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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E TECNOLÓGICAS CURSO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE QUE SUSTENTA A AGRICULTURA (CSA) NO MUNICÍPIO DE RONDONÓPOLIS, MATO GROSSO BACHAREL EM ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL THIAGO MOREIRA NAVES Rondonópolis, MT 2020

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E TECNOLÓGICAS

CURSO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL

A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE QUE SUSTENTA A AGRICULTURA (CSA) NO MUNICÍPIO DE

RONDONÓPOLIS, MATO GROSSO

BACHAREL EM ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL

THIAGO MOREIRA NAVES

Rondonópolis, MT – 2020

A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE QUE SUSTENTA A

AGRICULTURA (CSA) NO MUNICÍPIO DE RONDONÓPOLIS,

MATO GROSSO.

por

Thiago Moreira Naves

Monografia apresentada à Universidade Federal de Mato Grosso como parte dos requisitos

do Curso de Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental para obtenção do título de

Bacharel em Engenharia Agrícola e Ambiental.

Orientador: Profº. Dr. Marcos Henrique Dias Silveira

Rondonópolis, Mato Grosso – Brasil.

2020

DEDICATÓRIA

Aos meus pais e a minha esposa.

AGRADECIMENTOS

A Deus criador dos céus e da terra por me proporcionar a vida e

perseverança durante toda minha jornada até aqui.

Agradeço aos meus pais Abmael Naves e Maria Naves pelo amor, incentivo e

apoio incondicional que serviram de alicerce para as minhas realizações. Por terem

acreditado e investido seus recursos em minha jornada acadêmica.

Agradeço a minha querida esposa Josyanne Inês Naves pelo seu amor

incondicional e que sempre esteve ao meu lado durante o meu percurso acadêmico.

Acima de tudo sempre foi uma grande amiga, presente nos momentos difíceis

apoiando com paciência, carinho e palavras de incentivo.

Á minha irmã Ellen Cristina pela amizade e atenção dedicadas quando

sempre precisei, por estar ao meu lado e por me fazer ter confiança nas minhas

decisões.

É claro que não poderia me esquecer dos dois amigos que considero como

irmãos, Guilherme Lazzarin e Sillas Sales, que sempre estiveram presentes em

todos os âmbitos de minha vida me apoiando, orientando e corrigindo quando

necessário.

Á todos os meus amigos do curso de graduação que compartilharam dos

inúmeros desafios que enfrentamos, sempre com o espírito colaborativo.

Em especial, aos meus amigos e amigas, Álvaro Fachim, Amanda

Vasconcelos, Beatriz Araújo, Bruna Bertoldo, Diego Beber, Jhonattan Padua, Lys

Fernanda, Nathalia Chagas, Manoel Fidelis, Marco Antônio, Vitor Augusto. Agradeço

pela amizade, pelos “puxões de orelha”, pelas brigas, pela motivação, pelos

ensinamentos, e por acreditarem em mim quando nem mesmo eu acreditava. E que

alguns conseguiram se tornar muito mais que amigos, tornaram-se irmãos,

confidentes, fazendo com que surgissem sentimentos como, inspiração e amor.

Ao meu professor orientador Dr. Marcos Henrique pelas valiosas

contribuições dadas durante todo o processo indicando a direção correta que o

trabalho deveria tomar e pela grande atenção dispensada que se tornou essencial

para realização do trabalho.

Á todos os meus professores do curso de Engenharia Agrícola e Ambiental da

Universidade Federal de Rondonópolis pela excelência da qualidade técnica de cada

um. Não posso deixar de evidenciar os meus professores Osvaldo Guedes, Marcio

Koetz e Maria da Conceição Trindade do qual tenho um carinho imenso e gratidão.

Á todos integrantes do grupo de pesquisa GPAS (Grupo de Práticas em Água

e Solo), e aos respectivos professores Edna Maria Bomfin da Silva e Tonny José

Araújo da Silva, por toda a dedicação a nós em nos ajudar e orientar

profissionalmente. Com eles aprendi que toda dedicação, não se torna um sacrifício,

e sim prazer, prazer de fazer aquilo que se ama.

“A base de toda a sustentabilidade é o desenvolvimento humano que deve comtemplar um

melhor relacionamento do homem com os semelhantes e a Natureza”.

(Nagib Anderáos Neto)

RESUMO

Um modelo de organização social baseado no fortalecimento de vínculos entre agricultores e consumidores é a CSA - Comunidade que Sustenta a Agricultura, que trabalha em lógica diversa à produção agrícola convencional, estabelecendo relações que priorizam o bem-estar da comunidade no centro das ações econômicas. Tem se revelado importante ferramenta a ligar o desejo de parte da população em consumir alimentos livres de agrotóxicos a produtores de alimentos orgânicos/agroecológicos, garantindo a sustentabilidade e a segurança da atividade do produtor rural familiar. O objetivo deste trabalho foi documentar a formação da CSA em Rondonópolis – Mato Grosso, trazendo também informações gerais sobre a CSA, o seu desenvolvimento no Brasil, seus princípios e desafios. A metodologia utilizada foi o levantamento bibliográfico e documental. Constatou-se que o público consumidor participante das reuniões para a formação da CSA em Rondonópolis demonstrou interesse em se tornar co-produtor. Atualmente são cerca de 80 famílias atendidas semanalmente por uma única produtora, embora haja outros produtores se preparando para atender as exigências da CSA. Dessa forma, há necessidade de projetos que capacitem mais produtores com condições e habilidades para atenderem os requisitos exigidos por esse sistema, para atendimento de maior número de famílias. A criação da CSA em Rondonópolis permite aos produtores um avanço na produção de alimentos saudáveis livres de agrotóxicos, motivando o consumidor/co-produtor a consumir esses alimentos e contribuir para a difusão e fortalecimento desse movimento social na região. Palavras-chave: Agroecologia; Agricultura Familiar; Alimentos Orgânicos.

