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Plano Territorial de Cadeia de Produção Cooperativa: Mandioca Território Médio Jequitinhonha CEADES Centro de Estudos e Assessoria ao Desenvolvimento Territorial Emanuel Maia Márcio Gomes da Silva Junho de 2008

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Plano Territorial de Cadeia de Produção

Cooperativa: Mandioca

Território Médio Jequitinhonha

CEADES Centro de Estudos e Assessoria ao Desenvolvimento Territorial

Emanuel Maia Márcio Gomes da Silva

Junho de 2008

“Se farinha fosse americana

Mandioca importada

Banquete de bacana

Era farinhada” -

(Juraildes da Luz)

ii

Sumário

Apresentação .................................................................................................................. iv

Glossário............................................................................................................................v

Resumo executivo ............................................................................................................1

Procedimentos Metodológicos ..........................................................................................3

Definição da cadeia prioritária e dos municípios envolvidos........................................3 Delimitação da Área de Abrangência do Estudo...........................................................4 Levantamento de Dados Secundários............................................................................4 Levantamento de Dados Primários................................................................................4 Metodologia para definição das metas ..........................................................................7

Breve caracterização do território......................................................................................8

Caracterização da cadeia produtiva da mandioca............................................................12

Usos e produtos da mandioqueira................................................................................12 Histórico da cadeia na região.......................................................................................13 Aspectos gerais da cadeia no território........................................................................15

Análise dos Subsistemas..................................................................................................18

Subsistema: Unidades Familiares de Produção ...........................................................18 A propriedade ..........................................................................................................18 A área de plantio......................................................................................................21 Mão de obra .............................................................................................................21 Variedades ...............................................................................................................22 Preparo do Solo .......................................................................................................23 Plantio .....................................................................................................................24 Tratos culturais ........................................................................................................25 Colheita e pós-colheita ............................................................................................25 Assistência técnica e crédito....................................................................................26 Custo de Produção ...................................................................................................28

Subsistema: Beneficiamento da mandioca ..................................................................32 Organização das fábricas .........................................................................................32 Produtos derivados do processamento.....................................................................33 Infra-estrutura ..........................................................................................................34 Insumos ...................................................................................................................36 Água ........................................................................................................................37 Mão de obra utilizada no processamento ................................................................38 Resíduos ..................................................................................................................39 Associativismo e Cooperativismo ...........................................................................39

Subsistema: Comercialização ......................................................................................40 Canais de comercialização.......................................................................................40 Venda direta ao consumidor: Feiras e comunidades rurais .....................................41 Venda para intermediários.......................................................................................42 Transporte para a comercialização .........................................................................44 Mercados alternativos - PAA ..................................................................................45

Análise do Ambiente Institucional da Cadeia Produtiva ................................................47

O desenvolvimento do Diagrama de Venn – o “jogo das bolas” e as relações institucionais................................................................................................................47

3

Metas definidas para a cadeia produtiva da mandioca ....................................................55

Subsistema Produção...................................................................................................55 Subsistema beneficiamento ........................................................................................59 Subsistema de comercialização ...................................................................................63 Metas físicas e financeiras...........................................................................................67

A cadeia Produtiva da Mandioca no Desenvolvimento do Médio Jequitinhonha...........76

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

iv

Apresentação

Os Planos Territoriais de Cadeias de Produção Cooperativa (PTCPCs), a

serem realizados de forma participativa, com a integração entre equipe técnica,

articulador territorial, agricultores familiares e demais atores envolvidos no processo de

dinamização econômica do território, tem como principal objetivo traçar um desenho de

um plano de negócio para o desenvolvimento de cadeias produtivas prioritárias e sua

organização nos territórios. O ponto de partida são os eixos propostos nos PTDRS, no

sentido de aprofundá-los, e do planejamento de crédito e ATER no Plano Safra

Territorial. Assim, espera-se que os agricultores familiares possam ampliar seu grau de

governança sob tais cadeias através da formação de arranjos institucionais adequados

para a gestão social e a dinamização econômica das cadeias priorizadas.

Entende-se que o fortalecimento de certas cadeias produtivas nos territórios

rurais possa, além de qualificar novos investimentos e proporcionar novas

oportunidades para o uso do crédito, também possa gerar uma demanda derivada para o

fortalecimento e surgimento de outras cadeias produtivas nos territórios, principalmente

a partir das melhorias das infra-estruturas físicas, canais de comercialização e formação

de redes de ATER.

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

v

Glossário AMEFA – Associação Mineira de Escolas Famílias Agrícola AMEJE – Associação dos municípios do Médio Jequitinhonha ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural ATES – Assistência Técnica, Social e Ambiental BNB – Banco do Nordeste do Brasil CMDRS – Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável CODETER – Colegiado de Desenvolvimento Territorial CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento CPT – Comissão Pastoral da Terra CUT – Central Única dos Trabalhadores DRP – Diagnóstico Rápido Participativo EFA – Escola Família Agrícola EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais FETAEMG – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais FETRAF – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar FOFA – Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDENE – Instituto de Desenvolvimento do Nordeste IDH – Índice de Desenvolvimento Humano INCRA – Instituto de Colonização e Reforma Agrária ITAVALE – Instituto dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Vale do Jequitinhonha ITER-MG – Instituto de Terras do Estado de Minas Gerais MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário MDS – Ministério do Desenvolvimento Social MESOVALES – Agência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri PAA – Programa de Aquisição de Alimentos PCPCR – Programa de Combate a Pobreza Rural PDA – Plano de Desenvolvimento de Assentamentos PDHC – Projeto Dom Helder Camâra PJR – Pastoral da Juventude Rural PNCF – Programa Nacional de Crédito Fundiário PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAT – Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais PTCPC – Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa PTDRS – Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável SDT – Secretaria de Desenvolvimento Territorial SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais TMJ – Território do Médio Jequitinhonha UFP – Unidade Familiar de Produção

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

1

Resumo executivo

O Território do Médio Jequitinhonha é composto pelos municípios de Águas

Vermelhas, Angelândia, Araçuaí, Berilo, Cachoeira de Pajeú, Chapada do Norte,

Comercinho, Coronel Murta, Francisco Badaró, Itaobim, Itinga, Jenipapo de Minas,

José Gonçalves de Minas, Medina, Novo Cruzeiro, Padre Paraíso, Pedra Azul, Ponto

dos Volante e Virgem da Lapa, num total de 19 municípios. Todavia internamente o

território opera sem o município de Águas Vermelhas, que está participando das

reuniões no Território Alto Rio Pardo.

O território apresenta condições climáticas adversas, tendendo para a semi-

aridez, com precipitações anuais abaixo de 1.000 mm, atingindo em alguns municípios

700 mm. Os solos apresentam fertilidade relativamente baixa para as principais culturas

agrícolas. A temperatura média anual situa-se na faixa de 21 a 24ºC. O rio

Jequitinhonha é o principal recurso hídrico da região, seguido pelo seu afluente o rio

Araçuaí. O relevo é formado, principalmente, por grandes chapadas planas recortadas

por grotas profundas, onde se encontram os recursos hídricos.

Segundo o Censo de 2000, a população do território Médio Jequitinhonha é de

277.694 habitantes e esta população está dividida entre o urbano e o rural, com 50,10%

vivendo em área urbana e 49,89% vivendo em área rural. O território do Médio

Jequitinhonha ocupa 3,05% da área total do estado e possui uma população de 1,55% à

população do estado. Deve-se salientar que, o número de pessoas pobres ultrapassa 60%

da população, e que em apenas 30% dos domicílios possuem uma média de anos de

estudo superior a quatro anos.

Economicamente o território é muito fragilizado, pois o território responde por

menos de 1% da renda total gerada no estado de Minas Gerais. A renda per capita

média do território é R$ 80,24/mês e o PIB per capita do Território equivale a pouco

mais de 25% do PIB per capita estadual. A principal atividade econômica no território é

a agropecuária e aproximadamente 40% da população são trabalhadores rurais. Calcula-

se que 52,2% do Valor da Produção no território provêm da produção animal, outros

40,4% decorrem dos cultivos vegetais, enquanto a extração vegetal e a silvicultura

correspondem a somente 7,24%. A agricultura familiar participa com 64,7% do VAP,

apesar de ocupar aproximadamente 45% da área e ocupar 86% dos trabalhadores rurais.

Analisando aspectos do Valor da Produção (VAP), dentre os produtos cultivados, a

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

2

mandioca é preponderante na determinação do valor da produção arrecadando 39,2% do

VAP, seguido pelo milho com 20,5% e a cana-de-açúcar com 10,9%.

Pela sua importância cultural e econômica a cadeia produtiva da mandioca foi

escolhida para a elaboração do Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa

(PTCPC). Este plano tem como objetivo traçar um plano de desenvolvimento, a partir

dos entraves e propostas definidos de forma participativa entre os agricultores

familiares. Assim o PTCPC vem aprofundar um dos eixos propostos pelo Plano

Territorial de Desenvolvimento Territorial Sustentável e auxiliar no planejamento do

crédito e da assistência técnica indicados pelo Plano Safra Territorial.

As principais dificuldades encontradas no elo da produção passam pelos temas

de acesso a terra, assistência técnica e o crédito. As metas propostas para o elo baseiam-

se na construção de uma rede de ATER que utilize os alunos das escolas famílias

agrícolas, com o objetivo de facilitar e melhorar o desempenho das atividades agrícolas

e da circulação de informações. No elo do beneficiamento os entraves principais estão

associados à falta de condições adequadas para o processamento da raiz da mandioca

utilizando eficientemente a mão de obra disponível, assim como explorando outros

produtos além da farinha e da fécula (polvilho ou goma). O elo da comercialização foi o

mais discutido, visto que nele se materializam as expectativas dos agricultores. A

desorganização na comercialização foi colocada como o principal fator a depreciar os

rendimentos da atividade. O desejo de mudança pelos agricultores é claro, porém eles

consideram que é necessária a atuação de mediadores para consolidar os canais de

comercialização que sejam adequados à realidade de cada grupo de agricultores.

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

3

Procedimentos Metodológicos

Definição da cadeia prioritária e dos municípios envolvidos O início dos trabalhos se deu com a definição das prioridades para o programa.

Como ele almejou ser um programa a ser construído coletivamente no âmbito do

território, ocorreu um processo de sensibilização e mobilização dos atores sociais

através do próprio CODETER. Para tanto ocorreu uma reunião inicial de trabalho, com

duração de um dia, com a presença do Consultor responsável e a equipe técnica e os

membros do Colegiado, mais alguns convidados com o objetivo de:

• Apresentar os objetivos do Plano Territorial de Cadeias de Produção

Cooperativa – PTCPC para o processo de dinamização econômica do território;

• Apresentar informações sobre as principais cadeias de produção desenvolvidas

no território e definir qual cadeia seria objeto do plano.

• Definir quais os municípios do território estariam incluídos no programa.

Nessa reunião foi definida a cadeia produtiva da mandioca a ser estudada e os

municípios incluídos no plano foram Araçuaí, Cachoeira do Pajeú, Comercinho,

Itaobim, Itinga, Medina, Padre Paraíso, Pedra Azul, Ponto dos Volantes e Virgem da

Lapa.

Os municípios foram escolhidos levando em consideração os seguintes critérios:

a) Com maior número de produtores familiares que se dedicam à atividade

selecionada e/ou com maior dimensão da mesma (área plantada, rebanho, produção

física, valor da produção, etc);

b) Com efetivo potencial para o crescimento da atividade, medido tanto em

termos das características do meio físico (solo, clima, recursos hídricos, etc), quanto de

fatores econômicos (especialmente aqueles ligados ao mercado).

Deve-se destacar que algumas dificuldades foram encontradas para realizar esta

reunião, entre elas: o período estipulado para realizar o plano foi muito curto, a época de

contratação ocorreu no final do ano e assim as festividades, recessos e o compromisso

dos agricultores com suas lavouras impediam o estabelecimento de uma data para a

reunião. Outra questão é que as atividades ocorreram entre o fim de um contrato do

articulador territorial e a nova contratação o que dificultava o contato com os atores

sociais do território.

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Delimitação da Área de Abrangência do Estudo

Para definição da área de abrangência do estudo foram amostrados seis

municípios dentro do território que enquadravam as diferenças existentes no território.

Assim os municípios onde houve investigação de campo pela equipe técnica foram

Araçuaí, Virgem da Lapa, Itaobim, Comercinho, Medina, Ponto dos Volantes.

Em cada município ficou definido que seriam pesquisados pelo menos três

comunidades rurais, ou assentamentos, que desenvolvessem atividades referentes à

cadeia de produção da mandioca.

Levantamento de Dados Secundários Os dados secundários foram obtidos através de estudos já realizados sobre a

produção, processamento e comercialização da mandioca publicada por universidades,

IBGE, EMATER, e os estudos realizados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário,

especificamente os documentos elaborados via Secretaria de Desenvolvimento

Territorial/SDT, tais como Plano Safra Territorial e Estudos Propositivos para a

Dinamização Econômica do Território Médio Jequitinhonha. Também foram

consultados dados de secretarias de cada município visitado.

Levantamento de Dados Primários A coleta de dados primários ocorreu em duas fases, a saber, a aplicação de duas

técnicas do Diagnóstico Rápido Participativo – DRP (trata-se do FOFA e do Diagrama

de Venn), e a coleta de dados acerca da cadeia através da aplicação de entrevistas semi-

estruturadas nos municípios amostrados.

No que concerne à primeira fase, esta se deu na Escola Família Agrícola (EFA)

de Itaobim. Em um primeiro momento foi feita uma reunião com os estudantes na qual

foram realizadas questões geradoras acerca da produção, procurando identificar os

problemas nesse elo da cadeia produtiva. Os estudantes da EFA também tiveram

participação na elaboração da metodologia da oficina. Essa estratégia foi utilizada como

forma de gerar uma apropriação do Plano pelos estudantes provocando um efeito

multiplicador da importância da atividade produtiva da mandioca para a dinamização

econômica no Território Médio Jequitinhonha. Outra contribuição dos alunos da EFA

Bontempo foi o fornecimento de dados dos planos de estudo realizados sobre a cultura

da mandioca.

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

5

As técnicas de DRP foram desenvolvidas em uma oficina, da qual participaram

oito estudantes da EFA (municípios de Medina, Virgem da Lapa, Ponto dos Volantes,

Cachoeira do Pajeú, Itaobim e Coronel Murta) e quatro produtores de mandioca, sendo

dois do município de Medina e dois do município de Virgem da Lapa. A oficina foi

mediada por dois técnicos e realizou-se com o apoio da SDT/MDA e das prefeituras de

Medina e Virgem da Lapa, que proporcionaram o transporte dos agricultores até a EFA.

O diagnóstico é uma metodologia e um método para obtenção e construção

coletiva de informações sobre uma determinada realidade. Ele é chamado de

participativo porque o processo de obtenção destas informações é feito de modo a

envolver as pessoas que vivem a situação diagnosticada, a elas a possibilidade de

construção, juntamente com os mediadores que coordenam a aplicação do DRP, o

conjunto de dados e informações que comporão o diagnóstico.

Como argumenta Trusen (2004), o DRP é uma metodologia que possibilita tanto

o diagnóstico quanto a construção coletiva de caminhos para estimular e apoiar a

participação e o desenvolvimento de grupos sociais. Este estímulo e o apoio se

fundamentam na delegação ao próprio grupo da capacidade de tomar decisões e fazer

escolhas entre alternativas possíveis ao seu futuro. É uma metodologia também bastante

apropriada à construção de relações horizontais entre os grupos e os profissionais que os

assessoram (Gomes et al., 2001).

O DRP, assim como os outros métodos utilizados nas metodologias

participativas, procura problematizar a realidade local, remetendo os problemas

identificados a realidades causais mais amplas, respeitando, no entanto, os valores da

cultura local (Verdejo, 2006). Através do DRP tenta-se avaliar os problemas e as

oportunidades de solução, identificando os possíveis projetos de melhoria dos

problemas mais destacados. Permite também colher dados de maneira ágil e oportuna,

permite que as pessoas da comunidade e/ou os grupos pensem sistematicamente em

seus problemas, nas possíveis soluções e em estratégias de ações futuras. Esta

metodologia põe em contato direto todos os envolvidos no processo, facilitando o

diálogo e promovendo a interação, facilitando assim a participação tanto de homens

como de mulheres e dos diferentes grupos.

O Diagrama de Venn consiste na apresentação gráfica, em forma de círculos ou

“bolas”, por parte dos agentes, com objetivo de avaliar as entidades ou organizações que

têm significado para eles em relação à cadeia produtiva no território. Pretendeu-se

estimular uma discussão sobre a percepção dos agentes em relação a cada organização

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

6

citada com respeito à sua importância para o desenvolvimento da cadeia produtiva e sua

relação de proximidade aos próprios agricultores. Através dessa técnica foi possível

coletar elementos de caráter qualitativo acerca do arranjo institucional e organizacional

do território relacionados à atividade produtiva da mandioca.

A técnica conhecida como FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e

Ameaças) consiste em uma matriz que analisa a organização geral da cadeia produtiva

no território. Através do desenvolvimento dessa técnica buscou-se identificar, analisar e

visualizar a situação atual dos grupos para conseguir um fortalecimento organizativo,

começando por discutir as fortalezas, debilidades, oportunidades e ameaças que devem

ser levadas em conta para o planejamento do desenvolvimento da cadeia produtiva no

território. Através do desenvolvimento do FOFA foi possível obter elementos que

indicam as potencialidades e debilidades da cadeia produtiva da mandioca.

Na segunda fase, os questionários foram estruturados levando em consideração

os elos da cadeia, qual seja: produção, processamento e comercialização. Dessa forma

foram elaborados três questionários específicos, sendo um orientado ao agricultor

familiar que cultiva a mandioca, outro direcionado ao agricultor familiar que possui

fábrica individual ou processa a mandioca em fábricas comunitária, e um último

questionário orientado para o comércio, seja feirantes ou mercearias e supermercados.

Além do apoio da SDT/MDA, o desenvolvimento do trabalho também contou

com o apoio das prefeituras, por meio das secretarias de agricultura, que colaboram

dando apoio no transporte até as comunidades rurais; da EMATER, que contribui

fornecendo dados secundários sobre a cadeia produtiva da mandioca e no transporte, a

EFA Bontempo que forneceu a estrutura física para a realização da oficina e aos

estudantes que contribuíram na construção metodológica e participação nas oficinas. Os

Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e ao ITAVALE, que mediaram à relação entre os

técnicos responsáveis em desenvolver o plano e os agricultores e instituições envolvidos

na coleta de dados.

