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INOVAÇÃO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS Brasília 2013

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  • INOVAO EM CADEIA DE VALOR

    22 CASOS

    INOVAO EM CADEIAS DE VALOR

    DE GRANDES EMPRESAS

    22 CASOS

    Braslia2013

    9 788579 570995

    ISBN 978-85-7957-099-5

    INO

    VA

    O EM

    CAD

    EIAS D

    E VALO

    R DE G

    RAN

    DES EM

    PRESAS 22 CA

    SOS

  • CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA CNI

    Robson Braga de Andrade

    Presidente

    Diretoria de Comunicao

    Carlos Alberto Barreiros

    Diretor

    Diretoria de Desenvolvimento Industrial

    Carlos Eduardo Abijaodi

    Diretor

    Diretoria de Educao e Tecnologia

    Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti

    Diretor

    Diretoria de Inovao

    Paulo Ml Junior

    Diretor

    Diretoria Jurdica

    Hlio Jos Ferreira Rocha

    Diretor

    Diretoria de Polticas e Estratgia

    Jos Augusto Coelho Fernandes

    Diretor

    Diretoria de Relaes Institucionais

    Mnica Messenberg Guimares

    Diretora

    Diretoria de Servios Corporativos

    Fernando Augusto Trivellato

    Diretor

    INSTITUTO EUVALDO LODI IEL

    Conselho Superior

    Robson Braga de Andrade

    Presidente

    IEL Ncleo Central

    Paulo Afonso Ferreira

    Diretor-Geral

    Paulo Ml Junior

    Superintendente

  • INOVAO EM CADEIA DE VALOR

    DE GRANDES EMPRESAS

    22 CASOS

    Braslia2013

  • 2013. CNI Confederao Nacional da Indstria.

    2013. IEL Ncleo Central.

    Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    CNI

    Diretoria de Inovao DI

    CNI

    Confederao Nacional da Indstria

    Setor Bancrio Norte

    Quadra 1 Bloco C

    Edifcio Roberto Simonsen

    70.040-903 Braslia DF

    Tel.: (61) 3317-9000

    Fax: (61) 3317-9994

    http://www.cni.org.br

    FICHA CATALOGRFICA

    Confederao Nacional da Indstria.

    Inovao em cadeias de valor de grandes empresas:

    22 casos. Braslia : CNI : IEL, 2013.

    449 p. : il.

    ISBN 978-85-7957-099-5

    1. Inovao. I. Ttulo. II. CNI

    CDU: 62

    C748i

    Servio de Atendimento ao Cliente SAC

    Tels.: (61) 3317-9989 / 3317-9992

    [email protected]

  • APRESENTAO

    1 ALTUS ...................................................................... 11

    2 BASF ........................................................................ 25

    3 BOSCH ..................................................................... 45

    4 BRASKEM ................................................................ 65

    5 CAMARGO CRREA ............................................... 85

    6 CPFL ........................................................................ 101

    7 CRISTLIA ............................................................... 121

    8 EMBRAER ................................................................ 147

    9 FORD ....................................................................... 165

    10 FIAT .......................................................................... 183

    11 GE ............................................................................ 205

    12 IBM .......................................................................... 221

    13 JOHNSON & JOHNSON .......................................... 241

    14 KLABIN .................................................................... 259

    15 MARCOPOLO .......................................................... 275

    16 MICROSOFT ............................................................ 293

    17 NATURA ................................................................... 313

    18 OXITENO .................................................................. 335

    19 PETROBRAS ............................................................ 355

    20 SIEMENS ................................................................. 381

    21 THYSSENKRUPP ..................................................... 399

    22 3M ............................................................................ 438

    ANEXO AUTORES E COLABORADORES ...................... 439

    SUMRIO

  • AGRADECIMENTO

    A Confederao Nacional da Indstria (CNI) agradece

    s 22 grandes empresas e suas equipes na realizao

    destes estudos de casos de inovao.

  • APRESENTAO

    INOVAR ESSENCIAL

    O aprofundamento da concorrncia global, ampliado pela

    crise econmica internacional, tem promovido intensas

    transformaes nas estratgias, mtodos e processos

    das empresas. Aliado a esse cenrio, o desenvolvimento

    de novas mdias e da internet, a consolidao das redes

    sociais, os avanos quase dirios da tecnologia, e a

    sofisticao e o rigor dos consumidores resultaram numa

    nova organizao da produo industrial.

    Por tudo isso, inovar absolutamente essencial. A

    inovao abre e consolida mercados, ajuda a superar os

    concorrentes, reduz custos, aumenta a produtividade, cria

    novas competncias na empresa e d sustentabilidade.

    No se trata apenas de promover o progresso tecnolgico,

    embora isso seja fator intrnseco inovao. A empresa

    tambm inova quando desenvolve novos produtos e

    processos ou melhora radicalmente aqueles j existentes,

    quando d nova organizao produo, e quando agrega

    mais valor ou implementa novas formas de comercializao

    e relacionamento com clientes e fornecedores.

    Inovar, em suma, questo de sobrevivncia para

    as empresas.

    O governo brasileiro, felizmente, definiu a inovao como um

    dos pilares da estratgia de promoo da competitividade.

    Essa importante deciso, colocada em prtica por uma srie

    de iniciativas como a chamada Lei do Bem, a ampliao

    das fontes de fomento e financiamento, a modernizao do

    Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a criao

    do programa Cincia sem Fronteiras, o foco do BNDES na

    inovao, o reposicionamento estratgico da Financiadora

    de Estudos e Projetos (Finep) , certamente contribuir

    para colocar o Brasil em posies melhores nos rankings

    internacionais de competitividade e inovao.

  • A Mobilizao Empresarial pela Inovao (MEI) est no

    centro dessa evoluo. Criado em 2008 e coordenado pela

    Confederao Nacional da Indstria (CNI), o movimento

    rene regularmente dirigentes de empresas de ponta, as

    federaes de indstrias, e instituies pblicas para sugerir

    medidas de estmulo prtica da inovao nas empresas,

    e estreitar o dilogo entre iniciativa privada e governo no

    campo da inovao.

    A mensurao de como a inovao nas grandes empresas

    impacta sua cadeia de valor um dos projetos executados

    pela MEI. Isso resultou no estudo que rene neste livro 22

    casos, todos exemplares.

    Encontram-se desde novos conceitos de nibus, avies

    executivos e locomotivas a esponja de fibras naturais,

    mquina de produo de fio dental, aplicaes de PVC

    na construo civil e fabricao de solventes com baixa

    emisso de gases volteis. Incluem-se a criao de

    embalagens para exportao de frutas frescas, o estmulo

    sociobiodiversidade, novas tecnologias de automao

    e o primeiro transformador seco submersvel do mundo.

    Comprova-se, com estes casos, que o Brasil consegue, sim,

    inovar com esforo, ousadia e brilhantismo.

    Esperamos que as experincias de sucesso aqui relatadas

    se multipliquem por milhares de outras empresas e

    intensifiquem a adoo de polticas pblicas de inovao que

    coloquem o pas, com firmeza, na rota do desenvolvimento.

    Robson Braga de Andrade

    Presidente da Confederao Nacional da Indstria (CNI)

  • altus 1

  • altus: o sucesso de uma trajetria baseada em desenvolvimento tecnolgico

    Em junho de 2011, a empresa gacha Altus surpreendeu

    o mercado industrial e o mundo dos negcios no Brasil

    ao conquistar um dos mais importantes contratos de

    fornecimento de solues em automao do pas nos

    ltimos anos. Um total de dez plataformas de petrleo da

    Petrobras passariam a contar com as solues integradas,

    que foram concebidas, fabricadas e implantadas por essa

    empresa localizada no parque tecnolgico da Universidade

    do Vale dos Sinos.

    Fornecedores tradicionais multinacionais foram suplantados

    pela Altus, que durante muito tempo estivera na posio de

    fornecedora de produtos e servios para segmentos que

    as grandes empresas deixavam em segundo plano. Aps

    uma trajetria de trinta anos desenvolvendo tecnologias

    e formando competncias em torno do seu negcio de

    automao, a empresa, finalmente, tinha chegado l.

    Novidade para muitos, essa conquista era tudo, menos

    uma zebra na corrida pelos contratos de fornecimento

    Petrobras. Por trinta anos, desde a sua fundao, em

    1982, a Altus preparou-se para esse desafio galgando

    paulatinamente todos os degraus de uma trajetria que , a

    esta altura, nica no mercado de tecnologia de automao

    do Brasil. E se os planos no estavam traados de modo

    preciso, nem os passos seguiram o rigor do planejamento

    detalhado. Sob o comando de seus dois dirigentes, a

    empresa contava, desde o incio, com os componentes que

    lhe permitiriam alcanar esse resultado. O ncleo central

    da sociedade e da estratgia empresarial rene dois perfis

    muito diferentes: enquanto um dos scios, Luiz Gerbase,

    respira tecnologia, o outro, Ricardo Felizzola, pulsa no ritmo

    do mercado. Essa complementaridade vem funcionando h

    trinta anos.

    Nascida sob o perodo da chamada reserva de mercado,

    a empresa conviveu com a transio abrupta do incio da

    dcada de 1990 e preparou-se para o seu grande salto, no

    comeo dos anos 2000. Foi sob a reserva de mercado que

    o embrio das competncias empresariais e tecnolgicas

    da empresa se formou. Porm, foi no novo ambiente de

    abertura e globalizao que a empresa vislumbrou suas

    necessidades e definiu os desafios que lhe permitiram alar-

    se a um novo patamar.

    Entre esses dois mundos to distintos, h um elemento

    de continuidade na trajetria da empresa: a tecnologia

    como chave mestra de oportunidades. Essa opo nem

    sempre a mais fcil, pois raramente os investimentos

    em novas tecnologias frutificam na mesma velocidade de

    12

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • outros. As incertezas tambm so mais significativas. Por

    isso, a escolha da tecnologia prpria como vetor central

    do desenvolvimento e da expanso da Altus representa

    um elemento de suma importncia na sua estratgia

    empresarial, to mais relevante quando se tem em mente

    que as opes costumeiras de tantas outras empresas so

    as tecnologias de terceiros, por meio de licenciamento e,

    eventualmente, de mera representao comercial.

