEGURANÇA DOS ALIMENTOS.................................................................................................45

2.1 AMBIENTE INSTITUCIONAL .......................................................................45

2.2 Âmbito Internacional .....................................................................................48

2.2.1 As Organizações Internacionais: OMC, OMS e FAO .................................49

2.3 Codex Alimentarius.......................................................................................54

2.4 Instrumentos de Aplicação Codex Alimentarius............................................64

2.5 Âmbito Nacional............................................................................................70

2.5.1 Ministério da Saúde - MS............................................................................70

2.5.2 Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA .............................................83

2.5.3 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior...................93

2.5.4 Ministério da Justiça ...................................................................................99

2.6 Consumidor coletivo como organização .....................................................104

2.7 Apontamentos sobre a Complexidade do Ambiente Institucional Nacional na

Questão da Segurança dos Alimentos........................................................110

CAPÍTULO 3. MECANISMOS ORGANIZACIONAIS PARA A QUALIDADE DOS ALIMENTOS ..................................................................................................115

3.1 A padronização...........................................................................................117

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xxx

3.2 A Certificação..............................................................................................121

3.3 Protocolos internacionais de certificação....................................................128

3.3.1 GLOBALGAP (EUREPGAP).....................................................................129

3.3.2 BRC (Global Standard Food)....................................................................135

3.4 Protocolos nacionais de certificação...........................................................137

3.5 Produção Integrada de Frutas (PIF) ...........................................................138

3.5.1 Sistema Agropecuário de Produção Integrada (SAPI)..............................143

3.6 Indicações Geográficas ..............................................................................147

3.7 Rastreabilidade...........................................................................................154

3.8 Rotulagem dos alimentos ...........................................................................162

3.8.1 A utilização da rotulagem no Brasil...........................................................163

3.8.2 Rotulagem dos alimentos transgênicos ....................................................168

3.9 A Marca ......................................................................................................170

3.10 Programas e Políticas Públicas ..................................................................174

3.10.1 Pró-Orgânico.......................................................................................174

3.10.2 Plano Nacional de Controle de Resíduos (PNCR)..............................177

3.10.3 Programa de Alimentos Seguros (PAS)..............................................178

3.10.4 PAS Campo (Segurança dos Produtos no Campo) ............................180

3.10.5 PAS Indústria ......................................................................................182

3.10.6 PAS Distribuição .................................................................................183

3.10.7 PAS Mesa ...........................................................................................183

3.10.8 PAS Ações Especiais .........................................................................184

3.11 apontamentos sobre os mecanismos organizacionais para a garantia da

qualidade do alimento.................................................................................185

CAPÍTULO 4. SEGURANÇA DOS ALIMENTOS NA UNIÃO EUROPÉIA – UM MODELO DIFERENCIADO – MARCOS GERAIS...............................................189

4.1 União Européia – marcos gerais.................................................................189

4.1.1 Livro Branco..............................................................................................192

4.1.2 Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA) .............................200

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xxxi

4.1.3 Segurança dos Consumidores – Livro Verde ...........................................206

4.2 Organização institucional sobre segurança dos alimentos na Espanha .....209

4.2.1 Ministerio de Sanidad y Politica Social (denominado no governo anterior de Ministerio de Sanidad y Consumo) ...................................................................212

4.2.2 Agencia Española de Seguridad Alimentaria y Nutricion - AESAN...........214

4.2.3 Instituto Nacional del Consumo - INC.......................................................217

4.2.4 Dirección General de Salud Pública .........................................................221

4.2.5 Ministerio Medio Ambiente y Medio Rural y Marino..................................221

4.3 apontamentos sobre o ambiente institucional da união européia e espanha

....................................................................................................................234

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................237

REFERÊNCIAS...................................................................................................253

ANEXO................................................................................................................265

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1

INTRODUÇÃO

A valorização dos atributos de qualidade e de responsabilidade social vem

crescendo significativamente no mercado mundial de alimentos. Percebe-se que

as estratégias competitivas dos grandes grupos do setor agroalimentar procuram

conquistar a confiança do consumidor no que tange à qualidade, à procedência e

à sanidade dos alimentos na produção final. O problema da presente tese tem por

análise questionar de que forma a complexidade institucional do ambiente

econômico, notadamente no Brasil, influencia na dinâmica dos processos de

segurança dos alimentos.

Com a industrialização progressiva e a liberalização dos mercados,

ocorreram diversas mudanças no setor alimentício, tanto na produção quanto na

comercialização. Uma das principais transformações foi justamente o aumento da

preocupação social relativa à questão da segurança alimentar. Cabe ressaltar que

este fenômeno se evidenciou mediante a exposição pública de alguns desastres

ecológicos bem como a constatação de uma maior contaminação dos alimentos.

Alguns incidentes sanitários foram expostos ao conhecimento da

sociedade. É possível citar a contaminação de metanol no vinho, da salmonela em

ovos, do chumbo no leite em pó, do benzeno em água mineral, da dioxina em

frangos e do uso ilegal de hormônios em carne bovina. Na União Européia, os

consumidores perderam a confiança em certos produtos e processos, reagindo

com a restrição do consumo de produto adulterado ou contaminado, o que

priorizou a questão da segurança dos alimentos e, conseqüentemente, aumentou

a demanda por um maior controle público e privado.

Ao longo dos anos foram criados na sociedade de risco, órgãos específicos

e sistemas de informação para o tratamento da questão da qualidade dos

alimentos bem como foram estabelecidos mecanismos para identificação para

assegurar ao consumidor uma maior segurança para o consumo. As informações

fornecidas através desses mecanismos, a rastreabilidade, os selos de qualidade e

a notoriedade da marca servem para assegurar aos consumidores, no seu ato de

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2

compra e de consumo de alimentos, um padrão mínimo de qualidade, o que reduz

o grau de incerteza de um possível evento.

Essa demanda gerou um grande número de informações fundamentadas

em legislações e normas de comércio, as quais são repassadas aos

consumidores, informando sobre a composição, as técnicas de produção, e

algumas vezes a origem dos alimentos. Mesmo quando o consumidor esteja

limitado em sua capacidade de avaliar os fundamentos e a pertinência dessas

informações, o simples fato da informação existir acaba gerando uma sensação de

que existe um controle, decorrendo daí o sentimento de que o alimento é seguro,

conforme expõe Vaz (2006).

No entanto, a demanda social por esses controles resultou em um aumento

da complexidade dos processos de produção que resultaram em custos

irreversíveis e profundas reestruturações nas cadeias produtivas (LLOYD et al,

2001).

No cenário mundial, também se observa a ascensão e o fortalecimento de

movimentos sociais que defendem, entre outras bandeiras políticas, os direitos

dos consumidores e a preservação do meio ambiente com vistas a enfrentar as

contradições econômicas e sociais inerentes ao intenso processo de integração da

economia mundial. Soma-se, também, a contestação contra a abertura dos

mercados, em especial ao dos alimentos, alegando a falta tanto de transparência

no lidar com as questões da saúde quanto de legitimidade dos acordos

internacionais do comércio firmados no âmbito da Organização Mundial do

Comércio (OMC), os quais sobrepõem os interesses econômicos, em detrimento

aos da segurança sanitária. E no Brasil, estes acontecimentos parecem ter

alterado, de um lado, o comportamento do consumidor em relação à segurança

sanitária dos alimentos e, por outro, contribuíram para uma maior atuação de

organizações de defesa do consumidor (tais como o Instituto Brasileiro de Defesa

do Consumidor, os Procons, o Movimento das Donas de Casas, a Curadoria do

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3

Ministério Público, entre outros) no provimento de informações e de fiscalização

dos processos de produção de alimentos.

É provável que a “preocupação” ou maior conscientização dos

consumidores quanto à segurança dos alimentos não se traduza em ações

concretas no mercado, e que os mesmos tomem o preço – mais que a qualidade e

o atributo da segurança – como referência básica para decisão de adquirir os

produtos. Ainda assim, dois fatos são inegáveis. O primeiro refere-se à mudança

do ambiente institucional da segurança dos alimentos; o segundo é que essas

mudanças acarretaram conseqüências sobre a estratégia das empresas e sobre a

sua organização de produção.

Muitas dessas mudanças, ainda são embrionárias, localizadas, mas sem

dúvida, apontam tentativas relevantes para alcançar o objetivo maior que é a

segurança dos alimentos. E o sentimento de insegurança se agrava à medida que

o desenvolvimento científico na área de alimentos avança de forma rápida, com o

uso de novas tecnologias na pesquisa e na disponibilidade de extensa base de

dados. O avanço científico lança no mercado constantemente novos produtos a

uma velocidade que é de difícil processo de cognição por parte dos consumidores

da questão da qualidade dos alimentos. Aparentemente, atualmente a vida

encerra tantos riscos quanto em épocas passadas, embora qualitativamente

distintos. Mas, hoje há o reconhecimento de que existem riscos associados às

inovações tecnológicas, algumas delas ainda com repercussões ainda pouco

estimadas, que podem gerar incertezas coletivas e mudanças comportamentais

dos consumidores (VAZ, 2006).

Com a alteração do ambiente institucional propiciou uma maior difusão do

conhecimento sobre a segurança dos alimentos como resultado de processo

complexo, que perpassa toda a cadeia produtiva, atitudes dos consumidores e da

sociedade em geral, o que implicou em novas formas organizacionais das

indústrias de alimentos (latu sensu) e dos países envolvidos.

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4

O aparato de regulação pública e privada cresce a cada novo episódio

sanitário e se desenvolve nos vários mercados. A importância da avaliação da

conformidade, a identificação de origem e a rastreabilidade de processos

produtivos adotados são exemplos deste tipo de controle e regulamento. A

complexidade institucional1 (governo, setor privado e o terceiro setor), que visa

assegurar a qualidade sanitária da oferta de alimentos, ainda que possa ser

necessária, impôs custos de transação ex-ante elevados, - talvez exagerados –

diante de uma percepção de risco ditada tanto por eventos e constatações de

base científica como por propagação de “crenças” que, embora legítima

socialmente, carecem de fundamentações objetivas.

Além disso, a complexidade institucional dificulta a coordenação do controle

da segurança da produção de alimentos, em especial no Brasil, onde o Estado

tem dificuldade para a coordenação horizontal das instituições/organizações que

seguem pautas prósperas de ações de comando político fragmentado2.

A hipótese estudada nesta tese indica que há desarticulação entre os

órgãos responsáveis pela segurança dos alimentos no Brasil, principalmente, em

função da sobreposição de atuação e das normas sobre a segurança dos

alimentos entre as organizações, a exemplo da Anvisa e do MAPA. Nesse sentido,

embora o marco regulatório siga as regras internacionais referentes à segurança,

1 Na presente pesquisa, a complexidade é decorrente da própria natureza das instituições formais e não formais. 2 Além da coordenação vertical dos sistemas produtivos, deve-se considerar a coordenação horizontal entre segmentos de uma mesma indústria de produção de alimentos. No caso da produção primária, normalmente é realizada por milhares de agricultores localizados distantes dos consumidores, com baixo grau de organização e com dificuldades de ter acesso às informações, estabelecendo-se assimetrias tecnológicas, mercadológicas, organizacionais e institucionais que dificultam os negócios entre os segmentos a montante e a jusante. As transações horizontais entre as organizações do mesmo segmento são representadas pelas cooperativas, associações, associações comunitárias, religiosas, ajudas mútuas e outras organizações formais e informais. Lazzarini, Chaddad e Cook (2001), baseados em vários autores, salientam que agentes intensivamente conectados entre si em uniões fortes baseadas na afetividade e troca relacional, facilitam o aparecimento da confiança, criam normas sociais e promovem cooperação como uma conseqüência. Estas relações também podem criar condições para o aparecimento de coalizões entre organizações de uma mesma indústria que negociam melhores condições de comércio com firmas ou reduzem competição dentro da própria indústria.

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5

o mesmo não auxilia nas necessidades da evolução da demanda, pois são criadas

regras conforme a necessidade, com deficiência de monitoramento aumentando o

risco de consumo dos alimentos adulterados.

Se for certa a hipótese de que o consumidor não exerce seu poder de

mercado, e mesmo que o exercesse plenamente, não teria como controlar a

segurança do alimento. Nesse sentido, tem-se uma necessidade crescente de que

o Estado fiscalize a cadeia alimentar de modo global, para garantir ao consumidor

alimentos com informações claras e seguras. Ao mesmo tempo, a sociedade

demanda uma maior variedade de produtos disponíveis e mais saudáveis, e o

Estado tem uma maior preocupação com as questões relativas à saúde e as

associações entre saúde e o alimento.

A política pública, voltada à obtenção de alimentos seguros, compreende o

atendimento das exigências sanitárias, tecnológicas, ambientais e sociais,

homogeneizando os procedimentos e o apoio às cadeias produtivas

agropecuárias.

A presente pesquisa está estruturada em quatro capítulos, além dessa

introdução. O primeiro capítulo trata dos aspectos teóricos sobre o ambiente

institucional na segurança dos alimentos, apresentando as principais

características da produção de alimentos e principais conceitos no que se refere à

qualidade e segurança e o marco teórico econômico. O segundo capítulo trata do

ambiente institucional na questão da segurança dos alimentos: internacional e

nacional. O terceiro capítulo trata sobre os mecanismos organizacionais para a

garantia da qualidade dos alimentos e o quarto capítulo, apresenta um modelo

diferenciado da segurança dos alimentos, o ambiente institucional da União

Européia, seus marcos gerais, dando maior ênfase de como funciona a questão

da segurança dos alimentos na Espanha. E por final estão as considerações

finais.

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7

CAPÍTULO 1. ASPECTOS TEÓRICOS SOBRE O AMBIENTE INSTITUCIONAL NA SEGURANÇA DOS ALIMENTOS: CARACTERÍSTICAS E CONCEITOS

CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO DO ALIMENTO

As modificações do estilo de vida, graças à urbanização, à industrialização

crescente, à intensificação do trabalho feminino, à evolução das formas de

distribuição dos alimentos e à divulgação e promoção do produto (marketing),

propiciaram uma alteração do hábito alimentar e, conseqüentemente, uma

reestruturação produtiva.

Ao longo do século XX, a expansão da demanda, as pressões competitivas

e a necessidade de abastecer mercados urbanos mais distintos e numerosos, a

produção de alimentos passou a utilizar técnicas, as quais permitissem o

barateamento dos custos produtivos e requisitos de logística e econômica foram

sendo criados à medida que o mercado se expandia e se transformava. Algumas

dessas técnicas reutilizam alimentos como matéria-prima na busca de novos

produtos alimentícios. Outras obtêm nutrientes sintéticos, bem como produzem

medicamentos e antibiotióticos3.

Mas os avanços tecnológicos nos métodos de produção agrícola, as novas

técnicas de preparo dos alimentos, as embalagens dos produtos e a crescente

preocupação com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável são aspectos

que estão presentes nos debates sobre a questão legislativa da qualidade e

segurança dos alimentos para o consumidor por apresentarem componentes

3 No início da segunda metade do século XX, tem-se conhecimento do fato de que algumas moléculas de antibióticos - quando usadas como aditivos em alimentos para animais - permitem uma melhora de desempenho dos animais, particularmente de aves e de suínos. Tem sido repetidamente comprovado que o uso de aditivos antimicrobianos produz em aves e suínos aumento do ganho de peso, diminuição do tempo necessário para que se atinja o peso considerado como ideal para o abate, diminuição do consumo de ração, aumento da eficiência alimentar, melhora das qualidades organolépticas e da conservação dos alimentos para animais, bem como prevenção de patologias infecciosas e parasitárias, reduzindo a mortalidade. Tais efeitos tornam a produção animal mais eficiente, reduzindo os custos produtivos.

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8

desconhecidos, com a implicação de riscos, cada vez que se cria um alimento

novo.

Para minimizar a questão dos riscos, foram criados mecanismos para

monitorar a produção do alimento, como a rastreabilidade, principalmente em

decorrência do avanço do comércio internacional, que pressupõe maior regulação

dos processos produtivos, com base em uma legislação internacional aceita pela

maioria dos agentes envolvidos, com a adoção do princípio da precaução. A

adoção deste princípio é a resposta inovadora que se buscou para preservar a

sociedade de ameaças reais ou mesmo do sentimento geral de medo em relação

à defesa da saúde pública, da qualidade dos alimentos e do equilíbrio do meio

ambiente.

De todos os princípios relacionados à biossegurança nenhum é tão

importante que o princípio da precaução. Ele é base que sustenta o Protocolo de

Montreal sobre Biossegurança, que torna obrigatória a análise de risco de

qualquer OGM, é ele que obriga o empreendedor a realizar o Estudo Prévio de

Impacto Ambiental – EIA/RIMA previsto no art. 225, inciso IV, da Constituição

Federal, e também serviu como argumento definitivo para a sentença judicial que

determinou a rotulagem de produtos transgênicos, proibindo o plantio, em escala

comercial, da soja Roundup Ready. Como medida essencial de prevenção de

riscos ambientais, o princípio da precaução foi elevado à categoria de regra do

direito internacional ao ser incluído na Declaração do Rio, como resultado da

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento-RIO/92,

sendo considerado atualmente um princípio fundamental direito ambiental

internacional, assim redigido: Princípio n.º 15: "com a finalidade de proteger o

meio ambiente, os Estados devem aplicar amplamente o critério da precaução

conforme às suas capacidades. Quando houver perigo de dano grave ou

irreversível, a falta de uma certeza absoluta não deverá ser utilizada para

postergar-se a adoção de medidas eficazes para prevenir a degradação

ambiental".

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9

No setor de alimentos o princípio da precaução é aplicado quando há casos

em que os dados científicos sejam insuficientes, pouco conclusivos ou incertos e

em casos em que um exame científico preliminar revele que se pode recear

efeitos potencialmente perigosos para o ambiente e para a saúde das pessoas e

dos animais bem como para a sanidade vegetal4.

Ainda, o princípio da precaução repercute diretamente na cadeia produtiva,

quando ligado à segurança do alimento, em função das variações de consumo e

forma de controle do risco. A complexidade das cadeias agroalimentares as torna

sistemas difíceis de serem controladas, pois podem surgir problemas sanitários

em determinados pontos da cadeia que se multiplicam várias vezes e que podem

atingir um grande número de consumidores, altamente dependentes do alimento

no dia a dia. Manter sob controle uma situação de risco está relacionada à escala

de produção de alimentos: uma empresa de avicultura moderna, por exemplo, leva

ao mercado mais de 20 milhões de frango ao ano; a soja participa em mais de

60% dos alimentos transformados e o amido de milho é um ingrediente de vários

tipos de alimentos (VAZ, 2006).

Segundo Conceição e Barros (2005):

Em um cenário de expansão das relações comerciais com o resto do mundo torna-se vital desenvolver um arcabouço institucional que permita o país defender perante os fóruns internacionais que regulamentam as práticas comerciais. São conhecidas as barreias tarifárias e não tarifárias existentes no comércio internacional. Embora hoje seja relativamente mais fácil dimensionar o tamanho das barreiras tarifárias impostas, o mesmo não pode ser dito às barreiras não tarifárias. São inúmeras as possibilidades de restrições que se abrem no campo das barreiras não tarifárias: restrições ambientais, sociais, sanitárias e padrões de qualidade distintos (grifo meu) (p.9).

4 O episódio do mal da vaca louca foi um marco na questão ambiental em função da ciência não conseguir

prever os possíveis riscos científicos e evitar os possíveis problemas. Passa-se a adotar o princípio da

precaução, é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não

podem ser ainda identificados. Este Princípio afirma que a ausência da certeza científica formal, a existência

de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este

dano (VIEIRA & VIEIRA JUNIOR, 2005).

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Conforme argumenta Farina (2000), as ações de políticas direcionadas

apenas para o aumento da produção, principalmente agrícola, embora sejam

importantes, não parecem ser suficientes em um mercado globalizado e

competitivo. Pois, são identificadas ações de caráter público importantes e que

devem ser assumidas visando ao aumento da competitividade do agronegócio em

geral, seja valorizando o produto, seja garantindo a qualidade. Ainda, as

transformações internas que ocorreram nas últimas décadas sinalizam a

importância desses atributos inclusive para a comercialização doméstica.

Novos produtos alimentares, criados pela indústria têm conquistado um

público sempre mais amplo, principalmente nos grandes centros urbanos, nos

quais a cultura de preparo rápido dos alimentos (fast-food) é uma realidade. O

mesmo ocorre com os pratos preparados. De acordo com Garrido, Urquizu &

Vicente (2008), no que tange ao perfil dos consumidores de pratos preparados,

em Aragon na Espanha, constatou-se que o número de consumidores deste tipo

de alimentos era de 37,9% da amostra analisada5.

Os principais produtos consumidos por estas pessoas são massas,

croquetes, batatas, empanadas e pescados, adquiridos mensalmente em

mercados e hipermercados. A compra destes produtos é motivada pela sua

comodidade, o que evita o preparo mais demorado do próprio alimento. O

consumo de carne preparada tem uma porcentagem de 22,9% superior à carne

empacotada pelo fornecedor, sendo uma opção mais atrativa ao consumidor.

De forma simultânea ao crescimento do consumo de alimentos de preparo

mais rápido, houve também o aumento da ingestão de gorduras e proteínas,

acarretando o desequilíbrio na alimentação humana, principalmente com o avanço

da obesidade6, considerada como um dos mais graves problemas de saúde

5 A entrevista foi realizada em dois anos consecutivos, 2006 e 2007. No primeiro ano, 449 pessoas foram entrevistadas por telefone. No segundo, 1234 pessoas foram questionadas em pontos de venda de forma presencial. Vale destacar que a idade das pessoas entrevistadas variava de 25 a 45 anos e que a renda mensal média era de 1500 Euros. 6 Estudos epidemiológicos em populações latino-americanas têm relatado dados alarmantes. À medida que se consegue erradicar a miséria entre as camadas mais pobres da população, a

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pública no mundo moderno7. Percebe-se, assim, que a cultura e os hábitos

alimentares se alteraram significativamente em grande parte dos países, o que foi

em parte influenciado pelo consumo compulsivo de alimentos de preparo mais

rápidos impulsionado pela indústria de alimentos (FILETTI JUNIOR, 2005).

Há o aumento de alimentos enlatados e pré-cozidos, os quais precisam de

conservantes para garantir a vida útil no mercado, o que requer maior garantia de

sua produção e distribuição. Hutton (2003) afirma que a utilização de aditivos e

conservantes para a manipulação dos alimentos são fatores que acabam

causando certa desconfiança nos consumidores da União Européia. Cerca de

70% num grupo de 10 consumidores europeus admitiram que confiam somente

nos alimentos in natura (pescados, carnes, leite, frutas e hortaliças, incluído ovos

e queijos), conforme apontado no Eurobarómetro. O consumidor tem maior

confiança nas agências e autoridades sobre segurança dos alimentos quando

estas informam suficientemente sobre o tema para que possam livremente decidir

o que comprar e o que comer.

A qualidade dos produtos agroalimentares in natura também é motivo de

preocupação com a segurança dos alimentos e está presente nos debates, uma

vez que pode ocorrer a presença de agrotóxicos utilizados no controle de pragas e

doenças que interferem na produção agrícola, podendo causar problemas à saúde

dos consumidores. A qualidade duvidosa de um produto pode trazer prejuízos à

saúde dos consumidores, além de diminuir a credibilidade das empresas.

Este fator é motivo de preocupação constante no âmbito da saúde pública,

que realiza a avaliação toxicológica e do estabelecimento de parâmetros de

obesidade desponta como um problema mais freqüente e mais grave que a desnutrição. Este problema sobrecarrega o sistema de saúde pública com uma demanda crescente de atendimento a doenças crônicas, como o diabetes tipo 2, a doença coronariana, a hipertensão arterial e diversos tipos de câncer. 7 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – divulgou os dados da pesquisa realizada no país sobre obesidade. Segundo os dados divulgados, a freqüência do excesso de peso atinge 38,8 milhões de brasileiros, o que corresponde a 40,6% da população adulta. Destes, 10,5 milhões possuem IMC acima de 25 e são considerados obesos. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=278&id_pagina=1. Acesso em 10maio2009.

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segurança relativos à sua utilização, com foco na prevenção e controle de riscos à

saúde humana decorrentes do consumo de alimentos contaminados (ANVISA -

Relatório de Atividades, 2008). É freqüente a identificação de resíduos de

agrotóxicos nos alimentos e, em muitos casos, se detectam concentrações acima

dos limites máximos permitidos, além daqueles não autorizados8.

Diversos países como Estados Unidos, Holanda, Suécia e Inglaterra têm

estabelecido programas de monitoramento de resíduos de agrotóxicos com

análises contínuas e programadas. No Brasil, foi firmado um Protocolo de

Cooperação Operacional e Técnica entre a Agencia Nacional de Vigilância

Sanitária, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (Ministério da

Justiça) e Associação Brasileira dos Supermercados (ABRAS), com o objetivo de

promover e incrementar condutas e estudos direcionados a uma estruturação mais

abrangente de serviços e cautelas para a qualidade do alimento ofertado ao

consumidor, em relação a presença de agrotóxicos.

Pesquisa realizada por Torres, Bichir & Carpim (2006) expôs em evidência

importantes mudanças no padrão de consumo alimentar. Os resultados atestam

que, nas últimas três décadas do século XX, houve um declínio no consumo de

alimentos básicos, como cereais e derivados, e de frutas e hortaliças, ao passo

que se verificou um aumento da participação de alimentos de baixo teor

nutricional, como biscoitos e refrigerantes. O estudo constatou ainda um aumento

na disponibilidade de alimentos de origem animal, como carnes e leite. Apesar de

a tendência apresentar características positivas devido ao aumento no consumo

de proteínas e de cálcio, tais alimentos também constituem fontes de gordura

animal e de colesterol, nutrientes danosos à saúde quando consumidos em

quantidade excessiva, segundo aponta o estudo.

8 Segundo dados da SINDAG, o consumo de agrotóxicos no ano de 2007 no Brasil, foi cerca de 5,4 bilhões de dólares. Considerando-se o consumo em dez países que representam 70% do mercado mundial de agrotóxicos, o Brasil está em 2º lugar no ranking. Em âmbito nacional, o emprego de agrotóxicos nos Estados do Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins representam 70% (Brasil, ANVISA - Relatório de Atividades, 2008).

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Segundo Maclean (2003), algumas pesquisas são realizadas com a

manipulação genética em animais com propósitos alimentícios. Esta manipulação

tem por objetivo transformar os genes do crescimento (tais como, hormônio de

crescimento somatotropina, hormônio do fator de liberação, fator de crescimento

insulínico, principalmente em bovinos). No caso de peixes, além dessas

características, procura-se aumentar ainda a tolerância ao frio, resistência a

doenças e esterilidade. Além disso, suínos, bovinos e caprinos geneticamente

modificados têm sido criados com novas enzimas em seu epitélio intestinal para

aumentar a eficiência na utilização de ração. Como exemplos, citam-se os animais

que expressam a fitase9 para aumentar a absorção de fósforo ou enzimas que

catalisam a síntese da cisteína (KLETER e KUIPER, 2002).

Conforme apontado por Dória (2008)10, existem atualmente alimentos

criados a partir da engenharia humana, que não são naturais. Por exemplo, a

canola se imagina que é uma planta, estampada no rótulo de um óleo para fritura

com baixo teor de trans. Mas na verdade se trata de uma mera sigla - CANadian

Oil Low Acid - de modo que dizer “óleo de canola” é mera cacofonia11. A planta da

qual ele se origina é a colza, usual na geração de um óleo industrial que foi

responsável, no passado, por um episodio alimentar na Espanha.

É natural que os consumidores tenham dúvidas em relação às informações

obtidas, já que não há referências quanto ao seu histórico de segurança ou formas

de administrar possíveis riscos no consumo de alimentos.

Produzir e fornecer alimento seguro são fatores que desafiam os diversos

agentes envolvidos na cadeia de alimentos. O recolhimento de produtos

alimentares pela indústria, proveniente de contaminação tem se tornado uma

9A fitase (mio-inositol hexafosfato fosfohidrolase) está amplamente distribuída nos tecidos animais e vegetais, em várias espécies de fungos e em algumas bactérias. Essa enzima hidrolisa o ácido fítico em inositol e fosfato inorgânico. Ao hidrolisar os resíduos de fosfato do ácido fítico diminui a sua forte afinidade por certos minerais. 10 Disponível em: <http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2968,1.shl>. Acesso em: 12maio2008. 11 Segundo o Dicionário Houaiss, cacofonia é repetição de sons (fonemas ou sílabas) considerada desagradável ao ouvido ou pronúncia feia ou incorreta de palavras, formando cacófato.

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pratica recorrente, seja esta causada por microorganismos patogênicos, parasitas,

contaminantes, seja por materiais estranhos, ou qualquer outra causa. Bem como

deve haver praticas que garantam o alimento seguro desde o campo.

Nesse sentido, o Estado é acionado para fiscalizar a cadeia agroalimentar

de um modo global, para garantir que a sociedade (consumidor) irá adquirir um

alimento com informações claras e seguras sobre o produto. Ao mesmo tempo,

essa sociedade deseja ter uma variedade cada vez maior de produtos disponíveis

a fim de que possa escolher o que consumir e que estes sejam saudáveis, tendo

em vista que nos dias atuais as pessoas estão mais preocupadas com a saúde.

Diante das incertezas, a União Européia adotou o mecanismo da

rastreabilidade (trazabilidad) para toda a cadeia alimentar como princípio básico

da sua regulamentação da segurança dos alimentos. Entende que, com a adoção

desse mecanismo haverá uma maior gestão no controle de qualidade e segurança

dos alimentos produzidos.

Com o contínuo crescimento da população e a crescente necessidade da

produção de alimentos, a segurança dos alimentos tem sido um desafio para

todos os elos da cadeia produtiva de alimentos cada dia mais exigido pelo

mercado. A exigência parte do mercado consumidor nacional e internacional, e

com esta realidade, os produtores e beneficiadores de alimentos precisam se

adequar às novas tecnologias e a sistemas de gestão para qualidade e segurança

dos alimentos.

Uma das preocupações atuais com a segurança dos alimentos é com a

ocorrência das “doenças transmitidas por alimento (DTA), de origem biológica, que

tem aumentado de modo significativo mesmo em países desenvolvidos. Segundo

relatos da OMC, grande parte das doenças de origem alimentar registrada nos

países latino-americanos é causada pelo consumo de alimentos contaminados por

microrganismos patogênicos; no Brasil, mais de 60% destas doenças são

causadas por Salmonella SP Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens,

Bacillus cereus e Clostridium botulinum (FEITOSA, BRUNO &BORGES, 2008).

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15

Com a globalização do comércio de produtos alimentares, é importante que

o Brasil consolide sua posição de grande produtor de alimentos e, para isso,

precisa antecipar tendências e acompanhar as principais dinâmicas nas vertentes

da inovação, a fim de garantir a capacidade de forma a incorporar de forma

contínua e sustentada, os avanços da produção de alimentos. Mas para que isso

ocorra, precisa adotar de forma rápida, mecanismos e estratégias para lidar com

as incertezas geradas pela falta de informação no mercado cada vez mais

competitivo, principalmente no quesito relacionado à segurança e inocuidade dos

alimentos.

A QUALIDADE E A SEGURANÇA DO ALIMENTO

A preocupação com a segurança dos alimentos acompanha a evolução e

trajetória da produção dos alimentos. O homem, na época remota, desenvolveu

diversas inovações neste setor, tais como, o processo de defumação para

conservar por mais tempo as carnes. Posteriormente, desenvolveu o processo de

salgamento (que também se aplica a alguns produtos não cárneos), a

fermentação, conserva em vinagre, entre outros. Mas foi com a Revolução

Industrial e a urbanização que os problemas de segurança dos alimentos (food

safety) aumentaram; a demanda cresceu de forma abrupta e se deslocou do ritmo

de crescimento populacional, abriu espaço geográfico e temporal entre a produção

e o consumo (ROBERTS et al, 1981). Os fatos relacionados à falta de segurança

dos alimentos contribuíram para valorizar o “atributo à segurança do alimento”.

Conforme expõe Belik (2003 e 2004), a alimentação disponível para o

consumo não pode estar submetida a qualquer tipo de contaminação, problemas

de apodrecimento ou outros decorrentes de prazos de validade vencidos. Mas a

qualidade do alimento não se limita aos atributos físicos, sendo recoberta de

sociabilidade e diz respeito também à pessoa consumir o alimento de forma digna,

segundo as normas de higiene.

Deve-se ainda salientar que um produto pode ter uma aparência ótima e de

alta qualidade segundo todos os critérios de qualidade aparente, mas mesmo

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16

assim apresentar sérios riscos à segurança; por exemplo, contaminação com

organismos patogênicos não-detectáveis, produtos químicos tóxicos ou perigos

físicos. Por outro lado, um produto de aparência insatisfatória pode ser

perfeitamente seguro. Os produtos com defeitos de qualidade detectáveis com

facilidade, a maioria aparentes, serão rejeitados pelo consumidor, ao passo que

muitos defeitos ocultos, dos que oferecem risco real à segurança, não serão

advertidos antecipadamente pelos consumidores.

Para melhor contextualizar o que é segurança dos alimentos, primeiramente

é importante analisar o significado de “qualidade” e sua aplicação. Desnecessário

dizer que qualidade tem significados diferentes, segundo o setor, ponto de vista,

cultura, etc. O termo “qualidade” aplicado no setor agroalimentar é um conceito

complexo o qual é definido com base na satisfação e nas preferências dos

consumidores finais, e que na atualidade inclui também conceitos mais

abrangentes como de segurança alimentar, sustentabilidade, meio ambiente, bem

estar animal e valores nutricionais.

A Organização Internacional de Normalização (ISO)12 define qualidade

como a capacidade de um produto ou serviço satisfazer as necessidades

declaradas ou implícitas do consumidor através de suas propriedades ou

características. Mediante a importância para o desenvolvimento da gestão da

qualidade, as organizações (empresas, instituições, exportações agrícolas, etc.)

estabeleceram processos contínuos para satisfazer os clientes com seus produtos

ou serviços.

Para analisar o conceito de qualidade nos produtos alimentícios, são

distinguidas as seguintes categorias (ABLAN et al, 2002):

• Segurança dos alimentos: a qualidade como resguardo de inocuidade,

ou seja, é um alimento que se encontra livre de contaminação, que se

supõe ser uma ameaça para a saúde. Os requisitos mínimos de

12 Disponível em: http://www.iso.org/iso/home.htm. Acesso em 15jan2009.

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17

segurança para os produtos alimentícios são controlados pelas

Administrações Públicas e de cumprimento obrigatório.

• Qualidade nutricional: é a qualidade que se refere aos atributos dos

alimentos para satisfazer as necessidades do organismo humano em

termos de energia e nutrientes. Este é um fator que tem adquirido

grande relevância para o consumidor que é informado e que se

preocupa com uma dieta saudável e equilibrada.

• Qualidade definida por atributos de valor: atributos estes que estão

além dos atributos nutricionais ou de segurança de um alimento, e se

diferenciam de acordo com suas características organolépticas e pela

satisfação do ato de alimentar-se ligada a fatores socioculturais,

ambientais, éticas, tradicionais, etc. São considerados elementos como

a cor ou sabor dos alimentos (requisitos organolépticos de algumas

denominações de origem como vinho ou azeite de oliva, na

Comunidade Européia).

Ainda, a qualidade pode ser relacionada com a escolha compreensível e

desejável realizada pelos consumidores. Assim, segundo Peri e Gaeta (1999),

para que os fornecedores possam obter vantagem competitiva em razão da

assimetria de informação, ele precisa se munir de instrumentos para convencer

propositadamente o consumidor dos atributos de seus produtos.

Em face de tantas incertezas pode-se ter uma certeza: os padrões de

exigência quanto à qualidade dos produtos alimentos vêm crescendo, e se

materializam em garantias, tais como certificados confiáveis que ateste e

garantam a existência de atributos de qualidade, regras mais rígidas,

organizações mais ativas e atentas.

Segundo Andrigueto et al (2008):

O aperfeiçoamento dos mercados consumidores, a mudança de hábitos alimentares e a procura por alimentos seguros vêm pressionando os sistemas produtivos para atenderem às novas demandas, o que pode ser comprovado pelas seguintes atitudes: (i) movimento dos consumidores, principalmente europeus, na busca de frutas e hortaliças sadias e a

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ausência de resíduos de agroquímicos perniciosos à saúde humana; (ii) cadeias de distribuidores e de supermercados europeus, normas do setor varejista europeu, representados pelo EUROPGAP (Euro-Retailer Produce Working Group – EUREP for a Good Agriculture Pratices), denominado atualmente de GLOBALGAP, que tem pressionado exportadores de frutas e hortaliças para o atendimento a regras de produção que levem em consideração: resíduos de agroquímicos, meio ambiente e condições de trabalho e higiene (p.25).

Diante disso, os produtores agropecuários e industriais começaram a adotar

várias estratégias para demonstrar a qualidade de seus produtos para os

consumidores. Admite-se que, se bem informados e esclarecidos, o consumidor

poderá dispor de conhecimento para estabelecer um juízo próprio sobre o grau de

qualidade do produto, tomar suas decisões de consumo com maior consciência e

melhor adaptar sua cesta de alimentos às suas necessidades. Este ideal não

parece corresponder à realidade e sem prejuízo da autonomia individual, as

decisões de consumo parecem ser cada vez mais ditadas por “padrões”

comportamentais que de alguma maneira definem “grupos de identidade”.

O consumidor a cada ato de compra passa a associar a qualidade do

produto ao nome do fabricante ou do vendedor. Quanto maior é a reputação de

uma marca de produto, maior é o prejuízo se a mesma não apresentar atributos

de qualidade conquistada ao longo de muitos anos. Neste caso, o preço muitas

vezes não importa, pois o consumidor paga a mais pela marca que já está bem

estabelecida no mercado. Sadia, Perdigão, Danone, Nestlé, entre outros, são

exemplos típicos de marcas reconhecidas e aceitas pelos consumidores com alto

grau de aceitação pela sua qualidade endógena.

No entanto, existem atributos que, embora exigidos e compreensíveis para

o consumidor, são difíceis de identificar. Por exemplo, além dos atributos

perceptíveis de qualidade organoléptica (cor, sabor, cheiro, textura, maciez) de um

corte de carne resfriada, o mercado requer informações detalhadas sobre

alimentação e cuidados com cada animal desde seu nascimento ao seu abate e

consumo (a exemplo de como ocorre na União Européia).

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Mas nem todos os atributos podem ser avaliados pelos consumidores no

momento da aquisição do produto. O nível de contaminação por microorganismos

e/ou resíduos químicos, por exemplo, somente é determinado por meio de testes

laboratoriais mais sofisticados. Nesse contexto, como o consumidor poderá avaliar

o nível de segurança do alimento?

Para o controle da qualidade dos alimentos, a FAO - Organização das

Nações Unidas para Alimentação e Agricultura13 - define alguns parâmetros a

serem observados pela legislação e regulamentação por todas as autoridades

nacionais e locais dos Estados Membros, com o fim de proteger o consumidor e

garantir que todos os alimentos, durante a sua produção, manipulação,

armazenamento, elaboração e distribuição, sejam inócuos, saudáveis e aptos para

o consumo humano, e que cumpram os requisitos de inocuidade e qualidade, e

estejam rotulados de maneira precisa e objetiva, de acordo com o disposto em lei.

Ainda, para o órgão, o sistema de controle dos alimentos deve-se configurar

um marco institucional oficial, a nível nacional e sub-nacional, visando garantir a

segurança e a qualidade dos alimentos fornecidos. Os elementos centrais do

sistema integrado de controle dos alimentos são: gestão do controle dos

alimentos; legislação, regulamentação ou normas alimentares; garantia da

qualidade e boas práticas; serviços de laboratórios; informação, educação,

comunicação e capacitação.

Segundo Pessanha & Wilkinson (2003), são distinguidos quatro conteúdos

e campos políticas envolvidos no conceito de segurança alimentar, pois segundo

os autores, para que cada um desses itens sejam superados, exige a

implementação de conjuntos distintos de políticas públicas por parte dos governos:

a) Garantia de produção e da oferta agrícola, relacionada ao problema da

escassez da produção e da oferta de produtos alimentares (food

security);

13 Disponível em: <http://www.fao.org/>. Acesso em: 30abril2008.

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b) Garantia do direito de acesso aos alimentos, relacionado à distribuição

desigual de alimentos nas economias de mercado (food security);

c) Garantia de qualidade sanitária e nutricional dos alimentos, que remete

aos problemas de baixa qualidade nutricional e de contaminação dos

alimentos consumidos pela população (food safety);

d) Garantia de conservação e controle da base genética do sistema

agroalimentar, no que se refere à falta de acesso, destruição ou ao

monopólio sobre a base genética do sistema agroalimentar (food

safety).

Para se definir a segurança em alimentos é importante esclarecer o termo,

tendo em vista que o mesmo possui diferentes interpretações. Assim, sob o

enfoque quantitativo (food security) refere-se ao abastecimento adequado de uma

determinada população e enfatiza o aspecto da disponibilidade e de uma oferta

adequada de alimentos que deve ser assegurada tanto pela via aumento da

produção interna como pelo aumento da importação. Esse enfoque, que

inicialmente priorizava aspectos ligados à oferta, hoje incorporados às condições

de acesso, a segurança passou a ser avaliada pelo binômio disponibilidade e

acesso (renda).

Do ponto de vista macro, Teixeira (1981) considera que um país alcança

um nível de segurança alimentar mínima quando chega a uma produção de

alimentos equivalentes às suas próprias necessidades. Esta visão, que orienta as

políticas agrícolas e de segurança alimentar durante décadas, é questionada pela

própria realidade. De um lado, muitos países não dispõem de recursos materiais

suficientes para produzir internamente o equivalente às suas necessidades, e nem

por isso vivem situações de insegurança alimentar14.

A segurança alimentar é um direito fundamental (segundo o que foi previsto

na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão), pois cada um

14 O problema da insegurança alimentar pode ser atribuído, principalmente, ao caráter antidemocrático e desigual da distribuição de renda e do acesso aos recursos (tais como terra, crédito, informação e incentivo), mais do que um problema global de produção alimentar.

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deve ter assegurando o acesso a uma alimentação saudável e de qualidade15.

Para assegurar o direito dos povos à alimentação, a segurança alimentar deve se

fundamentar tanto quanto possível na auto-suficiência alimentar, garantida quando

a produção, o transporte, e o consumo da produção local de alimentos constitui

uma prioridade e quanto a dependência em relação as importações alimentares é

reduzida tanto quanto possível.

A FAO define segurança alimentar como a situação em que todas as

famílias têm acesso físico e econômico à alimentação adequada para todos os

seus membros, sem correr o risco de desabastecimento (NAÇÕES UNIDAS-FAO,

2000). Esta definição envolve três aspectos: disponibilidade, estabilidade e

acesso. Disponibilidade significa que a oferta de alimentos, em média, é suficiente

para atender às necessidades de consumo de toda a população. Estabilidade

refere-se à probabilidade mínima de o consumo de alimentos cair abaixo do nível

adequado de abastecimento como resultado de variações de oferta. Acesso está

relacionado à capacidade de produzir ou comprar os alimentos necessários dado

que, mesmo em presença de abundancia e estabilidade de oferta, muitos podem

passar fome por insuficiência de recursos.

Para que toda a população tenha acesso a alimentos em quantidade

suficiente, disponibilidade e estabilidade são condições necessárias, embora não

suficientes. Essas duas dimensões do problema podem ser enfocadas sob

diferentes níveis de agregação: mundial, nacional, regional, ou familiar.

Sob enfoque nacional existem duas possibilidades possíveis: food self-

sufficiency (auto-suficiência na produção de alimentos) ou food self-reliance (auto-

capacidade na obtenção de alimentos).

O objetivo da segurança alimentar aparece, freqüentemente, associado à

produção doméstica de parcela significativa dos principais alimentos consumidos

15 O direito a alimentação não envolve apenas os aspectos materiais como quantidade, qualidade e acesso, mas também aspectos culturais da alimentação. Os padrões de consumo alimentar refletem a diversidade ambiental, cultural, política e social das comunidades e sociedades, que devem ser respeitadas e incentivada.

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pela população. Esta posição representa uma resistência às visões - entre elas, a

da FAO e da OMC - que vêem mais sentido econômico na adoção da “política

mais flexível” da auto-capacidade alimentar (food self-reliance), que supõe

especialização produtiva e maior importância do comércio internacional, em

detrimento da estratégia “rígida” da auto-suficiência produtiva (food self-

sufficiency).

A propósito, Maluf (2000) considera irreal e conceitualmente questionável a

contraposição entre uma estratégia voltada para a auto-suficiência e uma baseada

na auto-capacidade, assim formulada para sustentar a adoção dessa última como

a mais adequada16. As razões que aponta são: o equívoco quanto à natureza dos

chamados ‘mecanismos de mercado’, colocando o abastecimento alimentar sob o

domínio de formas de regulação privada com pouco, por vezes nenhum, sentido

público; o desconhecimento da importância específica (econômica, política e

cultural) da produção doméstica de alimentos, um dos eixos ordenadores das

estratégias de desenvolvimento comportando variadas combinações com o

comércio internacional dos produtos agroalimentares; e o fato do comércio

internacional, como tal, estar longe de constituir-se em fonte confiável de

segurança alimentar.

Portanto, pela ótica quantitativa, segundo Spers (2005) a segurança

alimentar pode ser alcançada com o aumento da renda das famílias, juntamente

com uma oferta adequada de alimentos com o aumento da produção interna ou

aumento da importação de alimentos.

Sob o ponto de vista micro, a segurança em alimentos é vista sob o

enfoque qualitativo (food safety), ou seja, a garantia que o consumidor irá adquirir

um alimento com atributos de qualidade que seja do seu interesse, entre eles sua

saúde e segurança (SPERS, 2003).

16 Esta estratégia engloba a opção, seguida pelo Brasil, de não manter estoques reguladores ou estratégicos, considerados onerosos e desnecessários em face da disponibilidade internacional, reforçando o antes referido papel do comércio internacional como regulador do mercado doméstico.

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O termo food safety - alimento seguro - significa garantia em consumir um

alimento seguro no âmbito da saúde coletiva, ou seja, são produtos livres de

contaminantes de natureza química (agroquímicos), biológicas (organismos

patogênicos), física ou de outras substâncias que possam colocar em risco sua

saúde (SPERS & KASSOUF, 1996).

Para que um alimento seja considerado seguro, o problema é justamente a

dificuldade e a impossibilidade para certos atributos de identificação pelo

consumidor verificar se de fato o alimento é seguro, o que caracteriza a

informação imperfeita e/ou assimetria de informação. Daí a necessidade de

mecanismos organizacionais privados e públicos para controlar todo o processo

de produção e comercialização, o que implica em custos de transação e de

produção que são distribuídos entre os stakeholders.

Segundo Spers (2003), a segurança dos alimentos é um tema que interessa

a diversos agentes econômicos, desde os consumidores até organizações não

governamentais (ONGs), bem como o próprio Estado. Essas organizações surgem

em um ambiente institucional. No caso das ONGs que atuam mais diretamente

com o tema da segurança do alimento, o foco é pressionar o Estado, decorrente

de uma percepção da probabilidade de risco à saúde e/ou ao meio ambiente ao

consumirem produtos adulterados ou contaminados. Ainda afirma o autor:

Entre os principais fatores que influenciam e culminaram ao aumento da

exigência por atributos de segurança nos alimentos, por parte dos consumidores,

do governo e das instituições privadas, pela segurança e pela gestão de qualidade

de alimentos, está a industrialização e a urbanização, o aumento da

competitividade, o desenvolvimento da pesquisa cientifica, a globalização e as

mudanças e novas demandas dos consumidores (p.14 ).

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Segundo as normas da ISO 2200017, considera-se alimento seguro quando

se tem a idéia de que ele não será perigoso ao consumidor quando preparado

e/ou consumido adequadamente.

A segurança de alimentos é o termo usado para se referir à prática de

medidas que permitam o controle da entrada de qualquer agente contaminante no

alimento. Também com o intuito de agregar valor ao produto ou como forma de

garantir acesso a novos mercados, a adoção de protocolos e normas técnicas é

um mecanismo fundamental às cadeias agroindustriais, cujo desafio é estabelecer

maior coordenação e controle operacional ao longo da cadeia produtiva.

Pessanha (2003) define segurança alimentar (safety food), sob o aspecto

da qualidade sanitária e nutricional dos alimentos, como a garantia dos alimentos

com atributos adequados à saúde dos consumidores, implicando em alimentos de

boa qualidade, livre de contaminações de natureza química, biológica ou física, ou

de qualquer outra substância que possa acarretar problemas à saúde das

populações.

A importância desse aspecto do atributo da qualidade garantindo uma maior

segurança dos alimentos cresce constantemente, principalmente em virtude do

desenvolvimento de novos processos de produção agrícola e industrial, e das

novas tendências de consumo dos consumidores.

Deve-se salientar que um produto pode aparentar ser saudável e de alta

qualidade segundo todos os critérios de qualidade, mas mesmo assim pode

apresentar sérios riscos à segurança. Por outro lado, um produto de qualidade

insatisfatória pode ser perfeitamente seguro.

E diversos são os riscos decorrentes da adulteração e contaminação dos

alimentos são enfrentados pelos consumidores, constituindo um sério problema de

saúde pública para o Estado, apesar dos avanços tecnológicos. A contaminação

dos alimentos é decorrente de falhas na cadeia produtiva e é indicada pela

17 Disponível em: http://www.iso.org/iso/home.htm. Acesso em 15jan2009.

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presença de contaminantes biológicos (bactérias patogênicas e suas toxinas,

vírus, parasitas e protozoários), químicos (resíduos de antibióticos, micotoxinas,

pesticidas e metais pesados) e físicos (fragmentos de vidros, metais, madeiras,

entre outros).

A atenção dada ao tema de segurança dos alimentos tem se concentrado,

principalmente, em dois temas: um deles focaliza novos padrões de consumo, e o

outro está centrado na estrutura das cadeias negociais. Comumente a percepção

de risco pelos consumidores é decorrente das informações disseminadas pela

mídia. Almeida (2003) acredita que as dúvidas da sociedade sobre a segurança

dos alimentos são freqüentemente geradas por falta de pareceres científicos

acreditados, o que dá espaço para intervenção de outros agentes, geralmente

calcados em ideologias ou interesses que transcendem a questão da segurança e

da qualidade dos alimentos.

O risco percebido pelos consumidores pode ser entendido como a

possibilidade de perda ou conseqüência indesejada, envolvendo ações de

probabilidade e do dano que pode ser sofrido:

RISCO = PROBABILIDADE X DANO

As percepções de risco ligadas ao mercado ocorrem na medida em que na

moderna sociedade surgem das informações que chegam até as pessoas.

Quando as noticias envolvem a questão de safety food, as informações relevantes

são aquelas que chegam até os consumidores e são capazes de mudar o seu

habito de consumo, mesmo que por curto período de tempo (WASHER, 2006).

Segundo Rangel (2005) o conceito de risco é polissêmico, por ter diferentes

significados, tanto no senso comum como no senso científico. No senso comum,

risco é utilizado como perigo, expectativa de um evento desagradável, ruim ou

indesejado. No senso científico, são diversos os significados, mesmo em uma

única disciplina, embora, em muitas delas, encontre-se subjacente à idéia de

incerteza, tendo como base o conceito estatístico de probabilidade. Na engenharia

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de segurança, risco é considerado como probabilidade de ocorrência de dano em

certo tempo e em certo número de ciclos operacionais de um processo produtivo

que pode ocasionar dano. No campo da saúde, o conceito de risco fundamenta as

práticas da clinica e da saúde pública, cujos significados, desdobram-se da

definição de risco utilizada na epidemiologia. Nesta o risco corresponde a uma

probabilidade de um evento em um determinado período de observação, e à

incidência cumulativa. É um conceito de probabilística, mas utilizada para

identificação de grupos populacionais que diferem entre si.

Portanto, a prevenção das doenças de origem alimentar depende de

cuidados nas etapas de produção e manipulação da matéria-prima, de

processamento, distribuição e comercialização, o conhecimento das

características físicas e químicas do alimento se torna primordial, entretanto,

acarreta aumento nos custos de todo o processo.

Em decorrência desses riscos, ocorreram diversos episódios sanitários,

destacando-se o mal da vaca louca (BSE – Encefalopatia Espongiforme Bovina) e

a gripe aviária no âmbito internacional e a Operação Ouro Branco em âmbito

nacional (conforme descritos no Anexo), as contaminações de carne e leite pelas

dioxinas e os benzopirenos nas gorduras contribuem para disseminar uma

percepção de risco, por parte da sociedade em geral, que provavelmente é maior

do que o risco efetivo; também contribui para criar a impressão de que as medidas

de controle não funcionam – o que é mais do que ser ineficiente – e de que não

existe nenhuma fiscalização. Isto parece ser comum aos vários países,

independente da cultura anterior sobre segurança dos alimentos e da

institucionalidade vigente.

Nas ultimas décadas, em decorrência da globalização do comércio de

alimentos, tem aumentado o risco de transmissão de agentes infecciosos através

das fronteiras, introduzindo ou potencializando os riscos de segurança dos

alimentos. De acordo com os registros da Organização Mundial da Saúde (OMS)

são detectados, anualmente, nos países em desenvolvimento, mais de um bilhão

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de casos de diarréia aguda em crianças menores de cinco anos das quais cinco

milhões chegam ao óbito. Existem cálculos que de até 100 milhões de indivíduos,

em todos os países civilizados, contraem doenças decorrentes de alimentos ou

águas contaminadas (FERNANDEZ et al., 2000; OMS, 2006). Nos EUA, as

enfermidades relacionadas ao consumo de alimentos causam anualmente

aproximadamente 76 milhões de doentes, 325 mil pessoas hospitalizadas e 5 mil

mortos (OMS, 2006).

Germano et al. (2000) calculam que de 1 a 100 milhões de indivíduos no

mundo contraem, anualmente, toxinfecções decorrentes do consumo de alimentos

e de água. As bactérias são os principais agentes biológicos causadores de

Doenças de Origem Alimentar, não só em número como em freqüência, embora

outros agentes como os vírus, ou os parasitas também as possam provocar

(ASAE, 2006).

Alimentos como carnes e derivados, ovos, leite e seus derivados são os

mais freqüentemente envolvidos em doenças transmitidas por alimentos (DTA’s).

Os agentes patogênicos veiculados por esses alimentos são na sua maioria

bactérias como Salmonella spp., Staphylococcus aureus, Escherichia coli,

Clostridium perfringers, Bacillus cereus, Campylobacter jejuni entre outros. Na

maioria dos surtos de DTA’s a contaminação dos alimentos se dá pela

manipulação inadequada e pelo armazenamento incorreto. Hábitos como a má

higienizacão das mãos antes da manipulação dos alimentos, o armazenamento

sob temperaturas inadequadas e a aquisição de produtos de origem desconhecida

e duvidosa (sem inspeção, identificação) são algumas das situações mais

freqüentes que colocam o alimento e a saúde do consumidor em risco

(GERMANO; GERMANO, 2001).

A adoção de alguns procedimentos operacionais que derivam dos sistemas

de gestão da qualidade – como identificação e rastreabilidade, identidade

preservada, segregação de produtos, certificação e padronização – estão se

tornando cada vez mais presentes e relevantes para a competitividade das

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cadeias agroindustriais, principalmente aquelas com maior participação no

mercado internacional.

Decorrente da percepção dos consumidores de probabilidade de riscos nos

alimentos há um aumento das exigências em relação à informação dos produtos

demandados. Diante da complexidade institucional que envolve o controle dos

riscos alimentares, as informações fornecidas, a rastreabilidade, os selos de

qualidade e a notoriedade da marca reduzem o grau de incerteza dos

consumidores, dando maior segurança e informação no ato de compra dos

alimentos.

Neste sentido, por exemplo, é que a União Européia (UE) parte do princípio

que, para se ter um alimento seguro deve ser realizado a identificação dos

produtos ao longo de toda a cadeia alimentar, pois, qualquer problema que seja

detectado pode haver uma rápida mobilização para que os lotes afetados sejam

retirados do mercado.

Portanto, se pode inferir que a segurança alimentar é um conceito que

envolve os fatores relacionados às condições de acesso aos alimentos na

quantidade necessária para suprir as necessidades pessoais (security food), bem

como aqueles relacionados à qualidade dos alimentos englobando seus valores

nutricionais, sensoriais, físico-químicos e higiênicos (safety food). E, em

decorrência dos diversos riscos existentes à segurança dos alimentos e,

conseqüentemente, à saúde humana e ao meio ambiente que foi necessário criar

mecanismo de controle para garantir a qualidade dos alimentos. No Brasil há um

excesso de instituições e stakeholders para o alcance desse objetivo, constituindo

um ambiente institucional.

Nesse sentido, a União Européia parte do princípio que, para se ter um

alimento seguro deve ser realizado a identificação dos produtos ao longo de toda

a cadeia alimentar, pois, qualquer problema que seja detectado pode haver uma

rápida mobilização para que os lotes afetados sejam retirados do mercado,

conforme será melhor abordado e apresentado no Capitulo 4 do presente estudo.

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INSTITUIÇÕES, CUSTOS DE TRANSAÇÃO E ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO NA QUESTÃO DA SEGURANÇA DOS ALIMENTOS

A segurança e a qualidade dos alimentos estão ganhando expressiva

atenção dos agentes da cadeia agroindustrial, cujos estímulos abrangem desde

demandas crescentes dos consumidores por segurança do alimento, exigências

técnicas dos demais elos constituintes da cadeia e, principalmente, a necessidade

de cumprimento de normas e exigências legais.

A Figura 1 apresenta-se a estrutura do sistema de controle de alimentos,

que abrange os atores que definem ou influenciam no estabelecimento de padrões

de produção e comercialização de alimentos (stakeholders). Também representa a

dimensão institucional que orienta as políticas, as estratégias, as leis e os

regulamentos.

Figura 1. Níveis e dimensões do sistema de controle dos alimentos.

Fonte: Cassiano (2008)

No nível individual, encontram-se os produtores, comerciantes,

manipuladores de alimentos e os consumidores. No nível organizacional, têm-se

as tomadas de decisões que envolvem os recursos, os procedimentos e as

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estruturas necessárias para o controle dos riscos alimentares. Os atores e os

consumidores que compõem o ambiente são agências governamentais de

vigilância sanitária, laboratórios de controle (que realizam testes para assegurar a

segurança dos alimentos), organizações de consumidores (que se mobilizam para

efetuar exigências ao sistema de fiscalização governamental) e as próprias

empresas alimentícias. Acima do nível organizacional se encontra a dimensão que

comporta as políticas, estratégias, leis regulamentos. Nesta dimensão há uma

interdependência entre os stakeholders da cadeia produtiva dos alimentos. Na

última dimensão se encontra os stakeholders, onde opera o sistema de segurança

dos alimentos (Cassiano, 2008).

O consumidor, sendo o último elo da cadeia alimentar, tem suas

responsabilidades, no que diz respeito a conservação, manipulação e preparo dos

alimentos. Mas ao mesmo tempo, ele tem o direito de obter alimentos mais

seguros. É importante que haja o esclarecimento ao consumidor sobre a

segurança do alimento, afim de que possa conhecer e compreender as

características dos alimentos e seus processos tecnológicos de elaboração e

conservação. Somente assim, poderá decidir sobre seu consumo ou não, como

devem ser manipulados e preparados, sem que sejam originados posteriores

perigos à sua saúde e ao meio ambiente.

Para entender esse ambiente institucional no que se refere à garantia da

qualidade do alimento em todos os elos, no presente estudo se torna útil adotar

como referencial teórico as proposições apontadas pela Nova Economia

Institucional (NEI). A teoria comporta em sua origem uma crítica a determinados

pressupostos da teoria ortodoxa neoclássica, notadamente em suas proposições

da racionalidade substantiva18 dos agentes econômicos e existência de

18 Racionalidade Substantiva - significa basicamente que o agente maximiza seu bem-estar e mesmo num contexto de incerteza ele dispõe de informação suficiente para tomar a melhor decisão possível, pois pode comparar o custo de obter a informação à vantagem esperada naquela decisão, em outras palavras, que o agente não necessita de toda a informação possível para tomar a melhor decisão (se ela for muito cara, o risco pode não compensar sua “compra” – o agente continua maximizando). Além disso, os neoclássicos acreditam que uma decisão equivocada é

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informação completa e homogeneamente acessível. Segundo o pensamento

ortodoxo, a somatória do livre acesso a todas as informações consideradas

relevantes, juntamente a um capacidade ilimitada de processar estas informações,

como resultado se tem uma decisão precisa e coerente, que seria pautada pela

maximização. Outra divergência importante da NEI em relação à teoria

neoclássica deriva da não consideração dos custos vinculados à produção e

distribuição, mas associados ao funcionamento do sistema, segundo Williamson

(1985).

