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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E TECNOLÓGICAS
CURSO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL
A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE QUE SUSTENTA A AGRICULTURA (CSA) NO MUNICÍPIO DE
RONDONÓPOLIS, MATO GROSSO
BACHAREL EM ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL
THIAGO MOREIRA NAVES
Rondonópolis, MT – 2020
A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE QUE SUSTENTA A
AGRICULTURA (CSA) NO MUNICÍPIO DE RONDONÓPOLIS,
MATO GROSSO.
por
Thiago Moreira Naves
Monografia apresentada à Universidade Federal de Mato Grosso como parte dos requisitos
do Curso de Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental para obtenção do título de
Bacharel em Engenharia Agrícola e Ambiental.
Orientador: Profº. Dr. Marcos Henrique Dias Silveira
Rondonópolis, Mato Grosso – Brasil.
2020
AGRADECIMENTOS
A Deus criador dos céus e da terra por me proporcionar a vida e
perseverança durante toda minha jornada até aqui.
Agradeço aos meus pais Abmael Naves e Maria Naves pelo amor, incentivo e
apoio incondicional que serviram de alicerce para as minhas realizações. Por terem
acreditado e investido seus recursos em minha jornada acadêmica.
Agradeço a minha querida esposa Josyanne Inês Naves pelo seu amor
incondicional e que sempre esteve ao meu lado durante o meu percurso acadêmico.
Acima de tudo sempre foi uma grande amiga, presente nos momentos difíceis
apoiando com paciência, carinho e palavras de incentivo.
Á minha irmã Ellen Cristina pela amizade e atenção dedicadas quando
sempre precisei, por estar ao meu lado e por me fazer ter confiança nas minhas
decisões.
É claro que não poderia me esquecer dos dois amigos que considero como
irmãos, Guilherme Lazzarin e Sillas Sales, que sempre estiveram presentes em
todos os âmbitos de minha vida me apoiando, orientando e corrigindo quando
necessário.
Á todos os meus amigos do curso de graduação que compartilharam dos
inúmeros desafios que enfrentamos, sempre com o espírito colaborativo.
Em especial, aos meus amigos e amigas, Álvaro Fachim, Amanda
Vasconcelos, Beatriz Araújo, Bruna Bertoldo, Diego Beber, Jhonattan Padua, Lys
Fernanda, Nathalia Chagas, Manoel Fidelis, Marco Antônio, Vitor Augusto. Agradeço
pela amizade, pelos “puxões de orelha”, pelas brigas, pela motivação, pelos
ensinamentos, e por acreditarem em mim quando nem mesmo eu acreditava. E que
alguns conseguiram se tornar muito mais que amigos, tornaram-se irmãos,
confidentes, fazendo com que surgissem sentimentos como, inspiração e amor.
Ao meu professor orientador Dr. Marcos Henrique pelas valiosas
contribuições dadas durante todo o processo indicando a direção correta que o
trabalho deveria tomar e pela grande atenção dispensada que se tornou essencial
para realização do trabalho.
Á todos os meus professores do curso de Engenharia Agrícola e Ambiental da
Universidade Federal de Rondonópolis pela excelência da qualidade técnica de cada
um. Não posso deixar de evidenciar os meus professores Osvaldo Guedes, Marcio
Koetz e Maria da Conceição Trindade do qual tenho um carinho imenso e gratidão.
Á todos integrantes do grupo de pesquisa GPAS (Grupo de Práticas em Água
e Solo), e aos respectivos professores Edna Maria Bomfin da Silva e Tonny José
Araújo da Silva, por toda a dedicação a nós em nos ajudar e orientar
profissionalmente. Com eles aprendi que toda dedicação, não se torna um sacrifício,
e sim prazer, prazer de fazer aquilo que se ama.
“A base de toda a sustentabilidade é o desenvolvimento humano que deve comtemplar um
melhor relacionamento do homem com os semelhantes e a Natureza”.
(Nagib Anderáos Neto)
RESUMO
Um modelo de organização social baseado no fortalecimento de vínculos entre agricultores e consumidores é a CSA - Comunidade que Sustenta a Agricultura, que trabalha em lógica diversa à produção agrícola convencional, estabelecendo relações que priorizam o bem-estar da comunidade no centro das ações econômicas. Tem se revelado importante ferramenta a ligar o desejo de parte da população em consumir alimentos livres de agrotóxicos a produtores de alimentos orgânicos/agroecológicos, garantindo a sustentabilidade e a segurança da atividade do produtor rural familiar. O objetivo deste trabalho foi documentar a formação da CSA em Rondonópolis – Mato Grosso, trazendo também informações gerais sobre a CSA, o seu desenvolvimento no Brasil, seus princípios e desafios. A metodologia utilizada foi o levantamento bibliográfico e documental. Constatou-se que o público consumidor participante das reuniões para a formação da CSA em Rondonópolis demonstrou interesse em se tornar co-produtor. Atualmente são cerca de 80 famílias atendidas semanalmente por uma única produtora, embora haja outros produtores se preparando para atender as exigências da CSA. Dessa forma, há necessidade de projetos que capacitem mais produtores com condições e habilidades para atenderem os requisitos exigidos por esse sistema, para atendimento de maior número de famílias. A criação da CSA em Rondonópolis permite aos produtores um avanço na produção de alimentos saudáveis livres de agrotóxicos, motivando o consumidor/co-produtor a consumir esses alimentos e contribuir para a difusão e fortalecimento desse movimento social na região. Palavras-chave: Agroecologia; Agricultura Familiar; Alimentos Orgânicos.
