inquisiÇÃo e confisco de bens - anpuh · 2019. 7. 2. · inquisiÇÃo e confisco de bens normas e...

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INQUISIÇÃO E CONFISCO DE BENS normas e práticas na ação jurídica do Juízo das Confiscações 1 Davi Silva 2 Resumo: este artigo apresenta a nossa compreensão de alguns aspectos acerca da atuação da justiça do Juízo do Fisco Real. Escolhemos apresentar e dialogar com os assuntos relacionados à matéria de fé que também fizeram parte do organograma institucional do Império português. Neste sentido, tanto em Portugal, como em relação aos espaços do além- mar, a Coroa portuguesa lançou mão dos mesmos expedientes, ou seja, manter-se vigilante com relação às práticas religiosas de seus súditos, isto é, buscar o predomínio e fortalecimento da Santa Fé. Garantidora da justiça a Coroa portuguesa em matéria de fé era assistida pelo Tribunal do Santo Ofício. Mas também, contava com outros expedientes a exemplo de ações ordinárias voltadas àqueles que incidiam em erros de fé, como o crime da heresia, executadas pelo Juízo do Fisco Real. Palavra- chaves: Heresia, Juízo do Fisco Real, Inquisição. Abstract: This article presents our understanding of some aspects about the performance of the justice of the Royal Treasury Court. We chose to present and discuss matters related to the matter of faith that were also part of the institutional structure of the Portuguese Empire. In this sense, both in Portugal and in relation to the overseas territories, the Portuguese Crown used the same expedients, that is, to be vigilant in relation to the religious practices of its subjects, that is, to seek the predominance and strengthening Of Santa Fé. Guarantor of justice the Portuguese Crown in matters of faith was assisted by the Court of the Holy Office. But also, it counted on other expedients, like ordinary actions directed to those that were based on errors of faith, as the crime of heresy, executed by the Judgment of the Real Treasury. Keywords: Heresy, Royal Treasury Court, Inquisition. 1 Este trabalho, transformado agora em artigo, foi elaborado, inicialmente, como parte integrante da tese de doutorado, e, por isso, sua forma mais explicativa em algumas de suas passagens. 2 Doutorando em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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Page 1: INQUISIÇÃO E CONFISCO DE BENS - ANPUH · 2019. 7. 2. · INQUISIÇÃO E CONFISCO DE BENS normas e práticas na ação jurídica do Juízo das Confiscações1 Davi Silva2 Resumo:

INQUISIÇÃO E CONFISCO DE BENS

normas e práticas na ação jurídica do Juízo das Confiscações1

Davi Silva2

Resumo: este artigo apresenta a nossa compreensão de alguns aspectos acerca da atuação da

justiça do Juízo do Fisco Real. Escolhemos apresentar e dialogar com os assuntos

relacionados à matéria de fé que também fizeram parte do organograma institucional do

Império português. Neste sentido, tanto em Portugal, como em relação aos espaços do além-

mar, a Coroa portuguesa lançou mão dos mesmos expedientes, ou seja, manter-se vigilante

com relação às práticas religiosas de seus súditos, isto é, buscar o predomínio e fortalecimento

da Santa Fé. Garantidora da justiça a Coroa portuguesa em matéria de fé era assistida pelo

Tribunal do Santo Ofício. Mas também, contava com outros expedientes a exemplo de ações

ordinárias voltadas àqueles que incidiam em erros de fé, como o crime da heresia, executadas

pelo Juízo do Fisco Real.

Palavra- chaves: Heresia, Juízo do Fisco Real, Inquisição.

Abstract: This article presents our understanding of some aspects about the performance of

the justice of the Royal Treasury Court. We chose to present and discuss matters related to the

matter of faith that were also part of the institutional structure of the Portuguese Empire. In

this sense, both in Portugal and in relation to the overseas territories, the Portuguese Crown

used the same expedients, that is, to be vigilant in relation to the religious practices of its

subjects, that is, to seek the predominance and strengthening Of Santa Fé. Guarantor of justice

the Portuguese Crown in matters of faith was assisted by the Court of the Holy Office. But

also, it counted on other expedients, like ordinary actions directed to those that were based on

errors of faith, as the crime of heresy, executed by the Judgment of the Real Treasury.

Keywords: Heresy, Royal Treasury Court, Inquisition.

1 Este trabalho, transformado agora em artigo, foi elaborado, inicialmente, como parte integrante da tese de doutorado, e, por isso, sua forma mais explicativa em algumas de suas passagens. 2 Doutorando em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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Para além do zelo pelos domínios e possessões que possuíam os monarcas lusitanos,

também fazia parte do plano português no que diz respeito à expansão territorial de seu

império, reprimir o crescimento e proliferação do protestantismo e calvinismo nos domínios

do Império Português3 – evento que já ocorria na Europa – sobretudo, com relação às áreas de

interesses econômicos como as capitanias da Bahia e Pernambuco. Das perseguições e

condenações ocorridas nos Estados europeus, decorre desse ambiente a institucionalização de

órgãos cuja composição e atuação consolida uma cooperação entre Estado e Igreja, buscando:

o controle, a vigilância e a orientação da vida em sociedade4.

A Coroa portuguesa em matéria de fé era amplamente fundamentada pelo Tribunal do

Santo Ofício, instituição bicéfala, ou seja, criada pela Santa Fé, mas regulada e administrada

pelos monarcas. Em razão desta característica, talvez os reis portugueses procuravam destacar

o lugar daquele tribunal no organograma das instituições lusitanas,

[...] e de que sendo o Conselho Geral do Santo Officio hum dos Tribunaes

mais conjunctos, e immediatos á minha Real Pessoa, pelo seu instituto, e

ministerio; se introduzio o abuso de se lhe dar o Tratamento, que Compete

ao seu Presidente, como se pratica com o Senado da Camara de Lisboa5.

Já com relação aos oficiais e agentes do Santo tribunal, estes, também não foram

esquecidos, municiados por uma miríade de privilégios, os funcionários inquisitoriais com um

certo exagero de nossa parte, podem ser concebidos como uma das categorias mais

privilegiadas no âmbito do organograma institucional do Império português:

Primeiramente Hei por bem, que sejaõ daqui em diante privilegiados, e

escusos de pagarem em fintas, talhas, pedidos, emprestimos. [...] que os

Officiaes e Familiares da Santa Inquisiçaõ até nas causas civeis saõ mais

privilegiados que os Moedeiros, e naõ pódem os Moedeiros usar de seu

privilegio ainda que digaõ que o tem incorporado na Ordenaçaõ6.

3 Cf.: HESPANHA, António Manuel. A constituição do Império português. Revisão de alguns enviesamentos correntes. In: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda e GOUVÊA, Maria de Fátima, (org). O Antigo Regime dos Trópicos: A dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI – XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. 4 CRUZ, Maria Leonor Garcia da. Relações entre o Poder Real e a Inquisição (séculos XVI- XVII): fontes de renda, realidade Social e política financeira. In: Inquisição portuguesa: Tempo, Razão e Circunstancia. Coordenação: Luís Filipe Barreto e outros. Lisboa, São Paulo, 2007, pp. 107-126. 5 Privilegios dos Officiaes, Privilegios Concedidos aos Officiaes e Familiares do Santo Officio da Inquisiçaõ destes Reinos, e Senhorios de Portugal. In: Regimento do Juízo das Confiscações pelo crime de Heresia, e Apostasia, de 10 1620, de 57 capítulos, foi publicado por José R.M. de Campos Coelho e Soisa no Tomo III do Systema ou colecção dos Regimentos (Lisboa, 1785), a pp.: 120- 227. 6 Idem. p. 120.

