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UMA REVISÃO DA LITERATURA SOBRE O COMPORTAMENTO DOS PREÇOS DO BITCOIN: TRATA-SE DE UMA BOLHA ESPECULATIVA? Eduardo Henrique Haddad Tress Paulo Gilberto Teixeira Anastácio Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Luís Alberto Melchíades Leite Coorientador: Renato Flórido Cameira Rio de Janeiro Dezembro de 2017

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  • UMA REVISO DA LITERATURA SOBRE O

    COMPORTAMENTO DOS PREOS DO BITCOIN:

    TRATA-SE DE UMA BOLHA ESPECULATIVA?

    Eduardo Henrique Haddad Tress

    Paulo Gilberto Teixeira Anastcio

    Projeto de Graduao apresentado ao Curso

    de Engenharia de Produo da Escola

    Politcnica, Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, como parte dos requisitos

    necessrios obteno do ttulo de

    Engenheiro.

    Orientador: Lus Alberto Melchades Leite

    Coorientador: Renato Flrido Cameira

    Rio de Janeiro

    Dezembro de 2017

  • ii

    Tress, Eduardo Henrique Haddad

    Anastcio, Paulo Gilberto Teixeira

    Uma Reviso da Literatura sobre o Comportamento dos

    Preos do Bitcoin: Trata-se de uma Bolha Especulativa?/

    Eduardo Henrique Haddad Tress e Paulo Gilberto Teixeira

    Anastcio Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politcnica, 2017.

    XI, 79 p.: il.; 29,7 cm.

    Orientador: Lus Alberto Melchades Leite

    Coorientador: Renato Flrido Cameira

    Projeto de Graduao UFRJ/ POLI/ Curso de

    Engenharia de Produo, 2017.

    Referncias Bibliogrficas: p. 72-79.

    1. Bitcoin. 2. Criptomoeda. 3. Bolha. 4. Anlises

    Economtricas. I. Leite, Lus Alberto Melchades et al. II.

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de

    Engenharia de Produo. III. Uma Reviso da Literatura sobre

    o Comportamento dos Preos do Bitcoin: Trata-se de uma

    Bolha Especulativa?

  • iii

    Dedicamos este trabalho a nossa famlia, colegas e professores, que tanto nos

    apoiaram.

  • iv

    AGRADECIMENTOS DE EDUARDO TRESS

    Acredito que todos somos inteiramente construdos a partir de nossa formao

    familiar e de nossas experincias, ento no seria possvel me tornar um Engenheiro

    de Produo sem as influncias de pessoas queridas da minha vida.

    Minha famlia construiu minha base, me ensinou a ser correto e responsvel, a

    correr atrs de acertos e assumir meus erros, a compreender que no preciso ter bens,

    mas ser o bem. Por isso, preciso agradecer a todos meus familiares e, principalmente,

    minha me pela pessoa que me tornei. Ter o exemplo de uma pessoa tica e de exmio

    profissionalismo no meu dia a dia, que se desdobrava para ser uma Me muito mais do

    que atenciosa, amorosa e apoiadora ao longo dos anos me possibilitou aprender,

    crescer e atingir meus objetivos.

    Tambm gostaria de agradecer o apoio de meus amigos de faculdade, que

    percorreram o complexo caminho do curso comigo, me acompanhando em diversos

    trabalhos. Desde o incio, em Engenharia de Mtodos, David e Bruno me

    acompanharam para que se somassem novos companheiros de jornada como Thiago,

    Luiz, Bianca, Matheus, Israel, Caio e Leo. Como no poderia deixar de ser, precisava

    terminar a faculdade apresentando uma monografia excepcional com meu parceiro

    Paulo Gilberto! Um obrigado especial por me permitir encerrar essa longa caminhada

    ao seu lado, um ltimo trabalho acadmico para fecharmos nossa histria na graduao

    da UFRJ.

    Aos professores, preciso aplaudir de p e me curvar pela enorme honra de ter

    aprendido muito com vocs. Desde o meu primeiro encontro com a Engenharia de

    Produo com o grandioso Luiz Antonio Meirelles (in memoriam), at o aprendizado em

    divertidas e proveitosas matrias com os professores Renato Cameira, Adriano

    Proena, dison Renato e Vincius Cardoso. Se me formo como um Engenheiro,

    graas a profissionais como vocs. Muito Obrigado!

    Um obrigado tambm especial aos orientadores desse projeto de graduao.

    Agradeo a ateno dos professores Renato Cameira e Luis Melchades pelo tempo

    despendido nos auxiliando com suas orientaes, sugestes de melhoria e diversas

    leituras do texto. A participao de vocs foi fundamental para que nosso trabalho se

    tornasse um Projeto Final do curso de Engenharia de Produo da UFRJ.

    Um muito obrigado a todos que me ajudaram nessa jornada. Conto com todos

    vocs para me tornar uma pessoa, um cidado e um profissional cada vez melhor!

  • v

    AGRADECIMENTOS DE PAULO GILBERTO

    Finalmente atravs deste trabalho materializo o fim de uma grande empreitada, cheia de alegrias,

    tristezas e at quase desistncia. O mais importante dessa longa caminhada, alm do aprendizado, com

    certeza foram as pessoas. Algumas j de outras caminhadas e outras conhecidas apenas na Universidade.

    Em primeira instncia, agradeo muito a meus pais, Mauricio e Maria Cristina, que com todas suas

    dificuldades prprias conseguiram me criar da melhor maneira possvel. Hoje entendo e agradeo por todos

    os obstculos que Deus projetou em nossa famlia; foram todos para nosso crescimento. Agradeo tambm

    a minha av, Maria Edith, e a minha tia, Maria Beatriz, que sempre se fizeram presentes de todo modo em

    minha vida como grandes protetoras.

