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Influência da espessura de amostra, taxa de aquecimento e meio de hidrogenação na técnica de Espectroscopia de Dessorção Térmica aplicada a um aço 9Ni Gabriel Felipe Tavares de Barros Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro de Materiais. Orientadora: Rafaella Martins Ribeiro. Rio de Janeiro Setembro de 2017

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Influência da espessura de amostra, taxa de

aquecimento e meio de hidrogenação na

técnica de Espectroscopia de Dessorção

Térmica aplicada a um aço 9Ni

Gabriel Felipe Tavares de Barros

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Materiais da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro de Materiais.

Orientadora: Rafaella Martins Ribeiro.

Rio de Janeiro

Setembro de 2017

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de Barros, Gabriel Felipe Tavares

Influência da espessura de amostra, taxa de aquecimento

e meio de hidrogenação na técnica de Espectroscopia de

Dessorção Térmica aplicada a um aço 9Ni. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.

IX, 77 p.: il; 29,7 cm.

Orientadora: Rafaella Martins Ribeiro

Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia de Materiais, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 69 – 77.

1. Espectroscopia de Dessorção Térmica 2. Aço 9Ni 3.

Hidrogênio

I. Martins Ribeiro, Rafaella. II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de

Materiais. III. Influência da espessura de amostra, taxa de

aquecimento e meio de hidrogenação na técnica de

Espectroscopia de Dessorção Térmica aplicada a um aço 9Ni.

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Reconheço em você a força de

uma mulher que não se abateu

pelas circunstâncias da vida.

Pelo homem que sou hoje,

agradeço a sua história.

História essa de muito trabalho,

muito esforço,

e muito sacrifício

para que eu pudesse chegar

mais longe.

Pois bem,

faço então desta obra

nossa obra.

Gostaria que sentisse que esta é

uma vitória sua.

Dedico esta obra a você, mãe.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Sonia Regina Tavares e Luiz Augusto de Barros Filho,

pela oportunidade da vida, o que tenho de mais precioso, palco de minha evolução.

A toda minha família, sobretudo minha avó, Maria Madalena Pinto Tavares, que

não somente me deu afeto, mas me aconselhou, sempre indicando que o estudo era o

melhor caminho.

A minha companheira, amiga e meu grande amor, Nicole Kovalski Bluhm, a

quem devo este trabalho, pelos ouvidos, pelas intenções de sucesso e por acreditar,

mesmo nos momentos em que eu mesmo não acreditei.

Aos amigos José Francisco, Raphael Suárez, Geovane Oliveira, Lucas Arruda, e

meu querido primo, Thiago Braga, agradeço pelo apoio e pelos momentos de

descontração que com certeza foram essenciais nessa jornada.

Aos colegas de curso Ughor Vassimon, Amanda Sardinha, Rodrigo Vitorino,

Alessandra Guimarães, Bruno Aguero e Anderson Pereira, agradeço por terem

compartilhado não somente disciplinas, trabalhos e atividades laboratoriais, mas pelo

simples convívio com pessoas tão ricas, determinadas e inteligentes.

À professora doutora Rafaella Martins Ribeiro pelas horas de dedicação, pela

paciência, pela amizade, pelas instruções acadêmicas e profissionais, por me ensinar

ética e responsabilidade profissional, me preparando para a vida após a graduação.

Ao professor doutor Dilson Silva dos Santos pela oportunidade de integrar à

excelente equipe de profissionais do Laboratório de Propriedades Mecânicas e pelo

aceite em compor a banca avaliadora.

Aos mestres em engenharia Leandro Martins de Oliveira e Leo Roberto de

Oliveira Costa pela amizade, incentivo e gentiliza em compor a banca avaliadora.

À doutora em engenharia Monique Osorio Talarico da Conceição pela amizade e

orientações em minhas primeiras atividades no Laboratório de Propriedades Mecânicas.

A toda equipe do Laboratório de Propriedades Mecânicas, cuja amizade, instrução

e palavras de incentivo foram essenciais, sem as quais este trabalho não seria possível.

Aos técnicos pesquisadores Marcos Anacleto da Silva e Sidnei Joaquim do

Núcleo de Catálise do departamento de Engenharia Química pelas importantes

discussões acerca da técnica de Espectroscopia de Dessorção Térmica.

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v

Aos professores, técnicos laboratoriais e administrativos do Departamento de

Engenharia Metalúrgica e de Materiais e da Escola Politécnica pela excelência em

ensino.

Ao PRH-35 e a Petrobras pela oportunidade de crescimento, não só profissional, e

pelo apoio financeiro.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Materiais.

INFLUÊNCIA DA ESPESSURA DE AMOSTRA, TAXA DE AQUECIMENTO E

MEIO DE HIDROGENAÇÃO NA TÉCNICA DE ESPECTROSCOPIA DE

DESSORÇÃO TÉRMICA APLICADA A UM AÇO 9NI

Gabriel Felipe Tavares de Barros

Setembro/2017

Orientadora: Rafaella Martins Ribeiro

Curso: Engenharia de Materiais

O presente trabalho estuda as variáveis associadas à técnica de Espectroscopia de

Dessorção Térmica (TDS) aplicada ao aço 9Ni comercial. Para a avaliação da espessura

de amostra, plaquetas do aço de espessuras 0,30 e 0,72 mm foram submetidas a iguais

condições de hidrogenação e posterior TDS a 10°C/min, cujos espectros mostraram a

significativa influência da espessura de amostra na intensidade e posicionamento dos

picos de dessorção, mesmo sem um padrão definido. Para a avaliação da taxa de

aquecimento, plaquetas de espessuras semelhantes foram submetidas a iguais condições

de hidrogenação e diferentes rampas de aquecimento no ensaio de TDS (5, 10 e

15°C/min), cujos resultados mostraram um deslocamento para temperaturas superiores e

intensidades maiores no sinal com o aumento da taxa de ensaio. Para avaliação das

condições de hidrogenação, duas amostras do aço de espessuras semelhantes foram

hidrogenadas em duas soluções distintas, NaCl 3,5 % e NaOH 0,1 M, e realizou-se TDS

a 6°C/min; os resultados mostraram que, para a solução menos alcalina (NaCl), a

hidrogenação foi mais eficiente, assumindo maior grau de ocupação dos sítios. Sugeriu-

se que as energias de ativação para a dessorção do hidrogênio de 74,7 e 81,1 kJ/mol são

relativas a interfaces de ferrita e cementita e a contornos de austenita revertida/retida,

respectivamente.

Palavras-chave: Espectroscopia de Dessorção Térmica, aço 9Ni, hidrogênio.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Materials Engineer.

INFLUENCE OF SAMPLE THICKNESS, HEATING RATE AND

HYDROGENATION ENVIRONMENT ON THERMAL DESORPTION

SPECTROSCOPY TECHNIQUE APPLIED TO A 9NI STEEL

Gabriel Felipe Tavares de Barros

September/2017

Advisor: Rafaella Martins Ribeiro

Course: Materials Engineering

The present work studies the variables associated to the Thermal Desorption

Spectroscopy (TDS) technique applied to commercial 9Ni steel. For an evaluation of the

sample’s thickness, steel platelets with thickness of 0,30 and 0,72 mm were subjected to

the same hydrogenation conditions and TDS tests at 10°C/min, whose spectra showed a

significant influence of the sample thickness on the intensity and positioning of

desorption peaks. For an evaluation of the heating rate, platelets of similar thickness and

same hydrogenation conditions were tested at different heating rates in TDS tests (5, 10

and 15°C/min), the results showed a shift to higher temperatures and higher intensities

according to the increasing heating rate. For the evaluation of the hydrogenation

conditions, two samples of 9Ni steel with the same thickness were hydrogenated in two

distinct solutions, NaCl 3,5% and 0,1 M NaOH and TDS tests were performed at

6°C/min; the results showed that, a less alkaline solution (NaCl) is a more efficient way

to hydrogenate samples assuming a higher degree of occupation of the sites. It was

suggested that the activation energies for hydrogen desorption of 74.7 and 81.1 kJ / mol

are related to ferrite and cementite interfaces and to revert / retained austenite contours

respectively.

Keywords: Thermal Desorption Spectroscopy, 9 % nickel steel, hydrogen.

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 3

2.1. AÇOS 9NI ............................................................................................................ 3

2.1.1. Normas e especificações ............................................................................. 5

2.1.2. Microestrutura e efeito do níquel................................................................ 7

2.2. FONTES DE HIDROGÊNIO EM UMA FPSO ........................................................... 11

2.3. HIDROGÊNIO EM AÇOS E LIGAS ......................................................................... 12

2.3.1. Adsorção e absorção do hidrogênio.......................................................... 13

2.3.2. Difusividade do hidrogênio ...................................................................... 16

2.3.3. Solubilidade do hidrogênio ....................................................................... 18

2.3.4. Aprisionamento do hidrogênio em aços ................................................... 20

2.4. TÉCNICAS DE ANÁLISE DA DESSORÇÃO DE HIDROGÊNIO EM METAIS ................. 28

2.4.1. Permeação ................................................................................................. 28

2.4.2. Técnicas a temperatura programada ......................................................... 31

2.4.2.1. Calorimetria Diferencial por Varredura (DSC) .................................... 32

2.4.2.2. Dessorção a Temperatura Programada (TPD) ...................................... 33

2.5. ESPECTROSCOPIA DE DESSORÇÃO TÉRMICA (TDS) ........................................... 36

2.5.1. Princípios fundamentais ........................................................................... 36

2.5.2. Aspectos fenomenológicos, operacionais e instrumentais ....................... 39

3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 46

3.1. MATERIAL ........................................................................................................ 46

3.2. CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL ............................................................ 46

3.2.1. Preparação metalográfica ......................................................................... 46

3.2.2. Microscopia ótica ..................................................................................... 46

3.2.3. Microscopia eletrônica de varredura ........................................................ 47

3.2.4. Difração de raios-X .................................................................................. 47

3.3. ESTUDO DA INTERAÇÃO DO HIDROGÊNIO COM A MICROESTRUTURA ................. 47

3.3.1. Carregamento eletrolítico ......................................................................... 47

3.3.2. Espectrocopia de Dessorção Térmica (TDS)............................................ 48

3.3.2.1. Calibração do equipamento .................................................................. 49

3.3.2.2. Ensaios de TDS para o aço 9Ni ............................................................ 49

3.3.3. Tratamento dos espectros de TDS e cálculo das energias de ativação para

a dessorção do hidrogênio ....................................................................................... 49

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 51

4.1. CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL ............................................ 51

4.1.1. Microscopia e EDS ................................................................................... 51

4.1.2. Difração de raios-X .................................................................................. 53

4.2. ESTUDO DA INTERAÇÃO DO HIDROGÊNIO COM A MICROESTRUTURA ................. 54

4.2.1. Calibração ................................................................................................. 54

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4.2.2. Ensaios de TDS para o aço 9Ni ................................................................ 55

4.2.2.1. Influência da espessura de amostra nos espectros de TDS ....................... 55

4.2.2.2. INFLUÊNCIA DA TAXA DE AQUECIMENTO NOS ESPECTROS DE TDS ................ 59

4.2.2.3. INFLUÊNCIA DAS CONDIÇÕES DE HIDROGENAÇÃO NOS ESPECTROS DE TDS .. 64

4.3. COMENTÁRIOS GERAIS ...................................................................................... 66

5. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 68

6. REFERÊNCIAS .................................................................................................... 69

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1. Introdução

As reservas de petróleo encontradas na camada pré-sal do litoral brasileiro são

consideradas de média a alta qualidade, segundo a escala API. Desde o estado do

Espírito Santo até Santa Catarina, as profundidades variam de 5 a 8 quilômetros da

superfície do mar, além da camada de rocha salina. Em um cenário promissor, porém

repleto de desafios para a exploração e produção da camada pré-sal, destacam-se as

severas condições de processamento dos fluidos oriundos da rocha reservatório. Tais

fluidos são tratados em Unidades de Produção, Armazenamento e Transferência,

conhecidas por FPSO’s (Floating Production, Storage and Offloading). Na separação

da mistura de fluidos extraídos da rocha reservatório, os gases resultantes são

devidamente tratados e armazenados e podem ser utilizados para completação de poços,

como combustível para a FPSO ou serem transportados para uso em terra. Nesse ponto,

emergem as características dos materiais envolvidos na operação. Com pressões em

torno de 550 bar, temperaturas em torno de -70°C e presença de CO2 e H2S, surge a

necessidade de materiais que apresentem bom comportamento mecânico para dutos e

outros componentes metálicos [1].

Nestas condições, aços ou ligas devem apresentar boa resistência à corrosão, alta

tenacidade em baixas temperaturas e elevada resistência mecânica. Este último fator é

singular, dado que o ganho de resistência mecânica deve vir principalmente por

características microestruturais metalúrgicas e não por geometrias robustas, por

exemplo, grande espessura na parede de tubulações. Isto porque, analisando de maneira

sistémica, impactaria o custo de produção, o gasto de combustível na locomoção, afinal

o peso da FPSO se elevaria, entre outros fatores. No que tange a seleção de materiais, os

aços conhecidos por 9Ni surgiram como opção, dado que possuem elevada resistência

mecânica, frente aos aços inoxidáveis austeníticos [1, 2].

Indicados inicialmente para aplicações criogênicas, como armazenamento de Gás

Natural Liquefeito (GNL), os aços 9Ni possuem um excelente desempenho mecânico,

com limites de resistência em torno de 435 MPa e limites de escoamento de 315 MPa.

Além disso, atingem-se resultados em ensaio Charpy (entalhe em V) em torno de 100 J

a -196°C, um desempenho de destaque até então. Tais benefícios são oriundos das

melhorias em fusão e tratamentos térmicos, permitindo redução nos teores de carbono,

enxofre e fósforo, frente a elevados níveis de níquel, o qual favorece a tenacidade do

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aço. Sendo assim, é uma classe de aços favorável para operações de altas pressões e

baixas temperaturas. Além disso, os equipamentos fabricados com este material

apresentarão peso reduzido e maior facilidade de fabricação [2].

As condições de operação citadas anteriormente se destacam quanto à severidade

em diversos aspectos. Dentre estes, a presença de CO2 e H2S em altas pressão e

concentração, gerando hidrogênio que pode se difundir causando tensões internas

inadequadas à estabilidade do material [3].

Utilizado inicialmente no estudo de interações moleculares superficiais entre

gases e sólidos, o ensaio de Espectroscopia de Dessorção Térmica tem se mostrado útil

para a determinação de parâmetros-chave em processos de catálise, adsorção e

transformações de fase [4-8]. O ensaio destaca-se como forma de caracterização dos

sítios aprisionadores de hidrogênio, através do estudo da cinética de dessorção e da

quantificação do hidrogênio dessorvido [6-10]. Após saturar o material de hidrogênio, a

realização de aquecimento a uma taxa constante promove a dessorção gradual do

mesmo, segundo a energia referente a cada sítio aprisionador de sua microestrutura [11,

12].

O presente trabalho objetiva avaliar a influência da espessura de amostra, taxa de

aquecimento e condições de hidrogenação no aprisionamento de hidrogênio no aço

ASTM A553 (9Ni) na condição como recebido. O trabalho consiste de uma avaliação

da técnica de Espectroscopia de Dessorção Térmica, visando contribuir para sua

reprodutibilidade, estudando a variação das temperaturas de dessorção, a quantidade de

hidrogênio associada a cada sítio aprisionador, bem como a energia de ativação para a

dessorção.