Em todos os municípios foram realizadas visitas as comunidades rurais que

possuíam fábricas de farinha e produtores de mandioca. Todas as entrevistas foram

gravadas e transcritas posteriormente. Dessa forma, informações pertinentes à cadeia

produtiva que não estavam no roteiro, mas que eram levantados pelos agricultores foi

foco de investigação e se encontram descritas nas análises desse documento.

Entre as principais dificuldades de levantamento de dados primários encontradas

foram devido ao curto período para a sua execução e o deslocamento dentro do

território. Outro fator não esperado foi o lançamento do território da cidadania, que fez

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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com que a equipe técnica cancelasse reuniões previamente marcadas além de encerrar

qualquer possibilidade de atividade dentro do território.

Durante uma das avaliações do plano as duas principais questões que podem

comprometer o sucesso na elaboração do documento foram a época e o prazo para a sua

elaboração, visto que as duas dificultam o estabelecimento de um grupo de interesse e

uma rede de serviços que garantam sua execução.

Metodologia para definição das metas

Para a definição das metas foi realizada uma reunião no território com duração

de dois dias. Inicialmente fez-se uma breve apresentação do trabalho até então

realizado. Em seguida houve divisão em grupos para o aprofundamento das discussões

em relação aos problemas diagnosticados para cada elo da cadeia. Neste momento,

houve inclusão e exclusão de itens. Após a discussão nos grupos, foi realizada a

apresentação dos problemas, e das principais discussões realizadas em grupo.

Antes da definição das metas, foi realizada uma simulação de geração de meta,

junto à plenária, para capacitar todos os presentes a estabelecê-las conforme as

exigências definidas no documento de elaboração dos PTCPCs. Assim, para a definição

propriamente dita das metas foi realizado a divisão em grupos, com os presentes, e a

proposição de ações direcionadas a soluções dos problemas concernentes a cada elo da

cadeia produtiva da mandioca. Como método foi utilizado uma adaptação da técnica de

planejamento participativo (Coelho, 2005).

Após a elaboração da metas e da definição dos atores institucionais envolvidos,

os grupos voltaram à plenária e apresentaram as proposições. Na plenária houve a

inclusão, retificação e retirada de propostas de ações.

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Breve caracterização do território

O Território do Médio Jequitinhonha é oficialmente composto pelos municípios

de Águas Vermelhas, Angelândia, Araçuaí, Berilo, Cachoeira de Pajeú, Chapada do

Norte, Comercinho, Coronel Murta, Francisco Badaró, Itaobim, Itinga, Jenipapo de

Minas, José Gonçalves de Minas, Medina, Novo Cruzeiro, Padre Paraíso, Pedra Azul,

Ponto dos Volante e Virgem da Lapa, num total de 19 municípios. Todavia

internamente o território opera sem o município de Águas Vermelhas, que está

participando das reuniões no território Alto Rio Pardo.

O território é fortemente marcado por condições climáticas adversas, tendendo

para a semi-aridez, com precipitações anuais abaixo de 1.000 mm, atingindo 700 mm

nos municípios de Itinga e Itaobim, que aliado às condições de fertilidade dos solos,

relativamente baixas para as principais culturas agrícolas, tornam a sobrevivência

difícil, especialmente no meio rural. A temperatura média anual acusa pouca variação,

situando-se na faixa de 21 a 24ºC. O rio Jequitinhonha é o recurso natural mais

importante da região. Outro importante recurso hídrico é o rio Araçuaí, principal

afluente do rio Jequitinhonha. O relevo é formado, principalmente, por grandes

chapadas planas com grotas profundas, onde nascem e correm as águas.

Segundo o Censo de 2000, a população do território Médio Jequitinhonha é de

277.694 habitantes e esta população está bem dividida entre o urbano e o rural, com

50,10% vivendo em área urbana e 49,89% vivendo em área rural. O território do Médio

Jequitinhonha ocupa 3,05% da área total do estado e possui uma população de 1,55% à

população do estado.

O IDH-M do território é de 0,651 e está abaixo do estadual que é de 0,773. Dos

três indicadores utilizados para compor o IDH-M, a renda é o indicador que apresenta

os valores mais baixos em todos os municípios. Os índices que indicam os domicílios

em situação de pobreza1 no território têm uma media de 46,7%, valor que está bem

acima do estadual, que é de 14,10%. Nove dos dezoito municípios que compõem o

território apresentam índices de pobreza acima de 50%. O número de pessoas pobres2

no território é de 66,68%, enquanto no estado esse número é de 29,8%. Outro ponto

1 Os domicílios em situação de pobreza são aqueles com saneamento inadequado e cujos responsáveis têm renda de até um salário Mínimo por mês e freqüentaram escola por menos de quatro anos. 2 Percentual de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalentes a 1/2 do salário mínimo vigente em agosto de 2000. O universo de indivíduos é limitado àqueles que vivem em domicílios particulares permanentes (IPEA, 2000).

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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negativo é o fato de a taxa de analfabetismo do território ainda ser alta. Um indicador

das péssimas condições educacionais do território é a média de responsáveis por

domicílios com menos de 4 anos de estudo (69,15%), enquanto no estado à média é de

34,8%.

Os dados de saúde indicam altas taxas de mortalidade infantil, além de baixa

assistência médica e leitos hospitalares no território. As condições de saneamento no

território são precárias. Somente 59,77% dos domicílios do território possuem rede

geral, contra uma média estadual de 83%.

Com relação à economia do território, a primeira informação que chama a

atenção é a pequena renda gerada pelos municípios. O território responde por menos de

1% da renda total gerada em Minas Gerais. A renda per capita média do território é de

somente R$ 80,24/mês. O PIB per capita do Território equivale a pouco mais de 25% do

PIB per capita no estado, ou seja, é um valor muito baixo de produção em termos

econômicos.

Cerca de 40% dos habitantes do território do Médio Jequitinhonha são

trabalhadores rurais. Esta informação mostra a importância do trabalho rural para os

moradores do território, assim como a falta de oportunidades em outros setores da

economia. Segundo dados do censo agropecuário do IBGE em 1995/1996, a maior parte

da área dos municípios do território refere-se a pastagens (62,9%), seguido de matas e

florestas (20,9%). Por outro lado, a utilização da terra para culturas em lavouras

congrega apenas 5,9% do total, contudo apresenta grande importância ao

desenvolvimento do território, como será apresentado abaixo.

Calcula-se que 52,2% do Valor da Produção no território provêm da produção

animal, outros 40,4% decorrem dos cultivos vegetais, enquanto a extração vegetal e a

silvicultura correspondem a somente 7,24%. Dos valores de produção animal há maior

ênfase para a produção de animais de grande porte e em relação aos cultivos, as

atividades em lavouras temporárias (22,68%) e permanentes (16,51%). Analisando

aspectos do Valor da Produção, dentre os produtos cultivados, a mandioca é

preponderante na determinação do valor da produção arrecadando 39,2% do VAP.

Segundo produto é o milho, com 20,5% do total, seguido da cana-de-açúcar é com

10,9%.

Em torno de 40% dos estabelecimentos rurais têm menos de 10 hectares,

enquanto apenas 0,7% possuem mais de 1.000 hectares. Em estudo recente, Alcantara

Filho (2007) analisou a concentração de terras no Brasil, bem como nos seus estados

nos anos de 1992, 1998 e 2003 e concluiu que os níveis de concentração fundiária

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

10

permanecem quase que inalterados no Brasil, exceto na região Norte que obteve

algumas pequenas mudanças. No território há uma ampla predominância de pequenas

propriedades e de acordo com o censo de 1995, dos 18.081 estabelecimentos rurais,

somente 127 são ditos grandes. Embora o número de grandes propriedades seja muito

baixo (0,7%) estes estabelecimentos agregam 20,1% da área total ocupada, enquanto

que o total de estabelecimentos com menos de 10 hectares (40% do total) agrupam

somente apenas 2,8% da área. Considerando-se ainda o critério de pequenos

estabelecimentos (menores que 100 há), os 86,6% de estabelecimentos com menos de

100ha, possuem somente 26,9% da área total, logo, esta relação evidencia a situação de

concentração fundiária no território.

Outro aspecto é que o Território Médio Jequitinhonha têm uma característica de

agricultura familiar forte. Exemplo disso é a porcentagem de estabelecimentos

familiares no Território, 91,1%, proporção bem superior que a média estadual com

77,3%. Contudo, a parte da área que cabe a estes 91,1% de estabelecimentos familiares

é muito pequena, contendo menos 44% da área ocupada. Todavia com esta pequena

parcela da área total do território a agricultura familiar participa com 67,4% do Valor da

Produção e 86% de ocupação de trabalhadores.

Alguns programas e ações dos governos estadual e federal visando o

desenvolvimento sócio-econômico do Vale do Jequitinhonha foram citados, tais como:

os comitês de bacia hidrográfica e os programas sociais e com fins produtivos

coordenados pelo IDENE e EMATER-MG (inclusive programas com recursos federais,

cuja gestão é de responsabilidade do governo estadual); a Agenda 21 Local, ligada às

ações do Ministério do Meio Ambiente; o Plano de Desenvolvimento Integrado e

Sustentável da Mesorregião do Vales do Jequitinhonha e Mucuri (MESOVALES,

2005), implementado pela Secretaria de Programas Regionais do Ministério da

Integração Nacional, as ações do Ministério do Desenvolvimento Social e do Ministério

do Desenvolvimento Agrário, por meio das Secretarias de Desenvolvimento Territorial

e da Agricultura Familiar e do INCRA.

Em relação ao Programa Nacional de Fortalecimento da agricultura Familiar –

PRONAF, houve um significativo aumento do número de contratos e valores

negociados durante esse período, embora tenha havido uma forte queda na passagem de

2001/2002 para 2002/2003. Porém, a importância relativa do território em relação às

operações do PRONAF em todo estado de MG diminuiu durante esses anos. Na safra

2001/2002, o montante negociado no território que correspondia a 1,6% do valor

estadual, e reduziu-se para apenas 0,8% em 2004/2005.

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

11

No Território Médio Jequitinhonha não houve contratos do PRONAF Infra-

Estrutura nos anos 2003 e 2004. Em 2005 ocorreram 3 projetos, nos municípios de

Comercinho, Itinga e Ponto dos Volantes, totalizando 14 metas. Os 3 projetos foram

para estruturar Escolas Família Agrícola (EFA) no território, e o valor total dos

contratos foi de R$763.678,00. Entretanto, segundo informações do monitoramento dos

projetos do MDA, apenas o projeto contratado com a Prefeitura Municipal de

Comercinho foi dado como satisfatório até o momento, os outros, de acordo com o

CODETER, estão em fase de implementação.

12

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

12

Caracterização da cadeia produtiva da mandioca

A origem provável da mandioca (Manihot esculenta Crantz) está na região de

fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Atualmente a mandioca é cultivada em mais de 80

paises das Américas, África e Ásia, nas zonas tropicais e subtropicais. Do total da

produção mundial o Brasil representa mais de 15% da produção mundial (Alves &

Silva, 2003). A produção brasileira nos últimos anos vem apresentando crescimento

constante, totalizando no ano de 2006 mais de 27 milhões de toneladas (). No ano de

2005, os estados do Pará, Bahia, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Sul e São Paulo,

destacaram-se, com uma produção representando mais de 50% da produção nacional.

Atualmente, a indústria dos derivados da mandioca exporta mais de 4 bilhões de

dólares, onde a fécula representa mais de 80% deste valor.

Por ser um produto rico em carboidratos, a mandioca constitui um dos principais

alimentos energéticos para cerca de 500 milhões de pessoas, sobretudo nos países em

desenvolvimento, onde é cultivada em pequenas áreas com baixo uso de insumos e

baixo nível tecnológico. As raízes de mandioca possuem valor energético semelhante ao

milho e a parte aérea tem valor protéico semelhante aos das melhores forrageiras

(Cavalcante, 2002). O baixo valor protéico das raízes pode ser corrigido com a adição

de 2% de uréia quando as raspas são destinadas aos ruminantes

Além disso, a mandioca apresenta inúmeras características favoráveis ao cultivo

pela agricultura familiar, como por exemplo, alimentação humana direta e indireta,

alimentação animal, pode ser colhida em praticamente todos os meses do ano e

apresenta grande rusticidade, ou seja, pode ser cultivada com o uso de poucos insumos

externos.

Usos e produtos da mandioqueira A mandioca tem inúmeras possibilidades de uso que são pouco difundidas e

utilizadas no Brasil, uma vez que a produção reduz-se basicamente a fécula e farinha.

Alguns dos produtos que poderiam ser explorados são apresentados abaixo (Simão,

2003):

A parte aérea da planta – as folhas, talos, etc. - são componentes para:

a) alimentação humana – adição de proteínas, enriquecendo farinha de mesa;

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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b) alimentação animal – com adição de raízes, com cascas, entrecascas e fibras,

(importante ração animal, tradicionalmente comercializada no mercado internacional,

notadamente Europa, USA e Ásia).

As raízes da planta são insumos para a produção de:

a) farinha de raspas secas – farinha de mesa;

b) fécula – polvilho doce e azedo, polvilho modificado;

c) raspas – insumo industrial para a fabricação de ração animal;

d) resíduos sólidos (cascas, entrecascas) – farelo para ração animal;

e) resíduos líquidos (manipueira) – fertirrigação e aproveitamento químico

subsidiário (biocidas), para controle biológico.

A fécula é considerada a substância nobre da raiz da mandioca. É obtida através

de processo de extração mecânica, concentração, drenagem em centrífugas e filtro a

vácuo. A fécula de mandioca pode ser usada em diversos processos industriais como

(Simão, 2003):

a) na forma de polvilho doce – é matéria-prima para produção de álcool fino,

utilizado em farmácias, bebidas, perfumes e cosméticos. Pode ser usado também pela

indústria de massas alimentícias, têxtil, papel e papelão e moveleira;

b) como polvilho azedo – é o insumo básico para a produção de pão de queijo,

biscoitos, produtos de confeitaria, sorvetes e chocolates;

c) na forma de fécula modificada, pode ser utilizado como catiônico para papel,

malto-dextrose, lucoze e xaropes, termoplástico (plástico biodegradável), sorbitol e

vitamina C, açúcares dietéticos, gelatinas e iogurtes.

Por outro lado, a farinha de mandioca pode ser utilizada diretamente no consumo

alimentar, prato tipo e tradicional no Brasil, geralmente associado a outros pratos como

a feijoada. É mais consumida pela população de menor poder aquisitivo, assim como

nas regiões Norte e Nordeste. Pode ser usado, também, como insumo nas indústrias de

cervejeira e mineração; ou na forma refinada, como componente da indústria de

panificação e de colas. A ração animal é produzida com os resíduos do processamento

industrial da raiz da mandioca – cascas, entrecascas, fiapos e fibras – adicionados das

partes aéreas da planta e que são transformados em pellets, um dos mais importantes

derivados de mandioca de larga aceitação no mercado internacional.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Histórico da cadeia na região Muitos agricultores consultados cultivam a mandioca por mais de 40 anos,

utilizando as mesmas variedades e seguindo os mesmos costumes ensinados pelos pais,

quando estes eram mais jovens. Assim como o cultivo, o beneficiamento e os destinos

dos subprodutos são os mesmo desde o “tempo dos antigos”.

Os agricultores relataram que as principais vantagens em se plantar a manaiva

ou maniva3 (cultivar a mandioca) são aspectos ligados à resistência da planta à seca, a

pragas e doenças, a alta produtividade e os diversos usos que a planta pode ter, seja na

alimentação humana ou animal. Alguns utilizam as folhas da mandioca como

complemento nutricional. A Escola Família Agrícola (EFA), nos últimos anos, tem uma

contribuição importante na difusão de informações sobre o aproveitamento da

mandioca, tendo em vista que para os agricultores que cultivam mandioca e possuem

filhos estudando nas EFA’s o aproveitamento da planta é maior do que aqueles que não

possuem. Outro ponto relevante relatado é a facilidade do cultivo, pois apresenta baixa

demanda insumos e pode ser cultivado junto com outras plantas (feijão, milho, café etc).

No território o processamento da mandioca é realizado em unidades de

beneficiamento chamadas de tendas ou farinheiras4. O principal produto é a farinha, que

pode apresentar diferentes padrões de cor, granulometria e porcentagem de goma

(fécula, ou polvilho).

Os derivados da mandioca (farinha, goma, beiju, biscoitos de goma) estão

presentes no cotidiano das famílias, sejam as das comunidades rurais ou do meio urbano

(Figura 1). Dessa forma, antes de ser uma fonte de renda e garantia de reprodução social

das famílias, o cultivo da mandioca é uma atividade que envolve um aspecto cultural

muito valorizado pelos agricultores do território Médio Jequitinhonha.

3 Nomes destinados ao seguimento de ramo da planta da mandioca utilizado como estrutura de propagação (muda). 4 Neste documento o termo ‘farinheira’ será designado às unidades de beneficiamento de mandioca do território, por melhor descrever a situação encontrada.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Figura 1. Beiju produzido no território,

feito a partir da farinha da mandioca.

Aspectos gerais da cadeia no território A cultura da mandioca no território tem sofrido pouca alteração em termos de

produção, alcançando em 2006 um total superior a 34 toneladas. No mesmo período,

entre os anos de 2002 a 2006; a produtividade, a área plantada e o número de

agricultores apresentaram a mesma tendência (Figura 2). Segundo os agricultores, os

principais aspectos que determinam à área de plantio são: o preço da farinha e a

quantidade de mão de obra disponível. Em relação à produtividade o principal fator é a

quantidade de chuvas ocorrentes no período de plantio e desenvolvimento inicial das

plantas. Todavia, observa-se que estes fatores estão relacionados, em certo grau, com o

nível tecnológico adotado para o cultivo que é dependente do número de técnicos de

ATER/ATES.

-

25,00

50,00

75,00

100,00

125,00

150,00

175,00

200,00

2006 2005 2004 2003 2002

Produtividade (t/ha) Área (ha) UFP

Figura 2. Produtividade, área plantada e unidades familiares de produção (UFP) que

cultivam a mandioca no território Médio Jequitinhonha no período de 2002 a 2006.

