insegurança pública em goiás anacronismo e caos

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  • 7/27/2019 Insegurana Pblica em Gois Anacronismo e Caos

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    Insegurana Pblica em Gois: Anacronismo e Caos

    Agosto de 2012

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    Sumrio

    I Introduo................................................................................................................ 4

    II - Procedimento padro para a construo do caos............................................... 4

    III - Histrico das violaes de direitos em Gois................................................................. 8

    1. O Caso Parque Oeste Industrial....................................................................................... 122. O Caso Murilo Soares....................................................................................................... 153. Os desaparecidos e os executados.................................................................................. 174. Curto-circuito na Rotam.................................................................................................... 185. O caso Clio Roberto........................................................................................................ 20

    6. A tortura vem de helicptero............................................................................................. 217. Rotam volta toda, com reforos..................................................................................... 228. Tortura no Batalho da PM............................................................................................... 239. O caso deAlvorada do Norte............................................................................................ 2410. A intimidao ao O Popular.............................................................................................. 26 11. A queda do Delegado-geral da Polcia Civil e do Comandante-geral

    da Polcia Militar................................................................................................................ 2611. A chegada ao topo: o Comando de Misses Especiais................................................... 2612. Os assassinatos de 2012: Fernando de Souza, Davi Sebba Ramalho

    e Valrio Luiz................................................................................................................... 27

    13. As cartas annimas.......................................................................................................... 2914. Conflito de interesses na Secretaria de Segurana Pblica e improviso no MP............. 32

    IV Inic iativas para coib ir os abusos..................................................................................... 34

    1. Oitiva pelo CDDPH.......................................................................................................... 342. Audincia Pblica na CDH da Assemblia Legislativa com a presena de

    representantes do MP-GO, MPF, MJ , SSP-GO, PM-GO, CDDPH.................................. 343. Criao do Comit Goiano pelo Fim da Violncia Policial............................................... 354. Audincia Pblica na CDHM da Cmara dos Deputados................................................ 355. Audincia Pblica na CDH da Assemblia Legislativa do Estado de Gois

    presena do Ouvidor Nacional de Direitos Humanos...................................................... 386. Priso, por ordem da justia matogrossense, do Sargento Geson Marques Ferreira .... 38

    7. Solicitao de apoio da Polcia Fderal na investigao dos grupos de extermnio emao em Gois................................................................................................................. 38

    8. Priso de 19 policiais militares como resultado das investigaes da Operao NoMatars (Sexto Mandamento)......................................................................................... 39

    9. Mudana na Rotam aps intimidao ao J ornal O Popular............................................ 40

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    10. Apresentao do relatrio da Comisso de Defesa da Cidadania................................. 4011. Elaborao e apresentao, pela Polcia Civil, do Plano para a Reduo da Violncia 4212. Investigaes da Operao Monte Carlo...................................................................... 42

    V Concluso .......................................................................................................................... 44

    VI Recomendaes ao CDDPH............................................................................................. 45

    Anexos

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    Introduo

    No novidade a persistncia das violaes de direitos pelas foras policiais no

    Brasil, mesmo aps o fim da ditadura: abuso de autoridade, tortura, execuesextrajudiciais e desaparecimentos forados ocorrem em vrias regies do pas. Gruposde extermnio e milcias tambm atuam em vrios locais. Nesse contexto, haveria algo adistinguir o caso do Estado de Gois do restante do pas?

    O que diferencia Gois a omisso, seno endosso, das autoridadesconstitudas a esta estratgia de violaes como pretensa poltica de seguranapblica, deixando pelo caminho um sem nmero de vtimas. Uma estratgia construdapacientemente ao longo dos ltimos 20 anos, como comprova a seleo de fatosocorridos neste perodo que ser apresentada nas prximas pginas, e cujo resultado

    o caos atual na Segurana Pblica devido perda de comando das autoridadesconstitudas sobre o efetivo policial.

    Uma situao particular, nica e indita na federao, e talvez at em Estadosdemocrticos, a exigir uma atuao firme, imediata e decisiva da Unio para que serestaure a ordem democrtica e se assegurem os direitos fundamentais dos cidadosgoianos, no admitindo mais protelao.

    Procedimento padro para a construo do caos

    Entender o que se passa em Gois, em plena vigncia da ordem democrtica noBrasil, 27 anos aps o fim da ditadura, exige revisitar aquele perodo. Maisprecisamente, lembrar a reao do Presidente Ernesto Geisel, em 1976, em seguida morte do operrio Manoel Fiel Filho, ocorrida em 16 de janeiro, nas mesmas condiesem que meses antes morrera o jornalista Vladimir Herzog: Geisel exoneroupessoalmente o comandante do II Exrcito, general Ednardo D'Avilla Mello, logo emseguida. Segundo Elio Gaspari (destacado)

    Geisel exemplou o General para restabelecer a autor idade da Presidncia.[Em depoimento ao CPDOC da FGV] ele disse: Eu no puni o comandante, euprocurei resolver um problema do Exrcito!O regime acumulara em torno de trezentos mortos e cerca de 6 mil dennciasde tortura, mas na noite de 18 de janeiro de 1976 [quando soube da morte deFiel Filho], o problema do general Ernesto Geisel relacionara-se com adisciplina militar, no com os direitos humanos.1

    1 Gaspari, Elio. A ditadura Encurralada. So Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 159 a 235.

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    Tratava-se ali, de eliminar qualquer tipo de ambiguidade em relao atuao dos intocveis do regime os infratores cuja atuao a ditadura, atento, fazia vista grossa, sob o risco de consolidar-se uma situao incontrolvel.

    Ainda assim, cabe lembrar, a linha dura mostrou suas garras nos atentados sbancas de revistas, ABI, OAB e Cmara dos Vereadores do Rio de J aneiro (em27 de agosto de 1980) e ao Riocentro (em30 de abril de 1981), em repdio aberturado regime, mesmo com a aprovao da autoanistia em 1979.

    A ao imediata e enrgica de Geisel decorreu das lies da histria sobre odesgaste que a convivncia com um cotidiano de ilegalidade causa hierarquia e disciplina, pilares das organizaes militares, como tambm explica Elio Gaspari(destacado)

    salvo na Alemanha Hitlerista e na Unio Sovitica dos expurgos de Stalin, todas asditaduras que sancionaram a tortura negaram sua existncia. Disso resulta umaambiguidade que vai dos palanques das autoridades s cafuas.()A ambiguidade obriga o governo a manter ao mesmo tempo uma si tuaomentirosa e um mundo clandestino. comum que presidentes ou ministrosneguem a existncia de delitos usualmente praticados em suas administraes. Assimsucede com as propinas, o contrabando e o trfico de influncia. Em todos essescasos, porm, o agente da ilegalidade tira proveito pessoal imediato da prpriadelinquncia e aceita correr o risco de transformar-se em bode expiatrio num surtomoralizador da administrao. No caso da tortura, como a remunerao direta noexiste, o governo obrigado a compensar o funcionrio dentro dos critrios demrito da burocracia. Enquanto um policial metido em contrabando jamais promovido em funo do volume de suas muambas, o torturador publicamente

    recompensado por conta de suas investigaes bem sucedidas.2

    Uma das moedas postas em circulao pelo CIE foi a concesso aostorturadores da Medalha do Pacificador, condecorao meritria, cobiada por oficiais,polticos e empresrios, pois registrava o reconhecimento de atos de bravura ou deservios relevantes prestados ao Exrcito.

    Como consequncia da negao da tortura, ainda segundo Gaspari, ostorturadores so catapultados da condio de infratores de intocveis , j quepodem fazer algo que o governo nega e condena e no se pode mais saber ondepassa a linha que separa aquilo que lhe permitido daquilo que lhe proibido.

    Exceto por no estarmos numa ditadura, a descrio se amolda perfeitamente situao vivida em Gois, inclusive no que seria seu aspecto mais dramtico, expostopor Gaspari logo em seguida, que seria a discordncia entre os hierarcas e osvioladores quando ao momento de cessar a violncia, pois enquanto o fim da

    2 Idem, Ibidem. p. 17 a 36.

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    tortura pode ser uma renovada fonte de poder para a hierarquia, para ostorturadores ele signi fica, no mnimo, a perda desse mesmo poder .

    Traduzindo-se tortura por violaes de direitos em geral, as intimidaes e a

    resistncia mudana so expresses da oposio do grupo que as pratica,recompensado ao longo dos anos por faz-lo, perda de poder. Poder que,considerando-se o que j foi divulgado da Operao No Matars, deflagrada em 2011,j estava consolidado dentro da prpria hierarquia da Polcia Militar do Estado deGois, na antessala do comando-geral, com a ocupao do cargo de subcomandante-geral (um dos presos, por participao em uma execuo).

    O episdio emblemtico da indisciplina, que em Gois teve o impacto das mortesde Herzog e Manoel Fiel Filho, ocorreu Em 3 de maro de 2011, menos de um msaps tornada pblica a Operao No Matars: foi a tentativa de intimidao ao jornalO Popular, feita por um comboio de 8 viaturas da Rotam.

    Naquele dia, a primeira pgina do jornal estampava a manchete Mato porsatisfao, trecho da fala de um dos presos, reproduzido na principal reportagem dodia, escrita a partir do contedo de um dos inquritos em que se desdobrava aoperao, ao qual o jornal tivera acesso. A reportagem foi um golpe fulminante naestratgia de relaes pblicas que estava em curso, tentando desqualificar a atuaodo Ministrio Pblico e da Polcia Federal (anexos 1,1-A e 1-B).

    Na edio do jornal da vspera, essa estratgia se materializara no informepublicitrio Carta aberta s autoridades constitudas, famlia policial militar e comunidade goiana, assinada por ex-comandantes- gerais da Polcia Militar. A mesma

    edio trazia matria em que os deputados estaduais que haviam visitado o presdiofederal de Campo Grande no dia 1 elogiavam as condies daquela priso e otratamento dado aos presos l confinados, desmontando outro argumento da estratgiade desqualificao que vinha sendo intensamente repetido (anexo 2).

    No dia 4, a primeira pgina trazia o editorial Repdio ilegalidade, encimando amanchete Governo muda Rotam, ilustrada por foto do comboio passando ao lado doprdio da empresa. Em matrias internas (anexos 3, 3A,3B,3C,3D):

    1. era lembrado que em 25 de setembro de 2007 a unidade j se envolvera emoutro episdio de intimidao, contra o Poder Legislativo, quando o seu

    comandante invadira com um grupo de policiais armados a AssembliaLegislativa, para cobrar esclarecimentos ao presidente da Comisso de DireitosHumanos;

    2. se fazia referncia ao anncio de mudanas semelhantes em fevereiro de 2008,em seguida ao desaparecimento de Clio Roberto Ferreira de Souza, apsabordagem da Rotam;

    3. se anunciava a reviso de promoes concedidas pela PMGO nos ltimos anos.

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    Apesar do episdio ter sido, 30 anos depois, a verso goiana da resistncia mudana que representaram as mortes de Herzog e Fiel Filho e os atentados do fim daditadura, faltou, porm, a mensagem clara de que no se compactuaria mais com ailegalidade e a violao de direitos, o que exigiria alm de medidas duras, uma

    estratgia pensada de relaes pblicas que se contrapusesse que foi executada, emsentido contrrio, atravs de veculos da mdia que tem vnculos notrios com a polticade violao de direitos.

