livro gestão pública: transparência, controle e participação social

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  • 7/25/2019 Livro Gesto Pblica: transparncia, controle e participao social

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    TRANSPARNCIACONTROLEEPARTICIPAOSOCIAL

    Cristiano das Neves Bodart(Organizador)

    Gesto Pblica:transparncia controle e participao social

    Vila Velha-ESFaculdade Novo Milnio

    2015

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    TRANSPARNCIACONTROLEEPARTICIPAOSOCIAL

    Agradecimentos

    Faculdade Novo Milnio (FNM), espao de construodo saber.Aos diretores da Novo Milnio por apoiar esse projeto epor proporcionar condies para que o ambienteacadmico seja produtivo. coordenao dos cursos de Administrao e Gesto deRecursos Humanos da FNM pelo apoio.Aos professores que se dispuseram em compor a comissoeditorial dessa obra.Aos professores do curso de Administrao da FaculdadeNovo Milnio, por facilitar o processo de ensino-aprendizagem.Por fim, mas no menos importante, nosso agradecimentoespecial os nossos familiares, por acreditar que somoscapazes.

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    TRANSPARNCIACONTROLEEPARTICIPAOSOCIAL

    Sumrio

    PREFCIO ........................................................................................ 07Valdemir Pires

    APRESENTAO ............................................................................. 09Cassiano Pessanha Madalena

    CAPTULO 1 ...................................................................................... 11

    Accountability na administrao pblica de Vila Velha: uma anlise

    em torno do Oramento ParticipativoElisangela Lemos Oliveira e Cristiano das Neves Bodart

    CAPTULO 2 ...................................................................................... 47

    Dificuldades na gesto do oramento participativo: a experincia deVila Velha-ESChristopher Pinheiro de Castro Fiorani, Thiago Pizelli Alves Bigossi,

    Vladmir Agostinho Afonso e Cristiano das Neves Bodart

    CAPTULO 3 ...................................................................................... 69

    Entraves na elaborao erealizao de Convnio e prestao decontas na Administrao PblicaDavid de Freitas Bravim, David Rmulo da Penha Reis, Gisele Fernanda

    de Carvalho e Liliane Cardozo Ataide

    CAPTULO 4 ...................................................................................... 91Transparncia, Acessibilidade e Usabilidade e nos stios municipaisda Regio Metropolitana da Grande VitriaCristiano das Neves Bodart, Kamille Ramos Torres e Roniel Sampaio

    Silva

    SOBRE OS AUTORES..................................................................... 119

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    Prefcio

    H um quarto de sculo cidades brasileiras vm experimentando aprtica do que se convencionou chamar de Oramento Participativo(OP): o estabelecimento de relaes diretas entre comunidades locais,seus representantes eleitos e os corpos tcnicos das prefeituras, duranteo ciclo oramentrio, visando maior protagonismo cidado noplanejamento e no controle dos recursos financeiros pblicos. VilaVelha (ES) desenvolveu conhecida experincia precursora dessainovao no perodo 1983-86 (embora sem a denominao atual),quando o Brasil caminhava para a redemocratizao. E de l para c oOP reapareceu intermitentemente com maior ou menor sucesso nestacidade. De certo modo, ento, Vila Velha um laboratrio do OP,vivenciando-o na transio democrtica e, depois, com a democracia jconsolidada; em momento de crise econmica severa (1983-1986) e,posteriormente, de crescimento e relativa estabilidade macroeconmica.E ento?

    Em Accountability na administrao pblica de Vila Velha: umaanlise em torno do Oramento Participativo (de Elisangela Lemos

    Oliveira e Cristiano das Neves Bodart) e em Dificuldades na gesto dooramento participativo: a experincia de Vila Velha-ES (de ChristopherPinheiro de Castro Fiorani, Thiago Pizelli Alves Bigossi, VladmirAgostinho Afonso e Cristiano das Neves Bodart) os autores contribuempara esclarecer em que medida o atual OP de Vila Velha tem algumaefetividade e quais os percalos para seu futuro. As constataes no sopropriamente animadoras, mas a esperana na metodologia no parecetotalmente morta, embora Ins defunta j seja. Se Ins s o nome de

    uma janela de oportunidade, pode ser que ainda volte a se abrir, como sea camoniana figura pudesse ressuscitar.O momento do OP ficou para trs. Depois da democratizao e

    de lances de controversa reforma do Estado, a pretenso diminuiu:busca-se, agora, a transparncia. Tambm mudou o idioma: o que sequer accountability. Chique, no? Mas no no rtimo1, porque os

    1 Chique no rtimo uma expresso do caipira de Piracicaba, que quer dizer timo,

    excelente, digno de nota. E Piracicaba (SP), a propsito, outra cidade que praticou OPna mesma poca de Vitria (1983-86) e em anos posteriores (1989-92 e 2001-2004),assim como atualmente (dizem). bem provvel que as concluses a respeito da

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    portais municipais da Grande Vitria (conforme Cristiano das NevesBodart, Kamille Ramos Torres e Roniel Sampaio Silva, emTransparncia, Acessibilidade e Usabilidade e nos stios municipais da

    Regio Metropolitana da Grande Vitria) revelam o que outraspesquisas constatam em tantos outros dos 5.570 municpios brasileiros:a transparncia j chegou nas leis, mas no na cultura da gesto pblica,nem nos canais virtuais da rede mundial de computadores.

    Mas no s em avanos democrticos e tecnolgicos que senota um caminhar lento, mesmo em uma das mais ricas regies do pas(o Estado do Esprito Santo): a rotina corriqueira de gesto de convniosentre nveis da federao tambm carece de zelo, como concluem Davidde Freitas Bravim, David Rmulo da Penha Reis, Gisele Fernanda de

    Carvalho e Liliane Cardozo Ataide em Entraves na elaborao erealizao de Convnio e prestao de contas na Administrao Pblica.

    Motivos para desalento? No, claro que no. As cidadesbrasileiras no so para os fracos. E os brasileiros no so fracos, sabido. E, ademais, as coisas j foram piores por aqui. Estamoscaminhando e, de certo modo, o fazemos cantando. Cantando e, cadavez mais, refletindo e formulando. Note-se: estes trabalhos, acimacomentados, so de um grupo de graduandos de Administrao, de uma

    universidade privada, envolvidos com iniciao cientfica graas abnegao de seus orientadores. Um curso e uma IES que, a rigor, nemteriam maiores obrigaes com ensino e pesquisa sobre temas deAdministrao Pblica!

    F no futuro e mangas arregaadas, prontos para a labuta! Noh postura alternativa aceitvel. Estudar, entender, compreender paramelhor atuar e, afinal de contas, atuar e transformar, inovar, realizar umpedacinho do futuro melhor a cada momento o que h para hoje.Parabns aos autores! Bom proveito aos leitores!

    Valdemir Pires, 07/09/2015Professor doutor do Departamento de Administrao Pblica da UNESP

    efetividade e do futuro da prtica sejam, nesta cidade paulista, muito parecidas com asque os autores encontraram nos captulos deste livro, sobre o caso de Vila Velha (ES).

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    TRANSPARNCIACONTROLEEPARTICIPAOSOCIAL

    APRESENTAO

    Cassiano Pessanha Madalena2

    O livro Gesto Pblica: transparncia, controle e participaosocial pertinente em ao menos quatro pontos: i) por proporcionar odevido valor pesquisa acadmica dos alunos do curso deAdministrao; ii) por estimular entre os alunos a realizao de novaspesquisas cientficas; iii) devido a qualidade das pesquisas apresentadase; iv) por abrir caminho para os estudos e pesquisas em AdministraoPblica no curso da Faculdade Novo Milnio.

    Notamos aqui a materializao do bom trabalho docente que vem

    sendo realizado junto aos estudantes do curso de Administrao daFaculdade Novo Milnio. Acreditamos que a pesquisa acadmicapossibilita um Ensino Superior slido, onde o educando alm de tercontato com os conhecimentos j consolidados, tem as condiesnecessrias para atuar ativamente na produo de novos conhecimentos.

    Esta obra traz questes pertinentes e atuais. A gesto pblicaeficiente o fio condutor da obra, uma vez que s h gesto pblicaeficiente se houver accountability, eficincia no uso dos recursos

    pblicos, transparncia e participao social.A redemocratizao do pas e a nova Constituio Federal, de1988, abriram caminho para o aprofundamento democrtico da gestopblica. Diversas prticas se desenvolveram no Brasil com a promessade promover maior transparncia, eficincia e participao social nasaes governamentais. Temos presenciado tambm a criao de diversasleis e normatizaes que se propem estimular princpios democrticos.O presente livro colabora para a compreenso de algumas dessasprticas, a saber: o oramento participativo, os convnios entre entesfederados e a transparncia via stios pblicos.

    Logo no primeiro captulo nos deparamos com uma questourgente: o oramento participativo um instrumento de gesto pblicaque corrobora para uma maior accountability? Para realizar essadiscusso os autores realizam um estudo da experincia de Vila Velha

    2 Graduado em Administrao, mestre em Planejamento Regional e Gesto de Cidades

    (UCAM), coordenador do Programa de Graduao e Ps Graduao em Administrao eRecursos Humanos da Faculdade Novo Milnio (FNM).

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    GESTOPBLICA

    (ES). Estudos que buscam compreender as experincias de gestopblica corroboram no sentido de evidenciar dificuldades prticas naimplantao e conduo de instrumentos de gesto. Certamente estamos

    longe, como aferem os autores, da accountability desejada, no entanto,acreditamos que iniciativas que buscam o aprofundamento democrticodevam ser incentivadas, colocadas em prtica e valorizadas, ainda quetenham seus problemas ou limitaes. Administrar a coisa pblica no uma tarefa fcil e no depende apenas de boa vontade, embora essa sejafundamental. No segunda captulo da obra os autores buscam identificarjustamente as dificuldades de administrar, tendo tambm a experinciado oramento participativo de Vila Velha (ES) como um estudo de caso.Nesse captulo notamos uma abordagem incomum: compreender as

    dificuldades e desafios do oramento participativo a partir daperspectiva dos gestores. Pesquisas como essa possibilita olhar oinstrumento de outro ponto de vista ou do outro lado do jogo,fornecendo elementos interpretativos para alm do embate gestorpblico versus sociedade.

    No terceiro captulo encontramos uma anlise de realizaes deconvnios pblicos realizados em 2009 entre os Governo do Estado doEsprito Santo e diversos municpios capixabas. Nesse captulo os

    autores, alm de realizar um esboo da legislao que envolve esse tipode contrato pblico, identificam os principais entraves existentes a fimde evidenci-los e discutir possveis solues. Pensar solues para asdificuldades na realizao de parcerias entre os entes da federao essencial para que a descentralizao dos recursos pblicos e adesconcentrao de competncias tenham o xito esperado: atendermelhor e de forma mais eficiente sociedade.

