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Informativo 922-STF (14/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 922-STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 5464 MC-Ref/DF; ADI 5243/DF; ADI 3559/RS; RE 970821/RS. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL LIBERDADE DE EXPRESSÃO Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de divulgação de ideias em universidades públicas e privadas. DIREITO ELEITORAL LIBERDADE DE EXPRESSÃO Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de divulgação de ideias em universidades públicas e privadas DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS O aumento de 45% concedido aos militares pela Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral da remuneração não podendo ser estendida para os servidores públicos civis. DIREITO PROCESSUAL PENAL TRIBUNAL DO JÚRI Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, é possível a execução provisória da pena mesmo antes de o Tribunal julgar a apelação interposto pela defesa? SUSTENTAÇÃO ORAL Sustentação oral do MP pode discordar do parecer oferecido por outro membro do Parquet. RECURSOS Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação, mas com base em fundamentos diversos da sentença. DIREITO CONSTITUCIONAL LIBERDADE DE EXPRESSÃO Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de divulgação de ideias em universidades públicas e privadas São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem ou promovam: • o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;

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Informativo 922-STF (14/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Informativo comentado: Informativo 922-STF

Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 5464 MC-Ref/DF; ADI 5243/DF; ADI 3559/RS; RE 970821/RS.

ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

LIBERDADE DE EXPRESSÃO Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de

divulgação de ideias em universidades públicas e privadas. DIREITO ELEITORAL

LIBERDADE DE EXPRESSÃO Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de

divulgação de ideias em universidades públicas e privadas

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS O aumento de 45% concedido aos militares pela Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral da remuneração não

podendo ser estendida para os servidores públicos civis.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, é possível a execução provisória da pena mesmo antes de o Tribunal

julgar a apelação interposto pela defesa? SUSTENTAÇÃO ORAL Sustentação oral do MP pode discordar do parecer oferecido por outro membro do Parquet. RECURSOS Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação, mas com base em fundamentos diversos da

sentença.

DIREITO CONSTITUCIONAL

LIBERDADE DE EXPRESSÃO Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de

atividades de divulgação de ideias em universidades públicas e privadas

São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem ou promovam:

• o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;

Informativo comentado

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• o recolhimento de documentos (ex: panfletos);

• a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários;

• a realização de atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de universidades públicas e privadas.

STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/10/2018 (Info 922).

Buscas e apreensões realizadas em universidades Durante o segundo turno das eleições presidenciais de 2018 houve “denúncias” de que, em algumas universidades públicas, professores e alunos estariam fazendo campanha eleitoral contra o então candidato Jair Bolsonaro. Diante disso, alguns juízes e Tribunais Regionais Eleitorais proferiram decisões determinando busca e apreensão de supostos panfletos e materiais que estariam sendo distribuídos em tais instituições e que representariam campanha eleitoral, o que seria vedado por se tratar de uma entidade pública. Tais panfletos conteriam a frase “Ele Não” e outras mensagens contra o referido candidato. Em algumas outras universidades, os materiais foram retirados por iniciativa da própria Polícia, sem que houvesse ordem judicial. Três exemplos: • na Universidade Federal de Uberlândia – UFU, policiais militares retiraram uma faixa com propaganda eleitoral colocada do lado externo de uma das portarias do campus. • na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, policiais retiraram faixas em homenagem à vereadora Marielle Franco e com as inscrições “Direito Uerj Antifascismo”. • na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, foram retirados cartazes supostamente de apoio ao candidato Fernando Haddad. Segundo restou apurado, atos de manifestação de pensamento e mesmo aulas teriam sido interrompidos ou proibidos. Art. 37 da Lei nº 9504/97 Os juízes e TREs deferiram essas ordens de busca e apreensão alegando que o art. 37 da Lei nº 9.504/97 proíbe propaganda eleitoral em universidades públicas:

Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público, ou que a ele pertençam, e nos bens de uso comum, inclusive postes de iluminação pública, sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta e exposição de placas, estandartes, faixas, cavaletes, bonecos e assemelhados. § 1º A veiculação de propaganda em desacordo com o disposto no caput deste artigo sujeita o responsável, após a notificação e comprovação, à restauração do bem e, caso não cumprida no prazo, a multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a R$ 8.000,00 (oito mil reais). § 2º Não é permitida a veiculação de material de propaganda eleitoral em bens públicos ou particulares, exceto de: I - bandeiras ao longo de vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o bom andamento do trânsito de pessoas e veículos; II - adesivo plástico em automóveis, caminhões, bicicletas, motocicletas e janelas residenciais, desde que não exceda a 0,5 m² (meio metro quadrado). (...)