ABSTRACT

A model of social organization based on strengthening ties between farmers and consumers is CSA - Community that Supports Agriculture, which works in a different logic to conventional agricultural production, establishing relationships that prioritize the well-being of the community at the center of economic actions. It has proved to be an important tool linking the desire of part of the population to consume pesticide-free food to organic / agroecological food producers, guaranteeing the sustainability and safety of the activity of the family rural producer. The objective of this work was to document the formation of the CSA in Rondonópolis - Mato Grosso, also bringing general information about the CSA, its development in Brazil, its principles and challenges. The methodology used was the bibliographic and documentary survey. It was found that the consuming public participating in the meetings for the formation of the CSA in Rondonópolis showed interest in becoming a co-producer. Currently, about 80 families are served weekly by a single producer, although there are other producers preparing to meet the requirements of CSA. Thus, there is a need for projects that enable more producers with conditions and skills to meet the requirements required by this system, to serve a greater number of families. The creation of CSA in Rondonópolis allows producers to advance in the production of healthy pesticide-free foods, motivating consumers / co-producers to consume these foods and contribute to the spread and strengthening of this social movement in the region. Keywords: Agroecology; Family farming; Organic foods.

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. A CSA em funcionamento no Brasil no ano de 2016 com números e

valores das cotas........................................................................................................19

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Os dez princípios de teikei........................................................................17

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. Convite para a primeira reunião sobre CSA em

Rondonópolis..............................................................................................................23

FIGURA 2. Convite para reunião do Fórum de Luta Contra os Impactos dos

Agrotóxicos.................................................................................................................24

FIGURA 3. Visita do Sr. Wagner à horta da produtora Silvania, em

Rondonópolis..............................................................................................................25

FIGURA 4. Reunião de sensibilização em Rondonópolis. Fonte: Arquivo pessoal

Marcos H. D. Silveira..................................................................................................26

FIGURA 5. Vista parcial do público presente na reunião de sensibilização em

Rondonópolis..............................................................................................................27

FIGURA 6. Folheto ao consumidor distribuído na reunião de

sensibilização.............................................................................................................28

FIGURA 7. Folheto ao produtor distribuído na reunião de

sensibilização.............................................................................................................29

FIGURA 8. Segunda reunião.................................................................................30

FIGURA 9. Reunião da organização com produtores...........................................31

FIGURA 10. Declaração de Compromisso com o Agricultor.................................32

FIGURA 11. Convite aos interessados em fazer parte da CSA.............................33

FIGURA 12. Vistas da horta da produtora Silvania, em Rondonópolis.................34

FIGURA 13. Primeira partilha CSA Rondonópolis.................................................35

FIGUARA 14. Apresentação dos produtos que compôs a cota do dia 28 de agosto

de 2019.......................................................................................................................36

SÚMARIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................14

2 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................16

3 COMUNIDADE QUE SUSTENTA A AGRICULTURA – CSA................................16

4 A CSA NO BRASIL.................................................................................................18

5 PRINCÍPIOS E DASAFIOS SOBRE A CSA...........................................................19

6 A CSA EM RONDONÓPOLIS – MATO GROSSO.................................................22

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................37

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................37

14

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Eckert (2016), a forma tradicional de produzir e comercializar

alimentos estão diretamente ligados ao capital financeiro e industrial, do uso de

agrotóxicos, adubos e fertilizantes químicos e de técnicas oriundas da Revolução

Verde. Esse tipo de produção representa uma maneira de consumo da agricultura, o

qual é prejudicial à autonomia dos indivíduos sobre a sua reprodução material e

social, fazendo com que a sociedade tenha problemas como, pobreza, insegurança

alimentar, problemas de saúde relacionados à alimentação, contaminação do meio

ambiente e também a perca do sentido de corpo social e mutualidade.

Os agricultores familiares somente após muitas lutas obtiveram

reconhecimento junto ao Estado em relação aos recursos públicos para crédito rural,

que historicamente eram destinados preferencialmente aos grandes

produtores. Porém, a unificação de diversos grupos sociais numa mesma categoria

política ocultou muitas diferenças produtivas e socioculturais inerentes à agricultura

familiar (PICOLOTTO, 2014; NIEDERLE, 2017).

Cabe notar que, nas estatísticas oficiais, a agricultura familiar aparece como

segundo maior grupo de indivíduos em situação de extrema pobreza no campo,

ficando atrás somente do grupo de famílias sem inserção produtiva (DEL GROSSI,

2012). Com isso, nos últimos anos, alguns grupos procuram mais reconhecimento,

visibilidade pública e políticas que atendam às suas peculiaridades, ao passo que

reivindicam um olhar específico do Estado em relação às suas características

socioculturais (PICOLOTTO, 2014; NIEDERLE, 2017).

