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Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-graduação em Administração CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE ERNESTO LIMA CRUZ Inovação em Serviço: O caso do AGROAMIGO e os seus efeitos sobre a qualidade de vida da clientela da praça de Caruaru-PE. Recife PE 2012

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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

ERNESTO LIMA CRUZ

Inovação em Serviço: O caso do AGROAMIGO e os

seus efeitos sobre a qualidade de vida da clientela da

praça de Caruaru-PE.

Recife – PE

2012

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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o

acesso a monografias do Mestrado de Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação

em Administração da Faculdade Boa Viagem é definido em três graus:

- "Grau 1": livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);

- "Grau 2": com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência, restrita a

consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;

- "Grau 3": apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o

texto, se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave

ou custódia;

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem as

condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área da administração. ___________________________________________________________________________

Título da Monografia: Inovação em Serviço: O caso do AGROAMIGO e os seus efeitos

sobre a qualidade de vida da clientela da praça de Caruaru-PE.

Nome do Autor: Ernesto Lima Cruz

Data da aprovação: 31 de outubro de 2012.

Classificação, conforme especificação acima:

Grau 1

Grau 2

Grau 3

Local e data:

__________________________________________________

Assinatura do autor

X

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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE

ERNESTO LIMA CRUZ

Inovação em Serviço: O caso do AGROAMIGO e os

seus efeitos sobre a qualidade de vida da clientela da

praça de Caruaru-PE.

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado

em Administração de Empresas da Faculdade

Boa Viagem – FBV, como requisito parcial

para obtenção de título de Mestre em

Administração de Empresas.

Orientador: Prof. James Anthony Falk - PhD

Recife – PE

2012

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Às minhas filhas Bruna, Erika e Ingrid

para que se guiem pelas possibilidades,

apesar dos limites.

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AGRADECIMENTOS

Senhor Jesus, em primeiro lugar a ti, o meu muito obrigado por concluir este importante

projeto em minha passagem nesta vida.

Agradeço aos meus pais, por tudo que investiram em mim e por plantarem na minha

personalidade o espírito de determinação para alcance dos objetivos.

Bem aventurados todos que, comigo, fizeram parte desta turma do mestrado pelos

exemplos de solidariedade, amizade e incentivo para que o outro pudesse fazer sempre o

melhor.

Enalteço o papel fundamental exercido pelo meu orientador, o Professor Doutor James

Falk, que me trouxe dicas valorosas e de maneira competente orientou o presente trabalho.

Dedico um agradecimento especial ao Banco do Nordeste pelo apoio constante e

decisivo, possibilitando-me chegar até aqui.

Ora, injustiça seria deixar de mencionar os amigos de trabalho, testemunhas deste

esforço, e nas pessoas de David Leonel, Débora Espíndola e Keithy Pimentel que faço aqui

representados.

Reconheço o esteio marcante da minha família que soube compreender a dimensão

deste propósito, impulsionando-me mesmo nos momentos nos quais estive ausente dela.

Incondicional foi a participação dos pesquisados, tanto os produtores rurais quanto os

operadores do AGROAMIGO, a quem quero externar de coração minha gratidão pela

colaboração que me ofereceram.

Agradeço, finalmente, mais uma vez a Deus, por me fortalecer todos os dias e me

energizar para outros desafios que pairam no ambiente contínuo da ciência.

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“O único meio de se fazer um grande trabalho

é amando o que você faz.”

(Steve Jobs)

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RESUMO

Este trabalho almeja avaliar os efeitos do programa de microcrédito, AGROAMIGO, criado

pelo Banco do Nordeste em 2005, na qualidade de vida dos clientes na praça de Caruaru-PE,

em decorrência das inovações implementadas pelo referido programa de crédito. Para tanto,

realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa, descritiva e observacional, dentro de um

estudo de caso e com o uso de análise de conteúdo. Utilizou-se, como dados secundários,

documentos do Banco do Nordeste e oficiais da União; e, para coleta de dados primários,

entrevistas com um grupo de clientes do AGROAMIGO de Caruaru, bem como com os

operadores de crédito que lá atuam no início de 2012. Os resultados possibilitaram as

seguintes conclusões: com um perfil humilde de baixa escolaridade em sua maioria, os

clientes tiveram suas necessidades bem atendidas, tendo em vista que todos os pesquisados

solicitaram a renovação do crédito pelo menos uma vez. Além disso, ocorreram diversas

mudanças significativas na vida dos clientes do Programa como aumento de renda e aquisição

de diversos bens para suas casas e famílias. Verificou-se também o caráter inovador do

Programa, que permitiu, com sua metodologia de acompanhamento e visitas, atingir os

objetivos do Banco do Nordeste, bem como um alto nível de satisfação entre os clientes.

Ressalta-se que, embora o termo qualidade de vida seja entendido de modos diferentes entre

os operadores de crédito e os clientes, ambos os grupos concordam que o Programa melhorou

a vida daqueles que obtiveram seu financiamento pelo AGROAMIGO, tornando o Programa

um sucesso.

Palavras chave: Microcrédito. Agroamigo. Satisfação. Qualidade de Vida.

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ABSTRACT

This paper evaluates the effects of the microcredit program, AGROAMIGO, created by the

Bank of the Northeast in 2005, on the quality of life of the clients in the city of Caruaru-PE, in

consequence of the innovations implemented in the referred program of credit. For this, it

executed a descriptive research of qualitative and observational nature, by means of a case

study of credit users and agents, with content analysis performed on the data collected. It

utilized, as secondary resources of data, official documents of the Bank of the Northeast and

of the Union; and, as a primary source, interviews with a group of AGROAMIGO clients

from the city of Caruaru, as well as the credit agents who have been working in the Program

since the beginning of 2012. The results enabled the following conclusions: although the

majority of the clients have a humble profile of decreased schooling, their needs were well

attended by the Program, taking into mind that everybody researched requested a credit

renewal at least once during the study period. Besides that, diverse significant changes

occurred in the life of the clients of the Program with an increase in income and the

acquisition of diverse goods for their houses and families. The study also helped verify the

innovative character of the Program by completely satisfying, with its methodology of

accompaniment and household visitations, the objectives of the Bank of the Northeast, as well

as demonstrating a high level of client satisfaction. Although the term “quality of life” was

expressed differently among the credit agents and the clients, both groups agreed that the

Program improved the life of those that obtained financing by means of the AGROAMIGO,

thus showing the Program to be a success.

Keywords: Micro-credit. Agroamigo. Satisfaction. Quality of Life.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

1 O triângulo do serviço 30

2 Os três tipos de lógica de serviço 31

3 Serviços e produtos dentro de um sistema de características e competências 44

4 O Ponto de Vista Ortodoxo do Enfoque da Avaliação de Impacto 72

5 Pirâmide de Maslow 76

6 Mapa de Caruaru 80

7 Serviços e produtos dentro de um sistema de características e competências –

PROGRAMA AGROAMIGO 114

Gráficos

1 Participação do PIB do agronegócio familiar e patronal no PIB do Brasil 53

2 Quantidade de Desembolsos e Aplicações do CREDIAMIGO – 2001 a 2011 60

3 Distribuição dos clientes entrevistados por localidade 94

4 Clientes entrevistados, por grupo de participação 95

5 Faixa etária dos clientes pesquisados 96

6 Grupos de clientes segundo o nível de escolaridade 99

7 Atividades dos clientes entrevistados 101

8 Como os clientes aprenderam a atividade 102

9 Quantidade de renovação do crédito 103

10 Renda extra dos clientes do PROGRAMA AGROAMIGO 104

11 Ranking das melhorias na qualidade de vida elencada pelos clientes 110

12 Comparativo entre os fatores mais importantes do conceito de qualidade de

vida entre clientes e operadores do PROGRAMA AGROAMIGO 122

Quadros

1 Definições sobre Serviços 24

2 Classificação das Atividades de Serviços 26

3 Definição da ONU para a Classificação de Serviços 27

4 Linhas de Crédito Oferecidas pelo PRONAF 50

5 Juros cobrados pelo PRONAF 52

6 Indicações Históricas de Iniciativas de Microcrédito 55

7 Contingente de Coordenadores e Assessores do INEC para o AGROAMIGO –

dez/2010 65

8 Comparativo de Inovações entre o AGROAMIGO e o PRONAF B 66

9 Definições sobre Avaliação de Impacto 71

10 Referências Históricas sobre Qualidade de Vida 74

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LISTA DE TABELAS

1 Tipo de negócio por localizade de atuação dos clientes entrevistados 95

2 Estado civil dos clientes entrevistados 97

3 Quantidade de membros da Família 97

4 Escolaridade por grupo de clientes, ranqueado pelo total geral 99

5 Frequência dos últimos valores solicitados pelos clientes 104

6 Renda extra do cliente por tipo de negócio 106

7 Classificação do discurso dos clientes, segundo as respostas sobre mudanças na

vida após o PROGRAMA AGROAMIGO 109

8 Constituintes do conceito de Qualidade de Vida para os Operadores do

PROGRAMA AGROAMIGO 121

9 Constituintes do conceito de Qualidade de Vida para os Clientes do

PROGRAMA AGROAMIGO 121

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................... 14

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................. 14

1.2 PERGUNTA DA PESQUISA ................................................................................... 19 1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ...................................................................................... 19

1.3.1 Geral ....................................................................................................................... 19 1.3.2 Específicos .............................................................................................................. 19

1.4 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................... 20

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................. 22

2.1 Os Diferentes Enfoques para o Conceito de Serviços ............................................... 24 2.2 A RELAÇÃO DE SERVIÇOS EM DESTAQUE ..................................................... 28 2.3 O VALOR DO SERVIÇO ......................................................................................... 33

2.4 A INOVAÇÃO NOS SERVIÇOS ............................................................................. 37 2.4.1 Inovação e o seu Conceito nos Serviços ............................................................. 37 2.4.2 A abordagem Tecnicista ..................................................................................... 40 2.4.3 A Abordagem orientada para serviço ................................................................. 41

2.4.4 Abordagem Integradora ...................................................................................... 43 2.5 O PRONAF ............................................................................................................... 47

2.6 O AGROAMIGO ...................................................................................................... 54 2.6.1 As raízes ............................................................................................................. 54 2.6.2 A inspiração ........................................................................................................ 59

2.6.3 O formato para o mercado .................................................................................. 61 2.6.3.1 Público-Alvo ............................................................................................... 63

2.6.3.2 Objetivos ..................................................................................................... 63 2.6.3.3 Modalidades ................................................................................................ 64

2.6.3.4 Finalidade dos Financiamentos ................................................................... 64 2.6.3.5 Estrutura de Atendimento e Área de Abrangência ...................................... 64 2.6.3.6 Metodologia de Atendimento ...................................................................... 66

2.6.3.6.1 Abertura de Área ..................................................................................... 67

2.6.3.6.2 Mapeamento do Mercado ....................................................................... 67 2.6.3.6.3 Promoção e Palestra Informativa ............................................................ 68 2.6.3.6.4 Elaboração e Formalização da Proposta ................................................. 68 2.6.3.6.5 Aprovação da Proposta de Crédito e Contratação .................................. 68 2.6.3.6.6 Desembolso do Crédito ........................................................................... 69

2.6.3.6.7 Administração do Crédito ....................................................................... 69 2.6.3.6.8 Renovação do Crédito e Acesso a Novos Produtos Financeiros ............ 69

2.6.3.6.9 Limites, Encargos Financeiros e Fonte de Recursos .............................. 70 2.7 QUALIDADE DE VIDA .......................................................................................... 70

3. METODOLOGIA DA PESQUISA ............................... 79

3.1 O MUNICÍPIO DE CARUARU NO ÂMBITO DA PESQUISA ............................. 79 3.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ......................................................................... 82

3.2.1 Estudo de Caso ................................................................................................... 83 3.2.2 Coleta de dados ................................................................................................... 85

3.2.2.1 Entrevistas ................................................................................................... 85 3.2.2.2 Observação Direta ....................................................................................... 88

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3.2.2.3 Análise de documentos................................................................................ 88 3.3 MÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS .................................................................. 89

3.3.1 Análise de Conteúdo ................................................................................................ 89 3.3.2 Estatística Descritiva ............................................................................................... 91

4. RESULTADOS ............................................................... 93

4.1 Mudança de Vida percebida pelos Entrevistados .................................................... 108 4.2 Descrição do Programa como Inovação .................................................................. 112 4.3 As Expectativas do PROGRAMA AGROAMIGO previstas pelo Banco do Nordeste

................................................................................................................................. 115

4.4 Qualidade de Vida Visto pelos Dois Lados ............................................................. 120

CONCLUSÃO .................................................................... 126

REFERÊNCIAS................................................................. 131

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevistas - Clientes do

AGROAMIGO na Praça de Caruaru .............................. 135

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevistas - Clientes do

AGROAMIGO na Praça de Caruaru .............................. 136

APÊNDICE B – Roteiro de Entrevistas – Operadores do

AGROAMIGO na Praça de Caruaru .............................. 138

APÊNDICE C - Protocolo para Estudo de Caso ............. 140

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INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

No mundo hodierno tem se verificado um comportamento curioso em relação ao setor

terciário da economia, onde estão inseridos serviços como os de distribuição (transporte e

armazenamento; comércio atacadista; e comércio varejista) e os de produção (comunicação;

financiamento, seguros e leasing; e serviços pedagógicos). Tais atividades têm apresentando

um perfil de contribuição interessante no Produto Interno Bruto (PIB) de uma parcela

significativa de países, especialmente os de alta renda, como no caso dos Estados Unidos,

Japão e Canadá, em cujo grupamento, do qual fazem parte, o percentual de participação

passou de 59%, em 1980, para 64%, em 1999 (KON, 2004).

No Brasil, segundo os dados disponibilizados na Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009),

56,3% do PIB apurado em 2008 veio do setor terciário.

Analisando o nível de empregos no ano de 2002, nas diversas áreas econômicas,

percebe-se, por exemplo, que o setor de serviços era responsável por 77,1% dos empregados

formais da Austrália, 80,1% na Suécia, 88,8% nos Estados Unidos e 78,2% no Japão (KON,

2004).

De acordo com a Pesquisa Anual de Serviços (PAS), do IBGE (2009a), o pessoal

ocupado no âmbito dos serviços, dentro dos critérios ali admitidos, equivalia, em 2008, a

65,9% do contingente de trabalhadores do Brasil, abrangendo uma massa salarial de R$128,1

bilhões. Isto, além de mostrar um significativo poder de consumo para o mercado, suscita

interesse quanto às vinculações, em suas diferentes facetas, que esse importante bloco da

economia pode ter perante a sociedade, em especial no tocante às inovações, aspecto de

investigação deste estudo.

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Não há ainda cabedal expressivo de pesquisas voltadas para o setor de serviços, talvez

por um erro particular de avaliação ao considerá-lo incapaz de gerar conhecimento,

tecnologias e inovações.

Destarte, existem posicionamentos discordantes pertinentes à capacidade de o setor de

serviços gerar inovações a partir de suas hostes. Nesse sentido, uma maioria acredita que as

inovações incorporadas a esse segmento de atividades são frutos de esforços exógenos, com

base no processo de difusão vinculado à indústria e, por conseqüência, se transformariam em

inovações incrementais no campo dos serviços, conforme delineado por Vargas e Zawislak

(2006).

Na verdade, o que se observa é uma imbricação entre os bens produzidos pela indústria

e os serviços que a eles podem ser agregados, como resultado de um tom estabelecido pela

nova economia. Ao contrário do passado, no qual os serviços alavancavam os bens

possibilitando sua colocação além-fronteiras (ex.: estocagem e transporte para venda dos

produtos em momentos econômicos favoráveis), o pós-indústria enfatiza um caráter de

complementaridade entre ambos. Esse panorama mais moderno pode ser claramente

enxergado quando alguns bens se transformam em commodities1 e necessitam dos serviços

para terem saída via Bolsa de Mercadorias & Futuros ou serviços de comércio exterior,

realizados por instituições bancárias, por exemplo, obrigando os agentes produtivos que se

concentram em produção a rever sua cadeia de valor (BERNARDES, 2007).

Essa simbiose entre produtos (bens) e serviços também pode ser visualizada dentro da

indústria financeira, onde se inserem os Bancos, senão veja-se o que aduz Facó e Simantob

(apud BARBIERI; SIMANTOB, 2009, p. 36-37) a esse respeito:

É prática do mercado falar sobre produtos e serviços bancários, vez por outra os

tratando como coisas distintas, outras vezes com o mesmo sentido. Produtos e

1 Commodities: mercadorias, no sentido de grandes produtos, produtos primários, como café, algodão, açúcar, metais não ferrosos etc,

geralmente transacionados em bolsa de valores.

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serviços são comumente diferenciados pela argumentação de que aqueles são

constituídos por bens tangíveis, e os serviços são, em geral, intangíveis. Os produtos

por terem uma existência material podem ser estocados para uso ou consumo futuro,

enquanto os serviços não são estocáveis e, por isso, se não forem consumidos no

momento em que são disponibilizados, perdem-se para sempre.

Ganha força, desse modo, o conceito de pacote de valor por levar em conta que tanto

os bens tangíveis quanto os serviços dão esteio ao atendimento do que o cliente deseja.

Assim, continuam Facó e Simantob (apud BARBIERI; SIMANTOB, 2009, p. 36-37) ao

exemplificar que:

Os serviços bancários exigem bens físicos, como formulário em papel, instalações,

terminais de computadores, espaço para circulação de pessoas e outros bens

tangíveis que dão suporte ou facilitam as atividades de serviço propriamente ditas e

que se realizam por meio de relacionamentos pessoais, como prestação de

informações, de auxílio sobre decisões sobre investimento e muitas outras

necessárias para a consecução de um serviço bancário.

Tal constatação, longe de se restringir apenas aos estabelecimentos bancários, aplica-se

também a outros ramos da economia, como citado anteriormente no caso das “commodities”.

O pacote de valor desmistifica, no caso dos Bancos, a ideia de que nesse setor não se

pode inovar além da área de tecnologia da informação, seja em termos da utilização de

hardwares, seja por meio do desenvolvimento ou aquisição de softwares para dar mais

agilidade, economizar custos e diminuir os riscos das operações de serviços inerentes ao setor.

Nesse prisma, fica mais encorpada a quinta das ondas de inovação vivenciadas em suas

atividades, desde os anos 1960, as quais são mencionadas por Facó e Simantob (apud

BARBIERI; SIMANTOB, 2009, p. 36-37, p. 47-51), a saber:

1ª. Automação do “back-office2” (década de 1960) - as atividades de

retaguarda, como a contabilidade, eram realizadas em Centros de

Processamento de Dados (CPDs), a partir do material fornecido pelas agências,

onde eram processadas em mainframes, e os dados devolvidos a esses pontos

2 Back Office: atividades/funções realizadas internamente à empresa, sem contato direto com os clientes. (BARBIERI; SIMANTOB, 2009).

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de atendimento ao cliente, devidamente atualizados. Os custos operacionais

foram reduzidos, já que o trabalho manual passou a ser realizado por

computadores;

2ª. Automação das Agências ou ”front-office3” (início da década de 1970) –

os caixas das agências foram automatizados, bem como adotado um modelo de

processamento de dados distribuído, cujas atividades do back-office, passaram

a ser efetivadas nas agências. Houve a interligação desses terminais de caixa e,

pela primeira vez, o cliente pôde sentir o benefício da inovação;

3ª. Automoção fora das agências – com o aparecimento das redes de ATMs

(Automated Teller Machines), disponibilizados em locais públicos, a fim de

que os clientes pudessem, eles próprios, realizar algumas das transações de seu

interesse, permitindo melhor nível de conveniência ao cliente e otimização nas

operações internas dos bancos;

4ª Internet banking – possibilitou ao cliente realizar as transações de seu

interesse remotamente com o Banco a partir de seu próprio domicílio com

segurança e conforto;

5ª Parceria de Distribuição – diz respeito ao momento atual, e tem a ver com

a intenção estratégica dos bancos de expandir sua plataforma de clientes

tradicionais. Isso, estabelecendo um foco de suas ações em prol daqueles

potenciais clientes situados na base da pirâmide social, considerando a

premissa de que aqueles detentores de média e alta renda já se encontram

suficientemente atendidos.

Dessa maneira, alcançar um cliente de baixa renda de modo eficiente e eficaz, com o

intuito de trazê-lo para sua carteira de relacionamento de negócios, num mercado altamente

3 Front-office: atividades/funções realizadas na empresa em contato direto com os clientes. (BARBIERI; SIMANTOB, 2009).

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competitivo como é o bancário, exige uma combinação de competências por parte das

instituições que desejam chegar à frente de seus concorrentes e adotar uma postura

vanguardista. Enfim, requer que os esforços afluam para a inovação em seu campo de

atuação, como é o de serviços, no caso do Banco do Nordeste do Brasil S/A.

Sem contemplar fortemente em sua estrutura básica a tecnologia intensiva, o

AGROAMIGO se constitui num serviço de importante repercussão perante sua clientela por

encampar uma metodologia de atendimento diferenciada, cuja força da inovação está na

relação de serviço. Os pressupostos deste fato serão adiante apresentados na parte teórica da

pesquisa em destaque, mas sem prejuízo da referência a outros modelos defendidos na

comunidade científica e que igualmente abordam a questão da inovação nos serviços

(BANCO DO NORDESTE, 2011).

Revestindo-se da característica de um financiamento, o AGROAMIGO foi concebido,

oficialmente, em 2005, pelo Banco do Nordeste, para atender ao segmento mais pobre dos

produtores rurais, isto é, os microempreendedores rurais no âmbito do Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar – Grupo B, porém conectado com as políticas

públicas do Governo Federal do Brasil de combater a pobreza e erradicar a miséria no país.

Assim, de acordo com o Relatório Agroamigo 2010 (BANCO DO NORDESTE, 2011),

o programa é essencialmente direcionado para o desenvolvimento da Região Nordeste do

Brasil, Norte de Minas Gerais e do Espírito Santo. Cabe, dentro de sua roupagem inovadora,

fazer com que sua ação transforme a realidade de seu público-alvo para melhor, razão por que

seus efeitos na qualidade de vida de tais pessoas foram pesquisados.

A partir dessas indicações, julgou-se oportuno que tal verificação fosse realizada em

uma praça dinâmica do nordeste brasileiro, em termos econômicos, e de reconhecida

importância sociocultural, tendo a escolha recaída sobre o município de Caruaru, no Estado de

Pernambuco. Com isso, pode-se analisar a repercussão do apoio do AGROAMIGO perante

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diferentes segmentos de atividades exploradas pelos microempreendedores rurais,

especialmente numa comparação entre o que é ou não originariamente do setor agropecuário.

1.2 PERGUNTA DA PESQUISA

Uma vez expresso o contexto e, consequentemente, a noção do que se pretende

desenvolver neste trabalho científico, a pergunta de pesquisa que se procura responder é: Que

efeitos o AGROAMIGO do Banco do Nordeste provocou na qualidade de vida dos

clientes da praça de Caruaru-PE? A investigação de tal indagação tem como ponto de

partida a introdução de uma nova forma de financiar iniciativas empresariais presentes no

ambiente agropecuário, voltada especificamente para a classe de produtores rurais com o

menor nível de renda, tendo como esteio uma pesquisa de natureza qualitativa, respaldada em

um estudo de caso, cujo delineamento e respectiva conclusão se encontram expostos em

tópicos específicos deste trabalho.

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

1.3.1 Geral

Analisar os efeitos na qualidade de vida dos clientes pesquisados e atendidos pelo

PROGRAMA AGROAMIGO na praça de Caruaru-PE, em decorrência das

inovações implementadas pelo referido programa de crédito.

1.3.2 Específicos

Estabelecer o perfil empreendedor dos clientes do AGROAMIGO, na praça de

Caruaru-PE;

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Mensurar o nível de satisfação dos beneficiários em relação ao apoio oferecido

pelo referido programa de crédito dentro desse novo modelo de prestação de

serviço;

Descrever as mudanças ocorridas nos produtores rurais, levando em conta a

percepção destes, especialmente por grupo de participação e tempo de

permanência como público-alvo desse tipo de financiamento;

Identificar os aspectos que determinam o AGROAMIGO como uma inovação no

campo dos serviços bancários, conforme a abordagem proposta por Gallouj

(2002), de integração entre produto e processo;

Verificar o grau de alcance das expectativas definidas pelo Banco do Nordeste

pertinente ao Programa de Crédito em destaque, a partir da opinião dos atores que

o operam na praça de Caruaru-PE;

Comparar o conceito de qualidade de vida apresentado pelos participantes e

aquele visualizado por parte dos operadores.

1.4 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho é motivado e justificado como uma forma de contribuir para o rol

de pesquisas que envolvem a inovação em termos de serviços bancários, porém considerando

dois eixos principais.

No primeiro deles, de natureza teórica, evidenciam-se algumas abordagens que têm

surgido como reflexo da economia pós-industrial, caracterizada pelo crescimento perene dos

serviços frente às atividades agropecuárias e industriais.

Nesse sentido, procura-se vislumbrar a ligação que uma delas, no caso a Integradora,

possui no ambiente de atuação das Instituições Financeiras, por serem entidades que se

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encontram imersas em um mercado altamente competitivo e que lhes obrigam a se renovar

constantemente no tocante às suas estratégicas de negócios. Tal característica representa um

campo favorável para que se mostre a validade do mencionado modelo, como pretende o

trabalho em destaque, além de rechear a academia com novos conhecimentos, mas sem

prejuízo ao fomento a outras discussões a respeito.

No eixo da prática, o estímulo advém da possibilidade de se evidenciar o potencial que

tem as inovações, cujos esforços não devem se limitar apenas ao viés tecnológico, como

poderia ensejar uma pesquisa na área de bancos. Por essa razão, aqui se realça uma alternativa

com esteio na “Relação de Serviço” e na junção entre “Produto∕Processo”, buscando, por

exemplo, a satisfação do cliente mediante o contato direto com este.

Referidas características estão na espinha dorsal do AGROAMIGO, cujas noções já

foram expostas anteriormente, pois se trata de um programa de financiamento inédito no

Brasil, criado em 2005, possuindo um desenho operacional singular com vistas a atender os

agricultores familiares sob a forma de microcrédito rural.

Uma iniciativa de tal envergadura possibilitou a curiosidade em buscar examinar que

efeitos provocam na qualidade de vida do seu público-alvo, especialmente na trilha do bem

estar das pessoas. Para tanto, tomou-se por base a experiência vivenciada em uma das praças

mais dinâmicas do interior do Estado de Pernambuco, no caso o município de Caruaru.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao longo da história alguns aspectos contribuíram para relegar a atividade de prestação

de serviços a um segundo plano, embora seja patente a sua importância para a geração de

produtos nacionais e de empregos na era contemporânea.

Dados estatísticos comprovam que essa ideia vem sendo combalida de forma paulatina,

como se percebe em países desenvolvidos como a França, por exemplo, onde atualmente

cerca de 70% da riqueza e do emprego produzidos são decorrentes do setor de serviços,

segundo Gallouj (2002).

É bem verdade que alguns mitos pairam ao atribuir um menor grau de importância ao

segmento dos serviços, reputando-o como uma atividade residual, detentor de baixa

produtividade/intensidade de capital e celeiro de servidores sem qualificação.

Do observado na literatura científica, de acordo com Kon (2004), percebe-se que o mito

de atividade residual tem seu nexo ainda no pensamento econômico dos economistas

clássicos, na figura principal de Adam Smith, ao estabelecer uma dicotomia entre o trabalho

produtivo da manufatura e o improdutivo da área dos serviços. Contudo, já nesse campo de

estudo, posições mais avançadas por parte de Say4 e Schumpeter

5 concorreram para uma

melhor compreensão da importância que a atividade de serviços tem para economia como um

todo. Para eles, o problema está, se bem analisado, decorrente muito mais da dificuldade de se

apurar consistentemente o valor dessa atividade dentro do Produto Interno Bruno (PIB), ao

invés de estimá-lo, após a contagem da riqueza proveniente da agricultura e do comércio

(KON, 2004).

4 Jean Baptiste Say (1767-1832), economista clássico francês, seguidor de Adam Smith, que nasceu em Lyon; inventou a lei dos mercados

(Lei de Say): toda oferta cria a sua própria demanda; esta lei é uma das bases de toda a teoria econômica clássica da produção e,

teoricamente, elimina toda a intervenção governamental na economia. (CORECON-RJ, 2012) 5 SCHUMPETER, Joseph Alois (1883-1950), Economista Austríaco, nacionalizado americano, foi um erudito da história do pensamento

econômico e um dos mais prestigiados e influentes economistas do século vinte. Estudou os ciclos e os sistemas econômicos. Embora seus

professores (Böhn-Bawerk) pertencessem à escola austríaca, ao longo de sua vida evoluiu e se tornou keynesiano. Ao final de sua vida, influenciado pelo marxismo, predisse a queda do sistema capitalista e sua virada ao socialismo. (CORECON-RJ, 2012a)

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Por seu turno, Gallouj (2002) em análise mais recente considera que essa percepção dos

serviços como de natureza remanescente no tocante à indústria está associada a um viés ainda

propalado no terceiro mundo.

Com referência ao mito da baixa produtividade e baixa intensidade de capital o que se

pode notar é um problema de como medir a produtividade em um segmento com feições

heterogêneas como é o de serviços, cujos modelos de apuração não podem ser os mesmos

adotados na manufatura.

