infraestrutura e projeto urbano

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  • 8/12/2019 Infraestrutura e projeto urbano

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULOFACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

    CURSO DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMOCURSO DE DOUTORADOREA DE CONCENTRAO: PROJETO, ESPAO E CULTURAORIENTADOR PROFA. DRA. REGINA MARIA PROSPERI MEYER

    TESE DE DOUTORAMENTOINFRA-ESTRUTURA E PROJETO URBANO

    MILTON LIEBENTRITT DE ALMEIDA BRAGA2006

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULOFACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

    CURSO DE PS-GRADUAO EM ARQUITETURA E URBANISMOCURSO DE DOUTORADOREA DE CONCENTRAO: PROJETO, ESPAO E CULTURAORIENTADOR PROFA. DRA. REGINA MARIA PROSPERI MEYER

    TESE DE DOUTORAMENTOINFRA-ESTRUTURA E PROJETO URBANO

    MILTON LIEBENTRITT DE ALMEIDA BRAGA2006

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    AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, PORQUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,DESDE QUE CITADA A FONTE.

    [email protected]

    Braga, Milton Liebentritt de AlmeidaB813i Infra-estrutura e projeto urbano / Milton Liebentritt de

    Almeida. - So Paulo, 2006. 202 p.: il.

    Tese (Doutorado - rea de Concentrao: Projeto Espao e

    Cultura) - FAUUSP.Orientadora: Regina Maria Prosperi Meyer

    1.Infra-estrutura urbana 2.Desenho urbano 3.ArquiteturaI.Ttulo

    CDU 711.8

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    INFRAINFRAINFRAINFRA----ESTRUTURA EESTRUTURA EESTRUTURA EESTRUTURA E PROJETOPROJETOPROJETOPROJETO URBANOURBANOURBANOURBANO

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    AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

    Agradeo a todos que de uma forma ou de outra me ajudaram na elaborao desta tese. Emespecial, a Regina Meyer, pela orientao sensvel sem a qual este trabalho no existiria; aMarta Moreira e Fernando de Mello Franco, parceiros de trabalho e em muitas das idiasapresentadas; a Helena Ayoub, Sabrina Fontenele e Rodrigo Brancher, pelo auxlio naformatao do trabalho; a Maiza Neiva pela reviso do texto; A Jonathan Wheatley pela verso

    inglesa do resumo; a Carolina Bueno de Andrade e Silva pelo doce companheirismo; e aSophia da Silva Telles e ao Paulo Mendes da Rocha, com quem tenho tido o privilgio detrabalhar e conviver e que me fazem pensar.

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    ResumoResumoResumoResumo

    A hiptese que conduz o trabalho atribui s infra-estruturas uma progressiva importncia naestruturao e qualificao espacial das cidades cada vez mais cambiantes, ao constituremas estruturas fsicas e as funes urbanas e metropolitanas de maior permanncia. Na primeiraparte da tese, so avaliadas as infra-estruturas de menor porte, compostas pela parte capilardas redes urbanas, como avenidas de pequena importncia viria, ruas, praas e demais

    logradouros menores, que configuram o espao do convvio pblico enquanto estruturaespacial e arcabouo simblico da escala local. A segunda parte dedicada s infra-estruturas de maior porte, constitudas pela rede dos principais fluxos metropolitanos, as quais,ao mesmo tempo em que promovem articulaes funcionais de grande distncia, so, emgeral, conflitantes com o espao urbano local por onde passam e fatores da suadesestruturao. O trabalho defende que as grandes infra-estruturas, quando se tornam objetode preocupaes urbansticas e incorporam critrios alm daqueles funcionais e especficosdos respectivos sistemas, podem adquirir condio similar s das pequenas infra-estruturas,estabelecendo intensa relao com sua vizinhana. Nesta condio, desempenham papelrelevante na qualificao espacial dos arredores e contribuem para a construo de espaosde convvio adequados, fsica e simbolicamente, em ambas as escalas: a urbana e a

    metropolitana.AbstractAbstractAbstractAbstract

    This thesis is based on a hypothesis that attributes to infrastructure a progressive importance inthe structuring and qualification of increasingly interactive urban spaces, in that it isinfrastructure that constitutes the physical structure and urban and metropolitan functions ofgreatest permanency. The first part of the thesis evaluates small-scale infrastructure constitutedby the capillary sections of urban networks, such as minor thoroughfares, streets, squares andother smaller elements that provide the environment for public interaction through their physicalstructure and their symbolic importance at the local level. The second part deals with elementsof larger-scale infrastructure that provide the main flows of metropolitan life, which, whilefulfilling articulating functions over greater distances, are generally in conflict with the localurban spaces through which they pass and for which they represent destructuring force. Thethesis argues that elements of larger-scale infrastructure, when they become the subject ofurban concern and incorporate criteria beyond the purely functional or of specific concern totheir respective systems, may acquire conditions similar to those of smaller-scale infrastructure,establishing an intense relationship with their surroundings. In this sense, they may perform asignificant role in the definition of the urban spaces around them and contribute to theconstruction of living spaces of a physical and symbolic appropriateness at both the urban andmetropolitan level.

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    NDICENDICENDICENDICE

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    INTRODUO .................................. ................................ ................................ .................................. .............................. 9

    1 INFRA-ESTRUTURA E A ESCALA URBANA...................................................................................................................13BAIRRO NOVO ................................. ................................ ................................ ................................. ............................. 14

    Um artefato urbano: a Praa de gua......................................................................................................................15Uma imagem possvel: bairros de vrzea................................................................................................................15Morfologia urbana: uma paisagem paulistana.........................................................................................................16Regulao urbana ................................. ................................ ................................ .................................. ................. 16Os eixos do Rio Tiet e da linha ferroviria ................................ ................................ .................................. ............ 17Implantao ................................ ................................ ................................ ................................. ............................. 20

    INFRA-ESTRUTURA E A ESCALA URBANA...................................................................................................................30A CIDADE CONTEMPORNEA............................. ................................. ................................ ................................. ....... 33A VIDA URBANA ............................... ................................ ................................ ................................. ............................. 33INFRA-ESTRUTURA URBANA........................................................................................................................................34INFRA-ESTRUTURA E ESPAO URBANO ................................ .................................. ................................ .................. 39

    Infra-estrutura e espao urbano moderno ........................... .................................. ................................ .................. 40Tecido urbano...........................................................................................................................................................45O virio urbano ................................. ................................ ............................... .................................. ....................... 49

    PARIS..............................................................................................................................................................................53 Bulevares, avenidas, ruas, cais, passagens e alias...............................................................................................54 Canal de Saint Martin ................................ .................................. ............................... .................................. ............ 60O canal do Rio Sena.................................................................................................................................................67

    INFRA-ESTRUTURA E ESPAO URBANO CONTEMPORNEO ............................... ................................ ................... 78Ecossistemas urbanos ............................... ................................. ............................... .................................. ............ 79Infra-estrutura e espao urbano contemporneo brasileiro.....................................................................................84

    2 INFRA-ESTRUTURA E A ESCALA METROPOLITANA ................................ ............................... .................................. ..89ESTAO INTERMODAL DE COIMBRA........................................................................................................................90

    A estao intermodal................................. .................................. ............................... .................................. ............ 94A linha ferroviria e o elevado............................... .................................. ............................... ................................ ...94Margens urbanas......................................................................................................................................................95Nveis ............................... ................................ ................................. ................................ ................................ ........ 95

    INFRA-ESTRUTURA E A ESCALA METROPOLITANA ................................ ............................... .................................. 104A METRPOLE CONTEMPORNEA .............................. .................................. ................................ ........................... 104A VIDA METROPOLITANA................................ ................................. ............................... .................................. .......... 108INFRA-ESTRUTURA METROPOLITANA.......................................................................................................................114INFRA-ESTRUTURA E ESPAO METROPOLITANO ............................ .................................. ................................ ..... 116

    A rede metropolitana ............................. ................................ ................................ .................................. ............... 120A rede intermodal de transporte...... ................................ ................................. ................................. ..................... 121Infra-estrutura metropolitana e tecido urbano........................................................................................................135A implantao da infra-estrutura metropolitana ............................... ............................... .................................. ..... 137A vizinhana da infra-estrutura metropolitana.................................. ............................... .................................. ..... 139Infra-estrutura metropolitana e acessibilidade ................................. ............................... .................................. ..... 141Infra-estrutura metropolitana e centralidade .............................. ................................ .................................. .......... 145

    CHICAGO .............................. ................................ ................................. ................................ ................................ ...... 146INFRA-ESTRUTURA E ESPAO METROPOLITANO CONTEMPORNEO ................................. ............................... .158

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    INTRODUOINTRODUOINTRODUOINTRODUO

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    INTRODUOINTRODUOINTRODUOINTRODUO

    O tema do presente doutorado a relao entre o as infra-estruturas e o projeto urbano. Infra-estruturas entendidas como as estruturas urbanas fsicas perenes construdas pelo poderpblico ou por concessionrias, a fim de constituir o suporte fsico dos servios urbanospblicos bsicos: as redes de circulao de pessoas e produtos, de aduo e distribuio degua potvel, de coleta e tratamento de guas servidas, de drenagem urbana, de energia

    eltrica, de gs combustvel e de telecomunicaes por cabos ou radiodifuso; e projetourbano compreendido como o projeto fsico-espacial das estruturas que organizam osespaos urbanos e metropolitanos, desenvolvido e implantado pelo poder pblico ou porconcessionrias como uma interveno direta e nica na cidade (fruto de um nico projeto,ainda que implantado em fases).

    No trabalho no abordado o planejamento urbano como aes de controle e induo dodesenvolvimento da cidade em largos recortes temporais e espaciais atravs da regulaourbana, assim como tambm no estudada a gesto urbana como aes que instrumentama participao dos diversos agentes, pblicos ou privados, nos processos sociais, polticos eeconmicos envolvidos na evoluo urbana atravs da formulao de polticas.

    O objetivo do trabalho foi reunir e analisar um elenco de projetos construdos ou no quesirvam de exemplos das principais dificuldades e potencialidades da insero urbana dasinfra-estruturas e constituir, a partir da sua avaliao, alguns subsdios, bem como indicaralgumas possibilidades para a reflexo e sobretudo prtica relativas a projetos de naturezasimilar.

