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INQUÉRITO POLICIAL 171 O STF 200 seguiu o entendimento doutrinário acima ao concluir que: [...] o Judiciário, em nosso sistema processual penal, atua no inquérito para assegurar a observância dos direitos e liberdades fundamentais e dos princípios sobre os quais se assenta o Estado Democrático de Direito. Em sentido contrário, a reforma do CPP, promovida pela Lei nº 11.690, de 2008, facultou ao juiz a produção da prova no curso do inquérito policial, desde que preenchidos alguns requisitos. Segue, abaixo, o dispositivo legal: Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e pro- porcionalidade da medida; Nestor Távora e Fábio Roque Araújo 201 chamam a atenção para a du- vidosa constitucionalidade do artigo. A produção da prova pelo juiz, de ofício, no curso do inquérito policial, ocasionaria a violação ao sistema acusatório. O magistrado, na hipótese legal, também exteriorizaria um juízo de valor sobre os fatos ao verificar o que se trata de prova “urgente e relevante”, antecipando a sua análise sobre diversas questões de direito, violando o princípio constitucional da imparcialidade. Em tese, toda produção antecipada de provas autorizada ou determinada pelo magistrado consiste numa medida cautelar, uma vez que possuir caráter excepcional. Citam-se, como exemplos, o mandado de busca e apreensão, a interceptação telefônica e a quebra do sigilo de dados bancários ou fiscais. Essas hipóteses, por serem medidas cautelares em sentido estrito, de- vem ter preenchidos, além dos requisitos de cada medida, os pressupostos do fumus comissi delicti (existência de indícios plausíveis da comprovação de que um determinado cidadão está envolvido em uma infração penal) e do periculum in mora (risco ou prejuízo que a não realização imediata da diligência poderá acarretar para a investigação criminal e posterior instrução criminal). A partir de um poder geral de cautela, o magistrado pode, também, conceder outras medidas cautelares não previstas em lei, mas necessárias para o inquérito policial ou para a ação penal. Diante do exposto, ques- 200. HC 92893, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 2/10/2008, conforme noticiado no Inf. 522 do STF. 201. TÁVORA e ARAÚJO, 2010, p. 223. No mesmo sentido, é a posição de Eugênio Pacelli de Oliveira (2010, p. 11).

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O STF200 seguiu o entendimento doutrinário acima ao concluir que: [...] o Judiciário, em nosso sistema processual penal, atua no inquérito para assegurar a observância dos direitos e liberdades fundamentais e dos princípios sobre os quais se assenta o Estado Democrático de Direito.

Em sentido contrário, a reforma do CPP, promovida pela Lei nº 11.690, de 2008, facultou ao juiz a produção da prova no curso do inquérito policial, desde que preenchidos alguns requisitos. Segue, abaixo, o dispositivo legal:

Art. 156.   A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:

I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e pro-porcionalidade da medida;

Nestor Távora e Fábio Roque Araújo201 chamam a atenção para a du-vidosa constitucionalidade do artigo. A produção da prova pelo juiz, de ofício, no curso do inquérito policial, ocasionaria a violação ao sistema acusatório. O magistrado, na hipótese legal, também exteriorizaria um juízo de valor sobre os fatos ao verificar o que se trata de prova “urgente e relevante”, antecipando a sua análise sobre diversas questões de direito, violando o princípio constitucional da imparcialidade.

Em tese, toda produção antecipada de provas autorizada ou determinada pelo magistrado consiste numa medida cautelar, uma vez que possuir caráter excepcional. Citam-se, como exemplos, o mandado de busca e apreensão, a interceptação telefônica e a quebra do sigilo de dados bancários ou fiscais.

Essas hipóteses, por serem medidas cautelares em sentido estrito, de-vem ter preenchidos, além dos requisitos de cada medida, os pressupostos do fumus comissi delicti (existência de indícios plausíveis da comprovação de que um determinado cidadão está envolvido em uma infração penal) e do periculum in mora (risco ou prejuízo que a não realização imediata da diligência poderá acarretar para a investigação criminal e posterior instrução criminal).

A partir de um poder geral de cautela, o magistrado pode, também, conceder outras medidas cautelares não previstas em lei, mas necessárias para o inquérito policial ou para a ação penal. Diante do exposto, ques-

200. HC 92893, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgado em 2/10/2008, conforme noticiado no Inf. 522 do STF.

201. TÁVORA e ARAÚJO, 2010, p. 223. No mesmo sentido, é a posição de Eugênio Pacelli de Oliveira (2010, p. 11).

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tiona-se: A idade avançada de uma pessoa pode ser fundamento para o periculum in mora de eventual medida cautelar com a finalidade de sua oitiva antecipada no curso do inquérito policial e de posterior aproveita-mento de seu depoimento na ação penal?

A análise deve ser feita a partir de cada caso concreto, norteada pela razoabilidade, de modo a envolver a análise de elementos como a idade da pessoa, a sua saúde e o risco que a não realização imediata dessa prova poderá acarretar para a futura instrução criminal. Deve-se levar em consi-deração, ainda, fatores como a demora no trâmite de inquéritos policiais e da futura ação penal.

Por fim, é importante ressaltar que, seja nas hipóteses em que a atuação do magistrado é constitucional, seja na hipótese do art. 156, inciso I, do CPP, o juiz que atuar no inquérito policial estará prevento para a futura ação penal202.

Como esse assunto foi cobrado em concurso público?1. (PC/Delegado/RN/2008/CESPE) É possível que o magistrado, em busca da verdade real, determine diligências em IP, mesmo na situação de crime de ação penal pública incondicionada em que o membro do MP já tenha pugnado pelo arquivamento dos autos.A assertiva foi considerada falsa, uma vez que a iniciativa probatória do magis-trado, prevista no art. 156 do CPP, não incide após o pedido de arquivamento do inquérito policial pelo Ministério Público.2. (PC/Delegado/RJ/2012/FUNCAB) A constituição adotou um processo penal com cariz acusatório. Nesse contexto, a entrega da função de polícia judiciária a órgãos policiais é fundamental para a efetivação de tal sistema, como fez o art. 144 da CRF/1988. Ao lado disso, a presunção de inocência se irradia para o campo probatório. Já o artigo 156 do CPP, dispõe: “a prova da alegação incum-birá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.” Com efeito, marque a resposta incorreta.A) Para parte da doutrina, o inciso i do art. 156 do CPP é inconstitucional por transferir para o juiz as funções típicas do delegado de polícia.

