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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnPPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD

Instituições de DireitoPúblico e Privado

Livro-texto EaD

Natal/RN2011

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.ad etrauD oirégoR ,avliS i685S Instituições de Direito Público e Privado / Rogério Duarte da Silva. – Natal: EdUnP, 2011. 261p. : il. ; 20 cm

Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN 978-85-61140-84-7

1. Direito Público – Direito Privado. I. Título.

743+243 UDC FSCB/PnU/NR

DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

ReitoriaSâmela Soraya Gomes de Oliveira

Pró-Reitoria de Graduação e Ação ComunitáriaSandra Amaral de Araújo

Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-GraduaçãoAarão Lyra

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIADA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

Coordenação Geral Barney Silveira Arruda

Luciana Lopes Xavier

Coordenação PedagógicaEdilene Cândido da Silva

Coordenação de Produçãode Recursos Didáticos

Michelle Cristine Mazzetto Betti

Coordenação de Produção de VídeosBruna Werner Gabriel

Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes

Revisão de Linguageme Estrutura em EaDPriscilla Carla Silveira MenezesThalyta Mabel Nobre BarbosaÚrsula Andréa de Araújo Silva

Apoio AcadêmicoFlávia Helena Miranda de Araújo Freire

Assistente AdministrativoEliane Ferreira de SantanaGabriella Souza de Azevedo Gibson Marcelo Galvão de SousaGiselly Jordan Virginia Portella

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Rogério Duarte da Silva

Instituições de DireitoPúblico e Privado

1a edição

Natal/RN2011

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EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS DA UnP

Coordenação de Produção de Recursos Didáticos

Michelle Cristine Mazzetto Betti

Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD

Thalyta Mabel Nobre Barbosa

Ilustração do Mascote

Lucio Masaaki Matsuno

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO

Delinea - Tecnologia Educacional

Coordenação Pedagógica

Margarete Lazzaris Kleis

Coordenação de Editoração

Charlie Anderson OlsenLarissa Kleis Pereira

Coordenação de Revisão e Linguagem em EaD

Simone Regina Dias

Revisão Gramatical e Linguagem em EaD

Eduard Marquardt

Coordenação de Diagramação

Cristina Assumpção

Diagramação

Valdir Siqueira

Ilustrações

Alexandre Beck

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ROGÉRIO DUARTE DA SILVA

Olá! Antes de iniciarmos os trabalhos com a disciplina, gostaria

de me apresentar. Sou graduado em Direito pela Universidade

Federal de Pelotas (UFPel), 1997. Em 2001 concluí meu mestrado em

Ciência Jurídica – área de concentração Direito, Estado e Sociedade

pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Desde 1999

atuo como docente, inicialmente na Universidade do Sul de Santa

Catarina e na Universidade do Vale do Itajaí, e atualmente junto

à Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis, em disciplinas

como Introdução ao Direito, Direito Administrativo e Direito

Constitucional. Durante esse período, também ministrei disciplinas

em cursos de pós-graduação lato sensu. Aqui serei o conteudista da

disciplina de Instituições de Direito Público e Privado, pensando em

apresentar a você as noções básicas do direito, buscando relacionar

alguns conceitos da área a outros campos do conhecimento.

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INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO

Ao iniciarmos uma disciplina que aborda questões relacionadas

ao direito para alunos que não estão cursando a graduação em direito,

uma pergunta é inevitável: qual o seu objetivo?

Acredito que, rapidamente, você pensou em respostas como:

quero saber quais direitos tenho, quero responder perguntas sobre

problemas de meus amigos ou familiares decorrentes da compra de um

carro ou de uma geladeira, dentre tantas outras observações que você

pode fazer.

Iniciar uma disciplina que busca apresentar conceitos e ideias

básicas ao aluno nem sempre é uma tarefa simples. A perspectiva de

facilitar o conteúdo não pode deixar de lado a honestidade de abordar

alguns tópicos essenciais para se compreender o básico. Essa disciplina

que você está iniciando agora busca apresentar conceitos e ideias que

permitam compreender o fenômeno jurídico de forma simples.

A análise das instituições de direito público e privado trará, como

um dos temas da disciplina, a relação entre o direito e outras áreas do

conhecimento que são importantes para uma melhor compreensão

do fenômeno jurídico. Falar de direito, moral, sociedade e estado é

essencial para uma correta compreensão do sentido da ordem jurídica

e dos reflexos que ela causa no cotidiano de nossas vidas.

Em muitos momentos, quando falamos de questões jurídicas,

surgem questionamentos sobre o sentido do direito nas relações

entre pessoas, sobre os valores jurídicos, problemas éticos ou

morais ou que relação existe entre direito e justiça.

Assim você, estudante, terá diante de si um desafio: compreender

os elementos principais do direito e suas relações com outros ramos.

Por meio de uma introdução ao direito público e privado, apresentarei

a você uma estrutura que lhe permitirá conhecer o funcionamento da

matéria. Aqui, minha função é mostrar esses conceitos, estabelecer

relações entre eles, indicar livros e sites que complementem seus

conhecimentos e que sirvam para os objetivos do seu curso.

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Os desafios que surgirão neste estudo podem ser superados com leitura

e reflexão sobre os assuntos propostos. O direito pode parecer num primeiro

momento complexo e excessivamente abstrato, mas com uma análise mais

profunda poderemos atingir o objetivo de compreender os elementos básicos

da disciplina. Repito: um estudo focado no objetivo da disciplina e a leitura dos

pontos indicados ao final de cada capítulo tornarão sua tarefa muito mais simples.

Aqui termino essa apresentação, convidando você a iniciar o estudo e

refletir sobre as instituições de direito público e privado. Assim, ao final do curso,

com certeza teremos atingido os nossos objetivos.

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Capítulo 1 - Sociedade, moral, ética e direito ........................................... 15

1.1 Contextualizando ......................................................................................................... 151.2 Conhecendo a teoria ................................................................................................... 16 1.2.1 O conceito de sociedade ................................................................................... 16 1.2.2 O conceito de ética .............................................................................................. 21 1.2.3 O conceito de moral ............................................................................................ 23 1.2.4 Etimologia da palavra direito........................................................................... 26 1.2.5 Denominações e conceitos ............................................................................. 261.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 35 1.4 Para saber mais ............................................................................................................. 371.5 Relembrando .................................................................................................................. 38 1.6 Testando os seus conhecimentos ........................................................................... 38Onde encontrar ..................................................................................................................... 39

Capítulo 2 - Justiça, cidadania e direito ..................................................... 41

2.1 Contextualizando ......................................................................................................... 412.2 Conhecendo a teoria ................................................................................................... 42 2.2.1 Direito objetivo e direito subjetivo ............................................................... 42 2.2.2 Distinção e características ................................................................................ 47 2.2.3 O conceito de justiça .......................................................................................... 56 2.2.4 O conceito de cidadania .................................................................................... 592.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 612.4 Para saber mais ............................................................................................................. 632.5 Relembrando ................................................................................................................. 642.6 Testando os seus conhecimentos ........................................................................... 64Onde encontrar .................................................................................................................... 66

Capítulo 3 - Dos direitos do cidadão ......................................................... 67

3.1 Contextualizando ......................................................................................................... 673.2 Conhecendo a teoria ................................................................................................... 68 3.2.1 Os direitos fundamentais na Constituição de 1988 ................................ 73 3.2.2 Os direitos de liberdade..................................................................................... 82 3.2.3 O direito de igualdade ....................................................................................... 873.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 943.4 Para saber mais ............................................................................................................. 953.5 Relembrando ................................................................................................................. 963.6 Testando os seus conhecimentos ........................................................................... 96Onde encontrar ..................................................................................................................... 98

Capítulo 4 - Dos direitos do consumidor ................................................................. 99 4.1 Contextualizando .......................................................................................................... 994.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................100 4.2.1 Dos princípios do direito do consumidor .................................................102 4.2.2 Do fornecedor e do consumidor ..................................................................106 4.2.3 Temas polêmicos do direito do consumidor: vícios e outros problemas da relação de consumo ........................................................................1154.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................. 1214.4 Para saber mais ............................................................................................................123

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SU

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4.5 Relembrando .........................................................................................................................................124 4.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................124 Onde encontrar ............................................................................................................................................127

Capítulo 5 - Das garantias do cidadão e dos meios de exercício da cidadania .........129 5.1 Contextualizando .................................................................................................................................129 5.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................130 5.2.1 As garantias previstas na Constituição de 1988 ..............................................................130 5.2.2 O conceito de cidadania na Constituição de 1988 .........................................................141 5.2.3 Os meios de exercício da cidadania na Constituição de 1988 ....................................1425.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................150 5.4 Para saber mais .....................................................................................................................................152 5.5 Relembrando .........................................................................................................................................153 5.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................153 Onde encontrar ............................................................................................................................................155

Capítulo 6 - Biodireito ..................................................................................................157

6.1 Contextualizando .................................................................................................................................157 6.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................158 6.2.1 Do conceito de biodireito ........................................................................................................159 6.2.2 Dos princípios do biodireito ...................................................................................................163 6.2.3 Questões polêmicas relacionadas ao biodireito ..............................................................1696.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................178 6.4 Para saber mais .....................................................................................................................................179 6.5 Relembrando .........................................................................................................................................180 6.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................181 Onde encontrar ............................................................................................................................................183

Capítulo 7 - O estado e a separação de poderes ........................................................185

7.1 Contextualizando .................................................................................................................................185 7.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................186 7.2.1 O conceito de Estado .................................................................................................................186 7.2.2 A separação de poderes e seus sentidos ............................................................................189 7.2.3 O acesso à justiça na Constituição de 1988 ......................................................................2187.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................220 7.4 Para saber mais .....................................................................................................................................2227.5 Relembrando .........................................................................................................................................223 7.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................223 Onde encontrar ............................................................................................................................................225

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Capítulo 8 - O profi ssional e sua contribuição para a evolução da sociedade .........227

8.1 Contextualizando .................................................................................................................................227 8.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................228 8.2.1 O profi ssional do século 21 e suas perspectivas ..............................................................228 8.2.2 O profi ssional e a responsabilidade social .........................................................................235 8.2.3 O profi ssional do século 21 e sua colaboração para a transformação da sociedade ..........................................................................................................................................2458.3 Aplicando a teoria na prática ........................................................................................................... 2508.4 Para saber mais .....................................................................................................................................251 8.5 Relembrando .........................................................................................................................................252 8.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................252 Onde encontrar ............................................................................................................................................254

Referências ....................................................................................................................257

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Capítulo 1

15Instituições de Direito Público e Privado

SOCIEDADE, MORAL, ÉTICA E DIREITO

CAPÍTULO 11

1.1 Contextualizando

Neste primeiro momento, abordaremos questões relacionadas aos

conceitos de sociedade, ética, moral e acepções da palavra direito para tratar

dos seus principais elementos e estabelecer as relações existentes. Nosso

primeiro objeto de estudo será o conceito de sociedade para que se tenha

clareza sobre seu sentido e as variações possíveis, pois da vida em sociedade

surgem os valores éticos e morais, o Estado e o direito.

É importante que você compreenda bem esses conceitos e relações, pois

serão fundamentais para o seu estudo futuro. O direito não pode ser estudado

só com base no que está escrito nas leis, pois desta forma teríamos um curso

de leituras e não de entendimento do significado do texto. A(s) lei(s) é/são

apenas o ponto de partida e de nada servem se o seu estudo for realizado de

forma isolada. Estudar direito – no nosso caso, as instituições de direito público

e privado – significa tentar entender o complexo de relações existentes na

sociedade e como elas interferem na criação de leis que vão regular a conduta

do homem. E não só isso, pois questões como a ética e a moral estão sempre

relacionadas aos institutos jurídicos, em maior ou menor escala, em razão

da vontade de grupos que possuem maioria no Legislativo e que em alguns

momentos conseguem impor sua moral aos outros grupos em forma de lei.

Você está, portanto, iniciando um estudo complexo e muito interessante.

Independente do fato de esta disciplina não estar sendo direcionada para um

curso de graduação em direito, considere que ela poderá lhe trazer conceitos

básicos que poderão ser aplicados em diversos momentos da carreira escolhida

por você, permitindo compreender de forma mais clara alguns debates

importantes de nossa sociedade.

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Capítulo 1

16 Instituições de Direito Público e Privado

1.2 Conhecendo a teoria

1.2.1 O conceito de sociedade

A palavra sociedade é um daqueles termos que possuem diversos

significados, tornando sua compreensão confusa. Em alguns momentos

falamos essa palavra em um sentido A, outros em um sentido B e logo em

seguida em um sentido C.

Assim, para início deste estudo, o primeiro ponto é visualizar um conceito

sobre sociedade tal como o formulado pelo sociólogo norte-americano Talcott

Parsons. Diz ele: “sociedade é uma das palavras mais genéricas que existe

para referir todo o complexo de relações do homem com seus semelhantes”

(PARSONS apud BONAVIDES, 1999, p. 47).

O estudo do direito nunca pode ser feito de forma isolada, pois as leis servem para regular a conduta social. Aplicar a lei em casos concretos significa interferir na vida das pessoas. Considere, portanto, que direito, em maior ou menor escala, sempre interfere em seu cotidiano e que os conhecimentos básicos podem auxiliar você em muitas situações de vida.

SAIBA QUE

A sociedade está diretamente relacionada à vida do homem em

relação aos atos que desempenha na convivência com seus semelhantes,

pois se vivesse isolado não teria sentido o estudo das relações sociais. A

vida do homem em sociedade traz muitos benefícios, mas também cria uma

série de limitações que, em alguns momentos, afetam a liberdade humana.

Em vários momentos e nas ações mais cotidianas somos limitados por regras

que nos impedem de praticar algo que desejamos em nome do respeito

a condutas sociais estabelecidas ou a regras jurídicas que visam limitar

o exercício de direitos para que possamos viver o mais harmonicamente

possível (DALLARI, 1998). As limitações devem ser encaradas como algo

necessário ao convívio social e são constantemente objeto de análises

para seu aperfeiçoamento, visando enfrentar e ordenar os problemas que

surjam na sociedade.

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Capítulo 1

17Instituições de Direito Público e Privado

Desta forma, viver em sociedade é algo complexo e estudar o seu

significado acaba trazendo uma série de elementos relacionados. Aqui,

nosso objetivo é mais simples e pontual, pois sem adentrarmos nas várias

teorias e acepções, buscamos apenas ter clareza sobre sua formação e seu

sentido, partindo do conceito já apresentado.

Figura 1 – Convívio socialFonte: <http://maricaense.com.br>

Figura 2 – Manifestantes em defesa da democracia se concentram em frente à Faculdade de Direito do Largo São Francisco Fonte: <www.blogs.estadao.com.br>.

As figuras anteriores demonstram como o convívio social está na base da

vida do ser humano, gerando praticamente todos os fatos e acontecimentos

que vivemos ao longo de nossa existência.

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Capítulo 1

18 Instituições de Direito Público e Privado

Se a vida em sociedade é algo essencial ao homem, como podemos justificá-la? A vida em sociedade é algo natural ou produto de um acordo entre os homens?

REFLEXÃO

A base para responder essa reflexão, tão importante para você que está

começando agora o estudo da disciplina e está tendo seu primeiro contato

com o tema, pode ser encontrada nas teorias da sociedade natural ou da

sociedade como ato de escolha.

A primeira teoria, da sociedade natural, surge com o pensamento do

filósofo grego Aristóteles, tendo como expoente São Tomás de Aquino e

outros. Para esses autores, o homem viver em sociedade é uma consequência

de sua natureza, pois somente um ser superior ou desprezível abdicaria da

vida social (DALLARI, 1998). Sendo um animal político e social, o homem tem

necessidade de viver em sociedade.

Desta forma, para os adeptos desta concepção teórica o homem é

induzido por uma necessidade natural, pois viver junto a outros seres humanos

é condição essencial devida. Pela união com outros seres humanos é que

conseguimos satisfazer nossas necessidades (DALLARI, 1998).

Nesta concepção, a vida em sociedade é produto de um impulso natural de associação do ser humano.

Outra concepção teórica importante sobre a formação da sociedade é a

contratualista. Para esses autores, que têm por expoentes o pensador francês

Jean-Jacques Rousseau e os ingleses Thomas Hobbes e John Locke, a vida em

sociedade é produto não de um impulso natural de associação, mas sim de um

acordo de vontades, sendo um contrato hipotético celebrado entre os homens

(DALLARI, 1998).

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Capítulo 1

19Instituições de Direito Público e Privado

O contratualismo é uma das teorias mais conhecidas e com grande

diversidade sobre as explicações que levam o homem a viver em sociedade. Não

aprofundaremos aqui essas questões, pois nosso objetivo é apenas diferenciar,

de forma sintética, as duas principais teorias sobre a formação da sociedade.

Para os contratualistas, a vida em sociedade é produto não de um impulso natural de associação, mas sim de um acordo de vontades, sendo um contrato hipotético celebrado entre os homens.

Atualmente, conforme as posições apresentadas, a corrente mais

aceita em relação à formação e ao sentido de sociedade, segundo Dallari

(1998), é a da sociedade natural.

O contratualismo está fundamentado em obras clássicas como o Leviatã de Thomas Hobbes e O contrato social de Jean-Jacques Rousseau, um dos mais importantes autores desta corrente teórica. Seu pensamento é considerado a base da ideia de democracia. Essas obras clássicas têm inúmeras leituras e continuam provocando divisão entre seus estudiosos até os dias atuais.

CURIOSIDADE

Se já temos uma noção sobre o conceito e formação da sociedade, uma

pergunta surge: existem características que podem definir um agrupamento

humano como uma sociedade ou qualquer agrupamento humano é,

automaticamente, uma sociedade? Essa é uma pergunta importante neste

início do estudo para podermos delimitar claramente o significado da

sociedade como agrupamento de pessoas.

Dallari (1998) considera que uma sociedade, para ser considerada como

tal, deve reunir três características básicas:

• uma finalidade ou valor social;

• manifestações de conjunto ordenadas;

• o poder social.

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Capítulo 1

20 Instituições de Direito Público e Privado

A finalidade ou valor social tem suscitado, ao longo dos tempos, intensos

debates sobre a sua existência ou não. Para nosso estudo, adotaremos a linha

de que existe uma finalidade social e que pode ser encontrada no bem comum.

Esse bem comum pode ser resumido como uma busca por criar condições para

que homem e cada grupo social atinjam seus respectivos fins particulares.

A sociedade que não pensar no bem de todos, procurando promover o

bem somente para alguns grupos, estará desviada de sua finalidade e pode ter

comprometidos os objetivos que justificam sua existência (DALLARI, 1998). O

bem comum assume, nos dias atuais, uma enorme importância em razão das

grandes diferenças existentes entre os homens e os problemas ocasionados

por essas diferenças. Assim, uma sociedade que tenha como objetivo alcançar

o bem comum será, necessariamente, uma sociedade com mais justiça social e

com condições dignas de vida aos seus habitantes.

As manifestações sociais ordenadas buscam orientar as ações sociais

num determinado sentido, buscando uma ação harmônica dos membros

da sociedade, com o intuito de preservar a liberdade de todos – valor

importantíssimo dentro de uma sociedade que busca promover o bem comum

(DALLARI, 1998). Uma das formas de ordenar uma sociedade, buscando

garantir a preservação de valores como a liberdade, é por meio do direito.

O último elemento definidor de uma sociedade é o poder social, que pode

ser entendido como um fenômeno social, bilateral, em que uma das vontades

predomina. Ele pode ser considerado como o núcleo dos estudos sociais (DALLARI,

1998). O estudo do poder, em relação ao estudo do direito, assume um papel

importante em razão de que as leis em vários momentos limitam o poder tanto

dos governantes como de grupos majoritários da sociedade. O marco inicial

desta limitação de poder pode ser considerado a Revolução Francesa (1789).

Considerando as diversas teorias esboçadas, procure refletir sobre como você percebe cada elemento integrante do conceito de sociedade nas suas ações diárias.

REFLEXÃO

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Capítulo 1

21Instituições de Direito Público e Privado

Figura 3 - Elementos defi nidores da sociedade

SOCIEDADE

Finalidade social Condutas ordenadas Poder social

Assim, encerramos esta breve explicação sobre a sociedade e seus

elementos definidores. Este esquema serve para termos clareza sobre sua

formação e nos prepara para trabalharmos questões que estão diretamente

relacionadas à vida em sociedade, como a ética, a moral e o direito.

1.2.2 O conceito de ética

Entendido o conceito de sociedade, chega o momento de falar sobre

algo importante na vida social: a ética. A palavra ética é oriunda do grego

ethos, e está relacionada ao modo de ser.

Pense comigo: quantas vezes você já rotulou alguém como antiético e o

fez com base em um conceito ou ideia muito bem definida? Provavelmente

poucas vezes, e isso é normal justamente pelo fato de a ética estar naquela

região em que todos a conhecem como expressão, mas poucos têm real

conhecimento do seu significado. E quantas vezes você foi cobrado eticamente

por suas atitudes e ficou surpreso, pois seus atos não pareciam ter agredido

a ética? Com certeza, isso ocorreu inúmeras vezes e ainda outras situações

ocorrerão no decorrer de sua vida.

A questão da ética (e também da moral) pode ser observada em questões

cotidianas, como: devo cumprir o que acordei ontem com meus colegas de

trabalho mesmo percebendo que isso me trará prejuízos? Em uma guerra, um

soldado que participa de um massacre de seu exército em relação ao inimigo

pode ser moralmente condenado? Posso mentir para minha namorada para

sair com meus amigos? E se ela também mentir pra mim para sair com suas

amigas? Veja a complexidade das questões colocadas e a dificuldade de

respondermos a elas.

Uma definição de ética que servirá como marco inicial de nosso estudo

é a de Adolfo Sanchez Vazquez. Diz o autor: “Ética é a teoria ou ciência do

comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma

forma específica de comportamento humano” (SANCHEZ VAZQUEZ, 1997, p. 12).

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Capítulo 1

22 Instituições de Direito Público e Privado

Neste conceito, observa-se a preocupação com a questão de trabalhar

a ética sob um aspecto teórico, pelo qual ela possui como objeto próprio

o estudo da realidade humana chamada moral. Aqui, a ética tem a função

de ser a busca pela teorização da moral, tentando encontrar justificativas e

fundamentações.

A ética possui um caráter universal e busca orientar as ações humanas.

Seu estudo, e de suas relações, cabe principalmente à filosofia e, em razão

disso, faremos apenas abordagens que sirvam para nosso propósito de

relacionar ética e direito.

Figura 4 – A ética nos coloca em dúvida em vários momentos de nossa vidaFonte: <http://3.bp.blogspot.com>.

Um outro importante aspecto sobre a ética, como assinala Valls (2001),

é que a ética tem associação direta com a liberdade. Num primeiro momento,

lembra a relação de suas normas com a responsabilidade, pois as condutas

éticas podem ou não serem cumpridas, pois quando algo nos determina como

agir, também nos dá a possiblidade de não agirmos dessa forma.

Esta é uma ideia importante: as condutas éticas são aceitas e cumpridas

com base na minha vontade, pois não existe uma coação para que eu venha

cumprir essa conduta. (Veremos mais à frente, e você deve prestar bastante

atenção nisso: as normas jurídicas, que são editadas pelo Estado, possuem

um poder de coação para o seu cumprimento, o que as diferencia das

normas éticas.)

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Capítulo 1

23Instituições de Direito Público e Privado

A ética na filosofia clássica já era tema de grandes debates, mas não estava restrita apenas em teorizar a moral, pois também tratava de temas próximos à antropologia e à sociologia. Um clássico desse período é a obra Ética a Nicômaco, de Aristóteles.

CURIOSIDADE

A ética procura estabelecer uma reflexão racional sobre as questões

morais. Quando nos propomos ao estudo da ética, queremos justificar as

condutas propostas pela moral e pelo direito. No campo da moral, a ética

tenta encontrar justificativas para o bem e o mal (vide figura anterior), e

no campo do direito tenta encontrar justificativas para as regras jurídicas

válidas em determinada ordem jurídica. Observe que a ética não dita

regras, pois ela é o estudo das regras relacionadas à moral – e por esse

motivo elas não podem ser confundidas.

Didaticamente, conforme Valls, os problemas éticos são separados em dois grupos: no primeiro estão os problemas gerais e fundamentais (liberdade, consciência, bem, valor, etc.), e no segundo os problemas específicos, de aplicação concreta (ética profissional, ética política, ética matrimonial, etc.). Em casos práticos esta divisão perde um pouco o sentido, pois os problemas éticos nem sempre são divididos de forma tão “simples”.

SAIBA QUE

Este ponto é importante: a ética profissional, como grupo específico,

tem regras próprias e peculiares e que em muitos momentos não terão relação

de semelhança com a ética social.

1.2.3 O conceito de moral

Se o tópico anterior abordou suscintamente a ética, aqui vamos nos

deter no conceito e sentido de moral para posteriormente verificarmos se a

moral é ou não semelhante, total ou parcialmente, ao direito.

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Capítulo 1

24 Instituições de Direito Público e Privado

Se a ética tem por base o estudo da moral, esta apresenta perspectivas

que nos interessam. Falar de moral é falar de algo que terá variações de grupos

para grupos. Assim, a violência contra mulheres em determinadas sociedades

é algo moralmente aceito, enquanto em outras não está dentro do campo da

moral, tendo inclusive sanção prevista por normas jurídicas.

Adolpho Sanchez Vazquez nos apresenta um interessante conceito de

moral. Segundo o autor, trata-se de um

sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal (SANCHEZ VAZQUEZ, 1997, p. 82).

Este conceito apresenta pontos importantes para nós, pois esclarece que

a moral tem relação com princípios e valores da sociedade aonde ela é ativada.

O surgimento da moral remonta ao momento em que o homem passou

a viver em sociedade, pois isolado e sem convívio com outros seres humanos

não teríamos como falar em moral (lembre que já abordamos a necessidade

do homem viver em sociedade no início do nosso estudo).

Um aspecto importante ao falarmos de moral é a compreensão de que

ela tem um caráter social, influindo nas ações de indivíduos e grupos sociais,

tendo como função regular as relações entre os homens, procurando manter e

garantir uma ordem social. Ou seja, a moral é um dos elementos reguladores

da sociedade para permitir que o objetivo maior – o bem comum, como vimos

antes – seja alcançado (VALLS, 2001).

Se atrelarmos moral a normas, isso nos traz outros problemas,

relacionados ao seu cumprimento. Aqui, podemos pensar o seguinte: uma

norma moral é “o filho deve respeitar seus pais”, mas essa norma permite um

duplo comportamento – o de respeitá-la ou o de não respeitá-la (SANCHEZ

VAZQUEZ, 1997, p. 50).

Acho importante destacar para você que está tendo um primeiro

contato com esse tema alguns elementos da moral que podem ajudá-lo

no estudo e na diferenciação dela para a ética. A moral tem um caráter

interno, ou seja: você decide se vai respeitar uma determinada conduta

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Capítulo 1

25Instituições de Direito Público e Privado

moral. Se você encontrar seu vizinho e não lhe der bom dia, mesmo que

ele lhe tenha cumprimentado, não será aplicada nenhuma sanção, pois foi

escolha íntima sua não cumprimentar seu vizinho.

Se a moral trouxer a relação entre o que está previsto e o que de fato

acontece, você, aluno, poderá encontrar uma diferenciação entre moral e

moralidade. Para Sanchez Vazquez (1997), a moral corresponde às normas,

enquanto a moralidade está relacionada ao cumprimento ou não das normas

morais. Mesmo que esta divisão seja importante para fins de estudo inicial, o

próprio Sanchez Vazquez reconhece que o uso da palavra moral abarca os dois

sentidos, sendo o mais correto nos tempos atuais.

A moral possui um aspecto prático importante para a sua caracterização,

pois suas normas e regras são observadas quanto ao cumprimento ou não

por nossas ações concretas (nosso cotidiano e os atos que praticamos nele

determinam se seguimos ou não a moral).

Observe que nem todos os atos cotidianos expressam regras morais.

Vazquez (1997) exemplifica com o ato de ficar sentado em um banco

de uma praça pública. Esse ato não é um ato moral, pois ele não está

relacionado com as normas ou regras que expressam determinados

valores. Mas se próximo ao local onde estou sentado uma pessoa cai no

chão e eu permaneço sentado, aí meu ato poderá ter consequências de um

julgamento moral (por não ter ajudado a pessoa que caiu no chão). Assim,

ao longo de nosso dia-a-dia, praticamos atos que terão consequências

morais e outros atos que não possuem nenhuma consequência moral.

A moral parte de um referencial comum e isso identifica pessoas que

podem não se conhecer. Dessa forma, a moral é tanto um comportamento

de indivíduos como de grupos sociais, mas observe que apenas os atos

que geram reflexo às demais pessoas é que podem ser analisados sob o

aspecto moral.

A moral, assim, é um importante mecanismo de regulação da vida social

e terá relações com outra forma de regulação da vida social, o direito.

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Capítulo 1

26 Instituições de Direito Público e Privado

Após estudar os conceitos de ética e moral, reflita como ambos interferem em seu cotidiano e procure ver a importância deles para suas relações pessoais e profissionais.

REFLEXÃO

1.2.4 Etimologia da palavra “direito”

As línguas antigas não conheciam a palavra direito no sentido com

que hoje a empregamos. O que agora chamamos direito, os romanos

denominavam jus, jus romanum, jus publicum, jus civile, jus gentium. O

vocábulo direito, em seu aspecto etimológico, segundo Rizzatto Nunes

(2006), pode ser relacionado ao termo reto (do vocábulo em latim rectum),

às palavras mandar e ordenar (do latim jus, ligado na origem a jussum), ou

ao temro indicar (do grego diké).

1.2.5 Denominações e conceitos

Com a origem exposta ao longo dos anos, o termo foi ampliando sua

semântica e passou para o sentido figurado, designando aquilo que está de

acordo com a lei. O sentido ampliou-se ainda para designar a própria lei, o

conjunto de leis e também a ciência que as tem por objeto. A palavra direito

encontra-se hoje com esse sentido em todas as línguas modernas. Assim:

droit em francês; dirrito em italiano; derecho em espanhol; right em inglês,

e recht em alemão.

O direito é, portanto, uma daquelas palavras que, ao longo dos anos,

adquirem inúmeros significados, chegando, em alguns momentos, a ser

contraditório falar que o direito protege uma pessoa de alta renda ao solicitar

despejo de seu imóvel de uma pessoa de baixa renda (aqui teremos a acepção

do direito relacionado ao elemento norma jurídica), considerando que tal ato

não aplica o real sentido do direito (aqui na acepção justiça).

Só para visualizar essa complexidade, leia as frases a seguir e veja como

o direito pode adquirir significados diversos:

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Capítulo 1

27Instituições de Direito Público e Privado

• O Estado tem o direito de legislar.

• O direito constitui um elemento da vida social.

• O direito regula a formação dos contratos.

• Cabe ao direito estudar formas de impedir a corrupção.

• O direito brasileiro não permite a pena de morte em tempo de paz.

• O direito comercial regula a criação e estruturação das empresas.

• A saúde é direito de todos.

Observe como a palavra direito está colocada com significados diferentes

em cada frase e é fundamental para nosso estudo que cada uma delas seja

corretamente compreendida. Assim, vamos primeiro estudar a origem da

palavra direito e, depois, passamos ao estudo de seus sentidos, quando

procurarei relacioná-los às frases anteriores.

Os mais variados autores dedicam páginas e páginas a elaborar teorias e

relações entre a origem do direito e suas diversas acepções. Como já lembrei

em tópicos anteriores, nosso objetivo não é aprofundar as mais variadas

teorias, mas sim apresentar os principais elementos para se compreender o

direito como fenômeno social.

As figuras a seguir mostram duas representações do direito, muito

comuns no nosso cotidiano. Veja:

Figura 5 – O juiz julgando e decidindo um caso: uma acep-ção para a palavra direitoFonte: <http://sentencaourenovacao.blogspot.com>.

Figura 6 – Julgar alguém que cometeu um crime e fazer a justiça: outra acepção da palavra direitoFonte: <http://direitoaespi.blogspot.com>/2009/03/>.

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Capítulo 1

28 Instituições de Direito Público e Privado

INTERAGINDOINTERAGINDO

As duas imagens anteriores mostram formas de aplicação do direito (o juiz decidindo e um júri aplicando a pena ao condenado). Pense em três situações de sua vida em que você se deparou com alguma dessas situações ou esteve presente em casos de aplicação do direito. Compartilhe sua resposta com seus colegas no Ambiente Virtual de Aprendizagem.

O direito é complexo, apresentando uma variada gama de aspectos

ou elementos. Consequentemente, fica difícil uma única definição real e

que seja considerada como a única válida (se assim fosse, provavelmente a

palavra direito perderia seu significado social e deixaria de despertar os mais

entusiasmados debates sobre seu sentido).

Abordar todas as correntes que buscam encontrar acepções para a palavra

nos parece fora do propósito deste estudo. Assim, teremos sete possibilidades,

ou acepções, as quais iremos estudar, tentando, ao final, compreender qual é a

mais adequada para significar o direito como fenômeno que regula a sociedade.

São estes os seus significados:

• Direito como conjunto de princípios de um povo: aqui a palavra

direito significa todo o conjunto de normas que compõem o direito

em determinado país. Por mais que o estudo do direito tenha um

caráter universal em relação aos seus princípios orientadores,

quando estudamos leis de determinado país, estamos focando

nosso objeto no ordenamento daquela nação. Assim, na disciplina,

nos interessa o direito brasileiro. Aqui, podemos situar a frase “O

direito brasileiro não permite a pena de morte em tempo de paz”.

• Direito como conjunto de princípios jurídicos relativos e a certas matérias:

aqui a palavra direito assume o significado das matérias que são tratadas

em uma ordem jurídica. Como veremos no capítulo seguinte, a ordem

jurídica aborda os mais diversos assuntos e estes são agrupados em

áreas para que o estudo de cada uma delas possa ser feito de forma

mais correta, bem como para que se procure traçar as relações existentes

entre as diversas áreas do direito. Aqui podemos situar a frase “O direito

comercial regula a criação e estruturação das empresas”.

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Capítulo 1

29Instituições de Direito Público e Privado

• Direito como norma: é a forma mais comum de aplicação da

palavra direito, sendo também conhecida como direito objetivo

(estudaremos esse conceito mais detalhadamente no capítulo

seguinte). São as regras exteriores ao homem e que a ele se

dirigem e se impõem, atuando em sua vida particular e social.

Na definição de um clássico jurista alemão do século 19, de nome

Ihering, “direito é o conjunto de normas coativamente garantidas

pelo Poder Público”. Este significado é de grande importância no

universo jurídico e interessa muito para nosso estudo. As normas

jurídicas exteriorizam condutas e ações que devemos seguir para

não sofrermos uma sanção. Elas são postas por meio das leis,

dos decretos, das portarias e demais atos que prescrevem como

o homem deverá agir. Por exemplo, o que queremos dizer com

“prescrever como o homem deverá agir”? As normas jurídicas têm

como principal característica o fato de estabelecerem condutas de

“dever ser”. Veja que uma norma jurídica não narra um fato social,

pelo contrário, prescreve como o homem deve se comportar.

Temos aqui um ponto importante

para este início do estudo sobre o direito

(e que você deve dar bastante atenção):

quando alguém diz “Fulano descumpriu

a lei”, temos a situação que diante da

prescrição contida na norma, o “fulano”

não a cumpriu, praticando uma conduta

contrária ao previsto, sendo assim passível

de sofrer a sanção imposta pela norma.

Veja como isso funciona em um exemplo

do direito penal: “Fulano matou Beltrano

– descumpriu a norma (artigo do código

penal) que proíbe a prática do crime de

homicídio – e irá a julgamento para, se

for considerado culpado, ser condenado à

pena de prisão conforme previsto no código

penal”. Aqui podemos situar a frase “O

direito regula a formação dos contratos”.

Figura 7 – Um exemplo de norma de direito é o Código CivilFonte: <www.dignow.org>.

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Capítulo 1

30 Instituições de Direito Público e Privado

• Direito como faculdade: é o poder que o homem tem de exigir

garantias para a realização de seus interesses, quando estes se

conformam com o interesse social. Trata-se de uma prerrogativa de

agir, uma alternativa posta ao sujeito (titular do direito) por parte do

ordenamento jurídico. Compreende um sujeito, um objeto e a relação

que os liga. Essa acepção da palavra direito, por sua vez, pode ser

considerada de duas maneiras:

1) interesse: reconhecido ao titular como mecanismo de permitir

a satisfação de suas necessidades, como o direito à vida, à

propriedade, à liberdade, etc. É um benefício ao titular e que ele

poderá ou não exercê-lo;

2) função: beneficia outras pessoas, como no caso de poder familiar

(conferido aos pais em favor do filho) ou o direito de julgar (atribuído

ao juiz em benefício da sociedade). Aqui, podemos situar a frase: “O

Estado tem o direito de legislar.”

• Direito como justo: relacionado ao conceito de justiça. Aqui

encontramos um problema, pois justiça é um conceito assim como

direito, ou seja, com muitas acepções. Podemos encontrar dois

sentidos diferentes:

1) bem devido por justiça: na definição de São Tomás de Aquino, é o

que é devido a outrem, segundo uma igualdade;

2) bem conforme a justiça: não existe contrapartida, mas sim uma

determinação social que acredita ser aquela a melhor alternativa a

determinada situação.

O conceito de justiça, que será abordado de forma mais detalhada

no próximo capítulo, sempre teve grande relação com o direito. É comum

alguém, sentindo-se violado em seu direito, falar: “Vou procurar a justiça!”.

A pergunta que fica é: mas será realmente o ingresso com um processo a

forma de fazer justiça? E se a norma não garantir aquilo que você esperava

da “justiça”, para você, terá ela sido realizada? Aqui podemos situar a frase:

“A saúde é direito de todos.”

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Capítulo 1

31Instituições de Direito Público e Privado

Figura 8 - A justiça está relacionada ao direito, mas nem sempre é efetivada por ele.Fonte: <http://www.matutando.com/>.

• Direito como ciência: aqui se enquadra a expressão “ciência do

direito”, o setor do conhecimento humano que investiga e sistematiza

os fenômenos da vida jurídica e a determinação de suas causas. É

comum encontrarmos livros que iniciam o estudo com o título

“Ciência do Direito”. Mas o que seria a ciência do direito? Será o

direito realmente uma ciência? Esse não é um tema de nosso estudo

e, por isso, não aprofundaremos a discussão para não prejudicar a

compreensão da disciplina. O importante dessa visão do direito é que

ela é a base para vários estudos para definir o objeto do direito e

como ele está estruturado. Aqui podemos situar a frase: “Cabe ao

direito estudar formas de impedir a corrupção”.

CONCEITOCONCEITO

“A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza.” (ANDER-EGG apud BONAVIDES, 1999, p. 55)

• Direito como fato social: ao realizar o estudo de qualquer coletividade,

a sociologia distingue diversas espécies de fenômenos sociais. Aqui, ela

considera, dentre outros, os fatos econômicos, culturais e também o

direito. O direito é, então, tido como um setor da vida social (e tem função

e atuação importantíssimas dentro dela). É o conjunto de condições de

existência e desenvolvimento da sociedade, coativamente asseguradas.

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Capítulo 1

32 Instituições de Direito Público e Privado

O direito como fenômeno social não é estudado apenas pelos juristas? Como exemplo, podemos citar a disciplina de sociologia jurídica, que é trabalhada também por sociólogos, e a disciplina de história do direito, trabalhada tanto por juristas quanto por historiadores.

SAIBA QUE

Ao apresentarmos o conceito e os elementos da sociedade ao início desse

capítulo, mostramos que a sociedade se estrutura com base em três características.

E para que a sociedade possa conviver harmonicamente e atingir seus objetivos o

direito assume um importante papel como regulador das condutas sociais. Assim,

se ocorrer uma crise econômica e o governo adotar um plano para solucioná-la,

é por meio do direito que este plano entrará em vigor e irá impor suas medidas

às pessoas que vivem naquela sociedade. Por isso, o direito é visto e estudado

por alguns como fenômeno social e sofre influência direta da sociedade onde

está inserido. Por isso, existem tantas diversidades nos ordenamentos jurídicos dos

países (p. ex., alguns países adotam a pena de morte e outros não; alguns países

permitem o aborto outros tornam essa prática um crime). Aqui podemos colocar

a frase: “O direito constitui um elemento da vida social”.

Agora que você já tem noção dos vários sentidos que a palavra direito possui, pense qual deles é o que mais interfere nos seus atos cotidianos e qual será, dentro dos sentidos estudados, o mais importante para o seu futuro profissional.

REFLEXÃO

Algumas observações devem ser feitas para que os conceitos estudados

neste capítulo possam ser adequadamente compreendidos.

Um ponto que merece destaque é a relação entre direito e moral. A moral

vai influenciar a formação de normas jurídicas, variando a sua influência conforme

a época e a sociedade, em maior ou menor escala. Sobre essa influência, existem

duas concepções importantes para nós.

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Capítulo 1

33Instituições de Direito Público e Privado

A primeira trabalha direito e moral como dois círculos concêntricos, nos

quais a moral é o círculo maior e o direito, o menor. Nessa teoria – chamada

de mínimo ético –, as normas jurídicas serão sempre normas morais, mas

nem todas as normas morais serão normas jurídicas. Esta concepção mostra-

se um pouco defasada em relação aos tempos atuais, pois não podemos

conceber as normas jurídicas como sendo, na totalidade, normas morais.

Veja a representação da figura a seguir, que expressa simbolicamente essa

concepção:

Figura 9 – A moral é o círculo maior e o direito, o círculo menor.

Moral

Direito

A segunda trabalha direito e moral também como dois círculos, mas

não concêntricos. Aqui haverá uma área comum entre o círculo do direito

e o círculo da moral – uma intersecção –, fazendo com que algumas normas

morais sejam também normas jurídicas. Um outro grupo de normas morais,

porém, não é abrangido por normas jurídicas e essas normas não refletirão

condutas morais da sociedade.

É importante observar que as normas morais que foram incorporadas ao

direito passarão a adquirir características das normas jurídicas. Esta concepção,

diferente da anterior, tem maior sintonia com a realidade. Veja a representação

da figura a seguir:

Figura 10 – Parte do direito é formada por normas morais, e algumas delas são normas jurídicas.

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Capítulo 1

34 Instituições de Direito Público e Privado

Cabe ainda ressaltar que moral e direito podem ser vistos como dois

círculos separados, não havendo relação entre eles. Aqui também não nos

parece ser esta a teoria que melhor expressa a realidade da ordem jurídica,

pois é difícil nela conceber a inexistência de interferência de normas morais.

Veja a figura a seguir, que representa essa concepção:

Moral Direito

Figura 11 – Moral e direito são círculos diversos.

Ainda na abordagem direito e moral podemos traçar uma diferença bem

clara entre esses dois conceitos, partindo do pensamento do filósofo alemão

Imannuel Kant. Trata-se do fato de o direito ser dotado de um poder coercitivo

(mesmo que você não concorde, deverá cumprir a previsão jurídica ou então

poderá sofrer a sanção prevista), enquanto a moral possui um aspecto não

coercitivo (você decide se cumpre ou não, e independente da decisão, não

sofrerá nenhuma sanção externa). Essa concepção, aliás, vem sofrendo críticas

em tempos recentes (GUSMÃO, 2001).

Outro aspecto importante é ressaltar que as várias acepções do direito

coexistem, mas em alguns momentos podem entrar em conflito. Isso ocorre em

razão dos antagonismos que algumas acepções trazem em si. O direito enquanto

norma pode conflitar com o direito como justiça (e muitas vezes conflita).

Para você que começa agora seus estudos nessa área, a fim de

compreender os conceitos básicos, o importante é ter clareza sobre o sentido

de cada acepção da palavra direito e entender, ainda que de forma breve, a

possiblidade de confronto entre elas.

Por último, veremos um conceito de direito. Aqui também a tarefa do

professor para alunos no início da disciplina é demonstrar uma forma de

assimilar o significado, sem esquecer da diversidade de conceitos existentes

e das diferenças entre eles. Na filosofia do direito são várias as correntes que

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Capítulo 1

35Instituições de Direito Público e Privado

estudam e formulam um conceito de direito, existindo grandes diferenças nas

formulações propostas conforme a matriz de cada uma delas.

Para facilitar seu estudo, situarei o conceito de direito como próximo ao

de ordenamento jurídico. Assim, direito seria o conjunto de normas jurídicas

que regulam as relações humanas de determinada sociedade.

1.3 Aplicando a teoria na prática

Para que seu estudo tenha relação entre o que foi abordado e situações

concretas, proponho o exame de um caso.

José acaba de internar seu pai, Pedro, em um hospital, em razão do

agravamento de problemas de saúde. Pedro, mesmo recebendo um bom

tratamento dos médicos, piora dia a dia e José fica muito abatido com a

situação. Após dois meses internado, Pedro entra em coma e esse estado

permanece por um longo período de tempo.

José é católico e tem fé na recuperação do pai. Contudo, lembra de uma

conversa em que seu pai disse: “Se um dia eu estiver em uma cama de hospital

e não tiver como viver de forma digna, prefiro morrer”.

Passados seis meses de internação, e com Pedro ainda em coma, José é

chamado pelo médico responsável para uma conversa. Ao chegar ao hospital,

o médico diz que o quadro de Pedro não pode ser revertido, ele está vivo

graças aos aparelhos e medicamentos que estão sendo aplicados e não existe

possibilidade de recuperação. Agora é esperar. José entra em desespero e vai

até a igreja rezar. Ele conversa com o padre e conta o desejo de seu pai. O

padre diz que a morte não pode ser praticada pelo homem e que só Deus

pode decidir quando acaba uma vida.

Mesmo após essa conversa, José continua inquieto e procura Paulo e Maria,

amigos próximos, para compartilhar sua angústia. Maria, também católica, concorda

com o padre e fala ser impossível a José decidir quando seu pai irá morrer. Paulo,

ateu convicto, mesmo entendendo o drama de seu amigo, tenta buscar uma forma

de ajudá-lo e o aconselha a procurar um advogado para saber da possibilidade de

realização de eutanásia. José reluta em aceitar o conselho do amigo, mas após alguns

dias de reflexão, e com a persistência do quadro de saúde do pai, acata a ideia.

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Capítulo 1

36 Instituições de Direito Público e Privado

José então procura o advogado Antônio, especialista em direito penal

e constitucional. Após relatar o caso, ele pergunta ao profissional se existe

possibilidade de conseguir uma ordem judicial que contemple a vontade

do pai. Antônio relata que, mesmo entendendo a angústia sentida por

José, não vê, em razão da proteção dada pelo direito brasileiro à vida,

possibilidade de conseguir uma decisão judicial que venha atender o desejo

do pai.

Assim, José vai para casa e continua sua rotina de trabalho, orações para

melhora do pai e idas ao hospital, aguardando uma reação.

Você, que estudou ao longo desse capítulo noções de sociedade, ética,

moral e direito, deve identificar no caso de que modo esses conceitos podem

ser aplicados.

