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Safra 2015/16 SUMÁRIO EXECUTIVO Relatório 1 – Ano 3 Agosto de 2016 Análise dos Recursos do Programa ABC Observatório do Plano ABC Instituições financeiras privadas

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Safra 2015/16

SUMÁRIO EXECUTIVO

Relatório 1 – Ano 3

Agosto de 2016

Análise dos Recursos do Programa ABC

Observatório do Plano ABC

Instituições financeiras privadas

Análise dos Recursos do Programa ABC

PROJETOObservatório ABC

APOIOAliança pelo Clima e Uso da Terra (CLUA)

ORGANIZAÇÃO RESPONSÁVEL PELO PROJETOFundação Getulio Vargas (FGV)Centro de Agronegócio (GV Agro), Escola de Economia de São Paulo (EESP)

COORDENADOR DO GV AGRORoberto Rodrigues

COORDENAÇÃO DO PROJETOAngelo Costa GurgelCecília Fagan Costa

ORGANIZAÇÃO RESPONSÁVEL PELO ESTUDOCentro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces)

COORDENAÇÃO DO ESTUDOMario Monzoni

EQUIPE TÉCNICA DO ESTUDOAnnelise VendraminiFernanda Casagrande RochaPaula Peirão

EDIÇÃO DE TEXTO: Maura Campanili

REVISÃO DE TEXTO: Alexandre Sobreiro

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Alexandre Monteiro

Agosto de 2016

GV AGROCENTRO DE ESTUDOSDO AGRONEGÓCIO

EESP

VEJA O ESTUDO COMPLETO EM: http://observatorioabc.com.br/publicacoes

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Análise dos Recursos do Programa ABC

Sumário Executivo – Relatório 1 – Ano 3

INTRODUÇÃO

O Observatório do Plano ABC tem o objetivo de engajar os diferentes setores da sociedade brasileira na transição para uma agricultura de baixa emissão de carbono, monitorando as ações do Plano e do Programa ABC e desenvolvendo estudos técnicos para subsidiar e facilitar o diálogo com os diversos atores e a sociedade. Nesse sentido, desde 2013, realiza análises quantitativas e qualitativas sobre o desempenho (contratação) do Programa ABC, a principal linha de crédito para o financiamento da agricultura de baixa emissão de carbono no Brasil.

Este sumário1 traz as análises referentes ao ano-safra 2015/16 (de julho de 2015 a junho de 2016), incluindo uma visão focada nas finalidades de inves-timentos do Programa ABC, com informações do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor). Outra novidade do relatório é abordar o envolvimento, os desafios e as oportunidades das instituições financeiras privadas no desembolso dos recursos alocados para o Programa ABC voltados ao financiamento de projetos alinhados às tecnologias de baixa emissão de carbono no campo.

Os dados utilizados para as análises são do Banco Central (BACEN), com o qual o Observatório ABC estabeleceu uma parceria de compartilhamento da base do Sicor, que agrega as operações de crédito rural no Brasil. Em novembro de 2015, o Sicor passou a reportar as finalidades de investimentos das operações cadastradas. Por isso, neste estudo, o detalhamento das tec-nologias mais acessadas refere-se apenas ao período em que a informação foi disponibilizada (de novembro de 2015 a junho de 2016).

1 Veja o relatório completo em: http://observatorioabc.com.br/publicacoes.

Por BASTOS, Fabiano M. D. – Embrapa CerradosGado em pastagem com integração lavoura-pecuária-florestaFazenda Santa Brígida, Ipameri-GO

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Análise dos Recursos do Programa ABC

Sumário Executivo – Relatório 1 – Ano 3

O PLANO E O PROGRAMA ABC

O Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) foi elaborado em 2010 pelo governo federal com a intenção de reduzir as emissões do setor e contribuir para o combate ao aquecimento global. Ele faz parte de um conjunto de nove planos setoriais da Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC) do Brasil e possui grande importância para o agronegócio brasileiro e sua relação com o meio ambiente.

