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www.dizerodireito.com.br Página1 INFORMATIVO esquematizado Informativo 665 – STF Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo por não terem sido concluídos: ADI 3396 AgR/DF; RHC 111438/DF. Julgado excluído por ter sido decidido com base em peculiaridades do caso concreto: MS 30894/DF. DIREITO CONSTITUCIONAL Políticas de ação afirmativa e reserva de vagas em universidades públicas O sistema de cotas da UFRGS é constitucional. O sistema de cotas em universidades, com base em critério étnico-racial, é CONSTITUCIONAL. É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas. Comentários Como vimos no Informativo 663 (ADPF 186/DF), o STF julgou que é constitucional o sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial. Na ADPF 186, o STF julgou o sistema de cotas da UnB. No julgamento noticiado neste informativo, o STF apreciou o sistema de cotas da UFRGS. O STF entendeu que é constitucional o programa de ação afirmativa estabelecido pela UFRGS, que instituiu o sistema de cotas como meio de ingresso em seus cursos de nível superior. Esta decisão do STF foi proferida em um Recurso Extraordinário interposto por um candidato que não conseguiu classificação suficiente no vestibular para ser admitido na UFRGS, apesar de ter feito uma pontuação maior do que a de aprovados no mesmo curso pelo sistema de cotas destinadas a egressos das instituições de ensino público e a estudantes negros e indígenas de escolas governamentais. Este candidato recorrente afirmava que estes critérios seriam inconstitucionais. O Relator deste processo, assim como o da ADPF 186/DF, também foi o Min. Ricardo Lewandowski. Destacou-se que a matéria fora debatida de forma exaustiva no julgamento da ADPF 186/DF, em que se concluíra pela constitucionalidade: a) das políticas de ação afirmativa; b) da utilização dessas políticas na seleção para o ingresso em curso superior, especialmente nos estabelecimentos de ensino públicos; c) do uso do critério étnico-racial por essas políticas; d) da autoidentificação como método de seleção; e e) da modalidade de destinação de vagas ou de instituição de cotas. Desse modo, utilizou-se praticamente os mesmos argumentos veiculados no julgamento da ADPF 186/DF. Página1

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Informativo 665 – STF

Márcio André Lopes Cavalcante Processos excluídos deste informativo por não terem sido concluídos: ADI 3396 AgR/DF; RHC 111438/DF. Julgado excluído por ter sido decidido com base em peculiaridades do caso concreto: MS 30894/DF.

DIREITO CONSTITUCIONAL

Políticas de ação afirmativa e reserva de vagas em universidades públicas

O sistema de cotas da UFRGS é constitucional. O sistema de cotas em universidades, com base em critério étnico-racial, é CONSTITUCIONAL.

É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas. Comentários Como vimos no Informativo 663 (ADPF 186/DF), o STF julgou que é constitucional o sistema

de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial. Na ADPF 186, o STF julgou o sistema de cotas da UnB. No julgamento noticiado neste informativo, o STF apreciou o sistema de cotas da UFRGS. O STF entendeu que é constitucional o programa de ação afirmativa estabelecido pela UFRGS, que instituiu o sistema de cotas como meio de ingresso em seus cursos de nível superior. Esta decisão do STF foi proferida em um Recurso Extraordinário interposto por um candidato que não conseguiu classificação suficiente no vestibular para ser admitido na UFRGS, apesar de ter feito uma pontuação maior do que a de aprovados no mesmo curso pelo sistema de cotas destinadas a egressos das instituições de ensino público e a estudantes negros e indígenas de escolas governamentais. Este candidato recorrente afirmava que estes critérios seriam inconstitucionais. O Relator deste processo, assim como o da ADPF 186/DF, também foi o Min. Ricardo Lewandowski. Destacou-se que a matéria fora debatida de forma exaustiva no julgamento da ADPF 186/DF, em que se concluíra pela constitucionalidade: a) das políticas de ação afirmativa; b) da utilização dessas políticas na seleção para o ingresso em curso superior, especialmente nos estabelecimentos de ensino públicos; c) do uso do critério étnico-racial por essas políticas; d) da autoidentificação como método de seleção; e e) da modalidade de destinação de vagas ou de instituição de cotas. Desse modo, utilizou-se praticamente os mesmos argumentos veiculados no julgamento da ADPF 186/DF. P

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Destaques Um ponto que é interessante e que pode ser destacado deste julgamento é o seguinte: O candidato recorrente afirmava que o sistema de cotas seria inconstitucional também pelo fato de que não foi instituído por meio de lei em sentido formal. O que o STF decidiu sobre isso?

A Corte rechaçou este argumento, sustentando que o art. 51 da Lei n. 9.394/96 (conhecida como “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional” – LDB) permite que cada Universidade fixe ela própria os critérios a serem utilizados na seleção dos estudantes, ou seja, no vestibular. Este art. 51 da LDB está em consonância com o princípio da autonomia universitária, prevista no art. 207 da CF, que garante autonomia didático-científica às Universidades.

Começaram as críticas ao sistema de cotas

O julgamento da ADPF 186/DF foi unânime, ou seja, todos os Ministros consideraram o sistema de cotas da UnB como sendo constitucional e, ademais, renderam diversos elogios à iniciativa. Neste Recurso Extraordinário perceberam-se críticas de dois Ministros aos critérios do sistema de cotas escolhidos pela UFRGS, que adota, além do critério étnico-racial, cotas para alunos que vieram de escolas públicas. O Min. Gilmar Mendes apontou o risco de as cotas se transformarem em discriminação em reverso, porque determinadas unidades federativas, a exemplo do Estado do Rio Grande do Sul, teriam escolas públicas de alto padrão de ensino, aliado ao grande poder aquisitivo das famílias desses alunos. Assim, seria necessário o reexame do programa. Ponderou que esse fato poderia estimular no aluno não uma política compensatória, mas uma atitude arrivista, de aproveitar-se do modelo para aboletar-se em vagas, a esquivar-se da concorrência legítima. Aduziu ser correto que, nessa situação, o aluno disputasse normalmente o vestibular de ampla concorrência. O Min. Marco Aurélio afirmou que não havia identidade entre este RE e o que foi decidido no julgamento da ADPF 186/DF, porquanto nela ter-se-ia deliberado apenas o enfoque racial, para corrigir desigualdade que se perpetuaria no tempo. Por sua vez, no presente recurso, o elemento de discriminação seria a natureza do estabelecimento de ensino, se governamental ou particular, o que não seria harmônico com a Constituição, haja vista o risco de censura ao próprio Estado, mantenedor dessas entidades. Enfatizava ser diversa a busca do tratamento igualitário com base no critério racial e a distinção conforme a escola de origem. Apesar de tais ponderações, o Min. Marco Aurélio ficou vencido e o STF entendeu que o sistema de cotas da UFRGS é constitucional.

