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Boletim Informativo Edição nº 06 - Julho 2015 www.mdr.gov.cv www.governo.gov.cv INFOMDR Por um Desenvolvimento Rural Global, Harmonioso e Sustentado. Fazer do Mundo Rural uma Opção. Ponta Belém, Cidade da Praia, Santiago, Cabo Verde - C.P.: 115 Tel: +238 261 57 13 / IP: (333) 7515 / Fax: +238 261 40 54 - Email: [email protected] G e s t ã o d e ÁGUA M ob i l i za ç ã o & Bacias Hidrográficas em Cabo Verde Mudanças Climáticas e Gestão de água SONERF Uma empresa Pública-privada Políticas e Estratégias Mercado de água ÁGUA “A água é escassa e deve ser poupada para outros usos” A água não é um bem inesgotável. Globalmente é obrigatório planear e gerir os recursos hídricos, tendo em conta a diminuição da precipitação assinalada nos últimos tempos e que dificulta a disponibilidade face a necessidade de água. Nota-se claramente a sua importancia e principalmente a necessidade duma gestão mais eficiente para a agricultura de regadio...

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InfoMDR é um boletim do Ministério do Desenvolvimento Rural de Cabo Verde que fala sobre os trabalhos desenvolvidos em Cabo Verde. Este numero trata-se da Mobilização e Gestão de Água, mostrando os trabalhos desenvolvidos nesse sector, através de obras estruturantes de mobilização de água, de Barlavento a Sotavento, tudo em prol de uma agricultura mais dinâmica, mais rica, mais eficaz, obtendo mais diversidade, variedade, qualidade, resultado de uma investigação ao serviço do agro-negócio.

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Boletim Informativo

Edição nº 06 - Julho 2015

www.mdr.gov.cv

www.governo.gov.cv

INFOMDR

Por um Desenvolvimento Rural Global, Harmonioso e Sustentado.

Fazer do Mundo Rural uma Opção.Ponta Belém, Cidade da Praia, Santiago, Cabo Verde - C.P.: 115 Tel: +238 261 57 13 / IP: (333) 7515 / Fax: +238 261 40 54 - Email: [email protected]

Gestão de

ÁGUAMobilização &

Bacias Hidrográficas em Cabo Verde

Mudanças Climáticas e Gestão de água

SONERFUma empresa Pública-privada

Como foi? e onde estamos?

Políticas e Estratégias Mercado de água

ÁGUA

“A água é escassa e deve ser poupada para outros usos”A água não é um bem inesgotável. Globalmente é obrigatório planear e gerir os recursos hídricos, tendo em conta a diminuição da precipitação assinalada nos últimos tempos e que dificulta a disponibilidade face a necessidade de água. Nota-se claramente a sua importancia e principalmente a necessidade duma gestão mais eficiente para a agricultura de regadio...

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Abordar o tema “mobilização da água em Cabo Verde”, pressupõe forçosa-

mente, falar das infra-estruturas hidráulicas, seja qual for o destino que se quer dar à água mobili-zada.

Importa, desta forma, definir o conceito de infra-estrutura hidráulica (de rega) para melhor se compreender o esfor-ço que é despendido para produção, retenção, captação,

mobilização, transporte e disponibilização da água num país com as caracterís-ticas climáticas de Cabo Verde.

Assim, devemos entender por infra-estrutura hidráulica, toda a obra ou con-junto de obras e tecnologias que têm por finalidade produzir, reter, captar, mobilizar, transportar e disponibilizar água para a rega;

Com esta definição, podemos citar alguns, de entre vários exemplos de infra-estruturas hidráulicas: Centrais Dessalinizadoras, Barragens, Diques de captação, Perfurações, Reservatórios, Poços, Nascentes, Tanques, etc. Estas podem ser consideradas infra-estruturas front office;

A mobilização e transporte de água exigem ainda outras infra-estruturas não menos importantes, embora podendo ser menos custosas em certos casos. São citados como exemplos, as tubagens, as levadas, os sistemas eléctricos de bombagem, as bombas, entre outras infra-estruturas. Este segundo nível de infra-estruturas pode ser designado de infra-estruturas do back Office, tendo em conta que o investimento nestas infra-estruturas pressupõe a existência da água numa das infra-estruturas do front office.

Nenhuma entidade, seja ela pública ou privada, estaria a resolver o problema de disponibilização e abastecimento da água, na ausência de uma destas duas categorias de infra-estruturas. Porém, não se pode inferir que o problema fica automaticamente resolvido existindo estas infra-estruturas. Vencido o desafio da criação e disponibilização das infra-estruturas hidráuli-cas, o passo seguinte deverá ser a garantia da sua operacionalização na lógica de sustentabilidade, de modo a evitar que se continue ”ad aeternum” a investir nelas sem contudo aumentar as suas eficácia e abrangência.

A gestão das infra-estruturas hidráulicas é, nesta ordem de ideia, um outro desafio tão importante quanto os investimentos nelas efectuados, de tal forma que negligenciar este aspecto é pôr em causa a sua existência.

O princípio de que deverá nortear a gestão sustentável das infra-estruturas hi-dráulicas num país com enormes desafios para garantir o seu próprio desen-volvimento, como é o caso de Cabo Verde, é o do utilizador pagador. Para isso, o estudo e a definição do tarifário que remunere o capital investido nas infra-estruturas deve ser outro desafio a vencer no quadro do processo de refor-ma do sector da água e saneamento.

A política tarifária a ser implementada poderá fazer a distinção da água para os diferentes usos, podendo inclusive haver subvenções por parte do governo mas sem nunca perder de vista que quem usa deve pagar, para que se garanta a sustentabilidade das infra-estruturas hidráulicas.

Barragem

Dique

Perfuração

Reservatório

infra-estruturas front office

Engª Eva Verona Teixeira OrtetMinistra do Desenvolvimento Rural - 2011 - ...

EDITORIAL

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Mobilização e Gestão de água para a agriculturaOntem e Hoje

O problema da disponibilidade hídrica nas regiões semi-áridas é fator limitati-vo para a garantia das condições de so-brevivência e bem-estar das suas popu-lações. Historicamente, o governo vem atuando com o objetivo de implantar infraestruturas capazes de disponibi-lizar água em quantidade e qualidade suficientes para garantir o abasteci-mento humano e animal e viabilizar a irrigação.

Em Cabo Verde não existe cursos de água superficial permanentes. A água superficial surge por ocasião das chu-vas durante algumas horas nas princi-pais ribeiras. As exigências gerais do uso da água (uso doméstico, irrigação e indústria) fazem com que a questão da sua gestão eficiente esteja sempre em cima da mesa, esta alías, continua a ser uma das prioridades do Gover-no, uma vez que grande número de fa-mílias dependem directamente desse sector. Em conversa com João Pereira Silva, uma das primeiras pessoas a servir como Ministro do Desenvolvimento Rural pós-independência, constata-mos que nesse período já havia a preo-cupação de se fazer o uso eficiente da pouca água que existia e para regula-mentar a maneira como ela era usada,

trabalhou-se na criação do Código de Água da República de Cabo Verde (adoptado em 1984).

Esse código estabeleceu as bases ge-rais do regime jurídico de propriedade, protecção, conservação, desenvolvi-mento e uso dos recursos hídricos de Cabo Verde. Defendia que a água em toda e qualquer forma, pertence ao Do-mínio Público do Estado e devia ser explorada e gerida pela Unidade Ad-ministrativa Central.

Silva garante que na altura depara-vam-se com muitos constrangimentos como o financiamento ou a inexistên-cia de projectos e por isso a preocupa-ção prioritária era a de conservação do solo e da água. Com a ajuda do PNUD fez-se na altura várias campanhas de prospeção de águas subterrâneas para a mobilização de mais água para o sec-tor agrícola.

No que diz respeito aos ganhos do país, João Perreira Silva considera que o sector hortícola tem registado uma boa evolução, com ganhos visíveis no au-mento da produção e da produtividade motivando novos tipos de agricultores e uma nova agricultura.

“Tivemos uma evolução notável no que diz respeito à utilização de rega gota-a-gota. A partir de uma certa al-tura passamos a ter agricultores-em-

O sector agrário cabo-verdiano foi sempre caracterizado por uma grande vulnerabilidade, tendo em conta a escassez dos recursos naturais (água e solo) o sistema de exploração vigente (maioritariamente voltado para uma agricultura de subsistência) e as condições climáticas preva-lecentes na zona Saheliana, na qual Cabo Verde está inserido.

Ex-Ministro, Engº João Pereira SilvaMinistério do Desenvolvimento Rural - 1977 - 1982 Ministério do Desenvolvimento Rural e Pesca - 1982 - 1991

Diques

Sucalcos

Banquetas

Transporte de pessoal “Trabalhadores”

HISTORIAL

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presários. Já temos al-guns jovens que fizeram licenciatura e muitos, não querendo engrossar a lista dos desemprega-dos do país, tem optado

pela prática da agricultura”, afirmou João Pereira Silva.

“No passado quando se aproximava o mês de Abril/Maio não encontráva-mos muitos produtos que hoje temos a oportunidade de conseguir. Basta ir-mos ao mercado da Praia, nesta altu-ra, para notar-mos a grande evolução e quanto ganhamos com o regadio”, disse.

Questionado sobre o principal desafio para a gestão da água no país, Silva acredita que é a “cultura” do cabo-ver-diano. “O cabo-verdiano não tem cul-tura do homem do deserto. Temos que formar uma nova sociedade de gente adaptada. Aprender a aproveitar cada gota de água com efeciência.”

Acredita ainda que a construção de mais barragens para a mobilização de mais água para o sector agrícola seja prioritário. João confessa que não é muito a favor das campanhas de salvamento, antes defende que, “é preciso que o cam-ponês adapte-se às capacidades de alimentação que tem, fazendo uma exploração económica que lhe permita abater um animal a tempo de levar ao mercado, em vez de ter animais a mor-

rer em épocas de crise.”No entando Silva acredita que com o passar dos tempos há-de ver o cabo-verdiano aproveitar cada gota de água disponível e evitar o desperdício desse bem tão precioso. Hoje não é diferente. O Governo tem apostado fortemente, nesta VIII Le-gislatura, na implementação de um programa de mobilização de água e ordenamento das bacias hidrográfi-cas. A título de exemplo, no ano de 2013 foram concluídas e inauguradas, mais 3 novas barragens em Santiago: Sa-lineiro, Faveta e Saquinho. Em con-junto, estas três barragens permitirão disponibilizar mais cerca de 1.733.212 m³/ano, para irrigar um potencial de cerca de 185 ha de novas áreas.