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ADPF A Procuradora-Geral da República ajuizou ADPF contra esse conjunto de atos do Poder Público (decisões judiciais e ações policiais). Alegou que tais apreensões ultrapassaram os limites de fiscalização do processo eleitoral e afrontaram o preceito fundamental da liberdade de expressão, na qual se incluem a livre manifestação do pensamento e de cátedra e a autonomia universitária. A liberdade de cátedra (também chamada de liberdade acadêmica) é um princípio segundo o qual o professor deve ter a liberdade de pesquisar e ensinar, ou seja, divulgar seu pensamento, arte e saber. Por outro lado, o aluno tem também a liberdade de aprender e pesquisar, sem a imposição de censuras. A liberdade de cátedra está prevista nos incisos II e III do art. 206 da CF/88:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

A autonomia universitária, por sua vez, está consagrada no caput do art. 207 do texto constitucional:

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Pediu, portanto, a declaração de nulidade desses atos e que fosse garantido o direito à liberdade de expressão no ambiente universitário. Primeira pergunta: cabe ADPF neste caso? SIM. A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) é uma ação prevista no art. 102, § 1º, da CF/88. Confira:

CF/Art. 102 (...) § 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.

Foi editada a Lei nº 9.882/99 para regulamentar a ADPF. Trata-se de um instrumento de controle concentrado de constitucionalidade. A competência para julgar a ADPF de que trata o art. 102, § 1º da CF/88 é do STF. As hipóteses de cabimento da ADPF estão previstas no art. 1º da Lei nº 9.882/99:

Art. 1º A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público. Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito fundamental: I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição;

O STF entende que:

O conjunto de reiteradas decisões sobre determinada matéria é considerado ato do poder público passível de controle pela ADPF e esta é a via correta para questionar interpretação judicial de normas constitucionais e legais. STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/10/2018 (Info 922).

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E quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido da PGR? SIM. Os atos questionados violam: • os princípios constitucionais que asseguram a liberdade de manifestação do pensamento e • as garantias inerentes à autonomia universitária. Subjetivismo e erro de interpretação Para o STF, as decisões proferidas apresentam-se com alto grau de “subjetivismo”, incompatível com a objetividade e neutralidade que devem permear a função judicante. Além disso, tais atos demonstram erro de interpretação de lei, conduzindo a uma interpretação contrária ao Estado democrático de direito. Liberdades públicas e processo eleitoral democrático O processo eleitoral, no Estado democrático, fundamenta-se nos princípios: • da liberdade de manifestação do pensamento; • da liberdade de informação; • da liberdade de ensino e aprendizagem; • da liberdade de escolhas políticas; e • da autonomia universitária. As decisões impugnadas interromperam atos pelos quais professores e alunos expressavam suas ideias e ideologias, preferências, propostas e percepções do que se quer no processo político. Sem liberdade de manifestação, a escolha é inexistente. O processo eleitoral transforma-se em enquadramento eleitoral, próprio das ditaduras. Por isso, toda interpretação de norma jurídica que colida com qualquer daqueles princípios ou que restrinja ou impeça a manifestação da liberdade é inconstitucional e, portanto, inválida. Essa nulidade é ainda mais grave porque a restrição à liberdade de manifestação ocorreu dentro do ambiente universitário, onde vigora, por força constitucional, a liberdade de informação, ensino e aprendizagem, além da autonomia universitária. Finalidade do art. 37 da Lei nº 9.504/97 A finalidade desta norma é impedir o abuso do poder econômico e político e preservar a igualdade entre os candidatos no processo. A norma visa, portanto, resguardar a liberdade do cidadão, o amplo acesso às informações, para que ele decida conforme sua livre convicção, sem cerceamento direto ou indireto a seu direito de escolha. Assim, esse artigo não proíbe o exercício das liberdades individuais e públicas, ou seja, não veda que os cidadãos divulguem suas ideias, opiniões, ideologias. Da mesma forma, não proíbe as atividades de docência, que devem ser exercidas com liberdade. Autonomia universitária A CF/88 assegurou às universidade autonomia para que elas, de forma discricionária, possam fazer suas escolhas para o melhor desempenho de suas funções. O pluralismo de ideias está na base da autonomia universitária como extensão do princípio fundante da democracia brasileira, previsto no art. 1º, V, da CF/88. As universidades são, portanto, “espaços de liberdade e de libertação pessoal e política”. Em suma:

São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem ou promovam: • o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;

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• o recolhimento de documentos (ex: panfletos); • a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários; • a realização de atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de universidades públicas e privadas. STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/10/2018 (Info 922).

DIREITO ELEITORAL

LIBERDADE DE EXPRESSÃO Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de

atividades de divulgação de ideias em universidades públicas e privadas

São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem ou promovam:

• o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;

• o recolhimento de documentos (ex: panfletos);

• a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários;

• a realização de atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de universidades públicas e privadas.

STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/10/2018 (Info 922).

Veja comentários em Direito Constitucional.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS O aumento de 45% concedido aos militares pela Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral da

remuneração, não podendo ser estendida para os servidores públicos civis

Não é possível a extensão a servidores públicos civis da majoração de vencimentos, no percentual de 45%, concedida a servidores militares, a título de reestruturação de cargos, com base na Lei nº 8.237/91 e no princípio da isonomia dos índices revisionais disciplinados na redação original do art. 37, X, da Constituição Federal.

O reajuste de vencimentos concedido aos integrantes das Forças Armadas, à base de 45%, pela Lei nº 8.237/91, não configurou um aumento geral na remuneração dos servidores militares que autorizasse, com fundamento no art. 37, X, da CF/88, a extensão aos servidores civis.

STF. 2ª Turma. RE 229637/ SP, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 6/11/2018 (Info 922).

Informativo comentado

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Imagine a seguinte situação hipotética: João, servidor público federal, ajuizou ação contra a União alegando que a Lei nº 8.237/91 concedeu reajuste de 45% para os militares e que ele, como servidor público civil, não foi incluído. Afirma que essa Lei nº 8.237/91 foi uma forma encontrada pela União de fazer, de modo dissimulado, a revisão geral anual prevista no art. 37, X, da CF/88, mas sem incluir os servidores públicos civis federais. Logo, teria havido violação ao art. 37, X, por ter sido concedida uma revisão geral anual com índices diferenciados. Veja o que dizia a redação originária da CF/88:

Art. 37 (...) X - a revisão geral da remuneração dos servidores públicos, sem distinção de índices entre servidores públicos civis e militares, far-se-á sempre na mesma data; (redação antes da EC 20/98)

Assim, o art. 37, X, da CF/88, antes da EC 19/98, estabelecia que a revisão geral da remuneração dos servidores públicos civis deveria ser feita nos mesmos índices que a revisão geral da remuneração dos militares e vice-versa. Havia uma vinculação entre eles. O STF concordou com o pedido do autor? NÃO.

Não é possível a extensão a servidores públicos civis da majoração de vencimentos, no percentual de 45%, concedida a servidores militares, a título de reestruturação de cargos, com base na Lei nº 8.237/91 e no princípio da isonomia dos índices revisionais disciplinados na redação original do art. 37, X, da Constituição Federal. STF. 2ª Turma. RE 229637/ SP, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 6/11/2018 (Info 922).

Por quê? Porque a Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral da remuneração para os militares. Esta Lei foi uma restruturação das Forças Armadas, sendo, portanto, específica para os militares. Assim, tendo em vista tratar-se de reestruturação remuneratória da carreira militar, redefinindo remuneração, soldo, gratificações, adicionais, auxílios, indenizações e proventos, não há que se falar em extensão aos servidores públicos civis. Mas não houve aí um tratamento desigual com os servidores civis? Não seria possível conceder o aumento para os servidores civis com base no princípio da isonomia? NÃO.

Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia.

Atualmente, a regra constitucional de equiparação entre servidores civis e militares continua a mesma? NÃO. A EC 19/98 alterou o texto constitucional e impôs duas mudanças que interessam diretamente ao tema: 1) Antes da EC 19/98, os militares eram chamados de “servidores públicos militares”, em contraposição aos “servidores públicos civis”. Após a mudança, os militares deixaram de ser qualificados como servidores públicos e passaram a ser denominados apenas de “militares”. Os antigos “servidores públicos civis” agora são chamados apenas de “servidores públicos”; 2) A redação do inciso X do art. 37 foi modificada e não mais existe essa equiparação entre os servidores públicos e os militares. Veja:

Art. 37 (...)

Informativo comentado

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X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; (Redação dada pela EC 19/98)

Assim, se atualmente for dado um reajuste anual para os militares maior do que para os servidores públicos do Poder Executivo federal, estes não terão direito de pedir equiparação. O contrário também é verdadeiro.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COLABORAÇÃO PREMIADA Não há óbice ao compartilhamento de delação premiada, desde que haja delimitação dos fatos

É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas obtidas no acordo de colaboração premiada, desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação ao colaborador.

Assim, por exemplo, se um indivíduo celebra acordo de colaboração premiada com o MP aceitando fornecer provas contra si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que foram ajustadas no acordo.

STF. 2ª Turma. PET 7065/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 (Info 922).

Ainda que remetido a outros órgãos do Poder Judiciário para apuração dos fatos delatados, o juízo que homologou o acordo de colaboração premiada continua sendo competente para analisar os pedidos de compartilhamento dos termos de depoimentos prestados no âmbito da colaboração.