E então, chegou a uma conclusão?

O caso proposto nos coloca diante de problemas que envolvem aquilo

que estudamos neste capítulo. O primeiro ponto que devemos observar é a

questão da vida em sociedade, pois a relação pai-filho e as relações de amizade

são produto da vida social. Assim, ao internar seu pai e expor suas angústias

aos amigos, José estava desenvolvendo relações sociais.

Em seguida, podemos vislumbrar problemas éticos e morais que surgem

com o agravamento da situação de Pedro e do pedido deste a José. Num

primeiro momento, em razão de sua crença religiosa, José reluta em pensar

na eutanásia, mas após a conversa com Paulo passa a considerar a ideia de

atender a vontade de seu pai. Aparecem aqui os problemas morais, que

tanto atormentam José, com as questões éticas relacionadas ao pensar na

possiblidade de pedir a prática da eutanásia e em como isso será encarado por

seu círculo de amizades.

Por último, ao procurar um advogado, José entra no campo do direito,

pois tenta conseguir uma decisão judicial que ampare o desejo de seu pai em

ter uma vida digna e não ficar em coma no hospital. José vê como o direito dá

proteção ao direito à vida e consegue ao menos em parte superar sua angústia,

diante da impossibilidade concreta de decidir sobre a morte de seu pai. No

fim, o direito acaba sendo a justificativa para José esclarecer a si mesmo a

impossibilidade da prática da eutanásia.

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Capítulo 1

37Instituições de Direito Público e Privado

1.4 Para saber mais

Sugiro algumas leituras para que você se atualize sobre os temas

estudados no capítulo 1.

Título: Elementos de teoria geral do Estado

Autor: DALLARI, D. A. Editora: Saraiva, SP Ano: 2009

No capítulo 1, o autor trabalha o significado da sociedade e seus elementos de forma bem didática, sem desprezar o aprofundamento necessário ao tema. É um importante complemento ao início deste capítulo.

Título: O que é ética

Autor: VALLS, A.L.M Editora: Brasiliense, SP Ano: 2001

Este livro, integrante da coleção Primeiros Passos, pode num primeiro momento parecer superficial, mas não é. O autor aborda de forma clara e objetiva o sentido da ética e da moral e suas relações com outras áreas do conhecimento.

SITE: Crítica na rede

URL: <http://criticanarede.com>

Revista: Revista de fi losofi a Editora: criticanarede.com Ano: 2010

Se no campo do direito ainda temos poucos locais na internet que trabalham com aspecto de introdução ao direito, na filosofia esse site poderá ser uma boa fonte de pesquisa para entender melhor as questões relacionadas à ética e à moral.

Título: Lições preliminares de direito

Autor: REALE, M. Editora: Saraiva, SP Ano: 2002

Este autor é um dos grandes nomes do direito no Brasil, sua obra tem inúmeros seguidores e críticos. Para quem está começando o estudo e deseja obter alguns conceitos básicos, os capítulos IV, V e VI ajudam na compreensão do fenômeno jurídico e sua relação com a ética e a moral.

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Capítulo 1

38 Instituições de Direito Público e Privado

1.5 Relembrando

Neste capítulo, começamos a estudar os seguintes pontos:

• o direito e suas relações com a sociedade, a fim de fazer com que

você reflita sobre o significado de sociedade, seus elementos e como

o direito atua no sentido de regulá-la;

• os sentidos da palavra direito e suas relações com a ética e a moral –

que trazem elementos de reflexão sobre a sua influência na formação

das normas jurídicas;

• a origem da palavra direito e seus diversos significados (principalmente

aqueles que interessam ao nosso estudo), permitindo a você ter noção

do sentido de cada significado que podemos atribuir ao direito.

1.6 Testando os seus conhecimentos

1) Com base no que você estudou, os elementos componentes da sociedade são:

a) moral, poder social e ética;

b) direito, poder social e manifestações de conjunto ordenadas;

c) poder social, finalidade e manifestações de conjunto ordenadas;

d) poder social, finalidade e direito.

2) Sobre a relação entre ética e moral, é correto afirmar que:

a) são conceitos semelhantes, usados apenas para expressar origens diferentes do

mesmo significado, não tendo essa diferenciação nenhum sentido concreto;

b) são conceitos distintos e que não guardam relação entre si, usados

apenas para expressar origens diferentes de questões diversas, não

tendo essa diferenciação nenhum sentido concreto.

c) a ética é um estudo racional sobre a moral, enquanto esta última tem

uma aplicação prática em nossa vida cotidiana.

d) a moral é um estudo racional sobre a ética, enquanto esta última tem

uma aplicação prática em nossa vida cotidiana.

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Capítulo 1

39Instituições de Direito Público e Privado

3) Na frase “Não é de direito punir um inocente”, o sentido da palavra direito é:

a) o direito como conjunto de princípios de um determinado

ordenamento jurídico.

b) o direito como fato social.

c) o direito como norma.

d) o direito como justiça.

4) Em relação ao direito e à moral, é correto afirmar que:

a) o direito não tem relação com a moral, pois a moral não é produto

das normas jurídicas e não guarda qualquer tipo de influência sobre

a elaboração das leis.

b) o direito não tem relação com a moral, pois a moral é produto das

normas sociais, enquanto o direito não surge da sociedade.

c) tanto o direito como a moral são caracterizados como tendo na

coerção (sanção) externa do seu descumprimento o elemento que

os identifica.

d) direito e moral são normas de conduta, tendo o direito um caráter

coercitivo que a moral não possui, atuando no campo interno de

cada pessoa.

5) Com base nos sentidos expostos à palavra direito, elabore um texto sobre

qual(is) são os mais importantes para regular a vida do homem em sociedade.

Onde encontrar

BONAVIDES, P. Ciência política. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1999.

DALLARI, D. A. Elementos de teoria geral do Estado. 29. ed. São Paulo: Saraiva,

2009.

DOWER, N. G. B. Instituições de direito público e privado. São Paulo: Saraiva,

2009.

GUSMÃO, P. D. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

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Capítulo 1

40 Instituições de Direito Público e Privado

NUNES, R. Manual de introdução ao estudo do direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva,

2006.

REALE, M. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

SANCHEZ VAZQUEZ, A. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

VALLS, A. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2001.

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Capítulo 2

41Instituições de Direito Público e Privado

JUSTIÇA, CIDADANIA E DIREITO

CAPÍTULO 22

2.1 Contextualizando

No primeiro capítulo, estudamos os conceitos de sociedade, ética, moral

e direito nas suas várias acepções. Agora, vamos aprofundar um pouco mais

as questões jurídicas, trabalhando os conceitos de direito objetivo e direito

subjetivo, analisando as fontes do direito e a divisão entre direito público

e direito privado. Ao final, faremos ainda uma breve abordagem sobre os

conceitos de justiça e cidadania. Espero que aqui você possa chegar a noções

claras sobre alguns dos conceitos mais importantes do mundo jurídico.

Se já temos clareza das diversas acepções que a palavra direito pode

assumir - do conceito voltado para o estudo de nossa disciplina, além da divisão

em direito objetivo e direito subjetivo -, tentaremos mostrar quais são as fontes

do direito e como elas estão, principalmente com base na realidade estruturada

de nosso ordenamento jurídico. Também abordaremos um pouco mais sobre

justiça, tema tão recorrente quando se fala de direito, e faremos uma breve

abordagem do conceito de cidadania para prepará-lo para o estudo que teremos

nos próximos capítulos. Nosso estudo entra agora em um novo momento. Este é

um capítulo fundamental para que seu estudo possa incorporar conceitos-chave,

considerando o que veremos nos capítulos seguintes (direitos fundamentais,

direitos do consumidor, etc.). A abordagem busca seguir a mesma linha do

trabalho anterior: exposição dos conceitos, sua contextualização e exemplos

que lhe permitam compreender o direito de acordo com as necessidades do seu

curso e sirvam como ferramenta para ampliar seus conhecimentos.

Ao final deste capítulo, você compreenderá o significado do direito e

estará apto a abordar questões importantes, tais como as relacionadas ao

direito do consumidor.

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Capítulo 2

42 Instituições de Direito Público e Privado

2.2 Conhecendo a teoria

No capítulo anterior, estudamos as várias acepções da palavra direito.

Agora, para este primeiro tópico, trabalharemos no sentido direito como

norma jurídica, para, em seguida, abordarmos os conceitos de justiça e

cidadania. Ao final, retornaremos ao conceito de direito.

2.2.1 Direito objetivo e direito subjetivo

O estudo do direito, sob o aspecto das normas jurídicas, trará

uma série de expressões técnicas que devem ser bem trabalhadas para

que você possa compreender os elementos básicos. Neste primeiro

momento, estudaremos o significado das expressões direito objetivo,

direito subjetivo, direito público, direito privado e suas derivações, pois

são pontos importantes para o estudante ter uma correta noção sobre o

direito no aspecto normativo.

Direito objetivo

Rizzatto Nunes (2006, p. 130) esboça que direito objetivo “é o

conjunto, em si, de normas jurídicas escritas e não-escritas, independente

do momento de seu exercício e aplicação concreta”. Nesse conceito, o

autor deixa clara a vinculação entre o direito objetivo e norma jurídica

pelo simples fato de esta existir (não pelo fato de ser utilizada/aplicada)

e pretender um determinado comportamento das pessoas (p. ex.: “Não

matar”).

Para que se estude o direito objetivo, é irrelevante que o titular de um

direito previsto pela norma venha a utilizar este direito, pois sua análise se dá

pela previsão deste estar na ordem jurídica.

Paulo Dourado de Gusmão também aborda em sua obra o significado de

direito objetivo. Diz o autor:

Quando consideramos o direito como regra obrigatória, ou como o conjunto de regras obrigatórias, entendemo-lo como direito objetivo, ou seja, o direito em sentido objetivo. Destarte, direito objetivo é a consideração normativa do direito como norma obrigatória (GUSMÃO, 2001, p. 58).

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Capítulo 2

43Instituições de Direito Público e Privado

Este é um dos pontos importantes para ressaltarmos na disciplina: o

direito objetivo é o conjunto de normas jurídicas que existem em determinado

estado. Assim, como exemplos de direito objetivo, temos:

• a Constituição;

• o Código Civil;

• o Código de Defesa do Consumidor;

• o Código de Processo Civil;

• o Código Penal;

• o Código de Processo Penal, dentre outros.

Considere o seguinte: a faculdade que nasce destes códigos, para que

alguém exercite o direito, estará no campo do direito subjetivo, como veremos

no nosso próximo ponto de estudo.

Para fixar este conceito, desafio você a pensar na seguinte questão: que normas de direito objetivo mais interferem nas suas atividades profissionais e relações pessoais do seu dia a dia?

DESAFIO

Figura 1 – A Constituição, o Código Penal e o Código de Processo Penal, exemplos de direito objetivo.Fonte: <www.eunanet.net>.

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Capítulo 2

44 Instituições de Direito Público e Privado

O direito objetivo surgiu com o intuito de diferenciar o direito escrito

(hoje chamado de norma jurídica ou texto da lei) de outras denominações

que o direito possui, tais como a de direito divino (aquele oriundo de

Deus). Assim, passa a ser aceito que o direito tem como base regular

condutas, e que esta regulação está escrita, permitindo que todos tomem

conhecimento dela.

Mas uma pergunta que você deve estar fazendo é: quem escreve e

elabora o direito objetivo? Essa é uma questão importante para o nosso

momento de estudo. O direito objetivo nasce do trabalho do Poder

Legislativo, composto de representantes eleitos pelo povo, que é um dos

poderes do Estado (os outros dois são o Executivo e o Judiciário).

Ao tratarmos da origem das normas jurídicas, devemos ter claro que

somente o Estado cria normas que são dotadas de obrigatoriedade de

observância (outros entes sociais podem até criar normas, mas elas não

serão jurídicas por não terem a obrigatoriedade de observância).

Veja o exemplo: se o Legislativo cria uma lei para regular a educação

superior, votada e aprovada pela Câmara e pelo Senado, ela, após ter a

concordância do Presidente da República, entra em vigor e passa ser

obrigatória para todas as pessoas (tanto estudantes, professores, donos de

instituições de ensino quanto para a sociedade em geral). Por outro lado, se

um grupo de professores cria normas que pretendem regular os parâmetros

da educação superior no país, essas normas não são obrigatórias, pois não

foram feitas por um órgão competente (podem até vincular-se, moral e

eticamente, no comportamento daquele grupo, mas não são de observância

obrigatória e, desta forma, não se enquadram como normas jurídicas).

Assim, as normas nascem de um órgão competente previsto em lei

(no caso, é a Constituição que ocupa o ponto máximo da ordem jurídica,

como veremos no próximo capítulo) e adquirem a característica da

obrigatoriedade de observância; mas se forem produzidas por órgãos

incompetentes (p. ex.: em vez de o congresso elaborar uma lei, os

juízes a elaboram), não serão consideradas válidas. Da mesma forma, se

um conjunto de normas é feito por órgãos ou pessoas que foram dos

integrantes do Estado, elas também não serão consideradas válidas e

obrigatórias em razão de sua origem não seguir o processo previsto, não

sendo consideradas como integrantes da ordem jurídica.

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Capítulo 2

45Instituições de Direito Público e Privado

O conjunto de normas jurídicas de determinado país (no caso, o Brasil)

forma a ordem jurídica, pois devem ser vistas como parte de um conjunto e

não como isoladas. Se fossem isoladas, perderiam o sentido de regular a vida

do homem em sociedade.

CONCEITOCONCEITO

A norma jurídica é um comando, um imperativo dirigido às ações dos indivíduos – e das pessoas jurídicas e dos demais entes. É uma regra de conduta social; sua finalidade é regular as atividades dos sujeitos em relações sociais. A norma jurídica imputa

certa ação ou comportamento a alguém, que é seu destinatário (NUNES, 2006, p. 193).

Direito subjetivo

Após estudarmos o conceito de direito objetivo, passaremos ao de direito

subjetivo, que assumirá um papel importante para posteriormente definirmos

o direito positivo.

Cabe ressaltar, para melhor compreensão do tema, que o direito subjetivo

tem diversas concepções teóricas, formuladas pelas mais diversas correntes do

pensamento jurídico, muitas delas com pequenas diferenças. Assim, abordaremos

as posições mais uniformes sobre o tema para facilitar o seu trabalho.

Existem várias teorias sobre o direito subjetivo. As de maior destaque e importância são a da Vontade (defendida por Bernhard Windscheid, segundo a qual o direito subjetivo seria a vontade reconhecida pela ordem jurídica); do Interesse (defendida por Rudolf von Ihering, segundo a qual o direito subjetivo seria o interesse juridicamente protegido); a teoria Eclética

(defendida por Georg Jellinek, segundo a qual o direito subjetivo é a soma de vontade e interesse) e a teoria de Hans Kelsen, para quem o direito subjetivo é praticamente idêntico ao direito objetivo, sendo apenas o reflexo de um dever jurídico.

SAIBA QUE

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Capítulo 2

46 Instituições de Direito Público e Privado

Mais uma vez, e até para facilitar seu estudo, recorreremos a um conceito

de Rizzatto Nunes (2006, p. 131): “Pode-se dizer que o direito subjetivo é a

prerrogativa colocada pelo direito objetivo, à disposição do sujeito do direito.”

Deste conceito, podemos entender que o direito subjetivo nasce do direito

objetivo e permite que alguém que esteja beneficiado pela norma (o sujeito de

direito, que pode ser eu, você ou uma empresa) utilize aquilo que lhe é de direito

ou tenha a possibilidade de utilizar aquilo que lhe é de direito, visando usufruir

do que lhe é concedido, ou se defender de uma lesão ou ameaça de lesão.

Para melhor explicar, utilizaremos outro conceito, desta vez elaborado

por Miguel Reale. Diz ele:

Direito subjetivo, no sentido específico e próprio deste termo, só existe quando a situação subjetiva implica a possibilidade de uma pretensão, unida à exigibilidade de uma prestação ou de um ato de outrem. O núcleo do conceito de direito subjetivo é a pretensão, a qual pressupõe que sejam correspectivos aquilo que é pretendido por um sujeito e aquilo que é devido pelo outro (tal como se dá nos contratos) ou que pelo menos a pretensão do titular do direito subjetivo e o comportamento exigido de outrem haja certa proporcionalidade compatível com a regra de direito aplicável à espécie (REALE, 2002, p. 259). [grifos do autor]

Nesse conceito, podemos observar que o autor esboça uma relação entre

a pretensão que tem o titular (previstas pela norma – o direito objetivo) de

exigir o que é devido por alguém, mas essa possibilidade de exigir algo de

outro não é obrigatória, pois nada impede o titular de, mesmo possuindo um

direito, não exigi-lo.

Assim, um bom exemplo de direito subjetivo seria que o Código Civil

dá possibilidade ao filho de requerer alimentos de seu pai (em caso de o pai

e a mãe não serem casados e de o pai não dar auxílio para o sustento de

seu filho). Nesse caso, pode ocorrer que mesmo com a previsão do Código,

o filho não venha a requerer o direito que lhe é garantido, mas isso não faz

com que o direito venha a desaparecer.

Podemos ainda ampliar o exemplo: se o pai já paga pensão em razão de uma

determinação judicial decorrente de uma ação proposta pelo filho para este fim

(exercício do direito subjetivo), mas está atrasado no pagamento, o filho pode usar

um outro aspecto do direito subjetivo para ameaçá-lo (“Se você não pagar o valor

da pensão até o dia X, vou entrar com ação de execução dos valores!”) ou para lhe

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Capítulo 2

47Instituições de Direito Público e Privado

cobrar a quantia devida (entrar com ação de execução de alimentos). Observe, por

esse exemplo, como o direito subjetivo pode adquirir nuances amplas.

Mas o exemplo anterior não explica todos os significados do direito

subjetivo, pois alguns deles independem de exercício para existirem.

Veja o caso dos direitos, previstos pela Constituição, da honra e da

imagem. Mesmo que o titular (no caso você, aluno) não venha a entrar com

uma ação exigindo a observância destes direitos, eles lhe serão inerentes em

seu dia a dia, pois da forma como previsto no texto da Constituição, todos

temos direito à honra e à imagem (nesse caso, o que pode acontecer é não

pedirmos a reparação do dano praticado à nossa honra.

Por exemplo: um colega de trabalho seu diz a toda a empresa que você

está copiando o trabalho dele e praticando um plágio, mas você prova que

isso não é verdade. Nessa situação, seu direito à honra foi violado e caberia

entrar com uma ação de reparação pelos danos causados, mas você prefere

não fazê-lo). Assim, o direito subjetivo independe.

Para finalizar a abordagem, é necessário citar dois aspectos importantes

sobre o tema: os tipos de direito subjetivo e o conceito de dever jurídico.

Quando se estuda direito subjetivo é importante citar a distinção entre

direitos subjetivos privados e direitos públicos subjetivos. Os direitos subjetivos

privados, na definição de Reale (2002, p. 265), são aqueles que acontecem nas

relações entre particulares, como na obrigação prevista em lei, p. ex., de o

sujeito “A” pagar um determinado valor ao sujeito “B”.

Reale também aborda o conceito de direitos públicos subjetivos,

caracterizando-os como aquelas relações jurídicas em que estão envolvidos

particulares e o Estado, significando que o direito tem uma esfera de proteção

da atividade estatal para preservar direitos seus, principalmente em questões que

envolvam os direitos de liberdade (REALE, 2002, p. 267). Voltaremos a esse ponto

no capítulo seguinte, ao tratarmos sobre o direito fundamental de liberdade.

2.2.2 Distinção e características

Após tratarmos dos conceitos de direito objetivo e direito subjetivo,

veremos agora semelhanças e características que lhes sejam correlatas.

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Capítulo 2

48 Instituições de Direito Público e Privado

Uma primeira distinção importante é separar direito objetivo de direito

positivo. Como o direito objetivo é relacionado à norma, muitos autores

identificam esses conceitos como semelhantes.

Rizzatto Nunes (2006) ressalta que a diferença é que direito positivo

significa a soma do direito objetivo e do direito e do dever subjetivo. Desta

forma, ao falar de direito positivo, estamos falando do direito objetivo (aquele

previsto na norma jurídica) mais o direito subjetivo (aquele que nasce em

função do previsto pelo direito objetivo).

A característica comum, tanto ao direito objetivo quanto ao subjetivo, é

que eles são dotados de obrigatoriedade, devendo ser cumpridos e podendo

ser impostos a todos. Se uma lei (direito objetivo) estiver no mundo jurídico,

lhe der um direito (direito subjetivo) e você desejar exercê-lo, ambos (objetivo

e subjetivo) serão obrigatórios contra outras pessoas.

DIREITO POSITIVO = DIREITO OBJETIVO + DIREITO SUBJETIVO

Se até este momento do nosso estudo já temos claros os conceitos e as

características do direito objetivo e do direito subjetivo, podemos agora ver

quais são as fontes do direito.

No direito, o sentido das fontes é definir qual(is) o(s) meio(s) que cria(m) e

influencia(m) o direito. Este também não é um tema uniforme no pensamento

dos autores, mas para nosso estudo adotaremos uma posição mais tradicional,

visando facilitar seu entendimento sobre quais fontes realmente interferem

na criação do direito.

A palavra fonte significa a origem, a procedência de algo (p. ex.: a nascente

de água que origina um rio é a fonte do rio). Assim, estamos seguindo uma

linha proposta por Rizzatto Nunes, ao dividir as fontes do direito em estatais

(provenientes do Estado) e não estatais (oriundas, p. ex., de particulares).

Dentre as fontes estatais, temos a lei e a jurisprudência. A palavra

lei tem uma pluralidade de significados e muitos deles podem, num

primeiro momento, causar confusões ao aluno iniciante. Assim, para

atingir nossos objetivos na disciplina, vamos caracterizar lei como sendo as

normas primárias que inovam na ordem jurídica (aqui podemos enquadrar

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Capítulo 2

49Instituições de Direito Público e Privado

documentos como o Código Civil, Penal, de Processo Civil e Processo Penal,

pois todos têm a estrutura de leis ordinárias. A jurisprudência pode ser

caracterizada como o conjunto de decisões dos tribunais a respeito de

um mesmo assunto (NUNES, 2006). Aqui podemos citar, como exemplo, as

decisões que determinam que o pai deve pagar pensão alimentícia ao seu

filho (o conjunto de várias decisões de vários tribunais sobre o tema forma

o conceito de jurisprudência).

As fontes não estatais são a doutrina e o costume jurídico. Por doutrina,

podemos entender o resultado do estudo que pensadores – juristas e filósofos

do direito – fazem a respeito do direito (2006). As citações feitas neste texto

com o conceito de institutos do direito são exemplo de doutrina (a citação

do conceito de doutrina é uma doutrina). Já o costume jurídico “é norma

jurídica obrigatória, imposta ao setor da realidade que regula passível de

imposição pela autoridade pública e em especial pelo Poder Judiciário. É

uma norma ‘não-escrita’, que surge da prática longa, diuturna e reiterada da

sociedade” (NUNES, 2006, p. 108).

O costume pode ser entendido como uma fonte indireta do direito, mas

não se confunde com a jurisprudência, pois esta é caracterizada por decisões dos

tribunais, enquanto o costume está caracterizado pela prática reiterada de atos

do poder público (o costume ajuda a formar a jurisprudência).

Para que nosso estudo possa ser realizado da melhor forma, devemos

tentar visualizar como algumas fontes do Direito interferem no ordenamento

jurídico brasileiro.

Para isso, utilizarei aqui alguns artigos da Lei de Introdução às Normas

do Direito Brasileiro. Vamos ler o que dizem os artigos 3o, 4o e 5o:

Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

Veja, caro(a) aluno(a), como em casos concretos existe a permissão,

por meio desta lei, que o juiz venha a solucionar uma eventual lacuna do

ordenamento recorrendo à analogia aos costumes e aos princípios gerais

do direito.

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Capítulo 2

50 Instituições de Direito Público e Privado

Vamos pensar em um exemplo: se uma pessoa ingressa com um projeto

de lei para preservar algo que ela considera um direito, mas que não está

regulado pela ordem jurídica (como, por exemplo, questões relacionadas à

propriedade digital), ao julgar o caso, o julgador (o juiz) poderá recorrer ao

ordenamento e buscar fazer analogias, ou aplicar o costume para resolver o

processo proposto para tratar da propriedade digital.

Assim, aluno(a), podemos ver como as fontes, das mais variadas

maneiras, interferem no dia a dia do Direito e de como elas desempenham

um importante papel na tarefa de atualizar a ordem jurídica em relação às

mudanças da sociedade.

Para Hans Kelsen, o direito pode ser representado com uma pirâmide. Dentro dessa estrutura, o direito é escalonado, sendo que na Constituição Federal estão a lei (tanto ordinária como complementar), os decretos, as portarias e os atos singulares. Trata-se de uma representação clássica do ordenamento jurídico, que até hoje ainda é utilizada.

CURIOSIDADE

Já conhecidas as fontes do direito, vejamos a divisão do direito positivo

em público e privado.

Você já refletiu sobre o nome de nossa disciplina (Instituições de Direito

Público e Privado)? Consegue relacionar o nome ao que estudamos até o

presente momento? Provavelmente não. Assim, temos de explicar a divisão,

feita pela maioria dos autores, entre direito público e direito privado. Iniciemos

este tópico com um trecho de Miguel Reale.

A primeira distinção que encontramos na história da ciência do

direito é a feita pelos romanos, entre direito público e privado, segundo

o critério da utilidade pública ou particular da relação: o primeiro diria

respeito às coisas do Estado (publicum jus est quod ad statum rei romanae

spectat), enquanto que o segundo seria pertinente ao interesse de cada um

(privatum, quod ad singulorum utilitatem spectat) (REALE, 2002, p. 339).

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Capítulo 2

51Instituições de Direito Público e Privado

O texto ressalta a importância, na classificação de direito público e

privado, das pessoas (Estado ou particulares) envolvidas na relação jurídica,

sendo que a divisão nestes dois ramos influenciou, e ainda influencia, o

estudo preliminar da ciência do direito.

A divisão do direito em ramos – público e privado – tem origem no direito romano, que é o principal inspirador do direito brasileiro. Na Roma antiga, esta divisão teve seu maior expoente em Ulpiano, uma das grandes influências dos romanos nos tempos atuais.

SAIBA QUE

Essa divisão, nos dias atuais, possui um cunho mais didático do que

prático, e tem por critério os sujeitos envolvidos e sua qualidade na relação

jurídica, bem como o conteúdo da norma e o interesse a ele relacionado

(NUNES, 2006).

Gusmão (2001) considera, com base no direito romano, que o direito

público está relacionado ao Estado, suas funções, organização e interesses,

enquanto o direito privado está relacionado aos particulares e suas relações,

com uma perspectiva individual.

Como o direito é composto de um conjunto de normas jurídicas; estas

são divididas em diversos ramos, conforme a especificidade (p. ex., direito

civil e direito penal). Estes ramos são classificados genericamente em dois

grandes grupos, como de direito público ou privado (direito civil – direito

privado; direito penal – direito público).

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Capítulo 2

52 Instituições de Direito Público e Privado

Para melhor explicarmos, permitindo inclusive responder a pergunta

sobre o nome de nossa disciplina, é importante que você consiga visualizar a

divisão entre esses dois ramos.

Para tanto, montaremos um quadro que aborda a divisão do direito em

público e privado e detalha claramente a subdivisão dentro de cada um.

DIREITO PÚBLICO DIREITO PRIVADO

• Direito constitucional

• Direito administrativo

• Direito tributário

• Direito processual (civil, penal, trabalhista)

• Direito penal

• Direito eleitoral

• Direito militar

• Direito civil

• Direito empresarial

Quadro 1 – Os ramos do direito público e do direito privado

Como podemos observar, o direito público engloba um maior número

de ramos que o direito privado. Isto se deve ao fato de que as relações típicas

entre particulares, sem interferência do Estado, são reduzidas ao direito civil

(do qual se originou o direito empresarial). Também se deve ao fato de que

as relações nas quais o Estado atua, e que geram os ramos do direito público,

são mais amplas que as áreas em que somente os particulares irão atuar (o que

não quer dizer que as relações entre particulares estejam em segundo plano).

O ramo mais importante do Direito é o direito constitucional, que

dentro da classificação tradicional é considerado um ramo, por excelência,

pertencente ao direito público.

Para demonstrar a importância da Constituição dentro da ordem jurídica,

vale a pena lermos o preâmbulo e os princípios fundamentais previsto no texto:

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade

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Capítulo 2

53Instituições de Direito Público e Privado

fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

TÍTULO IDos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:I - a soberania;II - a cidadania;III - a dignidade da pessoa humana;IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V - o pluralismo político.Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:I - independência nacional;II - prevalência dos direitos humanos;III - autodeterminação dos povos;IV - não-intervenção;V - igualdade entre os Estados;VI - defesa da paz;VII - solução pacífica dos conflitos;VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;X - concessão de asilo político.Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

Observe, aluno(a), como os princípios fundamentais da Constituição

apresentam temas relevantes à organização do Estado, mas também para

questões relacionadas ao indivíduo, atuando em muitos momentos de forma

integrada ao Código Civil.

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Capítulo 2

54 Instituições de Direito Público e Privado

Para que isso fique mais claro, leia os artigos iniciais do Código Civil

brasileiro de 2002:

Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:I - os menores de dezesseis anos;II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;IV - os pródigos.Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;II - pelo casamento;III - pelo exercício de emprego público efetivo;IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião,

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Capítulo 2

55Instituições de Direito Público e Privado

não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.Art. 9o Serão registrados em registro público:I - os nascimentos, casamentos e óbitos;II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal;II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação.

Lendo a Constituição e o Código Civil, podemos fazer a seguinte

pergunta: existe relação entre eles?

A resposta é sim, e gera importantes consequências.

É importante lembrar que, nos dias atuais, já existe uma corrente que defende

a publicização (com o significado de sofrer interferência do direito público) do

direito privado, ampliando assim as áreas de influência do direito público. Assim,

as necessidades do Estado acabam interferindo em ramos que antes eram só dos

particulares, vinculando-os e tornando o direito público o ramo central do direito.

Inclusive, a citação que foi feita dos princípios fundamentais da

constituição serve para reforçar que esta diferença tem cada vez menos

emprego prático, ficando mais no campo do estudo teórico dos juristas.

Rizzatto Nunes (2006) defende ainda a existência do chamado direito

difuso, que engloba ramos como o direito do trabalho e o direito do consumidor.

Diz o autor (2006, p. 187) que “os direitos difusos são aqueles cujos titulares

não podem ser especificados. São os fatos que determinam a ligação entre

essas pessoas, cujos direitos não podem ser partidos: são indivisíveis”.

Aqui, conforme a classificação, observamos que a divisão tradicional

entre direito público e privado já não responde a todas as necessidades

do estudo do direito. Essa concepção é importante para que, no quarto

capítulo, quando estudaremos o direito do consumidor, possamos ter

claro que este ramo não está dentro da classificação tradicional feita pela

ciência do direito, mas situado em um novo ramo que surge em razão de

novas relações sociais.

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Capítulo 2

56 Instituições de Direito Público e Privado

Para você que está buscando noções sobre direito, a compreensão

da distinção entre direito público e privado pode ajudá-lo a identificar, em

situações concretas, o tipo de relação jurídica desenvolvida.

Nosso conteúdo, neste capítulo, abordou vários conceitos importantes para o estudo do direito. Com base no que foi exposto até o momento, reflita sobre situações em seu dia a dia em que possa ocorrer interferência do direito objetivo e do direito subjetivo.

REFLEXÃO

2.2.3 O conceito de justiça

Figura 2 – A estátua da justiçaFonte: <www.freedigitalphotos.net>.

Definir justiça é um dos pontos que, ao longo da história, tem sido

objeto de inúmeros trabalhos de filósofos, sociólogos e juristas. Uma definição

exata provavelmente é algo impossível, pois o tema suscita várias questões

polêmicas e que podem mudar conforme a abordagem. Pense nos seguintes

exemplos: será que o homem é um ser justo? Um advogado corrupto pode ser

um professor justo? – esse tema também terá uma relação direta com o que

estudamos no capítulo anterior, relacionado à sociedade e à ética.

Assim, para facilitar seu estudo, procuraremos apontar os principais

elementos do conceito de justiça e relacioná-los ao direito, a fim de cumprir

os objetivos do estudo de nossa disciplina.

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Capítulo 2

57Instituições de Direito Público e Privado

A origem do conceito de justiça pode ser considerada a Grécia antiga, principalmente em filósofos como Cícero, Sófocles e Platão. Outros nomes que ao longo dos séculos desempenharam estudos valiosos sobre o tema são Thomas Hobbes e Immanuel Kant.

SAIBA QUE

A noção de justiça sempre instigou o pensamento dos filósofos do direito.

Hans Kelsen, no início de um de seus livros, faz uma abordagem interessante

sobre o problema da justiça. Diz ele:

A justiça é, antes de tudo, uma característica possível, porém não necessária, de uma ordem social. Como virtude do homem, encontra-se em segundo plano, pois um homem é justo quando seu comportamento corresponde a uma ordem dada como justa. Mas o que significa uma ordem justa? Significa essa ordem regular o comportamento dos homens de modo a contentar a todos, e todos encontrarem sob ela felicidade. O anseio por justiça é o eterno anseio do homem por felicidade. Não podendo encontrá-la como indivíduo isolado, procura essa felicidade dentro da sociedade. Justiça é felicidade social, é a felicidade garantida por uma ordem social (KELSEN, 2001, p. 2).

A ideia desenvolvida por Kelsen nos apresenta alguns elementos

importantes para entender o significado de justiça. O primeiro seria a noção

de que uma ordem social pode não ser justa e mesmo assim ser considerada

uma ordem social. Isso serve para concebermos que uma ordem jurídica,

em determinada sociedade, pode trazer um conjunto de normas que não

estejam diretamente relacionadas à justiça. Um outro elemento importante

no pensamento de Kelsen sobre a justiça é a busca pela felicidade, pois com

a noção de felicidade, ou seja, o bem-estar de todos, podemos considerar

essa sociedade como justa.

Cabe ressaltar que Kelsen não considera felicidade um conceito de

fácil definição (assim como o de justiça), pois engloba um grande número de

variáveis. Considere o seguinte exemplo: uma ação pode fazer o sujeito “A”

feliz e o sujeito “B” infeliz; outra ação, contrária à primeira, pode fazer ambos

infelizes, e uma terceira ação pode fazer “B” feliz e “A” infeliz. Assim, a justiça

está relacionada ao sujeito que a julga, podendo variar de sujeito para sujeito.

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Capítulo 2

58 Instituições de Direito Público e Privado

Rizzatto Nunes (2006, p. 305), por sua vez, ressalta que a justiça só

pode ocorrer em uma sociedade com igualdade mínima entre os homens,

pois esta noção, já clássica, é a de tratar de forma igual os iguais e de forma

desigual os desiguais.

Uma das mais famosas frases sobre a relação entre direito e justiça foi escrita por Eduardo Couture, em seus Mandamentos do advogado: “Teu dever é lutar pelo direito, mas no dia em que encontrares o direito em conflito com a justiça, luta pela justiça” (COUTURE apud RIZZATTO, 2006, p. 296).

CURIOSIDADE

Vamos agora relacionar a justiça ao direito, ampliando o que

trabalhamos no primeiro capítulo. Veja o seguinte exemplo: uma lei,

aprovada pelo Legislativo, ou seja, pelos representantes do povo, poderá

ser considerada injusta mesmo que sob o aspecto estritamente jurídico ela

não tenha problemas? E se ela for injusta, poderá continuar sendo válida

na ordem jurídica? Essa análise leva em conta a própria noção de sociedade

que se deseja. Uma sociedade, para ser considerada justa, deve preservar os

elementos de igualdade e liberdade, pois eles são os fundamentos intrínsecos

ao conceito de justiça.

Miguel Reale, mesmo reconhecendo a importância da igualdade e

liberdade, não identifica a justiça com esses valores. Diz o autor: “Ela [a justiça]

é antes a condição primeira de todos eles, a condição transcendental de sua

possibilidade como atualização histórica. Ela vale para que todos os outros

valores valham” (REALE, 2002, p. 375). Aqui podemos, com base na citação,

começar a entender um elemento central do pensamento de Reale, quando

relaciona direito e justiça: a de que o direito tem como fundamento a justiça.

Quando a sociedade for justa, e o direito é um meio de se atingir isso, teremos

maior possibilidade de paz e harmonia social.

Mas cabe fazer uma ressalva ao pensamento de Reale: uma lei pode,

aparentemente, gerar uma situação injusta. Por mais que o direito venha

a ser um importante elemento para se atingir a justiça, normas jurídicas

podem conter em seus comandos elementos potenciais que venham a

provocar injustiça. Pense no caso de uma ação de despejo de uma família

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Capítulo 2

59Instituições de Direito Público e Privado

de baixa renda que não tenha como honrar o aluguel em razão de estar

desempregada. Aqui podemos ver que o direito, mesmo admitido seu

fundamento na justiça, pode contemplar normas que não estejam dentro

desta perspectiva. A justiça sempre estará relacionada ao direito, mas

nem sempre de forma fácil.

2.2.4 O conceito de cidadania

Como último ponto deste capítulo, estudaremos noções de cidadania.

Se justiça é uma palavra que possui vários significados, o mesmo acontece

com a palavra cidadania. Seu estudo mistura elementos de direito,

sociologia, filosofia e ciência política, e possui abordagens diferentes nas

mais variadas correntes do pensamento. Desta forma, para facilitar seu

estudo, faremos algumas referências históricas para abordar os elementos

atuais desse conceito.

A discussão sobre a cidadania existe desde os tempos antigos, tendo Aristóteles como um de seus maiores expoentes. O grande ponto de afirmação dessa ideia, na era moderna, ocorreu nas revoluções Inglesa (século 17), Francesa (1789) – ambas foram momentos de rompimento com o estado absolutista – e Americana (1778).

SAIBA QUE

Falar de cidadania é falar de um conceito que está em constante

evolução e que não pode ser compreendido como definitivo, pois conforme

uma sociedade for ampliando a perspectiva, terá também de ampliar

os mecanismos para fazer com que esse direito, a cidadania, seja mais

acessível ao povo. Ser cidadão, em sentido amplo, é ter acesso a direitos

individuais (como o ir e vir e a liberdade de expressão), ter direito a uma

vida digna e direitos sociais (saúde e educação), bem como a possibilidade

de participar dos destinos da sociedade.

James Pinski e Pinsky (2003, p. 10) resumem a complexidade da noção

de cidadania ao expor que “cidadania não é uma definição estanque, mas um

conceito histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço.

É muito diferente ser cidadão na Alemanha, nos Estados Unidos ou no Brasil”.

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Capítulo 2

60 Instituições de Direito Público e Privado

Essa citação nos dá uma exata noção como a concepção de cidadania

trabalha com vários elementos e, em muitos casos, só tem sentido de

for estudada sob o foco de uma realidade concreta (p. ex., a sociedade

brasileira).

A concepção de cidadania surge na Grécia antiga, onde o cidadão

era contraposto ao bárbaro, passa pelo pensamento moderno, com

a concepção de participação no processo político e o fim dos status e

privilégios feudais, e atualmente engloba uma série de elementos tais

como o respeito à diversidade e o acesso a bens e serviços a todos.

A cidadania pode ser compreendida também com um atributo

relacionados ao exercício dos direitos políticos (direitos estes previstos

na Constituição). Assim, um conceito que podemos ter de cidadania é

que ela significa a participação no processo político, compreendida essa

participação como o ato de votar, ser votado e interferir ativamente (p.

ex., participando de campanhas eleitorais).

Figura 3 – Um dos mais importantes momentos da cidadania: o voto

Alexandre Beck

Esse é o último ponto que vamos abordar sobre cidadania. O sentido

mais estritamente jurídico é aquele que trabalha o conceito sob a ótica

de participação no processo político eleitoral, votando ou sendo votado.

A cidadania e o cidadão, sob uma ótica estritamente jurídica, podem ser

entendidos como um atributo ao nacional (aquele que possui vínculo jurídico

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Capítulo 2

61Instituições de Direito Público e Privado

com um Estado) de ter possibilidade de exercer seus direitos políticos. Nos

próximos capítulos, retomaremos o conceito jurídico de cidadania, pois ele

mantém relação com os direitos fundamentais e seu exercício.

Desta forma, vamos observar, como salienta Silva Neto (2009, p.

265), que o conceito de cidadania pode ser dividido em sentido estrito

(relacionado ao ato de votar), e em sentido amplo (relacionado à obrigação

do Estado em proteger os direitos individuais e socais do indivíduo). Esse

conceito amplo será muito importante para nosso próximo capítulo,

visando oferecer uma correta compreensão sobre o sentido dos direitos

fundamentais.

Agora, vamos aplicar o que aprendemos em um estudo de caso?

2.3 Aplicando a teoria na prática

Estudamos conceitos importantes em nossa disciplina e é fundamental

para você uma boa compreensão e uma correta fixação dos mesmos. Para

trabalharmos os conceitos abordados nesse capítulo, considere o seguinte caso.

Antônio Silva, brasileiro nato, deseja candidatar-se ao cargo de

vereador na cidade do Rio de Janeiro. Como primeiro passo, após ter a

indicação do partido, ele procura conhecer as exigências da lei para efetivar

o registro de sua candidatura. Ele verifica que precisa ser maior de 18 anos,

ser alfabetizado e ter título de eleitor na cidade do Rio de Janeiro.

Após reunir toda a documentação necessária, Antônio vai à Justiça

Eleitoral para formalizar sua candidatura. Após o prazo previsto para

divulgação do deferimento, Antônio recebe a informação de que sua

candidatura foi indeferida, pois não ficou comprovada a sua alfabetização

(requisito previsto em lei para concorrer ao cargo de vereador). Indignado,

ele argumenta que isso é uma injustiça, pois está anexado, junto à

documentação para sua candidatura, o diploma de conclusão do ensino

fundamental realizado em supletivo da Secretaria Estadual de Educação.

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Capítulo 2

62 Instituições de Direito Público e Privado

Mesmo após essa argumentação, a funcionária da justiça eleitoral diz

que não poderá ser realizado seu registro, pois supletivos não demonstram

escolaridade. Antônio fica indignado e considera ter sido praticado contra

ele uma ilegalidade (violação ao previsto na lei) e uma injustiça, pois ele

possui o certificado do supletivo de conclusão de ensino fundamental. Ele

procura um advogado e explica a situação. Seu advogado decide ingressar

com uma ação na justiça eleitoral que, após a análise das provas, reverte

a decisão inicial e concede a Antônio o direito de se candidatar ao cargo

de vereador no município do Rio de Janeiro.

O caso apresentado trabalha com alguns elementos do nosso

estudo ao longo desse capítulo. Você consegue identificar quais são esses

elementos?

Após refletir, você deve ter notado que um primeiro elemento

trabalhado no caso é a cidadania, manifestada pela vontade de Antônio

Silva de concorrer a vereador. Aqui ele deseja participar do processo

político e exercer um direito. Ao desejar concorrer a vereador, terá de

verificar quais os requisitos previstos em lei para concorrer ao cargo e ver

como poderá registrar sua candidatura. Antônio utiliza o direito objetivo

(o previsto na lei eleitoral) e o direito subjetivo (a faculdade que lhe

é atribuída de concorrer ao cargo de vereador do município do Rio de

Janeiro). Por último, ao conseguir reverter a decisão que indeferiu sua

candidatura, ele utiliza a concepção de justiça, atrelada ao direito, pois

uma vez que tinha todos os requisitos necessários para concorrer ao cargo,

a negativa de seu registro configurava uma grave injustiça contra ele.

Veja como esse exemplo serve para que os conceitos aqui trabalhados

sejam relacionados a situações cotidianas, mostrando-os como elementos

reguladores da sociedade.

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Capítulo 2

63Instituições de Direito Público e Privado

2.4 Para saber mais

Título: Introdução ao estudo do direito

Autor: GUSMÃO, P. Editora: Forense, RJ Ano: 2001

No capítulo 2, o autor faz uma distinção dos conceitos de direito objetivo e subjetivo, explicando seus sentidos e sua relação com a expressão direito positivo.

Título: Manual de introdução ao estudo do direito

Autor: NUNES, R. Editora: Saraiva, SP Ano: 2006

No capítulo 4, o autor aborda claramente os conceitos de direito objetivo e positivo, direito público e privado, além de detalhar essas classificações (inclusive com exercícios ao final). Confira!

Título: O que é justiça

Autor: KELSEN, H. Editora: Martins Fontes, SP Ano: 2001

Nesta obra, o autor, um dos grandes nomes da teoria do direito,faz uma interessante análise sobre o conceito de justiça e suas relações com outras áreas do conhecimento. É uma leitura densa, mas interessante aos que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre o tema da justiça.

Título: História da cidadania

Autor: PINSKI, J.; PINSKY, C. B. Editora: Contexto Ano: 2003

A obra reúne vários artigos que abordam as origens, o desenvolvimento e a atual situação no Brasil do conceito de cidadania. É um material importante para uma introdução ao tema. Verifique!

Site: Portal da Legislação

URL: http://www.planalto.gov.br/legislacao/

Neste site oficial da Presidência da República, você vai encontrar todas as leis em vigor no Brasil e serve para um importante reforço em seu estudo a fim de se ter um primeiro contato com o direito positivo brasileiro.

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Capítulo 2

64 Instituições de Direito Público e Privado

2.5 Relembrando

Neste capítulo, estudamos os seguintes temas:

• os conceitos de direito objetivo e subjetivo, vendo as características

e as distinções entre ambos, bem como as diferenças e semelhanças

para com o conceito de direito positivo;

• a ideia das fontes do direito, seu sentido e significado, e a divisão

entre direito público e privado;

• a relação do direito com a justiça, e de que modo podemos

compreender o significado de justiça dentro da sociedade;

• a origem do conceito de cidadania, seu sentido atual e sua relação

com a ordem jurídica, tanto no aspecto de ampliá-lo como de

limitá-lo.

2.6 Testando os seus conhecimentos

1) Assinale a alternativa correta.

a) O direito objetivo pode ser considerado como a soma dos direitos

positivo e subjetivo e a criação da chamada ordem jurídica.

b) O direito objetivo é a fonte de nascimento do direito subjetivo,

fazendo com que o seu titular seja obrigado a exercitá-lo sempre

que estiver ocorrendo a situação prevista pela norma jurídica.

c) O direito objetivo pode ser entendido como o conjunto de normas

em si, enquanto o direito subjetivo é visto como a possibilidade de

exigir uma prestação de outro que seja oriunda do direito objetivo.

d) Direito positivo é um conceito semelhante ao de direito objetivo, e

ambos criam a noção de direito subjetivo, nascida em decorrência

do previsto nas normas jurídicas e da vontade de seus destinatários.

2) Assinale a alternativa correta.

a) As fontes do direito podem ser consideradas como lei, doutrina e moral,

e servem para vincular o trabalho do poder legislativo à criação de leis.

b) As fontes do direito estão relacionadas ao processo de formação das

leis, sendo que no Brasil atual os principais veículos de formação da lei

são a doutrina e a jurisprudência.