Processo Plenário. RE 597285/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.5.2012.

DIREITO PENAL Dosimetria no caso de crimes de tráfico de drogas

Condenação por tráfico de drogas e dosimetria da pena:

Argumento Pode ser utilizado pelo juiz para aumentar a pena-base?

Consequência do crime é o “Mal causado pelo tóxico”

NÃO. É inerente ao tipo penal.

Já foi valorado pelo legislador. Seria bis in idem.

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Motivo do crime é “o ganho fácil”

NÃO. É inerente ao tipo penal.

Já foi valorado pelo legislador. Seria bis in idem.

Circunstâncias do crime foram graves em virtude da natureza e da quantidade de droga apreendida.

SIM. Podem ser utilizas para aumentar a pena-base

considerando que variam de acordo com o caso concreto.

Comentários A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:

1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP. 2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes. 3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição. Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes: a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f) circunstâncias do crime, g) consequências do crime, h) comportamento da vítima. No caso analisado, tratava-se de uma condenação por tráfico de drogas. Na sentença, na primeira fase da dosimetria da pena, o juiz, ao majorar a pena-base, considerou que: a) os motivos que levaram à prática do crime foram o egoísmo e o desejo de obter ganho fácil; b) as circunstâncias em que ocorreu o crime foram graves, em razão da nocividade e expressiva quantidade de droga apreendida (quase 13 kg de cocaína); e c) as consequências são graves pelo “mal causado pelo tóxico”. A 2ª Turma do STF discutiu se a análise do juiz sob esses aspectos foi correta. O que decidiu a Corte? Quanto ao aumento da pena pelo “mal causado pelo tóxico” Concluiu-se que o juiz, em uma condenação por tráfico de drogas, não pode, na primeira fase da dosimetria aumentar a pena sob o argumento de que as consequências do crime são nocivas em virtude do “mal causado pelo tóxico”. Isso porque esse argumento de “mal causado pelo tóxico” é ínsita (inerente) ao crime de tráfico de drogas e estaria incorporada ao próprio tipo penal, a impossibilitar sua utilização como elemento hábil a proporcionar o recrudescimento da reprimenda, sob pena de bis in idem. Em outras palavras, o “mal causado pelo tóxico” não pode servir para aumentar a pena-base porque está presente em todo e qualquer crime de tráfico de drogas e este fato já foi valorado pelo legislador, de maneira abstrata, quando previu a pena do tráfico. Quanto ao aumento da pena pelo motivo do crime ter sido o “ganho fácil” Na mesma linha de entendimento, quanto à referência ao motivo do crime “ganho fácil”, consignou-se que essa expressão apontada pelo magistrado para justificar o maior rigor no cálculo da pena já se encontraria embutida na conduta praticada (venda de drogas). Dessa forma, a comercialização ilícita de entorpecente teria sido, de imediato, a razão pela qual se dera a condenação do acusado, na forma do art. 33 da Lei 11.343/2006. Assim, o alegado intuito de “ganho fácil”, por ser inerente a essa modalidade delitiva, não deveria ser validamente invocado para aumentar a reprimenda por implicar, também, bis in idem. Em outras palavras, toda pessoa que faz comercialização de drogas tem como objetivo o “ganho fácil”. Isso já foi considerado pelo legislador quando ele escolheu a pena prevista no tipo, não sendo permitido que o juiz leve em consideração este fato para aumentar a pena.

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Quanto ao aumento da pena pelo tipo e quantidade de droga apreendida Neste caso, o STF não censurou este aspecto da sentença. Logo, não há qualquer problema em o juiz aumentar a pena-base do crime de tráfico levando em consideração a natureza e a quantidade da droga apreendida.

Aliás, a Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas) dispõe expressamente: Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.

Processo Segunda Turma. HC 107532/SC, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, 8.5.2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Ação penal privada (procuração para queixa-crime)

Para que seja protocolizada queixa-crime é necessária capacidade postulatória. A procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado para o ajuizamento de queixa-crime

é uma procuração com poderes especiais. Nesta procuração deve constar o “nome do querelado” e a “menção ao fato criminoso”.

Para o STJ, “menção ao fato criminoso” significa que, na procuração, basta que seja mencionado o tipo penal ou o nomen iuris do crime, não precisando identificar a conduta.

Para o STF, “menção ao fato criminoso” significa que, na procuração, deve ser individualizado o evento delituoso, não bastando que apenas se mencione o nomen iuris do crime.

Caso houvesse algum vício na procuração para a queixa-crime, o STF entendia que este vício poderia ser sanado a qualquer tempo. Neste julgado, contudo, a 2ª Turma do STF afirmou que o vício deve ser corrigido antes do fim do prazo decadencial de 6 meses, sob pena de decadência

e extinção da punibilidade. Este também é o entendimento do STJ. Comentários No processo penal, a ação penal é dividida segundo a legitimação ativa, ou seja, de acordo

com a pessoa que pode propô-la. Assim, nós temos:

AÇÃO PENAL PÚBLICA AÇÃO PENAL PRIVADA

Divide-se em: a) Ação penal pública incondicionada b) Ação penal pública condicionada c) Ação penal pública subsidiária da pública

Divide-se em: a) Ação penal privada personalíssima b) Ação penal privada propriamente dita c) Ação penal privada subsidiária da pública

A peça acusatória é a denúncia. A peça acusatória é a queixa-crime.