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Reunindo alguns indícios dispersos nas palavras do rei acerca da relação deste com o

Aparelho Burocrático Inquisitorial, suscitamos algumas reflexões. Em primeiro lugar, se por

um lado verificamos na documentação acima, que o próprio soberano deixa claro a utilização

daquela instituição para fins próprios, ou seja, sendo hum dos Tribunaes mais conjunctos, e

immediatos á minha Real Pessoa; por outro lado, a fonte também nos informa, o quanto é

possível verificar a existência da prática política baseada nos princípios de uma tradição de

larga presença na história portuguesa, a saber, o ato de dar. Sendo este dispositivo, uma

prerrogativa régia em consonância com a expectativa de remuneração justa por parte dos

vassalos. No entanto, cumpre ressaltar, que tal dispositivo, fora componente da cultura

política que se consolidou ao longo dos séculos XVI e XVII alcançando também o século

XVIII, tornando-se um estratégico instrumento nas relações de poder do Antigo Regime.

Embora, o uso dos conceitos tanto de economia do dom como o da mercê7, para o século

XVIII, deve estar em sintonia com as transformações estruturais da base econômica da

Europa. Neste sentido, a aplicabilidade de formulações, como a da economia do dom,

analisada por Mauss8 para períodos de baixa monetarização, precisa sofrer adaptações, pois,

em tempos de capital mercantil, tanto as fontes de riqueza da Coroa, quanto o ato de

redistribuí-las aos vassalos, estava condicionado a interesses que iam além de uma simples

motivação inata do monarca.

Diferentemente da Espanha que implantou um tribunal inquisitorial em sua porção

territorial na América espanhola, Portugal apenas contou com alguns dos agentes e oficiais

inquisitoriais. Para além de comissários, notários e qualificadores, a malha inquisitorial

atuante em Pernambuco também contou com revedores, visitadores das naus e familiares do

Santo Ofício.

Em linhas gerais, àqueles oficiais e agentes da Fé buscavam no âmbito de um contexto

de controle social reprimir crimes contra a ordem e à moral. Isto é, os crimes contrários a

ordem eram aqueles que ofendiam os dogmas religiosos, já os crimes de caráter natureza

moral, eram aqueles que ofendiam a moral imposta pela Igreja católica, a exemplo de

desobediências às regras do casamento, desvios sexuais, ou mesmo, pensamentos impuros em

7 Cf.: OLIVAL, Fernanda. As Ordens Militares e o Estado Moderno: Honra, mercê e venalidade em

Portugal (1641 – 1789). Lisboa: Estar Editora, 2001.

GODELIER, Maurice. O enigma do dom. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. 8 Ver: MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. Editora: COSAC NAIFY, Coleção: Portátil, V. 25. Ano: 2013.

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relação à vida sexual. Outras penas também merecem destaque, como o confisco de bens,

crime este pertencente ao rol dos crimes contra a ordem9.

Acertadamente, a professora Sônia Siqueira destaca que a ação do Santo Ofício na

América portuguesa prendeu-se à tônica que dominou a vida colonial. Na criação de uma

réplica do mundo português além-mar, impôs-se o Direito, que se converteu, num instrumento

de aplicação à cambiante realidade dos valores cotidianos, tidos por universais e permanentes.

Na América portuguesa, estiveram em vigor tríplices leis, a saber, régias, eclesiásticas e

inquisitoriais, que muitas das vezes se misturaram para atender às exigências de dois planos: o

da defesa da ortodoxia, da Igreja e o da defesa da unidade das consciências, do trono10, leis

estas que representaram a complexidade jurídica vigente tanto lá em Portugal, quanto aqui na

América portuguesa.

Para o teórico do direito António Manuel Hespanha os juízes portugueses, ainda que

tivessem jurisdição sobre os nativos, cabia-lhes aos magistrados aplicar o seu próprio direito,

ou seja, o direito específico do nativo, exceto em situações que estivessem em causa valores

supremos da ordem jurídica ou da ética europeia, isto é, o âmbito do foro religioso11.

À compreensão do professor Hespanha, para além de confirmar a tese defendida por

ele próprio, ou seja, a do direito pluralista português, também alinha, no entanto, uma série de

argumentos justificativos. Em primeiro lugar destacamos a importância da religiosidade, ou

seja, da grande diferença entre a visão acerca do mundo que nos rodeia hoje daquela a séculos

atrás, a saber, uma divergência amparada por visões muito dispares sobre a existência humana

e o devir universal. O homem da época da Reforma, estivesse ele do lado católico ou

protestante, aceitava a existência de Deus e a ideia de que Ele era a origem de toda a verdade.

Esta panóplia de argumentos acima mencionada favorece ainda discussão acerca da

concepção de um direito inquisitorial há pouco lembrado por Sônia Siqueira.

Ou seja, partindo de situações nas quais o indivíduo era submetido a julgamentos no

âmbito do foro religioso, incluindo aí a jurisdição inquisitorial, era por meios dos regimentos

do Tribunal do Santo Ofício que se materializavam as regras e práticas processais, ou seja, a

9 CIDADE, Rodrigo Ramos Amaral. Direito e Inquisição: o processo funcional do Tribunal do Santo Ofício. 1ª edição (2001), 5ª tiragem / Curitiba: Juruá, 2009. p. 19. 10 SIQUEIRA, Sônia Aparecida de. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, a 157, nº 392, pp. 495- 1020, Julho/ Setembro, 1996 p. 497. 11 HESPANHA. A constituição do Império português, Revisão de alguns enviesamentos correntes. Op. cit. p. 173.

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processualística inquisitorial. Também eram nos regimentos que se estatuíam ritos, etiquetas,

cerimônias públicas ou privadas, como também a regularização acerca das aplicações de

penas que serviram como parâmetros moral e religioso, como numa espécie de controle

pedagógico nas sociedades tanto lusitana como da América portuguesa. Neste sentido,

analisando por meio dessa pequena amostragem de casos, comporta-se à compreensão de um

direito inquisitorial.

O estudo da Inquisição tem sido feito em linhas gerais seguindo dois tipos de

enfoques: analisar as transgressões como determinantes das perseguições empreendidas pela

Inquisição, ou, sob a ótica voltada aos aspectos jurídico-institucionais do Tribunal do Santo

Ofício, a proposta deste estudo se enquadra nesta segunda vertente. Ao tentarem compreender

a ação da Inquisição Ibérica, vários autores fizeram uso de certas interpretações, das quais a

ideia de que a perseguição ao cristão-novo era motivada pelas condições econômicas,

identificando os perseguidos como burguesia nascente, os quais seriam alvo da cobiça dos

cristãos-velhos, identificados com a nobreza12.

Em termos conceituais o Tribunal do Santo Ofício português, instituído em 1536, fez

parte dos grandes conselhos portugueses, ou seja, o rei, ao mesmo tempo em que garantia a

realização da justiça, era assistido por uma série de grandes conselhos especializados nas

diferentes áreas da vida na época13. Já com relação à Inquisição, esta, se enquadrava dentro

da ação jurídica da Igreja Católica Romana, cujo objetivo era combater os crimes contrários a

ordem e a moral da Santa Fé católica. Ainda segundo Michel Foucault, foi a Inquisição

medieval, que de uma forma ou de outra instaurou as bases do processo judicial moderno,

participando da construção de toda a cultura ocidental, já que no processo inquisitorial

começam a se reduzir a escrito as memórias, isto é, depoimentos e decisões do julgamento.

Neste sentido, surge uma burocracia judicial: meirinhos e notários; as fases processuais são

organizadas seguindo uma certa clareza e, mesmo, se reconhece a necessidade da presença de

um advogado de defesa14.

12 SARAIVA, Antônio José. Inquisição e Cristãos-Novos. 5ª Edição. Lisboa: Editorial Estampa, 1985. 13 Ver: CAMARINHAS, Nuno. Juízes e administração da justiça no Antigo Regime: Portugal e o império colonial, séculos XVII e XVIII. Edição: Fundação Calouste Gulbenkian - Fundação para à ciência e a tecnologia. 2010. p. 59. 14 FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Editora: NAU EDITORA. Gênero: ciências humanas e sociais, direito; sub-gênero: Filosofia, teoria e História do direito. Edição 3, ano 2002.