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Capítulo 2

65Instituições de Direito Público e Privado

c) A distinção entre direito público e privado surge no direito romano e

tem por base a distinção entre o objeto tratado por cada de um desses

ramos, sendo o direito público, principalmente nos dias atuais, mais

amplo que o direito privado por englobar um maior número de ramos

e ter influência nos ramos do direito privado.

d) A distinção entre direito público e privado surge na Idade Média e

tem por base a distinção entre o objeto tratado em cada um desses

ramos, sendo o direito privado mais amplo que o direito público por

englobar um maior número de ramos.

3) Em relação ao conceito de justiça, é correto afirmar que:

a) a justiça é considerada como um critério para validar normas

jurídicas, sendo que normas que desrespeitem o conceito de justo

devem ser invalidadas.

b) a justiça está relacionada a um tratamento que observe o princípio

da igualdade, mas que não interfira na esfera individual dos

homens, permitindo assim que alguns não aceitem os parâmetros

de justiça vigentes na sociedade.

c) a relação entre direito e justiça está no fato de que as leis são sempre

dotadas de um patamar de “justo”, e isso leva à consideração o que

pode ou não ser válido dentro da ordem jurídica.

d) a relação entre direito e justiça está no fato de que as leis podem

ser dotadas de um patamar de “justo”, mas é permitida a existência

de leis injustas.

4) Assinale a alternativa correta.

a) A cidadania deve ser entendida como um conceito em evolução, e

em relação ao direito pode ser entendida como a possibilidade do

nacional estar no exercício dos direitos políticos.

b) O conceito de cidadania engloba algumas variáveis tais como o

exercício de direitos civis e políticos, sendo um elemento essencial

dentro de um estado democrático.

c) A cidadania significa um conceito jurídico criado para permitir

a alguns cidadãos a possibilidade de participação no processo

político, estando dissociada de outros ramos do conhecimento

(como a história, a sociologia e a ciência política).

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Capítulo 2

66 Instituições de Direito Público e Privado

d) A cidadania é um conceito elaborado nos tempos atuais e leva em

conta somente o direito de votar e ser votado, conforme podemos

perceber na Constituição do Brasil, que trata a cidadania somente

com base nesta ideia.

5) A cidadania, apesar de ser uma ideia complexa, é um dos elementos mais

importantes da sociedade moderna. Com base no conceito apresentado em

nosso estudo e utilizando os outros elementos abordados até o momento,

elabore um texto dissertativo sobre como você exerce a cidadania em seu

cotidiano.

Onde encontrar

GUSMÃO, P. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2001.

KELSEN, H. O que é justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

NUNES, R. Manual de introdução ao estudo do direito. 6. ed. São Paulo:

Saraiva, 2006.

PINSKI, J.; PINSKY, C.B. (Org.). História da cidadania. São Paulo: Contexto,

2003.

REALE, M. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

SILVA NETO, M. J. Curso de direito constitucional. 4. ed. Rio de Janeiro:

Lumen Júris, 2009.

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Capítulo 3

67Instituições de Direito Público e Privado

DOS DIREITOS DO CIDADÃO

CAPÍTULO 33

3.1 Contextualizando

Após termos estudado conceitos jurídicos (como as acepções do conceito

de direito) e suas relações com áreas próximas ao mundo do direito (como

sociedade e cidadania), vamos agora entrar em um ponto essencial dentro de

nosso estudo: o conceito e a estrutura dos direitos fundamentais.

Inicialmente você deve estar se perguntado: o que são direitos

fundamentais? Não seriam fundamentais todos os direitos presentes na lei?

O que diferencia um direito fundamental de um direito não fundamental?

Essas perguntas são importantes para um correto entendimento da disciplina

e espero, ao final do capítulo, ter mostrado um conteúdo suficiente para

respondê-las com tranquilidade.

Falar de direitos fundamentais é falar de um grupo de direitos presentes

no texto da Constituição de um país (no caso do nosso estudo, será a do

Brasil) e sobre eles verificar sua importância e sentido, procurando mostrar

como esses direitos constituem a base sobre a qual será montada uma série

de derivações para outros direitos. A você, estudante, que está mantendo o

primeiro contato com o mundo do direito, aconselho prestar muita atenção

nos pontos de nosso estudo neste capítulo, pois serão abordadas questões

importantes para a sua formação profissional e atuação como cidadão.

Nosso estudo abordará os direitos fundamentais, como falei anteriormente,

mas também tratará dos direitos humanos, em razão da estreita relação entre

eles. Para dar uma base mais forte, vamos trabalhar vários aspectos da formação

dos direitos ao longo da história, uma distinção conceitual entre direitos

fundamentais e direitos humanos, uma visão geral sobre como a Constituição

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Capítulo 3

68 Instituições de Direito Público e Privado

Brasileira de 1988 tratou o tema dos direitos fundamentais e uma análise sobre

a estrutura dos direitos de liberdade e igualdade.

Ao final do capítulo, você deverá compreender o sentido dos “direitos

fundamentais” e saber diferenciá-los de outras categorias de direitos existentes

na ordem jurídica. Vamos adiante?

3.2 Conhecendo a teoria

Os direitos fundamentais são, portanto, um grupo de direitos presentes

no texto da Constituição e que constituem uma forma de proteção ao ser

humano, no aspecto de sua dignidade.

Ao longo da história de humanidade, sempre houve preocupação em

defender pontos essenciais para garantir ao ser humano uma existência digna.

Assim, o debate em torno dos direitos fundamentais surge com a própria

noção de vida e ao longo dos anos. Para Alexandre de Moraes, o processo

de formação dos direitos fundamentais foi ocorrendo ao longo dos séculos,

culminando em direitos relacionados à nossa época, como o meio ambiente.

Diz Moraes (2004, p. 83):

[...] modernamente protege-se, constitucionalmente, como direitos de terceira geração os chamados direitos de solidariedade ou fraternidade, que englobam o direito a um meio-ambiente equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao progresso, a paz, a autodeterminação dos povos e a outros direitos difusos, que são, no dizer de José Marcelo Vigliar, os interesses de grupos menos determinados de pessoas, sendo que entre elas não há vínculo jurídico ou fático muito preciso.

Direitos fundamentais, tal como nós entendemos, são tipicamente uma

construção da modernidade. Falar em direitos fundamentais na Antiguidade

não é correto, mas isso não significa que não existam algumas raízes que

possamos encontrar antes do advento da modernidade, como na filosofia

histórica. Os filósofos históricos sempre falavam muito de igualdade e,

portanto, vamos encontrar sim no pensamento antigo raízes da ideia de

direitos humanos (mais à frente faremos uma distinção entre direitos humanos

e direitos fundamentais; para o momento, vou utilizá-las como expressões

relacionadas entre si).

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Capítulo 3

69Instituições de Direito Público e Privado

Agora, por que não se falava em direitos humanos naquela época?

Porque sequer existia a concepção de pessoa. Essa ideia de pessoa que, para

nós, parece tão óbvia é uma construção moderna. Uma das características

da época pré-moderna é que ela era concebida como um organismo. Cada

indivíduo era considerado uma parte do todo. Não havia uma noção de

identidade humana individual.

O mundo antigo era um mundo essencialmente estamental, ou seja, os

deveres e direitos de cada um dependiam do estamento no qual cada um

se localizava. Então, se o sujeito era um patrício, ele tinha status; se fosse

um plebeu, tinha outro status completamente diferente. A lógica não era do

direto, era do status. Dependendo da posição dentro da sociedade, concebida

como um todo orgânico, decorria o reflexo de direitos e obrigações. Mas não

eram direitos humanos, eles não decorriam da natureza humana.

Agora você deve estar se perguntando: o que é modernidade?

Quando falamos de modernidade, trata-se de uma série de fatores que juntos permitiram a construção desse modelo moderno de direitos

humanos. Que fatores são esses? Posso citar o fim do monopólio da fé com a reforma e a contrarreforma (tanto é que o primeiro direito humano afirmado na trajetória histórica é o direito de liberdade de religião). A evolução da ciência também teve um papel muito grande. O advento da imprensa para difundir novas ideias também.

CURIOSIDADE

O cenário para formação dos direitos humanos começa com o estado

moderno, ou seja, o fim do feudalismo e o começo do absolutismo. Nessa

época iniciam as lutas pelo reconhecimento de direitos inerentes ao homem,

em documentos como o Bill of Rights. Nestes primórdios surgem os elementos

que nos permitem entender a origem dos direitos humanos (primeira expressão

relacionada aos direitos inerentes ao ser humano), ligados em grande parte às

aspirações da burguesia.

Quando naquela época se dizia que cada um pode exercer sua

profissão, sua religião, seu direito à propriedade, isso convinha com os

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Capítulo 3

70 Instituições de Direito Público e Privado

interesses da burguesia, porque era a classe mais forte, mas havia uma

contradição nesse modelo: se, por um lado, se proclamava a igualdade de

todos, por outro, os pobres não votavam. Negavam-se os direitos políticos

por razões econômicas. Excluíam-se alguns do espaço de deliberação, mas

se afirmava a igualdade. Essa contradição era ainda maior em países que

tiveram escravidão, como o Brasil e os Estados Unidos, pois ao mesmo tempo

em que se falava de liberdade e igualdade, mantinha-se a escravidão, que

era a negação mais profunda de liberdade e igualdade. Isso sem falar nas

mulheres que sequer eram consideradas cidadãs, tanto é que a declaração

fala em direitos do homem, mostrando claramente uma sociedade na qual

a mulher estava confinada no espaço privado. Assim, a luta por afirmação

dos direitos fundamentais esteve ligada à inclusão de grupos excluídos da

sociedade e ao respeito à diferença, pontos que até os dias atuais continuam

sendo o cerne da busca pela ampliação destes direitos

Mas a ideia básica dos direitos humanos foi plantada nessa época e de lá

para cá vem evoluindo ao longo das décadas. Algumas flores só vão germinar

mais adiante, mas a essência foi plantada com o pensamento dos filósofos

iluministas. Cada um com uma visão um pouco diferente, mas todos afirmando

a liberdade e igualdade. Coisas da razão!

Desta forma, o surgimento dos direitos fundamentais é diretamente

ligado à concepção de direitos humanos, e durante muito tempo ambos

foram inclusive considerados sinônimos. Com o fim do estado absolutista, cujo

marco foi a Revolução Francesa, começa a ganhar força a ideia de direitos

fundamentais como conceito autônomo. Mas é com o advento do século

20 e após as duas grandes guerras que essa divisão conceitual se torna mais

forte, sendo aceita nos dias atuais por grande parte da doutrina, sem que isso

signifique um esvaziamento dos conceitos de direitos humanos.

CONCEITOCONCEITO

Direitos humanos são aqueles direitos inerentes ao ser humano, previstos em documentos internacionais (tratados internacionais, declarações de direitos e convenções internacionais).

Direitos fundamentais são aqueles inerentes ao ser humano, previstos no texto constitucional (ou seja, na constituição de cada país).

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Capítulo 3

71Instituições de Direito Público e Privado

Em nossa disciplina, faremos a opção pelo estudo dos direitos

fundamentais, pois eles são os que estão presentes no texto da Constituição

Brasileira de 1988. Os direitos humanos não deixam de ter importância

em razão de nossa opção, mas passam a ser um elemento acessório no

estudo, pois estaremos trabalhando com aquilo que é previsto no texto

constitucional. Para você, em seu primeiro contato com este tema, direitos

humanos e direitos fundamentais em muitos momentos podem ter o mesmo

significado, e aí fica uma pergunta: além dos conceitos, o que mais permite

distinguir direitos humanos de direitos em geral? Pode-se responder a

pergunta com a seguinte ideia: os direitos humanos têm uma abrangência

maior, pois estão previstos.

A Revolução Francesa foi um conjunto de fatos ocorridos em 1789 que colocou fim ao estado absolutista, cuja lógica de exercício absoluto do poder predominava naquela época. Antes da Revolução, a França era dividida em três grupos: a nobreza, o clero e o terceiro estado, sendo que a lei só valia para o último. No terceiro estado estavam englobados a burguesia (nova classe que tinha surgido com o sucesso do mercantilismo) e

o proletariado. Incomodada com a crescente cobrança de impostos, a burguesia, que já era detentora do poder econômico, passou a desejar o poder político e teve na revolução por ela comandada, em 1789, o seu objetivo alcançado. Dentre os vários nomes do processo revolucionário, destacam-se Danton e Robespierre.

SAIBA QUE

Após esta abordagem sobre a formação dos direitos fundamentais,

vamos agora estudar a sua evolução. Para tornar o estudo mais direto e

adequado, adotaremos o critério histórico, com base na exposição de Marcelo

Alexandrino e Vicente Paulo.

O primeiro grupo de direitos fundamentais, para Alexandrino e

Paulo (2008, p. 93), são os de primeira geração, cujo surgimento data do

final do século 18, passando pelo século 19 e florescendo no século 20.

Compreendem as liberdades negativas clássicas e dão maior destaque ao

princípio da liberdade.

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Capítulo 3

72 Instituições de Direito Público e Privado

O segundo grupo identifica-se com as liberdades positivas, reais e

concretas, estando relacionados à noção de igualdade entre os homens. Aqui

estão os direitos sociais, econômicos e culturais.

O terceiro grupo está ligado ao princípio da solidariedade e são

atribuídos genericamente a todas as formações sociais, protegendo interesses

de titularidade coletiva ou difusa. São os direitos do meio ambiente,

autodeterminação dos povos, progresso e desenvolvimento.

Para fixarmos as gerações de direitos fundamentais, faremos um quadro

que servirá de apoio ao seu estudo.

Direitos de primeira geração Direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à participação política e religiosa.

Direitos de segunda geração Direitos econômicos, sociais e culturais.

Direitos de terceira geração Meio ambiente, autodeterminação dos povos, progresso e desenvolvimento.

Quadro 1 – As gerações dos direitos fundamentais

Autores como Alexandrino e Paulo fazem uma relação entre a evolução das gerações de direitos fundamentais com os ideais da Revolução Francesa. Assim, os direitos de primeira geração estão relacionados às liberdades, os direitos de segunda geração à igualdade e os direitos de terceira geração à fraternidade.

CURIOSIDADE

Atualmente são aceitas três gerações de direitos fundamentais, mas

nada impede que venham a surgir novas gerações (inclusive nos dias atuais

já se comenta sobre uma quarta geração), bastando para o surgimento

desse novo grupo a necessidade de proteção a direitos que não estejam

enquadrados nos grupos anteriores (no capítulo sobre o biodireito,

voltaremos a esse tema).

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Capítulo 3

73Instituições de Direito Público e Privado

3.2.1 Os direitos fundamentais na Constituição de 1988

Após o estudo da origem, evolução e sentido dos direitos fundamentais,

passaremos a outro ponto importante do nosso estudo: os direitos fundamentais

na Constituição de 1988.

O conceito de direitos fundamentais trabalhado no item anterior faz clara

menção que estes direitos estão presentes no texto da Constituição. E o Brasil

adotou essa concepção ao elaborar sua nova Constituição, surgida após o fim

do regime. Essa Constituição restabeleceu o regime democrático e permitiu que

os direitos fundamentais tivessem uma maior amplitude, pois uma democracia

precisa de direitos fundamentais para estar plenamente constituída.

Figura 1 – A Constituição Brasileira de 1988, um marco para os direitos fundamentaisFonte: <www.blogdaaprovacao.blogspot.com>.

José Afonso da Silva apresenta uma interessante classificação dos direitos

fundamentais na Constituição, com base na estrutura do texto. Diz o autor

(2004, p. 184) que, conforme o critério do conteúdo, teremos:

(a) direitos fundamentais do homem-indivíduo, que são aqueles que reconhecem autonomia aos particulares, garantindo iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais membros da sociedade política e do próprio Estado, por isso são reconhecidos como direitos individuais, como é de tradição do Direito Constitucional

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74 Instituições de Direito Público e Privado

brasileiro (art. 5º), e ainda por liberdades civis e liberdades-autonomia (liberdade. Igualdade, segurança, propriedade); (b) direitos fundamentais do homem-nacional, que são os que têm por conteúdo e objeto a definição da nacionalidade e suas faculdades; (c) direitos fundamentais do homem-cidadão, que são os direitos políticos (art. 14, direito de eleger e ser eleito), chamados também direitos democráticos ou direitos de participação política e, ainda, inadequadamente, liberdades políticas (ou liberdades - participação), pois estas constituem apenas aspectos dos direitos políticos; (d) direitos fundamentais do homem-social, que constituem os direitos assegurados ao homem em suas relações sociais e culturais (art. 6º: saúde, educação, seguridade social etc.); (e) direitos fundamentais do homem-membro de uma coletividade, que a constituição adota como direitos-coletivos (art. 5º); (f) uma nova classe que se forma é a dos direitos fundamentais ditos de terceira geração, direitos fundamentais do homem- solidário, ou direitos fundamentais do gênero humano (direito à paz, ao desenvolvimento, comunicação, meio ambiente, patrimônio comum da humanidade).

Em síntese, com base na Constituição, o autor classifica os direitos

fundamentais em seis grupos:

• direitos individuais (art. 5º);

• direitos à nacionalidade (art. 12);

• direitos políticos (arts. 14 a 17);

• direitos sociais (art. 6 º e 193 e ss);

• direitos coletivos (art. 5º);

• direitos solidários (arts. 3º e 225).

Como você, aluno(a), está tendo uma introdução ao direito, é importante,

dentro desse objeto de estudo, trabalharmos com o escrito no texto da

Constituição Brasileira de 1988.

Assim, a partir de cada um dos grupos citados pelo professor José

Afonso da Silva, vamos identificá-los no texto constitucional. Teremos, assim,

a seguinte estrutura de direitos fundamentais no texto da nossa Constituição:

Direitos individuais: art. 5º (cito apenas o caput pois, ao longo do estudo,

citarei os incisos).

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (…).

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Capítulo 3

75Instituições de Direito Público e Privado

Direitos à nacionalidade: art. 12:

Art. 12. São brasileiros:I – natos:a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.II – naturalizados:a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira;§ 1º – Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição; § 2º – A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.§ 3º – São privativos de brasileiro nato os cargos:I – de Presidente e Vice-Presidente da República;II – de Presidente da Câmara dos Deputados;III – de Presidente do Senado Federal;IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal;V – da carreira diplomática;VI – de oficial das Forças Armadas.VII – de Ministro de Estado da Defesa;§ 4º – Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;II – adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis;

Direitos políticos: art. 14 ao art. 17:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

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Capítulo 3

76 Instituições de Direito Público e Privado

I – plebiscito;II – referendo;III – iniciativa popular.§ 1º – O alistamento eleitoral e o voto são:I – obrigatórios para os maiores de dezoito anos;II – facultativos para:a) os analfabetos;b) os maiores de setenta anos;c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.§ 2º – Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.§ 3º – São condições de elegibilidade, na forma da lei:I – a nacionalidade brasileira;II – o pleno exercício dos direitos políticos;III – o alistamento eleitoral;IV – o domicílio eleitoral na circunscrição; V – a filiação partidária; VI – a idade mínima de:a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;d) dezoito anos para Vereador.§ 4º – São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.§ 6º – Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.§ 7º – São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.§ 8º – O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a

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Capítulo 3

77Instituições de Direito Público e Privado

normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.§ 10 – O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.§ 11 – A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;II – incapacidade civil absoluta;III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I – caráter nacional;II – proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes;III – prestação de contas à Justiça Eleitoral;IV – funcionamento parlamentar de acordo com a lei.§ 1º – É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e disciplina partidárias.§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. § 2º – Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.§ 3º – Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei.§ 4º – É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.

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Capítulo 3

78 Instituições de Direito Público e Privado

Direitos sociais: art. 6º e 193 e seguintes (aqui cito os artigos que tratam

da estrutura dos direitos sociais):

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:I – universalidade da cobertura e do atendimento;II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;V – equidade na forma de participação no custeio;VI – diversidade da base de financiamento;VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;III – participação da comunidade.§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do

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Capítulo 3

79Instituições de Direito Público e Privado

art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. § 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3º; II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:I – os percentuais de que trata o § 2º;II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; IV – as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União. § 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. § 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial.§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.§ 1º – As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.§ 2º – É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios

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80 Instituições de Direito Público e Privado

ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.§ 3º – É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.§ 4º – A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II – proteção à maternidade, especialmente à gestante; III – proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV – salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente

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Capítulo 3

81Instituições de Direito Público e Privado

por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;VII – garantia de padrão de qualidade.VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal.

Direitos coletivos: já citados no caput do artigo 5o e que serão citados

neste capítulo e nos seguintes.

Direitos solidários: arts. 3º e 225:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;II – garantir o desenvolvimento nacional;III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Após estudarmos essa classificação dos direitos fundamentais e da

exposição do texto desses direitos, vamos, para o nosso estudo, reduzir um

pouco a exposição dos direitos fundamentais presentes no texto constitucional

e trabalharemos com os direitos de liberdade e igualdade, que constituem o

cerne dos direitos previstos na Constituição.

EXPLORANDOEXPLORANDO

“Direitos fundamentais” é o título do artigo de Flavia Martins André da Silva disponível no site: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2627/Direitos-Fundamentais>. Sugiro que você confira e faça a leitura deste texto, verificando como a Constituição Federal de 1988 espelhou-se na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU e destacando a necessidade dos cidadãos em participar e vigiar os Direitos Humanos, não delegando apenas ao Estado a proteção e aplicação desses direitos.

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Capítulo 3

82 Instituições de Direito Público e Privado

3.2.2 Os direitos de liberdade

Falar sobre os direitos de liberdade é entrar em um tema polêmico e

muitas vezes complexo. Polêmico porque não há nenhum tema mais bonito

que liberdade. Não há como definir o que é liberdade em poucas palavras,

pois o tema engloba uma série de significados.

Uma das frases mais radicais sobre a liberdade foi dita pelo francês Jean-Paul Sartre, que construiu toda a sua filosofia sob a ideia de liberdade. “Somos condenados a sermos livres”, escreveu Sartre.

CURIOSIDADE

Dada a complexidade do termo, em nosso estudo, procurarei enfocar

a liberdade jurídica, mas trazendo elementos concretos que permitam

compreender como os direitos de liberdade podem interferir em suas

ações cotidianas.

LEMBRETELEMBRETE

É importante lembrar do famoso artigo de Benjamin Constant: “A liberdade dos antigos e a liberdade dos modernos”. É um dos clássicos do pensamento político liberal.

Costuma-se contrapor a autonomia pública à autonomia privada.

O modelo de valoração da autonomia pública era a liberdade como

democracia, com a possibilidade de cada um como partícipe de uma

comunidade, influenciando na decisão de seus destinos coletivos. A noção

de liberdade era muito associada à noção de democracia. É a chamada

liberdade dos antigos, muito embora ela seja tão importante hoje como era

no passado. A liberdade, nesse sentido, é uma espécie de autodeterminação

coletiva. Eu sou livre na medida em que tenho a possibilidade de participar

na construção do meu destino coletivo. A outra dimensão da liberdade

é a autonomia privada. Quero enfatizar aqui que me refiro à autonomia

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83Instituições de Direito Público e Privado

privada, não àquele sentido estrito que normalmente querem empregar

os autores de direito privado, que é a autonomia negocial. A autonomia

privada é muito mais do que isso. É a capacidade de cada indivíduo “de ser

o legislador sobre o próprio destino” (frase do filósofo Kant). Quer dizer,

é você quem escolhe os seus caminhos. Cada um deve poder fazer as suas

próprias escolhas de vida.

Isso ocorre em relação aos mais variados aspectos. É a escolha sobre a

profissão, questões existenciais, sobre afetividade. Trata-se da capacidade

de fazer escolhas e se comportar de acordo com essas escolhas. A autonomia

privada é muito importante e talvez seja a coisa mais importante. Agora,

é claro que essa autonomia tem de ser compatibilizada com a autonomia

do outro, porque nós vivemos em sociedade. Caso contrário, seríamos

uma anarquia.

A liberdade tem de se compatibilizar também com alguns outros bens

jurídicos da coletividade: segurança, proteção a gerações futuras, meio-

ambiente. Também não podemos pensar em autonomia privada como algo

absoluto. Historicamente, qual foi o mecanismo para se compatibilizar

autonomia pública com a autonomia privada? A autonomia pública e

a autonomia privada vivem uma certa tensão. Por um lado, permito a

coletividade decidir. Agora, as decisões da coletividade interferem na

minha vida.

Então, a autonomia pública pode comprimir a autonomia privada.

Para evitar que isso ocorra, há um meio historicamente pensado chamado

“Lei”. A Lei é o mecanismo para equacionar autonomia pública e autonomia

privada. Só é possível constranger o comportamento individual pela Lei, e a

Lei repousa no consentimento coletivo dos governados. Mas esse mecanismo

sozinho não é suficiente, daí a constitucionalização da autonomia privada.

Há determinadas emanações da autonomia privada que devem ser postas ao

abrigo da autonomia pública. Devem ser retiradas do comércio político. São

temas que não são da alçada da coletividade.

Algumas dessas dimensões já foram, de alguma maneira, desenhadas

no texto constitucional; por exemplo, liberdade de expressão, liberdade de

religião. Agora essas manifestações não exaurem conteúdo da liberdade. Há

um direito de fundo à liberdade. De modo geral, como esse direito de fundo

à liberdade é protegido fora dessas concretizações específicas da liberdade?

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Capítulo 3

84 Instituições de Direito Público e Privado

Se o Estado é o bem estar social, então não é mais liberdade. Liberdade

é valor instrumental. Agora, vamos pensar em igualdade. Acho que liberdade

continua tão importante como antes só que é menos a liberdade negocial e

mais a liberdade existencial. Mas não quero com isso dizer que a liberdade

negocial não tenha sido protegida.

Na Constituição de 1988, ela foi. A Constituição fala de livre iniciativa, de

propriedade privada. Há uma série de normas que protegem a autonomia negocial.

Mas nesse campo admite-se uma intervenção estatal maior. Admite-se um ativismo

judicial maior, que seria completamente descabido na esfera religiosa, na esfera

das escolhas sobre orientações de vida. Quer dizer, a proteção da liberdade é, em

si mesma, incompatível com a concepção do Estado paternalista, ou seja, de um

Estado que assuma como tarefa a felicidade das pessoas. Mas essa não é a função

do Estado. Cada um persegue a sua felicidade. A função é garantir a possibilidade

a cada cidadão de perseguir a felicidade como achar melhor. Então não cabe

ao Estado tentar impor de forma homogênea algum padrão sobre o que seja a

vida boa. O Estado deve manter uma postura neutra em relação às diferentes

concepções de vida boa que existem no espaço público.

Nessa posição, o Estado tem de tratar todos como livres e iguais,

independente das escolhas possíveis no campo da autonomia existencial.

Portanto, o Estado não pode dar mais proteção a quem se insere em um

estilo de vida tradicional e menos ao sujeito inserido em um estilo de vida

alternativo. Tem de tratar com o mesmo respeito e consideração.

A autonomia privada tem uma dimensão econômica, mas essa dimensão

é temperada por preocupações tais como solidariedade social. Há ainda uma

outra dimensão, a existencial, pela qual a liberdade não pode ser tratada, a

meu ver, como um valor meramente instrumental. Esse é o núcleo duro da

autonomia privada na ordem constitucional contemporânea. Aí chegamos

ao terceiro aspecto, que trata das condições da liberdade. Estou dando essa

denominação, mas há uma outra mais corrente: o mínimo existencial.

Quer dizer, não adianta dizer para o sujeito que ele é livre para escolher

uma profissão se ele não teve acesso ao ensino fundamental. Para que todos

possam usufruir da liberdade, algumas pré-condições materiais devem ser

atendidas. Nos Estados Unidos, é muito famoso um discurso do Presidente

Roosevelt em que ele falou das quatro liberdades fundamentais. Duas eram

tradicionais: liberdade de pensamento e liberdade de religião. Em duas, ele

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Capítulo 3

85Instituições de Direito Público e Privado

trouxe essa dimensão: liberdade da necessidade e a liberdade do medo. Essas

liberdades não são obtidas em um Estado abstencionista.

Em um lugar dominado pelo narcotráfico, a liberdade do medo não

implica em pouco Estado, mas em um Estado presente. É a polícia lá presente.

Então, há uma dimensão material da liberdade que envolve o dever de

proporcionar às pessoas aquelas condições mínimas sem as quais a liberdade

fica como mera fachada.

Agora que já temos uma boa noção sobre o sentido das liberdades, é

importante que façamos uma breve leitura dos incisos do art. 5º da Constituição

Federal de 1988 que tratam sobre este tema. Estes incisos reúnem o cerne dos

direitos de liberdades presentes no texto da Constituição. São eles:

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

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Capítulo 3

86 Instituições de Direito Público e Privado

XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente.

Nesses artigos, podemos observar que a Constituição do Brasil de 1988

não protege apenas uma liberdade, mas um grande número de liberdades

para garantir ao indivíduo ser considerado livre em vários momentos da sua

vida e de seu dia a dia. Esses incisos concentram o núcleo das liberdades na

Constituição Brasileira de 1988.

Figura 2 – A união da liberdade de expressão, da liberdade de reunião e do direito de ir e vir: uma passeataFonte: <http://pt.wikipedia.org>.

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Capítulo 3

87Instituições de Direito Público e Privado

A liberdade, para que possa ser corretamente entendida, deve estar

relacionada às possíveis restrições que possam existir. O que quero dizer com

isso? Para responder, vamos pensar o seguinte exemplo: se uma pessoa quer

exercer sua liberdade de locomoção (direito de ir e vir), ela pode fazê-lo

normalmente, mas se encontrar uma placa que diga “propriedade privada:

entrada proibida” estará diante de uma restrição ao seu direito de ir e vir

(e que está autorizada pela Constituição). Pensar em restrições é pensar nas

limitações existentes ao exercício do direito de liberdade.

Nesse tópico estudamos os direitos fundamentais de liberdade. Agora, para fixar o conteúdo, pense: como, em seu dia a dia, você exerce as liberdades previstas na Constituição e em quais momentos elas lhe são restringidas?

REFLEXÃO

3.2.3 O direito de igualdade

Falar do direito a igualdade é tratar de um dos grandes anseios da

humanidade. Falo isso e vou usar uma pergunta para fundamentar minha

frase: você gosta de ser tratado com desigualdade em relação a outras

pessoas?

A ideia de igualdade não é uma concepção moderna, existindo

desde a Antiguidade - inclusive, quando se fala de igualdade hoje, não

há um livro que não cite Aristóteles. O que é novo é a ideia de que existe

uma igualdade intrínseca entre as pessoas, sendo essa uma concepção

essencialmente moderna, originária do Iluminismo (ela até tinha raízes

em algumas concepções antigas, como o Cristianismo). Mas é uma ideia

juridicamente nova. Quando a igualdade se afirma na Revolução Francesa,

na independência das treze colônias dos Estados Unidos, o primeiro

objetivo é o de abolir os antigos privilégios. Então, a cristalização da

igualdade dar-se-á, sobretudo, pela ideia de Lei, lei geral e abstrata. A

generalidade e abstração da Lei será o nome da igualdade. É uma mesma

Lei que vale para todo mundo no âmbito territorial do Estado. E este foi

um dos grandes avanços da era moderna, pois nunca tinha sido assim.

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Capítulo 3

88 Instituições de Direito Público e Privado

É nesse sentido que Norberto Bobbio, ao escrever sobre liberdade e igualdade, diz que diferentemente da liberdade, a igualdade é um princípio relacional, porque remete a um outro. Por isso, é mais difícil você analisar uma ofensa à igualdade. O que eu quero dizer com isso? A frase “João é livre” é uma frase que faz sentido. Agora, a frase “João é igual” é uma frase que não

faz sentido nenhum. Você é igual a alguém ou a alguma coisa. Quer dizer, a igualdade sempre pressupõe um termo de comparação.

SAIBA QUE

Aí, podemos falar de duas experiências diferentes. Uma, dominante no

mundo, é de que a igualdade perante a Lei praticamente absorve todo o conteúdo

jurídico da igualdade. Não se falava ainda da igualdade na Lei. A igualdade

na Lei era só um ideal. E uma outra experiência identificada com o modelo

norte-americano é que, diante da existência do controle de constitucionalidade

das leis, era possível conjugar a igualdade perante a Lei com a igualdade na

Lei. Mas qual é a diferença da igualdade perante a Lei e a igualdade na Lei?

Igualdade perante a Lei se destina ao aplicador da norma. Diante da norma, ele

não pode agir de forma arbitrária. Não pode desequiparar onde a Lei iguala. Já

a igualdade na Lei é um comando que interessa para o próprio formulador da

norma. Quem formula a norma deve respeitar a igualdade.

A ideia da igualdade estava presente como condicionamento para o

legislador também na Europa. Mas não havia nenhum mecanismo jurídico

para, de alguma maneira, se insurgir contra desigualdades que o legislador

viesse a perpetrar. E por que isso? Porque toda a concepção de direitos era de

direitos por meio da Lei. A Lei era o veículo de direitos. Podemos dizer que

99% dos problemas de igualdade no Brasil se resolvem com igualdade perante

a Lei. A igualdade perante a Lei é o seguinte: é dever da polícia dar o mesmo

tratamento quando ouve o criminoso do colarinho branco e o favelado. Tem

de ter a mesma deferência quando vai cumprir uma busca e apreensão em

uma casa de bairro pobre ou de classe alta. A nossa cultura, de alguma forma,

acabou comprometendo a igualdade perante a Lei. A igualdade perante a

Lei, por exemplo, é um instrumento republicano de separação entre público e

privado. Na nossa tradição brasileira, para os inimigos, você tem a lei e, para

os amigos, você tem o “jeito”. É o famoso jeitinho. Então, a igualdade perante

a Lei tem uma importância excepcional.

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Capítulo 3

89Instituições de Direito Público e Privado

A igualdade perante a Lei é até mais importante do que a igualdade

na Lei do ponto de vista prático no nosso país. Agora, é bom incorporar

também a ideia da igualdade na Lei, pois permite um juízo de invalidade

de normas que, de alguma maneira, não são adequados à igualdade na Lei.

Voltando à parte histórica. Nessa fase inicial, seja a igualdade na

Lei e a igualdade perante a Lei, pensava-se, sobretudo, em um modelo

formal de igualdade. O Estado não podia discriminar, não podia favorecer

os membros dessa ou daquela classe, mas a igualdade não era uma meta a

ser perseguida. Como se a autonomia privada de cada um fosse suficiente.

São iguais na sua autonomia privada e cabia a cada um empreender os

seus esforços para prosperar. A visão que compunha um pano de fundo

era a de que o melhor mecanismo para promover a igualdade era o

mercado. Estou falando da trajetória externa. No Brasil, nunca foi bem

assim. No Brasil, a rigor, nunca tivemos um Estado liberal. Estou falando

da trajetória da ideia de igualdade e não da realização dessa ideia aqui

no nosso país. Quando chegamos naquele momento de virada do Estado

liberal para o Estado do bem-estar social, o princípio da igualdade é o

princípio que sentirá mais essa mudança de paradigma. A igualdade será

incorporada à concepção de que é preciso promover a igualdade de fato.

É a visão de que é preciso reduzir para níveis eticamente aceitáveis o grau

de desigualdade existente entre as pessoas. Aí, o poder público assume

como tarefa intervir em certas relações sociais para proteger a parte mais

fraca da parte mais forte. Vem da lógica dos direitos sociais. A noção

de igualdade passa a ser vista como uma meta. O Estado vai perseguir a

igualdade com políticas públicas, por meio de ações concretas.

Isso se espalha nos mais variados campos do direito. Então, no

campo do direito tributário, tributa-se mais quem pode pagar mais. No

campo de direito civil, você assistirá a uma ampliação de normas de ordem

pública que se impõem mesmo a despeito da vontade das partes, por

vezes protegendo os mais pobres. Há também o direito do trabalho. A

Constituição Brasileira de 1998 estabeleceu várias previsões de igualdade

ao longo de seu texto. Vou citar os artigos mais importantes sobre

a igualdade para depois demonstrar o seu sentido em relação ao que

estamos estudando. Os artigos são os seguintes (grifos nossos):

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Capítulo 3

90 Instituições de Direito Público e Privado

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;II – garantir o desenvolvimento nacional;III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição.

Os artigos citados apresentam uma breve exposição de como a Constituição

de 1988 tratou o tema da igualdade. Veja que homens e mulheres são iguais e que

um dos objetivos do Estado brasileiro é a construção de uma sociedade livre e justa.

Figura 3 – Um dos grandes desafi os em nosso tempo: a igualdade racialFonte: <www.nominuto.com>.

Então, todo o direito vai sofrendo influência dessa nova concepção

de igualdade. E não para por aí. A crítica que se faz – eu, particularmente,

faço – à lógica do Estado do bem-estar social, um pouco pelo pensamento de

esquerda de filiação marxista, é que se enfatizava a dimensão econômica e não

se dava muita bola para a dimensão cultural da igualdade. Então, igualdade

era muitas vezes associada à homogeneidade. Assim, podemos dizer que a

terceira dimensão da igualdade incorpora o chamado direito à diferença.

A rigor, igualdade e diferença não são opostas. Pelo contrário, tratar a

todos com igualdade é tratar respeitando as diferenças. O modelo do direito

tem que ser um modelo que leve em consideração a necessidade e diferença de

cada um. Não são antônimos. É importante que você compreenda a mudança

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Capítulo 3

91Instituições de Direito Público e Privado

de perspectiva. Igualdade não é a mesma coisa que homogeneidade. Há o

direito à diferença. A melhor fórmula para a igualdade talvez seja a de Ronald

Dworkin. Para ele, o princípio da igualdade é o princípio mais importante do

direito (ele o chama de virtude soberana), e diz que significa tratar a todas

as pessoas com o mesmo respeito e a mesma consideração. Veja um exemplo:

tratar o índio com o mesmo respeito e consideração significa não atropelar

o seu modo de vida, não impor uma lei geral e abstrata que ignora a sua

identidade de índio.

Ronald Dworkin (Worcester, Massachusetts, 11 de dezembro de 1931) é um filósofo do direito norte-americano. Atualmente é professor de Teoria Geral do Direito na University College London e na New York University School of Law. Ele é conhecido por suas contribuições para a filosofia do direito e filosofia política. Sua teoria do direito como integridade é uma das principais visões contemporâneas sobre a natureza do direito.

Fonte: <http://enotes.com/salem-history/ronald-dworkin>

BIOGRAFIA

A ideia de igualdade deve envolver a obrigação de que se

desconstruam certos elementos e, uma vez que se encontre neles

fragmentos de opressão contra grupos mais vulneráveis, que se faça

uma reflexão, releia e modifique esses próprios conceitos. A ideia é não

partirmos da premissa de que são conceitos naturais que se impõem de

forma universal. O que é muito rico no princípio da igualdade é como ela

vai absorvendo essas ideias novas.

Então, a igualdade era um grande princípio na afirmação do Estado liberal

com a abolição dos privilégios. Também foi um grande princípio no Estado

do bem-estar social. Nessa fase moderna, que se inicia com os movimentos

da década de 1960, tais como o movimento feminista, movimento de defesa

das minorias, que são as chamadas políticas de reconhecimento, a igualdade

também é um princípio muito importante. Essas novas dimensões muitas vezes

tencionam as dimensões anteriores, mas não as eliminam. Elas, de alguma

maneira, têm de se compor, têm de conviver.

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Capítulo 3

92 Instituições de Direito Público e Privado

Agora, vamos entrar em alguns debates mais técnicos sobre o

princípio da igualdade. Primeira questão delicada é saber quando há uma

ofensa ao princípio da igualdade. Essa questão fatalmente vai depender

de uma série de considerações a propósito de outras relações. Então,

como eu vou identificar a ofensa à igualdade? Essa é uma das questões

mais delicadas sobre a igualdade.

Um livro clássico da doutrina brasileira é de Celso Antônio Bandeira

de Mello, chamado Conteúdo jurídico do princípio da igualdade, que,

basicamente, diz o seguinte: a nota essencial da igualdade não é a

diferença de tratamento. Por definição, o direito trata diferentemente.

Mas, para Celso Antonio, haveria a existência de uma correlação lógica

entre o critério adotado para desigualar e a própria diferença sustentada

pela norma. Exemplo: imaginemos um concurso público para juiz. Se o

concurso não permitisse homem ou não permitisse mulher, evidentemente

seria uma violação do princípio da igualdade – detalhe: o primeiro

concurso que admitiu mulheres foi na década de 1970.

Agora, imaginemos um concurso para guarda do presídio feminino.

Imagine que, nas tarefas, o guarda teria de fazer inspeções nas celas

e as presas poderiam estar nuas ou teria de fazer inspeções íntimas

porque a presa poderia estar escondendo alguma coisa. É absolutamente

razoável não permitir homem em razão dos direitos humanos das presas.

Então, o mesmo critério em um contexto é inconstitucional e, em outro,

constitucional.

Hoje, há um conceito que é um aprofundamento da igualdade, trata-

se do conceito da inclusão. Por que é um aprofundamento? Na lógica

tradicional da igualdade, temos o seguinte: desde que o outro consiga

fazer aquilo, tudo bem. Na lógica da inclusão, fica assim: nós mudamos

para incluir. Esse é um conceito muito trabalhado hoje em pedagogia. É

preciso mudar o processo educacional para incluir. A noção de sociedade,

inclusive, diz que mais do que não discriminar, eu tenho que, de alguma

maneira, incluir aqueles que estão excluídos. Para incluir aqueles que

estão excluídos, muitas vezes é necessário reformular práticas, modelos.

Acho que depende muito de uma vontade de incluir.

Bom, voltando à igualdade. Robert Alex diz que igualdade é tratar

os iguais com igualdade e os desiguais com desigualdade, mas diante

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Capítulo 3

93Instituições de Direito Público e Privado

do princípio da igualdade, o que se tem justificada é a diferença de

tratamento. Se eu trato igual, eu não tenho nenhum ônus para justificar.

Isso é o padrão geral. A diferença de tratamento é que tem de ser

justificada. Agora, quando a diferença de tratamento é aceitável ou não?

Podemos responder isso aceitando que sejam aplicados critérios razoáveis

ao caso concreto.

CONCEITOCONCEITO

Vimos que a igualdade é um conceito complexo, mas para que você entenda melhor, passarei quatro outras ramificações sobre igualdade que podem esclarecer as suas ideias. Veja:

• igualdade formal – é o momento abstrato da igualdade. Significa que todos são iguais, independente de sua origem e condição social;

• igualdade material – é o momento concreto da igualdade. Aqui se busca reduzir os níveis de desigualdade existentes em uma sociedade (por exemplo: desigualdade socioeconômica);

• igualdade perante a lei – é destinada a quem aplica uma lei (magistrado, agente público). Aqui se deve tratar todas as pessoas de forma idêntica no momento de aplicação da lei em casos concretos;

• igualdade na lei – é destinada a quem elabora a lei. Aqui o autor da lei deve tratar todas as pessoas que estejam em situações idênticas de forma igual.

O princípio da igualdade também não se esgota aqui; há muitas

outras concretizações nos campos mais variados. A igualdade tem relação

com o contraditório e a ampla defesa no campo processual; guarda

relação com a capacidade contributiva no âmbito tributário. Quer dizer,

há concretizações que variam, que mudam de postura em razão dos

valores em jogo em cada ramo do direito. Existem muitos debates, mas

que virão no momento adequado ao longo do nosso estudo.

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Capítulo 3

94 Instituições de Direito Público e Privado

3.3 Aplicando a teoria na prática

Após o estudo dos direitos fundamentais, mais especificamente dos direitos

de liberdade e igualdade, veremos agora um caso de aplicação dos mesmos.

Maria Joana está concluindo o ensino médio, aos 23 anos, e deseja realizar

um concurso público para o cargo de agente administrativo de uma universidade

federal. Ela conclui o ensino médio em razão de o cargo por ela almejado requerer

que a pessoa que deseja realizar o concurso deve ter formação de nível médio.

Logo após o final do ensino médio, ela se inscreve em curso preparatório, visando

aprimorar seus conhecimentos enquanto aguarda o lançamento. Seis meses

após o início do curso preparatório, é lançado o edital para o cargo de agente

administrativo da Universidade Federal de sua região, no qual são abertas 200

vagas para preenchimento imediato por meio de concurso público. Maria Joana

reúne a documentação e quando tenta fazer sua inscrição tem a notícia de que

não poderá realizar o concurso, pois o edital estabelece que apenas maiores de 25

anos, de ambos os sexos, poderão participar. Indignada, ela entra com recurso para

a comissão organizadora do concurso, alegando que o limite de idade estabelecido

no edital não tem previsão na Constituição e na Lei, e que tal exigência acaba, em

última análise, por ofender sua liberdade profissional. A comissão organizadora

indefere o pedido, dizendo que o edital pode estabelecer o limite de idade mínima.

Inconformada, ela procura um advogado que impetra um Mandado de Segurança,

ação cabível para colocar fim às violações aos seus direitos. Após a decisão do Juiz,

que concedeu sua inscrição no concurso, Maria Joana continuou estudando e foi

aprovada para o cargo que tanto desejava.

O caso apresentado serve para que você aluno possa visualizar os conceitos

abordados neste capítulo. Note que Maria Joana conclui o ensino médio para

cumprir o requisito que lhe permitiria concorrer ao cargo desejado. Aqui temos um

caso de incidência do direito fundamental de liberdade profissional (art. 5º, XIII, da

Constituição Federal), pois ao cumprir o requisito previsto, Maria Joana consegue

as condições para o exercício da profissão desejada. Ao tomar conhecimento do

edital e da violação ao seu direito à igualdade, ela procura os mecanismos jurídicos

aptos a solucionar o problema. Aqui observamos mais um caso de incidência dos

direitos fundamentais pela quebra ao direito de Maria praticada pelo edital, pois

a exigência de idade mínima para realizar o concurso não está amparada nem

na Constituição, nem na Lei. Ao final, com a decisão favorável via Mandado de

Segurança, Maria Joana consegue restabelecer seu direito de igualdade em relação

aos demais postulantes ao cargo, bem como seu direito de liberdade profissional.

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Capítulo 3

95Instituições de Direito Público e Privado

3.4 Para saber mais

Site: Casa Civil – Subchefi a para Assuntos Jurídicos

URL: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/principal.htm>

Nesta página, você poderá encontrar o texto integral da Constituição Federal de 1988, com as últimas atualizações, bem como as constituições dos estados e as anteriores existentes em nosso país. É uma importante leitura para que você conheça a redação do texto e possa fixar o conteúdo trabalhado neste capítulo.

Site: UOL Educação

URL: <http://educacao.uol.com.br/historia/ult1704u87.jhtm>

Nesta página, você encontra a íntegra da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento feito durante a Revolução Francesa e que foi um dos marcos na construção dos direitos humanos e fundamentais.

Site: Nações Unidas no Brasil

URL: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php>

Nesta página, você encontra a íntegra da Declaração Universal dos Direitos do Homem, editada em 1948 pela assembleia geral da ONU. Este é um importante documento para conhecer os direitos humanos e seu significado.

