inovaÇÃo em cadeias de valor de grandes empresas

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INOVAÇÃO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS Brasília 2013

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  • INOVAO EM CADEIA DE VALOR

    22 CASOS

    INOVAO EM CADEIAS DE VALOR

    DE GRANDES EMPRESAS

    22 CASOS

    Braslia2013

    9 788579 570995

    ISBN 978-85-7957-099-5

    INO

    VA

    O EM

    CAD

    EIAS D

    E VALO

    R DE G

    RAN

    DES EM

    PRESAS 22 CA

    SOS

  • CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA CNI

    Robson Braga de Andrade

    Presidente

    Diretoria de Comunicao

    Carlos Alberto Barreiros

    Diretor

    Diretoria de Desenvolvimento Industrial

    Carlos Eduardo Abijaodi

    Diretor

    Diretoria de Educao e Tecnologia

    Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti

    Diretor

    Diretoria de Inovao

    Paulo Ml Junior

    Diretor

    Diretoria Jurdica

    Hlio Jos Ferreira Rocha

    Diretor

    Diretoria de Polticas e Estratgia

    Jos Augusto Coelho Fernandes

    Diretor

    Diretoria de Relaes Institucionais

    Mnica Messenberg Guimares

    Diretora

    Diretoria de Servios Corporativos

    Fernando Augusto Trivellato

    Diretor

    INSTITUTO EUVALDO LODI IEL

    Conselho Superior

    Robson Braga de Andrade

    Presidente

    IEL Ncleo Central

    Paulo Afonso Ferreira

    Diretor-Geral

    Paulo Ml Junior

    Superintendente

  • INOVAO EM CADEIAS DE VALOR

    DE GRANDES EMPRESAS

    22 CASOS

    Braslia2013

  • 2013. CNI Confederao Nacional da Indstria.

    2013. IEL Ncleo Central.

    Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    CNI

    Diretoria de Inovao DI

    CNI

    Confederao Nacional da Indstria

    Setor Bancrio Norte

    Quadra 1 Bloco C

    Edifcio Roberto Simonsen

    70.040-903 Braslia DF

    Tel.: (61) 3317-9000

    Fax: (61) 3317-9994

    http://www.cni.org.br

    FICHA CATALOGRFICA

    Confederao Nacional da Indstria.

    Inovao em cadeias de valor de grandes empresas:

    22 casos. Braslia : CNI : IEL, 2013.

    464 p. : il.

    ISBN 978-85-7957-099-5

    1. Inovao. I. Ttulo. II. CNI

    CDU: 62

    C748i

    Servio de Atendimento ao Cliente SAC

    Tels.: (61) 3317-9989 / 3317-9992

    [email protected]

  • APRESENTAO

    SUMRIO EXECUTIVO ..................................................... 11

    1 ALTUS ...................................................................... 25

    2 BASF ........................................................................ 39

    3 BOSCH ..................................................................... 59

    4 BRASKEM ................................................................ 79

    5 CAMARGO CRREA ............................................... 99

    6 CPFL ........................................................................ 115

    7 CRISTLIA ............................................................... 135

    8 EMBRAER ................................................................ 161

    9 FORD ....................................................................... 179

    10 FIAT .......................................................................... 197

    11 GE ............................................................................ 219

    12 IBM .......................................................................... 235

    13 JOHNSON & JOHNSON .......................................... 255

    14 KLABIN .................................................................... 273

    15 MARCOPOLO .......................................................... 289

    16 MICROSOFT ............................................................ 307

    17 NATURA ................................................................... 327

    18 OXITENO .................................................................. 349

    19 PETROBRAS ............................................................ 369

    20 SIEMENS ................................................................. 395

    21 THYSSENKRUPP ..................................................... 413

    22 3M ............................................................................ 433

    ANEXO AUTORES E COLABORADORES ...................... 453

    SUMRIO

  • AGRADECIMENTO

    A Confederao Nacional da Indstria (CNI) agradece

    s 22 grandes empresas e suas equipes na realizao

    destes estudos de casos de inovao.

  • APRESENTAO

    INOVAR ESSENCIAL

    O aprofundamento da concorrncia global, ampliado pela

    crise econmica internacional, tem promovido intensas

    transformaes nas estratgias, mtodos e processos

    das empresas. Aliado a esse cenrio, o desenvolvimento

    de novas mdias e da internet, a consolidao das redes

    sociais, os avanos quase dirios da tecnologia, e a

    sofisticao e o rigor dos consumidores resultaram numa

    nova organizao da produo industrial.

    Por tudo isso, inovar absolutamente essencial. A

    inovao abre e consolida mercados, ajuda a superar os

    concorrentes, reduz custos, aumenta a produtividade, cria

    novas competncias na empresa e d sustentabilidade.

    No se trata apenas de promover o progresso tecnolgico,

    embora isso seja fator intrnseco inovao. A empresa

    tambm inova quando desenvolve novos produtos e

    processos ou melhora radicalmente aqueles j existentes,

    quando d nova organizao produo, e quando agrega

    mais valor ou implementa novas formas de comercializao

    e relacionamento com clientes e fornecedores.

    Inovar, em suma, questo de sobrevivncia para

    as empresas.

    O governo brasileiro, felizmente, definiu a inovao como um

    dos pilares da estratgia de promoo da competitividade.

    Essa importante deciso, colocada em prtica por uma srie

    de iniciativas como a chamada Lei do Bem, a ampliao

    das fontes de fomento e financiamento, a modernizao do

    Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a criao

    do programa Cincia sem Fronteiras, o foco do BNDES na

    inovao, o reposicionamento estratgico da Financiadora

    de Estudos e Projetos (Finep) , certamente contribuir

    para colocar o Brasil em posies melhores nos rankings

    internacionais de competitividade e inovao.

  • A Mobilizao Empresarial pela Inovao (MEI) est no

    centro dessa evoluo. Criado em 2008 e coordenado pela

    Confederao Nacional da Indstria (CNI), o movimento

    rene regularmente dirigentes de empresas de ponta, as

    federaes de indstrias, e instituies pblicas para sugerir

    medidas de estmulo prtica da inovao nas empresas,

    e estreitar o dilogo entre iniciativa privada e governo no

    campo da inovao.

    A mensurao de como a inovao nas grandes empresas

    impacta sua cadeia de valor um dos projetos executados

    pela MEI. Isso resultou no estudo que rene neste livro 22

    casos, todos exemplares.

    Encontram-se desde novos conceitos de nibus, avies

    executivos e locomotivas a esponja de fibras naturais,

    mquina de produo de fio dental, aplicaes de PVC

    na construo civil e fabricao de solventes com baixa

    emisso de gases volteis. Incluem-se a criao de

    embalagens para exportao de frutas frescas, o estmulo

    sociobiodiversidade, novas tecnologias de automao

    e o primeiro transformador seco submersvel do mundo.

    Comprova-se, com estes casos, que o Brasil consegue, sim,

    inovar com esforo, ousadia e brilhantismo.

    Esperamos que as experincias de sucesso aqui relatadas

    se multipliquem por milhares de outras empresas e

    intensifiquem a adoo de polticas pblicas de inovao que

    coloquem o pas, com firmeza, na rota do desenvolvimento.

    Robson Braga de Andrade

    Presidente da Confederao Nacional da Indstria (CNI)

  • SUMRIO EXECUTIVO

  • 12

    cni inOVAO EM cADEiAs DE VALOR DE GRAnDEs EMPREsAs 22 cAsOs

    H MUITaS fORMaS dE InOVaR, MaS nIngUM InOVa SOzInHO: ESTUdOS dE CaSOS dE InOVaO EM CadEIaS dE ValOR dE gRandES EMpRESaS

    O conjunto de estudos de casos reunidos neste livro

    traz uma srie de ensinamentos s empresas brasileiras

    e ao prprio governo. A comear pela diversidade e

    variedade de desafios a superar. Cada inovao, cada caso

    em particular tem sua histria prpria, mas descortina

    horizontes com pontos em comum. So relatos que

    ajudam a entender o potencial das grandes empresas para

    induzir trajetrias inovadoras ao longo de suas cadeias

    produtivas e para alinhar e coordenar os esforos de

    nosso sistema de inovao.

    A trajetria concreta de cada empresa especfica. Visto em

    detalhes, cada um desses casos revela muitas peculiaridades,

    ainda que, observados em perspectiva, permitam traar linhas

    que se articulam. Esta diversidade decorre da dinmica de

    cada setor, da posio da empresa na cadeia de valor, do

    ciclo de maturao de seus produtos, da maior ou menor

    complexidade da rede de fornecedores, da forma com que se

    organiza a relao com universidades e institutos de pesquisa,

    das normas e regulaes que imperam no seu mercado ou da

    natureza dos clientes e consumidores.

    A especificidade do desafio cientfico ou tecnolgico

    quase sempre um dos maiores desafios e o elemento de

    maior risco tambm razo da diversidade. Com frentes

    de pesquisa e desenvolvimento to distintas automao

    ou manufatura, biotecnologia ou qumica, software ou

    eletrnica, materiais energia , o resultado teria que ser um

    mosaico heterogneo. Um mosaico de alternativas, contudo,

    que pode ser muito til para inspirar outras empresas a trilhar

    caminhos similares.

    Esta rica diversidade tambm um bom ponto de partida

    para entender um aspecto central da inovao nas grandes

    empresas: ningum inova sozinho. O esforo de inovao

    o que revelam estes 22 estudos de caso sempre

    envolve muitos parceiros: por vezes, este parceiro o

    consumidor final, outras vezes, alguns fornecedores

    selecionados, muitas vezes, so as universidades e os

    institutos de pesquisa, ou mesmo empresas que possuem

    solues parciais para os problemas que se quer resolver.

    Em muitos casos descritos na sequncia, a soluo envolve,

    ao mesmo tempo, todos esses distintos tipos de parceiros:

    clientes, fornecedores, empresas de base tecnolgica e

    Instituies de Cincia e Tecnologia ICTs.

  • 13

    SUMRIO EXECUTIVO

    Esta rica

    diversidade

    tambm um bom

    ponto de partida

    para entender um

    aspecto central

    da inovao nas

    grandes empresas:

    ningum inova

    sozinho.

  • 14

    cni inOVAO EM cADEiAs DE VALOR DE GRAnDEs EMPREsAs 22 cAsOs

    Algum poderia argumentar que este envolvimento de

    muitos parceiros decorre de um vis de seleo porque

    foram casos escolhidos para tentar formar um painel de

    como as grandes empresas mobilizam os parceiros de sua

    cadeia de valor. Evidente que h algum vis de seleo:

    no ir se encontrar aqui um caso de rotundo fracasso. E

    fracasso sempre h quando h um grande risco associado,

    o que intrnseco da inovao tecnolgica. Mas os

    fracassos tambm so fonte de aprendizado, chave para

    futuros sucessos.