Fonte Emater – Relatório Sintético para Culturas Perene (2008).

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

16

Existem diferenças da importância do cultivo da mandioca entre os municípios

que compõe o território, entretanto o que mais chama a atenção é que foram encontradas

poucas comunidades com farinheiras comunitárias (Tabela 1), o principal meio de se

processar mandioca no território.

Tabela 1. Distribuição dos estabelecimentos rurais, associações e farinheiras

comunitárias entre os municípios priorizados.

Município

Número de estabelecimentos

com área de lavoura(1)

UFP(2)

Número de comunidades

rurais(3)

Número de associações

rurais(3)

Número de Farinheiras

comunitárias(

3,4)

Araçuaí 2558 355 67 54 6 Cachoeira do Pajeú

770 309 25 17 20 (27)

Comercinho 1477 773 40 35 11

Itaobim 1288 236 28 12 2 (1 em andamento)

Itinga 1206

800 48 18 2 (1 em

andamento) (15)

Medina 824 393 40 21 1 Padre Paraíso 984 285 43 – 6 15 9 (2 reforma) Pedra Azul 739 360 18 8 - (11) Ponto dos Volantes

1209 498 32 10 5

Virgem da Lapa

1654 620 52 7 3 (5)

Total

(1) IBGE, Censo agropecuário 2006, resultados preliminares. (2) Estimativa calculada considerando-se a área média cultivada de mandioca por unidade familiar de 0,5 ha (3) Estimativas consensuais realizadas durante a oficina de definição de metas ou por consulta aos municípios. (4) O número entre parênteses representa uma aproximação do número de farinheiras individuais em alguns municípios.

Historicamente no território, constatou-se que o número de técnicos de

ATER/ATES é baixo, observa-se os reflexos na redução de competitividade do setor

produtivo e nos acesso as políticas públicas de fomento a agricultura familiar. Esta

indicação é mais clara, quando se observa que entre os bens e equipamentos financiados

com recursos do PRONAT diretamente associados à cadeia produtiva da mandioca foi

somente uma casa de beneficiamento de mandioca em Comercinho que não estava em

funcionamento (Ruas, 2007 – comunicação pessoal). Por outro lado, segundo

informações dos técnicos da Emater, os contratos realizados na linha B do PRONAF

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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são destinados basicamente à cultura da mandioca. Atualmente tem se empregado

recursos do Programa de Combate a Pobreza Rural para a construção ou reforma das

farinheiras comunitárias. Observou-se que não houve acesso das linhas de crédito

disponível para a agroindustrialização ao nível da agricultura familiar.

A investigação realizada acerca da cadeia produtiva da mandioca evidenciou

elementos que podem ser caracterizados como entraves na cadeia produtiva da

mandioca, tais como o acesso a terra, falta de padronização na fabricação dos derivados

(farinha e goma), falta de profissionais suficientes para garantir uma assistência técnica

e capacitação aos agricultores que permita a criação de subprodutos provenientes da

mandioca entre outros.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Análise dos Subsistemas

Subsistema: Unidades Familiares de Produção “Quem vive da roça, tem que viver do que faz” (Agricultor Familiar)

A propriedade A maioria dos agricultores entrevistados se considera proprietários da terra em

que cultivam a mandioca, entretanto é comum o caso onde os agricultores utilizam

terras de familiares, como dos pais, as quais não precisam dividir a produção. Por outro

lado, com menor freqüência, encontram-se os agricultores que são parceiros ou meeiros

que dividem a produção com proprietário Dentro da amostra de agricultores desse

trabalho, essa relação é de: 60% consideram proprietários e 40% trabalha em regime de

arrendamento. Entretanto, para os membros do CODETER, essa relação é bem

diferente, sendo a relação entre o número de proprietários menor do que o identificado

na amostra do estudo.

No levantamento de dados foi constatado que o acesso a terra, mesmo para

aqueles que são proprietários, é uma preocupação constante. Esta preocupação com a

questão fundiária dentro do território é o resultado de um processo histórico de luta pela

terra, no qual os sindicatos e movimentos sociais presentes no território tem plena

participação. Quando se observa os dados censitários a respeito da condição do produtor

observa-se que este número é menor, em torno de 7% dos estabelecimentos o produtor

não seria o proprietário (Tabela 2). Contudo, observa-se que estes dados são

relativamente antigos e que o grupo produtivo da mandioca pode ter um grande número

de agricultores que estão dentro deste percentual de produtores que não possuem o título

de posse ou propriedade da terra cultivada. Uma outra hipótese levantada é que a área

disponível para as atividades agropecuárias na qual o agricultor é proprietário não é

suficiente para a manutenção da família, visto que cerca de 40% das propriedades

possuem menos de 10 ha. Nestas duas hipóteses verifica-se a necessidade da

implantação de ações de regularização e reestruturação fundiária.

Outra preocupação é o caso de terras que estão sendo utilizadas por grandes

empresas (plantio de eucalipto) ou para a pecuária, as chapadas, que anteriormente eram

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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cultivadas com a mandioca e outras lavouras de subsistência, áreas coletivas de plantio5

(Ribeiro et al., 2005).

5 As áreas de cultivo são coletivas, entretanto os cultivos são individuais. Nestas áreas há manifestações de formas coletivas de trabalho, como os mutirões e troca de dias, contudo predomina o uso do trabalho familiar.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Tabela 2. Estabelecimentos rurais conforme a condição do produtor Condição do Produtor Total dos Estabelec.

Rurais Proprietário Arrendatário Parceiro Ocupante Municípios Nº Área Estabel. Área Estabel. Área Estabel. Área Estabel. Área

Araçuaí 2.157 156.394 1.964 153.829 5 382 5 522 183 1.661 Berilo 1.708 32.998 1.660 32.231 10 52 9 98 29 617 Cachoeira de Pajeú - - - - - - - - - - Comercinho 904 50.973 899 50.922 4 49 0 0 1 2 Coronel Murta 628 66.904 579 66.402 1 32 1 3 47 467 Francisco Badaró 2.415 43.292 2.315 42.220 5 11 24 48 71 1.013 Itaobim 648 39.439 514 38.336 3 27 18 65 113 1.011 Itinga 1.510 161.255 1.487 156.986 8 863 3 1.698 12 1.708 Jenipapo de Minas - - - - - - - - - - José Gonçalves de Minas - - - - - - - - - - Medina 678 95.319 631 93.285 7 94 10 646 30 1.294 Padre Paraíso 775 35.579 741 34.405 6 17 16 893 12 264 Pedra Azul 382 163.617 349 159.504 5 1.499 0 0 28 2.614 Ponto dos Volantes - - - - - - - - - - Virgem da Lapa 1.329 51.456 1.120 47.584 2 850 46 1.665 161 1.357 Total do Território 13.134 897.226 12.259 875.704 56 3.876 132 5.638 687 12.008 Fonte: IBGE, 1995/1996, adaptado do Estudo Propositivo para a Dinamização Econômica do Território do Médio Jequitinhonha

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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A área de plantio Predomina-se o cultivo em áreas pequenas, dificilmente ultrapassando um

hectare, com média em torno de 0,5 ha (Figura 3). Os agricultores que cultivam áreas

superiores fazem seus plantios em módulos, de forma que a área continua cultivada com

a mandioca seja de maneira geral inferior a um hectare.

Quando possível, os agricultores traçam estratégias para a escolha da área de

plantio como forma de obter maior beneficio para a família. Um caso interessante de ser

relatado é de uma família que possui duas áreas de cultivo, uma próxima a uma

barragem, que fica alagada durante a estação chuvosa (outubro a março). Esta é

cultivada na estação seca com variedades mansas, que possuem o ciclo mais curto e são

colhidas com seis meses. A outra área, nas terras altas, chamadas comumente de

chapadas, a família cultiva as variedades bravas, que possuem um ciclo mais longo e

são mais resistentes à seca.

Figura 3. Cultivo no médio

Jequitinhonha. A linha delimita a

área do cultivo.

Mão de obra A mão de obra empregada é basicamente a familiar (a esposa, o marido e os

filhos mais novos). Nos casos em que os filhos não moram mais juntos com os pais, seja

por migração ou por constituição de uma nova família, são utilizadas outras formas

como a troca de dias ou os mutirões.

A migração, principalmente para o corte de cana em outros estados, é relatada

como o principal responsável pelo aumento dos custos de produção, seja da mandioca in

natura ou beneficiada. Apesar de na maioria dos casos toda a família ajudar no cultivo,

em alguns momentos de manejo, como a colheita e o transporte da mandioca até as

fábricas pode ser necessário o pagamento de dia de serviço para terceiros. Poucos são os

agricultores que contratam mão de obra para auxiliar no manejo do cultivo da

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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mandioca, e quando o fazem é por períodos curtos e específicos como a destoca –

preparo da terra para o plantio, a “limpa” ou capina e a colheita. Outra questão

importante a ser observada é a idade dos agricultores que estão envolvidos na atividade

de cultivo da mandioca que é superior a 30 anos. Isso nos remete a refletir sobre a

sucessão rural e sobre a continuidade dessa atividade para a geração de renda e

reprodução social da agricultura familiar.

Logo quando se associa o problema de acesso a terra e as relações de geração,

tem-se um quadro que indica que a continuidade da atividade está fortemente ligada à

possibilidade de acesso a terra pelas novas famílias, visto que a área média das

propriedades não suporta economicamente a divisão em glebas menores.

Existem inúmeros estudos sobre o fenômeno da migração no Vale do

Jequitinhonha (Ribeiro & Galizoni, 1998; Galizoni, 2000; Maia, 2004 entre outros) e

entre os principais fatores identificados que influenciaram a migração estão os fatores

históricos de desagregação da sua cultura e de suas relações com a terra, dado a

exploração das áreas coletivas de cultivo por empreendimentos patrocinados pelo poder

público e num segundo momento, devido à escassez de recursos (entenda-se

principalmente pelo acesso a terra) a falta de oportunidades para conseguirem viverem

com dignidade nesta nova condição.

Variedades Assim como as operações de cultivo, as variedades cultivadas é parte da tradição

do cultivo da mandioca. Diferentes variedades são cultivadas de acordo com o

município. Os agricultores as classificam em dois grupos: bravas e mansas. As bravas

são utilizadas para o beneficiamento (fabricação de farinha e goma) ou para a

alimentação animal indireta6, enquanto as mansas são utilizadas para o beneficiamento e

alimentação direta - humana e animal. Ambas são cultivadas na mesma área, cabendo a

diferenciação das variedades ao conhecimento dos agricultores no momento da colheita.

Os grupos e as principais variedades cultivadas são:

� Mansas: Abóbora, Cacau, Camboquinha, Castela, Castelinha, Cramuquem,

Manteiga, Porto Seguro, Sabará.

� Bravas: Lagoinha, Landim (João Correia), Mal, Mole, Pau Brasil, Piriquita,

Piriquitinha, Rei do Sonho.

6 O termo indireto refere-se o fato de que é necessário realizar procedimentos para eliminar compostos que possam causar algum dano aos animais.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Existem inúmeros nomes destinados às variedades existentes no território, estes

foram alguns dos exemplos mencionados durantes as entrevistas realizadas com os

agricultores. Todavia, são necessários estudos específicos para determinar a real

diversidade de variedades, assim como elencar as suas características agronômicas

(produção, resistência a pragas e doenças etc).

A escolha das variedades segue critérios baseados na experiência de cultivo de

cada família. Quando há troca de variedades entre diferentes municípios/comunidades

os agricultores observam características de crescimento, rendimento de raízes e de

produtos no beneficiamento.

Preparo do Solo O preparo do solo para o plantio geralmente segue a seguinte ordem: limpa do

terreno (destoca), capina, juntada de cisco, aceiro, queima de mato, coveamento e

plantio. Nas áreas que foram cultivadas onde as práticas realizadas concentram-se na

“limpa” da área, no enleiramento dos restos culturais sem realizar a queimada. Na maior

parte dos casos essas atividades de preparo são feitas manualmente demandando grande

quantidade de mão de obra, a chamada roça de toco. Contudo, em algumas

comunidades há a utilização de maquinas agrícolas para o preparo do solo. Não são

realizadas operações de correção ou reposição de nutrientes.

Observou-se que houve a aquisição de tratores e implementos agrícolas para o

preparo das áreas de cultivos e transporte de produtos em vários municípios com

recursos do PCPR (Figura 4). Contudo, vale salientar que quando se compara às áreas

contínuas plantadas e a capacidade de trabalho do conjunto trator/implementos verifica-

se um super-dimensionamento destes, o que poderá onerar os custos de operação e de

manutenção destes equipamentos.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Figura 4. Trator agrícola com carreta de

transporte de produtos adquiridos com

recursos do Programa de Combate a

Pobreza Rural (PCPR).

Plantio A época principal de plantio concentra-se nos meses de outubro e novembro.

Contudo a definição da data de plantio é função das chuvas que ocorrem a partir do mês

de setembro e da disponibilidade de mão de obra.

Como existe um descompasso entre a colheita e o plantio, por isso os

agricultores traçam diferentes estratégias para ter disponíveis as manivas necessárias ao

cultivo de novas áreas. A estratégia mais utilizada é a estocagem da rama inteira em um

local com sombra até o momento do plantio. Em casos extremos eles fazem à retirada

das manivas dos mandiocais que estão em fase de formação.

O cultivo da mandioca é predominantemente feito em consórcio com outras

culturas, como o feijão de corda, milho, abóbora etc (Figura 5). Nas terras onde há a

cafezais a mandioca é cultivada nas entrelinhas (Figura 6), e neste caso há preferências

por cultivares de menor porte, como a “Piriquitinha”. Dentro da lavoura, não se

emprega um critério técnico para definir o espaçamento entre as plantas,

proporcionando um baixo número de plantas por unidade de área, menor

aproveitamento dos recursos existentes e repercutindo em menor produtividade.

Todavia, este maior espaçamento entre as plantas de mandioca viabiliza o consórcio

com as demais espécies de plantas, por permitir um compartilhamento dos recursos

primários, como a luz, água e nutrientes.

São vários os pontos favoráveis ao plantio da mandioca consorciada com outras

lavouras, principalmente as anuais. Entre os benefícios deste tipo de consórcio pode-se

destacar: a melhor cobertura do solo durante o primeiro ano, comparar figuras 5 e 6,

uma maior eficiência na exploração dos recursos primários (água, luz, nutrientes) e a

redução na probabilidade do ataque de pragas (Gliesman, 2000).

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Figura 5. Cultivo de mandioca

consorciada com hortaliças como abóbora

e quiabo. Ao fundo observa-se a farinheira

da comunidade.

Figura 6. Cultivo de café consorciado

com mandioca. Observa-se a superfície do

solo exposto, a capina havia sido realizada

recentemente.

Tratos culturais Nas áreas tradicionais de cultivo da mandioca, não são empregados corretivos ou

fertilizantes no plantio e/ou cobertura. Em poucas comunidades estudadas era realizada

a prática da adubação para a cultura consorciada. Quando realizada a adubação não

eram empregados os critérios técnicos.

Muitos agricultores relataram que não utilizam fertilizantes por dois motivos. O

primeiro é o custo da operação (compra do adubo e da aplicação) em relação ao preço

final obtido pela farinha (principal produto comercializado), o segundo é o risco em se

perder a lavoura por causa da estiagem. O fato dos agricultores não utilizarem insumos

químicos não está relacionado com a preocupação com o meio ambiente, mas por

questões culturais e econômicas do cultivo da mandioca. Entretanto no município de

Medina o ITAVALE realizou alguns trabalhos de conservação de nascentes e

discussões sobre agroecologia.

O manejo do mato no mandiocal é realizado manualmente, demandando mão de

obra em grande quantidade, e por fluxos. Segundo o relato dos agricultores a “limpeza”

ou capina é realizada três vezes durante o primeiro ano da lavoura (período onde a

concorrência por recursos é maior, visto que a mandioqueira não cobriu o solo).

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Pragas e doenças são incomuns nos cultivos de mandioca, visto que as condições

de plantio (consorciamento, baixa densidade de plantas, alto número de variedades por

área) reduzem a chance destas quando ocorrerem causarem dano significativo.

Colheita e pós-colheita A colheita da mandioca mansa é realizada preferencialmente a partir dos seis

meses após o plantio, para evitar a formação do pavio, quando é destinada a

comercialização ou consumo in natura. Quando o plantio se destina à fabricação de

farinha a colheita é realizada num período que varia de 18 a 24 meses (ano e meio ou

dois anos). O período de colheita se dá preferencialmente nos meses entre abril e

agosto, onde há menor umidade no solo e nas raízes, refletindo assim, por exemplo, em

maior rendimento no beneficiamento. Regionalmente, quando a raiz encontra-se mais

hidratada, diz-se que ela está “ensoada”, e não está adequada para o beneficiamento.

Os agricultores não sabem precisar o rendimento do mandiocal em termos de

quantidade de raiz produzida. Alguns têm a estimativa em termos de quantidade de

farinha produzida, que pode variar entre 3 e 15 alqueires de farinha por hectare (180 a

900 kg de farinha por hectare). Segundo as informações da Emater (Relatório Sintético

para Lavouras Permanentes/Semi-permanentes) a produtividade de raiz varia entre 6 e

12 ton/ha nos municípios do território, com uma média histórica de 9 ton/ha (Figura 2).

O principal fator responsável por essa variação é a disponibilidade hídrica. Em períodos

longos de estiagem a produtividade diminui consideravelmente. Os danos podem ser

mais graves quando a estiagem ocorre no período de formação da lavoura (logo após o

plantio).

O transporte das raízes após a colheita é normalmente realizado com o auxílio de

animais de carga (como o burro e a mula, por exemplo). Segundo os agricultores há

uma preocupação na rápida utilização das raízes após a colheita, pois estas são muito

perecíveis (se perdem com facilidade). Por isso, não foram encontrados nenhum

agricultor que realizasse a estocagem das raízes.

Assistência técnica e crédito A maior parte dos agricultores consultados recebeu algum tipo de assistência

técnica, seja via Emater (principal entidade de ATER no território) ou por organizações

não-governamentais, porém estas são restritas a poucos municípios e não realizam

trabalhos fora de seu município sede. Segundo os agricultores a principal atividade de

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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ATER está relacionada à elaboração de projetos, principalmente os relacionados ao

PRONAF. Segundo os técnicos da Emater consultados, cerca de 90% dos contratos do

PRONAF B são destinados a atividade da mandioca e a compra novilhas. Apesar do

número expressivo de agricultores que acessaram o PRONAF, a orientação sobre a

utilização do dinheiro não ocorreu.