    Por fim, no ltimo captulo do livro encontramos uma anlise emtorno dos stios pblicos municipais. Aqui h uma propostametodolgica de anlise de stios pblicos rica e funcional. Anlisescomo essa colaboram com a democracia no sentido de pressionar osmunicpios a atender as leis federais de acessibilidade e transparncia, asquais foram criadas com o intuito de proporcionar um acesso mais fcile transparente s aes pbicas, facilitando o controle social.

    Certamente o livro no aborda todas as questes que envolvem agesto pblica, muito menos fecha todas as lacunas existentes. No aproposta da obra. No entanto, a obra traz informaes e discusses

    pertinentes e urgentes que devem estar na agenda de pesquisa e na listade leitura de futuros administradores pblicos.

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    TRANSPARNCIACONTROLEEPARTICIPAOSOCIAL

    Accountability na administrao pblica de Vila Velha: umaanlise em torno do Oramento Participativo3

    Elisangela Lemos OliveiraCristiano das Neves Bodart

    sintomtica a necessidade de um maior aprofundamento docontrole social da gesto pblica brasileira, seja por motivo dosconstantes casos de corrupo, quanto por falta de capacidade einteresse dos administradores pblicos. Nos ltimos anos a transparnciano uso dos recursos pblicos e a responsabilizao das aes realizadasna gesto pblica vm, paulatinamente, tomando espao na agenda daAdministrao Pblica, sobretudo discusses que envolvemo conceitode accountability. Diversas leis e normativas tm buscado pressionare orientar os trs nveis federativos do Estado (Federal, Estadual eMunicipal) para que haja um maior aprofundamento da participaosocial e transparncia na gesto pblica.

    Resumidamente podemos afirmar que a palavra Accountabilitysignifica a prestao de contas de uma pessoa delegada outra, e os

    resultados da mesma levadas a uma responsabilizao. Em sntese temoso esquema explicativo: A delega a responsabilidade para B Bao assumir a responsabilidade deve prestar contas para A Aanalisa os atos de B feita tal anlise, A premia ou castiga B(PINHO; SACRAMENTO, 2009, p. 1350).

    O significado de accountability antagnico ao monlogo, ondeos governantes no prestam contas sociedade, caracterizando-se comum dilogo entre responsabilizado e responsivo. Tal conceito traz de

    forma clara a centralidade da corresponsabilidade. Com isso, seuprincipal objetivo controlar o poder e no elimin-lo (PINHO, 1998;SACRAMENTO, 2004).

    ODonnell (1991; 1998) classifica a accountability em umformato bidimensional, classificando-a como accountability vertical eaccountability horizontal (PINHO, 1998; SACRAMENTO, 2004). Aaccountability vertical envolveria a sociedade civil e a mdia,enquanto que a accountability horizontal o Executivo, o Legislativo e

    3 Trabalho desenvolvido no Ncleo de Estudos e Pesquisas em Administrao (NEPA)com o apoio da FAPES e da Faculdade Novo Milnio, Vila Velha, ES, Brasil.

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    GESTOPBLICA

    o Judicirio, bem como as agncias de superviso e as instncias defiscalizao e prestao de contas. Para ODonnell (1991; 1998) e Benh(1998), a dimenso vertical pressupe uma ao entre desiguais

    cidados versus representantes e a dimenso horizontal da ao entreiguais checksand balances entre os poderes constitudos.Buscamos aqui realizar uma pesquisa que caracteriza-se como

    exploratria, tendo por mtodo a anlise de documentos e entrevistasestruturadas a gesto resligados diretamente a operacionalizao doOramento Participativo (OP) de Vila Velha, ES e alguns dos Delegadosdo OP. Nosso objetivo foi averiguar se h, por meio do OP de VilaVelha, uma accountability vertical/social.

    De maneira breve, esse trabalho se divide em duas partes

    correlatas: uma reviso de literatura e um estudo de caso exploratrio.Na primeira parte buscamos retomar alguns dos trabalhos maissignificativos que discutem a accountability no Brasil, problematizandoseu conceito luz da realidade poltica nacional para depois realizaruma breve reviso em torno do Oramento Participativo para, por fim,nos debruarmos sobre a experincia do OP em Vila Velha/ES.

    O conceito deAccountability

    O conceito de accountability vem sendo discutido em publicaesbrasileiras desde os ltimos anos de Ditadura Militar. Inicialmente porCampos (1990) e posteriormente por outros autores, tais comoODonnell (1991;1990), Behn (1998) e Pinho e Sacramento (2009; 1998;2004). Tais autores nos parecem fundamentais para uma compreensodo conceito e a evoluo de seu entendimento, para, a partir da,realizarmos nosso intento avaliativo da prtica de Oramentoparticipativo em Vila Velha, ES.

    O trabalho de pesquisa de Campos (1990) sobre aaccountability fruto de uma trajetria iniciada em 1975, quando escutou pela primeiravez, em sala de aula, a palavra; na ocasio no traduzida para o nossoportugus.

    Campos (1990) no conhecia ainda o sentido da palavraaccountability em portugus, apenas entendeu que sua pronncia no serelacionava com contabilidade. Ao fim da aula ela pesquisou em

    dicionrios e ndices de leitura obrigatria, mas no obteve xito em suaprocura. No dia seguinte o tema continuou, e apesar de todo esforo, ela

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    TRANSPARNCIACONTROLEEPARTICIPAOSOCIAL

    no conseguiu entender o significado da palavra, compreendendo apenasque se tratava de um conceito da prtica da administrao e do serviopblico (CAMPOS, 1990).

    Nos anos de 1990 a dificuldade em traduzir a palavraaccountability no Brasil, residia no fato de que a sociedade no avivenciara naquele momento, no participando efetivamente da gestopblica e por esse motivo desconhecia o sentido de sua palavra. Campos(1990) no se surpreendeu com o fato da palavra no ser traduzida aqui,isso por identificar ser comum em sociedades menos evoludaspoliticamente.

    Campos (1990), nos anos de 1980, na busca pelo significado daaccountability, percebeu que no era apenas a palavra que faltava aos

    brasileiros, mas o seu conceito e o motivo pelo qual ela no existia emnosso vocabulrio. A partir de ento, Campos (1990) passou a sequestionar sobre as consequncias da ausncia da palavra accountabilityna nossa administrao pblica. Campos (1990) percebeu que obrasileiro no exigia resultados, zelo e respeito pelo dinheiro pblico.Alm disso, grande parcela da populao tinha aceitao pelofavoritismo, nepotismo e outros tipos de vantagens do governo, tendogrande tolerncia corrupo, dupla tributao (impostos mais propina)

    e o desperdcio de recursos pblicos (CAMPOS, 1990). Para essa autora,as prticas clientelsticas, o personalismo, o desinteresse popular pelasquestes pblicas dificultavam o aprofundamento da accountability naAdministrao pblica.

    Pinho e Sacramento (2009) ao buscarem entender e analisar osignificado de accountability, usando para isso dicionrios e literaturas,objetivando verificar se as alteraes ocorridas nos ambientes poltico,social e institucional brasileiro contriburam para que a palavraaccountability fosse traduzida para o portugus sem que perdesse seusignificado de origem. Procuraram, tambm, identificar se mudanasocorridas no Brasil, aps 20 anos da publicao do artigo de Campos(1990), accountability: quando poderemos traduzi-la para oPortugus?, influenciaram para que a cultura de accountabilitygerminasse em solo brasileiro.Pinho e Sacramento (2009)concluramque estamos mais perto da traduo do que quando Campos (1990) sedefrontou com a questo, mas ainda muito longe de construir umaautntica cultura de accountability.

    Na busca por compreender a accountability, ODonnell (1998)apresentou uma classificao que tornou-se bastante usual entre os

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    GESTOPBLICA

    estudiosos do tema: accountability vertical e accountability horizontal.ODonnel (1998, p.40) definiu accountability horizontal como:

    A existncia de agncias estatais que tem o direito e o poder legal e que esto defato dispostas e capacitadas para realizar aes, que vo desde a superviso derotina a sanes legais ou at o impeachmentcontra aes ou emisses de outrosagentes ou agncias do Estado que possam ser qualificadas como delituosas.

    A accountability vertical se destaca nas funes sociais emrelao aos atores governamentais, enquanto que a accountabilityhorizontal exercida dentro do estado e em diversas agncias estaduais.Dito de outra forma, a accountability vertical, tambm chamada de

    accountability social, o produto da ao poltica do cidado e dasociedade, a horizontal produto interno do estado feito pelas agnciasreguladoras (ODONNEL, 1998; ROCHA, 2008). A partir de um textopublicado por Miguel, em 2005, Rocha (2008) defendeu queaccountability tambm se aplicaria no momento em que os cidadospunem os governantes atravs das eleies, seja reelegendo-os ou no apartir dos resultados de seus mandatos, e que o controle burocrticoentre os poderes deve ser mtuo e contnuo na prestao de contas paraa sociedade.

    Outra classificao de accountability foi desenvolvida, em 2005,por Mainwaring. Para Mainwaring (2005) a accountability pode serclassificada como accountability eleitoral (povo) e accountabilityintraestatal (governo). Sua classificao paralela a de ODonnell(1998), isso porque Mainwaring (2005) declarou que existe umainterligao entre sociedade e Estado, porm chama a ateno para anecessidade de no misturar os agentes de accountability (estado vs.sociedade) na interpretao da realidade, mas preservando a relao

    horizontal e vertical. Ainda em sua obra de 2005, Mainwaring afirmouque a accountability intraestatal usualmente dividida em trs partes: aprimeira mostra a relao entre principal e agente em nveis hierrquicos,onde um superior d a ordem de trabalho a seu subordinado; a segundase refere ao Judicirio e seu sistema legal que institui leis e regras para aatuao dos agentes e; a terceira est a cargo de rgos e entidades quecontrolam e fiscalizam autoridades e organizaes pblicas, como ossistemas internos de controle, e o Tribunal de Contas da Unio

    (ROCHA, 2008).Por meio dessa breve reviso em torno do conceito de

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    accountability nota-se uma convergncia entre os autores aquimobilizados, destacando dois formatos de fiscalizao e prestao decontas e responsabilizao: vertical e horizontal. Em outros termos:

    institucional e social.

    Accountability na Administrao Pblica

    importante que a administrao pblica seja transparente, tendoo dever de incluir a participao da sociedade na tomada de deciso, oque estabelece metas especficas e responsabilidades para osgovernantes, eliminando o anonimato quanto ao alcance de metas, e

    caso no atendidas, podem ser respondidas pela sociedade nas eleies(CAMPOS, 1990).