    Uma leitura desapaixonada mostrar que mobilizar

    inmeros parceiros decorre no de uma opo a priori,

    nem de um vis de seleo dos estudos de casos.

    Uma estratgia de intensa cooperao e parcerias um

    imperativo para qualquer empresa que opere bons modelos

    de gesto. Nenhuma empresa bem gerida pode verticalizar

    totalmente a produo ou reunir todos os conhecimentos

    necessrios para lidar com os diversos desafios

    tecnolgicos que as inovaes lhe impem.

    Grande parte das empresas de maior sucesso busca dar

    foco aos seus negcios e realiza atividades de pesquisa,

    desenvolvimento e inovao (P&D&I) apenas na medida

    em que essas esto alinhadas com sua estratgia

    principal. A regra quase sempre mobilizar conhecimento

    externo e organizar alianas estratgicas, em especial

    quando este conhecimento pontual, para uma aplicao

    ocasional. Quanto mais complexo o problema a ser

    resolvido, quanto mais especfico o conhecimento a ser

    mobilizado ou quanto mais distante do foco do negcio,

    maior ser o nmero de parceiros. No plano interno, as

    competncias devem se restringir s reas centrais de

    negcios e aos requisitos necessrios para dialogar com

    atores externos, quilo que fizer parte do core business e

    da gesto da rede externa de conhecimento.

    Mobilizar inmeros parceiros tem custo e risco. Envolve

    uma grande capacidade de coordenao, implica

    administrar culturas institucionais distintas, requer tempo

    e boas equipes de gesto, amplia as possibilidades de

    vazamentos mesmo involuntrios e dificulta a apropriao

    plena dos resultados. Em muitos dos relatos a seguir, uma

    parte dos desafios e riscos est associada a esta trama

    complexa de atores envolvidos.

    Por que ento as empresas buscam cada vez mais estas

    parcerias? Simplesmente porque irracional querer fazer

    tudo sozinho. No se trata apenas da introduo de novos

    modelos de inovao aberta. Evidentemente que este

    condicionante existe e a cada dia mais relevante. Ele

    decorre da natureza progressivamente mais complexa

    dos problemas reais conhecimento de muitos campos

    distintos ou interdisciplinares , ou do crescente contedo

    de cincia embutido na inovao tecnolgica. Para alm

    da inovao aberta, trata-se da impossibilidade de fazer

  • 15

    SUMRIO EXECUTIVO

    15

    SUMRIO EXECUTIVO

    tudo internamente empresa ou dos custos e riscos

    excessivamente elevados deste tipo de opo.

    H muito sabemos que o ritmo da inovao ditado

    pela competio. O que impera aqui o mercado.

    Este outro ensinamento clssico confirmado de

    forma clara nestes estudos de casos. Nos textos, cabe

    notar, porm, que a expresso mercado assume

    mltiplas dimenses: por vezes, ser mais competitivo,

    reduzir custos ou ter algum diferencial em relao aos

    concorrentes; outras vezes, criar uma nova linha

    de produtos ou de solues; pode ser tambm atrair

    novos consumidores ou fomentar empreendedores e

    difundir ainda mais suas solues e produtos; ou pode,

    enfim, ser simplesmente reagir a movimentos de seus

    concorrentes. Tambm por vezes, o mercado aparece

    como uma oportunidade trazida por um cliente; outras

    vezes, como uma deciso deliberada induzida pela

    prpria empresa, retirada, por exemplo, de seu banco de

    ideias ou de seus roadmaps e estudos de cenrios, ou

    ainda de seu prprio pipeline de projetos.

    No importa. Definida uma oportunidade, o planejamento

    da inovao implicar quase sempre buscar e mobilizar

    parceiros para uma soluo. As decises estratgicas

    internas a depender dos modelos de gesto que

    cada empresa adota sero tomadas pela equipe de

    P&D&I, de engenharia e de design, de marketing e pelas

    unidades de negcios diretamente envolvidas. Em certos

    casos, at mesmo pela alta direo da empresa.

    Avaliadas nas suas dimenses tcnicas e de negcios,

    ponderados os riscos e dimensionado o potencial de retorno,

    os passos seguintes sero identificar as competncias

    in-house existentes ou a serem criadas, organizar equipes

    capazes de gerir a inovao em cada uma de suas etapas

    ou fases, definir requisitos, metas e objetivos destas etapas,

    os pontos de avaliao e monitoramento os stage-gates

    , as formas de apropriao e gesto da propriedade

    intelectual. s vezes no incio, s vezes ao final deste

    processo, preciso tambm identificar que parceiros

    podem contribuir para a soluo quais e onde esto as

    competncias externas necessrias ao projeto.

  • 16

    cni inOVAO EM cADEiAs DE VALOR DE GRAnDEs EMPREsAs 22 cAsOs

    InOVaO, ESTRaTgIaS E ValORES EMpRESaRIaIS

    Vale a pena deter-se tambm em algumas lies adicionais

    derivadas desses estudos. Em primeiro lugar, relevante

    examinar as prprias estratgias empresariais. No h como

    negar que a inovao passou a ser central para o sucesso

    dessas empresas. No plano estratgico, quase universal

    que a inovao aparea como um dos pilares de sustentao

    de longo prazo de cada um desses negcios.

    Em algumas empresas, a inovao faz parte do seu DNA.

    So, em certos casos, empreendimentos que nasceram

    da inovao, muitas vezes, em um desenvolvimento

    tecnolgico especfico ou num setor intensivo em

    tecnologia Em outras, a trajetria da empresa foi

    paulatinamente transformando a inovao numa prtica

    permanente. Mesmo em setores no intensivos em

    tecnologia, a inovao tambm est presente. Nesses

    comum que as inovaes assumam a forma de novos

    modelos de negcios. Mas, mesmo assim, invariavelmente,

    o percurso recheado de desafios de ordem tcnica.

    H casos em que isto vai muito alm. Para algumas

    companhias, a inovao passou a ser um valor intrnseco da

    empresa. No se trata apenas de ser um pilar da estratgia.

    A prpria empresa e sua imagem que vista por muitos

    dirigentes como um dos maiores impactos positivos de

    inovar se confundem com a ideia de inovao. Ser

    admirada, ser respeitada pelo que faz, inspirar jovens e

    atrair talentos, conquistar consumidores ou contar com

    o forte apoio da sociedade e do governo faz parte de

    alguns benefcios desta ousadia. As empresas percebem

    e valorizam esta conduta como atestam os casos aqui

    relatados da Camargo Corra, da FIAT, da GE, da IBM ou

    ainda da Microsoft e da Natura. Um caso ilustrativo de como

    esta imagem de inovadora beneficia a empresa a Embraer,

    que organizou um programa de formao de engenheiros

    em parceria com excelentes instituies e que atrai todo

    Em algumas

    empresas, a

    inovao faz parte

    do seu dna.

  • 17

    SUMRIO EXECUTIVO

    ano mais de 40 candidatos por vaga e tem sido vital para o

    sucesso da empresa.

    RESUlTadOS paRa aS EMpRESaS

    Os resultados que trajetrias inovadoras trazem

    para as empresas so incontestes. Antes de tudo,

    e essencialmente, servem para abrir ou consolidar

    mercados. Os exemplos da Braskem e da Ford so

    ilustrativos. A primeira ao expandir sua atuao no

    segmento da construo civil, a segunda ao conquistar,

    como um subproduto de sua estratgia nacional, mercados

    externos antes inimaginveis para o modelo EcoSport.

    Este tipo de resultado geral para os casos estudados. Foi

    assim que a Klabin viu fortalecida sua posio de mercado,

    ao desenvolver uma nova embalagem para frutas. Ou com

    a Siemens, a partir da soluo inovadora de um primeiro

    transformador seco submersvel do mundo. Ou ainda com

    a ThyssenKrupp, que ampliou sua clientela com base em

    novas solues de automao com comissionamento virtual.

    Basf, Embraer e GE engrossam esta lista com solues

    de novos materiais para construo, de novos modelos de

    aeronaves para a aviao executiva, e de locomotivas de

    grande porte e alto desempenho.

    Uma forma de se consolidar no mercado fidelizar sua

    clientela ou seus parceiros. Este um dos resultados dos

    Centros de Inovao da Microsoft (MIC), que fortalecem uma

    rede de desenvolvedores fiis empresa e s suas solues

    tecnolgicas. Outra forma atuar globalmente, como

    mostram os casos da Altus, a partir do potencial de seus

    sistemas de controladores programveis, ou da Marcopolo,

    com o novo conceito de nibus rodovirio da sua Gerao 7

    e com sua ousada estratgia de internacionalizao.

    Os estudos mostram ainda outros resultados econmicos.

    A lista longa e inclui reduo de custos, do consumo de

    matrias-primas ou de energia, menores desperdcios, menores

    tempos de produo ou de setup de plantas industriais. Este o

    caso da 3M, com sua esponja feita de fibras naturais e material

    reciclado, que alia sustentabilidade a uma sensvel reduo de

    custos. tambm o caso da Johnson & Johnson do Brasil, com

    sua nova gerao de mquinas para a produo de fio dental,

    que transformou a subsidiria na plataforma global da empresa

    para estes equipamentos. E ainda dos avanos nas tecnologias

    de automao de manufatura do caso j mencionado da

    ThyssenKrupp.

    Ganhos em termos de sustentabilidade so outro resultado

    muito relevante, quer pelo compromisso de cada empresa

    com os desafios globais do meio ambiente, quer pela

    valorizao que seus clientes ou a sociedade em geral do

    a este posicionamento. O caso da 3M, mencionado acima,

    um desses. A soluo inovadora de solventes com maior

    nvel de carbono renovvel e baixa emisso de gases volteis

  • 18

    cni inOVAO EM cADEiAs DE VALOR DE GRAnDEs EMPREsAs 22 cAsOs

    18

    da Oxiteno um bom exemplo, sintetizado na opo de fazer

    da qumica verde o drive tecnolgico da empresa. A Natura

    faz desse tipo de inovao um valor da empresa, como

    atesta a ambio do Programa Amaznia, voltado a estruturar

    uma cadeia produtiva sustentvel, articulando e engajando

    empresas, cientistas e comunidades locais, com o objetivo

    de transformar a sociobiodiversidade em inovao.

    Criar competncias internas mais um subproduto do

    esforo de inovao que contribui para o futuro das empresas.

