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GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS HÍDRICOS DO DISTRITO FEDERAL Diretoria de Conservação Informação - IBRAM/PRESI/SUCON/DICON Resultado do Levantamento de Médios e Grandes Mamíferos no Parque Nacional de Brasília HISTÓRICO Desde setembro de 2014 foi ins)tuído o programa de monitoramento de médios e grandes mamíferos do Distrito Federal - DF e da Região Integrada de Desenvolvimento do DF - RIDE. Esse monitoramento tem o obje)vo de inventariar quais espécies de mamíferos estão presentes no território do Distrito Federal (DF) e entorno, bem como iden)ficar áreas u)lizadas como corredores ecológicos e áreas prioritárias para a conservação dessas espécies. Em paralelo a implementação do programa, foram elaborados projetos com espécies focais para o monitoramento. Em 4 de maio de 2018 foi subme)do uma proposta de trabalho para o monitoramento de lobo-guará por meio do colar GPS na Reserva Biológica da Biosfera. Embora o recurso não tenha sido disponibilizado, houve a)vidade de monitoramento u)lizando armadilha fotográfica, na Estação Ecológica de Águas Emendadas e no Parque Nacional de Brasília. O presente relatório técnico apresenta os resultados ob)dos para o Parque Nacional de Brasília - PNB. Ressalta-se que os obje)vos propostos não foram a)ngidos uma vez que o monitoramento não ocorreu por meio de colar GPS. As informações apresentadas nesse relatório estão descritos de modo a contribuir em uma expedição de captura caso o projeto com colar GPS fosse realizado, uma vez que foram identificados previamente os locais de ocorrência do lobo-guará. INTRODUÇÃO A ecologia espacial de indivíduos selvagens está diretamente ligado à movimentação desses no ambiente, consequência das pressões internas e externas às populações (Kernohan et al. 2001; White & Harris 1994). Durante grande parte de suas vidas os animais ocupam uma área espacialmente definida e essa pode consistir de um mosaico de lugares importantes usados de formas diferentes ao longo de sua existência (Ewer 1998). Quan)ficar estas áreas pode revelar muito a respeito da dinâmica social e requerimento energé)co das espécies (Rocha 2006). Entre os mamíferos carnívoros, o tamanho das áreas de vida e outros aspectos do uso e sua movimentação no espaço são fortemente influenciados pelo padrão de distribuição dos recursos alimentares (Amboni 2007; Broomhall et al. 2003; MacDonald 1983; Mizutani & Jewell 1998). Além disso, outros fatores também contribuem, como a maturidade sexual e status social (Boydston et al 2003; Logan & Sweanor 2001), o acesso às fêmeas (Mizutani & Jewell 1998) e o acesso a locais potenciais de reprodução e abrigo (Ewer 1998). Compreender a relação entre condições ambientais e distribuição potencial de espécies é fundamental para a elaboração de estratégias de conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. As áreas de vida ocupadas por lobos guarás são extensas, entre 25 e 156 km² em média (Dietz 1984, Silveira 1999, Rodrigues 2002) e por isso necessitam de grandes áreas para manter uma população viável em longo prazo. O processo de fragmentação do Cerrado se intensificou na década de 60, com a construção de Brasília e estabelecimento de uma malha rodoviária, tornando acessíveis regiões até então remotas. A seguir, o avanço de tecnologias agrícolas, com mecanização e correção de pH, permi)u que grandes extensões de terras fossem ocupadas pela produção de grãos. Hoje menos de 20% da área do Cerrado encontra-se em estado primi)vo, comprometendo a conservação de várias espécies. Simulações de cenários de perda de habitat para populações de lobos-guarás com número acima de cem indivíduos, indicam uma probabilidade nula de ex)nção em 100 anos. No entanto uma perda de habitat de 1,5 a 2% representa reduções de até 100% no número populacional em apenas 30 anos (Paula & Desbiez 2013). O lobo-guará encontra-se na lista das espécies ameaçadas de ex)nção no Brasil (Paula et al.2003), na categoria Vulnerável, e Quase Ameaçada (NT) pela classificação da IUCN (Paula & DeMatteo 2015). MATERIAL E MÉTODOS No período de fevereiro de 2018 a dezembro de 2019 foram instaladas armadilhas fotográficas em oito pontos no Parque Nacional de Brasília (PNB) (Figura 1). As armadilhas fotográficas foram dispostas de acordo com a presença de vesWgios do lobo-guará ( Chrysocyon brachyurus), como pegadas e fezes, de forma a o)mizar o esforço em busca da espécie focal. O projeto não contou com o recurso previamente des)nado e por isso não foi possível realizar a captura dos animais para o monitoramento com colar GPS. Portanto, foram ob)dos apenas dados de armadilhas fotográficas. Informação IBRAM/PRESI/SUCON/DICON 42415820 SEI 00391-00004161/2020-31 / pg. 1