Em 2014 foram concluídas e inaugu-radas as barragens de Canto Cagarra em St. Antão e a de Figueira Gorda em Santiago e em 2015 a barragem de Fajã em S. Nicolau. Em construção avan-çada estão as barragens de Flamengos e de Principal, todas na ilha de Santia-go, o que significa que depois de esta-rem prontas o país terá nove barragens. De acordo com a Ministra do Desen-volvimento Rural, Eva Ortet mais de 78% do Programa de Investimento do Ministério do Desenvolvimento Ru-ral atualmente vai para o programa de mobilização de água. E nestes últimos cinco anos já forma investidos mais

de 7 milhões de contos em projetos de mobilização de água para agricultura.

Com o propósito de mobilizar e au-mentar a disponibilidade de água para a rega, o Governo tem em curso, com o apoio financeiro do mecanismo “Fa-cilidade Africana para a Água”/BAD, o estudo para análise de 21 poten-ciais localizações de novas barragens. Como resultado, serão elaborados 10 ante-projectos de barragens, de entre os quais 5 beneficiarão de projectos detalhados e dossier do concurso.

Está ainda em andamento vários estu-dos de novas BH, nomeadamente a BH de Ribeira Grande de Santo Antão que tem sete sub bacias, a BH do Calhau na Boavista, a BH de S. Joao Baptista no Concelho de Ribeira Grande de Santia-go, as BH de S. Vicente e Ribeira das Patas, no concelhio do Porto Novo. Na ilha Brava esta-se à procura de finan-ciamento para 3 BH.

Para a Ministra Eva Ortet “é um previlégio trabalhar para debelar o pro-blema de escas-sez de recursos hídricos, um

dos principais problemas que Cabo Verde enfrenta” e que o Governo vai continuar a apostar na mobilização de mais água para o sector.

HISTORIAL

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Eva OrtetMinistra do Desenvolvimento Rural

Cabo Verde é um país arquipelágico e Saheliano e como tal a disponibilidade do recurso água em

quantidade e qualidade constitui um perma-nente desafio do desenvolvimento do país! E é por isso que esta problemática tem sido objecto de uma luta contínua dos sucessi-vos Governos, particularmente no que diz respeito à água para agricultura, tendo nos últimos anos investido fortemente na

construção de infra-estruturas para a mobilização de mais água e em téc-

nicas e tecnologias de poupança de água. Contudo o país en-

frenta ainda grandes desafios.

GCI – Uma das grandes apostas do Governo para esta VIII Legislatura foi sem dúvida, na implementação de um programa de mobilização de água e ordenamento das ba-cias hidrográficas. O que nos pode dizer, em traços gerais, sobre este programa? Como vem sendo im-plementado, resultados já alcança-dos…

Eva Ortet – penso que as grandes apostas realizadas ao nível de infraes-truturas de mobilização e retenção de água e solo foram as opções acerta-das para o desenvolvimento do setor agrícola. O impacto socioeconómico da Barragem do Poilão marcou uma

viragem histórica na abordagem da gestão de águas superficiais no país e foi determinante para a estruturação de um programa bastante ambicio-so de mobilização de água em todo o país. Em 2013 foram concluídas e inauguradas, mais 3 novas barragens em Santiago: Salineiro, Faveta e Sa-quinho. Em conjunto, estas três bar-ragens vão permitir disponibilizar mais cerca de 1.733.212 m³/ano, para irrigar um potencial de cerca de 185 ha de novas áreas. Em 2014 foram concluídas e inauguradas as barragens de Canto Cagarra em St. Antão, a de Figueira Gorda em Santiago e a barra-gem de Banca Furada em S. Nicolau,

encontrando-se em fase avançada de construção, as barragens de Flamen-gos e de Principal, todas na ilha de Santiago, o que significa que breve-mente teremos concluído a construção de nove barragens no país.

GCI – Além das Barragens, em que outras infraestruturas o Governo tem apostado para a mobilização de mais água para a agricultura?

Eva Ortet - Ainda nesse domínio merece destaque a construção de di-ques de grande porte, dos quais foram construídos 25 na ilha do Maio e 7 na Boavista, potencializando a recarga dos lençóis freáticos nessas ilhas.Paralelamente implementámos um extenso programa de perfurações em todas as ilhas do país; mais de cem perfurações foram realizadas, com uma percentagem de furos produtivos

ENTREVISTA

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acima de 70%. Muitos já foram equi-pados embora ainda falta um número significativo, mas estamos a mobili-zar mais financiamento para equipar os restantes. Recentemente equipá-mos mais furos na ilha do Maio e vão ser equipados mais cinco furos nas ribeiras de Flamengos e Principal. GCI - Uma outra preocupação do Governo tem sido com o Ordena-mento das Bacias hidrográficas. O que é que tem sido feito nesse domínio?

Eva Ortet - Relativamente à com-ponente, Ordenamento de Bacias Hi-drográficas, intervenções consisten-tes vêm sendo levadas a cabo neste domínio e para além das Bacias Hi-drográficas que já receberam obras de ordenamento e requalificação em várias ilhas do país, nas legislaturas anteriores, estão a ser desenvolvidas acções, de forma integrada, com fi-nanciamento do BADEA, em cinco bacias hidrográficas, designadamente em St. Antão nas bacias de Alto Mira, concluídas e inauguradas, e na Ribei-ra da Torre, em fase de conclusão; em S. Nicolau, na Ribeira da Prata, também concluídas e inauguradas e finalmente em Santiago nas bacias hidrográficas de Flamengos e Princi-pal já em fase avançada de execução. Essas intervenções irão contribuir para o ordenamento de 315 ha de pe-rímetros irrigados, beneficiando cerca de 1560 famílias no conjunto dessas cinco bacias. Além disso, através do orçamento de contrapartida nacional, são executados obras de controlo de erosão, para protecção e recuperação de áreas degradadas em mais de 400 ha, através das técnicas de conserva-ção de solos e água (construção de banquetas e caldeiras, sementeira de feijão congo, reflorestação, plantação de árvores fruteiras, de entre outras).

GCI – Cada vez mais se ouve falar em Cabo Verde do uso de energias renováveis para baixar o custo de produção na agricultura. Qual é a

aposta do Governo nesse sentido?

Eva Ortet - Realmente o Ministério está a acompanhar as inovações do sector energético, através da introdu-ção de energias renováveis na bomba-gem de água, visando a redução dos custos da água para rega. Na ilha do Fogo, tendo em conta o seu acentuado relevo e consequentemente os eleva-dos custos energéticos que se verifi-cam no processo de bombagem de água, a ilha foi contemplada com um novo modelo, a primeira experiência dessa inovação, através de instalação de uma mini central fotovoltaica de 180,6 kW, na zona de Cutelo Jardim, no Concelho de São Filipe, que tem por objectivo a produção e injecção da energia na rede pública gerida pela ELECTRA e em contrapartida con-some-se essa energia nas estações de bombagem localizados nos furos de N. Sª. do Socorro, de Capela N. Sª. Socorro e de Djéu de Pena. Várias outras perfurações realizadas já foram equipadas com energias re-nováveis, e vamos continuar a equi-par, com introdução de energia foto-voltaica no processo de bombagem, permitindo assim reduzir os custos energéticos nos custos da água para rega.

De salientar igualmente os projectos de captação e adução de água nas ilhas de Santiago, Fogo e St. Antão, também com introdução de energia renovável. De destacar na ilha de St. Antão os sistemas de captação e adu-ção de água em Fajã de Maurícia, Fajã de Janela e Fontaínhas, que finalmen-te colocaram um fim no desperdício de água em direcção ao mar nas duas últimas localidades referidas.Todas essas intervenções permitiram mobilizar água para irrigar cerca de 3895 ha, sendo que a meta da legisla-tura era de 3070 ha. De salientar que 38% dessa área está sendo irrigada com rega gota a gota, contra os 16,4% que tínhamos no início da década de 2000.

ENTREVISTA

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GCI – Qual é o valor do investi-mento realizado nesse programa, até ao momento?

Eva Ortet – mais de 78% do Progra-ma de investimento do Ministério do desenvolvimento Rural vai atualmen-te para o programa de mobilização de água. O Governo já investiu, nestes últimos cinco anos mais de 7 milhões de contos em projetos de mobilização de água para agricultura.

GCI – Apesar desse forte investi-mento na mobilização de água, o sector agrícola enfrenta um certo “stress hídrico”, chamemos-lhe assim, na sequência do ano pou-co chuvoso que tivemos no ano passado. Que medidas vêm sendo implementadas de modo a manter a produção e a produtividade já al-cançadas?

Eva Ortet – É verdade que regis-tamos no final do ano 2014 uma di-minuição considerável nas chamadas cultivos de regadios temporários que são parcelas cultivadas com água pro-veniente das cheias, do escoamento superficial. A implementação do pla-no de mitigação do efeito do mau ano agrícola, com acento nos investimen-tos em equipamentos de mais furos, limpeza de poços e galerias, adução de novos sistemas de irrigação, conti-nuidade no programa de massificação de rega gota a gota para melhorar o aprovisionamento de água aos agri-cultores, permitiram a maioria dos agricultores produzirem sem grandes sobressaltos. Isto não quer dizer que não houve parcelas que ficaram sem cultivos por causa do abaixamento acentuado do nível de água. Mas de uma forma geral, a produção horto-frutícola seguiu o seu percurso. E os resultados estão à vista nos mercados, onde os produtos abundam, os preços dos produtos são ainda praticamente os mesmos .

O ano de 2014 veio evidenciar a im-portância das infraestruturas de mo-

bilização de água realizadas pelo Governo e confirmar que se tratou de uma boa aposta.

GCI – Após um ciclo de cinco-seis anos de boas precipitações, quase que nos esquecemos que somos um país Saheliano. Que lições deve-mos tirar desta situação?