O Programa ABC é a principal linha de crédito ao produtor rural para o financiamento das metas e das tecnologias preconizadas no Plano ABC. Lançado no ano-safra 2010/11, foi aprovado por meio da Resolução BACEN n° 3.896, de 17 de agosto de 2010, e tem sido, desde então, incluído nos Planos Agrícolas e Pecuários (PAP) anualmente como uma linha de investimento. O Programa ABC conta com algumas finalidades de investimentos, o que se reflete nas tecnologias redutoras de emissões de gases do efeito estufa (GEE) incentivadas pelo Plano ABC.

O modelo de operação do Programa ABC conta com condições mais atrativas do que a média do mercado em termos de taxas de juros, carências e prazos de pagamento. É uma linha de crédito com taxas de juros equalizadas pelo Tesouro Nacional. Para obter o recurso, o produtor rural precisa apresentar um projeto técnico mostrando que o empregará de forma a mitigar as emissões de GEE. Essa é uma inovação na história do crédito rural brasileiro, já que as demais linhas são orientadas apenas por itens financiáveis, enquanto, no Programa ABC, os itens devem estar relacionados de modo que o objetivo ambiental seja assegurado.

As taxas de juros do Programa ABC variam, ao longo dos anos-safra, de acordo com a conjuntura econômica do período. O crescimento das taxas de juros do Programa ABC ao longo do tempo, associado a uma conjuntura econômica de baixo crescimento econômico, impactou negativamente o volume de desembolsos do Programa ABC.

TABELA 1 CONDIÇÕES DE FINANCIAMENTO DO PROGRAMA ABC POR ANO-SAFRA

ANO-SAFRA TAXA DE JUROS LIMITE DE CRÉDITO (EM R$ MILHÕES) PRAZO MÁXIMO CARÊNCIA

2010/11 5,5% a.a. 1 Doze anos Três anos

2011/12 5,5% a.a. 1 Até quinze anos Até oito anos

2012/13 5,0% a.a. 1 Até quinze anos Até seis anos

2013/14 5,0% a.a. 1 ou 3 (para plantio comercial de florestas) Até quinze anos Até seis anos

2014/15 5,0% a.a. ou 4,5% a.a. para médios produtores

2 ou 3 (para plantio comercial de florestas) Até quinze anos Até seis anos

2015/16 8,0% a.a. ou 7,5% a.a. para médios produtores

2. Para plantio comercial de florestas: 3 (até 15

módulos fiscais); e 5 (acima de 15 módulos fiscais)

Até quinze anos De três a oito anos

2016/17 8,0% a.a. ou 8,5% a.a. Não menciona Até quinze anos Três anos

Fonte: PAP (2010/11, 2011/12, 2012/13, 2013/14, 2014/15, 2015/16, 2016/17)

DESTAQUES DO RELATÓRIO

n O Plano Agrícola e Pecuário (PAP) aumentou em 20% a oferta de recursos para o setor agropecuário brasileiro para a safra 2015/16, disponibilizando R$ 187,7 bilhões. Para o Programa ABC, porém, foram destinados R$ 3 bilhões, 33% a menos em relação ao período anterior (R$ 4,5 bilhões).

n A conjuntura econômica refletiu-se nos resultados do Programa ABC. Entre 2015 e 2016, o Programa ABC desembolsou 68% dos recursos do valor disponibilizado pelo governo federal aos produtores rurais. Foram contratados R$ 2,05 bilhões.

n O Banco do Brasil (BB) continua a ser um importante agente financeiro do desembolso do Pro-grama ABC. Mas, na safra 2015/16, optou por trabalhar em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no repasse dos recursos, diminuindo a participação dos recursos de sua Poupança Rural, diferentemente do que ocorreu nas safras anteriores.