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2. Revisão Bibliográfica

2.1. Aços 9Ni

Historicamente, os aços 9Ni começaram a ser estudados pelo The International

Nickel Co., nos Estados Unidos, na década de 1940. Havia o interesse em se

desenvolver um aço que apresentasse elevada resistência mecânica e certa dureza, para

a aplicação em plantas de produção e armazenamento de gases oxigênio, nitrogênio e

argônio, entre outros em suas formas liquefeitas [13]. O desenvolvimento de tecnologia

metalúrgica em transporte e armazenamento de GNL fazia parte da demanda da

indústria petroquímica. Em termos metalúrgicos, a premissa era que o aço desenvolvido

não poderia apresentar comportamento frágil em temperaturas abaixo de 0°C.

Interessante esta avaliação histórica e da sinergia entre campos de pesquisa, dado que os

estudos mais importantes a respeito de mecânica da fratura ocorreram apenas nos anos

1950, com destaque para o caso da classe de navios Liberty, durante a 2ª Guerra

Mundial [14].

Um estudo multinacional desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa do Gás mostrou

em termos quantitativos que o aço 9Ni tem elevada resistência à iniciação e propagação

de fraturas nas temperaturas de liquefação do gás natural. Foi estabelecida a validade

dos testes em escala de laboratório para determinar a capacidade do aço para parar

grandes trincas em execução que possam ser geradas por acidentes. Garantiu-se que o

aço cumpria os critérios desejados antes da falha, em temperaturas criogênicas [13].

A tabela 2.1 compila um histórico do aço 9Ni, desde de seus primeiros ensaios até

sua vasta aplicação em armazenamento de GNL [13].

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Tabela 2.1 – Histórico metalúrgico e de aplicações do aço 9Ni.

Ano Fato

1947 Ensaio Charpy em nitrogênio líquido (-196°C), em escala laboratorial,

EUA.

1948 Realização de vários ensaios destrutivos de impacto em vasos de

pressão com nitrogênio líquido, EUA.

1952 Especificação ASTM e aprovação ASME para o uso de aço 9Ni

duplamente normalizado e revenido em vasos criogênicos.

1960

Manufatura de centenas de vasos para armazenamento de oxigênio e

nitrogênio líquido; Operation Cryogenics, conduzida pela Chicago

Bridge and Iron, U.S. Steel e The International Nickel Co., com o

objetivo de realizar testes de impacto e pressão, a -180°C, em vasos de

tamanho real na condição temperado e revenido, sem alívio de tensões

pós-solda.

1963

Emissão do código ASME 1308-4, definindo as tensões de projeto

permitidas para as condições temperado e revenido e duplamente

normalizado e revenido, bem como seu uso em solda.

1964

Testes similares em vasos realizados no Japão e Itália; aço 9Ni é

reconhecido como adequado para serviços GNL por ASME, API, ABS,

RIN, entre outros órgãos.

1965 Alabama Gas comissiona uma planta de GNL de 28.600 m³ com aço

9Ni.

1967 Dois tanques de 46.000 m³ são construídos em Hopkinton,

Massachusetts; ambos atingiram mais de 20 anos em serviço adequado.

1987

O navio-tanque Jules Verne, o primeiro a incorporar o aço 9Ni, com

capacidade de 25.500 m³, completa 727 viagens, tendo transportado

18.000.000 m³ de GNL em quase 1,5 milhões de quilômetros

percorridos.

1988

Um total de 189 tanques de armazenamento erigidos em campo são

construídos em todo o mundo; plantas e estações satélites proporcionam

uma capacidade de 125.000.000 m³ de GNL. Todas as estruturas

baseadas em aço 9Ni.

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2.1.1. Normas e especificações

A ampla utilização dos aços 9Ni demandou o desenvolvimento de diversas

normas as quais estabelecem rotas de processamento, testes de resistência ao impacto,

geometria e composição química de chapas, tubos e componentes. Nesse sentido, as

normas ASTM A353 e ASTM A553 Tipo I especificam duas condições de tratamentos

térmicos para chapas limitadas a uma espessura de 2” (5,08 cm). Componentes forjados,

válvulas e flanges são especificados pela norma ASTM A522 [15].

A norma ASTM A353 recomenda um tratamento térmico de dupla normalização e

revenimento (NNR), o qual é resumido pela figura 2.1. Já a norma ASTM A553

recomenda um tratamento térmico de têmpera e revenimento (TR), o qual é resumido

pela figura 2.2.

Figura 2.1 – Resumo dos tratamentos térmicos para chapas de aço 9Ni NNR [16].

Figura 2.2 – Resumo dos tratamentos térmicos para chapas de aço 9Ni TR [17].

900°C - 1h/polegada de

espessura Resfriamento ao ar

790°C - 1h/polegada de

espessura

Resfriamento ao ar 565-605°C -

1h/polegada de espessura

Resfriamento ao ar ou água - 150°C/h

800°C - 1h/polegada de

espessura Têmpera em água

565-605°C - 1h/polegada de

espessura

Resfriamento ao ar ou água - 150°C/h

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Ambos os processos admitem tratamento para alívio de tensões sob aquecimento

em temperaturas entre 550-585°C, por um intervalo mínimo de 2 horas, para espessuras

maiores que 1 polegada; 1 hora é adicionada a cada polegada extra e o resfriamento

deve ocorrer no mínimo a uma taxa de 149°C/hora ao ar ou água [18].

Além das especificações no que se referem aos tratamentos térmicos, as normas

também determinam os limites para a composição química, tensão de escoamento, de

resistência à tração, alongamento, bem como para expansão lateral mínima para ensaio

Charpy (entalhe em V). A tabela 2.2 sintetiza estas especificações.

Tabela 2.2 – Composição, tratamentos térmicos e propriedades mecânicas para o aço

9Ni na forma de chapas, em baixas temperaturas de serviço (adaptado de [18]).

Composição % em peso

Carbono, máx. 0,13

Manganês, máx. 0,90

Fósforo, máx. 0,015

Enxofre, máx. 0,010

Silício 0,15 – 0,45

Níquel 8,40 - 9,60

Tratamento térmico NNR TR

Resistência à tração, MPa 670 - 827 670 – 827

Tensão de escoamento (0,2%), mín., MPa 517 586

Alongamento (2”), mín., % 20,0 20,0

Charpy – V (-196°C),

expansão lateral, mín., mm 15

Por fim, no que tange às especificações para manufatura de vasos com aço 9Ni, a

American Welding Society (AWS) especifica a soldagem manual com eletrodos

revestidos, além dos processos Metal Inert Gas (MIG) e Tungsten Inert Gas (TIG), com

eletrodos NiCrFe [18].

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2.1.2. Microestrutura e efeito do níquel

Ao analisarmos o efeito do Ni como elemento de liga em aços com baixo teor de

carbono, o diagrama de equilíbrio de fases Fe-Ni (figura 2.3) evidencia sua influência

na transformação da fase γ (austenita, cúbica de face centrada, CFC) em α (ferrita,

cúbica de corpo centrado, CCC). Na medida em que os teores de Ni se elevam, ocorre

uma abrupta queda na temperatura de transformação das referidas fases [19].

Figura 2.3 – Diagrama de equilíbrio de fases Fe-Ni. As linhas tracejadas correspondem

à transformação martensítica, a linha pontilhada corresponde à extrapolação que limita

α|α+γ, e as fases sublinhadas correspondem às fases metaestáveis (adaptado de [20]).

No entanto, para que se entenda melhor o comportamento microestrutural do aço

9Ni é necessário interpretar seu diagrama de resfriamento contínuo (figura 2.4), do

inglês Continuous Cooling Transformation Diagram - CCT. Para os tratamentos

térmicos sugeridos para o aço 9Ni, a primeira etapa de aquecimento visa a

austenitização completa da microestrutura. Após manter o aço a uma temperatura acima

de AC3, por um período de tempo determinado pela geometria da peça, pode-se realizar

o resfriamento ao ar (normalização) ou em água (têmpera). Como o níquel atua como

elemento de liga austenitizante, ou seja, estabilizador da fase austenita, no resfriamento

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pós-austenitização, nem toda austenita irá se converter em martensita, no caso de

têmpera, ou em ferrita e perlita fina, no caso de normalização. Esta austenita retida irá

ocorrer nas regiões onde os teores de Ni são maiores. A etapa de aquecimento final

(revenimento) eleva a microestrutura a temperaturas na faixa de 565-605°C. Essa etapa

de revenimento promove a formação de bainita e martensita revenida. Além destas

fases, esse aquecimento reverte parte da martensita formada na têmpera, sendo assim

obtém-se uma austenita revertida, coexistindo com aquela fração de austenita retida pós-

têmpera. No resfriamento, por fim, uma estrutura composta por martensita revenida,

bainita e austenita revertida/retida pós-revenimento é obtida [20].

Figura 2.4 – Diagrama CCT do aço 9Ni; A, F e C correspondem respectivamente às

estruturas austenítica, ferrítica e carbetos (adaptado de [21]).

O trabalho de PENSE e STOUT [19] mostrou que ambas as rotas de tratamentos

térmicos, NNR e TR, proporcionaram uma microestrutura martensítica; chapas de

diferentes espessuras normalizadas apresentaram bainita junto à martensita presente.

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9

STRIFE e PASSOJA [22] realizaram revenimento em aços 5 e 9Ni visando obter

austenita retida, detectada por difração de raios-X. Foi observado que esta é formada

durante a etapa de revenimento. O carbono possui maior solubilidade na austenita,

sendo assim, a austenita retida acaba por eliminar a precipitação de carbetos, como a

cementita (Fe3C), reduzindo também a temperatura de transição dúctil-frágil. Melhores

propriedades foram observadas nas amostras contendo austenita retida.

A austenita atuaria como uma fase atrativa para outros elementos de liga,

mantendo-os em solução sólida. No entanto, sua estabilidade estaria ligada ao teor dos

elementos que ela é capaz de solubilizar. O aumento do volume da austenita reduz este

teor contio na mesma, de modo que sua estabilidade é reduzida.

Nesse sentido, o tempo de realização da etapa de revenimento está diretamente

associado à estabilidade da austenita retida. SAITOH et al. [23] realizaram um estudo

sobre têmpera intercrítica aplicada em aços 9Ni para manufatura de tanques de GNL. O

processo de têmpera intercrítica ou lamerização consiste de um estágio adicional entre a

têmpera e o revenimento, com o objetivo de aumentar a tenacidade em baixas

temperaturas. Os autores concluíram que tal processo, além de suprimir a fragilização

ao revenido, estabiliza a austenita formada durante o revenimento.

FULTZ e MORRIS [24] estudaram as transformações mecânicas da austenita

precipitada em aços 6Ni, através de espectroscopia Mossbauer, observando que as

partículas de austenita são transformadas em martensita antes de interagirem com a

trinca propagante, e que este comportamento estaria associado à elevada tenacidade em

baixas temperaturas.

FULTZ e MORRIS [25] também estudaram a estabilidade mecânica da austenita

precipitada em aços 9Ni. Resultados de microscopia eletrônica de transmissão (MET),

associados aos difratogramas de raios-X, mostraram um aumento na densidade de

discordâncias, ao mesmo tempo em que parte da austenita transforma-se em martensita,

no resfriamento pós-revenimento. Essa expressiva elevação na densidade de

discordâncias se dá devido às elevadas tensões envolvidas na transformação

martensítica. Foi observado que discordâncias ao redor de partículas maiores de

austenita, se descolocaram para dentro da martensita revenida circundante. Os autores

sugerem que a própria martensita acomoda melhor as tensões de transformação da

austenita em martensita, com um número reduzido de discordâncias. Assim, quando as

partículas maiores de austenita se transformam, menos energia é necessária para gerar

as discordâncias que acomodam a transformação, e a mesma prossegue mais facilmente.

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10

Além disso, os autores sugerem que haja influência da razão superfície/volume das

partículas de austenita na energia das discordâncias.

FULTZ et al. [26] observaram que, aparentemente, a austenita tem preferência em

se formar em contornos de ripas de martensita, por estas regiões se tratarem de locais de

baixa energia para nucleação heterogênea. Além disso, o carbono se difunde

rapidamente para as partículas de austenita, de modo que em 10 horas de revenimento

todo o carbono antes em solução sólida na martensita migrou para a austenita. Com o

crescimento desta fase, a concentração de carbono matricial diminui, mas a

concentração de níquel se eleva. Devido à baixa difusividade do níquel na austenita,

haverá maior presença de níquel nas regiões exteriores das partículas de austenita, do

que em seu interior. Como o níquel estabiliza a austenita, as regiões mais externas

destas partículas se mantêm mais estáveis, frente às regiões mais internas. De fato, foi

observado que a transformação martensítica, com o resfriamento pós-revenimento,

ocorre de dentro para fora nas partículas de austenita. A presença de Ni em solução

sólida nas partículas de austenita, bem como outros átomos de soluto como Mn, Cr, Si e

C, é um fator importante que contribui para a redução da temperatura de iniciação da

transformação martensítica (MS), porém a abordagem química não se sobrepõe aos

efeitos do tempo de revenimento empregado, na discussão a respeito da estabilidade da

austenita.

Após a avaliação desses estudos [19, 22-26], convém esclarecer que:

A austenita retida ocorre devido ao revenimento acima da temperatura

crítica de formação da mesma;

Nem toda austenita revertida durante o processo de revenimento tornar-se-

á austenita retida, visto que o resfriamento final pode proporcionar

transformação martensítica/bainítica;

A quantidade de austenita retida depende do tempo de revenimento

aplicado (aspecto difusional);

A formação da austenita retida depende de elementos austenitizantes (Ni),

os quais reduzem a temperatura de início da transformação martensítica

(MS);

A estabilidade da austenita retida depende da fração volumétrica formada

e do aporte de elementos austenitizantes;

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O comportamento mecânico da austenita retida está associado a sua

capacidade de gerar/interagir com discordâncias, retardando a propagação

de trincas.

2.2. Fontes de hidrogênio em uma FPSO

Em uma FPSO, o fluido oriundo da extração é tratado e separado, seguindo para

outras estações de tratamento. Após as etapas de separação, o CO2 é removido do

fluido, o qual pode ser utilizado para reinjeção em poços, com o objetivo de se

estabilizar as pressões necessárias à extração. Neste processo de tratamento, a queda de

pressão sofrida pelo gás promove quedas de temperatura que chegam a -70°C, além

disso, a atmosfera de reinjeção possui altos teores de H2S (200ppmv) [1].

Neste sentido, a fragilização causada por sulfeto é um fenômeno importante a ser

estudado em toda a indústria de óleo e gás, devido à presença desse contaminante em

altas concentrações. O sulfeto de hidrogênio aquoso acelera drasticamente a entrada de

hidrogênio em metais e ligas, com a formação de sulfetos metálicos. O ânion S2-

reduz a

taxa de recombinação de hidrogênio, promovendo grande atividade deste em sua forma

atômica na superfície dos materiais [27]. As principais reações envolvidas no processo

de corrosão pelo H2S com consequente formação de hidrogênio se encontram a seguir.

( ) ( ) (1)

( ) ( ) ( )

(2)

( ) ( )

( ) (3)

( ) (4)

( ) ( )

(5)

( ) ( ) ( ) ( )

(6)

Aços com teores acima de 1% de níquel são suscetíveis à fragilização causada por

sulfeto, mesmo em valores de dureza reduzidos (<22 HRc) [28]. Ademais, suspeita-se

que aços de elevada dureza sejam susceptíveis a esse tipo de fragilização, devido à

presença de martensita não-revenida [29].

Além do H2S como fonte, o CO2 também pode influenciar na inserção de

hidrogênio em metais. PLENNEVAUX et al.[30] estudaram a contribuição do CO2 na

permeação do hidrogênio em aços de baixa liga expostos a meios contendo H2S.

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Observou-se que embora um aumento na concentração de H2S reduza

consideravelmente a influência do CO2, este, por sua vez, influencia na eficiência da

permeação do hidrogênio para baixas pressões de H2S em potenciais próximos ao de

corrosão.

Atmosferas com presença de CO2 também podem gerar uma carga de hidrogênio

através de seu processo de acidificação [31]. As principais reações envolvidas no

processo contendo CO2 com consequente formação de hidrogênio se encontram a

seguir.

