informação, saúde, transdisciplinaridade e a construção de ......

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576 Paim, J. et al. signos e práticas curativas, o sistema de infor- mação mostra-se como fruto do modelo antigo, mas ainda hegemônico. Em tempos de novas e mais efetivas práticas de produção de saberes, e sobretudo em meio à atual configuração epistê- mica, a construção do significado compartilha- do entre os agentes envolvidos no processo in- formacional é condição sine qua non para o su- cesso. Assim, um sistema que descarte a inserção dos imbróglios discursivos socialmente contex- tualizados tenderá a não atender as expectativas. Nesse sentido, reforço a compreensão de que conhecer o universo discursivo dos agentes en- volvidos é o passo fundamental nesse processo informacional. Esse universo discursivo deve ser reforçado pelas informações em saúde dirigidas de modo adequado para a sociedade civil. Só re-constru- indo o discurso estabelecido nas zonas de poder é que a sociedade civil organizada poderá — de fato — exercer o seu papel. Concordamos, portanto, que deve haver uma reformulação da matriz cognitiva da informa- ção em saúde a partir do reconhecimento dos modos de construção, diferenciação e interação entre as informações científico-tecnológicas e propomos que ela deva perpassar a reformula- ção discursiva dos três segmentos sociais direta- mente envolvidos. Cumprimentando as autoras pela oportuni- dade do diálogo, agradeço de público honrada- mente o convite. Referências Guillerme A. Réseau: genèse d’un mot. Les Cahiers de Médiologie, n. 3: “Anciennes nations, Nouveaux réseaux”. [acessado 2001 Abr 26]. Disponível em: http://www.mediologie.org/collection/03_nations/ vallet-guillerme.pdf Possenti S. Teoria do discurso: um caso de múlti- plas rupturas. In: Mussalim F, Bentes AC, organi- zadoras. Introdução à lingüística: fundamentos epis- temológicos (volume 3). São Paulo: Cortez; 2004. Foucault M. A ordem do discurso. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. 2 a ed. São Paulo: Loyola; 1996. Bakhtin M. Marxismo e filosofia da linguagem. 9 a ed. São Paulo: Hucitec; 2002. 1. 2. 3. 4. Informação, saúde, transdisciplinaridade e a construção de uma epistemologia social Information, health, transdisciplinarity and the construction of a social epistemology Regina Maria Marteleto 5 Introdução Os estudos em informação e comunicação na área de saúde, em que pesem críticas neles incorpora- das sobre a perspectiva difusionista e linear emis- sor-receptor que prevalece nos modelos constru- ídos para a orientação das políticas e ações de saúde, ainda se pautam muitas vezes por uma lógica de oferta informacional. Pode-se inferir que existem duas motivações principais para que se mantenha a visão da provisão de informações no setor de saúde e na sociedade em geral. Em primeiro lugar, as novas tecnologias ele- trônicas e digitais aumentam as possibilidades de organização, tratamento, recuperação e uso dos conhecimentos, o que acarreta uma abun- dância informacional que parece favorecer a vi- são unilateral dos processos de comunicação/in- formação. A segunda motivação dessa prevalên- cia estaria relacionada à visão do que seja ciência presente no imaginário científico e social. De fato, e apesar da expansão e importância do conheci- mento científico para diferentes esferas e atores sociais nos dias de hoje, ainda se faz presente no campo científico e nas políticas de ciência e tec- nologia uma visão positivista e elitista da ciência e das possibilidades de apropriação dos seus pro- dutos e informações pela sociedade. Nesse escopo, o artigo de Ilara Moares e Maria Nélida Gómez, “Informação e Informáti- ca em Saúde: caleidoscópio contemporâneo da saúde”, partindo do pressuposto da formação de um intercampo de informação e informática em saúde na contemporaneidade, composto por processos sócio-políticos e epistemológicos, pre- tende estudar as possibilidades de uma ação in- formacional no campo da saúde, capaz de am- pliar as respostas do Estado na melhoria das condições de vida da população brasileira. 5 Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, ECI/UFMG. [email protected]

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signos e práticas curativas, o sistema de infor-mação mostra-se como fruto do modelo antigo,mas ainda hegemônico. Em tempos de novas emais efetivas práticas de produção de saberes, esobretudo em meio à atual configuração epistê-mica, a construção do significado compartilha-do entre os agentes envolvidos no processo in-formacional é condição sine qua non para o su-cesso. Assim, um sistema que descarte a inserçãodos imbróglios discursivos socialmente contex-tualizados tenderá a não atender as expectativas.Nesse sentido, reforço a compreensão de queconhecer o universo discursivo dos agentes en-volvidos é o passo fundamental nesse processoinformacional.

