inspeção sanitária de produtos animais

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DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Área de Inspeção Sanitária de Produtos de Origem Animal Acadêmico: Paula Cristina de Azevedo Pintor Orientador: Prof. Alexander Magalhães Goulart Dornelles Supervisor: Méd. Vet. Daniela dos Santos Anelli Fernandes Brasília – DF Novembro, 2006.

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Page 1: Inspeção Sanitária de produtos animais

DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO

DE MEDICINA VETERINÁRIA

Área de Inspeção Sanitária de Produtos de Origem Animal

Acadêmico: Paula Cristina de Azevedo Pintor

Orientador: Prof. Alexander Magalhães Goulart Dornelles

Supervisor: Méd. Vet. Daniela dos Santos Anelli Fernandes

Brasília – DF Novembro, 2006.

Page 2: Inspeção Sanitária de produtos animais

ii

Gostaria pai, que o senhor estivesse

compartilhando comigo

essa conquista, embora eu saiba

que cheguei até aqui porque o

senhor me guiou e que jamais

estive sozinha.

Obrigada por me ajudar na

concretização desse sonho...

Dedico ao senhor, Pedro Pintor,

meu pai, este trabalho.

Page 3: Inspeção Sanitária de produtos animais

iii

AGRADECIMENTOS

Ao meu pai, que, embora já não estivesse mais entre nós, foi o grande

responsável pela minha escolha por essa profissão, um apaixonado pela natureza. À

minha mãe, pela paciência e apoio incondicional. À minha filha, Yasmin, pela

compreensão e pela promessa de seguir meus passos, o que me incentiva sempre

mais e me faz ainda mais persistente. Meus irmãos, pela confiança. Aos amigos e

colegas por compartilharem conhecimento e, acima de tudo, pelo incentivo e

amizade. Ao Médico Veterinário, meu professor, Alexander Magalhães Goulart

Dornelles, responsável pelo meu interesse por Inspeção Sanitária. E aos outros

professores, não menos importantes, pela disposição em me ensinar, pela confiança

depositada e até pelas broncas que me fizeram crescer e me farão, sem dúvida,

melhor, não só como profissional, mas, principalmente, como pessoa.

Muito Obrigada!

Page 4: Inspeção Sanitária de produtos animais

iv

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 7

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.................................................................... 9

2.1 UTILIZAÇÃO DE PLANILHAS.................................................................... 9

2.1.1 PLANILHA DO SETOR DE ABATE.................................................... 9

2.1.2 PLANILHA DO SETOR DE MIÚDOS................................................. 9

2.1.3 PLANILHA DO SETOR DE DESOSSA.............................................. 10

2.1.4 PLANILHA DO CONTROLE DE PH DA CARNE................................ 10

2.1.5 PLANILHA DE APPCC....................................................................... 10

2.1.6 PLANILHA DE SWAB......................................................................... 10

3. DISCUSSÃO..................................................................................................... 12

3.1 BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO (BPF).............................................. 18

3.2 PROCEDIMENTO PADRÃO DE HIGIENE OPERACIONAL (PPHO)........ 25

3.3 HIGIENE GERAL........................................................................................ 26

3.3.1 A ÁGUA.............................................................................................. 26

3.3.1.1 CARACTERÍSTICAS DE NATUREZA FÍSICA DA ÁGUA.......... 27

3.3.1.2 CARACTERÍSTICAS DE NATUREZA QUÍMICA DA ÁGUA...... 28

3.3.2 EFICIÊNCIA DA LIMPEZA................................................................. 29

3.3.2.1 TIPOS DE SUJIDADES.............................................................. 29

3.3.2.2 SUPERFÍCIE A SER LIMPA....................................................... 30

3.3.2.3 TEMPO....................................................................................... 30

3.3.2.4 TEMPERATURA......................................................................... 30

3.3.2.5 AÇÃO QUÍMICA......................................................................... 30

3.3.2.6 AÇÃO MECÂNICA...................................................................... 30

3.3.2.7 AGENTES DE LIMPEZA............................................................ 31

3.3.3 TIPOS DE DETERGENTES............................................................... 32

3.3.3.1 DETERGENTES ALCALINOS.................................................... 32

3.3.3.2 DETERGENTES ÁCIDOS.......................................................... 32

3.3.3.3 DETERGENTES TENSOATIVOS.............................................. 33

3.3.4 FASES DA HIGIENIZAÇÃO............................................................... 33

Page 5: Inspeção Sanitária de produtos animais

v

3.3.5 MÉTODOS DE HIGIENIZAÇÃO......................................................... 34

3.3.5.1 HIGIENIZAÇÃO MANUAL.......................................................... 34

3.3.5.2 HIGIENIZAÇÃO POR IMERSÃO................................................ 34

3.3.5.3 HIGIENIZAÇÃO POR MÁQUINA LAVA JATO TIPO TÚNEL..... 35

3.3.5.4 HIGIENIZAÇÃO POR MEIO DE EQUIPAMENTO SPRAY........ 35

3.3.5.5 HIGIENIZAÇÃO POR NEBULIZAÇÃO OU ATOMIZAÇÃO........ 35

3.3.5.6 HIGIENIZAÇÃO POR CIRCULAÇÃO......................................... 35

3.3.6 SANIFICANTES.................................................................................. 35

4. CONTROLE DE PRAGAS............................................................................... 38

4.1 ROEDORES............................................................................................... 38

4.2 BARATAS................................................................................................... 39

4.3 MOSCAS.................................................................................................... 40

4.4 AVES.......................................................................................................... 40

5. CONCLUSÕES................................................................................................. 42

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 43

7. ANEXOS......................................................................................................... 45

ANEXO 1 – Planilha de Controle diário de Qualidade do setor de abate......... 46

ANEXO 2 – Planilha de Controle diário de Qualidade do setor de miúdos...... 47

ANEXO 3 – Planilha de Controle diário de Qualidade do setor de desossa.... 48

ANEXO 4 – Planilha de Controle Semanal de pH........................................... 49

ANEXO 5 - Planilha de APPCC – Pontos de Monitoramento do setor de

abate.....................................................................................................................

50

Page 6: Inspeção Sanitária de produtos animais

vi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Produtos de Higienização Utilizados na Empresa Fricarmo –

Cidade Ocidental – GO..................................................................

24

TABELA 2 - Especificação dos produtos químicos utilizados na Empresa

Fricarmo – Cidade Ocidental – GO................................................

33

Page 7: Inspeção Sanitária de produtos animais

7

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão do curso de Medicina Veterinária descreve as

atividades desenvolvidas durante o Estágio Supervisionado Obrigatório.

Orientado pelo Médico Veterinário, Alexander Magalhães Goulart Dornelles, o

estágio – com início em 04 de Julho e término em 29 de Setembro de 2006,

perfazendo uma carga horária total de 450 horas – foi realizado no Matadouro

Frigorífico de bovinos Fricarmo, Agroeste Agropecuária Centro Oeste Ltda, firma

regularmente estabelecida a Rod. Go 09 Km 12 Fazenda Mesquita – Zona Rural,

Cidade Ocidental/ Goiás. Acompanhando todo o processo de industrialização de

carnes in natura, permanecendo mais especificamente na área de controle de

qualidade da empresa.

A preocupação do consumidor com procedência e qualidade dos alimentos se

encontra crescente, embora muitos desconheçam o trabalho realizado pelo Médico

Veterinário neste tipo de estabelecimento.

Tendo em vista o aumento, em número, de Indústrias como essa, faz-se

necessário que a empresa mantenha um controle rigoroso de qualidade visando

atender as expectativas dos consumidores.

A empresa que almeja destacar-se perante as outras, deve investir, sobretudo

em qualidade, sendo, a higienização, principal desencadeador desse processo. É

imprescindível que gerentes, supervisores e monitores tenham conhecimento sobre

métodos de limpeza, equipamentos e produtos necessários para a higienização de

estabelecimentos processadores de alimentos, com objetivo de garantir a qualidade

de produtos de origem animal comestíveis e não-comestíveis, evitando prejuízos à

Page 8: Inspeção Sanitária de produtos animais

8

saúde pública e animal, perdas nutricionais e disseminação de doenças. É

fundamental ainda, conscientizar os funcionários da importância da higiene, tanto

pessoal, quanto de instalações, equipamentos e utensílios, porém, é necessário dar a

eles condições para isso.

A escolha dessa área de atuação deveu-se ao meu interesse pelo controle de

qualidade e preocupação com higiene na indústria de processamento de produtos de

origem animal.

