intertextualidade by koch-bentes-cavalcante

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INTERTEXTUALIDADE Prof. Cap João Carlos Conceito introduzido na década de 60. Julia Kristeva: crítica literária. Sentido mais amplo: refere-se ao fato de uma obra (literária) aludir a outra. Ex.: Esaú e Jacó (de Machado de Assis). LT incorpora o termo, com base no postulado de Bakhtin (2000 [1929]):um enunciado não pode ser entendido isoladamente.

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INTERTEXTUALIDADEProf. Cap João Carlos

Conceito introduzido na década de 60. Julia Kristeva: crítica literária. Sentido mais amplo: refere-se ao fato de

uma obra (literária) aludir a outra. Ex.: Esaú e Jacó (de Machado de Assis).

LT incorpora o termo, com base no postulado de Bakhtin (2000 [1929]):um enunciado não pode ser entendido isoladamente.

E mais:A produção de sentido é sempre

intertextual;A intertextualidade se aplica a domínios

discursivos diferentes (livro-cinema);Envolve a multimodalidade.

INTERTEXTUALIDADEProf. Cap João Carlos

Intertextualidade (Koch; Bentes e Cavalcante, 2007):

1. Stricto senso2. Lato senso

INTERTEXTUALIDADEProf. Cap João Carlos

Intertextualidade (Koch; Bentes e Cavalcante, 2007):

1. Stricto senso : ocorre quando, em um texto, está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz parte da memória social de uma coletividade ou da memória discursiva dos interlocutores.

INTERTEXTUALIDADEProf. Cap João Carlos

Intertextualidade:1. Lato senso : relativa a todo e qualquer

discurso, ou seja, mesmo que não se identifique o intertexto, há a presença do interdiscurso, daí a intertextualidade em sentido amplo.

INTERTEXTUALIDADEProf. Cap João Carlos

Classificações da intertextulidade:a) TEMÁTICAb) ESTILÍSTICAc) EXPLÍCITAd) IMPLÍCITA (O DÉTOURNEMENT)

INTERTEXTUALIDADEProf. João Carlos

A) TEMÁTICA: refere-se à manutenção do mesmo tema/assunto em textos distintos da mesma área de conhecimento.

Veja alguns exemplos.

INTERTEXTUALIDADEProf. Cap João Carlos

Trecho de De Volta à Cabana, de C. Baxter Kruger

A história por trás da históriaA cabana é uma história que não foi criada para virar livro. Foi escrita por

William P. Young (Paul, para os amigos), para seus filhos. Paul tinha dois objetivos: primeiro, presenteá-los com algo que expressasse seu amor por eles; segundo, ajudá-los a “entender o que se havia passado em seu mundo interior”, tal como disse seu amigo Willie. O objetivo de Paul era imprimir 15 exemplares para dar no Natal aos filhos, à mulher e a uns poucos amigos. Achou tempo para fazer isso em meio a três empregos que mal lhe garantiam a sobrevivência. Os exemplares ficaram prontos e a história circulou na família e entre amigos. Ele foi incentivado a publicá-la, mas todos os editores com quem fez contato a recusaram, ora considerando-a “muito fora dos padrões”, ora achando que a história “tinha Jesus em excesso”. Para Paul, a publicação em forma de livro – hoje um dos mais vendidos de todos os tempos – não passa de um bônus, um brinde. Seu sonho já tinha sido realizado quando os primeiros exemplares foram produzidos e seus filhos puderam conhecer uma história capaz de explicar um pouco da jornada do pai deles pelo mundo “real”.

Monte Castelo

Ainda que eu falasse a língua dos homens.

E falasse a l íngua dos anjos, sem amor eu nada seria.

É só o amor, é só o amor.Que conhece o que é verdade.O amor é bom, não quer o mal.Não sente inveja ou se envaidece.  O amor é o fogo que arde sem se ver.É ferida que dói e não se sente.É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer.Ainda que eu falasse a língua dos

homens.E falasse a l íngua dos anjos, sem

amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer.É sol itário andar por entre a gente.É um não contentar-se de contente.É cuidar que se ganha em se perder.  É um estar-se preso por vontade.É servir a quem vence, o vencedor;É um ter com quem nos mata a lealdade.Tão contrário a si é o mesmo amor.  Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem.Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face.É só o amor, é só o amor.Que conhece o que é verdade.Ainda que eu falasse a língua dos homens.E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.  

Charges x reportagens/notícias sobre o escândalo da Petrobras

Outro exemplo

B) ESTILÍSTICA: ocorre quando há a repetição, a paródia, a imitação do esti lo de outro texto.

Paródia na música: Débil metalMamonas assassinas

Walking in the darkNow there's just some cookiesWich is not for you,I know it's notI just can't explain,it melts in my mouthDying to me now is popcorn

Can't you understand?Can't you understand, boy?So, shake your headSo, shake your head, sucker!

No more ideas! No more ideas! It's over!

Exemplo: O filósofo alemão Arthur Schopenhauer

afirmou que “todas as pessoas tomam os limites de seu próprio campo de visão, pelos limites do mundo”.

C) EXPLÍCITA: ocorre quando há menção/citação direta (paráfrase anunciada) da fonte do intertexto.

D) IMPLÍCITA: ocorre quando não há menção clara da fonte. Espera-se que o leitor/ouvinte recupere o intertexto.

As autoras consideram o detournement um caso de intertextualidade implícita:

Penso, logo existo. (Descartes)Penso, logo hesito. (L.F.V.)Quem vê cara, não vê falsificação

(publicidade da Citizen)

BOM CONSELHO CHICO BUARQUE

Ouça um bom conselhoQue eu lhe dou de graçaInúti l dormir que a dor não passaEspere sentadoOu você se cansaEstá provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigoDeixe esse regaçoBrinque com meu fogoVenha se queimarFaça como eu digoFaça como eu façoAja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempoVim de não sei ondeDevagar é que não se vai longeEu semeio o ventoNa minha cidadeVou pra rua e bebo a tempestade

Refererência Koch; Bentes e Cavalcante. A

intertextualidade. São Paulo: Contexto, 2007.