ABSTRACT
A model of social organization based on strengthening ties between farmers and consumers is CSA - Community that Supports Agriculture, which works in a different logic to conventional agricultural production, establishing relationships that prioritize the well-being of the community at the center of economic actions. It has proved to be an important tool linking the desire of part of the population to consume pesticide-free food to organic / agroecological food producers, guaranteeing the sustainability and safety of the activity of the family rural producer. The objective of this work was to document the formation of the CSA in Rondonópolis - Mato Grosso, also bringing general information about the CSA, its development in Brazil, its principles and challenges. The methodology used was the bibliographic and documentary survey. It was found that the consuming public participating in the meetings for the formation of the CSA in Rondonópolis showed interest in becoming a co-producer. Currently, about 80 families are served weekly by a single producer, although there are other producers preparing to meet the requirements of CSA. Thus, there is a need for projects that enable more producers with conditions and skills to meet the requirements required by this system, to serve a greater number of families. The creation of CSA in Rondonópolis allows producers to advance in the production of healthy pesticide-free foods, motivating consumers / co-producers to consume these foods and contribute to the spread and strengthening of this social movement in the region. Keywords: Agroecology; Family farming; Organic foods.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. A CSA em funcionamento no Brasil no ano de 2016 com números e
valores das cotas........................................................................................................19
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Os dez princípios de teikei........................................................................17
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Convite para a primeira reunião sobre CSA em
Rondonópolis..............................................................................................................23
FIGURA 2. Convite para reunião do Fórum de Luta Contra os Impactos dos
Agrotóxicos.................................................................................................................24
FIGURA 3. Visita do Sr. Wagner à horta da produtora Silvania, em
Rondonópolis..............................................................................................................25
FIGURA 4. Reunião de sensibilização em Rondonópolis. Fonte: Arquivo pessoal
Marcos H. D. Silveira..................................................................................................26
FIGURA 5. Vista parcial do público presente na reunião de sensibilização em
Rondonópolis..............................................................................................................27
FIGURA 6. Folheto ao consumidor distribuído na reunião de
sensibilização.............................................................................................................28
FIGURA 7. Folheto ao produtor distribuído na reunião de
sensibilização.............................................................................................................29
FIGURA 8. Segunda reunião.................................................................................30
FIGURA 9. Reunião da organização com produtores...........................................31
FIGURA 10. Declaração de Compromisso com o Agricultor.................................32
FIGURA 11. Convite aos interessados em fazer parte da CSA.............................33
FIGURA 12. Vistas da horta da produtora Silvania, em Rondonópolis.................34
FIGURA 13. Primeira partilha CSA Rondonópolis.................................................35
FIGUARA 14. Apresentação dos produtos que compôs a cota do dia 28 de agosto
de 2019.......................................................................................................................36
SÚMARIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................14
2 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................16
3 COMUNIDADE QUE SUSTENTA A AGRICULTURA – CSA................................16
4 A CSA NO BRASIL.................................................................................................18
5 PRINCÍPIOS E DASAFIOS SOBRE A CSA...........................................................19
6 A CSA EM RONDONÓPOLIS – MATO GROSSO.................................................22
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................37
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................37
14
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Eckert (2016), a forma tradicional de produzir e comercializar
alimentos estão diretamente ligados ao capital financeiro e industrial, do uso de
agrotóxicos, adubos e fertilizantes químicos e de técnicas oriundas da Revolução
Verde. Esse tipo de produção representa uma maneira de consumo da agricultura, o
qual é prejudicial à autonomia dos indivíduos sobre a sua reprodução material e
social, fazendo com que a sociedade tenha problemas como, pobreza, insegurança
alimentar, problemas de saúde relacionados à alimentação, contaminação do meio
ambiente e também a perca do sentido de corpo social e mutualidade.
Os agricultores familiares somente após muitas lutas obtiveram
reconhecimento junto ao Estado em relação aos recursos públicos para crédito rural,
que historicamente eram destinados preferencialmente aos grandes
produtores. Porém, a unificação de diversos grupos sociais numa mesma categoria
política ocultou muitas diferenças produtivas e socioculturais inerentes à agricultura
familiar (PICOLOTTO, 2014; NIEDERLE, 2017).
Cabe notar que, nas estatísticas oficiais, a agricultura familiar aparece como
segundo maior grupo de indivíduos em situação de extrema pobreza no campo,
ficando atrás somente do grupo de famílias sem inserção produtiva (DEL GROSSI,
2012). Com isso, nos últimos anos, alguns grupos procuram mais reconhecimento,
visibilidade pública e políticas que atendam às suas peculiaridades, ao passo que
reivindicam um olhar específico do Estado em relação às suas características
socioculturais (PICOLOTTO, 2014; NIEDERLE, 2017).