    Em segunda instncia, venho agradecer a todos os meus amigos do peito que tornaram a

    caminhada da vida mais prazerosa, sempre ajudando nos momentos de alegria e de tristeza. Gabriel

    Richter, meu grande parceiro desde infncia, nossas conversas e horas de lazer com certeza contriburam

    muito para um pouco do que sou hoje. Sua amizade realmente daquelas de se ter para sempre. Gabriel

    Moraes, sua inteligncia e perspiccia se misturam de uma maneira capaz de tirar de todos uma boa risada.

    Lucas Cotrim, apesar de no nos termos sado bem no comeo, nos tornamos primos-irmos para vida

    toda. Voc vai longe garoto, confiamos todos em voc. Joo Pedro, descendente do inventor do telefone,

    obrigado pelos seus momentos de seriedade e de brincadeira, sempre na medida certa. Rodrigo Mouro,

    aquele que perde o amigo, mas no perde a piada, obrigado por me proporcionar tantas risadas. Jos

    Baio, agradeo por todas as conversas enriquecedoras que tivemos, com toda certeza foram de grande

    ajuda. Gabriel Moura, apesar de sumido, a intensidade das aventuras que vivemos fazem parecer que a

    ltima vez que te vi foi ontem, muito obrigado por me fazer sentir assim. Bernardo Burnier, agradeo por ter

    sido um dos caras que mais me fez rir na vida, at em excesso. Leonardo Assis, nos conhecemos mais

    tarde, mas nas noites de academia nos tornamos irmos. Daniel de Bellis, Thoms Marinho, Lucas de la

    Veja, Joo Braune, Pedro Oliveira, Gabriel Sobral, Bruno Heine e outros inacianos, obrigado por

    completarem essa segunda famlia que jamais ser esquecida. Aos amigos do peito da faculdade, agradeo

    muito ao Eduardo Tress - o gnio loiro - por nossas incontveis conversas sobre a vida. Foi uma honra

    poder fazer este trabalho to importante contigo. Matheus Laveglia, desde aquela Cobal vi que podia contar

    contigo para tudo, muito obrigado. David Beyda e Lior London, deixo aqui meu agradecimento por terem

    aguentado todas as minhas piadas. Thiago, Luiz, Ian, Bruno, Diogo, Lucas e Daniel, obrigado por todas as

    resenhas da faculdade.

    Agradeo tambm a minha amiga, colega, familiar e eterna namorada que aceitou se juntar nessa

    maluca caminhada. nas misteriosas equaes do amor que qualquer lgica ou razo pode ser

    encontrada. Obrigado por tudo minha princesa, espero poder te dar um pouco da felicidade que voc me

    d todos os dias.

    ltimo, mas no menos importante, agradeo a todos os mestres que cruzaram em minha vida,

    desde o colgio at a Universidade. Sua vocao em ensinar mesmo em meio a todas essas dificuldades

    realmente um milagre. Em especial, aos professores de faculdade, agradeo ao Vincius, dison, Renato

    Cameira, Eduardo Jardim, Adriano e Lus Alberto, por serem poos de inspirao no DEI e por terem

    suportado minhas incontveis perguntas. Marcos Estellita, agradeo especialmente a ti por todo o incrvel

    conhecimento e por todas as inmeras oportunidades que me deu na Universidade; serei eternamente

    grato. Por fim, a minha grande e eterna professora, agradeo mais uma vez a ti me, a professora da minha

    vida que todos os dias me d uma aula do que ser pura e bondosa.

  • vi

    Resumo do Projeto de Graduao apresentado Escola Politcnica/ UFRJ como parte

    dos requisitos necessrios para a obteno do grau de Engenheiro de Produo.

    Uma Reviso da Literatura sobre o Comportamento do Preo do Bitcoin: Trata-se de

    uma Bolha Especulativa?

    Eduardo Henrique Haddad Tress

    Paulo Gilberto Teixeira Anastcio

    Dezembro/2017

    Orientador: Lus Alberto Melchades Leite

    Coorientador: Renato Flrido Cameira

    Curso: Engenharia de Produo

    Esse trabalho tem como objetivo principal realizar uma reviso literria de artigos, livros,

    revistas e notcias acerca da anlise sobre o Bitcoin; se de fato uma bolha especulativa

    ou no. Ao longo do texto, o funcionamento da moeda ser apresentado e explicado, e

    modelos economtricos e anlises qualitativas sobre variveis que influenciam o seu

    valor sero utilizados a fim de apoiar o estudo.

    Palavras-chave: Bitcoin, Criptomoeda, Bolha, Anlises Economtricas

  • vii

    Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

    the requirements for the degree of Industrial Engineer.

    A Literary Review of Bitcoin's Price Behavior: Is it a Speculative Bubble?

    Eduardo Henrique Haddad Tress

    Paulo Gilberto Teixeira Anastcio

    December/2017

    Advisor: Lus Alberto Melchades Leite

    Coadvisor: Renato Flrido Cameira

    Course: Industrial Engineering

    This work aims to carry out a literary review of articles, books, magazines and news

    about the analysis of Bitcoin: whether it is actually a speculative bubble or not.

    Throughout the text, the functioning of the currency will be presented and explained, and

    econometric models and qualitative analysis about variables that influence its value will

    also be used in order to support the study.