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GOVERNO DO DISTRITO FEDERALINSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS HÍDRICOS DO DISTRITO FEDERAL

Diretoria de Conservação

Informação - IBRAM/PRESI/SUCON/DICON

Resultado do Levantamento de Médios e Grandes Mamíferos no Parque Nacional de Brasília

HISTÓRICO

Desde setembro de 2014 foi ins tuído o programa de monitoramento de médios egrandes mamíferos do Distrito Federal - DF e da Região Integrada de Desenvolvimento do DF - RIDE.Esse monitoramento tem o obje vo de inventariar quais espécies de mamíferos estão presentes noterritório do Distrito Federal (DF) e entorno, bem como iden ficar áreas u lizadas como corredoresecológicos e áreas prioritárias para a conservação dessas espécies.

Em paralelo a implementação do programa, foram elaborados projetos com espéciesfocais para o monitoramento. Em 4 de maio de 2018 foi subme do uma proposta de trabalho para omonitoramento de lobo-guará por meio do colar GPS na Reserva Biológica da Biosfera. Embora orecurso não tenha sido disponibilizado, houve a vidade de monitoramento u lizando armadilhafotográfica, na Estação Ecológica de Águas Emendadas e no Parque Nacional de Brasília.

O presente relatório técnico apresenta os resultados ob dos para o Parque Nacional deBrasília - PNB. Ressalta-se que os obje vos propostos não foram a ngidos uma vez que omonitoramento não ocorreu por meio de colar GPS. As informações apresentadas nesse relatório estãodescritos de modo a contribuir em uma expedição de captura caso o projeto com colar GPS fosserealizado, uma vez que foram identificados previamente os locais de ocorrência do lobo-guará.

INTRODUÇÃO

A ecologia espacial de indivíduos selvagens está diretamente ligado à movimentaçãodesses no ambiente, consequência das pressões internas e externas às populações (Kernohan et al.2001; White & Harris 1994). Durante grande parte de suas vidas os animais ocupam uma áreaespacialmente definida e essa pode consistir de um mosaico de lugares importantes usados de formasdiferentes ao longo de sua existência (Ewer 1998). Quan ficar estas áreas pode revelar muito arespeito da dinâmica social e requerimento energé co das espécies (Rocha 2006). Entre os mamíferoscarnívoros, o tamanho das áreas de vida e outros aspectos do uso e sua movimentação no espaço sãofortemente influenciados pelo padrão de distribuição dos recursos alimentares (Amboni 2007;Broomhall et al. 2003; MacDonald 1983; Mizutani & Jewell 1998). Além disso, outros fatores tambémcontribuem, como a maturidade sexual e status social (Boydston et al 2003; Logan & Sweanor 2001), oacesso às fêmeas (Mizutani & Jewell 1998) e o acesso a locais potenciais de reprodução e abrigo(Ewer 1998). Compreender a relação entre condições ambientais e distribuição potencial de espéciesé fundamental para a elaboração de estratégias de conservação da biodiversidade e dosecossistemas.

