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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 727 – STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: Rcl 14996/MG; Rcl 15106/MG; Rcl 15342/PR; ARE 761446 AgR/MG. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: MS 25079/DF. ÍNDICE Direito Eleitoral É inconstitucional a lei que institui a impressão em papel do voto eletrônico. Direito Administrativo É inconstitucional o preenchimento de cargos públicos mediante concurso interno. Direito Penal Não se pode aplicar o § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 com as penas da Lei n. 6.368/76. Direito Processual Penal Não se deve anular julgamento colegiado no qual participou julgador impedido se a exclusão de seu voto não alterar o resultado da decisão. Direito Penal Processual Penal Militar É ineficaz a decisão que declara extinta a punibilidade pelo cumprimento do sursis se, em recurso do MPM, o STM aumenta a pena e exclui o benefício. Direito Tributário Após a EC 33/2001, é constitucional o ICMS sobre a importação de bens, sendo irrelevante a classificação jurídica do ramo de atividade da empresa importadora. Página1

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Informativo STF 727

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  • www.dizerodireito.com.br

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    INFORMATIVO esquematizado

    Informativo 727 STF

    Mrcio Andr Lopes Cavalcante Processos excludos deste informativo esquematizado por no terem sido concludos em virtude de pedidos de vista: Rcl 14996/MG; Rcl 15106/MG; Rcl 15342/PR; ARE 761446 AgR/MG. Julgados excludos por terem menor relevncia para concursos pblicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: MS 25079/DF.

    NDICE Direito Eleitoral

    inconstitucional a lei que institui a impresso em papel do voto eletrnico. Direito Administrativo

    inconstitucional o preenchimento de cargos pblicos mediante concurso interno. Direito Penal

    No se pode aplicar o 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 com as penas da Lei n. 6.368/76. Direito Processual Penal

    No se deve anular julgamento colegiado no qual participou julgador impedido se a excluso de seu voto no alterar o resultado da deciso.

    Direito Penal Processual Penal Militar

    ineficaz a deciso que declara extinta a punibilidade pelo cumprimento do sursis se, em recurso do MPM, o STM aumenta a pena e exclui o benefcio.

    Direito Tributrio

    Aps a EC 33/2001, constitucional o ICMS sobre a importao de bens, sendo irrelevante a classificao jurdica do ramo de atividade da empresa importadora.

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    DIREITO ELEITORAL

    inconstitucional a lei que institui a impresso em papel do voto eletrnico

    O art. 5 da Lei n. 12.034/2009 previu que, a partir das eleies de 2014, alm do voto eletrnico, a urna deveria tambm imprimir um voto em papel para ser conferido pelo eleitor e depositado em um local previamente lacrado. O STF julgou essa previso INCONSTITUCIONAL sob o argumento de que haveria maiores possibilidades de violao ao sigilo dos votos, alm de potencializar falhas e impedir o transcurso regular dos trabalhos nas diversas sees eleitorais. Comentrios Impresso do voto eletrnico

    Em 2009, foi editada a Lei n. 12.034/2009 que, em seu art. 5, previu que, a partir das eleies de 2014, alm do voto eletrnico, a urna deveria tambm imprimir um voto em papel para ser conferido pelo eleitor e depositado em um local previamente lacrado. Veja o dispositivo:

    Art. 5 Fica criado, a partir das eleies de 2014, inclusive, o voto impresso conferido pelo eleitor, garantido o total sigilo do voto e observadas as seguintes regras: 1 A mquina de votar exibir para o eleitor, primeiramente, as telas referentes s eleies proporcionais; em seguida, as referentes s eleies majoritrias; finalmente, o voto completo para conferncia visual do eleitor e confirmao final do voto. 2 Aps a confirmao final do voto pelo eleitor, a urna eletrnica imprimir um nmero nico de identificao do voto associado sua prpria assinatura digital. 3 O voto dever ser depositado de forma automtica, sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado. 4 Aps o fim da votao, a Justia Eleitoral realizar, em audincia pblica, auditoria independente do software mediante o sorteio de 2% (dois por cento) das urnas eletrnicas de cada Zona Eleitoral, respeitado o limite mnimo de 3 (trs) mquinas por municpio, que devero ter seus votos em papel contados e comparados com os resultados apresentados pelo respectivo boletim de urna. 5 permitido o uso de identificao do eleitor por sua biometria ou pela digitao do seu nome ou nmero de eleitor, desde que a mquina de identificar no tenha nenhuma conexo com a urna eletrnica.

    O Procurador-Geral da Repblica ajuizou ADI contra essa previso. O que foi decidido? O STF julgou que o art. 5 da Lei 12.034/2009 INCONSTITUCIONAL. Os Ministros entenderam que o sigilo da votao poderia ficar comprometido caso ocorresse uma falha na impresso ou travamento de papel na urna eletrnica, visto que, em tal situao, seria necessria interveno humana para resolver o problema, o que exporia os votos registrados at ento. Salientou-se que a introduo de impressoras potencializaria falhas e impediria o transcurso regular dos trabalhos nas diversas sees eleitorais. A impressora, alm de apresentar problemas de conexo, seria vulnervel a fraudes. Ademais, haveria a possibilidade de cpia, adulterao e troca de votos decorrente da votao impressa. Seria tambm maior a vulnerabilidade do sistema, porque o voto impresso no atingiria o objetivo de possibilitar a recontagem e a auditoria.

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    Sublinhou-se, ademais, que a impresso do voto criaria discrmen em relao s pessoas com deficincia visual e aos analfabetos, que no teriam como identificar seus votos, razo pela qual pediriam ajuda de terceiros, em violao ao direito de sigilo constitucionalmente assegurado. Pontuou-se que a justia eleitoral estaria em constante aperfeioamento de rigoroso sistema de segurana, paralelamente ao sistema de informatizao, o que garantiria total inviolabilidade e transparncia da votao eletrnica.

    Processo STF. Plenrio. ADI 4543/DF, rel. Min. Crmen Lcia, julgado em 6/11/2013.

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    inconstitucional o preenchimento de cargos pblicos mediante concurso interno

    inconstitucional a lei estadual que prev que determinados cargos da Administrao Pblica sero preenchidos mediante concurso do qual somente participaro servidores pblicos (concurso interno). Essa espcie de promoo interna viola o princpio da ampla acessibilidade aos cargos pblicos (art. 37, II, da CF/88). Comentrios A Lei n. 10.961/92, do Estado de Minas Gerais, em seu art. 27, previa que 30% dos cargos

    vagos na Administrao Pblica estadual seriam preenchidos mediante uma espcie de promoo interna, ou seja, as pessoas que j eram servidoras pblicas participariam de um concurso interno para terem direito de ocupar outro cargo melhor, com remunerao superior. Em 1993, o Procurador-Geral da Repblica ajuizou ADI contra essa previso. Ainda em 1993, o STF concedeu medida liminar para suspender, at a deciso final da ao, os efeitos do art. 27 e seus 1 a 5, da Lei. Agora, em 2013, o Supremo confirmou a liminar e julgou inconstitucionais tais dispositivos. Violao ao princpio da ampla acessibilidade aos cargos pblicos Segundo o STF, a previso da lei mineira violou o princpio da ampla acessibilidade aos cargos pblicos, previsto no art. 37, II, da CF/88. A CF/88 no permite que lei estadual preveja o acesso a novas carreiras por meio de selees internas. Essa forma de provimento privilegia indevidamente as pessoas que j possuem vnculo com a Administrao estadual em detrimento do pblico externo. Assim, h uma afronta ao postulado da universalidade que, por imposio constitucional, deve reger os procedimentos seletivos destinados investidura em cargos, funes ou empregos pblicos.

    Processo STF. Plenrio. ADI 917/MG, rel. orig. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, julgado em 6/11/2013.

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    DIREITO PENAL

    No se pode aplicar o 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 com as penas da Lei n. 6.368/76

    vedada a incidncia da causa de diminuio do art. 33, 4, da Lei n. 11.343/2006, combinada com as penas previstas na Lei n. 6.368/76, no tocante a crimes praticados durante a vigncia dessa norma. Comentrios Lei n. 11.343/2006

    Atualmente, os crimes envolvendo drogas encontram-se previstos na Lei n. 11.343/2006, que entrou em vigor no dia 08/10/2006.

    Lei n. 6.368/76

    Antes da lei atual, os delitos relacionados com entorpecentes estavam tipificados na Lei n. 6.368/76.

    A Lei n. 11.343/2006, em seu art. 75, revogou expressamente a Lei n. 6.368/76. Preceito secundrio do art. 33, caput, mais gravoso aos rus A pena mnima do crime de trfico de drogas foi aumentada. Comparemos:

    Pena do trfico de drogas na lei anterior

    (art. 12, caput, da Lei n. 6.368/76)

    Pena do trfico de drogas na lei atual

    (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006) 3 a 15 anos 5 a 15 anos

    O art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 retroativo? Deve ser aplicado aos fatos ocorridos antes de 08/10/2006? NO. Trata-se de novatio legis in pejus, ou seja, uma inovao legislativa que agravou a situao dos rus. Logo, irretroativo. 4 do art. 33 mais benfico aos rus

    A Lei n. 11.343/2006 trouxe uma nova causa de diminuio de pena aplicvel ao trfico de drogas (caput do art. 33) e s figuras equiparadas. Trata-se do 4 do art. 33, denominado de trfico privilegiado. Vejamos o que ele preconiza:

    Lei n. 6.368/76 Lei n. 11.343/2006

    No existia causa de diminuio de pena para o pequeno traficante. Logo, mesmo que o agente fosse primrio, de bons antecedentes e no integrasse organizao criminosa, ainda assim no teria direito a qualquer causa de reduo da pena.