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A atividade jurisdicional da justiça do Fisco é pouco estudada na literatura

inquisitorial aqui no Brasil; como também é muito mal conhecida: o silêncio das fontes, o

desinteresse de estudos sobre a temática, como também, a ausência de funcionários, criaram

na historiografia inquisitorial a propensão para subvalorizar a importância do juízo do Fisco.

Embora, neste último quesito, isto é, a falta de agentes do Fisco na colônia portuguesa, nos foi

de grande valia algumas literaturas que pôde iluminar nossa análise.

Para a região da Capitania de Pernambuco, por exemplo, recorremos aos estudos de

Antônio José Victoriano Borges da Fonseca, que registra para a região da Capitania de

Pernambuco a presença de Gonçalo Novo de Lira, tesoureiro fiscal do Santo Ofício da

Capitania de Pernambuco – em data não indicada - quando o ouvidor de Pernambuco fez

arrematar os bens de Beatriz Fernandes, filha de Diogo Fernandes e Branca Dias15. Já José

Antônio Gonsalves de Melo, ressalta, em sua obra Gente da Nação, que durante o processo de

habilitação a familiar do Santo Ofício de Gonçalo Novo de Lira – o filho- , o coronel

Francisco Berenguer de Andrade, em depoimento de 10 de julho de 171016, afirmou ser

Gonçalo Novo de Lira – o pai – tesoureiro e fiscal do Santo Ofício17. Apesar das informações

de Borges da Fonseca em sua Nobiliarquia com relação a Gonçalo Novo de Lira ao longo do

texto, pois, ora o refere como procurador fiscal do Santo Ofício, ora como promotor fiscal,

como já discutido, a região da Capitania de Pernambuco não contou com funcionários do

Juízo do Fisco, logo, lançou mão de outros funcionários, situação que acreditamos também

ocorrera nas demais capitanias anexas.

Ainda de acordo com o professor Bruno Feitler, a história do Juízo do fisco real –

diferenciado do Conselho da Fazenda - é difícil de se apreender por causa de seu estatuto

ambíguo. Ou seja, segundo as leis canônicas os bens dos hereges devem ser confiscados em

benefício da Coroa, daí seu estatuto real do Tribunal do Fisco. No entanto, era o Inquisidor

15 FONSECA, Antonio José Victoriano Borges da. Nobiliarchia Pernambucana [1748], vol. I. In: Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, vol. XLVII 1925. Rio de Janeiro: Bibliotheca Nacional, 1935. p. 477. 16 O identificamos como testemunha no caso de Felipe Paes Barreto, ver O nome e o sangue de Evaldo Cabral de Melo; como também do fidalgo José Gomes de Melo. Confira: SILVA, Davi, Celestino da. DE BRITES MENDES DE VASCONCELOS AO FIDALGO JOSÉ GOMES DE MELO: Enredos sobre um nobre de sangue maculado no Pernambuco setecentista. Revista Ultramares, Nº 9, Vol. 5, jan-jun/2016. Disponível em: http://media.wix.com/ugd/5a45bd_17443da7bc7240dd89567325dd137bd8.pdf 17 MELLO, José Antônio Gonsalves de. Um tribunal da inquisição em Olinda, 1594- 1595. In: MELLO, José Antônio Gonsalves de. Gente da Nação: Cristão- novos e judeus em Pernambuco 1542- 1654. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1996. pp. 164-5.

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geral, ou o Conselho Geral do Santo Ofício quem controlava a gestão dos bens confiscados,

nomeando assim os juízes do fisco. Ainda segundo o autor, essa origem “bicéfala” esteve no

cerne de vários conflitos entre a Coroa e os inquisidores18.

Nossa proposta é sair das questões mais gerais, ou seja, dos dados quantitativos acerca

daqueles que foram penalizados com o confisco de bens por si só, isto é, que sofreram a ação

ordinária da justiça inquisitorial– os cristãos-novos – que em linhas gerais apresentam-se tão

somente como números em quadros e tabelas. Priorizamos esboçar a arquitetura jurídica dos

mecanismos institucionais que legitimam e enquadram nas ações jurisdicionais os condenados

pelo Santo Ofício, com a aplicação do confisco de bens, a saber, o Regimentos dos Juízes das

Confiscações Pelo Crime de Heresia, como também o Regimento do Juízo das Confiscações

Pelo Crime de Heresia e Apostasia19.

Para uma melhor compreensão acerca da ação e dinâmica do Juízo do Fisco, faz-se

necessário ressaltar alguns detalhes. Primeiramente, quem é o Juiz do Fisco? Quais critérios

são impostos para tal cargo? E, mais, quem o nomeia? A reunião dessas perguntas, podem ser

respondidas pela principal fonte distribuidora da justiça, isto é, próprio o rei: primeiramente, o

juiz do fisco será pessoa de boa consciência, letras e de muita confiança. Sem descendência

moura ou judia, e será por mim nomeado e provido de tal ofício20. Apesar de conciso, o

enunciado Real nos fornece algumas pistas; como também, fica claro, a lógica adotada pelo

monarca àqueles que fazem parte do corpo funcional de suas instituições, ou seja, a adoção do

critério de limpeza de sangue, dispositivo legal jurídico que normatiza os valores vigentes das

sociedades da Europa e Além-mar à época do Antigo Regime, forjada pela fenda étnica,

social e religiosa entre cristãos-velhos e cristãos-novos.

Também é interessante destacar, que para o estudo da processualística inquisitorial

iniciada por aquele juízo, é necessário que entendamos o modo por meio do qual as pessoas

eram denunciadas pelo crime da heresia, que, por conseguinte, caso fossem consideradas

culpadas, aplicava-se o confisco de bens.

18.FEITLER, Bruno. Nas malhas da consciência: Igreja e Inquisição no Brasil. São Paulo, Phoebus, 2007.p. 104. 19 Cumpre salientar que o primeiro Regimento é datado no período do monarca Dom Sebastião, enquanto que o seguinte Regimento foi elaborado durante o período da União Ibérica. 20 Regimento dos juízes das confiscações pelo crime de heresia. Códice 311- Relação da Bahia – 1752. Arquivo Nacional – Rio de Janeiro.

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Nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, fica claro àqueles que

incorrem em erros de fé, neste sentido, “[...] que o crime da heresia, e judaísmo se extinga,

[...] possa ser punido pelo Tribunal do Santo Ofício o delinquente, conforme os Breves

Apostólicos”.21 Desse modo, cabia aos Familiares do Santo Ofício em seu exercício no

âmbito da justiça inquisitorial executar a prisão, sendo logo em seguida dado início aos

sequestros dos bens dos acusados, por crimes como os acima mencionados nas constituições.

Embora cumpre lembrar, que o confisco de bens também era aplicado aos culpados

pelo crime de sodomia22. Ou seja, tanto as Ordenações Afonsinas, quanto as Manuelinas

preconizavam que a sodomia era o mais sujo, torpe, desonesto de todos os crimes,

sentenciando seus praticantes à fogueira23.

Vejamos no livro V das Ordenações Filipinas, o mais duradouro código legal

português que fora promulgado em 1603 por Filipe I, rei de Portugal, e que ficou em vigência

até 1830. Nele verifica-se que para além de apontar um conjunto de dispositivos legais que

definiam os crimes e a punição dos criminosos, constituindo assim uma forma explícita de

afirmação do poder régio, tal conjunto também nos esclarece acerca do crime de sodomia:

Toda a pessoa, de qualquer qualidade que seja, que pecado de sodomia por

qualquer maneira cometer, seja queimado e feito por fogo em pó, para que

nunca de seu corpo e sepultura possa haver memoria, e todos seus bens

sejam confiscados para a Coroa de nossos reinos, posto que tenha

descendentes pelo mesmo caso seus filhos e netos ficarão inábeis e infames,

assim como os daqueles que cometem crime de lesa-majestade24.