    Faltou essa percepo por parte do secretrio de Segurana Pblica e J ustia, queprimou pela ambiguidade ao tratar das medidas de restabelecimento da disciplinapostas em prtica pelo comando da PM, seja em seu twitter, seja em entrevistas. Portodas, registre-se sua participao, durante trs blocos do programa de televisoChumbo Grosso, da TV Goinia, em 8 de julho de 2011, quando ainda se estava sob oimpacto da deciso do J udicirio de transferir presos da Operao No Matars paraGoinia, contrariando o posicionamento do MP.

    O apresentador do programa vinha h dias veiculando matrias sobre a volta daRotam s ruas e defendendo o retorno dos presos. Tratando do tema, o Secretrio deSegurana Pblica afirmou que, no que dependesse dele, a tropa de elite da PMvoltaria s ruas com o uniforme preto [ a farda cor de luto fora substituda pelo cinzado restante da corporao] e defendeu a nova doutrina da unidade3.

    Os episdios que se seguiram, ao longo de 2011, anularam o impacto da OperaoNo Matars e significaram o fim da ambiguidade. No para a construo dalegalidade, mas para a consolidao do poder dos intocveis. O pice desseprocesso se deu em julho de 2012, quando as execues do radialista Valrio Luiz e doadvogado Davi Sebba Ramalho expuseram o movimento que se consolidara naSegurana Pblica, a partir da Polcia Militar, ao longo de 2011. Para entender todo oprocesso, no entanto, preciso relembrar fatos acontecidos nas duas ltimas dcadas.

    3 A entrevista est dividida em trs blocos. A fala sobre a Rotam est no segundo. 1 bloco

    http://youtu.be/c3b9Qbxt5r0 ; 2 bloco http://youtu.be/mgbSW7SjUA0 , 3bloco:http://youtu.be/gWtSNFlW7vc

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    Histrico das violaes de direitos em Gois

    O conhecimento de que existem grupos nas polcias goianas que atuam violandodireitos antigo. Em 17 de fevereiro de 2000 a Folha de S. Paulo publicoureportagem4(anexo 4) relatando j haver suspeita de centenas de mortes nessascondies

    Somente este ano, 19 PMs foram presos em Gois por dois assassinatos. Numdesses crimes, ocorrido em agosto do ano passado, morreu o carroceiro J os RobertoCorreia Leite [o Bertinho]. No outro, h duas semanas, a vtima foi o candidato prefeitura de guas Lindas de Gois, J oo Elsio Pessoa (PFL). "Apesar de seremapenas dois casos comprovados, temos uma centena de mortes cujos autores aindano foram identificados e com caractersticas muito parecidas, o que nos leva a crerna existncia de um grupo de extermnio", disse a procuradora-geral de J ustia deGois, Ivana Farina. Para ela, o fato de os corpos aparecerem sempre mutilados, comtiros no rosto, de alto calibre, para dificultar a identificao, evidencia a participao depoliciais. "Ns encontramos, durante vistorias em quartis da PM, materiais comocapuzes, ataduras de gaze", disse. "Muitos corpos identificados so de pessoas compassagem pela polcia e envolvimento com o trfico, outra evidncia da participaoda polcia", disse.

    O Governo do Estado de Gois prometia que seriam tomadas medidas drsticasem relao aos policiais da regio:

    No caso da morte do candidato prefeitura de guas Lindas de Gois, o secretrio da

    Segurana Pblica de Gois, Demstenes Xavier Torres, decidiu, alm de prender 13PMs, substituir toda a corporao -78 policiais militares e dez policiais civis.

    Cinco dias depois, na edio do dia 22(anexo 5), a Folha publicou reportagemespecial5 em que, alm de tratar dos casos, mostrava a repercusso internacional, dadaa gravidade da situao:

    Militantes da Anistia Internacional -organizao no-governamental de defesa dosdireitos humanos- em todo o mundo esto enviando cartas para autoridades dogoverno brasileiro em protesto contra os grupos de extermnio que esto agindo naregio do entorno do Distrito Federal. Nos ltimos trs anos, segundo o MinistrioPblico, pelo menos cem pessoas teriam sido assassinadas por esses grupos, o que

    retoma uma situao semelhante da Baixada Fluminense dos anos 70, quando oEsquadro da Morte atuava com a tolerncia das autoridades. Policiais civis emilitares estariam, de acordo com investigaes do Ministrio Pblico de Gois,comandando a matana.

    4 Grupo vai combater mfia policial de Gois Folha de S. Paulo, Vale, Quinta-feira, 17.02.2000, p. 6

    5 Presso Internacional pede ao no DF, Folha de S. Paulo, Vale, tera-feira, 22.02.2000, p. 3

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    Segundo o jornal, o ministro da Justia, Jos Carlos Dias, ainda no via necessidade de interveno federal na apurao das denncias de vio lnciapolicial no entorno . Para ele, a investigao deveria permanecer a cargo da

    polcia de Gois .Essa interferncia s viria acontecer dez anos depois, com a Operao NoMatars. A ao violenta da Polcia Militar de Gois, no entanto, comeou antesdisso, ainda na dcada de 90, como uma estratgia de Segurana Pblica que foisendo continuamente reforada. Artigo publicado no blog oficial do comandante-geralda corporao, em 2010, elucida o processo6, que se originou na baixa oficialidade(anexo 6):

    Desde meados da dcada de 1990, oficiais subalternos da PMGO comearam aperceber que a instituio deveria avanar desenvolvendo padres doutrinrios paramelhor aplicabilidade na operacionalidade. Nesse contexto, a Rotam e o BPM Choquetiveram uma fundamental importncia e se desdobraram em um contnuo e

    desbravador processo de especializao modernizadora de seus integrantes.

    Como se percebe, a estratgia foi desenvolvida em nome da operacionalidade,palavra chave, com sentido duplo, recorrente em referncia a policiais envolvidos emaes violentas. Sua principal ferramenta a Rotam, que com sua abordagemagressiva e as roupas e viaturas pretas, virou uma marca registrada da ao violenta dapolcia, trabalhada junto sociedade como nica soluo possvel para os problemasde segurana. Literalmente, virou uma grife (h uma lojinha, instalada no muro doquartel, voltada para o exterior, onde so comercializadas camisetas). O texto localiza aorigem do modelo adotado:

    A doutrina da Rotam estabeleceu-se com base na Rota da PM paulista, contudo, deforma aprimorada, discutida e adequada s necessidades do Centro-Oeste.

    Pouco antes, o jornalista Caco Barcelos explicava o vnculo dessa doutrina comas violaes de direitos ocorridas na ditadura, em livro que dissecou a atuao da Rotapaulista e lhe assegurou o Prmio J abuti de melhor livro de no-fico de 1993:

    Os nomes dos matadores, assim como a unidade a que pertencem, se repetemcom grande freqncia no Banco de Dados. No h dvida. Eles fazem parte deuma minoria concentrada no 1 Batalho da Polcia Militar de So Paulo, masespecificamente de uma unidade considerada a elite da corporao as RondasOstensivas Tobias de Aguiar, Rota. Alguns so homens experientes que esto na

    PM desde a criao da Rota, outubro de 70, para reprimir as aes guerrilheiras deassalto a bancos. ()Muitos PMs so contemporneos, portanto, aos agentes da represso poltica, quecostumavam forjar histrias, atravs de notas oficiais distribudas imprensa, paraesconder a verdadeira circunstncia em que matavam seus inimigos.()

    6 Castilho, Newton Nery de. O Desenvolvimento da Segurana Pblica em Gois nos ltimos 15 anos. Disponvelem http://coronelantonio.com.br/2010/05/20/o-desenvolvimento-da-seguranca-publica-em-goias-nos-ultimos-15-anos.htm. Acesso em 01.10.10 0:00h.

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    Uma observao mais detalhada do banco de dados mostra que os matadoresda PM herdaram os mtodos do passado. Vencida a guerra contra a guerrilha,passaram a usar os mesmos mtodos contra os suspeitos da prtica de crimes.()

    Minha investigao mostra que os PMs so alunos que aprenderam o pior dos seusprofessores do passado.Alm de terem copiado o mtodo brutal da represso ofuzilamento -, ainda conseguem a proeza de desrespeitar a lei do direito vidade forma mais insana. Enquanto os policiais da represso poltica se baseavam emuma investigao para selecionar o inimigo a ser morto, os matadores da PM agemespontaneamente, sem nenhum critrio prvio. Escolhem suas vtimas a partirde uma simples desconfiana.7

    Foi a doutrina desse grupo de atuao notoriamente violenta, ilegal e arcaicaque fundamentou a estratgia implantada em Gois. Mas para que a doutrina virasseprtica, na mesma poca j fora estabelecida a recompensa, que foi enfatizada apartir de 2000, para os operacionais. Sem meias palavras (destacado):

    Outro estimulante para o operador militar de Segurana Pblica foi em 1993, nocomando do coronel J oneval Gomes de Carvalho (ex-secretrio de Segurana), ainstituio da medalha Anhanguera nos graus bronze/prata/ouro, quesimplesmente passou a materializar a operacionalidade do policial,oportunizando condies de ascenso na carreira, uma vez condecorado nacategoria ouro. Ascenso essa exatamente pelo fruto de um servio prestado comexcelncia e profissionalismo, acima da mdia do dever. Essa modalidade derecompensa pelo esmero da operacionalidade foi bastante enfatizada a partir de2000, em que o coronel Divino Efignio de Almeida, ex-comandante-geral epatrono da Rotam, alavancou o emprego operacional dentro de parmetros deresultados prticos e no s estatsticos ou miditicos.Desde essa data, o policial aplicado na atividade-fim passou a ser visto com mais

    importncia, sendo mais valorizado, respeitado e condecorado, fazendo valer o ri scoou a intranqilidade jurdica individual de quem est na ponta, na execuo.

    O texto omite, no entanto, um ato que foi fundamental para permitir quepudesse existir a valorizao de quem age buscando resultados prticos. Foi apromulgao da Lei n 13.058, de 6 de maio de 1997. Essa lei alterou o artigo 29 daLei n 8.000, de 25 de novembro de 1975, que dispe sobre os critrios e ascondies de promoo dos oficiais da ativa da Polcia Militar do Estado de Gois.

    A partir da, passou a ser permitido que, a critrio da Comisso de

    Promoo de Oficiais, policiais com processos ou condenaes criminaissejam promovidos, j que a anlise feita de forma individual baseada em trscritrios: a ficha individual, a avaliao do chefe imediato e o parecer emitido pelaComisso, sendo que esses critrios podem ser subjetivos (anexo 7).

    7 Barcellos, Caco. Rota 66: A histria da polcia que mata. 5 ed. Rio de J aneiro: Record, 2005. p. 87 a 98.

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    Foi o que permitiu a nfase adotada a partir de 2000. Em plena democracia, 15anos aps o fim da ditadura, estava aberto o caminho para a institucionalizao dosabusos e da violncia como trampolim para ascenso funcional na PM goiana, assimcomo fora a atuao como doutores na mquina de violaes ligada ao Centro de

    Informaes do Exrcito (CIE), 30 anos antes, para os capites do Exrcito.Como brao executivo principal, a Rotam, doutrinada segundo o modelo da

    Rota, tambm era um aparato da ditadura sobrevivente na democracia. Uma geraointeira de oficiais da Polcia Militar viu as promoes serem feitas nessas condiesnos ltimos 15 anos.

    O artigo menciona ainda um episdio em que instrutores da Academia de polciateriam-na deixado, por discordarem das orientaes dadas. O episdio ocorreu emnovembro de 2005. No dia 4, foram anunciadas mudanas na Academia de PolciaMilitar, abrangendo o comando e novas orientaes pedaggicas. No dia 11, um grupo

    de oficiais, instrutores na academia assinou um documento contrrio s mudanas. Em17 de novembro foi publicada nota no jornal Dirio da Manh sobre o contedo dodocumento. No dia 18, foi instaurada sindicncia No dia 25, o presidente da Associaodos Oficiais da Polcia e Corpo de Bombeiros Militar de Gois (ASSOF) protocolourepresentao no MP, o que caracterizou ter caluniado e difamado superior, o cel.Domingos Arago Lira, Superintendente da Academia Estadual de Segurana Pblica.O MP instaurou investigao.