Queixa-crime é... - a petição inicial da ação penal privada - ajuizada pelo querelante (ofendido ou seus sucessores* do art. 31, CPP) - devendo ser subscrita por advogado dotado de procuração com poderes especiais - por meio da qual se pede ao juízo competente - a instauração de processo penal e - a condenação do suposto autor do delito (querelado) a uma sanção penal. * no caso da ação penal privada personalíssima, somente o ofendido pode ajuizar a ação penal e se ele morrer, os seus sucessores não poderão dar continuidade à ação, ocorrendo a extinção da punibilidade. Prazo para oferecer a queixa-crime: Prazo decadencial de 6 meses.

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O que importa não é o recebimento da queixa, mas sim a data de seu oferecimento. Assim, a queixa deve ser oferecida em até 6 meses, sob pena de decadência.

Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29 (ação privada subsidiária da pública), do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

Requisitos da queixa-crime: Em regra, os requisitos da queixa-crime são os mesmos da denúncia, estando previstos no art. 41 do CPP:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Peculiaridades da queixa-crime: Para oferecer queixa-crime é indispensável a capacidade postulatória. Assim, o ofendido terá que contratar um advogado (ou ser assistido por um Defensor Público) para ajuizar a queixa-crime, salvo se o próprio ofendido for advogado (neste caso ele terá capacidade postulatória). Se o ofendido (querelante) for contratar um advogado para que protocolize a queixa-crime, este ofendido deverá outorgar ao advogado uma procuração especial, ou seja, uma procuração com poderes especiais para este ato. Esta exigência está prevista no art. 44 do CPP:

Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato (obs: instrumento do mandato = procuração) o nome do querelante (aqui houve um equívoco, pois o legislador quis dizer “nome do querelado”) e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.

Desse modo, para que o advogado protocolize queixa-crime em nome do ofendido, deverá possuir uma procuração especial (procuração específica) que, além dos requisitos normais de uma procuração geral, contenha as seguintes informações: a) Nome do querelado

(obs: o art. 44 fala em “nome do querelante”, mas a doutrina e a jurisprudência afirmam que foi um equívoco, já que o nome do querelante já constaria normalmente mesmo que fosse uma procuração geral).

b) Menção do fato criminoso

Primeiro ponto muito importante: O que se entende por “menção do fato criminoso”?

É necessário que se narre o fato criminoso na procuração para se cumprir o disposto no art. 44?

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NÃO (posição do STJ)

SIM (posição da 2ª Turma do STF)

Não é necessário que se narre o fato criminoso na procuração, bastando que se indique o nome do querelado e o artigo do Código Penal que ele teria praticado. Basta a menção do nomen juris ou do dispositivo penal. Ex1: procuração para oferecer queixa-crime contra Fulano pela prática do crime de injúria. Ex2: procuração para oferecer queixa-crime contra Fulano pela prática do crime do art. 140 do Código Penal.

É necessário que a procuração individualize o evento delituoso, não bastando que apenas mencione o nomen iuris do crime. Ex: procuração para oferecer queixa-crime contra Fulano pela prática do crime de injúria ocorrida no dia XX, por meio de palavras proferidas no lugar YY. Vale ressaltar, no entanto, que não é necessária uma descrição minuciosa, pormenorizada, ou seja, com detalhes.

Consolidou-se nesta Corte Superior de Justiça o entendimento que, na procuração pela qual o ofendido outorga poderes especiais para o oferecimento da queixa-crime, a indicação do dispositivo penal no qual o querelado é dado como incurso satisfaz o requisito previsto no artigo 44 do Código de Processo Penal. Precedentes. (...) Exigir que o instrumento de mandato contenha descrição pormenorizada da conduta típica atribuída ao querelado seria fomentar o apego excessivo a formalismo desnecessário, já que tal requisito deve estar contido na própria queixa-crime, peça por meio da qual o ofendido manifesta a sua intenção em submeter o seu ofensor à persecução penal, sob pena de ser considerada inepta, nos termos do artigo 41 do Código de Processo Penal. (HC 119.827/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 15.12.2009) Quando a procuração é outorgada com a finalidade específica de propor queixa-crime, observados os preceitos do art. 44 do Código de Processo Penal, não é necessária a descrição pormenorizada do delito, bastando a menção do fato criminoso ou o nomen juris. (HC 158.042/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 20.09.2011)

(...) a ação penal privada, para ser validamente ajuizada, dependeria, dentre outros requisitos essenciais, da estrita observância, por parte do querelante, da formalidade imposta pelo art. 44 do CPP. Esse preceito exigiria constar, da procuração, o nome do querelado e a menção expressa ao fato criminoso, de modo que o instrumento de mandato judicial contivesse, ao menos, referência individualizadora do evento delituoso e não apenas o nomen iuris. Asseverou-se, por outro lado, não ser necessária a descrição minuciosa ou a referência pormenorizada do fato. (...) (STF. 2ª Turma. RHC 105920/RJ, rel. Min. Celso de Mello, 8.5.201).

Dica: na prática profissional, a fim de evitar problemas, o ideal é que, na procuração, seja feito o relato, ainda que breve, do fato supostamente delituoso praticado pelo querelado. Outra sugestão é no sentido de que o querelante assine, juntamente com o advogado, a queixa-crime. Nesse caso, ainda que se considere que a procuração não atendeu ao art. 44 do CPP, não haverá consequências processuais tendo em vista que, como constará da queixa-crime a descrição do fato criminoso, o ofendido, ao assinar esta petição, estará ratificando tudo aquilo que nela consta.

Segundo ponto muito importante: Se o juiz entender que a procuração não atendeu ao art. 44, este vício poderá ser suprido?

SIM, este vício poderá ser suprido.

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Terceiro ponto muito importante: Até que momento este vício poderá ser suprido?