    Tal objetivo foi motivado por uma hiptese que atribui s infra-estruturas uma progressivaimportncia na estruturao espacial alm de funcional das cidades contemporneas. Tendoem vista o carter processual das cidades e o ambiente urbano sempre mutvel, comtransformaes cada vez mais aceleradas, as infra-estruturas, ao constiturem as estruturasfsicas e as funes de maior permanncia, podem potencialmente configurar importanteselementos de estruturao, qualificao e representao do espao urbano e metropolitano,

    alm de comporem o suporte dos servios urbanos bsicos que viabilizam o funcionamentoda cidade e de conferirem atributos funcionais aos lugares a que servem.

    A fim de concretizar esta potencialidade, as infra-estruturas devero ser projetadas compreocupaes e finalidades urbansticas, que incorporem critrios que vo alm dos funcionaise especficos dos seus respectivos sistemas. A investigao de critrios urbansticos quepautem o projeto das infra-estruturas como arquiteturas urbanas , do ponto de vista aquidefendido, uma importante pesquisa do urbanismo contemporneo, para a qual a presentetese procurou contribuir.

    As infra-estruturas podero ter papel fundamental especialmente na evoluo urbana dasmetrpoles dos pases em desenvolvimento, as quais apresentam grandes reas comurbanizao precria, carentes sobretudo de infra-estruturao adequada, assim comoimportantes setores urbanos disfuncionais e sistemas infra-estruturais subutilizados. Estascaractersticas espaciais resultam da transformao em curso da organizao metropolitanamodernana organizao metropolitana contempornea, decorrente da transio de um modode produo industrial e mecnico para um modo ps-industrial e predominantementetecnolgico.

    Nestes territrios metropolitanos, boa parte da populao vive em grandes periferias deurbanizao majoritariamente informal, cujos ncleos urbanos apresentam-se, por um ladodesconexos entre si e mal articulados com as centralidades que concentram os serviosurbanos e, pelo outro, configuram-se indiferenciados e desprovidos de uma caracterizaosingular, com a qual os seus habitantes possam se identificar. Ao mesmo tempo, por essas

    razes e pela desmedida da urbanizao, essas metrpoles carecem de imagens positivaslegveis que possam ser associadas ao seu conjunto.

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    Isto verificado principalmente em territrios metropolitanos como o da Grande So Paulo,onde a natureza geralmente fator de qualificao espacial , sem a exuberncia de outrosstios, j no mais constitui referncias paisagsticas capazes de organizar o seu mapa e deconfigurar imagens representativas de conjuntos urbanizados ou mesmo da sua totalidade.

    Desse modo e como se pretendeu analisar e justificar ao longo do trabalho, as infra-estruturasque devero ser construdas ou reformadas para estender adequadamente os servios

    urbanos bsicos s reas de urbanizao precria, assim como aquelas que seroconstitudas para promover a articulao dos diversos ncleos do territrio metropolitanocontemporneo, devero ser projetadas para, mais do que viabilizar um servio especfico,modular espacialmente a urbanizao, atravs da construo de estruturas perenes e legveis.Devero ser projetadas visando construir e configurar lugares adequados vida urbana eimagens singulares e referenciais na paisagem, contribuindo, assim, para o surgimento deidentidades urbanas nas diversas escalas e, conseqentemente, para a formao de umarelao afetiva dos habitantes com suas cidades.

    A pesquisa desenvolvida na tese e motivada pela hiptese acima exposta deu-se, em grandeparte, atravs da observao da condio urbana e arquitetnica de diversas cidades,algumas estrangeiras, mas especialmente de So Paulo, a partir de questes de projeto

    enfrentadas no trabalho cotidiano, profissional e acadmico.Como um arquiteto dedicado prtica de projetos e formado nos anos da aberturademocrtica brasileira, quando o isolamento do pas s influncias externas era ainda bastanteacentuado pelo conservadorismo da ditadura em suplantao, grande parte do contato com aproduo da arquitetura e do urbanismo, sobretudo a estrangeira, foi travado por observaespessoais. Isto se deu principalmente em viagens, como a residncia em Londres, durante oano de 1990, seguida de sucessivas estadas no estrangeiro possibilitadas pelo crescenteintercmbio com arquitetos e instituies de outros pases, decorrente da normalidade polticado Brasil e da globalizao. Assim, o enfrentamento com problemas concretos nodesenvolvimento profissional e acadmico de projetos de arquitetura e urbanismo, bem comoa comparao de sociabilidades e configuraes urbanas diversas das existentes em SoPaulo constituram um importante manancial de informaes para o percurso da presenteinvestigao.

    Desde o trabalho final de graduao, apresentado na FAUUSP em 1986, no qual, no lugaronde atualmente se encontra a Estao Barra Funda, foi projetada uma grande estaointermodal de transportes associada a uma transformao urbana dos seus arredores, arelao entre infra-estrutura e a urbanidade dos seus espaos tem sido um foco de reflexesque a presente tese procurou organizar.

    Diversos trabalhos profissionais no mbito do MMBB Arquitetos sociedade iniciada em 1991com os arquitetos Fernando de Mello Franco e Marta Moreira e que teve, entre 1996 e 2002, aparticipao do arquiteto Angelo Bucci permitiram a continuidade desta investigao, entre

    os quais se sobressaem: os projetos de arquitetura, desenvolvidos para a So PauloTransportes, dos corredores de nibus Sabar (1994), Francisco Morato (1995/1996) e oprojeto de arquitetura construdo do Terminal de nibus do Parque Dom Pedro (1996), os doisltimos em colaborao com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha; o projeto de arquiteturaconstrudo da Garagem Trianon, desenvolvido para o Consrcio Trianon (1996/1999); e aconsultoria urbanstica e projeto de arquitetura das estaes e paradas do plano parcialmenteimplantado de reorganizao do transporte coletivo de So Carlos (2001/2002), desenvolvidopara a Prefeitura Municipal de So Carlos.

    No mbito acadmico, algumas atividades tambm devem ser destacadas. No curso demestrado na FAUUSP foram desenvolvidos dois trabalhos que marcaram a reflexo: o projetode uma estao de trem metropolitano no Rio Pinheiros e de suas adjacncias, desenvolvido

    para a disciplina AUP 846 - Projeto de Arquitetura Urbana (1993); e o trabalho Imagem eReferncia na Metrpole de So Paulo: Proposta de Requalificao do Vale do Tietdesenvolvido em parceria com o arquiteto e professor Luis Antnio Jorge, elaborado a partir

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    das atividades desenvolvidas na disciplinaAUP-827 - O projeto como pesquisa contemporneaem arquitetura e apresentado em comunicao no III Seminrio de Histria da Cidade e doUrbanismo, em So Carlos, no mesmo ano. No entanto, importncia ainda maior teve adissertao de mestrado, que abordou os projetos premiados no Concurso Nacional do PlanoPiloto da Nova Capital do Brasil ou o Concurso de Braslia. Paralelamente ps-graduao, asatividades como docente no Grupo de Disciplinas de Projeto do Departamento de Arquitetura

    do Centro de Cincias Exatas e Tecnologia da Universidade Braz Cubas, entre 1992 e 1995, noCurso de Arquitetura da Universidade So Judas Tadeu, entre 1997 e 2001 e no Grupo deDisciplinas de Projeto de Edificaes da FAUUSP, desde 2002, sobretudo na orientao detrabalhos finais de graduao, motivaram a elaborao de muitas das anlises e idias queso desenvolvidas nesta tese.

    Em particular, trs trabalhos de projeto concentraram as idias que so tratadas na tese e soapresentados como abertura das trs partes que a compem, maneira de epgrafes.

    A primeira parte, Infra-estrutura e a escala urbana, dedicada s infra-estruturas de menorporte constitudas pela parte capilar das redes infra-estruturais, como avenidas de pequenaimportncia viria, ruas, praas e demais logradouros menores, que apresentam garndeinterao com o espao edilcio e com as atividades habituais da cidade, configurando o

    espao do convvio pblico enquanto estrutura espacial e arcabouo simblico da escalalocal. O projeto epgrafe que introduz o tema o projeto desenvolvido para o Bairro Novo,nombito do Concurso Nacional para um Projeto Urbano promovido pela Prefeitura da Cidade deSo Paulo e IAB-SP, na gua Branca, em So Paulo, em 2004. Trata-se do projeto dereurbanizao de um bairro, no qual foi proposta uma pequena infra-estrutura urbana que seimaginou polarizar e singularizar um lugar de um grande territrio metropolitano.

    A segunda parte, Infra-estrutura e a escala metropolitana, dedicada s infra-estruturas demaior porte, que configuram a rede dos principais fluxos metropolitanos, as quais, ao mesmotempo em que promovem articulaes funcionais de grande distncia, so, em geral,conflitantes com o espao urbano local por onde passam e fatores da sua desestruturao,mas que, quando se tornam objeto de preocupaes urbansticas e incorporam critrios almdaqueles funcionais e especficos dos respectivos sistemas, podem adquirir condio similars das pequenas infra-estruturas, estabelecendo intensa relao com sua vizinhana. Nestacondio, desempenham papel relevante na qualificao espacial dos arredores e contribuempara a construo de espaos de convvio adequados fsica e simbolicamente, em ambas asescalas a urbana e a metropolitana. O projeto epgrafe que abre o captulo o projeto deuma Estao intermodal em Coimbra, Portugal, desenvolvido para o Seminrio Internacional deProjetos Inseres, promovido pelo Centro de Estudos de Arquitetura da Faculdade deCincias e Tecnologia da Universidade de Coimbra, em 2003. O projeto enfrentou as questesoriginadas pela implantao e articulao de um conjunto de infra-estruturas metropolitanasde grande porte e procurou configurar, na estao intermodal projetada, uma face visvel dacondio metropolitana de uma pequena cidade.

    A terceira parte, Consideraes finais: infra-estrutura e projeto urbano, apresenta umasistematizao das idias consideradas nas partes precedentes e destaca as principaisquestes e possibilidades de projeto suscitadas pela investigao. O seu respectivo projetoepgrafe a instalao urbana proposta para a Bienal 50 anos, exposio comemorativa do50 anos da Fundao Bienal de So Paulo, em 2001. A Instalao urbana consistiu em equiparcom projetores de luz uma composio de manuteno ferroviria para percorrer os 270 kmde trilhos operados pela CPTM na Grande So Paulo e, semelhana de um Bateaux Moucheparisiense, que mostra a cidade, confere valor ao que ilumina e enriquece a paisagem,procurou estimular a imaginao relativa ao potencial das infra-estruturas constiturem-searquiteturas urbanas.