    Em janeiro/fevereiro de 2006 foi concluda a sindicncia. Em seu relatrio (anexo8), datado de 02 de janeiro, o sindicante, coronel Slvio Brasil Rezende, posicionando-se favoravelmente aos insubordinados, afirmou, contraditoriamente (destacado) :

    A formao humanstica, constante das propostas de ensino atuais, pode deixar de serbenfica e passar a ser perigosa, quando os elementos de execuo comeam aponderar muitos aspectos relativos a ela em suas aes de frente. As omisses tornamse (sic) freqentes, o bom senso passa a ser procedimento padro em detrimento datcnica policial. A insubo rd inao e indisc ip lina imposs ib il itam o cont ro le dehomens armados que se imbuem de ideologias just iceiras.No fcil paraos que tem viso holstica das coisas ter coragem com salrio idnticoaos de quem no precisam (sic) dela.Quem conhece a fundo as questes scio-polticas (sic) de nossa sociedade nocontrola distrbios civis, mas facilmente se adere (sic) s causas grevistas.

    Em 10 de fevereiro, o comandante-geral acatou o parecer, arquivou a sindicncia

    e oficiou a Academia de Polcia Militar. No treinamento, os intocveis tambm tinhamdado a palavra final.

    Em 2010, o MP instaurou novo inqurito, a propsito de seguidas denncias deexcessos no treinamento da academia. Ao justificar seu arquivamento (anexo 9), opromotor, sem citar qualquer embasamento cientfico ou referncia a estudo sobretreinamento policial contemporneo, coloca termos no muito diversos dos expostospelo coronel quatro anos antes (destacado):

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    (...)De logo, cumpre esclarecer que este Promotor no entende ser excessivo otreinamento fisicamente pesado, noturno, em situaes climticas adversas, ou emjornadas estendidas, porque isso constitui situao comum na atividadedesempenhada pelo policial militar que trabalha em turnos e plantes. Observado que

    na falta de treinamento especfico, adequado e suficiente, o prejuzo ser suportadopor ele prprio e, muitas vezes, pela sociedade.

    De experincia prpria, decorrente de pequeno treinamento em artes marciais (jiujitsu),pode este Promotor esclarecer que, em situaes de sufoco, com o sanguepobremente oxigenado ou adrenalina excessiva, de incio, no se consegue raciocinare fica passivo (inerte),ou reage desproporcionalmente. Somente aps algum tempo,com o hbito e a capacidade aerbica mais desenvolvida, consegue-se pensar e reagiradequadamente. Desenvolvem-se o instinto, o reflexo e a memria muscular. Por outrolado, o aparecimento de equimoses e hematomas podem decorrer da prpriaatividade fsica forada ou de pequenos acidentes.(...)At mesmo o tratamento rspido e as vezes humi lhante que o aluno suporta tmum objetivo didtico, segundo me informaram alguns policiais veteranos, umavez que assemelha-se situaes que sero vivenciadas pelo policial nas ruas,enfrentando violncias verbais e fsicas, provindas de pessoas exaltadas,desequilibradas ou, mesmo, doentes. Tal conduta almeja o fortalecimentoemocional de forma a evitar uma reao desproporcional na ocorrncia de taisfatos (calo emocional).

    As denncias reclamam at mesmo da obrigao de carregarem armas (fuzis), emvirtude de seu peso. Todavia, o porte de armamento adequado determinadassituaes condio indispensvel para o cumprimento de algumas misses, quepodem reclamar extensas jornadas em distncias e/ou tempo.

    Como acima informado, detectada pelo Dr. Marcelo Faria da Costa Lima anecessidade de alguns ajustes no treinamento, encarregou-se ele de expedir

    recomendao para tanto. Observado que tais recomendaes foramprontamente atendidas, segundo o o fcio de fls. 415/416.

    Posto isto, no v este rgo a necessidade de propositura de Ao Civil Pblica,alm do qu, a Auditoria Militar no a processa, sendo que esta Promotoria no tematribuio para atuar perante as Varas Cveis da J ustia Comum. Assim, nada maisresta, por ora, salvo melhor juzo do Conselho Superior do Ministrio Pblico, seno oarquivamento dos presentes autos.

    Os resultados do engajamento doutrinrio, aplicado deste o primeiro momentona polcia, no tardariam em ser sentidos pela sociedade.

    O Caso Parque Oeste Industrial

    No dia 16 de fevereiro de 2005, Goinia foi palco de uma das maioresoperaes de desocupao de rea urbana j realizadas no Pas. Foram mobilizadospela Secretaria de Segurana Pblica, 1.863 homens, numa operao denominadaOperao Triunfo, para a desocupao da rea, conhecida como Parque Oeste

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    Industrial, tendo como resultado dois mortos, 14 feridos (um paraltico), 800 presos, einmeros desabrigados, sendo 934 famlias alojadas em dois ginsios de esportes.

    O Secretrio Especial dos Direitos da Pessoa Humana nomeou uma comisso

    especial, integrada por dois membros do Conselho de Defesa dos Direitos da PessoaHumana e pelo Procurador Regional dos Direitos do Cidado, do MPF, parainvestigar o caso. Os membros da referida Comisso promoveram reunies com asvtimas e seus parentes, bem como com as testemunhas dos assassinatos, alm dese encontrar com as autoridades da segurana pblica do Estado de Gois,produzindo um Relatrio Preliminar datado de 09 de maro de 2005.

    Ele foi posteriormente apresentado em Reunio Ordinria do Conselho deDefesa dos Direitos da Pessoa Humana, cuja deliberao unnime foi no sentido dese criar uma Subcomisso para buscar elementos para subsidiar a anlise doProcurador-Geral da Repblica quanto a um possvel processo de

    FEDERALIZAO, visto que a violao a direitos humanos restou patente.A subcomisso foi integrada pelos promotores de J ustia Adriano Godoy

    Firmino, Carlos Alberto Fonseca e Fernando Braga Viggiano e pelos procuradores daRepblica Daniel Resende Salgado e Cludio Drewes J os de Siqueira, este seucoordenador e membro da Comisso Especial. Em seu relatrio (anexo 10), de 10 deabril de 2006, acatado pelos demais membros, Siqueira concluiu

    Por todo o exposto, sugiro o no deslocamento da competncia para JustiaFederal do CASO PARQUE OESTE INDUSTRIAL , no que se refere apurao e aojulgamento dos crimes ocorridos na desocupao, por no restarem preenchidostodos os requisitos constitucionalmente exigidos, recomendando, no entanto, pela

    continuidade da observao pelo Conselho de Defesa dos Direitos da PessoaHumana dos tr abalhos da Justia Estadual.

    A fundamentao para seu parecer contrrio era no ter sido preenchido oterceiro requisito para a admissibilidade da federalizao, a despeito de todas asevidncias em contrrio expostas por ele mesmo (destacado):

    Entretanto, o caso em evidncia no se enquadra no terceiro requisitoindispensvel federalizao, que se refere ao comprometimento afetao das instituies estaduais na apurao e punio dos casos de violao dedireitos humanos.

    Em que pese a demora excessiva na concluso das apuraes dos fatos por parte daPolcia Civil, tal atraso no demonstrou a falta de vontade em realizar as investigaesnecessrias para punio dos responsveis, nem sequer apresentou influncia polticapara manipular e maquiar resultados, mas sim ser decorrente do volume excessivo detrabalhos a serem investigados e da falta de estrutura humana e material que acometida a todos os rgos pblicos, que fatalmente podero afetar a qualidade dosresultados alcanados.

    No tocante ao no acatamento de requisies ministeriais por parte das autoridades desegurana pblica no Estado, tal atitude revelou fraqueza institucional ao ceder spresses do corporativismo arraigado no setor, sob o pano de fundo de que se

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    buscava a proteo da imagem dos integrantes, segundo preceitos constitucionais. Naverdade, com essa posio, a Secretaria de Segurana Pblica do Estado de Goismostrou ser muito mais importante a defesa de suas prerrogativas e imageminstitucionais a cumprir seus deveres constitucionais de defesa dos direitos do cidado,especialmente quando est em jogo a apurao de uma violao sria de direitos

    humanos.A justificativa de preservao da imagem dos integrantes daquela corporao militarno pode nem deve servir para futuras recusas ao atendimento de requisiesministeriais e de comisses de investigao para apurar violao a direitosconstitucionais. O pendor da balana na colidncia de princpios deve ser semprevertido ao que mais valioso, conforme os princpios da proporcionalidade e darazoabilidade.

    A outra justificativa usada como denegao aos atendimentos das requisies, qualseja, a existncia de vrios inquritos apuratrios em curso, tambm merecedesaprovao, j que a transparncia dos atos pblicos medida necessria paraaperfeioamento do Estado de Direito, ainda mais que o inqurito instaurado pelosignatrio e demais integrantes das Comisses gozava e continua gozando de plenaiseno para chegar s suas concluses.

    Apesar disso, no diviso a presena de alguma mcula inst ituc ional naSecretaria de Segurana Pblica a justificar a federalizao do presente caso, muitomenos a criar algum desprestgio slida Instituio da Polcia Militar do Estadode Gois, uma vez estar frente de caso isolado de excesso de poder por partede poucos integrantes da corporao militar, fato este conto rnvel com a seleorigorosa dos pretensos candidatos carreira militar e com a punio exemplar eadequada dos recalcitrantes integrantes descumpr idores da lei e da Constitu ioFederal.

    De mais disso, no houve comprometimento do Ministrio Pblico e do PoderJudicirio goiano.

    Cumpre ressaltar que o Ministrio Pblico Estadual, por alguns de seus membros e porsua representante maior poca, logo quando do cumprimento da deciso judicialdeterminando a desocupao da rea, agiram de imediato, indo ao local para verificaro resultado da operao, como tambm ao Instituto Mdico Legal para acompanhar osexames de corpo delito l realizados, sem esquecer dos hospitais aonde foramconduzidos os feridos,diligenciando sempre para preservao das provas.

    Ainda, concomitante a essas medidas, promoveu tratativas junto ao Secretrio deSegurana Pblica, ao Poder J udicirio e a representantes do Governo do Estado paraque fosse destinada soluo administrativa mais adequada ao caso, como tambm amanuteno das construes erigidas no local da desocupao at o desfecho judiciale administrativo da contenda.