Eva Ortet – Eu penso que devemos continuar a investir nos projectos de adaptação às mudanças climáticas; in-vestir na mobilização de mais água de escoamento superficial e subterrâneo e apostar nas culturas de regadio, mas também investir mais na melhoria da gestão dos recursos hídricos;

Por outro lado, os criadores terão de investir seriamente, na produção e recolha de pastos e apostar mais na pecuária como fonte de rendimento, mas uma pecuária também ela cada vez mais voltada para a satisfação dos diferentes mercados do país e não apenas como uma actividade de sub-sistência. Mas para isso terão de di-mensionar os seus efectivos mais de acordo com a sua capacidade de os alimentar de forma adequada. Menos cabeças, mas permitindo mais rendi-mento.

GCI – No domínio da gestão da água para a agricultura, quais os principais problemas que ainda subsistem em Cabo Verde e que medidas de política o Ministério tem adotado para minimiza-los?

Eva Ortet – Ainda muitos agriculto-res desperdiçam enormemente a água. O sistema inadequado de rega ainda subsiste para a maioria das culturas irrigadas, apesar dos avanços con-sideraveis registados nestes últimos anos. A questão tarifa da água para agricultura é considerado um entra-ve à melhoria na sua gestão. No con-texto da reforma do sector de água e saneamento, em curso, estudos estão sendo levados a cabo para a definição de um modelo de gestão da água para

ENTREVISTA

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agricultura que possa garantir a sus-tentabilidade, quer do recurso água, que como todos sabem é escasso no nosso país, quer a sustentabilidade da actividade agro-pecuária.

O MDR tem defendido mais investi-gação para apoiar os agricultores com propostas mais assertivas de cultivo, a massificação de rega gota-a-gota, a introdução de culturas hidropónicas, são de entre outras, as medidas que vêm sendo implementadas pelo MDR.

GCI – Que resultados visíveis po-dem ser apontados, como fruto da implementação dessas políticas?

Eva Ortet – Assistimos a uma mas-sificação de rega gota-a-gota; a in-trodução cada vez mais de sistemas de bombagem que incorporam equi-pamentos de energias renováveis, permitindo assim uma gestão mais sustentável dos recursos hídricos; as-sistimos igualmente à escolha de cul-turas mais rentáveis e competitivas em relação ao fator água.

GCI – Quando falamos em gestão de água, nem todos estão satis-feitos como ela vem sendo gerida e é mais ou menos consensual que é necessário trabalharmos para mel-horar a eficácia e eficiência dessa

gestão. Quais os desafios para os próximos tempos, nesse domínio?

Eva Ortet – Se a mobilização de água constitui ainda um grande desa-fio e prioridade para o país, a sua ges-tão correta e eficiente constitui uma preocupação acrescida.

A seca de 2014 veio mostrar-nos a nossa fragilidade no uso eficiente dos recursos hídricos. Daí a nossa contí-nua aposta em apoiar os agricultores nos projectos de massificação de rega gota a gota. As novas áreas de expan-são da agricultura irrigada, particular-mente nas áreas de influência das bar-ragens, só poderão ser cultivadas com sistemas de rega gota a gota.

Por outro lado a investigação apli-cada, através do INIDA, vem traba-lhando para dar soluções técnicas aos agricultores, quer em termos de reco-mendar sistemas de rega adequados em função do tipo de cultura, quer também no desenvolvimento de va-riedades cada vez melhor adaptadas às nossas condições edafo-climáticas.Um outro desafio prende-se com en-contrarmos um modelo de gestão mais adequado, adaptado à nossa rea-lidade e que seja o mais consensual possível, que possa garantir a susten-tabilidade quer do recurso água, quer

da actividade agro-pecuária, e que esta actividade possa continuar a dar o seu contributo na redução da pobre-za, na contínua melhoria da segurança alimentar e nutricional, enfim no cres-cimento económico do país.

GCI – Considerando que a mo-bilização e a gestão de água con-tinuam sendo uma prioridade do Governo, que projectos estão em carteira para os próximos tempos?

Eva Ortet – É verdade que a mobi-lização de água e sobretudo sua ges-tão constituem ainda prioridades para Cabo Verde. Ainda com o propósito de mobilizar e aumentar a disponibilidade de água para a rega, está em curso, com o apoio financeiro do mecanismo “Fa-cilidade Africana para a Água”/BAD o estudo para análise de 21 poten-ciais localizações de novas barragens. Como resultado, serão elaborados 10 ante-projectos de barragens, de entre os quais 5 beneficiarão de projectos detalhados e dossier de concurso. Pro-postas alternativas de valorização dos restantes ante-projectos, serão igual-mente realizados. O MDR tem em andamento vários estudos de novas BH, nomeadamen-te a BH de Ribeira Grande de Santo Antão que tem sete sub bacias, a BH do Calhau na Boavista, a BH de S. Joao Baptista no Concelho de Ribei-ra Grande de Santiago, as BH de S. Vicente e Ribeira das Patas, no con-celhio do Porto Novo. Na ilha Brava estamos à procura de financiamento para as obras de ordenamento das três BH (Fajã de Água, Sorno e Ferreiros), cujos estudos foram já concluídos. Vai arrancar para breve a prospeção de algumas BH na ilha do Fogo. Fazer parte de um Governo que teve a visão, a preocupação e a iniciativa de trabalhar seriamente para debelar um dos principais problemas que Cabo Verde enfrenta, isto é, a escassez de recursos hídricos, e que investiu como nenhum outro Governo na mobiliza-ção de água, tanto para abastecimento da população, como para agricultura é um orgulho e um privilégio.

ENTREVISTA

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Historial INERF-SONERF

A empresa Inerf foi criada no início dos anos 90, tendo passado por várias tentativas de reforma, sendo a pri-meira em 2002 e a última em 2006, que coincidiu com a reforma antecipada de alguns trabalhadores.

Em 2013 o Governo criou a empresa público-empre-sarial SONERF – Sociedade Nacional de Engenharia Rural e Florestas – com o intuito de lhe tornar uma empresa mais rentável e auto sustentada usufruindo de uma nova componente (social) direccionada para a gestão das infraestruturas hidráulicas juntando-se aos componentes já existentes da floresta e construção de infraestruturas.

No entanto, só um ano depois – 2014, pode-se constatar a efectiva instalação desta nova empresa com novas refor-mas, a nível de estruturas. Para isso, conforme Alcides Horta, Presidente do Conselho de Administração da SONERF, “esta nova em-presa trabalhou, essencialmente, no sentido de dotá-la de um

alvará que lhe permita concorrer para as obras públicas e privadas”. Aliás, acrescenta “o alvará foi a condiçao sine qua non para obter mecanismos de auto-sustentação da mesma”. E foi

neste contexto que nos primeiros momentos de sua existência a SO-NERF tem trabalhado: na consumação destas reformas tanto em ter-mos de estrutura como de funcionamento, mais concretamente na ges-tão dos recursos huma-

nos.

Actualmente, com o alvará em mãos e com a alteração estatutária conse-guida, fruto de toda a organização da casa nas suas diversas vertentes, a So-nerf tem agora a liquidação das dívi-das do passado, herdadas do INERf, como principal obstáculo. Aliás, esta questão tem sido o seu ponto fraco em alguns concursos. Porém, está-se no processo negocial com o INPS no sentido da empresa estar em con-dições de participar activamente nos concursos públicos lançados.Nestes primeiros momentos a empre-sa tem trabalhado mais a nível das obras do Ministério do Desenvolvi-mento Rural mas com esta nova di-mensão tenciona conseguir obras de outras entidades públicas e privadas, pois segundo o seu Presidente estão técnica, material e humanamente ha-bilitados para realizar tais obras.

A SONERF que “sonha” com o mercado da manutenção dos edifícios públicos já propôs ao MDR a alteração do seu estatuto para, efectivamente, conseguir esta valência.

Dr. Alcides Horta

Presidente do Conselho de Administração

SONERF

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Lista de equipamento: CAT-D6R, HITACHI, SONDA INDIAN

A gestão dos recursos hídricos

No que diz respeito aos recursos hí-dricos, a SONERF está ligada mais à manutenção e reparação das infraes-truturas. Entretanto, a lógica de ges-tão mais operacional da água lhe está também subjacente no estatuto.

Segundo Al-cides Horta, a SONERF não deveria ser im-cumbida da ges-tão micro de água: da sua dis-tribuição, da sua

cobrança ou de verificação de condu-

tas, mas sim centrar no seu negócio mais essencial que é a construção das infraestruturas e sua manutenção no sentido de conservação e reparação. A primeira designação acabaria por con-trariar a ideia de reforma da empresa em termos de recursos humanos pois exigeria mais mão-de-obra e perderia a eficiência.

Sobre este assunto será feito um fórum com o intuito de discutir um possível plano estratégico no sentido de encon-trar uma instituição melhor posiciona-da para a gestão das águas de rega e o seu controlo efectivo.

DesafiosPara o PCA da empresa um dos principais desafios da mesma daqui para frente será garantir a sua sustentabilidade financeira com sistemas de financiamento através de utilizadores pagadores no que toca aos recursos hídricos. Conforme disse “a água no sector agrícola tem sido encarada até agora como serviço pú-blico”, por isso os custos não tem sido refletidos na facturação.

Outro desafio da SONERF é trabalhar a nível interno, concretamente a nível dos recursos humanos, na montagem de algumas estruturas internas que favo-reçam a motivação dos funcionários.

A nova configuração da empresa aspira conquistar méritos e a nós só resta desejar prosperidade.

LISTA DE OBRAS

1. Reservatórios e Redes de Adução / Distribuição;

2. Furos e Equipamentos (Bombas e Painéis Solares);

3. Poços de Agua;

4. Perfuração (Com a Maquina Especi-fica Sonda);

5. Infraestruturação nas Barragens, Captação, Vedação de Perímetros de Segurança exploração de Agua;

6. Aluguer de Maquinas e Equipamen-tos para:• Escavação de Terrenos• Transporte e Fornecimento de

Materiais;

7. Elaboração de Projeto Hidráulicos;

8. Oficina Mecânica, Manutenção e Reparação de Viaturas;

9. Serralharia de Ferro / Estrutura Metálica;

SONERF

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LISTA DE OBRASRecursos hídricos e mudanças climáticasSituação de Cabo Verde

As mudanças climáticas consti-tuem, actualmente, um factor de grande influência para a agri-cultura uma vez que os seus im-pactos são nefastamente visíveis no sector em Cabo Verde e no mundo.