( ) ( ) (7)

( ) (8)

( ) ( )

(9)

( ) ( )

( ) (10)

ZEEMANN e EMYGDIO [32] avaliaram a aplicação de aços 9Ni em linhas de

injeção de CO2 seco, na presença de H2S, e possível CO2 hidratado, o que caracteriza a

condição de H2S Service. A resistência deste material não pode ser garantida, dado que

ainda não se realizaram os devidos ensaios de adequação a norma ISO 15156, referente

à aplicabilidade de materiais nas condições citadas. Os limites de segurança na

aplicação do aço 9Ni devem ser estudados em se tratando de meios com grande

potencial de geração de hidrogênio, além da necessidade de se estudar a estabilidade de

juntas soldadas também em corrosão.

Independente das diversas formas de geração de hidrogênio há uma grande

necessidade de se estudar os mecanismos envolvidos na adsorção, absorção, difusão e,

principalmente, o aprisionamento do hidrogênio nessa classe de aços.

2.3. Hidrogênio em aços e ligas

O hidrogênio recebe atenção especial no que se refere ao estudo de materiais

metálicos, pois aços e ligas expostos a meios contendo hidrogênio estão sujeitos a sua

adsorção superficial e possível absorção. A singularidade do hidrogênio se dá pelo fato

de ser o menor átomo existente. Tendo grande facilidade em penetrar na rede cristalina

dos materiais, o hidrogênio se difunde nos interstícios da microestrutura, podendo se

solubilizar e se aprisionar em diversos pontos da rede.

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Por vezes, são geradas transformações de fase, devido ao aprisionamento do

hidrogênio, bem como a formação de hidretos [34]. O diagrama de fases Fe-H (figura

2.6) mostra que o aumento da pressão de hidrogênio até 4 - 5 GPa reduz a temperatura

de transformação da fase austenítica, γ, na fase ferrítica, α, exemplo de transformação

que, quando não observada e controlada, pode acarretar em perda de propriedades

mecânicas.

Figura 2.6 – Diagrama de fases Fe-H; destaque para a queda na temperatura de transição

γ→ α com o aumento da pressão de hidrogênio (adaptado de [34] apud [35]).

Uma vez aprisionado, o hidrogênio causa distorções na rede cristalina dos

materiais e o comportamento mecânico previsto para determinado componente não será

mantido [34]. Tal fenômeno representa relevante desafio para diversos setores da

indústria.

2.3.1. Adsorção e absorção do hidrogênio

O primeiro passo para o entendimento do comportamento microestrutural do

hidrogênio em aços e ligas se inicia fora do material. Este pode ser oriundo de diversas

fontes como já citado (2.1.3) incluindo a própria redução do hidrogênio ou da água,

reações 11 e 12. Estas reações estão presentes durante a corrosão, proteção catódica,

entre outras situações. Compostos como arsênio, fósforo, antimônio, enxofre, selênio,

telúrio e íons cianetos retardam a formação de hidrogênio molecular, aumentando,

consequentemente, o tempo de residência do íon hidrogênio ou hidrogênio protônico na

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superfície do material. O hidrogênio penetrante em metais e ligas também pode ser

oriundo de atmosferas de tratamentos térmicos, processos de soldagem e outras formas

de manufatura [36].

(11)

( ) (12)

Além disso, no caso onde temos uma solução aquosa salina, por exemplo, água do

mar, composta basicamente por água e um sal , em certa concentração, o sal é

solvatado pela água, se dissociando na forma da reação 13 [37].

→ ( )

( )

(13)

A água, por ter caráter anfótero, sofre sua própria autoionização, descrita pelas

reações 14 a 16 e sua reação global 17 [39], e pode ocorrer que, em meios mais ácidos,

[ ( ) ] > [ ( )

], íons hidrogênio gerados se dirijam a superfícies metálicas.

( ) ( ) ( )

(14)

( ) ( ) ( )

(15)

( ) ( ) ( )

(16)

( ) ( ) ( )

(17)

Ao se introduzir um metal neste meio aquoso estabelecemos uma diferença de

potencial naturalmente, devido aos elétrons livres da superfície metálica e observamos a

ocorrência de transporte iônico direcionado a esta superfície [39]. Regiões catódicas

tenderão a receber os íons positivos, ( )

e ( ) , enquanto regiões anódicas tenderão

a receber os íons negativos, ( ) e ( )

. Desse modo, admitindo um carregamento

eletrolítico, a reação 18 descreve a formação da pressão de hidrogênio que promove o

fenômeno de adsorção [34].

( ) ( )

(18)

Em seguida, o fenômeno a ser entendido é de natureza interfacial. Uma vez

gerado o hidrogênio, por via gasosa ( ) ou iônica ( ), ocorrerá sua deposição na

superfície metálica. Quando oriundo de soluções eletrolíticas, o hidrogênio na forma de

íons poderá ter dois destinos após a adsorção: recombinar-se, retornando a forma

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molecular, reação 19, ou penetrar na camada subsuperficial da microestrura, reação 20.

Após a absorção, o hidrogênio se difunde pelos interstícios da rede cristalina do metal

ou liga, reação 21 [34].

( ) (19)

( ) ( )

(20)

( ) ( )

(21)

A adsorção ocorre quando a força atrativa entre o hidrogênio e a superfície

metálica supera a energia cinética do hidrogênio. Tal força, do tipo van-der-Waals,

promoverá fisissorção, caso as energias de dissociação sejam da ordem de 50 kJ/mol, ou

quimissorção, com energias de dissociação maiores que 50 kJ/mol [38].

A figura 2.7 apresenta os fenômenos de adsorção, seguido de absorção ou

recombinação do hidrogênio. O fenômeno de adsorção, seja resultante de uma

exposição ao hidrogênio gasoso ou em solução eletrolítica, é dependente das condições

superficiais do metal, por exemplo, sua rugosidade. Nesse contexto, o hidrogênio depois

de aderido, tende a se difundir superficialmente até encontrar um sítio superficial

favorável a sua absorção, ou seja, uma barreira de potencial mais fácil (menos

energética) de ser superada. Uma vez superada essa barreira, o hidrogênio absorvido em

uma camada subsuperficial irá se difundir pela rede cristalina do metal ou liga [34].

Figura 2.7 - Esquema de dissolução do hidrogênio em metais por via eletrolítica.

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2.3.2. Difusividade do hidrogênio

Foram através das leis de Fick que se formalizaram as relações entre a diferença

de concentração de espécies e fluxo difusivo. A primeira lei de Fick descreve o processo

difusivo como “saltos” entre os interstícios da rede cristalina e estes representam

pequenas barreiras de potencial [39].

Expressa pela equação 22, a primeira lei de Fick prevê que o fluxo difusivo, , é

contrário ao gradiente unidimensional de concentração da espécie difusiva, e

proporcional por um fator , denominado coeficiente de difusão ou, simplesmente,

difusividade [39].

(22)

A difusão é um processo termicamente ativado e é o coeficiente de difusão que

encerra em si sua variação com a temperatura, conforme a equação 23, do tipo

Arrhenius [39].

(

) (23)

Na equação 23, é o coeficiente de difusão intrínseco da rede cristalina, a

energia para ativação do processo difusivo, uma medida da barreira de potencial que são

os interstícios, a constante universal dos gases ideais, e a temperatura em Kelvin.

Quando a concentração da espécie difusiva varia com o tempo, há o acúmulo da

mesma dentro do elemento de volume, dx (figura 2.8 - a). A diferença entre o fluxo que

entra, , e o que sai, , de um elemento de volume determina a variação na

concentração com o tempo, t, durante o processo de difusão, para qualquer ponto, x. Ao

considerarmos dois planos paralelos separados, conforme ilustrado na figura 2.8 -b, o

fluxo que entra no primeiro plano é dado pela equação (24) e o fluxo através do segundo

plano é dado pela equação (25). Ao subtrairmos os fluxos, , obteremos (26), ou

seja, o acúmulo de partículas na unidade de tempo que é produzida no elemento de

volume. Sabendo que a variação do fluxo com a distância é igual a menos a variação da

concentração com o tempo, obtemos a 2° Lei de Fick, equação 27 [39].

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Figura 2.8 – a) perfis de concentração em diferentes tempos (tx) dentro da etapa

transiente; b) fluxo linear entre dois planos (adaptado de [40]).

(24)

(25)

[

] (26)

[

] (27)

Para o caso onde o coeficiente de difusão não varia, temos:

(28)

As condições de contorno assumidas para a equação 28 são:

; .

Uma solução da equação diferencial 28, nas condições de contorno citadas, utiliza

a integral normalizada de probabilidade ou função de erro de Gauss, equação 29.

( )

√ ∫

(29)

A concentração em qualquer ponto x de um sólido semi-infinito, em dado tempo t,

com concentrações limites e , e coeficiente de difusão D, é dada por:

(

√ ) (30)

Cabe dizer que a adoção das equações de Fick, tanto para o modo estacionário,

quanto para o modo transiente, implicam em restrições iniciais. A admissão de um fluxo

unidimensional é adequada, dado que a distância entre os interstícios limitam a

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movimentação do hidrogênio a uma condição linear. Outra admissão, porém já

vastamente questionada, se trata da limitação à difusão do hidrogênio apenas pelos

interstícios. DARKEN e SMITH [41] demonstraram que as leis de Fick para a difusão

do hidrogênio em aços não poderiam ser aplicadas, devido ao efeito de aprisionamento

do hidrogênio, antes desconsiderado. McNABB e FOSTER [42] propuseram uma

alteração à segunda lei de Fick que distinguisse a concentração de hidrogênio difusível

através dos interstícios, daquela concentração de hidrogênio aprisionado em defeitos da

microestrutura como lacunas. Já ORIANI [43] propôs uma simplificação para o modelo

que leva em consideração os sítios aprisionadores, afirmando que o grau de ocupação do

hidrogênio em alguns sítios é baixo. Várias abordagens foram então desenvolvidas,

considerando o efeito do hidrogênio aprisionado na difusão [44, 45], inclusive com a

utilização de modelos estatísticos [46,47]. LEBLOND e DUBOI [48,49] realizaram

trabalhos visando descrever de um modo geral a difusão do hidrogênio em aços através

das equações de transporte de Boltzmann, e estudaram parâmetros que determinassem o

seu aprisionamento. TURNBULL et al.[50,51] estudaram a difusão e aprisionamento do

hidrogênio no aço inoxidável martensítico 13Cr, incluindo a influência da temperatura e

concentrações de H2S.

Diversas são as considerações feitas a respeito da influência dos sítios

aprisionadores na difusão do hidrogênio em metais, de modo que este assunto será

abordado detalhadamente mais adiante neste trabalho.

2.3.3. Solubilidade do hidrogênio

A concentração subsuperficial, , de hidrogênio dissolvido na matriz metálica

depende da concentração de hidrogênio disponível em solução eletrolítica ou, no caso

da via gasosa, da fugacidade do hidrogênio. A lei de Sievert, equação 31, descreve a

relação entre a concentração de hidrogênio dissolvido e a pressão de hidrogênio na

sua forma molecular, sendo o parâmetro de Sievert [34].

(31)

A equação 32 mostra que a fugacidade do hidrogênio gasoso determina sua

atividade termodinâmica quando em solução na rede metálica e, no caso de altas

concentrações, esta atividade será proporcional a esses valores, por fator ; é a

constante de equilíbrio da reação. Ainda, a fugacidade pode ser explicitada pela

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equação 33, sendo proporcional por um fator , denominado coeficiente de fugacidade

[34].

(32)

(33)

Relacionando as equações 32 e 33 e, posteriormente, com a equação 31,

explicitamos o parâmetro de Sievert, , em função da constante de equilíbrio da reação,

obtendo a equação 34, e a nova forma para a equação da concentração (35).

(34)

(

) (35)

Nesse contexto, a constante de equilíbrio da reação se relaciona com a energia

livre de Gibbs envolvida em todo o processo de adsorção, absorção e difusão do

hidrogênio, através da equação 36 [34].

(

) (36)

Lembrando que , onde consiste da entalpia e da entropia

de reação, se obtém, através da equação 37, a relação da solubilidade com a pressão

de hidrogênio e os parâmetros termodinâmicos da reação de dissolução [34].

(

) (

) (37)

Desse modo, a lei de Sievert possibilita relacionar a solubilidade, , que consiste

basicamente da concentração, , de hidrogênio dissolvido na rede metálica, com a

variação da energia livre de Gibbs, , envolvida em todo o processo de adsorção,

absorção e difusão do hidrogênio, através da constante de equilíbrio da reação, [34].

A solubilidade do hidrogênio em metais é objeto de estudo importante, dado que

uma vez atingido seu valor máximo, pode ocorrer a formação de outras fases compostas

por hidrogênio [34].

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2.3.4. Aprisionamento do hidrogênio em aços

Conforme visto na seção 2.3.1, o hidrogênio passa pelas etapas de adsorção e

absorção antes de se encontrar em estado difusivo na rede cristalina dos metais. Esse

estado difusivo é fortemente afetado pelo que se chamam sítios aprisionadores da

microestrutura [34].

No “salto” entre interstícios da rede, o hidrogênio despende certa energia ( -

energia para a difusão), de modo que estes representam pequenas barreiras de potencial.

No entanto, os defeitos da estrutura cristalina, bem como demais interfaces (contornos

de grão, matriz – precipitado, etc), representam barreiras de potencial mais energéticas a

serem superadas. Caso o hidrogênio não possua a energia térmica/cinética ( - energia

dos sítios aprisionadores) para superar essas barreiras, elas se configuram como poços

de potencial, aprisionando o hidrogênio. A figura 2.9 esquematiza a diferença energética

entre sítios de difusão (interstícios) e aprisionadores.

Figura 2.9 - Energias envolvidas no processo de difusão e aprisionamento do hidrogênio

em metais.

Diversas são as formas de interação do hidrogênio com a microestrutura dos

materiais metálicos. Após sua adsorção e absorção, o hidrogênio pode migrar para

defeitos da matriz como discordâncias, lacunas e microcavidades. O hidrogênio também

pode se dirigir a regiões interfaciais entre matriz e possíveis precipitados, além de

contornos de grãos [34]. A figura 2.10 mostra situações as quais o hidrogênio pode se

encontrar na microestrutura.

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Figura 2.10 – Hidrogênio: adsorvido (1), absorvido (2), em uma discordância (3), entre

um precipitado e a matriz (4), em um interstício (5), formando H2 em uma

microcavidade (6), em contornos de grãos (7), formando uma fase coerente (8), em uma

lacuna (9), formando CH4 em uma microcavidade (10) (adaptado de [34]).

O aprisionamento do hidrogênio em metais e ligas está associado ao aumento da

solubilidade aparente do hidrogênio na matriz, ao aumento no tempo de difusão, às

possíveis mudanças nos mecanismos de absorção superficial do hidrogênio, bem como

ao aumento de sua concentração em locais de segregação, o que favorece mecanismos

de fragilização [34].

Para classificar as formas de aprisionamento do hidrogênio em metais e ligas,

TORRES [34] compilou diferentes trabalhos, dividindo os tipos de aprisionadores

quanto à saturação, seu caráter físico, a possibilidade de liberação do hidrogênio e a

energia de ligação envolvida no aprisionamento.

As diferentes armadilhas para o hidrogênio podem ser enquadradas quanto à

capacidade de aprisionamento, se dividindo em saturáveis e insaturáveis. Sítios

saturáveis seriam aqueles de ocupação limitada pelos átomos de hidrogênio.

Classificam-se neste tipo as discordâncias, átomos/compostos de impurezas, as lacunas

e alguns tipos de interfaces. Já aqueles conhecidos por não serem saturáveis, atuam

como verdadeiros sumidouros; possuem volume tal que o hidrogênio em sua forma

atômica é aprisionado, podendo se recombinar em muitas moléculas de H2 [34]; um

microvazio é um exemplo de sítio não saturável.

