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COSMOVISÃO CRISTÃ

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  • 1. PR. A. CARLOS G. BENTES COSMOVISO CRIST

2. COSMOVISO CRIST TEXTOS: At 3.18-21; 2 Co 5.19 At 3.18-21: necessrio que ele permanea no cu at que chegue o tempo em que Deus restaurar todas as coisas, como falou h muito tempo, por meio dos seus santos profetas. 2 Co 5.19:Deus estava em Cristo reconciliando consigoo mundo (Kosmos). Pensar cristmente significa compreender que o cristianismo tem a verdade sobre toda a realidade, uma perspectiva para interpretar todos os assuntos da vida (Nancy Pearcey). O QUE UMA COSMOVISO? de comum aceitao entre estudiosos cristos que o termo cosmoviso foi cunhado e utilizado originalmente no frtil perodo cultural da Alemanha dos sculos 18 e 19. Emanuel Kant, filsofo de reconhecida influncia no pensamento ocidental, a quem creditada a revoluo coprnica da filosofia, teria cunhado o termo Weltanschauung, traduzido posteriormente como o correlato ingls worldview, em portugus, cosmoviso. O Termo teria sido utilizado quando da publicao de sua Crtica do julgamento, em 1790. Weltanschauung (termo alemo que se pronuncia veltanxauung),1 cosmoviso ou mundividncia a orientao cognitiva fundamental de um indivduo ou de toda uma sociedade. Essa orientao abrange sua filosofia natural, seus valores fundamentais, existenciais, normativos, seus postulados ou temas, suas emoes e sua tica. Outro sentido do termo o de uma imagem do mundo imposta ao povo de uma nao ou comunidade, isto , uma ideologia. O termo um calco lingustico da palavra de origem alem que significa literalmente viso de mundo ou cosmoviso. Essa palavra alem adotada regularmente em diversas lnguas para expressar esses significados. Suas origens etimolgicas remetem ao sculo XVIII. Ela um conceito fundamental na filosofia e epistemologia alem e se refere uma percepo de mundo ampla. Adicionalmente, ela se refere ao quadro de ideias e crenas pelas quais um indivduo interpreta o mundo e interage com ele. 1 wikipedia.org/wiki/Weltanschauung. 3. UMA BREVE HISTRIA DO CONCEITO DE COSMOVISO CRIST2 O termo alemo Weltanschauung foi cunhado por Kant e veio depois a ser uma palavra chave na mentalidade do idealismo alemo e do romantismo, sendo transmitido via Fichte para Schelling, Schleiermacher, Schlegel, Novalis, Hegel e Goethe. Por volta de 1840, segundo Albert Wolters, o termo tinha se tornado um item padro no vocabulrio do Alemo educado (p.15). Na dcada de 30 ele penetrou em outras lnguas, e desde Kierkegaard os filsofos tem buscado relacionar a nova idia ao conceito mais antigo de filosofia. Devido sua origem, o termo traz uma carga idealista-romntica bastante forte. Uma caracterstica importante do perodo foi o nascimento da conscincia histrica, marcada pela oposio ao intelectualismo grego-iluminista e pela nfase no particular, temporal e concreto. Assim enquanto o termo filosofia, de origem grega, pertence a uma mentalidade orientada para o universal e essencial, o termo alemo weltanschauung pertence a uma mentalidade dominada pela relatividade histrica. O primeiro a utilizar a noo de weltanschauung para expressar a viso de um cristianismo integral abarcando todas as dimenses da cultura foi o telogo escocs James Orr (1884-1913). Suas palestras nas Kerr Lectures para 1890-91 foram publicadas com o titulo The Christian View of God and Things. Nessa obra Orr afirma que o modernismo deve ser enfrentado atravs do desenvolvimento de uma cosmoviso abrangente, na qual princpio deve ser ordenado contra princpio. Declara tambm que ... a viso crist das coisas forma um todo lgico que no pode ser... aceito ou rejeitado por partes, mas permanece ou cai em sua integridade, e que pode apenas sofrer com tentativas de amlgama ou compromisso com teorias que se apiam em bases totalmente distintas. (p. 95) Nessa poca Abraham Kuyper j era o lder inquestionvel do neocalvinismo. Atravs de suas atividades como telogo, jornalista, poltico e lder cultural Kuyper j vinha desenvolvendo uma ampla reforma da sociedade holandesa a partir do calvinismo e em combate com o modernismo. Mas segundo Peter Heslam, um estudioso de Kuyper, foi o contato coma obra de James Orr que levou Kuyper adotar o conceito de weltanschauung como forma de descrever sua viso do cristianismo. Diferentemente de Orr, no entanto, ao invs de traduzir o termo como viso de mundo, Kuyper preferiu a expresso sistema de vida, uma expresso bem mais orientada para a prtica. Ricardo Gouveia traduziu a expresso como biocosmoviso. Para Kuyper o calvinismo, que seria simplesmente a forma mais consistente de cristianismo, no era exatamente uma teologia ou um sistema eclesistico, mas uma Cosmoviso completa com implicaes para todas as reas da vida, incluindo poltica, arte, etc. O calvinismo deveria assim resistir a aliana com outros ismos culturais opostos como o socialismo, o darwinismo, o positivismo e o liberalismo e desenvolver-se a partir de seu princpio singular em busca da liderana cultural. 2 CARVALHO, Guilherme V.R. LEITE, Cludio A.C. COSMOVISO CRIST. 4. Entre as tarefas a serem realizadas estaria o desenvolvimento de uma filosofia distintamente calvinstica. Tanto Kuyper como Herman Bavinck e seu discpulo Valentinus Hepp defendiam esse projeto. Mas coube a D.H.T. Vollenhoven e Herman Dooyeweerd desenvolverem um sistema maduro de filosofia reformada. Vollenhoven sempre seguiu Kuyper em sua noo de que filosofia no o mesmo que viso de mundo e da vida; sua posterior elaborao cientifica. (p. 22) Dooyeweerd divergia um pouco. Inicialmente identificava a wetsidee como a caracterstica da cosmoviso que poderia se tornar operacional como um fator regulativo na formao de teorias cientificas. Mas a partir da publicao de sua obra principal em 1935 ele defendeu que a filosofia deveria ser guiada pela religio sem a mediao da Cosmoviso. Mas muitos acreditam que sua doutrina dos Ground-Motives ele reintroduz sub-repticiamente o papel determinante da cosmoviso. Viso de mundo cristo, ou cosmovisocrist refere-se ao conjunto das distines filosficas e religiosas que caracterizam o Cristianismo em relao a questes como a natureza da verdade, a existncia do homem, o sentido do universo e da vida, os problemas da sociedade, dentre outros. O termo geralmente utilizado de uma das trs maneiras abaixo: Um conjunto de cosmovises expressas por aqueles que se identificam como cristo; Elementos comuns de cosmovises predominante entre aqueles que se identificam como cristo; O conceito de uma nica "viso crist do mundo" sobre uma srie de questes. A IMPORTNCIA DE UMA COSMOVISO CRIST Uma Cosmoviso baseada em um montante de crenas sobre os maiores temas da vida que como seres humanos devemos inevitavelmente encarar. Nossa cosmoviso em particular determina as lentes ou filtros que utilizamos para interpretarmos a realidade. Este processo molda aquilo que cremos, 1. Afeta como vivemos, 2. Forma nossa opinio, e 3. Governa nossas aes, inaes, ou reaes em vida. Uma das mais trgicas e perplexas realidades na Igreja Ps-moderna de hoje, a falta de consciente cosmoviso bblica. 1. Apenas observando a condio de nossa cultura vamos nos conscientizar da importncia desta afirmao. 2. A triste verdade , existem muitos crentes sinceros cuja cosmoviso tem sido moldada pela educao, experincia, ou por partidos polticos, ao invs da palavra de Deus. 5. 3. Em outras palavras, a lente pela qual eles filtram a realidade e temas importantes da vida, e dia a dia, vem de fontes que no so necessariamente enraizadas na revelao bblica. Podemos afirmar que a adoo de uma cosmoviso crist na histria da Igreja se iniciou com os apstolos e est enraizada por toda a Escritura, tanto no Antigo como no Novo Testamento. Porm, apenas em meados do segundo sculo, com a obra de Irineu de Lion, os cristos passaram a ter um sistema de pensamento teolgico com pressuposies prprias, desmembrando-se das concepes gregas. Podemos definir cosmoviso, em geral, como um conjunto de crenas fundamentais atravs das quais vemos o mundo. a forma pela qual interpretamos e percebemos a realidade ao nosso redor, seja de forma consciente ou inconsciente. Cosmoviso um conjunto de suposies e crenas que algum usa para interpretar e formar opinies acerca da sua humanidade, propsito de vida, deveres no mundo, responsabilidades para com a famlia, interpretao da verdade, questes sociais, etc. Um cristo deveria ver essas coisas, e todas as demais, guiado pela luz que recebe da Bblia. A Bblia tem muitas coisas a dizer acerca da natureza humana, propsito, verdade, moralidade, etc., como tambm acerca do mundo. Mais frequentemente do que imaginamos, a cosmoviso secular est em conflito com a bblica. Por exemplo: onde o mundo nos mostra um homem desenvolvido, a Bblia diz que ele foi criado e , em ltima instncia responsvel diante de Deus. Onde o mundo diz que a moral relativa, a Bblia diz que ela absoluta. Onde o mundo diz que no h necessidade de salvao e redeno, a Bblia claramente declara que todas as pessoas tm necessidade de confessar os seus pecados. O contraste bvio e profundo. Ambos no podem ser verdadeiros ao mesmo tempo. O mundo secular exalta o homem ao pice do desenvolvimento da evoluo, o soberano acima de tudo, ele domina, embora sendo apenas outro animal. Deus relevante aos sistemas de crena dos supersticiosos e incultos. Vises to opostas, no final das contas, acabaro por se confrontar. Partindo do conceito de que cosmoviso uma forma de enxergar o mundo, a viso crist v e compreende toda a realidade a partir das lentes de Deus e do filtro das Escrituras Sagradas. O Cristianismo autntico possui uma estrutura plausvel que fornece as respostas contundentes para as principais perguntas do homem: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Qual o propsito da vida? Por que o mal existe? Na medida em que nos aprofundarmos neste tema, vamos compreender duas coisas bsicas: 1) Cosmovises distintas existem, mas no possvel concordar coerentemente com as premissas centrais de duas ou mais cosmovises; 6. 