B) Parte da doutrina sustenta que a natureza jurídica da prova é de um direito correlato ao direito de ação e de defesa, sendo atividade própria das partes e não do órgão jurisdicional, portanto, o inciso II do art. 156 do CPP seria inconstitucional.

202. HC 94188, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 26/0/2008; HC 93762, Relator(a): Min. Eros Grau, Segunda Turma, julgado em 29/4/2008; HC 99353, Relator(a): Min. Eros Grau, Segunda Turma, julgado em 18/08/2009.

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C) Em razão da presunção de inocência, o ônus da prova no processo penal é da acusação. D) É pacífico que no processo penal brasileiro existe o princípio da verdade real, que está consagrado no art. 156 do CPP, justificando a atividade investigatória e probatória do juiz.E) A presunção de inocência possui axiologia tridimensional, atuando como regra de tratamento, regra de julgamento e regra de garantia.A resposta é a  letra “c”, pois a prova da alegação, consoante art. 156 do CPP, incumbe a quem a fizer.

11. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO INQUÉRITO POLICIAL Sobre o tema, remetemos o leitor ao segundo capítulo deste livro, ao

tratar da questão da natureza jurídica da requisição ministerial.

12. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIALComo se verificará abaixo, o Delegado de Polícia não possui atribuição

para arquivar os autos de inquérito policial. Uma vez instaurado esse procedimento, a Autoridade Policial deverá executar atos de ofício no sentido de elucidação do fato, até o seu relatório final.

Essa regra, contudo, não se aplica ao boletim de ocorrência. Pela lei-tura do boletim de ocorrência, o Delegado de Polícia poderá arquivá-lo se verificar que não existe crime (fato típico, antijurídico e culpável) ou que existe alguma causa extintiva de punibilidade Havendo dúvida ou se não houver elementos probatórios suficientes para o arquivamento, o boletim de ocorrência não poderá ser arquivado, devendo ser instaurado o inquérito policial (caso haja elementos de autoria e materialidade suficientes) ou efetuar uma verificação preliminar de inquérito – VPI – (caso os elementos de autoria e materialidade não sejam suficientes para instaurar o inquérito policial). Cita-se a prescrição como exemplo de arquivamento do boletim de ocorrência, pois, como regra, pode ser verificada pela simples leitura do documento.

12.1 Arquivamento diretoCom o fim das investigações ocorridas ao longo do inquérito policial, a 

Autoridade Policial deve elaborar o relatório conclusivo. Ao invés de indiciar o suposto autor dos fatos, o Delegado pode opinar pelo arquivamento do inquérito policial com base na insuficiência das provas (falta de justa causa), por falta de condição de procedibilidade da ação penal (pressuposto processual ou condição da ação), pelo fato de inexistir

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o crime (excludentes de tipicidade, excludentes de antijuridicidade e excludentes de culpabilidade) ou em razão da ser hipótese de causa extintiva da punibilidade do agente.

Como a autoridade policial não pode arquivar os autos do inquérito policial (art. 17 do CPP), o procedimento será encaminhado ao Ministério Público, que pode adotar, ao seu juízo, as seguintes providências: (a) não concordar com o Delegado de Polícia e oferecer a denúncia; (b) não con-cordar com o Delegado de Polícia e lhe devolver o inquérito policial para a realização de novas diligências; e (c) concordar com o Delegado de Polícia e postular, junto ao magistrado, o arquivamento do inquérito policial.

O juiz, assim que receber o inquérito policial com o pedido de arquiva-mento do Ministério Público, pode arquivar o feito (esse arquivamento é classificado como arquivamento direto) ou discordar do arquivamento e aplicar o art. 28 do CPP. Esse artigo abre a possibilidade de o magistrado considerar improcedentes as razões invocadas para o arquivamento e fazer a remessa do inquérito ao procurador-geral para que, ele próprio,(a) ofereça a denúncia, (b) designe outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou (c) insista no pedido de arquivamento, ao qual, só então, estará o juiz obrigado a atender (essa segunda hipótese de arquivamento também é conhecida como arquivamento direto).

Depois de ordenado o arquivamento pelo juiz, por falta de base para a denúncia, a Autoridade Policial somente poderá proceder a nova inves-tigação se de outras provas tiver notícia. Essa determinação, prevista no art. 18 do CPP, segue a mesma linha da Súmula 524 do STF: “Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas”.

Ao seguir essa linha de pensamento, verifica-se que, no arquivamento, está inserida a cláusula rebus sic stantibus, ou seja, será admitida eventual denúncia ou a instauração de um novo inquérito policial com o mesmo objeto daquele arquivado se ficar comprovada a mudança do estado das coisas.