Em todas as regiões do mundo exis-te uma grande preocupação sobre os impactos das mudanças climáticas na agricultura, por ser um fenómeno que se manifesta através do aumento da concentração dos Gases do Efeito Es-tufa, da temperatura e da frequência de ocorrência de fenómenos climáti-cos extremos.

Os impactos das mudanças climáti-cas na agricultura manifestam-se na segurança alimentar, em um mundo que apresenta um crescente aumento da população e uma demanda por ali-mentos de uma população de mais de 800 milhões de desnutridos (fonte: Site da campanha “Juntos Contra Fome” http://www.juntoscontraafome.cplp.org/#!seguranca-alimentar/c1c7j)

Nas últimas três décadas a população mundial apresentou um acentuado aumento e a média per capta de con-sumo de alimento aumentou de 2400 para 2800 calorias.

Dessa forma, o estudo e a quantifica-ção dos impactos das mudanças cli-máticas na agricultura é de fundamen-tal importância para o mundo e em particular para Cabo Verde, que tem a sua economia profundamente depen-dente do agronegócio, da agricultura familiar em particular.

Em Cabo Verde, tendo em considera-ção a aleatoriedade das precipitações, principalmente, as chuvas de Dezem-bro de 2013, que asseguraram um

bom cultivo de feijão na época, pode-se afirmar que os efeitos desta mudan-ça estão a ser sentidos.

No entanto, diante deste cenário de mudanças climáticas a agricultura vê-se diante de três desafios:

• Adaptar-se às mudanças climáticas • Reduzir a emissão de Gases do Efeito

Estufa • Aumentar a produtividade

Segundo o IPCC (Painel Intergover-namental sobre Mudanças Climáti-cas), órgão das Nações Unidas res-ponsável por produzir informações científicas sobre os efeitos das mu-danças do clima, as regiões pobres da África, América Latina e Ásia são as que têm menor oportunidade de adap-tação e portanto, as mais vulneráveis às mudanças na dinâmica das chuvas (com enchentes e secas), à diminuição na produção de alimentos, inclusive os oriundos da pesca, à perda de bio-diversidade e aos efeitos na saúde das pessoas. As localidades onde há mais pobreza estão ainda mais susceptíveis aos efeitos de mudanças climáticas.

Independentemente das tentativas actuais de reduzir a emissão de ga-ses de efeito estufa e de se abrandar o aumento da temperatura a média global, a mudança climática é inevitá-vel. Prevê-se que a mudança climática tenha consequências de amplo alcan-ce em muitos aspectos da sociedade, desde a disponibilidade de água afec-tando a produtividade agrícola. Estas questões terão profundas implicações sobre as populações humanas, parti-cularmente as que vivem em regiões com problemas de escassez de água, como é o caso de Cabo Verde, onde a alta demanda e questões crescentes de desenvolvimento aumentam a vul-nerabilidade.

Que soluções?Perante este cenário de mudança de clima importa-se pensar nas soluções e na resiliência. Algumas medidas de metigação estão a ser tomadas em todo mundo e em Cabo Verde em par-ticular.

As respostas do arquipélago para mi-tigar os efeitos das mudanças climá-ticas na agricultura começaram não só pelo uso eficiente de água na agri-cultura através da utilização de rega gota-a-gota, no sentido de rentabilizar a pouca água através de um uso mais eficiente mas também estão direccio-nadas para a utilização de energias renováveis e a reutilização das águas residuais tratadas na agricultura.

Neste mesmo sentido já foram assi-nados vários memorandos de enten-dimento entre o Ministério do De-senvolvimento Rural e Associações Comunitárias/Delegações do MDR das ilhas de Santo Antão e Santiago, no quadro do projecto “Reforço das capacidades de adptação e resiliência às mudanças climáticas” seleccio-nadas através de projectos demons-trativos a serem implementados nas comunidades, escolhidos mediante os critérios de avaliação dos comités técnico e de pilotagem do mesmo pro-jecto.

A assinatura deste protocolo represen-ta uma oportunidade para a moderni-zação da agricultura e criação de gado no país, sendo também uma forma de mitigar os efeitos das mudanças cli-máticas.

SOLUÇÕES

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Infraestruturas hidraúlicas: localizacões, impactos e beneficiadosNum país pouco chuvoso como Cabo Verde, cada gota conta e neste cenário as infraestruturas de mo-bilização de água assumem um papel de capital importância para o armazenamento deste líquido pre-cioso e para o desenvolvimento da agricultura. Neste sentido, foram construídas nos últimos anos várias infraestruturas de captação, armazenamento e distribui-ção de água. O país conta agora com 7 barragens: a do Poilão, Salineiro, Sa-quinho, Faveta, Figueira Gorda todas em Santiago, Canto Cagarra em St. Antão, Fajã em São Nicolau, estando outras duas, a de Flamengos e a de Principal em Santiago, em construção avançada.Estas barragens juntam-se às demais infraestruturas já construídas, entre as

quais, 32 diques de grande porte nas ilhas da Boavista e Maio, 59 reser-vatórios de capacidade variável entre 30 m³ a 1000m³, 38 diques de capta-ção, sistemas de captação, adução e distribuição de água para rega nas ilhas de St. Antão, Santiago e Fogo.

As acções do Ministério vêm também incidindo na realização de perfurações a nível nacional. Um vasto programa de perfurações vem sendo realizado desde 2011, cerca de uma centena de

novas perfurações a nível nacional, com uma taxa de furos produtivos de mais de 70%, devendo as mesmas permitir a captação de 2.701.000 m³/ano para irrigar cerca de 277 ha.

Todas construídas com o objectivo de, por um lado, dar impulso ao sector da agricultura nacional mudando a forma de se pensar e de se trabalhar na agri-cultura e por outro lado, libertar-se um pouco do regime pluviométrico de Cabo Verde, irregular e imprevisível.

Algumas dessas infraestruturas do país: suas localizações, impactos e os beneficiados:

Barragem de PoilãoLocalização: S. Lourenço dos Orgãos Estudo de Execução: Concluída em 2011Impacto:• Área a irrigar (ha): 150• Volume de água max (m³/ano): 1.700.000• Vol. de água disponível p/rega: 1.200.000• Nº beneficiários: Emp. Durante execução – ?

(*) Potencial = 600 Actual = 440

Barragem de FavetaLocalização: S. Salvador do MundoEstudo de Execução: Concluída em 2013Impacto:• Área a irrigar (ha): 60• Volume de água max (m³/ano): 670.620• Vol. de água disponível p/rega: 536.656• Nº beneficiários: Emp. Durante execução –

100; (*) Potencial = 240

Barragem de SaquinhoLocalização: Sta. CatarinaEstudo de Execução: Concluída em 2013Impacto:• Área a irrigar (ha): 63• Volume de água max (m³/ano): 422.000• Vol. de água disponível p/rega: 337.600• Nº beneficiários: Emp. Durante execuç – 120

(*) Potencial= 252

Barragem de SalineiroLocalização: Rª Grande Santiago Estudo de Execução: Concluída em 2013Impacto:• Área a irrigar (ha): 62• Volume de água max (m³/ano): 701.830• Vol. de água disponível p/rega: 596.556• Nº beneficiários: Emp. Durante execuç – 120;

(*) Potencial = 248

Barragem de Figueira GordaLocalização: Santa CruzEstudo de Execução: Concluída em 2014Impacto:• Área a irrigar (ha): 124• Volume de água max (m³/ano): 1.400.000• Vol. de água disponível p/rega: 1.120.000• Nº beneficiários: Emp. Durante execuç – 120

(*) Potencial = 644

Barragem de Canto CagarraLocalização: Rª Grande - St. AntãoEstudo de Execução: Concluída em 2014Impacto:• Área a irrigar (ha): 62• Volume de água max (m³/ano): 700.000• Vol. de água disponível p/rega: 560.000• Nº beneficiários: Emp. Durante execuç – 150;

(*) Potencial = 248

(*) Beneficiários Potencial, significa nº de agricultores a beneficiar (em média 4 agricultores/ha)

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Barragem de FlamengosLocalização: São Miguel - SantiagoEstudo de Execução: Em fase avançadaImpacto:• Área a irrigar (ha): 80• Volume de água max (m³/ano): 1.200.000• Vol. de água disponível p/rega: 826.000• Nº beneficiários: Emp. Durante execuç – 100;

(*) Potencial = 320

Barragem de Principal Localização: São Miguel - SantiagoEstudo de Execução: Em fase inicialImpacto:• Área a irrigar (ha): 47• Volume de água max (m³/ano): 700.000• Vol. de água disponível p/rega: 540.000• Nº beneficiários: Emp. Durante execução – 80

(*) Potencial =188

Barragem de Principal - Inclui barragem, um troço de estrada de 3 Km e 5.945 m de rede de adução de água

Barragem de Fajã Localização: Rª Brava – S. NicolauEstudo de Execução: Concluída em 2015Impacto:• Área a irrigar (ha): 40• Volume de água max (m³/ano): 450.000• Vol. de água disponível p/rega: 360.000• Nº beneficiários: Emp. Durante execuç – 100;

(*) Potencial = 160

Em construção: Flamengos e Principal

Nas palavras do representante da comunidade de Fajã, Arlindo Gomes “a inauguração desta barra-gem é o culminar de um sonho antigo de Fajã, torna-do realidade e que, de certeza, irá melhorar as con-dições de vida da população que fará uso da água captada dessa barragem e não só.” Por sua vez, o Presidente da Câmara Municipal de Ribeira Brava, Américo Nascimento, acredita que a Barragem de Banca Furada dará uma nova dinâmi-ca ao sector da agricultura/pecuária na ilha de São Nicolau, uma das ilhas com potencial agrícola, e espera que a época pluviosa que se avizinha, seja satisfatória para a alegria de todos. A Ministra do Desenvolvimento Rural, Eva Ortet, destacou o grande potencial da ilha no sector agrí-cola e garantiu que o Governo vai continuar a mobi-lizar mais água para o desenvolvimento do sector e, dessa forma, combater o fenómeno do exôdo rural, atrair os jovens para o sector agrícola e modernizar o sector. Na sua intervenção, o Primeiro- ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, falou dos ganhos do país nesses 40 anos de independência, nos vários domí-nios e em especial no sector da agricultura, frisando que “muito já foi feito mas, há um longo caminho a percorrer.”Em paralelo com a inauguração da Barragem foram também inauguradas, as obras de Requalificação da Bacia Hidrográfica de Ribeira da Prata, no Concelho de Tarrafal de S.Nicolau, cujas obras consistem na construção de 30 diques de retenção, 10 de capta-ção, 19 reservatórios de água, 1 Barragem subterrâ-nea com dispositivo de bombagem associada à ener-gia fotovoltaica e 11 quilómetros de distribuição de água.