    Passou a prever a figura do pequeno traficante:

    4 Nos delitos definidos no caput e no 1 deste artigo, as penas podero ser reduzidas de um sexto a dois teros, vedada a converso em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primrio, de bons antecedentes, no se dedique s atividades criminosas nem integre organizao criminosa.

    Perceba, portanto, que o 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 constitui-se em uma novatio legis in mellius, ou seja, uma inovao legislativa benfica aos acusados.

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    Tese defensiva pela combinao das duas leis: Diante desse panorama, foi idealizada a seguinte tese:

    Se o ru praticou trfico de drogas antes da vigncia da Lei n. 11.343/2006, a ele dever

    ser aplicada a pena prevista no art. 12, caput, da Lei n. 6.368/76, incidindo, no entanto, a

    causa de diminuio de pena do 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006. Exemplo: Joo, 18 anos, primrio e de bons antecedentes, nunca havia se envolvido com qualquer fato criminoso. Em determinado dia, por conta de dificuldades financeiras, decidiu aceitar proposta para transportar droga de uma boca-de-fumo para outra. No meio do caminho, foi parado pela polcia e preso em flagrante pela prtica de trfico de drogas. Esse fato ocorreu em 07/10/2006.

    Joo foi denunciado pela prtica do crime previsto no art. 12, da Lei n. 6.368/76. Ru confesso, nas alegaes finais, a Defensoria Pblica pediu que Joo recebesse a pena

    mnima do art. 12 da Lei n. 6.368/76 (3 anos) e que fosse reconhecida sua condio de

    pequeno traficante, aplicando-se a ele a reduo prevista no 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006. Em suma, o que pediu a Defensoria: Pena do art. 12 da Lei 6.368/76 (3 anos) + diminuio do 4 do art. 33 da Lei 11.343/2006 (2/3) = 1 ano.

    Perceba que essa tese utiliza a combinao de duas partes de leis diferentes: a Lei n.

    6.368/76 e a Lei n. 11.343/2006. Essa tese aceita pelo STJ e pelo STF?

    NO. No possvel fazer incidir a causa de diminuio prevista no 4 do art. 33 da Lei n.

    11.343/06 na pena do art. 12 da Lei n. 6.368/76, sob pena de se estar criando uma terceira norma (lex tertia), no elaborada e jamais prevista pelo legislador. Se fosse admitida essa tese, o Poder Judicirio atuaria como verdadeiro legislador positivo, o que viola a separao dos poderes (art. 2, da CF/88).

    O art. 33, 4 da Lei n. 11.343/06 inovou no ordenamento jurdico ptrio ao prever uma causa de diminuio de pena explicitamente vinculada ao novo apenamento previsto no caput do art. 33 da nova Lei. Dessa forma, a aplicao da referida minorante deve incidir to somente em relao pena prevista no caput e no 1 do art. 33 da Lei n 11.343/2006. Nesse sentido: STJ 3 Seo. EREsp 1094499/MG, Rel. Min. Felix Fischer, Terceira Seo, julgado em 12/05/2010. Em suma, no permitida, nem mesmo para beneficiar o ru, a combinao de dispositivos de leis diversas, criando uma terceira norma (lex tertia) no estabelecida pelo legislador, sob pena de violao aos princpios da legalidade, da anterioridade da lei penal (art. 1 do Cdigo Penal) e da separao de poderes. O STJ editou at mesmo uma smula para espelhar esse entendimento:

    Smula 501-STJ: cabvel a aplicao retroativa da Lei 11.343/06, desde que o resultado da incidncia das suas disposies, na ntegra, seja mais favorvel ao ru do que o advindo da aplicao da Lei 6.368/76, sendo vedada a combinao de leis.

    O Plenrio do STF, em regime de repercusso geral, tambm decidiu dessa forma: RE 600817/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 7/11/2013 (Info 727).

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    Aplicao retroativa do 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006

    Mas o 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 pode ser aplicado a fatos ocorridos antes da sua vigncia? SIM, possvel se, diante do caso concreto, isso se mostrar vantajoso ao ru, mas desde

    que a reduo incida sobre a pena prevista na Lei n. 11.343/2006. Assim, a minorante do 4 do art. 33 pode ter aplicao retroativa, mas desde que a pena a ser considerada como parmetro seja a prevista no caput do art. 33 da Lei n 11.343/2006. O Min. Flix Fischer pontua que: a retroatividade deve ser total, mas jamais parcial, fruto da combinao de leis, pois no caso em exame, reitere-se, a causa de diminuio somente possui razo de ser se analisada em conjunto nova faixa de apenamento trazida pelo novo diploma legal. (...) deve-se, caso a caso, verificar qual a situao mais vantajosa ao condenado: se a aplicao das penas insertas na antiga lei - em que a pena mnima mais baixa - ou a aplicao da nova lei na qual, muito embora contemple penas mais altas, prev a possibilidade de incidncia da causa de diminuio. Contudo, de forma alguma admitir-se- a combinao dos textos legais. (EREsp 1094499/MG).

    Em palavras simples, se o ru praticou o trfico de drogas antes da Lei n. 11.343/2006,

    deve-se analisar, no caso concreto, se para ele mais vantajoso aplicar a Lei n. 6.368/76 ou

    a Lei n. 11.343/2006. A aplicao tem que ser de uma ou de outra, na integralidade. No pode utilizar a pena de uma com a diminuio da outra. Vejamos com base em um exemplo hipottico: Carlos, primrio, bons antecedentes e sem envolvimento com organizao criminosa,

    praticou trfico de drogas antes da Lei n. 11.343/2006. O juiz reconhece que ele era um pequeno traficante e decide aplicar o 4 do art. 33 da

    Lei n. 11.343/2006. O referido 4 permite que o juiz reduza a pena de 1/3 a 2/3. Qual o critrio utilizado pelo juiz para escolher o percentual de reduo que ser aplicado? O magistrado dever levar em considerao a natureza e a quantidade da droga, a

    personalidade e a conduta social do agente, nos termos do art. 42 da Lei n. 11.343/2006. Hiptese 1: Se o juiz entender que os critrios do art. 42 so negativos e que, portanto, dever aplicar a causa de diminuio do 4 do art. 33 no mnimo (1/6): nesse caso, mais benfico ao ru

    que seja aplicada a Lei n. 6.368/76. Isso porque se o juiz aplica o redutor em 1/6: ele ir reduzir 1/6 de 5 anos (pena mnima do

    art. 33 da Lei n. 11.343/2006), alcanando a pena de 4 anos e 2 meses. Logo, melhor deixar de lado a causa de diminuio do 4 do art. 33 e aplicar somente a

    Lei n. 6.368/76, que tem pena mnima de 3 anos. Obs: no exemplo dado acima, como o art. 42 era desfavorvel, a pena-base (art. 59 do CP) no seria a pena mnima. No entanto, mantive a pena no mnimo apenas para facilitar a demonstrao dos clculos.

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    Hiptese 2: Se o juiz entender que os critrios do art. 42 so favorveis e que, portanto, dever aplicar a causa de diminuio do 4 do art. 33 no mximo (2/3): nesse caso, mais benfico ao ru

    que seja aplicada a nova Lei n. 11.343/2006. Isso porque se o juiz aplica o redutor em 2/3: ele ir reduzir 2/3 de 5 anos (pena mnima da

    Lei n. 11.343/2006), alcanando a pena de 1 ano e 8 meses.

    Logo, melhor deixar de lado a Lei n. 6.368/76 e aplicar a causa de diminuio do 4 do

    art. 33, que dever incidir, conforme j explicado, sobre a pena da Lei n. 11.343/2006. Resumindo:

    A causa de diminuio de pena prevista no 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 no

    pode ser aplicada incidindo sobre a pena do art. 12 da Lei n. 6.368/76. Ao fazer isso, o Judicirio estaria fazendo a combinao de duas leis e criando uma terceira (lex tertia), o que vedado pelo ordenamento jurdico.

    Assim, a reduo prevista no 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 dever sempre incidir sobre a pena prevista no caput do art. 33 (de 5 a 15 anos);

    A causa de diminuio de pena prevista no 4 do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 pode ser aplicada a fatos ocorridos antes da sua vigncia. No entanto, para isso, necessrio que, no caso concreto, se verifique qual o percentual de reduo que seria aplicado ao ru e, ento, se compare se para ele ser mais vantajoso receber a pena do art. 33,

    caput c/c o 4, da Lei n. 11.343/2006 ou se ser melhor ficar com a pena do art. 12

    da Lei n. 6.368/76.

    Processo STF. Plenrio. RE 600817/MS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 7/11/2013 (repercusso geral).

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    No se deve anular julgamento colegiado no qual participou julgador impedido se a excluso de seu voto no alterar o resultado da deciso

    No julgamento de determinado Recurso Especial, a Turma do STJ, por unanimidade de votos (5x0), proferiu deciso contrria ao ru. Posteriormente, descobriu-se que determinada Ministra estava impedida e no poderia ter votado. O STF entendeu que no deveria ser decretada a nulidade do julgamento considerando que a Turma composta por cinco julgadores e, se fosse excludo o voto da Ministra impedida, mesmo assim no haveria modificao no resultado do julgamento. Em suma, no se verifica prejuzo na hiptese em que Ministro impedido participa de julgamento cujo resultado unnime, pois a subtrao do voto desse magistrado no teria a capacidade de alterar o resultado da votao. Comentrios IMPEDIMENTO

    Conceito Impedimentos so determinadas situaes taxativas nas quais o legislador previu que, se ocorressem, o magistrado estaria proibido de atuar no processo penal, uma vez que haveria uma presuno absoluta de que, em tais casos, o julgador no teria imparcialidade para atuar.