A principal proposição da NEI é que as instituições sociais e econômicas se

formam para resolver, com níveis distintos de eficiência em diferentes sociedades,

o problema da cooperação entre os indivíduos. Nesse sentido, primeiramente se

faz necessário esclarecer qual a definição conceitual adotada, dada a quantidade

de terminologias encontradas na literatura. No entanto, Williamson (2000) constata

que, apesar do avanço nos estudos sobre as instituições, ainda predomina muita

ignorância a respeito do tema, conseqüentemente, ainda não surgiu uma teoria

unificada sobre instituições. Sendo assim, recomenda que “enquanto se aguarda

uma teoria unificada, se aceita o pluralismo” (BELIK et al, 2007).

Scott (1995) define que as instituições:

“são a chave para o comportamento econômico, ditando, inclusive, os tipos de organizações que são criadas. As interações entre as organizações também são determinadas pelas instituições. Assim, uma mudança em um ambiente institucional pode levar a uma mudança na forma de agir de uma organização, assim como provocar a morte e o nascimento de organizações (p.75).

Segundo Vasconcelos (2009), a definição de “instituições” reconhece

explicitamente que elas possuem um papel restritivo e motivacional, pois são

restrições do comportamento humano. As instituições definem e limitam o conjunto

de escolhas dos indivíduos, fazendo com que as escolhas dos agentes sejam

perfeitamente possível mesmo com racionalidade substantiva; o agente simplesmente irá corrigi-la no momento seguinte, por meio do processo de retroalimentação de informação (VASCONCELOS, 2009).

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menores, tornando o processo de interação mais previsível, conseqüentemente, o

fim é a diminuição da incerteza presente no ambiente econômico e social, a partir

da pré-determinação das condutas e comportamentos, os quais possam

padronizar e modelar as formas de ação dos atores e outras instituições.

Já para North (1990), as instituições, correspondem às “regras do jogo”

(econômico, social, político ou do próprio jogo institucional) em uma sociedade,

conforme o ambiente econômico e a sociedade, e imputam condutas por meio de

princípios de natureza formal (constituições, leis, direitos de propriedade, entre

outros)19 e informal (costumes, tradições, tabus e códigos de conduta). As

instituições formais predominam em sociedades complexas, pois o avanço,

extenso e desigual, de tradições e costumes não escritos para leis escritas tem

sido unidirecional e tem avançado das sociedades menos para as mais complexas

e está claramente relacionado ao aumento na divisão e especialização do trabalho

associado às sociedades mais complexas. Já as informais originam-se do legado

cultural (conhecimento, valores, e outros fatores que influenciam o

comportamento) transmitido por gerações sucessivas e são predominantes em

sociedades menos complexas (BELIK, et al, 2007).

Sob o ponto de vista de North, as mudanças institucionais são alterações

substanciais nas regras e leis (formais) e nas convenções e hábitos (informais),

representado na Tabela 1. São essencialmente contínuas e incrementais, em

decorrência dos efeitos de inércia e permanência dos constrangimentos informais

na sociedade. Sob o ponto de vista do autor, as instituições reduzem a incerteza

por tornarem o mundo menos complexo, tendo em vista que os modelos

neoclássicos, ainda que tenham evoluído e adquirido grande formalismo e

abrangência conceitual, em alguns casos se afastam da realidade empírica,

19 As regras formais, considerando o poder de barganha dos agentes tomadores de decisão, têm por função facilitar a troca, tanto econômica quanto política. Podem ainda, complementar e aumentar a eficiência das restrições informais, ou diminuir os custos de informação, monitoramento e aplicação, tornando possível a utilização de restrições informais em trocas complexas. Uma regra formal pode ser criada também para modificar, revisar ou substituir uma restrição informal (VASCONCELOS, 2009).

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comprometendo sua efetividade em explicar os fenômenos observados pela

sociedade (ZYLBERSZTAJN, 1995).

Tabela 1. Tipos de Instituições TIPOS DE INSTITUIÇÕES

FORMAIS INFORMAIS INSTITUIÇÃO Leis e regulamentos Regras não escritas e

convenções OBJETIVOS Atacar problemas específicos Códigos e valores CUMPRIMENTO Obrigatório e coercitivo Voluntário e self enforcement CAMPO Domínio Público Domínio Privado Fonte:

E ainda, sob o ponto de vista conceitual de North sobre as instituições,

acrescenta-se a idéia da existência de mecanismos formais de enforcement como

parâmetro caracterizador de uma instituição. Esses organismos, as instituições,

reduzem o conjunto das escolhas dos indivíduos, diminuindo a incerteza nas

trocas. Destarte, além de amenizar os problemas que a incompletude e a

dificuldade de processamento de informação causam, as instituições também

ajudam na diminuição dos custos de transação referentes à mensuração e ao

enforcement, sobretudo quando o número de atores envolvidos e suas interações

tornam os custos não desprezíveis.

A partir do momento que a matriz institucional de uma sociedade em um

determinado tempo é constituída de regras formais e informais, bem como pelas

instituições que garantem a aplicação (enforcement) dessas regras – em razão

das restrições comportamentais informais – ela é path dependent. Isto porque são

estas que, em última instância, dão legitimidade às regras formais e estão sujeitas

a um processo muito mais gradual de evolução, visto implicarem rendimentos

decrescentes. Quanto menores às restrições à corrupção, por exemplo, mais

provável é que muitas das instituições existentes adotem essas práticas e maior

será o incentivo para que venham a se tornar corruptas.

Relativo à segurança dos alimentos, o mais importante que copiar leis e

normas internacionais é garantir a aplicação desse aparato legal (enforcement), o

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que demanda não só fiscalização do governo, mas também o comprometimento

de todos agentes envolvidos, em particular por meio de um fortalecimento das

relações institucionais entre consumidores e firmas. Por exemplo, muitos grandes

supermercados já vendem alimentos in natura e industrializados básicos

embalados com sua marca (Ex: Carrefour, Pão de Açúcar, entre outros), como

forma de assegurar ao consumidor uma imagem de qualidade do produto.

Há um debate não conclusivo sobre a dicotomia entre organizações e

instituições. Alguns autores consideram as organizações como instituições

(WILLIAMSON, 1985; DAVIDSOM, 1996), enquanto outros entendem que as

organizações só podem ser assim consideradas em casos particulares

(HODGSON, 1998). Diferentemente desses dois posicionamentos outros autores

defendem que as instituições são as “regras do jogo” enquanto as organizações

são os “jogadores” (NORTH, 1990).

Portanto, para North (1990) as organizações são constituídas por grupos de

indivíduos limitados por algum propósito comum para realizar determinados

objetivos.

“as organizações incluem corpos políticos (partidos políticos, o Senado, a Câmara Municipal, agências regulatórias), corpos econômicos (as firmas, os sindicatos, as fazendas, as cooperativas), corpos sociais (igrejas, clubes, associações atléticas) e corpos educacionais (escolas, Universidades, centros de treinamento vocacionais) (p.5).

As instituições abrangem um conjunto amplo e heterogêneo de estrutura de

interações humanas, enquanto que, as organizações, representam um sub-

conjunto, envolvido e influenciado pelo/sobre o ambiente institucional mais amplo.

De outro ponto de vista, as instituições e a estrutura institucional que emergem na

sociedade funcionam como a regra do jogo que define o modo como o jogo é

jogado. As organizações ao equiparadas às equipes que – participando do jogo –

buscam (combinando habilidades, estratégias e coordenação) ganhá-lo (BELIK, et

al, 2007).

Conforme afirma North (1990):

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A resposta depende da diferença entre instituições e organizações e a interação entre elas, que formam a direção da mudança institucional. As instituições, junto com os constrangimentos padrões da teoria econômica, determinam as oportunidades numa sociedade. As organizações ao criadas para tomar vantagens daquelas oportunidades e, à medida que as instituições evoluem, elas alteram as instituições (p.7).

Saes (2005) apresenta uma figura (adaptada de Williamson, 1986) de um

esquema integrado das relações entre ambiente institucional, organizações e

indivíduos (Figura 2). Ainda, afirma a autora que tanto o ambiente institucional

como o dos indivíduos apresentam-se como restrições ou conjunto de

oportunidades para o desenvolvimento das organizações. No ambiente

institucional se encontra o conjunto de regras que determinam as formas

organizacionais (a) por meio de ações determinadas pelo comportamento dos

indivíduos (c). As ações estratégicas realizadas pelas organizações são admitidas

como efeito secundário sobre o ambiente institucional e indivíduos (b) e (d).

Para a autora, as organizações são grupos de indivíduos que têm

interesses comuns, julgam que as ações individuais desorganizadas são menos

eficientes que a ação coletiva destinada a contemplar seus interesses e atuam,

sob certas circunstancias, de maneira coordenada (SAES, 2005).

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Figura 2. Esquema de três níveis de Williamson

Fonte: Saes (2005)

Em seu trabalho de dissertação, Vasconcelos (2009) analisando as

instituições e organizações, demonstra que:

As organizações afetam o grau de cooperação e coordenação, que por sua vez, impacta a produtividade, o crescimento econômico depende da formação de uma estrutura institucional que possa criar e sustentar o tipo de organizações necessárias para cooperação entre os indivíduos. Mas a relação causal entre as instituições e organizações opera em ambos os sentidos. Analisa ainda o autor que, se por um lado, certas estruturas institucionais dão suporte para determinados tipos de organizações, enquanto para outros tipos não; por outro, os dirigentes à frente das organizações, percebendo novas oportunidades, induzirão (ou tentarão induzir) a mudança institucional, alterando (ou tentando alterar) as normas legais, através da influencia no processo legislativo ou na aplicação das regras. As mudanças ocorrem porque os agentes percebem que a reestruturação das trocas pode trazer benefícios. Esta percepção pode ocorrer a fatores exógenos, como a mudança de preços ou qualidade de um produto estrangeiro concorrente, por exemplo. Mas a fonte mais efetiva de crescimento de longo prazo é o aprendizado dos indivíduos e das organizações (p.28-29).

Atribui-se o novo marco teórico sobre institucionalismo com o artigo de

Ronald Coase, em 1937, intitulado “The Nature of the Firm”, complementada pelo

artigo “The problem of social cost (1960), o qual sugeriu uma interpretação da

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firma distinta da visão sustentada pela economia neoclássica, para a qual a firma

constituía unicamente uma função de produção, visto que Coase estava

preocupado com as organizações do mundo real. A firma foi definida como um

mecanismo alternativo de coordenação das atividades econômicas, assim como o

mercado. Em seu argumento, firma e mercado concorreriam entre si como

instituições de coordenação e governança das atividades econômicas, e a opção

por uma ou outra estrutura estaria subordinada à ocorrência de custos de

transações inerentes a cada estrutura, prevalecendo, naturalmente, aquela que

apresentasse menores custos de transação. Coase reconhece que os mercados

não funcionavam a custo zero, tampouco a organização interna da firma era

desprovida de custos. A sua preocupação foi, continuamente, de chamar a

atenção dos economistas para os fenômenos do mundo real e para o rico

laboratório vivo do mundo das organizações, que estavam à espera de estudo

cuidadoso (ZYLBERSZTAJN, 2005).

O trabalho de Coase foi o pioneiro em definir a noção de custos de

transação, quais sejam, os custos para se descobrir os preços vigentes no

mercado (ou custos de coleta de informações) e custos de negociação e

estabelecimento de contratos. Todavia, o autor não definiu critérios que

permitissem a mensuração destes custos, inviabilizando a validação ou refutação

de seu argumento, dada a não-possibilidade de se proceder uma comparação

entre distintas estruturas de governança.

North (1990) adota as concepções de Coase (1937), segundo o qual os

custos de transação surgem por conta dos custos em se obter informações a

respeito das unidades transacionadas, que consistem no custo de mensuração

dos atributos das unidades ou no custo de aplicação (enforcement) dos contratos

envolvidos na transação. A necessidade de obter a informação sobre o nível dos

atributos individuais de cada unidade transacionada é que dá origem aos custos

de mensuração. Em razão do alto custo para obtenção dessas informações,

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dificilmente a mensuração de todos os atributos envolvidos na transação è

completa ou totalmente precisa (VASCONCELOS, 2009).

Se os bens e serviços fossem homogêneos e a informação estivesse

disponível a todos os agentes, não haveria nenhum problema, pois estes seriam

perfeitos e abarcariam todos os aspectos relevantes de uma transação.

Entretanto, a partir do momento em que há custos de mensuração do nível dos

atributos dos bens e serviços e as informações relacionadas são imperfeitas,

surgem os custos de aplicação do contrato (VASCONCELOS, 2009).

No ponto de vista de Fiani (2002), os custos de transação são aqueles com

os quais os agentes se defrontam toda vez que necessitam recorrer ao mercado, e

estes custos seriam do modo mais formal, os custos de negociar, redigir e garantir

que um contrato será cumprido.

Arrow (1999) define os custos de transação como aqueles necessários para

colocar o sistema econômico em funcionamento. Uma comparação entre a ciência

econômica e a física foi realizada por Williamson (1985), que afirma que a análise

da economia sem os custos de transação é similar aos estudos dos modelos da

física onde se pressupõe a ausência de atrito: “transaction costs are the

econômica equivalent of friction in physical systems”.

Furubotn & Richter (2000), argumentam que os custos de transação

surgem, em parte, devido ao fato dos agentes não disporem de plena informação

para tomarem decisões. Assim, dois são os pressupostos básicos que sustentam

a teoria dos custos de transação: a) assimetria de informação e o oportunismo

presente nas ações dos agentes econômicos pré e pós-contratuais; e b)

racionalidade limitada dos agentes econômicos – tais pressupostos a respeito da

competência cognitiva dos agentes econômicos e das suas motivações implicam

nos custos de transação, observados nas relações interfirmas.

Nas negociações contratuais pode haver possibilidades de atuações

oportunistas de uma das partes em detrimento da outra. Em um ambiente

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complexo e incerto, combinado com assimetria e incompletude das informações

com racionalidade limitada, torna difícil definir e distinguir os desempenhos e

resultados de uma transação. Informações assimétricas se referem à situação na

qual o comprador e o vendedor possuem informações diferentes sobre uma

transação. Na verdade, a assimetria não se refere apenas, e nem

necessariamente, a posse de “quantidade” de informação, pelos diversos agentes,

mas também ao uso da mesma informação que está igualmente disponível para

todos. Ocorre, como se sabe que a informação não se confunde com dado bruto,

com a estatística, pois incorpora interpretação e análise, cuja capacidade não é

homogênea e varia entre os agentes. Por isso, assimetria está associada tanto à

disponibilidade como à capacidade de apropriação das informações (PINDYCK &

RUBINFEL, 2006).

A assimetria de informação atuará no sentido de favorecer uma das partes

em detrimento à outra, de modo a alterar o resultado final da transação. Ou seja,

uma das partes da relação contratual tem mais informações que a outra

(ARKELOF, 1970).

Nos trabalhos precursores da Teoria da Assimetria de Informação e dos

Mercados da Informação Assimétrica, Arkelof (1970), Spence (1973), e Rothschild

e Stiglitz (1976) analisaram, sob diferentes arranjos, as conseqüências alocativas

de transações realizadas por agentes que detém diferentes níveis de informações

sobre o bem transacionado. Os autores evidenciaram, empiricamente, que os

mercados são imperfeitos porque seus atores não possuem as mesmas condições

de processar, interpretar e utilizar informações mesmo que as informações sejam

de domínio coletivo.

Devido à existência de informação assimétrica no setor de alimentos, há

uma demanda, principalmente por parte dos consumidores, por mecanismos que

reduzam as incertezas da qualidade dos produtos alimentares. Nesse contexto,

surgem mecanismos organizacionais de garantia de qualidade para suprir essa

necessidade. E, uma das conseqüências da informação assimétrica é que

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produtos de qualidade distintas são vendidos ao mesmo preço, porque

compradores não são suficientemente informados para determinar a qualidade

real do produto na momento da compra. Assim, aqueles fornecedores que

possuem produtos de alta qualidade são motivados a mostrar aos consumidores

que seus produtos são realmente de qualidade, e o fazem através da adoção de

mecanismos organizacionais, tais como a padronização, certificação,

rastreabilidade, rotulagem, entre outros.

No presente estudo, sobre a segurança dos alimentos, a racionalidade

limitada impõe que os consumidores não apenas não conhecem o processo de

produção e armazenamento dos alimentos que consomem, mas também que

respondem a isso por meio de hábitos de compra que se perpetuam no tempo

(pocket rules)20. Especificar a inevitabilidade da informação imperfeita devido à

limitações de cognição etc. E a esta se soma a safadeza. Nesse sentido, as

políticas de informação do consumidor devem focar nesses hábitos. Para

alimentos in natura, o consumidor costuma se guiar exclusivamente pelo preço e

custo de transporte (mecanismos de mercado), enquanto para industrializados a

propaganda e a facilidade de preparo/conservação pesam mais em sua decisão.

Assim, tipos diferentes de alimentos demandam formas diferentes de incrementar

a informação do consumidor.

Williamson (1985) define oportunismo como “procurar seus próprios

interesses com avidez”, incluindo comportamentos como mentira e trapaça, como

formas sutis de enganar. O oportunismo traz problema na medida em que um

20 As informações incorretas ou enganosas nos rótulos, a grande quantidade de alimentos de alto risco sem inspeção sanitária, como as carnes, o leite e seus derivados, e a falta ou inadequação de programas específicos de monitoramento de resíduos de drogas veterinárias e agrotóxicos são os principais problemas na área de segurança dos alimentos. Dezenas de amostras de leite pasteurizado com resíduos de agrotóxicos são encontrados nas prateleiras dos supermercados, 44,9% do pão de queijo comercializado em Minas Gerais são contaminados com Staphylococcus aureus acima do limite permitido, 11,8% das carnes preparadas em restaurantes industriais são contaminadas com Staphylococcus aureus no Rio de Janeiro, 30% do queijo fatiado e manipulado em supermercados são contaminados com Staphylococcus aureus e coliformes fecais em desacordo com a legislação em vigor e 30% dos files de frango com salmonela., segundo dados do Idec (Fonte: Disponível em: <www.idec.org.br>. Acesso em: 15jan2009)

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relacionamento é sustentado por ativos específicos, cujos valores estão limitados

fora do relacionamento central. Tem por objetivo o ativo especifico criar

salvaguarda. Diante da incerteza e da assimetria de informação ou informação

incompleta, aumentam os custos de transação, devido à implicação de custos

associados às salvaguardas contratuais e aos mecanismos de controle de

monitoramento.

Segundo Fiani (2003), o ponto de partida da questão dos mercados pela

teoria dos custos de transação é o reconhecimento, a partir dos trabalhos de

Simon, de que o comportamento humano, ainda que intencionalmente racional,

enfrenta limitações. Essas limitações possuem fundamentos neurofisiológicos (que

restringem a capacidade humana de acumular e processar informações) e de

linguagem (que restringem a capacidade de transmitir informações). Um

comportamento é racional, no sentido procedural21, quando “é o resultado de uma

decisão apropriada” (SIMON, 1976)22

Nesse sentido, se a racionalidade humana fosse ilimitada, as cláusulas

contratuais poderiam antecipar acontecimentos futuros, ou mesmo em presença

de racionalidade limitada, em que o ambiente onde ocorra as transações seja

simples, a especificação dos direitos de propriedade não envolveria qualquer tipo

de custo adicional. Assim, a racionalidade limitada somente torna um conceito

relevante para a análise dos custos de transação em condições de complexidade

e incerteza. Em ambientes simples, mesmo com racionalidade limitada, não

oferecem dificuldades, porque as restrições de racionalidade dos agentes não são

atingidas. Em ambientes complexos, a descrição das decisões pode se tornar

21 o agente é racional sim, mas limitado pela própria imperfeição de seus modelos mentais, a qual ele só perceberá por meio de um contínuo processo de atualização de informações, mas por mais que ele mude de trajetória ele jamais poderá “anular” o efeito das decisões anteriores, tal qual os neoclássicos acreditam. 22 Para Simon (1979) as decisões são mais que simples proposições factuais; são descrições que podem ser verdadeiras ou falsas (empiricamente), de um futuro estado de coisas. Mas possuem também uma qualidade imperativa, pois selecionam um estado de coisas futuras em detrimento de outro e orientam o comportamento em direção à alternativa escolhida. Ou seja, possuem ao mesmo tempo um conteúdo factual e um conteúdo ético (preferência moral por uma opção ao invés de outra; função da ética consiste em selecionar termos imperativos, ou seja, sentenças “dever ser”).

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custosa, impedindo os agentes de especificarem, antecipadamente o que deveria

ser feito a cada circunstância (FIANI, 2003).

O pressuposto da racionalidade ilimitada com a presença de simetria de

informação adotado pela teoria ortodoxa foi questionado, uma vez que os seres

humanos são limitados quanto à capacidade de acumular e processar informações

assim como transmiti-las. Dessa forma, os contratos estabelecidos são

necessariamente incompletos, em razão da impossibilidade de prever

acontecimentos futuros (ZILBERSZTAJN & SZTAJN, 2005).

Conforme análise de Vasconcelos (2009) sobre os ensinamentos de North

aponta que o estoque de conhecimento foi a fonte primordial da elevação do bem-

estar da humanidade. Este estoque se expande sem que se altere a estrutura de

incentivos da sociedade, que é constituída pelo arcabouço institucional existente.

E a incerteza pode ser reduzida também pelo arcabouço institucional que promove

a mudança da estrutura de incentivos predominantes. A mudança institucional

altera os incentivos para a realização de atividades cooperativas, para a busca da

inovação, para os investimentos em capital humano e muda os custos de

transação dos mercados.

Diante das incertezas e complexidades do mundo econômico, de um lado, e

da presença de gaps de informação e competência (DOSI, 1988), por outro, a

racionalidade dos indivíduos se desloca dos objetivos em si (por exemplo, racional

é a firma que maximiza lucros) para as ações (meios) efetivadas para a

consecução de metas – genéricas ou não estabelecidas.

Assim, o conjunto de escolhas não é mais parâmetro (dado) do problema,

mas sim uma variável: a questão é como construir um conjunto de escolhas, a se

atingido ao longo do tempo, e implantar um corpo de rotinas que assegure a

existência de um processo de aprendizagem compatível com a obtenção de

“níveis de satisfação aceitáveis” no tempo (GAFFARD, 1990). Portanto, a

racionalidade procedural, está sujeita ao processo que apóia o comportamento do

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agente econômico, neste sentido a ênfase é deslocada da decisão em si para o

processo que a conduz, dentro de um enfoque de conhecimento.

Limitada a racionalidade, os agentes econômicos são incapazes de

antecipadamente prever e estabelecer medidas corretivas para qualquer evento

que possa ocorrer quando da futura realização da transação, de modo que as

partes envolvidas devem levar em conta as dificuldades derivadas da

compatibilização das suas condutas futuras e de garantir os compromissos sejam

honrados dentro da continuidade da sua interação.

Segundo Simon (1979) não se pode determinar a priori se determinado

acontecimento é falso ou verdadeiro (é aqui que o julgamento entra em cena). A

tomada de decisões requer escolher continuamente premissas factuais, cuja

veracidade ou falsidade não é conhecida claramente e nem pode ser determinada

com segurança à luz das informações e do tempo disponível (no momento da

decisão).

Os elementos teóricos da NEI conformam um marco teórico apropriado

para explicar a complexidade (não no sentido negativo, mas sim, decorrente da

própria natureza das instituições formais e informais, conforme já salientado

anteriormente) do ambiente institucional nacional e internacional referente à

regulamentação da inocuidade e garantia da qualidade dos alimentos. Nesse

sentido, é necessário analisar o significado da racionalidade limitada e assimetria

de informação na questão da segurança dos alimentos. Estes eventos têm

fortalecido a necessidade da atuação cada vez maior do Estado, uma vez que o

consumidor individual não tem força para que seja eficaz a segurança dos

alimentos, criando um aparato regulatório cada vez mais complexo para garantir o

alimento seguro. Evidencia-se ainda, que o Estado também falha, pois não tem

capacidade de resolver todas as questões sobre a segurança dos alimentos, tendo

em vista a sua racionalidade limitada e por possuir informação imperfeita.

Outro fator destacado na fundamentação do marco teórico utilizado são os

custos de transação. Como o ambiente é incerto, conseqüentemente, há uma

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necessidade maior de garantir a eficiência do aparato regulatório. Em decorrência,

o Estado e o mercado acabaram criando mecanismos organizacionais para

garantir a segurança do alimento. No entanto, apesar do Brasil ter adotado as

regras internacionais para alcançar esse objetivo, o aparato legal cada vez esta se

tornando mais extenso e complexo para atender a todas as demandas,

impactando no aumento dos custos de transação, conforme apresentado pela

própria NEI e pela hipótese testada no presente estudo.

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CAPÍTULO 2. AMBIENTE INTITUCIONAL NA QUESTÃO DA SEGURANÇA DOS ALIMENTOS

AMBIENTE INSTITUCIONAL

A preocupação com a harmonização das regras não é recente, visto que a

partir da Revolução Industrial, cresceu a necessidade da utilização de normas que

permitissem a produção de peças intercambiáveis, em virtude da transformação

da produção artesanal em fabricação de grandes lotes com produção de escala,

passando a ser uma das bases das modernas sociedades industriais. A

importância da normalização para as empresas estava fundamentalmente

centrada nos diversos mercados nacionais, em que cada país desenvolvia o seu

conjunto de normas para orientar o seu mercado interno. Desta maneira, o seu

desenvolvimento acompanha o próprio desenvolvimento industrial das nações.

Com a globalização do comércio aumentou o fluxo de produtos entre os

países, implicando na criação de normas harmonizadas e uma maior participação

das empresas nos foros de normalização, que se conscientizam que estar

presente nos processos de elaboração das normas é vital para sua permanência

em um mercado cada vez mais competitivo, tanto em nível nacional como

internacional.

Pelo lado da demanda, também se verifica mudanças. Os consumidores

passaram a se organizar em associações, exigindo cada vez mais que os

produtos correspondam efetivamente ao valor que pagam, o que estimula a

criação de normas técnicas que sirvam de base para o relacionamento de

confiança entre produtores e consumidores.

Diante deste cenário, cresce a preocupação, por parte das autoridades

governamentais e da sociedade, com as questões relativas à qualidade e à

segurança dos alimentos e ao longo dos anos se desenvolveram tanto instituições

formais como informais, nos âmbitos nacionais e internacional, definindo normas,

práticas, atitudes e crenças visando a garantia da qualidade dos produtos.

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Segundo Spers (2003), a tendência futura é a formulação de normas que

definem a rotulagem (atualmente a mais discutida é referente aos alimentos que

contém em sua manipulação organismos geneticamente modificado), limites

máximos e mínimos de vitaminas e minerais, uso de aditivos, presença de

resíduos e contaminantes, estrutura de fiscalização, criação de agências

reguladoras e instauração de processos judiciais.

No âmbito internacional, a segurança alimentar é preconizada

principalmente pela Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização

Mundial da Saúde (OMS), e integrada a elas a Organização das Nações Unidas

para Agricultura e Alimentos (FAO) Figura 3.

Figura 3: Organizações referentes à segurança dos alimentos

Fonte: SPERS (2003)

E no âmbito nacional, o Ministério da Saúde (MS), da Agricultura e

Abastecimento (MAPA), Ministério da Justiça, entre outros, e o Instituto Brasileiro

de Defesa do Consumidor (IDEC) são os órgãos responsáveis.

Um passo necessário para tratar do tema da qualidade e segurança dos

alimentos é a definição de padrões, sem o que é impossível avaliar a

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conformidade e orientar produtores e consumidores para o objetivo comum de

produzir/consumir alimentos seguros. Como o comércio internacional de alimentos

é relevante desde o século XIX, a regulamentação de padrões – existentes em

variados graus em cada país – para ser eficaz, precisa operar em âmbito

internacional. Neste sentido a OMS e FAO, lançaram em 1962, o Codex

Alimentarius, cujo objetivo é determinar padrões mínimos para os alimentos a fim

de proteger o consumidor e fornecer uma rede de trabalho para facilitar o

comércio justo através das fronteiras internacionais, e garantir a segurança do

alimento.

No Brasil (âmbito nacional), as normas da Constituição Federal (CF) (1988),

em diversos dispositivos apresentam elementos voltados para a garantia do

alimento saudável; a CF aborda as necessidades dos consumidores e do respeito

à sua dignidade, saúde e segurança, proteção dos seus interesses econômicos, a

melhoria da sua qualidade de vida e melhoria da educação. Em seu conjunto,

procura proteger as partes mais vulneráveis no mercado e promover a informação

quanto aos direitos e deveres dos fornecedores e consumidores.

Assim, a Carta Magna determina que “o Estado promoverá, na forma da lei

a defesa do consumidor”. Delegou ainda, à União, aos Estados e ao Distrito

Federal a competência legislativa concorrente sobre a produção e consumo e

responsabilidade por dano ao consumidor. Nas Disposições Transitórias, dispôs

que “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da

justiça social, observados os princípios, dentre eles, a defesa do consumidor”.

O presente capítulo tem por objetivo apresentar esse ambiente institucional

e a atuação das instituições para garantir a segurança dos alimentos, no âmbito

internacional e nacional, uma vez que é um tema que cada dia mais tem

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importância para o desenvolvimento econômico e a competitividade das

empresas23.

ÂMBITO INTERNACIONAL

Preocupações e regras relacionadas a padrões de qualidade dos alimentos

e bebidas acompanharam a evolução do comércio internacional. Os ingleses, por

exemplo, definiram ainda no século XIV, padrões para o vinho do Porto, assim

como os comerciantes portugueses o fizeram para o bacalhau. Em 1943, tomou-

se a decisão de se estabelecer um programa internacional de normalização em

alimentos, quando 44 países reuniram-se na Conferência das Nações Unidas

sobre Agricultura e Alimentos.

Em 1945, foi fundado um organismo internacional para “auxiliar os governos

a elaborar e melhorar normas para conteúdo de nutrientes de todos os alimentos

importantes” e para considerar “a formulação e adoção de normas internacionais

similares para facilitar e proteger o intercâmbio de tais produtos entre os países” –

denominado Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação -

FAO.

Em 1948, foi criada a Organização Mundial da Saúde – OMS, com objetivo

de resguardar a saúde humana, em particular, para estabelecer normas para

segurança dos alimentos (MARTINELLI, 2003).

Em 1995, foi criada a Organização Mundial do Comércio (OMC), como um

dos mais importantes resultados da rodada de negociações do General

Agreement on Trade and Tarifs (GATT), realizada no Uruguai entre 1986 e 1994.

Ela apresenta um sistema de resolução de controvérsias de grande eficácia e

atividade.

23 A gestão da qualidade adquire relevância a partir do momento que ela gera custos, embora não ser muito facilmente mensurável, mas que afeta diretamente a rentabilidade das empresas, conforme aponta Spers (2003).

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Embora essas organizações tenham atribuídas outras funções, formam o

tripé sobre a qual está assentada a formulação para regulamentação internacional

da qualidade e segurança dos alimentos (privada e do comércio).

1.1.1 As Organizações Internacionais: OMC, OMS e FAO

Organização Mundial do Comércio (OMC)

A OMC foi fundada em 1995, conta com 145 Países Membros e está

sediada em Genebra, na Suíça. A OMC tem sido utilizada para promover uma

extensa série de políticas relativas ao comércio, investimentos e

desregulamentações que exacerbam a desigualdade entre o Norte e o Sul, e entre

os ricos e pobres dentro dos países. Executa cerca de vinte acordos comerciais

diferentes, inclusive o General Agreement on Trade in Services - GATT, o Acordo

sobre Agricultura (AoA) e Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual

relacionados ao Comércio (Trade-Related Intellectual Property Rights – TRIPS).

A OMC sucedeu ao GATT24 na regulação do comércio mundial, tendo sido

o principal resultado da Rodada Uruguai. Ainda que ela não seja imune às

pressões advindas dos principais atores internacionais, sua existência é de vital

importância para países como o Brasil que dependem de um sistema de normas

para defender seus interesses. Os países em desenvolvimento são hoje a grande

maioria dos Membros desta Organização e cabe a eles tentar fazer valer os seus

interesses, já que as decisões na OMC são tomadas por consenso.

Para a vigilância do cumprimento das normas contidas nos vários acordos

que regem o sistema multilateral de comércio, a OMC conta com um poderoso

instrumento importante: Entendimento para Solução de Controvérsias. O Brasil

mesmo já obteve várias vitórias no Órgão de Solução de Controvérsias da OMC,

24 Há uma distinção que se faz necessária entre o GATT e a OMC. O primeiro, cuja origem remonta o período subseqüente a Conferência de Bretton Woods em 1948, faz parte do projeto de liberalização econômica do comércio internacional, é um acordo entre partes contratantes (Estados). Já a segunda, é uma organização, que por sua vez, possui personalidade jurídica e é constituída por membros. A estrutura legal da OMC engloba as regras estabelecidas pelo antigo GATT, as modificações efetuadas ao longo dos anos e os resultados das negociações passadas de liberalização do comércio.

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como no caso do painel da gasolina, contra os Estados Unidos, e os mais

recentes painéis do açúcar contra a Comunidade Européia e do algodão contra os

Estados Unidos.

Diante da preocupação dos países adotarem medidas protecionistas e

restritivas ao comércio internacional, foram criados dois acordos específicos no

âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC ou em inglês WTO – World

Trade Organization), concluídos em Marraqueche, em 1994. Estes acordos tinham

por finalidade limitar o estabelecimento de barreiras às trocas comerciais, com

base em qualquer tipo de discriminação ou defesa de interesses políticos. Foram

eles: o Acordo sobre a aplicação das medidas sanitárias e fitossanitárias (Acordo

SPS – Agreement on the Aplication of Sanitary and Phytosanitary Measures) e o

Acordo sobre os obstáculos técnicos de comércio Acordo TBT – Agreement on

Technical Barriers to Trade).

A partir desse momento, a preocupação com a eliminação das barreiras

tarifárias passou a perder espaço para novos temas, como meio ambiente,

agricultura, têxteis, propriedade intelectual, barreiras técnicas (dentre as quais as

sanitárias e fitossanitárias), aumentando a complexidade das controvérsias

comerciais. É nesse pano de fundo que o princípio de precaução será situado,

fomentando o confronto entre sua acepção diante do direito ambiental

internacional e de seu status perante as normas do comércio multilateral, adotado

no Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT)25.

O TBT e seus termos devem ser interpretados levando-se em conta o

sistema das Nações Unidas e as regras padrões internacionais. Vale para bens

industriais e agrícolas. É importante notar que, apesar do TBT ser genérico e

clamar por uma interpretação subsidiária ao SPS26, denota a sensibilidade de

25 Agreement on Technical Barriers to Trade (TBT) 26 O Acordo abarca a proteção da saúde humana, animal e vegetal, da segurança alimentar e ainda de possíveis medidas regulatórias neste sentido. Faculta aos membros a adoção de tais medidas, desde que cientificamente fundamentadas, no intuito de evitar o surgimento de barreiras desnecessárias e injustificáveis ao comércio.

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temas que perpassam o viés ambiental e, portanto, a possibilidade de adoção de

medidas de precaução.

Neste sentido vale notar o artigo 2.2 do TBT, que assim diz:

Os membros devem assegurar que as regulações técnicas não sejam

preparadas, adotadas ou aplicadas de maneira a, ou com o efeito de

criarem obstáculos desnecessários ao comércio internacional. Para esse

propósito, as regulações técnicas não devem ser mais restritivas ao

comércio do que o necessário para atingir um objetivo legítimo, levando-

se em conta os riscos que o não preenchimento pode criar. Esses

objetivos legítimos podem ser, inter alia: requerimentos de segurança

nacional, a prevenção de práticas enganosas; proteção da saúde ou

segurança humana, vida e saúde animal e vegetal ou o meio ambiente.

Na verificação dos riscos, são relevantes elementos a serem

considerados, inter alia: as informações técnicas e científicas disponíveis,

tecnologias de processamento e a destinação final de produtos

O tratamento dado ao princípio de precaução em disputas comerciais, o

que se impõe é que sejam ponderados assuntos correlatos, como posicionamento

científico minoritário, necessidade de verificação de risco e justificação científica

para aplicar uma medida sanitária e fitossanitária, e a possibilidade de adoção de

padrões mais restritivos que os internacionalmente aceitos.

Do princípio da precaução decorrem alguns efeitos nas relações

internacionais do comércio, a saber: a) qualquer medida deve ser

obrigatoriamente aplicada com o intuito de proteger a vida ou a saúde humana,

animal e vegetal; b) a medida não deve visar objetivos que vão além dessa

proteção; c) deve haver justificação científica e suficiência de tais evidências; d)

quando tais evidências forem insuficientes e o membro tenha sérios motivos para

aplicar a medida, poderá fazê-lo provisionalmente, desde que proceda a

verificação de risco a fim de comprovar que a medida é realmente legítima.

Em fevereiro de 2009 a OMC começou a desenvolver um novo trabalho

sobre as normas privadas em matéria de inocuidade dos alimentos e medidas

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sanitárias, criando um Comitê de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (MSF) e o

Comitê de Obstáculos Técnicos ao Comércio27, tendo em vista os diversos

episódios sanitários recorrentes. E como resultados do trabalho desses Comitês,

foi criado um Fundo para a Aplicação de Normas e Fomento do Comércio

(FANFC)28, vinculado a OMC, OMS, Organização Mundial da Saúde Animal,

Banco Mundial e FAO.

Apesar de estarem trabalhando com as instituições privadas, a OMC atua

somente diretamente com os governos dos Estados Membros, para o

cumprimento dessas normas privadas, pois essas são facilitadoras do acesso ao

mercado, entretanto, não são normas para garantia de preços mais favoráveis.

Ainda, essas normas privadas são mais rígidas para o controle da inocuidade e

qualidade dos alimentos que as normas internacionais, uma vez que se baseiam

em critérios científicos.

Organização Mundial da Saúde (OMS)

A Organização Mundial da Saúde é uma instituição diretiva e coordenadora

de ações sanitárias, responsável para desempenhar uma função de liderança nos

assuntos relacionados à sanidade em todo o mundo. Tem por objetivo organizar

pesquisas em saúde, estabelecer normas, articular opções de políticas baseadas

na evidencia, prestar apoio técnico aos países.

Tem como função básica: liderar em questões críticas relacionadas à saúde

e participar em parcerias onde é necessária a atuação de uma ação conjunta;

determinar as linhas de investigação e estimular a produção, difusão e aplicação

dos conhecimentos; estabelecer normas e promover a sua aplicação prática;

formular opções de políticas que abordem os princípios éticos e com fundamento

científico; prestar apoio técnico, acelerar a mudança e criar uma capacidade

institucional duradoura; acompanhar a situação da saúde e avaliar as tendências.

27 Disponível: http://www.wto.org/spanish/news_s/news09_s/sps_25feb09_s.htm. Acesso: 20jun2009. 28 O Fundo tem doações do Japão, Canadá, Finlândia, Dinamarca, União Européia, Alemanha, Irlanda, Holanda, Suíça, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos.

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Em, 1963, a 16ª. Assembléia Mundial de Saúde reconhece a importância da

OMS em todos os aspectos de saúde relacionados com os alimentos e

considerando a sua responsabilidade em estabelecer normas alimentares,

aprovando o programa conjunto da FAO/OMS de Normalização Alimentar e

adotando os estatutos da Comissão do Codex Alimentarius.

Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO)

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO)

é o principal órgão das Nações Unidas que tem como responsabilidade cuida da

sanidade e inocuidade dos alimentos em todos os seus aspectos e em todas as

etapas de sua produção, da colheita, manipulação após colheita, armazenamento,

transporte, elaboração e a distribuição, com o objetivo de evitar as enfermidades

transmitidas aos alimentos, proteger os consumidores e promover práticas

apropriadas para o comércio de produtos alimentícios.

Fundada em 16 de Outubro de 1945, em Quebeque (Canadá), desde 1951,

a FAO está sediada em Roma (Itália). A instituição conduz atividades

internacionais com o objetivo de erradicar a fome. Tem atuação neutra a fim de

que os Estados Membros possam negociar acordos e debater políticas. Uma de

suas missões é apoiar os países em desenvolvimento a modernizar e melhorar

suas atividades agrícolas, florestais e pesqueiras. Composta por 8 departamentos:

Agricultura e Proteção do Consumidor; Desenvolvimento Econômico e Social;

Pesca e Aqüicultura; Florestal; Recursos Humanos, Financeiros e Físicos;

Conhecimento e Comunicação; Recursos Naturais e Meio Ambiente e Cooperação

Técnica29.

A FAO é uma rede de conhecimento que utiliza a experiência de diversos

profissionais, tais como, agrônomos, engenheiros florestais, cientistas sociais,

economistas, estatísticos e outros, para analisar e difundir informação que

favoreçam o desenvolvimento.

29 Atualmente possui 192 Estados Membros. Disponível em: http://www.fao.org/countryprofiles/ flags.asp?lang=es . Acesso em: 18jun2009.

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A Organização ajuda os países em desenvolvimento e os países em

transição a modernizar e melhorar suas atividades agrícolas, florestais e

pesqueiras, com o fim de assegurar uma boa alimentação para todos. Desde a

sua fundação dá atenção especial ao desenvolvimento das zonas rurais, onde

vivem 70% da população mundial pobre que tem problemas relacionados à fome.

Ainda, ajuda na cooperação técnica para melhorar a nutrição, aumentar a

produtividade agrícola, elevar o nível de vida da população rural e contribui para o

crescimento da economia mundial. Se uma comunidade deseja incrementar suas

colheitas, porém não tem condições técnicas, a FAO introduz técnicas e

instrumentos simples e sustentáveis. Presta assessoria jurídica aos países que

transformam seu regime de propriedade agrícola, para facilitação do processo.

A FAO possui uma estrutura descentralizada, com a introdução de oficinas

regionais, que tem por função a determinação, planejamento e execução geral das

atividades prioritárias da FAO nas regiões. Mantém uma abordagem

multidisciplinar para os programas, identificando as áreas prioritárias de ação, em

colaboração com os Departamentos e Divisões da sede, aconselhando a

incorporação destas prioridades no programa de trabalho e orçamento da

Organização. Os Escritórios Regionais também aprovam a implementação de

programas para a região, atendendo todo o processo e implementação.

CODEX ALIMENTARIUS

Com a criação da OMS e da FAO, houve uma melhoria das articulações

internacionais na formulação na questão da segurança dos alimentos, o que

favoreceu, em 1956, o estabelecimento do primeiro grupo de especialistas,

denominado Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives - JECFA, com

a atribuição de realizar avaliações toxicológicas de aditivos alimentares

(THOMSON & MESTZ, 1999).

Em 1961, o Conselho do Codex Alimetarius Europeu propôs a FAO e OMS

a adoção das normas alimentar desenvolvida pelo instituto. No mesmo ano que a

Conferência da FAO, com apoio da OMS, da Comissão Econômica para Europa

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(Economic Commission for Economic Cooperation and Development – OECD) e

do Conselho do Codex Alimentarius Europeu, estabelece o Codex Alimentarius

que culmina na criação de um programa internacional de regulamentação

alimentar.

O Codex Alimentarius30 é um programa conjunto da FAO e OMS que

estabelece normas de segurança para alimentos, com o objetivo de proteger a

saúde dos consumidores e garantir práticas eqüitativas no comércio de alimentos.

É um fórum intergovernamental que visa desenvolver normas internacionais para

alimentos, estabelecendo uma coordenação com todas as organizações

internacionais governamentais e não governamentais que atuam na área de

alimentos, com apoio dos centros de excelência que atuam em segmentos

específicos, incluindo-os nos trabalhos pertinentes. Os princípios do Codex não

têm efeito jurídico obrigatório sobre as legislações nacionais, mas na prática são

levados em conta no Acordo Sanitário e Fitossanitário (SPS) da OMC e podem ser

invocados em caso de litígio comercial.

O documento é uma coletânea de normas sobre a segurança dos alimentos

adotadas internacionalmente e apresentadas de modo uniforme. Inclui ainda

disposições de natureza consultiva na forma de códigos de práticas, diretrizes e

outras medidas recomendadas, destinadas a alcançar seus objetivos. Os

Princípios Gerais do Codex definem o âmbito de aplicação e a finalidade das

normas.

Tem como objetivo: proteger a saúde dos consumidores e assegurar as

práticas equitativas para o comércio de alimentos; promover a coordenação de

todos os trabalhos sobre as normas alimentares empregadas pelas organizações

internacionais, governamentais e não governamentais; determinar a ordem de

prioridades e iniciar os projetos de normas através de organizações apropriadas e

30 Do latim Lei ou Código dos Alimentos atual deriva do Codex Alimentarius Austriacos, que foi criado pelo Império Austro-Húngaro, entre 1897 e 1911. Este código foi a primeira regulamentação que desenvolveu uma coleção de normas e descrições de produtos para uma grande variedade de alimentos. Apesar de não ter força legal, era usada como referência nos tribunais.

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com sua ajuda; finalizar as normas elaboradas; atualizar as normas do Codex,

após o exame necessário e apropriado (FAO/OMS, 2005).

O Codex Alimentarius, em 2009, possui 182 membros (181 membros e uma

organização), aceitando a participação de observadores, entre outros, de

representantes da indústria, da academia e consumidores.

Possui uma estrutura de direção composta por três órgãos: a Comissão do

Codex Alimentarius, que é o órgão máximo do Programa, com representação de

todos os países membros, sendo a instância que aprova as normas Codex. Sua

direção é composta pelo Presidente e três vice-presidentes; uma Secretaria

FAO/OMS, que tem como finalidade fornecer o apoio operacional à Comissão e a

seus órgãos auxiliares em todo o procedimento de elaboração das normas; e um

Comitê Executivo, ao qual compete implementar as decisões da Comissão e atuar

em seu nome nos períodos entre suas reuniões. Possui, ainda, dois órgãos

assessores: JECFA (Grupo FAO/OMS de peritos sobre Aditivos e Contaminantes)

e o JMPR (Grupo FAO/OMS de peritos sobre Resíduos de Pesticidas).

A Comissão do Codex Alimentarius considera que tais códigos de práticas

poderiam ser utilizados como listas de verificação (checklists) de requisitos por

autoridades nacionais encarregadas do controle dos alimentos. Sua publicação

tem por objetivo orientar e promover a elaboração de definições e o

estabelecimento de requisitos aplicáveis aos alimentos, auxiliando a sua

uniformização e, conseqüentemente, facilitando o comércio internacional.

O âmbito de atuação o Programa é acompanhar a cadeia de alimentos,

desde a produção primária até o consumidor final, estabelecendo as normas

necessárias para a produção de alimentos seguros e adequados para o consumo

com a higiene necessária.

As normas Codex se baseiam em conhecimentos científicos e para isto são

utilizadas as avaliações dos organismos de especialistas da FAO e da OMS como

o JECFA (Joint Expert Committee on Food Additives) - Comitê Conjunto de

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Especialistas FAO/OMS sobre Aditivos Alimentares, o JMPR (Joint Meeting on

Pesticides Residues) - Reunião Conjunta FAO/OMS sobre Resíduos de Pesticidas

- e o JEMRA (Joint Expert Committee on Microbiological Risk Assessment) -

Comitê Conjunto FAO/OMS sobre Avaliação de Riscos Microbiológicos -, além de

consultas técnicas com especialistas sobre os temas novos que surgirem. É o

caso de alimentos derivados da biotecnologia, que demandou várias consultas de

especialistas, com vistas a assessorar as duas organizações (FAO e OMS), bem

como a Força Tarefa do Codex dedicada ao tema (MARTINELLI, 2003). Foi

utilizado como elemento fundamental o conceito de Análise de Risco, tanto pelos

países membros como pela Comissão e seus órgãos auxiliares na elaboração da

regulamentação, identificando métodos mais eficazes para segurança dos

alimentos e introduzindo medidas de controle mais apropriadas.

Após a criação da OMC foi alterado o caráter de não obrigatoriedade e as

normas do Codex Alimentarius assumiu status de obrigatoriedade. Essa mudança

se deu em função do que foi estabelecido como referência no âmbito do Acordo

sobre Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da OMC. Ou seja, as

normas do Codex passam a ser reconhecidas por atender os requisitos do Acordo,

ou seja, a não discriminação, elaboração com base em sólidos fundamentos

científicos e não utilização como barreiras injustificadas ao comércio.

Assim, as normas do Codex são utilizadas nos contenciosos que possam

eventualmente acontecer no comércio internacional de alimentos, como

fundamento para as soluções dos litígios entre os países que tiverem sua

produção realizada conforme os preceitos da norma, enfrentando menos barreiras

no comércio internacional de alimentos.

A Comissão do Codex adotou Princípios e Diretrizes sobre os alimentos

obtidos através de engenharia genética em sua 26ª Sessão em 2003. São

princípios de alcance geral sobre as análises de risco dos alimentos obtidos por

biotecnologias modernas e diretrizes para contínua avaliação da inocuidade dos

alimentos obtidos de plantas e microorganismos por transgenia. Os Princípios têm

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por objetivo oferecer um marco para a realização de análises de risco com relação

aos aspectos nutricionais e de inocuidade dos alimentos transgênicos, e que estes

devem estar de acordo com os Princípios de Aplicação Prática do Codex para

Análise de Riscos.

Há também diretrizes do Codex para produção, elaboração, rotulagem e

comercialização de alimentos orgânicos. Estas diretrizes têm por finalidade: a)

proteger os consumidores contra informações enganosas e fraudes no mercado, e

contra declarações de propriedades não demonstradas; b) proteger os produtores

de orgânicos contra falsas descrições de outros produtos agrícolas que sejam

apresentados como orgânicos; c) assegurar que todas as fases da produção,

preparação, armazenamento, transporte e comercialização estejam sujeitas a

inspeção e que cumpram as diretrizes; d) harmonizar as disposições para a

produção, certificação, identificação e rotulagem de produtos de origem orgânica;

e) proporcionar diretrizes internacionais para o sistema de controle de alimentos

orgânicos, com objetivo de facilitar o reconhecimento de sistemas nacionais como

equivalentes para efeito de importação e f) manter e melhorar os sistemas de

agricultura orgânica em cada país para que contribuam para sua preservação em

âmbito nacional e mundial.

É direito das pessoas terem a expectativa de que os alimentos que

consomem sejam seguros e adequados para consumo. As doenças e os danos

provocados por alimentos são, na melhor das hipóteses, desagradáveis, e, na pior

das hipóteses, fatais. Há também outras conseqüências. Os surtos de doenças

transmitidas por alimentos podem prejudicar o comércio e o turismo, gerando

perdas econômicas, desemprego e conflitos. Alimentos deteriorados causam

desperdício e aumento de custos, afetando de forma adversa o comércio e a

confiança do consumidor.

O comércio internacional de alimentos e as viagens internacionais estão

aumentando dia a dia. Os resultados são importantes benefícios sócio-

econômicos, mas também a disseminação de doenças ao redor do mundo. Nas

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últimas décadas, os hábitos alimentares têm passado por mudanças em muitos

países, acarretando o desenvolvimento de novas técnicas de produção,

preparação e distribuição de alimentos. Portanto, um controle eficaz de higiene

tornou-se imprescindível para se evitar conseqüências prejudiciais decorrentes de

doenças e danos provocados pelos alimentos à saúde humana e à economia.

Todos – agricultores, fabricantes e processadores, manipuladores de alimentos e

consumidores – têm a responsabilidade de garantir que o alimento seja seguro e

adequado para consumo.

Os Princípios Gerais adotados pelo Codex Alimentarius estabelecem uma

base sólida para garantir a higiene dos alimentos e, quando apropriado, devem ser

usados em conjunto com os códigos de práticas de higiene específicos e com as

diretrizes sobre critérios microbiológicos. O documento acompanha a cadeia de

alimentos desde a produção primária até o consumidor final, destacando os

controles de higiene fundamentais em cada etapa. Recomenda, sempre que

possível, a adoção de um enfoque baseado no Sistema ACCPP para aumentar

segurança dos alimentos, conforme descrito no Sistema de Análise de Perigos e

Pontos Críticos de Controle (ACCPP).

Nas últimas quatro décadas, a Comissão do Codex Alimentarius tem

assumido a tarefa de disciplinar o comércio internacional em matéria de identidade

e qualidade sanitária dos alimentos, procurando fortalecer o comércio

internacional de produtos alimentícios, proteger a saúde dos consumidores e

assegurar práticas leais no comércio de alimentos.

A década de 90 constituiu um marco para o Codex, pois foi reconhecido

como referência internacional pela OMC, tornando-se elemento-chave para dirimir

as controvérsias de ordem sanitária, atinentes ao comércio mundial de alimentos.

Foi onde se iniciou o processo de desenvolvimento de um método capaz de lidar

com os riscos à saúde pública veiculados por alimentos.

Codex Alimentarius no Brasil

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O Brasil se tornou membro do Codex em 1970, em função da

recomendação da FAO de que os países membros deveriam uniformizar suas

normas sobre segurança dos alimentos. Entretanto, somente em 1980 que o país

conseguiu articular sua representatividade no setor alimentício, com a criação do

Comitê do Codex Alimentarius do Brasil (CCAB), através das Resoluções 01/80 e

07/88 do Conmetro.

O CCAB tem como principais finalidades a participação, em representação

do país, nos Comitês internacionais do Codex Alimentarius e a defesa dos

interesses nacionais, bem como a utilização das normas Codex como referência

para a elaboração e atualização da legislação e regulamentação nacional de

alimentos.

Visando representar todos os segmentos da área de alimentos, o CCAB é

composto por 14 membros de órgãos do governo, das indústrias e de órgãos de

defesa do consumidor, tais como: Inmetro, MRE31, MS, MAPA, MF, MCT,

MJ/DPDC, MICT/SECEX, ABIA, ABNT, CNI, CNA, CNC e IDEC. Possui uma

estrutura de Grupos Técnicos para acompanhamento de cada Comitê Codex que

são coordenados pelos membros do CCAB e abertos à participação da sociedade.

A Coordenação e a Secretaria Executiva do CCAB são exercidas pelo

Inmetro, sendo o Ministério das Relações Exteriores é o contato do Comitê

Brasileiro com a Comissão do Codex Alimentarius (CAC).

Para que o Comitê funcionasse adequadamente, diante da diversidade dos

temas tratados em seu âmbito, foram criados, à semelhança da estruturação do

Programa, grupos técnicos específicos32, coordenados por representantes dos

31 Ministério das Relações Exteriores 32 GT-1 - Sucos de Frutas – MA; GT-2 - Cereais, Legumes e Leguminosas – MA; GT-3 - Higiene da Carne – MA; GT-4 - Produtos Cárneos Processados – MA; GT-5 - Pescados e Produtos da Pesca – MA; GT-6 - Leite e Produtos Lácteos – MA; GT-7 - Gelados Comestíveis - Ministério da Saúde - ANVISA / MS; GT-8 - Águas Minerais Naturais - ANVISA / MS; GT-9 - Aditivos e Contaminantes Alimentares - ANVISA / MS; GT-10 - Alimentos Rapidamente Congelados - ANVISA / MS; GT-11 - Higiene de Alimentos - ANVISA / MS; GT-12 - Resíduos de Pesticidas – MA; GT-13 - Alimentos para Regime Especial - ANVISA / MS; GT-14 - Proteínas Vegetais - ANVISA / MS; GT-15 - Sopas e Caldos - ANVISA / MS; GT-16 - Métodos de Análise e Amostragem

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61

membros do CCAB, cuja função básica é identificar os segmentos interessados

nos vários temas e que possam fornecer subsídios ou pareceres sobre os

documentos específicos frutos dos trabalhos do Codex.

O Brasil é um dos países da América Latina que tem maior participação nos

trabalhos do Codex Alimentarius. Tal participação permitiu a sua indicação para

ser o Coordenador do Comitê Regional do Codex para a América Latina e o

Caribe, no período de 1991 a 1995, e em seguida foi eleito para ocupar um posto

no Comitê Executivo da Comissão do Codex Alimentarius, como Representante

Geográfico para a América Latina e o Caribe, no período de 1995 a 2003.

O Codex Alimentarius tem grande importância, principalmente, em

decorrência do crescimento do comércio mundial de alimentos que criou

oportunidades potenciais para os países em desenvolvimento expandirem sua

produtividade econômica, desenvolvendo normas adequadas para proteger a

saúde dos consumidores. Portanto, diante das exigências dos consumidores, o

reconhecimento por parte da Organização Mundial do Comércio e o crescente

interesse e participação nas reuniões do Codex, destacando-se a participação dos

países em desenvolvimento são elementos que fortalecem o papel do Codex no

cenário internacional como referência na normalização de alimentos

(MARTINELLI, 2003).

Todos os Estados Membros da UE fazem parte da Comissão do Codex

Alimentarius, descrito no procedimento de Decisão do Conselho, de 14 de

novembro de 2003, relativo à sua adesão (Diário Oficial de la Union Europea L

309 de 26.11.2003).

- ANVISA / MS; GT-17 - Óleos e Gordura Vegetal - ANVISA / MS; GT-18 - Açúcares –MA; GT-19 - Frutas e Hortaliças Processadas – MA; GT-20 - Frutas e Hortaliças Frescas – MA; GT-21 - Cacau e Chocolate - ANVISA / MS; GT-22 - Resíduos de Medicamentos Veterinários em Alimentos – MA; GT-23 - Princípios Gerais – INMETRO; GT-24 - Rotulagem de Alimentos- ANVISA / MS; GT-25 - Regional para América Latina e Caribe – MRE; GT-26 - Importação e Exportação de Alimentos, Certificação e Inspeção – INMETRO; GT-27 - Alimentos Derivados da Biotecnologia – MCT; GT-28 - Alimentação Animal – MA.

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62

A partir do momento que o Codex recomenda a padronização das normas

internas dos Estados Membros, contendo diversas diretrizes sobre a segurança

dos alimentos, o Brasil reformulou e promulgou uma série de normas para se

adequar ao novo ambiente institucional.

As regulamentações propostas pela FAO/OMS/Codex Alimentarius têm

caráter generalista, ou seja, os Estados Membros devem adotar para unificar suas

instituições referentes à segurança do alimento. O fato de não adorem os

princípios propostos não há imposição de sanções, ou seja, não há quaisquer

mecanismos de enforcement para adoção ou não dos princípios. Entretanto, caso

haja controvérsia de disputa comercial entre os países para solucionar algum

conflito33, no nível da OMC e, que tenha envolvimento de questões de segurança

dos alimentos, acredita-se que, aquele Estado Membro ou país não signatário que

não adotar os princípios propostos, poderá perder a causa junto à organização.

Neste sentido, infere-se que informalmente, há um mecanismo de enforcement

para adoção das normas propostas pela OMC/OMS/FAO/Codex Alimentarius.

Nesse sentido, pondera Celso Lafer (1998):

“O mercado e a concorrência podem ser vistos como uma grociana luta de todos em prol de todos. Essa é a tese do doux commerce. Simmel observou que o mercado e a concorrência são, no entanto, simultaneamente uma hobbesiana guerra de todos contra todos.” “Para evitar a confrotação bélica de uma concorrência desenfreada “ baseada no poder”, a administração do conflito e da cooperação no mercado requer um enquadramento jurídico. A OMC prevê esse enquadramento através de um ordenamento jurídico, o single undertaking, concebido como um jogo de normas de fair play compartilhadas por todos os membros.(...) “O sistema de solução de controvérsias da OMC representa não só codificação, mas um desenvolvimento progressivo do direito e da prática do GATT (p.9)”.

Portanto, as normas de organização e as de conduta integrantes do

ordenamento jurídico da OMC/OMS/FAO defrontam com as convergências de

ação dos membros para a promoção de interesses comuns. Tais normas

33 Na solução de controvérsias há um mecanismo de monitoramento das políticas comerciais nacionais, acompanhando toda a evolução e, proceder as recomendações quando pertinentes.

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objetivam uma interação organizada entre uma multiplicidade de economias

nacionais num mercado globalizado. A OMC/OMS/FAO é este mecanismo de

interface e as suas normas são essenciais, porque o mercado não opera no vazio,

ou seja, não é uma ordem espontânea. É uma ordem que requer the rule of law.

Daí, com a OMC/OMS/FAO, a criação, num patamar superior, de um sistema

multilateral de comércio ruleoriented. Neste sentido, o single-undertaking de suas

normas limita a competência discricionária das soberanias nacionais dos membros

da OMC para promover o seu interesse comum, expandindo a produção e o

comércio de bens e serviços, como se lê no preâmbulo do Acordo de

Marraqueche.

A importância da análise de risco34 para o Brasil é reconhecida pelo CCAB

o Brasil, que recomenda ao governo incorporá-la como política oficial para lidar

com os riscos relativos aos alimentos. Os argumentos apresentados se

fundamentam no reconhecimento da coerência desse instrumental, dos êxitos

para a melhoria do sistema de controle de alimentos de qualquer país e das

vantagens auferidas ao país ao se adequar às regras e exigências do comércio

internacional. Entendem que os efeitos positivos da análise de risco para o

mercado externo, onde o agronegócio é o motor da economia, estão nos

incrementos das exportações de alimentos e na ampliação do mercado

internacional, pois a adoção de padrões internacionais que representam o

consenso mundial qualifica a segurança sanitária dos produtos alimentícios

nacionais e dificulta a existência de barreiras comerciais.