Título: A afi rmação histórica dos direitos humanos

Autor: COMPARATO, F. K. Editora: Saraiva, SP Ano: 2006

Neste livro, o autor faz ampla abordagem dos documentos históricos mais importantes na formação dos direitos humanos.

Filme: Milk – A voz da igualdade

Direção: Gus Van Sant Ano: 2008

Este filme narra a história de Harvey Milk, primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo político na Califórnia. É um belo exemplo de luta pelas liberdades constitucionais e pela garantia de tratamento igualitário para as minorias, com respeito às suas peculiaridades.

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Capítulo 3

96 Instituições de Direito Público e Privado

3.5 Relembrando

Neste capítulo, trabalhamos os seguintes tópicos:

• a origem o e sentido dos direitos fundamentais, verificando como eles

surgem na história e como são compreendidos nos dias atuais;

• como a Constituição Brasileira de 1988 trata o tema dos direitos

fundamentais, tanto na estrutura como no sentido;

• o significado de direito de liberdade e como na Constituição Brasileira

de 1988 estão tratadas as liberdades;

• o princípio da igualdade, abordando sua origem histórica, bem

como os sentidos deste direito fundamental no texto da Constituição

Brasileira de 1988;

• como os direitos fundamentais guardam relação com situações

cotidianas, conforme os exemplos citados no texto.

3.6 Testando os seus conhecimentos

1) Em relação à formação dos direitos humanos ao longo da história, é correto

afirmar que:

a) Os direitos humanos surgem na Antiguidade e estão relacionados ao

começo da formação da individualidade, cujo marco é a formação da

Grécia e Roma antigas.

b) Os direitos humanos têm sua formação no estado absolutista, com

a afirmação da limitação do poder estatal e com a prevalência da

autonomia individual em relação ao poder estatal.

c) Os direitos humanos têm sua formação relacionada ao rompimento

com o estado absolutista, com a afirmação da limitação do poder

estatal e com a prevalência da autonomia individual em relação ao

poder estatal.

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Capítulo 3

97Instituições de Direito Público e Privado

d) Os direitos humanos têm sua formação relacionada ao surgimento

dos estados socialistas do século 19, com a afirmação da limitação

do poder estatal e com a prevalência da autonomia coletiva sobre a

individual em relação ao poder estatal.

2) Das afirmativas a seguir, assinale aquela que apresenta direitos fundamentais

de segunda dimensão.

a) Meio ambiente, autodeterminação dos povos, progresso e

desenvolvimento.

b) Direito à vida, à liberdade, à propriedade, progresso e desenvolvimento.

c) Direitos econômicos, sociais e culturais.

d) Direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão.

3) Assinale a alternativa correta:

a) O direito de igualdade pode ser entendido como um direito inerente

ao homem e que sempre esteve presente na história, tendo sua

primeira proteção na Roma antiga, onde todos eram absolutamente

iguais, sem a existência de castas.

b) O direito de igualdade pode ser entendido como um direito inerente

ao homem e que surge na história no século 20, tendo sua primeira

proteção no estado nazi-fascista, com amplitude a todos os habitantes

daqueles locais.

c) A igualdade é um dos direitos mais importantes da história da

humanidade e tem seu surgimento com a Revolução Francesa, que

acabou com os privilégios existentes no estado absolutista.

d) A igualdade é um dos direitos mais importantes da história da

humanidade e tem seu surgimento na Grécia antiga, onde foram

protegidas as classes mais favorecidas.

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Capítulo 3

98 Instituições de Direito Público e Privado

4) Assinale a alternativa correta em relação aos direitos de liberdade previstos

na Constituição brasileira.

a) É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de

comunicação, dependentemente de censura ou licença.

b) Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao

público, independentemente de autorização, desde que não frustrem

outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo

apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

c) É livre a locomoção no território nacional em qualquer tempo,

podendo qualquer pessoa, nos termos da Lei, nele entrar, permanecer

ou dele sair com seus bens.

d) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,

atendidas as qualificações profissionais que os conselhos profissionais

estabelecerem.

5) Ao longo deste capítulo, estudamos os direitos fundamentais, com foco

principal nos direitos de liberdade e igualdade. Com base no exposto, faça um

texto relacionando os direitos fundamentais de liberdade e igualdade, abordando

qual a relação existente entre ambos e como eles interferem no seu dia a dia.

Onde encontrar

ALEXANDRINO, M.; PAULO, V. Direito constitucional descomplicado. 2. ed.

Rio de Janeiro: Impetus, 2008.

MORAES, A. Direito constitucional. 12. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2004.

SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo:

Malheiros, 2004.

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Capítulo 4

99Instituições de Direito Público e Privado

DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR

CAPÍTULO 44

4.1 Contextualizando

O capítulo 4 que iniciamos neste momento trará a você um tema muito

interessante e atual: o direito do consumidor.

Praticamente, todos nós participamos das relações de consumo, muitas

vezes no papel de consumidor, outras tantas no papel de fornecedor. Hoje,

é comum chegarmos a um estabelecimento comercial e vermos escrita a

seguinte frase: “Este estabelecimento possui uma cópia do Código de Defesa

do Consumidor”. O que pode parecer algo simples para os mais jovens,

representa, na verdade, uma das grandes conquistas da sociedade brasileira

na defesa de seus direitos. Pense também em como as relações de consumo

estão em evolução, principalmente com o uso da internet, onde podemos

encontrar “todas as lojas do mundo” ao alcance de um simples clique ou de

uma busca pela rede.

Assim, diante de um tema tão importante para nosso estudo e relevante

para nossa condição cidadã, vamos abordar os princípios que orientam esse

ramo do direito, os conceitos de consumidor e fornecedor, assim como alguns

temas polêmicos sobre as relações de consumo.

O tema das relações de consumo poderia ocupar na verdade

toda nossa disciplina, mas não é esse o objetivo do curso que você

está fazendo. Assim, vou abordar questões gerais sobre as relações de

consumo, procurando traçar alguns paralelos e orientações para que você,

ao fim do capítulo, tenha noções gerais sobre o sentido da proteção ao

consumidor, os conceitos mais importantes e quais órgãos atuam na defesa

e resolução dos problemas oriundos das relações de consumo. Em razão

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Capítulo 4

100 Instituições de Direito Público e Privado

da sua complexidade e dos objetivos de nossa disciplina, é impossível que

venhamos a esgotar todas as polêmicas que possam surgir nesse ramo do

direito. Ao final, o item “Para saber mais” irá listar páginas e órgãos que

podem auxiliá-lo a resolver eventuais problemas que venham a surgir em

suas relações de consumo.

4.2 Conhecendo a teoria

As relações de consumo constituem um tema amplo e espinhoso, pois

várias questões podem ser trazidas para o debate. Pense e reflita: será que

ao ingressar neste curso você não deu início a uma relação de consumo? A

resposta é sim, mas deve ser vista com prudência, pois nem tudo que está

envolvido no processo de ensino-aprendizagem pode ser classificado como

um produto.

Ao longo de nosso estudo vou tentar mostrar como, mesmo em

questões mais complexas, vamos ter elementos que identifiquem as relações

de consumo. Cabe aqui uma citação de Almeida (2006, p. 2) para apresentar

um pouco da complexidade do momento atual. Diz o autor:

É fato inegável que as relações de consumo evoluíram enormemente nos últimos tempos. Das operações de simples troca de mercadorias e das incipientes operações mercantis chegou-se progressivamente às sofisticadas operações de compra e venda, arrendamento, importação etc., envolvendo grandes volumes e milhões de dólares. Há muito, as relações de consumo deixaram de ser pessoais e diretas, transformando-se, principalmente nos grandes centros urbanos, em operações impessoais e indiretas, em que não se dá importância ao fato de não se ver ou conhecer o fornecedor, Surgiram os grandes estabelecimentos comerciais e industriais, os hipermercados e, mais posteriormente, os shopping centers.

Veja que, em razão dessa complexidade apontada pelo autor, o

consumidor passou a enfrentar maiores problemas para se proteger no

curso dessas relações, sendo necessário que os países adotassem legislações

protetivas e que disciplinassem as relações de consumo.

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Capítulo 4

101Instituições de Direito Público e Privado

O direito do consumidor é um ramo do direito que pode ser considerado como novo em nosso país. Sua estruturação se deu com a previsão de proteção as relações de consumo, previstas na Constituição Federal de 1988, e posteriormente com o advento do Código de Defesa do Consumidor, lei 8078/90, que representou um importante avanço para regular as relações

de consumo no Brasil. Cabe destacar que, em razão das rápidas mudanças pelas quais passam as relações de consumo, tem-se de estar sempre pensando em atualizar as leis que venham a proteger os consumidores.

SAIBA QUE

Um dos maiores avanços do Código de Defesa do Consumidor (CDC)

é o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado, em

concurso com outros princípios, tais como igualdade, liberdade, boa fé

objetiva e repressão eficiente dos abusos. Com esses direitos reconhecidos

e protegidos por lei, as relações de consumo no Brasil viram uma página

e passam a ser regradas de forma a tentar garantir uma maior igualdade

entre o consumidor e o fornecedor.

Figura 1 – O código de defesa do consumidorFonte: <www.pesquisasagora.com.br>.

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Capítulo 4

102 Instituições de Direito Público e Privado

A proteção ao consumidor nas relações de consumo tem origem no direito americano e no século XIX, com a chamada lei Shermann e no século XX com as associações de consumidores comandadas por Ralf Nader (NUNES, 2010, p. 40). No Brasil, durante praticamente todo o século XX, foi aplicado o Código Civil de 1916 para regular as relações de consumo, situação que só foi alterada com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, em 1991.

CURIOSIDADE

4.2.1 Dos princípios do direito do consumidor

Após a breve visão que apresentamos das relações de consumo, vamos

agora ver como o direito do consumidor está orientado dentro do direito

brasileiro (aqui você pode tomar a palavra direito como ordenamento,

como vimos no capítulo 1) e que são os seus princípios orientadores.

A proteção jurídica ao consumidor tem seu primeiro destaque nos

artigo 5º, XXXII e 170 da Constituição Brasileira de 1988. A redação é a

seguinte:

Art. 5º – XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

V – defesa do consumidor.

O previsto no artigo 5º, XXXII, faz com o que o direito do consumidor

seja considerado por muitos autores como um direito fundamental de

terceira dimensão (lembre que estudamos esse conceito no capítulo

anterior). Ao regular a ordem econômica, a constituição brasileira foi

clara em estabelecer que um dos princípios norteadores seria a defesa

do consumidor. Aqui, as relações de consumo passaram a outro patamar,

ganhando muito em importância e sendo consideradas como um dos

princípios basilares da ordem econômica (SILVA, 2004, p. 485).

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Capítulo 4

103Instituições de Direito Público e Privado

Essa previsão feita pela Constituição não poderia ficar apenas no campo

simbólico, ou meramente programático, e a elaboração de uma lei específica

para as relações de consumo passou a ser necessária. Inclusive foi determinado,

no próprio texto constitucional, um prazo para elaboração do CDC, como

podemos observar da redação do art. 48 das ADCTs.

Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.

O direito do consumidor é um ramo do direito que pode ser considerado como novo em nosso país. Sua estruturação se deu com a previsão de proteção as relações de consumo, previstas na Constituição Federal de 1988, e posteriormente com o advento do código de defesa do consumidor, Lei n. 8.078/90, que representou um importante avanço para regular as relações de consumo no Brasil. Cabe destacar que, em

razão das rápidas mudanças pelas quais passam as relações de consumo, temos de estar sempre pensando em atualizar as leis que venham a proteger os consumidores.

SAIBA QUE

Com essa determinação, foi montada uma comissão de juristas que

ficou responsável por elaborar o anteprojeto que resultaria no CDC e que,

posteriormente, foi discutido e votado no Congresso Nacional.

Assim, surge a Lei n. 8.078-90 (CDC), como já vimos, que instituiu o

Código de defesa do consumidor.

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.

Com essa determinação, foi montada uma comissão de jurista. Assim,

surge a Lei n. 8.078-90 (CDC), como já vimos, que instituiu o Código de Defesa

do Consumidor. Ao regular a defesa do consumidor, o CDC apresenta em

seu artigo 4º os princípios orientadores da política nacional das relações de

consumo. A redação desse artigo é a seguinte:

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Capítulo 4

104 Instituições de Direito Público e Privado

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

II – ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:

a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;

c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

IV – educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

V – incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;

VI – coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

VII – racionalização e melhoria dos serviços públicos;

VIII – estudo constante das modificações do mercado de consumo.

Esses princípios mencionados no artigo 4º são um dos pilares para que

você, aluno, possa entender como o texto se estrutura. Nunes, ao comentar o

CDC, deixa claro que existe uma vinculação com a Constituição de 1988, pois

foi por previsão expressa da Constituição que houve o surgimento do CDC,

e, por isso vários princípios contidos no texto da Constituição são também

relacionados ao direito do consumidor (NUNES, 2010, p. 110).

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Capítulo 4

105Instituições de Direito Público e Privado

O CDC, ao cuidar da política de relações de consumo, dispõe sobre

os objetivos e princípios que devem regular o setor. Aqui, o código segue

uma linha muito acertada, pois a defesa do consumidor não pode ser

encarada como um instrumento de confronto entre produção e consumo,

e sim como meio de compatibilizar e harmonizar os interesses envolvidos

(ALMEIDA, 2006, p. 16). Essa política nacional visa atender um objetivo

central, que é suprir as necessidades dos consumidores e estabelecer

os princípios que vão orientar toda e qualquer ação para que se possa

alcançar esse objetivo.

A proteção ao consumidor nas relações de consumo tem origem no direito norte-americano e no século 19, com a chamada Lei Shermann, e no século 20 com as associações de consumidores comandadas por Ralf Nader (NUNES, 2010, p. 40). No Brasil, durante praticamente todo o século 20, foi aplicado o Código Civil de 1916 para regular as relações de consumo, situação que só foi alterada com a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, em 1991.

CURIOSIDADE

Em relação aos princípios do direito do consumidor, além dos

previstos no artigo 4º, podemos relacionar a outros princípios presentes

no texto constitucional, como a dignidade da pessoa humana, a igualdade,

a liberdade, a solidariedade, a vida e a informação.

Podemos concluir que a proteção jurídica ao consumidor tem uma

ampla abordagem na Lei n. 8.078/90, e parte de uma premissa que você

deve ter bem clara: que o consumidor é a parte mais fraca na relação

de consumo e, por isso, o sentido do CDC é de dar proteção contra as

violações que este venha a sofrer. Podemos fazer um paralelo com o

direito do trabalho, pois nas relações trabalhistas, o emprego também,

por vender sua força de trabalho, é considerado a parte mais fraca da

relação, sendo esse o motivo para a legislação trabalhista ser protetiva do

trabalhador, ideia que podemos passar para o direito do consumidor, pois

aqui a lei também tem o claro objetivo de proteger o polo mais fraco, no

caso, o consumidor.

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Capítulo 4

106 Instituições de Direito Público e Privado

O sentido da proteção jurídica ao consumidor, reconhecendo este como

o elemento mais vulnerável da relação de consumo, é tentar buscar um

equilíbrio e fazer essa relação mais próxima de padrões de igualdade.

O dia 15 de março é tido, internacionalmente, como o Dia do Consumidor. Essa data foi escolhida em razão de um discurso do ex-presidente norte-americano John Kennedy, no qual ele ressaltou a importância de defesa dos direitos básicos do consumidor. Após esse discurso, vários países começaram debates sobre a proteção jurídica do consumidor e a data ficou como um dos marcos na proteção desses direitos.

CURIOSIDADE

4.2.2 Do fornecedor e do consumidor

Após abordarmos a origem e os princípios orientadores do direito do

consumidor, vamos agora estudar dois conceitos fundamentais para que

possamos compreender o sentido deste ramo do direito. Refiro-me aos

conceitos de consumidor e de fornecedor. Nosso parâmetro para defini-los será

o Código de Defesa do Consumidor, que em seu texto apresenta elementos

para conceituarmos essas pessoas. O primeiro ponto que o CDC apresenta para

nossa análise é o previsto no artigo 2 , que diz:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Pelo que é descrito no Código, podemos começar a analisar como

identificar o consumidor. Nesse ponto, Nunes (2010, p. 116) nos apresenta a

seguinte noção:

O CDC resolveu definir consumidor. Sabe-se que a opção do legislador por definir os conceitos em vez de deixar tal tarefa à doutrina oi à jurisprudência pode gerar problemas de interpretação. Especialmente porque corre o risco de delimitar o sentido do termo. No caso da lei n. 8078/90, as definições foram bem elaboradas.

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Capítulo 4

107Instituições de Direito Público e Privado

Esta citação nos mostra que o CDC optou por gerar maior certeza e

clareza em definir os conceitos fundamentais para a proteção jurídica do

consumidor. Da redação do art. 2º do Código, podemos observar que o termo

“consumidor” serve para qualquer pessoa física ou jurídica que adquire ou

utiliza um produto ou serviço como destinatário final. Pessoa física somos eu,

você e todas as pessoas que habitam o Brasil. Desta forma, um ponto do conceito

é de fácil percepção. Mas e a pessoa jurídica, quem será? A pessoa jurídica é

uma empresa que vem adquirir produtos ou serviços como destinatário final.

Figura 2 – O consumidor em seu momento de escolhaFonte: <www.freedigitalphotos.net>.

Você deve estar se perguntando: como pode uma pessoa jurídica ser

equipada à condição de consumidora? É claro que pessoa jurídica não come,

não bebe, não viaja e não faz outras coisas que somente nós, pessoas físicas,

fazemos. A saída para essa dúvida, da pessoa jurídica como consumidora, é

a expressão, contida no artigo 2º, “destinatário final”. Marques, Benjamin e

Miragem (2006, p. 83) apresentam a seguinte interpretação para essa expressão:

O legislador brasileiro parece ter, em princípio, preferido uma definição mais objetiva de consumidor no art. 2º, caput. Necessário interpretar a expressão “destinatário final”. Destinatário final é o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo, aquele que coloca um fim na cadeia de produção e não aquele que utiliza o bem para continuar a produzir ou na cadeia de serviço.

Essa citação é importante para que você possa fixar o conceito de

consumidor, pois ela coloca a noção de “pôr fim na cadeia de produção”

como essencial à caracterização do consumidor. Assim, quem recebe um bem

(produto) para repassar a outro não é consumidor.

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Capítulo 4

108 Instituições de Direito Público e Privado

Uma boa maneira de você entender esse conceito é ver o exemplo

apresentado por Rizzatto Nunes (2010): quando uma pessoa adquire um

automóvel numa concessionária, estabelece-se uma típica relação regulada

pelo CDC, de um lado, o consumidor; de outro, o fornecedor. Agora pense

na situação da concessionária adquirindo o automóvel da montadora para,

posteriormente, repassá-lo ao consumidor. Aqui não temos uma relação de

consumo, sendo que esta relação concessionária-montadora será regulada

pelas normas do direito civil.

Se você entendeu esse exemplo, terá condições básicas para identificar

quando existe uma relação de consumo. Falta apenas um último ponto do

artigo 2º para fecharmos esse conceito, que é a coletividade de pessoas, ainda

que indeterminadas. Para entender essa expressão, prevista no parágrafo

único do artigo, Nunes (2010, p. 129) diz o seguinte:

Dessa maneira, a regra do parágrafo único permite o enquadramento de universalidade ou conjunto de pessoas, mesmo que não se constituam em pessoa jurídica. Por exemplo, a massa falida pode figurar na relação de consumo como consumidora ao adquirir produtos, ou, então, o condomínio, quando contrata serviços.

Essa citação é importante para que você entenda o sentido da lei

em ampliar quem poderia figurar no polo da relação de consumo como

consumidor. Ao reconhecer as universalidades ou conjunto de pessoas,

que não estão englobados como pessoas jurídicas, surge a possibilidade

de estarem contemplados no conceito de consumidor. Veja o caso do

condomínio, e se você mora em um, veja como ele consome serviços de

manutenção e melhorias.

A relação de consumo, para se desenvolver, precisa de um consumidor e

de um fornecedor. Após esclarecermos o conceito de consumidor, vamos agora

ver como podemos conceituar o fornecedor. Mais uma vez, para mantermos a

coerência em nosso estudo, vamos iniciar pelo conceito apresentado pelo CDC.

Sustenta o art. 3:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

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Capítulo 4

109Instituições de Direito Público e Privado

Observe-se, em um primeiro momento, que o CDC procurou ser bem

amplo ao estabelecer o conceito de fornecedor, pois nele estão presentes

todos os que podem desenvolver atividades de produção, montagem,

criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou

comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Sobre o conceito de fornecedor, Marques, Benjamin e Miragem (2006, p.

112) fazem o seguinte comentário ao artigo 3º do CDC:

A definição do art. 3º é ampla. Quanto ao fornecimento de produtos o critério caracterizador é desenvolver atividades tipicamente profissionais, como a comercialização, a produção, a importação, indicando também a necessidade de uma certa habitualidade, como a transformação, a distribuição de produtos.

(…)

Quanto ao fornecimento de serviços, a definição do art. 3º do CDC foi mais concisa e, portanto, de interpretação mais aberta: menciona apenas o critério de desenvolver atividades de prestação de serviços.

A citação nos apresenta uma posição da doutrina (estudamos esse

conceito no primeiro capítulo) importante para o momento de nosso

estudo. O fornecedor é figura essencial na relação de consumo e, como

tal, deve ser bem caracterizado. Nunes (2010, p. 131) considera que

a leitura pura e simples desse caput já é capaz de nos dar um panorama da extensão das pessoas enumeradas como fornecedoras. Na realidade são todas as pessoas capazes, físicas ou jurídicas, além dos entes desprovidos de personalidade.

Dentro do conceito do CDC e da opinião da doutrina, são exemplos

de fornecedores: um encanador, um eletricista, um camelô, uma loja de

departamentos, etc.

Com base nos conceitos de consumidor e fornecedor, pense em pessoas que você conheça que possam estar enquadradas em cada uma destas posições e escreva que motivo as caracteriza como tal. Compartilhe sua resposta com seus colegas no ambiente virtual de aprendizagem.

DESAFIO

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Capítulo 4

110 Instituições de Direito Público e Privado

Agora, após os esclarecimentos sobre as figuras do consumidor e do

fornecedor, vamos estudar os conceitos de produto e de serviço.

O conceito de produto é previsto no artigo 3º do CDC, parágrafo único, ao

definir que “produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”.

Assim, produto é, atualmente, um conceito universal, estando ligado

estreitamente à ideia de bem, resultado da produção no mercado de consumo,

e que tem como vantagem o fato de que este conceito foi feito para uma

expressão – produto – já amplamente difundida em outras áreas do mercado

e por agentes que ali atuam (NUNES, 2010, p. 135).

Um ponto interessante é o seguinte: e um produto que é, na verdade, uma

amostra grátis, está dentro do conceito previsto pelo CDC? A resposta é sim, pois não

há diferenciação entre o produto comercializado e o oferecido como amostra grátis,

devendo este último apresentar as mesmas garantias de qualidade e durabilidade.

Figura 3 – Exemplo de produtoFonte: <www.sxc.hu>.

Após a explicação sobre o sentido do conceito de produto, vamos agora

ver o que diz o artigo 3º do CDC ao conceituar serviço. A redação do artigo é

a seguinte: “Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,

mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de

crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

Para Nunes (2010, p. 140), “o CDC definiu serviço no art. 3º, par. 2º e

buscou apresentar de forma a mais completa possível. Porém, na mesma linha

dos princípios por nós já apresentada, é importante lembrar que a enumeração

é exemplificativa, realçada pelo uso do pronome ‘qualquer’”.

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Capítulo 4

111Instituições de Direito Público e Privado

Observe como o elemento central para a definição de serviço está numa

palavra central do artigo: qualquer. Mesmo que isso possa parecer fácil num

primeiro momento, ao longo dos anos de aplicação do CDC, alguns temas

relacionados aos serviços suscitaram uma grande polêmica e divergência,

como o caso dos serviços bancários e de crédito, que hoje já são considerados

como englobados dentro do conceito previsto pelo CDC.

Importante abordar que o CDC prevê, de maneira clara, as

responsabilidades pelos produtos e serviços que porventura venham a

apresentar defeitos.

Nos arts. 12 a 25, fica estabelecido o seguinte:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi colocado em circulação.

§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;

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Capítulo 4

112 Instituições de Direito Público e Privado

III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio

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Capítulo 4

113Instituições de Direito Público e Privado

de manifestação expressa do consumidor.

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.

§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

§ 6° São impróprios ao uso e consumo:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;

III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - o abatimento proporcional do preço;

II - complementação do peso ou medida;

III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;

IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.

§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

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Capítulo 4

114 Instituições de Direito Público e Privado

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.

§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.

Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.

§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.

§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação.

Podemos observar, da leitura dos artigos citados, a clara preocupação

do CDC em deixar bem evidente a proteção ao consumidor, estabelecendo de

maneira explícita quais responsabilidade surgem de cada violador ao direito

do consumidor.

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Capítulo 4

115Instituições de Direito Público e Privado

Após termos trabalhado os conceitos de consumidor, fornecedor, serviço e produto, pense em como, no seu dia a dia, esses conceitos interferem em suas ações, seja no ambiente de trabalho ou em sua vida pessoal.

REFLEXÃO

4.2.3 Temas polêmicos do direito do consumidor: vícios e outros

problemas da relação de consumo

Do que foi exposto até o momento, você certamente já observou que

o tema do direito do consumidor apresenta vários pontos polêmicos, que

são objeto de inúmeros debates entre os autores do direito. Neste tópico,

não tenho a pretensão de esgotar as complexidades que envolvem o direito

do consumidor, mas sim de apresentar uma noção dos direitos inerentes

ao consumidor, algumas questões práticas que são importantes para o

conhecimento de nossa disciplina, os direitos básicos do consumidor e os

órgãos encarregados da defesa desses direitos.

Nosso primeiro ponto será mostrar o que o CDC, em seu artigo 6º,

apresenta como direitos básicos do consumidor. Diz o artigo:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

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Capítulo 4

116 Instituições de Direito Público e Privado

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

IX – (Vetado);

X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Essa previsão do artigo 6º complementa o ponto dos princípios do direito do

consumidor, que trabalhamos no início do capítulo, e apresenta uma disposição

clara de criar mecanismos que possibilitem a intervenção do Estado nas relações

de consumo, visando proteger os consumidores, inserindo este direito dentro

do rol de direitos fundamentais (como vimos no início deste capítulo).

Um dos pontos que mais tem importância dentro do direito do consumidor

é a propaganda enganosa. Esse tema ganha mais relevância com a internet, a

velocidade e as formas de comunicação existentes atualmente.

Mas o que é a propaganda enganosa? Mais uma vez, vamos recorrer ao

CDC para ver qual definição a lei apresenta sobre o tema.

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

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Capítulo 4

117Instituições de Direito Público e Privado

Do expresso pelo artigo 37, observamos que o CDC é bem claro ao proibir

qualquer forma de propaganda enganosa, pois ela representa uma forma de

prejudicar o consumidor. Sobre esse ponto, Nunes (2010, p. 544) nos diz o seguinte:

É de notar que para a aferição da enganosidade não é necessário que o consumidor seja aquele real, concretamente considerado; basta que seja potencial abstrato. Isto é, para saber da enganação é suficiente que se leve em consideração o consumidor ideal. É ele que deve servir de parâmetro para a avaliação. O anúncio é enganoso antes mesmo de atingir qualquer consumidor em concreto; basta ter sido veiculado.

A citação serve para mostrar como a propaganda enganosa tem um

tratamento rigoroso pelo CDC e é, na atualidade, um dos temas que mais

causam problemas às relações de consumo. Para ficar mais claro o que é

propaganda enganosa, veja um exemplo citado por vários doutrinadores:

imagine que uma loja coloque um produto em oferta. No anúncio, eles

dizem que o pagamento à vista dá direito a um desconto de 30% do valor

do produto ou que o consumidor pode optar por comprar em seis vezes sem

acréscimos e juros. Ora, neste anúncio, está sendo retirado o desconto, o que

representa que o valor do produto sofreu um acréscimo. Estamos diante de

um caso típico de propaganda enganosa.

Uma outra questão complicada sobre a propaganda enganosa são

as ofertas veiculadas pela internet, pois muitas vezes temos casos em que

o consumidor é iludido com uma propaganda e ao efetuar a compra fica

sabendo que o produto que tanto desejava comprar não é bem aquele

que ele viu na oferta. Como atualmente a internet ainda tem uma

regulamentação vaga, muitas dúvidas surgem e afastam consumidores das

compras pela rede (apesar de que a cada ano aumentam os consumidores

que recorrem à internet).

Para esclarecer, de forma objetiva, essa questão das compras pela rede

de computadores, podemos afirmar que o CDC é aplicável às transações entre

consumidor e fornecedor feitas pela internet. Alguns problemas podem surgir

quando a página não estiver vinculada a fornecedor localizado no Brasil. Mas

afora essa situação, as regras do CDC, inclusive as que regulam a propaganda,

são totalmente aplicáveis às relações de consumo efetuadas na internet.

Um outro ponto interessante é a questão relativa ao chamado

“contrato de adesão”. Por que o nome “contrato de adesão”? Como diz

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Capítulo 4

118 Instituições de Direito Público e Privado

Nunes (2010, p. 40), nesses contratos, o consumidor pode apenas “aderir”.

Veja que essa situação é de grande importância quando vamos estudar o

direito do consumidor. O CDC trata do tema do contrato de adesão em

seu artigo 54:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

§ 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.

§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.

§ 3° Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

Ao comentar sobre o contrato de adesão, Marques, Benjamin e Miragem

(2006, p. 137) deixam claro que se trata do contrato cujas cláusulas

[...] são preestabelecidas unilateralmente pelo parceiro contratual economicamente mais forte (fornecedor), isto é, sem que o outro parceiro (consumidor) possa discutir ou modificar substancialmente o conteúdo do contrato escrito. O contrato de adesão é oferecido ao público em modelo uniforme, geralmente impresso, faltando apenas preencher os dados referentes à identificação do consumidor-contratante, do objeto e do preço.

Um dos problemas é que grande parte dos contratos desenvolvidos

nas relações de consumo, atualmente, são de adesão. Os contratos de

adesão podem ser exemplificados como os feitos pelas operadoras de

celulares e alguns contratos bancários, constituindo um dos pontos de

grande polêmica dentro do direito do consumidor.

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Capítulo 4

119Instituições de Direito Público e Privado

Temos agora noção sobre alguns problemas comuns nas relações de consumo,

e o tratamento que o CDC dá aos mesmos. É claro que poderíamos entrar em

situações ainda mais complicadas sobre esses e outros temas, mas esse não é o

objetivo de nossa disciplina, que visa apenas apresentar os conceitos fundamentais.

Uma pergunta deve estar em sua cabeça: mas a quem compete a

defesa do consumidor lesado? A Lei n. 8078/90, que instituiu o Código

de Defesa do Consumidor, não deixou de tratar dessa questão ao prever

quais órgãos e entidades são encarregados da defesa do consumidor.

Dizem os artigos 5º e 105 do CDC:

Art. 5° Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:

I – manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente;

II – instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público;

III – criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo;

IV – criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo;

V – concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.

Art. 105. Integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC),

os órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais e as entidades

privadas de defesa do consumidor.

O artigo elenca importantes órgãos e ações que atuam para dar eficácia

aos princípios e objetivos previstos na política das relações de consumo.

Infelizmente, mesmo após quase vinte anos do CDC, são muitos os casos de

consumidores, principalmente os de baixa renda, que desconhecem seus

direitos e os órgãos que podem auxiliá-los a se defender de abusos e violações.

Dentre as várias entidades que trabalham na defesa do consumidor, a mais

conhecida é o PROCON, que está englobado na previsão do sistema nacional

de defesa do consumidor no artigo 105 do CDC.

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Capítulo 4

120 Instituições de Direito Público e Privado

O PROCON (Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor) é um órgão que orienta os consumidores em suas reclamações, informa sobre seus direitos e atua como fiscalizador das relações de consumo. Conforme o previsto no art. 105 do Código de Defesa do consumidor, ele pode ser estadual ou municipal e sua atuação não se confunde com a do Poder Judiciário, pois atua como auxiliar deste. Infelizmente nem todos os municípios brasileiros possuem um PROCON, o que representa uma falha na defesa dos direitos dos consumidores.

SAIBA QUE

Os órgãos encarregados da defesa do consumidor desempenham um

importante papel para tornar efetivas as previsões do código de defesa

do consumidor, pois atuam em litígios individuais e coletivos no intuito

de resolver os problemas oriundos das relações de consumo. Ressalte-se

que o amplo acesso à informação que nossa sociedade vivencia nos últimos

tempos tem colaborado para que o trabalho desses órgãos possa ser melhor

desenvolvido.

Para Almeida (2006, p. 186), ao comentar sobre a ação do Ministério

Público no aspecto administrativo, “o processo deve ser pautado por

orientação aos consumidores, encaminhamento das reclamações aos órgãos

de fiscalização da administração pública”. O papel desempenhado pelas

promotorias de justiça e defesa do consumidor tem sido fundamental ao

longo dos anos de vigência do CDC para evitar e reparar lesões nas relações de

consumo, principalmente aquelas que evolvem um grande número de pessoas.

Marques, Benjamin e Miragem (2006) também consideram o papel do

Ministério Público decisivo na proteção do consumidor, seja como órgão de

conciliação, seja como legitimador para propor a ação civil pública em defesa

do conjunto de consumidores.

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Capítulo 4

121Instituições de Direito Público e Privado

Com base na estrutura e órgãos apresentados para a defesa do consumidor, pesquise quais deles existem na sua cidade e, nas suas relações de consumo, qual vem primeiro a sua mente para reparar eventuais lesões.

REFLEXÃO

4.3 Aplicando a teoria na prática

Para finalizarmos nosso estudo, vejamos um caso no qual possamos

aplicar os conceitos e institutos legais aqui trabalhados.

José Silva acaba de receber seu décimo terceiro salário e deseja

comprar alguns eletrodomésticos para a sua casa, visto que sua esposa,

Paula Silva, já vem reclamando do funcionamento de alguns equipamentos

antigos que eles possuem. José começa a pesquisar nos anúncios do jornal

e vê que as Casas Bom Preço estão com uma ótima oferta de geladeiras,

fogões com seis bocas, máquinas de lavar roupas e louças. Ao mostrar

para Paula as ofertas, ambos concordam que os produtos são de marcas

de qualidade reconhecida e que os preços, principalmente pelos descontos

oferecidos, são bem atrativos. No dia seguinte, José e Paula vão até uma

loja das Casas Bom Preço para efetuar a compra.

Ao chegarem lá, encontram o mesmo folheto encartado no jornal com as

ofertas e olham alguns dos produtos em exposição, até serem atendidos pelo

vendedor Pedro Augusto. O vendedor logo percebe o interesse do casal e diz

que o folheto publicitário apresenta todas as informações sobre os produtos

que eles desejam adquirir. José e Paula, empolgados, adquirem a geladeira, o

fogão, a máquina de lavar roupas e a máquina de lavar louças. O prazo de

entrega é de três dias úteis e a venda é concretizada com um parcelamento de

cinco vezes. Passados cinco dias da compra, José e Paula ligam para a loja, pois

até o momento não foi realizada a entrega. O vendedor Pedro Augusto informa

que em razão das compras de final de ano e do atraso na entrega por parte

da fábrica, só poderá concretizar a entrega em uma semana. Após uma rápida

conversa com Paula, José aceita o prazo, mas fica preocupado se o mesmo será

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Capítulo 4

122 Instituições de Direito Público e Privado

cumprido, obtendo do vendedor a confirmação do cumprimento do mesmo. Ao

final do prazo, e com a entrega ainda não realizada, José e Paula vão até a loja

para obter informações sobre o que está acontecendo com sua compra. Lá, são

informados que a fábrica não entregou os produtos no prazo, pois o anúncio

feito era equivocado ao vincular os quatro produtos por um preço muito baixo,

fazendo com que a loja não tivesse condições de pagar a fábrica, que por sua

não fez a entrega à loja. Eles ainda ouvem do vendedor que a loja oferece,

pelo mesmo preço dos produtos que eles compraram, produtos similares. José

argumenta que esses produtos são de qualidade inferior e ouve do vendedor

Pedro que é isso ou perder o valor da compra.

Incomodados com a situação, José e Paula procuram o PROCON

de sua cidade e relatam o caso. O atendente diz que o órgão irá oficiar o

estabelecimento comercial e orienta que eles tragam todos os documentos

comprobatórios da compra para que sejam tomadas outras medidas cabíveis.

Após o casal levar ao órgão a documentação, o PROCON oficia a loja para que

ela preste esclarecimentos sobre o ocorrido. No dia seguinte ao recebimento do

ofício, a loja entrega ao casal José e Pedro os produtos que foram adquiridos,

finalizando a pendência existente.

E então? Identificou alguns dos conceitos trabalhados neste capítulo?

O primeiro conceito que podemos ter claro é a existência de uma relação

de consumo entre o casal José e Paula e as Casas Bom Preço, pois quando o casal

decide adquirir novos eletrodomésticos e vai até a loja para efetuar a compra,

estamos diante de uma típica relação de consumo. Outros conceitos que são

facilmente observados no exemplo são os de consumidor e fornecedor, pois

José e Paula são os destinatários finais dos produtos que estão comprando,

ou seja, vão retirá-los do mercado, enquanto as Casas Bom Preço estão dentro

do conceito previsto de fornecedor, em razão de serem uma pessoa jurídica

que desenvolve a comercialização de produtos. Ainda vamos identificar no

caso a noção de vícios na relação de consumo, principalmente a propaganda

enganosa, pois o prometido pelo anúncio não foi cumprido pela loja. Por fim,

encontramos a atuação do PROCON como o órgão que auxilia e orienta os

consumidores em casos de problemas nas suas relações de consumo.

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Capítulo 4

123Instituições de Direito Público e Privado

4.4 Para saber mais

Site: Instituto de Defesa do Consumidor

URL: <www.idec.org.br>.

Portal do Instituto de Defesa do Consumidor que, desde o surgimento do Código de Defesa do Consumidor, tem sido um importante órgão para estudos e auxílio aos consumidores que tenham problemas nas suas relações de consumo.

Site: Consumidor Brasil

URL: <www.consumidorbrasil.com.br>.

O site apresenta uma linha próxima ao IDEC e reúne uma série de informações que podem ser úteis ao consumidor, principalmente para prevenir a realização de negócios que possam trazer desvantagens ou que venham a esconder possíveis fraudes.

Site: Portal do Consumidor

URL: <www.portaldoconsumidor.gov.br>.

Portal vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A página reúne informações importantes que podem ajudá-lo no momento de realizar uma compra ou para obter informações de como proceder para reparar um eventual dano que você, como consumidor, venha a sofrer.

Site: Direito do Consumidor

URL: <www.portal.mj.gov.br>.

Esta página, vinculada ao Ministério da Justiça, apresenta um importante rol de informações e esclarecimentos que podem orientar em muito o consumidor em suas compras e nas formas de reparar as eventuais lesões que venha a sofrer.

Site: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

URL: <www.ibradec.org>.

Página do IBRADEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), que serve como importante instrumento de auxílio aos consumidores nas suas relações de consumo. Combinada com as outras indicações, serve para lhe orientar em casos concretos.

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Capítulo 4

124 Instituições de Direito Público e Privado

4.5 Relembrando

Neste capítulo, estudamos:

• a origem e os princípios orientadores da proteção jurídica ao consumidor,

verificando quais são as principais linhas desse ramo do direito;

• o sentido dos conceitos fundamentais para nosso estudo: o de consumidor

e o de fornecedor, bem como os conceitos de produto e de serviço;

• os direitos do consumidor, previstos pelo Código de Defesa do

Consumidor, bem como as questões que lhe são correlatas, além do

detalhamento do órgãos encarregados da defesa do consumidor;

• as noções sobre propaganda enganosa e contrato de adesão, temas

que representam pontos de grande polêmica e muitos problemas aos

consumidores em situações concretas.

4.6 Testando os seus conhecimentos

1) São princípios da política nacional das relações de consumo previsto no CDC:

a) ação governamental e de particulares no sentido de proteger

efetivamente o consumidor e o fornecedor.

b) educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos

seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo.

c) incentivo à criação pelos fornecedores e consumidores de meios

eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços,

assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de

consumo.

d) educação e informação somente aos consumidores, quanto aos seus

direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo.

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Capítulo 4

125Instituições de Direito Público e Privado

2) Assinale a alternativa correta.

a) Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas

pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo

fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa

discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

b) Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido estabelecidas

unilateralmente pelo fornecedor ou consumidor de produtos

ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar

substancialmente seu conteúdo.

c) Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas

pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo

fornecedor de produtos ou serviços, desde que o consumidor possa

discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

d) Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas

pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo

fornecedor de produtos ou serviços, somente o consumidor podendo

discutir seu conteúdo.

3) Assinale a alternativa correta.

a) Propaganda enganosa é qualquer modalidade de informação ou

comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou,

por qualquer outro modo, exceto por omissão, capaz de induzir ao

erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,

quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados

sobre produtos e serviços.

b) Propaganda enganosa é qualquer modalidade de informação ou

comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou,

por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir ao

erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,

quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados

sobre produtos e serviços.

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Capítulo 4

126 Instituições de Direito Público e Privado

c) Propaganda enganosa é qualquer modalidade de informação ou

comunicação de caráter publicitário, inteiramente falsa, ou, por

qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir ao erro

o consumidor ou fornecedor a respeito da natureza, características,

qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer

outros dados sobre produtos e serviços.

d) Propaganda enganosa é somente a informação ou comunicação de

caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, capaz de induzir em

erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,

quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados

sobre produtos e serviços.

4) Com relação aos conceitos de consumidor e fornecedor, assinale a alternativa

correta.

a) Consumidor é toda pessoa física que adquire ou utiliza produto

ou serviço como destinatário final. Equipara-se a consumidor a

coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que aja intervindo

nas relações de consumo.

b) Fornecedor é toda pessoa física, pública, nacional que desenvolva

atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,

importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos

ou prestação de serviços.

c) Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza

produto ou serviço como destinatário final. Equipara-se a consumidor

a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que aja

intervindo nas relações de consumo.

d) Fornecedor é toda pessoa física que adquire ou utiliza produto

ou serviço como destinatário final. Equipara-se a consumidor a

coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que aja intervindo

nas relações de consumo.

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Capítulo 4

127Instituições de Direito Público e Privado

5) Ao longo deste capítulo, estudamos os direitos dos consumidores e sua

previsão no direito brasileiro. Com base no abordado, faça uma redação

apontando a relação entre os principais conceitos aqui estudados e como está

estruturado o sistema brasileiro de proteção ao consumidor. Em seu texto,

você também poderá abordar outros pontos que estudamos ao longo de nosso

curso e que podem ter relação com o direito do consumidor.

Onde encontrar

ALMEIDA, J. B. A proteção jurídica do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2006.

MARQUES, C. L.; BENJAMIN, A. H. V.; MIRAGEM, B. Comentários ao código de

defesa do consumidor. 2. ed. São Paulo: RT, 2006.

NUNES, L. A. R. Curso de direito do consumidor. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo:

Malheiros, 2004.

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Capítulo 4

128 Instituições de Direito Público e Privado

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Capítulo 5

129Instituições de Direito Público e Privado

DAS GARANTIAS DO CIDADÃO E DOS MEIOS DE EXERCÍCIO DA CIDADANIA

CAPÍTULO 55

5.1 Contextualizando

Já passamos da metade da nossa disciplina e vamos agora ver um

outro ponto importante para o nosso estudo: as garantias constitucionais, a

cidadania e seu exercício.

Como espero mostrar ao longo deste capítulo, a existência de

direitos, no texto da Constituição, nem sempre representa a certeza de

que não sofreremos violações. Pense comigo: se todos respeitassem as

normas jurídicas, de todos os ramos do direito, não haveria necessidade,

por exemplo, de o poder judiciário existir, pois não teríamos problemas

para resolver (nesse exemplo ideal, todas as leis estariam em harmonia e

sua interpretação seria de fácil assimilação).

Mas infelizmente, não é isso o que acontece. Assim, veremos um conjunto

de normas, previstas no texto constitucional, que servem como proteção às

possíveis violações que venham a ocorrer aos direitos individuais ou coletivos,

e como essas normas podem ser caracterizadas. Estudaremos a diferença entre

direitos e garantias e a noção de “remédios constitucionais”.

Além disso, nosso capítulo aprofundará um tema que estudamos no

segundo capítulo: a cidadania. Aqui veremos como a Constituição de 1988

regula o seu exercício, suas formas, bem como os limites que lhe são impostos.

Aqui abordaremos desde institutos poucos conhecidos, como o plebiscito e

o referendo, até formas de alistamento, condições que devem ser cumpridas

para se candidatar a um cargo eletivo, restrições implicadas no exercício

desses direitos, o sentido e a natureza do voto, e sua distinção para com o

sufrágio e suas formas de vigor.

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Capítulo 5

130 Instituições de Direito Público e Privado

Espera-se que, ao final do capítulo, você perceba como as garantias

constitucionais caracterizam um importante instrumento para defesa dos

direitos inerentes à cidadania e que estão, direta ou indiretamente, presentes

em muitas atividades de nosso dia a dia, tanto para evitar violações quanto

para reparar as que possam vir a ser praticadas contra os direitos previstos no

texto constitucional.

Bom estudo!

5.2 Conhecendo a teoria

Já estudamos no capítulo 3 que os direitos fundamentais são aqueles

inerentes ao homem e que estão previstos no texto da Constituição de

1988. Agora vamos voltar a estudá-la mais detalhadamente, abordando

a distinção entre direitos e garantias, pois a única forma de explicar as

garantias constitucionais é relacionando-as aos direitos previstos no texto da

Constituição. Partiremos, assim, do conceito trabalhado no capítulo 3.

CONCEITOCONCEITO

Direitos fundamentais são aqueles inerentes ao ser humano e que estão previstos no texto constitucional (ou seja, na constituição de cada país).

Agora já podemos pensar no seguinte: se os direitos existem, como,

em caso de violação, poderão ser protegidos? Aqui entra o primeiro tópico

deste capítulo: as garantias constitucionais, seu sentido, divisão, estrutura e

diferença para os direitos fundamentais.

5.2.1 As garantias previstas na Constituição de 1988

Qual a relação entre os direitos e as garantias, que são outros tipos de

normas previstas na Constituição?

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Capítulo 5

131Instituições de Direito Público e Privado

Vejamos um comentário de José Afonso da Silva (2004, p. 415) sobre o

pensamento de Rui Barbosa, que ao dissertar sobre a divisão entre direitos e

garantias, apresenta a seguinte noção:

As disposições meramente declaratórias são as que exprimem a existência legal de direitos reconhecidos, e as disposições assecuratórias são as que, em defesa dos direitos, limitam o poder. Aquelas instituem os direitos; estas, as garantias; ocorrendo, não raro, juntar-se na mesma disposição constitucional, ou legal, a fixação da garantia, com a declaração do direito.