Para que os produtores da agricultura familiar não sofram processos de

descapitalização e inviabilidade econômica, eles têm reagido com algumas

estratégias, como: adoção da agroecologia com redução dos custos externos,

ampliação do uso dos recursos internos à propriedade, inovação na integração

mercantil e a dinâmica da pluriatividade. Já os consumidores estão apresentando

uma demanda por alimentos saudáveis de qualidade devido a preocupações

relacionadas com a sanidade e segurança dos alimentos (FERRARI, 2011).

Mediante o exposto, um modelo de organização social baseado na comunhão

e fortalecimento de vínculos entre agricultores e consumidores é a CSA -

Comunidade que Sustenta a Agricultura (FERREIRA-NETO et al., 2015). A

Comunidade surgiu neste cenário a fim de evitar a cooptação da alimentação

15

orgânica pelos mercados convencionais, reafirmando os valores e ideias originais do

movimento pró-alimentos orgânicos (THOMPSON e COSKUNER-BALLI, 2007).

A CSA não se mantém apenas como uma relação comercial, sendo que os

compradores se tornam cooperadores, pois, participam dos riscos e benefícios

presentes na produção ao se vincularem a um pagamento mensal,

antecipadamente, ajudando os produtores na obtenção de recursos financeiros

necessários para a manutenção dos plantios, anulando a necessidade de

financiamentos. Em compensação, os produtores fornecem toda semana a sua

produção para os coprodutores produzidas de forma agroecológica (COOLEY;

LASS, 1998; CASTELO BRANCO, et al., 2011).

A comunidade trabalha no sentido contrário da forma atual de produção

agrícola, pois estabelece a criação de relações que tenham o bem-estar da

comunidade no centro das ações econômicas. Essa comunidade permite que haja

um sentimento entre as pessoas envolvidas e confiança por meio da ligação

especifica do produtor com a terra. A ajuda entre as partes e compartilhamento dos

riscos pode configurar uma forma de organização ante o modelo econômico

tradicional (CONE E MYHRE 2000; BOUGHERARA et al., 2009; LAMB, 2010).

Assim, são gerados vínculos que ultrapassam um mero consumo, em que são

formados laços de confiança entre campo e cidade. Desta forma ambos ganham,

pois esses feitos trazem a agroecologia para a região, desenvolvendo a economia

local e a comutação de conhecimentos. Este modelo apresenta uma alteração de

visão, onde deixa a cultura do preço e do valor de mercado para uma cultura do

apreço, onde se preza a interatividade e a reciprocidade de confiança (BRITO et al.,

2018).

De acordo com Brito et al. (2018) os produtos que são entregues têm uma

boa aceitação pelos coprodutores. Na entrega dos produtos há uma troca de

informações, como receitas e sugestões de aproveitamento dos alimentos. Os

compradores se mostram animados e interessados a essa experiência. Com isso os

produtores ficam satisfeitos com as vendas e com o reconhecimento do seu

trabalho.

Em vista disso, a comunidade vai além da eficiência, ela visa o planejamento,

a distribuição de alimentos e a transformação coletiva. A partir disso, esse segmento

tem se revelado como uma importante ferramenta a ligar o desejo de parte da

população em consumir alimentos de qualidade e livres de agrotóxicos a produtores

16

de alimentos orgânicos/agroecológicos, garantindo a sustentabilidade e a segurança

da atividade do produtor rural familiar.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O objetivo do presente trabalho é documentar a formação da CSA em

Rondonópolis, inicialmente por meio de levantamento bibliográfico para obter

informações gerais sobre a CSA, o desenvolvimento da CSA no Brasil e seus

princípios e desafios. Em seguida o levantamento se estendeu para a formação da

mesma no município de Rondonópolis – Mato Grosso.

Para a realização do estudo foram realizadas buscas de forma eletrônica em

diferentes bases de dados que apresentem artigos referentes à temática proposta:

Google Scholar, Scielo (Scientific Electronic Library Online) e Portal Periódico da

Capes.

No contexto de Rondonópolis, após a revisão bibliográfica, foi produzido um

texto baseado em relatos pessoais, documentos escritos e imagens de arquivos

pessoais dos componentes do grupo que administra a CSA Rondonópolis.

3 COMUNIDADE QUE SUSTENTA A AGRICULTURA – CSA

A CSA está associada a um movimento que teve início no Japão em 1971,

após o desastre de Minamata (contaminação por mercúrio). Um grupo de mulheres

que estavam preocupadas com o uso de produtos químicos na agricultura, com o

aumento de alimentos processados e importados e com a diminuição das

propriedades agrícolas locais, se organizaram a fim de alcançar autonomia na

cadeia de produção dos produtos que as suas famílias consumiam, e tornando-se

parceiras com um produtor local traçando um projeto de cooperação (HITCHMAN,

2015; HENDERSON et al., 2007).

Esse movimento no Japão ficou conhecido como teikei, rede que não para de

crescer até os dias de hoje e se fundamentam nos dez princípios apresentados no

Quadro 1, tornando-se a base ideológica para as práticas da CSA (DAROLT, 2012;

URGENCI, 2019):

17

Quadro 1: Os dez princípios de teikei.