Para que os produtores da agricultura familiar não sofram processos de
descapitalização e inviabilidade econômica, eles têm reagido com algumas
estratégias, como: adoção da agroecologia com redução dos custos externos,
ampliação do uso dos recursos internos à propriedade, inovação na integração
mercantil e a dinâmica da pluriatividade. Já os consumidores estão apresentando
uma demanda por alimentos saudáveis de qualidade devido a preocupações
relacionadas com a sanidade e segurança dos alimentos (FERRARI, 2011).
Mediante o exposto, um modelo de organização social baseado na comunhão
e fortalecimento de vínculos entre agricultores e consumidores é a CSA -
Comunidade que Sustenta a Agricultura (FERREIRA-NETO et al., 2015). A
Comunidade surgiu neste cenário a fim de evitar a cooptação da alimentação
15
orgânica pelos mercados convencionais, reafirmando os valores e ideias originais do
movimento pró-alimentos orgânicos (THOMPSON e COSKUNER-BALLI, 2007).
A CSA não se mantém apenas como uma relação comercial, sendo que os
compradores se tornam cooperadores, pois, participam dos riscos e benefícios
presentes na produção ao se vincularem a um pagamento mensal,
antecipadamente, ajudando os produtores na obtenção de recursos financeiros
necessários para a manutenção dos plantios, anulando a necessidade de
financiamentos. Em compensação, os produtores fornecem toda semana a sua
produção para os coprodutores produzidas de forma agroecológica (COOLEY;
LASS, 1998; CASTELO BRANCO, et al., 2011).
A comunidade trabalha no sentido contrário da forma atual de produção
agrícola, pois estabelece a criação de relações que tenham o bem-estar da
comunidade no centro das ações econômicas. Essa comunidade permite que haja
um sentimento entre as pessoas envolvidas e confiança por meio da ligação
especifica do produtor com a terra. A ajuda entre as partes e compartilhamento dos
riscos pode configurar uma forma de organização ante o modelo econômico
tradicional (CONE E MYHRE 2000; BOUGHERARA et al., 2009; LAMB, 2010).
Assim, são gerados vínculos que ultrapassam um mero consumo, em que são
formados laços de confiança entre campo e cidade. Desta forma ambos ganham,
pois esses feitos trazem a agroecologia para a região, desenvolvendo a economia
local e a comutação de conhecimentos. Este modelo apresenta uma alteração de
visão, onde deixa a cultura do preço e do valor de mercado para uma cultura do
apreço, onde se preza a interatividade e a reciprocidade de confiança (BRITO et al.,
2018).
De acordo com Brito et al. (2018) os produtos que são entregues têm uma
boa aceitação pelos coprodutores. Na entrega dos produtos há uma troca de
informações, como receitas e sugestões de aproveitamento dos alimentos. Os
compradores se mostram animados e interessados a essa experiência. Com isso os
produtores ficam satisfeitos com as vendas e com o reconhecimento do seu
trabalho.
Em vista disso, a comunidade vai além da eficiência, ela visa o planejamento,
a distribuição de alimentos e a transformação coletiva. A partir disso, esse segmento
tem se revelado como uma importante ferramenta a ligar o desejo de parte da
população em consumir alimentos de qualidade e livres de agrotóxicos a produtores
16
de alimentos orgânicos/agroecológicos, garantindo a sustentabilidade e a segurança
da atividade do produtor rural familiar.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O objetivo do presente trabalho é documentar a formação da CSA em
Rondonópolis, inicialmente por meio de levantamento bibliográfico para obter
informações gerais sobre a CSA, o desenvolvimento da CSA no Brasil e seus
princípios e desafios. Em seguida o levantamento se estendeu para a formação da
mesma no município de Rondonópolis – Mato Grosso.
Para a realização do estudo foram realizadas buscas de forma eletrônica em
diferentes bases de dados que apresentem artigos referentes à temática proposta:
Google Scholar, Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Portal Periódico da
Capes.
No contexto de Rondonópolis, após a revisão bibliográfica, foi produzido um
texto baseado em relatos pessoais, documentos escritos e imagens de arquivos
pessoais dos componentes do grupo que administra a CSA Rondonópolis.
3 COMUNIDADE QUE SUSTENTA A AGRICULTURA – CSA
A CSA está associada a um movimento que teve início no Japão em 1971,
após o desastre de Minamata (contaminação por mercúrio). Um grupo de mulheres
que estavam preocupadas com o uso de produtos químicos na agricultura, com o
aumento de alimentos processados e importados e com a diminuição das
propriedades agrícolas locais, se organizaram a fim de alcançar autonomia na
cadeia de produção dos produtos que as suas famílias consumiam, e tornando-se
parceiras com um produtor local traçando um projeto de cooperação (HITCHMAN,
2015; HENDERSON et al., 2007).
Esse movimento no Japão ficou conhecido como teikei, rede que não para de
crescer até os dias de hoje e se fundamentam nos dez princípios apresentados no
Quadro 1, tornando-se a base ideológica para as práticas da CSA (DAROLT, 2012;
URGENCI, 2019):
17
Quadro 1: Os dez princípios de teikei.
Principio Significado
Assistência mútua A relação entre agricultores e consumidores deve estar baseada numa relação amigável, de atendimento mútuo.
Produção Planejada Mediante prévio acordo com os consumidores, os agricultores devem produzir o máximo de variedade de alimentos possíveis no espaço destinado ao plantio.