As reais condições da oferta de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER),

no território, estão bem aquém do que se poderia classificar como recomendável. O

número de técnicos é pequeno e a estrutura para trabalho (veículo, computador, material

de escritório, etc) é quase sempre precário, além do valor destinado ao custeio ser

insuficiente para o desenvolvimento das atividades. Dessa forma, os poucos técnicos se

sobrecarregam, no atendimento de várias comunidades e muitas vezes defrontam com

situações que fogem de sua formação profissional.

No Plano Safra Territorial (Schroeder, 2006), relatou-se que o “mais comum é

os técnicos visitarem uma comunidade e retornarem a ela somente em um período de

três ou quatro meses”, obrigando os agricultores a buscarem alternativas como “a

assistência técnica grupal, organização de grupos de produção, dias de campo e lavouras

experimentais”. Essa dificuldade impede também a disseminação de novas tecnologias

em meio aos agricultores, como a agroecologia, devido à falta de um acompanhamento

adequado.

Segundo recomendações da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do

Desenvolvimento Agrário, o número máximo de famílias a ser atendidas por técnico

deve ser, em média, 100 famílias. Porém, nenhum município chega sequer próximo a

essa média (Tabela 3). Os municípios de Berilo e Francisco Badaró encontram-se em

situação complicada, pois ambos possuem apenas um técnico disponível para mais de

1.000 estabelecimentos rurais. Em pior situação estavam dos agricultores de Padre

Paraíso, que até a realização do Plano Safra Territorial no segundo semestre de 2005,

não tinham a sua disposição nenhum técnico rural. Atualmente o município de Padre

Paraíso conta com um técnico, e no município de Virgem da Lapa há apenas um

técnico, ou seja, o quadro atual não difere do encontrado há três anos. Já no município

de Pedra Azul, que em 2005 apresentava dois técnicos (tabela 3), atualmente conta com

apenas um técnico.

De maneira geral, os agricultores relataram que além da falta de assistência

técnica, falta também tecnologia apropriada às condições edafoclimáticas do território.

As atividades de extensão ligadas ao convívio com o semi-árido se restringem à

construção de caixas de captação da água das chuvas e “barraginhas” (aumentar a

28

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

28

infiltração da água da chuva). Tecnologias de convívio ligadas propriamente ao setor

produtivo são praticamente inexistentes.

Uma possibilidade de assistência técnica que tem surgido com forte potencial no

território são os estudantes das Escolas Família Agrícola (EFA’s). A orientação dos

planos de estudos dos estudantes para o cultivo de mandioca (e de outros setores

produtivos) ou na orientação sobre a utilização do crédito pode ocupar a lacuna

existente no território no que se refere à assistência técnica. Essa medida não substitui a

contratação de mais técnicos para o território, mas ajuda a orientar as políticas que já

existem no território para ações conjuntas que podem ajudar a minimizar as fragilidades

encontradas na cadeia produtiva da mandioca e em outras atividades agropecuárias.

Tabela 3. Relação do quantitativo de técnicos de ATER nos municípios do Território Médio Jequitinhonha – agosto de 2005.

Municípios Nº de Estabelec. rurais

N. Técnicos EMATER

Razão Técnico por Estabec. rural

Araçuaí 2.157

02 engenheiro Agrônomo (EA)

01 Bem-estar social 02 Técnicos de nível

médio

431,4

Berilo 1.327 01 Técnico 1.327 Cachoeira de Pajeú 552 02 Técnicos 276 Comercinho 904 01 EA 904 Coronel Murta 628 01 Técnico 628 Francisco Badaró 1.572 01 Técnico 1572

Itaobim 648

01 Técnico 01 Bem-estar social

324

Itinga 831 01 Técnico 831 Jenipapo de Minas 843 01 Técnico 843 José Gonçalves de Minas

381 01 Técnico 381

Medina 678 01 Técnico 678 Padre Paraíso 775 - 775 Pedra Azul 382 02 Técnicos 191 Ponto dos Volantes 679 02 Técnicos 339,5

Virgem da Lapa 1.329 01 EA 01Técnico

664,5

Total Território 13.666 23 técnicos 594,2 Adaptado de Schroeder (2006).

Custo de Produção Os custos enquanto ferramenta da micro-economia constitui informação

essencial para o agricultor familiar melhor compreender seu processo produtivo e

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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aumentar a governabilidade na atividade produtiva. Assim, a apuração de custos torna-

se um elemento chave da definição da viabilidade e competitividade da produção,

quando se avalia processos de dinamização econômica. Como também em importante

informação para o agricultor decidir se economicamente é valido continuar produzindo.

A produção, adaptação da atividade produtiva da mandioca na região do semi-

árido, o papel da renda gerada aos agricultores, a intensidade da mão de obra, processo

de beneficiamento, o uso interno dos produtos e subprodutos e o valor obtido pela

produção mercados possíveis de comercialização definem a viabilidade de um

determinado cultivo.

Os custos podem ser classificados em: custos de produção, comercialização,

administração e tributários. Os custos aqui referidos serão sempre aos custos de

produção. Como atividade produtiva da mandioca enfrenta problemas estruturais e

institucionais que dificulta a definição de um custo de produção padrão. Entre outras

dificuldades em determinar custos, está na diversidade das formas de cultivo, desde

espaçamento e forma de coveamento até nas diferentes formas de comercialização e

escoamento da produção. A variação do ciclo de produção é de 1,5 até 2,5 ano de

acordo com a intensidade das chuvas e do objetivo do cultivo (consumo in natura ou

beneficiamento).

No território existem pelo menos três níveis tecnológicos adotados. O primeiro

onde não se utiliza máquinas agrícolas, conhecido como “roça de toco”. O segundo que

utiliza máquinas agrícolas para o preparo do solo e transporte; e um intermediário que

utiliza máquinas quando existe a para algumas etapas da produção. Para este estudo foi

realizado o levantamento do custo de produção de apenas da “roça de toco”, por ser o

mais comum, artesanal e característico da região. O fluxograma apresentado abaixo

apresenta as etapas empregadas na roça de toco e os custos para cada etapa são

apresentados na tabela 4.

1) Limpa do terreno (destoca) ou roçado;

2) Capina;

3) Juntada de cisco;

4) Aceiro;

5) Queima de mato;

6) Coveamento (preparo da covas);

7) Preparação de mudas;

8) Plantio;

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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9) Capinas, de uma a três vezes;

10) Colheita; e

11) Transporte da mandioca até a farinheira.

Tabela 4: Custo para Roça de Toco(1) por hectare. Quantidade Custo Etapa Unidade

Local 1 Local 2 Valor

unitário Local 1 Local 2 Roçada d/h 10 12 20 200 240 Aceiro(2) d/h 2 2 20 40 40 Coveamento(3) d/h 2 3 20 40 60 Preparo de Muda

d/h 3 3 20 60 60

Mudas(4) m³ 3 3 0 0 0 Plantio d/h 4 5 20 80 100 Capinas/ Reforço de terra

1° d/h 15 15 20 300 300 2° d/h 15 15 20 300 300 3° d/h 15 15 20 300 300 Colheita d/h 5 7 20 100 140 Transporte d/a 24 24 20 480 480

Sub-Total 1.900 2.020 (1) Há três tipos de roça. De Toco, Semi Mecanizada e Mecanizada. A roça de Toco é a mais comumente utilizada. (2) O uso do aceiro é em razão da pratica da queimada. (3) O coveamento é no modo compasso (4) O transporte é feito em jacá-balaios. Duas cargas equivalem a mais ou menos 03 metros cúbicos. É suficiente para o plantio de 01 ha. (5) Os locais 1 e 2 foram utilizados para retratar as diferenças de uso da mão de obra no território de acordo com a região.

A decisão de que tipo de ação será feita no terreno, depende do tipo de

vegetação da área. Normalmente o cultivo utiliza área com vegetação com espessura

menor que o círculo inferior ao fundo de copo “americano”. Nas demais situações

(quando espessura é maior) há necessidade de autorização do Ibama para fazer a roça.

O aceiro é feito para evitar que o fogo utilizado para queimar as “coivaras”

(feitas com o mato cortado e seco) ultrapasse a área de cultivo. Esta prática além de ser

considerada como parte da limpeza do terreno é comum nos cultivos do Médio

Jequitinhonha. A influência nos custos é indireta, pois a queimada provoca a redução da

matéria orgânica disponível causando conseqüentemente um maior “desgaste do solo”.

O coveamento (ou preparo das cova) é no ‘modo compasso’, o que significa que

não é utilizado um espaçamento padrão, além de indicar que a mandioca é a primeira

cultura a ser plantada. A limpa do terreno (capina) pode ser necessária em até três vezes,

oportunidade em que os agricultores aproveitam para chegar mais terra junto aos “pés

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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de mandioca” (amontoa). Esta etapa pode chegar a 47% dos custos total, se de fato

ocorrer a três capinas. Como o mais normal são duas capinas estes custos é de no

mínimo 31%.

O transporte da roça até a casa de farinha é um custo determinante para o custo

de produção da mandioca. Na verdade, o que está calculado como custo é o dia de

trabalho, mais o animal próprio para transporte que tem seu valor agregado ao dia de

trabalho humano. O que é contratado na verdade é o dia de serviço do animal. Este

custo corresponde a no mínimo 30% do custo de produção.

O valor do custo de produção calculado para o território é em torno de 50%

menor do que aos custos de regiões tipicamente produtoras de mandioca do sul (Santa

Catarina, R$ 3.798,00, 30 t/ha) e sudeste (Assis-SP, R$ 3.616,00, 33 t/ha), onde há o

emprego de insumos industrializados e alta demanda de máquinas agrícolas (IFNP

Agrianual, 2007). Essas diferenças no custo de produção se devem basicamente a

inserção nos custos de produção das despesas administrativas e utilização de insumos

para essas outras regiões.

O território produz menos de um terço do produzido nas regiões citadas

anteriormente. Essas diferenças representam uma elevação custo marginal7 (R$/t) e uma

menor competitividade em relação às demais regiões. Para ilustração, o custo marginal

do território considerando a produtividade média histórica de 9 t/ha e o valor médio do

custo de produção é 217,78. Este valor é praticamente o dobro do valor encontrado para

Assis, SP. Logo para que a atividade apresente competitividade, do ponto de vista

econômico, é recomendável que se criem estratégias para reduzir o custo marginal, que

podem se dar pela redução do custo de produção ou elevação da produtividade.

Enquanto atividade isolada a cultura da mandioca pode apresentar-se como não

competitiva. Contudo deve-se considerar que a atividade, sob os custos aqui levantados,

apresenta uma taxa de retorno do capital de quase 100% quando se considera a venda

para o compra direta, PAA (Tabela 5). Outras questões como o beneficiamento e outras

formas de agregação de valor podem representar em maiores retornos aos agricultores.

7 Custo marginal refere-se uma quantia monetária gasta para se produzir uma determinada quantidade de produto (no caso a quantidade gasta em Reais para se produzir uma tonelada de raízes, entregue na farinheira).

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Tabela 5. Balanço do cultivo da mandioca para o território do Médio Jequitinhonha considerando a venda para o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA – compra direta).

Comprador Valor

unitário (R$/kg)

Produtividade kg/ha

Receita Bruta (R$)

Custo Médio de Produção

(R$)

Receita líquida (R$)

CONAB (in Natura) 0,41 9.000 3.690,00 1.960,00 1.730,00

As estimativas do custo de produção levantadas são frágeis, dada às limitações

encontradas no presente estudo, todavia podem ser como ponto de partida para

avaliações mais rigorosas.

Finalmente as análises devem incluir os aspectos peculiares do cultivo da

mandioca no território do médio Jequitinhonha. A inclusão de outras espécies cultivadas

em consórcio com a mandioca (reduz o custo por produto), a integração com outros

sistemas produtivos, principalmente da criação de animais (aumenta o aproveitamento

da produção), por exemplo. Considerando outras dimensões além da econômica, tem-se

o retorno do ponto de vista da segurança alimentar, valorização da cultura local, entre

outros, demonstram que numa abordagem mais sistêmica, a cultura da mandioca

apresenta-se muito favorável ao desenvolvimento sustentável. Entretanto são necessária

ações para superar os gargalos anteriormente citados.

Subsistema: Beneficiamento da mandioca “Se cabar as farinhas, o povo morre de fome.” (Agricultor Familiar)

Organização das fábricas Grande parte das fábricas existentes no território é comunitária (cerca de 60

unidades de beneficiamento), e existem muitas farinheiras individuais, que em

determinadas situações operam em coletivo. O terreno no qual funcionam as fábricas

comunitárias, em sua maioria, foi doado por algum morador da comunidade para a

construção do prédio. A média de famílias que utilizam as fábricas comunitárias é de

aproximadamente 20, com extremos como no município de Comercinho, em que esse

número atinge 80 famílias. As comunidades estão organizadas em Associações

Comunitárias. Na maior parte dos casos, a existência dessas associações foi de

fundamental importância para a constituição de fábricas comunitárias.

Os recursos do Programa de Combate a Pobreza Rural estão sendo acessados por

algumas associações comunitárias e sendo investidos nas fábricas. Para acessar estes

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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recursos, as associações comunitárias contam principalmente com o auxilio da Emater

na elaboração dos projetos. Em alguns municípios as organizações não-governamentais

existentes auxiliam na elaboração de projetos e na captação de recursos (geralmente do

Fundo Cristão para Crianças). O registro das associações é uma forma de

descentralização das políticas públicas bem como um importante mediador entre o

poder público e os agricultores. O estreitamento das relações entre associações e poder

público pode potencializar as ações existentes no território relacionadas à questão

produtiva, bem como possibilitar o acesso às políticas que ainda não são acessadas.

A organização das fábricas funciona da seguinte maneira: cada família que

processa a mandioca, seja para fazer goma8 ou farinha, em sua maioria, deixa um valor

entre 4% a 15% da produção para a manutenção da fábrica. As famílias não-sócias

geralmente contribuem com valores superiores aos das famílias sócias. A gestão é feita

pelos próprios agricultores que utilizam das fábricas. Entretanto, a gestão está voltada

apenas para a manutenção da fábrica, ou seja, a gestão da propriedade, como os custos

gerados pela produção não são realizados pelos agricultores.

Em relação ao custo da produção, de todas as fábricas investigadas, nenhuma

possuía o controle dos custos do processamento da mandioca. Dado as limitações

técnicas para a realização do plano não foi possível realizar uma reunião com os

agricultores para avaliar estes custos associados ao processamento. Dessa forma, torna-

se difícil entender qual o fluxo financeiro das fábricas em questão.

Produtos derivados do processamento Os derivados da mandioca encontrados no território, que apresentaram algum

tipo de comercialização são a farinha, polvilho, beiju, grolão, raspa da mandioca,

manipueira e biscoitos. A maior parte dos agricultores entrevistados produz farinha e

goma, sendo produzidos aproximadamente 10% de goma em relação do total de farinha

produzido. Muitos fazem à farinha e a goma apenas para o consumo da família, outra

parcela tem nesses produtos a principal fonte de renda. Contudo este é um percentual

difícil de ser estimado, porque nem os agricultores de uma comunidade sabem ao certo

quantas famílias cultivam a mandioca, ou utilizam à farinheira.

A utilização de produtos provenientes do processamento da mandioca pode ser

um importante fator de geração de renda para as famílias. De acordo com o plano de

estudos realizado pelos estudantes da EFA Bontempo (municípios de Medina, Coronel

Murta; Itinga; Almenara; Comercinho; Itaobim; Jequitinhonha Ponto dos Volantes;

8 Ou polvilho, tecnicamente é chamado de fécula.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Felizburgo; Cachoeira do Pajeú, Virgem da Lapa e Berilo), os principais produtos

provenientes da mandioca nesses municípios são a farinha e a goma, correspondendo ao

observado na pesquisa de campo executada pela equipe técnica. Em alguns casos,

subprodutos, como a manipueira, são utilizados como inseticida; assim como os

resíduos da raspagem da mandioca utilizados como adubo ou como ração para os

animais.

A produção de um produto de qualidade pode aumentar o número de

consumidores, uma vez que existe um mercado consumidor expressivo dos derivados da

mandioca no Território do Médio Jequitinhonha. Os estudos da EFA Bontempo também

apontaram que a mandioca traz um retorno financeiro para o agricultor e que seus

derivados são bem aceitos no mercado. Entretanto, grande parte das fábricas encontra-se

em condições que não permitem o desenvolvimento de subprodutos da mandioca, além

da farinha e do polvilho.

Nos municípios analisados não se observa um padrão de qualidade dos produtos

processados nas fábricas e nem um aproveitamento do processamento na elaboração de

subprodutos provenientes da mandioca. As variações durante o processamento

dependem das encomendas dos clientes existentes (como a granulometria, ou a

porcentagem de goma na farinha) ou da facilidade de venda em alguns municípios.

Batalha et al (2005), em estudo realizado sobre a gestão integrada da agricultura

familiar afirma que grande parte dos estudos e pesquisas realizadas sobre novas

tecnologias para a agropecuária e agricultura familiar referem-se a processos de

produção e em segundo plano a geração de novos produtos, sendo negligenciada a

importância que esse fator tem na integração da agricultura familiar a mercados mais

dinâmicos.

Infra-estrutura As condições das fábricas de processamento são diversas. No que se refere ao

prédio, grande parte encontra-se em condições regulares (Figura 7). No entanto, existem

fábricas em condições precárias, o que prejudica a qualidade dos produtos e o

rendimento da produção, uma vez que alguns produtos não podem ser processados na

fábrica. Esse cenário foi encontrado em todos os municípios que fizeram parte da

amostra desse estudo e segundo informações de técnicos e agricultores representam a

realidade dos demais municípios. Dessa forma, a mandioca não gera a quantidade de

produto e nem a quantidade que poderia por falta de equipamentos adequados.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Figura 7. Fachada (a, b, c) e vista interna (c, d, e) de farinheiras típicas do território do Médio Jequitinhonha.