    A seguir, mostra-se o caminho percorrido por essa empresa

    cujo nome uma referncia h muitos anos. Essa evoluo

    e as transformaes que ela produziu criaram a mais

    importante empresa brasileira de automao industrial, fato

    (ou feito) que a histria do setor torna ainda mais notvel:

    contemporneas de nascimento da Altus, muitas outras

    empresas h muito desapareceram da cena industrial ou

    foram relegadas a posies secundrias, por razes diversas.

    a empresa

    A visita ao museu dos produtos da Altus oferece uma

    perspectiva bastante ilustrativa sobre a sua extraordinria

    evoluo nos ltimos trinta anos: as caixas metlicas muito

    rsticas que mal escondiam tecnologia com limites

    evidentes deram lugar a produtos compactos, de design

    funcional e uso prtico, contendo eletrnica e software

    capazes de controlar desde equipamentos muito simples a

    uma plataforma de petrleo. Mais importante, entretanto,

    que foi esse embrio que permitiu Altus acumular

    conhecimentos, desenvolver competncias e criar uma

    base de clientes que seriam, no futuro, vitais para sua

    sobrevivncia e consolidao.

    Os primeiros produtos da empresa so avaliados hoje

    como muito rudimentares. No obstante, eles ainda esto

    operacionais vinte anos ou mais aps serem desenvolvidos

    e instalados. Essa , possivelmente, uma caracterstica

    especfica dos produtos e servios da Altus: a capacidade

    de definir solues adequadas aos clientes, sem excessos

    tecnolgicos, com funcionalidades adequadas s demandas

    dos usurios, assegurando uma longa vida til e sem

    surpresas. Foi assim que a empresa conseguiu, na difcil

    passagem da reserva de mercado (que vigorou at o

    incio do governo Collor) ao mercado aberto, defender o seu

    mercado e sobreviver.

    13

    1 altus

  • Breve histrico

    A Altus Sistemas de Automao S/A, fundada em 1982 por

    Luiz Gerbase e Ricardo Felizzola, no Rio Grande do Sul, atua

    nos segmentos de automao e controle de processos

    industriais. A origem da empresa remete universidade e

    nesse ambiente que a Altus ainda hoje encontra pessoas

    interessadas em colaborar com suas necessidades de

    pesquisa e desenvolvimento, buscando solues para os

    seus problemas presentes e futuros.

    A sede da empresa est hoje localizada no Tecnosinos, o

    Parque Tecnolgico da Universidade do Vale do Rio dos

    Sinos, em So Leopoldo cidade at ento conhecida pela

    indstria de calados, mas onde se respira o dinamismo da

    indstria e o empreendedorismo do tecido industrial formado

    por muitas empresas.

    Suas filiais esto situadas nas cidades de So Paulo,

    Campinas, Rio de Janeiro, Maca, Belo Horizonte,

    Salvador, Curitiba e Sapucaia do Sul. Seu processo de

    internacionalizao j criou unidades em outros pases:

    Argentina e Chile, na regio mais prxima; Estados

    Unidos e Alemanha, dois polos continentais que permitem

    proximidade com mercados relevantes e com pases de

    produo muito expressiva. A percepo do mundo como

    dimenso de oportunidades para a empresa a despeito de

    sua localizao numa pequena cidade no entorno de Porto

    14

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • Alegre e de suas razes brasileiras possivelmente um dos

    elementos diferenciadores da Altus com relao a tantas

    outras empresas com vocao para o dinamismo.

    reas de atuao

    A empresa possui diferentes linhas de produtos para

    automao industrial (Controladores Lgicos Programveis

    CPs, Interfaces Homem-Mquina IHMs e Inversores)

    e integrao de sistemas. Atravs dos processos de

    integrao, a Altus fornece sistemas de automao em

    setores como produo e distribuio de petrleo, gerao,

    distribuio e transmisso de energia, saneamento,

    siderurgia, transporte e produo de manufaturados.

    A Altus hoje controlada por uma sociedade holding

    (PARIT Participaes em Inovaes e Tecnologia) que

    controla duas outras empresas de tecnologia, sendo uma

    delas a sociedade com uma empresa da Coreia do Sul

    para encapsulamento e teste de semicondutores no

    Brasil. Este parece ser o passo mais ousado do conjunto

    empresarial da PARIT, pois a entrada num segmento

    industrial mais avanado, no qual o pas possui condies

    preexistentes em evoluo, envolve riscos muito distintos

    da trajetria gradualista (e sem rupturas) da Altus. Na

    rea de automao, as principais tecnologias da empresa

    envolvem uma evoluo relativamente lenta, mas

    segura, ao longo das trajetrias de automao industrial,

    sobretudo nas reas de petrleo e de energia, ao passo

    que o grupo ento se apresenta para novos e importantes

    desafios tecnolgicos.

    a estratgia alinhamento do projeto com o negcio

    Durante muitos anos, a Altus sobreviveu e cresceu

    apoiada em fatores relacionados ao fechamento do

    mercado brasileiro e s especificidades dos mercados

    locais. Mas t-lo feito desse modo no nega a matriz

    da empresa, calcada em tecnologia, em conhecimento

    adquirido inicialmente no mbito universitrio, que depois

    foi reunindo novos elementos, numa combinao de

    fatores que vo da proximidade com os clientes s feiras

    internacionais, passando pela engenharia reversa e pelos

    esforos genunos.

    O elemento que a Altus valoriza no seu processo de

    crescimento e desenvolvimento precisamente a sua

    capacidade de captar e consolidar novos conhecimentos.

    Foi assim que a empresa conseguiu construir novas

    solues, sejam elas mais avanadas ou simplesmente

    melhor adaptadas.

    15

    1 altus

  • CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    16

  • o elemento que

    a altus valoriza

    no seu processo

    de crescimento e

    desenvolvimento

    precisamente

    a sua capacidade

    de captar e

    consolidar novos

    conhecimentos.

    o projeto

    O projeto que a Altus definiu como mais emblemtico

    de sua histria e de sua trajetria o do controlador

    programvel Nexto. A histria do desenvolvimento desse

    produto tambm a da transformao da Altus, de

    empresa gacha com atuao no mercado brasileiro em

    uma empresa com insero internacional e aspiraes

    mais amplas: a nova famlia de programadores um

    produto classe mundial, desenvolvido para ser integrado

    em solues de qualquer origem e em muitas diferentes

    atividades de uso.

    Em meados da dcada de noventa, a Altus tinha resistido

    abertura, mas ainda no tinha perspectivas de futuro muito

    claras. Foi ento que a empresa compreendeu alguns dos

    problemas que afetavam os seus produtos e o seu negcio:

    seus controladores tinham limitadas possibilidades de

    utilizao fora do mercado brasileiro. Mesmo neste, com a

    abertura do mercado e a forte presena de empresas globais

    compradoras desses produtos em muitos pases, somadas

    presena local de vrios fornecedores internacionais,

    tornavam muito reduzida a possibilidade de sobrevivncia

    com produtos customizados. Foi a que a empresa

    encontrou, dentro dela, uma reserva de informaes,

    conhecimentos e capacidades ainda pouco exploradas: a sua

    experincia internacional.

    Por um bom perodo (tipicamente, os anos 80), a Altus

    foi capaz de sobreviver no seu mercado natural. Apesar

    disso, os fundadores da empresa olhavam para o ambiente

    externo naquela poca, principalmente para o Japo

    como fontes de informao, conhecimento e aprendizado.

    A Altus era uma empresa brasileira, mas queria aprender

    com o que havia l fora. Era assim que ela definia,

    naquela poca, o que fazer aqui dentro. Nessa fase

    inicial, o mercado brasileiro era fechado, mas a empresa

    era aberta; e essa abertura facilitava a absoro de novas

    competncias e possibilidades.

    Foi ento que a empresa construiu a ideia de que precisaria

    ter um produto capaz de falar a lngua do mundo, capaz de

    se comunicar com mquinas e com processos industriais

    e de produo em outros pases. S assim poderia ampliar

    suas oportunidades no Brasil e criar novas em outros pases.

    Entre o reconhecimento dessa necessidade e os meios para

    viabiliz-la, era grande a distncia. Foi a que a experincia

    internacional, lentamente acumulada, jogou um papel

    importante: a Altus firmou uma parceria com empresas

    de outros pases para viabilizarem juntas uma estratgia

    de desenvolvimento de produtos capazes de encontrar

    mercados em todos os pases.

    17

    1 altus

  • As empresas que definiram, junto com a Altus, uma

    estratgia de cooperao para desenvolvimento de soluo

    prpria provinham de trs pases: ndia, Repblica Tcheca

    e Taiwan. Sendo empresas de dimenses relativamente

    similares, o projeto apresentava, para todas elas, a evidente

    vantagem do compartilhamento de custos, mas tambm

    oferecia, a cada uma, a possibilidade de contribuir com a sua

    melhor competncia, ao mesmo tempo em que facilitava,

    pela participao das demais, um atalho eficaz para a

    superao de deficincias. Ademais, sendo empresas de

    origens muito distintas, o projeto tinha, desde partido incio,

    horizontes mais amplos. Tudo isso lhes permitiria defender o

    seu mercado de atuao nacional (para todas, o principal at

    ento) e conquistar novos mercados.

    Metodologia

    No se pode afirmar que a Altus possua metodologia

    de inovao estabelecida de forma ortodoxa, apesar

    de processos bem definidos relativos pesquisa e

    desenvolvimento de novos processos e produtos, posto

    que ainda existe certo grau de flexibilidade e fluidez nos

    processos internos da empresa. Entretanto, possvel

    constatar que ela tem forte compromisso com a mudana

    em direo a produtos que possam agregar funcionalidades

    e desempenho a seus sistemas e, por meio deles, aos

    processos de seus clientes.

    No caso do seu produto principal, o Nexto, o elemento

    divisor de guas foi a percepo de desafio de grande

    envergadura, associado a uma grande oportunidade. A

    transformao dos controladores da Altus em produtos

    de classe mundial era evidentemente um grande desafio,

    mas esse desafio estava em correspondncia com as

    oportunidades. Se havia muito a fazer, havia tambm frutos

    importantes a colher. E o principal deles era a transformao

    da Altus: de empresa confinada ao mercado nacional (e

    pouco mais) em empresa brasileira com possibilidades de

    atuao em mltiplos mercados.