n O BNDES tornou-se, pela primeira vez, o maior desembolsador de recursos do Programa ABC por meio de repasses a outros bancos, aumentando sua participação de 11,7%, na safra 2014/15, para 58,8%, na safra 2015/16. Este resultado é fruto, principalmente, da atuação conjunta com o BB, além do trabalho de engajamento com os demais agentes financeiros, incluindo os bancos privados.

n O grande destaque, na safra 2015/16, foi a região Norte, a única a aumentar a contratação em relação ao período anterior, crescendo sua participação no Programa ABC de 9,6% para 17,4%. Este resultado é fruto de um processo de divulgação e capacitação das técnicas previstas no Programa ABC com produtores rurais da região, incluindo a presença de agentes do BNDES.

n Goiás foi, pela primeira vez, o estado que mais contratou recursos do Programa ABC, com R$ 366 milhões, seguido de Minas Gerais, com R$ 273 milhões. São Paulo, que sempre ficou com a segunda colocação, passou para a quarta posição (com R$ 194 milhões), enquanto Mato Grosso subiu uma posição e ficou com a terceira colocação (com R$ 248 milhões).

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Análise dos Recursos do Programa ABC

Sumário Executivo – Relatório 1 – Ano 3

Do montante contratado para a safra 2015/16, R$ 1.358 milhões foram desembolsados via BB (66%), R$ 557,6 milhões via BNDES (26%) e R$ 166,7 milhões por meio do Banco da Amazônia – BASA (8%)2. Como nas safras anteriores, o BB continua sendo importante agente na contratação dos recursos. Houve, porém, uma queda substancial do desembolso dos recursos de sua Poupança Rural: na safra 2014/15, os recursos foram R$ 3,1 bilhões e, na safra 2015/16, R$ 703,3 milhões, mais um reflexo da crise econômica.

FIGURA 2 PROGRAMA ABC: TOTAL CONTRATADO POR AGENTE REPASSADOR

1.272,87

2.743,21 2.741,303.270,86

1.358,91

351,99

306,48 286,12

388,27

527,61

166,71

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 2015/16*

R$ m

ilhõe

s

BB BNDES BASA

* As operações referentes ao BB e ao BASA incluem também as operações via BNDESFontes: BB; BNDES; Sicor

No entanto, o BB aumentou seu desembolso para o Programa ABC via repasse de recursos do BNDES para cerca de 50% de suas fontes de recursos. Historicamente, a principal fonte de recursos do BB era a Poupança Rural.

2 Esta é a primeira vez que o Observatório ABC segrega as operações contratadas via BASA, pois elas passaram a integrar a base de dados Sicor categorizadas desta maneira.

PROGRAMA ABC NA SAFRA 2015/16

O Plano Agrícola e Pecuário de 2015/16 (PAP 2015/16) aumentou a oferta de recursos para o setor agropecuário em 20% em comparação com a safra anterior, disponibilizando R$ 187,7 bilhões – R$ 149,5 bilhões para financiamentos de custeio e comercialização da produção e R$ 38,2 bilhões para créditos de investimentos.

Para o Programa ABC, foi prevista a aplicação de R$ 3,0 bilhões, 7,9% do total destinado às linhas de financiamento e 1,5% do PAP 2015/16. Isso representa uma diminuição de 33% em relação ao período anterior (R$ 4,5 bilhões). Como parte do esforço de ajustamento da economia, as taxas de juros do Programa foram revistas e fixadas em 8,0% a.a. ou 7,5% a.a. para médios produtores rurais e com prazo de reembolso de até quinze anos dependendo da finalidade de investimentos contratada. O período de carência concedido foi de três a oito anos.

A conjuntura econômica refletiu-se nos resultados do Programa ABC. A linha de crédito teve 68% de desembolso aos produtores rurais em relação ao valor disponibilizado, sendo contratado um total de R$ 2,05 bilhões. Na safra anterior (2014/15), a performance da linha atingiu 81% de contratações, o melhor resultado desde o lançamento do Programa – que nunca obteve 100% de sucesso.