Já com relação ao crime de heresia o código filipino nos esclarece que:

O conhecimento do crime da heresia pertence principalmente aos juízes

eclesiásticos25. E porque eles não podem fazer as execuções nos condenados

no dito crime por serem de sangue, quando condenarem alguns hereges, os

devem remeter a nós com as sentenças que contra eles derem, para os nossos

desembargadores as verem, aos quais mandamos que as cumpram, punindo

os hereges condenados, como por direito devem. E além das penas corporais

21 VIDE, Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Brasília: Senado Federal, conselho editorial. São Paulo: Typographia 2 de Dezembro, 1853. p. 311. 22 É licito destacar que só a partir do Regimento de 1613, que a sodomia passou a ser um crime da alçada inquisitorial, como também vale destacar que a Inquisição só punia pelo crime de sodomia quando esta era considerada “perfeita”, ou seja, devendo haver ejaculação no “vaso traseiro” 23 CIDADE. Direito e Inquisição. Op. cit. p. 79. 24 Título 13. DOS QUE COMETEM PECADO DE SODOMIA E COM ALIMÁRIAS. In: Ordenações Filipinas: Livro V / Organização Silvia Hunold Lara, – São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.91. 25 O juízo eclesiástico regia-se pelo direito canônico, não pelas Ordenações. O Tribunal eclesiástico mais importante era o do Santo Oficio.

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que aos culpados no dito maleficio forem dadas, serão seus bens

confiscados, para se deles fazer o que nossa mercê for, posto que filhos

tenham26.

Vários são os pontos e pistas que podemos observar a partir das duas colocações

expostas pelas Ordenações Filipinas acima. Nossa primeira observação encontra-se na

menção que o primeiro texto exprime: ou seja, toda a pessoa, de qualquer qualidade que seja.

Aqui fica claro por meio desse anunciado que a Inquisição buscava um nivelamento acerca de

suas sentenças, no entanto, pessoas de boa condição social e que fossem discretas, a sentença

era lida dentro das “instalações” inquisitoriais; já, no caso de pessoas menos afortunadas

financeiramente e, ademais, escandalosas, lia-se a sentença durante um auto-de-fé.27 Desse

modo, enquanto a denúncia igualava a todos no sentido de que à todos permitia-se o dever de

denunciar; a sentença era encarada como sendo um elemento socialmente desnivelador. Em

seguida, o que observamos no segundo texto é que essa dupla sujeição criou um espaço de

incerteza hierárquica, isso é, materializava e revestia-se num frenético vai e vem de apelações

e conflitos jurisdicionais.

Pensar na aplicação de uma das principais penas impostas pelo Tribunal do Santo

Ofício – o confisco de bens - aos condenados pelo crime de heresia, na qual acarretava a ruína

de toda uma família, devido sua intervenção ser voltada diretamente ao âmbito financeiro, é

propor alguns questionamentos sobre gestão, uso e aplicabilidades daqueles bens confiscados

por meio das instituições que os administrava. Acresce, que o confisco de bens foi um fator

decisivo nas prisões dos cristãos-novos, apesar de a ideologia incluir ricos e pobres.

De acordo com Anita Novinsky, uma das pioneiras a se debruçar sobre a literatura

inquisitorial no Brasil, em sua obra Gabinete de investigação: uma “caça aos judeus” sem

precedentes, aponta que as investigações sobre a ação inquisitorial na América portuguesa

num período entre os séculos XVI ao XVIII revelou a existência de sociedades subterrâneas,

onde pululavam crenças, valores e tradições proibidas pela ação do Santo Ofício. Novinsky

também registra que existe um certo exagero na literatura inquisitorial em afirmar a influência

26 Título 1. DOS HEREGES E APOSTATAS. In: Ordenações Filipinas: Livro V. Op. cit. pp. 55- 6. 27 CIDADE. Direito e Inquisição. Op. cit. p. 83.

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dos judeus na formação da Companhia das Índias Ocidentais, como também no mundo

financeiro holandês.28

Anita Novinsky também nos dá outras importantes contribuições para uma melhor

compreensão dos mecanismos jurídicos acerca da ação do Juízo do Fisco na série Fontes para

a História de Portugal e do Brasil. A coleção é composta por quatro volumes, incluindo a já

mencionada. No primeiro volume Inquisição- Inventários de Bens Confiscados a Cristãos

Novos no Brasil século XVIII destaca a transcrição de 129 inventários dos bens confiscados

aos presos cristãos-novos de várias regiões do Brasil no século XVIII.29 Já o segundo volume,

Inquisição Rol dos Culpados, apresenta um índice com 1819 nomes de cristãos-novos no

Brasil no século XVIII, uns presos, outros apenas denunciados com suspeita de judaísmo.30

Por fim, o terceiro volume Inquisição- Prisioneiros do Brasil destaca um total de 1.076

nomes de brasileiros presos pelo Santo Ofício entre os séculos XVI ao XIX, incluindo ai

cristãos- novos e cristãos- velhos acusados por diversas heresias.31

Apesar da contribuição à historiografia inquisitorial dos trabalhos acima, Novinsky

preocupa-se em avaliar a atuação da prisão do herege apenas transversalmente do ponto de

vista religioso, ou seja, a partir do âmbito persecutório da Inquisição. A autora destaca as

prisões de judeus e cristãos-novos devidamente aos seus comportamentos e crenças.

Cumpre lembrar, que tal linha de observação foi por muito tempo adotada por aqueles

que dedicaram algumas linhas acerca da presença inquisitorial na América portuguesa a

exemplo do sociólogo Gilberto Freyre ao destacar que a inquisição escancarou nossa vida

íntima da era colonial, sobre as alcovas e suas camas que em geral parecem ter sido de couro,

rangendo as pressões dos adultérios e dos coitos danados. Sobre as relações de brancos com

escravos. As confissões e denúncias reunidas pelo Santo Ofício na América portuguesa reúne

material precioso sobre a vida sexual e de família entre os séculos XVI e XVII.32

28 NOVIINSKY, Anita Waingort. Gabinete de investigação: uma “caça aos judeus” sem precedentes. São Paulo: Humanitas Editora / Fapesp, 2007. p. 11. 29 Ver: NOVINSKY. Anita. Inquisição– Inventários de Bens Confiscados a cristãos-novos no Brasil – século XVIII. Fontes para a história de Portugal e do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1976. 30 NOVINSKY, Anita. Inquisição. Rol de Culpados. Fontes para a História do Brasil (Século XVIII). Editora Expressão e Cultura. Rio de Janeiro, 1992. 31 Cf.: NOVINSKY. Anita. INQUISIÇÃO - PRISIONEIROS DO BRASIL. Brasil: Editora Perspectiva. 2009. 32 Ver: FREYRE, Gilberto. 1900- 1987. Casa Grande e Senzala. São Paulo, global, 2006. p.45.

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Os estudos direcionados acerca da ação e procedimentos do Juízo do Fisco na América

portuguesa ainda são escassos. Lina Gorenstein no livro A Inquisição contra as mulheres

retrata a ação inquisitorial na praça fluminense entre os séculos XVII e XVIII, destaca que nas

quatro primeiras décadas do século XVIII a Inquisição prendeu trezentos e vinte e cinco

cristãos-novos no Rio de Janeiro, dos quais cento e sessenta e sete eram mulheres. Analisando

seus processos a autora constatou nos inventários de bens daquelas mulheres que o ”bem”

mais constante era a posse de escravos.33

Outra informação interessante pronunciada por Gorenstein é que no Arquivo Nacional

da Torre do Tombo há documentações acerca de reclamantes quanto à questão do confisco de

bens, como também sobre pessoa que tentaram burlar o Fisco.34 Com relação às reclamações

temos informações que os herdeiros dos condenados – esposas, filhos ou maridos – poderiam

requisitar a sua parte antes que o confisco fosse efetivado, assim como qualquer pessoa que

tivesse alguma dívida a receber dos réus.35 O corolário de questões como essas, já era previsto

no âmbito da justiça do fisco. Pois diz o regimento que,

acabados os ditos inventarios, Todas as peças de ouro, e prata, predaria e

outras quaesquer cousas desta qualidade, e Toda a mais fazenda, que foi

achada, será entregue pelos ditos imventarios ao Thesoureiro das

Confiscações, para que a Tenha em boa guarda e administre, e possa dar

della. [...] O Thesoureiro das Confiscações Terá dous livros de sua receita,

por que há de dar suas contas36.