    18

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • Havia ainda dois conjuntos de circunstncias que favoreciam

    uma avaliao positiva das possibilidades. O primeiro

    era a experincia acumulada tanto no desenvolvimento

    tecnolgico das geraes anteriores de produtos e nos

    sistemas integrados como na experincia internacional,

    fruto de numerosas viagens para feiras, congressos, visitas

    tcnicas e prospeco de oportunidades. O segundo

    elemento favorvel foi construdo no prprio caminho, por

    meio das parcerias firmadas com empresas congneres de

    outros pases.

    resultados para a empresa

    O projeto do novo controlador alou a Altus da condio

    de empresa dedicada ao mercado brasileiro, com poucas

    oportunidades externas, para uma empresa com potencial

    de atuao global. Com seu novo produto, a Altus pode

    atuar hoje no mercado europeu, por meio de seu parceiro e

    acionista sueco. tambm com ele que os produtos da Altus

    conseguem compor sistemas de automao e controle com

    desempenho capaz de atender s necessidades de clientes

    mais exigentes como a Petrobras. Foi assim que a empresa

    conseguiu superar fornecedores tradicionais (grandes

    empresas multinacionais) e conquistar, por desempenho

    tcnico, um contrato que todos cobiaram e se empenharam

    para conquistar.

    O Nexto parte de uma nova plataforma de hardware que

    possibilitou a incluso de mltiplas funcionalidades que

    os controladores programveis anteriores no forneciam.

    O processamento de dados, novos perifricos e uma

    nova tecnologia no barramento baseada em Ethernet

    de alta velocidade, foram essenciais para fornecer uma

    nova experincia aos usurios. Alm disso, o sistema de

    diagnsticos avanados disponibiliza informaes dos

    mdulos em vrios nveis: estruturas de dados para uso

    na aplicao, pginas web da UCP e atravs do boto de

    diagnstico dos mdulos pode ser identificado o problema

    no visor grfico da UCP (Unidade Central de Processamento).

    19

    1 altus

  • O MasterTool IEC XE, ferramenta de programao e

    configurao da Altus, oferece simulao e depurao da

    aplicao e suporta as cinco linguagens de programao

    da norma IEC 61131-3 e uma linguagem adicional. Alm

    de tornar muito simples a configurao e a incluso

    dos mdulos da srie atravs de um editor grfico, a

    configurao PROFIBUS realizada na mesma ferramenta

    sem a necessidade de softwares adicionais.

    Outras caractersticas inovadoras includas foram o

    armazenamento do cdigo fonte no prprio controlador,

    os nveis de direitos de acesso tanto na UCP quanto no

    projeto, as reas de memria para armazenamento de

    dados do usurio, a expanso de memria de dados

    atravs de carto de memria, a reutilizao de cdigos

    (uso de blocos funcionais), a atualizao do firmware das

    UCPs em campo, as UCPs com um elevado desempenho

    com capacidade de executar 1000 laos PID (Proporcional

    Integral Derivative) em menos de 5ms, a no utilizao

    de bateria para manuteno de memria e a operao

    do relgio de tempo real. A Srie Nexto tambm permite

    a utilizao de maior quantidade de expanses de

    barramento e mdulos, e os mdulos de entrada e sada

    possuem um mecanismo inovador patenteado para

    insero e extrao de conectores.

    Foram investidos milhares de horas em especificao,

    desenvolvimento e validao em todas as partes que

    compem os mdulos, como hardware, mecnica, firmware

    embarcado, assim como na ferramenta de programao/

    configurao. Foram necessrias viagens nacionais e

    internacionais para tratar diretamente com os fornecedores

    os detalhes sobre como deveria ser o projeto e se havia

    viabilidade nas especificaes propostas. Tambm um

    esforo muito grande foi empregado nas comunicaes

    entre os envolvidos no projeto para, no fim, gerar os

    produtos. Todo esse esforo envolveu uma participao

    mais intensa da universidade na concepo da srie e

    durante a fase de testes dos produtos. Durante o tempo de

    desenvolvimento, houve a integrao de novas tecnologias

    que foram incorporadas aos produtos. A parceria com

    diversos fornecedores envolveu um trabalho muito forte

    de diferentes procedncias nacionais com o propsito de

    garantir que as especificaes fossem atendidas.

    Com a Srie Nexto, a Altus consegue se firmar e competir

    em igualdade com os grandes fabricantes com posies de

    destaque no mercado em que atua. Os produtos gerados

    no so inferiores aos dos concorrentes e, por ser um

    produto de classe mundial, a Srie Nexto abre as portas do

    mercado mundial de automao para a Altus.

    20

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • ao longo da sua

    trajetria, a altus

    nunca deixou

    de desenvolver

    um elo de

    relacionamento,

    presente

    desde a sua

    fundao, com a

    universidade.

    21

    1 altus

  • resultados para a cadeia de valor

    Uma empresa como a Altus depende de fornecedores

    qualificados, capazes de acompanhar a sua evoluo. A

    trajetria de expanso internacional da empresa colaborou

    para que ela pudesse dispor de solues adequadas aos

    padres globais. Isso ajuda a trazer para dentro de casa

    necessidades novas e diferenciadas. O atendimento

    dessas necessidades exige relacionamento prximo

    com fornecedores e, por vezes, um desenvolvimento

    cooperativo que assegure o alcance desses padres. A

    internacionalizao da Altus representa uma promoo da

    indstria local a padres superiores de capacitao tcnica,

    eficincia e competitividade.

    Adicionalmente, a presena de tecnologia brasileira no

    mercado internacional contribui para a construo de uma

    imagem mais forte em mercados aplicveis, onde a presena

    de muitos possveis fornecedores torna o processo de

    venda necessariamente mais qualificado. Assim, a indstria

    brasileira desenvolve, mesmo que de forma incipiente,

    uma imagem de capacitao que pode transbordar para

    outras empresas. Quanto mais empresas do pas tiverem

    tal presena internacional e puderem estar associadas a

    atributos de tecnologia, qualidade e eficincia tcnica, tanto

    menores tendero a ser as barreiras penetrao de outras

    empresas nesses mercados.

    22

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • Ao longo da sua trajetria, a Altus nunca deixou de

    desenvolver um elo de relacionamento, presente desde a

    sua fundao, com a universidade. Sua origem no ambiente

    universitrio de pesquisa e a familiaridade de seus scios

    com os usos e costumes desse universo permitiu evitar

    a formao do estranhamento que frequentemente existe

    entre os dois ambientes. Por um lado, a empresa possui

    como regra necessidades e demandas com horizontes

    temporais mais estreitos, mesmo quando sua viso de longo

    prazo est bem estabelecida. Por outro lado, a universidade

    (ou as instituies de pesquisa de maneira geral) possui

    horizontes temporais mais dilatados e objetivos especficos

    menos delimitados. Construir convergncias entre esses

    dois mundos, organizados em torno de objetivos que

    podem ser muito diferentes, exige, por parte de ambos

    os lados, a compreenso das diferenas. Evidentemente,

    o conhecimento prvio do funcionamento da pesquisa

    cientfica e tecnolgica no ambiente universitrio, no qual

    os objetivos concretos so muitas vezes mais difusos

    ou difceis de apreender, contribui para a superao das

    distncias e para a fixao de objetivos realistas. A origem da

    Altus facilita que a comunicao ocorra de modo mais fcil e

    que os mecanismos de cooperao possam funcionar com

    agilidade e eficincia.

    Ainda no tocante aos recursos humanos, uma das

    caractersticas diferenciadas da empresa a sua

    familiaridade com o ambiente externo, com o mundo dos

    negcios em outros pases. Essa experincia acumulada,

    a partir da iniciativa pioneira de seus fundadores, permitiu

    formar um corpo de pessoas executivos, gerentes e

    tcnicos com facilidade de trnsito internacional. Esse

    um ativo que a Altus possui em intensidade muito superior

    ao de outras empresas, mesmo empresas com proporo de

    exportaes mais elevada que ela.

    fotografias

    Foto 1 (abertura) Pgina 11 Laboratrio de testes. Crdito: Divulgao Altus.

    Foto 2 Pgina 14 Verificao de produtos. Crdito: Divulgao Altus.

    Foto 3 Pgina 16 Testes e Simulaes do CLP Nexto. Crdito: Divulgao Altus.

    Foto 4 Pgina 18 Foto ilustrativa: placa de circuito impresso. Crdito: Canstock.

    Foto 5 Pgina 21 este de Funcionalidades da Srie Nexto. Crdito: Divulgao Altus.

    Foto 6 Pgina 22 Montagem de mecnica diferenciada do CLP Nexto. Crdito: Divulgao Altus.

    23

    1 altus

  • perspectivas futuras

    A principal lio aprendida pela Altus envolve a

    necessidade de adaptao a ambientes institucionais

    muito volteis: nascida na reserva de mercado, a empresa

    adaptou-se ao ambiente da abertura do mercado. Essa

    abertura teve, alis, uma dimenso dupla. Inicialmente,

    produtos do mundo todo passaram a ter acesso ao

    mercado brasileiro, ampliando o leque de escolhas das

    empresas locais usurias. Em segundo lugar, mas no

    menos importante, empresas multinacionais lderes

    do mercado de automao e com presena local

    (industrial ou no) passaram a poder apresentar as suas

    solues globais aos clientes brasileiros e s empresas

    multinacionais aqui instaladas.

    Essa dupla fonte de competio reforou e acelerou a

    busca, pela Altus, de um padro global de produtos e

    tambm de parcerias. Nesse processo de busca, a empresa

    continua inserida de modo muito ativo. Os mercados de

    tecnologia ou de produtos com forte dimenso tecnolgica

    envolvem escolhas de natureza fortemente tcnica. Isso

    vlido, sobretudo, quando os produtos possuem uso

    industrial e determinam a competitividade e a segurana dos

    processos de outras empresas. Segurana e confiabilidade

    so elementos-chave nos processos de automao, visto

    que qualquer falha envolve custos e riscos extremamente

    elevados. Por esta razo, riscos antecipados pelas empresas

    compradoras de solues precisam ser superados ou

    mitigados com elementos objetivos consistentes.

    A experincia internacional da Altus pode ser considerada

    precoce, pelo menos para os padres brasileiros. O mercado

    interno (relativamente avantajado) e a geografia brasileira

    (afastada dos grandes eixos de comrcio) facilitaram

    o isolamento e a dependncia das empresas de quase

    todos os setores do seu mercado interno. por isso

    que a internacionalizao particular da Altus constitui uma

    singularidade importante. Como foi que aquela ento

    pequena empresa gacha foi se lanar no empreendimento?