Page 9: Inspeção Sanitária de produtos animais

9

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Durante o período de estágio, atuando no Controle de Qualidade da Empresa,

mais especificamente visando garantir a qualidade dos produtos ali produzidos, sendo

eles: cortes desossados e peças inteiras.

2.1 - Utilização de planilhas:

2.1.1 - Planilha do Setor de Abate: Aferir de hora em hora teor de cloro da água

das pias e do lavador de botas que deve manter-se entre 0.50 ppm e 1.0 ppm

(segundo a Médica Veterinária do estabelecimento), aferir a temperatura de dois dos

esterilizadores, cada um em um extremo, devendo, a água, encontrar-se a 82,5°C,

sendo que as caldeiras eram desligadas ao atingir essa temperatura. Caso a

temperatura viesse a baixar, as caldeiras seriam novamente ligadas. Verificar a

higienização dos funcionários antes da entrada na sala e sempre que saírem, bem

como se estão sendo dadas condições para isso, como sabão na pia e no lava-botas,

papel-toalha, sanificante e também a higienização do local, como sacos de lixo na

lixeira, cortinas de ar para evitar a entrada de insetos, limpeza do chão, dos

utensílios, das máquinas, serras e outras. Sempre anotar toda e qualquer não-

conformidade, horário e medida corretiva.

2.1.2 - Setor de miúdos: Aferir, também de hora em hora, os mesmos itens da

sala de abate e fazer a verificação diária das datas das etiquetas interna (onde o

produto é embalado) e externa (das caixas onde esses produtos são depositados). E

avaliar a limpeza de toda a sala após o término do processo. Sempre anotar toda e

qualquer não-conformidade, horário e medida corretiva.

Page 10: Inspeção Sanitária de produtos animais

10

2.1.3 - Planilha da desossa: Verificação de hora em hora da temperatura dos

esterilizadores, devendo estar medindo, no mínimo, 82,5°C. Medir a temperatura das

peças a serem desossadas, sendo traseiro, dianteiro e ponta de agulha, sempre em

um ponto onde o termômetro se mantivesse todo em contato com a carne,

temperatura da sala de desossa que deve girar em torno de 10°C ou menos,

temperatura do túnel de encolhimento onde a embalagem cuja carne está embalada

sofrerá encolhimento, aderindo-se à carne, através de água em temperatura elevada,

geralmente 84,0°C. Verificar funcionamento das máquinas de vácuo, higienização da

sala, dos funcionários, dos utensílios, esterilização de instrumentos e a lotação das

mesas e da esteira.

2.1.4 - Planilha de controle de pH da carne: Aferição do pH da carcaça, (traseiro

e dianteiro), com auxílio do pHmetro. Avaliar carcaças na câmara fria, antes e após

maturação. Eram avaliados pH de 15 carcaças por dia, em média.

2.1.5 - Planilha de APPCC: Através da visualização, verificar se as atividades

estão sendo realizadas dentro do padrão pré-estabelecido pelo Controle de

Qualidade da Empresa para cada funcionário, obedecendo as BPF (Boas Práticas de

Fabricação). Avaliar funcionários de todo o processo, sendo das áreas mais sujeitas à

contaminação avaliando a troca de facas, esterilização dos instrumentos, higiene

pessoal e outros. Ainda, avaliar temperatura das carcaças ao entrar nas câmaras

para maturação e também das câmaras. Sempre anotar toda e qualquer não-

conformidade, horário e medida corretiva.

2.1.6 - Planilha de swab: Semanalmente escolhia um funcionário de cada setor

(abate, miúdos e desossa) e coletava material das mãos ou do material de trabalho

do mesmo (faca, chaira). Era avaliada a formação de colônias de enterobactérias na

placa num período de 24 e 48 horas após coleta. Na planilha eram anotados o nome

do funcionário, setor de trabalho, função, de onde foi coletada a amostra e se houve

ou não formação de colônia após 24 e 48 horas.

Em todas as planilhas deveriam ser anotadas as não-conformidades, horários e

medidas corretivas. Essas medidas poderiam ser tomadas por mim mesma, caso

estivesse ao meu alcance, mas sempre comunicadas ao encarregado do setor. Ao

Page 11: Inspeção Sanitária de produtos animais

11

final de cada dia eram entregues a supervisora do controle de qualidade para seu

controle.

Page 12: Inspeção Sanitária de produtos animais

12

3. DISCUSSÃO Os produtos crus de origem animal são comercializados no estado não-

processado (fresco e resfriado) e sua qualidade e segurança microbiológica

dependem de um controle rigoroso desenvolvido durante a produção, preparo e

armazenamento (BORGES e FREITAS, 2002).

A garantia da qualidade da carne bovina depende de uma série de fatores

atuantes nas várias etapas do seu processo de produção, desde a fase de criação

dos animais até a expedição do produto acabado. Deve ser realizado um minucioso

controle das medidas de higiene visando minimizar, ao máximo, ou eliminar os riscos

de contaminação (BORGES e FREITAS, 2002).

Esclarecendo essa idéia, exponho os pontos mais críticos do processo

apontando a maneira como pode ocorrer qualquer contaminação.

Dentro da fase de criação podemos entender a preocupação do produtor com a

qualidade da carne no que diz respeito a perigos químico e biológico. Os perigos

biológicos são causados por microrganismos, que, se não tratados (se houver

tratamento) podem significar toxinfecções e até morte para o ser humano. São

perigos biológicos: bactérias, vírus, parasitos e fungos. Com relação a perigos químicos podemos citar anabolizantes, antibióticos, que

deve ser respeitado o período de carência antes de abater o animal, ou seja, o tempo

necessário para que a medicação tenha sido totalmente metabolizada e excretada,

quimioterápicos, defensivos agrícolas, usados em pastagens, hormônios, pesticidas,

enfim, dentro da fazenda deve-se garantir o uso de práticas agrícolas e assistência

Page 13: Inspeção Sanitária de produtos animais

13

veterinária aos animais bem como qualidade da alimentação, água e eliminação dos

dejetos. O uso das boas práticas agrícolas é considerado o principal meio de evitar

doenças dos animais da fazenda (BORGES e FREITAS, 2002). É necessário registrar

casos de doenças e controlar a entrada de animais na fazenda. Em se tratando dessa

fase, a Empresa não obteve muitos problemas durante o período de estágio. A

procedência dos animais sempre foi boa, de produtores conhecidos, de modo que as

perdas por perigos químicos e biológicos (da natureza citada acima), eram mínimas.

O transporte dos animais até o abatedouro também é um importante fator ligado

à qualidade da carne, visto que ferimentos profundos podem servir de porta de

entrada para patógenos nocivos ao animal e ao homem (BORGES e FREITAS,

2002). Os veículos devem estar devidamente limpos e desinfetados e serem

apropriados para tal manejo, deve-se respeitar a quantidade limite de animais na

carreta e proceder com cuidado o embarque e desembarque dos animais. A própria

empresa fazia a maioria dos transportes, os caminhões eram devidamente

higienizados e os cuidados durante embarque e desembarque respeitados. Eram

emitidos os certificados de higienização dos veículos que era realizada na Indústria

após desembarque dos animais.

Já no abatedouro, deve-se respeitar a lotação dos currais, não excedendo o

número máximo de animais, estando os mesmos limpos e secos, disponibilizar água

de boa qualidade para manter uma dieta hídrica até o momento do abate, o que

mantém o animal hidratado facilitando sua esfola, além de que, um animal

desidratado tem a imunidade reduzida. Dentro da indústria, os currais eram

devidamente higienizados após o término do abate, obedecendo ao declive e

utilizando água em alta pressão.

A disponibilidade de água era respeitada, porém, o uso de choque elétrico era

quase que constante e a programação do abate muitas vezes era falha.

Evitar estresse e respeitar um período de repouso do animal antes do abate.

Sendo esse manejo realizado adequadamente contribui para a redução da carga

microbiana da carcaça. O repouso é considerado importante para garantir retorno às

funções metabólicas normais, pelo controle de situações de estresse, reduzindo

Page 14: Inspeção Sanitária de produtos animais

14

riscos de contaminação da carcaça e protegendo animais e manipuladores em caso

de doenças contagiosas (BORGES e FREITAS, 2002). Deve ser realizada a inspeção

ante mortem dos animais, destinando ao curral de observação aqueles que não se

encontrem em condições de serem abatidos.