FIGURA 1 PROGRAMA ABC: TOTAL CONTRATADO X TOTAL DISPONIBILIZADO

5,04,54,03,53,02,52,01,51,00,5

0

R$ b

ilhõe

s

Total contratado Total disponibilizado

2011/12

R$ 3,15

R$ 1,62

2012/13

R$ 3,40

R$ 3,05

2013/14

R$ 4,50

R$ 3,03

2014/15

R$ 4,50

R$ 3,66

2015/16

R$ 3,00

R$ 2,05

2010/11

R$ 2,00

R$ 0,42

Fontes: BB; BNDES; Sicor

O número de contratos aprovados foi de 6.353, uma queda de 57% em relação ao período ante-rior. O valor médio contratado foi de R$ 323.191 por contrato, contra R$ 243.909 na safra anterior, indicando que menos produtores rurais conseguiram acesso aos recursos.

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Análise dos Recursos do Programa ABC

Sumário Executivo – Relatório 1 – Ano 3

MAIOR PARTICIPAÇÃO DO BNDES

FIGURA 5 PROGRAMA ABC: TOTAL CONTRATADO POR AGENTE REPASSADOR COM FONTE DE RECURSOS DO BNDES NA SAFRA 2015/16

(TOTAL: R$ 1.195 MILHÕES)

642,79

225,72

93,73 44,36 40,49 37,80 36,98 16,30 15,93 13,00 9,32 6,44 4,78 2,55 2,00 1,93 0,90 0

100

200

300

400

500

600

700

R$ m

ilhõe

s

BCO. DO BRASIL S. A

.

BCO. BRADESCO S. A

.

BCO. SANTA

NDER (BRASIL) S

. A.

BD. REGIO

NAL DO EXTREMO SUL

BCO. DA AMAZÔNIA

S. A.

BCO. RABOBANK IN

TL BRASIL S. A.

BANCOOB

ITAÚ U

NIBANCO BM S. A.

BCO. DO ESTA

DO DO RS S. A

.

BCO. COOPERATIVO SICREDI S

. A.

BCO. DE D

ES. DE M

G S. A.

BCO. VOTORANTIM

S. A.

BRB – BCO. DE BRASÍLIA

S. A.

DESENBA AG FOMENTO BA S. A.

DESENBAHIA AG FOMENTO BAHIA

S. A.

BCO. DES. D

O ES S. A.

BADESUL DESENVOLV

IMENTO AF/R

S

Fonte: Sicor

O BNDES aumentou seu protagonismo no repasse do ABC para a safra 2015/16, tornando-se, pela primeira vez, o maior desembolsador de recursos do Programa. De acordo com o banco, isso é resultado de:

n Maior aproximação com agentes repassadores, em especial o BB;

n Maior esforço do banco na capacitação técnica de instituições financeiras parceiras sobre o processo de crédito do Programa ABC;

n Maior participação do banco em feiras e eventos;

n Desenvolvimento e lançamento de uma plataforma eletrônica para acelerar o processo de análise dos dados de crédito – o aplicativo BNDES Agro;

n Melhorias no processo interno do BNDES que levaram a uma maior celeridade na análise das operações de crédito.

FIGURA 3 PROGRAMA ABC: PARTICIPAÇÃO DAS FONTES DE RECURSOS NO TOTAL CONTRATADO NA SAFRA 2014/15

Poupança Rural(BB)

84,81%

FCO3,38%

BNDES11,76%

IHCD0,05%

Fonte: Sicor

FIGURA 4 PROGRAMA ABC: PARTICIPAÇÃO DAS FONTES DE RECURSOS NO TOTAL CONTRATADO NA SAFRA 2015/16

Poupança Rural(BB)

33,58%

FCO1,30%

BNDES58,88%

FNE0,10%

FNO6,15%

Fonte: Sicor

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Análise dos Recursos do Programa ABC

Sumário Executivo – Relatório 1 – Ano 3

FIGURA 7 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS RECURSOS DO PROGRAMA ABC PARA A SAFRA 2015/16

Fonte: Sicor

A concentração dos recursos do Programa ABC no Centro-Oeste e no Sudeste, porém, ainda indica a presença de rede de assistência técnica mais ramificada e atuante nestas regiões e, por consequência, maior interesse e demanda pelos recursos.

