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Informativo 747-STF (05/06/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos: ARE 790774 AgR/DF; Rcl 15943 AgR/CE, Rcl 15637 AgR/ CE e Rcl 15855 AgR/SC. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: HC 98434/MG. ÍNDICE Direito Constitucional CE não pode tratar sobre perda de mandato dos Deputados Estaduais de forma diferente do que é previsto para os Deputados Federais. Inconstitucionalidade de lei estadual que vincula remuneração dos Deputados Estaduais ao subsídio dos Deputados Federais. É vedado o pagamento de qualquer valor a parlamentar por participação em sessão extraordinária. Resolução do TSE pode ser objeto de ADI. Regimento Interno de Assembleia Legislativa pode ser objeto de ADI. Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção. Direito Administrativo Conceito de cargo técnico para os fins do art. 37, XVI, “b”, da CF/88. Direito Eleitoral MP pode requisitar a instauração de inquérito policial para apurar crimes eleitorais. Magistrado pode decidir com base em fatos e circunstâncias não alegados pelas partes. Inelegibilidade reflexa (art. 14, § 7º da CF/88). Direito Processual Penal O interrogatório do corréu não poderá ser acompanhado pelo acusado mesmo que este seja advogado e atue em causa própria. Princípio da correlação (congruência), causa de aumento e emendatio libelli. (In)dispensabilidade de capacidade postulatória para recurso ordinário em HC. Direito Penal Militar É constitucional a vedação ao SURSIS nos casos do art. 88, II, “a” do CPM

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Informativo 747-STF (05/06/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos: ARE 790774 AgR/DF; Rcl 15943 AgR/CE, Rcl 15637 AgR/ CE e Rcl 15855 AgR/SC. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: HC 98434/MG.

ÍNDICE Direito Constitucional CE não pode tratar sobre perda de mandato dos Deputados Estaduais de forma diferente do que é previsto para

os Deputados Federais. Inconstitucionalidade de lei estadual que vincula remuneração dos Deputados Estaduais ao subsídio dos

Deputados Federais. É vedado o pagamento de qualquer valor a parlamentar por participação em sessão extraordinária. Resolução do TSE pode ser objeto de ADI. Regimento Interno de Assembleia Legislativa pode ser objeto de ADI. Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção.

Direito Administrativo Conceito de cargo técnico para os fins do art. 37, XVI, “b”, da CF/88. Direito Eleitoral MP pode requisitar a instauração de inquérito policial para apurar crimes eleitorais. Magistrado pode decidir com base em fatos e circunstâncias não alegados pelas partes. Inelegibilidade reflexa (art. 14, § 7º da CF/88).

Direito Processual Penal O interrogatório do corréu não poderá ser acompanhado pelo acusado mesmo que este seja advogado e atue em

causa própria. Princípio da correlação (congruência), causa de aumento e emendatio libelli. (In)dispensabilidade de capacidade postulatória para recurso ordinário em HC. Direito Penal Militar É constitucional a vedação ao SURSIS nos casos do art. 88, II, “a” do CPM

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DIREITO CONSTITUCIONAL

CE não pode tratar sobre perda de mandato dos Deputados Estaduais de forma diferente do que é previsto para os Deputados Federais

É inconstitucional norma da Constituição estadual que preveja que o Deputado Estadual perderá o mandato em caso de condenação criminal nos crimes apenados com reclusão, atentatórios ao decoro parlamentar. Isso porque a CE, ao tratar sobre perda de mandato do parlamentar estadual, deverá seguir as mesmas regras impostas pela CF/88 aos deputados federais.

Segundo o art. 55, VI, da CF/88, o Deputado Federal deverá perder o mandato sempre que sofrer condenação criminal transitada em julgado, independentemente da natureza da pena e do tipo de crime. Logo, a CE viola a CF/88 ao limitar a perda aos casos em que o parlamentar for condenado por crime apenado com reclusão e atentatório ao decoro parlamentar.

STF. Plenário. ADI 3200/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/5/2014.

A Constituição do Estado de São Paulo trouxe a seguinte previsão:

Art. 16. Perderá o mandato o Deputado: VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado, nos crimes apenados com reclusão, atentatórios ao decoro parlamentar.

Essa previsão é compatível com a CF/88? NÃO. A Constituição Estadual, quando trata sobre as hipóteses em que os Deputados Estaduais perderão seus mandatos, deverá repetir o mesmo modelo (mesmas regras) previstas na Constituição Federal para os Deputados Federais. É isso o que diz o § 1º do art. 27 da CF/88:

§ 1º - Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.

A CF/88 prevê a perda do mandato do Deputado Federal que cometer crime? SIM. A CF/88 trata do tema nos seguintes termos:

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

Percebe-se que a Carta estadual foi além do modelo previsto na Constituição Federal. O art. 16, VI, da CE/SP diz que o Deputado Estadual só perderá o mandato nos casos de crimes apenados com reclusão e que sejam atentatórios ao decoro parlamentar. Ocorre que o art. 55, VI, da CF/88 não faz essa ressalva. Para a CF/88, o Deputado deverá perder o mandato sempre que sofrer condenação criminal transitada em julgado, independentemente da natureza da pena e do tipo de crime. Logo, a parte final do inciso VI do art. 16 da CE/SP viola o art. 55, VI c/c art. 27, § 1º da CF/88.

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Inconstitucionalidade de lei estadual que vincula remuneração dos Deputados Estaduais ao subsídio dos Deputados Federais

É inconstitucional lei estadual que estabelece que a remuneração dos Deputados Estaduais será um percentual sobre o subsídio dos Deputados Federais. Tal lei viola o princípio da autonomia dos entes federativos.

STF. Plenário. ADI 3461/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 22/5/2014.

Como é fixado o subsídio dos Deputados Federais e Senadores? O subsídio dos Deputados Federais e Senadores é fixado pelo Congresso Nacional por meio de Decreto Legislativo. Assim, são os próprios Parlamentares que estabelecem sua remuneração. Veja o texto constitucional:

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;

Como é fixado o subsídio dos Deputados Estaduais? O subsídio dos Deputados Estaduais é estabelecido pela Assembleia Legislativa por meio de lei estadual. O valor do subsídio deverá ser de, no máximo, 75% daquilo que é pago aos Deputados Federais e Senadores:

Art. 27 (...) § 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assembleia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.

Lei n. 7.456/2003-ES Uma Lei do Estado do Espírito Santo previu a seguinte regra (adaptada): Art. 1º O subsídio mensal do Deputado Estadual corresponde a 75% (setenta e cinco por cento) do que percebe o Deputado Federal. Essa previsão é compatível com a CF/88? NÃO. Segundo o STF, o art. 27, § 2º prevê que 75% do subsídio dos Deputados Federais é o limite máximo da remuneração dos Deputados Estaduais. Isso não significa, contudo, que a CF/88 autorize que haja uma vinculação automática entre as remunerações, de maneira que qualquer aumento no valor do subsídio dos Parlamentares federais acarrete a automática majoração da remuneração dos Parlamentares estaduais.

A Lei n. 7.456/2003, ao fazer uma vinculação automática da remuneração dos Deputados Estaduais em relação aos Deputados Federais, viola a autonomia do Estado-membro. Isso porque, de forma indireta, quem estará fixando a remuneração dos Deputados Estaduais será o Congresso Nacional já que todas as vezes em que ele aumentar o subsídio dos Parlamentares federais, haverá automática majoração em nível estadual.

É vedado o pagamento de qualquer valor a parlamentar por participação em sessão extraordinária

É INCONSTITUCIONAL o pagamento de remuneração a parlamentares (federais, estaduais ou municipais) em virtude de convocação de sessão extraordinária.

STF. Plenário. ADI 4587/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/5/2014.

Pagamento por convocação extraordinária O art. 147, § 5º do Regimento Interno da Assembleia Legislativa de Goiás previu que se os Deputados Estaduais fossem convocados para sessões extraordinárias deveriam receber uma remuneração a título de indenização.

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Essa previsão é compatível com a CF/88?

NÃO. A CF/88, desde a EC n. 50/2006, veda que os parlamentares recebam qualquer remuneração pelo fato de participarem de convocações extraordinárias. Veja o § 7º do art. 57 da CF/88:

§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado, ressalvada a hipótese do § 8º deste artigo, vedado o pagamento de parcela indenizatória, em razão da convocação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50/2006)

Esse pagamento é vedado também pelo § 4º do art. 39 da CF/88:

§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

O § 7º do art. 57 e o § 4º do art. 39 são aplicáveis também aos Deputados Estaduais, conforme determina o § 2º do art. 27 da CF/88:

§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assembléia Legislativa, na razão de, no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabelecido, em espécie, para os Deputados Federais, observado o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.

Resumindo: Assim como ocorre com os Parlamentares federais, é vedado o pagamento de remuneração a Deputados Estaduais pelo fato de terem sido convocados para sessão extraordinária.

Resolução do TSE pode ser objeto de ADI

A Resolução do TSE pode ser impugnada no STF por meio de ADI se, a pretexto de regulamentar dispositivos legais, assumir caráter autônomo e inovador.

STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/5/2014.

É cabível ADI contra resolução do TSE? SIM. Segundo entende o STF, os atos infralegais podem ser objeto de impugnação por meio de ação direta de inconstitucionalidade se, a pretexto de regulamentarem dispositivos legais, assumirem caráter autônomo e inovador. É cabível ADI contra respostas a consultas formuladas ao TSE? NÃO. Umas das competências do TSE é a de responder a consultas, sobre matéria eleitoral, que lhe forem feitas em tese por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional de partido político (art. 23, XII, do Código Eleitoral). Para o STF, não cabe ADI contra a resposta dada pelo TSE em consulta a ele formulada. O TSE quando responde a consultas não produz atos normativos. A resposta é “um ato de caráter administrativo, sem eficácia vinculativa, insusceptível de controle abstrato de constitucionalidade.” (STF. Plenário. ADInMC 1.805-DF, Rel. Min. Néri da Silveira, julgado em 26/3/98)

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Regimento Interno de Assembleia Legislativa pode ser objeto de ADI

Dispositivo de Regimento Interno de uma Assembleia Legislativa pode ser impugnado no STF por meio de ADI, desde que possua caráter normativo e autônomo. É o caso, por exemplo, de um artigo do Regimento Interno que preveja o pagamento de remuneração aos Deputados Estaduais em virtude de convocação para sessão extraordinária.

STF. Plenário. ADI 4587/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/5/2014.

Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção

O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que seja incluído na pauta de julgamentos

STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/5/2014.

Conceito e finalidade Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua representatividade, é chamado ou se oferece para intervir em processo relevante com o objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre o debate que está sendo travado nos autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão julgador possa ter mais elementos para decidir de forma legítima. Nomenclatura Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte” ou “amigo do tribunal”. Obs: amici curiae é o plural de amicus curiae. Natureza jurídica Existe muita polêmica sobre este ponto, mas prevalece, entre os Ministros do STF, que o amicus curiae é uma forma de intervenção anômala de terceiros. Previsão do amicus no caso de ADI e ADC

Vale a pena destacar a previsão da Lei n. 9.868/99 (ADI / ADC), que é a mais cobrada:

Art. 7º Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade. § 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.

Como se vê, em regra, não é admitida a intervenção de terceiros nos processos de ADI e ADC, sendo, contudo, permitida a participação do amicus curiae, que é uma intervenção anômala. Recursos cabíveis contra a decisão do Relator sobre a participação do amicus: • Contra a decisão (“despacho”) que admite a participação do amicus: não há recurso cabível. • Contra a decisão que inadmite a participação do amicus: cabe agravo regimental. Formalização da participação do amicus curiae O amicus curiae pode ser convocado, de ofício, pelo Tribunal, ou, então, pleitear sua participação no processo. O STF já decidiu que o pedido de admissão do amicus curiae deve ser assinado por advogado constituído, sob pena de não ser conhecido (ADPF 180/SP). O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que seja incluído na pauta de julgamentos (STF ADI 4071 AgR, Min. Re. Menezes Direito, Tribunal Pleno, julgado em 22/04/2009).

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DIREITO ADMINISTRATIVO

Conceito de cargo técnico para os fins do art. 37, XVI, “b”, da CF/88

Importante!!!

A CF/88 permite a acumulação de um cargo de professor com outro técnico ou científico (art. 37, XVI, “b”).

Somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele exigir, no desempenho de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de alguma área do saber.

Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica.

Nesse sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível médio, não se enquadram no conceito constitucional.

STF. 1ª Turma. RMS 28497/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/5/2014.

É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público? Em regra: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos. Exceções: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:

XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;

Imagine agora a seguinte situação: Maria ocupava o cargo de agente administrativo de nível médio do Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo, era professora da rede estadual de ensino. A Administração Pública entendeu que Maria estava acumulando cargos indevidamente e, por essa razão, instaurou um processo administrativo. Notificada, a servidora apresentou defesa sustentando que seu cargo do Ministério da Saúde era de natureza técnica, razão pela qual a acumulação seria permitida, nos termos do art. 37, XVI, “b”. A tese foi aceita pelo STF? O cargo de Maria era de natureza técnica? NÃO. A partir da análise das atribuições do cargo ocupado por Maria no Ministério da Saúde, o STF concluiu que este não teria natureza técnica para os fins do art. 37, XVI, “b”, da CF/88. Somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele exigir, no desempenho de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de alguma área do saber. Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica. Nesse sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível médio, não se enquadram no conceito constitucional.

