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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014 1 INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE - BRASIL Avenida Independencia, nº 350, Edifício Primus Center, salas 141 e 142 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - CEP13419-160 - Piracicaba-SP, Brasil Website: http://brasil.ipni.net - E-mail: [email protected] - Twitter: @IPNIBrasil - Facebook: https://www.facebook.com/IPNIBrasil Desenvolver e promover informações científicas sobre o manejo responsável dos nutrientes das plantas para o benefício da família humana MISSÃO 1 Engenheiro Florestal, Mestre em Ciências Florestais, Departamento de Ciências Florestais, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ/USP, Piracicaba, SP; email: [email protected] 2 Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, ESALQ/USP, Piracicaba, SP. 3 Engenheiro Florestal, Dr., Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, IPEF, Piracicaba, SP. 4 Engenheiro Florestal, Bahia Specialty Cellulose, Alagoinhas, BA. Abreviações: Al = alumínio; B = boro; Ca = cálcio; Cu = cobre; CUB = coeficiente de utilização biológica; DRF = densidade de raízes finas; Fe = ferro; FNR = fosfato natural reativo; IAF = índice de área foliar; IMA = índice médio anual de madeira; K = potássio; LVAd = Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico; MAP = fosfato monoamônico; Mg = magnésio; MGA = mistura granulada; MGO = mistura de grânulos; Mn = manganês; N = nitrogênio; P = fósforo; Po = fósforo orgânico; PME = mistura entre superfosfato complexado com substâncias húmicas e pequena porção de FNR no mesmo grânulo; PSE = superfosfato complexado com substâncias húmicas; S = enxofre; SSP = superfosfato simples; Zn = zinco. NUTRIÇÃO FOSFATADA EM PLANTAÇÕES DE EUCALIPTO José Henrique Bazani 1 José Leonardo de Moraes Gonçalves 2 José Henrique Tertulino Rocha 1 Eduardo Sereguin Aparecido Cabral de Melo 3 Maurício Prieto 4 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N o 148 DEZEMBRO/2014 ISSN 2311-5904 1. INTRODUÇÃO O Brasil possui 7,6 milhões de hectares de florestas plantadas, que respondem a 17% de toda a madeira colhida no mundo. Os principais gêneros plantados são Eucalyptus (72%) e Pinus (21%). Em menores proporções são cultivadas também outras essências florestais como Hevea brasiliensis (seringueira), Acacia mearnsii (acácia negra), Acacia mangium (acácia australiana), Schizolobium amazonicum (paricá), Tectona grandis (teca), Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná) e Populus sp (álamo). Os principais segmentos da cadeia produtiva do agronegócio florestal no país são celulose e papel (32%), pro- dutores florestais independentes (26%), siderurgia e carvão vegetal (15%), painéis de madeira (6%), além de investidores institucionais e outros segmentos (12%) (IBA, 2014). Devido à ampla diversidade de materiais genéticos, às con- dições favoráveis de clima e solo e ao desenvolvimento de técnicas de manejo apropriadas, o eucalipto se tornou a principal cultura para produção de madeira, espalhando-se por todo o território nacional. O incremento médio anual é de 42 m 3 ha -1 ano -1 de madeira, podendo atingir 60 m 3 ha -1 ano -1 em regiões sem limitação hídrica e térmica. A disponibilidade hídrica é o principal fator que governa a produti- vidade do eucalipto. Os plantios se estendem por ampla diversidade de relevo e solo. As principais classes de solos são Latossolos (48%), Argissolos (26%), Cambissolos (14%) e Neossolos (4%). Em sua maior parte são solos profundos, bem desenvolvidos, distróficos, com mineralogia caulinítica e/ou oxídica, e textura que varia de média a argilosa (GONÇALVES et al., 2013). A limitação nutricional é frequente em plantações de eucalipto, em especial fósforo (P), potássio (K) e boro (B) (GON- ÇALVES, 2011). Atualmente, a fertilização é responsável por acréscimos de 30% a 50% na produção de madeira. O P, apesar de ser o macronutriente encontrado em menor quantidade na planta, tem alto efeito na produtividade de madeira. Os plantios de eucalipto são estabelecidos em sistema de cultivo mínimo do solo. Por isso, os teores de matéria orgânica nas camadas superficiais geralmente são altos, o que contribui para a formação de complexos organo-minerais entre coloides de argila e substâncias húmicas, e de quelatos entre estas substâncias e os cátions polivalentes como, por exemplo, ferro (Fe 3+ ), alumínio (Al 3+ ) e cálcio (Ca 2+ ). Nestas circunstâncias, conjuntamente com a aplicação localizada dos fertilizantes fosfatados, o potencial de fixação de P é baixo, com predomínio de formas orgânicas lábeis deste nutriente, que são gradativamente mineralizadas e disponibilizadas às plantas. Devido à sua baixa mobilidade no solo e ao alto poder competitivo das plantas daninhas, o P deve ser aplicado próximo ao sistema radicular das mudas, sem incorporação e de modo uni-

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014 1

INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE - BRASILAvenida Independencia, nº 350, Edifício Primus Center, salas 141 e 142 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - CEP13419-160 - Piracicaba-SP, Brasil

Website: http://brasil.ipni.net - E-mail: [email protected] - Twitter: @IPNIBrasil - Facebook: https://www.facebook.com/IPNIBrasil

Desenvolver e promover informações científicas sobre o manejo responsável dos nutrientes das plantas para o benefício da família humana

MISSÃO

1 Engenheiro Florestal, Mestre em Ciências Florestais, Departamento de Ciências Florestais, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ/USP, Piracicaba, SP; email: [email protected]

2 Professor Titular do Departamento de Ciências Florestais, ESALQ/USP, Piracicaba, SP.3 Engenheiro Florestal, Dr., Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, IPEF, Piracicaba, SP.4 Engenheiro Florestal, Bahia Specialty Cellulose, Alagoinhas, BA.

Abreviações: Al = alumínio; B = boro; Ca = cálcio; Cu = cobre; CUB = coeficiente de utilização biológica; DRF = densidade de raízes finas; Fe = ferro; FNR = fosfato natural reativo; IAF = índice de área foliar; IMA = índice médio anual de madeira; K = potássio; LVAd = Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico; MAP = fosfato monoamônico; Mg = magnésio; MGA = mistura granulada; MGO = mistura de grânulos; Mn = manganês; N = nitrogênio; P = fósforo; Po = fósforo orgânico; PME = mistura entre superfosfato complexado com substâncias húmicas e pequena porção de FNR no mesmo grânulo; PSE = superfosfato complexado com substâncias húmicas; S = enxofre; SSP = superfosfato simples; Zn = zinco.

NUTRIÇÃO FOSFATADA EM PLANTAÇÕES DE EUCALIPTO

José Henrique Bazani1

José Leonardo de Moraes Gonçalves2

José Henrique Tertulino Rocha1

Eduardo Sereguin Aparecido Cabral de Melo3 Maurício Prieto4

INFORMAÇÕESAGRONÔMICAS

No 148 DEZEMBRO/2014

ISSN 2311-5904

1. INTRODUÇÃO

O Brasil possui 7,6 milhões de hectares de florestas plantadas, que respondem a 17% de toda a madeira colhida no mundo. Os principais gêneros plantados

são Eucalyptus (72%) e Pinus (21%). Em menores proporções são cultivadas também outras essências florestais como Hevea brasiliensis (seringueira), Acacia mearnsii (acácia negra), Acacia mangium (acácia australiana), Schizolobium amazonicum (paricá), Tectona grandis (teca), Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná) e Populus sp (álamo). Os principais segmentos da cadeia produtiva do agronegócio florestal no país são celulose e papel (32%), pro-dutores florestais independentes (26%), siderurgia e carvão vegetal (15%), painéis de madeira (6%), além de investidores institucionais e outros segmentos (12%) (IBA, 2014).

Devido à ampla diversidade de materiais genéticos, às con-dições favoráveis de clima e solo e ao desenvolvimento de técnicas de manejo apropriadas, o eucalipto se tornou a principal cultura para produção de madeira, espalhando-se por todo o território nacional. O incremento médio anual é de 42 m3 ha-1 ano-1 de madeira, podendo atingir 60 m3 ha-1 ano-1 em regiões sem limitação hídrica e térmica. A disponibilidade hídrica é o principal fator que governa a produti-vidade do eucalipto. Os plantios se estendem por ampla diversidade de relevo e solo. As principais classes de solos são Latossolos (48%),

Argissolos (26%), Cambissolos (14%) e Neossolos (4%). Em sua maior parte são solos profundos, bem desenvolvidos, distróficos, com mineralogia caulinítica e/ou oxídica, e textura que varia de média a argilosa (GONÇALVES et al., 2013).

A limitação nutricional é frequente em plantações de eucalipto, em especial fósforo (P), potássio (K) e boro (B) (GON-ÇALVES, 2011). Atualmente, a fertilização é responsável por acréscimos de 30% a 50% na produção de madeira. O P, apesar de ser o macronutriente encontrado em menor quantidade na planta, tem alto efeito na produtividade de madeira.

Os plantios de eucalipto são estabelecidos em sistema de cultivo mínimo do solo. Por isso, os teores de matéria orgânica nas camadas superficiais geralmente são altos, o que contribui para a formação de complexos organo-minerais entre coloides de argila e substâncias húmicas, e de quelatos entre estas substâncias e os cátions polivalentes como, por exemplo, ferro (Fe3+), alumínio (Al3+) e cálcio (Ca2+). Nestas circunstâncias, conjuntamente com a aplicação localizada dos fertilizantes fosfatados, o potencial de fixação de P é baixo, com predomínio de formas orgânicas lábeis deste nutriente, que são gradativamente mineralizadas e disponibilizadas às plantas.

Devido à sua baixa mobilidade no solo e ao alto poder competitivo das plantas daninhas, o P deve ser aplicado próximo ao sistema radicular das mudas, sem incorporação e de modo uni-

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2 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS

NOTA DOS EDITORES

Todos os artigos publicados no Informações Agronômicas estão disponíveis em formato pdf no website do IPNI Brasil: <http://brasil.ipni.net>

Opiniões e conclusões expressas pelos autores nos artigos não re�etem necessariamente as mesmas do IPNI ou dos editores deste jornal.

N0 148 DEZEMBRO/2014

CONTEÚDO

Nutrição fosfatada em plantações de eucaliptoJosé Henrique Bazani, José Leonardo de Moraes Gonçalves, José Henrique Tertulino Rocha, Eduardo Sereguin Aparecido Cabral de Melo, Maurício Prieto ...............................................................................1

Estamos preparados para nutrir adequadamente os sistemas deprodução com elevada produtividade? ................................................. 11

Fertilizantes nitrogenados: novas tecnologias Hugo Abelardo González Villalba, Jose Marcos Leite, Rafael Otto, Paulo Cesar Ocheuze Trivelin .................................................................12

Considerações sobre manejo e ciclagem de nutrientes em sistemasintegrados de produção agropecuária no subtrópico brasileiro Adriel Ferreira da Fonseca .....................................................................19

Divulgando a Pesquisa ...........................................................................22

IPNI em Destaque ..................................................................................23

Painel Agronômico .................................................................................25

Cursos, Simpósios e outros Eventos .....................................................26

Publicações Recentes .............................................................................27

Ponto de Vista .........................................................................................28

FOTO DESTAQUE

Publicação trimestral gratuita do International Plant Nutrition Institute (IPNI), Programa Brasil. O jornal publica artigos técnico-científicos elaborados pela

comunidade científica nacional e internacional visando o manejo responsável dos nutrientes das plantas.

COMISSÃO EDITORIAL

EditorValter Casarin

Editores AssistentesLuís Ignácio Prochnow, Eros Francisco, Silvia Regina Stipp

Gerente de DistribuiçãoEvandro Luis Lavorenti

INTERNATIONAL PLANT NuTRITION INSTITuTE (IPNI)

Presidente do Conselho Steve Wilson (CF Industries Holdings, Inc.)

Vice-Presidente do ConselhoMhamed Ibnabdeljalil (OCP Group)

TesoureiroJim Prokopanko (Mosaic Company)

PresidenteTerry L. Roberts

Vice-Presidente, Coordenador do Grupo da Ásia e ÁfricaAdrian M. Johnston

Vice-Presidente, Coordenadora do Grupo do Oeste Europeu/Ásia Central e Oriente Médio

Svetlana Ivanova

Vice-Presidente Senior, Diretor de Pesquisa eCoordenador do Grupo das Américas e Oceania

Paul E. Fixen

PROGRAMA BRASILDiretor

Luís Ignácio Prochnow

Diretores AdjuntosValter Casarin, Eros Francisco

PublicaçõesSilvia Regina Stipp

Analista de Sistemas e Coordenador AdministrativoEvandro Luis Lavorenti

Assistente AdministrativaElisangela Toledo Lavorenti

SecretáriaKelly Furlan

ASSINATuRAS Assinaturas gratuitas são concedidas mediante aprovação prévia da diretoria. O cadastramento pode ser realizado no site do IPNI:

http://brasil.ipni.netMudanças de endereço podem ser solicitadas por email para:

[email protected] ou [email protected]

ISSN 2311-5904

Geisa Lima Mesquita e Elialdo Alves de Souza, vencedores do 2014 Scholar Award, concurso promovido anualmente pelo IPNI dos Estados Unidos.

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014 3

forme, em filetes no sulco de subsolagem ou em covetas laterais, junto às covas de plantio, para garantir a absorção e a uniformidade de distribuição do nutriente por planta. Com isso, há maior homo-geneidade de crescimento inicial das plantas.

2. NUTRIÇÃO FOSFATADA

A disponibilidade de P no solo é um dos indicadores utili-zados para avaliar o potencial de resposta da cultura à fertilização fosfatada. Para plantações de eucalipto, teores de P-resina entre 0 e 2 mg dm-3, 3 e 4 mg dm-3, 5 e 7 mg dm-3 e ≥ 8 mg dm-3 são considerados muito baixos, baixos, médios e altos, respectivamente. Altas respostas à aplicação de fertilizantes fosfatados são esperadas quando o teor de P-resina no solo estiver muito baixo e baixo. Já o potencial de respostas é pequeno se os teores de P-resina forem medianos, e não há resposta à fertilização fosfatada quando o teor de P-resina for maior do que 8 mg dm-3 (GONÇALVES et al., 2014).

Folhas recém-maduras e sadias são usadas para a diagnose nutricional. A faixa ideal do teor de P na folha varia entre 1,0 e 1,3 g kg-1 (GONÇALVES, 2011; BAZANI, 2014; MELO, 2014). Esta avaliação deve ser feita antes do período de fechamento das copas (entre 12 e 18 meses após o plantio). Após esta idade, comumente, há diminuição dos teores foliares para 0,8-1,0 g kg-1, mesmo em plantas que receberam fertilização adequada. Nas fases iniciais de crescimento do eucalipto, a ausência de P acarreta o aparecimento de manchas arroxeadas no limbo foliar, decorrentes do acúmulo de antocianina, que podem evoluir para necrose e retardar drasticamente o crescimento da planta (Figura 1). Com o passar do tempo, as plantas apresentam-se aparentemente sadias, sem sintomas visuais, porém com altura, tamanho de folha e distância dos entrenós reduzidos (BAZANI, 2014).

A elevada eficiência de absorção e utilização de nutrientes é uma das características marcantes das espécies que compõem o gênero Eucalyptus. O eucalipto apresenta baixo teor de nutrientes nos tecidos, em especial na madeira, e a demanda nutricional pode variar em função da espécie, das condições edafoclimáticas e do nível de produtividade. O sistema radicular é bastante desenvol-vido e muito micorrizado, capaz de explorar grandes volumes de solo em profundidade, o que promove a mobilização de nutrientes de camadas subsuperficiais mais profundas para as superficiais, por meio do processo de ciclagem. Em ambiente florestal, predo-minantemente distrófico, em fases avançadas de desenvolvimento (após 2 ou 3 anos do plantio), a demanda de nutrientes pelas árvores

é, em grande proporção, assegurada pelos processos de ciclagem bioquímica e biogeoquímica, o que as tornam menos dependentes das reservas nutricionais do solo. Estas características conferem a estas plantas ampla adaptação aos ambientes de baixa fertilidade natural.

Um povoamento de eucalipto (E. grandis) com produção de 170 t ha-1 de biomassa aérea aos sete anos de idade acumula em torno de 340 kg ha-1 de nitrogênio (N), 60 kg ha-1 de P, 190 kg ha-1 de K, 310 ha-1 de Ca, 50 kg ha-1 de magnésio (Mg) e 50 kg ha-1 de enxofre (S) na parte aérea (folhas, galhos, casca e lenho) (Tabela 1). Com base nessas informações, observa-se que com a colheita da madeira (casca e lenho) são exportados 54 kg ha-1 de P (71% do total acumulado). Contudo, se a casca for mantida no campo, a exportação do nutriente cai para 55% do P total acumulado.

O acúmulo de P está diretamente relacionado à produti-vidade de madeira. Reunindo trabalhos feitos por pesquisadores em povoamentos de E. urophylla, E. urophylla x E. grandis, E. grandis, E. camaldulensis, E. saligna, E. cloesiana, E. tereticornis, E. pellita e C. citriodora, nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pará, Gonçalves et al. (2014) encontraram relação linear entre a produtividade de madeira e o consumo de nutrientes. A quantidade de P acumulada nas plantações variou entre 30 e 57 kg ha-1 para produtividades médias entre 30 e 50 m³ ha-1 ano-1, respectivamente, correspondentes a 210 e 350 m³ ha-1 ao final de sete anos (Figura 2). Nestas condições, com a colheita da madeira com casca, são exportados do sítio entre 40 e 67 kg ha-1 de P, e, quando a casca é mantida no campo, entre 32 e 53 kg ha-1 de P (Tabela 2). A manutenção da casca no campo após o corte do povoamento reduz a exportação de P em, aproximadamente, 20%.