Posição até então consolidada no STF: Até então, os julgados do STF sobre o tema afirmavam que a correção deste vício poderia ser feita a qualquer momento, mesmo que já tivesse se passado mais de 6 meses da data dos fatos. Isso porque este vício seria hipótese de ilegitimidade do representante da parte, que, a teor do art. 568 do CPP, pode ser sanada a todo tempo, mediante a ratificação dos atos processuais, sobretudo quando o querelante estivesse presente às audiências, hipótese na qual teria demonstrado a intenção de realmente processar o querelado. Vejamos um precedente neste sentido:

I. Ação penal privada: crime de calúnia (L. 5.250/67: decadência: C.Pr.Penal, art. 44). 1. O defeito da procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado, para propor queixa-crime, sem menção do fato criminoso, constitui hipótese de ilegitimidade do representante da parte, que, a teor do art. 568 C.Pr.Pen., "poderá ser a todo o tempo sanada, mediante ratificação dos atos processuais" (RHC 65.879, Célio Borja); 2. A presença do querelante nas audiências que se seguiram ao recebimento da queixa basta a evidenciar o seu interesse na persecução criminal quanto ao fato objeto da ação penal e, em conseqüência, suprir o defeito da procuração. Precedentes. (...) (HC 86994, Relator: Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, julgado em 14/03/2006) Posição diferente do STF manifestada no julgado noticiado neste Informativo: No julgado noticiado neste Informativo, o STF julgou de forma diferente, entendendo que o vício na procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado somente pode ser corrigido durante o prazo decadencial, ou seja, até o período máximo de 6 meses contados do dia em que se veio a saber quem é o autor do crime. Esta ratificação da procuração pode ser feita expressamente, por escrito, ou então pelo comparecimento do querelante às audiências que forem realizadas após o recebimento da queixa, desde que tais audiências ocorram antes de terminar o prazo decadencial de 6 meses. Desse modo, o que mudou no entendimento do STF foi que, agora, não mais se admite a correção do vício na procuração a qualquer tempo, mas sim até antes de ocorrer a decadência. Vejamos um exemplo para melhor entender todo o assunto, que é difícil: José, no dia 10/02/2012, ofende Ricardo afirmando que ele é um “safado, cachorro, sem vergonha”. Ricardo contrata um advogado para ajuizar ação penal privada por injúria (art. 140 do CP) contra José. Na procuração outorgada por Ricardo ao seu advogado, consta que são conferidos poderes ao advogado para que este ingresse com queixa-crime contra José pela prática do crime do art. 140 do CP. Não se menciona nenhuma outra informação sobre o fato, apenas o tipo penal da ação a ser ajuizada e o nome do querelado. Esta procuração atende à exigência do art. 44 do CPP?

Segundo o entendimento do STJ: SIM.

Segundo o entendimento do STF: NÃO. Suponhamos que o juiz adote o entendimento do STF. Logo, a procuração apresenta uma irregularidade. Esta irregularidade pode ser corrigida? SIM. Até que momento?

Segundo o entendimento manifestado em precedentes antigos do STF: a qualquer momento, mediante ratificação dos atos processuais, em especial se o querelante

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estava presente nas audiências do processo que se seguiram ao recebimento da queixa, o que evidencia o seu interesse na persecução criminal.

Segundo o entendimento manifestado no julgado deste Informativo: o vício da procuração somente poderia ser suprido dentro do prazo decadencial (6 meses), ou seja, até o dia 09/08/2012. Se no dia 10/08/2012, não tiver sido corrigido este vício, ocorre a decadência e a consequente extinção da punibilidade.

Obs: o novo entendimento do STF, manifestado neste informativo, é também a posição do STJ, de modo que deve ser a que irá prevalecer na jurisprudência.

Leia agora a notícia do julgamento e veja se entendeu: A 2ª Turma deu provimento a recurso ordinário em habeas corpus para invalidar, desde a origem, procedimento penal instaurado contra o recorrente e declarar a extinção da punibilidade, por efeito da consumação do prazo decadencial. No caso, fora oferecida queixa-crime por suposta ocorrência de crime de injúria sem que na procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado constasse o fato criminoso de maneira individualizada. Reputou-se que a ação penal privada, para ser validamente ajuizada, dependeria, dentre outros requisitos essenciais, da estrita observância, por parte do querelante, da formalidade imposta pelo art. 44 do CPP. Esse preceito exigiria constar, da procuração, o nome do querelado e a menção expressa ao fato criminoso, de modo que o instrumento de mandato judicial contivesse, ao menos, referência individualizadora do evento delituoso e não apenas o nomen iuris. Asseverou-se, por outro lado, não ser necessária a descrição minuciosa ou a referência pormenorizada do fato. Observou-se, ainda, que, embora a presença do querelante na audiência de conciliação possibilitasse suprir eventual omissão da procuração judicial, a regularização do mandato somente ocorreria se ainda não consumada a decadência do direito de queixa. Sucede que, decorrido, in albis, o prazo decadencial, sem a correção do vício apontado, impor-se-ia o reconhecimento da extinção da punibilidade do querelado.

Assinatura na procuração

Uma última pergunta sobre o tema: Na procuração especial para o oferecimento da queixa-crime, a assinatura do querelante (ofendido) precisa ter a firma reconhecida? NÃO. Este é o entendimento mais atual do STJ: À míngua de previsão no Código de Processo Penal sobre a necessidade de reconhecimento da firma do outorgante na procuração para o oferecimento da queixa-crime, por força do disposto no artigo 3º do aludido diploma legal, aplica-se subsidiariamente as disposições do Código de Processo Civil. Com a alteração promovida no artigo 36 do CPC com o advento da Lei n. 8.952/94, pacificou-se neste Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que é desnecessário o reconhecimento de firma em procuração outorgando poderes especiais para a defesa de interesses em juízo. Precedentes. (HC 119.827/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 15/12/2009)

Processo Segunda Turma. RHC 105920/RJ, rel. Min. Celso de Mello, 8.5.2012.

Lei n. 8.038/90 (rito nos processos de competência penal originária do STJ e STF)

Para o caso do “Mensalão” o STF, em questão de ordem anterior à sessão de julgamento, fixou duas regras não previstas na Lei n. 8.038/90 ou no Regimento Interno, com o objetivo de “racionalizar” o julgamento. Quais foram estas regras: a) a leitura do relatório será resumida; b) o tempo concedido ao PGR para sustentação oral será de 5 horas.