Por possuir características peculiares, torna-se complexo se chegar a um produto do

serviço, necessitando-se de metodologias apropriadas que possibilitem a criação de

parâmetros adequados para mensuração de uma produtividade. Como medir a produtividade

do serviço prestado por um consultor, diante da diversidade de ramos de atuação? Em função

das horas trabalhadas? Do número de relatórios produzidos? De casos de sucessos resultantes

de sua atuação? Isso requer cuidados na consideração das especificidades, pois numa análise

de produtividade nos serviços sem levá-las em conta, corre-se o risco de cair no Paradoxo de

Solow, segundo o qual mesmo com esforços voltados para avanços tecnológicos,

especialmente de capital investido, não se obtém produtividade correspondente (GALLOUJ,

2002). Assim, um escritório de advocacia pode carrear recursos para a compra de hardwares e

softawares os mais modernos possíveis, mas tais atributos têm função de apoio e podem não

se transformar em produtividade, sendo isso reputado, numa visão industrialista, como atitude

improdutiva.

O último dos mitos vincula-se ao fator trabalho, onde os que labutam no setor de

serviços fariam parte de uma “Sociedade de Servidores”, exercendo atividades periféricas e

possuidores de baixo nível de qualificação técnica.

Conquanto se constate o exercício profissional na área dos serviços por mão-de-obra

carente de melhor nível intelectual, a exemplo de serventes e trabalhadores braçais, também é

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notório o crescimento de ocupações que envolvem a necessidade de conhecimentos

especializados e de alta capacidade cognitiva, como médicos, engenheiros, pesquisadores etc

(GALLOUJ, 2002; 2002a).

Esses mitos, se por um lado fomentam o equívoco de se atribuir um caráter de

coadjuvante às atividades de serviços, por outro, robustece o ímpeto da comunidade

acadêmica em buscar evolução para a teoria da inovação nos serviços.

2.1 Os Diferentes Enfoques para o Conceito de Serviços

Existem diversas acepções para conceituar e entender os serviços, sendo umas mais

fundamentadas e outras baseadas na sabedoria convencional como citado por Barbieri e

Simantob (2009, p. 24) ao mencionar dois aspectos para sua definição:

Primeiro, o produto ou resultado de uma atividade de serviço é intangível, abstrato e

não pode ser estocado, contrastando com um bem manufaturado, que é tangível,

pode ser armazenado e contabilizado em estoque. (...) Segundo, a produção e o

consumo do serviço tendem a ocorrer de maneira interativa.

Referidos autores colocam em evidência características que predominam no ambiente

de estudo em relação aos serviços, ou seja, a intangibilidade e a perecibilidade, o que está em

sintonia com a definição de outros estudiosos, conforme noção apresentada no Quadro 1, a

partir da revelação de Fitzsimmons e Fitzsimmons (2011, p. 26):

Quadro 1 – Definições sobre Serviços

Zeithami e Bitner Os serviços são atos, processos e o desempenho de ações.

Gronross

Serviço é uma atividade ou série de atividades de natureza mais ou menos intangível que

normalmente, mas não necessariamente, ocorre em interação com os consumidores e

empregados de serviços e/ou recursos físicos ou bens e/ou sistemas do fornecedor de

serviços, que são oferecidos como soluções para os problemas do consumidor.

Lavelock e

Wright

Os serviços são atividades econômicas oferecidas por uma parte a outra, considerando

freqüentemente desempenhos com base em um período de tempo para provocar resultados

desejados nos próprios usuários, em objetos ou em outros bens pelos quais os

compradores são responsáveis. Em troca pelo seu dinheiro, tempo e esforço, os clientes de

serviços esperam obter valor com o acesso a bens, mão de obra (...); mas normalmente

eles não possuem nenhum dos elementos físicos envolvidos.

Fitzsimmons J. Um serviço é uma experiência perecível, intangível, desenvolvido para um consumidor

que desempenha o papel de coprodutor.

Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em Fitzsimmons e Fitzsimmons (2011).

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Outras características como a simultaneidade e heterogeneidade, quando agregadas às

anteriores, marcam uma distinção especial entre os serviços e os bens, motivo pelo qual se

exibe a seguir um relato do que significam para Fitzsimmons e Fitzsimmons (2011, p. 42-44):

Heterogeneidade: significa a variabilidade inerente aos serviços, cuja

padronização é algo dificultoso de se estabelecer. Ex.: serviços de consultoria;

Intangibilidade: guarda consonância com o fato de os serviços não serem

palpáveis como acontece com os bens. Os clientes percebem os seus efeitos, mas

não pode tocá-los ou possuí-los. Ex.: serviços prestados por uma distribuidora de

energia;

Perecibilidade: reflete a impossibilidade de estoque do serviço, em razão de serem

produzidos e consumidos ao mesmo tempo, particularidade que pode implicar

perda ou não de uma oportunidade. Ex.: serviços prestados por companhias aéreas

ou hotéis, em relação a poltronas e ocupação de quartos, respectivamente;

Simultaneidade: diz respeito à questão de os serviços serem consumidos no

mesmo instante da sua produção. Ex.: concessão de empréstimo a um cliente, por

um banco ou empresa financeira.

Num outro diapasão Fitzsimmons e Fitzsimmons (2011, p. 45) evocam a figura do

pacote de serviço, “como um conjunto de mercadorias e serviços que são fornecidos em um

ambiente (...) tem as seguintes características: Instalações de apoio; Bens facilitadores;

Informações; Serviços Explícitos; e Serviços Implícitos”.

E em continuidade, alicerçam seus pensamentos ao citar que “todas essas características

são notadas pelo cliente e formam a base para sua percepção de serviço” Fitzsimmons e

Fitzsimmons (2011, p. 45), exemplificando um hotel econômico:

A instalação de apoio é uma construção de concreto com móveis austeros. Bens

facilitadores são reduzidos de um mínimo, como sabonete e papel higiênico.

Informações sobre a disponibilidade de quarto que são usadas para se fazer uma

reserva. O serviço explícito é uma cama confortável em um quarto limpo, e os

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serviços implícitos podem incluir um atendente prestativo e a segurança de um

estacionamento bem iluminado (2011, p. 46).

De forma adicional, põem-se em luz, no Quadro 2, outras classificações que baseiam a

compreensão do que sejam os serviços, conforme a seleção em Kon (2004, p. 30-31):

Quadro 2 – Classificação das Atividades de Serviços

Com base na Produção

Fisher-Clark

(1935/1940)

. Primário (agricultura e mineração)

. Secundário (manufatura)

. Terciário (resíduo)

Fuchs

(1975)

. Primário (agricultura, criação de gado e pesca)

. Não primário (transporte, comércio e financeiro

Banco Mundial

(1980)

. Primário (agricultura e mineração)

. Secundário (manufatura, mineração, construção de

utilidade pública compostos por serviços públicos

de provisão de gás, eletricidade e água

. Terciário (resíduo)

Com base na Função

Foot e Hatt

(1953)

. Terciário (restaurantes, hotéis, reparação e

manutenção, lavanderia)

. Quaternário (transportes, comunicações, comércio,

financeiros)

. Quinário (saúde, educação, recreação

ONU

(1968)

. Comércio, alojamento e alimentação

. Transportes e comunicações

. Atividades financeiras, bens imóveis e serviços de

empresas

. Serviços comunitários, sociais e pessoais.

Katouzian

(1970)

. Serviços complementares (financeiros, transportes,

comércio)

. Serviços novos (saúde, educação, entretenimento

. Serviços antigos (domésticos)

Com base no Consumo

Singer

(1981)

. Serviços às empresas

. De consumo coletivo

. De consumo individual

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Kon (2004).

Essas tipologias são utilizadas com alguns objetivos específicos, a exemplo da primeira

delas, sistematizada por Fisher-Clark, cuja maior parte dos dados estatísticos mundialmente

disponibilizados nela se apoia, embora sem um detalhamento em sua composição (KON,

2004, p. 31).

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Para a análise do caso brasileiro foi proposta a classificação de Singer (1981), que tem

sua atenção voltada para o consumo e não para o método de produção. A propósito, “das

classificações anteriores, apenas a de Singer, por ser mais recente tem a preocupação de

incorporar alguns aspectos diversos relacionados à relação produtor/consumidor” (KON,

2004, p. 31).

Já a Organização das Nações Unidas (ONU), no intuito de estabelecer uma

compatibilidade Internacional, utiliza, nos dias atuais, a classificação da Standard Industrial

Classification (ISIC), segundo disposto no Quadro 3 de Kon (2004, p. 32):

Quadro 3 - Definição da ONU para a Classificação de Serviços

Classe Composição

Serviços distributivos

Incluem a distribuição física de bens (comércio

atacadista e varejista,), a distribuição de pessoas e

cargas(transportes) e a distribuição de informação

(comunicações).

Serviços sem fins lucrativos

Constituem serviços da Administração Pública e outras

organizações como sindicatos, templos religiosos,

instituições assistenciais, clubes.

Serviços às empresas

Constituídos por serviços intermediários para os

demais setores, nos quais se incluem as atividades

financeiras, serviços de assessoria legal, contábil, de

informática e outras, e corretagem de imóveis.

Serviços ao consumidor

Consistem em uma gama ampla de serviços sociais e

pessoais oferecidos a um indivíduo, na maior parte

para ressaltar a qualidade de vida, como os serviços de

saúde, ensino, restaurantes, serviços de lazer e outros

pessoais e familiares.

Fonte: ONU (1968).

Diante das várias conotações anteriormente expostas e considerando as dinâmicas

econômicas contemporâneas, permitindo o aumento do poder aquisitivo das pessoas e fazendo

com que a sociedade aumente o grau de exigência em relação às suas necessidades, não é

temerário afirmar que o conceito sobre serviços está na mira do aprimoramento, como de

forma subliminar asseveram Fitzsimmons e Fitzsimmons:

À medida que a renda de uma família aumenta, o percentual gasto em alimentação e

bens duráveis decai, enquanto o consumo de serviços, que reflete o desejo de uma

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vida mais confortável, aumenta. Tal fenômeno é análogo à hierarquia de

necessidades de Maslow, que afirma que, uma vez satisfeitas as necessidades básicas

de alimentos e abrigo, as pessoas buscam os bens físicos e, finalmente,

desenvolvimento pessoal (...). As experiências criam valor agregado ao envolver e

estabelecer uma relação com o consumidor de uma maneira pessoal e memorável

(...) nos fazemos a transição de uma economia de serviços para a economia da nova

experiência (FITZSIMMONS e FITZSIMMONS (2010, p. 30)

Independentemente da área de conhecimento, essa é uma tendência, conforme se extrai

das palavras de Kon:

O termo serviços é entendido de maneira bastante diversa de acordo com o contexto

de análise, e as tipologias desenvolvidas com base nesses diferentes enfoques

apresentam diversidades básicas que continuam sendo motivo de polêmicas

encontradas na literatura mais recente sobre o tema. (2004, p. 31-32).

Assim, ainda não há um consenso conceitual acerca dos serviços, mas não se pode negar

que seus pilares teóricos estão em evolução, possibilitando análises consistentes, a depender

do foco escolhido para tal.

2.2 A RELAÇÃO DE SERVIÇOS EM DESTAQUE

Um ponto de grande importância para os serviços é o aspecto relacional que engendra

em suas dinâmicas. Tal característica concorre para unir direta e simultaneamente prestador e

o cliente, evidentemente em maior ou menor grau, a depender do que se quer solucionar em

termos de problema.

Salerno (2001, p. 17) em alusão a essa temática comenta que “genericamente, relações

de serviço poderiam ser concretizadas como modalidades de interconexão entre os prestadores

de serviço e os clientes a propósito da resolução do problema pelo qual o cliente se dirige ao

prestador”.

Como se nota, esse autor imprime um caráter abrangente à relação de serviço, mas para

sinalizar que esta dá conta da dicotomia indústria-serviços, colocando em evidência a

intensidade das relações e interações entre as personagens da oferta e da demanda, já que elas

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contribuiriam em patamares diferenciados para a obtenção de serviços e respectivas

utilidades.

Tem-se, contudo, a necessidade de evoluir nessa abordagem em razão do imperativo em

estabelecer mais adiante as ligações que a teoria tem para com o objeto deste trabalho. No

caso o AGROAMIGO, é o financiamento operado pelo Banco do Nordeste do Brasil S∕A, um

serviço que, em seu processo de inovação, embute um forte componente de relação entre

prestador e cliente, por isso possuindo também um valor para quem se destina.

Assim colocado, parte-se da definição dos serviços de Peter Hill que diz:

Um serviço pode ser definido como uma mudança na condição de uma pessoa ou de

um bem pertencente a um agente econômico, que vem à baila como resultado da

atividade de outro agente econômico por acordo prévio, ou seja, solicitação da

pessoa ou agente econômico anterior (1977, apud SALERNO, 2001, p. 31).

Malgrado os esforços de Hill (1977, apud SALERNO, 2001) com vistas a amarrar o

caráter relacional no contexto de crescimento da atividade de serviços, essa definição, levada

ao pé-da-letra poderia acarretar problemas ao não distinguir uma atividade puramente

industrial da prestação de serviços:

Ela implica, logicamente, considerar os empregados de uma empresa (industrial ou

de serviços), recrutados para transformar bens pertencentes aos detentores do capital

dessa empresa, como prestadores de serviços (...) não é coerente com as

classificações contemporâneas dos serviços” (GADREY, 2001 apud SALERNO,

2001, p. 32)

Rompendo essa barreira e na tentativa de aperfeiçoar a definição de Hill (1977, apud

SALERNO, 2001), surgiu o modelo do “Triângulo do Serviço”, definido a seguir e ilustrado

por meio da Figura 1:

(...) uma atividade de serviços é uma operação que visa uma transformação do

estudo de uma realidade C, possuída por um consumidor A, realizada por um

prestador de serviços B a pedido de A, e com frequência relacionada a ele, não

chegando porém à produção de um bem que possa circular economicamente

independentemente do suporte C (GADREY, 2001 apud SALERNO, 2001, p. 32).

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Figura 1 – O triângulo do serviço

Fonte: Adaptado de Gadrey (2001).

De cara essa abordagem de Gadrey (2001 apud SALERNO, 2001) põe abaixo uma

confusão política que poderia haver em torno do trabalho de operários a quem são pagos

salários para trabalhar em um processo produtivo ao invés de serem prestadores de serviços.

Isso fica claro em razão de a produção de um bem não poder circular economicamente

independentemente de C (Suporte).

Enfim, aqui há uma clara delimitação da atividade de serviço, afastando uma eventual

interpretação errônea da situação, já que o produto do serviço, por exemplo, o

restabelecimento da saúde de um enfermo não é uma mercadoria da qual se possa fazer uso ou

consumi-la. De fato, a saúde é o resultado da intervenção de um profissional com habilitação

adequada para aplicar o tratamento e prover a solução requerida, no caso, um médico.

O Modelo do Triângulo do Serviço inobstante se aplicar a certas atividades de serviço,

encontra obstáculos em termos de abrangência geral, notadamente quando a alteração no

cliente não é tão clara ou latente, a exemplo dos serviços prestados por transmissoras de

programas televisivos ou produtoras de peças teatrais em que a mudança de condição do

espectador é menos perceptível em comparação aos serviços de conservação de bens, limpeza

ou reparação hidráulica.

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Procurando sobrepor essas limitações inerentes ao “Triângulo dos Serviços”, Gadrey

(2001 apud SALERNO, 2001) criou o Modelo de Lógicas de Serviço, conforme Figura 2. Ele

não se limita apenas ao enfoque do serviço como uma “mudança de condição” contido na

definição de Hill (1977, apud SALERNO, 2001), anteriormente referida, e a do próprio

Gadrey no sentido de que o serviço só poderia ser acessado por uma “demanda de

intervenção”. Conforme diz Salerno (2001), entra em cena a capacidade técnica que um

prestador de serviço possui, como é o caso das companhias fornecedoras de água em que, a

menos que surja um problema localizado em que haja necessidade de uma solicitação pontual

por parte do usuário para que o problema seja solucionado, esse provedor dispõe regularmente

de toda uma estrutura e aparato logístico para prestar regularmente o serviço de abastecimento

de água em favor da população em situações normais:

Figura 2 – Os três tipos de lógica de serviço

Fonte: Adaptado de Gadrey (2001 apud SALERNO, 2001).

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Desse modelo podemos destacar, em um ângulo, a forma de prestação do serviço,

baseadas em suas características genéricas, noutro, o modo como o usuário∕cliente pode

requisitar o serviço, oscilando entre a capacidade técnica e a humana.

Sob esse prisma é preciso esclarecer que as lógicas podem coexistir no processo de

prestação de serviços, haja vista a variabilidade contida nas diversas atividades de serviços,

entretanto, uma prevalecendo mais que a(s) outra(s) em função do contexto em que seja

requerida. Em um serviço de telefonia, por exemplo, que se respalda em infraestrutura (fios,

postes, transmissores etc) para que a clientela possa se comunicar nacional e

internacionalmente, vale-se da “lógica da oferta de competência técnica”. Entretanto, também

permite que o usuário possa entrar em contato com funcionários da companhia na hipótese de

se achar prejudicado por alguma falha por parte da fornecedora do serviço, ou seja, admitindo,

a “lógica de apoio ou de intervenção solicitada”.

No que concerne à “lógica de representação humana” ou exibição viva, um bom

exemplo está ligado às peças teatrais, onde é forte a presença da competência humana, porém

desprovido de um fraco caráter relacional entre prestador do serviço e espectador.

Agora é necessário esclarecer que ao contrário de se constituírem em tipologias das

atividades de serviço, tais lógicas se apresentam como um indicativo da natureza e da

intensidade da relação de serviço. A propósito, fornecem, também, elementos para que

diversas características indicadas como do setor de serviços em sua totalidade possam ser

avaliadas, de acordo com o gênero da atividade de serviço em consideração.

Fechando este bloco, é conveniente deixar claro que mesmo este modelo possuindo a

capacidade de englobar a totalidade dos serviços de acordo com a sua natureza ressalva-se a

limitação quanto a real acepção dessas competências e o modo de como fomentá-las. Isto

levando em conta os graus diferenciados de relacionamentos entre prestador de serviços e

clientes, bem como as variações nas dimensões de competências pessoais ou organizacionais.

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2.3 O VALOR DO SERVIÇO

Na literatura sobre o serviço, são nítidos os esforços voltados para indicar sua

importância no cenário econômico, visando conceituá-lo adequadamente e para compreender

suas nuanças. Todavia, avaliar sua repercussão em termos do que representa para as pessoas,

seu cliente, usuário, beneficiário ou categorização análoga, ainda é algo superficial nas

publicações que tratam dessa temática, talvez pelo caráter de incerteza e irreversibilidade

presente nas atividades de serviço.

Sem maiores aprofundamentos em relação a esses dois aspectos, por não serem foco

deste trabalho, “incerteza” é, por exemplo, não saber em quanto tempo os efeitos serão

produzidos a partir da prestação do serviço. Pertinente à irreversibilidade, que também

alimenta a incerteza, com o fim de clarificar o seu entendimento, toma-se por base o caso da

indústria, onde é possível a obtenção de um produto para que sobre ele se faça testes prévios e

se corrija imperfeições ou defeitos, antes de lançá-lo ao mercado. No caso do serviço a

carência de tal elemento, ou seja, o objeto físico, não permite tal exercício, fazendo com que o

resultado só possa ser avaliado quando efetivamente houver a prestação do serviço,

atribuindo-lhe assim um “caminho sem volta” em seu processo de realização.

A presença da subjetividade no núcleo da incerteza e da irreversibilidade, de fato se

caracteriza como um óbice na avaliação da prestação do serviço, mas não inibe a reflexão

sobre como isso pode ser obtido.

Zarifian (2001, p. 103) numa referência ao assunto comenta que “há preocupação com a

maneira como o produto é percebido e recebido pelo cliente, e há também preocupação com a

qualidade da prestação do serviço, isto é, são assumidos compromissos quanto ao modo de

entrega e de conservação do produto”.

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Essa colocação prenunciou a tentativa do autor de encontrar uma definição para o valor

do serviço, num distanciamento das abordagens tradicionais que reverenciam o valor-

trabalho – que tem a ver com tempo de trabalho socialmente requerido para produzir uma

mercadoria – e o valor-desempenho – compreendido como a representação do valor sob a

forma de um conjunto de desempenhos, como custo, qualidade, variedade etc (ZARIFIAN,

2001, p. 100).

Nessa direção, Zarifian (2001) enfatiza duas abordagens, cujas noções abaixo se

apresentam:

a) Abordagem do valor de serviço a partir das consequências: O serviço significa uma

mudança nas condições de atividade do cliente, cujas consequências (efeitos) são

reputadas válidas e favoráveis pelo destinatário dele e∕ou pela coletividade.

b) Abordagem do valor de serviços a partir dos recursos: O serviço é o resultado mais

eficiente possível de uma organização e mobilização de recursos com o propósito

de interpretar, compreender e produzir a mudança aludida no item anterior. Tal

eficiência é avaliada pela direção da organização, por seus empregados, inclusive

pelo(a) cliente a quem o serviço é prestado, nas situações em que ele(a) mesmo(a)

for utilizado(a) como recurso.

A interação dessas duas abordagens é que solidifica os resultados produzidos e que

posteriormente poderão ser percebidos tanto pelo destinatário dos serviços, como por seu

provedor, como se pode depreender do que opina Zarifian a respeito:

A essência dessas duas definições encontra-se no arranjo existente entre elas: a

definição pelas consequências dirige a definição pelos recursos. É a partir das

consequências construídas e esperadas que a eficiência no uso dos recursos adquire

sentido (e, por consequência, que se pode julgar a dinâmica dos custos, entre outras

coisas). Isso quer dizer que o valor é avaliado no ponto em que dois julgamentos se

encontram: um sobre a validade dos resultados produzidos pelo serviço, e outro

sobre a eficiência dos recursos mobilizados para produzir ditos resultados (2001, p.

103).

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Devido ao objetivo principal desta pesquisa, não serão realizadas referências quanto aos

detalhes ligados à abordagem do valor de serviço a partir dos recursos. Portanto, o alvo será a

abordagem do valor do serviço a partir das consequências (efeitos) preconizadas por Zarifian

(2001). Sendo assim, difere de Hill (1977, apud SALERNO, 2001) ao defender que o serviço

é uma alteração na condição de uma pessoa ou de um bem a ela pertencente e de Gadrey

(2001), ao pontuar a mudança do estado de uma realidade, sob o domínio de um consumidor,

referindo-se a:

Transformação das condições de atividade: visão que transpassa um estado ou

condição de um objeto. O autor exemplifica o caso de uma doença, quando

curada, modifica a condição de atividade de um indivíduo, pois a saúde significa

uma dentre as várias atividades da pessoa, independentemente da aparência do

corpo após a intervenção e do estado psicológico do paciente.

Não introdução de nenhum intermediário entre a mudança e o beneficiário dela:

resgatando o caso anterior, o tratamento utilizado pelo médico é apenas um meio

para a realização do serviço, porém não é o serviço, o qual se efetiva no momento

em que o individuo restabelece sua saúde.

Dentro desse horizonte, Zarifian (2001) destaca quatro tipos de avaliação possíveis e

cujos respectivos substratos abaixo se menciona:

Avaliação de Utilidade

“Um serviço se propõe a produzir resultados úteis à atividade do destinatário.

Tais resultados são considerados válidos, pois proporcionam uma utilidade nova,

porque eles mudam positivamente as condições da atividade do destinatário”

(ZARIFIAN, 2001, p. 105). É a avaliação de maior percepção e destaque. Ex.: a

competência adquirida por uma pessoa após sua formação acadêmica e

profissional;

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Avaliação de Justiça

Ao definir esse tipo ele apregoa que “é expressa, frequentemente, em termos de

direitos: cada pessoa tem direito a um atendimento de saúde de qualidade, cada

pessoa tem direito ao acesso à educação” (ZARIFIAN, 2001, p. 108).

Avaliação de Solidariedade

Esta corresponde a uma provocação “cada vez que se colocam problemas relativos

à integração social, à qualidade da vida coletiva” e “cada vez, também, que se

manifestam exigências de cooperação, de ajuda mútua, na atividade profissional

ou na vida social como um todo” (ZARIFIAN, 2001, p. 114). As políticas

públicas que redundam em serviços sociais voltados ao combate da miséria e a

fome no Brasil pode se enquadrar neste exemplo.

Avaliação Estética

Na proclamação de Zarifian:

A avaliação estética se exerce na tessitura dos afetos, das emoções, e as mudanças

que ela provoca são rearranjos emocionais e éticos, que dependem da intensidade

com que uma obra de arte toca a pessoa. A avaliação estética é um misto de

avaliação de beleza e de avaliação ética, um misto do belo e do bom” (2001, p. 116).

O cinema é um bom exemplo para esta avaliação, já que um indivíduo, após

assistir um determinado filme pode ter sua atitude modificada em função do

serviço ao qual foi submetido. Poderá assim, mudar sua conduta, no tocante a

certas situações, alterando sua atividade.

Uma vez apresentadas as avaliações propostas por Zarifian (2001), é preciso esclarecer

que elas não abrangem a totalidade dos casos possíveis de definição do valor de serviço, com

referência às consequências. Contudo, abarca boa parte delas, podendo ser entrelaçadas, vistas

isoladamente e, às vezes em oposição, sendo um quase consenso de que a Avaliação de

Utilidade predomina em relação às demais.

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Em consequência, no presente trabalho a ênfase será data na verificação dos três

primeiros tipos, ou seja, as avaliações de utilidade, de justiça e de solidariedade, mas sem

descartar, mesmo em menor grau, a avaliação estética, já que o modelo de Zarifian (2001),

como traçado no parágrafo anterior, não inibe uma visão compartilhada das várias espécies.

2.4 A INOVAÇÃO NOS SERVIÇOS

Diversos artigos e estudos científicos têm contribuído para arrefecer a ideia de vincular

a inovação no campo dos serviços aos avanços na área industrial. Este foi o máxime a partir

dos anos 1990, onde foram abertas outras fronteiras para a exploração do tema, de forma a

procurar a consolidação sobre uma teoria voltada para a inovação nos serviços, mas sem

deixar de lado as peculiaridades inerentes à indústria e as que cabem aos serviços

(GALLOUJ, 1994; GADREY; GALLOUJ; WEINSTEIN, 1995; GADREY, GALLOUJ,

1998). Duas razões se sobressaem nesse movimento: as teorias da inovação na manufatura são

inadequadas para o entendimento das que acontecem nos serviços (GADREY; GALLOUJ;

WEINSTEIN, 1995); o pacote de serviços abordado em tópico deste trabalho mostra que

indústria e serviços estão integrados, podendo-se aí estabelecer um favorecimento recíproco

(SALERNO, 2001). Inclusive, este é o ponto nevrálgico da abordagem integradora que será

tratada mais adiante no âmbito da Teoria da Inovação nos Serviços (GADREY; GALLOUJ;

WENSTEIN, 1995; GALLOUJ, 2002).

2.4.1 Inovação e o seu Conceito nos Serviços

A Revolução Industrial, além de estabelecer um marco no sistema produtivo mundial,

capitalizou para o setor manufatureiro atenção demasiada do ponto de vista econômico, de tal

forma a deixar em segundo plano os demais segmentos geradores de riqueza como o de

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serviços (GADREY; GALLOUJ; WEINSTEIN, 1995). Esse panorama se estendeu também

para outras áreas como a da inovação, o que explica a concentração de conhecimentos e

desenvolvimento de pesquisas mais voltados para a indústria em detrimento dos serviços

(TETHER, 2005, p. 153-184).

Corroborando essa perspectiva, Pavitt (1984, p. 343-373), define inovação como algo

novo ou uma melhoria em um produto ou processo produtivo, de modo que possa ser usado

ou comercializado no mercado com sucesso por parte de uma empresa. Adicionalmente,

enfatiza que a produção, adoção e difusão da inovação, mormente a de natureza tecnológica,

são fundamentais para a questão do desenvolvimento econômico, podendo refletir na camada

social dos países.

Womack e Jones (1998) no caminho para os dias atuais reverenciam a tecnologia não só

em termos instrumentais, mas como conhecimento e técnicas indispensáveis para empresas

que tencionem consolidar sua posição num mercado infestado de conflitos e desafios.

Fine (1999) incrementando essa dinâmica caracteriza o tratamento customizado que

deve ser dado ao consumidor, obrigando as empresas a reduzir o tempo de vida dos produtos,

a depender do que seja necessário para assegurar sua vantagem competitiva, sempre

ameaçada.

De acordo com Dosi (1982, p. 147-162), é possível aplicar pilares das teorias que

versam sobre mudanças tecnológicas para as inovações em geral, levando-se em conta duas

vertentes:

A da tecnologia “empurrada” que provoca alterações a partir da produção e da

organização, forçando um consumo. Assim um novo conhecimento ou o

conhecimento sob o domínio das empresas se transformam em novos produtos

e∕ou processos, segundo a classificação de autoria de Henderson e Clark (1990).

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as alterações que ocorrem por conta do que o mercado precisa (tecnologia

puxada), em última análise, em função da vontade do cliente.

A contribuição proporcionada por Schumpeter (1985) para os estudos acerca da

inovação nos serviços foi determinante, já que em seu modelo de apreciação as pesquisas

envolvem manufatura e serviços num mesmo patamar, com a particularidade de que aos

serviços é dada a importância merecida pela sua evolução como gerador de riqueza.

Schumpeter (1985) defende a inovação em termos de uma mudança espontânea e

descontínua em relação ao que já existe, significando uma combinação de recursos que altera

o estado de equilíbrio de forma definitiva.