Dando seguimento ao abate, no chuveiro de aspersão dá-se início ao processo

de higienização do animal. É submetido a um banho com água à alta pressão (3

ATM) e teor elevado de cloro (15 ppm). O primeiro para possibilitar a retirada das

sujidades e promover vasoconstrição periférica que facilita a sangria e a água

hiperclorada com objetivo de reduzir a carga microbiana do pêlo e pele, porém, o

cloro em grandes quantidades é tóxico, deve-se tomar cuidado com os limites de

utilização. Os chuveiros devem estar dispostos de maneira a atingir todo o animal

(dorsal, ventral e lateralmente) e deve se evitar estresse na seringa.

O teor de cloro não atendia o aconselhável para a lavagem dos animais que é

de 15 ppm, que era aferido de hora em hora na sala de abate e miúdos, sendo a água

utilizada em todo o processo de mesma procedência, a pressão da água era fraca,

haviam chuveiros entupidos e a distribuição dos mesmos não estava sendo eficiente,

visto que, muitas vezes, houve reclamações por parte dos funcionários da esfola

preliminar de que os animais estavam muito sujos ainda. Muitas vezes os animais

dispostos na seringa já estavam em menor número e os funcionários não tocavam

outro lote para o chuveiro, então, quando esses animais vinham, o abate seguia e os

mesmos ainda não estavam devidamente limpos.

A área do vômito, proceder à lavagem da região perianal sem molhar o restante

do animal, evitando que este se mantenha gotejando na canaleta de sangria. Durante

a sangria devem ser realizadas as trocas de facas após a abertura da barbela,

esterilizando-as a cada utilização. É importante uma sangria bem feita para evitar

congestão em vísceras e, além disso, o sangue é um excelente meio de cultura para

microrganismos por oferecer condições favoráveis ao crescimento, multiplicação e

sua distribuição pela carcaça (BORGES e FREITAS, 2002). Importante insensibilizar

um animal por vez para que, na área de vômito, não corra o risco de quando um

animal for içado regurgitar sobre o outro.

Page 15: Inspeção Sanitária de produtos animais

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É de fundamental importância que a abertura da pele (esfola preliminar) seja

realizada com uma faca e a exposição da musculatura com outra para que sujidades

da pele não sejam carreadas para a carne. Daí a importância da esterilização das

facas, através de sua imersão em água à temperatura ideal de 82,5°C. O funcionário

deve ter consciência de que não pode utilizar uma faca só, ou que, se for o caso,

deve esterilizá-la a cada procedimento, ou seja, a cada animal. A esfola preliminar era

responsável pela maior porcentagem de contaminação, visto que a troca de facas não

era adequada, os funcionários seguravam a pele e, com a mesma mão, empurravam

as carcaças, batiam o membro na cavidade a fim de promover a desarticulação e isso

contribuía pra contaminação.

Da pré-evisceração fazem parte a oclusão do reto, serragem do esterno e

oclusão do esôfago. Nessa fase as principais preocupações são com a esterilização

do material, que era adequadamente realizada na Empresa. Na evisceração deve-se

tomar o cuidado para não haver perfuração das vísceras, o que contaminaria as

cavidades e os miúdos. Em geral todos esses procedimentos eram realizados de

forma eficiente no que se diz respeito a troca de facas e esterilização de

instrumentos.

A serragem das carcaças em meias-carcaças também constitui um perigo, visto

que a higienização e esterilização da serra após o procedimento em cada animal é de

fundamental importância, pois seus dentes podem acumular sujidades e promover a

contaminação de um animal para o outro. Essa esterilização era realizada

perfeitamente.

A lavagem das meias carcaças deve ser realizada com água potável, tratada e

clorada à alta pressão para total remoção das eventuais sujidades, esquírolas ósseas

e do sangue, que, como foi dito anteriormente, serve de meio de cultura para

patógenos. Deve ser a única etapa em que a carne entra em contato com água,

então, tomar cuidado com a qualidade e procedência da água em relação a perigos

químicos, como metais pesados (BORGES e FREITAS, 2002). A lavagem dos

miúdos também deve ser realizada com água de boa qualidade, tratada e clorada em

níveis aceitáveis (3-5 ppm). Além disso, devem sofrer queda de temperatura o mais

Page 16: Inspeção Sanitária de produtos animais

16

rápido possível para controlar ou evitar o crescimento bacteriano (BORGES e

FREITAS, 2002). A lavagem era realizada dentro do que a Empresa preconiza.

As câmaras frias aonde serão armazenadas as meias carcaças devem ser

devidamente higienizadas no intervalo de um lote para outro, as carcaças devem ser

mantidas a uma distância umas das outras para que haja melhor distribuição do frio.

Deve-se proceder com cautela à expedição no caso de vendas de peças inteiras, que

são mais sujeitas à contaminação, devem ser devidamente embaladas. A embalagem

das peças era correta e, para a higienização das câmaras, as peças eram

devidamente protegidas para evitar respingos nas mesmas.

Na desossa, que pode ser considerada uma das etapas mais críticas para

contaminação, visto que é o último processo sofrido pela carne onde há maior

manipulação da mesma, a atenção com higiene deve ser redobrada. A higiene

pessoal é de extrema importância juntamente com a esterilização das facas e

afiadores. A sala deve estar limpa e em temperatura de 10°C ou menos para evitar a

elevação da temperatura da carcaça e reduzir possíveis contaminações ambientais. A

embalagem deve ser realizada com total higiene, ela protege a carne da

contaminação adicional e impede a perda de umidade, porém, tomar cuidado com

alta umidade que é favorável ao crescimento de microrganismos (BORGES e

FREITAS, 2002). A temperatura da sala de desossa era respeitada, assim como a

dos esterilizadores. A esterilização das facas era falha e a lotação das mesas e

esteiras era freqüente.

A expedição deve ser feita em caminhões com unidade geradora de frio,

thermoking para viagens acima de 3 horas, sob ótimas condições sanitárias, As

carnes devem estar dispostas em caixas de papelão, devidamente lacradas e bem

secas, caso contrário pode ser sinal de vazamento, essa carne deve chegar ao

cliente no máximo a 7°C (informação verbal)¹. Não transportar qualquer peça ou caixa

diretamente sobre o piso do caminhão, proteger sempre com uma lona.

______________________________

¹ Informações fornecidas por Alexander M. G. Dornelles, na aula de Inspeção Sanitária de Produtos de

Origem animal, UPIS, Brasília, 1° semestre, 2005.

Page 17: Inspeção Sanitária de produtos animais

17

Na expedição e transporte deve ser realizada a inspeção visual dos veículos

que devem estar sob ótimas de condições de higiene e conservação.

Além de todos os riscos que o processo promove, há ainda características da

própria carne que podem contribuir para sua contaminação. As características

intrínsecas das carnes, particularmente sua composição química, elevada atividade

de água (Aa) e o pH próximo à neutralidade, são fatores que favorecem o

desenvolvimento de uma microbiota extremamente variada (CONTRERAS et al.,

2003).

A atividade de água é a água livre no alimento disponível para utilização

microbiana, sendo a Aa da carne fresca maior que 0,98. Com relação ao pH, a carne

é considerada pouco ácida, com valor variando entre 5,5 e 6,4, sendo esse pH

próximo à neutralidade propício à proliferação da maioria das bactérias, inclusive as

patogênicas e bolores e leveduras. Além disso, fatores extrínsecos, ou seja,

relacionados ao meio ambiente, também têm influência no que diz respeito à

proliferação de microrganismos, como é o caso da temperatura e umidade relativa do

ar. A umidade influencia diretamente na atividade água do alimento (informação

verbal)².

A higienização antes, durante e após todo esse processo de industrialização da

carne é diretamente responsável pela vida de prateleira do produto.

As contaminações provocadas durante o processamento promovem alterações

no valor nutricional e também nas características sensorias dos alimentos (cor, odor,

sabor e textura) (BORGES e FREITAS, 2002).

Características organolépticas da carne:

Aspecto: não amolecida, nem pegajosa;

Cor: própria de cada espécie e sem manchas, depende ainda do sexo,

idade, músculo e atividade física, sendo a coloração da carne bovina vermelha

brilhante (PARDI et al., 2001).

_____________________________

² Informações fornecidas por Alexander M. G. Dornelles, na aula de Inspeção Sanitária de Produtos de

Origem animal, UPIS, Brasília, 1° semestre, 2005.

Page 18: Inspeção Sanitária de produtos animais

18

3.1 Boas Práticas de Fabricação (BPF)

As Boas Práticas de Fabricação (BPF), abrangem um conjunto de medidas que

devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos, a fim de garantir a qualidade

sanitária e a conformidade dos produtos alimentícios com os regulamentos técnicos.

Cada segmento da Indústria de alimentos, deve fornecer as condições

necessárias para proteger esses alimentos enquanto estiverem sob seu controle, que

é o papel desempenhado pelas BPF.