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    Diferenas entre as causas de impedimento e suspeio (doutrina majoritria):

    IMPEDIMENTO SUSPEIO

    Previstas nos arts. 252 e 253 do CPP. Previstas no art. 254 do CPP.

    Rol taxativo (numerus clausus). Rol exemplificativo (numerus apertus). Ex: a suspeio por razes de foro ntimo no consta no CPP.

    Representam circunstncias objetivas relacionadas com fatos internos do processo (ex: a advogada da causa cnjuge do juiz).

    Representam circunstncias subjetivas relacionadas com fatos externos ao processo (ex: o juiz amigo ntimo do ru).

    Causam uma incapacidade objetiva do juiz. Causam uma incapacidade subjetiva do juiz.

    Se o juiz impedido atua no processo, haver inexistncia dos atos por ele praticados (mas o STF defende que pode ser aproveitado o ato se no houve prejuzo).

    Se o juiz suspeito atua no processo, haver nulidade absoluta (art. 564, I, do CPP).

    Veja a situao descrita no inciso III do art. 252 do CPP:

    Art. 252. O juiz no poder exercer jurisdio no processo em que: III - tiver funcionado como juiz de outra instncia, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questo;

    Imagine agora a seguinte situao adaptada: No julgamento de um recurso, no Tribunal de Justia de Sergipe, a Desembargadora proferiu voto contrrio ao ru. O condenado interps, ento, recurso especial contra essa deciso. Quando o Resp foi ser julgado no STJ, a mesma Desembargadora que havia participado do julgamento no TJ, estava convocada na 5 Turma do STJ, ou seja, estava l atuando como Ministra. No se percebeu essa situao e o recurso do ru foi negado por unanimidade de votos, pela 5 Turma do STJ. Vale ressaltar que a referida Desembargadora convocada no foi a relatora do Resp, mas votou acompanhando o voto do Ministro Relator. Diante disso, o ru impetrou habeas corpus no STF alegando que o julgamento do Resp foi inexistente ou, no mnimo nulo, porque houve o impedimento previsto no art. 252, III, do CPP. A 1 Turma do STF concordou com o pedido da defesa? NO. Em tema relacionado com nulidades, deve prevalecer o princpio do prejuzo (pas de nullit sans grief), segundo o qual nenhum ato ser declarado nulo, se da nulidade no resultar prejuzo para a acusao ou para a defesa (art. 563 do CPP). Em outras palavras, para a jurisprudncia do STF, a decretao de nulidade (seja ela absoluta ou relativa) est condicionada demonstrao do prejuzo. Isso decorre do fato de que no se deve prestigiar a forma pela forma. Assim, se do vcio no defluir nenhum prejuzo, o ato deve ser preservado. No caso, no houve prejuzo ao ru porque a deciso proferida pela 5 Turma do STJ (no qual participou a Desembargadora convocada) foi tomada por unanimidade de votos. Assim, no haveria alterao no julgamento, caso se desconsiderasse a presena da magistrada, uma vez que a Turma composta por cinco Ministros. Seria, portanto, intil pronunciar a nulidade, uma vez que a excluso do voto da Ministra impedida no modificaria o resultado do julgamento.

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    Processo STF. 1 Turma. HC 116715/SE, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 5/11/2013.

    DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR (obs: este julgado somente interessa para os concursos que exigem a matria)

    ineficaz a deciso que declara extinta a punibilidade pelo cumprimento do sursis se, em recurso do MPM, o STM aumenta a pena e exclui o benefcio

    ineficaz a deciso que declara extinta a punibilidade pelo cumprimento do sursis se, em decorrncia do provimento de apelao interposta pelo Ministrio Pblico Militar, for aumentada a pena aplicada, de modo a excluir o benefcio. Essa situao est expressamente descrita no art. 613 do CPM: Art. 613. A suspenso tambm ficar sem efeito se, em virtude de recurso interposto pelo Ministrio Pblico, for aumentada a pena, de modo que exclua a concesso do benefcio. Comentrios Imagine a seguinte situao adaptada:

    O Ministrio Pblico Militar denunciou a r por peculato (art. 303, 1 do CPM). O Conselho Permanente de Justia para a Marinha da Auditoria da 6 CJM julgou parcialmente procedente a denncia, desclassificando a conduta para apropriao indbita (art. 248 do CPM), condenando a r a 1 ano e 2 meses de recluso, concedido o sursis pelo prazo de 2 anos. Em 26/01/2010, realizou-se sesso para leitura da sentena condenatria, seguindo-se realizao de audincia para apresentao das condies do sursis pelo Juiz-Auditor. O MPM no concordou com a desclassificao e, em 29/01/2010, interps apelao a ser julgada pelo Superior Tribunal Militar. Extino da punibilidade pelo cumprimento do sursis Em 22/5/2012, o Juiz-Auditor declarou extinta a punibilidade da r pelo cumprimento integral do sursis em sede de execuo provisria, nos termos do art. 87 do CPM c/c art. 615 do CPPM:

    Art. 87. Se o prazo expira sem que tenha sido revogada a suspenso, fica extinta a pena privativa de liberdade. Art. 615. Expirado o prazo da suspenso, ou da prorrogao, sem que tenha havido motivo de revogao, a pena privativa da liberdade ser declarada extinta.

    Julgamento do recurso continuou no STM O Juiz-Auditor comunicou ao Ministro Relator do recurso no STM sobre a extino da punibilidade da r. Mesmo assim, o STM prosseguiu no julgamento da apelao e, em 9/8/2012, deu provimento ao recurso para condenar a r pela prtica do crime de peculato (art. 303 do CPM), conforme havia pedido o MPM, fixando-lhe a pena de 4 anos de recluso e tornando sem efeito o cumprimento do sursis e a extino da punibilidade. Contra a deciso do STM, a defesa impetrou HC no STF. O que decidiu o STF? Para a 2 Turma do STF, a deciso do STM foi acertada. ineficaz a deciso que declara extinta a punibilidade pelo cumprimento do sursis se, em decorrncia do provimento de apelao interposta pelo Ministrio Pblico Militar, for aumentada a pena aplicada, de modo a excluir o benefcio. Essa situao est

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    expressamente descrita no art. 613 do CPM:

    Art. 613. A suspenso tambm ficar sem efeito se, em virtude de recurso interposto pelo Ministrio Pblico, for aumentada a pena, de modo que exclua a concesso do benefcio.

    O STM, ao prover o recurso interposto pelo Ministrio Pblico Militar, condenou a r a crime diverso e mais gravoso do que aquele pelo qual fora condenada em primeiro grau, afastada a possibilidade de se obter o sursis. Pelo sistema legal em vigor, a eficcia do sursis fica condicionada ao resultado do recurso interposto pelo Ministrio Pblico.

    Processo STF. 2 Turma. HC 115252/BA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 5/11/2013.

    DIREITO TRIBUTRIO

    Aps a EC 33/2001, constitucional o ICMS sobre a importao de bens, sendo irrelevante a classificao jurdica do ramo de atividade da empresa importadora

    Aps a EC 33/2001, CONSTITUCIONAL a instituio do ICMS incidente sobre a importao de bens, sendo irrelevante a classificao jurdica do ramo de atividade da empresa importadora. Antes da EC/2001 essa prtica era inconstitucional. As leis estaduais anteriores LC federal 114/2002 que previam a cobrana de ICMS importao para pessoas que no fossem contribuintes habituais de imposto so invlidas, considerando que o sistema jurdico brasileiro no contempla a figura da constitucionalidade superveniente. Para ser constitucionalmente vlida a incidncia do ICMS sobre operaes de importao de bens, as modificaes no critrio material na base de clculo e no sujeito passivo da regra-matriz deveriam ter sido realizadas em lei posterior EC 33/2001 e LC 114/2002. A smula 660 do STF est superada. Comentrios Previso

    O ICMS um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:

    Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: II - operaes relativas circulao de mercadorias e sobre prestaes de servios de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicao, ainda que as operaes e as prestaes se iniciem no exterior;

    Caractersticas Principais caractersticas do imposto:

    Plurifsico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princpio da no-cumulatividade;

    Real: as condies da pessoa so irrelevantes;

    Proporcional: no progressivo;

    Fiscal: tem como funo principal a arrecadao.

    Fatos geradores Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores (Manual de Direito Tributrio. 4 ed., So Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):

    Circulao de mercadorias;

    Prestao de servios de transporte intermunicipal;

    Prestao de servios de transporte interestadual;

    Prestao de servios de comunicao. Vale ressaltar que incide o ICMS mesmo que as operaes e as prestaes se iniciem no

    ATENO

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    exterior (art. 155, II, da CF/88). ICMS IMPORTAO A CF/88 prev que haver cobrana de ICMS nos casos de mercadoria importada do exterior ou nas hipteses de servio prestado no exterior. Ex: uma empresa que fabrica roupas dever pagar ICMS se importou da China uma mquina txtil para utilizar em sua linha de produo. At aqui, tudo bem, sem muitas dvidas. A polmica est na resposta para as trs perguntas a seguir:

    Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa fsica no contribuinte habitual do imposto, haveria incidncia de ICMS?

    Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa jurdica no comerciante (no contribuinte habitual do imposto), haveria incidncia de ICMS?

    Se a mercadoria foi importada pela empresa sem finalidade comercial (no seria utilizada em sua cadeia produtiva), mesmo assim haveria incidncia de ICMS?

    A resposta para tais perguntas ir depender do momento em que foi realizado o FG, isto , se antes ou depois da EC 31/2001.

    Redao originria da CF/88 (antes da EC 31/2001)

    Redao atual da CF/88 (depois da EC 31/2001)

    Resposta: NO O STF entendeu que a redao do art. 155, 2, IX, a, da CF/88 no autorizava a cobrana do ICMS importao nos trs casos acima listados. S pagava o ICMS importao quem fosse contribuinte habitual do imposto.

    Resposta: SIM O Governo, com o objetivo de modificar esse entendimento do STF e autorizar a cobrana do ICMS, editou a EC 31/2001 alterando a redao do art. 155, 2, IX. Assim, atualmente, com a redao dada pela EC 33/2001, o ICMS incide sobre toda e qualquer importao. Independentemente de a pessoa ser contribuinte ou no do ICMS, dever pagar o ICMS importao.

    Veja a redao originria da CF/88: Incide tambm o ICMS: a) sobre a entrada de mercadoria importada do exterior, ainda quando se tratar de bem destinado a consumo ou ativo fixo do estabelecimento, assim como sobre servio prestado no exterior, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o estabelecimento destinatrio da mercadoria ou do servio;

    Veja a redao atual da CF/88: Incide tambm o ICMS: a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa fsica ou jurdica, ainda que no seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade, assim como sobre o servio prestado no exterior, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o domiclio ou o estabelecimento do destinatrio da mercadoria, bem ou servio;

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    Na poca, o STF chegou a editar uma smula espelhando seu entendimento: Smula 660-STF: No incide ICMS na importao de bens por pessoa fsica ou jurdica que no seja contribuinte do imposto.

    Diante da nova redao da CF/88, o entendimento exposto nessa Smula 660 est SUPERADO. A referida smula no vale mais.

    A fim de adequar a legislao do ICMS nova disciplina da EC 31/2001, o Congresso Nacional editou a Lei Complementar 114/2002, alterando a LC 87/96 (que trata do ICMS) para regular os casos de ICMS importao. Isso era necessrio para cumprir o art. 146, III, a, da CF/88:

    Art. 146. Cabe lei complementar: (...) III - estabelecer normas gerais em matria de legislao tributria, especialmente sobre: a) definio de tributos e de suas espcies, bem como, em relao aos impostos discriminados nesta Constituio, a dos respectivos fatos geradores, bases de clculo e contribuintes;

    O Plenrio do STF, em julgamento submetido ao regime de repercusso geral, reafirmou o panorama acima explicado e decidiu que, aps a EC 33/2001, CONSTITUCIONAL a instituio do ICMS incidente sobre a importao de bens, sendo irrelevante a classificao jurdica do ramo de atividade da empresa importadora (RE 439796/PR e RE 474267/RS). Pode-se dizer que as leis estaduais que autorizavam a incidncia do ICMS importao em todos os casos e que foram editadas antes da EC 31/2001 e da LC 114/2002 foram validadas? NO. Os Estados-membros que se precipitaram e previram em suas leis estaduais a incidncia do ICMS importao em todos os casos, fizeram isso sem o necessrio fundamento de validade constitucional. Logo, as leis estaduais e os lanamentos tributrios realizados antes da LC 114/2002 so invlidos, considerando que o sistema jurdico brasileiro no contempla a figura da constitucionalidade superveniente. Para ser constitucionalmente vlida a incidncia do ICMS sobre operaes de importao de bens, as modificaes no critrio material na base de clculo e no sujeito passivo da regra-matriz deveriam ter sido realizadas em lei posterior EC 33/2001 e LC 114/2002.

    Processo STF. Plenrio. RE 439796/PR; RE 474267/RS, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgados em 6/11/2013 (Info 727) (repercusso geral)

    JULGADOS QUE NO FORAM COMENTADOS POR SEREM DE MENOR RELEVNCIA PARA CONCURSOS PBLICOS

    Aposentadoria de magistrado e art. 184, II, da Lei 1.711/1952 - 3 Em concluso de julgamento, o Plenrio, por maioria, denegou mandado de segurana em que se pleiteava o aumento de 20% sobre os proventos referentes remunerao da ltima classe da carreira de magistrado de TRT, nos termos do art. 184, II, da Lei 1.711/1952 (O funcionrio que contar 35 anos de servio ser aposentado: ... II - com provento aumentado de 20% quando ocupante da ltima classe da respectiva carreira) v. Informativo 726. No caso, o impetrante se aposentou como Ministro do TST. Sustentava que, mesmo antes de sua posse no cargo de Ministro do TST, j possua mais de 35 anos

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    averbados para fins de aposentadoria, ou seja, j teria direito adquirido a se aposentar como juiz do TRT. Prevaleceu o voto do Ministro Gilmar Mendes, relator. Afirmou que no haveria direito ao benefcio de acrscimo de 20% sobre os proventos do cargo de Ministro do TST, com fundamento no art. 184, III, da Lei 1.711/1952 (O funcionrio que contar 35 anos de servio ser aposentado: ... III - com a vantagem do inciso II, quando ocupante de cargo isolado se tiver permanecido no mesmo durante trs anos), porquanto o impetrante confessara, expressamente, na petio inicial, no cumprir o requisito temporal de permanncia de trs anos no cargo isolado de Ministro at a data em que essa norma deixara de vigorar. Rememorou precedente do STF em que se afirmara que ocupante de cargo de Ministro de tribunal superior no poderia pleitear o benefcio do inciso II do art. 184 da Lei 1.711/1952, apenas o do inciso III do dispositivo legal supracitado (MS 24042/DF, DJU de 31.10.2003). Consignou que, ao assumir cargo isolado, no poderia o impetrante alegar direito a benefcio cujos requisitos fossem inerentes carreira que deixara por vontade prpria. Desta forma, destacou que o impetrante abrira mo do regime jurdico de magistrado trabalhista para assumir o cargo isolado de Ministro do TST e, assim, assumira novas regras a serem cumpridas (Lei 1.711/1952, art. 184, III, c/c a Lei 8.112/1990, art. 250).

    O Ministro Teori Zavascki sublinhou que o impetrante poderia requerer aposentadoria tanto como juiz do TRT, com o adicional de 20%, quanto como Ministro do TST, sem os 20%. Entretanto, no poderia pleitear o referido adicional sobre a remunerao de Ministro do TST, como fizera na petio do mandado de segurana. O Ministro Marco Aurlio ressaltou que o impetrante, para chegar ao TST, teria sido exonerado do cargo de juiz do TRT, motivo pelo qual no teria direito aposentadoria neste cargo. Vencidos os Ministros Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello, que ponderavam ser possvel interpretar o pedido, ao analisar toda a petio e no apenas o captulo final do pedido. Deste modo, inferiam ser possvel conceder a ordem, em menor extenso, para reconhecer o direito aposentadoria no cargo de juiz do TRT com o aludido adicional. Assinalavam que o impetrante reunira os requisitos para se aposentar como magistrado do TRT, beneficiando-se da vantagem do art. 184, II, da Lei 1.711/1952. Sublinhavam que o fato de ter tomado posse, depois, como Ministro do TST no afetaria essa situao jurdica, que constituiria direito adquirido em seu favor (Enunciado 359 da Smula do STF). Asseveravam que, embora as posies de Ministro do TST fossem consideradas cargos isolados para vrios fins, o juiz do trabalho que ocupasse cargo de Ministro do TST, em vaga reservada magistratura de carreira, no renunciaria condio de juiz, especialmente porque manteria os direitos adquiridos nessa condio. Reputavam que a finalidade do art. 184, II, da Lei 1.711/1952 seria premiar o agente pblico que tivesse atingido o topo da carreira, razo pela qual no poderia ser interpretado de forma a prejudicar o magistrado que avanasse para alm desse topo. MS 25079/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 6.11.2013.

    OUTRAS INFORMAES QUE CONSTAM NO INFORMATIVO ORIGINAL

    R E P E R C U S S O G E R A L DJe 4 a 8 de novembro de 2013

    REPERCUSSO GERAL EM RE N. 719.870-MG

    RELATOR: MIN. MARCO AURLIO

    PRESTAO JURISDICIONAL COMPLETUDE CARGOS DEFINIO AUSNCIA DE MANIFESTAO DO TRIBUNAL DE ORIGEM QUANTO EXCEO A AFASTAR O CONCURSO RECURSO EXTRAORDINRIO REPERCUSSO GERAL CONFIGURADA. Possui repercusso geral a controvrsia relativa nulidade do acrdo formalizado pelo Tribunal de origem, quando, instado a

    emitir entendimento sobre o tema de defesa versado no recurso, quedar-se silente, incorrendo em negativa de prestao jurisdicional.