Esse universo discursivo deve ser reforçadopelas informações em saúde dirigidas de modoadequado para a sociedade civil. Só re-constru-indo o discurso estabelecido nas zonas de poderé que a sociedade civil organizada poderá — defato — exercer o seu papel.

Concordamos, portanto, que deve haver umareformulação da matriz cognitiva da informa-ção em saúde a partir do reconhecimento dosmodos de construção, diferenciação e interaçãoentre as informações científico-tecnológicas epropomos que ela deva perpassar a reformula-ção discursiva dos três segmentos sociais direta-mente envolvidos.

Cumprimentando as autoras pela oportuni-dade do diálogo, agradeço de público honrada-mente o convite.

Referências

Guillerme A. Réseau: genèse d’un mot. Les Cahiersde Médiologie, n. 3: “Anciennes nations, Nouveauxréseaux”. [acessado 2001 Abr 26]. Disponível em:http://www.mediologie.org/collection/03_nations/vallet-guillerme.pdfPossenti S. Teoria do discurso: um caso de múlti-plas rupturas. In: Mussalim F, Bentes AC, organi-zadoras. Introdução à lingüística: fundamentos epis-temológicos (volume 3). São Paulo: Cortez; 2004.Foucault M. A ordem do discurso. Trad. Laura Fragade Almeida Sampaio. 2a ed. São Paulo: Loyola; 1996.Bakhtin M. Marxismo e filosofia da linguagem. 9a ed.São Paulo: Hucitec; 2002.

1.

2.

3.

4.

Informação, saúde, transdisciplinaridade ea construção de uma epistemologia social

Information, health, transdisciplinarityand the construction of a social epistemology

Regina Maria Marteleto 5

Introdução

Os estudos em informação e comunicação na áreade saúde, em que pesem críticas neles incorpora-das sobre a perspectiva difusionista e linear emis-sor-receptor que prevalece nos modelos constru-ídos para a orientação das políticas e ações desaúde, ainda se pautam muitas vezes por umalógica de oferta informacional. Pode-se inferir queexistem duas motivações principais para que semantenha a visão da provisão de informações nosetor de saúde e na sociedade em geral.

Em primeiro lugar, as novas tecnologias ele-trônicas e digitais aumentam as possibilidadesde organização, tratamento, recuperação e usodos conhecimentos, o que acarreta uma abun-dância informacional que parece favorecer a vi-são unilateral dos processos de comunicação/in-formação. A segunda motivação dessa prevalên-cia estaria relacionada à visão do que seja ciênciapresente no imaginário científico e social. De fato,e apesar da expansão e importância do conheci-mento científico para diferentes esferas e atoressociais nos dias de hoje, ainda se faz presente nocampo científico e nas políticas de ciência e tec-nologia uma visão positivista e elitista da ciênciae das possibilidades de apropriação dos seus pro-dutos e informações pela sociedade.

Nesse escopo, o artigo de Ilara Moares eMaria Nélida Gómez, “Informação e Informáti-ca em Saúde: caleidoscópio contemporâneo dasaúde”, partindo do pressuposto da formaçãode um intercampo de informação e informáticaem saúde na contemporaneidade, composto porprocessos sócio-políticos e epistemológicos, pre-tende estudar as possibilidades de uma ação in-formacional no campo da saúde, capaz de am-pliar as respostas do Estado na melhoria dascondições de vida da população brasileira.

5 Programa de Pós-Graduação em Ciência daInformação, ECI/UFMG. [email protected]

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Transdisciplinaridade: como entender?

No papel de comentarista ou debatedora dotexto das autoras, tentarei contribuir inicialmen-te discutindo dois modos de compreender a idéiade transdisciplinaridade, que possam lançar al-guma luz sobre a temática abordada.

Em primeiro lugar, no mundo globalizadode hoje, onde se configura um novo reordena-mento do conhecimento, agora regulado maispelos interesses econômicos e empresariais doque propriamente estatais e públicos, a transdis-ciplinaridade é empregada para nomear as mu-danças em relação aos novos modos de produzirconhecimentos e de organizar as atividades depesquisa científica, tecnológica e de humanida-des, em face das transformações pelas quais vempassando a sociedade.