    Pinho e Sacramento(2009) ao se debruarem sobre aaccountability afirmam que muitas mudanas rumo a uma maiortransparncia na gesto pblica ocorreram e que embora o vu daadministrao pblica brasileira no tenha sido retirado por completo,temos vivenciado um avano significativo. O momento analisado porPinho e Sacramento (2009) j era bem diferente daquele vivenciado por

    Campos (1990) (1975 1988).Para eles, o Brasil j vinha, naquelemomento, [...] ensejando um aumento de accountability ou pelo menoscriando algumas condies para isso (PINHO; SACRAMENTO, 2009,p.1360).

    A partir do texto de Mosher, publicado em 1968, Campos (1990),destacou que a ampliao do tamanho do Estado e sua maior influnciana vida dos cidados reforam a necessidade de resguardar esses, o que possvel a partir da maximizao da accountability. Em todas asorganizaes h um indivduo claramente encarregado pelos resultadosobtidos por cada setor, portanto todos, sem exceo, devem serfiscalizados na execuo de suas tarefas e responder por seus atos e pelaproduo de resultados. Esses, os responsabilizados, devero prestarcontas por tal responsabilizao (BEHN, 1998).

    Na administrao pblica, tanto o aprofundamento daaccountability horizontal, quanto a accountability vertical, devem seruma preocupao constante.

    Aaccountability horizontal, marcado pela fiscalizao do Estado

    por rgos estatais, foi exercida no Brasil no ano de 1967 at aConstituio de 1988 praticamente por exclusividade pelo Congresso

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    GESTOPBLICA

    Nacional e o Tribunal de Contas da Unio (TCU).Em 1988, com apromulgao de uma nova Constituio Federal e reformas polticas,foram feitas promessas de tornar a administrao pblica mais eficiente

    e mais controlvel(PINHO; 2009). Com a Nova Constituio, outrosmecanismos de controle comearam a se desenvolver, a fim de ampliartanto a accountability vertical, quanto a horizontal.

    Em 1990, Campos (1990) j destacava que para a fiscalizaoburocrtica funcionar de maneira eficiente, necessrio que o controlefeito pelo Legislativo seja autnomo ao julgar o Executivo, pois umproblema recorrente a tentativa do Executivo de anular todo custo asaes de fiscalizao do Legislativo.

    Referente a accountability horizontal, ODonnell (1998) acredita

    que a sua eficcia se d pelo trabalho conjunto (em redes) das Agncias,uma vez que as decises so tomadas pelos tribunais, ou em caso deimpeachment, pelo parlamento.

    Para Pinho e Sacramento (2009, p. 1359), a Lei deResponsabilidade Fiscal (LRF) criada em 2000,

    [...] imps limites e condies para a gesto das receitas, despesas e quanto aoendividamento; exigiu transparncia das contas pblicas e o planejamento comorotina na administrao fiscal, bem como a responsabilizao pelo seudescumprimento.

    No campo formal a LRF contribuiu para o avano daaccountability no Brasil. Enquanto a Controladoria Geral da Unio(CGU) funciona como um canal de transparncia disponibilizando viainternet informaes de valores de repasse de recursos federaisdestinados s instncias subnacionais, alm de exercer funesadministrativas como: controle, correo, preveno e ouvidoria.

    O Poder Judicirio admitiu que difcil empreender reformas naAmrica Latina no que diz respeito a transparncia e controle, e criou aEmenda Constitucional n 45, em 31 de dezembro de 2004, por meio daqual foi criado o Conselho Nacional de Justia (CNJ), rgo competenteno controle e atuao administrativa e financeira do Poder Judicirio eno cumprimento dos poderes funcionais dos juzes (PINHO;SACRAMENTO, 2009).

    Campos (1990), destacou que a accountability horizontal possua

    limites da eficincia em seus mecanismos de controle e que essaeficincia depende de fatos sociais, histricos e polticos, assim como da

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    TRANSPARNCIACONTROLEEPARTICIPAOSOCIAL

    participao social. Campos tambm declarava que os mecanismosinternos de controle no so suficientes para que a accountabilityacontea no Brasil, pois esses mecanismos dependem de fatores

    externos para acontecer.Para funcionar no futuro seria necessriomudanas no modelo tradicional e ampliao da fiscalizao que deveser transparente para os cidados, alm da populao passar da condiode tutelada para tutora da situao e assumir o controle poltico dogoverno. Essa mesma autora destacou a evidente necessidade dapopulao participar da tomada de deciso, e existir uma maior cobranade uma maior abertura do governo sociedade, sobretudo na esferalocal, recebendo-os e ouvindo suas demandas. Para ela, a sociedadepassava a se organizar e estava mais participativa, j se vendo um

    resqucio de otimismo no campo poltico, onde a sociedade mostravaseus interesses sobre demandas de infraestrutura, qualidade de vida,servios sociais e proteo ao poder de compra. Na dcada de 1990experincias de controle social sobre os recursos pblicos comeam atomar fora, sobretudo por meio da criao de Conselhos Municipais epelo que ficou conhecido como Oramento Participativo 4 , o qual objeto de anlise desse estudo.

    Campos(1990) indicou que para tornar a administrao pblica

    democraticamente eficiente algumas aes deveriam ser tomadas, taiscomo, organizao dos cidados para exercer o controle poltico dogoverno; descentralizao; transparncia do aparato governamental e;substituio de valores tradicionais por valores sociais emergentes.Nota-se que o Brasil vem apresentando mudanas significativas emdireo a descentralizao poltica e abertura de participao social,sobretudo aps a criao do Estatuto das Cidades.

    por meio da accountability vertical que a populao vemtomando conhecimento de fraudes em licitaes, sendo o problema maiscomum delatado em fiscalizaes realizadas pela Controladoria Geral daUnio (CGU). Cabe lembrar que a CGU vem provocando a atuao dergos importantes que podem fortalecer a accountability. Outrosrgos, tais como o Fundo de Participao dos Estados (FPE), o Fundode Participao dos Municpios (FPM), TVs, Rdios da Cmera e doSenado, Ouvidorias e as Comisses de Legislao Participativa que

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    Para conhecer melhor o instrumento Oramento Participativo recomendamos o livroOramento Participativo: o que , para que serve, como se faz, de Valdemir Pires,publicado pela Editora Manole, 2001.

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    incluem a sociedade civil no controle poltico atravs de sociedadesorganizadas, como a SIAFI (Sistema de Informaes), tm ampliadosuas condies de propor sugestes que podem vir a ser preposies

    legislativas. O artigo 53, da Constituio Federal de 1988, modificadoem 2001, ampliou as condies de realizao de accountability vertical,acabando com a imunidade parlamentar em relao ao processoprovocado pelo Tribunal Federal sem depender de autorizao da CasaParlamentar (PINHO; 1998). A Lei de Transparncia, de 2011, tem sidoapontada como um avano importante para que a accountability verticalse amplie, uma vez que esta obriga todos os poderes a tornarem pblicase acessveis todas as informaes e aes relacionadas ao setor pblico.

    Para ODonnell (1998), a accountability vertical reside no fato de

    pases democrticos terem a liberdade de eleger seus governantes,cobrar pelas aes realizadas e exigir pelos seus direitos. Uminstrumento de accountability vertical so as informaes obtidasatravs da mdia, em que a sociedade toma conhecimento das aes eerros provenientes do governo e conseguem denunciar e exigir respostassobre possveis abusos de poder e reivindicar seus interesses. Caso essesinteresses no sejam atendidos individualmente ou em grupo, elesrespondem nas urnas, no reelegendo determinados candidatos. O

    problema que as eleies s acontecem de tempos em tempos e poresse motivo no sabemos at que ponto elas so eficientes comoinstrumento de accountability vertical (idem). Somam-se a isso aslimitaes da sociedade em acompanhar e compreender as aes dosseus representantes. O alcance da mdia quando h denncias, exignciade destituio ou punio por atos ilcitos depende muito do resultado daao das agncias reguladoras. Na ausncia dessas aes, tende-se acriar um clima de insatisfao popular com o governo, o que podeocasionar na obstruo dos polticos e derrota na prxima eleio(ODONNELL, 1998) bem como manifestaes pblicas, tais como asmanifestaes que se espalharam pelas principais cidades do pas em2013 e 2015.

    As aes realizadas contrariamente a accountability manifestam-se basicamente em trs elementos: violao da democracia, quandocancelam a liberdade ou fraudam as eleies; violao do princpioliberal, que infringido quando permitem a violao de domiclio, aviolncia domstica, a tortura e o direito de todos de ter um julgamento

    justo; violao do princpio republicano, afetado quando as aes dasautoridades eleitas ou no, deixam de priorizar os interesses pblicos

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    (ODONNELL, 1998).A prtica de accountability horizontal, para ser realizada, depende

    de agncias autorizadas e dispostas a supervisionar, controlar, retificar

    ou punir as aes ilegais de outras autoridades. Em torno desse temavem sendo discutido como deveria ser a diviso, controle e equilbrioentre os poderes Legislativo, Executivo e Judicirio, bem como asagncias de superviso, fiscalizao e prestao de contas(ODONNELL, 1998). Espera-se que o controle das agncias sejamefetivas, mas essa efetividade prejudicada, pois elas no funcionamisoladamente e dependem das decises tomadas pelos tribunais. Aaccountability horizontal efetiva surge do trabalho de uma rede deagncias interligada aos tribunais comprometidos com esse controle e se

    fecha mediante as ltimas decises dadas por esses tribunais, que devemtrabalhar de uma forma preventiva, e caso necessrio punindo osresponsveis pela quebra de limites e abuso de sua autoridade(ODONNELL, 1998).

    Existe no Brasil uma dualidade entre mentalidades: uma modernae outra arcaica. Se por um lado o Brasil arcaico hierrquico,personalista, familista, clientelista, patrimonialista e paternalista,aceitando o famoso jeitinho brasileiro e outros comportamentos

    similares, por outro lado, esses valores se enfraquecem nos nveis commaior escolaridade, por isso temos presenciado a existncia de prticasque aprofundam a democracia e a transparncia na administraopblica (PINHO; 1998; PINHO; SACRAMENTO, 2009;SACRAMENTO, 2004).

    Pinho e Sacramento (2009) ao analisarem a obra de Campos(1990), identificaram alguns termos que ainda no foram extintos darealidade brasileira, mas que tem sofrido certa transformao, seriameles:

    A sociedade passiva, nepotismo, favoritismo, privilgios para alguns/poucos,falta de participao da sociedade civil, autoritarismo, populismo, crise decredibilidade das instituies, principalmente do Congresso, o padro casusticodos partidos polticos, troca de votos por cargos pblicos, e um enorme etc.(PINHO; SACRAMENTO, p.1364).