    Este um dos resultados alcanados pela Bosch, que com

    sua tecnologia de partida a frio se tornou lder mundial no

    desenvolvimento da tecnologia flex. O projeto da Planta de

    Usina Solar de Tanquinho, da CPFL, tambm trouxe consigo um

    grande aprendizado na integrao e combinao de distintas

    tecnologias de gerao de energia e em smart grid. O caso da

    Braskem anlogo pela necessidade de acumular know how

    e capacidades internas complementares a seus parceiros,

    ao buscar aplicaes de PVC e polietileno na construo

    civil. O acmulo de competncias tcnicas, na produo, no

    desenvolvimento e em testes clnicos hoje um diferencial

    significativo do Laboratrio Cristlia no mercado de frmacos.

    Neste tema, o exemplo da Petrobras emblemtico: a

    gesto da enorme rede de parceiros externos empresas,

    institutos e universidades s possvel pelo ncleo de

    competncias estruturadas no CENPES Centro de Pesquisa

    e Desenvolvimento Leopoldo Amrico Miguez de Mello ,

  • 19

    SUMRIO EXECUTIVO

    pea-chave para a execuo de todo o planejamento da

    empresa e de seu Sistema de Gesto Tecnolgica.

    RESUlTadOS paRa a CadEIa dE ValOR

    Os resultados destas inovaes sobre as cadeias de valor de

    cada empresa tambm so notveis. A lista de empresas que

    mencionam a capacitao de fornecedores, a certificao e o

    desenvolvimento de uma cultura de melhoria contnua destes

    parceiros como um impacto relevante rene praticamente

    todos os estudos de caso deste livro.

    Os exemplos podem comear com as aes da 3M

    voltadas melhoria dos fornecedores e da Altus, que

    requer fornecedores qualificados; os impactos positivos

    para a cadeia de construo civil nacional alcanados

    pela Basf e pela Braskem; a certificao de madeireiras

    empreendida pela Camargo Corra e a capacitao

    das comunidades locais levada a cabo pela Natura.

    Prosseguem com a melhoria da qualidade das matrias-

    primas e a certificao de laboratrios buscada pelo

    Cristlia; o desenvolvimento e a capacitao da cadeia da

    GE e seus esforos de nacionalizao de componentes;

    o desenvolvimento de novos conceitos tecnolgicos

    com fornecedores pela Fiat. Repetem-se com a mudana

    radical da cadeia de valor alcanada pela Ford; as

    alianas estratgicas da Marcopolo com grupos locais

    para desenvolvimento e fabricao de componentes; e a

    enorme capacidade de induo que a Petrobras tem sobre

    o ecossistema brasileiro de petrleo e gs.

    Muitas dessas solues s so possveis em estreita

    cooperao ou com base na transferncia de tecnologia

    com e para a cadeia de fornecedores. Em muitas

    situaes, eles so codesenvolvedores, responsveis

    diretos ou indiretos pela oferta de solues inovadoras

    e pelo atendimento dos requisitos tcnicos colocados

    pela empresa. Com isso, igualmente ampliam mercados,

    reduzem custos e aumentam a produtividade.

    paRCERIaS COM UnIVERSIdadES, InSTITUTOS dE TECnOlOgIa E gOVERnO

    O que estes estudos tambm revelam que as aes das

    empresas ajudam a organizar pequenos sistemas setoriais

    de inovao. A lista de instituies mencionadas nos textos

    a seguir engloba praticamente todas as universidades de

    pesquisa do pas e os melhores laboratrios e institutos

    de tecnologia. Por vezes so colaboraes pontuais,

    voltadas a mobilizar um conhecimento especfico. Mas

    h muitos casos de parcerias estratgicas para atividades

    de P&D, estruturadas para alm da colaborao eventual.

  • 20

    cni inOVAO EM cADEiAs DE VALOR DE GRAnDEs EMPREsAs 22 cAsOs

    Da mesma maneira, h iniciativas que buscam explorar

    outros terrenos, como a gerao de startups e o estmulo ao

    desenvolvimento de empreendedores.

    o caso da extensa rede de quase duas centenas de ICTs

    parceiras da Petrobras, que no fica restrita engenharia

    de petrleo, mas que se estende por vrias reas do

    conhecimento; ou do Cristlia, em que a maioria do portflio

    de inovao advm da comunidade cientfica. Ou ainda

    da rede de universidades e institutos de pesquisa que

    colaboram com a Embraer. Em maior ou menor escala, isso

    se repete com a CPFL, com a Ford, com a Klabin, com a

    Microsoft, com a Oxiteno, com as plataformas de inovao

    aberta da Natura e da Siemens, e com a parceria estratgica

    da ThyssenKrupp com algumas das melhores instituies do

    pas, no desenvolvimento de provas de conceito.

    Essas parcerias pressupem a existncia de competncias

    internas para gerir os processos de inovao e falar a mesma

    linguagem das ICTs. E dependem do grau de maturao das

    tecnologias e de quo estratgicas elas so para os negcios

    de cada empresa.

    O que o nmero e a qualidade das parcerias descritas

    ao longo deste livro mostram que este um caminho

    promissor para a cooperao entre universidades, institutos

    e empresas. Ainda que subsistam dificuldades derivadas

    das distintas culturas institucionais de cada parceiro ou

    incompreenses no campo especfico da negociao da

    propriedade intelectual, h um terreno frtil a ser trilhado. E

    os nmeros mostram que a cooperao interessa a ambos

    os lados. Possivelmente esta seja uma das formas mais

    exitosas de buscar melhores resultados e um maior impacto

    da pesquisa feita na academia.

    Uma outra rede de cooperao singular aquela estruturada

    pelas empresas com seus consumidores ou, de forma

    mais ampla, com a sociedade. Esta foi uma iniciativa da

    Bosch para sensibilizar seus parceiros do setor automotivo

    na introduo de um novo sistema de partida a frio em

    veculos flex. E foi a inovao ainda mais radical da Fiat no

    desenvolvimento de um carro-conceito, numa abordagem de

    design thinking, com grande participao dos consumidores,

    que derivou no compartilhamento de contedo e em regras

    especiais para copyright e propriedade intelectual.

    Uma parceria essencial com o prprio governo, por meio

    de suas agncias de fomento inovao e seus bancos de

    desenvolvimento. CNPq, FINEP, BNDES e SEBRAE formam

    o corao deste sistema, que complementado por outras

    instituies regionais ou setoriais. Elas cumprem um papel

    muito relevante, ao reduzir o risco associado ao investimento

    privado em P&D, tanto pela oferta de crdito, como pelo

    fomento direto s empresas. Esse sistema complementado

    por um conjunto de incentivos fiscais que tm na Lei do Bem

    e na Lei de Informtica seus principais instrumentos.

  • 21

    SUMRIO EXECUTIVO

    21

    A ao governamental vem sendo aprimorada dia a dia,

    com mais foco na inovao e com instrumentos cada vez

    melhores e mais aderentes s necessidades das empresas.

    Sua lgica a mesma que se v em outros pases: apoiar

    o esforo de P&D privado pelo forte impacto que tem

    na produtividade e na competitividade. E apoiar porque

    o esforo de cada empresa gera externalidades que

    beneficiam o conjunto da economia e so impossveis de

    serem completamente apropriados pela prpria empresa. Os

    benefcios da sociedade so invariavelmente maiores que o

    de cada empresa singular.

    Evidente que aqui tambm h melhorias a fazer, como

    revelam estes estudos de casos: instrumentos mais

    apropriados para apoiar o que se vem chamando de P&D

    pr-competitivo, ou o escalonamento de tecnologias;

    uma regulao e uma operao mais amigvel do regime

    de propriedade intelectual; mais foco nos resultados da

    inovao e, em especial, maior apoio direto s empresas.

    As agendas da Mobilizao Empresarial pela Inovao MEI

    renem vrias recomendaes j validadas pelo setor privado

    tratando destes temas e da formao de recursos humanos,

    em especial em engenharia e cincias ou no ensino tcnico

    e tecnolgico. Importante notar que uma agenda de

    mo dupla: maior apoio governamental implica maior

    compromisso privado, com ganhos para a sociedade. Mais

    investimentos, mais produtividade e mais competitividade.

  • 22

    cni inOVAO EM cADEiAs DE VALOR DE GRAnDEs EMPREsAs 22 cAsOs

    RISCOS E dESafIOS

    Inovao envolve riscos e gerenciar estes riscos uma

    tarefa central das empresas. Parte desses riscos deriva da

    dimenso tecnolgica da inovao, outra consequncia

    da dinmica dos prprios mercados. Para muitas empresas

    deste estudo, um risco relevante esteve associado

    organizao da prpria rede de parceiros necessria aos

    projetos descritos.

    Entender esses riscos pode ser importante para as empresas

    que querem inovar. E pode ser particularmente relevante

    para a formulao de uma nova gerao de polticas pblicas

    que ao reduzir estes riscos, incentive mais e mais a conduta

    inovadora das empresas.

    Uma srie de empresas coloca a questo da identificao

    dos parceiros e da seleo de fornecedores como um dos

    desafios mais complexos. Ela aparece de forma acentuada em

    casos como o da 3M, da Basf, da Bosch, da Camargo Corra,

    da Embraer, da GE, da Klabin, da Natura e da Petrobras. E

    mencionada no como o principal problema, mas como sendo

    relevante tambm por muitas outras empresas.

    A natureza tecnolgica de muitas das inovaes descritas

    aqui tambm um fator de risco indicado por muitas

    empresas, como a Braskem, a Bosch, a IBM, a Oxiteno e

    muitas outras. Quanto mais desafiadora for a tecnologia

    ou os esforos de desenvolvimento, evidentemente maior

    ser o risco. o caso do desenvolvimento do equipamento

    da Johnson e Johnson do Brasil, onde no havia soluo

    no mercado e que requereu um novo design completo, da

    concepo montagem, da integrao validao. Mas

    mesmo os projetos que no se propem a serem disruptivos

    trazem consigo este tipo de desafio.

    Uma avaliao dos estudos de casos deste livro mostra

    que difcil simplificar a realidade e classificar as inovaes

    em modelos clssicos do tipo inovao tecnolgica, novos

    modelos de negcios, introduo de novos produtos e

    processos, design etc. Invariavelmente, a realidade impe s

    empresas uma mescla ampla de atividades at o momento

    de chegar ao mercado. E os riscos se somam: so riscos

    tcnicos, produtivos, mercadolgicos, financeiros, associados

    s barreiras de entrada de novas tecnologias, ao marco

    regulatrio, segurana jurdica, ao regime de propriedade

    intelectual, articulao de competncias e identificao

    de parceiros, escassez de pessoal e de fornecedores

    qualificados, ou riscos de eventuais repercusses negativas

    para a imagem da empresa, em casos de fracasso.