    Sobre o treinamento e as punies administrativas, j se falou acima. Quando ao penal, passados quatro anos do parecer, dos seis denunciados, apenas um foipronunciado, em maro de 2010:

    PELO EXPOSTO, COM FULCRO NO ARTIGO 413 DO CODIGO DE PROCESSOPENAL,COM ALTERAAO DA LEI 11689/08, PRONUNCIO O ACUSADO

    ALESSANDRI DA ROCHA ALMEIDA, TENDO-O COMO INCURSO NAS SANOESDO ARTIGO 121,2, INCISO IV, DO CODIGO PENAL BRASILEIRO, O QUAL DEVERA SUBMETER-

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    SE A JULGAMENTO PELO JURI POPULAR.PARECE-ME ANTAGONICA APRONUN CIA SOMENTE DE UM ACUSADO, EM FATO DE ENORMEPROPORO E GRAVIDADE SOCIAL, TENDO EM VISTA QUE VARIAS PESSOASPARTICIPARAM DA OPERAAO DESOCUPAAO DA AREA DO PARQUE OESTEINDUSTRIAL, TODAVIA O PROPRIO MINISTERIO PUBLICO, TITULAR DA AAO

    PENAL, APRESENTOU DENUNCIA SOMENTE CONTRA SEIS POLICIAISMILITARES, QUANDO NA PRATICA CENTENAS DE OUTROS ATUARAM NO DIADO OCORRIDO,MUITOS CUMPRINDO ORDENS SUPERIORES, COMO O PODERJUDICIARIO ESTA JUNGIDO AO MANIFESTO MINISTERIAL NA PROPOSITURA DA

    ACAO PENAL, CONFORME DETERMINAAO LEGAL,NADA PODE SER FEITO OUACRESCIDO NAQUILO QUE A ELE VEM PARA DAR A DEVIDA PRESTAAOJURISDICIONAL. PODE SER DADO A ENTENDER EQUIVOCADAMENTE PELOSINCAUTOS QUE SOMENTE UM POLICIAL MILITAR "BODE EXPIATRIO" DETODO O DESENROLAR DOS FATOS. VALE DESTACAR QUE O ASSISTENTE DA

    ACUSAAO FICOU COM OS AUTOS EM SEU PODER POR QUASE TRES MESES,PARA APRESENTAR AS ALEGAES FINAIS, DEVOLVENDO-OS EM CARTORIOSEM NENHUMA MANIFESTAAO. A ACUSAAO NAO PODE ALEGAR QUALQUERPREJUIZO, HAJA VISTA SUA PROPRIA OMISSAO. POR NAO VISLUMBRAR NESTEMOMENTO ALGUMA SITUAAO AUTORIZADORA DA PRISAO PREVENTIVA,DEIXO DE DECRETAR-LHE A PRISAO, COM FULCRO NO ARTIGO 413 3 DOCODIGO DE PROCESSO PENAL, COM ALTERAAO DA LEI 11689/08. PUBLIQUE-SE. REGISTRE-SE. INTIMEM-SE. GOIANIA, 29 DE MARO DE 2010JESSEIR COELHO DE ALCANTARA. JUIZ DE DIREITO.8

    Onze meses depois, ele seria um dos presos no curso da Operao SextoMandamento. Em agosto de 2012, passados 7 anos dos fatos, ainda aguardajulgamento, em liberdade.

    O Caso Murilo Soares

    Pouco depois do episdio do Parque Oeste Industrial, outro crime causoucomoo pblica. Desta vez, era uma criana, contra a qual no poderia ser levantadaqualquer adjetivao negativa. Em 22 de abril o estudante Murilo Soares Rodrigues, de12 anos, e o servente Paulo Srgio Pereira Rodrigues, de 21 anos, desapareceramaps uma abordagem policial. Seis policiais militares foram indiciados pela autoria9

    (anexo 11). Em outubro do mesmo ano, foram absolvidos:

    ...COM TODAS ESSAS CONSIDERACOES E PORQUE NAO CABALMENTE

    PROVADAS A MATERIALIDADE E A AUTORIA, AMPARADO TAMBEM NAS RAZOESAPRESENTADAS PELOS ADVOGADOS DE DEFESA, DEIXO DE ACATAR AMOTIVADA PROMOCAO MINISTERIAL DE FLS. 2559/2578, PARA, NOS TERMOS DO

    ARTIGO 386 IV E VI DO CPP, ABSOLVER DAS PRESENTES IMPUTACOES OS JAQUALIFICADOS ALAN PEREIRA CARDOSO, NEILL GOMES DA ROCHA, ANDERSON

    8 Processo n. 200502776875

    9 Melo, Rosana. Inqurito indicia 6 PMs por sumio. O Popular, 29 maio 2005, Cidades, p. 8.

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    AMADOR DE JESUS, WELLINGTON DA COSTA CUNHA, CLEITO RODRIGUES DASILVA, FERNANDO GABRIEL PINTO, THIAGO PRUDENTE ESCRIVANI E MARCELO

    ALESSANDRO CAPINAN MACEDO, OS QUASIS TRANSITADA ESTA, DEVERAOMERECER AS CONSTUMEIRAS BAIXAS E COMUNICACOES DE ESTILO,EXPEDINDO-SE IMEDIATAMENTE, OS ALVARAS DE SOLTURA. P.R.I. EM 24 DE

    OUTUBRO DE 2005. DR SILVIO JOSE RABUSKE. JUIZ DE DIREITO .

    A sentena foi anulada pelo Tribunal de J ustia e foi exarada uma outra, em2008, os pronunciando:

    VISTOSETC...ASSIM SENDO, PRESENTES OS PRESSUPOSTOS NECESSARIOS, NOS

    TERMOS DO ARTIGO 413 DO CODIGO DE PROCESSO PENAL, PRONUNCIO OS J QUALIFICADOS ALLAN PEREIRA CARDOSO, NEILL GOMES DA ROCHA,ANDERSON AMADOR DE J ESUS, WELLINGTON DA COSTA CUNHA, CLEITONRODRIGUESDASILVA,F ERNANDO GABRIEL PINTO, THIAGO PRUDENTEESCRIVANI E MARCELOALESSANDRO CAPINAM MACEDO, COMO INCURSOS NASSANCOES DOS ARTIGOS 121, 2, INCISOS I (MOTIVO TORPE) E IV (RECURSO

    QUE TORNOU IMPOSSIVEL A DEFESA DO OFENDIDO), 121, 2, INCISOSIV(RECURSO QUE TORNOU IMPOSSIVEL A DEFESA DO OFENDIDO) E V (PARAASSEGURAR A IMPUNIDADE DE OUTRO CRIME) E 4 (PARTE FINAL-VITIMAMENOR DE 14ANOS), E ARTIGO 211 (OCULTACAO DE CADAVER, DUAS VEZES),EMCONCURSO MATERIAL, NOS TERMOS DO ARTIGO 69, TODOS DO CODIGO PENAL,PARA SUBMETE-LOS A J ULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO J URI.COMOENCONTRAM-SE SOL TOS, PODERAO RECORRER E AGUARDAR O J ULGAMENTOEM LIBERDADE, DESDE QUE NAO SOBREVENHAM MOTIVOS ENSEJ ADORES DAPRISAO PREVENTIVA. PUBIQUE-SE. REGISTRE-SE. INTIMEM-SE.EM,17/11/2008.SILVIO JOSE RABUSKE - J UIZ DE DIREITO.

    Em 26 de maio de 2011, novo revs: a 1 Cmara Criminal do Tribunal deJ ustia do Estado de Gois, por maioria, despronunciou os rus (anexo 11-A):

    EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICDIO. INSUFICINCIA DEINDCIOS. OPINIO DO SENTENCIANTE. DESPRONNCIA. 1) No havendoindcios suficientes de autoria, a despronncia dos rus medida que se impe,consoante artigo 414 do Cdigo de Processo Penal. 2) Na ausncia dos necessriosindcios, no pode a opinio do juiz prevalecer como embasamento da pronncia, portratar-se ela de elemento estranho aos resultados das investigaes e da instruocriminal. Recursos conhecidos e providos para despronunciar os rus.

    Passados 7 anos e meio, o caso ainda est inconcluso, aguardando apreciaode recursos, e os rus continuam em liberdade.

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    Os desaparecidos e os executados

    Ainda em 2005, em 11 de julho, reportagem10 (anexo 12) mostrava existirem 11

    desaparecidos aps abordagens da PM. O procurador-geral de J ustia, que era relatorde um mapeamento em curso em todo o pas sobre a aplicao da Lei de Tortura,acreditava que

    o nmero crescente de pessoas desaparecidas vitimadas por policiais militares podeestar relacionado a uma nova forma da polcia para esconder indcios de torturaspraticadas. O objetivo, frisa, deixar a justia de mos atadas, sem testemunhas ouelementos para punir os envolvidos.

    Um outro membro da cpula do MP, que no quis se identificar, reconhecia aestratgia do medo e seu efeito sobre a populao:

    O Ministrio Pblico reconhece a eficcia dessas tropas de elite, mas possui grandenmero de reclamaes sobre elas, principalmente a Rotam. H umainstitucionalizao da truculncia da Rotam, a tal ponto que a populao tem medo deser abordada por ela nas ruas.

    J o comandante-geral da Polcia Militar reconhecia ser necessrio fazer algo,mas reafirmava a receita nica vendida sociedade:

    O coronel Marciano Baslio de Queiroz concorda que necessria uma intervenojunto a essas tropas para evitar tais problemas com a sociedade. Um estudo estsendo feito nesse sentido. Mas, de imediato, o comandante da PM afirma que sem astropas de elite nas ruas dos municpios goianos, os bandidos ficariam tranqilos para

    cometer crimes.

    Em setembro, nova reportagem apurou que desde 2003 a PM havia matado 117pessoas11 (anexo 13). O Ministrio Pblico estadual considerava alta a incidncia eadiantava que tomaria providncias (destacado) para a responsabilizao doscomandantes, se fosse o caso:

    O promotor Carlos Alberto Fonseca, do Centro de Apoio Operacional do ControleExterno da Atividade Policial do Ministrio Pblico, considera elevada a incidncia dehomicdios praticados por militares em Goinia. O nmero nos parece muitodesproporcional quando levamos em considerao o fato de Goinia ser uma cidadepacata, disse. O assunto foi debatido recentemente por promotores de J ustia de todo

    o Pas, na reunio do Grupo Nacional de Combate ao Crime Organizado, que vai fazerum estudo, comparando a populao de uma cidade e o nmero de homicdios emdeterminado espao de tempo.Carlos Alberto observa que 117 homicdios em 800 dias equivale a dizer que 1,02pessoa morta por semana por militares. Ele reconhece que alto o nmero de

    10Melo, Rosana. 12 esto desaparecidos aps abordagem da PM.

    11 Melo, Rosana. PM matou 117 pessoas em dois anos. O Popular, Cidades, 23 set 2005.

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    integrantes do regime semi-aberto que utilizam-se do benefcio para a prtica dediversos crimes durante o dia e que realmente esto dispostos a confrontos com apolcia em casos de abordagens. Parece que no h empenho na captura dessaspessoas que cometem delitos ou na recaptura dos foragidos pelos policiais.Acreditamos tambm que pode exist ir uma linha de execuo desses

    indivduos, afirma.O Centro de Controle Externo da Atividade Policial vai analisar se h repetio deocorrncias em que se alega confronto envolvendo os mesmos policiais oumembros de uma nica unidade da PM. Se isso for comprovado, o MinistrioPblico poder responsabilizar o comando dessas unidades pela morte dasvtimas.

    Em fevereiro de 2006, aps audincia pblica na Assemblia Legislativa, opromotor instaurou inqurito em que reuniu as informaes sobre os policiais. Noentanto, no foi feito o cruzamento dos dados, nem a responsabilizao e o inqurito,6 anos depois, continua inconcluso (vide abaixo).

    A despeito da mobilizao dos parentes e ativistas, nenhuma medida concretafoi adotada em relao atuao das tropas de elite da PM goiana.