    Keywords: Bitcoin, Cryptocurrency, Bubbles, Econometric Analysis

  • viii

    SUMRIO

    1. INTRODUO ............................................................................................................................ 1

    1.1 METODOLOGIA .................................................................................................................... 2

    1.2 LIMITES ................................................................................................................................ 2

    1.3 LIMITAES ......................................................................................................................... 3

    1.4 MAPEAMENTO DA LITERATURA .......................................................................................... 4

    2. HISTRICO DAS CRIPTOMOEDAS .............................................................................................. 5

    3. DEFINIO E FUNCIONAMENTO ............................................................................................... 8

    3.1 CONCEITOS BSICOS DO BITCOIN ....................................................................................... 8

    3.2 RESUMO DO FUNCIONAMENTO DO BITCOIN ................................................................... 10

    3.3 ESTRUTURA DE UM BLOCO ............................................................................................... 12

    3.4 ESTRUTURA DAS TRANSAES ......................................................................................... 13

    3.5 CHAVE PBLICA E PRIVADA ............................................................................................... 14

    3.6 MINERAO ...................................................................................................................... 15

    3.7 TROCO ............................................................................................................................... 16

    3.8 TAXA .................................................................................................................................. 17

    3.9 PROOF OF WORK ............................................................................................................... 18

    3.10 BLOCO E CORRENTE DE BLOCOS ..................................................................................... 19

    4. NATUREZA DO BITCOIN ........................................................................................................... 19

    5. ACEITABILIDADE DO BITCOIN .................................................................................................. 24

    5.1 ACEITABILIDADE DOS USURIOS ...................................................................................... 24

    5.2 ACEITABILIDADE DOS GOVERNOS ..................................................................................... 27

    5.3 RISCOS RELACIONADOS AO BITCOIN ................................................................................ 29

    6. BITCOIN E BOLHAS .................................................................................................................. 32

    6.1 DEFINIO DE BOLHA ESPECULATIVA ............................................................................... 33

    6.2 VALOR FUNDAMENTAL ..................................................................................................... 37

    6.3 MANIA DAS TULIPAS ......................................................................................................... 38

    6.4 ANLISE ECONOMTRICA ................................................................................................. 40

    6.5 RECORRNCIA DE BOLHAS NO BITCOIN ............................................................................ 43

    7. DETERMINANTES DO PREO ................................................................................................... 45

    7.1 MODELO DE REGRESSO .................................................................................................. 46

    7.2 MODELO DOS TRS FATORES ............................................................................................ 48

    7.3 MODELO DO CUSTO DE PRODUO ................................................................................. 50

    7.4 MODELO DE PREDIO UTILIZANDO INTELIGNCIA ARTIFICIAL ...................................... 53

  • ix

    7.5 MODELO DE POPULARIDADE ............................................................................................ 57

    7.6 MODELO DE METCALFE ..................................................................................................... 61

    7.7 RESUMO DE FORAS E FRAQUEZAS DE CADA MODELO ................................................... 65

    8. CONCLUSES ........................................................................................................................... 69

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................................... 72

  • x

    ndice de Figuras

    Figura 1: Infogrfico de Funcionamento do Bitcoin.. .................................................................. 11

    Figura 2: Campos de um Bitcoin.. ................................................................................................ 12

    Figura 3: Campos do Cabealho. ................................................................................................. 12

    Figura 4: Campos de Transaes.. ............................................................................................... 13

    Figura 5: Campos de Entrada. ..................................................................................................... 13

    Figura 6: Campos de Sada.. ........................................................................................................ 14

    Figura 7: Representao das Chaves do Bitcoin.. ........................................................................ 15

    Figura 8: Construo Social de uma Bolha Especulativa. ............................................................ 34

    Figura 9: Modelo Gartner Hype Cycle.. ....................................................................................... 35

    Figura 10: Evoluo do preo das tulipas e sua posterior derrocada. ........................................ 40

    Figura 11: Evoluo do preo da bolha de abril de 2013. ........................................................... 41

    Figura 12: Evoluo do preo da bolha de novembro de 2013. ................................................. 42

    Figura 13: Quadro sntese dos modelos apresentados e de suas respectivas propostas. .......... 45

    Figura 14 - Variveis contribuintes para o modelo. .................................................................... 58

    Figura 15: Comparao temporal entre preo do Bitcoin com lei de Metcalfe. ......................... 64

    Figura 16: Comparao a partir do nmero de endereos entre preo do Bitcoin com lei de

    Metcalfe. ..................................................................................................................................... 64

    Figura 17: Quadro consolidador das foras e fraquezas de cada modelo. ................................ 66

  • xi

    ndice de Tabelas

    Tabela 1: Significncia estatstica do modelo de causalidade de Granger entre o preo do

    Bitcoin e opinies de fruns. ....................................................................................................... 54

    Tabela 2: Significncia estatstica do modelo de causalidade de Granger entre transaes de

    Bitcoin e opinies de fruns. ....................................................................................................... 54

    Tabela 3: Coeficiente de correlao de Pearson ......................................................................... 55

    Tabela 4: Resultados experimentais da flutuao prevista de Bitcoin. ...................................... 56

    Tabela 5: Resultados das regresses (coeficientes e erros padro). .......................................... 59

    Tabela 6: Modelos construdos para ln(Google). ...................................................................... 60

  • xii

    ndice de Equaes

    Equao 1 Regresso do log do preo do Bitcoin. ................................................................... 47

    Equao 2 Demanda do Bitcoin. .............................................................................................. 48

    Equao 3 Regresso para o preo do Bitcoin. ........................................................................ 48

    Equao 4 Regresso para o preo do Bitcoin com novas variveis. ....................................... 49

    Equao 5 Regresso do log do preo do Bitcoin .................................................................... 51

    Equao 6 Regresso do log do preo do Bitcoin sem variveis estatisticamente

    insignificantes. ............................................................................................................................. 51

    Equao 7 Preo da venda do Bitcoin em funo do custo marginal de minerao. .............. 52

    Equao 8 Funo netoid de crescimento da rede ao longo do tempo. ................................. 62

    Equao 9 Modelo de valor da rede a partir do nmero de endereos nicos participantes da

    rede. ............................................................................................................................................ 63

    Equao 10 Filtro aplicado ao nmero de pessoas adotando o ativo em um ms.................. 63

  • 1

    1. INTRODUO

    Aps tornar-se assunto de diversos artigos e notcias, a criao e o xito das

    criptomedas - especialmente do Bitcoin ainda uma verdadeira incgnita para muitos,

    inclusive para os especialistas. Muito se questiona se de fato o Bitcoin uma bolha ou

    um investimento ou ainda se uma moeda ou um ativo. Por conta de sua recente

    popularizao e alta complexidade intrnseca, a bibliografia sobre o assunto ainda

    escassa, polarizada e com poucas concluses sobre sua funo e efetividade.