    A ousadia da experincia internacional revelou-se muito

    importante quando o mercado brasileiro foi aberto e,

    em seguida, quando a Altus concebeu o seu plano de

    desenvolver e fabricar produtos classe mundial.

    possvel que mesmo o vislumbre dessa necessidade e

    das oportunidades oferecidas pelo ambiente internacional

    sequer fosse percebido se a empresa no possusse na sua

    constituio essa sua vocao internacional. E de onde ela

    vinha? A resposta mais provvel, a julgar pelas entrevistas

    e depoimentos das pessoas que conhecem o ambiente da

    empresa e a sua dinmica, a existncia de certa dose de

    arrojo por parte dos fundadores: mesmo sem uma agenda

    internacional clara e objetiva, a empresa compreendia que

    deveria frequentar esse ambiente para se capacitar a voos

    mais ousados. E assim o fez.

    rEfErNCias

    CASAIS, Rosana. Os desafios do processo de internacionalizao de novos produtos. 1 abr. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    FELIZZOLA, Ricardo Menna Barreto. Insero da indstria nacional no mercado de microeletrnica. 1 abr. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    GERBASE, Luiz Francisco. Estratgia de inovao da Altus: evoluo e novos desafios. 1 abr. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    TREIN, Fernando. O processo de P&D e inovao da Altus. 1 abr. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    24

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • BASF 2

  • 26

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    EFicinciA EnErgticA E SuStEntABilidAdE nA conStruo civil: A casaE

    A BASF uma das empresas mais inovadoras do mundo,

    como testemunham seu compromisso secular com

    pesquisa e desenvolvimento (P&D), seu contingente de

    pesquisadores e seu portflio de patentes. O lema atual

    da empresa reafirma o compromisso com a tecnologia e

    a inovao ao propor transformar a qumica para oferecer

    solues inovadoras1. No mbito de sua atuao em

    inovao, a BASF priorizou no mundo investimentos no

    mercado da construo, campo estratgico para a empresa

    nos prximos dez anos2.

    No Brasil, o investimento que simboliza essa opo a

    construo da CasaE, um projeto desenvolvido com a

    reunio de tecnologias mais eficientes e sustentveis. A

    casa brasileira foi a primeira construda em clima subtropical,

    apresentando condies diversas de suas congneres em

    pases como Alemanha, Argentina, Coreia do Sul, Estados

    Unidos, Frana, Inglaterra, Itlia, Hungria e Polnia. A CasaE

    1 Fonte:

  • 27

    2 BASF

    tecnologias de demanda global, classificadas pela BASF

    como grandes desafios para os prximos anos, que serviro

    como direcionadores da expanso da empresa. O projeto

    envolveu quase duas dezenas de parceiros. Em vrios

    casos, a aplicao das tecnologias foi realizada em parceria

    com empresas brasileiras e estrangeiras. Algumas dessas

    tecnologias eram inditas no mercado brasileiro, outras

    existiam no portflio local da BASF e foram incorporadas

    CasaE. Alm disso, cada parceiro identificou junto BASF as

    solues mais aderentes proposta da CasaE.

    O principal diferencial da casa concebida e construda

    pela BASF sua eficincia energtica. De acordo com

    a empresa, e baseado no World Business Council for

    Sustainable Development3 (WBCSD), a etapa de construo

    e os materiais de um edifcio representam 40% do gasto

    total de energia ao longo do ciclo de vida da edificao. Por

    isso, todos os esforos para projetar e implantar solues

    eficientes, desde a concepo do projeto, passando pela

    execuo e operao, so altamente compensadores em

    termos de sustentabilidade. O maior desafio que a BASF

    visualiza para a CasaE e para a disseminao das tecnologias

    da empresa voltadas para a construo civil no Brasil a

    superao de uma cultura conservadora, na qual imperam

    prticas bastante arraigadas, influenciadas pela permanncia

    de formas tradicionais de construo.

    A CasaE pretende contribuir para que a indstria de

    construo civil e toda a sua cadeia dos arquitetos

    aos compradores, passando pelas construtoras, pelos

    trabalhadores que executam a construo, pelos

    rgos certificadores e organismos reguladores

    possam incorporar os novos produtos, difundindo-os

    e contribuindo para edificaes mais confortveis,

    duradouras e cada vez mais sustentveis. Este o grande

    desafio da BASF para desenvolver os novos mercados que

    priorizou em sua estratgia.

    3 Fonte:< http://www.wbcsd.org/work-program/sectorprojects/buildings/eeb-manifesto.aspx>

  • 28

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    A EmprESA

    A BASF uma das maiores empresas qumicas do mundo.

    De origem alem, com sede em Ludwigshafen, foi fundada

    em 1865. Suas unidades de produo esto distribudas

    em 39 pases, incluindo quase todos os que compem

    a Amrica do Sul, e mantm relaes comerciais com

    clientes em mais de 170 pases. A empresa possui um

    portflio de mais de 8.000 produtos (plsticos, poliuretanos,

    qumicos industriais, produtos de performance, tintas e

    qumica fina, at petrleo cru e gs natural), atuando nos

    setores de agricultura e nutrio, qumicos, produtos de

    performance, plsticos e petrleo e gs.

    A BASF atua em 13 principais mercados: Care Chemicals;

    Nutrio e Sade; Qumicos Industriais; Qumicos de

    Performance; Qumicos para Papel; Tintas; Poliuretanos;

    Petrleo e Gs; Polmeros de Performance; Disperses

    e Pigmentos; Proteo de Cultivos; Catalisadores e

    Qumicos para Construo.

    Atualmente, a empresa possui mais de 110.000

    colaboradores4, dos quais cerca de 5% so funcionrios da

    BASF Amrica do Sul5 e 4.352, do Brasil, onde sua atuao

    remonta a 1911. Com sede em So Paulo, a empresa possui

    fbricas e filiais na Bahia (Camaari), Pernambuco (Jaboato

    dos Guararapes) e outras oito unidades no estado de So

    Paulo (Guaratinguet, So Bernardo do Campo no bairro do

    Demarchi e na Anchieta , Indaiatuba, Mau, Santo Antnio

    de Posse, Paulnia, Vila Prudente e Jacare).

    Alm das unidades industriais e comerciais, a BASF Brasil

    detm uma dentre as seis estaes experimentais6 da

    empresa no mundo, a nica localizada na Amrica Latina (em

    Santo Antnio de Posse, SP). Ela possui ainda sete centros

    experimentais avanados7 no pas: em Mato Grosso (Lucas

    do Rio Verde), Minas Gerais (Uberlndia), Gois (Goinia), So

    Paulo (Ribeiro Preto), Paran (Ponta Grossa e Bandeirantes)

    e Rio Grande do Sul (Santa Brbara).

    4 Fonte: http://www.BASF.com/group/about-BASF/employees

    5 Fonte: http://www.BASF.com.br/ra2011/portugues/indexhtml#/60/zoomed

    6 As estaes experimentais da BASF operam como centros de pesquisa e desenvolvimento de proteo de culturas agrcolas. Os centros conduzem estudos laboratoriais e testes de menor escala e de campo.

    7 Os Centros Experimentais Avanados (CEA) conduzem estudos de eficcia biolgica e fitotoxicidade de agroqumicos para o controle de doenas, plantas daninhas e pragas. Os centros podem emitir laudos para fins de registro junto ao Ministrio da Agricultura.

  • 29

    2 BASF

    Em 2012, as vendas globais da BASF superaram 72 bilhes

    de euros. Em conjunto, Amrica do Sul, frica e Oriente

    Mdio (agregao utilizada pela BASF na divulgao de seus

    resultados) responderam por mais de 4 bilhes de euros.

    A Amrica do Sul se destaca pela relevncia geogrfica e

    econmica no segmento de proteo de cultivos, tambm

    com forte crescimento dos investimentos em inovaes

    dirigidas para os segmentos ligados construo.

    EStrAtgiA dE inovAo

    A necessidade da sociedade por construes mais

    sustentveis e a projeo de contnuo crescimento desse

    mercado so duas das principais razes que levaram a BASF

    a investir no desenvolvimento da CasaE. O propsito da

    empresa transformar a qumica para um futuro sustentvel

    to vlido para o mercado da construo civil como

    para outras reas de atuao da empresa no Brasil. Para a

    aplicao de solues nesse mercado, e em especial no

    projeto da CasaE, parcerias com clientes e outros atores

    foram muito importantes.

    A BASF, por meio da cincia e da inovao, possibilita o

    atendimento das atuais e futuras necessidades de seus

    clientes e da sociedade em geral8. No mundo todo, a BASF

    8 Fonte: http://www.BASF.com.br/?id=7618

    investe cerca de 1,4 bilho de euros por ano em Pesquisa e

    Desenvolvimento (P&D), dos quais aproximadamente 25%

    so destinados a pesquisas na rea de proteo de cultivos.

    Essa uma das divises da empresa com maior crescimento

    na Amrica do Sul em termos de faturamento. No Brasil, so

    cerca de R$ 100 milhes investidos anualmente em P&D. A

    empresa vem investindo principalmente em inovaes em

    qumicos para os setores de minerao, petrleo, construo

    e higiene pessoal e cosmticos9.

    A estratgia global de inovao da BASF envolve o

    desenvolvimento conjunto de projetos e tecnologias com

    parceiros. Existem 600 parcerias da BASF no mundo com

    universidades, institutos de pesquisa e outras organizaes10.

    No Brasil, a BASF conta com parcerias voltadas inovao

    de produtos e processos com a Empresa Brasileira de

    Pesquisa Agropecuria (Embrapa) e, mais recentemente,

    o convnio de cooperao com a Universidade Estadual

    de Maring, com o Centro de Tecnologia Canavieira, e um

    protocolo de inteno para a construo de um Parque de

    Inovao em Braslia, com a Universidade de Braslia e com a

    Building Research Establishment BRE.

    9 Fonte: http://exame.abril.com.br/gestao/noticias/por-quena-BASF-inovacao-e-palavra-chave

    10 BASF. Report 2012. Disponvel em: . Acesso em: 2013.

    A estratgia

    global de

    inovao da

    BASF envolve o

    desenvolvimento

    conjunto de

    projetos e

    tecnologias com

    parceiros.

  • 30

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    o projEto

    A CasaE uma iniciativa global da BASF para o

    desenvolvimento de solues capazes de integrar produtos

    qumicos avanados e tcnicas de construo mais

    sustentveis. No Brasil, a CasaE foi desenvolvida pela unio

    de tecnologias de cinco unidades de negcio da BASF, em

    parceria com diversas outras empresas do segmento de

    construo, envolvendo empresas multinacionais de origem

    brasileira e estrangeiras instaladas no Brasil. As unidades de

    negcio foram coordenadas por um lder responsvel pela

    construo da casa. Cada uma dessas unidades de negcio

    da BASF e parceiros devero se beneficiar do mtodo de

    divulgao e promoo comercial propiciado pela CasaE.

