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SUCESSÃO RURAL: A EXPERIÊNCIA DA COOPERATIVA DE AGROPECUÁRIA FAMILIAR DE CANUDOS, UAUÁ E CURAÇÁ – COOPERCUC. COMO REFERÊNCIA NA INCLUSÃO E PROTAGONISMO JUVENIL. Programa Regional Juventude Rural Empreendedora Uauá – Bahia – Semiárido brasileiro Novembro de 2015

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SUCESSÃO RURAL: A EXPERIÊNCIA DA COOPERATIVA DE AGROPECUÁRIA FAMILIAR DE CANUDOS, UAUÁ E CURAÇÁ – COOPERCUC. COMO REFERÊNCIA NA

INCLUSÃO E PROTAGONISMO JUVENIL.

Programa Regional Juventude Rural Empreendedora

Uauá – Bahia – Semiárido brasileiroNovembro de 2015

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ÍNDICE

1. Apresentação 3

2. Contexto da Experiência 4

3. Trajetória da Coopercuc 6

4. Juventude rural e cooperativismo: desafios e perspectivas 11

5. Coopercuc: caminhos e “gargalos” para a inclusão e sucessão dos jovens na cooperativa 14

6. Coopercuc: uma experiência exitosa para o cooperativismo e para o trabalho com juventude rural 20

7. Depoimentos: “olhares” e falas dos jovens 22

8. Lições e aprendizagens 24

9. Considerações 25

10. Fontes Bibliográficas 26

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1. APRESENTAÇÃO

Esta sistematização apresenta reflexões, como também se propõe a identificar as oportunidades e desafios, a partir de debates e inclusão do protagonismo das juventudes dentro, e para além, das dinâmicas organizacionais da Coopercuc (Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá). A ideia é contribuir na construção do debate propositivo, quanto à inclusão dos jovens, sucessão e substituição geracional no universo do cooperativismo, com foco na realidade/experiência da Coopercuc.

O exercício de sistematização permite que a Coopercuc reconte e reviva sua trajetória, desafios e êxitos no âmbito da inclusão e protagonismo da juventude rural. Pois é importante que direção e cooperados, apropriarem-se e reflitam sobre as questões pertinentes, e caminhos a serem tomados a fim de facilitar a inclusão e participação dos jovens na Cooperativa, bem como a sucessão e substituição considerando o recorte geracional. Espera-se que esta sistematização possa incentivar e provocar a compreensão profunda e coletiva sobre os aprendizados, desafios e perspectivas porvindouras, quanto o envolvimento e contribuição da juventude no âmbito da Cooperativa.

A produção do conhecimento fundamentalmente acontece no espaço do coletivo, ou seja, toda a construção e reflexão da sistematização se dão no conjunto dos atores locais. E assim foi construída a sistematização, através de oficinas, trabalhos em grupo, visita à cooperativa e entrevistas aos talentos locais, como os próprios jovens rurais e a direção da Cooperativa. Foi uma oportunidade de cada ator/a envolvida/o, olhar e refletir, a partir da própria experiência e reviver seu itinerário, participação, assim como, a contribuição dos jovens ao longo da trajetória da Coopercuc.

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2. CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA

Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá - Coopercuc está localizada no Sertão da Bahia, dentro da região do Semiárido brasileiro. Abrange um grande território sertanejo envolvendo os municípios de Canudos, Uauá e Curaçá - inseridos no chamado Polígono das Secas. A região possui um clima semiárido quente, com uma pluviosidade média de 450 milímetros anual, muito irregular na região e durante todo o ano.

A Cooperativa está sediada na cidade de Uauá, que fica a 416 km da Capital, Salvador. A cidade passou por vários momentos históricos, como a passagem de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e também foi palco da primeira batalha da Guerra de Canudos.

Com uma população de quase 25 mil habitantes, Uauá é um município economicamente sustentado e movido pela economia de subsistência, caracterizado pelo manejo da caprinovinocultura e pela predominância da agricultura familiar. Nacionalmente, é conhecida como “Capital do Bode” 1- o titulo é uma referência a exposição de caprinos e ovinos que acontece anualmente e pela fama de ter a carne de bode mais saborosa da região.

Nas últimas décadas, o município vem contribuindo e fomentando, através do trabalho do IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada) e da Coopercuc, modelos de convivência com o Semiárido, como a implantação de tecnologias adaptas à região, o que já mudou e vem beneficiando a vida de muitas famílias, através do beneficiamento das frutas e outros produtos do Sertão, a exemplo do Umbu.

Outra característica da região são as manifestações populares, marcantes no universo cultural de Uauá. O São João de Uauá é um dos melhores e mais tradicionais da Bahia, com intensa participação popular. Os festejos juninos, em que predomina o verdadeiro forró “pé-de-serra”, preservam as raízes culturais do município. Além da exposição de caprinos e ovinos que acontece todos os anos no município, Festival do Umbu, promovido pela Coopercuc, que já virou uma tradição na região, atraindo pessoas e organizações de várias partes do mundo.1 O bode representa 1/3 do PIB do município de Uauá, cerca de R$ 37 milhões, segundo pesquisa do Bioma Caatinga em 2010.

O Semiárido brasileiro corresponde a 65% do território do Nordeste e tem uma superfície aproximada de 969.589,4 km², que se estende pelos estados da Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Maranhão, Piauí, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e norte de Minas Gerais, abrigando uma população aproximada de 25 milhões de habitantes, cuja maior parte está na área rural.

O rural cumpre um papel estratégico no universo social, econômico, político e cultural, tanto no Nordeste quanto na Bahia. Longe de constituir-se um “problema”, pela imediata associação que costumeiramente se faz entre a dimensão rural e as situações de atraso e/ou de conservadorismo político, este segmento social e produtivo revela importantes oportunidades socioeconômicas de desenvolvimento.

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Localização do Uauá na Bahia e no Brasil

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3. TRAJETÓRIA DA COOPERCUC

A Coopercuc (Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá) foi constituída em junho de 2004 por um grupo de 44 mulheres agricultoras rurais unidas de três municípios do Sertão baiano com o objetivo de organizar toda a produção dos agricultores familiares envolvidos em torno da comercialização. Nasceu das bases dos movimentos sociais, das Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s, mutirões, missões, grupos de catequese, organizações comunitárias, associações, Partido dos Trabalhadores e de lutas sindicais.