    Com base nessa ausncia de concluses fundamentadas, surgiu ento o

    interesse de realizar um trabalho com o propsito de discutir e analisar se essa nova

    tecnologia apenas uma bolha especulativa ou no. O texto est organizado da

    seguinte forma: No Captulo 2, o histrico das criptomoedas explicitado, pois

    importante compreender sua origem, estabilizao e ganho de popularidade no decorrer

    dos anos. J no Captulo 3 sero descritas as principais caractersticas do Bitcoin, com

    o objetivo de resumir seu funcionamento e principais conceitos que sero avaliados no

    estudo da possvel bolha. O Captulo 4 descreve a natureza da criptomoeda, analisando

    sua capacidade de atuao como moeda, ativo, commodity ou software com base em

    especialistas da rea e no pblico-alvo. Os usurios e os comerciantes envolvidos com

    o Bitcoin so analisados no Captulo 5, que examina a aceitabilidade atual da

    criptomoeda entre o pblico e os governos, explicitando os riscos enfrentados. A partir

    da elucidao sobre a utilidade do Bitcoin para o mercado, o Captulo 6 analisa a

    presena de bolhas no mercado da criptomoeda a partir da comparao entre seu valor.

    J o Captulo 7 transgride as anlises qualitativas de captulos anteriores e, com o

    conhecimento sobre bolhas, promove anlises quantitativas de forma a identificar as

    principais razes para a valorizao do Bitcoin e, a partir de diferentes hipteses,

    compreender a formao de seu valor. Os fatores que resultam na valorizao do Bitcoin

    indicam a presena de uma bolha especulativa ou de um investimento que se tornar o

    futuro do mercado financeiro, o que ser analisado no Captulo 8. Por fim, o Captulo 8

    compara as opinies descritas no decorrer do Projeto para alcanar a melhor anlise

    sobre o valor e preo da moeda, verificando suas tendncias para os prximos anos a

    fim de responder maior dvida relacionada ao Bitcoin: O Bitcoin apenas uma bolha

    especulativa?

  • 2

    1.1 METODOLOGIA

    De acordo com KOTHARI (1990), pesquisar consiste em um mtodo sistemtico

    que enuncia o problema, formula hipteses, coleta dados e fatos, os analisa e, por fim,

    alcana concluses na forma de solues para o problema formulado ou como

    generalizaes para formulaes tericas. O presente projeto visa analisar, por meio

    de pesquisas bibliogrficas de fontes secundrias, a inovao do Bitcoin de forma a

    obter concluses sobre seu valor econmico. Para isso, foram consultados sites de

    peridicos e de pesquisa para coletar o conhecimento de diversos autores e

    pesquisadores do assunto. A principal fonte escolhida foi a base de peridicos da

    CAPES, alm de pesquisas nos sites do Scholar Google e do Google, devido ao assunto

    inovador estudado, que exige constante atualizao e aprimoramento. Por se tratar de

    um objeto de estudo com cada vez mais exposio na mdia, transformando-se em

    tendncia de investidores e interesse da sociedade em geral, sites de notcias tambm

    foram consultados com frequncia.

    Com o uso de todas as fontes secundrias, a finalidade da pesquisa bibliogrfica,

    de acordo com LAKATOS (2003), colocar o pesquisador em contato direto com tudo

    o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. Dessa forma, segundo o

    autor, a pesquisa bibliogrfica no mera repetio do que j foi dito ou escrito sobre

    certo assunto, mas o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a

    concluses inovadoras.

    Quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratria, j que, assim como

    descrito por GERHARDT & SILVEIRA (2009), seu objetivo proporcionar maior

    familiaridade com o problema, a fim de torn-lo mais explcito ou poder, sobre ele,

    construir hipteses. Alm disso, busca-se levantar dados economtricos relacionados

    ao Bitcoin, sendo, por isso, considerada tambm uma pesquisa quantitativa bsica, j

    que seus conhecimentos tornam-se teis ao avano dos estudos sobre a criptomoeda,

    sem que esteja prevista uma aplicao prtica imediata.

    1.2 LIMITES

    Por consistir de uma pesquisa bibliogrfica, no se almeja praticar novos

    princpios relacionados ao processo de minerao, programao, investimentos ou

    estudar algum caso especfico. O estudo se limita a analisar o Bitcoin especificamente,

    j que se trata de uma das criptomoedas pioneiras e de maior tendncia de adeso do

    pblico em potencial. Dessa forma, a sua importncia se destaca perante as outras

  • 3

    criptomoedas por se encontrar mais desenvolvida, alm de adotar a tecnologia

    inovadora do Blockchain.

    Assim, moedas como Ethereum, Ripple e Litecoin so reconhecidas apenas

    como parmetro para o objeto de estudo principal. Inovaes da bibliografia quanto a

    novas tecnologias ou polticas para o Bitcoin tambm no so aprofundadas, j que se

    visa identificar apenas as tendncias econmicas da criptomoeda j existente.

    Apesar de consistir de um fator fundamental para o sucesso do Bitcoin, as

    regulamentaes no so estudadas em profundidade nesse projeto, pois cada pas

    possui vises diferentes sobre o assunto, o que tornaria o projeto demasiadamente

    prolixo. Alm disso, muitas legislaes ainda no foram definidas, o que tornaria a

    descrio tambm especulativa. Com isso, avaliam-se as regulaes j existentes

    apenas para elucidar aspectos econmicos ligados ao Bitcoin e os impactos

    decorrentes.

    1.3 LIMITAES

    Como reviso de literatura, a principal limitao do presente estudo a

    necessidade de confiar nos dados e mtodos de outros pesquisadores. Ao utilizar

    diversas fontes, no foi possvel validar cada pesquisa e suas concluses nem as

    respectivas coletas de dados.