Aceitação do produto Os consumidores devem aceitar todos os produtos cultivados conforme o acordado previamente, sendo que sua dieta deve depender o máximo possível desta fonte.
Concessão mútua na decisão do preço
Ao decidirem os preços da produção, os agricultores devem levar em consideração as economias obtidas com a mão-de-obra, com a aceitação de todos os produtos e com a redução/eliminação de embalagens; já os consumidores devem se atentar para o benéfico de se obter alimentos de qualidade, frescos, seguros e saborosos.
Aprofundamento das relações de amizade
Alcançado através da maximização do contato entre agricultores e consumidores.
Auto distribuição O transporte dos produtos deve ser realizados pelos grupos de produtores ou de consumidores, sem depender de intermediários.
Gestão democrática As responsabilidades são compartilhadas entre todos (agricultores e consumidores).
Aprendizagem no grupo Devem-se estimular práticas de compartilhamento de saberes entre os membros.
Manutenção da escala de grupo apropriada
Deve-se evitar que um grupo fique muito grande. Para tanto, recomenda-se ampliar a quantidade de grupos de modo a manter constante a colaboração mútua.
Desenvolvimento constante
Nem sempre as condições serão adequadas e favoráveis a todos; mesmo assim, deve-se fazer um esforço para melhorar e avançar com colaboração mútua.
Fonte: Urgenci (2019), apud Tonini (2020).
O segmento da comunidade é descrito como sendo uma parceria local e
solidária que ocorre entre os produtores e consumidores. Essas comunidades estão
espalhadas em todo o mundo como: CSA (US, UK, Austrália), AMAP (França), ASC
(Canadá), Teikei (Japão), Reciproco (Portugal), Huellas Verdes (Chile), a Granja
Valle Pintado (Argentina), e as Canastas Comunitária (Equador), (URGENCI, 2016).
A comunidade chegou aos Estados Unidos por influência do modelo europeu, em
1985, por intermédio do horticultor Jan Vandertuin que foi inspirado pela relação de
aliança entre produtor e consumidor observada em Genebra (ECKERT, 2016).
No Brasil, apesar de experiência em Fortaleza iniciada em 1997 que durou
dez anos, teve seu espaço de expansão a partir do ano de 2011 em Botucatu – SP
com o objetivo de se efetivar algumas articulações para constituir uma rede de CSA
18
no país. Então foi no ano de 2014 que foram feitas as primeiras discussões para a
implantação da rede CSA – Brasil (YAMAMOTO, 2006; CONSEA, 2017; OLIVEIRA,
2019).
4 A CSA NO BRASIL
A Comunidade que Sustenta a Agricultura no Brasil teve seu primeiro grupo
em 1997, na cidade de Fortaleza – Ceará. Suas atividades permaneceram por 10
anos (YAMAMOTO, 2006). No entanto, foi no ano de 2011 que o movimento voltou a
surgir na cidade de Botucatu – São Paulo, pelo designer e artista plástico Hermann
Pohlmann, trazendo seus conhecimentos adquiridos na Alemanha e pela sua
vivência como co-fundador da rede alemã de projetos makeCSA (TORRES, 2017).
De acordo com Torres (2017), Polhmann foi um dos principais articuladores
da CSA Demétria, formada em um bairro de mesmo nome no município de Botucatu
– SP. No mesmo ano (2011) formou-se também a CSA Apanfé, em Maria da Fé –
MG e o conceito de CSA foi apresentado e estimado durante o Fórum Mundial
Social, em Porto Alegre – RS.
Logo após foram identificados grupos em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná,
Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pernambuco e em Minas Gerais e Santa
Catarina (CSA Brasil, 2020). Segundo CSA Brasil (2020), há uma estimativa de 50
unidades em funcionamento, com cerca de 400 consumidores participantes que
apoiam as famílias produtoras.
A organização sem fins lucrativos CSA Brasil constrói, como modelos,
projetos agrícolas baseados na comunidade, nos quais os agricultores podem se
orientar para garantir um futuro a pequenos empreendimentos agrícolas. A
organização também faz acompanhamento e supervisiona esses projetos em
formato de rede, que já pode ser identificada em todo território nacional (CSA
BRASIL, 2020).
Em seguida, pode ser visto na tabela 1 mostra as CSA’s em funcionamento
no Brasil no ano de 2016 com números e valores das cotas.
19
Tabela 1 – A CSA em funcionamento no Brasil no ano de 2016 com números e valores das cotas.
UF Cidade CSA Cotas Valor da cota
MG BH Alfa 135 Média R$143
Lavras Horta pro Nobis 29 R$70
SP
Araras Araras 21 R$55 (P), R$105 (M)e
R$160 (G) Santo André
CSABC 33 R$110 (M) e R$160
(G)
Itapetininga Itapetininga 27 R$100 (M) e R$180
(G) Boituva Boituva 35 R$115 (M) e R$195(G)
São Carlos São Carlos 32 R$120 Rio Claro Rio Claro 32 R$120 Ourinhos Ourinhos 50
R$106
Bauru Residência do Sr. Mário
Balaio de Krishna Viver
35 32 65
Botucatu Timbó
Demétria 27 22
São Paulo
Granja Julieta (SP) Associação Serras Verdes
(SP) Horta do Marcelo (SP)
9 63
45 R$86 a R$438
PE Recife
Camaragibe Recife Aldeia
55 R$130
22 R$107
RS Porto Alegre
Porto Alegre Sitio São Carlos
100 R$105 a 165 31 R$150
PR Curitiba Verde Orgânico
Bocaiúva 30 R$104 26 R$105
SC Itapema Flora Bioativas 32 R$170 Fonte: ORTEGA et al. (2017).