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DIREITO ELEITORAL

MP pode requisitar a instauração de inquérito policial para apurar crimes eleitorais

Atenção! Ministério Público

O TSE editou a Resolução n. 23.396/2013 prevendo que o inquérito policial para apurar crimes eleitorais somente poderá ser instaurado se houver uma determinação da Justiça Eleitoral (art. 8º). Assim, pelo texto da Resolução, o Ministério Público não poderia requisitar a instauração de inquérito policial para apurar crimes eleitorais.

O STF, ao apreciar medida cautelar, decidiu que esse dispositivo é INCONSTITUCIONAL por dispor sobre norma de direito processual e por violar prerrogativa constitucional do Ministério Público prevista no art. 129, VIII, da CF/88.

STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/5/2014.

Resolução 23.396/2013-TSE No final de 2013, o Tribunal Superior Eleitoral editou a Resolução 23.396/2013 com o objetivo de dispor sobre a apuração de crimes eleitorais. Qual é o fundamento para que o TSE edite essas resoluções? O TSE pode editar resoluções com o objetivo de detalhar as regras que deverão ser observadas nas eleições. Trata-se do chamado “poder regulamentar” do TSE, ou seja, a competência que possui para baixar instruções regulamentando as normas legais de Direito Eleitoral. Conforme esclarece o Min. Ricardo Lewandowski, a justiça eleitoral é uma justiça sui generis, porque possui três funções: a) Judicante ou jurisdicional; b) Administrativa; e c) Regulamentar. A autorização para que o TSE exerça seu poder regulamentar encontra-se prevista em duas leis:

Código Eleitoral Art. 23. Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior: IX - expedir as instruções que julgar convenientes à execução deste Código;

Lei n. 9.504/97: Art. 105. Até o dia 5 de março do ano da eleição, o Tribunal Superior Eleitoral, atendendo ao caráter regulamentar e sem restringir direitos ou estabelecer sanções distintas das previstas nesta Lei, poderá expedir todas as instruções necessárias para sua fiel execução, ouvidos, previamente, em audiência pública, os delegados ou representantes dos partidos políticos.

As resoluções do TSE não podem dispor de forma contrária à lei. Isso porque, como já dito, trata-se de um poder regulamentar, ou seja, deve restringir-se a detalhar, explicar, especificar as normas legais. Inquérito policial eleitoral

Voltando à Resolução n. 23.396/2013. Um dos temas nela tratados foi sobre o inquérito policial eleitoral. O art. 8º da Resolução previu o seguinte:

Art. 8º O inquérito policial eleitoral somente será instaurado mediante determinação da Justiça Eleitoral, salvo a hipótese de prisão em flagrante.

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Repare o que disse o art. 8º:

Regra: o inquérito policial para apurar crimes eleitorais somente poderá ser instaurado se houver uma determinação da Justiça Eleitoral.

Exceção: em caso de prisão em flagrante, o inquérito poderá ser instaurado mesmo sem determinação da Justiça Eleitoral.

Assim, pelo texto da Resolução, o Ministério Público não poderia requisitar a instauração de inquérito policial para apurar crimes eleitorais.

Esse art. 8º é constitucional? NÃO. O Procurador-Geral da República ajuizou uma ADI contra a referida Resolução e o STF deferiu a medida cautelar para suspender, até julgamento final da ação, a eficácia do art. 8º da Resolução 23.396/2013. Os Ministros apontaram a existência de vícios formais e materiais. Inconstitucionalidade formal Há vício de inconstitucionalidade formal, uma vez que o art. 8º da Resolução não se limitou a regulamentar a lei, mas sim editou verdadeira norma de direito processual penal, cuja competência é do Congresso Nacional, em desacordo com o princípio da legalidade estrita. O Min. Celso de Mello salientou que o poder normativo do TSE caracteriza-se como competência normativa de segundo grau ou secundária, a qual está necessariamente subordinada, no que diz respeito à sua validade e eficácia, à autoridade hierárquica das leis e, acima delas, da Constituição. No presente caso, o art. 8º da Resolução do TSE contrariou a lei e a Constituição, ao proibir a requisição de inquérito policial pelo MP, o que o legislador não fez. Inconstitucionalidade material O art. 8º apresenta também vício de inconstitucionalidade material porque esse dispositivo teve como objetivo subtrair a atribuição do Ministério Público Eleitoral de determinar a instauração de inquérito policial, o que viola as funções constitucionais do Ministério Público, previstas nos arts. 127 e 129 da CF/88. O poder de requisição do Ministério Público representa prerrogativa de ordem constitucional insculpida no art. 129, VIII. Vale ressaltar que, apesar de se tratar ainda de uma decisão provisória, os argumentos expostos pelos Ministros foram muito enfáticos no sentido de que a previsão do art. 8º é flagrantemente inconstitucional. Votos vencidos Ficaram vencidos os Ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, que indeferiam a medida cautelar. O Min. Dias Toffoli afirmava que tanto a polícia quanto o Ministério Público poderiam requisitar à justiça eleitoral a abertura de procedimento investigatório, e ela determinaria essa abertura. Portanto, não havia cerceamento ao poder investigatório do MP ou da Polícia. Entendia ser imprescindível que houvesse a prévia formalização perante a justiça eleitoral, para conferir transparência, oficialidade e segurança jurídica aos referidos procedimentos. Afirmava que razões históricas justificariam essa detenção do poder de polícia judiciária nas mãos da magistratura eleitoral, bem assim a necessidade de supervisão do Poder Judiciário, para impedir que órgãos parciais — tendo em conta que o Ministério Público seria parte e a polícia estaria submetida às autoridades civis do Poder Executivo — atuassem, de maneira a interferir no processo eleitoral de modo direcionado. Em outras palavras, para o Min. Dias Toffoli, a decisão sobre a instauração ou não do inquérito policial para apurar crimes eleitorais deveria passar necessariamente pelo crivo do Poder Judiciário para evitar o início de procedimentos investigatórios temerários e apenas com o objetivo de prejudicar os candidatos ao pleito.

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O Ministro Dias Toffoli havia participado da aprovação da Resolução n. 23.396/2013 como Presidente do TSE? Ele não estaria impedido de jugar a ADI no STF? NÃO. O STF entende que não há impedimento nesse caso. Veja:

(...) O Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, embora prestando informações no processo de controle concentrado de constitucionalidade, não está impedido de participar de seu julgamento, não obstante suscitada, em referida causa, a discussão, "in abstracto", em torno da constitucionalidade (ou não) de resoluções ou de atos emanados daquela Alta Corte. Também não incidem, nessa situação de incompatibilidade processual, considerado o perfil objetivo que tipifica o controle normativo abstrato, os Ministros do Supremo Tribunal Federal que hajam participado, como integrantes do Tribunal Superior Eleitoral, da formulação e edição, por este, de atos ou resoluções que tenham sido contestados, quanto à sua validade jurídica, em sede de fiscalização concentrada de constitucionalidade instaurada perante a Suprema Corte. Precedentes do STF. - Os institutos do impedimento e da suspeição restringem-se ao plano dos processos subjetivos (em cujo âmbito discutem-se situações individuais e interesses concretos), não se estendendo nem se aplicando, ordinariamente, ao processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade, que se define como típico processo de caráter objetivo destinado a viabilizar o julgamento, não de uma situação concreta, mas da constitucionalidade (ou não), "in abstracto", de determinado ato normativo editado pelo Poder Público. (...) STF. Plenário. ADI 3345, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/08/2005.

Magistrado pode decidir com base em fatos e circunstâncias não alegados pelas partes

É CONSTITUCIONAL a previsão contida no art. 7º, parágrafo único, e no art. 23 da LC 64/90 no sentido de que o magistrado poderá decidir com base em fatos e circunstâncias não alegados pelas partes.

STF. Plenário. ADI 1082/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/5/2014.

Lei Complementar 64/90 A LC 64/90 foi editada com o objetivo de estabelecer, de acordo com o art. 14, § 9º da CF/88, os casos de inelegibilidade. Justamente por isso, a LC 64/90 é conhecida como “Lei das Inelegibilidades”. Em 1990, um determinado político ajuizou uma ADI contra duas expressões contidas nos arts. 7º, parágrafo único e 23 da Lei. Em 1994, o STF indeferiu a medida cautelar e manteve válida a Lei. Agora, em 2014, o Tribunal confirmou a decisão provisória e julgou totalmente improcedente a ADI. Vejamos o que foi impugnado e a conclusão do STF O art. 7º trata sobre o julgamento da ação de impugnação de registro de candidato (AIRC). O autor da ADI afirmou que seria inconstitucional a previsão contida no parágrafo único de que o magistrado poderia decidir com base em fatos e circunstâncias não alegadas pelas partes. Confira em cinza o trecho atacado:

Art. 7º (...) Parágrafo único. O Juiz, ou Tribunal, formará sua convicção pela livre apreciação da prova, atendendo aos fatos e às circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes, mencionando, na decisão, os que motivaram seu convencimento.

O art. 23, que dispõe sobre o julgamento da ação judicial eleitoral, também foi impugnado. Confira em cinza o trecho atacado:

Art. 23. O Tribunal formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral.

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Na ADI, alegava-se que, ao se permitir que o julgador decida com base em circunstâncias e fatos não indicados ou alegados pelas partes, haveria uma violação ao devido processo legal. Para o STF, tal previsão é constitucional. A legislação processual faculta ao magistrado considerar os fatos e circunstâncias constantes no processo, ainda que não alegados pelas partes. No processo eleitoral, tal prerrogativa ganha ainda mais força porque o que está em jogo são direitos e interesses indisponíveis, de ordem pública. O magistrado poderá produzir provas de ofício com a finalidade de elucidar os fatos imprescindíveis para a formação de sua convicção necessária ao julgamento do mérito. Existe uma relação direta entre o exercício da atividade probatória e a qualidade da tutela jurisdicional. Em outras palavras, quanto melhor a produção das provas, tanto melhor será a decisão. Ressalte-se que as partes continuam tendo a função precípua de produzir as provas, sendo que a atividade do magistrado nesse campo é a de complementar as provas, suprindo a instrução caso ela se mostre deficiente. É possível, ainda, que o juiz se valha de presunções mediante raciocínios indutivos feitos a partir de prova indiciária, de fatos publicamente conhecidos ou de regras da experiência. Isso não afronta o devido processo legal, porque as premissas para a sua decisão devem estar explicitadas (fundamentadas), estando, portanto, sujeita aos recursos inerentes à legislação processual.

Inelegibilidade reflexa (art. 14, § 7º da CF/88)

A inelegibilidade do art. 14, § 7º, da Constituição NÃO ALCANÇA o cônjuge supérstite (sobrevivente, viúvo) quando o falecimento tiver ocorrido no primeiro mandato, com regular sucessão do vice-prefeito, e tendo em conta a construção de novo núcleo familiar.

A Súmula Vinculante 18 do STF não se aplica aos casos de extinção do vínculo conjugal pela morte de um dos cônjuges.

STF. Plenário. RE 758461/PB, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 22/5/2014 (repercussão geral).

O art. 14, § 7º, da CF/88 estabelece o seguinte:

§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

A doutrina chama essa hipótese de inelegibilidade em razão do parentesco ou inelegibilidade reflexa.

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De acordo com esse caso de inelegibilidade:

O cônjuge, parentes e afins até o 2º grau do...

Não poderão candidatar-se a...

PREFEITO Vereador e/ou prefeito do mesmo Município.

GOVERNADOR

Qualquer cargo no mesmo Estado, ou seja: • vereador ou prefeito de qualquer município do respectivo Estado; • deputado estadual e governador do mesmo Estado; • deputado federal e senador nas vagas do próprio Estado;

PRESIDENTE Qualquer cargo eletivo no país (municipal, estadual ou federal).

Exceção à regra do § 7º: “ (...) salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.” Assim, no caso do cônjuge, parente ou afim já possuir mandato eletivo, não haverá qualquer impedimento para que concorra à reeleição (candidatura ao mesmo cargo). Abrangência do termo “cônjuge”: Considera-se cônjuge não somente a mulher/homem que esteja casada(o), mas também aquela(e) que vive em união estável com o Chefe do Poder Executivo, ou mesmo com seu irmão (afim de 2º grau). Isso porque a CF/88 amplia o conceito de entidade familiar, nos termos do art. 226, § 3º. A vedação incide também no caso de união homoafetiva. A inelegibilidade persiste, ainda que, no curso do mandato, a relação se extinga: O TSE tem entendimento de que, se em algum momento do mandato, ocorreu a relação de casamento, união estável ou parentesco, esta pessoa já está inelegível, ainda que esta relação seja desfeita. Ex: João foi eleito prefeito em 2004. Em 2008, foi reeleito. Logo, em 2012, não poderia concorrer à reeleição porque seria seu terceiro mandato consecutivo. Em 2010, João se separou de sua esposa Maria. Mesmo estando separados, Maria não poderá concorrer nas eleições de 2012 porque, durante o mandato do prefeito, houve uma relação entre eles, não cessando a inelegibilidade pelo fim do vínculo conjugal. O STF possui o mesmo entendimento:

Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

Os parentes (ou cônjuge) podem concorrer nas eleições, desde que o titular do cargo tenha direito à reeleição e não concorra na disputa: Ex: em 1998, Garotinho foi eleito Governador do RJ. No final do seu 1º mandato (em 2002), ele renunciou ao cargo para se desincompatibilizar e concorrer à Presidência da República. Sua esposa, Rosinha, candidatou-se ao cargo de Governador na eleição de 2002, tendo sido eleita. O TSE considerou que Rosinha poderia concorrer e assumir o cargo porque seu marido havia renunciado e ainda estava no 1º mandato. A lógica utilizada pelo TSE foi a seguinte: ora, se o próprio Garotinho poderia concorrer novamente ao cargo de Governador, não haveria sentido em se negar à sua esposa o direito de disputar a eleição. Vale ressaltar, no entanto, que Rosinha, ao ganhar a eleição, é como se estivesse exercendo o 2º mandato consecutivo. Logo, em 2006 não poderia ela concorrer novamente ao Governo. Em suma, este núcleo familiar foi eleito Governador em 1998 e reeleito em 2002, não podendo figurar em um terceiro mandato consecutivo.