    Outra limitao da pesquisa consequncia do aspecto inovador do Bitcoin, que

    ao mesmo tempo em que atrai interesse, significa que no se encontra consolidado nem

    possui vastos estudos histricos. Com isso, o material de estudo acadmico ainda no

    se encontra significativamente estabelecido e ainda construdo, principalmente por

    economistas e investidores da rea, o que pode gerar certa parcialidade. Esse setor

    torna-se propcio para um estudo de literatura que pode auxiliar na compreenso do

    novo negcio, porm, em contraponto, torna o estudo limitado a uma menor quantidade

    de referncias.

    Por outro lado, a inovao atrai maior ateno miditica e de potenciais usurios.

    Ao consistir de um assunto recorrente e atual, novidades so apontadas em notcias

    frequentemente, gerando um material por meio da Internet significativamente denso e

    atualizado diariamente. Ao contrrio de estudos acadmicos, que so mais limitados, a

    abrangncia de informaes de Bitcoin na rede acaba por criar limitaes no presente

    estudo pelo motivo inverso, pois no possvel averiguar todos os pontos de vista desse

  • 4

    tipo de literatura. Dessa forma, torna-se necessrio limitar pesquisas e informaes a

    sites de notcias importantes ou focados nas criptomoedas, buscando textos de

    confiveis e de estudiosos, mesmo que no sejam artigos em peridicos ou livros.

    1.4 MAPEAMENTO DA LITERATURA

    Para KITCHENHAM (2004):

    Uma Reviso Sistemtica de Literatura uma forma de

    identificar, avaliar e interpretar todas as pesquisas disponveis que

    so relevantes para uma particular questo de pesquisa, ou rea,

    ou fenmeno de interesse.

    O mapeamento da literatura do presente estudo se iniciou com a pesquisa pelo

    objeto do estudo na base Web of Science. Com isso, foram encontrados 454 artigos

    com a palavra Bitcoin em seu escopo, sendo carregados seus resumos para o software

    Zotero de modo a facilitar o mapeamento. Dessa quantidade de textos, 8 revelaram ser

    duplicatas.

    A busca por artigos com Bitcoin em seu escopo revelou ser mais interessante do

    que as demais palavras-chave envolvendo a criptomoeda. Ao verificar, por exemplo,

    textos que citassem Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin, encontram-se 65

    resultados, mas que esto relacionados s demais criptomoedas alm de textos que j

    citam o Bitcoin e foram includos no filtro anterior. Mapear por Criptomoeda tambm

    tornaria a pesquisa significativamente abrangente, distanciando-se do objeto de estudo.

    A partir disso, definiu-se um filtro inicial por onde seriam selecionados artigos

    diretamente associados ao Bitcoin. Isso excluiu textos cujos enfoques fossem outras

    criptomoedas ou teorias econmicas que apenas utilizavam o Bitcoin como meio de

    comparao. Outros artigos em que eram propostas novidades e novas aplicaes para

    Blockchain e Bitcoin tambm foram descartados, j que no seriam de interesse direto

    no estudo econmico da criptomoeda j existente. Textos sobre as legislaes mundiais

    e referentes ao campo do direito tambm foram desconsiderados, haja vista que o

    enfoque principal do projeto consiste em seu valor econmico.

    Assim, 110 artigos que referenciam Bitcoin e o analisam em termos gerais ou

    econmicos foram filtrados. Com um maior nvel de detalhamento, buscou-se textos que

    indicam estudos quanto a aspectos economtricos e referentes a bolhas. Isso revelou

  • 5

    34 artigos, apesar de 4 deles no possurem o texto completo liberados na Internet ou

    na base de peridicos CAPES.

    Nesse filtro, as palavras-chave identificadas nos resumos dos artigos foram:

    bubble, regression, model, variables, volatility, speculative, asset, commodity. Esses

    termos revelam um princpio de estudo economtrico da criptomoeda, conforme

    desejado pelo presente estudo.

    Aps uma leitura do resumo e da concluso desses artigos, eles foram

    discriminados em trs nveis de importncia, sendo a leitura priorizada a partir disso.

    Embora outros artigos, dentre os 110 filtrados, sejam tambm utilizados como

    referncias para o projeto - principalmente nas caractersticas e definies gerais do

    Bitcoin - os 30 artigos filtrados ao final constituram a base da coleta de dados para as

    anlises quantitativas e consideraes finais.

    Por meio desse mapeamento, almejou-se tornar possvel a leitura e estudo de

    artigos relevantes envolvendo as caractersticas econmicas do Bitcoin. Somado a

    informaes obtidas em sites de notcias e especializados na criptomoeda, o portflio

    de textos levantado capaz de apresentar diversas opinies e hipteses quanto ao

    Bitcoin, seu valor econmico, sua tendncia de bolha e seu significado para a nova

    economia mundial.

    Dessa forma, a pesquisa bibliogrfica se torna seno exaustiva, suficiente, de

    forma a reduzir uma possvel tendenciosidade ao serem pesquisados apenas sites

    referentes ao Bitcoin. Porm, considerando que os estudiosos do assunto sejam

    aqueles interessados e investidores na criptomoeda, deve-se ressaltar a possibilidade

    de enviesamento. Para isso, foram necessrias, alm de uma anlise crtica, buscas por

    opinies de economistas eminentes que estivessem menos relacionados ao Bitcoin.

    2. HISTRICO DAS CRIPTOMOEDAS

    Desde a popularizao da Internet, a questo de como operar e realizar

    transaes financeiras online sempre foi debatida. Durante o auge de expectativas

    sobre a world wide web fim dos anos 80 e ao longo dos anos 90 um grupo apelidado

    de cypherpunks comeou a discorrer sobre a criao de moedas digitais. Esse grupo

    era composto por matemticos, criptgrafos e hackers que se preocupavam com o

    anonimato, liberdade individual e privacidade.