Grande parte das farinheiras possui energia elétrica, mas na maioria das vezes

não é suficiente para atender a demanda dos equipamentos, isso porque a energia

existente é dividida com as casas próximas, de forma que quando a mandioca está sendo

beneficiada ocorrem quedas no fornecimento de energia. Essa questão é importante,

pois existem fábricas com equipamentos novos e parados por falta de energia suficiente

para o seu funcionamento (Figura 8). Deve-se lembrar que as ligações realizadas pelo

“Programa Luz para Todos” não atende as necessidades da maior parte das máquinas de

uma farinheira, havendo a necessidade de ampliação da carga, o que pode acarretar em

necessidade de participação financeira por parte dos interessados.

a b

c d

e f

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Figura 8. Transformador de 5 kva

utilizado no fornecimento de energia de

uma farinheira e das casas ao entorno.

Também existem fábricas com equipamentos subutilizados pelo fato das famílias

não produzirem o suficiente que o equipamento demanda no processamento. Um

exemplo comum esta na aquisição das torradeiras, Figura 9, por demandar uma elevada

quantidade de matéria para o funcionamento, os agricultores optam por utilizar a

tradicional taxa manual (Figura 10). Uma ação relacionada a esse problema não está

ligada diretamente ao aumento da produção, mas ao acompanhamento técnico mais

próximo no momento de aquisição dos equipamentos, para que a aquisição seja feita

levando em consideração a realidade produtiva dos agricultores. Sendo assim, mantendo

a produtividade e otimizando o processamento pode aumentar a qualidade e a

quantidade dos produtos e, conseqüentemente potencializar economicamente a cadeia

produtiva da mandioca. No território existe município, como o de Virgem da Lapa, que

já chegou a ter 45 fábricas constituídas e atualmente possuem três fábricas, segundo

informações do técnico da EMATER do município.

Figura 9. Torradeira elétrica subutilizada,

por ter sido super-dimensionada na

aquisição.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Figura 10. Taxa manual de torração.

Insumos Os insumos para o processamento da mandioca são basicamente a água, a lenha

e uma fonte de energia para os motores (que pode ser a energia elétrica ou o óleo

Diesel). A lenha utilizada para torrar a farinha é cortada nas proximidades das fábricas

(Figura 11) ou nas margens das estradas. Não existe o replantio de árvores no território

pelos produtores de farinha, sendo assim, com o incremento da atividade voltada à

produção comercial a extração de lenha nativa a um longo prazo pode vir a tornar-se um

problema para o exercício dessa atividade produtiva.

Figura 11. Ao fundo, área de

extração de lenha para o

processamento de mandioca.

Água Na maioria dos casos analisados a água utilizada no beneficiamento é

proveniente de poços e nascentes e armazenada em caixas (Figura 12). Em alguns casos

a água é coletada diretamente dos rios. Algumas fábricas estão tendo dificuldade de

acesso á água e os agricultores afirmam que a água não vai existir por muito tempo.

Existem algumas medidas no território que minimizam os problemas causados pela seca

prolongada, tais como a construção de barraginhas que buscam alimentar os lençóis

freáticos e a construção de caixas de captação de água da chuva (Figura 13). Entretanto,

essas medidas são paliativas. Medidas como preservação de nascentes, plantio de

árvores e medidas de convivência com o semi-árido não foram identificados durante a

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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investigação. Essas medidas tornam-se essenciais para a dinamização econômica da

atividade produtiva, tendo em vista que o aumento da produção está diretamente

relacionado com o aumento no uso recursos naturais. Cabe ressaltar que, no que se

refere à ampliação das farinheiras ou na sua reestruturação é necessário que aconteçam

medidas conjuntas de preservação do meio ambiente, e as ações referentes à

preservação de nascentes deve ser uma delas. Não se pode pensar o sistema de

processamento sem levar em consideração os impactos ambientais causados por este.

Caso contrário, as medidas voltadas para o aumento da produtividade podem ter

resultados negativos sobre a sustentabilidade da atividade no longo prazo.

Figura 12. Caixa para o armazenamento

de água para o fornecimento da farinheira

localizada ao fundo.

Figura 13. Barragem construída para

aumentar a infiltração da água da chuva e

fornecer água para os animais.

Mão de obra utilizada no processamento A mão de obra utilizada no processamento é de base familiar. Muitas fábricas

utilizam troca de dias de serviço ou sistema de mutirão no processamento. Mas também

existem fábricas em que são contratados pessoas para ajudarem a arrancar, descascar,

ralar e torrar a farinha. Segundo os agricultores entrevistados, nessa fase é que está

concentrada a maior parte dos custos da produção, apesar de não existir um controle de

quanto é gasto. A presença de ralador e torradeira elétrico reduzem os custos com

contratação temporária. O preço pago às pessoas que ajudam no processamento é de

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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aproximadamente R$ 20,00 a R$ 25,00. Muitas vezes o preço pago pelo saco de farinha

não cobre os custos da mão de obra empregada somente no seu beneficiamento.

Segundo os entrevistados, o que sobra é o suficiente para garantir a alimentação da

família. Alguns afirmam que com um melhoramento nos equipamentos e a inserção de

máquinas elétricas o custo de produção diminuirá, embora não tenha uma estratégia de

qualidade que agregue valor aos produtos e subprodutos derivados da mandioca, assim

como não há mecanismos de comercialização em conjunto.

Um problema levantado por grande parte dos agricultores foi o custo da mão de

obra. Parte desse custo pode ser explicada pelo fenômeno da migração de jovens filhos

de agricultores para o corte de cana nos estado de São Paulo, para a colheita de café no

Espírito Santo, e para o trabalho de vendedor ambulante no litoral da Bahia. Dessa

forma, além de cara, a mão de obra para algumas atividades, como para torrar a farinha,

por exemplo, é difícil de ser encontrada. Alguns agricultores afirmam não encontrar

mão de obra para o trabalho nas fábricas de farinha.

Resíduos A maioria dos agricultores utiliza as cascas da mandioca (raspa da mandioca)

para a alimentação de animais. Em épocas de secas mais prolongadas, alguns chegam a

vender as cascas da mandioca para alimentação do gado. O grolão, parte da farinha que

não é vendida, também é utilizado com ração para animais. A manipueira, resíduo

proveniente da lavagem da mandioca, é jogada em fossas ou é jogada diretamente no

solo, em alguns casos, parte da manipueira é utilizada para combater pragas.

Associativismo e Cooperativismo Nos municípios onde foram realizadas as investigações não foram identificadas

nenhuma cooperativa de produção. Apesar de existirem relações cooperativas, como foi

relatado nesse documento sobre a gestão das farinheiras, não existe uma organização

formal cooperativa que oriente as ações produtivas e normatize a atividade econômica

da cadeia produtiva da mandioca.

Em relação às associações, elas estão presentes em grande parte das

comunidades rurais. No município de Comercinho, por exemplo, existem 35

associações comunitárias, segundo informações da Emater. As associações são de

caráter comunitário, ou seja, não são organizações constituídas com vistas a orientar

uma atividade econômica. Em Virgem da Lapa, por exemplo, a EMATER está fazendo

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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um trabalho de reestruturação das associações como forma de promover o acesso às

políticas públicas aos agricultores, como é o caso da compra direta local, do Ministério

do Desenvolvimento Social. Nesse mesmo município, uma associação conseguiu um

trator por meio do Programa de Combate à Pobreza Rural.

Entretanto, as associações não desenvolvem trabalhos referentes à produção e a

comercialização. A organização e a cooperação se desenvolvem no sentido de acesso as

políticas públicas. Essa orientação é importante, na medida em que potencializa a

atividade produtiva da mandioca no que diz respeito ao acesso a equipamentos, mas

deixam fora do escopo às questões específicas como custos da produção, canais de

comercialização, entre outros problemas encontrados nos elos da cadeia. Dessa forma, a

abrangência da associação fica restrita a estrutura física da fabrica, deixando carentes os

aspectos referentes à organização da produção.

Subsistema: Comercialização “Para comprar assim, eu compro é na vistunta lá no mandiocal. O Cabra fala: eu quero tanto. Eu dou uma olhada assim, tanto eu não dou não, eu dou tanto senão eu não ganho nada aqui. A gente tem uma experiência própria né, chega lá e dá uma olhada, pelos pé da mandioca a gente sabe se tem mandioca ou não tem.” (Agricultor Familiar)

Apesar do trabalho nas farinheiras ser comunitário e baseado na confiança e na

solidariedade, não existe uma estratégia de venda conjunta pelos seus membros. Cada

qual vende sua produção separadamente. Dessa forma, a rede de solidariedade criada

para o processamento não tem continuidade no elo da comercialização. Sendo assim,

essa rede solidária de processamento constitui uma estratégia de garantia da reprodução

social das famílias, tendo em vista que os problemas emergentes devido à falta de mão

de obra ou falta de equipamentos é suprida pela troca de dias de serviço e acesso a

alguns recursos via associações. No entanto, em relação aos problemas de

comercialização, a venda individual muitas vezes apresenta-se como uma única saída à

venda dos produtos, e muitas vezes por um preço mais baixo do que o pago pelo

mercado, caso contrário o agricultor volta com os produtos para a casa. Como foi

relatado por um agricultor, apesar de não dar lucro, “mais vale lamber do que cuspir”,

ou seja, a venda, mesmo que por um preço baixo garante a reprodução social das

famílias.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Canais de comercialização Foi verificado neste estudo que existem dois canais de comercialização dos

produtos da mandioca. O primeiro canal é o canal curto, qual seja à venda direta dos

produtos ao consumidor. O segundo canal é o longo, ou seja, a venda é feita a

intermediários, e destes aos consumidores.

Em relação ao primeiro canal, existem dificuldades no que se refere à infra-

estrutura de distribuição, mas especificamente, ao transporte do produto até o ponto de

comercialização. A condição das estradas em alguns casos se torna um entrave para o

escoamento da produção. Além dessas condições que podem ser resolvidas por

intervenção direta das instituições competentes que compõem o território, os

agricultores não possuem veículos para esse transporte. Foi identificada em alguns

municípios a disponibilidade do caminhão do PRONAT, entretanto, faz-se necessária

uma articulação entre os agricultores para que esse tipo de estrutura seja utilizado por

eles e, no entanto, seria insuficiente para atender a todos os agricultores em um

município.

Nesse canal curto a venda é feita em sua grande maioria nas feiras livres.

Praticamente em todos os municípios os principais canais de comercialização são as

feiras livres (canal curto) e os mercados municipais (canal longo). Em alguns

municípios como Araçuaí, a feira movimenta um fluxo grande de consumidores. Em

outros, como é o caso de Comercinho e Medina, as feiras estão em fase de

reestruturação ou não estão sendo feitos investimentos. Existem iniciativas de melhorar

as condições de infra-estrutura, higiene e conforto nas feiras, como por exemplo, a

aquisição de barraquinhas cobertas.

No que se refere ao canal longo, existem dois tipos de intermediários: os

mercados municipais e os supermercados e as mercearias. Os supermercados compram

uma maior quantidade dos produtos, no entanto, o preço pago por atacado gera um

montante menor de renda aos agricultores do que a venda a varejo na feira ou no

mercado. Entretanto, para alguns agricultores, a venda em quantidade maior é mais

vantajosa do que a venda na feira, pois não são despendidos custos para o transporte. O

outro intermediário existente no território é o mercadante9, que compra a farinha, goma

ou mandioca direto do produtor e vende a varejo. O agricultor, no entanto, fica

responsável pelo transporte da mercadoria do produto até o mercado municipal.

9 São pessoas que tem como atividade o comércio nos mercados municipais.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Venda direta ao consumidor: Feiras e comunidades rurais A venda direta ao consumidor ocorre geralmente em feiras ou nas próprias

comunidades rurais, onde existem alguns moradores que não produzem a farinha e a

goma. Na comercialização pela feira é encontrada a venda da mandioca in natura e da

goma, ambas em menor escala em relação à farinha. Os agricultores chamam este tipo

de comercialização como à venda “prateada”.

Segundo os agricultores, esse canal de comercialização (direto ao consumidor)

apresenta algumas características peculiares. Nele o agricultor necessita dispensar um

dia de serviço à comercialização, o que para muitos agricultores consultados é um dos

principais problemas para sua utilização. Contudo, muitos agricultores conseguem obter

melhores resultados financeiros, pois passam a ter “fregueses” garantidos e o preço mais

elevado pelo “prato10” de farinha, como conseqüência das relações de confiança

firmadas pela freqüência de contatos e pela qualidade11 dos produtos. O preço obtido

normalmente pelo prato de farinha está em torno de R$ 2,00, e o da goma a R$ 4,00.

Porém, esse preço varia de acordo com a oferta da farinha em determinadas épocas do

ano. Em períodos em que a oferta é baixa, seja por falta de chuva ou por alguma doença

nas manivas, o preço é mais alto, em situações inversas pode se menor.

Para alguns agricultores a venda da mandioca in natura é mais vantajosa, pois

conseguem vender o quilo12 a R$ 2,00 (Figura 14). Todavia, neste tipo de

comercialização o agricultor deve priorizar o plantio de variedades mansas e de bom

cozimento, as quais geralmente apresentam menor produtividade. A feira de Araçuaí é

relatada como o melhor espaço para comercialização dos produtos no território, por

receber o maior número de visitante (cerca de 4 mil por dia13), também é onde os

produtores alcançam os melhores preços em todo território. Alguns agricultores

relataram que já participaram de feiras em outros municípios fora do território, e que a

aceitação dos produtos foi grande. Outros produtos como biscoitos e beiju são

encontrados nas feiras, não são produtos diretos da agricultura familiar. Geralmente

esses feirantes compram a goma ou a farinha e os processam (Figura 15).

10 A quantidade de produto contida em um prato é variável com o município, estando entre 2 a 3 litros, o que representa em média 1,3kg. 11 O termo qualidade aqui se refere aos padrões de cor, tamanho dos grãos e quantidade de goma presente na farinha, pois os aspectos de legalização sanitária são desconsiderados. 12 O quilo aqui não se refere a uma quantidade definida de produto, mas a uma porção de mandioca com cinco ou seis raízes. 13 Segundo informações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Araçuaí.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Figura 14. Comercialização de mandioca

in natura na feira livre de Araçuaí. A seta

aponta o “quilo”.

Figura 15. Comercialização do biscoito

de goma na feira livre de Araçuaí.

Venda para intermediários

Mercadantes

A venda para os mercadantes é realizada de duas formas. A primeira é quando os

agricultores vão “exclusivamente” para vender a farinha para esse intermediário. A

segunda é quando os agricultores vão vender diretamente aos consumidores (nas feiras

livres), e ao final do período vendem ao atacado os produtos restantes. Estas formas de

comercialização são praticadas por agricultores que produzem menor quantidade de

goma e de farinha, geralmente quantidades menores que 20 alqueires (1.200 kg). Esses

comerciantes vendem a farinha e a goma na forma prateada (Figura 16), geralmente

pelo mesmo preço praticado na feira livre (R$2,00 para farinha e R$4,00 para a goma).

Todavia foram encontrados mercadantes que estão embalando os produtos para

melhorar a apresentação destes, visto que na maior parte dos municípios as condições

estruturais são precárias.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Figura 16. Exposição típica dos derivados

da mandioca nos mercados municipais.

a) comercialização exclusivamente a

granel;

b) comercialização com produtos

embalados e a granel.

Mercearias e supermercados

Os agricultores que produzem maior quantidade de farinha em relação ao grupo

anteriormente citado têm como principal canal de comercialização a venda no atacado,

mercearias e supermercados. É comum observar que nesses comércios há o

fracionamento do produto e o empacotamento em unidades de um quilograma ou de um

prato. Neste caso o agricultor vende seu produto numa faixa de preço que varia entre R$

0,75 a R$ 1,60 o quilo da farinha. Enquanto nesses espaços o preço praticado varia entre

R$ 1,90 a R$ 3,00 o quilo da farinha. Quando se avalia a comercialização da goma

observa-se o mesmo quadro. Numa avaliação do significado destes valores, verifica-se

40 – 50 % do valor da produção retorna aos agricultores, que são responsáveis pela

produção e pelos maiores riscos (os devidos às intempéries climáticos). Essa

expropriação do capital gerado pela agricultura familiar favorece a manutenção deste

sistema que beneficia somente uma parte dos integrantes da cadeia. Contudo, deve-se

lembrar que a falta de organização dos agricultores para comercialização propicia este

tipo de relação comercial.

Por falta de recursos para cobrir os custos de produção (capital de giro) estes

agricultores necessitam vender seus produtos logo após o beneficiamento, acarretando

em uma oferta maior que a demanda e a queda dos preços. Aliado a este fato, por não

existir uma estratégia de comercialização em conjunto, os agricultores perdem o poder

a

b

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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de negociação junto aos intermediários14 no momento da transação, além de

fortalecerem sistemas de comercialização desfavoráveis às características da agricultura

familiar.

Entre os fatores que poderiam auxiliar os agricultores a melhorar o poder de

negociação junto aos intermediários encontra-se o planejamento da comercialização.

Fatores como o financiamento da produção, a sazonalidade de preços e de produção, a

coordenação da cadeia (as relações entre as quantidades demandadas e ofertadas), a

freqüência de operações de venda e a disponibilidade de informações sobre o produto;

devem ser estudadas caso a caso para definir a melhor estratégia de comercialização

para cada agricultor familiar ou para grupos de agricultores organizados (Azevedo &

Faulin, 2005).

Transporte para a comercialização Em todas as situações, o transporte dos produtos até o local de comercialização é

responsabilidade do agricultor. Os meios de transporte são os mais diversos possíveis.

Os mais observados são o tradicional transporte realizado através de animais de carga

como o burro (Figura 17), e o transporte pelos ônibus que fazem as “linhas” nas

comunidades rurais. Nesse último caso, além do preço da tarifa do passageiro é cobrada

uma taxa adicional por saca de produto correspondente a metade do valor da tarifa do

passageiro. Outra forma de transporte observada em Virgem da Lapa é uma parceria

entre os donos de supermercados/mercearias com os agricultores. Nessa parceria os

agricultores efetuam as suas compras no supermercado que ofereceu o transporte, numa

relação de confiança.

Figura 17. Transporte realizado

por carroças com o auxílio de

animais de carga.