A demanda por nutrientes em plantações de eucalipto pode ser dividida em duas fases principais: antes e após o fechamento da copa, fase em que as copas das árvores se tocam e há pleno sombrea-mento do terreno. Nos primeiros meses após o plantio das mudas, a demanda por nutrientes é baixa e a planta aloca carbono nas raízes, com o intuito de assegurar as demandas por água e nutrientes. Asse-gurado o suprimento destes recursos e com a planta já estabelecida no campo, a atividade fotossintética passa a ser maximizada e há franca expansão da copa das árvores e do sistema radicular, que passa a explorar grandes volumes de solo (GONÇALVES, 2011). A maior taxa de absorção de P em plantação de eucalipto ocorre até o segundo ano de idade da floresta, fase do fechamento da copa das árvores (BARROS; NEVES; NOVAIS, 2000). A partir de então, a ciclagem de nutrientes passa a se estabelecer e as respostas à fertilização

Figura 1. Sintomas visuais da deficiência de P em plantas de Eucalyptus grandis: diminuição do crescimento do limbo foliar e coloração arroxeada das folhas.

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4 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

Tabela 1. Acúmulo de nutrientes em povoamento de Eucalyptus grandis aos sete anos de idade (incremento médio anual = 40 m³ ha-1 ano-1), em La-tossolo Vermelho-Amarelo distrófico de textura média, no município de Itatinga, SP.

Compartimento BiomassaNutrientes

N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn

(t ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (g ha-1) - - - - - - - - - - - - -Folhas 3 57 5 21 25 11 3 89 8 203 313 41Galhos 4 18 3 15 18 6 1 55 13 233 653 92Casca 12 40 12 67 160 15 4 152 43 519 790 130Lenho 150 224 42 88 110 16 45 291 148 7.191 880 1.280Subtotal da parte aérea 169 339 62 191 313 48 53 587 212 8.146 2.636 1.543Raízes grossas (> 3 mm) 20 75 3 28 31 6 3 32 12 789 112 59Raízes finas (< 3 mm) 4 22 1 4 17 3 1 15 6 708 61 43Serapilheira 25 187 10 36 209 24 13 250 58 9.500 4.300 520

Total 218 623 76 259 570 81 70 884 288 19.143 7.109 2.165

Fonte: Gonçalves et al. (2000).

tendem a diminuir, pois as disponibilidades de água e de luz passam a ser mais limitantes ao crescimento das árvores do que a disponibili-dade de nutrientes. As práticas de fertilização em plantações florestais caracterizam-se por promover a aceleração no ritmo de crescimento das plantas, principalmente, antes do fechamento da copa. Após este período, o ritmo de crescimento tende a retornar ao padrão definido pela qualidade do sítio. Grandes respostas à fertilização encontradas na fase inicial do crescimento da floresta decrescem e podem deixar de existir ao final da rotação, exigindo cautela do silvicultor ao analisar os comportamentos da planta em relação às práticas de fertilização.

3. CICLAGEM DE NUTRIENTES

A ciclagem envolve a mobilidade dos nutrientes no sistema solo-planta-atmosfera (ecossistema), quer seja no interior das plantas (ciclagem bioquímica), na interface solo-planta, por meio dos processos de decomposição de resíduos e mineralização da matéria orgânica (ciclagem biogeoquímica), ou nos ciclos globais dos nutrientes (ciclagem geoquímica). Esses processos exercem grande influência na nutrição das plantações de eucalipto.

Laclau et al. (2010) avaliaram a ciclagem de nutrientes em povoamentos de Eucalyptus estabelecidos em Itatinga, SP. O solo local foi classificado como Latossolo Vermelho-Amarelo distró-fico, textura média (23% de argila). O teor de P-resina na camada superficial do solo (0 a 5 cm) era de 4,0 mg kg-1 e na camada de 5 a 50 cm era de 1,9 mg kg-1. Ao longo de quatro anos (produtivi-dade média anual de madeira = 27 t ha-1 ano-1) foram estudados os fluxos de nutriente no sistema solo-planta-atmosfera. A entrada de P no sistema pelos processos de intemperismo e precipitação plu-viométrica foi considerada desprezível. Houve grande incremento na demanda de nutrientes dos seis aos 12 meses após o plantio, com a expansão da área foliar e de raízes finas. A máxima demanda de P foi registrada aos dois anos de idade, com valores de 14 kg ha-1 ano-1. No primeiro ano foram absorvidos do solo 5 kg ha-1 de P e, a partir do terceiro ano, a absorção de nutrientes foi, em grande parte, governada pela dinâmica da copa das árvores. Com a redução da área foliar acentuaram-se os processos de retranslocação interna de P, N e K. Por se tratar de um nutriente móvel na planta, a retranslocação interna das folhas foi responsável pelo suprimento de 30% a 50% da demanda anual de P. A deposição anual de folhedo foi de 5,5 t ha-1 ano-1, com aporte de 1,2 kg ha-1 ano-1 de P durante os primeiros quatro anos de crescimento da floresta.

Figura 2. Acúmulo de P na parte aérea (folhas, galhos, casca e lenho) em plantação de E. urophylla, E. urophylla x E. grandis, E. gran-dis, E. camaldulensis, E. saligna, E. cloesiana, E. tereticornis, E. pellita e C. citriodora em função da produtividade de ma-deira, em 45 povoamentos estabelecidos nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Pará, em Latossolos e Argissolos, com precipitação pluviométrica entre 1.200 e 2.300 mm ano-1. As linhas tracejadas indicam a quantidade de P necessária para produção de 280 e 350 m³ ha-1 de madeira com casca, ou seja, um incremento médio anual de madeira de 40 e 50 m³ ha-1 ano-1, respectivamente.

Fonte: Gonçalves et al. (2014), baseado em Neves (2000), Gonçalves et al. (2000), Santana et al. (2008) e Rocha (2014).

0 10 20 30 40 50 60 70

500

400

300

200

100

0

Volu

me

de m

adei

ra (m

3 ha-1

)

Volume = 199,01 + 2,63x PR2 = 0,41**

P (kg ha-1)

Tabela 2. Quantidade de P exportada com a colheita de madeira (com ou sem casca) em plantações de eucalipto em função do incremento médio anual de madeira (IMA).

IMA (m³ ha-1 ano-1)

Exportação de P com a colheita

30 40 50

- - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - Madeira com casca 41 54 67Madeira sem casca 32 42 53

Fonte: Gonçalves et al. (2014) baseado em Neves (2000), Gonçalves et al. (2000), Santana et al. (2008) e Rocha (2014).

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014 5

Figura 4. Conteúdo de P inorgânico (a) e P orgânico (b) no solo em suas frações não lábil e lábil e estratificação do P lábil (orgânico e inorgânico) do solo (c) em função da cobertura vegetal.

Fonte: Cunha et al. (2007).

Os resíduos florestais deixados após a colheita contribuem com quantidades significativas de nutrientes para o próximo ciclo florestal. A velocidade de decomposição destes resíduos diminui com o tempo e é influenciada pelas condições ambien-tais (temperatura e umidade) e qualidade nutricional do resíduo. Folhas e galhos finos se decompõem mais rapidamente devido ao maior teor de nutrientes. Rocha (2014) verificou que, aos 300 dias após a colheita, 50% do N, P, Ca, Mg e S e 80% do K contidos nos resíduos florestais de E. grandis haviam sido liberados para o solo (Figura 3). Laclau et al. (2010) verifica-ram que a mineralização dos resíduos promoveu a liberação de 2,7 kg ha-1 ano-1, 2,8 kg ha-1 ano-1 e 0,7 kg ha-1 ano-1 de P entre 0 e 6 meses, 6 e 12 meses e 12 e 24 meses, respectivamente, tota-lizando 6,2 kg ha-1 de P nos primeiros 24 meses após o plantio. Os processos de ciclagem bioquímica e biogeoquímica em plantação de eucalipto asseguram alta eficiência de aproveitamento do P na produção de biomassa.

Figura 3. Velocidade de liberação dos nutrientes contidos nos resíduos da colheita (folhas, galhos, casca e serapilheira) de um povoamento de Eucalyptus grandis aos 8 anos de idade, em LVAd, textura média, em Itatinga, SP.

Fonte: Adaptada de Rocha (2014) por Gonçalves et al. (2014).

Tempo (dias)

Mas

sa re

man

esce

nte

(%)

P (m

g kg

-1)

350

300

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200

150

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350

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200

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50

0

P lá

bil (

mg

kg-1)Não lábil

Lábil

P inorgânicoP orgânico

Floresta Corymbia Pasto Floresta Corymbia Pasto Floresta Corymbia Pasto nativa citriodora nativa citriodora nativa citriodora

(a) (b) (c)

Os riscos de fixação de P no solo em ambiente florestal geralmente são baixos, diferentemente do que ocorre em sistemas intensivos de produção com culturas agrícolas anuais e bianuais. Isto ocorre em função da adoção do sistema de cultivo mínimo, que mantém os resíduos da colheita sobre o solo, e do não revol-vimento das camadas superficiais. Os fertilizantes fosfatados são aplicados de modo localizado, próximo ao sistema radicular das mudas, na camada de solo com maior teor de matéria orgânica (horizonte A). Os sítios de adsorção de P (superfícies dos óxidos de Fe e Al) são, em grande parte, bloqueados pela formação de complexos organominerais entre as argilas e as substâncias húmi-cas. Em solos cultivados com eucalipto por mais de 60 anos foi constatado que a disponibilidade de cargas positivas no solo era próxima à zero, enquanto havia máxima disponibilidade de cargas negativas (MAQUÈRE et al., 2005). Nas camadas superficiais de solos sob cobertura florestal, as substâncias húmicas de elevada massa molecular, como as huminas, formam quelatos com íons de Al e Mn, diminuindo suas atividades (GONÇALVES, 2011). Essas substâncias também reagem com o P do solo e com íons metálicos, como Fe e Al, dando origem a complexos entre P, metal (Fe ou Al) e substâncias húmicas – complexo P-metal-SH. Diferentemente do que ocorre nos processos de adsorção do P nas superfícies dos óxidos de Fe e Al, o complexo P-metal-SH pode ser dissociado por ácidos orgânicos de baixa massa molecular (citrato e oxalato), estabelecendo-se um equilíbrio entre o complexo P-metal-SH e a solução do solo. Esta forma de P tem grande relevância na dispo-nibilidade desse nutriente no solo, podendo responder por mais de 50% do P dissolvido na solução do solo (GERKE, 2010).

Em solos florestais, comparativamente aos solos agrícolas, é comum se observar maior teor de nutrientes em formas orgânicas. O P orgânico (Po) varia entre 30% e 70% do P total em solos florestais. Em estudo conduzido por Cunha et al. (2007), em solo de textura média, foi comprovado maior teor de Po sob floresta nativa (Mata Atlântica) e plantação de Corymbia citriodora do que em áreas sob pastagem (Figura 4). Os solos sob florestas continham 160 mg kg-1 de Po, teor 128% superior ao encontrado em solo sob pastagem, de 70 mg kg-1. O teor médio de Po lábil sob floresta foi de 75 mg kg-1 e sob pastagem foi de 30 mg kg-1. Em relação às quantidades lábeis de P no solo, foi constatado que 86% do P estava na forma orgânica em área de floresta nativa, 70% em plantio de Corymbia citriodora e 59% em pastagem.

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6 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

4. FERTILIZAÇÃO

4.1. Fontes fosfatadasA aplicação de fertilizantes minerais é responsável por,

aproximadamente, 25% do desembolso necessário para formação dos plantios de eucalipto. Diversas opções de fertilizantes fosfata-dos podem ser usadas para garantir o suprimento de P às plantas, contudo, é necessário levar em conta os aspectos técnicos e econô-micos destes insumos para definição da fonte ideal a ser utilizada.

O uso de fontes solúveis (fosfato monoamônico - MAP, superfosfato simples e superfosfato triplo), ou a associação entre fontes solúveis e fosfatos naturais reativos (FNR) de origem sedi-mentar, são práticas usuais de fornecimento de P em plantações comerciais de eucalipto no Brasil. Durante as décadas de 1980 e 1990, diversos estudos foram conduzidos, em casa de vegetação e em condições de campo, para verificar a eficiência do uso de rochas fosfáticas brasileiras (fosfato de Araxá, Patos, Catalão) no fornecimento de P em plantações de eucalipto. Com a abertura ao mercado internacional e a obtenção de fosfatos naturais de origem sedimentar e de melhor qualidade, com 30% de P2O5 total e 9% de P2O5 solúvel em ácido cítrico 2% (HCi 2%), vindos do norte da África, por exemplo, criou-se, para algumas situações, um modelo misto, embasado no fornecimento imediato de P no plantio, conseguido por meio de fontes fosfatadas solúveis, além do fornecimento gradual de P, obtido por meio dos processos de solubilização de fosfatos naturais reativos , ao longo do ciclo da cultura, com a possibilidade de um efeito residual durante o segundo e o terceiro ciclo de corte.

Novos fertilizantes fosfatados têm sido desenvolvidos pela indústria com o intuito de aumentar a eficiência de utilização do P pelas plantas. Produtos que associam substâncias húmicas à molé-cula do fosfato e fertilizantes com liberação controlada de nutriente encontram-se em fase de teste em plantações de eucalipto. Para alguns produtos, resultados preliminares de pesquisa apontam um cenário promissor. A maior eficiência na absorção de P e a maior qualidade física do produto proporcionam melhores práticas de manejo da fertilização fosfatada. Contudo, os reflexos na produção de madeira ainda não estão totalmente elucidados.

4.2. Métodos e época de aplicaçãoEm plantações de eucalipto com rotação de cultivo de 6 a

7 anos são aplicados, geralmente, no máximo 2 t de calcário dolo-mítico, 60 a 80 kg ha-1 de N, 60 a 80 kg ha-1 de P2O5, 140 a 160 kg ha-1 de K2O e 1a 5 kg ha-1 de B. Os fertilizantes são aplicados em sincronia com o crescimento das plantas e causam pequenas alterações no teor de nutrientes no solo. Em ambiente tropical, são mais comuns respostas à fertilização fosfatada em solos originá-rios de rochas sedimentares pelíticas e psamíticas, sendo raras as respostas em solos originários de rochas básicas, como basalto e diabásio (GONÇALVES, 2011).

Gonçalves (2011) propõe classes de respostas esperadas à fertilização fosfatada com base nos teores de argila e P-resina con-tidos na camada 0-20 cm do solo. Este critério baseia-se no fato de que, com maior teor de argila, os solos possuem maior capacidade de retenção de água, são mais produtivos e, consequentemente, demandam maior quantidade de nutrientes (maior exportação de nutrientes pela colheita da madeira). Além disso, as plantações de eucalipto no Brasil geralmente ocorrem em Latossolos e Argissolos, de mineralogia predominantemente caulinítica e oxí-dica, com elevada capacidade de fixação de P. As doses de P2O5 praticadas atualmente variam entre 10 e 70 kg ha-1 (Tabela 3).

Tabela 3. Doses de P2O5 recomendadas para aplicação em plantação de eucalipto tendo como critério o teor de argila e a quantidade de P-resina na camada 0-20 cm.

Teor de argilaP-resina (mg dm-3)

0-2 3-5 6-8 >8

(g kg-1) - - - - - - - - - - - - P2O5 (kg ha-1) - - - - - - - - - - - -

< 150 40 40 10-20 10-20150-350 50 40 30 10-20

> 350 70 50 30 10-20

Fonte: Gonçalves (2011).

Espera-se pouca resposta à fertilização fosfata em solos com teor de P-resina ≥ 5 mg dm-3. Contudo, recomenda-se a aplicação de pequenas doses de P2O5, 10 a 30 kg ha-1, visando a reposição das quantidades exportadas com a colheita da madeira, e uma taxa de crescimento inicial maior e mais homogênea das mudas.

Os fertilizantes mais usados para o fornecimento de P são as misturas granuladas NPK (04-28-06, 06-30-06, 06-26-06) com-postas por MAP e cloreto de potássio. É comum também o uso de superfosfato simples e superfosfato triplo. O fertilizante é aplicado mecanicamente em filete contínuo no sulco de subsolagem, entre 10 e 20 cm de profundidade (Figura 5). Geralmente, a fertilização fosfatada é associada à operação de preparo de solo, proporcio-nando maiores ganhos operacionais e redução de custo. Em áreas acidentadas ou em locais com grande presença de tocos da rotação de cultivo anterior, onde não é possível a mecanização, a fertilização fosfatada é feita em uma ou duas covetas laterais à muda, a cerca de 10 cm de distância e 10 cm de profundidade.

4.3. Eficiência dos fertilizantesBazani (2014) comparou a eficiência de fertilizantes fosfatados

solúveis, pouco solúveis e complexados com substâncias húmicas em plantações de Eucalyptus grandis durante os 24 meses iniciais do crescimento das plantas. O estudo foi conduzido no município de Itatinga, SP, em um Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico de textura média, com teor de P-resina inferior a 3 mg dm-3 na camada de 0-40 cm.

Em uma fase inicial, foi avaliada a eficiência de absor-ção de P usando como fontes (tratamentos): i) mistura de MAP e superfosfato simples (SSP), ii) MAP e SSP complexado com substâncias húmicas (CSP) e iii) fosfato natural reativo (FNR). Os fertilizantes fosfatados foram aplicados em filete contínuo no sulco de subsolagem (profundidade entre 10 e 20 cm), na dose de 60 kg ha-1 de P2O5 solúvel. Durante 370 dias foi avaliada a biomassa produzida e a quantidade de P acumulada nas plantas. Aproximadamente 60% do P acumulado na planta foi assimilado nas folhas. O sistema radicular, os galhos, os lenhos, as cascas e os folhedos continham, respectivamente, 16%, 12%, 6%, 4% e 2% do P absorvido pela planta.