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Ordenamento e desenvolvimento das bacias hidrográficas em Cabo Verde

Muito se tem falado sobre “ordenamento de bacias hidrográficas”. Afinal o que significa este conceito? Antes de mais vejamos o que é uma bacia hidrográfica (BH): É uma área terrestre, com limites físicos defi-nidos pela topografia do terreno, a partir da qual todo o escoamento superficial da água das chuvas flui em direcção ao mar, através de uma sequência de rios, ribeiras ou eventual-mente lagos (que constituem a sua respectiva rede hidrográfica), e indo desaguar num único

ponto de saída, a foz ou estuário, que pode ser uma outra BH, um lago, um rio ou uma ribeira, ou mes-mo directamente no mar. Mas é preciso também ter em conta que uma BH é um espaço territorial onde se cruzam diferentes lógicas e vivências colectivas, no contexto de um tecido social, por vezes complexo, constituído por uma multiplicidade de actores, ao qual está também estreitamente ligado um sistema produtivo, que é pre-ciso gerir e criar as condições de sustentabilidade. Desta forma, as BH exercem também, para além das funções hidrológicas, funções ecológicas e socioeconómicas, constituindo o centro do desenvolvimento de todas as actividades económicas sociais e culturais.

O ordenamento de bacias hidrográfi-cas não é mais do que uma categoria específica do ordenamento do territó-rio, onde são definidas e implemen-tadas um conjunto de regras e instru-mentos que orientam o processo de organização do espaço biofísico e so-cial que constitui a bacia hidrográfica, de acordo com as suas potencialida-des, vocações e capacidades, de modo a que se possa utilizar eficazmente os recursos disponíveis nesse mesmo es-paço. Essas regras e instrumentos de-verão pois traduzir as políticas econó-micas, sociais, culturais e ambientais, vigentes, e deverão permitir a minimi-zação dos impactes de riscos naturais potenciais, como deslizamento de ter-ras, inundações, furacões, secas, acti-vidade vulcânica e sísmica, de entre outras.É assim que desde 2005, como ma-terialização da política definida para o sector agrário, se deu início à im-plementação dos grandes projetos de ordenamento e valorização das BH, como unidades de gestão integradas dos recursos hídricos e fundiários, associado ao desenvolvimento da

agro-silvo-pastorícia. O projeto de Ordenamento e Valorização das Ba-cias Hidrográficas de Picos e Enge-nhos, cuja implementação, após uma experiência bem-sucedida do Projecto de Correcção Torrencial Integrada de Ribeireta, constituiu um marco im-portante em termos da filosofia dos projetos de ordenamento e valoriza-ção de bacias hidrográficas (POVBH) no país.O POVBH de Picos e Engenhos cons-tituiu um dos instrumentos piloto para a implementação do Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura (PEDA), definindo a BH como uni-dade de intervenção territorial central

e tendo como objectivo global con-tribuir para a luta contra a pobreza e o reforço da segurança alimentar no meio rural. A implementação desses projectos é sempre precedida de estudos de diag-nóstico, com o envolvimento de todos os actores determinantes do quotidia-no da vida nas BH, que determinam as diferentes vocações dos solos, o modelo do seu ordenamento, e defi-nem a forma de utilização dos recur-sos naturais existentes, sempre man-tendo os seus habitantes como sendo os principais actores do seu próprio desenvolvimento integrado e da sua auto-gestão.

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Cabo Verde, pela sua inserção na faixa saheliana com características climáticas de aridez acentuada, é um país caracterizado por uma pluviome-tria muito baixa, distribuída irregular-mente no tempo e no espaço. Contu-do, as chuvas são muito concentradas gerando grandes escoamentos em di-recção ao mar.

Para o melhor aproveitamento des-te recurso hídrico, o Governo elegeu como prioritário a implementação do programa de mobilização de água e ordenamento das bacias hidrográficas, um programa federador dos restantes programas, que aposta fortemente no aumento significativo da disponibi-lidade de água para a agricultura, de modo a aumentar a área irrigada e consequentemente a produção agrí-cola, permitindo assim ao Estado cumprir o seu papel em matéria de in-fra-estruturação rural do País, para a criação das melhores condições para o exercício da actividade privada, no domínio do agro-negócio.

Deste modo, tem constituído prio-ridade do Governo a construção de infraestruturas de captação e conser-vação de água, de entre as quais as barragens subterrâneas, os diques de captação, a abertura de furos, os reser-vatórios e as barragens, estas últimas para o armazenamento das águas sub-terrâneas e/ou superficiais.Constituem os principais objetivos dos POVBH: • A mobilização, o armazenamento

e a adução dos recurssos hídricos, superficiais e subterrâneos;

• A proteção do ambiente e dos re-cursos naturais: solo, água e ve-getação;

• A modernização da produção agrosilvopastoril, pela introdução de novas técnicas e tecnologias de produção, com o apoio de linhas de crédito agro-pecuário, visando a promoção das melhores técnicas de produção agrícola;

• A promoção de uma abordagem

integrada de desenvolvimento e de estruturação das comunidades rurais beneficiárias, nas BH, com recurso a, entre outros instrumen-tos, várias acções de sensibiliza-ção e de formação técnica e pro-fissional, quer dos beneficiários diretos, quer dos outros parceiros institucionais e organizações as-sociativas de desenvolvimento comunitário.

Outra componente destes projectos é a introdução de variedades vegetais e raças melhoradas, bem como a dis-ponibilização de uma linha de crédito para os agricultores no sentido de tor-nar esta actividade mais empresarial e contribuir para a diminuição da po-breza em Cabo-Verde.

Intervenções consistentes vêm sendo levadas a cabo neste domínio de or-denamento e valorização de BH e 14 Bacias Hidrográficas já receberam obras de ordenamento e requalifica-ção em várias ilhas do país, entre as quais destacamos: • Picos, Engenhos, Saltos, S. Mi-

guel, Rª Grande e Tarrafal, em Santiago.

• Bacias de Rª Grande de Santia-go, Mosteiros no Fogo, Fajã em S. Nicolau e Paul em Santo Antão (compact MCA I).

Durante o ano 2014/2015 foram de-senvolvidas acções integradas, em 5 Bacias Hidrográficas (com financia-mento do BADEA), designadamente: Ribeira da Prata em S. Nicolau, Alto

Mira e Ribeira Torre, em Santo Antão (180.000.000 ECV) e Flamengos e Principal (227.000.000 ECV), na ilha de Santiago. Todas as obras de orde-namento dessas cinco bacias já foram concluídas.As intervenções nas três bacias ante-riormente referidas nas ilhas de San-to Antão e S.Nicolau irão contribuir para o ordenamento de 195 ha de pe-rímetros irrigados, beneficiando cerca de 795 famílias e um total de 4.000 pessoas localizadas nas três bacias hi-drográficas. As obras de ordenamento na bacia de Alto Mira já foram con-cluídas.Em Santiago, nas bacias hidrográficas de Flamengos e Principal, o projecto contribuirá para o ordenamento de 120 ha de perímetros irrigados, bene-ficiando cerca de 764 famílias e um total de cerca de 3.580 pessoas das duas bacias hidrográficas. Ainda com o mesmo objectivo, estu-dos e projectos técnicos de Ordena-mento de outras Bacias Hidrográficas, previstas no PNIA (Programa Nacio-nal de Investimento Agrícola), foram levados a cabo, nomeadamente, três BH na ilha Brava (Ferreiros, Sorno e Fajã d’Água), as bacias hidrográfi-cas de S. João Baptista em Santiago, Calhau na Boavista e Ribeira Grande de Santo Antão. Prevê-se para os pró-ximos meses, com financiamento do Fundo Koweit, o arranque dos estu-dos técnicos das bacias hidrográficas de Rª das Patas na ilha de Santo Antão e das bacias da ilha de São Vicente.

Programa de mobilização de água e ordenamento de Bacias Hidrográficas

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ParceirosImpactos

Desde logo são visíveis os impac-tos em termos da conservação dos recursos naturais, solo, água e veg-etação, o aumento da área irrigada e particularmente com a utilização de sistemas de rega localizadaCom o aumento da recarga sub-terrânea e o armazenamento das águas de escoamento superficial, a disponibilidade de água irá au-mentar no futuro, um dos princi-pais objectivos do ordenamento das bacias, desencadeando uma sequência de impactos positivos relacionados com o aumento da produtividade agrícola, o aumento do rendimento das famílias e atin-gir o fim último que é a garantia do auto-emprego dos seus habitantes. O número potencial de famílias a ser beneficiada, é estimado na pro-porção de 1 ha de terreno por 4 famílias.Os reais impactos destas obras só serão alcançados a médio-longo prazo, mas desde logo é notável a empregabilidade de famílias aquando da realização dos tra-balhos.

Por ser um projecto participativo, o programa do ordenamento das BH do país envolveu parceiros da sociedade civil, entre as quais as associações de agricultores locais, Câmaras Municipais, Organizações Não Governamentais - Plataforma das Organizações Não Governamentais (ONG) e Atelier Mar (contratados mediante um concurso a fim de desenvolver um programa de sen-sibilização contínua junto dos beneficiários no que toca ao uso eficiente dos recursos disponibilizados, bem como à sua preservação) e entidades estatais, designadamente os Serviços do Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR), Ministério do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território (MAHOT) e Ministério das Infraestruturas e Economia Marítima (MIEM) através das suas delegações nas referidas comunidades, bem como alguns institutos sob a sua tutela.