    Curto-circuito na Rotam

    Em 2007, ocorreu uma crise mais grave envolvendo indisciplina na Rotam. Em25 de setembro, parte da tropa, sob as ordens pessoais do seu comandante, MajorWellington Urzda, ocupou armada - o que proibido pelo regimento - o plenrio edepois as galerias da Assemblia Legislativa, para saber se o deputado Mauro Rubemachava mesmo que eram todos bandidos de farda. Segundo Rubem, que na ocasioestava em Braslia, suas palavras tinham sido distorcidas pelo deputado EvandroMagal, na semana anterior. J Magal elogiou a ao da Rotam e o presidente daAssemblia, deputado J ardel Sebba, no viu problemas 12 (anexo 14). Reportagem dodia 2 de outubro mostrou que vrios parlamentares preferiam no comentar o episdio.Evandro Magal, no entanto, acusou Mauro Rubem de estar generalizando emanchando a honra de toda a polcia. Ainda segundo ele, os deputados queintegravam a Comisso de Direitos Humanos choravam por bandidos, estupradores,traficantes e deixavam de apoiar as famlias e os policiais vtimas de violncia . Magal

    lembrou ainda que na semana anterior requerera a concesso da Medalha PedroLudovico, maior honraria concedida pela Assembleia, ao major (anexo 15)13.

    No dia seguinte, nova reportagem sobre abuso da Rotam, desta vezdenunciado pela Polcia Civil. No dia anterior, o Tenente Theodoro Cruz da Silva e 11

    12 Lima, Heloisa. Presena da Rotam causa polmica na Assemblia. O Popular, 26 set 2007, p. 9.

    13 Lima, Heloisa.Comandandante da Rotam dever ser substitudo. O Popular, 2 out 2007, p. 11.

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    homens da Rotam armados de fuzis teriam invadido a sala da delegada AlessandraDias Batista, adjunta da DENARC, querendo intimid-la para que fizesse flagrante detrfico de drogas de adolescente de 17 anos e do sogro, encontrados com 900g demaconha no J ardim Gois. Ela tinha marcas de espancamento e fora baleada em um

    dos ps e de raspo no rosto

    14

    (anexo 16). Na mesma reportagem a presidente doSindicato dos Delegados da Polcia Civil reclama da conduo ilegal deinvestigaes pelo servio de inteligncia da PM, a PM-2.

    Em 3 de outubro, a manchete do jornal foi Mudana d mais poder Rotam.A reportagem15 informava que 9 Cia Independente da PM, mais conhecida comoCompanhia da Ronda Ostensiva Ttica Metropolitana, fora transformada emBatalho de Rotam, pela portaria 46/2007, do Cmte geral Cel. Edson Costa Arajo.Passava a ter mais oficiais, efetivo e armamentos e munies e melhoresinstalaes fsicas. O Major Wellington de Urzda Mota deixava o comando,assumido pelo Tenente-coronel J os Divino Cabral, que viera do Batalho de

    Choque. Urzda substituiria o Cel. Carlos Antnio Elias na comunicao social, eeste assumiria a Academia Estadual de Segurana Pblica (anexos 17, 17-A).No dia 4, o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH),

    aprovou, por unanimidade, moes endereadas ao governo goiano, repudiando aviolncia policial, e ao Ministrio da J ustia, pedindo estudos para contingenciarrecursos para Gois. Tambm foi realizada audincia pblica na Assembleia, em quefamiliares das vtimas da polcia criticaram a Rotam16. As associaes classistas dospoliciais elogiaram as mudanas17 (anexo 18).

    A Rotam agira acintosamente contra a lei e a ordem democrt ica e comopunio fora promovida.

    Algum tempo depois, Urzda mudaria de posto: passaria a comandante daAssistncia Policial Militar da Assembleia Legislativa.

    14 Melo, Rosana. Policia Civil denuncia Rotam. O Popular, cidades, 3 out 2007, p. 3.

    15 Idem. Rotam Vira Batalho e ganha autonomia. O Popular, Cidades, 4 out 2007, p. 3.

    16 Cunha, Rosane Rodrigues da. Famlias Criticam Ao da Rotam. O Popular, Cidades, 5 out 2007, p. 3

    17 Melo, Rosane. Entidades Policiais aprovam alteraes. O Popular, Cidades,5 out 2007, p. 3

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    O Caso Clio Roberto

    Mais quatro meses e nova crise. A Manchete de O Popular no dia 14 de fevereiro

    era PM afasta 11 da Rotam aps sumio de rapaz (anexos 19, 19-A). O texto na capainformava

    O comandante-geral da PM, coronel Edson Costa Araujo, determinou ontem o afastamento de11 policiais da Rotam suspeitos de envolvimento no desaparecimento de Clio Roberto Ferreirade Souza, aps abordagem no J ardim Gois. Eles tambm tiveram priso temporria pedidapela Corregedoria da PM. A deciso coincide com a publicao da ltima reportagem da sriedo Popular que denunciou o envolvimento de militares no extermnio de adolescentes infratores.

    Na matria interna18, alm de detalhes do caso o jornal relembrava caosanteriores e a srie que acabara de publicar sobre execues de adolescentes. Umdos afastados foi o tenente Theodoro Cruz da Silva, que em outubro de 2007

    protagonizara o confronto com a polcia civil na Denarc, um dos episdios que levaraa Rotam a ser promovida a Batalho. Outro, o cabo Fritz Agapito Figueiredo seriapromovido a subtenente em 2010 e estaria entre os presos da Operao NoMatars, em 2011.

    Segundo o major Wellington de Urzda Mota, chefe do Setor de ComunicaoSocial da Pm, a determinao do comandante da PM era apurar com rigor asdenncias e, caso as investigaes as confirmassem o envolvimento de militares,que a punio fosse exemplar.

    No dia 19, o jornal trazia na manchete:

    Denncias de abusos levam a mudanas na Rotam Tropa passa a atuar s emcaos mais graves e luz do dia Pacote inclui troca de comando e remanejamento Sumio de Pedreiro foi estopim para as medidas Menos de uma semana depois doafastamento de 11 policiais da Rotam por suspeita de envolvimento nodesaparecimento do pedreiro Clio Roberto Ferreira de Souza, a Secretaria deSegurana Pblica anunciou ontem mudanas na forma de atuar da corporao.Foram criados servios destinados a reduzir ocorrncias de desvios de conduta. Novocomandante da tropa assume sexta-feira e 45 policiais sero remanejados.

    Na matria interna, novamente era feito histrico das violaes associadas tropa 19 (anexos 20, 20A) e sua recente promoo a batalho.

    A Rotam fora enquadrada. Por pouco tempo.

    18 Idem. Sumio de homem leva ao afastamento de 11 pms. O Popular, Cidades,14 fev 2008, p.5.

    19 Longo, Malu. Marcos, Almiro. Denncia faz Rotam mudar. O Popular, Cidades, 19 fev 2008, p. 3.

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    A tortura vem de helicptero

    Em 12 de junho de 2009, um episdio lembrou as aes militares durante aGuerrilha do Araguaia, quarenta anos antes, em que os helicpteros das foras

    armadas eram temidos pela populao, que podia ser levada sem explicaes e erasubmetida a toda sorte de abusos, vista de todos ou nas instalaes militares.

    O caso envolveu o Grupamento de Radiopatrulha Area - GRAER,destacamento da PM que opera em helicpteros, atuando em um caso que vinharecebendo grande ateno da imprensa. Um ano e meio depois, em 20 dedezembro de 2010, o portal do MP-GO divulgando a apresentao de dennciacontra os envolvidos, deu detalhes do caso (anexo 21):

    A promotoria de J ustia de Cromnia, comarca a que pertence o municpio deMairipotaba, ofereceu denncia contra cinco policiais militares que supostamenteteriam torturado Wenderson dos Santos Silva. De acordo com a promotora GerusaFvero Girardelli, durante a busca por Nicole Rosa dos Santos, filha da vtima, quehavia desaparecido na mata perto da fazenda onde morava com a famlia, osacusados teriam agredido fisicamente Wenderson e o acusaram de ter assassinado amenina.

    Segundo apurado, a vtima teria sido levada para sua casa e aps os policiais terempedido a retirada de todos os familiares do local, passou cerca de trs horas sendoespancado por Ricardo Alves, Walker Ferreira e Ederson Trindade por meio de socos,chutes e enforcamento. O objetivo era que Wenderson confessasse o suposto crime eapontasse o lugar onde teria enterrado o cadver da filha. Durante todo o tempo, NviaMaria Andrade e Wander J os dos Santos tambm ajudaram os outros policiais apraticarem as agresses. Nvia permaneceu do lado de fora da casa para impedir aentrada dos familiares da vtima.

    Logo aps, Wenderson foi obrigado a sobrevoar a regio em um helicptero junto comos policiais para indicar o local onde estaria o corpo da criana. Alm disso, osacusados levaram a vtima para as margens de um crrego e o afogaram para obterinformaes sobre o suposto assassinato. Um dia depois da tortura, Nicole foiencontrada viva em uma fazenda prxima casa dos pais. (Rafael Vaz / Estagirio daAssessoria de Comunicao)

    Ederson Trindade seria afastado, em maro de 2010, pelo envolvimento comos crimes de Alvorada do Norte (vide abaixo) e ficaria famoso, em 2011, por ser umdos presos pela Operao No Matars, justamente o que teve sua fala reproduzidana manchete de O Popular do dia 3 de maro e que levou intimidao contra ojornal e posterior mudana na Rotam.

    Ricardo Alves Mendes era tenente no Batalho de Choque quando, naOperao Inquietao, que precedeu a Operao Triunfo, no Caso Parque Oeste(acima), levou um tiro no abdome e foi promovido, em julho de 2005, por ato debravura, a capito. Logo depois, foi ser ajudante de ordens do ento Secretrio deSegurana Pblica, J nathas Silva.

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    Em 19 de outubro de 2009 a Assemblia Legislativa do Estado de Gois, poriniciativa do deputado Daniel Goulart, lhe concedeu a Medalha de Honra ao MritoPedro Ludovico Teixeira.

    Em 5 de abril de 2010, j promovido a major, assumiu o comando doBatalho de Formosa, substituindo o tambm major Ricardo Rocha, que foraafastado em 9/03 a pedido do MP por suspeita de envolvimento com grupos deextermnio junto com outros sete policiais (um deles, Ederson Trindade).

    A solenidade foi prestigiada pelo deputado estadual Ernesto Roller, ex-secretrio de Segurana Pblica, pelo comandante geral da PM Coronel AntnioCarlos Elias, e pelo prprio Ricardo Rocha, como mostra vdeo da WebTV da PM20.Quando foi preso na Operao No Matars, Rocha estava no comando do Graer.

    Em julho de 2012, aps o homicdio de Davi Sebba Ramalho, foi o major

    Ricardo Alves Mendes, novamente no Graer, quem esteve no local e falou imprensa.

    Em agosto de 2012, trs anos aps os fatos denunciados, o caso deMairipotaba continua inconcluso no juzo da comarca de Cromnia.

    Rotam volta toda, com reforos

    Em agosto de 2009, reportagem do Dirio da Manh sugeria clamor pela voltada Rotam, com declaraes de deputados, empresrios e oficiais graduados da PM21

    (anexo 22):A efetividade da tropa de elite da Polcia Militar um dos meios apontados porautoridades e pela prpria populao para reduzir o crime na Capital. O major RenatoBrum dos Santos, comandante da Rotam, afirma que a Rotam atua 24 horas e nuncadeixou de atender populao. Informa tambm que a tropa faz patrulhamento apenasdas 7h a 1h, e que, aps este horrio, uma equipe fica de planto para atuar em casosque exijam a presena da tropa, treinada para combater casos com maior grau decomplexidade. A Rotam treinada para entrar em ao em casos de alto risco, comoroubo a banco e assaltos. A Rotam nunca deixou o cidado abandonado.Brum lembra que a abordagem da Rotam continua a mesma, uma vez que foi treinadapara tanto. No violenta. rigorosa. Diz que assumiu o comando da tropa h poucomais de dois meses, e vai dar continuidade e aperfeioar os trabalhos do grupo. Brum

    ressalta que as dez novas viaturas iro dar mais agilidade e consistncia ao trabalho dapolcia, que tambm est formando mais duas equipes no Curso Operacional da Rotam,para a qualificao dos soldados.O comandante-geral da Polcia Militar, coronel Carlos Antnio Elias, garante que a Rotamest com patrulhamento nas ruas 24 horas. A Rotam nunca deixou as ruas. Estamosoxigenando ainda mais a Rotam com a entrega de viaturas e equipamentos. O

    20 http://youtu.be/J I6Ve7noEnA, acesso em 09.08.12.