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    1111 IIIINFRANFRANFRANFRA----ESTRUTURA EESTRUTURA EESTRUTURA EESTRUTURA E AAAA ESCALA URBANAESCALA URBANAESCALA URBANAESCALA URBANA

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    BAIRRO NOVOBAIRRO NOVOBAIRRO NOVOBAIRRO NOVO

    O projeto do Bairro Novo1na gua Branca em So Paulo foi desenvolvido para o ConcursoNacional para um Projeto Urbanopromovido pela Prefeitura da Cidade de So Paulo e IAB-SP.

    Trata-se de um projeto de reestruturao urbana de uma rea de aproximadamente 1 milho ecem mil metros quadrados (o Parque do Ibirapuera tem aproximadamente 1 milho e meio demetros quadrados), onde a precria urbanizao teve seu desenvolvimento suspenso emfuno da grande quantidade de terras municipais utilizadas em comodato por clubesesportivos e de irregularidades em parte do seu parcelamento. Diante deste quadro, aprefeitura e os poucos proprietrios privados existem grandes propriedades , de comumacordo, resolveram por uma reformulao completa da rea, inclusive da sua organizaofundiria.

    A rea do Bairro Novo deve ser compreendida no como uma rea de exceo na cidade,mas como o segmento exemplar de uma ampla faixa desta a vrzea dos rios Tiet,Tamanduate e Pinheiros , que se encontra hoje em processo de iminente transformao.Regio sobre a qual se implantaram as principais redes infra-estruturais da cidade2, essavrzea constituiu-se historicamente como um territrio urbano com carter essencialmente

    metropolitano, apresentando caractersticas comuns ao longo de toda sua extenso. Noentanto, o processo de ocupao continuada e no planejada dessa vrzea teve comoconseqncias a destruio das qualidades ambientais naturais e a excessivaimpermeabilizao do solo nessa regio, agravada pela dificuldade em se controlar asdescargas de guas pluviais e esgotos sanitrios da metrpole que naturalmente convergempara os leitos dos rios. Por isso, o problema da construo de um novo regime equilibrado dasguas particularmente dramtico nessa faixa e destaca-se como um dos principais desafiosa serem enfrentados em seu processo de reurbanizao.

    Conta com um grande estoque imobilirio disponvel, decorrente tanto do movimento dereestruturao produtiva do setor industrial quanto do processo de sucateamento e, emseguida, de modernizao do setor ferrovirio. Significativamente, exatamente ao longo

    dessa faixa que esto situadas todas as Operaes Urbanas em curso na cidade.Sobre os seus terrenos planos e contnuos est concentrada a maior parte da rede estruturalde transportes da cidade, numa coincidncia dos sistemas de mobilidade sobre rodas e trilhose do curso das guas. Por isso, pode-se dizer que essa rea concentra a maior oferta deacessibilidade de toda a metrpole, sobretudo se considerarmos a malha ferroviria expandidaprevista para 20103, certamente a principal estrutura de articulao metropolitana.

    Uma ao eficaz de reconfigurao urbana de uma rea extensa como esta s pode serdesencadeada atravs de um planejamento infra-estrutural da regio. Intervir nessa escala,portanto, significa definir essencialmente o desenho dessa infra-estrutura urbana: arruamentos,logradouros pblicos, canais, pontes, passarelas, estaes de tratamento e reciclagem, etc.Dar formas legveis a uma ao estratgica do poder pblico e enfrentar consistentemente oproblema da gesto dos recursos naturais de modo sustentvel e racional foram as principaistarefas discutidas no projeto.

    1 Projeto desenvolvido pelo autor desta tese em equipe com Anja Kolher, Anna Ferrari, Camila Toledo Fabrini, Fernando deMello Franco, Flvio Rezende, Guilherme Wisnik, Mrcia Terazaki, Marina Acayaba, Marina Sabino, Marta Moreira, MartinCorullon, Roberto Klein, Sarah Feldman e Thiago Rolemberg, em 2004. O texto apresentado nesta tese foi baseado nomemorial do projeto desenvolvido pela equipe.

    2 MELLO FRANCO, Fernando de.A construo do caminho: A estruturao da metrpole pela conformao tcnica dasvrzeas e plancies fluviais da Bacia de So Paulo. So Paulo: tese de doutoramento, FAUUSP, 2005.

    3 SO PAULO (Estado), Secretaria dos Transportes Metropolitanos, STM. PITU 2020.Plano Integrado de Transporte Urbano.So Paulo: STM, 1999.

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    O projeto desenvolvido partiu, ento, da considerao de que a identidade do Bairro Novodeveria ser configurada essencialmente por sua infra-estrutura e de que o seu tecido rede deruas e a sua morfologia urbana conjuntos de edifcios deveriam, sem prejuzo daformulao de uma ocupao mais racional, estabelecer uma relao de continuidade com osbairros vizinhos consolidados de Perdizes, Higienpolis e Santa Ceclia, tpicos de So Paulo.

    Um artefato urbano: aUm artefato urbano: aUm artefato urbano: aUm artefato urbano: a Praa de guaPraa de guaPraa de guaPraa de gua

    Como elemento central e marcante de seu ambiente foi projetada uma praa de gua: umcorpo dgua de permetro quadrado, com guas perenes do lenol fretico exposto, livres dapoluio do sistema fluvial da cidade, em torno do qual o bairro seria estruturado.

    Os corpos dgua resultantes do afloramento do lenol fretico representam a melhor guadisponvel no solo urbano paulista, enquanto sua rede fluvial no for protegida da poluio dosesgotos, como demonstram de modo eloqente os exemplos da raia olmpica da cidadeuniversitria e dos lagos do Parque Ecolgico. Naturalmente protegidas da poluio dos riospelo gradiente de presso, essas guas esto sujeitas apenas s contaminaes orgnica equmica infiltradas pelo solo o qual, por si s, apresenta efeito filtrante e despoluidor.

    A soluo proposta isolaria esse sistema de guas limpas da rede adjacente de canais

    poludos da cidade, abertos e fechados, atravs da criao de um canal duplo decircunvalao, lindeiro linha ferroviria. Para o sistema, no entanto, foi proposto drenar asguas captadas pela nova rede de guas pluviais que seria construda no Bairro Novo. Apoluio difusa carreada pelas guas drenadas superficialmente e a contaminao do solo edo fretico seriam mitigadas por tratamentos naturais de filtragem, oxigenao, ictiolgico(peixes) e pelo uso de vegetao.

    Desse modo, seria criado um reservatrio de gua de drenagem superficial interno ao bairro,capaz tanto de retardar a descarga pluvial da regio no sistema fluvial da cidade, emsubstituio aos reservatrios individuais determinados pela lei 13276/02 (lei das piscininhas),obrigatrios em cada novo empreendimento com mais de 500 m2de rea impermeabilizadano lote, quanto de alimentar uma rede de gua de reuso com vistas limpeza de reasexternas, irrigao, etc. Para tanto, foi proposta a instalao de uma estao de tratamentodessas guas, com tanques de floculao, decantao e filtrao.

    No futuro, com a despoluio do sistema fluvial de So Paulo, a praa de gua poderia serincorporada a este, como canal de derivao dos canais originados pelos rios naturais darea.

    Assim, polarizado pela praa de gua, imaginou-se um centro de intenso convvio social eusos diversificados, valorizado pelos espaos pblicos definidos ao longo do circuito de gua,que identificaria o Bairro Novo. Este por sua vez, no se constituiria como uma ilha deurbanizao de exceo na cidade e no teria limites demarcados, na proposta de umaurbanizao que estabelecesse uma relao de continuidade com os bairros vizinhos, os

    quais, desse modo, poderiam com maior espontaneidade tambm desfrutar deste novo ploda cidade.

    Uma imagem possvel: bairros de vrzeaUma imagem possvel: bairros de vrzeaUma imagem possvel: bairros de vrzeaUma imagem possvel: bairros de vrzea

    E, assim, imaginava-se que esse sistema de reservatrios de bairro, independentes dacontribuio dos canais e do rio Tiet, poderia expandir-se para toda a vrzea em questo,servindo de motor ecolgico e paisagstico do seu processo de renovao urbana, aoreconstruir com estes artefatos um regime equilibrado de guas urbanas. Artifcio queconfiguraria, numa urbanizao contnua, bairros identificados por esses sistemas infra-estruturais. Escrituras de gua no territrio da vrzea. Tcnicas e simblicas. Rigorosas ecristalinas.

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    Morfologia urbanaMorfologia urbanaMorfologia urbanaMorfologia urbana: uma paisagem paulistana: uma paisagem paulistana: uma paisagem paulistana: uma paisagem paulistana

    A disposio do projeto de no caracterizar o Bairro Novo como uma ilha de urbanizao euma exceo na cidade estabeleceu um sistema de circulao em continuidade com as ruasvizinhas e definiu quadras semelhantes s usuais de So Paulo.

    Os espaos pblicos foram propostos procurando-se que estes tivessem clara configurao,enquanto tal, pelo seu desenho e localizao. Em outras palavras, claramente destacados dosespaos privados por uma distino ntida entre cheios e vazios, e situados em reas deampla acessibilidade e circulao, sendo, por isso, atravessados por usos dinmicos.Procurou-se, assim, evitar a agorafobia provocada por alguns espaos pblicos modernos indistintos e residuais , recuperando a rua como lugar por excelncia de animao esociabilidade cotidiana.

    Para que os espaos pblicos, os quais se desejavam mais emblemticos, fossem atraentes,os lugares de recreao e encontro mais intenso buscaram a proximidade com a gua, comoum modo de reinventar usos mais generosos da cidade, remetendo-se a um espao de lazermais do que consagrado no imaginrio brasileiro: a praia.

    Quanto localizao dos usos, apoiando-se na convico de que vantajosa a coexistncia

    de diferentes atividades nas reas centrais mais densas, organizadas mais por diferenas denvel do que por reas monofuncionais, evitou-se um zoneamento que fosse alm daqueledeterminado pela prpria natureza da cidade: usos metropolitanos ao longo das avenidasmetropolitanas, comrcio e servios predominando nas avenidas do sistema virio arterial euso misto com predomnio residencial nas reas mais tranqilas.

    RegulaoRegulaoRegulaoRegulao urbanaurbanaurbanaurbana

    As propostas para regular os empreendimentos privados procuraram constituir um conjunto deregras que induzisse a construo de uma paisagem paulistana, semelhante dos bairrosvizinhos, sem fixar rigidamente tipologias, alinhamentos e gabaritos constantes limitadores deuma oportuna diversidade de solues projetuais.