As BPF têm como objetivo orientar quanto às condições higiênico-sanitárias nas

indústrias assegurando a qualidade e inocuidade dos alimentos (RAMOS et al.,

2005).

A implantação das BPF pode ser considerada o primeiro passo a ser dado por

uma Indústria de alimentos para assegurar uma produção segura e com qualidade.

As BPF, no início, têm como prioridade os cuidados com higiene do pessoal

envolvido, bem como com o controle das condições físicas e biológicas dos

ambientes de trabalho. Sendo assim, cada setor da indústria tem uma programação

específica na qual se possa higienizar corretamente o ambiente, equipamentos,

mãos, botas e aventais dos funcionários (PARDI et al., 2001).

Para a implantação do Sistema de Boas Práticas de Fabricação, faz-se

necessário um estudo inicial do local de trabalho, incluindo localização, estrutura,

instalações, equipamentos, iluminação e outros requisitos, a fim de avaliar a

adequação da Empresa às exigências do Programa. Seguem as descrições da

Empresa Fricarmo de acordo com o Manual de BPF da própria Empresa:

- Localização:

A Indústria é construída em uma área onde os arredores não oferecem riscos às

condições gerais de higiene e sanidade, em zonas isentas de odores indesejáveis.

- Vias de trânsito:

As vias dentro do perímetro industrial são pavimentadas com blocos de

concreto e, algumas áreas, com britas grossas.

Page 19: Inspeção Sanitária de produtos animais

19

- Áreas de manipulação de alimentos:

Os edifícios destinados às instalações de processamento do alimento possuem

azulejos brancos nas paredes, piso cimentado com cantos arredondados e teto

construído de modo que impeça acúmulo de sujidades, fácil higienização, mínima

formação de condensação e mofo. Janelas fixas, de estrutura metálica e com vidros,

protegidas por telas removíveis.

- A água:

A água da Empresa é obtida de quatro poços artesianos e clorada na saída do

reservatório.

- Vapor e gelo:

Utilizados em contato direto com o alimento, ou com superfícies onde o alimento

mantenha contato, são filtrados.

- Efluentes e poluentes:

Devem sofrer tratamento adequado. O estabelecimento possui um sistema

eficaz de evacuação de efluentes e águas residuais e possui duas lagoas de

decantação.

Esse programa abrange desde a contratação de pessoal (treinamento e higiene)

até a chegada do produto ao varejo. Sendo assim, os funcionários da Empresa de

alimentos devem passar por exames admissionais e, caso admitidos, exames

periódicos. Devem estar livres de doenças infecciosas para não haver transmissão

para a carne e, conseqüentemente, ao consumidor. E devem, ainda, receber

instruções de higiene básica sempre que admitidos.

Funcionários portadores de doenças infecciosas devem ser afastados do

trabalho ou atuarem em áreas aonde não haja manipulação de alimentos. Tem isso

em vista, faz-se necessário um acompanhamento médico periódico para avaliar a

saúde do pessoal (CONTRERAS et al., 2003).

As pessoas que manipulam, armazenam, processam ou preparam os alimentos

são, muitas vezes responsáveis por sua contaminação. Todo manipulador pode

transferir patógenos ao alimento, mas isso pode ser evitado através de higiene

pessoal.

Page 20: Inspeção Sanitária de produtos animais

20

Para se compreender completamente os princípios da higienização, deve-se

entender as bases biológicas e o papel dos microrganismos na deterioração e

doenças transmitidas por alimentos (DTA). Com isso haverá uma aptidão maior por

parte dos funcionários para cumprir as normas de higiene estabelecidas nos

procedimentos (CONTRERAS et al., 2003).

Os patógenos transmitidos pelas mãos são, geralmente, oriundos de

contaminação fecal, ou seja, hábitos anti-higiênicos do manipulador. Portanto, o

treinamento dos funcionários quanto aos hábitos básicos de higiene se fazem mais

eficientes que exames médicos. Esse treinamento deve ser de forma simples para

que os manipuladores assimilem as informações. Segundo Contreras et al. (2003),

engloba etapas aonde o conhecimento sobre microrganismos e suas características

são de grande importância, tais como:

- O que são microrganismos;

- Como se dividem;

- Características gerais de multiplicação, (tempo, temperatura, nutrientes);

- O que eles causam;

- Como combater seu crescimento;

- Fatores que interferem no crescimento.

Os uniformes dos funcionários deverão servir tanto à proteção do indivíduo

como à do alimento com o qual ele opera. Serão de uso exclusivo e, também, lavados

e higienizados no próprio estabelecimento. As toucas devem proteger os cabelos,

devem usar botas brancas impermeáveis, as quais deverão ser mantidas limpas

(PARDI et al., 2001). Ainda, os aventais de borracha ou plástico deverão ser mantidos

em excelente estado de conservação e serão de fácil limpeza e higienização, não

devendo o funcionário usá-lo quando se dirigir ao sanitário (PARDI et al., 2001).

De acordo com o manual de BPF da Empresa (2006), podemos especificar as

preocupações com pessoal, instalações, equipamentos e outros:

- Pessoal:

Page 21: Inspeção Sanitária de produtos animais

21

Todos os funcionários devem vestir o uniforme no vestiário (roupas, botas,

toucas, máscaras e capacete) e, ao entrarem na Indústria devem fazer a completa

higienização das mãos e botas da seguinte forma;

1° Acionar com o pé o pedal de saída de água e molhar as botas, esfregá-las

com auxílio da escova embebida em detergente e, em seguida, enxaguar retirando

toda a sujidade e espuma;

2° Esfregar as mãos com detergente até a altura do antebraço, enxaguando-

as em seguida;

3° Enxugar as mãos com papel-toalha, descartando-as na lixeira;

4° Utilizar o agente sanificante nas mãos deixando-as secar naturalmente.

Não é permitido falar, cantar, tossir, espirrar, cuspir, comer, chupar balas,

chicletes ou similares, assoar o nariz próximo aos alimentos. Não tocar a touca ou

qualquer outra da parte do uniforme, não tocar ou empurrar carcaças ou ganchos

com as mãos sujas, não usar anéis, relógios, brincos, cordões, não manipular

dinheiro e manter as unhas curtas e livres de esmalte.

Todos os operadores devem, a cada operação, proceder a esterilização dos

instrumentos de trabalho, como facas, chairas e ganchos. Não deixar o material nas

pias ou esterilizadores, nem tão pouco nas mesas, piso, pendurados em tubulações,

dentro das botas, etc.

- Instalações:

Sala de abate, desossa e miúdos:

-Pisos, paredes, janelas – retirar todos os fragmentos de carnes;

-Pré-lavagem com água quente sob pressão;

-Lavagem com detergente específico;

-Remover o produto;

-Aplicar o sanitizante.

Currais e anexos:

-Higienizados após saída de cada lote, com mangueira com jatos de água à

alta pressão, sanificação quinzenal com solução a base de iodo.

Page 22: Inspeção Sanitária de produtos animais

22

- Equipamentos:

Serras, mesas, bandejas:

-Lavagem com água quente;

-Detergente apropriado;

-Enxágüe do produto;

-Aplicação do agente sanificante;

-Remoção no dia seguinte.

Trilhos:

-Limpeza com produtos específicos,

-Lubrificação com óleo comestível.

Ganchos e carretilhas:

-Faz-se o desengraxamento por imersão em água entre 85 e 90°C, por 15

à 20 minutos;

-Enxágüe a temperatura ambiente;

-Decapagem em temperatura ambiente;

-Novo enxágüe;

-Passificação em água entre 90 e 95°C;

-Lubrificação, proteção anticorrosiva.

Facas, ganchos, chairas, bainhas:

-Lavagem com água e detergente,

-Enxágüe

-Acondicionamento em local adequado.

Sempre antes dos procedimentos, os utensílios devem ser dispostos em

esterilizadores.

As instalações e equipamentos deverão ser devidamente higienizadas após

toda operação, não apresentando, na inspeção visual e tátil, quaisquer tipos de

materiais orgânicos (sangue, pelo, gordura, sebo), resíduos de produtos químicos e

outras sujidades, além de observar o estado de conservação. Além disso, não devem

apresentar nenhum odor que caracterize má higienização (CHAVES, 2006).

Page 23: Inspeção Sanitária de produtos animais

23

O risco de contaminação dos alimentos pode ser reduzido de forma

considerável quanto mais bem higienizados e limpos forem todos os ambientes de

produção e quanto menores forem os tempos de parada das linhas de produção.