A história da Coopercuc começa quando em 1986, um grupo de 20 mulheres já se reunia e de forma artesanal, utilizava o umbu na preparação de alguns produtos. Depois, ainda na mesma década foi fomentada a criação do Grupo Unidos do Sertão, com a participação de 30 comunidades (envolvendo mais de 100 pessoas). Os produtos elaborados pelo grupo eram comercializados em feiras municipais, com sua primeira barraca montada na feira de Uauá. Desta forma, surgia a cada dia a necessidade de melhorar a oferta e a qualidade dos produtos para que pudessem atender as exigências de mercado.

Com a aprovação do Programa de Convivência com o Semiárido - PROCUC2, em outubro de 1999, o trabalho recebeu um grande suporte financeiro do Programa, o que ampliou a discussão e número de pessoas envolvendo mais comunidades no trabalho de beneficiamento e comercialização.

No ano de 2003, conseguiu-se um pequeno projeto com uma entidade chamada CRS (Cáritas/Estados Unidos), instituição da Igreja Católica para construir uma unidade de beneficiamento de frutas a fim de dar suporte à produção das comunidades (Fábrica Central no município de Uauá), e iniciou seu funcionamento em janeiro de 2004.

Em 2005, com ajuda da Fundação Slow Food para a Biodiversidade, foram construídas 13 mini fábricas (pequenas unidades de processamento de frutas) nas comunidades, visando o melhoramento das condições de produção e aumento da produtividade dos grupos vinculados à Coopercuc.

O investimento das estruturas de produção deu maior impulso a organização da Cooperativa, pois além de proporcionar maiores condições de trabalho, melhorou a qualidade dos produtos e ampliou ampliando as oportunidades em termos de mercado. 2 O PROCUC teve como finalidade desenvolver uma ação socioeducativa voltada para agricultores familiares, prioritariamente os grupos de mulheres dos municípios de Canudos, Uauá e Curaçá, discutindo com elas alternativas de geração de renda e aproveitamento das frutas da região. O objetivo era melhorar a alimentação das famílias com base nos princípios da segurança alimentar e nutricionais das pessoas. Esse grupo recebeu um acompanhamento muito intenso dos técnicos/as do IRPAA, que criaram uma dinâmica de encontros e reuniões com grande frequência para discutir e encaminhar os assuntos debatidos durante a formação, bem como articular todo o processo produtivo, no âmbito do aproveitamento das frutas. Foi daí que surgiu a ideia de trabalhar o beneficiamento das frutas, com o objetivo de quebrar a perecividade dos produtos e transformá-los em doces, sucos, geleias. Assim, poderiam armazená-los em suas casas para complementar a alimentação familiar e comercializar o excedente na feira livre. Dessa forma, foram surgindo outros grupos nas comunidades que se interessavam pela proposta. O trabalho foi tomando corpo e ganhando outras dimensões: em pouco tempo já havia mais de 30 comunidades trabalhando no beneficiamento. Todo esse trabalho era feito de forma artesanal e nas cozinhas das famílias. O grupo se reunia em uma das casas de membro do grupo, aquela cozinha que apresentava melhores condições de trabalho e higiene.

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Nos últimos anos, a Coopercuc vem desenvolvendo a autoadministração e gestão cooperativista em torno da organização, beneficiamento e comercialização dos produtos da agricultura familiar, em especial dos produtos oriundos do extrativismo das plantas nativas do bioma caatinga – a exemplo do umbu e do maracujá nativo e no beneficiamento de doces, geleias, polpas, sucos, compotas, caldas para sorvetes, vinagre e outros, com grande aceitação nos mercados nacional e internacional. A Cooperativa realiza seu trabalho respeitando os quatro eixos fundamentais: social, ambiental, cultural e econômico.

A partir de 2006, deu-se início o processo de certificação orgânica, com a estratégia de garantir de forma diferenciada e segura produtos orgânicos para o mercado nacional e internacional. A primeira venda feita pela cooperativa foi para a Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, Programa do Governo Federal que tem como objetivo promover o fortalecimento da agricultura familiar com base na segurança alimentar e no combate a pobreza. Foi a primeira experiência da Coopercuc com vendas institucionais, o que também ajudou a estruturá-la do ponto de vista organizacional, impulsionando a comercialização para o mercado externo.

Impulsionada pelo apoios institucionais e fortalecida em sua organização, a Coopercuc se fortalece junto as comunidades e associações que compõe a cooperativa, organizada em forma de rede, na qual congrega 16 associações rurais com 16 mini-unidades de processamento de frutas. Em parceria com a Coopercuc, essas associações pratica políticas de desenvolvimento local sustentáveis nas comunidades rurais de “fundo de pasto” (modelo de utilização coletiva das terras pelos criadores de caprinos e ovinos), a partir do público prioritário de 300 famílias. Atualmente, são 200 toneladas de frutas processadas com o certificado de orgânico nacional e internacional pela ECOCERT3 -Brasil, comercializadas nos mercados, nacional e internacional.3 ECOCERT - Brasil Certificadora de produtos orgânicos a nível nacional e internacional

O umbuzeiro e sua importância

Lá no meu Sertão Avisto uma riquezaAquele pé de árvoreTransbordando sua belezaÁrvore sagrada do SertãoÉ o umbuzeiro que resiste a seca.

Esta árvore é importante para as pessoas e o trabalhador Ela fornece benefíciosTem seus frutos de saborSabor esse que da vidaMotivando o fabricador.

Em Uauá Bahia a CoopercucE as próximas comunidadesHá várias fábricas de umbu Com trabalho e diversidadeProduzindo doces, compotas e geleiasSendo transportadas a outras cidades.

Essas fábricas não só produzem umbuHá outros frutos importantes A manga o maracujá e a goiaba São também frutas degustantes Para o baiano e o estrangeiro Provar do seu gosto interessante.

O trabalho é organizado Tem suas regras e cooperação Possui métodos higiênicos Seus encontros e reuniões Para assim desenvolver ideiasCom ajuda e colaboração.

Já falei da minha cidadeDessa riqueza que há no Sertão Do seu trabalho e sua importância É o umbuzeiro motivo de uniãoPorque juntos todos podemMostrar a arte da nossa região.

Autora: Gleissy Gonçalves da Silva, jovem da Fazenda Marruá (Uauá/BA) e filha de cooperado da Coopercuc.

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Em 2009, cerca de 50% da produção (o correspondente a 100 toneladas) foi vendida ao Governo Federal, através do PPA (Programa de Aquisição de Alimentos), operacionalizado pela Companhia Nacional do Abastecimento - CONAB; 25% ao mercado internacional (França, Áustria e Itália), por meio do comércio justo e solidário; e 25% ao mercado nacional. Hoje, a Cooperativa tem certificação extrativista, orgânica e Fair Trade. Graças ao trabalho realizado pela Coopercuc, muitas famílias são beneficiadas, gerando trabalho melhorou sua a renda, cerca de 30%

A experiência da Coopercuc tem demonstrado que a economia solidária se pauta por um jeito diferente de produzir, vender, comprar e consumir alimentos saudáveis, sem exploração, sem destruir o meio ambiente e fortalecendo os grupos. Baseia-se, portanto, na organização, cooperação, autogestão, solidariedade, promoção da dignidade e na valorização do trabalho humano.