STF. 2ª Turma. PET 7065/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 (Info 922).

Imagine a seguinte situação hipotética: Ricardo Saud, ex-executivo do Grupo J&F, celebrou, com o Ministério Público Federal, um termo de colaboração premiada. Como a colaboração delatava a prática de crimes que, em tese, teriam sido praticados por autoridades com foro no STF, foi o próprio Supremo quem fez a homologação deste acordo. Pedido de compartilhamento O Ministério Público de Santa Catarina pediu compartilhamento de trecho da colaboração premiada de Ricardo Saud para apuração de eventual ato de improbidade administrativa que teria sido praticado pelo Governador do Estado. Ocorre que havia dois “problemas”: 1) Como este trecho da delação não envolvia autoridades com foro privativo no Supremo, o STF já tinha declinado a competência e remetido as declarações de Saud para o STJ. 2) No acordo de colaboração premiada, já ficaram estabelecidas as sanções a que Saud estaria sujeito. Assim, se ele fosse denunciado também por improbidade, estaria recebendo uma punição não prevista no acordo. Primeira questão: o STF tem competência para analisar esse pedido? SIM.

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Ainda que remetido a outros órgãos do Poder Judiciário para apuração dos fatos delatados, o juízo que homologou o acordo de colaboração premiada continua sendo competente para analisar os pedidos de compartilhamento dos termos de depoimentos prestados no âmbito da colaboração. STF. 2ª Turma. PET 7065/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 (Info 922).

Segunda questão: é possível o compartilhamento? SIM. É admissível o compartilhamento dos termos de declaração do colaborador premiado para serem utilizados, como prova emprestada, a fim de subsidiar apurações em outras esferas. Assim, havendo delimitação dos fatos, não há nada que impeça o compartilhamento dos depoimentos com o Ministério Público estadual a fim de que o órgão possa investigar a prática de eventual ato de improbidade administrativa por parte de agente público. Vale ressaltar, contudo, que o compartilhamento dos termos de depoimentos prestados no âmbito de colaboração premiada deve respeitar as balizas do acordo homologado em juízo. Em outras palavras, o pedido de compartilhamento deve respeitar os termos do acordo. Provas não podem ser utilizadas contra o colaborador Assim, as provas obtidas com o acordo de colaboração premiada podem ser compartilhadas com outros órgãos e autoridades públicas nacionais e até estrangeiras. Tais provas podem ser utilizadas por tais autoridades para fins cíveis, fiscais, administrativos e até mesmo criminais. No entanto, tais provas NÃO podem ser utilizadas contra os próprios colaboradores para produzir punições além daquelas pactuadas no acordo. Em outras palavras, no acordo de colaboração premiada, o colaborador confessou a prática de ilícitos e apresentou provas contra outras pessoas que também participaram dos fatos. No próprio acordo já ficaram acertadas as sanções a que ele irá se submeter. Se uma outra autoridade (ex: MP/SC) pede para utilizar tais provas, isso pode ser autorizado, mas tais elementos fornecidos não poderão ser utilizados contra o colaborador. Esta ressalva deve ser expressamente comunicada ao destinatário da prova, com a informação de que se trata de uma limitação intrínseca e subjetiva de validade do uso da prova, nos termos da Nota Técnica nº 01/2017, da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF. Por que funciona assim? O colaborador aceitou produzir provas contra si mesmo porque isso ficou combinado segundo os termos do acordo de colaboração premiada celebrado com o Estado. Em outras palavras, o colaborador concordou em confessar porque foi feito um acordo de que ele somente seria punido de acordo com aquilo que foi combinado. Assim, a utilização de tais elementos probatórios, produzidos pelo próprio colaborador, em seu prejuízo, de modo distinto do firmado com a acusação e homologado pelo Judiciário, é prática abusiva, que viola o direito à não autoincriminação.

É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas obtidas no acordo de colaboração premiada, desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes. Assim, por exemplo, se um indivíduo celebra acordo de colaboração premiada com o MP aceitando fornecer provas contra si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que foram ajustadas no acordo. STF. 2ª Turma. PET 7065/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 (Info 922).

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TRIBUNAL DO JÚRI Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, é possível a execução provisória da pena mesmo

antes de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa?

Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, é possível a execução provisória da pena mesmo antes de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa?

1ª corrente: SIM.

É possível a execução da condenação pelo Juiz Presidente do Tribunal do Júri, independentemente do julgamento da apelação ou de qualquer outro recurso, em face do princípio da soberania dos veredictos.

Assim, nas condenações pelo Tribunal do Júri não é necessário aguardar julgamento de recurso em segundo grau de jurisdição para a execução da pena.