    Os objetivos gerais estabelecidos foram garantir a ordenao urbanstica dos conjuntosconstrudos e o uso intensivo das ruas como espaos genuinamente urbanos de convviocoletivo e sociabilidade.

    Nesse sentido, os seguintes princpios de ordenao urbanstica foram propostos:

    Cada quadra deveria ser a unidade fundiria mnima do Bairro Novo, como unidade de projetoe conseqentemente de regulao. Estas, com rea em torno de 8.000 m2, teriam dimensoprxima da metragem das glebas que tm sido normalmente adotadas pelo mercadoimobilirio paulistano. Esta determinao alm de apresentar inegveis vantagens do ponto devista da qualidade das edificaes e de suas respectivas associaes com reas livres eestacionamentos, representa tambm uma otimizao nos custos envolvidos na implantao

    do sistema, ao evitar a multiplicao de entradas e sadas de pedestres e veculos, assimcomo das instalaes condominiais.

    Estimular a construo no alinhamento das ruas e assim constitu-las com um desenhoefetivamente espacial tridimensional, ao suprimir a obrigatoriedade do recuo de frente. Esteseria compensado por largura privilegiada dos leitos carroveis e passeios com jardinspblicos que cumpririam a funo dos usuais jardins privativos dos recuos suprimidos e quegarantiriam as condies adequadas de aerao e insolao s edificaes.

    Induzir a configurao de um conjunto construdo mais denso e contnuo do que o verificadoem So Paulo, resultante da obrigatoriedade de reduo da taxa de ocupao para o aumentodo coeficiente de aproveitamento (frmula de Adiron), estabelecida pela legislao dezoneamento vigente nos ltimos 30 anos. Para tanto, o recurso de proporcionalidade entrelargura da via e altura da edificao seria utilizado para definio de gabaritos mximos,associado a uma taxa de ocupao fixa, que deveria ser mais elevada do que a mdiaestabelecida pela legislao atual, uma vez que, com a supresso dos recuos de frente, a rea

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    Vista panormica da vrzea do Tiet com a gua Branca ao fundo. (foto Nelson Kon)

    Vista da gua Branca (foto Nelson Kon)

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    19Plano geral (fonte MMBB)

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    ImplantaoImplantaoImplantaoImplantao

    1111 A prpria praa de guapraa de guapraa de guapraa de gua: Escavao de uma superfcie quadrada de 462m de lado e 30m delargura at profundidade suficiente para fazer aflorar 3 metros do lenol fretico. Construode muros de conteno a prumo com tcnica que permita a infiltrao da gua no reservatriocriado.

    Conectar a rede de drenagem superficial do setor circunscrito pelo anel de circunvalaodefinido em projeto ao reservatrio da praa de gua.

    Construo de um sistema contnuo de passeios e praas lineares ao longo de cada um doslados da praa de gua em cota presumida 4 metros abaixo do nvel do sistema virio, emproximidade lmina de gua, situada, por sua vez, um metro abaixo do nvel dos espaosdestinados a lazer.

    Construo de vasos comunicantes entre os dois lados cindidos pela presena de emissriode esgotos sob a Avenida Marques de So Vicente.

    Ligao do reservatrio da praa de gua estao de tratamento.

    2222 Rua Jos Nelo LorenzonRua Jos Nelo LorenzonRua Jos Nelo LorenzonRua Jos Nelo Lorenzon: Urbanizao da rua Jos Nelo Lorenzon atravs de sua

    pavimentao e da canalizao a cu aberto do crrego da gua Branca. Prolongamento ata Rua Gustav Willi Borghof, de acordo com diretriz da Operao Urbana.

    Estas aes consolidaro esta via como principal eixo de acesso transverso nova estaogua Branca.

    3333 Centros de treinamento do So Paulo e PalmeirasCentros de treinamento do So Paulo e PalmeirasCentros de treinamento do So Paulo e PalmeirasCentros de treinamento do So Paulo e Palmeiras: Remoo dos centros de treinamento doSo Paulo e Palmeiras para a recuperao do carter de uso pblico destas reas, conforme oestabelecido pela Operao Urbana gua Branca.

    Entende-se que o uso restrito destas reas pblicas incompatvel com as regras daconcesso e com os objetivos do Bairro Novo.

    Sugesto de transferncia destas instalaes para junto ao Parque Ecolgico do Tiet onde seencontram outras reas destinadas a centros esportivos.

    4444 Lotes junto Avenida Castelo BrancoAvenida Castelo BrancoAvenida Castelo BrancoAvenida Castelo Branco (Marginal Tiet)(Marginal Tiet)(Marginal Tiet)(Marginal Tiet): Regularizao dos fundos dos lotessituados junto Avenida Presidente Castelo Branco, atravs da abertura de via localconfigurada para estabelecer uma transio entre estes lotes de dimenses e usosdiferenciados em relao aos do restante do bairro.

    5555 Ala da Ponte JPonte JPonte JPonte Jlio de Mesquitalio de Mesquitalio de Mesquitalio de Mesquita: Trmino dos acessos Ponte Jlio Mesquita com aconstruo da ala sudeste, de acordo com projeto preexistente.

    6666 Estao de tratamento de guaEstao de tratamento de guaEstao de tratamento de guaEstao de tratamento de guas de drenagem superficial e para res de drenagem superficial e para res de drenagem superficial e para res de drenagem superficial e para reusousousouso: Utilizao doscanteiros intersticiais ao sistema virio para a implantao dos filtros de tratamento das guas

    de drenagem superficial e da estao de tratamento e reservatrio da rede de gua de reuso.7777 Pavilho ComunitrioPavilho ComunitrioPavilho ComunitrioPavilho Comunitrio: Relocao das atividades da escola de samba existente sob o viaduto

    da Pompia para o pavilho conjunto com o centro de coleta e triagem de resduos slidosreciclveis e de educao ambiental.

    8888 Avenida Marqus de So VicenteAvenida Marqus de So VicenteAvenida Marqus de So VicenteAvenida Marqus de So Vicente: A exemplo do que ocorre no eixo das avenidas Pedroso deMoraes/Faria Lima/Berrini, urbanizar os usos da Avenida Marqus de So Vicente atravs desemaforizao sincronizada que reduza as atuais velocidades virias, adequando-as satividades a serem instaladas. Remoo da rotatria de carter rodovirio junto AvenidaNicolau Boer e substituio por cruzamento simples semaforizado.

    9999 Novo sistema de ruasNovo sistema de ruasNovo sistema de ruasNovo sistema de ruas e quadrase quadrase quadrase quadras: No reparcelamento da rea, estabelecer um tecido urbano

    em continuidade com o parcelamento circundante, atravs da maior conexo possvel entre onovo sistema vrio e o existente na vizinhana, assim como da definio de uma morfologia dofuturo conjunto edificado similar dos bairros vizinhos. Por exemplo, a abertura de avenida de

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    19191919 rea Institucional Oesterea Institucional Oesterea Institucional Oesterea Institucional Oeste: Edificaes de ambos os lados da linha ferroviria destinadas ao usode equipamentos sociais e associadas acessibilidade oferecida pela estao.

    20202020 HIS OesteHIS OesteHIS OesteHIS Oeste: rea destinada construo unidades de HIS, equivalente HIS leste, j descrita.

    21212121 Ligao viriaLigao viriaLigao viriaLigao viria: Espao reservado para a construo de passagem subterrnea proposta pelaOperao Urbana gua Branca.

    22222222 CluCluCluClube Nacionalbe Nacionalbe Nacionalbe Nacional: A manuteno do Clube Nacional era obrigatria pelo edital do concurso,ainda que a urbanizao da totalidade da sua rea seja altamente recomendvel. Foi propostaapenas a desapropriao de faixa paralela ao crrego da gua Branca para construo daextenso da Rua Jos Nelo Lorenzon.

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    Esquema das zonas (fonte MMBB)

    Esquema das vias de transporte (fonte MMBB)

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    Parque Ecolgico do Tiet, lagos de lenol fretico. (fonte arquivo do autor)

    Cidade Universitria, Raia Olmpica de lenol fretico. (foto Bebete Viegas)

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    Enchentes do Rio Tiet (fonte arquivo Fernando M. Franco)

    Rios Tiet e Pinheiros antes da canalizao (fonte arquivo Fernando M. Franco)

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    A vrzea ainda natural, com os rios Tiet e Pinheiros mendricos, antes da sua retificao (fonte arquivo Fernando M. Franco)

    Os rios Tiet e Pinheiros canalizados e as guas do lenol fretico das lagoas do Parque Ecolgico do Tiet, da raia olmpica daCidade Universitria e da praa de gua proposta, como o incio de um processo de construo de uma vrzea artificial com umregime equilibrado das guas urbanas. (fonte MMBB)

    O projeto do Bairro Novo e a sua situao geral. (fonte MMBB)

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    Perspectivas gerais. (fonte MMBB)

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    Perspectivas da praa de gua. (fonte MMBB)

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    INFRAINFRAINFRAINFRA----ESTRUTURA E A ESCALAESTRUTURA E A ESCALAESTRUTURA E A ESCALAESTRUTURA E A ESCALA URBANAURBANAURBANAURBANA

    As infra-estruturas urbanas de menor porte, como a praa de gua, leitmotiv do projeto doBairro Novo, so to antigas quanto as cidades. Ruas, largos, praas, passarelas, pontes,canais fluviais, represas e cisternas, entre outras, so estruturas urbanas presentes nascidades desde a sua origem e aquelas que, atravs de sucessivas atualizaes, maispermaneceram.

    Herce Vallejo e Farrerons observam que uma das caractersticas mais constantes nosprocessos de urbanizao o aproveitamento de infra-estruturas preexistentes para aconstituio das redes de servios urbanos necessrias e possveis em cada momento.4

    Nos primrdios da cidade, a sua rede infra-estrutural restringia-se s vias de circulao, scanaletas e canais de drenagem, tambm utilizados para a disperso das guas servidas, eaos poos de gua e cisternas de acmulo de gua de chuva destinados ao abastecimentode gua potvel. Estas redes de servios primordiais quase sempre foram constitudas peloaproveitamento de antigos sistemas de circulao, drenagem e irrigao de reas rurais. Asvias de circulao, normalmente bero dos dispositivos de drenagem, pouco a pouco seconstituram tambm em lugar das novas redes de servios urbanos disponibilizados pelo

    desenvolvimento tecnolgico, como a distribuio de gua potvel e a disperso de guapluvial e servida em sistemas canalizados, a distribuio de gs, a iluminao pblica, a redeeltrica, os transportes mecanizados pblicos e privados, bem como os sistemas detelecomunicao por rdio, fio e fibra tica. A forma reticular em quadrcula, normalmenteadotada para estas redes, mais que uma opo esttica abstrata, foi a melhor maneiraencontrada para permitir a necessria e contnua expanso multidirecional das infra-estruturasurbanas.