  • 6

    David Chaum um exemplo de integrante desse grupo, sendo um dos primeiros

    que trouxe as criptomoedas para discusso no ambiente acadmico. Sendo ele o

    precursor desse debate, foi tambm o criador da primeira moeda digital conhecida, o

    DigiCash. Posteriormente, a moeda foi vendida e utilizada para transaes bancrias

    especficas. Outras tentativas tambm surgiram, como Hascash, E-gold e Bitgold,

    porm nenhuma delas obteve xito.

    O DigiCash j possua vantagens como anonimato, segurana e possibilidade

    de efetuar micropagamentos a partir de centavos. Entretanto, os comerciantes no

    estavam agradados com o anonimato, os governos odiavam a existncia de uma moeda

    alternativa e os bancos se assustavam com a competio, alm de a Internet no ter

    aderido ideia (BOWBRICK, 2003).

    Alguns anos se passaram e ainda na dcada de 90 - mais precisamente em 1996

    o assunto das criptomoedas tomou tal proporo que a NSA (Agncia de Segurana

    Nacional dos EUA) divulgou um texto sobre o assunto: How to Make a Mint: the

    Cryptography of Anonymous Electronic Cash. Em tanto o contedo do texto se

    assemelha ao funcionamento do Bitcoin, que muitos costumam afirmar que a NSA nesta

    poca estava prevendo a vinda do Bitcoin 12 anos depois. Tal contedo preconiza a

    criao de um sistema que assegura que as transaes financeiras so possveis

    atravs do uso de uma rede descentralizada e lista quatro pontos indispensveis para

    sua existncia: privacidade, identificao do usurio, integridade da mensagem

    (diretamente ligada ao problema de double-spending), e proteo contra negao futura

    da transao.

    Finalmente, em 2008, um desenvolvedor annimo sob o pseudnimo de Satoshi

    Nakamoto revelou um artigo com o nome de Bitcoin. No ano seguinte, seu artigo j havia

    sido colocado em prtica e o sistema de Blockchain j existia. A partir da, diversas

    outras tentativas de moedas digitais apoiadas na tecnologia do Blockchain tambm

    surgiram, como, por exemplo, Litecoin, Namecoin, Feathercoin e Peercoin. Algumas das

    criaes posteriores ao Bitcoin existem e se valorizam at hoje, a exemplo do Altcoin,

    porm no tanto como a pioneira.

    A criao das criptomoedas coincidiu com a descrena em relao s instituies

    financeiras e ao governo norte-americano durante a crise de 2009. Por isso, a rede das

    moedas digitais comeou a receber maior quantidade de adeptos, que, insatisfeitos com

    as autoridades, desejavam uma moeda descentralizada de ponta a ponta, sem que

    fosse necessria a dependncia de nenhuma organizao.

  • 7

    Entretanto, os efeitos da ausncia de uma figura central e do controle

    governamental no so apenas positivos. Devido privacidade oferecida pelas

    criptomoedas, muitos negcios ilegais passaram a ser executados por meio delas, como

    trfico de drogas e armas. Assim como a deep web afetou a imagem da Internet, ao

    serem noticiadas essas transaes ilcitas, grande parte da populao passou a

    associar as moedas digitais criminalidade.

    No blockchain, todas as transaes so documentadas publicamente, porm os

    negociantes so mantidos em sigilo, o que dificultou o controle e a operao de

    autoridades policiais. Os defensores das criptomoedas indicam que, caso haja a

    converso de Bitcoin para moedas reais, o dinheiro torna-se rastrevel, identificando o

    responsvel.

    Outra polmica referente s criptomoedas ocorreu quando o site Mt. Gox fechou

    em 2014. Aps declarar que estava sendo alvo de hackers, a maior casa de cmbio

    decretou falncia, encerrando seu site. Estima-se que cerca de meio bilho de dlares

    em Bitcoin no foi devolvido a seus respectivos donos, afetando a credibilidade das

    criptomoedas desregulamentadas. Isso tambm fez com que os governos criassem

    legislaes para proteger seus cidados nesse mercado virtual. Os adeptos das moedas

    digitais apontaram que esse caso era mais um exemplo negativo de se confiar em

    intermedirios para guardar e trocar dinheiro.

    Apesar das polmicas passadas, no ano de 2017 o assunto do Bitcoin e das

    criptomoedas tomou as mdias, fazendo com que a moeda chegasse a valer mais de

    11.000 dlares no ms de novembro de acordo com o site BuyBitcoinworldwide.com.

    Alguns pases, como por exemplo os Estados Unidos, apresentam regulaes prprias

    para a moeda. J outros tratam o Bitcoin como um ativo, tendo assim a necessidade de

    serem declarados no imposto de renda. Alguns, a exemplo de China e Rssia, alm de

    no reconhecerem, tambm probem a comercializao da moeda.

    Dessa forma, percebe-se que a valorizao do Bitcoin ocorreu em um pequeno

    perodo de tempo apesar de seus ciclos de boom e de crises por conta de escndalos

    de ilegalidades e falncias. Com a maior idade do software, seu pblico composto de

    usurios e de mineradores tornam-se mais experientes, compreendendo as

    caractersticas e limitaes do Bitcoin. Os conceitos bsicos da criptomoeda esto

    dispostos no captulo a seguir sendo significativamente importantes para a

    compreenso do estado atual e das tendncias do objeto estudado.

  • 8

    3. DEFINIO E FUNCIONAMENTO

    3.1 CONCEITOS BSICOS DO BITCOIN

    Por conta de sua tecnologia disruptiva, torna-se necessrio estudar os conceitos

    bsicos do Bitcoin. Comparam-se suas semelhanas com moedas reais e bancos,

    enquanto so contrastadas as diferenas de uma moeda descentralizada em relao

    economia j estabelecida na sociedade. Para isso, as inovaes e seus conceitos mais

    importantes so descritos a seguir.