STF. 1ª Turma. HC 140449/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/11/2018 (Info 922).

STF. 1ª Turma. HC 118770 ED, Redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 04/06/2018.

2ª corrente: NÃO

Não é possível a execução provisória da pena em face de decisão do júri sem que haja o exaurimento em grau recursal das instâncias ordinárias, sob pena de macular o princípio constitucional da presunção de inocência.

A execução provisória da pena somente é admitida se o recurso pendente de julgamento não tiver efeito suspensivo.

STF. 2ª Turma. HC 136223, Rel. Min. Dias Toffoli, Segunda Turma, julgado em 25/04/2017.

STJ. 5ª Turma. HC 438088, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/05/2018.

STJ. Presidente Min. Laurita Vaz, em decisão monocrática no HC 458.249, julgado em 12/07/2018.

EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA Condenação definitiva e execução da pena Se um indivíduo é condenado por um crime e contra esta decisão não cabe mais nenhum recurso, dizemos que a decisão transitou em julgado. Logo, a condenação é definitiva. Se o indivíduo é condenado definitivamente a uma pena e passa a cumprir essa pena, dizemos que está havendo a execução da pena.

Condenação provisória Se um indivíduo é condenado por um crime e contra esta decisão ainda cabem recursos, dizemos que a decisão não transitou em julgado. Logo, a condenação é provisória. Imagine que um indivíduo está condenado, mas ainda falta julgar algum recurso que ele interpôs. Se esse indivíduo inicia o cumprimento da pena imposta, dizemos que está havendo aí uma execução provisória da pena. Isso porque a condenação ainda é provisória.

Execução provisória da pena Desse modo, execução provisória da pena significa o réu cumprir a pena imposta na decisão condenatória mesmo sendo ainda uma decisão provisória (ainda sujeita a recursos). Execução provisória da pena é, portanto, o início do cumprimento da pena imposta, mesmo que a decisão condenatória ainda não tenha transitado em julgado.

Argumento contrário à execução provisória da pena O principal argumento daqueles que são contrários à execução provisória da pena é a alegação de que ela violaria o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88 e que diz:

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Informativo 922-STF (14/11/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10

Art. 5º (...) LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

Situação 1. Imagine agora a seguinte situação hipotética: João foi condenado a uma pena de 8 anos de reclusão, tendo sido a ele assegurado na sentença o direito de recorrer em liberdade. O réu interpôs apelação, mas o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, João interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. João, que passou todo o processo em liberdade, deverá aguardar o julgamento dos recursos especial e extraordinário preso? É possível executar provisoriamente a condenação enquanto se aguarda o julgamento dos recursos especial e extraordinário? É possível que o réu condenado em 2ª instância seja obrigado a iniciar o cumprimento da pena mesmo sem ter havido ainda o trânsito em julgado? SIM. Conforme entendimento atual do STF, é possível iniciar a execução da pena se o réu condenado somente está esperando o julgamento dos recursos especial e extraordinário. Isso porque tais recursos não gozam de efeito suspensivo. Nesse sentido:

A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência. STF. Plenário. HC 126292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/02/2016 (Info 814).

A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88) e não viola o texto do art. 283 do CPP. STF. Plenário. ADC 43 e 44 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgados em 05/10/2016 (Info 842).

Em regime de repercussão geral, fica reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal. STF. Plenário virtual. ARE 964246 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/11/2016 (repercussão geral).

EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA E CONDENAÇÃO PELO TRIBUNAL DO JÚRI

Situação 2. Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro foi denunciado, pronunciado e levado a julgamento pelo Tribunal do Júri em virtude da prática de homicídio qualificado. João foi condenado pelos jurados. O juiz fixou a pena em 12 anos de reclusão, em regime inicial fechado. Vale ressaltar que Pedro permaneceu solto durante toda a instrução. A defesa interpôs apelação para o Tribunal de Justiça pedindo a anulação do veredicto dos jurados. O Ministério Público requereu que fosse decretada a prisão imediata do réu para a execução provisória da sentença. Em outras palavras, o MP pediu para que o réu permanecesse preso enquanto não se julga a apelação. A defesa refutou esse pedido do MP dizendo que ele era absurdo. Isso porque a apelação criminal possui efeito suspensivo.