Em termos gerais, acreditamos que o confisco de bens, sobretudo, de judeus, fora

durante a existência do Tribunal do Santo Ofício, dispositivo jurídico legal, que se constituiu

numa das principais forças de sustentação, ou seja, um aliado à economia do Império

português. Explicitando melhor, procuramos fazer uso da compreensão de Stuart Schwartz:

33 GORENSTEIN, Lina. A Inquisição contra as mulheres: Rio de Janeiro, séculos XVII e XVIII. São Paulo: Associação Editorial Humanitas; Fapesp, 2005. pp. 111 e 183. 34 GORENSTEIN. A Inquisição contra as mulheres. Op. cit. p. 137. 35 SIQUEIRA, Sônia, A Inquisição portuguesa e os confiscos, Revista de História. São Paulo: volume XLI, número 82, 1970; pp. 323- 340. 36 Regimento do Juízo das Confiscações Pelo Crime de Heresia, e Apostasia, de 10 de julho de 1620, de 57 capítulos, publicado por José R. M. de Campos e Soiza no Tomo III do Systema ou Coleção dos Regimentos Reaes. In: O Governo dos outros: Imaginários Políticos no Império Português. (Lisboa, 1785), a pp. 196-219. p. 200.

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Não era o delito e sim a origem do réu que determinava como e quão severamente ele seria

punido37.

A par das colocações acima acerca do confisco de bens sobre os hereges, que se

revestiu num fator decisivo diante das prisões, sobretudo, dos cristãos-novos; buscamos em

outra documentação a complementariedade sobre aquela ação inquisitorial, que incluía ricos e

pobres,

Tanto que o dito juiz [do fisco] tiver especial Recado dos Inquizidores por

escrito em que lhe fação saber que mandarão prender algúma pessoa, era

logo muita diligencia as cazas donde moravam os culpados com o escrivaõ

do seu cargo, e com outro escrivam, ou Tabeliaõ, e Tomará, e haverá a sua

maõ Todas as chaves das ditas cazas, e das cazas, que nellas estiverem, para

que Senaõ possa sobnegar, nem esconder couza alguã, e mandará (?) hum

dos ditos escrivães que faça seu inventario por (?) apartado de todos os bens

moveis e de Raiz. [...] se possão conhecer, e saber quaes saõ, e Ter ido

pessas de ouro, ou de prata; Se pezarão; e avaliarãm, por officiaes e pessoas

bem entendidas. [...] e se aSentara nos ditos inventarios com declaraçaõ da

validade dellas, [...] naõ possa haver engano nas ditas pessoas, nem se

possaõ por outras (peças) em seu lugar, nem haja sobre isso duvida

alguma38.

A documentação acima nos oferece algumas pistas acerca da dinâmica da justiça do

Fisco. Privilegiamos dá destaque a organicidade na distribuição operacional de sua ação. Isto

é, para que seja acionado o procedimento do juiz, torna-se necessário a autorização por escrito

dos inquisidores, logo, essa confidencia, já revela de saída o zelo por parte do monarca, na

tentativa de evitar abusos e descaminhos dos bens confiscados. No entanto, também havia

lugar no Regimento do Juízo das Confiscações para pessoas de poucas posses, como também

relacionado ao âmbito matrimonial,

E quando os prezos forem Taõ pobres, naõ Tenhaõ fazenda alguma, de que

se possa fazer inventarios, os Officiaes passaraõ Certidaõ de como se naõ fez

invetario da Tal pessoa, por naõ ter fazenda alguma; e estas Certidões se

ajuntaraõ aos mais inventarios, que se fizerem: e dado cazo que prendendo-

se sômente o marido, ou só a mulher, se faça inventario de toda a fazenda,

que ao Tal Tempo houver no casal; e depois se prender aquelle que ficou

solto, se fará outro inventario de novo, porque poderia adquirir bens no meio

Tempo39.

37 SCHWARTZ, Stuart B. Cada um na sua lei: Tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico ibérico. São Paulo: Companhia das Letras; Bauro, Edusc, 2009. p. 151. 38 Regimento dos juízes das confiscações pelo crime de heresia. Códice 311- Relação da Bahia – 1752. Arquivo Nacional – Rio de Janeiro. 39 Regimento do Juízo das Confiscações Pelo Crime de Heresia, e Apostasia, de 10 de julho de 1620, de 57 capítulos, publicado por José R. M. de Campos e Soiza no Tomo III do Systema ou Coleção dos Regimentos Reaes. In: O Governo dos outros: Imaginários Políticos no Império Português. (Lisboa, 1785), a pp. 196-219.

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Já aqui, a documentação nos revela um outro procedimento jurídico adotado pela

justiça do fisco, isto é, a utilização de uma certidão para contar nos autos que o réu não

continha nenhum tipo de bens, isto é, os denominados presos pobres; e finalmente, a

obrigatoriedade de um novo inventário no caso do segundo cônjuge também ser preso, mesmo

que já tenha ocorrido um inventário à época da prisão do primeiro, justificado pela lógica da

possibilidade de aquisição de algum bem durante o período intermediário.

Na tentativa de uma melhor instrumentalização de nosso trabalho, recorremos aos

estudos da historiadora portuguesa Isabel Drumond Braga, sobretudo, Bens de Hereges.

Inquisição e Cultura Material. Portugal e Brasil (séculos XVII-XVIII). Aqui Isabel Braga

compreende que com o estabelecimento do Santo Ofício em 1536, Portugal40 não obteve

imediatamente a possibilidade de proceder ao confisco de bens face aos réus. Ainda segundo a

autora, a 18 de novembro de 1559, a rainha regente D. Catarina, na menoridade de D.

Sebastião, promulgou um alvará, com aprovação papal, isentando, outra vez, os cristãos-

novos do confisco de bens, por mais 10 anos. No entanto, no ano de 1563, o cardeal infante

D. Henrique, igualmente na qualidade de regente, revogou o referido alvará com efeitos

retroativos. O mesmo, por alvará de 26 de Novembro de 1563, isentou do pagamento da sisa

os bens confiscados pelo Santo Ofício e vendidos pelos inquisidores, “havendo respeito a

serem bens que pertenciam à Coroa de meus reinos e eu os ter dado e aplicados ao Santo

Ofício para ajuda das despesas dele e os vendedores serem eclesiásticos.”41

Tomando por base o quadro acima descrito, ou seja, do material confiscado podia-se

deles fazer o que nossa mercê for, resume-se àquilo que poderíamos chamar na falta de

palavra melhor, “um lugar de fusão de interesses”. Como também dar-se destaque à outra

compreensão, isto é, nos faz entender que tais procedimentos estavam sujeitos à fatores

políticos como também monetários.

Por seu lado, Evaldo Cabral de Mello também nos oferece uma outra compreensão

para que possamos entender aquilo que concebemos como “fusão de interesses”; ele aponta

40 Já com relação à Espanha – leia-se Castela – a Inquisição medieval, praticou o sequestro de bens, a título de medida cautelar. Ver: MILLAN, Jose Martinez. LA HACIENDA DE LA INQUISICIÓN (1478- 1700). Editora C.S.I.C. Coleção monografias de História. Hespanha, 1984. 41 BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond. Bens de Hereges. Inquisição e Cultura Material. Portugal e Brasil (séculos XVII-XVIII). Edição: Imprensa da Universidade de Coimbra. CIDEHUS, FCT/ 2012. p. 45.