No início, nas considerações desse autor, mais tendente à manufatura, as inovações

poderiam se caracterizar quando:

i. Um novo produto ou uma nova qualidade de um bem fosse lançada;

ii. houvesse a introdução de um novo método de produção;

iii. ocorresse a abertura de um novo mercado;

iv. proporcionasse a conquista de uma nova matéria prima ou insumo intermediário;

v. em um setor uma nova organização se estabelecesse.

Posteriormente, já numa ótica neo-schumpeteriana, onde a inovação é encarada como

uma solução das empresas para o mercado (HAUNKES, 1998), torna-se de menos

importância a distinção entre inovação da indústria e dos serviços ou, numa outra visão, do

produto e do processo, respectivamente.

Também nesse prisma, o caráter aleatório das inovações é afastado, pois são originadas

a partir de buscas, experimentações e imitação. Inserem-se no coração do crescimento da

empresa e da geração de lucro puro, alinhando-se com o posicionamento abaixo:

Sondando o mercado, o empresário verifica o que o público deseja consumir e gera

novos produtos, aperfeiçoa os produtos existentes e adota processos mais eficientes.

A partir de condições internas da oferta, as tecnologias criam novas necessidades,

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induzindo a demanda de produtos, ou de produtos existentes ligeiramente

modificados, ou de melhor qualidade. (DOSI, 1982 apud SOUZA, 2009, p. 147).

No curso de tal apreciação, é conveniente lembrar que a inovação nos serviços,

inspirada em Schumpeter (1985), possui motivação direta com o caráter econômico, o lucro,

por assim dizer, o qual tem uma parte retida para a criação de novas tecnologias, muitas vezes

atribuindo ao crédito bancário um papel secundário quanto ao seu financiamento.

No que concerne aos serviços, três modelos de inovação prevalecem sob a ótica de

Gallouj (2002a), conforme serão destrinchados na sequência, porém dando maior destaque ao

último deles por agasalhar teoricamente o processo de inovação do AGROAMIGO, objeto de

pesquisa deste trabalho. Assim, eis as abordagens: a tecnicista; a orientada para serviços e a

que objetiva a integração.

2.4.2 A abordagem Tecnicista

Compreende um esforço para se chegar a uma teoria da inovação nos serviços, cujo

mérito cabe a Richard Barras (1986, p. 161-173).

Esse estudioso, percebendo alterações no crescimento econômico no final do século

XX, põe na berlinda a questão do desequilíbrio no processo de difusão tecnológica entre os

fornecedores de tecnologia e os que dela se utilizam, chamando atenção para o caso da

indústria de serviços, cujo consumo dos artefatos nesse ambiente produtivo se encontra em

franca expansão, porém sem o correspondente reconhecimento.

Seu modelo propõe que as mudanças no produto, na dimensão dos serviços, ocorre de

maneira contrária, tendo sido por isso chamado de Modelo do Ciclo Reverso.

O cerne dessa abordagem está nas alterações que o processo de informatização pode

provocar nos serviços, ou seja, contrariamente ao definido por Schumpeter (1985), em seu

processo de destruição criadora.

O ciclo reverso tem como característica três fases, a saber:

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1ª. A introdução de novas tecnologias tem a finalidade de incrementar a eficiência dos

serviços existentes, o que não causaria mudanças radicais, nem lucros astronômicos, na

visão de Schumpeter. Exemplificando, seria o caso dos mainframes que permitiram

otimização nas rotinas do back-office dos bancos.

2ª. a qualidade é o foco e, assim, a tecnologia é aplicada no sentido de permitir a

visualização de benefícios para os clientes, ficando a redução de custos em segundo

plano. Isso ocorreu quando foram disponibilizados caixas automáticos, possibilitando o

cliente realizar variadas transações de seu interesse nesses terminais.

3ª. implica a recombinação dos recursos existentes ou a criação de novos serviços, de

modo a permitir interação avançada com a clientela. O acesso ao banco via Internet

seria um exemplo dessa etapa de inovação no setor financeiro.

Como se pode perceber, o modelo de Barras (1986) é fundado basicamente em

tecnologias informacionais, o que, em parte, explica o declínio da abordagem tecnicista como

Teoria da Inovação nos Serviços.

Mesmo as taxonomias neo-schumpeterianas de Pavitt (1984) e Miozzo e Soete (2001, p.

159-185), que enfeixam argumentos para o conceito de uma trajetória tecnológica vinculada

aos serviços, se mostram insuficientes, devido à heterogeneidade desse segmento econômico e

por não ser consistente a ideia de que tecnologicamente dependa da indústria.

Na opinião de Sundbo e Gallouj (2000) e Djellal e Gallouj (2007, p.817-835), o modelo

de Barras (1986), na verdade, implica um modelo de difusão tecnológica na seara dos

serviços, ao invés de uma teoria de inovação em serviços.

2.4.3 A Abordagem orientada para serviço

Esta linha de pensamento representa uma evolução do que foi visto anteriormente dos

estudos de Barras (1986). Em seu bojo está a relação usuário-produtor, o grau de intensidade

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entre esses agentes econômicos e as inovações que dessa conjunção de forças pode ser

originada, superando o viés tecnológico quando de sua adoção (HAUKNES, 1998).

Uma interação que, tendo em sua composição incerteza e irreversibilidade, se mostra

favorável a uma customização de novos pacotes de serviços, englobando tecnologia e∕ou

outros tipos de inovação.

Tal característica permite um afastamento paulatino da ideia de Schumpeter sobre

inovação, por não conseguir diferenciar produto de processo no ramo dos serviços.

A inovação ad hoc, assim, vira um expoente nesse modelo, em virtude de seu caráter

contingencial, fazendo com que competências do prestador do serviço e do cliente sejam

reunidas, a fim de resultar em uma inovação que possa se traduzir na solução de um dado

problema (GALLOUJ, 2002a; SUNDBO; GALLOUJ, 2000).

A crítica que se faz a essa abordagem está na dificuldade de reprodução das inovações,

já que se vale de componentes específicos e somente replicáveis na medida em que a

codificação do conhecimento se processa, as competências do prestador do serviço se

acumulam e há o direcionamento para o equacionamento dos problemas de outros clientes

(DREJER, 2004).

Frisa-se que o modelo em referência é aberto ao relacionamento externo, fornecendo

guarida para que stakeholders como governo, fornecedores e concorrentes participem do

processo de inovação nos serviços, num cenário de interação social, porém com energias

canalizadas para solver uma questão específica. Nos serviços intensivos em conhecimento,

como consultorias, escritórios de advocacia e de engenharia, esse tipo de inovação se revela

de maneira mais clara. Também em bancos, que possuem clientes do “segmento corporate”6,

o modelo de inovação orientada para serviço é muito útil.

6 Segmento Corporate: Área específica de um banco encarregada de firmar negócios com clientes de grande porte, geradores de

faturamentos expressivos em suas atividades econômicas.

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2.4.4 Abordagem Integradora

Produtos e serviços tendem cada vez mais serem conjugados dentro de um pacote de

valor para o cliente, a exemplo das empresas que concomitantemente elaboram produtos e

serviços de tecnologia (GADREY; GALLOUJ; WEINSTEIN, 1995).

Com o advento da reestruturação produtiva em que os serviços passaram a tomar a

dianteira na geração de riqueza, especialmente nos países desenvolvidos, as distâncias entre

eles e a manufatura foram encurtadas no que tange aos processos envolvendo inovação

(SIRILLI; EVANGELISTA, 1998).

Tal configuração puxou a necessidade de se conceber uma sistemática própria para

analisar conjuntamente essas atividades (DREJER, 2004). O modelo integrador surgiu para

atender a essa requisição sob o argumento de que uma necessidade de consumo pode ser

atendida tanto por um produto quanto por um serviço (GALLOUJ, 2002).

Dos escritos de Lancaster (1966, p. 132-157) e dos procedimentos de aplicação

indicados por Saviotti e Metcalfe (1984, p. 141-151), Gallouj (2002) desenvolveu uma

abordagem em que os serviços são vistos do ponto de vista de características finais, como um

produto do serviço, só apreendido no âmbito da relação de serviço, caracterizada no tópico

anterior deste trabalho.

Gallouj (2002a) ao amparo dos trabalhos de Saviotti e Metcalfe (1984, p.141-151), em

que os bens são detentores de aspectos técnicos e de serviços, defende que os serviços tal

como os bens podem se constituir numa entrega ou produto do serviço para o cliente, onde

não há diferença entre produto e processo, conforme a representação contida na Figura 3:

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Figura 3 – Serviços e produtos dentro de um sistema de características e competências

Fonte: Gallouj (2002a).

O modelo, num formato genérico, mostra que o produto do serviço, resultante dos

demais vetores C, C’ e T, é fruto da integração das características técnicas

materiais∕imateriais, das competências diretas dos prestadores e das competências dos

clientes.

Não há preocupação com a maior ou menor prevalência de quaisquer desses vetores

cuja presença será demarcada de acordo com a relação de serviço estabelecida, o que admite a

flexibilidade do processo de inovação para que não se atenha somente aos radicais ou não

radicais.

Na trilha dessa abordagem Gallouj e Weinstein (1997, p. 537-566), apontam outros

modelos de inovação que, posteriormente aperfeiçoado por Gallouj (2002a), apresentam-se de

acordo com o nível de interferência das características ou competências anteriormente

aludidas, a saber:

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Inovação Radical

Diz respeito aos produtos totalmente novos, sem igual característica, fruto de

competências diferenciadas, quer do produtor, quer do cliente. Como exemplos

têm-se os seguros para acobertar riscos inusitados.

Inovação de Melhoria

Guarda consonância com as inovações que induzem melhorias do serviço, porém

sem alterar sua conformação básica. Uma característica técnica ou uma

competência do prestador do serviço seria aprimorada permitindo agregação de

valor ao produto final.

Inovação Incremental por substituição ou adição de características

Implica mudanças graduais no serviço por meio da substituição ou incorporação

de certa característica técnica ou potencialização de uma competência que

possibilitaria a redução de custos ou o incremento de receitas. Fundamenta-se

também no modelo de Lancaster (1966), procurando afastar o viés tecnicista, na

medida em que reconhece que mudanças nas competências podem proporcionar

vantajosas inovações. Por exemplo, muitas farmácias, no Nordeste brasileiro,

adicionaram ao seu modelo de atendimento, a possibilidade de o cliente que

compra medicamentos e produtos afins também poder pagar outras obrigações,

como contas de água e de energia.

Um esclarecimento se faz oportuno neste ponto, em função de críticas ao modelo

proposto por Gallouj e Weinstein (1997, p. 537-566), já que a questão central

seria a dificuldade em diferenciar as inovações de melhoria das incrementais. Por

mais que se atribua às inovações incrementais o fato de adicionar novas

características e às de melhoria apenas uma novel especificação de uma

competência já existente, a polêmica continua.

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Concluindo que não existe diferença entre inovações incrementais e de melhoria, Vries

(2006, p. 1037-1051) as considera apenas como incrementais.

Inovação Ad hoc

É um tipo de inovação considerado contingente e para casos específicos. Gallouj e

Weinstein (1997, p. 549) a definem como uma “construção interativa” (social) que

procura solucionar um problema localizado que certo cliente apresenta. A partir

de alterações nos vetores já mencionados, em decorrência da interação entre o

fornecedor do serviço e o cliente, é alcançada a solução para uma questão

particular. As consultorias especializadas, como as de engenharia ou de natureza

financeira, se enquadram neste contexto.

Para que haja replicação dessas inovações é preciso que os procedimentos e

métodos sejam codificados e documentados, o que não ocorre com frequência,

somente sendo possível após a repetição de situações parecidas e de acordo com o

background adquirido pelos escritórios especializados nesse tipo de trabalho ao

longo do tempo (GALLOUJ; WEINSTEIN, 1997).

Inovação por recombinação ou arquitetural

Corresponde à elaboração de novos serviços que misturam diferentes

características ou outros já existentes, dando-lhe outra feição para o uso ou

mesmo constituindo-o como um produto autônomo (GADREY; GALLOUJ;

WEINSTEIN, 1995; GALLOUJ, 2002a). Henderson e Clark (1990, p. 9-30), por

suas vezes, apregoam uma intensa relação entre este tipo de inovação e o conceito

de inovações arquiteturais. Shoppings de Serviços estão surgindo em todo Brasil

dentro desta filosofia que engloba, por exemplo, venda de automóveis, venda de

peças e acessórios, salões de beleza, playgrounds, lanchonetes, casas lotéricas etc.

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Inovação de Formalização

Tem como característica básica documentar determinado serviço, num fluxo que

vai de sua concepção, passa pelos requisitos e competências necessárias, para se

chegar a um modelo final de produto do serviço. Por envolver um

disciplinamento, esse tipo de inovação antecede as inovações por recombinação e

também as contingenciais (ad hoc), uma vez que, essas para existir, seus autores

precisam ter prévio conhecimento das características necessárias e, em algumas

ocasiões, obedecer a parâmetros normativos, para que as tornem efetivas. Os

serviços de crédito, por exemplo, em termos de inovação, previamente a sua

introdução no mercado, precisam ser analisados no formato de projeto, sob os

mais diferentes ângulos (ético; legal; mercadológico; econômico etc) para que sua

viabilização venha a ser possível.

2.5 O PRONAF

Uma vez referenciado o posicionamento dos “serviços” no cenário econômico, os

esforços para conceituá-los e como vêm se situando no âmbito das inovações, conforme os

modelos anteriormente postos em destaque, chegou a hora de se estabelecer um fio condutor

com a prática, onde a teoria até então apresentada tem a chance de se comprovar dentro da

realidade, a partir de alguns indicadores, os quais, no presente estudo, serão de natureza

qualitativa.

Com efeito, esse exercício terá como aplicação o AGROAMIGO, serviço inovador e

espécie de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF), cujo arcabouço, doravante, passa a ser retratado.

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No Brasil o financiamento direcionado para o microempreendedor rural é realizado

basicamente dentro do PRONAF, o qual foi criado por meio do Decreto 1946, de 28.06.1996,

cujas normas foram consolidadas na Resolução 2310, do Conselho Monetário Nacional, em

29.06.1996 (BANCO DO NORDESTE, 2011a).

De acordo com a Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA), o PRONAF “financia projetos individuais ou coletivos,

que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária” (BRASIL,

2011), mediante a aplicação de taxas de juros diferenciadas em compatibilidade com o porte e

capacidade de pagamento desses agentes produtivos.

Em sua gênese, a expressão “agricultura familiar” contou com os estudos realizados por

Ricardo Abramovay, em 1991, tendo recebido o reforço de Veiga, ao realizar estudos de

interesse da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO∕INCRA) em 1994,

procurando este estabelecer uma distinção entre a agricultura patronal, bem sucedida, e os

pequenos agricultores, sequiosos por uma política que pudesse atender suas peculiariades

(BASTOS, 2006, p. 80).

Segundo Belik (1999), o que hoje conhecemos como agricultor familiar era em passado

recente considerado miniprodutor rural dentro do enquadramento preconizado pelo Manual de

Crédito Rural - MCR, do Banco Central do Brasil (2011), aspecto que colocava seus projetos

de finaciamento em desvantagem relativamente aos demais agropecuaristas, já que deveriam

seguir o mesmo fluxo de atendimento estabelecido pelas instituiçõs financeiras, cujo desenho

era mais direcionado aos grandes produtores.

A fragilidade de suas estruturas produtivas devido as adversidades climáticas, falta de

assessoria técnica e extensão rural adequada, ausência de orientação empresarial que lhe

permitisse enfrentar as exigências dos fornecedores e colocar seus produtos em condições

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mais favoráveis no mercado, potencializavam as desigualdades perante os pares com maiores

condições de suplantar essas dificuldades.

Nas palavras de Maciel (2008):

O objetivo do PRONAF é fortalecer a agricultura familiar mediante o financiamento

da infraestrutura de produção e de serviços agropecuários e atividades não

agropecuárias, com o emprego direto da força de trabalho do produtor rural e de sua

família, com vistas à geração de ocupação e renda, objetivando o exercício da

cidadania dos agricultores familiares e a melhoria da qualidade de vida (MACIEL

2008, p. 66):

O Manual de Crédito Rural - MCR (BACEN, 2011) estabelece que podem ser

beneficiários do PRONAF as pessoas que façam parte de unidades familiares de produção

rural e cujo enquadramento esteja dentro das seguintes exigências:

I. Explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário,

parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA);

II. residam na propriedade ou em local próximo;

III. não disponham, a qualquer título, de área superior a 4 (quatro) módulos fiscais,

quantificados segundo a legislação em vigor; obtenham, no mínimo, 70% (setenta

por cento) da renda familiar da exploração agropecuária e não agropecuária do

estabelecimento;

IV. tenham o trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento,

utilizando apenas eventualmente o trabalho assalariado, de acordo com as

exigências sazonais da atividade agropecuária, podendo manter até 2 (dois)

empregados permanentes;

V. tenham obtido renda bruta familiar nos últimos 12 (doze) meses que antecedem a

solicitação da DAP acima de R$6.000,00 (seis mil reais) e até R$110.000,00

(cento e dez mil reais), incluída a renda proveniente de atividades desenvolvidas

no estabelecimento e fora dele, por qualquer componente da família, excluídos os

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benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades rurais

(Res 3.559; Res 3.731 art 2º).

É suficiente para comprovar sua condição de agricultor familiar aqueles(as) que

apresentem perante as instituições financeiras a Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP),

cuja emissão pode ser feita pelos agentes credenciados pelo Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), como é o caso dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais.

Na forma prevista pelo Manual de Crédito Rural – MCR (BACEN), o PRONAF

também pode ser concedido a pescadores artesanais, extrativistas, silvicultores, aquicultores,

maricultores e psicultores.

O Quadro 4 demonstra as finalidades para onde os créditos do PRONAF, basicamente

são destinados, conforme disposição da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF, 2012):

Quadro 4 – Linhas de Crédito Oferecidas pelo PRONAF

Linha de Crédito Destinação

Custeio

Financiamento das atividades agropecuárias e de beneficiamento ou

industrialização e comercialização de produção própria ou de terceiros

agricultores familiares enquadrados no PRONAF.

Investimento

Financiamento da implantação, ampliação ou modernização da infraestrutura de

produção e serviços agrocupecuários, no estabelecimento rural ou em áreas

comunitárias rurais próximas.

PRONAF Agroindústria

Financiamento de investimentos, inclusive em infraestrutura que visam o

beneficiamento, o processamento e a comercialização da produção agropecuária e

não agropecuária, de produtos florestais e do extrativismo, ou de produtos

artesanais e a exploração de turismo rural.

PRONAF Agroecologia

Financiamento de investimentos dos sistemas de produção agroecológicos ou

orgânicos, incluindo os custos relativos à implementação e manutenção do

empreendimento.

PRONAF Eco

Financiamento de investimentos em técnicas que minimizam o impacto da

atividade rural ao meio ambiente, bem como permitam ao agricultor melhor

convívio com o bioma em que sua propriedade está inserida.

PRONAF Floresta

Financiamento de investimentos em projetos para sistemas agroflorestais,

exploração extrativista ecologicamente sustentável, plano de manejo florestal,

recomposição e manutenção de áreas de preservação permanente e reserva legal e

recuperação.

PRONAF Semi-Árido

Financiamento de investimentos em projetos de convivência com o semi-árido

focados na sustentatibilidade dos agroecossistemas, priorizando infraestrutura

hídrica e implantação, ampliação, recuperação ou modernização das demais

infraestruturas, inclusive aquelas relacionadas com projetos de produção e

serviços agropecuários e não agropecuários, de acordo com a realidade das

famílias agricultoras da região semiárida.

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Quadro 4 – Linhas de Crédito Oferecidas pelo PRONAF

Linha de Crédito Destinação

PRONAF Mulher Financiamento de investimentos de propostas de crédito da mulher agricultora.

PRONAF Jovem Financiamento de investimentos de propostas de jovens agricultores e

agricultoras.

PRONAF Custeio e

Comercialização de

Agroindústrias

Familiares

Financiamento aos agricultores e suas cooperativas ou associações para que

financiem as necessidades de custeio do beneficiamento e industrialização da

produção própria e∕ou de terceiros.

PRONAF-Cota-Parte

Financiamento de investimentos para a integralização de cotas-partes dos

agricultores familiares filiados a cooperativas de produção ou para aplicação em

capital de giro, custeio ou investimento.

Microcrédito Rural

Financiamento aos agricultores de mais baixa renda, permite o financiamento das

atividades agropecuárias e não agropecuárias, podendo os créditos cobrirem

qualquer demanda que possa gerar renda para a família atendida. Créditos para

agricultores familiares enquadrados no Grupo B e agricultoras integrantes das

unidades familiares de produção enquadradas nos Grupos A ou A∕C.

Fonte: Elaborador pelo autor com base nas informações da SAF (2012).

A operacionalização do PRONAF, de acordo com a SAF, ocorre por intermédio dos

agentes financeiros integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), sendo estes

agrupados em básicos (Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia) e

vinculados (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES, BANCOOB,

BANSICREDI e associados à Federação Brasileira de Bancos-FEBRABAN).

Os valores que dão suporte aos financiamentos concedidos em favor dos beneficiários

da agricultura familiar são oriundos dos recursos controlados do crédito rural e dos Fundos

Constitucionais de Financiamento do Norte (FNO), do Nordeste (FNE) e do Centro-Oeste

(FCO).

No Manual de Crédito Rural (BACEN) há recomendação para que os empreendimentos

apoiados pelo PRONAF sejam objeto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), tanto

nas operações de crédito de custeio como nas de investimento, objetivando dotar de maior

segurança a condução dos financiamentos realizados e, assim, em bases mais sólidas, buscar a

correspondente viabilidade técnica e econômico-financeira.

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Os prazos de reembolso e valores firmados sob a égide do PRONAF devem ser

compatíveis com o tipo da atividade financiada e se encontrar em consonância com os

princípios do crédito rural de oportunidade, suficiência e adequação do crédito.

Por alcançar uma faixa de agentes produtivos com características bem específicas, o

PRONAF possui custos financeiros inferiores às taxas normalmente praticadas no mercado

financeiro brasileiro, cabendo a regulação ao Banco Central do Brasil sob o direcionamento

do Conselho Monetário Nacional.

Para que se tenha ideia dos juros praticados pelo PRONAF, abaixo são divulgados no

Quadro 5 os percentuais aplicados pelo Banco do Nordeste do Brasil S/A:

Quadro 5 – Juros cobrados pelo PRONAF

Grupos e Linhas Juros Bônus de Adimplência (¹)

Comum

Custeio

- Até R$10 mil – 1,5% ao ano

- R$10 mil e até R$20 mil 3% ao ano

- R$20 mil e até R$50 mil 5% ao ano com bônus de

adimplência sobre os juros

Investimento

- Valor proposto+ operação existente de investimento

(a partir de 01.07.2009) seja de até R$10 mil – 1%

ao ano

- Valor proposto+operação já existente de

investimentos (a partir de 01.07.2009) seja superior

a R$10 mil e até R$50 mil – 2% ao ano.

Custeio

Superior a R$20 mil a R$50

mil – 25% sobre os juros para

empreendimentos no simi-

árido e 15% fora do semiárido.

Jovem 1% ao ano Não se aplica

Semi-Árido 1% ao ano nos financiamentos até R$12 mil Não se aplica

Fonte: Elaborado pelo Autor com base no Banco do Nordeste (2011a).

Nota: (¹) O produtor somente fará jus ao bônus de adimplência se pagar as parcelas do financiamento em dia.

Tem sido marcante a participação da agricultura familiar na geração do Produto Interno

Bruto (PIB) brasileiro, evidenciando que o apoio governamental se constitui como

fundamental para esse desempenho econômico ao disponibilizar crédito por meio do

PRONAF. Assim, o percentual de contribuição desse importante segmento do agronegócio

tem girado em torno de 10% da riqueza nacional, durante o período considerado no Gráfico 1:

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Gráfico 1 - Participação do PIB do agronegócio familiar e patronal no PIB do Brasil

Fonte: (BRASIL, 2007).

O Governo Federal como indutor de uma evolução no desempenho da agricultura

familiar na economia brasileira, lançou mais um “Plano Safra”, em junho de 2011,

envolvendo recursos orçados em R$16,0 bilhões. Entre os anos de 2006 e 2007 esse montante

era de R$10,0 bilhões.

O Plano Safra é desenhado de forma que a parte mais dinâmica e consolidada da

agropecuária possam ter níveis de produtividade em ascensão, mas em harmonia com uma

crescente produção no segmento menos favorecido.

De fato, no caso do PRONAF B, operacionalizado pelo Banco do Nordeste sob a égide

do AGROAMIGO que será apresentado no tópico seguinte, as contratações subiram de duas

para três, por produtor rural, e o valor de cada uma delas, passou de R$2,0 mil para R$2,5 mil,

sendo mantido o rebate de 25% (vide nota no Quadro 5) e a taxa de juros de 0,5% ao ano

(BANCO DO NORDESTE, 2011a).

Enaltecendo a importância da agricultura familiar para o país, o Ministério do

Desenvolvimento Agrário-MDA em seu portal na internet afirma que:

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O Brasil vive um ciclo de crescimento econômico e social marcado pela distribuição

de renda e inclusão social. Um dos pilares desse crescimento é a agricultura familiar,

que, com mais de 4,3 milhões de unidades produtivas, impulsiona o

desenvolvimento sustentável no meio rural brasileiro. Fundamental para a segurança

alimentar e a economia do País, a agricultura familiar produz 70% dos alimentos que

chegam à mesa dos brasileiros e responde por mais de 74% do pessoal ocupado no

campo e por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (BRASIL, 2012).

Corroborando essa afirmação, o sítio do Banco do Nordeste (2011), também na internet,

informa que esse grupo de produtores rurais é responsável pela produção de 84% da

mandioca, 67% do feijão, 54% do leite, 49% do milho, 40% das aves e 58% dos suínos

consumidos pela população brasileira.

2.6 O AGROAMIGO

O AGROAMIGO integra o leque de financiamentos do Banco do Nordeste e é

direcionado a microempreendedores rurais que estejam em consonância com a Política

Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado – PNMPO (Lei 11.110, 2005).

2.6.1 As raízes

Nos últimos tempos o cenário econômico mundial tem registrado uma série de

iniciativas sob a figura do microcrédito, normalmente puxadas pela esfera pública, num

movimento crescente, apesar de equívocos e distorções nessa trajetória, conforme o relato que

se segue:

Na metade do século XX, governos do mundo inteiro decidiram apoiar iniciativas de

fornecimento de crédito em larga escala para os menos favorecidos, especialmente

em áreas rurais. Estratégias de redução da pobreza via crédito subsidiado foram

abundantes entre as décadas de 1950 e 1980. Mas essa primeira tentativa de

disseminação do microcrédito foi um fracasso generalizado, devido principalmente à

ineficiência, a corrupção e a taxas de juros altamente subsidiadas, que acabaram

gerando altíssimas taxas de inadimplência, custos crescentes dos subsídios,

cooptação dos benefícios por aqueles politicamente mais favorecidos. (NERI, 2008,

p. 27).

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Das experiências com o microcrédito um caso de inegável de sucesso é o do Grameen

Bank, em Bangladesh7·, durante a década de 70, por obra do professor de economia da

Universidade de Chittagong, Muhamad Yunus, que mudou a forma de concessão desse tipo

de financiamento:

A experiência do Grameen Bank foi um ponto de mutação nesse enredo. O Grameen

fez importantíssimas contribuições metodológicas para o campo das microfinanças,

hoje utilizadas por grande parte das instituições ao redor do mundo. Entre as

principais estão a utilização de empréstimos solidários como mecanismos de seleção

de tomadores e garantias, volumes de empréstimos adaptáveis e com termos

sazonais, a visão de um banco proativo que “vai em direção às pessoas (Neri, 2008,

p. 28).

Outras formas de operacionalização do microcrédito colocadas em prática, nacional e

internacionalmente, podem ser visualizadas ao longo da história, conforme disposto no

Quadro 6.

Quadro 6 – Indicações Históricas de Iniciativas de Microcrédito

Provedor e∕ou Regulador dos

Recursos Financeiros País de Origem Resumo da Iniciativa

Loan Fund (1836). Irlanda

Impulsionou o crescimento de

fundos de apoio a micro

empreendimentos.

Associação do Pão (1846∕47) –

por iniciativa do Pastor Friedrich

Wilhelm Raiffeisen.

Alemanha

Financiava panificadores para

compra de trigo, fabricação e

comercialização de pães.

Caísses Populares (1900, em

Quebec). Canadá

Emprestava recursos aos mais

pobres.

Fundos de Ajuda e,

posteriormente, Liga de Crédito

(1953, em Chicago) – por

iniciativa de Walter Krump.

Estados Unidos Destinava-se a atender associados

necessitados de uma metalúrgica.

Projeto Uno (União Nordestina de

Assistência a Pequena

Organizações – 1973, em Recife)

Brasil

Serviu de base para a construção da

rede Ceape (Centro de Apoio ao

Pequeno Empreendedor).

Banco da Mulher (1990) Brasil Crédito em favor da mulher

empreendedora.

FENAPE (Federação Nacional

dos Pequenos Empreendedores -

1990) (1990)

Brasil

Efetivos financiamentos em favor

de pequenos empreendedores

geralmente sem acesso ao

crédito institucional.

7 Bangladesh foi território da Índia até 1947, posteriormente ficou sob o domínio do Paquistão, após o que se tornou um país independente

em 1971 (BRASIL ESCOLA, 2012).

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Quadro 6 – Indicações Históricas de Iniciativas de Microcrédito (continuação)

Provedor e∕ou Regulador dos

Recursos Financeiros País de Origem Resumo da Iniciativa

Portosol (1995, no Rio Grande de

Sul) Brasil

Realiza financiamentos para o

desenvolvimento de pequenos

empresários e pessoas que

trabalham por conta própria.