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Comentários Como vem sendo divulgado constantemente pela Imprensa, o STF, ainda este ano, deverá julgar a ação penal 470, mais conhecida como caso do “Mensalão”. As ações penais que tramitam originariamente no STF ou no STJ, como é o caso do

“Mensalão”, obedecem a um rito processual próprio previsto na Lei n. 8.038/90. O “Mensalão” é um processo gigantesco e extremamente complexo. Por essa razão, o Min. Relator, Joaquim Barbosa, suscitou ao Plenário do STF uma questão de ordem para que fossem definidas algumas regras procedimentais a serem aplicadas quando ocorrer o julgamento da causa. Assim, no dia 9.5.2012, o Plenário do STF decidiu que, no caso do “Mensalão”, serão adotadas duas regras procedimentais diferentes do que normalmente ocorre com o objetivo de “racionalizar” o julgamento:

Como normalmente ocorre Como será feito no julgamento do “Mensalão”

A leitura do relatório é integral. A leitura do relatório será resumida. Justificativa: o relatório tem mais de cem páginas e a sua leitura integral poderia perdurar por toda uma sessão de julgamento.

O MP e a defesa terão, sucessivamente, nessa ordem, prazo de 1 (uma) hora para sustentação

oral (art. 12, I, da Lei n. 8.038/90)

O MP terá 5 horas para fazer a sustentação oral. A defesa de cada réu terá 1 hora, como prevê a lei. Justificativa: como são 38 réus ficaria difícil para o MP fazer a acusação contra todos os acusados em 1 hora. Assim, o Tribunal entendeu que deveria ser instituído um período maior para o MP a fim de garantir a equidade e a paridade de armas.

Ficou vencido o Min. Marco Aurélio, que entendia inadequada a questão de ordem. Declarava não haver excepcionalidade a ditar regras especiais. Além disso, destacava o princípio da concentração, a afastar fase prévia em que o Plenário deliberasse sobre essas questões, sem a presença das partes. Explicitava que os temas deveriam ser discutidos uma vez aparelhado o processo e inserido em pauta para julgamento.

Processo Plenário. AP 470 Nona-QO/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 9.5.2012.

Liberdade provisória e tráfico de drogas

É inconstitucional o art. 44 da Lei n. 11.343/2006 na parte em que proíbe a liberdade provisória para os crimes de tráfico de drogas.

Assim, é permitida a liberdade provisória para o tráfico de drogas, desde que ausentes os requisitos do art. 312 do CPP.

Proibição legal da liberdade provisória

A Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006) proíbe expressamente a liberdade provisória no caso de tráfico de drogas: Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.

Inconstituci-onalidade desta proibição

O Plenário do STF, em julgamento ocorrido no dia 10/05/2012 decidiu que esta proibição é INCONSTITUCIONAL. A decisão foi tomada no julgamento de um Habeas Corpus (HC 104339). Assim, o Plenário, por maioria, deferiu parcialmente o habeas corpus impetrado em favor de condenado pela prática do crime descrito no art. 33, caput da Lei 11.343/2006, e determinou

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que o juízo de 1ª instância aprecie os requisitos previstos no art. 312 do CPP e, com base nestes critérios, decida se mantém ou não a segregação (prisão) cautelar do paciente. De forma incidental, o Tribunal declarou a inconstitucionalidade da expressão “e liberdade provisória”, constante do art. 44, caput, da Lei 11.343/2006.

Principais argumentos veiculados

A regra prevista no art. 44 da Lei de Drogas é incompatível com inúmeros princípios constitucionais, como o princípio da presunção de inocência e do devido processo legal. Segundo o Min. Gilmar Mendes, o empecilho apriorístico de concessão de liberdade provisória estabelecido pela Lei é incompatível com estes postulados.

Ao afastar a concessão de liberdade provisória de forma genérica, a norma retira do juiz a oportunidade de, no caso concreto, analisar os pressupostos da necessidade ou não da prisão cautelar.

Este art. 44, ao proibir a liberdade provisória, representa uma antecipação de pena, o que é vedado pela CF.

A referida proibição estabelece um tipo de regime de prisão preventiva obrigatório, na medida em que torna a prisão uma regra e a liberdade uma exceção. A CF/88, ao contrário, prevê que a liberdade é a regra e a necessidade da prisão precisa ser devidamente fundamentada.

Cabe ao magistrado e, não ao legislador, verificar se se configuram ou não, em cada caso, hipóteses que justifiquem a prisão cautelar.

O Min. Ricardo Lewandowski lembrou que, no julgamento da ADI 3112/DF (DJe de 26.10.2007), que julgou a proibição de liberdade provisória para alguns crimes do Estatuto do Desarmamento, o STF entendeu que a Constituição não permite a prisão ex lege (ou seja, apenas por força de lei).

O que a CF dispõe a esse respeito?

A Constituição Federal veda a concessão de fiança para o tráfico de drogas: Art. 5º (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Ao estabelecer que o tráfico de drogas é inafiançável (art. 5º, XLIII), isso não significa que a CF proibiu também a concessão de liberdade provisória? NÃO. De acordo com o Min. Dias Toffoli, a impossibilidade de pagar fiança em determinado caso não impede a concessão de liberdade provisória, pois são institutos diferentes. Esta distinção está prevista, inclusive, na própria CF, em seu art. 5º, LXVI (ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança). Conforme se observa pela redação deste inciso LXVI, existe liberdade provisória com fiança e liberdade provisória sem fiança. O que a CF vedou para o tráfico de drogas, no art. 5º, XLIII, foi a fiança e não a liberdade provisória. Assim, no caso de tráfico de drogas:

É proibida a concessão de liberdade provisória com fiança.

É permitida, entretanto, a concessão de liberdade provisória sem fiança.

Conclusões Desse modo, sendo inconstitucional a proibição do art. 44, da Lei n. 11.343/2006, o pedido de liberdade provisória no caso de acusados por crimes relacionados à Lei de Drogas deve ser analisado pelo juiz, da mesma forma como os demais delitos. Pessoa presa por tráfico de drogas formula pedido de liberdade provisória. O que o juiz deverá analisar?