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em sua obra Olinda Restaurada: Guerra e açúcar no Nordeste, 1630- 1654, alguns dos

contornos da emblemática “quebra de braço” entre o rei Dom João IV e o Tribunal do Santo

Ofício, acerca do projeto da criação da Companhia Geral de Comércio do Brasil, projeto este

que tivera como maior incentivador o padre Antônio Vieira.

Mello compreende que à época da Restauração Pernambucana o restabelecimento da

navegação e o livre comércio dependiam da restauração dos engenhos. Como solução o padre

Antônio Vieira insistia no estabelecimento de duas companhias de comércio, uma no Brasil e

a outra para o Estado da Índia. Tais companhias seriam custeadas com capital judeu, desde

que os homens de negócios – a grande maioria cristãos-novos – tivessem seus bens isentos do

confisco pela Inquisição. A ideia apontada por Vieira fora descartada devido à resistência da

Inquisição, em não concordar com a isenção do confisco de bens dos cristãos-novos. Em

1649, desagradando o Tribunal do Santo Ofício, Dom João IV por meio de um alvará concede

isenção do confisco de bens 42; aprova a criação da companhia geral de comércio do Brasil,

incluindo aí a companhia de comércio de Pernambuco43. Tal procedimento da coroa em favor

dos cristãos-novos fazia parte da audácia política de Dom João IV, ou seja, boa parte do

financiamento da guerra contra Castela seria proveniente de capital dos cristãos- novos44.

Ainda a respeito desses ecos de forças em colisão, dispomos de uma significativa

explanação apontada pelo historiador português, João Lúcio de Azevedo em História dos

Cristãos-Novos Portugueses. Segundo Azevedo, com a morte de Dom João IV, entrou em

fase crítica a controvérsia acerca dos confiscos de bens, e devido os acontecimentos, ou seja,

devido as ameaças holandesas em relação ao território das Índias45, era necessária uma

expedição de socorro àquele território. Expedição esta que custaria aos cofres da Coroa

trezentos mil cruzados. Segundo informações do Conselho da Fazenda, não se podiam desviar

das obrigações correntes trezentos mil réis. Com isso, segundo Azevedo, tomar aquela quantia

42 Este fato ocasionou na excomunhão do rei D. João IV, pois o alvará régio foi passado sem prévia autorização papal. Cf.: BRAGA. Bens de Hereges. Op. cit. p. 46. 43 MELLO, Evaldo Cabral. Olinda Restaurada: Guerra e açúcar no Nordeste, 1630- 1654. São Paulo. Ed. 34, 2007. pp. 105-25. 44 BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições- Portugal, Espanha e Itália, Séculos XV- XIX- São Paulo: Companhia das Letras, 2000.p. 331. 45 Identificamos uma documentação no Arquivo Nacional Torre do Tombo (online)- doravante ANTT – na qual o conteúdo da ementa registra-se: CONFISCO de bens. Data de produção: 1646 – 1657. Âmbito e conteúdo: Cópia de consultas, pareceres e breves sobre a confiscação de bens aos cristãos novos penitenciados pelo Santo Ofício, sobre o empréstimo do dinheiro das confiscações para o socorro da Índia e sobre a Companhia de Comércio do Brasil. PT/TT/TSO-CG/010.

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emprestada não se devia pensar, pois todos os homens de negócios tinham investido todos os

seus capitais na Companhia do Brasil; os demais eram vassalos pobres, o único recurso eram

os bens do Fisco46.

Recorrendo mais uma vez aos estudos de António Manuel Hespanha com relação aos

orçamentos do reino português, o autor aponta que na categoria das condenações, os

rendimentos da justiça também decorriam do confisco, no qual os condenados pelo Santo

Ofício devessem perder seus bens para a Coroa47. Já Francisco Bethencourt nos aponta que a

imagem da ação arbitrária – da Inquisição - é complementada pela imagem da ação

interessada. As penas para o crimes de heresia revestiam-se nos condenados não apenas a

ruína de toda a sua família, sem falar na inabilitação dos seus descendentes para o exercício

de ofícios ou profissões; com relação ao caso da Inquisição espanhola a o autor compreende

que a remuneração dos funcionários não era estável, tanto as multas quanto os confiscos de

bens desempenhavam papel significativo na administração do Tribunal do Santo Ofício

espanhol48. Ainda no recorte espanhol, José Martinez Millan defende a tese que as finanças da

Inquisição, já na segunda metade do século XVI, eram relativamente estáveis devido às

rendas regulares provenientes ou da igreja ou do estado. No entanto, parte de seu orçamento

dependia de recursos “flutuantes”, isto é, ordens explicitas dos organismos de controle social

com intuito de aumentar os confiscos de bens nas conjunturas mais difíceis49. Daí decorria

naturalmente a suspeita, levantada pelos cristãos-novos, de que a ação dos inquisidores não

era desinteressada do ponto de vista material, dado o volume de riqueza de numerosos

perseguidos.

Como já vimos, de acordo com a determinação regimental, quando a prisão ocorresse

com sequestro de bens - ponto que será retomado mais abaixo - encaminhava-se recado ao

Juízo do Fisco para que fosse iniciado o inventário, como também para pôr em segurança a

46 AZEVEDO, João Lúcio de. História dos Cristãos-Novos Portugueses. Livraria Clássica Editora A.M. Teixeira & C.A. (FILHOS), Lda. Praça dos Restauradores, 17 Lisboa. 2ª edição. p. 274. 47 HESPANHA, Antônio Manuel. As vésperas do Leviathan. Instituições e poder político em Portugal, século

XVII. Coimbra: Almedina, 1994.p. 122. 48 BETHENCOURT. História das Inquisições. Op. cit. p. 340. 49 MILLAN. LA HACIENDA DE LA INQUISICIÓN. Op. cit. pp. 59-81.

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fazenda do confiscado. No entanto, em locais que não houvesse Juízo do Fisco,

primeiramente recorria-se ao corregedor ou juiz de fora e, na falta deste, o juiz da terra50.

Em função dessa pequena amostra sobre os usos e aplicações do confisco de bens aos

reconhecidamente culpados pela Inquisição, importa destacar mais uma vez, trechos do

Regimento dos Juízes das Confiscações pelo crime de Heresia, publicado no ano de 1572. Seu

conteúdo não fora feito no vazio. Dispõe de um sistemático conjunto de procedimentos

processuais organizados por uma burocracia judicial, ao mesmo tempo nos revela uma série

de critérios que busca salvaguardar os acusados de possíveis abusos ou transgressões por parte

de seus funcionários:

Regimento dos Juizes das Confiscações pelo crime da Heresia

Dom Sebastião [...] Faço saber, que querendo eu prover, e dar ordem acerca

do modo de proceder, e julgar, que haja de ter os juizes executores, e mais

officiaes dos bens confiscados pelo crime da Heresia, e apostasia, e

aplicados para o fisco, e minha Camera Real, em Todos meus Reynos, e

Senhorios mandey ver por letrados de boa consciencia, e de muita

experiencia nos negocios, e couzas do Santo Officio da Inquiziçam o

Regimento de aqui thé gora se uzou, e por ser necessario declarasse algumas

couzas e accrescentaremse outras com informação dos ditos Letrados,

Ordeney o Regimento seguinte, do qual hey por bem, que se uze daqui em

diante. Primeiramente o Juiz das Confiscaçoes sera huma pessoa de

consciencia, e letras, e de muita confiança, sem raça alguã de Mouro, ou

Judeo, e Sera por mim nomeado, e provido do dito officio. Tanto que o dito

Juiz Tiver especial Recado dos Inquisidores por escrito em que lhe fação

saber que mandarão prender alguma pessoa, era logo com muita diligencia

as cazas donde morarem os culpados com o escrivão de seu cargo, e com

outro escrivam, de tabelião, que tambem consigo levará, e tomará, e haverá a

sua mão todas as chaves das ditas cazas, e das cazas que nelas estiverem,

para que não possam sobnegar, nem esconder couza alguã (?) e mandará

hum dos ditos escrivães que faça seu inventário51.