Os valores das cotas variam de acordo com o número de itens nas cestas ou
com o modelo de precificação adotado pela comunidade, como: cultura do apreço e
leilões (ORTEGA, et al., 2017).
5 PRINCÍPIOS E DESAFIOS SOBRE A CSA
A Comunidade que Sustenta a Agricultura é um exemplo de organizações que
não visam lucros, onde é sugerida uma produção que valorize produtores agrícolas
que se enquadram na agricultura familiar. O foco da CSA é manter uma renda fixa
para estes pequenos produtores e buscar também a mudança para a agricultura
agroecológica. O alicerce deste modelo tem o princípio de cooperação entre as
20
propriedades produtoras que participam da CSA e até mesmo entre instituições de
ensino, professores, alunos e familiares (OLIVEIRA, 2018).
Pode-se dizer que o cooperativismo ligado à agroecologia é de extrema
importância para a agricultura familiar. Neste contexto, fica claro que nem todo
produtor enquadrado na agricultura familiar aplica o cooperativismo adjunto da
agroecologia, isso o torna suscetível ao fracasso. O mais preocupante, contudo, é
constatar que nem todos praticantes da agricultura familiar consideram a
agroecologia primordial. Não é exagero afirmar que alguns produtores leigos acham
que a agroecologia é simplesmente retirar os insumos químicos da produção e
utilizar insumos orgânicos. Assim, preocupa o fato de que muitos produtores
encaram a agricultura da agroecologia como algo simples, isso porque não buscam
se informar sobre toda a sistemática deste tipo de produção (BUAINAIN, 2006).
É interessante, aliás, ressaltar a busca dos consumidores por uma
alimentação saudável, que apresente boa qualidade e que seja de produção local. O
modelo CSA gera baixo impacto ambiental, mas o fato que se sobrepõe é a
produção de alimentos frescos e saudáveis, através da agricultura sustentável obtido
através do respeito para com a natureza. Dessa maneira, também é gerada uma
relação de proximidade entre produtor e consumidor, contribuindo para o
desenvolvimento local da região em que se configura e ajuda o produtor a se manter
em um modelo econômico formal. Mesmo assim, conforme explicado acima, não
parece haver razão para que os produtores de porte familiar não venham aderir a
este modelo. É sinal de que há, enfim, um modelo muito bem estruturado para que
pequenos agricultores possam produzir e comercializar alimentos saudáveis
(ALIOTTE, 2018).
A representação do que é compreendido como uma Comunidade que
Sustenta a Agricultura trata-se inegavelmente de quatro princípios fundamentais
(BASHFORD et al., 2013):
Parceria: acordo entre consumidores e produtores caracterizado
pelo comprometimento mútuo com a produção. Legitima o suporte financeiro e
condições de bem-estar necessárias para a produção e distribuição de alimentos;
Local: incentivo à economia local, integrando produtores a comunidades
beneficiadas próximas ao local de cultivo;
21
Solidariedade: a comunidade que se forma é corresponsável pelos riscos e
benefícios associados à produção, sendo flexível às características naturais da
biorregião;
Relação produtor-consumidor: contato direto e confiança mútua, sem a
presença de intermediários ou hierarquia.
Portanto, a CSA forma confiança mutua entre produtor e consumidor, devido
a ausência de intermediários e também devido ao suporte financeiro que ocorre por
parte do consumidor ao pagar antecipadamente pelos alimentos gerando um
compromisso por parte do produtor de entregar o produto. Neste contexto, fica claro
que a relação estabelecida por produtor e consumidor colabora também no âmbito
local, desenvolvendo a região. Logo, "A CSA tem se mostrado bastante eficiente e
promissora. É um dos melhores exemplos de sucesso de um modelo alternativo de
comercialização agrícola de alimentos" (ALIOTTE, 2018, p.04).
Ora, em tese, conforme explicado acima, a CSA é um modelo de grande valia
para os produtores que visam produzir de forma agroecológica buscando o
cooperativismo. Caso contrário, não apresentaria tantos benefícios, por exemplo, as
vendas garantidas dos produtos antes mesmo de se dar início ao processo de
plantio. Não se trata de algo simples, mas sim de uma tecnologia social
desenvolvida para que a agricultura familiar não venha ser extinta.
A transição agroecológica, ao chegar a localidades com constante improdutividade, fez com que as famílias pluriativas, que ousassem utilizar da inovação agrícola, pudessem destacar-se diante da sociedade, destaque não somente no crescimento econômico, mas na aquisição de conhecimentos sobre a agricultura, de forma a favorecer futuras produções em terrenos desfavoráveis e\ou degradados. Surge, assim, o Protagonismo Social em estreita relação com as práticas agroecológicas, proporcionando avanços no meio rural que possibilitam por meio do empoderamento, da construção da identidade do homem do campo, a busca pelo Desenvolvimento Rural Sustentável. (ABREU et al., 2016, p. 154).