    O projeto consiste no desenvolvimento de solues que

    atendam a todas as etapas previstas em obras civis.

    A existncia, em muitas dessas etapas, de processos

    e mtodos muito distintos do processo convencional

    empregado no Brasil representou um importante desafio

    para a BASF. A empresa precisou ainda investir em esforos

    para criar essas solues.

    A CasaE brasileira uma dentre dez casas da BASF

    construdas no mundo e a segunda a ser erigida na Amrica

    do Sul a primeira foi na Argentina. O principal desafio da

    BASF Brasil foi a aplicao de produtos que no existiam

    no mercado brasileiro, tendo sido necessrio respeitar as

    condies especficas do pas, em especial as climticas

    muito diversas daquelas encontradas nos pases que

    abrigam as outras nove casas. As condies da mo de obra

    local, treinada em mtodos tradicionalmente empregados

    e nem sempre preparada para lidar com outras tecnologias,

    tambm representaram um desafio de ordem prtica.

    Ainda mais desafiador o contexto geral das prticas de

    construo no Brasil, por exemplo, na opo corriqueira de

    se utilizar a laje cermica para construo: pesada, difcil de

    instalar, incapaz de produzir conforto trmico ou acstico, que

    sobrecarrega a estrutura e induz a desperdcio de materiais

    e, posteriormente, de energia e, portanto, de alto impacto

    ambiental. Ciente desse quadro de desconhecimento de

    solues mais contemporneas e efetivas, com o emprego

    de materiais qumicos com propriedades superiores, a BASF

    props a construo da CasaE para apresentar suas solues

    e inovaes para esse tema ao pblico e mercados, decidindo

    inseri-la na malha urbana da cidade de So Paulo.

    O desenvolvimento desta casa-conceito tem a finalidade de

    difundir informao e conhecimento sobre diversos produtos

    e solues inovadoras da BASF para o ramo da construo

    civil. A casa rene, em um nico espao, tecnologias que

    atendem s demandas globais que, segundo avaliao da

    empresa, so grandes desafios para os prximos anos. A

    BASF decidiu ento adot-las como direcionadores dos seus

    processos de inovao e sustentabilidade.

  • 2 BASF

    31

  • 32

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    O mercado de construo considerado prioritrio e vem

    recebendo investimentos no Brasil como parte da estratgia

    da BASF para os prximos dez anos. So exemplos a

    inaugurao, em 2008, da primeira fbrica de PCE (ter

    policarboxilato) da Amrica do Sul, em Guaratinguet, So

    Paulo; a construo, em 2012, do novo complexo Acrlico

    de Camaari, Bahia, com investimentos de cerca de 500

    milhes de euros; e o investimento de R$ 100 milhes na

    plataforma de P&D aplicada ao desenvolvimento industrial e

    competitividade.

    A CasaE brasileira possibilita ao mesmo tempo

    funcionalidade residencial ou no escritrio. Nesse ambiente,

    as cinco unidades de negcios da BASF podero mostrar

    aos potenciais clientes e outros parceiros do mercado da

    construo civil as vantagens dos 33 produtos integrados

    a diversas solues para o setor civil, alm das solues

    dos parceiros. A CasaE est localizada na zona sul de So

    Paulo. Sua construo demandou cerca de treze meses,

    ao passo que seu planejamento, um ano. Foram investidos

    cerca de R$ 3 milhes. A casa possui elementos tipicamente

    residenciais (quartos, cozinha, varanda com churrasqueira)

    combinados com elementos do ambiente empresarial

    (auditrio para 40 pessoas e sala de reunies executiva).

    O projeto de construo contou com 18 parceiros nacionais

    e internacionais: Tigre, Leroy Merlin, Deca, Elevadores Atlas

    Schindler, Grupo Bosch, Gerdau, Guardian, Grupo Knauf,

    Daikin, Leicht, Arquivo Vivo Locao, Supermix, Veka, Philips,

    OWA, Isoeste, Whirlpool e Nespresso. Com alguns desses

    parceiros, foi realizada transferncia de tecnologia da BASF

    e foram desenvolvidos ou adaptados produtos. O projeto foi

    executado pelo escritrio de arquitetura e gerenciamento

    da obra Athi Wohnrath. Para a construo da CasaE, foi

    necessrio tambm o desenvolvimento de fornecedores

    locais, por exemplo, a PLM Construo e a Obraplan.

    O principal diferencial da casa sua eficincia energtica.

    Placas solares captam energia solar para aquecimento da

    gua e painis fotovoltaicos que fornecem parte da energia

    consumida na casa e vidros especiais garantem a entrada de

    luz natural sem aquecer demais o local. Alm disso, a casa

    proporciona maior conforto trmico, sendo que as tcnicas

    utilizadas permitem uma rpida construo, sem comprometer

    o design e a arquitetura do projeto. O principal objetivo do

    projeto mostrar que mtodos, tcnicas e produtos utilizados

    na CasaE podem ser utilizados tanto em construes de

    grande porte como em moradias comum, sendo acessveis

    ao mercado brasileiro e apresentando vantagens ambientais

    e econmicas (menor consumo de energia e outros recursos

    naturais, aumento da produtividade, reduo do tempo de

    construo e de mo de obra).

    A casaE brasileira

    possibilita ao

    mesmo tempo

    funcionalidade

    residencial ou

    no escritrio.

  • 33

    2 BASF

    O projeto de construo proposto pela BASF consiste em

    blocos de poliestireno expandido da BASF em Sistema ICF

    (Insulated Concrete Formwork) e lajes fabricadas com o mesmo

    material. Tais solues proporcionam um isolamento trmico

    muito eficiente. As peas de poliestireno expandido (EPS, na

    sigla em ingls) so fabricadas na empresa industrial (que

    expande a matria-prima da BASF), montadas no canteiro,

    recheadas por armaduras de concreto usinado de modo

    rpido e fcil (em balde ou bombeado por mangueira), sendo

    depois lixadas para alinhamento e colocao de uma tela de

    polipropileno (PP) sobre a qual aplicado o reboco (formado

    por cimento ou argamassa com aditivos) para adeso ao bloco

    de EPS e tela de PP. Espumas especiais, no propagadoras de

    chama, so aplicadas no teto para conforto acstico.

    As disperses e os pigmentos da BASF apresentam

    diferenciais para as tintas, vernizes, adesivos e materiais de

    construo aplicados na CasaE, bem como no controle da

    temperatura, proporcionando conforto trmico e contribuindo

    diretamente para a economia de energia. Os arquitetos

    podem, com esta soluo, usar, por exemplo, a cor preta em

    ambientes expostos ao sol sem temer os efeitos trmicos.

    A linha de produtos base poliuretano ajudam no conforto

    trmico, na reduo no consumo de energia e oferecem

    compostos para a construo de pisos drenantes que evitam

  • 34

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    o acmulo de gua no piso. O ambiente externo possui

    dois tipos de piso: o concreto permevel e um composto

    aglutinante base poliuretano. Esses pisos no somente

    evitam o acmulo de gua como tambm permitem a

    recuperao da gua drenada para reso, por exemplo, na

    limpeza geral ou rega de plantas. O concreto permevel

    possui elevada resistncia e presta-se, entre outras

    finalidades, a reas de baixa circulao de veculos, enquanto

    o piso de composto aglutinante destina-se principalmente a

    reas tipicamente residenciais, para a circulao de pessoas.

    Os produtos qumicos para construo aumentam a

    eficincia da hidratao do cimento, reduzindo o uso de

    gua e emisses de CO2 e garantem maior flexibilidade

    s operaes. Tambm esto presentes produtos para

    revestimento, impermeabilizantes e antiderrapantes.

    Foram utilizadas tintas imobilirias do segmento premium,

    Suvinil, pertencente BASF. A tinta com propriedade

    antibacteriana, aprovada pela Anvisa, foi utilizada na parte

    interna da residncia, levando preveno de colonizao

    de 99% das bactrias nas paredes e na fachada da casa foi

    utilizada tinta antifissura. As tintas possuem baixos teores

    de compostos orgnicos volteis (VOC, na sigla em ingls),

    uma tendncia mundial que a BASF tambm pratica no

    mercado brasileiro.

    Metodologia

    As estruturas das paredes e da laje da CasaE foram

    inteiramente construdas com blocos de poliestireno expandido

    contendo microcpsulas de grafite, que possuem a capacidade

    de refletir a radiao infravermelha, responsvel pela gerao

    de calor. Com isso, o composto capaz de proporcionar

    isolamento trmico 20% superior ao do poliestireno expandido

    (isopor) convencional. A utilizao desse material em

    associao a outros mtodos para controle de temperatura,

    como esquadrias de PVC, vidros duplos e tinta base de

    pigmento frio, permite alcanar um nvel superior de conforto

    trmico e, ao mesmo tempo, reduzir o consumo de energia.

    Portanto, os benefcios do produto e da tcnica associada

    consistem na possibilidade de construir uma parede

    estrutural convencional, bem como fechamento regular

    substituto alvenaria, mas com maior conforto trmico,

    reduzindo custos com o uso reduzido do ar condicionado

    ou da calefao. A tecnologia ainda permite que as paredes

    sejam mais finas e leves. A montagem dos blocos de EPS

    cerca de quatro vezes mais rpida do que a de blocos

    convencionais de cermica ou concreto, diminuindo

    sobremaneira o impacto e o volume dos resduos de

    construo. A tecnologia com microcpsulas de grafite

    possui benefcios adicionais, como repelncia gua, boa

    rigidez, estabilidade dimensional e elevada resistncia

    degradao e ao envelhecimento.

  • 35

    2 BASF

    Alm da estrutura de EPS, algumas paredes dos quartos e da

    guarita foram construdas com a utilizao de uma espuma

    rgida de poliuretano. O uso desse material proporciona:

    economia de energia, pois mantm a temperatura estvel

    por mais tempo sem a necessidade de utilizao de ar

    condicionado ou outras formas de resfriamento;

    agilidade de construo, pois pode ser empregado na

    fabricao de peas pr-fabricadas, que substituem

    o uso de tijolos e concreto, que exigem maior tempo

    de secagem;

    leveza na construo, pois seu uso dispensa a utilizao

    de outros materiais como trelias, por exemplo, reduzindo

    tambm o custo da obra. Uma placa desse material

    tem eficincia equivalente de placas de l de vidro ou

    concreto com espessuras muito maiores.

    Outra estratgia empregada na estrutura da CasaE para

    proporcionar conforto trmico foi a aplicao de materiais

    que incorporam composto de transio de fase (Phase

    Change Material PCM) em algumas paredes internas.