  • 23

    SUMRIO EXECUTIVO

    Enfrentar esses riscos implica organizar da melhor

    maneira possvel as competncias internas necessrias

    e estruturar um eficiente modelo de gesto da inovao.

    Inovar um imperativo para sobreviver no mercado. E

    inovar como fica claro neste conjunto de estudos

    significa articular capacitaes internas e externas.

    Gerenciar a incerteza , portanto, a alternativa obrigatria

    das empresas e gerenci-las num sentido amplo, nas

    dimenses tecnolgicas, produtivas e de mercado. O rol de

    riscos descritos mostra que esta tarefa complexa, mas o

    sucesso das empresas aqui retratadas mostra tambm que

    o esforo mais do que compensa, quase sempre a razo

    do sucesso destas companhias.

    pERSpECTIVaS E pOlTICaS dE apOIO InOVaO

    As perspectivas indicadas pelas empresas que compem

    esse estudo so bastante encorajadoras, no sentido da

    percepo geral de que suas estratgias de inovao sero,

    progressivamente, mais e mais ambiciosas. Para a quase

    totalidade delas, a inovao um valor ou um pilar essencial

    de sua estratgia.

    Mas as dificuldades listadas sugerem que podemos fazer

    muito mais se soubermos andar no caminho certo e na

    velocidade adequada. Nas entrevistas realizadas com

    os dirigentes, chamam ateno em especial os desafios

    derivados do ambiente de inovao (disponibilidade de

    mo de obra qualificada, relaes universidades-empresas,

    incentivos e investimentos governamentais etc.). Tambm

    ganham destaque os problemas relacionados aos marcos

    regulatrios (regulao setorial, segurana jurdica e regime

    de propriedade intelectual) e as deficincias relativas

    capacitao dos fornecedores (desafios de competitividade

    e qualificao das cadeias produtivas, debilidades da gesto

    empresarial, em particular da inovao).

    as perspectivas

    indicadas pelas

    empresas que

    compem

    esse estudo

    so bastante

    encorajadoras.

  • 24

    cni inOVAO EM cADEiAs DE VALOR DE GRAnDEs EMPREsAs 22 cAsOs

    Uma parte importante desta agenda essencialmente

    relacionada ao mundo empresarial, sobretudo no que

    toca gesto e capacitao das cadeias. Outra parte

    est relacionada s polticas de apoio inovao, como,

    alis, salientam os documentos produzidos no mbito da

    Mobilizao Empresarial pela Inovao MEI.

    A lio maior destes textos que as grandes empresas podem

    ter um papel ativo na estruturao do sistema nacional de

    inovao, mobilizando fornecedores, clientes, universidades e

    institutos de pesquisa, a partir das competncias internas que

    acumulam e de sua capacidade de gesto. Podem e precisam

    faz-lo por obrigao da concorrncia.

    Um conjunto de polticas pblicas igualmente pr-ativas

    poderia potencializar este protagonismo empresarial para

    usar uma expresso muito cara MEI. Esta agenda

    conhecida e no carece de ser aqui detalhada. Mas pode

    ser sintetizada na ideia de regimes adequados de estmulos

    fiscais, de financiamento e de fomento; na estruturao

    de projetos mobilizadores e plataformas mais ambiciosas,

    em setores de maior complexidade tecnolgica e risco;

    na criao de condicionalidades externas ao ambiente de

    inovao, na agenda de educao e qualificao de pessoal

    ou nos marcos regulatrios.

    Inovao e competitividade so as duas chaves desse

    processo e andam, como se sabe, estreitamente ligadas.

    Uma agenda muito determinada nesta direo encontrar

    grande respaldo no mundo privado, porque esta a trajetria

    inexorvel das empresas. No h possibilidade de sobreviver

    ou de alavancar negcios sem perseguir essa dupla

    competncia, com foco e clareza.

    Essa a direo que interessa a todos sociedade,

    governo, empresas porque o caminho do aumento da

    produtividade e da construo de um pas desenvolvido.

    Os relatos deste livro reforam, como afirmamos nos

    compromissos da MEI, que esta a agenda do futuro.

    Inovao e

    competitividade

    so as duas

    chaves desse

    processo e andam,

    como se sabe,

    estreitamente

    ligadas.

  • altus 1

  • altus: o sucesso de uma trajetria baseada em desenvolvimento tecnolgico

    Em junho de 2011, a empresa gacha Altus surpreendeu

    o mercado industrial e o mundo dos negcios no Brasil

    ao conquistar um dos mais importantes contratos de

    fornecimento de solues em automao do pas nos

    ltimos anos. Um total de dez plataformas de petrleo da

    Petrobras passariam a contar com as solues integradas,

    que foram concebidas, fabricadas e implantadas por essa

    empresa localizada no parque tecnolgico da Universidade

    do Vale dos Sinos.

    Fornecedores tradicionais multinacionais foram suplantados

    pela Altus, que durante muito tempo estivera na posio de

    fornecedora de produtos e servios para segmentos que

    as grandes empresas deixavam em segundo plano. Aps

    uma trajetria de trinta anos desenvolvendo tecnologias

    e formando competncias em torno do seu negcio de

    automao, a empresa, finalmente, tinha chegado l.

    Novidade para muitos, essa conquista era tudo, menos

    uma zebra na corrida pelos contratos de fornecimento

    Petrobras. Por trinta anos, desde a sua fundao, em

    1982, a Altus preparou-se para esse desafio galgando

    paulatinamente todos os degraus de uma trajetria que , a

    esta altura, nica no mercado de tecnologia de automao

    do Brasil. E se os planos no estavam traados de modo

    preciso, nem os passos seguiram o rigor do planejamento

    detalhado. Sob o comando de seus dois dirigentes, a

    empresa contava, desde o incio, com os componentes que

    lhe permitiriam alcanar esse resultado. O ncleo central

    da sociedade e da estratgia empresarial rene dois perfis

    muito diferentes: enquanto um dos scios, Luiz Gerbase,

    respira tecnologia, o outro, Ricardo Felizzola, pulsa no ritmo

    do mercado. Essa complementaridade vem funcionando h

    trinta anos.

    Nascida sob o perodo da chamada reserva de mercado,

    a empresa conviveu com a transio abrupta do incio da

    dcada de 1990 e preparou-se para o seu grande salto, no

    comeo dos anos 2000. Foi sob a reserva de mercado que

    o embrio das competncias empresariais e tecnolgicas

    da empresa se formou. Porm, foi no novo ambiente de

    abertura e globalizao que a empresa vislumbrou suas

    necessidades e definiu os desafios que lhe permitiram alar-

    se a um novo patamar.

    Entre esses dois mundos to distintos, h um elemento

    de continuidade na trajetria da empresa: a tecnologia

    como chave mestra de oportunidades. Essa opo nem

    sempre a mais fcil, pois raramente os investimentos

    em novas tecnologias frutificam na mesma velocidade de

    26

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • outros. As incertezas tambm so mais significativas. Por

    isso, a escolha da tecnologia prpria como vetor central

    do desenvolvimento e da expanso da Altus representa

    um elemento de suma importncia na sua estratgia

    empresarial, to mais relevante quando se tem em mente

    que as opes costumeiras de tantas outras empresas so

    as tecnologias de terceiros, por meio de licenciamento e,

    eventualmente, de mera representao comercial.

    A seguir, mostra-se o caminho percorrido por essa empresa

    cujo nome uma referncia h muitos anos. Essa evoluo

    e as transformaes que ela produziu criaram a mais

    importante empresa brasileira de automao industrial, fato

    (ou feito) que a histria do setor torna ainda mais notvel:

    contemporneas de nascimento da Altus, muitas outras

    empresas h muito desapareceram da cena industrial ou

    foram relegadas a posies secundrias, por razes diversas.

    a empresa

    A visita ao museu dos produtos da Altus oferece uma

    perspectiva bastante ilustrativa sobre a sua extraordinria

    evoluo nos ltimos trinta anos: as caixas metlicas muito

    rsticas que mal escondiam tecnologia com limites

    evidentes deram lugar a produtos compactos, de design

    funcional e uso prtico, contendo eletrnica e software

    capazes de controlar desde equipamentos muito simples a

    uma plataforma de petrleo. Mais importante, entretanto,

    que foi esse embrio que permitiu Altus acumular

    conhecimentos, desenvolver competncias e criar uma

    base de clientes que seriam, no futuro, vitais para sua

    sobrevivncia e consolidao.

    Os primeiros produtos da empresa so avaliados hoje

    como muito rudimentares. No obstante, eles ainda esto

    operacionais vinte anos ou mais aps serem desenvolvidos

    e instalados. Essa , possivelmente, uma caracterstica

    especfica dos produtos e servios da Altus: a capacidade

    de definir solues adequadas aos clientes, sem excessos

    tecnolgicos, com funcionalidades adequadas s demandas

    dos usurios, assegurando uma longa vida til e sem

    surpresas. Foi assim que a empresa conseguiu, na difcil

    passagem da reserva de mercado (que vigorou at o

    incio do governo Collor) ao mercado aberto, defender o seu

    mercado e sobreviver.

    27

    1 altus

  • Breve histrico

    A Altus Sistemas de Automao S/A, fundada em 1982 por

    Luiz Gerbase e Ricardo Felizzola, no Rio Grande do Sul, atua

    nos segmentos de automao e controle de processos

    industriais. A origem da empresa remete universidade e

    nesse ambiente que a Altus ainda hoje encontra pessoas

    interessadas em colaborar com suas necessidades de

    pesquisa e desenvolvimento, buscando solues para os

    seus problemas presentes e futuros.

    A sede da empresa est hoje localizada no Tecnosinos, o

    Parque Tecnolgico da Universidade do Vale do Rio dos

    Sinos, em So Leopoldo cidade at ento conhecida pela

    indstria de calados, mas onde se respira o dinamismo da

    indstria e o empreendedorismo do tecido industrial formado

    por muitas empresas.

    Suas filiais esto situadas nas cidades de So Paulo,

    Campinas, Rio de Janeiro, Maca, Belo Horizonte,

    Salvador, Curitiba e Sapucaia do Sul. Seu processo de

    internacionalizao j criou unidades em outros pases:

    Argentina e Chile, na regio mais prxima; Estados

    Unidos e Alemanha, dois polos continentais que permitem

    proximidade com mercados relevantes e com pases de

    produo muito expressiva. A percepo do mundo como

    dimenso de oportunidades para a empresa a despeito de

    sua localizao numa pequena cidade no entorno de Porto

    28

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • Alegre e de suas razes brasileiras possivelmente um dos

    elementos diferenciadores da Altus com relao a tantas

    outras empresas com vocao para o dinamismo.

    reas de atuao

    A empresa possui diferentes linhas de produtos para

    automao industrial (Controladores Lgicos Programveis

    CPs, Interfaces Homem-Mquina IHMs e Inversores)

    e integrao de sistemas. Atravs dos processos de

    integrao, a Altus fornece sistemas de automao em

    setores como produo e distribuio de petrleo, gerao,

    distribuio e transmisso de energia, saneamento,

    siderurgia, transporte e produo de manufaturados.