Por se tratar de um nutriente ligado diretamente ao meta-bolismo energético da planta, a aplicação de fertilizante fosfatado no plantio das mudas favorece o crescimento inicial e estimula o desenvolvimento do sistema radicular. Bazani (2014) verificou aumentos de 52% (sentido da linha) e 21% (sentido da entrelinha) na densidade de raízes finas (DRF) (< 3 mm de diâmetro) em árvores de E. grandis aos 370 dias após o plantio. Na ausência da fertilização fosfatada, o sistema radicular apresentou menor desenvolvimento e ficou localizado nos primeiros 20 cm, no sentido da linha, e nos primeiros 10 cm do solo, no sentido da entrelinha.

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Figura 5. Aplicação de fertilizante de base em filete contínuo conjugado com a subsolagem (a), aplicação de fertilizante de base após a subsolagem conjugada com a aplicação de herbicida pré-emergente (b), fertilização de base realizada de modo manual (c) e distribuição do fertilizante em duas covetas laterais às mudas (d).

As diferenças no valor acumulado de P foram mais evi-dentes nas fases iniciais de crescimento (Figura 6a). Aos 370 dias após o plantio, o acúmulo de P nas plantas fertilizadas foi similar ao observado no tratamento Controle (Figura 6b). Esta igualdade entre os tratamentos no período entre seis e doze meses de idade tem relação direta com o déficit hídrico do solo estabelecido no segundo semestre de 2013, que reduziu o crescimento das árvo-res. Isso fez com que a nutrição das plantas se tornasse um fator secundário, frente à limitação hídrica. O coeficiente de utilização biológica de P (CUB) aumentou com o avanço da idade das plantas. Aos 370 dias, este índice estava, em média, três vezes superior ao encontrado aos 90 dias. Ao final do período experimental, a apli-cação de fertilizantes fosfatados solúveis refletiu em maior valor de CUB, em relação às plantas que receberam aplicação de FNR e do tratamento Controle (Figura 6c).

Em um segundo experimento, em área adjacente à descrita anteriormente, avaliou-se o efeito das fontes fosfatadas na produ-ção de madeira de E. grandis utilizando parcelas experimentais compostas por 81 plantas. Cinco estratégias (tratamentos) foram definidas para o fornecimento de P: i) fontes fosfatadas solúveis convencionais, MAP + SSP (PSC); ii) fosfato natural reativo (FNR); iii) mistura de PSC e FNR, em proporções iguais de P2O5 solúvel (PMC); iv) superfosfato complexado com substâncias húmicas

(a) (b)

(c) (d)

(PSE); v) mistura de superfosfato complexado com substâncias húmicas e pequena porção de FNR no mesmo grânulo (PME). A forma de aplicação de P e o critério para definição das quantidades usadas de cada fertilizante foram similares aos do experimento anterior. Passados 12 meses do plantio, o teor médio de P no solo das parcelas fertilizadas foi de, aproximadamente, 70 mg dm-3, concentrados nos primeiros 20 cm do solo (Figura 7), onde houve a aplicação do fertilizante. Nota-se claramente o efeito de localiza-ção do P no solo, restrito ao local de aplicação, em função de seu baixo coeficiente de difusão. Neste período, o maior teor de P foi obtido com a aplicação de FNR. Devido ao caráter ácido do solo (pH CaCl2 na camada 0-20 cm = 4,0), há solubilização de formas menos lábeis de P contidas na estrutura cristalina da rocha fosfática. Na camada entre 0 e 10 cm, o teor de P-resina foi de 158 mg dm-3, 60 mg dm-3 e 58 mg dm-3 para os tratamentos FNR, PME e PMC, que receberam aplicação de fosfato natural reativo, respectivamente. Nesta profundidade, com a aplicação de P solúvel (PSC e PSE), o teor médio de P-resina foi de 55 mg dm-3.

A fertilização fosfatada alterou a quantidade de folhas e a produção de biomassa das plantas. Aumentos de 70% no índice de área foliar (IAF) e 93% na biomassa aérea foram registrados aos 14 meses de idade. Aos 25 meses, em função de acentuado déficit hídrico no solo, houve redução da resposta à fertilização fosfatada,

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8 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

contudo, a presença do P gerou incrementos de 26% no IAF e 47% na biomassa aérea das plantas (Figura 8). Foi verificada tendência de aumento do IAF e da biomassa das plantas com a utilização do fosfato complexado com substâncias húmicas. Apesar da maior quantidade de P no solo, a utilização do FNR não promoveu ganhos em produtividade de madeira durante os 25 meses avaliados. Não foi alterada a partição da biomassa das plantas com a utilização de fosfatos de distintas solubilidades. De modo geral, constatou-se que, aos 25 meses de idade, a biomassa aérea das plantas foi composta por 60% de lenho, 15% de galhos, 14% de folhas e 11% de casca (Figura 8b).

Com maior quantidade de folhas e maior crescimento, as plantas que receberam a aplicação de P solúvel tiveram menor incidência de ataque de ferrugem do eucalipto (Puccinia psidii). A infestação ocorreu em 30% dos indivíduos, em um nível tolerável pela planta. Com a ausência do P, a incidência de ferrugem foi de 54%, sendo que em 20% destes o nível de infestação foi mais severo, com acentuada diminuição do crescimento da planta. Além disso, os povoamentos que receberam fertilização fosfatada tiveram fustes com dimensões 5% mais uniformes. Conclui-se que é possí-vel assegurar altos níveis de produtividade do eucalipto utilizando apenas fontes fosfatadas totalmente solúveis. Por apresentarem maior teor de P em sua composição, os custos com transporte, armazenamento e aplicação em campo são bem menores do que quando se usa conjuntamente aplicações de fontes fosfatadas pouco solúveis. O superfosfato complexado com substâncias húmicas é uma alternativa tecnicamente viável para a nutrição fosfatada de plantações de eucalipto.

4.4. Qualidade da aplicação dos fertilizantesDevido à baixa mobilidade do P no solo, a aplicação do

fertilizante fosfatado deve ser realizada próximo ao sistema radicu-lar para que, rapidamente, o P possa ser absorvido, aumentando o crescimento das plantas e diminuindo as perdas por fixação de P e a absorção pelas plantas daninhas. A garantia de boa uniformidade aumenta a velocidade de crescimento inicial e a homogeneidade

Figura 6. Acúmulo de P em plantas de Eucalyptus grandis aos 90 dias (a) e 370 dias de idade (b) em função da solubilidade do fertilizante fosfatado e (c) Coeficiente de Utilização Biológica (CUB = razão entre a biomassa de lenho e a quantidade de P acumulada na planta) em função da fonte de fertilizante fosfatado, aos 370 dias após o plantio. MAP = monofosfato de amônio; SSP = superfosfato simples; CSP = MAP e SSP complexado com substâncias húmicas; FNR = fosfato natural reativo. Barras seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

Fonte: Bazani (2014).

P ac

umul

ado

(mg

plan

ta-1)

200

180

160

140

120

100

80

60

40

20

0

b

ab

ab

a

bab

ab

a

bb

aa

3.500

3.000

2.500

2.000

1.500

1.000

500

0P

acum

ulad

o (m

g pl

anta

-1)

1.000

800

600

400

200

0

CU

B -

P (k

g kg

-1)

Cont

role

MAP

+ S

SP

MAP

+ C

SP

FNR

Cont

role

MAP

+ S

SP

MAP

+ C

SP

FNR

Cont

role

MAP

+ S

SP

MAP

+ C

SP

FNR

(a) (b) (c)

Figura 7. Teor de P-resina na linha de plantio aos 12 meses após a aplicação de fertilizantes fosfatados em povoamento de Eucalyptus grandis. 1Tratamentos seguidos pela mesma letra na linha não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste LSD. Tratamentos: i) controle; ii) PSC = fontes fosfatadas solúveis convencionais (MAP e superfosfato simples); iii) PSE = superfosfato comple-xado com substâncias húmicas; iv) mistura de PSC e FNR, em proporções iguais de P2O5 solúvel; v) PME = mistura entre super-fosfato complexado com substâncias húmicas e pequena porção de FNR no mesmo grânulo; vi) FNR = fosfato natural reativo.

Fonte: Bazani (2014).

0

10

20

30

40

50

60

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

P-resina (mg dm-3)

Pro

fund

idad

e (c

m)

ControlePSCPSEPMCPMEFNR

(1) Teste de médias - LSD 5%

Prof. (cm) Controle PSC PSE PMC PME FNR

0-10 c ab b ab ab a

10-20 b a a a a a

20-30 c ab bc a a a

30-40 c a b a a a

40-60 c ab b a a a

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Tabela 4. Caracterização dos fertilizantes feita em condições de laboratório. Os valores de granulometria se referem à quantidade de material passante em cada malha.

Fertilizante Natureza física

Granulometria FluidezGraus (º)4 mm 2 mm 1 mm

- - - - - - - (%) - - - - - - - -

A1* Mistura de grânulos 97,8a 20,3a 2,4a 29,0a

A2* Mistura de grânulos 96,7b 13,7b 2,7a 28,9a

B1* Mistura de grânulos 98,1a 20,5a 2,7a 28,9a

C3** Mistura granulada 84,4c 0,2c 0,0b 27,3b

* A1, A2 e B1 = Fertilizante NPK 09-36-12 + 1% S + 0,2% Cu + 0,4% Zn. ** C3 = Fertilizante NPK 03-17-05 + 16% Ca + 0,1% S + 0,2% Cu + 0,4% Zn.Fonte: Pietro et al. (2014).

do tamanho das plantas. O conhecimento dos atributos físicos e químicos dos fertilizantes contribui para uma aplicação mais precisa e uniforme, assegurando o atendimento às prescrições técnicas. Estes atributos são, muitas vezes, negligenciados pelos silvicultores.

Prieto et al. (2014) avaliaram os atributos físicos e a qualidade da aplicação de fertilizantes utilizados em plantação de eucalipto. Foram aplicados três fertilizantes compostos por mistura de grânulos (MGO), de formulação NPK 09-36-12 + 1% S + 0,2% Cu + 0,4% Zn, e um composto por mistura granulada (MGA), de formulação NPK 03-17-05 + 16% Ca + 0,1% S + 0,2% Cu + 0,4% Zn (Tabela 4). As MGOs foram produzidas utilizando-se como fontes: nitrato de amô-nio, MAP, KCl, sulfato de cobre e óxido de zinco. Em laboratório, foram determinadas a granulometria e o ângulo de repouso de cada produto; em campo, avaliou-se a profundidade de aplicação, a dose e a segregação de nutrientes em uma adubadeira com capacidade de carga de 1.000 kg. Os fertilizantes A1 e A2 são oriundos do mesmo

fornecedor e possuem garantias semelhantes, embora constituídos de matérias-primas diferentes. As MGOs apresentaram maior dispersão granulométrica e maior presença de partículas finas (< 1mm). A MGA apresentou maior densidade e fluidez (menor ângulo de repouso). O fertilizante A2 apresentou menor proporção de partículas menores que 2 mm (14%) em relação ao fertilizante A1, o que lhe conferiu maior uniformidade entre os grânulos.

A profundidade de aplicação do fertilizante no sulco de sub-solagem foi homogênea. Dos 720 pontos amostrados, apenas 2,5% ficaram fora do limite de profundidade aceitável, não havendo relação com o produto utilizado. A uniformidade obtida na profundidade de aplicação do fertilizante, mesmo havendo grande presença de tocos na área, é atribuída ao fato da fertilização ter sido realizada após a subso-lagem. Assim, a linha de subsolagem fica livre de impedimentos que inviabilizam a passagem contínua, em profundidade regular, da haste de aplicação do fertilizante. Portanto, em áreas com grande quanti-dade de tocos deve-se evitar a realização da fertilização de base em conjunto com a subsolagem. As doses aplicadas sofreram variações entre ±10% e ±13%, independentemente do fertilizante utilizado.

Ao longo do ciclo de trabalho da adubadeira (aproximada-mente 4 h) foram coletadas amostras de fertilizantes na posição de saída deste implemento, em três situações: i) no início do ciclo (entre 100% e 66% da capacidade de carga), ii) no meio do ciclo (entre 66% e 33% da capacidade de carga) e iii) no final do ciclo (entre 33% e 0% da capacidade de carga). Não foi constatada segregação do P dentro do reservatório (Tabela 5). O teor deste nutriente nas amostras de fertilizantes variou entre 1% e 4%. Para as MGOs A1 e A2, a variação ficou entre 4,0% e 2,3%, respectivamente. A menor variabilidade do fertilizante A2 pode ser atribuída a maior granulometria e uniformidade dos grânulos (Tabela 4). As varia-ções de teores de Cu e Zn foram elevadas nas MGOs (30%). Foi verificado aumento do teor destes micronutrientes ao longo da linha de aplicação. A MGA apresentou menor variação nos teores de Cu e Zn (7%). Este efeito se deve à presença de todos os nutrientes no grânulo desta fonte. Segundo o fornecedor, no processo de fabricação da MGA, a variação média do teor de Cu e Zn é de 5%.

Figura 8. Índice de área foliar (IAF) (a) e biomassa aérea (b) em plantio de Eucalyptus grandis com aplicação de diferentes fontes fosfatadas aos 25 meses após o plantio. Barras seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

Fonte: Bazani (2014).

5

4

3

2

1

0

40

30

20

10

0

FolhasGalhosLenhoCasca

Índi

ce d

e ár

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-2)

Bio

mas

sa (t

ha-1

)

PME PCS PSE PMC FNR Controle PME PCS PSE PMC FNR Controle

a abab

ab bc

c

aa a a a

b

(a) (b)

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10 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O manejo da fertilização fosfatada em plantações de euca-lipto deve considerar a intensificação de práticas de manejo con-servacionistas, como o cultivo mínimo do solo, que potencializa os processos de ciclagem do P e aumentam a eficiência de seu uso.

Devido ao longo ciclo de produção e às possibilidades de interações com microrganismos e com a matéria orgânica do solo, a dinâmica do P em plantações florestais apresenta comportamento distinto do verificado em sistemas de produção agrícola com cultu-ras anuais ou bianuais. O eucalipto é capaz de assimilar quantidades consideráveis de P, mesmo sob baixa disponibilidade do nutriente, oriundas da mineralização gradativa de formas orgânicas de P ao longo da rotação de cultivo. A avaliação dessas formas de P no solo e a melhor compreensão dos processos de mineralização e interação com os microrganismos podem auxiliar no aperfeiçoamento dos programas de fertilização fosfatada.

O critério econômico é fundamental no momento da tomada de decisão sobre qual fonte fosfatada aplicar. Por exemplo, entre 2013 e 2014, o custo por quilograma do P2O5 disponível às plantas foi menor para as fontes solúveis, comparado ao do FNR. O custo do quilograma de P2O5 disponível do superfosfato triplo é de US$ 0,94 kg-1 (41% do P solúvel em CNA + água) e do FNR é de US$ 1,64 kg-1 (9% do P solúvel em HCi 2%).

O uso de fertilizante fosfatado complexado com substân-cias húmicas, que surgiu recentemente no mercado brasileiro, tem se mostrado uma alternativa de excelente qualidade técnica, além de viável financeiramente, por proporcionar vários benefí-cios. Além de favorecer a absorção de P, esse tipo de fertilizante, quando na forma de mistura granulada de N, P, K, Cu e Zn e com tratamento antiaglomerante, possibilita melhor escoabilidade na adubadeira e baixo grau de segregação de nutrientes. Com isso,

devido a melhor homogeneidade de aplicação no campo, tem sido possível o uso de adubadeiras com maiores reservatórios de carga (1.000 kg a 2.000 kg), o que lhes conferem maior autonomia de trabalho. Com índices de rendimento operacional mais altos, os custos de aplicação de fertilizantes tendem a diminuir.

6. AGRADECIMENTOS

A CAPES, à FAPESP (Processo n° 2012/18234-5) e à empresa TIMAC Agro pelo apoio financeiro durante a condução das pesquisas em campo e à empresa International Paper por possibilitar as avaliações referentes à qualidade da aplicação dos fertilizantes.

7. REFERÊNCIASBARROS, N. F.; NEVES, J. C. L.; NOVAIS, R. F. Recomendação de fertilizantes minerais em plantios de eucalipto In.: GONÇALVES, J. L. M.; BENEDETTI, V. Nutrição e fertilização florestal. Piracicaba: IPEF, 2000. p. 269-286.

BAZANI, J. H. Eficiência de fertilizantes fosfatados solúveis e pouco solúveis, com ou sem complexação com substâncias húmicas, em plantações de eucalipto. 2014. 129 p. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universi-dade de São Paulo, Piracicaba, 2014.

CUNHA, G. M.; GAMA-RODRIGUES, A. C.; COSTA, G. S.; VELLOSO, A. C. X. Fósforo orgânico em solos sob florestas montanas, pastagens e eucalipto no norte fluminense. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 31, p. 667-672, 2007.

GERKE, J. Humic (organic matter)-Al(Fe)-phosphate complexes: an unde-restimated phosphate form in soils and source of plant-available phosphate. Soil Science, Philadelphia, v. 175, p. 417-425, 2010.

GONÇALVES, J. L. M. Fertilização de plantação de eucalipto. In: GON-ÇALVES, J. L. M.; PULITO, A. P.; ARTHUR JÚNIOR, SILVA, L. D.

Tabela 5. Teores de P, Cu e Zn informados no rótulo dos fertilizantes e nas amostras coletadas no início, no meio e no final da aplicação de 1.000 kg de cada fertilizante.