    Esse composto de microcpsulas de polmero recheadas

    com ceras de parafina se liquefaz (derrete) a temperaturas

    prximas da ambiente. Para que isso ocorra, a cera

    utiliza a energia do ambiente, provocando assim queda

    de temperatura. Durante a noite, quando em geral a

    A boa fluidez

    do concreto

    aditivado

    dispensa a

    utilizao de

    mquinas e

    outras tcnicas

    para assent-lo.

    temperatura mais baixa, ocorre o processo inverso: a cera

    se solidifica, liberando para o ambiente o calor armazenado

    durante o dia.

    Os blocos de poliestireno expandido utilizadas para a

    construo da estrutura da CasaE demandam um concreto

    mais fluido, capaz de preencher toda a extenso da

    cavidade dos blocos. Na CasaE foi utilizado um aditivo

    base de ter policarboxilato para garantir boa fluidez

    ao concreto, favorecendo o rpido preenchimento da

    cavidade do bloco. Outras vantagens atribudas ao uso do

    aditivo incluem: aumento de at 20% na resistncia do

    concreto; exigncia de menor quantidade de gua (at 30%

    de reduo) e de concreto, contribuindo para a reduo

    de custos e uso de recursos naturais. A boa fluidez do

    concreto aditivado dispensa a utilizao de mquinas e

    outras tcnicas para assent-lo, diminuindo tambm gastos

    com mo de obra.

    Para adequar as propriedades do aditivo s caractersticas

    do concreto brasileiro, a BASF realizou um trabalho de

    desenvolvimento durante dois anos, avaliando diferentes

    molculas de derivados policarboxilatos. O cimento

    comumente produzido no Brasil possui caractersticas

    prprias muito diversas do mesmo produto em outros

    pases. Para o projeto da CasaE, foram criados dois novos

    grades de molculas de policarboxilatos que possuem

    tamanho de cadeia e densidade de carga diferenciados. As

  • 36

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    molculas foram testadas por instituies nacionais, como

    a Universidade de So Paulo (USP), o Instituto de Pesquisas

    Tecnolgicas (IPT) e a Associao de Cimento Portland.

    Na calada e no passeio da CasaE foi aplicado um

    composto aglutinante de poliuretano, cujo principal objetivo

    era tornar as superfcies altamente permeveis, permitindo

    o reso da gua drenada na irrigao do jardim ou limpeza

    geral, por exemplo. Enquanto o tempo de cura do concreto

    convencional de sete a dez dias, o uso do composto

    aglutinante de apenas 24 horas aps a aplicao. A

    permeabilidade da superfcie com o composto aglutinante

    de poliuretano pode alcanar 87%, dependendo do

    substrato onde aplicado.

    J os blocos monolticos, principal soluo utilizada no Brasil

    para a construo de pavimentos permeveis, possuem

    capacidade de drenagem de 40 a 50%. Alm dessa

    vantagem, o composto aglutinante permite a confeco de

    um piso monoltico, sem emendas, no necessitando de

    juntas de dilatao. Isso proporciona reduo de custos,

    porque no necessrio transportar blocos grandes e

    pesados. Essa soluo tambm confere liberdade ao

    projetista, pois, sendo transparente, permite maior variedade

    de cores e formatos do pavimento. A porosidade conferida

    s superfcies pelo uso do composto permite a troca gasosa

    do solo com o ambiente e a captao de gua por meio da

    instalao de um sistema de coleta, por exemplo.

  • 37

    2 BASF

    A ltima etapa da construo a aplicao dos

    revestimentos tambm contou com a aplicao de

    produtos sustentveis. As tintas convencionais, mesmo

    base gua, possuem substncias que liberam Volatile Organic

    Compounds (VOC).

    Em alguns cmodos, utilizou-se tintas produzidas a partir

    de uma resina acrlica com baixssimo teor de VOC. O

    alto custo desse tipo de resina inviabilizava sua venda no

    mercado brasileiro. A sada encontrada pela BASF foi o

    desenvolvimento de uma emulso com duas tcnicas de

    desodorizao, que contribuem para a reduo de VOC: a

    qumica, que consiste na prolongao do tempo reacional

    com o objetivo de consumir ao mximo os resduos de

    VOC presentes no meio reacional; e a desodorizao fsica,

    que proporciona a vaporizao do subproduto da primeira

    etapa, contribuindo para a reduo de compostos orgnicos

    volteis residuais.

    Produzir essa resina a um preo competitivo para o mercado

    nacional foi o grande diferencial atingido pela BASF a partir

    da combinao de tcnicas j conhecidas. Com a aplicao

    dessas tcnicas, a empresa trilha uma trajetria convergente

    com as tendncias regulatrias mundiais que devero

    tambm ser implantadas no Brasil.

  • 38

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    Nas tintas aplicadas na CasaE, tambm foram utilizados

    pigmentos especiais que contribuem para a propriedade

    de conforto trmico. Um dos pigmentos utilizados um

    pigmento inorgnico de cor preta tendo sua composio

    baseada em um xido de ferro e cromo que permite que

    o substrato apresente um aquecimento substancialmente

    inferior ao aquecimento de uma cor equivalente com

    pigmento convencional, pois possui propriedades refletivas

    que levam menor gerao de calor pela absoro no

    infravermelho. Em outras palavras, o pigmento faz com que

    grande parte da luz que incide sobre a tinta seja refletida

    para o ambiente, evitando a elevao da temperatura da

    superfcie onde a tinta aplicada. Esta uma propriedade

    interessante, principalmente no caso de tons mais escuros,

    onde a absoro de radiao infravermelha maior (maior

    gerao de calor). A reduo de temperatura, segundo os

    ensaios realizados pela BASF, pode chegar a at 20 C. Alm

    desse pigmento, foi aplicada na fachada externa uma cor

    vermelha intensa, formulada com outros pigmentos, que foi

    produzida com base no software de gerenciamento de calor,

    utilizando os mesmos princpios, para mostrar na prtica que

    qualquer cor pode ser produzida de forma a mostrar uma

    otimizao no seu aquecimento.

    No terrao externo de madeira da CasaE foi aplicado um

    verniz para madeira formulado com uma emulso 100%

    acrlica, base de gua, com propriedades especiais. Para

    suportar a movimentao natural da madeira e apresentar

    boas propriedades superficiais, esta emulso entrega duas

    propriedades antagnicas: dureza superficial e flexibilidade

    do filme. Isso possvel graas avanada tecnologia de

    produo. O resultado um produto base de gua, de

    fcil aplicao, com baixssima emisso de componentes

    orgnicos volteis e alta durabilidade.

    A rea de tintas para construo civil da BASF s existe

    no Brasil, pois em outros pases a BASF possui tintas para

    segmentos industriais. Esse segmento brasileiro est

    associado a uma equipe de pesquisa e desenvolvimento

    importante (mais de meia centena de pesquisadores e

    tcnicos), como, alis, ocorre tambm na rea agrcola,

    onde a BASF realiza no Brasil a maior parte dos seus

    esforos tecnolgicos.

    A CasaE lanou mo de esforos dessa importante rea

    da BASF Brasil. A principal inovao foi o uso de uma tinta

    imobiliria com propriedade antibactria. O fator decisivo do

    sucesso dessa tinta, utilizada tambm na CasaE, decorreu

    da adoo de um padro de certificao adotado pela Anvisa

    (Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria).

    A iniciativa da

    BASF tem papel

    importante na

    criao e no

    desenvolvimento

    de um mercado que

    deve crescer nos

    prximos anos.

  • 39

    2 BASF

    rESultAdoS pArA A EmprESA

    A CasaE foi inaugurada no final de maio de 2013, aps

    investimentos da ordem de R$ 3 milhes, incluindo

    terreno, obra, novas tecnologias e produtos aplicados

    na construo, mobilirio e paisagismo. Com o projeto

    da CasaE, a BASF espera atingir relevantes resultados

    comerciais e tem a expectativa de que o projeto contribua

    para alavancar sua atuao no mercado de construo

    civil brasileiro nos prximos anos, introduzindo elementos

    essenciais de sustentabilidade.

    Dentro do propsito de transformar a qumica para um

    futuro sustentvel, a BASF espera atingir com a CasaE os

    seguintes resultados: (i) a promoo dos produtos BASF e

    das solues que os integram, alm do fortalecimento da

    posio de mercado da empresa; (ii) a difuso de tcnicas

    de construo civil modernas e mais sustentveis; (iii) a

    capacitao de pessoas e profissionais em novas tcnicas

    para a construo civil para seguir padres regulatrios

    futuros; (iv) a reduo dos riscos integridade e sade dos

    trabalhadores; e (v) o aumento da produtividade do trabalho,

    elevando, potencialmente, a remunerao dos trabalhadores.

    Alm disso, a BASF espera suscitar a criao de normas

    tcnicas brasileiras adequadas a modernos padres

    de construo, associados eficincia energtica e

    sustentabilidade, consolidando sua estratgia para esse

    setor no Brasil.

    A CasaE brasileira foi planejada e construda seguindo

    requisitos para obteno da certificao LEED Leadership

    in Energy and Environmental Design, principal selo de

    construo sustentvel do Brasil. Alm disso, ser realizado

    um estudo de ecoeficincia pela Fundao Espao ECO

    comparando as tcnicas construtivas utilizadas na CasaE

    com as convencionais.

    A iniciativa da BASF tem papel importante na criao e no

    desenvolvimento de um mercado que deve crescer nos

    prximos anos. A CasaE da BASF pretende contribuir para

    que toda a cadeia da indstria de construo civil dos

    arquitetos aos compradores, passando pelas construtoras e

    pelos trabalhadores que executam a construo, pelos rgos

    certificadores e organismos reguladores possa incorporar os

    novos produtos, difundindo-os e contribuindo para edificaes

    mais confortveis, duradouras e cada vez mais sustentveis.

    Este o grande desafio da BASF para desenvolver os novos

    mercados que priorizou em sua estratgia.

  • 40

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    rESultAdoS pArA A cAdEiA dE vAlor

    A empresa avalia que as tecnologias utilizadas na CasaE,

    algumas inditas no Brasil, certamente traro impactos

    positivos para o meio ambiente e para a cadeia da

    construo civil nacional.

    Em relao cadeia, o principal transbordamento do projeto

    foi a capacitao de empresas e profissionais, necessria

    para que os produtos fossem utilizados corretamente

    durante a construo da casa. O aprendizado gerado

    contribuiu para o desenvolvimento da cadeia como um todo,

    bem como para o treinamento de profissionais na aplicao

    de tcnicas e produtos inovadores.