2) Cosmoviso como culos, para que a realidade faa sentido preciso visualiz- la de acordo com uma cosmoviso coerente e verdadeira, ou seja, com as lentes corretas. Existem sete cosmovises bsicas; so sete matrizes das quais as demais formas de enxergar o todo derivam: Tesmo, Desmo, Atesmo, Pantesmo, Panentesmo, Tesmo Finito e Politesmo. Com exceo da relao muito prxima entre o Pantesmo e Politesmo, no h compatibilidade entre as demais cosmovises. Veja um pouco de cada uma na tabela abaixo: Sistema Cosmoviso Expresso no: Tesmo Um Deus infinito e pessoal existe alm do e no universo; Criou todas as coisas e sustenta tudo de modo sobrenatural. Judasmo, Islamismo e Cristianismo. Desmo Deus est alm do universo, mas no nele. Defende uma viso naturalista de mundo, assim Deus no age sobrenaturalmente naquilo que criou. Pensamento de Voltaire, Thomas Jefferson e Thomas Paine. Atesmo No existe nenhum Deus alm do ou no universo. Afirma que o universo fsico tudo que existe. Tudo matria auto-suficiente. Pensamento de Karl Marx, Frederich Nietzsche e Richard Dawkins. Pantesmo Deus o todo/universo. No h um criador distinto, criador e criao so a mesma realidade. O universo Deus, a matria Deus, as pessoas o so. Tudo Deus. Certas formas de hindusmo, Zen- Budismo e Cincia Crist. Panentesmo Deus est no universo, como a mente est no corpo. O universo o corpo de Deus, seu plo real e tangvel. O outro plo est alm deste plano. Pensamento de Alfred Whitehead e Charles Hartshorne. Tesmo finito Existe um Deus finito alm do e no universo. Deus limitado em natureza e poder. Aceitam a criao, mas negam a interveno. Pensamento de John Stuart Mill, William James e Peter Bertocci. Politesmo Muitos deuses existem alm do mundo e nele. Tais deuses influenciam a vida das pessoas. Nega qualquer Deus infinito. Gregos e romanos antigos, mrmons e neopagos (wicca). 7. Pressupostos fundamentais Autoridade das Escrituras Criao, Queda e Redeno. Outra maneira de se compreender a cosmoviso crist a partir da trade bblica criao-queda-redeno. Essa trade contraria o pensamento dualista (secular-sagrado) e fornece os elementos necessrios para a construo da perspectiva crist, alm de servir de base para avaliar outras cosmovises. COSMOVISO CRIST I. CRIAO; II. QUEDA; III. REDENO; IV. CONSUMAO Stott divide a histria bblica em quatro temas principais, os quais devem ser conhecidos pelos cristos para capacit-los a terem a verdadeira perspectiva de Deus realizando seu propsito. Conhecer estas quatro realidades permite ao cristo entender como se encaixam todas as coisas; uma forma de integrar nossa compreenso a possibilidade de pensarmos com clareza at mesmo sobre as questes mais complexas. Eis aqui, portanto, os quatro eventos que correspondem a quatro realidades: primeiro, Criao; segundo, a Queda; terceiro, a Redeno; e quarto, a Consumao. Na Criao, vemos o Deus trino todo-poderoso, transcendente, autoexistente, suficiente em si mesmo, eterno, santo e perfeito em todos os seus atributos, criando todas as coisas que existem, desde as mais remotas e distantes galxias at a terra e tudo o que nela h. Vemos a criao do homem imago Dei, segundo a imagem do prprio Deus, em estado de inocncia e liberdade, debaixo do governo moral de Deus, ordenado a ser responsvel e obediente e a governar sobre todas as coisas criadas, para a glria do criador. Na Queda, vemos o homem transgredindo a lei de Deus e se afastando dele, caindo de seu estado de inocncia e felicidade e legando para a humanidade esta condio de condenao, aprisionando sua liberdade s inclinaes do pecado, sendo tanto responsvel por ele como vtima de sua poluio. Vemos o efeito da queda na criao, trazendo maldio para este mundo e resultando na grande tragdia da histria do homem. Na Redeno, vemos ainda que Deus resolveu oferecer salvao ao homem e o fez de modo que sua justia, ofendida pela transgresso da lei causada pelo pecado do homem, fosse satisfeita. Em amor, desde os tempos eternos, Deus o Pai resolveu salvar pecadores em seu Filho, Jesus Cristo, o qual, sendo um com Deus o Pai, entrou na histria, assumiu a natureza humana e viveu como homem, obedecendo toda a lei e cumprindo todaa justia de Deus o Pai, a ponto de oferecer-se a si mesmo como sacrifcio e propiciao a Deus em favor dos homens, justificando os pecadores que se achegam a 8. ele, movidos pela ao do Esprito de Deus que os regenera, em arrependimento e f, sendo reconciliados com Deus e adotados em sua famlia. Vemos finalmente a Consumao de todas as coisas como o cristo preparado nesta vida para a vida porvir; sendo santificado e perseverando em sua peregrinao. Vemos o que acontece aps a morte do homem, seja do justo ou do injusto, sobre o cu e o inferno, o julgamento final, a ressurreio do corpo e a redeno final e definitiva da criao: novos cus e nova terra todas essas coisas operando segundo o propsito e decretos de Deus e para glria dele. REDENO A histria inteira da humanidade pode ser contada com apenas trs palavras: 1. Gerao. Gerao refere-se ao ato de Deus de criar. [CRIAO]. 2. Degenerao. Degenerao refere-se ao ato destruidor do Diabo. A degenerao foi holstica, atingiu cus e terra. [QUEDA]. 3. Regenerao.A Regenerao consiste do processo derestaurar, ao seu estado original, algo que sofreu um processodeDegenerao. [REDENO]. A cosmoviso reformada se distingue das demais em alguns pontos fundamentais. Primeiro, ela estabelece a autoridade suprema das Escrituras, entendida como a revelao da mente de Deus ao homem como nico ponto de partida para a construo de uma cosmoviso essencialmente crist. Em segundo lugar, ela oferece um escopo integral no-dualista para a formao de uma cosmoviso a partir da unio dos trs aspectos fundamentais da revelao bblica, a trade criao-queda-redeno. E por ltimo salientamos a viso reformada plena da soberania de Deus sobrea criao e o escopo integral da queda e a redeno total de Deus, em Cristo Jesus. 9. Nessa concepo integral da cosmoviso reformada, so enfatizados aspectos fundamentais de uma perspectiva crist para as diversas reas da vida. Primeiramente, o lugar da criao enfatizado na concepo de mundo e vida cristos. A mensagem crist no se inicia com o apelo salvao, mas com a doutrina da boa criao de Deus. Apenas Deus a fonte da ordem criada. No existem foras naturais independentes. Deus estabelece a ordem e estrutura do cosmos em suas diversas dimenses - tanto em sua dimenso fsica, presente nas leis naturais, quanto em sua dimenso humana, presente nos princpios da moralidade, da justia, da tica, da economia, da esttica e da lgica. No h esfera da realidade que esteja fora do escopo da boa criao de Deus, e todo cristo responsvel por cultivar e desenvolver as potencialidades dessa criao. Em segundo lugar, o conceito de queda reformado estabelece que a universalidade da criao foi manchada pela universalidade do pecado. Todas as esferas citadas acima foram afetadas pelo escopo universal do pecado, estando em um estado presente de rebelio contra Deus. Isso no indica, entretanto, que a estrutura da criao seja m, mas que a direo dessas esferas, tanto nas dimenses fsicas quanto humanas, esto em um estado disfuncional, precisando de restaurao. O reconhecimento do efeito do pecado sobre a mente humana (efeito notico) de importncia singular na concepo reformada e torna nula qualquer tentativa autnoma de restaurar o conhecimento verdadeiro sobre Deus e a realidade parte da revelao. Concluindo a trade bblica, o conceito de Redeno se apresenta to compreensivo quanto o da Criao e o da Queda. Na tradio reformada graa restaura a natureza, ou seja, o escopo da salvao de Cristo no se aplica apenas dimenso espiritual do homem, mas criao toda, originalmente boa. A totalidade da pessoa humana restaurada pela graa de Deus, incluindo sua mente. Deus em sua graa restaurar todas as dimenses da vida distorcidas pela queda, dando ao homem a capacidade de atuar no presente, visando implantao do reino de Deus na terra. Esses trs elementos bsicos de uma cosmoviso crist devem, assim, se manter em um estado constante de equilbrio, pois compem uma s verdade. Quando se enfatiza a criao e seus potenciais, em detrimento da queda, corre- se o risco da adoo de uma viso utpica e romntica da realidade presente. Se o contrrio ocorre, o cristianismo torna-se uma religio pessimista com nfase no abandono da realidade criada por Deus. Se a nfase estiver na redeno, em detrimento do pecado, corre-se o risco da adoo de um cristianismo superespiritualizado. E assim por diante. Como props James Orr, o principal desafio do cristianismo em relao cultura moderna no uma oposio de detalhes, mas de princpios. Essa circunstncia precisa de uma extenso igual na linha de defesa. Como a viso crist das coisas em geral que atacada, apenas pela exposio e vindicao da viso crist das coisas como um todo este ataque poder ser detido. E esta a proposta da cosmoviso crist reformada - apresentar princpios gerais do cristianismo que nos orientaro na sua integrao com as diversas dimenses da vida, enriquecendo a vida crist e a capacidade da igreja em expandir o reino de Deus sobre a terra. A palavra de Deus na criao tem extenso nas estruturas da sociedade no mundo das artes, nos negcios, pois Deus criou as coisas para serem vividas e recebidas com 10. aes de graa. Por isso, a revelao da criao divina comunica Sua existncia e Seu domnio em todas as esferas da vida. A idealizao divina ao criar no se limitou a esfera espiritual do homem, mas no desenvolvimento holstico do homem, onde a terra criada ser social e cultural, promovendo a civilizao, pois leis criacionais foram validadas para o mundo da flora e da fauna, como leis validadas para a sociedade e a cultura que homem iria formar. Criao Criao O primeiro elemento da cosmoviso crist aponta para a origem de todas as coisas: a Criao. A Escritura registra que tudo o que existe foi criado. No principio criou Deus o cu e a terra (Gn 1.1). Portanto, o cosmos no resultado do acaso e o homem no fruto de processos biolgicos aleatrios. A complexidade e a beleza do universo e de todas as criaturas demonstram a impossibilidade de que sejamos o resultado de meros efeitos fsicos. Davi disse: Os cus manifestam a glria de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mos (Salmo 19.1). O apstolo Paulo tambm escreveu: Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisveis, desde a criao do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vem pelas coisas que esto criadas, para que eles fiquem inescusveis (Rm 1.19-20). Podemos definir a doutrina da criao da seguinte maneira: Deus criou o universo inteiro do nada; ele era originariamente muito bom; e ele o criou para glorificar a si prprio. A Bblia claramente requer que creiamos que Deus criou o universo do nada. (Algumas vezes a expresso latina ex nihilo, do nada, usada; diz-se ento que a Bblia ensina a criao ex nihilo). Isso significa que, antes de Deus ter comeado a criar o universo, nada mais existia exceto o prprio Deus. Essa a inferncia de Gnesis 1.1 que diz: No princpio Deus criou os cus e a terra. A frase os cus e a terra inclui a totalidade do universo, O salmo 33 tambm nos diz: Mediante a palavra do SENHOR foram feitos os cus, e os corpos celestes, pelo sopro de sua boca [...] Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo surgiu (Sl 33.6,9). No NT encontramos uma afirmao de carter universal no comeo do evangelho de Joo: Todas as coisas foram feitas por intermdio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito (Jo 1.3). A expresso todas as coisas mais bem entendida como referindo-se totalidade do universo (cf.At 17.24; Hb 11.3). Paulo totalmente explcito em Colossenses 1 quando especifica todas as partes do universo, tanto as visveis como as invisveis: pois nele foram criadas todas as coisas nos cus e sobre a terra, as visveis e as invisveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele (Cl 1.16). 11. Hebreus 11.3 diz: Pela f entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo que se v no foi feito do que visvel. Essa traduo reflete de modo exato o texto grego. Embora o texto no ensine realmente a doutrina da criao ex nihilo, ele chega prximo de fazer isso, visto que diz que Deus no criou o universo de nada que visvel. A idia um tanto estranha de que o universo poderia ter sido criado de alguma coisa que era invisvel provavelmente no estivesse na mente do autor. Ele est contestando a idia de a criao ter vindo de alguma matria preexistente, e para esse propsito o versculo inteiramente claro. Porque Deus criou a totalidade do universo do nada, nenhuma matria no universo eterna. Tudo o que vemos as montanhas, os oceanos, as estrelas, a prpria terra veio existncia quando Deus os criou. Isso nos lembra que Deus governa todo o universo e que nada na criao deve ser adorado a no ser Deus. Contudo, se negssemos a criao ex nihilo, teramos de dizer que algum tipo de matria j existia e que ela, como Deus, eterna. Essa idia desafiaria a independncia e a soberania de Deus, bem como o fato de que a adorao devida a ele somente. Se a matria existisse separada de Deus, ento que direito inerente teria Deus de govern-la e us-la para a sua glria? E que confiana poderamos ter de que cada aspecto do universo cumpre de modo supremo os propsitos divinos, se algumas partes dele no foram criadas por Deus? O lado positivo de que Deus criou o universo ex nihilo que esse universo tem significado e propsito. Deus, em sua sabedoria, criou-o para alguma coisa. Devemos tentar entender esse propsito e usar a criao de modo que ela se encaixe nesse propsito, a saber, o de trazer glria ao prprio Deus. Alm disso, sempre que a criao nos traga satisfao (cf. 1 Tm 6.17), devemos agradecer a Deus, que criou todas as coisas. O CRIADOR E A CRIAO Apesar da ausncia dos termos Rei e Reino no relato da Criao (Gn.1,2), a idia de Reino est presente aqui e em toda a Escritura, principalmente no perodo da monarquia em Israel (Sl 103.19). Evidentemente elas no apresentam nenhuma definio absoluta para Reino de Deus. Mas se considerarmos o conceito mais bsico de Reino, o que implicaria na presena de um Rei que governa soberano seu Reino, ento no h dvidas de que Deus Yahweh o Rei absoluto e soberano sobre todas as coisas e nada escapa do seu domnio. Na criao, mais do que em qualquer outro registro bblico, possvel perceber Deus Yahweh usando suas prerrogativas reais. Em primeiro lugar como soberano absoluto Deus Yahweh criou, no por constrangimento ou necessidade, mas por livre vontade. H muitos conceitos correlatos que poderamos usar para identificarmos a motivao de Yahweh para criar, sendo que, aquela mais inclusiva a de que Ele criou para revelar sua glria com vistas ao seu prprio deleite e adorao das suas criaturas (Ef.1.11). Em segundo lugar, o resultado da ao criadora do Rei foi o Reino Csmico. A diversidade dos elementos presentes neste reino e a maneira como eles se relacionam harmoniosamente revelam a sabedoria de Yahweh. Deve-se lembrar que, ao criar este 12. reino csmico, Ele iniciou um processo, o que implica num percurso linear, numa consumao gloriosa onde o cosmos o palco para Deus Yahweh se revelar cada vez mais glorioso. Nesse particular devemos notar que Ele no apenas o criou, mas o mantm e dirige de acordo com seus planos e projetos reais. Em terceiro lugar este reino csmico foi criado para funcionar a partir de leis e modelos implantados pelo prprio Rei. Entre estes podemos destacar a maneira como este Rei decidiu relacionar-se com seus sditos: o pacto. Introduzido divinamente pela atividade monergstica e unilateral, mas seguido pela responsabilidade do homem em obedecer aos mandatos e as ordenanas presentes na estrutura da criao do reino csmico. O primeiro o mandato cultural. Nele o homem convocado a se relacionar com os cosmos e exercer o papel da sujeio e domnio (Gn 1.28), guarda e cultivo (Gn 1.17). Extrair o mximo do cosmos para produzir, por meio das capacidades que foi dotado, o habitat em que a vida humana deveria se desenvolver. O segundo o mandato social. Ao criar homem e mulher, Deus Yahweh ordenou como deveria ser o relacionamento entre eles, forneceu princpios para o convvio social e determinou-lhes a fecundidade. O terceiro o mandato espiritual. Nele, homem e mulher, deveriam responder ao Criador num relacionamento de vida e amor. Para tanto eles foram criados com suficientes condies (Imago Dei) para exercer este mandato. Desfrutando dos benefcios da comunho com o criador e alertados quanto s implicaes da quebra deste vnculo relacional com aquele que Esprito (Gn 2.16,17). Compreender toda a realidade tendo como fundamento a Criao tem implicaes bem prticas na vida das pessoas. Propsito. Em primeiro lugar, a Criao aponta para o propsito da vida humana, por isso ela tem sentido e significado. O homem fruto de um desgnio perfeito de um Deus amoroso (Jo 3.16) e sbio. No somos acidentes e muito menos vivemos deriva, sem rumo e sem direo. E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que so chamados segundo o seu propsito (Rm 8.2). Ao contrrio da cosmoviso crist, a cosmoviso naturalista pressupe a inexistncia de finalidade para a vida humana. A partir dessa concepo possvel perceber trgicas consequncias dai advindas. Se a nossa existncia no tem nenhum propsito, logo a vida no tem sentido. Se a vida no tem sentido, resta somente um mundo vazio e desprovido de significado, onde impera o caos e a desesperana. Ravi Zacharias Quando algum tenta viver sem Deus, as respostas moralidade, esperana e ao sentido da vida o enviam ao seu prprio mundo para moldar para si uma resposta individualizada. Viver sem Deus significa elevar-se com a ajuda de seus prprios instrumentos metafsicos, sejam quais forem os meios escolhidos... Pode ento o homem 13. viver sem Deus? Claro que pode, no sentido fsico. Pode viver sem Deus de maneira racional? A resposta : No!; porque tal pessoa compelida a negar a lei moral, a abandonar a esperana, a privar-se do significado e a arriscar-se a no se recuperar, se estiver errada. A vida j oferece muita evidncia do contrrio. Fora do Cristo no h lei, no h esperana e no h sentido. Voc, e s voc, aquele que vai determinar e definir estes elementos essenciais da vida; e voc e s voc, o arquiteto da sua prpria lei moral; voc e s voc, idealiza sentido para a sua vida; voc, e s voc, arrisca tudo o que tem baseado numa esperana que voc imagina. A perspectiva crist, tendo como fundamento o ato criativo e proposital de Deus, diz que a vida tem sentido e por isso h esperana (Hb 10.23), a qual est ancorada em Jesus Cristo (Hb 3.6; 6.19), porque nele foram criadas todas as coisas que h nos cus e na terra, visveis e invisveis, sejam tronos, sejam dominaes, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele (Cl 1.16). Dignidade A segunda implicao da doutrina crist da Criao a dignidade da pessoa. Em Gn 1.26-27 lemos o seguinte: E disse Deus: Faamos o homem nossa imagem, conforme a nossa semelhana; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos cus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o rptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem sua imagem: imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1.26-27). Essa passagem bblica paradigmtica e estabelece o princpio segundo o qual todas as pessoas devem ser tratadas com dignidade, uma vez que temos a imagem de Deus, as suas impresses digitais. A dignidade da pessoa humana no somente uma ideia crist, como tambm um atributo universal prprio do ser humano, de procedncia transcendente, que gera uma pretenso universal de reconhecimento, respeito e proteo tendo como destinatrios todos os indivduos e todas as formas de poder poltico e social. O jurista portugus Jnatas Machado lembra que para a viso do mundo judaico- crist, essa dignidade especial de ser criado imagem e semelhana de Deus manifesta-se nas peculiares capacidades racionais, morais e emocionais do ser humano, na sua postura fsica erecta, sua criatividade e na sua capacidade de articulao de pensamento e discurso simblico, distinta de todos os animais, por mais notveis que sejam as suas caractersticas. Jnatas destaca ainda que a teologia da imagem de Deus (imago Dei) constitui a base das afirmaes de grandes pensadores da histria, a exemplo de Francisco de Vitria, Francisco Suareza, Hugo Grcio, Samuel Pufendorf, John Milton, John Lock James Madison e Thomas Jeferson, sobre a dignidade, a liberdade e a igualdade, as quais viriam a frutificar no mundo jurdico, especialmente o direito a liberdade individual e a capacidade de autodeterminao democrtica do povo. Ao contrrio da cosmoviso crist, as demais cosmovises no possuem uma base firme o suficiente na qual a defesa da dignidade humana possa se apoiar. Qual a justificativa pela qual as pessoas devem ser tratadas com respeito e justia se elas so meros acidentes biolgicos? 