Fertilizante1 Natureza físicaTeor de nutrientes

Coeficiente de variaçãoGarantia Início Meio Final

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (%) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

FósforoA1 Mistura de grânulos 36,0 35,5 32,8 35,3 4,0A2 Mistura de grânulos 36,0 34,1 35,7 34,5 2,3B1 Mistura de grânulos 36,0 35,6 35,9 35,0 1,3C3 Mistura granulada 17,0 16,2 16,2 16,5 1,2

CobreA1 Mistura de grânulos 0,20 0,12 0,31 0,24 43,0A2 Mistura de grânulos 0,20 0,19 0,20 0,30 26,4B1 Mistura de grânulos 0,20 0,18 0,22 0,26 18,2C3 Mistura granulada 0,20 0,16 0,14 0,15 6,7

ZincoA1 Mistura de grânulos 0,40 0,29 0,53 0,47 29,0A2 Mistura de grânulos 0,40 0,31 0,34 0,62 40,4B1 Mistura de grânulos 0,40 0,43 0,41 0,61 22,8C3 Mistura granulada 0,40 0,25 0,26 0,23 6,2

1 A1, A2 e B1 = Fertilizante NPK 09-36-12 + 1% S + 0,2% Cu + 0,4% Zn, mistura de grânulos; C3 = Fertilizante NPK 03-17-05 + 16% Ca + 0,1% S + 0,2% Cu + 0,4% Zn, mistura granulada.

Fonte: Prieto et al. (2014).

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ESTAMOS PREPARADOS PARA NUTRIR ADEQUADAMENTE OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO COM ELEVADA PRODUTIVIDADE?

A Fertbio 2014 ocorreu em Araxá, MG, no período de 15 a 19 de Setembro. O evento foi realizado com brilhantismo, apre-sentando várias atividades que promoveram intensa discussão sobre os mais diversos assuntos relacionados à Fertilidade do Solo, Nutrição de Plantas, Biologia e Microbiologia do Solo. Entre outras importantes atividades houve um Simpósio para discutir o tema: Estamos preparados para nutrir adequadamente os sistemas de produção com elevada produtividade? O tema, sugerido à comissão organizadora do evento pelo IPNI Brasil, é pertinente, considerando que os estudos que deram origem às tabelas e modelos atualmente adotados para recomendação de calagem e adubação em várias regiões do Brasil foram elabora-dos para realidades distintas das atuais, em relação ao sistema de produção e às produtividades alcançadas.

O evento contou com a participação dos seguintes pales-trantes: Dr. Rob Mikkelsen, IPNI EUA; Dr. Orlando Carlos Mar-tins, SNP Consultoria; Dr. Álvaro Vilela de Resende, Embrapa Milho e Sorgo, e Dra. Siu Mui Tsai, CENA/USP. Como debatedo-res, contou-se com a presença do Eng. Agr. José Francisco Cunha, Tec-Fértil, e do Dr. Alfredo Scheid Lopes, UFLA. Serviram como moderador e relator, respectivamente, Dr. Luís I. Prochnow, IPNI Brasil, e Dra. Maria Ligia de Souza Silva, UFLA.

A comissão organizadora da Fertbio 2014 lançará em breve uma publicação com o resumo das principais discussões e conclu-sões do evento, entre elas a do simpósio supra mencionado.

Entre os pontos relatados pelos participantes no simpósio, destacam-se os seguintes temas, para os quais há necessidade imediata de pesquisa, visando a melhor nutrição das principais culturas no país:

• Atualização dos dados de extração e exportação de nutrientes pelas culturas para as novas realidades e novos sistemas de produção.

• Balanço específico de cada nutriente em sistemas de produção, visando elevada produtividade.

• Quantificação dos processos de ciclagem de nutrientes em diferentes combinações de culturas e ambientes de produção.

• Tabelas de recomendação de adubação em função do histórico da área, produtividade, extração e exportação de nutrientes.

• Avaliação da biodisponibilidade de fósforo orgânico presente nos solos.

• Validação das estirpes de microrganismos fixadores de N em várias condições ambientais.

O IPNI Brasil considera que a divulgação de tais temas específicos, carentes de pesquisa, bem como do resumo geral do evento, a ser publicado, podem servir no direcionamento de pesqui-sas importantes que venham a implementar a adequada transferência de tecnologia da ciência do solo para os agricultores.

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FERTILIZANTES NITROGENADOS: NOVAS TECNOLOGIAS

Hugo Abelardo González Villalba1

José Marcos Leite1Rafael Otto2

Paulo Cesar Ocheuze Trivelin3

1. INTRODUÇÃO

O nitrogênio (N) é um nutriente importante para todos os organismos vivos da Terra, sendo, muitas vezes, o que mais limita a produtividade dos cultivos agrí-

colas. Está presente em inúmeras moléculas orgânicas complexas e exerce papel extremamente importante no metabolismo das plantas (MALAVOLTA e MORAIS, 2007). O N é absorvido pelas plantas nas formas nítrica (NO3

-), amoniacal (NH4+), amídica [CO(NH2)2]

e gasosa (N2). As plantas absorvem predominantemente as duas primeiras formas, sendo a última exclusiva das leguminosas.

Três dos cinco tópicos de pesquisa de máxima priori-dade na ciência do solo para o século 21 incluem: (a) impacto da adição de fertilizantes aos solos nas funções do ecossistema, na saúde pública e bem estar humano, e no ciclo de nutrientes, (b) processos de transporte e (c) interações entre planta-solo- microrganismos, segundo proposta de Adewopo et al. (2014). O N derivado dos fertilizantes e que não é absorvido pelas plantas pode ser perdido por processos de lixiviação, volatilização e erosão, causando sérios problemas ambientais (GALLOwAy et al., 2008, AUSTIN et al., 2013).

Pelos motivos citados, torna-se imperioso o aumento na eficiência de uso dos fertilizantes nitrogenados (EUN) visando o incremento na produtividade das culturas, a redução de custos e a mitigação dos possíveis impactos ambientais negativos.

2. EFICIÊNCIA DOS FERTILIZANTES NITROGENADOSA demanda por fertilizantes nitrogenados tem aumentado

proporcionalmente ao incremento da população mundial nos últi-mos 50 anos. O aumento na demanda por fertilizantes nitrogenados, associado ao aumento do custo do fertilizante devido ao preço do gás natural, intensificarão a procura por maior eficiência de uso dos fertilizantes em culturas comerciais, que atualmente situa-se entre 30% e 40% (RAUN e JHONSON, 1999; DOBERMANN, 2007).

O N adicionado na forma de fertilizantes ao solo e que não é absorvido pelos vegetais, pode sofrer ação de processos microbioló-gicos (nitrificação, desnitrificação, imobilização), químicos (trocas, fixação, precipitação, hidrólise) e físicos (lixiviação, volatilização). Todos esses processos afetam a disponibilidade do nutriente para as plantas. O uso de altas doses de fertilizantes nitrogenados pode

1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Solos e Nutrição de Plantas, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ/USP; email: [email protected], [email protected]

2 Professor Doutor do Departamento de Ciência do Solo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, ESALQ/USP; email: [email protected] Professor Associado 3, Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Universidade de São Paulo, CENA/USP; email: [email protected]

Abreviações: Ag = prata; BPUFs = Boas práticas para uso eficiente de fertilizantes; CDU = ureia crotonaldeído; Cu = cobre; Cd = cádmio; DAP = fosfato diamônico; DCD = dicianodiamida; DMPP = 3,4-dimetil pirazol fosfato; EUN = eficiência de uso do nitrogênio; FBN = fixação biológica do nitrogênio; FEA = fertilizantes de eficiência aumentada; FLC = fertilizantes de liberação controlada; FLL = fertilizantes de liberação lenta; ISBD = ureia isobutilaldeído; K = potássio; MAP = fosfato monoamônico; Mn = manganês; N = nitrogênio; NA = nitrato de amônio; NAC = nitrato de amônio e cálcio; NBPT = tiofosfato de N-(n-butil) triamida; Ni = níquel; P = fósforo; S = enxofre; SA = sulfato de amônio; UF = ureia formaldeído; URP = ureia recoberta com polímeros; URS = ureia recoberta com enxofre; URSP = ureia recoberta com enxofre + polímeros; Zn = zinco.

resultar em aumento no potencial de perdas, como, por exemplo, lixiviação de NO3

-; perdas de N2O, tanto na nitrificação como na desnitrificação; volatilização de NH3 do solo; perdas gasosas de N do tecido das plantas; entre outras, o que explica a baixa EUN, sendo esta menor com o aumento das doses. Esses fatos podem resultar em baixo desempenho produtivo das culturas e risco de contaminação ambiental, tendo implicações na sustentabilidade dos agrossistemas.

A ureia é o fertilizante nitrogenado mais usado no Brasil. Quando aplicada ao solo, pode sofrer hidrólise por ação da enzima urease, convertendo o R-NH2 em NH4

+. Por consumir H+ do meio, essa reação promove elevação no pH do solo próximo aos grânulos de fertilizantes, favorecendo a transformação do NH4

+ em NH3, uma forma gasosa passível de perda por volatilização. Rochette et al. (2013b) apresentaram um sumário de uma série de artigos científi-cos em que foram avaliadas as perdas de N na forma de NH3

+, que variaram de 8% a 68% do total aplicado, em diversas condições de manejo e experimentação, em diversos lugares do mundo.

Segundo Lara Cabezas et al. (2000), a aplicação de ureia em superfície, sem incorporação ao solo, pode proporcionar perdas de 31% a 78% do total de N aplicado. Entretanto, se a ureia for incor-porada ao solo, as perdas por volatilização de NH3 diminuem sensi-velmente (TRIVELIN et al., 2002), pois a amônia, ao se difundir no interior do solo em direção à atmosfera, encontra regiões com valores de pH mais baixo em relação aos valores próximos aos grânulos de ureia, sendo novamente convertida em NH4

+ (ERNANI et al., 2002).Além das perdas de N na forma de amônia, podem também

ocorrer remoções significativas de N do sistema solo-planta por lixi-viação, principalmente na forma de NO3

-. A lixiviação é um processo de arraste do N nos solos com o movimento descendente da água, para fora da zona de absorção das raízes, com potencial de chegar ao lençol freático e, em certas condições favoráveis, contaminar as águas subterrâneas (ERNANI et al., 2002). O íon nitrato não é retido em solos com predominância de cargas negativas, porém, nas condições brasileiras, como muitos dos solos apresentam horizontes subsuperfi-ciais com cargas positivas, estas poderiam retardar consideravelmente a lixiviação do nitrato (ALCÂNTARA e CAMARGO, 2005).

De acordo com Raun e Johnson (1999), a lixiviação é um processo que ocorre na natureza e pode ser menos intensa do que comumente reportado, considerando que vários pesquisadores superestimam as perdas de N por não realizarem sua medição direta.

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Já quando as perdas são mensuradas, grande parte das pesquisas encontradas na literatura sugere que, nas condições brasileiras, com as doses atualmente utilizadas e parceladas, o risco do NO3

- alcan-çar o lençol freático é relativamente baixo, exceto em condições específicas, como na produção de culturas olerícolas em torno das grandes cidades (CANTARELLA, 2007). A Tabela 1 apresenta dados de uma série de trabalhos que avaliaram a lixiviação de N em diversas culturas, envolvendo o uso de fertilizantes marcados com 15N. De forma geral, pode-se observar que tanto as perdas por lixiviação total como a proveniente do fertilizante marcado (15N) são baixas, exceto em condições extremas, como, por exemplo, quando é utilizada a dose de 800 kg ha-1 de N. Os dados brasileiros foram obtidos em condições diferentes das que ocorrem em regiões de clima temperado, onde o nível do lençol freático é pouco profundo e, consequentemente, mais suscetível à contaminação.

2.1. Estratégias para aumentar a eficiência de uso dos fertilizantes nitrogenados

A pressão cada vez maior sobre a agricultura, no que se refere aos danos ambientais que podem ser causados pela má utilização dos fertilizantes nitrogenados, exige que produtores e pesquisadores busquem práticas para melhorar a EUN.

Tabela 1. Estimativas da lixiviação1 de nitrogênio total e proveniente do 15N-fertilizante, em diferentes condições edafoclimáticas, de cultivo e pluvio-sidade no Brasil.

Solo Cultura Ciclo Fonte (15N) Dose de NN lixiviado

Pluviosidade ReferênciaTotal N-fertilizante

(dias) (kg ha-1) - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - (mm)Alfisol Feijão 120 Ureia 120 6,7 Traços 661 1Oxisol Milho 130 Sulfato de amônio 80 9,2 0,4 717 2Alfisol Feijão 365 Sulfato de amônio 100 15 1,4 1.382 3Alfisol Milho 150 Ureia 100 32,4 11 620 4Alfisol Feijão 86 Sulfato de amônio 42 Traços Traços 423 5Oxisol Cana-de-açúcar 102 Ureia 100 87,0 34 667 6Oxisol Cana-de-açúcar 102 Aquamônia 100 29 7 667 6Oxisol Milho 170 Ureia 60 84,6 2,3 1.100 7Oxisol Trigo 120 Ureia 90 38 1,7 524 8Oxisol Cana-de-açúcar 330 Ureia 90 4,5 Traços 1.255 9Alfisol Milho 55 Ureia 120 1,1 Traços 339 10Alfisol Milho 55 Ureia 250 1,2 Traços 339 10Oxisol Milho 120 Sulfato de amônio 120 18,5 0,5 615 11Oxisol Aveia Preta 80 Sulfato de amônio 120 0,7 Traços 146,15 11Oxisol Milho 120 Sulfato de amônio 120 5,8 Traços 656 11Alfisol Café 366 Sulfato de amônio 280 30 6,5 1.300 12Oxisol Milho 130 Ureia 150 Não mostrado 1,1 1.523 13Oxisol Milho 123 Sulfato de amônio 180 Traços Traços 96,8 14Oxisol Braquiária 80 Sulfato de amônio 180 9 0,6 439 14Oxisol Milho 118 Sulfato de amônio 180 5,2 Traços 419 14Oxisol Cana-de-açúcar 180 Ureia 120 1,1 Traços 1.174 15Oxisol Café 365 Ureia 400 Não mostrado 14,7 2.232 16Oxisol Café 365 Ureia 800 Não mostrado 104,5 2.232 16

1 Com base nas tabelas de Urquiaga e Zapata (2000), Gava (2003) e Cantarella (2007). 2 1 = Libardi e Reichardt (1978); 2 = Reichardt et al. (1979); 3 = Meirelles et al. (1980); 4 = Araujo Silva (1982); 5 = Urquiaga et al. (1986); 6 = Ca-

margo (1989); 7 = Coelho et al. (1991); 8 = Spolidorio (1999); 9 = Oliveira et al. (2002); 10 = Gava (2003); 11 = Fernandes et al. (2006); 12 = Fenilli (2008); 13 = Almeida (2008); 14 = Fernandes e Libardi (2009); 15 = Ghiberto et al. (2011); 16 = Bortolotto et al. (2012).

Para tratar desse assunto, é necessário analisar o complexo ciclo do N (Figura 1). O ciclo do N nada mais é que uma sequência de reações de oxi-redução, intermediada por microrganismos que adquirem energia advinda das mudanças dos estados de oxi-redução (MARTINELLI, 2007). Após seu ciclo de vida, as plantas são decom-postas por organismos do solo que buscam energia. Nesse processo, denominado mineralização, o N orgânico, presente nos tecidos vegetais, é transformado em forma inorgânica, mais especificamente em amônio (NH4), o qual pode ser transformado em nitrato (NO3), no processo de nitrificação. Essas duas formas inorgânicas podem voltar ao tecido vegetal por meio do processo de absorção das plantas. O nitrato, sendo mais móvel no ambiente, pode ainda ser lixiviado do solo para as camadas mais profundas e, finalmente, para cursos d’água. Em condições de ausência de oxigênio, o nitrato pode ser desnitrificado, ou seja, passar à forma gasosa, voltando, assim, para a atmosfera. Portanto, existe uma constante reciclagem de N entre as plantas e o solo. Se não houvesse perdas por lixiviação profunda e desnitrifi-cação, essa ciclagem interna poderia ser mantida indefinidamente.

Buscando otimizar o uso dos fertilizantes nitrogenados, o agricultor se questiona a cada ano, a cada safra e a cada plantio: o que aplicar? (fonte), quanto de N aplicar? (dose), quando aplicar N? (época), e onde aplicá-lo? (local). Com certeza, as respostas a

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14 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

Segundo Malavolta e Morais (2009), a primeira fábrica de fertilizantes nitrogenados no Brasil começou a operar em 1963, em Cubatão, SP, propriedade da Ultrafertil, construída por iniciativa da Petrobras, conforme relatado por Franco e Saraiva Neto (2007).

O HNO3 é produzido a partir da oxidação da amônia, e ambos são matérias-primas para a produção de vários fertilizantes. O prin-cipal fertilizante nitrogenado sólido no mundo é a ureia [CO(NH2)2], produzida a partir da reação de NH3 com o principal subproduto de sua síntese, o CO2 – daí a grande vantagem do menor custo de produção, além de não envolver reações com ácidos, que requerem a necessidade de equipamentos especiais (CANTARELLA, 2007). No Brasil, os fertilizantes nitrogenados mais usados são ureia, nitrato de amônio, sulfato de amônio e fosfato monoamônico (MAP). A ureia contém 44% a 46% de N na forma amídica e é hidrolisada rapidamente no solo a amônio pela ação da enzima urease. Além disso, a ureia tem baixa corrosividade, alta solubilidade e é prontamente absorvida pelas folhas, em taxa 10 a 20 vezes superior a dos elementos na forma iônica (CANTARELLA, 2007; MALAVOLTA e MORAES, 2009).

Figura 3. Rota de produção de fertilizantes nitrogenados – amônia como matéria-prima para a produção de adubos.

Fonte: Adaptada de Malavolta e Moraes (2009).