Gibbons et al. 1 ressaltam que as pesquisasterão cada vez mais um caráter transdisciplinarporque, estando voltadas para as exigências domercado, se definirão cada vez mais no contextoda aplicação, adquirindo uma nova dinâmica eenglobando sucessivamente novas questões e ato-res sociais e institucionais. Com a grande expan-são do conhecimento científico e tecnológico esua conseqüente ingerência na vida de cada cida-dão, é previsível o surgimento de novos grupos einstituições produtores de conhecimentos e par-ticipantes em órgãos decisórios da “política cien-tífica e tecnológica”.

Outra vertente de compreensão da transdis-ciplinaridade entende a noção no quadro dastransformações das próprias disciplinas científi-cas e do campo acadêmico, a partir da consciên-cia de que a ciência muito avançou, porém, àscustas de uma expansão verticalizada das áreasdo conhecimento e da sua compartimentaliza-ção em disciplinas e especialidades, com poucainteração e comunicação entre elas, o que se re-flete na rigidez e no enclausuramento das própri-as estruturas acadêmicas.

Nessa direção, o prefixo trans que se colocaem relevo no termo teria, além de uma acepçãode “através” ou de “passar por”, o sentido de “paraalém”, “passagem”, “transição”,”mudança” ou“transformação”, enfim,”[...] aquelas situaçõesdo conhecimento que conduzem à transmuta-ção ou ao traspassamento das disciplinas, à cus-ta de suas aproximações e freqüentações.” 2

Diante dos desafios para uma nova reorga-nização do conhecimento e da pesquisa pela viatransdisciplinar, as exigências do conhecimentoatual estariam relacionadas à compreensão danecessidade de operar as interfaces, superar as

Segundo as autoras, o processo de (re) pen-sar a “informação e informática em saúde” develevar em conta tanto a gênese da atual práxisinformacional desse campo, moldada pelos mo-dos como se concebem e se colocam em práticaas políticas e ações de saúde ao longo do tempo,quanto servir de aliado estratégico para a (re)construção das ciências da saúde diante da com-plexidade dos processos concretos de saúde, ado-ecimento e cuidados.

Um realce é dado aos sinais que uma genea-logia da informação em saúde permite ressaltarcom respeito à diversidade de interesses em dis-puta ao longo do processo de construção do cam-po, no qual se observam diferentes concepçõesde saúde em busca de hegemonia, em cada con-juntura histórica. As opções sobre as tecnologiasde informação adotadas, resultantes da pressãodo mercado de computação e de telecomunica-ções, fariam parte desse cenário, e estariam emestado submerso nos diferentes discursos e vi-sões em disputa.

Nessa direção, a “informação em saúde” e asua expressão técnica - a “informática em saúde”,fariam parte de uma “política epistemológica”presente nas enunciações oficiais e acadêmicasem luta pela autoridade epistêmica.

Embora validado na reflexão teórica das au-toras, elas próprias reconhecem que o conceitode informação em saúde evidencia um parado-xo, quando projetado no marco das modernassociedades do conhecimento e da informação,“[...] em que a informação é ao mesmo temporequerida nos domínios econômicos e tecnológi-cos por sua potência relacionante e preterida noscampos científicos, ora por sua precária consis-tência ontológica, ora pela fragilidade da sua con-dição epistemológica.”

As autoras assumem uma posição propositi-vo-analítica na abordagem da questão, quandovislumbram uma possível “reformulação da ma-triz cognitiva da informação em saúde”. Tal re-formulação deveria levar em conta a comunica-ção e a literatura científicas, os arquivos, memó-rias, registros e bases de dados estatísticos, tantoquanto as informações públicas e estatais, as nar-rativas e conhecimentos dos grupos populares.

É pois de uma perspectiva transdisciplinar queas autoras propõem, em primeiro momento, umaconversão do olhar na direção das questões dainformação e informática em saúde, enquantointercampo de conhecimento em construção.

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barreiras das disciplinas e especialidades consti-tuídas, alargar as fronteiras do conhecimentopara acolher aquilo que no mundo é novo, dis-crepante, aleatório, conflitante, o que demandauma unificação das disciplinas, guardadas as suasespecificidades históricas e epistemológicas. Aunificação, por seu lado, carece de buscar meto-dologias abrangentes e teorias fortemente con-textualizadas que abram novas perspectivas paraabrigar as diversidades dos sujeitos e do mundo.