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Situação tratada no Informativo (com nomes fictícios): Em 2004, Pedro foi eleito prefeito do Município “X”. Em 2007, Pedro, que era casado com Ana, faleceu, diante do que assumiu seu vice (Luis). Em 2008, Luis concorreu à reeleição, disputando o pleito com Ana (viúva de Pedro). Ana venceu as eleições e assumiu o cargo. Deve-se esclarecer que Ana formou, inclusive, uma nova família, com novo marido. Em 2012, Ana buscou concorrer à reeleição. Sua candidatura foi impugnada e ela concorreu sub judice, conseguindo ser eleita. Em 2013, Ana foi afastada do cargo por decisão do TSE, que a considerou inelegível, não podendo, portanto, concorrer ao cargo de Prefeita, considerando que seria um 3º mandato consecutivo deste núcleo familiar (o 1º foi exercido por seu marido e o 2º por ela mesma). Ana interpôs recurso extraordinário no STF contra essa decisão do TSE que a afastou do cargo. O STF deu provimento ao recurso? SIM. O STF considerou que Ana poderia realmente ter concorrido às eleições de 2012 e que ela não estava inelegível. Segundo entenderam os Ministros, nas eleições de 2012, Ana não tinha nenhum parentesco que a proibisse de concorrer à reeleição, considerando que seu marido (Prefeito no mandato anterior) estava morto. A inelegibilidade do art. 14, § 7º da Constituição NÃO ALCANÇA o cônjuge supérstite (sobrevivente, viúvo) quando o falecimento tiver ocorrido no primeiro mandato, com regular sucessão do vice-prefeito, e tendo em conta a construção de novo núcleo familiar. Para o STF, a situação discutida neste caso não se enquadra no teor da Súmula Vinculante 18, uma vez que o referido verbete tratou apenas da dissolução da sociedade conjugal por separação, para fins de vedar ao cônjuge a possibilidade de burlar e fraudar o dispositivo constitucional da inelegibilidade, por meio de separações fictícias que garantissem um terceiro mandato inconstitucional. É diferente, portanto, do caso examinado, no qual a dissolução do vínculo conjugal ocorreu pela MORTE (fato involuntário), não sendo este o objetivo da SV 18 nem tendo sido tratado este tema quando de sua edição. Havia, ainda, outras especificidades do caso que não podem ser desprezadas: a) o falecimento ocorreu mais de um ano antes do pleito, dentro, portanto, do prazo para desincompatibilização do ex-prefeito; b) a mulher do falecido concorreu contra o grupo político do ex-marido; c) a recorrente se casou novamente durante seu primeiro mandato e constituiu nova instituição familiar; e d) o TSE respondeu a uma consulta afirmando que seriam elegíveis candidatos que, em tese, estivessem em situação idêntica à dos autos.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

O interrogatório do corréu não poderá ser acompanhado pelo acusado, mesmo que este seja advogado e atue em causa própria

Importante!!!

Se houver mais de um acusado, cada um dos réus não terá direito de acompanhar o interrogatório dos corréus. Segundo o CPP, havendo mais de um acusado, eles deverão ser interrogados separadamente (art. 191).

Ex: João e Pedro são réus em uma ação penal. No momento em que forem ser interrogados, um não poderá ouvir o depoimento do outro. Logo, quando João for ser interrogado, Pedro terá que sair da sala, ficando, contudo, seu advogado presente. No instante em que Pedro for prestar seus esclarecimentos, será a vez de João deixar o recinto, ficando representado por seu advogado.

Se o réu for advogado e estiver atuando em causa própria, mesmo assim deverá ser aplicada a regra do art. 191 do CPP. Em outras palavras, quando o corréu for ser interrogado, o acusado (que atua como advogado) terá que sair da sala de audiência.

STF. 2ª Turma. HC 101021/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/5/2014.

Atos praticados na audiência: O CPP prevê que a audiência de instrução no procedimento comum ordinário será una, ou seja, em uma única audiência serão realizados, em regra, todos os seguintes atos (nesta ordem): 1. oitiva do ofendido; 2. inquirição das testemunhas de acusação; 3. inquirição das testemunhas de defesa; 4. esclarecimentos prestados oralmente pelos peritos; 5. acareações; 6. reconhecimento de pessoas e coisas; 7. interrogatório; 8. alegações finais orais por parte da acusação; 9. alegações finais orais por parte da defesa; 10. sentença. O acusado tem o direito de estar presente na audiência? SIM, o réu possui o direito de participar dos atos de seu processo e de estar presente nas audiências para que possa exercer sua autodefesa. Apesar de não estar previsto expressamente na CF/88, o direito à presença do réu na audiência encontra-se consagrado no art. 14, 3, “d”, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e no art. 8º, 2, “d” e “f”, da Convenção Americana de Direitos Humanos. Esse direito do acusado de estar presente na audiência é chamado por alguns doutrinadores de “direito ao confronto” (right of confrontation), que consiste no direito fundamental do acusado de presenciar e participar da colheita da prova oral contra ele produzida na audiência (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Niterói: Impetus, 2013). Durante o depoimento das testemunhas, o acusado pode formular perguntas? SIM, mas não diretamente, devendo as perguntas ser formuladas à testemunha pelo defensor do réu. Justamente por esta razão, durante a audiência, o acusado e seu defensor devem estar sentados próximos, a fim de que possam manter comunicação direta durante as inquirições.

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Em um processo com mais de um réu, durante o interrogatório de um dos acusados, o advogado do outro réu poderá formular perguntas? Ex: João e Pedro são réus em uma ação penal. Durante o interrogatório de João, o advogado de Pedro poderá fazer perguntas? SIM. Durante o interrogatório do acusado, o advogado do corréu tem direito de fazer perguntas (STJ. 5ª Turma. HC 198.668-SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/9/2012). A decisão que impede que o defensor de um dos réus repergunte ao outro acusado ofende os princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório e da isonomia, gerando nulidade absoluta (STF 1ª Turma. HC 101648, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/05/2010). Se houver mais de um acusado, o réu tem direito de acompanhar o interrogatório do corréu? NÃO. Segundo o CPP, havendo mais de um acusado, eles deverão ser interrogados separadamente (art. 191). Assim, diz-se que uma das características do interrogatório é que ele é um ato individual. Ex: João e Pedro são réus em uma ação penal. Durante todos os atos de instrução realizados na audiência, eles terão o direito de estar presentes, juntamente com seus advogados. Assim, quando a vítima, as testemunhas, os peritos forem ouvidos, eles ficarão na sala de audiência e poderão, por meio de seus advogados, fazer perguntas. Contudo, no momento em que forem ser interrogados, um não poderá ouvir o depoimento do outro. Logo, quando João for ser interrogado, Pedro terá que sair da sala, ficando, contudo, seu advogado presente. No instante em que Pedro for prestar seus esclarecimentos, será a vez de João deixar o recinto, ficando representado por seu advogado. Qual é a razão da existência da regra do art. 191 do CPP? Segundo o Min. Teori Zavascki, essa regra tem como objetivo evitar que as respostas dadas pelo primeiro interrogado influenciem, por motivos diversos, os depoimentos dos diferentes corréus. Pergunta interessantíssima: se o réu for advogado e estiver atuando em causa própria, mesmo assim deverá ser aplicada a regra do art. 191 do CPP? Em outras palavras, quando o corréu for ser interrogado, o acusado (que atua como advogado) terá que sair da sala de audiência? SIM. O fato de o réu advogar em causa própria não é suficiente para afastar a regra contida no art. 191 do CPP. Assim, ele terá também que sair da sala de audiência e não poderá acompanhar o interrogatório do corréu. A fim de garantir que o réu tenha a defesa técnica na audiência, o réu poderá constituir um advogado para acompanhar o depoimento do corréu ou, então, o juiz solicita a assistência jurídica da Defensoria Pública para acompanhar especificamente o interrogatório do corréu. Veja trecho da ementa do julgado do STF que espelha esse entendimento:

(...) Possibilidade de os interrogatórios de corréus serem realizados separadamente, em cumprimento ao que dispõe o art. 191 do Código de Processo Penal. Precedente. 2. O fato de o paciente advogar em causa própria não é suficiente para afastar essa regra, pois, além de inexistir razão jurídica para haver essa distinção entre acusados, a questão pode ser facilmente resolvida com a constituição de outro causídico para acompanhar especificamente o interrogatório do corréu. Assim, e considerando que a postulação é para que se renove o interrogatório com a presença do acusado na sala de audiências, não há falar em ilegalidade do ato ou cerceamento de defesa. (...) STF. 2ª Turma. HC 101021, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/05/2014.

Direito de o réu acompanhar os atos processuais. Conclusões: Desse modo, podemos dizer que o acusado tem direito de acompanhar, dentro da sala de audiência, todos os atos de instrução processual, com duas exceções: 1º) O réu não poderá assistir o interrogatório do corréu (art. 191 do CPP). Nesse caso, ele terá que ficar fora da sala e não poderá acompanhar o depoimento nem mesmo por videoconferência. 2º) O réu poderá ser retirado da sala de audiência durante o depoimento da vítima ou das testemunhas se o juiz verificar que a sua presença poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento (art. 217). Nesse caso, o réu ficará fora da sala, mas poderá acompanhar os depoimentos por meio de videoconferência.

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Em ambos os casos, o advogado do réu deverá permanecer na sala de audiência e acompanhar o ato processual praticado, salvo se o acusado for advogado e estiver atuando em causa própria. Nesse caso, ele não poderá permanecer na sala de audiência, sendo-lhe facultado constituir outro advogado para representar juridicamente seus interesses no ato.

Princípio da correlação (congruência), causa de aumento e emendatio libelli

Para que a causa de aumento de pena seja reconhecida pelo julgador é necessário que ela tenha sido narrada na denúncia ou queixa.

Se na peça acusatória estiver narrada a circunstância que configura a causa de aumento de pena, não é indispensável que o MP (ou o querelante) requeira a condenação com base no dispositivo legal no qual está prevista a causa de aumento.

Ex: o MP ajuizou ação penal contra o réu por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90). Na denúncia, o MP não pediu expressamente que fosse reconhecida a majorante do art. 12, I (quando o crime causa grave dano à coletividade). Pediu-se apenas a condenação do acusado pelo crime do art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90. Vale ressaltar, no entanto, que o MP narrou na denúncia que o réu reduziu Imposto de Renda em montante superior a 2 milhões de reais. O juiz, na sentença, se decidir condenar o réu pelo art. 1º, poderá aplicar a causa de aumento prevista no art. 12, I. Isso porque o valor sonegado gera grave dano à coletividade.

STF. 1ª Turma. HC 120587/SP e RHC 119962/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/5/2014

Princípio da correlação ou congruência O princípio da correlação ou da congruência significa que a sentença não poderá condenar o acusado por fatos não narrados na denúncia ou queixa, sob pena de incorrer em decisão ultra ou extra petita, sendo isso causa de nulidade absoluta. Como afirma o Min. Marco Aurélio Bellize: “(...) O princípio da correlação entre acusação e sentença, também chamado de princípio da congruência, representa uma das mais relevantes garantias do direito de defesa, visto que assegura a não condenação do acusado por fatos não descritos na peça acusatória, é dizer, o réu sempre terá a oportunidade de refutar a acusação, exercendo plenamente o contraditório e a ampla defesa. (...)” (STJ. REsp 1193929/RJ, julgado em 27/11/2012). Vale ressaltar que, no processo penal, o acusado se defende dos fatos que lhe são atribuídos na denúncia ou queixa, e não da capitulação legal. Assim, não há violação ao princípio da correlação se o magistrado, na sentença, sem modificar a descrição fática, aplicar uma tipificação legal diferente daquela requerida pela acusação. Nesse caso, ocorre a emendatio libelli (art. 383 do CPP). Exemplo concreto (com adaptações): “JF”, maior de idade, convenceu “ER”, de apenas 7 anos, a deitar-se nu ao seu lado na cama. O maior tentou praticar coito anal com a criança, que reclamou das dores. Após algumas tentativas de penetrar, “JF” ouviu os gritos dos pais da criança que o procuravam e, por essa razão, desistiu do ato e mandou que o menino fosse embora. O Ministério Público denunciou “JF” por tentativa de estupro de vulnerável (art. 217-A c/c art. 14, II, do CP). O juiz, no entanto, condenou “JF” por estupro de vulnerável consumado. A defesa recorreu alegando que houve violação ao princípio da congruência. O caso chegou até o STJ. O STJ afastou a alegação de nulidade e manteve a condenação.