Figura 2. Diagrama do manejo de fertilizantes 4C: aplicação da fonte certa, na dose certa, na época certa e no local certo.

Fonte: Casarin e Stipp (2013). estas quatro perguntas definirão o sucesso da fertilização, conside-rando que as mesmas devem ser fruto de muita reflexão com base em conhecimentos científicos, técnicos e práticos. Essas quatro questões formam o pilar do manejo de nutrientes 4C (Figura 2) – fundamento científico das boas práticas para uso eficiente de fertilizantes (BPUFs), segundo Bruulsema et al. (2009) e Casarin e Stipp (2013).

As práticas consideradas como estratégias para aumentar a EUN são: rotação de culturas com o uso de leguminosas, melhora-mento genético, análise de solo e monitoramento das plantas para determinação da concentração de N, uso de plantas de cobertura e uso de preparo reduzido e/ou plantio direto. Entre os fatores diretamente relacionados ao uso de fertilizantes estão: escolha de fontes que reduzem as perdas de N, definição da dose de N a ser aplicada e adequação da época de aplicação e do local de aplicação por meio da otimização de técnicas de aplicação de N.

2.2. Fontes de NEm média, a atmosfera é composta por 78% de N2, um

gás indisponível quimicamente para absorção pelas plantas. Fritz Haber, químico alemão, descobriu como disponibilizar o N2 a par-tir da reação do N2 atmosférico com o H2, o qual é obtido dos combustíveis fósseis, principalmente do gás natural e do óleo. A quebra da molécula de N2 é realizada sob altas temperatura e pressão. Estima-se que cerca de 1,2% a 1,8% do consumo global de energia fóssil seja para a produção de fertilizantes nitrogenados (CANTARELLA, 2007). Carl Bosch, químico alemão, conseguiu desenvolver este pro-cesso em escala industrial e recebeu o prêmio Nobel em 1931. O processo de síntese de NH3, conhecido como processo Haber-Bosch, foi desenvolvido no início do século 20, e pode ser resumido a partir da seguinte reação (CANTARELLA, 2007):

½ O2 + N2 + CH4 + H2O g 2NH3 + CO2

A amônia (NH3) é um composto-chave na pro-dução de quase todos os fertilizantes nitrogenados. Ela ainda pode ser usada diretamente como fertili-zante, na forma concentrada de amônia anidra (82% N) ou em solução aquosa como aquamônia (20% N). A Figura 3 ilustra o papel central da amônia na fabricação dos fertilizantes nitrogenados mais usados no Brasil (CANTARELLA, 2007; MALAVOLTA e MORAES, 2009).

Figura 1. Ciclo esquemático do nitrogênio.Fonte: Martinelli (2007).

DESNITRIFICAÇÃO

DESNITRIFICAÇÃO

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Os adubos nitrogenados convencionais mais consumidos no Brasil, em ordem decrescente de importância em relação ao preço de mercado e ao consumo, são: ureia (45% de N), fosfato monoamônico (9%), sulfato de amônio (20% de N), nitrato de amônio (32% de N), fosfato diamônico – DAP (16% de N) e outros complexos, como aquamônia e nitrocálcio, que podem ser empregados em formulações juntamente com o P e o potássio (K) (Tabela 2).

Além desses, existem fontes nitrogenadas alternativas, como por exemplo, o co-produto da fabricação do ácido glutâmico, muito utilizado em regiões canavieiras, no estado de São Paulo (COSTA et al., 2003). Esse fertilizante líquido contém quantidades apreciáveis de matéria orgânica e nutrientes. Os teores de N podem variar de 40 a 70 g kg-1, os de K2O de 7 a 15 g kg-1 e os de S-SO4 de 20-70 g kg-1. Existem, ainda, fontes minerais, como o cloreto de amônio, subproduto de indústrias químicas, e o nitrato de amônio contendo cálcio (NAC), como alternativa à comercialização do nitrato de amônio puro. O cloreto de amônio (NH4Cl), co-produto das indústrias químicas e de celulose e papel, é um composto químico que contém 25% de N, sendo utilizado em outros países como fonte nitrogenada na adubação das culturas de arroz, milho e trigo. No Brasil, trabalhos de pesquisa comprovaram a eficiência semelhante dessa fonte, em relação às comumente utilizadas na cultura da cana-de-açúcar, na dose de 100 kg ha-1 de N (VIEIRA et al., 2010; VIEIRA et al., 2012). Porém, aplicações sucessivas deste produto podem causar redução na produtividade, possi-velmente pelo efeito salino do Cl presente no produto (VIEIRA et al., 2012).

2.2.1. Fertilizantes orgânicos e organomineraisDe acordo com o Decreto Nº 4.954 de 14 de janeiro de 2004,

os fertilizantes orgânicos podem ser divididos em: 1) fertilizante orgânico simples; 2) fertilizante orgânico misto; 3) fertilizante orgâ-nico composto e 4) fertilizante organomineral. Neste tópico vamos descrever somente os fertilizantes orgânicos simples, os quais darão origem aos outros fertilizantes orgânicos. É importante destacar que esses fertilizantes terão sempre mais de um nutriente, porém, a legislação não especifica as garantias mínimas e não estabelece o processo de produção.

Os principais fertilizantes orgânicos, classificados em função de sua origem, são (Malavolta e Moraes, 2009):

• Vegetal: restos de culturas, Adubos verdes, tortas oleagi-nosas, torta de filtro, vinhaça.

• Animal: sangue dessecado, farinha de carne, couro moído, farinha de casca e chifre, farinha de peixe.

• Mista: Esterco, composto, lixo, lodo de esgoto.

Os adubos verdes também são classificados como fertili-zantes orgânicos e geralmente são leguminosas, capazes de fixar o nitrogênio do ar – processo conhecido como fixação biológica do nitrogênio (FBN). As leguminosas são cultivadas de diversas formas: antes da cultura principal, em rotação de culturas, como cultura intercalar e na renovação de canaviais e incorporadas ao solo, contribuindo com matéria orgânica e nutrientes, particular-mente com N (MALAVOLTA e MORAES, 2009). Estima-se que esses adubos possam contribuir com 300 kg ha-1 ano-1 de N.

Outras fontes orgânicas ou organominerais variam de acordo com a disponibilidade em cada região do Brasil, mas as que mais se destacam são: estercos de origem bovina, suína e aves, e cama de frango. No setor canavieiro, os principais produtos são a vinhaça e a torta de filtro. A vinhaça é um produto derivado da fabricação do etanol e do açúcar e pode ser classificada em três principais grupos, de acordo com sua origem: melaço, mistura e caldo. Além de ser excelente fonte de K (2 a 5 kg m-3 de K2O para vinhaça in natura e de 20 a 35 kg m-3 de K2O para vinhaça concentrada), a vinhaça também apresenta outros nutrientes como P e N (0,2 a 0,5 kg m-3 de N). A torta de filtro constitui um resíduo de fabricação do açúcar obtido pela clarificação do açúcar do caldo. Existem, ainda, outras fontes de N e outros nutrientes que apresentam importância, como composto, resíduos de lixo e lodo de esgoto. Mais detalhes e especificações podem ser lidos em Malavolta e Moraes (2009).

2.2.2. Fertilizantes de eficiência aumentadaOs fertilizantes de eficiência aumentada (FEA) são caracte-

rizados como produtos que podem minimizar o potencial de perdas de nutrientes para o ambiente, quando comparados aos fertilizantes tradicionais ou convencionais. Trabalhos mais detalhados sobre este

Tabela 2. Especificação e consumo dos principais fertilizantes nitrogenados no Brasil.

Fertilizantes1 Garantia mínima Característica Obtenção Observação

Ureia 45% N na forma amídica Reação do amônio com CO2 sob pressão

Teor de biureto < 1,5%

Nitrato de amônio (NA) 32% 50% amídica e 50% amoniacal

Neutralização do ácido nítrico pela amônia

Sulfato de amônio (SA) 20% N 22% S 100% forma amoniacal

Neutralização do H2SO4 com amoníaco

Subprodutos das formas de coque e de capolactama

Teor de tiocianato < 1%

Fosfato monoamônico (MAP) 9% N 48% P2O5

N na forma amoniacal Reação do ácido fosfórico com amônia

Fosfato diamônico (DAP) 17% N 45% P2O5

N na forma amoniacal Reação do ácido fosfórico com amônia

Nitrocálcio 20% N 50% nítrica e 50% amoniacal

Reação do ácido nítrico com óxido ou carbonato

Nitratos e aquamônia 13% a 26% N Forma nítrica (nitratos) Forma amoniacal (NH3)

Reações da amônia com ácido nítrico e outros fertilizantes

Fonte: Malavolta e Moraes (2009).

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tipo de fertilizante podem ser encontrados em Chien et al. (2009) e Trenkel (2010). O princípio dos FEA é basicamente evitar e/ou diminuir as perdas de N, principalmente por volatilização de NH3 e/ou lixiviação de NO3

-, assim como fornecer N de forma constante e gradual às plantas.

2.2.2.1. Fertilizantes estabilizados: inibidores de urease e inibidores de nitrificação

Existem duas classes principais de fertilizantes estabilizados de importância no mercado: inibidores de nitrificação e inibidores de urease (CANTARELLA, 2007). Os inibidores de urease são aditivos que bloqueiam a atividade da enzima urease, responsável por realizar a hidrólise ou quebra da ureia, transformando-a em amônio ou amônia e CO2. Mais de 14.000 compostos ou misturas de compostos, com uma ampla gama de características, foram testados, e muitos patenteados como inibidores de urease (CANTARELLA, 2007). Têm sido relatados também alguns estudos com metais que são capazes de inibir a atividade da enzima urease, entre eles prata (Ag), mercúrio (Hg), cádmio (Cd), cobre (Cu), manganês (Mn), níquel (Ni) e zinco (Zn) (REDDY e SHARMA, 2000).

A enzima urease contém grupos sulfidrilas e a inibição pode ocorrer quando os metais são ligados, formando sulfitos insolúveis. Esses metais não apresentam efeitos significativos na redução das perdas de N-NH3; além disso, a maior parte é considerada metal pesado e pode contaminar os solos (CANTARELLA, 2007). O efeito desses elementos foi relatado por Soares (2011), o qual mostrou que as adições dos micronutrientes B (ácido bórico) e Cu (sulfato de cobre) à ureia, em dose de até 10 g kg-1, não são sufi-cientes para reduzir significativamente a volatilização de NH3. Este autor também observou que não houve efeito de sinergismo pela combinação de ácido bórico, cobre e NBPT na redução da perda de N por volatilização de NH3.

Dentre os produtos que têm produzido os melhores resul-tados estão os análogos de ureia, especialmente o tiofosfato de N-(n-butil) triamida – NBPT. Este produto é comercializado desde 1996 nos Estados Unidos, e mais recentemente no Brasil. O NBPT é atualmente o único inibidor de urease que tem grande importância comercial e prática na agricultura, sendo comercializado em mais de 70 países (TRENKEL, 2010).

O NBPT é o composto que tem mostrado maior eficiência em retardar a atividade da enzima urease e, consequentemente, reduzir a taxa de volatilização (CANTARELLA, 2007; CANTARELLA et al., 2008; SOARES, 2011, SOARES et al., 2012). Cantarella et al. (2008), ao realizarem diversos experimentos com cana-de-açúcar

no estado de São Paulo, mostraram que a redução de perdas de amônia com a adição de NBPT à ureia foi de cerca de 52%, quando o fertilizante foi aplicado em clima úmido, e de 32% em clima seco (Tabela 4). Neste estudo, a eficiência de redução da volatilização da NH3 por meio do NBPT variou de 18% a 78%. A menor eficiência de redução do inibidor foi obtida em clima seco ou muito seco e, segundo os autores, isso ocorreu devido ao fertilizante ter ficado na camada de palha na superfície e não ter sido incorporado ao solo, e por não ocorrer chuva para incorporar o fertilizante no período em que o inibidor é mais eficiente, ou seja, cerca de sete a dez dias (wATSON et al., 2008; CANTARELLA et al., 2008). Portanto, a chuva é essencial para a incorporação da ureia e, consequentemente, proporcionar reduções significativas de perdas.

O composto NBPT pode sofrer influência do pH do solo e também do teor de matéria orgânica. Soares (2011) observou que o inibidor de urease NBPT é menos eficiente em solos mais ácidos (pH 4,5) em relação aos solos com pH mais elevado. A elevação do pH aumenta a volatilização de NH3 pela aplicação superficial de ureia, mas em alguns solos a perda de N em solos com pH ácido pode ser tão alta como em pH mais elevado. Outro estudo, também realizado em condições de laboratório, desenvolvido por Engel et al. (2013), mostrou que a taxa de hidrólise da ureia foi reduzida pelo NBPT em solos ácidos (pH 5,5) a 17% enquanto em solos alcalinos (pH 8,2) a redução foi da ordem de 86,2%. Este fato ocorre por que, provavel-mente, tanto o NBPT quanto seu análogo NBPTO são hidrolisados mais rapidamente em solos com baixo pH, em relação aos solos com pH mais elevado (SOARES, 2011). De acordo com Saggar et al. (2013), a eficiência do NBPT no solo varia de acordo com o conteúdo de matéria orgânica, textura, pH, teor de N do solo e biomassa micro-biana. Segundo estes autores, o NBPT não afeta os microrganismos do solo, mas inibe a atividade da urease durante o período de uma a duas semanas e, consequentemente, reduz a perda de N por volatili-zação de NH3. Assim, a temperatura do solo, a umidade e os níveis de C do solo são fatores-chave que afetam diretamente a eficiência do NBPT na redução da taxa e porcentagem de emissão de NH3.

Os inibidores de urease disponíveis até o momento podem reduzir a hidrólise da ureia em, no máximo, 5 a 15 dias. Nesse período, o fertilizante deve ser incorporado ao solo pela água (chuva ou irrigação) ou por métodos mecânicos.

Além dos inibidores de urease, de uso mais comum em condições tropicais, também existem os inibidores de nitrificação, que vem sendo estudados com mais frequência no Brasil. Há diversos compostos registrados como inibidores da nitrificação (SUBBARAO et al., 2006; ZERULLA et al., 2001; SOARES et

Tabela 4. Perdas de NH3 por volatilização em sete áreas experimentais comparando nitrato de amônio (NA) ou sulfato de amônio (SA) com ureia (UR) ou ureia tratada com NBPT, aplicados em áreas de cana-de-açúcar com palhada.

Área experimental Mês Condições de campoPerdas de NH3 (%)

SA ou NA uR uR + NBPT Redução pelo NBPT

Araras I Novembro Úmido 0,1 11,2 7,2 36Iracemápolis Setembro Seco 0,2 25,4 15,2 40Araraquara Outubro Seco 0,2 25,1 21,3 15Pirassununga Dezembro Úmido 0,1 7,2 1,6 78Araras II Agosto Seco 0,4 16,4 13,4 18Jaboticabal Novembro Muito seco 0,1 1,1 0,8 -Ribeirão Preto Junho Seco 0,3 15,2 11,2 26

Fonte: Cantarella et al. (2008).

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al., 2012), entretanto, apenas alguns foram bastante estudados e testados em condições de campo. Os principais são: nitrapiridina [2-cloro-6-(triclorometil) piridina], dicianodiamida (DCD) e DMPP (3,4-dimetil pirazol fosfato) (DI e CAMERON, 2002; SUBBARAO et al., 2006). Diversos fatores do solo, como temperatura, pH, umi-dade e matéria orgânica, influenciam diretamente na eficiência dos inibidores de nitrificação, por estarem diretamente relacionados ao processo de nitrificação no solo (BARTH et al. 2001; IRIGOYEN et al. 2003; CANTARELLA, 2007; KELLIHER et al., 2008).

Estudos demonstram que os inibidores de nitrificação podem ser eficientes na redução do processo de oxidação da amônia por alguns dias ou semanas (SINGH e BEAUCHAMP, 1987). Um importante efeito ambiental dos inibidores de nitrificação está relacionado ao potencial em reduzir perdas por desnitrificação. Soares et al. (2014) reportaram diminuição da emissão de N2O na produção de cana-de-açúcar com a utilização de fertilizantes nitrogenados tratados com dois tipos de inibidores de nitrificação.

Por outro lado, alguns estudos têm relatado aumento das perdas por volatilização de NH3 com a utilização de inibidores de nitrificação, pelo fato de o produto aumentar o tempo de perma-nência do N-NH4

+ no solo. Zaman et al. (2008), em estudo com pastagem, avaliaram o efeito do DCD na ureia aplicada sobre a superfície do solo e observaram que houve redução da perda de NO3

- por lixiviação na emissão de N2O. Mas observaram também que o DCD, em combinação com o NBPT, apresentou maior volatilização de NH3 em relação apenas à ureia com NBPT. Soares et al. (2012) observaram também que a adição de DCD à ureia causou aumento da volatilização de NH3 da ureia, com ou sem uso de NBPT, e isso ocorreu por causa do elevado pH e alto teor de NH4

+ no solo devido à inibição da nitrificação. Pelo fato dos resultados obtidos serem inconclusivos, esses produtos ainda não são amplamente adotados como ferramenta tecnológica, pois ainda há dúvidas em relação ao seu custo e benefício. Essas dúvidas ainda existem porque há falta de consistência dos resultados nos diversos ambientes agroclimáticos e diferentes tipos de solo (SUBBARAO et al., 2006).

2.2.2.2. Fertilizantes de liberação lenta ou controladaAté poucos anos atrás, não existia distinção entre os termos

liberação lenta e liberação controlada, pois eram considerados sinônimos. Atualmente, existe a tendência de se adotar a definição proposta por Shaviv (2005), que considera os fertilizantes de libera-ção controlada (FLC) como sendo aqueles nos quais são conhecidos os fatores que determinam a quantidade, o padrão e a duração da liberação do nutriente para as plantas. Já os fertilizantes de libe-ração lenta (FLL) são aqueles que liberam os nutrientes de forma mais lenta que os fertilizantes normais, porém sem caracterização precisa da quantidade, padrão e duração da liberação dos nutrientes.