    REPERCUSSO GERAL EM RE N. 745.811-PA

    RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

    Recurso extraordinrio. Repercusso geral da questo constitucional reconhecida. 2. Direito Administrativo. Servidor pblico. 3. Extenso, por meio de

    emenda parlamentar, de gratificao ou vantagem prevista pelo projeto do Chefe do Poder Executivo. Inconstitucionalidade. Vcio formal. Reserva de

    iniciativa do Chefe do Poder Executivo para edio de normas que alterem o padro remuneratrio dos servidores pblicos. Art. 61, 1, II, a, da Constituio Federal. 4. Regime Jurdico nico dos Servidores Pblicos Civis da Administrao Direta, das Autarquias e das Fundaes Pblicas do

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    Estado do Par (Lei 5.810/1994). Artigos 132, inciso XI, e 246. Dispositivos resultantes de emenda parlamentar que estenderam gratificao, inicialmente prevista apenas para os professores, a todos os servidores que atuem na rea de educao especial. Inconstitucionalidade formal. Artigos 2 e 63, I, da

    Constituio Federal. 5. Recurso extraordinrio provido para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 132, XI, e 246 da Lei 5.810/1994, do Estado do Par.

    Reafirmao de jurisprudncia.

    REPERCUSSO GERAL EM ARE N. 738.109-RS

    RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

    EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO. SUSPENSO DE AO

    INDIVIDUAL EM RAZO DE AJUIZAMENTO DE AO CIVIL PBLICA COM A MESMA FINALIDADE. MATRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSNCIA DE REPERCUSSO GERAL (ART. 543-A DO CPC).

    1. A controvrsia a respeito da viabilidade da suspenso de ao individual, por fora de propositura de ao coletiva de natureza infraconstitucional no

    havendo, portanto, matria constitucional a ser analisada (AI 830.805-AgR/DF, Rel. Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe de 23.5.2012; ARE 642.119-AgR/DF, Rel. Min. CRMEN LCIA, Primeira Turma, DJe de 15.3.2012; AI 807.715-AgR/SP, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma,

    DJe de 25.11.2010; AI 789.312-AgR/MG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe de 25.10.2010).

    2. No h violao ao art. 5, inciso XXXV, da Constituio Federal, por suposta omisso no sanada pelo acrdo recorrido ante o entendimento da Corte que exige, to somente, sua fundamentao, ainda que sucinta (AI 791.292 QO-RG/PE, Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe de 13.8.2010),

    nem ao seus incisos II, XXXVI, LIV e LV, em razo de necessidade de reviso de interpretao de norma infraconstitucional (AI 796.905-AgR/PE,

    Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe de 21.5.2012; AI 622.814-AgR/PR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe de 08.3.2012; ARE 642.062-AgR/RJ, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe de 19.8.2011).

    3. A matria infraconstitucional utilizada como razo de decidir pelo acrdo recorrido tendo sido confirmada, definitivamente, pelo Superior

    Tribunal de Justia, torna-se imutvel e, sendo suficiente para sua manuteno, faz incidir o bice da Smula/STF 283. 4. Norma definidora de princpios fundantes da Repblica, por ser disposio demasiado genrica, insuficiente para infirmar o juzo formulado pelo

    acrdo recorrido.

    5. cabvel a atribuio dos efeitos da declarao de ausncia de repercusso geral quando no h matria constitucional a ser apreciada ou quando eventual ofensa Constituio Federal se d de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG/SP, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Pleno, DJe de 13.3.2009).

    6. Ausncia de repercusso geral da questo suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.

    Decises Publicadas: 3

    C L I P P I N G D O D JE 4a 8 de novembro de 2013

    AG. REG. NO SEGUNDO AG. REG. NO RE N. 590.164-SP

    RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

    EMENTA: Agravo regimental no segundo agravo regimental no recurso extraordinrio. Verba de representao de Procuradores do Estado

    de So Paulo. Incluso no teto remuneratrio. Precedentes. 1. A verba de representao recebida pelos Procuradores do Estado de So Paulo no se caracteriza como vantagem de natureza pessoal e, por isso,

    deve ser includa no teto remuneratrio da categoria.

    2. Agravo regimental no provido.

    RHC N. 116.672-SP

    RELATORA: MIN. ROSA WEBER

    EMENTA: RECURSO ORDINRIO EM HABEAS CORPUS. CORRUPO PASSIVA. ADEQUAO TPICA. QUESTO NO ANALISADA PELAS INSTNCIAS ORDINRIAS.

    1. Comprovada a solicitao de vantagem indevida para pleitear perante a Administrao Pblica o reequilbrio econmico-financeiro do contrato da

    vtima, a conduta do Recorrente amolda-se ao tipo previsto no art. 317 do Cdigo Penal (corrupo passiva). 2. No prospera o pleito fundado em suposto equvoco na tipificao do delito pelas instncias ordinrias, perante as quais a Defesa no apresentou

    essa tese, suscitada apenas quando da impetrao do habeas corpus no Superior Tribunal de Justia, via que no permite a ampla valorao dos fatos

    e provas necessria para seu acolhimento. 3. Recurso ordinrio a que se nega provimento.

    *noticiado no Informativo 717

    EMB. DECL. NO Inq N. 2.471-SP

    RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

    EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAO NO RECEBIMENTO DA DENNCIA. AUSNCIA DE OMISSO, OBSCURIDADE OU

    CONTRADIO. REDISCUSSO DA MATRIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS DECLARATRIOS

    REJEITADOS. I - Da leitura do voto condutor do acrdo ora embargado, verifica-se que o embargante apenas busca renovar a discusso de questes j apreciadas

    no acrdo embargado.

    II - Inexistncia de omisso, ambiguidade, obscuridade ou contradio que devam ser reparadas. III- Embargos declaratrios rejeitados.

    *noticiado no Informativo 642

    HC N. 108.749-DF

    RELATORA: MIN. CRMEN LCIA

    EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. INSTALAO DE NOVAS VARAS POR PROVIMENTO DE

    TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL. REDISTRIBUIO DE PROCESSOS. NO-CONFIGURAO DE NULIDADE. PRECEDENTES.

    ORDEM DENEGADA. 1. A al. a do inc. I do art. 96 da Constituio Federal autoriza alterao da competncia dos rgos do Poder Judicirio por deliberao dos tribunais.

    Precedentes.

    2. Redistribuio de processos, constitucionalmente admitida, visando a melhor prestao da tutela jurisdicional, decorrente da instalao de novas varas em Seo Judiciria do Tribunal Regional Federal da 3 Regio, no ofende os princpios constitucionais do devido processo legal, do juiz

    natural e da perpetuatio jurisdictionis.

    3. Ordem denegada.

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    * noticiado no Informativo 726

    TRANSCRIES

    Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreenso mais

    aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espao trechos de decises que tenham

    despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurdica.

    ADO: Mora legislativa e elaborao da lei de defesa do usurio de servios pblicos (Transcries)

    ADO 24/DF*

    RELATOR: Ministro Dias Toffoli

    DECISO: Vistos.

    Trata-se de ao direta de inconstitucionalidade por omisso, com pedido de medida cautelar, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos

    Advogados do Brasil (CFOAB) em face da Presidente da Repblica, da Cmara dos Deputados e do Senado Federal, tendo como objeto a mora

    legislativa na elaborao da lei de defesa do usurio de servios pblicos, nos termos do art. 27 da Emenda Constitucional n 19, de 4 de junho de 1998, cujo teor o seguinte:

    Art. 27. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgao desta Emenda, elaborar lei de defesa do usurio de servios pblicos.

    Sustenta o requerente ser manifesta a omisso legislativa do Congresso Nacional, tendo em vista que j transcorreram mais de 14 (quatorze)

    anos da promulgao da Emenda Constitucional n 19 (1998) sem que tenha sido elaborada a lei de defesa do usurio de servios pblicos, no obstante o expresso estabelecimento do prazo de 120 (cento e vinte) dias.

    Informa a parte que, na Cmara dos Deputados, tramita o Projeto de Lei n 6.953/2002 (Substitutivo do PL n 674/1999), atualmente pendente

    de anlise e de deliberao no mbito da Comisso de Constituio e Justia e de Cidadania (CCJC) daquela Casa. Aponta, ademais, para a imprescindibilidade da imediata edio da lei em comento, uma vez que a atividade de servio pblico emerge como

    um instrumento de satisfao direta e imediata dos direitos fundamentais, notadamente a dignidade da pessoa humana, expressamente disposta no art.

    1, inciso III[,] da Constituio Federal. Acrescenta, a propsito, as previses contidas no art. 37, 3, e no art. 175, II, ambos da Carta Magna, os quais alaram a defesa do usurio de

    servio pblico ao status de preceito constitucional.

    Defende, ento, o requerente que, enquanto no for editada a referida legislao, sejam aplicadas, subsidiariamente, as disposies do Cdigo de Defesa e Proteo do Consumidor (CDC), de forma a suprimir o vcuo legislativo e garantir o mnimo de proteo aos usurios de servios

    pblicos, inclusive para aqueles prestados diretamente pelo Poder Pblico, pois, de certa forma, a jurisprudncia dos Tribunais brasileiros j adota

    essa diretriz na soluo das lides entre os cidados e as empresas concessionrias de servios pblicos. Por essas razes, com fundamento no art. 12-F da Lei 9.868/99, pede o autor, in verbis, o deferimento de medida cautelar para, imediatamente:

    (a.1) determinar aos Presidentes da Cmara dos Deputados e do Senado Federal, bem assim Presidncia da Repblica, que adotem providncias para que a anlise do Projeto de Lei n 6.953/2002 (Substitutivo do PL n 674/1999) e sua converso em lei ocorram, no prazo mximo, de 120 (cento e vinte) dias, a contar da intimao da r. deciso que deferir a medida cautelar;

    (a.2) determinar a aplicao subsidiria e provisria da Lei n 8.078/90 Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor enquanto no

    editada Lei de Defesa dos Usurios de Servios Pblico, de modo a resguardar minimamente o cidado contribuinte em suas relaes com o Poder Pblico.