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O acusado defende-se dos fatos narrados na inicial acusatória, não de sua capitulação legal. O juiz pode atribuir a tais fatos definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave, nos termos do art. 383 do CPP (emendatio libelli). O fato de o agente ter roçado seu pênis no menor já configura ato libidinoso, gerando a consumação do delito do art. 217-A do CP. Enfim, o crime se consumou nesse momento. A penetração, caso tivesse acontecido, seria mero exaurimento. STJ. 5ª Turma. HC 221.243/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/10/2013. O juiz pode reconhecer, na sentença, a existência de uma causa de aumento mesmo que esta não tenha sido narrada pelo MP (ou o querelante) na denúncia (ou queixa)? NÃO. Para que a causa de aumento de pena seja reconhecida pelo julgador, é necessário que ela tenha sido narrada na denúncia ou queixa, sob pena de cerceamento de defesa. É necessário que a denúncia (ou queixa) mencione o dispositivo legal no qual está prevista a causa de aumento de pena? NÃO. Se na peça acusatória estiver narrada a circunstância que configura a causa de aumento de pena, não é indispensável que o MP (ou o querelante) requeira a condenação com base no dispositivo legal no qual está prevista a causa de aumento. Parece um pouco confuso, mas veja o seguinte exemplo de denúncia: “No dia 10/10/2010, às 10h, na Rua 10 de maio, o acusado, JOÃO DA SILVA, servidor público federal, ocupante da função de Diretor Financeiro da Fundação Federal XXX, desviou a quantia de R$ 10.000,00, em

proveito próprio, transferindo tal montante para a sua conta corrente n. XXX. Ante o exposto, o Ministério Público Federal denunciou JOÃO DA SILVA como incurso nas penas do art. 312 do Código Penal.” O Ministério Público não mencionou expressamente a causa de aumento prevista no art. 327, § 2º do Código Penal:

§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Mesmo assim, poderá o juiz condenar o réu pelo art. 312 c/c o § 2º do art. 327 do CP? SIM, porque mesmo o MP não tendo requerido a condenação do réu com base no dispositivo legal no qual está prevista a causa de aumento (§ 2º do art. 327), na denúncia ela está narrada quando se menciona que o acusado ocupava função de direção em fundação instituída pelo poder público (“Diretor Financeiro da Fundação Federal XXX”). Nesse caso, o julgador realizou uma emendatio libelli, tendo em vista que o MP pugnou pela condenação com base no art. 312 e a decisão condenatória foi prolatada conforme o art. 312 c/c art. 327, § 2º do CP. Outro exemplo:

O art. 12, I, da Lei n. 8.137/90 (Lei de Crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo) prevê a seguinte causa de aumento:

Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade as penas previstas nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°: I - ocasionar grave dano à coletividade;

O MP ajuizou ação penal contra o réu por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90). Na denúncia, o MP não pediu expressamente que fosse reconhecida a majorante do art. 12, I. Pediu-se

apenas a condenação do acusado pelo crime do art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90.

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Vale ressaltar, no entanto, que o MP narrou na denúncia que o réu reduziu tributo federal, qual seja, Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ, em montante superior a 2 milhões de reais. O juiz, na sentença, condenou o réu pelo art. 1º e, como o valor sonegado foi muito alto, afirmou que houve grave dano à coletividade e aplicou a causa de aumento prevista no art. 12, I. O magistrado agiu de forma correta? Foi respeitado o princípio da congruência? SIM. Segundo decidiu o STF, o princípio da congruência, dentre os seus vetores, indica que o acusado defende-se dos fatos descritos na denúncia e não da capitulação jurídica nela estabelecida. Assim, é necessário apenas que haja a correlação entre o fato descrito na peça acusatória e o fato pelo qual o réu foi condenado, sendo irrelevante a menção expressa na denúncia de eventuais causas de aumento ou diminuição de pena. O valor sonegado, descrito na denúncia, demonstra, de forma induvidosa, a ocorrência de “grave dano à coletividade”, de forma que, mesmo sem pedido expresso, pode ser aplicada a causa de aumento especial trazida pelo art. 12, I, da Lei dos Crimes contra a Ordem Tributária. STF. 1ª Turma. HC 120587/SP e RHC 119962/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/5/2014. E as agravantes? O juiz também poderá reconhecê-las de ofício nos crimes de ação penal pública? SIM. Para a corrente majoritária, o juiz poderá reconhecer as agravantes de ofício, não havendo, neste caso, violação ao princípio da correlação. Trata-se, inclusive, do texto expresso do CPP:

Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.

No mesmo sentido é o STJ:

(...) O reconhecimento de agravante não envolve a questão da quebra de congruência entre a imputação e a sentença, por força do art. 385 do CPP. (...) (HC 246.398/AM, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 05/03/2013)

Obs: em uma prova prática ou oral da Defensoria Pública, pode-se defender que esse art. 385 do CPP não foi recepcionado pela CF/88 e que, portanto, o juiz somente pode reconhecer as agravantes caso estas tenham sido expressamente narradas na peça acusatória. Essa é a posição de alguns doutrinadores. Em provas objetivas, é mais seguro optar pelo texto do CPP.

(In)dispensabilidade de capacidade postulatória para recurso ordinário em HC

A pessoa, sem ter capacidade postulatória, impetra um HC e este é negado. Essa mesma pessoa poderá ingressar com recurso contra a decisão? Para se interpor o recurso contra a decisão denegatória do HC, a capacidade postulatória também é dispensada?

1ª Turma do STF: SIM 2ª Turma do STF e STJ: NÃO.

STF. 1ª Turma. HC 102836 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 08/11/2011.

STF. 2ª Turma. RHC 121722/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2014.

STJ. 5ª Turma. AgRg no Ag 1431146/RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/11/2013.

STJ. 6ª Turma. RHC 42.925/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 08/05/2014.

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O habeas corpus é ação autônoma de impugnação, constitucionalmente estabelecida, que tem por finalidade evitar ou fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção decorrente de ilegalidade ou abuso de poder. Segundo o Código de Processo Penal, não é necessário ser advogado para impetrar HC:

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.

O Estatuto da OAB também dispõe, no mesmo sentido:

Art. 1º (...) § 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas corpus em qualquer instância ou tribunal.

Desse modo, não se exige capacidade postulatória para propor HC. A dúvida, então, é a seguinte: A pessoa, sem ter capacidade postulatória, impetra um HC e este é negado. Essa mesma pessoa poderá ingressar com recurso contra a decisão? Para se interpor o recurso contra a decisão denegatória do HC a capacidade postulatória também é dispensada?

1ª Turma do STF: SIM 2ª Turma do STF: NÃO

A 1ª Turma do STF já decidiu que o habeas corpus pode ser não apenas impetrado, como também acompanhado por pessoa leiga (sem capacidade postulatória), que poderá, inclusive, interpor recurso. Assim, não se exige que a peça recursal seja subscrita por profissional da advocacia. STF. 1ª Turma. HC 102836 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 08/11/2011.

A 2ª Turma do STF não conheceu de um recurso interposto contra decisão denegatória de habeas corpus, pelo fato de ele ter sido subscrito por advogado com inscrição suspensa na OAB. Somente pode interpor recurso ordinário em HC quem possui capacidade postulatória. STF. 2ª Turma. RHC 121722/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2014.

DIREITO PENAL MILITAR

É constitucional a vedação ao SURSIS nos casos do art. 88, II, “a” do CPM

São compatíveis com a CF/88 o art. 88, II, “a” do CPM e o art. 617, II, “a”, do CPPM, que vedam a concessão de SURSIS nos casos ali especificados.

STF. Plenário. HC 119567/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 22/5/2014

Restrição ao SURSIS O art. 88, II, “a”, do Código Penal Militar estabelece o seguinte:

Art. 88. A suspensão condicional da pena não se aplica: II - em tempo de paz: a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento, de violência contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordinação, ou de deserção;

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No mesmo sentido, o art. 617, II, “a”, do Código de Processo Penal Militar prevê:

Art. 617. A suspensão condicional da pena não se aplica: II - em tempo de paz: a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento, de violência contra superior, oficial de serviço, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior e desacato, de insubordinação, insubmissão ou de deserção;

Tese da DPU A DPU impetrou habeas corpus em favor de um militar sustentando que essa vedação ao SURSIS seria incompatível com a CF/88. O STF acolheu essa tese? NÃO. O STF entende que o art. 88, II, “a”, do CPM e o art. 617, II, “a”, do CPPM são COMPATÍVEIS com a CF/88. No que se refere às Forças Armadas, os valores hierarquia e disciplina possuem uma dimensão específica e valiosa, consagrada no art. 142 da CF/88. A Constituição traz, em seu bojo, regime jurídico diferenciado para as infrações militares, a exemplo do § 2º do art. 142, que não admite “habeas corpus” em relação a punições disciplinares militares, ainda que encerrem restrições de caráter ambulatorial. Ao elaborar o Código Penal Militar, o legislador optou por distinguir entre crimes que admitem a suspensão condicional e crimes em que esse benefício não é aceito justamente por afrontarem a hierarquia e a disciplina inerentes às Forças Armadas. Para o STF, essa escolha legislativa deve ser respeitada pelo Poder Judiciário.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (Juiz TJPI 2012 CESPE) Aplicam-se aos deputados estaduais as mesmas regras aplicadas aos deputados

federais no que se refere a sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. ( )

2) (Juiz TJAC 2012 CESPE) Aos vereadores impõem-se, em igual extensão, as regras, aplicáveis aos deputados estaduais, relativas a inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas. ( )

3) É inconstitucional lei estadual que estabelece que a remuneração dos Deputados Estaduais será um percentual sobre o subsídio dos Deputados Federais. ( )

4) É cabível ADI contra resoluções do TSE. ( ) 5) É cabível ADI contra respostas a consultas formuladas ao TSE. ( ) 6) Regimento Interno de Assembleia Legislativa pode ser objeto de ADI. ( ) 7) Para fins de acumulação lícita de cargos, não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que

impliquem a prática de atividades meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica. ( )

Gabarito

1. C 2. E 3. C 4. C 5. E 6. C 7. C

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JULGADO NÃO COMENTADO

Ampla defesa: citação e interrogatório no mesmo dia Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma, por maioria, denegou “habeas corpus” impetrado contra acórdão do STJ que denegara idêntica medida ao fundamento de que, apesar de imprópria a designação de interrogatório no mesmo dia da citação (antes do advento da Lei 11.719/2008), a ausência de prejuízos inviabilizaria a declaração de nulidade do feito, em obediência ao princípio “pás de nullité sans grief” — v. Informativo 563. A defesa alegava nulidade absoluta de processo-crime, por ausência de citação do paciente, uma vez que ele fora apenas requisitado para comparecer em juízo e, no mesmo dia, realizara-se a audiência de interrogatório, na qual nomeado defensor “ad hoc”. Sustentava, ainda, violação à garantia constitucional da ampla defesa, ao argumento de que o paciente não tivera conhecimento prévio da acusação formulada e que não pudera constituir advogado de sua confiança. A Turma enfatizou que, consoante demonstrado nos autos, a Defensoria Pública assistira o paciente não desde o momento em que houvera a citação e o interrogatório, mas ainda na fase do inquérito policial. Consignou, ainda, que, durante o referido interrogatório, o magistrado nomeara o mesmo defensor público que já acompanhava o caso e que, inclusive, propusera, dias antes, incidente de insanidade mental do acusado. Assim, tendo em conta que o paciente não se encontrava sem defensor, reputou não ter havido prejuízo da defesa. Em voto-vista, o Ministro Roberto Barroso acrescentou que a jurisprudência da Corte seria no sentido de que, no período anterior à Lei 11.719/2008, que alterou o art. 185, § 2º, do CPP, a realização do interrogatório do acusado no mesmo dia da citação não acarretaria a automática anulação do processo-crime por cerceamento de defesa. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que deferia a ordem. Assentava que, na espécie, o prejuízo seria ínsito, na medida em que o paciente não tivera contato prévio com o advogado de sua livre escolha, o qual lhe seria constitucionalmente garantido. HC 98434/MG, rel. Min. Cármen Lúcia, 20.5.2014.

OUTRAS INFORMAÇÕES

C L I P P I N G D O D JE 19 a 23 de maio de 2014

AG. REG. NA ADI N. 4.116-SP

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Agravo regimental na ação direta de inconstitucionalidade. 2. Associação. Ilegitimidade ativa. Associação que não representa uma classe definida. 3.

Não comprovação do efetivo caráter nacional. 4. Agravo regimental ao qual se nega provimento.