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Ao se analisar o efeito que causa o aprisionamento do hidrogênio na própria

difusão deste na rede cristalina, surge a classificação quanto ao caráter físico. Todo

aquele sítio aprisionador que exercer força sobre o hidrogênio durante a difusão, seja

um campo de tensões ou gradiente de potencial químico, atuará como sítio atrativo.

Discordâncias em aresta são exemplos, dado que promovem um campo de tensões

trativas; interfaces coerentes ou semicoerentes e pontas de trincas também atuam dessa

forma. Em contraste com esses tipos de aprisionadores, existem aqueles aos quais o

hidrogênio não possui um destino preferencial. São exemplos microvazios e interfaces

precipitados-matriz de caráter incoerentes. É importante ressaltar que os sítios

aprisionadores podem possuir caráter misto, ou seja, além de se situarem apenas como

obstáculos randômicos para a difusão direcional do hidrogênio, também podem exercer

algum tipo de influência por gerar forças trativas [34].

Um dos parâmetros que podem ser utilizados na caracterização de sítios

aprisionadores é o tempo de residência do hidrogênio. Aqueles nos quais o tempo de

residência supera em grande ordem o tempo de difusão do hidrogênio na matriz são

conhecidos como sítios de caráter irreversíveis. Já aqueles susceptíveis à liberação do

hidrogênio devido às variações de temperatura em resfriamento ou queda na pressão

parcial do mesmo na entrada são classificados como sítios reversíveis [34].

Quanto à energia de ligação envolvida no aprisionamento de hidrogênio numa

matriz ferrítica, os sítios podem se dividir em aprisionadores fracos, intermediários e

fortes. Se enquadram na primeira classificação todos os sítios com energias próximas a

20 kJ/mol; alguns átomos de soluto, contornos de grão de baixo ângulo, discordâncias e

pequenos precipitados. Enquadram-se na segunda classificação todos os sítios com

energias próximas a 50 kJ/mol; microcavidades, interfaces de ripas de martensita e os

contornos de grãos de austenita prévia. Por fim, se enquadram na terceira classificação

todos os sítios com energias situadas entre 100 e 120 kJ/mol; carbetos de nióbio e

titânio, sulfetos de manganês, interfaces de precipitados esféricos e austenita retida [34].

TORRES [34] também compilou as energias de ligação do hidrogênio em

diferentes sítios aprisionadores da estrutura do ferro, conforme mostra a tabela 2.3 a

seguir.

Tabela 2.3 – Energias de ligação do hidrogênio (E) com diferentes sítios aprisionadores;

ce campo elástico,

n núcleo, * energia de ativação,

1 aço 4340,

2 deformação a frio.

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Sítio E (kJ/mol) Sítio E (kJ/mol)

Rede Cristalina - Lacuna – 1 a 2 H 41,0

C 3,0 Lacuna – 6 H 61,0

H-H 4,2 α – Perlita glob. 19*

Ni 7,7 α – Perlita lam. 84,0*

N ≥ 12,5 α – Cementita 10,85

Nb 15,4 Contornos α - α 17,2-59

V 15,4 α – TiC coer. 46*

Ti 26,1 α – TiC incoer. 68-116*

O 68,5 α – TiC semicoer. 55,8*

Discordânciace

20,2 α – Oxido ferro 15,7

Disc. espiraln

20-30 α – MnS 72*

Disc. mistan

58,6 α – Al2O3 78,96*

Disc. arestan

26,8 Microvaz. Aço1

56,20*

α - Carbetos 18,5 Microvaz. Ferro2

40,30*

O hidrogênio em seu estado aprisionado possui uma energia de ligação com o

sítio aprisionador. Além desta, existe a própria energia do sítio como barreira à difusão.

Para que o hidrogênio dessorva é necessário que este adquira uma energia superior ao

somatório das duas primeiramente citadas. Está energia é denominada energia de

ativação para a dessorção [34]. Conforme discutido, os sítios aprisionadores possuem

diferentes classificações quanto à energia, e as temperaturas de dessorção podem ser

utilizadas para identificar quais tipos de sítios estão presentes na microestrutura do

material. Além disso, pode ser realizado o estudo da morfologia dos picos resultantes da

dessorção, para análise quantitativa do grau de ocupação dos sítios, ou seja, a

quantificação do hidrogênio associado a cada armadilha [34]. A figura 2.11 apresenta

um modelo esquemático, associando diferentes temperaturas às diferentes armadilhas e

suas respectivas energias de ligação.

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Figura 2.11 – Diagrama do espectro de dessorção térmica; diferentes sítios

aprisionadores (adaptado de [34]).

Embora se saiba que a difusão do hidrogênio siga uma equação do tipo Arrhenius,

por se tratar de um fenômeno termicamente ativado, diversas podem ser as formas de

descrever a dessorção do hidrogênio.

Com base nas equações de KISSINGER [52], CHOO e LEE [53] propuseram que

as energias para ativação da dessorção dos sítios aprisionadores seguiam uma relação

matemática (equação 38), onde a taxa de aquecimento é representada por ϕ, a

temperatura referente ao pico de dessorção é representada por , R é a constante

universal dos gases, e é a energia necessária à dessorção.

(38)

Ao se realizar ensaios a taxas diferentes com amostras semelhantes, é possível

obter, através do coeficiente angular da reta

vs.

, a energia de dessorção

associada a cada sítio; ou seja, cada sítio aprisionador vai gerar uma reta dessas [53].

McNABB e FOSTER [42] propuseram que a presença de sítios aprisionadores da

microestrura influenciaria nos mecanismos de difusão, pois a cinética de

aprisionamento/dessorção também influenciaria, por sua vez, na quantidade de sítios

aprisionadores ocupados. As equações 39 e 40 descrevem a difusão do hidrogênio na

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dessorção e a variação do grau de ocupação do hidrogênio com o tempo. Pode-se

observar que a equação 39 corresponde a segunda lei de Fick, com o acréscimo da

parcela que sugere a influência dos sítios aprisionadores.

(39)

( ) (40)

Onde é a concentração de hidrogênio intersticial na fração molar, n é a

densidade de sítios aprisionadores em termos de mols de armadilhas por unidade de

volume, é a fração de ocupação destas aramadilhas, t representa o tempo, x é o ponto

da amostra onde se está avaliando, D é o coeficiente de difusão, e k e p são

respectivamente, as constantes cinéticas associadas ao aprisionamento e a dessorção do

hidrogênio [42]. Convém lembrar que assim como o fenômeno difusivo, os fenômenos

de aprisionamento e dessorção são termicamente ativados, sendo assim, seguem uma

equação do tipo Arrhenius, com suas respectivas constantes pré-exponenciais e energias

de ativação [54].

A fim de simplificar o fenômeno de dessorção, buscando uma modelagem que

mais se adequasse a um modelo analítico, ORIANI [43] admitiu um pareamento

unitário entre átomos de hidrogênio e sítios aprisionadores, apenas um tipo destes, um

equilíbrio termodinâmico entre o hidrogênio em seu estado difusivo e seu estado

aprisionado (equação 41), além de um elevado grau de dissolução.

(41)

LEGRAND et al. [55] realizaram simulações numéricas para a dessorção do

hidrogênio em um modelo de amostras de aço martensítico, utilizando análise de

elementos finitos, com a difusão sendo governada pela concentração de hidrogênio

difusivo e pela concentração de hidrogênio aprisionado. Os autores também

consideraram a taxa de salto entre sítios e a probabilidade de sítios vizinhos livres,

sejam interstícios de difusão, sejam aprisionadores. Além disso, foi suposto que a

amostra foi carregada de um lado até o estado estacionário, sem que o hidrogênio possa

sair pelo outro. Não foi considerado o fenômeno de recombinação superficial do

hidrogênio e, após o carregamento, foram ajustadas as condições de contorno de modo a

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simular a dessorção de ambos os lados. O modelo demonstrou que o hidrogênio se

desloca, salta de interstícios da rede a sítios aprisionadores e vice-versa. Foi provado

que a frequência de dessorção do hidrogênio deveria ser menor que a frequência de

aprisionamento, para que se garanta uma ordenação correta dos picos de dessorção, ou

seja, primeiro aquele referente aos interstícios, depois o referente aos aprisionadores. O

método padrão de deconvolução de espectros por curvas de Gauss foi comparado com

as taxas de evolução de hidrogênio calculadas para a rede e os átomos de hidrogênio

aprisionados. Dependendo da taxa de aquecimento e da espessura da amostra, as

concentrações podem ser superestimadas ou subestimadas. Existe um tamanho crítico

para levar a uma melhor estimativa das concentrações, seja em altas ou baixas taxas de

aquecimento. No entanto, uma diminuição da espessura da amostra foi recomendada

para estimar corretamente as energias de ativação para a dessorção. Além disso, baixas

taxas de aquecimento também foram recomendadas [55].

HURLEY et al. [54] discutiram a necessidade de um método de análise mais

complexo e rigoroso para a determinação das constantes cinéticas associadas com as

interações de aprisionamento do hidrogênio. Observando que as admissões de ORIANI

[43] limitam em muito a aplicabilidade de seu modelo, os autores também modelaram

uma simulação na qual as interações de aprisionamento/dessorção são consideradas. As

simulações apresentadas destacaram a importância de vários fatores, dentre eles as

variações na taxa de aquecimento aplicada, que causaram o deslocamento para

temperaturas maiores de dessorção, bem como intensidades superiores no espectro de

dessorção (figura 2.12 - a). Além disso, variações na espessura de amostra utilizada

causaram variações na intensidade e no posicionamento dos picos de dessorção, porém,

sem que fosse possível observar um padrão com o aumento gradual da espessura de

amostra (figura 2.12 - b).

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Figura 2.12 – Simulações numéricas avaliando: a) efeito causado por diferentes taxas de

aquecimento (2, 5, 10 e 15K/min), b) efeito causado por diferentes espessuras de

amostra (0,05; 0,1; 0,2; 0,5; 1,0; e 10,0) (adaptado de [54]).

EBIHARA et al. [56] estudaram diferentes modelos numéricos para analisar os

espectros de dessorção de hidrogênio. Os autores chegaram à conclusão de que a

utilização de equações de conservação de massa só é capaz de prever o comportamento

experimental dos espectros de dessorção térmica, para o ferro puro, quando amostras

finas são utilizadas.

HURLEY et al. [54] buscam lançar alguma luz sobre possíveis problemas

encontrados durante a análise dos espectros de dessorção experimentais. Os autores

sugerem um algoritmo para a criação de um banco de dados, comungando resultados

experimentais de materiais com simulações computacionais. O objetivo é obter as

constantes pré-exponenciais associadas à difusão intersticial, D0, ao aprisionamento, k0,

à liberação, p0, bem como as energias associadas a cada um desses fenômenos, ED, EK,

EP, respectivamente.

QUEIROZ [33], ao estudar a permeação de hidrogênio num aço 9Ni, observou a

presença de microestrutura martensítica/bainítica e austenita retida. A difusividade do

hidrogênio observada foi atribuida à difusão na fase ferrítica e regiões interfaciais entre

matriz e precipitados agiram como aprisionadores de hidrogênio, o que foi indicado por

uma queda na permeabilidade do mesmo. Observou-se também que a austenita retida na

forma de “ilhas” também é capaz de solubilizar grandes quantidades de hidrogênio,

levando períodos de tempo longos até a saturação. Sendo assim, o fluxo de hidrogênio

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seria inversamente proporcional à quantidade de austenita obtida após tratamentos

térmicos.

2.4. Técnicas de análise da dessorção de hidrogênio em metais

Tendo em vista a importância e complexidade do comportamento do hidrogênio

em materiais metálicos, urgem diferentes técnicas que possam avaliá-lo. Cada técnica

possui suas vantagens e limitações, tanto em termos de resultados, quanto no quesito

operacional.

2.4.1. Permeação

A técnica de permeação avalia quantitativamente informações a respeito da

difusividade do hidrogênio em metais.

Em sua modalidade eletroquímica (figura 2.13 – a), uma fina amostra metálica é

colocada entre duas câmaras, onde uma delas é responsável pela geração de hidrogênio.

Conforme a segunda lei de Fick (equação 27), o hidrogênio é adsorvido e absorvido

pela superfície, permeia toda a espessura da amostra, seguindo até a outra câmara,

devido ao gradiente de concentração do mesmo. Nesta câmara receptiva, um pequeno

potencial anódico é responsável por oxidar todo o hidrogênio que chega, de modo que a

corrente de oxidação é o parâmetro utilizado para aferir o fluxo de hidrogênio através da

amostra. A permeação eletroquímica pode ser feita, entre outras formas, com a

aplicação de uma corrente catódica na câmara de geração, ou através da aplicação de

um potencial catódico; no primeiro caso, o fluxo da superfície de geração se mantém

constante, no segundo caso, é a concentração da superfície da amostra na câmara de

recepção que se mantém nula. [34]. Outra forma de se realizar a permeação de

hidrogênio consiste em expor uma amostra metálica, também de espessura fina, a um

gradiente de concentração, através de suas faces, com a aplicação de uma pressão de

hidrogênio superior em uma delas. Com o auxílio de aquecimento controlado, a

molécula de H2 se dissocia na superfície de entrada da amostra e o hidrogênio a permeia

até a região de menor concentração. A detecção do hidrogênio é feita neste caso através

de um fluxímetro [57].

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Figura 2.13 – Esquema de permeação de hidrogênio eletroquímica (adaptado de [34]).

ZHAO et al. [57] estudaram a permeabilidade ao hidrogênio e a susceptibilidade à

fragilização da junta soldada do aço X80. Os ensaios de permeação permitiram aos

autores observarem que a difusividade do hidrogênio é maior em zonas termicamente

afetadas, menor no metal de solda e menor ainda no metal de base (figura 2.14).

Figura 2.14 – Permeação de hidrogênio na junta soldada do aço X80: a) 1° e b) 2°

transientes; MB – metal base, ZTA – zona termicamente afetada, MS – metal de solda

(adaptado de [57]).

OTSUKA et al. [58], ao estudarem a permeação do hidrogênio no ferro e ligas de

níquel a temperatura ambiente, identificaram a oxidação da superfície de amostra como

a causa para os valores obtidos estarem várias ordens de grandeza menores que as

conhecidas na literatura.

XIONG et al. [59] estudaram os efeitos de pressão hidrostática sobre a permeação

do hidrogênio no aço A514, um aço estrutural utilizado na indústria offshore. O aço

estrutural foi exposto à pressão hidrostática, variando de 0,1 a 40 MPa. Os autores

observaram que a pressão diminui a barreira energética para absorção e dessorção de

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hidrogênio, enquanto aumenta a adsorção do mesmo. Estes efeitos são induzidos tanto

pela densidade de corrente no estado estacionário quanto pelo aumento ligeiro da

difusividade aparente com a pressão. Levando em consideração o efeito superficial da

permeação do hidrogênio, os autores obtiveram a difusividade intrínseca de (3,2 ± 0,04)

× 10-6

cm2/s, sendo esta independente da pressão hidrostática.

KIM et al. [60] realizaram o primeiro estudo in-situ que observa a variação da

corrente de permeação do hidrogênio em um aço TRIP (do inglês, TRansformation

Induced Plasticity) sob carregamento durante transformação de fase. Os autores

observaram que a transformação martensítica, devido ao carregamento plástico, leva ao

aumento da difusividade do hidrogênio e, portanto, eleva a corrente de permeação no

estado estacionário. O estudo mostra que após a queda inicial da corrente de permeação

e após a aplicação de deformação plástica, a corrente aumenta lentamente, mas continua

subindo muito mais alto que o valor inicial (figura 2.15). Este resultado indica

claramente que os átomos de hidrogênio presos inicialmente na matriz da fase austenita

tornam-se móveis e podem difundir facilmente na martensita.