Entendemos, em acréscimo, ao enunciado acima exposto, sem excluir totalmente as

interpretações, e sugerindo um olhar mais pragmático sobre as disposições dos regimentos,

tendo em vista interesses pessoais - por parte da Coroa – que é importante destacar que em

nenhum momento vê-se registrado pelo regimento acima a participação naquela ação jurídica

algum membro da esfera eclesiástica, isto é, membros da Igreja católica. Neste sentido,

50 Livro I – Dos ministros e oficiais do Santo Ofício e das coisas que nele há de haver. In: SIQUEIRA, Sônia Aparecida de. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, a 157, nº 392, pp. 495- 1020, Julho/ Setembro, 1996.p. 745. 51 Regimento dos juízes das confiscações pelo crime de heresia. Códice 311- Relação da Bahia – 1752. Arquivo Nacional – Rio de Janeiro.

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cremos que o confisco de bens se tornou um dos mais importantes dispositivos legais de

sustentação do Santo Ofício.

Um outro trecho daquela documentação que bem ilustra o funcionamento acurado e

sistemático do Aparelho Burocrático Inquisitorial, que por sua vez, representa ao nosso ver,

um dos elementos mais significativos no tocante aos procedimentos de controle acerca dos

bens confiscados, refere-se à,

que alguma pessoa, for preza pello S. Officio, os Inquisidores logo, passados

alguns dias, que lhes parecer, lhe façaõ fazer rol das dividas que devem, e a

que pessoas, e por que via, e de que Tempo saõ, e assim das que a elle saõ

devidas; e dizendo que as Tem em algum livro, ou livros, diraõ quantos saõ,

e os finaes que Tem. [...] A experiencia Tem mostrado, que os culpados no

crime de Heresia, e Apostasia, para encobrirem a fazenda que sabem Ter

perdida pelos Taes delitos, passaõ Letras do cambio, em que se fazem

devedores das quantias que querem52.

Estudioso do assunto, José Veiga Torres, considera que para se esboçar o perfil social

de uma instituição, como também para compreendermos como se estrutura e articula-se os

vários setores que uma instituição cria para o desempenho do papel que pretende

desempenhar numa sociedade, um dos fundamentais elementos da sua história a ser analisado

é sem sombra de dúvidas, a sua vida financeira53.

Na sequência de outras observações, recorremos mais uma vez às pesquisas da

historiadora Maria Leonor Garcia da Cruz acerca do confisco de bens, destacando que a

concórdia ou aliança Estado – Igreja, ao apropriar-se do espaço público garantindo a sua

manutenção por meio de medidas coativas e censórias, evidentemente que impõem ao

coletivo a obediência a regras dominantes, dificultando um conhecimento alargado do

diferente, de outras concepções, cerceando uma liberdade individual absoluta. Ainda de

acordo com a autora, o estudo dos mecanismos institucionais de gestão das finanças públicas,

torna-se interessante por serem essas finanças o nervo fundamental no processo da construção

52 Regimento do Juízo das Confiscações Pelo Crime de Heresia, e Apostasia, de 10 de julho de 1620, de 57 capítulos, publicado por José R. M. de Campos e Soiza no Tomo III do Systema ou Coleção dos Regimentos Reaes. In: O Governo dos outros: Imaginários Políticos no Império Português. (Lisboa, 1785), a pp. 196-219. pp. 203-4. 53 TORRES, José Veiga. A vida financeira do Conselho Geral do Santo Ofício da Inquisição – séculos XVI – XVIII, publicado pela revista “Notas Económicas”, 2, 1993, pp.: 24-39.

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do Estado moderno, cujo estudo, ainda nos permite elucidar teias e relações sociais e políticas,

econômicas e religiosas, que se submetem às instituições, as condicionam e as modificam54.

Tal compreensão do trecho acima tecido pela historiadora, também reflete parte da

política adotada pela Coroa portuguesa com relação aos descaminhos acerca do confisco de

bens, sobretudo, com relação à América portuguesa,

Eu El Rey faço saber aos que esta minha provisão virem que fui informado,

que na Rellação do Brazil o Juiz da Coroa, e minha fazenda se intrometem

fazer Sequestros, e inventarios das fazendas das pessoas que se prendem

pelo Sancto Officio, ou tem culpas pertencentes a elle, o que faz fundado no

Regimento da Rellação, que ordena, que o dito Juiz de minha Coroa, e

fazenda vivia tambê do fisco, e posto que isso tenha força em alguns dos

cazos, não tem nos bens que são Confiscados, e Sequestrados pelos

Inquizidores, porque estes somentes sam de Sequestrar, e Confiscar por

Ordem dos Inquizidores, ou Juiz do Fisco da Caza da Supllicação. [...] e

mando que o dito Juiz de minha Coroa, e fazenda, Senão intrometa neste

cazo, Senão quando os Inquizidores, ou Juiz do fisco lho deprecarem. [...]

em Lisboa, vinte e tres de Setembro de mil seiscentos e onze55.

Em linhas gerais, a América portuguesa, a par das outras instâncias inquisitoriais56,

não contou com a presença de funcionários do Juízo do Fisco- fato anteriormente já

enunciado. Considerando a relevância da ausência destes funcionários, acrescida do volume

de mercadorias e bens confiscados, sobretudo, de cristãos-novos, condenados pela Inquisição

no Brasil, já revela de saída o cerne de uma das preocupações da Coroa. Ou seja, a se utilizar

dos critérios acima descritos na documentação, sobressai, sobretudo, na provisão real, a

preocupação do monarca com os descaminhos proporcionados pelas outras justiças acerca da

apropriação indevida dos recursos e bens oriundos do confisco de bens dos condenados pela

Santo Ofício. Como nos bem o aquele documento, os assuntos relacionados aos bens de

hereges, são de exclusividade do Juízo das Confiscações.

António Manuel Hespanha, de seu lado, observa que a organização da vida financeira

da Inquisição portuguesa e do seu Conselho Geral acompanhou as vicissitudes da sua

evolução. As suas fontes de receita oscilaram entre rendimentos provindos de um tipo de

35 CRUZ. Relações entre o Poder Real e a Inquisição (séculos XVI- XVII). Op. cit. pp. 107-126. 55 Regimento dos Juízes das Confiscações pelo crime de heresia de 1572. Op. Cit. 56 A América portuguesa, ao contrário da espanhola não contou com um Tribunal do Santo Ofício, além disso, a própria presença inquisitorial no Brasil se compôs de forma deficitária. Em diversas situações a inquisição portuguesa contou com o apoio da justiça eclesiástica, como também, algumas funções devidamente pertencentes a agentes e oficiais inquisitoriais, eram realizadas por indivíduos não pertencentes aos quadros do Santo Ofício.

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economia senhorial-eclesiástica, rendimentos originários de uma economia mercantil, como

também da sua especifica atividade, isto é, penalizações pecuniárias, sobretudo, os confisco

de bens57.

Creio que nesta seara de discussões voltada ao âmbito jurídico-institucional é

interessante ressaltar o estudo das instituições. Estudos estes, que são instrumentos

necessários para se esboçar o perfil social de instituições como o Tribunal do Santo Ofício.

António Manuel Hespanha promove uma leitura da história das instituições, na qual destaca

que a história das instituições surge como reação contrária a dois modelos de entender a

história do direito: a história das fontes que analisa a evolução das normas jurídicas com suas

leis e costumes; a outra seria a história dogmática, que descreve a evolução das doutrinas e

sistemas de conceitos. O autor compreende que estas duas orientações tendiam isolar

realidades que tratavam de outras realidades a exemplo dos sistemas políticos, econômicos e

culturais, aspectos que conjuntamente com o direito, organizavam a vida social58. Na

sequência, optamos por registrar a compreensão de Maurice Hariou no qual ele aponta que

uma instituição é uma ideia que se realiza e dura juridicamente num meio social; e que para a

realização dessa ideia, organiza-se um poder que lhe confere órgãos; por outro lado, entre os

membros do grupo social interessado na realização daquela ideia, produzem-se manifestações

de comunhão dirigidas pelos órgãos do poder e reguladas por procedimentos59.