14 Neste documento o termo intermediário refere-se a quaisquer entidades ou pessoas que no processo de comercialização situam-se entre o consumidor e o agricultor familiar.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Mercados alternativos - PAA Em alguns municípios atualmente existe a possibilidade da venda dos produtos

da mandioca ao Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar – PAA.

Segundo os técnicos da Emater, que realizam os projetos, eles preferem acessar as

linhas com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social – MDS, porque os

formulários são mais fáceis de serem preenchidos e a compra é mais flexível do que a

operada os recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA.

Os agricultores que realizaram a venda ao PAA estão satisfeitos, pois tiveram

garantia de preço e gastaram menos mão de obra para a comercialização. Uma outra

vantagem segundo os agricultores é que na venda para o PAA eles não precisam se

preocupar com o transporte, pois as prefeituras recolheram os produtos nas

comunidades. Essa política, no entanto, apresenta algumas dificuldades de acesso

devido à burocracia exigida aos agricultores, a formalização em associações e

cooperativas, por exemplo, o que dificulta em alguns casos o seu acesso.

Contudo, a maioria dos agricultores do território não teve acesso ao PAA, seja

por desconhecimento, por descaso das entidades dos municípios responsáveis em

realizar os contratos, ou por insuficiência de técnicos para realizar os contratos. Outra

questão importante é a dificuldade das informações chegarem aos agricultores, mesmo

nas comunidades onde existem associações estruturadas e em funcionamento. Entre os

fatores que influenciaram, pode-se destacar como principais aqueles associados ao

transporte e de comunicação. Quando se refere ao transporte, distingue-se os meios de

transporte, que são insuficientes, e as vias de acesso que são precárias, na maior parte

dos casos. No item comunicação, o principal meio observado é rádio, que tem um

importante papel de difusor de informações no Vale do Jequitinhonha, principalmente

nas comunidades onde ainda não há o acesso a energia elétrica. Todavia, observa-se que

não existem rádios comunitárias que poderiam facilitar a difusão de informações de

interesse dos agricultores em relação às rádios particulares existentes.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Análise do Ambiente Institucional da Cadeia Produtiva

Como forma de coleta de dados acerca do ambiente institucional no território foi

desenvolvida uma técnica do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) denominada

Diagrama de Venn. Essa técnica procura absorver as seguintes informações:

• Quais as organizações e as instituições envolvidas na cadeia produtiva

da mandioca;

• Qual o papel e a importância de cada uma nesse processo;

• Qual a relação dessas instituições nas atividades da cadeia produtiva;

• Quais instituições que também poderiam estar envolvidas.

O desenvolvimento do Diagrama de Venn – o “jogo das bolas” e as relações institucionais.

A dinâmica do jogo inicia com uma listagem de todas as instituições que estão

envolvidas direta ou indiretamente com a atividade produtiva da mandioca. Essa

listagem foi feita pelos agricultores e estudantes da Escola Família Agrícola (EFA -

Bontempo). Como o número de pessoas que participaram da oficina foi pequeno,

algumas informações contidas nas análises a seguir são da oficina de validação do

estudo junto ao CODETER.

Instituições Listadas:

Consumidores Emater

Sindicatos Prefeitura

Associações Itavale

Conab Comunidades

Agricultores e agricultoras familiares

EFA Governo Estadual

Governo Federal/PRONAF Feira Livre

Igreja Aprisco

Atravessador CUT

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CONSAD CÁRITAS

FETAEMG FETRAF

Consumidores:

O mercado consumidor dos produtos derivados da mandioca no território tem

um enorme potencial. No entanto, os agricultores não estão conseguindo se organizar de

forma a atender esse mercado consumidor. Uma estratégia utilizada que poderia mudar

esse cenário seria a produção de um produto com um padrão de qualidade mais apurado.

Esse fato pode ser constatado nos mercados, na medida em que existem muitos produtos

derivados da mandioca vendidos no território que são provenientes de outras regiões,

em alguns casos até do sul do Brasil.

A constituição de novas estratégias de mercado exige a organização dos

agricultores para atender a demanda pelo produto. Dessa forma, ao se pensar em

inserção de novos produtos no mercado deve-se pensar na forma que será organizado o

cultivo e o processamento da mandioca, para que o elo da cadeia produtiva

“comercialização” não seja comprometido.

Atravessador/intermediário:

O atravessador compra a farinha do produtor por um preço mais barato e vende

ao consumidor por um preço mais caro. Sem o atravessador o produtor pode vender o

seu produto direto ao consumidor. Entretanto, mesmo vendendo o produto para o

atravessador, o agricultor vende toda a produção. Dessa forma, o risco de voltar com

produto da feira de volta para a propriedade não existe. .

Sem o atravessador, o agricultor demora mais a vender a farinha, e muitas vezes

nem consegue vender. Se o agricultor conseguisse se organizar para fazer a venda

conjunta, não precisaria do atravessador, pois este só existe para comprar o produto de

quem não consegue vender direto ao consumidor.

Existem municípios em que a farinha vendida vem da Bahia, e não se encontra

farinha da região. Tem agricultores que conseguem armazenar a farinha até o mês de

junho, em que a oferta do produto é baixa. Dessa forma, eles conseguem um bom preço

pela farinha, variando entre R$ 1,90 e R$ 3,00 o prato (aproximadamente 1,3 kg),

enquanto o preço vendido para o atravessador em alguns municípios está em torno de

R$ 0,75.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Antes de se pensar no atravessador como algo ruim para a comercialização,

deve-se pensar que muitas vezes a farinha só é vendida através dele. Cabe ressaltar que

outros problemas como de transporte, volume produzido, venda coletiva e

armazenamento têm que ser resolvidos antes para que os produtos sejam vendidos

diretos aos consumidores. A venda individual dificulta o armazenamento e a

distribuição dos produtos, uma vez que esses critérios implicam em aumento dos custos.

Emater:

A Emater possui uma relação direta com a atividade produtiva da mandioca,

uma vez que é uma das entidades responsáveis por elaborar os projetos técnicos do

PRONAF para os agricultores. Entretanto, a Emater não consegue disponibilizar os

serviços de assistência técnica aos agricultores familiares de todos os municípios.

Segundo os agricultores, os técnicos possuem muita qualidade, mas não conseguem

fazer um acompanhamento mais próximo das atividades. Todos os municípios do

Território possuem escritório da Emater, no entanto, os técnicos estão sobregarregados

de trabalho além de possuírem uma estrutura precária de trabalho. Essa falta de

assistência técnica pode estar relacionada com a baixa produtividade dos agricultores,

tanto no que se refere às técnicas de manejo da lavoura quanto a um acompanhamento

na fase de processamento da produção. Existe também uma certa resistência dos

agricultores para que a assistência técnica chegue em suas propriedades. Falta

participação mais efetiva da comunidade na construção dos seus projetos e também uma

descrença no poder público.

A aquisição de equipamentos adequados à quantidade produzida é um exemplo

disso. Em algumas fábricas foram adquiridos equipamentos que necessitam de uma

maior quantidade de produção para ser processada. Como a quantidade produzida não é

suficiente, o equipamento fica subutilizado refletindo em maiores custos de produção.

Se o equipamento fosse adquirido com um acompanhamento técnico que levasse em

consideração essas questões, alguns custos poderiam ser minimizados e o

processamento otimizado.

Sindicato:

O sindicato dos trabalhadores rurais (STR) é importante na medida em que está

próximo dos agricultores, seja em relações previdenciárias, seja discutindo políticas

que estão sendo elaboradas no território. Em alguns municípios do território, o STR tem

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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uma proximidade com a Emater e desenvolve atividades conjuntas. Entretanto, a Emater

se afasta em alguns projetos.

O STR cumpre um papel importante para a atividade produtiva da mandioca. A

proximidade com os agricultores e com outras instituições pode contribuir para a

elaboração de projetos e execução de programas mais próximos da realidade da

agricultura familiar na região. O trabalho conjunto com a Emater pode ser importante

principalmente no que se refere aos contratos do PRONAF, uma vez que o número de

técnicos não é suficiente para atender as demandas dos agricultores.

Os sindicatos precisam avaliar a sua forma de atuação, principalmente no que se

refere a formação de novas lideranças, alguns limitam-se aos trabalhos de previdência.

PRONAF/ Governo Federal

Existem atualmente várias políticas sendo implementadas para o agricultor

familiar, a de crédito, por exemplo, e a política de território que pode ser uma forma de

aproximar mais os programas dos agricultores. Apesar de existir um grande número de

contratos, algumas linhas do PRONAF são mais difíceis de acessar, um dos fatores que

pode explicar essa situação é a deficiência na regulamentação fundiária. Além dessas

questões, existe um acompanhamento deficiente e falta fiscalização por parte dos

agentes financiadores para comprovar a aplicação do crédito. Muitos estão endividados

e outros não aplicaram o dinheiro na produção. Para que os empréstimos do PRONAF

sejam investidos na produção e o retorno dessa aplicação se reflita no desenvolvimento

de todo o território é necessário que haja um acompanhamento mais próximo e

sistemático dos investimentos.

FETAEMG, FETRAF E CUT:

Segundo os presentes, as federações exercem um papel importante na articulação

com o governo. Essa articulação com o macroorganismo social se torna importante na

medida em que questões conjunturais que afetam as ações desenvolvidas no território

podem ser identificadas a tempo de se elaborar estratégias que possam minimizar os

impactos negativos no território. Também foi comentado que as atuações destas

entidades se dão no território através dos sindicatos, porém, sem uma interação das

mesmas.

Prefeitura:

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Em alguns municípios a prefeitura desenvolve ações diretamente relacionadas

com a atividade produtiva da mandioca, seja no fornecimento de transportes, na

arrumação das estradas, na elaboração de programas e projetos junto a outras entidades.

Entretanto, em outros a prefeitura está mais distante. A prefeitura é uma instituição de

muita importância para a atividade econômica, mas para que essa importância se

concretize em ações vai depender do comprometimento de quem está na administração.

Segundo as informações coletadas, para que uma política territorial seja

implementada é necessária uma relação entre os diversos setores, ou atores sociais, que

compõem o território. Quando essas ações convergem para um objetivo comum, o

resultado é a melhoria das condições de vida da população, ou o desenvolvimento

territorial. No entanto, onde não ocorre uma boa articulação entre as ações das

prefeituras com as outras instituições que compõem o território, existe uma lacuna na

cadeia produtiva que dificulta o alcance de resultados positivos para os agricultores, e,

consequentemente, compromete a estratégia de desenvolvimento territorial.

Os recursos dos territórios poderiam ser aplicados via organização da sociedade

civil ou via assembléia territorial. De acordo com os agricultores, a obrigatoriedade de

alguns recursos serem acessados somente por prefeituras dificulta a operacionalização

dos repasses ao PRONAT.

Associações:

As associações exercem um papel importante no território na medida em que

fazem uma articulação a nível comunitário. Através dessa articulação muitas

associações conseguiram captar recursos que melhoraram a infra-estrutura da

comunidade e das fábricas. A execução de outros programas que são desenvolvidos no

território também pode ser realizada através das associações, tais como (PAA, PCPR

etc). Dessa forma, o sucesso dos programas pode ser garantido por envolver toda a

comunidade atingida por ela. Em alguns municípios, a existência de associações

comunitárias foi de fundamental importância para a constituição das fábricas de farinha.

CONAB/MDA – Compra Direta Local/MDS:

A compra direta (Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar,

operado pela CONAB) é uma política importante, mas em alguns municípios ela não foi

acessada, ou quando foi não teve continuidade. Os agricultores não sabiam explicar os

motivos da interrupção do programa. Nos municípios que acessaram a compra direta, a

avaliação foi positiva, pelo fato de minimizar os problemas enfrentados com a

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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comercialização. No entanto, ainda é pequeno o número de agricultores atendidos por

essa política no território. O processo de contratação da CONAB é lento e o pagamento

aos agricultores é muito moroso (até 90 dias).

Escola Família Agrícola - EFA:

A EFA está bem próxima dos agricultores e dos sindicatos, mas precisam se

estruturarem melhor, tanto no que se refere a capital humano quanto a infra-estrutura,

tendo em vista que o conhecimento técnico apreendido pelos alunos é de grande

importância para os agricultores familiares. Como comentado anteriormente, a

assistência técnica é muito frágil no território. As Escolas Família Agrícola poderiam

ser mais bem aproveitadas, ou seja, os grupos produtivos poderiam receber algum tipo

de apoio em algum elo da cadeia produtiva da mandioca através dos alunos da EFA.

Essa medida poderia minimizar alguns pontos fracos encontrados ao longo da cadeia.

Governo Estadual:

Segundo os agricultores, as políticas estaduais estão bem próximas das

prefeituras. O Programa de Combate a Pobreza Rural – PCPR é um exemplo, muitos

projetos já foram implantados nas comunidades. Entretanto, os programas não estão

sendo executados de forma conjunta, ou seja, não estão sendo feitos projetos comuns

para mais de uma comunidade. Os projetos são isolados, por comunidades. Isso pode

comprometer o desenvolvimento dos programas a nível territorial, mas é uma

importante medida, principalmente no que se refere à infra-estrutura das fábricas.

Feira:

A feira é o local no qual grande parte dos agricultores vende a farinha, entretanto

existe uma dificuldade de deslocamento da roça até a feira. Em alguns municípios esse

problema é minimizado com o apoio da prefeitura. A venda individual dificulta o

transporte. Mesmo em fábricas onde o processamento é coletivo, a venda é feita

individualmente. Em alguns municípios, a venda coletiva, ou a organização para o

transporte de produtos de vários produtores até a feira pode minimizar esse problemas.

Algumas políticas como a aquisição de caminhões via PRONAT podem ser utilizadas

no transporte desses produtos. Contudo, foi relatado que necessário realizar uma

organização dos agricultores para que o transporte possa ocorrer em conjunto, da

mesma forma que a gestão do caminhão necessita uma organização prévia para que

solucione o problema.

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Igreja:

Em alguns municípios a Igreja católica e evangélica desenvolvem trabalhos

através da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Juventude Rural (PJR) e

associações. A igreja tem um papel histórico de apoio à constituição de muitos

sindicatos. Essa relação pode se melhor aproveitada pelo grupo produtivo de mandioca.

Todas as comunidades possuem uma igreja que podem ser utilizadas como agente

mobilizador na comunidade, podendo ser utilizadas inclusive como espaço para

reuniões.

CMDRS:

O Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS -

possui vínculos com as prefeituras e através deles muitos recursos podem ser voltados

para o interesse dos agricultores. Em outros municípios existe uma dificuldade de

diálogo entre entidades que compõem o Conselho e o poder público. A participação no

conselho também é baixa em alguns municípios do território. Existem conselhos

manipulados pelo gestor municipal, mas a maioria tem uma independência nas decisões.

A apresentação das relações institucionais do território referente a cadeia produtiva da

mandioca pode ser observada na figura 19.

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Figura 19. Visualização das Relações Institucionais ao término da execução do

Diagrama de Venn.

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Metas definidas para a cadeia produtiva da mandioca

Para facilitar a elaboração das metas, estas foram separadas por subsistemas, ou

elos, a saber: Produção, Beneficiamento e Comercialização. A seguir serão apresentados

os grupos de ações para os problemas específicos de cada subsistema da cadeia.

Preferiu-se nesta primeira apresentar junto às metas, seus problemas geradores, para

facilitar a compreensão do processo aos leitores. Posteriormente serão apresentados os

resumos das metas com as respectivas demandas financeiras.

Subsistema Produção Como verificado nas ações propostas para o subsistema da produção, as

principais questões são o acesso a terra, falta de assistência técnica e dificuldade de

acesso ao crédito, tabela 6.

Na elaboração das ações ao item “Acesso a terra”, foi discutido necessidade da

implementação de um sistema de vistoria de terras em todos os municípios do território.

Por que, considerando a opinião dos presentes, há existência de terras que

tradicionalmente eram utilizadas pelos agricultores familiares e que atualmente estão

cedidas a grupos empresariais que tem colaborado com a destruição do ecossistema

local, perda das formas tradicionais de produção além de sua subutilização.

Considerando as questões associadas à assistência técnica tem-se que a relação

entre o número de agricultores e o número de técnicos presentes nas instituições de

ATER/ATES é elevado, em média o valor é superior a 500:1. Portanto, seria desejado

que a primeira ação para solucionar este problema fosse aumentar o número de técnicos

de ATER/ATES. Foi abordado também que não somente é necessário ampliar o número

de técnicos, assim como aumentar os recursos de custeio as suas operações, visto que o

valor atual não é compatível com a demanda. Foi relatado também, que é necessário

criar uma rede de ATER na qual a inclusão das EFAs é de sumária importância, visto

que seus alunos são um importante agente difusor de informações e tecnologias no

território. Outro aspecto que esta rede poderia suprir com maior facilidade as lacunas de

apoio à organização da comercialização.

Considerando, as questões de assistência técnica, formas tradicionais de cultivo

e de convívio com o semi-árido, no item “Falta de acesso às variedades de mandioca”,

foram levantadas duas ações importantes, a primeira seria realizar eventos que

promovessem a troca de experiências bem sucedidas já existentes no território, através

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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de intercâmbios ou dias de campo; a segunda seria realizar parcerias com instituições de

pesquisa a fim de se implementar pesquisas direcionadas as necessidades locais.

Por fim, para atender as demandas de crédito, foi avaliado antes de qualquer

ação de incentivo de acesso ao crédito é necessário um acompanhamento mais próximo

dos agricultores que receberam crédito, a fim de evitar que os recursos não sejam

aplicados nos setores produtivos, assim como reduzir o percentual de inadimplência.

Por outro lado, vê-se que é necessária também uma maior sensibilização das gerências

bancárias para uma facilitação interna dos processos de contratação dos créditos do

PRONAF. Foi levantada também a necessidade da instalação de uma agência do Banco

do Nordeste do Brasil (BNB), visto que não há nenhuma no território.

Quanto ao número de produtores a serem atendidos anualmente, o consenso é

que todas as famílias envolvidas com a cadeia fossem beneficiadas no presente ano,

porém têm-se o conhecimento que não é possível realizar esta meta dada as condições

atuais. Assim uma indicativa levantada é que os agricultores sejam atendidos de acordo

com as iniciativas de fortalecimento e formação das associações em cada município,

tabela 7 (beneficiamento).