Principio Significado

Assistência mútua A relação entre agricultores e consumidores deve estar baseada numa relação amigável, de atendimento mútuo.

Produção Planejada Mediante prévio acordo com os consumidores, os agricultores devem produzir o máximo de variedade de alimentos possíveis no espaço destinado ao plantio.

Aceitação do produto Os consumidores devem aceitar todos os produtos cultivados conforme o acordado previamente, sendo que sua dieta deve depender o máximo possível desta fonte.

Concessão mútua na decisão do preço

Ao decidirem os preços da produção, os agricultores devem levar em consideração as economias obtidas com a mão-de-obra, com a aceitação de todos os produtos e com a redução/eliminação de embalagens; já os consumidores devem se atentar para o benéfico de se obter alimentos de qualidade, frescos, seguros e saborosos.

Aprofundamento das relações de amizade

Alcançado através da maximização do contato entre agricultores e consumidores.

Auto distribuição O transporte dos produtos deve ser realizados pelos grupos de produtores ou de consumidores, sem depender de intermediários.

Gestão democrática As responsabilidades são compartilhadas entre todos (agricultores e consumidores).

Aprendizagem no grupo Devem-se estimular práticas de compartilhamento de saberes entre os membros.

Manutenção da escala de grupo apropriada

Deve-se evitar que um grupo fique muito grande. Para tanto, recomenda-se ampliar a quantidade de grupos de modo a manter constante a colaboração mútua.

Desenvolvimento constante

Nem sempre as condições serão adequadas e favoráveis a todos; mesmo assim, deve-se fazer um esforço para melhorar e avançar com colaboração mútua.

Fonte: Urgenci (2019), apud Tonini (2020).

O segmento da comunidade é descrito como sendo uma parceria local e

solidária que ocorre entre os produtores e consumidores. Essas comunidades estão

espalhadas em todo o mundo como: CSA (US, UK, Austrália), AMAP (França), ASC

(Canadá), Teikei (Japão), Reciproco (Portugal), Huellas Verdes (Chile), a Granja

Valle Pintado (Argentina), e as Canastas Comunitária (Equador), (URGENCI, 2016).

A comunidade chegou aos Estados Unidos por influência do modelo europeu, em

1985, por intermédio do horticultor Jan Vandertuin que foi inspirado pela relação de

aliança entre produtor e consumidor observada em Genebra (ECKERT, 2016).

No Brasil, apesar de experiência em Fortaleza iniciada em 1997 que durou

dez anos, teve seu espaço de expansão a partir do ano de 2011 em Botucatu – SP

com o objetivo de se efetivar algumas articulações para constituir uma rede de CSA

18

no país. Então foi no ano de 2014 que foram feitas as primeiras discussões para a

implantação da rede CSA – Brasil (YAMAMOTO, 2006; CONSEA, 2017; OLIVEIRA,

2019).

4 A CSA NO BRASIL

A Comunidade que Sustenta a Agricultura no Brasil teve seu primeiro grupo

em 1997, na cidade de Fortaleza – Ceará. Suas atividades permaneceram por 10

anos (YAMAMOTO, 2006). No entanto, foi no ano de 2011 que o movimento voltou a

surgir na cidade de Botucatu – São Paulo, pelo designer e artista plástico Hermann

Pohlmann, trazendo seus conhecimentos adquiridos na Alemanha e pela sua

vivência como co-fundador da rede alemã de projetos makeCSA (TORRES, 2017).

De acordo com Torres (2017), Polhmann foi um dos principais articuladores

da CSA Demétria, formada em um bairro de mesmo nome no município de Botucatu

– SP. No mesmo ano (2011) formou-se também a CSA Apanfé, em Maria da Fé –

MG e o conceito de CSA foi apresentado e estimado durante o Fórum Mundial

Social, em Porto Alegre – RS.

Logo após foram identificados grupos em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná,

Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pernambuco e em Minas Gerais e Santa

Catarina (CSA Brasil, 2020). Segundo CSA Brasil (2020), há uma estimativa de 50

unidades em funcionamento, com cerca de 400 consumidores participantes que

apoiam as famílias produtoras.

A organização sem fins lucrativos CSA Brasil constrói, como modelos,

projetos agrícolas baseados na comunidade, nos quais os agricultores podem se

orientar para garantir um futuro a pequenos empreendimentos agrícolas. A

organização também faz acompanhamento e supervisiona esses projetos em

formato de rede, que já pode ser identificada em todo território nacional (CSA

BRASIL, 2020).

Em seguida, pode ser visto na tabela 1 mostra as CSA’s em funcionamento

no Brasil no ano de 2016 com números e valores das cotas.

19

Tabela 1 – A CSA em funcionamento no Brasil no ano de 2016 com números e valores das cotas.