A produção precisa ser organizada de modo que os procedimentos de limpeza e

higienização possam ser realizados com um mínimo de interrupção (CHAVES, 2006).

- Procedimentos de limpeza e sanitização dos reservatórios de água de

abastecimento:

Higienização realizada nos finais de semana a cada três meses.

-Esvaziar o reservatório abrindo as torneiras que dão vazão,

-Lavar com água sob pressão,

-Enxaguar bem com água limpa, mantendo as torneiras abertas,

-Fazer diluição de 500 ppm de cloro,

-Aguardar 30 minutos,

-Enxaguar com água limpa.

- Limpeza e desinfecção dos veículos de transporte:

A limpeza e desinfecção dos veículos de transporte imediatamente após a

descarga dos animais é uma medida importante para evitar a difusão de doenças.

Para uma correta limpeza deve-se dispor de meios adequados. Há um sistema de

limpeza e desinfecção à alta pressão chamado LED (L, solução de limpeza, E,

enxágüe, e D, desinfetante), sendo a água utilizada à 80°C (PRÄNDL et al., 1994).

- Programa de análise microbiológica de superfícies, mãos e equipamentos:

Trata-se da análise de equipamentos, mãos e superfícies após o processo de

limpeza e sanificação (das mãos, deve ser realizado antes ou durante as operações),

visando à detecção de disseminação de enterobactérias. Realizado através de

swabs.

Page 24: Inspeção Sanitária de produtos animais

24

Tabela 1 – Produtos de Higienização Utilizados na Empresa Fricarmo – Cidade Ocidental – GO.

ESPECIFICAÇÃO DOS PRODUTOS PRODUTOS QUÍMICOS B-733 (desengraxante), B-821 (decapante),

B-565 (passivante), BRACOIL

TRATAMENTO DE CARRETILHAS

B-758, B-525, IODOL, BIGUATIN HIGIENIZAÇÃO DE CAMINHÕES

B-725 (mãos, botas, indústria), B-701 (indústria),

B-838 (trilhos), B-515 (pisos e azulejos), BR-IODION

(mãos), ÁCIDO PERACÉTICO, BIGUATIN

HIGIENIZAÇÃO INDUSTRIAL E

FUNCIONÁRIOS

HIPOCLORITO DE SÓDIO TRATAMENTO DE ÁGUA

B-580, B-592, B-588, B-594, B-590, AMACIANTE LAVANDERIA

Fonte: Manual Fricarmo de BPF, 2006. A prevenção é a forma mais segura de se obter um controle no processo da

elaboração dos alimentos. Os procedimentos de higienização visam a aplicação de

medidas de controle sobre um ou mais fatores nas etapas do processo de fabricação

e preparação do produto, com intuito de reduzir à níveis aceitáveis ou até eliminar os

riscos de perigos.

Com uma boa higiene, ocorre um aumento na vida útil da carne fresca e

processada obtendo-se assim um produto final satisfatório com menos rejeições,

reclamações e devoluções (PARDI et al., 2001).

Page 25: Inspeção Sanitária de produtos animais

25

3.2 Procedimento Padrão de Higiene Operacional (PPHO)

O Programa de Procedimentos de Higiene Operacional visa a aplicação de

medidas preventivas de controle sobre um ou mais fatores nas etapas do processo de

fabricação e preparação do produto, para prevenir, reduzir a limites aceitáveis ou

eliminar os perigos que contribuem para a perda da qualidade e que prejudiquem a

saúde do consumidor.

É composto por atividades Pré-operacionais e Operacionais. O PPHO Pré-

operacional é responsável por procedimentos de limpeza antes do início das

atividades, enquanto o PPHO Operacional inclui limpeza durante a produção e nos

intervalos. Em alguns estabelecimentos, nota-se que a indústria e mesmo o próprio

SIF (Serviço de Inspeção Federal), nem sempre têm uma visão muito clara do melhor

momento para iniciar o monitoramento e a verificação oficial da higienização. Sendo

assim, o monitoramento e a verificação oficial devem ser executados logo após a

conclusão dos procedimentos de limpeza e têm como objetivo avaliar se os mesmos

foram corretamente executados (BRASIL, 2005).

Em alguns processos, como é o caso do abate, há particularidades que

dificultam a identificação do momento mais oportuno para a verificação dos

procedimentos de limpeza inseridos durante as atividades operacionais.

Normalmente, a indústria escolhe os intervalos dos turnos para introduzir os

procedimentos rotineiros de limpeza mais profunda e sanitização dos equipamentos

envolvidos no processo (BRASIL, 2005).

Na indústria de alimentos, a higienização é freqüentemente negligenciada ou

efetuada em condições inadequadas. Esta situação pode e deve ser revertida pelos

profissionais que atuam na área (ANDRADE e MACEDO, 1996).

No estabelecimento em questão, os equipamentos eram constantemente

higienizados (serras, facas, chairas, ganchos e outros), somente a higienização mais

profunda era realizada ao término das operações.

Page 26: Inspeção Sanitária de produtos animais

26

3.3 Higiene Geral

A Indústria de carnes ocupa um lugar de relevante destaque na produção de

alimentos prontos para o consumo ou semipreparados. Daí, a responsabilidade deve

ser atribuída a manutenção da higiene nos estabelecimentos transformadores ou

beneficiadores de produtos de origem animal que, no geral, são os que mais

preocupam as autoridades sanitárias, dados a perecibilidade ao alimento e os riscos

que apresentam aos consumidores (PARDI et al., 2001).

É importante que o processo de higienização não interfira nas propriedades

nutricionais e sensoriais dos alimentos, bem como, garanta a preservação de sua

pureza e características microbiológicas. Sendo assim, a utilização de cuidados

rigorosos na higienização, segundo normas adequadas, favorece o controle de

qualidade, viabiliza os custos de produção, satisfaz os consumidores e não oferece

riscos à saúde dos mesmos, além de respeitar as normas e padrões microbiológicos

recomendados pela legislação vigente (GERMANO e GERMANO, 2003).

Para promover a higiene adequada que é necessária aos alimentos, várias são

as preocupações que se deve ter com sua produção. Tudo se inicia muito antes da

construção do estabelecimento. Como já foi citado nas Boas Práticas de Fabricação.

Localização, instalações, qualidade da água e outros, estão diretamente envolvidos

na qualidade do produto final.

3.3.1 A água: A água que abastece a Empresa é proveniente de quatro poços artesianos. As

plantas processadoras de alimento perfuram esses poços para obter água mais

barata, mais confiável ou de qualidade melhor que a oferecida no local. Se esses

poços forem mantidos de maneira adequada podem fornecer água limpa e assegurar

a qualidade dos alimentos, porém são mais suscetíveis a contaminação que a água

de fontes públicas, pois podem estar próximos à esgotos, fossas ou mesmo a água

não ser corretamente filtrada. Devem ser realizadas análises laboratoriais periódicas

Page 27: Inspeção Sanitária de produtos animais

27

dessa água. A água participa inclusive como matéria-prima na elaboração dos

produtos, por exemplo, água para cozimento de alimentos (estômago) salmoura e

gelo.

A água pode carrear agentes que direta ou indiretamente contaminam a carne e

o pessoal envolvido (PARDI et al., 2001).

Toda a água utilizada nos matadouros deve ser pura ou potável, ainda que água

não potável possa ser utilizada para lavagem de currais, rampas, caminhões,

refeitório, etc. Devendo ser distribuídas em canalizações distintas e identificadas

(PARDI et al., 2001).

3.3.1.1 Características de natureza física da água:

As características de natureza física da água dizem respeito à cor, odor, sabor,

turbidez e temperatura.

Segundo Pardi et al. (2001), a cor advém da presença de substâncias orgânicas

como ácido húmico, humatos, taninos e produtos de decomposição de lignina, bem

como íons férricos e humatos férricos.

O sabor e odor da água podem resultar de fator ou combinação de fatores,

como a presença de microrganismos mortos ou vivos, ou de gases dissolvidos, tais

como o sulfeto de hidrogênio, metano, dióxido de carbono ou hidrogênio. Devem-se

também, à matéria orgânica ou substâncias minerais, como o cloreto de sódio,

compostos de ferro e carbonatos, além de fenóis e outras matérias alcatroadas e

oleosas, especialmente após a cloração. Alguns gostos, como os conferidos pelo

oxigênio dissolvido e pelo gás carbônico, são desejáveis (PARDI et al., 2001). As

contaminações crescentes são responsáveis por alterações no sabor da água e seu

odor não é facilmente percebido em água fria.