    No mrito, requer:

    (e) a procedncia do pedido de mrito para que seja declarada a mora legislativa do Congresso Nacional na elaborao da Lei de Defesa do Usurio de Servios Pblicos, em evidente afronta aos termos do artigo 27 da Emenda Constitucional n 19/1998.

    (f) por fim, e caso no deferida a medida cautelar, o estabelecimento/determinao dessa Eg. Corte de prazo mximo de 120 (cento e vinte) dias, contados da data de julgamento da presente ao, para que o Congresso Nacional elabore a Lei de Defesa do Usurio de Servios

    Pblicos, conforme fundamentao aduzida nesta ao.

    o breve relato.

    Examinados os elementos havidos nos autos, em carter excepcional, diante da relevncia da matria e da gravidade do quadro n arrado,

    bem como da proximidade do recesso desta Suprema Corte, examino monocraticamente, ad referendum do Plenrio, o pedido de medida

    cautelar, sem a audincia dos rgos ou das autoridades responsveis pela apontada inconstitucionalidade por omisso, conforme preced entes desta Corte, tais como: ADPF n 130/DF-MC, Rel. Min. Ayres Britto, DJ de 27/2/08; ADI n 4.307/DF-MC, Rel. Min. Crmen Lcia, DJ de

    8/10/09; ADI n 4.598/DF-MC, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 1/8/11; ADI n 4.638/DF-MC, Rel. Min. Marco Aurlio, DJ de 1/2/12; ADI n

    4.705/DF-MC, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ de 1/2/12; ADI n 4.635-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 5/1/12; ADI n 4.917-MC, Rel. Min. Crmen Lcia, DJ de 21/3/13.

    Conforme relatado e claramente exposto pelo autor da presente ao, a quem louvo pela iniciativa cidad de ajuizar a presente ao, estamos

    diante de caso de inatividade legislativa referente a regulamentao de norma constitucional, na espcie, do art. 27 da Emenda Constitucional n 19, de 4 de junho de 1998, o qual determinou a elaborao, pelo Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias, da lei de defesa do usurio de

    servios pblicos.

    Trata-se de ao das mais interessantes, no somente por consistir em ao direta de inconstitucionalidade por omisso tema tormentoso que vem ganhando espao e destaque na teoria jurdica nacional , mas, principalmente, pela temtica de fundo: a prestao de servios pblicos no Pas e os instrumentos de defesa dos seus usurios.

    Lembre-se, a propsito, o pensamento de Leon Duguit, segundo o qual o servio pblico constituiria a prpria essncia do Estado. Nesse contexto, Celso Antnio Bandeira de Mello pontua que:

    (...) ao erigir-se algo em servio pblico, bem relevantssimo da coletividade, trata-se no apenas de buscar-lhe a mais adequada prestao em benefcio do pblico, mas tambm se trata de impedir, de um lado, que terceiros os obstaculizem e, de outro, que o titular deles

    ou quem haja sido credenciado a prest-los proceda, por ao ou omisso, de modo abusivo, quer por desrespeitar direitos dos administrados

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    em geral, quer por sacrificar direitos ou convenincias dos usurios do servio (Grandes Temas de Direito Administrativo. 1. ed. So Paulo: Malheiros, 2010. p. 276).

    Em nosso ordenamento jurdico, a prestao de servios pblicos mereceu tratamento no prprio texto constitucional. A Constituio de

    1988 disciplinou, de forma bastante contundente, certos servios pblicos, estabelecendo direitos, deveres e formas de prestao, de organizao e de

    fruio, como, por exemplo, no mbito da sade (art. 197 e 198), da assistncia social (art. 204) e da educao (arts. 205 e 206). A Constituio da Repblica consignou, ainda, que a prestao de servios pblicos dever do Poder Pblico, realando a necessidade de

    haver definio legal dos direitos dos usurios, conforme estabelecido no seu art. 175:

    Art. 175. Incumbe ao Poder Pblico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, sempre atravs de licitao, a prestao de servios pblicos.

    Pargrafo nico. A lei dispor sobre:

    I - o regime das empresas concessionrias e permissionrias de servios pblicos, o carter especial de seu contrato e de sua

    prorrogao, bem como as condies de caducidade, fiscalizao e resciso da concesso ou permisso; II - os direitos dos usurios;

    III - poltica tarifria;

    IV - a obrigao de manter servio adequado.

    Com a Emenda Constitucional n 19, de 1998, a proteo dos usurios de servio pblico, de forma mais enftica, ganhou novos contornos constitucionais. O art. 37, 3, da Carta da Repblica, alterado pela referida emenda constitucional, previu a necessidade de haver

    disciplina legislativa sobre as formas de participao dos usurios, sobre as reclamaes, os meios de informaes e os instrumentos jurdicos

    relativos prestao de servios pblicos. Vide:

    Art. 37 (...) 3 A lei disciplinar as formas de participao do usurio na administrao pblica direta e indireta, regulando especialmente:

    I - as reclamaes relativas prestao dos servios pblicos em geral, asseguradas a manuteno de servios de atendimento ao

    usurio e a avaliao peridica, externa e interna, da qualidade dos servios; II - o acesso dos usurios a registros administrativos e a informaes sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5, X e

    XXXIII;

    III - a disciplina da representao contra o exerccio negligente ou abusivo de cargo, emprego ou funo na administrao pblica.

    Conferindo papel de destaque na ordem constitucional defesa do usurio de servio pblico, a referida emenda constitucional, em uma clara demonstrao de sensibilidade do legislador para com os cidados, imps ao Estado a obrigao de adotar mecanismos destinados proteo e

    defesa dos usurios dos servios pblicos, assim dispondo, de forma expressa, no seu art. 27, objeto da presente ao direta:

    Art. 27. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgao desta Emenda, elaborar lei de defesa do usurio de servios pblicos.

    Com efeito, a clusula constitucional inscrita no art. 27 da EC n 19, de 1998, para alm de proclamar uma garantia social dos direitos dos usurios dos servios pblicos, consubstanciou verdadeira imposio legiferante, a qual, dirigida ao Estado legislador, tem por finalidade vincul-lo

    efetivao de uma legislao destinada: (a) a assegurar a prestao de servios pblicos de qualidade coletividade e (b) a estabelecer mecanismos

    especficos de proteo e defesa dos usurios.

    Ocorre que, passados exatos 15 (quinze) anos, ainda no foi editada a referida lei de defesa do usurio de servios pblicos. evidente,

    portanto, a existncia de alargado lapso temporal (mais de uma dcada), a caracterizar, j neste juzo sumrio, a inatividade do Estado em cumprir o inequvoco dever constitucional de legislar, o que resulta em afronta Constituio.

    Como salienta Clmerson Merlin Clve,

    [n]o apenas a ao do Estado que pode ofender a Constituio. Deveras, a inrcia do Poder Pblico e o silncio legislativo igualmente podem conduzir a uma modalidade especfica de ilegalidade definida, pelo direito contemporneo, como inconstitucionalidade por omisso (A fiscalizao abstrata da constitucionalidade no direito brasileiro. 2. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais. 2000. p. 51).

    De fato, a omisso inconstitucional tema dos mais sedutores e complexos da Teoria Constitucional, abrangendo questionamentos

    contemporneos acerca da fora normativa da Constituio, do papel da jurisdio constitucional, da harmonia e da separao dos Poderes. Antes de

    tudo, porm, o tema reala a necessria e premente concretizao da Constituio pelos Poderes da Repblica. Ainda que as solues das inconstitucionalidades por omisso induzam a questionamentos dos mais controvertidos, h muito no se tm dvidas sobre a gravidade da no

    observncia da imposio constitucional de legislar. Como j lecionava o Ministro Celso de Mello em seu voto no julgamento da medida cautelar da

    ADI n 1.439/DF:

    A omisso do Estado, que deixa de cumprir, em maior ou em menor extenso, a imposio ditada pelo texto constitucional, qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade poltico-jurdica, eis que, mediante inrcia, o Poder Pblico tambm desrespeita a

    Constituio, tambm ofende direitos que nela se fundam e tambm impede, por ausncia de medidas concretizadoras, a prpria

    aplicabilidade dos postulados e princpios da Lei Fundamental.

    por essa razo que J. J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA (Fundamentos da Constituio, p. 46, item n. 2.3.4, 1991, Coimbra Editora), analisando a fora normativa da Constituio - e assinalando que a eficcia preponderante e subordinante de suas

    clusulas impede o reconhecimento de situaes inconstitucionais -, acentuam, na perspectiva da inquestionvel preeminncia normativa da Carta Poltica, que:

    (...) tanto se viola a Lei fundamental quando as aces estaduais no esto em conformidade com as suas normas e princpios, como quando os preceitos constitucionais no so actuados, dinamizados ou concretizados pelos rgos que constitucionalmente esto vinculados a fornecerem-lhe operatividade prtica.

    A Constituio impe-se normativamente, no s quando h uma aco inconstitucional (fazer o que ela probe), mas tambm quando

    existe uma omisso inconstitucional (no fazer o que ela impe que seja feito). (grifei) (...)