ResultadosEste projecto pretende sobretudo desenvolver a agricultura e a pecuária das comunidades (a jusante e a montante) investindo na formação e na capacitação dos agricultores com as novas técnicas de produção.Igualmente, almeja-se com o programa construir uma estrutura organizada, tendo a população como parte beneficiária das infraestruturas, portanto respon-sável pelo seu uso.As intervenções nas três bacias anteriormente referidas nas ilhas de Santo An-tão e S. Nicolau irão contribuir para o ordenamento de 195 ha de perímetros irrigados, beneficiando cerca de 795 famílias e um total de cerca de 4.000 pes-soas das três bacias hidrográficas.Já na ilha de Santiago, nas bacias hidrográficas de Flamengos e Principal, o projecto contribuirá para o ordenamento de 120 ha de perímetros irrigados, beneficiando cerca de 764 famílias e um total de cerca de 3.580 pessoas das duas bacias hidrográficas.De referir que a Linha de crédito no quadro do financiamento do BADEA no valor de 474.000 USD (cerca de 47,4 mil contos), no âmbito do Projeto de Or-denamento e Valorização de Bacias Hidrográficas de Stº Antão e de S. Nicolau, até ao mês de Junho do corrente ano já tinha concedido créditos no montan-te global de 12.323.000 ECV, dos 22.740.000ECV já desembolsados. Foram concedidos um total de 52 créditos, sendo 32% para Stº Antão e 68% para S. Nicolau. Relativamente à Linha de Crédito dos projectos das BH de Flamengos e Principal, no montante de 24.000.000 ECV, já foi desbloqueada a 1ª tranche no valor de 4.800.000 ECV, encontrando-se no processo de contratação da Ins-tituição de Micro-Finanças que irá gerir a respectiva Linha de Crédito.Desafios

Um dos principais desafios enfrenta-dos neste programa de ordenamento das BH prendeu-se com a questão fundiária, ou seja, a disponibilização dos terrenos para a construção das infraestruturas, nomeadamente os re-servatórios, principalmente por parte dos proprietários que se encontram no estrangeiro. Outro desafio, de acordo com a Mi-nistra do Desenvolvimento Rural, está relacionado com a gestão dessas infra-estruturas e a sua sustentabilidade,

aspectos que o Ministério tem encon-trado algumas dificuldades, pois essa gestão deveria ser feita pelas próprias famílias (que são as beneficiárias do projecto) e pelas câmaras municipais. Contudo, as acções de sensibilização para a responsabilização dos diferen-tes actores neste processo, irão conti-nuar, de modo a que se possa ultrapas-sar as dificuldades nesta matéria. Subsiste também o desafio da renta-bilização de todos estes elevados in-vestimentos, de modo a que possam

realmente contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrí-colas, bem como a modernização dos processos de produção agro-pecuá-ria, e em última análise, possam au-mentar o rendimento, a melhoria das condições de vida e o bem-estar das famílias, e o crescimento económico do país.

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Reutilização de Águas ResiduaisCaso de Santa Cruz

As águas residuais que produzi-mos a partir do chuveiro, dos la-vatórios e das máquinas podem ter uma outra utilidade depois de serem deitadas ralo abaixo.

O tratamento e a reutilização de águas residuais tem vindo a revelar uma im-portância crescente como estratégia de conservação dos recursos hídricos motivada, essencialmente, pela escas-sez de um dos bens mais preciosos – a água.

Num país onde há um desequilíbrio entre a quantidade de água doce dis-ponível e a procura existente, a reuti-lização controlada de águas residuais é vista como uma das alternativas à escassez de água.

“ Nós não podemos desperdiçar água, seja ela de que origem for. Temos que aproveitar qualquer oportunidade de poupar uma gota de água e de dar-lhe uma correcta utilização”, acredita La-

rissa Varela, Engenheira do Ambiente e Estudante de Doutoramento em Al-terações Climáticas e Políticas de De-senvolvimento Sustentável.

De acordo com a mesma “tendo uma ETAR com um sistema de tratamento de águas residuais e um efluente tra-tado com qualidade para a utilização na agricultura o melhor que se pode fazer tanto do ponto de vista ambien-tal como social e económico é utili-zar essa água num sector que produza rendimento para as famílias e aí mini-mizarmos os impactos da escassez de água e da pobreza.”

A Estação de Tratamento de Aguas Residuais de Santa Cruz atende principalmente a população urbana do município de Santa Cruz. Trata 100,13 m3/dia de águas residuais for-temente concentradas (2166 mg/L de ST, 771 mg/L de SST, 1334 mg/L de CQO e 817 mg/L de CBO5) e tem um volume anual de 36.500 m³.

Todo o efluente é drenado para a ETAR que fica no sistema de Rocha Lama e todo o processo de tratamento está livre de adicção de químicos que vai até o nível secundário (reconheci-do como nível de tratamento adequa-do para o uso agronómico).

De acordo com um estudo sobre a si-tuação das aguas residuais em Santa Cruz, a qualidade dessas águas tra-tadas permite o seu uso na rega das culturas moderadamente tolerantes à salinidade e sem risco de afectar a es-trutura do solo.

Com base no mesmo estudo, ainda que o teor de cloretos nas águas resi-duais tratadas seja muito alto para uso na rega (373,62 mg/L), estas águas apresentam, sob este ponto de vista, melhor qualidade do que água de ori-gem natural captada na área próxima da ETAR.

REFLEXÃO

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Sessão de reflexão sobre a utilização de águas residuais

Em 2009, o Governo de Cabo Verde, em parceria com o Fundo Mundial para o Ambiente (GEF) e o PNUD, iniciou a implementação do projec-to de “Reforço das capacidades de adaptação e resiliência às mudanças climáticas no sector dos recursos hí-dricos, financiado através do fundo GEF para países menos avançados (GEF-LDCF), a partir das priorida-des identificadas no NAPA (Plano Nacional de Adaptação as Mudanças climáticas). Em 2014, uma segunda fase do projecto foi financiado pela Agencia Canadiana de Desenvolvi-mento Internacional (CIDA), através do seu mecanismo de financiamento de ações de adaptação, o “Fast Start Climate Change Funds”, a segurança e nutricional alimentar no cerne das intervenções.mdddfddf

A água é o principal meio através do qual as mudanças climáticas influen-ciam os ecossistemas e assim o sus-tento e o bem-estar das sociedades. As temperaturas mais elevadas com ocor-rências de eventos extremos, afectam a disponibilidade e a distribuição das chuvas e ainda deteriorarem a quali-dade das águas. As populações mais pobres, são as que mais vulneráveis,

são provavelmente as mais afectadas.A agricultura é o maior utilizador de água e quando esta é deficitária as águas residuais tratadas surgem como uma possível alternativa em Cabo Verde. Não entanto, existem desco-nhecimento /preocupações referentes à utilização das águas residuais trata-das. No mês de Fevereiro de 2015 foi rea-lizada uma sessão de reflexão sobre a utilização das águas residuais na agricultura onde foram abordadas al-gumas questões como : os riscos e as oportunidades da reutilização das AR, a sustentabilidade da reutilização das AR, o tarifário de água, aspectos ins-titucionais e legais, etc. A sessão de reflexão reuniu a co-munidade técnica e científica com o objectivo de analisar os riscos asso-ciados a utilização de águas residuais para os sistemas produtivos (solo, plantas, etc.), para os ecossistemas e para a saúde pública, as precauções, regulações e orientações técnicas ne-cessárias para uma gestão eficiente e segura de águas residuais tratadas e por fim identificar constrangimentos institucionais, financeiros, legais e de gestão associados a utilização/valori-zação das águas residuais tratadas.

• Criação de leis e normas para a Reutilização de Aguas Residuais Trata-das

• Enquadramento insti-tucional

• Tratamento das Aguas Residuais

• Adequação do tipo de cultura ao método de rega

• Prevenção do contacto com Aguas Residuais Tratadas

• Cozimento ou desin-fecção dos alimentos consumidos crus

Medidas de controlo do risco no uso de Águas

Residuais

REFLEXÃO

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Melhorando a eficiência da chuva nas encostas semiáridas de agricultura pluvial: redução de perda por escoamento e erosão dos solosA degradação do solo é um problema agrícola e ambiental crítico em Cabo Verde e está associada às secas prolongadas e recorrentes, chuvas irregulares e por vezes intensas, e às práticas agrícolas inade-quadas nas encostas íngremes.

Mais de 80% das terras aráveis no país são dedicadas às culturas de milho e feijões, num sistema agrícola de baixo input e baixo rendimento. Altas taxas de escoamento superficial e de erosão hídrica, associadas à baixa fertilidade do solo resultam em fraca eficiência da água pluvial e baixa produção das culturas pluviais.

Apesar de ser uma actividade agríco-la de subsistência, a produção pluvial contribui para a segurança alimentar dos pequenos agricultores e famílias rurais. Não obstante os investimentos na luta contra a degradação dos solos, particularmente a implementação de estruturas mecânicas e biológicas de conservação de solo e água (CSA), a erosão do solo e a baixa produtivi-dade das culturas de sequeiro conti-

nuam uma realidade. Daí a necessi-dade de se explorar novas técnicas de gestão sustentável de solos que con-tribuam para a melhoria da eficiência da água pluvial a nível das parcelas de produção e apresentar alternativas aos pequenos agricultores. As informações que se seguem são baseadas num estudo realizado pela Investigadora e Agrónoma do INIDA, Isaurinda Baptista, que faz a avalia-ção dos efeitos de técnicas integradas de conservação de solo e água (co-bertura do solo com resíduos de cul-tura ou mulch, surfactante de solo e barreiras de feijão congo) associadas à fertilizantes orgânicos (ex. estru-me animal, composto e adubo verde)

nas diferentes zonas agroecológicas da Ribeira Seca, visando melhorar a eficiência da precipitação através da redução das perdas de água por es-coamento superficial e da erosão dos solos agrícolas de sequeiro.