O autor deixa claro na citação acima que a agroecologia vem como uma
forma de inovação para que as famílias que vivem da agricultura possam ter
proeminência perante o meio que vivem em relação à melhoria financeira e no
conhecimento sobre métodos de produção onde não se utiliza agentes químicos.
Consequentemente, temos evoluções rurais que ocasionam o desenvolvimento rural
sustentável.
Por todas essas razões, a agricultura familiar está cada vez mais dependente
de tecnologias sócias. A CSA é um modelo extremamente relevante que deve ser
22
adotado por todos os produtores que entendem a necessidade de aprender,
desenvolver e aprimorar seus métodos de produção, comercialização e maneiras de
criar laços com seus clientes.
Saliente-se ainda que, alguns desafios presentes nesse modelo segundo
Hayden e Buck (2012) é que ao se adotar o envolvimento e proximidade com a
comunidade, os consumidores poderão pagar um valor mais alto nos produtos e
terão menos controle sobre as variedades e quantidade de produtos que irão
receber.
De acordo com Eckert (2016) e Melo et al (2018) um dos maiores desafios
que a comunidade se depara é a ruptura de postura do consumo tradicional das
pessoas envolvidas que já veem disciplinadas a seguirem a gestão tradicional. A
falta de comunicação quando há insatisfação de um processo que não está de
acordo com aquilo que foi estabelecido pelas partes, ou até mesmo quando o
produtor se encontra com problemas pessoais podendo afetar sua produção e não
encontra solidariedade dos consumidores (HAYDEN e BUCK, 2012).
Desse modo, a falta de confiança gera o enfraquecimento da comunidade
(BLOEMMEN et al., 2015). Pois, o comprometimento, a comunicação, a mudança de
hábitos e a participação direta capaz da criação de laços são essenciais para o
estabelecimento concreto da relação entre os consumidores e produtores (ECKERT,
2016; MELO et al., 2018).
Outro desafio que a CSA encontra são os limites dos seus princípios, pois a
mesma propõe que haja laços, sentimentos de compromisso profundo de confiança
estimulados por causa dos momentos de convívio e socialização. Então a ampliação
para grande escala de produção, abandonando um modelo econômico dominante de
caráter local poderia colocar em risco a relação que permite uma integridade da
sociedade (OLIVEIRA et al., 2019).
6 A CSA EM RONDONÓPOLIS – MATO GROSSO
Este capítulo foi possível a partir de relatos pessoais obtidos pelo professor
da Universidade Federal de Rondonópolis Dr. Marcos Henrique Dias Silveira1, que
1 Informações fornecidas por meio de comunicação pessoal do professor Marcos Henrique Dias Silveira, por e-mail, em 10/08/2020.
23
se interessou pelo movimento da CSA ao receber o convite (Figura 1) para a
primeira reunião pública (encontro de sensibilização) a abordar o assunto em
Rondonópolis e a partir da reunião engajou-se no movimento como co-produtor.
Figura 1 – Convite para a primeira reunião sobre CSA em Rondonópolis. Fonte: Lilian Martins
A história da CSA em Rondonópolis teve inicio em uma reunião do “Fórum de
Luta contra os impactos dos agrotóxicos na Região Sul de Mato Grosso” (Figura 2),
realizada em 22 de março de 2019, no Ministério Público do Trabalho de
Rondonópolis, na qual o professor Jackson Barbosa (UFMT Cuiabá) apresentou os
impactos negativos do uso de agrotóxicos em Mato Grosso.
24
Figura 2 – Convite para reunião do Fórum de Luta Contra os Impactos dos Agrotóxicos. Fonte: Arquivo pessoal Lilian Martins.
A jornalista Lilian Martins – representando a APOR (Associação de Apoio aos
Pacientes Oncológicos de Rondonópolis) – estava na reunião, sensibilizou-se com
os dados apresentados e colocou-se a disposição para ajudar a mudar esse
panorama. Após o final da reunião, enquanto aguardava o transporte em frente ao
prédio, tabulou conversa com um pequeno grupo de participantes do fórum, dizendo
que gostaria de fazer algo para mudar essa situação e poder tornar mais fácil o
acesso a alimentos orgânicos/agroecológicos na cidade. A funcionária da EMPAER
de Juscimeira, Carmencita Stefanelo (que também se encontrava ali) sugeriu: “por
que vocês não montam uma CSA?” E disse que conhecia a experiência de CSA da
cidade de Bauru-SP.
25
Assim, a jornalista Lilian se interessou pelo assunto e após pesquisas na
internet entrou em contato com o grupo da CSA de Bauru, que propôs enviar à
região o Sr. Wagner Santos, para auxiliá-los no processo de criação de nova CSA.
Papel importante coube ao Sr. Baltazar de Melo – então agente da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), ex-Secretário Municipal de Meio Ambiente de
Rondonópolis, grande difusor da agroecologia na região e bastante atuante no
Fórum contra agrotóxicos – que conseguiu na CPT os recursos para custear as
passagens aéreas do Sr. Wagner e contatou as Irmãs Catequistas Franciscanas
para viabilizar o local para a reunião de sensibilização e a estadia do mesmo na
cidade.