Vivacred (1996, no Rio de

Janeiro). Brasil

Atendimento em prol dos

microempresários urbanos,

comerciantes, artesãos e pequenos

prestadores de serviços, integrados

aos setores formal ou informal da

economia.

Crediamigo (1997, em Fortaleza

– CE). Brasil

Apoio às micro atividades

econômicas informais urbanas.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Guerra (2008).

Países vizinhos ou de influência latina também possuem iniciativas pioneiras, a exemplo

do Banco Sol, na Bolívia; a Caja Social, na Colômbia, o MiBanco, no Peru e o Compartamos,

no México (NERI, 2008, p. 28-29).

Ainda paira nas obras literárias certa confusão entre o que seja microfinanças e

microcrédito, haja vista a utilização de qualquer desses termos em contextos variados.

Neri (2008), procurando esclarecer a questão, comenta:

O microcrédito se encaixa no campo das microfinanças e envolve o fornecimento de

crédito a clientes não atendidos pelo setor bancário tradicional, abarcando apenas o

setor de empréstimos. Já microfinanças referem-se a uma gama de serviços

financeiros diversos, que incluem microcrédito, micropoupanças, microsseguros,

crédito imobiliário, remessas de imigrantes, para citar apenas os principais (NERI,

2008, p. 29).

Como pode ser visto, o microcrédito está contido no campo das microfinanças e se

restringe à concessão de crédito a um determinado público, segundo os requisitos e

parâmetros definidos pelo seu operador, abrangendo, no caso brasileiro, atividades produtivas.

Após o advento da revolução industrial é sabido que o trabalhador ficou a mercê da

manufatura e uma vez que não contava com a propriedade, tinha em seu favor apenas sua

expertise pessoal. Assim, subordinado ao progresso técnico, ficou impossibilitado de voltar às

atividades artesanais e mesmo possuindo determinadas qualificações passou a enfrentar

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dificuldades para se encaixar em alguma ocupação profissional. Isso os obrigou a trabalhar

por conta própria, e, consequentemente, a fundar seus próprios microempreendimentos

(COSTA, 2010).

Toda atividade econômica precisa de capital para se mostrar efetiva em suas finalidades,

quer de cunho próprio, quer de terceiros, sendo o maior ou menor volume que estiver sob o

seu controle o propulsor da sua dinâmica enquanto negócio.

Nem todos os agentes produtivos têm acesso ao crédito motivado por várias razões.

Todavia, como pode se observar em livros e publicações que tratam sobre esta questão, isso se

verifica com veemência no tocante aos empreendedores menos favorecidos, sem condições de

levantar recursos em estabelecimentos bancários de grande porte, particularmente em função

do que Neri (2008, p. 30-32) chama de Assimetria de Informações. Referido aspecto é

traduzido como a falta de conhecimento que o credor tem perante as verdadeiras intenções do

tomador de pagar o empréstimo, constituindo-se numa grande barreira, além de se revestir em

preconceito e talvez a perda de lucros com a transação para ambos os lados.

Esse clima contribui para que os microempreendedores ainda fiquem nas mãos de

agiotas ou se financiem com base em outras fontes de capital, como aposentadorias e

programas governamentais de transferência de renda, a exemplo do Programa Bolsa Família,

do Governo Federal Brasileiro.

O caminho de quebra desse paradigma veio da Ásia, através do Grameen Bank, quando

foi comprovada a possibilidade de se emprestar a pobres pequenas quantias, estabelecendo

confiança e dignidade àquelas pessoas, conforme fragmento de Costa (2010):

Yunus percebeu que as necessidades financeiras eram extremamente reduzidas.

Podia-se emprestar pouco a muitos. As pequenas amortizações e o “aval solidário”,

intra-grupo de devedores, garantiriam baixíssimo nível de inadimplência. Sua

revolução financeira foi dar crédito ao trabalho, quando sempre se deu ao capital.

Os “bancos dos pobres” não fornecem crédito direto aos consumidores. Seus

empréstimos são dirigidos aos produtores. São créditos para investimentos em

ferramentas e matérias primas. Os trabalhadores adquirem meios de produção. As

mulheres, devedoras prioritárias, tornam-se as maiores responsáveis pelas finanças

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domésticas. Elas se emancipam. A revolução do microcrédito é também revolução

feminista contra o patriarcalismo. Logo adiante, prosseguindo o negócio, elas

necessitam de informações. Buscam educação. Torna-se, então, revolução cultural.

(COSTA, 2010, p. 3).

Em sintonia com essa colocação Guerra (2008, p. 31) resume de maneira competente os

objetivos do microcrédito que pairam na literatura:

Combater a pobreza e o desemprego, através do fortalecimento das atividades

econômicas de pequeno porte, substituindo as formas assistencialistas de atender a

população de menor poder aquisitivo. (TANURI, 1997).

Promover a experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de

sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito” que atendam a

população de baixa renda, de forma a criar condições de sobrevivência, auto-

sustentatabilidade, crescimento e formalização dos pequenos negócios (Lei 9.790, de

23.03.99, art. 3▫, alínea IX). (BRASIL, 1999).

Promover a implantação, a modernização, a ampliação e∕ou diversificação de

atividades capazes de gerar e manter trabalho e renda, em bases auto-sustentáveis,

com base em investimentos de pequeno valor, com respaldo principalmente no

sistema de crédito solidário (Resolução n▫ 59 do CODEAFAT de 25 de março de

1994). (BRASIL, 1994).

Elevar a produtividade dos empreendimentos, através do incentivo fixo associado à

capacitação técnico-gerencial do empreendedor, de forma a minimizar o risco do

negócio, possibilitar o seu crescimento e estimular a formalização das

microempresas. (SÃO PAULO, 1998).

De acordo com a legislação brasileira podem operar com microcrédito as seguintes

instituições: Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs); Programas de

Governo Locais (conhecidos como “bancos do povo”); Sociedade de Crédito ao

Microempreendedor (SCMs); Programas de Bancos Comerciais; e Cooperativas de Crédito

(GUERRA, 2008, p. 34).

Tal disciplinamento contribuiu para fomentar o crédito na direção dos

microempreendimentos, abrindo o caminho para o registro oficial de muitos deles no

ambiente fiscal do país e fazer desaparecer a resistência de algumas instituições financeiras

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que não acreditavam na viabilidade de empréstimos concedidos a agentes produtivos que

ainda atuam no berço da informalidade brasileira.

2.6.2 A inspiração

A filosofia operacional do AGROAMIGO tem ligação direta com o programa de

microcrédito criado pelo Banco do Nordeste para atender os microempreendedores urbanos

intitulado de CREDIAMIGO.

Criado em 1998, esse coirmão do AGROAMIGO desenvolveu tecnologia própria de

funcionamento, a qual foi aperfeiçoada a partir de 2003, quando firmou parceria com o

Instituto Nordeste Cidadania, levando em conta a Política Nacional de Microcrédito Produtivo

Orientado (PNMPO), do governo federal brasileiro.

O CREDIAMIGO além de possibilitar o crédito, oferece também assessoria e

acompanhamento aos microempreendedores para que estes, ao contrário do amadorismo ou

espírito aventureiro que reina em algumas iniciativas de negócios, toquem suas atividades

econômicas numa visão empresarial.

Sua atuação é canalizada para a clientela residente na área urbana das cidades que ainda

labutam na informalidade, oferecendo assistência creditícia, que oscila, na posição de

agosto/2011, de R$300,00 a R$15.000,00, entre variadas modalidades de crédito, tendo como

ponto marcante de sua metodologia de funcionamento um contato estreito com o tomador do

empréstimo antes, durante e após a liquidação de seu compromisso perante o banco, neste

último caso para avaliar a possibilidade de renovação do negócio.

Nesse trabalho de acompanhamento sistemático dos empreendimentos financiados, cria-

se, por meio do assessor de crédito, uma interação muito próxima com a clientela que facilita

a passagem de orientações técnicas e empresariais mínimas visando conscientizá-la não só em

relação à responsabilidade com os compromissos financeiros, mas para que fique alerta

quanto à sustentabilidade e crescimento da atividade econômica explorada.

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A metodologia do CREDIAMIGO de há muito se encontra consolidada, tendo

colaborado para mudar o status de vida de muitas pessoas que eram invisíveis no mercado de

crédito formal, de tal sorte a vir expandindo suas aplicações ano após ano, tanto pela

renovação dos empréstimos quanto por atrair novos clientes para a sua plataforma de

atendimento, conforme se pode ver no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Quantidade de Desembolsos e Aplicações do CREDIAMIGO – 2001 a 2011.

Fonte: Banco do Nordeste do Brasil (2012).

Ao mencionar os atributos que evidenciam o caráter vencedor do Crediamigo, Rhyne e

Holt (2005 apud NERI, 2008, pag. 42-43) pontuam as seguintes características:

Contato direto dos agentes do banco com a realidade e o ambiente dos clientes, em

um sistema pouco dependente de agências físicas; empréstimos de baixos valores e

progressivos, de acordo com a adimplência do cliente; flexibilidade das formas e das

datas dos pagamentos no caso de choque exógeno (RHYNE; HOLT, 2005 apud

NERI, 2008, pag. 42-43).

De sua concepção até abril 2011, o sítio do Banco do Nordeste registra que o

CREDIAMIGO já realizou 8.520.508 operações de crédito, representativas de R$8.943,0

milhões desembolsados em favor do seu público-alvo. Em termos relativos, significa um

crescimento de 1.450% e 2.060%, respectivamente. Sob outro ângulo, verifica-se que a média

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anual de elevação é de 131% nas quantidades de operações firmadas e 136% quando a

referência são os valores desembolsados.

2.6.3 O formato para o mercado

O AGROAMIGO é um programa de crédito pioneiro na atmosfera produtiva rural,

concebido de acordo com as determinações estipuladas pelo Programa Nacional de

Microcrédito Produtivo e Orientado (PNMPO), o qual foi instituído pela Lei 11.110, de

25.04.2005, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego.

Sua formatação contou com esforços conjuntos do Banco do Nordeste, da GTZ

(Deustche Geselischaft für Technische Zusammenarveit) – Cooperação Alemã para o

Desenvolvimento, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto Nordeste

Cidadania (INEC).

Na condição de responsável pela introdução do AGROAMIGO no Sistema Nacional de

Crédito Rural e mantenedor desse programa, o Banco do Nordeste, instituição financeira

integrante da administração indireta do governo federal:

É o maior Banco de Desenvolvimento regional da América Latina e diferencia-se

das demais instituições financeiras pela missão de atuar na capacidade de instituição

financeira pública, como agente catalisador do desenvolvimento sustentável do

Nordeste, integrando-o na dinâmica da economia nacional. Sua preocupação básica

é executar uma política de desenvolvimento ágil e seletiva, capaz de contribuir de

forma decisiva para a superação dos desafios e para a construção de um padrão de

vida compatível com os recursos, potencialidades e oportunidades da Região

Nordeste (BANCO DO NORDESTE – Relatório do AGROAMIGO. 2010).

A experiência piloto do AGROAMIGO foi realizada no Estado do Piauí, tendo o seu

começo em abril de 2004, nas agências de Floriano e Oeiras:

Com o apoio do INEC, realizou-se a seleção de assessores de microcrédito rural

entre os alunos de escolas agrícolas e técnicas locais, seguida de capacitação para

atuarem com a metodologia creditícia. Realizaram-se eventos de sensibilização, e

conscientização sobre a nova metodologia com os funcionários das agências, para

assegurar o envolvimento da equipe com o novo modelo” (ENAP, 2010, p. 169).

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Alcançado o êxito nessa iniciativa, a metodologia foi sistematizada em mais 76 agências

mediante seu lançamento oficial no ano de 2005.

Embora tenha que se adequar em dispositivos legais o AGROAMIGO não deixa de ser

um produto segmentado, já que se destina a um perfil específico de produtor rural e nesse

sentido encontra compatibilidade com o que cita Kotler:

Uma estratégia de segmentação de mercado sustenta-se primeiramente nos

consumidores e não no produto em si.

A característica atual de mercado de massa pode não satisfazer segmentos

específicos de consumidores. Portanto, aqueles que ofertarem produtos

diferenciados que atendam esse mercado terão maiores chances na acirrada

concorrência globalizada. Estar atento a essas necessidades específicas, condiciona o

setor produtivo a estabelecer variáveis geográficas, mográficas ou psicográficas

(estilo de vida, procura de benefícios, status, etc.) dos consumidores, estabelecendo

de forma concreta suas necessidades e a dimensão desse mercado propiciando

condições para a criação de um novo produto. O desenvolvimento de um produto

diferenciado é uma atitude para a concorrência por mercado (KOTLER, XXXX;

apud SILVEIRA, 1989, p. 40).

Combinando esse espírito de mercado, às peculiaridades da região onde atua, às citadas

parcerias e a veia subjacente de Política Pública presente no Programa Nacional de

Microcrédito Produtivo e Orientado (PNMPO), o Banco do Nordeste fez surgir o

AGROAMIGO, tendo definido que é “o programa de microcrédito rural que visa à concessão

de financiamento para a área rural, adotando metodologia própria de atendimento, cuja

premissa consiste no crédito orientado e acompanhado” (BANCO DO NORDESTE, 2011).

Conforme será visto doravante, há um forte entrosamento entre o Banco do Nordeste e o

INEC ao lidarem com o AGROAMIGO. O primeiro é responsável, sobretudo, pelo

delineamento das políticas e normalização do programa, ficando ao encargo do segundo dar

suporte às diretrizes daí emanadas, com o propósito de proporcionar dinâmica ao processo de

financiamento e exercer o controle de determinadas ações.

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2.6.3.1 Público-Alvo

De posse da Declaração de Aptidão ao PRONAF B (DAP), fornecida por uma das

entidades credenciadas pelo MDA, o AGROAMIGO se destina àqueles produtores rurais que

atendam conjuntamente às seguintes condições:

a) Explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário ou

parceiro;

b) residam na propriedade ou em local próximo;

c) não disponham, a qualquer título, de área superior a 4 módulos fiscais,

quantificados segundo a legislação em vigor;

d) obtenham, no mínimo, 30% da renda familiar da exploração agropecuária ou não

agropecuária do estabelecimento;

e) tenha obtido, nos últimos 12 meses que antecedem à solicitação da declaração de

aptidão (DAP) renda bruta familiar de até R$6.000,00, incluída a renda proveniente

de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele, por qualquer

componente da família, excluídos os benefícios sociais e os proventos

previdenciários decorrentes de atividades rurais.

2.6.3.2 Objetivos

No bojo de uma estratégia governamental que busca alcançar os agricultores familiares

com menos condições de acesso ao crédito e, ao mesmo tempo, combater a pobreza e miséria

que lhes rondam, o programa em referência procura (BANCO DO NORDESTE – Relatório

do AGROAMIGO, 2010):

a. Atender com crédito gradativo e sequencial;

b. Conceder crédito orientado e acompanhado;

c. Adotar a metodologia do microcrédito rural;

d. Agilizar o processo de concessão de crédito;

e. Expandir, de forma quantitativa e qualitativa, o atendimento com redução de

custos para o cliente;

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f. Atender ao(à) cliente na própria comunidade, por meio do Assessor de

Microcrédito Rural (AMR);

g. Atender integralmente ao(à) cliente, buscando a identificação das necessidades

de outros serviços microfinanceiros;

h. Promover a inclusão financeira do(a) agricultor(a) familiar e seu acesso ao

Banco.

i. Sensibilizar os(as) agricultores(as) familiares quanto à importância da educação

financeira;

j. Conscientizar o(as) agricultores(as) quanto à necessidade de exploração

sustentável do meio ambiente.

Esse direcionamento operacional e estratégico proporciona foco ao AGROAMIGO no

sentido de atuar como política pública eficiente que busca resultados capazes de transformar

positivamente a qualidade de vida de seus beneficiários.

2.6.3.3 Modalidades

O Crédito do amigo destina-se às operações e Custeio (Agrícola ou Pecuário),

Investimento e Comercialização.

2.6.3.4 Finalidade dos Financiamentos

Podem ser financiadas atividades Agropecuárias e não-Agropecuárias, segundo as

determinações do programa.

No primeiro grupo, por exemplo, estão a fruticultura, os grãos, a Olericultura, as Raízes

e Tubérculos, ou seja, aquelas de natureza agrícola. Além delas, são enquadráveis a

bovinocultura, a ovinocultura, a avicultura, a piscicultura e a suinocultura, estas no ramo

pecuário.

No segundo, envolvendo iniciativas econômicas não agropecuárias, podem se enquadrar

atividades como o artesanato, a confecção, o comércio e os serviços no meio rural.

2.6.3.5 Estrutura de Atendimento e Área de Abrangência

Muito embora exista distinção nos papéis do Banco do Nordeste e do INEC o

gerenciamento do AGROAMIGO é compartilhado, cabendo a cada uma das entidades

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dimensões e papéis específicos, como colocado na sequência (BANCO DO NORDESTE –

Relatório do AGROAMIGO 2010):

No Banco

Direção Geral do Banco – responsável pelas diretrizes do AGROAMIGO

(produtos, processos, metodologia, controles, mercado, gestão financeira etc):

. Superintendência de Agricultura Familiar e Microfinança Rural – Superintendente;

. Ambiente de Gerencialmento do PRONAF e Programas de Crédito Fundiário –

Gerente do Ambiente;

. Célula de Gerenciamento do AGROAMIGO – Gerente Executivo e Gerentes de

Negócios;

A Superintendência Estadual do Banco do Nordeste

. Gerência Estadual do AGROAMIGO – Gerente Estadual, responsável pela

coordenação de resultados operacionais das agências.

Na Agência Local do Banco do Nordeste:

. Gerente de Negócios do PRONAF e Analista Bancário – Banco, responsáveis por

operacionalizar as etapas finais de concessão de crédito (deferimento, desembolsos,

recebimento) e concessão de outros produtos e serviços financeiros.

No Instituto Nordeste Cidadania (INEC)

. Diretoria e Presidência do Inec, responsáveis por executar as ações do Termo de

Parceria, entre elas a gestão da equipe de assessores e a operacionalização das etapas

de concessão de crédito sob responsabilidade de seus funcionários;

. Coordenadores de monitoração e de recursos humanos;

. Assessores técnicos (de apoio administrativo);

. Assessores estaduais de recursos humanos e administrativos, responsáveis pela

gestão regional dos assessores, no tocante a resultados operacionais e pelo

acompanhamento funcional (seleção, capacitação, gestão de benefícios etc);

. Monitores, mecanismo de controle interno;

. Assessores de microcrédito rural executam atividades de atendimento, prospecção,

elaboração de cadastro, elaboração de propostas simplificadas de crédito,

acompanhamento, orientação e renovação de crédito.

Atrelada a essa organização se encontram diversos colaboradores, conforme

apresentado no Quadro 7 (BANCO DO NORDESTE – Relatório do AGROAMIGO 2010):

Quadro 7 – Contingente de Coordenadores e Assessores do INEC para o AGROAMIGO – dez/2010

ESTADOS Agências Municípios

Atendidos

Número de

Assessores Coordenadores

Alagoas 8 101 37 8

Bahia 32 396 120 32

Ceará 24 186 78 19

Maranhão 14 196 69 14

Minas Gerais 11 171 68 12

Paraíba 13 215 48 13

Pernambuco 16 192 75 16

Piauí 16 239 70 16

R.G. do Norte 11 166 34 11

Sergipe 14 83 33 14

Totais 159 1.945 632 155

Fonte: (BANCO DO NORDESTE, 2011)

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Referido contingente se encontra alocado em 159 agências do Banco, atendendo a 1.945

municípios nordestinos e o norte de minas gerais, todos vinculados ao INEC.

2.6.3.6 Metodologia de Atendimento

Num processo de evolução, quando anos atrás atendia o mesmo público-alvo referido

no item 2.6.3.1 por meio do PRONAF B, o AGROAMIGO alcança sua clientela utilizando-se

de uma metodologia de atendimento inovadora. Ele tem etapas bem definidas, permitindo

rápida densidade de crédito na região onde atua sem perder de vista os requisitos da boa

técnica bancária, sobretudo com o escopo de garantir, durante tempo suficiente, a perenidade

de recursos para quem esse tipo de financiamento está direcionado.

O Quadro 8 revela os principais aspectos inovadores do AGROAMIGO em relação ao

modelo tradicional de atendimento do PRONAF B:

Quadro 8 – Comparativo de Inovações entre o AGROAMIGO e o PRONAF B

Premissas AGROAMIGO PRONAF B

Escala

A parceria na operacionalização

permitiu a melhoria do

atendimento em escala, maior

agilidade e flexibilidade no

processo de concessão de crédito.

O atendimento era realizado sem

planejamento e tinha como

finalidade absorver uma demanda

espontânea, a depender da região.

Crédito Orientado

Os clientes recebem

acompanhamento e orientação

permanente de um assessor

especializado (Assessor de

Microcrédito Rural-AMR), o que

confere segurança às atividades

financiadas.

Os clientes, em geral, só tinham

contato mais direto com o Banco

quando da assinatura do contrato

de financiamento e nos momentos

de fiscalização do crédito.

Gestão e Monitoramento

A aplicação da metodologia é

monitorada permanentemente,

tanto pelo INEC quanto pelo

Banco do Nordeste, possibilitando

a manutenção da qualidade do

Programa. Afora contribuições

oferecidas por parceiros como o

Ministério do Desenvolvimento

Agrário e a GTZ.

Desprovido de metodologia

compatível para atender os

microempreendedores rurais, os

quais caíam na vala comum para

acesso ao crédito agropecuário.

Acompanhamento

Os clientes são acompanhados em

todo o processo do crédito, o que

possibilita um melhor

desenvolvimento das atividades

financiadas.

Revelava-se deficiente por falta de

uma estrutura adequada de

acompanhamento dos

financiamentos, não só do ponto de

vista de estratégias, mas em função

dos custos elevados.

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Quadro 8 – Comparativo de Inovações entre o AGROAMIGO e o PRONAF B (continuação)

Fonte: Elaborado pelo autor com base nas Ações Premiadas no 15º. Concurso Inovação na Gestão Pública

Federal 2010. (ENAP, 2011).

Ao demarcar as inovações presentes no AGROAMIGO, cabe enaltecer seu papel como

instrumento efetivo de política pública que visa, dentre outros objetivos, a diminuição do

êxodo rural e, consequentemente, quebrar um dos elos que alimentam problemas nas

periferias das grandes cidades, devido a superpopulações nessas áreas.

2.6.3.6.1 Abertura de Área

Compreende a escolha dos municípios onde se tem condições de desenvolver o

programa e mobilizar parcerias, trabalho este que é realizado internamente, na unidade, numa

preparação às ações em campo do assessor de microcrédito.

2.6.3.6.2 Mapeamento do Mercado

Premissas AGROAMIGO PRONAF B

Acessibilidade

Por meio do Assessor de

Microcrédito Rural (AMR),

induzindo e qualificando a

demanda por crédito, quando se

consegue disponibilizar

atendimento nos lugares mais

longínquos e ao público mais

necessitado.

Precária na medida em que

dependia da ação do próprio

microempreendedor rural, de seus

representantes associativos como

Sindicatos e Associações de

Trabalhadores Rurais ou entidades

eventualmente interessadas em

ajuda-los.

Sustentabilidade do Crédito

Redução significativa da

inadimplência, o que assegura

retorno do recurso do FNE para

viabilizar novos financiamentos.

Constatação de altos índices de

inadimplência, prejudicando,

inclusive, novas oportunidades de

crédito para os

microempreendedores rurais.

Meta de Produtividade

O Assessor de Microcrédito Rural

(AMR) deve formar uma carteira

de 600 clientes, no prazo de um

ano, sendo possível a extrapolação

dessa meta até o percentual de

10%.

Não havia qualquer referencial de

produtividade, sendo ilimitado o

número de clientes que poderiam

ser atendidos.

Atendimento Especializado

O Assessor de Microcrédito Rural

(AMR) possui um perfil

profissional qualificado,

geralmente escolhido dentre

técnicos agropecuários ou similar,

possibilitando melhores chances de

diálogo e entendimento do que

necessita a clientela aqui

enquadrada.

Financiamentos concedidos por

meio de bancários, que possuem

um perfil profissional tendente à

generalidade, mais ajustado ao

conceito global do mercado ao

invés de voltado a um segmento

particular como é o do

microempreendedorismo rural.

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Ocorre mediante visita aos municípios selecionados, da qual participam gestores da

agência, com o fito de: estabelecer contato com a clientela potencial; firmar as parcerias

identificadas, verificar a infraestrutura local; e aprimorar a base de dados socioeconômica

pesquisada.

2.6.3.6.3 Promoção e Palestra Informativa

Significa a oportunidade de divulgação do AGROAMIGO perante sua clientela e

parceiros do programa, a exemplo das empresas de prestação de assistência técnica e extensão

rural, bem como de avaliar percepções acerca das características socioeconômicas desse

público e respectivas necessidades de crédito. Configura-se também em um momento para

mostrar direitos e deveres dos tomadores de crédito, vantagens quanto a correta aplicação dos

recursos recebidos emprestados e esclarecer dúvidas acerca das condições do financiamento.

Finalmente o microprodutor rural é sensibilizado a dar atenção para questões importantes

como a formação de poupança, a preocupação em educar-se e explorar de maneira sustentável

o meio ambiente.

2.6.3.6.4 Elaboração e Formalização da Proposta

Constitui-se num processo de entrevista individual em que o Assessor de Microcrédito

Rural aproveita para realizar o cadastro do candidato ao crédito e levantar informações sobre

a atividade a ser financiada, assim como a correspondente capacidade de geração de receitas.

Uma vez organizados e documentados esses dados, a Proposta Simplificada de Crédito é

elaborada e submetida ao Comitê de Crédito da Agência.

2.6.3.6.5 Aprovação da Proposta de Crédito e Contratação

Representa o deferimento do negócio por parte do Comitê de Crédito da Agência do

Banco do Nordeste, à luz das informações contidas na proposição de crédito que apontam sua

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viabilidade técnica, suficiência de pagamento e adequado limite de endividamento do

proponente do crédito, além de ser considerada a idoneidade cadastral deste.

Uma vez aprovado o financiamento sua formalização, envolvendo o Banco e o(a)

cliente, poderá ser providenciada.

2.6.3.6.6 Desembolso do Crédito

Diz respeito à disponibilização dos recursos financiados para o beneficiário do

financiamento, a fim de que possa aplicá-los nas finalidades previstas contratualmente. Nesta

fase há um repasse, a cargo dos Assessores de Microcrédito Rural, dos compromissos

firmados pelo tomador do crédito pertinente às datas em que deve reembolsar o financiamento

e quanto à responsabilidade no sentido de destinar, de fato, os recursos para os itens indicados

na proposta de crédito. O micro-produtor rural também recebe um carnê para pagamento e um

calendário do AGROAMIGO com a indicação das datas em que isso deve ocorrer.

2.6.3.6.7 Administração do Crédito

Sua finalidade é assegurar que os financiamentos concedidos retornem nos prazos

originalmente pactuados. Para isso, são realizadas visitas com o objetivo de verificar a correta

aplicação do crédito e prestar orientações aplicáveis à ocasião. No âmago dessa ação está o

caráter preventivo, já que o fato de residir próximo aos locais onde as operações de crédito

são realizadas permite ao Assessor de Microcrédito Rural fazer um acompanhamento

periódico e ou grupal.

2.6.3.6.8 Renovação do Crédito e Acesso a Novos Produtos Financeiros

Tem a ver com a possibilidade de o microeempreededor rural ter acesso a novo crédito

em função de seu histórico de crédito no AGROAMIGO, de forma gradativa e levando-se em

conta os requisitos observados e já referidos anteriormente para aprovação do financiamento,

quando se aproveita também para promover a oferta de outros produtos microfinanceiros. Ex:

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Um agricultor que tenha obtido um crédito para atividade agropecuária se pagar em dia o seu

financiamento, poderá ter esse crédito renovado por um valor maior, onde poderá expandir

sua atividade econômica, bem como lhe ser oferecido um seguro prestamista, a fim de

resguardar sua família desse débito em caso de vir a falecer.

2.6.3.6.9 Limites, Encargos Financeiros e Fonte de Recursos

Para os clientes enquadráveis no AGROAMIGO e que representam a base da pirâmide

social, foi estipulado o pagamento de juros à taxa de 0,5% ao ano, com direito a rebate (vide

nota quadro 5), sendo o valor máximo de cada uma das operações de crédito do

AGROAMIGO de R$2,5 mil, para a unidade familiar. Junto e concomitantemente a este valor

poderá também ser acrescido o do financiamento concedido às mulheres agricultoras

integrantes, mas que não sejam líderes, de unidades familiares enquadradas no Grupo B,

neste caso, porém, respeitado o limite de até 3(três) operações de crédito.

Atualmente o programa tem como fonte de recursos o Fundo Constitucional de

Financiamento do Nordeste – FNE.

2.7 QUALIDADE DE VIDA

No desafio histórico de superar os seus próprios limites o homem vem ultrapassando as

barreiras do tempo com a poderosa arma do conhecimento, tendo encontrado muitos

substitutos para seu esforço físico, o que lhe diminuiu o trabalho e criou condições para viver

melhor.

Inventos de incontestável valor ajudaram nessa fantástica trajetória, a exemplo da roda,

das ferramentas para o labor, dos barcos, dos aviões e inúmeras outras que permitiram a

conquista do controle do movimento, a exploração do subsolo, à potencialização da força,

enfim, a geração de riqueza.