    Dentro desse contexto, foi instituda a ao direta de inconstitucionalidade por omisso, vocacionada a preservar a supremacia da

    Carta Poltica e destinada, enquanto instrumento de controle abstrato, a impedir o desprestgio da prpria Constituio, eis que - tal como adverte PONTES DE MIRANDA, em magistrio revestido de permanente atualidade (Comentrios Constituio de 1967 com a Emenda n. 1, de 1969, tomo I/15-16, 2 ed., 1970, RT) Nada mais perigoso do que fazer-se Constituio sem o propsito de cumpri-la. Ou de s se cumprir nos princpios de que se precisa, ou se entende devam ser cumpridos - o que pior (...). No momento, sob a Constituio que, bem ou mal, est feita, o que nos incumbe, a ns, dirigentes, juzes e intrpretes, cumpri-la. S assim saberemos a que serviu e a que no serviu, nem

    serve. Se a nada serviu em alguns pontos, que se emende, se reveja. Se em algum ponto a nada serve - que se corte nesse pedao intil. Se a

    algum bem pblico desserve, que pronto se elimine. Mas, sem na cumprir, nada saberemos. Nada sabendo, nada poderemos fazer que merea crdito. No a cumprir estrangul-la ao nascer.

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    preciso proclamar que as Constituies consubstanciam ordens normativas cuja eficcia, autoridade e valor no podem ser afetados ou inibidos pela voluntria inao ou por ao insuficiente das instituies estatais. No se pode tolerar que os rgos do Poder Pblico,

    descumprindo, por inrcia e omisso, o dever de emanao normativa que lhes foi imposto, infrinjam, com esse comportamento negativo, a

    prpria autoridade da Constituio e afetem, em conseqncia, o contedo eficacial dos preceitos que compem a estrutura normativa da Lei Maior (Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 30/5/03).

    bem verdade que no estamos, no presente caso, diante de ausncia total de proposio legislativa, tendo em vista que, como informado pelo

    requerente, no mbito da Cmara dos Deputados, tramita o Projeto de Lei n 6.953/2002 (Substitutivo do PL n 674/1999), o qual, atualmente, est

    pendente de anlise e deliberao pela Comisso de Constituio e Justia e de Cidadania (CCJC) daquela Casa. Assim, a presente omisso diz respeito ao que o Ministro Gilmar Mendes denominou, na ADI n 3.682/MT, de inertia deliberandi

    (discusso e votao) no mbito das Casas Legislativas.

    Com efeito, esta Suprema Corte, de incio, considerava que, desencadeado o processo legislativo, no havia que se falar em omisso inconstitucional do legislador (ADI n 2.495/SC, Rel. Min. Ilmar Galvo, DJ de 2/8/02). Contudo, no julgamento da j citada ADI n 3.682/DF, o

    Tribunal entendeu que, no obstante os vrios projetos de lei complementar apresentados e discutidos no mbito do Congresso Nacional, a inertia

    deliberandi tambm poderia configurar omisso passvel de ser reputada inconstitucional, no caso de os rgos legislativos no deliberarem dentro de um prazo razovel sobre o projeto de lei em tramitao. Vide a ementa do julgado paradigmtico:

    AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSO. INATIVIDADE DO LEGISLADOR QUANTO AO DEVER DE ELABORAR A LEI COMPLEMENTAR A QUE SE REFERE O 4 DO ART. 18 DA CONSTITUIO FEDERAL, NA REDAO DADA PELA

    EMENDA CONSTITUCIONAL NO 15/1996. AO JULGADA PROCEDENTE. 1. A Emenda Constitucional n 15, que alterou a redao do

    4 do art. 18 da Constituio, foi publicada no dia 13 de setembro de 1996. Passados mais de 10 (dez) anos, no foi editada a lei

    complementar federal definidora do perodo dentro do qual podero tramitar os procedimentos tendentes criao, incorporao,

    desmembramento e fuso de municpios. Existncia de notrio lapso temporal a demonstrar a inatividade do legislador em relao ao cumprimento de inequvoco dever constitucional de legislar, decorrente do comando do art. 18, 4, da Constituio. 2. Apesar de

    existirem no Congresso Nacional diversos projetos de lei apresentados visando regulamentao do art. 18, 4, da Constituio,

    possvel constatar a omisso inconstitucional quanto efetiva deliberao e aprovao da lei complementar em referncia. As

    peculiaridades da atividade parlamentar que afetam, inexoravelmente, o processo legislativo, no justificam uma conduta manifestamente

    negligente ou desidiosa das Casas Legislativas, conduta esta que pode pr em risco a prpria ordem constitucional. A inertia deliberandi

    das Casas Legislativas pode ser objeto da ao direta de inconstitucionalidade por omisso. 3. A omisso legislativa em relao regulamentao do art. 18, 4, da Constituio, acabou dando ensejo conformao e consolidao de estados de inconstitucionalidade

    que no podem ser ignorados pelo legislador na elaborao da lei complementar federal. 4. Ao julgada procedente para declarar o estado

    de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, em prazo razovel de 18 (dezoito) meses, adote ele todas as providncias legislativas necessrias ao cumprimento do dever constitucional imposto pelo art. 18, 4, da Constituio, devendo ser contempladas as

    situaes imperfeitas decorrentes do estado de inconstitucionalidade gerado pela omisso. No se trata de impor um prazo para a atuao

    legislativa do Congresso Nacional, mas apenas da fixao de um parmetro temporal razovel, tendo em vista o prazo de 24 meses determinado pelo Tribunal nas ADI ns 2.240, 3.316, 3.489 e 3.689 para que as leis estaduais que criam municpios ou alteram seus limites

    territoriais continuem vigendo, at que a lei complementar federal seja promulgada contemplando as realidades desses municpios. (ADI n 3682/MT, Relator(a): Min. Gilmar Mendes, DJe de 5/9/07, grifos nossos).

    De fato, conquanto no se desconhea a complexidade de determinados projetos legislativos, as peculiaridades e as dificuldades da atividade

    parlamentar no justificam inrcia demasiadamente longa diante de imposies ditadas pelo texto constitucional.

    o que ocorre na espcie. No obstante esteja em tramitao, na Cmara dos Deputados, o Projeto de Lei n 6.953/2002, visando regulamentao do art. 27 da EC n 19/98, j decorreu mais de uma dcada desde a edio da referida emenda, o que configura manifesta omisso

    inconstitucional quanto efetiva aprovao de lei sobre o tema. Ademais, embora eu reconhea que, em muitos casos, a inrcia do Poder Legislativo possa ser considerada uma legtima deciso poltica de

    no deliberao, entendo que, na presente hiptese, a deciso poltica j foi tomada pelo Constituinte Derivado, quando determinou, no art. 27 da EC

    n 19/98, a elaborao de lei de defesa do usurio de servios pblicos, inclusive com a fixao de prazo para a sua concretizao (cento e vinte dias).

    Nesse caso, o legislador tem o dever jurdico de legislar, por fora de expresso mandamento constitucional e, no caso de inrcia, configurada est a omisso inconstitucional.

    Nas sempre elucidantes palavras de Lus Roberto Barroso:

    A simples inrcia, o mero no fazer por parte do legislador no significa que se esteja diante de uma omisso inconstitucional. Esta se configura com o descumprimento de um mandamento constitucional no sentido de que atue positivamente, criando uma norma legal. A inconstitucionalidade resultar, portanto, de um comportamento contrastante com uma obrigao jurdica de contedo positivo.

    Como regra, legislar uma faculdade do legislador. Insere-se no mbito de sua discricionariedade ou, mais propriamente, de sua

    liberdade de conformao a deciso de criar ou no lei acerca de determinada matria. De ordinrio, sua inrcia ou sua deciso poltica de no agir no caracterizaro comportamento inconstitucional. Todavia, nos casos em que a Constituio impe ao rgo legislativo o dever de

    editar norma reguladora da atuao de determinado preceito constitucional, sua absteno ser ilegtima e configurar caso de

    inconstitucionalidade por omisso. (O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 5. ed. So Paulo: 2011. p. 55/56).

    Em concluso, a omisso legislativa, no presente caso, est a inviabilizar o que a Constituio da Repblica determina: a edio de lei de defesa do usurio de servios pblicos. A no edio da referida disciplina legal, dentro do prazo estabelecido constitucionalmente, ou mesmo de

    um prazo razovel, consubstancia autntica violao da ordem constitucional.

    Como bem lembra Antnio Carlos Cintra do Amaral acerca do tema,

    [] lamentvel que uma emenda constitucional aprovada em 19 de junho de 1998 determine que o Congresso Nacional elabore, em 120 dias, uma lei de defesa do usurio de servios pblicos, e at hoje, decorridos 14 anos, o Congresso no tenha cumprido o comando

    constitucional. Fala-se muito em marco regulatrio das concesses de servio pblico no Brasil, mas pouco tenho tomado conhecimento de algo em favor da necessidade dessa lei. Mais ainda: a omisso do Congresso constitui uma inconstitucionalidade, prevista no art. 103, 2, da Constituio da Repblica. Vale dizer: o Congresso, por omisso, praticou inconstitucionalidade, e o que ocorreu? Nada! (Concesso de servios pblicos: novas tendncias. So Paulo: Quatier Latin, 2012. p. 121).