UF Cidade CSA Cotas Valor da cota

MG BH Alfa 135 Média R$143

Lavras Horta pro Nobis 29 R$70

SP

Araras Araras 21 R$55 (P), R$105 (M)e

R$160 (G) Santo André

CSABC 33 R$110 (M) e R$160

(G)

Itapetininga Itapetininga 27 R$100 (M) e R$180

(G) Boituva Boituva 35 R$115 (M) e R$195(G)

São Carlos São Carlos 32 R$120 Rio Claro Rio Claro 32 R$120 Ourinhos Ourinhos 50

R$106

Bauru Residência do Sr. Mário

Balaio de Krishna Viver

35 32 65

Botucatu Timbó

Demétria 27 22

São Paulo

Granja Julieta (SP) Associação Serras Verdes

(SP) Horta do Marcelo (SP)

9 63

45 R$86 a R$438

PE Recife

Camaragibe Recife Aldeia

55 R$130

22 R$107

RS Porto Alegre

Porto Alegre Sitio São Carlos

100 R$105 a 165 31 R$150

PR Curitiba Verde Orgânico

Bocaiúva 30 R$104 26 R$105

SC Itapema Flora Bioativas 32 R$170 Fonte: ORTEGA et al. (2017).

Os valores das cotas variam de acordo com o número de itens nas cestas ou

com o modelo de precificação adotado pela comunidade, como: cultura do apreço e

leilões (ORTEGA, et al., 2017).

5 PRINCÍPIOS E DESAFIOS SOBRE A CSA

A Comunidade que Sustenta a Agricultura é um exemplo de organizações que

não visam lucros, onde é sugerida uma produção que valorize produtores agrícolas

que se enquadram na agricultura familiar. O foco da CSA é manter uma renda fixa

para estes pequenos produtores e buscar também a mudança para a agricultura

agroecológica. O alicerce deste modelo tem o princípio de cooperação entre as

20

propriedades produtoras que participam da CSA e até mesmo entre instituições de

ensino, professores, alunos e familiares (OLIVEIRA, 2018).

Pode-se dizer que o cooperativismo ligado à agroecologia é de extrema

importância para a agricultura familiar. Neste contexto, fica claro que nem todo

produtor enquadrado na agricultura familiar aplica o cooperativismo adjunto da

agroecologia, isso o torna suscetível ao fracasso. O mais preocupante, contudo, é

constatar que nem todos praticantes da agricultura familiar consideram a

agroecologia primordial. Não é exagero afirmar que alguns produtores leigos acham

que a agroecologia é simplesmente retirar os insumos químicos da produção e

utilizar insumos orgânicos. Assim, preocupa o fato de que muitos produtores

encaram a agricultura da agroecologia como algo simples, isso porque não buscam

se informar sobre toda a sistemática deste tipo de produção (BUAINAIN, 2006).

É interessante, aliás, ressaltar a busca dos consumidores por uma

alimentação saudável, que apresente boa qualidade e que seja de produção local. O

modelo CSA gera baixo impacto ambiental, mas o fato que se sobrepõe é a

produção de alimentos frescos e saudáveis, através da agricultura sustentável obtido

através do respeito para com a natureza. Dessa maneira, também é gerada uma

relação de proximidade entre produtor e consumidor, contribuindo para o

desenvolvimento local da região em que se configura e ajuda o produtor a se manter

em um modelo econômico formal. Mesmo assim, conforme explicado acima, não

parece haver razão para que os produtores de porte familiar não venham aderir a

este modelo. É sinal de que há, enfim, um modelo muito bem estruturado para que

pequenos agricultores possam produzir e comercializar alimentos saudáveis

(ALIOTTE, 2018).

A representação do que é compreendido como uma Comunidade que

Sustenta a Agricultura trata-se inegavelmente de quatro princípios fundamentais

(BASHFORD et al., 2013):

Parceria: acordo entre consumidores e produtores caracterizado

pelo comprometimento mútuo com a produção. Legitima o suporte financeiro e

condições de bem-estar necessárias para a produção e distribuição de alimentos;

Local: incentivo à economia local, integrando produtores a comunidades

beneficiadas próximas ao local de cultivo;

21

Solidariedade: a comunidade que se forma é corresponsável pelos riscos e

benefícios associados à produção, sendo flexível às características naturais da

biorregião;

Relação produtor-consumidor: contato direto e confiança mútua, sem a

presença de intermediários ou hierarquia.

Portanto, a CSA forma confiança mutua entre produtor e consumidor, devido

a ausência de intermediários e também devido ao suporte financeiro que ocorre por

parte do consumidor ao pagar antecipadamente pelos alimentos gerando um

compromisso por parte do produtor de entregar o produto. Neste contexto, fica claro

que a relação estabelecida por produtor e consumidor colabora também no âmbito

local, desenvolvendo a região. Logo, "A CSA tem se mostrado bastante eficiente e

promissora. É um dos melhores exemplos de sucesso de um modelo alternativo de

comercialização agrícola de alimentos" (ALIOTTE, 2018, p.04).

Ora, em tese, conforme explicado acima, a CSA é um modelo de grande valia

para os produtores que visam produzir de forma agroecológica buscando o

cooperativismo. Caso contrário, não apresentaria tantos benefícios, por exemplo, as

vendas garantidas dos produtos antes mesmo de se dar início ao processo de

plantio. Não se trata de algo simples, mas sim de uma tecnologia social

desenvolvida para que a agricultura familiar não venha ser extinta.

A transição agroecológica, ao chegar a localidades com constante improdutividade, fez com que as famílias pluriativas, que ousassem utilizar da inovação agrícola, pudessem destacar-se diante da sociedade, destaque não somente no crescimento econômico, mas na aquisição de conhecimentos sobre a agricultura, de forma a favorecer futuras produções em terrenos desfavoráveis e\ou degradados. Surge, assim, o Protagonismo Social em estreita relação com as práticas agroecológicas, proporcionando avanços no meio rural que possibilitam por meio do empoderamento, da construção da identidade do homem do campo, a busca pelo Desenvolvimento Rural Sustentável. (ABREU et al., 2016, p. 154).