Assim, como regra, todo arquivamento não está sujeito à coisa julgada formal e material. Excepcionalmente, como se observa nos julgados abaixo, o STF tem reconhecido a existência da coisa julgada material:

Inquérito policial: arquivamento com base na atipicidade do fato: eficácia de coisa julgada material. A decisão que determina o arquivamento do inquérito policial, quando fundado o pedido do Ministério Público em que o fato nele apurado não constitui crime, mais que preclusão, produz coisa julgada material, que - ainda quando emanada a decisão de juiz absolutamente incompetente -, impede a instauração

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de processo que tenha por objeto o mesmo episódio.203 Paciente processado pelos mesmos fatos que foram objeto de inquérito policial arquivado mediante sen-tença transitada em julgado para a acusação, na qual se declarou a extinção da punibilidade pelo transcurso do prazo decadencial para o ajuizamento de queixa--crime, assentando que se tratava de crime contra as marcas (lei n. 9.279/96, art. 189), de iniciativa privada (lei n. 9.279/96, art. 199). 2. Prevalência do direito à liberdade com esteio em coisa julgada sobre o dever estatal de acusar. Segurança jurídica. 3. Superveniência da Lei n. 11.719/08, que, ao alterar o art. 397 do Código de Processo Penal, passou a reconhecer a extinção da punibilidade - independentemente de sua causa - como hipótese de absolvição sumária.204

Pelo exposto, o reconhecimento judicial da atipicidade ou das cau-sas extintivas de punibilidade no arquivamento do inquérito policial é capaz de fazer incidir, no caso concreto, a coisa julgada material. Contudo, o mesmo tratamento não é conferido às causas excludentes de ilicitude, não incidindo nessas a coisa julgada material:

A decisão que determina o arquivamento de inquérito policial, a pedido do Ministério Público e determinada por juiz competente, que reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de ilicitude, não afasta a ocorrência de crime quando surgirem novas provas, suficientes para justificar o desarquivamento do in-quérito, como autoriza a Súmula 524 deste Supremo Tribunal Federal.205

Como esse assunto foi cobrado em concurso público?

1. (PC/Delegado/RJ/2012/FUNCAB) A autoridade policial, ao chegar no local de trabalho como de costume, lê o noticiário dos principais jornais em circulação naquela circunscrição. Dessa forma, tomou conhecimento, através de uma das reportagens, que o indivíduo conhecido como “José da carroça”, mais tarde iden-tificado como José de Oliveira, teria praticado um delito de latrocínio. Diante da notícia da ocorrência de tão grave crime, instaurou o regular inquérito policial, passando a investigar o fato. Após reunir inúmeras provas, concluiu que não houve crime. Nesse caso, deverá a autoridade policial:

A) relatar o inquérito policial, requerendo o seu arquivamento e encaminhando--o ao juízo competente.

203. HC 83346, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 17/5/2005.204. HC 94982, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgado em 31/3/2009.205. HC 95211, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgado em 10/03/2009.

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B) determinar o arquivamento dos autos por falta de justa causa para a pro-positura da ação.C) encaminhar os autos ao Ministério Público para que este determine o seu arquivamento.D) relatar o inquérito policial, sugerindo ao Ministério Público seu arquivamento, o que será apreciado pelo juiz.E) relatar o fato a chefe de polícia, solicitando autorização para arquivar os autos por ausência de justa causa para a ação penal.A resposta correta foi a letra “d”. 2. (PC/Delegado/RJ/2012/FUNCAB) A autoridade policial, ao chegar no local de trabalho como de costume, lê o noticiário dos principais jornais em circulação naquela circunscrição. Dessa forma, tomou conhecimento, através de uma das reportagens, que o indivíduo conhecido como “José da carroça”, mais tarde iden-tificado como José de Oliveira, teria praticado um delito de latrocínio. Diante da notícia da ocorrência de tão grave crime, instaurou o regular inquérito policial, passando a investigar o fato. Após reunir inúmeras provas, concluiu que não houve crime. Nesse caso, deverá a autoridade policial:A) relatar o inquérito policial, requerendo o seu arquivamento e encaminhando--o ao juízo competente.B) determinar o arquivamento dos autos por falta de justa causa para a pro-positura da ação.C) encaminhar os autos ao Ministério Público para que este determine o seu arquivamento.D) relatar o inquérito policial, sugerindo ao Ministério Público seu arquivamento, o que será apreciado pelo juiz.E) relatar o fato ao chefe de polícia, solicitando autorização para arquivar os autos por ausência de justa causa para a ação penal.A resposta correta foi a letra d.

12.1.1 Natureza jurídica da deliberação judicial que determina o arquivamento do inquérito policial

Outro ponto de relevância, relativo ao tema do arquivamento, diz respeito à natureza jurídica da deliberação judicial que determina o ar-quivamento do inquérito policial. Observe que o STF, com base na súmula 524, acima citada, qualifica a deliberação judicial como um “despacho”. Observe que um despacho tem por  finalidade somente dar  impulso e movimentação à marcha processual. Como o arquivamento tem por ob-jetivo encerrar o procedimento criminal, produzindo, inclusive, a coisa julgada, esse ato teria, na verdade, a natureza de decisão.

12.1.2 Pedido de arquivamento em ação penal privadaNo curso da ação penal privada, a parte que representou pelo início do

procedimento criminal pode postular o seu arquivamento ao Delegado de

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Polícia sem apresentar qualquer motivo. Apesar de esse pedido não estar previsto na legislação processual, a Autoridade Policial deve recebê-lo como se fosse uma hipótese de renúncia ao direito de representação, devendo postular o arquivamento do inquérito policial com base na extinção da punibilidade do agente (art. 107, inciso V, do CP), razão pela qual incidem os efeitos da coisa julgada material.

É importante ressaltar que também é possível o pedido de arquivamento pela vítima em razão da falta de elementos probatórios para a propositura da ação penal. Nesse caso, do pedido de arquivamento deverá constar o motivo, a fim de evitar as consequências do parágrafo anterior. Surgindo novas provas, aplica-se a Súmula 524 do STF.