    Satoshi: Como forma de homenagem a seu criador, corresponde unidade

    bsica, que vale 10-8 Bitcoin.

    Carteira: o nome dado coleo de pares de chaves criptogrficas pblicas

    e privadas, cujas assinaturas identificam a propriedade de um valor em Bitcoins.

    Estas so, geralmente, arquivos armazenados em computadores pessoais,

    dispositivos mveis, servidores na Internet ou em QR codes impressos em papel.

    Endereo de carteira: Para cada chave criptogrfica pblica, h um endereo

    de carteira Bitcoin associado. So representados por um identificador entre 26 e

    34 caracteres ASCII. Um exemplo de endereo

    168nTVYNAKdHmoEiYKXcTZG34e6r7V83m7. Uma carteira pode conter vrios

    endereos.

    A carteira do Bitcoin o arquivo que guarda o par de chaves pblicas

    (que toda a comunidade pode verificar) e privadas usadas na autorizao das

    transaes. O endereo de Bitcoin formado a partir de uma codificao da

    chave pblica, para represent-la de uma forma mais compacta.

    Blocos: So a unidade bsica de funcionamento do Bitcoin. Eles so

    responsveis pela emisso de moeda e processamento de transaes, sendo o

    objetivo da minerao. Tambm contm uma coleo de transaes no

    presentes em nenhum outro bloco, alm de informaes que identificam o seu

    antecessor no blockchain.

    Blockchain: O blockchain, ou cadeia de blocos, o registro publico imutvel de

    todas as transaes j efetuadas na rede Bitcoin. Ele consiste em uma

    sequncia de blocos, desde o chamado bloco genesis, que deu incio cadeia.

    Este o banco de dados distribudo que utilizado.

    Minerao: A minerao de blocos o processo atravs do qual as transaes

    Bitcoin so verificadas e armazenadas no blockchain. Para isso, faz-se

    necessrio o uso de computadores que se dediquem a busca por blocos, cuja

    recompensa consiste em uma quantia determinada em Bitcoins.

  • 9

    Transao: Uma transao Bitcoin a transferncia de valores entre chaves

    criptogrficas. Mais especificamente, consiste em assinar uma transao de

    propriedade do remetente com a chave pblica do destinatrio, dada pelo

    endereo da carteira Bitcoin.

    N da rede Bitcoin: Um n da rede Bitcoin um computador que executa uma

    instncia de um servio que implementa o protocolo Bitcoin. Atravs dele,

    possvel gerar e armazenar chaves criptogrficas, transmitir transaes e buscar

    blocos.

    Os ns se comunicam atravs da Internet, repassando transaes entre

    si, fazendo com que todos tenham um registro completo e sincronizado de

    operaes realizadas. Os ns verificam se as assinaturas esto corretas e

    atualizam seus respectivos saldos associados s chaves criptogrficas

    armazenadas localmente.

    Hash criptogrfico: Funes de hash criptogrfico so especialmente teis

    para verificar a consistncia de informaes, j que possuem a propriedade de

    serem no-inversveis, ou seja, dado um valor de hash Fh, no e possvel obter

    F sem gastar uma enorme quantidade de tempo de processamento.

    SHA-256: SHA-256 uma funo de hash criptogrfico da famlia SHA-2,

    publicada originalmente em 2001 pela National Security Agency (NSA). Ela

    produz valores de sada com 256 bits de comprimento e largamente utilizada

    pelo protocolo Bitcoin.

    rvore de Merkle: Uma rvore de Merkle uma estrutura onde as folhas so

    os dados a serem processados e os ns so os valores de hash de seus filhos.

    Desta forma, a raiz da rvore um valor de hash de todos os dados presentes

    na rvore. Esta estrutura apresenta a caracterstica de que, para verificar se um

    determinado dado est presente em uma arvore com n folhas, apenas

    necessrio realizar log(n) operaes.

    Esses so os principais conceitos tcnicos do Bitcoin, sendo recorrentes em

    qualquer anlise que se faa da criptomoeda. Compreender o blockchain e a minerao

    o primeiro passo para analisar o modelo de negcio do Bitcoin. A economia, assim

    como a regulao e suas tendncias, so consequncias de decises tomadas no nvel

    desses conceitos.

  • 10

    3.2 RESUMO DO FUNCIONAMENTO DO BITCOIN

    A fim de compreender a relao entre os conceitos para o funcionamento do

    Bitcoin, na Figura 1, identifica-se um infogrfico que ilustra e sintetiza as operaes

    efetuadas no sistema.

    Aps trocar em casas de cmbio especiais a moeda real pela criptomoeda, torna-

    se possvel executar as transaes via Bitcoin. O software permite que se referencie o

    usurio que receber o pagamento, sendo essa transferncia validada a partir dos

    mineradores, que solucionam problemas computacionais e comprovam a veracidade da

    transao, inserindo-a no registro pblico histrico do Bitcoin (Blockchain).

    Com a transao registrada de forma pblica no blockchain e validada pelos

    mineradores, o vendedor recebe o pagamento, o consumidor pode obter seu

    produto/servio e o minerador adquire 25 bitcoins (em novembro de 2017) por seu

    trabalho. Com isso, h controle descentralizado das trocas de moedas, sem a

    necessidade de uma instituio financeira ou governamental gerenciando. De modo

    resumido, esse o mtodo pelo qual o bitcoin tornou-se reconhecido e interessante

    para diversos cidados desacreditados nas instituies financeiras.

    Embora atualmente o Bitcoin seja mais utilizado como meio de investimento, seu

    objetivo final consiste em ser uma moeda virtual. Dessa forma, para que seus aspectos

    econmicos sejam estudados, deve-se compreender seu cdigo, as interaes dos

    usurios e o conceito por trs da criptomoeda.