AG. REG. NA SL N. 665-SP

RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE

EMENTA: TETO CONSTITUCIONAL. LICENÇA-PRÊMIO INDENIZADA. AGENTE FISCAL DE RENDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. SUSPENSÃO DA

EXECUÇÃO DE DECISÃO QUE DEFERIU O LEVANTAMENTO DA INDENIZAÇÃO ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA DE MÉRITO. AGRAVO

REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

No caso da licença-prêmio não usufruída, paga em pecúnia ao servidor aposentado, a conclusão pela natureza indenizatória é válida apenas no que se

refere ao seu valor total (§ 11 do art. 37 da Constituição, na redação da EC 47/2005). O caráter indenizatório da parcela não se estende à remuneração do servidor, ainda que para o fim específico de cálculo da licença-prêmio, sob pena

de violação inc. XI do art. 37 da Constituição, na redação da EC 41/2003.

Entendimento deste Supremo Tribunal Federal no sentido de que afronta a ordem pública a decisão que afasta a aplicação do teto constitucional. Agravo regimental ao qual se nega provimento, com a manutenção da decisão da Presidência que deferiu a suspensão da execução até o trânsito em

julgado da sentença de mérito proferida no processo de origem.

AG. REG. NO ARE N. 791.695-PB

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO

PÚBLICO. EDITAL. ADITAMENTO. CONVOCAÇÃO DOS CANDIDATOS REMANESCENTES. AUSÊNCIA DE

PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. 1. O prequestionamento da questão constitucional é requisito indispensável à admissão do recurso extraordinário.

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2. As Súmulas 282 e 356 do STF dispõem respectivamente, verbis: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão

recorrida, a questão federal suscitada” e “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto

de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento.” 3. In casu, o acórdão originariamente recorrido assentou: “REMESSA OFICIAL E APELAÇÃO CÍVEL - CONCURSO PÚBLICO PARA O CURSO

DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS DA PM/PB - APROVAÇÃO ALÉM DO NÚMERO DE VAGAS PREVISTAS PARA ETAPA SEGUINTE DO

CERTAME - ADITAMENTO DO EDITAL DO CONCURSO QUE EXTERNA NECESSIDADE DE PROVIMENTO DE CARGOS - CONVOCAÇÃO DOS CANDIDATOS REMANESCENTES - ATO VINCULADO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - FIXAÇÃO ADEQUADA - DESPROVIMENTO”.

4. Agravo regimental DESPROVIDO.

AG. REG. NA Rcl N. 8.686-CE

RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

RECLAMAÇÃO – AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE Nº 11/DF – LIMINAR – VIGÊNCIA EXAURIDA – NEGATIVA

DE SEGUIMENTO AO PEDIDO. Exaurida a vigência de medida acauteladora em ação declaratória de constitucionalidade, torna-se insubsistente a

eficácia vinculante a viabilizar o manuseio da reclamação.

AG. REG. NO AI N. 622.948-AC

RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ICMS. SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO. HABILITAÇÃO DE

TELEFONE MÓVEL. NÃO INCIDÊNCIA. PRECEDENTES.

O ato de habilitação de aparelho móvel celular não implica serviço efetivo de telecomunicação, mas apenas disponibilização deste. A despeito de a

Constituição Federal autorizar a tributação sobre os serviços de comunicação, tal circunstância não permite que legislador amplie a hipótese de

incidência de modo a alcançar as atividades que antecedem ou viabilizam o serviço que constitui a materialidade do imposto. Agravo regimental a que se nega provimento.

AG. REG. NO AG. REG. NOS EMB. DECL. NA SS N. 4.416-SP

RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE

EMENTA: TETO CONSTITUCIONAL. LICENÇA-PRÊMIO INDENIZADA. AGENTE FISCAL DE RENDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. SUSPENSÃO DA

EXECUÇÃO DE DECISÃO QUE DEFERIU O LEVANTAMENTO DA INDENIZAÇÃO ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA DE MÉRITO. AGRAVO

REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

No caso da licença-prêmio não usufruída, paga em pecúnia ao servidor aposentado, a conclusão pela natureza indenizatória é válida apenas no que se refere ao seu valor total (§ 11 do art. 37 da Constituição, na redação da EC 47/2005).

O caráter indenizatório da parcela não se estende à remuneração do servidor, ainda que para o fim específico de cálculo da licença-prêmio, sob pena

de violação inc. XI do art. 37 da Constituição, na redação da EC 41/2003. Entendimento deste Supremo Tribunal Federal no sentido de que afronta a ordem pública a decisão que afasta a aplicação do teto constitucional.

Agravo regimental ao qual se nega provimento, com a manutenção da decisão da Presidência que deferiu a suspensão da execução até o trânsito em

julgado da sentença de mérito proferida no processo de origem.

ADI N. 3.202-RN

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DECISÃO ADMINISTRATIVA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO NORTE: AGRAVO REGIMENTAL NO PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº

102.138/2003. EXTENSÃO DE CONCESSÃO DE GRATIFICAÇÃO DE 100% AOS AGRAVANTES AOS SERVIDORES DO TRIBUNAL DE

JUSTIÇA. LEI POTIGUAR N. 4.683/1997 E LEI COMPLEMENTAR POTIGUAR N. 122/1994. 1. A extensão da decisão tomada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte aos servidores em condições idênticas aos agravantes torna-a ato

indeterminado. Ato administrativo normativo genérico. Cabimento da ação direta de inconstitucionalidade.

2. A extensão da gratificação contrariou o inc. X do art. 37 da Constituição da República, pela inobservância de lei formal, promovendo equiparação remuneratória entre servidores, contrariariando o art. 37, XIII, da Constituição da República. Precedentes.

3. Princípio da isonomia: jurisprudência do Supremo Tribunal de impossibilidade de invocação desse princípio para obtenção de ganho remuneratório

sem respaldo legal: Súmula n. 339 do Supremo Tribunal Federal. 4. Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da parte final do acórdão proferido no Agravo Regimental no Processo

Administrativo nº 102.138/2003.

*noticiado no Informativo 744

AG. REG. EM MS N. 29.307-DF

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO DO CORREGEDOR NACIONAL DE JUSTIÇA.

INTEMPESTIVIDADE. IMPETRAÇÃO EM PRAZO SUPERIOR A 120 DIAS APÓS A CIÊNCIA DO PRIMEIRO ATO. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO ADMINISTRATIVO E INEXISTÊNCIA DE INTERRUPÇÃO DO PRAZO DECADENCIAL. SEGUNDA DECISÃO QUE

CONFIRMOU A ANTERIOR. DELIBERAÇÃO NEGATIVA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

AG. REG. NO ARE N. 696.131-SP

RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AUSÊNCIA DE CONTROVÉRSIA SOB A

ÓTICA CONSTITUCIONAL. PRESCRIÇÃO TRABALHISTA.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal manifestou-se pela ausência de repercussão geral da controvérsia acerca da prescrição trabalhista, se parcial ou total, por entender que a discussão possui natureza infraconstitucional (ARE 697.514-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes – Tema 583). Agravo

regimental a que se nega provimento.

AG. REG. NO ARE N. 712.312-SP

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PROCESSUAL CIVIL. ASTREINTES.

MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO.

MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO PLENÁRIO DO STF NO ARE Nº 748.371. ALEGADA VIOLAÇÃO AO

ARTIGO 93, IX, DA CF/88. INEXISTÊNCIA. 1. A multa diária aplicada em face do descumprimento de decisão judicial, quando sub judice a controvérsia, implica em análise da legislação

infraconstitucional aplicável à espécie, o que inviabiliza o conhecimento do apelo extremo. Precedentes: ARE 691.369-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 28/5/2013 e ARE 759.021-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe 1º/10/2013.

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Informativo 747-STF (05/06/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22

2. Os princípios da ampla defesa, do contraditório, do devido processo legal e dos limites da coisa julgada, quando debatidos sob a ótica

infraconstitucional, não revelam repercussão geral apta a tornar o apelo extremo admissível, consoante decidido pelo Plenário Virtual do STF, na

análise do ARE nº 748.371, da Relatoria do Min. Gilmar Mendes. 3. A prestação jurisdicional resta configurada com a prolação de decisão devidamente fundamentada, embora contrária aos interesses da parte. Nesse

sentido, ARE 740.877-AgR/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe 4/6/2013.

4. In casu, o acórdão extraordinariamente recorrido assentou: “AGRAVO INTERNO – ART. 557, § 1º, DO CPC – CABIMENTO – FIXAÇÃO CORRETA DAS MULTAS DIÁRIAS – DESCUMPRIMENTO REITERADO DE ORDEM JUDICIAL - VALORES EXORBITANTES – REVISÃO -

NECESSIDADE – APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE.”

5. Agravo regimental DESPROVIDO.

AG. REG. NO ARE N. 692.442-SC

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Administrativo. 3. Responsabilidade Civil do Município. Indenização por danos

morais. Flagrante de tráfico de drogas forjado por servidor público municipal no exercício de suas funções de vigilância sanitária. Fato comprovado definitivamente na esfera criminal. Ocorrência de prejuízo ao dono do estabelecimento comercial (prisão indevida). Nexo de causalidade

comprovado. 4. Reexame de conteúdo fático-probatório. Incidência do Enunciado 279 da Súmula do STF. Precedentes. 5. Ausência de argumentos

capazes de infirmar a decisão agravada. 6. Agravo regimental a que se nega provimento.

ADI N. 197-SE

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 61, III, e 115, parágrafo único, da Constituição do Estado de Sergipe. Inconstitucionalidade na criação de

controle externo do poder judiciário e organização judiciária estadual. O poder constituinte estadual não pode alterar iniciativa legislativa prevista na Constituição Federal. É inconstitucional disposição que atribui iniciativa do Governador para lei de organização judiciária. Ação direta julgada

procedente.

*noticiado no Informativo 741

EMB. DECL. NA Cm N. 58-SP

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Embargos de declaração em comunicação. 2. Decisão monocrática. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. 3. Impugnação de decisão da

Primeira Turma desta Corte que já transitou em julgado. Canhestra tentativa de sucedâneo recursal e patente abuso no direito de peticionar. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.

*noticiado no Informativo 723

EMB. DECL. NO AG. REG. EM MS N. 32.485-SP

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE QUAISQUER DOS VÍCIOS DO ART. 535 DO CPC.

REDISCUSSÃO DE QUESTÕES JÁ DECIDIDAS. IMPOSSIBILIDADE. ATO DA SECRETARIA DO STF. APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA

DE REPERCUSSÃO GERAL. DEVOLU­ÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM, PARA OBSERVÂNCIA DO ART. 543-B DO CPC. AUSÊNCIA DE LESIVIDADE. PRECEDENTES. EMBAR­GOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.

Pet N. 4.868-PR

RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO

EMENTA: DENÚNCIA. IMPUTAÇÃO DE PRÁTICA DE BOCA DE URNA E DE DIVULGAÇÃO IRREGULAR DE PROPAGANDA

ELEITORAL. PEÇA ACUSATÓRIA QUE DESCREVE CONDUTAS ATÍPICAS.

1. É atípica a conduta do candidato que se limita a cumprimentar pessoas em mais de uma zona eleitoral, estando acompanhado de correligionários e portando broche da sua campanha.

2. Diante disso, mais do que mera rejeição da denúncia, impõe-se, na hipótese, a absolvição do requerido.

RE N. 593.443-SP

RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RE.

QUESTÃO SUPERADA. HABEAS CORPUS. CONCESSÃO DA ORDEM PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA

TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR FALTA DE JUSTA CAUSA. ALEGAÇÃO DE TOLHIMENTO DE PRERROGATIVA EXCLUSIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROVAR A ACUSAÇÃO, MEDIANTE AJUIZAMENTO DE AÇÃO PENAL. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

PROCEDIDA POR TRIBUNAL SUPERIOR, EM DETRIMENTO DA COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. OFENSA AOS ARTS. 5º,

XXXVIII, E 129, I, AMBOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

I – Havendo a Corte, por meio de seu Plenário Virtual, reconhecido a repercussão geral do tema constitucional debatido nos autos, deve prosseguir no

julgamento de mérito da causa.

II – Para se chegar à conclusão contrária à do acórdão recorrido seria necessário reexaminar o conjunto fático-probatório dos autos. Incidência da

Súmula 279 do STF.

III – Decisão judicial de rejeição de denúncia, impronúncia de réu, de absolvição sumária ou de trancamento de ação penal por falta de justa causa, não viola a cláusula constitucional de monopólio do poder de iniciativa do Ministério Público em matéria de persecução penal e tampouco transgride

o postulado do juiz natural nos procedimentos penais inerentes ao Tribunal do Júri.

III – Recurso extraordinário não provido *noticiado no Informativo 709

AG. REG. NO ARE N. 756.192-BA

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: AGRAVO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. ENSINO

SUPERIOR. TAXA DE INSCRIÇÃO. INSENÇÃO. AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA. MATÉRIA DE ÍNDOLE

INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA AO TEXTO DA CONSTITUIÇÃO. PRECEDENTES. REPERCUSSÃO GERAL NÃO

EXAMINADA EM FACE DE OUTROS FUNDAMENTOS QUE OBSTAM A ADMISSÃO DO APELO EXTREMO. 1. A autonomia universitária, quando sub judice a controvérsia, encerra análise da legislação infraconstitucional que disciplina a espécie. A violação

reflexa e oblíqua da Constituição Federal decorrente da necessidade de análise de malferimento de dispositivo infraconstitucional torna inadmissível o

recurso extraordinário. Precedentes: ARE 751425 AgR/PB, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 17/9/2013, ARE 694618 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe 12/11/2013, AI 699.740-AgR/AC, Rel. Min, Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe de 8/112012, e AI

855.359-AgR/AM, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJe 22/6/2012.