    Embora esses autores apontem tais permanncias, os mesmosidentificam certo otimismo, uma vez que esses elementos vm sendoenfrentados pela sociedade civil e, at mesmo, pelo aparato

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    governamental. Por outro lado, em meio ao clientelismo praticado pelospolticos, os cidados menos organizados so muito pessimistas sobre aspossibilidades de mudanas, pois acreditam ser difcil mudar uma

    cultura poltica to antiga (CAMPOS, 1990).A permanncia do modelo tradicional de governo fez com queODonnell (1998) considerasse a Democracia da Amrica Latina comoum tipo particular: uma espcie de democracia delegativa, ou seja, ocandidato ao ganhar as eleies est autorizado a governar da maneiraque achar melhor e decidir sobre quais resultados deve produzir e comoproduzi-los, no sendo necessariamente obrigado a cumprir aspromessas feitas durante a campanha eleitoral.

    Nos diagnsticos que apontam o carter patrimonialista da

    poltica brasileira, como os trabalhos de Nunes (2003) e Faoro (1979), comum relacion-la as suas razes e cultura poltica lusitana. DestacamPinho e Sacramento (2009)que esse comportamento herdado em relaoao governo condiciona os brasileiros tolerncia a corrupo, a baixaexpectativa do servio pblico honesto, o que corrobora com apersistncia da ausncia da accountability (Ibidem).

    De acordo com Faoro (1979) essa resistncia modernizao temrazes em interesses de grupos que ele chama de estamento, grupos que

    controlam o Estado e tem sido resistente s transformaes demodernizao, mantendo um capitalismo politicamente orientado.Para Nunes (2003) essa variante do capitalismo moderno, adotou atcnica, as mquinas e as empresas, sem aceitar a racionalidadeimpessoal e legal universal, garantindo a imutabilidade histrica dopatrimonialismo amplamente praticado no Brasil.

    Observa-se ainda que a incapacidade brasileira na ruptura com otradicional abordada por vrios estudos. Essa caracterstica tambmno passou despercebida por Ianni (1994, p.177-178 apud PINHO;SACRAMENTO, 2009), ao afirmar que [o] Brasil no propriamenteuma nao, mas configura-se em imprio e ao longo da Repblica, comouma vasta desarticulao. a partir dessa dualidade, amplamentedestacada por vrios autores, que Pinho (1998) aponta que reside ai adificuldade de uma reforma do Estado no sentido de implantar umaadministrao gerencial capaz de aprofundar a accountability. H umahistria de acumulao de fenmenos, onde no acorre ruptura, onde onovo se amolda ao velho e, dialeticamente o velho, se amolda ao novo

    (PINHO; SACRAMENTO, 2009).Outra caracterstica do sistema poltico brasileiro o que ficou

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    conhecido como loteamento de cargos pblicos, sendo este o usopatrimonialista de cargos pblicos como moeda de troca, utilizando-oscomo forma de obter apoio poltico. A contratao dessas pessoas, que

    nem sempre tm capacidade para assumir o cargo e exercer a funocomo esperado, ocorre tambm em rgos responsveis pelo controle efiscalizao das atividades do setor pblico, o que gera um impactonegativo sobre a accountability institucional (PINHO; SACRAMENTO,2009). As imperfeies da democracia brasileira tm sido foco demuitos estudos na atualidade, os quais indicam que houve pouco ounenhum avano nos ltimos anos em se tratando de cultura poltica eparticipao poltica.

    O modelo de accountability burocrtico tradicional no tem se

    mostrado suficiente para promover a justia social e poltica, aresponsividade, e evitar o abuso de poder, assim como levar o governo atrabalhar de forma produtiva para o povo. H uma necessidade de haverum controle do governo, o qual parece que s obtm resultadossignificativos quando fiscalizado pela populao (CAMPOS, 1990).

    A qualidade da accountability est diretamente ligada aimpessoalidade. Em uma gesto marcada pelo patrimonialismo ascondies para o desenvolvimento da accountability profundamente

    prejudicada. Enquanto a sociedade se portar como tutelado e no comotutor, no haver condies para a sua prtica (CAMPOS, 1990).Ainda no incio da dcada de 1990, Campos (1990) j apontava

    que dos controles possveis, o Brasil carecia de maior participao dasociedade na avaliao das polticas pblicas e o aprimoramento dessaconscincia popular para que existisse de fato uma democraciaparticipativa na poltica, pois alm do sentimento de comunidade, asociedade organizada deveria participar e influenciar no processodecisrio poltico, alm de exigir o bom funcionamento do serviopblico para o alcance de resultados desejveis.

    Em 1990, Campos afirmava que a participao poltica dapopulao no Brasil era deficiente, limitando-se apenas as eleies, e aspoucas instituies que existiam eram descompromissadas, fracas ealienadas, isso porque dependiam financeiramente da ajuda do governopara continuar funcionando, alm desses fatores, faltava por parte dapopulao a luta pelos prprios direitos. Hoje, passado mais de duasdcadas, o Brasil vivencia um novo contexto poltico. A Constituio

    Federal estabelece a participao social no oramento da sade (incisoIII, art. 198); da assistncia social (inciso II, art. 204); e da educao

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    (inciso VI, art. 206). Outros fatos que merecem destaque a aprovaoda Lei Complementar n 101/2000, intitulada Lei da ResponsabilidadeFiscal (LRF), a criao da Controladoria Geral da Unio (CGU) em abril

    de 2001, a criao do Estatuto das Cidades, em julho de 2001 e a criao,em 01 de janeiro de 2003, do Ministrio das Cidades, alm de iniciativaspartidrias de gesto participativas, tal qual o Oramento Participativo;objeto desse estudo.

    O Oramento Participativo como instrumento de accountability

    Para que a accountability seja eficaz, necessrio levar emconsiderao as seguintes questes: i) quem decidir os resultados aserem produzidos; ii) quem sero os responsveis pelos resultados; iii)quem sero os responsveis pela fiscalizao dos resultados; iv) como sedar o processo de accountability (BENH, 1998).

    Qualquer mecanismo de accountability deve permitir que opblico participe do debate sobre a escolha das metas, e noacompanhamento e avaliao da execuo das mesmas. Portanto importante o processo de diviso e transferncia de responsabilidades

    para aproximar o cidado das instncias decisrias e contribuir para umagesto pblica mais eficiente e eficaz. Assim, a descentralizao deveviabilizar tambm a transparncia dos governos e seus municpios(PINHO; SACRAMENTO, 2009, PINHO, 1998; SACRAMENTO,2004; BENH, 1998). A descentralizao dos recursos pblicos e a maiorresponsabilidade e capacidade de gesto dos municpios tornaram maisprxima a poltica dos cidados, fazendo com que o municpio passassea ser tambm o lcus das disputas polticas. Nesse contexto, o

    Oramento Participativo (OP) vem sendo apresentado como uminstrumento de aprofundamento da accountability, afirmando sermarcado pela elaborao e execuo do oramento pblico com aparticipao da sociedade, visando acompanhar e controlar a aplicaodos recursos, alm de maximizar a disposio das contas dos municpiospara exame e apreciao por qualquer contribuinte (PINHO;SACRAMENTO, 2009).

    Bodart (2014), destaca que o Oramento Participativo (OP) temsido apontado como um instrumento de democratizao da gestopblica, proporcionando aos cidados maiores condies de participar

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    das decises e de fiscalizar o oramento municipal. importante frisarque o OP possui variaes significativas causadas pelas condiespolticas e sociais que o envolve.

    Outra definio bastante colaborativa para a compreenso doconceito de OP, apresentado por Avritzer (2003, p.14-15):

    O OP uma forma de rebalancear a articulao entre a democraciarepresentativa e a democracia participativa baseada em quatro elementos: aprimeira caracterstica do OP a cesso da soberania por aqueles que a detmcomo resultado de um processo representativo local. [...]; em segundo lugar oOP implica a reintroduo de elementos de participao local, tais comoassemblias regionais, e de elementos de delegao, tais como os conselhos [...];em terceiro lugar, a participao envolve um conjunto de regras que so

    definidas pelos prprios participantes, vinculando o OP a uma tradio dereconstituio de uma gramtica social participativa na qual as regras dadeliberao so determinadas pelos prprios participantes; em quarto lugar, o OPse caracteriza por uma tentativa de reverso das prioridades de distribuio derecursos pblicos a nvel local atravs de uma frmula tcnica.

    O OP, por ser entendido como uma experincia de cogesto, quepode vir a possibilitar uma corresponsabilidade das aes, onde gestor esociedade civil tendem a dividir os mritos e demritos das escolhas

    tomadas.Bodart (2014) ao analisar as potencialidades do OP, destacoualguns elementos importantes para esse presente estudo. So elas:reduo do clientelismo; ampliao da confiana da populao emrelao ao gestor pblico; reduo de prticas personalistas; minimiza opotencial de corrupo; maior transparncia na gesto pblica; induz agesto adotar instrumentos de gesto e planejamento mais eficazes;conduz a populao a compreender mais os processos da gesto pblica.A partir desses elementos destacados, partimos da hiptese de que o OPpode colaborar para o aprofundamento da accountability social. A fimde checar tal pressuposto tomamos a experincia de Vila Velha comoestudo de caso.

    A experincia do Oramento participativo de Vila Velha (OPVV)sob a luz do conceito deaccountability

    De acordo com o IBGE, Vila Velha o segundo municpio maispopuloso (458.489 habitantes) do Esprito Santo, atrs apenas do

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    municpio da Serra, destacando-se como o 48 mais populoso do Brasil,abrigando 46% da populao capixaba e 57% da populao urbana doEsprito Santo (PMVV, 2015).

    Apresenta uma densidade populacional de 2.195,62 habitantes porkm, com 99,5% de sua populao concentrada na rea urbana. Omunicpio est a cerca de 10 km ao sul da capital Vitria. Faz divisa aonorte com a capital do estado e com Cariacica, a oeste com Viana, ao sulcom Guarapari; e ao leste com o Oceano Atlntico (PMVV, 2015).

    Seu ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,8, estandoacima da mdia brasileira; sendo o segundo maior ndice de todo oestado do Esprito Santo. a cidade mais antiga do estado e a regiomais dinmica no cenrio econmico capixaba (com destaque para a

    indstria e o comrcio) sendo responsvel por 58% da riqueza do estado(PMVV, 2015).

    O Municpio de Vila Velha foi um dos primeiros municpios doestado do Esprito Santo e um dos primeiros do Brasil a implantar oOramento Participativo (embora na poca sob outra denominao)como instrumento de gesto pblica de participao popular. Sua prticateve incio em 1983. Naquele ano o gestor pblico municipal buscou seaproximar da populao, criando dilogos atravs das Assembleias nos

    bairros, as quais visavam discutir as demandas prioritrias, os impostose o funcionamento da mquina pblica. Nelas participavam, alm derepresentantes de associaes de moradores e de movimentos sociais,engenheiros, assistentes sociais, representantes da Secretaria deFinanas para aporte tcnico sobre tributao, representantes de outrassecretarias e o Prefeito.