14. Igualdade Outro princpio subjacente da Criao a igualdade. Se todos partem do mesmo Criador, no h razo e muito menos justificativa para um ser humano seja considerado superior ou inferior ao outro, por isso a premissa judaico-crist que todos merecem ser tratados sem distino, independentemente da cor, raa, sexo, etnia ou religio. O fundamento do tratamento igualitrio o prprio Deus que no faz acepo de pessoas (At 10.34). Por esse motivo, o apstolo Paulo escreve: Nisto no h judeu nem grego; no h servo nem livre; no h macho nem fmea; porque todos vs sois um em Cristo Jesus (Gl 3.28). Dinesh DSouza lembra que o carter precioso e a igualdade de valor de cada vida humana um conceito cristo. Os cristos sempre acreditaram que Deus atribui a cada vida humana que cria um valor infinito e que ama a cada pessoa de igual modo. No Cristianismo, voc no salvo por meio de sua famlia, tribo ou cidade. Queda Queda Esse elemento da cosmoviso crist explica o que houve de errado com o homem e porque h tantas mazelas no mundo. O texto bblico registra o seguinte: E tomou o SENHOR Deus o homem, e o ps no jardim do den para o lavrar e o guardar. E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a rvore do jardim comers livremente; Mas da rvore do conhecimento do bem e do mal, dela no comers; porque no dia em que dela comeres, certamente morrers. (Gn 2.15-17). Apesar de terem sido criados como seres perfeitos por Deus, com livre arbtrio, inocncia e pureza, Ado e Eva resolveram quebrar o pacto e desobedecer ao mandamento divino. E viu a mulher que aquela rvore era boa para se comer, e agradvel aos olhos, e rvore desejvel para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu tambm a seu marido, e ele comeu com ela. (Gn 3.6). A queda como outro ponto decisivo na histria da revelao. A extenso da desobedincia do homem atingiu o mundo no-humano tambm. Todas as estruturas da sociedade foram atingidas e se rebelaram contra o Criador. Com a queda a criao mal usada e explorada para fins pecaminosos. Como consequncia, o estado original foi bruscamente alterado, provocando separao entre Deus e o homem, morte (Rm 5.12), mal e desordem. Alm disso, o solo se tornou menos frtil e a comida mais escassa (Gn 3.18,19). Em virtude da Queda o homem se tornou propenso ao pecado. Todos, indistintamente (Rm 3.10), no nascem bons (como dizia Jean Jacques Rousseau) mas maus. Por isso, embora queiramos fazer o bem, a carne decada nos impulsiona a fazer o que errado. Esse dilema bem explicado por Paulo: Porque o que fao no o aprovo; pois o que quero isso no fao, mas o que aborreo isso fao. E, se fao o que no quero, consinto com a lei, que boa. De maneira que agora j no soueu que fao isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto , na minha carne, no habita bem algum; e com efeito o querer est em mim, mas no consigo realizar o bem. Porque no fao o bem que quero, mas o mal que 15. no quero esse fao. Ora, se eu fao o que no quero, j o no fao eu, mas o pecado que habita em mim. (Rm 7.15-20). Depravao Total A Depravao Total o primeiro ponto abordado pelas Doutrinas da Graa. Definio: Todos os homens nascem totalmente depravados, incapazes de se salvar ou de escolher o bem em questes espirituais. Para reforarmos um pouco mais segue o que Thomas Paul Simmons, D.Th escreve sobre o assunto. As Escrituras ensinam que a extenso do pecado no ser humano total. Isto o significado de depravao total. A depravao total quer dizer que o pecado permeou cada faculdade do ser humano assim como uma gota de veneno permeia cada molcula de um copo de gua. O pecado urdiu cada faculdade no homem e assim ele polui todo ato seu. Prova da Depravao Total A. O homem est depravado na Mente. Gn 6.5. B. No corao. Jr 17.9. C. Nos afetos, de maneira que o homem oposto a Deus. Jo 3.19; Rm 8.7. D. Na conscincia. Tt 1.15; Hb 10.22. E. Na palavra. Sl 58.3; Jr 8.6; Rm 3.13. F. Depravado da cabea aos ps. Sl 1.5,6; Is 1.6. G. Depravado ao nascer. Sl 51.5; 58.3. O Efeito da Depravao Total A. Nenhum resqucio de Bem Fica no Homem por Natureza. Rm 7.18. B. Portanto, o Homem, por Natureza, no pode sujeitar-se a Lei de Deus ou Agradar a Deus. Rm 8.7,8. C. O homem, por Natureza, est Espiritualmente Morto. Rm 5.12; Cl 2.16; 1 Jo 3.14. D. Logo, Ele no pode Compreender as Coisas Espirituais. 1 Co 2.14. E. Dai, Ele no pode, at que se vivifique pelo Esprito de Deus, voltar do Pecado a Deus em Piedoso. TRS ELEMENTOS FORAM PERDIDOS COM O PECADO: Gn 3 1. A Alma - Porque no dia em que dela comeres, morto morrers (Gn 2.17). 16. 2. O Corpo - No poderia comer da rvore da Vida (Gn 2.17). 3. A Terra - Ele perdeu o domnio. A Terra foi amaldioada (Gn 3.17). [KOSMOS]. OS TRS ELEMENTOS SOFREM A REDENO 1. Redeno da alma: A Converso:Gl 3.13;Tt 3.5. 2. Redeno do corpo:A Ressurreio:Rm 8.23 3. Redeno da Terra e do kosmos:A Segunda Vinda de Cristo:Rm 8.21;At 3.21; Mt 19.28; Ap 5.1-7. Redeno Completando a trade da cosmoviso bblica temos a Redeno, elemento este que mostra a forma de resolver o problema da Queda. Ainda no livro de Gnesis encontramos a promessa divina da redeno (Gn 3.15). H um mitte de interpretar que sintetiza a Bblia e a Teologia Sistemtica. o que procura estudar as Escrituras luz de trs conceitos bsicos: Reino, Pacto e Mediador (O Goel). De acordo com esses conceitos, o Reino apresenta a idia de um Senhor soberano que domina do seu Trono sobre todas as coisas. O Pacto o instrumento de administrao desse Reino, estabelecido com o homem pelo Senhor, de forma unilateral, na criao. O Pacto trata do relacionamento do homem com o universo (mandato cultural), do relacionamento do homem com os demais seres humanos (mandato social) e do relacionamento do homem com Deus (mandato espiritual). O Mediador (O Goel) o agente na administrao do Pacto. O Mediador o Redentor que providencia a Redeno. Os trs grandes atos da Santa Trindade na recuperao da humanidade perdida so: eleio por parte do Pai, redeno por parte do Filho, chamada por parte do Esprito Santo - como sendo dirigidos s mesmas pessoas, garantindo infalivelmente a salvao delas. Esta Redeno eterna: Cl 1.14: Em quem temos a redeno, a saber, a remisso dos pecados; Hb 9.12: e no pelo sangue de bodes e novilhos, mas por seu prprio sangue, entrou uma vez por todas no santo lugar, havendo obtido uma eterna redeno. A redeno um ato de Deus pelo qual Ele mesmo paga como um resgate o preo do pecado humano que insultou a santidade e o governo que Deus exige. A redeno oferece a soluo ao problema do pecado, como a reconciliao oferece a soluo ao problema do pecador, a propiciao oferece a soluo ao problema de um Deus ofendido. A palavra Redeno - (Geull) origina-se numa lei do Antigo Testamento. Quando os filhos de Israel possuram a Terra Prometida, tomaram providncias para que ela ficasse sempre distribuda igualmente entre as famlias. Poderia ser vendida, mas a escritura tinha validade de um arrendamento, que expirava automaticamente no Ano do Jubileu (que ocorria de 50 em 50 anos) e ento a propriedade voltava ao dono original. Se uma pessoaperdesse suas terras ou as vendesse, desse modo despojando os filhos de uma herana, um parente poderia compr-la de volta, a qualquer momento, pagando o valor dela at o Ano do Jubileu. Assim a terra voltaria ao proprietrio original. O homem que fazia isso era chamado de GOEL - Resgatador ou parente Remidor, e o processo era 17. conhecido como resgate de uma propriedade comprada. Era uma propriedade comprada porque fora comprada por pessoa fora da famlia, e achava-se sujeita ao resgate, se houvesse um parente que pudesse e quisesse pagar o preo do resgate. Quando um terreno era vendido nessas condies, lavrava-se uma escritura. Do lado de dentro eram escritas as especificaes da transao e do lado de fora ficavam as assinaturas. Depois, a escritura era enrolada e selada. Uma escritura selada era a prova de que aquele terreno estava sujeito a resgate. O Resgatador poderia romper o lacre (os selos), que eram um ato equivalente queima de uma hipoteca (Jr 32.6-15). O tema central da Bblia a Redeno 1. O Antigo Testamento: a preparao do Redentor. 2. Os Evangelhos: a manifestao do Redentor. 3. Os Atos: a proclamao da mensagem do Redentor. 4. As Epstolas: a explicao da obra do Redentor. 5. O Apocalipse: a consumao da obra do Redentor. A Regeneraoconsistedo processo de restaurar, ao seu estado original, algo que sofreu um processo de Degenerao. [REDENO]. O Ponto de Vista reformado da Redeno A cosmoviso reformada se distingue das demais em alguns pontos fundamentais. Primeiro, ela estabelece a autoridade suprema das Escrituras, entendida como a revelao da mente de Deus ao homem como nico ponto de partida para a construo de uma cosmoviso essencialmente crist. Em segundo lugar, ela oferece um escopo integral no-dualista para a formao de uma cosmoviso a partir da unio dos trs aspectos fundamentais da revelao bblica, a trade criao-queda-redeno. E por ltimo salientamos a viso reformada plena da soberania de Deus sobre a criao e o escopo integral da queda e a redeno total de Deus, em Cristo. Jesus. Na tradio reformada a Graa restaura a natureza, ou seja, o escopo da salvao de Cristo no se aplica apenas dimenso espiritual do homem, mas criao toda (O planeta Terra e todo o Universo). Cristo no morreu apenas a reconciliao dos homens, mas para a reconciliao do Cosmo - (2 Co 5.19). Deus no seria o Criador de todas as coisas se no quisesse a Redeno de todas as coisas. Nem o cu nem a Terra sero aniquilados. Durante o Milnio, eles sero regenerados (Mt 19.28) e no Estado Eterno - Reino Eterno, sero santificados (2 Pe 3.10-13). Por que causaria estranheza a idia de a matria existir para sempre? Se Deus desejar que ela continue, ento toda a opinio humana em contrrio nada vale. Observemos que, da mesma forma que a justia reinar na Terra durante o Milnio, habitar tambm na nova Terra (2 Pe 3.13). Alguns dos redimidos, sem dvida, estaro no 18. lar - na Nova Jerusalm, mas mesmo os que habitarem na Nova Terra tero contato com o Novo Cu (Ap 21.24). A perfeio em Deus extrapola as estruturas da histria da humanidade e, num movimento abrangente, o ser humano v que a salvao inclui o universo em sua totalidade. A humanidade, junto com o cosmo inteiro, ser integrada por Jesus Cristo. Essa cosmoviso j foi prenunciada, na dcada de 1950, pelo telogo e paleontlogo Pierre Teilhard de Chardin. Neste estgio chamado redeno, no uma questo de acrescentar uma dimenso espiritual vida humana, mas uma questo de dar nova vida e vitalidade quilo que existe, pois toda a criao esta includa no escopo da redeno em Cristo Jesus. A redeno significa restaurao, ou seja, o retorno bondade de uma criao original; a restaurao afeta toda a vida criacional e, no apenas uma rea da vida. A renovao que direcionada para Cristo Jesus abrange renovaes sociais e pessoais, sem dualidades fragmentadoras do ser humano. Todas as coisas esto debaixo do domnio da graa de Deus e, o sistema corruptor perpetrado pelo diabo no pode criar polaridade entre o pblico e o privado. A Criao do Novo Cu e da Nova Terra Aps o trmino da regenerao do cu e da terra atuais no fim do milnio, Joo declarar: e vi um novo cu e uma nova terra (Is 65.17; 66.22; 2 Pe 3.13; Ap 21.1). Por meio de um ato regenerador, Deus faz surgir um novo cu e uma nova terra. Como Deus criou os cus e a terra atuais para serem o cenrio da sua demonstrao teocrtica, assim tambm criar o novo cu e a nova terra para serem o cenrio do reino teocrtico eterno. A Regenerao consistedo processode restaurar, ao seu estado original, algo que sofreu um processo de Degenerao. A nova terra o cenrio da meta final da redeno. Em Ap 5 vimos o Cordeiro, o Leo da tribo de Jud, rasgando os selos da Escritura da redeno da terra, agora (Ap 21) vemos a concretizao da mesma, a Nova Jerusalm descendo: Agora o tabernculo de Deus est com os homens, com os quais ele viver. Eles sero os seus povos (no grego est no plural - - lao); o prprio Deus estar com eles e ser o seu Deus (Ap 21.3). Esta