O estudo foi realizado no âmbito de um projecto de PhD que associa o conhecimento tradicional dos agricul-tores ao científico, numa abordagem participativa baseada em ensaios de campo, análise das estratégias CSA implementadas em Cabo Verde e mo-delação do impacto biofísico e eco-nómico das técnicas CSA. O estudo propôs:

Isaurinda BaptistaInvestigadora e Agrónoma

INVESTIGAÇÃO

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numa redução de 85-90% no escoa-mento superficial e 90 a 100% na per-da de solo nas encostas mais ingremes (declive até 40%), contribuindo assim para uma maior eficiência no uso da água pluvial a nível das parcelas plu-viais. A notável eficácia da técnica integra-da de mulch com barreiras de feijão congo e fertilizantes orgânicos na redução das altas taxas anuais de es-coamento superficial (200 m3/ha/ano) e de erosão (17 t/ ha/ano) no sistema

Implicações políticas e institucionais

Considerando que as encostas de de-clive acentuado continuarão a ser usa-das para culturas tradicionais, como milho e feijões, e que a degradação do solo deve ser neutralizada a longo prazo, a nova prática agronómica de mulching combinada com uma ges-tão adequada de nutrientes orgânicos deve ser incentivada e promovida para conservar o solo e a água e au-mentar a produtividade.

O feijão congo, cultivado em barrei-ras ou consorciado com o milho e os outros grãos, também deve ser pro-movido como forma de manter uma cobertura de solo mais permanente, melhorar a fertilidade do solo e au-mentar a produção alimentar. Estas

Resultados e conclusão

Apesar de existir um grande número de técnicas CSA para aumentar a efi-ciência da chuva nas regiões semiári-das, estas devem ser testadas em con-dições específicas e ter em atenção o conhecimento tradicional dos agricul-tores. A participação efectiva dos agri-cultores desde a selecção das técnicas a serem testadas até a avaliação do desempenho das mesmas nos ensaios de campo contribui para obtenção de resultados palpáveis e duradouros tan-to para os agricultores como para os investigadores e decisores.Nos dois anos de estudo, escoamento superficial ocorreu nas parcelas em eventos pluviosos ≥ 50 mm (declives < 10%), ≥ 60 mm (declives 10-23%) e ≥ 40mm (declives >37%). A taxa anual de escoamento superficial (m3/ha) atingiu 120 em São Jorge dos Ór-gãos (declive 8%), 200 em Serrado (declive 37%) e 160 em Órgãos Pe-queno (declive 23%), enquanto que a taxa anual de perda de solo atingiu 0,2; 3,2 e 17 ton/ha, nesses locais res-pectivamente, no sistema tradicional. A aplicação da técnica de mulching, em associação com barreiras de feijão congo e fertilizante orgânico resultou

tradicional para valores negligenciá-veis deve-se ao efeito directo da co-bertura do solo proveniente do mulch. As barreiras de feijão congo, enquan-to plantas perenes, tiveram um efeito muito positivo na redução do escoa-mento e da perda de solo a partir do segundo ano, após desenvolvimento completo da planta.Apesar de indícios de aumento de pro-dução de grãos e biomassa de milho e feijões com as técnicas testadas, os resultados não se mostraram conclu-sivos devido à grande irregularidade na distribuição da chuva nos dois anos de estudo.O estudo conclui que a combinação do mulch com uma fonte orgânica de nutrientes e barreiras de feijão congo reduz significativamente a perda de água por escoamento superficial e a erosão do solo nas encostas declivo-sas, disponibilizando mais água para as culturas pluviais. Nas áreas de de-clives suaves e de baixa erodibilidade, a aplicação de mulch ou surfactante do solo em combinação com fertili-zantes orgânicos pode constituir uma alternativa para melhorar a eficiência da água pluvial.

medidas contribuirão para a melhoria da segurança alimentar dos pequenos agricultores, aumentar a resiliência da agricultura pluvial às mudanças climáticas e atingir o objectivo de de-senvolvimento do milénio de reduzir a pobreza e preservar os recursos na-turais.

Apenas as estruturas CSA implemen-tadas no âmbito da luta contra a de-sertificação não são suficientes para optimizar a eficiência da água pluvial e a produtividade, pelo que as insti-tuições devem incentivar e facilitar a gestão da água pluvial através de uma combinação de medidas que contri-buam para a conservação do solo e da água dentro e fora das parcelas de

produção. Os serviços de investigação (INIDA) e de extensão rural (DGADR) são desafiados a elaborar e divulgar um manual de boas-práticas na agricul-tura pluvial, incluindo as técnicas in-tegradas aqui propostas, visando uma maior sustentabilidade na gestão das terras de agricultura pluvial em Cabo Verde.

Técnicas de gestão sustentáveis de re-cursos naturais, que protejam a perda de solos, água e nutrientes, devem ser promovidas e implementadas nas encostas ingremes e semiáridas de agricultura pluvial, propensas a ero-são para evitar que o solo continue a degradar-se.

INVESTIGAÇÃO

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Que agricultura numa época de pouca chuva?A agricultura e a pecuária são duas das principais actividades eco-nómicas no meio rural cabo-verdiano.A paixão por essas áreas leva os cabo-verdianos a desafiar a natu-reza. Labutam de sol a sol para que os seus campos fiquem verdes, da cor da esperança.

Não obstante ao clima árido, conse-quência da nossa localização geográ-fica, e falta de meios suficientes para a mobilização de água, esses homens do campo não se intimidam e, com aquilo que têm a sua disposição dri-blam os problemas que se impõe a esse sector. Este ano foi notório uma grande redução na produção agrícola em comparação com os anos anteriro-res. É que as esperadas chuvas desta última campanha não vieram dar bri-lho de esperança aos corações dos que trabalham a terra.

A actividade agrícola baseia-se na exploração de terra e água. Neste mo-mento com terra mas pouca disponibi-lidade de água, o que fazer?

O agricultor João Baptista, Enge-nheiro agrônomo, da localidade de São Domingos, ilha de Santiago que já conta muitos anos de experiência nessa matéria relata e recomenda que uma das possibilidades ou saída que todo o agricultor tem é conjugar água e solo produzindo de acordo com a água disponível, evitar expandir a no-vas áreas, bem como apostar nas va-riedades rasteiras e resistentes à seca.A fruticultura é uma actividade agrí-cola que pode ser feita usando a téc-nica de irrigação gota-a-gota com re-sultados altamente satisfatórios e com baixo consumo de água, principal-mente, numa altura em que se fala em pouca chuva, pouca água disponível e diminuição de produção.

Manuel Amado, Engenheiro Agró-nomo contou-nos que a empresa Montenegro ao longo dos anos teve a preocupação de investir no sistema de rega gota-a-gota numa área de 32 hectares (toda coberta com o sistema

de rega gota-a-gota) resultando numa enorme poupança de água e de mão-de-obra e com um registo de boa pro-dução. Amado disse-nos ainda que mesmo numa época de pouca chuva, graças ao uso desse sistema, tem conseguido manter as áreas de cultivo que tinha a cerca de 2 anos atrás.

“É um erro pensar que o sistema de rega gota-a-gota não pode ser usado na produção de frutas. Nós usamos esse sistema nas áreas de produção de papaia, banana e cana. Todas com excelente produção” afirmou Amado.

Hoje a água é considerada um bem precioso, tanto pela sua escassez como sua qualidade. Sugeriu ainda que, numa época de pouca água, os agricultores optem pelo cultivo de culturas de ciclo curto (70 a 90 dias) e para os que cultivam perto das zonas com algum grau de salinidade, apos-tem nas culturas mais tolerantes ao sal como é o caso da beringela, tomate, entre outras.

Novos tempos, novos desafios. Os nossos agricultores não cruzam os braços face aos desafios do sector. Esses produtores e muitos outros que estão espalhados pelas 9 ilhas do país são prova de que os nossos tempos são de adaptação e sair em retirada está fora de questão. Contam e con-tinuam a contar com o apoio do Mi-nistério do Desenvolvimento Rural que tem como uma das prioridades a promoção e a gestão sustentada de solos e água e o desenvolvimento da capacidade produtiva nas zonas de in-tervenção e valorização da produção agrícola.

CASOS DE SUCESSO

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Plano de emergência face ao mau Ano agrícola

Todos os anos, uma missão conjunta Governo/CILSS/FAO faz a avalia-ção da campanha agrícola e da situa-ção alimentar dos países membros do CILSS. Esse trabalho é feito quase sempre nos finais do mês de Outubro, com o objectivo de avaliar o desenro-lar da campanha agrícola e estimar os resultados provisórios da campanha.

De acordo com os dados da refe-rida missão, a campanha agrícola 2014/2015 ficou marcada por uma pluviométrica deficitária. As chuvas registadas foram insuficientes para permitir o escoamento superficial e uma boa recarga dos aquíferos e pro-vocar a entrada de água nas barragens. Nas zonas altas das ilhas de Santiago, Fogo e Brava as culturas atingiram o estado de floração/frutificação, mas a falta de água não permitiu a conclusão do ciclo vegetativo.

Nas zonas litorais (extractos áridos e semi-áridos) as culturas não atingiram a fase de floração e em algumas loca-lidades apenas houve germinação en-quanto que noutras as sementes nem sequer germinaram. A produção do milho foi estimada em 1.065 Toneladas, distribuída es-

Dois mil e catorze não foi um ano muito pluvioso para o país.

sencialmente nas ilhas de Santiago (45,2%) e Fogo (33,8%), e represen-tando uma baixa de 82% em relação a 2013 (5.785 T). A produção de feijões foi de de 650 Toneladas, correspon-dente a uma redução de 88% em rela-ção a 2013, e tendo, uma vez mais, as ilhas de Santiago e Fogo Contribuído com maior produção.

Como toda situação de emergência exige medidas de emergência, o Go-verno traçou um plano de mitigação dos efeitos do mau ano agrícola para fazer face a esse cenário.

No primeiro momento a preocupação do Governo foi minimizar o problema da falta de água através de auto-ta-ques e construção de novos reserva-tórios com a finalidade de disponibi-lizar mais água para os agricultores/criadores e do apoio na recolha de pastos para os animais. Uma outra va-lência desse plano foi dar assistência medicamentosa que lhes ajudaria a ultrapassar toda a carência alimentar dos animais, bem como sensibilizar os agricultores para a recolha de pas-to e descartar os animais que já não reproduziam para facilitar a manuten-ção dos efectivos.

“Os agricultores foram incentivados a fazer recolha de pastos. Mas havia zonas em que nem sequer havia pas-tos. Nesses lugares subvencionamos os criadores com a alimentação para o gado nomedamente, milho para a ração” relatou a Ministra Eva Ortet.