Figura 2.15 – Mudanças na corrente de permeação de hidrogênio na faixa transitória de

estresse elástico a plástico para o aço ferrítico e o aço TRIP (adaptado de [60]); RE –

região elástica, RP – região plástica.

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Como visto, a técnica de permeação e suas variantes fornecem informações sobre

a difusividade do hidrogênio em metais e ligas. Além disso, podem descrever a

permeabilidade do hidrogênio liberado de sítios aprisionadores, como estudado por

KIM et al [60]. No entanto, a técnica não fornece dados que permitam caracterizar os

mesmos sítios, quanto ao grau de ocupação por parte do hidrogênio, quais

aprisionadores são os mais energéticos na microestrutura e quais são os tipos de sítios

presentes, com base na energia necessária para a dessorção do hidrogênio.

2.4.2. Técnicas a temperatura programada

Técnicas a temperatura programada consistem de análises térmicas para a

caracterização de interações físicas/químicas entre reagentes gasosos e substâncias

sólidas. Em geral, os dados coletados por essas técnicas são interpretados de forma

qualitativa ou utilizando métodos cinéticos simples e aproximados. KANERVO [61]

compilou as técnicas de análise térmicas mais usuais (tabela 2.4).

Tabela 2.4 – Técnicas de análise térmica (adaptado de [61]).

Abreviação

(inglês) Nome da Técnica

Fator de

Monitoramento

DTA

DSC

Análise Térmica Diferencial

Calorimetria Diferencial por Varredura

Diferença de

temperatura entre

amostra e referência

TG Termogravimetria Massa da amostra

DTG Termogravimetria Diferencial Taxa de variação da

massa da amostra

TMA Análise Termomecânica (Dilatometria) Volume específico

TMA Análise Termomagnética Susceptibilidade

magnética

DMC Microcalorimetria Diferencial

Diferença de entalpia

entre amostra e

referência

TPR/O Redução a Temperatura Programada

Oxidação a Temperatura Programada Composição do gás

TPD/TDS Dessorção a Temperatura Programada

Espectroscopia a Temperatura Programada

As técnicas a temperatura programada também foram desenvolvidas para o estudo

da oxidação, sulfatação, metanação, hidrogenação, gaseificação, carburação e outras

reações superficiais catalíticas [61].

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2.4.2.1. Calorimetria Diferencial por Varredura (DSC)

Na calorimetria diferencial por varredura (do inglês, differential scanning

calorimetry), estudam-se fenômenos com base nas variações de entalpia observadas.

Na técnica de DSC se afere a diferença na quantidade de calor necessário para

aumentar a temperatura de uma amostra, em relação à outra, de um material cuja

capacidade térmica já é conhecida. Tanto a amostra como a referência são mantidas à

mesma temperatura ao longo do ensaio (figura 2.16). A técnica pode ser aplicada em

dois módulos: com a aplicação de um fluxo de calor constante ou com a aplicação de

uma potência constante. Quando a amostra é submetida a uma reação, como as

transições de fase, é necessário um fluxo maior ou menor em relação à amostra de

referência para manter a mesma temperatura. Ao observar a diferença no fluxo de calor

entre a amostra e a referência, os calorímetros são capazes de medir a quantidade de

calor absorvido ou liberado durante essas transformações. A técnica de DSC também

pode ser usada para observar mudanças físicas mais sutis, como a determinação da

temperatura de transição vítrea em materiais [62].

Figura 2.16 – Modelo esquemático da câmara de DSC (adaptado de [63]); SFC – Sensor

de Fluxo de Calor.

CONCEIÇÃO [64] utilizou a técnica de DSC para caracterizar o efeito de

catalisadores a base de Nb e cloretos, visando o armazenamento de hidrogênio na forma

MgH2. Realizando ensaios a taxas diferentes de aquecimento, diferentes perfis de fluxo

de calor são observados; com seus respectivos picos, os quais se referem à dessorção do

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hidrogênio (reação endotérmica), consegue-se, através da equação de KISSINGER [52],

calcular a energia de ativação para tal reação.

HUANG et al. [65] utilizou a técnica de DSC para investigar as propriedades de

armazenamento de hidrogênio do boro. Os resultados de DSC foram eficientes em

mostrar as diferenças no armazenamento do hidrogênio por parte do boro, quando

submetidos a diferentes condições de processamento.

Embora seja de uso recorrente para estudos sobre a formação de hidretos e

armazenamento do hidrogênio, a limitação da técnica de DSC reside no fato desta

detectar apenas variações de entalpia envolvidas em transformações de fase. Para casos

nos quais o hidrogênio se encontra em seu estado aprisionado, ou seja, não ligado, não

formando uma fase na microestrutura, a técnica não possui a sensibilidade adequada

para caracterizar o fenômeno de dessorção de sítios aprisionadores, visto que estes

possuem uma energia de ativação inferior àquela na qual o hidrogênio se encontra

formando uma fase (hidretos). Além disso, é uma técnica embasada em fenômenos de

referência que ocorrem paralelamente aos da amostra estudada. Desse modo, para se

estudar o aprisionamento de hidrogênio em metais e ligas através da técnica de DSC,

seria necessário sempre utilizar um fenômeno de referência da mesma magnitude

energética que o da dessorção do hidrogênio aprisionado. Cabe ressaltar que existe uma

variada gama de sítios aprisionadores em aços e ligas, cada qual com suas respectivas

energias de ativação para a dessorção do hidrogênio (ver tabela 2.4, seção 2.3.4).

2.4.2.2. Dessorção a Temperatura Programada (TPD)

A técnica TPD pode ser realizada através do acoplamento de análise

termogravimétrica (TGA - do inglês Thermogravimetric Analysis) e espectroscopia de

infravermelho por transformada de Fourier (FTIR – do inglês Fourier Transform

Infrared Spectroscopy). Neste sistema, monitora-se a variação da massa de uma amostra

em função da temperatura ou do tempo em um ambiente de temperatura e atmosfera

controladas. A radiação infravermelha passa através de uma amostra, sendo que alguns

espectros são absorvidos, já outros transmitidos. O sinal resultante no detector é um

espectro que representa uma identificação molecular das amostras [66,67].

A técnica de Dessorção a Temperatura Programada é uma das técnicas mais

utilizadas para a caracterização de catalisadores. Fornecendo informações sobre a

redutibilidade/oxidabilidade de precursores, é de fundamental importância para os

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catalisadores que trabalham através de mecanismos redox, por exemplo, o mecanismo

de Mars van Krevelen no qual a oxidação dos hidrocarbonetos ocorre pela redução local

de uma superfície oxidada, que é posteriormente reoxidada pelo oxigênio. O estado

médio de oxidação durante a catálise depende das taxas relativas de redução e

reoxidação [61].

Aplicada no estudo da influência de aditivos sobre o comportamento de redução

de materiais catalíticos, a técnica de TPD também revela a possível formação de ligas

em catalisadores metálicos, fornecendo informações das propriedades redox e do

consumo total do agente redutor, que pode ser correlacionado com a mudança no estado

de valência da substância redutível [61].

Os métodos de obtenção das energias de ativação de fenômenos termicamente

ativados também foram adaptados aos estudos de TPD.

SILVA [68] utilizou a técnica TPD para o estudo da dissociação/dessorção de

hidretos oriundos da interação do hidrogênio com a microestrutura de ligas de zircônio,

as quais são utilizadas em reatores nucleares (figura 2.18). Neste caso, a autora utilizou

um sistema (figura 2.19) baseado no princípio da ponte de Wheatstone, no qual

mudanças na condutividade térmica do meio são detectadas, devido à variação na

composição do mesmo, ou seja, com o aumento do hidrogênio presente na câmara,

conforme se dá o aquecimento, a condutividade térmica do meio se altera. O

funcionamento está baseado no princípio de que o corpo quente resfria a uma

velocidade que depende da composição dos gases que o rodeiam. A perda de calor pode

então ser usada como uma medida da composição do gás. O gás a ser analisado passa

por um filamento, o qual é aquecido por uma corrente elétrica. Com um gás de arraste, a

perda térmica é constante e também a temperatura do filamento. Se a composição do

gás muda, com a dessorção do hidrogênio, por exemplo, a temperatura do filamento se

altera causando uma correspondente mudança em sua resistência elétrica. Com base em

espectros semelhantes, obtidos por ensaios realizados a 20, 30 e 40°C/min, a autora

caracterizou as energias associadas à formação de hidretos em 18 e 24,5 KJ/mol.

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Figura 2.18 – Espectro normalizado para a dessorção do hidrogênio em uma liga Zr-

1Nb, obtido pela técnica de TPD, sob aquecimento de 10°C/min (adaptado de [68]).

Embora a técnica de TPD e suas modalidades venham sendo bastante utilizadas

não só para análises catalíticas, mas para o estudo do aprisionamento do hidrogênio em

metais e ligas, a mesma possui uma limitação operacional que põe em voga a

confiabilidade do ensaio. Por se tratar de uma medida indireta, seja através da avaliação

gravimétrica, seja através da condutividade térmica, a técnica exige alto grau de limpeza

do sistema, de modo que quaisquer impurezas presentes podem causar distorções nos

espectros observados. A presença de água, por exemplo, devido à umidade do ambiente

no qual ocorrem os ensaios, é relatada na literatura como um fator importante a ser

considerado; sugere-se o uso de materiais com alta capacidade de absorbância da

umidade (sílica gel, por exemplo) [68].

Avaliando as técnicas de DSC e TPD, observam-se limitações inerentes ao

princípio do ensaio e limitações operacionais. Ambas, convertem para um único ponto:

a medição indireta do hidrogênio dessorvido. Neste sentido, a utilização de um

espectrômetro de massa, como variante da técnica de TPD, proporcionou grande

confiabilidade ao estudo da cinética de dessorção do hidrogênio em metais e ligas, uma

vez que permite discernir as espécies presentes durante o processo térmico. Dado a

importância desta técnica, este trabalho reserva um subcapítulo exclusivo para abordar

seus princípios e particularidades.

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2.5. Espectroscopia de dessorção térmica (TDS)

A Espectroscopia de Massa de Dessorção Térmica (do inglês, Thermal

Desorption Mass Espectroscopy - TDMS) também é referenciada na literatura por TPD

(do inglês, Thermal Programmed Dessorption) ou somente TDS. A técnica vem sendo

utilizada para as mais variadas finalidades, dentre as quais se destaca o armazenamento

de hidrogênio para fins combustíveis [70-75] e o estudo do seu potencial de fragilização

em metais e ligas devido ao seu aprisionamento [76-79].

2.5.1. Princípios fundamentais

A técnica de TDS pode ser realizada num sistema equipado com um

espectrômetro de massa em que o hidrogênio é dessorvido em vácuo ou em um fluxo de

gás inerte [80]. Para o caso no qual são estudados os aprisionadores de hidrogênio em

metais e ligas, é necessário que o material sofra uma pré-carga de hidrogênio, o qual

possa ocupar os sítios aprisionadores da microestrutura. Posteriormente, em atmosfera

de ultra alto vácuo, com o auxílio de um fluxo constante de gás inerte, aplica-se uma

rampa de temperatura ou aquecimento isotérmico.

No ensaio de TDS realizado a certa taxa de aquecimento, na medida em que se

atingem determinadas temperaturas, as energias de ativação para a dessorção são

alcançadas, de modo que se podem associar as temperaturas de dessorção com a

evolução do hidrogênio; o destaque da técnica de TDS está na utilização de um

espectrômetro de massa de quadrupolo em condições de ultra alto vácuo. As curvas

aparecem tal como o hidrogênio é detectado pelo espectrômetro. O sinal, obtido a

princípio em amperes, A, ou seja, coulomb por segundo, C/s, pode ser dividido pela

razão carga-massa, q/m, do hidrogênio, 108 C/Kg, e em seguida também dividido pela

massa molar do hidrogênio molecular, 2,02 g/mol, obtendo assim a taxa de dessorção

em mol/s.

Para se entender o fenômeno de adsorção/dessorção do hidrogêniuo em uma

amostra metálica, é importante descrever a cobertura da superfície da amostra, em

função da pressão do gás sobre a mesma [81]. A isoterma de adsorção mais importante

para a discussão dos fenômenos de adsorção/dessorção é a isoterma de Langmuir [[81]

apud [82]], que se baseia nos seguintes pressupostos:

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A adsorção/dessorção ocorre de forma localizada, ou seja, as partículas

nesse modelo são imóveis;

A superfície do substrato é saturada (monocamada), isto é, todos os sítios

de adsorção/dessorção estão ocupados;

Não há interações entre as partículas na adsorção/dessorção.

A isoterma de BET [[81] apud [83]] amplia os pressupostos da isoterma de

Langmuir para a adsorção/dessorção em várias camadas. Assume-se que apenas a

primeira camada monoatómica está ligada à superfície do substrato, enquanto que todas

as camadas subsequentemente adsorvidas são mantidas pelas mesmas ligações que as da

fase líquida das moléculas adsorvidas. A contribuição das isotermas de BET está no

seguinte fato: se a área de cobertura de uma partícula adsorvida individual é conhecida,

então a área de superfície específica do material de substrato pode ser determinada. Nos

estudos de reações de superfície, a taxa de dessorção observada no TDS pode refletir

diretamente a taxa intrínseca de dessorção unidirecional, sendo comumente descrito

através do modelo de Polanyi Wigner (equação 44) para a condição de não-readssorção.

A taxa de dessorção ( ) é geralmente expressa pela seguinte lei:

(42)

Onde corresponde à área de cobertura, é uma constante e é determina a

ordem cinética de dessorção.

Se a constante é descrita por uma equação do tipo Arrhenius, então, a taxa de

dessorção é descrita segundo a equação de Polanyi-Wigner, onde consiste da

energia de ativação para a dessorção:

(

) (43)

(

) (44)

Onde é uma constante pré-exponencial, é a constante universal dos gases e

a temperatura. As variações do sinal obtido na dessorção, da cobertura e da taxa de

dessorção são esquematizadas na figura 2.20.

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38

Figura 2.20 – Evolução da taxa de dessorção, cobertura e espectro de dessorção.

Para , temos uma dessorção de multicamadas, sem dependência da

cobertura; para a cinética de primeira ordem ( ), admite-se uma dessorção

unimolecular, na qual a posição do pico independe da cobertura ( ) e o mesmo possui

uma forma assimétrica; já para a cinética de segunda ordem ( ) admite-se a

recombinação de partículas, a intensidade dos picos é proporcional ao número de

partículas e ao quadrado da cobertura. Além disso, os picos tendem a serem simétricos,

com limites comuns de início e término, e a posição dos picos desloca-se para menores

temperaturas com o aumento da área de cobertura (figura 2.21) [81].

Figura 2.21 – Espectros para diferentes modos de dessorção.

No estudo de fenômenos de adsorção/dessorção, destaca-se a teoria do estado de

transição. A mesma se baseia no pressuposto de que os estados ao longo das reações são

ocupados estatisticamente de acordo com uma distribuição de Boltzmann, na qual se

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39

deve considerar o equilíbrio entre os estados de equilíbrio e absorbância. Neste sentido,

o modelo de Polanyi-Wigner é alterado para se considerar um fator de frequência e uma

constante de equilíbrio [81]. Tais variações, que levam em consideração uma

abordagem estatística, não serão aprofundadas deste trabalho.

A temperatura à qual as espécies são dessorvidas a partir da superfície de um

sólido aquecido reflete a força das ligações de superfície. A técnica de TDS foi descrita

pela primeira vez como uma ferramenta analítica quantitativa para a caracterização da

superfície de amostras de baixa área superficial em alto vácuo por REDHEAD [84]; o

autor também mostrou o potencial do método para extrair a energia de adsorção.