Se estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP, a prisão cautelar é devida e o pedido de liberdade provisória deve ser negado.

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Se não estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP, a prisão cautelar é inconstitucional e o juiz deve conceder a liberdade provisória.

O juiz não pode mais, como era comum ser feito, não conhecer do pedido de liberdade provisória ou negá-lo com a simples alegação de que havia proibição legal.

Art. 44 da Lei de Drogas segundo a jurisprudência

Como deve ser lido o art. 44 da Lei de Drogas com base na jurisprudência do STF: Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos. Obs: a exclusão do trecho “vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos” foi feita pelo Senado por

meio da Resolução n. 05/2012, a partir do que foi decidido pelo STF no julgamento do HC 97.256, julgado em 01/09/2010. Esta expressão foi retirada do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas. Como o art. 44 possui redação semelhante, entende-se que abrange também este dispositivo.

Como votou cada Ministro

Votaram pela INCONSTITUCIONALIDADE

Votaram pela CONSTITUCIONALIDADE

Min. Gilmar Mendes Min. Dias Toffoli Min. Rosa Weber

Min. Ricardo Lewandowski Min. Cezar Peluso

Min. Celso de Mello Min. Ayres Britto.

Min. Luiz Fux Min. Marco Aurélio

Min. Joaquim Barbosa

Adendo: Abstrativi-zação do controle concreto

A decisão do STF reconhecendo a inconstitucionalidade do artigo foi tomada em sede de controle difuso.

Controle concentrado Controle difuso

Realizado pelo STF, de forma abstrata, nas hipóteses em que lei ou ato normativo violar a CF/88.

Realizado por qualquer juiz ou Tribunal, em um caso concreto.

Efeitos (regra geral): Ex tunc Erga omnes Vinculante

Efeitos (regra geral): Ex tunc Inter partes Não vinculante

Desse modo, em regra, a declaração de inconstitucionalidade no controle difuso produz efeitos inter partes e não vinculantes.

Contudo, em razão da importância desta decisão, é muito provável que se reacenda a discussão quanto à “teoria da abstrativização do controle difuso”.

Em uma explicação bem simples, esta teoria preconiza que se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, efeitos erga omnes e vinculante. No STF, um adepto conhecido desta teoria é o Min. Gilmar Mendes.

Caso esta teoria prevaleça, se um juiz criminal de Itabuna (BA), por exemplo, continuar decidindo que não cabe liberdade provisória por tráfico de drogas, afirmando que o art. 44

da Lei n. 11.343/2006 é constitucional, seria possível que o réu formulasse uma reclamação diretamente ao STF considerando que a autoridade de sua decisão estaria sendo desrespeitada.

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Para evitar tais discussões, o ideal seria que o Supremo editasse uma Súmula Vinculante tratando sobre o tema.

Processo Plenário. HC 104339/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 10.5.2012.

Tempestividade de recurso especial e feriado local

É admissível comprovação posterior da tempestividade de recurso no STJ ou no STF quando o recurso houver sido julgado intempestivo em virtude de feriados locais ou de suspensão de

expediente forense no tribunal a quo. Comentários “X” foi condenado em 1ª instância. Dessa sentença, “X” interpôs apelação para o TJ. Na

apelação, a sentença foi mantida. Contra o acórdão do TJ, “X” interpôs Recurso Especial para o STJ. Para que o REsp seja conhecido, é indispensável que ele preencha requisitos intrínsecos e extrínsecos. Um dos requisitos extrínsecos de todo e qualquer recurso é a tempestividade. Tempestividade significa que o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei. Todo recurso tem um prazo e, se a parte o interpõe após este prazo, o recurso não será conhecido por intempestividade. Qual é o prazo para a interposição do recurso especial? 15 dias (art. 508 do CPC). Onde o recurso especial é interposto? O REsp é julgado pelo STJ. No entanto, é interposto no juízo de origem (juízo a quo) e depois remetido ao STJ. No exemplo que demos acima, para que “X” interponha o REsp contra a decisão do TJ, ele deverá protocolizar o recurso no próprio TJ e este tribunal é quem irá remeter o recurso para o STJ. CPC/Art. 541. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas, que conterão: I - a exposição do fato e do direito; Il - a demonstração do cabimento do recurso interposto; III - as razões do pedido de reforma da decisão recorrida. Art. 542. Recebida a petição pela secretaria do tribunal, será intimado o recorrido, abrindo-se-lhe vista, para apresentar contra-razões. Findo este prazo, o Presidente ou o Vice-Presidente do tribunal local (a depender do regimento interno de cada tribunal) deve examinar se os requisitos do REsp estão atendidos.

Se o Presidente (ou Vice) entender que estão atendidos: remete o recurso ao STJ que irá novamente examinar os requisitos do REsp e, se entender preenchidos, analisará o mérito do recurso.

Se o Presidente (ou Vice) considerar que falta algum requisito: irá negar seguimento ao REsp e, se o recorrente não se conformar, deverá interpor agravo.

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No caso concreto julgado, “X” interpôs o REsp e o Presidente do TJ negou seguimento ao REsp (ou seja, disse que este REsp não preenchia os requisitos para “subir” ao STJ). Qual o recurso que “X” pode interpor contra esta decisão do Presidente que nega seguimento ao REsp? R: agravo. Quem julga este agravo é o próprio STJ.

Então, “X”, no caso concreto, interpôs o agravo. O prazo do agravo, nesta hipótese, é de 10 dias.

Ocorre que, no 10º dia do prazo do agravo, era feriado local na cidade de “X”. Então , ele interpôs o agravo no 11º dia (primeiro dia útil subsequente). “X”, porém, não alertou o STJ de que ele estava interpondo o recurso no 11º dia porque no 10º era feriado local.

Sem ter esta informação, o Min. Relator no STJ pensou que “X” tivesse perdido o prazo e julgou o agravo intempestivo.

“X” recorreu desta decisão do Min. Relator e provou que deu entrada no REsp no 11º dia porque no 10º era feriado local.