12.1.3 Retratação do pedido de arquivamento pelo Ministério Público

Feito o pedido de arquivamento pelo Ministério Público, mesmo que antes de sua análise pelo magistrado, não pode o membro do Parquet se retratar e oferecer a denúncia sem novas provas. Enten-dimento em sentido contrário violaria a Súmula 524 do STF, tanto que o Pretório Excelso possui julgado no sentido de sua inadmissibilidade:

Na hipótese dos autos, o procurador-geral da República requerera, inicialmente, o arquivamento dos autos, tendo seu sucessor oferecido a respectiva denúncia sem que houvessem surgido novas provas. Na organização do Ministério Público, vicissitudes e desavenças internas, manifestadas por divergências entre os sucessivos ocu-pantes de sua chefia, não podem afetar a unicidade da instituição. A promoção primeira de arquivamento pelo Parquet deve ser acolhida, por força do entendimento jurisprudencial pacificado pelo Supremo Tribunal Fede-ral, e não há possibilidade de retratação, seja tácita ou expressa, com o oferecimento da denúncia, em especial por ausência de provas novas.206

Desse modo, a vontade manifestada pelo primeiro membro do Minis-tério Público no sentido do arquivamento do inquérito policial não era a vontade da pessoa, mas a expressão da própria instituição.

206. Inq 2028, Relator(a): Min. Ellen Gracie, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, julgado em 28/04/2004.

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12.1.4 Arquivamento direto, juiz absolutamente incompetente e certidão de óbito falsa

Pode ocorrer que o arquivamento tenha sido determinado por um juiz absolutamente incompetente. Mesmo nessas hipóteses, ocorrerá a incidência da coisa julgada, uma vez que, de acordo com o princípio da vedação da revisão pro societate, previsto no art. 8º, inciso 4, do Pacto de São José da Costa Rica, “o acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”. No mesmo sentido é a posição do STF, como se observa pelo seguinte julgado:

Inquérito policial: arquivamento com base na atipicidade do fato: eficácia de coisa  julgada material. A decisão que determina o arquivamento do inquérito policial, quando fundado o pedido do Ministério Público em que o fato nele apurado não constitui crime, mais que preclusão, produz coisa julgada material, que - ainda quando emanada a decisão de juiz absolutamente incompetente -, impede a instauração de processo que tenha por objeto o mesmo episódio.207

O princípio da vedação da revisão pro societate, todavia, não é abso-luto. Existe uma hipótese em que o STF afasta a violação desse princípio:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECISÃO QUE RECONHECE A NULIDADE ABSOLUTA DO DECRETO E DETERMINA O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA [...] 1. A decisão que, com base em certidão de óbito falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa julgada em sentido estrito. [...]208

Desse modo, o inquérito policial poderá ser reaberto caso tenha sido arquivado com fundamento numa certidão de óbito falsa.

12.2 Arquivamento indiretoO arquivamento indireto ocorre quando o membro do Ministério

Público, em vez de propor a denúncia, posiciona-se pela incompetência do juízo ao qual está vinculado. O Promotor de Justiça alega que não possui atribuição para analisar o fato e postula o encaminhamento do inquérito policial ao juízo competente.

207. HC 83346, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 17/05/2005.208. HC 104998, Relator(a): Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 14/12/2010.

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Ao juiz, quando recebe esse pedido, abrem-se duas possibilidades: (a) concorda com o membro do Ministério Público e remete ao juiz compe-tente, declinando de sua competência; ou (b) não aceita a manifestação ministerial e aplica o art. 28 do CPP.

Como verificado, não se trata, propriamente, de um pedido de arquiva-mento, mas de um conflito de atribuições entre membros do MP ou conflito de competência entre membros do Poder Judiciário, a depender do caso. A nomenclatura “arquivamento indireto” surgiu a partir de um parecer do antigo Subprocurador-Geral da República, Cláudio Lenos Fonteneles, que verificou uma lacuna no ordenamento jurídico para o problema levantado e propôs aplicar como solução o mesmo procedimento do arquivamento direto, qual seja, a aplicação do art. 28 do CPP. Daí, para diferenciar do arquivamento direto, criou-se o termo em estudo.209

A solução apresentada, no entanto, somente possui aplicabilidade quando o inquérito policial ou procedimento investigatório tiver tramitação no Poder Judiciário. Quando o magistrado declina de sua competência, na verdade, está afirmando a sua incompetência para processar e julgar o caso concreto. Por isso, eventual problema oriundo dessa questão resolver-se-á pelo procedimento do conflito de jurisdição:

•  Havendo conflito de jurisdição entre juízes vinculados ao mesmo tribunal, esse órgão será o responsável pelo julgamento. Tem-se, como exemplo, o conflito de jurisdição entre juízes estaduais vin-culados ao Tribunal de Justiça do Espírito Santo, cabendo a esse Tribunal a competência para a solução do conflito.

•  Havendo conflito de jurisdição entre juízes vinculados a tribunais diferentes, será do STJ a competência para solucionar o conflito (art. 105, inciso I, alínea ‘d’, da Constituição Federal). Cita-se, como exemplo, o conflito de competência entre um juiz federal e um juiz estadual, cuja competência do julgamento será do STJ.

No entanto, outra será a solução quando não se tratar de inqué-rito, mas de peças de informação que estejam na posse do Ministério Público. Não havendo manifestação judicial, a tramitação ocorre entre os membros do Parquet e eventual conflito é resolvido pelas regras do conflito de atribuição:

•  Havendo conflito entre Promotores de Justiça do mesmo Estado, a competência para solucionar o conflito de atribuições será do Procurador-Geral de Justiça.

209. OLIVEIRA, 2010, p. 76.

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•  Havendo conflito entre Promotores de Justiça de Estados diferentes, de acordo com o STF,210 a competência para solucionar o conflito de atribuições será do próprio STF (aplicação analógica do art. 102, inciso I, alínea ‘f ’, da Constituição Federal).

•  Havendo conflito entre Procuradores da República, a competên-cia para solucionar o conflito de atribuições será da Câmara de Coordenação e Revisão.

•  Havendo conflito entre Ministério Público Estadual (Promotores de Justiça) e Ministério Público Federal (Procuradores da Repú-blica), de acordo com o STF,211 a competência para solucionar o conflito de atribuição será do próprio STF (aplicação analógica do art. 102, inciso I, alínea ‘f ’, da Constituição Federal).