Esta citação é importante para a nossa compreensão inicial sobre a

dicotomia entre direitos e garantias. Os direitos estão sob uma forma declaratória

– tenho direito de ir e vir; de manifestar minhas opiniões e pensamentos –, já as

garantias são a previsão do Habeas corpus para casos em que eu tenha retirado

arbitrariamente meu direito de ir e vir e o direito de resposta, proporcional

ao agravo, e a indenização por danos materiais e morais em razão de eu ser

ofendido pela manifestação de pensamento de outra pessoa.

Dentre as garantias constitucionais, a mais antiga é o Habeas corpus, que atualmente está dentro da classificação remédio constitucional, tendo sua origem no direito inglês, no ano de 1215, com a Magna Carta, mas foi o Habeas Corpus Act, de 1679, que o vinculou ao direito de liberdade de locomoção.

SAIBA QUE

Para explicar melhor, vamos a um exemplo clássico: um direito

fundamental previsto na Constituição, e que foi objetivo de muitas lutas

para conquistá-lo, é o de ir e vir. Veja que o texto da Constituição é claro

ao prever em seu art. 5º, XV, que todos têm direito de ir e vir em tempos

de paz.

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Capítulo 5

132 Instituições de Direito Público e Privado

Agora, reflita: será que essa previsão basta para impedir que a polícia

pratique prisões arbitrárias? (Lembre-se do exemplo no capítulo 3 sobre

o domicílio e sua proteção.) Infelizmente, essa previsão, sozinha, não

impedirá serem praticadas várias violações ao direito de ir e vir. Assim,

pensando em proteger a pessoa que sofre uma violação em seu direito de

ir e vir, a constituição prevê que o Habeas corpus para proteger, de forma

eficaz, as violações praticadas ao direito de ir e vir.

Veja o seguinte: haverá casos em que uma pessoa pode ser presa de

maneira que não haja motivo para ingressar-se com o Habeas corpus (caso

de flagrante delito ou prisão determinada por autoridade judicial). Então,

essa garantia não impede as pessoas de serem presas, mas sim garante

que quem for arbitrariamente preso ou que não tenha mais motivos para

ficar preso possa recorrer ao poder judiciário para restabelecer seu direito

fundamental de ir e vir.

Para completarmos, outro exemplo é o caso de uma pessoa que

deseja exercer uma liberdade prevista pela Constituição que só poderá ser

impedida caso exista uma lei estabelecendo que aquela liberdade, ou um

momento dela, não poderá ser praticada. Esses exemplos ilustram bem o

sentido e a relação entre direito e garantias.

A distinção entre direitos e garantias é fundamental para que, ao

estudarmos a Constituição, possamos verificar a estrutura do texto da lei

e ver se ali está presente um direito ou uma garantia. Para facilitar seu

estudo, veja o quadro elaborado por José Afonso da Silva.

DIREITOS GARANTIAS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza;

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

(liberdade de ação em geral) II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

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Capítulo 5

133Instituições de Direito Público e Privado

DIREITOS GARANTIAS

(direito à vida e à integridade

física e moral)III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV – é livre a manifestação do

pensamento, sendo vedado o

anonimato;

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos (liberdade de religião);

garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VIII – por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política;

ninguém será privado de direitos, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação;

independentemente de censura ou licença;

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (direito à privacidade);

assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

(direito à intimidade)XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, (direito à intimidade, ao

recesso do lar);

ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

(direito à intimidade das

comunicações pessoais)XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

LXVIII – conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público;

independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

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Capítulo 5

134 Instituições de Direito Público e Privado

DIREITOS GARANTIAS

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;

XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

XXII – é garantido o direito de propriedade;

XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;

XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado

LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

(direito geral à legalidade da Administração- direito a uma atuação democrática dos poderes públicos);

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

(direito subjetivo à jurisdição) XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

(direito subjetivo à estabilidade dos negócios jurídicos)

XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

(direito ao juízo natural) XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;

(direito de liberdade – direito de não sofrer sanção por fato alheio – direito à incolumidade física e moral – direito de defesa – liberdade política e de opinião – enfim, direito à segurança em geral)

São protegidos pelas garantias penais, que se acham inscritas, em geral, nos incs. XXXVII a LXVII do art. 5º

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Capítulo 5

135Instituições de Direito Público e Privado

DIREITOS GARANTIAS

(direitos públicos subjetivos, líquidos e certos)

LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas-corpus ou habeas-data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

(direito à intimidade e a incolumidade dos dados pessoais- direito de acesso às informações registradas em banco de dados- direito à retificação de dados)

LXXII – conceder-se-á habeas-data:

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

(direito à probidade e a moralidade da administração)

LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Quadro 1 – A distinção entre direito e garantiasFonte: Silva (2004, p. 414-417).

O quadro merece atenção especial em um aspecto: veja como um mesmo

artigo pode abrigar um direito e uma garantia em seu texto, pois uma parte

dele pode estabelecer o direito (ex.: a casa é asilo inviolável do indivíduo) e a

garantia a esse direito (ex.: ninguém nela podendo penetrar sem consentimento

do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar

socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial). É importante que isso

fique claro, pois assim nosso estudo funciona.

LEMBRETELEMBRETE

Para que você não tenha dúvidas sobre esse ponto, faça novamente o quadro apresentado anteriormente e coloque uma situação concreta que você já viveu ou poderia ter vivido que esteja relacionada a cada direito e garantia ali previstos.

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Capítulo 5

136 Instituições de Direito Público e Privado

Após o estudo dos termos direitos e garantias, temos agora de ver uma

divisão feita pela doutrina dentro do termo garantias. No quadro anterior,

estão descritas de forma genérica as garantias constitucionais, mas caso

perguntassem a você o que são os remédios constitucionais? Certamente você

não saberia responder... e esclarecer isso é agora o nosso objetivo.

Vamos iniciar a definição dos remédios constitucionais com uma citação

de Paulo Dantas (2010, p. 303), que sobre o tema diz:

Distinção entre direito e garantias: o primeiro tem um caráter declaratório, que imprime existência; o segundo, ao seu turno, traz disposições assecuratórias.

(…)

Por outro lado se a garantia não se mostrar capaz de assegurar o direito, em dado caso concreto, o cidadão tem a sua disposição um meio processual próprio para torná-lo efetivo, o chamado remédio constitucional.

Veja que a citação deixa claro que os remédios constitucionais estão dentro

do sentido das garantias, mas representam a possibilidade de que um mecanismo

processual seja acionado no caso de não servirem as garantias genéricas previstas

no texto da Constituição. Assim, notamos que os remédios constitucionais partem

da noção de garantias e têm uma abrangência mais limitada que aquele conceito.

Outro autor que aborda o sentido da expressão garantias constitucionais

é José Afonso da Silva (2006, p. 442), que diz:

(...) remédios constitucionais, no sentido de meios postos à disposição dos indivíduos e cidadãos para provocar a intervenção das autoridades competentes, visando sanar, corrigir, ilegalidade ou abuso de poder em prejuízo de direitos e interesses individuais. Alguns desses remédios revelam-se meios de provocar a atividade jurisdicional e então têm natureza de ação: são as ações constitucionais. São garantias constitucionais na medida em que são instrumentos destinados a assegurar o gozo de direitos violados ou em vias de serem violados ou simplesmente não atendidos.

Agora temos clareza de que os remédios constitucionais são garantias e

servem como meios jurídicos para que a(s) pessoa(s) lesada(s) em seu direito

possa(m) recorrer ao poder judiciário para sanar essa lesão. A noção de remédio

seria um plus à de garantia, pois por meio de algumas ações (no sentido de

recorrer ao judiciário) poderemos ter mecanismos mais eficazes para reparar

as lesões aos direitos.

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Capítulo 5

137Instituições de Direito Público e Privado

Para melhor explicarmos, seguindo o estudo de José Afonso da Silva,

montaremos um pequeno resumo de cada remédio constitucional para

em seguida esboçarmos outra explicação que detalhará cada remédio e

seu sentido.

• Direito de petição – este remédio pode ser definido como o direito

que pertence a uma pessoa de invocar a atenção dos poderes

públicos sobre uma questão ou situação, seja para denunciar uma

lesão concreta e pedir reorientação da situação, seja para solicitar

uma modificação do direito em vigor do sentido mais favorável à

liberdade (art. 5º, XXXIV).

• Direito a certidões – está assegurado a todos, no art. 5º, XXXIV,

independentemente do pagamento de taxas, a obtenção de certidões

em repartições públicas para defesa de direito e esclarecimentos de

situações de interesse pessoal.

• Habeas corpus – é um remédio destinado a tutelar o direito de liberdade

de locomoção, liberdade de ir e vir, parar e ficar. Possui natureza de ação

constitucional penal (art. 5º, LXVIII), sendo o seu procedimento, para

concessão, regulado pelo Código de Processo Penal.

Ruy Barbosa de Oliveira (5/11/1849-1/3/1923) foi um jurista, escritor e político que desempenhou um papel importantíssimo no período de transição do regime imperial para o regime republicano. Rui Barbosa atuou em um dos Habeas corpus mais importantes do século 19, que foi o dos desterrados do Cucuí. Seu pensamento foi uma das bases para a moderna distinção entre direitos e garantias, além de ser inspiração para várias gerações de juristas e políticos.

BIOGRAFIA

• Mandado de segurança individual – visa amparar direito pessoal

líquido e certo; só o próprio titular desse direito tem legitimidade para

impetrá-lo, que é oponível contra qualquer autoridade pública ou

contra agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições públicas,

com o objetivo de corrigir ato ou omissão ilegal decorrente do abuso

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Capítulo 5

138 Instituições de Direito Público e Privado

de poder. (art. 5º, LXIX), sendo que qualquer pessoa, física ou jurídica,

poderá ingressar com esse remédio constitucional. É um dos remédios

constitucionais mais importantes de nosso ordenamento jurídico.

• Mandado de injunção – constitui um remédio ou ação constitucional

posto à disposição de quem se considere titular de qualquer daqueles

direitos, liberdades ou prerrogativas inviáveis por falta de norma

regulamentadora exigida ou suposta pela Constituição; sua finalidade

consiste em conferir imediata aplicabilidade à norma constitucional

portadora daqueles direitos e prerrogativas, inerte em virtude de

ausência de regulamentação (art. 5º, LXXI), tendo sua importância

realçada por decisões recentes, que permitiram a esse remédio uma

nova interpretação e uma maior proteção às pessoas contra violações

a direitos decorrentes de omissões (não fazer algo que a Constituição

obriga) dos poderes públicos.

• Habeas data – remédio que tem por objeto proteger a esfera

íntima dos indivíduos contra usos abusivos de registros de dados

pessoais coletados por meios fraudulentos, desleais e ilícitos,

introdução nesses registros de dados sensíveis (origem racial,

opinião política etc.) e conservação de dados falsos ou com fins

diversos dos autorizados em lei (art. 5º, LXXII).

Existem também remédios constitucionais que possuem uma natureza

coletiva, pois diferentemente dos anteriores, que protegem o indivíduo

isoladamente, estes servem para proteger grupos de pessoas ou a coletividade

como um todo. Assim, os remédios constitucionais coletivos são:

• mandado de segurança coletivo – instituído no art. 5º, LXX, que

pode ser impetrado por partido político ou organização sindical,

entidade de classe ou associação legalmente constituída, em defesa

dos interesses de seus membros ou associados. O requisito do direito

líquido e certo será sempre exigido quando a entidade impetra

o mandado de segurança coletivo na defesa de direito subjetivo

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Capítulo 5

139Instituições de Direito Público e Privado

individual; quando o sindicato usá-lo na defesa do interesse coletivo

de seus membros e quando os partidos impetrarem-no na defesa do

interesse coletivo difuso exigem-se ao menos a ilegalidade e a lesão

do interesse que o fundamenta, tendo sido, nos últimos anos, um

importante instrumento para defesa de coletividades que sofreram

violações em direitos líquidos e certos;

• mandado de injunção coletivo – é também considerado um remédio

coletivo, já que pode ser impetrado por sindicato (art. 8º, III) no

interesse de Direito Constitucional de categorias de trabalhadores

quando a falta de norma regulamentadora desses direitos inviabilize

seu exercício, sendo que a Constituição não prevê explicitamente essa

figura, embora seja aceita pelos tribunais brasileiros;

• ação popular – consta no art. 5º, LXXIII. Trata-se de um remédio

constitucional pelo qual qualquer cidadão foca investido de

legitimidade para o exercício de um poder de natureza essencialmente

política, e constitui manifestação direta da soberania popular

consubstanciada no art.1º, da CF. Podemos definir como instituto

processual civil, outorgado a qualquer cidadão como garantia

político-constitucional para a defesa do interesse da coletividade,

mediante a provocação do controle jurisdicional corretivo de atos

lesivos do patrimônio público, da moralidade administrativa, do meio

ambiente e do patrimônio histórico e cultural, representando um dos

mais importantes instrumentos de controle do patrimônio público

por parte do cidadão.

Conseguimos abordar os remédios e entender, de forma breve, mas

dentro dos objetivos de nossa disciplina, o seu sentido. Com base nas

definições que fizemos para os remédios constitucionais, e para facilitar

seu estudo, apresentaremos um quadro em que Silva (2006) mostra o

remédio constitucional, sua previsão na Constituição e seu objetivo. Veja

como fica.

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Capítulo 5

140 Instituições de Direito Público e Privado

REMÉDIO OBJETIVO RESUMO

Direito de petição

XXXIV a) defender direito ou reclamar de ilegalidade ou abuso;

b) obter certidões para defesa de direitos ou pessoais.

Assegurado a todos, independentemente do pagamento de taxas.

Habeas

corpus

(HC)

LXVIII e LXXVII

Proteger a liberdade de locomoção, já retirada ou sob ameaça de sê-lo (ainda que de modo indireto).

Pode ser impetrado em face de autoridade (abuso de poder) ou de particular (ilegalidade). É gratuito. De natureza penal. Pode ser preventivo ou repressivo.

Habeas

data (HD)LXXII e LXXVII

a) para conhecer informações pessoais em registros; públicos ou de caráter público

b) para retificar dados.

A pessoa pode preferir fazer a retificação por outro meio, sigiloso, seja judicial ou administrativo

É gratuito e depende de prévia negativa administrativa.

Mandado de

segurança (MS)

LXIX Proteger direito líquido e certo não amparado por HC ou HD.

É impetrado em face de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público.

Mandado de segurança

coletivo (MSC)

LXX Igual ao MS, sendo que a defesa é feita por partido político ou por ente coletivo agindo em defesa dos interesses de seus membros ou associados.

O partido político tem que ter representação no Congresso Nacional. Todavia, o requisito de um ano de Constituição civil é exigido apenas para as entidades de classe ou organizações sindicais.

Mandado de

injunção (MI)

LXXI Suprir a falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas básicas.

São consideradas prerrogativas básicas as inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

Ação popular (AP)

LXXIII Anular ato lesivo ao patrimônio público, histórico e cultural, ao meio ambiente ou à modalidade administrativa.

Pode ser proposta por qualquer cidadão. Salvo comprovada má-fé, o autor está isento de custas judiciais e dos ônus da sucumbência.

Quadro 2 – Os remédios constitucionais e seu sentidoFonte: Silva (2006).

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Capítulo 5

141Instituições de Direito Público e Privado

Aqui encerramos nosso estudo dos direitos, garantias e remédios

constitucionais. Partiremos agora para uma abordagem da cidadania na

Constituição e suas formas de exercício.

5.2.2 O conceito de cidadania na Constituição de 1988

No segundo capítulo de nossa disciplina, já abordamos o conceito de

cidadania e sua extensão (se você não lembra, este é um bom momento para

revisar esse conteúdo). Partiremos agora do conceito de cidadão, seguindo a

noção estabelecida pelo texto constitucional.

CONCEITOCONCEITO

Cidadão é o nacional que está, conforme a Constituição, no pleno exercício de seus direitos políticos.

Esse conceito inicial serve como base para o nosso estudo, pois embora

seja em muitos momentos reducionista, ele se enquadra dentro de previsão

da lei. Claro que a cidadania, como já estudamos antes, engloba uma série de

questões complexas e isso não passou despercebido pelo texto.

“As palavras cidadão e cidadania trazem à lembrança, naturalmente, as famosas declarações dos Direitos do Homem e do Cidadão. Tais declarações, surgidas no processo da Revolução Francesa do século 18, quando a burguesia, ao desalojar a aristocracia, conquista o poder político, substituem o monsieur do Antigo Regime pelo citoyen da República. O cidadão

pleno é, então, como se verá, o proprietário. [...] Só os proprietários é que têm direito à plena liberdade e à plena cidadania. Aos não-proprietários cabe uma cidadania de segunda ordem: enquanto cidadãos passivos, têm direito à proteção de sua pessoa, de sua liberdade e de sua crença, porém não são qualificados para serem membros ativos do soberano.” (BUFFA, 1999, p. 11-27)

SAIBA QUE

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Capítulo 5

142 Instituições de Direito Público e Privado

A cidadania tem previsão como um dos fundamentos do estado

brasileiro, conforme expresso no art. 1º, inc. III, e reflete o anseio de que

todos os habitantes do país possam, além do exercício dos direitos políticos,

conforme a previsão em lei, desfrutar de plenas condições de participação

na vida pública, tendo acesso às várias dimensões de direitos fundamentais,

sempre mantendo parâmetros mínimos de dignidade humana. Para

Alexandre de Moraes (2004, p. 22), a cidadania, prevista no art. 1º, inc.

III, representa um status e apresenta-se como um objetivo e um direito

fundamental das pessoas.

Essa visão de status é muito importante para mostrar a importância

da cidadania na construção dos objetivos da Constituição e na perspectiva

de tornar o direito brasileiro mais justo e transparente. Perceba-se que,

se vista desta forma, sempre poderemos ampliar o patamar de cidadania

existente no momento atual, pois o status hoje atingido poderá ser

superado por outro status amanhã, num patamar mais elevado. Uma

concepção ampliada de cidadania nos trará vários momentos da atividade

política para dentro desse conceito, como um comício, as prévias dos

partidos para escolha de candidatos.

O conceito de cidadão que apresentamos é mais atrelado à noção

de exercício dos direitos políticos, pois desta forma temos de estabelecer

um parâmetro para nosso estudo e verificar a relação entre a condição de

eleitor e a perspectiva de cidadão. Isso tornará nosso conteúdo mais objetivo

e permitirá a você compreender melhor as noções básicas do conceito de

cidadão para a Constituição. Assim, para esta, e dentro dos objetivos de

nossa disciplina, cidadão está relacionado ao exercício dos direitos políticos.

5.2.3 Os meios de exercício da cidadania na Constituição de 1988

A respeito dos direitos políticos, vejamos o que Silva (2006, p. 34)

observa. Diz o autor que “os direitos políticos consistem na disciplina dos meios

necessários ao exercício da soberania popular”. E acrescenta: “A Constituição

emprega a expressão direitos políticos em seu sentido estrito, como o conjunto

de regras que regula os problemas eleitorais”.

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Capítulo 5

143Instituições de Direito Público e Privado

Em um primeiro momento do estudo deste tópico, partamos da leitura

do art. 14 da Constituição para ver o sentido que este texto apresenta. Diz

o artigo:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I – plebiscito;

II – referendo;

III – iniciativa popular.

Dentre os meios de exercício da soberania popular, a Constituição de

1988 trouxe alguns que são importantes para aprofundar a democracia em

nosso país. Cito três exemplos: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular

de projetos de lei. Esses mecanismos estão previstos no art. 14, nos incisos I, II

e III, e sua diferenciação é muito importante para o nosso estudo.

CONCEITOCONCEITO

Plebiscito é uma consulta prévia ao eleitorado, em que este tem a opção de escolher entre duas ou mais medidas e decidir qual delas será adotada.

Referendo é uma consulta posterior ao eleitorado, em que este manifesta se concorda ou não com uma medida já tomada e que depende desta ratificação para entrar em vigor.

Iniciativa popular é a possibilidade, prevista pela Constituição, de que um determinado grupo de eleitores, por meio de assinaturas que obedeçam ao percentual fixado pela Constituição, pode apresentar a fim de realizar um objetivo comum.

É importante ressaltar que os mais variados grupos da sociedade civil

podem convocar plebiscito ou referendos, mas somente quando o Congresso

Nacional faz a convocação é que esse plebiscito ou referendo tem participação

obrigatória e o resultado é vinculante.

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Capítulo 5

144 Instituições de Direito Público e Privado

Após a Constituição de 1988, o Brasil já viveu uma experiência de plebiscito e uma experiência de referendo nacional. O plebiscito ocorreu no ano de 1993 e tinha como base a previsão do art. 3º das ADCTs. O eleitorado foi chamado a decidir forma sobre a forma – república ou monarquia – e o sistema de governo – presidencialismo ou

parlamentarismo. A vitória foi da república e do presidencialismo.O referendo ocorreu no ano de 2005 e tratou sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, não permitindo que o artigo 35 do Estatuto de Desarmamento entrasse em vigor.

CURIOSIDADE

Figura 2 – Cartaz do referendo de desarmamentoFonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki>.

Estudado o significado de plebiscito, referendo e da iniciativa popular,

vamos agora estudar os direitos políticos, buscando compreender seu sentido.

O núcleo fundamental dos direitos políticos consubstancia-se no direito de

votar e ser votado, possibilitando-se falar em direitos políticos ativos e passivos,

sem que isso constitua divisão deles – são apenas modalidades de seu exercício

ligadas à capacidade eleitoral ativa, consubstanciada nas condições do direito

de votar (ativo), e à capacidade eleitoral passiva, que assenta na elegibilidade,

atributo de quem preenche as condições do direito de ser votado (passivo),

sendo que alguns cidadãos possuem capacidade ativa plena, mas não possuem

capacidade passiva plena. Veremos isso mais adiante.

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Capítulo 5

145Instituições de Direito Público e Privado

A cidadania adquire-se mediante alistamento eleitoral na forma da lei; a

qualidade de eleitor decorre do alistamento, que é obrigatório para os maiores

de 18 anos e facultativo para os analfabetos, os maiores de 70 anos e maiores

de 16 e menores de 18 (art. 14, § 1º, I e II); pode-se dizer, então, que a cidadania

se adquire com a obtenção da qualidade de eleitor, que documentalmente se

manifesta na posse do título de eleitor válido (situação jurídica que permitir

propor o remédio constitucional da ação popular).

Figura 3 – Um momento de exercício da cidadania: o comícioFonte: <www.palavrasaotempo.blogspot.com>.

Veja o que sustenta a Constituição:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:I - plebiscito;II - referendo;III - iniciativa popular.§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são:I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;II - facultativos para:a) os analfabetos;b) os maiores de setenta anos;c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.§ 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

Agora uma pergunta importante: o que são os direitos políticos

positivos? Podemos começar com o conceito de que tais direitos consistem

no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação

no processo político e nos órgãos governamentais, garantindo a presença

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Capítulo 5

146 Instituições de Direito Público e Privado

do povo no poder de dominação política por meio das diversas modalidades

de sufrágio.

As palavras sufrágio e voto são empregadas comumente como sinônimos;

a CF, no entanto, dá-lhes sentido diferentes, especialmente no seu art. 14, por

onde se vê que sufrágio é universal e o voto é direto, secreto e tem valor igual; o

sufrágio é um direito público subjetivo de natureza política, que tem o cidadão

de eleger, ser eleito e de participar da organização e da atividade do poder

estatal; nele consubstancia-se o consentimento do povo que legitima o exercício

do poder; aí estando sua função primordial, que é a seleção e nomeação das

pessoas que hão de exercer as atividades governamentais (SILVA, 2006, p. 356).

O regime político condiciona as formas de sufrágio ou, por outras palavras,

as formas de sufrágio denunciam, em princípio, o regime; se este é democrático,

será universal (quando se outorga o direito de votar a todos os nacionais de

um país, sem restrições derivadas de condições de nascimento, de fortuna e

de capacidade especial. – art. 14); o sufrágio restrito (quando só é conferido a

indivíduos qualificados por condições econômicas ou de capacidades especiais)

revela um regime elitista, autocrático ou oligárquico; o Direito Constitucional

brasileiro respeita o princípio da igualdade do direito de voto, adotando-se a

regra de que a cada homem vale um voto, no sentido de que cada eleitor de

ambos os sexos tem direito a um voto em cada eleição e para cada tipo de

mandato (SILVA, 2006, p. 356). O sufrágio tem a natureza jurídica de um direito

público subjetivo democrático, que cabe ao povo nos limites técnicos do princípio

da universalidade, da igualdade de voto e de elegibilidade; fundamenta-se no

princípio da soberania popular por meio de representantes.

Se entendermos o sufrágio como um momento amplo dentro do processo

democrático, o voto é o ato fundamental do exercício do direito de sufrágio,

no que tange a sua função eleitoral, ou seja, é a sua manifestação no plano

prático. A natureza do voto vai nos trazer a questão quanto a saber se o voto

é um direito, uma função ou um dever; que é um direito já o admitimos; é,

sim, uma função, mas função de soberania popular, na medida em que traduz

o instrumento de atuação desta; nesse sentido, é aceitável a sua imposição

como um dever, e daí se conclui que o voto é um direito público subjetivo,

uma função social e um dever, ao mesmo tempo.

O voto tem por características elementos que são importantes para sua

identificação, tais como a eficácia, sinceridade e autenticidade, atributos que

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Capítulo 5

147Instituições de Direito Público e Privado

os sistemas eleitorais democráticos procuram conferir; para tanto, hão de

garantir-lhe dois caracteres básicos: personalidade e liberdade.

A personalidade do voto é indispensável para a realização dos atributos

da sinceridade e autenticidade, significando que o eleitor deverá estar

presente e votar ele próprio, não se admitindo os votos por correspondência

ou por procuração; a liberdade de voto é fundamental para sua autenticidade

e eficácia, manifestando-se não apenas pela preferência a um ou outro

candidato, mas também pela faculdade de votar em branco ou de anular o

voto, direito este garantido pelo voto secreto.

O sigilo do voto é assegurado mediante as seguintes providências:

• uso de cédulas oficiais (no caso atual por meio de urnas eletrônicas

seguras;

• isolamento do eleitor em cabine indevassável;

• verificação da autenticidade da cédula oficial;

• emprego de urna que assegure a inviolabilidade do sufrágio e seja

suficientemente ampla para que não acumulem as cédulas na ordem

em que forem introduzidas pelo próprio eleitor, não se admitindo

que outro o faça (SILVA, 2006, p. 357).

Cabe ressaltar que, conforme o art. 60, par. 4º da Constituição de 1988, o

voto direto, secreto, universal e periódico não poderá ser suprimidos sequer por

meio de emenda à Constituição (fazem parte das chamadas cláusulas pétreas).

Figura 4 – O voto, um dos meios mais importantes para o exercício da cidadania previstos na Constituição de 1988.Fonte: <www.centrodeestudosambientais.wordpress.com>.

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Capítulo 5

148 Instituições de Direito Público e Privado

Vamos agora estudar a capacidade eleitoral passiva expressa pela

elegibilidade e pelas condições de elegibilidade.

Consiste no direito de postular a designação pelos eleitores a

um mandado político no Legislativo ou no Executivo; as condições de

elegibilidade e as inelegibilidades variam em razão da natureza ou

tipo de mandato pleiteado; a CF arrola no art. 14, § 3º, as condições de

elegibilidade, na forma da lei, isso porque algumas das condições indicadas

dependem de forma estabelecida em lei; as inelegibilidades constam nos

§§ 4º a 7º e 9º do mesmo artigo, além de outras que podem ser previstas

em lei complementar.

Veja o que diz o texto da Constituição:

§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.§ 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.§ 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

Uma questão importante para abordarmos é quais os requisitos para que

um cidadão possa concorrer a um cargo eletivo. Para isso, vejamos a redação

do art. 14, § 3º da Constituição de 1998, que diz:

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Capítulo 5

149Instituições de Direito Público e Privado

§ 3º – São condições de elegibilidade, na forma da lei:I – a nacionalidade brasileira;II – o pleno exercício dos direitos políticos;III – o alistamento eleitoral;IV – o domicílio eleitoral na circunscrição;V – a filiação partidária;VI – a idade mínima de:a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;d) dezoito anos para Vereador.

Este artigo nos apresenta a chamada capacidade eleitoral passiva, ou

seja, aquela que torna apto o eleitor a concorrer a cargos eletivos.

Na sequência, vejamos as questões relacionadas aos direitos

políticos negativos, que podem ser definidos como aquelas determinações

constitucionais que, de uma forma ou de outra, importem em privar o cidadão

do direito de participação no processo político e nos órgãos governamentais. É

importante aqui a citação do art. 15 do texto constitucional, que trará os casos

de perda e suspensão dos direitos políticos. Diz o artigo:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;II – incapacidade civil absoluta;III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Este artigo estabelece que a privação definitiva denomina-se perda

dos direitos políticos; a temporária é sua suspensão; a Constituição veda

a cassação de direitos políticos, e só admite a perda e suspensão nos casos

indicados no art. 15.

Mas o que significam perda e suspensão dos direitos políticos e qual sua

diferença? Perda dos direitos políticos consiste na privação definitiva dos direitos

políticos, com o que o indivíduo perde sua condição de eleitor e todos os direitos

de cidadania nela fundados. Suspensão dos direitos políticos consiste na sua

privação temporária; só pode ocorrer por uma destas três causas: incapacidade

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Capítulo 5

150 Instituições de Direito Público e Privado

civil absoluta; condenação criminal transitada em julgado enquanto durarem

seus efeitos; improbidade administrativa (SILVA, 2006, p. 383).

Ressalte-se que os direitos políticos perdidos ou suspensos podem ser

readquiridos. Nos casos de perda, é necessária a expressa manifestação de

vontade de quem deseja readquiri-los, enquanto nos casos de suspensão

a reaquisição se dará automaticamente com a cessação dos motivos que

determinaram a suspensão.

Uma última pergunta ainda sobre o exercício da cidadania pode ser

feita: existe algum remédio constitucional que possa ser diretamente ligado

ao exercício da cidadania? A resposta é sim, trata-se da ação popular, pois

como menciona o art. 5º, inc. XXLVIII, a ação popular poderá ser proposta

por qualquer cidadão, ou seja, não é preciso ser brasileiro para propor uma

ação popular, devendo o interessado na propositura dessa ação demonstrar

que está no pleno exercício de sua cidadania, ou seja, dos direitos políticos

previstos no texto da Constituição.

Após o estudo dos vários elementos previstos na Constituição para o exercício da cidadania, pense em quais você mais pratica, e se sua resposta for o exercício do voto, pense em como você poderá ampliar sua atuação cidadã.

REFLEXÃO

Neste momento, vamos aplicar o que aprendemos resolvendo um estudo

de caso.

5.3 Aplicando a teoria na prática

Após concluirmos o estudo dos conceitos de direitos, garantias e

cidadania, vejamos como eles podem ser aplicados.

Pedro Henrique, que acaba de completar 18 anos, sempre teve vocação

para a política e sempre acompanhou, desde menino, as eleições e debates que

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Capítulo 5

151Instituições de Direito Público e Privado

ocorrem no campo político. Seu desejo era tão grande que tirou o título aos

16, conforme a permissão da Constituição. Desejava concorrer a vereador, mas

por não ter a idade mínima ficou impossibilitado de concorrer. Nos últimos dois

anos, ele cursou um supletivo de primeiro grau, que concluiu recentemente,

para conseguir realizar seu grande desejo: participar de atividades políticas,

de maneira formal (já tendo o título de eleitor).

Assim que pega seu diploma do supletivo, Pedro junta o restante da

documentação e vai ao seu partido político para fazer sua filiação partidária.

Após filiar-se, ele começa uma intensa militância junto às comunidades carentes

de sua cidade e, com o passar do tempo, acaba de tornando uma liderança

respeitável e acaba indicado pelo partido para ser candidato a vereador nas

próximas eleições.

No prazo fixado para lei para o registro das candidaturas, Pedro

junta toda a documentação necessária e entrega ao diretório do partido,

e posteriormente à Justiça Eleitoral, para que seja concluído o processo de

registro. Após uma semana da entrega ele recebe um telefonema do cartório

eleitoral dizendo que seu registro foi indeferido, pois ele não tem a idade

mínima de 21 anos para ser vereador e a Justiça eleitoral não está aceitando a

alfabetização por meio de supletivos. Ele argumenta que a idade para vereador

seria, conforme previsto pela Constituição, de 18 anos e que desconhece a

restrição imposta aos supletivos, pois o que ele fez era inclusive o realizado

pela Secretaria Estadual de Educação. Mesmo assim, o funcionário não aceita

as justificativas e diz que a candidatura está indeferida.

Desesperado, Pedro Henrique procura a assessoria jurídica de seu partido

e narra todo o caso. Após apresentar toda a documentação que comprova ter

ele preenchido os requisitos e o indeferimento da justiça eleitoral ao seu pedido

de registro da candidatura, o advogado do partido ingressa com um mandado

de segurança individual, pois Pedro Henrique tem direito líquido e certo para

ser candidato, pois preenche todos os requisitos da lei. Após o parecer do juiz,

com uma medida liminar, finalmente Pedro Henrique consegue seu objetivo e

tem a candidatura registrada pela Justiça Eleitoral.

Então, quais conceitos deste capítulo você consegue visualizar no caso?

Você deve ter percebido que o caso apresentando é rico nos conceitos

trabalhados. Em um primeiro momento, podemos notar que Pedro Henrique,

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Capítulo 5

152 Instituições de Direito Público e Privado

ao desejar ser candidato a vereador em sua cidade, deseja ampliar sua atuação

como cidadão, pois além de votar (exercer sua capacidade eleitoral ativa), ele

também deseja o exercício da capacidade eleitoral passiva. O fato de realizar o

curso supletivo e de filiar-se a um partido político faz com que esteja de acordo

com as condições fixadas pela Constituição para o exercício da capacidade

passiva. O caso também nos apresenta a noção clara de exercício de direitos,

notadamente os políticos e participação cidadã, quando decide participar das

ações sociais de sua comunidade. Outro ponto que deve ser ressaltado no caso

é o exercício de um remédio constitucional, no caso, o mandado de segurança

individual, para reparar a violação que Pedro Henrique sofreu por parte da

justiça eleitoral, pois ele cumpria todos os requisitos para o registro de sua

candidatura e, mesmo assim, foi indeferida a sua inscrição. Aqui, o mandado

de segurança atuou como uma forma de reparar a lesão e de restabelecer o

direito de Pedro Henrique, cumprindo assim sua função constitucional.

5.4 Para saber mais

Site: Ação da Cidadania

URL: <www.acaodacidadania.com.br>.

Este portal reúne uma série artigos, ações e notícias sobre formas de participação cidadã em atividades de cunho social. É um importante mecanismo para difusão da ideia de ampliação da cidadania.

Site: Constituição Federal de 1988

URL: <www.planalto.gov.br/constituicao>.

Mesmo que ao longo deste capítulo se tenha feito uma exposição de vários dos artigos do texto constitucional, sempre é importante estar atualizado em relação às alterações feitas e como elas geram reflexos em outras partes da Constituição.

Site: Tribunal Superior Eleitoral

URL: <www.tse.gov.br>

Página do Tribunal Superior Eleitoral, onde você poderá ter uma ampla orientação sobre a leigislação eleitoral (alistamento, locais de votação, formas de justificar a ausência em eleições, plebiscitos e referendos). É um importante instrumento de auxílio à cidadania.

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Capítulo 5

153Instituições de Direito Público e Privado

5.5 Relembrando

Neste capítulo, trabalhamos os seguintes tópicos:

• o sentido das garantias constitucionais, sua previsão na Constituição,

e a diferença para com os direitos fundamentais;

• a diferença entre garantias constitucionais e remédios constitucionais,

bem como o sentido dos remédios previstos na Constituição Brasileira;

• as formas de exercício da cidadania na Constituição de 1988, partindo

da previsão do art. 14 e vendo como esse tema é tratado no texto

constitucional;

• os direitos políticos como elementos que possibilitam ao cidadão

participar do processo político.

5.6 Testando os seus conhecimentos

1) O alistamento eleitoral é vedado aos:

a) estrangeiros e analfabetos.

b) analfabetos e menores de 16 anos.

c) menores de 16 anos, menores de 18 anos e conscritos durante o

período de serviço militar obrigatório.

d) estrangeiros e militares.

2) Dentre os remédios constitucionais, o indivíduo, para assegurar o

conhecimento de informações relativas à sua pessoa constantes de bancos de

dados de entidades governamentais, poderá valer-se de:

a) mandado de segurança coletivo.

b) mandado de injunção.

c) habeas data.

d) ação popular.

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Capítulo 5

154 Instituições de Direito Público e Privado

3) Em relação aos remédios constitucionais, assinale a afirmativa correta.

a) O mandado de injunção é garantia constitucional que exige

esgotamento da via administrativa antes de ser impetrado, pois

somente com o fim de todas as possibilidades previstas na lei

podemos considerar que exista uma omissão por parte do poder

público que justifique o uso desse remédio constitucional.

b) A ação popular serve para a proteção do patrimônio público e

pode ser movida por pessoas jurídicas.

c) O mandado de segurança individual serve para a proteção de

direitos líquidos e certos e pode ser impetrado por pessoas físicas

ou jurídicas, estrangeiros ou brasileiros natos e qualquer um que

tenha a lesão ou ameaça de lesão a um direito líquido e certo

previsto na lei.

d) Conceder-se-á habeas data para assegurar o conhecimento

de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes

de registros ou bancos de dados de entidades governamentais

ou de caráter público, assim como para a retificação de dados,

quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou

administrativo.

4) A soberania popular, conforme estabelecido pela Constituição Federal

de 1988, é exercida, dentre outros, pelos seguintes direitos e instrumentos:

a) voto direto e secreto, referendo e mandado de injunção.

b) plebiscito, referendo e filiação partidária.

c) iniciativa popular, voto direto e mandado de segurança.

d) sufrágio universal, voto direto e secreto e plebiscito.

5) No presente capítulo, estudamos o sentido das garantias constitucionais,

a cidadania, conforme prevista pela Constituição e as formas de seu

exercício. Com base nos conceitos aqui abordados, elabore uma redação

diferenciando direitos, garantias e remédios constitucionais, e explique

como os remédios constitucionais estão relacionados ao exercício da

cidadania.

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Capítulo 5

155Instituições de Direito Público e Privado

Onde encontrar

BUFFA, E. Educação e cidadania burguesas. In: BUFFA, E.; ARROYO, M. G.;

NOSELLA, P. Educação e cidadania: quem educa o cidadão? 9. ed. São Paulo:

Cortez, 2001.

DANTAS, P. R. F. Direito processual constitucional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

DOWER, N. G. B. Instituições de direito público e privado. São Paulo: Saraiva,

2009.

MORAES, A. Direito constitucional. 12. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2004.

SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo:

Malheiros, 2004.

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Capítulo 5

156 Instituições de Direito Público e Privado

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Capítulo 6

157Instituições de Direito Público e Privado

BIODIREITO

CAPÍTULO 66

6.1 Contextualizando

O capítulo que vamos iniciar agora apresenta um tema atual, mas que

ainda tem muito para se desenvolver no futuro. Trata-se do biodireito e suas

implicações.

Com o avanço da ciência no século 20, várias questões passaram a

preocupar a comunidade científica e jurídica ao redor do mundo, pois se

antes habitavam apenas o universo dos livros e filmes de ficção científica,

agora passam a ser objeto de uma discussão concreta e real – como, por

exemplo, a clonagem humana.

Assim, começa a surgir o que se denominou bioética e, posteriormente,

o biodireito. Aqui, neste breve espaço, vamos procurar mostrar os conceitos,

os princípios e as questões mais importantes relacionadas a esses ramos.

Pensar o biodireito nos dias atuais é pensar em um diálogo entre os direitos

constitucional, penal, civil, com áreas do conhecimento tais como a ética, a

biologia e a medicina.

Esse diálogo nos colocará diante de dilemas éticos, fazendo com que

algumas crenças religiosas manifestem sua oposição em razão de dogmas,

que passam a ser questionados e superados por questões relacionadas

à bioética e ao biodireito. Também vale ressaltar que questões como a

clonagem humana, pesquisas com células-tronco e reprodução assistida,

que inicialmente parecem um grande avanço para a humanidade, podem

esconder questões polêmicas – a criação de uma raça humana pura, seres

humanos que seriam usados para doação de órgãos. Quais são, afinal, os

limites que essas atividades poderiam alcançar?

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Capítulo 6

158 Instituições de Direito Público e Privado

Todos esses pontos são polêmicos, pois colocam as atividades científicas sob a

possibilidade de regulação, mas devemos lembrar que a Constituição de 1988, em seu

art. 5º, inc. IX proclama a liberdade científica como um dos seus direitos fundamentais.

Espera-se que, ao fim deste capítulo, você tenha noções básicas dos

principais parâmetros e conceitos desse novo ramo do conhecimento.

6.2 Conhecendo a teoria

Antes de aprofundar algumas questões polêmicas sobre o biodireito,

temos de ter clareza do que ele é, se é um ramo do direito, se está ligado a

outras disciplinas e como pode ser conceituado. Muitas das questões a que

vamos nos dedicar (eutanásia, clonagem, reprodução assistida) já são tratadas

por outros ramos do direito, como o constitucional, o administrativo, o penal

e o civil, mas isso não impede que hoje se fale de biodireito e se trabalhe com

sua autonomia em relação aos outros ramos.

Os tratamentos dos ramos citados são essenciais para que a ordem jurídica

possa manter sua função de reguladora da sociedade. Dessa forma, o direito penal

é o ramo indicado para punir a eutanásia, assim como o direito constitucional

deve estabelecer os parâmetros para uma vida digna e para a liberdade científica.

Vamos, portanto, buscar um conceito de biodireito, reconhecendo a dificuldade e

complexidade da tarefa, permitindo a você, aluno(a), compreendê-lo em função

dos avanços das atividades científicas e da necessidade de regulação destas,

porém também deixando claro que outros ramos do direito podem tratar dessas

questões sem provocar, necessariamente, um grave conflito.

O estudo do biodireito no Brasil ainda não está em um estágio tão avançado como nos EUA e em países da Europa. A nossa legislação ainda trata o tema de forma muito superficial e a doutrina tem recentemente dedicado um maior número de trabalhos ao estudo desse novo campo do direito. Isso, contudo, em nada desmerece o estudo; talvez, pelo contrário, torne-o até mais instigante, em razão do amplo campo que pode surgir.

SAIBA QUE

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Capítulo 6

159Instituições de Direito Público e Privado

6.2.1 Do conceito de biodireito

Nosso primeiro ponto de estudo será verificar como podemos entender

o significado do biodireito e suas relações com outras áreas. A busca por um

conceito de biodireito não pode fugir de um estudo do significado da bioética,

pois tais conceitos possuem uma relação muito forte, podendo falar-se que

um conceito completa e interage com o outro.

Heloisa Helena Barboza, em artigo que estuda os princípios do biodireito

e da bioética, relata o surgimento do terno bioética. Diz a autora:

Afinal, o que é bioética? Na última década essa pergunta foi formulada inúmeras vezes e muitas foram as respostas apresentadas. Indica-se que o termo foi criado e posto em circulação em 1971, no título do livro do oncologista americano Van R. Potter, Bioethics, bridge to the future, referindo-se a uma nova disciplina que deveria permitir a passagem para uma melhor qualidade de vida. Contudo, em sua rápida difusão a expressão adquiriu significado específico e científico de “uma nova dimensão da pesquisa no campo dos estudos acadêmicos”, surgindo, em menos de uma década, como disciplina autônoma em universidade italiana), além de institutos dedicados a sua investigação (BARBOZA, 2010, p. 1).

Da citação da autora, notamos que a origem da bioética é recente e sua

afirmação mais recente ainda. Isso é pode ser entendido pelo fato de que

nas últimas cinco décadas os avanços da ciência fizeram aumentar os debates

sobre os limites da atividade científica e de como o direito e outras áreas

poderiam interferir para disciplinar as pesquisas científicas. Em sua origem,

a bioética teria um compromisso com o equilíbrio e a preservação da relação

dos seres humanos com o ecossistema e a própria vida do planeta (DINIZ,

2009, p. 9).

Ao falarmos de bioética, temos um ponto que remonta a outro tema

já estudado em nossa disciplina: a ética. Lembre de que no primeiro capítulo

trabalhamos a diferença entre ética e moral. Estudanos, inclusive, um conceito de

ética oriundo do pensamento de Sanchez-Vazques, que diz respeito à teoria ou

ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de

uma forma específica de comportamento humano. Assim, ao falarmos de bioética,

não podemos deixar de pensar que estamos tentando traçar uma relação entre a

ética como teoria da moral e as pesquisas científicas que vão interferir em questões

como o prolongamento da vida. Na verdade, a bioética é uma resposta da ética

tradicional às questões trazidas pelas pesquisas científicas (DINIZ, 2009, p. 10).

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Capítulo 6

160 Instituições de Direito Público e Privado

Para Heloisa Barboza (2010, p. 1), talvez seja este o maior mérito da

bioética: “sistematizar (ou ao menos tentar) o tratamento de questões diversas,

mas que devem guardar entre si, necessariamente, princípios e fins comuns”.

A bioética pode ser dividida, na concepção de vários autores, em

macrobioética – que está relacionada as questões ecológicas em busca da

preservação da vida humana – e microbioética – que cuida das relações entre

médico e paciente; instituições de saúde públicas ou privadas e entre estas

instituições e os profissionais de saúde.

Já conseguimos estabelecer uma primeira noção conceitual, que é a

bioética. Da concepção inicial de bioética passou-se à problematização sobre

a existência do biodireito e seu sentido. Jussara Ferreira (2010, p. 1), sobre o

sentido do biodireito, nos diz que

Com efeito, realmente, torna-se inarredável a intervenção do direito no campo das biotecnologias e biomédicas, considerando a gama de valores a merecer tutela jurídica capaz de equilibrar de um lado as portentosas “descobertas” científicas, e de outro o emprego de tais descobertas pela biomedicinas, sem violar direitos, muitos dos quais, devidamente protegidos, como por exemplo, vários dos que integram o rol dos direitos da personalidade.

A perspectiva de criação do biodireito é a de dar mais solidez e densidade

para a intervenção do direito no campo das atividades científicas, tentado

regular de forma mais correta essas atividades.

No Brasil, o grande debate nos tribunais envolvendo a questão do biodireito foi realizado no Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da constitucionalidade das pesquisas com células-tronco (presentes na chamada Lei da Biossegurança – Lei n. 11.105/05). Esse julgamento envolveu vários setores de grupos religiosos e da comunidade científica, além de pessoas que tinham interesse no caso. Ao final, o Supremo decidiu pela admissibilidade, mas estabeleceu parâmetros que devem ser seguidos para validar essa prática.

SAIBA QUE

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Capítulo 6

161Instituições de Direito Público e Privado

Ao longo dos anos, vários foram os conceitos formulados sobre biodireito.