34

Verificar ou analisar riscos significa avaliar a probabilidade de entrada, estabelecimento ou disseminação

de uma peste ou doença dentro do território de um Membro importador, de acordo com as medidas

sanitárias e fitossanitárias que devem ser aplicadas. Ao se analisar um risco, devem ser levadas em

consideração as potenciais conseqüências biológicas e econômicas, bem como a avaliação dos possíveis

efeitos adversos para a saúde humana e animal advindas da presença de aditivos, contaminantes, toxinas ou

organismos causadores de doenças em comidas, bebidas ou suprimentos (Anexo A, parágrafo 4 do SPS).

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INSTRUMENTOS DE APLICAÇÃO CODEX

ALIMENTARIUS

Decorrentes do Codex foram adotados princípios e diretrizes de alcance

geral que estabelecem normas para a garantia do alimento inócuo. Estes

documentos são aplicados a toda cadeia alimentar, desde a sua produção

(campo) até o consumo final, ressaltando-se os controles de higiene básicos que

são efetuados em cada etapa. Os próximos tópicos têm por objetivos mostrar

esses instrumentos para elevar o nível de inocuidade dos alimentos.

Análise de Perigos (riscos) e Pontos Críticos de Controle - (APPCC)35

A aplicação do sistema para segurança dos alimentos foi iniciado pela

Pillsbury Company (indústria química) com a cooperação e participação do

National Aeronautic and Space Administration (NASA), Natick Laboratories of the

U.S. Army e o U.S. Air Force Space Laboratory Project Group. A aplicação do

sistema originou-se no início da década de 1960, desenvolvendo alimentos para o

programa espacial dos Estados Unidos. Objetivava aproximar 100% a garantia

contra a contaminação por bactérias patogênicas e vírus, toxinas e riscos

químicos e físicos que poderiam causar doenças ou ferimentos para os

astronautas. O APPCC restituiu o teste do produto final para promover garantia na

segurança dos alimentos e promover um sistema preventivo para produção segura

de alimentos o qual teve aplicação universal (BASTOS, 2008).

O APPCC é definido pelo Codex Alimentarius tem como objetivo avaliar

perigos e estabelecer um sistema de controle baseado na prevenção em vez de

confiar basicamente nas análises de produto final, e deve ser capaz de se ajustar

as mudanças, tais como avanços nos projetos dos equipamentos, procedimentos

operacionais ou desenvolvimentos tecnológicos.

O órgão americano National Advisory Committee on Microbiological Criteria

for Foods (NACMCF), desenvolveu os princípios do APPCC em 1988, juntamente

35 Em 2002, no Brasil a APPCC foi substituída pelo Programa de Alimento Seguro (PAS), por entenderem que seria de melhor compreensão pelos agentes da cadeia agroalimentar.

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com especialistas, governos estaduais, grupos de consumidores e as indústrias

alimentícias. Teve como membros oficiais várias agências federais entre as quais

incluem o Food and Drug Administration (FDA), Centers for Disease Control and

Prevention, Food Safety Inspection Service, Agricultural Research Service,

National Marine Fisheries Service e o U. S. Army (CORLETT, 1991).

No Brasil, a regulamentação da norma se dá através de um conjunto de

Portarias e Circulares36 que tratam da segurança e qualidade dos alimentos e

aplicação dos instrumentos para a garantia de Boas Práticas Agrícolas e de

Produção, APPCC, entre outros.

Decorrente do comércio globalizado, a APPCC é um procedimento

recomendado por organismos internacionais como a OMC, FAO, OMS e pelo

MERCOSUL e é exigido pela Comunidade Européia e pelos Estados Unidos. No

Brasil, o Ministério da Saúde e o Ministério da Agricultura e Abastecimento

iniciaram ações com objetivo de promover a adoção do Sistema APPCC pelas

indústrias alimentícias.

Portanto, o Sistema APPCC tem como objetivo contribuir para uma maior

satisfação do consumidor, propiciando para que as empresas fiquem mais

competitivas, ampliando as possibilidades de conquista de novos mercados,

nacionais e internacionais, além de propiciar a redução de custos operacionais,

gastos com controle de qualidade do produto acabado, perdas de matérias-

primas, embalagens e produto, aumentando a credibilidade da empresa perante o

consumidor.

No Brasil, esse instrumento foi substituído pelo Programa PAS, que será

melhor detalhado em no decorrer do presente estudo.

36 Portaria nº 1.428, de 26 de novembro de 1993 – Ministério da Saúde; Portaria nº 40, de 20 de janeiro de 1997 – MAPA; Circular nº 272, de 22 de dezembro de 1997 - DIPOA/SDA/MAPA; Portaria nº 46, de 10 de fevereiro de 1998 – MAPA; Circular nº 369, de 02 de junho de 2003 – DIPOA/MAPA.

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Sistemas de gestão da segurança de alimentos (NBR ISO 22000)

As normas ISO 9000 define a terminologia sobre qualidade e seus

principais conceitos. O conjunto de normas da ISSO 9000 tem por objetivo

fornecer requisitos mínimos para elaboração de um sistema de gestão e garantia

externa de qualidade. Tais requisitos são complementares, porém não

alternativos, para facilitar o intercambio de bens e serviços e a cooperação para o

desenvolvimento econômico, cientifico, tecnológico pela padronização (MELO,

1999).

A ISO 22000 é uma norma internacional que tem por objetivo estabelecer

os requisitos para um sistema de gestão de segurança na cadeia de suprimento

de alimentos, denominada no Brasil de ABNT NBR ISO 22000 – Sistemas de

gestão da segurança de alimentos – requisitos para qualquer organização na

cadeia produtiva de alimentos, coordenada pela Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT).

Com amplo espectro, a norma abrange desde os fabricantes de alimentos

para animais e produtores primários, até processadores de alimentos para

consumo humano, operadores de transporte e estocagem, distribuidores varejistas

e serviços de alimentação, incluindo organizações inter-relacionadas, tais como

fabricantes de equipamentos, materiais de embalagem, produtos de limpeza,

aditivos e ingredientes.

A ABNT NBR ISO 22000 contempla quatro elementos-chave para a

segurança de alimentos: (i) a comunicação interativa; a gestão de sistema; (ii) o

programa de pré-requisitos; (iii) e os princípios de Análise dos Perigos e Pontos

Críticos de Controle (APPCC), metodologia reconhecida internacionalmente e

recomendada pela Comissão do Codex Alimentarius, com o objetivo de

desenvolver padrões de segurança dos alimentos e diretivas. Referência para toda

a cadeia produtiva de alimentos, a ABNT NBR ISO 22000 agrega valor às

organizações.

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Destacam-se como benefícios resultantes de sua implementação: a)

Comunicação organizada e objetiva entre parceiros comerciais; b) Otimização de

recursos, internamente e ao longo da cadeia produtiva; c) Melhoria da

documentação; d) Melhor planejamento e menos inspeção pós-processual; e)

Controle mais eficiente e dinâmico de ameaças à segurança alimentar; f) Todas as

medidas de controle sujeitas à análise de perigos; g) Gerenciamento sistemático

dos programas de pré-requisitos; h) Larga aplicabilidade, porque a norma é focada

em resultados finais; i) Base válida para tomada de decisões; j) Aumento da

devida diligência; k) Controle focado naquilo que é necessário; l) Economia em

pesquisas devido à redução do número de auditorias ao sistema.

Ainda, ISO 22000:2005 é a primeira em uma família de normas que incluem

os seguintes documentos:

• ISO/TS – Sistema de Gestão da Segurança dos Alimentos – guia de

aplicação da ISSO 22000:2005, para orientar as empresas e

organizações da cadeia produtiva de alimentos em todo o mundo,

incluindo as pequenas e médias empresas;

• ISO/TS 2003 - Sistema de Gestão da Segurança dos Alimentos –

requisitos para organismos que oferecem auditoria e certificação de

sistemas de gestão de segurança de alimentos. Esta norma é um guia

de acreditação (aprovação) dos organismos para certificação da ISO

22000 e define as regras para auditar um sistema de gestão de

segurança de alimentos.

• ISO 22005 – Rastreabilidade na cadeia alimentação animal e vegetal –

princípios gerais e guia para delineamento e desenvolvimento do

sistema.

A nova norma substitui a ABNT NBR 14900 – Sistema de gestão da análise

de perigos e pontos críticos de controle – Segurança de alimentos, publicada em

2002.

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Segundo o Cepea/Esalq37: “existe sempre uma evolução de uma norma

para outra bem como entre as diversas series de normas. Dessa maneira é difícil

encontrar ou estabelecer claramente divergências entre as normas”. O que se

pode observar, de fato, é uma ampla convergência entre as normas de sistemas

de gestão da qualidade, de gestão ambiental, de gestão da segurança e da saúde

no trabalho e agora da gestão da segurança dos alimentos. Todas essas normas

seguem de alguma maneira, o padrão de sistema de gestão estabelecido na ISO

9OOO, e tendem a adotar a abordagem de processo também incorporada, a esta

norma, na sua versão de 2000.

O que ocorre é que novos elementos de solução são incorporados na

medida em que eles são validados pela experiência. Neste sentido, a

normalização funciona como um sistema de gestão de conhecimentos. A série

9000 forneceu elementos para melhoria da gestão interna das empresas, a série

14000 para controlar e reduzir os impactos sobre o meio ambiente (e não para

garantir que não existam impactos como pensam certos críticos da norma), a série

18000 para as questões trabalhistas, e, ainda em desenvolvimento, a 26000 sobre

a responsabilidade social, entendida como abrangendo os aspectos políticos e

culturais. Neste ultimo caso, e pela primeira vez, a norma esta sendo destinada ao

conjunto das organizações empresarias, públicas e sociais (ONGs).

É importante ter conhecimento dessas colocações sobre a evolução da

normalização para perceber o que está em jogo com a aplicação da ISO 22000 e

o que deverá logicamente vir nos próximos anos. Esta capacidade de antecipação

constitui condição essencial para qualquer projeto nacional de autonomia

tecnológica. Ainda, é importante esta referência por dois motivos, segundo

Cepea/Esalq38:

Primeiro, para compreender que não são somente as normas setoriais, como a 22000, são as que impactam o agronegócio. É necessário estar presente, e se possível, atuar nos fóruns de normalização. A

37 Disponível: http://www.cepea.esalq.usp.br/. Acesso em: 20fev2009. 38 Disponível em: http://www.cepea.esalq.usp.br/qualiagro/?id_page=127. Acesso: 20fev2009.

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responsabilidade das cadeias agro-alimentares será provavelmente estendida da segurança dos alimentos para a qualidade dos alimentos (conformidade do sabor e exigências nutricionais) enquanto aspectos ambientais e sociais tornar-se-ão elementos de sistema de gestão dos impactos sociais (cadeias agroindustriais x agricultura familiar, consumo x preservação de recursos naturais) que tendem a ser integrados numa contabilidade / prestação de contas à sociedade. Estes elementos já estão formalizados em diversas normas.

Quanto mais, os países puderem antecipar estas tendências, mais poder de

negociação e maior competitividade poderão adquirir no agronegócio, e em

especial, o brasileiro. Este é exatamente o ponto que a normalização deverá

alcançar: a dinâmica das redes que representam as interações entre as cadeias e

não apenas a produtividade das cadeias uma a uma. Por ter resolvido com muita

simplicidade a questão da gestão das cadeias há muito tempo discutida pela

Academia, podemos esperar que a normalização caracterize o processo de

múltipla interação e a maneira como cria valor agregado.

Atualmente, a ABNT/CEET de Análise de Perigos e Pontos Críticos de

Controle está trabalhando na versão brasileira da norma ISO 22005 – Traceability

in the feed and food chain – General principles and guidance for system design

and development (Rastreabilidade no alimento e na cadeia alimentar – Princípios

gerais e guia para planejamento e desenvolvimento de sistema).

Portanto, desde setembro de 2005, com a adoção da ISO 22000 são

encontradas em organizações nacionais normas técnicas de cada país

participante. Pela primeira vez, uma norma segmentada que foi formulada

internacionalmente e que será reconhecida internacionalmente traz requisitos para

um sistema de gestão completo para a segurança na produção de alimentos,

excedendo os requisitos do APPCC. Esta norma é aplicável a todas as

organizações, percorrendo toda a cadeia de fornecedores da indústria de

alimentos, e incorpora e mantém os princípios de APPCC e do Codex

Alimentarius.

Pode, portanto, se inferir que há um grande avanço nos marcos regulatórios

referente à segurança dos alimentos, alinhados com as normas internacionais.

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Mas, em decorrência da complexidade das normas, que são utilizadas por

diversas organizações parece evidente que a expansão do sistema de segurança

de alimentos implica o aumento nos custos de transação, cujo significado e

conseqüências não devem ser neutros para os diferentes países.

As exportações do agronegócio brasileiro são limitadas, principalmente,

pela União Européia, pela exigência de barreiras não tarifarias39 (regulamentos

sanitários e fitossanitários rígidos), causando efeitos sobre o preço, comércio,

produção, consumo, renda, emprego e bem-estar. São de difícil quantificação,

possuem custos para os produtores, consumidores e exportadores, pouco

transparentes e discriminatórias. Esta atitude tem como fim proteger seu mercado

interno, que a UE sustenta a sua agricultura, basicamente, via suporte direto à

renda dos agricultores (subsídios).

Esse suporte é dado através de medidas que estabilizam o preço no

mercado, por pagamentos diretos aos agricultores por financiamento de uma

variedade de atividades ligadas ao desenvolvimento rural. Essas medidas

protecionistas adotadas trazem profundas distorções para o comércio mundial,

impactando as exportações, principalmente as brasileiras, que é um grande

produtor de alimentos.

ÂMBITO NACIONAL

1.1.2 Ministério da Saúde - MS

A Constituição Federal, no art. 196, inciso VI, define que saúde é direito de

todos e dever do Estado. No art. 198 estabelece que o Estado exerça seu papel

integrado na rede regionalizada e hierarquizada, constituindo um sistema único; e

o art. 200, inciso VI, define que é de responsabilidade desse sistema único prover

o país de um ambiente seguro para o consumo de alimentos.

39 Barreiras não-tarifárias são definidas como qualquer restrição, despesa, ou política, que não seja uma tarifa, que limite o acesso de produtos importados, como quotas, sistemas de licenciamento, regulamentos sanitários, proibições (OMC, 2002).

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Daí a importância do Ministério da Saúde (MS), que tem por função dispor

de todas as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde,

reduzindo as enfermidades, controlando as doenças endêmicas e parasitárias,

melhorando a vigilância à saúde e dando qualidade de vida ao brasileiro.

Compete ao Ministério da Saúde40, na área de alimentos:

• ação preventiva em geral, vigilância e controle sanitário de fronteiras e

de portos marítimos, fluviais e aéreos;

• vigilância de saúde, especialmente drogas, medicamentos e alimentos;

• pesquisa científica e tecnologia na área de saúde.

Vinculado ao MS está a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária, mais

conhecida como ANVISA, que dentre uma de suas funções e mais

especificamente no setor agroalimentar, fiscaliza o controle sanitário dos alimentos

no território nacional. O suporte técnico laboratorial é de responsabilidade do

Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), vinculado a

Fundação Oswaldo Cruz.

E mais recentemente, também vinculado ao MS, após o episodio sanitário

do leite, mais conhecido como “Operação Ouro Branco”, foi criado o Centro

Integrado de Monitoramento da Qualidade dos Alimentos - CQuali Leite. Neste

sentido, os próximos itens têm por objetivo explicar a missão, competências e

linhas de ação, para compreender seu funcionamento no que se refere à questão

da segurança dos alimentos.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA

40 Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=281. Acesso em: 25/06/2008.

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)41 foi criada pela Lei n.º

9.782, em 1999. É uma autarquia sob regime especial, ou seja, uma agência

reguladora caracterizada pela independência administrativa, estabilidade de seus

dirigentes durante o período de mandato e autonomia financeira. Sua gestão é

responsabilidade de uma Diretoria Colegiada, composta por cinco membros. Na

estrutura da Administração Pública Federal, a Agência está vinculada ao Ministério

da Saúde, sendo que este relacionamento é regulado por Contrato de Gestão.

A finalidade institucional da Agência é “promover a proteção da saúde da

população por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização

de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes,

dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados”42.

A ANVISA tem o papel de exercer o controle sanitário de ambientes e de

produtos e serviços com impacto na saúde, o que engloba: portos, aeroportos,

fronteiras e recintos alfandegados; a comercialização; e a produção, envolvendo

processos, insumos e tecnologias. Além disso, responde pela interlocução junto

ao Ministério das Relações Exteriores e instituições estrangeiras para tratar de

assuntos internacionais na área de vigilância sanitária.

41 A criação de agências reguladoras no Brasil fazem parte de um projeto de “modernização” do Estado. A busca da eficiência econômica e da responsabilização política pelos gastos públicos foi a argumentação mais importante para as reformas. No Brasil, a exemplo de outros países de primeiro mundo, adotou a desregulamentação que começa com a abertura comercial, liberação dos preços, privatização, extinção de órgãos públicos e o uso de instrumentos de mercado na regulação econômica. A reforma buscou redefinir o papel do Estado, que era deixar de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social para se tornar seu promotor e regulador. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado previa o redesenho de suas estruturas: o aperfeiçoamento dos instrumentos de coordenação, de formulação, de implementação e de avaliação das políticas públicas; a inovação de mecanismos de gestão; e, por fim, a profissionalização de quadros do aparelho do Estado. As agências regulatórias – vinculadas aos ministérios correspondentes, mas teoricamente autônomas em termos administrativos e financeiros – surgiram com estas características e têm a responsabilidade de emprestar qualidade e eficiência às ações do Estado. A criação das agências tem o objetivo de desonerar os núcleos estratégicos dos ministérios das atividades de execução. Assim, estes ficariam em melhores condições para dedicar-se a suas funções de formulação e de avaliação das diretrizes e políticas públicas e ao acompanhamento e avaliação dos órgãos descentralizados sob sua supervisão. (CARNEIRO, 2002). 42 Disponível em: http://www.Anvisa.gov.br. Acesso em: 19dez2008.

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É responsável, ainda, pela regulamentação, regulação econômica, registro,

inspeção, anuência prévia de patentes (de produtos e processos farmacêuticos),

fiscalização de produtos, serviços e de suas propagandas, além de coordenar o

Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS)43.

A ANVISA possui também alguns mecanismos para a participação da

sociedade, considerados direitos, elencados abaixo:

• Consultas Públicas: antes da publicação de uma nova norma, resolução

ou regulamento, a ANVISA consulta a população para saber sua

opinião sobre a questão. O cidadão pode conhecer os assuntos que

estão sendo debatidos na Agência e expressar sua opinião por meio do

site da ANVISA. Para cada assunto, é criado um fórum virtual de

discussão, aberto a todos. Terminado o prazo da consulta, todas as

contribuições enviadas são analisadas.

• Audiências Públicas: assuntos de maior destaque são discutidos não só

durante as consultas públicas, mas também em audiências públicas,

abertas a toda a população. O objetivo é criar um momento de debate

no qual todos possam manifestar-se, possibilitando a troca de

informações e argumentos. Datas, locais e horários das audiências são

divulgados no site da Anvisa.

• Conselho Consultivo: A Anvisa ouve a população também por meio do

Conselho Consultivo, formado por representantes de instituições da

administração pública, da sociedade civil organizada e da comunidade

científica. O Conselho Consultivo se reúne a cada três meses, para

43 O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária é formado por instituições públicas das três esferas de governo (União, estados e municípios). Como parte do Sistema Único de Saúde, segue as suas diretrizes: descentralização, com direção única em cada esfera de governo; regionalização; hierarquização e participação da comunidade. Nos últimos anos, a Agência priorizou a descentralização das ações de vigilância sanitária, fortalecida graças ao financiamento por fonte específica. As diretrizes gerais do SNVS são traçadas pelo Plano Diretor de Vigilância Sanitária (PDVISA). O PDVISA é articulado ao Pacto pela Saúde, que tem como objetivo aprimorar o SUS e superar problemas de gestão. Entre outras ações, o Pacto enfoca a reorganização dos repasses financeiros para estados e municípios e a reafirmação da responsabilidade pública sobre a qualidade de vida da população.

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acompanhar e apreciar o desenvolvimento das atividades realizadas

pela Agência, requerendo informações e fazendo proposições a

respeito das ações da ANVISA.

• Câmaras Setoriais: A Anvisa implantou em 2005 Câmaras Setoriais,

que também têm caráter consultivo. Reúnem órgãos públicos,

sociedade civil e o setor produtivo para debater assuntos estratégicos e

subsidiar as decisões de sua Diretoria Colegiada. Em 2005, iniciaram

suas atividades as Câmaras de Cosméticos, Medicamentos, Produtos

para Saúde, Propaganda e Publicidade de Produtos sujeitos à

Vigilância Sanitária, Serviços de Saúde e Toxicologia.

• Câmaras Técnicas: Além do Conselho Consultivo e das Câmaras

Setoriais, existem também as Câmaras Técnicas, formadas por

membros da comunidade científica. Esses especialistas dão

assessoramento às decisões técnicas tomadas pela Agência. Estão em

funcionamento as Câmaras de Alimentos, Cosméticos, Medicamentos,

Medicamentos Fitoterápicos, Produtos para a Saúde e Saneantes.

• Ouvidoria: A Ouvidoria é um canal de comunicação por meio do qual a

população se manifesta e a Instituição responde. Qualquer cidadão

pode entrar em contato com a Ouvidoria, para enviar denúncias,

reclamações, críticas ou sugestões, por meio do sistema Anvisatende.

• VISA Mobiliza: A sociedade também está convidada a participar do

projeto VISA Mobiliza, que começou a ser desenvolvido em 2005. A

ANVISA pretende articular uma rede de atores sociais, da sociedade

civil organizada e das três esferas de governo, para mobilizar a

população em torno de questões de vigilância sanitária, promovendo

saúde e cidadania.

Fazem parte do SNVS de seu sistema de controle para garantia da

inocuidade dos alimentos, as seguintes organizações: o Ministério da Saúde, a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Conselho Nacional de

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Secretários Estaduais de Saúde (CONASS), o Conselho Nacional de Secretários

Municipais de Saúde (CONASEMS), os Centros de Vigilância Sanitária Estaduais,

do Distrito Federal e Municipais (VISAS), os Laboratórios Centrais de Saúde

Pública (LACENS), o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde

(INCQS), a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), e os Conselhos Estaduais,

Distrital e Municipais de Saúde, em relação às ações de vigilância sanitária,

conforme representação na Figura 4.

Figura 4. Gestores Governamentais da Saúde Envolvidos no Controle Sanitário de Alimentos.

Fonte: Santos (2008)

Na área de alimentos, a ANVISA atua de forma compartilhada com estados

e municípios, que integram o SNVS. Seu papel é de coordenação e supervisão

das atividades de monitoramento de produtos e de intervenção nos processos

produtivos. Exerce ainda a função de regulamentação dos produtos alimentícios,

incluindo a rotulagem nutricional, a definição de limites de contaminantes e

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aditivos, as novas tecnologias de produção e os pontos críticos de controle

(LUCCHESE, 2001).

Exerce a fiscalização sanitária direta de produtos e serviços, nos portos,

fronteiras e recintos alfandegados, ao lado de outros órgãos do governo, como a

Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento. É responsável pelas seguintes atividades: verificação do

cumprimento das regras sanitárias vigentes para a liberação dos produtos que

entram no território brasileiro; verificação da infra-estrutura portuária, aeroportuária

e de fronteiras; inspeção dos meios de transporte aéreo, marítimo, terrestre,

lacustre e fluvial; orientação e controle sanitário de viajantes; implementação do

Regulamento Sanitário Internacional (RSI); e fiscalização das condições de

higiene e limpeza dos estabelecimentos comerciais localizados nessas áreas,

entre outras ações relacionadas ao cumprimento das normas ou de caráter

preventivo (LUCCHESE, 2001).

A propaganda, a publicidade, a promoção e a informação de produtos sob

vigilância sanitária são avaliadas, fiscalizadas, controladas e acompanhadas pela

ANVISA. Essas atividades englobam os produtos com registro na Agência, como

medicamentos, alimentos e produtos para a saúde. Tem por objetivo essa

atuação reduzir a exposição da população à propaganda abusiva e enganosa,

contribuir para o desenvolvimento de políticas de proteção à saúde e subsidiar o

aprimoramento da legislação existente. A instituição desenvolve, ainda, ações de

investigação de produtos irregulares, em conjunto com a Polícia Federal, além de

atividades de educação em saúde voltadas para os cidadãos e profissionais das

mais diversas áreas do conhecimento (LUCCHESE, 2001).

A ANVISA coordena o Sistema de Vigilância Toxicológica, responsável pela

elaboração de normas e regulamentos técnicos de segurança. Esse trabalho inclui

ainda a avaliação da toxicidade de ingredientes, substâncias químicas e produtos

antes de serem liberados à comercialização e quando há novas informações sobre

riscos à saúde humana, além do monitoramento de resíduos de agrotóxicos em

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alimentos e de casos de contaminação. Dois programas nacionais estão em

execução: o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos

(PARA) e a Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica

(RENACIAT). O trabalho da Agência nesse campo é articulado com os ministérios

da Saúde, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Meio Ambiente.

Compõe também a ANVISA a Gerencia de Inspeção e Controle de Riscos

de Alimentos (GICRA), que participa ativamente das atividades do Codex

Alimentarius desde o ano de 2000, sendo a responsável pela coordenação dos

trabalhos do Grupo Técnico sobre Higiene dos Alimentos (GTFH). Além disso,

participa como membro do Grupo Técnico sobre Sistema de Inspeção e

Certificação de Importações e Exportações de Alimentos (GTFICS), coordenado

pelo Inmetro. O GTFH tem como objetivo fornecer ao Comitê do Codex

Alimentarius no Brasil (CCAB) posicionamento técnico aos temas em discussão

sobre Higiene dos Alimentos (CCFH).

A ANVISA cria normas, define o que deve constar nos rótulos, registra os

chamados alimentos especiais (alimentos funcionais, alimentos para crianças,

etc.) e coordena programas nacionais de controle da qualidade sanitária e de

resíduos de agrotóxicos, entre outros. As vigilâncias estaduais e municipais

fiscalizam os estabelecimentos (cozinhas de hospitais, restaurantes, lanchonetes,

feiras e supermercados. Também participam dos programas nacionais de

monitoramento dos alimentos, conforme o Quadro 1 apresentado no referente e

ao marco institucional na questão da segurança dos alimentos da ANVISA.

Quadro 1. Marco institucional da ANVISA LEIS

• Lei nº 9.677, de 2 de julho de 1998: Altera os dispositivos do Capítulo III do Título VIII do Código Penal, incluindo na classificação dos delitos considerados hediondos crimes contra a saúde pública, e dá outras providências. • Lei nº 7.967, de 22 de dezembro de 1989: Dispõe sobre o valor das multas por infração à legislação sanitária, altera a Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, e dá outras providências. • Lei nº 6.726, de 21 de novembro de 1979: Dá nova redação ao parágrafo único do art. 27 do Decreto-lei nº 7.841 de 8 de agosto de 1945 - Código de Águas Minerais. • Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977: Configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas, e dá outras providências.

DECRETO-LEI • Decreto-lei nº 986,de 21 de outubro de 1969: Institui Normas Básicas sobre Alimentos.

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• Decreto-lei nº 7.841, de 8 de agosto de 1945: Código de Águas Minerais PORTARIAS

• Portaria MS/GM nº 710, de 10 de junho de 1999: Aprova a Política Nacional de Alimentação e Nutrição. • Portaria nº 579/MS/SNVS, de 17 de novembro de 1997: Determinar que a publicação no Diário Oficial da União do registro dos produtos afetos à area de alimentos. • Portaria nº 326/SVS/MS de 30 de julho de 1997: Aprova o Regulamento Técnico; “Condições Higiênicos-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos”. • Portaria nº 1428/MS, de 26 de novembro de 1993: Aprova regulamento técnico para inspeção sanitária de alimento; diretrizes para o estabelecimento de Boas Práticas de Produção e de Prestação de Serviços na Área de Alimentos; e regulamento técnico para o estabelecimento de padrão de identidade e qualidade para serviços e produtos na área de alimentos.

RESOLUÇÕES • Resolução - RDC nº 349, de 3 de dezembro de 2003: Regulamenta procedimento das petições submetidas à análise pelos setores técnicos da ANVISA nos processos de registro. • Resolução - RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002: Aprovar o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. • Resolução nº 8, de 1971: Resolve fixar os seguintes requisitos a serem obedecidos para permissão para expor à venda ou distribuir alimentos elaborados, em caráter experimental destinados à pesquisa de mercado. Fonte: ANVISA

O Ministério da Saúde através da ANVISA não atua de forma isolada no

controle da segurança dos alimentos, existindo vários outros órgãos e ministérios

envolvidos com ações nessa área. Segundo Santos (2008), apresenta que foram

identificados oito ministérios, além do MS, que atuam de uma forma ou de outra,

na área de controle de alimentos. A exemplo, os alimentos de origem animal e

vegetal consumidos in natura são de responsabilidade do Ministério da Agricultura,

abordado no próximo item. Vinculado ainda ao Ministério da Saúde, tem-se o

Centro Integrado de Monitoramento da Qualidade dos Alimentos - CQuali Leite,

que foi criado após o episódio sanitário “Operação Ouro Branco” (Anexo).

É um desafio para atualização da ANVISA e de todo SNVS a velocidade

com que os avanços científicos e dos processos de produção e de trocas

comerciais ocorreram desde a sua criação, visto que historicamente, o sistema de

vigilância sanitária demora a adequar-se às novas demandas do processo

produtivo de bens e serviços, mostrando-se ineficaz para realizar, em tempo, a

função de regulação do risco sanitário. Nesse sentido, a reforma da estrutura

político-administrativa do SNVS, embora tenha representado um avanço

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importante para o sistema de regulação sanitária, não parece ter sido suficiente

para a qualidade dos alimentos para a sociedade, o que indica a necessidade de

seguir revisando, fortalecendo e adequando o SNVS às novas demandas.

No caso a única segurança é a do princípio geral de que os alimentos

devem ser seguros, e não das normas específicas, que comportam riscos

inevitáveis para os stakeholders, sempre que as práticas – intencionalmente ou

não – ferirem os princípios.

Portanto é de competência da ANVISA relacionadas direta ou indiretamente

com a proteção da saúde e previstas na Lei 9.782, de 26 de janeiro de 1999: a)

estabelecer normas e padrões sobre limites de contaminantes, resíduos tóxicos,

desinfetantes, metais pesados e outros que envolvam riscos à saúde; b) conceder

registros de produtos, segundo as normas de sua área de atuação; c) exigir,

mediante regulamentação específica, o credenciamento ou a certificação de

conformidade no âmbito do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e

Qualidade Industrial – SINMETRO, de instituições, produtos e serviços sob regime

de vigilância sanitária, segundo sua classe de risco; d) interditar, como medida de

vigilância sanitária, os locais de fabricação, controle, importação, armazenamento,

distribuição e venda de produtos e de prestação de serviços relativos à saúde, em

caso de violação da legislação pertinente ou de risco iminente à saúde; e) proibir a

fabricação, a importação, o armazenamento, a distribuição e a comercialização de

produtos e insumos, em caso de violação da legislação pertinente ou de riscos

iminentes à saúde; f) cancelar a autorização, inclusive a especial, de

funcionamento de empresas, em caso de violação da legislação pertinente ou de

risco iminente à saúde; h) regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e

serviços que envolvam risco à saúde pública, entre eles, medicamentos de uso

humano, suas substâncias ativas e demais insumos, processos e tecnologias;

alimentos; aditivos alimentares; cosméticos, produtos de higiene pessoal e

perfumes; saneantes destinados à higienização, desinfecção; conjuntos,

reagentes e insumos destinados a diagnóstico; equipamentos e materiais médico-

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hospitalares, odontológicos e hemoterápicos e diagnóstico laboratorial e por

imagem; imunobiológicos e suas substâncias ativas, sangue e hemoderivados;

órgãos, tecidos humanos e veterinários para uso em transplantes ou

reconstituições; cigarros, cigarrilhas, charutos e qualquer outro produto fumígero,

derivado ou não do tabaco.

A referida lei definiu novas atribuições da Vigilância Sanitária como o

monitoramento da qualidade de bens e produtos, por meio de programas

especiais, sistema de vigilância farmacológica e toxicológica, e sistema de

informação, e o controle de produtos fumígenos. Foram deixados de lado, no

entanto, temas como o meio ambiente, a ecologia, a saúde do trabalhador e a

informação e educação sanitária da população.

No que diz respeito à segurança dos alimentos, tema da presente tese,

vigora no Brasil, por força de certa confusão legislativa, uma superposição de

competências fiscalizadoras e reguladoras entre o Ministério da Saúde e o

Ministério da Agricultura. Ao Ministério da Saúde, por meio de órgãos próprios,

foram atribuídas competências para fiscalizar drogas, medicamentos e alimentos,

ao passo que ao Ministério da Agricultura remanesceria a competência para

classificar e inspecionar produtos e derivados animais e vegetais. Essa dualidade

de fontes não teria amparo na Constituição Federal de 1988, que no artigo 200,

VII, atribuiu ao Sistema Único de Saúde, no qual não está incluído o Ministério da

Agricultura, a função de “fiscalizar e inspecionar alimentos compreendida o seu

teor nutricional, bem como bebidas e águas para o consumo humano”.

Nesse sentido, infere-se que há a necessidade de se construir um novo

paradigma de ação para a vigilância sanitária, adequando a regulação do risco

sanitário às complexas questões das inovações tecnológicas contemporâneas,

alcançando não somente os processos nacionais e internacionais, mas também o

gerenciamento das repercussões do controle sanitário efetuado pelos outros

países. Uma lógica critica e uma ação estratégica precisa substituir a participação

voluntarista e a aceitação tácita das tendências regulatórias internacionais. Para

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isso, há a necessidade de coordenar melhor todo o ambiente institucional

brasileiro.

Centro Integrado de Monitoramento da Qualidade dos Alimentos - CQuali Leite

O Centro Integrado de Monitoramento da Qualidade dos Alimentos - CQuali

Leite é uma iniciativa conjunta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA), do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do

Ministério da Justiça e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA), no sentido de integrar as ações dos órgãos envolvidos no controle de

alimentos e fortalecer as medidas de prevenção e combate a desvios de

qualidade, incluindo irregularidades e fraudes.

Criado em 18 de junho de 2008, tem por objetivo fiscalizar, de forma

articulada e interinstitucional, os estabelecimentos produtores e industriais,

respeitando as competências legais de cada órgão e a legislação vigente e

monitorar a conformidade do leite pasteurizado, leite UHT e leite em pó, em suas

diversas classificações, bem como o combate ao comércio informal do leite.

Embora o CQuali Leite seja composto pelos órgãos federais, ANVISA,

MAPA e Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor (DPDC), as ações

requerem a articulação e cooperação de outros atores dos governos federal,

estaduais e municipais. Têm-se como colaboradores os órgãos de vigilância

estaduais, municipais e distrital, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública

(LACEN), as Secretarias de Agricultura Estaduais e Distrital, Polícia Federal e os

órgãos de Proteção e Defesa do Consumidor estaduais e municipais (PROCON).

Ao SNVS cabe o monitoramento do leite no comércio. A execução dessa

ação fica sob a responsabilidade dos órgãos de Vigilância Sanitária estaduais,

distrital e ou municipais em articulação com os LACEN. Aos órgãos de Agricultura

cabe a fiscalização nos estabelecimentos industriais de leite e nas propriedades

rurais. Ao MAPA cabem as ações nos estabelecimentos que façam comércio

interestadual e internacional; às Secretarias de Agricultura estaduais as ações nos

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estabelecimentos que façam o comércio intermunicipal; e às Secretarias de

Agricultura Municipais, as ações nos estabelecimentos que façam apenas

comércio municipal. O DPDC, além das ações específicas para a proteção e

defesa do consumidor, hospedará e manterá o sítio eletrônico do CQuali Leite,

onde serão disponibilizadas informações gerais e os resultados finais das ações.

Cada órgão é responsável por comunicar aos demais integrantes do CQuali

Leite as eventuais irregularidades que impliquem em medidas complementares

por parte dos demais componentes do referido Centro.

Nesta primeira etapa de operacionalização, o CQuali tem priorizado o

monitoramento de todas as marcas de leite comercializadas no país. Para isso os

estados, através de seus órgãos de vigilância sanitária, definiram junto aos

Laboratórios Centrais de Saúde Pública, sua capacidade analítica para a definição

de cronograma de coletas de amostra de leite no mercado, até que seja possível a

análise de todas as marcas comercializadas.

São atribuições do MAPA, a fiscalização dos estabelecimentos

beneficiadores de leite que façam o comércio interestadual e/ou internacional, bem

como os registros daqueles estabelecimentos e seus respectivos produtos que

serão entregues ao comércio.

O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor por meio do Departamento

de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), desenvolva ações específicas de

proteção e defesa do consumidor, incluindo apuração e punição às infrações à

legislação das relações de consumo, também é responsável pela formulação e

manutenção do sítio eletrônico do CQuali-Leite, no qual constarão todas as

informações e ações do Centro. Em caso de resultados condenatórios que

representem risco iminente à saúde, será publicada a interdição cautelar do

produto, até a emissão de laudo condenatório definitivo. Caso fique configurada a

infração sanitária, as visas estaduais deverá proceder com os ritos previstos na

Lei n.º 6.437/77 ou na legislação estadual, para instauração de processo

administrativo contra as empresas responsáveis.

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A Vigilância Sanitária do Estado ou Município, onde se encontra o

estabelecimento produtor é competente para conduzir o processo administrativo.

Os demais Estados poderão determinar Interdição Cautelar sobre a

comercialização do produto em seu território. O Ministério da Agricultura deverá

inspecionar o estabelecimento produtor, sendo que caso considere necessário,

poderá autuá-lo com o cuidado de não fazê-lo pelos mesmos fatores que

desencadearam o processo administrativo instaurado pela Vigilância Sanitária,

evitando assim a duplicidade de ações.

A credibilidade do programa é essencial para garantir a legitimidade, que é

sempre abalada quando há uma dificuldade em garantir o cumprimento das

praticas regulatórias. Assim, a simples percepção de que a fraca capacidade

fiscalizatória e débil retira a legitimidade das entidades reguladas.

No Brasil, ao invés do aparelho estatal enxugar a máquina administrativa

para garantir melhor eficácia do controle sanitário, diante de dificuldades, ao invés

de corrigir os erros, cria mais burocracia, que possivelmente serão reproduzidas

as mesmas insuficiências anteriores, que facilitam a ocorrência de eventos

sanitários, conforme constatado com a criação do CQuali Leite, após o episódio

sanitário do leite, denominado “Operação Ouro Branco”, aumentando ainda mais a

descoordenação entre as organizações.

1.1.3 Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA

O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) tem como missão promover

o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio em benefício

da sociedade brasileira. Sua estrutura organizacional está disposta na Lei nº

10.683/2003.

Atualmente, para cumprir sua missão, o MAPA44 formula e executa políticas

para o desenvolvimento do agronegócio, integrando aspectos mercadológicos,

tecnológicos, científicos, organizacionais e ambientais, para atendimento dos

44 Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/. Acesso em: 25jun.2008.

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consumidores brasileiros e do mercado internacional. A atuação do ministério tem

por fim a busca de sanidade animal e vegetal, da organização da cadeia produtiva

do agronegócio, da modernização da política agrícola, do incentivo às

exportações, do uso sustentável dos recursos naturais e do bem-estar social.

A infra-estrutura básica do MAPA45 é formada pelas áreas de política

agrícola (produção, comercialização, abastecimento, armazenagem e indicadores

de preços mínimos), produção e fomento agropecuário; mercado, comercialização

e abastecimento agropecuário; informação agrícola, defesa sanitária (animal e

vegetal); fiscalização dos insumos agropecuários; classificação e inspeção de

produtos de origem animal e vegetal; pesquisa tecnológica, agrometeorologia,

cooperativismo e associativismo rural; eletrificação rural; assistência técnica e

extensão rural.

No Brasil, os órgãos que integram o sistema tradicional de qualidade, que

envolvem as secretarias ou departamentos de Defesa Sanitária, de Inspeção

Sanitária, e a rede federal de laboratórios de patologia animal e de análises de

alimentos, estão subordinados ao MAPA e têm uma longa história de relevantes

serviços prestados ao desenvolvimento da agroindústria de alimentos46.

Vinculado ao MAPA, o Serviço de Inspeção Federal (SIF), existe no Brasil

desde 1909, e tem por objetivo fiscalizar os produtos comercializados (carnes,

sucos, manteigas, leites e derivados e outros produtos de origem animal e vegetal)

para a garantia de qualidade nos rótulos. O selo significa para os consumidores

que o produto colocado no mercado tem procedência conhecida, está registrado e

foi inspecionado pelo governo.

Para consolidação do SIF, foi publicado o Regulamento de Inspeção

Industrial e Sanitário de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), pelo Decreto n.º

45 Idem 46 Como exemplo, o MAPA promoveu, ao longo tempo, a transformação de charqueadas em matadouros-industriais, e desses últimos em matadouros-frigoríficos, que mais tarde atingiriam alta qualificação técnica, o que, somado as mudanças do próprio empresariado e do produtores rurais, permitiu ao Brasil conquistar a posição de liderança mas exportações de carne.

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30.691/1952, até hoje em vigor. A norma representa o principal marco da inspeção

industrial e sanitária de produtos de origem animal, pois consolidou toda legislação

específica do tema e reuniu as técnicas de fiscalização das novas atividades nas

áreas de pescados, ovos, mel e cera de abelhas. Com o RIISPOA, a

responsabilidade pela fiscalização ficou dividida entre o Governo Federal, estados

e municípios.

Em 1971, o Serviço Inspeção Federal (SIF) do Departamento de Inspeção

de Produtos de Origem Animal (DIPOA) voltou a ser responsabilidade exclusiva do

Ministério da Agricultura, O SIF também é o responsável pela inspeção sanitária

dos produtos estrangeiros comercializados no Brasil.

Em 2005, o MAPA editou o Manual de Procedimentos Operacionais do

Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (VIGIAGRO) (Portaria n.º 234,

de 29 de dezembro de 2005), tem por objetivo estabelecer práticas, em

permanente alerta, para promover a vigilância agropecuária internacional,

impedindo a introdução e a disseminação de pragas e agentes etiológicos de

doenças que constituam ou possam constituir ameaças à agropecuária nacional,

de forma a garantir a sanidade dos produtos e a qualidade dos insumos

agropecuários importados e exportados.

O VIGIAGRO consolida em um único instrumento as normas e diretrizes

que regulamentam a fiscalização do trânsito internacional de animais, vegetais,

seus produtos e subprodutos, derivados e partes, resíduos de valor econômico e

insumos agropecuários; constituiu uma ferramenta importante para orientar a ação

de fiscais federais e harmonizar os procedimentos bem como agilizar a liberação

das mercadorias nos portos organizados, aeroportos internacionais, aduanas

especiais e postos de fronteira, sem perda da qualidade da fiscalização.

O Manual é constituído por Capítulos e Seções que descrevem a

organização e competências do Sistema e demais componentes da Vigilância

Agropecuária Internacional, procedimentos administrativos, operacionais e

controles específicos, aplicados na inspeção e fiscalização do trânsito

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internacional de produtos e insumos agropecuários. A proposta é atualizada

sempre que ocorrerem alterações na legislação e nas normas de Defesa

Agropecuária Brasileira. Esta tarefa está a cargo da Coordenação Geral do

Sistema de Vigilância Agropecuária - CGS/VIGIAGRO.

As ações a serem executadas, de acordo com os procedimentos adotados

pelo Manual, são atribuições específicas dos Fiscais Federais Agropecuários, do

MAPA, respeitadas as respectivas competências profissionais. As ações de apoio

às atividades previstas neste Manual poderão ser executadas por Agentes de

Inspeção e Agentes de Atividade Agropecuária, sob a supervisão do Fiscal

Federal Agropecuário (FFA).

Em 2006 foi publicado o Decreto n.º 5.741, que regulamenta os artigos 27-

A, 28-A e 29-A da Lei n.º 9.712/1998, que organiza o Sistema Unificado de

Atenção a Sanidade Agropecuária (SUASA). É o Sistema organizado sob a

coordenação do Poder Público nas várias instâncias federativas, no âmbito de sua

competência, incluindo o controle de atividades de saúde, sanidade, inspeção,

fiscalização, educação, vigilância de animais, vegetais, insumos, produtos e

subprodutos de origem animal e vegetal.

Art. 27-A – são objetivos da defesa agropecuária assegurar:

I – a sanidade das populações vegetais; II – a saúde dos rebanhos animais;

III – a idoneidade e a segurança higiênico-sanitária e tecnológica dos produtos agropecuários finais destinados aos consumidores.

§1º - Na busca do atingimento dos objetivos referidos no caput, o Poder Público desenvolverá, permanentemente, as seguintes atividades:

I – vigilância e defesa sanitária vegetal; II – vigilância e defesa sanitária animal;

III – inspeção e classificação de produtos de origem vegetal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico;

IV – inspeção e classificação de produtos de origem animal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico;

V – fiscalização dos insumos e dos serviços usados nas atividades agropecuárias.

§2º - as atividades constantes do parágrafo anterior serão organizadas de forma a garantir o cumprimento das legislações vigentes que tratem da defesa agropecuária e dos compromissos internacionais firmados pela União.

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Como parte do SUASA, foi instituído o Sistema Brasileiro de Inspeção de

Produtos de Origem Animal (SISBI/SUASA), sendo o mesmo coordenado pelo

Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) do MAPA.

Art.1º - Fica instituído, na forma definida neste Regulamento (Decreto 5.741/2006), o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária:

§1º - Participação do SUASA:

I – serviços e instituições oficiais;

II – produtores e trabalhadores rurais, suas associações e técnicos que lhes prestam assistência;

III – órgãos de fiscalização das categorias profissionais diretamente vinculados à sanidade agropecuária; e

IV – entidades gestoras de fundos organizados pelo setor privado para complementar as ações públicas no campo da defesa agropecuária.

§2º - O SUASA opera em conformidade com os princípios e definições da sanidade agropecuária, incluindo o controle de atividades de saúde, sanidade, inspeção, fiscalização, educação, vigilância de animais, vegetais, insumos e produtos de origem animal e vegetal.

§3º - O SUASA desenvolverá, permanentemente, as seguintes atividades: I – vigilância e defesa sanitária vegetal; II - vigilância e defesa sanitária animal;

III – inspeção e classificação de produtos de origem vegetal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico;

IV – inspeção e classificação de produtos de origem animal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico; e

V – fiscalização dos insumos e dos serviços usados nas atividades agropecuárias.

§4º - O SUASA articular-se-á com o Sistema Único de Saúde, no que for atinente à saúde pública.

O SUASA tem como princípios e obrigações gerais: a proteção da saúde

dos animais e a sanidade dos vegetais; a idoneidade dos insumos e dos serviços

utilizados na agropecuária; a identidade, a qualidade e a segurança higiênico-

sanitária e tecnológica dos produtos agropecuários finais destinados aos

consumidores. O SUASA funciona desde o local da produção até a colocação do

produto final no mercado interno ou a sua destinação para a exportação, e os

produtores rurais, industriais e fornecedores de insumos, distribuidores,

cooperativas e associações, industriais e agroindustriais, atacadistas e varejistas,

importadores e exportadores, empresários e quaisquer outros operadores do

agronegócio, ao longo da cadeia de produção, são responsáveis pela garantia de

que a sanidade e a qualidade dos produtos de origem animal e vegetal.

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Os processos de controle sanitário deverão incluir a rastreabilidade dos

produtos de origem animal e vegetal, dos insumos agropecuários e respectivos

ingredientes e das matérias-primas utilizadas, ao longo da cadeia produtiva.

Compete ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal

(DIPOA/MAPA), a coordenação do Sistema Brasileiro de Inspeção - SISBI, no que

se refere aos produtos de origem animal - SISBI/POA. Os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, por adesão, poderão integrar o Sistema Brasileiro de

Inspeção de Produtos de Origem Animal. Portanto, os Municípios e Estados

podem pedir a equivalência dos seus serviços de inspeção com o Sistema

Coordenador do SISBI. Para obtê-la, estes precisam comprovar que têm

condições de avaliar a qualidade e a inocuidade dos produtos de origem animal

com a mesma eficiência do MAPA.

Para aderir ao SISBI/POA, as unidades da federação deverão adequar seus

processos e procedimentos de inspeção e fiscalização, ficando obrigada a

seguirem a legislação federal ou disporem de regulamentos equivalentes. Os

requisitos para obtenção da equivalência entre os serviços estão definidos na

Instrução Normativa n.º 19, de 24 de julho de 2006.

O DIPOA constituiu um grupo de trabalho para definir os requisitos e

demais procedimentos necessários para a adesão ao SISBI, também foram

instituídos gestores estaduais para atuarem como técnicos de referência junto às

Superintendências, os quais são responsáveis pela divulgação e orientação aos

serviços de inspeção interessados na adesão ao sistema.

O sistema, com esse novo cenário, gerou algumas perspectivas para os

Estados, Distrito Federal, Municípios, indústrias e consumidores, tais como:

• Ganho na saúde pública, devido à prevenção das doenças transmitidas

por alimentos de origem animal;

• Diminuição do abate e comercialização de produtos de origem animal

(POA) clandestinos;

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89

• Ampliação da comercialização para as indústrias que fabricam produtos

de origem animal promovendo o desenvolvimento das pequenas

agroindústrias;

• A garantia da segurança do alimento que a população consome; e

• A inspeção será praticada por métodos universalizados e sempre

baseada nas Boas Práticas de Fabricação (BPF).

Há um longo caminho a ser percorrido para que haja maior coordenação

entre as organizações que tratam da segurança e qualidade dos alimentos. O

exemplo do MAPA, ver organograma na Figura 5, conforme a complexidade

organizacional pode-se ver que diversos órgãos tratam, diretamente ou

indiretamente, sobre a questão da segurança, qualidade e inocuidade dos

alimentos (circulados em vermelho). Alem disso, discutido no presente estudo, há

sobreposição de normas entre a ANVISA e o MAPA e entre outros órgãos que

tratam sobre o tema, o que fica caracterizado ainda mais a descoordenação entre

as instituições para garantir a saúde dos consumidores.

Figura 5. Organograma Mapa (2009)

Fonte: MAPA

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90

Pressupõe no presente estudo que, uma vez criadas as instancias

organizacionais, tende a prevalecer a inércia que marca o setor público, a

dificuldade para fechar serviços, departamentos, etc., caracterizados pela

tendência de crescer mesmo quando se funde e se reestrutura para reduzir seu

ambiente institucional. É certo que esta situação reflete, em parte, a própria

natureza multifacetada da cultura brasileira; mas reflete, também, um processo

evolutivo particular das instituições e uma maneira específica de lidar com os

problemas, que em geral responde ex post por meio de novas regulamentações e

criação de novos departamentos, coordenação, institutos, etc, e raramente

“racionaliza” o marco institucional, eliminando leis superadas, consolidando-as,

reformando organizações, para pretensamente arrumar a casa. O ambiente

institucional brasileiro é um sistema que vai evoluindo de uma maneira

descoordenada, respondendo às pressões da sociedade, com driver diferente,

custos de transação elevados e com maior dificuldade para funcionar e solucionar

os problemas que vão surgindo, a exemplo da recente interdição da fábrica na

Ambev (uma renomada marca de cerveja e que “supostamente” trás em seu bojo

“segurança”) em São Luis no Maranhão, levou 3 anos para a empresa fosse

interditada para verificar as denúncias realizadas por consumidores. Houve a

participação do Ministério Público e da Anvisa. Verifica-se, no entanto, que há a

negligência do sistema em pontos chaves, como a questão da saúde dos

consumidores (principio este que está fundamentado na própria CF).

Diferentemente, na União Européia, que adota o sistema de alerta rápido. A

partir do momento em que há uma denúncia, independentemente do produto ter

ou não insegurança, ele é retirado de circulação do mercado, em 24 horas, para

posteriormente avaliar os riscos, uma vez que há a preocupação, em primeiro

lugar com a saúde da população.

Destaca-se ainda, que o Brasil tem que estar adequado aos novos desafios

dos exigentes mercados consumidores, bem como sua estrutura física, os

números e os níveis de capacitação dos recursos humanos. Ainda, precisa reduzir

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o número de instituições formais que tratam da questão da qualidade e segurança

dos alimentos, haja vista o excesso de normas existentes, muitas vezes com sua

aplicabilidade ineficaz (verificar a sua complexidade no Quadro 2 a título

exemplificativo)

Quadro 2. Marco institucional do MAPA LEIS

• Lei nº 9.973, de 29 de maio de 2000, dispõe sobre o sistema de armazenagem dos produtos agropecuários. DECRETOS • Decreto nº 5.705, de fevereiro de 2006, promulga o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da Convenção sobre Diversidade Biológica. • Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, Regulamenta a Lei nº 7.802, de 11/071989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. • Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952, aprova o novo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal.

INSTRUÇÃO NORMATIVA • Instrução Normativa 12 08/05/2009 12/05/2009 Altera a Instrução Normativa nº 33, de 12 de julho de 2007, que aprova os Requisitos Técnicos Obrigatórios ou Recomendados para Certificação de Unidades Armazenadoras em Ambiente Natural. • Instrução Normativa 42 31/12/2008 05/01/2009 Institui o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal - PNCRC/Vegetal. • Instrução Normativa 40 30/06/2008 01/07/2008 Dispõe sobre a importação de animais, vegetais, seus produtos, derivados e partes, subprodutos, resíduos de valor econômico e dos insumos agropecuários constantes do Anexo desta Instrução Normativa atenderá aos critérios regulamentares e aos procedimentos de fiscalização, inspeção, controle de qualidade e sistemas de análise de risco, fixados pelos setores competentes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA e observarão as normas para registro no SISCOMEX. • Instrução Normativa 28 15/05/2008 16/05/2008 Institui o Programa Nacional de Educação Sanitária em Defesa Agropecuária. • Instrução Normativa 56 04/12/2007 06/12/2007 Estabelece os Procedimentos para Registro, Fiscalização e Controle de Estabelecimentos Avícolas de Reproduçao e Comerciais. • Instrução Normativa 33 12/07/2007 16/07/2007 Aprova os Requisitos Técnicos Obrigatórios ou Recomendados para Certificação de Unidades Armazenadoras em Ambiente Natural, conforme o Anexo I, desta Instrução Normativa. • Instrução Normativa 29 14/06/2007 15/06/2007 Aprova os Procedimentos para a Importação de Produtos destinados à Alimentação Animal. • Instrução Normativa 28 12/06/2007 14/06/2007 Aprovar o Regulamento Técnico para fixação de Identidade e Qualidade de Composto Lácteo. • Instrução Normativa 27 12/06/2007 14/06/2007 Aprovar o Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de Leite em Pó Modificado. • Instrução Normativa 26 12/06/2007 15/06/2007 Aprova o Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e Qualidade de Leite Aromatizado. • Instrução Normativa 6 13/03/2007 21/03/2007 Aprova a nova versão do Sistema Integrado de Medidas Fitossanitárias de Mitigação de Risco - SMR para a praga Cydia pomonella nas culturas de maçã, pêra e marmelo da República Argentina, com vistas ao programa de exportação de maçã, pêra e marmelo destinados ao Brasil, na safra 2006/2007 • Instrução Normativa 4 23/02/2007 01/03/2007 Aprova o Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de boas práticas de fabricação para estabelecimentos fabricantes de produtos destinados à Alimentação Animal e o Roteiro de Inspeção.

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• Instrução Normativa 1 16/01/2007 17/01/2007 Estabelece os critérios para credenciamento, reconhecimento, extensão de escopo e monitoramento de laboratórios no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de forma a integrarem a Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, constantes do Anexo à presente Instrução Normativa. • Instrução Normativa 67 04/12/2006 05/12/2006 Institui o monitoramento de resíduos de agrotóxicos em frutas destinadas à União Européia, em conformidade com o estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA no Plano Nacional de Segurança e Qualidade dos Produtos de Origem Vegetal - PNSQV, especificado em sua parte integrante do Programa Nacional de Monitoramento e Controle de Resíduos Químicos e Biológicos em Produtos Vegetais - PNCRV. • Instrução Normativa 66 27/11/2006 13/12/2006 Aprova o regulamento para credenciamento de Empresas para realização de tratamentos fitossanitários com fins quarentenários, no trânsito internacional de vegetais, seus produtos, subprodutos e embalagens de madeira, conforme os anexos que integram esta Instrução Normativa. • Instrução Normativa 36 10/11/2006 14/11/2006 Aprova o Manual de Procedimentos Operacionais da Vigilância Agropecuária Internacional. • Instrução Normativa 58 23/10/2006 26/10/2006 Institui o monitoramento de resíduos de agrotóxicos em frutas destinadas à União Européia, em conformidade com o estabelecido pelo MAPA no Plano Nacional de Segurança e Qualidade dos Produtos de Origem Vegetal - PNSQV, especificado em sua parte integrante do Programa Nacional de Monitoramento e Controle de Resíduos Químicos e Biológicos em Produtos Vegetais - PNCRV. • Instrução Normativa 19 24/07/2006 28/07/2006 Estabelece os requisitos para adesão dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, individualmente ou por meio de consórcios, ao Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, integrado pelo Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, Sistema Brasileiro de Inspeção de Insumos Agrícolas e Sistema Brasileiro de Inspeção de Insumos Pecuários, na forma dos Anexos I, II, III e IV. • Instrução Normativa 17 13/07/2006 14/07/2006 Estabelece a Norma Operacional do Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV), constante do Anexo I, aplicável a todas as fases da produção, transformação, distribuição e dos serviços agropecuários. • Instrução Normativa 16 13/07/2006 17/07/2006 Incorporar ao ordenamento jurídico nacional a Decisão MERCOSUL/CMC/DEC nº 25/05, de 8 de dezembro de 2005, do Conselho do Mercado Comum, que aprova o Programa de Ação MERCOSUL Livre de Febre Aftosa. • Instrução Normativa 11 27/03/2006 05/04/2006 Aprova a nova versão do Sistema Integrado de Medidas Fitossanitárias de Mitigação de Risco - SMR para a praga Cydia pomonella nas culturas de maçã, pêra e marmelo da República Argentina, em anexo, com vistas ao programa de exportação de maçã, pêra e marmelo destinados ao Brasil, na safra 2005/2006. • Instrução Normativa 11 08/06/2005 10/06/2005 Aprova o Regulamento Técnico para Registro e Fiscalização de Estabelecimentos que Manipulam Produtos de uso Veterinário. • Instrução Normativa 13 27/05/2004 28/05/2004 Dispõe sobre monitoramento e controle da inocuidade e qualidade da castanha do Brasil na cadeia produtiva. • Instrução Normativa 2 14/01/2004 15/01/2004 Aprovar as normas que dispõem sobre a fiscalização da produção, do comércio de material genético de animais domésticos e da prestação de serviços na área de reprodução animal. • Instrução Normativa 16 14/11/2003 20/11/2003 Adotar o Standard Regional em Proteção Fitossanitária 2.10 - Diretrizes para a Autorização de Fiscais Federais Agropecuários para a Emissão de Certificados Fitossanitários, aprovado pelo Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul - COSAVE. • Instrução Normativa 15 29/10/2003 30/10/2003 Aprova o Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos que Processam Resíduos de Animais Destinados à Alimentação Animal, o Modelo de Documento Comercial e o Roteiro de Inspeção das Boas Práticas de Fabricação. • Instrução Normativa 14 16/10/2003 17/10/2003 Dispõe sobre as importações de fertilizantes, corretivos, inoculantes e biofertilizantes, e suas respectivas matérias-primas, uma vez atendidas as legislações pertinentes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, observarão as normas para registro no Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX. • Instrução Normativa 43 04/06/2003 05/06/2003 Fica autorizada a realização da anuência antecipada do Licenciamento de Importação para a importação de mercadorias e produtos

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agropecuários. • Instrução Normativa 7 14/05/2003 15/05/2003 Dispõe sobre as importações de fertilizantes, corretivos, inoculantes e biofertilizantes, e suas respectivas matérias-primas, uma vez atendidas as legislações pertinentes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, observarão as normas para registro no Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX. • Instrução Normativa 28 09/05/2003 12/05/2003 Fica autorizada a realização da anuência antecipada do Licenciamento de Importação para a importação de mercadorias e produtos agropecuários, desde que sejam cumpridas as exigências estabelecidas nesta Instrução. • Instrução Normativa 25 15/04/2003 16/04/2003 As importações de vegetais, seus produtos, derivados e partes, subprodutos, resíduos de valor econômico, agrotóxicos, produtos técnicos e afins, uma vez atendidas as legislações pertinentes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, observarão as normas para registro no SISCOMEX. • Instrução Normativa 1 13/02/2003 28/02/2003 Aprovar o Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Fabricantes e Industrializadores de Alimentos para Animais e o Roteiro de Inspeção. • Instrução Normativa 8 31/01/2003 03/02/2003 Aprova o programa, anexo, para implementação do Sistema Integrado de Medidas de Mitigação de Risco para a praga Cydia pomonella nas culturas de maçã, pêra e marmelo da República Argentina, com vistas à exportação para o Brasil, na safra 2002/2003 e 2003/2004. • Instrução Normativa 67 19/12/2002 23/12/2002 Dispõe sobre as autorizações para importação de animais, vegetais, seus produtos, derivados e partes, subprodutos, resíduos de valor econômico e dos insumos agropecuários. • Instrução Normativa 6 10/01/2002 16/01/2002 Aprova o Glossário de Termos Empregados no Credenciamento, Certificação e Inspeção da Produção Orgânica; os Critérios de Credenciamento de Entidades Certificadoras de Produtos Orgânicos e as Diretrizes para Procedimentos de Inspeção e Certificação. II - os Critérios de Credenciamento de Entidades Certificadoras de Produtos Orgânicos, constantes do Anexo II desta; e III - as Diretrizes para Procedimentos de Inspeção e Certificação, constantes do Anexo III desta. • Instrução Normativa 26 12/06/2001 02/07/2001 Aprova o Manual de Procedimentos Operacionais da Vigilância Agropecuária Internacional, a ser utilizado na fiscalização e inspeção do trânsito internacional de produtos agropecuários, nos aeroportos internacionais, portos estruturados, postos de fronteira e aduanas especiais.