P. Bourdieu 3 acrescentaria à idéia de trans-disciplinaridade, assim delineada, a de reflexivi-dade, que se refere à necessidade de submeter aciência a uma análise histórica e sociológica, quepermita, àqueles que a fazem, compreender osmecanismos sociais que orientam a prática cien-tífica. A reflexividade extrapola a experiência vi-vida do sujeito pesquisador, para englobar a es-trutura organizacional e cognitiva do seu campodisciplinar, seus objetos, teorias, discursos, ver-dades e instituições.

Essa breve discussão de compreensão da idéiade transdisciplinaridade, a qual evoca tanto onovo ordenamento econômico e mercadológicodo conhecimento-inovação, quanto o caráter crí-tico e de reflexividade que hoje compete à ciência,seus atores e instituições realizar, traz questõesque estão no ar do tempo, mas ainda novos de-safios para a produção, apropriação e serventiasocial dos conhecimentos em saúde na contem-poraneidade, uma questão-eixo no texto de Mo-raes e Gómez.

Campo, posições e disputas simbólicas

Refletiremos agora sobre essas acepções nocampo da saúde, em sintonia com o trabalho deMoraes e González de Gómez, compartilhando avisão das autoras, extraída de Bourdieu, de queos campos são resultantes de um processo longode diferenciação e cada qual possui objetos, inte-resses, procedimentos específicos e regras paraas quais são relativamente autônomos e livrespara estabelecerem. Segundo Bourdieu 4, o pro-cesso de diferenciação do mundo social produz adiferenciação dos modos de conhecimento domundo, pois a cada um dos campos correspon-de um ponto de vista fundamental sobre o mun-do, “que cria o seu próprio objeto e que encerranele próprio o princípio de compreensão e deexplicação que convém a esse objeto”.

Os atores que preenchem o espaço estruturaldo campo desenvolvem estratégias para a suareprodução e/ou renovação, a partir das suasposições relativas em relação aos outros atores,

associadas que estão à posse de credenciais detítulos, diplomas, redes de contato e origem so-cial, dentre outros elementos valorizados pelocampo. Cada campo é, pois, um terreno de lutassimbólicas.

O campo da saúde possui especificidades pró-prias, associadas à diversidade de leituras a res-peito do que seja “saúde”no mundo de hoje e,logo, às disputas simbólicas em torno dos proce-dimentos terapêuticos de atendimento e de cura.

Para Carvalho, Acioli e Stotz 5, os atores insti-tucionais precisam levar em conta que a saúde,como campo de saberes e práticas, possui algu-mas características gerais, associadas: a) à hege-monia do saber biomédico e sua institucionaliza-ção na ordem social ocidental; b) à incompletudeda ruptura entre ciência e senso comum e, por-tanto, à relativa fragilidade da hegemonia da bio-medicina, em virtude das lacunas no conhecimen-to da etiologia das doenças e à relevância da expe-riência da enfermidade nos níveis individual e lo-cal; c) ao atraso do conhecimento sobre as doen-ças endêmicas, no nível coletivo; d) à dimensãopolítica das epidemias, em razão da crise de legiti-midade que acarretam quando se rompe a prote-ção social garantida pelo Estado; e) à transcen-dência de algumas epidemias, associada ao medo,preconceito e intolerância presentes no imaginá-rio social das doenças de caráter coletivo.

Esse último aspecto deve ser destacado, se-gundo os autores, para dar conta de que não háum conceito universalmente válido de saúde paraos indivíduos, para grupos ou para toda a socie-dade, ao contrário da visão comum vigente nocampo, que enxerga a saúde como uma finalida-de, isto é, como uma pauta a ser realizada, pres-supondo-se uma definição prévia sobre normal enormalidade.

“Epistemologia da informação einformática em saúde”:uma epistemologia social?

Pertence também a Bourdieu, autor referen-ciado por Moraes e González de Gómez, a con-solidação da idéia de que o papel do intelectual/pesquisador, hoje, é entrar abertamente na lutapelo poder simbólico – na sua teoria, o poder deconstituir a realidade. Diz o sociólogo que quan-to mais os intelectuais se refugiarem na seguran-ça de falar apenas aos seus pares, de trataremapenas de temas que oferecem o status de cientí-fico, mais as forças que trabalham por um pen-samento único terão espaço para se confirma-rem como hegemônicas.

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Quando propõem a construção de um “in-tercampo de informação e informática em saú-de”, convergente e integrador de conhecimentose sujeitos históricos, as autoras afirmam que acapacidade da informação em saúde se superar,na ultrapassagem das suas limitações críticas eepistemológicas, está a depender de como osagentes coletivos se posicionem nos espaços de-cisórios do campo para expressar as demandas econdições de uso social das informações, querompa com a abordagem biologicista e fragmen-tadora da saúde.