12.3 Arquivamento implícito ou tácitoO arquivamento implícito ou tácito consiste na hipótese em que o

membro do Ministério Público, ao denunciar, deixa de incluir algum fato (aspecto objetivo) ou algum dos indiciados (aspecto subjetivo), sem qualquer fundamentação para o ocorrido, e o juiz, ao receber a denúncia, não se pronuncia sobre a omissão. O juiz, caso verificasse a omissão, deveria aplicar o art. 28 do CPP.

Com fundamento na indisponibilidade da ação penal pública, o STF212 tem rejeitado essa modalidade de arquivamento:

I –Alegação de ocorrência de arquivamento implícito do inquérito policial, pois o Ministério Público estadual, apesar de já possuir elementos suficientes para a acusação, deixou de incluir o paciente na primeira denúncia, oferecida contra outros sete policiais civis.

II – Independentemente de a identificação do paciente ter ocorrido antes ou depois da primeira denúncia, o fato é que não existe, em nosso ordenamento jurídico processual, qual-quer dispositivo legal que preveja a figura do arquivamento implícito, devendo ser o pedido formulado expressamente, a teor do disposto no art. 28 do Código Processual Penal.

III – Incidência do postulado da indisponibilidade da ação penal pública que decorre do elevado valor dos bens jurí-dicos que ela tutela.

210. ACO 889, Relator(a): Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 11/09/2008.211. ACO 1136, Relator(a): Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 04/08/2011.212. HC 104356, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 19/10/2010.

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InquérIto PolIcIal 1 8 1

Em razão do exposto, conclui-se que o pedido de arquivamento do in-quérito policial, em qualquer hipótese, deve ser expresso e fundamentado, seja pela Autoridade Policial, seja pelo membro do Ministério Público. Por isso, quando o Delegado de Polícia conclui o inquérito policial, deve – ne-cessariamente – pedir seu arquivamento ou indiciar o suposto autor do fato, uma vez que o seu silencio importaria em pedido de arquivamento implícito.

Como esse assunto foi cobrado em concurso público?

(PC/Delegado/RJ/2012/discursiva/FUNCAB) Discorra sobre o instituto jurídico do arquivamento implícito e suas formas.

12.4 Arquivamento no juizado especial criminalTrata-se de uma criação jurisprudencial do STF, com a finalidade de 

solucionar um problema corrente nos juizados especiais criminais (não localização da vítima). Segue, abaixo, a ementa de um julgado do STF213 que explica a questão:

No caso concreto, o Ministério Público requerera o arqui-vamento do inquérito, por falta de interesse processual, em face da não localização da vítima para realização de exame complementar de corpo de delito, o que fora acolhido pelo juízo. Posteriormente, em decorrência da manifestação da vítima informando a existência de erro no endereço constante do mandado de intimação, o mesmo órgão ministerial pedira o desarquivamento do feito, o que também fora deferido. Sustentava o impetrante que o de-sarquivamento se dera em afronta ao art. 10, XXXIII, da Lei Complementar 28/92, do Estado do Rio de Janeiro ("Cabe ao Procurador-Geral requisitar autos arquivados, promover seu desarquivamento e, se for o caso, oferecer denúncia ou designar outro órgão do Ministério Público para fazê-lo."), e, ainda, ao Enunciado 524 da Súmula do STF ("Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas."). Esclareceu-se, de início, que o art. 72 da Lei 9.099/95, ao exigir a presença da vítima para audiência preliminar, criou, implicitamente, na hipótese da mesma não ser localizada para tanto, nova modalidade de arquivamento das peças informativas diversa daquelas previstas no art. 18 do CPP, na Súmula 524 e na norma estadual invocada (Lei 9.099/95, art. 72: "Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível,

213. HC 84638, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 28/09/2004.

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o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade."; CPP, art. 18: "Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia."). Entendeu-se que, sendo hipótese de crime condicionado à representação do ofendido, o arquivamento do feito somente seria considerado de-finitivo se a vítima, ciente deste, se mantivesse inerte, o que não ocorrera na espécie.

13. AvOCAçãO DE INQUÉRITO POLICIAL PELO PROCURADOR--gERAL DA REPúbLICA

Como regra, não se admite no Brasil a avocação do inquérito policial por qualquer membro do Ministério Público, seja estadual, seja federal. A reforma do Poder Judiciário, decorrência da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, inovou com a seguinte disposição legal:

Art. 109, § 5º, da CF. Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a  finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

A Emenda Constitucional nº 45, de 2004 concedeu amplos poderes ao Procurador-Geral da República para suscitar, junto ao STJ, em qualquer fase do inquérito policial ou do processo, o incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal, sempre que ficar caracterizada a vio-lação aos direitos humanos previstos nos tratados internacionais. É difícil verificar uma conduta criminosa que não atinja, direta ou indiretamente, os direitos humanos, o que possibilita ao Procurador-Geral da República avocar, desde que autorizado pelo STJ, praticamente qualquer inquérito policial ou processo.

Consiste a citada hipótese em uma possibilidade perigosa que, entre outras consequências, pode tirar das mãos dos Delegados de Polícia di-versas investigações em curso, o que ocasionaria uma perda no processo investigativo iniciado e ainda não documentado, bem como pode levar a uma estagnação dos órgãos federais que já não dão conta dos seus próprios inquéritos policiais, majorando a morosidade do sistema.

Desde 2004 em vigência, o dispositivo constitucional foi utilizado em casos peculiares, onde, de fato, estava caracterizada uma patente violação

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InquérIto PolIcIal 1 8 3

aos diretos humanos. Isso se deu porque o STJ,214 ao interpretar o art. 109, § 5º, da Constituição, ampliou os requisitos para o incidente de desloca-mento de competência:

A teor do § 5.º do art. 109 da Constituição Federal, introdu-zido pela Emenda Constitucional n.º 45/2004, o incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal fundamenta-se, essencialmente, em três pressupostos: a existência de grave violação a direitos humanos; o risco de responsabilização internacional decorrente do descum-primento de obrigações jurídicas assumidas em tratados internacionais; e a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas.