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Se um recurso tem efeito suspensivo, isso significa que a sua interposição impede a eficácia/aplicabilidade da decisão recorrida. Em outras palavras, a decisão recorrida não produzirá efeitos (não poderá ser executada) enquanto o recurso não for julgado. O pedido do MP deve ser acolhido? Em caso de condenação pelo Tribunal do Júri, é possível a execução provisória da pena mesmo antes de o Tribunal julgar a apelação interposta pela defesa? O cenário atual é o seguinte: 1ª corrente: SIM

É possível a execução da condenação pelo Juiz Presidente do Tribunal do Júri, independentemente do julgamento da apelação ou de qualquer outro recurso, em face do princípio da soberania dos veredictos. Assim, nas condenações pelo Tribunal do Júri não é necessário aguardar julgamento de recurso em segundo grau de jurisdição para a execução da pena. STF. 1ª Turma. HC 140449/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 6/11/2018 (Info 922). STF. 1ª Turma. HC 118770 ED, Redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 04/06/2018.

Para a primeira corrente, essa possibilidade está alinhada com a lógica do precedente firmado pelo STF no ARE 964.246, já que, também no caso de decisão do Júri, o Tribunal, mesmo em apelação, não poderá reapreciar os fatos e provas, na medida em que a responsabilidade penal do réu já foi assentada soberanamente pelo Tribunal Popular. A Constituição Federal prevê a competência do Tribunal do Júri para o julgamento de crimes dolosos contra a vida (art. 5º, XXXVIII, “d”), ressaltando, ademais, a soberania dos veredictos (art. 5º, XXXVIII, “c”). Isso significa que os tribunais não podem substituir a decisão proferida pelo júri popular, podendo, no máximo, determinar a realização de novo júri. Em outras palavras, entende-se que a condenação no júri abalaria fortemente a presunção de inocência, ficando autorizado o imediato início da execução penal, logo após a leitura da sentença. Por outro lado, o Ministro Roberto Barroso asseverou que, se houver fortes indícios de nulidade ou de que a condenação foi, de fato, manifestamente contrária à prova dos autos, o Tribunal poderá suspender a execução da decisão até o julgamento do recurso. Ou seja, enquanto não desfeita a condenação pelo júri, prevalece a decisão soberana do júri. Obs: vale ressaltar que não se pode nem mesmo dizer que essa seja a posição da 1ª Turma do STF porque o Min. Marco Aurélio votou em sentido contrário e os Ministros Rosa Weber e Luiz Fux negaram o habeas corpus, mas por fundamentos diferentes. 2ª corrente: NÃO

Não é possível a execução provisória da pena em face de decisão do júri, sem que haja o exaurimento em grau recursal das instâncias ordinárias, sob pena de macular o princípio constitucional da presunção de inocência. A execução provisória da pena somente é admitida se o recurso pendente de julgamento não tiver efeito suspensivo. STF. 2ª Turma. HC 136223, Rel. Min. Dias Toffoli, Segunda Turma, julgado em 25/04/2017 STJ. 5ª Turma. HC 438.088, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/05/2018. STJ. Presidente Min. Laurita Vaz, em decisão monocrática no HC 458.249, julgado em 12/07/2018.

Para a segunda corrente, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o ARE 964.246, entendeu que o início da execução da pena condenatória após a confirmação da sentença em segundo grau não ofende

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o princípio constitucional da presunção de inocência, sendo permitida a prisão, entretanto, apenas após o esgotamento das instâncias ordinárias. Logo, não há o esgotamento da jurisdição nas instâncias ordinárias antes do julgamento da apelação pelo Tribunal de 2ª instância. Além disso, entende-se que, mesmo na esfera do Júri, o Tribunal em sede de apelação, nas hipóteses do art. 593, III, do CPP, pode: reconhecer eventual nulidade posterior à pronúncia; proclamar que a decisão soberana é manifestamente contrária às provas dos autos; retificar a sentença do juiz-presidente, quando for contrária à lei ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos; e pode, ainda, corrigir eventual equívoco no procedimento de individualização da pena. Assim, em que pese não seja possível a modificação da decisão dos jurados, como absolver o réu ou reconhecer/afastar qualificadora, por exemplo, em razão da soberania do veredicto, é certo que esse controle revisional pode ter repercussão direta no que foi decidido em primeiro grau, seja submetendo o réu a novo julgamento, seja alterando aspectos da sentença que são da competência do juiz-presidente. Por fim, considera-se que a soberania dos veredictos não é absoluta e convive em harmonia com o sistema recursal desenhado pelo CPP. Em outras palavras, o fato de o tribunal, no julgamento de apelação contra decisão do Tribunal do Júri, não estar legitimado a efetuar o juízo rescisório, em nada influencia nem tampouco implica na execução imediata da sentença condenatória, pois permanece intacta a sua competência para efetuar o juízo rescindente e determinar, se for o caso, um novo julgamento. Qual é a posição que devo adotar em concursos? Em uma prova de concurso, você deve expor que existe divergência entre a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Penso, contudo, que a segunda corrente é majoritária e que a primeira é mais uma posição isolada do Min. Roberto Barroso. De qualquer modo, o cenário atual é o seguinte:

É possível executar provisoriamente a condenação pelo Tribunal do Júri após a leitura da sentença sem que ofenda o princípio constitucional da presunção de inocência? SIM. Precedentes da 1ª Turma do STF. NÃO. Posição da 2ª Turma do STF e 5ª Turma do STJ.