Durante os dias em que esteve na região, o Sr. Wagner visitou produtores
(Figura 3), explicou à equipe inicial de trabalho como funcionavam as planilhas de
custo e a organização da CSA, além de realizar reuniões/palestras de sensibilização
em Rondonópolis e Cuiabá.
Figura 3 – Visita do Sr. Wagner à horta da produtora Silvania, em Rondonópolis. Fonte: Arquivo pessoal de Lilian Martins
2.
Na Figura 3 o Sr. Wagner é o terceiro da direita para a esquerda, ladeado
pela mãe da produtora Silvania e pela jornalista Lilian. Também na foto o esposo e o
pai da produtora, além de membro da equipe de apoio.
2 Arquivo fornecido pelo Prof. Dr. Marcos Henrique Dias Silveira, autorizado pela jornalista Lilian Martins.
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A reunião de sensibilização em Rondonópolis (14/05/2019) surpreendeu os
organizadores pelo interesse da população, pois esperavam algo em torno de 50
pessoas, porém, mais de 90 pessoas se apresentaram naquela data (Figuras 4 e 5).
A maioria composta de consumidores, mas com alguns produtores rurais também.
Figura 4 – Reunião de sensibilização em Rondonópolis. Fonte: Arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira.
27
Figura 5 – Vista parcial do público presente na reunião de sensibilização em Rondonópolis. Fonte: arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira.
Nessa reunião foram apresentados os princípios da CSA e um depoimento do
Sr. Wagner mostrando como foi a sua história para passar da “cultura do preço” para
a “cultura do apreço”. Um movimento de valorização, pela comunidade, das
atividades de agricultores que produzem alimentos saudáveis e livres de
contaminantes. Também usou a palavra, ressaltando a importância da iniciativa, o
Promotor do Meio Ambiente, Dr. Ari Madeira Costa e ao final foram sorteadas cestas
com produtos orgânicos/agroecológicos aos participantes.
Foram distribuídos na reunião folhetos com informações que instigassem a
reflexão tanto de consumidores (Figura 6), quanto de produtores rurais (Figura 7),
para uma nova forma de relação entre eles.
28
Figura 6 – Folheto ao consumidor distribuído na reunião de sensibilização. Fonte: CSA Brasil
3
Foram coletadas informações sobre os interessados na formação de uma
CSA nessa reunião de sensibilização, com listas de nomes e contatos tanto de
possíveis co-produtores, como de produtores.
3 Fonte: www.csabrasil.org
29
Figura 7 – Folheto ao produtor distribuído na reunião de sensibilização. Fonte: CSA Brasil
4.
Ao final da primeira reunião, o casal Dirceu Aniceto Coelho e Tania Maria
Stoffel apresentou-se para auxiliar na organização. Na segunda reunião (Figura 8),
poucos dias depois, com Lilian e produtores da região, eles trouxeram Inez Pereira
Feitosa, que incluiu posteriormente ao grupo o esposo, Paulo José F. Santos.
4 Fonte: www.csabrasil.org
30
Figura 8 – Segunda reunião. Fonte: Lilian Martins
Na terceira reunião (Figura 9), já definido que naquele momento somente
estava em condições de atender as exigências/necessidades da CSA a produtora
Silvania Mitsue Amemiya, tratou-se de refinar a planilha de custos da produtora para
definir o valor das cotas de co-produtores em um valor justo, que valorizasse o
trabalho da família produtora.
31
Figura 9 – Reunião da organização com produtores. Fonte: Lilian Martins
Na quarta reunião, em 26 de junho de 2019, realizada na escola Sagrado
Coração de Jesus (Figura 11), foram assinados os compromissos com os produtores
pelo período de um ano, na forma de um “contrato” informal, sem valor jurídico, mas
representando o compromisso daquelas pessoas com os princípios da CSA e com
os produtores, em depositar até o dia 10 de cada mês, o valor correspondente a sua
cota de participação como co-produtores (Figura 10).
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Figura 10 – Declaração de Compromisso com o Agricultor. Fonte: arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira
33
Figura 11 – Convite aos interessados em fazer parte da CSA. Fonte: arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira; (material desenvolvido por Lilian Martins).
A jornalista Lilian criou o grupo em um aplicativo de celular de mensagens
instantâneas para a equipe de coordenação em 31/05/2019. A equipe, composta por
Lilian Martins, Tania Stoffel, Dirceu A. Coelho, Inez Pereira Feitosa, Paulo José F.
Santos e o casal de produtores Silvania e Fábio, se tornou responsável pelo
desenvolvimento das planilhas, organização da infraestrutura do espaço de
partilha/distribuição dos alimentos, listas de espera de interessados em ser co-
produtores, prestação de contas dos grupos, definição de critérios para participar da
CSA como produtores, realização de visitas técnicas a produtores, definição do tipo
de informação a passar ao grupo geral da CSA, definição de datas para reuniões de
confraternização do grupo, dias de campo, entre outras atividades. Posteriormente
outros co-produtores passaram a compor a equipe. Pela ordem, Marcos H. D Silveira
no início de setembro de 2019, Juliana Ribeirão de Freitas em novembro de 2019,
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Tulio Souza Cardoso, Willian Kley Carvalho e Israel Dorildo Carlini da Rocha no
início de junho de 2020.