Terra que tem sido consagrada pela presena do Filho de Deus, onde foi feito o sacrifcio mais custoso que jamais houve, no Calvrio, a fim de redimir uma raa perdida, e para a qual Deus tem reservado um grande futuro, um lugar por demais sagrado para ser extinta ou deixada de existir, porquanto o planeta mais querido na mente de Deus, dentre toda a Sua vastssima criao (Clarence H. Larkin). O novo cu e a nova terra no resultaro de alguma catstrofe no fim do milnio. Pelo contrrio, so resultantes do processo de redeno e do reinado de Cristo durante mil anos. inconcebvel que a obra redentora de Cristo, que culminar com o reinado milenar, venha a resultar num fracasso catico como a destruio do planeta. Evangelho Equilibrado 19. Como explica Rodolfo Amorim, esses trs elementos bsicos [Criao, Queda e Redeno] devem se manter em estado de constante equilbrio, pois contm uma s verdade. Quando se enfatiza a Criao e seus potenciais, em detrimento da Queda, corre- se o risco da adoo de uma viso utpica e romntica da realidade presente. Se o contrrio ocorre [a nfase da Queda em detrimento da Criao], o cristianismo torna-se uma religio pessimista com nfase no abandono da realidade criada por Deus. Se a nfase estiver na redeno, em detrimento do pecado [Queda], corre-se o risco da adoo de um cristianismo superespiritualizado. Sendo assim, uma teologia genuinamente bblica deve manter o necessrio equilbrio: que toda a realidade criada vem da mo de Deus e era original e intrinsecamente boa [Criao]; que tudo foi arruinado e corrompido pelo pecado [Queda]; e que, mesmo assim, tudo pode ser redimido, restaurado e transformado pela graa de Deus [Redeno]. Leo da Tribo de Jud O Redentor O Goel PRINCIPAIS COSMOVISES Como j dissemos, cada indivduo sobre a face da terra, quer esteja consciente disto ou no, possui uma cosmoviso. Portanto, so vrias as cosmovises, pois so muitos os elementos que as determinam. A cosmoviso como uma fita cassete que fica tocando uma msica dentro da mente da cada pessoa. A maioria de ns ainda no se deu conta do nvel de influncia que esta percepo da realidade tem em nosso comportamento, mas ela est muito presente e produz efeitos em todas as esferas da vida. 20. No s para realizar as tarefas bsicas da igreja, evangelizando, discipulando e defendendo a f crist, mas tambm para realizar o mandato cultural de forma efetiva e transformadora, precisamos conhecer num nvel profundo trs cosmovises: a nossa prpria, a daqueles a quem vamos servir, e a cosmoviso bblica, que aquela que queremos transmitir, bem como a referncia para a nossa prpria. Cada indivduo possui a sua prpria interpretao particular da realidade, como vimos. Nesse sentido h tantas cosmovises quanto so as cabeas. Mas h padres que se repetem na formao de qualquer cosmoviso. Assim, podemos tentar classificar as cosmovises. Investigando o tema, percebemos que h diversas tipologias de cosmoviso, com diferentes nfases. Na verdade, temos razes para crer que at mesmo as diferenas tipolgicas refletem diferenas de cosmoviso! a) A Tipologia Histrica Kuyperiana Uma das primeiras classificaes do ponto de vista cristo foi a realizada por Kuyper, em suas Stone Lectures. Ele identificou quatro cosmovises principais: o Paganismo, o Romanismo, o Modernismo e o Calvinismo. O Paganismo corresponderia s cosmovises religiosas primitivas, anteriores ao advento da cincia. O Romanismo seria uma tentativa de fundir o paganismo com o cristianismo. O Modernismo seria a cosmoviso naturalista-cientfica da modernidade, e o Calvinismo a melhor expresso moderna da cosmoviso crist. A tipologia de Kuyper foi posteriormente aprofundada e desenvolvida por Dooyeweerd e Vollenhoven, na sua teoria dos Ground-Motives, ou motivos-base da cultura ocidental. Vamos tratar dessa tipologia mais adiante. b) A Tipologia Estrutural de Darrow Miller Darrow Miller, um autor contemporneo bastante influenciado pela cosmoviso reformada, classifica as cosmovises em trs grandes grupos distintos e antagnicos entre si. Segundo D. MILLER. (2002), embora relativamente genrica, esta classificao de agrupamentos representa bem as ideias e percepes que imperam nos coraes e mentes dos homens de uma forma em geral. Resumidamente so: 1) Secularismo: a realidade primordialmente fsica. Tudo o que existe o mundo material. A dimenso espiritual no existe, ou, se existe uma incgnita. Atravs da evoluo da natureza fsica as formas de vida inferiores se desenvolveram e tornaram-se conscientes de si mesmas. o caso da humanidade, que superou a superstio de Deus usando a tecnologia para tornar mais confortvel sua vida sem propsito. Esta evoluo, principalmente em sua vertente cientfica, no abre possibilidade para o sobrenatural, deste modo tudo uma mistura impessoal de matria com tempo e acaso. O conhecimento se d por informao na mente humana. A verdade no corresponde realidade, mas ao que o indivduo acredita em sua razo. A natureza do cosmo apenas fsica, estando nas mos da humanidade. um conjunto de recursos materiais impessoais que formam um sistema fechado. O ser humano age como um consumidor, e as leis da natureza so regidas por sua vontade exploradora. Por exemplo, no a lei da natureza que determina que um 21. urnio enriquecido seja elaborado durante anos, mas sim o ser humano que decide obt-lo, nem que seja necessrio enriquec-lo. Assim, o ser humano termina por ser apenas um animal, que precisa ser satisfeito, viver e morrer. uma vida que evoluiu e que vive sem nenhum propsito, a no ser o de aproveitar enquanto a morte no chega. A tica situacional, depende da situao, se for eficiente, til e desejvel, ento certo, seno, errado. Tal pragmatismo leva a uma conjuntura de imoralidade, pois um quebrar a moral subjetiva do outro. O pressuposto uma moral violada. A histria uma correria sem propsito, pois esto acabando os recursos, o tempo est passando e o final nada! preciso aproveitar, seno depois ser tarde. Se existe pobreza, porque faltam recursos materiais, ou porque uns tm muito e outros tm pouco. Afinal, como no h Deus, a vida humana uma mera manifestao fsica e, portanto, tem pouco valor. Somos animais racionais, fruto da evoluo. O mundo sobrenatural no existe ou simplesmente no temos acesso a ele. a cosmoviso que prevalece no moderno ocidente e se espalha pelo mundo todo, manifestando-se sob a forma de hedonismo, consumismo, e excessiva tolerncia, etc. 2) Animismo: est em outro extremo em relao ao secularismo. A realidade primordialmente espiritual, e em alguns casos o mundo fsico considerado apenas uma iluso. Tudo um UM espiritual. H vrios deuses e espritos individuais relacionados a este UM. A vida um conflito entre essas foras espirituais, assim o conhecimento no possvel, pois dependem dessa dinmica de foras. O cosmo, bem como a verdade um mistrio, incognoscvel, pois dependem do acaso ou da sorte ou do destino, tudo irracional, pois tudo est aberto interveno espiritual, mas no humana. A natureza animada ou viva, divina. como uma deusa para ser servida enquanto conscincia csmica, a me natureza. As leis naturais so variveis de acordo com tais intervenes. O ser humano uma entidade espiritual que est em barganha com todas essas foras neste UM csmico. O certo e errado, bem como o bem e o mal no podem ser distinguidos, pois se interpenetram, e assim, o estado de arte amoral, ou seja, sem cdigo definido. A histria cclica, sempre em movimento. No h finalidade clara, nem nitidez de tempo, pois este quase infinito ou imensurvel. No h porque se preocupar com o tempo, se no for agora, ser depois. A pobreza existe por causa dos demnios ou da ira dos deuses, que trazem secas, terremotos, enchentes, etc. Se algum est doente, a causa sempre espiritual. O objetivo do ser humano viver em paz e harmonia com a natureza e os deuses, apresentando sacrifcios e oferendas para isto. Podemos barganhar com os deuses. Poder mais importante que carter. Esta perspectiva est presente nas religies antigas e tribais, bem como no pantesmo oriental. O zen-budismo e o hindusmo so variantes desta perspectiva. A Nova Era o reavivamento moderno do antigo animismo, sendo uma cosmoviso ecltica e altamente sincrtica, apresenta uma perspectiva animista com elementos de vrias cosmovises, como alguns pressupostos naturalistas e existencialistas. Todos falsos para a edificao de vidas e comunidades. No Brasil, tem crescido as prticas e conceitos animistas no seio da Igreja. Obviamente, um animismo com roupagem e smbolos cristos, mas a essncia da cosmoviso basicamente animista. Isto pode se manifestar de vrias formas: superespiritualizao da realidade, sacrifcios a Deus para se obter bnos (incluindo a barganha do dzimo), todos os problemas atribudos a demnios, etc. 22. 3) Tesmo Bblico: Corresponde viso bblica. Apresenta um equilbrio entre o secularismo e o animismo. O mundo natural (criao de Deus) existe e importante, mas est aberto interferncia sobrenatural. Existe uma verdade absoluta que pode ser conhecida. A pobreza e a fome existem como conseqncia do pecado e rebelio do homem contra o Criador, portanto a soluo est na transformao de coraes e mentes (arrependimento). O homem muito importante porque foi criado imagem e semelhana de Deus. O tesmo bblico produz uma srie de fatores importantssimos e influncias em todas as reas da vida: desenvolvimento moral, o valor do trabalho, a virtude do servio e da solidariedade, a capacitao do homem controlar a natureza, a mordomia da criao, o conhecimento e a aplicao da verdade, a capacidade criativa do homem, etc. Todos estes fatores so fundamentais e exercem uma base slida para o desenvolvimento em todas as reas da vida humana, tanto individual, como coletiva, ou seja, tambm em relao a cultura, a arte, a poltica e o conhecimento de um povo. (Para mais detalhes vejam o anexo: J. SIRE ( 2001:23-47). A tipologia de Miller parece til como anlise dos padres de pensamento que encontramos na cultura ocidental hoje, tendo como vantagem principal a simplicidade. No contexto brasileiro, ela retrata bem as tendncias espiritualistas da religiosidade popular, no caso da cosmoviso animista. Entretanto, por ser mais voltada para as estruturas atuais de pensamento no fica clara a origem histrica desses padres de pensamento. Nesse sentido, a tipologia de Kuyper claramente superior, ao indicar no s os padres de pensamento, mas tambm as origens de cada cosmoviso e as civilizaes que cada cosmoviso produziu. c) A Tipologia Filosfica de James Sire Uma abordagem bem diferente a seguida por James Sire, que identifica as cosmovises como movimentos intelectuais ou culturais que tiveram grande influncia na histria, sem tentar for-los num padro pr-definido. Assim, em concordncia com o ttulo de sua obra principal sobre o assunto, Sire nos apresenta um catlogo, ou uma listagem das cosmovises principais, que tambm poderiam ser descritas como filosofias de vida. Oito cosmovises so apresentadas: o tesmo cristo, desmo, naturalismo, niilismo, existencialismo, monismo pantesta oriental, nova era e ps-modernismo. Vamos apresentar abaixo cinco delas (excluindo o tesmo, o pantesmo e a nova era): 1) O Desmo: surgiu no sc. XVII com o Iluminismo, onde a legitimidade do conhecimento se d pela revelao da razo. algo similar ao tesmo dominado pelo racionalismo humano. Deus existe e criou a realidade, mas a abandonou e a deixou funcionar por conta prpria. Ele transcendente (est alm da criao), mas no imanente, ou seja, est com ela. No completamente pessoal, nem providencial e no soberano. Ele simplesmente indiferente ao que criou. A natureza fsica, com leis de causa e efeito conforme foi criado, mas est fechado interveno, no s do ser humano, mas inclusive a do criador. O cosmo est em seu estado normal, no cado, e atravs deste pode-se conhecer a Deus. a chamada revelao natural. O desmo refuta qualquer revelao alm desta, pois Deus no se comunica com o ser humano, nem pelas escrituras. 