    Naquele mesmo perodo o pas, e no caso especfico o municpiode Vila Velha, passava por grandes mudanas em se tratando demanifestaes sociais, momento em que as pessoas e os movimentossociais organizados passaram a reivindicar de forma mais intensa esistemtica seus direitos, lutavam por melhores condies de sade,educao, moradia, transporte pblico, entre outros fatores (PEREIRA,2001).

    No incio de 1983 existiam trinta e trs (33) associaes nosbairro em Vila Velha, sendo que no final do mesmo ano esse nmerochegou a cinquenta e cinco (55). Nota-se que a ampliao daparticipao na gesto pblica foi acompanhada por uma maior

    ampliao da sociedade civil organizada. Tericos dos movimentossociais, tais como Charles Tilly (2005) e Sidney Tarrow (2009), indicam

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    que a abertura de maiores oportunidades de participao e menoresrestries polticas colaboram para o desenvolvimento dos movimentossociais e das aes coletivas. Parece que, no caso de Vila Velha, essa

    maior sinalizao para uma maior abertura participao social foifundamental para o desenvolvimento de novas associaes naquelemunicpio.

    Quando o prefeito Vasco Alves de Oliveira Jr. assumiu a gestomunicipal, em 1983, props uma agenda poltica com a participaopopular, convocando, em 26 de maro daquele ano uma assembleia comtodos os representantes das comunidades para oficializar e instalar oConselho Comunitrio de Vila Velha (CCVV) (KROHLING;KROHLING, 2011). Este gestor pblico passou a realizar reunies

    quinzenais dentro da Prefeitura de Vila Velha, sendo convocado ecoordenado por tcnicos do governo municipal, sobretudo do ServioSocial de Ao Comunitria.

    Mesmo sendo o CCVV, uma entidade institucionalizada, houvemuitas tentativas de se questionar as opinies e reivindicaes doConselho Comunitrio na Prefeitura na gesto do posterior prefeito,Grson Camata (KROHLING; KROHLING, 2011). Apesar dasintervenes desse governo municipal contra o Conselho Comunitrio

    de Vila Velha, a sociedade civil organizada conseguiu, juntamente comos participantes do CCVV, em maro de 1984, a aprovao de umEstatuto que definiu a estrutura e autonomia da entidade(VASCONCELOS, 1996).

    No ano de 1984 aconteceu a primeira Assembleia Municipal deOramento (AMO) no Municpio de Vila Velha, que foi se aprimorandoat a criao da Lei Orgnica do Municpio, Lei n 01 de 25 de outubrode 1990.

    Dados levantados por Ferri (2009) na Secretaria Municipal dePlanejamento Oramento e Gesto (SEMPLA) sobre a primeiraAssembleia em 1984, do conta de que houve a participao de cincomil (5.000) populares e na segunda ocorrida 1985 esse nmero chegou adez mil (10.000) populares.

    O Oramento participativo de Vila Velha (OPVV) teve algunsimpasses entre os anos de 1983 a 1987. Devido a divergncias entre osmovimentos sociais e o Poder Publico Municipal a discusso dooramento para o ano de 1988 foi adiada pelo prefeito Carlos Malta de

    Carvalho, levando as lideranas comunitrias a ingressarem em umaao na Justia para obrig-lo a cumprir a Lei 2.247/85 de criao da

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    Assembleia Municipal do Oramento, cujo propsito seria tratar deassuntos voltados ao Oramento Participativo; assim como a Lei2.367/87, que incluiu a populao na discusso, elaborao,

    acompanhamento e fiscalizao das aes e resultados obtidos noOramento Participativo, institudo atravs da Lei 2.454/88(VASCONCELOS, 1996).

    Art. 1 - Fica obrigado o Poder Executivo a discutir anualmente com osmovimentos comunitrios, associaes de moradores e outras entidades sociaisorganizadas do municpio de Vila Velha, a Proposta Oramentria e obter aaprovao da mesma antes, de seu envio Cmara Municipal.

    A Lei 2.247/85 estabeleceu cinco etapas a serem seguidas peloOramento Participativo. Na primeira etapa acontecem as assembleiasnos bairros para discutir o reajuste de impostos e a eleio de trsdelegados para a Assembleia Municipal de Oramento (AMO). Asegunda etapa da AMO busca aprovar os assuntos discutidos naprimeira etapa e avaliar como sero rateados os recursos entre os bairros.A terceira etapa trata-se do estabelecimento das assembleias dos bairrospara discutirem como sero utilizados os recursos disponibilizados paracada bairro (o que feito na segunda etapa). A quarta etapa define que aAssembleia Municipal do Oramento (AMO) deve decidir sobre osrecursos destinados sade, transporte, meio ambiente, educao,cultura, habitao, esporte, lazer, turismo, entre outras obras municipais.A quinta etapa o momento para que o Executivo envia o OramentoParticipativo para a Cmara Municipal para a aprovao. Se aprovadoentrara em vigor no prximo ano.

    Para Ferri (2009) aps a criao das leis, a participao do povona discusso do Oramento Participativo do Municpio de Vila Velha se

    tornou legtima, embora no pudesse decidir sobre 100% dos recursos.O Municpio ento se tornou um dos pioneiros na prtica do OramentoParticipativo, fruto da luta pela redemocratizao do pas e do governoda poca que tentava ganhar legitimidade poltica.

    Em 2008 na gesto de Max Filho os bairros de Vila Velha foramdivididos em cinco regies administrativas, o objetivo foi realizar obrasem cada regional. Tambm foi criada a eleio do Frum de Delegadospara cada uma das cinco regies, a fim de representar o povo na escolha

    dos temas priorizados.Em Vila Velha, mesmo sendo um dos municpios pioneiros a

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    implantar o OP e aps 31 anos de experincia marcados por conquistasalcanadas pela sociedade na participao do processo de deciso asaes no foram suficientes para garantir a satisfao da populao. As

    velhas prticas polticas patrimonialistas, a intermitente presena doOramento Participativo, a falta da transparncia esperada e errosprticos na conduo do OP por algumas gestes, gerou um desgaste e odescrdito por parte da populao.

    Atualmente o municpio est organizado em 102 bairros; suaCmara Legislativa composta por dezoito vereadores, sendo a gestoatual realizada pelo prefeito Rodney Miranda do Partido Democratas(DEM). Nesse captulo buscaremos nos centrar na avaliao desseinstrumento luz da percepo dos Delegados do OP, os quais,

    princpio, deveriam ser os indivduos mais bem informados em relaoaos procedimentos, caractersticas, potencialidades e objetivos desseinstrumentos. Nesse sentido acreditamos que os Delegados sejam umbom termmetro para compreendermos a capacidade do OP em seapresentar como aprofundador da accountability social.

    Mtodos

    Por meio de um estudo de caso,objetiva-se analisar a experinciado Oramento Participativo (OP) do municpio de Vila Velha. Sob a luzdo conceito de accountability pretende-se averiguar se o referidoinstrumento de gesto pblica percebido pelos Delegados do OP comoum mecanismo de responsabilizao e controle social sobre a gestopblica municipal. Foram utilizadas como ferramentas metodolgicas de

    coleta de dados entrevistas semiestruturada aplicada ao Secretrio deDesenvolvimento Econmico PMVV 2014 (que atuou como Secretriode Planejamento em 2013), a Analista de Oramento e Poltica Pblicada PMVV (na funo desde 2006), a quatro (04) Delegadose aoCoordenador Geral do Conselho Centro Comunitrio Vila Velha -CCVV. Foram utilizadas como fontes de informaes cartilhas edocumentos pblicos, os quais permitiram a identificao de aesligadas ao OP e a prestao de contas. Afim de evitar a exposio dosDelegados, os chamaremos de Delegado 1, Delegado 2, Delegado 3 eDelegado 4. Outra fonte de informaes foram os comunicados oficiais

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    GESTOPBLICA

    relacionados ao Oramento Participativo disponveis no siteinstitucional da Prefeitura de Vila Velha.

    Apresentao e anlise dos dados

    O Oramento Participativo do Municpio de Vila Velha propeser uma ferramenta de participao popular, prometendo incluir osmuncipes no processo de deciso, execuo e fiscalizao deinvestimentos e obras pblicas municipais.

    Esse instrumento realizado em etapas. A primeira etapa trata-sede uma convocao pblica para a realizao da Assembleia Municipal

    do Oramento (AMO). Nessa apresentado o Calendrio de Atividadesdo municpio, includo nele as assembleias regionais para escolha dasaes, o frum nico de delegados e a Assembleia Municipal deOramento de apresentao do Plano Plurianual e da Lei OramentriaAnual (LOA).

    As aes so divididas por cinco (05) regies, conforme apresentaa tabela 1.

    Tabela 1 - Diviso Regional do OP de Vila Velha, ES.

    Fonte: Elaborado pelos autores a partir do site da PMVV (2014).

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    Na segunda etapa ocorre a eleio e capacitao dos novosDelegados. A capacitao ocorre por meio de minicursos ofertados eelaborados pela Secretria de Oramento, Planejamento e Gesto

    (SEMPLA). Nessa etapa realiza-se uma atualizao dos representantesdas comunidades (lideranas e Delegados), tornando-os elegveis para aseleies atravs do cadastro pelo Centro Comunitrio Vila Velha(CCVV), rgo que regulamenta as Associaes de Moradores e osDelegados Regionais.

    A terceira etapa do processo de Oramento Participativo noMunicpio se d pela apresentao nas Assembleias RegionaisTemticas de trs aes para cada um dos seis temas (Infraestrutura eDesenvolvimento Urbano, Desenvolvimento Humano e Cidadania,

    Educao/Cultura/Esporte/Lazer, Sade, Preveno e Combate aViolncia e Desenvolvimento Econmico).

    Na quarta etapa se discute quatro questes, so eles: i) oRegimento Interno do Oramento Participativo para os trmites legaisnecessrios aprovao, ii) eleio da Comisso de Acompanhamento eFiscalizao de Obras, iii) apresentao do resultado das AssembleiasRegionais Temticas para os Delegados e definies no caso de empatede aes escolhidas, iv) votao em trs aes para cada um dos seis

    temas tambm segmentado por Regio.Aps a votao nas Assembleias Regionais Temticas sodefinidas uma ao para cada tema, totalizado seis (06) aes por regioe trinta (30) aes no total. Soma-se a essas aes mais seis (06) aesde cada Regio votadas pelo Frum dos Delegados, totalizando doze(12) aes por regio administrativa, totalizando sessenta (60) aes quesero priorizadas no Oramento Participativo do Municpio de VilaVelha.