    A construo da CasaE pela BASF Brasil reafirmou a

    importncia das parcerias para o desenvolvimento de

    projetos. Seus resultados foram fruto do trabalho conjunto

    das unidades da BASF com clientes, fornecedores e

    parceiros estratgicos que tiveram papel fundamental para a

    aplicao das tecnologias na CasaE. Do lado dos parceiros, o

    projeto possibilitou o aprendizado sobre tcnicas e produtos

    inovadores, que devem ter, segundo a empresa, forte

    demanda no Brasil nos prximos anos.

    Os transbordamentos da CasaE no se limitaram

    cadeia de construo civil nacional, pois o projeto criou

    oportunidades para a troca de conhecimento e experincia

    entre empresas de diferentes portes, tanto brasileiras como

    estrangeiras. O projeto objetiva disseminar a concepo

    da construo como estratgia sustentvel e como meio

    de garantir a eficincia energtica do edifcio ao longo de

    toda a sua vida til. Desta forma, possvel consolidar

    no Brasil a viso de que o mercado de construo civil

    possui solues sustentveis. Alm disso, a CasaE confere

    visibilidade a este mercado no Brasil e, principalmente, s

    inovaes que ele pode oferecer, relacionadas agilidade

    na construo, eficincia trmica, economia de energia e de

    materiais e reaproveitamento de gua.

    A iniciativa da BASF de construo e divulgao de uma

    casa com conceitos de sustentabilidade na prtica consolida

    e fortalece a posio da empresa e de seus parceiros no

    mercado nacional de construo civil.

  • 41

    2 BASF

  • 42

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    dESAFioS E riScoS EnvolvidoS

    A BASF e seus parceiros enfrentaram importantes desafios

    para a construo da CasaE. Os parceiros responsveis pela

    aplicao dos produtos BASF no possuam experincia

    anterior na utilizao desses materiais e tcnicas, portanto,

    tiveram que adaptar as tecnologias ao contexto brasileiro.

    As equipes foram treinadas e foram feitos testes de seleo

    de equipamentos, pois algumas mquinas utilizadas

    comumente no exterior ainda no o so no Brasil. Alm

    disso, foram realizados testes de medio de componentes,

    controle de mistura, tempo de aplicao e compactao,

    simulaes de condies de campo e condies

    desfavorveis, pois as matrias-primas brasileiras tm

    composies e caractersticas prprias que as diferenciam.

    A qualificao de mo de obra consistiu em outro

    desafio importante. No Brasil, a falta de capacitao dos

    trabalhadores gera dificuldades quando a obra necessita

    de manipulao de produtos qumicos sensveis e/ou

    especializados. Por isso, foi necessrio conscientizar os

    colaboradores sobre os cuidados especficos necessrios e

    capacitar os profissionais envolvidos. A BASF disponibilizou

    profissionais para orientar e acompanhar essas aplicaes.

    FOTOGRAFIAS

    Foto 1 (abertura) Pgina 25 Fbrica BASF Guaratinguet. Crdito: Joo Athade.

    Foto 2 Pginas 26 e 27 Fachada da CasaE. Crdito: Artur Calazans.

    Foto 3 Pgina 31 Fbrica BASF Guaratinguet. Crdito: Joo Athade.

    Foto 4 Pgina 33 Placas fotovotaicas da CasaE. Crdito: Artur Calazans.

    Foto 5 Pginas 36 e 37 Laboratrio BASF Guaratinguet. Crdito: Joo Athade.

    Foto 6 Pgina 41 Armazm BASF Guaratinguet. Crdito: Joo Athade.

  • 43

    2 BASF

    pErSpEctivAS FuturAS

    A construo da CasaE reforou a viso de negcios da BASF

    Brasil de que propor solues, mtodos e produtos mais

    sustentveis para a sociedade um importante alicerce para o

    sucesso do setor da construo civil no longo prazo. A BASF

    constatou que o mercado de construo civil brasileiro possui

    um grande potencial de crescimento, cada vez mais orientado

    por questes de eficincia energtica e economia de matrias-

    primas e recursos. Nesse sentido, o planejamento e a

    construo da CasaE proporcionaram grande conhecimento

    sobre a dinmica do mercado brasileiro de construo civil. A

    empresa pde identificar os principais desafios do mercado

    e as limitaes dos profissionais que nele atuam, bem como

    pde estruturar estratgias prprias e propostas polticas

    com o intuito de superar esses desafios e contribuir para a

    modernizao do setor.

    Uma das mais significativas lies proporcionadas pela CasaE

    foi a percepo da importncia da capacitao da mo de

    obra no Brasil. No pas, os profissionais do setor civil ainda

    necessitam de muita especializao, principalmente para

    lidar com produtos e tecnologias de ponta. O contato com

    tcnicas modernas e com especialistas contribuiu para o

    desenvolvimento de habilidades e aquisio de conhecimento

    que os profissionais do setor levaro para o seu dia a dia.

    A construo da CasaE reforou a estratgia da BASF de

    envolvimento de parceiros no desenvolvimento de projetos.

    A experincia das empresas parceiras e o know-how da BASF

    em tecnologias modernas do setor promoveram aprendizado

    mtuo. O maior desafio que a BASF visualiza para a CasaE

    e para a disseminao das novas tecnologias no setor de

    construo civil a superao de uma cultura tradicional e

    conservadora, na qual imperam tcnicas bastante arraigadas,

    transmitidas informalmente e desprovidas de estudos

    tcnicos de apoio.

    Uma das principais barreiras entrada de produtos de

    gerenciamento de temperatura, reaproveitamento de

    recursos e reduo de nveis de substncias nocivas no Brasil

    o desconhecimento dos benefcios dessas tecnologias no

    mercado local, que se somam reduzida preocupao com

    questes voltadas ao meio ambiente, como a caracterstica

    de permeabilidade gua e a disposio de materiais que

    aumentam a eficincia energtica na construo civil ainda

    incipientes no pas.

    Em particular, a falta de legislaes que regulem o isolamento

    trmico de construes e baixos nveis de emisso de

    compostos orgnicos volteis no estimula o desenvolvimento

    desse mercado nem o consumo desses produtos.

    REFERNCIAS

    BASF. BASF apresenta a sua primeira Casa de Eficincia Energtica no Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 5 abr.2013.

    BASF. BASF participa de evento de eficincia energtica no incio das comemoraes do ano da Alemanha no Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 5 abr. 2013.

    BASF. Colaboradores BASF. Disponvel em: . Acesso em: 29 abr.2013.

    BASF. O custo da inovao. Disponvel em: . Acesso em: 5 abr. 2 2013.

    BASF. Por que, na BASF, inovao a palavra-chave. Disponvel em: . Acesso em: 5 abr. 2013.

    BASF. Relatrio 2011 BASF na Amrica do Sul. Disponvel em: . Acesso em: 5 abr. 2013.

  • 44

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

    Evidentemente, a dimenso econmica do problema constitui

    um elemento determinante das prticas adotadas e, portanto,

    dos padres culturais. No Brasil, diferentemente de outras

    naes como China e Estados Unidos, no h legislao que

    exija edificaes projetadas com controle de temperatura e

    reduo de absoro de calor, o que curioso, visto que o

    pas predominantemente tropical. A recm-publicada NBR

    15575 indica uma tendncia de orientao do setor para

    temas como o conforto trmico e acstico.

    Finalmente, num projeto complexo e de longo prazo, como

    o da CasaE, as interaes com o ambiente de negcio

    local, as aspiraes da nossa sociedade e as necessidades

    de nossos clientes so fundamentais para o seu contnuo

    sucesso. Assim, esse projeto envolve no s os atores de

    mercado como tambm a academia e rgos pblicos,

    uma vez que ao entregar esse presente para a cidade de

    So Paulo, um dos objetivos fundamentais da BASF a

    disseminao do valor para a sociedade das solues,

    mtodos e produtos mais sustentveis empregados. Por

    isso, a BASF orgulhosamente firmou dois protocolos de

    governo envolvendo as questes de educao ambiental

    e de reconhecimento de valor de suas solues para a

    construo sustentvel nos municpios.

    Em meio a este projeto, foi desenvolvida uma parceria com

    o Ministrio do Meio Ambiente que resultou no caderno da

    construo sustentvel, elaborado pela BASF em funo

    de sua reconhecida expertise tcnica, que traz dicas e

    orientaes simples que esto ao alcance do consumidor

    no momento de planejar a obra. So informaes que

    ajudaro as pessoas a entenderem melhor como possvel

    economizar recursos, evitar desperdcio, otimizar tempo e

    minimizar impactos ao meio ambiente na hora da execuo.

    A BASF est confiante de que a CasaE vai estimular no

    somente a iniciativa pblica para o estabelecimento de novas

    prticas e regulamentos sobre o assunto, mas tambm o

    interesse particular em construir de forma mais sustentvel.

    BUZETO, Fabrcio. Qumicos BASF para construo. 18 abr. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    CERVENKA, Dbora. Marketing e inovaes em espumas. 3 jun. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    FELTRAN, Murilo. Negcios BASF de especialidades plsticas e espumas. 26 abr. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    FERNANDES, Marcos; IGEGNERI, Eric. Desenvolvimento e aplicaes de poliuretanos na construo civil. 16 mai. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    HACKENBERGER, Alfred. A inovao no mercado de construo como estratgia fundamental da BASF Brasil. 9 mai. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    KITA, Arlene. Negcios para construo industrial: as disperses qumicas. 3 mai. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    MERTENS, Michel. Alta tecnologia para construes sustentveis. 17 abr. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

    VITORIANO, Leonardo. As tecnologias inovadoras da casa E. 17 abr. 2013. Entrevista concedida Elabora Consultoria.

  • bosch 3

  • Do Flex Fuel ao Flex start: inovao tecnolgica e mercaDolgica na bosch

    O mercado automotivo brasileiro lidera as iniciativas

    mundiais de utilizao de combustveis renovveis e o

    etanol est consolidado na matriz de combustveis do pas.

    Dos veculos leves licenciados no Brasil em 2012, mais

    de 3 milhes possuam motor Flex Fuel (bicombustvel),

    representando 87% do total. Com 10 anos de histria, os

    veculos flex superam a metade da frota nacional, com mais

    de 18 milhes de veculos.