Na dessorção ideal de monocristais, apresentam-se padrões com diferentes picos,

explicitando uma manifestação intrínseca da complexidade do sistema. Interações entre

as espécies, inclusive aquelas ligadas a diferentes sítios aprisionadores (diferentes

energias de ligação) podem contribuir para os padrões de picos sobrepostos [61].

Além das variações de modelos abordados em relação ao fenômeno de dessorção,

convém considerar a influência das condições de ensaio nos resultados da técnica de

TDS. A seguir, são abordados aspectos da arquitetura dos equipamentos condições de

realização da técnica de TDS.

2.5.2. Aspectos fenomenológicos, operacionais e instrumentais

Uma avaliação cuidadosa das possíveis fontes de erro é essencial para o

desempenho de uma técnica de avaliação da dessorção do hidrogênio. Propriedades

importantes dos gases devem ser levadas em consideração, como a compressibilidade.

Nas técnicas que utilizam variações da condutividade térmica como parâmetro, deve ser

observado o efeito Joule-Thomson e discutir a condutividade térmica do hidrogênio. Os

regimes de fluxo do gás ou mistura de gases também devem ser observados, tendo em

vista o livre caminho médio do hidrogênio e a escala de comprimento do sistema.

Ainda, é importante considerar a pureza do gás e as propriedades do próprio material no

qual o hidrogênio está aprisionado ou armazenado, sendo estas: volume, densidade,

massa e a capacidade da amostra de absorver humidade. No quesito instrumentação,

devem-se estudar as condições de vácuo ou alta pressão, em termos de vazamento e

permeação. Nos ensaios em que se aplica uma taxa de aquecimento, é importante

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40

avaliar a homogeneidade, estabilidade e controle da temperatura e sua medição precisa

[80].

No que se refere à compressibilidade do gás hidrogênio, por exemplo, existem

numerosas equações de estado que podem ser utilizadas para calcular a densidade de

fluidos puros em função da pressão e da temperatura. A precisão de cada equação difere

e isso tende a depender, até certo ponto, da complexidade matemática da expressão. No

entanto, diferentes equações de estado também podem se aplicar a diferentes regimes de

temperatura e pressão com diferentes graus de precisão. O comportamento físico de um

gás muda significativamente durante a transição de altas condições de vácuo para

pressão elevada e vice-versa. Sob alto vácuo, o gás existe no regime de moléculas

livres. A essas pressões, o caminho livre médio de uma molécula de gás é

significativamente maior do que a escala de comprimento dos aparelhos de laboratório

típicos e o transporte de moléculas de gás é dominado por colisões com as paredes do

sistema de vácuo ou pressão. À medida que a pressão aumenta, o gás passará pela

região de transição, antes de atingir o regime contínuo (fluxo viscoso). No regime de

continuidade, o transporte de moléculas de gás é dominado por colisões

intermoleculares [80].

A massa de uma amostra no início de uma medida também deve ser conhecida

com precisão. Na medida gravimétrica, esta é determinada in situ e é utilizada como

ponto de referência para o cálculo da dessorção de hidrogênio. Em relação à influência

da espessura de amostra, foi confirmado por experiência de dessorção térmica aplicada

a uma amostra de ferro puro recozida a 1000°C [56] que o perfil do pico de dessorção

do hidrogênio permanece estacionário com a diminuição da espessura de amostra, e que,

no entanto, tende a deslocar os picos de dessorção para valores superiores de

temperatura, com o aumento da espessura de amostra (figura 2.22).

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Figura 2.22 – Evolução do hidrogênio para uma amostra de ferro puro recozida a

1000°C; e1, e2, e3 e e4, correspondem respectivamente às espessuras de amostra de 3,

1, 0,5 e 0,2 mm.

Ainda, a respeito da possível presença de umidade e oxidação, muitos materiais de

armazenamento de hidrogênio são sensíveis ao ar ou à umidade. No caso dos hidretos

complexos, esta sensibilidade pode resultar na decomposição da amostra após a

exposição ao ar. As amostras devem, portanto, ser carregadas no instrumento sob uma

atmosfera inerte. Amostras metálicas são frequentemente sensíveis à umidade, dado que

uma camada de óxido pode ser formada na superfície de uma amostra, quando exposta

ao ar. Se a amostra for posteriormente hidrogenada, esta camada deve ser reduzida ou

decomposta o suficiente para permitir a hidrogenação. As amostras expostas ao ar por

diferentes períodos de tempo provavelmente terão diferentes propriedades da superfície.

Para fins de comparação, é, portanto, crucial que seja dada atenção suficiente ao estado

da superfície de diferentes amostras. É possível que as amostras tratadas de forma

diferente em termos de exposição ao ar após a ativação ou carregamento de hidrogênio

não serão retornadas para o mesmo estado, independentemente do tratamento utilizado

[80]. Por isso, o histórico de uma amostra, incluindo fenômenos de adsorção e absorção

de hidrogênio, pode ter um efeito significativo nas suas propriedades de dessorção. Esse

histórico pode incluir o histórico térmico da amostra, incluindo qualquer recozimento

que tenha sido realizado no caso de compostos de hidreto, os processos de ciclagem e

ativação de hidrogênio e a exposição dos materiais ao ar, mas também pode incluir o

próprio processo de síntese. No caso de materiais que formam hidretos, por exemplo, o

ciclo do hidrogênio resulta na criação de um número significativo de defeitos de rede.

Qualquer recozimento realizado pode devolver a amostra ao seu estado virgem, em

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maior ou menor grau. O recozimento também pode ser utilizado para aumentar a

homogeneidade da composição de um metal. Os efeitos significativos que o

recozimento pode ter em uma amostra, seja durante a preparação da amostra ou para

fins de regeneração após a degradação induzida por ciclagem de hidrogênio, significam

que é importante registrar e prestar muita atenção ao efeito que isso poderia ter sobre a

adsorção, absorção e posterior dessorção de hidrogênio. Qualquer ciclo anterior de

hidrogênio que tenha sido realizado em uma amostra também terá um efeito sobre as

propriedades de absorção subsequentes, e isso também deve ser considerado [80].

Em relação à tecnologia de vácuo, de um modo geral, quanto menor a capacidade

de vácuo, maior a chance de contaminação do hidrogênio gasoso da atmosfera e os

efeitos subsequentes que isso terá na medida de dessorção do hidrogênio. A qualidade

do vácuo possível no aparelho dependerá de uma série de fatores, especialmente: a

escolha da bomba de vácuo, o diâmetro e o comprimento da tubulação do sistema, o

número de válvulas, que provavelmente reduzirão a condutância do sistema, a qualidade

das vedações de vácuo e a tortuosidade do caminho de bombeamento. Atrelado a isso, o

efeito de vazamento na precisão de uma medida relaciona-se principalmente com a falsa

detecção do hidrogênio, devido à má interpretação da queda ou aumento do sinal

resultante. Vazamentos podem ser detectados com segurança antes de uma experiência

usando testes de pressão de hélio, por exemplo. A fuga durante um experimento será

vista como uma diminuição aproximadamente linear da pressão com o tempo o que é

atípico de um processo de adsorção/dessorção, porque os perfis cinéticos normalmente

mostram alguma curvatura. Outra forma de detecção consiste do teste de vazamento

prolongado com uma célula de amostra em branco (sem amostra) [80].

No que se refere à estabilidade térmica durante a realização de aquecimento e

medição da temperatura, uma temperatura de amostra estável e homogênea é um fator

chave na medida precisa de dessorção do hidrogênio. Os gradientes de temperatura em

uma amostra resultarão em diferentes características de dessorção, o que afetará a

precisão de uma medida. A natureza exotérmica e endotérmica dos processos de

adsorção e dessorção podem resultar em variações de temperatura significativas durante

a caracterização de um material; daí a necessidade de reatores especiais para o estudo da

cinética de absorção isotérmica de hidretos, por exemplo [80].

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Um tamanho de amostra maior é provável que aumente variações de gradientes

térmicos. O termostato, ou o método utilizado para controlar a temperatura da amostra,

deve ser capaz de manter uma temperatura estável. A estabilidade deve ser a mais alta

possível, já que variações da ordem de 1 K, ou superiores, são capazes de afetar

significativamente a medição. Isto é menos importante em temperaturas elevadas, mas

crucial para medições em baixa temperatura. De um modo geral, tamanhos menores de

amostras podem ser usados para espectroscopia de dessorção térmica, em comparação

com medidas volumétricas ou gravimétricas. Um dos principais erros associados à

medição de dessorção de uma amostra pequena é a precisão com que a massa da

amostra pode ser determinada. Se for calculada uma quantidade total dessorvida, em

termos de porcentagem em peso, isso será obviamente afetado pela precisão com que a

massa de amostra hidrogenada é conhecida. Outro aspecto importante é a transferência

de calor. Isso deve ser considerado em conjunto com a taxa de rampa de temperatura,

mas quanto menor a amostra, mais fácil é manter uma temperatura relativamente

homogênea, levando em consideração a natureza endotérmica do processo de dessorção

de hidrogênio. Em geral, o problema da transferência de calor ocorre em amostras

maiores, pois estas são mais propensas a afetar a forma dos espectros de dessorção

térmica e, portanto, a determinação da energia de ativação, do que o cálculo das

quantidades dessorvidas totais determinadas usando este método. Isso ocorre porque a

determinação das energias de ativação para a dessorção depende da medida da posição

do pico em função da taxa de aquecimento. Se o problema de transferência de calor

afetar as posições de pico observadas, o resultado será um erro associado na energia de

ativação calculada [80].

Ainda, em relação às taxas de aquecimento nos ensaios de TDS para o caso de

hidretos devem ser relativamente lentas (1-20°C/min, por exemplo), em comparação

com as taxas rápidas tipicamente usadas na ciência da superfície, porque o processo de

dessorção para um hidreto é lento em comparação com a dessorção de uma superfície.

Ainda, a taxa de aquecimento escolhida deve refletir o tamanho da amostra de certa

forma. Para taxas muito alta, heterogeneidades pontuais de temperatura na amostra

podem ocorrer, refletindo nos resultados. A natureza endotérmica do processo de

dessorção também deve ser considerada porque o resfriamento associado ao efeito irá

opor-se à taxa de aquecimento [80].

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CASTRO e MEYER [11] também avaliaram a reprodutibilidade. A figura 2.23 - a

mostra os espectros obtidos com as mesmas taxas de aquecimento e quantidade de

paládio. A figura 2.23 - b mostra que à medida que a taxa de aquecimento aumenta, os

espectros crescem em intensidade e se deslocam para temperaturas mais altas.

Figura 2.23 – Espectros de TDS: a) realizados a mesma taxa de aquecimento, b) em

diferentes taxas [11].

Por fim, o sinal de hidrogênio de uma experiência de dessorção térmica deve ser

calibrado se for necessária a quantificação do total dessorvido. A calibração não é

necessária para medidas destinadas à determinação da energia de ativação, porque, neste

caso, a temperatura máxima de dessorção é utilizada em vez da quantidade de

hidrogênio. A calibração realizada por ZEPPELIN et al.[8] envolve o uso de uma

amostra de calibração, dessorvendo uma quantidade conhecida de hidrogênio de um

material bem compreendido e medindo o sinal do espectrômetro de massa resultante. Os

autores usaram três diferentes materiais de calibração, nomeadamente uma liga PdGd

hidrogenada, TiH2 e CaH2. Eles descobriram que os dois primeiros eram mais

adequados para a calibração e que o CaH2 deveria ser evitado devido à sua natureza

higroscópica. Foi estimado um erro de ± 5% em seus cálculos quantitativos de

hidrogênio dessorvido. Eles usaram uma série de amostras de TiH2 com massa entre 1-6

mg.

Fica evidente a importância das condições de realização da técnica de TDS, bem

como a influência das propriedades de amostra utilizadas. Ainda, destacam-se os

diferentes modelos difusivos e de dessorção do hidrogênio, oriundo de aprisionadores

em aços e ligas metálicas. Portanto, fica clara a necessidade de se investigar os

espectros de TDS de materiais multifásicos, sobretudo quando tais materiais estão

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sujeitos a condições de operação que favorecem o aprisionamento de hidrogênio, como

é o caso dos aços 9Ni.

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3. Materiais e métodos

3.1. Material

O material utilizado para estudo consiste de uma chapa de aço ASTM A553 (9Ni),

com dimensões de 135 mm de comprimento, 112 mm de largura e 14 mm de espessura.

Devido ao sigilo técnico da empresa fornecedora do material, não foi possível

divulgar a rota de tratamentos térmicos pela qual o material passou, bem como sua

composição química real. No entanto, admitindo a adequação à norma ASTM A553

(9Ni), sabe-se que o material passou por processo de têmpera e revenimento resumido

pela figura 2.2 deste trabalho. A composição química também se encontra dentro dos

limites especificados segundo a norma ASTM A553 (9Ni), tabela 2.2 deste trabalho.

3.2. Caracterização microestrutural

A caracterização microestrutural do aço foi realizada a partir de análises de

microscopia ótica (MO), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e difração de

raios-X (DRX).

3.2.1. Preparação metalográfica

Amostras para MO, MEV e DRX foram retiradas da chapa original através de

corte de precisão com equipamento IsoMet® (Buehler S/A), presente no Laboratório de

Propriedades Mecânicas do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais

(UFRJ). As amostras foram lixadas com lixas de SiC 100, 200, 300, 400, 600, 1200 e

2500 mesh. O polimento foi realizado com pasta de diamante de granulometria de 3 e 1

µm, em lixadeira/politriz universal Aropol E (Arotec S/A) presente no Laboratório

Multiusuário de Caracterização de Materiais do Departamento de Engenharia

Metalúrgica e de Materiais (UFRJ). Para MO e MEV, foi realizado ataque químico com

Nital 2%, por 15 segundos.

3.2.2. Microscopia ótica

Com o objetivo de se entender a morfologia da microestrutura, foram realizadas

imagens de microscopia ótica de diferentes aumentos com microscópio ótico da marca

Olympus modelo GX71, do Laboratório Multiusuário de Caracterização de Materiais do

Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (UFRJ).

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3.2.3. Microscopia eletrônica de varredura

De modo a contribuir para a identificação das fases presentes, imagens foram

obtidas com aumentos maiores e de melhor resolução através da técnica de microscopia

eletrônica de varredura. As imagens foram feitas pelo equipamento JEOL JSM 6460

LV, no Laboratório de Microscopia Eletrônica do Departamento de Engenharia

Metalúrgica e de Materiais (UFRJ), tanto no modo de elétrons retroespalhados, quanto

no de elétrons secundários, com diversos aumentos.

A fim de se identificar quimicamente os constituintes das fases observadas,

também foi utilizado o módulo de Espectroscopia por Dispersão de Energia (EDS),

modelo NORAN System Six 200, sistema acoplado ao JEOL JSM 6460 LV.

3.2.4. Difração de raios-X

A análise de difração de raios-X foi realizada utilizando o equipamento D8

ADVANCE (Bruker), presente no Laboratório de Microscopia Eletrônica do

Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (UFRJ), com os seguintes

parâmetros: comprimento de onda λ = 1,5418 Å, faixa de varredura contínua de 10° a

90°, passo 0,02° e taxa de 2°/min. As análises foram realizadas com o objetivo de

verificar e corroborar os resultados observados nas imagens feitas por microscopia; a

indexação das fases observadas foi realizada com base na literatura [33, 85].

3.3. Estudo da interação do hidrogênio com a microestrutura

A partir da chapa fornecida, foram retiradas pequenas placas de espessuras

diferentes, com comprimento e largura em torno de 13 e 5 mm, respectivamente. As

placas passaram pela mesma preparação metalográfica que as amostras para

caracterização microestrutural, com lixamento e polimento em todas as faces. Nestas

placas foi realizado carregamento eletrolítico, em diferentes condições, e posterior

ensaio de espectroscopia de dessorção térmica (TDS), também em diferentes condições.