CIRCULARES • Circular nº 52 20/12/2006 Objetiva disciplinar e padronizar os procedimentos que envolvem a análise de processos que forem encaminhados por Estados, Municípios e Distrito Federal ao DIPOA/SDA/MAPA, solicitando reconhecimento dos seus serviços de inspeção para adesão ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal, conforme previsto no Anexo I da Instrução Normativa Nº 19, de 24 de julho de 2006; • Circular nº 19 26/04/2006 26/04/2006 Dispõe sobre orientação para emissão de certificado sanitário para exportação de produtos de origem animal não comestíveis. • Circular nº 42 26/10/2005 26/10/2005 Alteração dos termos da Circular nº 041/2005/DIPOA/SDA, relativa aos procedimentos a serem observados durante o transito de produtos de origem animal produzidos ou de passagem por território brasileiro afetado de Febre Aftosa. • Circular nº 41 24/10/2005 24/10/2005 Procedimentos a serem observados durante o transito de produtos de origem animal produzidos ou de passagem por território brasileiro afetado de Febre Aftosa. • Circular nº 175 16/05/2005 16/05/2005 Procedimentos de Verificação dos Programas de Autocontrole (Versão Preliminar) Fonte: MAPA

1.1.4 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

A atual estrutura e competências do Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior está estabelecida pela Lei n.º 10.683/2003. Tem

como missão construir um Brasil competitivo, justo e rico em oportunidades, em

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parceria com setores produtivos, através de ações que resultem na melhoria da

qualidade de vida da população47.

Dentre as suas competências, no setor de alimentos, se encontra a

metrologia, normalização e qualidade industrial que é realizada pelo Instituto

Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), que

será melhor explicado no próximo item.

Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro

O Inmetro é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que atua como Secretaria

Executiva do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

Industrial (Conmetro), colegiado interministerial, que é o órgão normativo do

Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro).

Com objetivo da integração de uma estrutura sistêmica articulada, o

Sinmetro, o Conmetro e o Inmetro foram criados pela Lei 5.966, de 11 de

dezembro de 1973, cabendo a este último substituir o então Instituto Nacional de

Pesos e Medidas (INPM) e ampliar significativamente o seu raio de atuação a

serviço da sociedade brasileira.

No âmbito de sua ampla missão institucional, o Inmetro objetiva fortalecer

as empresas nacionais, aumentando sua produtividade por meio da adoção de

mecanismos destinados à melhoria da qualidade de produtos e serviços.

Tem como missão dar maior credibilidade nas medições e nos produtos,

através da metrologia e da avaliação da conformidade, promovendo a

harmonização das relações de consumo, a inovação e a competitividade do País.

Ainda, visa harmonizar os interesses do consumidor individual, do consumidor

institucional, do produtor e do país.

Dentre as competências e atribuições do Inmetro destacam-se:

47 Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=1&menu =1680>. Acesso em: 25jun.2008.

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• Executar as políticas nacionais de metrologia e da qualidade;

• Verificar a observância das normas técnicas e legais, no que se refere

às unidades de medida, métodos de medição, medidas materializadas,

instrumentos de medição e produtos pré-medidos;

• Manter e conservar os padrões das unidades de medida, assim como

implantar e manter a cadeia de rastreabilidade dos padrões das

unidades de medida no país, de forma a torná-las harmônicas

internamente e compatíveis no plano internacional, visando, em nível

primário, à sua aceitação universal e, em nível secundário, à sua

utilização como suporte ao setor produtivo, com vistas à qualidade de

bens e serviços;

• Fortalecer a participação do país nas atividades internacionais

relacionadas com metrologia e qualidade, além de promover o

intercâmbio com entidades e organismos estrangeiros e internacionais;

• Prestar suporte técnico e administrativo ao Conselho Nacional de

Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Conmetro, bem como

aos seus comitês de assessoramento, atuando como sua Secretaria-

Executiva;

• Fomentar a utilização da técnica de gestão da qualidade nas empresas

brasileiras;

• Planejar e executar as atividades de acreditação de laboratórios de

calibração e de ensaios, de provedores de ensaios de proficiência, de

organismos de certificação, de inspeção, de treinamento e de outros,

necessários ao desenvolvimento da infra-estrutura de serviços

tecnológicos no país; e

• Coordenar, no âmbito do Sinmetro, a certificação compulsória e

voluntária de produtos, de processos, de serviços e a certificação

voluntária.

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A implantação do Inmetro foi relevante para inserção da indústria brasileira

no cenário internacional uma vez que contribui para promover a padronização de

produtos e adequação às exigências internacionais. À medida que as ações do

Inmetro tenham maior credibilidade, maior será a legitimidade da fiscalização para

garantia da inocuidade dos alimentos.

Desde 1980, sob a coordenação do Inmetro está Comitê Codex

Alimentarius do Brasil (CCAB) – que tem por objetivo analisar e adequar os

estudos e os projetos de normas do Codex aos interesses nacionais. Nesse

período, surge também o método científico de Análise de Risco (AR), cuja

aplicação inicial dirigiu-se à segurança industrial, ao meio ambiente e à saúde,

para conter os custos financeiros investidos, pelas empresas e pelo Estado, frente

às mudanças na complexidade dos riscos decorrentes das grandes

transformações tecnológicas e científicas vivenciadas pela sociedade (FREITAS &

GOMES, 1997).

A “análise de risco” fundamenta-se em uma abordagem científica com

caráter multidisciplinar e integrador para identificar, quantificar as relações entre

os agentes de riscos e os danos e respaldar as alternativas, para mitigar ou

aceitar os riscos, as quais serão analisadas e decididas coletivamente pelos

diversos atores envolvidos (FREITAS & GOMES, 1997).

Sob a perspectiva do controle internacional dos riscos dos alimentos, em

2005, foi aprovada a primeira norma AR intitulada de Princípios de aplicación

práctica para el análisis de riesgos aplicables en el marco del Codex Alimentarius,

rege-se pelos princípios da efetividade, participação, transparência e atualização à

luz dos novos dados científicos e consiste em um método estruturado que

compreende três elementos distintos, porém estreitamente vinculados:

• Avaliação de risco – fundamenta-se em conhecimentos científicos sobre

os perigos e riscos em toda extensão da cadeia produtiva, os métodos de controle,

a incidência de efeitos prejudiciais à saúde, tanto agudos quanto crônicos,

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acumulativos e ou combinados, e os grupos da população vulneráveis ou expostos

a alto risco;

• Gerenciamento de risco – trata-se do processo de decisão sobre as

opções de gerenciamento, o qual deve contemplar as incertezas, as

conseqüências econômicas, a viabilidade técnica, política e econômica, entre

outros fatores;

• Comunicação de risco – consiste na difusão das informações às partes

interessadas, de forma transparente, a fim de garantir a sua adequada

participação e o gerenciamento eficaz dos riscos.

Os membros do CCAB48 reconhecem a importância da AR para o Brasil e

concordam que o governo deveria incorporá-la como política oficial para lidar com

os riscos relativos aos alimentos. Os argumentos apresentados, em sua defesa,

se fundamentam pelo reconhecimento da coerência desse instrumental, dos êxitos

para a melhoria do sistema de controle de alimentos de qualquer país e das

vantagens auferidas ao país ao focalizar o comércio.

A segurança dos alimentos é um fator fundamental de desenvolvimento e

sustentabilidade de um país. Para garantir a inocuidade dos alimentos é

necessários a adoção de regulamentação eficiente e de procedimentos de

controle que sejam implementados desde a produção primária até o consumidor

final.

Para expressar em um conceito único as funções básicas do Sistema

Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – SINMETRO, o

termo Tecnologia Industrial Básica (TIB) foi concebido pela extinta Secretaria de

48

Esse Comitê congrega representações de oito instituições do governo, cinco entidades do setor produtivo

e de uma associação de proteção e de defesa dos consumidores. Seus membros são formalmente indicados

por essas 14 representações, a saber: Inmetro; Ministérios das Relações Exteriores; da Saúde; da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento; da Fazenda; da Ciência e Tecnologia; da Justiça; e do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Associação Brasileira de Indústria de Alimentos; Associação

Brasileira de Normas Técnicas; Confederação Nacional da Indústria Confederação Nacional da Agricultura;

Confederação Nacional do Comércio e Instituto de Defesa do Consumidor.

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98

Tecnologia Industrial (STI), do antigo Ministério da Indústria e do Comércio - MIC,

no final da década de 1970. A trajetória do fomento à TIB se dá através do

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico –

PADCT,resumida em três momentos:

1984-1991: estruturação de base laboratorial capaz de atender à demanda

por serviços de calibração, implantação de serviços de informação tecnológica

industrial e o desenvolvimento e difusão da gestão da qualidade;

1992-1996: modernização dos sistemas de metrologia, normalização e

avaliação da conformidade, e continuidade do apoio à informação tecnológica e à

gestão da qualidade;

1997 em diante: harmonização dos sistemas de metrologia, normalização e

avaliação da conformidade com seus congêneres de outros países, e apoio à

propriedade intelectual e às tecnologias de gestão, como instrumentos de acesso

a mercados.

É importante o TIB nos mercados exigentes quanto à certificação de

produtos por entidades credenciadas, com base em ensaios realizados por

laboratórios credenciados e conduzidos segundo normas (campo voluntário) e

regulamentos técnicos (campo compulsório). Sem o reconhecimento mútuo dos

sistemas de certificação e credenciamento entre os países, o preço de um produto

fica acrescido do custo de tantas certificações diferentes quantos forem os

mercados de destino dos bens, o que reduz a capacidade competitiva das

empresas. Crescimento da necessidade da certificação de sistemas de gestão da

qualidade, ambiental, saúde ocupacional e segurança industrial.

No campo da integração comercial em escala global, há questões que

impactam diretamente na competitividade brasileira: a construção do Mercosul -

Mercado Comum do Sul, a construção da ALCA - Área de Livre Comércio das

Américas, a integração do Mercosul com a unidade européia e a participação na

OMC - Organização Mundial do Comércio. Em todos esses processos há uma

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99

preocupação muito grande e muito objetiva para com as chamadas Barreiras

Técnicas ao comércio, que são medidas relacionadas a regulamentos técnicos,

normas e procedimentos para avaliação da conformidade que podem vir a criar

obstáculos ao comércio.

Com a diminuição e, em alguns casos, eliminação das barreiras tarifárias,

conseqüência do término da Rodada Uruguai do GATT e da criação da OMC, uma

eventual proteção (legítima ou não) de mercados tende a recair sobre as áreas de

normalização e regulamentação técnica, tendo numa extremidade a avaliação da

conformidade (e os conseqüentes Sistemas da Garantia da Qualidade Certificados

e a Certificação de Produtos), e na outra, a Metrologia. A complexidade que cerca

esse campo é de tal ordem que a OMC propôs aos países membros o Acordo de

Barreiras Técnicas, com adesão brasileira. Este acordo multilateral visa eliminar

as barreiras técnicas que dificultam o comércio internacional.

1.1.5 Ministério da Justiça

O Ministério da Justiça tem por missão garantir e promover a cidadania, a

justiça e a segurança pública, através de uma ação conjunta entre o Estado e a

sociedade. Dentre as suas competências, estabelecida pelo Decreto nº 6.061, de

15 de março de 2007, está promover a defesa da ordem econômica nacional e

dos direitos do consumidor, realizada pela Secretaria de Direito Econômico, que é

composta pelo Departamento de Defesa e Proteção do Consumidor (DPDC) e

Departamento de Proteção e Defesa Econômica.

Este item tem por objetivo apresentar o DPDC, seu funcionamento e a sua

importância na questão da qualidade dos alimentos.

Departamento de Defesa e Proteção do Consumidor - DPDC

A história da defesa do consumidor no Brasil tem no Código de Defesa do

Consumidor (CDC - Lei n.º 8.78/90) seu grande marco. Embora o Código seja

recente, o movimento de defesa do consumidor teve início na década de XX.

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No Brasil, a política nacional de proteção ao consumidor é coordenada pelo

Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), da Secretaria de

Direito Econômico do Ministério da Justiça. O DPDC é organismo de coordenação

da política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor.

Atualmente, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor

(DPDC/SDE/MJ) e a Ouvidoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA/MS) iniciaram um trabalho integrado para ampliar a divulgação das

medidas sanitárias de grande interesse público e impacto nacional, tornando mais

efetivas essas ações.

Desta forma, foi lançado o Aviso Saúde e Segurança - Programa do

DPDC/MJ e da ANVISA/MS, como resultado de uma ação de combate e controle

de riscos à população. O Aviso será enviado para todos os integrantes dos

sistemas de vigilância sanitária (SNVS) e defesa do consumidor (SNDC) de forma

articulada e com objetivo de fortalecer essas áreas. Entretanto, até os dias atuais,

esse serviço somente foi usado na área farmacêutica e não na área da segurança

dos alimentos, conforme demonstrado no site do DPDC49.

Código de Defesa do Consumidor - CDC (Brasil)

Após a orientação da CF para a criação de normas para a defesa do

consumidor, em 1990, foi criado o CDC, que dispõe sobre normas de proteção e

defesa do consumidor, da ordem pública e interesse social, nos termos da

Constituição Federal. Estabeleceu a Política Nacional das Relações de

Consumo50, entendida como um conjunto de ações dos órgãos federais, estaduais

e municipais de defesa do consumidor, articuladas e preordenadas ao

49 Disponível em: <http://www.mj.gov.br/dpdc/data/Pages/MJB1F03491ITEMIDE595CF72FA774C 13AE09E6ACEC10549BPTBRNN.htm>. Acesso em: 15jan.09. 50 Para a economia, o consumo é visto sob o ponto de vista da demanda. Assim, a política de consumo pode ter várias finalidades: expandir ou restringir o volume de recursos que uma comunidade destina ao atendimento direto de suas necessidades, conforme seja a ênfase a ser dada ao investimento; promover um maior consumo de bens produzidos no país, para, por exemplo, aliviar as pressões sobre o balanço de pagamentos; dirigir esse mesmo consumo para determinados mercados; fazer com que o abastecimento da população provenha de certas fontes adrede escolhidas e assim por diante. Aí, o campo de ação da política é o ato de consumir ou o conjunto de atos de consumir. (NUSDEO, 1992)

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atendimento das necessidades dos consumidores, preservando a sua dignidade, a

sua saúde e segurança e os seus interesses econômicos.

O CDC vincula o atendimento dos objetivos da Política Nacional das

Relações de Consumo com uma ação governamental de proteção efetiva do

consumidor, através da:

• Presença do Estado no mercado de consumo;

• Garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de

qualidade, segurança, durabilidade e desempenho;

• Coibição e repressão eficientes de todos os abusos, praticados no

mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal, que possam

causar prejuízo aos consumidores;

• Compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de

desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os

princípios nos quais se funda a ordem econômica;

• Incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle

de qualidade e segurança dos produtos e serviços.

Com a promulgação do CDC foi instituído o Sistema Nacional de Defesa do

Consumidor (SNDC)51, pelo Decreto n.º 2.181/97, integrado pelos órgãos federais,

estaduais, do Distrito Federal e municipais de defesa do consumidor, além das

entidades civis que se ocupem do mesmo objetivo, dispondo sobre a organização

do SNDC e estabelecendo as normas gerais de aplicação das sanções

administrativas previstas pelo CDC.

Disciplinou a atuação do concorrente das entidades políticas, ao determinar

que “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios fiscalizarão e

controlarão a produção, a industrialização, a distribuição, a publicidade de

produtos e serviços e o mercado de consumo, no interesse da preservação da

51 O Decreto Federal nº 2.181/97, organizou o SNDC e estabeleceu as normas gerais de aplicação das sanções administrativas previstas no CDC e em legislação complementar (art. 56, CDC).

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vida, da saúde, da segurança, da informação e do bem-estar do consumidor,

editando normas que se fizerem necessárias.

No CDC está previsto as espécies de sanções administrativas passíveis de

aplicação pelos órgãos públicos de defesa do consumidor, sem prejuízo das

definidas em normas específicas, a possibilidade de aplicação cumulativa e

cautelar e os requisitos para a mesma.

Portanto, o CDC buscou adaptar as atividades econômicas às exigências

sociais, promovendo o equilíbrio dos contratos, a defesa dos consumidores e a

coibição dos abusos praticados pelo poder econômico dos fornecedores. Enfim, o

CDC visa regular os meios de satisfação de todas as exigências e necessidades

sociais advindas de relações de consumo e, simultaneamente, por se tratar de

uma norma de ordem pública, impor, de modo obrigatório, os limites mínimos a

essas relações de consumo, atingindo-se desde a relação individual de consumo

até a defesa dos interesses difusos (coletivos) dos consumidores.

E os órgãos públicos integrantes do SNDC, por exigência constitucional e

legal, não somente tem a prerrogativa, mas o dever de fiscalizar as relações de

consumo e aplicar sanções administrativas aos fornecedores que infringirem as

normas de defesa do consumidor, em razão do seu poder de polícia

administrativa.

Ainda, por estipulação constitucional, e com base no pacto federativo, os

órgãos públicos de defesa do consumidor, as agências reguladoras e os demais

órgãos públicos são devedores de uma atuação concorrente e solidária em

beneficio da sociedade. Nesse sentido, os órgãos públicos de defesa do

consumidor são instrumentos de defesa social, vinculados a proteção dos

interesses dos consumidores, hoje elevados e garantidos como direitos individuais

e coletivos da pessoa humana pela Constituição Federal.

Portanto, em seu contexto normativo, o CDC rompe, em alguns pontos,

com os esquemas tradicionais, diligenciando, nas esferas de sua atuação, dotar o

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consumidor de um sistema protetivo adequado. Enuncia e ordena,

administrativamente, medidas punitivas mais coerentes com o atual

sancionamento penal, em que se prevêem penas condizentes com a CF; com

relação às sanções civis, torna-se mais viável a percepção de indenização pelo

consumidor lesado, imprimindo feições próprias às responsabilidade civil nas

relações de consumo.

Prevê, ainda, um regime de informações claras e precisas ao consumidor,

disciplinando a oferta e a publicidade de produtos, dando ênfase a expedientes

que não sejam lesivos aos consumidores, entre outras atuações protetivas.

Assim, as normas impostas de defesa do consumidor (no caso do Brasil, o

Código de Defesa do Consumidor) obrigaram as empresas a adotarem uma série

de medidas para dar mais segurança aos consumidores. Além de padrões mais

rígidos de controle de qualidade, o CDC impôs regras para os rótulos dos

produtos, tornando obrigatórias todas as informações necessárias ao consumo

adequado e seguro, como os ingredientes presentes na composição, o nome e o

endereço do fabricante, o carimbo do SIF (Serviço de Inspeção Federal), se for de

origem animal, ou do Ministério da Saúde, se for de origem vegetal, a data de

fabricação, o prazo de validade e advertência quanto à presença de substâncias

que podem causar alergias ou outros problemas de saúde.

Portanto, a proteção do consumidor, conferida através da normatização do

direito do consumidor, respondeu a uma demanda da sociedade e às

necessidades de proteger o agente mais vulnerável da transação econômica e

impor condições mínimas de isonomia à compensação no que ser refere a

qualidade dos produtos e riscos, e ao respeito aos contratos, instando a adoção

de medidas preventivas, coercitivas e punitivas, visando a assegurar ao

consumidor proteção à vida, à saúde, à liberdade de escolham e à igualdade de

condições nos contratos (DONATO, 1993). E esta proteção se dá principalmente

através de instituições, como o IDEC, que chamamos no presente estudo de

consumidor institucional.

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Constata-se que o marco regulatório brasileiro sobre segurança dos

alimentos é bastante extenso, o que não quer dizer que ele seja eficaz no controle,

fiscalização e monitoramento na segurança dos alimentos, pois, sempre há

noticias em todo o território nacional de que em algum lugar houve um episodio

sanitário. Constata-se ainda que, apesar do extenso marco regulatório, ainda há

no Brasil descoordenação entre as instituições que fiscalizam a qualidade dos

alimentos, mesmo o país adotando um marco regulatório comum ao adotado em

nível internacional.

Há muitos anos o movimento de consumidores está envolvido no processo

de normatização de alimentos, com vista a proteger a saúde dos consumidores.

Cita-se como exemplo a criação da organização consumerista Consumers

International (CI)52 que desenvolve ações de fiscalização sobre contextos

reguladores insuficientes e fragmentado, programas de inocuidade com unidades

de supervisão e controle precário, publicidade enganosa, rotulagem insuficiente de

produtos e doenças transmitidas pelos alimentos (DTA), entre outros temas. A

organização tem ainda como linha de ação a pesquisa, o treinamento e a

acessória técnica, as organizações membros em assuntos alimentares, tais como

segurança alimentar, Codex Alimentarius, nutrição e inocuidade dos alimentos.

CONSUMIDOR COLETIVO COMO ORGANIZAÇÃO

Decorrente das falhas de mercado, e por conseqüência, da assimetria de

informação, nos últimos anos, foram criadas organizações de consumidores, seja

por sua própria iniciativa ou trabalhando em conjunto com outras organizações ou

aparelho estatal, que dentre outras atribuições, desenvolvem atividades em

matéria de alimentos inócuos e uma alimentação saudável como linha de defesa

dos direitos dos consumidores. Em razão da legitimidade dada pela própria CF, no

presente estudo focada na questão da segurança e qualidade dos alimentos, que

52 E uma organização criada em 1960, por um pequeno grupo de organizações de consumidores, que é reconhecida por sua atuação nos movimentos de consumidores internacionais em diversas questões, como padronização de produtos, desenvolvimento, saúde e políticas sociais.

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as demandas destas instituições passaram a orientar o esclarecimento aos

consumidores sobre seus direitos.

No Brasil, há diversas organizações53, com denominação jurídica

diversificada (institutos, associações, movimentos de donas de casa, centros de

defesa, entre outros), que tem por interesse a defesa e proteção dos

consumidores, com a missão de informar e educar a sociedade, contribuindo para

a formação de uma consciência critica e atuação na solução dos conflitos nas

relações de consumo.

Dentre essas organizações destaca-se o Instituto de Defesa do Consumidor

– IDEC, pela sua atuação na defesa dos direitos dos consumidores, melhor

detalhado no próximo item.

Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC

Criado em 1987, o IDEC é uma organização não governamental, sem fins

lucrativos e independente, com o objetivo de proteger os interesses dos

consumidores. O IDEC surgiu um ano antes da vigência da Constituição Federal

(CF), em 1988, e três anos antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor

(CDC) em 1990.

O IDEC tem por missão proteger coletivamente os interesses dos

consumidores, promover a educação, a conscientização, a defesa dos interesses

do consumidor e a ética nas relações de consumo.

53 Dentre as principais instituições civis de defesa do consumidor destaca-se: ABCCON/MS- Associação Brasileira da Cidadania e do Consumidor; ABED/CE- Associação Brasileira de Economistas Domésticos; ACOPA/PR- Associação dos Consumidores de Produtos Orgânicos; ACN- Associação Cidade Verde; ADCB / JE / BA- Associação das Donas de Casa da Bahia- Jequié; ADECON- Associação de Defesa da Cidadania e do Consumidor; ADOC- Associação de Defesa e Orientação do Cidadão; ADUSEPS- Associação dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde; CDC- Centro de Defesa do Consumidor do Rio Grande do Norte; DECONOR- Comitê de Defesa do Conselho Organizado de Florianópolis; ICONES- Instituto para o Consumo Educativo Sustentável; IDEC- Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor; MDC/MG- Movimento das Donas de Casa e Consumidores de Minas Gerais; MDCC/GO- Movimento das Donas de Casa de Goiás; MDCC/RS- Movimento das Donas de Casa do Rio Grande do Sul; MDCCB- Movimento das Donas de Casa e Consumidores da Bahia; VIDA BRASIL- Valorização do Indivíduo e Desenvolvimento Ativo, entre outros.

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Tem, ainda, como linha de atuação com relação à segurança dos alimentos:

judicial (no caso dos hormônios de crescimento usados em bovinos e outras

substâncias potencialmente nocivas); elaboração ou aperfeiçoamento de normas

sanitárias e políticas públicas; presta informações e orientações à população;

analisa constantemente os produtos colocados no mercado, bem como

informações completas, claras e precisas nos rótulos e nas embalagens,

garantindo ao consumidor alimentos mais saudáveis e seguros.

O IDEC acompanhou à evolução do mercado de alimentos e às mudanças

de hábitos alimentares dos consumidores que ocorreram nos últimos anos,

marcando presença em todas as principais questões relativas aos alimentos.

A primeira atuação da organização se referiu diretamente a uma questão de

segurança dos alimentos: uma ação civil pública, em setembro de 1988, contra o

Ministério da Agricultura54, exigindo a proibição do uso de um hormônio, com

efeito cancerígeno, utilizado para engorda de gado - Dietilestilbestrol (DES)55.

Dos anabolizantes aos bancos, dos serviços públicos às “pílulas de farinha”,

dezenas de ações judiciais se sucederam em defesa dos consumidores propostas

pelo IDEC:

• Em 1995, o governo brasileiro anunciou que pretendia liberar o uso de

vários hormônios, entre eles a progesterona, testosterona e 17

betaestradiol, o qual concluiu que se usadas corretamente, seriam

inócuas para a saúde. A organização se manifestou contra a liberação,

pois o problema estava justamente no controle do uso desses

54 A ação foi embasada no estudo de um pediatra, que descrevia as implicações da presença do hormônio sobre o desenvolvimento da criança. A polêmica serviu para que a sociedade começasse a prestar atenção nos seus direitos, embora o CDC ainda não existisse. A vitória da ação do IDEC ocorreu 12 anos após a sua propositura. O resultado foi uma vitoria histórica dos consumidores. A sentença obrigava o governo a aumentar a fiscalização, a fazer analises regulares na carne para detectar resíduos da droga e a publicar os resultados semanalmente no Diário Oficial da União. 55 O uso desta droga foi condenada pela OMS, em 1974. Mas no Brasil, a proibição aconteceu em 1987, mas foi ignorada pelos pecuaristas brasileiros. Cerca de 70% da carne bovina consumida proveniente dos rebanhos do Mato Grosso do Sul, Goiás e Rio Grande do Sul, neste período, chega à mesa dos consumidores contendo esteróides anabólicos como o DES.

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hormônios, pois 70% dos abates ocorrem clandestinamente sem

nenhum controle sanitário oficial, o que demonstra que o governo

federal, estadual e municipal não tem condições para fiscalizar o uso do

medicamento.

• Em 1996, solicitou a suspensão do uso da ractopamina ao Ministério da

Agricultura, droga promotora do crescimento usada nas rações para

suínos.

• Em 1998, através de uma ação judicial uma liminar, impediu o governo

liberar a comercialização de soja transgênica antes que a CTNBio

elaborar as normas especificas para esse tipo de alimento. A ação

visou garantir uma previa avaliação dos riscos para a saúde do

consumidor, a rotulagem de organismos geneticamente modificados

(OGMs), e a realização de um estudo sobre o impacto ambiental56.

• Em 1999, foi a vez dos nitrofuranos (furazolidona e nitrofurazona),

também considerados inseguros para a saúde humana.

• Em 2000 juntamente com Greenpeeace, apresentou uma lista de

produtos que continham ingredientes transgênicos além da

porcentagem permitida. Os produtos detectados foram: Chips sabor

bacon, com 8,7% de contaminação; creme de millho verde Knorr, com

4,7%; macarrão instantâneo Cup Noodles, com 4,5%. Salsichas Swift,

com 3,9% entre outros57.

• Em 2001, solicitou junto ao MAPA a proibição do uso de BSTr

(somatrotopina bovina recombinante) em vacas leiteiras e de

antimicrobianos em rações (carbadox, olaquindox, bacitracina de zinco,

56 E em decorrência da decisão judicial e a pressão das associações civis de defesa do consumidor, foi editado o Decreto Presidencial nº 3.871, a primeira norma sobre rotulagem de alimentos transgênicos no Brasil. Entretanto, em razão das diversas falhas que possuía o Decreto, em 2003 foi editado um novo Decreto sob nº 4.680, obrigando que os produtos que contivessem mais de 1% de transgênicos em sua composição deveriam constar um símbolo informando o consumidor que aquele alimento é proveniente de um produto transgênico. 57 Disponível em: www.idec.org.br. Acesso em 10/01/2009.

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espiramicina, virginiamicina e fosfato de tilosina), todos já proibidos na

União Européia58.

O IDEC atua no setor de alimentos, realizando diversos testes para analisar

a qualidade e inocuidade dos alimentos. Na grande maioria dos produtos

analisados59 foram descobertas irregularidades as quais o consumidor dificilmente

poderia identificar, mas que eram passíveis de causar riscos a sua saúde. Foram

encontrados produtos contaminados por microorganismos causadores de

doenças, uso de aditivos químicos potencialmente nocivos, fraudes no peso,

desrespeito à legislação sanitária, falta de informações na embalagem,

divergências entre a composição do produto e os dados no rótulo e uma infinidade

de outros problemas.

Entre 1990 e 2007, foram realizados 221 teses e pesquisas, envolvendo

4.229 produtos e serviços. Cerca de 25% dos itens avaliados estavam em

desacordo com as normas de saúde pública e 34% descumpriam as normas de

segurança60. Em 1994 foram avaliadas 25 marcas de palmito em conserva, o qual

foi constatado que parte dessas marcas apresentava nível de acidez abaixo do

necessário, o que poderia resultar em intoxicação por botulismo. Após essa

constatação, a ANVISA convidou o órgão para participar da reformulação da

regulamentação do produto.

Portanto, o IDEC é uma organização relevante para dar as informações

necessárias à sociedade em geral, diminuindo a assimetria de informação que

ocorre nas falhas de mercado do setor alimentício, principalmente, pela sua

atuação na construção de políticas publicas mais eficaz para a defesa dos

interesses dos consumidores na questão da segurança dos alimentos.

58 Ate 2007 ainda não havia uma posição do governo sobre o emprego dessas drogas. 59 Diversas marcas de leite, arroz, feijão, água mineral, frango, embutidos, óleos vegetais, farinhas, sal, açúcar, biscoitos, achocolatados. 60 Disponível em: www.idec.org.br. Acesso em 10/01/2009.

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PROCONS

O CDC deu atenção especial à produção, industrialização, distribuição e

consumo de produtos e serviços, determinando que os governos federal, estadual

e municipal61, nas suas respectivas áreas de atuação, editassem normas que

regulassem cada setor acima mencionado (art. 55, caput, CDC).

O PROCON e outros órgãos afins surgiram partir da consolidação da

legislação consumerista, mais especificamente a criação do Código de Defesa do

Consumidor em 1990, o que atendeu a norma meta contida no art.170 inc. V da

Constituição Federal de 1988. Daí em diante, a estrutura do sistema de nacional

de defesa do consumidor se expandiu em sua multiplicidade de órgãos nas

esferas municipais, estaduais e federais.

O Procon estadual é uma instituição de atuação administrativa que tem por

função desenvolver as atividades de planejamento, elaboração, preposição,

coordenação e execução da política estadual de proteção e defesa do

consumidor, na sua respectiva área de atuação. Dispõe o marco legal que a

fiscalização do mercado de consumo será efetuada por agentes fiscais,

oficialmente designados, vinculados aos respectivos órgãos de proteção e defesa

do consumidor (Procons), devidamente credenciados.

O PROCON recebe variadas espécies de reclamações, as mais comuns se

referem à alimentação, roupas, móveis, eletrodomésticos, consertos, remédios,

instituições de ensino, instituições financeiras, transportes, planos de saúde.

61 O Município tem a legitimidade para a defesa dos consumidores, para fiscalizar e controlar “a produção, industrialização, distribuição, publicidade de produtos e serviços e o mercado de consumo, no interesse da preservação da vida, da saúde, da segurança, da informação e do bem-estar do consumidor”, através da criação do Procon Municipal, têm juntamente com as outras esferas do governo a obrigação de fiscalizar, revisar, atualizar as normas para as relações de consumo.

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APONTAMENTOS SOBRE A COMPLEXIDADE DO AMBIENTE INSTITUCIONAL NACIONAL NA QUESTÃO DA SEGURANÇA DOS ALIMENTOS

Este capítulo, portanto, teve por fim apresentar as instituições formais que

tratam destes princípios gerais. Optou-se por discutir primeiramente a regra geral

internacional, ou seja, o Codex, para depois apresentar as principais instituições

que versam sobre a segurança dos alimentos no Brasil.

Após a análise do ambiente institucional nacional, se denota a grande

complexidade que há para fiscalizar e controlar a qualidade dos alimentos e

bebidas. Essa complexidade também se denota quando se verifica o

funcionamento do ambiente institucional, visto que o controle sanitário de

alimentos e bebidas é partilhado por diversas organizações: pelos setores da

saúde (Ministério da Saúde) e da agricultura (Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento) e o das águas minerais, com o setor das minas e energia.

Ainda, compete ao setor saúde o controle sanitário e o registro dos

produtos alimentícios industrializados, com exceção dos produtos de origem

animal. Compete ainda ao setor saúde participação no controle das águas de

consumo humano e o controle do sal quanto ao teor de iodo, uma medida de

Saúde Pública fundamental para evitar o bócio endêmico.

As operações realizadas para a concessão do registro de alimentos são

semelhantes àquelas dos demais produtos. Os produtos de origem animal ficam a

cargo do MAPA, da produção à distribuição, cabendo ao setor saúde o controle no

comércio varejista. A repartição de competências entre os setores da saúde e da

agricultura nunca foi ponto pacífico, manifestando-se na legislação, que muitas

vezes apresentam lacunas, ambigüidades e conflitos de competência, inclusive a

legislação atual.

Questões dessa natureza são freqüentes no campo da Vigilância Sanitária

e muitas vezes chegam a obstruir ou retardar medidas de proteção da saúde em

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situações críticas, como ocorreu no episódio da Operação Ouro Branco, da

adulteração do leite.

O controle das bebidas tem sido tradicionalmente de competência do

MAPA. O atual ordenamento jurídico atribui ao SUS o controle sanitário, tanto dos

alimentos, quanto das bebidas, criando conflitos de competência. Na prática,

somente o MAPA atua na matéria.

Os procedimentos para registrar produtos de origem animal e seus

derivados são semelhantes aos descritos para os demais alimentos, havendo

requisitos fixadas pelo setor saúde no tocante a aditivos e coadjuvantes de

fabricação. A inspeção das instalações, e equipamentos é feita pelo Serviço de

Inspeção Federal (SIF), que dá o parecer sobre a capacidade tecnológica e

adequação sanitária das instalações às especificidades do produto a ser

fabricado. A concessão do registro é privativa do MAPA.

As normas básicas do controle sanitário dos produtos de origem animal

constam do Regulamento da Inspeção Federal – Decreto n.º 30.621/52 – que

regulamenta a Lei n.º 1.283/50. Esta lei tornou obrigatória a prévia fiscalização

industrial e sanitária de todos os produtos de origem animal, comestíveis e não

comestíveis, dos animais destinados ao abate, seus produtos e subprodutos,

assim como o registro dos respectivos estabelecimentos industriais, comerciais e

entrepostos. Após a CF que atribuiu ao SUS o controle dos alimentos foi

sancionada a Lei n.º 7.889/89, reafirmando as competências do MAPA e

fiscalização pelos órgãos de Saúde Pública das Unidades Federadas circunscritas

às casas atacadistas e estabelecimentos varejistas.

O Ministério da Agricultura responsabiliza-se apenas pelos produtos

destinados à exportação e os de circulação interestadual. Na realidade, a maior

parte dos municípios brasileiros não inspeciona os produtos de origem animal,

nem dispõe de condições adequadas de abate. Em muitos casos, esses locais se

transformam em sérios problemas de saúde pública. Diferentemente da atuação

do setor saúde o Ministério da Agricultura tem seus serviços instalados nos

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próprios estabelecimentos, desenvolvendo uma ação de inspeção dos animais a

serem abatidos, carnes, leite etc, que, a rigor, deveria ser de responsabilidade do

produtor, cabendo ao Estado a atividade de fiscalização que incluiria inspeção.

A situação sanitária dos produtos de origem animal relaciona-se com as

políticas agrícolas e de defesa sanitária animal. A produção agropecuária, cada

vez mais é dependente de fertilizantes químicos, agrotóxicos e variedade de

produtos farmacêuticos veterinários, muitas vezes usados de modo inadequado e

sem controle, vem congregando um conjunto de elementos potencializadores de

riscos à saúde humana, dos trabalhadores do setor, à saúde animal e ambiental,

necessitando cada vez mais de normas regulamentadoras para coibir os

excessos.

Além dos riscos de veiculação de doenças infecto-parasitárias, há riscos de

outros agravos menos perceptíveis relacionados com resíduos tóxicos, fármacos

anabolizantes e hormônios, que não são detectados nas inspeções e análises

comuns. Para tanto, são necessárias análises laboratoriais específicas, existindo

no país poucos laboratórios capacitados na matéria. No geral as poucas análises

realizadas restringem-se apenas aos produtos destinados à exportação, pelas

exigências de concorrência do mercado, cada vez mais competitivo e exigente.

Se o controle dos alimentos industrializados é precário, os produtos

vegetais in natura chegam à mesa da população com pouquíssimo controle

sanitário. Segundo Gutierrz & Almeida (2008), o Brasil é apontado em documento

da Organização das Nações Unidas para Agricultura – como um dos países que

mais exageram na aplicação de agrotóxicos na lavoura, especialmente na

horticultura, verificando-se um uso crescente62. Avalia-se que houve um

incremento na utilização de agrotóxicos da ordem de 45% no período de dez anos.

62 Apesar da legislação brasileira ser bastante exigente quanto a utilização de agrotóxicos, em conformidade com a legislação internacional, infelizmente a realidade demonstra que é impossível garantir a segurança dos alimentos em virtude da falta de registro de agrotóxicos utilizados, principalmente no setor da horticultura. É impossível garantir a segurança do alimento quando este apresenta resíduo de um principio ativo que não foi testado para determinada cultura. O

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A questão da produção, armazenagem, transporte e comercialização de

alimentos no Brasil, apesar de um extenso aparato legislativo, ainda é

preocupante, não apenas pela baixa qualidade sanitária de muitos produtos ainda,

colocando em risco a saúde da população, mas também pelos prejuízos

econômicos, em função de perdas, de aumento dos custos de transação, elevação

de preços, entre outros fatores.

Diante desta complexidade que há a necessidade da compreensão do

ambiente institucional no tocante à segurança dos alimentos, tendo em vista que é

atualmente é objeto de políticas públicas, campanhas e programas nacionais;

envolvendo diferentes disciplinas e áreas do aparelho de Estado, o que exige uma

ação integrada de profissionais de formação diversificada, como engenheiros

agrônomos, nutricionistas, biólogos, médicos, sociólogos, advogados e

economistas, dentre outros, além do concurso de múltiplas instituições.

Após diversos episódios sanitários, foram criados órgãos específicos para o

tratamento da questão da qualidade dos alimentos bem como estabelecidas

normas para identificação dos alimentos (rastreabilidade, rotulagem, código de

barras e marcas comerciais). No Brasil, estes acontecimentos parecem ter

alterado, de um lado, o comportamento do consumidor em relação à segurança

sanitária dos alimentos e, por outro, contribuíram para uma maior atuação de

organizações de defesa do consumidor (tais como o Instituto Brasileiro de Defesa

do Consumidor, os Procons, o Movimento das Donas de Casas, a Curadoria do

Ministério Público, entre outros) no provimento de informações e de fiscalização

dos processos de produção de alimentos.

É provável que a “preocupação” ou maior conscientização dos

consumidores quanto à segurança dos alimentos não se traduza em ações

concretas no mercado, e que os mesmos tomem o preço – mais que a qualidade e

o atributo da segurança – como referência básica para decisão de adquirir os

monitoramento de resíduo de agrotóxico ainda é uma pratica não acatada pela maioria dos produtores, principalmente em decorrência do alto custo de monitoramento (GUTIERRZ & ALMEIDA, 2008).

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produtos. Ainda assim, dois fatos são inegáveis. O primeiro refere-se à mudança

do ambiente institucional da segurança dos alimentos; o segundo é que essas

mudanças acarretaram conseqüências sobre a estratégia das empresas e sobre a

sua organização de produção.

Muitas dessas mudanças, ainda são embrionárias, localizadas, mas sem

dúvida, apontam tentativas relevantes para alcançar o objetivo maior que é a

segurança dos alimentos.

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115

CAPÍTULO 3. MECANISMOS ORGANIZACIONAIS PARA A QUALIDADE DOS ALIMENTOS

Os produtos devem ser avaliados e fiscalizados constantemente para

verificar se foram elaborados de acordo com uma norma ou regulamento técnico

específico editado por determinado órgão governamental responsável, para

atestar que os requisitos estabelecidos por estes regulamentos, foram cumpridos.

E, dentre estas avaliações, a qualidade é um dos fatores analisados de maior

importância para a questão da segurança dos alimentos.

Segundo Pessanha (1998), a conscientização dos consumidores, dos

governos, dos produtores agrícolas e das empresas do sistema agroalimentar

eleva os requisitos de qualidade e segurança dos alimentos. Esta demanda por

produtos seguros se traduz em mercados mais exigentes, e a competição leva as

empresas a buscar respostas aos novos anseios dos consumidores.

Tais preocupações acabam por exigir a regulamentação de normas de

rotulagem, preservação de identidade e rastreabilidade de produtos alimentares,

entre outros ― transgênicos, convencionais ou orgânicos― com os objetivos de:

a) facilitar o monitoramento e o fortalecimento da segurança dos alimentos para

assegurar a saúde pública, de modo a permitir a identificação de eventuais fontes

de contaminação alimentar, o subseqüente isolamento da causa da contaminação

e a remoção do alimento contaminado do mercado; b) reforçar a garantia do

direito de informação sobre segurança e qualidade dos alimentos aos

consumidores, reduzindo a assimetria de informação por meio do fornecimento de

informações adicionais sobre qualidade e sanidade dos produtos, de tal modo que

o consumidor possa escolher os produtos a serem adquiridos de acordo com sua

preferência; e c) aumentar a proteção de consumidores contra fraudes e contra a

concorrência desleal, por meio da obrigatoriedade da constituição de sistemas de

rastreabilidade pelas firmas produtoras de alimentos com atributos alimentares

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substantivos e diferenciados, de modo a verificar e provar a existência de tais

atributos (PESSANHA, 2004).

Com o processo da globalização, compreendido como mundialização dos

fluxos de comércio e de capitais, e para o atendimento das exigências para

obtenção de alimentos seguros, aspecto relevante diante das novas exigências

dos consumidores (certificação de qualidade, garantia de origem, entre outros),

foram criados mecanismos públicos para assegurar padrões de qualidade, bem

como privados para assegurar a proteção dos mercados, demonstrado na Tabela

2.

Tabela 2. Classificação dos mecanismos organizacionais Padrões Privados (institucionais)

Certificação (GLOBALGAP)

Padronização Marca

Padrões Públicos (multistakeholder)

Rastreabilidade Rotulagem de alimentos Indicações Geográficas

Padrões Privados (internacionais)

Codex Alimentarius

HACCPP ISO 22000

Padrões Públicos (nacionais) Programa de Alimento Seguro (PAS)

PIF SAPI

SISBOV Pró-orgânicoPNCR

Fonte: elaboração própria

A organização dos diversos mecanismos organizacionais sob a égide de

uma política pública voltada à obtenção de alimentos seguros, que compreende o

atendimento a exigências sanitárias, tecnológicas, ambientais e sociais,

homogeneizando os procedimentos e o apoio às cadeias produtivas agropecuária

no Brasil deve ser principal o objetivo de estratégia para promover a inclusão dos

mesmos no âmago de uma “Política de Estado”.

Spers (2003) salienta que as novas tecnologias e concorrência incentivam a

elaboração dos institutos formais (regras). As regulamentações impostas pelo

mercado, tais como a rastreabilidade, criaram barreiras não tarifarias, acaba por

exigir a definição e a regulamentação de práticas de controle do processo de

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produção e conservação de alimentos ou que identifiquem a origem do produto,

através de mecanismos organizacionais.

Esse cenário apresenta novos desafios às organizações envolvidas na

Cadeia Produtiva de Alimentos, pois essas deverão, de forma integrada, fazer uso

mais eficiente dos seus insumos, desenvolver processos e produtos inócuos,

gerenciar os recursos naturais e humanos de forma mais responsável e garantir a

segurança dos alimentos do produto final, práticas que se tornam viáveis a partir

da aplicação dos requisitos de normas e padrões internacionais e nacionais e da

certificação.

Diante da diversidade de instituições públicas e privadas criadas, os

próximos itens tem como objetivo apresentar os diferentes tipos de mecanismos

organizacionais, para garantir o controle da qualidade dos alimentos.

A PADRONIZAÇÃO

A padronização é uma técnica que visa reduzir a variabilidade dos

processos de trabalho sem prejudicar sua flexibilidade. Isso significa que os

produtos devem atender as expectativas dos clientes de forma regular e ao menor

custo possível. Pode ser aplicada a um processo isolado ou a uma organização

como um todo. A aplicação à organização como um todo traz os maiores

benefícios e cria uma cultura de padronização. Devido ao fator cultural, pode ser

muito difícil padronizar com sucesso um processo isolado dentro de uma

organização.

Cada vez mais as empresas enxergam o mecanismo da padronização

como uma ferramenta competitiva, que afeta os custos de produção, as relações

com os clientes os prazos de entrega e nível de satisfação do cliente e

principalmente, a qualidade dos serviços e produtos oferecidos; não se trata, é

óbvio, de uma panacéia, mas é cada vez mais importante para a competitividade

das empresas de alimentos, seja no segmento de produtos in natura seja no de

processados.

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É particularmente relevante o instituto no gerenciamento de sistemas ou por

sistemas. O gerenciamento por sistemas envolve a padronização desde a

contratação do projeto até a entrega do produto final (conforme requisitos da NBR

ISO 9001 ou em qualquer outra norma da série NBR ISO 9000). Ainda, o

mecanismo é fundamental no controle da qualidade e dos sistemas que

pretendam atingir a qualidade total, assim os problemas de qualidade, custo,

atendimento, moral e segurança, podem ser eliminados.

Além da padronização de sistemas, as empresas buscam, cada vez mais, a

padronização de produtos em conformidade com sua imagem corporativa e com

as necessidades/exigências dos seus clientes. A imposição de padrões tem

implicações em toda a cadeia e leva à necessidade de especificar a matéria-

prima, o processo, o empacotamento, transporte, apresentação ao público,

conservação e até visual.

Muitas empresas buscam associar sua imagem corporativa à qualidade dos

alimentos ou à “causa ambiental”. Nestes casos, procuram a padronização com

base nos requisitos das NBR ISO 9001 e NBR ISO 14001 e muitas utilizam um

Sistema de Gestão Integrada.

A relação entre a padronização e os custos de transações é bem conhecida

(WILLIAMSON, 1985). Basicamente, a padronização introduz novos custos que as

empresas não tinham: contratação de consultores especializados para montar os

sistemas, manutenção e gestão dos sistemas de controle, montagem e

administração da rede de suprimento, contratos mais complexos de suprimento

etc. O fato de estes custos serem bem concretos leva muitas empresas a evitar e

ou postergar a adoção de sistemas de padronização, e só o fazem sob coação da

concorrência ou por imposição das normas técnicas. Mas, quando se considera e

compara os custos de transação em sua totalidade, parece não haver dúvidas de

que a padronização contribui para reduzi-los63.

63 Devido à ocorrência de assimetria de informação no setor de alimentos, há uma demanda,

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Ocorre que parte da redução é sobre itens que, embora estratégicos, não

implicam em desembolsos imediatos e nem entram no livro caixa das empresas,

como por exemplo, o dano à imagem corporativa devido a problema de sanidade

com seus produtos, perda de contratos, multas etc. Mas também permite

economia palpáveis: inicialmente a inspeção dos produtos era realizada

visualmente por “especialistas” no produto. É praticamente impossível para uma

empresa de porte médio atender seu mercado, que tem exigências diferentes,

com base no controle do “olhômetro”. A introdução de padrões é acompanhada de

métodos mais objetivos que em geral reduz o custo e viabiliza o atendimento de

mais mercados e maior volume de negócios.

Além do seu importante papel nas transações econômicas, a padronização

talvez seja o principal mecanismo de redução da assimetria de informação ao

longo de toda a cadeia de suprimento, do produtor da matéria prima ao

consumidor final. A padronização reduz os custos de informação associados à

identificação das características dos bens e serviços consumidos; reduz também a

enorme complexidade técnica envolvida na caracterização dos produtos, e que

impõe enorme dificuldade para os consumidores tomarem suas decisões; por

último, reduz os custos de monitoramento do sistema como um todo.

O produtor que está inserido em uma cadeia de suprimento organizada já

não precisa incorrer em custos de informação elevados para saber o que deve

produzir e como produzir; há economia de custos de transação associados a

falhas de análise que podem levá-lo a priorizar um atributo específico, quando o

cliente buscava outro; ou por não ter atendido ao que ele considerava o padrão,

principalmente por parte dos consumidores, por mecanismos que reduzam as incertezas da qualidade dos produtos alimentares. Nesse contexto, surgem mecanismos para garantir a qualidade, tais como a padronização, para suprir essa informação. Portanto, percebe-se que há a necessidade de mecanismos organizacionais para a garantia da qualidade do alimento, tanto por parte dos vendedores quanto por parte dos consumidores. Os primeiros, pelo fato de poderem garantir que seus produtos são realmente de qualidade, e os consumidores necessitam deles para que tenham certeza sobre a qualidade dos alimentos que estão consumindo, recompondo condições para o adequado funcionamento dos mercados (NUNES, 1999).

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quando na prática as exigências do cliente eram outras. É suficiente adotar o

“padrão” para evitar esses custos.

As mesmas economias estão presentes em todos os elos da cadeia e

podem ser resumidas no fato de a padronização facilitar a vida de todos na

sociedade moderna. Os consumidores, por exemplo, aprendem a identificar

padrões (produtos naturais, light, dietéticos, etc.) e podem se concentrar na

escolha da marca de confiança ou em buscar o melhor preço. O problema se

desloca para a confiabilidade dos padrões, que varia de país para país.

Mas a padronização é utilizada atualmente não como um capricho da vida

moderna. É muito mais do que isso. Passaram a ser uma exigência das

sociedades urbanizadas, onde a busca da qualidade, segurança, regularidade e

consistência dos produtos e serviços é fortemente manifesta. São consideradas de

extrema importância para o funcionamento das cadeias produtivas, por

contribuírem para o aperfeiçoamento do fluxo de informações e o entendimento

entre vendedores, compradores e os demais agentes sócio-econômicos

envolvidos nas transações comerciais.

No Brasil, no final dos anos 1990, as atividades industriais e agroindustriais

passaram a depender fortemente da normalização. Padronização e normalização

são conceitos bastante relacionados. São processos que se sucedem e se

interpenetram. A normalização é o processo por meio do qual os padrões são

criteriosamente detalhados, objetivando tanto a sua definição minuciosa quanto a

sua reprodução industrial. A normalização estabelece as condições necessárias a

serem atendidas para a produção/reprodução dos padrões. Esse processo de

normalização pode estar voltado tanto para produtos como para serviços e para

sistemas. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT-, é o órgão

responsável pela normalização técnica em todo o País. A normalização tornou-se

uma atividade essencial para o desempenho competitivo da agroindústria.

No que concerne precisamente à classificação e à padronização, nos anos

mais recentes, o Brasil criou um ambiente institucional e um marco regulatório que

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regulamenta a atuação dos agentes dentro dos diferentes complexos

agroindustriais centrados em determinados produtos, como soja, café, cana-de-

açúcar, milho, aves e outros. A classificação e a padronização oficial para os

produtos agropecuários brasileiros começaram por aqueles destinados à

exportação. Surgiu como uma resposta às exigências do mercado externo.

Usando outra expressão: classificação e padronização apresentam-se como uma

reação a demandas de determinados nós de uma vasta rede, onde alguns desses

nós estão localizados no exterior. Com a padronização a questão da informação

imperfeita desloca-se para a informação sobre os padrões e para o controle do

enforcement dos padrões.

A CERTIFICAÇÃO

A discussão econômica sobre a certificação de produtos agroalimentares é

ampla e complexa. O debate sobre qual é o nível adequado da intervenção

governamental na certificação é atual e muito procedente.

As entidades normalizadoras podem ser governamentais ou não, estão

situadas em vários países, tais como a ABNT, o INMETRO, a ISO, o GLOBALGAP

e o BRC. Seu objetivo principal é criar normas que deverão ser seguidas pelos

produtores de alimentos, de forma que se reduza ao menor risco possível a

capacidade do alimento tornar-se perigoso ao consumidor final. Tais normas são

criadas de acordo com os interesses mercadológicos e através de reuniões com

vários integrantes da cadeia produtiva de alimentos, bem como com

representantes de órgãos do governo e dos próprios consumidores.

Existem diferentes maneiras para certificar. Há a certificação compulsória,

que é regulamentada por lei ou portaria de um órgão regulamentador. A

compulsoriedade dá prioridade às questões de segurança, saúde e meio

ambiente, assim os produtos listados nas regulamentações apenas podem ser

comercializados com a certificação realizada por um organismo de certificação de

produto acreditado (reconhecido) pelo Inmetro64. Ou pode ser certificação

64 Atualmente são os seguintes os produtos com certificação compulsória: Barras e Fios de Aço,

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voluntária, que não possui qualquer regulamentação de órgão oficial, dá-se

destaque as certificações de sistemas de gestão da qualidade (NBR ISO 9000)65 e

gestão ambiental (NBR ISO 14000). Este tipo de certificação está associado à

disputa de mercado, fidelização do consumidor, construção da imagem

institucional corporativa etc.

As principais normas que têm afetado o setor produtivo de alimentos in

natura para exportação no Brasil são o Protocolo GLOBALGAP, o sistema

APPCC, a norma BRC. Já no mercado brasileiro, existe todo o aparato de normas

e legislações criadas pela ANVISA para manipulação e industrialização de

alimentos, que são exigidas pelas grandes redes de supermercados, bem como as

normas PIF (Produção Integrada de Frutas) e a SAPI (Sistema Agrícola de

Produção Integrada) que objetivam a produção de alimentos seguros no campo,

que foram desenvolvidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(MAPA), EMBRAPA, SEBRAE, entre outros.

De acordo com Spers (2000) uma utilidade dos certificados é evitar ações

oportunísticas (que podem surgir quando a informação sobre o produto específico

é distribuída pelo próprio fabricante) por parte de algumas empresas, ou seja,

impede que essas empresas aleguem a utilização de ingredientes ou processos

que não são utilizados, mas que são explorados na comunicação junto aos

consumidores, por ser de difícil comprovação. Daí surge a importância da

Brinquedo - Segurança, Cabos e Cordões Flexíveis, Capacete de proteção para ocupantes de Motocicletas e similares, Configuração de Motores - Emissão Veicular, Dispositivo de Fixação de Contêiner - Fabricação, Eixo Veicular Auxiliar - Adaptação, Eixo Veicular Auxiliar - Fabricação, Embalagem Plástica para Álcool, Equipamento Elétrico para Atmosfera Explosiva, Equipamentos Eletromédicos, Extintor de Incêndio - Fabricação, Extintor de Incêndio - Inspeção, Manutenção e Recarga, Fios e Cabos Isolados até 750 V, Filtro Tipo Prensa para Óleo Diesel, Fósforo, Fusível Tipo Rolha Cartucho, Mamadeira, Mangueira PVC para GLP, Pneus novos de Automóveis, Caminhões e Ônibus, Pneus Novos de Motocicletas, Motoneta e Ciclomotor, Ônibus Urbano - Carroçarias, Recipiente de Aço para GLP - (Botijão de gás), Regulador de Pressão para GLP, Requalificação de Botijões de Gás (Distribuição de GLP), Preservativo Masculino, Vidros de Segurança dos Veículos, Veículo (Rodoviário) Porta-Contêiner - Fabricação e Adaptação. 65 O certificado é o documento que atesta a conformidade do sistema da qualidade implantado em uma empresa de acordo com os requisitos das normas da série NBR ISO 9000. A implantação do sistema da qualidade destina-se prioritariamente à obtenção da satisfação do cliente pela prevenção de não-conformidades em todos os estágios, desde a produção até os serviços associados (assistência técnica).

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reputação das instituições certificadoras e regulamentadoras, que devem ser

confiáveis e evitar ações oportunísticas.

Segundo Nassar (1999), a certificação passa a ser exigida, quando a

padronização torna-se insuficiente para atender as necessidades dos agentes e

consumidores; a padronização passa a ser complexa, exigindo certificados que

comprovem os padrões estabelecidos; e quando a padronização refere-se a

detalhes da produção. Segundo a American Heart Associatian a certificação

surge devido a grande variabilidade de alimentos que foram surgindo no mercado,

deixando confuso os consumidores quanto à qualidade e ao valor nutricional

desses alimentos, além disso, como houve um grande aumento do interesse dos

consumidores em fazer dietas balanceadas e em adquirir alimentos mais

saudáveis a certificação surge como uma ferramenta de fácil acesso e

entendimento pelos consumidores para obterem informações.

O sistema de certificação envolve três fatores: normas, órgãos

certificadores e organismos credenciadores, portanto, deve possuir um agente

regulamentador (que dita as normas), que pode ser o governo ou uma instituição

internacional; e um agente coordenador (órgão certificador que coordena o

processo), que pode ser uma associação privada, uma organização não

governamental, uma empresa privada ou uma empresa estatal. Segundo Nassar

(1999), o organismo certificador é uma organização coletiva que estabelece regras

de qualidade e meios para se fazer respeitar essas regras (enforcement),

permitindo que os mercados se formem e funcionem. Esses organismos

certificadores participam na construção de referências coletivas de qualidade. O

sistema de certificação pode ser representado pela Figura 6.

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Figura 6. O Sistema de Certificação

Fonte: NASSAR (1999)

Os certificados podem ser emitidos por organizações independentes, seja

elas privadas ou públicas, nacionais ou internacionais, e pela própria empresa

(autocertificação). O processo de certificação deve ser controlado para garantir

que os agentes certificados estejam realmente seguindo as normas impostas pelo

agente regulador. Assim, segundo Machado (2000), a certificação é um sinal de

qualidade fornecido por uma instituição formal (terceira parte ou Estado), que

assumem a responsabilidade de garantir a veracidade do que certificam,

fundamentando-se nas habilidades e conhecimentos técnicos, com apoio de

instrumentos de testes e de controle.

As certificações privadas cresceram principalmente em razão da falta de

confiança por parte da sociedade, nas marcas privadas e na fiscalização exercida

pelo Estado, exigindo novas formas de garantia da qualidade do alimento; razões

de estratégia empresarial; e, por fim por pressão do comércio internacional.

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A literatura demonstra que a certificação obrigatória é mais eficiente para

mercados em que há forte assimetria de informação e menos eficientes para

questões ambientais ou outras externalidades associadas à produção ou consumo

(CONCEIÇÃO & BARROS, 2005).

Segundo Spers (2003), os certificados de qualidade atestam diferentes

características do produto e ajudam o consumidor a entender essas

características ou atributos particulares presentes.

A certificação pode ser entendida como a “definição de atributos de um

produto, processo ou serviço e a garantia de que eles se enquadram em normas

pré-definidas” (NASSAR, 1999). Pode ser vista tanto como um instrumento para

as empresas gerenciarem e garantirem o nível de qualidade de seus produtos

como para informar e garantir aos consumidores que os produtos certificados

possuem os atributos procurados, atributos, esses, intrínsecos aos produtos.

Entende-se que esta ferramenta pode ser utilizada como uma forma de redução

da assimetria de informação: desde que seja crível, a certificação comprova a

existência dos atributos intrínsecos em determinado alimento e deixa o

consumidor mais seguro em relação ao seu consumo.