O trabalho desenvolvido pela Coopercuc é referência regional, nacional e internacional; no entanto, é preciso superar alguns desafios, entre os quais; ampliar os canais de comercialização, fortalecer a gestão da cooperativa e, principalmente, enfrentar questões no da âmbito da inclusão e sucessão, considerando a a juventude rural no universo do cooperativismo, numa perspectiva de avançar, considerando as questões geracionais.

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LINHA DO TEMPO

Anos 2004 – 2007

• Legalização da Coopercuc - participação na Feira Nacional da Agri¬cultura Familiar e Reforma Agrária, em Brasília;

• Fortaleza Slow Food (Umbu); • Primeira participação no Encontro Internacional das Comunidades do Alimento, em Turim,

Itália; • Construção das unidades de processamento nas comunidades de Fundo de Pasto (“mini

fábricas”); • Início do processo de certificação orgânica do umbu e maracujá da Caatinga; • Segunda eleição da Coopercuc (2007); • Construção do laticínio na comunidade Testa Branca - Uauá; • Conquista do prêmio Mulheres COELBA (qualificação da gestão, plane¬jamento estratégico); • Formação das coordenações dos grupos de processamento nas comu¬nidades.

Anos 2007 – 2010

• Acesso ao PAA: formação de estoque - capital de giro; • Parceria com o Fundo Holandês de Direitos Humanos para a América Cen¬tral (ICCO) -

projeto para fortalecimento da produção e da comercialização; • Exportação para a Áustria, com apoio da EZA, de geleia de maracujá da Caatinga, doce de

banana com maracujá da Caatinga e doce de umbu. • Certificação Orgânica da Ecocerte e Comércio Justo (fair trade); • 1° Festival do Umbu (2009); • Criação e lançamento da marca Graveteiro e da identidade visual dos produtos;• Venda para o PNAE de produtos derivados de frutas, leite, farinha e feijão; • Fortalecimento da gestão e da comercialização; • Terceira eleição da Coopercuc (2010); • Conquista do Selo Nacional e do Selo da Bahia da Agricultura Familiar; • Isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS / PAA); • Primeira reforma do estatuto social da Coopercuc.

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Anos 2011 - 2015

• Conquista do prêmio Melhores Práticas em Gestão Local (Caixa Econô¬mica Federal) • Parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA): projeto da Assistência Técnica

Rural (ATER) para fortalecimento da produção; • Contrato com a Rede Pão de Açúcar - Programa Caras do Brasil - venda de geleia de umbu; • Convênio como Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Governo do Estado da Bahia (Programa Semeando Renda): doação de dois caminhões, seis fornos para casas de farinha, uma empacotadora de grãos;

• Compra de terreno para complementar a área onde será construída a nova fábrica central (com recursos próprios);

• Consolidação do convênio com o Governo do Estado da Bahia para a construção da nova fábrica central no município de Uauá, para a produção de geleias, doces, sucos, compotas;

• Compra de um depósito para armazenar a produção; • Compra de dois carros com recursos próprios; • Aquisição de grão a preço subsidiado/Companhia Nacional de Abasteci¬mento (CONAB):

três compras totalizando 1.606 sacas de milho; • Distribuição de 714 sacas de milho e de 186 sacas de feijão entre os cooperados; • Articulação política da COOPERCUC na implementação dos programas PAA, PNAE, Luz Para

Todos (SEINFRA), Água Para Todos (Arcas), Re¬gularização Fundiária (CDA) e Semeando Renda (SEDES);

• Desde sua legalização, em 2004, a COOPERCUC passou de 30 tonela¬das, de frutos nativos da Caatinga, para 140 toneladas beneficiadas no ano de 2012, alcançando um volume de R$ 1,4 milhão comercializados neste ano;

• Participação da Rota de Aprendizagem (2013);• Projeto Tecendo Elos;• Programa de Estágios (2014 e 2015).

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4. JUVENTUDE RURAL E COOPERATIVISMO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Conceituar a juventude é algo amplo e complexo ao mesmo tempo. A juventude também pode ser interpretada como uma fase da vida caracterizada pela transição da infância para a vida adulta, ou ainda com a coincidência do período de transição entre a puberdade e a saída de casa para constituir uma nova unidade familiar (WANDERLEY, 2007). Em se tratando de juventude rural faz-se necessário compreender uma dimensão mais adversa das realidades e perspectivas postas pela a sociedade atual.

Atualmente as/os jovens rurais estão inseridos na atual sociedade, vivenciando todos os seus problemas, inquietudes, e sua relação com as “tecnologias”, sendo a migração e o êxodo rural, desafios que ainda geram tensões também para implementação das políticas públicas e suas organizações representativas. Essas tensões são traduzidas através pelas carências da vida local, pela falta de alternativas profissionais, da insuficiência de terra, da falta de estímulos e apoio para a produção. São questões que que servem de desestímulo para muitos jovens a permanecerem no meio rural como agricultores/as, gerando dificuldades à reprodução social da agricultura familiar e ao desenvolvimento pleno do meio rural (CARNEIRO, 2007).

A sucessão rural das/os jovens é outra questão que merece uma atenção especial. Diz respeito a perpetuação do “patrimônio” (das relações agrárias, sociais, reprodutivas e culturais) entre as gerações, com repasse gradual da gestão da propriedade aos jovens – filhos dos/as agricultores/as, com vistas à continuidade do estabelecimento e ao desenvolvimento da agricultura familiar. Aspectos como capitalização das propriedades rurais, geração de renda satisfatória e condições de trabalho favoráveis podem contribuir para

O termo “juventude rural” – e o uso de correlatos como “jovem rural”, “jovem camponês”, “jovem do campo” – já era utilizado, como apontou Flitner (1968), no século XVIII, como em um estudo de Pestalozzi sobre populações camponesas. Desde o século XX, em trabalhos sobre a “família camponesa”, o termo individualizado “jovem camponês”, ou simplesmente “jovem”, vem sendo acionado com frequência para designar filhos de camponeses que ainda não se emanciparam da autoridade paterna – geralmente solteiros que vivem com os pais.