    21 Malheiros, Alex. Sociedade quer Rotam de volta. Dirio da Manh, 29 ago 2009. Cidades.

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    comandante defende que no h nenhum indicador de aumento na criminalidade emGoinia. Argumenta que os homicdios tiveram reduo considervel. Destaca que, pormeio de comparativo nacional, ficou constatado que Goinia uma das cidadescom menor taxa de roubo e fu rtos de veculos do Pas, chegando a ter ndice menorque a mdia nacional.

    A Rotam voltava sua rotina, ungida e aplaudida por seus fs.

    Tortura no Batalho da PM

    Em 28 de junho de 2010, policiais militares do servio de inteligncia (PM-2), queatuam em veculos descaracterizados e em trajes civis, modelo tpico das polciassecretas das ditaduras, agiram de forma que tambm no ficou nada a dever aosmtodos dos regimes de exceo, numa verdadeira homenagem aos mtodos daOperao Bandeirantes (OBAN).

    Conforme relato da imprensa22 (anexo 23), o servente de pedreiro MichelRodrigues da Silva

    foi submetido a sete horas de terror na sexta-feira , momentos depois de ter sidoabordado e arrebatado na porta de casa por uma equipe de mili tares sem farda eque no se identificou. O rapaz, conforme a PM, em funo de suas caractersticasfsicas, teria sido confundido com o acusado de estuprar as irms T. , de 18 anos, e D.,de 17, no Parque dos Buritis, entre Goinia e Trindade, e de matar a mais velha comum tiro na nuca.Em entrevista TV Anhanguera, M. contou que foi colocado em um veculo elevado at o Batalho da PM, em Trindade. Na unidade, conforme disse,

    permaneceu por cerca de sete horas. Neste perodo, oito militares teriam serevezado e espancado o rapaz. M. disse ainda que na seqncia foi encapuzadoe colocado no porta-malas de outro carro e levado para a margem de um rio,onde foi torturado novamente.O servente foi levado para a Delegacia de Defesa da Mulher, onde no foi reconhecidopor D. a garota que sobreviveu ao crime. O chefe da Assessoria de ComunicaoSocial da PM informou ao POPULAR que os acusados de torturar M. devem seridentificados no decorrer das investigaes. Disse ainda que os oito militaresdescumpriram uma norma da PM ao levar uma pessoa para o quartel da corporao.

    Dada a gravidade do caso, e o envolvimento de tenentes-coronis, foi necessrioencontrar um coronel sem ligao com o caso para conduzir a investigao dacorregedoria, segundo a mesma notcia:

    A Corregedoria da Pol cia Mili tar vai ouvi r comandantes e servidores de duasunidades da corporao em Trindade para identificar os oito militares acusadosde torturar o servente de pedreiro M. O processo administrativo para averiguar ocaso, que seria chefiado pelo coronel Eloi Bezerra de Castro Neto, presidente daFundao Tiradentes, passou a ser coordenado ontem pelo coronel Vicente FerreiraFilho, comandante do 10 Batalho Regional da PM, em Ceres.

    22 Silva, Maria Jos. Comandantes sero ouvidos em processo. O Popular, Cidades, 30 jun 2010.

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    Segundo informaes do tenente-coronel Divino Alves de Oliveira, chefe da Assessoriade Comunicao Social da PM, a mudana no comando do procedimento ocorreu porquestes administrativas. Ele informou ainda que o processo ser chefiado por um"coronel fechado",que alcanou o grau mximo na instituio, porquecoordenadores de duas unidades com patentes de tenente-coronel tambm

    sero ouvidos.

    Passados dois anos, e a despeito da gravidade e repercusso que teve o caso,no h notcia da concluso dos inquritos nem da PM, nem da Polcia Civil, como secomprova pela inexistncia de processo cadastrado no portal do Tribunal de J ustia.

    O caso de Alvorada do Norte

    Em maro de 2010, sob suspeita de participao em execues, um grupo depoliciais foi afastado pelo comando, a pedido do Ministrio Pblico, entre eles o

    Major Ricardo Rocha, ento comandante do Batalho de Formosa (GO) (vide abaixo,item 5, Audincia Pblica na Alego em 2010). Dentre os outros afastados, EdersonTrindade ( do episdio de tortura de 2009).

    No obstante, no segundo semestre, o oficial candidatou-se a deputadoestadual. Foram divulgados trechos do Inqurito Policial Militar do caso de Alvoradado Norte, que o indiciava e a outros policiais, e ele concedeu entrevistas ao Popular,de Goinia, e ao Correio Braziliense, nas quais defendia sua forma de atuao. Naprimeira23 (anexo 24), justificou seu indiciamento como tentativa do MP de minar suacandidatura:

    Qual motivo o Ministrio Pblico teria para fazer isto?Todos sabem que a maior caracterstica do meu trabalho a tolerncia zero contra ocrime. Sou policial militar h 20 anos e essa sempre foi uma caracterstica minha.Nunca matei um inocente. Todos eram bandidos e foram mortos no exerccio da minhafuno de policial que no tem tolerncia com o crime. Para o Ministrio Pblico minhacandidatura uma afronta. Eles me acusam de tentar me eleger para ter imunidadeparlamentar.

    Isso verdade?

    Claro que no. Sempre assumi responsabilidade nos processos. Respondo a todos eno vou fugir dessa responsabilidade. O que no quero ser prejudicado em minhacandidatura. Ela no foi impugnada. Minha candidatura apta, com recurso. Queroque me levem a julgamento por todos os casos. Quero que levem ao Tribunal do Jri.Garanto que o povo nunca me condenaria. Sempre trabalhei para levar seguranapara o povo.

    23 Melo,Rosana. Pms sero julgados pela justia comum por seqestro e homicdio. O Popular, Cidades, 24 set2010.

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    O Correio Braziliense24 (anexo 25) confrontou o ento major com informaes sobreoutros fatos, entre eles seu prestgio com o ento Secretrio de Segurana Pblica esuas alegaes de que sempre matara em confrontos com marginais:

    (...)Os laudos cadavricos da maioria das vtimas que o senhor chama de marginais e dizter reagido em confrontos mostram que elas foram atingidas pelas costas, com tiros queima roupa,em sinal de execuo, e a Polcia Civil nunca concluiu um dessesinquritos.

    Quando assumi o batalho de Formosa, havia 12 homicdios porms. Ao sair, quatro meses atrs, eram dois. Como temos grupode extermnio em Formosa se a taxa de homicdio caiu?

    (...)

    Quando o senhor assumiu o batalho de Formosa, a unidade aumentou de quatro para16 o nmero de carros e ganhou at um dos trs helicpteros alugados pela PM

    goiana. Isso mostra seu prestgio com o ento secretrio de Segurana Pblica,Ernesto Roller?

    Ns tnhamos um helicptero em Formosa no porque era a terra natal do secretriode Segurana, era questo de estratgia. Formosa ponto de abastecimento(produo agrcola e trnsito de veculos com carga), est localizada prximo doEntorno Sul e do nordeste do estado. Fui convidado (a assumir o batalho deFormosa) pelo Ernesto Roller. Eu estava em Rio Verde, onde morava com a minhafamlia.

    O senhor deixou Rio Verde aps o Ministrio Pblico o acusar de liderar uma chacinana cidade, quando era subcomandante do batalho local, em 2003. Cinco pessoasteriam sido assassinadas de uma vez, beira de um crrego, e estavam todas

    rendidas e desarmadas, segundo processo.

    Isso no fato. Tivemos uma fuga em massa da cadeia pblica de Rio Verde, a PolciaMilitar compareceue teve um confronto com cinco marginais. Eles estavam armados.Mas eu nunca fui ouvido nesse processo, nunca dei a verso nossa. Tenho convicode que fizemos nosso trabalho.

    uma poltica da PM goiana atirar sempre? No h um treinamento para evitar oconfronto, a morte?

    A polcia de Gois firme. Toda ocorrncia em que h confronto tem que ser ferido umpolicial? Que seja ferido o criminoso. Entre o bandido e o policial, que v o bandido.Essa minha postura.

    (...)Posteriormente sua candidatura foi impugnada por uma questo formal.

    24Alves, Renato. Confira entrevista com acusado de liderar grupo de extermnio no entorno. Correio Braziliense, 27set 2010.

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    A intimidao a O Popular

    A crise seguinte s viria com a intimidao feita ao jornal O Popular, em 3 demaro de 2011, aps a Operao No Matars ( V. acima, Procedimento Padropara o Caos). A despeito das mudanas dessa vez terem sido drsticas, como japresentado, tambm no duraram muito. Ao contrrio, o desenrolar dos fatosmostra a consolidao do poder do grupo dentro da Secretaria de SeguranaPblica, a despeito de seus mtodos arcaicos e da violncia escancarada.

    A queda do Delegado-geral da Polcia Civil e do Comandante-geral da Polcia Militar

    Em 21 de novembro de 2011, foi apresentado plano preparado pela PolciaCivil nos moldes das melhores experincias nacionais e internacionais para areduo da violncia, com aes de curto, mdio e longo prazo de todas as esferasde governo (v. abaixo, Aes para combater a violncia).

    Na noite seguinte, entretanto, oito pessoas foram mortas na grande Goinia,pelo menos cinco executadas, quatro delas em situao de rua, sendo trsadolescentes, numa nica ao.

    Dois dias depois o Delegado-geral da Polcia Civil e o comandante-geral daPM foram exonerados e o plano abortado. Voltou ao comando da PM o coronel da

    reserva Edson Costa Arajo, que entre 2005 e 2008, quando houve as principaiscrises com a Rotam e na academia, era subcomandante-geral ou comandante-gerale que estava atuando na Fora de Segurana Nacional, no entorno do DistritoFederal.

    A chegada ao topo: o Comando de Misses Especiais

    Um ms aps a mudana no comando, em 23 de dezembro, foi publicada

    portaria criando o Comando de Misses Especiais, que incorporou, entre outrasunidades, o Batalho de ROTAM, o Batalho de Choque e o Grupo deRadiopatrulhamento Areo GRAER (anexos 26, 26B) . Para o comando foinomeado o Tenente Coronel Wellington de Urzda Mota, que comandara a Rotamentre 2005 e 2007.

    A Rotam ganhara novamente, a despeito de todas as revelaes feitas pelaOperao No Matars, passados apenas 10 meses. A doutrina da Rota erareafirmada como poltica de segurana pblica em Gois, 26 anos aps o fim da

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    ditadura, 23 anos aps a inaugurao da nova ordem constitucional e 18 anos apsser dissecada por Caco Barcelos.

    Mas os problemas no demorariam a voltar.

    Os assassinatos de 2012: Fernando de Souza, Davi Sebba Ramalho e Valrio Luiz

    Em 20 de maio de 2012, um comerciante que perseguia suposto ladro eportava uma arma foi executado por um policial do GRAER, no Setor Universitrio,em Goinia. O caso causou enorme revolta em familiares, amigos e conhecidos pelaabordagem desastrada e fatal 25.