    A Altus hoje controlada por uma sociedade holding

    (PARIT Participaes em Inovaes e Tecnologia) que

    controla duas outras empresas de tecnologia, sendo uma

    delas a sociedade com uma empresa da Coreia do Sul

    para encapsulamento e teste de semicondutores no

    Brasil. Este parece ser o passo mais ousado do conjunto

    empresarial da PARIT, pois a entrada num segmento

    industrial mais avanado, no qual o pas possui condies

    preexistentes em evoluo, envolve riscos muito distintos

    da trajetria gradualista (e sem rupturas) da Altus. Na

    rea de automao, as principais tecnologias da empresa

    envolvem uma evoluo relativamente lenta, mas

    segura, ao longo das trajetrias de automao industrial,

    sobretudo nas reas de petrleo e de energia, ao passo

    que o grupo ento se apresenta para novos e importantes

    desafios tecnolgicos.

    a estratgia alinhamento do projeto com o negcio

    Durante muitos anos, a Altus sobreviveu e cresceu

    apoiada em fatores relacionados ao fechamento do

    mercado brasileiro e s especificidades dos mercados

    locais. Mas t-lo feito desse modo no nega a matriz

    da empresa, calcada em tecnologia, em conhecimento

    adquirido inicialmente no mbito universitrio, que depois

    foi reunindo novos elementos, numa combinao de

    fatores que vo da proximidade com os clientes s feiras

    internacionais, passando pela engenharia reversa e pelos

    esforos genunos.

    O elemento que a Altus valoriza no seu processo de

    crescimento e desenvolvimento precisamente a sua

    capacidade de captar e consolidar novos conhecimentos.

    Foi assim que a empresa conseguiu construir novas

    solues, sejam elas mais avanadas ou simplesmente

    melhor adaptadas.

    29

    1 altus

  • CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    30

  • o elemento que

    a altus valoriza

    no seu processo

    de crescimento e

    desenvolvimento

    precisamente

    a sua capacidade

    de captar e

    consolidar novos

    conhecimentos.

    o projeto

    O projeto que a Altus definiu como mais emblemtico

    de sua histria e de sua trajetria o do controlador

    programvel Nexto. A histria do desenvolvimento desse

    produto tambm a da transformao da Altus, de

    empresa gacha com atuao no mercado brasileiro em

    uma empresa com insero internacional e aspiraes

    mais amplas: a nova famlia de programadores um

    produto classe mundial, desenvolvido para ser integrado

    em solues de qualquer origem e em muitas diferentes

    atividades de uso.

    Em meados da dcada de noventa, a Altus tinha resistido

    abertura, mas ainda no tinha perspectivas de futuro muito

    claras. Foi ento que a empresa compreendeu alguns dos

    problemas que afetavam os seus produtos e o seu negcio:

    seus controladores tinham limitadas possibilidades de

    utilizao fora do mercado brasileiro. Mesmo neste, com a

    abertura do mercado e a forte presena de empresas globais

    compradoras desses produtos em muitos pases, somadas

    presena local de vrios fornecedores internacionais,

    tornavam muito reduzida a possibilidade de sobrevivncia

    com produtos customizados. Foi a que a empresa

    encontrou, dentro dela, uma reserva de informaes,

    conhecimentos e capacidades ainda pouco exploradas: a sua

    experincia internacional.

    Por um bom perodo (tipicamente, os anos 80), a Altus

    foi capaz de sobreviver no seu mercado natural. Apesar

    disso, os fundadores da empresa olhavam para o ambiente

    externo naquela poca, principalmente para o Japo

    como fontes de informao, conhecimento e aprendizado.

    A Altus era uma empresa brasileira, mas queria aprender

    com o que havia l fora. Era assim que ela definia,

    naquela poca, o que fazer aqui dentro. Nessa fase

    inicial, o mercado brasileiro era fechado, mas a empresa

    era aberta; e essa abertura facilitava a absoro de novas

    competncias e possibilidades.

    Foi ento que a empresa construiu a ideia de que precisaria

    ter um produto capaz de falar a lngua do mundo, capaz de

    se comunicar com mquinas e com processos industriais

    e de produo em outros pases. S assim poderia ampliar

    suas oportunidades no Brasil e criar novas em outros pases.

    Entre o reconhecimento dessa necessidade e os meios para

    viabiliz-la, era grande a distncia. Foi a que a experincia

    internacional, lentamente acumulada, jogou um papel

    importante: a Altus firmou uma parceria com empresas

    de outros pases para viabilizarem juntas uma estratgia

    de desenvolvimento de produtos capazes de encontrar

    mercados em todos os pases.

    31

    1 altus

  • As empresas que definiram, junto com a Altus, uma

    estratgia de cooperao para desenvolvimento de soluo

    prpria provinham de trs pases: ndia, Repblica Tcheca

    e Taiwan. Sendo empresas de dimenses relativamente

    similares, o projeto apresentava, para todas elas, a evidente

    vantagem do compartilhamento de custos, mas tambm

    oferecia, a cada uma, a possibilidade de contribuir com a sua

    melhor competncia, ao mesmo tempo em que facilitava,

    pela participao das demais, um atalho eficaz para a

    superao de deficincias. Ademais, sendo empresas de

    origens muito distintas, o projeto tinha, desde partido incio,

    horizontes mais amplos. Tudo isso lhes permitiria defender o

    seu mercado de atuao nacional (para todas, o principal at

    ento) e conquistar novos mercados.

    Metodologia

    No se pode afirmar que a Altus possua metodologia

    de inovao estabelecida de forma ortodoxa, apesar

    de processos bem definidos relativos pesquisa e

    desenvolvimento de novos processos e produtos, posto

    que ainda existe certo grau de flexibilidade e fluidez nos

    processos internos da empresa. Entretanto, possvel

    constatar que ela tem forte compromisso com a mudana

    em direo a produtos que possam agregar funcionalidades

    e desempenho a seus sistemas e, por meio deles, aos

    processos de seus clientes.

    No caso do seu produto principal, o Nexto, o elemento

    divisor de guas foi a percepo de desafio de grande

    envergadura, associado a uma grande oportunidade. A

    transformao dos controladores da Altus em produtos

    de classe mundial era evidentemente um grande desafio,

    mas esse desafio estava em correspondncia com as

    oportunidades. Se havia muito a fazer, havia tambm frutos

    importantes a colher. E o principal deles era a transformao

    da Altus: de empresa confinada ao mercado nacional (e

    pouco mais) em empresa brasileira com possibilidades de

    atuao em mltiplos mercados.

    32

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • Havia ainda dois conjuntos de circunstncias que favoreciam

    uma avaliao positiva das possibilidades. O primeiro

    era a experincia acumulada tanto no desenvolvimento

    tecnolgico das geraes anteriores de produtos e nos

    sistemas integrados como na experincia internacional,

    fruto de numerosas viagens para feiras, congressos, visitas

    tcnicas e prospeco de oportunidades. O segundo

    elemento favorvel foi construdo no prprio caminho, por

    meio das parcerias firmadas com empresas congneres de

    outros pases.

    resultados para a empresa

    O projeto do novo controlador alou a Altus da condio

    de empresa dedicada ao mercado brasileiro, com poucas

    oportunidades externas, para uma empresa com potencial

    de atuao global. Com seu novo produto, a Altus pode

    atuar hoje no mercado europeu, por meio de seu parceiro e

    acionista sueco. tambm com ele que os produtos da Altus

    conseguem compor sistemas de automao e controle com

    desempenho capaz de atender s necessidades de clientes

    mais exigentes como a Petrobras. Foi assim que a empresa

    conseguiu superar fornecedores tradicionais (grandes

    empresas multinacionais) e conquistar, por desempenho

    tcnico, um contrato que todos cobiaram e se empenharam

    para conquistar.

    O Nexto parte de uma nova plataforma de hardware que

    possibilitou a incluso de mltiplas funcionalidades que

    os controladores programveis anteriores no forneciam.

    O processamento de dados, novos perifricos e uma

    nova tecnologia no barramento baseada em Ethernet

    de alta velocidade, foram essenciais para fornecer uma

    nova experincia aos usurios. Alm disso, o sistema de

    diagnsticos avanados disponibiliza informaes dos

    mdulos em vrios nveis: estruturas de dados para uso

    na aplicao, pginas web da UCP e atravs do boto de

    diagnstico dos mdulos pode ser identificado o problema

    no visor grfico da UCP (Unidade Central de Processamento).

    33

    1 altus

  • O MasterTool IEC XE, ferramenta de programao e

    configurao da Altus, oferece simulao e depurao da

    aplicao e suporta as cinco linguagens de programao

    da norma IEC 61131-3 e uma linguagem adicional. Alm

    de tornar muito simples a configurao e a incluso

    dos mdulos da srie atravs de um editor grfico, a

    configurao PROFIBUS realizada na mesma ferramenta

    sem a necessidade de softwares adicionais.

    Outras caractersticas inovadoras includas foram o

    armazenamento do cdigo fonte no prprio controlador,

    os nveis de direitos de acesso tanto na UCP quanto no

    projeto, as reas de memria para armazenamento de

    dados do usurio, a expanso de memria de dados

    atravs de carto de memria, a reutilizao de cdigos

    (uso de blocos funcionais), a atualizao do firmware das

    UCPs em campo, as UCPs com um elevado desempenho

    com capacidade de executar 1000 laos PID (Proporcional

    Integral Derivative) em menos de 5ms, a no utilizao

    de bateria para manuteno de memria e a operao

    do relgio de tempo real. A Srie Nexto tambm permite

    a utilizao de maior quantidade de expanses de

    barramento e mdulos, e os mdulos de entrada e sada

    possuem um mecanismo inovador patenteado para

    insero e extrao de conectores.