    La ciudad se ha construido apoyndose siempre en las redes preexistentes, en un proceso continuo de sustitucinde sus elementos y de sus funciones. Los sistemas de drenaje y caminos de la parcelacin agraria han sido el apoyoprimigenio de calles y, por tanto, de parcelacin urbana; espacio de intercepcin y drenaje de aguas superficiales,canal de paso de las primeras conducciones de agua y electricidad; Su existencia ayud a la construccin deinfraestructuras sobre las que creci la ciudad. Y despus, la ciudad ha crecido en un doble proceso, estiramiento de

    esas incipientes infraestructuras y saltos discretos de escala mediante operaciones puntuales de transformacin(puentes, lneas de ferrocarril, vas rpidas, tradas de agua, etc) e incluso operaciones de urbanizacin con sentidoamplio de extensin.5

    Neste processo contnuo de acumulao de infra-estruturas, muitas delas sofreram mudanasou acrscimos significativos de dispositivos e uso e outras novas foram se constituindo, pormmuito poucas deixaram de existir como construo fsica. Mesmo as infra-estruturas queperderam completamente a funo, como as fortificaes, muralhas e fossos dedicados nasua origem no mais necessria defesa das cidades, ou as que se tornaram completamenteobsoletas do ponto de vista tecnolgico, como os aquedutos, tendem a permanecernaturalizadas, como parte da geografia e paisagem urbanas. Constituem-se, no presente,como rugosidades, adotando-se o termo de Milton Santos para designar os artefatos que vo

    sendo acumulados no territrio pela histria humana.

    6

    At hoje a Cidade Proibida em Pequim, palcio dos imperadores das dinastias Ming e Qingconstrudo em 1420, circundada outrora guarnecida e agora embelezada por umretngulo de canais artificiais com aproximadamente 1.100 por 900 metros de lados, 50 metrosda largura e 6 metros de profundidade.

    4 HERCE VALLEJO, Manuel; FARRERONS, Joan Mir. El soporte infraestructural de la ciudad. Barcelona: Edicions UPC, 2002.Um apanhado sobre a evoluo das infra-estruturas na cidade desenvolvido no primeiro captulo La urbanizacin como

    suporte acumulado da la construccin de la ciudad, pp. 7-22.5 Ibid., p.8.

    6 SANTOS, Milton.A natureza do Espao. Tcnica e Tempo. Razo e Emoo. So Paulo: Editora Hucitec, 1999, p. 113.

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    Apesar da existncia de muitas infra-estruturas como os canais da Cidade Proibida, comfunes e presena extraordinrias, aquelas originadas pelas funes urbanas essenciaisapresentam, de um modo geral, uma escala prxima escala das demais edificaesurbanas, por vezes com dimenses e destaque menores do que os dos antigos edifciosmonumentais as antigas catedrais e palcios do governo ou da nobreza, hoje os edifciosdas grandes instituies e corporaes pblicas ou privadas. E, ao contrrio das infra-

    estruturas de grande porte, prprias das metrpoles contemporneas, quase sempre sofatores de qualificao do ambiente urbano, signos da memria e portanto, de valor cultural.

    A anlise da maneira como valorizam o ambiente em que esto inseridas no apenas interessaem si mesma, como pode constituir subsdios para uma melhor compreenso tambm dospossveis papeis urbanos das infra-estruturas metropolitanas, a fim de encontrar maneiras detorn-las, mais do que necessrias ao funcionamento contemporneo das cidades eproblemticas na sua relao com os demais espaos urbanos , estruturas que contribuampara a construo de cidades mais equilibradas.

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    Cidade Proibida em Pequim. (fonte GoogleEarth)

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    A CIDADE CONTEMPORNA CIDADE CONTEMPORNA CIDADE CONTEMPORNA CIDADE CONTEMPORNEAEAEAEA

    Uma das caractersticas mais marcantes da cidade contempornea a presena simultneado local e do global, ou do ponto de vista da sua organizao espacial, esquematicamente, dourbano e do metropolitano.

    A noo de escala urbana ser precisada de um modo especfico neste trabalho. propostacom uma definio que talvez seja um tanto particular, mas oportuna, para enfatizar acoexistncia dessas duas naturezas distintas da cidade contempornea: a urbana e ametropolitana.

    Com a revoluo industrial e a conseqente urbanizao do planeta, foi intensificado oprocesso de transformao das cidades em organismos ou territrios metropolitanos,processo ainda em curso, passados dois sculos. Na metrpole as instalaes urbanas infra-estruturas includas assim como a vida cotidiana assumiram cada vez mais formasinexistentes na cidade tradicional. No entanto, o processo de metropolizao caracterizou-se,em boa medida, pela agregao e acumulao de instalaes e cidades existentes aindaque nas ltimas dcadas tenha se iniciado um processo paralelo de disperso e as novasformas superpuseram-se e compuseram-se com as formas urbanas tradicionais, muitas das

    quais seguem correntes nas cidades contemporneas.Assim, ao lado das novas infra-estruturas metropolitanas, o funcionamento das cidadesencontra suporte importante nas infra-estruturas tradicionais, assim como ao lado dasatividades prprias da vida metropolitana, seus habitantes continuam a desempenharatividades que ainda podem ser qualificadas como urbanas tradicionais.

    Este trabalho designa estes momentos de vida urbana tradicional e seu respectivo suporteinfra-estrutural e edilcio de escala urbana, deliberadamente atribuindo noo de escala,neste caso, uma dimenso temporal alm de espacial. O trabalho considera que a maior partedestas atividades ainda que pudesse ser identificada com o que correntemente designa-se porescala local, coexistem em espaos centrais, no sentido fsico e simblico, conseqentementeno locais, bem como infra-estruturas de maior significado e presena nas cidades, que sopertinentes ao funcionamento urbano tradicional.Considera-se, portanto, a noo de escala urbana como termo diverso e complementar noo de escala metropolitana e ambas esto presentes na complexa vida das cidadescontemporneas. Do mesmo modo, considera-se que nestas cidades, resultantes dasuperposio e composio de formas urbanas e metropolitanas de organizao, coexistemtanto o espao urbano quanto o espao metropolitano, fisicamente configurados e comatributos distintos.

    A VIDA URBANAA VIDA URBANAA VIDA URBANAA VIDA URBANA

    Outra maneira de se precisar o sentido aqui adotado de escala urbana ser definir melhor osatributos temporais da vida urbana contempornea que se assemelham queles da vidaurbana tradicional e que configuram, neste entendimento, esta escala. So momentos quepodem ser definidos, de um modo geral, como prprios da vida habitual, aqui claramentedistinta da vida cotidiana.

    A vida cotidiana engloba entre as suas atividades rotineiras muitas atividades que sopertinentes vida metropolitana, na qual uma grande massa de populao est envolvida.Richard Sennet7define a vida metropolitana como aquela em que, essencialmente, o homemmetropolitano encontra, diariamente, um grande nmero de desconhecidos. Em um percurso

    7 Informao apresentada por Regina Maria Prosperi Meyer na prova de argio do concurso pblico para Professora Titularda Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo, em agosto de 2006.

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    de metr, dada a capacidade deste modo de transporte, a nica presena fixa, com a qual umpassageiro pode estar familiarizado ou habituado, a prpria infra-estrutura que d suporte aeste servio metropolitano. Evidentemente os trilhos de uma linha de metr implantados a cuaberto configuram um espao metropolitano, dada a sua extraordinria dimenso. Um vagode metr ou as estaes deste sistema de transporte, apesar da sua escala reduzida, nestaconceituao temporal, tambm.

    A aqui denominada vida habitual, diferentemente da vida cotidiana, constitui-se dos momentosem que os habitantes de uma cidade freqentam meios e pessoas que lhe sopredominantemente familiares, momentos em que no h uma massa de populao envolvidae em que, apesar da presena de desconhecidos prpria das grandes cidades, h umsentimento de pertencimento ao lugar. Como por exemplo, a caminhada matinal pelascaladas do prprio bairro em direo a padaria, ou quando na hora do almoo, busca-se orestaurante com o melhor cardpio daquele dia da semana, ou, ainda, quando as pessoas seencontram, como amigos, para uma conversa na chamada happy hour, entre tantas outrassituaes.

    notvel como os habitantes de uma metrpole utilizam-se, em geral, de uma parte pequenado territrio metropolitano em seus afazeres habituais, restringindo-se, normalmente, ao uso

    dos servios urbanos e ao trato social das pessoas que lhe so conhecidas e familiares emespaos igualmente conhecidos e familiares. Assim, muitas das atividades da cidadecontempornea, especialmente aquelas ligadas sociabilidade habitual, mantm-se, ainda,semelhantes s atividades urbanas tradicionais e encontram suporte adequado na morfologiaurbana tradicional.

    Por mais que os meios de telecomunicao tenham amplificado o mundo e assim interiorizadoa vida pblica nos espaos privados onde se encontram os dispositivos de comunicao, oespao efetivo da sociabilidade urbana ainda, em grande medida, o espao pblicoconvencional, cuja forma elementar a rua na sua configurao consagrada pela histria dascidades. Ainda que muitos apontem os shopping centers ou os centros culturais e esportivoscomo o genuno espao da sociabilidade contempornea. O que talvez seja, justamente, umaindicao da coexistncia das escalas urbana e metropolitana, pois, inegavelmente, estesgrandes centros so espaos metropolitanos. Cabe lembrar, no entanto, que so acessveissocial e economicamente, quando no espacialmente, a uma parcela das populaes urbanascontemporneas e uma opo discutvel para parte daqueles que a estes tem acesso.

    INFRAINFRAINFRAINFRA----ESTRUTURA URBANAESTRUTURA URBANAESTRUTURA URBANAESTRUTURA URBANA

    Portanto, so definidas nesse trabalho como infra-estruturas urbanas aquelas estruturas quedo suporte vida habitual e que so originadas pela infra-estruturao de um ncleo urbanocoeso, seja este um bairro, um setor ou mesmo uma cidade inteira, reconhecvel por seushabitantes como um lugar e no pela articulao deste lugar com os demais ncleosurbanos da rede metropolitana qual o mesmo pertence.