Para Machado (2000), a certificação é um instrumento formal que garante o

produto segundo especificações de qualidades preestabelecidas e é reconhecida

como um instrumento indispensável para dar confiabilidade aos produtos.

A certificação pode ser compulsória ou voluntária. A certificação

compulsória, de caráter obrigatório, é exigida para produtos com impacto nas

áreas de saúde, segurança e meio ambiente, e, em regra geral, deve ser

executada por organismo de certificação credenciado pelo Inmetro. Os produtos

certificados compulsoriamente somente podem ser comercializados se contiverem

gravados ou afixados em etiqueta (rótulo) a marca do Inmetro seguida do símbolo

do organismo certificador. Já a certificação voluntária é uma decisão exclusiva do

fornecedor de produtos ou serviços, o que possibilita que exista no mercado o

mesmo tipo de produto ou serviço com e sem certificação.

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No setor alimentício, alguns fatores estão contribuindo para o crescimento

do mercado de certificações, em particular o fato de que os atributos intrínsecos

dos produtos e aqueles responsáveis pela qualidade são complexos e de difícil

entendimento pelo consumidor, “gerando em muitos casos confusão,

superestimação ou subestimação dos seus efeitos à saúde humana” (SPERS,

2005).

Os certificados, emitidos e controlados por terceiros, reduzem a assimetria

de informação e evitam ações oportunistas que poderiam surgir se a informação

sobre o produto específico fosse distribuída pelo próprio fabricante (SPERS,

2005). A propaganda enganosa, proibida pelo Código de Defesa do Consumidor

(CDC), mais difícil de evitar, é o melhor exemplo de “oportunismo informacional”:

Algumas empresas exploram na comunicação junto aos consumidores processos

ou ingredientes que não realizam ou utilizam ou certas qualidades dos produtos de

difícil comprovação. Isto inclui desde alimentos com funções especiais até

remédios com tamanho poder curativo que deixa o consumidor mais atento

intrigado com a falha e até incompetência das multinacionais que gastam bilhões

de dólares em pesquisa e não foram capazes de inventar tal maravilha. Daí a

importância da reputação das instituições certificadoras e regulamentadoras para

reduzir a assimetria de informação e coibir ações oportunistas.

Ao lado da normalização e certificação pública, observa-se um rápido

crescimento da certificação privada. A sociedade parece não confiar na

fiscalização exercida pelo Estado, que como todos os serviços públicos funcionam

de forma precária e claramente insatisfatória; também parece desconfiar das

marcas privadas, a tal ponto que as boas marcas brasileiras têm valor de mercado

elevado. Neste contexto de “desconfiança institucional”, algumas certificadoras

privadas vêm conseguindo se afirmar e adquirir credibilidade para garantir, no

papel, a qualidade de alimentos; em alguns casos são os clientes internacionais

que exigem um certificado emitido por certificadora de sua confiança.

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Segundo a American Heart Association, a certificação surgiu devido à

grande variedade de produtos alimentícios que foram introduzidos aos

consumidores, deixando-os confusos em relação à qualidade e ao seu valor

nutricional; além disso, como houve um grande aumento do interesse dos

consumidores em fazer dietas balanceadas e em comer alimentos saudáveis, tais

como alimentos funcionais, a certificação ganhou espaço por ser uma ferramenta

fácil e rápida para ajudar os consumidores a ter acesso a essas informações.

Existem diferentes tipos de certificação, tais como certificação privada,

coletiva, de pureza, de sanidade, de produtos orgânicos, de produtos

transgênicos, certificação interna, entre outros. A própria marca também funciona

como certificado, ou seja, empresas com grande reputação entre consumidores

podem utilizar-se do poder de sua marca para certificar que seus produtos sejam

de alta qualidade e os consumidores acreditarão em razão da credibilidade da

própria marca. Para agropecuária, a certificação da propriedade é a garantia de

produtos livre de resíduos, produção de acordo com a legislação ambiental,

socialmente justo, bons tratos com os animais, manejos nutricionais e sanitários

adequados e economicamente viável.

Outra classificação adotada é a da certificação independente, surge como

uma inovação na organização dos mercados, garantindo maior segurança e

qualidade aos produtos para os consumidores. É considerada a terceira parte,

entre comprador e vendedor capaz de fornecer uma sinalização de mercado

credível que estimule tanto o produtor a investir numa determinada qualidade

quanto o consumidor a pagar por essa qualidade.

Segundo Hatanaka, Bain & Bush (2005), a intensificação do comércio

internacional de produtos agrícolas torna a fiscalização cada vez mais difícil o

controle sanitário dos alimentos pelos governos nacionais, dado que esses

governos não possuem uma infra-estrutura suficiente para exercer o controle

sobre os produtos oriundos de uma diversidade de países. Como conseqüência,

os autores observam uma realocação das responsabilidades de certificação da

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esfera pública para a esfera privada. E na esfera privada os autores dão destaque

à estratégia adotada pelos supermercados no sentido de forçar os seus

fornecedores (agrícolas e industriais) de estabelecer programas de rastreabilidade

e certificação a fim de reduzir a sua responsabilidade (liability) de qualquer efeito

adverso sobre o consumidor final (AQUINO & PELAEZ, 2007).

Tanner (2000) entende que a certificação independente tem grande

legitimidade, uma vez que ela se encontra como um adendo à cadeia. E Loader &

Hobbs (1999) entendem que a certificação independente é um importante

sinalizador de qualidade para diminuir a assimetria informacional ao longo da

cadeia agroalimentar.

Entretanto, pode-se afirmar que no Brasil a certificação ainda se encontra

em um estágio embrionário. Existem ações mais pontuais e articuladas na cadeia

da soja, como a Round Table (rodada responsável de reuniões) e a Moratória

(compromisso estabelecido em 2006 entre indústrias e exportadores associados à

Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais - ABIOVE e Associação

Nacional dos Exportadores de Cereais - ANEC de não adquirir soja oriunda de

novos desmatamentos do Bioma Amazônia) nas exportações. O trabalho com

fruticultura através do Programa Integrado de Fruta (PIF) também merece

referência. Em outros setores, ainda há muita divergência, como no Serviço de

Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (SISBOV).

PROTOCOLOS INTERNACIONAIS DE CERTIFICAÇÃO

Questões como segurança dos alimentos, preservação ambiental e

responsabilidade social vêm adquirindo importância crescente em todas as

atividades realizadas pelo homem. No setor agropecuário, nota-se a crescente

cobrança dos órgãos públicos, ONG’s, consumidores e da própria sociedade para

que as propriedades rurais e os processadores de alimentos desenvolvam

atividades ambientalmente corretas e forneçam produtos seguros para o consumo

em diferentes mercados mundiais.

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129

A tendência mercadológica tem demonstrado a exigência cada vez maior

de produtos inócuos e com qualidade, o que implica seguir normas e

regulamentos: sanitários, fitossanitários, ambientais, trabalhistas, éticos e morais,

entre outros.

E com a globalização, proporciona permanente crescimento da demanda

internacional de consumo de produtos agropecuários. Aliado a este crescimento,

existe o direito a reciprocidade comercial entre os países, determinado pelas

exigências mercadológicas dos compradores, que acabaram resultando na criação

de barreiras técnicas pelos importadores ou mesmo imposições ou restrições de

normas e regulamentos nos acordos comerciais internacionais. As barreiras não-

tarifárias impostas pelos países importadores têm forçado os países produtores a

adequarem-se às rígidas normas sanitárias e fitossanitárias e a limites máximos

de contaminação dos produtos vegetais e animais por agrotóxicos e outros

químicos, sendo que cada vez mais os países produtores precisam demonstrar

que atendem a tais normas e requisitos através de certificações.

Existem diferentes sistemas de certificação implementados para a garantia

dos alimentos seguros, que apresentam alto nível de detalhamento para execução

prática de aplicação, pressupondo custos de implementação, em virtude da

necessidade de introdução de novo manejo no processo de produção ou na

propriedade rural.

O presente item tem por objetivo apresentar os sistemas de certificações

mais utilizados para a garantia da segurança e qualidade dos alimentos adotados,

em âmbito internacional e nacional.

1.1.6 GLOBALGAP (EUREPGAP)

GLOBALGAP é uma organização privada que estabelece normas para a

certificação de produtos agrícolas em todo o mundo. É um sistema de gestão da

qualidade, com a finalidade de assegurar alimentos seguros. Suas normas foram

elaboradas para reafirmar perante os consumidores que a produção alimentar nas

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unidades de produção agrícola foi realizada seguindo padrões definidos para

minimizam os impactos negativos de operações agrícolas no meio-ambiente,

reduzir o uso de insumos químicos e garantir uma abordagem responsável em

relação à saúde e segurança dos empregados e saúde animal66.

A EUREPGAP iniciou o seu trabalho em 1997, como uma proposta dos

varejistas europeus pertencentes ao Euro-Retailer Produce Working Group

(EUREP). Organizaram o órgão resultante do interesse crescente dos

consumidores nos assuntos de segurança dos alimentos e normas ambientais ou

de trabalho, e por isso decidiram homogeneizar as suas próprias normas, que em

muitos casos apresentavam grandes diferenças umas das outras.

O EUREP elaborou normas e procedimentos harmônicos para o

desenvolvimento de Boas Práticas Agrícolas (BPA) na agricultura convencional,

incluindo a importância da Gestão Integrada das Culturas assim como de uma

abordagem responsável dos assuntos de bem-estar dos trabalhadores, para os

seguintes setores: frutas e vegetais, flores ornamentais, Integrated Farm

Assurance (IFA), aqüicultura e café. O protocolo da Integrated Farm Assurance

(IFA) foi desenvolvido em outubro de 2003 e envolve certificação em fazendas

leiteira, de carne bovina e de ovinos, de frangos, de suínos e de grãos. O

protocolo GLOBALGAP-IFA é baseado na BPA/GAP (Boas Práticas da

Agricultura), padrões globais de segurança dos alimentos e HACCP (Análise de

Perigo e Pontos Críticos de Controle). Ele cobre todo o processo de produção

agrícola do produto certificado, desde a entrada do animal no processo de

produção ou no plantio (origem e pontos de controle das sementes) até o produto

final não processado (não cobre o processamento ou abate) (PAULINO &

JACOMETI, 2008).

Conforme Lourenzani et al (2005), os princípios do Programa estão

baseados nos seguintes conceitos:

66 Disponível em: <http://www.globalgap.org/cms/front_content.php?idcat=9>. Acesso em: 08abril/2008.

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• Segurança Alimentar: se derivam dos princípios do HACCP (Análise de

riscos e pontos críticos de controle);

• Proteção Ambiental: designado para minimizar o impacto negativo da

produção agrícola no meio ambiente;

• Saúde, Segurança e Bem estar ocupacional: a normativa estabelece

um nível global de critérios de saúde e segurança ocupacional nas

fazendas, propiciando assim a responsabilidade social;

• Bem estar animal: a normativa estabelece um nível global de critérios

de bem estar animal nas fazendas.

Ao longo de 10 anos, houve um aumento crescente de adesão dos

produtores no mundo inteiro, principalmente em decorrência do aumento do

comércio internacional de produtos agropecuários. E, para não haver confusão

entre o nome da marca comercial com a nova realidade da norma de BPA, o

Conselho Administrativo decidiu modificar o nome da marca comercial para

GLOBALGAP, em 2007.

Possui 81.000 unidades de produção agrícola certificadas em 76 países,

(em 2004 eram somente 18.000). Com sede em Colônia, Alemanha, espera

alcançar o número de 100.000 membros ainda em 2008. Tem um orçamento

anual de 2,8 milhões de euros (US$ 4,3 milhões)67.

Nos últimos anos a lista dos varejistas que utilizam o Protocolo

GLOBALGAP tem crescido. E, atualmente, são membros certificados pelo

Protocolo o Wal-Mart, a McDonald’s Corp. e a Wegmans Food Markets Inc. Cada

vez mais os produtores americanos ansiosos para vender os seus produtos para o

mercado lucrativo europeu se adequam as normas do GLOBALGAP. Isto faz

inferir que cada vez mais empresas privadas têm aderido aos protocolos de

certificação e impondo suas regras nas cadeias agroalimentares. Este tipo de

67 Disponível em: <http://www.globalgap.org/cms/front_content.php?idcat=9&idart=395>. Acesso em: 08abril2008.

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enforcement, mesmo que privado, tem sido eficiente e acirra a competição entre

as empresas, a exemplo das redes de supermercados, que têm adotado padrões

de qualidade próprios para garantir a qualidade dos alimentos oferecidos ao

consumidor. No Brasil, tem-se o exemplo do Grupo Pão de Açúcar que adotou

marca própria com o selo de qualidade “Qualitá”, o que representa 20% das

vendas de cada categoria de produto da rede68.

O órgão aposta no apoio local e multilateral assim como na adaptação das

normas de BPA no contexto do comércio nacional e internacional: o princípio é

“Pense Globalmente, Aja Localmente”. Começou a adaptar de forma mais intensa

as atividades globais de implementação às necessidades dos produtores, sendo

que ao mesmo tempo procura receber informações qualificadas de especialistas

nacionais e de outras partes interessadas sobre as diferentes condições legais e

estruturais que existem mundialmente.

Este objetivo vem sendo alcançado com cada vez mais sucesso graças ao

estabelecimento dos Grupos de Trabalho Técnico Nacionais (GTTN), que têm a

função de desenvolver uma série de guias nacionais de interpretação e de abordar

os desafios específicos de adaptação e implementação local que forem

identificados.

Os Grupos de Trabalho Técnico Nacionais são estabelecidos

voluntariamente por membros GLOBALGAP em países onde existe uma

necessidade de esclarecimento sobre como implementar GLOBALGAP no âmbito

local. Os guias elaborados por este número crescente de grupos são aprovados

pelos Comitês Setoriais (CSs) e publicados no site GLOBALGAP. Os grupos são

estabelecidos e trabalham em colaboração estreita com o Secretariado

GLOBALGAP e os CSs, eles auxiliam na implementação de GLOBALGAP e

apóiam a melhoria contínua baseada nas necessidades específicas das diferentes

áreas.

68 Disponível em: <http://casesdesucesso.files.wordpress.com/2008/07/grupo-pao-de-acucar.pdf>. Acesso em: 14jul2009.

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O secretariado da GLOBALGAP é uma organização de serviços. Tem como

objetivo iniciar e facilitar os procedimentos necessários para organizar a

certificação e o sistema GLOBALGAP de equivalência (benchmarking)69, além de

garantir a integridade de todos os processos associados.

Os serviços globais concentram-se nos pontos a seguir:

• Desenvolvimento de capacidades através de eventos e atividades de

formação;

• Integridade do sistema através da administração dos organismos de

certificação e do banco de dados;

• Informação ao consumidor através de instrumentos personalizados.

A GLOBALGAP celebra contratos de serviço com Organismos de

Certificação (OCs) independentes, que funcionam como empresas externas de

auditoria. Os contratos garantem um alto padrão de qualidade e integridade. Tem

um programa mundial de integridade, através do qual todos os OCs são

fiscalizados. Os OCs não têm permissão para apoiar unidades de produção

certificadas ou controladas com consultas e devem comprovar que tem no mínimo

três anos de experiência com produtos do setor agroalimentar. Há uma

69 Titulares de normas de Boas Práticas Agrícolas (BPA) de todo o mundo podem requerer a verificação da equivalência de suas normas com GLOBALGAP através de um processo independente de verificação da equivalência (benchmarking). Partes interessadas podem enviar a sua candidatura na seção de Usuários Registrados e assim iniciar uma avaliação independente pelo Joint Accreditation System of Austrália and New Zealand (JAS-ANZ), a Agência Conjunta e Independente de Acreditação da Austrália e Nova Zelândia, e pelo Deutsches Akkreditierungssystem Prüfwesen GmbH (DAP), a Agência Alemã de Acreditação na Área de Testes. O processo GLOBALGAP de verificação da equivalência é comparável a um sistema de filtragem, já que qualifica e harmoniza diferentes normas em todo o mundo. Uma parte deste processo é uma revisão por pares, que neste caso é efetuada pelos membros com um prazo de seis semanas para levantar objeções. No final do processo de aprovação também é realizada uma avaliação por uma testemunha independente. As unidades de produção a serem verificadas devem cumprir com as exigências tanto da norma anterior como da norma GLOBALGAP. Isto é garantido através de auditorias paralelas que levam em consideração as condições específicas da unidade de produção. Disponível em: <http://www.globalgap.org/cms/front_content.php?idcat=29>. Acesso em: 08abril2008.

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homogeneização das normas de certificação da GLOBALGAP, e os produtores

associados terão uma garantia que seu produto é de qualidade.

O órgão possui um banco de dados de todos os produtores certificados do

mundo inteiro, na qual esta registrada as informações relevantes sobre os

produtos e certificações. Aqueles que atuam no mercado desfrutam de uma

verificação imediata de seus dados: como vendedores, para comprovar o seu

cumprimento com GLOBALGAP, ou como compradores, para cumprir com a sua

conduta de rastreabilidade.

Para a obtenção da certificação do Protocolo GLOBALGAP, os

interessados deverão ter cumprido todos os requisitos estabelecidos pelos pontos

de controle “check list”, de acordo com o estabelecido pela norma européia

EN4500470, ou seja: a) estar de acordo com as normas legais nacionais e

internacionais aplicáveis à sua atividade; b) estabelecer uma Gestão Ambiental

que garanta minimizar os impactos ambientais, incluindo o aproveitamento

racional dos recursos naturais; c) garantir o uso e manuseio adequados de

defensivos agrícolas; d) estabelecer uma Gestão Operacional que vise a redução

e controle dos riscos e perigos aos quais os trabalhadores estão sujeitos; e)

estabelecer uma Gestão de Qualidade do processo produtivo, de forma a garantir

a segurança dos alimentos produzidos.

Os produtores que adotam o protocolo de certificação do Europgap é capaz

de demonstrar alguns benefícios com a sua utilização: respeito às legislações

nacional e internacional; manutenção da confiança do consumidor na qualidade e

segurança do alimento; minimização dos impactos negativos no meio ambiente,

conservando a natureza e a vida selvagem; redução do uso de agrotóxicos;

aumento da eficiência dos recursos naturais; responsabilidade com a saúde e

segurança do trabalhador; adequação das instalações (galpões, packing houses,

etc); treinamento e capacitação de todos os funcionários e demais envolvidos no

70 Disponível em: <http://www.globalgap.org/cms/front_content.php?idcat=29>. Acesso em: 08abril2008.

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processo produtivo (implementação do sistema de APPCC e de Boas Práticas

Agrícolas e de Fabricação), criação de documentos de controle das etapas do

processo produtivo, com objetivo de proporcionar a segurança do alimento do

produto final e sua rastreabilidade.

1.1.7 BRC (Global Standard Food)

Com a entrada em vigor do Food Safety Act 1990 (FSA) no Reino Unido, os

varejistas, bem como os demais envolvidos na cadeia de suprimento de alimentos,

passaram a tomar todas as precauções para evitarem falhas, seja no

desenvolvimento, manufatura, distribuição, propaganda ou na venda de gêneros

alimentícios aos consumidores. Com isso, criou-se a necessidade de inspeções da

performance técnica em instalações de produção de alimentos, sendo que por

muitos anos essas inspeções foram desenvolvidas pelos varejistas,

separadamente, utilizando critérios individuais e padrões próprios. Em 1996, o

British Retail Consortium, uma associação de varejistas britânicos, desenvolveu e

introduziu seu protocolo técnico com padrões para as empresas que abasteciam o

varejo com gêneros alimentícios.

Cria-se assim o BRC, uma das normas de controle de qualidade de

alimentos mais difundida internacionalmente para a certificação de produtos. É um

processo baseado em auditorias direcionadas aos fornecedores de alimentos dos

grandes supermercados europeus. Sua aplicação vem se tornando um pré-

requisito indispensável para as indústrias de alimentos que desejam fornecer seus

produtos aos grandes grupos varejistas. Além disso, grandes indústrias de

alimentos ou empresas envolvidas com serviços alimentícios passaram a exigir

que seus fornecedores tenham implementado o BRC Food Standard.

O BRC tem participado ativamente no desenvolvimento e implementação

de normas alimentares, desde 1996, para auxiliar os varejistas no cumprimento de

suas obrigações legais e na proteção de seus consumidores. Tais normas têm

como objetivo o estabelecimento de requisitos relacionados à qualidade e

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segurança do alimento, que são utilizados como base para a avaliação de

fornecedores.

As normas disponíveis até o momento são:

1. BRC Food Technical Standard – para empresas fornecedoras de

produtos alimentares com a marca do varejista;

2. BRC/IOP Packaging Standard – para empresas

produtoras/fornecedoras de embalagens alimentares utilizadas nos

produtos com a marca do varejista;

3. BRC/FDF – para o fornecimento de ingredientes e produtos alimentares

com identidade preservada (não modificados geneticamente).

O desenvolvimento de tais normas foi, inicialmente, direcionado ao

atendimento de requisitos legais, porém percebeu-se rapidamente que havia

benefícios significativos aos fornecedores. À medida que estas normas foram

sendo implementadas, passaram a ter reconhecimento internacional pelo seu

conteúdo, formato e sistema de sustentação. A BRC Technical Standard é

reconhecida pela maioria dos varejistas britânicos e está sendo fortemente

utilizada pelas empresas de alimentos para avaliação de seus fornecedores.

Atualmente, existem empresas certificadas na BRC Technical Standard em

vários países da Comunidade Européia e em países como Canadá, Brasil e

Tailândia.

As características dessas normas são:

• Adoção e implementação da Análise de Perigos e Pontos Críticos de

Controle – APPCC (Hazard Analysis and Critical Control Points –

HACCP);

• Sistema de gestão da qualidade implementado e documentado;

• Controle de: normas ambientais da fábrica, produto, processo e

pessoal.

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Dentre os benefícios para a implementação e certificação da BRC Technical

Standard, destacam-se:

• A condução de uma avaliação pelos Organismos Certificadores

baseada em uma norma única;

• A possibilidade dos fornecedores reportarem seu status aos clientes

(varejistas) mediante uma verificação única, reduzindo o número de

auditorias múltiplas realizadas por cada varejista;

• A norma é abrangente em escopo, cobrindo todas as áreas de

segurança do produto e aspectos legais.

A certificação da BRC Technical Standard é realizada mediante auditorias

de terceira parte, conduzidas por Organismos de Certificação acreditados à

EN45011 (ISO/IEC Guide 65) e a NBS está qualificada para auxiliar sua empresa

na implementação desta norma e conduzi-lo à obtenção da certificação.

Entre os benefícios da implementação do BRC-GSF, pode-se citar: um

único padrão e protocolo, permitindo que as avaliações sejam realizadas por

órgãos de certificação; verificação única, comissionada pelo varejista e com

freqüência de inspeção previamente acordada. Isso permite aos fornecedores,

reportarem sua situação baseados no status das inspeções do protocolo; o escopo

do protocolo é detalhado e cobre todas as áreas de segurança do alimento e

legislação; o protocolo endereça parte das exigências tanto dos varejistas como

fornecedores; através da avaliação do protocolo é possível manter-se atualizado

sobre o processo de adequação, falhas e não conformidades, bem como ações

corretivas. Como os órgãos certificadores estão acreditados internacionalmente, a

certificação tem validade em outros países fornecedores de produtos alimentícios.

PROTOCOLOS NACIONAIS DE CERTIFICAÇÃO

Em razão das exigências internacionais para a garantia da qualidade dos

alimentos, o Brasil, como grande produtor agropecuário e exportador dos vários

produtos agroalimentares, tem interesse comercial em adequar as suas

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instituições, os critérios previstos pelos protocolos internacionais, para cumprir as

exigências mercadológicas e se manter competitivo.

PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS (PIF)

O setor da fruticultura, segundo Buainain & Batalha (2007-B) está entre os

principais geradores de renda, emprego e de desenvolvimento rural do

agronegócio nacional. Os índices de produtividade e os resultados comerciais

obtidos nas últimas safras são fatores que demonstram não apenas a vitalidade

como também o potencial desse segmento produtivo. Atualmente, existem pelo

menos 30 grandes pólos de produção de frutas espalhados por todo o país.

Apesar da capacidade e potencial produtivo, a fruticultura carece de uma

melhor organização, modernização da comercialização e de incentivos para

inovação tecnológica e agregação de valor, conforme apresentado por Buainain &

Batalha (2007-B).

Para minorar as deficiências do setor, em 2001 foi criado o sistema de

Produção Integrada de Frutas (PIF), implementado e coordenado pelo Programa

de Desenvolvimento da Fruticultura (PROFRUTA), através da Instrução Normativa

MAPA/SDC nº 20. O objetivo estratégico do PIF é elevar os padrões de qualidade

e competitividade da fruticultura brasileira ao patamar de excelência requerido

pelos mercados, principalmente americano e europeu, beneficiando os

consumidores, produtores, exportadores e demais agentes da cadeia produtiva.

Conforme exposto por Andrigueto, Nasser e Teixeira (2006), o marco legal

da Produção Integrada de Frutas – PIF no Brasil é composto por Diretrizes Gerais,

Normas Técnicas Gerais, Regimento Interno da Comissão Técnica, Definições,

Conceitos, Formulário de Cadastro Nacional de Produtores e Empacotadores e

Regulamento de Avaliação da Conformidade – RAC. Estes documentos são

resultantes de um trabalho de parceria entre o MAPA e o INMETRO.

Ainda, segundo os autores, o arcabouço técnico operacional de suporte

para o PIF é composto de Normas Técnicas Específicas, abrangendo 15 áreas

temáticas, grade de agroquímicos, cadernos de campo e pós-colheita e lista de

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verificação (no campo e na empacotadora). Os componentes destes documentos

são objetos para a Avaliação da Conformidade, utilizados pelos Organismos de

Avaliação da Conformidade – Certificadoras – acreditados pelo INMETRO.

O PIF é composto pelos seguintes agentes envolvidos: o MAPA (gestão do

programa), o INMETRO (gestor do modelo de avaliação de conformidade), a

EMBRAPA (suporte técnico/científico), CNPq (suporte de investimentos e

patrocínio de bolsas), setor produtivo e associações de produtores.

É um sistema de adesão voluntária pelos produtores, tendo como fim a

obtenção de um produto (fruta) seguro, que seja isento de resíduos prejudiciais à

saúde humana e com alta qualidade. As frutas são produzidas num sistema que

substitui insumos poluentes com monitoramento dos procedimentos e

rastreabilidade em todo o processo, desde o campo ao consumidor final,

respeitando as condições humanas de trabalho e o meio ambiente.

O programa garante a rastreabilidade do produto por meio de um número

identificador no selo, que indica os registros obrigatórios das atividades realizadas

durante a produção e as condições em que as frutas foram transportadas,

processadas e embaladas, sendo identificadas “do campo à mesa”. Ainda, o

programa permite a identificação dos níveis de resíduos de agrotóxicos nas frutas

que possam comprometer a saúde do consumidor.

Buainain & Batalha (2007-B) em estudo recente demonstram que:

a evolução da produção de frutas frescas no Brasil tem assegurado o abastecimento da crescente demanda doméstica e ao mesmo tempo logrado uma expressiva e crescente participação na pauta de exportações do agronegócio brasileiro. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas frescas, posição que tem como ponto de partida as condições favoráveis de clima, solo e disponibilidade de área do País e que vem sendo sustentada pelos investimentos públicos e privados em infra-estrutura, capacitação, logística e inovação tecnológica.

Assim, infere-se que o Brasil tem um potencial enorme para colocar seus

produtos no mercado nacional e internacional (o mercado mundial de frutas

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cresce, atualmente, US$ 1 bilhão ao ano em média)71, com qualidade, saudáveis,

comercializadas de maneira adequada, a preços competitivos, principalmente em

decorrência das exigências dos mercados internacionais (BUAINAIN & BATALHA,

2007-B). O Brasil, depois da China e Índia, é o 3° maior produtor de frutas do

mundo e a Europa é o maior consumidor das nossas frutas (70% das exportações

brasileiras)72.

No entanto, para ampliar a participação das exportações brasileiras no

mercado internacional, há a necessidade de ações tanto do setor público como

privado, arcando com custos de adaptação relacionados às exigências

fitossanitárias e de segurança dos alimentos vigentes na maior parte dos países

importadores de frutas (Estados Unidos e União Européia), superar os encargos

tarifários, conquistar escala de produção e comercialização e acima de tudo,

conquistar a confiança e credibilidade do consumidor (BUAINAIN & BATALHA,

2007-B). Neste contexto, é de extrema importância a difusão do Programa de

Produção Integrada de Frutas entre os produtores brasileiros.

Para o comércio internacional os novos desafios para o crescimento estão

atrelados à qualidade organoléptica e à segurança do alimento, incluindo

enfermidades e a origem do produto.

Outro incentivo para a adoção do programa e para a sua efetivação é a

crescente procura pelo consumidor de produtos mais saudáveis, identificados na

sociedade por meio de selos de qualidade. Pois, as frutas que estiverem de

acordo com o programa PIF, recebem selo oficial respaldado pelo MAPA e

71 A despeito da sua capacidade produtiva, a exportação brasileira de frutas não alcança 2% do mercado mundial. O mercado interno absorve atualmente cerca de 21 milhões de toneladas anuais das 37 milhões produzidas, apresentando, de imediato, um excedente considerável que poderia ser destinado à exportação. O Brasil vem conseguindo se inserir no mercado internacional e em 2005 ocupou posições de destaque no ranking de exportação de algumas das frutas mais comercializadas no mundo: mamão (2º lugar entre os maiores exportadores), manga (2º lugar), melão (3º lugar). Cabe também mencionar o crescimento das exportações de maçã, embora o País ainda ocupe um lugar modesto no ranking mundial dos exportadores (13º lugar) (BUAINAIN & BATALHA, 2007). 72 Disponível em: <www.cpatsa.embrapa.br/sbpif6/arquivos_palestras/Palestra_Rozalvo Andriguetto.doc>. Acesso em: 12maio2008.

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INMETRO (BUAINAIN & BATALHA, 2007-C). Assim, o produtor tem a

possibilidade de se reciclar tecnicamente, melhorar o processo produtivo e ser

mais econômico, resultando em um produto que pode comercializado mais

tranqüilamente pelo produtor.

Segundo Andrigueto et al (2008), o sistema PIF conta com a adesão

voluntária de 2.219 produtores e empresas agropecuárias, conforme apresentado

na Tabela 3 corresponde a 50.665 ha. Estão em processo de certificação 2.125

produtores e 94 foram certificados para produção de citrus, mamão, manga,

pêssego e uva.

Tabela 3. Adesão de produtores, área colhida e produção sob o regime da Produção Integrada de Frutas – PIF em 2007.

PRODUÇÃO INTEGRADA DE FRUTAS – ADESÃO (BASE 2007) Produto Nº adesões Área (ha) Produção (t)

Abacaxi 37 224 8400 Banana 54 1600 5600 Caju 10 1030 500 Caqui 23 84 3000 Citros 214 1315 43066 Coco 12 414 20368 Figo 25 120 1093 Maça 283 17319 606165 Mamão 38 1450 145000 Manga 236 8739 305861 Maracujá 30 56 5500 Melão 233 9240 191900 Morango 203 165 4429 Pêssego 469 2293 19725 Uva 352 6616 167268 Total 2.219 50665 1578275

Fonte: ANDRIGUETO et al (2008)

Com a implementação do programa PIF, o uso de agroquímicos não

diminuiu apenas na produção integrada de maçã. A PIF também teve impacto

positivo nas plantações de manga, que reduziram as aplicações de herbicidas em

80%, de fungicidas em 60%, e em inseticidas em 43,3%. Nos parreirais de uva do

Nordeste, a utilização de herbicidas caiu em 60,5%, de inseticidas em 53% e de

fungicidas em 43,3%. A PIF de mamão igualmente registrou quedas: 78% em

fungicidas, 36% em inseticidas e 30% em acaricidas e herbicidas. Houve ainda

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uma racionalização do emprego de agrotóxicos nos pomares de caju, melão e

pêssego73.

Segundo Andrigueto et al (2008) podem ser comprovados os seguintes

resultados da Produção Integrada de Frutas atualmente: i) aumento da

produtividade e da qualidade das frutas produzidas; ii) redução no consumo de

água e energia elétrica; iii) incremento na diversidade e população de inimigos

naturais das pragas; iv) diminuição da aplicação de agrotóxicos e da presença de

resíduos químicos nas frutas; v) racionalização no uso de insumos; e vi) melhoria

do meio ambiente, da qualidade do produto consumido, da saúde do trabalhador

rural e do consumidor final.

Os mesmos autores destacam que o efeito econômico da racionalização

das intervenções químicas no sistema PIF pôde ser referenciado principalmente

no ano de 2002, pela diminuição da freqüência na aplicação de ditiocarbamatos

em 8.660 ha. de cultura de maçã, o qual foi observado uma redução de 600

toneladas no montante de aplicação, que ao custo de R$ 15,00/kg representa a

significativa economia de R$ 9 milhões, sem falar nos efeitos relacionados com a

preservação de recursos naturais como a água, ar, solo e a biodiversidade.

Esses resultados, segundo Andrigueto el al (2008), garantiram ao Sistema

PIF confiabilidade suficiente para aproveitamento de seu arcabouço normativo na

implementação de políticas públicas. A Instrução Normativa nº 38/2006 da

Secretaria de Defesa Agropecuária, que regulamenta o Certificado Fitossanitário

de Origem – CFO, base técnica e legal para a emissão da Permissão de Trânsito

Vegetal – PTV, que por sua vez embasa a emissão do Certificado Fitossanitário

para exportação, reconheceu os documentos de acompanhamento da PIF

(cadernos de campo e pós-colheita) como equivalentes ao Livro de Registro

utilizado pelo do Responsável Técnico para emissão do CFO.

73 Disponível em: <http://www.brazilianfruit.org.br/clippings/detalhe_clippings.asp?tb_clipping _codigo=683>. Acesso em: 12maio2008.

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143

Em outras palavras, o produtor que estiver sob o Sistema PIF terá

reconhecido seus controles de caderno de campo e pós-colheita como suficientes

para a emissão do CFO pelo Responsável Técnico da produção, não

necessitando de outros controles.

Em outro caso, a variedade de ecossistemas contemplados pelos projetos

de PIF colaborou com o Ministério do Meio Ambiente – MMA - para aprovar

recursos junto à FAO para o Brasil desenvolver o projeto “Conservação e Manejo

de Polinizadores para a Agricultura Sustentável através de uma Abordagem

Ecossistêmica”.

Segundo Andrigueto et al (2008):

Todo o arcabouço legal e organizacional da Produção Integrada está estruturado e encontra-se em plena expansão. A consolidação dos produtores que optaram pela adesão ao Sistema deverá ser coroada com a aprovação do selo de certificação. Como na PI não existe uma certificação para transição do sistema convencional, a adesão deve se completar com a plena adequação ao sistema, em todos os seus quesitos, exigindo esforço adicional dos produtores rurais, o que será plenamente compensado pelo posterior ganho em termos de controles e das demais vantagens. Portanto, o momento atual baseia-se na centralização de esforços na expansão do número de produtores efetivamente certificados, gerando volume expressivo de produtos de qualidade aos consumidores, sem perder o foco na inserção de novas culturas ao sistema, inclusive para o atendimento da demanda crescente e estratégica em setores como o da agroenergia (p.16).

Portanto, o Programa de PIF tem desenvolvido diversas ações direcionadas

pontualmente para facilitar a adesão dos produtores, buscando com isso

apresentar resultados não econômicos, sociais e de geração de emprego e renda,

estimulando a organização da base produtiva familiar em grupos associativistas e,

como conseqüência, o fortalecimento desses produtores para atuação mais

preponderante nos mercados.

1.1.8 Sistema Agropecuário de Produção Integrada (SAPI)

Os mercados importadores, principalmente europeus e norte-americanos,

impõem protocolos nas negociações, como GLOBALGAP, Tesco, TNC, BRC,

USA-GAP. Harmonizar essas exigências e utilizar os conceitos e regras do Codex

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144

Alimentarius é uma tarefa árdua, pois exige articulação e envolvimento

governamental. Um esforço para facilitar a definição sobre o sistema produtivo

quanto ao controle fitossanitário e evitar rechaço de cargas de produtos pelos

países importadores.

O SAPI, criado pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e

Cooperativismo (SDC) e Departamento de Sistemas de Produção e

Sustentabilidade (DEPROS) do MAPA, visa desenvolver ações específicas com o

fim de atender, de um lado os consumidores, e de outro os mercados e os

envolvidos nas cadeias produtivas agropecuárias pela priorização de pólos de

produção (horticultura, bovinocultura de corte e leite, caprinocultura, apicultura,

grãos, integração lavoura-pecuária, flores, dentre outras) em parcerias públicas e

privadas.

É um sistema caracterizado por uma exploração agropecuária sustentável,

em conformidade com os protocolos formais de BPA, que buscam assegurar a

qualidade e inocuidade para os agroalimentos, produtos, subprodutos e resíduos

agro-industriais. É um sistema baseado na “sustentabilidade”74, aplicação dos

recursos naturais e regulação de mecanismos para a substituição de insumos

poluentes, utilizando instrumentos de controle adequados para monitoramento,

através de instrumentos, dos procedimentos e a rastreabilidade de todo o

processo produtivo, desde a aquisição de insumos até a oferta do produto ao

consumidor final, tornando-o economicamente viável, ambientalmente correto e

socialmente justo.

74 Sustentabilidade é prover o melhor para as pessoas e para o ambiente tanto agora como para um futuro indefinido. Segundo o Relatório de Brundtland (1987), sustentabilidade é: "suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas". O termo original foi "desenvolvimento sustentável," adaptado pela Agenda 21, programa das Nações Unidas. Algumas pessoas hoje se referem ao termo "desenvolvimento sustentável" como um termo amplo, pois implica em desenvolvimento continuado, e insistem que ele deve ser reservado somente para as atividades de desenvolvimento. "Sustentabilidade", então, é hoje em dia usado como um termo amplo para todas as atividades humanas. É um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana (PEREIRA, 2008).

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145

Tudo isto visa à obtenção de um alimento seguro (isento de resíduos

físicos, químicos e biológicos) e com melhor qualidade, produzidos dentro dos

princípios de responsabilidade social e de menor agressão ao meio ambiente. A

Avaliação da Conformidade (Certificação) tende a se estender por toda a cadeia

produtiva da agropecuária nacional. A adaptação das normas, procedimentos e

legislação da PI para envolver estes novos segmentos do agronegócio é um

desafio a ser enfrentado neste atual cenário.

O programa visa a assegurar a qualidade e a produtividade das culturas,

por meio do respeito aos princípios de sustentabilidade socioambiental. Ao final do

processo, se obtém um atestado de que o produto foi produzido de acordo com as

normas técnicas estabelecidas a partir do Marco Legal da Produção Integrada.

Gomes Júnior (2007) sustenta que a “assimetria de renda e preços dos

alimentos à segurança e qualidade e sanidade dos produtos, ao manejo adequado

na produção, ao emprego de culturas e meios não hostis ao ambiente, à

manutenção da diversidade cultural” são fatores que necessariamente devem ser

abordados para o pleno estabelecimento da segurança dos alimentos para a

sociedade. O SAPI aceita tal ponderação e contempla estes fatores em seus

princípios gerais e as práticas, segundo expõe Andrigueto et al (2008).

O SAPI possui ferramentas importantes para uso nas cadeias produtivas,

como apoio à organização das bases produtivas e orientação para a

homogeneização dos procedimentos. A coordenação das premissas básicas é

feita pelo DEPROS75:

• Fomento à produção agropecuária;

• Atuação nos âmbitos individual e de propriedade;

• Projetos-piloto em pólos potenciais de produção;

• Organismos de avaliação da conformidade, credenciados pelo Inmetro;

75 Departamento de Sistemas de Produção e Sustentabilidade, vinculado ao MAPA – que tem por objetivo criar soluções de sustentabilidade para a agricultura brasileira e difundir o agronegócio socialmente justo e com respeito aos recursos naturais.

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• Adesão voluntária;

• Normativos, diretrizes, regulamentos e preceitos adequados à dinâmica de mercado;

• Auditorias sistematizadas;

• Cadastro nacional;

• Marca da conformidade (selo de conformidade ou outros identificadores);

• Acreditação internacional;

• Atuação por cadeia produtiva;

• Produção de alimentos seguros;

• Processo de desenvolvimento sustentável (economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo);

• Produto diferenciado e competitivo;

• Programas e campanhas de promoção, divulgação, difusão e marketing.

A implantação do SAPI vem acontecendo de forma gradual e estruturada,

com a efetiva participação dos agentes envolvidos na cadeia produtiva, segundo

Andrigueto et al (2008). O programa está amparado pelo principio básico de

gestão participativa por meio de parcerias públicas e privadas na implantação de

Boas Práticas Agrícolas, de Fabricação e de Higiene, na construção, elaboração e

desenvolvimento de Normas Técnicas Específicas adotadas nos mesmos moldes

da Produção Integrada de Frutas. No início de 2009 estavam em andamento 48

projetos de produção integrada em 18 estados brasileiros, segundo informações

do MAPA.

Além dos projetos de Produção Integrada das Frutas, estão em andamento

mais 21 projetos de Produção Integrada – SAPI - em 14 Estados, contemplando

21 produtos, dentre eles: amendoim, arroz, batata, café, carne, cenoura, feijão,

flores tropicais, rosas, raízes (gengibre, inhame e taro), leite, mandioca, mel,

ovinos, plantas medicinais, soja, tomate de mesa, tomate industrial e trigo.

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147

Os projetos contam com a adesão de 155 produtores rurais que, numa área

de 13.253 hectares, com uma produção de 108 mil toneladas de alimentos em

2007 (ANDRIGUETTO et al, 2008). No entanto, destaca-se que nesses dados

estão inseridas informações sobre as primeiras adesões de sistemas pecuários de

Produção Integrada: leite e mel.

Nos últimos anos, segundo os autores algumas culturas não frutíferas

aderidas ao SAPI também tiveram notável desempenho em termos de redução de

uso de agrotóxicos, chegando à redução de até 100% no uso de inseticidas

(arroz), fungicidas (arroz) e herbicidas (batata). O aumento de produtividade e

redução de custos também são observados no programa SAPI. Para a cultura da

batata, houve redução de 19 a 25% nos custos, e a produtividade no regime SAPI

alcançou valores entre 34 e 40 toneladas por hectare, contra 17 a 20 no sistema

convencional. No caso do café, a produtividade saltou de 18 a 20 sacas por

hectare para 36 a 40 sacas por hectare, com redução de custos da ordem de 25 a

35%.

INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS

As indicações geográficas, que genericamente indicam a procedência do

produto, têm sido cada vez mais utilizadas como mecanismo de diferenciação de

produtos, inserido nas estratégias de concorrência entre países, empresas e ou

consórcios de produtores, e como mecanismo de certificação de determinados

atributos que se quer valorizar. E muito embora não possam ser tomadas como

garantias de segurança dos alimentos, como se verá a seguir, têm estreita relação

como a qualidade e inocuidade.

A publicação do Decreto n.º 5.351, de 21/01/05, que trata da Estrutura

Regimental do MAPA, criou no âmbito da Secretaria de Desenvolvimento

Agropecuário e Cooperativismo, o Departamento de Propriedade Intelectual e

Tecnologia da Agropecuária - DEPTA, cujas atribuições contidas no art. 19 do

referido Decreto, as quais norteiam as ações que visam à elaboração e à

coordenação de planos, programas e projetos relacionados aos processos de

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propriedade intelectual, entre outros aspectos multidisciplinares. Dentre as áreas

do DEPTA está a Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos

Agropecuários - CIG, que tem como competências apoiar o desenvolvimento de

estudos subsidiários e instrumentos de parcerias quanto ao reconhecimento de

Indicação Geográfica - IG de produtos agropecuários, inclusive no que se refere

aos aspectos normativos, bem como dar suporte técnico aos processos de

concessão, manutenção, cancelamento ou anulação de certificado de IG de

produtos agropecuários, em matérias específicas.

Com a criação da CIG dar-se-á o início de ações que visam à organização,

no MAPA, de setor que possa subsidiar e tratar das questões que envolvam o

registro e o reconhecimento das IG dos produtos do agronegócio brasileiro,

notadamente no que se refere à missão precípua deste Ministério na formulação e

implementação de políticas para o desenvolvimento do agronegócio, de forma a

envolver ações de múltiplos aspectos e que visam o atendimento ao consumidor,

gerando renda e emprego.

O CIG tem por objetivo estabelecer-se como instrumento institucional de

desenvolvimento sustentável, de agregação de valores por IG, por valorização das

diferenças e identidades culturais próprias, da organização da produção, e da

inocuidade e qualidade dos produtos agropecuários.

O MAPA, através da Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica (IG)

de Produtos Agropecuários, é a instância superior e central no planejamento,

fomento, coordenação, supervisão e avaliação das atividades, programas e ações

de Indicação Geográfica de produtos agropecuários, inclusive no que se refere

aos aspectos normativos. Cabe ao MAPA, também, dar suporte técnico aos

processos de concessão, manutenção, cancelamento ou anulação de certificado

de IG de produtos agropecuários, em matérias específicas76.

76 Disponível em:<http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: 22jul./2008.

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149

A linha de trabalho adotada pelo MAPA visa divulgar a cultura de IG no

meio rural e entre os consumidores, capacitar os agentes, formalizar convênios e

apoiar as organizações de produtores para a melhoria das condições higiênico-

sanitárias. O objetivo maior é o desenvolvimento sustentável, via agregação de

valores aos produtos, ressaltando as diferenças e identidades culturais próprias,

organizando as cadeias produtivas e assegurando a inocuidade e qualidade dos

produtos agropecuários.

Dentre as ações realizadas pelo MAPA, está o Diagnóstico Nacional de

Potenciais Indicações Geográficas no Brasil, que permitirá o mapeamento dos

produtos e o planejamento de atividades relacionadas à proteção e ao

reconhecimento de IG para produtos agropecuários. Estes trabalhos são

conduzidos pelos Fiscais Federais Agropecuários das Superintendências Federais

de Agricultura nos estados, que têm sido treinados para acompanhar todo o

processo.

O uso de indicações geográficas é um importante método de indicação da

procedência dos produtos e serviços. São principalmente utilizadas para fomentar

o comércio, informando ao consumidor essa procedência. Seu emprego é

freqüentemente sinônimo de certa qualidade, que corresponde à procura pelo

consumidor. Podem ser utilizadas para produtos industriais e agrícolas. Ainda que

a proteção seja conferida em âmbito nacional, existem diversos tratados

internacionais que dão assistência na obtenção da proteção, em diversos países.

A Lei de Propriedade Industrial – LPI (Lei n.º 9.279/1996) não define o que

é Indicação Geográfica, estabelecendo apenas suas espécies, a Indicação de

Procedência e a Denominação de Origem, inexistindo hierarquia legal entre elas,

sendo possibilidades paralelas à escolha dos produtores ou prestadores de

serviços que planejam buscar esta modalidade de proteção, atendidos os

requisitos da lei e de sua regulamentação.

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A Indicação de Procedência – IP77 é caracterizada por ser o nome

geográfico conhecido pela produção, extração ou fabricação de determinado

produto, ou pela prestação de dado serviço, de forma a possibilitar a agregação de

valor quando indicada a sua origem, independente de outras características. Ela

protegerá a relação entre o produto ou serviço e sua reputação, em razão de sua

origem geográfica específica, condição esta que deverá ser, indispensavelmente,

preexistente ao pedido de registro.

A Denominação de Origem (DO)78 cuida do nome geográfico “que designe

produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou

essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos”. Em

suma, a origem geográfica deve afetar o resultado final do produto ou a prestação

do serviço, de forma identificável e mensurável, o que será objeto de prova

quando formulado um pedido de registro enquadrado nesta espécie ante o

Instituto Nacional de Propriedade Intelectual - INPI, através de estudos técnicos e

científicos, constituindo-se em uma prova mais complexa do que a exigida para as

Indicações de Procedência.

Portanto, A Denominação de Origem trata-se de é um direito de

propriedade intelectual, pertencente a uma região, destinado a ser utilizado por

aqueles que naquela área explorem qualquer ramo de produção característico,

sendo constituído pelo nome da localidade, região ou mesmo país. Tem por

função designar um produto ou uma mercadoria originária, cuja qualidade e

características são devidas exclusiva e essencialmente ao meio geográfico,

incluindo mesmo fatores humanos.

Portanto, diferenciando-se A Indicação Geográfica de denominação de

origem, a primeira poderá ser aposta a qualquer produto proveniente de uma

determinada área, enquanto que Denominação de Origem a segunda assinala um

produto que provém de uma determinada região, e que é produzido ali segundo

77 Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/menu-esquerdo/indicacao/o-que-e-indicacao-geografica>. Acesso em: 20jun.2008. 78 Idem

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151

métodos particulares associadas ao devido ao meio geográfico e que adquire

especificidades da região.

E para o consumidor, um produto que se reporte a uma de denominação de

origem tem certamente um componente de genuinidade e autenticidade, fator

favorável na apreciação da sua qualidade.

E as denominações de origem têm sido amplamente utilizadas nos

mercados agroalimentares para proteger produtos de diferentes tipos. Neste

sentido, tem sido fomentadas iniciativas para os produtos considerados locais

criem estratégicas de diferenciação no mercado a partir das denominações de

origem, a exemplo da qualidade do produto, agregação de valor ao produto, etc.

No setor vinícola as indicações geográficas estão consolidadas em vários países,

em particular na Europa. Muitas delas são conhecidas mundialmente como

Bordeaux, Champagne, Porto e Rioja.

No Brasil, em 2008 foi lançado Catálogo de Indicações Geográficas

Brasileiras pelo SEBRAE - Agência de Apoio ao Empreendedor e Pequeno

Empresário com o objetivo de divulgar os produtos vinculados a territórios que

obtiveram o reconhecimento como IG, concedido pelo INPI, além de incentivar

outros territórios com potencial a buscar esse reconhecimento. São apresentadas,

no catálogo, as principais características que diferenciam as quatro indicações

geográficas nacionais: Vinhos Finos e Espumantes do Vale dos Vinhedos, Café do

Cerrado Mineiro, Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional e a Cachaça

de Paraty, reconhecidas pelo Brasil desde a promulgação da Lei da Propriedade

Industrial79.

Atualmente, verifica-se um interesse crescente por parte de novos países

pelas indicações geográficas, não somente para produtos vinícolas, mas também

para outros produtos da agropecuária e da agroindústria.

79 Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/paginaInicial>. Acesso em: 22jul.2008.

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Sob o ponto de vista do marketing, o nome geográfico protegido por

denominação de origem, se configura como uma marca coletiva ou pública, com

acesso restrito não somente pela origem como também pelas condições que se

impõe a natureza e a qualidade dos produtos que se encontram amparados por

este instituto jurídico (BORJA, ZARCO e DECALS, 2001)

Ao contrário das marcas e das patentes, as indicações geográficas são

passíveis de uma grande variedade de proteções. Podem ser protegidas por

legislação sui generis ou decretos; esse é o sistema adotado pela França e por

Portugal, por exemplo. Outra possibilidade é o registro das indicações geográficas,

adotado pelo Brasil. Outra possibilidade consiste em apoiar-se na lei contra a

concorrência desleal, ou na noção do ilícito do “passing off,” ( fazer produtos

“passarem por” outros), que basicamente prevêem práticas comerciais desleais

que não devem ser usadas. O uso de Indicação Geográfica para um produto que

não é proveniente da região indicada seria um ótimo exemplo da prática da

concorrência desleal. Se a proteção for buscar no Direito a proteção contra ato

ilícito, não existem formalidades a cumprir, como o registro ou decisão

administrativa; ou seja, a parte lesada vai direto aos tribunais.

As indicações geográficas podem ainda ser protegidas pelo registro de

marcas coletivas ou marcas de certificação. As marcas coletivas, ao contrário das

marcas, pertencem a um grupo de comerciantes ou produtores. A marca de

certificação, por outro lado, não pertence a ninguém: é registrada na suposição

que qualquer pessoa que preencha as condições prescritas pode utilizá-la. Por

exemplo, o uso da marca de certificação para o queijo Stilton é reservada a certos

produtores que satisfazem as condições exigidas pelo regulamento de utilização

dessa marca.

Assim, existe uma variedade de modos de proteção das indicações

geográficas, que variam de acordo com a legislação nacional aplicável, e existem

diversas maneiras de estender essa proteção em escala internacional.

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No Brasil, em 22 de novembro de 2002, o INPI assinou o primeiro Registro

de Indicação Geográfica de n° IG 200002, reconhecendo a denominação “Vale

dos Vinhedos” como Indicação Geográfica para vinhos tintos, brancos e

espumantes. Tal reconhecimento se deu com base na Lei n.° 9.279 e na

Resolução n.° 075/2000 do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, de

28.11.2000, que estabelece as condições para registro das indicações

geográficas. Este fato histórico assinala o reconhecimento da primeira Indicação

Geográfica brasileira e marca a entrada do Brasil no círculo mundial das

Indicações Geográficas. Em 2009, o Brasil ganhou a sua sexta indicação

geográfica: é o Vale do Submédio São Francisco, para uvas de mesa e mangas. O

certificado foi concedido pelo INPI, no dia 7 de julho de 2009, ao Conselho da

União das Associações e Cooperativas dos Produtores de Uvas de Mesa e

Mangas do Vale do Submédio São Francisco (Univale). A Coordenação-Geral de

Outros Registros, da Diretoria de Contratos de Tecnologia e Outros Registros do

INPI é a responsável pela concessão das IGs (INPI, 2009).

Esta Indicação Geográfica tem como titular a APROVALE - Associação dos

Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos. Nela funciona o Conselho

Regulador da Indicação Geográfica. A IP Vale dos Vinhedos incorpora 12

inovações até então não presentes na lei de produção de vinhos brasileiros, que

incluem, dentre outras: a) Área geográfica de produção delimitada; b) Conjunto de

cultivares autorizadas, todas da espécie Vitis vinifera L.; c) Conjunto restritivo de

produtos vinícolas autorizados; d) Limite de produtividade máxima por hectare; e)

Padrões de identidade e qualidade química e sensorial mais restritivos, com

aprovação obrigatória dos vinhos por um grupo de expertos em degustação; f)

Elaboração, envelhecimento e engarrafamento na área delimitada; g) Sinal

distintivo para o consumidor, através de normas específicas de rotulagem; h)

Conselho Regulador de autocontrole.

Na Europa, em sua história antiga e atual, valoriza as indicações

geográficas como uma importante ferramenta de valorização de seus produtos

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tradicionais. Mais recentemente é nas economias de nações emergentes, como

Índia e China, por exemplo, que está o reconhecimento expressivo de novas

indicações, apresentando ao mundo um conjunto de produtos tradicionais, sob a

égide da garantia da procedência, à qual se associa uma “qualidade original”.

A utilização de indicações geográficas como meio de proteger o ativo dos

produtores é estratégico para o Brasil, pois é um país com grande variedade de

territórios com potencial para produzir produtos com identidade própria e para

ocupar espaços em mercados cada vez mais exigentes em termos de produtos de

qualidade e de personalidade. No entanto, embora a indicação geográfica seja

valorizada pelos consumidores de maior renda em produtos importados, é

desconhecida tanto pelos produtores e comerciantes quanto pela maioria dos

consumidores, carecendo, portanto, de disseminação de seus conceitos básicos e

dos benefícios agregados aos produtos e aos serviços.

RASTREABILIDADE

A importância da segurança dos alimentos vem sendo reforçada pelo

reconhecimento dos direitos do consumidor, por meio de leis que diminuam a

vulnerabilidade dos consumidores em sua relação com os produtores e

fornecedores de produtos alimentares. Além disso, muitos atributos de qualidade

dos alimentos, diretamente relacionados à saúde, caracterizam-se pela assimetria

informacional (já demonstrado por diversas vezes no presente estudo), que

dificulta o consumidor na hora da compra saber se o alimento é seguro ou não.

Dessa forma, há a necessidade da interferência do Estado, estabelecendo

padrões de qualidade e de segurança obrigatórios e mecanismos de enforcement,

em casos de não cumprimento desses padrões.

Nesse sentido e em razão da exigência cada vez maior do comércio

internacional, principalmente europeu e japonês, da adoção de padrões de

qualidade nos produtos agroalimentares, requereu a implantação de processos

que visassem o controle dos produtos ofertados. Para a garantia da qualidade em

todo o processo, foi instituído a rastreabilidade, que é um mecanismo que permite

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identificar a origem do produto desde o campo até o consumidor, podendo ter sido

ou não, transformado ou processado, pois possibilita ter um histórico do produto.

Este mecanismo funciona como um complemento no gerenciamento da qualidade

e quando aplicado isoladamente não traduz em segurança ao produto nem ao

processo, pois deve estar associado a outros sistemas de controle de qualidade,

como por exemplo, APPCC.

Vinholis & Azevedo (2000) definem rastreabilidade como um sistema que

“permite seguir, rastrear informações de diferentes tipos (referente ao processo,

produto, pessoal e ou serviço) a jusante e ou montante de um elo de cadeia ou de

um departamento interno de uma empresa. A rastreabilidade possibilita ter um

histórico do produto, sendo que a complexidade do conteúdo deste histórico

dependerá do objetivo a que se pretende alcançar. Este objetivo pode ser

influenciado pelas estratégias adotadas e pelo ambiente externo em que a

empresa está inserida”.

Segundo o Codex Alimentarius, a rastreabilidade é a capacidade para

seguir em movimento um alimento através de etapa (s) específica (s) da produção,

transformação e distribuição. Este conceito decorre da necessidade de se

identificar qualquer produto dentro da empresa, desde a aquisição das matérias

primas ou mercadorias de entrada, ao longo da atividade de produção,

transformação e/ou distribuição se desenvolva, até o momento da sua entrega no

elo seguinte da cadeia.

Em um sentido mais geral, rastreabilidade é a habilidade de traçar o

caminho da história, aplicação, uso e localização de uma mercadoria individual ou

de um conjunto de características de mercadorias, através da impressão de

números de identificação (ISO 8402). A identificação dos números pode ser

aplicada sobre itens individuais de ferramenta ou sobre lotes de peças, ou podem

ser códigos de datas para materiais de produção contínua ou uma combinação

disto (JURAN & GRYNA JUNIOR, 1993).

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156

De um modo mais simples, rastrear é manter os registros necessários para

identificar e informar os dados relativos à origem e ao destino de um produto,

antes da porteira e depois da porteira, ou seja, desde o campo até o consumidor,

podendo ter sido, ou não, transformado ou processado. Um sistema de

rastreabilidade é composto de um conjunto de medidas que possibilitam controlar

e monitorar todas as movimentações nas unidades, de entrada e de saída,

objetivando a produção de qualidade e com origem garantida. Ressalta-se a

importância do sistema de rastreabilidade para o funcionamento adequado das

cadeias de suprimento, por permitir identificar o que é o produto, de onde veio,

como foi feito e para onde foi.

A rastreabilidade também é um mecanismo de redução da assimetria de

informação, em particular por permitir ao consumidor associar o produto à sua

origem e história. Existem dois tipos de rastreabilidade: a rastreabilidade

descendente ou “rio abaixo”, que consiste em encontrar o destino industrial ou

comercial de um lote de produtos até o armazenamento no ponto de

comercialização; e a rastreabilidade ascendente ou “rio acima”, que foca no

levantamento de todos os estágios, começando de um lote de produto acabado

até encontrar o histórico e a origem do lote (MACHADO, 2000).

Juran & Gryna (1993) apontam diversas finalidades da rastreabilidade, tais

como:

a) Assegurar que apenas materiais e componentes de qualidade entrem

no produto final;

b) Identificar clara e explicitamente produtos que são diferentes, mas que

se parecem a ponto de serem confundidos entre si;

c) Permitir o retorno de produto suspeito numa base precisa;

d) Localizar falhas e tomar medidas corretivas a preço mínimo.

Para Machado (2000) a rastreabilidade também assume importância

estratégica para a indústria de alimentos e para o segmento de distribuição, por

representar:

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157

a) Um diferencial de competitividade;

b) Fortalecer a imagem institucional da empresa;

c) Auxiliar no posicionamento da marca no mercado;

d) Estimular a concorrência através da diferenciação da qualidade;

e) Estreitar a relação com os fornecedores e contribuir para a construção

de estratégias competitivas da empresa e, com isso, definir a estrutura

de coordenação vertical.

Em âmbito institucional, os sistemas de identificação e rastreabilidade

auxiliam na minimização de riscos de contaminação, facilita a localização do foco

de problemas, tranqüiliza a população e dá credibilidade ao próprio Estado.

Entretanto, quando a rastreabilidade não pode ser utilizada, como indicação

de qualidade ou de segurança, a qualidade dos produtos irá depender das práticas

adotadas pelos produtores ao longo da cadeia, já que o papel do sistema é

apenas registrar e monitorar a segurança e qualidade. O fato de identificar a

origem do boi, por exemplo, não assegura que o mesmo tenha sido vacinado,

alimentado de forma saudável, tomado doses corretas de medicamentos e assim

por diante. Claro que os sistemas mais sofisticados já incorporam, como fazem os

médicos, o “prontuário” do produto, registrando todos os fatos relevantes do

processo.