Os Regimentos de 1572 e 1640 do Tribunal do Santo Ofício, são de extrema

importância uma vez que estabelecem o delineamento de esferas de competência reativamente

ao funcionamento ordinário de órgãos e de oficiais da Inquisição e da Coroa, assim como

revelam objetivos do Estado face a preocupações e controvérsias decorrentes do dinamismo

social e seus condicionantes de natureza variada60. Este tipo de compreensão nos permitiu

observar a vigência de critérios explícitos ou implícitos, de restrição e dificuldades por parte

da Coroa portuguesa em evitar os possíveis abusos e descaminhos arquitetados por agentes e

oficiais do Fisco,

57 TORRES. Op. cit. pp.: 24-39. 58HESPANHA, António Manuel. História das Instituições: época medieval e moderna. Coimbra: Alamedina, 1982. pp. 11- 2. 59 Cf.: HAURIOU, Maurice. A teoria da Instituição e da fundação: ensaio de vitalismo social. Edição 1, Editora Sérgio Fabris. p. 19. 60 CRUZ. Relações entre o Poder Real e a Inquisição (séculos XVI- XVII). Op. cit. pp. 107-126.

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O Juiz das Confiscações naõ fará composiçaõ alguma sobre os bens

confiscados, nem os mandará vender, nem os arrematar fóra da almoeda; e

nem elle, nem o Escrivaõ de seu cargo, nem outro Official algum das ditas

confiscações, nem da Inquiziçaõ, comprará, nem haverá por si, nem por

outra interposta pessoa couza alguma das ditas fazendas: e fazendo o

contrario, incorrera cada hum em pena de cem cruzados, e seraõ privados de

seus Officios, e pagaraõ Todos os dannos, e perdas, que por isso recrescerem

á fazenda do Fisco, e perderaõ pelo mesmo fato a fazenda que comprarem; e

o Juiz do Fisco Tirará cada anno disto devassa, e a despachará com os

Adjuntos que lhe saõ nomeados61.

O documento acima, mais uma vez nos traz importantes pistas, primeiramente

configura o Tribunal do Santo Ofício num digno receituário do Antigo Regime português, ou

seja, uma instituição que procura aplicar maior rigor na execução da sua justiça, no controle

dos seus oficiais e na preservação e disponibilidade de bens que não vindo aos seus

possuidores originários, constituem propriedade da Coroa. Tomam-se providencias até

mesmo contra o próprio Juiz do Fisco, na sua possibilidade de incorrer em apropriação

indevida daquilo que por lei pertence à Coroa portuguesa.

Uma outra relevante disposição jurídica por parte da justiça do Fisco, verificamos

acerca dos bens sequestrados, e em caso de confirmação da sentença do condenado, a

confiscação,

E sendo caso que os ditos prezos saiaõ absolutos dos ditos Crimes por

sentença dos Inquizidores, o dito Juiz lhe fará tornar seus bens pelos mesmos

inventarios. [...] E sendo dada sentença final contra os culpados pelos

Inquizidores, e Deputados do Sancto Officio, em que os condemnaõ por

hereges, ou apostasia de nossa santa Fé Catholica, de que se apartaõ, em tal

cazo o dito Juiz, a requerimento do Thesoureiro, mandará apregoar nos

lugares públicos, que as pessoas que pretendem Ter direito nos Taes bens,

conformes as acções que propozeraõ no Tempo dos primeiros pregões,

venha perante elle no Termo que for assignado, e que fará cumprimento de

justiça62.

Aqui privilegiamos dá destaque ao papel da justiça do Fisco com relação a

possibilidade, que apesar de remota, acontecia, ou seja, a absolvição do suspeito pelo crime de

61 Regimento do Juízo das Confiscações Pelo Crime de Heresia, e Apostasia, de 10 de julho de 1620, de 57 capítulos, publicado por José R. M. de Campos e Soiza no Tomo III do Systema ou Coleção dos Regimentos Reaes. In: O Governo dos outros: Imaginários Políticos no Império Português. (Lisboa, 1785), a pp. 196-219. 62 Regimento do Juízo das Confiscações Pelo Crime de Heresia, e Apostasia. Op. Cit.

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heresia. Observa-se na documentação que o rei faz expressar de forma objetiva, que os bens

serão devolvidos aos presos, pelos mesmos inventários. Ou seja, no momento da devolução

dos bens aos supostos hereges, tais bens, deveriam ser os mesmos arrolados no inventário à

época de sua prisão. Outro ponto interessante nesta documentação sobressai com relação aos

leilões públicos acerca dos bens daqueles que eram foram considerados culpados pela

Inquisição portuguesa.

Desde o início, a Inquisição portuguesa - como também o poder civil que a desejou -

pretenderia viver, fundamentalmente, do produto do seu trabalho, ou seja, das penalizações

materiais, dos confiscos. Tal lhe foi vedado pelo poder papal. Como instituição de Antigo

Regime teve de procurar os rendimentos nas fontes de rendimento do regime em que se

situava. O poderio econômico das instituições eclesiásticas tradicionais era alvo de

demasiados interesses e, obviamente, nem era suficientemente nem elástico para satisfazer

todas as ambições. Todos os campos de poder, desde o eclesiástico romano, passando pela

realeza e pelos grupos familiares das antigas e novas aristocracias, até às medianas camadas

de magistrados e burocratas letrados, pretendiam partilhar, em parte côngrua, dos rendimentos

globalmente consideráveis do património eclesiástico63.

As resistências como também os conflitos deixavam tal património à competência

daquele que mais poder detinha. Desse modo, não era com certeza a Inquisição. Instituição

nova, surgida devido novos problemas, novas necessidades; da gestação de um novo sistema

de relações económicas e de relações culturais e sociais. Seria assim, em boa lógica, no

interior dessa nova realidade social, que a Inquisição encontraria não só a matéria prima da

sua produção específica, como também a matéria financeira de relações culturais e sociais,

com que se sustentar e se reproduzir, os confiscos de bens deviam pertencer-lhe. No entanto,

o Estado, também ele se confrontava com essa nova sociedade – mercantil - em ascensão e

dela também dependia. Inquisição e Estado, com seus discursos de solidariedade mútua, mas

na prática efetivamente não coincidiam em seus objetivos 64.

Em linhas gerais, o Estado, no campo político e financeiro era superior a Inquisição.

Nesse sentido, a Inquisição também dependia financeiramente da Coroa, e paradoxalmente ao

63 TORRES. A vida financeira do Conselho Geral do Santo Ofício da Inquisição. Op. cit. pp.: 24-39. 64 TORRES. Op. cit. Idem.

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depender do Estado, também dependeria da economia mercantil, economia, esta, sustentada

em sua grande maioria composta por cristãos-novos.

O estudo acerca do confisco de bens está muito longe de esgotar a multiplicidade das

suas relações, e nem chegam para explicar a razoável dinâmica sobre as sociedades modernas.

No entanto, partindo da premissa que nessas sociedades o acesso a bens como também certos

serviços se evidenciava uma distância social, material e cultural de cada indivíduo; como

também o consumo de bens de luxo acentuava a diferenciação entre os grupos sociais. Assim

sendo, como pode parecer aos nossos apressados julgamentos, acreditamos que o estudo do

confisco de bens, descortina um pouco, mas significativos contornos sobre o perfil das

sociedades modernas. Até porque, nosso foco – o confisco de bens – nos serviu de guia para

outras abordagens; apesar de que quase sempre ele nos escapa com certa regularidade do

nosso campo de visão, nos oferecendo outras perspectivas de abordagens.

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