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Mesmo com tudo isso, como é sabido, existem de um lado da moeda, povos convivendo

com os recursos da mais alta tecnologia e, de outro, ainda nos primórdios da humanidade ou

mergulhados na miséria. Quem tem melhor qualidade de vida? Esse poderia ser um debate

interessante, mas não é foco deste bloco de abordagem que tem como alvo se cingir ao que

significa qualidade de vida.

Antes, contudo, é preciso saber que a qualidade de vida é consequência de uma ação e

que, analogamente, usando uma linguagem estatística, funcionaria como uma variável

dependente, podendo se desdobrar em outras, as quais podem ter seu status modificado para

melhor ou pior a depender da avaliação realizada, ou seja, sofrer um impacto.

Em termos de impacto, a complexidade maior se encontra em como avaliar sua

presença, pois ainda há controvérsia na literatura em como fazer isso. Vários exemplos de

definições podem ser vistos no Quadro 9, conforme seus autores:

Quadro 9 – Definições sobre Avaliação de Impacto

Autor Definição∕Comentários

Scriven (1991)

Uma avaliação focada nos resultados ou retornos do investimento,

em vez de no processo, na entrega, ou na avaliação da

implementação.

Mohr (1992)

Vamos tomar o termo análise de impacto para significar a

determinação da extensão em que um conjunto de atividades

humanas dirigidas(X) afeta o estado de alguns objetos ou

fenômenos (Y1,..., o Yk) – pelo menos algumas vezes –

determinando por que razão os efeitos foram tão pequenos, ou

grandes, como acabaram por ser.

Baker (2000)

A intenção [...] é determinar mais amplamente se o programa teve

os efeitos desejados nos indivíduos, domicílios e instituições e se

aqueles efeitos podem ser atribuídos à intervenção do

programa. Avaliações de impacto também podem explorar

consequências não previstas, positivas ou negativas, nos

beneficiários.

Roche (2002)

É a análise sistemática das mudanças duradouras ou significativas

– positivas ou negativas, planejadas ou não – nas vidas das

pessoas e ocasionadas por determinada ação ou série de ações.

Bickman (2005)

É uma avaliação focada nos resultados ou impactos de um

programa, política, organização ou tecnologia. Avaliações de

impacto tipicamente tentam fazer inferências causais que conecta

o avaliado com o resultado. [...] Avaliação de impacto também é

referenciada como resultado, impacto ou avaliação somativa.

Organização para a Cooperação e o

Desenvolvimento Econômico OCDE

(2008)

Impacto são os efeitos de longo-prazo, positivos e negativos,

primários ou secundários, produzidos por uma intervenção para o

desenvolvimento, direta ou indiretamente, intencional ou

involuntariamente.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Bauer, 2010.

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Neste trabalho, o modelo adotado será aquele exposto por Roche (2002, p. 38). Daí por

que os efeitos a serem esperados a partir da intervenção do AGROAMIGO, objeto de

averiguação nesta pesquisa, podem ser vistos na Figura 4:

Figura 4 – O Ponto de Vista Ortodoxo do Enfoque da Avaliação de Impacto

Fonte: Elaborado pelo autor.

Um alerta fundamental e oportuno nesse contexto é assinalado por Roche (2002), ao

discorrer que:

Repercussão no Agroamigo

Modelo de Roche

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A mudança significativa e duradoura nas vidas das pessoas deve levar em conta seus

valores, prioridades e julgamentos; os projetos não podem ser julgados como tendo

sido um ‘sucesso’ ou ‘fracasso’ se as percepções daqueles que a intervenção

pretende beneficiar divergem (sic) drasticamente daquelas do pessoal encarregado

dos funcionários do projeto ou de um avaliador externo. [...] Valorizar a sabedoria e

o julgamento das pessoas comuns é, portanto, um elemento crítico de qualquer

processo de avaliação de impacto. (ROCHE, 2002, p. 46).

Evidentemente que isso se torna um desafio a considerar, mas pode ser superado ao se

estabelecer um foco para o que se quer, concentrando a interpretação dos fatos e achados

nessa mesma direção.

Também não podem passar despercebidos os problemas de agregação e atribuição no

âmbito da avaliação de impacto, destacando, porém, o último deles, já que todo mundo quer

ser o pai da boa ideia. O primeiro guarda consonância com a dificuldade de sintetizar ou por

em sumário o que se está realizando, a fim de lhe dar um significado, em termos de

informações e relatórios, por exemplo. Em relação ao segundo, o óbice se encontra em

determinar a causalidade, pois muitos fatores podem influenciar uma mudança observada,

ainda mais quando não se podem isolar determinadas variáveis como ocorre nos estudos

experimentais de laboratório.

Hulme (1997 apud ROCHE, 2002, p. 51) comenta que no exterior do laboratório,

especialmente quando se está diante de um trabalho de desenvolvimento social, não é

conveniente e nem comumente possível, a dependência pontual desse modo de observação

científica, devido a motivações éticas e metodológicas, em que:

. É geralmente impossível encontrar um grupo de controle similar ao grupo de

pessoas que se beneficiam de uma intervenção, que estão sujeitas a exatamente as

mesmas influências, exceto quanto ao aporte específico da agência, e cuja situação

espelha aquela do grupo beneficiário no decorrer de determinado projeto;

. Reter o apoio de um grupo de controle para que ele permaneça “não contaminado”

não é apenas difícil (talvez seja preciso ter que persuadir outras agências a não

apoiá-los, mas é na maior parte dos casos antiético e pode transgredir seus direitos

humanos);

. Determinada intervenção não ocorrer de forma isolada de outras organizações, a

partir do contexto local, das políticas econômicas e políticas mais abrangentes e, de

modo mais importante, das ações e reações daqueles a quem se pretende apoiar. Ela

interagirá com estas de diferentes maneiras em diversos locais. Identificar o que

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causou um impacto nesta situação de algum modo científico é provavelmente muito

difícil e geralmente muito dispendioso.

O tratamento dessas ponderações será explicitado no item sobre metodologia,

especificamente em termos do processo de coleta de dados.

Uma vez estabelecida a ligação entre “Impacto” e “Qualidade de Vida”, retoma-se os

esforços acerca do significado deste último termo aproveitando o trabalho científico de

Sacomano (2010), envolvendo o tema da Responsabilidade Social, quando faz um resgate do

percurso seguido pelos estudiosos para a compreensão do que ele representa, vide Quadro 10:

Quadro 10 – Referências Históricas sobre Qualidade de Vida

Natureza da Referência Autor e∕ou Registro no

Tempo

A primeira semente de que se tem notícia sobre o termo “Qualidade de Vida”

foi plantada no livro “The Economics of Welfare”, porém a expressão não foi

devidamente valorizada.

Paschoal (2002)

Incorpora-se o conceito de bem-estar ao de Saúde, gerando polêmica sobre se

era possível ou não avaliar o grau de bem-estar físico, emocional e social.

Organização Mundial de

Saúde-OMS (Final da

Segunda Guerra Mundial,

em meados dos anos 1940)

A expressão “Qualidade de Vida” é usada pelo presidente dos Estados Unidos,

Lyndon Johnson, em 1964, ganhando maior relevância e repercussão. Fleck et al (1999)

Grupos científicos propalam o tema “Qualidade de Vida” em discursos na

esfera científica e política, como decorrência da preocupação das Nações

Unidas em medir o grau de vida das muitas comunidades espalhadas pelo

mundo.

Meados dos anos 1960

Os valores ambientais e humanos são descritos pela “Qualidade de Vida”, e

nesse conjunto são postos à margem pelas sociedades industriais que tem como

prioridade os avanços tecnológicos e a busca da produtividade.

Rodrigues (1994)

A “Qualidade de Vida” é vista como um tema amplo, podendo qualquer opinião

ser considerada correta, pois que trazem uma verdade sobre ela, embora não a

abarque por completo.

Daminelli (2000)

O termo “Qualidade de Vida” fica ao crivo da sensibilidade de cada observador,

de sua cultura, seus meios econômicos e também dependente das frustrações. Moreira (2001)

A “Qualidade de Vida” é interpretada como o viver no bom sentido e de

resultado compensatório em pelo menos quatro vertentes: social, afetiva,

profissional e a saúde.

Lipp(2001)

Felicidade e bem-estar são sinônimos de “Qualidade de Vida”. Cloninger (2004)

As condições materiais e imateriais almejadas pelos indivíduos e comunidades

são vinculadas à “Qualidade de Vida”. Há um olhar para aspectos sociais e

econômicos que proporcionam ou não que as oportunidades sejam mantidas.

Percebido que as pessoas possuem anseios diferenciados, a depender da idade e

do modo de vida.

Gonçalves e Vilarta (2005)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Sacomano, 2010.

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Herculano (2000 apud GUERRA, 2008) realiza crítica sobre os diferentes aspectos que

poderiam caracterizar o conceito de “Qualidade de Vida”:

[...] A questão do entendimento sobre o que é qualidade de vida pode ser vista como

desnecessária, não por ser desimportante ou pouco palpável, mas pela sua

obviedade. Algo que ninguém saberia definir, mas que parodiando a referência da

poeta Cecília Meirelles à liberdade, todos entendem o que é. Talvez por isto a ênfase

dos estudos sobre qualidade de vida enfoque predominantemente a sua mensuração,

ficando embutido na escolha sobre o que mensurar os pressupostos do que se

entende venha a compor qualidade de vida (HERCULANO, 2000 apud GUERRA,

2008, p.56)

Com fundamento na ideia desse autor, Guerra (2008), pontua dois aspectos acerca de

como a qualidade de vida pode ser avaliada:

1) Avaliando e mensurando os recursos disponíveis que permitem a sociedade, ou

determinados grupos dela, satisfazer suas necessidades. Por exemplo, é possível

analisar as condições de saúde baseada no número de leitos e médicos disponíveis,

as condições de educação pela quantidade de escolas, professores, livros publicados

e níveis de escolaridade atingidos, as condições ambientais pela potabilidade da

água, da emissão aérea de poluentes, pelo número de domicílios com acesso a água

encanada e esgotamento sanitário, pela dimensão per capita de área verde.

2) Avaliar a qualidade de vida através das necessidades, mensurando a mesma pela

distancia entre o que se deseja e o que se alcança. Neste caso há que se considerar

que a definição de qualidade de vida irá oscilar em função das diferenças

individuais, sociais e culturais (GUERRA, 2008, p. 56-57).

Analogamente, o primeiro dos aspectos acima se sintoniza com a objetividade

preconizada pela observação sobre qualidade de vida de Guerreiros e Hayos (apud AGUIAR

2003), diante da possibilidade de serem criados indicadores relacionados à carência humana

(mortalidade infantil, deficiência alimentar etc). Já o segundo, tem ligação com a

subjetividade definida nessa mesma abordagem, podendo esta ser traduzida pela percepção

psíquica que os indivíduos detêm acerca de qualidade de vida, oscilando de pessoa para

pessoa, como dependência de variáveis como nível educacional, faixa social a qual pertence,

valores de sua personalidade, cultura etc.

Conclui-se, assim, que ainda não há uma posição consensual sobre o conceito de

“Qualidade de Vida”.

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Nada obstante, é aceita a existência de três características que influenciam a

compreensão desse termo, a saber: multidimensionalidade; subjetividade e vertentes positivas

e negativas, conforme defende Fleck et al.(apud SACOMANO, 2010).

Por hora não é objetivo aqui perpassar por um aprofundamento desses aspectos. Mas

aproveitando a flexibilidade do que significam ou possam transparecer com base na carga de

definições ou referências sobre “Qualidade de Vida”, é possível evidenciar que, em termos

teóricos ou práticos, existe a preocupação no sentido de que as pessoas precisam de uma

plataforma mínima para viver e da sociedade participar dignamente.

Uma das referências é a “Hierarquia das Necessidades”, desenvolvida por Maslow

(1987).

Por intermédio da figura de uma pirâmide ele mostra que o topo, onde se encontram as

necessidades de auto-realização, só pode ser alcançado quando satisfeitas as dimensões

anteriores, a partir da base, onde estão aquelas consideradas prementes e de grau mais baixo

(CHIAVENATTO, 2011, p. 307-309).

Maslow, em sua teoria, definiu que as necessidades se apresentam hierarquicamente em

05 níveis, conforme figura 5 e descrição seguinte:

Figura 5 – Pirâmide de Maslow

Fonte: MASLOW (1987)

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1) Necessidades Fisiológicas ou Básicas

Água, alimentação, abrigo, excreção, repouso, sexo,;

2) Necessidades de Segurança

Segurança do corpo, emprego, de recursos, da saúde, da moralidade, da família, da

propriedade, da integridade da vida;

3) Necessidades Sociais

Afeto, amizade, independência, participação, socialização;

4) Necessidade de Auto-Estima

Aprovação social, confiança, conquista, prestígio e consideração, respeito alheio;

5) Necessidade de Auto-Realização

Ausência de preconceito, criatividade, espontaneidade, solução de problemas.

Discorrendo sobre o que essas necessidades podem significar, Chiavenato (2009)

assevera que:

O ser humano é um animal social dotado de necessidades: cada pessoa se caracteriza

por necessidades tipicamente humanas que a conduzem a certos tipos de

comportamentos com o propósito de satisfazê-las. [...] o comportamento humano é

orientado para objetivos: os objetivos individuais são complexos e mutáveis

(CHIAVENATO, 2009, p. 173).

As palavras de Chiavenato (2009) também soam como advertência para que não seja

atribuído um hermetismo à compreensão dessa escala de carências humanas, pois, ao envolver

o fator subjetividade, o radicalismo perde força em face da percepção presente em cada um e

a faculdade que o homem tem de agir, neste contexto, segundo a sua vontade.

Por fim, não seria presunção afirmar que teorias como a de Maslow (1987) influenciam

formadores de opinião e políticos bem intencionados, os quais, visando uma convivência

social mais saudável, trabalham para converter tais ideias em instrumentos legais. Isso no

intuito de tentar suprir minimamente algumas necessidades, a exemplo da segurança, da

educação e da saúde. Pois bem, em se tratando do Brasil, as citadas estão entre as que o

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Estado deve fundamentalmente garantir, abrindo uma importante veia de ação para que

políticas públicas e práticas sociais, principalmente usando a estrutura governamental ou com

a colaboração de parceiros, possam ser desencadeadas na busca da melhor qualidade de vida

em favor dos seus cidadãos (BRASIL, 1988).

Apresentada a fundamentação teórica passa-se, na sequência, a discorrer acerca dos

elementos da metodologia da pesquisa.

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3. METODOLOGIA DA PESQUISA

O propósito deste capítulo é apresentar a metodologia que foi utilizada na pesquisa,

compreendendo o seu delineamento, a descrição das técnicas de coleta de dados, bem como

da análise dos dados, além de serem expostas as delimitações do estudo. Todavia, a fim de

melhor situar o leitor deste trabalho com referência à localização geográfica da realização da

pesquisa, optou-se por fazer uma ligeira abordagem acerca da Cidade de Caruaru-PE,

selecionada como ambiente do estudo de caso aqui caracterizado.

3.1 O MUNICÍPIO DE CARUARU NO ÂMBITO DA PESQUISA

A cidade de Caruaru está localizada na microrregião do agreste central do Estado de

Pernambuco e foi criada em 01 de março de 1893, com base no art. 2º das disposições gerais

da Lei Estadual nº 52 (Lei Orgânica dos Municípios), de 03 de agosto de 1892, mas tem como

data cívica o dia 18 de maio, quando comemora seu aniversário (PERNAMBUCO, 2012).

Como se pode ver na Figura 6 a seguir, possui uma área de 921 km², limitando-se ao

norte com as cidades de Frei Miguelinho, Toritama e Vertentes; ao Sul com Altinho e

Agrestina; ao Leste com Bezerros e Riacho das Almas; e ao Oeste com São Caitano e Brejo

da Madre de Deus, bem como guarda uma distância de 130,1 Km do Recife, capital do estado

onde se situa (PERNAMBUCO, 2012).

Sua zona rural é composta por 4 distritos, formados por cerca de 220 povoados que

desenvolvem variadas atividades agropecuárias como a bovinocultura, a caprinocultura, a

avicultura, a olericultura e a agricultura tradicional, esta envolvendo a plantação de milho,

feijão e banana, por exemplo. Além disso, outras explorações econômicas são ali praticadas

como a de comércio, a de serviços (salão de beleza; borracharia etc) e a pequena manufatura,

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como é o caso da confecção de roupas e acessórios destinados a públicos diversos

(PERNAMBUCO, 2012).

Figura 6 – Mapa de Caruaru

Fonte: (BANCO DO NORDESTE, 2011).

Segundo dados do Governo de Pernambuco (2012), Caruaru tinha, em 2010, uma

população residente total de 314.912 habitantes, dos quais 279.589 (88,8% do total) na zona

urbana e 35.323 (11,2% do total) na zona rural. Em 2000, seu Índice de Desenvolvimento

Humano-IDH era de 0,713, enquanto o do Estado de Pernambuco atingiu 0,705

(PERNAMBUCO, 2012).

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Do ponto de vista econômico, a cidade gerou um PIB de R$2.420,0 milhões, em 2010, e

obteve a título de receita tributária o montante de R$323,0 milhões (PERNAMBUCO, 2012).

Juntamente com as cidades de Toritama-PE e Santa Cruz do Capibaribe-PE, ainda

segundo o governo de Pernambuco (2012), forma um arranjo produtivo local com foco na

confecção, onde são produzidas inúmeras peças, para ambos os sexos, contemplando todas as

faixas etárias, as quais são vendidas para diferentes estados brasileiros. Com características de

praça dinâmica, estão presentes em sua economia atividades dos três setores produtivos, isto

é, agropecuária (no primário), indústria (no secundário) e comércio/serviços (no terciário).

Devido à sua localização privilegiada, já que é cortada por duas rodovias federais (a

BR-232, que liga Recife à Araripina, no oeste do Estado de Pernambuco e a BR-104, que

viabiliza o tráfego alternativo de veículos entre a parte sul e o norte do Brasil), recebe

semanalmente a visita de milhares de turistas. Estes vêm realizar compras na feira do

artesanato, na feira da sulanca e na tradicional Feira de Caruaru (grifo nosso), conhecida

como a maior feira ao ar livre do mundo e considerada pelo Instituto do Patrimônio Histórico

e Artístico Nacional (IPHAN) como patrimônio imaterial do Brasil, local em que se negociam

artefatos das mais variadas espécies (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2007; IPHAN, 2012).

Esta feira constitui-se em um importante polo cultural por manter festas populares ao longo

do ano, onde se destaca um dos festejos de São João mais animados do país, que lhe valeu o

apelido de Capital do Forró (grifo nosso). Além das festas, o pólo apresenta um rico

artesanato, cujo ápice coube a Mestre Vitalino (artesão de renome internacional), e oferta uma

variada culinária, onde despontam pratos típicos como arroz doce, mungunzá, mão-de-vaca,

sarapatel, chambaril e a apreciada buchada de bode (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2007;

IPHAN, 2012).

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3.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA

A pesquisa é de natureza qualitativa, envolvendo o tipo descritivo e tem por fito

averiguar, registrar, analisar, interpretar e contextualizar as informações que serão obtidas

com base nas opiniões que serão extraídas dos participantes.

Diante das ressalvas feitas anteriormente no que tange a impossibilidade de se destacar

um grupo-controle (levando em conta que o Banco do Nordeste atualmente só atende o

público do PRONAF B por meio do AGROAMIGO), neste trabalho, quando da análise dos

resultados, serão apresentados os efeitos do AGROAMIGO como percepção de impactos na

qualidade de vida dos clientes da praça de Caruaru-PE, a partir da sua intervenção no local de

produção dessas pessoas, além da realização de uma checagem cruzada, em sintonia com o

que aborda Roche (2001) pertinente às observações de Hulme (1997 apud ROCHA, 2001)

colocadas na parte sobre qualidade de vida:

Frequentemente, o máximo que se pode fazer é demonstrar, por meio de

argumentação razoável, que determinado insumo conduz logicamente a

determinada mudança, mesmo que isso não possa ser provado estatisticamente.

Isto, por sua vez, pode ser checado de forma cruzada em relação aos pontos de

vista de outros atores para verificar se surgem áreas importantes de acordo ou

desacordo (ROCHE, 2001, P. 51, grifos nossos).

Enquadram-se no grupo de estudo daquelas em que objetiva levantar sentimentos,

percepções, atitudes e crenças de uma população (GIL, 2010, p. 28), procurando entender as

relações que esses achados têm com os impulsos recebidos de seu ambiente externo, os

fatores endógenos que possam influenciar na sua geração, além de como se amoldam essas

duas vertentes na situação observada.

Em essência a pesquisa qualitativa pinça atitudes e apresenta as seguintes características

segundo Merriam (apud GODOI; BANDEIRA-DE-MELO; DA SILVA, 2006, pag. 96):

O ambiente natural como sua fonte direta de dados; a preocupação-chave é a

compreensão do fenômeno a partir da perspectiva dos participantes, e não dos

pesquisadores; o pesquisador é um instrumento primário para a coleta e análise de

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dados; supõe o contato direto; e prolongado do pesquisador com o ambiente e a

situação que está sendo investigada; focaliza processos, significados e

compreensões; o produto do estudo qualitativo é ricamente descritivo.

Complementando, entende-se importante trazer à baila a concepção de Glace e Strauss

(apud GODOI; BANDEIRA-DE-MELO; DA SILVA, 2006, p. 96) quando menciona que os

“métodos qualitativos são estratégias de pesquisa naturalística, indutiva com aproximação do

ambiente sem hipóteses predeterminadas; a teoria emerge da experiência de campo e é

fundamentada em dados”.

Estabelecendo um alinhamento com os aspectos até então enfocados, Moreira (2004, p.

51) enfatiza que os objetos alvos das ciências sociais, isto é, as pessoas e suas atividades, ao

invés de configurarem-se somente como agentes interpretativos do meio onde convivem,

também compartilham suas visões da vida. Isto acontece à medida que se relacionam com

outros e refletem acerca de suas experiências na dinâmica de suas atividades diárias.

Isso posto, este estudo busca, a partir da manifestação dos participantes da pesquisa, a

compreensão que têm sobre “Qualidade de Vida” como resultado da intervenção do

AGROAMIGO em seu meio produtivo, razão pela qual o método qualitativo afigura-se como

forma mais indicada para verificar esses efeitos e interpretá-los, por meio de um estudo de

caso, sobre o qual se discorre na sequência.

3.2.1 Estudo de Caso

O estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que implica uma verificação detalhada,

envolvendo coleta de dados ao longo de um determinado tempo, onde o alvo é pessoa, a

família, grupos sociais, programas governamentais ou mesmo entidades, que fornecem

elementos para uma análise do contexto e dos processos ligados ao fenômeno em estudo

(HARTLEY apud GODOI; BANDEIRA-DE-MELO: e DA SILVA, 2006, p. 120).

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Se o fenômeno é contemporâneo, ele pode ser investigado empiricamente dentro de sua

ambiência da vida real por meio de um estudo de caso, conforme preconiza YIN (2001, p.

32).

Roche (2002, p. 185) defende que os estudos de caso, geralmente são empregados em

ocasiões onde é preciso compreender de modo mais aguçado um grupo específico de pessoas,

certo problema ou uma situação particular,

Gil (2010, p. 27), por sua vez, assevera que estudo de caso é caracterizado pelo estudo

pormenorizado de um ou reduzido número de objetos, de tal forma que possibilite um

conhecimento aprofundado e abrangente a seu respeito, uma atividade que praticamente não

se coaduna com outros tipos de estratégias de pesquisa.

Preconceitos existem no tocante ao método do estudo de caso, dentre eles, ressalta-se o

que aponta a falta de rigor para elaboração de uma pesquisa científica e o de que fornece

pouca base em direção à generalização científica.

Yin (2001, p. 29) refuta esses ataques com os seguintes argumentos:

Por muitas e muitas vezes, o pesquisador de estudo de caso foi negligenciante (sic) e

permitiu que se aceitassem evidências equivocadas ou visões tendenciosas para

influenciar o significado das descobertas e das conclusões. Também existe a

possibilidade de que as pessoas tenham confundido o ensino do estudo de caso com

a pesquisa do estudo de caso. No ensino, a matéria-prima do estudo de caso pode ser

deliberadamente alterada para ilustrar uma determinada questão de forma mais

efetiva. Na pesquisa, qualquer passo como esse pode ser terminantemente proibido.

(...) os estudos de caso da mesma forma que os experimentos, são generalizáveis a

proposições teóricas, e não a populações e universos. Nesse sentido, o estudo de

caso, como experimento, não representa uma ‘amostragem’, e o objetivo do

pesquisador é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) (YIN, 2001, p.

29).

A par dessas considerações, julga-se que o estudo de caso é a estratégia de pesquisa

adequada para se aplicar perante clientes da praça de Caruaru-PE dentro dos objetivos

estabelecidos no estudo sob desenvolvimento.

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3.2.2 Coleta de dados

Nesta etapa será exposto como ocorreu a condução do processo da coleta de dados, que

englobou entrevistas, técnicas observacionais e análise de documentos, tendo por escopo dotar

de maior segurança o que será revelado pelas opiniões e comportamentos dos participantes.

3.2.2.1 Entrevistas

Com relação aos participantes, foram aplicadas entrevistas não estruturadas, conhecidas

como entrevista em profundidade, já que o objetivo era montar um quadro geral e dinâmico

segundo a vivência e cognição do participante (SIERRA apud GODOI; BANDEIRA-DE-

MELO; DA SILVA, 2006, p. 305). De acordo com esse mesmo autor (apud GODOI;

BANDEIRA-DE-MELO; DA SILVA, 2006, p. 120), a entrevista em profundidade é uma

espécie de entrevista em que o objeto de averiguação é representado pela vida e nessa linha,

leva em conta as experiências, ideias, valores e a estrutura simbólica do entrevistado.

As entrevistas, dentro da estratégia de estudo de caso, podem assumir diversas formas.

Contudo, usualmente são utilizadas as de forma espontânea que permite ao entrevistador

indagar o participante não só pertinente sobre os fatos que o cercam, mas também acerca de

determinados eventos (YIN, 2001, pag. 112).

Godoi, Bandeira-de-Melo e Da Silva ao se referirem a esse tipo de entrevista indicam

que:

Face a ideia básica de entrevista-conversação para fins de pesquisa, três condições

nos parecem essenciais à entrevista qualitativa: que o entrevistado possa expressar-

se a seu modo face ao estímulo do entrevistador; que a fragmentação e ordem de

perguntas não sejam tais que prejudiquem essa expressão livre, e que fique também

aberta ao entrevistador a possibilidade de inserir outras perguntas ou participações

no diálogo, conforme o contexto e as oportunidades, tendo sempre em vista o

objetivo geral da entrevista. (2006, p. 305).

Com esse norteamento, foram gerados, a priori, dois roteiros de entrevista, sendo um

destinado aos participantes da pesquisa na condição de beneficiários do AGROAMIGO na

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praça de Caruaru-PE e outro voltado para os atores que operam esse serviço de financiamento

inovador (vide Apêndices A e B) .

Os beneficiários escolhidos foram aqueles que receberam e renovaram o crédito tanto

para finalidades agropecuárias quanto não agropecuárias, já que o AGROAMIGO contempla

essas duas possibilidades. Além disso, se constitui numa oportunidade de verificar como os

efeitos, em termos de qualidade de vida, aparecerão nesses dois segmentos, sem prejuízo de

melhor critério em concomitante articulação com o responsável pela orientação desta

dissertação e ou sinalização da banca examinadora do projeto.

Conforme relatórios disponibilizados pelo Banco do Nordeste, a praça de Caruaru-PE

possui 1.104 clientes atendidos pelo AGROAMIGO, inseridos entre os quase 90.000 de

Pernambuco, na posição de 31 de outubro de 2011.

Destarte, a princípio, para efeito de coleta dos dados, pretendia-se entrevistar um

número de participantes que contemplasse igualmente os grupos de agropecuários e não

agropecuários, até o alcance de uma amostra teórica em consonância com o princípio de

“saturação ou de ‘redundância’ criado por Glaser e Strause, a respeito do qual Godoi;

Bandeira-de-Melo: e da Silva (2006, pag. 309), aduzem a seguinte observação:

O critério de saturação teórica de Glaser e Strauss imprime rigor ao processo de

amostragem qualitativa, indiferente à aleatoriedade representativa da amostra

estatística. A noção de redundância centra a amostra teórica, ou amostra discursiva,

como Chama Sierra (1988, 312), no espaço do confrontramento (sic) sistemático

entre o campo e o desenvolvimento teórico. O processo de amostra teórica consiste

em uma etapa da investigação que marca o constante movimento de aproximação e

retorno entre a teoria e o campo realizado pelo pesquisador em direção à construção

do objeto.

Contudo, a par da quantidade de beneficiários que fazem parte da plataforma de clientes

do AGROAMIGO, no local onde as informações deste estudo foram coligidas, realizaram-se,

na verdade, 42 entrevistas, sendo 31 com agentes produtivos que exploram atividades

agropecuárias e 11 com os que auferem suas receitas a partir das não agropecuárias. Procurou-

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se chegar o mais próximo possível de uma proporção de 80 e 20% (condizente com o

mercado total), respectivamente, conforme comportamento observado ao longo de todos os

meses de 2011, com base no banco de dados disponibilizados pelo Banco do Nordeste (2011).