3.3.1. Carregamento eletrolítico

Foram realizadas hidrogenações eletrolíticas, com o objetivo de se saturar todos

os diferentes sítios aprisionadores de hidrogênio possíveis do material. A fim de se

avaliar a influência das condições de hidrogenação prévia nos espectros de TDS, em

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dois dos ensaios foram utilizadas duas soluções eletrolíticas diferentes: NaOH 0,1 M, e

NaCl 3,5% em peso. Para se avaliar essas diferentes condições, amostras de espessura

em torno de 0,90 mm foram utilizadas, bem como se reproduziu o mesmo tempo e

correntes catódicas de hidrogenação: 24 horas e 0,06 A, respectivamente.

Para os demais carregamentos eletrolíticos, cujos objetivos foram avaliar a

espessura de amostra e a taxa de aquecimento nos posteriores ensaios de TDS, as

condições de hidrogenação mantiveram-se as mesmas: solução de NaOH 0,1 M, tempo

de exposição de 48 horas e corrente catódica aplicada de 0,06 A.

3.3.2. Espectrocopia de Dessorção Térmica (TDS)

O equipamento de TDS utilizado para os ensaios foi desenvolvido no Laboratório

de Propriedades Mecânicas do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais

(UFRJ), esquematizado na figura 3.2. O espectrômetro de massa trata-se de um QMS

200 PrismaTM 80. Os resultados foram tratados com o objetivo de diminuir ruídos,

separar picos muito próximos (deconvolução), prevenindo a interpretação de apenas um

pico, além de outros ajustes para melhor apresentação dos resultados. Em seguida, são

descritas as etapas de calibração do equipamento e o ensaio de TDS.

Figura 3.2 - Esquema de ensaio de TDS [34].

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3.3.2.1. Calibração do equipamento

Foi realizada uma calibração, com o objetivo de se avaliar quantitativamente o

hidrogênio ora dessorvido nos ensaios de TDS. O material utilizado para tal consiste de

TiH2 na forma de pó e a determinação da quantidade de hidrogênio presente se dá

simplesmente pela pesagem das amostras, admitindo que 4% em peso é composto por

hidrogênio. Uma vez que temos a relação mg de H/mg de TiH2 e a relação área abaixo

do espectro de TDS/mg de TiH2, chegamos a uma relação de mg de H/unidade de área,

ou mol de H/unidade de área no espectro de TDS, desenvolvido através da taxa de

dessorção de hidrogênio (mol/s) vs. temperatura (°C).

Foram realizados 4 ensaios na mesma taxa de aquecimento (10°C/min), porém

variando-se a quantidade de material: 1, 2, 3, 4 mg de TiH2. O objetivo dessas variações

é chegar a uma constante de calibração devido às variações de massa [8].

3.3.2.2. Ensaios de TDS para o aço 9Ni

Para realizar os ensaios de TDS no aço ASTM A553, as amostras previamente

carregadas eletroliticamente com hidrogênio foram colocadas dentro de um reator de

quartzo e submetidas a um fluxo contínuo de hélio de alta pureza, atuando como gás de

arraste. As amostras foram aquecidas a partir da temperatura ambiente em diferentes

taxas de aquecimento.

Para a avaliação da influência da espessura de amostra no espectro de TDS, duas

amostras de espessuras diferentes (0,30 e 0,72 mm) foram utilizadas. Tendo as mesmas

condições de hidrogenação, os ensaios de TDS foram realizados ambos a 10°C/min.

Já para a avaliação da influência da taxa de aquecimento no espectro de TDS,

ensaios foram realizados a 5, 10 e 15°C/min em amostras de espessuras aproximadas,

0,72; 0,74 e 0,76 mm, respectivamente, carregadas eletrolíticamente sob as mesmas

condições.

3.3.3. Tratamento dos espectros de TDS e cálculo das energias de ativação

para a dessorção do hidrogênio

Uma vez obtidos os espectros de dessorção, convém elucidar fenômenos de

sobreposição de picos, de modo a obter mais claramente e de forma independente a

evolução do hidrogênio dessorvido dos sítios aprisionadores e suas temperaturas

máximas de dessorção. Uma avaliação subjetiva dos espectros foi necessária para a

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construção de linhas de base, as quais traduzam condições de elevação da intensidade

do sinal intrínsecas ao aumento da temperatura com a taxa de aquecimento. Convém

destacar que tais construções alteram significativamente a área abaixo da curva de

dessorção, responsável pela informação da quantidade de hidrogênio dessorvido. Ainda,

as próprias deconvoluções Gaussianas realizadas também influenciam

significativamente na compreensão realística do processo, uma vez que inferem um

fenômeno simétrico, com início e fim da dessorção bem definidos. Sendo assim, este

trabalho utiliza as quantidades de hidrogênio obtidas prioritariamente para fins

comparativos.

Para o cálculo das energias de ativação para a dessorção do hidrogênio referente a

um sítio aprisionador, observa-se a morfologia dos espectros de TDS. Dessa forma, é

possível associar a paridade entre diferentes picos de dessorção obtidos em diferentes

taxas de aquecimento. Uma vez tabelados os valores das temperaturas dos picos de

dessorção, , junto as suas respectivas taxas de aquecimento, , foi feito o gráfico

vs.

. Ao se realizar uma regressão linear dos pontos obtidos, obtém-se o

coeficiente angular, dado por

. Sendo assim, calcularam-se as energias associadas à

dessorção do hidrogênio referentes a cada pico obtido pelos espectros de TDS (ver seção

2.3.4).

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4. Resultados e discussão

4.1. Caracterização microestrutural

4.1.1. Microscopia e EDS

A microestrutura obtida por análise de microscopia ótica, observada na figura 4.1,

apresentou uma morfologia de grãos com contornos bem definidos.

Figura 4.1 – Imagem do aço ASTM A553 (9Ni) obtida por microscopia ótica no

aumento de 500x. Ataque Nital 2%.

A microestrutura observada na figura 4.2, obtida por microscopia eletrônica de

varredura de elétrons secundários, permitiu a visualização de faixas ou bandas de

segregação espaçadas em 10-12 µm, que podem ser atribuídas ao processamente

termomecânico da placa original. Já a microscopia realizada através de elétrons

retroespalhados permitiu a distinção clara das duas fases presentes; tornam-se mais

nítidas as “ilhas” de austenita retida nos contornos.

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a)

b)

Figura 4.2 – Imagens do aço ASTM A553 (9Ni) obtidas por microscopia eletrônica de

varredura, nos aumentos de: a) 500x (elétrons secundários) e b) 3000x (elétrons

retroespalhados). Ataque Nital 2%.

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As imagens de microscopia ótica e microscopia eletrônica por varredura

apresentaram uma morfologia microestrutural semelhante àquela apresentada por

ZEEMANN e EMYGDIO [32] para o aço ASTM A353, com presença de uma matriz

martensítica/bainítica e partículas de austenita nos contornos. Assim como visto por

QUEIROZ [33], podem ser observadas faixas ou bandas de segregação.

O resultado de EDS (figura 4.3) indica a presença de Fe, Ni, Si e Mn.

Figura 4.3 – EDS do aço ASTM A553 (9Ni).

4.1.2. Difração de raios-X

A análise de DRX (figura 4.4) para o aço ASTM A553 como recebido mostra a

existência dos picos característicos às fases ferrita e austenita, corroborando com as

morfologias identificadas nas imagens de MEV e estudos realizados por QUEIROZ [33]

e CHEN et al. [85].

Figura 4.4 – Resultados de DRX para o aço ASTM A553 (9Ni).

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54

4.2. Estudo da interação do hidrogênio com a microestrutura

A seguir, os resultados da calibração da técnica de TDS, bem como os resultados

para sua aplicação ao aço ASTM A553 (9Ni).

4.2.1. Calibração

Os ensaios de TDS para o TiH2 apresentados a seguir (figura 4.5) mostram o

aumento gradual e coerente da área abaixo da curva de dessorção, com o aumento da

quantidade de hidreto utilizada. Além disso, observa-se que não houve alterações

significativas na posição do pico global, o que seria característico de dessorções

oriundas de amostras em pó realizadas a uma mesma taxa de aquecimento, dado que

nesta condição, os fenômenos de dissociação e dessorção ocorrem quase que

instantaneamente, pois o hidrogênio não possui um caminho significativo para percorrer

e deixar a amostra. Entretanto, conforme se eleva a quantidade de hidreto, o perfil da

curva ganha um aspecto bimodal, o qual pode estar relacionado às condições de

aglomeração da amostra. Isto somente evidencia o quão acurado é o ensaio de TDS.

Figura 4.5 – Espectros de TDS realizados a 10°C/min para diferentes quantidades de

TiH2 na forma de pó. Observa-se o aumento da intensidade e da área abaixo da curva

conforme se eleva a quantidade de hidreto utilizada no ensaio.

Com métodos de integração computacional, obtiveram-se as áreas abaixo das

referidas curvas, de modo a se chegar a um fator ou constante de calibração. A figura

4.6 apresenta a regressão linear utilizada para a determinação desse fator em 2,717.

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55

Figura 4.6 – Determinação do fator ou constante de calibração através de regressão

linear das áreas oriundas dos espectros de TDS realizados a 10°C/min para o TiH2 na

forma de pó.

Chega-se a relação de 0,0147 mg de H/unidade de área, ou 0,0147 x 10-3

mol/unidade de área no espectro de TDS, para o equipamento presente no Laboratório

de Propriedades Mecânicas do DEMM/UFRJ.

4.2.2. Ensaios de TDS para o aço 9Ni

4.2.2.1. Influência da espessura de amostra nos espectros de TDS

Os espectros de dessorção do hidrogênio obtidos de amostras com espessuras 0,30

e 0,72 mm podem ser observados na figura 4.9. Os gráficos mostram que a amostra com

0,72 mm de espessura apresenta um perfil de dessorção do hidrogênio que atinge

maiores intensidades, em relação aquela com 0,30 mm de espessura, lembrando que os

sinais de dessorção de ambas foram normalizados pelas suas próprias massas.

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56

Figura 4.9 – Espectro de TDS sob aquecimento de 10°C/min e condições prévias de

hidrogenação iguais pertencentes a duas amostras do aço ASTM A553 (9Ni) com

espessuras diferentes. Observa-se maior intensidade nas taxas de dessorção para a

amostra de 0,72 mm, frente a de de 0,30 mm.

As diferenças de intensidade nas taxas de dessorção podem ser justificadas pela

cobertura de dessorção. Uma vez que se normalizam ambos os espectros, dividindo os

sinais obtidos pela massa das respectivas amostras utilizadas, minimizam-se efeitos

quantitativos, obviamente, porém os aspectos volumétricos e de área de superfície

também devem ser observados. Analisando isoladamente o espectro da amostra de

menor espessura (figura 4.10), percebe-se que a sobreposição de dois picos de dessorção

foi mais pronunciada, quando comparada com o espectro da amostra de espessura maior

(figura 4.11). Este fenômeno pode ocorrer para sítios aprisionadores da microestrura

que possuem energias próximas para ativação da dessorção; na condição de amostra

muito fina, não haverá o efeito significativo de retardo da difusão do hidrogênio até sair

na superfície do material.

100 200 300 400 500 600 700 800

0.0

6.0x10-16

1.2x10-15

1.8x10-15

2.4x10-15

3.0x10-15

0,30 mm

0,72 mm

Ta

xa

de

De

sso

rçã

o d

e H

idro

nio

(m

ol/s)

Temperatura (°C)

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57

Figura 4.10 – Evolução do hidrogênio dessorvido sob aquecimento de 10°C/min para

uma amostra do aço ASTM A553 (9Ni) de 0,30 mm de espessura, hidrogenada em

solução de NaOH 0,1 M. Observa-se a formação de picos de dessorção a 653°C e

677°C; “A” corresponde a área abaixo da curva de dessorção em unidade arbitrária.

Coeficiente de determinação de 0,89.

Figura 4.11 – Evolução do hidrogênio dessorvido sob aquecimento de 10°C/min para

uma amostra do aço ASTM A553 (9Ni)de 0,72 mm de espessura, hidrogenada em

solução de NaOH 0,1 M. Observa-se a formação de picos de dessorção a 645°C e

720°C; coeficiente de determinação de 0,99.

600 650 700 750

677°C

A = 2,25.10-14

Dados Experimentais

Deconvoluções Gaussianas

R2 = 0,89

Evo

luçã

o d

o H

idro

nio

(u

.a)

Temperatura (°C)

653°C

A = 2,26.10-14

500 550 600 650 700 750 800

Dados Experimentais

Deconvoluções Gaussianas

R2 = 0,99

Evolu

çã

o d

o H

idro

nio

(u

.a)

Temperatura (°C)

645°C

A = 1,71.10-13

720°C

A = 3,49.10-14

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58

Ainda, utilizando o fator de calibração chegam-se as quantidades de hidrogênio

referentes a cada pico de dessorção, as quais podem ser observadas na tabela 4.1.

Comparando a diferença de quantidade de hidrogênio entre o primeiro e segundo pico

para a amostra de 0,30 mm, com a diferença de quantidade de hidrogênio entre o

primeiro e segundo pico para a amostra de 0,72 mm, se observa que, para a amostra

menos espessa, a contribuição do aprisionamento de hidrogênio foi muito semelhante

(~3,30 x 10-19

mol), enquanto que, para a amostra cuja espessura é mais que o dobro,

observa-se uma diferença de 1 ordem de grandeza entre a quantidade de hidrogênio

referente ao primeiro e ao segundo pico.

Tabela 4.1 – Picos de dessorção do hidrogênio e suas respectivas quantidades do mesmo

para as amostras contendo 0,30 e 0,72 mm de espessura.

Espessura (mm) Tm (°C) Quantidade de H (mol)

0,30 653 3,32 x 10

-19

677 3,30 x 10-19

0,72 645 2,51 x 10

-18

720 5,13 x 10-19

Os resultados são corroborados pela literatura [54,100] no que se refere ao

aumento na intensidade dos sinais observados na dessorção do hidrogênio. No entanto,

a princípio, não fica clara uma relação direta entre a espessura e o como ou quão se

desloca um pico de dessorção (ver figura 2.12 - b). O hidrogênio aprisionado em um

sítio de baixa energia, uma vez se atingindo a temperatura referente a esse sítio, é

liberado, no entanto, este pode sofrer o fenômeno de reaprisionamento em outro sítio

aprisionador de maior energia. Outro ponto aparentemente óbvio, porém de extrema

importância diz respeito a difusividade do hidrogênio. Em materiais onde o mesmo

tenha alto coeficiente de difusão como o Fe puro, a espessura de amostra não

apresentaria grandes efeitos, já em materiais como o aço inox 316L ou algumas ligas de

níquel, o efeito da espessura poderia alterar drasticamente os resultados [54]. A

espessura de amostra também poderia afetar os resultados quanto à difusão, trazendo

efeitos de direcionalidade. Finalmente, as discrepâncias das quantidades molares

dessorvidas observadas entre os picos na amostra de menor espessura e entre os picos

da aostra de maior espessura, mostram que esta garante uma distribuição de fases mais

fidedigna que espessuras menores, levando em consideração que se trata de um material

multifásico.

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Ainda, QUEIROZ [33] observou diferenças significativas em resultados de

permeação do hidrogênio em um aço 9Ni, nos quais as amostras possuíam uma

diferença de menos de 0,3 mm de espessura.

4.2.2.2. Influência da taxa de aquecimento nos espectros de TDS

A figura 4.12 mostra os resultados do ensaio de TDS para as taxas de 5, 10 e

15°C/min. Ambos os ensaios apresentam uma temperatura de início de dessorção muito

semelhante, próximo a 550°C. Foram observados 2 picos de dessorção sobrepostos num

intervalo de temperatura entre 600 e 800°C.