    As infra-estruturas urbanas constituem, de um modo geral, a parte capilar das redes infra-estruturais contemporneas que do suporte a atividades de contingentes populacionaismenores ou a fluxos de menor intensidade. Ou seja, ruas, avenidas, largos, praas, jardins,passarelas, pontes, canais da drenagem urbana, pequenas eclusas, estaes dos sistemas detransporte local (os abrigos das paradas destes), antenas da telefonia celular, em suma, todasas infra-estruturas congneres que do suporte s atividades de morar e trabalhar, ao lazerhabitual e circulao de pequeno alcance e baixa velocidade intra-urbanos.

    Embora, obviamente, a adjetivao urbanaadotada confunda-se com a adjetivao local, aadjetivao urbanaapresenta-se mais apropriada aos casos em que infra-estruturas de maiorporte e significado no resultem de articulaes metropolitanas de grande distncia e

    tampouco dem suporte a atividades de uma grande massa populacional.Finalmente, cabe lembrar que algumas infra-estruturas podem ser, ao mesmo tempo, espaosurbanos e metropolitanos, dependendo da atividade do usurio e do seu uso momentneo,

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    especialmente do ponto de vista simblico e so, geralmente, aqueles espaos mais ricos dascidades, como a Avenida Paulista em So Paulo, ou no mnimo significativos, como o ElevadoPresidente Artur da Costa e Silva, o Minhoco, na mesma cidade.

    A Avenida Paulista claramente parte da vida urbana habitual para muitos que l vivem outrabalham e pode ser considerada uma infra-estrutura urbana em termos de circulao, porestabelecer articulaes locais. O Minhoco, ao contrrio, uma infra-estrutura metropolitana

    do ponto de vista virio, ao promover uma das principais ligaes das zonas leste e oeste daGrande So Paulo, embora, do ponto de vista do seu uso noturno e nos finais de semana,quando o trfego de veculos impedido, o mesmo Minhoco converta-se numa praa linearao longo dos seus quase 3 km de extenso e transforma-se numa rea de lazer para osbairros vizinhos da Vila Buarque, Santa Ceclia e Barra Funda. A Avenida Paulista, por sua vez,ao constituir uma das mais importantes representaes simblicas de So Paulo, torna-se porisso mesmo uma infra-estrutura metropolitana e palco natural de toda grande manifestaopopular da cidade, como as celebraes de ano novo que renem milhes de pessoas.

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    Elevado Costa e Silva (minhoco), com trfego intenso de automveis. (foto Rodrigo Brancher)

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    Elevado Costa e Silva (minhoco), utilizado para lazer habitual. (foto Rodrigo Brancher)

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    INFRAINFRAINFRAINFRA----ESTRUTURA E EESTRUTURA E EESTRUTURA E EESTRUTURA E ESPAOSPAOSPAOSPAO UUUURBANORBANORBANORBANO

    As infra-estruturas urbanas so, em suma, as construes e artefatos que, grosso modo,constituem fisicamente o espao pblico livre e difuso que intermedeia e articula os edifciospblicos e privados na escala urbana da cidade contempornea, embora algumas sejaminstalaes estritamente parte do suporte de servios, com acesso restrito aos tcnicos deoperao e manuteno, como galerias subterrneas das instalaes de eletricidade, gua,

    esgoto ou telecomunicaes e no se constituam enquanto espao pblico nem mesmo comopaisagem, como ocorre, por exemplo, com as antenas da telefonia celular ou os canais fluviaise artificiais da drenagem sem navegao pblica.

    La calle (...) constituye, junto con las plazas, el espacio pblico predominante de la ciudad, ocupando entre el 20 y el40% del total del espacio urbano segn diferentes tipos de tejidos.8

    A prpria natureza capilar das infra-estruturas urbanas faz com que sua insero no meiourbano seja de interao no mnimo funcional com o meio edilcio circundante e, desse modo,geralmente fatores de qualificao do ambiente urbano enquanto pontos de contato das redesurbanas e cada um dos edifcios da cidade, e so consideradas espao pblico porexcelncia, sobretudo as infra-estruturas que do suporte circulao urbana ruas,avenidas, largos, praas, jardins, canais, passarelas e pontes do sistema de circulao local ,por serem o espao livre de propriedade e de uso pblico animado por todos os endereos aque atende. Quanto maior for esta interao, maior ser a funcionalidade destas infra-estruturas urbanas como espao para o convvio social e, consequentemente, a suacapacidade de serem significativas. Conforme defendido por Jane Jacobs em seu livro Morte evida das grandes cidades9 de 1961, ao criticar as aes de reforma urbana pautadas pelaurbanstica moderna promovidas nas cidades norte-americanas na dcada de 1950. Nesteextenso e influente trabalho, a autora defende reiteradamente a interao entre os espaospblicos de ruas e parques e os espaos privados dos edifcios como forma de promover aurbanidade perdida em setores degradados das cidades naquele momento devido ao doplanejamento urbano de matriz modernista. A autora defende, essencialmente, o valor positivoda diversidade de usos, de usurios e de tipologias edilcias presente no tecido urbano das

    cidades tradicionais como o principal fator a ser recuperado nas cidades, a fim de secombater a Grande Praga da Monotoniae vitalizar os espaos urbanos.

    As ruas das cidades servem a vrios fins alm de comportar veculos; e as caladas a parte das ruas que cabe aospedestres servem a muitos fins alm de abrigar pedestres. Esses usos esto relacionados circulao, mas noso sinnimos dela, e cada um , em si, to fundamental quanto a circulao para o funcionamento adequado dascidades.A calada por si s no nada. uma abstrao. Ela s significa alguma coisa junto com os edifcios e os outrosusos limtrofes a ela ou a caladas prximas. Pode-se dizer o mesmo das ruas, no sentido de servirem a outros fins,alm de suportar o trnsito sobre rodas em seu leito. As ruas e suas caladas, principais locais pblicos de umacidade, so seus rgos mais vitais.10

    Para Jane Jacobs, trs caractersticas principais so necessrias para o sucesso das ruascomo espao seguro da convivncia pblica, uma das grandes preocupaes da autora:

    Primeira, deve ser ntida a separao entre espao pblico e o espao privado. O espao pblico e o privado nopodem misturar-se, como normalmente ocorre em subrbios ou em conjuntos habitacionais.Segunda, devem existir olhos para a rua, os olhos daqueles que podemos chamar de proprietrios naturais da rua.Os edifcios de uma rua preparada para receber estranhos e garantir a segurana tanto deles quanto dos moradoresdevem estar voltados para a rua. Eles no podem estar com os fundos ou um lado morto para a rua e deix-la cega.

    8 HERCE VALLEJO, FARRERONS, op. cit., p. 23.9 JACOBS, Jane. Morte e vida das grandes cidades. So Paulo: Martins Fontes, 2000.

    10 Ibid., p. 29.

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    E terceira, a calada deve ter usurios transitando ininterruptamente, tanto para aumentar na rua o nmero de olhosatentos quanto para induzir um nmero suficiente de pessoas de dentro dos edifcios da rua a observar caladas.11

    Assim,

    Desde que a rua esteja bem preparada para lidar com estranhos, desde que possua uma demarcao boa e eficazde reas privadas e pblicas e um suprimento bsico de atividades e olhos, quanto mais estranhos houver, maisdivertida ela ser.12

    InfraInfraInfraInfra----estrutura e eestrutura e eestrutura e eestrutura e espaospaospaospao urbanourbanourbanourbano modernomodernomodernomodernoDe fato, as propostas da cidade moderna da Cidade-Jardim Beautiful Radieuse, bemhumorada referncia de Jacobs sntese de vrias propostas urbansticas que serviu decartilha metodolgica para inmeros empreendimentos urbanos pblicos e privados nadcada de 1950 , inserida num grande jardim contnuo rurbanoe organizada racionalmenteem zonas e sistemas monofuncionais autnomos, redundaram em grandes problemas para osespaos livres de uso pblico e, principalmente, para o inerente processo de auto-renovaodas cidades.

    Na reconstruo europia aps a segunda grande guerra, diversas reas foram recuperadascom base nestes princpios, implantando-se grandes edifcios de habitao num espao verde

    abundante e indiferenciado, que resultou menos um espao de articulao das atividadesurbanas e muito mais um espao residual, sem usos efetivos e sem uma clara definio doseu estatuto enquanto espao pblico ou privado ou de toda gradao convencionada nombito do projeto urbano entre estes extremos. Estes projetos, muitas vezes promovidos pelopoder pblico e com a contribuio de arquitetos renomados que conferiram aos edifciosqualidades arquitetnicas indiscutveis, falharam, no entanto, como espao urbano. Talconstatao aponta para o urbanismo moderno, e no para a sua arquitetura, como principalorigem dos problemas verificados nestas experincias. Em outras palavras, embora para oprojeto moderno a arquitetura e o urbanismo constituam uma unidade indissocivel, o queest se observando certa distncia entre os efeitos de um planejamento problemtico e aqualidade, no obstante, das edificaes.

    Partindo das anlises desenvolvidas por Colin Rowe e Fred Koetter13

    e seus estudantes noAtelier de Desenho Urbano da Universidade de Cornell sobre a cidade tradicional,14 vriosautores assinalaram entre eles James Holston15em sua anlise sobre Braslia que a relaoentre figura e fundo presente nas cidades tradicionais foi invertida na cidade moderna.

    Na cidade pr-moderna, a figura associava-se aos espaos vazios (ruas e praas) e o fundoaos slidos (conjunto edificado contnuo); a figura associava-se aos espaos pblicos e ofundo aos espaos privados. Na cidade moderna, feita de edifcios com forma derivada deseus atributos intrnsecos e implantados como objetos isolados e autnomos em meio a umparque contnuo, a figura estaria associada ao espao privado dos edifcios e o fundo aoespao pblico do parque. Em outras palavras, pode-se dizer que na cidade moderna, oucidade parque, foi desfeita a tradicional associao espacial e interao de usos entre as ruas

    a face visvel das infra-estruturas e os edifcios. O espao pblico e o prprio espaourbano no seriam mais estruturados por suas redes infra-estruturais, mas, ao contrrio, comofruto de um projeto total e final, seus edifcios seriam a prpria estrutura urbana disposta sobreum manto verde contnuo sem forma legvel (espao pblico) de uma cidade avantajada em

    11 Ibid., pp. 35-36.

    12 Ibid., p. 41.

    13 ROWE, Colin; KOETTER, Fred. Collage city. Cmbidge/London: The MIT Press, 1978, pp. 50-85.14 NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia terica. So Paulo: Cosac Naify, 2006, p 293.