Conforme Cantarella (2007), Trenkel (2010) e Chien et al. (2009), os fertilizantes nitrogenados de liberação lenta ou controlada que possuem baixa solubilidade, comparados às fontes convencionais de N, podem ser: a) compostos de condensação de ureia e ureia formaldeídos – ureia formaldeído (UF, 38% N), ureia isobutilaldeído (ISBD 32% N) e ureia crotonaldeído (CDU); b) produtos recobertos ou encapsulados – ureia recoberta com enxofre (S) (URS), ureia recoberta com polímeros (URP) e ureia recoberta com S + polímeros (URSP).

Até pouco tempo, esses fertilizantes tinham um nicho de mercado muito específico. Era recomendado somente para culturas perenes, culturas ornamentais, gramados e similares, principalmente devido ao seu preço mais elevado. Recentemente, o desenvolvi-

mento de ureia recoberta com polímero (URP) de baixo custo tem tornado esse tipo de insumo acessível para sistemas de produção de grãos e oleaginosas (CHIEN et al., 2009; GAGNON et al., 2012). Atualmente, a indústria conseguiu diminuir o diferencial de preços (que chegava a ser de 2,4 a 10 vezes o valor dos fertilizantes con-vencionais), mudando o posicionamento desses produtos no mercado, com foco nas culturas extensivas de interesse comercial (milho, arroz, cevada, trigo, café, eucalipto, citros, batata, tomate).

O padrão de liberação de nutrientes dos FLC é geralmente sigmoidal, com a primeira fase de liberação lenta, passando à segunda fase de liberação mais rápida (fase linear) e, por fim, à ter-ceira fase de liberação lenta, com disponibilização total do nutriente. Esse padrão de liberação sigmoidal é o que melhor se ajusta ao padrão de absorção de nutrientes pelas plantas. Os mecanismos primários de liberação de N envolvem dois passos: (a) dissolução do fertilizante dentro dos grânulos e (b) difusão do N de dentro dos grânulos para a solução do solo.

Os FLC, de forma geral, oferecem maior controle sobre a duração, o padrão, e a taxa de liberação de nutrientes, o que permite maior eficiência e minimiza os impactos ambientais (SHAVIV, 2005). Além disso, os FLC são menos sensíveis a fatores ambientais e de solo, quando comparados com outros fertilizantes. Du et al. (2008) consideram os fertilizantes recobertos com polímeros os mais populares e promissores dentre os FLC, devido às vantagens que apresentam perante os demais tipos.

A URP apresenta taxa de liberação de N no solo relativa-mente reduzida após sua aplicação e vai aumentando com o tempo, dependendo dos fatores ambientais, principalmente temperatura e umidade. Um inconveniente apresentado por esses insumos é a liberação de N reduzida nos primeiros estádios de desenvolvimento das plantas de milho, podendo ocasionar estresses fisiológicos à cultura, em estádios importantes na definição da produtividade final.

Existe a alternativa de aplicar a dose total de N requerida na semeadura da cultura de milho, como misturas de URSP com ureia adubo convencional (Figura 4), em proporções que garantam a disponibilidade de N, tanto nos estádios iniciais como em estádios mais avançados das plantas de milho. Estudo desenvolvido recen-temente no Brasil por González Villalba et al. (2014b) indicou que misturas variando de 100% a 50% de URSP com ureia convencional proporcionaram disponibilidade de N ao longo de todo o ciclo da cultura de milho. Além do ganho operacional, essa estratégia pode resultar em aumento na produtividade de grãos, quando comparada

Figura 4. Mistura de URSP + ureia com NBPT.

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à utilização de ureia convencional, aplicada toda na semeadura, ou parceladamente, como é a recomendação atual (20%-30% na seme-adura e 80%-70% em cobertura, entre os estádios V4-V6 do milho).

Na literatura podem ser encontradas várias evidências de efeitos positivos da utilização de FLC em diversas culturas. Assim, diversos autores reportaram que os FLC melhoram a eficiência de uso do N e a qualidade e o rendimento de: arroz (yANG et al., 2013), batata (ZIADI et al., 2011), cevada (BLACKSHAW et al., 2011), milho (HALVORSON e BARTOLO, 2013; GONZÁLEZ VILLALBA, 2014a) e trigo (NASH et al., 2012).

2.2.3. Novas alternativasUma das alternativas para aumentar a eficiência de uso do N,

que vem sendo objeto de pesquisas, é o uso de argilominerais como aditivo em fertilizantes nitrogenados, que pode controlar a retenção e a liberação do NH4

+ (BERNARDI et al., 2014). O uso de minerais na agricultura está sendo amplamente difundido e, nesse sentido, os concentrados de zeólita têm um papel especial. As zeólitas são mine-rais aluminossilicatos hidratados cristalinos de metais alcalinos ou alcalino-terrosos, estruturados em uma rede tridimensional cristalina rígida, formadas por tetraedros de Si e Al que se unem para formar um sistema de canais, cavidades e poros em nanoescala. Bernardi et al. (2014) explicam que a ação das zeólitas para diminuição da volatilização de amônia ocorre pelo controle da retenção do íon amô-nio formado na hidrólise da ureia no solo, devido à alta capacidade de troca de cátions da zeólita e a consequente retenção de amônio da solução do solo. Os mesmos autores citam uma variedade de trabalhos desenvolvidos em campo e em condições controladas, que demonstram que existe um aumento da EUN com o uso desse tipo de argilomineral como aditivo em fertilizantes nitrogenados. Porém, apesar de resultados favoráveis, mais trabalhos são necessários para viabilizar esse tipo de produto para a agricultura brasileira.

Zhen-yi et al. (2014) listam uma série de tecnologias alter-nativas para produção de fertilizantes de eficiência aumentada. Por exemplo, o uso de fertilizantes nitrogenados peptídicos (42% N), que favorecem a atividade biológica do solo. Também comentam sobre o uso de ureia recoberta com chitosan (45% N), um polímero natural obtido do exoesqueleto de artrópodes, insetos, aracnídeos, moluscos, fungos e algas. Reportam ainda o uso de ureia recoberta com biochar como agente para diminuir a volatilização de NH3, e outras tecnologias que os autores consideram promissoras para certas regiões agrícolas.

Leite et al. (2013) apresentam o uso de substâncias húmicas e/ou fúlvicas como possíveis formas de aumentar a EUN. Nardi et al. (2014) classificam as substâncias húmicas como bioesti-mulantes, capazes de aumentar os teores de macro (entre eles N) e micronutrientes nas plantas devido à ativação metabólica das mesmas.

2.3. Dose de NConforme explicado em Casarin e Stipp (2013), escolher

a dose certa (neste caso específico, de N), consiste em ajustar a quantidade de fertilizante a ser aplicada com a necessidade da cultura. Uma aplicação de doses menores às exigidas pela cultura provocará rendimentos e qualidade inferiores às esperadas, assim como aplicações de doses superiores às necessárias podem resultar em prejuízos ao ambiente.

Diversos autores indicam que a fonte, a época e o local de aplicação de N são importantes, mas sugerem que a dose de N apli-cada é o que mais afeta a EUN. Em Cantarella (2007) e Meisinger et al. (2008) pode-se encontrar mais informações sobre este item.

2.4. Época de aplicaçãoPara determinar a época de aplicação de N deve-se avaliar a

dinâmica de absorção de N pelas plantas, o fornecimento de N pelo solo, assim como a logística de aplicação do fertilizante na propriedade. Também deve-se pensar nas possíveis perdas e, sempre que possível, escolher as épocas que oferecem menor risco de perdas. O N deve ser disponibilizado nos períodos de maior necessidade da cultura, sincronizando sua disponibilidade no solo à necessidade das plantas.

A prática que oferece maior incremento na EUN é a apli-cação de N em forma parcelada, principalmente nas culturas mais exigentes, como milho e outros cereais. No entanto, como foi visto anteriormente, hoje existem tecnologias que podem ajudar a suprimir essa atividade em certas condições.

2.5. Local de aplicaçãoPara aplicar o N de forma correta é preciso conhecer a dinâ-

mica do N no sistema solo-raiz-atmosfera. O fertilizante nitrogenado deverá ser aplicado, sempre que possível, na região com maior concentração de raízes.

Deve-se administrar a variação do espaço no campo para identificar as necessidades locais específicas da lavoura e limitar as perdas potenciais no tempo. Aqui pode ser citada a utilização de ferramentas da agricultura de precisão, com aplicação de doses diferenciadas em zonas específicas da lavoura.

A aplicação de N em superfície (Figura 5), principalmente na forma de ureia convencional, promove perdas consideráveis de N na forma de NH3, devendo ser evitada. Neste caso, a incorporação ou utilização de fertilizantes com inibidores de urease devem ser consideradas. Rochette et al. (2013a) discutiram esse assunto em profundidade.

Figura 5. Detalhe da aplicação de ureia na superfície do solo, prática que deve ser evitada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A indústria de fertilizantes avançou no desenvolvimento de novas tecnologias na última década, oferecendo mais opções aos agricultores.

O objetivo final é promover maior EUN, menores problemas ambientais, menor custo e incrementos em produtividade. É gratifi-cante observar que a indústria, a pesquisa e a agricultura brasileira estão caminhando firmemente nesta direção.

REFERÊNCIASDevido ao grande número de referências, a literatura

somente estará disponível para consulta no website do IPNI (Infor-mações Agronômicas n. 148): http://brasil.ipni.net

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O MANEJO E A CICLAGEM DE NUTRIENTES EM SISTEMAS INTEGRADOS DE

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA NO SUBTRÓPICO BRASILEIRO

Adriel Ferreira da Fonseca1

1 Professor Adjunto do Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG, Ponta Grossa, PR, Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq; email: [email protected]

O sistema integrado de produção agropecuária (SIPA), comumente conhecido como integração lavoura- pecuária (ILP), caracteriza-se por possibilitar, na

mesma área, o cultivo de pastagens anuais ou perenes, visando a alimentação animal, e culturas destinadas à produção vegetal, sobretudo grãos (BALBINOT JUNIOR et al., 2009; CARVALHO et al., 2014). Esse sistema tem sido responsável por produzir cerca da metade do alimento no mundo e constituir uma das formas de intensificação de uso da terra (HERRERO et al., 2010), possível de ser integrado às boas práticas agropecuárias e atender, com sustentabilidade, à futura demanda da humanidade por alimentos e energia (GODFRAY et al., 2010).

No subtrópico brasileiro, o SIPA é caracterizado por, nor-malmente, estar associado às áreas sob plantio direto que, durante o inverno, são cultivadas com forrageiras anuais (puras ou con-sorciadas), tais como aveia preta (Avena strigosa) e azevém anual (Lolium multiflorum). No verão, essas áreas têm sido ocupadas com culturas produtoras de grãos, tais como soja (Glycine max), milho (Zea mays), feijão (Phaseolus vulgaris) e arroz (Oryza sativa) (MORAES et al., 2014a). Essas áreas totalizam aproximadamente 13 milhões de hectares cultivados no verão; no entanto, apenas 1/3 desse montante tem sido cultivado com cultura econômica (trigo – Triticum aestivum, aveia branca – Avena sativa, cevada – Hordeum vulgare, triticale – X triticosecale, canola – Brassica napus L. var. oleifera, e centeio – Secale cereale) durante o inverno, restando aproximadamente 2/3 das áreas com potencial para produção de alimentação animal (MORAES et al., 2014a).

A Figura 1 mostra o SIPA sob plantio direto na área expe-rimental da Fazenda Capão do Cipó, Município de Castro, PR. Nesse sistema, bovinos de corte pastejaram aveia preta durante o outono-inverno de 2009, com taxa de lotação de aproximadamente 3,5 UA ha-1 e ganho médio diário superior a 1.100 g dia-1. No verão, a área foi cultivada com milho (após aveia preta pastejada) e soja (após azevém anual pastejado). Os rendimentos de grãos de soja e milho foram superiores a 4.800 kg ha-1 e 11.000 kg ha-1, respec-tivamente. Na Figura 2, nota-se o detalhe da gaiola de exclusão (para avaliação do rendimento de massa seca da forragem) e, ao fundo, o gradiente entre sete dias de pastejo e a área não pastejada. Verifica-se que, quando o pastejo é adequado, o animal deixa a área e tem-se boa cobertura do solo. Nesse caso, a renovação do sistema radicular proporcionado pelo pastejo ameniza o efeito de carga animal aplicada na área.

Abreviações: Ca = cálcio; ILP = integração lavoura-pecuária; K = potássio; Mg = magnésio; N = nitrogênio; P = fósforo; S = enxofre; SIPA = sistemas integrados de produção agropecuária; UA = unidade animal.

Figura 1. Bovinos de corte pastejando aveia preta durante o outono-inverno de 2009 (a) e azevém anual no outono-inverno de 2010 (b), após cultivo de verão de milho e soja.

(a)

(b)

A Figura 3 mostra os detalhes do pastejo do azevém anual por bovinos de corte, a Figura 4 o contraste entre a área pastejada e a não pastejada e a Figura 5 a placa fecal, evidenciando o papel do animal no aumento da ciclagem de nutrientes e na variabilidade da fertilidade do solo em sistema integrado de produção agropecuária.

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A sustentabilidade do SIPA depende do adequado manejo e equilíbrio dos componentes solo-planta-animal. Nesse caso, o animal atua como componente que ocasiona aumento da cicla-gem de nutrientes, podendo beneficiar as culturas subsequentes, produtoras de grãos, no sistema (CARVALHO et al., 2010). Por outro lado, o pastejo animal (ou corte da forragem para capineira/silagem) durante o período de inverno proporciona a retirada de carbono da área que, se inadequadamente manejado, resulta em diminuição nos teores de matéria orgânica e consequente perda de qualidade do solo. Portanto, a adequada construção da fertilidade do solo, as práticas de agricultura conservacionista, a adubação do sistema, a rotação de culturas e o planejamento forrageiro são estra-tégias que proporcionam, ao longo do tempo, um balanço positivo de matéria e energia. Como resultados, há melhoria dos atributos químicos, físicos e biológicos do solo (MORAES et al., 2014a), intensificação sustentável da agricultura associada com promoção de serviços ambientais (MORAES et al., 2014b), aumento da receita da propriedade rural e diminuição dos riscos (SILVA et al., 2012b).

A estratégia de adubação das forrageiras de inverno é fun-damental para aumento ou manutenção do rendimento de grãos da cultura subsequente. Nesse contexto, a adubação nitrogenada das forrageiras tem proporcionado aumento de seu rendimento e qualidade, melhor cobertura do solo (diminuindo a incidência

Figura 2. Detalhe da gaiola de exclusão, para avaliação do rendimento de massa seca da forragem.

Figura 3. Vista geral do pastejo do azevém anual por bovinos de corte.

Figura 4. Constraste entre a área pastejada e a não pastejada. Figura 5. Placa fecal, evidenciando o papel do animal na ciclagem de nutrientes.

de plantas daninhas), manutenção e melhoria do sistema plantio direto e, em se tratando da cultura subsequente de milho, maior rendimento e acúmulo de nitrogênio (N) (ASSMANN et al., 2003). O pastejo animal proporciona aumento da ciclagem de N (CARVA-LHO et al., 2010), maior atividade microbiológica (SOUZA et al., 2010b), agregação (SOUZA et al., 2010a) e quantidade de bioporos (AULER et al., 2014) e melhor conservação da água no solo que, dentre outros fatores, tem proporcionado aumento no rendimento de milho nos SIPAs (ASSMANN et al., 2003; SILVA et al., 2012a; MORAES et al., 2014a).

Com relação ao fósforo (P), tem sido possível antecipar parcial ou totalmente a fertilização fosfatada mineral nos SIPAs, graças à elevada ciclagem de nutrientes (CARVALHO et al., 2010). Todavia, essa é uma prática de alto risco, que necessita ser mais bem investigada. A antecipação de P no SIPA tem proporcionado melhoria na qualidade e rendimento da forragem e beneficiado o rendimento de milho (GALETTO et al., 2014). A antecipação tem mostrado resultados distintos, dependendo das características de solubilidade do fosfato utilizado (GALETTO et al., 2014). Além do mais, o pastejo tem proporcionado aumentos de ciclagem do P, estoques das formas lábeis orgânicas e inorgânicas de P no solo e eficiência de uso deste nutriente pelas plantas produtoras de grãos (COSTA et al., 2014).

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014 21

A reciclagem de potássio (K) no SIPA tem sido elevada e diretamente relacionada com a intensidade de pastejo (MORAES et al., 2014a). Cabe salientar que, nas áreas onde há remoção da forragem para capineira/silagem, a reposição de K é fator primordial para não exaurir as reservas deste nutriente no solo. Quanto à dinâ-mica do enxofre (S) e dos micronutrientes no SIPA do subtrópico brasileiro, os estudos são muito limitados e há enorme carência de informações.

Quanto à calagem superficial no SIPA, a tendência tem sido ocorrer reação mais rápida do corretivo quando comparado ao que normalmente acontece no plantio direto, devido, resumidamente, aos seguintes fatores (adaptado de ANGHINONI et al., 2013): (i) o pastejo animal ou o corte da forrageira, desde que adequadamente manejados, proporcionam aumento de bioporos; (ii) a decomposi-ção de estercos e urinas resulta em maior concentração de ácidos orgânicos no ambiente; (iii) a constante renovação do sistema radicular proporciona maior acúmulo de exsudatos radiculares; (iv) a quantidade de N aplicada no SIPA tende a ser maior (sistema mais intensivo) quando comparada à do plantio direto. Esses fatores tendem a potencializar o efeito da calagem superficial, pois favorecem a migração física do corretivo, a dissolução do calcário, a complexação e a redistribuição de cálcio (Ca) e mag-nésio (Mg) no perfil.