Observa-se que, com o aumento nas taxas de aquecimento do ensaio, ocorre o

deslocamento dos picos de dessorção para temperaturas superiores, o que condiz com a

literatura, tanto em condições experimentais (figura 2.23 - b), quanto em condições de

modelagem numérica (figura 2.12 - a). Já no que diz respeito à intensidade, as variações

entre o ensaio a 10 e 15°C/min não foram tão proeminentes, quando comparadas com as

variações para aquele ensaio realizado a 5°C/min, de modo que o aumento na

intensidade de dessorção do hidrogênio entre 5 e 10°C/min foi bastante pronunciado.

Figura 4.12 – Espectro de TDS de três amostras do aço ASTM A553 (9Ni) com

espessuras aproximadas, carregadas sob os mesmos parâmetros de hidrogenação,

ensaiadas a 5, 10 e 15°C/min. Observa-se o deslocamento dos espectros conforme o

aumento da taxa de aquecimento.

100 200 300 400 500 600 700 800

0.0

2.0x10-16

4.0x10-16

6.0x10-16

8.0x10-16

1.0x10-15

15°C/min

10°C/min

5°C/min

Ta

xa

de

De

ssorç

ão

de

Hid

rog

ên

io (

mo

l/s)

Temperatura (°C)

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60

Ao compararmos os picos sobrepostos dos ensaios realizados a 5 (figura 4.13), 10

(figura 4.11, ver seção 4.4) e 15°C/min (figura 4.14) não foi possível observar uma

tendência a separação dos mesmos, para valores baixos de taxa de aquecimento. Pode-se

afirmar, porém, que há um efeito sinérgico entre a influência da espessura de amostra e

a taxa de aquecimento utilizada. Quanto maior a taxa de aquecimento aplicada, mais

rápido os sítios aprisionadores serão acionados. Caso a difusão do hidrogênio em

determinado material seja baixa, poderá ocorrer a sobreposição de picos de dessorção,

ou seja, o hidrogênio associado a determinado sítio aprisionador poderá estar

contribuindo na detecção do hidrogênio oriundo de outro sítio, com menor ou maior

energia. Amostras de elevada espessura multiplicariam o fator de sobreposição. Sugere-

se então que cada material, cada microestrutura, terá uma espessura de amostra limite,

mais adequada para o ensaio de TDS, levando em consideração sua difusividade. Já no

que se refere a taxas de aquecimento, variá-las é necessário para se obter os gráficos

vs.

, no entanto, quanto menores forem as taxas aplicadas, mais se evitará

sobreposição de picos.

Figura 4.13 – Evolução do hidrogênio dessorvido sob aquecimento de 5°C/min para

uma amostra do aço ASTM A553 (9Ni) de 0,74 mm de espessura, hidrogenada em

solução de NaOH 0,1 M. Observa-se a formação de picos de dessorção a 618°C e

662°C; coeficiente de determinação de 0,99.

500 550 600 650 700 750 800

Dados Experimentais

Deconvoluções Gaussianas

R2 = 0,99

Evo

luçã

o d

o H

idro

nio

(u

.a)

Temperatura (°C)

662°C

A = 3,21.10-14

618°C

A = 2,86.10-14

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Figura 4.14 – Evolução do hidrogênio dessorvido sob aquecimento de 15°C/min para

uma amostra do aço ASTM A553 (9Ni) de 0,76 mm de espessura, hidrogenada em

solução de NaOH 0,1 M. Observa-se a formação de picos de dessorção a 696°C e

764°C; coeficiente de determinação de 0,99.

Em geral, todos os resultados apresentaram o início da dessorção do hidrogênio

próximo a 550°C. Em seguida, dois picos sobrepostos são observados, entre 600 e

750°C. Além desses, outro pico se apresenta, porém em temperaturas superiores àquela

máxima de realização do ensaio.

A literatura reporta a presença de aprisionadores óxidos de Ni policritalino [86]

para picos de dessorção a 700°. Ensaios de TDS realizados em aços austeníticos [87-90]

apresentam temperaturas máximas de dessorção do hidrogênio inferiores as observadas

para o aço ASTM A553 (9Ni), na faixa de 250-450°C. Já para aços martensíticos de alta

resistência (MS980, MS1180, MS1300, MS1500, por exemplo), os perfis de dessorção

apresentam temperaturas máximas ainda menores que os observados neste trabalho, na

faixa de 100-200°C [91-94]. Embora haja discrepância no posicionamento de

temperaturas máximas de dessorção para diferentes classes de aços, quando comparadas

ao aço ASTM A553 (9Ni), deve-se levar em conta as possíveis influências de condições

de ensaios de dessorção. Uma comparação mais assertiva é realizada ao se comparar as

energias de ativação para a dessorção do hidrogênio.

No que se refere ao pico de dessorção para além da faixa de realização dos ensaios

realizados, sugere-se que o crescimento contínuo da dessorção do hidrogênio nos aços

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9Ni, acima de 750°C, está ligado a possíveis transformações de fase na microestrutura.

ZHAO et al. [95] estudaram o efeito da tempera intercrítica na formação de austenita

retida para aços 9Ni. Os autores observaram que ocorre queda significativa na fração

volumétrica de austenita retida para temperaturas entre 660 e 680°C. Ainda, ensaios de

DSC indicaram fenômenos de transição de fase na faixa de 720-730°C.

Além disso, deve-se considerar que taxas de aquecimento diferentes podem afetar

a fração volumétrica das fases presentes na microestrutura. ZHANG et al. [96]

observaram que variações nas taxas de aquecimento, abaixo de 600°C/min, promovem o

aumento da fração volumétrica de austenita retida durante revenimento; já para taxas

superiores, a estabilidade da austenita é afetada, com decréscimo de sua fração

volumétrica.

Tais fenômenos podem afetar significativamente o processo de dessorção e

consequentemente os resultados de TDS. Uma vez que o hidrogênio aprisionado alcance

sua energia de ativação para a dessorção, o mesmo percorrerá caminhos específicos de

difusão. Com a mudança concomitante da microestrutura, é possível que ocorra

reaprisionamento e retardo, ou aceleração, nos mecanismos difusíveis. Ainda, antes

mesmo de sua liberação, mudanças microestrurais podem causar tensões localizadas, as

quais venham a influenciar na própria energia de ativação. Ou seja, a possibilidade de

que se ocorram transformações de fase significativas na faixa de realização do ensaio

causa uma perda da percepção dos sítios aprisionadores iniciais da microestrutura, os

quais se desejava estudar.

Como o foco do trabalho é avaliar a técnica, de modo a respeitar os resultados

obtidos na faixa de realização dos ensaios de dessorção, optou-se por desconsiderar o

terceiro pico, no que diz respeito à determinação de sua temperatura máxima e ao

cálculo das energias de dessorção referentes a esse sítio aprisionador.

Com base na análise dos resultados associados aos espectros de dessorção, são

sugeridas temperaturas máximas que podem se referir ao mesmo sítio aprisionador de

hidrogênio para o aço ASTM A553 (9Ni). É importante destacar que foram utilizados

todos os resultados, inclusive aqueles nos quais as amostras possuíam espessuras

diferentes. A tabela 4.2 apresenta os valores obtidos para as temperaturas de dessorção,

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correspondentes a dois picos, além das energias de dessorção associadas aos sítios

aprisionadores, obtidas através do coeficiente angular de

vs.

(figura 4.7).

Tabela 4.2 – Energias associadas aos picos de dessorção.

Temperatura (°C)

Φ (°C/min) Pico 1 Pico 2

5 618 662

6 621 690

10 645 677

10 653 720

15 696 764

Ep (kJ/mol) 74,7 81,1

Figura 4.7 – Gráfico

vs.

aplicado ao aço ASTM A553 (9Ni), apresentando

dois diferentes picos de dessorção do hidrogênio.

Os valores obtidos para as energias de dessorção do hidrogênio de 74,7 e 81,1

kJ/mol permitem classificar os sítios aprisionadores pertencentes à microestrutura do

aço ASTM A553 (9Ni) entre os de segunda classe, próximos a 50 kJ/mol, e os de

terceira classe, próximos a 100, 120 kJ/mol.

Com base na análise microestrutural, são esperados aprisionadores de hidrogênio

referentes às fases austenita revertida/retida, ferrita e cementida (martensita revenida),

bem como suas interfaces. Também são esperados aprisionadores referentes a possíveis

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defeitos da rede cristalina. No entanto, na comparação com a tabela 2.3, observa-se que

as energias mais próximas das obtidas sãoreferentes a interfaces de ferrita e perlita

lamelar (84 kJ/mol) e ferrita e precipitados de MnS (72 kJ/mol).

Na comparação com resultados obtidos para outros aços, ambos os sítios

aprisionadores possuem energias de dessorção próximas da faixa de aprisionadores

irreversíveis encontrados em aços lean duplex, na formação da fase σ e o hidrogênio

associado a ela (67-82 kJ/mol) [92, 98]. Quando comparados aos aprisionadores

presentes em aços austeníticos, AISI 310 (53 kJ/mol), AISI 301LN (49 kJ/mol), AISI

201 (54 kJ/mol), AISI 201A Cr-Mn-Ni (49 kJ/mol), AISI 204Cu (55 kJ/mol), os

aprisionadores observados para o aço ASTM A553 (9Ni) apresentam energias

superiores necessárias à dessorção [89, 98]. No que se refere a aços martensíticos

temperados e revenidos, o aço estudado também apresentou energias de dessorção

superiores, porém, mais próximas do que aquelas observadas em aços austeníticos;

encontra-se na literatura sítios aprisionadores referentes a 61, 66 e 67 kJ/mol [79, 91].

Além disso, também é documentada a presença de interfaces entre martensita-ε

(hexagonal compacta e finamente dispersa) e martensita-α (tetragonal de corpo

centrado)', com 62 kJ/mol de energia. Ainda, associasse a transformação de martensita-ε

em martensita-α' ao estresse elástico causado pelo hidrogênio durante sua dessorção

[99]. Por fim, a presença de austenita retida em aços TRIP apresentou energias próximas

a 90 kJ/mol [9].

4.2.2.3. Influência das condições de hidrogenação nos espectros de TDS

A figura 4.15 mostra os resultados do ensaio de TDS para duas soluções fontes de

hidrogenação diferentes: NaCl 3,5 % e NaOH 0,1 M. Ambos os ensaios apresentam

uma temperatura de início de dessorção coerente com os demais apresentados neste

trabalho (550°C). A morfologia dos espectros permite observar dois picos de dessorção

sobrepostos em ambos.

Percebe-se que a hidrogenação em solução de NaCl 3,5 % causou ruídos

próximos a 500°C e uma leve dispersão a 700°C. Já com relação à intensidade, a

solução de NaOH 0,1 M manteve-se abaixo em relação ao carregamento de NaCl, o que

é totalmente coerente com o fato dessa solução ser menos alcalina que aquela,

disponibilizando assim mais íons H+ no meio. As temperaturas dos picos de dessorção

também foram observadas (figuras 4.16 e 4.17).

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Figura 4.15 – Espectro de TDS sob aquecimento de 6°C/min para duas amostra do aço

ASTM A553 (9Ni) com espessuras semelhantes, hidrogenadas previamente em duas

soluções diferentes: NaCl 3,5 % em peso, e NaOH 0,1 M.

Figura 4.16 – Evolução do hidrogênio dessorvido sob aquecimento de 6°C/min para

uma amostra do aço ASTM A553 (9Ni) de 0,90 mm de espessura, hidrogenada em

solução de NaCl 3,5 % em peso; coeficiente de determinação de 0,98.

100 200 300 400 500 600 700 800

0.0

4.0x10-16

8.0x10-16

1.2x10-15

1.6x10-15

NaCl 3,5 %

NaOH 0,1 M

Ta

xa

de

De

sso

rçã

o d

e H

idro

nio

(m

ol/s)

Temperatura (°C)

500 550 600 650 700 750 800

Dados Experimentais

Deconvoluções Gaussianas

R2 = 0,98

Evo

luçã

o d

o H

idro

nio

(u

.a)

Temperatura (°C)

621°C

A = 7,93.10-14

690°C

A = 4,99.10-14

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Figura 4.17 – Evolução do hidrogênio dessorvido sob aquecimento de 6°C/min para

uma amostra do aço ASTM A553 (9Ni) de 0,90 mm de espessura, hidrogenada em

solução de NaOH 0,1 M. Observa-se a formação de picos de dessorção a 660°C e

724°C; coeficiente de determinação de 0,89.

4.3. Comentários gerais

De modo a cobrir todos os pontos significativos na discussão a respeito da técnica

de TDS aqui utilizada, é importante destacar alguns fatores em relação àqueles citados

na seção 2.5.2.

O sistema de TDS utilizado neste trabalho possui um comprimento médio de

tubulações de cerca de 10 m, com diâmetro de ⁄ de polegada, constituídas de um aço,

com algumas curvas, e sem aplicação de aquecimento contínuo antes ou durante a

realização de ensaios.

Como visto, a distância percorrida pelo hidrogênio após a dessorção deve ser

minimizada ao máximo. Cabe ressaltar que atrasos na detecção do hidrogênio podem

deslocar o espectro de dessorção para temperaturas superiores, o que afeta a

confiabilidade desse tipo de análise térmica pura e simplesmente com um único ensaio

de TDS, ou com a associação direta de picos de dessorção a sítios aprisionadores da

microestrutura. O mesmo não ocorre na análise da cinética de dessorção, através do

coeficiente angular das curvas

vs.

. Uma vez que vários ensaios são realizados,

500 550 600 650 700 750 800

Dados Experimentais

Deconvoluções Gaussianas

R2 = 0,89

Evo

luçã

o d

o H

idro

nio

(u

.a)

Temperatura (°C)

724°C

A = 3,49.10-14

660°C

A = 1,71.10-13

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67

são promovidos os mesmos erros causados pela arquitetura do equipamento, ou seja, os

mesmos deslocamentos em diferentes espectros de TDS, o que não afeta a obtenção das

energias de ativação para a dessorção.

Ainda sobre a arquitetura do equipamento, não se sabe se a ausência de

aquecimento ininterrupto, mesmo com etapas de purga, afetou os resultados obtidos.

Também não foram abordados neste trabalho os efeitos das possíveis formações de

óxidos após a etapa de hidrogenação eletrolítica que antecede os ensaios de TDS, ou

mesmo o efeito do tempo entre as etapas na dessorção de hidrogênio difusível.

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68

5. Conclusões

Sobre o aprisionamento do hidrogênio nos aços ASTM A553 (9Ni), os resultados

permitem concluir que:

As energias de dessorção observadas classificam os aprisionadores como

intermediários/fortes. Sugere-se que estes sejam interfaces entre a fase

ferrita e cementita (74,7 kJ/mol), e contornos de grãos de austenita

revertida/retida (81,1 kJ/mol).

A respeito da técnica de TDS, os resultados apresentados permitem concluir que:

A espessura de amostra influencia nos espectros de TDS. Sugere-se que

isso ocorra devido à representatividade da microestrutura e aos fenômenos

de difusão e reaprisionamento do hidrogênio;

A taxa de aquecimento aplicada nos ensaios de TDS desloca picos de

dessorção para temperaturas superiores, bem como aumenta a taxa de

dessorção (intensidade do sinal);

O meio de hidrogenação utilizado impacta em maior ou menor grau de

ocupação dos sítios aprisionadores de hidrogênio da microestrutura.

Com base nas conclusões acima, recomenda-se, para garantir a confiabilidade e

reprodutibilidade dos resultados de TDS, a padronização de espessuras de amostras de

metais multifásicos e dos meios de hidrogenação aplicados, optando por aqueles com

maior potencial hidrogeniônico. Além disso, recomenda-se a realização de variados

ensaios, em taxas diferentes de aquecimento, inferiores a 15°C/min, que permitam o

melhor entendimento da morfologia e distribuição de picos de dessorção do hidrogênio.

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