Em razão dos estudos ainda estarem em uma fase inicial, os doutrinadores

ainda procuram a melhor forma de definir esse novo ramo do direito. Uma

primeira noção sobre biodireito pode ser a de que se trata do “ramo do

Direito que trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas às

normas reguladoras da conduta humana em face dos avanços da biologia, da

biotecnologia e da medicina” (BARBOZA, 2010, p. 1). Aqui estarão questões

relacionadas às mudanças de sexo, embriões humanos, dentre outras. Um

dos marcos para o desenvolvimento do biodireito foi o sequenciamento do

genoma humano, que ampliou em muito os debates da área.

Em razão da relação entre os conceitos, precisamos armar uma definição

de biodireito e de bioética para permitir a você identificar o significados de cada

termo. Assim, em vez de ficar passando uma série de conceitos formulados por

doutrinadores (aqui não temos um conceito previsto em lei, como acontece no

caso do direito do consumidor), apresentarei o pensamento de Jussara Nasser,

que tem desenvolvido importantes estudos nessa área.

CONCEITOCONCEITO

Bioética é a ética das biociências e biotecnologias que visa preservar a dignidade, os princípios e valores morais das condutas humanas, meios e fins defensivos e protetivos da vida, em suas várias formas, notadamente, a vida humana e a do planeta.

Biodireito é como um conjunto de normas esparsas que têm por objeto regular as atividades e relações desenvolvidas pelas biociências e biotecnologias, com o fim de manter a integridade e a dignidade humana frente ao progresso, benefício ou não, das conquistas científicas em favor da vida (FERREIRA, 2010, p. 1).

Dos conceitos, podemos observar que a bioética busca ser uma teoria das

biociências e biotecnologias, enquanto o biodireito é o conjunto de normas jurídicas

que visam regular as atividades desenvolvidas pelas biociências e biotecnologias.

Veja que a bioética, devido a sua proximidade com a ética, não faz parte

do direito, mas é um importante ramo para servir de espaço a debates sobre

questões que o biodireito, por meio de normas, regulará. Atualmente, os

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Capítulo 6

162 Instituições de Direito Público e Privado

conceitos de biodireito e de bioética estão intimamente ligados e nos próximos

anos devem permanecer desta forma.

Trabalhado o conceito de biodireito, uma questão para finalizarmos este

tópico: o biodireito é um ramo do direito público ou do direito privado? (Esses

conceitos foram estudados no capítulo 2.) Em um primeiro momento, pelo tipo

de ações que visa regular, e pela proximidade com o direito constitucional,

poderíamos colocá-lo como ramo do direito público. Para contextualizar

melhor essa ideia de a que ramo do direito pertence o biodireito, Jussara

Nasser (2010, p. 1) nos diz que

O enfrentamento da questão leva em conta de que o biodireito está a tutelar tanto interesses de ordem pública como também de ordem particular quando alcança o ser humano em sua individualidade enquanto sujeito de direito. Em favor do interesse público estão todas as tutelas à vida, desde as contidas no texto constitucional até aquelas referidas em legislações específicas, v.g. da lei n. 8.974, de 05 de janeiro de 1995, que regulamenta os incisos II e V do § 1º do art. 225 da CF, que estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiental de organismos geneticamente modificados e a resolução 1.358/92 do Conselho Federal de Medicina, que dispõe sobre normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida, bem como a lei n. 9.434/97 que dispõe sobre transplante de órgãos tecidos e partes do corpo humano, com fins terapêuticos.

Assim, o biodireito pode ser enquadrado como um ramo do direito que

mantém relações tanto com o direito público quanto com o direito privado,

mas não se enquadrando dentro de nenhum deles especificamente.

Seguindo o pensamento de Jussara Nasser, o biodireito seria integrante

do “direito misto”. Diz a autora: “O direito é misto quando tutela interesses

privado e público, ou então, quando é constituído por normas e princípios

de direito público e de direito privado. Generalizando, direito em que, sem

predominância, há confusão de interesse público ou social com o interesse

privado” (FERREIRA, 2010, p. 1).

Ressalto que se você estudar as obras ou sites sobre o tema indicados ao

fim deste capítulo, verá que o biodireito pode ser classificado como um ramo

do direito público, o que em nada invalida a concepção que apresentamos

neste tópico.

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Capítulo 6

163Instituições de Direito Público e Privado

6.2.2 Dos princípios do biodireito

Com base no que foi estudado até aqui, podemos notar que o biodireito,

além da direta relação com a bioética, é também cercado por uma série de

dúvidas e aspectos que devem ser melhor esclarecidos.

Para tentar auxiliar seu estudo, vamos abordar agora os princípios que

estariam ligados ao biodireito e à bioética. São princípios de outros ramos que

interferem na bioética e no biodireito, e por isso procuraremos estudar os que

seriam específicos dessa nova área do direito.

Ao aluno que inicia um estudo, os princípios sempre possibilitam um

auxílio para que você compreenda de forma mais clara o significado desse

objeto de estudo. Os princípios, no campo do direito, desempenham um

importante papel orientador das interpretações que serão feitas quando

da análise de casos concretos. Após a descrição dos princípios, espero que

você consiga relacioná-los às questões polêmicas que iremos tratar no

próximo ponto.

Em um primeiro momento vamos abordar os princípios relacionados à

bioética, pois eles são informadores do biodireito. Seguiremos aqui a classificação

de Jussara Nasser, que os estrutura da forma como veremos a seguir.

Princípios éticos gerais

Como princípios éticos gerais, referentes à pesquisa biomédica em seres

humanos, são registrados em uníssono, indistintamente, pelos estudiosos do

tema os seguintes:

• princípio do respeito pela pessoa – envolve a expressão de

autonomia da vontade, quer das pessoas capazes de deliberarem

acerca da pesquisa, quer aquelas incapazes ou com a capacidade

diminuída de tomarem uma decisão, devendo ser representadas ou

na impossibilidade que tal, gozarem de uma maior proteção, visando

obstar abusos ou danos;

• princípio da beneficência – resume-se no dever ético de não fazer mal,

ou seja, a não maleficência. A obrigação, neste vértice, está orientada

no sentido de maximizar benefícios e minimizar danos e prejuízos;

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Capítulo 6

164 Instituições de Direito Público e Privado

• princípio da justiça – interessante constatar que neste princípio a

bioética resume, exatamente, a perspectiva da justiça distributiva,

impondo a distribuição equitativa quer dos ônus, quer dos benefícios

decorrentes da participação da pesquisa;

• princípio da autoconsciência – este princípio será descrito na abalizada

palavra de Lorente Polaino, quando descreve a autoconsciência como

a primeira manifestação da ciência – “cum scientia”. Esclarece que

em função disso a consciência constitui um dos funda fundamentos

primordiais da ética. Na medida em que a consciência se abre ao ser,

também se manifesta a identidade de quem somos nós;

• princípio do consentimento informado – muito embora a doutrina

não aponte com nitidez para o consentimento informado, parece-

nos imprescindível avocá-lo no rol dos princípios gerais da bioética

como ética da investigação humana por inarredável, considerando

que a postura atual dos comitês de bioética internacionalmente

iniciam uma cruzada no sentido de rejeitar toda e qualquer pesquisa

envolvendo seres humanos quando estes não expressarem o seu

inequívoco consentimento, após completa informação sobre todos os

desdobramentos do processo de investigação científica.

Princípios éticos específicos

A ética, ora como disciplina descritiva, ora como ética normativa, no

âmbito das ciências da vida e da saúde é explicitada pela bioética, que não

deixa de ser uma ética especial. E, em assim sendo, reveste-se de princípios,

igualmente especiais:

• princípio da defesa da vida física – o princípio de defesa da vida

humana é apontado como fundamental, considerando que a

vida corpórea e física do homem não significa algo extrínseco da

pessoa, e sim vital. Evidentemente, há de ser levado em conta que

a vida corpórea não exaure a pessoa, que também é espírito, mas

este transcende o próprio corpo e temporalidade. É emergente,

portanto, a importância desse princípio em ordem à manifestação

dos vários tipos de supressão da vida humana: o homicídio, o

suicídio, o aborto, a eutanásia, o genocídio, a guerra de conquistas

e assim por diante;

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Capítulo 6

165Instituições de Direito Público e Privado

• princípio da liberdade e da responsabilidade – este princípio também

vem sendo considerado pelos tratadistas como fonte do ato ético, na

qualidade de princípio antecedente, sendo a liberdade o consequente.

O que significa ser para o indivíduo livre, responsável pela própria vida e

a de outros. A constatação lógica reside na assertiva “é necessário estar

vivo, para poder exercer a liberdade”. Por mais que seja evidente, esta

afirmação apresenta hoje muitos problemas no campo da ética médica,

por exemplo, a propósito do assim chamado direito à eutanásia: não se

tem direito de dispor, em nome da liberdade de escolha, da supressão da

vida; outra aplicação se verifica no campo dos tratamentos obrigatórios

para os doentes mentais ou diante da rejeição de terapias por motivos

religiosos. De modo mais geral, este princípio sanciona a obrigação

moral do paciente em colaborar com os tratamentos ordinários e

necessários para salvaguarda da vida e da saúde própria e do outro.

Em certos casos, como o que se refere aos pacientes que rejeitam os

tratamentos indispensáveis à vida e à sobrevivência quando o médico

julga em consciência necessário impô-los, o direito deverá regular o

processo para os tratamentos obrigatórios;

• princípio da totalidade ou princípio terapêutico – princípio basilar e

característico da ética médica, que leva em conta a corporeidade

humana como um todo unitário composto por partes distintas e

unificadas organicamente. Esse princípio põe em relevo a questão

da proporcionalidade das terapias e também o chamado critério do

voluntário indireto, para referir o paciente enfermo que necessita de

terapias. Também este princípio apresenta fortes implicações morais. Em

primeiro lugar, esse princípio terapêutico exige algumas condições para

ser aplicado: que se trata de uma intervenção sobre a parte doente ou

que é diretamente a causa do mal, para salvar o organismo são; que não

haja outros modos ou meios para fugir da doença; que haja boa chance,

proporcionalmente grande sucesso; que se tenha consentimento do

paciente. Subentende-se que nestes casos o que está em questão não é

tanto a vida quanto a integridade física da corporeidade e, portanto, é

um valor pessoal que pode ser posto em perigo ou diminuído somente

em favor do bem superior a que está vinculado;

• princípio da socialidade e da subsidiariedade – na socialidade está

consagrada a mútua cooperação entre os indivíduos na defesa e promoção

da vida e da saúde, onde uns dependem do apoio de outros, como nos

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Capítulo 6

166 Instituições de Direito Público e Privado

surtos epidêmicos, poluição desmedida, doação de órgãos e tecidos, que

somente poderão lograr êxito com a ação fraterna da comunidade. À

socialidade reúne-se a subsidiaridade, resumida na proposta de ajudar

mais os que mais necessitam, e ao mesmo tempo estimular as livres

iniciativas objetivando assegurar o seu funcionamento.

A classificação de Jussara Nasser, mesmo que passível de críticas em

alguns sentidos, apresenta com clareza uma estrutura dos princípios ligados

à bioética, os quais terão relação com questões do biodireito. Observe que

ao longo da classificação fica clara a noção de que os princípios, nesse caso

concreto, buscam criar mecanismos que permitam regular essa atividade.

Figura 1 – A bioética é um dos importantes campos de estudo das ciências humanas e biológicasFonte: <www.granosdesal.wordpress.com>.

Estudados os princípios da bioética e seus sentidos, vamos agora aos

princípios ligados ao biodireito, procurando ao final ver uma relação entre os

princípios de ambos.

Iniciamos pelos princípios de outras áreas que interferem no

biodireito. O primeiro a ser abordado é o da dignidade da pessoa humana,

que, como já estudamos, está presente no art. 1º, III, da Constituição de

1988. A dignidade da pessoa humana é uma das bases sobre as quais são

construídos os direitos fundamentais e o Estado brasileiro, sendo que a

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Capítulo 6

167Instituições de Direito Público e Privado

perspectiva concebida na constituição a torna um princípio geral do direito.

Sobre esse princípio, Diniz (2009, p. 16) afirma:

Os bioeticistas devem ter como paradigma o respeito à dignidade da pessoa humana que é o fundamento do Estado Democrático de direito (art. 1º, III) e o cerne de todo o ordenamento jurídico, deveras, a pessoa humana e sua dignidade constituem fundamento e fim da sociedade e do Estado, sendo o valor que prevalecerá sobre qualquer outro tipo de avanço científico e tecnológico. Consequentemente, não poderão bioética e biodireito admitir conduta que venha a reduzir a pessoa humana à condição de coisa, retirando dela sua dignidade e o direito a uma vida digna.

Veja como a dignidade da pessoa humana ocupa, mais uma vez, um

lugar central dentro do direito brasileiro, pois assim como ela é base tanto

para o avanço da bioética e do biodireito, é também o parâmetro para

estabelecer os limites em ambos os ramos. Mas você deve estar pensando:

como isso ocorre? A dignidade humana é um anseio que remonta aos

primórdios da humanidade e sempre embasou doutrinas religiosas e

filosóficas ao longo dos séculos.

Quando a bioética surge e passa a tratar de temas como reprodução

assistida e clonagem é com base na dignidade humana que seus defensores

justificam a possibilidade da prática de tais atos, bem como os críticos

defendem que esses mesmos atos vão contra a dignidade humana prevista

na constituição. Aqui, sem querer fechar o debate, vamos procurar a relação

entre dignidade da pessoa humana e biodireito, de forma a permitir uma

compreensão ampla do tema.

Não é fácil estabelecer qual lado está com a razão. Pense no seguinte

exemplo: se José vê um parente em estado terminal, sofrendo muito com

o tratamento e lembra da alegria que esse parente tinha pela vida e como

desejava viver com dignidade, podemos pensar que a defesa da eutanásia

seria uma forma de tornar eficaz, no caso concreto, o princípio da dignidade

da pessoa humana. Agora pense que José é o único herdeiro de seu parente,

um rico e poderoso empresário e com a morte deste herdará uma grande

fortuna. Será que você manteria o pensamento da eutanásia como defesa da

dignidade da pessoa humana, ou entenderia que manter o doente vivo é a

forma de proteger a dignidade humana?

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Capítulo 6

168 Instituições de Direito Público e Privado

Um outro ponto da constituição que deve ser observado no estudo do

biodireito é o relativo ao direito à vida, previsto no art. 5º, caput da Constituição

de 1988. Para José Afonso da Silva, a vida humana, que é o objeto do direito

assegurado no art. 5º, integra-se de elementos materiais e imateriais; a vida é

intimidade conosco mesmo, saber-se e dar-se conta de si mesmo, um assistir a

si mesmo e um tomar posição de si mesmo; por isso é que ela constitui a fonte

primária de todos os outros bens jurídicos.

Para o autor, ela contempla também o direito à existência, que consiste

no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender a própria vida, de

permanecer vivo; é o direito de não ter interrompido o processo vital senão

pela morte espontânea e inevitável (SILVA, 2004, p. 330).

Além desses dois pontos previstos na Constituição, podemos destacar que

o biodireito também está relacionado aos direitos de liberdade e igualdade

(liberdade da atividade científica e a noção de liberdade em si, do homem ser

o senhor do seu destino).

Sobre os princípios do biodireito, Jussara Nasser apresenta uma

interessante classificação. Vejamos.

Princípios gerais do biodireito

• Princípio da boa fé – este princípio deve ser entendido em sua

acepção de “integração ética” da justa causa. Para não alongarmos

a discussão que permeia o próprio conceito de boa fé, para fins

deste estudo, será adotada mesmo como a bona fides (lealdade,

confiança, honestidade, sinceridade) sem o que as experiências

científicas em questão não poderão prosperar. Este princípio deve

ser observado em confronto com o princípio da autoconsciência,

analisado por Lorente Polaino.

• Princípio da prudência – a prudência aqui referida não é

exatamente aquela concebida por Aristóteles, mas sim atualizada

nos descritores indicativos de como não agir o pesquisador

prudente, arredando do experimento toda forma de negligência,

imprudência e imperícia.

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Capítulo 6

169Instituições de Direito Público e Privado

Princípio específico do biodireito

• Princípio da legalidade dos meios e fins – caberá ao biodireito a defesa

da vida humana sem representar obstáculo aos avanços científicos,

formular normas jurídicas de calibração equilibrada que permitam

uma maior adequação entre os propósitos, meios e fins, como propõe

a lógica do razoável, objetivados pelas biociências e biomédicas em

benefício da humanidade.

Esses princípios, que servem como parâmetro para um conhecimento

do tema, mostram como o biodireito tem buscado, nessa fase inicial, regular

condutas que possam ser praticadas quando do exercício de pesquisas e de

procedimentos médicos.

6.2.3 Questões polêmicas relacionadas ao biodireito

Após o estudo do conceito e dos princípios orientadores do biodireito,

vamos agora, de forma breve e sucinta, abordar algumas questões polêmicas

relacionadas a esta nova área jurídica.

O primeiro que iremos abordar é a clonagem, focada na clonagem

humana, e suas consequências.

DEFINIÇÃODEFINIÇÃO

Clonagem é uma forma de reprodução assexuada, por meio da qual se obtém seres vivos com mesma identidade genética.

A clonagem, conforme trabalhado pela comunidade científica, pode ser

dividida em clonagem reprodutiva, feita por meio da reprodução in vitro e

utilizada para se obter clones, e a clonagem terapêutica, utilizada para se

obter células-tronco, com capacidade de autorregeneração, destinadas à

recuperação e regeneração de tecidos e órgãos danificados.

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Capítulo 6

170 Instituições de Direito Público e Privado

O primeiro caso de clonagem foi o da ovelha Dolly (14/02/2003). Ela foi o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso, graças aos pesquisadores do instituto Roslin, na Escócia. Dolly foi clonada a partir das células da glândula mamária de uma ovelha adulta com cerca de seis anos, por meio de uma técnica conhecida como transferência somática de núcleo.

CURIOSIDADE

Figura 2 – A ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado com sucessoFonte: <www.cienciaefe.org.br>.

O caso da ovelha Dolly abriu o debate na comunidade científica

e jurídica sobre a possibilidade de clonagem do ser humano e a

regulamentação para que isso seja feito. Estudos revelam ainda não ser

possível a clonagem de seres humanos, mas com os avanços verificados nas

duas últimas décadas estamos diante apenas de uma questão que tende

mais para o lado temporal do que propriamente científico. Quero dizer que

em breve teremos a possibilidade concreta de realização de clonagem de

um ser humano e, nesse momento, devemos ter um debate claro e plural

sobre os limites desse tipo de atividade científica. Mas por que falar em

limites para algo que, a princípio, traria somente vantagens à humanidade?

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Capítulo 6

171Instituições de Direito Público e Privado

Em um primeiro momento, por mais que pareça sedutora a perspectiva

da clonagem humana, ela apresenta sérios problemas em relação ao princípio

da dignidade humana, pois não podemos aceitar que esse tipo de atividade

científica seja usado para criar seres humanos superiores ou inferiores, ou tão

somente clones que sirvam apenas para “fornecer” células-tronco.

Como seria a relação afetiva de um “clone” com seus “parentes” e os

reflexos nas relações jurídicas (por exemplo, o direito de filiação e o direito

de herança)? Ainda temos de pensar na possibilidade de eventuais clones

humanos serem comercializados, e quais cientistas poderiam dominar esse

conhecimento e utilizá-lo. Quais seriam as responsabilidades sobre os clones

que viessem a “produzir”?

A clonagem é um dos temas mais complexos para debate no biodireito

na bioética, pois sempre o argumento de suas eventuais vantagens pode

distorcer a discussão e impedir que se faça a correta delimitação desse tipo de

atividade científica.

Atualmente o artigo 6o da Lei n. 11105 regula a questão da clonagem e

estabelece terminantemente a vedação à clonagem humana da seguinte forma:

Art. 6o Fica proibido:I – implementação de projeto relativo a OGM sem a manutenção de registro de seu acompanhamento individual;II – engenharia genética em organismo vivo ou o manejo in vitro de ADN/ARN natural ou recombinante, realizado em desacordo com as normas previstas nesta Lei;III – engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e embrião humano;IV – clonagem humana.

Após essa breve abordagem sobre a clonagem e seus reflexos no campo

do biodireito, vamos tratar de um outro tema polêmico: a questão da “morte

digna”, da eutanásia e do direito à escolha de como morrer. Ao tratar sobre

esse tema, Diniz (2009, p. 377) relata que o filosofo Sócrates já falava que “o

que vale não é o viver, mas o viver bem”.

Assim, a questão sobre a morte digna é algo que acompanha o homem

ao longo dos séculos e provoca vários problemas de cunho moral e ético (você

lembra do caso do primeiro capítulo? Se não lembra, recorde e veja como o

debate da morte digna já estava presente lá).

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Capítulo 6

172 Instituições de Direito Público e Privado

Veja que essa frase nos coloca diante de questões importantes: morrer

dignamente é um direito? Uma vida com sofrimento pode ser atenuada

por uma morte digna? Quem decide o que é morte digna? Um tratamento

desumano que prolongue a vida pode ser aceito? Veja como já no início de

nosso estudo temos temas polêmicos e densos. Cabe salientar que a filosofia

do direito também tem dedicado vários estudos sobre as questões relativas

à morte a ao direito de morrer, ampliando e contribuindo em muito para o

debate sobre o tema.

Um dos casos mais polêmicos sobre o tema ocorreu Estados Unidos. É o caso Nancy Cruzan. Em 1983, com 25 anos de idade, Nancy Cruzan, recém-casada, sofreu um acidente de carro e entrou em coma profundo. Todos – amigos, marido, pai, mãe – acompanhando tudo, todos os dias. Depois de cinco anos, sem nenhuma perspectiva de melhora, a família pede para desligarem os aparelhos para que ela pudesse descansar. O hospital diz que só faz com alvará

judicial. O alvará foi requerido e o juiz nomeia um curador da vida para exercer o contraditório. O juiz autoriza desligamento dos aparelhos. O curador da vida, por dever de ofício, diz que vai recorrer à Suprema Corte. Ele recorre e a Suprema Corte, por 5x4, não autoriza o desligamento dos aparelhos, dizendo o seguinte: ela não deixou nenhuma instrução no sentido de que não gostaria de ser mantida viva em uma situação como essa, e por isso vamos manter os aparelhos ligados. Passam-se mais alguns meses e a família diz ter achado uma testemunha que atesta ter conversado com Nancy, quem, nesse contexto, dizia não querer ser mantida viva. Em razão da nova prova, o juiz autoriza o desligamento dos aparelhos, sem que reste recurso à Suprema Corte.

SAIBA QUE

A questão é de saber: a quem pertence a vida? A vida é um direito ou

é um dever? Se nós partirmos da premissa de que a vida é um direito, não

há nenhuma violação ao direito à vida em você permitir que uma pessoa

autonomamente, em um contexto de grande sofrimento, decida o momento

de parar, inclusive sob o argumento sustentado por alguns pensadores, de

defender a dignidade da pessoa humana.

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Capítulo 6

173Instituições de Direito Público e Privado

Se nós reconhecermos que a vida é um dever ou um direito da

coletividade, é diferente. Só que é muito complicado falar que a vida é um

direito da coletividade para que alguém viva.

Agora, isso não é simples assim. Há uma situação de fundo complicada

porque sabemos, em primeiro lugar, que pessoas adoecidas têm crises e podem

tomar decisões que depois não há como voltar atrás.

Segundo, existe a questão das pressões. A pessoa está doente e pensa

que é um peso para a sua família. Talvez, a pessoa preferisse viver, mas se sente

envergonhado em decidir que prefere viver. Como podemos equacionar isso?

A principal palavra ligada à “morte digna” é a eutanásia, termo

utilizado ao longo dos séculos. Em sua origem, a eutanásia significava morte

de forma indolor e assim permaneceu ao longo de vários séculos. Atualmente,

o conceito desta palavra já apresenta uma outra forma e trará o debate, no

direito brasileiro, sobre a possível adoção da “escolha de morrer”. Ressalte-se

que hoje os estudos indicam que a morte digna é aquela relacionada a uma

morte natural, sem prolongamentos artificiais.

Para José Afonso da Silva, a eutanásia é vedada pela Constituição, pois

o desinteresse do indivíduo pela própria vida não exclui a da tutela, e o

Estado continua a protegê-la como valor social. Este interesse superior torna

inválido o consentimento do particular para que o privem do seu direito à

vida (SILVA, 2004, p. 380). Dentro dessa concepção, a vontade de dispor da

própria vida encontra obstáculo.

DEFINIÇÃODEFINIÇÃOÇÇ

Vamos fixar bem esses conceitos com base no pensamento de Maria Helena Diniz (2009): eutanásia – é classificada, por muitos autores, como a “boa morte”, causando ao paciente enfermo uma morte rápida e indolor. Nessa situação, o paciente em estado terminal é

induzido à morte por piedade diante de seu estado clínico;ortotanásia – consiste em aliviar o sofrimento de um enfermo terminal, mas não lhe ocasionando diretamente, pois o paciente já está em um processo natural de morte; distanásia – conceito oposto à eutanásia. Trata-se de uma morte ocasionada com intenso sofrimento ao doente.

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Capítulo 6

174 Instituições de Direito Público e Privado

É importante esclarecer, após a formulação dos conceitos, a noção de

morte cerebral, pois nesse caso o paciente não está mais vivo e, assim sendo,

não se aplicaria nenhum dos três conceitos em questão. Na ocorrência de

morte cerebral, é permitida inclusive, por meio da lei, a doação dos órgãos do

paciente para fins de transplantes.

Esclarecido esse ponto, é importante ressaltar como a questão sobre a

eutanásia pode trazer outras variantes, como a ortotánasia, que na verdade

possui intrínseca relação com ela. A eutanásia, na visão da maioria dos

doutrinadores, não é um ato legal, sendo considerada crime com base no

Código Penal. O debate sobre a legalização da eutanásia deve ser feito com

prudência, pensando-se em casos bem específicos, pois a generalização pode

criar uma distorção e uma indústria da eutanásia, o que seria totalmente

indesejável dentro da noção de dignidade da pessoa humana.

No Brasil, o debate sobre a eutanásia e ortotanásia tem provocado, como vimos, várias posições discordantes. O Conselho Federal de Medicina, no ano de 2006, editou a resolução n. 1805 que trouxe o tema novamente para o centro do debate ao permitir ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos, o que para muitos representa uma forma de eutanásia passiva (ortotanásia). Veja o texto do artigo primeiro e dos parágrafos.

Resolução CFM n. 1.805/06 – Tratamento a paciente em fase de doença terminal Art. 1º É permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal. § 1º O médico tem a obrigação de esclarecer ao doente ou a seu representante legal as modalidades terapêuticas adequadas para cada situação.§ 2º A decisão referida no caput deve ser fundamentada e registrada no prontuário. § 3º É assegurado ao doente ou a seu representante legal o direito de solicitar uma segunda opinião médica.

SAIBA QUE

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Capítulo 6

175Instituições de Direito Público e Privado

A eutanásia tem suscitado debates acirrados nos EUA e em países da

Europa (como a Holanda), em razão dos pedidos que são feitos ao Judiciário

para que seja permitida a indução à morte de pacientes em estado terminal.

Uma outra questão que tem ocupado grande espaço dentro dos debates do

biodireito são as experiências com células-tronco. Essa possibilidade, que surgiu

com o avanço da ciência no final do século 20, tem gerado grandes discussões:

de um lado, representa uma revolução para pessoas portadoras de paralisias

(como os tetraplégicos); por outro, causa repulsa em vários grupos religiosos, que

entendem estar ocorrendo uma violação ao direito a vida. Como falamos no início

desse capítulo, esse foi um dos temas já discutidos no Brasil sobre o biodireito.

DEFINIÇÃODEFINIÇÃO

Células-tronco são células primitivas, produzidas durante o desenvolvimento do organismo e que dão origem a outros tipos de células. Elas podem ter várias divisões (totipotentes, pluripotentes, multipotentes e oligopotentes) e são consideradas decisivas pelos cientistas nos estudos para avanços de doenças como o mal de Alzheimer, câncer, cegueira, esclerose, dentre outras. Como vimos, essas células podem ser obtidas por meio de clonagem.

Mas que questão polêmica está relacionada às células-tronco se,

num primeiro momento, elas só trariam avanços e melhoras a vida dos

seres humanos necessitados? Os pontos polêmicos em relação a esse tipo

de atividade científica centram-se principalmente em questões de cunho

religioso e ético. As células-tronco consideradas de maior potencial para

pesquisas e cura de pacientes são aquelas embrionárias e que podem

ser obtidas por meio de fertilização in vitro (clonagem reprodutiva). A

polêmica reside em definir se o embrião fertilizado in vitro constitui ou

não uma vida.

As pesquisas com esse tipo de células são vistas por religiosos como

uma flagrante violação ao direito à vida, pois com a fecundação já

estamos diante dela, de modo que a fertilização apenas com finalidade

de obter essas células seria uma violação da constituição. Por sua vez, os

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Capítulo 6

176 Instituições de Direito Público e Privado

cientistas argumentam que a inseminação artificial não geraria uma vida,

e a retirada das células-tronco em nada representaria ofensa ao direito à

vida. Argumentam ainda que os benefícios que essas experiências podem

gerar mudariam a perspectiva de milhares de pessoas que sofrem hoje

de enfermidades ou paralisias tidas como incuráveis. Impedir os estudos

sobre esse campo da ciência, ao ver dos cientistas, pode gerar um atraso

e engessamento possivelmente irreversível no futuro.

Como citado no início do capítulo, o Supremo aceitou as pesquisas

com células-tronco, mas não esgotou o debate sobre o tema, pois muitos

consideram que os problemas relacionados a esse tipo de pesquisa ainda estão

em fase inicial. No futuro, uma nova discussão será necessária.

Para mostrar como o tema é tratado pela lei, vejamos o que diz o artigo

6o da Lei n. 1105:

Art. 5. É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-

tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização

in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes

condições:

I – sejam embriões inviáveis; ouII – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei n. 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.

Nesse ponto, a bioética também tem uma atuação importante, pois

muitas das críticas às pesquisas com células-tronco são de cunho religioso

e, guardado o devido respeito que se dê a essas questões, não devemos

esquecer que o Brasil é um estado laico, sem religião oficial, e que não pode

orientar suas condutas apenas por questões de cunho místico, que visem a

atender o interesse de uma determinada parcela da sociedade.

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Capítulo 6

177Instituições de Direito Público e Privado

Figura 3 – A polêmica em torno das pesquisas com células-troncoFonte: <www.rinaldogoodnews.blogspot.com>.

Christopher D’Olier Reeve (25/09/1952-10/10/2004) foi um ator norte-americano que ficou famoso pelo papel de Super-Homem no final da década de 1970, e nas continuações dos anos 80. Após sofrer, em maio de 1995, um acidente a cavalo e ficar tetraplégico, passou a liderar uma campanha pela legalização de pesquisas com células-tronco, vindo a falecer de uma grave infecção, em virtude do seu estado de saúde. Sua luta representou um marco para a liberação de pesquisas na área.

CURIOSIDADE

Figura 4 – O ator Christopher Reeve, que desempenhou um importante papel pelas pesquisas com células-troncoFonte: <www.geraldofreire.uol.com.br>.

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Capítulo 6

178 Instituições de Direito Público e Privado

Agora, vamos a um estudo de caso!

6.3 Aplicando a teoria na prática

Após termos estudado os conceitos, princípios e as questões polêmicas

do biodireito, passemos a um exemplo concreto sobre esse ramo do direito.

Luiz Paulo tem tido vários problemas com dores pelo corpo nos últimos

meses. Ao consultar um médico ele pede uma bateria de exames, porém nada

fica constatado e ambos decidem continuar monitorando seu estado de saúde

para verificar da necessidade de novos exames. Luiz é desportista e no final

de semana seguinte participará de uma escalada com amigos. No meio do

caminho, as dores no corpo aumentam até tornarem-se insuportáveis, fazendo

com que ele caia de uma altura de 330 metros.

Após receber socorro e ser levado ao hospital, fica constatado que Luiz

está tetraplégico. Essa notícia o abala profundamente, pois sempre teve como

princípio ter sua vida com qualidade e com a prática de esportes. Após recuperar-

se parcialmente do choque da notícia, ele conversa com seu médico e pergunta

quais suas chances, em razão do avanço da medicina. Seu médico informa que as

pesquisas ainda são iniciais e que, no momento, não existe uma perspectiva de cura.

Luiz decide ingressar em um uma ONG que trabalha com a ampliação

das pesquisas e das pessoas que desejam ser cobaias para tentar reverter

quadros clínicos complexos. Ele consegue participar de experiências com

células desenvolvidas em laboratório, mas os testes não geram melhora em

seu quadro, causando-lhe uma grave depressão. Logo após, descobre que

suas dores no corpo eram resultado de uma doença degenerativa e que seu

quadro clínico piorará muito nos próximos meses. Desorientado, Luiz chama

seu médico e diz ser muito difícil enfrentar toda essa situação sabendo que

seu quadro clínico irá se agravar. Assim, solicita ao médico que, para quando

seu estado de saúde for terminal, os medicamentos sejam diminuídos a fim

de não alongar algo inevitável.

O médico argumenta que é seu dever fazer todo possível para mantê-

lo vivo, mas Luiz argumenta que a vida vegetativa para ele não significa

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Capítulo 6

179Instituições de Direito Público e Privado

nada. Após mais de uma hora de conversa, o médico de despede sem dizer se

atenderá ou não o pedido de seu paciente. Luiz, por sua vez, decide escrever

uma carta a um amigo próximo relatando seu drama e pedindo que não lhe

seja prolongada uma vida que não é digna.

Qual o seu posicionamento diante do drama de Luiz?

O caso é rico na apresentação dos conceitos estudados ao longo deste

capítulo. Os primeiros conceitos que podemos observar são os de bioética

e biodireito, ao serem debatidas questões relacionadas a experiências

genéticas, vida digna e não prolongamento da vida. Essas hipóteses

implicam a bioética como estudo teórico das atividades científicas, e o

biodireito, com as normas que regulam as atividades científicas. Outros

pontos do nosso estudo que podemos identificar consistem no pedido de

Luiz ao seu médico, em que podemos identificar vários princípios, como o

da dignidade da pessoa humana e o direito à vida, princípio da legalidade

dos meios e fins, princípio da liberdade e da responsabilidade, princípio

do respeito pela pessoa, dentre outros. Por fim, está indicada a questão

da ortotanásia e sua aplicação em casos concretos (no pedido de Luiz ao

médico para não prolongar artificialmente sua vida).

6.4 Para saber mais

Site: Supremo Tribunal Federal

URL: <www.stf.jus.br>.

A página do Supremo tribunal Federal é um importante meio de pesquisa para saber das decisões mais recentes em relação ao biodireito. Como este ramo ainda está em franca evolução, muitas questões polêmicas chegarão ao Supremo nos próximos anos, e as decisões podem ser acompanhadas por esse endereço.

Filme: As invasões bárbaras

Direção: Denys Arcand Ano: 2003

Filho que trabalha no mercado financeiro inglês volta ao Canadá para cuidar de seu pai que está em estado terminal em razão do câncer. Além das discussões sobre ideologias e valores, o filme apresenta um interessante debate sobre a eutanásia. Trata-se de uma espécie de continuação do famoso filme O declínio do império americano, realizado por Arcand na década de 90.

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Capítulo 6

180 Instituições de Direito Público e Privado

Título: Novos temas de biodireito e bioética

Autor: BARBOZA, H. H.: MEI-RELLES, J. M. L.; BARRETTO, V. P. Editora: Renovar, RJ Ano: 2003

Esta obra coletiva é um dos melhores estudos recentemente produzidos no Brasil sobre questões polêmicas de bioética e biodireito. O livro apresenta linguagem clara e permite que os temas sejam entendidos sobre uma perspectiva ampla, não se limitando ao direito.

Site: Biodireito-Medicina

URL: <www.biodireito-medicina.com.br>.

Esta página apresenta bons artigos e notícias relacionadas ao biodireito, com ênfase nas questões relacionadas à anecefália.

Site: CTNBio

URL: <www.ctnbio.gov.br>.

Esta página aborda questões relacionadas à biossegurança, como os casos de clonagem, e serve como uma importante fonte de pesquisa sobre este e outros temas.

6.5 Relembrando

Ao longo deste capítulo, estudamos os seguintes conceitos e temas:

• a origem dos termos bioética e biodireito, fazendo uma abordagem

sobre a relação entre eles e como o biodireito está situado como

novo ramo do direito;

• os princípios da bioética e do biodireito trabalhados pela doutrina, no

sentido de buscar estabelecer uma uniformidade no tratamento das

questões relacionadas a esses campos do conhecimento;

• as questões que estão relacionadas ao biodireito, os conceitos mais usuais

(eutanásia, distanásia) e as questões mais importantes da atualidade que

relacionam bioética e biodireito (clonagem, células-tronco).

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Capítulo 6

181Instituições de Direito Público e Privado

6.6 Testando os seus conhecimentos

1) Em relação ao conceito de biodireito e bioética, é correto afirmar que:

a) Biodireito é como um conjunto de normas esparsas que têm por objeto regular

as atividades e relações desenvolvidas pelas biociências e biotecnologias, com

o fim de manter a integridade e a dignidade humana frente ao progresso,

benefício ou não, das conquistas científicas em favor da vida.

b) Bioética é como um conjunto de normas esparsas que têm por objeto regular

as atividades e relações desenvolvidas pelas biociências e biotecnologias, com

o fim de manter a integridade e a dignidade humana frente ao progresso,

benefício ou não, das conquistas científicas em favor da vida.

c) Biodireito é a ética das biociências e biotecnologias, que visa preservar

a dignidade, os princípios e valores morais das condutas humanas,

meios e fins defensivos e protetivos da vida, em suas várias formas,

notadamente, a vida humana e a do planeta.

d) Biodireito é o estudo sistemático da conduta humana na área das

ciências da vida e do cuidado da saúde, quando esta conduta é

examinada à luz dos valores e dos princípios morais.

2) Assinale a alternativa correta.

a) Eutanásia é classificada, por muitos autores, como a boa morte,

possibilitando ao paciente enfermo uma morte rápida e indolor.

b) Ortotanásia consiste em aliviar o sofrimento de um enfermo terminal,

mas não lhe ocasionando diretamente a morte.

c) Ortotanásia seria o conceito oposto à eutanásia. Trata-se de uma

morte ocasionada com intenso sofrimento ao doente.

d) Distanásia seria um conceito semelhante à eutanásia. Trata-se de uma

morte ocasionada sem sofrimento ao doente.

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Capítulo 6

182 Instituições de Direito Público e Privado

3) Assinale a alternativa correta.

a) São princípios gerais da bioética: princípio da boa fé, princípio do

consentimento informado.

b) São princípios gerais da bioética: princípio da autoconsciência,

princípio da prudência, princípio do consentimento informado.

c) São princípios gerais do biodireito: princípio da socialidade e da

subsidiaridade, princípio da boa fé, princípio da autoconsciência.

d) São princípios gerais da biodireito: princípio da boa fé e o princípio

da prudência.

4) Assinale a alternativa incorreta.

a) Células-tronco são células primitivas, produzidas durante o desenvolvimento

do organismo e que dão origem a outros tipos de células.

b) Células-tronco são células primitivas, produzidas durante o desenvolvimento

do organismo e que não dão origem a outros tipos de células.

c) Células-tronco são células primitivas, produzidas durante o

desenvolvimento do organismo e da gestação e que dão origem a

outros tipos de células.

d) Células-tronco são células envelhecidas, produzidas durante o

desenvolvimento do organismo e que dão origem a outros tipos

de células.

5) Neste capítulo, abordamos várias questões relacionadas ao biodireito. Com

base no que foi estudado, elabore uma redação relacionando os princípios

da bioética e do biodireito. Mostre pontos de semelhança e diferenças entre

eles e como podemos tomá-los parâmetro para o estudo da área sob uma

perspectiva interdisciplinar.

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Capítulo 6

183Instituições de Direito Público e Privado

Onde encontrar

BARBOZA, H. H. Princípios da bioética e do biodireito. Revista Bioética.

Disponível em <www.revistabioetica.cfm.org.br>. Acesso em: 08 dez. 2010.

DINIZ, M. H. O estado atual do biodireito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

FERREIRA, J. S. A. B. N. Bioética e biodireito. Unifenas. Disponível em: <www.

unifenas.br>. Acesso em: 08 dez. 2010.

SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo:

Malheiros, 2004.

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Capítulo 6

184 Instituições de Direito Público e Privado

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Capítulo 7

185Instituições de Direito Público e Privado

O ESTADO E A SEPARAÇÃO DE PODERES

CAPÍTULO 77

7.1 Contextualizando

Já estamos quase concluindo nossa disciplina e muitos conceitos lhe

foram apresentados até aqui. Agora, os temas que vamos estudar no presente

capítulo farão uma relação com temas já vistos anteriormente (sociedade,

direitos fundamentais), esboçando as questões finais conforme o objetivo de

traçar noções básicas das instituições de direito público e privado.

Nosso primeiro ponto de estudo será o conceito de Estado, fazendo uma

análise da opinião de autores sobre o mesmo e sua evolução ao longo dos

tempos, a fim de entendermos seu significado nos dias atuais. Compreender

o sentido da palavra Estado lhe ajudará muito nesse estudo, mas também

em seu dia a dia, pois este conceito está fortemente atrelado à política e à

sociologia. Compreendendo o seu significado jurídico, você terá elementos

para compreendê-lo em outras áreas.

Em seguida, vamos estudar outro conceito que transcende o elemento

jurídico: a separação de poderes. Em muitos momentos, ouvimos no noticiário

e nos debates nos meios de comunicação e nas universidades que a separação

de poderes no Brasil está em crise. Essa constatação, sem adentrarmos no

mérito deela ser verdadeira ou falsa, mostra como esse princípio é importante

na vida de uma sociedade, principalmente no presente, e você terá muitos

ganhos se conseguir entender como ele está aplicado no direito brasileiro,

servindo como importante elemento para atingir um dos grandes fins do

Estado constitucional: a limitação do poder estatal. Faremos também uma

breve análise da estrutura dos três poderes previstos no direito brasileiro,

mostrando suas funções e suas formas de controle.

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Capítulo 7

186 Instituições de Direito Público e Privado

Por último, vamos estudar o direito fundamental de acesso à justiça,

uma das grandes inovações da Constituição de 1988: garanti-lo a todos os

cidadãos, principalmente, aos mais pobres e necessitados de nosso país. O

acesso à justiça de forma eficaz pode ser o meio para garantir que seu filho

possa estudar em uma escola pública, garantir o direito ao fornecimento de um

medicamento essencial para o tratamento de uma doença ou simplesmente

impedir que você venha a sofrer agressões ao seu direito de ir e vir por parte

do Estado ou de particulares. Enfim, nos dias atuais ele assume uma posição

importantíssima em uma ordem jurídica como a brasileira, e vamos procurar

expor isso, mostrando também quais são os órgãos encarregados de fazê-lo de

modo eficaz. Enfim, nosso estudo reserva muitos pontos interessantes.

Espera-se que, ao final deste capítulo, você esteja apto a compreender

estes conceitos do direito. Precisaremos deles para os próximos capítulos.

Bom trabalho!

7.2 Conhecendo a teoria

7.2.1 O conceito de Estado

Nosso primeiro ponto é o estudo do conceito de Estado. Vamos,

antes de entrar neste tema, recordar o conceito de sociedade estudado no

primeiro capítulo.

Seguindo uma definição de Dallari (2009), dissemos que sociedade deveria ter

três características fundamentais: uma finalidade ou valor social; manifestações de

conjunto ordenadas, e o poder social. Essa recordação fará sentido agora quando

relacionarmos que a sociedade surge antes do Estado (BONAVIDES, 1999, p. 60),

sendo que este detém o poder e pode tanto ter a concordância da sociedade,

quando teremos uma situação mais confortável, como poder enfrentar a objeção

da sociedade, podendo neste haver a derrubada de um modelo de Estado para o

surgimento de um novo modelo, mais adaptado aos anseios sociais.

Se já recordamos os elementos do conceito de sociedade, vamos passar

para a análise do conceito de Estado. A origem deste termo, dentro do

significado atual, pode ser atribuída a Maquiavel, em sua obra O príncipe, e

de lá para cá sofreu uma grande evolução em termos práticos e conceituais.

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Capítulo 7

187Instituições de Direito Público e Privado

Nicolau Maquiavel (Niccolò Machiavelli, 1469/ 1527) é um dos mais importantes pensadores da história. Seu livro O príncipe é tido como o manual para governantes manterem o poder e tem sido estudado até hoje. É também considerado o pai da teoria política.

SAIBA QUE

Muitos autores, dentre eles, Dallari (2009), fazem uma abordagem

do estado em uma evolução histórica, iniciando pelo estado antigo, indo

ao estado grego, passando pelo estado romano, pelo estado medieval e

chegando ao estado moderno. Essa abordagem tem seu início antes da

obra de Maquiavel e aí fica a pergunta: havia, então, estado antes da

publicação de O príncipe? Sob o aspecto real, sim, pois os estados, dentro

das mais variadas concepções vão se formando para regular as sociedades.

A obra O príncipe inaugura a teorização sobre o estado, seu conceito, seus

objetivos e suas finalidades.

Dentro dessa perspectiva, Estado é uma ordenação que tem por fim

específico e essencial a regulamentação global das relações sociais entre os

membros de uma dada população sobre um dado território; constitui-se de um

poder soberano de um povo situado num território com certas finalidades; a

constituição organiza esses elementos (SILVA, 2006). Observe que José Afonso

da Silva considera o Estado regulador das relações sociais e por isso falamos no

início do capítulo da importância da relação entre Estado e sociedade.

Dallari (2009) nos apresenta os elementos constitutivos do Estado, que

seriam o povo e o território e formula o conceito apresentado a seguir.

CONCEITOCONCEITO

Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território (DALLARI, 2009).

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Capítulo 7

188 Instituições de Direito Público e Privado

Sob o ponto de vista jurídico, outro conceito de Estado importante é o

formulado por Bonavides (1999). Partindo de autores clássicos como Kant, Del

Vecchio, Duguit e Burdeau, o autor vê o Estado como uma forma de sujeição

do poder ao direito, havendo uma despersonalização entre o ente estatal e

seus ocupantes. Aqui o Estado passa a ser uma pessoa jurídica que visa regular

o poder. Independente das concepções sociológicas e políticas que o conceito

de Estado possa assumir, em uma disciplina como a nossa, Instituições de

Direito Público e Privado, a natureza que será objeto de estudo é a jurídica.

Veja que o poder estatal tem tantas variantes que uma delas é a possibilidade

de elaborar normas jurídicas com força coercitiva (trabalhamos a questão da

coerção quando estudamos a norma jurídica).

O Estado, então, é uma abstração jurídica, e isso deve ficar bem claro

para não ocorrer confusão, sendo que existem pessoas investidas em cargos

públicos e políticos que exercem as funções estatais. Você nunca verá o Estado,

mas poderá ver um representante (o presidente da república, por exemplo),

pois o Estado é uma abstração, uma abstração criada por meio da constituição,

documento que define sua estrutura e limita seu poder.