Um tema associado à “juventude rural” é a “migração” – no sentido do fluxo de populações para centros urbanos –, seja como estratégia familiar de reprodução e manutenção da propriedade familiar, seja como forma de buscar oportunidades de estudos, emprego e renda.

Os jovens estão indo embora! Essa expressão sintetiza uma imagem do jovem do campo no Brasil. A juventude do campo é constantemente associada ao problema da “migração do campo para a cidade”. Contudo, “ficar” ou “sair” do meio rural envolve múltiplas questões em que a categoria jovem é construída e seus significados, disputados. A própria imagem de um jovem desinteressado pelo campo contribui para a invisibilidade da categoria como formadora de identidades sociais e, portanto, de demandas sociais.

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facilitar o processo de sucessão. Além disso, a maior facilidade de acesso à terra, à educação, ao lazer, à autonomia, ao crédito e às políticas públicas e o apoio de instituições de fomento e extensão rural podem também favorecer a sucessão (LEITZKE; SANTOS, 2013).

Para além da sucessão no campo, observa-se que não costuma ser do interesse das organizações, em envolver e mobilizar as juventudes em suas associações e cooperativas rurais. Nesse sentido, é que as cooperativas rurais, em especial as cooperativas voltadas à agricultura familiar, devem ter uma preocupação com o bem estar, devendo trabalhar para a comunidade onde está inserida, com compromisso educativo, social e econômico para a juventude rural. É papel também da cooperativa orientar no sentido de promover ações educativas que ressalte os valores humanos universais, considerando a cultura, as dinâmicas sociais e o fortalecimento da identidade rural.

Esses jovens se apresentam longe do isolamento, dialogam com o mundo globalizado e reafirmam sua identidade como trabalhadores, pequenos produtores familiares lutando por terra e por seus direitos como trabalhadores e cidadãos. Assim, jovem da roça, juventude camponesa, jovem agricultor familiar são categorias aglutinadoras de atuação política. Essa reordenação da categoria vai de encontro à imagem de desinteresse dos jovens pelo meio rural. Apesar dessa “movimentação”, esse “novo ator” é pouco conhecido e ainda muito negligenciado pelas pesquisas sobre o tema juventude (CASTRO, 2008).

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As cooperativas devem ter capacidade de reflexão e construção de conhecimentos, troca de experiências, combate ao isolamento técnico e social e a possibilidade de exploração dos potenciais locais, com melhoria da renda e da qualidade de vida dos jovens (LEITZKE; SANTOS, 2013). Espera-se ainda que as cooperativas, se esforcem para a criação e implantação de soluções para superar os obstáculos inerentes à juventude rural no intuito de amenizar os desafios e diminuir as tensões ainda existentes no campo.

É perceptível a dificuldade das cooperativas em envolver e incluir as/os jovens em suas atividades e dinâmicas, enquanto organizações voltadas para a agricultura familiar. O desafio em trabalhar com as/os jovens se deve também, em função da heterogeneidade e da percepção de mundo das juventudes, enquanto atores sociais como também, da forma como lidam com seus interesses - muitas vezes são dinâmicos, dispersos ou até mesmo desinteressados – em relação aos assuntos/atividades da cooperativa e da realidade loca..

Tais desafios, tensões e realidades estão aí postas para a sociedade, para os jovens rurais e, principalmente, para as cooperativas. Pois entende-se que são as cooperativas que têm também o papel de promover os debates sobre a inclusão e o protagonismo juvenil rural no cooperativismo e de buscar mecanismos de e envolver as/os jovens para dentro das cooperativas, atraindo sua permanência no campo, com perspectivas futuras de geração de renda e profissionalização, enquanto atores-chaves para a sucessão geracional nas cooperativas e no desenvolvimento do meio rural.

“A Coopercuc não é faz de conta. Ela vivencia, de fato, o cooperativismo; é autogestionária. Isso faz com que seja uma referência em todo o Brasil. É a partir dos estágio que se cria um processo de animação no debate da inclusão e sucessão dos jovens. Eu acredito na transformação social; e a juventude pode ter um papel importante contribuindo nessa transformação. Parece que os jovens estão se desligando dos movimentos sociais. É preciso a gente avançar no trabalho de mobilização social. E envolvendo os jovens na Coopercuc dá um sentido de continuidade aos nossos trabalhos. Quero vero o sucesso da Cooperativa tendo a frente da gestão outros jovens, ocupando nossos espaços.”Jussara Dantas – Gerente Comercial da Coopercuc

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5. COOPERCUC: CAMINHOS E “GARGALOS” PARA A INCLUSÃO E SUCESSÃO DOS JOVENS NA COOPERATIVA

A temática e as questões pertinentes à juventude rural sempre estiveram inerentes à trajetória da Coopercuc, pois estavam a frente de sua formação e fundação eram jovens oriundos das comunidades rurais, filhos de agricultores/as. Posteriormente, esses mesmos jovens vieram a ocupar espaços e funções na Cooperativa; jovens provenientes dos movimentos de base e da Pastoral da Juventude Rural da Igreja Católica. Atualmente, essa juventude, hoje adulta, que participou daquele momento da fundação da Coopercuc, está inserida nas diversas áreas da Cooperativa a exemplo da produção, comercialização, beneficiamento e gestão.

A inclusão e a sucessão da juventude dentro das dinâmicas e atividades da Coopercuc sempre foram uma preocupação, pois constantemente presencia-se jovens migrando do campo para a sede do município, Uauá, ou indo embora para os grandes centros urbanos, como Salvador, Petrolina, Juazeiro e São Paulo. Outra questão apontada é que se precisa renovar o quatro de cooperados, pois muitos estão idosos, aposentados ou falecidos. Há um sentimento, desejo de renovação por parte da direção considerando as gerações, como uma maneira de evitar a centralização e a perpetuação na gestão. Também para garantir a continuidade da trajetória de sucesso em prol do desenvolvimento da agricultura familiar e do cooperativismo no Sertão baiano.

Os jovens que estão atuando na Coopercuc ampliam diversas frentes de alternativas e horizontes. Tem-se jovens atuando nos grupos e nas associações em suas comunidades, no sindicato e nas pastorais, formando lideranças rurais e atuantes. São eles filhos de cooperados/as e agricultores/as das comunidades onde a Cooperativa tem atuação.

Jovens durante o primeiro estágio

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No ano de 20134, uma representante da Coopercuc participou de uma Rota Estratégica de Aprendizagem promovida pelo Programa Semear (IICA/FIDA/AECID), em parceria com a Procasur, e como Plano de Inovação, fruto da Rota, construiu o Projeto Tecendo Elos. E em 2014, foi aportado recursos para o Plano de Inovação, primeiro projeto voltado para os jovens rurais com a Coopercuc. Primeira experiência da Cooperativa com um projeto que também focasse a juventude rural.