    Foram investidos milhares de horas em especificao,

    desenvolvimento e validao em todas as partes que

    compem os mdulos, como hardware, mecnica, firmware

    embarcado, assim como na ferramenta de programao/

    configurao. Foram necessrias viagens nacionais e

    internacionais para tratar diretamente com os fornecedores

    os detalhes sobre como deveria ser o projeto e se havia

    viabilidade nas especificaes propostas. Tambm um

    esforo muito grande foi empregado nas comunicaes

    entre os envolvidos no projeto para, no fim, gerar os

    produtos. Todo esse esforo envolveu uma participao

    mais intensa da universidade na concepo da srie e

    durante a fase de testes dos produtos. Durante o tempo de

    desenvolvimento, houve a integrao de novas tecnologias

    que foram incorporadas aos produtos. A parceria com

    diversos fornecedores envolveu um trabalho muito forte

    de diferentes procedncias nacionais com o propsito de

    garantir que as especificaes fossem atendidas.

    Com a Srie Nexto, a Altus consegue se firmar e competir

    em igualdade com os grandes fabricantes com posies de

    destaque no mercado em que atua. Os produtos gerados

    no so inferiores aos dos concorrentes e, por ser um

    produto de classe mundial, a Srie Nexto abre as portas do

    mercado mundial de automao para a Altus.

    34

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • ao longo da sua

    trajetria, a altus

    nunca deixou

    de desenvolver

    um elo de

    relacionamento,

    presente

    desde a sua

    fundao, com a

    universidade.

    35

    1 altus

  • resultados para a cadeia de valor

    Uma empresa como a Altus depende de fornecedores

    qualificados, capazes de acompanhar a sua evoluo. A

    trajetria de expanso internacional da empresa colaborou

    para que ela pudesse dispor de solues adequadas aos

    padres globais. Isso ajuda a trazer para dentro de casa

    necessidades novas e diferenciadas. O atendimento

    dessas necessidades exige relacionamento prximo

    com fornecedores e, por vezes, um desenvolvimento

    cooperativo que assegure o alcance desses padres. A

    internacionalizao da Altus representa uma promoo da

    indstria local a padres superiores de capacitao tcnica,

    eficincia e competitividade.

    Adicionalmente, a presena de tecnologia brasileira no

    mercado internacional contribui para a construo de uma

    imagem mais forte em mercados aplicveis, onde a presena

    de muitos possveis fornecedores torna o processo de

    venda necessariamente mais qualificado. Assim, a indstria

    brasileira desenvolve, mesmo que de forma incipiente,

    uma imagem de capacitao que pode transbordar para

    outras empresas. Quanto mais empresas do pas tiverem

    tal presena internacional e puderem estar associadas a

    atributos de tecnologia, qualidade e eficincia tcnica, tanto

    menores tendero a ser as barreiras penetrao de outras

    empresas nesses mercados.

    36

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • Ao longo da sua trajetria, a Altus nunca deixou de

    desenvolver um elo de relacionamento, presente desde a

    sua fundao, com a universidade. Sua origem no ambiente

    universitrio de pesquisa e a familiaridade de seus scios

    com os usos e costumes desse universo permitiu evitar

    a formao do estranhamento que frequentemente existe

    entre os dois ambientes. Por um lado, a empresa possui

    como regra necessidades e demandas com horizontes

    temporais mais estreitos, mesmo quando sua viso de longo

    prazo est bem estabelecida. Por outro lado, a universidade

    (ou as instituies de pesquisa de maneira geral) possui

    horizontes temporais mais dilatados e objetivos especficos

    menos delimitados. Construir convergncias entre esses

    dois mundos, organizados em torno de objetivos que

    podem ser muito diferentes, exige, por parte de ambos

    os lados, a compreenso das diferenas. Evidentemente,

    o conhecimento prvio do funcionamento da pesquisa

    cientfica e tecnolgica no ambiente universitrio, no qual

    os objetivos concretos so muitas vezes mais difusos

    ou difceis de apreender, contribui para a superao das

    distncias e para a fixao de objetivos realistas. A origem da

    Altus facilita que a comunicao ocorra de modo mais fcil e

    que os mecanismos de cooperao possam funcionar com

    agilidade e eficincia.

    Ainda no tocante aos recursos humanos, uma das

    caractersticas diferenciadas da empresa a sua

    familiaridade com o ambiente externo, com o mundo dos

    negcios em outros pases. Essa experincia acumulada,

    a partir da iniciativa pioneira de seus fundadores, permitiu

    formar um corpo de pessoas executivos, gerentes e

    tcnicos com facilidade de trnsito internacional. Esse

    um ativo que a Altus possui em intensidade muito superior

    ao de outras empresas, mesmo empresas com proporo de

    exportaes mais elevada que ela.

    fotografias

    Foto 1 (abertura) Pgina 25 Laboratrio de testes. Crdito: Divulgao Altus.

    Foto 2 Pgina 28 Verificao de produtos. Crdito: Divulgao Altus.

    Foto 3 Pgina 30 Testes e Simulaes do CLP Nexto. Crdito: Divulgao Altus.

    Foto 4 Pgina 32 Foto ilustrativa: placa de circuito impresso. Crdito: Canstock.

    Foto 5 Pgina 35 este de Funcionalidades da Srie Nexto. Crdito: Divulgao Altus.

    Foto 6 Pgina 36 Montagem de mecnica diferenciada do CLP Nexto. Crdito: Divulgao Altus.

    37

    1 altus

  • perspectivas futuras

    A principal lio aprendida pela Altus envolve a

    necessidade de adaptao a ambientes institucionais

    muito volteis: nascida na reserva de mercado, a empresa

    adaptou-se ao ambiente da abertura do mercado. Essa

    abertura teve, alis, uma dimenso dupla. Inicialmente,

    produtos do mundo todo passaram a ter acesso ao

    mercado brasileiro, ampliando o leque de escolhas das

    empresas locais usurias. Em segundo lugar, mas no

    menos importante, empresas multinacionais lderes

    do mercado de automao e com presena local

    (industrial ou no) passaram a poder apresentar as suas

    solues globais aos clientes brasileiros e s empresas

    multinacionais aqui instaladas.

    Essa dupla fonte de competio reforou e acelerou a

    busca, pela Altus, de um padro global de produtos e

    tambm de parcerias. Nesse processo de busca, a empresa

    continua inserida de modo muito ativo. Os mercados de

    tecnologia ou de produtos com forte dimenso tecnolgica

    envolvem escolhas de natureza fortemente tcnica. Isso

    vlido, sobretudo, quando os produtos possuem uso

    industrial e determinam a competitividade e a segurana dos

    processos de outras empresas. Segurana e confiabilidade

    so elementos-chave nos processos de automao, visto

    que qualquer falha envolve custos e riscos extremamente

    elevados. Por esta razo, riscos antecipados pelas empresas

    compradoras de solues precisam ser superados ou

    mitigados com elementos objetivos consistentes.

    A experincia internacional da Altus pode ser considerada

    precoce, pelo menos para os padres brasileiros. O mercado

    interno (relativamente avantajado) e a geografia brasileira

    (afastada dos grandes eixos de comrcio) facilitaram

    o isolamento e a dependncia das empresas de quase

    todos os setores do seu mercado interno. por isso

    que a internacionalizao particular da Altus constitui uma

    singularidade importante. Como foi que aquela ento

    pequena empresa gacha foi se lanar no empreendimento?

    A ousadia da experincia internacional revelou-se muito

    importante quando o mercado brasileiro foi aberto e,

    em seguida, quando a Altus concebeu o seu plano de

    desenvolver e fabricar produtos classe mundial.

    possvel que mesmo o vislumbre dessa necessidade e

    das oportunidades oferecidas pelo ambiente internacional

    sequer fosse percebido se a empresa no possusse na sua

    constituio essa sua vocao internacional. E de onde ela

    vinha? A resposta mais provvel, a julgar pelas entrevistas

    e depoimentos das pessoas que conhecem o ambiente da

    empresa e a sua dinmica, a existncia de certa dose de

    arrojo por parte dos fundadores: mesmo sem uma agenda

    internacional clara e objetiva, a empresa compreendia que

    deveria frequentar esse ambiente para se capacitar a voos

    mais ousados. E assim o fez.

    rEfErNCias

    CASAIS, Rosana. Os desafios do processo de internacionalizao de novos produtos. 1 abr. 2013. Entrevista concedida Confederao Nacional da Indstria (CNI) e Elabora Consultoria.

    FELIZZOLA, Ricardo Menna Barreto. Insero da indstria nacional no mercado de microeletrnica. 1 abr. 2013. Entrevista concedida Confederao Nacional da Indstria (CNI) e Elabora Consultoria.

    GERBASE, Luiz Francisco. Estratgia de inovao da Altus: evoluo e novos desafios. 1 abr. 2013. Entrevista concedida Confederao Nacional da Indstria (CNI) e Elabora Consultoria.

    TREIN, Fernando. O processo de P&D e inovao da Altus. 1 abr. 2013. Entrevista concedida Confederao Nacional da Indstria (CNI) e Elabora Consultoria.

    38

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • BASF 2

  • 40

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    EFicinciA EnErgticA E SuStEntABilidAdE nA conStruo civil: A casaE

    A BASF uma das empresas mais inovadoras do mundo,

    como testemunham seu compromisso secular com

    pesquisa e desenvolvimento (P&D), seu contingente de

    pesquisadores e seu portflio de patentes. O lema atual

    da empresa reafirma o compromisso com a tecnologia e

    a inovao ao propor transformar a qumica para oferecer

    solues inovadoras1. No mbito de sua atuao em

    inovao, a BASF priorizou no mundo investimentos no

    mercado da construo, campo estratgico para a empresa

    nos prximos dez anos2.

    No Brasil, o investimento que simboliza essa opo a

    construo da CasaE, um projeto desenvolvido com a

    reunio de tecnologias mais eficientes e sustentveis. A

    casa brasileira foi a primeira construda em clima subtropical,

    apresentando condies diversas de suas congneres em

    pases como Alemanha, Argentina, Coreia do Sul, Estados

    Unidos, Frana, Inglaterra, Itlia, Hungria e Polnia. A CasaE

    1 Fonte: http://www.BASF.com.br/?id=7041

    2 Fonte: http://www.BASF.com.br/?id=918

    foi toda planejada para que solues da BASF, desenvolvidas

    para o setor da construo civil, fossem aplicadas no pas,

    respeitando as condies locais. Essa diferena geradora

    de desafios importantes para produtos e processos utilizados

    na construo civil. O resultado uma casa de conceito

    harmonizado com um projeto facilmente assimilvel: ao

    mesmo tempo em que aplica e testa diversas solues

    inovadoras, apresenta diferentes possibilidades para a cadeia

    da construo civil.