Devido a limitações de deslocamento, contudo, a proporção da amostra de agropecuários e

não agropecuários ficou em 74% e 26%, respectivamente. A decisão de escolher 42clientes

que fizeram renovação de crédito também se fundamenta no fato de o Banco do Nordeste

haver contratado 476 operações de crédito, no período de 01 de janeiro a 31 de outubro de

2011 (informações fornecidas pela Agência do Banco em Caruaru), das quais 368 se referem

a financiamentos renovados. Estes dados indicam um número médio próximo de 37

contratações∕mês, tendência que deve ser mantida até o final do ano corrente. Desta forma, os

42 clientes entrevistados compuseram uma amostra representativa para os objetivos deste

trabalho.

Ressalta-se que a prioridade das entrevistas voltou-se para os clientes com maior

número de renovação, da mais recente até a mais antiga, considerando a chance de melhor

verificação dos efeitos do AGROAMIGO na qualidade de vida de seu público-alvo, dentro de

uma analogia com o CREDIAMIGO (vide item 2.6.2, retromencionado).

No presente caso, a amostragem dos participantes foi de natureza não probabilística, do

tipo intencional, porém sem perda de consistência técnica, já que a observação dos impactos

do AGROAMIGO se voltará a um público específico e com objetivo de aprofundamento dos

fenômenos que se estará em contato. Assim, procura-se manter controle sobre todo o

delineamento do método, especialmente nesta fase, com vistas a evitar vieses que

prejudiquem o resultado da pesquisa (COOPER; SCHINDLER, 2003, p. 167 e 169).

Outra razão para isso é a economia de custos e de tempo, os quais são fatores

importantes a serem levados em conta, pois, considerando que o levantamento dos dados

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ficará a cargo do autor da pesquisa, quanto maior o número de entrevistas tanto mais será a

elevação dos dispêndios e do prazo para conclusão das atividades necessárias.

No tocante às entrevistas com os operadores do AGROAMIGO, cuja equipe em

Caruaru-PE é formada por 6 componentes, a mesma foi aplicada em todos eles como um

censo, devido facilidade de contato com os mesmos.

3.2.2.2 Observação Direta

Essa técnica foi utilizada para complementar o trabalho de coleta de dados, pois

funciona como importante fonte de evidências quando se trata de estudo de caso (YIN, 2001,

p. 115).

De outra parte, encampa o papel de instrumento auxiliar de validade dos efeitos

percebidos pela clientela do AGROAMIGO, na praça de Caruaru, em termos de qualidade de

vida, já que não será possível examinar um grupo-controle pelas razões descritas no tópico 2.7

(p. 68) deste trabalho.

3.2.2.3 Análise de documentos

Segundo YIN (2001, p. 109) a utilização de documentos tem a finalidade primordial de

confirmar e consistir as evidências suscitadas por outras fontes.

Com isso, assume um caráter acessório nesta pesquisa, embora não se descartem os

esforços no sentido de obter aqueles reputados como úteis ao processo, especialmente no que

se relaciona ao estabelecimento de referências cruzadas com informações obtidas dos

participantes da pesquisa, sejam eles beneficiários do AGROAMIGO, seus respectivos

operadores, além de parceiros, colaboradores ou interessados do programa. Tais documentos

compreenderam os relatórios de visitas/orientação/fiscalização relativos aos empreendimentos

financiados.

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3.3 MÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS

À luz da estratégia de pesquisa aqui escolhida, isto é, o estudo de caso, o exame dos

dados terá como técnica a Análise de Conteúdo, com um enfoque qualitativo à análise dos

discursos coletados, bem como técnicas de Estatística Descritiva, para os dados que poderiam

ser analisados quantitativamente.

3.3.1 Análise de Conteúdo

A análise de conteúdo engloba uma conjunção de procedimentos voltados à

compreensão das comunicações, possibilitando inferências com base em um texto, de

natureza quantitativa ou não, e a correspondente descrição sistemática do sentido da

mensagem sob verificação (RICHARDSON, 2009, p. 223).

Das ramificações existentes no domínio da análise de conteúdo, a análise de enunciação

é que terá lugar neste trabalho por apoiar-se na comunicação como um processo ao invés de

ser expressa como um dado, desviando-se das estruturas e modelos formais (BARDIN, 2011,

p. 217).

Uma vez que foi utilizada a entrevista não dirigida, a análise de enunciação afigura-se

adequada ao posto em termos de discurso e, deste, tendo atenção para todos os níveis nele

existentes, ou seja, da palavra, passando pela frase, o parágrafo, enfim, todas as sequências

(BARDIN, 2011, p.220).

Bardin (2011) chama atenção para o fato de o discurso não ser considerado um produto

final, mas representar uma ocorrência dentro de um processo de elaboração, o qual pode

simultaneamente se constituir de espontaneidade e o constrangimento numa dada

circunstância, em confronto com desejos, vontades, motivações por parte de quem o profere.

A preocupação com a objetividade e a localização dos significados ao analisar as

entrevistas, de cunho não estruturado, será um aspecto de maior atenção para que o conteúdo

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delas possa ser adequadamente expresso, dentro da cautela expressa por Morin e

Gewandsznajder (apud GODOI; BANDEIRA-DE-MELO: e DA SILVA, 2006, pag. 355-

356):

Não se fala em objetividade por causa do objeto, embora tenha a ver com ele. Fala-

se em objetividade por causa do diálogo intersubjetivo, para que o conhecimento se

construa e se aperfeiçoe socialmente e as pessoas se entendam racionalmente. (...)

Metodologicamente, não devemos armar-nos com moldes rígidos – categorias nas

quais enquadrar os significados das falas que nos chegam, em entrevistas, por

exemplo -, mas fixar-nos primeira na ação em curso.

Tudo isso exigiu um trabalho exaustivo de organização das informações que suscitaram

das entrevistas, a fim de ser possível a geração de inferências maiores, inclusive em sintonia

com as teorias vinculadas ao caso objeto deste estudo, permitindo o saldo da fala dos

participantes para a interpretação dos significados.

A título de orientação, mas sem prejuízo do aproveitamento de outras contribuições, foi

seguido o modelo indicado por GODOI; BANDEIRA-DE-MELO: e DA SILVA (2006, p.

366-369), que contempla, de forma resumida, as seguintes fases: recuperação; análise do

significado pragmático da conversação; validação; montagem da consolidação das falas;

análise de conjuntos.

Considerando a proposta do trabalho, um Estudo de Caso, que procurou verificar os

efeitos do AGROAMIGO perante os clientes da praça de Caruaru-PE, não foi possível

estabelecer uma generalização de natureza estatística, com base no levantamento de

frequências, mas uma generalização analítica como objetivo de expandir teorias (YIN, 2001,

pag. 29).

Nesse particular, três são os motivos principais que aqui se encaixam: a abrangência

Territorial da Pesquisa, a qual ficará restrita ao Município de Caruaru; o cumprimento de

regras de apresentação das informações determinadas por parte do Banco do Nordeste do

Brasil S∕A e também por razões legais, a exemplo da preservação do sigilo bancário com

relação a alguns dados da pesquisa.

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91

Além da análise de conteúdo, foi utilizada uma análise com base em estatística

descritiva, realizada por meio do software Microsoft Excel 2010, a partir da qual foi

construída a maior parte dos gráficos de modo a melhorar a visualização dos dados

consolidados.

3.3.2 Estatística Descritiva

Embora seja utilizada desde a Antiguidade, a primeira vez que a estatística foi tida

como ciência foi no século XVI, a partir do desenvolvimento de cálculos de probabilidade,

tendo como teóricos desse século nomes como Laplace, Bernoulli, Gauss, dentre outros

(CUNHA, 1968).

Freund e Simon (2000) conceituam a estatística como a compreensão do manejo dos

dados possuídos para resumi-los sem procurar inferir qualquer coisa que ultrapasse os

próprios dados”. Menciona-se ainda o conceito dado por Silvestre (2007, p.3), que disse que

“a Estatística é um conjunto de métodos adequados para recolher, explorar, descrever e

interpretar conjuntos de dados numéricos”, sendo que os dados são resultantes da observação

ou medidas de certas características dos indivíduos, entidades ou objetos diversos.

Sabe-se, ainda, que uma análise estatística pode ser caracterizada como descritiva ou

inferencial. No caso desta dissertação será utilizada a estatística descritiva, explicada por

Silveira (2007):

“Na análise estatística descritiva está-se interessado na medida das características

dos elementos de toda a população. As grandezas respeitantes à população são

designadas por parâmetros. O fim deste tipo de análise é a obtenção do valor preciso

destes parâmetros com base nas observações feitas em todos os elementos da

população.” (2007, p. 11).

As técnicas descritivas ou exploratórias são utilizadas, prioritariamente, para “organizar

os dados e investigá-los, relatar ou expor características e procurar indícios de padrões ou

características interessantes que possam indicar possíveis tendências” (CONTI, 2012). Desta

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forma, ainda segundo à autora, essas técnicas baseiam-se na leitura e no resumo dos dados

utilizando tabelas, gráficos, estatísticas e esquemas. Elas devem fornecer resultados simples,

atraindo a atenção de quem lê, utilizando exposições auto-explicativas, de fácil compreensão

e são confiáveis como estatística (CONTI, 2012).

Dentre as técnicas usadas na Estatística Descritiva, de acordo com Conti (2012), podem-

se citar:

Descrição tabular: Tabelas são utilizadas para sumarizar os dados, especialmente

as tabelas de distribuição de freqüências;

Gráficos descritivos: Gráficos são usados para sumarizar os dados; e

Descrição paramétrica: Estimam-se os valores de certos parâmetros que

completam a descrição do conjunto dos dados.

Nesta dissertação, foram utilizadas, majoritariamente, as técnicas de descrição tabular e

gráficos descritivos.

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4. RESULTADOS

Esta análise foi estruturada com base nos objetivos específicos elencados na seção “1.3

Objetivos da Pesquisa”, de modo a demonstrar adequadamente os resultados obtidos na

consecussão de cada um deles. Foram realizadas pesquisas com dois grupos distintos, durante

o mês de janeiro de 2012: os clientes do PROGRAMA AGROAMIGO e os Operadores de

Crédito que atuam na zona rural de Caruaru-PE, conforme critérios estabelecidos no tópico

3.2.2 deste trabalho. A análise dos clientes do PROGRAMA AGROAMIGO, por sua vez,

será composta por dois métodos diferentes: em um primeiro momento, será realizada uma

análise quantitativa descritiva para os dados de identificação coletados que permitirão a

construção do perfil desses clientes e, no segundo momento, serão analisados os discursos dos

entrevistados, por meio de uma análise de conteúdo (BARDIN, 2011).

Descrição da Amostra de Clientes Entrevistados do PROGRAMA AGROAMIGO

Os quarenta e dois clientes que foram selecionados já fizeram mais de uma renovação

nos seus contratos de crédito e pertencem a dois grupos distintos: Os Agropecuários (31) e os

Não Agropecuários (11), por falta de um termo mais adequado de descrição. Eles estão

distribuídos em diversas localidades da praça de Caruaru, como se pode ver no Gráfico 3.

Ressalta-se que a distribuição demonstrada refere-se à realidade da pesquisa, pois a

divisão das regiões entre os operadores do PROGRAMA AGROAMIGO é praticamente

igualitária, levando em conta que eles trabalham por meta, ou seja, o universo de clientes da

Cidade de Caruaru corresponde à soma daqueles integrantes de dois outros municípios da

jurisdição da Agência de Caruaru, por exemplo. Percebe-se, ainda, que há um nível maior de

concentração de clientes em alguns povoados, o que se justifica devido ao maior tempo de

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permanência no programa ou por exercerem atividades econômicas de ciclo mais curto, como

ocorre na olericultura.

Gráfico 3 – Distribuição dos clientes entrevistados por localidade

0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14%

Gonçalves Ferreira

Sítio Cipó

Juá

Lajes

Riacho do Veado

Gruta Funda

Malhada da Pedra

Pitombeira de Tabaco

Saguim

Sítio Carneirinho

Sítio Palmatória 2

Jacaré

Lagoa Rosada

Reinado

Serra Velha

Sítio Baixio de Itaúna

Sítio Dois Riachos

Sítio Palmatória 1

Taquara de Baixo

Vila Rafael

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Dos entrevistados, 74% fazem parte do grupo de participação “Agropecuários”,

representando maioria na carteira de clientes do PROGRAMA AGROAMIGO da região,

enquanto 26% são “Não agropecuários”, conforme pode ser visto no Gráfico 4. Esse dado

demonstra que a zona rural de Caruaru ainda é primordialmente relacionada com o setor

primário – muitos dos clientes com atividades que garantem apenas a sua subsistência - e com

poucos estabelecimentos econômicos vinculados aos demais setores.

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Gráfico 4 – Clientes entrevistados, por grupo de participação.

74%

26%

Agropecuários Não Agropecuários

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

A fim de se ter uma visão mais ampla sobre os clientes entrevistados, consolidou-se os

Gráficos 3 e 4 na Tabela 1, que detalha o tipo de negócio por região dos clientes.

Tabela 1 – Tipo de negócio por localizade de atuação dos clientes entrevistados

Tipo Localidade Total (% ) Total Geral (% )

Sítio Cipó 5 16% 12%

Gonçalves Ferreira 4 13% 10%

Juá 4 13% 10%

Gruta Funda 2 6% 5%

Pitombeira de Tabaco 2 6% 5%

Riacho do Veado 2 6% 5%

Sítio Carneirinho 2 6% 5%

Sítio Palmatória 2 2 6% 5%

Lagoa Rosada 1 3% 2%

Lajes 1 3% 2%

Reinado 1 3% 2%

Saguim 1 3% 2%

Serra Velha 1 3% 2%

Sítio Baixio de Itaúna 1 3% 2%

Sítio Dois Riachos 1 3% 2%

Sítio Palmatória 1 1 3% 2%

Agropecuário Total 31 100% 74%

Lajes 3 27% 7%

Malhada da Pedra 2 18% 5%

Gonçalves Ferreira 1 9% 2%

Jacaré 1 9% 2%

Riacho do Veado 1 9% 2%

Saguim 1 9% 2%

Taquara de Baixo 1 9% 2%

Vila Rafael 1 9% 2%

11 100% 26%

100%

Não Agropecuário

Agropecuário

Não Agropecuário Total

42TOTAL GERAL Fonte: Dados da pesquisa (2012)

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Conforme se pode observar na Tabela 1, em algumas localidades só foram entrevistados

um tipo de cliente como ocorreu em Jacaré, Malhada da Pedra, Taquara de Baixo e Vila

Rafael, isso porque exploram apenas atividades Não Agropecuárias, cujos

microempreendimentos estão situados próximos a áreas urbanas. Com relação àquelas

localidades onde só foram entrevistados clientes agropecuaristas, verificou-se serem regiões

ainda pouco desenvolvidas em termos de negócios, a exemplo de Gruta Funda, Lagoa Rosada

e Reinado.

Esses clientes pertencem a diversas faixas etárias, como se pode ver no Gráfico 5,

estando mais concentrados nas idades entre 20 e 39 anos, com 45% de frequência, enquanto

na faixa de 40 a 59 foram 29%. Poucos clientes eram idosos, acima de 60 anos.

Gráfico 5 – Faixa etária dos clientes pesquisados

45%

29%

19%

7%

De 20 a 39 De 40 a 59 De 60 em

diante

Não revelado

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

A proporcionalidade inversa observada no Gráfico 5 (quanto menor a idade, mais

dispostos a tomar um empréstimo) denota a disposição dos mais jovens a fazerem

investimentos que envolvam risco, ainda que baixos, no caso do PROGRAMA

AGROAMIGO. No Gráfico 5 ainda se observa que 7% dos entrevistados não responderam

essa pergunta, ou porque se esqueciam de responder ou por darem respostas vagas.

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Verifica-se que a maioria dos clientes, conforme a Tabela 2, é casada ou vivem em

união estável, o que implica possuírem família ou em vias de constituí-la, podendo isso servir

de estímulo para a aquisição do produto PROGRAMA AGROAMIGO com o objetivo de

aumentar sua renda e fornecer melhores condições de vida para sua família. Os solteiros vêm

em seguida, com 21% de frequência. Logo após, percebe-se que 14% de clientes são viúvos.

Tabela 2 – Estado civil dos clientes entrevistados

Tipo Estado Civil Total (% ) Total Geral (% )

Casado(a) 20 65% 48%

União estável 1 3% 2%

Solteiro(a) 6 19% 14%

Viúvo(a) 4 13% 10%

Agropecuário Total 31 100% 74%

Casado(a) 5 45% 12%

União estável 1 9% 2%

Solteiro(a) 3 27% 7%

Viúvo(a) 2 18% 5%

Não Agropecuário Total 11 100% 26%

Total geral 100%42

Não Agropecuário

Agropecuário

39

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

A Tabela 3 dispõe sobre a quantidade de membros que compõem a família dos clientes,

inclusive ele mesmo.

Tabela 3 – Quantidade de membros da Família

Tipo Qtde. de membros da família Total (% ) Total Geral (% )

Não respondeu 5 16% 12%

Mora sozinho 5 16% 12%

02 (dois) membros 9 29% 21%

03 (três) membros 6 19% 14%

04 (quatro) membros 5 16% 12%

05 (cinco) membros 1 3% 2%

Agropecuário Total 31 100% 74%

02 (dois) membros 3 27% 7%

03 (três) membros 5 45% 12%

04 (quatro) membros 3 27% 7%

Não Agropecuário Total 11 100% 26%

Total geral 100%

Agropecuário

Não Agropecuário

42 Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

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Observa-se que a maioria dos clientes vive apenas com um companheiro,

compreendendo duas possibilidades: a de ser um casal jovem que estavam a iniciar uma

família (uma entrevistada e a esposa de um entrevistado, inclusive, encontravam-se grávidas

do primeiro filho) ou um casal de idosos aposentados, cujos filhos já são independentes e

vivem com a própria família em outra casa. Vê-se, ainda, que 26% dos clientes fazem parte de

uma família de três membros (em 100% dos casos, famílias com filho único). Desta Tabela 3,

pode-se inferir que, a grande maioria dos clientes entrevistados possui uma família que foi

também impactada pelo crédito orientado fornecido pelo PROGRAMA AGROAMIGO,

demonstrando que as pessoas que obtiveram resultados positivos com o crédito ultrapassam a

quantidade de contratações do produto. Somente cinco entrevistados, que correspondem a

12% dos entrevistados, moram sozinhos. Já outros 12% não foi possível saber quantos

membros possuíam a sua família.

Ressalta-se, também, que casal sem filhos é mais comum entre os Agropecuários,

representando 21% do total de clientes entrevistados, além do fato de não existirem, dentro da

amostra de Não Agropecuários, clientes que moram sozinhos.

Por ser uma zona rural, observou-se que a maioria dos clientes não completou os anos

de estudos básicos, pois, desde cedo, começou a trabalhar para complementar a renda da

família. Também, isto ocorre por falta de perspectivas de acesso a estabelecimentos de ensino

de qualidade na região, já que as escolas públicas, mesmo existindo, ainda possuem graves

deficiências como provedoras de conhecimento. A Tabela 4 demonstra o nível de escolaridade

por grupo de clientes e no total. Vê-se que a maioria dos clientes (21%) parou os estudos

antes de completar o Ensino Fundamental 1, enquanto 19% não conseguiu completar o Ensino

Fundamental 2 e 12% do total são analfabetos. Somente 7% chegou a completar o Ensino

Médio.

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Tabela 4 – Escolaridade por grupo de clientes, ranqueado pelo total geral

Agropecuário Não Agropecuário Total geral

Analfabeto(a) 16% 0% 12%

Ensino Fundamental 1 incompleto 23% 18% 21%

Ensino Fundamental 1 13% 9% 12%

Ensino Fundamental 2 incompleto 16% 27% 19%

Ensino Fundamental 2 10% 9% 10%

Ensino Médio 3% 18% 7%

Não revelado 13% 0% 10%

Total geral 100% 100% 100%

(% ) Frequência por Grupo de Clientes Escolaridade

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Já o Gráfico 6 demonstra o nível de escolaridade dos clientes por meio da porcentagem

representativa de cada grupo de clientes dentro de cada nível de escolaridade. Pode-se afirmar

que 45% do total dos respondentes não estudaram ou estudaram até o Ensino Fundamental 1

(antiga 4ª série), indicando baixo grau de escolaridade, o que compromete a evolução de seus

negócios, especialmente do ponto de vista do estabelecimento de vantagens competitivas e

diferenciais de mercado. Isso porque estão limitados em termos de informações dentro do

ambiente onde praticam suas atividades econômicas, bem como desconhecem, de forma

consistente, riscos e potencialidades relativas a cenários futuros.

Gráfico 6 – Grupos de clientes segundo o nível de escolaridade

100%

78% 80%

63%

75%

50%

33%

0%

22% 20%

38%

25%

50%

67%

Analfabeto Fundamental 1

Incompleto

Fundamental 1 Fundamental 2

Incompleto

Fundamental 2 Médio

Incompleto

Médio

Agropecuário Não Agropecuário Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Observa-se no Gráfico 6 que, das 33 pessoas que responderam a essa pergunta, 100%

dos analfabetos são do setor Agropecuário. Um fator interessante que também pode ser

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notado no Gráfico 6 é que, nos níveis mais baixos de escolaridade, a maioria dos clientes é do

grupo de Agropecuários, como se pode ver no Ensino Fundamental 1 e 2, completo e

incompleto. Quando se passa a analisar o Ensino Médio, vê-se que os Não Agropecuários são

os que se destacam, demonstrando maior nível de escolaridade e, como se observou ao longo

das entrevistas, mais desenvoltura na fala.

Ressalta-se que a educação formal é fundamental para a evolução profissional e

empresarial de uma pessoa, pois a prepara para um melhor conhecimento sobre a vida,

favorecendo ao desenvolvimento de um senso crítico diante das várias situações em sua

convivência, capacitando-a a tomar decisões acuradas que catalisem seus potenciais e

permitindo seu crescimento. Apesar da falta de educação formal completa nos clientes,

observou-se que eles ainda possuem consciência de que a educação é importante, pois

comentam que querem ver seus filhos na escola. Um cliente, inclusive, ao ser questionado se

incentiva o seu filho a estudar, respondeu: “com certeza, o estudo é o básico para o ser

humano se levantar”.

Pode-se citar também outro cliente que comentou que passou a ganhar melhor depois do

empréstimo do PROGRAMA AGROAMIGO e estava satisfeito porque pôde pagar uma

escola particular para o seu filho.

Adiciona-se, ainda, que essa carência de escolaridade dos clientes foi sentida durante as

entrevistas, quando notadamente eles não entendiam algumas perguntas, não conseguiam se

expressar com clareza, possuindo baixa capacidade de articulação das frases ou contendo

diversos erros de português. Isto foi principalmente aqueles pertencentes ao grupo de

Agropecuários. Dois dos operadores de crédito comentaram que os tipos de consumidores dos

clientes do PROGRAMA AGROAMIGO acabam por interferir no seu nível de desenvoltura.

Os Não Agropecuários são mais expansivos e articulados por venderem para públicos

diversos, irem às feiras em cidades próximas, especialmente com a missão de convencer o seu

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consumidor a comprar, enquanto os agropecuaristas vendem dentro da própria região com

pouco contato com pessoas de fora da sua localidade e não precisam desenvolver uma

comunicação de nível mais elevado.

O Gráfico 7, por sua vez, apresenta a distribuição das atividades dos clientes

entrevistados.

Gráfico 7 – Atividades dos clientes entrevistados

Bovinocultura de

Corte

48%

Confecção

24%

Olericultura

12%

Ovinocultura

7%

Avicultura

5%

Caprinocultura

2%Panificação

2%

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Do grupo de Agropecuários (74%), a maioria (48%) exerce a atividade de

Bovinocultura de Corte, Olericultura (12%) e Ovicultura (7%). Dos Não Agropecuários

destaca-se a atividade de Confecção, executada por 24% do total de pesquisados.

Sabe-se que a região se sobressai bastante pela Bovinocultura, sendo natural que a

maior parte dos entrevistados selecionados faça parte dessa atividade, que é, inclusive, mais

incentivada por parte dos operadores para que seja feita. Um dos operadores mais citados

pelos clientes, Otávio Filho, comenta que a predominância de uma determinada atividade

depende da própria região e o incentivo dado para que ela seja realizada pelos clientes. Isto se

deve a quão bem essa atividade pode se desenvolver no cenário econômico e ambiental da

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localidade. Segundo Otávio, existem regiões que são mais apropriadas para a plantação de

verduras, frutas e agricultura, em geral, pois de clima mais frio possuem maior potencial de

água suficiente para suprir as necessidades de um agricultor. Nas suas palavras, “quando é

uma região mais quente e que chove menos, nós fazemos uma análise para uma atividade

como a bovinocultura... que são animais que se preservam mais na seca”.

Nas localidades pesquisadas, observou-se que existe a carência de treinamento para

execução e melhorias das atividades desempenhadas, como se pode ver no Gráfico 8.

Gráfico 8 – Como os clientes aprenderam a atividade

70%

10% 10%5% 5%

Família Amigos Aprendeu

sozinho(a)

Cônjuge Na igreja

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Mais da metade dos clientes informou que aprendeu sua atividade de trabalho com

membros da própria família, na maioria, com os pais e, dentre eles, 71% continua seu negócio

como uma atividade familiar. Uma cliente de 48 anos de idade falando sobre como aprendeu a

olericultura, disse: “é das antigas, bisavô, avô, pai, a gente, quando a gente era pequenininha a

gente já vendia alface e quentro na mão na feira”.

Ressalta-se, ainda, que apesar da forte incidência de continuidade da atividade dos pais,

observou-se que, dentre os que responderam a essa questão, algumas pessoas aprenderam com

amigos (10%) e outras aprenderam sozinhos (10%). Uma pessoa chegou a aprender com o

cônjuge, enquanto outra aprendeu na igreja que frequentava.

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Ainda sobre o perfil dos clientes (Gráfico 9), pode-se ver que a maioria (48%) renovou

o crédito do PROGRAMA AGROAMIGO três vezes, enquanto 33% renovaram quatro vezes

e 10% duas vezes apenas. Três clientes chegaram a renovar cinco vezes e uma cliente renovou

o crédito por seis vezes.

Ressalta-se que apenas um desses quatro clientes que mais renovaram possui o Ensino

Fundamental completo, indicando que o nível de escolaridade não tem correlação direta com

a adimplência do programa, pois a renovação só é dada a bons clientes. Observa-se, também,

que a maioria das renovações ocorreu na atividade de Bovinocultura de Corte e, em seguida,

de Caprinocultura.

Gráfico 9 – Quantidade de renovação do crédito

10%

48%

33%

7%2%

Duas vezes Três vezes Quatro vezes Cinco vezes Seis vezes

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Dos entrevistados, 57% informaram pretenderem renovar mais uma vez o crédito no

PROGRAMA AGROAMIGO, demonstrando que o programa está satisfazendo e mantendo

sua continuidade. Mesmo dentre aqueles que não responderam essa pergunta, notou-se que,

em nenhum momento, os demais disseram que não renovariam, pelo contrário, a grande

maioria se mostrou satisfeito com o programa, conforme se poderá verificar mais adiante

nesta análise.

A Tabela 5 informa a frequência de clientes segundo o valor do último crédito fornecido

pelo PROGRAMA AGROAMIGO.

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Tabela 5 – Frequência dos últimos valores solicitados pelos clientes

Último Valor Solicitado Frequência (% )

1000 1 2%

1500 6 14%

2000 13 31%

2500 17 40%

4000 2 5%

Não lembra 1 2%

Não revelado 2 5%

Total Geral 42 100% Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Observa-se que 40% dos clientes receberam R$ 2.500,00 no último empréstimo, um

valor considerado alto para o microcrédito. Somente dois clientes receberam seu último

empréstimo em um valor superior, de R$ 4.000,00, mas porque demonstraram mais estrutura

e liquidez que os demais, além de ambos terem renovado o crédito quatro vezes.

Sabe-se que programas de microcrédito, principalmente o PROGRAMA

AGROAMIGO, atendem basicamente pessoas de baixa renda e que não possuam garantias

reais para empréstimos. Desta forma, foi levantado se os clientes entrevistados possuem

alguma renda extra para complementar o orçamento mensal de sua casa, o está exposto no

Gráfico 10 a seguir.

Gráfico 10 – Renda extra dos clientes do PROGRAMA AGROAMIGO

45%

24%21%

7%2%

Não possui Aposentadoria Bolsa

Família

Não

respondeu

Auxílio

Doença

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Como se pode observar, dos entrevistados, 45% não possuem nenhuma renda extra,

indicando que os benefícios advindos do PROGRAMA AGROAMIGO possuem um peso

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maior na vida dessas pessoas. Tem-se ainda que 24% recebem ou o cônjuge recebe

aposentadoria. Isto está de acordo com o que foi apresentado no Gráfico 5 e na Tabela 2, onde

19% são pessoas acima de 60 anos ou são casados com pessoas mais velhas. Já 21% dos

clientes entrevistados recebem Bolsa Família, (provavelmente enquadrando se no grupo

(26%), das famílias com três membros, um sendo filho pequeno) enquanto 7% não

responderam a pergunta e 2% recebe um auxílio doença do governo.