Atualmente existem dois grupos de co-produtores CSA em Rondonópolis,
com pouco mais de 40 famílias em cada um, sendo atendidos por uma única
produtora, Silvania Mitsue Amemiya, seu esposo Fábio e sua família. O grupo 1
partilha os alimentos no espaço da garagem da Casa das Irmãs Catequistas
Franciscanas, nos finais de tardes de quartas-feiras e o grupo 2 no mesmo local e
horário, às segundas-feiras.
O pai da produtora Silvania produziu hortaliças orgânicas em Rondonópolis
por mais de 37 anos, com comercialização de produtos em sua horta (figura 12), que
hoje já se encontra no perímetro urbano, e na Feira da Vila Aurora. Após a sua
aposentadoria, sua filha Silvania, depois de voltar ao país após temporada morando
no Japão, assumiu com sua família a produção das hortaliças, dando continuidade
aos trabalhos de seu pai.
Figura 12 – Vistas da horta da produtora Silvania, em Rondonópolis. Fonte: Lilian Martins
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Trabalham na linha de produção conhecida como agricultura natural,
conforme princípios preconizados por Masanobu Fukuoka, aperfeiçoados e
divulgados no Brasil por Mokiti Okada, ligado à filosofia da Igreja Messiânica. Com
produção livre de adubação mineral de alta disponibilidade (popularmente conhecida
como “adubação química”) e também livre de uso de agrotóxicos e sementes
geneticamente modificadas, além de se apoiar também no uso de energias sutis
como forma de melhorar as condições de produção vegetal saudável.
A primeira partilha de alimentos (Figura 13) pela CSA Rondonópolis
aconteceu no dia 10 de julho de 2019, no espaço da garagem da Casa das Irmãs
Catequistas Franciscanas de Rondonópolis, que têm cedido a área sem qualquer
custo até o momento, sendo um importante apoio para o funcionamento da CSA.
Figura 13 – Primeira partilha CSA Rondonópolis. Fonte: arquivo pessoal de Lilian Martins.
Durante reunião ocorrida em novembro de 2019, na Casa das Irmãs
Franciscanas em Rondonópolis, quando houve uma palestra sobre sistemas
agroflorestais de produção, a produtora Silvania fez um depoimento ressaltando a
importância da CSA para oferecer segurança econômica a sua família, para que
pudesse deixar de depender da feira como espaço de comercialização, no qual
36
muitas vezes levava alimentos que não eram comercializados, e passasse a planejar
a produção sabendo que iria receber a justa remuneração, colhendo somente o que
iria entregar na CSA, sem perdas, permitindo inclusive se capitalizar para realizar
treinamentos e capacitações no sentido de aprimorar-se para utilizar sistemas
agroflorestais na produção de alimentos.
Alguns produtores da região, interessados em atender a CSA, estão em
transição agroecológica e já comercializam parte de sua produção no ponto de
distribuição da CSA.
A Figura 14 apresenta os produtos que fizeram parte da “cesta” de 28 de
agosto de 2019, sendo eles: couve, beterraba, cenoura, alface roxo, pepino,
cebolinha, couve-rábano, acelga chinesa, brócolis, rúcula e hortelã. A cada semana
os co-produtores recebem uma variedade semelhante, mas com os produtos de
cada época. E pagam uma cota mensal, que no primeiro ano foi de R$ 143,00, já
incluídas as taxas de contribuição para a CSA Brasil e um pequeno valor para caixa
da CSA (para custear pequenas despesas eventuais).
Figura 14 – Apresentação dos produtos que compôs a cota do dia 28 de agosto de 2019. Fonte: arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento da presente revisão possibilitou uma análise de como a
CSA vem se tornando cada vez mais difundida e importante na agricultura familiar,
uma reflexão feita acerca dos princípios, além disso, também permitiu avaliar os
benefícios que essa comunidade trás para os produtores e co-produtores.
De modo geral, os produtores enquadrados na agricultura familiar no
município de Rondonópolis demonstraram interesse em fazer parte de uma CSA e
buscam meios para estarem se enquadrando nessa tecnologia social, mas ainda
possuem algumas dificuldades, como aumentar sua produção para atender a
demanda dos consumidores e também estimular o interesse dos co-produtores em
participar dessa comunidade.
Os participantes (consumidores) das reuniões para a formação da CSA em
Rondonópolis demonstraram interesse em se tonar co-produtores. Atualmente são
cerca de 80 famílias atendidas por uma única produtora semanalmente.
Dada à importância do tema, torna-se necessário o desenvolvimento de
projetos que possam capacitar os produtores com condições e habilidades para
atenderem os requisitos exigidos por esse sistema, produzindo alimentos orgânicos
e o aumento da produção para atendimento de um maior número de famílias.
Nessa perspectiva, a criação da CSA em Rondonópolis permite aos
produtores um avanço na produção de alimentos saudáveis livres de agrotóxicos,
motivando o consumidor/co-produtor a consumir esses alimentos e contribuir para a
difusão e o fortalecimento desse movimento social na região.
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