Em assim sendo, mais que fazer uma leituradas disputas em cena no campo da saúde, rele-vante para uma reflexão transdisciplinar de edi-ficação de um intercampo, que trabalhe as fron-teiras e questões da saúde menos como barreirasdisciplinares e mais como costura de interfaces,as autoras parecem finalmente abrir novas pers-pectivas para a construção de uma epistemolo-gia social, menos excludente.

Considere-se ainda que um intercampo dainformação e informática em saúde é um terrenopleno de tensões, que produz e é produzido portempos históricos e abordagens conflitantes. Nãohá homogeneidade, unidade e consenso quandose trata de informação, tecnologia e saúde. Nãobastasse isso, poderia-se pensar que, sendo obje-to de uma nova epistemologia social, como aquise aventa, o que está em cena é o novo eixo eespaço de poder, o novo fator de organizaçãodas relações de poder – o conhecimento.

E retornamos ao território da luta pelo podersimbólico, idéia que percorre o texto das autoras.

Referências

Gibbons M, et al. The new production of knowledge:the dynamics of science and research in contemporarysocietes. London: Thousand Oaks/California: SagePublications; 1994Domingues I, et al. Um novo olhar sobre o conheci-mento: a criação do Instituto de Estudos Avançadosda UFMG, as pesquisas transdisciplinares e os no-vos paradigmas. In: Domingues I, organizador. Co-nhecimento e transdisciplinaridade. Belo Horizonte:Editora/UFMG, IEAT/UFMG; 2001.Bourdieu P. Science de la science et réflexivité. Coursdu Collège de France 2000-2001. Paris: Raisons d’AgirÉd.; 2001.Bourdieu P. Méditations pascaliennes. Paris: Seuil Éds.;1997.Carvalho MAP, Acioli S, Stotz E. O processo de cons-trução compartilhada de conhecimento: uma expe-riência de investigação científica do ponto de vistapopular. In: Vasconcelos EM, organizador. A saúdenas palavras e nos gestos. São Paulo: Hucitec; 2001.

1.

2.

3.

4.

5.

As autoras respondem

The authors reply

O debate de idéias contribui para o direciona-mento do conhecimento humano. Participar dessemovimento suscita alegria e responsabilidade.Estes são os sentimentos que orientam essa ‘res-posta’, acrescidos de um profundo agradecimen-to aos debatedores por compartilharem seus pen-samentos de forma tão generosa, brilhante e ins-tigante. Aliás, características de suas trajetóriascomo autores seminais do campo da saúde cole-tiva (Carvalheiro, Jairnilson Paim e Gastão Wag-ner) e da informação e comunicação (ReginaMarteleto e Evelyn Orrico).

A alegria se deve principalmente pela percep-ção, após ler as contribuições, que um dos objeti-vos subjacentes ao esforço de elaboração do arti-go foi alcançado: promover um debate em tornoda informação e informática em saúde envolven-do lideranças históricas em suas áreas de atua-ção. Os debatedores elaboram perguntas para asquais não temos respostas. O que de fato nospropomos é procurar enfatizar a necessidade dodebate. Mas a responsabilidade imediatamenteinvade essa alegria: é preciso ampliar cada vez maisesse debate, incluindo todos aqueles que se inqui-etam, como nós, com os desafios que nos cercame motivam.

A idéia do caleidoscópio contemporâneo

No decorrer da elaboração do artigo, a idéiado caleidoscópio ocorreu, como Carvalheiro des-creve, por transmitir a imagem de fragmentos fu-gazes que procuram compor um todo. Metáforada sensação de que as informações em saúde sãorecortes, segmentos parciais, determinadas visõesde mundo sobre uma dada situação de saúde doindivíduo, população e ambiente.

Em sua bela e poética contribuição, Carva-lheiro afirma que “Eliminar a fragmentação emmiríade de Sistemas de Informação em Saúde (SIS)amuados, que não conversam entre si, é sensato”.SIS amuados! Simplesmente preciosa tal afirma-ção! A gravidade dessa constatação é que a frag-mentação dos SIS contribui para uma compreen-são fragmentada dos processos de saúde/doen-ça/cuidado com a conseqüente fragmentação dasações de saúde. Essa miríade confere uma certa‘fugacidade’ à própria apreensão sistemática doque ocorre nas situações concretas da vida, comobreves flashes, partes de um quebra-cabeça quenão se encaixam.