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Tabela 6. Principais problemas identificados, grupos de ações a serem realizadas, subespaços do território, período de execução e atores institucionais envolvidos para o elo da produção. Problemas identificados Grupos de Ações Subespaços Período Atores envolvidos

(1) Vistoriar e desapropriar terras Falta de acesso a terra e/ou concentração de terras (2) Legalizar terras

Municípios 2008-2011

STR, ITAVALE, INCRA, FETRAF, FETAEMG,

EMATER, EFA’s, Associações, Agricultores, CUT, AMEJE, ITER-MG

Emater, AMEFA, Itavale, MDA

(1) Aumentar o quadro de técnicos por meio de convênios com empresas e entidades de ATER; Falta de assistência

técnica e tecnologia (2) Ampliar o quadro de funcionários da EMATER

Municípios 2008 – 2009/2010

Emater

Plantio irregular de mandioca Realizar acompanhamento técnico Comunidades 2008-2011 Entidades de ATER

Desvio de recursos pelos agricultores

(1) Orientar e fiscalizar por meio de acompanhamento técnico Comunidades 2008-2011 Entidades de ATER

(1) Realizar Intercâmbio/trocas de experiências 2008-2009 Agricultores, EFA, CMDRS,

STR Falta de acesso às variedades de mandioca (2) Parcerias com instituições como

EMBRAPA – EPAMIG -

Municípios 2008/02-2009 Embrapa, EPAMIG

Transporte da produção (deslocamento)

Fortalecer o transporte público nos municípios Municípios 2009 Prefeituras, Associações,

STR, CMDRS

(1) Reivindicar e cobrar a recuperação de estradas Infra-estrutura Estadual e

Municipal (Recuperação de estradas) (2) Mobilizar os moradores e agricultores

Municípios 2008 - 2009 Associações, STR, CMDRS Poder público municipal e

estadual

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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(1) Fortalecer e divulgar a BIOCOOPVALE (cooperativa que está sendo criada pelo MSTR)

2008 Falta de associativismo e cooperativismo dos agricultores (2) Capacitar os cooperados (assistência

técnica)

Municípios

2008/02 - 2009

STR, ITAVALE, INCRA, FETRAF, FETAEMG,

Emater, EFA, Associações, Agricultores, CUT,AMEJE

(1) Envolver as agências na produção através de reuniões e planejamentos para acessar o PRONAF Burocracia no acesso ao

crédito junto às agencias bancarias

(1) Reunir MDA e Agentes Financeiros, bem como a Superintendência dos Bancos

Território do Médio Jequitinhonha 2008

Gerencia e Superintendência dos Agentes Financeiros, Assembléia Territorial, Comissão Gestora do

Território

Falta de agencia Bancaria do BNB no Território MJ

(1) Instalação de uma agencia do BNB dentro do Território Médio Jequitinhonha

Território Médio Jequitinhonha

Junho 2008 a Junho 2009

Gerência e Superintendência dos Agentes Financeiros, Assembléia Territorial, Comissão Gestora do

Território

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Subsistema beneficiamento

Entre os principais grupos de ações definidos para este subsistema, verifica-se

que ações ligadas à infra-estrutura, como a aquisição de máquinas e a disponibilidade de

energia elétrica foram os mais discutidos e requisitados (tabela 7). Quando se pensa

sobre a aquisição de máquinas, deve-se lembrar que esta relacionada com o aumento da

eficiência da mão de obra disponível, visto que a migração reduziu o número de pessoas

disponíveis a trabalhar. Outra questão é que a migração ocorre entre os adultos mais

jovens, e assim reduz, também, a força disponível para executar as atividades mais

pesadas.

Com a clara compreensão que para acessar as políticas publicas de

fortalecimento da agricultura familiar é necessário que os agricultores estejam

formalmente organizados, a prioridade inicial é fomentar e auxiliar os processos de

organização nas comunidades rurais.

Visto que praticamente não há comercialização de raízes entre os agricultores

em relação ao total produzido, e que praticamente toda a produção é destinada ao

processamento, o transporte da produção das áreas de cultivo até a unidade de

beneficiamento (tenda ou farinheira) é considerado um entrave, pois este é geralmente

realizado com o auxílio de animais de carga. Durante a discussão de definição das

metas, surgiu a possibilidade de que se criasse um mecanismo de favorecimento do

transporte animal, por exemplo, com a aquisição de carroças. Contudo, ao final das

discussões, foi definido que a aquisição de pelo menos um caminhão por município

seria mais adequada, pois este poderia favorecer mais comunidades, pois atuaria

também em outras atividades produtivas.

A questão do acesso à água é muito clara na região, e as opções discutidas a

respeito deste tópico estão entre as mais polêmicas. Foi ressaltado que para cada

unidade de beneficiamento que for criada ou reformada é necessário fazer uma

avaliação das condições locais para determinar a melhor forma de abastecimento. A

opção de furar poços artesianos é uma opção de execução mais simplificada, contudo a

sustentabilidade ambiental poderia não ser garantida. Foi comentado que são

necessárias ações para a conservação das nascentes, assim como da implementação de

outras áreas de preservação ambiental, como as que aconteceram com o apoio do

ITAVALE. Uma opção de financiamento para as ações de preservação e educação

60

Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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ambiental seria com a utilização de recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente

(Ministério do Meio Ambiente).

Quanto à reforma e ampliação das farinheiras existentes e a construção de novas

farinheiras pode-se afirmar que estas ações necessitarão de um orçamento similar, pois

as condições da maior parte das farinheiras existentes não comportam o beneficiamento

em maior escala, pois estas foram criadas em meados da década de 1990 com o objetivo

de garantir a segurança alimentar das famílias. Contudo, o aspecto que levou a

separação em dois grupos foi à necessidade de ações de fortalecimento da organização

nas comunidades onde não existe a farinheira comunitária.

Nas farinheiras reformadas ou criadas recentemente observa-se que não existe a

oferta de energia elétrica, ou quando existe geralmente é insuficiente. O Programa Luz

para Todos não garante o fornecimento de energia para a operação das máquinas

utilizadas no beneficiamento automatizado (como a torradeira elétrica, por exemplo).

Por isso, foi relatada a necessidade de se regularizar esta situação. Há também a

necessidade de se garantir que nestas unidades de beneficiamento exista um motor a

diesel e uma taxa manual, porque se ocorrerem falhas no fornecimento de energia

elétrica durante o processamento a qualidade dos produtos não pode ser comprometida.

Deve-se estar bem definido nas ações de planejamento para cada comunidade

que, após a inauguração das novas unidades de beneficiamento de farinha é necessário

que sejam realizados cursos de capacitação na operação e manutenção dos

equipamentos, assim como para a produção de novos produtos derivados da mandioca.

A produção de resíduos durante o processo de beneficiamento, é dependente do

produto a ser elaborado. Verifica-se que o principal resíduo é a água de mandioca

(manipueira), que é altamente tóxica. Com as devidas orientações técnicas pode-se

aproveitá-la, deste inseticida natural a fertilizante. Outro produto que vem sendo

perdido são as cinzas, que poderiam ser utilizadas como fertilizantes.

Em praticamente todos os problemas relatados foi relatada a necessidade de um

acompanhamento técnico, seja no sentido de se propor inovações tecnológicas ou de

auxiliar no processo de organização, isto se deve novamente a “ausência” de

ATER/ATES no território.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Tabela 7. Principais problemas identificados, grupos de ações a serem realizadas, subespaços do território, período de execução e atores institucionais envolvidos para o elo do beneficiamento. Problemas identificados

Grupos de Ações Subespaços Período Atores envolvidos

(1) Organizar os grupos nas comunidades Comunidade Municípios

2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município

Agricultores, STR, Emater, CMDRS Transporte de mandioca

para a tenda (1) Aquisição de caminhão Municípios A partir de 2008 Agricultores/as, STR,

CMDRS

Falta de água para beneficiamento e higiene adequada

(1) Realizar tratamento de água onde for necessário (2) Perfurar poços artesianos (completos) nas comunidades

Comunidade

2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município

Associação, STR

Falta de energia elétrica,

(1) Realizar a ligação elétrica onde não existe (2) Adequar o fornecimento de energia (3) Garantir a existência de motor a óleo e da taxa manual

Comunidades

2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município

Associações, STR, CMDRS

(1) Reformar os galpões/tendas existentes Farinheiras necessitando de reforma e/ou ampliação

(2) Construir novos galpões ou salas apropriadas para armazenamento dos produtos

Comunidades

2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município

Associações, Prefeitura, CMDRS

Locais onde não existem as farinheiras (falta de local de beneficiamento)

(1) Construção de farinheiras devidamente equipadas (completas)

Comunidades

2008-2011 15% do número de comunidades por ano e município

Associações, Prefeituras, CMDRS

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(1) Orientar as famílias de agricultores – capacitação na produção de demais derivados Municípios

2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município

Emater, ITAVALE, Secretaria de Agricultura

(1) Construir e adquirir estrutura adequada para a produção de goma (polvilho) Comunidades

2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município

Associações, STR, CMDRS

Aproveitamento de sub-produtos e derivados da mandioca

(1) Construção de agroindústrias para a produção de biscoitos e outros derivados da mandioca

Município 2008/2009 - 2011 2 por ano / por município

Associação, STR, CMDRS, Comunidades

(1) Construir conjunto de reservatórios para a água da mandioca

Comunidades

2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município

Emater, ITAVALE, Secretarias Municipais de Agricultura

Destino da água da mandioca e outros resíduos (2) Orientações para outros usos dos

resíduos do processamento (de acordo com a necessidade da comunidade) Comunidades

2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município

Emater, ITAVALE, Secretaria de Agricultura

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Subsistema de comercialização

Observa-se que há preocupação com a execução de atividades de apoio a

organização, visto que os agricultores compreendem que é necessário criar estratégias

coletivas para a comercialização (Tabela 8). Nos problemas referentes à

comercialização a nível municipal, ou seja, na feira livre e nos mercados municipais, os

problemas retomam as condições regulares de beneficiamento, e principalmente as

condições precárias de transporte. Ambas as situações foram relatadas como as

principais questões que favorecem a perda de qualidade dos produtos.

Em relação ao transporte deve-se pensar que existe a necessidade de um

transporte adequado para os agricultores e outro, para as mercadorias. Pois atualmente

as pessoas são transportadas junto com as mercadorias, que podem ser os derivados da

mandioca, outros produtos de origem vegetal e animais destinados à comercialização, e

em muitos casos estes estão expostos às condições climáticas, como chuvas e sol.

Nas feiras livre e nos mercados, por exemplo, a farinha é vendida a granel, ou

seja, o fracionamento é realizado no ato da compra, expondo o produto as condições

ambientais. No momento de definição das ações o grupo não conseguiu chegar a um

consenso sobre o que realizar para minimizar este problema. Para ilustrar as

possibilidades, a seguir são relatadas algumas iniciativas criadas no território que estão

obtendo sucesso. No município de Itaobim uma comunidade optou por realizar a venda

dos produtos embalados, em unidades de um quilograma e com um selo de

identificação, o que resultou em pouco tempo na formação de uma marca, que apresenta

demanda crescente e que paga um sobre preço pelos produtos. Esta opção é a mesma

realizada pelos supermercados do território que atuam como intermediários. Outras

iniciativas que vem sendo tomadas são as reformas dos mercados municipais e da

realização de projetos para compra de kits para os feirantes (como nos municípios de

Virgem da Lapa e Araçuaí). Segundo técnicos e agricultores estas ações, juntamente

com as ações de fomento a organização poderiam ser tomadas para auxiliar na melhoria

das condições de venda dos produtos nas feiras livres. A comercialização de outros

derivados da mandioca (como por exemplo, biscoitos de polvilho e beiju) foi relatada

como uma opção que poderia ser tomada para garantir maior renda para as famílias. No

município de Padre Paraíso existe uma unidade de produção de biscoitos de polvilho,

que fornece seus produtos a praticamente todas as cidades do território. Além desta

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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unidade, existem muitas famílias envolvidas no processo artesanal de produção de

biscoitos e beiju, que podem ser facilmente encontrados nas feiras municipais.

Foi levantada a necessidade de estudar a criação de uma central de

comercialização no território, pois esta poderia atuar como mais um canal de

comercialização. Contudo é necessário que para a criação desta central os agricultores

estejam organizados para a venda de seus produtos, para assegurar que estes possuam

maior governabilidade sobre este processo. Ao contrario do que se verifica para o

processo produtivo/beneficiamento onde os agricultores estão organizados e realizam

operações em conjunto o processo de comercialização é realizado individualmente. Esta

desorganização favorece a perda do poder de negociação dos agricultores resultando em

menores rendimentos financeiros. Por isso, foi verificada que é necessário que sejam

implantadas ações de fomento a organização com o objetivo de comercialização nas

comunidades, iniciando por aquelas em que já existe um processo de produção

organizado. Entre as alternativas pensadas para fortalecer os produtos da região está na

criação de uma identidade regional para a farinha. Para auxiliar neste processo seria

realizado um evento temático a nível territorial para a divulgação dos produtos e

intercâmbio de experiências.

A criação de uma fecularia a nível territorial foi levantada como um possível

mecanismo de regulação de preços, pois reduziria a oferta de farinha no período da

safra. Uma outra vantagem levantada é que de maneira geral a fécula (ou polvilho)

obtém melhores preços no mercado em relação à farinha. Contudo, foi abordado que

para a construção desta fecularia é necessário que os agricultores estejam realmente

envolvidos neste processo. Outra questão que pode ser considerada é que se as fábricas

construídas nas comunidades apresentassem um sistema de produção de goma (polvilho

ou fécula) adequado e eficiente, não seria necessária a construção desta fecularia, e sim

de um entreposto, que poderia receber também outros produtos.

O Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (compra direta),

que conta com recursos dos Ministérios do Desenvolvimento Social e do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDS e MDA), é relatado como um importante canal de

comercialização que necessita ser consolidado. Contudo no último ano muitos contratos

não foram aprovados, e muitos técnicos da Emater (que realizaram estes projetos) não

sabiam precisar os reais motivos, mesmo tendo entrado em contato com os responsáveis

nos respectivos ministérios.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Tabela 8. Principais problemas identificados, grupos de ações a serem realizadas, subespaços do território, período de execução e atores institucionais envolvidos para o elo da comercialização. Problemas identificados

Grupos de Ações Subespaços Período Atores envolvidos

(1) Capacitar os produtores Território Médio Jequitinhonha 2009

(2) Definir um padrão de higiene Farinheira/Mercado 2009

Falta de padrão de qualidade o que aumenta a concorrência com produtos de outras regiões

(3) Definir tipo de produto derivado da mandioca mais aceitável no mercado

Feiras dos municípios 2008

STR, FETAEMG

Deslocamento de agricultores e transporte de farinha

(1) Acionar os municípios para que possam providenciar transporte de qualidade

Municípios 2008 Prefeituras e STR

Não houve consenso e uma indicativa de quais ações deveriam ser tomadas

Infra-estrutura precária, feiras com produtos expostos no chão e manipulação com as mãos.

(1) Estudar a viabilidade de instalar uma central de comercialização

2008-2009 Associações, Cooperativa (BIOCOOPVALE)

Falta de organização entre os agricultores para a venda dos produtos

(1) Fomentar e auxiliar o processo de organização dos agricultores para a comercialização Comunidades 2008

Associações, Cooperativa (BIOCOOPVALE)

Falta de divulgação dos produtos

(1) Definição de marca para os produtos derivados da mandioca (2) Realizar evento regional que promova o elo da cadeia produtiva da mandioca.

Território Médio Jequitinhonha 2009

Prefeituras, ITAVALE, STR, Associações, FETAEMG

Diversificar a produção dos derivados da mandioca

(1) Estudar a viabilidade de instalar uma fecularia no Território

Território Médio Jequitinhonha 2008-2009

Através da cooperativa que está sendo implantada (BIOCOOPVALE)

Impostos pagos pelos produtos e sub-produtos

(1) Solicitar as autoridades competentes para que a Agricultura Familiar tenha isenção na Venda dos produtos

Território e Assembléia Legislativa

2008 CMDRS, Prefeituras, Território MJ, Assembléia Legislativa

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Entraves na venda direta de produtos CONAB – PAA

(1) Identificar os principais entraves (2) Melhorar e ampliar o programa

Território Médio Jequitinhonha 2008

CONAB, MDS, Prefeitura, CIAT

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Metas físicas e financeiras

Antes de se definirem as metas físicas, as ações foram organizadas pelo

subespaço dentro do território, e então apresentadas algumas políticas públicas de

custeio e investimento que podem ser acessadas para a efetivação das atividades

previstas para a dinamização econômica da cadeia produtiva da mandioca (Tabela 9).

Devido a descompassos entre as previsões para início das atividades do planto e

a execução do cronograma elaborado pelo grupo de interesse, as estimativas dos

investimentos requeridos considerarão o ano de 2009 como ano inicial. Assim para

determinar as metas físicas, as propostas de ações definidas pelos agricultores do grupo

produtivo da mandioca foram agrupadas em nove categorias (Tabela 10) e estimadas a

demanda de atividades num intervalo de quatro anos conforme o número de ações

previstas no subsistema de beneficiamento (Tabela 7). As nove categorias são:

Atividades Agrícolas, Demanda de ATER, Capacitações, Intercâmbios, Organização,

Unidades de Beneficiamento, Transporte de produtos, Estudos e Apoio a atividades de

Economia Solidária.

Baseando-se nas metas físicas, foram estimados os investimentos necessários

para executar as metas previstas para a dinamização econômica da cadeia produtiva da

mandioca (Tabela 11). Os custos de implantação das unidades de beneficiamento

levaram em consideração as estimativas previstas nos perfis agroindustriais

disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Estas unidades têm

capacidade de beneficiamento de 3000 kg de raízes por dia, entretanto, deve-se salientar

que este valor deve ser ajustado conforme as características de cada comunidade, para

que não se observem erros de dimensionamento.

A demanda por ATER/ATES foi calculada a partir da média histórica de área

cultivada com mandioca, levando-se em consideração que cada unidade familiar de

produção cultiva uma área média de 0,5 ha. A necessidade de contratação anual

equivale a um quarto da necessidade total da demanda por técnicos, para as condições

acima relatadas. Entretanto, se houver acréscimo no número de unidades familiares na

atividade haverá a necessidade de ampliar o número de técnicos contratados.

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Tabela 9. Recorte Territorial, atividades previstas, políticas públicas de investimento e custeio e entidades envolvidas no planejamento e execução das ações de dinamização econômica do território.