Entre as atividades propostas pelo Projeto Tecendo Elos uma destas estava voltada especificamente para a juventude rural que foi a formação e o envolvimento dos jovens na Coopercuc através da realização de estágio na Cooperativa; e assim formava a primeira turma de estagiárias/os. Ao todo eram dez jovens agricultoras/es e/ou filhas/os de agricultores/as cooperados que complementaram a sua formação a partir da inserção como estagiários na Coopercuc.

O estágio priorizou a atuação desses jovens no setor de comercialização da cooperativa, no entanto não houve restrições, sendo que esses jovens conheceram e atuaram também no setor produtivo, de educação e administração. O interesse e aptidões desses jovens também foram levados em conta na escolha das áreas de atuação, que foram rotativas, ou seja, os/as estagiários fora envolvidos nos diversos setores da Coopercuc.4 “Promoção da Agroecologia e a Cons-trução Social dos Mercados” foi o tema da segunda edição da Rota Estratégica de Aprendizagem

O Projeto Tecendo Elos tinha três eixos de ação como estratégicos. O primeiro com foco a consolidação do acesso a mercados institucionais por parte da Coopercuc e de outros empreendimentos econômicos solidários do Sertão do São Francisco através de atividades formativas e de gestão do conhecimento que centram forças: na formação das cozinheiras que lidam com os alimentos da agricultura familiar adquiridos através das compras públicas; na elaboração de um livro de receitas voltado às cozinheiras e contextualizado a realidade produtiva da agricultura familiar no Semiárido; em atividades sócio educativas e de disseminação de informações sobre o projeto e suas temáticas nas escolas, voltadas principalmente aos educandos; e na articulação juntos aos gestores públicos e outros agente sociais de relevância nesse campo para contribuir com as ações e fortalecer a proposta do projeto.

O segundo eixo estratégico foi centrado em fortalecer o acesso por parte da agricultura familiar do território aos mercados convencionais. Para tanto, esse eixo tem como principais ações: a criação de um portfólio dos produtos Coopercuc que possuem potencial para serem inseridos em novos mercados; uma visita de intercâmbio a outro empreendimento econômico solidário da agricultura familiar com vistas a conhecer outras estratégias de comercialização e inserção de produtos em mercados convencionais; e a realização de estágios que possuem como foco a formação de jovens para futura atuação em organizações da agricultura familiar e fortalecimento da Coopercuc em diversos setores, mas principalmente no campo da comercialização.

O terceiro eixo estratégico do projeto estava centrado na disseminação dos conhecimentos produzidos no âmbito do projeto, para tanto se utiliza de diversas ferramentas da comunicação voltadas aos diversos públicos para os quais o projeto direciona suas ações. Entre as atividades que compõem esse eixo, o projeto conta com a produção de um vídeo que aborda a temática da comercialização no contexto da agricultura familiar do Semiárido; a produção de cartazes que serão usados para conscientizar e informar às comunidades escolares sobre temas relacionados ao projeto como políticas públicas e segurança alimentar e nutricional (trata-se de uma ferramenta que se complementa as atividades sócio educativas que serão realizadas nas escolas); e a socialização de informações do projeto e outros temas afins através de boletins periódicos que serão divulgados em meio impresso e digital com vistas também em disseminar os conhecimentos gerados durante a execução.

O Projeto foi encerrado em outubro de 2015 e deixou bons frutos para Coopercuc envolvendo mais a juventude através do estágio com jovens filhos de cooperados/as e/ou de agricultores/as.

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Um dos critérios para a escolha das/os estagiárias/os foi a questão de gênero, e a realização de um processo seletivo aberto a toda as juventudes agricultores e ou filhas de agricultores associados à Coopercuc, de 17 a 29 anos que estivessem regularmente matriculados em cursos técnicos ou estudantes do Ensino Médio regular. O estágio durou seis meses, carga horária de seis horas diárias. Cada estagiária/o recebeu uma bolsa mensal no valor de um salário mínimo o serviu como um incentivo para custear as despesas com deslocamento e alimentação.

Neste sentido e na perspectiva do fortalecimento das juventudes do campo, e visando o maior envolvimento das/os jovens nas atividades da Cooperativa, que a Coopercuc se colocou na condição de Organização Escola para a realização do Estágio - Jovens Talentos Inovadores, promovido pela Procasur, no âmbito do Programa Semear, como

Anfitriã, sendo marco estratégico na realização do primeiro Estágio de Jovens Talentos Inovadores, realizado pela a PROCASUR . Para a Coopercuc o estágio foi fundamental, pois promoveu estratégias de inclusão das/os jovens para o desenvolvimento da Cooperativa, também como; a socialização de informações sobre o cooperativismo e novos aprendizados para a convivência solidária e sustentável no Semiárido.

Em meados do mês de setembro de 2014, durante a preparação da Coopercuc como Organização-escola, foi desenvolvida a primeira sistematização crítica da experiência de trabalho com as/os jovens estagiários, filhas/os de cooperadas/os. A partir desse trabalho, foi feito um exercício com as/os jovens e dirigentes da Cooperativa, e desenhado um programa experimental, com objetivos e atividades bem constituídas.

A Coopercuc se tornou uma Organização Escola por causa da sua trajetória, realizações e ganhos, identificados ao longo da sua história como um espaço relevante para desempenhar a função de anfitrião e guia no processo de formação dos jovens rurais protagonistas do desenvolvimento rural. Essa referência para a Coopercuc se organização-escola se deve também a sua larga experiência destacada e/ou exitosa no contexto rural, colocando-se à disposição e organizando seu saber-fazer, resultado da sua trajetória e das experiências dos seus protagonistas construídas e acumuladas ao longo do tempo.

Os Estágios de Jovens Talentos Inovadores são ferramentas que oportunizam novos conhecimentos e contato com outras realidades para jovens (homens e mulheres) do meio rural, sendo uma peça fundamental na formação dos jovens, que passam a conhecer outras realidades e novas práticas. Trata-se de uma oportunidade de estabelecer intercâmbios e estimular o crescimento profissional.

Os Estágios são espaços privilegiados de socialização, do aprender-fazer, convivendo e trabalhando com quem tem o saber-fazer que vem diretamente da experiência, que neste contexto, vem da convivência bem sucedida com o Semiárido.

É por isso que os estágios estimulam a reflexão das/dos jovens em torno da viabilidade de ações inovadoras que fortaleçam aspectos específicos de suas respectivas organizações de origem e, que, tenham sido inspiradas pelas estratégias inovadoras e pelas boas práticas vivenciadas em sua Organização Escola anfitriã.