As áreas de vida ocupadas por lobos guarás são extensas, entre 25 e 156 km² em média(Dietz 1984, Silveira 1999, Rodrigues 2002) e por isso necessitam de grandes áreas para manter umapopulação viável em longo prazo. O processo de fragmentação do Cerrado se intensificou na décadade 60, com a construção de Brasília e estabelecimento de uma malha rodoviária, tornando acessíveisregiões até então remotas. A seguir, o avanço de tecnologias agrícolas, com mecanização e correçãode pH, permi u que grandes extensões de terras fossem ocupadas pela produção de grãos. Hojemenos de 20% da área do Cerrado encontra-se em estado primi vo, comprometendo a conservação devárias espécies. Simulações de cenários de perda de habitat para populações de lobos-guarás comnúmero acima de cem indivíduos, indicam uma probabilidade nula de ex nção em 100 anos. Noentanto uma perda de habitat de 1,5 a 2% representa reduções de até 100% no número populacionalem apenas 30 anos (Paula & Desbiez 2013). O lobo-guará encontra-se na lista das espéciesameaçadas de ex nção no Brasil (Paula et al.2003), na categoria Vulnerável, e Quase Ameaçada (NT)pela classificação da IUCN (Paula & DeMatteo 2015).

MATERIAL E MÉTODOS

No período de fevereiro de 2018 a dezembro de 2019 foram instaladas armadilhasfotográficas em oito pontos no Parque Nacional de Brasília (PNB) (Figura 1). As armadilhasfotográficas foram dispostas de acordo com a presença de ves gios do lobo-guará (Chrysocyonbrachyurus), como pegadas e fezes, de forma a o mizar o esforço em busca da espécie focal. Oprojeto não contou com o recurso previamente des nado e por isso não foi possível realizar a capturados animais para o monitoramento com colar GPS. Portanto, foram ob dos apenas dados dearmadilhas fotográficas.

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Figura 1. Imagem da localização das armadilhas fotográficas no Parque Nacional de Brasília.

RESULTADOS

O esforço amostral foi de 1.375 dias, e totalizou 33.000 horas.armadilha. Foramregistradas 15 espécies de mamíferos silvestres de médio e grande porte e uma espécies exó cainvasora (cão, Canis familiaris). A anta (Tapirus terrestres) foi a espécie com o maior número deregistros (146 registros), seguido da onça-parda (Puma concolor) com 95 registros. Para o lobo-guaráforam ob dos 67 registros (Figura 2). A maior riqueza de espécies foi registrada no ponto 7 com umtotal de 14 espécies (Figura 3). O ponto 7 encontra-se na porção noroeste do PNB, cerca de 35km dasede, com apenas um acesso para o local. A fitofisionomia é de cerrado pico e a estrada segue entredois vales. O local dessa armadilha é distante da visitação e de rodovias. Vale ressaltar que o local éuma estrada pouco u lizada, e durante o estudo não houve o registro de pessoas não autorizadas atransitar no PNB. como ciclistas e andarilhos.

Figura 2. Número de registros por espécie. Figura 3. Riqueza de espécie por ponto amostral.

A ocorrência do lobo-guará correspondeu a 12,8% (67/524) dos registros realizados. Dosoito pontos amostrados o lobo-guará ocorreu em seis pontos. O local com o maior número de registrodo lobo-guará foi o ponto 7 com 22 registros, seguido do ponto 8 que é na mesma estrada, mas algunsquilômetros a diante (Figura 4).

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Figura 4. Número de registros do lobo-guará por ponto amostral.