23. A tica limitada revelao geral, pois sendo o cosmo normal, isso j revela o que certo. No entanto, tal premissa j destri a prpria tica, uma vez que o que existe o certo, no h como haver o mal. Isto levou os destas a muitas crises, pois como preservar a tica crist com tal fundamento? Por fim, a histria linear, sendo o curso do cosmo definido na criao, a esto as regras da natureza, bem como o conhecimento de Deus. No que diz respeito finalidade, no h propsito, pois deus no est interessado na humanidade. 2) O Naturalismo: se no desmo deus foi reduzido, nesta cosmoviso Ele inexiste. A realidade a matria, e esta tudo o que h eternamente. A natureza um sistema fechado e autnomo. O ser humano somente matria, assim como o cosmo, sendo sua personalidade fruto de uma inter-relao de propriedades qumicas e fsicas ainda no plenamente conhecidas. No campo da tica, os valores se do pela humanidade, diferentes do destas, eles no advm de revelao nenhuma. A histria linear e vinculada por causa e efeito, mas sem proposta alguma. Tudo se inicia no big bang, para os naturalistas a premissa sempre a mesma: o processo foi ativado por si mesmo e no por causa exterior. 3) O Niilismo: antes de tudo, mais propriamente um sentimento. Tudo sem sentido, como a tica, o conhecimento e a realidade, isto , s existem. Todos que no experimentaram a ansiedade, o desespero ou o tdio, no imaginam como o niilismo seria uma cosmoviso considerada. As angustias provenientes da falta de significado e sentido, as dores do vazio humano, da vida sem valor e sem propsito so suas caractersticas bsicas. A proposta niilista, ela prpria no pode ser niilista, pois se for, em si mesma no ter sentido. O niilismo fruto de um naturalismo srio, pois este defende que tudo o que h matria uniformizada em relaes, de causa e efeito, autnomas num sistema fechado. Assim, qualquer ao humana, no teria sentido, pois no seria deste, mas da determinao deste sistema fechado. Tudo seria advindo dessas foras impessoais do cosmo natural, onde a eternidade passada determinaria a futura e assim, ad infinitum. Qualquer autoconscincia ou conhecimento seria fruto desta realidade de operao, inclusive a prpria concluso disto. Assim, o naturalismo leva ao niilismo, mas nem todo naturalista niilista, justamente porque nem todos levam o naturalismo as ultimas conseqncias. Surge a uma ironia, que a de que o naturalismo, influenciado pela idia da razo humana como conhecimento, pelo niilismo terminaria por refutar o seu prprio conhecimento. Do mesmo modo, o niilista em relao a sua proposta. (Leia as descries em J. SIRE, 2001:108 e 112, a primeira para a contradio do prprio niilismo e o segundo para o sentimento). 4) O Existencialismo: surge antes do sc. XX, mas se consolida aps o niilismo deste perodo. O existencialismo atesta surge como resposta ao naturalismo que levou ao niilismo, j o existencialismo testa, como uma reao ortodoxia morta do luteranismo. O existencialismo atesta aceita as seguintes proposies do naturalismo: A matria existe eternamente; deus no existe. O cosmo existe como uma uniformidade de causa e efeito num sistema fechado. A histria uma corrente linear de eventos ligados por causa e efeito, mas sem uma proposta abrangente. A tica est relacionada apenas aos seres humanos. Porm, o existencialista muito mais, em relao ao naturalista, pelo ser humano, 24. bem como sobre como podemos ser significativos em um mundo insignificante. Assim, mesmo sendo a realidade, primordialmente material, esta se apresenta ao ser humano em duas formas: objetiva e subjetiva. A objetiva exatamente como no naturalismo, j a subjetiva a determinada pela apreenso do sujeito, onde o eu apreende o no eu e faz deste parte de si mesmo. O sujeito apreende o conhecimento, no como uma garrafa, mas como um organismo assimila um alimento. Nesta perspectiva, o ser humano faz o que ele , segundo Sartre: Antes de tudo, o homem existe, cresce, aparece em cena e, somente depois, define-se a si mesmo. Somos autnomos, criamos nossos prprios mundo e os governamos, os nossos valores segundo ns mesmos. Assim, o mundo objetivo parece-nos um absurdo, por no se adequar s regras estipuladas por ns como o mundo subjetivo. a que o existencialista vai alm do niilismo, pois se revolta com o mundo objetivo ao criar e priorizar o seu prprio mundo atravs da subjetividade. J o existencialismo testa aceita as seguintes proposies do tesmo: Deus infinito e pessoal (trino), transcendente e imanente, onisciente, soberano e bom. Deus criou o cosmo ex nihilo para operar com a uniformidade de causa e efeito num sistema aberto. Os seres humanos so criados a imagem e semelhana de Deus. Podem conhecer alguma coisa de Deus e do cosmo e podem viver significativamente. Deus pode e estabelece comunicao conosco. Fomos criados bons, mas agora estamos cados e necessitamos ser restaurados atravs de Cristo. Para os seres humanos, a morte ou o porto para a vida com Deus ou separada Dele. A tica transcendente e baseada no carter de Deus. Deste modo, o existencialismo testa mais um conjunto de nfases no teimo do que uma cosmoviso separada, porm tais nfases o colocam em desacordo com o tesmo, principalmente devido suas relaes com o existencialismo atesta e com a teologia do sc. XX. As nfases esto mais relacionadas com a natureza humana e sua relao com o cosmo e com Deus do que a natureza destes. Os seres humanos so pessoais e quando estes chegam a sua conscincia plena, descobrem-se a si mesmos num cosmo alienado. Se Deus existe ou no isso no deve ser resolvido pela razo, mas pela f. O incio no se d a partir de Deus. No tesmo assume-se Deus com um dado carter, e as pessoas so definidas a partir Dele. No existencialismo testa chega-se a mesma concluso, contudo o ponto de partida o ser humano ao conscientizar-se de si mesmo. Deus sempre se revelar ambiguamente, e mediante a isso somado ao conflito advindo do mundo objetivo e subjetivo a indivduo, em sua solido, deve escolher dar um passo radical de f em direo a religio, de forma que tal atitude possibilitar as proposies do tesmo. No entanto a subjetividade ser a definidora do estilo de vida do sujeito nesta circunstancia. Toda a primazia se d pela subjetividade pessoal, pois a realidade um paradoxo que s Deus resolve, a ns cabe a escolha de confiar Nele e mediante nossa subjetividade partirmos para a ao. A histria em si desprezvel enquanto fato, mas como mito, ou significado religioso importante para o presente a ser vivido. 5) O ps-modernismo: com o existencialismo abre-se a porta para o ps-modernismo, pois somos ns que fazemos de ns o que devemos ser. O ps-modernismo no propriamente uma cosmoviso, pois seria fruto de no haver mais uma histria a ser contada, mas vrias vlidas, cada uma legitimando o seu grupo social. Haveria os naturalistas, os cristos, os orientais pantestas e assim ad infinitum. As questes no so: O que existe? Ou O que podemos conhecer? Mas sim: Como a linguagem funciona para 25. construir o significado? A verdade da realidade est sempre oculta, o que se pode fazer narrar histrias. Os seres humanos fazem o que eles so atravs das linguagens que usam para construir a si prprios. A tica e o conhecimento so construtos lingsticos, assim como o bem social o que a sociedade assumir ser. A classificao de Sire tem a vantagem de incluir a cosmoviso pantesta oriental e de diferenciar entre modernismo e ps-modernismo. Poroutro lado, Sire no mostra como diferentes cosmovises refletem condies religiosas mais profundas. Alm disso, vrias cosmovises diferenciadas por ele (desmo, naturalismo, niilismo, existencialismo, ps- modernismo) podem ser descritas como variaes dentro de um padro mais amplo que Miller descreve como secularismo e Kuyper como modernismo. De certo modo, existencialismo e niilismo so mais filosofias dentro de uma cosmoviso do que cosmovises claramente distintas. 2.2. AS PRINCIPAIS COSMOVISES (PERSPECTIVA REFORMACIONAL) Do ponto de vista kuyperiano, preciso procurar o ponto de partida de uma cosmoviso e, simultaneamente, o diferencial entre diversas cosmovises na sua orientao religiosa fundamental. Essa orientao define as crenas mais centrais de uma cosmoviso. Muitas pessoas, hoje, se dizem crists, catlicas ou evanglicas. No entanto, comum encontrar cristos que dedicam sua vida ao dinheiro, ou carreira profissional, ou a um relacionamento. Na perspectiva bblica, essa a verdadeira religio da pessoa. Examinando a questo por esse ngulo, imediatamente perceberemos que, a despeito da multiplicidade de cultos religiosos que pululam em nossa sociedade, a maioria das pessoas, mesmo as religiosas, vive em torno de valores e tesouros seculares, como o mercado, as filosofias polticas, e os ideais humanistas de vida. Muitos daqueles que praticam cultos como o candombl, por exemplo, so pessoas altamente secularizadas e comprometidas com ideologias humanistas de esquerda. Nesse caso, o que a religio profunda dessa pessoa? Provavelmente, o humanismo. Nesse nvel profundo que devemos encontrar os principais adversrios do cristianismo. Religies que meramente oferecem um consolo s pessoas, ou um meio de obterem a satisfao de seus desejos (como o baixo espiritismo) podem ser muito perigosas para os indivduos que as praticam, mas no so to perigosas quanto parecem, por uma razo simples: elas geralmente no so sistemas de vida integrais, no so religies formativas. Elas no tm o poder de moldar totalmente a vida das pessoas, mesmo quando tem grande influncia. Por exemplo: praticamente impossvel encontrar um professor de histria adepto