Agradeço ao amigo Felipe Duque pela valiosa contribuição.

SUSTENTAÇÃO ORAL Sustentação oral do MP pode discordar do parecer oferecido por outro membro do Parquet

Atenção! Ministério Público

A sustentação oral do representante do Ministério Público que diverge do parecer juntado ao processo, com posterior ratificação, não viola a ampla defesa.

STF. 1ª Turma. HC 140780/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 30/10/2018 (Info 922).

Imagine a seguinte situação adaptada: João foi condenado em 1ª instância. A defesa interpôs apelação. O Ministério Público foi intimado e apresentou contrarrazões pedindo o desprovimento do recurso defensivo e a manutenção da sentença. Chegando o processo no Tribunal, o Ministério Público foi novamente intimado para apresentar parecer como custos legis.

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O membro do MP que atua no Tribunal apresentou parecer escrito concordando com a defesa e pedindo o provimento do recurso. No dia da sessão de julgamento, o membro que atua no Tribunal foi chamado a se manifestar novamente como custos legis e ratificou oralmente o parecer escrito que havia sido juntado no processo. Ocorreu, no entanto, algo inusitado: outro membro do MP (o mesmo que havia apresentado contrarrazões) fez sustentação oral na qual pediu o desprovimento do recurso e a manutenção da sentença condenatória. O Tribunal decidiu pelo desprovimento do recurso e manteve a condenação. A defesa impetrou, então, habeas corpus alegando que houve nulidade porque a sustentação oral do MP divergiu da opinião que já havia sido manifestada pelo órgão em parecer escrito que foi ratificado. O STF concordou com a tese da defesa? NÃO. O STF entendeu que não houve nulidade.

A sustentação oral do representante do Ministério Público que diverge do parecer juntado ao processo, com posterior ratificação, não viola a ampla defesa. STF. 1ª Turma. HC 140780/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 30/10/2018 (Info 922).

O papel do Ministério Público como custos legis não se confunde com o de órgão acusador, podendo opinar pela absolvição do réu, por exemplo, ainda que o recurso tenha sido da defesa. De igual forma, o membro do MP que atua no caso não está vinculado ao parecer proferido, gozando de independência funcional.

RECURSOS Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação,

mas com base em fundamentos diversos da sentença

Não caracteriza reformatio in pejus a decisão de tribunal de justiça que, ao julgar recurso de apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo magistrado de primeiro grau, porém com fundamentos diversos daqueles adotados na sentença.

Não viola o princípio da proibição da reformatio in pejus a reavaliação das circunstâncias judiciais em recurso de apelação penal, no âmbito do efeito devolutivo, desde que essa não incorra em aumento de pena.

Não há falar em reformatio in pejus se os motivos expendidos pelo julgador em sede de apelação exclusiva da defesa não representaram advento de situação mais gravosa para o réu.

STF. 1ª Turma. RHC 119149/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774).

STF. 1ª Turma. HC 126457/PA, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/11/2018 (Info 922).

Esse é também o entendimento do STJ: STJ. 5ª Turma. HC 330.170/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/09/2016.

Em recurso exclusivo da defesa, o Tribunal não pode complementar a sentença para acrescentar fatos que possam repercutir negativamente no âmbito da dosimetria da pena (STF. 1ª Turma. HC 101380, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 04/10/2011). Se o Tribunal fizesse isso, haveria a chamada reformatio in pejus. Vale ressaltar, no entanto, que não caracteriza “reformatio in pejus” a decisão de tribunal de justiça que, ao julgar recurso de apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo magistrado de primeiro grau, porém com fundamentos diversos daqueles adotados na sentença.

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Exemplo 1: O réu foi condenado em 1ª instância e apelou para o TJ. O MP não recorreu. No recurso, a defesa questionou os parâmetros utilizados na dosimetria da pena. O TJ manteve a condenação e a pena imposta, no entanto, o Desembargador falou que um dos aspectos não deveria ser considerado como “conduta social” (como fez o juiz), sendo mais adequado classificar essa circunstância como “personalidade” do agente. Desse modo, o Tribunal manteve a reprimenda fixada, mas com fundamento diferente do que foi adotado na sentença, o que não configura reformatio in pejus. STF. 1ª Turma. RHC 119149/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774).