    15 HOLSTON, James.A Cidade Modernista. Uma Crtica de Braslia e sua Utopia.So Paulo: Companhia das Letras, 1993.

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    natureza, ar e sol. Mesmo nos projetos de cidades novas, onde foram propostasinvariavelmente malhas reguladoras de vias e servios urbanos como estrutura geral, essasmalhas no teriam presena na escala local e, neste mbito, a paisagem seria constitudaquase que exclusivamente por edifcios e jardins. Para Rowe e Koetter, no espao urbanomoderno: The matrix of the city has become transformed from continuous solid to continuousvoid.16

    O Plano Piloto proposto pelos irmos Roberto para Braslia17 ilustra bem as descriesdesenvolvidas acima. Embora sua proposta geral no compartilhasse da formalizaopredominante nas cidades modernas, cristalizada na Chandigarh de Le Corbusier, o seuespao urbano radicalmente moderno. Enquanto a malha retangular de super-quadras deChandigarh foi projetada com 1200 x 800 m, a Braslia dos arquitetos cariocas foi propostacomo uma federao de unidades urbanas auto-suficientes, numa concepo de umametrpole polinuclear com a qualidade de vida das pequenas comunidades. Cada unidadeurbana, de forma circular e dimetro de 2.400 m, foi estruturada internamente por uma malhageral organizadora de seis grandes setores, nos quais, como nas super-quadras deChandigarh, predominariam a vegetao abundante e edifcios autnomos e isolados,independentes de uma estrutura ou matriz urbana. De uma maneira geral, o espao foi

    ordenado pelo prprio agenciamento dos edifcios voltados aos jardins, sem oestabelecimento de diretrizes funcionais e espaciais gerais, subjacentes a infra-estruturasperenes e regulares, como as ruas das cidades tradicionais. Os irmos Roberto assimprocederam por acreditarem que a anlise sistemtica da economia e da populao permitiriaplanejar precisamente todos os detalhes da cidade. Previram e localizaram todas as funes eedifcios, articulados por sistemas de circulao de lgica estrita, num arranjo espacial ondeno caberiam significativas transformaes futuras, imprevistas.

    A proposta dos irmos Roberto levou o esquematismo e a rigidez caractersticos daurbanstica moderna a um excesso at para os padres urbansticos da poca, conformeindica Willian Holford, urbanista ingls que comps o jri do Concurso de Braslia:

    Embora seja um plano para a "cidade do bem-estar", desumano a ponto de serem controladas e restringidas todas

    as posies e circulaes.18

    Em que pese uma rigidez qui ainda maior, o Plano Piloto de Braslia apresentado por RinoLevi e equipe19 apresenta maior coerncia na sua ordem prpria quanto ao sentido dainterao do espao pblico livre com os espaos construdos. A proposta para o setor dehabitao intensiva, o conjunto dos superblocos residenciais concentrados em torno do centroprincipal e implantados conforme os preceitos urbansticos vigentes, em reas essencialmentelivres e ajardinadas, parece mais prxima de realizar os ideais modernos de vida numambiente rurbano, avantajado em sol, ar, e natureza, do que as extensas zonas organizadasem super-quadras, de feio mais ou menos suburbana, apresentadas em vrias das outraspropostas modernas de cidade.

    Os amplos espaos livres, que em outros planos para Braslia configuram-sedesproporcionais, no plano de Rino Levi parecem ser mais equilibrados e integrados aocotidiano urbano pelos imensos edifcios propostos (435 metros de base e 300 metros dealtura). O Superbloco projetado pela equipe configuraria um verdadeiro bairro (16.000

    16 ROWE, KOETTER, op. cit., p. 56.

    17 Ver BRAGA, Milton L. A. O concurso de Braslia: as sete propostas premiadas.So Paulo: dissertao de mestrado, FAUUSP,1999, pp. 90-105.

    18 HOLFORD, William. Resumo das Apreciaes do Jri. Mdulo, n. 8, Edio especial: Braslia. Rio de Janeiro: Revista deArquitetura e Artes Plsticas, julho de 1957, p. 15.

    19 BRAGA. op. cit., pp. 80-90.

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    habitantes) alojado numa malha urbana vertical grande altura acabaria por estabelecer umainterao espacial mais efetiva entre o espao pblico do parque e o conjunto edificado. OSuperbloco, dadas as suas propores, ao manter-se enquanto uma presena evidente emqualquer ponto do espao livre, tornaria as dimenses generosas dos jardins no apenas maisviveis para a circulao e para a recreao, mas permitiria uma configurao urbana degrande nitidez formal, tendendo a eliminar a sensao de espaos residuais e indistintos.

    A ausncia de atributos usuais do espao pblico tradicional fez com que o espao pblicomoderno resultasse, em geral, dbil. O espao pblico na forma de um desmedido parquecontnuo, sem a animao dos fluxos de pessoas e mercadorias e de todas as atividadescorrelatas prprias das principais infra-estruturas de circulao, sem a devida interao comos edifcios e a decorrente animao desta relao, sem forma (figura) e limites, semqualidades espaciais variadas e diversidade de usos possveis, sem clara indicao do seuestatuto pblico e, de certa forma, sem verdadeiramente um pblico ao sersuperdimensionado, fez com que seus potenciais usurios no soubessem que uso fazer dosmesmos. Resultaram espaos residuais entre edifcios, quase sempre dominados porestacionamentos.

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    Plano Piloto de Braslia dos irmos Roberto: Unidade Urbana. (Mdulo, no. 8, op. cit.)

    Plano Piloto de Braslia de Rino Levi e equipe: maquete do setor de Habitao Intensiva. (Mdulo, no. 8, op. cit.)

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    Porm, alm de problemtica ausncia de vitalizao dos espaos pblicos, conformeobservado por Jane Jacobs, interessa destacar, neste divrcio proposto pela urbansticamoderna entre infra-estrutura e espao pblico, a correlata e decorrente dificuldade destesprojetos em se transformar e permitir a evoluo prpria da natureza processual das cidades.

    As figuras do espao pblico livre associado s infra-estruturas das cidades tradicionaisconstituem uma estrutura perene capaz de acolher a contnua auto-renovao urbana, ao

    mesmo tempo em que conferem ao conjunto urbano uma feio estvel. Numa cidade assimorganizada, ao lado da diversidade de usos e usurios to defendida por Jacobs e facultadapela interao entre o espao pblico livre das infra-estruturas e o espao privado construdodos edifcios, o processo de acumulao prprio evoluo urbana acaba por sedimentar noespao da cidade os testemunhos de sua histria configurados nas estruturas construdas(infra-estrutura e edifcios) e em prticas que se tornam convencionais com o passar dotempo. Estes testemunhos so, no entanto, dinmicos, passveis de serem alterados oumesmo eliminados to logo as foras urbanas sociais, culturais e econmicas decidam poratribuir novos valores ao espao construdo. Portanto, o espao urbano da cidade emprocesso contnuo de fazer-se, ao contrrio do espao urbano de feio definitiva da cidademoderna, apresenta-se mais significativo, pois alm dos seus usos correntes num

    determinado momento, contm tambm reminiscncias dos usos urbanos passados, bemcomo a latncia de usos futuros ainda no realizados. Assinale-se aqui, a importncia de AldoRossi em seu famoso livro, A Arquitetura da cidade(1964),20por mostrar como certas antigasedificaes mantm um valor cultural e afetivo estruturante na vida da cidade, independentede terem acolhido diversos usos e funes ao longo da histria.

    TecidoTecidoTecidoTecido urbanourbanourbanourbano

    A noo de tecido urbano parece ser uma forma adequada de exprimir essa condiopotencial dos espaos urbanos, quando certos atributos conferem coeso e padro a umconjunto construdo, que resulta assim, no em uma srie de elementos discretos, mas umnico contedo ou textura, sem limites impostos pelas suas partes, espera de um elementoexgeno que o contenha. Ou seja, a trama perene das infra-estruturas urbanas corriqueirasconstitui um arcabouo fixo que articula e urde o conjunto das construes e usos privados,essencialmente cambiantes, numa permanente unidade. Tanto mais se a relao entre espaopblico livre das infra-estruturas e o espao privado construdo dos edifcios no for apenasfuncional, mas tambm significativamente espacial. Quando houver uma adequada proporoentre as suas dimenses, conforme indicam os exemplos das praas mais emblemticas,sempre definidas muito mais pelas qualidades da arquitetura construda no seu permetro doque por seu tratamento intrnseco.

    Conforme indica tambm, de certo modo, o exemplo destacado da Braslia de Rino Levi, emque o imenso jardim moderno aparece mais proporcional diante dos superblocos, semelhana do que ocorre no Central Park de Nova Iorque, formalmente muito relacionado

    morfologia infra-estrutural e tipologia edilcia circundantes. A grande altura dos edifciosvizinhos, especialmente no sul da ilha de Manhattan, faz com que, do ponto de vista espacial,o parque nova-iorquino distinga-se de qualquer outro parque urbano com proporessemelhantes (850 x 4.100m), por sua disposio, em certo sentido, similar a uma imensapraa.

    20 ROSSI, Aldo.Arquitetura da cidade. So Paulo: Martins Fontes, 1995.

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    Central Park, NY (fonte arquivo do autor)

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    Praa de Cuzco: vista geral. (foto Milton Braga)

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    Ou, ainda, como ocorre nas relaes espaciais das ruas corredores tradicionais, onde osconjuntos edificados constituem um nico alinhamento no vazio, em altura mais ou menosconstante, definindo claramente os limites e as figuras do espao pblico. E, como indica oexemplo de Manhattan, a coeso do conjunto construdo pode ser tributria de variadastipologias edilcias, inclusive isoladas e modernas, e no apenas da tradicional arquitetura daquadra tpica neoclssica. Desde que as tipologias sejam adequadas ao parcelamento do

    solo, ao clima predominante na regio e, obviamente, aos hbitos e imaginrio da populaolocal.