O autor deixa claro na citação acima que a agroecologia vem como uma

forma de inovação para que as famílias que vivem da agricultura possam ter

proeminência perante o meio que vivem em relação à melhoria financeira e no

conhecimento sobre métodos de produção onde não se utiliza agentes químicos.

Consequentemente, temos evoluções rurais que ocasionam o desenvolvimento rural

sustentável.

Por todas essas razões, a agricultura familiar está cada vez mais dependente

de tecnologias sócias. A CSA é um modelo extremamente relevante que deve ser

22

adotado por todos os produtores que entendem a necessidade de aprender,

desenvolver e aprimorar seus métodos de produção, comercialização e maneiras de

criar laços com seus clientes.

Saliente-se ainda que, alguns desafios presentes nesse modelo segundo

Hayden e Buck (2012) é que ao se adotar o envolvimento e proximidade com a

comunidade, os consumidores poderão pagar um valor mais alto nos produtos e

terão menos controle sobre as variedades e quantidade de produtos que irão

receber.

De acordo com Eckert (2016) e Melo et al (2018) um dos maiores desafios

que a comunidade se depara é a ruptura de postura do consumo tradicional das

pessoas envolvidas que já veem disciplinadas a seguirem a gestão tradicional. A

falta de comunicação quando há insatisfação de um processo que não está de

acordo com aquilo que foi estabelecido pelas partes, ou até mesmo quando o

produtor se encontra com problemas pessoais podendo afetar sua produção e não

encontra solidariedade dos consumidores (HAYDEN e BUCK, 2012).

Desse modo, a falta de confiança gera o enfraquecimento da comunidade

(BLOEMMEN et al., 2015). Pois, o comprometimento, a comunicação, a mudança de

hábitos e a participação direta capaz da criação de laços são essenciais para o

estabelecimento concreto da relação entre os consumidores e produtores (ECKERT,

2016; MELO et al., 2018).

Outro desafio que a CSA encontra são os limites dos seus princípios, pois a

mesma propõe que haja laços, sentimentos de compromisso profundo de confiança

estimulados por causa dos momentos de convívio e socialização. Então a ampliação

para grande escala de produção, abandonando um modelo econômico dominante de

caráter local poderia colocar em risco a relação que permite uma integridade da

sociedade (OLIVEIRA et al., 2019).

6 A CSA EM RONDONÓPOLIS – MATO GROSSO

Este capítulo foi possível a partir de relatos pessoais obtidos pelo professor

da Universidade Federal de Rondonópolis Dr. Marcos Henrique Dias Silveira1, que

1 Informações fornecidas por meio de comunicação pessoal do professor Marcos Henrique Dias Silveira, por e-mail, em 10/08/2020.

23

se interessou pelo movimento da CSA ao receber o convite (Figura 1) para a

primeira reunião pública (encontro de sensibilização) a abordar o assunto em

Rondonópolis e a partir da reunião engajou-se no movimento como co-produtor.

Figura 1 – Convite para a primeira reunião sobre CSA em Rondonópolis. Fonte: Lilian Martins

A história da CSA em Rondonópolis teve inicio em uma reunião do “Fórum de

Luta contra os impactos dos agrotóxicos na Região Sul de Mato Grosso” (Figura 2),

realizada em 22 de março de 2019, no Ministério Público do Trabalho de

Rondonópolis, na qual o professor Jackson Barbosa (UFMT Cuiabá) apresentou os

impactos negativos do uso de agrotóxicos em Mato Grosso.

24

Figura 2 – Convite para reunião do Fórum de Luta Contra os Impactos dos Agrotóxicos. Fonte: Arquivo pessoal Lilian Martins.

A jornalista Lilian Martins – representando a APOR (Associação de Apoio aos

Pacientes Oncológicos de Rondonópolis) – estava na reunião, sensibilizou-se com

os dados apresentados e colocou-se a disposição para ajudar a mudar esse

panorama. Após o final da reunião, enquanto aguardava o transporte em frente ao

prédio, tabulou conversa com um pequeno grupo de participantes do fórum, dizendo

que gostaria de fazer algo para mudar essa situação e poder tornar mais fácil o

acesso a alimentos orgânicos/agroecológicos na cidade. A funcionária da EMPAER

de Juscimeira, Carmencita Stefanelo (que também se encontrava ali) sugeriu: “por

que vocês não montam uma CSA?” E disse que conhecia a experiência de CSA da

cidade de Bauru-SP.

25

Assim, a jornalista Lilian se interessou pelo assunto e após pesquisas na

internet entrou em contato com o grupo da CSA de Bauru, que propôs enviar à

região o Sr. Wagner Santos, para auxiliá-los no processo de criação de nova CSA.

Papel importante coube ao Sr. Baltazar de Melo – então agente da Comissão

Pastoral da Terra (CPT), ex-Secretário Municipal de Meio Ambiente de

Rondonópolis, grande difusor da agroecologia na região e bastante atuante no

Fórum contra agrotóxicos – que conseguiu na CPT os recursos para custear as

passagens aéreas do Sr. Wagner e contatou as Irmãs Catequistas Franciscanas

para viabilizar o local para a reunião de sensibilização e a estadia do mesmo na

cidade.