Exemplo 2: Elton foi condenado pela prática de roubo majorado. Na 1ª fase da dosimetria, o juiz fixou a pena-base em 6 anos e 6 meses. Para o magistrado, existem três circunstâncias judiciais que devem ser valoradas negativamente: • a culpabilidade • os antecedentes criminais e • as consequências do delito.

O MP não recorreu. A defesa, por seu turno, interpôs apelação alegando, dentre outros argumentos, que a dosimetria feita pelo juiz foi errada. O Tribunal de Justiça concordou em parte com a defesa e disse o seguinte: • culpabilidade: o juiz acertou e deve realmente ser valorada negativamente. • antecedentes: o juiz errou. Isso porque ele não poderia ter considerado como maus antecedentes uma condenação que ainda não transitou em jugado. Logo, essa consideração negativa deverá ser excluída. • consequências do delito: o juiz acertou e deve ser mantida.

O Tribunal considerou também que as circunstâncias do crime, apesar de o juiz não ter dito nada, deveriam ser reputadas negativas. Desse modo, o Tribunal falou o seguinte: olha, eu vou retirar os antecedentes como uma circunstância negativa. Em compensação, eu estou incluindo uma nova como negativa, qual seja, as consequências do crime. Diante disso, como continuam três circunstâncias negativas, mantenho a pena-base em 6 anos e 6 meses de reclusão.

O Tribunal poderia ter feito isso? SIM.

Não viola o princípio da proibição da reformatio in pejus a reavaliação das circunstâncias judiciais em recurso de apelação penal, no âmbito do efeito devolutivo, desde que essa não incorra em aumento de pena. Não há falar em reformatio in pejus se os motivos expendidos pelo julgador em sede de apelação exclusiva da defesa não representaram advento de situação mais gravosa para o réu. STF. 1ª Turma. HC 126457/PA, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/11/2018 (Info 922).

Esse é também o entendimento do STJ:

(...) 5. Embora não seja admissível que o Tribunal a quo agregue novos dados em recurso exclusivo da defesa, visto que tal prática implicaria violação do princípio da ne reformatio in pejus, é lícito às instâncias ordinárias proceder à análise da legalidade dos fundamentos da decisão de primeiro grau para conferir melhor compreensão da quaestio iuris objeto da sentença impugnada no recurso, respeitada a extensão cognitiva da sentença impugnada e os limites quantitativo e qualitativos da pena imposta. (...) STJ. 5ª Turma. HC 330.170/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/09/2016.

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OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio

eletrônico*

Em curso Finalizados

Pleno 31.10.2018

7.11.2018

08.11.2018 7 3 154

1ª Turma 30.10.2018

06.11.2018

— 4 85 325

2ª Turma 30.10.2018

06.11.2018

— 3 16 114

* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 26 de outubro a 9 de novembro 2018.

CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L DJe de 29 de outubro a 9 de novembro de 2018

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.070.522 – PE

RELATOR ORIGINÁRIO: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE.

SERVIÇOS DE RADIODIFUSÃO. DELEGAÇÃO. EDITAL. LICITAÇÃO. DESCLASSIFICAÇÃO. LIMITES PERCENTUAIS MÍNIMOS E

MÁXIMOS RELATIVOS AO TEMPO DESTINADO AOS PROGRAMAS CULTURAIS, ARTÍSTICOS E JORNALÍSTICOS PRODUZIDOS NO

MUNICÍPIO OBJETO DA OUTORGA. ARTIGO 16, PARÁGRAFO 1º, ALÍNEA C, E PARÁGRAFO 3º, INCISO I, DO DECRETO 52.795/1963.

CONTROVÉRSIA QUANTO À SUA RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988. MANIFESTAÇÃO PELA EXISTÊNCIA

DE REPERCUSSÃO GERAL.

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.025.986 – PE

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO

Ementa: IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS – ATIVO IMOBILIZADO – VENDA DE BENS –

CONVÊNIO – CONSTITUCIONALIDADE – ADMISSÃO NA ORIGEM – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL

CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia alusiva à incidência tributária considerada a venda de ativo imobilizado.

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.162.883 – SP

RELATOR : MINISTRO DIAS TOFFOLI

Recurso extraordinário com agravo. Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD). Base de

cálculo. Princípio da legalidade. Súmula nº 636/STF. Interpretação da legislação local. Súmula nº 280/STF. Matéria infraconstitucional. Ausência de

repercussão geral. Reafirmação da jurisprudência.

É infraconstitucional, a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão geral, a controvérsia relativa à base de cálculo aplicada ao

ITCMD fundada na interpretação da legislação local, no Código Tributário Nacional e no princípio da legalidade.

Decisão Publicada: 3