Esse tipo de sistema pode ser usado para monitoramento de políticas

públicas e para reduzir assimetrias de informações entre os agentes que

transacionam na cadeia, uma vez que oferece, com baixo custo, informações que

não seriam de fácil obtenção, como, por exemplo, a saúde do animal.

Por isto o sistema de rastreabilidade deve ser utilizado junto com outros

sistemas de controle de qualidade, como o APPCC e códigos de boas práticas

como o GLOBALGAP (antigo EUROPEGAP) no caso de frutas e carnes.

O sistema de rastreabilidade é também uma ferramenta de gestão de risco

para ser usada na resolução de um problema de segurança do alimento, não

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158

sendo, por si só, uma medida de segurança. A legislação que tem recebido maior

atenção, em função do poder de compra de seus consumidores, é a

rastreabilidade obrigatória de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e

seus derivados, em vigor na União Européia, desde 1º de janeiro de 2005. Os

Regulamentos (CE) n.° 1829 e 1830/2003 do Parlamento Europeu e do Conselho

dispõem provisões gerais de rastreabilidade e rotulagem de organismos

geneticamente modificados, abrangendo todos os alimentos e alimentos para

animais, que alteram a Diretiva CE n.° 18/2001.

Desquilbet e Bullock, (2003) apontam forte tendência à adoção de

procedimentos de monitoramento e controle aplicados às cadeias agroindustriais,

dentre os quais, os sistemas de rastreabilidade ganham destaque não apenas por

possibilitar o monitoramento e controle de atributos e informações relevantes entre

as diferentes etapas da cadeia produtiva, mas, sobretudo, pela capacidade de

atribuir responsabilidade em uma eventual disputa jurídica.

No entanto, em um programa de rastreabilidade o fator mais valioso é a

“informação”, que deverá ser agregada aos produtos, seja no lote, no indivíduo ou

em alguma unidade física especifica. É fundamental que o processo de

rastreabilidade seja transparente e seja uma filosofia da empresa, cuja adoção

não seja vista apenas como uma obrigatoriedade, mas principalmente como uma

ferramenta de gestão. Sendo assim, a rastreabilidade funciona como um

complemento no gerenciamento da qualidade e, quando aplicado isoladamente,

não traduz segurança ao produto e nem ao processo (IBA et. al., 2003)

Neste sentido, a rastreabilidade e a segurança dos alimentos podem ser

considerados questão de saúde pública e de responsabilidade social,

incorporadas na economia e nas políticas internacionais e nacionais. É uma

ferramenta de extrema importância para fornecedores, distribuidores e

consumidores. Os produtores/ fornecedores/ vendedores necessitam desses

mecanismos para estarem seguros sobre o que de fato estão ofertando e

vendendo, evitando desta forma os riscos envolvidos em ações civis e penais

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159

envolvendo contaminação e, principalmente, os danos à imagem corporativa e os

possíveis efeitos negativos junto ao mercado em geral; para os consumidores os

mecanismos de redução de assimetria de informação e sinalização de qualidade

são importantes para que tenham mais certeza sobre o que de fato estão

consumindo, e poderem, em base a essas informações, fazer suas opções nos

mercados.

Os novos interesses sobre a saúde animal (i.e., encefalopatia espongiforme

bovina, ou mais conhecida como doença da vaca louca) e sobre a segurança do

alimento (i.e., Escherichia coli O 157:H7, Salmonella spp. e outras zoonoses)

fazem com que o estabelecimento de um sistema retrospectivo (rastreamento de

informações) seja uma abordagem lógica para assegurar a confiança do

consumidor, principalmente no setor de carne bovina (MCALLISTER et al., 2001).

O Brasil já iniciou o desenvolvimento do sistema de rastreabilidade nas

cadeias bovina, suína, aves, soja e frutas, para cumprir, principalmente, os

regulamentos dos países importadores, como da UE, com destaque para o

processo de rastreabilidade do SISBOV, que será apresentado no próximo item.

SISBOV (rastreabilidade)

Um dos fatores preponderantes para a criação do SISBOV foram as

exigências por rastreabilidade dos países importadores de carne bovina brasileira.

A primeira destas exigências partiu da Europa. A resolução EC 1760 passou a

proibir a entrada de carne não certificada e não rastreada em território europeu a

partir do ano de 2000 (COSTA & FILHO, 2002).

Pode-se afirmar que a União Européia sempre teve e tem um papel de

destaque na construção do SISBOV, por ser a primeira a exigir a certificação de

origem e por se constituir no maior importador da carne brasileira. A Europa

esteve sempre presente na construção do sistema, não apenas como indutor de

sua adoção pela cadeia produtiva bovina, mas também como ator chave nas fases

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160

atuais da sua redefinição, por meio de seguidas auditorias e exigências de ajustes

e aprimoramentos no sistema.

Denominado de Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva

de Bovinos e Bubalinos (SISBOV), regulado pelo Decreto n.º 5.741/2006 e pela

Instrução Normativa n.º 17/200680, o serviço é coordenado pelo DEPROS/MAPA e

tem por objetivo registrar e identificar o rebanho bovino e bubalino do território

nacional possibilitando o rastreamento do animal, desde o nascimento até seu

abate.

O novo sistema é de adesão voluntária, permanecendo a obrigatoriedade

de adesão para a comercialização para mercados que exijam a rastreabilidade. De

acordo com as novas regras, todos os bovinos e bubalinos dos estabelecimentos

rurais aprovados no SISBOV serão, obrigatoriamente, identificados

individualmente, cadastrados na Base Nacional de Dados, com o registro de todos

os insumos utilizados na propriedade durante o processo produtivo.

Trata-se de um grande avanço, uma vez que, a partir de 2009, só será

permitido o ingresso de bovinos e bubalinos nos estabelecimentos rurais

aprovados no SISBOV se oriundos de outros estabelecimentos na mesma

condição. O Sistema permitirá a atualização das informações entre o Órgão

Executor da Sanidade Animal nos Estados e a Certificadora do Estabelecimento

Rural aprovado no SISBOV, credenciada pelo MAPA.

A Instrução aplica-se em todo o território nacional a produtores rurais e

estabelecimentos de criação de bovinos e bubalinos, às indústrias frigoríficas que

processam esses animais, gerando produtos e subprodutos de origem animal e

resíduo de valor econômico, às entidades credenciadas pelo MAPA como

certificadoras, aos fornecedores de elementos de identificação e às entidades que

80 Segundo a Cartilha do novo serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos a Instrução Normativa n° 17 dispõe a nova estrutura operacional para o Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos – SISBOV. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/MAPA/MENU_LATERAL/AGRICULTURA_PECUARIA/SISTEMAS_INFORMATIZADOS/SISBOV_NOVO/CARTILHA_NOVO_SISBOV.PDF>. Acesso em 12maio2008.

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161

participam do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, como

estabelece o Decreto nº 5.741, de 30 de março de 2006.

O SISBOV foi criado principalmente como resposta às exigências dos

países importadores de carne bovina, tem passou por uma série de ajustes e

modificações em sua estrutura de funcionamento, culminando na sua

reformulação em 2006, quando o MAPA revogou a legislação anterior. Diante

deste cenário destacam-se as seguintes dimensões: (i) o SISBOV foi criado no

bojo dos conflitos comerciais com a União Européia, e os produtores o tomaram

como uma imposição – injustificada — de fora; no entanto, sem prejuízo de ter

sido imposição, a implantação precoce de um sistema de rastreabilidade poderia

se configurar como parte da construção de vantagens competitivas em um

mercado extremamente regulado, onde a questão sanitária é uma variável – na

prática, um ativo – chave. (ii) os conflitos no interior da cadeia relacionados ao

custo de implantação e operação do sistema. Os pecuaristas têm arcado com o

custo (ainda que possa ser um investimento, os pecuaristas vêem pela ótica do

custo), e os frigoríficos não têm remunerado o produto rastreado. (iii) conflitos

entre setor privado e governo, relacionado à decisões do governo com

conseqüências relevantes sobre os produtores, sem que estes participem

diretamente das mesmas etc. (iv) formalidade versus efetividade. O SISBOV é

caro e eventualmente poderá compensar, mas para isto é preciso uma efetividade

total, já que ocorrências de insegurança, ainda que localizados, afetam e impõe

custos a todos; (v) riscos e prioridades.

Entretanto, o maior problema de sanidade da pecuária brasileira é a

aftsose. Na melhor das hipóteses a implantação do sistema permite apenas

identificar, na emergência de surtos, a origem do problema, quando o foco deveria

ser em sanear as fontes do risco. Ou seja, muitas medidas que são tomadas em

nome da segurança não atacam as fontes do risco, e permite no máximo

monitorar ocorrências e saber qual a origem. Mas isto só funciona depois da

ocorrência, quando o estrago já está feito.

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162

Desde sua criação até a atualidade, o SISBOV passou por uma série de

ajustes e transformações, resultantes em grande parte da pressão dos países

compradores da carne brasileira, especialmente dos europeus, que exigiam

equivalência do SISBOV com os padrões de confiabilidade dos sistemas de

rastreabilidade internacionais, principalmente o mercado europeu.

Em 2006, após a publicação de inúmeras instruções normativas e portarias,

o governo publicou uma nova legislação, abolindo as anteriores e instituindo um

“novo” sistema, que passou a ser conhecido como Serviço de Rastreabilidade da

Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos.

ROTULAGEM DOS ALIMENTOS

A rotulagem tem como função transmitir diversas informações sobre o

produto para o consumidor final em um único meio de informação (MACHADO,

2000). Conceituando “rótulo” é toda inscrição, legenda, imagem, ou toda matéria

descritiva ou gráfica que esteja escrita, impressa, estampada, gravada, gravada

em relevo ou litografada ou colada sobre a embalagem do alimento.

A “rotulagem” significa a identificação de qualidade ou defeito a algo, ou um

produto, associado a um tipo de marca própria, chamado de rótulo que a identifica

com o seu conteúdo, fazendo-se a percepção pessoal, ornamental, musical,

instrumental, política, religião, militarismo, bandidismo, comercial, procedimento

funcional, atletismo, esporte, cultura, lazer, mundo animal, mundial, social,

liderança, amor, emoções, desprezo, inveja, insegurança, sabedoria, felicidade, o

tempo, o sistema solar, as funções climáticas, o planeta terra, a guerra, o

terrorismo, o castigo da natureza, a poluição, sexo, povoado; ou até um

determinado produto e etc.

Para a FAO a rotulagem dos alimentos constitui o principal meio de

comunicação entre os produtores e os vendedores de alimentos por uma parte, e

de outra, entre os fornecedores e os consumidores. As normas e diretrizes do

Codex Alimentarius sobre a rotulagem dos alimentos são sobre os seguintes

temas: a) normas gerais para rotulagem de alimentos pré-envasados; b) normas

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gerais para a rotulagem de aditivos alimentares; c) normas gerais para rotulagem

e declaração de propriedade de alimentos pré-envasados para regimes especiais;

d) diretrizes gerais sobre declarações de propriedades; e) diretrizes gerais sobre

rotulagem nutricional; f) diretrizes para o uso de declarações nutricionais e

saudáveis e diretrizes gerais para o uso do termo “halal”81

As normas para rotulagem requerem que o produto esteja em conformidade

com as informações exigidas e visam minimizar riscos que podem decorrer do seu

uso inadequado, além de ajudar o consumidor final na decisão de compra. É a

forma mais usada para comunicar mensagem de qualidade para o consumidor e

distinguir especificidades entre produtos. Transmite informações como: peso

líquido do conteúdo; composição relativa de ingredientes; capacidade nutricional;

indicações; funcionalidade; modo de usar; cuidados e advertências; preço da

unidade-padrão e prazo de validade.

Em alimentos há duas grandes categorias de produtos para consumo

(MACHADO, 2000): genéricos e commodities (que não tem nenhuma marca

comercial efetivamente relacionada a um fabricante ou distribuidor). Mas as

normas de rotulagem querem que o produto esteja em conformidade com a

legislação, independente se ele é genérico ou commodity.

Os próximos itens têm por finalidade expor o funcionamento da utilização

da rotulagem no Brasil para melhor compreensão sobre o tema.

1.1.9 A utilização da rotulagem no Brasil

No Brasil, está em vigor desde 1969, o Decreto-Lei n.º 986 que introduziu o

conceito de padrão de identidade e qualidade (PIQ) e instituiu as normas básicas

sobre alimentos. Este Decreto-Lei trata da proteção da saúde individual ou

81 Alimentos “halal, segundo definido pela FAO, são os alimentos permitidos em virtude da lei islâmica, os quais deverão satisfazer os seguintes requisitos: a) não incluir em sua composição nada que seja considerado ilícito de acordo com a lei islâmica; b) tem que ser preparados, elaborados, transportados e/ou armazenados utilizando meios que não sejam contrários ao que dispõe a lei islâmica; c) que o alimento não tenha estado, durante a sua preparação, elaboração, transporte e/ou armazenamento em contato direto com algum alimento que não esteja de acordo com os requisitos dos itens anteriores.

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coletiva, no tocante aos alimentos, desde a sua obtenção até o seu consumo.

Além disto, define que:

Art. 11 - Os rótulos deverão mencionar em caracteres perfeitamente legíveis: I - a qualidade, a natureza e o tipo do alimento, observadas a definição, a descrição e a classificação estabelecida no respectivo padrão de identidade e qualidade ou no rótulo arquivado no órgão competente do Ministério da Saúde, no caso de alimento de fantasia ou artificial, ou de alimento não padronizado; II - nome e/ou a marca do alimento; III - nome do fabricante ou produtor; IV - sede da fábrica ou local de produção; V - número de registro do alimento no órgão competente do Ministério da Saúde; VI - indicação do emprego de aditivo intencional, mencionando-o expressamente ou indicando o código de identificação correspondente com a especificação da classe a que pertencer; VII - número de identificação da partida, lote ou data de fabricação, quando se tratar de alimento perecível; VIII - o peso ou o volume líquido; IX - outras indicações que venham a ser fixadas em regulamentos.

O Decreto-Lei estabelece ainda no artigo 19, que os rótulos nos alimentos

enriquecidos, os alimentos dietéticos e alimentos irradiados deverão trazer a

respectiva indicação em caracteres facilmente legíveis.

O artigo 48 determina que somente poderá ser exposto à venda alimentos que: I - tenham sido previamente registrados no órgão competente do Ministério da Saúde; II - tenham sido elaborados, reembalados, transportados, importados ou vendidos por estabelecimentos devidamente licenciados; III - tenham sido rotulados segundo as disposições deste Decreto-Lei e de seus Regulamentos; IV - obedeçam, na sua composição, às especificações do respectivo padrão de identidade e qualidade, quando se tratar de alimento padronizado ou àquelas que tenham sido declaradas no momento do respectivo registro, quando se tratar de alimento de fantasia ou artificial, ou ainda não padronizado.

O processo de rotulagem é parte constituinte de um outro: o de

padronização de embalagem. Ele pode ser entendido como o conjunto de ações e

procedimentos, legais ou acordados, relacionados com a identificação aplicada

sobre qualquer tipo de embalagem do alimento. Com base na Portaria n.º 42, de

13 de janeiro de 1998, do Ministério da Saúde, Rodrigues (1999) define rotulagem

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como o processo através do qual se estabelece uma linha de comunicação entre

as empresas produtoras de alimentos e os consumidores que desejam maiores

informações sobre os produtos que estão comprando.

A ANVISA é o órgão responsável pela regulação da rotulagem de alimentos

e estabelece as informações que o rótulo deve conter, visando à garantia de

qualidade do produto e à saúde do consumidor, com a preocupação de instituir um

maior controle sobre os produtos oferecidos ao consumidor.

Dentre as regulamentações adotadas pela ANVISA, em 2001, o órgão

publicou as Resoluções RDC n.º 39 e n.º 40, normatizando a rotulagem dos

produtos referentes a todos os alimentos embalados que são comercializados no

país. As normas publicadas são extensivas aos produtos importados, cabendo ao

importador a responsabilidade pela fixação no país de origem ou no Brasil de

etiqueta complementar com as informações nutricionais determinadas.

De acordo com a legislação, é obrigatório que o rótulo contenha: a)

Denominação de venda - designação do produto pelo seu nome (bolacha, carne,

gelado, ovos, etc.) não pode ser dissimulada, encoberta ou substituída por marca

de comércio ou designação de fantasia. Sempre que o consumidor possa ser

induzido em erro, a denominação de venda deve incluir indicação do estado físico

do produto ou do tratamento específico a que foi submetido (defumado,

concentrado, reconstituído, congelado, liofilizado, etc.); b) A lista de ingredientes e

aditivos elaborada por ordem decrescente das quantidades; c) Quantidade líquida

ou quantidade de produto contido na embalagem expresso em volume (litro) ou

em massa (quilograma); d) Data de durabilidade mínima ou data limite de

consumo, ou seja, a data até à qual o produto alimentar conserva as suas

propriedades específicas nas condições de conservação apropriadas.

A data de durabilidade mínima deve constar sempre na embalagem e ter a

seguinte designação: “consumir de preferência antes de “a data limite de consumo

também é obrigatória e é representada pela inscrição: “Consumir até...”. Nos

produtos que duram menos de 3 meses: o mês e o dia. Nos produtos que duram

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entre 3 e 18 meses: o ano e o mês. Nos produtos que duram mais de 18 meses: o

ano; e) Condições especiais de conservação, utilização e modo de emprego.

Quando os produtos careçam de especiais cuidados de conservação ou

utilização e o seu modo apropriado exija indicações especiais; f) Região de origem

quando a sua omissão seja susceptível de induzir o comprador em erro quanto à

origem do produto (exemplo: Vinho do Porto, Pão de Mafra); g) Indicação que

permita identificar o lote ao qual pertence o alimento: nome, firma ou denominação

social e morada do produtor, importador ou armazenista, retalhista ou outro

vendedor, conforme a entidade responsável pelo lançamento do produto no

mercado.

Em 2003, o órgão promulgou o Regulamento Técnico sobre Rotulagem

Nutricional de Alimentos Embalados – RDC n.º 360 -, tornando obrigatória a

rotulagem nutricional baseada nas regras estabelecidas com objetivo principal de

atuar em benefício do consumidor e ainda evitar obstáculos técnicos ao comércio.

Ela se aplica a todos os alimentos e bebidas produzidos, comercializados e

embalados na ausência do cliente e prontos para oferta ao consumidor.

Entretanto, alguns produtos estão isentos de seguirem as normas de

rotulagem de alimentos estabelecida pela ANVISA. São as bebidas alcoólicas, as

especiarias, as águas minerais, os vinagres, o sal, o café, o mate, os chás e

outras ervas sem adição de outros ingredientes. Também se encaixam nessa

categoria os alimentos preparados e embalados em restaurantes e

estabelecimentos comerciais que já vêm prontos para consumo, produtos

fracionados nos pontos de venda a varejo, frutas, vegetais, carnes in natura,

refrigerada ou congelada e alimentos com embalagens cuja superfície para

rotulagem seja menor ou igual a 100 cm2 (esta dispensa não se aplica aos

alimentos para fins especiais ou que apresentem declarações de propriedades

nutricionais).

No rótulo deverão constar obrigatoriamente todas as informações

nutricionais, como apresentado no modelo descrito abaixo.

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Quadro 3: Informação Nutricional INFORMAÇÃO NUTRICIONAL

Porção de .....g ou mL (medida caseira) Quantidade de porção %VD (*) Valor Energético Kcal ou Kj % Carboidratos G % Proteínas G % Gorduras Totais Gorduras Saturadas Gorduras Trans

G g g

% % -

Fibra Alimentar G % Sódio Mg % Outros Minerais (1) mg ou mgc Vitaminas (1) mg ou mgc (*) % Valores Diários de referência com base em uma dieta de 2.000 kcal ou 8400 kJ. Seus valores diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas necessidades energéticas. (1) Quando declarados Obs: “Outros minerais” e “vitaminas” farão parte do quadro obrigatoriamente quando se fizer uma declaração de propriedades nutricionais ou outra declaração que faça referência à estes nutrientes. Optativamente, podem ser declarados vitaminas e minerais quando estiverem presentes em quantidade igual ou maior a 5% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) por porção indicada no rótulo. Fonte: ANVISA – Manual de Orientação às Indústrias de Alimentos – 2ª versão atualizada.

O rótulo não deve apresentar palavras ou qualquer representação gráfica

que possa tornar a informação falsa, ou que possa induzir o consumidor a erro;

demonstrar propriedades que não possuam ou não possam ser demonstradas;

destacar a presença ou ausência de componentes que sejam próprios de

alimentos de igual natureza; ressaltar, em certos tipos de alimentos processados,

a presença de componentes que sejam adicionados como ingredientes em todos

os alimentos com tecnologia de fabricação semelhante; indicar que o alimento

possui propriedades medicinais ou terapêuticas ou aconselhar seu consumo como

estimulante, para melhorar a saúde, para prevenir doenças ou com ação curativa.

Estes preceitos são fundamentados no princípio da devida informação disposto

pelo Código de Defesa do Consumidor, ensejando, em caso do não cumprimento

da norma, responsabilidade civil ao fornecedor.

Além da rotulagem obrigatória, as empresas buscam construir reputação de

qualidade dos seus produtos em cima da rotulagem com marca comercial. A

marca ajuda a identificar produtos e garante um padrão de qualidade comparável,

independente do local de compra. Existem várias formas de rotulagem com marca

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comercial. Há produtos rotulados sob (1) marcas de fabricantes, (2) marcas

próprias de grandes comerciantes, (3) marcas de franquia e de cadeia e (4)

produtos com marcas de associações de indústrias ou coletivas. Em todos esses

casos, como os investimentos em marketing são construídos em torno da marca

comercial, as empresas tendem a controlar a qualidade dos seus produtos para

proteger a integridade das suas marcas.

Para melhor entendimento do consumidor com relação aos rótulos no

Brasil, esta sendo proposta a utilização de um “semáforo nutricional”, já existente

em alguns países da Europa, segundo o IDEC. Alimentos que contenham excesso

de sódio, sal, açúcar ou gordura, por exemplo, receberiam uma marca vermelha. É

uma maneira de evitar que o consumidor tenha maior facilidade de compreensão

na leitura dos rótulos quando adquirir um produto.

Há vinte anos não havia a complexidade que existe atualmente nos rótulos,

em função das diversas alternativas existentes, e para o consumidor é mais ainda

complicado, pois as informações não são claras, ficando difícil a sua interpretação.

O IDEC já entregou a proposta desse semáforo nutricional à ANVISA, que é

o órgão regulamentador sobre os rótulos nos produtos. Em resposta, ANVISA, diz

que vai estudar melhor o sistema de cores, pois quer saber quais são os impactos

na percepção do consumidor e verificar se as cores nos rótulos dos alimentos irão

realmente influenciar as suas escolhas.

1.1.10 Rotulagem dos alimentos transgênicos

A questão mais complexa e controversa de rotulagem no cenário

internacional e nacional é a rotulagem de alimentos derivados da moderna

biotecnologia, tendo em vista a necessidade ou não de informar e advertir o

consumidor quanto à existência de componentes nos alimentos contendo

modificações genéticas.

Neste sentido, parece haver consenso no Comitê do Codex Alimentarius

sobre Rotulagem de Alimentos (CCFL), de que a rotulagem especifica quanto a

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tecnologia é necessária para alimentos derivados da mesma, quando houver

mudanças significativas de composição, valor nutritivo ou uso desejado. Através

do consenso acredita-se que essas disposições proporcionam assistência

considerável e proteção aos consumidores.

Entretanto, não existe consenso entre os países que aderem as normas do

Codex, sobre a rotulagem baseada em processo obrigatório de alimentos

derivados da moderna biotecnologia, como é o caso brasileiro. Alguns países

acreditam que rótulos baseados em processo obrigatório sobre alimentos

geneticamente modificados podem ser percebidos por muitos consumidores como

um rótulo de advertência de que o produto é inseguro e, portanto, poderia ser

confuso e inadequado como orientação internacional obrigatória.

No Brasil, o Governo editou o Decreto n.º 4.680/2003, para atender as

principais reivindicações da sociedade civil organizada, especialmente do

movimento de consumidores, que dispõe sobre a rotulagem de alimentos e

ingredientes transgênicos, revogando o Decreto n.º 3.871, de 17/7/01. O novo

Decreto estabelece que todo e qualquer alimento e ingrediente que contenha a

presença acima de 1% de organismo geneticamente modificado (OGM) em sua

composição deverá trazer a informação no rótulo, o que representa um avanço

significativo em relação ao decreto anterior, conforme se observa no Quadro 4.

Quadro 4. Decretos de regulamentação da rotulagem Decreto 3.871/01 (FHC) Decreto 4.680/03 (Lula)

Exigia rotulagem apenas para alimentos contendo mais de 4% de transgênico

Exige rotulagem para todos os alimentos (embalados, a granel, in natura)

Excluía alimentos de origem animal alimentados com ração contendo transgênicos

Exige rotulagem de alimentos de origem animal alimentados com transgênicos

Não exigia identificação da espécie doadora do gene

Exige a identificação da espécie doadora do gene

Fonte: www.planalto.gov.br

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No Brasil, a rotulagem de alimentos transgênicos é entendida como medida

de saúde pública relevante, pois permite o monitoramento e as pesquisas sobre

seus impactos na saúde, após sua introdução no mercado.

A MARCA

Como já se comentou anteriormente, em muitos casos a marca é um

importante instrumento de controle de qualidade e uma garantia da segurança do

alimento. A marca é o principal elo entre o negócio e o cliente, pois é através dela

que ele identifica o negócio e o diferencia dos demais. Com o passar do tempo, a

marca passa a ser o referencial da qualidade daquele produto ou serviço. O

mercado e a concorrência, por si só, já não são suficientes para assegurar a

apropriação da riqueza gerada, e as relações econômicas passam a ser mediadas

por contratos e instituições que têm por finalidade proteger os direitos dos vários

agentes envolvidos, reduzir e mediar conflitos e diminuir os custos de transação

em geral. A estratégia competitiva das empresas incorpora a diferenciação

baseada na criação e desenvolvimento de “sinais” e “marcas” de expressão

distintiva para seus produtos e para sua própria identificação pelos consumidores.

Era preciso individualizar e caracterizar cada empresa diante do conjunto de

consumidores e em face dos próprios concorrentes (VIEIRA & BUAINAIN, 2004).

Assim, a natureza da marca decorre de sua finalidade, ou seja, de

identificar o produto. É preciso que a marca tenha características que permitam tal

identificação. Entretanto, excluídas as proibições de caráter geral, evidentemente

não pode ser registrada a marca que já pertença a outro industrial ou comerciante,

ou prestador de serviços. Nesse caso se diz que a marca exige os requisitos da

novidade relativa e especialização. Não é preciso que o sinal seja novo em

absoluto ou o nome inventado pelo empresário. Basta que seja de fantasia, isto é,

que tenha um significado novo. Pode mesmo ser um nome ou sinal já em uso ou

registrado como marca de terceiro, desde que se destine a assinalar produtos que

não sejam concorrentes.

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171

Marca não é um conceito fácil de definir. Na sua definição e na sua análise

devem-se levar em consideração as disciplinas que a utilizam e regulam mais

diretamente, que são o direito comercial e a gestão de marketing. Para o direito

comercial a marca é um sinal; para Organização Mundial de Propriedade Industrial

– OMPI - define a marca como um “sinal que serve para distinguir os produtos ou

serviços de uma empresa dos outros de outras empresas”.

Ainda, pode ser definida como um nome, um termo, um sinal, ou um

desenho, ou uma combinação destes elementos, com vista a identificar os

produtos e serviços de um vendedor, ou de um grupo de vendedores, e a

diferenciá-los dos concorrentes.

O Código de Propriedade Industrial (Lei n.º 9.279/96) define “marca” como

todo sinal distintivo (palavra, figura, símbolo, etc.) visualmente perceptível, que

identifica e distingue produtos e serviços de outros iguais ou semelhantes, de

origens diversas, bem como certifica a conformidade dos mesmos com

determinadas normas ou especificações técnicas.

Concluindo, a marca é um signo distintivo, visualmente perceptível utilizado

para diferenciar produtos ou serviços de uma empresa das suas concorrentes,

bem como atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas

normas ou especificações técnicas.

A marca é em essência uma promessa da empresa em fornecer uma série

específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos compradores. Para

Kotler et al (2005) a garantia de qualidade vem junto com as melhores marcas,

mas uma marca é um símbolo mais complexo, podendo trazer até seis níveis de

significados:

a) Atributos: a marca tem o poder de trazer à mente certos atributos. Por

exemplo: Mercedes sugestiona automóveis caros, bons e de alto

prestigio;

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172

b) Benefícios: estes são traduzidos em benefícios funcionais e

emocionais. Por exemplo: um carro Mercedes custa caro e sugestiona

status elevado para o seu dono.

c) Valores: a marca também transmite os valores da empresa. Por

exemplo: Um carro Mercedes simboliza desempenho, segurança e

prestígio.

d) Cultura: a marca tem o poder de representar certa cultura. Por exemplo:

A Mercedes representa a cultura germânica: organizada, preocupada

com a qualidade e eficiente.

e) Personalidade: a marca pode projetar certa personalidade. Exemplo:

um chefe decidido que tem um carro Mercedes.

f) Usuário: a marca sugere o tipo de consumidor que pode usar

determinado produto. Exemplo: espera-se que um usuário de um carro

Mercedes seja um executivo bem sucedido, com um pouco mais de

idade e não uma secretaria de vinte e poucos anos.

O direito decorrente do registro da marca exclui seu emprego por todos os

demais no mesmo ramo de atividade. Salvo se a marca estiver amparada pela

proteção mais ampla, que decorre do reconhecimento de sua notoriedade, não

poderá o titular do registro impedir seu uso por terceiros em ramo de atividade

diverso, que não possibilite confusão entre mercadorias, produtos ou serviços. Em

conseqüência, um terceiro poderá registrá-la em outra classe.

O registro de uma marca é concedido pelo INPI, órgão governamental, que

garante ao seu proprietário o direito de uso exclusivo em todo o território nacional

em seu ramo de atividade econômica. Ao mesmo tempo, sua identificação pelo

consumidor pode proporcionar uma parcela estável de mercado, tornando-se um

ativo valioso para a empresa.

No entanto, o pedido de registro de uma marca não confere ao requerente à

exclusividade de uso, até que venha ser concedida pelo INPI a expedição do

Certificado de Registro da Marca, que terá validade de 10 (dez) anos, prorrogável

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173

a pedido do titular por períodos iguais e sucessivos. Em caso contrário, será

extinto o registro e a marca estará, em princípio, disponível.

A marca terá validade quando constituir em sinal visualmente perceptível.

Os sinais visualmente perceptíveis devem revestir-se de distintividade, para se

prestarem a assinalar e distinguir produtos ou serviços dos demais, de

procedência diversa e a marca pretendida não podem incidir em quaisquer

proibições legais, seja em função da sua própria constituição, do seu caráter de

liceidade ou da sua condição de disponibilidade.

A lei brasileira prevê ainda a Marca de Alto Renome, para os casos em que

o sinal devidamente registrado goze de renome que transcenda o segmento de

mercado para o qual ele foi originalmente destinado. A Marca de Alto Renome tem

assegurada proteção especial em todas as classes.

Para efeito de utilização, as marcas dividem-se em:

a) Marcas de produto: são as utilizadas pelo industrial ou comerciante

para distinguir um comércio ou um produto de outros;

b) Marcas de serviço: são as utilizadas pelo prestador de serviço para

distinguir os seus serviços de outros;

c) Marcas coletivas: são as que visam identificar produtos ou serviços

provindos de membros de uma determinada entidade;

d) Marcas de Certificação: são as marcas que se destinam a atestar a

conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou

especificações técnicas.

Para efeito de registro, as marcas podem ser:

a) Nominativas: constituídas apenas de palavras, conjunto de letras,

números ou algarismos;

b) Figurativas: representadas por um desenho, imagem ou sinal gráfico;

c) Mistas: compostas de uma marca nominativa e uma figurativa, ou

nominativa com estilização;

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174

d) Tridimensionais: constituídas pela forma plástica de um produto ou de

uma embalagem, sendo que tal forma tem de possuir identidade

própria.

Segundo Machado (2000), para o consumidor a marca é um redutor de

custos de transação porque ajuda identificar produtos e garante um padrão de

qualidade comparável, independente do local de compra. Para ele a marca é um

contrato, que diminui o risco no momento em que consumidor adquire o produto. A

marca identifica, por exemplo, numa oferta com produtos muito diferentes, a

marca facilita o reconhecimento e favorece a fidelidade. Como exemplo as

bebidas alcoólicas (preferência do consumidor pela cerveja Skol), alimentos

(preferência do consumidor por produtos Sadia), os televisores (preferência dos

consumidores por Phillips), os eletrodomésticos (preferência do consumidor pela

Brastemp), etc.

A marca diferencia, valoriza aquele que a usa ou a consome. Ela transmite

a sua identidade às pessoas. Para as compras de status social, a marca é o

principal instrumento de diferenciação e de poder de mercado. Escreva uma linha

sobre o uso das marcas para destacar a qualidade e inocuidade dos alimentos, e

como isto se relaciona à adesão aos diversos protocolos, certificados e métodos

de monitoramento e controle do processo produtivo como um todo.

PROGRAMAS E POLÍTICAS PÚBLICAS

É tarefa do Estado a instituição de programas e políticas públicas para

garantir a segurança e qualidade dos alimentos. Na área agroalimentar, foram

criados diversos programas, de acordo as exigências das normas internacionais,

para garantir o alimento seguro e inócuo. Os próximos itens têm como objetivo

apresentar os principais programas na área de alimentos.

1.1.11 Pró-Orgânico

O Programa de desenvolvimento da agricultura orgânica do MAPA é

regulado pela Instrução Normativa n.º 007/99, do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA), em seu item 1.1, considera que:

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175

O sistema orgânico de produção agropecuária e industrial todo aquele em

que se adotam tecnologias que otimizem o uso dos recursos naturais e

socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto-

sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a

minimização da dependência de energias não-renováveis e a eliminação do

emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos

geneticamente modificados (OGM) transgênicos ou radiações ionizantes em

qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre

os mesmos privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana,

assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da

transformação.

O programa tem por objetivo:

• A oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos

de qualquer tipo de contaminantes que ponham em risco a saúde do

consumidor, do agricultor e do meio ambiente;

• A preservação e a ampliação da biodiversidade dos ecossistemas,

natural ou transformado, em que se insere o sistema produtivo;

• A conservação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, da

água e do ar;

• O fomento da integração efetiva entre agricultor e consumidor final de

produtos orgânicos e o incentivo à regionalização da produção desses

produtos orgânicos para os mercados locais.

Ormond et al (2002) conceituando agricultura orgânica, define como:

um conjunto de processos de produção agrícola que parte do pressuposto básico de que a fertilidade é função direta da matéria orgânica contida no solo. A ação de microorganismos presentes nos compostos biodegradáveis existentes ou colocados no solo possibilitam o suprimento de elementos minerais e químicos necessários ao desenvolvimento dos vegetais cultivados. Complementarmente, a existência de uma abundante fauna microbiana diminui os desequilíbrios resultantes da intervenção humana na natureza. Alimentação adequada e

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176

ambiente saudável resultam em plantas mais vigorosas e mais resistentes a pragas e doenças.

Segundo Buainain & Batalha (2007-A), as políticas públicas, em especial,

mas também as privadas, sempre tiveram papel imprescindível no

desenvolvimento da agricultura orgânica em países mais desenvolvidos, como a

Alemanha, Estados Unidos e Japão. A participação de produtos orgânicos

certificados no mercado dessas nações cresceu rapidamente. O apoio

governamental à agricultura orgânica nestes países ocorre de forma indireta,

principalmente por intermédio do estabelecimento de marcos regulatórios claros e

estáveis.

O governo brasileiro, segundo os autores, atua de duas formas: de um lado,

busca a regulamentação do mercado por meio da criação do marco regulatório

para a produção e a comercialização de produtos orgânicos, como o programa

“Pró-orgânico”. Por outro, atua no financiamento à agricultura orgânica por meio

da criação de linhas especiais de crédito que contemplam o setor.

A comercialização de produtos orgânicos vem crescendo entre 20 a 50 %

ao ano. A produção brasileira de orgânicos representa menos de um 1% da área

agricultável. Segundo dados do MAPA82, em 2006, o Brasil possui uma área

estimada de 800 mil hectares com agropecuária orgânica e cerca de 15 mil

produtores. Os principais produtos orgânicos cultivados são: fruticultura (goiaba,

mamão, manga, maracujá, banana, uva, morango e citrus); olerícolas (alface,

couve, tomate, cenoura, agrião e berinjela); culturas (arroz, soja, milho, trigo,

mandioca, café, cacau e cana-de-açúcar); produção animal: carne (bovinos e

suínos), aves, leites, ovos, peixes e mel; extrativismo (palmito, castanha do Brasil,

castanha de cajú, açaí e babaçu). Mundialmente o índice é semelhante, cerca de

um por cento, com 31 milhões de hectares, ou pouco mais de 630 mil

propriedades.

82 Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: 22jul.2008.

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177

Em 2008, entrou em vigor o Decreto n.º 6.323/2007, substituindo a

Instrução Normativa n.º 007/1999, criando novas regras para a produção e

comercialização de produtos orgânicos no Brasil. Entre as principais mudanças

está a criação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, que

visa a assegurar a confiabilidade da certificação dos produtos orgânicos. Caberá

ao MAPA, juntamente com as secretarias estaduais, fiscalizar entidades

responsáveis pela certificação dos produtos.

Entretanto, orgânico não deve ser confundido com qualidade e segurança.

Não há relação direta, automática. Para que haja o controle e devido o crescente

interesse pela agricultura orgânica, surgiu a necessidade de uma verificação

segura, que garanta ao consumidor a certeza de estar adquirindo produtos

orgânicos. O Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural -IBD, localizado em

Botucatu, São Paulo, fiscaliza e certifica produtos orgânicos no Brasil de acordo

com normas internacionais. Este selo só é conferido após rigorosos exames de

controle de qualidade de solo, água, reciclagem de matéria orgânica, dentre

outros.

1.1.12 Plano Nacional de Controle de Resíduos (PNCR)

O Plano Nacional de Controle de Resíduos (PNCR) foi instituído pela

Portaria Ministerial n.º 51, em 1986, adequado pela Portaria Ministerial n.º 527 em

1995. A execução de suas atividades está a cargo do Secretario de Defesa

Agropecuária, cabendo ao Coordenador Geral gerenciar o cumprimento das metas

estabelecidas na operacionalização do Plano.

É um programa do governo federal que visa garantir a saúde do consumidor

por meio de um monitoramento da presença de resíduos de drogas veterinárias e

contaminantes ambientais em produtos de origem animal, como carnes, leite,

ovos, pescado e mel. A presença de resíduos de antibióticos, antiinflamatórios,

parasiticidas, vermífugos ou de contaminantes ambientais, como mercúrio,

chumbo e arsênio, acima de níveis seguros, poderão ocasionar danos à saúde do

consumidor, sendo que em alguns casos, pode até levar ao óbito.

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178

O Plano visa83: a) conhecer o potencial de exposição da população aos

resíduos nocivos à saúde do consumidor, parâmetro orientador para a adoção de

políticas nacionais de saúde animal e fiscalização sanitária; b) impedir o abate

para o consumo de animais oriundos de criatórios onde se tenha constatado

violação, sobretudo o uso de drogas veterinárias proibidas no território nacional.

Um dos objetivos do PNCR é tornar-se parte integrante do esforço

destinado a melhoria da produtividade e da qualidade dos alimentos de origem

animal colocados à disposição da população brasileira, e em segundo,

proporcionar à nação sob o ponto de vista sanitário, às regras do comércio

internacional de alimentos preconizados pela OMC e órgãos auxiliares, tais como

FAO e OMS.

Portanto, o programa é de extrema importância para o Brasil, haja vista que

o não acatamento das normas do controle de resíduos pode acarretar sérios

problemas às exportações, dos diversos setores da cadeia agroalimentar.

1.1.13 Programa de Alimentos Seguros (PAS)

Em razão de um mercado cada vez mais exigente no mundo globalizado,

as empresas alimentícias brasileira perceberam a necessidade de se ter um

diferencial, para aumentar seu poder de competição, de segurança e da qualidade

de seus produtos. Estas empresas partiram do principio que com a adoção do

Programa Alimentos Seguros (PAS) potencializariam as vantagens para um

comercio mais competitivo, tanto internamente como externamente.

Em agosto de 2002, o Projeto APPCC é mudado para o Programa

Alimentos Seguros (PAS), em virtude de sua expansão e da natureza da atuação,

já que atividade de implantação deverá ser demandada continuamente, devido ao

grande número de empresas no país. Outro fator para a mudança do nome foi

que, a sigla APPCC (oficial no Brasil) que precisava ser difundida no país no

83 Disponível em: http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/servlet/ VisualizarAnexo ? id = 11049 . Acesso em: 10dez2008.

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179

âmbito das empresas de alimentos, já foi assimilada pelo segmento nestes anos

de atuação do Projeto. Agora, com o foco de cada vez maior na conscientização

do consumidor e da sociedade, de modo geral, a sigla PAS ficou mais adequada

para a assimilação e conexão com as ações do Programa.

O PAS tem por objetivo disseminar e apoiar a implantação de Boas Práticas

(BP) e o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC)

nas empresas de alimentos e alimentação em toda a cadeia alimentar, no território

brasileiro. A finalidade é aumentar a segurança e a qualidade dos alimentos

produzidos para a população brasileira; aumentar a exportação de alimentos,

preparando o setor produtivo brasileiro para atender as exigências dos países

importadores em termos de segurança dos alimentos; aumentar a competitividade

das empresas.

O Programa é composto de uma parceria abrangente, que reúne

instituições com focos de ação desde o campo até o consumo final do alimento,

tais como: EMBRAPA, SENAR, SENAI, SESI, SENAC, SESC, SEBRAE. Algumas

das instituições governamentais, como a ANVISA, e o CNPq, que têm interesse

nas ações do PAS, também já são parceiras do Programa. Conta, ainda, com a

participação técnica do MAPA, MS e da Associação Brasileira das Indústrias de

Alimentos (ABIA), o INMETRO e a ABNT foram envolvidos pelo PAS, para

trabalharem o aspecto de normalização desde o seu início.

O PAS está estruturado como um Programa de Campo à Mesa (PAS-

Campo à Mesa), sendo composto de seis projetos, a saber: PAS-Campo, PAS-

Indústria, PAS-Distribuição, PAS-Transporte, PAS-Mesa e PAS-Ações Especiais,

conforme apresentado na Figura 7.

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180

Figura 7. Estrutura do Programa PAS Campo à Mesa.

Fonte: SEBRAE.

1.1.14 PAS Campo (Segurança dos Produtos no Campo)

As indústrias que processam alimentos, principalmente as que estão

implantadas o Sistema APPCC, já começam a exigir de seus fornecedores,

garantia na origem para o controle de perigos de certas matérias primas. O

mesmo começa a acontecer nas redes de distribuição (especialmente grandes

supermercados), que já começam a exigir controle na produção de seus

fornecedores, inclusive rurais.

O projeto se destina a produtores e trabalhadores rurais de todos os níveis,

de produtos de origem animal e vegetal, especialmente de micro e pequenas

empresas rurais, criando possibilidade para que essas empresas possam competir

no mercado externo, aumentando as exportações do país.

O PAS Campo tem como objetivos:

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181

• Desenvolver uma metodologia de ação para melhorar a qualidade e,

especialmente, a segurança dos produtos de origem animal e vegetal,

em nível de produtor rural, visando dar “garantia de origem”;

• Contribuir para racionalização da gestão de recursos e a articulação

das estruturas e das entidades intervenientes no processo;

• Aumentar a segurança (e a qualidade) dos alimentos no âmbito da

produção rural, em nível nacional;

• Desenvolver material de sensibilização e técnico sobre Boas Práticas

Agropecuárias, Procedimentos Padrão de Higiene Operacional – PPHO

(do inglês SSOP (Standard Sanitizing Operating Procedures) e

princípios de APPCC, bem como sistemática para as ações no campo;

• Treinar técnicos (SENAI, SEBRAE, EMBRAPA e outros eventuais

parceiros) para atuarem na multiplicação e na implantação das Boas

Práticas Agropecuárias com princípios PPHO/APPCC;

• Sensibilizar e conscientizar os produtores sobre a importância das BPA

e do Sistema de Controle de Perigos na produção de alimentos seguros

e com qualidade;

• Treinar e apoiar os produtores e os trabalhadores rurais destes

segmentos na implantação das BPA/APPCC, visando mercado interno

e externo e promover a segurança ambiental e a saúde dos

trabalhadores rurais na adoção de Boas Práticas Agropecuárias, bem

como prevenção às fraudes.

A implantação das BPA/APPCC na produção rural possibilita agregar valor

ao produto, por dar garantia de rastreabilidade e de certificação de origem.

Possibilita assim, gerar demanda por produtos de qualidade, aumentando a

competitividade do setor agrícola, inclusive para o comércio exterior, a exemplo do

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182

segmento das frutas, por sistemas de sanidade que garantam a qualidade do

produto e da carne bovina, certificados pelo Sistema SISBOV84.

1.1.15 PAS Indústria85

As indústrias brasileiras perceberam que a utilização de BP e APPCC, é

uma questão de sobrevivência no mercado globalizado, aumentando a sua

competitividade. Desta forma, o marco regulatório brasileiro impõe que as

indústrias de alimentos se adequem às demandas do mercado externo e pelas

indústrias exportadoras, em vários segmentos como carne, frutas, pescados e,

principalmente, em razão das exigências dos países, tais como EUA, Canadá,

Japão e países da Comunidade Européia o controle de alimentos seguros.

O PAS Indústria tem como objetivo:

• Aumentar a segurança e a qualidade dos alimentos produzidos pelas indústrias de alimentos em âmbito nacional, especialmente no setor de carnes e derivados, leites e derivados, pescados e derivados e vegetais e derivados;

• Aumentar a competitividade da indústria de alimentos em âmbito nacional;

• Aumentar a competitividade da indústria de alimentos, através da redução de perdas e custos;

• Desenvolver material de sensibilização e técnico de APPCC, bem como uma sistemática para as ações junto à indústria de alimentos;

• Formar consultores e multiplicadores, para atender a demanda de todos os Estados brasileiros;

• Difundir o PAS, através de seminários para empresários em todo o território brasileiro;

84 O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA – visando estabelecer normas para a produção de carne bovina com garantia de origem e qualidade, publicou a Instrução Normativa n° 17, em 14/07/2006, com nova estrutura operacional para o Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos – SISBOV. Para garantir a qualidade do produto, de acordo com as novas regras, todos os bovinos e bubalinos dos Estabelecimentos Rurais Aprovados no SISBOV serão, obrigatoriamente, identificados individualmente, cadastrados na Base Nacional de Dados, com o registro de todos os insumos utilizados na propriedade durante o processo produtivo. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/ PAGE/MAPA/PRINCIPAL/DESTAQUES/AREA_DE_DESTAQUES_NOVA/CARTILHA%2BSOBRE%2BO%2BNOVO%2BSISBOV%5B1%5D.PDF>. Acesso em: 14jan.2008. 85 Disponível em: <http://www.alimentos.senai.br/>. Acesso em: 12jan.2008.

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183

• Apoiar a indústria de alimentos, através de capacitação de consultoria e na implementação das Boas Práticas e do Sistema de APPCC;

• Alavancar as exportações brasileiras através da adequação das empresas, para o mercado externo.

1.1.16 PAS Distribuição

Muitas vezes, há ausência do controle de produtos provenientes das

indústrias alimentícias e do campo. Nesse sentido, è importante a atenção nos

fornecedores e no transporte ate o estabelecimento para evitar a aquisição de

produtos com perigos potenciais.

Assim, o PAS Distribuição tem por objetivo aumentar a garantia de

segurança e da manutenção da qualidade dos alimentos no segmento da

distribuição. Para cumprir tal objetivo foi desenvolvido material de sensibilização e

técnico sobre Boas Práticas e a aplicação dos princípios do sistema da APPCC na

distribuição, tais como a cartilha do manipulador, distribuídos através de cursos

elaborados pelo SEBRAE.

As empresas que adotaram tal prática terão como beneficio a diminuição de

perdas e aumento da segurança e na qualidade dos alimentos oferecidos à

sociedade, podendo refletir inclusive no preço final para os consumidores.

1.1.17 PAS Mesa86

Os setores que atuam no preparo e na distribuição de alimentos prontos

para o consumo, tais como cozinhas industriais, restaurantes, bares e similares e

panificadores, estão freqüentemente envolvidos em surtos de toxinfecções

alimentares, sendo segundo as estatísticas, o setor mais implicado na ocorrência

de surtos.

Assim, o MS atendendo as demandas, visando estabelecer melhorias no

setor, sugeriu a criação do PAS Mesa. Este programa tem como objetivos:

86 Disponível em: www.alimentos.senai.br. Acesso em: 12jan2008.

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• Aumentar a segurança no preparo de alimentos prontos para consumo, visando redução de surtos de toxinfecção alimentares;

• Desenvolver material técnico e de sensibilização para os segmentos de cozinhas industriais / hospitalares / escolares / comercial, bares e lanchonetes, lactários, nutrição enteral, banco de leite, alimentação transportada, quiosque, ambulantes, catering, padarias e panificadoras;

• Formar consultores / multiplicadores para disseminar a sistemática e apoiar a implantação.

• Difundir o Sistema através de seminários para os setores, em todo país;

• Apoiar as empresas, através de treinamento e consultoria na implantação do Sistema, em todo país.

O projeto PAS mesa é gerenciado por um técnico do SEBRAE em todo

país. As ações são feitas através da seguinte sistemática: desenvolvimento dos

produtos (material de sensibilização e técnico, cursos, etc.); repasse dos materiais

e da sistemática para os consultores/multiplicadores; capacitação de responsáveis

técnicos (em cozinhas industriais) e de responsáveis operacionais (demais

setores) para a implantação orientada ou auto-implantação.

1.1.18 PAS Ações Especiais

O PAS ações especiais foi criado com o objetivo de dar apoio aos demais

projetos PAS ou ações ligadas ao Sistema APPCC (ou a melhoria da qualidade)

de órgãos, instituições, associações e outros grupos; desenvolver ações

específicas que sejam mobilizadoras, ou criadora de materiais ou de atividades

que agreguem valor ao PAS como um todo; apoiar pesquisas relativas ao Sistema

APPCC ou a análise de risco, detectadas como de importância pelos gerentes do

Programa e dos demais projetos PAS; promover capacitação especial para

setores, ou grupos ou entidades, e que tenham potencial de disseminar, utilizar ou

aplicar o Sistema APPCC, em âmbito estadual ou nacional; divulgar e promover a

divulgação na mídia do Sistema APPCC e do tema “Alimentos Seguros do Campo

a Mesa”, bem como de programas que visem a conscientização e o treinamento

da população para práticas seguras no preparo dos alimentos.

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185

O projeto PAS - Ações Especiais terá agregado ações que facilitarão o

atendimento da Comissão do Gestor Nacional (CGN) e maiores informações

técnico-científicas para os consultores e empresas de alimentos sobre o Sistema;

maior segurança dos alimentos oferecidos para a população, pela maior

possibilidade de expansão das ações no país em Sistema melhor embasado

cientificamente; maior preparo de pesquisadores e técnicos do setor de alimentos

para novas evoluções nas técnicas de controle de segurança de alimentos, que já

são desenvolvidas em países mais avançados.

Com o foco cada vez maior na conscientização do consumidor e da

sociedade, de modo geral, a sigla PAS (Programa Alimentos Seguros) ficou mais

adequada (em substituição ao APPCC, que já estava bastante difundido) para a

assimilação e conexão com as ações do Programa, além de melhor caracterizar a

ampliação de seu escopo, com a inclusão de grande quantidade de ações de

implantação de Boas Práticas.

Diversos setores da cadeia de alimentos tem adotado o programa, visando

a melhoria de seu processo e garantindo a segurança e a qualidade do alimento,

como o caso da apicultura que aderiu ao programa, aumentou suas exportações

após o embargo da UE por mais de dois anos, com a implantação de boas

práticas de produção e publicação de normas técnicas para o setor. Essas são

algumas das conquistas da atividade, que gera 450 mil ocupações diretas no

campo e 16 mil nas indústrias de processamento e de insumos, materiais e

equipamentos apícolas.

APONTAMENTOS SOBRE OS MECANISMOS ORGANIZACIONAIS PARA A GARANTIA DA QUALIDADE DO ALIMENTO

A diversidade de mecanismos organizacionais existentes no mundo requer

um esforço de homogeneização seja feito. Faz-se necessário desenvolver

mecanismos de consolidação dos padrões de qualidade existentes em diversos

países para buscar harmonizar procedimentos de controle da qualidade.

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186

Para que os países importadores não imponham barreiras não tarifárias87,

os acordos internacionais avançaram no sentido de evitar o aumento da exigência

de qualidade imposta nos produtos. O TBT representa passo importante no

sentido de minimizar a criação de limitações comerciais injustificadas. O Inmetro

constitui elemento-chave como garantidor dos interesses nacionais. Por um lado,

no TBT, coube a essa instituição o papel de notificação dos regulamentos técnicos

e procedimentos de avaliação, em conformidade com as normas da OMC. É por

meio das notificações que os países estabelecem os padrões nacionais que são

submetidos à análise e anuência da OMC.

É importante notar que qualquer sistema de controle de qualidade requer

que a qualidade da mensuração dos atributos do produto siga, rigorosamente, os

padrões aceitos internacionalmente. Nesse sentido, que o ambiente institucional

referente à segurança dos alimentos está cada vez mais se adequando às regras

internacionais impostas para garantia da qualidade do alimento.

No entanto, a cada episodio alimentar tem crescido cada vez mais o

número de instituições que tratam sobre a segurança do alimento. Isso faz com

que o ambiente institucional se torne complexo, uma vez que o aparelho estatal

fica cada vez mais burocrático, como ocorre no Brasil. Não sabemos ainda qual é

o ambiente institucional excelente. Mas temos consciência de que como se

apresenta no Brasil não é o mais eficiente.

Nesse sentido, o próximo capítulo tem como objetivo apresentar o modelo

adotado na Comunidade Européia, dando maior ênfase ao desenho institucional

87 As barreiras não-tarifárias (BNTs) são restrições à entrada de mercadorias importadas que possuem como

fundamento requisitos técnicos, sanitários, ambientais, laborais, restrições quantitativas (quotas e

contingenciamento de importação), bem como políticas de valoração aduaneira, de preços mínimos e de

bandas de preços, diferentemente das barreiras tarifárias, que se baseiam na imposição de tarifas aos

produtos importados. Normalmente, as BNTs visam a proteger bens jurídicos importantes para os Estados,

como a segurança nacional, a proteção do meio ambiente e do consumidor, e ainda, a saúde dos animais e

das plantas. No entanto, é justamente o fato de os países aplicarem medidas ou exigências sem que haja

fundamentos nítidos que as justifiquem, que dá origem às barreiras não-tarifárias ao comércio, formando o

que se chama de neoprotecionismo. As BNTs classificam-se em: (i) (quotas ou contingenciamento de

importação; (ii) barreiras técnicas; (iii) medidas sanitárias e fitossanitárias e (iv) exigências ambientais e

laborais.

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187

da Espanha quanto à questão da segurança dos alimentos, não como um modelo

ideal a ser seguido, mas sim como um outro exemplo de modelo a ser analisado,

para que se possa em pesquisas futuras apresentar um ambiente institucional

menos complexo.

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189

CAPÍTULO 4. SEGURANÇA DOS ALIMENTOS NA UNIÃO EUROPÉIA – UM MODELO DIFERENCIADO – MARCOS GERAIS

Após as análises realizadas nos capítulos anteriores sobre o ambiente

institucional internacional e nacional sobre a questão da inocuidade e qualidade

dos alimentos, optou-se na presente tese estudar o ambiente institucional da

Comunidade Européia sobre a garantia da qualidade dos alimentos, mais

especificamente da Espanha, para apresentar um modelo diferenciado desse

ambiente, através da descrição das organizações e instituições adotadas.

O estudo parte do pressuposto que a análise de outro modelo de ambiente

institucional proporcionará elementos para apontar uma alternativa para melhorar

a eficiência para garantia da inocuidade e segurança dos alimentos.

UNIÃO EUROPÉIA – MARCOS GERAIS

A Europa é conhecida pela diversidade de sua agricultura e de seus

produtos agrícolas, resultado de seu ambiente natural e seus métodos de cultivo

desenvolvidos durante séculos. Juntamente com sua excelente gastronomia, os

alimentos e bebidas europeus desempenham um importante papel na identidade

cultural dos seus povos. Diante deste cenário, a UE prima pela elevada qualidade

de sua agricultura, tendo em vista ser seu principal produto, demonstrando um

crescente interesse pela qualidade dos alimentos que produzem.

Em virtude da importância creditada ao setor agroalimentar na UE, no

decorrer da década de 1990, foi desenvolvida uma extensa legislação referente ao

setor, que constituem a base comum para a produção e comercialização. Essa

legislação aborda questões de higiene, para todos os alimentos, bem como, as

normas e procedimentos para a produção dos alimentos, a responsabilidade dos

fabricantes, os requisitos estruturais, operativos e de higiene para todos os

estabelecimentos, os procedimentos para autorização de funcionamento de

estabelecimentos, os requisitos para armazenamento e transportes.

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190

Nessa mesma década, em decorrência das crises alimentares (enfermidade

das vacas loucas, a presença de dioxinas na carne de frango, a utilização de

alimentos para animais com qualidade duvidosa, hormônios ou antibióticos

proibidos para o aumento da engorda do gado e de animais de granja) e alguns

episódios de intoxicações alimentares por contaminação de germes e patógenos

em produtos alimentares vendidos ou alimentos servidos para a coletividade

acabou exacerbando nos cidadãos uma maior desconfiança no sistema alimentar

europeu, apesar de já ser uma preocupação da sua sociedade desde o século

XVII.

Em 1996, o Governo do Reino Unido reconheceu a possibilidade da relação

entre a epidemia da doença da vaca louca, que afetou o seu gado bovino, com a

enfermidade humana (Creutzfeldt-Jakob), já suspeitada por várias organizações

de consumidores e por algumas autoridades de outros Estados Membros que

adotaram medidas unilaterais de restrição das importações de gado inglês. Até

2000, ainda havia muitas lacunas nas normas da UE de sanidade veterinária e de

alimentos, carência de meios e métodos para controlas eficaz da segurança dos

alimentos (em especial de carnes frescas) e, principalmente, pouca coordenação

entre as administrações na Europa, nacionais ou locais responsáveis por vigiar o

estado dos alimentos, garantir sua inocuidade e administrar adequadamente os

riscos alimentares.

A dura crítica dos cidadãos e dos meios de comunicação fez com que as

autoridades de Saúde, Consumo, Agricultura e Alimentação, juntamente com a

decadência de alguns mercados, assumissem o problema como de saúde pública,

fazendo com que houvesse uma maior consciência da necessidade de

desenvolver uma política pública para o setor alimentar focada na prevenção, na

participação e na transparência.

Assim, a UE reforçou a regulação e os mecanismos de controle da

qualidade dos alimentos, introduzindo medidas para melhorar as condições de

saúde pública e higiene dos alimentos; normas sobre rotulagem; regras sobre

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sanidade animal e vegetal; regras para o bem estar animal; controle dos resíduos

de pesticidas e agrotóxicos, bem como de aditivos na alimentação; informação

nutricional aos consumidores.

O enfoque dos Regulamentos e Diretrizes da UE prevê o rigoroso controle

da produção, a rastreabilidade do produto, com garantias, ao mesmo tempo, do

eficaz funcionamento do mercado único europeu88. Num exercício para

consolidação, atualização e simplificação, o Conselho e o Parlamento Europeu

adotaram um conjunto de Regulamentos e Diretivas89 que reestruturam e

atualizam as normas de higiene de todos os produtos alimentícios, incluídos os

produtos de origem animal, revogando toda a legislação européia anterior.

As legislações da EU são modificadas rapidamente para atender as

demandas crescentes sobre a questão de segurança dos alimentos. As

atualizações visam evitar que o mercado fique engessado em um marco

regulatório atrasado e sem eficácia. Por outro lado, constantes mudanças,

algumas importantes, tendem a introduzir alguma insegurança que afeta

investimentos e contratos, principalmente aqueles de prazos mais longos.

Um objetivo estratégico é a criação de um ambiente institucional apropriado

para a gestão dos riscos e doenças alimentares, contribuindo para que haja

melhor percepção dos consumidores nos sistemas de controle dos alimentos.

Ainda, do ponto de vista dos consumidores, propicia uma visão real dos problemas

com maior rapidez, melhora sua proteção.