Goiás, pela primeira vez, saiu na frente na contratação dos recursos destinados ao Programa ABC, com R$ 366 milhões, seguido de Minas Gerais, com R$ 273 milhões. São Paulo, que sempre obteve a segunda posição, ficou na quarta posição (com R$ 194 milhões) e Mato Grosso subiu uma posição em relação ao período anterior (com R$ 248 milhões).

Total desembolsado por município – safra 2015/16 (R$ milhões)

Até 1

1 a 3

3 a 5

5 a 10

Acima de 10

DISTRIBUIÇÃO REGIONAL: NORTE AUMENTA PARTICIPAÇÃO

As regiões Centro-Oeste e Sudeste continuaram a ser as que mais captaram os recursos do Programa ABC, com 37,9% e 23,7% do total, respectivamente. A região que menos captou, com 10,1%, foi a Sul – a primeira vez desde o início do Programa ABC nesta posição. As regiões Norte e Nordeste contrataram, respectivamente, 17,4% e 10,9% dos recursos.

FIGURA 6 PROGRAMA ABC: PARTICIPAÇÃO REGIONAL NO TOTAL CONTRATADO

N NE S SECO

2011/12 2015/16

32,2%

22,0%

6,2%8,4%

31,2%

2012/13

35,3%

15,9%

7,2%8,3%

33,3%

2013/14

34,2%

10,1%

8,9%

10,4%

36,4%

2014/15

33,1%

11,7%

10,9%

9,6%

34,7%

23,7%

10,1%

10,9%

17,4%

37,9%

Fontes: BB; BNDES; Sicor

A região Norte aumentou consideravelmente a contratação em relação ao período anterior (de 9,6% para 17,4%). Este resultado é fruto de um processo de divulgação e capacitação das técnicas previstas no Programa ABC com produtores rurais da região Norte, incluindo a presença de agentes do BNDES. É possível constatar o avanço do Programa ABC na região por meio da observação da presença de alguns municípios que contrataram mais de R$ 5 milhões nesta safra. O município que mais contratou recursos do Programa no País foi Uruará, no Pará, com R$ 28 milhões.

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Análise dos Recursos do Programa ABC

Sumário Executivo – Relatório 1 – Ano 3

PROGRAMA ABC E INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS PRIVADAS

Mesmo com a retração econômica em 2015 de 3,8% no PIB brasileiro, o setor do agronegócio con-seguiu crescer 0,4%, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Na composição deste valor, a agricultura sozinha cresceu 1,12%. O cenário atual demonstra a redução da capacidade de investimento do setor público, provocada por transformações pelas quais passou a economia brasileira em função do seu elevado déficit fiscal. Tal conjuntura favorece o esgotamento das fontes tradicionais de financiamento do agronegócio nacional, tais como os depósitos à vista, a Poupança Rural, os recursos do BNDES e os fundos constitucionais.

Nesse sentido, novas fontes de recursos destinados ao crédito rural precisam ser fortalecidas, de modo a sustentar o crescimento do setor agropecuário brasileiro, contexto que inclui o Programa ABC, parte integrante do PAP. Por isso, a participação do setor financeiro privado é fundamental, sobretudo considerando-se que o volume de recursos destinados ao financiamento de um novo modo de produção no campo, alinhado aos princípios do desenvolvimento sustentável, deve aumentar substancialmente para garantir o alcance das metas internacionais do Acordo de Paris.