Ainda persistem muitas dúvidas quanto à dinâmica dos nutrientes no sistema solo-planta-animal. A combinação entre os preceitos conservacionistas do plantio direto, a rotação de culturas e a presença do animal em pastejo, em um mesmo sistema, é capaz de mimetizar os processos fundamentais de ciclagem que ocorrem nos ecossistemas naturais, o que assegura o grau de sustentabilidade reconhecido dos sistemas integrados (ANGHINONI et al., 2011). O SIPA tende a apresentar, quando adequadamente manejado, maior riqueza de grupos e abundância da fauna do solo (BARTZ et al., 2014), resultando em benefícios à ciclagem de nutrientes (CARVALHO et al., 2010), aumento no rendimento de grãos de milho (MORAES et al., 2014a) e manutenção no rendimento da soja (SILVA et a., 2012a).

REFERÊNCIAS

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DIVuLGANDO A PESQuISA

DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO NO SOLO E RESPOSTA DA SOJA AO FERTILIZANTE APLICADO NO SULCO DE SEMEADURA

CIRO ANTONIO ROSOLEM; ALExANDRE MERLIN. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 38, n. 5, p. 1487-1495, 2014

A fixação de fósforo em solos tropicais pode ser diminuída sob plantio direto. Nesse caso, o fertili-zante pode ser aplicado na superfície do solo, o que

melhora o rendimento operacional pela diminuição do reabasteci-mento da semeadora com fertilizantes. Em longo prazo, fontes de P menos solúveis podem ser viáveis.

Nesse experimento, foram estudados o efeito da aplicação de P em superfície, tanto de fosfato solúvel (superfosfato triplo - SFT) como de fosfato de rocha reativo (Arad - FR), sobre as formas de P no solo e a disponibilidade para a soja, em combinação com a aplicação de P solúvel nos sulcos de semeadura, em um experimento de longa duração, no qual a soja foi cultivada em rotação com a braquiária (Brachiaria ruziziensis).

Os fertilizantes fosfatados foram aplicados na superfície de um solo com histórico de aplicações de P, nas doses 0 e 80 kg ha-1. Amostras de solo foram tomadas até 60 cm de profundidade, e o P do solo foi fracionado. A soja foi cultivada com 0, 30 e 60 kg ha-1 de P2O5 como superfosfato triplo aplicado no sulco de semeadura.

As produtividades médias de soja foram maiores com a aplicação de P na superfície do solo, independentemente da fonte de P, mas a resposta dependeu de aplicação de P no sulco (Figura 1a). Quando nenhum P foi aplicado em cobertura, a soja respondeu à aplicação do SFT no sulco até 26 kg ha-1, mas a adição de P, tanto em cobertura como no sulco, superou as diferenças de produção de soja. Teores de fósforo nas folhas de soja estavam abaixo dos níveis limite (2,0-5,0 g kg-1) quando nenhum P foi aplicado, mas foram superiores quando o P foi aplicado em cobertura e pelo menos 13 kg ha-1 foram aplicados nos sulcos (Figura 1b).

Conclusões:1. Ambos os fertilizantes aplicados em superfície aumen-

taram o P disponível nas camadas superiores do solo e as formas moderadamente lábeis, orgânica e inorgânica, de P no perfil do solo, provavelmente como resultado do apodrecimento radicular.

2. Embora a soja tenha respondido ao SFT e ao FR aplicados na superfície do solo, as doses mais baixas de P solúvel aplicadas no sulco de semeadura são eficazes no fornecimento de P para a soja.

3. O fertilizante fosfatado deve ser aplicado como fertilizante de arranque, mesmo quando o solo recebeu adubações fosfatadas acumuladas.

4. Em solos tropicais, com um histórico de fertilização fosfatada, fontes de P solúveis podem ser substituídas por fosfatos naturais reativos aplicados na superfície do solo. A operação de seme-adura pode ser agilizada pela redução da taxa de P aplicada ao sulco de semeadura em relação às doses que são empregadas atualmente.

Figura 1. Rendimentos de soja (a) e concentrações foliares de P (b) afe-tados pela aplicação de fertilizantes fosfatados na superfície do solo e no sulco de semeadura. FR = 80 kg ha-1 de P2O5 como fosfato de rocha reativo Arad; SFT = 80 kg ha-1 de P2O5 como superfosfato triplo. Os valores 0, 30 e 60 representam kg ha-1 de P2O5 aplicado no sulco de semeadura como SFT. Barras sobre as colunas mostram o resultado do teste LSD (p < 0,05).

Sem P Fosfato de Superfosfato rocha (FR) triplo (SFT)

Fertilizante fosfatado aplicado na superfície do solo

P na

s fo

lhas

de

soja

(g k

g-1)

3

2

1

0

3.500

2.500

1.500

500

Prod

utiv

idad

e da

soj

a (k

g kg

-1)

P (kg ha-1)0 30 60

(a)

(b)

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EM DESTAQUE

USO EFICIENTE DE FÓSFORO NOS SISTEMAS DE CULTIVO

Dr. Luís Prochnow, Diretor Geral do IPNI, Programa Brasil, ministrou uma palestra sobre o uso eficiente do fósforo (P) em sis-temas de cultivo em dois locais do estado do Paraná. O Engo Agro wagner Chueiri, Gerente Técnico de Desenvolvimento de Produtos e Projetos da Coonagro – Cooperativa Nacional Agroindustrial –, organizou ambos os eventos. Além de focar as estratégias do concei-to 4C para o manejo eficiente do P, Dr. Prochnow também mostrou, com exemplos regionais específicos, como obter melhor eficiên-cia no uso dos fertilizantes fosfatados. Cerca de 100 consultores participaram deste evento, os quais poderão treinar ainda mais os agricultores sobre como melhor utilizar o P em suas propriedades. "Foi realmente uma grande oportunidade apresentar este tema a um grupo de agrônomos que estão aptos a influenciar os agricultores para uma melhor utilização do fósforo em suas propriedades", disse Dr. Prochnow.

Participantes do Encontro sobre Fósforo no Paraná.

ASA MEETING 2014

O ASA Meeting é o evento anual da Sociedade Americana de Agronomia que agrega os principais cientistas, técnicos e estudantes dos Estados e Unidos e do mundo. Na edição de 2014, realizada em Long Beach, Califórnia, de 2 a 5 de novembro, Dr. Eros Francisco, Diretor Adjunto do IPNI, apresentou dois trabalhos orais nas seções (i) Agronomic Production Systems: Rotation, Crop Pollinator and Cereal Crop Research e (ii) Sulfur and Phosphorus, recebidos com bastante interesse pelos participantes das seções. Além disso, Dr. Francisco participou de um tour, organizado pelo Dr. Mikkel-sen, Diretor do IPNI nos Estados Unidos, visitando plantações de culturas importantes para a agricultura da região: abacate, abóbora, citros, framboesa, morango, pimenta, tâmara e vagem.

MANEJO DO POTÁSSIO EM RESPOSTA À MINERALOGIA DO SOLO

Desde 2012, o IPNI Brasil tem utilizado a ferramenta webi-nar para informar o público em geral sobre assuntos relacionados à nutrição de plantas, fertilidade do solo e manejo de nutrientes 4C. O público inclui universidades, institutos de pesquisa, indústria, associações de agricultores e consultores. Em Setembro, Dr. Eros Francisco, Diretor-Adjunto do IPNI Brasil, organizou a apresen-tação do Dr. Scott Murrell, Diretor do IPNI da América do Norte, que ministrou a palestra sobre "Interações entre manejo do potássio e mineralogia do solo".

Este foi o quinto webinar promovido pelo IPNI Programa Brasil. Outros palestrantes e temas já apresentados são: Dr. Valter Casarin, Diretor-Adjunto do IPNI Brasil, com "Boas Práticas de Manejo de Fertilizantes” (Setembro de 2012); Dr. Eros Francisco, Diretor-Adjunto do IPNI Brasil, com "Manejo da Fertilidade do Solo na Região do Cerrado" (Novembro de 2012); Dr. Álvaro Vilela de Resende, Pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, com “A adubação fosfatada a lanço é prática de manejo sustentável?" (Março de 2013) e Dr. Pedro Henrique de Cerqueira Luz, FZEA/USP, com "Otimização na aplicação de fertilizantes e corretivos agrí-colas" (Maio de 2014). Todas as apresentações do webinar foram gravadas e estão disponíveis no site do IPNI e no Youtube. Esses vídeos já foram vistos por cerca de 15.000 pessoas.

O IPNI Programa Brasil continuará a promover atividades por meio de webinar com foco em questões técnicas ou científicas. A apresentação do Dr. Murrell pode ser vista em http://brasil.ipni.net/article/BRS-3303.

ESTUDANTES BRASILEIROS PREMIADOS COM O IPNI SCHOLAR AWARD 2014

Os doutorandos Geisa Lima Mesquita, do Instituto Agronô-mico de Campinas-IAC, e Elialdo Alves de Souza, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, Campus de Botucatu, receberam o “International Plant Nutrition Institute (IPNI) Scholar Award 2014” em reconhecimento às suas realizações acadêmicas e pessoais.

O trabalho de pesquisa de Geisa referiu-se à Absorção e aspectos anatômicos e fisiológicos de boro em citros, e o de Elialdo à Aplicação localizada de fertilizante amoniacal como estratégia para melhorar a eficiência de uso de fósforo em milho.

O prêmio Scholar Award é concedido anualmente pelo IPNI dos Estados Unidos a estudantes de pós-graduação em ciências relacionadas à nutrição mineral de plantas e ao manejo de nutrientes na agricultura. O Prêmio é possível graças ao apoio das empresas associadas ao IPNI: produtores primários de nitrogênio, fósforo, potássio e outros fertilizantes. Mais detalhes podem ser obtidos através no website: www.ipni.net/awards.

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O 2nd Symposium on Magnesium in Crop Production, Food Quality and Human Health foi realizado de 4 a 6 de novembro, em São Paulo. O Simpósio foi organizado pelo Institute of Applied Plant Nutrition (IAPN), da Alemanha, em parceria com o IPNI e a Universidade de São Paulo, do Brasil, a Sabanci University Istanbul, da Turquia, e The Center for Magnesium Education & Research, dos Estados Unidos.

O nutriente magnésioDurante o Simpósio, foram discutidas intensamente a

importância e as funções do magnésio para a saúde dos seres humanos, animais e plantas. Nas plantas, por exemplo, o mag-nésio é essencial para a fotossíntese, o metabolismo energético e o transporte de nutrientes e, assim, contribui para o aumento da qualidade e produtividade das culturas. O baixo fornecimento de magnésio é particularmente crítico para os animais em pastoreio, uma vez que pode provocar a desordem metabólica conhecida como tetania dos pastos, com risco para a vida dos animais. Na medicina humana, tem sido comprovado, muitas vezes, que a ingestão suficiente de magnésio reduz o risco de distúrbios cardiovasculares.

O magnésio na agricultura brasileiraA adubação com magnésio tem sido, ainda, pouco habitual

na agricultura brasileira, e a importância do elemento para a fer-

tilidade do solo e a qualidade das culturas é pouco conhecida. De acordo com o Prof. Dr. Klaus Dittert, diretor científico do IAPN, “a situação atual do uso de magnésio no Brasil foi uma razão impor-tante para que o segundo simpósio sobre magnésio fosse realizado no país. Com o simpósio, fomos capazes de iniciar um diálogo com os nossos parceiros brasileiros sobre a importância do magnésio na agricultura. É muito importante compartilhar o conhecimento já disponível sobre a adubação com magnésio em prática, de forma mais intensiva, mas também formular questões sobre pesquisas abertas em conjunto com os profissionais”.

O magnésio ajuda a aliviar o estresse hídricoO debate sobre como as culturas agrícolas podem con-

seguir bons rendimentos mesmo em condições de estresse, tais como aumento de calor, radiação solar e escassez de água, foi de importância central nas mesas de debate no simpósio. O foco tem sido, portanto, sobre esta questão, não menos importante, porque o Brasil está sendo afetado por uma seca severa. O foco da pesquisa do IAPN foi, portanto, confirmada mais uma vez, porque o Instituto investiga como as culturas agrícolas podem ser fortalecidas para tais condições difíceis. No Simpósio, tornou-se claro que o magnésio tem um papel importante a desempenhar no aumento da resistência das culturas a condições ambientais estressantes e na melhoria da qualidade nutricional dos produtos agrícolas.

2ND SYMPOSIUM ON MAGNESIUM IN CROP PRODUCTION, FOOD QUALITY AND HUMAN HEALTH

FONTES ALTERNATIVAS DE FÓSFORO EM SOLOS TROPICAIS

Dr. Luis Prochnow, Diretor do IPNI, Programa Brasil, discursou sobre o tema "Fontes alternativas de fósforo em solos tropicais" na sessão de abertura do 16º Congresso Mundial de Fer-tilizantes, ocorrido no Rio de Janeiro, RJ. O IPNI co-organizou este importante evento, junto com outras organizações líderes em pes-quisa, para destacar os avanços na utilização eficiente dos nutrientes.

Dr. Luís Prochnow em sua apresentação no Congresso Mundial de Fertilizantes.

5o SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE FÓSFORO EM SOLOS E PLANTAS

Dr. Luis Prochnow, Diretor do IPNI, Programa Brasil, partici-pou como palestrante do 5th International Symposium on Phosphorus in Soils and Plants - PSP5 - ocorrido em Montpellier, França. O evento reuniu cientistas que trabalham com pesquisa sobre fósforo em diferentes áreas de especialização. Dr. Prochnow mostrou em sua palestra como otimizar o uso das fontes de fosfato. A palestra desafiou os pesquisadores a considerar outros tipos de fontes de P que podem levar a melhor utilização da rocha fosfática, como, por exemplo, através da produção de fertilizantes fosfatados totalmente acidulados. "O evento foi de alta qualidade, com a participação de cientistas de grande influência na pesquisa agrícola. Eventos como este constituem raras oportunidades para a atualização do conhe-cimento sobre a pesquisa relacionada a P. Entre outros aspectos, fiquei muito feliz por ver o trabalho de qualidade que está sendo feito, especialmente em relação à consorciação e à rotação de cul-turas para melhorar a eficiência do uso de P", disse Dr. Prochnow.

2o ENCONTRO SOBRE ADUBAÇÃO DE PASTAGEM

Este evento, organizado pela Scot Consultoria e Tec Fertil, com apoio do IPNI, está se tornando muito importante para os agropecuaristas e consultores ligados à área de produção de pas-tagem para o gado e aos sistemas de produção leiteira no Brasil. Dr. Francisco, Diretor-Adjunto do IPNI Brasil, apresentou os concei-tos básicos do manejo de nutrientes nos sistemas de cultivo forrageiro, com estudos de caso no Brasil. “A área de pastagem no Brasil é de cerca de 160 milhões de hectares, sendo que na maior parte ainda se utiliza pouca tecnologia e, portanto, há baixa produção de biomassa. O uso de fertilizantes é um pilar importante no aumento da produção de biomassa, considerando que muitos dos solos utilizados para a produção de forragem apresentam baixos teores de nutrientes. Para tal prática, é importante educar os agricultores na aplicação correta

dos nutrientes, utilizando o manejo de nutrientes 4C, a fim de obter alta eficiência agronômica e minimizar qualquer impacto negativo no sistema”, disse Dr. Francisco. Os temas mais importantes abor-dados na discussão foram: (a) fontes de nitrogênio para os sistemas de pastagem, (b) uso do gesso agrícola e (c) máquinas para aplicação de fertilizantes em sistemas de produção de forragem.

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PAINEL AGRONÔMICO

DRONES NO MONITORAMENTO DE LAVOURAS

Novas tecnologias de mapeamento da zona rural são as grandes aliadas da agricultura de precisão, capazes de auxiliar o produtor durante todo o processo de plantio, cultivo e colheita. Uma das novidades de última geração criadas para o campo vem da Embrapa Instrumentação, que tem desenvolvido softwares de ponta voltados para Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs), conhe-cidos como drones. De acordo com o pesquisador da Embrapa Lúcio André de Castro Jorge, os novos drones são capazes de antecipar o surgimento de doenças e pragas nas lavouras e analisar a fertilidade do solo. “Ele explica que, com câmeras especiais que utilizam luz infravermelha, o mapeamento ajudará a monitorar e prever problemas com pragas e doenças em geral, logo no início”, conta. “As imagens captadas pelo VANT, associadas às técnicas eficientes de geoprocessamento, podem identificar, inclusive, áreas prejudicadas por erosões e assoreamentos de rios”, acrescenta o pesquisador. (Canal Rural)

Drones: evolução para mapea-mento das propriedades rurais

ETANOL DE 2ª GERAÇÃO JÁ É REALIDADE NO INTERIOR DE SÃO PAULO

O tão aguardado etanol celulósico, também conhecido como etanol de segunda geração (G2), deixou de ser uma perspectiva e se tornou uma tecnologia disponível ao consumidor de Piracicaba, cidade do interior de São Paulo.

Gerado a partir da palha e do bagaço da cana-de-açúcar, o combustível foi produzido pela usina de etanol 2G da Raízen – joint venture da Cosan e da Shell no setor sucroenergético – que tem capacidade de produção de 40 milhões de litros por safra, o que deve aumentar em 50% a oferta da usina, que produz 80 milhões de litros anualmente de etanol de cana. “Ainda produzimos pouco. As operações com grande potencial produtivo começam a partir da próxima safra e a inauguração oficial da nova usina deve ser em março”, afirmou o vice-presidente da Raízen, Pedro Mizutani.