    Na quinta etapa ocorre a segunda Assembleia Municipal doOramento (2 AMO).Trata-se de uma audincia pblica em que soapresentadas as aes priorizadas do Oramento Participativo e no PlanoPlurianual (PPA) para o ano seguinte.

    Na sexta etapa ocorre, atravs de audincia pblica, a terceiraAssembleia Municipal do Oramento (3 AMO), momento que soapresentados a Lei Oramentria Anual (LOA) com a consolidao doOramento Participativo, apresentao dos gastos detalhados porprogramas e aes, estimativa da receita e fixao da despesa,

    especificamente as demandas oriundas do processo de consulta popularpelo OP, concluindo o Ciclo do Oramento Participativo.

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    GESTOPBLICA

    O Oramento Participativo do Municpio de Vila Velha estinserido nas polticas pblicas. Segundo o Secretrio deDesenvolvimento Econmico PMVV as polticas pblicas se definem

    pelo objetivo do Estado que o interesse coletivo e o bem estar dasociedade, desta forma, para o Estado desenvolver uma poltica pblicah a necessidade de ouvir as demandas da sociedade. O oramento,como relata o referido secretrio, pode ser elaborado de duas maneiras:dentro do gabinete, onde o governante e seus tcnicos definem quais soas demandas da sociedade e quais so as prioridades a serem executadasdentro dos recursos que o municpio tem disponveis ou; o gestor podefazer as melhorias para a cidade ouvindo a comunidade. Para osecretrio a segunda alternativa mais promissora, mas merece ateno

    em sua realizao.

    [...] Existem critrios para se ouvir a comunidade, no pode ser de qualquermaneira, tem que ter muito respeito pela opinio contrria, aprender a ouvircrticas e a dominar uma plateia que muito ansiosa, principalmente no Brasilque um pas muito atrasado em relao ao desenvolvimento, todos ns somosansiosos e queremos melhores escolas, melhores ruas, saneamento, etc... equeremos para ontem. O Brasil atrasado em mais de cem anos em relao aalguns pases. Ento a prefeitura tem que ter a capacidade de compreender, de secolocar no lugar dessas pessoas, tem que sentar, conversar e sempre serverdadeiro. s vezes o oramento participativo no d certo porque se acolhetodas as sugestes. Exemplo: vamos calar todas as ruas, vamos fazer 10creches, vamos fazer 5 escolas, vamos fazer, vamos fazer e no final no faznada, por isso tem que ter a escolha de prioridades, da a importncia de ouvir econfirmar se a necessidade verdadeira e se ela prioridade naquele momento(ENTREVISTADO 1. Secretrio de Desenvolvimento Econmico PMVV).

    De acordo com a Analista de Oramento Participativo daPrefeitura de Vila Velha, as polticas pblicas devem contemplar tudo o

    que dever ser realizado durante o ano seguinte. Desta forma oOramento Pblico englobaria tudo o que foi votado e aprovado para oano posterior por meio do OP.

    Para que todo oramento participativo funcione de maneiraeficiente necessrio que haja a participao da sociedade na tomada dedeciso, o planejamento para a realizao da obra em um determinadoespao de tempo e a fiscalizao e acompanhamento de sua execuo.No caso do Oramento Participativo praticado no Municpio de Vila

    Velha isso no seria diferente.Campos (1990) afirma que para a administrao pblica funcionar

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    de forma democrtica, so necessrios a organizao dos cidados paraexercer o controle poltico do governo, a descentralizao, atransparncia e a incluso da populao na tomada de deciso e no

    estabelecimento de metas especficas. No entanto, observamos que oOramento Participativo do Municpio de Vila Velha como instrumentode participao popular no tem funcionado como deveria,

    [...] Eles que definem, a gente diz o que a gente precisa [...] eles renem todosos bairros, a gente leva, eles que definem, a gente precisa disso, isso e isso, decinco eles resolveram que essas trs vo ser feitas, eles que definem, a gente sescuta. A gente vai l pra reunio, escuta, briga, mas [...] A gente fez asindicaes das prioridades das regies, dos bairros, eles avisam essas foram asdecididas por voto, no tem uma comisso para dizer, para apurar se esses votos

    foram para essa prioridade (ENTREVISTADO 3. DELEGADO 2).

    [...] Na realidade ser mais transparente n [...] que as regras digamos assim,sejam melhor, mais bem definidas e que seja mais participativo e popular, achoque essa a palavra que falta, popular, porque a partir do momento que vocescolhe uma coisa genrica e outras pessoas decide o que vai fazer, queparticipao essa ? (ENTREVISTADO 4. DELEGADO 1).

    Para o Secretrio de Desenvolvimento Econmico da PMVV para

    definir os recursos destinados ao Oramento Participativo observa-se asverbas pr-estabelecidas para as reas de sade (25%), educao (15%),Cmara de Vereadores (cerca de 5% a 6%), pagamento de salrios e amanuteno da mquina pblica. Observado essas verbas j pr-estabelecidas, para o OP acaba sendo destinado cerca de 2% a 5% dosrecursos totais do municpio.

    Por meio do OP, o Secretrio de Planejamento ouve asprioridades das comunidades atravs de audincias pblicas de cada

    regio a fim de observar a viabilidade oramentria. Essas reunies soorganizadas pelo Conselho Comunitrio de Vila Velha (CCVV) queparticipa de todo o processo. As demandas escolhidas e viveis solevadas para a conveno de Delegados eleitos; e esses decidem o que prioridade e encaminham para que sejam executadas pelo executivomunicipal.

    Destaca a Analista de Oramento Participativo da PMVV que oplanejamento parte da ao conjunta dos movimentos organizados domunicpio, sendo finalizado e prestado contas a cada dois anos; um ano

    se discute as prioridades, no outro executa.Com relao a execuo de obras, o Delegado 2 afirma que o

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    oramento executado sem a participao social e que tem sido o gestorquem planeja e decide o que vai ser feito para cada regio. Nessa mesmadireo, afirmou o Delegado 1 que a populao no sabe como o

    oramento executado, e que s aps ser feito que a Prefeituracomunica que a obra em questo fazia parte do oramento participativo.Nota-se que os dois Delegados queixam-se de no terem as informaesnecessrias em relao as obras que esto sendo realizadas nos bairro ouna regio, o que impossibilita a sua fiscalizao.

    Para o Delegado 3 a execuo de obras no municpio no tem umcritrio claro, sendo o prprio prefeito quem define as prioridades e aospoucos vai executando.Afirma ainda que, na gesto do Prefeito MaxFilho eles votavam em assembleias as aes por rua e bairro e no por

    regio.O Delegado 4 alerta que o oramento deveria ser executado de

    uma maneira e no , isso porque no feito de forma democrticapara benefcio e qualidade de vida da populao. Para ele a prefeituraao realizar uma obra com o oramento participativo no inclui osconselheiros na fiscalizao e acompanhamento. Declara ainda quepara que o Oramento Participativo do municpio se torne um processodemocrtico a populao tem que participar em tudo o que envolve o

    dinheiro pblico. Destaca que nenhuma das demandas apresentadaspela sociedade foram atendidas. Segundo o Delegado 4 h uma caso emque a Prefeitura anunciou como obra feita e entregue pelo oramentoparticipativo a construo de 498 casas na Regio de Jabaet, e que asmesmas no fazem parte do OP porque so construdas com verbafederal, do programa Minha Casa Minha Vida. Para ele isso no umcaso isolado.

    O Coordenador Geral do Conselho Comunitrio de Vila Velha epresidente da Associao de Moradores alega que historicamente ospolticos eleitos tm boicotado e retaliado a ao de vrias lideranascomunitrias, isso quando a liderana faz o seu papel de defender osinteresses de seu bairro. Quando o lder comunitrio tem cargocomissionado e exige melhorias para sua cidade acaba sendo exoneradode seu cargo, afirmou. Infelizmente essa prtica destacada peloentrevistado bem caracterstica das aes patrimonialistas da polticabrasileiras, no se tratando de uma particularidade de uma gesto ou deum municpio.

    Para ODonnell (1991; 1998) os atores no governamentais, comoas associaes de classe e movimentos sociais, tambm fazem parte da

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    accountability horizontal, vemos isso claramente nas associaesdemoradores representadas pelos Delegados, Movimento Vida NovaDesenvolvimento Sustentvel (MOVIVE) e pelo Conselho Comunitrio

    de Vila Velha (CCVV).[...] As associaes participam das votaes finais atravs do presidente daassociao de moradores que um Delegado nato, praticamente todos ospresidentes de associaes so Delegados [...] Quando a administrao nocumpre o que est no oramento Participativo, o que est consignado nooramento, essa comisso volta para as comunidades e para o ConselhoComunitrio de Vila Velha, o CCVV toma as providncias que julgarnecessrio, a entra a mobilizao pblica, o Ministrio Pblico, e se tem umarepresentao para acompanhar o resultado. (ENTREVISTADO 1.

    SECRETRIO DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO DA PMVV).

    Alm dessas entidades representativas, os muncipes desfrutam deoutros Conselhos, Secretarias e movimentos que defendem causas dediversos setores em benefcio da populao.

    [...] o Movimento Vila Velha (MOVIVE), Conselho de Meio Ambiente,Secretaria de Servios Urbanos, Secretaria de Educao, Secretaria de Sade,

    Conselho de Assistncia Social, Conselho da Criana e Adolescente, Conselhodo Idoso, Conselho da Mulher, Conselho da Segurana Alimentar funcionamcomo um canal de comunicao com os pais, e com a populao em geral, etambm serve como um instrumento de representao da sociedade civil(ENTREVISTADA 2. ANALISTA DE ORAMENTO PARTICIPATIVOPMVV).

    O Conselho Comunitrio de Vila Velha (CCVV) uma entidadeautnoma e federativa dos movimentos sociais no Municpio de Vila

    Velha e representa as associaes de moradores e os movimentoscomunitrios.Para o Coordenador Geral do Conselho Comunitrio de Vila

    Velha e presidente da Associao de Moradores Regional 5, o papel doCCVV fomentar a formao de lideranas, qualificar e orientar aslideranas a se desenvolverem no papel de cidado que lhe de direito,alm de participar da discusso das Polticas Pblicas do Municpio, nodirecionamento dos investimentos. As lideranas passam a ter espaonos Conselhos Municipais, de Educao, Desenvolvimento Urbano e emtodos os Conselhos importantes onde se debate e se discute as

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    prioridades para a populao e a luta por melhores condies de vidapara s comunidades. Atualmente o CCVV est constitudo pelasassociaes de moradores, Associao de Mulheres, Comisso dos

    Direitos Humanos, entre outros associados ligados ao desenvolvimentosocial. importante frisar que o CCVV tem uma histria de mais detrinta anos, um dos pioneiros no Brasil na luta pelo OramentoParticipativo.