Os jovens que participam de um estágio são estimulados através do desenvolvimento de uma ideia de inovação a se comprometerem com a disseminação de novos conhecimentos adquiridos na Organização Escola anfitriã.

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Em um primeiro momento a Coopercuc recebeu como organização escola, além de jovens cooperados e filhos de agricultores/as do seu território de atuação, outros jovens de diversas organizações e cooperativas do Semiárido do Nordeste, como dos estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte. Essa edição aconteceu no âmbito da parceria da Procasur com o Programa Semear.

O referido Estágio teve a duração total de um mês e desenvolveu-se em dois momentos. Foram dois momentos de 15 dias cada um, durante os quais o/a estagiário/a tiveram a oportunidade de conviver com a organização, aprendendo com seus líderes e atores protagonistas.

O programa de atividades, que foi desenvolvido, e as temáticas-chave do Estágio foram previamente definidas em conjunto com a colaboração da equipe Procasur. Foi feita a identificação das principais fortalezas, estratégias inovadoras e chaves de sucesso da Coopercuc, para a definição dos eixos centrais do Estágio, que se deu a partir de quatro eixos centrais: cooperativismo, produção e comercialização e gestão. Houve também a construção de um objetivo geral de aprendizagem para as/os jovens estagiários e de objetivos específicos para cada eixo temático, e elaboração das atividades para a primeira etapa do estágio (primeiras duas semanas), incluindo oficinas de indução, análises e conclusão, atividades de convivência cotidiana com a cooperativa, didáticas específicas para conhecimentos-chaves e momentos de reflexão e intercâmbio entre as/os jovens. E ainda foram identificados materiais pedagógicos e relevantes para o desenvolvimento do programa de atividades.Uma vez promovida essa primeira etapa do Estágio, foi realizado o segundo momento intermediário, em que os jovens estagiários voltaram aos seus territórios e organizações para colocar em prática algumas de suas iniciativas de inovação, com base no que foi apreendido. O acompanhamento a distância desse processo foi realizado pela Procasur, através de assessoria técnica para o desenho e a implementação de ideias e ações inovadoras em suas respectivas organizações. Até o final dessa etapa, foram avaliados os aspectos que deveriam ser fortalecidos pelos jovens estagiários. Um dos últimos momentos do Estágio foi quando os jovens estagiários expuseram suas propostas de inovação e apontando algumas fortalezas e desafios para a Coopercuc.

“Historicamente, a Coopercuc tem uma forte ligação com a juventude rural na sua criação. Muitos dos nossos colaboradores, hoje adultos, foram jovens que participaram da fundação da Cooperativa. A Coopercuc tem que ter continuidade, um dia todos nós vamos precisar sair daqui. A Cooperativa não pode se acabar. É preciso que nossos filhos e netos continuem com essa história. O cooperativismo é uma alternativa para os nossos jovens se envolverem e permanecerem no campo. A Coopercuc é uma grande escola para a juventude. Abrimos as portas para receber os jovens estagiários e visitantes, para as pessoas conhecerem a nossa história. Aqui, as pessoas se deparam com o saber-fazer. Isso se torna a gente conhecido. Foi uma decisão nossa ter essa estratégia de receber visitas de estudantes e organizações. Para a gente se torna interessante que se torna um marketing gratuito. As pessoas que nos vistam divulgam mundo a fora nosso trabalho. Se torna uma troca de mão dupla.”

Benedita Varjão – Diretora Financeira, de Educação e Formação.

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Outra iniciativa voltada e envolvendo os jovens rurais na Coopercuc foi promovida através do Programa Regional Juventude Rural Empreendedora, realizado pela Procasur como o apoio do FIDA. A ideia foi, além de estimular a formação de jovens lideranças rurais, gerar aprendizados e ensinamentos que sirvam para promover estratégias relevantes no âmbito também de outras associações e cooperativas no Semiárido brasileiro.

Os jovens selecionados para o estágio têm que ser filhos de cooperados ou ter alguma ligação com a Coopercuc, como liderança ou produtor rural. Os estagiários permanecem seis horas diárias na Cooperativa, de segunda a sexta-feira, acompanhando e contribuindo nas dinâmicas e atividades dos três setores da organização (Formação e Comunicação; Administrativo-financeiro e Comercialização; e Produção).

Cada turma, com duração de três meses, é composta por três jovens que recebem uma contribuição financeira mensal por estarem no estágio. A primeira turma se encerrou no mês de setembro e a segunda será concluída em dezembro de 2015. Os temas principais dos estágios são comercialização/acesso a mercados; promoção e comunicação das atividades e produtos da Cooperativa; e articulação com as atividades produtivas em campo e desenvolvimento de novos produtos.

Na América Latina e no Caribe, cerca de 120 milhões dos habitantes são jovens e um quarto deles vivem em zonas rurais, representando 25% da população agrária. Grande parte desses jovens vive em situação de pobreza, em consequência da contínua existência de dificuldades como a perda de competitividade da agricultura familiar, baixa renda, trabalho não remunerado, condições de trabalho instáveis e acesso limitado a educação. Esse contexto desfavorável obriga muitos jovens rurais projetarem o incremento de seus meios de vida nos centros urbanos, muitas vezes incapazes de lhes oferecer melhores oportunidades de geração de renda.

Neste cenário, a alternativa de trabalho autônomo para a juventude rural assume grande relevância na busca de independência econômica, oportunidades de renda e profissionalização. No entanto, a grande maioria precisa de bens como capital e terra, e não tem experiência no desenvolvimento de projetos produtivos. Apesar da permanente invisibilidade da juventude como um setor social relevante, há evidências suficientes na América Latina e em outros continentes quanto à crescente e significativa participação do jovem em projetos de desenvolvimento, destacando, sobretudo, sua capacidade de inovação.

Nesse sentido, é que desde 2008, a Procasur, com o apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), começou a trabalhar com a juventude rural na América Latina buscando identificar, conhecer, divulgar e potencializar as experiências bem sucedidas de organizações da juventude rural da região. A partir das lições aprendidas e da confirmação da importância estratégica dessa questão para a sociedade agrária, a PROCASUR iniciou a implementação do Programa Regional Juventude Rural Empreendedora, projeto co-financiado pelo FIDA ALC (2012-2015), com o objetivo de contribuir diretamente para o progresso do conhecimento da situação de jovens rurais e seus processos, estratégias de vida e subsistência, promovendo assim o desenvolvimento de inovações eficazes para este significativo segmento da população rural pobre.