Ressalta-se que, dentre aqueles que recebem o Bolsa Família (9 dos 42 entrevistados),

sete possuem escolaridade somente até o Ensino Fundamental 1 e utilizavam o valor do

programa Bolsa Família exclusivamente para subsistência, sendo, em alguns casos,

insuficiente para a família toda. Isso se devia ao fato de que o dinheiro do Bolsa Família é

repassado sem orientação dos beneficiários, que podem fazer o que bem entender com o

dinheiro recebido, ou seja, não existe uma educação financeira, muito necessária para essas

pessoas de baixa renda, para aqueles que o recebem. Com a adesão ao PROGRAMA

AGROAMIGO, observou-se que essas pessoas agora sentem uma diferença real em sua

renda, sobrando dinheiro o suficiente para investir em sua casa e até mesmo no próprio

negócio, conforme se pode ver no discurso de um dos clientes que já eram beneficiados com o

Bolsa Família: “[...] quando eu comecei a tirar [financiamento do AGROAMIGO] não tinha

casa; hoje eu tenho minha casa, onde morar, Graças a Deus. [O AGROAMIGO] ajudou, tenho

minha moto, Graças a Deus, e tá levantando cada vez mais”.

Um dos operadores de crédito que atendem na região comentou sobre o assunto,

dizendo que as duas rendas podem ser complementares, mas o diferencial do PROGRAMA

AGROAMIGO é que o crédito orientado deve ser um investimento para iniciar um negócio

autossuficiente, enquanto os demais créditos eram utilizado para a subsistência e sem um

pensamento negocial.

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106

A Tabela 6, por sua vez, expõe a quantidade de clientes que possui renda extra,

separado por tipo de negócio.

Tabela 6 – Renda extra do cliente por tipo de negócio

Tipo Possui renda Extra? Total (% ) Total Geral (% )

Não possui 13 42% 31%

Aposentadoria 7 23% 17%

Bolsa Família 7 23% 17%

Não respondeu 3 10% 7%

Auxílio Doença 1 3% 2%

31 100% 74%

Não possui 6 55% 14%

Aposentadoria 3 27% 7%

Bolsa Família 2 18% 5%

11 100% 26%

100%42

Agropecuário

Não Agropecuário

Total Geral

Não Agropecuário Total

Agropecuário Total

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Observa-se que a frequência das respostas é parecida para ambos os tipos de negócio.

Em ambos os grupos, Agropecuário e Não agropecuário, o grupo maior (41.9% e 54.5%

respectivamente) não tem nenhuma renda extra, o seu sustento vindo totalmente dos

investimentos do PROGRAMA AGROAMIGO. Em termos da categoria de renda extra, os

dois grupos recebem aposentadoria e o benefício do programa Bolsa Família do governo.

Somente no caso dos Agropecuários houve pessoas que são beneficiários de auxílio doença,

ou não responderam a essa pergunta.

Nível de Satisfação dos Beneficiários

O segundo objetivo específico é “mensurar o nível de satisfação dos beneficiários em

relação ao apoio oferecido pelo referido programa de crédito dentro desse novo modelo de

prestação de serviço”, que será analisado agora.

Na entrevista, foi perguntado a todos os clientes se estavam satisfeitos com o

PROGRAMA AGROAMIGO, sendo solicitados detalhes sobre o porquê dessa satisfação.

Desta forma, constatou-se que 95% dos clientes do PROGRAMA AGROAMIGO estão

satisfeitos com o próprio de modo geral, cuja nova forma de atendimento ao público-alvo se

mostrou mais eficiente e eficaz, redendo elogios com relação ao método de trabalho,

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107

especialmente pela agilidade conferida ao processo e manter os beneficiários esclarecidos

quanto aos seus direitos e obrigações ao contrair o financiamento. Ao serem inquiridos nesse

sentido, surgiram comentários que ratificam esse resultado, a exemplo de alguns, literalmente

transcritos, a seguir:

(O Banco) informa, explica tudinho, quando a gente vai receber, Gilberto dá uma

palestra, fala tudo, explica tudo, e a gente vai no ritmo. (CLIENTE Nº 13, 2012).

Não só ele (Otávio) como todos (passaram as informações direitinho), pois houve

reuniões antes de ser feito isso, o qual o gerente Gilberto participou e ele também

deu todas as informações que eram necessário. (CLIENTE Nº 21, 2012).

Otávio que fez as reuniões [...] esclareceu tudo direitinho, para não valha o

pagamento. (CLIENTE Nº 22, 2012).

Tô satisfeita, até agora tá tudo certo tá, o atendimento é excelente, eu gostei.

(CLIENTE Nº 36, 2012).

Quase todos os clientes entrevistados deixaram transparecer sua satisfação com o

programa, principalmente, segundo eles, porque o PROGRAMA AGROAMIGO permitiu

melhorias nos seus negócios que nunca teriam condições de executar sem o empréstimo.

Percebeu-se que a metodologia fez toda a diferença para eles, pois, ao que se observou,

poucos teriam ido ao Banco buscar financiamento. As palestras de captação, o crédito

orientado e as dicas de como utilizarem o dinheiro no negócio foram essenciais para a

satisfação desses clientes.

Praticamente todos falaram como é vantajoso receber o Banco do Nordeste em suas

comunidades, sendo o agente de microcrédito rural (AMR) uma peça importante nessa

engrenagem por induzir o PROGRAMA AGROAMIGO onde ele mais precisa chegar, enfim

causando a satisfação a quem se direciona. Esse panorama, se confrontado com o painel

teórico deste trabalho possui vinculação com o valor que o PROGRAMA AGROAMIGO tem

para seus clientes. Explicando melhor: na medida em que se apresenta útil, dentro de um

senso de justiça, por ser um direito em prol de quem se propõe a produzir um bem, além de se

coadunar com o espírito da solidariedade, por fortalecer a condição de cidadão de quem por

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108

ele é alcançado (ZARIFIAN, 2001 apud SALERNO, 2001). Apenas um cliente revelou-se

insatisfeito (pois sua última renovação demorou a sair e acredita que sua vida não mudou em

nada), enquanto outro demonstrou que estava parcialmente satisfeito porque seu crédito

demorou a sair, mas, ainda assim, disse que só tem a agradecer ao Banco do Nordeste,

levando em conta que precisa mesmo desse crédito e faz bom uso dele.

Por meio de observação in loco, percebeu-se que esse único cliente insatisfeito se

destacava por não ter efetuado melhorias efetivas no seu negócio e o valor obtido em seu

empréstimo poderia ter sido empregado adequadamente. Com relação aos demais, as opiniões

foram bastante positivas e otimistas, demonstrando a mudança para melhor em suas vidas,

asseverando que os assessores passaram as informações “tudo direitinho, como é que tira o

financiamento tudo... praticamente eles dizem como é que tem que pagar direitinho pra da

próxima vez que for lá tirar”.

4.1 Mudança de Vida percebida pelos Entrevistados

Na consecução do terceiro objetivo específico, levantaram-se, por meio de técnica de

análise de conteúdo (BARDIN, 2011), todas as mudanças ocorridas na vida desses clientes

devido ao PROGRAMA AGROAMIGO. Observou-se que as melhorias obtidas e

mencionadas pelos clientes foram, até certo ponto, parecidas, de modo que foi possível

classificar o discurso deles em categorias de melhorias e mudanças, construindo-se a Tabela 7

a seguir. Ressalta-se, porém, que as condições de produção (BARDIN, 2011) dos dados se

mostraram dificultosas devido ao baixo nível de articulação dos clientes entrevistados. Desta

forma, foi rara a obtenção de falas mais complexas com raciocínio bem elaborado.

A Tabela 7 demonstra as respostas dos clientes à seguinte pergunta: “De que maneira

entende que o PROGRAMA AGROAMIGO contribuiu para a mudança no seu nível de

Qualidade de Vida?”. Foi contabilizada a quantidade de comentários realizados a respeito das

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109

melhorias feitas pelos clientes, segundo as categorias gerais criadas, excluindo-se gastos com

subsistência.

Tabela 7 – Classificação do discurso dos clientes, segundo as respostas sobre mudanças na vida após o

PROGRAMA AGROAMIGO A

jud

a a

fam

ilia

res

Div

ers

ific

ação

do

s N

eg

ócio

s

Ele

tro

do

mést

ic

os

e p

ort

áte

is

Meio

de

tran

spo

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veis

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a

Casa

Rein

vest

imen

to

no

Neg

ócio

Ro

up

as

Terr

en

o

Ou

tro

s

Nen

hu

ma

mu

dan

ça

3 2 11 5 7 14 9 2 2 3 2 60

5% 3% 18% 8% 12% 23% 15% 3% 3% 5% 3% 100%

3 1 4 2 4 5 6 1 0 2 0 28

11% 4% 14% 7% 14% 18% 21% 4% 0% 7% 0% 100%

6 3 15 7 11 19 15 3 2 5 2 88

7% 3% 17% 8% 13% 22% 17% 3% 2% 6% 2% 100%

28

Não

88

TOTAL

TO

TA

L

Categorias - Mudanças na vida mencionadas pelos clientes

Tip

o d

e N

eg

ócio

Clientes

Agropecuário

60

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

A maioria dos clientes relatou sobre novas aquisições ou ações que tomaram ao obter

lucro advindo após o investimento realizado por meio do PROGRAMA AGROAMIGO.

Percebem-se diferenças nas mudanças de vida entre os agropecuários e não agropecuários, por

exemplo: a maioria dos não agropecuários preferiu investir seu lucro de volta no próprio

negócio, enquanto a maioria dos agropecuários fez reforma em sua casa.

O conceito utilizado para avaliação de impacto na Qualidade de Vida para este trabalho

é aquele utilizado por Roche (2002), explicitado no Quadro 9 da página 69, que diz ser “a

análise sistemática das mudanças duradouras ou significativas – positivas ou negativas,

planejadas ou não – nas vidas das pessoas e ocasionadas por determinada ação ou série de

ações”, ressalvando-se, também, a dificuldade da obtenção de um grupo controle para o

estabelecimento de comparações que validassem as mudanças ocorridas, aspecto esse suprido

pela observação direta do autor deste trabalho e responsável pela pesquisa, bem como

confirmadas por parte dos operadores do PROGRAMA AGROAMIGO

A partir do Quadro 10, construiu-se um ranking, conforme a porcentagem do total de

comentários realizados das categorias mais mencionadas no discurso dos clientes, que é

demonstrado no Gráfico 11.

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110

Gráfico 11 – Ranking das melhorias na qualidade de vida elencada pelos clientes

22%

17%

17%

13%

8%

7%

6%

3%

3%

2%

2%

Reforma na Casa

Eletrodomésticos e portáteis

Reinvestimento no Negócio

Móveis

Meio de transporte

Ajuda a familiares

Outros

Diversificação dos Negócios

Roupas

Terreno

Nenhuma mudança

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

Nota-se que a maioria dos clientes (22%) que responderam essa questão (apenas um não

respondeu) fez uma reforma na casa com o lucro obtido após o investimento, indicando que a

moradia é um fator essencial para a qualidade de vida dessas pessoas, pois, como foram

observadas in loco, suas casas são bastante simples. Em seguida, com 17% dos comentários

cada um, encontra-se a compra de eletrodomésticos e eletro portáteis, tais como geladeira,

fogão, televisão, ferro de passar, liquidificador etc (buscando aumentar seu nível de conforto

na residência), e o reinvestimento do lucro no próprio negócio, a fim de solidificá-lo para

obtenção de melhores resultados no futuro. Têm-se, ainda, a compra de móveis para sua casa

(13%), meio de transporte (8%), ajuda a família (7%), dentre outras mudanças.

A categoria “Outros” engloba mudanças e aquisições que só foram mencionadas uma

vez ou que não foram especificadas pelo cliente em seu discurso. Apenas dois clientes (2%)

afirmaram que não sentiram mudança nenhuma em sua vida após inclusão no PROGRAMA

AGROAMIGO.

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Observou-se que aqueles clientes que renovaram mais vezes o financiamento no

Programa correspondem aos que obtiveram mudanças mais significativas em suas vidas. Os

bens adquiridos por aqueles que pediram somente duas renovações, por exemplo, são bens de

menor valor para sua casa, como ferro de passar, televisão e móveis. Já as mudanças na vida

daqueles que renovaram de quatro a seis vezes foram mais significativas e sustentáveis, como

construções ou reformas de suas casas, ampliação ou diversificação do negócio, ou seja,

mudanças mais sustentáveis. Com isso, pode-se afirmar de modo categórico que a relevância

da mudança/melhoria de vida dos clientes é proporcional à quantidade de renovações feitas no

PROGRAMA AGROAMIGO.

Ao analisar aqueles de escolaridade mais baixa, ou seja, até o Ensino Fundamental 1

completo (19 dos 42 entrevistados), observou-se que as mudanças operadas na vida dos

clientes foram similares àqueles de escolaridade mais alta (reforma da casa, compra de

eletrodomésticos, reinvestimento no negócio etc), com a única diferença: naqueles de maior

escolaridade, observou-se um índice maior de reinvestimento do negócio (50%), enquanto

somente 25% daqueles de menor escolaridade utilizaram o lucro para reinvestir no negócio.

Isso demontra que, apesar do treinamento dado pelos operadores do AGROAMIGO, a

escolaridade ainda influencia nas decisões de investimentos dos clientes, tornando as

mudanças na qualidade de vida são mais sustentáveis ou progressivas naqueles de maior

escolaridade.

Mudança de Vida nos Clientes percebida pelos Operadores

Os operadores de crédito, que lidam diariamente com essas pessoas, percebem bastante

essa elevação de qualidade de vida. Uma das operadoras comentou, inclusive: “[...] escutei

deste o início o cliente dizendo assim: ‘Alessandra quando eu tirei o financiamento no

PROGRAMA AGROAMIGO eu não fiquei rico, mas nunca mais passei fome’. Isso me

deixou até emocionada no dia”. Pode-se citar o comentário de outro operador que aduziu o

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seguinte comentário: “As pessoas falam para gente: ‘Comprei uma televisão que eu não tinha,

consegui comprar geladeira que eu também não tinha, consegui viajar com os meus filhos,

que antes eu não podia”. Em termos, todos os operadores de crédito da região pesquisada

notam claramente uma melhora na qualidade de vida dessas pessoas. Selecionaram-se a fala

de dois dos clientes que detalharam os benefícios advindos do PROGRAMA AGROAMIGO,

a saber:

(A gente) comprou geladeira, comprou televisão, comprou cama, tinha a cama véia,

trocou, tudo com dinheiro ganhado do empréstimo do Banco do Nordeste. Se não é

o Banco do Nordeste talvez nós não tivesse. Comprou isso aqui, reformou o piso, a

casa deu uma arrumada na casa também trocou tudinho, colocou PVC, tudo com

dinheiro que ganhou das máquinas com o dinheiro do Banco do Nordeste, porque se

nós não tivesse esse financiamento, aí não tinha como... porque o salário que a gente

ganha é... só da o mínimo. (CLIENTE No.3, 2012).

Mudou muito minha casa porque antigamente era bem pobrezinha, assim, porque

não tinha nada, né, aumentei mais, tá vendo? Aumentei mais minha casa, reformei,

comprei minhas coisas, minha televisão, minha estante, minha máquina de lavar, que

eu não tinha, agora eu tenho, minhas coisinhas, minha geladeira, no meu lucrim né,

porque o dinheiro de trabalhar, minhas coisa e o que eu vou ganhado vou comprando

minhas coisa. (CLIENTE No.28, 2012).

4.2 Descrição do Programa como Inovação

Na consecução do quarto objetivo específico, buscou-se identificar os aspectos que

determinam o PROGRAMA AGROAMIGO como uma inovação no campo dos serviços

bancários, conforme a abordagem proposta por Gallouj, em 2002, de integração entre produto

e processo. Segundo Gallouj (2002a) e conforme já afirmado, os bens podem se constituir

numa entrega ou produto do serviço para o cliente, onde não há diferença entre produto e

processo. No caso do Banco do Nordeste (2012), a descrição do PROGRAMA

AGROAMIGO diz que se trata de um “programa de microcrédito rural que visa à concessão

de financiamento para a área rural, adotando metodologia própria de atendimento, cuja

premissa consiste no crédito orientado e acompanhado”. Vê-se que quando o Banco do

Nordeste decide conceder o crédito a um cliente do PROGRAMA AGROAMIGO, o cliente

assume o compromisso de cumprir todos os passos da metodologia do programa, que é

essencial para o seu sucesso.

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A metodologia se trata de seguir os passos que estão dispostos no Quadro 8 explicitado

na página 64. Escala, crédito orientado, gestão e monitoramento, acompanhamento,

acessibilidade, sustentabilidade do crédito, meta de produtividade e atendimento

especializado, que, segundo pôde-se ver nas entrevistas, são cumpridos em todos os casos.

Desse modo, está em plena sintonia com o preconizado pelo modelo inovador de

Gallouj (2002a), o qual procura integrar a competência do cliente, a competência direta dos

prestadores e as características técnicas materiais e imateriais para resultar em características

de serviço ou finais. Ora, a competência direta do Banco do Nordeste enquanto prestador de

um serviço de financiamento se respalda em uma metodologia totalmente inovadora para

atender um público diferenciado como é o do PROGRAMA AGROAMIGO. Em verdade,

esses clientes se sentiam diminuídos ou tendo que enfrentar grandes dificuldades para obter

crédito, já que desenvolviam atividades de alto risco, dependente do bom humor do clima, a

exemplo da agropecuária, ou não tinham condições de explorar aquelas com maior poder de

agregação, como é o caso das confecções presente no perfil econômico da Cidade de

Caruaru/PE. Aliada a essa forma de aplicar o crédito, o Banco do Nordeste criou uma

estrutura patrimonial e humana para dar suporte ao programa de crédito por ele desenvolvido,

com pontos de atendimento, equipamentos modernos e profissionais qualificados, como se

verifica no caso dos agentes de microcrédito rural.

Nesse arcabouço, contou com o apoio de importantes entes detentores de reconhecida

competência técnica, como é o caso da GTZ (Deustche Geselischaft für Technische

Zusammenarveit) – Cooperação Alemã para o Desenvolvimento e do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA) para a concepção do PROGRAMA AGROAMIGO, assim

como estabeleceu uma parceria fundamental com o Instituto Nordeste Cidadania (INEC), que

proporciona a dinâmica à operacionalização do programa em todas as suas fases, ou seja,

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prospecção de clientes, concessão e monitoração do crédito, o que vem se refletindo numa

experiência de sucesso para o Banco do Nordeste.

A construção dessa inovação intitulada PROGRAMA AGROAMIGO também conta

com a competência do cliente, pois ele, mais do que ninguém, é quem melhor conhece ou

deve conhecer a atividade econômica que explora, já que possui o know-how capaz de

culminar nos bons resultados alcançados. Desta forma, adaptando-se a Figura 3, na página 42,

para o PROGRAMA AGROAMIGO, tem-se a Figura 7 a seguir:

Figura 7 - Serviços e produtos dentro de um sistema de características e competências – AGROAMIGO

Fonte: Elaborado pelo autor (2012).

* INEC - Instituto Nordeste Cidadania; GTZ - Cooperação Alemã para o Desenvolvimento; MDA –

Ministério do Desenvolvimento Agrário

Assim, como já afirmado anteriormente, o conjunto dessas competências é que faz do

PROGRAMA AGROAMIGO um produto/serviço diferenciado e, por conseqüência,

respaldado num modelo teórico bem sucedido como é aquele elaborado por Gallouj (2002a).

Conhecimento do

empreendimento explorado;

Domínio técnico da

atividade;

Habilidade com ferramentas

e máquinas

PROGRAMA

AGROAMIGO

Banco do Nordeste;

Operadores;

Processo;

Estrutura física e virtual

de atendimento.

Competências diretas

dos prestadores

Competências dos

clientes Características de

serviço ou finais

Parceiros

(INEC, CTZ, MDA);

Líderes Comunitários;

Sindicato de

Trabalhadores Rurais

Características

técnicas materiais e

imateriais

*

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115

Oportuno comentar que o resultado do PROGRAMA AGROAMIGO não é somente o

crédito dado para receber o lucro do financiamento. É também todo o processo de

acompanhamento e evolução do perfil financeiro do cliente, que será capaz de melhorar sua

vida, impactando o mercado com maior poder de consumo (vide os clientes que puderam

comprar coisas que jamais puderam comprar antes do PROGRAMA AGROAMIGO) e

aumentando a cadeia de valor. Tais resultados vão além do serviço simplesmente prestado

(empréstimo), ou seja, existe uma plena integração de produto e serviço, conforme previsto

por Gallouj (2002a). Enfim, como disse o autor, é fruto da integração das características

técnicas materiais ou imateriais, das competências diretas dos prestadores e das competências

dos clientes, sendo perfeitamente alocada dentro dos parâmetros da Figura 3.

4.3 As Expectativas do PROGRAMA AGROAMIGO previstas pelo Banco do

Nordeste

Esta dissertação também possui como objetivo específico checar se o PROGRAMA

AGROAMIGO vem alcançando as expectativas definidas para o programa pelo Banco do

Nordeste, as quais estão listadas a seguir, analisadas individualmente.

i. Atender com crédito gradativo e sequencial;

Esse objetivo visa estimular o cliente a pagar seus compromissos em dia, pois o

crédito pode ser renovado e ser feito em um maior valor de acordo com a

adimplência do cliente. Essa metodologia faz com que o cliente permaneça mais

tempo conectado ao programa, conforme se pode ver no caso de um cliente que

comentou: “[…] e na hora que eu terminar de pagar esse empréstimo, eu vou fazer

outro, se Deus quiser, […] quatro (empréstimos) que eu tirei, mas já paguei três

agora tô pagando outro. Se Deus quiser, em dois mil e treze, eu termino e quero

tirar outra vez”. Considerando que todos os clientes entrevistados fizeram pelo

menos duas renovações e o último valor que contrataram foi superior, pelo menos,

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a um dos empréstimos feitos anteriormente, pode-se afirmar que o PROGRAMA

AGROAMIGO está atendendo bem a esse objetivo do Banco do Nordeste.

ii. Concessão de crédito orientado e acompanhado;

Dos clientes entrevistados, 85% afirmaram que recebem orientação regular e

vários clientes elogiam o comportamento dos operadores do PROGRAMA

AGROAMIGO, como se pode ver no seguinte comentário:

(O assistente esclarece) tudo direitinho, quando agente vai lá receber o chegue , eles

diz as regras tudinho, você não pode tirar pra outra coisa, não pode desvia o dinheiro

para comprar coisas que não seja para os gados. Como eles estavam falando lá, que

um rapaz tirou dinheiro para comprar uma moto. (CLIENTE No. 4, 2012).

Somente dois clientes afirmaram que não receberam orientação alguma e outros

cinco não responderam a essa pergunta. Enfatiza-se, no entanto, que o pesquisador

verificou que para se beneficiar com o crédito, os clientes devem necessariamente

ir a uma reunião onde se explica como se tem acesso ao crédito, a importância de

pagar em dia e que o dinheiro do empréstimo deve ser todo aplicado no seu

negócio. Eles também recebem um kit, com calendário para lembrar as datas de

pagamento, e os operadores de crédito passam periodicamente para verificar como

vai o negócio. Uma cliente comenta o seguinte sobre o assunto: “como já falei nas

reuniões, Otávio sempre vem aqui frequentemente e vendo o meu crescimento,

graças a Deus”, embora afirme que, fora Otávio, não tem mais contato com

ninguém do Banco. Ressalta-se que cada operador possui sua própria carteira de

clientes, facilitando o trabalho, acompanhamento e a criação de vínculos.

iii. Adotar metodologia de microcrédito rural;

A metodologia de microcrédito rural necessariamente é usada. Verificou-se, in

loco, que todos os procedimentos que devem ser tomados são executados

costumeiramente.

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iv. Agilizar processo de concessão de crédito;

Somente dois clientes mencionaram que demorou mais do que eles gostariam,

embora ainda relatem estarem satisfeitos com o programa. Em ambos os casos, os

clientes não justificaram exatamente o porquê da demora, mas percebeu-se,

durante a entrevista, que eles possuíam a expectativa de que o crédito seria

liberado em poucos dias. Um cliente informou que demorou mais do que ele

gostaria nas duas primeiras vezes, mas que a terceira renovação foi mais rápida.

Essa expectativa pode ser percebida no seguinte discurso:

Olha, depois que agente assina, a gente já fica com aquela necessidade, aí a gente já

fica ‘Poxa não vai sair mais não? Já demorou demais...’. Aí eu fico assim né?

(CLIENTE No. 19, 2012).

v. Expandir, quantitativamente e qualitativamente, o atendimento com redução

de custos para o cliente;

Esse objetivo do Banco do Nordeste para o PROGRAMA AGROAMIGO trata do

fato de não ser necessário que o cliente vá até a agência bancária para contratar o

empréstimo. Conforme observado, os potenciais clientes do microcrédito rural não

costumavam se deslocar até uma agência, que, na maioria dos casos, ficam longe

de sua localidade para adquirir um produto que nem sequer sabiam que existia.

Desta forma, o atendimento ativo, na localidade do cliente e se utilizando de

parcerias locais, permite uma expansão quantitativa e qualitativa desse

atendimento, reduzindo custos de transporte e até o incômodo do traslado. Nas

palavras de um dos assessores de crédito, “não é necessário que o cliente vá até a

agência, até porque a metodologia não permite, a gente tem que ir à zona rural e

fazer as propostas deles lá mesmo”.

vi. Atender na própria comunidade por meio da figura do assessor;

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Em todos os casos, nenhum cliente teve de ir até a agência para entrar no

PROGRAMA AGROAMIGO. O Banco do Nordeste conta com o apoio de

associações locais, líderes comunitários, pessoas de influência na localidade e ou

amigos ou familiares já clientes que os levam para as reuniões para conseguir

mobilizar o público alvo do PROGRAMA AGROAMIGO. Essas pessoas, na

maioria dos casos, servem de intermediários para o início do trabalho do assessor

do PROGRAMA AGROAMIGO, que tem a oportunidade de vender o produto e

convencer essas pessoas de que o PROGRAMA AGROAMIGO é uma boa opção

para seu negócio crescer.

vii. Atender integralmente, identificando necessidades de outros serviços;

A grande maioria dos clientes atendidos não possuía qualquer contato com uma

instituição financeira, nem uma conta bancária. Com a adesão ao programa, essas

pessoas puderam entrar em contato com esse universo financeiro, até então

desconhecido. Entretanto, admite-se que os serviços contratados pelos clientes

foram somente aqueles estritamente necessários ao funcionamento do

PROGRAMA AGROAMIGO, que é o empréstimo em si e a conta bancária. Na

região pesquisada, não se tem registros de que os clientes tenham adquirido outros

serviços além desse, o que indica que esse objetivo não está sendo cumprido

adequadamente.

viii. Promover inclusão financeira do agricultor e acesso ao Banco;

Conforme já foi relatado, os clientes para aderir ao programa devem,

necessariamente, criar uma conta bancária, tendo acesso ao Banco do Nordeste,

fazendo com que esse objetivo seja alcançado.

ix. Sensibilizar os agricultores da importância da educação financeira;

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Essa sensibilização é feita nas reuniões do PROGRAMA AGROAMIGO ou por

meio de parceiros (líderes comunitários, igrejas, cooperativas), onde os clientes

recebem as informações necessárias para ingressar no programa.

Vale ressaltar que a sensibilização é realizada, principalmente, no sentido de

garantir que o cliente use o dinheiro do empréstimo no seu negócio (e não para

necessidades pessoais) e que pague suas contas em dia. Uma cliente afirmou

inclusive, que se lembra bem do assessor falando que ela fizesse um cofrinho para

juntar o pagamento das parcelas. Todos os clientes recebem uma cartilha com

informações de como investir, economizar, do que não fazer e da importância de

pagar em dia seus compromissos, ante a possibilidade de renovar o crédito com

um limite maior. Eles também recebem um calendário com as datas principais de

pagamento. O trabalho é realmente de educação financeira, pois a maioria desses

clientes sempre foi de baixa renda e não tinham o costume de lidar com dinheiro

em quantias vultosas, ou seja, eles deveriam ser bem orientados e de uma maneira

simples de entender, visto a limitação da sua baixa escolaridade. Inclusive,

observou-se que, quando os clientes eram questionados durante a entrevista sobre

o que tinham adquirido para si com o lucro do investimento, eles não entendiam a

pergunta imediatamente. Isso porque, achavam que estavam sendo questionados

acerca da correta aplicação do crédito, ao que respondiam veementemente de

forma afirmativa, enfatizando que haviam pago em dia. Só depois, com uma

explicação do entrevistador, eles falavam o que tinham adquirido. Disso,

observou-se que a educação financeira ministrada surtiu efeito, como se pode ver

em comentários como os dados a seguir:

O que eu peguei, eu investi, mas tem muita gente que desvia e, pelo que eu conheço,

se arrepende muito. (CLIENTE No. 40, 2012).

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120

Não deixo atrasar de jeito nenhum, chega o dia eu deixo de comprar, aquele negócio,

e pagar minha dívida, né, porque é tão bom a gente tirar, né? (CLIENTE No. 42,

2012).

x. Conscientizar clientes sobre o meio-ambiente.

No mesmo momento em que é realizado o trabalho de conscientização financeira

desses clientes, também o é o de conscientização ambiental. Segundo um dos

assessores, “para essas informações, os assessores andam com uma cartilha sobre

o meio ambiente, então, nas palestras, eles dão as orientações e, no final, ele

entrega cartilhas”. De acordo ainda com outro assessor, nas palestras informativas

se aborda sobre o meio ambiente e pertinente à educação financeira, com o intuito

de que não venham a fazer queimadas, por exemplo. Entretanto, observa-se que

não é realizado um acompanhamento a esse respeito, limitando-se o trabalho a

cobrir o aspecto financeiro.

Analisando as expectativas definidas pelo Banco do Nordeste ao Programa de Crédito

em destaque PROGRAMA AGROAMIGO, observa-se que existe um elevado grau de alcance

dessas expectativas a partir das opiniões externadass pelos atores que o operam na praça de

Caruaru-PE, bem como baseadas naquelas advindas dos próprios clientes.