Inicialmente o plano foi previsto para um período de 3 meses ( de Outubro a Dezembro de 2014) e nesse perío-do foram disponibilizados cerca de 30 mil contos tendo como zonas de in-tervenções prioritárias o concelho de Porto Novo (Sto Antão), S. Nicolau, Brava e Zona Sul do Fogo (Concelho de Sta Catarina), bem como outras zo-nas áridas e semi-áridas das ilhas mais afectadas (Santiago e Boavista).

A partir de Janeiro de 2015 deu-se início à segunda fase do plano, dan-do continuidade às actividades pro-gramadas para apoiar os agricultores, como a disponibilidade de mais água, recolha de pasto, reforço na assistên-cia técnica com a contratação de mais veterinários, disponibilidade de mais meios de transportes e combustíveis para que as delegações do MDR nas várias localidades pudessem acudir com mais rapidez aos agricultores.

Da missão conjunta Governo/CILSS/FAO saiu um conjunto de recomenda-ções consideradas vitais para o apoio aos nossos agricultores sendo: refor-çar o sistema estatístico agrícola do país, reforçar o GTP com meios téc-nicos e financeiros para seguimento das culturas e da situação alimentar nas zonas vulneráveis durante todo o ano, implementar projectos para o reforço da resiliência das populações, particularmente das mais vulneráveis à insegurança alimentar, bem como garantir a continuidade do programa de mobilização de água com realce para a construção de barragens e ou-tras infra-estruturas hidráulicas.

CASOS DE SUCESSO

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Um pequeno criador tornar-se-á grande“Mudou a minha vida.” Com um brilho nos olhos e com firmesa na voz, Inês Tavares que mora na localidade de Mato Afonso, São Domingos, na ilha de Santiago, conta como ser uma das beneficia-das do Projecto «Apoio de emergência para as famílias agrícolas vulneráveis em Cabo Verde, Gâmbia, Guiné-Bissau e Senegal afeta-das pela insegurança alimentar e desnutrição» mudou a sua vida e beneficiou sua família.Com 63 anos de idade, Inês Tavares faz parte de um grupo de 20 famílias vulneráveis do Concelho, na sua maioria constituídas por mulheres chefes de família, beneficiadas com 4 cabeças de gado caprino/ovino num universo de 55 famílias do referido Concelho(as restantes 35 famílias foram beneficiadas com aves poedeiras).Inês Tavares não consegue esconder a sua satisfação de poder ver, passados poucos meses da entrega dos animais, o nascimento de 2 cabritos. “Na altura quando recebi esses animais não tinha nem uma cabeça para criar”. Não tinha ocupação e confesso que já estava desanimada. Hoje, não poderia estar mais contente ao ver o nascimento de 2 cabritos que vêm juntar-se às 4 cabeças que me foram oferecidas pelo projecto. Estou muito animada” garantiu Tavares.Com as ferramentas mínimas para reconstruir seus activos, Tavares conta que agora o desejo da família é aumentar o número de cabeças de cabras e num futuro próximo começar com a criação de porcos.Para isso já tem em mente construir pocilgas para esse fim. Mesmo com os desafios que um ano de pouco chuva traz Inês não tem medido esforços na procura de pasto para os seus animais e dessa forma assegurar a sua alimentação. Lado a lado com a sua família Inês vai dando os primeiros passos para, num futuro próximo, ver a sua pequena criação tornar-se grande.

Aposta ganha de um criador“Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca”, este é um ditado popular que ilucida o reconhecimento do valor das coisas só de-pois da oportunidade perdida.

Não obstante o mau ano agrícola do ano passado, António Freire Monteiro, de 43 anos, natural de Mato Afonso, Concelho de São Domingos, é um cria-dor satisfeito e “despreocupado” com a falta de pastagem verificada este ano porque apostou e ganhou. Mesmo debaixo do sol ardente não poupou esforços em fazer a recolha de pasto na sua localidade e adquiriu “uma mão cheia de oportunidades”.

A recolha começa no mês de Outubro de cada ano e é feita com a ajuda de alguns colaboradores remunerados que conforme Monteiro é, por um lado, um gasto considerável mas compensado e sustentável com a venda dos pastos. Por outro lado é uma forma de garantir algum sustento dos seus colaboradores (de-sempregados) a curto prazo.

De fecho a fecho, a ver vamos conhecer a tabela praticada:

CASOS DE SUCESSO

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Quantidade PreçoUm molho 100$00Um “hilux” 15.000$00 a 20.000$00Um “dina 150” 30.000$00Um “galucho” 40.000$00

A lista de clientes é enorme, indo desde São Domingos até Tarrafal e não só. A demanda tem sido tanta e conforme nos contou, com um sorriso singelo, dias antes da nossa visita vendeu um “galucho de padja” por 40 mil escudos.O curioso é que mesmo com condições para ter um rebanho apetrechado, Mon-teiro aposta sempre num pequeno número de crias, não só para cuidar melhor mas também por causa do roubo de animais que se verificou na comunidade. Segundo conta, no ano passado tinha 10 cabeças (vacas e cabras) mas diminuiu para 5, restando apenas vacas. A lógica, segundo Monteiro, é ter sempre pasto disponível que lhe servirá du-rante todo o ano seguinte, caso não chover. De realçar que ele aproveita tam-bém o pasto do milho, principalmente em anos de seca, como 2014.Monteiro, conseguiu preencher o seu curriculum com mais uma profissão: cria-dor responsável, aliás, adquiriu esta característica no seio da comunidade que o viu nascer.Exemplos como estes são para ser seguidos e é caso para dizer “seguro é na bolso”.

Colecção Guias práticos do CTA, Nº 3

Recolha da água da chuva visando o aumento da produção de pasto

O que é a recolha da água da chuva?

É a captação e a concentração da água de escoamento à superfície do solo antes que escoe para um ribei-ro ou para um rio. A água da chuva recolhida desta maneira serve para a agricultura, para as necessidades do-mésticas e outras.

Porquê recolher a água da chuva?

• Nas regiões áridas, a precipita-ção é baixa e irregularmente dis-tribuída.

• A precipitação disponível não é sufi ciente para assegurar o cres-cimento de muitas das culturas agrícolas e de pastos de boa qua-lidade.

• A maior parte da água da chuva perde-se como água de escoa-mento devido à falta de cobertu-ra de vegetal.

• O escoamento pode causar ero-são e perda de solo.

Existem métodos simples para redu-zir o escoamento, prevenir a erosão epermitir que haja uma sufi ciente in-filtração da água da chuva no solo e que possa ser utilizada para as cultu-ras agrícolas e para os pastos.

Este processo é denominado como recolha da água da chuva (ou água de escoamento).

CASOS DE SUCESSO

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Recolha da água da chuvavisando o aumento daprodução de pasto

Centro Técnico de Cooperação Agrícola e Rural (ACP-UE) – CTA

Fonte: Colecção Guias práticos do CTA, Nº 3 E-mail : [email protected] – Site Web : www.cta.int

O CTA é financiado pela União Europeia© CTA 2008 – ISSN 1877-072X

Quais são as vantagens?

A recolha da água de escoamento através do uso de “meias-luas” com-porta muitas vantagens, asaber :

• aumento da produção de pastos• gado mais produtivo e mais sau-

dável• aumento da produção leiteira• rendimento suplementar prove-

niente• da venda de feno e de sementes de• gramíneas• redução da erosão do solo• método simples e barato• conhecimentos e utensílios sim-

ples.

O que é necessário?

• um terreno com uma inclinação ligeira

• utensílios: enxadas, forquilhas, pás, machetes/catanas

• mão-de-obra • determinação para aumentar a

produção de pastos • sementes de gramíneas de es-

pécies apropriadas como sejam Cenchrus ciliaris, Eragrostis superba ou Digitaria macroble-phara. Para as espécies de pasto/forrageiras apropriadas para a sua região, consulte o agente exten-sionista local.

Procedimentos

Observação :

Pode-se chegar a um posicionamentoaproximado do local para construir a meia-lua simplesmente através dum golpe de vista, da mesma maneira quese pode identifi car o posicionamento correcto de socalcos. No caso de ter difi culdade em fazê-lo, consulte o agente extensionista local.

curva de nível

áreacultivada

extr

emid

ade

área

de

capt

ação

9m

4.5m

4.5m

meia-lua

Etapa 1Utilizando uma enxada, comece a construção da meia-lua a partir da cur-va de nível. Cave o solo à superfície em semi-círculo e deite a terra para o lado mais baixo (para o fundo da des-cida/inclinação). A meialua deverá ter cerca de 30 cm de altura no meio e diminuir gradualmente de altura, de modo a que as suas extremidades fi quem rentes ao solo.

Etapa 2Construa uma série de “meias-luas”, desta maneira, ao longo da curva de nível de modo a formar uma fi la. A distância entre duas “meias-luas” su-cessivas, na mesma fila, deverá ser

ligeiramente inferior à largura duma meia-lua.

Etapa 3Construa uma outra fi la de “meias-luas” de 4,5 m, abaixo da primeira fi la. A segunda fi la de “meias-luas” é colocada alinhada nos intervalos da primeira fi la (ver desenho).

Etapa 4Continue a construir “meias-luas” desta maneira, até que o terreno esteja todo coberto.

Etapa 5Semeie sementes de gramíneas e de leguminosas recomendadas pelo seu agente extensionista. As gramíneas devem ser semeadas no interior da meia-lua, e as leguminosas, caso do feijão-nhemba, devem ser semeadas no interior e em cima da meia-lua. O feijão-nhemba pode ser colhido logodurante a primeira campanha agrícola.

Etapa 6Antes de pôr os animais a pastar ou de fazer feno, deixe que as gramíneas cresçam durante duas estações das chuvas ou até que o pasto esteja bem instalado (uma cobertura uniforme e contínua de erva com uma altura de 30 cm ou mais).

CURIOSIDADE

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Mobilização &

FICHA TÉCNICA:PROPRIEDADE: Ministério do Desenvolvimento Rural , CP nº 115 - Tel: (238) 261 5713, Fax: (238) 261 4054EDIÇÃO: Gabinete de Comunicação e Imagem - E-mail: [email protected] - VoIP: (333) 7515TEXTOS: Jornalistas, Domingas Dias e Nadine HortaIMAGENS: Ibraltino Delgado, Domingas Dias, Nadine Horta e equipa Ha Mar, Ha TerraGRAFISMO E PAGINAÇÃO: Ibraltino Delgado

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