    Verificada, portanto, a presena de mora legislativa quanto regulamentao do art. 27 da Emenda Constitucional n 19, de 1998, resta saber

    se seria possvel e vivel a concesso dos pedidos liminares requeridos na presente ao. Acerca das liminares em ao direta de inconstitucionalidade por omisso, a jurisprudncia tradicional da Corte era no sentido de no ser

    possvel sua concesso, tendo em vista que, no mrito, a deciso de inconstitucionalidade no teria o efeito de afastar a omisso, restringindo-se a

    autorizar o Tribunal a cientificar o Poder competente para a adoo das providncias necessrias superao do estado de omisso inconstitucional, determinando, no caso de rgo administrativo, que o faa em trinta dias (Cf. ADI n 267/DF-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 19/5/95; ADI n

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    361/DF-MC, Rel. Min. Marco Aurlio, DJ de 26/10/90; ADI n 529/DF-MC, Rel. Min. Seplveda Pertence, DJ de 5/3/93; ADI n 1387/DF-MC, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 29/3/96).

    Todavia, a Lei n 12.063/09, ao disciplinar o procedimento especfico da ao direta de inconstitucionalidade por omisso, superou esse

    entendimento jurisprudencial e autorizou, expressamente, no art. 12-F, 1, da Lei 9.868/99, o deferimento de cautelar em ADO, que poder consistir em: i) suspenso da aplicao da lei ou do ato normativo questionado, no caso de omisso parcial; ii) suspenso de processos judiciais ou de

    procedimentos administrativos; ou ainda iii) qualquer outra providncia a ser fixada pelo Tribunal.

    Como bem evidenciado pelo Ministro Gilmar Mendes, em obra doutrinria:

    (...) a complexidade das questes afetas omisso inconstitucional parece justificar a frmula genrica utilizada pelo legislador, confiando ao Supremo Tribunal Federal a tarefa de conceber providncia adequada a tutelar a situao jurdica controvertida (Controle abstrato de constitucionalidade ADI, ADC e ADO: comentrios Lei n. 9.868/99. So Paulo: Saraiva, 2012).

    De igual modo, segundo Lus Roberto Barroso, [e]ssa ltima previso, de contedo aberto, parece abrir caminho para eventuais decises de contedo aditivo, no apenas em sede de liminar, mas tambm nos provimentos finais (O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 5. ed. So Paulo: 2011. p. 286).

    Nesse veio, e j aplicando a autorizao contida no art. 12-F, 1, da Lei 9.868/99, o eminente Ministro Ricardo Lewandowski, no exerccio

    da Presidncia desta Corte, deferiu, em parte, liminar pleiteada na ADO n 23/DF (DJe 1/2/13), determinando que as regras de distribuio do Fundo de Participao dos Estados e do Distrito Federal (FPE), fixadas pela Lei Complementar n 62, de 28 de dezembro de 1989, continuassem em vigor

    por mais 150 (cento e cinquenta) dias, conferindo contedo aditivo deciso liminar em ao direta de inconstitucionalidade por omisso.

    No presente caso, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil pede o deferimento de medida cautelar para, imediatamente:

    (a.1) determinar aos Presidentes da Cmara dos Deputados e do Senado Federal, bem assim Presidncia da Repblica, que adotem providncias para que a anlise do Projeto de Lei n 6.953/2002 (Substitutivo do PL n 674/1999) e sua converso em lei ocorram, no prazo mximo, de 120 (cento e vinte) dias, a contar da intimao da r. deciso que deferir a medida cautelar;

    (a.2) determinar a aplicao subsidiria e provisria da Lei n 8.078/90 Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor enquanto no

    editada Lei de Defesa dos Usurios de Servios Pblicos, de modo a resguardar minimamente o cidado contribuinte em suas relaes com o Poder Pblico.

    inevitvel observar que o caso em tela coincide com a atual pauta social por melhorias dos servios pblicos. Os movimentos sociais que

    hoje irradiam vrias partes do pas e o respectivo anseio da populao por qualidade na prestao dos servios disponibilizados sociedade brasileira

    so uma demonstrao inequvoca da urgncia na regulamentao do art. 27 da EC n 19/98. dever inescusvel do Estado a prestao de servios pblicos eficientes e de qualidade coletividade. Nas palavras do argentino Hctor

    Jorge Escola: Por ello se dice, com razn, que el grado de desarollo y progreso de un pas se mide por el grado de organizacin y prestacin de sus servicios pblicos, y la satisfaccin y complacencia com que los usuarios los utilizan. (El inters publico: como fundamento del derecho administrativo. Buenos Aires: Ediciones Depalma, 1989. p. 120).

    Contudo, h de se ressaltar as dificuldades da cidadania em acessar, interagir e influenciar o Estado nas decises relacionadas prestao de

    servios. Mais que destinatrios dos servios pblicos, os usurios devem ser sujeitos de uma cidadania ativa e efetiva, o que exige evidentemente canais diretos de comunicao entre Estado e sociedade.

    chegada a hora dos usurios dos servios pblicos. E mais efetivo ser o respeito aos direitos dos usurios se forem expressos os meios

    formais e os instrumentos especficos disponveis para que os prprios usurios formulem suas reclamaes e defendam seus direitos. Faz-se

    necessria, portanto, a definio de mecanismos reguladores e fiscalizadores eficientes para que a cidadania possa, de modo consequente, exigir

    qualidade, regularidade e segurana na prestao dos servios pblicos. Sendo assim, dada a manifesta e inequvoca omisso inconstitucional, que j perdura mais de uma dcada, dever desta Suprema Corte

    determinar a imediata ao do Estado legislador para a concretizao do direito constitucionalmente previsto no art. 27 da EC n 19/98, eliminando-

    se, o mais rpido possvel, o estado de inconstitucionalidade. Destarte, impe-se a concesso imediata de medida cautelar para, de forma semelhante ao que estabelecido por esta Corte no julgamento da

    ADI n 3.682/MT, definir-se, desde j, prazo razovel para que os requeridos adotem as medidas necessrias edio da lei de defesa do

    usurio de servio pblico, mediante anlise e converso em lei seja do Projeto de Lei n 6.953/2002 (Substitutivo do PL n 674/1999), j em tramitao na Cmara dos Deputados, seja de outra proposio que venha a ser apresentada pelos rgos competentes.

    Nesses termos, acolho a sugesto do autor da demanda e fixo o prazo razovel de 120 (cento e vinte) dias para a edio da lei em questo,

    tendo em vista ter sido esse o prazo definido no prprio art. 27 da EC n 19/98. Como afirmado pelo requerente, em sua inicial, a presente deciso, na prtica, teria o condo de renovar o prazo inicialmente concedido pela prpria Emenda Constitucional n 19/98, no implicando, no mais, em maiores consequncias jurdicas.

    Por certo, o prazo aqui indicado no tem por objetivo resultar em interferncia desta Corte na esfera de atribuies dos demais Poderes da Repblica. Antes, h de expressar como que um apelo ao Legislador para que supra a omisso inconstitucional concernente a matria to

    relevante para a cidadania brasileira - a defesa dos usurios de servios pblicos no Pas.

    Deixo, contudo, de deferir, neste momento, o pedido de medida cautelar, na parte em que se requer a aplicao subsidiria e

    provisria da Lei n 8.078/90, deixando-o para anlise mais aprofundada por parte do Tribunal - caso ainda subsista a mora -, e aps colhidas as

    informaes das autoridades requeridas e as manifestaes do Advogado-Geral da Unio e do Procurador-Geral da Repblica, os quais permitiro o exame mais aprofundado do tema.

    Assim sendo, defiro em parte a medida cautelar pleiteada na presente ao, ad referendum do Plenrio, para reconhecer o estado de mora do Congresso Nacional, a fim de que os requeridos, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, adotem as providncias legislativas necessrias ao

    cumprimento do dever constitucional imposto pelo art. 27 da Emenda Constitucional n 19, de 4 de junho de 1998.

    Comunique-se, com urgncia.

    Tendo em vista o recesso do Tribunal, solicitem-se informaes aos requeridos e, na sequncia, abra-se vista, sucessivamente, ao Advogado-

    Geral da Unio e ao Procurador-Geral da Repblica, aps o que o processo estar devidamente pronto para ser decidido pela Corte. Publique-se.

    Braslia, 1 de julho de 2013.

    Ministro DIAS TOFFOLI

    Relator

    *deciso publicada no DJe de 1.8.2013

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    INOVAES LEGISLATIVAS 4 a 8 de novembro de 2013

    Lei n 12.878, de 4.11.2013 - Altera a Lei n 6.815, de 19.8.1980 (Estatuto do Estrangeiro), para estabelecer nova

    disciplina priso cautelar para fins de extradio. Publicado no DOU em 5.11.2013, Seo 1, p.2.

    Lei n 12.879, de 5.11.2013 - Dispe sobre a gratuidade dos atos de registro, pelas associaes de moradores,

    necessrios adaptao estatutria Lei n 10.406, de 10.1.2002 - Cdigo Civil, e para fins de enquadramento dessas

    entidades como Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico. Publicada no DOU em 6.11.2013, Seo 1, p.1.

    OUTRAS INFORMAES 4 a 8 de novembro de 2013

    Decreto n 8.135, de 4.11.2013 - Dispe sobre as comunicaes de dados da administrao pblica federal direta,

    autrquica e fundacional, e sobre a dispensa de licitao nas contrataes que possam comprometer a segurana

    nacional. Publicado no DOU em 5.11.2013, Seo 1, p.2.

    Decreto n 8.136, de 5.11.2013 - Aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoo da Igualdade Racial -

    Sinapir, institudo pela Lei n 12.288, de 20.7.2010. Publicado no DOU em 6.11.2013, Seo 1, p.1.