    Colin Rowe e Fred Koetter, em seu ensaio Collage City, publicado em 1975 na revistaArchitectural Review e depois transformado em 1978 em livro21 de grande influencia naurbanstica ps-moderna, alm de desenvolver as citadas anlises sobre a relao figura efundo na cidade tradicional e moderna, defendem o procedimento da bricolagem comoalternativa nostalgia da preservao absoluta da cidade tradicional ou histrica e aosprojetos profticosque fazem tbula rasa dos lugares onde so implantados 22. Os autoresdefendem a bricolagem como forma de conciliar novas intervenes e estilos arquitetnicoscom contextos urbanos preexistentes sem romper com a unidade do conjunto resultante ecom a continuidade do tecido urbano, histrica e espacial. A bricolagem, tal como defendem,

    um procedimento capaz de acolher em sua episteme os conflitos de interesses, ideologias eestilos prprios da dinmica das cidades. Para Rowe e Koetter, a bricolagem trabalha com osrecursos disponveis, ao invs de recursos concebidos e arranjados medida em que oprojeto se desenvolve e assim a forma ideal e autnoma d lugar a formas imperfeitaspormadaptadas cidade histrica, construindo uma colagemno sentido de um conjunto feito comas partes preexistentes e novas, cujo significado maior e mais completo do que oapresentado pelas partes per si.23

    s idias de Rowe seus alunos associaram o termo contextualismo, inicialmente formuladocomo contexturalismo, uma combinao de contexto com textura.24Estas duas designaesindicam a disposio da teoria de Rowe em favor da consolidao do espao urbano comouma textura contnua, como uma colagemde partes no necessariamente iguais em termos

    formais, tipolgicos e histricos, cujas formas finais ou de conjunto so reguladas e definidaspela infra-estrutura de circulao, ou seja, pelas figuras do espao pblico vazio.

    So Paulo, cidade relativamente nova e vertiginosa, com sua tpica heterogeneidade dequadras compostas por edifcios isolados e um tanto desiguais, apresenta no entanto, emalguns bairros, uma coeso de conjunto quando a variedade edilcia apresenta-se como umatextura e no como uma sucesso anmica de disparidades. Exemplar, no caso, a quadrado edifcio Copan, cuja tipologia absolutamente moderna encontra-se deformada25e adaptadaao tecido urbano vizinho tradicional. No preciso enfatizar que a fragmentao maisproblemtica da cidade advm, evidentemente, da disparidade de valor socioeconmico dereas contguas.

    Com um senso muito distinto de quem vem das cidades portuguesas muito mais ordenadasdo que as cidades brasileiras, Alexandre Alves Costa, embora contrariando a afirmao acima,sintetiza igualmente a idia da continuidade espacial como a essncia do atributo urbano

    21 ROWE, KOETTER, op. cit.

    22 NESBITT, op. cit., p. 293.

    23 ROWE, KOETTER, op. cit., pp. 118-149.

    24 NESBITT, op. cit., pp. 322-323.25 Termo utilizado por Thomas L. Schumacher, um ex-aluno de Rowe, para designar a adaptao formal de edifcios a seus

    contextos. SCHUMACHER, Thomas L. Contextualismo: ideais urbanos e deformaes In NESBITT, Kate (org.). Uma novaagenda para a arquitetura: antologia terica. So Paulo: Cosac Naify, 2006, pp. 324-337.

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    E sem dvida, a classificao usual das vias na sua projetao e gesto com o vis setorialtem sido pautada apenas pela sua capacidade viria:

    vias expressasbloqueadas com acesso controlado atravs de faixas de acomodao (weaver)normalmente atreladas s faixas laterais de baixa velocidade;

    vias arteriais com importncia prxima da expressa, para longas distncias e trfego depassagem, porm sem controle rgido de acesso e com eventual semaforizao;

    vias coletorasque so as principais vias dos bairros e responsveis pela coleta e conduo dotrfego local at uma via mais importante nesta hierarquia;

    via locais.

    Para Herce Vallejo e Farrerons,

    El producto resultante ha sido una ciudad que atribuye a la calle una funcin casi exclusiva de canalizadora deltrnsito, sobre todo de vehculos privados, o con especializacin de espacios viarios para cada tipo de movilidad,desde la autopista exclusiva para vehculos a alta velocidad hasta la calle reservada al trnsito peatonal. Vasespecializadas acompaadas de edificaciones aisladas que se independizan de las calles en la nueva organizacindel espacio urbano; perdiendo las calles su multiplicidad de funciones como espacio publico primordial, de lugar derelacin social.31

    Os mesmos autores demonstram que a tipificao das vias de uma cidade estava, na suaorigem, muito mais relacionada sua funo urbanstica do que sua capacidade estritacomo meio de circulao e propem trs tipos principais como uma distino geral das viasdo ponto de vista da estruturao do tecido urbano:

    vias que compem um tecido uniforme;

    vias de bordo dos tecidos uniformes, de delimitao e soldadura destes, muitas vezes comassimetria de situaes em cada um dos seus lados;

    vias de penetrao e sutura entre tecidos uniformes, as quais, de acordo com os autoresespanhis, sem prejuzo da sua continuidade devem ser adequadas a cada um dos trechos dacidade que cruzam.

    Estas vias, por outro lado, podem ser enquadradas em distintas tipologias formais, comdistintos papis urbansticos:

    As Avenidasso vias cujo papel primordial era o de promover a entrada nas cidades e ou aaproximao do seu centro (avenue, sua raiz etimolgica significa chegada)32 e queatualmente so identificadas com as vias cujas construes so sede de atividade intensa deum grande nmero de pessoas ou de atividades de interesse pblico.

    Asramblasespanholas so vias com tipologia formal muito especfica e que costumam ter umpapel similar ao das avenidas. Normalmente originada pela cobertura de um pequeno canal, caracterizada pela grande largura herdada da faixa de servido imposta pelo dispositivo de

    drenagem urbana, assim como pelo amplo passeio central construdo sobre o canal e pelagrande extenso e continuidade garantidas por este. De acordo com Herce Vallejo e Farreronscostumam ser os espaos mais ricos das cidades espanholas.

    Os bulevares, originalmente designao da linha das fortificaes e depois das viasconstitudas junto s muralhas, com a construo dos bulevares de Paris no sculo XIX porHaussmann, passaram a identificar, como os passeios espanhis, vias construdaspreviamente sua ocupao, normalmente para unir dois pontos focais da cidade, com

    31 HERCE VALLEJO, FARRERONS, op. cit., p. 44.

    32 Dicionrio Hoauiss da Lngua Portuguesa. . Acesso em 22 de maio de 2006.

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    comeo e fim, e so caracterizados por amplas caladas arborizadas prprias para o passeioa p como atividade pblica de convivncia social.

    Asruasso as vias ordinrias do tecido urbano. Na organizao do tecido capilar das cidadesso complementadas por vrios elementos menores do sistema de circulao que recebemnormalmente nomes referidos sua tipologia formal como alamedas ou alias, vias comrenques de rvores (lamos) dos seus dois lados,passagensougalerias, vias que passam por

    debaixo ou ao entre conjuntos edificados, escadarias, etc., bem como vias que recebemnomes referidos a sua insero na trama urbana como travessas, as vias secundriastransversais.

    Herce Vallejo e Farrerons resumem ainda as mltiplas funes das ruas:

    Es el espacio pblico por excelencia; el espacio detrado del negocio inmobiliario. Y en consecuencia es definidora,en negativo, del espacio privatizado, de su parcelacin y de sus posibilidades de edificacin.

    Como precinto de parcelacin y edificacin. Es tambin fachada; como alineacin y como rasante definidoras delplano de referencia de la edificacin, y acceso y acometida de servicios urbansticos.

    La calle es espacio de drenaje del agua de escorrenta; no solo como soporte del sistema de drenaje, sino por ser ens misma espacio de recogida y canalizacin de aguas.

    La calle es canal principal de relacin, y, por tanto, se dan sobre ella diferentes formas de movilidad rodada ypeatonal, con usuarios muy diversos; con diferentes requerimientos de circulacin y seguridad; los cuales precisandistintos elementos de regulacin.

    Es espacio de paso de los servicios urbansticos, que aunque subterrneos, tienen servidumbres de distancias deprofundidad y de entrecruzamiento y emergen a la superficie a travs de sus registros.

    Es lugar prioritario de la relacin social y, por ello, se establecen sobre ella muy diversos elementos de comunicacin,publicidad, estancia e inclusos elementos simblicos de integracin social.

    Finalmente, las calles y plazas son el principal elemento del sistema de espacios libres de la ciudad, con mayortamao total que el conjunto de sus parques y jardines; y garantizados de la continuidad del sistema vegetalregulador de sus microclimas.33

    Desde 1963, com a publicao do Relatrio Buchanan34 (nome do engenheiro que presidiu

    seus trabalhos) elaborado por encomenda do Ministrio dos Transportes britnico paraestudar os problemas provocados pela primazia do trfego virio sobre as outras funes dosistema de circulao das cidades, as prioridades entre eficincia viria e qualidade doambiente urbano vm sendo paulatinamente invertidas. Vrias frmulas de mitigao dosefeitos nocivos do trfego foram desenvolvidas, desde solues fsicas introduzidas nas ruaspara a diminuio da velocidade, como estreitamentos e descontinuidades dos traados eelevao das caladas nos cruzamentos para indicar a preferncia do trfego de pedestres atpolticas de gesto do trfego, como o rodzio de veculos e os pedgios urbanos em reasselecionadas. Entre estes extremos, as mais importantes e introduzidas pelo relatrio foram asexperincias com o planejamento virio pensando no apenas na reduo dos tempos deviagens, mas tambm na preservao do ambiente urbano, que, grosso modo, isolaram dotrfego de passagem as reas sensveis ao trnsito excessivo, com a criao de anisperifricos a estas, como no plano apresentado para Nordwich pelo prprio Buchanan em1963. Nos extratos do Relatrio Buchanan que Franoise Choay apresenta em seu livro OUrbanismo encontra-se as seguintes passagens:

    Analisemos agora algumas conseqncias desta idia. Aplicadas ao conjunto de uma cidade, ela criaria uma sriede zonas predominantemente circundantes. Estas zonas comunicar-se-iam entre si pelo entrelaamento de vias dedistribuio, em direo s quais todos os deslocamentos de uma certa importncia seriam obrigatoriamentecanalizados. As relaes entre rede e as zonas circundantes seriam exclusivamente relaes de comunicao; afuno da rede viria consistiria em comunicar zonas circundantes, e no o inverso. Este esquema pode parecer

    33 HERCE VALLEJO, FARRERONS, op. cit., pp. 27-28.

    34 CHOAY, Franoise. O Urbanismo. So Paulo: Editora Perspectiva, 1997, pp. 255-264.

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    elementar (...) no entanto, tem o mrito de mostrar claramente que a circulao e os caminhos no tem fim em simesmos, mas que o objetivo real a zona onde se vive e trabalha. (...) Nunca insistiremos o bastante no fato de queas zonas circundantes de que estamos trat