Durante os dias em que esteve na região, o Sr. Wagner visitou produtores

(Figura 3), explicou à equipe inicial de trabalho como funcionavam as planilhas de

custo e a organização da CSA, além de realizar reuniões/palestras de sensibilização

em Rondonópolis e Cuiabá.

Figura 3 – Visita do Sr. Wagner à horta da produtora Silvania, em Rondonópolis. Fonte: Arquivo pessoal de Lilian Martins

2.

Na Figura 3 o Sr. Wagner é o terceiro da direita para a esquerda, ladeado

pela mãe da produtora Silvania e pela jornalista Lilian. Também na foto o esposo e o

pai da produtora, além de membro da equipe de apoio.

2 Arquivo fornecido pelo Prof. Dr. Marcos Henrique Dias Silveira, autorizado pela jornalista Lilian Martins.

26

A reunião de sensibilização em Rondonópolis (14/05/2019) surpreendeu os

organizadores pelo interesse da população, pois esperavam algo em torno de 50

pessoas, porém, mais de 90 pessoas se apresentaram naquela data (Figuras 4 e 5).

A maioria composta de consumidores, mas com alguns produtores rurais também.

Figura 4 – Reunião de sensibilização em Rondonópolis. Fonte: Arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira.

27

Figura 5 – Vista parcial do público presente na reunião de sensibilização em Rondonópolis. Fonte: arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira.

Nessa reunião foram apresentados os princípios da CSA e um depoimento do

Sr. Wagner mostrando como foi a sua história para passar da “cultura do preço” para

a “cultura do apreço”. Um movimento de valorização, pela comunidade, das

atividades de agricultores que produzem alimentos saudáveis e livres de

contaminantes. Também usou a palavra, ressaltando a importância da iniciativa, o

Promotor do Meio Ambiente, Dr. Ari Madeira Costa e ao final foram sorteadas cestas

com produtos orgânicos/agroecológicos aos participantes.

Foram distribuídos na reunião folhetos com informações que instigassem a

reflexão tanto de consumidores (Figura 6), quanto de produtores rurais (Figura 7),

para uma nova forma de relação entre eles.

28

Figura 6 – Folheto ao consumidor distribuído na reunião de sensibilização. Fonte: CSA Brasil

3

Foram coletadas informações sobre os interessados na formação de uma

CSA nessa reunião de sensibilização, com listas de nomes e contatos tanto de

possíveis co-produtores, como de produtores.

3 Fonte: www.csabrasil.org

29

Figura 7 – Folheto ao produtor distribuído na reunião de sensibilização. Fonte: CSA Brasil

4.

Ao final da primeira reunião, o casal Dirceu Aniceto Coelho e Tania Maria

Stoffel apresentou-se para auxiliar na organização. Na segunda reunião (Figura 8),

poucos dias depois, com Lilian e produtores da região, eles trouxeram Inez Pereira

Feitosa, que incluiu posteriormente ao grupo o esposo, Paulo José F. Santos.

4 Fonte: www.csabrasil.org

30

Figura 8 – Segunda reunião. Fonte: Lilian Martins

Na terceira reunião (Figura 9), já definido que naquele momento somente

estava em condições de atender as exigências/necessidades da CSA a produtora

Silvania Mitsue Amemiya, tratou-se de refinar a planilha de custos da produtora para

definir o valor das cotas de co-produtores em um valor justo, que valorizasse o

trabalho da família produtora.

31

Figura 9 – Reunião da organização com produtores. Fonte: Lilian Martins

Na quarta reunião, em 26 de junho de 2019, realizada na escola Sagrado

Coração de Jesus (Figura 11), foram assinados os compromissos com os produtores

pelo período de um ano, na forma de um “contrato” informal, sem valor jurídico, mas

representando o compromisso daquelas pessoas com os princípios da CSA e com

os produtores, em depositar até o dia 10 de cada mês, o valor correspondente a sua

cota de participação como co-produtores (Figura 10).

32

Figura 10 – Declaração de Compromisso com o Agricultor. Fonte: arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira

33

Figura 11 – Convite aos interessados em fazer parte da CSA. Fonte: arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira; (material desenvolvido por Lilian Martins).

A jornalista Lilian criou o grupo em um aplicativo de celular de mensagens

instantâneas para a equipe de coordenação em 31/05/2019. A equipe, composta por

Lilian Martins, Tania Stoffel, Dirceu A. Coelho, Inez Pereira Feitosa, Paulo José F.

Santos e o casal de produtores Silvania e Fábio, se tornou responsável pelo

desenvolvimento das planilhas, organização da infraestrutura do espaço de

partilha/distribuição dos alimentos, listas de espera de interessados em ser co-

produtores, prestação de contas dos grupos, definição de critérios para participar da

CSA como produtores, realização de visitas técnicas a produtores, definição do tipo

de informação a passar ao grupo geral da CSA, definição de datas para reuniões de

confraternização do grupo, dias de campo, entre outras atividades. Posteriormente

outros co-produtores passaram a compor a equipe. Pela ordem, Marcos H. D Silveira

no início de setembro de 2019, Juliana Ribeirão de Freitas em novembro de 2019,

34

Tulio Souza Cardoso, Willian Kley Carvalho e Israel Dorildo Carlini da Rocha no

início de junho de 2020.