do espiritismo, que busque explicar a histria humana atravs dos princpios do espiritismo. Isso mostra que essa religio inerentemente fraca. Ela no capaz de proporcionar s pessoas uma viso abrangente do mundo, que guie toda a vida da pessoa. Entretanto, esse tipo de religio pode ser associada a uma 26. cosmoviso dualista, permanecendo no lado mais fraco do dualismo, ou no lado mais forte. Nesse caso, ela pode fortalecer grandemente uma outra cosmoviso. Podemos distinguir, na atualidade, alguns sistemas totais de vida que se ope ao cristianismo. Nem todos esto presentes em nossa cultura, mas importante conhec-los pois sua influncia enorme. H vrios sistemas religiosos diversos; mas h essencialmente trs tipos de cosmovises, que se dividem e se misturam formando as outras: o monismo oriental, o dualismo ocidental, e o tesmo bblico. Esses trs tipos se distinguem basicamente pela forma como relacionam a divindade, ou aquilo que consideram supremo, e o restante do cosmo.3 O monismo oriental identifica Deus com a totalidade do Cosmo, sendo assim pantesta. O dualismo ocidental tende a identificar Deus como uma parte do Cosmo, procurando assim sujeitar a parte inferior parte divina. O dualismo pode vir em suas formas pags ou numa forma cientfica moderna. O Tesmo Bblico estabelece uma diferena qualitativa infinita entre o Criador e a criatura: 1) O Monismo Pantesta A perspectiva oriental manifesta grande tendncia para o monismo. O monismo a crena de que a realidade inteira uma nica essncia. Tudo o que podemos conhecer Deus, o homem, a matria, o esprito, os animais, o passado, o futuro, os seres vivos e inanimados, a verdade e a mentira, o prazer e o sofrimento, eu e tu, tudo isso uma nica essncia pura, o todo. O Monismo Pode ser representado da seguinte forma: Na cosmoviso monista, representada no hindusmo, no budismo, e em filsofos e telogos ocidentais como Schelling e Paul Tillich, a divindade o infinito, e a realidade no divina apenas aparentemente no divina. Conforme essa perspectiva, as diferenas que encontramos em nossa experincia so na verdade iluses. Uma pessoa iluminada por meio de uma experincia mstica compreender que na realidade tudo uma coisa s. Esse tipo de monismo influenciou 3 Essa forma de distinguir ascosmovises foi proposta por D.T. H. Vollenhoven. 27. bastante o movimento da nova era. por isso que s vezes encontramos msticos que dizem que tudo Deus, e que o segredo da felicidade ns descobrirmos que Deus est dentro de ns, ou que todos somos Deus. Na prtica religiosa monista o segredo da realizao o indivduo se harmonizar com a realidade que est oculta sob a aparncia. Assim, no existe interesse em transformar a realidade. Pelo contrrio, preciso dedicar-se meditao para receber a iluminao mstica, e compreender que o sofrimento e o mal so na verdade parte da vida. No hindusmo, por exemplo, o mstico busca aprender a conviver com a dor, e a super-la por meio de v-la como uma iluso (maya). Historicamente, esse tipo de sistema favoreceu a constituio de sociedades muito estticas, tradicionalistas e fechadas. No se desenvolveu qualquer noo de que o universo teria uma espcie de ordem lgica que poderamos estudar assim, esses sistemas nunca produziram nada parecido com a cincia ocidental. Um exemplo disso o que os ocidentais usam para pensar e argumentar: as leis da lgica. Segundo essas leis, por exemplo, uma coisa no pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Por exemplo, a lmpada no pode estar acesa e apagada ao mesmo tempo. Entretanto, na viso monista, tudo uma coisa s; a verdade e a mentira fazem parte da mesma essncia. Portanto, o monismo no favorece a noo de que argumentao lgica possa levar a uma melhor compreenso da realidade. Alm disso, a estrutura social era considerada algo imutvel. Se havia injustia social, o indivduo era levado a superar a dor por meio da meditao, ao invs de acabar com a dor por meio da transformao do mundo. Quem ir combater o mal, se consideramos que o mal apenas uma iluso a ser superada por meio de experincias msticas? 2) Dualismo Pago Nas formas pags de religio, a divindade identificada com uma parte, aspecto fora ou princpio no universo criado.4 A divindade uma subdiviso da realidade, um 4 Clouser, Roy, The Myth of Religious Neutrality, p. 36. 28. segmento dentro do todo que o cosmo. Religies da natureza adoram um poder divino na terra como o sol, a gua, os ventos, etc. O paganismo freqentemente conduz formao de algum tipo de dualismo religioso. Enquanto o monismo oriental tende a ver tudo como sendo uma nica essncia, o dualismo tende a ver a realidade como sendo uma composio de duas substncias ou foras contrrias. Na religio Babilnica antiga, acreditava-se que o mundo nasceu de uma batalha csmica entre Marduque, o Deus supremo (princpio masculino), e Tiamat, o drago que representava o caos (princpio feminimo). Marduque venceu Tiamat, e de seu corpo fez o mundo. 29. 30 interessante notar que nesse tipo de perspectiva, toda a realidade era uma luta sem fim entre dois poderes, a ordem e o caos, o masculino e o feminino. O seguidor dessa religio nunca via a realidade como sendo harmoniosa; ela era vista como uma contradio. Esse tipo de cosmoviso acaba sempre favorecendo alguns aspectos da realidade e tratando os outros como malignos e perigosos. Outro sistema dualista que influenciou muito o mundo antigo foi o dualismo persa, presente no Zoroastrismo e no Maniquesmo. Conforme essas religies, h uma luta incessante entre o bem e o mal, que so duas foras iguais e contrrias. O sistema dualista que mais influenciou a nossa cultura foi o dualismo grego. Em determinado ponto de sua histria, os gregos comearam a ver o mundo como fruto da unio entre duas realidades distintas: a forma e a matria. O mundo das formas era tambm chamado de mundo das ideias. Esse era o mundo da mente ou do esprito; era povoado pelas ideias perfeitas, governado pela razo. J o mundo da matria um mundo inferior, o mundo do caos, daquilo que temporrio e corruptvel. Essa viso dualstica do mundo levou a uma conscincia dualista. Assim os gregos, que inicialmente cultivavam bastante a beleza corporal, aos poucos foram se tornando pessimistas para com o corpo. Eles passaram a valorizar muito a filosofia e as atividades do esprito humano; ao mesmo tempo, consideravam a vida terrena como sendo algo corrupto, decadente e infeliz. Assim surgiu um provrbio famoso que descreve sua viso da vida: soma sema, que significa o corpo um tmulo. O grego via a si mesmo como um esprito aprisionado em um corpo decadente. Um pouco mais tarde, na poca do Novo Testamento, surgiu um movimento hertico que prejudicou bastante a igreja primitiva: o gnosticismo. Os gnsticos comearam a dizer que o mundo material teria sido criado por um deus inferior, chamado de demiurgo. Esse deus teria aprisionado espritos de luz em corpos fsicos corruptos. Ento o Deus supremo, no mundo das formas, enviou um dos primeiros deuses (Jesus) para libertar esses espritos de sua priso material e faz-los transmigrar de volta para o mundo do esprito. 30. 31 No preciso dizer que esse tipo de religio produziu srias consequncias prticas. Os gregos, embora amassem a filosofia, achavam que o trabalho material era inferior. Assim, desprezavam a pesquisa emprica e o trabalho artesanal. Por essa razo o mundo ocidental, enquanto esteve preso influncia grega, foi incapaz de produzir pesquisa cientfica e tecnologia industrial. S com a renascena e a Reforma essa atitude dualista foi superada. O dualismo grego afetou profundamente a religio crist. Os cristos gnsticos, por exemplo, desprezavam o corpo fsico. Sua espiritualidade era dedicada reflexo e iluminao. Assim eles no buscavam justia social, no ajudavam os pobres, e buscavam desligar-se de tudo o que consideravam terreno. Havia dois partidos: os gnsticos ascticos negavam os desejos do corpo e o maltratavam para ganhar a iluminao. Os gnsticos libertrios buscavam satisfazer todos os desejos do corpo, raciocinando que isso no poderia tirar a pureza de seu esprito interior. Assim, caiam na gandalha!. O que eles tinham em comum? Ambos eram dualistas: valorizavam o esprito e detestavam tudo o que era material, terreno. 3) O Tesmo Bblico Em oposio aos sistemas monistas e dualistas, est o tesmo bblico. Na perspectiva testa, Deus e o cosmos so duas realidades distintas. Deus Deus, e o cosmo o cosmo. Deus infinito, perfeito, eterno, indivisvel. O cosmo foi criado por Deus, estando sob sua soberania. Como o cosmo foi criado bom, no h nada de ruim na criao. No h uma parte da criao que seja ruim ou inferior a outra (como no dualismo grego). A queda do homem lanou o mundo no caos. Assim, o mal existe, no sendo uma iluso (como no monismo), mas no pode ser identificado com uma criatura. O mal a corrupo que atinge as criaturas. Vamos examinar a perspectiva bblica mais detalhadamente mais adiante. 31. 32 As trs cosmovises acima so os tipos bsicos de cosmoviso, examinadas sob o ponto de vista da orientao religiosa fundamental. Elas tambm correspondem s trs grandes tradies filosfico religiosas do mundo: o pantesmo oriental, as diversas formas de dualismo pago, que dominaram no ocidente e tambm ocorreram no oriente, e o tesmo encontrado no Judasmo, no Cristianismo e no Isl. Alm dessas trs cosmovises primrias, temos uma srie de variaes relacionadas aos diferentes contextos histricos em que elas se desenvolveram. Assim h variedades de dualismo pago, de pantesmo e de tesmo cristo, conforme a consistncia dos cristos em manter sua prpria cosmoviso. O mundo ocidental viu dois tipos singulares de dualismo emergirem como foras culturais de dominaram por sculos a civilizao e at hoje exercem sua influncia: o dualismo Romanista Natureza/Graa e o dualismo Moderno Natureza Liberdade. 4) O Dualismo Natureza/Graa Quando o cristianismo nasceu, a maior parte do mundo ocidental e mdio- oriental seguia algum tipo de dualismo. O mais influente era o dualismo grego, que havia se espalhado por todo o imprio romano. Durante os primeiros sculos do cristianismo, enquanto o evangelho se espalhava em todas as direes, o dualismo grego foi penetrando nas igrejas e moldando a prpria teologia crist. Os filsofos gregos que mais influenciaram o cristianismo foram Plato e Aristteles. Inicialmente, com a influncia do platonismo, muitos cristos comearam a entender a espiritualidade como uma espcie de viso mstica, e a salvao como uma libertao do mundo presente. O cristianismo influenciado pelo platonismo no dava muita ateno s questes terrenas. Nesse perodo surgiu o movimento monstico, que buscava se aproximar de Deus afastando-se das coisas terrenas (sexo, alimento, poltica, diverso, rotina de trabalho, etc). Essa uma das razes porque at hoje o sacerdote catlico no pode se casar, devendo permanecer casto. No final da idade mdia, o grande telogo Toms de Aquino realizou uma sntese entre o dualismo grego forma/matria e o tesmo cristo. Ele procurou adaptar a perspectiva grega perspectiva crist, desenvolvendo o sistema natureza/graa. Conforme esse sistema, a queda no teria corrompido totalmente a natureza, mas apenas a enfraquecido, fazendo-a perder a graa sobrenatural. A salvao seria o retorno do dom sobrenatural da graa ao mundo. Ou seja, para ele, a graa no era a renovao da prpria natureza, mas um complemento, um acrscimo natureza. A partir dessa teologia, Aquino considerou que a natureza funcionava adequadamente, mesmo sem a graa. A razo humana, por exemplo, precisava da luz 32. 