A correta interpretação conferida pelo STJ ao dispositivo consti-tucional condicionou o incidente de deslocamento de competência à “incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respos-tas efetivas”. Com isso, afastou-se a possibilidade de tirar das mãos dos Delegados de Polícia diversas investigações em curso, quando o trabalho estiver sendo elaborado de modo exemplar.

14. HABEAS-CORPUS NO CURSO DO INQUÉRITO POLICIAL

O habeas-corpus é um remédio constitucional que pode ser utilizado sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

No inquérito policial, o habeas-corpus possui, basicamente, três finali-dades: (a) anular o indiciamento quando esse se mostrar arbitrário; (b) trancar o inquérito policial quando for possível visualizar sua inviabilidade com base nas provas já acostadas, v.g., quando se tratar de fato inequivocamente atípico ou quando o crime já estiver pres-crito; e (c) impugnar decisões judiciais no curso do inquérito policial que possuem reflexo no direito de locomoção, como o mandado de prisão preventiva e o mandado de prisão temporária.

Em relação à primeira finalidade, o mais adequado é que a Autoridade Policial somente proceda ao indiciamento quando tiver provas robustas da autoria e materialidade do crime.

Em relação à segunda finalidade, o próprio Delegado de Polícia não poderia ter instaurado o inquérito policial ou, na hipótese de o inquérito já estar instaurado, a Autoridade Policial deveria ter elaborado um relatório conclusivo e opinado pelo arquivamento do procedimento.

214. IDC 2/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/10/2010.

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Nos dois primeiros casos, o habeas-corpus, por ter como autoridade coatora o Delegado de Polícia, será direcionado ao juiz criminal.

No terceiro caso, o habeas-corpus, por ter como autoridade coatora o juiz, será direcionado ao Tribunal de Justiça ao qual o magistrado está vinculado.

Sobre o tema, um questionamento deve ser levantado: Quem seria a autoridade coatora na hipótese do inquérito policial instaurado pelo Delegado de Polícia decorrer de uma requisição do Ministério Público?

Como estudado no capítulo anterior, a requisição para que o inquérito seja instaurado ocorre porque o Ministério Público não possui elementos suficientes para propor a denúncia. Diante de uma requisição ministerial, o Delegado de Polícia pode recusar o cumprimento da requisição se verificar que ela é ilegal (v.g., requisição fundamentada em denúncia anônima), se verificar a existência de alguma excludente de punibilidade ou se verificar que não se trata de hipótese de crime (fato típico, antijurídico e culpável). Por isso, a análise da requisição do Ministério Público pelo Delegado de Polícia não se diferencia da análise que é feita pelo Delegado em um boletim de ocorrência, uma vez que, diante de um fato caracterizado como crime, seja pela análise da requisição, seja pela análise do boletim de ocorrência, deve a Autoridade Policial instaurar o inquérito policial. Desse modo, nas duas hipóteses, a obrigatoriedade dessa instauração decorre mais do con-teúdo do que foi veiculado do que da “obrigatoriedade” da requisição. Por isso, o Delegado de Polícia é a autoridade coatora na hipótese do inquérito policial instaurado pelo Delegado de Polícia decorrer de uma requisição do Ministério Público. No mesmo sentido, mas por outros fundamentos, é a posição do STJ215:

Compete ao magistrado de primeiro grau processar e julgar habeas corpus impetrado contra instauração de inquérito policial, ainda que o ato tenha sido praticado por força de requisição ministerial, na medida em que o ato requisitó-rio de inquérito policial se exaure com a sua instauração.

No entanto, em situação similar, outro foi o entendimento da 2ª Turma do STF216: “Se o Inquérito Policial Militar foi instaurado por requisição de mem-bro do Ministério Público Militar, este deve figurar como autoridade coatora”.

Apesar da possibilidade de ser proposto por qualquer pessoa ou mesmo de ser concedido de ofício pelo juiz, o advogado surge como o principal defensor das garantias do suspeito ou indiciado.

215. AgRg no REsp 700.115/MT, Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa, Sexta Turma, julgado em 18/10/2005.

216. RMS 27872, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 02/03/2010.

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InquérIto PolIcIal 1 8 5

Como esse assunto foi cobrado em concurso público?

(PC/Delegado/PB/2008/CESPE) O IP representa procedimento investigatório, levado a efeito pelo estado-administrador, no exercício de atribuições referentes à polícia judiciária e, assim, somente deve ser trancado quando for manifesta a ilegalidade ou patente o abuso de autoridade, por exemplo.A assertiva foi considerada correta.

15. O INQUÉRITO POLICIAL EM FACE DAS AUTORIDADES COM FORO POR PRERROgATIvA DE FUNçãO

A principal  finalidade do  inquérito policial é apurar a autoria e a materialidade das infrações penais, de modo a contribuir na formação do convencimento (opinio delicti) do Ministério Público e, excepcionalmente, da vítima (querelante). No entanto, é possível que, no curso da investiga-ção criminal, o Delegado de Polícia verifique que um dos autores seja um cidadão que possua foro por prerrogativa de função. Diante do exposto, questiona-se: A Autoridade Policial possui atribuição para investigar ou indiciar um cidadão que possua foro por prerrogativa de função?

A questão foi amplamente debatida na Pet 3825 QO,217 julgada em 2007, pelo STF. De um lado, o Ministro Sepúlveda Pertence se posicionou pela possibilidade de a Autoridade Policial investigar e indiciar pessoas com foro por prerrogativa de função, e, por outro lado, o Ministro Gilmar Mendes, que inclusive liderou seus pares, entendeu que o Delegado de Polícia não possui atribuição para investigar e indiciar pessoas com foro por prerrogativa de função.