A questão é a seguinte: “X”, ao apresentar o agravo já deveria ter explicado na petição que, na instância de origem, era feriado local ou dia sem expediente forense? Como “X” não esclareceu esta circunstância no momento do agravo, poderá ele esclarecer este fato posteriormente?

O STF entende que é admissível que se comprove posteriormente a tempestividade do recurso quando houver sido julgado extemporâneo (intempestivo) em virtude de feriados locais ou de suspensão de expediente forense no tribunal a quo.

Em outras palavras, “X’ deveria ter esclarecido esta questão na própria petição do agravo. No entanto, mesmo que não tenha feito, poderá esclarecer esta situação posteriormente.

Com base nessa orientação, a 2ª Turma deferiu habeas corpus para que o STJ conheça de agravo e se pronuncie sobre o seu mérito. Tratava-se, na espécie, de HC impetrado contra acórdão do STJ, que julgou intempestivo o agravo interposto que aparentava estar fora do prazo por conta de feriado local e depois não levou em consideração a explicação posterior de “X”, esclarecendo acerca desta circunstância.

Maiores informações

Este tema é importantíssimo, principalmente em processo civil. Para maiores informações, releia o julgamento do RE 626358 AgR/MG, noticiado no Informativo Esquematizado 659 STF.

Processos Segunda Turma. HC 108638/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 8.5.2012. HC 112842/PE, rel. Min. Joaquim Barbosa, 8.5.2012.

Habeas Corpus

Como regra, o STJ e o STF não admitem habeas corpus para rediscutir a dosimetria da pena aplicada na sentença.

Excepcionalmente, ao julgar HC estes Tribunais admitem rever a pena aplicada se houver

ilegalidade manifesta e desde que não seja necessária a rediscussão de provas. Comentários “X” foi condenado em 1ª instância. Dessa sentença, “X” interpôs apelação para o TJ

questionando a dosimetria da pena. Na apelação, a sentença foi mantida. Qual o recurso que caberia a “X” interpor contra o acórdão do TJ? R: Recurso Especial e/ou Recurso Extraordinário.

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Ocorre que “X” deixou passar o prazo para interpor REsp ou RE. Após ter passado este prazo, a condenação transitou em julgado. Depois do trânsito em julgado, “X” impetrou habeas corpus questionando o acórdão do TJ e pedindo que a dosimetria da pena fosse revista. Como o HC foi contra o TJ, quem julga este HC? R: o STJ (art. 105, I, c, da CF). O que o STJ decidiu? A 5ª Turma do STJ não conheceu do HC impetrado por “X” sob o argumento de que ele deveria ter esgotado os recursos cabíveis. Afirmou o STJ (HC 196.938/DF):

Apesar do uso do HC em substituição aos recursos cabíveis seja aceito pelos Tribunais, há certos limites a serem respeitados, em homenagem à própria Constituição, devendo a impetração ser compreendida dentro dos limites da racionalidade recursal preexistente e coexistente para que não se perca a razão lógica e sistemática dos recursos ordinários, e mesmo dos excepcionais, por uma irrefletida banalização e vulgarização do habeas corpus.

Na hipótese, o impetrante não interpôs recurso especial, instrumento ordinariamente previsto no ordenamento jurídico para que esta Corte Superior analise eventual ofensa à legislação federal nos fundamentos da dosimetria da pena imposta (questão que também demandaria o revolvimento do contexto fático probatório). Logo, não pode a falta do REsp ser substituída pelo HC.

Contra esta decisão da 5ª Turma do STJ, o condenado impetrou novo HC. Quem julga HC contra decisão do STJ? R: o STF (art. 102, I, i, CF/88). O que decidiu o STF? A 1ª Turma do STF, por maioria, indeferiu o HC. O principal argumento para indeferir o HC foi o de que a redução da pena imposta por suposto erro na dosimetria demanda (exige) revolvimento do contexto fático probatório (ou seja, dilação probatória), o que é vedado em julgamento de habeas corpus. O Min. Luiz Fux, que não era o Relator, ressaltou ainda que somente em casos excepcionais e, a depender da matéria veiculada, admite-se HC questionando decisão transitada em julgado.

Dosimetria da pena e HC

Como regra, o STJ e o STF não admitem habeas corpus para rediscutir a dosimetria da pena aplicada na sentença. Esta é a regra. Excepcionalmente, ao julgar HC estes Tribunais admitem rever a pena aplicada se houver ilegalidade manifesta e desde que não seja necessária a rediscussão de provas. Confira-se os precedentes que espelham este entendimento: O habeas corpus, ação autônoma de impugnação, não é admissível (...) para aferir a exatidão da dosimetria da pena. (...) (STF. HC 99266, Relator Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 25/10/2011). I – De acordo com a jurisprudência desta Corte, somente em situações excepcionais é que se admite o reexame dos fundamentos da dosimetria levada a efeito pelo juiz a partir do sistema trifásico. Precedentes. (...) (STF. HC 107654, Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, em 11/10/2011).

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(...) Consoante já decidiu esta Suprema Corte, “a via estreita do processo de habeas corpus não permite que nele se proceda à ponderação das circunstâncias referidas nos arts. 59 e 68 do Código Penal. Não cabe reexaminar, no âmbito deste writ, os elementos de convicção essenciais à definição da sanção penal, porque necessária, para tal fim, a concreta avaliação das circunstâncias de fato subjacentes aos critérios legais que regem a operação de dosimetria da pena.” Precedentes. (...) (STF. HC 101579, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 04/10/2011). (...) O habeas corpus não é o meio processual adequado para a reapreciação de matéria de fato demarcada nas instâncias originárias nem tampouco para ponderar, em concreto, a suficiência das circunstâncias judiciais invocadas pelas instâncias de mérito para a majoração da pena. Precedentes. (...) (STF. HC 107626, Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, julgado em 27/09/2011). (...) IV. O reexame da dosimetria em sede de mandamus somente é possível quando evidenciado eventual desacerto na consideração de circunstância judicial, errônea aplicação do método trifásico ou violação a literal dispositivo da norma, acarretando flagrante ilegalidade. V. Análise da dosimetria da pena, no caso concreto, que aponta ter sido a pena base fixada acima do mínimo legal com fundamentação em circunstâncias concretas do delito. Da mesma forma, não há qualquer desproporcionalidade na compensação entre a atenuante da confissão espontânea e a agravante do recurso que dificultou a defesa da vítima. VI. Inexistência, na espécie, de flagrante ilegalidade, nulidade absoluta ou teratologia a ser sanada pela via do habeas corpus, caracterizando-se o uso inadequado do instrumento constitucional. (STJ. HC 211.600/RJ, Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 02/02/2012).