    Lder mundial no fornecimento de tecnologia de ponta

    automotiva, o Grupo Bosch tem no Brasil seu Center of

    Competence mundial em sistemas a etanol. Esta definio

    da matriz, feita em 2006, reconhecia as competncias

    adquiridas pela diviso de Sistemas a Gasolina para a

    Amrica Latina instalada no pas, pioneira em pesquisa

    e desenvolvimento na tecnologia do sistema Flex Fuel,

    apresentado ao mercado em 1994. Seu lanamento

    comercial ocorreria apenas 9 anos depois, em 2003, quando

    a conjuntura tornou-se favorvel ao etanol e o governo

    federal definiu vantagens fiscais aos veculos com motor flex,

    despertando o interesse das montadoras.

    Como evoluo do Flex Fuel, o Center of Competence

    brasileiro desenvolveu o Flex Start, tecnologia que

    proporciona aos carros flex abastecidos com etanol maior

    eficincia na partida a frio em baixas temperaturas. A

    soluo permite o aquecimento do etanol injetado no motor,

    dispensando a necessidade de um reservatrio de gasolina

    na dianteira do veculo. Com isso, a Bosch introduziu

    mundialmente um novo conceito de sistema de partida a frio

    nos veculos flex.

    Sendo desenvolvido por uma empresa sistemista sem

    a demanda do cliente, a histria do Flex Fuel se repetia:

    o produto levou anos at ser oferecido ao consumidor

    final. Isso s aconteceu quando a empresa passou a focar

    esforos em aes B2C (business-to-consumer) com o

    cliente de seu cliente, entrando em contato direto com o

    usurio de carros flex para obter sua viso e utilizando-a

    depois para: a) convencer as montadoras de que o

    consumidor final atribua valor ao produto; e b) aperfeioar as

    caractersticas da soluo em desenvolvimento.

    Entretanto, se os feitos mercadolgicos da Bosch se

    destacam como abordagem inovadora para uma empresa

    de B2B (business-to-business) porque a fase principal,

    a inovao tecnolgica em si, encontrou na estrutura da

    empresa condies favorveis ao seu desenvolvimento.

    A existncia de um ambiente orientado para a inovao,

    46

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • com recursos, ferramentas de desenvolvimento e processos

    maduros, foi ingrediente sem o qual no haveria um produto

    robusto a ser oferecido.

    Enquanto o convencimento de stakeholders quanto

    viabilidade econmica do projeto era dificultado pela ausncia

    de clientes interessados na tecnologia, no aspecto tcnico, o

    entrave foi a dificuldade de a equipe em encontrar fornecedores

    nacionais que pudessem participar do desenvolvimento

    tecnolgico necessrio ao projeto como, p. ex., tecnologias

    de estampos profundos, conexes eltricas de alta corrente,

    modelamentos complexos de temperatura etc.

    A criao do Flex Start nico sistema de aquecimento

    de etanol no mundo fortaleceu o Center of Competence

    da Bosch no Brasil como liderana mundial no

    desenvolvimento de tecnologia flex. Isso importante

    para inovaes futuras, j que o fato de ser um Center of

    Competence foi crtico para o sucesso do projeto. Resta,

    contudo, o desafio de manter-se na vanguarda, o que

    depende de sua competitividade como centro de gerao

    de tecnologia com plataformas de desenvolvimento de

    baixo custo.

    47

    3 bosch

  • histrico De Desenvolvimento e estratgia

    Com 264 fbricas instaladas globalmente, o Grupo Bosch

    o maior fornecedor de tecnologia automotiva de ponta

    do mundo. Esse segmento representa a maior parte do

    faturamento do grupo (59%), que tambm um lder mundial

    em outros trs segmentos: tecnologia industrial; energia

    e tecnologia predial; e bens de consumo. Em 2012, seu

    faturamento totalizou 52.5 bilhes de euros.

    Fundada em 1886 por Robert Bosch, a empresa herdou

    de seu fundador a inquietao pela busca constante de

    novas solues tcnicas. Conforme a empresa cresceu

    mundialmente, houve a preocupao de manter o conceito

    de inovao como elemento central, permeando os principais

    pilares que norteiam sua atuao. O grupo tem como viso

    a melhoria da qualidade de vida atravs de solues teis

    e inovadoras e a conquista de clientes por meio da fora

    inovadora. A importncia da inovao tambm explicitada

    nos valores da empresa, como o que trata de orientao para

    o futuro e resultados: a empresa busca garantir seu sucesso

    no longo prazo atravs do ativo envolvimento nas mudanas

    tcnicas e mercadolgicas e com o objetivo de fornecer

    solues inovadoras a seus clientes.

    Essa orientao, na prtica, se reflete em mais de um sculo

    de marcos mundiais de inovao, onde se destacam o

    lanamento do magneto de alta voltagem e a vela de ignio,

    em 1902, que tornaram os motores mais seguros, e produtos

    pioneiros, como a injeo eletrnica a gasolina, em 1967;

    o sistema antibloqueio de frenagem (ABS), em 1978; e as

    unidades de segurana airbag, em 1980 para citar apenas

    exemplos do setor automotivo.

    Este setor representou cerca de 70% do faturamento da

    Bosch na Amrica Latina em 2012, que concentra sua rea

    de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil. No pas,

    so cerca de 9.700 colaboradores, sendo aproximadamente

    440 engenheiros em P&D, distribudos em trs Centros

    de Competncia para a toda a America Latina: Sistemas

    a Gasolina; Sistemas a Diesel; Motores de Partida e

    Alternadores. No Brasil, o faturamento da Bosch em 2012 foi

    de R$ 4,1 bilhes, o que representou 82% do faturamento

    total da Amrica Latina.

    A Bosch faz parte do primeiro nvel de fornecimento na

    cadeia da indstria automotiva brasileira, representado

    pelos sistemistas, geralmente grandes empresas que

    possuem sofisticao tecnolgica para o fornecimento de

    subconjuntos prontos para a montagem e interao com

    as demais partes do automvel ou seja, oferecem s

    montadoras solues sistmicas.

    Enquanto sistemista, a Bosch procura atender s

    necessidades da indstria automobilstica mundial, que nas

    o grupo tem

    como viso a

    melhoria da

    qualidade de

    vida atravs de

    solues teis e

    inovadoras.

    48

    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • ltimas dcadas passou a focar em produtos com maior

    eficincia energtica e menor emisso de poluentes. Em

    1985, iniciava no Brasil o desenvolvimento de componentes

    para etanol e sistemas de injeo e ignio eletrnica

    analgica, e, com base nesta competncia impulsionada

    pelo domnio tecnolgico brasileiro da produo de etanol

    derivado da cana-de-acar , j em 1994 a empresa

    apresentava ao mercado o sistema Flex Fuel. O motor era

    capaz de reconhecer e adaptar seu funcionamento para

    qualquer proporo de mistura de etanol e gasolina no tanque.

    Embora representasse uma grande inovao para o mercado

    global, passaram-se quase 10 anos sem que a tecnologia

    despertasse o interesse dos clientes. At que em 2003, com

    a conjuntura nacional favorvel ao uso do etanol, a empresa

    lanou com a Volkswagen o primeiro modelo comercial com

    a tecnologia Flex Fuel. Em 2007, o sistema era lanado na

    Europa, atestando a competncia mundial da diviso brasileira

    para levar a tecnologia a pases como Sucia, Noruega e

    Finlndia, que rodavam com at 85% de etanol.

    O Brasil o nico mercado onde os carros conseguem

    rodar com 100% de etanol. Ainda que pases como EUA,

    Frana e Sucia possuam carros flex, eles no vivenciam

    as dificuldades relacionadas operao a 100% do

    biocombustvel. Dentro da Bosch, isso requer que a

    engenharia brasileira seja capaz de desenvolver avanos

    na tecnologia Flex Fuel de modo independente da matriz

    como ocorreu com o Flex Start.

    49

    3 bosch

  • Tendo em vista os diferenciais do contexto brasileiro, a matriz

    alem definiu que a regional da Amrica Latina pode ter no

    Brasil sua orientao de P&D local for local, ou seja, ter uma

    estrutura de P&D local para atender ao mercado local. Como

    o mercado brasileiro caminhou para o biocombustvel, essa

    definio permitiu o reconhecimento das competncias

    conquistadas ao longo de 20 anos no Brasil. Isso permitiu a

    ampliao de sua estrutura de P&D, hoje com cerca de 440

    pesquisadores e uma mdia de investimento de 3,5% do

    faturamento nos ltimos 3 anos.

    estratgia De inovao

    Para sistematizar suas aes para a inovao, a Bosch

    dispe de algumas metodologias. Por meio do Banco de

    Ideias, que mundial, tanto colaboradores quanto inventores

    externos podem submeter sua ideia inovadora. O website

    da empresa disponibiliza orientaes para o envio de

    propostas. As atividades de P&D seguem o processo Product

    Engeneering Process (PEP), baseado no conceito de stage-

    gates. Projetos de desenvolvimento globais podem utilizar

    a infraestrutura da rea corporativa de pesquisa, que conta

    com aproximadamente 2.800 engenheiros e cientistas.

    A diretriz mundial da Bosch para inovao estimula a busca

    por ideias alinhadas estratgia e refinadas atravs de filtros

    de avaliao a cada estgio da inovao (stage-gates).

    O objetivo evitar que a ideia se encaminhe diretamente

    para o desenvolvimento sem os devidos estudos, gerando

    custos desnecessrios.

    A partir do monitoramento de tendncias e da elaborao

    de cenrios, a matriz define sua viso sobre o futuro do

    mercado automobilstico. Essa fase gera diretrizes para

    o desenvolvimento de novos produtos voltados, por

    exemplo, s reas de economia de combustvel e reduo

    de emisses. A viso global ento alinhada viso do

    contexto brasileiro com suas peculiaridades, o que resulta na

    viso da Bosch para a Amrica Latina, e esta desdobrada

    em cada diviso. Nesse caso, a estratgia para a diviso de

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    CNI INOVAO EM CADEIAS DE VALOR DE GRANDES EMPRESAS 22 CASOS

  • Sistemas a Gasolina passa ento a alimentar o processo de

    gesto da inovao.

    Esse processo parte da definio dos campos de busca

    definidos na estratgia (fase 1), em funo dos quais se inicia

    a gerao de ideias, o que inclui a explorao do Banco de

    Ideias (disponvel pela intranet) (fase 2). Cada ideia passa por

    um processo de filtros, sendo o primeiro deles a avaliao

    de seu potencial por um especialista na rea (fase 3).

    Sobrevivendo a esse filtro, a ideia ingressa na fase seguinte,

    quando so avaliadas suas chances como negcio (BI

    Business Idea fase 4). Na fase BI, feito um pr-estudo,

    onde so avaliadas a atratividade