    A fiscalizao das obras do Oramento Participativo doMunicpio de Vila Velha, segundo o Secretrio de Planejamento,acontece atravs da comisso de acompanhamento, a qual atuapermanentemente fiscalizando o que a sociedade pediu e foi colocado nooramento para ser executado. Afirma que quando a administrao no

    cumpre o que est no Oramento Participativo essa comisso retorna scomunidades e ao Conselho Comunitrio de Vila Velha e esta toma asprovidncias que julgar necessrias, nessa fase pode, em caso denecessidade, haver uma mobilizao pblica e denncias ao MinistrioPblico. Destaca ainda que muito importante que a sociedade d oalerta antes de terminar o prazo definido para a execuo de obras. Comrelao a essa questo, a Analista de Oramento Participativo afirma queessa comisso de acompanhamento, execuo e controle composta por

    vinte e dois membros, sendo dois representantes do ConselhoComunitrio, quinze representantes da comunidade (Delegados) - sendotrs para cada uma das cinco regies administrativas -, o Secretrio deFinanas, o Secretrio de Planejamento, o Secretrio de Obras e doisvereadores representando a Cmara Municipal. Essa comisso estprevista na Lei Orgnica do Municpio, no art.127, a qual trata daAssembleia Municipal do Oramento (AMO).

    O Delegado 2 afirma que at o momento ele no viu umafiscalizao direta e que nunca foi chamado ou avisado sobre uma obraque estaria sendo realizada em um determinado lugar para ir fiscalizar,diz ainda que a prefeitura no deixa eles informados sobre o que estsendo feito.

    Para o Delegado 3 o Conselho tem respaldo absoluto de participarcomo representante nas intervenes, acompanhamentos, sugestes,encaminhamentos dos moradores, porm cabe a prefeitura abrir mais asportas para receber os lderes comunitrios e as solicitaes dosmoradores.

    Tanto o Delegado 1, quanto o Delegado 2, afirmam que quanto fiscalizao e o acompanhamento no podem emitir opinio ou passar

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    informao, isso porque eles no tm cincia sobre as diretrizes, as quais,afirmam, no so bem definidas e claras.De acordo com o Delegado 5essa fiscalizao deveria ser feita pelos conselheiros que so escolhidos

    pelos Delegados, na comisso de controle e acompanhamento, s queeles no acompanham e nem fiscalizam porque a prefeitura no osnotifica. Afirma ainda que o oramento deveria ter o calendrio dereunies anuais para se discutir essas diretrizes, sobre as obras que serofeitas em determinado lugar, sobre qual o valor da verba destinada e aempresa contratada para a obra.

    Campos (1990) destacou que aaccountability horizontal se tornalimitado devido a fatores sociais, histricos e polticos e issocompromete sua eficcia,

    [...] Existem algumas limitaes como o licenciamento ambiental, as vezes aspessoas querem mais jardins, querem mais praas e a regio alagadia, aprefeitura tem que desapropriar algum terreno, a tem todo um processo legal,desapropriar no fcil, tem um terreno que o proprietrio quer 100 mil e aprefeitura diz que vale 80 mil, o dono no quer entregar, ento vai para justia eo processo demora. Existem dificuldades tanto no lado ambiental, como nojurdico, demanda tempo e por esse motivo no se pode prometer obras a curtoprazo (sic) (ENTREVISTADO 1. SECRETRIO DE DESENVOLVIMENTOECONMICO DA PMVV).

    [...] A falta de conhecimento da populao que sabe muito pouco de sua prpriacidade e quer cuidar do seu pedao, do seu bairro e no da cidade toda, no temuma viso ampla, ento ela quer o melhor para seu bairro e no interessa se obairro vizinho vai ficar ruim, por isso preciso ensinar as pessoas, o maiordesafio do Oramento Participativo empoderar as pessoas com conhecimento,elas no conhecem o que o Plano Diretor Municipal (PDM), no conhecem ocdigo florestal, o cdigo de postura, ento elas vo pedir algo que as vezes nose pode fazer, isso porque no tem conhecimento da cidade como um todo [...] Oprocesso de conscientizao das pessoas no que diz respeito as obras, fazer apopulao entender as prioridades, fazer com que os moradores e as lideranasentendam que a rua delas importante, que a praa do bairro delas importante,mas que drenagem e macrodrenagem vital para o municpio, por isso os minicursos so muito importantes (sic) (ENTREVISTADA 2. ANALISTA DEORAMENTO PARTICIPATIVO PMVV).

    A participao popular muito importante para o processo dedeciso de prioridades. Para o Secretrio de Desenvolvimento PMVVessa participao se d atravs dos Delegados e das audincias pblicas.

    A Analista de Oramento Participativo da PMVV acredita quehouve uma queda na participao da populao nos ltimos quatro anos,

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    isso devido a ltima gesto. Para ela fica difcil avaliar o OP porqueapenas esse ano o Oramento Participativo retornou de fato nomunicpio.

    Com relao a essa mesma questo, o Delegado 1 afirma que nomunicpio de Vila Velha existe o Conselho Comunitrio de Vila Velhaque representa todas as associaes de moradores de Vila Velha e queessas associaes precisam estar em dia com suas obrigaesestatutrias, como frequentar as reunies e discusses sobre oOramento Participativo do municpio.

    O Coordenador Geral do Conselho Comunitrio de Vila Velhadestaca que a participao popular, desde a implantao do OramentoParticipativo at os dias de hoje, tem um papel fundamental porque

    participando a sociedade percebe quando seus direitos esto sendoviolados. Segundo ele para que a populao participe do OramentoParticipativo do municpio importante que a Prefeitura disponibilizemeios para a divulgao das reunies, conselhos e votaes, o que noestaria acontecendo de forma plena. No entanto, o Secretrio deDesenvolvimento e Analista de Oramento Participativo afirmam queessa divulgao feita atravs de editais, publicaes em jornais, no siteda Prefeitura, panfletos, considerando ser mais eficaz as peruinhas e

    bicicletas que rodam as ruas de bairros mais carentes com divulgaoauditiva. O Delegado 2 afirma que, a comunicao feita atravs de umtelefonema avisando sobre a reunio, e pelo site da prefeitura, mas quenormalmente ningum acessa o site.

    Para o Delegado 1, a participao fomentada a partir de umareunio com os Delegados, a partir da eles tomam a iniciativa derepassar a informao pelo Facebook para outras lideranas. Comrelao a essa mesma questo, o Delegado 3 afirma que existe uminformativo do CCVV, que at pouco tempo estava sendo feito, tem osite do CCVV e a mdia social que se destaca na divulgao. Tambmh um setor na prefeitura que a Secretaria de Articulao com aComunidade que tem a funo de fazer a aproximao da comunidadecom a Prefeitura. Segundo informaes recebidas por ele, o prefeitoconvida somente quem ele acha que no vai estar criticando a gesto ese rebelando nas reunies.

    O Delegado 4 afirma que, a prefeitura avisa em cima da hora, epor esse motivo muitos conselheiros no podem ir, e que as secretrias

    ligam para os conselheiros avisando o dia que vai ser a reunio. Elediscorda desse mtodo de comunicao e defende que a reunio deve ser

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    avisada com, no mnimo, 15 dias de antecedncia e ser colocada emcanais de comunicao como jornais e TV para incluir a populao.

    Para o Coordenador Geral do Conselho Comunitrio de Vila

    Velha e presidente da Associao de Moradores Regional 5, adivulgao no ainda to eficiente como desejvel. Para ele quandofazem alguma reunio, alguma audincia pblica, bem claro, est naLei Orgnica do Municpio, tem que ter no mnimo 10 dias dedivulgao e que toda cidade precisa ser alcanada e ter cincia dasaudincias pblicas. Afirma esse entrevistado que a Cmara Municipal omissa. Eles divulgam em edital e site, nem toda a populao temacesso a esses meios de comunicao, afirma.

    O Oramento Participativo da Prefeitura de Vila Velha dividido

    em seis temas que so votados de acordo com as necessidades daregional e de seus bairros. Para o Secretrio de DesenvolvimentoEconmico, os temas de maior interesse da populao so Educao,sade e infraestrutura. J para o Analista de Oramento Participativo, otema de maior interesse a macrodrenagem e infraestrutura. ODelegado 2 tambm afirma que o tema mais votado infraestrutura, issodevido ao problema dos alagamentos que afeta a todos no municpio.Para o Delegado 1, a segurana, porque, segundo ele no adianta ter

    obra, cidade bonita, escola, posto de sade se no tiver segurana. Aindanessa questo o Delegado 3 cita que a populao pede muito por sade.O Delegado 4 afirma que esse interesse e votao depende muito

    da regio em que o morador est inserido, e os temas mais importantesso as necessidades bsicas: sade, educao, segurana e transporte.

    De acordo com Rocha (2008), Mainwaring classificouaaccountability horizontal por accountability intraestatal que divididoem trs partes, uma delas se aplica ao Judicirio e as leis queregulamentam a atuao dos agentes, isso fica claro nas leisoramentrias do Municpio de Vila Velha,

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    [...] O Oramento Participativo j uma lei e tem que cumprir a legislao, pactuado com o movimento organizado o oramento de dois em dois anos, umano voc discute as prioridades e no outro ano voc executa e acompanha [...]Est dentro da Lei Orgnica, primeiro a prefeitura junto com o conselho

    comunitrio convoca a populao para a aprovao dos 6 temas definidos porbairros/regies (ENTREVISTADA 2, ANALISTA DE ORAMENTOPARTICIPATIVO PMVV).

    [...] A Lei Orgnica que institui como deve funcionar o Oramento Participativoe nela est previsto que o Conselho Comunitrio seja interveniente nasaudincias pblicas, o Plano Plurianual de Educao (PPA), a Lei de DiretrizesOramentrias (LDO) e a Lei Oramentria Anual (LOA). A Lei Orgnicadisciplina as outras trs leis (ENTREVISTADO 1. SECRETRIO DEDESENVOLVIMENTO ECONMICO DA PMVV).

    Pinho e Sacramento (2009) apontam que qualquer mecanismo deaccountability deve incluir o povo na deciso e escolha de metas e noacompanhamento e avaliao da execuo. Mas existem opiniesdivergentes sobre a participao da populao na deciso,acompanhamento e fiscalizao da execuo das obras no Municpio deVila Velha,

    [...] Pois , o oramento como disse, executado de acordo com o planejadopor eles, eles planejaram, olha vai ser feito isso e isso por regio e no por bairro[...] At agora no tem fiscalizao direta, nunca me chamaram dizendo que vaiser feito uma obra em tal lugar pra gente ir l fiscalizar. A gente no t sabendoo que est sendo feito (ENTREVISTADO 3. DELEGADO 2).