33 da graa para operar melhor, mas em si mesma no havia se corrompido. Assim, ele concluiu que nossa viso sobre o que a natureza poderia ser baseada numa filosofia pag, produzida pelo homem natural. A filosofia que Aquino usou para explicar o mundo foi a filosofia de aristteles. E o dualismo forma/matria encontrou seu caminho para dentro do cristianismo. Diversos pensadores evanglicos apontaram que o sistema natureza/graa foi um erro fatal para o cristianismo. Ao aceitar esse esquema, os cristos aceitaram que as realidades da criao, como o pensamento filosfico, a educao, a famlia, a poltica, e at a moral, fossem consideradas parte da esfera da natureza, devendo seguir suas prprias leis. E a f em Cristo, a igreja, etc., seriam parte da esfera da graa, que adicionada natureza. Sob influncia dessa viso, os homens foram pouco a pouco reivindicando em cada uma dessas reas a liberdade de toda influncia da esfera da graa. A religio foi sendo tratada como uma questo de igreja, ou ento de foro ntimo, e sua influncia sobre todas as questes naturais foi anulada. Na linguagem de Francis Schaeffer, quando Toms de Aquino deu liberdade natureza, a natureza devorou a graa. 5) O Dualismo Natureza/Liberdade medida em que a idade mdia findava, os pensadores europeus comearam a buscar alternativas em relao filosofia grega. Na Reforma, os protestantes rejeitaram de forma decidida o dualismo grego forma/matria. Afirma-se, por exemplo, que Lutero disse o seguinte: Foi-me ensinado que ningum pode entender Paulo sem Aristteles. Mas eu aprendi que impossvel compreender Paulo com Aristteles! No perodo renascentista desenvolveu-se o humanismo ocidental. A marca principal do humanismo a noo de que o homem encontrar sua realizao plena por meio de uma libertao plena de toda opresso. Os humanistas surgiram de um perodo de intensa opresso poltica e religiosa (a idade mdia), e abominavam a limitao da liberdade de pensamento, da ao, da liberdade poltica, e em muitos casos, da liberdade moral e sexual. Ao lado de uma valorizao crescente do homem e da liberdade humana, os humanistas defendiam um controle racional da realidade. Atravs da crtica racional, da pesquisa cientfica e da tecnologia o homem poderia no s derrotar as foras que o oprimiam, mas tambm ganhar o controle da criao, com o fim de satisfazer a todas as necessidades humanas. Isso levou a uma perspectiva mecnica do mundo, como se ele fosse uma mquina que podemos compreender e dominar por meio da matemtica e da indstria. 33. 34 Surgiu assim no mundo ocidental outro dualismo que se tornou o princpio dinmico por trs da nossa cultura: o dualismo natureza/liberdade. Conforme esse dualismo moderno, o homem essencialmente um esprito racional, ansiando por liberdade para se realizar. Mas o principal obstculo a essa realizao a natureza, que impe limitaes liberdade. O homem entra ento em luta com a natureza buscando control-la por meio da tecnologia. O dualismo moderno profundamente contraditrio. Um exemplo evidente disso o fato de ter levado o homem a um choque com a natureza. O que vemos, de fato, que aps a etapa inicial da modernidade, quando a cincia evoluiu bastante, ocorreu a revoluo industrial. A busca do controle tecnolgico de toda a natureza para fins econmicos gerou uma destruio enorme do meio ambiente do homem. Assim, chegamos ao princpio do sculo XXI metidos numa grave crise ecolgica. Para controlar a natureza, o homem construiu uma explicao mecanicista e materialista da natureza. O evolucionismo darwiniano, por exemplo, uma tentativa do homem de explicar a origem da vida de forma naturalista, sem se apoiar na f em Deus. Nasceu assim o naturalismo filosfico, que buscam explicar a natureza a partir da natureza, como se ela fosse um mecanismo com leis determinsticas. Este o problema principal do dualismo moderno. Para afirmar sua liberdade absoluta, o homem moderno excluiu Deus. Para controlar a natureza em seu benefcio, explicou a natureza como um mecanismo determinista. Entretanto, o prprio homem parte da natureza! Assim, o homem tambm poderia ser explicado a partir das leis da natureza, como um produto do mecanismo evolutivo. Mas se isso for verdade, o homem no pode ser realmente livre! Ou seja: na busca desenfreada por liberdade, o homem moderno construiu uma cincia naturalista quea cada dia nega que o homem tenha qualquerliberdade. Assim, no evolucionismo, o homem meramente o produto da evoluo biolgica; no socialismo marxista, o homem meramente produto do sistema econmico; em vrias teorias sociolgicas, o homem produto da sociedade; para muitos psiclogos, o homem produto de seu subconsciente. Os efeitos dessa perspectiva esto entre ns. Vivemos numa sociedade que acredita ser possvel construir a liberdade, e assim, a felicidade humana por meio da cincia. H vrios exemplos disso. Nas relaes afetivas, por exemplo. O homem moderno considera o casamento e a famlia tradicional como obstculos liberdade. Assim, a famlia tradicional foi bombardeada de todos os lados: mudanas na legislao, ridicularizao na mdia cultural, estudos acadmicos que a consideram um obstculo para o desenvolvimento humano. Em lugar da famlia tradicional, prope-se 34. 35 a liberdade para o indivduo construir seus relacionamentos. Modelos novos de famlia, como as famlias matriarcais, ou abertas, ou famlias compostas (fruto de vrios casamentos), famlias homossexuais, etc., so defendidos como formas vlidas. Temos assim uma reengenharia da famlia, na qual psiclogos, socilogos, sexlogos, e legisladores buscam construir artificialmente, por meio de controle cientfico racional, sistemas humanos mais humanos. O efeito disso, no entanto, impossvel de esconder. Os casamentos duram cada vez menos, e os filhos desses relacionamentos desenvolvem distrbios psicolgicos e morais. O custo financeiro desses divrcios enorme, bem como o custo psicolgico. As pessoas vivem cada vez mais ss e assim tornam-se cada vez mais consumistas, favorecendo o sistema capitalista de explorao. A quantidade de mes solteiras aumenta assustadoramente, e a liberdade sexual dificulta o controle de doenas ao mesmo tempo em que alimenta redes de prostituio e pornografia, geralmente associadas ao consumo de drogas. As pessoas mergulhadas no sistema moderno de vida e pensamento vivem existncias intensamente contraditrias. Permanecem o tempo todo numa intensa fria libertria, buscando se livrar de tudo que as oprime: leis morais, famlia, tradies religiosas, governo, leis da natureza, envelhecimento, dor, etc. Mas no processo, negam sua prpria liberdade; tornam-se elas mesmas parafusos da grande mquina. 35. 36 Os Fatores Essenciais de Uma Cosmovisao Crista Esses 42 artigos de Afirmacao e Rejeicao compreendem os fundamentos teologicos nos quais todos da The Coalition on Revivalis 17 Sphere Documents. Um manifesto para a Igreja Crista, Artigos de Afirmacao e Rejeicao no Reino de Deus, e todos outros documentos oficiais devem basear-se neste manifesto. Esses 42 artigos estabelecem que sao a essencia da Cosmovisao Crista e se baseiam no fundamento da inerrante palavra escrita de Deus, a Biblia. A Natureza de Deus 1. Afirmamos que existe apenas um Deus vivente que e infinito e perfeito, de puro espirito, invisivel, e absolutamente distinto de Sua criacao. o Negamos qualquer e toda visao de Deus que negue ou desvie do conceito de Deus tradicional do sistema Judaico-Cristao, incluindo o Ateismo, Deismo, deuses finitos, Panteismo e Politeismo. 2. Afirmamos que Deus e tanto Transcedente e Imanente em Sua criacao. o Negamos que em Seu Ser Deus esteja identificado com Sua criacao. 3. Afirmamos que em determinados eventos Deus sobrenaturalmente intervem no curso dos eventos naturais ou humanos para cumprir Seus propositos redentivos. o Negamos qualquer visao naturalista que rejeite um Deus sobrenatural ou Suas intervencoes miraculosas na natureza ou historia. 4. Afirmamos que Deus e um Ser pessoal, infinito, auto-existente, imutavel, indivisivel, onipotente, oniciente, onipresente, e ser espiritual que e o criador e sustentador do Universo. o Negamos que Deus seja impessoal, finito, temporal, mutavel, materia divisivel, ou seja limitado em Seu poder, conhecimento, ou presenca no Universo. 5. Afirmamos que Deus e absolutamente santo, justo, bom, verdadeiro, amoroso, e misericordioso em Seu ser e todas Suas atividades. o Negamos que Deus seja algo menos que absolutamente e totalmente perfeito em todos os Seus atributos. 6. Afirmamos que este Deus unico, exite eternamente em tres distintas pessoas (Pai, Filho, e Espirito Santo), cada um compartilhando igualmente os atributos divinos. o Negamos que Deus seja mais do que um Ser ou que Ele seja menos que as tres pessoas eternas (como no Monoteismo, Arianismo, ou Modalismo). Tragicamente existem alguns na igreja que esqueceram-se destas verdades elementares para a F Crist. De alguma forma recusamo-nos a pressionar os temas nesta era que envolvem o Multiculturalismo e diversidade Poltica que o Todopoderoso Deus est a cargo, e que Suas Leis envolvem todos os homens, em todos os tempos, e em todas naes. Sem respeito a qualquer filosofia de governo de uma nao, seja Democracia, Socialismo, Comunismo, Ditadura Militar, Oligarquia, ou Monarquia, a realidade que os governos deste mundo esto sobre os ombros daquele que chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, e Principe da Paz. Is. 9.6-7 A Bblia nos ensina no Velho Testamento e Novo Testamento, (Dan 2.21; 4.17,25,32; 5.2; Mat 28.18; Ef 1.17-23; Col 1.13-20; 2.10) que a terra governada por uma teocracia, que simplesmente significa que Deus Governa. o A Bblia proibe uma eclesiacracia (igreja governando). o Nossa desafio esta em termos a coragem de simplesmente concordar com a revelao bblica e ento vivermos de acordo a estas verdades. 36. 37 o Temos que nos conscientizar que idias produzem consequencias, especialmente quando essas idias de formas vs expe que governos humanos esto sobre o controle do mundo.