4.4 Qualidade de Vida Visto pelos Dois Lados

Para comparar o conceito de Qualidade de Vida entre a visão dos clientes e a dos

operadores, por conta do sexto e último objetivo estabelecido nesta dissertação, criou-se uma

classificação que tem fundamento no conceito de “Avaliação de Impacto” de Roche (2002).

Nessa abordagem, diversas variáveis podem ter sido modificadas devido ao PROGRAMA

AGROAMIGO, num processo de causa e efeito, capaz de provocar mudanças na vida das

pessoas submetidas ou envolvidas com essa experiência de crédito desenvolvida pelo Banco

do Nordeste.

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121

Assim, foram excluídas aquelas varáveis cujo programa não poderia afetar, como

Infraestrutura Local, por exemplo. Uma vez definidas as categorias para análise, levantou-se,

como se pode ver na Tabela 8 e Tabela 9, a percepção dos operadores e dos participantes do

PROGRAMA AGROAMIGO em termos de interpretação do que seja qualidade de vida

expressada no discurso desse grupo da pesquisa.

É importante ressaltar que as informações que estão nos quadros dizem respeito,

unicamente, ao conceito dado pelos entrevistados quando questionados sobre o que era

qualidade de vida para eles, ou seja, investiga a percepção deles, independente do que eles

tenham conquistado com o AGROAMIGO.

Tabela 8 – Constituintes do conceito de Qualidade de Vida para os Operadores do PROGRAMA AGROAMIGO

Ali

men

tação

Esc

ola

Hab

itação

Inte

gri

dad

e,

no

me l

imp

o n

a

pra

ça

Reli

gio

sid

ad

e

Saú

de

Tra

balh

o

Tra

nq

uil

idad

e

Tra

nsp

ort

e

Lazer

TOTAL 6 1 4 1 0 0 5 2 2 2 23

23 26% 4% 17% 4% 0% 0% 22% 9% 9% 9% 100%

TO

TA

L

Categorias que compõe o conceito de Qualidade de Vida

Operador

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Ressalta-se que, como os operadores atendem os clientes como um todo, sem

segregação por grupo, bem como compõem um número reduzido, a Tabela 8 não foi dividida

por Agropecuários e Não Agropecuários.

Tabela 9 – Constituintes do conceito de Qualidade de Vida para os Clientes do PROGRAMA AGROAMIGO

Ali

men

tação

Esc

ola

Hab

itação

Inte

gri

dad

e,

no

me l

imp

o n

a

pra

ça

Reli

gio

sid

ad

e

Saú

de

Tra

balh

o

Tra

nq

uil

idad

e

Tra

nsp

ort

e

Lazer

1 0 8 3 1 14 15 6 1 0 49

2% 0% 16% 6% 2% 29% 31% 12% 2% 0% 100%

1 0 2 1 0 5 3 8 1 0 21

5% 0% 10% 5% 0% 24% 14% 38% 5% 0% 100%

2 0 10 4 1 19 18 14 2 0 70

3% 0% 14% 6% 1% 27% 26% 20% 3% 0% 100%

21

TOTAL

70

TO

TA

L

Clientes

Agropecuário

49

Não Agropecuário

Categorias que compõe o conceito de Qualidade de Vida

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

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122

Com base nas Tabelas 8 e 9, elaborou-se o Gráfico 12, que compara a frequência dos

comentários de cada grupo acerca do conceito de qualidade de vida para cada um.

O Gráfico 12 encontra-se com as categorias ordenadas do mais relevante para o menos

relevante, tendo como principal chave de observação o conceito de qualidade de vida para os

clientes entrevistados. Como se pode notar nesse gráfico, o conceito de qualidade de vida

diverge bastante em alguns fatores na visão de cada grupo ali pesquisado.

Gráfico 12 – Comparativo entre os fatores mais importantes do conceito de qualidade

de vida entre clientes e operadores do PROGRAMA AGROAMIGO

27%

26%

20%

14%

6%

3%

3%

1%

0%

0%

0%

22%

9%

17%

4%

26%

9%

0%

4%

9%

Saúde

Trabalho

Tranquilidade

Habitação

Integridade, nome limpo na praça

Alimentação

Transporte

Religiosidade

Escola

Lazer

Clientes Operadores

Fonte: Dados da pesquisa (2012)

No discurso de muitos dos clientes, foi possível perceber o peso que a categoria Saúde

tem para eles, estando contido em 27% dos comentários realizados a respeito desse assunto.

Diversos clientes mencionam a saúde em primeiro lugar, como um cliente que afirmou: “[...]

viver bem é ter primeiramente saúde, paz. É ter amigos e vizinhos bons, e os meus vizinhos

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123

são todos bons graças a Deus”. Enquanto isso, nenhum dos seis operadores entrevistados

sequer mencionou a saúde dentro do conceito de qualidade de vida. Isso ocorre porque a

saúde não é diretamente afetada pelo PROGRAMA AGROAMIGO, por isso não mencionada

pelos Operadores, mas os clientes sentem falta porque na região existe apenas um posto de

saúde, onde é difícil achar médico. O que se extraiu é que a renda obtida com a atividade

financiada pelo PROGRAMA AGROAMIGO, em maior ou menor grau, contribui para que,

em havendo necessidade de procurar médico fora da localidade onde vivem, seja permitido o

deslocamento até centros de medicina que possam suprir carências no quesito saúde. Ressalta-

se que saúde também está vinculada com habitação, água potável, alimentação, educação etc,

mas, neste caso, trata-se da percepção dos entrevistados da saúde para a qualidade de vida.

Já no que diz respeito a trabalho, ambos os grupos deram importância similar, sendo

mencionado em 26% dos comentários dos clientes e em 22% dos operadores. É um dos

fatores mais influenciados pelo PROGRAMA AGROAMIGO e muitos clientes se mostram

satisfeitos, como se pode ver nos seguintes comentários sobre o que é qualidade de vida.

Ter seu próprio negócio, né? Investir direitinho o dinheiro que você pegou, né,

comprar alguma coisa, né, ou gado ou que nem eu fiz, né, que comprei a máquina,

né? Então pra mim foi um bom negócio. (CLIENTE No. 1, 2012).

Olhe, só eu amanhecer o dia viva já é ótimo, eu puder ficar andano, trabalhando,

arrumando um dinheirinho tá ótimo, isso... Trabalhar pra mim, tá ótimo. (CLIENTE

No. 13, 2012).

A qualidade de vida para os produtores rurais melhorou significativamente, pois eles

antes tinham uma renda um pouco baixa e, depois dos projetos que agente faz,

principalmente os clientes que já fizeram a segunda ou terceira vez, então eles

melhoram bastante a sua qualidade de vida e eles já estão almejando para outras

atividades. (ASSESSOR OTÁVIO FILHO, 2012).

Estar produzindo é essencial para essas pessoas, que sentem maior segurança na sua

vida, uma das importantes necessidades apontadas pela teoria de MASLOW (apud

CHIAVENATO, 2009), pois os trabalhos lhes conduzem a um nível de maior conforto,

perspectiva de crescimento do seu negócio e tranqüilidade. Aliás, esse último fator se

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configurou como o terceiro mais relevante para os clientes, inserido em 20% de seus

comentários, enquanto foi citado em 9% pelos operadores. Acredita-se que a Tranquilidade

não foi tão citada pelos operadores por ser um fator mais abstrato de qualidade de vida, mas

pode-se afirmar que também é consequência da maior renda dos clientes.

Em seguida, os clientes citam a Habitação como variável de qualidade de vida (14%),

que possui quase o mesmo peso para os operadores, com 17% das citações. Frise-se que essa

foi a variável que se pode atribuir maior impacto da ação do PROGRAMA AGROAMIGO,

considerando as melhorias que proporcionou na moradia dessas pessoas, inclusive do ponto

de vista de bens acessórios que facilitam a realização das rotinas domésticas, a exemplo de

liquidificadores e geladeiras para o melhor processamento e conservação dos alimentos.

Outra variável que se convencionou chamar de Integridade, ou seja, nome “limpo” na

praça, também teve um nível de convergência próximo nos dois grupos. Tal constatação

indica que não ter restrições cadastrais é um aspecto importante para os clientes, pois se de

um lado faz bem para a autorrealização, como preconiza Maslow (apud CHIAVENATO,

2009), por outro significa manter acesas as chances de obter novo crédito.

Um fator interessante a ser observado é que pouquíssimos clientes fizeram referência à

alimentação como parte do conceito de qualidade de vida, embora os 26% dos operadores

afirmarem ser isto importante, por haverem testemunhado que muitos dos clientes mal tinham

o que comer antes do PROGRAMA AGROAMIGO. Os dados sugerem que, como a

alimentação foi pouco citada pelo cliente, é reflexo do patamar de superação de uma

necessidade básica (MASLOW, apud Chiavenato, 2009) a partir do PROGRAMA

AGROAMIGO, e que os clientes avançam na busca de outras conquistas, como, por exemplo,

migrar de uma classe social menos favorecida para outra de grau superior. Observa-se,

também, que o Lazer não foi citado por nenhum cliente, enquanto foi mencionado em 9% dos

comentários dos operadores. Ressalta-se, contudo, que aquisições como televisão, por

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125

exemplo, relaciona-se com lazer na percepção dos operadores, mas não pelos clientes. Os

últimos percebem a televisão como um bem, não um passatempo, por mais que seja.

O objetivo desta seção foi discorrer sobre os achados de modo a atingir o objetivo geral

e os objetivos específicos da dissertação, respondendo a pergunta de pesquisa.

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126

CONCLUSÃO

Com base nas análises realizadas com relação ao perfil empreendedor dos clientes

AGROAMIGO, pode-se afirmar que a maioria os mesmos executam uma atividade

agropecuária, sendo majoritariamente da faixa etária de 20 a 39 anos, que possuem família e

não tem renda complementar. Observou-se que o nível de escolaridade é muito baixo, pois

somente três conseguiram completar o Ensino Médio. Suas atividades foram aprendidas

principalmente com a família, ou seja, as pessoas não costumam arriscar em negócios que não

conhecem, além de ter pouco conhecimento geral devido ao pouco estudo. Entretanto,

observou-se que o PROGRAMA AGROAMIGO atendeu bem as necessidades dessas

pessoas, tendo em vista que todos solicitaram renovação do crédito, demonstrando que, no

geral, acreditam nos benefícios que podem advir do investimento do PROGRAMA

AGROAMIGO e estão satisfeitos com isso.

Com relação à metodologia adotada pelo AGROAMIGO, percebeu-se um ótimo nível

de satisfação, pois somente um cliente de todos os entrevistados não se considerou satisfeito

devido à demora da liberação do financiamento. Todos os demais, entretanto, se mostraram

satisfeitos com a metodologia, principalmente no que tange ao acompanhamento dado pelos

operadores de crédito, que visitam e orientam com cuidado tanto no momento do contrato,

quanto em sua renovação. Ressalta-se que o sucesso do PROGRAMA AGROAMIGO deve-

se muito a essa metodologia, pois se observou que a maioria dos clientes não iria

espontaneamente ao Banco do Nordeste ou não saberiam como aplicar adequadamente o

dinheiro recebido, fatores sanados pelas visitas e palestras de orientação, quando eram

passadas todas as informações necessárias.

Ocorreram diversas mudanças significativas na vida dos clientes do Programa, bem

como aumento da sua qualidade de vida. Em função das rendas que são geradas dos negócios

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iniciados com financiamento do AGROAMIGO, os excedentes foram utilizados, por

exemplo, para melhorarem suas casas, comprar objetos que facilitem o cotidiano, bem como

dar-lhes até algum tipo de lazer, algo inimaginável em épocas atrás. Alguns deles, inclusive,

conseguiram lucrar o suficiente para, além de adquirir bens para sua casa e família, reinvestir

no próprio negócio, que desenvolveu bastante.

Além disso, pode-se afirmar que a mudança observada na vida dos clientes foi mais

profunda naqueles que renovaram o crédito mais vezes, ou seja, os clientes que mais

renovaram foram aqueles que obtiveram mudanças mais sustentáveis, como reforma e

construção de suas casas ou expansão dos negócios. Os Não Agropecuários,

proporcionalmente, realizaram mais renovações, pois todos os entrevistados desse grupo

haviam renovado pelo menos quatro vezes.

Verificou-se também que o AGROAMIGO é inovador no setor de serviços, pois está

em consonância com o modelo de Gallouj (2002a) e se observou que o Banco do Nordeste se

respalda em uma metodologia totalmente inovadora para atender um público diferenciado

nesse caso, alcançando resultados inéditos. A transformação operada na vida desses clientes,

que tinham de enfrentar grandes dificuldades para obter crédito é visível na cidade de

Caruaru/PE, que só foi possível com a metodologia aplicada do AGROAMIGO, pois os

clientes nem cogitavam pedirem empréstimo ao Banco, sendo fundamental a forma de

prospectá-los e o acompanhamento oferecido ao longo do Programa.

Quanto ao Banco do Nordeste, pode-se afirmar que o mesmo conseguiu atingir suas

expectativas com a execução do Programa, pois todos os objetivos preconizados na

medotologia descrita do PROGRAMA AGROAMIGO foram observados nas entrevistas

junto aos clientes, constatadas por meio de observação e no discurso dos operadores do

AGROAMIGO. Esse fator fortalece o Programa, que está recebendo cada vez mais

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128

investimentos do Banco do Nordeste, indicando que existe ainda um grande potencial a ser

explorado nesse sentido, colaborando para o desenvolvimento do Nordeste.

Adicionalmente, pode-se afirmar que Qualidade de Vida, para os clientes do

PROGRAMA AGROAMIGO, envolve, principalmente, uma boa saúde, uma residência,

trabalho suficiente para sustentar sua família e comprar bens de consumo, assim como ter

tranquilidade e paz na sua vida. Enquanto isso, para os operadores, envolve, basicamente, ter

uma alimentação de qualidade, um bom trabalho e uma boa habitação. Ressalta-se que

existem interseções no discurso dos dois grupos e que o conceito varia de acordo com a

percepção de cada grupo ao enfatizarem a subjetividade quanto ao entendimento do que

realmente seja qualidade de vida (grifo nosso), não chegando a ser um problema, conforme

defendido por Herculano (apud GUERRA, 2008). Vale recordar, também, que a condição

modesta dos clientes e sua baixa escolaridade os impedem de formular respostas mais

elaboradas para tais questões. Fizeram-no de modo simples com complementações a partir do

auxílio do pesquisador, mas que mereceram consideração por ser a forma como compreendem

os benefícios alcançados com o PROGRAMA AGROAMIGO.

Limitações e Sugestões para Estudos Futuros

A limitação deste estudo foi o baixo nível de escolaridade dos clientes do PROGRAMA

AGROAMIGO, o que dificultou a aplicação das entrevistas com os mesmos, pois a falta de

articulação com as palavras limitavam bastante o desenvolvimento da resposta dos clientes.

Além disso, algumas perguntas tiveram de ser feitas repetidas vezes de maneiras diferentes,

pois, mesmo utilizando uma linguagem simples para facilitar a comunicação por parte do

entrevistador, os clientes tinham dificuldade de entender o que se estava querendo saber. Em

princípio, a maioria das respostas dadas eram curtas – senão lacônicas – necessitando maior

esforço do entrevistador em fazer com que os entrevistados dessem mais informações, o que

acabou por reduzir a amplitude das análises.

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Para trabalhos futuros, sugere-se um estudo de comparação entre os clientes

adimplentes e os inadimplentes do PROGRAMA AGROAMIGO, de modo a verificar as

diferenças de perfis e atitudes que tornam o empreendedor do microcrédito um sucesso, em

um viés mais empreendedor.

Comentários Finais

Os resultados obtidos no presente estudo apontam para impactos positivos em termos de

qualidade de vida, a partir do que revelaram os clientes pesquisados e atendidos pelo

PROGRAMA AGROAMIGO, conforme pode ser observado na parte que trata da análise dos

dados coletados e correspondentes conclusões aqui colocadas.

Com essa nova forma de financiar o Banco do Nordeste tornou mais denso o seu

atendimento perante uma faixa da clientela que se encontrava carente de uma assistência

creditícia mais adequada ao mesmo tempo em que se conecta de forma marcante aos esforços

de política publica empreendido pelo Governo Federal do Brasil. Isso, mais do que

possibilitar emprego e renda aos agricultores mais pobres de sua classe, cria condições para

que essas pessoas migrem para um melhor padrão de classe social.

Observou-se uma mudança de mentalidade nas pessoas que foram alcançadas pelo

PROGRAMA AGROAMIGO, as quais, uma vez alvo da educação financeira ministrada

constantemente pelos agentes de microcrédito rural, se mostram mais conscientes de suas

responsabilidades, procurando honrar os financiamentos nas datas originalmente pactuadas.

Assim, ficam imunizadas daqueles que apregoam a cultura do calote, normalmente com fins

políticos, mas sem compromisso real de zelo com a coisa pública.

Nada obstante, chama-se a atenção para a carência que esses produtores rurais sentem

em relação à capacitação e assistência técnica, de acordo com os depoimentos que colhemos e

pelo que verificamos in loco. Desse modo, os efeitos nessa seara podem ser danosos para a

qualidade e produtividade da exploração agropecuária, por impossibilitar um manejo

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adequado de rebanhos, sujeitar pessoas a agrotóxicos, impedir melhor utilização da terra,

dificultar a preservação do meio ambiente, dentre outros aspectos.

Assim constatado, fica a indicação para que o Banco do Nordeste intensifique as

articulações com as entidades governamentais capazes de oferecer esses serviços aos

agricultores rurais, considerando a importância deles para os resultados das explorações

agropecuárias, em termos quantitativos e qualitativos, bem como visando o melhor

aproveitamento dos recursos envolvidos no esforço de produção.

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APÊNDICE A – Roteiro de Entrevistas - Clientes do

AGROAMIGO na Praça de Caruaru

NOME DO ENTREVISTADO: _________________________________________________

N▫ DA ENTREVISTA: ________ LOCAL: __________________ DATA:_______________

DISTÂNCIA DA SEDE: _______IDADE: ______ NÍVEL DE ESCOLARIDADE________

Tipo de Atividade: ⃝ Agropecuária ⃝ Não Agropecuária

Especificação da Atividade: ____________________________________________________

Tempo de Permanência no Programa: ____________________________________________

ESTADO CIVIL:__________________HORA INICIO:_________ HORA FIM:__________

1. Como a(o) Sr(a). aprendeu a trabalhar na atividade produtiva?

Abordar sobre o tipo de atividade explorada; quantas pessoas o(a) ajudam;

tamanho do espaço onde a mesma se desenvolve(no caso de ser agropecuária), e se

o julga suficiente para o que faz;

Indagar quanto ao nível de sucesso na atividade ;

procurar, com discrição, averiguar o nível de receita obtido e qual o destino da

mesma (comercialização x troca; consumo x poupança)

no caso de ser desfavorável, indagar a que motivos atribui tal fato e que medidas

tomou a respeito;

verificar a quanto tempo reside na propriedade e em qual condição a explora

(Proprietário, parceiro, posseiro, arrendatário, meeiro, etc).

perguntar, no caso de não ser proprietário, se existe alguma condição imposta pelo

dono da terra;

pesquisar a opinião do participante quanto a suficiência do espaço territorial que

explora economicamente;

2. Como tomou conhecimento do AGROAMIGO?

Saber qual o grau de satisfação do entrevistado com relação ao apoio do

AGROAMIGO, considerando os três principais aspectos: Oportunidade do

Crédito (tempo de atendimento da proposta de financiamento e se na época

propícia); Suficiência (Valor financiado); e Adequação do Crédito (prazo de

pagamento; técnicas empregadas; orientações recebidas; características edafo-

climáticas etc);

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Indagar que avaliação faz do papel do Agente de Microcrédito Rural (Divulgação

do AGROAMIGO; Explanação do que é esse tipo de financiamento; Visitas de

Acompanhamento; Orientações Empresariais etc);

Perguntar acerca do nível de assistência técnica recebida;

Questionar se o AGROAMIGO mudou o modo de pensar do participante do ponto

de vista empresarial, em função dessa interação, em tese, mais próxima com os

Assessores de Microcrédito Rural e o porquê;

Solicitar informações sobre o recebimento de eventuais recursos em função de

programas governamentais de transferência de renda ou correlatos (Ex.: Bolsa

Família; Aposentadoria do INSS etc).

3. O que, em sua opinião, considera Qualidade de Vida?

Colher do entrevistado aspectos que considera mais relevantes em termos de

Qualidade de Vida;

Averiguar em que ordem de prioridade o entrevistado sinaliza os aspectos relativos

à Qualidade de Vida em seu meio de convivência.

4. De que maneira entende que o AGROAMIGO contribuiu para a mudança no seu nível

de Qualidade de Vida?

Indagar o que mudou, em termos de Qualidade de Vida, após a intervenção do

AGROAMIGO (perceber nos depoimentos o grau de ligação com a Teoria da

Hierarquia das Necessidades de Maslow e que desponta do ponto de vista de

impacto, especialmente no que concerne a Saúde, Educação, Transporte,

Habitação, além de sentimentos e valores como felicidade, respeito e cidadania);

Perguntar sobre outros vetores de Qualidade de Vida mencionados por algumas

teorias que tratam sobre o tema, mas não revelados, a priori, pelo entrevistado;

Extrair do entrevistado suas impressões de como espera evoluir, em termos de

Qualidade de Vida, a partir do apoio creditício oferecido pelo AGROAMIGO.

5. Quais aspectos precisam ser melhorados no AGROAMIGO?

Captar, eventuais sugestões por parte dos entrevistados para aprimoramento do

AGROAMIGO, sem prejuízo do que for apresentado nessa mesma linha ao longo

da entrevista.

6. Examinar se o entrevistado quer acrescentar mais alguma coisa ao que já foi dito,

agradecer as informações prestadas e encerrar os trabalhos.

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APÊNDICE B – Roteiro de Entrevistas – Operadores do

AGROAMIGO na Praça de Caruaru

NOME DO ENTREVISTADO: _________________________________________________

N▫ DA ENTREVISTA: ________ LOCAL: _______________ DATA: _________________

SEXO DO(A) ENTREVISTA :____ IDADE: _______ NÍVEL DE ESCOLARIDADE_____

CARGO:_____________________________________TEMPO NO CARGO:____________

1. A que credita o sucesso do AGROAMIGO perante sua clientela?

Ficar atento para a identificação ou esclarecimento de possíveis pontos fortes, bem

como oportunidades atribuídas ao programa de financiamento em destaque;

2. O que significa para você Qualidade de Vida?

Verificar se o(a) operador do AGROAMIGO considera que isso foi alcançado

pelos clientes a partir do AGROAMIGO;

3. O que entende, na prática, como inovador, do modelo do AGROAMIGO em relação

à forma tradicional de atendimento do PRONAF B?

Manter-se vigilante para os pontos mencionados na parte teórica e que constituem

os objetivos definidos pelo Banco do Nordeste para essa linha de crédito;

4. Quais são as contribuições, enquanto operador do AGROAMIGO, que reputa ter

realizado perante a clientela que faz parte da sua carteira de atendimento?

5. Na sua visão quais as perspectivas definidas pelo Banco do Nordeste relativamente

ao AGROAMIGO foram alcançadas? Em caso positivo, como comprova a

afirmação?

indagar pertinente aos motivos das que não foram alcançadas.

6. Em sua opinião, o que precisa ser aperfeiçoado no AGROAMIGO ?

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Ficar atento para a identificação ou esclarecimento de possíveis pontos fracos, bem

como ameaças atribuídas ao programa de financiamento em destaque;

7. Como avalia o trabalho dos prestadores de assistência técnica aos clientes do

AGROAMIGO?

Manter-se atento às eventuais ressalvas sinalizadas pelo operador do

AGROAMIGO com relação a este tema.

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APÊNDICE C - Protocolo para Estudo de Caso

Responsável: Ernesto Lima Cruz

VISÃO GERAL

Este documento tem o objetivo de orientar as etapas a serem seguidas na pesquisa dos “efeitos

do AGROAMIGO na qualidade de vida dos clientes da praça de Caruaru”, conduzida sobre a

forma de Estudo de Caso, no âmbito das inovações em serviços. Além disso, o presente

instrumento tem a finalidade de elevar os requisitos de confiabilidade que envolve todo o

esforço dessa iniciativa, a qual configura parte importante para que o responsável pela

condução do trabalho, acima identificado, possa obter o grau de mestre no Curso de Mestrado

Profissional em Gestão Empresarial da Faculdade Boa Viagem.

Na primeira parte estão dispostos os procedimentos de campo que orientam o pesquisador

sobre o acesso às fontes de dados, forma de coleta, comportamento a ser adotado perante os

participantes, dentre outros aspectos.

Em seguida, contemplam-se questões específicas com a finalidade de mantê-lo atento com

relação a pontos chaves que possam servir de resposta à pesquisa, a fontes potenciais de

informações, bem como pertinente a insights de interesse ao estudo.

Logo após, há referência aos passos da análise de conteúdo, dentro do modelo escolhido para

tal, e como se apresentam conforme apontado por seus autores.

Finalmente, sinaliza-se dicas que possam facilitar a construção dos reportes concernente ao

que for levantado em termos de informações e também objeto de análise no intuito de poder

se chegar a conclusões quanto ao estudo realizado.

I - PROCEDIMENTOS DE CAMPO

A. Agendamento de reunião com colaboradores da Pesquisa

. Gerente Regional do AGROAMIGO em Pernambuco

. Gerente de Negócios do PRONAF∕AGROAMIGO em Caruaru

. Coordenador do INEC1∕AGROAMIGO em Caruaru

. Assessores de Microcrédito Rural (AMR)

Obs.: explanação pormenorizada do que compreende a pesquisa em destaque, seus

objetivos e em que nível deve ocorrer a participação de cada um deles.

B. Confirmação do número e características das pessoas a serem entrevistadas

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. Clientes

. Operadores do AGROAMIGO

. Parceiros do AGROAMIGO (eventualmente para o caso de checagem cruzada de

informações). Ex.: Funcionários do Banco do Nordeste, Integrantes da Prefeitura do

Município de Caruaru, Técnicos do Instituto de Pesquisa Agropecuária, Membros do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caruaru etc.

C. Etapas para realização das entrevistas

. Apresentação do Pesquisador perante os clientes por parte de Operador do

AGROAMIGO

. Explanação breve e objetiva quanto à finalidade da entrevista e enaltecimento da

importância da participação do cliente

. Checagem prévia do material de apoio para registros das respostas

- caneta, borracha, roteiro de entrevistas em papel com espaço para anotações;

- gravador para registro das falas dos entrevistados

. Efetivação das entrevistas

- Com clientes

- Com operadores do AGROAMIGO

- Com parceiros do AGROAMIGO (Vide item B, acima).

D. Escolha e Realização de Caso Piloto

Lembretes:

1. A informação do entrevistado deve ser sobre fato que ele conhece, seja de seu

comportamento;

2. Conhecer a opinião do entrevistado, explorar suas atividades e motivações;

3. Começar a entrevista pelas informações mais acessíveis (fatos, comportamentos) até

chegar aos mais profundos (opiniões atitudes etc);

4. Empreender um caráter de máxima liberdade para que o entrevistado exponha

sinceramente sua opinião acerca do que está sendo indagado.

II - QUESTÕES DO ESTUDO DE CASO

A. As repostas fornecidas pelos participantes, em seus respectivos níveis, respondem aos

objetivos da pesquisa?

B. Durante a entrevista está sendo percebido grau de colaboração adequado, por parte dos

participantes, a fim de que os objetivos da pesquisa possam ser alcançados?

C. O tempo médio para as respostas atende às expectativas do entrevistador?

Lembretes:

1 INEC – Instituto Nordeste Cidadania – OSCIP que dá apoio e operacionaliza o AGROAMIGO em parceria

com o Banco do Nordeste do Brasil S∕A.

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1. Observar que a disponibilidade de dia e horário para as entrevistas será a do

entrevistado ao invés os do entrevistador, especialmente em função do público do

AGROAMIGO que são trabalhadores da terra e cujo afastamento dela por longo

período pode prejudicar o desenvolvimento da atividade agropecuária explorada;

2. Ter em mente que, considerando ser a amostra da pesquisa uma escolha das pessoas

para dar entrevista até o alcance da saturação, pode haver substituição dos

participantes, maior consistência e o melhor resultado da pesquisa.

III - ANÁLISE DO CONTEÚDO DAS ENTREVISTAS

A. RECUPERAÇÃO DAS INFORMAÇÕES;

B. ANÁLISE DO SIGNIFICADO PRAGMÁTICO DA CONVERSAÇÃO;

C. VALIDAÇÃO;

D. MONTAGEM DE CONSOLIDAÇÃO DAS FALAS;

E. ANÁLISE DE CONJUNTOS.

Lembretes:

1. Revisar as interpretações realizadas acerca do material produzido em termos de

resposta em decorrência das entrevistas;

2. Submeter, na medida do possível, tais interpretações a pares do Mestrado em Gestão

Empresarial com o propósito de validá-las.

IV - DICAS PARA REPORTE DO ESTUDO

A. Usar linguagem impessoal e objetiva;

B. Procurar expressar a relevância teórica do que foi estudado;

C. Estabelecer conclusões ligadas aos objetivos definidos para a pesquisa.

Lembretes:

1. Atentar para que a redação do relatório se paute, no contexto geral, dentro da norma

culta oficialmente adotada para a língua portuguesa no Brasil.