Para assegurar a inocuidade dos alimentos, são formulados e aplicados

sistemas de inspeção baseados na possibilidade da evolução de riscos de

contaminação alimentar. Tradicionalmente, a preocupação básica em matéria de

segurança dos alimentos centrava-se na eventual presença de resíduos químicos

no meio ambiente, ou na presença de medicamentos ou outros agentes tóxicos

suscetíveis de acúmulos nos tecidos animais. Todavia, a descoberta de patógenos

88 Disponível em: <http://ec.europa.eu/food/food/index_es.htm>. Acesso em: 24abril2008. 89 Disponível em: <http://www.aesa.msc.es/aesa/web/AESA.jsp>. Acesso em: 23abril2008.

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microbianos, inócuos aos animais, mas nocivos ao homem, mudou essa

perspectiva. Assim, têm sido conduzidas diversas ações, tanto por indústrias

quanto por órgãos governamentais, no intuito de avaliar a natureza dos riscos

causados por patógenos de origem alimentar aos consumidores, para uma maior

segurança alimentar.

Em âmbito internacional, a análise dos riscos na área de alimentos

desenvolveu-se em decorrência da importância que a segurança dos alimentos

adquiriu ao longo dos anos, para garantir práticas justas no comércio. Estruturada

de acordo com as organizações de reconhecimento internacional, a análise de

risco tem como objetivo auxiliar no processo de tomada de decisão e o

estabelecimento de regulamentações e normas baseadas em estimativas e

adoção de medidas de controle mais apropriadas dos riscos para saúde e

segurança dos alimentos. Deve-se, ainda, adequar as alternativas de ação às

considerações práticas de cada país, como o impacto econômico que pode causar

e as facilidades de implementação.

O princípio diretor sobre segurança dos alimentos da UE está disposto

fundamentalmente no “Livro Branco”, que consiste em dar um enfoque geral sobre

o tema. O próximo item tem por objetivo apresentar as principais características

deste instituto.

1.1.19 Livro Branco

A partir do momento em que houve a proposta da livre circulação dos

alimentos e produtos entre os Estados Membros houve maior preocupação com a

questão da inocuidade e segurança dos alimentos, considerado estes serem um

dos aspectos essenciais para o mercado e condição necessária para se alcançar

um nível adequado de saúde e bem estar.

E, para que a livre circulação dos produtos e alimentos fosse uma realidade

era necessário que os requisitos exigidos não fossem diferentes entre os Estados

Membros, ou seja, era necessário homogeneizar as legislações aplicadas nos

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países em todo o processo, da produção até o consumo, bem como o controle da

qualidade a que estão submetidos. Os alimentos para animais (rações) também

estão sujeitos às mesmas medidas, quando utilizados posteriormente para

produção de alimentos (YUBERO, 2003).

Assim, no âmbito da UE foi realizada uma profunda reforma das legislações

nacionais dos Estados Membros, uma vez que anteriormente cada país possuía

sua própria legislação. A questão da “qualidade” - distinta ainda sob o ponto de

vista para os consumidores – era diferente em seu aspecto legal, de tal forma que

o conceito de alimento e de todas as suas características, rotulagem,

apresentação, composição, origem, que não causam dano, etc. era interpretada

de maneira diferente entre os Estados Membros. Era necessário fazer a

unificação, fator determinante para a segurança dos alimentos, evitando as

responsabilidades sobrepostas ou lacunas nas legislações, ficando difícil em se

determinar o responsável por algum episódio sanitário.

Diante da importância econômica do setor agroalimentar para UE90, a

questão da segurança dos alimentos passa a ter grande relevância em seu marco

regulatório. Com a evolução dos métodos de produção, a legislação foi se

adequando às novas exigências, refletindo a diversidade de influências científicas,

sociais, políticas e econômicas, principalmente no que se referente ao mercado

interno, dispondo os Princípios Gerais da Legislação Alimentar na União Européia.

Um dos princípios norteadores da política de segurança dos alimentos da

UE é que esta deve estar fundamentada numa abordagem “global e integrada”, ou

seja, que as regras devem ser aplicadas ao longo de toda a cadeia (do campo à

mesa), em todos os setores alimentares, entre todos os Estados-Membros, nas

90 O setor agroalimentar é um dos setores de maior importância para a economia da UE, tendo em vista ser o maior produtor mundial. A indústria alimentar e de bebidas é considerada um dos principais setores industriais, o terceiro maior empregador da UE, dos quais 30% são de pequenas e médias empresas, considerado ainda, um dos maiores exportadores do setor, elevando constantemente o índice de exportação de seus produtos, tais como queijo, presunto, bebidas e farinha. A UE estima que 2\3 de suas exportações é composta por produtos processados, agregando cada vez mais valor aos seus produtos.

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fronteiras externas e dentro da UE, em instâncias de decisões internacionais e

comunitárias e em todas as etapas do ciclo de elaboração de políticas sobre

segurança dos alimentos.

As bases de segurança dos alimentos previstas no Livro Branco (pareceres

científicos, análise dos dados, regulamentação e controle e informação aos

consumidores (fundamentadas no Princípio da Precaução) devem articular-se num

conjunto harmônico que permita concretizar a abordagem global e integrada.

Neste sentido, a informação científica é fundamental. Essas informações são

formuladas por Comitês Científicos Setoriais, dos quais a maior parte abrange,

diretamente ou indiretamente, os setores da alimentação humana ou animal. Há

também o Comitê Científico Diretor que formula pareceres sobre as questões

multidisciplinares, os procedimentos de avaliação dos riscos e a coordenação das

questões para as quais são competentes os diversos Comitês Setoriais (por

exemplo, resistência antimicrobiana).

O Livro Branco assume que a política alimentar é mais eficaz quando se faz

o rastreamento (trazabilidad)91 dos alimentos para o consumo humano e animal,

bem como de seus ingredientes, através de procedimentos adequados. Para isso,

devem ser realizadas permanentemente análises do setor alimentar e, quando

necessário, devem ser realizadas as adaptações necessárias para suprir as

deficiências, responder aos novos riscos e conhecer a evolução da cadeia de

produção. Concomitantemente, a análise deve ser transparente, incentivar a

participação de todos os agentes e permitir que estes contribuam de forma eficaz

para o desenvolvimento econômico.

Ainda assim, com a notável evolução de Pesquisa e Desenvolvimento -

P&D - dos métodos de produção e processamento dos alimentos, bem como os

controles necessários para assegurar a inocuidade dos alimentos, havia a

91 Por trazabilidad se supõe acompanhar todo o processo da produção do alimento, inclusive seus ingredientes, sistemas e incidências na produção, procedência, tratamentos e processos de elaboração e comercialização de todos os produtos destinados à alimentação humana e para alimentação animal (alimentos para animais) que é posteriormente destinado para produção de alimento.

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necessidade de mais reformulações. Após os diversos episódios sanitários que

ocorreram a exemplo da doença da vaca louca, em toda a UE aumentou o nível

de preocupação com a questão da saúde de sua população.

Pode-se dizer que em janeiro de 2000 tem início uma nova etapa, com a

criação pela Comissão Européia de um conjunto de regras mais coerentes, mais

claras e de melhor compreensão e transparência, que é a base para a segurança

dos alimentos na UE, visando à proteção da saúde dos consumidores,

denominado de “Livro Branco”92, com o intuito de restabelecer a confiança dos

consumidores no que se refere aos alimentos, calcado na possibilidade em se

rastrear (trazabilidad) toda a cadeia alimentar e sustentável93.

“las modalidades de puesta en práctica y aplicación de la legislación comunitaria son muy variadas, lo que significa que los consumidores no pueden tener la certeza de disfrutar del mismo nivel de protección en el conjunto de la Comunidad y por ello se propone definir en colaboración con los Estados Miembros, un marco comunitario para el desarrollo y gestión de los sistemas nacionales de control, que aproveche las mejores prácticas existentes y la experiencia de los Servicios de inspección de la Comisión.

A introdução do “Livro Branco” implicou em algumas exigências para o

mercado interno europeu: em primeiro lugar, a necessidade da fusão de todos os

mercados nacionais da União Européia; em segundo, que o Mercado Único

expandisse; em terceiro, que o Mercado Único deveria ser flexível para ter

condições de canalizar recursos humanos, materiais ou financeiros.

O Livro Branco define que a política alimentar e a política ambiental da EU

devem apresentar elevados padrões de segurança dos alimentos, para minimizar

os riscos para os consumidores a um nível equiparado ao da proteção da saúde.

A “análise de risco” constitui uma das bases da política da segurança dos

alimentos, mediante três componentes: evolução do risco (assessoria científica e

92 Livro Branco são documentos que trazem propostas de ações visando criar regras sobre certos temas específicos. 93 Considerações ambientais, o bem-estar dos animais, a agricultura sustentável e as expectativas dos consumidores quanto à qualidade dos produtos, à informação correta e à definição das características essenciais dos produtos e dos métodos de processamento e de produção.

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análise de dados); gestão dos riscos (regulamentação e controle) e comunicação

dos riscos.

O processo de análise e evolução do risco está fundamentado em quatro

etapas94 (Figura 8):

• Identificação do setor dos perigos – determinação dos agentes biológicos, químicos e físicos que podem causar efeitos nocivos para a saúde e que podem estar presentes em um determinado alimento ou grupo de alimentos;

• Caracterização do fator de perigo: evolução qualitativa ou quantitativa da natureza e dos efeitos nocivos para a saúde relacionados com os agentes biológicos, químicos e físicos que podem estar presentes nos alimentos. Neste caso os agentes químicos, tem que realizar uma evolução de relação. No que se refere aos agentes biológicos e físicos, tem realizar uma evolução em relação, se houver dados disponíveis;

• Determinação da exposição – evolução qualitativa e\ou quantitativa da provável ingestão de agentes biológicos, químicos ou físicos através dos alimentos, assim como, caso seja necessário, das exposições que derivam de outras fontes.

• Caracterização do risco – estimativa qualitativa e\ou quantitativa, incluídas as incertezas concomitantes, da probabilidade de que se produza algum efeito nocivo, conhecido ou potencialmente conhecido e a sua gravidade para a saúde de uma determinada população, baseada na determinação do perigo95, sua caracterização e sua evolução na exposição.

• A análise de risco é desenvolvida em três fases interdependentes: a avaliação, o gerenciamento e a comunicação do risco.

94 Disponível em: <http://www.aesa.msc.es/aesa/web/AESA.jsp>. Acesso em: 14mar.2008. 95 Fator de perigo é todo agente biológico, químico ou físico presente em um alimento ou em ração animal que pode causar algum dano à saúde.

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Figura 8: Análise do Risco

Fonte: CODEX ALIMENTARIUS (FAO)

A Comissão do Codex Alimentarius define avaliação do risco como um

processo científico que é usado para estabelecer padrões, diretrizes e outras

recomendações para segurança dos alimentos, visando a proteger o consumidor e

facilitar o comércio internacional. Essa avaliação envolve o risco, perigo, análise

do risco e avaliação do risco. Já o gerenciamento do risco é definido como o

processo de análises e decisões complexas em função dos resultados obtidos na

avaliação do risco, e se necessário, a seleção e implementação de medida de

controle apropriadas, incluindo medidas regulatórias.

Como a EU é uma grande importadora de alimentos, constantemente adota

medidas sanitárias e fitossanitárias constituindo um grande obstáculo ao acesso

de produtos in natura e industrializados ao mercado comunitário, uma vez que sua

legislação está fundamentada, principalmente, com a questão da sanidade;

análise de resíduos; aprimoramento da qualidade e garantia de rastreabilidade

atrelados à certificação. Estas exigências são feitas a uma extensa lista de

produtos, dentre eles, carne bovina, pescados, mel, camarão, frango, frutas, entre

outros.

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Essas diretivas européias são um grande entrave para as exportações dos

principais produtos agroalimentares de países como o Brasil, na medida em que o

processo de habilitação é geralmente lento, o que acarreta aumento nos custos de

transação das empresas.

O “Livro Branco” trata também da questão da responsabilidade das

empresas quando estas colocarem qualquer tipo de alimento no mercado que não

é seguro para a saúde humana. Para tanto, os fornecedores de alimentos

(humano e animal) devem manter um registro atualizado, das matérias-primas e

dos ingredientes utilizados para a produção, para que seja possível identificar a

fonte de um eventual problema.

Outro importante princípio adotado pelo “Livro Branco” é a informação ao

consumidor. Entende a Comissão do Parlamento Europeu que a comunicação dos

riscos e perigos não deve consistir apenas numa transmissão passiva de

informações, mas sim interativa, implicando um diálogo e uma resposta por parte

de todos os agentes.

Este mecanismo constitui uma responsabilidade fundamental das

autoridades públicas no âmbito da gestão dos riscos para a saúde pública. Essa

comunicação somente poderá funcionar corretamente se as avaliações dos riscos

e as decisões em matéria de gestão desses riscos forem transparentes.

As definições do Livro Branco têm implicações importantes, tanto dentro da

própria União Européia como para os países exportadores de produtos

alimentícios. Entende-se que uma política de segurança dos alimentos eficaz é

aquela que reconhece as interconexões que caracterizam a produção dos

alimentos. Para tanto, é necessário fazer permanentemente a avaliação e controle

dos riscos que possam acarretar danos à saúde do consumidor, controle das

matérias-primas, das práticas agrícolas e das atividades de processamento dos

alimentos, que exigem cada vez mais procedimentos eficazes para gerir os riscos,

havendo a necessidade da criação de sistemas de controle destinados a fiscalizar

e assegurar o cumprimento das normas de segurança dos alimentos.

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A adoção do “Livro Branco” foi o primeiro passo de uma série de iniciativas

para tentar solucionar as lacunas normativas existentes, principalmente no âmbito

do assessoramento científico, controle e inspeção, comunicação do risco e

informação ao consumidor.

Assim, alguns avanços são reconhecidos na área de segurança dos

alimentos, pela Confederación Española de Organizaciones de Amas de Casa

Consumidores y Usuarios - CEACCU (MONGE, 2003):

• Os serviços oficiais de controle e vigilância de saúde pública na Europa e na Espanha têm modernizado seus meios de pesquisa sobre os produtos de risco e incrementaram os planos de vigilância, as equipes e as redes de laboratórios;

• Houve progresso na questão da higiene alimentar e as empresas fizeram esforços importantes em matéria de segurança (sistematização dos controles, aplicação da legislação pertinente, etc.);

• A legislação dos Estados Membros foram unificadas de acordo com os critérios adotados pela Comissão Européia, para garantir o mesmo nível de higiene, salubridade e inocuidade de todos os produtos alimentícios que circulam na Europa, tanto os fabricados em sua fronteira como os procedentes do exterior;

• A rotulagem obrigatória esta presente em todos os alimentos enlatados e se estende a todos os produtos in natura que não tinham este requisito. A rotulagem informa não somente as características essenciais do produto (natureza, composição, ingredientes, identidade do fabricante ou responsável por sua comercialização, prazo de validade, procedência, recomendações de uso, etc.), informam o procedimento tecnológico de sua elaboração (alimentos geneticamente modificados ou com tratamento recebido para conservação em atmosfera controlada);

• As instituições de consumo realizam regularmente programas de controle sobre a veracidade das afirmações na rotulagem, por grupos de alimentos. Alguns destes programas são de forma coordenada para toda a Europa, outros são de iniciativa de algumas autoridades nacionais, regionais, locais ou de organizações de consumidores, alertando sobre as possíveis fraudes. Nesse sentido é importante que o rótulo tenha um conteúdo completo e correto, pois é considerado a chave para a segurança do consumidor, porque é informado os dados essenciais do produto, como também é um meio para exercer o controle sobre os riscos alimentares.

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Apesar de já haver na União Européia a preocupação com a questão da

segurança dos alimentos desde o século XVII, a crise da vaca louca foi um marco

para a “renovação” da política alimentar, cuja atividade de regulamentação

intensificou-se desde então para melhorar, racionalizar e simplificar o marco

regulatório, para reforçar o controle de aplicação das disposições legais em todos

os Estados Membros da UE para melhorar a informação sobre a segurança dos

alimentos para os consumidores, com objetivo principal de reduzir ao máximo os

possíveis riscos alimentares e oferecer ao consumidor um elevado nível de

proteção assentados nos últimos Tratados da União Européia que garantem seus

direitos.

1.1.20 Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA)

Em 2000, diante da necessidade da adoção de medidas eficazes para

garantir elevado nível de proteção aos consumidores na questão da segurança

dos alimentos, a fim de concretizar as transformações necessárias para a

proteção da saúde pública e restabelecer a confiança do consumidor, foi criada a

Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA - European Safety Food

Authority, sigla em inglês), pelo Regulamento 178/2002 do Departamento

Europeu, que constitui a base jurídica da Autoridade.

A EFSA é um órgão de assessoramento científico, informação e

comunicação dos riscos que podem ocorrer do setor alimentício, fixando os

procedimentos de rastreabilidade para que os alimentos sejam considerados

seguros em todas as suas etapas: produção, distribuição e comercialização. Ela

presta à Comissão Européia pareceres científicos independentes sobre todas as

matérias, com impacto direto ou indireto na segurança dos alimentos. Tem

personalidade jurídica e é independente das demais instituições da UE.

Dentre suas atividades, a principal é a coordenação da atuação dos Países

Membros na questão do controle alimentar. Nos domínios da sua competência, as

tarefas da Autoridade Européia para a Segurança dos Alimentos são as seguintes:

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• Fornecer às instituições européias e aos Estados-Membros os melhores pareceres científicos possíveis, por sua própria iniciativa ou a pedido da Comissão, do Parlamento Europeu ou de um Estado-Membro;

• Os pareceres científicos independentes incidem sobre questões de segurança dos alimentos e outras matérias conexas (alimentação animal e saúde animal, controles fitossanitários, OGM, nutrição, etc.), servindo de base às decisões políticas em matéria de gestão dos riscos;

• No que respeita à avaliação científica de substâncias, produtos ou métodos sujeitos, nos termos da legislação comunitária, a um sistema de autorização prévia ou de inscrição numa lista positiva, há regulamentos ou diretivas setoriais do Parlamento Europeu e do Conselho que fixam as normas segundo as quais os pareceres científicos da Autoridade são emitidos;

• Promover e coordenar o desenvolvimento de metodologias uniformes de avaliação dos riscos;

• Prestar assistência científica e técnica à Comissão;

• As tarefas de assistência científica ou técnica consistem em trabalhos científicos para os quais não é necessária a competência específica do Comitê Científico e dos painéis científicos da Autoridade (avaliação de critérios técnicos, por exemplo). A Autoridade dá também o seu apoio científico no âmbito dos procedimentos de gestão de crises;

• Encomendar os estudos científicos que forem necessários para o desempenho das suas atribuições, evitando qualquer duplicação com programas europeus e nacionais de investigação;

• Procurar, analisar e sintetizar dados científicos e técnicos nos domínios da segurança dos alimentos (exposição de pessoas a riscos ligados ao consumo de gêneros alimentícios, a riscos biológicos, a contaminantes e a resíduos). A Comissão publicará um relatório sobre os sistemas de recolha de dados existentes a nível comunitário;

• Tomar medidas com vista a identificar e caracterizar os riscos emergentes. A Autoridade estabelece procedimentos de controlo a fim de procurar, coligir, reunir e analisar as informações que permitam identificar os riscos emergentes.

• Estabelecer um sistema europeu de redes de organismos ativos no domínio da segurança dos alimentos. A Autoridade participa no sistema de alerta rápido que liga a Comissão e os Estados-Membros. Incentiva o intercâmbio de informações, de conhecimentos e de boas práticas, a coordenação da ação, bem como a realização de projetos comuns. A

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Comissão publicará um inventário sobre os sistemas de recolha de dados existentes a nível comunitário;

• Quando a Comissão solicitar, prestar assistência científica e técnica a fim de melhorar a cooperação entre esta instituição, os países candidatos à adesão, as organizações internacionais e os países terceiros;

• Assegurar que o público e as partes interessadas recebem informações confiáveis, objetivas e compreensíveis;

• Formular as suas próprias conclusões e orientações sobre os assuntos da sua competência.

A EFSA é uma instituição de referência para os consumidores, para a

indústria alimentícia e para os agentes dos Estados-Membros, bem como para os

outros países. Atua não somente como centro de excelência científica, mas

também como instância de informação e orientação para os consumidores sobre a

questão de segurança dos alimentos, para que possam decidir melhor no que

consumir.

Para alcançar seus objetivos, a EFSA deve trabalhar em sistema de estreita

colaboração com as agências e instituições científicas nacionais de competência e

domínio na questão da segurança dos alimentos, baseando-se nos conhecimentos

especializados destas. Isto possibilita a criação de uma rede destinada a

assegurar a exploração das estruturas e recursos existentes. Assim, uma das

funções da EFSA é interligar os centros de excelência para dar apoio aos seus

Comitês Científicos, dentro da União Européia e a nível internacional, em todas as

disciplinas pertinentes que possam assessorar a questão da segurança dos

alimentos. Da mesma forma, os órgãos nacionais poderão ter acesso a uma base

científica do mais elevado nível de conhecimento. Portanto, com essas ações a

EFSA é considerada a melhor fonte de conhecimento científico autorizada em

matéria de segurança dos alimentos na União Européia.

Na eventualidade de alguma situação de urgência no domínio de segurança

dos alimentos na EU, a EFSA recolherá, analisará e transmitirá à Comissão e aos

Estados Membros as informações pertinentes, devendo igualmente mobilizar os

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recursos científicos necessários a fim de fornecer os melhores pareceres

científicos. A Autoridade deverá agir rapidamente e com eficácia em situações de

crise, assumindo um papel central de apoio à resposta da UE às situações de

crise. Isto permite promover um melhor controle das situações de crise em nível

da UE, demonstrando aos consumidores que os problemas são abordados sob

uma perspectiva de antecipação.

Assim, será acionado o “Sistema de Alerta Rápido” de alimentos e

alimentos para animais (RASFF – Rapid Alert System for Food and Feed), criado

pelo Regulamento (CE) 178/2002, que permite a identificação e rápida notificação

dos problemas urgentes em matéria de segurança dos alimentos entre os Estados

Membros da União Européia quando se detecta algum risco, direto ou indireto,

para a saúde humana na cadeia alimentar.

O sistema de alerta rápido, na Comunidade Européia existe desde 1978.

Foi criado a partir da decisão do Conselho, como um sistema geral de vigilância e

alerta a ser realizado em curto prazo para segurança dos consumidores em

situações de grave perigo para sua saúde e segurança. Foi modificada

posteriormente em 1989 e 1992 (período onde foi juridicamente consolidado como

fundamento do sistema de rede de alerta rápido para UE, tanto para o setor

alimentar quanto para outros produtos de consumo).

A rede encarregada para dar o “alerta rápido” no setor de alimentos se

desenvolveu progressivamente decorrente de procedimentos e critérios

harmônicos baseados no consenso entre os Estados Membros. Na prática, o

sistema tem evoluído para aproveitar o máximo todas as possibilidades oferecidas

pela informática e as tecnologias de informação.

Na prática existem três maneiras de se fazer a notificação do risco entre os

Estados Membros e a Comissão: notificações de alerta, notificações de

informação e notícias.

• Notificações de Alerta: essa notificação ser refere aos produtos que se encontram em risco e se encontram no mercado em mais de um Estado

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Membro, requerendo a adoção de medidas imediatas para a busca e retirada do produto do mercado. O alerta se dá quando os agentes oficiais dos Estados Membros (ou os países associados) tem conhecimento do risco, para adoção de medidas para a solução do problema. Os meios de comunicação servem para atuar com maior rapidez. Em 2006 foi constatado que 62% dos produtos alimentares advindos da própria UE continham patógenos, metais pesados (a exemplo de mercúrio nos pescados) e micotoxinas detectados em controles de mercado96;

• Notificações de Informação: enviado quando é identificado um risco, porém o produto ainda não se encontra no mercado, mas é preciso que os Estados Membros tomem medidas urgentes. Ocorre essa modalidade de informação, principalmente, para produtos importados de países que não pertencem à União Européia. Nesta modalidade, em 2006, dos produtos provenientes de países de fora da UE, 40% destes continham presença de micotoxinas (aflotoxinas em frutos secos)97. Este tipo de informação é útil para que os outros Estados Membros e países associados possam ter a informação necessária sobre o produto que contém risco para a saúde do consumidor ou de animal, para que possam aplicar o controle adequado no posto de fronteira.

• Noticias: qualquer tipo de informação útil referente aos problemas de segurança e sanidade dos alimentos que um país membro ou associado não tenham comunicado à Comissão em forma de notificação de alerta ou notificação de informação.

Segundo o Relatório Anual (2006) da RASFF98, o documento prevê que

haja ações futuras para criar um sistema mundial de alerta rápido sobre segurança

dos alimentos. Tem como objetivo unir todos os sistemas nacionais em uma rede

mundial de sistemas de alerta rápido em matéria de alimentação humana e

animal.

Em março de 2008, ocorreu um episódio sanitário em que foi acionado o

“sistema de alerta rápido” da UE (RASFF), informado pela França que havia lotes

de óleo de girassol proveniente da Ucrânia contaminados, e que foram detectados

esses lotes na Espanha. A Agencia Española de Seguridad Alimentaria y Nutrición

96 Disponível em: <http://ec.europa.eu/food/food/rapidalert/report2006_en.pdf>. Acesso em: 05maio2008. 97 Idem. 98 Disponível em: <http://ec.europa.eu/food/food/rapidalert/report2006_en.pdf>. Acesso em: 05maio2008.

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205

(AESAN) através do Sistema Coordinado de Intercambio Rápido de Informacción

(SCIRI) dá o alerta a todas as autoridades competentes em segurança do alimento

e solicita informação adicional a Comunidade Autônoma Espanhola da Catalúnia,

onde esta localizada a empresa responsável pela distribuição do produto

comunicado pela França, retirando imediatamente o produto do mercado para

segurança da saúde dos consumidores.

Nesse sentido, pode-se inferir que as instituições criadas pela EFSA

preocupam-se principalmente, com a saúde dos consumidores, já que entende ser

uma questão de saúde pública as regras para garantir a segurança e a qualidade

dos alimentos. Criou mecanismos eficientes e ágeis adotados por todos os

Estados Membros da UE, o que facilita a ação para retirar do mercado os produtos

inseguros para os consumidores. E o mecanismo não é somente no papel e

burocrático, realmente a ação é rápida e eficiente.

O que se infere, portanto, que na União Européia há interação entre as

diferentes estruturas em seus respectivos níveis. As organizações supranacionais,

como por exemplo, a EFSA, que regula sobre as organizações nacionais, a

exemplo da Espanha (MISACO e AESAN, que será melhor detalhado seu

funcionamento em itens posteriores) que, por sua vez, definem as políticas em

nível das Comunidades Autônomas.

A UE e seus Estados Membros trabalham com uma política que objetiva

garantir a saúde dos consumidores, conseqüentemente, o alimento seguro, como

prevenção à saúde pública, mas ao mesmo tempo tem a preocupação com a

informação clara e adequada ao consumidor sobre a origem dos produtos,

adotando a rastreabilidade (trazabilidad) em todos os segmentos agroalimentar.

Como a UE é uma grande compradora de produtos do agronegócio, acaba

exigindo padrões sanitários e fitossanitários rigorosos em matéria de segurança

dos alimentos. Assim, somente são permitidas as importações de produtos

alimentares provenientes de países que cumprirem as exigências. Isto significa

que, o cumprimento das referidas exigências foram previamente verificadas. A

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título de exemplo cita-se o caso do embargo à carne brasileira quando foi

verificado o Brasil não cumpriu o acordo firmado sobre o controle da origem do

gado abatido para produzir para exportação ao bloco econômico. Houve falhas no

cumprimento das exigências burocráticas, uma vez que os produtores brasileiros

tiveram dificuldades para cumprir essas exigências. Diante deste cenário, leva-se

a pensar que há falta de rigidez nas instituições formais brasileiras, uma vez que

os produtores não conseguem cumprir as exigências que são de interesses deles

próprios, criticando que são normas “burocráticas e desnecessárias” e não

considerando como “irregularidades e descumprimento”.

1.1.21 Segurança dos Consumidores – Livro Verde

O Livro Verde99 foi criado como uma iniciativa de consulta pública para

orientação de proteção dos consumidores na União Européia, com o fim de

estimular um debate, a partir de uma analise da situação que se encontrava os

países membros em 2001, possibilitando planejar algumas ações para o futuro.

Outras Diretivas, ainda que não tenham como objetivo a proteção do

consumidor, de alguma forma o fazem, conforme exposto no Quadro 5. As leis e

as jurisprudências nacionais exercem também um importante papel para a

proteção direta dos consumidores em cada Estado Membro.

99 Livro Verde são documentos publicados pela Comissão Européia com o objetivo de promover a reflexão e o debate sobre um tema específico.

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Quadro 5. Diretivas em matéria de proteção dos consumidores na União Européia.

NORMAS GERAIS

Diretiva sobre publicidade enganosa, modificada pela Diretiva sobre publicidade comparativa; Diretiva sobre indicação de preços; Diretivas sobre cláusulas abusivas nos contratos celebrados com consumidores; Diretiva sobre a venda e as garantias dos bens de consumo

NORMAS SOBRE SETORES E MÉTODOS DE VENDA

Diretivas sobre produtos alimentícios, cosméticos, medicamento para uso humano, viagens, contratos, contratos negociados fora do estabelecimento comercial, credito para o consumo, contratos para vendas a distancia, instrumentos para pesos e medidas não automáticos, aquisição de imóveis em regime de tempo compartilhado.

APLICAÇAO Diretiva de ações

Fonte: Livro Verde União Européia.

As principais características de proteção dos consumidores na União

Européia foram planejadas em decorrência dos seguintes fatores:

• Comparando-se as legislações nacionais, as Diretivas Comunitárias existentes em matéria de proteção dos consumidores, não constituem um marco regulatório completo para as práticas comerciais entre empresas e consumidores, que é o objetivo central de proteção dos consumidores. Em alguns momentos há a cobertura, em outros, há a carência de normas da comunidade, em particular no que se refere às praticas de comercialização, as praticas relacionadas com os contratos e serviços de pós-venda. A evolução de novas técnicas comerciais e tecnológicas também tem atrapalhado as distinções tradicionais introduzidas na legislação da UE entre as diferentes etapas das transações, acarretando incerteza.

• Algumas Diretivas, sobre tudo as mais especificas para um determinado setor, foram criadas como resposta às demandas causadas por problemas específicos em um determinado momento. Entretanto, muitas vezes até que a legislação seja colocada efetivamente em prática pela Comunidade, já pode nascer obsoleta na medida em que as praticas mercantis evoluem com maior rapidez que o próprio direito. Com isso, não há tempo hábil para que as inovações tecnológicas estejam de acordo com a lei, mantendo ao mesmo tempo a proteção aos consumidores, pela falta de flexibilidade da norma.

• A interação entre a regulamentação comunitária em matéria de proteção dos consumidores e de outras normas tem criado um marco

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regulatório complicado e muito difícil compreensão por parte das empresas e dos consumidores.

• A jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Européia não aponta uma solução efetiva para as barreiras ao livre movimento do comércio de bens e serviços que ocorrem em casos concretos.

• Cada Estado Membro possui sua própria legislação e que a partir de um determinado momento, terão que adequar as Diretivas da União Européia. No entanto, se tem comprovado que, a partir do momento que as legislações nacionais forem se adequando às Diretivas, se reduzirá a necessidade da legislação minuciosa para apontar os benefícios para os consumidores.

• Inexiste a participação oficial das partes interessadas no processo de regulamentação no âmbito da União Européia. A partir da evolução dos mercados cresce a necessidade de se recorrer aos especialistas para estabelecer essa regulamentação, pois a participação dos agentes interessados depende de competência e de representatividade de organismos capazes de representar eficazmente os grupos de interesses.

Por regra geral, os Estados Membros podem adotar cláusulas mínimas

(regras mais detalhadas ou não) para proteger o consumidor. No entanto, a

condição imposta pela União Européia é que estas normas tenham mecanismos

de enforcement mais rígidos que as normas gerais da UE, o que gera divergências

com as legislações nacionais.

Reconhece a UE que, para minimizar os impactos das restrições

transfronteiriças das praticas comerciais entre empresas e consumidores é

necessário que se tenha uma homogeneidade entre as normas que a regem,

especialmente para o desenvolvimento pleno do mercado interno.

Na Espanha, os consumidores são representados por diversas

organizações, que tem caráter horizontal englobando os interesses de todos os

elos da cadeia alimentar do setor agrícola. A nível nacional as organizações que

mais possuem atuação são: Confederación Española de Organizaciones de Amas

de Casa, Consumidores y Usuarios (CEACCU) sediada em Madrid; Organización

de Consumidores y Usuarios (OCU) em Madrid; Unión de Consumidores y

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Usuarios (UCE) em Madrid; Confederación Estatal de Consumidores y Usuarios

(CEACU) em Madrid; Federación de Usuarios-Consumidores Independentes

(FUCI) em Madrid; Confederación Española de Cooperativas de Consumidores y

Usuarios (HISPACOP) em Madrid; Federación Unión Cívica Nacional de

Consumidores y Amas de Hogar de España (UNAE) em Barcelona; Asociación

General de Consumidores (ASGECO) em Madrid.

ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL SOBRE SEGURANÇA DOS ALIMENTOS NA ESPANHA

Segundo o Livro Branco da Agricultura na Espanha100, as competências

sobre a segurança dos alimentos e saúde pública estão estabelecidas na no art.

149 da Constituição Espanhola, ao qual dispõe que é de competência exclusiva do

Estado o tema sobre segurança dos alimentos, incluindo as relações

internacionais, no que se referem às medidas sanitárias, as normas básicas e a

coordenação econômica (coordenação agrícola e pecuária), sendo residual a

competência para as Comunidades Autônomas (CA) os temas que não forem

abordados pela Administração Geral do Estado (AGE).

Os temas de competência da AGE estão repartidos entre distintos

Ministérios (Ministerio Sanidad y Consumo, Ministerio Medio Ambiente y Medio

Rural y Marino, entre outros).

O marco regulatório espanhol deve ter um denominador comum, ou seja,

uniforme e de vigência para toda a nação, a partir do qual cada CA possa

desenvolver suas próprias legislações, imprescindível de uma ótima gestão para a

eficácia da segurança e qualidade dos alimentos.

Portanto, o governo espanhol tem como prioridade estratégica, em

conformidade com a política da Comissão Européia (UE), velar pela segurança

dos alimentos, englobando toda a cadeia alimentícia, incluindo a produção de

alimentos para animais (ração) e estabelecendo uma ampla legislação, cuja a

principal finalidade é garantir um elevado nível de segurança e proteção da saúde

100 Disponível em: <http://www.libroblancoagricultura.com/libroblanco/jtematica/industria_agr/ ponencias /ponencia_hinojosa/hinojosa.asp#2>. Acesso em: 08maio2008.

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dos consumidores, em matéria de alimentos, alimentos para animais, saúde

animal, bem estar animal e fitossanidade no mercado interno da União Européia,

através de medidas coerentes, de um modo global, ou seja, “da granja a mesa”

(do campo à mesa), controlados pelo Estado adequadamente, ao mesmo tempo

que assegura o efetivo funcionamento do mercado interno101.

O entendimento da UE é que somente haverá garantia de segurança dos

alimentos quando há a responsabilidade compartida de todas as pessoas

envolvidas na cadeia alimentícia, desde os produtores até os consumidores finais.

Devem ser colocados em prática vários procedimentos e mecanismos de controle

ao longo da cadeia alimentar para assegurar que os alimentos que chegam ao

mercado, sejam aptos para o consumo e que os riscos de contaminação sejam os

menores possíveis, de forma que a população em geral possa beneficiar-se de

alimentos sadios e de qualidade.

Assim, com base no Regulamento (CE) 882/2004102, segundo art. 41, cada

Estado Membro deve preparar um “Plan Único Plurianual Integrado de Control”

para cuidar do cumprimento da legislação sobre alimentos, alimentos para

animais, sanidade e bem estar animal e certos aspectos de sanidade vegetal.

Para cumprimento do Regulamento, na Espanha foi aprovado pela

Conferência Setorial de Agricultura e Desenvolvimento Rural, no âmbito de

competência do Ministério da Agricultura espanhol (atualmente denominado de

Ministerio de Medio Ambiente y Medio Rural y Marino), juntamente com o

Ministerio de Sanidad y Consumo (Comisión Institucional da AESAN), o “Plan

101 Disponível em: <http://www.mapa.es/es/ministerio/pags/cadena_alimentaria/cadena_ alimentaria .htm>. Acesso em 28abril2008. 102 Este Regulamento se refere aos controles oficiais efetuados para garantir a verificação do cumprimento da legislação em matéria de alimentos para animais e a norma sobre saúde animal e bem estar dos animais, estabelece normas gerais para a realização de controles oficiais a fim de comprovar o cumprimento das normas orientadas para prevenir, eliminar ou reduzir, a níveis aceitáveis os riscos alimentares, assim como garantir praticas equitativas para o comércio de alimentos e alimentos para animais e proteger os interesses dos consumidores. Disponível em: <http://www.mapa.es/es/ministerio/pags/cadena_alimentaria/cadena_alimentaria.htm>. Acesso em: 28abril/2008.

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Nacional de Control de La Cadena Alimentaria” (Plano Nacional de Controle da

Cadeia Alimentar), para o período de 2007 a 2010.

O Plano tem como função proporcionar um marco legal sólido e estável

para realização do controle oficial sobre alimentos e alimentos para animais, onde

os administradores públicos, agentes da cadeia alimentar e os consumidores

possam encontrar uma gama de normas de referência a respeito das obrigações e

garantias da cadeia alimentar.

O Livro Branco espanhol sobre a segurança alimentar sob o enfoque de

safety food é o ponto de referência que tem por objetivo alcançar elevado nível de

proteção para a saúde dos consumidores e manter a confiança dos mesmos. O

instrumento estabelece o que é “análise de risco” que é o fundamento da

segurança alimentar, mediante três componentes: evolução de risco

(assessoramento científico e análise de dados), gestão do risco (regulamentação

e controle) e comunicação do risco.

Ainda, seguindo as diretrizes da Autoridade Européia de Segurança

Alimentar (EFSA), a Administração Geral do Estado (AGE) na Espanha, no art.

149 da Constituição Espanhola, dispõe que é de competência exclusiva do Estado

a questão da segurança dos alimentos, incluindo as relações internacionais, no

que se referem a medidas sanitárias, as normas básicas e a coordenação

econômica (coordenação agrícola e pecuária).

O Ministerio de Sanidad y Consumo (MISACO) e o Ministerio de Agricultura,

Pesca y Alimentanción (MAPA) são os órgãos competentes para tratar da matéria

no que se refere a segurança dos alimentos e sanidade animal e vegetal, bem

estar dos animais. Há outros ministérios que tem alguma responsabilidade, mas

limitada, tais como: Ministerio do Interior (pesticidas, resíduos de medicamentos

veterinários, circulação dos animais e bem estar animal, circulação de produtos

alimentícios); Ministerio de Administraciones Públicas (Postos de inspeção das

fronteiras); Ministerios de Educación y Ciencia (alguns comitês de coordenação);

Ministerio de Economía (responsável pela aduana, em matéria de controle das

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212

importações); Ministerio de la Defensa (para a rápida informação); Ministerio de

Industria, Comercio y Turismo (responsável pelo controle da qualidade comercial

das aduanas).

1.1.22 Ministerio de Sanidad y Politica Social (denominado no governo

anterior de Ministerio de Sanidad y Consumo)

É o órgão da AGE encarregado de executar as diretrizes gerais do Governo

sobre a política de saúde, planejamento e assistência sanitária e de consumo. Foi

instituído pelo Real Decreto 553, de 17 de abril de 2004, e pelo Real Decreto 562,

de 19 de abril de 2004, a qual dispõe a estrutura orgânica básica dos

departamentos ministeriais, com objetivo de desenvolver o programa político do

Governo sobre segurança e consumo. Sua estrutura possui os seguintes órgãos

diretivos, conforme descrito a seguir e seu organograma apresentado pela Figura

9. A aplicação e a execução dos programas de controle são de competência

exclusiva das 17 Comunidades Autônomas em seu respectivo âmbito territorial de

atuação.

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214

1.1.23 Agencia Española de Seguridad Alimentaria y Nutricion - AESAN

Vinculado ao MISACO, a Agência foi criada pela Lei 11/2001, órgão público

com caráter de órgão autônomo, de acordo com os arts. 41, 43, 61 e 62 e da Lei

6/1997, referente à organização e funcionamento da AGE, com personalidade

jurídica diferenciada. Seu estatuto foi aprovado pelo Real Decreto 709/2002.

A AESAN tem como objetivo geral promover a segurança alimentar (safety

food), como um aspecto fundamental da saúde pública, oferecendo garantias e

informações objetivas aos consumidores e agentes econômicos do setor

agroalimentar espanhol, trabalhando no sentido de:

• Reduzir os riscos de enfermidades transmitidas ou veiculadas pelos alimentos;

• Garantir a eficácia dos sistemas de controle dos alimentos;

• Promover o consumo de alimentos sadios, favorecendo sua acessibilidade e a informação sobre os mesmos;

• Planejar, coordenar e desenvolver estratégias e atuações que fomentem a informação, educação e promoção da saúde no tributo da nutrição e, em especial a prevenção da obesidade.

Em 2006, decorrente da Lei 44/2006, o órgão adquiriu ainda o compromisso

de promover o consumo de alimentos inócuos, favorecendo a acessibilidade da

informação sobre os mesmos; bem como planejar, coordenar e desenvolver

estratégias e atuações que fomentem a informação, educação e promoção da

saúde, no âmbito da nutrição, e em especial, para a prevenção da obesidade.

Tem como objetivo principal, proteger a saúde pública, contribuindo para

que os alimentos destinados ao consumo humano (considerando toda a cadeia

alimentar em sua integridade, ou seja, do campo à mesa), sejam seguros, assim

como garantir a sua qualidade nutricional e a promoção da saúde.

Na Espanha, para a segurança dos alimentos seguem-se as normas tratada

pelos Princípios Gerais da Legislação de Alimentos, estabelecidos pelos artigos 1

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a 10 do Regulamento 178/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, que

estabelece os princípios e os requisitos gerais da legislação sobre alimentos.

A partir do disposto no Livro Branco da União Européia, a AESAN tem

como estratégia fomentar a colaboração de todos os setores, públicos ou

privados, partindo do princípio que para evitar o aparecimento dos perigos

relacionados à alimentação, a cadeia alimentar deverá ser considerada como um

todo. Porém, dentre todas as suas responsabilidades, destaca-se a informação

sobre a posição da Espanha, representando-a nos assuntos sobre segurança

alimentar (safety food) tratados no âmbito da União Européia, especialmente junto

a FAO, OMS, Codex Alimentarius e no Conselho Europeu, estabelecendo e

mantendo os mecanismos necessários para atuar de modo integrado na rede

européia de Agencias ou Organismos de Segurança Alimentar (YUBERO, 2003).

Para os produtos importados, os controles dos produtos alimentícios na

Espanha, são realizados pela AGE, através dos serviços que existem nas

fronteiras e que dependem dos Ministerio de Sanidad y Consumo y do Ministerio

de Medio Ambiente, Medio Rural y Marino. Estes são os principais órgãos

responsáveis para assegurar o cumprimento das normas sobre segurança dos

alimentos dos produtos procedentes de outros países e dos procedentes da UE

nas fronteiras espanholas.

Compondo a AESAN, a Subdirección General de Gestión de Riesgos

Alimentarios, tem como missão o desenvolvimento das funções relativas à gestão

do risco alimentar na produção, transformação, elaboração, transporte,

distribuição, comercialização e serviços para o consumidor final e coletividade.

Entre suas funções especificas, destacam-se; propor a regulamentação do

controle sanitário dos alimentos e produtos especificados pelo Código Alimentar

Espanhol e os riscos sanitários de outros produtos e serviços; administrar o

Registro Sanitário Geral dos Alimentos; elaboração e fiscalização dos programas

de caráter nacional e internacional na luta contra zoonoses transmitidas por

alimentos; elaboração de normas em matéria de saúde veterinária; exigir atuações

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executivas e normativas das autoridades competentes, principalmente em

situação de crise ou emergência; assessorar os setores econômicos e sociais

envolvidos com a segurança dos alimentos, estabelecendo um vínculo

permanente de comunicação; promover a simplificação e a unificação das normas

em matéria de segurança dos alimentos.

Destaca-se, dentre outras, as seguintes funções da Subdirección General

de Coordinación de Alertas Alimentarias y Programación de Control Oficial:

coordenar o funcionamento das redes de alerta existentes no âmbito de segurança

dos alimentos no território espanhol e sua integração nos sistemas de alerta da

União Européia e internacionais; programar e coordenar as atuações com relação

aos aspectos de controle sanitário oficial dos produtos alimentícios previstos na

norma vigente; criar programas anuais de estudos prospectivos em matéria de

segurança dos alimentos para que sejam desenvolvidos pelas autoridades

competentes; assessorar os órgãos competentes em safety food o planejamento e

desenvolvimento de políticas públicas para segurança do alimento; elaborar

procedimentos de certificação e controle dos alimentos, processos e

estabelecimentos que sirvam de referencia, garantidos pelas autoridades

competentes; identificar as necessidades de formação de profissionais para o

controle dos alimentos e criar programas de capacitação para esses profissionais.

Portanto, a gestão do risco alimentar agrupa ações normativas,

instrumentais, executivas, que desenhadas, programadas e adotadas em função

de uma melhor evidencia cientifica disponível, se orientam para eliminar ou

minimizar a exposição dos consumidores aos riscos advindos de perigos advindos

de alimentos, previamente identificados e caracterizados, recorrendo sempre ao

Princípio da Precaução para estabelecer as bases, quando não houver resposta

suficiente ou controvertida para os problemas que possam surgir.

Na Espanha, a gestão da rede de alerta de riscos alimentares é operado

pelo Sistema Coordinado de Intercambio Rápido de Información (SCIRI),

vinculado a AESAN. Tem como objetivo principal garantir que os produtos que

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cheguem ao consumidor final sejam seguros. O fundamento legal para o

funcionamento do sistema está regulado no art. 50 do Regulamento (CE)

178/2000 do Parlamento Europeu e do Conselho, o qual estabelece os princípios

e os requisitos gerais para a legislação sobre segurança dos alimentos.

A AESAN é o ponto de referência para o “sistema de alerta rápido”

(RASFF), bem como de contato centralizador e coordenador do SCIRI e de outros

sistemas de alerta internacionais, como o INFOSAN.

1.1.24 Instituto Nacional del Consumo - INC

Ainda, vinculado ao Ministerio de Sanidad y Consumo está o Instituto

Nacional del Consumo - INC (segundo Real Decreto 1555/2004), órgão autônomo,

segundo o art. 51 da Constituição espanhola103 e do Real Decreto nº 1 de 16 de

novembro de 2007, art. 11104, exerce a função de defesa dos direitos dos

consumidores.

Possui duas unidades orgânicas que está estruturado da seguinte

maneira105: a) La subdirección General de Calidad del Consumo e b) La

Subdirección General de Normativa y Arbitraje del Consumo. A primeira tem

como função: propor a legislação em matéria de consumo, dar apoio técnico nos

serviços de inspeção de consumo e de outros órgãos públicos, assim como o

desenvolvimento das funções relativas ao bom funcionamento do mercado para a

103 Artículo 51: 1) Los poderes públicos garantizarán la defensa de los consumidores y usuarios, protegiendo, mediante procedimientos eficaces, la seguridad, la salud y los legítimos intereses económicos de los mismos; 2) Los poderes públicos promoverán la información y la educación de los consumidores y usuarios, fomentarán sus organizaciones y oirán a éstas en las cuestiones que puedan afectar a aquellos, en los términos que la ley establezca; 3) En el marco de lo dispuesto por los apartados anteriores, la ley regulará el comercio interior y el régimen de autorización de productos comerciales. 104 Artículo 11. Deber general de seguridad. Los bienes o servicios puestos en el mercado deben ser seguros. Se consideran seguros los bienes o servicios que, en condiciones de uso normales o razonablemente previsibles, incluida su duración, no presenten riesgo alguno para la salud o seguridad de las personas, o únicamente los riesgos mínimos compatibles con el uso del bien o servicio y considerados admisibles dentro de un nivel elevado de protección de la salud y seguridad de las personas. Disponível em: <http://www.consumo-inc.es/GuiaCons/leyes /RDL_1_2007.htm#art11>. Acesso em: 14abril2008. 105 Disponível em: <http://consumo-inc.es/queeselinc/interior/funciones/FRAME/PDF/dispofinal.pdf>. Acesso em: 14/abril008.

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proteção do consumidor e para a gestão da rede de alerta dos produtos de

consumo alimentícios. Ainda, tem como função, dar informação, formação e

educação aos consumidores; promoção e realização de pesquisas e estudos

sobre consumo, bem como a interlocução com os setores econômicos para a

promoção das boas práticas e a transparência em sua relação com os

consumidores; dar apoio aos órgãos de cooperação das Comunidades Autônomas

e apoio para a Conferência Setorial do Consumo; e apoio as relações

institucionais.

O INC tem como função:

• Estabelecer e fazer a gestão de um sistema de informação sobre a organização e funcionamento do sistema sanitário e sobre os direitos que tem os beneficiários, bem como o sistema de proteção dos direitos dos consumidores;

• Atender aos cidadãos sobre o modo de acesso aos serviços, procedimentos, ajudar e subsídios, de competência do Ministerio de Sanidad y Consumo;

• Proporcionar aos cidadãos informação de apoio para o fomento de sua saúde e conhecer o sistema sanitário e os seus direitos como consumidores;

• Realizar análises, provas e ensaios sobre a qualidade e segurança dos bens e serviços de uso e consumo;

• Formar e assessorar pessoal técnico e qualificado para defesa dos interesses dos consumidores;

• Fomentar a qualidade analítica e tecnológica na área de controle dos bens e serviços.

Um dos principais direitos resguardados pela legislação espanhola

consumerista, entre outros, é o direito que se refere à saúde e à segurança.

“Los productos, actividades y servicios puestos en el mercado a disposición de los consumidores o usuarios, no implicarán riesgos para su salud o seguridad, salvo los usuales o reglamentariamente admitidos en condiciones normales y previsibles de utilización” (artículo 3.1. de la Ley General para la Defensa de los Consumidores y Usuarios)

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Com a criação da União Européia foi instituído o princípio da livre circulação

das mercadorias para o mercado interno, e com a supressão das fronteiras entre

os Estados Membros, houve um aumento da oferta de bens e serviços nos

mercados nacionais, diante da diversidade e complexidade dos mercados

agroalimentares. Conseqüentemente, os órgãos nacionais competentes passaram

ter maior responsabilidade no que ser refere ao controle e fiscalização no setor,

dentre eles a segurança dos alimentos. No entanto, para a legislação

consumerista espanhola, o princípio da livre circulação tem algumas limitações:

“ … no serán obstáculos para las prohibiciones o restricciones a la importación, exportación o tránsito justificadas por razones de orden público, moralidad y seguridad pública, protección de la salud y vida de las personas y animales, preservación de los vegetales, protección del patrimonio artístico, histórico o arqueológico nacional o protección de la propiedad industrial y comercial …” (artículo 30 del Tratado de la Comunidad Europea)

Incorporado pelo Real Decreto 1801/2003, a qual dispõe sobre a segurança

dos produtos, os produtores e distribuidores passam a ter a responsabilidade de

informar (notificar) quando houver produtos inseguros, definidas por diretrizes as

quais determinam quais as condições que deverão estar presentes na notificação.

“Artículo 6 punto 1- cuando los productores y los distribuidores sepan o deban saber, por la información que poseen y como profesionales, que un producto que ya han puesto a disposición de o suministrado a los consumidores en España presenta riesgos incompatibles con el deber general de seguridad, comunicarán tales hechos inmediatamente a los órganos administrativos competentes de la comunidad autónoma afectada. En el caso de que el producto esté o se haya suministrado a los consumidores de cualquier forma en el territorio de más de una comunidad autónoma, esta comunicación se dirigirá al órgano competente de la comunidad autónoma donde radique su domicilio social, que la transmitirá inmediatamente al Instituto Nacional del Consumo, para su traslado al resto de las comunidades autónomas...”

Vinculado ao INC, o Centro de Información y Documentación del Consumo

é o departamento encarregado de elaborar e difundir a informação aos

consumidores, as organizações e administrações que se ocupam da defesa dos

direitos dos consumidores. Possui uma base de dados para informação sobre

consumo em dois blocos temáticos: jurídico (legislação e jurisprudência de

consumo) e outro de caráter bibliográfico (monografias, artigos, revistas).

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Ainda, possui uma ferramenta denominada de “catálogo de fontes” de

informação, estatística e qualidade sobre consumo, sistematizando a busca da

base de dados, tanto público como privados, nacionais e internacionais.

Diante de tantas incertezas, descumprimentos das normas e a negativa da

evolução do Regulamento 1924/2006 e seus princípios, o órgão de defesa do

consumidor espanhol – CEUCCO, tem algumas preocupações expostas a seguir

(QUINTANA, 2006):

• Como que serão transmitidas as mensagens de risco para o consumidor, pois até que ponto a informação sobre os riscos de um determinado produto ou serviço implica em certa exoneração de responsabilidade para o operador econômico (fornecedor), e no caso dos alimentos entende a instituição que não está adequada. Entendem ainda, que os fornecedores não podem ocultar as informações e, conseqüentemente, os riscos que podem advir;

• A elaboração de uma lista de propriedades de saúde autorizadas, quais são as condições concretas que são impostas e como devem ser apresentadas ao consumidor? Teme a instituição que, diante das irregularidades descobertas na pesquisa, ao invés das autoridades darem autorização para a comercialização dos produtos, estas devem tomar consciência das irregularidades para exigir as correções necessárias;

• As declarações psicológicas e comportamentais, as relacionadas com desenvolvimento e saúde dos filhos e a redução do risco de enfermidades não estão sendo respeitadas conforme o disposto no Regulamento 1924/2006. Assim, a autorização de produtos com esse enfoque deve ser o mais restrito possível, segundo o entendimento da CEUCCO;

• O estabelecimento de perfis nutricionais e a confiabilidade da informação nutricional são requisitos imprescindíveis para que o consumidor possa confiar na mensagem que os rótulos demonstram. Entretanto, apesar do fundamento cientifico da norma proposta pela EFSA, rapidamente aceita pela indústria, segundo entendimento da CEUCCO é bastante desalentadora, não alcançando os objetivos propostos;

• O Regulamento adotou um prazo muito dilatado para sua adequação, principalmente no que concerne à responsabilidade dos produtores para eventuais reclamações sobre a publicidade enganosa disposta nos

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221

rótulos. Assim, segundo a CEUCCO, os prazos teriam que ser mais restritos, para que o consumidor visse seu direito respeitado.

1.1.25 Dirección General de Salud Pública

Vinculado ao órgão Dirección General de Salud Pública, a Subdirección

General de Sanidad Exterior é responsável pelo controle e vigilância sanitária das

condições de higiene no comércio internacional de produtos (alimentos,

medicamentos, cosméticos, pesticidas, produtos químicos, animais, etc.); controle

e vigilância higiênico sanitária dos portos, aeroportos de tráfego internacional,

postos de fronteira e meios de transporte internacional;

1.1.26 Ministerio Medio Ambiente y Medio Rural y Marino

É órgão encarregado da proposta de execução da política governamental

em matéria agrícola, pecuária, desenvolvimento rural e alimentação. Sua estrutura

orgânica foi estabelecida pelo Real Decreto 1417/2004, modificada em 2006, pelo

Real Decreto nº 1371.

Uma das atuações do Ministério consiste na observação e análise da

implantação dos “Sistemas de Gestão de Qualidade” e dos “Sistemas de Gestão

Ambiental” e suas certificações segundo as normas ISO 9000:2000 e ISO

14001:1996.

Na Espanha, segundo o último plano de P&D, foi previsto a criação de

redes temáticas e a criação de um Centro de Competência Científica em

Biossegurança Alimentar (CECOBA) vinculado ao Ministerio de Ciencia e

Tecnologia, que pretende unir os pesquisadores em matéria de segurança dos

alimentos para impulsionar o intercambio de informação entre os gestores da

Agencia Española de Seguridad Alimentaria (AESAN) e a comunidade cientifica.

Entendem os propositores dessa ação que a independência da Comunidade

Científica neste processo é fundamental para a credibilidade de suas

manifestações.

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Ainda, várias políticas públicas em escala mundial, européia, espanhola

(incluindo regional ou local), têm defendido através de diversos instrumentos

jurídicos e econômicos, determinadas qualidades relacionadas com aspectos

geográficos (denominações de origem106 e Indicação Geográfica107),

conhecimentos tradicionais108, ambientais e sustentáveis.

Os Governos devem favorecer um marco regulatório que permita a indústria

desenvolver determinadas qualidades, cumprindo requisitos mínimos: que as

informações sobre os mecanismos de produção sejam claros, desde o campo à

mesa, não induzir em erro o consumidor, não favorecer a concorrência desleal e

que os controles realizados sejam realizados por órgãos adequados.

Uma política de regulação e controle das normas de qualidade deve definir

as condições e os critérios característicos que permitem uma identificação

diferenciada dos produtos perante o consumidor, para facilitar a sua decisão na

hora da compra, garantindo a ausência de fraudes e concorrência desleal do

mercado. Nesse sentido, há o entendimento na União Européia (em especial na

Espanha, no Livro Branco da Agricultura)109 que a rotulagem é uma ferramenta

fundamental para a diferenciação e informação para o consumidor.

Rotulagem

Quanto à rotulagem, tendo em vista que a UE prima pela questão da

segurança dos alimentos, sua legislação regula muitos aspectos de interesse do

106 Indicação Geográfica é a indicação de procedência ou a denominação de origem. Indicação de procedência é o nome geográfico de um país, cidade ou região que se tornou conhecido como centro de produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço (VIEIRA et al, 2007). 107 Denominação de origem é o nome geográfico de país, cidade ou região, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos (VIEIRA et al, 2007). 108 O "conhecimento tradicional" constitui-se de práticas, conhecimentos empíricos e costumes passados de pais para filhos e crenças das comunidades tradicionais que vivem em contato direto com a natureza; ou seja, é o resultado de um processo cumulativo, informal e de longo tempo de formação. Constitui-se, assim, patrimônio comum do grupo social e tem caráter difuso, pois não pertence a este ou aquele indivíduo, mas a toda comunidade, de maneira que, toda a comunidade envolvida deve receber os benefícios de sua exploração. 109 Disponível em: <http://www.libroblancoagricultura.com/libroblanco/jtematica/industria_ agr/ponencias/ponencia_hinojosa/hinojosa.asp#2>. Acesso em: 09maio.2008.

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consumidor. A criação do sistema de rotulagem garantindo a qualidade foi criada

na década de 1980 para o setor vinícola. Posteriormente, foi criado para os

setores de azeite de oliva, frutas e hortaliças. É um mecanismo fundamental que

faz parte da política agrícola (PAC) européia, com o intuito de garantir a qualidade

dos alimentos.

Os produtos alimentícios devem cumprir normas obrigatórias sobre

rotulagem. Entre os dados obrigatórios figuram no rótulo: a denominação de venda

do produto, a lista e a quantidade dos ingredientes, possíveis compostos

alergênicos, prazo de validade e as condições de conservação.

Estas normas são reguladas pela Diretiva 13/2000/CE do Parlamento

Europeu e do Conselho de 20 de março de 2000, em que dispõe os princípios

básicos sobre rotulagem para que os Estados Membros possam harmonizar suas

legislações em acordo com a Diretiva em matéria de rotulagem dos produtos

alimentícios.

A Diretiva se aplica a todos os produtos alimentícios embalados, entregues

ao consumidor final em restaurantes, hospitais e outras atividades similares.

Aplica-se a Diretiva a todos os produtos destinados a exportação fora da UE.

A rotulagem dos produtos alimentícios não poderá induzir a erro o

consumidor a respeito das características e dos efeitos dos alimentos; não

poderão atribuir ao produto alimentício propriedades de prevenção, tratamento ou

cura de uma enfermidade humana (exceção de águas minerais naturais e dos

produtos alimentícios destinados a uma alimentação especial regulados por

disposições específicas).

No rótulo dos alimentos deverão constar obrigatoriamente os seguintes

elementos110:

• Denominação de venda: se trata da denominação prevista para o produto nas disposições comunitárias que sejam aplicáveis ou nas disposições legislativas de uso do Estado Membro em que é

110 Disponível em: <http://europa.eu/scadplus/leg/es/lvb/l21090.htm>. Acesso em: 21abril2008.

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comercializado o produto. É admitida a denominação de venda do próprio Estado Membro. Na denominação de venda devera constar a indicação do estado físico e o procedimento de tratamento do produto.

• Lista de ingredientes: deve ser enumerado em ordem decrescente de peso, mediante seu nome específico. Quando se tratar de aditivos, estes não devem aparecer no rótulo do produto os que são utilizados somente como auxiliares tecnológicos.

• A quantidade dos ingredientes ou as categorias dos ingredientes: devem ser expressas em porcentagem.