Em muitos momentos, entender o Estado e perceber sua função pode

ser complicado. Quantas vezes você já ligou a televisão e ouviu as seguintes

frases: “O Estado está sem dinheiro para pagar a dívida”; “O Estado, afirmou o

governador, tomará as medidas cabíveis para apurar a denúncia de corrupção”;

“O poder Judiciário obrigou o Estado a reconhecer o direito dos servidores”; “O

Estado passa por uma crise financeira”. Frases como essas mostram os problemas

que surgem ao ente Estado e como o termo aparece no dia a dia. Para você ter

clareza, em muitos momentos o uso da expressão Estado assume uma variedade

de significados. Quando se diz que o Judiciário obrigou o Estado a reconhecer

o direito dos servidores, observamos que neste exemplo o Estado é o Poder

Executivo, pois dentro do conceito amplo de Estado, o Judiciário também é parte

integrante deste poder. Haverá uma natural vinculação do Poder Executivo,

em razão de ser o poder de natureza executiva típica, assim como os poderes

Legislativo e Judiciário também pertencem ao conceito de Estado.

Agora, após essa breve abordagem, passemos à separação de poderes, a

doutrina fundante do Estado contemporâneo.

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Capítulo 7

189Instituições de Direito Público e Privado

7.2.2 A separação de poderes e seus sentidos

A separação de poderes é um dos princípios mais importantes do direito

moderno. Falar de separação de poderes transcende a questão jurídica, sendo

um tema de interesse social, pois define como será a estrutura do Estado e

como os poderes irão exercer suas funções e realizar o controle mútuo entre

si. Aqui vamos estudar uma teoria que tem por fundamento estabelecer

parâmetros para a limitação do poder estatal.

O marco do princípio da separação de poderes divide a doutrina, mas

grande parte dos autores indica o livro O espírito das leis, de Charles de

Montesquieu, publicado em 1748 como a sua origem.

Charles-Louis de Secondat, ou simplesmente Charles de Montesquieu, senhor de La Brède ou barão de Montesquieu (18/01/1689-10/02/1755), foi um político, filosófo e escritor francês, tendo ficado famoso pela sua teoria da separação de poderes, publicada na obra O espírito das leis, atualmente consagrada em muitas das constituições modernas. A Constituição americana de 1788 foi muito influenciada pelas ideias presentes na obra de Montesquieu.

BIOGRAFIA

Em sua teoria, Montesquieu procurou estabelecer as bases para um dos

grandes anseios da sociedade na época: a limitação do poder estatal. Antes

da adoção da teoria da separação de poderes, tivemos várias experiências em

que o poder estava concentrado nas mãos de uma pessoa ou de um grupo (a

mais marcante foi o Estado absolutista), sendo este poder exercido de forma

absoluta e autoritária. Com o advento das revoluções burguesas (americana e

francesa – estudamos isso no terceiro capítulo), houve um declínio da ideia de

exercício absoluto do poder com o surgimento dos direitos fundamentais. Era

a noção de limitação do poder que passava a ganhar forma.

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Capítulo 7

190 Instituições de Direito Público e Privado

Um modo de limitar o poder era dividi-lo em órgãos (funções)

especializados. Na obra O espírito das leis está presente a base para que

cada poder do Estado desempenhe uma determinada função, impedindo

assim a concentração do poder em um único órgão. A teoria da separação

de poderes o autor desenvolve a perspectiva de que apenas o poder é capaz

de frear os abusos do poder; desta forma, Montesquieu criou um sistema

de freios e contrapesos, para evitar os excessos que possam ser praticados.

A essência dessa concepção busca criar mecanismos, atualmente previstos

nas constituições, que sirvam de meios de controle de um poder sobre

o outro, sem criar necessariamente uma preponderância, visando um

equilíbrio estatal.

Essa concepção parte da constatação que o homem detentor do poder

o exerce de forma soberana. Bonavides (1999, p. 138) diz que “depois de referir

a liberdade política aos governos moderados, afirma Montesquieu que uma

experiência eterna atesta que todo homem que detém o poder tende a abusar

do mesmo”. Veja que o pensamento do filósofo francês ainda continua, nos dias

atuais, de essencial importância para se desenvolver um Estado democrático e justo.

O Brasil já adotou no passado um sistema de separação de poderes que possuía quatro vieses: o Executivo, o Judiciário, o Legislativo e o moderador. Foi durante a Constituição de 1824, único texto constitucional de nossa fase imperial. Após a Constituição Republicana de 1891, adotamos a tripartição de poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.

CURIOSIDADE

Com essa noção inicial, podemos notar que a divisão de poderes é

um princípio fundamental da Constituição, sendo que estes são poderes

da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo

e o Judiciário, exprimindo, a um só tempo, as funções legislativa,

executiva e jurisdicional e indicando os respectivos órgãos, estabelecidos

na organização dos poderes. A divisão consiste em confiar cada uma das

funções governamentais a órgãos diferentes, que tomam os nomes das

respectivas funções; fundamenta-se em dois elementos: a especialização

funcional e a independência orgânica (SILVA, 2006).

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Capítulo 7

191Instituições de Direito Público e Privado

A Constituição de 1988, como já vinham fazendo as constituições

brasileiras anteriores, adotou essa clássica teoria, conforme previsto no

art 2º, que expressa: “São Poderes da União, independentes e harmônicos

entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

Um ponto interessante é entender o significado da independência e

harmonia entre os poderes. A independência significa que a investidura e

a permanência das pessoas num dos órgãos não dependem da confiança

nem da vontade dos outros poderes; no exercício das atribuições que lhe

sejam próprias (típicas), não precisam os titulares de um poder consultar

os outros nem necessitam de sua autorização; na organização dos

respectivos serviços, cada um é livre, observadas apenas as disposições

constitucionais e legais. Verifica-se a harmonia entre os poderes pelas

normas de cortesia no trato recíproco e no respeito às prerrogativas e

faculdades a que mutuamente todos têm direito; embora haja divisão

de funções entre os órgãos do poder, sua independência não é absoluta;

há interferências que visam ao estabelecimento de um sistema de freios

e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da

coletividade (SILVA, 2006).

Funções

Nos dias atuais, a separação de poderes passou a ser vista como uma

separação de funções. Como defendido por muitos doutrinadores, hoje

vigora a noção de que o poder é uno, sendo que essa perspectiva deixou

de representar um isolamento, aumentando a interação entre os poderes.

Essas funções podem ser classificadas em dois grupos, que seriam

funções típicas e funções atípicas. As funções típicas podem ser conceituadas

como aquelas que os poderes exerciam, originalmente, de forma exclusiva.

As funções atípicas podem ser conceituadas como aquelas que os poderes

passaram a exercer após o fim da concepção de exclusividade no exercício

das funções, sendo, portanto, aquelas que inicialmente pertenciam a um

poder e hoje podem, de forma excepcional, ser exercidas pelos outros

poderes. A possibilidade de exercício das funções típicas e atípicas está

prevista no texto da Constituição, documento que estabelece o desenho

e a forma da separação de poderes.

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Capítulo 7

192 Instituições de Direito Público e Privado

Assim, falar nos dias atuais em separação de poderes é falar no exercício

de funções típicas e atípicas, inclusive para reforçar a concepção de que na

verdade existe uma divisão de funções, sendo o poder estatal uno. O quadro a

seguir, inspirado na posição da doutrina sobre essas funções, é um bom meio

para você fixar as funções típicas e atípicas de cada poder, sabendo que cada

ato praticado por um poder deve estar enquadrado no esquema.

FUNÇÃO TÍPICA FUNÇÃO ATÍPICA

Poder Legislativo • a atividade de elaborar leis e a fiscalização contábil, financeira, orçamentária e patrimonial do Executivo

• dispor sobre sua organização, provendo cargos, concedendo férias, licenças a servidores (função executiva);

• o Senado julga o Presidente da República nos crimes de responsabilidade (função judicial)

Poder Executivo • praticar atos de chefia de Estado, chefia de governo e atos de administração

• o Presidente da República, por exemplo, adota medida provisória, com força de lei (função legislativa);

• o Executivo julga, apreciando defesas e recursos administrativos (função judicial).

Poder Judiciário • julgar (função jurisdicional), dizendo o direito no caso concreto e dirimindo os conflitos que lhe são levados, quando da aplicação da lei

• regimento interno de seus tribunais (função legislativa);

• administra ao conceder licenças e férias aos magistrados e serventuários (função executiva).

Quadro 1 – As funções típicas e atípicas dos poderes

Assim, já conseguimos entender que, nos dias atuais, os poderes

desempenham variadas funções, devendo sempre, para tal, ter autorização da

lei. Faremos agora um estudo específico de cada um dos poderes previstos na

Constituição de 1988.

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Capítulo 7

193Instituições de Direito Público e Privado

O Legislativo

No Brasil, o Poder Legislativo tem passado por grandes desgastes, mas

é importante que você, como cidadão, lute para tirar a parte “podre” deste

poder, sem nunca defender sua extinção, pois somente estados autoritários,

como fomos durante vinte anos, não têm poder legislativo.

A Constituição de 1988 diz no Art. 44 que “o Poder Legislativo é exercido

pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do

Senado Federal”. A função legislativa de competência da União é exercida

pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do

Senado Federal, integrados respectivamente por deputados e senadores,

sendo que, no bicameralismo brasileiro, não há predominância substancial de

uma câmara sobre outra (SILVA, 2006, p. 450).

O legislativo brasileiro, no plano federal, é dividido em duas casas. A

Câmara dos Deputados é composta de representantes do povo, eleitos em

cada estado e no Distrito Federal pelo sistema proporcional; a Constituição

de 1988 não fixa o número total de deputados federais, deixando isso e a

representação por estados para serem estabelecidos por lei complementar;

fazendo-o proporcionalmente à população, por isso ela é chamada de “casa

do povo”. O Senado Federal é composto de representantes dos estados e

do Distrito Federal, elegendo, cada um, três senadores (com dois suplentes

cada), para um mandato de oito anos, renovando-se a representação de

quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços (art. 46); por

isso é chamado de “casa dos estados”.

Cabe ressaltar que a Constituição também estabelece funções que são

inerentes ao Congresso Nacional (aqui atuando como um órgão que reúne os

membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal), previstas no art. 49.

Para que você, acadêmico(a), possa ter uma melhor compreensão da

estrutura do Poder Legislativo, veja nos artigos a seguir como esta estrutura

está articulada:

Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.

§ 1º – O número total de Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, será estabelecido por lei

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Capítulo 7

194 Instituições de Direito Público e Privado

complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta Deputados.

§ 2º – Cada Território elegerá quatro Deputados.

Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.

§ 1º – Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos.

§ 2º – A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços.

§ 3º – Cada Senador será eleito com dois suplentes.

Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.

Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:

I – sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas;

II – plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado;

III – fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas;

IV – planos e programas nacionais, regionais e setoriais de desenvolvimento;

V – limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da União;

VI – incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembleias Legislativas;

VII – transferência temporária da sede do Governo Federal;

VIII – concessão de anistia;

IX – organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal;

X – criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, b;

XI – criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública;

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Capítulo 7

195Instituições de Direito Público e Privado

XII – telecomunicações e radiodifusão;

XIII – matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações;

XIV – moeda, seus limites de emissão, e montante da dívida mobiliária federal.

XV – fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2º, I.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

II – autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar;

III – autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias;

IV – aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas;

V – sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;

VI – mudar temporariamente sua sede;

VII – fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;

VIII – fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;

IX – julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de governo;

X – fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;

XI – zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes;

XII – apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão;

XIII – escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da União;

XIV – aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares;

XV – autorizar referendo e convocar plebiscito;

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Capítulo 7

196 Instituições de Direito Público e Privado

XVI – autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;

XVII – aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares.

Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada.

§ 1º – Os Ministros de Estado poderão comparecer ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados, ou a qualquer de suas Comissões, por sua iniciativa e mediante entendimentos com a Mesa respectiva, para expor assunto de relevância de seu Ministério.

§ 2º – As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput deste artigo, importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o não-atendimento, no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas.

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:

I – autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;

II – proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa;

III – elaborar seu regimento interno;

IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

V – eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I – processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;

II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;

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Capítulo 7

197Instituições de Direito Público e Privado

III – aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de:

a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;

b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República;

c) Governador de Território;

d) Presidente e diretores do banco central;

e) Procurador-Geral da República;

f) titulares de outros cargos que a lei determinar;

IV – aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente;

V – autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

VI – fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

VII – dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo Poder Público federal;

VIII – dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito externo e interno;

IX – estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

X – suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;

XI – aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato;

XII – elaborar seu regimento interno;

XIII – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

XIV – eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.

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Capítulo 7

198 Instituições de Direito Público e Privado

XV – avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em sua estrutura e seus componentes, e o desempenho das administrações tributárias da União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.

Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.

Cada uma dessas casas é dirigida por uma mesa diretora, que possui

um presidente que a representa e desempenha um importante papel no

exercício das funções típicas e atípicas. Os parlamentares, de ambas as casas,

têm garantias e vedações, previstas dos arts. 53 a 55 e são sujeitos à perda do

mandato eletivo, nos termos do art. 55 da Constituição de 1988.

Veja o que dizem os artigos citados sobre as garantias e vedações aos

parlamentares:

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.

§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.

§ 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.

§ 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.

§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.

§ 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores,

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Capítulo 7

199Instituições de Direito Público e Privado

embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva.

§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.

Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:

I – desde a expedição do diploma:

a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes;

b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis “ad nutum”, nas entidades constantes da alínea anterior;

II – desde a posse:

a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;

b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis “ad nutum”, nas entidades referidas no inciso I, “a”;

c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, “a”;

d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I – que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;

II – cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;

III – que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;

IV – que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

V – quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;

VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

§ 1º – É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.

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Capítulo 7

200 Instituições de Direito Público e Privado

§ 2º – Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

§ 3º – Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda do mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações finais de que tratam os §§ 2º e 3º.

Art. 56. Não perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I – investido no cargo de Ministro de Estado, Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária;

II – licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.

§ 1º – O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidura em funções previstas neste artigo ou de licença superior a cento e vinte dias.

§ 2º – Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais de quinze meses para o término do mandato.

§ 3º – Na hipótese do inciso I, o Deputado ou Senador poderá optar pela remuneração do mandato.

Em muitos momentos, reduzimos o legislativo à função de elaborar leis.

Isso não é correto sob o ponto de vista da função deste poder. Elaborar leis

é algo importante, mas em um país como o Brasil, inchado por um enorme

número delas, a função de legislar deve ser vista com prudência e exercida

somente nos momentos mais importantes da vida do país. Elaborar leis deve

ter um sentido de fazer algo que é necessário ao país e não somente mais um

texto que será trabalhado tecnicamente pelos profissionais do direito.

Por isso, a função fiscalizadora é tão importante quanto a legislativa,

pois ela permite um controle sobre o patrimônio público e que a sociedade

possa ver o tratamento dado ao direito público de forma transparente. Um dos

momentos mais conhecidos da função fiscalizadora do Poder Legislativo é a

formação das CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), que tanto ocupam

o noticiário político no Brasil.

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Capítulo 7

201Instituições de Direito Público e Privado

As CPIs são comissões parlamentares criadas, conforme preconiza o art.

58 da Constituição:

§ 3º – As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinada e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

Ao comentar sobre essas comissões do Poder Legislativo, Moraes (2004,

p. 420) nos diz que

O exercício da função típica do Poder Legislativo consistente no controle parlamentar, por meio de fiscalização, pode ser classificado em político-administrativo e financeiro-orçamentário. Pelo primeiro controle, o legislativo poderá questionar os atos do Poder Executivo, tendo acesso ao funcionamento de sua máquina burocrática, a fim de analisar a gestão da coisa pública e, consequentemente, tomar as medidas que entenda necessárias. Inclusive, a Constituição Federal autoriza a criação de comissões parlamentares de inquérito que terão poderes próprios das autoridades judiciais.

A citação deixa clara a vinculação entre as CPIs e a função fiscalizadora

do Poder Legislativo, sendo este tipo de comissão específica para realizar

um controle político-administrativo. Importante ressaltar que CPIs são

comissões de investigação e que suas conclusões, quando for o caso,

devem ser remetidas a outros órgãos para que se promovam as respectivas

responsabilidades no campo judicial. Assim, não espere que uma CPI venha

a condenar um ministro de Estado ou deputado, pois dentro da estrutura

de separação de poderes, prevista na Constituição de 1988, esta tarefa cabe

ao poder Judiciário.

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Capítulo 7

202 Instituições de Direito Público e Privado

Figura 2 – O Congresso Nacional, sede do Legislativo brasileiroFonte: <www.difusora910.com.br>.

A função fiscalizadora do Poder Legislativo, tão importante quanto a

função legislativa, é exercida também com o auxílio do Tribunal de Contas da

União, como preconiza a Constituição de 1988.

Esse tribunal, que não pertence ao Poder Judiciário, desempenha a

análise das contas públicas e atua como órgão auxiliar do Poder Legislativo na

função de fiscalização. Nos artigos a seguir, você poderá observar como está

estruturado o Tribunal de Contas da União e quais são suas funções:

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional

e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,

quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções

e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante

controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica,

pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre

dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que,

em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

I – apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;

II – julgar as contas dos administradores e demais responsáveis

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Capítulo 7

203Instituições de Direito Público e Privado

por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;

III – apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório;

IV – realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;

V – fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;

VI – fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;

VII – prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;

VIII – aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;

IX – assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X – sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;

XI – representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.

§ 1º – No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.

§ 2º – Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.

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Capítulo 7

204 Instituições de Direito Público e Privado

§ 3º – As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo.

§ 4º – O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.

Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art. 166, §1º, diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não programados ou de subsídios não aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsável que, no prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessários.

§ 1º – Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias.

§ 2º – Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão, se julgar que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá ao Congresso Nacional sua sustação.

Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.

§ 1º – Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:

I – mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;

II – idoneidade moral e reputação ilibada;

III – notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública;

IV – mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior.

§ 2º – Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão escolhidos:

I – um terço pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, sendo dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e merecimento;

II – dois terços pelo Congresso Nacional.

§ 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40.

§ 4º – O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mesmas garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional Federal.

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Capítulo 7

205Instituições de Direito Público e Privado

Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:

I – avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União;

II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;

III – exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União;

IV – apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.

§ 1º – Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária.

§ 2º – Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.

Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.

Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros.

Desta forma, com base nos artigos citados, podemos ter clareza sobre as

duas funções do Poder Legislativo: a legislativa e a fiscalizadora.

EXPLORANDOEXPLORANDO

No “Manual de orientação ao parlamentar municipal, estadual e federal para a atuação em defesa dos direitos humanos e da cidadania”, constam as funções do Poder Legislativo. Sugiro que você consulte o texto no site da Rede de Direitos Humanos e Cultura:

<http://www.dhnet.org.br/dados/manuais/dh/br/parlamentar/funcao_pl.htm>.

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Capítulo 7

206 Instituições de Direito Público e Privado

No Brasil, além do Poder Legislativo federal, temos o Poder Legislativo dos estados-membros, que são exercidos pelas assembleias legislativas estaduais, e nos municípios pelas câmaras de vereadores. É importante ressaltar que nos estados e municípios, o legislativo é unicameral, composto de apenas uma casa.

SAIBA QUE

O Executivo

Diz o art 76: “O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República,

auxiliado pelos Ministros de Estado”. Da leitura deste artigo já podemos

observar que o Brasil adotou o sistema de governo presidencialista, modelo

de origem norte-americana, em que o Presidente da República é o chefe do

Poder Executivo. O presidente, eleito democraticamente, tem consigo um

vice-presidente, que é a pessoa que irá substituí-lo nas ausências, em caso de

impedimento, de renúncia ou morte.

O Presidente da República, dentro do sistema de separação de poderes,

não pode fazer tudo o que deseja, podendo praticar apenas os atos que lhe

sejam autorizados pela lei. As atribuições do que pode fazer o presidente

estão previstas no art. 84 da Constituição brasileira; o art. 85 prevê os crimes

que podem levar o ocupante da presidência a ser cassado, sofrendo assim o

processo chamado de impeachment.

Aqui observamos algo que estudamos no conceito de Estado: os

membros dos poderes públicos só podem praticar atos que estejam previstos

(autorizados) por lei. Veja o seguinte exemplo: por que o presidente pode

editar medidas provisórias ou nomear e exonerar ministros de Estado? Porque

esses atos são previstos na Constituição, estando o chefe do Poder Executivo

expressamente autorizado a praticá-los.

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Capítulo 7

207Instituições de Direito Público e Privado

Figura 3 – O Palácio do Planalto, sede do Executivo brasileiroFonte: <www.portaldocomercio.org.br>.

No exercício de suas funções previstas na Constituição, o Presidente da

República é auxiliado pelos ministros de Estados, pessoas por ele indicadas

e que vão comandar ministérios em áreas específicas. Ressalte-se que não

existe um número mínimo ou máximo de ministérios, variando conforme o

momento ou o governo. O Poder Executivo, que exerce como função típica

a atividade administrativa, é o poder responsável, por meio da arrecadação

de tributos, do sustento financeiro do Estado; ele executa suas atividades por

meio de um orçamento (assim como os poderes Legislativo e Judiciário), onde

estão descritas as receitas e as despesas.

Veja que cumprir o orçamento por parte do executivo é uma tarefa que

pode ser difícil em razões de circunstâncias não previstas, como o caso de

uma catástrofe natural (uma enchente). Assim, são vários os problemas que

envolvem os poderes, e uma análise superficial pode deixar de mostrar sua

verdadeira complexidade.

Para você, aluno(a), compreender melhor as funções do Poder Executivo,

veja como os artigos a seguir abordam a estrutura desse poder:

Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.

Art. 77. A eleição do Presidente e do Vice-Presidente da República realizar-se-á, simultaneamente, no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato presidencial vigente.

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Capítulo 7

208 Instituições de Direito Público e Privado

§ 1º – A eleição do Presidente da República importará a do Vice-Presidente com ele registrado.

§ 2º – Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político, obtiver a maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.

§ 3º – Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição em até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.

§ 4º – Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação.

§ 5º – Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato com a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso.

Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.

Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.

Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente.

Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais.

Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.

§ 1º – Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.

§ 2º – Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.

Art. 82. O mandato do Presidente da República é de quatro anos e terá início em primeiro de janeiro do ano seguinte ao da sua eleição.

Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do Congresso Nacional, ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo.

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Capítulo 7

209Instituições de Direito Público e Privado

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:

I – nomear e exonerar os Ministros de Estado;

II – exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal;

III – iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;

IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;

V – vetar projetos de lei, total ou parcialmente;

VI – dispor, mediante decreto, sobre:

a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;

b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;

VII – manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos;

VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;

IX – decretar o estado de defesa e o estado de sítio;

X – decretar e executar a intervenção federal;

XI – remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias;

XII – conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei;

XIII – exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos;

XIV – nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei;

XV – nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União;

XVI – nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União;

XVII – nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;

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Capítulo 7

210 Instituições de Direito Público e Privado

XVIII – convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional;

XIX – declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;

XX – celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional;

XXI – conferir condecorações e distinções honoríficas;

XXII – permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;

XXIII – enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição;

XXIV – prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior;

XXV – prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei;

XXVI – editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;

XXVII – exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.

Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações.

Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos.

Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei:

I – exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República;

II – expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;

III – apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério;

IV – praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República.

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Capítulo 7

211Instituições de Direito Público e Privado

No Brasil, além do Poder Executivo federal, temos o Poder Executivo dos Estados-membros, que são exercidos pelos governadores de Estado, e nos municípios pelos prefeitos.

SAIBA QUE

O Judiciário

Compreender o Poder Judiciário e sua função típica é importantíssimo

para entender outro ponto que veremos neste capítulo: o acesso à justiça.

A função jurisdicional é aquela cujos órgãos têm por função compor

conflitos de interesse em cada caso concreto, e se realiza por meio de um

processo judicial, dito, por isso mesmo, sistema de composição de conflitos

de interesses ou sistema de composição de lides (SILVA, 2006). Essa função

é uma das mais importantes dentro do sistema de separação de poderes,

pois em alguns casos o Poder Judiciário vai inclusive compor e resolver

conflitos que envolvam os poderes Executivo e Legislativo.

Figura 4 – O STF, sede máxima do Judiciário brasileiroFonte : <www.oabac.tempsite.ws>.

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Capítulo 7

212 Instituições de Direito Público e Privado

O Poder Judiciário brasileiro é composto de diversos órgãos, conforme

prevê o art. 92 da Constituição de 1988:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:

I – o Supremo Tribunal Federal;

I – A o Conselho Nacional de Justiça;

II – o Superior Tribunal de Justiça;

III – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;

IV – os Tribunais e Juízes do Trabalho;

V – os Tribunais e Juízes Eleitorais;

VI – os Tribunais e Juízes Militares;

VII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

Assim, o artigo 92 define a estrutura do Poder Judiciário brasileiro e

estabelece uma divisão desses órgãos, fazendo uma descrição de quais

integram o poder Judiciário. Para que você possa compreender melhor essa

divisão, veja o esquema a seguir. Trata-se de uma boa representação da

estrutura do Judiciário partindo da previsão do art. 92.

Figura 5 – A estrutura do poder Judiciário na Constituição de 1988 Fonte: <www.planalto.gov.br>.

Justiça Comum Justiça Especial

Poder Judiciário

(CF 1988)

STF

TST TSE

TRT TRE STMTRFTJ

STJ

JCJ JE AMJFJD { {

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Capítulo 7

213Instituições de Direito Público e Privado

Após ler o artigo e vê-lo representado na figura, você deve estar se

perguntando: onde se enquadra, nessa representação, o Conselho Nacional

de Justiça? Por que ele não aparece na figura?

A resposta será dada com base nas funções que desempenha esse

conselho. Mesmo que esteja presente dentro da estrutura do art. 92, o

Conselho Nacional de Justiça (chamado também de CNJ), criado pela emenda

constitucional n. 45, de 2004, não é órgão que julgue processos ou que dê

decisões judiciais, mas sim um órgão de controle do Poder Judiciário, que pode

ser chamado de controle externo, e que controla questões funcionais desse

poder (mais notadamente as de caráter executivo), como promoção de juízes,

atrasos no julgamento de processos e a autonomia administrativa e financeira

do poder Judiciário, conforme nos diz o art. 103-B da Constituição de 1988.

O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo:

I – o Presidente do Supremo Tribunal Federal;

II – um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal;

III – um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal;

IV – um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;

V – um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;

VI – um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VII – um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VIII – um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

IX – um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

X – um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República;

XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;

XII – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

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Capítulo 7

214 Instituições de Direito Público e Privado

XIII – dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

§ 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal.

§ 2º Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tribunal Federal.

§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:

I – zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;

II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;

III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correcional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

IV – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade;

V – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;

VI – elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;

VII – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.

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Capítulo 7

215Instituições de Direito Público e Privado

§ 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes:

I receber as reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos magistrados e aos serviços judiciários;

II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e de correição geral;

III requisitar e designar magistrados, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de juízos ou tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios.

§ 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, criará ouvidorias de justiça, competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho Nacional de Justiça.

Assim, podemos ver o CNJ como um órgão dentro da estrutura do Poder

Judiciário que não fere sua função típica, atuando inclusive para fortalecer o

próprio Poder Judiciário.

Da leitura do texto da Constituição, é claro que a presença do CNJ no art.

92 não significa que ele seja um órgão julgador, mas sim um órgão ligado à

estrutura do Judiciário, composto por juízes, promotores de justiça, advogados

e cidadãos que têm a função de controlar as funções atípicas deste poder. Nos

últimos tempos, o CNJ ocupou uma posição importante no combate aos casos

de corrupção e na aplicação de sanções administrativas contra juízes.

No Brasil, o poder judiciário existe apenas na esfera da União – Justiça Federal – e dos estados-membros-justiça comum, não existindo um poder judiciário dos municípios. Existem nos municípios ou órgãos da justiça federal, da justiça estadual ou de ambas.

SAIBA QUE

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Capítulo 7

216 Instituições de Direito Público e Privado

O Judiciário tem uma peculiaridade em relação ao Executivo e ao

Legislativo, que é o fato de seus membros ingressarem nos seus quadros por

meio de concurso público, conforme prevê o art. 93 da Constituição de 1988:

Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: I – ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação.

Desta forma, notamos que os juízes, ao contrário dos integrantes dos

outros poderes, ingressam em suas funções por meio de concurso público.

Ressalte-se que os tribunais estaduais, os tribunais superiores e o STF têm

integrantes que são nomeados sem a necessidade de realização de concurso.

O que você deve ter claro aqui é que os juízes de carreira são aqueles que

ingressam no Poder Judiciário por meio de concurso. Os demais também farão

parte, mas o ingresso sem concurso é excepcional e só ocorre nos tribunais.

Um outro ponto importante sobre o Poder Judiciário são as garantias

e vedações que a Constituição estabelece à magistratura.

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:

I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;

II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;

III – irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.

Parágrafo único. Aos juízes é vedado:

I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

III – dedicar-se à atividade político-partidária.

IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;

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Capítulo 7

217Instituições de Direito Público e Privado

V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.

As garantias previstas nos incisos I, II e III do art. 95 são essenciais para

que os juízes possam julgar os processos com independência, sem pressões

externas, e para que o Poder Judiciário possa continuar, nos termos do art.

2º, a ser independente em relação aos demais poderes. Elas não podem

ser mudadas por meio de lei, pois integram a estrutura do princípio da

separação de poderes. Se o Judiciário é o órgão encarregado de exercer

a função jurisdicional, isso terá grande relação com a possibilidade de

qualquer pessoa ter condições de acesso a essa prestação jurisdicional. Aqui

surge o princípio do acesso à justiça.

Conforme você pode observar pelo organograma apresentado, o Supremo

Tribunal Federal (STF) é o órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro.

Sua composição vem determinada no art. 101, que assim estabelece:

O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

Sempre que surge uma cadeira do STF, existe um grande debate sobre

quem deverá ocupar essa vaga, que, conforme você estudou nos artigos

anteriores, é indicada pelo Presidente da República, com a aprovação do

indicado pelo Senado Federal (veja como os poderes Executivo e Legislativo

têm participação ativa).

Neste capítulo, estudamos temas importantes para a nossa disciplina, mas também para você, aluno, em sua vida cotidiana. Com base no que foi estudado até o presente, pense em como o Estado e o princípio da separação de poderes interferem em sua vida, relacionando a isso um ato cotidiano.

REFLEXÃO

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Capítulo 7

218 Instituições de Direito Público e Privado

7.2.3 O acesso à justiça na Constituição de 1988

Estudados os conceitos de Estado e de separação dos poderes, vamos

agora ver o direito fundamental de acesso à justiça. Uma primeira pergunta

que surge é: o que é o acesso à justiça? Para responder a esse questionamento,

vejamos o que está expresso no artigo 5º, Inciso XXXV, da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988: “a lei não excluirá da apreciação do

Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Da leitura deste artigo, temos clareza de que a Constituição de 1988 quis

dar ampla possibilidade para que qualquer pessoa (física ou jurídica) possa

procurar o Poder Judiciário (que é o órgão que exerce a função jurisdicional,

como acabamos de estudar) para reivindicar seus direitos ou reparar lesões

que tenha sofrido. Em um primeiro momento, parece simples e até um tanto

desnecessário o princípio do acesso à justiça, mas ele se mostra importantíssimo,

inclusive para a construção real e efetiva da cidadania em nosso país.

No século 19, era comum a expressão “O tribunal está fechado ao pobres”

(SILVA, 2006, p. 606); infelizmente, nos dias atuais, ela ainda vale para milhares

de pessoas das camadas mais carentes da população. O acesso à justiça é uma

forma de efetivar a dignidade da pessoa humana e a igualdade material

Brandão (2010), comentando o pensamento de Cappelleti e Garth, nos

dá um importante significado para o acesso à justiça. Diz o autor:

[...] o acesso à justiça pode ser encarado como o requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos. A explicação que se faz necessária neste caso é que quando um cidadão tem seu acesso à justiça de modo pleno, significa que o mesmo não só adentrou nas edificações do Tribunal de Justiça e sim, que teve o seu acesso à justiça, satisfeitos sem deixar lacunas, isto é demonstrado pelo artigo 14 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966 [...].

A citação demonstra a importância de garantirmos a todos um amplo

acesso ao Poder Judiciário. A preocupação da Constituição com este direito

fundamental reflete, como já falamos, um importante avanço no sentido de

ampliar e defender os direitos fundamentais.

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Capítulo 7

219Instituições de Direito Público e Privado

Você, agora, depois dessa noção inicial, deve estar se perguntando:

quando vamos atingir a plenitude do princípio do acesso à justiça? Essa é uma

resposta que, provavelmente, não pode ser reduzida a um sentido correto, pois

o acesso à justiça, para entendermos seu significado, deve ser analisado em cada

momento histórico. Significa que, se hoje temos um pleno acesso à justiça, isso

em nada garante que no futuro teremos o mesmo, pois as realidades futuras

ainda não são conhecidas. Veja, então, aluno, como este princípio deve ser bem

estudado para que possamos compreendê-lo em toda sua amplitude.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Sugiro que você assista ao filme Justiça para todos (...And justice for all), de 1979 (EUA), dirigido por Norman Jewison. Neste filme envolvente e reflexivo, Arthur Kirkland (Al Pacino) é um advogado idealista que já teve

vários desentendimentos com Fleming (John Forsythe), um inflexível juiz. O filme traz uma reflexão muito pertinente sobre a questão: afinal, a justiça é para todos?

Uma das mais importantes instituições que tornam o princípio do acesso à

justiça eficaz no Brasil, atualmente, é a Defensoria Pública, que tem previsão no Art.

134 da Constituição de 1988, que diz: “A Defensoria Pública é instituição essencial à

função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em

todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.”

A Defensoria Pública é um importante órgão que possibilita às

populações mais carentes auxílio por parte dos defensores públicos, que são

advogados concursados para o desempenho dessa função, a fim de reivindicar

seus direitos junto ao Poder Judiciário.

Para entendermos de forma correta o significado do direito fundamental de

acesso à justiça, devemos ter claro que, atualmente, a Constituição Brasileira estabelece

no seu artigo 5º que os processos devem ter duração razoável. Diz o artigo: “LXXVIII

– a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

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Capítulo 7

220 Instituições de Direito Público e Privado

A inclusão do acesso à justiça foi um dos grandes avanços que a Constituição

procurou dar no acesso do cidadão aos seus direitos. Mas nesse ponto, pode surgir

uma dúvida: com base no princípio do acesso à justiça as pessoas não precisam cumprir

condições para ingressar com ações judiciais? A resposta é que as pessoas precisam

cumprir determinadas condições, mas isso não afeta o princípio do acesso à justiça.

Veja o seguinte exemplo: Pedro sofre uma lesão a direito líquido e certo,

mas não procurou o Judiciário para repará-la. Após seis meses, ele procura

um advogado para que seja proposto um mandado de segurança (garantia

constitucional apta a reparar essa lesão), mas o advogado lhe informa não ser

mais possível, pois foi ultrapassado o prazo de 120 dias previsto em lei. Esse

prazo ofende o princípio do acesso à justiça?

Não, pois o princípio garante a possibilidade de acesso ao Judiciário, que

Pedro teve no momento em que surgiu a lesão ao seu direito líquido e certo. Assim,

você deve ter claro que o acesso à justiça deve obedecer a determinados requisitos.

Ao sintetizar a importância do direito fundamental do acesso à justiça,

Brandão (2010) nos diz do

[...] intuito de que estes direitos fundamentais que dão o acesso à justiça sejam aplicados e respeitados da maneira mais ampla e que tenha estendido o seu alcance a todos aos seus habitantes, de qualquer parte desta nação chamada Brasil que se encorajam, a fim de chegar até a justiça, sem medo ou temor de qualquer natureza, pois, como foi explicado, esses direitos são de grande amplidão e devem ser utilizados pelos que não possuam as armas necessárias, que é o advogado, por não ter como pagá-lo, pois se souberem dos seus direitos, não tremerão em chegar até ela; e fazer o uso do acesso à justiça dos direitos fundamentais da Constituição cidadã brasileira [...].

7.3 Aplicando a teoria na prática

Para concluirmos o conteúdo deste capítulo, vejamos um caso que

apresenta temas aqui abordados.

João Paulo está desempregado e sustenta sua família, composta da

mulher e de dois filhos, com o seguro desemprego. Nos últimos dias ele

intensificou a busca por um novo trabalho, mas não teve sucesso. Sua

esposa também está desempregada e atualmente ajuda cuidando dos

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Capítulo 7

221Instituições de Direito Público e Privado

dois filhos menores. Ao ver o noticiário na TV, João fica sabendo que o

Congresso Nacional aprovou e o presidente da república sancionou uma

lei que determina que o Estado forneça medicamentos para pacientes em

idade infantil portadores de doenças degenerativas.

João fica feliz, pois seu filho menor, José, de 4 anos, está fazendo

um tratamento contra uma doença desta natureza e o custo do mesmo

está muito elevado, principalmente em razão de sua situação familiar. No

dia seguinte, ele vai até a Secretaria de Saúde para saber informações de

como poderá obter os medicamentos para seu filho. Lá, é informado que a

Secretaria está sem orçamento e que não irá cumprir a lei em razão disso.

Inconformado, ele procura a Secretaria da Fazenda, órgão encarregado

da aplicação do orçamento público, e escuta a mesma resposta. João sai

desiludido com esses órgãos, pois não entende como a lei, que estabelece

um direito, não é cumprida e não causa nenhum espanto nos funcionários

que lhe informam isso. Indignado com essa situação, João Paulo vai até

a Sede da Defensoria Pública de seu Estado. Cadastra-se e é atendido

por um defensor público, que observa sua situação de carência e ouve

seu relato sobre a lei de fornecimento de medicamentos para pacientes

infantis portadores de doenças degenerativas. O defensor fica de analisar

o caso e, na semana seguinte, comunica a José que ingressará com uma

ação no Poder Judiciário para que a Secretaria de Saúde cumpra o previsto

em lei. Após dez dias, João recebe um telefonema do defensor público

informando que o juiz, ao julgar liminarmente o processo, concedeu ao

filho de João receber os medicamentos previstos na lei.

O caso deste capítulo nos permite visualizar vários dos conceitos

estudados ao longo deste capítulo. Quais seriam eles?

Vamos lá: um primeiro conceito que aparece é o de Estado e seu sentido

de organização legal detentora do poder de editar normas legais. Após, vemos

o Legislativo exercendo uma função típica, que é a elaboração de leis (com a

participação do presidente ao sancionar a lei). Posteriormente, vemos as funções

típicas do Poder Executivo, no momento em que João se dirige às secretarias de

saúde de administração e elas informam que o fornecimento de medicamentos

não está previsto no orçamento. A seguir, temos um exemplo de atuação da

defensoria pública na defesa do princípio do acesso à justiça, quando João procura

o defensor para que este ingresse com a ação solicitando o fornecimento do

medicamento. Por último, com a decisão de concessão do medicamento, vemos o

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Capítulo 7

222 Instituições de Direito Público e Privado

princípio do acesso à justiça gerando efeitos concretos, e o Judiciário exercendo

sua atividade jurisdicional, na resolução de litígios concretos.

7.4 Para saber mais

Site: Governo Federal

URL: <www.planalto.gov.br>.

Esta é a página do governo federal e relata toda a atividade do Poder Executivo federal. Além de servir para a pesquisa de leis, é um importante meio de acompanhar e fiscalizar o trabalho do Poder Executivo.

Site: Senado Federal

URL: <www.senado.gov.br>.

Esta é a página do Senado Federal e relata toda a atividade desta casa do Poder Legislativo federal. Trata-se de uma fonte importante para acompanhar e fiscalizar o trabalho do Poder Legislativo.

Site: Câmara dos Deputados

URL: <www.camara.gov.br>.

Esta é a página da Câmara dos Deputados, que relata toda a atividade desta casa do Poder Legislativo federal. Além de servir para a pesquisa de leis, é um importante meio de acompanhar e fiscalizar o trabalho do Poder Legislativo.

Site: Supremo Tribunal Federal

URL: <www.stf.jus.br>.

Esta é a página do Supremo Tribunal Federal, órgão superior do Poder Judiciário brasileiro. Além de servir para a pesquisa de leis e de sua interpretação, é uma fonte interessante para se acompanhar e fiscalizar o trabalho do Judiciário.

Site: Tribunal de Contas da União

URL: <www.tcu.gov.br>.

Esta é a página do Tribunal de Contas da União, órgão auxiliar do legislativo em sua função fiscalizadora, sendo que a página relata as atividades desta casa do Poder Legislativo federal. Trata-se de um importante meio de acompanhar e fiscalizar o trabalho dos três poderes.

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Capítulo 7

223Instituições de Direito Público e Privado

Site: Conselho Nacional de Justiça

URL: <www.cnj.jus.br>.

Esta é a página do Conselho Nacional de Justiça, órgão de controle das atividades atípicas do poder Judiciário, que relata a atuação deste órgão.

7.5 Relembrando

Neste capítulo, estudamos os seguintes assuntos:

• o conceito de Estado, verificando seu surgimento ao longo da história,

sua evolução e o sentido atual deste termo;

• a separação de poderes, enquanto um dos princípios mais importantes

do direito moderno e sua estrutura dentro da Constituição de 1988;

• a estrutura dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, conforme

a previsão da Constituição de 1988;

• o sentido do direito fundamental do acesso à justiça, vendo como a

Constituição de 1988 tratou o tema e os órgãos encarregados de sua

defesa, com ênfase na função da defensoria pública.

7.6 Testando os seus conhecimentos

1) Não se inclui entre os órgãos do Poder Judiciário:

a) Supremo Tribunal Federal.

b) Superior Tribunal de Justiça.

c) Tribunal de Contas da União.

d) Tribunal Superior do Trabalho.

2) Assinale a alternativa correta.

a) Funções típicas são as funções que os poderes originalmente exerciam

de forma exclusiva e que são inerentes a sua estrutura. Funções atípicas

são as funções que os poderes adquiriram depois de um processo de

reinterpretação sobre o conceito de separação de poderes.

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Capítulo 7

224 Instituições de Direito Público e Privado

b) Funções atípicas são as funções que os poderes originalmente exerciam

de forma exclusiva e que são inerentes a sua estrutura. Funções típicas

são as funções que os poderes adquiriram depois de um processo de

reinterpretação sobre o conceito de separação de poderes.

c) Funções atípicas são as funções que os poderes originalmente exerciam

de forma compartilhada e que são inerentes a sua estrutura. Funções

típicas são as funções que os poderes adquiriram depois de um processo

de reinterpretação sobre o conceito de separação de poderes.

d) Funções atípicas são as funções que os poderes originalmente exerciam

de forma exclusiva ou compartilhada com os outros poderes e lhe

permitiam exercer atividades sem nenhum tipo de controle e que

são inerentes a sua estrutura. Funções típicas são as funções que os

poderes adquiriram depois de um processo de reinterpretação sobre

o conceito de separação de poderes.

3) Assinale a alternativa correta.

a) A Câmara dos Deputados é composta de representantes do povo, eleitos

em cada estado, e o Senado Federal é composto de representantes dos

municípios e do Distrito Federal, elegendo, cada um, três senadores.

b) A Câmara dos Deputados é composta de representantes do povo, eleitos

em cada estado, e o Senado Federal é composto de representantes

dos Estados e do Distrito Federal, elegendo, cada um, três senadores.

c) A Câmara dos Deputados é composta de representantes do povo, eleitos

em cada estado, e o Senado Federal é composto de representantes

dos Estados e do Distrito Federal, elegendo, cada um, três senadores.

d) A Câmara dos Deputados é composta de representantes do povo, eleitos

em cada estado, e o Senado Federal é composto de representantes do

povo dos estados e do Distrito Federal, elegendo, cada um, três senadores.

4) Em relação ao conceito de Estado, assinale a alternativa correta.

a) Estado é a organização política anterior à sociedade, encarregada de

formá-la e que tem como elementos os poderes Executivo, Legislativo

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Capítulo 7

225Instituições de Direito Público e Privado

e Judiciário, que expressam a teoria da separação de funções para o

exercício centralizado do poder estatal.

b) Estado é a organização jurídica, posterior à sociedade, encarregada de

formá-la e que tem como elementos os poderes Executivo, Legislativo

e Judiciário, que expressam a teoria da separação de funções para o

exercício centralizado do poder estatal.

c) Estado é a organização jurídica e política, anterior à sociedade,

encarregada de formá-la e que tem como elementos os poderes

Executivo, povo e território que expressam a teoria da separação de

funções para o exercício centralizado do poder estatal.

d) Estado é a ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de

um povo situado em determinado território.

5) O acesso à justiça representa um dos pontos centrais da Constituição de

1988 e, como vimos, representa a possibilidade de as populações mais carentes

levarem suas demandas ao Poder Judiciário. Com base no que foi trabalhado

neste capítulo, mostre como o direito fundamental de acesso à justiça tem

relação com o Estado e a separação de poderes.

Onde encontrar

BONAVIDES, P. Ciência política. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1999.

BRANDÃO, R. R. O acesso à justiça como um direito fundamental. Biblioteca

digital jurídica. Disponível em: <www.bdjur.stj.gov.br>. Acesso em: 01 dez.

2010.

DALLARI, D. A. Elementos de teoria geral do Estado. 29. ed. São Paulo:

Saraiva, 2009.

MORAES, A. Direito constitucional. 12. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2004.

SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo:

Malheiros, 2006.

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Capítulo 7

226 Instituições de Direito Público e Privado

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Capítulo 8

227Instituições de Direito Público e Privado

O PROFISSIONAL E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE

CAPÍTULO 88

8.1 Contextualizando

Agora, vamos estudar o novo papel do profissional perante os desafios do

século 21. Este último capítulo apresentará algumas perspectivas das atividades

profissionais e a relação desse novo profissional com a responsabilidade social.

Repensar a atividade profissional é um imperativo de nossos tempos.

Nas últimas décadas, questões como a preservação ambiental, a qualidade das

relações de trabalho e a mudança do acesso e difusão da informação têm

provocado uma grande mudança no ambiente corporativo e nas carreiras.

Hoje é praticamente impossível ao profissional que deseja uma boa perspectiva

ficar indiferente a essas mudanças e novas realidades.

Neste capítulo, faremos uma contextualização sobre o profissional do

século 21 e como esse novo profissional pode atuar de forma transformadora na

sociedade em que vive. Nesse ponto, a educação e a qualificação são essenciais

para que essas mudanças sejam compreendidas e incorporadas à carreira.

O profissional do século 21 não tem mais as mesmas demandas de épocas

passadas. Institutos clássicos do movimento operário, como a greve, devem ser

repensados, com vistas a que possam ser exercidos conforme a realidade atual.