Atualmente existem dois grupos de co-produtores CSA em Rondonópolis,

com pouco mais de 40 famílias em cada um, sendo atendidos por uma única

produtora, Silvania Mitsue Amemiya, seu esposo Fábio e sua família. O grupo 1

partilha os alimentos no espaço da garagem da Casa das Irmãs Catequistas

Franciscanas, nos finais de tardes de quartas-feiras e o grupo 2 no mesmo local e

horário, às segundas-feiras.

O pai da produtora Silvania produziu hortaliças orgânicas em Rondonópolis

por mais de 37 anos, com comercialização de produtos em sua horta (figura 12), que

hoje já se encontra no perímetro urbano, e na Feira da Vila Aurora. Após a sua

aposentadoria, sua filha Silvania, depois de voltar ao país após temporada morando

no Japão, assumiu com sua família a produção das hortaliças, dando continuidade

aos trabalhos de seu pai.

Figura 12 – Vistas da horta da produtora Silvania, em Rondonópolis. Fonte: Lilian Martins

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Trabalham na linha de produção conhecida como agricultura natural,

conforme princípios preconizados por Masanobu Fukuoka, aperfeiçoados e

divulgados no Brasil por Mokiti Okada, ligado à filosofia da Igreja Messiânica. Com

produção livre de adubação mineral de alta disponibilidade (popularmente conhecida

como “adubação química”) e também livre de uso de agrotóxicos e sementes

geneticamente modificadas, além de se apoiar também no uso de energias sutis

como forma de melhorar as condições de produção vegetal saudável.

A primeira partilha de alimentos (Figura 13) pela CSA Rondonópolis

aconteceu no dia 10 de julho de 2019, no espaço da garagem da Casa das Irmãs

Catequistas Franciscanas de Rondonópolis, que têm cedido a área sem qualquer

custo até o momento, sendo um importante apoio para o funcionamento da CSA.

Figura 13 – Primeira partilha CSA Rondonópolis. Fonte: arquivo pessoal de Lilian Martins.

Durante reunião ocorrida em novembro de 2019, na Casa das Irmãs

Franciscanas em Rondonópolis, quando houve uma palestra sobre sistemas

agroflorestais de produção, a produtora Silvania fez um depoimento ressaltando a

importância da CSA para oferecer segurança econômica a sua família, para que

pudesse deixar de depender da feira como espaço de comercialização, no qual

36

muitas vezes levava alimentos que não eram comercializados, e passasse a planejar

a produção sabendo que iria receber a justa remuneração, colhendo somente o que

iria entregar na CSA, sem perdas, permitindo inclusive se capitalizar para realizar

treinamentos e capacitações no sentido de aprimorar-se para utilizar sistemas

agroflorestais na produção de alimentos.

Alguns produtores da região, interessados em atender a CSA, estão em

transição agroecológica e já comercializam parte de sua produção no ponto de

distribuição da CSA.

A Figura 14 apresenta os produtos que fizeram parte da “cesta” de 28 de

agosto de 2019, sendo eles: couve, beterraba, cenoura, alface roxo, pepino,

cebolinha, couve-rábano, acelga chinesa, brócolis, rúcula e hortelã. A cada semana

os co-produtores recebem uma variedade semelhante, mas com os produtos de

cada época. E pagam uma cota mensal, que no primeiro ano foi de R$ 143,00, já

incluídas as taxas de contribuição para a CSA Brasil e um pequeno valor para caixa

da CSA (para custear pequenas despesas eventuais).

Figura 14 – Apresentação dos produtos que compôs a cota do dia 28 de agosto de 2019. Fonte: arquivo pessoal Dr. Marcos H. D. Silveira

37

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da presente revisão possibilitou uma análise de como a

CSA vem se tornando cada vez mais difundida e importante na agricultura familiar,

uma reflexão feita acerca dos princípios, além disso, também permitiu avaliar os

benefícios que essa comunidade trás para os produtores e co-produtores.

De modo geral, os produtores enquadrados na agricultura familiar no

município de Rondonópolis demonstraram interesse em fazer parte de uma CSA e

buscam meios para estarem se enquadrando nessa tecnologia social, mas ainda

possuem algumas dificuldades, como aumentar sua produção para atender a

demanda dos consumidores e também estimular o interesse dos co-produtores em

participar dessa comunidade.

Os participantes (consumidores) das reuniões para a formação da CSA em

Rondonópolis demonstraram interesse em se tonar co-produtores. Atualmente são

cerca de 80 famílias atendidas por uma única produtora semanalmente.

Dada à importância do tema, torna-se necessário o desenvolvimento de

projetos que possam capacitar os produtores com condições e habilidades para

atenderem os requisitos exigidos por esse sistema, produzindo alimentos orgânicos

e o aumento da produção para atendimento de um maior número de famílias.

Nessa perspectiva, a criação da CSA em Rondonópolis permite aos

produtores um avanço na produção de alimentos saudáveis livres de agrotóxicos,

motivando o consumidor/co-produtor a consumir esses alimentos e contribuir para a

difusão e o fortalecimento desse movimento social na região.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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