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Informativo 747-STF (05/06/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23

2. In casu, o acórdão recorrido assentou: “ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ENSINO. MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL. LEGITIMIDADE ATIVA. UNIÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. TAXA DE INSCRIÇÃO. ISENÇÃO.

HIPOSSUFICIÊNCIA. POSSIBILIDADE.” 3. Agravo regimental DESPROVIDO.

AG. REG. NO ARE N. 719.532-MS

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Servidor Público. Adicional por tempo de serviço. Contagem de tempo de serviço prestado em empresas públicas e em sociedades de economia mista para fins de concessão da gratificação. Matéria de índole infraconstitucional.

Ofensa reflexa à Constituição. Súmula 280/STF. Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.

RHC N. 121.524-MG

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. PENAL. DOSIMETRIA DE

PENA. ROUBO TRIPLAMENTE MAJORADO. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE PROVA. RECURSO AO QUAL SE NEGA

PROVIMENTO.

1. Este Supremo Tribunal assentou não ser possível em habeas corpus a reapreciação dos critérios subjetivos considerados pelo magistrado

para a dosimetria da pena.

2. A dosimetria da pena e os critérios subjetivos considerados pelos órgãos inferiores para a sua realização não são passíveis de aferição em

habeas corpus por necessitar reexame de provas.

3. Recurso ao qual se nega provimento.

AP N. 565-RO

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: AÇÃO PENAL. CRIMES DE FRAUDE A LICITAÇÃO E DE QUADRILHA. CONCURSO DE PESSOAS. QUESTÃO DE ORDEM:

SOBRESTAMENTO DA AÇÃO ATÉ DECISÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS.

IMPROCEDÊNCIA. PRELIMINARES: ARGUIÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAMENTO DE RÉUS SEM PRERROGATIVA DE FORO: DESMEMBRAMENTO DO PROCESSO. ALEGAÇÕES DE INÉPCIA DA DENÚNCIA, DE

NULIDADE DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, NULIDADE DA QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO E FISCAL

AUTORIZADA PELO STJ, VÍCIO NA PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL E AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DE PUNIBILIDADE E DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. PRELIMINARES REJEITADAS. ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL.

PREJUDICIAL DE MÉRITO REJEITADA. AÇÃO PENAL JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.

1. Decisão do Tribunal de Contas da União não constitui condição de procedibilidade de crimes de fraude à licitação e quadrilha. Pelo princípio da independência das instâncias, é possível que a existência do fato alegadamente delituoso e a identificação da respectiva autoria se definam na esfera

penal sem vinculação com a instância de controle exercida pelos Tribunais de Contas. Questão de ordem resolvida no sentido de não condicionar a

procedibilidade dos delitos imputados aos Réus a futura decisão do Tribunal de Contas da União. 2. Não viola as garantias do juiz natural e da ampla defesa, elementares do devido processo legal, a atração, por conexão ou continência, do processo

do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados. Precedentes.

3. É apta a denúncia que especifica a conduta dos réus, expondo de forma pormenorizada o fato criminoso, preenchendo os requisitos do art. 41 do

Código de Processo Penal. Da leitura da peça acusatória devem poder se esclarecer todos os elementos indispensáveis à existência de crime em tese,

com autoria definida, de modo a permitir o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa.

4. A jurisprudência do Supremo Tribunal é firme no sentido de que o Ministério Público pode oferecer denúncia com base em elementos de informação obtidos em inquéritos civis, instaurados para a apuração de ilícitos civis e administrativos, no curso dos quais se vislumbre suposta prática

de ilícitos penais. Precedentes.

5. A questão relativa à nulidade da quebra de sigilo bancário e fiscal realizada pela usurpação de competência do Superior Tribunal de Justiça foi objeto de apreciação judicial definitiva nos autos da Reclamação 2217-RO, do Superior Tribunal de Justiça, e Recurso Extraordinário 562744-RO,

deste Supremo Tribunal.

6. Laudos técnicos elaborados no curso de investigação preliminar não representam prova pericial, mas documental, constituída de forma unilateral pelo órgão acusatório e assim foi valorada, não incidindo, no caso, o disposto no art. 280 c/c art. 254, inc. I, do Código de Processo Penal, aplicável às

perícias, realizadas no curso da ação ou mesmo antecipadamente, sempre sob o crivo do contraditório, ainda que diferido.

7. A circunstância de o Tribunal de Contas aprovar contas a ele submetidas não obsta a persecução penal promovida pelo Ministério Público e a responsabilização penal dos agentes envolvidos em delitos de malversação de dinheiro público. Admitir-se o contrário, importaria em subtrair à

jurisdição do Poder Judiciário o julgamento de crimes, ficando essa atribuição afeta a órgãos que apenas detêm competência político-administrativa.

8. A questão relativa à falta de justa causa para a ação penal foi tratada no momento do recebimento da denúncia e a sua reiteração confunde-se com o mérito da ação penal, relacionando-se diretamente com o conjunto probatório produzido durante a instrução processual.

9. A escolha de modalidade licitatória diversa daquela exigida pela lei, com o fracionamento de despesa, constitui fraude ao caráter competitivo

inerente à licitação. Condenação de Ivo Narciso Cassol, Salomão da Silveira e Erodi Antonio Matt pela prática, por doze vezes, do crime previsto no art. 90 da Lei 8.666/93.

10. Ausência de prova da participação de Aníbal de Jesus Rodrigues, Neilton Soares dos Santos, Izalino Mezzomo, Ivalino Mezzono, Josué

Crisostomo e Ilva Mezzono Crisostomo nos crimes de fraude à licitação narrados na inicial. 11. Ausência do elemento relativo ao número mínimo de quatro pessoas para configuração do crime do art. 288 do Código Penal.

12. Ação penal julgada parcialmente procedente.

*noticiado no Informativo 714

EMB. DECL. NO AG. REG. EM MS N. 32.485-SP

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

Ementa: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXIS­TÊNCIA DE QUAISQUER DOS VÍCIOS DO ART. 535 DO CPC. REDISCUSSÃO DE QUESTÕES JÁ DECIDIDAS. IMPOS­SIBILIDADE. ATO DA SECRETARIA DO STF. APLICA­ÇÃO DA SISTEMÁTICA

DE REPERCUSSÃO GERAL. DEVOLU­ÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM, PARA OBSERVÂNCIA DO ART. 543-B DO CPC. AUSÊNCIA DE

LESIVIDADE. PRECEDENTES. EMBAR­GOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.

Acórdãos Publicados: 404

Page 24: Info 692 Stf

Informativo 747-STF (05/06/2014) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24

TRANSCRIÇÕES

Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais

aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham

despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Mandado de Segurança - Teoria da Encampação - Limites da Tutela Cautelar - Teoria da Causa Madura - Inaplicabilidade

ao RMS (Transcrições)

AC 3.545 MC/DF*

RELATOR: Ministro Celso de Mello

DECISÃO: Trata-se de “ação cautelar incidental inominada”, com pedido de medida liminar, ajuizada com o objetivo de obter a anulação ou a

suspensão “(...) da eficácia da publicação do Quadro Geral de Credores publicado em 31/10/2.013, relativamente ao crédito do embargante”, com a consequente “(...) expedição de ofício, ao Presidente do Banco Central do Brasil (…), para que promova a retificação do cálculo do crédito do

embargante e a republicação do Quadro Geral de Credores (...), bem como a inclusão do valor da multa processual por litigância de má fé (...)”

(grifei). O autor, para justificar sua pretensão cautelar, apoia-se, em síntese, nos seguintes fundamentos:

“01. Conforme se verifica às fls. 18, do Quadro Geral de Credores, publicado no dia 31/10/2.013, em anexo (doc. 2), o Liquidante

manipulou deliberadamente, para menor, o valor do crédito do embargante, com o escuso objetivo de tumultuar, dificultar, procrastinar e

frustrar o cumprimento da ordem judicial que lhe foi entregue em 08/11/2.000, consignando que o valor do crédito do embargante, seria de R$ 17.255.825,63 quando o valor correto devido é de R$ 27.471.739,23 (vinte e sete milhões e quatrocentos e setenta e um mil e setecentos e trinta e

nove reais e vinte e três centavos), conforme planilha de calculo adotada pelos TJ/BA e TJ/SE anexa, doc. 3 (...). …...................................................................................................

02. Após o recebimento da inclusa NOTIFICAÇÃO (doc. 4), enviada pelo Autor em 27/10/2.013, para que se abstivesse de proceder a

reclassificação do crédito pretendida, o Liquidante ao ver frustrada a sua intenção de reclassificar o crédito do embargante, pela comprovação de que a Ação Rescisória que afirmava ter sido julgada se encontrava sobrestada, aguardando o julgamento da exceção de

suspeição arguida, promoveu a publicação do Quadro Geral de Credores, no dia 31/10/2.013, manipulando deliberadamente, para menor, o

valor do crédito de embargante, com o escuso objetivo de eternizar a demanda, tumultuando, dificultando, procrastinando e frustrando o cumprimento da ordem judicial recebida em 08/11/2.008, conforme se verifica do aviso aos credores, e da inclusa carta, enviada ao

embargante em 25/10/2.013, que foi objeto de nova NOTIFICAÇÃO, acompanhada da Impugnação do Valor do Crédito correspondente,

enviada na mesma data, para o Presidente do Banco Central do Brasil, via SEDEX, conforme comprovante de entrega anexo (docs. 5; 6; 7 e 8), sem que o Liquidante, ou o Presidente do Banco Central, promovessem a retificação do cálculo do valor do crédito impugnado, ou se

manifestassem quanto ao pedido, até a presente data.

03. Assim sendo, ao perceberem que os argumentos sustentados pelo BACEN e pelo próprio Liquidante, ao longo de 13 anos, após o recebimento da Ordem Judicial em 08/11/2.000, lastreados na Ilegitimidade Passiva ‘ad causam’ do Presidente do Banco Central, que restou

superada, em face da incidência e da aplicabilidade da Teoria da Encampação arguida, demonstrada e comprovada através da petição

protocolada em 22/07/2.013, às fls. dos autos dos Embargos de Declaração anexa (doc. 9), parcialmente transcrita abaixo, em vias de serem julgados, o Liquidante manipulou o cálculo do Balanço publicado em 31/10/2.013, objetivando procrastinar ‘sine die’ o pagamento do crédito

do Autor, eternizando a demanda: (…)

....................................................................................................... 04. Conforme se verifica do item 9 (nove), dos Memoriais entregues no Gabinete de Vossa Excelência, e dos demais Ministros desse

Excelso Pretório, abaixo transcrito, o embargante sustenta a sua tese, com base e fundamento, no fato do Presidente do Banco Central,

nomear o Liquidante e exercer a função de Juiz dos seus atos, ou seja, o Presidente BACEN é o responsável, em última instância administrativa, para decidir sobre as impugnações ao quadro de credores (art. 26, parágrafo 3º Lei 6024/74), e sobre a classificação dos

créditos quirografários dos credores da massa, culminando, ainda, no fato de que é o Juiz da liquidação (art. 34 Lei 6024/74), enquadrando-

se consequentemente, na hipótese da incidência e aplicabilidade da TEORIA DA ENCAMPAÇÃO: (…) …...................................................................................................

07. Todavia, apesar dos precedentes mencionados, A TEORIA DA ENCAMPAÇÃO, jamais foi interpretada conjuntamente, com os

artigos 26, parágrafo 3º c/c artigo 34 Lei 6024/74, pelo Superior Tribunal de Justiça, ou ainda, por qualquer Turma, ou pelo Pleno desse Egrégio Supremo Tribunal Federal, mesmo considerando que o Liquidante NÃO tem nenhuma autoridade para responder o Mandado de

Segurança, isoladamente, pelo fato de não ser subordinado hierarquicamente do Presidente do Banco Central ou dos seus Diretores

indicados (CC 101.922/STJ), podendo, todavia, responder o Mandado de Segurança, pela associação passiva com o Presidente Banco Central, que o nomeou, e que exerce o papel de Juiz dos seus atos e, ainda, pelo fato de ter cumprido reiteradas vezes, as ordens

manifestamente ilegítimas e ilegais, que lhe foram ordenadas pelos Diretores do DERES/DSUP, do Departamento do liquidação, e pelos

PROCURADORES do BACEN, consoante restou demonstrado e comprovado, através do seu favorecimento, no sentido de pagar antecipadamente, ao Banco Central do Brasil, a bagatela de R$ 23.792.000.000,00 (vinte e três bilhões e setecentos e noventa e dois milhões

de reais), já noticiado no item 7 anterior.