O Ministro Sepúlveda Pertence218 motivou sua decisão em três fun-damentos: (a) a instauração de inquérito policial para a apuração de fato em que se verifique a possibilidade de envolvimento de titular de foro por prerrogativa de função não depende de iniciativa do Ministério Público vinculado ao respectivo Tribunal, nem o mero indiciamento formal reclama prévia decisão de um Desembargador desse Tribunal; (b) tanto a abertura das investigações de qualquer fato delituoso, quanto, no curso delas, o indiciamento formal, são atos privativos do Delegado de Polícia que preside o inquérito policial; e (c) a prerrogativa de foro do suposto autor do fato delituoso é critério exclusivo para determinar a competência jurisdicional originária do Tribunal respectivo, quando

217. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007.

218. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007.

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do oferecimento da denúncia ou, eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita à prévia autorização judicial, não abran-gendo o procedimento investigatório prévio.

De acordo com o Ministro gilmar Mendes,219 se a Constituição Federal estabelece, por exemplo, que os agentes políticos respondem, por crime comum, perante o STF (CF, art. 102, I, b), não há razão cons-titucional plausível para que as atividades diretamente relacionadas à supervisão judicial (abertura de procedimento investigatório) sejam retiradas do controle judicial do STF, devendo, portanto, a iniciativa do procedimento investigatório ser confiada ao MPF com a supervisão do Ministro-Relator do STF.

O Ministro Sepúlveda Pertence foi voto vencido e fixou-se o en-tendimento de que não é qualquer suposto autor de crime que pode ser investigado em um inquérito policial. Apesar de a Constituição Federal indicar somente o órgão competente para o julgamento das auto-ridades com foro por prerrogativa de função e silenciar acerca do procedimento investigatório preparativo para a ação penal, o Pretório Excelso entende que o foro por prerrogativa de função se estende também à etapa da investigação criminal.

Segue um exemplo para ilustrar a questão. No curso de um inquérito policial que investiga um crime de corrupção entre um advogado e um escrivão de uma das Varas criminais do Município, a Autoridade Policial verifica, por meio de uma interceptação telefônica, que a quadrilha é bem maior ao flagrar um diálogo entre o advogado citado e o juiz dessa Vara, em que era comercializada uma sentença absolutória. Diante da existência de fortes indícios da participação direta do magistrado, que possui foro por prerrogativa de função, a Autoridade Policial deverá aguardar o fim da interceptação telefônica, elaborar o relatório da interceptação (que exporá a materialidade do crime citado e a relação do magistrado com o caso concreto) e remeter todo o inquérito policial para o Tribunal de Justiça ao qual o magistrado está vinculado.

Esse procedimento, em relação ao magistrado, consta do art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar nº 35 de 1979. Sempre que, no curso de uma investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a Autoridade Policial deverá remeter os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga a investigação.

219. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007.

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O STJ admite, no curso da investigação de supostos autores com foro por prerrogativa de função, a delegação à Polícia Civil ou federal – a de-pender da atribuição de cada uma – parte da investigação:

Não se sustentam os argumentos da impetração, ao afir-mar que o inquérito transformou-se em procedimento da Polícia Federal, porquanto esta apenas exerce a função de Polícia Judiciária, por delegação e sob as ordens do Poder Judiciário. Os autos demonstram tratar-se de inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça, sob o comando de Ministro daquela Corte Superior de Justiça, ao qual caberá dirigir o processo sob a sua relatoria, devendo tomar todas as decisões necessárias ao bom andamento das investigações.220

Por fim, o magistrado que atua nessa fase pré-processual não desem-penha função equivalente à de um Delegado de Polícia, não podendo agir de ofício, mas, tão-somente, para assegurar a observância dos direitos e liberdades fundamentais previstos na Constituição:

Esclareceu-se que, no modelo acusatório aplicado em nosso ordenamento processual penal, caracterizado pela publicidade, pelo contraditório, pela igualdade entre as partes e pela neutralidade do juiz, quando o magistrado preside o inquérito, apenas atua como um adminis-trador, um supervisor, um coordenador, no que tange à montagem do acervo probatório e às providências acautelatórias, agindo sempre por provocação, e nun-ca de ofício. Portanto, não exterioriza nenhum juízo de valor sobre os fatos ou as questões de direito, emergentes nessa fase preliminar, que o impeça de proceder com im-parcialidade no curso da ação penal. Assim, o Judiciário, em nosso sistema processual penal, atua no inquérito para assegurar a observância dos direitos e liberdades fundamentais e dos princípios sobre os quais se assenta o Estado Democrático de Direito221.

Como esse assunto foi cobrado em concurso público?

(PC/Delegado/RN/2008/CESPE) Não é possível que autoridade policial, de ofício, investigue e indicie pessoa com foro especial, sem a devida supervisão de magis-trado naturalmente competente para julgar tal detentor de prerrogativa funcional.A assertiva foi considerada correta.

220. HC 94278, Relator(a): Min. Menezes Direito, Tribunal Pleno, julgado em 25/09/2008.221. HC 92893, julgado em 2/10/2008, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, conforme noticiado no inf.

522 do STF.

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16. MODELOS

16.1 Portaria de instauração de inquérito policial

PORTARIABRUNO TAUFNER ZANOTTI, Delegado de Polícia Civil do Estado do Espírito Santo, no uso de suas atribuições legais...

CONSIDERANDO o Boletim de Ocorrência Policial nº XXX/13, o qual relata a ocor-rência de um homicídio, no dia XX/XX/XX, na Rua XXX, perto do XXX, às 14h 30 min, fato em que uma pessoa ainda não identificada efetuou 4 (quatro) disparos de arma de fogo em face de XXX, nascido em XX/XX/XXXX, filho de XXX e XXX, que veio a óbito logo depois no hospital XXX;CONSIDERANDO os laudos de exame cadavérico e de local de crime, anexos ao Bole-tim de Ocorrência Policial, os quais atestam a materialidade do crime de homicídio,RESOLVE:Instaurar o competente Inquérito Policial, com vistas a apurar os fatos em toda sua extensão, determinando que, após autuado este, sejam tomadas as seguintes providências:1. Junte-se o BU e todos os documentos anexos;2. Sejam intimadas todas as testemunhas arroladas no Boletim de Ocorrência Policial;3. Seja confeccionada uma ordem de serviço, a  fim de que os policiais civis dili-genciem no sentido de apurar a autoria e o modus operandi do crime;4. Seja requisitada ao estabelecimento comercial XXX uma cópia dos vídeos das câmeras externas de segurança; 5. Após, retornem os autos conclusos.Local, 1º de Janeiro de 2013.