    O objetivo do projeto, em sntese, promover solues

    capazes de integrar produtos qumicos avanados e

    tcnicas de construo mais sustentveis. A CasaE rene

  • 41

    2 BASF

    tecnologias de demanda global, classificadas pela BASF

    como grandes desafios para os prximos anos, que serviro

    como direcionadores da expanso da empresa. O projeto

    envolveu quase duas dezenas de parceiros. Em vrios

    casos, a aplicao das tecnologias foi realizada em parceria

    com empresas brasileiras e estrangeiras. Algumas dessas

    tecnologias eram inditas no mercado brasileiro, outras

    existiam no portflio local da BASF e foram incorporadas

    CasaE. Alm disso, cada parceiro identificou junto BASF as

    solues mais aderentes proposta da CasaE.

    O principal diferencial da casa concebida e construda

    pela BASF sua eficincia energtica. De acordo com

    a empresa, e baseado no World Business Council for

    Sustainable Development3 (WBCSD), a etapa de construo

    e os materiais de um edifcio representam 40% do gasto

    total de energia ao longo do ciclo de vida da edificao. Por

    isso, todos os esforos para projetar e implantar solues

    eficientes, desde a concepo do projeto, passando pela

    execuo e operao, so altamente compensadores em

    termos de sustentabilidade. O maior desafio que a BASF

    visualiza para a CasaE e para a disseminao das tecnologias

    da empresa voltadas para a construo civil no Brasil a

    superao de uma cultura conservadora, na qual imperam

    prticas bastante arraigadas, influenciadas pela permanncia

    de formas tradicionais de construo.

    A CasaE pretende contribuir para que a indstria de

    construo civil e toda a sua cadeia dos arquitetos

    aos compradores, passando pelas construtoras, pelos

    trabalhadores que executam a construo, pelos

    rgos certificadores e organismos reguladores

    possam incorporar os novos produtos, difundindo-os

    e contribuindo para edificaes mais confortveis,

    duradouras e cada vez mais sustentveis. Este o grande

    desafio da BASF para desenvolver os novos mercados que

    priorizou em sua estratgia.

    3 Fonte: http://www.wbcsd.org/work-program/sectorprojects/buildings/ eebmanifesto.Aspx

  • 42

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    A EmprESA

    A BASF uma das maiores empresas qumicas do mundo.

    De origem alem, com sede em Ludwigshafen, foi fundada

    em 1865. Suas unidades de produo esto distribudas

    em 39 pases, incluindo quase todos os que compem

    a Amrica do Sul, e mantm relaes comerciais com

    clientes em mais de 170 pases. A empresa possui um

    portflio de mais de 8.000 produtos (plsticos, poliuretanos,

    qumicos industriais, produtos de performance, tintas e

    qumica fina, at petrleo cru e gs natural), atuando nos

    setores de agricultura e nutrio, qumicos, produtos de

    performance, plsticos e petrleo e gs.

    A BASF atua em 13 principais mercados: Care Chemicals;

    Nutrio e Sade; Qumicos Industriais; Qumicos de

    Performance; Qumicos para Papel; Tintas; Poliuretanos;

    Petrleo e Gs; Polmeros de Performance; Disperses

    e Pigmentos; Proteo de Cultivos; Catalisadores e

    Qumicos para Construo.

    Atualmente, a empresa possui mais de 110.000

    colaboradores4, dos quais cerca de 5% so funcionrios da

    BASF Amrica do Sul5 e 4.352, do Brasil, onde sua atuao

    remonta a 1911. Com sede em So Paulo, a empresa possui

    fbricas e filiais na Bahia (Camaari), Pernambuco (Jaboato

    dos Guararapes) e outras oito unidades no estado de So

    Paulo (Guaratinguet, So Bernardo do Campo no bairro do

    Demarchi e na Anchieta , Indaiatuba, Mau, Santo Antnio

    de Posse, Paulnia, Vila Prudente e Jacare).

    Alm das unidades industriais e comerciais, a BASF Brasil

    detm uma dentre as seis estaes experimentais6 da

    empresa no mundo, a nica localizada na Amrica Latina (em

    Santo Antnio de Posse, SP). Ela possui ainda sete centros

    experimentais avanados7 no pas: em Mato Grosso (Lucas

    do Rio Verde), Minas Gerais (Uberlndia), Gois (Goinia), So

    Paulo (Ribeiro Preto), Paran (Ponta Grossa e Bandeirantes)

    e Rio Grande do Sul (Santa Brbara).

    4 Fonte: http://www.BASF.com/group/about-BASF/employees

    5 Fonte: http://www.BASF.com.br/ra2011/portugues/indexhtml#/60/zoomed

    6 As estaes experimentais da BASF operam como centros de pesquisa e desenvolvimento de proteo de culturas agrcolas. Os centros conduzem estudos laboratoriais e testes de menor escala e de campo.

    7 Os Centros Experimentais Avanados (CEA) conduzem estudos de eficcia biolgica e fitotoxicidade de agroqumicos para o controle de doenas, plantas daninhas e pragas. Os centros podem emitir laudos para fins de registro junto ao Ministrio da Agricultura.

  • 43

    2 BASF

    Em 2012, as vendas globais da BASF superaram 72 bilhes

    de euros. Em conjunto, Amrica do Sul, frica e Oriente

    Mdio (agregao utilizada pela BASF na divulgao de seus

    resultados) responderam por mais de 4 bilhes de euros.

    A Amrica do Sul se destaca pela relevncia geogrfica e

    econmica no segmento de proteo de cultivos, tambm

    com forte crescimento dos investimentos em inovaes

    dirigidas para os segmentos ligados construo.

    EStrAtgiA dE inovAo

    A necessidade da sociedade por construes mais

    sustentveis e a projeo de contnuo crescimento desse

    mercado so duas das principais razes que levaram a BASF

    a investir no desenvolvimento da CasaE. O propsito da

    empresa transformar a qumica para um futuro sustentvel

    to vlido para o mercado da construo civil como

    para outras reas de atuao da empresa no Brasil. Para a

    aplicao de solues nesse mercado, e em especial no

    projeto da CasaE, parcerias com clientes e outros atores

    foram muito importantes.

    A BASF, por meio da cincia e da inovao, possibilita o

    atendimento das atuais e futuras necessidades de seus

    clientes e da sociedade em geral8. No mundo todo, a BASF

    8 Fonte: http://www.BASF.com.br/?id=7618

    investe cerca de 1,4 bilho de euros por ano em Pesquisa e

    Desenvolvimento (P&D), dos quais aproximadamente 25%

    so destinados a pesquisas na rea de proteo de cultivos.

    Essa uma das divises da empresa com maior crescimento

    na Amrica do Sul em termos de faturamento. No Brasil, so

    cerca de R$ 100 milhes investidos anualmente em P&D. A

    empresa vem investindo principalmente em inovaes em

    qumicos para os setores de minerao, petrleo, construo

    e higiene pessoal e cosmticos9.

    A estratgia global de inovao da BASF envolve o

    desenvolvimento conjunto de projetos e tecnologias com

    parceiros. Existem 600 parcerias da BASF no mundo com

    universidades, institutos de pesquisa e outras organizaes10.

    No Brasil, a BASF conta com parcerias voltadas inovao

    de produtos e processos com a Empresa Brasileira de

    Pesquisa Agropecuria (Embrapa) e, mais recentemente,

    o convnio de cooperao com a Universidade Estadual

    de Maring, com o Centro de Tecnologia Canavieira, e um

    protocolo de inteno para a construo de um Parque de

    Inovao em Braslia, com a Universidade de Braslia e com a

    Building Research Establishment BRE.

    9 Fonte: http://exame.abril.com.br/gestao/noticias/por-quena-BASF-inovacao-e-palavra-chave

    10 BASF. Report 2012. Disponvel em: . Acesso em: 2013.

    A estratgia

    global de

    inovao da

    BASF envolve o

    desenvolvimento

    conjunto de

    projetos e

    tecnologias com

    parceiros.

  • 44

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    o projEto

    A CasaE uma iniciativa global da BASF para o

    desenvolvimento de solues capazes de integrar produtos

    qumicos avanados e tcnicas de construo mais

    sustentveis. No Brasil, a CasaE foi desenvolvida pela unio

    de tecnologias de cinco unidades de negcio da BASF, em

    parceria com diversas outras empresas do segmento de

    construo, envolvendo empresas multinacionais de origem

    brasileira e estrangeiras instaladas no Brasil. As unidades de

    negcio foram coordenadas por um lder responsvel pela

    construo da casa. Cada uma dessas unidades de negcio

    da BASF e parceiros devero se beneficiar do mtodo de

    divulgao e promoo comercial propiciado pela CasaE.

    O projeto consiste no desenvolvimento de solues que

    atendam a todas as etapas previstas em obras civis.

    A existncia, em muitas dessas etapas, de processos

    e mtodos muito distintos do processo convencional

    empregado no Brasil representou um importante desafio

    para a BASF. A empresa precisou ainda investir em esforos

    para criar essas solues.

    A CasaE brasileira uma dentre dez casas da BASF

    construdas no mundo e a segunda a ser erigida na Amrica

    do Sul a primeira foi na Argentina. O principal desafio da

    BASF Brasil foi a aplicao de produtos que no existiam

    no mercado brasileiro, tendo sido necessrio respeitar as

    condies especficas do pas, em especial as climticas

    muito diversas daquelas encontradas nos pases que

    abrigam as outras nove casas. As condies da mo de obra

    local, treinada em mtodos tradicionalmente empregados

    e nem sempre preparada para lidar com outras tecnologias,

    tambm representaram um desafio de ordem prtica.

    Ainda mais desafiador o contexto geral das prticas de

    construo no Brasil, por exemplo, na opo corriqueira de

    se utilizar a laje cermica para construo: pesada, difcil de

    instalar, incapaz de produzir conforto trmico ou acstico, que

    sobrecarrega a estrutura e induz a desperdcio de materiais

    e, posteriormente, de energia e, portanto, de alto impacto

    ambiental. Ciente desse quadro de desconhecimento de

    solues mais contemporneas e efetivas, com o emprego

    de materiais qumicos com propriedades superiores, a BASF

    props a construo da CasaE para apresentar suas solues

    e inovaes para esse tema ao pblico e mercados, decidindo

    inseri-la na malha urbana da cidade de So Paulo.

    O desenvolvimento desta casa-conceito tem a finalidade de

    difundir informao e conhecimento sobre diversos produtos

    e solues inovadoras da BASF para o ramo da construo

    civil. A casa rene, em um nico espao, tecnologias que

    atendem s demandas globais que, segundo avaliao da

    empresa, so grandes desafios para os prximos anos. A

    BASF decidiu ento adot-las como direcionadores dos seus

    processos de inovao e sustentabilidade.