    Em 5 de julho, logo aps o almoo, o radialista Valrio Luiz foi executado emplena via pblica por um pistoleiro. Poucas horas depois, no incio da noite, oadvogado David Sebba Ramalho foi executado no estacionamento de umhipermercado por uma equipe do servio de inteligncia da Polcia Militar, logo apsdeixar sua esposa na maternidade, onde seu filho nasceria, quarenta minutos aps ohomicdio do pai.

    A verso apresentada pela PM no caso de Davi de que ele estaria sendomonitorado numa operao de trfico de drogas. Ao ser abordado reagira com umrevlver 38 e fora morto pelos PMs ao revidarem. A verso da PM foi apresentada TV na cena do crime pelo Major Ricardo Alves Mendes, do GRAER Comando deMisses Especiais26 (ru no caso de tortura de 2009 e que substituiu o major Ricardo

    Rocha em Formosa, em 2010, v. acima):

    No momento da abordagem do nosso...do efetivo do servio de inteligncia esseindivduo tentou sacar uma arma, a qual se encontra ainda no interior do veculo edurante essa ao do indivduo houve a reao dos policiais militares alvejando esserapaz e ele veio a bito no local

    A delegada Adriana Ribeiro, da Delegacia de Homicdios, tambm na cena docrime, corroborou a verso da PM, citando passagens anteriores pela polcia:

    (...) Ele tem passagem sim, por uso de entorpecente... agora a polcia civil esttentando ainda...est puxando os antecedentes criminais dele (...)

    A cena do crime fora violada, o corpo estava fora do carro e com um pdescalo. Por outro lado, o perito no encontrou drogas no carro, sendo que aalegao de que ele estaria fazendo uma negociao de entorpecente:25 http://globotv.globo.com/tv-anhanguera-go/jatv-2a-edicao/v/enterrado-o-comerciante-morto-durante-uma-abordagem-da-policia-em-goiania/1957475/

    26 http://youtu.be/OWnc8-8_Mnk

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    Aps varredura completa no habitculo do veculo, no porta-malas, no foiencontrada nenhuma droga.

    Na matria da TV Anhanguera, afiliada local da Rede Globo, foi dada a verso

    da famlia, discordando da polcia, embora se negando a dar entrevista.27

    Nos dias seguintes, o caso, que fora inicialmente ofuscado pelo do radialista,gerou grande indignao e mobilizou milhares de pessoas num grupo no Facebook(J ustia por Davi), passando a receber mais ateno e o traficante passou a seruma pessoa no violenta, que jamais possura arma de fogo e cuja mulher teria seuprimeiro filho minutos depois. Advogados contratados pela famlia contestaram averso da PM por ser incompatvel com a cena do crime.

    O caso de Valrio Luiz foi amplamente coberto pela mdia desde o incio, poisalm dele, seu pai tambm comentarista esportivo h dcadas. Alm da delegada

    de homicdios, a prpria Delegada-Geral da Polcia Civil e o Secretrio de SeguranaPblica, que determinou prioridade na investigao do caso, estiveram no local .Nohavia dvidas de ser uma execuo:

    Testemunhas que preferiram no se identificar disseram que o comentarista recebiaameaas de morte. O pai, Man de Oliveira, chegou ao local do crime minutosdepois do assassinato e afirmou, emocionado, que sabia quem era o autor dohomicdio. Mataram meu filho, eu sei quem foi que mandou matar meu filho. Por queele est fazendo isso comigo?, disse Man, sem citar nomes. Ele foi consolado poramigos..

    Nos dias seguintes o caso continuou em evidncia. No dia 9, o Secretrio de

    Segurana Pblica determinou, a pedido da esposa de Valrio Luiz, o afastamentodo caso do Comandante do Comando de Misses Especiais, Tenente-CoronelWellington de Urzda Mota (anexo 27), por sua ligao com o Atltico ClubeGoianiense.

    David Sebba Ramalho era advogado. A OAB tambm passou a cobrarexplicaes sobre o caso e os dois homicdios passaram a ter seu acompanhamento,tendo sido feita reunio como Secretrio de Segurana Pblica para cobrarprovidncias (anexo 28).

    27

    http://globotv.globo.com/tv-anhanguera-go/bom-dia-go/v/homem-e-morto-no-estacionamento-de-

    supermercado-em-goiania/2027975/

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    As cartas annimas

    No dia 13 de julho, a mdia divulgou o contedo de uma carta annima28

    (anexo 29), enviada eletronicamente a vrios destinatrios, dentre eles a Secretaria

    de Segurana Pblica e J ustia, Ministrio Pblico Estadual, veculos decomunicao e ao presidente da Comisso de Direitos Humanos da AssembleiaLegislativa. A carta dizia que policiais presos na Operao Sexto Mandamentoestariam abrigados no Comando de Misses Especiais CME ( v. acima) e queconstituiria um supercomando . Mais importante, estariam os integrantes docomando envolvidos em vrios crimes, em especial execues, apresentando odocumento os envolvidos em cinco deles, inclusive os dois homicdios recentes, dojornalista Valrio Luiz e do advogado Davi Sebba Ramalho (v. acima). Em suaintroduo, antes de tratar dos detalhes de cinco execues, dizia:

    Ser que ningum est vendo o que esta novamente ocorrendo na nossa capital?

    Logo aps a realizao da operao sexto mandamento, os policiais que no forampresos na operao foram lotados no Grupo de Radio Patrulhamento Areo da PMGO- GRAER, local onde estavam lotados vrios dos policias que foram presos, inclusive oTenente Coronel Ricardo Rocha.

    Criou-se ali um feudo, comandado pelo Major Ricardo Mendes pelo Capito DurvalinoCmara, este ltimo conhecido pela liderana exercida sobre todo o grupo sextomandamento.

    Como todos estes estavam diretamente ligados ao poder executivo estadual queantecedeu o atual, leia-se Secretrio Braga, Secretrio Roler, e Governador Alcides, noincio do atual governo no tiveram muito espao. Porm utilizando de uma estratgiamaquiavlica, lanaram por meio de convencimento do Secretrio de SeguranaPblica atual, J oo Furtado, o projeto de criao de um super comando, denominadode Comando de Misses Especiais - CME.

    O Comandante Geral, Coronel Edson influenciado pelo Capito Cmara e MajorRicardo Mendes, indicou o Tenente Coronel Urzeda para ser o Comandante doCME, funo que por lei deveria ser ocupada por Coronel e no por TenenteCoronel. O Tenente Coronel Urzeda por sua vez, recentemente foi comandante doCapito Cmara na ROTAM, e como ficou deslumbrado com a possibilidade de serpromovido precocemente a Coronel ( o Tenente Coronel mais novo e h menostempo no cargo da Policia Militar de Gois), vem se submetendo aos mandos edesmandos do Capito Cmara.

    Foi ento criado neste ano o CME, que agrega as seguintes unidades, GRAER,

    Companhia de Operaes Especiais, Comando de Divisas e o CME 2, servio deinteligncia onde esto lotados todos os assassinos da operao sexto mandamentocomandados pelo Capito Cmara.

    28 Matria da TV Anhanguera, afiliada local da Rede Globo: http://g1.globo.com/videos/goias/jatv-2edicao/t/edicoes/v/carta-anonima-denuncia-que-pms-sao-responsaveis-pela-morte-de-comentarista-esportivo/2040177/

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    O resultado deste quadro todos esto vendo, mortes violentas, morte de policiais,chacinas, supostos confrontos com mortes e a velha ttica da prtica de assassinatoscom utilizao de motos, ou seja, nada alm do que ocorria antes da operao sextomandamento.

    Vo aqui alguns fatos para que a Polcia Civil (que parece estar acovardada) tomeprovidncias e para que as demais autoridades tenham conhecimento (caso j notenham): (...)

    No houve qualquer resposta satisfatria da Secretaria de Segurana Pblicaou do Comando-Geral da PM ao contedo da carta, por exemplo, sobre estarem ouno os ex-presos em atividades operacionais no GRAER ou no CME; ou se seriamesmo irregular um tenente-coronel ocupar o comando.

    Ao invs disso, foi o comandante do CME que ocupou a mdia nos diasseguintes, primeiro alegando que antes da carta se tornar pblica j havia

    apresentando um pedido de exonerao e transferncia para reserva (anexo 30);voltando atrs em seguida e colocando disposio seus sigilos (anexo 30-A),depois partindo para o ataque, ameaando processar quem tinha comentado a cartaa pedido da mdia (anexo 30-B), fazendo referncias diretas ao deputado estadualMauro Rubem, presidente da Comisso de Direitos Humanos da AssembleiaLegislativa29.

    Uma das informaes contidas na carta annima, de que o Capito DurvalinoCmara, que fora preso na Operao No Matars, chefia o servio de intelignciado Comando de Misses Especiais (CME-2), foi confirmada nos interrogatrios dosoldado J onathas Atenevir J ordo (Anexo 30-C), que assumiu a autoria dos disparosque mataram Davi Sebba, e do tenente Ednailton Pereira de Souza (Anexo 30-D),

    que completava a equipe. Tambm afirmaram ter partido dele as instrues iniciaispara operao.

    O Ministrio Pblico Estadual, fazendo a ressalva de serem comuns cartasannimas em casos de grande repercusso e ser necessria a verificao daveracidade do seu contedo, constituiu uma fora tarefa para isso.30

    No dia 20, o jornal O Popular publicou entrevista (anexo 30-E) com o Secretrio deSegurana Pblica e J ustia , na qual, ao responder sobre as vrias execues que

    29 Trs matrias da afiliada local da Rede Globo sobre o imbrglio do tenente-coronel:http://globotv.globo.com/tv-

    anhanguera-go/jatv-2a-edicao/v/comandante-de-missoes-especiais-nega-existencia-do-grupo-de-exterminio-na-pm/2043713/

    http://globotv.globo.com/tv-anhanguera-go/bom-dia-go/v/nao-vou-baixar-a-cabeca-diz-urzeda-sobre-decisao-de-ficar-no-cargo/2042450/

    http://globotv.globo.com/tv-anhanguera-go/jatv-1a-edicao/v/tenente-coronel-urzeda-fala-sobre-as-denuncias-de-que-existe-um-grupo-de-exterminio-em-go/2042910/

    30 Matria da TV Anhanguera, afiliada local da Rede Globo:http://globotv.globo.com/tv-anhanguera-go/jatv-2a-edicao/v/ministerio-publico-monta-forca-tarefa-para-

    investigar-denuncias-de-carta-anonima/2043734/

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    foram investigados durante um ano na Operao Sexto Mandamento pela PolciaFederal e tambm pela Comisso de Defesa da Cidadania, alega o secretrio.31

    Registre-se que a Comisso de Defesa da Cidadania no tratou de execues,mas de desaparecimentos, e trabalhou por cerca de 4 meses, e no um ano (videabaixo).

    O caso com mais informaes era o triplo homicdio em que fora morto o ex-PMJ ander, em Mato Grosso, crime pelo qual o sargento Geson continuara preso, adespeito da liberao, pelo Tribunal de J ustia de Gois, dos demais presos naOperao No Matars.

    A carta indicava as testemunhas de defesa intimadas no processo. A consultaao portal do Tribunal de J ustia de Gois confirma a informao: foram testemunhaso Coronel J os Divino Cabral (que foi um dos denunciados no Caso Parque Oeste ecomandava a Rotam quando houve o desaparecimento de Clio Roberto); O

    tenente-coronel Wellington de Urzda Mota, tambm ex-comandante da Rotam eque tinha o sargento sob seu comando, na Assembleia Legislativa, poca da suapriso, em maro de 2010 e o major Ricardo Alves Mendes ( denunciado no caso detortura do GRAER, de 2009). H uma quarta testemunha, um armeiro apelidadoMarquinhos da Taurus ( Anexos 32A, 32B, 32C e 32D).