As instituições financeiras privadas e as cooperativas no Brasil desembolsaram via Programa ABC, na safra 2015/16, um total de R$ 424 milhões. Este montante representa 21% do total desembolsado no período e um aumento de 10% em relação à safra anterior (2014/15). Esses resultados sinalizam a existência de uma grande margem para a expansão da atuação de agentes privados e cooperativos no Programa.

O Bradesco foi a instituição que mais contratou operações na safra 2015/16, com R$ 225 milhões e aproximadamente 54% do total contratado por instituições financeiras privadas e cooperativas. Em segundo e terceiro lugares, estão o Santander e o Rabobank, respectivamente.

RECOMENDAÇÕES

n ABC Orgânico: mesmo não discriminada no Plano ABC, há operações destinadas ao financiamento da produção orgânica. Mas, embora a produção orgânica seja ambientalmente mais amigável do que a convencional, ainda não está comprovado cientificamente seu potencial de mitigação de GEE. O alinhamento completo das finalidades de investimentos do Programa ABC ao determinado pelo Plano ABC é importante para o correto monitoramento da política pública e a avaliação de sua efetividade.

n ABC Ambiental: apesar de ainda ser pouco acessada, é a principal linha de crédito destinada espe-cificamente ao financiamento da regularização ambiental das propriedades rurais de acordo com o previsto no Código Florestal, ou seja, a restauração florestal das Áreas de Preservação Permanente (APP) e as Reservas Legais (RL). Os entraves que impedem a expansão desta linha necessitam ser trabalhados com urgência por todos os agentes no processo de desembolso dos recursos.

n Áreas prioritárias: para permitir um desembolso de acordo com uma estratégia espacial, a atuação dos agentes financiadores do Programa ABC poderia levar em consideração áreas prioritárias em termos de mitigação de GEE na atmosfera, como, por exemplo, as com altas quantidades de pastos degradados.

FIGURA 8 PROGRAMA ABC: TOTAL CONTRATADO NA SAFRA 2015/16 POR ESTADO (R$ 2,05 BILHÕES)

0

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

350,00

400,00

GO MG MT SP MS TO BA RS PA PR RO MA PI AC SC ES RR RJ PE RN DF CE AL AM AP SE PB

R$ m

ilhõe

s

Fonte: Sicor

FINALIDADE DE INVESTIMENTOS3

A recuperação de pastagens continua a ser o carro-chefe do Programa ABC, com R$ 982 milhões desembolsados (48% do total). É relevante o crescimento em relação a safras passadas da contratação de recursos para plantio direto, que participou com 27% do total desembolsado. O montante in-formado como “não disponível” é referente às contratações de junho a outubro de 2015, que não discriminaram a finalidade de investimentos na base Sicor.

FIGURA 9 PROGRAMA ABC: TOTAL CONTRATADO POR FINALIDADE DE INVESTIMENTOS NA SAFRA 2015/16

982,64

558,94

197,23 117,11 90,08 79,95

9,58 7,69 7,49 2,00 0,53 0

200

400

600

800

1.000

1.200

R$ m

ilhõe

s

NÃO DISPONÍVEL

PLANTIO D

IRETO

FLORESTA

S

INTEGRAÇÃO

FUNDOS

DEJETOS

AMBIENTAL

FNO

FIXAÇÃO

ORGÂNICOS

RECUPERAÇÃO

Fonte: Sicor

3 Informações referentes a operações contratadas a partir de novembro de 2015, quando passaram a estar disponíveis na base do Sicor.