A par r dos dados coletados e com auxilio do programa Es mates foi calculado ariqueza esperada para a área. A tabela 2 demonstra os valores ob dos, no qual se observa umaeficiência de coleta de 78%, ou seja, o inventário realizado na região registrou aproximadamente 78%do total de espécies es mada para o local. De acordo com es mador Chao 1, espera-se para o localaproximadamente 18,99 espécies de médios e grandes mamíferos, com intervalo de confiança de15,56 - 43,67. A figura 5 ilustra a riqueza observada em função do es mador Chao 1 e seu respec vointervalo de confiança, no qual se observa que o esforço empregado esteve próximo do pool deespécies da região. No entanto, seriam necessários mais amostragens. Destaca-se que a disposiçãodas armadilhas pode ter influenciado a riqueza observada.

Tabela 2. Riqueza observada e estimada para o PNB.

Método de coletaRiqueza

observadaChao 1

I.C (95%) -Chao 1

Eficiência deColeta %(Chao 1)

Jacknife 1DesvioPadrão

Armadilha fotográfica 15 18,9915,56 -43,67

78% 18,99 1,99

Figura 4. Riqueza observada (linha vermelha) e riqueza estimada pelo estimador Chao 1(linha verde)com respectivo intervalo de confiança (linhas negras).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados ob dos, os locais indicados para capturas do lobo-guaráseriam o ponto 7, 8, 4 e 1, que ob veram o maior número de registros respec vamente. Observou-seque o maior registro do lobo-guará foi em locais onde há pouco trânsito de pessoas e distante de

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rodovias, porém análises esta s cas mais robustas são necessárias para inferir os locaispreferenciais de ocorrência da espécie. A ocorrência de cachorros domés cos também podem estarinfluenciando no deslocamento do lobo, uma vez que os locais de maior número de registros do loboforam nos pontos com menor ocorrência de animais domésticos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Dietz, J M. 1984. Ecology and Social Organiza on of the Maned Wolf. Smithsonian Contrib. Zool.,392:1-51

Paula, R. C., DeMátteo, K. Chrysocyon brachyurus. Em: The IUCN Red Listo f Threatened Species 2015.

Paula, R.C., Desbiez, A. Popula on Viability Analysis. Em: CONSORTE-MCCREA, A.; FERRAZ, E., Ecologyand Conserva on of the Maned Wolf: Mul disciplinary Perspec ves. London: CRC Press, 2013ª. P. 15-34

Paula, R. C., Rodrigues, F.H.G, Queirolo, D., Jorge, R.P.S., Lemos, F.G., Rodrigues L. A. Avaliação doestado de conservação do lobo-guará Chrysocyon brachyurus (IIIiger, 1815) no Brasil. BiodiversidadeBrasileira, Brasília, v. 3, p. 146-159, 2013b.

Rodrigues, F. H. G. Biologia e Conservação do lobo-guará na Estação Ecológica de Águas Emendadas,DF. 2002. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, SP.ix + 96 pp.

Silveira, L. 1999. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque Nacional das Emas,Goiás. Tese de mestrado. Universidade Federal de Goiás, Goiás. 177pp.

Diretoria de Conservação - Dicon/Sucon/Ibram

Documento assinado eletronicamente por MARINA MOTTA DE CARVALHO - Matr.1660646-9,Técnico(a) de Atividades do Meio Ambiente, em 29/06/2020, às 15:51, conforme art. 6º doDecreto n° 36.756, de 16 de setembro de 2015, publicado no Diário Oficial do Distrito Federalnº 180, quinta-feira, 17 de setembro de 2015.

Documento assinado eletronicamente por RODRIGO AUGUSTO LIMA SANTOS - Matr.0183989-6, Analista de Atividades do Meio Ambiente, em 29/06/2020, às 15:53, conforme art. 6º doDecreto n° 36.756, de 16 de setembro de 2015, publicado no Diário Oficial do Distrito Federalnº 180, quinta-feira, 17 de setembro de 2015.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site:http://sei.df.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0verificador= 42415820 código CRC= 910444CA.

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