    Conflito de interesses na Secretaria de Segurana Pblica e improviso no MP

    O defesa do sargento Geson Marques Ferreira no processo n188/2010, dotriplo homicdio, que tramita na 2a Vara Criminal de Barra do Garas (MT) feita peloadvogado Tadeu Bastos Roriz e Silva. Ele tambm defende Fritz Agapito Figueiredo,no processo n 201101006492, pelo qual fora preso na Operao No Matars, emGoinia.

    Roriz e Silva tambm defendeu o tenente-coronel Ricardo Rocha, outro presona Operao No Matars, ex-Comandante do GRAER e da ROTAM, j mencionadoneste relatrio, no primeiro julgamento a que foi submetido ao Tribunal do J ri, emGoinia. O advogado integra os quadros do escritrio que pertence e leva o nome dosuperintendente-executivo da Secretaria de Segurana Pblica e J ustia, segundoposto na hierarquia do rgo, Thales J os J ayme, em evidente conflito deinteresse32.

    31 Matria da TV Anhanguera, afiliada local da Rede Globo:http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/07/nova-carta-enviada-imprensa-diz-que-grupo-de-exterminio-matou-7-pms.html

    32 http://www.thalesjayme.adv.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=94&Itemid=178

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    A defesa conjunta nos processos, evidenciada acima, no tem correspondnciana atuao do Ministrio Pblico, que se faz de forma improvisada e fragmentada. Ocaso do julgamento acima ilustra isso perfeitamente. A sesso foi em 19 de maro de2012, por um homicdio ocorrido em 2002, numa ao da ROTAM. Tambm no

    banco dos rus estavam o tenente Adlio Teixeira e o coronel J os Divino Cabral (denunciado no Caso Parque Oeste e que comandava a Rotam quando houve odesaparecimento de Clio Roberto, v. acima). Era a primeira vez que dois altosoficiais da polcia militar eram julgados, por fatos ocorridos dez anos antes. Noentanto, o Ministrio Pblico escalou para o julgamento,ocorrido na capital doEstado, o promotor de J ustia substituto Murilo da Silva Frazo, que poca estavah um ano e meio na instituio ( foi empossado em 27 de setembro de 201033) eque teria recebido o processo uma semana antes, sem nenhuma informao quanto relevncia do caso. Os rus foram absolvidos (anexo 32-E) . O recurso deapelao do MP ainda no foi julgado (anexo 32-F).

    33 V. http://mp-go.jusbrasil.com.br/noticias/2392697/mp-empossa-25-novos-promotores-de-justica-nesta-segunda-feira

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    Iniciativas para coibir os abusos

    1. Oitiva pelo CDDPH

    Em 31.01.06 as famlias de Murilo, Paulo Srgio e Fbio da Costa Lima(seqestrado por viatura da Rotam em via pblica e vista dos pais em 04.01.06 edesaparecido desde ento) foram ouvidas em Braslia pelo CDDPH, acompanhadas dodeputado estadual Mauro Rubem. O conselho criou subcomisso para acompanharcasos de Gois, integrada pela Dra. Ivana Farina.

    2. Audincia Pblica na CDH da Assembleia Legislativa com a presena de

    representantes do MP-GO, MPF, MJ, SSP-GO, PM-GO, CDDPH

    Em 02.02.06, foi realizada audincia pblica pela Comisso de Direitos Humanosda Assembleia Legislativa com o tema Violncia Policial. Compuseram a mesa: odeputado Mauro Rubem; Major Eraldo Marques Viegas, representante da SecretariaNacional de Segurana Pblica; Dra. Ivana Farina Navarrete Pena, representante doConselho Nacional de Defesa da Pessoa Humana e da Secretaria Nacional de DireitosHumanos; Dr. Carlos Alberto Fonseca, coordenador do Centro de Apoio Operacional doControle Externo da Atividade Policial, representante do Ministrio Pblico Estadual;Delegado Eurpedes da Silva III, corregedor-geral da Secretaria de Segurana Pblica

    do Estado de Gois; Cel. Edson Costa Arajo, Subcomandante-geral da PM; Dr.Goethe Abreu, Procurador de Defesa do Cidado do Ministrio Pblico Federal; OrtonRodrigues, representando as famlias das vtimas; Frei Marcos Sassatelli,representando a sociedade civil; Vanildes Gonalves e Fbio Fazzion, representando aCasa da J uventude Padre Burnier; deputado federal Capito Wayne (V. relatrioencaminhado a diferentes rgos e transcrio, anexos 33-A e 33-B). Vrias medidasforam anunciadas, como a instalao de rastreadores com tecnologia GPS nas viaturas,mas nenhuma delas foi efetivada.

    Uma das aes resultantes daquele evento foi a instaurao, pelo Ministrio

    Pblico Estadual, de procedimento administrativo para apurar, em tese, excessos naatuao de certos integrantes da 9 CIPM/Rotam (Rondas Ostensivas TticasMetropolitana), conforme demasiadamente noticiados pela imprensa goiana nosltimos dias. Os promotores de justia responsveis, Carlos Alberto Fonseca,coordenador do CAOEx-DH, e Carlos Vincius Alves Ribeiro, integrante do NAT e doCAOEx-DH, requisitaram um extenso rol de informaes sobre a estrutura,funcionamento, doutrina e desvios dos integrantes da ROTAM ao seu comandante, oento major Wellington de Urzda Mota. As informaes foram enviadas ao MP-GOe a documentao comps vrios volumes dos autos. Contudo, no consta qualquer

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    tratamento ou anlise dessas informaes usando tcnicas de inteligncia, paracruzamento dos dados, nem de resultado concreto do inqurito. Trs anos depois desua instaurao, em 20 de maio de 2009, o procedimento foi distribudo para a 90Promotoria de J ustia, onde ainda se encontrava, inconcluso, em 2011 (anexo 34).

    3. Criao do Comit Goiano pelo Fim da Violncia Policial

    Em 28 de abril de 2006, foi realizada audincia pblica, pela Comisso deDireitos Humanos da Assembleia Legislativa de lanamento do Comit Goiano peloFim da Violncia Policial, com o lema quando a dor vira resistncia. Compuseram amesa: deputado Mauro Rubem, presidente da CDH; Sra. Eronildes da SilvaNascimento, viva de Pedro do Nascimento Silva (alvejado pelas costas nadesocupao do Parque Oeste, em 16.02.05) , representando o Comit; deputadaRachel Azeredo; Dra. Ivana Farina Navarrete Pena, membro do Conselho de Defesa

    dos Direitos da Pessoa Humana; Sra Irene Maria dos Santos, coordenadora doMovimento Nacional dos Direitos Humanos; Professora Dalva Borges de Souza,professora do Departamento de Cincias Sociais da UFG, que proferiu palestra.

    4. Audincia Pblica na CDHM da Cmara dos Deputados

    Em 16 de setembro de 2009 foi realizada audincia pblica na Cmara dosDeputados, pela Comisso de Direitos Humanos e Minorias, para debater aviolncia nos municpios do Entorno do Distrito Federal e solues para o seuequacionamento. Presenas de ERNESTO GUIMARES ROLLER Secretrio de

    Segurana Pblica do Estado de Gois. ADAUTO GAMA DE OLIVEIRA FILHO Coronel e Subsecretrio de Operaes e Segurana Pblica do Distrito Federal.CARMEM LCIA SANTANA DE FREITAS Promotora de J ustia Militar doMinistrio Pblico de Gois. SILVEIRA ALVES DE MOURA Presidente doSindicato dos Policiais Civis do Estado de Gois. FERNANDO BRAGA VIGGIANO Subprocurador-Geral de J ustia para Assuntos Administrativos do Ministrio Pblicodo Estado de Gois. MAURO RUBEM Deputado Estadual e Presidente daComisso de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado de Gois. LUIZANTNIO FERREIRA Diretor do Departamento da Fora Nacional de SeguranaPblica, entre outros.

    A audincia fora requerida a partir da publicao, em maio daquele ano, deuma srie de reportagens pelo Correio Braziliense (anexo 35-A ), vinculando umnmero elevado de execues em Formosa (GO), cidade natal e reduto eleitoral doento Secretrio de Segurana Pblica, deputado estadual Ernesto Roller, aocomandante do batalho local da PM, major Ricardo Rocha, que fora transferido deRio Verde (GO), onde era acusado de execues. A srie foi praticamente ignoradana imprensa goiana. As reportagens tambm expuseram a fragilidade das condiesdas polcias civil e tcnico-cientfica goianas, sem efetivo, instalaes eequipamentos.

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    Na audincia (anexo 35-B, p.16/17) , os representantes do MP-GO confirmaram oquadro de a falncia do sistema de Segurana Pblica Estadual. A promotoraelencou treze fatores que contribuam para a violncia e criminalidade urbana:

    1) o acesso difundido das armas de fogo; a criminalidade transnacional expressa pelotrfico de drogas e armas e pelo trfico de pessoas, inclusive;

    2) as polticas sociais que ainda no conseguem beneficiar a sociedade no seuconjunto; a cultura violenta da resoluo de conflitos aqui eu no me refiro apenasdentro das Polcias, mas dentro de toda a sociedade, especialmente da mdia ;

    3) o desmantelamento da Polcia Civil e da Polcia Tcnico-Cientfica ao longo desses10 anos embora o nosso Secretrio de Segurana Pblica do Estado de Goisvenha nos trazer a notcia do provimento de alguns cargos, ao longo dos ltimos 10anos, foram insignificantes os concursos pblicos para a rea de segurana pblica,sendo que a Polcia Tcnico-Cientfica foi completamente desmantelada por falta deequipamentos, de estrutura e de pessoal ;

    4) o nmero insuficiente de policiais e a falta de qualificao profissional das Polcias posso afirmar isso quando estamos reunidos aqui, tratando justamente de violnciapolicial, que um dos motivos desta reunio ;

    5) o Regulamento Disciplinar da Polcia Militar do Estado de Gois, aprovado pordecreto, e com inmeras normas inconstitucionais inclusive, o Ministrio Pblicoentrou com uma ao de inconstitucionalidade quanto a esse regulamento no Tribunalde Justia do Estado de Gois, e hoje existe um projeto de lei para que esseregulamento seja aprovado ;

    6) a ineficincia da Justia Militar do Estado de Gois, responsvel pelo julgamentodos crimes militares definidos em lei e hoje responsvel tambm pelas aes judiciaiscontra atos disciplinares militares, esquecida e ineficiente, pois, pasmem, durante 10

    anos ns assistimos triste realidade da falta de provimento do cargo de poca JuizAuditor, hoje Juiz de Direito da Justia Militar, cargo que inclusive s foi provido apsuma ao do Ministrio Pblico no Tribunal de Justia do Estado de Gois ;

    7) a falta de estrutura e de pessoal na Justia Militar do Estado de Gois, quepermanece funcionando em estado precrio e insalubre, em prdio condenado peloCorpo de Bombeiros, sem alvar para funcionamento;

    8) a falta de eficincia e celeridade do Poder Judicirio;

    9) o sistema penitencirio precrio, inclusive com falta de pessoal, pois militares fazemo papel de agentes carcerrios nas cadeias pblicas do Estado de Gois, com funodesvirtuada retiramos os policiais militares da rua, do policiamento ostensivo, para

    fazer segurana de preso pela falta de agente carcerrio;10) a falta de polticas pblicas de incluso e cidadania do egresso do sistemapenitencirio;

    11) a falta de autonomia administrativa financeira no sistema penitencirio, porquehoje, no