1716

Análise dos Recursos do Programa ABC

Sumário Executivo – Relatório 1 – Ano 3

RECOMENDAÇÕES

n Flexibilização de algumas exigências: é uma medida interessante, em prol de maior agilidade e desburocratização do processo de contratação das operações do Programa ABC, na medida em que garante o correto enquadramento dos projetos financiáveis aos objetivos ambientais da linha. Esses objetivos devem ser rigorosamente monitorados, tarefa que está a cargo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por meio da implementação do Laboratório Multi-Institucional de Monitoramento do Plano ABC (LiM-ABC). O laboratório é dedicado a reunir dados técnicos de todo o País relacionados às práticas da agricultura de baixa emissão de carbono e monitorar a redução das emissões de GEE na agropecuária brasileira.

n Inclusão de grandes empresas: instituições financeiras privadas buscam ampliar os atuais beneficiários da linha de crédito (produtores rurais como Pessoas Físicas e Jurídicas), incluindo grandes empresas das cadeias agrícola e pecuária, que atuariam repassando os recursos à sua rede de fornecedores. Esse elo da cadeia seria complementar ao atual público-alvo da linha e possibilitaria a utilização de recursos livres das instituições financeiras privadas para contratação de operações com finalidades alinhadas ao Programa ABC. Esse novo modelo favoreceria um balanço mais favorável aos bancos privados em termos de taxas, condições e cumprimento das exigências de monitoramento do programa.

FIGURA 10 PROGRAMA ABC: TOTAL CONTRATADO POR INSTITUIÇÃO FINANCEIRA PRIVADA E COOPERATIVA NA SAFRA 2015/16

(TOTAL: R$ 424 MILHÕES)

225,72

93,73

37,80 36,98 16,30 9,32 4,78

BCO. BRADESCO S. A. BCO. SANTANDER(BRASIL) S. A.

BCO. RABOBANKINTL BRASIL S. A.

BANCOOB ITAÚ UNIBANCOBM S. A.

BCO. COOPERATIVOSICREDI S. A.

BCO. VOTORANTIMS. A.

0

50

100

150

200

250

R$ m

ilhõe

s

Fonte: Sicor

As instituições financeiras privadas podem construir estratégias para estreitar o relacionamento com clientes da cadeia do agronegócio. No entanto, sabe-se que a sua participação marginal na liberação de recursos do Programa ABC é consequência de uma série de entraves de distintas naturezas, desde processuais até estratégicos. Entre os fatores que limitam a expansão do desembolso do Programa ABC por instituições financeiras privadas, estão:

n Baixa remuneração dos agentes repassadores: a taxa de remuneração recebida por cada ope-ração é fixa, o que desestimula a atuação desses agentes. Caso tal taxa fosse móvel, seguindo a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), por exemplo, poderia se tornar mais atraente para o agente repassador;

n Risco dos agentes financeiros: prazos e carências dos projetos relacionados ao Programa nem sempre são atrativos para as instituições financeiras privadas, considerando o perfil de risco-re-torno destas instituições;

n Alto custo de observância: para o desembolso do Programa ABC, os bancos devem seguir as normas previstas pelo Manual de Crédito Rural (MCR) e operar em conjunto com o BNDES. Os custos incorridos na observação de todas as normas e no processo de monitoramento são dedu-zidos da rentabilidade da instituição financeira. Além disso, existe o risco de desclassificação da operação pela fiscalização do BNDES caso não haja conformidade do projeto com a realidade, mesmo após o desembolso;

n Disponibilidade de funding: o Programa ABC prevê que as instituições financeiras privadas façam repasses dos recursos provisionados pelo governo federal via BNDES, não sendo possível o uso de outras fontes de recursos. O uso de recursos livres disponíveis nestas instituições implicaria taxas mais elevadas para o produtor rural, inviabilizando a operação;

n Beneficiários: o Programa ABC estabelece um limite máximo de recursos que pode ser contratado por operação. Esses limites são considerados baixos para o atendimento de grandes produtores, deixando grandes empresas da cadeia agrícola excluídas do rol de beneficiários do Programa.

shut

ters

tock

www.observatorioabc.com.br

GV AGROCENTRO DE ESTUDOSDO AGRONEGÓCIO

EESP