Atenção Quatro observações finais importantes: 1) Devo reiterar a vocês que a jurisprudência tem admitido, como regra, a utilização do habeas corpus como substitutivo de recurso próprio. É o que se chama de habeas corpus substitutivo, consistente na possibilidade de o impetrante, sendo-lhe negado o habeas corpus anterior, optar por impetrar novo habeas corpus, dirigido à instância superior, ao invés de interpor o recurso. Inclusive, na prática, os advogados preferem valer-se do HC substitutivo, sendo este mais simples e rápido que o recurso. 2) No entanto, apesar de o HC substitutivo ser admitido pela jurisprudência, a 5ª Turma do STJ vem afirmando que isso deve ser visto com reservas, ou seja, com limites: I. Conquanto o uso do habeas corpus em substituição aos recursos cabíveis - ou incidentalmente como salvaguarda de possíveis liberdades em perigo - crescentemente fora de sua inspiração originária tenha sido muito alargado pelos Tribunais, há certos limites a serem respeitados, em homenagem à própria Constituição, devendo a impetração ser compreendida dentro dos limites da racionalidade recursal preexistente e coexistente para que não se perca a razão lógica e sistemática dos recursos ordinários, e mesmo dos excepcionais, por uma irrefletida banalização e vulgarização do habeas corpus. (HC 202.960/SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 03/05/2012) 3) Outra questão que deve ser ressaltada é que a jurisprudência admite, como regra, a utilização do habeas corpus mesmo após o trânsito em julgado da condenação, se o impetrante alegar vícios insanáveis, que podem ser constatados sem necessidade de outras provas que não as documentais e desde que a pena ainda não tenha sido integralmente cumprida. O HC funciona, neste caso, como uma forma de substituição da revisão criminal.

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(...) 5. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça vem reiteradamente aceitando a utilização do habeas corpus, inclusive como substitutivo de recurso próprio e em respeito ao princípio constitucional da celeridade processual, para o reconhecimento de nulidades (error in procedendo), inclusive após o trânsito em julgado da ação penal, desde que ainda não-cumprida a condenação e a prova se mostre de plano. (...) (HC 132.189/RJ, Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª Turma, julgado em 15/10/2009) 4) Não cabe HC após o trânsito em julgado se já houve extinção da pena privativa de liberdade. "Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade." (Súmula 695.)

Processo Primeira Turma. HC 110152/MS, rel. Min. Cármen Lúcia, 8.5.2012.

I – Questões objetivas: Julgue os itens a seguir: 1) O sistema de cotas em universidades, com base em critério étnico-racial, é constitucional. ( ) 2) O sistema de cotas em universidades tendo como critério o fato de serem egressos de escolas públicas é

inconstitucional. ( ) 3) O juiz, na dosimetria da pena, poderá levar em consideração, como consequência negativa do crime de tráfico de

drogas, o mal que os tóxicos causam à sociedade. ( ) 4) O juiz, na dosimetria da pena, poderá levar em consideração, como motivação negativa do crime de tráfico de

drogas, o fato do réu querer o lucro fácil com tal atividade delituosa. ( ) 5) O juiz, na dosimetria da pena, poderá levar em consideração, como circunstâncias negativas do crime de tráfico

de drogas, a natureza e a quantidade de entorpecentes apreendidos. ( ) 6) A procuração outorgada pelo querelante ao seu advogado para o ajuizamento de queixa-crime é uma procuração

apenas com cláusula ad judicia. ( ) 7) A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o

nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. ( )

8) É inconstitucional o art. 44 da Lei n. 11.343/2006 na parte em que proíbe a liberdade provisória para os crimes de tráfico de drogas.

9) A tempestividade do recurso em razão de feriado local ou de suspensão de prazos processuais pelo Tribunal a quo deve ser demonstrada no momento da sua interposição, não sendo possível a juntada posterior de documento que comprove a sua tempestividade. ( )

10) O STJ e o STF não admitem habeas corpus para rediscutir a dosimetria da pena aplicada na sentença, salvo se houver ilegalidade manifesta e desde que não seja necessária a rediscussão de provas. ( )

11) Conquanto o uso do habeas corpus em substituição aos recursos cabíveis -- ou incidentalmente como salvaguarda de possíveis liberdades em perigo - crescentemente fora de sua inspiração originária tenha sido muito alargado pelos Tribunais, há certos limites a serem respeitados, em homenagem à própria Constituição, devendo a impetração ser compreendida dentro dos limites da racionalidade recursal preexistente e coexistente para que não se perca a razão lógica e sistemática dos recursos ordinários, e mesmo dos excepcionais, por uma irrefletida banalização e vulgarização do habeas corpus. ( )

12) Cabe habeas corpus mesmo quando já extinta a pena privativa de liberdade. ( ) 13) (Promotor de Justiça – MP/CE – 2008) Falha na procuração para apresentação de queixa não poderá ser suprida. (

) II – Questão discursiva Quais são os requisitos da procuração na queixa-crime.

Gabarito

1. C 2. E 3. E 4. E 5. C 6. E 7. C* 8. C 9. E 10. C

11. C 12. E 13. E 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20.

21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30.

* Obs: trata-se da reprodução do texto legal. Apesar da redação do art. 44 do CPP possuir um equívoco ao mencionar “nome do querelante”, quando queria dizer “nome do querelado”, se cair o texto legal na alternativa, ela deve ser marcada como correta. As

vezes quem estuda muito tem dificuldades com a prova objetiva porque fica sempre achando que o examinador colocou uma “pegadinha” e se esquece que muitas vezes o que ele quer é somente o texto da lei.