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Semestralmente, a Coopercuc também recebe jovens estagiários/as de universidades e escolas técnicas. São estágios curriculares em diversas áreas, como agroecologia, agropecuária, agronegócio, segurança do trabalho, geográfica, nutrição e turismo.

Acredita-se que esse estágio contribui com a renovação do quadro social e dirigente da cooperativa, com a redução da migração da juventude e com o maior engajamento da mesma nas causas e lutas da agricultura familiar do Semiárido.

E assim até hoje, a Coopercuc vem realizando meios e estratégias de incluir e envolver os/as jovens nas suas dinâmicas e atividades. Essa juventude envolvida, tronando-se protagonista, na Coopercuc é uma forma também de dar mais oportunidades e assim contribuir na sucessão rural, na renovação da Cooperativa, na geração de renda e na profissionalização.

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6. COOPERCUC: UMA EXPERIÊNCIA EXITOSA PARA O COOPERATIVISMO E PARA O TRABALHO COM JUVENTUDE RURAL

Quase 12 anos de existência, a Coopercuc se afirma e se consolida a cada ano como uma organização de referência para outras instituições do Semiárido, para as políticas públicas e, principalmente, para a juventude rural. Sua trajetória, sucesso e dinamismo na gestão fazem com que a Cooperativa, diariamente, receba visitas e intercâmbios de outras organizações, escolas e universidades - geralmente formada por grupos de jovens estudantes, para conhecer a sede e o trabalho em campo.

Esse êxito da Coopercuc se deve também por ela vive e pratica os princípios e valores do cooperativismo. De forma autônoma, descentralizada e transparente, a Coopercuc tem contribuído para o desenvolvimento social e econômico, cultural e social dos cooperados, diferentemente do cooperativismo tradicional que tem finalidades puramente econômicas.

A Coopercuc se consolida no âmbito regional como uma organização articulada com outras organizações, instituições, apoiadores e, principalmente, com os seus cooperados/as desenvolvendo ações importantes no âmbito da agricultura familiar, geração de renda, inclusão cooperativa – especificamente voltada para a juventude e a mulher, e na perspectiva da convivência com o Semiárido. Assim a Coopercuc se constituí fora dos padrões do cooperativismo tradicional que visa o lucro apenas, e a centralização da gestão e a perpetuação do poder pelos dirigentes.

Inclusão da juventude através dos estágios

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Uma questão que tona-se a Coopercuc referência para muitos visitantes e jovens estudantes é setorização bem estruturado nas dinâmicas de atividades da Cooperativa. Há na Coopercuc os setores: Administrativo, Comercial, Produção, Educação e Formação, e Comunicação. Todas essas áreas há colaboradores que entraram ainda jovens como filhos de agricultores/as ou cooperados/as - que hoje já são adultos; e/ou jovens atuando nessas diversas áreas, seja filhos/as de cooperados ou estagiários/as.

Outro ponto chave do sucesso da Coopercuc é a estrutura e as dinâmicas do setor de comercialização. Uma área que houve muitos desafios, mas também amadurecimento e conquistas do ponto de vista de mercado, organização, logística e marketing. Além da diversidade de produtos e do complexo mercado governamental, o setor comercial tem que dá conta do mercado privado. Aos poucos, a Cooperativa foi conquistando espaço formado uma rede de comercialização no país e no exterior com diversas frentes de comercialização, desde o “mercadinho” da cidade, passando foi restaurantes refinados até feiras internacionais.

Toda essa “engrenagem” faz com que a Coopercuc seja referência para os jovens lá fora. As visitas de outras organizações, escolas e universidades geram também aprendizados, pois que chega também tem ideias inovadoras, no entanto o/a visitante também contribui para esse reconhecimento e consolidação da Coopercuc disseminando suas práticas e divulgando sua história, seu trabalho e seus produtos.

“A preocupação com a juventude rural é algo constante para a gente da Coopercuc. Somos desafiados pela falta de recursos específicos que trabalhem com os jovens rurais e pela realidade que está posta aí no meio rural, muito diversa e cheia de obstáculos para a juventude. Não é fácil dizer para o/a jovem permanecer no campo diante do cenário de estiagem e seca. Não é incluir o jovem por incluir na cooperativismo, no universo da agricultura familiar, mas tem garantir condições de oportunidades deles permanecerem no campo. Precisamos intensificar o debate e avançar nas questões sobre a juventude rural. Acreditar e apostar nos jovens rurais não é só uma obrigação das cooperativas, mas da sociedade; o campo está ficando velho”.

Adilson Santos – Presidente da Coopercuc.

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7. DEPOIMENTOS: “OLHARES” E FALAS DOS JOVENS

“O Estágio me trouxe grandes conhecimentos. A gente não fica só no escritório, mas vivenciamos todas as etapas, desde a produção até o processo de embalagem, além de também acompanhar as famílias em suas comunidades e como ela se organiza. Espero que minha passagem na Coopercuc possa dar frutos e ainda contribuir com a minha comunidade.”

Enock Gonçalves de Almeida, jovem cooperado.

“Para mim a experiência que estou tendo na Coopercuc vai contribuir com a minha formação profissional e pessoa. Profissional porque é o aprendizado na cooperativa e as relações com a agricultura familiar e também com mercado de trabalho. Na questão pessoal, vou adquirir conhecimentos e levar incentivo / aprendizado para quem não conhece.”

Gleissy Gonçalves da Silva, filha de cooperados e estagiária na Coopercuc.

“Sempre tive vontade de conhecer mais de perto a Coopercuc. Espero que minha passagem por aqui possa adquirir muitos conhecimentos e aprendizagens sobre a Cooperativa e todas as suas áreas de atuação da Cooperativa. Espero que possa levar esses conhecimentos aprendidos durante a Coopercuc pra minha família e a minha comunidade.”

Samara dos Santos, filha de cooperados e participou do estágio da Coopercuc.

“O Estágio veio me proporcionar aprendizagem sobre a Coopercuc e todas as áreas da organização. Tudo que eu aprender aqui na Cooperativa pretendo levar para minha família e comunidade. Aqui, a gente aprende e vivencia na prática”.

Suzana Santos, filha de cooperados e estagiária na Coopercuc.

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“Já estava com a viagem programada para ir embora, pois não conseguia trabalho em Uauá. Aí recebi o convite para participar do Estágio. Quando cheguei na Coopercuc para ser estagiária eu era muito tímida, principalmente para ligar com gente. Hoje, vendo os produtos e recebo os/as visitantes quando vêm na Cooperativa. Aqui, as pessoas são muito solidárias, de fato vivem o cooperativismo. Abriu minha “cabeça”, tenho outros planos para o meu futuro. Quero estudar e poder contribui mais com min há comunidade.”