Na primeira safra completa, a 2015/2016, a usina deve produzir dois terços da capacidade total, ou seja, aproximadamente 26,7 milhões de litros. A unidade custou R$ 230 milhões, e outras oito plantas industriais de etanol 2G estão nos planos da Raízen no futuro, para a produção de até 1 bilhão de litros por safra do combustível a partir da celulose de bagaço e palha de cana.

Ainda segundo o executivo, a meta para o futuro é reduzir os custos de produção do etanol 2G, hoje de quatro a cinco vezes superior ao etanol de cana, principalmente pelo valor das enzimas utilizadas no processo. “Com o tempo e com o aprendizado os custos serão reduzidos”, concluiu Mizutani.

Neste processo, os resíduos passam por um pré-tratamento para desestruturação da fibra, que depois é transformada em açúcar solúvel pelo processo de hidrólise enzimática. A eficiência energé-tica é a mesma do etanol de primeira geração. (Sou Agro)

PESQUISA POTENCIALIZA EFEITO DA UREIA COMO FERTILIZANTE

Equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) acaba de sintetizar um produto que consegue melhorar o desempenho da ureia, um dos fertilizantes nitrogenados mais utilizados na agricultura mundial. "Queríamos desenvolver uma substância que agregasse valor ao fertilizante, aumentando sua eficiência e reduzindo custos", explica a professora Luzia Valentina Modolo, do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Ela integra o grupo que, desde 2010, pesquisa moléculas capazes de aumentar a captação de nitrogênio pelas plantas, contribuindo para a diminuição da quantidade de ureia usada nas plantações.

O aditivo demonstrou bons resultados em experimentos em ambientes de plantio controlado. O trabalho foi desenvolvido em conjunto com o pesquisador Ângelo de Fátima, do Departa-mento de Química da UFMG, responsável pela síntese do aditivo. "Trata-se de uma substância estruturalmente análoga à ureia. Quando utilizada nas plantações, o fertilizante normalmente é aplicado na superfície do solo e absorvido pela raiz da planta. A substância que sintetizamos possibilita otimizar o uso da ureia", afirma Luzia Modolo.

Depois que as moléculas são sintetizadas, o aditivo é apli-cado na superfície do fertilizante para revestir cada pérola de ureia. Com essa aplicação, o aditivo inibe a ação da enzima urease produ-zidas por microrganismos do solo que fazem aumentar a perda, para a atmosfera, do nitrogênio que deveria ser absorvido pela planta. “Ao aumentarmos a eficiência de aproveitamento do nitrogênio pela planta, ela cresce melhor e evitamos que a amônia, um poluente, seja lançada na atmosfera”, explica o professor Ângelo de Fátima.

Os pesquisadores já desenvolveram três moléculas capa-zes de melhorar o uso da ureia pelas plantas. O passo seguinte é aumentar a escala de produção, passando do âmbito laboratorial para o industrial. O aditivo já foi testado em plantas de milheto, que possuem ciclo de vida curto, o que favorece a observação da atuação do composto durante toda a vida da planta. Os próximos testes serão feitos em culturas agrícolas perenes, como café, e em culturas anuais, a exemplo do milho.

Algumas características fazem da ureia um dos fertilizantes mais usados no mundo. Além de ser mais atrativa economica-mente, ela não é de uso controlado, por não ser empregada na fabricação de explosivos, como é o caso de outros fertilizantes nitrogenados disponíveis no mercado. Os resultados da pesquisa mostram que o aditivo desenvolvido para revestimento de pérolas de ureia é eficiente.

Para Luzia Modolo, como a agricultura tem forte participa-ção no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, o desenvolvimento de aditivos agrícolas deve ser realizado constantemente. "Já existe um produto comercial que exerce a função de inibidor de urease, mas ele é importado. O Brasil não produz nada do gênero, daí o pioneirismo de nossa pesquisa", destaca. Ângelo de Fátima destaca outras vantagens do uso do aditivo. "Além de diminuir a emissão de nitrogênio, ele diminui custos da produção agrícola, pois se gasta menos com fertilizantes", analisa. (UFMG)

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26 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

CuRSOS, SIMPÓSIOS E OuTROS EVENTOS

1. FERTILIZER LATINO AMERICANO CONFERENCE & ExHIBITION 2015

Local: Hilton São Paulo Morumbi, São Paulo, SPData: 25 a 27/JANEIRO/2015Informações: Comissão Organizadora

Fone: (20) 7903-2444Email: [email protected] website: http://www.fla-conference.com

9. VI FÓRuM E ExPOSIçÃO DA ABISOLO Local: Centro de eventos Pereira Alvim, Ribeirão Preto, SPData: 15 e 16/ABRIL/2015Informações: ABISOLO

Fone: (11) 3251-4559Email: [email protected] website: http://www.forumabisolo.com.br/2015

12. VII CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA Local: Centro de Convenções CentroSul, Florianópolis, SCData: 22 a 25/JUNHO/2015Informações: F&B Eventos

Fone: (43) 3025-5223Email: [email protected]: http://www.cbsoja.com.br/

2. CuRSO – GESTÃO DE SISTEMAS MECANIZADOS AGRíCOLAS NA CuLTuRA DA CANA-DE-AçÚCAR

Local: Campus da ESALQ/USP, Piracicaba, SPData: 22 a 24/JANEIRO/2015Informações: Pecege

Fone: (19) 3377-0937Email: [email protected] website: http://www.pecege.org.br

4. xII CONFERêNCIA INTERNACIONAL DE ARROZ PARA A AMéRICA LATINA E CARIBE

Local: Pontifícia Universidade Católica, Porto Alegre, RSData: 23 a 26/FEVEREIRO/2015Informações: IRGA

Fone: (51) 3470-0600 Email: [email protected] website: http://www.conferenciaarroz2015.com.br

5. xI REuNIÃO BRASILEIRA DE CLASSIFICAçÃO E CORRELAçÃO DE SOLOS – RCC

Local: EMBRAPA, Boa Vista, RRData: 14 a 21/MARÇO/2015Informações: Embrapa Roraima

Telefone: (95) 4009-7100Email: [email protected] website: http://www.embrapa.br/solos/eventos/rcc

7. xVIII CuRSO SOBRE MANEJO DE NuTRIENTES EM CuLTIVO PROTEGIDO

Local: Instituto Agronômico – IAC, Campinas, SPData: 6 a 10/ABRIL/2015Informações: Elaine Abramides

Fone: (19) 3243-0396 Email: [email protected] website: http://www.infobibos.com/mncp

11. AGRISHOW 2015

Local: Polo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Centro-Leste, Ribeirão Preto, SP

Data: 27/ABRIL a 1/MAIO/2015Informações: BTS

Fone: (11) 3598-7800Email: [email protected]

website: http://www.agrishow.com.br

8. III SIMPÓSIO MINEIRO DE CIêNCIA DO SOLO Local: Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MGData: 13 a 16/ABRIL/2015Informações: Universidade Federal de Viçosa

Fone: (31) 3899-3202Email: [email protected] website: http://www.smcs.ufv.br

10. 8º SIMPÓSIO NACIONAL DE BIOCOMBuSTíVEIS Local: Centro de Eventos do Hotel Paiaguás, Cuiabá, MTData: 15 a 17/ABRIL/2015Informações: ABQ - Associação Brasileira de Química

Fone: (21) 2224-4480Email: [email protected] website: http://www.abq.org.br/biocom

6. TREINAMENTO EM SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL - T1/2015

Local: Pavilhão de Agricultura, ESALQ/USP, Piracicaba, SPData: 28/MARÇO a 9 /MAIO/2015Informações: FEALQ

Telefone: (19) 3417-6604 Email: [email protected] website: http://www.fealq.org.br

3. SHOW RuRAL COOPAVEL 2015

Local: BR-277, km 577, Cascavel, PRData: 2 a 6/FEVEREIRO/2015Informações: COOPAVEL

Fone: (45) 3225-6885 Email: [email protected] website: http://www.showrural.com.br

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014 27

1. MANuAL DE AGRICuLTuRA DE PRECISIÓN

Editores: Evandro C. Mantovani e Carlos Magdalena; 2014.Conteúdo: Uso del Sistema de Posicionamiento Global en la

caracterización de áreas agrícolas; uso de Sistema de Informaciones Geográficas para espacialización de datos del área de producción agrícola; monitores de rendimiento y mapeo; adquisición remota y agricul-tura de precisión; muestreo para mapeo y manejo de la fertilidad del suelo; técnicas avanzadas de análisis para los cultivos a tiempo real; creación de mapas de manejo; uso de la geoestadística y los sistemas de información geográfica en agricultura con datos espa-ciales; interpretación de informaciones espacializadas y definición de unidades de manejo; aspectos eco-nómicos: análisis de viabilidad de adopción de inter-venciones en los sistemas de producción; monitoreo temporal de los sistemas de producción para la toma de decisiones y mejora; tecnología de precisión para gestión de nutrientes; sistemas de guía por satélite, automatización agrícola y controladores electrónicos; sensores de nitrógeno para la medición y aplicación en el cultivo en tiempo real; monitoreo de desempeño y retorno de las prácticas de la agricultura de precisión.

Preço: gratuito para consulta e downloadNúmero de páginas: 174Editor: EMBRAPA

website: http://www.embrapa.br/agriculturadeprecisao

PuBLICAçÕES RECENTES

3. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS NAS CuLTuRAS AGRíCOLAS

Organizadora: Patricia Andrea Monquero; 2014.Conteúdo: Manejo de plantas daninhas em sistemas conserva-

cionistas; em culturas anuais; nas principais culturas perenes do Brasil; em hortaliças; manejo sustentável de plantas daninhas em pastagens; manejo de plantas daninhas nas culturas da palma-de-óleo e da mamona; na cultura da mandioca.

Preço: R$ 60,00Número de páginas: 320Pedidos: Rima Editora

website: http://www.livrariarima.com.br

4. PEDOLOGIA FÁCIL - APLICAçÕES EM SOLOS TROPICAIS - 4a edição

Autor: Hélio do Prado; 2013.Conteúdo: Geologia e relevo; clima; vegetação natural; física dos

solos; mineralogia das argilas; capacidade de troca de cátions (CTC); perfil de solo (SiBCS, 2006); solos do Brasil; classificação de solos do Brasil, dos Estados Unidos e internacional; solos nas nomenclaturas da SiBCS (2006) e de CAMARGO et al. (1987); solo--paisagem; solos tropicais; levantamento de solos; água no solo; solos do Brasil; ambientes de produção das plantas; influência do manejo nos ambientes de produção de cana-de-açúcar; grupos de manejo; capacidade de uso das terras.

Preço: R$ 100,00 + despesas postaisNúmero de páginas: 284Pedidos: FUNDAG

E-mail: [email protected]

5. BOLETIM 200 – INSTRuçÕES AGRíCOLAS PARA AS PRINCIPAIS CuLTuRAS ECONÔMICAS - 7a edição

Autor: Adriano Tosoni da Eira Aguiar e outros; 2014.Conteúdo: Este livro apresenta recomendações técnicas para o

cultivo de 114 culturas nas condições edafoclimáticas do Estado de São Paulo. São abordados vários itens em cada cultura, destacando-se: cultivares, época de plantio, técnica de plantio, calagem, adubação, tratos culturais, controle de pragas e doenças, colheita e produtividade.

Preço: versão impressa - R$ 70,00versão on line - gratuito para consulta e download

Número de páginas: 452Pedidos: Instituto Agronômico de Campinas – IAC

website: http://www.iac.sp.gov.br

2. GuIA E INTERPRETAçÃO DE ANÁLISE DE SOLO E FOLIAR

Autores: Luiz Carlos Prezotti e André Guarçoni M.; 2013.Conteúdo: Amostragem do solo; análise do solo; calagem; ges-

sagem; manejo da adubação; fertilizantes de liberação controlada; adubação orgânica; tabelas de recomenda-ção de adubação; fertirrigação; condutividade elétrica e salinidade; análise foliar; cálculo de doses de águas residuárias; transformação de unidades; tabela periódica.

Preço: R$ 21,18Número de páginas: 104Pedidos: Incaper

website: http://www.incaper.es.gov.br

6. O IMPACTO DO uSO DA TERRA NA SuSTENTABILIDADE DOS BIOCOMBuSTíVEIS(Documentos, 347)

Autor: Décio Luiz Gazzoni; 2014.Conteúdo: I. O conceito de mudança indireta do uso da terra e suas

implicações: introdução; demanda, preços e mudança no uso da terra; os modelos para cálculo das emissões por ILUC; contexto e lógica.; a formulação teórica e a indução de normas; eficiência energética e emissões: estudos e controvérsia; crítica e polêmica; implemen-tação dos regulamentos; padrões de combustíveis renováveis da EPA; reações; sistema de Certificação. II. Cotejando o ILUC com as estatísticas de produção e uso da terra: contexto; o recurso terra; a produção de biocombustíveis; o uso da terra; análise da série histórica vis a vis modelos preditivos de ILUC.

Preço: gratuito para consulta e downloadNúmero de páginas: 82Pedidos: Embrapa Soja

website: http://www.embrapa.br/soja

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28 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

• Agrium Inc.• Arab Potash Company• Belarusian Potash Company• BHP Billiton• CF Industries Holding, Inc. • Compass Minerals Plant Nutrition• International Raw Materials Ltda.• Intrepid Potash, Inc.• K+S KALI GmbH• The Mosaic Company• OCP S.A.

• PhosAgro• PotashCorp• Qatar Fertiliser Company• Shell Sulphur Solutions• Simplot• Sinofert Holdings Limited• SQM• Toros Tarim• Uralchem• Uralkali

MEMBROS DO IPNI MEMBROS AFILIADOS AO IPNI

• Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA)• Arab Fertilizer Association (AFA)• Canadian Fertilizer Institute (CFI)• International Fertilizer Industry Association (IFA)• International Potash Institute (IPI)• The Fertiliser Association of India (FAI)• The Fertilizer Institute (TFI)

INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTEAvenida Independência, nº 350, Edifício Primus Center, salas 141 e 142

Fone/Fax: (19) 3433-3254 / 3422-9812 - CEP 13416-901 - Piracicaba (SP) - Brasil

LUÍS IGNÁCIO PROCHNOW - Diretor, Engo Agro, Doutor em AgronomiaE-mail: [email protected] Website: http://brasil.ipni.net

VALTER CASARIN - Diretor Adjunto, Engo Agro, Engo Florestal, Doutor em Ciência do SoloE-mail: [email protected] Website: http://brasil.ipni.net

EROS FRANCISCO - Diretor Adjunto, Engo Agro, Doutor em AgronomiaE-mail: [email protected] Website: http://brasil.ipni.net

Ponto de Vista

Eros Francisco

Em 2015 será comemorado o Ano Mundial dos Solos. A iniciativa, liderada pela FAO – Food and Agricul-ture Organization –, a Organização das Nações Uni-

das (ONU) para Alimentação e Agricultura, apresenta o tema Solos saudáveis para a segurança alimentar mundial, com o objetivo de despertar a consciência da sociedade sobre a importância do manejo sustentável deste recurso natural para a vida humana. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS) promoverá, em parceria com outras instituições, um seminário internacional para mobilizar a sociedade brasileira em torno da importância dos solos. Ademais, a SBCS continuará promovendo e apoiando diversas atividades educativas para divulgar o conhecimento sobre os solos e, consequentemente, a sua importância.

Mas, afi nal, o que é o solo, para que serve e por que estudá-lo? Bem, Nyle Brady e Ray Weil, no prefácio da 13ª edição do livro The Nature and Properties of Soils, iniciam afi rmando que “o solo é um dos mais importantes recursos naturais, e seu entendimento é chave para o sucesso harmonioso de qualquer uso humano da terra”. A defi nição de solo como “um corpo tridimensional vivo, composto por material sólido inorgânico e orgânico, que recobre a superfície terres-tre” agrega as cinco funções básicas do solo: meio para o crescimento de plantas, regulação do suprimento hídrico, reciclagem de materiais, habitat para microrganismos e substrato para a engenharia. As plantas encontram no solo um meio de sustentação física que lhes providencia água, ar, nutrientes, regulação térmica e mitigação de toxinas. O solo também participa do ciclo natural da água, agindo como uma grande

“esponja” que absorve a água da chuva, armazenando-a e regulando o suprimento de lagos, rios, estuários e aquíferos. Além disso, o solo conserva a biodiversidade, acolhendo microrganismos pertencen-tes a milhares de espécies, bem como organismos maiores, como vermes, minhocas, formigas e cupins, que trabalham como uma grande "equipe" na decomposição de resíduos vegetais e animais, que serão reciclados como nutrientes de plantas e diversos outros compostos. Finalmente, o solo serve como substrato básico para as atividades da engenharia civil, na construção de casas, prédios, estradas, barragens e hidrelétricas, dentre outras.

Além de sua importância, é preciso alertar a sociedade sobre a fragilidade dos solos. Atualmente, segundo a FAO, 33% dos solos do planeta estão degradados ou em processo de degradação. Perdem-se, anualmente, milhões de toneladas de solos férteis nos diversos sistemas de cultivo, provocando o seu empobrecimento e o assoreamento e poluição dos recursos hídricos.

Em 2050, segundo estimativas, habitarão na Terra mais de 9 bilhões de pessoas, que dependerão do solo como principal fornecedor de alimentos, bens e serviços e cuja sustentabilidade deverá ser respeitada para as próximas gerações. É necessária a conscientização da sociedade quanto aos benefícios que os solos oferecem e em relação à necessidade de conhecê-los para melhor explorá-los. Mais informações sobre o Ano Mundial dos Solos podem ser encontradas nos sites da SBCS (www.sbcs.org.br) e da FAO (http://www.fao.org/soils-2015).

E mãos à terra...

2015 – ANO MUNDIAL DOS SOLOS