A turbidez é a medida de resistência da água à passagem de luz. Decorre da

presença de ácidos orgânicos e inorgânicos na água. A lama e areia da superfície,

quando arrastadas pela água, tornam-na indesejável inclusive por carrearem resíduos

orgânicos (PARDI et al., 2001).

Page 28: Inspeção Sanitária de produtos animais

28

A temperatura da água deve ser mantida baixa no processo industrial. A faixa

mais desejável para um suprimento público está entre 4,4 e 10°C. À medida que a

temperatura se eleva, a água torna-se menos agradável ao paladar e menos

adequada a certos usos (PARDI et al., 2001).

3.3.1.2 Características de natureza química da água:

As características de natureza química da água, independentemente do grau de

dureza, promovido, em particular, pelos carbonatos da cálcio e de magnésio, são

representados pela presença de sais dissolvidos, cujos teores máximos devem ficar

dentro de um limite imposto pela legislação (PARDI et al., 2001).

- A água como matéria-prima:

Na indústria de carnes em geral, a água participa como matéria-prima quando

utilizada em salmoura ou cozimento, ou ainda sob forma de gelo. A água deve ser

potável, inócua e de qualidade sanitária adequada.

Recomenda-se que toda a água utilizada como matéria-prima seja esterilizada

através de aparelhos ou placas, por exemplo (PARDI et al., 2001).

- A água para consumo dos animais:

Deve haver preocupação com a qualidade da água ingerida pelos animais, visto

que, se estiver poluída, pode aumentar a flora microbiana gastrointestinal e

contaminar caso haja perfuração de vísceras durante a evisceração.

- A água para banho dos animais:

Deve ser potável e clorada visto que deve diminuir a carga microbiana da pele e

pêlos.

- A água para lavagem das carcaças e vísceras.

A água que se utiliza, nestas condições, para a limpeza e lavagem das carcaças

na sala de matança e também nos miúdos, para redução da temperatura e retirada de

sangue e de detritos resultantes da esfola e serragem, requer esterilização prévia

pelo calor, seguido de resfriamento imediato até atingir temperatura própria de

utilização (PARDI et al., 2001).

Page 29: Inspeção Sanitária de produtos animais

29

- Águas residuais:

As águas residuais devem ser recolhidas e direcionadas à central de tratamento

utilizando tubulação própria, perfeitamente identificada de forma a evitar cruzamentos

de fluxo ou contaminação da água de abastecimento. O sistema de recolhimento de

água residual deve dispor de ralos sifonados que impeçam a presença de resíduos

sólidos e o refluxo de gases. A tubulação interna deve possuir dimensões suficientes

para conduzir a água residual para os locais de destino (BRASIL, 2005).

- Resíduos da indústria de carnes:

Deve haver um sistema de tratamento de resíduos visto que a produção é em

grande quantidade, são substâncias orgânicas, promovem odores desagradáveis e

favorecem aparecimento de pragas.

Esses resíduos são: sangue, gorduras, resíduos de carne, esterco, pêlos,

conteúdo de estômagos e intestinos.

Na empresa o sistema de tratamento empregado é sob forma de lagoas de

decantação.

Deve-se manter os estabelecimentos e os equipamentos em um estado de

conservação adequado para facilitar todos os processos de sanitização e para que os

equipamentos cumpram a função proposta.

3.3.2 Eficiência da limpeza: A limpeza, para ser adequada, depende de uma série de fatores. São eles:

3.3.2.1 Tipos de sujidades: Necessita saber qual a natureza da sujidade para se estabelecer o método, o

equipamento e o tipo de agente de limpeza a serem utilizados. As sujidades mais

freqüentes são lipídeos, proteínas, carboidratos e sais minerais (CONTRERAS et al.,

2003). Ainda sujidades inorgânicas: areia, ferrugem dos metais, pêlos, etc.

Page 30: Inspeção Sanitária de produtos animais

30

3.3.2.2 Superfície a ser limpa:

É fundamental conhecer os materiais que constituem a superfície a ser

higienizada para a escolha correta do produto de limpeza mais adequado, que não irá

reagir com essa superfície (CONTRERAS et al., 2003). Solo, madeira, vidro, metal,

paredes, plásticos e outros.

3.3.2.3 Tempo: Esse aspecto está mais relacionado a fases e métodos de limpeza, varia

conforme o grau de sujidade, procedimento e solução de limpeza, ou seja, há

produtos que necessitam de mais ou menos tempo para agirem como desejado,

outros precisam ser utilizados associados a produtos que exerçam função diferente

para serem eficazes. Os detergentes não atuam imediatamente, requerem um tempo

de ação para penetrarem na sujidade e soltá-la.

3.3.2.4 Temperatura: Deve ser adequada à natureza da sujidade presente e a natureza do agente de

limpeza a ser utilizado. A temperatura adequada para remoção de sujidades gira

entre 40 e 50°C, desde que não tenha sofrido ação térmica, nesse caso, a

temperatura deve ser cerca de 5 a 10°C acima da temperatura já utilizada

(CONTRERAS et al., 2003).

3.3.2.5 Ação química: Realizada pelo detergente que deve ser utilizado na concentração adequada

estabelecida pelo fabricante para sua eficácia (CONTRERAS et al., 2003).

3.3.2.6 Ação mecânica:

Page 31: Inspeção Sanitária de produtos animais

31

O auxílio manual ou automático promovido pelo homem, ou seja, esfregar com

esponjas, jatos fortes de água, vassouras, rodos, escovões e outros, sendo que estes

materiais têm que ser utilizados única e exclusivamente para esses fins

(CONTRERAS et al., 2003). Cuidado com formação de ranhuras que podem

predispor a formação dos biofilmes, que, são invisíveis, mas, consistem em enorme

problema para a contaminação cruzada.

3.3.3 Agentes de limpeza: Deve-se optar por um agente eficiente, capaz de agir na remoção da sujidade

sem causar dano à superfície de contato ou ao manipulador.

O agente de limpeza, também chamado detergente, é o responsável pela

remoção das sujidades. Para que isso ocorra, são envolvidas algumas características

dos detergentes, segundo Andrade e Macedo, (1996):

1) Saponificação – É a reação química entre resíduos de gordura animal ou

vegetal com substâncias alcalinas, ocorrendo a formação de sabão;

2) Emulsificação – Capacidade de dividir o óleo e a gordura em pequenas

gotículas microscópicas, mantendo-as suspensas em água.

3) Molhagem – As soluções de limpeza devem ser capazes de “molhar a

superfície”;

4) Penetração – As soluções de higienização devem ser capazes de atingir locais

de difícil acesso;

5) Suspensão – As soluções de higienização devem ser capazes de manter as

partículas insolúveis suspensas em solução;

6) Enxaguagem – As soluções de devem apresentar como característica a

facilidade de serem completamente removidas das superfícies;

7) Abrandamento – As soluções devem prevenir a formação de incrustações por

minerais. Para isso, atuam complexando ou precipitando os sais presentes na

água, particularmente os responsáveis pela dureza;

Page 32: Inspeção Sanitária de produtos animais

32

8) Solubilização de minerais – Devem remover possíveis incrustações minerais

das superfícies. Isto é obtido pelo uso de soluções ácidas;

9) Solubilidade – Um detergente químico deve dissolver-se rápida e

completamente em água, à temperatura desejada sem grande agitação;

10) Corrosividade – Um detergente químico não pode ser corrosivo aos

equipamentos nas condições de uso;

11) Segurança – É importante que o detergente químico não afete os

manipuladores nas condições recomendadas para uso.

Além disso, devem possuir boa solubilidade, estabilidade, não serem irritantes,

serem atóxicos, inodoros, capazes de associação com desinfetantes, não produzirem

manchas ou tingirem, composição biodegradável, fácil aplicação e baixo custo (GIL,

2000).

3.3.4 Tipos de detergentes: 3.3.4.1 Detergentes alcalinos: Normalmente utilizados para remoção de gorduras e proteínas. Saponificam as

gorduras e solubilizam as proteínas. São combinações de sais alcalinos, tensoativos

e seqüestrantes, podendo conter outros aditivos (CONTRERAS et al., 2003 e GIL,

2000).

Alcalinos fortes – Soda cáustica;

Alcalinos fracos – Fosfato trisódico.

3.3.4.2 Detergentes ácidos: Utilizados para remoção de incrustações minerais, tais como: ferrugem, depósitos

calcários, etc (CONTRERAS et al., 2003).

Ácidos fortes – Sulfúrico, Clorídrico;

Ácidos fracos – Acético, Cítrico (GIL, 2000).