  • 2 BASF

    45

  • 46

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    O mercado de construo considerado prioritrio e vem

    recebendo investimentos no Brasil como parte da estratgia

    da BASF para os prximos dez anos. So exemplos a

    inaugurao, em 2008, da primeira fbrica de PCE (ter

    policarboxilato) da Amrica do Sul, em Guaratinguet, So

    Paulo; a construo, em 2012, do novo complexo Acrlico

    de Camaari, Bahia, com investimentos de cerca de 500

    milhes de euros; e o investimento de R$ 100 milhes na

    plataforma de P&D aplicada ao desenvolvimento industrial e

    competitividade.

    A CasaE brasileira possibilita ao mesmo tempo

    funcionalidade residencial ou no escritrio. Nesse ambiente,

    as cinco unidades de negcios da BASF podero mostrar

    aos potenciais clientes e outros parceiros do mercado da

    construo civil as vantagens dos 33 produtos integrados

    a diversas solues para o setor civil, alm das solues

    dos parceiros. A CasaE est localizada na zona sul de So

    Paulo. Sua construo demandou cerca de treze meses,

    ao passo que seu planejamento, um ano. Foram investidos

    cerca de R$ 3 milhes. A casa possui elementos tipicamente

    residenciais (quartos, cozinha, varanda com churrasqueira)

    combinados com elementos do ambiente empresarial

    (auditrio para 40 pessoas e sala de reunies executiva).

    O projeto de construo contou com 18 parceiros nacionais

    e internacionais: Tigre, Leroy Merlin, Deca, Elevadores Atlas

    Schindler, Grupo Bosch, Gerdau, Guardian, Grupo Knauf,

    Daikin, Leicht, Arquivo Vivo Locao, Supermix, Veka, Philips,

    OWA, Isoeste, Whirlpool e Nespresso. Com alguns desses

    parceiros, foi realizada transferncia de tecnologia da BASF

    e foram desenvolvidos ou adaptados produtos. O projeto foi

    executado pelo escritrio de arquitetura e gerenciamento

    da obra Athi Wohnrath. Para a construo da CasaE, foi

    necessrio tambm o desenvolvimento de fornecedores

    locais, por exemplo, a PLM Construo e a Obraplan.

    O principal diferencial da casa sua eficincia energtica.

    Placas solares captam energia solar para aquecimento da

    gua e painis fotovoltaicos que fornecem parte da energia

    consumida na casa e vidros especiais garantem a entrada de

    luz natural sem aquecer demais o local. Alm disso, a casa

    proporciona maior conforto trmico, sendo que as tcnicas

    utilizadas permitem uma rpida construo, sem comprometer

    o design e a arquitetura do projeto. O principal objetivo do

    projeto mostrar que mtodos, tcnicas e produtos utilizados

    na CasaE podem ser utilizados tanto em construes de

    grande porte como em moradias comum, sendo acessveis

    ao mercado brasileiro e apresentando vantagens ambientais

    e econmicas (menor consumo de energia e outros recursos

    naturais, aumento da produtividade, reduo do tempo de

    construo e de mo de obra).

    A casaE brasileira

    possibilita ao

    mesmo tempo

    funcionalidade

    residencial ou

    no escritrio.

  • 47

    2 BASF

    O projeto de construo proposto pela BASF consiste em

    blocos de poliestireno expandido da BASF em Sistema ICF

    (Insulated Concrete Formwork) e lajes fabricadas com o mesmo

    material. Tais solues proporcionam um isolamento trmico

    muito eficiente. As peas de poliestireno expandido (EPS, na

    sigla em ingls) so fabricadas na empresa industrial (que

    expande a matria-prima da BASF), montadas no canteiro,

    recheadas por armaduras de concreto usinado de modo

    rpido e fcil (em balde ou bombeado por mangueira), sendo

    depois lixadas para alinhamento e colocao de uma tela de

    polipropileno (PP) sobre a qual aplicado o reboco (formado

    por cimento ou argamassa com aditivos) para adeso ao bloco

    de EPS e tela de PP. Espumas especiais, no propagadoras de

    chama, so aplicadas no teto para conforto acstico.

    As disperses e os pigmentos da BASF apresentam

    diferenciais para as tintas, vernizes, adesivos e materiais de

    construo aplicados na CasaE, bem como no controle da

    temperatura, proporcionando conforto trmico e contribuindo

    diretamente para a economia de energia. Os arquitetos

    podem, com esta soluo, usar, por exemplo, a cor preta em

    ambientes expostos ao sol sem temer os efeitos trmicos.

    A linha de produtos base poliuretano ajudam no conforto

    trmico, na reduo no consumo de energia e oferecem

    compostos para a construo de pisos drenantes que evitam

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    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    o acmulo de gua no piso. O ambiente externo possui

    dois tipos de piso: o concreto permevel e um composto

    aglutinante base poliuretano. Esses pisos no somente

    evitam o acmulo de gua como tambm permitem a

    recuperao da gua drenada para reso, por exemplo, na

    limpeza geral ou rega de plantas. O concreto permevel

    possui elevada resistncia e presta-se, entre outras

    finalidades, a reas de baixa circulao de veculos, enquanto

    o piso de composto aglutinante destina-se principalmente a

    reas tipicamente residenciais, para a circulao de pessoas.

    Os produtos qumicos para construo aumentam a

    eficincia da hidratao do cimento, reduzindo o uso de

    gua e emisses de CO2 e garantem maior flexibilidade

    s operaes. Tambm esto presentes produtos para

    revestimento, impermeabilizantes e antiderrapantes.

    Foram utilizadas tintas imobilirias do segmento premium,

    Suvinil, pertencente BASF. A tinta com propriedade

    antibacteriana, aprovada pela Anvisa, foi utilizada na parte

    interna da residncia, levando preveno de colonizao

    de 99% das bactrias nas paredes e na fachada da casa foi

    utilizada tinta antifissura. As tintas possuem baixos teores

    de compostos orgnicos volteis (VOC, na sigla em ingls),

    uma tendncia mundial que a BASF tambm pratica no

    mercado brasileiro.

    Metodologia

    As estruturas das paredes e da laje da CasaE foram

    inteiramente construdas com blocos de poliestireno expandido

    contendo microcpsulas de grafite, que possuem a capacidade

    de refletir a radiao infravermelha, responsvel pela gerao

    de calor. Com isso, o composto capaz de proporcionar

    isolamento trmico 20% superior ao do poliestireno expandido

    (isopor) convencional. A utilizao desse material em

    associao a outros mtodos para controle de temperatura,

    como esquadrias de PVC, vidros duplos e tinta base de

    pigmento frio, permite alcanar um nvel superior de conforto

    trmico e, ao mesmo tempo, reduzir o consumo de energia.

    Portanto, os benefcios do produto e da tcnica associada

    consistem na possibilidade de construir uma parede

    estrutural convencional, bem como fechamento regular

    substituto alvenaria, mas com maior conforto trmico,

    reduzindo custos com o uso reduzido do ar condicionado

    ou da calefao. A tecnologia ainda permite que as paredes

    sejam mais finas e leves. A montagem dos blocos de EPS

    cerca de quatro vezes mais rpida do que a de blocos

    convencionais de cermica ou concreto, diminuindo

    sobremaneira o impacto e o volume dos resduos de

    construo. A tecnologia com microcpsulas de grafite

    possui benefcios adicionais, como repelncia gua, boa

    rigidez, estabilidade dimensional e elevada resistncia

    degradao e ao envelhecimento.

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    2 BASF

    Alm da estrutura de EPS, algumas paredes dos quartos e da

    guarita foram construdas com a utilizao de uma espuma

    rgida de poliuretano. O uso desse material proporciona:

    economia de energia, pois mantm a temperatura estvel

    por mais tempo sem a necessidade de utilizao de ar

    condicionado ou outras formas de resfriamento;

    agilidade de construo, pois pode ser empregado na

    fabricao de peas pr-fabricadas, que substituem

    o uso de tijolos e concreto, que exigem maior tempo

    de secagem;

    leveza na construo, pois seu uso dispensa a utilizao

    de outros materiais como trelias, por exemplo, reduzindo

    tambm o custo da obra. Uma placa desse material

    tem eficincia equivalente de placas de l de vidro ou

    concreto com espessuras muito maiores.

    Outra estratgia empregada na estrutura da CasaE para

    proporcionar conforto trmico foi a aplicao de materiais

    que incorporam composto de transio de fase (Phase

    Change Material PCM) em algumas paredes internas.

    Esse composto de microcpsulas de polmero recheadas

    com ceras de parafina se liquefaz (derrete) a temperaturas

    prximas da ambiente. Para que isso ocorra, a cera

    utiliza a energia do ambiente, provocando assim queda

    de temperatura. Durante a noite, quando em geral a

    A boa fluidez

    do concreto

    aditivado

    dispensa a

    utilizao de

    mquinas e

    outras tcnicas

    para assent-lo.

    temperatura mais baixa, ocorre o processo inverso: a cera

    se solidifica, liberando para o ambiente o calor armazenado

    durante o dia.

    Os blocos de poliestireno expandido utilizadas para a

    construo da estrutura da CasaE demandam um concreto

    mais fluido, capaz de preencher toda a extenso da

    cavidade dos blocos. Na CasaE foi utilizado um aditivo

    base de ter policarboxilato para garantir boa fluidez

    ao concreto, favorecendo o rpido preenchimento da

    cavidade do bloco. Outras vantagens atribudas ao uso do

    aditivo incluem: aumento de at 20% na resistncia do

    concreto; exigncia de menor quantidade de gua (at 30%

    de reduo) e de concreto, contribuindo para a reduo

    de custos e uso de recursos naturais. A boa fluidez do

    concreto aditivado dispensa a utilizao de mquinas e

    outras tcnicas para assent-lo, diminuindo tambm gastos

    com mo de obra.

    Para adequar as propriedades do aditivo s caractersticas

    do concreto brasileiro, a BASF realizou um trabalho de

    desenvolvimento durante dois anos, avaliando diferentes

    molculas de derivados policarboxilatos. O cimento

    comumente produzido no Brasil possui caractersticas

    prprias muito diversas do mesmo produto em outros

    pases. Para o projeto da CasaE, foram criados dois novos

    grades de molculas de policarboxilatos que possuem

    tamanho de cadeia e densidade de carga diferenciados. As

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    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    molculas foram testadas por instituies nacionais, como

    a Universidade de So Paulo (USP), o Instituto de Pesquisas

    Tecnolgicas (IPT) e a Associao de Cimento Portland.

    Na calada e no passeio da CasaE foi aplicado um

    composto aglutinante de poliuretano, cujo principal objetivo

    era tornar as superfcies altamente permeveis, permitindo

    o reso d