Subespaços Atividades Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES Entidades envolvidas

Cultivo de mandioca (ha) PRONAF Emater/ EFA

Vistoriar, desapropriar propriedades e assentar famílias INCRA, ITER

SRT, ITAVALE, FETRAF, FETAEMG, EFA, Associações (agricultores), CUT, AMEJE

Legalizar a situação dos posseiros

Reforma agrária (INCRA); PNCF

(SRA/MDA e Parceiros Estaduais); Regularização

Fundiária (SRA) INCRA, ITER SRT, ITAVALE, FETRAF,

FETAEMG, EFA, Associações, CUT, AMEJE

Inovação tecnológica na produção Emater / EFA Associações, SRT

EFA Associações, STR, CMDRS, EFA

Intercâmbios / trocas de experiências

UFPs – Unidades Familiares de Produção

Acompanhamento e orientação técnica dos recursos do PRONAF

Sementes (Governo Estadual); PRONAF;

Apoio a Preparo de Solos; Garantia-Safra;

PROAGRO-Mais (vinculado aos Créditos de

Custeio).

Emater / EFA Associações, STR, CMDRS

Auxiliar e fomentar a organização dos grupos produtivos

PCPR, PDAs e Similares; PRONAF / Agroindústria;

PNCF

Emater, STR e consultores

Associações, STR, Emater, CMDRS

Comunidades rurais e áreas coletivas dos assentamentos

Construir novas unidades de beneficiamento de mandioca

PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA,

Governos Municipal/Estadual

Emater, consultores Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras

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Subespaços Atividades Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES Entidades envolvidas

Reformar unidades de beneficiamento de mandioca

PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA,

Governos Municipal/Estadual

Emater, consultores Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras

Disponibilizar água para o beneficiamento da mandioca

PCPR, PDAs e Similares; PRONAF / Agroindústria;

PNCF Emater, Associações, Emater, STR,

CMDRS, Prefeituras

Capacitar grupos na operação das novas unidades produtivas Consultores, Emater Associações, Emater, STR,

CMDRS, Prefeituras

Capacitar grupos na fabricação de novos produtos Consultores, Emater Associações, Emater, STR,

CMDRS, Prefeituras

Capacitar grupos na utilização ou destino correto para os resíduos

INCRA / SEBRAE ATER; PRONAF /

Capacitação; PDHC (Dom Helder); SENAR; Taxas

de Créditos de Financiamentos Consultores, Emater Associações, Emater, STR,

CMDRS, Prefeituras

Ajustar a demanda por energia ou realizar ligações elétricas

Luz para Todos, Governos Municipal/Estadual

Consultores, CEMIG

Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras

Transporte (pessoas e produtos) nos diferentes subsistemas da cadeia

PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA,

Governos Municipal/Estadual

Prefeituras, CMDRS, Associações,

Municípios

Melhorar a infra-estrutura das feiras PRONAF / INFRA; PCPR, PRONAF /

Agroindústria. Emater, SEBRAE Prefeituras, CMDRS,

Associações, STR

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Subespaços Atividades Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES Entidades envolvidas

Fomentar e auxiliar a organização dos agricultores para comercialização

INCRA / SEBRAE ATER; PRONAF /

Capacitação; PDHC (Dom Helder);SENAR; Taxas de

Créditos de Financiamentos

Emater, STR, consultores,

BIOCOOPVALE Associações, STR, Emater

Recuperação das estradas (mobilização e reivindicação)

PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA,

Governos Municipal/Estadual,

outros.

Associações, STR, CMDRS, Poderes públicos

Construir unidade de produção de biscoitos e outros derivados

PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA,

Governos Municipal/Estadual

Consultores, Emater, SEBRAE

Associações, STR, CMDRS, Prefeituras

Ampliar e consolidar o PAA CONAB: MDS e MDA Emater, CONAB,

MDS, CIAT, Prefeituras

Associações, STR, Comissão Gestora

Aumentar o número de técnicos de ATER/ATES

INCRA /PRONAF / Capacitação; PDHC (Dom

Helder); Taxas de Créditos de

Financiamentos.

SRT, ITAVALE, EFA, Emater, MDA

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Subespaços Atividades Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES Entidades envolvidas

Fortalecer e divulgar a BIOCOOPVALE

PCPR, PDAs e Similares; PRONAF / Agroindústria;

PNCF;

SRT, ITAVALE, FETRAF, FETAEMG, EFA, Associações,

Emater, CUT, AMEJE

Capacitar os cooperados da BIOCOOPVALE

INCRA / SEBRAE ATER; PRONAF /

Capacitação; PDHC (Dom Helder);SENAR; Taxas de

Créditos de Financiamentos

SRT, ITAVALE, FETRAF,

FETAEMG, EFA, Associações, Emater, CUT, AMEJE

Aquisição de um caminhão por município

PRONAF / INFRA; Governos

Municipal/Estadual Associações, CMRDS, STR

Sensibilizar e reunir as gerências bancárias a facilitar o acesso ao PRONAF

Assembléia territorial, Comissão Gestora,

Instalação de uma agência do BNB BNB, Governo Federal/Estadual

Assembléia territorial, Comissão Gestora,

Parcerias com entidades de pesquisa (Embrapa e EPAMIG)

CNPq, CAPES, FAPEMIG

Emater Entidades conveniadas e

entidades locais: Emater, STR, Associações

Território

Estudar a viabilidade da construção de uma fecularia no território

PRONAF / INFRA; PRONAF / Agroindústria,

Governos Municipal/Estadual

Emater, BIOCOOPVALE

Associações, CMRDS, STR, Assembléia territorial, Comissão

Gestora,

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Subespaços Atividades Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES Entidades envolvidas

Estudar a viabilidade da construção de uma central de comercialização

PRONAF / INFRA; PRONAF / Agroindústria.

Emater, SEBRAE, consultores

Prefeituras, CMDRS, Associações, STR

Evento de promoção dos produtos da mandioca

Governos Municipal/Estadual

SRT, ITAVALE, FETRAF,

FETAEMG, EFA, Associações, CUT, AMEJE

Tabela 10. Metas físicas estimadas para atender as atividades de dinamização econômica da cadeia produtiva da mandioca num horizonte de investimento de quatro anos

Período Grupo de ações Atividades Subespaços

2008 2009 2010 2011 Total

Atividades agrícolas Cultivo de mandioca (ha) UFPs 4.200 4.200 4.200 4.200 16.800 Demanda ATER Técnicos disponíveis Municípios 9 10 9 10 38

Operação das novas unidades de beneficiamento de mandioca Comunidades 20 20 20 20 80

Fabricação de novos produtos (derivados) Comunidades 20 20 20 20 80 Utilização ou destino correto para os resíduos Comunidades 20 20 20 20 80

Capacitações

Gestão das unidades de beneficiamento Comunidades 20 20 20 20 80 Intercâmbios Intercâmbios / trocas de experiências Municípios 1 1 1 1 4

Auxiliar e fomentar a organização dos grupos produtivos Comunidades 30 30 30 30 120

Fomentar e auxiliar a organização dos agricultores para comercialização Comunidades 30 30 30 30 120

Fortalecimento de atividades cooperativistas Municípios 30 30 30 30 120

Organização

Gestão de associações e cooperativas Municípios 30 30 30 30 120

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Construir ou reforma das unidades de beneficiamento de mandioca Comunidades 20 20 20 20 80

Disponibilizar água para o beneficiamento da mandioca Comunidades 20 20 20 20 80

Ajustar a demanda por energia ou realizar ligações elétricas Comunidades 20 20 20 20 80

Unidades de beneficiamento

Construir unidade de produção de biscoitos e outros derivados

Municípios 2 2 2 2 8

Transporte de produtos

Aquisição de um caminhão por município Municípios 3 3 2 2 10

Estudar a viabilidade da construção de uma fecularia no território Território 1 1

Estudos Estudar a viabilidade da construção de uma central de comercialização

Território 1 1

Fomento a atividades de base solidária Municípios 2 2 3 3 10 Apoio a atividades de economia solidária

Melhorias da infra-estrutura das feiras Municípios 2 2 3 3 10

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Tabela 11. Metas financeiras estimadas para atender as atividades de dinamização econômica da cadeia produtiva da mandioca num horizonte de investimento de quatro anos

Período (valores x 1000) Grupo de ações Atividades Subespaços

2008 2009 2010 2011 Total

Atividades agrícolas Cultivo de mandioca (ha) UFPs 8.232,00 8.232,00 8.232,00 8.232,00 32.928,00

Demanda ATER

Técnicos disponíveis Municípios 648,00 963,00 1.161,00 1.476,00 4.248,00

Operação das novas unidades de beneficiamento de mandioca

Comunidades 140,00 140,00 140,00 140,00 560,00

Fabricação de novos produtos (derivados) Comunidades 140,00 140,00 140,00 140,00 560,00 Utilização ou destino correto para os resíduos

Comunidades 140,00 140,00 140,00 140,00 560,00

Capacitações

Gestão das unidades de beneficiamento Comunidades 140,00 140,00 140,00 140,00 560,00 Intercâmbios Intercâmbios / trocas de experiências Municípios 10,00 10,00 10,00 10,00 40,00

Auxiliar e fomentar a organização dos grupos produtivos Comunidades 120,00 120,00 120,00 120,00 480,00

Fomentar e auxiliar a organização dos agricultores para comercialização

Comunidades 120,00 120,00 120,00 120,00 480,00

Fortalecimento de atividades cooperativistas Municípios 120,00 120,00 120,00 120,00 480,00

Organização

Gestão de associações e cooperativas Municípios 120,00 120,00 120,00 120,00 480,00 Construir ou reforma das unidades de beneficiamento de mandioca

Comunidades 2.800,00 2.800,00 2.800,00 2.800,00 11.200,00

Disponibilizar água para o beneficiamento da mandioca

Comunidades 400,00 400,00 400,00 400,00 1.600,00

Unidades de beneficiamento

Ajustar a demanda por energia ou realizar ligações elétricas

Comunidades 200,00 200,00 200,00 200,00 800,00

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Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha.

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Construir unidade de produção de biscoitos e outros derivados Municípios 100,00 100,00 100,00 100,00 400,00

Transporte de produtos

Aquisição de um caminhão por município Municípios 360,00 360,00 240,00 240,00 1.200,00

Estudar a viabilidade da construção de uma fecularia no território Território 0 25,00 0 0 25,00

Estudos Estudar a viabilidade da construção de uma central de comercialização

Território 0 25,00 0 0 25,00

Fomento a atividades de base solidária Municípios 10,00 10,00 15,00 15,00 50,00 Apoio a atividades de economia solidária

Melhorias da infra-estrutura das feiras Municípios 20,00 20,00 30,00 30,00 100,00

Total 13.820,00 14.185,00 14.228,00 14.543,00 56.776,00

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A cadeia Produtiva da Mandioca no Desenvolvimento do Médio Jequitinhonha

Pensar o desenvolvimento em uma escala territorial significa utilizar a escala

local como uma estratégia de atingir todo o território. Necessita-se de uma combinação

de políticas governamentais (Federal, Estadual e Municipal) com iniciativas de

desenvolvimento que valorizem as potencialidades dos arranjos produtivos locais.

Sendo assim, pensar na cadeia produtiva como eixo estratégico do

desenvolvimento territorial é dar ênfase no fortalecimento das bases produtivas locais.

No caso específico do estudo em questão, a valorização da cadeia produtiva da

mandioca perpassa por algumas medidas que podem ser implantadas para minimizar a

fragilidade da cadeia, buscando uma maior dinamização econômica no território do

Médio Jequitinhonha. Ao definir um eixo estratégico, pressupõe a melhoria das

condições de infra-estrutura, a integração entre os arranjos produtivos locais, e a

integração entre os diversos atores sociais que compõem o território. Entretanto, através

das análises dos dados, percebe-se que é necessária uma articulação dos diversos atores

e uma inter-relação entre os diferentes agentes que se relacionam na cadeia produtiva

para que essa possa se desenvolver (aumentando a produção, distribuindo renda,

preservando o meio ambiente e valorizando a cultura local).

Alguns estudos, como os de Batalha et al. (2005), apresentam como mecanismos

de fortalecimento da agricultura familiar a agregação de valor aos seus produtos. Para

tanto, as principais formas de agregação estão no desenvolvimento e comercialização de

produtos que destaquem características peculiares da agricultura familiar, desde a forma

de produção e todas as pessoas envolvidas no processamento até chegar ao consumidor.

Dessa forma, essas medidas passam pela articulação e coordenação dos agricultores

para superarem a escala local e a formação de redes de cooperação para que não

aconteçam falhas em nenhum elo da cadeia. Ao se comparar o estudo apresentado por

Batalha et al. (2005) e o presente estudo, percebe-se que os desafios apresentados pela

agricultura familiar no território Médio Jequitinhonha são muitos, porém grande parte

destes desafios pode ser solucionada a curto e médio prazos. Antes de se pensar em

formação de redes e articulação entre os atores e agentes envolvidos na cadeia, existem

dificuldades apresentadas pelos agricultores como o acesso a terra para o

desenvolvimento da produção, ou seja, existem elementos levantados durante a coleta

que antecedem a questão produtiva em si, como a questão fundiária.

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No território do Médio Jequitinhonha a discussão sobre as questões produtivas é

recente, visto que este território está fortemente envolvido em questões educacionais.

Deve-se entender que, por exemplo, as iniciativas em educação até o momento

realizadas no território poderão dar suporte para a dinamização econômica do território,

pois parte dos planos de estudo dos alunos consiste na observação e na proposição de

ações para o desenvolvimento das atividades produtivas locais. Assim, as escolas de

ensino profissionalizantes poderão contribuir na formação de redes de ATER, desde que

sejam criados mecanismos adequados. Outro aspecto é que a produção de tecnologias

voltadas para o desenvolvimento e comercialização de novos produtos torna-se um

desafio na medida em que o número de técnicos existentes atualmente no território não

é suficiente para atender a demanda dos agricultores. Somado a essa demanda, sabe-se

que são necessárias continuas intervenções de inovação tecnológica para a manutenção

dos mercados, mesmo que seja a nível local.

A orientação das políticas públicas existentes no território para a atividade

produtiva da mandioca somada às medidas coordenadas para os aspectos gerenciais,

produtivos e ambientais pode trazer benefícios para os agricultores. Resultados

econômicos que ultrapassem a escala local, configurando uma base social sob a qual

pode vir a emergir um processo e desenvolvimento sustentável em todo o território do

Médio Jequitinhonha. Todavia observar e procurar solucionar os problemas estruturais é

de suma importância para este processo. Como exemplo tem-se que a articulação entre

os agricultores de forma a monitorarem os elos da cadeia torna-se um desafio, visto que

no território o transporte e a comunicação são deficitários.

Ao nível comunitário observam-se relações muito interessantes e de sucesso. Por

exemplo, na gestão das fábricas de farinha, observa-se que esta se dá na organização

dos agricultores para utilização dos equipamentos e para o pagamento dos custos de

operação. A organização social das fábricas é riquíssima no que se refere ao capital

social, ou seja, “a capacidade em estabelecer laços de confiança interpessoal e redes de

cooperação com vista à produção de bens coletivos” (D’Araújo, 2003), tendo em vista

que nas fábricas comunitárias várias famílias desenvolvem o processamento realizando

mutirão e trocando dias de serviço. Aliado a essas questões organizacionais que

permeiam a agregação de valor aos produtos, o território apresenta muitas fábricas em

condições de infra-estrutura para garantir o sustento da família, mas que não suportam

uma produtividade padronizada e em escala maiores que possibilite uma integração com

o mercado para além da esfera das localidades predominantemente rurais. Através das

análises institucionais, pode-se inferir que a aquisição de equipamentos desvinculada de

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uma orientação técnica sobre a adequação dos equipamentos a quantidade produtiva de

cada comunidade dificulta ainda mais uma sinergia entre os elos da cadeia.

Em todos os subsistemas pôde ser observado que são necessários investimentos

para ampliar as organizações de “base” no território (como associações e cooperativas).

Até o presente momento foi observado que a formação de associações ou cooperativas

que envolvessem o tema produtivo é mínima. Logo, quando iniciar os processos de

organização destas entidades, o território e as comunidades envolvidas deverão

aprofundar as discussões a respeito das questões produtivas. O subsistema de

comercialização deve ser o que necessitará de maior número de atividades, visto que

nos outros subsistemas foram observadas ações coletivas de produção e de

beneficiamento. Para facilitar essas ações de organização social e de desenvolvimento

tecnológico é necessário que o quadro de técnicos de ATER/ATES no território sejam

revistos, pois a razão entre técnicos e agricultores atualmente é maior que 600:1.

As questões climáticas superam todas as questões anteriores. Aumentar a

produtividade, padronizar os produtos e desenvolver novos produtos provenientes da

mandioca não pode ser feito sem se pensar em um problema que é colocado pelos

agricultores como o principal: a falta de chuva no território. Apesar do cultivo da

mandioca apresentar certa resistência à seca e uma entrada baixa de insumos para ser

produzida seu processamento exige utilização de energia como lenha, e, principalmente,

água. Sendo assim, para que a cadeia produtiva seja potencializada e organizada é

necessário uma política bem definida de convívio com o semi-árido.

A produção da mandioca no Território Médio Jequitinhonha insere-se em

questões de segurança alimentar, pois por ser um alimento rico nutricionalmente pode

contribuir para a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente de

alimento de qualidade. O desenvolvimento dessa cadeia produtiva pode garantir que

esse acesso seja em quantidade suficiente. As ações de convívio com o semi-árido

podem proporcionar práticas promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural

e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável.

Através deste estudo realizado junto à cadeia produtiva da mandioca, pode-se

inferir que em municípios onde existe uma articulação maior na execução de programas

e projetos elaborados por diferentes atores sociais os resultados são mais dinâmicos,

ocorre um maior envolvimento e uma maior apropriação da proposta de

desenvolvimento territorial pelos atores locais. Dessa forma, mesmo existindo conflitos

entre organizações diversas e em realidades distintas dentro do mesmo território, o

estabelecimento de um eixo estratégico de ações voltadas para a atividade econômica da

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mandioca pode fomentar as mudanças necessárias para se alcançar o processo de

dinamização econômica incitado por este instrumento planejado pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial – MDA.

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