Page 33: Inspeção Sanitária de produtos animais

33

3.3.4.3 Detergentes tensoativos: Também chamados detergentes neutros, permitem a dispersão de dois líquidos

não miscíveis e, como agentes molhantes, proporcionam uma melhor penetração de

líquidos em resíduos sólidos, além de possuírem outras propriedades. São

classificados de acordo com a carga elétrica de seu radical ativo em: aniônico,

catiônico, não iônico e anfóteros (PARDI et al., 2001).

Tabela 2 - Especificação dos produtos químicos utilizados na Empresa -

Fonte: Manual Fricarmo de BPF, 2006.

3.3.4 Fases da higienização: Segundo Contreras et al. (2003):

PRODUTO FORMA DE CONC. UTILIZAÇÃO MODO DE APRESENTAÇÃO UTILIZAÇÃO

BRACOL-725 DETERGENTE 5% LAVAGEM DE Aplicar o detergente, removendo-o, posteriormente

SEMIPASTOSO MÃOS com água.

BRACOL-701 DETERGENTE

CLORADO SEMIPASTOSO 5% LAVAGEM DE Aplicar o detergente com auxílio de escova, remo-

PARA LIMPEZA BOTAS vendo-o, posteriormente com escova.

GERAL

BRACOL-725 DETERGENTE LIMPEZA DE É aplicado manualmente sobre a superfície,

NEUTRO PARA EQUIPAMENTOS, após o pré-enxágüe, com auxílio de esponjas

LIMPEZA GERAL INSTALAÇÕES E para remoção das sujidades. Em seguida proceder

UTENSÍLIOS o enxágüe.

BR-IODIN GEL 100% SANIFICAÇÃO Aplicar puro nas mãos, após a higienização com

DAS MÃOS detergente e secagem com papel toalha.

ÁCIDO LÍQUIDO CLARO E 0,50% SANIFICAÇÃO Após as operações de limpeza e enxágüe de

superfície

PERACÉTICO INCOLOR DOS EQUIPAMENTOS a ser sanificada, o produto é pulverizado sobre a

E AS INSTALAÇÕES superfície.

DESINFETANTE 0,50% SANIFICAÇÃO Após as operações de limpeza e enxágüe de

superfície

BIGUATIN BACTERICIDA A DOS EQUIPAMENTOS a ser sanificada, o produto é pulverizado sobre a

BASE DE

BIGUANIDA E AS INSTALAÇÕES superfície.

CLORO HIPOCLORITO DE

SÓDIO 10% SANIFICAÇÃO Após as operações de limpeza e enxágüe de

superfície

DOS EQUIPAMENTOS a ser sanificada, o produto é pulverizado sobre a

E AS INSTALAÇÕES superfície. Após faz-se o enxágüe.

Page 34: Inspeção Sanitária de produtos animais

34

- Remoção dos resíduos sólidos: esse procedimento facilita a limpeza e reduz o

gasto com água;

- Pré-enxágüe com água: se realizado corretamente obedecendo a temperatura

e pressão adequadas da água, irá trazer uma economia significativa de detergente;

- Aplicação do detergente: Essa aplicação poderá ser executada por processo

manual, por espuma, imersão, pulverizadores ou bombas e outros. A escolha

adequada do detergente e da forma de aplicação são fatores primordiais para uma

boa higienização;

- Enxágüe com água: É necessário um enxágüe com água até que se remova

totalmente os resíduos de detergente;

- Sanitização: Procedimento para aplicação do sanificante que será responsável

pela remoção da contaminação microbiológica remanescente;

- Enxágüe com água: Dependendo do agente sanificante e do produto que será

manipulado na superfície, esse procedimento torna-se desnecessário de ser realizado

logo em seguida à sua aplicação, ou seja, pode ser somente enxaguado no dia

seguinte, antes do início das operações nessa superfície.

3.3.6 Métodos de higienização: 3.3.6.1 Higienização Manual: Usado aonde a higienização mecânica não é aplicável ou quando é necessária

uma abrasão adicional. A escolha adequada de escovas, raspadores e esponjas é

importante, uma vez que poderão provocar ranhuras nas superfícies dos

equipamentos, aonde irão se depositar microrganismos, dificultando sua remoção

(ANDRADE e MACEDO, 1996). Essa ranhuras favorecem a deposição de sujidades e

microrganismos, predispondo a formação de biofilmes.

3.3.6.2 Higienização por imersão:

Page 35: Inspeção Sanitária de produtos animais

35

É utilizada para utensílios e partes desmontáveis de equipamentos e

tubulações. Consiste na imersão do material em solução detergente (ANDRADE e

MACEDO, 1996).

3.3.6.3 Higienização por meio de máquinas lava jato tipo túnel: Aplicado em bandejas, talheres, a temperatura pode ser bem elevada para

remover os resíduos, pois não entra em contato com o indivíduo (ANDRADE e

MACEDO, 1996).

3.3.6.4 Higienização por meio de equipamento spray: Soluções de baixa pressão – usado em superfícies externas de equipamentos,

tanques, pisos e paredes. Soluções de alta pressão – lavagem de caminhões e nas

áreas de processamento (GERMANO e GERMANO, 2003).

3.3.6.5 Higienização por nebulização ou atomização: Os equipamentos produzem uma névoa da solução sanitizante que reduz a

contaminação para padrões aceitáveis (GERMANO e GERMANO, 2003).

3.3.6.6 Higienização por circulação: É um sistema automático e permanente (CIP, cleaning in place, ou, limpeza do

lugar), onde os equipamentos são higienizados sem desmontar e a partir de tanques

com soluções de limpeza (GERMANO e GERMANO, 2003).

3.3.7 Sanificantes: Um bom sanificante deve preencher, segundo Contreras et al. (2003), os

seguintes requisitos:

1- Possuir amplo espectro de atividade;

2- Não ser corrosivo;

3- Não ser tóxico;

Page 36: Inspeção Sanitária de produtos animais

36

4- Possuir ação rápida;

5- Ser biocida e não somente biostático;

6- De fácil enxágüe;

7- Facilmente titulável para possibilitar um maior controle na dosagem.

Além dessas características, também segundo Contreras et al. (2003), é

necessário obedecer alguns parâmetros para obter a ação eficaz do sanificante.

1. Tempo de contato:

É necessário respeitar o período mínimo em que este deve estar em contato

com a superfície, afim de evitar que algum microrganismo sobreviva.

2. Concentração:

Deve-se sempre respeitar a concentração indicada pelo fabricante para evitar

um mau desempenho do sanificante ou até mesmo proporcionar uma resistência do

microrganismo ao biocida.

3. Temperatura:

Saber qual a temperatura é mais adequada para utilização do sanificante;

4. Níveis de pH na solução de uso:

Dependendo do ph da solução pode neutralizar o princípio do sanificante;

5. Natureza da superfície:

Deve ser compatível com a superfície aonde será aplicado;

6. Método de aplicação:

Deve ser aplicado de forma correta, respeitando as características físico-

químicas;

7. Estabilidade:

Respeitar o prazo de validade do produto;

8. Atividade residual:

Selecionar o sanificante utilizando os que têm atividade residual em superfícies

aonde não haja contato com o alimento.

Os programas de limpeza devem garantir a qualidade das mesmas. A equipe da

garantia de qualidade da Empresa deve fazer o monitoramento diário da higienização

Page 37: Inspeção Sanitária de produtos animais

37

de todos os equipamentos e instalações, afim de assegurar a conformidade dos

produtos ali produzidos.

Com base nesse conceitos é possível organizar a higienização visando a

qualidade da mesma, além de evitar desperdício de tempo, detergentes, água e

outros.

Page 38: Inspeção Sanitária de produtos animais

38

4.CONTROLE DE PRAGAS

Em uma indústria de alimentos, é essencial o combate a artrópodes, roedores e

pássaros, já que os produtos são extremamente atrativos para os mesmos, sendo

necessário um combate cuidadoso, avaliando cada um separadamente, pois alguns

desses animais são portadores de bactérias patogênicas, como a Salmonella spp,

além de protozoários como o Toxoplasma gondii (PARDI et al., 2001).

4.1 Roedores:

Os roedores são importante fonte de contaminação de alimentos através de

seus pêlos, patas e fluidos corporais, podendo urinar ou defecar sobre os alimentos

armazenados em depósitos (RAMOS et al., 2005).

É importante conhecer seus hábitos para estabelecer o melhor método de

controle.

O melhor método de combate e / ou controle são as medidas de anti-ratização,

ou seja, evitar que esses apareçam não dando a eles condições de sobrevivência.

Podemos simplificá-las com os quatro “A” (acesso, abrigo, alimento e água)

(informação verbal)³.