Magna Barbosa, jovem rural que participou do estágio na Coopercuc.

“Fui convidado por uma cooperado para participar do estágio. Achou que eu tinha perfil. Sou filho de familiar de agricultora. Espero adquirir mais conhecimento e trabalhar na minha área que é nutrição de animais com menor custo. Além de vivenciar na prática o cooperativismo e forma de atuação da Coopercuc, espero também tirar muito proveito das ações em campo da Cooperativa, como por exemplo com o beneficiamento e fundo de pasto.”

Wérberson Vieira, filho de agricultor/a e estagiário na Coopercuc.

“O Estágio foi de grande importância, na verdade, uma experiência inesquecível a partir do momento que um jovem que cursou um ensino técnico sem oportunidades de trabalho nem estágios curriculares na nossa região é bastante complicado. Foi uma a oportunidade de sair da teoria e ir para pratica; conhecer todos os setores e departamentos da Coopercuc. Isso é muito bom. É uma nova forma de combater o êxodo rural do jovem no campo, um exemplo bem claro sou eu mesmo. Quando terminei o curso técnico sinceramente esperei um ano alguma oportunidade, mas não surgiu e a única alternativa era sair do campo e ir em busca oportunidades na cidade. Foi quando surgiu uma luz, como uma vagalume nas noites escura de nossa Caatinga: o estagio na Coopercuc , com o projeto Tecendo Elos. Um grande momento de mudança; foi a partir daí que até hoje minha vida tem mudado cada vez melhor com novas experiências, novas informações e muito conhecimento. “

Emanuel Messias Almeida, jovem rural que participou de um estágio na Coopercuc.

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8. LIÇÕES E APRENDIZAGENS

Levando em consideração todos os aspectos já mencionados e os êxitos como uma experiência de destaque no cooperativismo para o Semiárido nos seus diversos âmbitos como na comercialização, gestão, mercados, produção e beneficiamento, a Coopercuc tem priorizado e fomentado o debate sobre a inclusão e a questão geracional dos jovens rurais na Cooperativa. A questão chave da priorização do debate e a proposição soluções para inclusão da juventude se deve também da própria formação histórica da Coopercuc, até então quem estava a frente da fundação eram jovens filhos de agricultores/as ou de cooperados/as, frutos de um trabalho de base da Igreja Católica.

Abrir “suas portas” para projetos, visitas, intercâmbios, estágios e até para outras organizações têm promovido grandes ganhos para a própria Coopercuc e para a juventude rural. Um desses ganhos e conquistas para a Coopercuc foi a realização dos estágios envolvendo os jovens rurais, além de ser uma estratégia de inclusão e promoção do protagonismo, surgem como espaços de formação (saber-fazer) e experiência profissional, e como alternativa de geração de renda e incentivo à permanência no campo.

A partir dos estágios, também, criou-se um processo de animação no debate da inclusão e da sucessão da juventude rural. Há uma preocupação para a juventude seguir com o trabalho e a trajetória da Coopercuc.

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9. CONSIDERAÇÕES

No Semiárido, há mais oportunidades e riquezas do que se imagina. O campo tem futuro, e o protagonismo juvenil é mais que uma aposta. É uma solução, como é uma solução a cooperação e a articulação das organizações da agricultura familiar em redes. A Coopercuc é prova disso, dessa integração famílias/cooperados/as e cooperativas e inclusão/sucessão dos jovens rurais no cooperativismo.

O fortalecimento da agricultura familiar, bem como a expansão das atividades não agrícolas, tem grande importância na redução do êxodo rural, pelo potencial de criar condições e oportunidades de trabalho para os jovens. Por isso, percebe-se a se a necessidade de desenvolver uma visão mais empreendedora por parte do jovem rural, como forma de garantir sua permanência no campo com dignidade e qualidade de vida.

O cooperativismo representa um estratégia/alternativa de fortalecimento da agricultura familiar no Semiárido: a busca de novos conhecimentos, a disseminação de novas tecnologias sociais apropriadas e os investimentos realizados pelas cooperativas representam oportunidades de vida digna no campo e contribuem para diminuir o êxodo rural e, ao mesmo tempo, os produtos das cooperativas e da agricultura familiar divulgam e valorizam o sertão, sua riqueza de saberes e sabores, sua cultura e sua rica biodiversidade.

Considerando, por um lado, a necessidade de refletir sobre a inclusão dos jovens como futuros atores sociais do meio rural e sobre a importância de capacitá-los para ocupar tal posição e responsabilidade. Por outro lado, que não é suficiente a preocupação com a continuidade do processo, mas é preciso construir espaços efetivos de inclusão dos jovens nas cooperativas, na perspectiva da transversalidade do enfoque de juventude, da sucessão/renovação das gerações e da sustentabilidade das estratégias de desenvolvimento. Nesse sentido é que Procasur promove esse espaço de intercâmbio de experiências, reflexão e discussão com as cooperativas e organizações e esperamos que a presente sistematização possa ser um instrumento fomentar reflexões e construir proposições no âmbito da inclusão, do protagonismo e sucessão da juventude rural no universo do cooperativismo.

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10. FONTES DE PESQUISAS BIBLIOGRÁFICAS

• ABRAMOVAY, R. et al. Juventude e agricultura familiar: desafios dos novos padrões sucessórios. Brasília: Unesco, 1998.

• CARNEIRO, M. J.; CASTRO, E. G. Juventude rural em perspectiva. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

• CASTRO. E. G. Juventude do Campo. Dicionário da Educação do Campo. / Organizado por Roseli Salete Caldart, Isabel Brasil Pereira, Paulo Alentejano e Gaudêncio Frigotto. – Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012, p. 439.

• LEITZKE, V. W. ; SANTOS, J. Z. V. Juventude Rural e Inclusão do Jovem na Gestão de Cooperativas da Economia Solidária, no Nordeste do RS. In: Décio Cotrin. (Org.). Coleção Desenvolvimento Rural, v. 2. Ed. Porto Alegre, RS: Ebook, 2013, v. 2, p. 319-330.

• WANDERLEY, M. N. B. Jovens rurais de pequenos municípios de Pernambuco: que sonhos para o futuro. In: CARNEIRO, M. J.; CASTRO, E. G. Juventude rural em perspectiva. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.

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América Latina y el Caribe

Heriberto Covarrubias 21 Of. 705 Ñuñoa, casilla 599.

Santiago, Chile.Tel: +56 2 23416367

http://americalatina.procasur.org

África

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Asia y Pacífico

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50000 Tailandia.Tel: +66 53272362

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