…................................................................................................... 09. Neste caso, a ‘vis atrativa’ da associação passiva do Liquidante, para responder o Mandado de Segurança, junto com o Presidente

do BACEN, decorre da sua nomeação para exercer o ‘munus’ da atividade pública-privada, delegada pelo Estado, cujos atos podem e devem

ser avocados e revistos pelo Presidente do BACEN, na condição de Juiz dos seus atos, sob pena, da sua nomeação dar ensejo a ‘CRIAÇÃO DE UM MONSTRO INDOMÁVEL’, completamente incontrolável, para atuar diretamente na vida pública e privada do Pais, com poderes

para gerir vultosos volumes de recursos públicos e privados, de terceiros, e do próprio Estado, descumprindo acintosamente, as ORDENS

EMANADAS DO PODER JUDICIÁRIO, inconsequentemente, sem qualquer responsabilidade para responder pelos seus atos e desmandos.

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09.1. Assim sendo, o embargante, respeitosamente, requer se digne Vossa Excelência, reconhecer a incidência e a aplicabilidade da

TEORIA DA ENCAMPAÇÃO, no Mandado de Segurança, ‘sub examen’, pelas razões expostas, comprovadas e justificadas, a fim de que a

matéria seja submetida e julgada monocraticamente, ou pela Egrégia Segunda Turma, ou, ainda, pelo Pleno desse Egrégio Supremo Tribunal, a fim de que seja declarada e reconhecida a LEGITIMIDADE PASSIVA DO PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL, para

responder o ‘mandamus’, examinando e acolhendo o pedido deduzido na ‘exordial’, cujo objetivo é o cumprimento integral da ordem judicial,

a ser avocada e revista, para que o Presidente o BACEN determine que o Liquidante expeça nova certidão do crédito preferencial de natureza alimentar do embargante, na forma requerida: (…)

…...................................................................................................

09.2. Diante do exposto, considerando ser humanamente impossível, admitir que o Presidente do Banco Central não tinha conhecimento de todos os atos e desmandos do Liquidante que cumpria ordens dos Diretores e Procuradores, seus subordinados diretos,

mormente, em se considerando as elevadas cifras de R$ 23.792.000.000,00 (vinte e três bilhões e setecentos e noventa e dois milhões de

reais), já pagos e recebidos pelo BACEN, consoante restou comprovado, em prejuízo aos demais credores, inclusive o crédito do embargante, de natureza alimentar e preferencial (…).” (grifei)

É de relembrar que a ação mandamental ajuizada, originariamente, perante o E. Superior Tribunal de Justiça, pelo autor da presente “ação

cautelar incidental inominada”, visava, tão somente, à obtenção de “certidão de fiel cumprimento” (fls. 18) da ordem judicial que lhe havia

assegurado o direito à inscrição de seu crédito privilegiado no quadro geral de credores elaborado pelo liquidante do Banco Econômico S/A. Já se sustentara, então, perante aquela Alta Corte judiciária, que a legitimidade da autoridade apontada como coatora para figurar no polo

passivo da ação mandamental estaria configurada, tendo em vista a alegada encampação dos atos do liquidante do Banco Econômico S/A pelo

Presidente do Banco Central do Brasil. Ao apreciar o pleito em questão, o E. Superior Tribunal de Justiça julgou extinta a ação mandamental, sem resolução de mérito, por

entender, de modo correto, faltar legitimidade passiva “ad causam” à autoridade então apontada como coatora, eis que “o Ministro de Estado

Presidente do Banco Central do Brasil não praticou ou deixou de praticar qualquer ato concreto no caso em apreço; nem mesmo, nas informações prestadas às fls. 640 e seguintes, defendeu o ato omissivo reputado como coator” (grifei).

Vale destacar, no ponto, que, em referido julgamento, o eminente Ministro Relator da causa, ao pronunciar-se pela ausência de pertinência

subjetiva da lide quanto à autoridade indicada como coatora, enfatizou não apenas a ausência de ato emanado do Senhor Presidente do Banco Central do Brasil, mas também a existência de óbice processual ao pretendido reconhecimento, no caso, da teoria da encampação, cabendo

transcrever, por extremamente relevante, o seguinte fragmento de seu douto voto:

“IV – DA ILEGITIMIDADE PASSIVA ‘AD CAUSAM’ DO PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL

O mandado de segurança foi impetrado originariamente na Seção Judiciária do Estado de São Paulo em face do Presidente do Banco Central do Brasil e do Liquidante do Banco Econômico S/A – BESA, objetivando expedição de certidão com a comprovação do cumprimento

de ordem judicial que determinou a inclusão do Impetrante no quadro geral de credores, na categoria de preferencial alimentar, a ser

publicado na liquidação extrajudicial do BESA, conforme decisão transitada em julgado na Ação Ordinária n. 4.665.166/95, que tramitou perante o Juízo de Direito da 4ª Vara Cível e Comercial da Comarca de Salvador/BA.

Com efeito, verifica-se facilmente que o Ministro de Estado Presidente do Banco Central do Brasil não praticou ou deixou de

praticar qualquer ato concreto no caso em apreço, não merecendo reparo a decisão atacada. Em primeiro lugar, porque, apesar do segundo impetrado ter sido nomeado pelo Banco Central do Brasil, os poderes de verificação e

classificação dos créditos são expressamente a ele conferidos, nos termos do art. 16 da Lei n. 6.024/74, ‘verba legis’: Art. 16. A liquidação extrajudicial será executada por liquidante nomeado pelo Banco Central do Brasil, com amplos poderes

de administração e liquidação, especialmente os de verificação e classificação dos créditos, podendo nomear e demitir funcionários,

fixando-lhes os vencimentos, outorgar e cassar mandatos, propor ações e representar a massa em Juízo ou fora dele. § 1º Com prévia e expressa autorização do Banco Central do Brasil, poderá o liquidante, em benefício da massa, ultimar os

negócios pendentes e, a qualquer tempo, onerar ou alienar seus bens, neste último caso através de licitações.

§ 2º Os honorários do liquidante, a serem pagos por conta da liquidanda, serão fixados pelo Banco Central do Brasil.’ (...) Em segundo lugar, porque a própria ordem judicial, cujo cumprimento se requer, foi dirigida apenas ao Liquidante do BESA.

Por último, mas não menos importante, porque é incabível a aplicação da teoria da encampação ‘in casu’, ainda que o Banco

Central do Brasil tenha defendido o mérito do ato atacado, na medida em que isso implicaria a ampliação modificativa da competência absoluta do Superior Tribunal de Justiça, fixada na Constituição da República, cuja impossibilidade já restou pacificada nesta Primeira

Seção, conforme recente aresto, da lavra do ilustre Ministro Luiz Fux:

‘PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ANISTIA POLÍTICA. IMPOSTO DE RENDA E

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ISENÇÃO INSTITUÍDA PELA LEI 10.599/2002. ADVOGADO GERAL DA UNIÃO.

ILEGITIMIDADE PASSIVA ‘AD CAUSAM’. INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. EXTINÇÃO DO

PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO.

1. A teoria da encampação é aplicável ao mandado de segurança tão-somente quando preenchidos os seguintes requisitos: existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; ausência

de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal; e manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas.

Precedentes da Primeira Seção: MS 12.779D DF, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 03/03/2008; MS 10.484D DF, Rel. Min. José Delgado, DJ de 26/09/2005.

2. ‘In casu’, foi apontado como autoridade coatora o Advogado Geral da União, o qual ostenta status de Ministro de Estado,

cujos atos estão sujeitos, na via do mandado de segurança, à competência originária, de natureza constitucional e absoluta, do Superior Tribunal de Justiça.

3. Entrementes, verifica-se que o ato coator indicado – descontos, referentes ao Imposto de Renda e à contribuição

previdenciária, efetuados sobre os proventos de aposentadoria pagos a anistiado político que exercia cargo de procurador federal – é

resultado de atividade administrativa complexa, desempenhada pela Coordenadoria de Recursos Humanos da Secretaria-Geral da

AGU.

4. Destarte, ressoa incabível a adoção da ‘teoria da encampação’ ao caso ‘sub judice’, porquanto implicaria indevida

modificação ampliativa de competência absoluta fixada na Constituição.

5. Mandado de segurança extinto sem julgamento do mérito.’

(MS 12.149D DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27.8.2008, Dje 15.9.2008) Assim, deve o Presidente do Banco Central do Brasil ser excluído do pólo passivo, pois não pode ser considerado autoridade

coatora.” (grifei)Assim, deve o Presidente do Banco Central do Brasil ser excluído do pólo passivo, pois não pode ser considerado

autoridade coatora.” (grifei)

Sob esse último aspecto, revela-se incensurável a decisão emanada daquela Alta Corte judiciária, pois esta Suprema Corte já teve o ensejo de

assinalar que a teoria da encampação não se aplica quando dela resultar modificação da competência, originária ou recursal, disciplinada na própria

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Constituição Federal (RMS 30.918/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RMS 32.362/DF, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA), confirmando, desse modo,

diretriz jurisprudencial prevalecente no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (MS 10.484/DF, Rel. Min. JOSÉ DELGADO – RMS 30.512/PE, Rel.

Min. TEORI ZAVASCKI – RMS 36.113-AgR/PR, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES – RMS 43.706-AgR/PA, Re. Min. BENEDITO GONÇALVES, v.g.):

“PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC. OMISSÃO CONFIGURADA.

ILEGITIMIDADE PASSIVA DA AUTORIDADE IMPETRADA. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. INAPLICABILIDADE AO CASO DOS

AUTOS. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM PARA REJULGAMENTO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS. 1. A Primeira Seção, ao apreciar o MS n.º 10.484/DF, traçou os requisitos mínimos da teoria da encampação, que somente incide se:

(a) houver vínculo hierárquico entre a autoridade erroneamente apontada e aquela que efetivamente praticou o ato ilegal; (b) a extensão da

legitimidade não modificar regra constitucional de competência; (c) for razoável a dúvida quanto à legitimação passiva na impetração; e (d) houver a autoridade impetrada defendido a legalidade do ato impugnado, ingressando no mérito da ação de segurança.

2. No caso dos autos, não estão presentes os requisitos para a incidência da teoria da encampação, porque: (a) não há hierarquia

entre o Inspetor da Receita Federal no aeroporto de Confins (autoridade impetrada) e a autoridade responsável pela arrecadação dos impostos estaduais (que supostamente deveria constar da impetração); e (b) a adoção da teoria promove mudança em regra de competência

absoluta prevista na Constituição (altera a competência da Justiça Estadual para a Federal).

3. Afastada a encampação, e tendo sido a Corte regional omissa quanto ao argumento de ilegitimidade formulado pela União, deve ser anulado o acórdão que julgou os embargos de declaração, para que outro seja proferido, com exame expresso da alegação de

ilegitimidade passiva ad causam .

4. Recurso especial provido”. (RE 1.188.779/MG, Rel. Min. CASTRO MEIRA – grifei)

Contra a decisão extintiva proferida pelo E. Superior Tribunal de Justiça, o autor interpôs o pertinente recurso ordinário, em cujo âmbito

invocou, uma vez mais, a aplicabilidade, ao caso, da teoria da encampação.

A colenda Segunda Turma desta Suprema Corte, no entanto, também rejeitou esse argumento, por entender que o Presidente do Banco Central do Brasil não determinou a adoção de qualquer medida nem impôs a execução de qualquer providência no caso em análise, não lhe sendo

imputável, por isso mesmo, qualquer ato qualificável como lesivo ao direito vindicado pela parte autora.

Nesse último julgamento, acentuou-se, ainda, que o Presidente do Banco Central do Brasil não dispõe de competência, seja para determinar a pretendida reserva de fundos para satisfação do crédito impugnado, seja para promover a alteração no quadro geral de credores, pois os poderes de

administração, verificação e classificação dos créditos em liquidação extrajudicial de instituição financeira são conferidos, por norma legal específica

(Lei nº 6.024/74, art. 16), apenas ao respectivo liquidante, tal como corretamente assinalado nas contrarrazões ao recurso ordinário, produzidas pelo Banco Central do Brasil (fls. 1.324/1.325):

“21. No caso concreto, o pedido inicialmente formulado foi o de fornecimento de certidão de inclusão de crédito no quadro geral de

credores da massa do Banco Econômico S/A – em Liquidação Extrajudicial. Pedido este, aliás, já atendido pelo Liquidante do BESA, como

bem destacado no Parecer do Ministério Público Federal (fls. 1204 a 1207). 22. Embora apontados como autoridades coatoras o Liquidante da instituição financeira e o Presidente do Banco Central, a única autoridade

legitimada por lei para elaborar o quadro geral de credores da massa e, por consequência, detentora das informações necessárias à certificação do

ato, é o Liquidante, segundo prescrevem os arts. 16 e 25 da Lei nº 6.024, de 1974. 23. Tanto é assim que a ordem judicial de inclusão do crédito do impetrante no quadro geral de credores, expedida pela 4ª Vara Cível

e Comercial de Salvador, foi dirigida unicamente ao Liquidante do Banco Econômico S/A – em Liquidação Extrajudicial (fls. 77 e 78). …...................................................................................................

25. Portanto, deve ser mantido o acórdão ‘a quo’, na parte que declara a ilegitimidade do Presidente do Banco Central para figurar

no pólo passivo da demanda, quer porque a competência estabelecida por lei para praticar o ato supostamente ilegal é do Liquidante, quer porque a teoria da encampação não pode ser aplicada ao caso, tendo em vista que ela provocaria modificação da competência estabelecida

na Constituição.