    Referente a fiscalizao no posso falar nada, acompanhamento no posso falarnada porque a gente no tem cincia sobre as diretrizes, diretrizes o que, fazer uma determinada coisa, ah vamos fazer o qu, regio 1 vamos fazer maisescolas, agora onde vai ser feito essas escolas [...] Infelizmente como

    executado a gente no tem como te responder, porque s depois que feito queeles apontam na reunio que aquela obra fazia parte do oramento participativo,ns no temos a noo do que est sendo feito por cada bairro, somente porregies (ENTREVISTADO 4. DELEGADO 1).

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    [...] O secretrio de planejamento ouve as comunidades em forma de regies, oMunicpio de Vila Velha tem cinco regies, se faz a audincia pblica em cadaregio [...] As pessoas se manifestam, o secretrio de Planejamento d asrespostas, d explicaes, anota as solicitaes, v o que pertinente, o que no

    , o que possvel, e o que no e faz uma escolha da solicitaes mais votadas, sempre o interesse coletivo. As necessidades mais votadas nas cinco reuniesrealizadas nas cinco regies vai para a Conveno dos Delegados, e os delegadosvo dizer quais aquelas que so verdadeiramente prioridade [...] No final essesdelegados participam de uma reunio com o Secretrio de Planejamento, osecretrio apresenta tudo que a populao pediu e sugeriu e essas solicitaesvo para a eleio dos delegados, sendo que as mais votadas so executadas peloMunicpio [...] Quando se tem a reunio dos delegados em que eles vo escolhere priorizar os projetos, tambm composta uma comisso de acompanhamentoque vai permanentemente acompanhar se aquilo que a sociedade pediu e foicolocado no oramento est sendo executado (ENTREVISTADO 1.SECRETRIO DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO DA PMVV).

    Avritzer (2003) afirmou que a accountability caracterizada pelaescolha das prioridades na distribuio de recursos pblicos a nvel localatravs de uma frmula tcnica.

    O oramento do municpio tem uma parte que engessada [...] So 25% para

    educao, 15% sade e 6% a 6,5% para a Cmara de Vereadores [...] A outrametade de recursos que se tem, que o municpio arrecada de 50% para gastar,ou seja manter funcionando a mquina pblica (energia, telefone, aluguel,salrios) e investir [...] Dos outros 50% vai de 2% a 5% do recurso total paraoutros investimentos em outras reas (ENTREVISTADO 1. SECRETRIO DEDESENVOLVIMENTO ECONMICO DA PMVV).

    Definido por lei, 25% para educao, 15% para sade, 5% para a Cmara deVereadores. Sendo que os 25% discutido com o Conselho de Educao, e os15% com o Conselho de Sade. Mais um percentual em cima do oramento total

    do Municpio para investimentos em outras reas (ENTREVISTADA 2.ANALISTA DE ORAMENTO PARTICIPATIVO PMVV).

    Para Vasconcelos (1996) o Oramento participativo de Vila Velhafoi suspenso em 1987 devido a algumas divergncias polticas, maslideranas comunitrias conseguiram atravs de uma ao judicialretomar o Oramento no Municpio.

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    [...] Foi quando eu trabalhava como tcnica na Prefeitura e ao mesmo tempofazia parte da Associao de Moradores de Novo Mxico, que tivemos quereverter o que a administrao suspendeu e tomar posse novamente do O.Patravs do Ministrio Pblico e tambm quando comeamos a pensar no

    Oramento Participativo que vinha de um movimento de esquerda, o partido doPCB, junto com algumas lideranas aqui de Vila Velha e passar a proposta parao executivo e torn-lo legtimo (ENTREVISTADA 2, ANALISTA DEORAMENTO PARTICIPATIVO PMVV).

    Pontual (2000), destaca que a accountability fruto daparticipao direta da populao em todas as fases, desde a elaboraoat a execuo de prioridades na utilizao de recursos parainvestimentos, essa participao funciona normalmente.

    [...] antes da gente ir para um evento desse a gente faz reunies, digamos assim,toda associao ela tem uma assembleia geral extraordinria mensal, entoquando a gente sai para esses eventos a gente procura perguntar e saber quais soas prioridades, e a gente acaba tomando por base os anseios da comunidade parachegar l a gente ter, at mesmo porque o oramento participativo [...] a gentetem que chegar l e falar a demanda do bairro, no o que eu quero, no o quea diretoria quer, simplesmente o bairro, at porque a gente t a todo momentono bairro, as pessoas esto perguntando, esto pedindo, exigindo, as portas ficam

    abertas, a gente est sempre aqui a noite, ento a gente acaba sabendo asprioridades, mas a deciso do que o bairro precisa e quer atravs deassembleia, na assembleia passado pra gente e a partir a gente leva l, a gentevai l com aquele anseio de repassar, reproduzir aquilo o que a comunidadefalou pra gente (ENTREVISTADO 4. DELEGADO 1).

    O Oramento Participativo do Municpio de Vila Velha temvrios desafios expressos por meio de vrios pontos de vista.

    Para o Delegado 2, os desafios so diversos porque a populao

    tem as necessidades e querem que sejam feitas determinadas obras e osrecursos so desviados para outras obras. J o Delegado 1 afirma que omaior desafio a transparncia no que diz respeito as regras. Para eleessas regras precisam ser melhor definidas, mais participativas epopulares, pois a partir do momento que voc escolhe um tema ou umaobra genrica e pessoas da prefeitura decidem o que vai fazer no existeparticipao popular.

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    O Delegado 3 alega que o maior desafio o estabelecimento demetas, porque tem obras que foram votadas na gesto do prefeitoNeucimar Fraga e que ainda no foram executadas, e depois disso j

    priorizaram outras obras que esto sendo realizadas.Para o Delegado 4 o maior desafio falta de comunicao eparticipao da prefeitura junto s comunidades. Segundo esseentrevistado o gestor pblico acaba sendo quem delibera, fiscaliza,organiza, acompanha, e faz tudo isso sem o conhecimento da populao.Por esse motivo, segundo o entrevistado, a participao popular nooramento participativo do municpio zero porque a prefeitura nodeixa eles participarem das decises.

    No entanto, a participao da sociedade no que diz respeito ao

    Oramento Participativo do municpio de Vila Velha tem muitasvantagens e vista sob diferentes olhares. O Delegado 2 destaca que asvantagens so amplas, isso porque quando a sociedade participa, elafiscaliza, passa a dizer se realmente aquilo que ela pediu est sendorealizado, por isso seria muito importante essa participao. Ainda deacordo com esse entrevistado, o oramento anterior, na Gesto doPrefeito Neucimar Fraga, o oramento participativo, no foi praticado,sendo retomado na gesto atual (2012-2016), porm precisando ainda

    funcionar de forma plena.O Delegado 1 afirma que essa participao importante porque avoz da sociedade ouvida. O Delegado 3 considera que a vantagem estem saber para onde os seus impostos esto sendo investidos. Destacaainda que levando os amigos e vizinhos para as assembleias, osmoradores se tm mais chance de emplacar sua obra.

    O Coordenador Geral do Conselho Comunitrio de Vila Velhaatesta que Vila Velha uma cidade marcada por muitos problemas aserem solucionados, tais como os alagamentos e as deficincias nossistemas de sade e educacional. Para ele necessrio melhorar muito asreas de mobilidade urbana, a iluminao pblica, o saneamento bsico,em especial da regio 5 (Grande Terra Vermelha) que no tem rede deesgoto, ficando esse cu aberto. O entrevistado afirma ser um absurdover isso em pleno sculo XXI, ainda mais se tratando de uma cidadeurbana e histrica como Vila Velha, tendo ela mais de 400 anos. Paraele entra prefeito e sai prefeito e no se tem o comprometimento parasolucionar os problemas da cidade que tem que ser feito vrias mos

    (sic). Relata que em todas as campanhas so as mesmas pautas, se falade solues pirotcnicas, digitalizadas, mas na prtica eles no

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    assumem. Todos esses problemas so histricos. Para o presidente daAssociao dos Moradores da Regio 5, a cidade deve ser governadapor vrias mos e os governantes precisam aprender e entender que se

    eles no pegarem na mo dos movimentos sociais no vai d certo [...]os prefeitos precisam, independente de partido, governar para o povo,para a populao, para a comunidade, e esse um grande desafio queatinge Vila Velha (sic). Ainda de acordo com esse entrevistado,

    [...] no adianta colocar polcia e guarda armada, se nas regies mais violentasno tem segurana, s se v segurana nas reas nobres como Praia da Costa,Itapu e Centro, mas o mais importante o investimento na educao que abase e a soluo dos problemas da cidade, [...] deveriam implantar ensino emtempo integral, mais creches de tempo integral, esportes e lazer, etc... essasaes vo diminuir a violncia do Municpio, isso se chama incluso social.

    Nota-se que os entrevistados esto to envolvidos com osproblemas no solucionados que, ainda que as entrevistas fossemdirecionadas ao instrumento Oramento Participativo, esses acabamrelatando, por meio de denncias, suas insatisfaes.

    Consideraes Finais

    Concluram Pinho e Sacramento (2009) que estamos mais pertode prticas marcadas por certo grau de accountability que quandoCampos (1990) se defrontou com a questo, no entanto ainda muitolonge de construir uma autntica cultura poltica.

    O Oramento Participativo tem se apresentando como uminstrumento capaz de aprofundar as prticas de accountability social.

    Aqui nos debruaremos sobre uma experincia local:o OP do municpiode Vila Velha, ES. Objetivamos identificar se no cenrio atual possvelidentificar uma ampliao significativa da accountability social.

    Aps anlises de documentos divulgados dela PMVV eentrevistas com diversos atores, nos possvel apresentar algumasconsideraes importantes em torno de potencialidades e desafios do OPde Vila Velha.

    Nos parece ser uma grande conquista social a incluso doOramento Participativo na Lei Orgnica Municipal, assim como sua

    organizao institucional, o que colabora para que o oramento pblicoseja executado com a participao social, independente da vontade

  • 7/25/2019 Livro Gesto Pblica: transparncia, controle e participao social

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    TRANSPARNCIACONTROLEEPARTICIPAOSOCIAL

    poltica do executivo ou do partido poltico que estiver no poder.Notamos que os Delegados do OP aprenderam a valorizar esse

    instrumento e exigem seu aperfeioamento por entender ser um caminho

    para uma sociedade melhor.A intermitncia do OP (ainda que burocraticamente tivesse