• Ingredientes alergênicos: a Diretiva 89/2003 tem por objetivo, através do rótulo, proporcionar aos consumidores, em particular aqueles que sofrem com alergias ou intolerância alimentar, a informação completa sobre a composição dos produtos. A norma estabelece uma lista de alergênicos que devem figurar obrigatoriamente nos rótulos dos produtos alimentícios, inclusive nas bebidas alcoólicas.

La Dirección General de Sanidade y Protección de los Consumidores,

através da Diretiva CE 142/2006111, do Parlamento Europeu, publicou em caráter

de orientação, diretrizes sobre a indicação obrigatória dos ingredientes que podem

causar reações adversas em pessoas sensíveis a determinados ingredientes

alergênicos. Caso os produtos postos no mercado não estejam adequados à

Diretiva até dezembro de 2008, eles serão proibidos de serem comercializados.

Os Estados Membros deverão adotar e publicar suas normas, adequando-as à

Diretiva 142/2003, no prazo máximo de 23 de dezembro de 2008.

No rótulo deverá constar ainda a indicação do prazo de validade (dia, mês e

ano), com exceção dos produtos alimentícios cuja duração seja inferior a três

meses (basta indicar dia e mês). Para os produtos cuja duração seja superior a

dezoito meses bastará a indicação do ano.

Não é obrigatório constar a data de validade no caso de: frutas, hortaliças

frescas que não seja submetida a nenhum tratamento; vinhos e bebidas com

graduação de 10% ou mais em volume de álcool; bebidas sem álcool; sucos de

frutas e bebidas alcoólicas em recipientes individuais com mais de cinco litros

111 Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2006:368:0110:0 111:ES:PDF>. Acesso em: 21abril2008.

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destinados a distribuir para convênios; produtos de panificadoras e confeitarias;

vinagre; sal de cozinha; açucares em estado sólido; gomas de mascar; sorvetes

individuais.

Há alguns requisitos obrigatórios que deverão constar nos rótulos, quando

se tratar de produtos perecíveis: prazo limite de consumo; as condições especiais

de conservação e uso; o nome ou a razão social do fabricante, bem como seu

endereço; lugar de origem ou de procedência; instruções de uso.

Decorrente de uma sentença Peeters do Tribunal de Justiça (COM (93) 532

final – Diário Oficial de 23.12.1993) - sobre o emprego de linguagem para a

comercialização de produtos alimentícios – aduz que a linguagem a ser

empregada nos rótulos dos alimentos comercializados deverão ser de fácil

compreensão, que por regra geral, será a língua nacional de onde o produto esteja

sendo comercializado. Entretanto, poderá ser admitida palavras ou expressões em

língua estrangeira, desde que o consumidor possa compreender facilmente o

disposto.

Em 1º de julho de 2007 entrou em vigor o Regulamento n.º 1924/2006 do

Parlamento Europeu e do Conselho, que tem por objetivo não criar falsas

informações para os consumidores médios112 sobre rotulagem dos alimentos. Esta

norma complementa o disposto pela Diretiva 13/2000 e estabelece disposições

específicas ao uso nos rótulos das declarações nutricionais e de propriedades

saudáveis em alimentos.

Segundo dados do Ministerio Medio Ambiente y Medio Rural y Marino da

Espanha113, 62% da população espanhola consulta o rótulo dos alimentos, numa

proporção maior entre mulheres entre a idade de 36 e 55 anos. Cerca de 36,1%

112 O conceito de consumidor médio foi adotado pelo Tribunal de Justiça das Comunidades Européias (Diretiva 84/450/CEE de 1984), que considera como sendo a pessoa que está normalmente informada e é razoavelmente atenta e perspicaz, e que considera os fatores tais como sociais, culturais, econômicos e lingüísticos. Na Espanha, a noção de consumidor é definida pelo Real Decreto Legislativo 1/2007, aprovado pela Lei Geral para a Defesa dos Consumidores e Usuários e outras leis complementares. 113 Disponível em: <http://www.mapa.es/ministerio/pags/anuario2006/pdf/CAP_06.pdf>. Acesso em: 07jun.2008.

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dos distribuidores afirmam que o consumidor consulta o rótulo freqüentemente ou

muito freqüentemente. O consumidor consulta mais o rótulo quando: o produto é

novo no mercado e quando adquire um produto habitualmente.

Nesta mesma pesquisa, são considerados pelos consumidores e

distribuidores como mais importantes os seguintes aspectos no rótulo: data de

validade do produto; condições de utilização e conservação e lista de ingredientes

completa.

Ainda, no universo de 10 consumidores, 40% deles desconhecem que

existe no rótulo uma parte que é obrigatória e outra não. Segundo os

consumidores, o rótulo ideal deveria conter duas etiquetas com a disposição das

informações separadas em obrigatórias e não obrigatórias. É a mesma sugestão

colocada pelos distribuidores. Ainda, deverá ser disposta uma lista dos

ingredientes completa no rótulo, de fácil compreensão a leitura. No rótulo devem

ser ressaltadas as informações sobre alergias e data de validade, e que estas

informações sejam de fácil localização. A maior parte dos distribuidores (85,3%)

acredita que seria útil a realização de campanhas institucionais para informar o

consumidor sobre o conteúdo dos rótulos.

Entretanto, em estudo apresentado pela Confederación Española de

Organizaciones de Amas de Casa, Consumidores y Usuarios – CEACCU114

(RIVAS, 2000), analisou 289 reclamações sobre qualidade nutricionais ou de

saúde em rótulos dos alimentos sobre o impacto nos direitos dos consumidores

(informação, saúde e a proteção de seus interesses econômicos). O estudo,

realizado em 2000, conclui que na maioria dos casos, a rotulagem confunde o

consumidor, tendo em vista ser incompleto e induz em erro o consumidor sobre a

natureza saudável do produto, apesar de 61,2% dos entrevistados informarem que

114 É uma organização espanhola para a defesa dos consumidores, com mais de 500 mil associados, presente em todas as Comunidades Autônomas, inclusive em Celta e Melilla. Tem como objetivo informar e defender os interesses dos consumidores e das donas de casa, em diversas frentes. Disponível em: <http://www.ceaccu.org/NP_nuevo_reglamento_ decla_nutricionales_salud.htm>. Acesso em: 23maio2008.

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lêem os rótulos115. Cerca de 57,2% dos entrevistados consideram que o rótulo é

mais um meio de publicidade do produto do que de informação. Entretanto, 90%

dos entrevistados consideram fundamental a informação nutricional, pois esta

informação pode ser um requisito de decisão para aquisição do produto.

Outra pesquisa, realizada por BRAÑA (2003), da CEUCCO, demonstra que

84,4% das pessoas entrevistadas entendem que os rótulos devem conter uma

linguagem mais clara para os consumidores que tenham conhecimento médio sem

perder a veracidade (oito entre dez dos entrevistados entendem que os termos

dos rótulos não são claros e nem compreensíveis para pessoas de médio

conhecimento) e 15,3% dos entrevistados entendem que a linguagem dos rótulos

é demasiadamente científica e complicada, mas que devem ser assim porque os

termos científicos dão mais confiabilidade (23,8% é a opinião de pessoas sem

estudos e 21,1% de estudantes).

Em relação a alimentos frescos somente 37,5% das pessoas entrevistadas

considera que os rótulos são completamente suficientes. (quatro entre dez

pessoas consideram estar satisfeitas com a informação que recebem sobre os

alimentos frescos)116.

Na Espanha, em pesquisa realizada pela CEUCCO, existe um alto

desconhecimento sobre o que é Indicação Geográfica protegida e Especialidade

Tradicional Garantida. Os entrevistados têm maior conhecimento sobre o conceito

de Denominação de Origem, pois o associam com qualidade, mas também

associam estes produtos com preço mais elevado (BRAÑA, 2003).

A pesquisa demonstra que os consumidores entendem que a rotulagem dos

alimentos funcionais; 1/3 desses produtos utilizam rótulos enganosos ou

ambíguos117, com ingredientes diferentes (vidalin, tonocalín, pronutris ou benecol),

115 Canárias é a Comunidade Autônoma da Espanha onde mais são lidos os rótulos e na Andaluzia é onde menos se lêem os rótulos. 116 Disponível em: <http://www.ceaccu.org/content/view/190/93/>. Acesso em: 23maio2008. 117 Nesta pesquisa foram analisados 448 rótulos de produtos alimentícios, das seguintes categorias: lácteos (leites, iogurtes, queijos, manteigas), margarinas e gorduras para untar,

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que reportam supostos benefícios para a saúde, silhueta e transito intestinal, mas

60% desses produtos não estão de acordo com a legislação em vigor e as

propriedades anunciadas não são realmente demonstradas. A pesquisa deixa

claro que não existe risco desses produtos para a saúde dos consumidores,

porém adverte que atrás das mensagens se esconde um notável aumento de

preço, visto que podem ter um aumento de até 130% quando comparados aos

produtos convencionais (BRAÑA, 2003).

Outro estudo recente da CEUCCO (¿Alimentos que todo lo pueden? La

realidad de las declaraciones nutricionales y de salud en el etiquetado,

QUINTANA, 2006) analisa o Regulamento 1924/2006 e que guarda alguma

relação com “semáforos nutricionais” 118, que é a possibilidade para a aplicação

dos perfis nutricionais preceituados pelo art. 4º do Regulamento, ou seja, os

produtos comercializados podem incluir em seus rótulos alguma mensagem de

saúde, entretanto, obrigatoriamente tem que alertar os consumidores se há algum

excesso de nutriente, cujo consumo convém ser mais moderado ou reduzido (sal,

açúcar, gorduras trans ou saturadas, etc.).

Todavia, conforme conclusão do estudo, não há ainda nada claro a

respeito. Ainda, há a necessidade de melhorar os parâmetros a serem

estabelecidos para perfis nutricionais dos alimentos. Para esse processo, o

Regulamento outorgou a EFSA um papel de destaque, a qual emitiu um parecer

embutidos, aperitivos, bolachas e bolos, sucos, refrescos e outros produtos (conservas, molhos e cremes), e dentre estes 269 estavam em desacordo com o disposto no Regulamento 1924/2006 e normas da Espanha e 139 (1/3 do total) os rótulos são ambíguos e induzem em erro o consumidor sobre a natureza saudável do produto. Em 93 produtos havia referencia nutricional incerta sobre a presença ou ausência de aditivo (sal, açúcar, etc) e em 58 produtos são alegados nos rótulos “propriedades saudáveis”, “ajuda no desenvolvimento dos ossos”, “previne a deterioração celular”, sem qualquer autorização administrativa e sem comprovação da veracidade das informações alegadas. 118 Foi criado no Reino Unido, pela Food Standards Agency (FSA) o Traffic Light Labelling, uma maneira simples e intuitiva de orientar o consumidor para a escolha de produtos na composição de sua dieta. Esta ferramenta baseia-se nas cores do semáforo, analisando separadamente a concentração de gorduras, gorduras saturadas, açúcares e sal em cada produto. Desta forma, o “sinal” vermelho indica que o nutriente está presente em quantidade excessiva, o “sinal” amarelo indica média quantidade e o verde indica reduzida. Assim, cada uma das cores tem uma recomendação específica. Disponível em: <http://www.saude.br/atualidades1.html>.

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preliminar a respeito (The setting of nutrient profiles for foods bearing nutrition and

health claims pursuant to Article 4 of the Regulation (EC) No 1924/2006 - Scientific

Opinion of the Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies” Question

number: EFSA-Q-2007-05)119. Entretanto, este Regulamento está sendo muito

criticado pelas organizações de consumidores120, tais como a CEUCCO, bem

como a adoção do “semáforo nutricional”,

Em apenas meio ano que entrou em vigor o Regulamento ele já foi

modificado por outros Regulamentos do Parlamento Europeu e Conselho:

Regulamento (CE) n.º 107/2008 (15/01/2008 e Regulamento 109/2008

(15/01/2008).

Certificação

Na Espanha o sistema de certificação do produto (mediante normas ISO,

UNE, etc.) aparece como um mecanismo mais eficiente do que a rotulagem,

principalmente para o setor pecuário (carnes). A instituição que certifica na

Espanha, é Entidad Nacional de Acreditación (ENAC), que certifica os organismos

que pretendem supervisar o cumprimento dos requisitos propugnados pelas

normas EN-45000, conforme Figura 10.

.

119 Disponível em: <http://www.efsa.europa.eu/EFSA/efsa_locale-1178620753812_ 1178689506673.htm>. Acesso em: 25jun.2008. 120 O Regulamento considera como parte interessada.

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Figura 10. Esquema Geral de Certificação na Espanha

Fonte: GOMÉZ et al (2004)

Rastreabilidade

Na Europa, a rastreabilidade converteu-se numa questão de grande

importância para os consumidores e, por delegação, para os numerosos varejistas

que abastecem o mercado. Os varejistas organizaram a cadeia alimentar, de

modo que fosse possível garantir e controlar por auditoria o fornecimento de

produtos com a máxima qualidade e que não oferecessem risco à saúde do

consumidor (PETTITT, 2001).

A demanda de políticas globais e integradas de segurança alimentar por

parte dos consumidores dos países industrializados121, principalmente da

Comunidade Européia, fez da rastreabilidade dos animais e de seus derivados um

121 Em 2006 o jornal Nikkey no Japão, visando avaliar a importância da rastreabilidade para o consumidor japonês, publicou os resultados da seguinte pesquisa de opinião: para 58,0% dos entrevistados, a rastreabilidade é imprescindível; para 34,4%, a rastreabilidade é importante; 6,3% dos entrevistados não acreditam em rastreabilidade; 1,2% não se importam com rastreabilidade; e 0,1% não deram opinião (ANDRIGUETO et al, 2008).

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tema prioritário para as políticas de segurança alimentar desses países

(CAPORALE et al., 2001).

Destaca-se no Parlamento Europeu o Regulamento nº 178/2003 (General

Food Law), a qual dispõe as bases para a aplicação da rastreabilidade

(trazabilidad) por parte de todos os operadores da cadeia alimentar, de caráter

horizontal122.

Os sistemas desenvolvidos decorrentes do art. 18, ainda deverão cumprir o

disposto no Regulamento 178/2000:

a) Permitir alto nível de proteção à saúde das pessoas;

b) Proteger os interesses dos consumidores, incluídas as praticas de comércio de alimentos;

c) Evitar práticas enganosas e fraudulentas, ou qualquer outra pratica que possa induzir o consumidor em erro.

Ainda há normas específicas, de caráter vertical123, que tratam de

determinadas cadeias sobre a rastreabilidade, como: carne bovina, leite e

produtos lácteos, pesca e produtos de pesca, ovos e organismos geneticamente

modificados. Para o bom funcionamento dos procedimentos de rastreabilidade,

deve considerar as normas horizontais e verticais que exigem a aplicação de

sistemas de autocontrole, bem como, a necessidade de que os produtos sejam

constantemente acompanhados pela documentação pertinente. Ambas as

122 Legislações de caráter horizontal: Regulamento (CE) 178/2002 do Parlamento Europeu (art. 18, 19 e 20); Real Decreto 1801/2003 sobre seguridad general dos produtos (fundamentado na Diretiva 2001/95/CE do Parlamento Europeu); Real Decreto 2207/95 sobre higiene dos produtos alimentícios (fundamentado na Diretiva93/43/CE); Real Decreto 1808/1991 que regula as marcas que permite a identificação dos lotes 123 Normas de caráter vertical: Real Decreto 1698/2003, que estabelece normas de rotulagem em carne bovina; Real Decreto 1380/2002 e Real Decreto 121/2004, que estabelecem normas de identificação de produtos de pesca, aqüicultura e marinho; Regulamento (CE) 2406/1996 do Conselho, estabelece normas comuns para o comercio de produtos pesqueiro; Real Decreto 217/2004, estabelece normas de identificação e registro de produtos lácteos; Regulamento (CE) nº 2771/1999 (com fundamento no Regulamento (CE) nº 1255/1999) estabelece normas para produção de manteigas e natas; Regulamento (CE) 2295/2003, estabelece normas para a comercialização de ovos; Regulamento nº 1830/2003, estabelece normas de rastreabilidade e rotulagem de produtos OGMs (alimentos e alimentos para animais); Regulamento (CE) nº 65/2004, normas para produção de organismos geneticamente modificados.

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exigências supõe a identificação dos produtos manipulados dentro de cada

empresa, o que facilita o desenvolvimento do sistema de rastreabilidade,

elaborado pela Agencia Española de Seguridad Alimentaria e Nutricción – AESAN

(Guia de Rastreabilidade AESAN)124.

Na Espanha, a gestão da rastreabilidade dos produtos do campo à mesa é

de responsabilidade da AESAN vinculada ao Ministerio de Seguridad y Consumo,

tem por função o controle oficial de verificar o cumprimento da legislação para a

produção, transformação e distribuição de alimentos e rações, e especialmente,

verificar se os procedimentos de identificação são adequados e suficientes para

permitir a rastreabilidade ao longo de toda a cadeia agroindustrial.

Segundo o Guia de Rastreabilidade da AESAN125, os principais aspectos

que devem ser destacados são:

• É um requisito fundamental para a gestão da empresa alimentícia e da empresa de alimentos para animais, que requer procedimentos orientados para a identificação de todo o produto que se encontre sob a responsabilidade de cada operador. É considerada uma ferramenta e não a solução do problema;

• Compila as informações da composição dos ingredientes e matérias primas, processos tecnológicos e produtos, assim como qualquer outro aspecto que possa ter sobre os mesmo;

• O programa de rastreabilidade desenvolvido pelas empresas (alimentos ou alimentos para animais) deve fazer parte dos sistemas de controle interno e não podem ser administrados de modo separados. Embora o uso de computador e da informática possam aumentar a rapidez e exatidão dos processos de obtenção e manipulação dos dados, deve existir uma independência entre os sistemas e, ao mesmo tempo, eles devem ser compatíveis entre si;

• A rastreabilidade deve proporcionar todas as informações que são imprescindíveis e necessárias sobre o produto colocado no mercado por uma empresa, e esta, deve adotar medidas eficazes que contribuam para a transparência da informação para os consumidores;

• A rastreabilidade é um instrumento que proporciona a informação para a empresa com o fim de facilitar a administração e o controle de todas

124 Disponível em: <http://www.aesa.msc.es/aesa/web/AESA.jsp>. Acesso em 04 jun.2008. 125 Idem

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233

as atividades. Ainda que pode e deve ser usada quando houver algum problema, entretanto em nenhum momento deve ser confundida como um mecanismo destinado exclusivamente para a retirada dos produtos do mercado;

• Não se pode confundir a rastreabilidade com vista à segurança dos alimentos com rastreabilidade de Identidade Privada (IP)126, que é um procedimento ativo para garantir as especificações de um produto de valor fixo para um determinado mercado. Os sistemas de rastreabilidade de produtos exigem uma cadeia transparente de ações para manter sua credibilidade e garantir suas funções de transferência de informação, devendo conter um mecanismo confiável e que possa ser verificável, para preservar a identidade dos exemplares ao longo da cadeia alimentar.

Portanto, o que se pode inferir com o estudo do presente capítulo é que,

dentro os mecanismos organizacionais apresentados, a rastreabilidade assume

um importante papel para a garantia e controle da segurança dos alimentos, tanto

no Brasil quanto na União Européia.

Marca

Na Espanha a marca tem um grande peso na decisão dos consumidores.

Em pesquisa realizada pela CEACCU, cerca de 57,5% dos consumidores

demonstraram que a marca conhecida é um fator importante para o consumidor,

uma vez que consideram que o produto é seguro127.

Após a análise do ambiente institucional europeu, e mais especificamente

espanhol, o que se denota que o modelo adotado é diferente do Brasil. Há uma

institucionalidade mais coordenada, concentrada, e com maior eficiência quando

se depara com episódios sanitários, conforme apresentado no exemplo que

ocorreu em 2008.

126 A utilização de IP tem sido utilizado atualmente para assegurar a ausência de OGM nos produtos. 127 Disponível em: <http://www.ceaccu.org/docspdf/informe_seg_alimentaria.pdf>. Acesso em: 23maio2008.

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234

Após o estudo do funcionamento de um modelo diferenciado de ambiente

institucional sobre a segurança dos alimentos, algumas considerações devem ser

apontadas.

Conforme já salientado, na União Européia, há interação entre as diferentes

estruturas em seus respectivos níveis. As organizações supranacionais (EFSA)

regula sobre as organizações nacionais (MISACO e AESAN), que por sua vez,

definem as políticas para as Comunidades Autônomas. Se pensarmos é um

modelo encadeado, mais coordenado, para garantir a segurança do alimento.

APONTAMENTOS SOBRE O AMBIENTE INSTITUCIONAL DA UNIÃO EUROPÉIA E ESPANHA

O processo de globalização aumentou a necessidade de normas

internacionais para harmonizar a especificação de componentes e reforça seu

argumento ao lembrar que na Europa, antes da unificação convivia com dezenas

de organismos nacionais de normalização, foi necessária a criação de um órgão

central europeu para harmonizar o comércio em uma Europa pós-unificada. Isto

demonstra que nem tudo é consenso no mundo das normas

A relevância do tema sobre a segurança e qualidade dos alimentos pode

ser percebida por meio de preocupações comerciais referentes à saúde das

plantas, à saúde animal e às zoonoses, à segurança dos alimentos e a outras.

Nesse sentido, foram desenvolvidos mecanismos pelos países-membros da OMC

para assegurar limites de qualidade aos produtos agrícolas comercializados

internacionalmente, no que se refere às medidas sanitárias e fitossanitárias.

(CONCEIÇÃO & BARROS, 2005).

Em razão dos alimentos desempenharem um papel de grande relevância

na identidade cultural, bem como na economia da União Européia, a partir da

década de 1990, foram criadas instituições e mecanismos organizacionais, mais

rígidos, para a garantia da qualidade e segurança dos alimentos. O comércio e a

segurança alimentar é assunto recorrente na UE. Nesse sentido, os países que

negociam com o bloco europeu precisam ficar atentos às precauções que

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envolvem princípios e normas alimentares, gerenciados pela Autoridade Européia

para a Segurança dos Alimentos.

As medidas sanitárias e fitossanitárias adotadas estabelecem padrões de

exigência na determinação de regras sobre produção, processamento e consumo

de produtos alimentares. Podem converter-se em proibições para países

exportadores dos produtos sujeitos a essas medidas, muitas vezes objetivando

proteger o setor produtivo doméstico (THORSTENSEN, 1999). Essas medidas

acabam tornando-se barreiras, uma vez que impedem o acesso de determinados

produtos aos mercados que as impõem.

A UE assumiu que as novas regras seriam de ordem de saúde pública.

Remodelou seu ambiente institucional e desenvolveu novas políticas públicas para

o setor agroalimentar, focado principalmente, na prevenção, na participação e na

transparência. A preocupação da União Européia consistia em reforçar a

confiança dos consumidores, abalada por crises alimentares, a exemplo do “mal

da vaca louca”. No intuito de cuidar desse tipo de questão, foi criada a Autoridade

Européia para a Segurança dos Alimentos (AESA).

As novas regras prevêem rigoroso controle da produção, com adoção do

mecanismo de rastreabilidade do produto, de forma integral, ou seja, do campo à

mesa. Reestruturam e atualizaram as normas sanitárias e fitossanitárias de todos

os produtos alimentícios conforme os princípios do Codex Alimentarius, incluídos

os de origem animal para todo o mercado único europeu, recém criado.

De plano, criou um Livro Branco sobre a Segurança dos Alimentos

(primeiro, há um Livro Verde – documento publicado pela Comissão Européia

destinado a promover reflexão em âmbito europeu sobre um assunto específico;

após, a norma legislativa é expressa no Livro Branco), que frisou sobre a

premência de uma política escorada em pesquisas consistentes e legislação

compatível com a importância do tema. É considerado o primeiro passo, para

tentar solucionar as lacunas nas normativas existentes, com um enfoque geral,

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236

com aplicação para todos os Estados Membros, que devem homogeneizar sua

legislação.

Em razão do principio da homogeneização, cada Estado Membro cria seu

próprio “Livro Branco”, em conformidade com os princípios e regras previstas pelo

Livro Branco. Por sua vez, a Espanha criou seu ambiente institucional em

conformidade com o que foi exigido pela UE, como também um órgão específico

(AESAN) para resolver as questões relacionadas à segurança dos alimentos, bem

como delegou às Comunidades Autônomas a criação de instituições e

organizações para tratarem sobre a questão da segurança dos alimentos em suas

regiões.

Diferentemente do ambiente institucional brasileiro, na União Européia há

melhor interação e coordenação entre as organizações, sua legislação é

rapidamente modificada para atender a crescente demanda sobre a questão dos

alimentos, adota o sistema de alerta rápido, para garantia da segurança da saúde

dos consumidores.

Em síntese, é importante ter conhecimento do ambiente institucional

europeu, como modelo, para melhor adequar o ambiente institucional brasileiro as

exigências mercadológicas crescentes, sendo certa a necessidade de desenvolver

procedimentos consistentes que possam promover a segurança de toda a cadeia

produtiva alimentar.

E, visando antecipar futuros entraves para a exportação dos produtos

agropecuários para a União Européia, o Brasil não deve medir esforços para

regulamentar todos os programas e políticas de segurança dos alimentos (SAPI,

PIF, IG, PRO-ORGANICO, etc) para não perder a oportunidade de continuar

sendo o maior exportador de produtos para a região.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A segurança dos alimentos deve ser vista como um tópico de grande

impacto na economia de países produtores. Os avanços tecnológicos nos

métodos de produção agrícola, as novas técnicas de preparo dos alimentos, as

embalagens dos produtos, a crescente preocupação com o meio ambiente e o

desenvolvimento sustentável são aspectos que estão presentes nos debates

sobre a questão da qualidade e segurança dos alimentos para o consumidor.

Produzir e fornecer alimento seguro são fatores que desafiam os diversos agentes

envolvidos na cadeia de alimentos.

O Estado tem um papel fundamental para o estabelecimento de padrões de

segurança e no controle da inocuidade dos alimentos. Mas o que infelizmente

ocorre no Brasil é que a sua estrutura é complexa, inclusive levando a concluir que

chega a ser ineficiente. Isso gera políticas fragmentadas, desperdício de recursos,

falta de integração e coordenação e conflito de interesses nas ações locais e

federais.

Como argumenta Farina (2001), as ações de política agrícola direcionadas

apenas ao aumento da produção, embora importantes, não parecem ser

suficientes em um mercado globalizado e competitivo. Nesse sentido, são

identificadas ações de caráter público importantes e que devem ser assumidas

visando ao aumento da competitividade do agronegócio brasileiro, seja

valorizando o produto, seja garantindo sua qualidade. Além disso, as

transformações ocorridas internamente sinalizam a importância desses atributos

inclusive para a comercialização doméstica dos produtos. Tal fato cria um novo

padrão de concorrência mais sofisticado, em que a existência de custos baixos,

embora necessários, deixa de ser condição suficiente. É preciso também atender

a critérios de segurança alimentar, monitorados por análises microbiológicas dos

alimentos, boas práticas agrícolas, rastreamento para identificar a origem do

produto (CONCEIÇÃO & BARROS, 2005).

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A perspectiva é que as organizações repensem de como deve ser um novo

ambiente institucional no Brasil para a questão da segurança dos alimentos, para

não haver sobreposição de organizações e instituições, evitando propostas

setoriais, mas sim, a construção de uma nova realidade que deve ser formulada

em conjunto, com a formulação de um ambiente institucional mais claro e mais

objetivo e com mecanismos organizacionais eficientes para a garantia da

qualidade do alimento.

A segurança dos alimentos, portanto, é um fator decisivo para a promoção

do desenvolvimento econômico. As barreiras técnicas ao comércio internacional,

relacionadas à segurança dos alimentos, devem ser justificadas e em

conformidade com o princípio de análise de risco (AR). No entanto, como

conseqüência para a política pública, há a necessidade de melhor estruturar os

sistemas de monitoramento de atributos qualitativos, por meio da articulação do

Estado e setor privado, dispondo laboratórios credenciados e adotando padrões

de qualidade internacionalmente aceitos com sistemas de monitoramento, que

visam aumentar a coordenação das cadeias, à redução de custos e ao aumento

da qualidade dos produtos ofertados.

Tanto o ambiente institucional espanhol e europeu quanto o ambiente

institucional brasileiro indicam que se tem avançado na construção de uma

aparelhagem que minimize os riscos para o consumidor quanto à segurança e

qualidade dos alimentos, fundamentados em regras internacionais, preocupados

com sustentabilidade e com a saúde do consumidor. No entanto, mesmo diante da

complexidade das instituições e organizações há o questionamento se realmente

o consumidor está devidamente protegido, pois os episódios sanitários continuam

a ser recorrentes há anos, apesar dos esforços para diminuir a assimetria de

informação que ocorre entre os fornecedores e os consumidores através da

inserção de mecanismos organizacionais para o controle e qualidade dos

alimentos.

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A cada episódio sanitário esta complexidade aumenta, principalmente no

Brasil, com a criação de mais organizações e instituições conforme pode se

verificar no Quadro 6 abaixo.

AMBIENTE INTERNACIONAL

EPISÓDIO CONCEITO MEDIDAS ADOTADAS CONSEQUENCIAS MAL DA VACA LOUCA

É uma moléstia crônica degenerativa que afeta o sistema nervoso dos bovinos provocando o descontrole motor. As células morrem, e o cérebro fica com aparência de esponja. A vaca passa a agir como se estivesse enlouquecida. A doença também pode se manifestar em seres humanos, conhecida como: “doença de Creutzfeldt-Jakob” e em ovinos onde a doença é conhecida como "scrapie”. O agente causador da doença não é um vírus, bactéria ou parasita. Trata-se de uma proteína anormal chamada príon.

Reino Unido - destacam-se a proibição do uso de farinhas protéicas de origem animal nas rações dos ruminantes; a proibição da utilização de miúdos (cérebro, medula espinhal, intestino e cabeça) oriundos de abates de bovinos, caprinos e ovinos, para fins alimentícios; incineração de animais doentes e suspeitos; fechamento de fronteiras e rastreamento de animais ou carne. Mesmo assim o controle pleno da doença não foi alcançado.

- maior rigidez nas normas de segurança dos alimentos - introdução dos planos de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), primeiramente de forma voluntária e, posteriormente, obrigatória na cadeia de produção de carnes, é um fenômeno mundial. - Na Europa, os regulamentos introduzidos em 2002 exigem dos operadores das indústrias de carnes a adoção de procedimentos de higiene baseados nos princípios da APPCC e a realização sistemática de análises microbiológicas. - Na UE os regulamentos que exigem ao atendimento dos pré-requisitos da APPCC, como Boas Práticas Agrícolas, Boas Práticas de Fabricação, Procedimentos Operacionais Padronizados de Higienização, Rastreabilidade e o próprio estabelecimento da APPCC na produção e na distribuição de alimentos, já estão plenamente aceitos e se tornaram práticas

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comuns na indústria de alimentos; - adoção princípio da precaução; - devido ao impacto na economia internacional acarretou a imposição de barreiras não alfandegárias por diversos países.

ANTRAZ - O Antraz ou carbúnculo hemático, uma doença que normalmente atinge animais de fazenda, recebeu o nome de anthracis, palavra grega que significa carvão, pois a infecção pode causar cicatrizes negras na pele. Essa infecção cutânea não é especialmente perigosa, mas a bactéria pode formar esporos capazes de sobreviver quando são triturados, desidratados, enterrados ou borrifados e tornam-se ativos em um ambiente quente e úmido como o interior do nariz. - O homem pode se infectar de três formas: - Ao comer produtos derivados de animais infectados Intestinal: Ingestão de alimentos ou água. Mortalidade: 25 a 60% dos casos; - Por inalação dos esporos; ou - Contaminação pela pele (cutânea). - Não há registro de contágio direto (de pessoa para pessoa).

- receio de ataque bioterrorismo – os episódios mais freqüentes de bioterrorismo envolvem a contaminação de alimentos e de água. - o medo do antraz se instalou na população e as suspeitas de pó branco e de cartas contaminadas aumentaram – ainda que discretamente – a venda do ciprofloxacina, medicamento indicado para o tratamento da infecção causada pelo bacilo, além de sobrecarregar pesquisadores de laboratórios de referência

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AMBIENTE NACIONAL

GRIPE AVIÁRIA (GRIPE DO FRANGO)

Variedade do vírus Influenza (H5N1) hospedado por aves, mas que pode infectar diversos mamíferos (gatos e ser humano).

- devido ao impacto na economia internacional acarretou a imposição de barreiras não alfandegárias por diversos países.

FEBRE AFTOSA

Enfermidade altamente contagiosa que ataca a todos os animais de casco fendido, principalmente bovinos, suínos, ovinos e caprinos, e muito menos os carnívoros, mamíferos; os animais solípedes são resistentes. A doença é produzida pelo menos por seis tipos de vírus, classificados como A,O,C,SAT-1,SAT-2 e SAT-3, sendo que os três últimos foram isolados na África e os demais apresentam ampla disseminação. Não há transmissores de aftosa, o vírus é vinculado pelo ar, pela água e alimentos, apesar de ser sensível ao calor e a luz.

- embargo as importações de carnes provenientes do Brasil: as razões alegadas para a proibição do produto vão desde suposta negligência no controle sanitário por parte do Brasil, até acusações de que os pecuaristas agridem o meio ambiente por desmatarem as florestas. - outras questões estão envolvidas, como a competitividade do mercado na União Européia, já que os produtores brasileiros não precisam cumprir as mesmas exigências que os europeus e disponibilizam a carne na Europa por preços mais baixos. - As barreiras à importação da carne produzida no Brasil são restritas a determinados estados. Os países da União Européia e o Chile proíbem a importação de carnes bovinas dos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. A África do Sul impôs embargo a todas as carnes produzidas no Brasil após 11 de setembro de 2005.

- devido ao impacto na economia internacional acarretou a imposição de barreiras não alfandegárias por diversos países. - imposição do uso da rastreabilidade na cadeia bovina – cria-se SISBOV vinculado ao Ministério da Agricultura (Brasil); - liberação somente de algumas fazendas para exportação, - criação (2007) do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA) que tem como estratégia a implantação progressiva e manutenção de zonas livres da doença, de acordo com as diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

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OPERAÇAO OURO BRANCO (LEITE)

- Contaminação do leite longa vida integral com adição de uma mistura de ácido cítrico, citrato de sódio, soda cáustica, sal, açúcar e, às vezes, peróxido de hidrogênio (água oxigenada) com objetivo de aumentar o volume e dar maior longevidade ao leite.

- Após a averiguação dos fatos (diversos meses) o produto e seus derivados foram retirados do mercado. Diversas pessoas envolvidas foram indiciadas.

- foi realizado modificações no sistema de fiscalização e cria-se CQuali Leite vinculado ao Ministério da Saúde (Brasil).

Quadro 6. Complexidade ambiente institucional internacional e nacional após o advento de alguns episódios sanitários.

Após o estudo do ambiente institucional sobre a segurança dos alimentos

no Brasil e na União Européia, mais especificamente na Espanha, pode-se inferir

que os controles sanitários não recaem somente sobre os produtos

industrializados, mas também sobre os produtores das matérias primas. É

importante ter o conhecimento de toda a cadeia alimentar, com seus principais

elos, que servem como pontos de controle que facilita o monitoramento corrente e

a identificação de problemas, e sua localização e eventual causa. A montagem e

operação desses mecanismos implicam, necessariamente, em aumento de custos

de transação para o sistema como um todo. No entanto, dada a importância dos

alimentos e dos impactos sobre a saúde e meio ambiente, assume-se que tais

custos são inferiores àqueles que seriam provocados caso não operassem estes

mecanismos.

Ao longo dos últimos anos a população tem demonstrado uma maior

conscientização quanto à importância das questões sociais e ambientais

relacionadas à forma de produção e comercialização de produtos agroalimentares.

Essa maior percepção tem resultado em aumento no número de padrões

estabelecidos, bem como iniciativas de certificação e/ou rotulagem. A maior

complexidade do sistema de normalização passou a envolver cada vez mais um

número maior de instituições de natureza diversificada, com a participação

crescente da iniciativa privada e de Organizações não Governamentais (ONGs),

além das instituições governamentais (com poder de regulamentação).

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A velocidade dos avanços científicos e dos processos de produção

representa um desafio para as instituições que cuidam da inocuidade e da

garantia da qualidade dos alimentos. No Brasil, as instituições que tratam da

segurança dos alimentos se encontram mal estruturadas para enfrentar

eficientemente os problemas do cotidiano – tanto na sua estrutura quanto nas

disponibilidades de recursos organizacionais e operacionais – pois o excesso de

regulamentação que existe não permite uma atuação eficaz, principalmente a

fiscalizatória.

Assim, a atuação do Estado no campo da segurança alimentar pode visar

não apenas informar melhor o consumidor e fiscalizar as firmas, mas também

buscar alterar a médio e longo prazo os hábitos alimentares dos consumidores,

diante dos riscos à saúde oriundos de uma dieta pouco equilibrada. Essa

estratégia demandaria todo um novo aparato institucional, capaz de conjugar

esforços nas áreas de educação, saúde e agricultura, sem descuidar das

divergências culturais de cada região do país que implicam hábitos alimentares

distintos também.

Como sugestão da pesquisa, fica evidente a necessidade contar com um

“sistema de alerta rápido”, com inteligência e capacidade operacional para

detectar problemas e informar o consumidor, agentes envolvidos e órgãos

responsáveis da cadeia alimentar, sempre e quando houver algum risco para a

saúde, dano ao meio ambiente, tal qual explicita o Código de Defesa do

Consumidor. Internacionalmente, já há uma proposta de criar um “sistema de

alerta rápido internacional”, o qual os países poderão acionar, quando houver

algum risco alimentar.

Também, deve haver no Brasil maior agilidade para mudar o marco

regulatório referente à segurança dos alimentos e sistemas de produção

agropecuária, se adequando às modificações que tem ocorrido em razão da

globalização. Mas, o legislador precisa ter consciência de que essas normas têm

que ser eficazes, criando instrumentos apropriados para cumprimento das

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mesmas. Deve haver informação e formação adequadas aos destinatários das

normas, apoio técnico e econômico para o cumprimento, caso haja investimentos

e custos importantes. De nada adianta criar normas que não tenha aplicabilidade

prática. Essa legislação deve estar baseada em critérios científicos, evitando o

protecionismo comercial de interesses econômicos.

Uma regulamentação apropriada garante a aplicação do aparato legal de

enforcement para controlar as ações discricionárias das empresas, mas também,

abre espaço para investimentos para diferenças de seus produtos e processos,

incorporando o atributo da segurança em suas estratégias competitivas, com a

evolução da tecnologia de transmissão de informações, o consumidor – mesmo

que representados por associações - tem-se tornado cada vez mais exigente, isso

leva as empresas a ampliar os cuidados com a questão da qualidade de seus

produtos, seja para atender a novos grupos de consumidores que buscam

alimentos mais saudáveis e produtos de pouco impacto para o meio ambiente,

seja para atender regulamentação e construir uma imagem alinhada com um novo

modelo de institucionalidade.

A produção de alimentos no Brasil é uma realidade complexa e ainda hoje

está integrada por um sistema agroalimentar industrial (com importação e

exportação de alimentos), estruturado em bases econômicas de negócio, com a

participação de agentes “formalizados”, sujeitos ao marco macro institucional

vigente, com vínculos no mercado financeiro e nos principais mercados do

agronegócio nos quatro cantos do mundo, integrado por uma “produção de

subsistência”, cujos excedentes alcançam principalmente as cidades de pequeno

e médio porte. Finalmente, também contribui para a produção e abastecimento de

uma “produção informal”, que não passa pelos controles sanitários vigentes e,

neste sentido, tal como parte da produção de subsistência, isto a margem da

institucionalidade exigida para assegurar a qualidade e inocuidade dos alimentos.

Isto significa que ao mesmo tempo em que o sistema deve lidar com novos

requisitos e padrões sanitários e de qualidade de alimentos que já é uma

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realidade, deve superar problemas associados ao século passado, alguns ao

início da produção de massa.

No estágio atual, a produção de alimentos com uso da biotecnologia

moderna – fermentação e tecnologia de enzimas, engenharia genética de plantas

e animais – e os processos de produção no qual convergem os ramos

agroindustrial e químico-farmacêutico, coloca novos desafios para o controle

sanitário, tanto dos processos e produtos em si quanto das externalidades

negativas resultantes do processo de produção em moldes modernos e do

impacto do consumo dos produtos na saúde da população.

Concordando com Schumpeter, a informação imperfeita é parte da máquina

da inovação, inclusive no setor alimentício, uma vez que as empresas cada vez

mais utilizam meios inovadores para diferenciar os produtos como estratégias de

consolidação de mercado e elevação das vendas. Problemas como

contaminações e adulterações nos alimentos podem causar perdas econômicas e

comerciais, afetando a credibilidade das empresas diante do consumidor, de modo

que a qualidade dos alimentos se constitui até mesmo numa barreira ao comércio

internacional. Neste sentido, a segurança sanitária e nutricional se constituiu num

instrumento de competitividade na cadeia agroalimentar, atingindo desde as

etapas iniciais da produção até o consumo final, passando pela indústria,

distribuição e comercialização.

A assimetria está presente na informação quando um dos agentes numa

dada transação dispõe de uma informação (crucial) que o outro agente não tem,

ou quando um dos agentes não consegue descortinar as ações do outro. Cria-se,

assim, uma desvantagem óbvia para um dos lados, que para o consumidor é

considerado uma vulnerabilidade. É um exemplo por excelência da célebre

máxima de que "saber é poder".

A própria lógica capitalista de livre mercado induz o constante progresso

dos serviços e produtos ofertados. Em um ambiente competitivo, uma empresa

que abusa da assimetria de informação, explorando o consumidor, logo será

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desbancada por outra, que poderá vender o produto por um pouco menos e ainda

assim alcançar maiores lucros. Embora a competição seja de longe a melhor

defesa do consumidor, não é suficiente.

A pesquisa demonstrou que a assimetria mais relevante do ponto de vista

do direito do consumidor não é a de tamanho, mas a de informação, diferenciando

consumidor e fornecedor em seu conhecimento, o que cada um tem informação

do bem ou serviço a ser fornecido. É por esta razão que o legislador se preocupou

em reduzir as assimetrias de informação entre os dois pólos da relação de

consumo e exigir que o fornecedor se responsabilize por obter e divulgar

corretamente as informações relevantes para o consumidor decidir sobre o

consumo ou não do bem ou serviço, por considerar que o fornecedor sempre está

melhor habilitado a avaliar os riscos e conhecer a veracidade dos fatos.

O processo de informação do consumidor, importante para que ele escolha

racionalmente e livremente o que consumir, era individual e unilateral. O processo

decisório sobre o que informar cabia, com exclusividade, ao fornecedor. Este,

como óbvio, ao selecionar o tipo de informação omitia aquelas relacionadas a

pontos negativos ou fracos dos produtos e serviços, como o custo, o perigo, a

durabilidade.

Ademais, o processo informativo recorria ao uso de mensagens

publicitárias, predispostas a provocar e incitar o consumo do que propriamente

informar. As necessidades dos consumidores não decorrem exclusivamente das

necessidades biológicas destes ou do ambiente que os cerca, mas sim, em

grande parte, das campanhas publicitárias que as forjam.

A igualdade formal entre os contratantes não passava de um mito, que

servia para esconder a desigualdade real entre fornecedor e consumidor. A

desigualdade entre fornecedor e consumidor era reforçada por fatores como a

regulamentação das relações de consumo pelo fornecedor mediante a inserção de

cláusulas de adesão e condições gerais, inegociáveis, imodificáveis ou pela

cadeia de intermediários que se interpunha entre o ele e o fornecedor ou, ainda, e

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pela impessoalidade de certos modos de distribuição, como a comercialização de

produtos e serviços por meios eletrônicos ou mecânicos; pela falta de informação

e falta de competência técnica e jurídica do consumidor que lhe permitisse debater

os termos do negócio e pela desorganização do consumidor, enquanto sujeito de

direitos.

A falha na organização dos consumidores também contribuía para o

fracasso do modelo de proteção baseado na livre regulação. Com efeito, a

heterogeneidade dos consumidores, decorrente do fato de que “todos são

consumidores”, não importa a classe, a cor e o credo, impedia uma representação

adequada dos interesses dos mesmos. Com efeito, com tantos fatores diversos,

como classe social, nível de escolaridade, nível de emprego, era difícil identificar

um discurso que reunisse a todos em torno de interesses comuns.

Diante deste cenário foram criadas organizações não governamentais para

garantir a proteção do consumidor, que sustenta em suas defesas a necessidade

do Estado intervir nas relações comerciais, com vistas a corrigir as falhas do

mercado para lidar com a questão da qualidade dos alimentos, ampliando o

campo de proteção dos consumidores, pois, com o surgimento da chamada

sociedade de massa, o direito começa a se preocupar com as relações entre o

consumidor e o fornecedor. Com o crescimento das empresas e com o aumento

da tecnologia dos produtos e métodos de produção, o consumidor passou ser a

parte vulnerável nas relações de consumo.

Desta forma, o Estado chamou para si a responsabilidade de assegurar a

promoção, a defesa e a representação dos interesses dos consumidores, atreves

de legislações que pudessem colocar em pé de igualdade o consumidor e o

fornecedor. No Brasil, essa proteção culminou com a promulgação do Código de

Defesa do Consumidor (CDC), em 1990.

Saúde e segurança também são objetos de preocupação do direito do

consumidor e considerados direitos fundamentais do homem e do cidadão. O

processo de informação ao consumidor é quase por definição, imperfeito e

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ineficaz, o que exige que o consumidor, ainda que presumidamente informado,

seja protegido em certas matérias. Daí a tomada de medidas que previnam riscos

à saúde e segurança do consumidor, como a proibição de comercializar produtos

e serviços perigosos ou a obrigação de retirar do mercado os produtos e serviços

que põe em perigo à saúde ou à segurança do público ou o controle da

publicidade que incentiva o consumo do tabaco, álcool e medicamentos ou a

imposição de restrições à liberdade de contratar, como a proibição de transferir a

carga dos riscos do consumo somente para o consumidor.

Apesar de Brasil e União Européia, possuírem praticamente as mesmas

instituições formais e informais para a garantia da segurança e qualidade dos

alimentos, conforme apresentado no Quadro 7, percebe-se que no Brasil há uma

grande descoordenação e desarticulação entre as organizações

conseqüentemente, ocorre uma elevação dos custos de transação nas relações

comerciais. O que também foi observado é que há um excesso de burocracia para

garantia da inocuidade dos alimentos, ficando bem caracterizando a complexidade

do ambiente institucional, apesar da legislação brasileira adotar as regras

internacionais. Nesse sentido, o que se propõe é o Estado tenha uma ação mais

efetiva na fiscalização da cadeia alimentar de modo global, para garantir ao

consumidor alimentos com informações claras e seguras.

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Quadro 7. Quadro comparativo ambiente institucional União Européia/Espanha x Brasil União Européia/Espanha Brasil

Instituições Formais

Regulamentos e Decretos Codex Alimentarius Livro Branco Livro Verde

CF, CDC, Leis Ordinárias, Regulamentos, Decretos, Instruções Normativas, Circulares Codex Alimentarius

Instituições Informais

Rastreabilidade amplamente utilizada. Certificação Padronização Indicações Geográficas Rotulagem

Rastreabilidade – somente utilizada em algumas cadeias – Programa PAS, PIF, SAPI, Pró-orgânico, PNCR, Certificação Padronização Indicações Geográficas Rotulagem

Organizações EFSA (Espanha – MISACO e AESAN)

MAPA, MS (ANVISA e CQUALI), INMETRO, DPDC (consumidor),

Sistema de Alerta Rápido Adota Não Adota Fonte: elaboração própria a partir dos dados do presente estudo.

No ambiente institucional brasileiro observa-se que, uma vez criadas as

instancias organizacionais, tende a prevalecer a inércia que marca o setor público,

a dificuldade para fechar serviços, departamentos, etc., caracterizados pela

tendência de crescer mesmo quando se funde e se reestrutura para reduzir seu

ambiente institucional. É certo que esta situação reflete, em parte, a própria

natureza multifacetada da cultura brasileira; mas reflete, também, um processo

evolutivo particular das instituições e uma maneira específica de lidar com os

problemas, que em geral responde ex post por meio de novas regulamentações e

criação de novos departamentos, coordenação, institutos, etc., e raramente

“racionaliza” o marco institucional, eliminando leis superadas, consolidando-as,

reformando organizações, para pretensamente arrumar a casa.

É um sistema que vai evoluindo de uma maneira descoordenada e

desarticulada, apesar de ter alguns esforços, responde às pressões da sociedade,

com driver diferente, custos de transação elevados e com maior dificuldade para

funcionar e solucionar os problemas que vão surgindo. Verifica-se, no entanto, que

há a negligência do sistema em pontos chaves, como a questão da saúde dos

consumidores (princípio este que está fundamentado na própria CF). Episódios

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250

sanitários como esse são acontecimentos recorrentes à insegurança alimentar

para o consumidor no Brasil.

Alguns paradigmas estão sendo quebrados no Brasil. Os órgãos

responsáveis por garantir a inocuidade dos alimentos estão começando a realizar

um trabalho integrado visando proteger e atender tanto o consumidor brasileiro

como o de outros países, cujos mercados são relevantes para os

produtores/exportadores brasileiros. Um exemplo é a articulação entre Ministérios

da Agricultura, Saúde e Justiça e Ministério Público para “garantir o direito sagrado

do consumidor de ter alimentos saudáveis em sua mesa”, conforme preceitua a

Constituição Federal de 1988. Como resultado desse trabalho, foi detectada a

presença do agente causador da doença de Chagas; da adulteração do leite,

ocorrida em Minas Gerais no segundo semestre de 2007; e dos fungos

causadores do “beribéri”, provenientes da estocagem incorreta de arroz por

pequenos produtores no Maranhão.

Diferentemente, na União Européia, que adota o sistema de alerta rápido. A

partir do momento em que há uma denúncia, independentemente do produto ter

ou não insegurança, ele é retirado de circulação do mercado, em 24 horas, para

posteriormente avaliar os riscos, uma vez que há a preocupação, em primeiro

lugar com a saúde da população.

O estudo não teve como objetivo analisar a competência e eficiências das

instituições e organizações brasileiras, mas sim, demonstrar as adaptações que

ocorreram nos últimos anos no ambiente institucional brasileiro, em razão dos

diversos episódios sanitários. Fez-se um estudo de um modelo diferenciado,

adotado na União Européia, dando ênfase a Espanha, para que se possa “pensar”

em modificações nas instituições e organizações brasileiras, de maneira que

possam ficar mais articuladas e coordenadas, para garantir a segurança e

qualidade dos alimentos, e conseqüentemente, ter melhores condições de inserir

os produtos agropecuários brasileiros no mercado internacional.

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Ainda a presente pesquisa deixa margem para a continuidade do estudo,

como por exemplo, avaliar a percepção dos consumidores quanto aos

mecanismos organizacionais para a segurança dos alimentos. Ainda, avaliar:

• A eficiência dos mecanismos organizacionais quanto às informações

necessárias para os consumidores sobre a garantia da qualidade dos alimentos.

• Elaborar e aplicar um questionário para avaliar práticas e conhecimentos

em segurança sanitária alimentar pelos consumidores;

• Apontar e descrever as principais cadeias alimentares brasileiras que

apresentaram avanços quanto à utilização dos mecanismos organizacionais

referentes à qualidade dos alimentos.

• Analisar os impactos da adoção dos mecanismos organizacionais pelos

produtores e pelo setor alimentar em geral, para a garantia do alimento seguro,

identificando nesta etapa o comportamento dos consumidores quanto à aceitação

e percepção da eficiência desses mecanismos.

• Verificar as relações entre o perfil socioeconômico do consumidor e sua

percepção quanto à aplicabilidade e a eficácia dos mecanismos organizacionais

para a segurança dos alimentos.

• Descrever como a adoção dos mecanismos organizacionais referentes à

qualidade dos alimentos pode contribuir para elevar a segurança alimentar no

Brasil.

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ANEXO

Mal da vaca louca (BSE – Encefalopatia Espongiforme Bovina) –

internacional

Também conhecida como BSE - Bovine Spongiform Encephalopathy - (sigla

em inglês para encefalopatia bovina espongiforme), surgiu no Reino Unido, em

1986 e se disseminou para outros países da Comunidade Européia, devido à

reciclagem, sem controle, de carne, ossos, sangue e vísceras usados na

fabricação de ração animal. Em 1995, um inglês de 19 anos foi a primeira vítima

da doença de Creutzfeldt-Jakob cuja origem foi atribuída à ingestão de carne

contaminada. Vários casos de encefalopatias em pessoas foram constatados,

devido ao consumo de carne de animais contaminados. De lá para cá, a doença,

que dizimou rebanhos na Europa, já foi detectada em vários países, entre eles no

Canadá e, recentemente, nos Estados Unidos.

No Brasil, o uso da proteína animal na fabricação de ração para bovinos é

proibido e o risco de desenvolvimento da doença é mínimo, já que a maior parte

do rebanho nacional se alimenta de pastagens. Não existe casos registrados no

Brasil. É uma moléstia crônica degenerativa que afeta o sistema nervoso dos

bovinos provocando o descontrole motor. As células morrem, e o cérebro fica com

aparência de esponja. A vaca passa a agir como se estivesse enlouquecida. A

doença também pode se manifestar em seres humanos, conhecida como: “doença

de Creutzfeldt-Jakob” e em ovinos onde a doença é conhecida como “scrapie”. O

agente causador da doença não é um vírus, bactéria ou parasita. Trata-se de uma

proteína anormal chamada príon.

A transmissão dá em bovinos e ovinos e ocorre devido à reciclagem, sem

controle, de carne, ossos, sangue e vísceras na alimentação de animais. Em seres

humanos a transmissão ocorre pela ingestão de carne - mesmo frita ou cozida - de

animais contaminados. A chance de desenvolver a doença por contaminação é de

somente 5%. Nos outros 95% dos casos, a doença se desenvolve naturalmente.

Ovinos, bovinos e humanos podem adquirir a doença naturalmente _seja por uma

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alteração casual de suas proteínas, seja por determinação genética ou por

contaminação.

Gripe Aviária (gripe do frango) – internacional

É o nome dado à doença causada por uma variedade do vírus Influenza

(H5N1) hospedado por aves, mas que pode infectar diversos mamíferos. Tendo

sido identificada na Itália por volta de 1900. Na ocasião, ganhou o nome de

doença da Lombardia (região italiana). Porém, foi somente no ano de 1955 que

ela foi descrita como uma doença provocada pelo vírus da família Influenza A.

Esta enfermidade, em função de suas características, pode ser transmitida

das aves para certas espécies de mamíferos como, por exemplo, o gato

doméstico e o ser humano. É, no entanto, conhecida por existir em grande parte

do globo, concentrando-se hoje principalmente no sudeste asiático. Existem

também casos recentes na Turquia, Romênia e Inglaterra (apenas aves foram

infectadas nos três lugares).

É no continente asiático, principalmente na China, que a doença alastra-se

com mais rapidez na atualidade. Em Hong Kong, no ano de 1997, 18 casos foram

relatados, apresentando quadros graves de complicações respiratórias. Neste

caso, uma simples epidemia, causou a morte de 33% das pessoas contaminadas,

ou seja, um alto índice de mortalidade para uma doença. Este fato tem levado as

autoridades de saúde de diversos países a tomarem precauções importantes, a

fim de evitarem uma epidemia de grandes proporções.

Entre 2003 e 2007 foram confirmados 343 casos humanos, que levaram a

211 mortes. A taxa média de mortalidade é de 61% - o índice de letalidade do

vírus da gripe comum, outro influenza, é de 0,1%128. O vírus também leva a morte

rápida grande parte de espécies de aves. A maioria dos animais morrem 24 horas

após o contágio. Muitos produtores de frangos, gansos, patos e aves em geral

128 Disponível em: http://www.estado.com.br/editorias/2007/12/28/ger-1.93.7.20071228.1.1.xml. Acesso em: 03dez.2008.

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podem perder toda a produção em questão de poucos dias, caso as aves

contaminadas não sejam identificadas e sacrificadas.

Os prejuízos comerciais e financeiros provocados por esta doença podem

ser altíssimos, inclusive prejudicando a produção de carne de aves e ovos no

mundo todo, em caso de uma epidemia de grandes proporções. O medo de que a

doença saia do continente asiático, espalhando-se pelo mundo é grande, pois o

pato selvagem, hospedeiro natural da doença, pode disseminar o vírus durante a

fase migratória. Esta espécie de pato é mais resistente a enfermidade e raramente

apresenta sintomas, fato que dificulta a identificação das rotas de transmissão.

Operação Ouro Branco - Brasil

Uma das atuações em defesa do consumidor na segurança dos alimentos pelo

Ministério Público de Minas Gerais foi a Operação Ouro Branco (adulteração do

leite). Esta operação foi instaurada pela Polícia Federal em Minas gerais, em

outubro de 2007, denominada “Ouro Branco”, com a detenção de 25 pessoas.

Conforme as investigações, duas cooperativas eram suspeitas de fraudar a

fórmula do leite longa vida integral com adição de uma mistura de ácido cítrico,

citrato de sódio, soda cáustica, sal, açúcar e, às vezes, peróxido de hidrogênio

(água oxigenada). A adição de tais produtos tinha como objetivo aumentar o

volume e dar maior longevidade ao leite.

A partir de denúncia realizada por um ex-funcionário de uma das empresas

suspeitas da fraude, três meses antes do inicio das investigações da operação,

que a polícia federal começou as investigações a partir da denúncia realizada ao

Ministério Público de Minas Gerais (que é bastante atuante com relação aos

direitos dos consumidores). Além de denunciar a fraude, o ex-funcionário apontou

ainda que um funcionário do Ministério da Agricultura, responsável pela inspeção

da empresa, faria “vistas grossas” para o caso.

Com as investigações, foram coletadas amostras de leite das empresas

suspeitas da fraude e encaminhadas para o laboratório de análises do MAPA, que

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apontou a presença de substancias proibidas ou superior às dosagens permitidas

por lei. Entre os detidos, estavam dirigentes e empregados das cooperativas

envolvidas, bem como servidor do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do MAPA,

que era o responsável pela fiscalização da produção de leite e seus derivados

nestas empresas.

Após a denúncia, a ANVISA e o MAPA, passaram a participar das

investigações, cedendo funcionários e retirando do mercado dos lotes suspeitos

de fraude. Com as prisões das pessoas envolvidas, o caso ganhou repercussão

na mídia de todo país, até porque as cooperativas vendiam o leite para grandes

empresas que comercializavam em outras regiões do Brasil, conseqüentemente,

houve a divulgação pública da fraude. A mídia consultou especialistas para

detectar os possíveis riscos do leite fraudado. O conflito foi instaurado em torno do

caso: governo (polícia federal, ANVISA, MAPA), meios de comunicação social,

público (consumidores), ciência (especialistas), e outras organizações da

sociedade civil (associações, produtores, comerciantes).

Etapas do caso da fraude do leite.

ETAPAS ATORES AÇÕES

Antes da denúncia da fraude O risco já existia, mas não era conhecido. Não se tem conhecimento desde quando as empresas fraudaram o leite

Ex- funcionário de uma das cooperativas Efetuou a denúncia da fraude

Denúncia da Fraude

Polícia Federal Investigou a denúncia

Polícia Federal

Deflagrou a operação “Ouro Branco com a prisão de 25

pessoas ligadas às cooperativas.

Cooperativas e seus representantes

A produção de leite das empresas foi interditada e

ficaram sob investigação da PF. Seus representantes foram

detidos

MAPA

Passou a participar das investigações; realizou

análises do leite coletado em Minas Gerais

Divulgação da Fraude

ANVISA Passou a participar das

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ETAPAS ATORES AÇÕES investigações: realizou

análises do leite coletado em Minas Gerais e interditou os lotes de leite fraudados em

todo o país. Considerou o caso como um evento particular,

mas tentou tranqüilizar a população em relação aos

possíveis riscos que advindos do consumo do leite fraudado.

Meios de Comunicação

Divulgaram o caso e acompanharam as

investigações, ouvindo diversos dos atores envolvidos.

Consumidores Ficaram incertos em relação

aos possíveis riscos advindos do consumo do leite fraudado

Associações, produtores e comerciantes

Defenderam a qualidade do leite brasileiro, apontaram este

como um caso isolado.

Polícia Federal Concluiu as investigações e encaminhou ao Ministério Público em Minas Gerais.

Cooperativas e seus representantes

Foram acusados formalmente de crime contra a saúde pública, crimes contra as

relações de consumo, corrupção ativa e passiva e

formação de quadrilha.

Medidas tomadas em relação à fraude

MAPA e ANVISA Fizeram modificações no

sistema de fiscalização do leite e criaram o Cquali.

Depois da fraude vir à tona

O caso é diluído. Há novas normas no sistema de fiscalização, mas não se tem conhecimento de como será a implementação

destas na prática. Os riscos podem continuar existindo e podem surgir novos riscos.