26. Tal entendimento é corroborado pelo fato de que o próprio Liquidante – e não o Presidente do Banco Central – forneceu a certidão pleiteada

pelo impetrante quando da prolação da sentença, exaurindo o objeto do presente ‘writ’. Qualquer entendimento em sentido diverso levaria a um

alargamento do pedido no transcorrer do processo judicial, o que é vedado não só pela lei processual, mas também pela Constituição da República

(por implicar prejuízo ao direito de defesa das autoridades impetradas).” (grifei)

O julgamento em questão, proferido pela colenda Segunda Turma desta Suprema Corte, restou consubstanciado em acórdão assim ementado:

“RECURSO ORDINÁRIO – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO RECURSO DE AGRAVO – LIQUIDAÇÃO

EXTRAJUDICIAL DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA (LEI Nº 6.024/74) – PRETENDIDA RETIFICAÇÃO DO QUADRO GERAL DE

CREDORES – ILEGITIMIDADE PASSIVA ‘AD CAUSAM’ DO PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL PARA FIGURAR COMO AUTORIDADE COATORA – INOVAÇÃO DOS LIMITES MATERIAIS DO PEDIDO – FUNDAMENTOS NÃO EXAMINADOS PELO TRIBUNAL

APONTADO COMO COATOR – IMPUGNAÇÃO RECURSAL QUE NÃO GUARDA PERTINÊNCIA COM OS FUNDAMENTOS EM QUE SE

ASSENTOU O ATO DECISÓRIO QUESTIONADO – OCORRÊNCIA DE DIVÓRCIO IDEOLÓGICO – INADMISSIBILIDADE – PRECEDENTES – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE PASSIVA ‘AD CAUSAM’ DO PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL PARA

FIGURAR COMO AUTORIDADE COATORA NA PRESENTE CAUSA. - O Presidente do Banco Central do Brasil não dispõe de competência, seja para determinar a reserva de fundos para satisfação de

crédito impugnado, seja para promover a alteração no quadro geral de credores, pois os poderes de administração, verificação e

classificação dos créditos em liquidação extrajudicial de instituição financeira são conferidos, por norma legal específica (Lei nº 6.024/74, art. 16), apenas ao respectivo liquidante.

INCOINCIDÊNCIA TEMÁTICA ENTRE OS FUNDAMENTOS DA IMPETRAÇÃO E AQUELES QUE DÃO SUPORTE AO

ACÓRDÃO IMPUGNADO. - Não é lícito ao impetrante, em sede recursal ordinária, inovar materialmente em sua postulação, para, nesta, incluir pedido

formulado em bases mais amplas e com fundamento diverso daquele que foi originariamente deduzido quando do ajuizamento da ação de

mandado de segurança. Precedentes. - A ocorrência de divergência temática entre as razões em que se apoia a petição recursal, de um lado, e os fundamentos que dão

suporte à matéria efetivamente versada na decisão recorrida, de outro, configura hipótese de divórcio ideológico, que, por comprometer a

exata compreensão do pleito deduzido pela parte recorrente, inviabiliza, ante a ausência de pertinente impugnação, o acolhimento do recurso interposto. Precedentes.”

(RMS 28.198-ED/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

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Inconformado com o resultado desse julgamento, o autor da presente “ação cautelar incidental inominada” opôs os pertinentes embargos de

declaração ainda pendentes de apreciação.

Sendo esse o contexto, passo a examinar a pretensão ora deduzida nesta sede processual. Tenho para mim, não obstante a alegação de fato novo superveniente, que o exame dos fundamentos em que se apoia a presente “ação

cautelar incidental inominada” evidencia que os argumentos expostos pelo autor constituem mera reprodução, mera reiteração, mera renovação

daqueles já apresentados anteriormente quando do ajuizamento da causa principal e que constitui matéria extensamente debatida, apreciada e

repelida tanto pelo E. Superior Tribunal de Justiça, quanto pelo Supremo Tribunal Federal.

Disso resulta, segundo entendo, a despeito da excelência do trabalho profissional do ilustre Advogado do autor, que a pretensão cautelar por

este deduzida mostra-se inacolhível. O que o autor busca, na verdade, nesta sede cautelar, a partir da alegação de existência de fato novo, é ampliar o conteúdo da ação

mandamental originariamente proposta perante o E. Superior Tribunal de Justiça, que, relembre-se, foi ajuizada com o fim único de obter “certidão de

fiel cumprimento” de determinada ordem judicial obtida no primeiro grau de jurisdição. O cotejo entre a pretensão deduzida na ação mandamental e a postulação ora manifestada em caráter incidental basta para evidenciar que o

autor vindica, na realidade, na esfera deste processo cautelar, mais do que pleiteou na própria causa principal, com a qual esta demanda mantém

relação de índole meramente ancilar. É que eventuais incorreções no valor do crédito do autor supervenientemente registradas, segundo alega, na consolidação do quadro geral de

credores publicado pelo liquidante em 31/10/2013 não poderão ser analisadas no âmbito da presente ação cautelar incidental, eis que a importância

e a classificação jurídica dos créditos constantes da relação de credores sequer foram objeto de discussão na causa principal.

Não se revela lícito, portanto, deduzir, somente agora, em caráter eminentemente inovador, pedido que, ausente da impetração do mandado

de segurança (e estranho ao próprio objeto do “writ” constitucional), só por ação autônoma e distinta poderia ser veiculado.

Como se sabe, a finalidade do processo cautelar consiste em assegurar a eficácia e a utilidade de eventual resultado jurisdicional favorável

ao autor do processo principal, o que torna inadmissível a formulação, em sede cautelar, de pedido mais abrangente do que aquele que constitui o

objeto possível da ação principal, sob pena de se conferir, ao processo acessório, maior latitude do que aquela que se mostraria viável no âmbito da

demanda principal. Verifica-se, assim, que a pretensão cautelar deduzida nestes autos ultrapassa os limites materiais delineados pelo próprio autor no âmbito do

processo mandamental.

É preciso assinalar, bem por isso, que há, entre o processo cautelar e as demais categorias procedimentais, inequívoca relação de acessoriedade. A tutela cautelar não existe em função de si própria.

A acessoriedade e a instrumentalidade, nesse contexto, constituem notas caracterizadoras do processo e da tutela cautelares. “Destinado a

garantir complexivamente o resultado de outro processo”, assinala JOSÉ FREDERICO MARQUES (“Manual de Direito Processual Civil”, vol. IV/361, item n. 1.048, 1976, Saraiva), “o processo cautelar se relaciona com este, como o acessório com o principal. Daí o predomínio e hegemonia

do processo principal, de que o cautelar é sempre dependente” (grifei).

Existe, por isso mesmo, em casos como o que ora se examina, uma situação de conexão por acessoriedade, que decorre do vínculo existente entre o processo cautelar, de um lado, e a causa principal, de outro. Nesse sentido, o magistério, sempre autorizado, de JOSÉ FREDERICO

MARQUES (“Instituições de Direito Processual Civil”, vol. I/340, 3ª ed., e vol. III/256-257, 2ª ed., Forense) e de GIUSEPPE CHIOVENDA

(“Instituições de Direito Processual Civil”, vol. II/298-299, tradução da 2ª edição italiana por ENRICO TULLIO LIEBMAN, 1943, Saraiva). Como precedentemente assinalado, a relação de essencial dependência que existe entre este procedimento (AC 3.545-MC/DF) e a causa

principal (RMS 28.194-AgR-ED/DF) impede que se postule, no processo cautelar, provimento jurisdicional mais amplo ou diverso daquele formulado no processo mandamental, considerado o vínculo de irrecusável acessoriedade e dependência que subordina, ao destino da causa principal, o pleito

formulado com base nos arts. 796, 797 e 798 do CPC.

Nem se diga, finalmente, em face do que dispõe o art. 515, § 3º, do CPC, caso superada a discussão prévia quanto à ilegitimidade passiva

“ad causam” do Senhor Presidente do Banco Central do Brasil (que constitui uma das condições da ação), que seria lícito ao Supremo Tribunal

Federal, na causa principal a que se refere este processo cautelar, proceder ao julgamento do próprio mérito da impetração mandamental, pois,

como se sabe, o magistério jurisprudencial desta Corte tem enfatizado, em sucessivos precedentes (RE 621.473/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RMS 22.180/DF, Rel. Min. EROS GRAU – RMS 24.789/DF, Rel. Min. EROS GRAU, v.g.), que não se revela aplicável a teoria da causa madura

aos processos de mandado de segurança, inclusive aos seus respectivos recursos (como o recurso ordinário):

“2. Recurso ordinário provido para reconhecer a legitimidade passiva das autoridades apontadas como coatoras e determinar a

devolução dos autos ao Superior Tribunal de Justiça para a apreciação do mérito do mandado de segurança, inaplicável o art. 515, § 3º, do

Código de Processo Civil.”

(RMS 26.959/DF, Red. p/ o acórdão Min. MENEZES DIREITO, Pleno – grifei)

“RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL – MANDADO DE SEGURANÇA - DEVOLUTIVIDADE. O disposto no § 3º do

artigo 515 do Código de Processo Civil não se aplica ao recurso ordinário em mandado de segurança, cuja previsão, no tocante à competência, decorre de texto da Constituição Federal.”

(RMS 24.309-ED/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – grifei)

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL. RECURSO

ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ART. 105, II, ‘B’, DA CONSTITUIÇÃO. JULGAMENTO ‘PER SALTUM’. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO IMPROVIDO.

I – Nos termos do art. 105, II, ‘b’, da Constituição, inviável à instância recursal, no julgamento de recurso ordinário em mandado de

segurança, superar preliminar de não cabimento da ação e enfrentar, de imediato, questão de mérito não analisada pela instância competente para o julgamento originário do ‘writ’.

II - Agravo regimental improvido.”

(RE 638.057-AgR/PR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – grifei)

Esse entendimento reflete-se, por igual, na jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça (RMS 28.289/MT, Rel. Min. LUIX FUX – RMS 33.266/RO, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN – RMS 33.640/MS, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES – RMS 41.872/AM, Rel.

Min. CASTRO MEIRA – RMS 41.489-AgR/CE, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, v.g.):

“RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. DECADÊNCIA.

AFASTAMENTO. MÉRITO. ANÁLISE. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIAS. ART. 515, § 3º, CPC. ANALOGIA. APLICAÇÃO. TEORIA DA

CAUSA MADURA. IMPOSSIBILIDADE. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM. PRECEDENTES DO C. STF.

I - Tratando-se de mandado de segurança impetrado contra omissão, em tese, do Poder Público, não há falar em decadência, tendo-se

em mente a renovação contínua dos efeitos do ato no tempo.

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II - No recurso ordinário em mandado de segurança, não se admite a aplicação analógica da regra do § 3º do artigo 515 do Código

de Processo Civil e, por conseqüência, a adoção da denominada ‘Teoria da Causa Madura’, sob pena de supressão de instâncias judiciais.

Precedentes do e. STF e deste c. STJ. Recurso ordinário parcialmente provido para, afastada a preliminar de decadência, determinar-se a remessa dos autos à instância de

origem para análise do mérito da impetração.”

(RMS 28.099/DF, Red. p/ o acórdão Min. FELIX FISCHER – grifei)

Em suma: mesmo que fosse possível, no âmbito do processo principal, superar o obstáculo processual consistente na manifesta ilegitimidade passiva da autoridade apontada como coatora, ainda assim não se revelaria viável, tal como pretendido pelo autor da presente ação

cautelar incidental, proceder à análise do próprio mérito da impetração mandamental a que se refere este processo cautelar, considerada a

inaplicabilidade da teoria da causa madura às ações de mandado de segurança (e ao concernente recurso ordinário), nem tampouco postular, em sede meramente cautelar, a obtenção de provimento jurisdicional mais abrangente do que aquele que se contém nos estritos limites materiais impostos

pelo próprio autor à demanda que formulou na causa principal, tendo em vista o caráter ancilar do processo cautelar. Sendo assim, e em face das razões expostas, nego seguimento à presente “ação cautelar incidental inominada”, restando prejudicado, em

consequência, o exame do pedido de provimento liminar.

Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Brasília, 13 de fevereiro de 2014.

Ministro CELSO DE MELLO Relator

*decisão publicada no DJe de 18.2.2014

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS 19 a 23 de maio de 2014

Lei nº 12.976, de 19.5.2014 - Altera o § 3º do art. 59 da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, para estabelecer

a ordem dos painéis na urna eletrônica. Publicada no DOU em 20.5.2014, Seção 1, p. 1.

Lei nº 12.977, de 20.5.2014 - Regula e disciplina a atividade de desmontagem de veículos automotores terrestres;

altera o art. 126 da Lei no 9.503, de 23.9.1997 - Código de Trânsito Brasileiro; e dá outras providências. Publicada no

DOU em 21.5.2014, Seção 1, p. 1.

Lei nº 12.978, de 21.5.2014 - Altera o nome jurídico do art. 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7.12.1940 -

Código Penal; e acrescenta inciso ao art. 1º da Lei nº 8.072, de 25.7.1990, para classificar como hediondo o crime de

favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável.

Publicada no DOU em 22.5.2014, Seção 1, p. 1.

Secretaria de Documentação – SDO

Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

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