______________________________

³ Informações fornecidas por Alexander M. G. Dornelles, na aula de Inspeção Sanitária de Produtos de

Origem animal, UPIS, Brasília, 1° semestre, 2005.

Page 39: Inspeção Sanitária de produtos animais

39

Inicialmente evitar que esses animais tenham acesso à indústria, mantendo

baixa a grama, fechando frestas entre outros, posteriormente, impedir que, caso

tenham acesso, não consigam abrigar-se, não promovendo esconderijos aos

mesmos, sem acúmulo de matérias em cantos e, ainda, não permitir que se

alimentem ou ingiram água, então, não acumular lixo nem tão pouco água nos

arredores da indústria.

Tudo isso aliado a um controle freqüente e condições adequadas de higiene e

limpeza, poderão manter esses animais indesejáveis longe dos estabelecimentos

processadores de alimentos.

Além disso, a inspeção freqüente dos estabelecimentos e arredores à procura

de sinais que evidenciem a presença ativa de roedores, é uma medida que deve ser

tomada como sendo de rotina, pois assim, evita-se que a população de roedores se

torne alta, a ponto de causar sérios danos (CONTRERAS et al., 2003).

Segundo Pardi et al. (2001), o combate pode ser realizado através de

pesticidas, iscas envenenadas, pó de contato, caixas PEP (pontos de

envenenamento permanente), manilhas, polvilhamento, armadilhas, entre outros.

No estabelecimento aonde foi realizado o estágio, eram utilizadas iscas em

caixas PEP em todo o território da Empresa, sempre inspecionadas por um

funcionário direcionado a essa função.

8.2 Baratas:

Os hábitos alimentares das baratas as colocam em contato direto com

alimentos humanos e utensílios de cozinha, deixando para trás um cheiro repugnante,

fezes, além de uma grande variedade de organismos, tais como bactérias,

protozoários, etc., contaminando alimentos, utensílios, equipamentos, etc

(CONTRERAS et al., 2003).

Segundo Pardi et al. (2001), o combate às baratas consiste na educação, na

modificação do ambiente, no emprego de armadilhas, na utilização de inimigos

naturais e na racionalização do uso de inseticidas. Educação através da

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conscientização do pessoal envolvido, modificação do ambiente através da

higienização do mesmo, utensílios, equipamentos e instrumentos, armadilhas

associadas a outras medidas, inimigos naturais (porém, esse método sofre restrições

de natureza legal no que respeita a indústria de produtos de origem animal) e

inseticidas precavendo-se quanto aos riscos que possam trazer.

Ainda, impedir o acesso dessas pragas no estabelecimento, manter o local

limpo e seco.

8.3 Moscas: As moscas são consideradas um dos mais importantes vetores de inúmeras

doenças, estão em constante contato com a matéria fecal, esterco, matéria orgânica,

lixo, etc., e podem transportar vários organismos patogênicos nas patas, no corpo,

trompa e podem também expulsá-los através das fezes ou regurgitação

(CONTRERAS et al., 2003).

O controle realizado é a utilização conjunta e adequada de várias formas de

controle, sejam preventivas, físicas, químicas, biológicas, ambientais e sociais

(CONTRERAS et al., 2003).

Entre as medidas preventivas é fundamental a permanente e rigorosa condição

de higiene das dependências internas, da área externa e da circunvizinhança dos

estabelecimentos industriais (PARDI et al., 2001).

As cortinas-de-ar servem como barreira para o acesso desse tipo de praga,

porém, na Empresa essas cortinas estavam, na maioria das vezes, desligadas.

Muitas vezes, no final do processo, quando o sol já estava mais quente, haviam

inúmeras moscas nas áreas de manipulação. As telas foram trocadas recentemente e

estavam em boas condições. Eram utilizados inseticidas, ferormônios e armadilhas

elétricas (atração por luz ultra-violeta).

8.4 Aves:

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Não fornecer alimento e água a nenhuma espécie para que não se instalem no

estabelecimento, porém, quando isso acontece, fica complicado combater essas

pragas visto que, segundo a Lei N° 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998, capítulo V,

seção 1 artigo 29, cabe detenção de 6 meses a um ano e multa para quem impedir a

procriação da fauna silvestre sem licença, autorização ou em desacordo com a

autorização obtida ou ainda para quem destrói ninhos, abrigos ou criadouros naturais.

A pena aumenta se um desses crimes for realizado à noite, se for espécie em

extinção, em período proibido a caça, unidade de conservação, com abuso de licença

ou com utilização de métodos capazes de promover destruição em massa (BRASIL,

1998).

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5. CONCLUSÃO

Foi extremamente gratificante o aprendizado adquirido na prática no decorrer de

três meses de estágio no Matadouro Frigorífico de bovinos Fricarmo, atuando na área

de Controle de Qualidade, bem como na elaboração desse trabalho, que me

acrescentou muito.

Foi possível constatar a importância do Médico Veterinário na garantia da

qualidade dos produtos de origem animal, porém, ainda que sua atuação seja

eficiente, os problemas em função de má higienização são freqüentes.

Pude presenciar a preocupação que se tem, neste tipo de estabelecimento, no

que se diz respeito a higiene, principalmente higiene pessoal, visto que o homem é o

principal carreador dos microrganismos na manipulação das carnes.

Concluí que a utilização adequada de medidas higiênicas e de conservação de

instalações e equipamentos é de fundamental importância para se garantir a

inocuidade da carne bovina, visando a segurança do consumidor.

Finalmente, me certifiquei de que, dentro da Medicina Veterinária, é esse o tipo

de ambiente onde desejo exercer minha profissão.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, N.J. de; MACEDO, J. A. B. de. Higienização na Indústria de Alimentos. São Paulo: Varela, 1996. p. 15, 19-30, 45-53. BORGES, J. T. S. ; FREITAS, A. S. Aplicação do Sistema Hazard Analysis and Critical Control Points (HACCP) no processamento de carne bovina fresca. 2002. Disponível em: <http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/alimentos/article/view/1131/932>. Acesso em: Outubro, 2006. CHAVES, J. B. P. Contaminação de alimentos : O melhor é preveni-la. 2006. Disponível em: <http://www.dta.ufv.br/artigos/contal.htm> Acesso em Novembro, 2006. BRASIL, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, LEI N° 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO – MAPA. SECRETARIA DE DEFESA AGROPECUÁRIA – SDA. DEPARTAMENTO DE INPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL – DIPOA. COORDENAÇÃO GERAL DE PROGRAMAS ESPECIAIS – CGPE, CIRCULAR 175 / 16 DE Maio de 2005. CONTRERAS, C. J. ; BROMBERG, R. ; CIPOLLI, K. M. V. A. B. & MIYAGUSKU, L. Higiene e Sanitização na indústria de carnes e derivados. São Paulo: Varela, 2003. p. 1, 7-11, 17-19, 31-106. GERMANO, P. M. L. & GERMANO, M. I. S. Higiene e vigilância Sanitária de Alimentos. 2° Edição. São Paulo: Varela, 2003. p. 423, 440-442. GIL, J. I. Manual de Inspeção Sanitária de Carnes. 2° Edição. 2000. São Paulo: Fundação Calouste Gulbenkian, v. 1. p. 59-62, 68-83, 93-106. Manual Fricarmo de Boas Práticas de Fabricação, 2006.

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PARDI, M. C. ; DOS SANTOS, I. F. ; DE SOUZA, E. R. & PARDI, H. S. Ciência, higiene e tecnologia da carne. Editora da UFG, Goiânia, GO. Vol I. 2° Edição, 2001. p. 92, 93, 135-138, 143-145, 149-154, 180-190. PRÄNDL, O. ; FISHER, A. ; SCHMIDHOFER, T. & SINELL, H. J. ; Tecnologia e higiene de la carne. Editora Acribia, 2° Edição, Zaragoza, 1994. p. 24. RAMOS, R. Z. ; CUNHA, M. G. A. & CHMIDT, V. Boas Práticas de Fabricação em Indústria de panificação: Relato de caso. Revista Higiene Alimentar. São Paulo: DPI Studio e Editora Ltda, v. 19, n° 137, Novembro/Dezembro 2005. p. 34, 35.

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ANEXOS

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ANEXO 1 – Planilha do Controle diário de Qualidade do setor de abate.

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ANEXO 2 – Planilha do Controle diário de Qualidade do setor de miúdos.

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ANEXO 3 – Planilha de Controle diária de Qualidade do setor de desossa.

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ANEXO 4 – Planilha de controle semanal de pH.

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ANEXO 5 – Planilha de APPCC – Pontos de Monitoramento do Setor de Abate.

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