Esses desafios têm e terão muitos reflexos no profissional que você é ou será.

Aliado a essa nova perspectiva, temos um outro importante elemento

no mundo corporativo contemporâneo: a responsabilidade social. Falar de

responsabilidade social, que no Brasil é um tema recente, significa repensar a

própria função da empresa e colocá-la em sintonia com os anseios da sociedade.

A responsabilidade social tem motivado importantes debates e iniciativas no

sentido de promover uma maior preservação das relações interpessoais no

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Capítulo 8

228 Instituições de Direito Público e Privado

ambiente de trabalho, do meio ambiente e ações que possibilitem uma maior

inclusão social. Assim, a responsabilidade social vem assumindo um papel

importantíssimo no dia a dia de empresas e de pessoas e pode ser considerada

como um dos grandes avanços dos tempos atuais, sendo que muitas questões

a ela relacionadas ainda estão sendo desenvolvidas.

Por fim, espera-se que você, ao fim deste capítulo, tenha noção sobre

como o profissional do século 21, interagindo com ações de responsabilidade

social, possa ser um agente transformador da sociedade. Vamos traçar linhas

gerais sobre essa perspectiva, pois ela ainda está sendo construída por ações

concretas e muito ainda pode ser feito.

8.2 Conhecendo a teoria

Iniciaremos esse capítulo vendo como uma nova atitude profissional é

algo essencial dentro do tempo em que vivemos, bem como as bases para que

ela esteja relacionada à responsabilidade social.

8.2.1 O profi ssional do século 21 e suas perspectivas

Nosso tempo pode ser caracterizado como o tempo do dinamismo no meio

profissional. Atualmente, o mercado de trabalho passa a exigir um profissional

cada vez mais conectado com as mudanças da sociedade e de seu campo de

atuação, pois a fragmentação das atividades profissionais e a velocidade da

informação causam mudanças drásticas no exercício das atividades.

Figura 1 – Disponibilidade para aprender: a tônica do novo profi ssionalFonte: <http://www.sxc.hu>.

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Capítulo 8

229Instituições de Direito Público e Privado

As posturas exigidas pelo mercado em relação ao profissional foram

sendo alteradas ao longo dos anos. Aquele profissional passivo e sem

vontade de inovar e se reciclar foi perdendo espaço para outro perfil,

que tem a iniciativa e a atualização constante como suas principais

características.

Aqui, o mercado de trabalho acabou por orientar uma mudança que

inicialmente foi lenta, mas hoje, principalmente com o avanço da internet,

é rápida e exigente. Essa mudança não deve ser vista com temor, pois

como diz Jorge (2008), o homem tem uma exclusividade fantástica, que é

a capacidade de pensar. E pensar é um elemento essencial ao profissional

do século 21 para que atue em uma ação transformadora.

É evidente que isso não é algo fácil de acontecer, pois após as

conquistas dos direitos trabalhistas, ocorridas no início do século 20,

muitos setores profissionais entenderam que não tinham mais nada a

reivindicar; as transformações do capitalismo acabaram por alterar ou

fragilizar algumas conquistas e exigiram do profissional uma nova atitude.

Esse é o primeiro ponto importante do capítulo: o novo profissional

precisa entender o ambiente em que está inserido e ser capaz de atender

às necessidades.

Com base no sentido tradicional do profissional, pense em como ações de seu dia a dia, na profissão que você exerce hoje, acabam refletindo posturas passivas e tradicionais de sua atividade.

REFLEXÃO

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Capítulo 8

230 Instituições de Direito Público e Privado

Figura 2 – O novo profi ssional do século 21Fonte: <www.menteempreendedora.blogspot.com>.

Ao comentar sobre a formação do novo profissional do século 21, Jorge

(2008, p. 103) nos apresenta uma importante contribuição ao entendimento

desse novo perfil, sob uma visão de valorização do profissional para gerar

maior eficiência e competitividade. Enfatiza o autor (2008, p. 103):

As organizações buscam pessoas que estão dispostas a sair do “museu” e integrar-se às evoluções tanto tecnológicas, quanto humanas. E ser o novo profissional esperado é compactar dentro de si uma série de habilidades sendo uma delas a capacidade de quebrar paradigmas, tornando o indivíduo flexível e adaptável a qualquer mudança, uma vez que administrar, hoje em dia, consiste em passar por longos períodos de mudanças constantes, interrompidos ocasionalmente por curtos períodos de estabilidade.

A citação apresenta um elemento muito importante dentro dessa nova

concepção do profissional do século 21: a mudança. Essa nova perspectiva do

profissional do século 21 só tem sentido se pensarmos sobre um ponto de vista de

ação prática, pois apenas a teoria, nesse aspecto, não produzirá os efeitos desejados.

Para mostrarmos a você alguns paradigmas para um bom relacionamento

interpessoal no ambiente de trabalho, vamos seguir o guia elaborado por

Greene (2000). Veja.

• Paradigma 1 – Não se exponha. Deixe para outras pessoas a função de

falar de você ou de chamar a atenção sobre o que você faz. Atrair a

atenção de forma desmedida é ao mesmo tempo atrair a desconfiança

e a inveja alheias. Seja modesto e atue de forma low profile quando

o assunto for os seus próprios feitos.

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Capítulo 8

231Instituições de Direito Público e Privado

• Paradigma 2 – Aja de forma desinteressada. Deixe seu talento fluir

naturalmente, de forma que nada do que você faça pareça ter

custado o esforço que realmente custou. Aja de forma a mostrar que

as coisas que você faz pareçam mais simples do que na verdade o são.

Ao contrário, você estará se expondo, o que contraria o paradigma 1.

• Paradigma 3 – Elogie somente o necessário. Deixe elogios para poucos

e controlados momentos e, ainda assim, o faça de forma indireta (por

exemplo, nunca se refira à sua própria contribuição).

• Paradigma 4 – Apareça moderadamente. Uma forma de ser notado

de forma moderada é adotar um estilo particularmente seu no vestir,

no falar e no portar-se. Distancie-se de seus pares, formando uma

imagem diferente. Não se esqueça, entretanto dos paradigmas 1 e 2.

• Paradigma 5 – Saiba identificar o seu espaço muito bem. Adote um estilo

e um linguajar para cada pessoa com quem você se relaciona e não caia

na tentação de acreditar que todos são iguais perante a lei. Não são.

• Paradigma 6 – Não seja o arauto da má sorte. Antigamente, os reis

mandavam matar os portadores de más notícias porque ou acreditavam

que eram eles, mensageiros, que traziam, efetivamente, a má sorte ou

porque ficavam com uma raiva incontida e descontavam na primeira

pessoa que viam, sempre o mensageiro. Deixe para outra pessoa

esta desagradável incumbência. Somente leve boas notícias aos seus

superiores. Mas atenção, não se trata de mentir, mas sim de evitar ser

carimbado como uma pessoa desagradável na presença do alto escalão.

• Paradigma 7 – Cada macaco no seu galho. Não se permita adotar uma

postura íntima das pessoas só porque você trabalha com elas. Torne-se cordial

e aberto, mas jamais íntimo. Lembre-se de que você está trabalhando.

• Paradigma 8 – Se for criticar, faça-o indiretamente. Por vezes será

necessário tecer alguma crítica sobre um determinado assunto ou

sobre um determinado colega de trabalho. Se for criticar, o faça da

forma mais indireta e polida possível. Não reclame o tempo todo do

seu chefe ou dos colegas de trabalho. Honestidade em excesso é uma

grande bobagem. Você não deve acreditar que as pessoas estejam tão

interessados nas suas críticas, mesmo que elas tenham razão de ser.

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Capítulo 8

232 Instituições de Direito Público e Privado

• Paradigma 9 – Favorecimentos aos mais capazes. Seu colega ganhou

um bônus e você não? Seu chefe permite que seu colega tire uma

semana de descanso a mais que você? Jamais peça equiparação.

Melhor do que se fazer de suplicante é mostrar que merece os favores

que recebe. Entenda os seus próprios limites. A ideia, muito comum,

de que fazendo mais você estará merecendo mais ou fazendo melhor

é uma bobagem profissional. Economizando tempo e energia, você

poderá identificar oportunidades melhores para você.

• Paradigma 10 – Cada um é cada um. Jamais cite comentários sobre

gosto pessoal ou aparência das pessoas, principalmente se forem

coisas contadas a você. Preserve a identidade das pessoas com quem

você convive no ambiente de trabalho.

• Paradigma 11 – Não seja sarcástico. Sarcasmo em excesso gera uma

marca indelével no profissional, e demora tempo até que as pessoas

se livrem da marca. Se for necessário criticar, lembre-se do paradigma

8. Do contrário, adote como padrão o paradigma 3.

• Paradigma 12 – Olhe-se como os outros veem você. Critique-se o

tempo inteiro. Durante o expediente de trabalho, muitas pessoas

estão observando o que você faz, o seu comportamento, os seus

gestos e suas palavras. Seja seu próprio espelho e critique-se sempre.

• Paradigma 13 – Seja racional. Controle suas emoções ao máximo

e aprenda a chorar ou rir conforme a encomenda. Deixe a raiva

disfarçada assim como a alegria. Esconda as emoções por baixo de

uma aparência glacial, escondendo as emoções de seu rosto. Ninguém

precisa saber o que te aborrece mais ou o que te causa mais alegria.

• Paradigma 14 – Use as vantagens da vanguarda. Deixe um pouco de

espaço para ser vanguarda, mas preserve o seu próprio comportamento.

Fica muito à frente do seu próprio tempo pode causar incompreensão

de seus atos. Fique atento ao paradigma 13.

• Paradigma 15 – Leve prazer para as pessoas. As pessoas deixam de lado ou

ignoram as coisas e pessoas desagradáveis. Torne-se agradável para as pessoas

e elas o procurarão e lembrarão de você. Como não se pode agradar a todos

por todo o tempo, procure agir desta forma a maior parte do tempo.

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Capítulo 8

233Instituições de Direito Público e Privado

Esses paradigmas expostos pelo autor servem para que você possa

entender que uma nova perspectiva profissional não pode ser concebida sem

que se tenha clareza da necessidade de ações concretas, tanto na sua formação

como em seu ambiente de trabalho.

No novo mercado competitivo da atualidade, o ambiente profissional e a

forma com que lidamos com ele pode ser um fator importante para o sucesso

ou fracasso de uma pessoa. Aqui é importante frisar que atitudes de atrito e

de isolamento em nada vão contribuir. É bom lembrar também a confusão

entre o profissional e o privado não ajudam no sucesso profissional.

Um profissional que deixe de perceber a importância da postura

no ambiente profissional pode acabar criando resistência e sendo,

progressivamente, descartado da equipe em que atua. Os paradigmas de

Greene para o ambiente profissional são importantes para ações concretas no

sentido de uma melhor inserção no ambiente de trabalho.

Com base nos paradigmas apresentados, pense em como eles estão presentes ou podem ser inseridos em suas relações de trabalho.

REFLEXÃO

Jorge (2008) apresenta uma interessante ideia para operacionalizarmos

o processo de mudança dentro atividade profissional, fazendo com que

possa gerar maiores benefícios, amparado em três mudanças internas. Diz

o autor (2008, p. 104):

Para isso as pessoas precisam saber exatamente onde estão, conhecer com o quê trabalha, ter ciência dos valores e regras da organização e saber o que podem esperar dela. Como mencionado, o ser humano tem vontades e pensamentos próprios e precisa saber lidar com todas as variáveis e até mesmo conflitos que mudanças simples ou radicais possam trazer, mas para que haja mudança externa, tem que haver mudança interna começando com:

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Capítulo 8

234 Instituições de Direito Público e Privado

• visão (pensar): é imaginar como estarão em um tempo à frente, um tempo que ainda não é conhecido, por exemplo: onde quero estar daqui a 5 anos? Como estará o mercado? A visão faz com que o indivíduo tente visualizar algo que está além de seu alcance;

• valores (sentir): é tudo que em que se acredita, e faz a ponte entre o pensar e o querer, trazendo equilíbrio;

• missão (querer): é aquilo que se quer. “Quero ser o presidente da companhia, ou quero ser um bom pai”.

As mudanças internas, que podemos qualificar como mudanças de

atitudes apresentadas pelo autor, são um importante vetor para pensarmos

a carreira do novo profissional. A visão é fundamentar para o planejamento

da carreira, as formas como podem ocorrer mudanças no mercado, e como

estarei como profissional preparado para me adaptar a elas. Os valores são,

para o autor, a ponte do equilíbrio e permitem que ações e pensamentos

estejam integrados, permitindo uma melhor atitude em relação a sua carreira.

A missão é a expressão do nosso desejo, mas deve ser vista sempre dentro de

uma visão moderada, pois ela não deve ser perseguida “a todo o custo”, uma

vez que podemos infringir valores éticos.

Para finalizar, Jorge (2008, p.107) ainda complementa acrescentando

que ser um bom profissional

requer muitas habilidades, e ser proativo é um diferencial muito importante nos dias atuais, quando a margem para erros é pequena e esperar que as coisas aconteçam é esperar pela sorte. Quando se está inserido no mercado ou pretendendo entrar nele, é preciso estar preparado para ser “bombardeado” por situações que requerem dinamismo e agressividade.

Essa nova atitude do profissional do século 21 ainda apresenta obstáculos,

como o problema do desemprego. Por mais que uma nova visão do mercado de

trabalho e das carreiras seja algo necessário, ainda existe, principalmente entre

os trabalhadores com menor qualificação, o medo de ficar desempregado.

Em momentos de crise, como a enfrentada pela Europa e os EUA, as

relações profissionais acabam se tornando mais frágeis; algumas questões

aqui apresentadas podem acabar não sendo aplicadas e o profissional pode

ser prejudicado na projeção de sua carreira.

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Capítulo 8

235Instituições de Direito Público e Privado

Uma das formas de evitar essa deterioração é exigir dos governos,

das empresas e do mercado financeiro internacional ações que disciplinem

e evitem atividades especulativas que podem causar prejuízos sociais (por

exemplo, a especulação desregrada em setores como bolsa de valores e

mercado imobiliário).

Com base no estudado nesse tópico, pense em como ações inovadoras podem ser importantes na carreira que você escolheu.

REFLEXÃO

8.2.2 O profi ssional e a responsabilidade social

Após estudarmos o perfil do profissional no século 21 e as perspectivas

que ela provoca, vamos estudar um tema importante e atual no mundo

corporativo: a responsabilidade social. Este termo surge com os primeiros

problemas gerados pela industrialização, mas ganhou força, principalmente

no Brasil, no final do século 20 e início do século 21.

Figura 3 – A responsabilidade socialFonte: <www.estou-sem.blogspot.com>.

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Capítulo 8

236 Instituições de Direito Público e Privado

A responsabilidade social empresarial começou a ser discutida após a Revolução Industrial com a degradação do meio ambiente e qualidade de vida dos trabalhadores. Foi gerada a partir de uma insatisfação acumulada em vários setores da sociedade e que culminou na criação de sindicatos, ONG’s e outros órgãos reguladores e fiscalizadores para atenuar os males do modelo capitalista.

SAIBA QUE

Ao tratar sobre a responsabilidade social, temos de ter clareza sobre

quais os seus fundamentos. Tenório (2010 p. 23) faz uma interessante

contextualização sobre a responsabilidade social abordando fatos que

pressionaram a adoção à ideia:

As pressões externas se referem às legislações ambientais, aos movimentos dos consumidores, à atuação dos sindicatos na busca da elevação dos padrões trabalhistas, às exigências dos consumidores e às reivindicações das comunidades afetadas pelas atividades industriais. Esses argumentos são inerentes à sociedade pós-industrial, cujos valores são representados pela melhoria da qualidade de vida da sociedade e não apenas pelo sucesso econômico.

A responsabilidade social está amparada em quatro elementos de

sustentabilidade: sustentabilidade econômica, corporativa, ambiental e

social. Jorge (2008, p. 105) considera que “além de responsabilidade social,

outro termo muito difundido atualmente é o de desenvolvimento com

sustentabilidade, seja econômico, humano ou ambiental”.

Figura 4 – Os parâmetros em que a responsabilidade social está baseadaFonte: <www.estou-sem.blogspot.com>.

Sustentabilidadeeconômica

Sustentabilidadeambiental

Sustentabilidadesocial

Sustentabilidadecorporativa

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Capítulo 8

237Instituições de Direito Público e Privado

Falar de responsabilidade social é falar de comprometimento com essas

sustentabilidades. Aqui, prezado(a) aluno(a), já temos elementos que nos

permitem identificar que a responsabilidade social representa um compromisso

das empresas com a sociedade, visando incentivar e patrocinar ações que

elevem a cidadania, a inclusão social na busca de equilíbrio ente o anseio do

lucro e compromisso para com a sociedade.

Para Mattos (2010, p. 80), “a responsabilidade social é uma exigência

básica para a atitude e para o comportamento ético, por meio de práticas

que demonstrem que a empresa possui uma alma, cuja preocupação implica

solidariedade e compromisso social.” Nesse aspecto, a responsabilidade social

como um fator do comportamento ético da empresa, devemos destacar o sentido

do voluntariado. Enquanto Mattos (2010, p. 80) diz que as empresas devem

incentivar ações voluntárias de seus funcionários, mas cuidando para não perder

o foco (gerando assim ações improdutivas), devemos observar que o voluntariado

não pode suprir um programa articulado de ações de responsabilidade social,

pois essas ações devem ter como foco central a empresa, pois é ela que assume o

papel central de desenvolver ações de responsabilidade social.

Nos últimos anos, entidades como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização das Nações Unidas (ONU) têm incentivado as empresas do mundo a adotar códigos de conduta que tenham como princípios o respeito ao meio ambiente, às relações de trabalho e aos direitos humanos.

SAIBA QUE

A ONU inclusive, durante a presidência do secretário Kofi Aaan, criou o

Pacto Global, que visa encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade

social corporativa e sustentabilidade. Ele está dividido em dez princípios, que

são os seguintes:

1) As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos

reconhecidos internacionalmente;

2) Assegurar-se de sua não participação em violações destes direitos.

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Capítulo 8

238 Instituições de Direito Público e Privado

3) Apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do

direito à negociação coletiva;

4) Eliminar todas as formas de trabalho forçado ou compulsório;

5) Abolir efetivamente do trabalho infantil;

6) Eliminar a discriminação no emprego;

7) Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais;

8) Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade

ambiental;

9) Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente

amigáveis;

10) Combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e

propina.

O pacto global procura amparar quatro eixos básicos: direitos humanos,

trabalho, meio ambiente e combate a corrupção. Aqui podemos fazer uma

relação com temas que já estudamos ao longo de nossa disciplina: os direitos

fundamentais.

Veja, aluno(a), como a responsabilidade social insere no âmbito das

empresas uma perspectiva de respeito e de efetivação dos direitos fundamentais.

Aqui observamos que na moderna visão da atividade empresarial o respeito aos

direitos fundamentais é um dos eixos centrais e vai nortear o desenvolvimento de

novas condutas, tanto no trato profissional como na perspectiva de sociedade.

Ao abordar o tema da responsabilidade social corporativa, Freire, Souza

e Ferreira (2008, p. 1) comentam o seguinte:

De fato, o debate sobre a Responsabilidade Social corporativa (RSC) ocupa atualmente espaços relevantes de discussão no planeta. As empresas estão atentas para os riscos que suas atividades possuem, apesar disso, uma grande parte delas, não sabe como agir para chegar a um estágio de progresso, em que possam ser classificadas como “empresas cidadãs” e “empresas socialmente responsáveis”, ou seja, aquelas que contribuem para o alcance de uma sociedade sustentável.

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Capítulo 8

239Instituições de Direito Público e Privado

A responsabilidade social também está baseada em uma nova visão do

direito de propriedade (previsto no artigo 5), incisos XXII e XXIII da Constituição

de 1988), principalmente no aspecto da função social e no reflexo disso na

visão de empresa. A propriedade na visão da função social não pode mais

ser vista como um direito individual e isolado, no qual apenas o lucro, sob

qualquer pretexto, deve vigorar.

A visão da função social da propriedade reflete em benefícios ao

proprietário e aos demais. Isso não significa que uma propriedade não possa

gerar lucros ou que os lucros devem ser indiscriminadamente divididos com

todos. A função social significa que se o lucro foi obtido, ele esteve dentro das

regras legais, como o respeito ao meio ambiente e às normas do direito do

trabalho, com a devida valorização dos profissionais.

A responsabilidade social, para ser verdadeira e realmente um princípio

orientador da atividade empresarial, não pode encobrir atividades que estejam

fora destes princípios. Pense no seguinte: de que adianta uma empresa desenvolver

uma ação de cidadania, como o acesso à informação por meio da internet para

populações carentes, e depredar o meio ambiente em sua atividade cotidiana?

Se o compromisso com um futuro melhor for verdadeiro, a empresa

deve pensar formas de diminuir seu impacto ambiental e realizar ações

compensatórias ao impacto praticado.

Responsabilidade social, conforme se tem pensado, é uma ação verdadeira

e transparente, e não algo para mascarar eventuais falhas ou problemas da

empresa. Nesse ponto, Grajew (apud TENÓRIO, 2010, p. 35) observa que

ao flexibilizar seus valores na primeira dificuldade, ao não estar preparada para tomar decisões que implicam perdas, a empresa corre enormes riscos de perder sua credibilidade e distorcer o entendimento de parte da sociedade sobre a cultura da responsabilidade social. Apenas decisões pautadas em critérios éticos, e não vantagens ou desvantagens de curto prazo por parte das empresas, sindicatos, organizações sociais, organismos internacionais, partidos políticos e governantes, poderão construir um mundo melhor.

Outro aspecto importante de ser estudado, quando falamos de

responsabilidade social, é salientarmos que essas ações estão ligadas a termos

já vistos em nossa disciplina, tais como sociedade, ética, cidadania e direitos

fundamentais.

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Capítulo 8

240 Instituições de Direito Público e Privado

A sociedade é uma das forças que exige e provoca mudança na atitude

das empresas, com a consequente mudança de sua visão, aproximando-a dos

princípios da responsabilidade social. A cidadania, entendida aqui como uma

forma de ampliar a qualidade de vida dos cidadãos, é outro termo associado

por meio de ações de inclusão social. A ética é um valor fundamental nas

relações corporativas e assume um papel central. Os direitos fundamentais

são elementos que vão fundamentar e justificar as ações empresariais de

responsabilidade social.

DEFINIÇÃODEFINIÇÃO

Ética, na percepção de Valls (2001), é tudo aquilo que consideramos correto, que vivemos e defendemos e tem como referencial o respeito ao outro. Ainda neste ponto de vista, torna-se essencial ressaltar que a ética está em cada um, em todos os lugares e a todos os momentos se exige ética de todas as pessoas – concernentes ao modo de falar, como falar, quando falar.

Para finalizar, Stephen Kanitz apresenta os “Dez mandamentos da

responsabilidade social”, que podem ser uma diretriz para o seu estudo. Diz

o autor:

1. Antes de implantar um projeto social, pergunte a umas 20 entidades

do Terceiro Setor para saber o que elas realmente precisam.

A maioria das empresas começa seu projeto social procurando uma “boa

ideia” internamente.

Contrariando os preceitos da administração que exige pesquisar primeiro

o mercado antes de sair criando novos, na área social estes princípios são

jogados fora.

A maioria dos projetos começa nos departamentos de marketing das

empresas sem consultar as entidades que são do ramo.

O espírito do Terceiro Setor é “servir o outro”, e isso significa perguntar

primeiro: “O que vocês precisam?”.

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Capítulo 8

241Instituições de Direito Público e Privado

2. O que as entidades precisam normalmente não é o que sua empresa

faz, nem o que a sua empresa quer fazer.

O conceito de “sinergia” é muito atraente e poderoso para a maioria

dos executivos, mas lembra um pouco aquele escoteiro que atravessa um cego

para o outro lado da rua sem perguntar se é isso que o cego queria.

Dar aula de inglês para moradores de favelas só porque você tem uma

cadeia de escolas de inglês não é resolver o problema do Terceiro Setor. Mas é

o que uma escola de inglês tende a fazer.

Pode ser uma forma de resolver o seu problema na área social, com o

menor esforço. Se toda empresa pensar assim, quem vai resolver o problema

da prostituição infantil, abuso sexual, violência, dos órfãos? Ninguém.

Por isso, muitas entidades estão começando a ver este movimento de

empresas “socialmente responsáveis” com maus olhos. “Onde estavam estas

empresas nestes últimos 400 anos, quando fizemos tudo sozinhos?”, é a

primeira pergunta que fazem.

“Por que muitas estão iniciando projetos iguais ao que fazemos, ao invés

de nos ajudar?”

3. Toda empresa que assumir uma responsabilidade será mais dia menos

dia responsabilizada.

Da mesma forma que sua empresa será responsabilizada pelos péssimos

produtos que venha a produzir, seu insucesso em reduzir a pobreza ou uma

criança que for maltratada no seu projeto social, também será responsabilidade

da sua empresa. E empresas que têm 10 mil funcionários, 12 dos quais no

departamento de responsabilidade social, irão fracassar no seu intento.

4. Assumir uma responsabilidade social é coisa séria. Creches não

mandam embora órfãos porque a diretoria mudou de ideia.

Muitas empresas “socialmente responsáveis” não estão assumindo

responsabilidades sociais.

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Capítulo 8

242 Instituições de Direito Público e Privado

Nenhuma empresa está disposta a adotar um órfão, um compromisso de

18 anos. A maioria das empresas “socialmente responsável” está no máximo

disposta a bancar um projeto por um único ano.

E não poderia ser o contrário. Empresas não podem assumir este tipo

de responsabilidade, não foram constituídas para tal. As entidades foram

instituídas para exatamente prestar serviços sociais, e é triste ver que estão

perdendo espaço.

Se o projeto não ganhar um destes prêmios de responsabilidade social,

troca-se de projeto. Hoje, a tendência das empresas é trocar de projeto a cada

dois anos se ela não for premiada, por outro que tenha mais chance de vencer

no ano seguinte.

5. Todo o dinheiro gasto em anúncios tipo “Minha empresa é mais

responsável que o concorrente” poderia ser gasto duplicando as

doações de sua empresa.

Os líderes sociais do país, que cuidam de 28 milhões de pessoas carentes,

não têm recursos para comprar anúncios caríssimos na imprensa.

Depois desta onda de responsabilidade social. o share of mind do Terceiro

Setor tem caído de 100 para 15%. Cinco anos atrás, o recall espontâneo de

instituições responsáveis na mente do público em geral era a AACD, as APAES

e a Abrinq.

Hoje, os nomes mais citados são de empresas que no fundo usaram o

Terceiro Setor para ficarem conhecidas. Bom para as empresas e seus produtos,

péssimo para a AACD e seus deficientes.

Lembre-se, também, que todas as religiões sem exceção recomendam

não alardear os atos de responsabilidade social, que deveriam ser discretos e

anônimos. Quem alardear sua bondade sofrerá a ira do povo, uma sabedoria

milenar em todas as crenças do mundo. É algo para se pensar.

6. Entidades têm no social seu core business, dedicam 100% do seu

tempo, 100% do seu orçamento para o social. Sua empresa pretende

ter o mesmo nível de dedicação?

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Capítulo 8

243Instituições de Direito Público e Privado

Irmã Lina é a nossa Madre Tereza de Calcutá. Ela veio da Itália cuidar de

300 portadores de hanseníase confinados em Guarulhos, e sabia com certeza

que iria morrer da doença, o que não a impediu de cumprir a sua missão.

Sua empresa estaria disposta a morrer pela sua causa social? A maioria

das empresas ao primeiro sinal de recessão corta 30% da propaganda, 50%

do treinamento e 90% dos projetos sociais. Justamente quando os problemas

sociais tendem a aumentar.

As empresas brasileiras estão dedicando em média 1% do lucro ao social,

o que corresponde a 0,1% das receitas. As entidades sociais dedicam 100% de

suas receitas e 100% do seu tempo.

Se sua empresa socialmente responsável acredita que poderá competir

com as “Irmãs Linas” do país, e que terá coragem de subir num palco e receber

um Prêmio de Cidadania Corporativa é acreditar que nossos consumidores são

um bando de idiotas.

Se você é um executivo de marketing, por acaso você esteve presente

quando a Irmã Lina recebeu o seu Prêmio Bem Eficiente? Mas ela notou a sua

ausência, e viu o anúncio de sua empresa dizendo como ela se preocupa com

o social.

7. O consumidor não é bobo.

O consumidor sabe que o projeto social alardeado pela empresa está

embutido no preço do produto. Ninguém dá nada de graça. Isto, todo

consumidor sabe de cor. E quem disse que o consumidor comunga com a

mesma causa que sua empresa apadrinhou?

Sua empresa pode ser “amiga das crianças”, mas seu consumidor pode

sentir que os velhos são os verdadeiros excluídos.

Afirmar que o projeto social é custeado pelo lucro da empresa, e não

entra como despesa, não convence ninguém. O lucro pertence aos acionistas,

não aos executivos da empresa. Na maioria dos países, filantropia é feita na

pessoa física não na jurídica. Não existe Fundação Microsoft, e sim Fundação

Bill Gates. Da Microsoft queremos bons softwares, não bons projetos sociais.

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Capítulo 8

244 Instituições de Direito Público e Privado

8. Antes de querer criar um instituto com o nome da sua empresa ou da

sua marca favorita, lembre-se que a maioria dos problemas sociais é

impalatável.

Empresas que criaram institutos com a marca da empresa fogem de

problemas sociais complicados como o diabo foge da cruz.

Nenhuma delas quer ajudar a resolver problemas como hanseníase, abuso

sexual, prostituição infantil, deficiência mental, autismo, Aids, discriminação

racial, velhice e Alzheimer, doenças terminais, alcoolismo, dependência

química, drogados, mães solteiras, pais abusivos, pois são projetos que não se

adequam bem à imagem que você quer imprimir para a sua marca.

Marcas são penosamente construídas e não dá para discordar desta

relutância em apoiar projetos “mercadologicamente incorretos.” Você terá de

decidir o que vem em primeiro lugar, se sua marca ou sua responsabilidade

social, decisão ética de primeira importância.

Empresas que criaram institutos ou fundações com a marca da empresa

preferem projetos como educação, adolescentes, esportes ou ecologia,

projetos que “não dão problemas”.

9. Evite usar critérios empresariais ao escolher seus projetos sociais,

como “retorno sobre investimento” ou “ensinar a pescar”. Esta área é

regida por critérios humanitários, não científicos ou econômicos.

Empresários tendem a usar critérios empresariais para definir quais

projetos apoiar, embora este seja um setor de critérios humanitários.

Um dos “mantras” das empresas socialmente responsáveis é que elas

ensinam a pescar em vez de fazer “mero assistencialismo”.

Só que, quando as entidades fazem “mero assistencialismo”, deficiente

visual sai com óculos, crianças com câncer saem curadas, órfãos são cuidados,

paraplégicos saem com cadeiras de rodas.

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Capítulo 8

245Instituições de Direito Público e Privado

Nos projetos que “ensinam a pescar”, 90% dos recursos acabam nas

mãos dos professores, e 10% ao consultor social idealizador do projeto.

10. A responsabilidade social é, no final das contas, sempre do indivíduo,

do voluntário, do funcionário, do dono, do acionista, do cliente,

porque requer amor, afeto e compaixão.

Na literatura encontramos duas posições bem claras. Uma diz que a

responsabilidade social é do governo, por isso estamos pagando quase 50%

da nossa renda em impostos. Sem muito resultado.

A segunda posição diz que a responsabilidade social é do indivíduo, da

comunidade, da congregação, das ONGs organizadas para tal.

No Brasil, surgiu uma terceira visão, de extrema direita. Que a

responsabilidade social é das empresas e dos empresários, que a agenda social

deve ser estabelecida por executivos e empresários, sob critérios empresariais

de retorno de investimento.

Empresas, como o governo, são impessoais. E ainda corremos o perigo

de os poucos indivíduos que achavam que a responsabilidade é do indivíduo

acabem lavando as mãos, achando que a responsabilidade é do governo e das

empresas. Por que, então, se envolver?

Agora, com base no que foi estudado nesse tópico, pense em como

você mantém, no seu ambiente de trabalho ou no seu dia a dia, ações de

responsabilidade social.

8.2.3 O profi ssional do século 21 e sua colaboração para a

transformação da sociedade

Em razão dos problemas que comentamos nos itens anteriores, a

mudança de paradigmas é algo fundamental nos dias atuais. Pensando que

o novo profissional do século 21 tem possibilidades amplas de atuação e

pode, inclusive, inovar de forma significativa em diversas áreas, mostraremos

brevemente neste tópico algumas formas possíveis para essa transformação.

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Capítulo 8

246 Instituições de Direito Público e Privado

Sobre essa mudança no paradigma profissional, Jorge (2008, p. 102)

observa que

no atual cenário de competição, onde o mercado é quem estabelece as regras, de seleção, encontram-se pessoas competentes e aquelas que parecem ir além. As pessoas competentes são capazes de competir, contudo, as que vão além, são as capazes de construir novos cenários e com isso trazer à tona diferenciais que os destacam da maioria dos mortais, chamando a atenção do mercado que procura profissionais cada vez mais competentes em todos os sentidos da palavra.

A citação nos mostra como o novo perfil do profissional com uma

capacidade superior a dos demais pode ser um agente transformador, não

só de sua carreira (uma perspectiva individualista), mas com potencial para

transformar seu ambiente de trabalho e a própria sociedade. Este perfil vai

exigir que o profissional tenha clareza que sua atitude é fundamental para

conseguir este diferencial no mercado de trabalho. O pensamento antigo, que

faz com que os profissionais tenham uma postura acomodada e simplista, em

nada está de acordo com o novo perfil que pode transformar a sociedade.

Mas uma pergunta fica: como esse profissional pode agir com essa

atitude transformadora e conseguir aproximar-se da responsabilidade social?

Para respondermos a essa questão, devemos ter claro o sentido da nova visão

profissional no conjunto da sociedade. Como mencionamos anteriormente, a

nova sociedade contemporânea está em constante processo de mudança e muitas

ações que hoje podem ser válidas, no futuro, podem deixar de ter relevância.

Assim, nosso objeto, dentro do estudo de nossa disciplina, é identificar

ações que possam ser visualizadas e praticadas pelo profissional comprometido

com a mudança. Dessas ações, destacamos a ética nas relações interpessoais,

a participação nas ações de responsabilidade social, atitudes inovadoras em

relação à carreira e ao ambiente onde se trabalha. Se todas essas ações forem

princípios orientadores do profissional do século 21, vamos ter claro como ele

pode atuar como um agente da mudança social.

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Capítulo 8

247Instituições de Direito Público e Privado

Figura 5 – A responsabilidade social e ações inovadoras podem transformar o mundoFonte: <www.responsabilidadeejt.blogspot.com>.

Essa nova postura do profissional do século 21 acaba por transformar não

somente seu meio, mas o planeta como um todo, principalmente no aspecto de

preservação ambiental, tema central para a sobrevivência do nosso planeta. O

debate sobre o direito fundamental ao meio ambiente (lembra do que estudamos

no capítulo 3? Volte lá e dê uma revisada neste ponto) deixa de ser algo limitado

à esfera jurídica e avança para o debate sobre a ética empresarial, sobre a

construção da cidadania, mostrando que não podemos mais passar imunes a esse

tema. Toda essa nova perspectiva é importantíssima na sociedade atual e passa

a ocupar um espaço antes vazio e agora central dentro do mundo corporativo.

Para Mattos (2010, p. 16), o profissional do século 21 deve estar atento a

fatores que podem levar a uma deterioração de seu poder transformador. “O

modelo tecnológico vigente, a maneira como está sendo concebido e desenvolvido,

acaba por esgotar a esperança, anular a motivação de viver plenamente, gerando

a competição da inteligência sem o coração, de índole predatória e destrutiva.”

Esta citação destaca que, desejando o sucesso profissional e a ampliação das

oportunidades profissionais, não se deve perder de vista valores básicos e importantes

para uma vida pessoal e profissional saudável e equilibrada. A transformação que

aqui se fala não é só uma ascensão profissional desprovida de valores, mas uma

mudança de paradigmas profissionais conjugados a uma transformação social.

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Capítulo 8

248 Instituições de Direito Público e Privado

Jorge (2008) apresenta elementos essenciais ao processo de transformação do

mercado de trabalho e do profissional do século 21. Afirma o autor (2008, p. 106):

Derivada do pensamento se tem a criatividade, que aliada à flexibilidade, deve ser um dos grandes diferenciais competitivos do novo profissional. Junto com inovação e velocidade, ser criativo e flexível tem sido alavanca para o sucesso em muitas organizações. Pessoas que do dia para noite são promovidas por resultado de grandes ideias, geradoras de soluções inovadoras, são cada vez mais escassas. Os profissionais estão engessados e limitados às chamadas “receitas de bolo”, utilizando modelos obsoletos e por vezes mais caros, para alcançar soluções que hoje demandam novos caminhos.

A citação reforça algo que já abordamos em vários momentos desse

capítulo: a inovação. Veja que o autor ressalta que a inovação pode enfrentar

dificuldades para acontecer em razão da permanência de atitudes e ações

que, mesmo ultrapassadas, são difíceis de ser superadas.

Aqui é importante frisar que o processo de mudança é um processo

arriscado, mas o medo não pode ser um elemento norteador de ações

inovadoras, pois ele superado pelas mudanças quando se tem condições de

compreender esse processo. Aqui, aluno(a), quero destacar que nenhum medo

pode ser justificativa para impedir a inovação.

Figura 6 – A inovação é um elemento importante para a transformação!Fonte: <www.responsabilidadeejt.blogspot.com>

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Capítulo 8

249Instituições de Direito Público e Privado

Para complementar, Jorge (2008, p. 105) nos dá um importante aviso

para sermos profissionais transformadores:

Em tempos de responsabilidade social, onde as organizações, por alguns momentos, visam ações sociais, pensando no próximo, investindo no bem estar da sociedade e do meio ambiente. É chegado o momento das pessoas reavaliarem suas prioridades, atrelando sua vida particular à profissional de maneira saudável, atendendo de maneira eficaz a todos os interessados.

A clara definição das prioridades é fundamental para desenvolvermos

uma atitude transformadora. O profissional que esta nova atitude deseja criar,

sempre baseada na mudança dos paradigmas para se adaptar às necessidades

do mercado, é um agente transformador da realidade social.

Com base no que estudamos nesse tópico, pense em como ações inovadoras, de um agente transformador da sociedade, podem estar atreladas à carreira que você escolheu.

REFLEXÃO

Portanto, tendo isso em mente, concluímos nossa disciplina destacando,

com Jordão (2009), a necessidade de se preocupar em se conhecer para saber

quais características você, como profissional, possui, para poder fortalecer as

qualidades e trabalhar os seus defeitos na área profissional. Isso porque as

organizações procuram profissionais que tenham integridade, entusiasmo,

ética, iniciativa, criatividade, responsabilidade, bom humor, competência,

capacidade de planejar, que sejam organizados e ainda que consigam ter um

bom relacionamento interpessoal dentro do ambiente de trabalho.

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Capítulo 8

250 Instituições de Direito Público e Privado

8.3 Aplicando a teoria na prática

Como parte final do nosso estudo, veremos agora um caso que aplica os

conceitos trabalhados.

Antônio Silveira está trabalhando no setor de tecnologia da informação

há cinco anos na empresa Informática Total. Ele possui formação na área

– é técnico em computação e está cursando faculdade para ampliar suas

perspectivas profissionais. Antônio sempre teve, no seu período de trabalho

na empresa, uma postura passiva e um isolamento em relação aos demais

colegas. Nas avaliações realizadas pelo setor de Recursos Humanos, ele

nunca demonstrou nenhum tipo de atitude inovadora e vê sua atividade

como desinteressante, sem projeção profissional satisfatória, além de evitar

a participação nos programas de responsabilidade social desenvolvidos ao

longo de cada ano. Ao saber que novas vagas de gerência no seu setor

de atuação serão abertas, ele fica interessado e procura pelos critérios da

seleção. Ao ser informado que ações proativas e participação em ações

de responsabilidade social desenvolvidas por sua empresa contam pontos,

decide rever sua carreira. Em um primeiro momento, ele pensa em trocar

de atividade profissional, mas acaba percebendo que tem vocação para

trabalhar com a área de informática. Após essa conclusão, decide mudar

sua atitude e passa a interagir mais com os colegas de trabalho e a propor

projetos de otimização das atividades para se obter uma melhor qualidade

do trabalho. Antônio também ingressa nas ações desenvolvidas por sua

empresa, na área de educação digital e ingressa em um curso de qualificação,

paralelo a sua faculdade, para melhorar seu desempenho profissional.

Além disso, começa a propor ações no campo da responsabilidade social

para aumentar a visibilidade de sua empresa. Antônio acaba não sendo

selecionado para os cargos de gerente, mas continua com sua nova atitude,

merecedora de elogios por parte de seus supervisores e que lhe possibilitará

uma promoção em breve.

Então, como você avalia a mudança de postura profissional de

Antônio?

Em primeiro lugar, observamos que Antônio tinha uma atitude

passiva e desinteressada em relação a sua carreira profissional. Após

um momento de indecisão, acaba percebendo que tem vocação para

a atividade que desempenha e acaba mudando sua atitude na busca

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Capítulo 8

251Instituições de Direito Público e Privado

por novas oportunidades profissionais, visto que os anos em que tinha

trabalhado em sua antiga função acabaram não lhe propiciando um

avanço em sua carreira.

A proposta de projetos e o melhor relacionamento com seus colegas

de trabalho mostram uma ação concreta para mudança de sua atitude.

A entrada no programa de responsabilidade social da empresa é outro

fator importante para confirmar a mudança de atitude em relação a sua

carreira. Esses atos de Antônio comprovam que a mudança é um elemento

essencial ao profissional do século 21.

8.4 Para saber mais

Site: Responsabilidade Social

URL: <www.responsabilidadesocial.com>.

Este site apresenta importantes artigos e informações sobre a responsabilidade social, sendo um bom mecanismo de consulta para saber as novidades e perspectivas desse tema.

Site: Voluntários

URL: <www.voluntarios.com.br>.

Esta página apresenta importantes ações e informações sobre a responsabilidade social, sendo uma interessante fonte de consulta. Você poderá, inclusive, participar de ações de responsabilidade social.

Site: Administradores

URL: <www.administradores.com.br>.

Esta página traz artigos interessantes e informações sobre o planejamento da carreira e das ações que possibilitam uma boa compreensão do mercado de trabalho.

Site: Instituto Ethos

URL: <www.ethos.org.br>.

Esta página traz artigos e informações sobre a responsabilidade social, sendo um interessante mecanismo de consulta a propósito do assunto. Confira!

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Capítulo 8

252 Instituições de Direito Público e Privado

8.5 Relembrando

Neste capítulo, estudamos os seguintes assuntos:

• o sentido do profissional no século 21, sua mudança em relação ao

profissional de outras épocas e as perspectivas de ampliação de seus

espaços de atuação;

• o significado e origem do termo responsabilidade social e como ela

muda paradigmas na atualidade;

• a responsabilidade social é uma exigência básica para a atitude e para

o comportamento ético, por meio de práticas que demonstrem que a

empresa possui uma alma, cuja preocupação implica solidariedade e

compromisso social;

• a criatividade, aliada à flexibilidade, deve ser um dos grandes

diferenciais competitivos do novo profissional;

• o profissional, dentro da perspectiva da responsabilidade social, pode ser

agente provocador de mudanças nas relações de trabalho e na sociedade.

8.6 Testando os seus conhecimentos

1) Assinale a alternativa correta.

a) O profissional do século 21 deve manter uma postura passiva e

esperar que lhe sejam concedidas as vantagens que a empresa

entender que faz jus.

b) O profissional do século 21 deve manter uma postura passiva e lutar e

enfrentar a sua empresa para que lhe sejam concedidas as vantagens

que a sociedade entender que faz jus.

c) O profissional do século 21 deve manter uma postura ativa e lutar e

enfrentar a sua empresa para que lhe sejam concedidas as vantagens

que a sociedade entender que faz jus.

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Capítulo 8

253Instituições de Direito Público e Privado

d) O profissional do século 21 deve manter uma postura ativa e procurar

desenvolver relações interpessoais que possibilitem um melhor ambiente

de trabalho, além de estar sempre preparado para a mudança.

2) Assinale a alternativa correta.

a) O ambiente de trabalho deve ser amparado pelas leis trabalhistas,

sendo que elas devem reger as relações interpessoais.

b) Um ambiente de trabalho, dentro de uma correta concepção do

profissional do século 21 está amparado nos paradigmas de ser

racional, usar as vantagens da vanguarda e levar prazer às pessoas.

c) Um ambiente de trabalho, dentro de uma correta concepção

do profissional do século 21 está amparado nos paradigmas de

favorecimento pessoal a qualquer custo e no uso do poder de

forma totalitária.

d) O ambiente de trabalho na visão do profissional do século 21 não

possui paradigmas ou princípios, pois vigora o individualismo das

relações de trabalho.

3) Em relação à responsabilidade social, assinale a alternativa correta.

a) A responsabilidade social surge no início do século 21 e busca

aumentar o lucro das empresas e restringir o poder de barganha dos

trabalhadores.

b) A responsabilidade social surge no início do século 20 e busca aumentar

o lucro das empresas, permitindo que elas possam promover benefícios

aos setores da sociedade que lhe interessam.

c) A responsabilidade social é um compromisso das empresas, visando

incentivar e patrocinar ações que elevem a cidadania, a inclusão social

na busca de um equilíbrio entre o anseio do lucro e sua função na

sociedade na qual está inserida.

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Capítulo 8

254 Instituições de Direito Público e Privado

d) A responsabilidade social é um compromisso das empresas e dos

trabalhadores, visando incentivar e patrocinar ações que elevem a

cidadania, a inclusão social na busca de um equilíbrio ente o anseio

do lucro e sua função na sociedade na qual estão inseridos, calcados

exclusivamente no voluntariado.

4) Assinale a alternativa correta.

a) A responsabilidade social pode ser desfeita quando a empresa passa

por momentos de dificuldades, pois acima de tudo está o lucro.

b) A responsabilidade social está amparada em quatro elementos de

sustentabilidade: econômica, corporativa, ambiental e social.

c) A responsabilidade social está amparada em quatro elementos de

sustentabilidade: econômica, ética, ambiental e societária.

d) A responsabilidade social está amparada em quatro elementos de

sustentabilidade, praticados exclusivamente pelos trabalhadores:

econômica, corporativa, ambiental e social.

5) No presente capítulo, estudamos as perspectivas do novo perfil do

profissional do século 21 e a responsabilidade social. Para finalizar, elabore

um texto dissertativo expondo o sentido da responsabilidade social no mundo

corporativo e como ela está relacionada a questões dos direitos fundamentais

e da cidadania, e como o novo profissional pode ser inserido nesta relação.

Onde encontrar

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Capítulo 8

256 Instituições de Direito Público e Privado

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Fonte:SILVA, Rogério Duarte da. Instituições de direito público e privado. Natal: EdUnP, 2011. 262 p. E-book.