__________________________Bruno Taufner Zanotti

Delegado da Polícia Civil

16.2 Mandado de intimação

MANDADO DE INTIMAÇÃO

Ref. IP n.º: ____BRUNO TAUFNER ZANOTTI, Delegado de Polícia Civil do Estado do Espírito Santo, no uso de suas atribuições legais...

DETERMINA que qualquer Agente de Polícia deste Estado a quem for apresen-tado este mandado, dirija-se à _______ (local) e  intime ______ (qualificação) para comparecer às ______(dia e hora), portando documentos pessoais, no cartório da Delegacia de ______, localizada na ______, a fim de prestar depoimento/interrogatório a Autoridade Policial que esta subscreve, no Inquérito Policial acima mencionado.

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InquérIto PolIcIal 1 8 9

O não comparecimento, no horário e dia designados, implicará em crime de desobediência, previsto no artigo 330 do Código Penal, e pode justificar a condução coercitiva do mencionado cidadão à presença da Autoridade Policial.Local, 1º de Janeiro de 2013.

__________________________Bruno Taufner Zanotti

Delegado da Polícia Civil

16.3 Depoimento das testemunhas e vítimas

TERMO DE DEPOIMENTORef. IP n.º: ____Aos __ dias do mês de ________ do ano de ___, nesta Cidade de __________, no cartório da Delegacia de Polícia, onde presente se achava o Dr. _____________________, Dele-gado de Polícia, comigo escrivão de seu cargo, ao final assinado, aí compareceu a testemunha ___________ (nome e qualificação completa da testemunha ou vítima). Sabendo ler e escrever, compromissada na forma de lei em dizer a verdade, con-soante art. 342 do CP, às perguntas da Autoridade Policial respondeu o seguinte: (...) E mais não disse e nem lhe foi perguntado. Mandou a autoridade policial que se encerrasse o presente termo, que vai por ela assinado, pelo depoente e por mim, escrivão, que o digitei.AUTORIDADE:ESCRIVÃO:ASSINATURA DO DEPOENTE:

16.4 Depoimento sigilosoEsse depoimento é formado por dois documentos. No primeiro documento, é feito um termo de depoimento com identi-

ficação completa do depoente, o qual ficará em sigilo (será encaminhada, posteriormente, em embalagem lacrada ao juiz), sem constar dos autos do inquérito policial, como se observa abaixo:

TERMO DE DEPOIMENTORef. IP n.º: ____Aos __ dias do mês de ________ do Ano de 2008, nesta Cidade de __________, no cartório da Delegacia de Polícia, onde presente se achava o Dr. _____________________, Delegado de Polícia, comigo escrivão de seu cargo, ao final assinado, aí, compareceu a teste-munha ___________ (nome e qualificação completa da testemunha), aqui identificada como TESTEMUNHA DE IDENTIDADE NÃO REVELADA N.º ___ (atribui-se um nú-mero para cada testemunha protegida inquirida no feito), que compromissada e advertida na forma da lei, prometeu dizer a verdade do que soubesse e lhe fosse perguntada, sabendo ler e escrever, inquirida pela autoridade respondeu:

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(...) E mais não disse e nem lhe foi perguntado. Mandou a autoridade policial que se encerrasse o presente termo, que vai por ela assinado, pelo depoente e por mim, escrivão, que o digitei.AUTORIDADE:ESCRIVÃO:ASSINATURA DO DEPOENTE:IMPRESSÃO DIGITAL DO DEPOENTE (polegar direito):

No segundo documento, o qual será juntado nos autos do inquérito policial, é feito outro depoimento com o mesmo conteúdo do primeiro, mas sem a qualificação do depoente:

TERMO DE DEPOIMENTO

Ref. IP n.º:

O depoente aqui identificado como TESTEMUNHA DE IDENTIDADE NãO REvELADA N.º ___, que terá sua identificação enviada separadamente, em envelope lacrado entregue mediante recibo à autoridade judicial competente, quando inquirido pela autoridade policial, afirmou: QUE, com receio de ser identificado pelos agentes que virá a apontar, e considerando a periculosidade que atribui aos mesmos, o depoente requereu à autoridade signatária que ocul-tasse sua qualificação; (...) E mais não disse e nem lhe foi perguntado. Mandou a autoridade policial que se encerrasse o presente termo, que vai por ela assinado, pelo depoente e por mim, escrivão, que o digitei.

AUTORIDADE:

ESCRIVÃO:

IMPRESSÃO DIGITAL DO DEPOENTE (polegar direito):

É importante ressaltar que a sistemática citada foi regulamentada pelo Provimento n° 32 da Corregedoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo, uma vez que o CPP determina a adoção de medidas de proteção às vítimas e testemunhas, especialmente aquelas expostas a grave ameaça ou que estejam coagidas em razão de colaborarem com investigação ou processo criminal. A título de informação, seguem alguns artigos do Provimento n° 32:

Art. 2º Quando vítimas ou testemunhas reclamarem de coação ou grave ameaça, em decorrência de depoimentos que devam prestar ou tenham prestado, Juízes de Direito e Delegados de Polícia estão autorizados a proceder conforme dispõe o presente provimento.Art. 3º As vítimas ou testemunhas coagidas ou submetidas a grave ameaça, em assim desejando, não terão quaisquer de seus endereços e dados de qualificação lançados nos termos de seus depoimentos. Aqueles ficarão anotados em impresso distinto, remetido pela Autoridade Policial ao Juiz compe-