  • 11

    Figura 1: Infogrfico de Funcionamento do Bitcoin. Fonte: ROHR (2014). Acesso em:

    14/10/2017.

  • 12

    3.3 ESTRUTURA DE UM BLOCO

    Por serem a unidade bsica de um Bitcoin, essencial a compreenso das

    estruturas dos blocos. Qualquer alterao ou melhoria no software se relaciona a essas

    caractersticas fundamentais.

    Um bloco contm informaes a respeito das transaes transmitidas atravs da

    rede Bitcoin desde o ltimo bloco encontrado. Ele contm os campos explicitados na

    Figura 2:

    Campo Descrio Tamanho

    Nmero Mgico1 Sempre 0xD9B4BEF9 4 bytes

    Tamanho do Bloco Nmero de bytes at o fim do bloco 4 bytes

    Cabealho 6 outros campos, descritos a seguir 80 bytes

    Contador de Transaes Inteiro, positivo 1-9 bytes

    Transaes Uma coleo no-vazia de transaes Varivel

    Figura 2: Campos de um Bitcoin. Fonte: MACEDO (2014). p. 16.

    Para o cabealho, h os campos descritos na Figura 3:

    Campo Descrio Tamanho

    Verso Verso do bloco 4 bytes

    Hash do bloco anterior Hash de 256 bits do cabealho do bloco anterior

    4 bytes

    Hash da raiz de Merkle Hash de 256 bits, baseado em todas as transaes

    32 bytes

    Timestamp Segundos, desde a era Unix 2 32 bytes

    Alvo Nmero alvo para o valor do hash 4 bytes

    Nonce3 Nmero de 32 bits 4 bytes

    Figura 3: Campos do Cabealho. Fonte: MACEDO (2014). p. 16.

    1 Um nmero mgico identifica o tipo de informao que o segue.

    2 Nmero de segundos desde a meia-noite de 1 de janeiro de 1970, em UTC.

    3 Um nonce um nmero utilizado apenas uma vez em um dado contexto.

  • 13

    Sendo assim, cada Bitcoin carrega informaes sobre si como o hash e o

    tamanho do bloco para diferenci-los e torn-los facilmente rastreveis.

    3.4 ESTRUTURA DAS TRANSAES

    Aps o entendimento dos campos descritos em blocos, deve-se analisar tambm

    o registro dos fluxos. A fim de se criar um blockchain com o registro de todas as

    transaes da criptomoeda, h campos criptografados para essas transferncias.

    As transaes apresentam os campos da Figura 4:

    Campo Descrio Tamanho

    Verso Verso do bloco 4 bytes

    Contador de entradas

    Inteiro positivo 1-9 bytes

    Entradas Coleo de entradas Varivel

    Contador de sadas Inteiro, positivo 1-9 bytes

    Sadas Coleo de sadas Varivel

    Expirao Se diferente de zero e menor que 0xFFFFFFFF, nmero do bloco ou timestamp que expira a transao.

    4 bytes

    Figura 4: Campos de Transaes. Fonte: MACEDO (2014). p. 17.

    Detalhando a coleo de entradas, identificam-se os campos da Figura 5:

    Campo Descrio Tamanho

    Hash da transao anterior Hash duplo SHA-256 de uma transao anterior

    32 bytes

    ndice de sada ndice do registro de sada a ser utilizado na transao dada

    4 bytes

    Tamanho do script Tamanho do script do registro 1-9 bytes

    Script Script para esta entrada Varivel

    Nmero de sequncia Normalmente 0xFFFFFFFF, irrelevante se a expirao for igual a zero

    4 bytes

    Figura 5: Campos de Entrada. Fonte: MACEDO (2014). p. 17.

  • 14

    J em relao coleo de sadas, os campos criptografados esto

    representados na Figura 6:

    Campo Descrio Tamanho

    Valor Valor, em satoshis, a ser transferido 8 bytes

    Tamanho do script Tamanho do script do registro 1-9 bytes

    Script Script para esta entrada Varivel

    Figura 6: Campos de Sada. Fonte: MACEDO (2014). p. 17.

    Os campos de transao permitem com que os Bitcoins se inter-relacionem de

    modo a constituir uma rede. Com isso, a criptografia permite que ocorram trocas entre

    usurios, registrando corretamente, de forma annima, mas pblica, as transaes que

    ocorrem no mercado.

    3.5 CHAVE PBLICA E PRIVADA

    Como h o anonimato dos usurios, so necessrias chaves pblicas e privadas

    de forma a identificar as transaes. Enquanto as chaves pblicas so divulgadas

    amplamente para que tenham transaes associadas a elas no mercado digital, as

    chaves privadas so utilizadas apenas pelo usurio para administrar suas transaes

    relativas s chaves pblicas.

    Na Figura 7, h uma representao dessa operao em que se usa a chave

    privada para assinar e validar a transao por parte do comprador. A chave pblica

    utilizada para referenciar ambos os usurios, tornando-se o endereo identificado no

    registro pblico do bloco. De forma criptografada para cada usurio, h a associao

    entre ambas as chaves, porm, em nenhum momento a chave privada torna-se pblica.

    Dessa forma, cada conta identificada por um endereo Bitcoin, obtido a partir

    da sua chave pblica utilizando uma funo unidirecional. A partir dele, possvel

    referenciar o usurio corretamente para que a transao seja executada. Para que a

    autenticidade do dono da conta seja comprovada e a transao se confirme, a chave

    privada necessria como assinatura digital (HERRERA-JOANCOMART, 2015).

    Alm da validao entre os usurios interessados na transao, o software exige

    tambm uma confirmao externa. Isso ocorre no momento em que essas transaes

    so transformadas em blocos, inseridas no Blockchain e consideradas como vlidas por

    outros mineradores. Esse processo de adio da transao ao registro pblico histrico

    de todos os pagamentos efetuados chamado de minerao.

  • 15

    Figura 7: Representao das Chaves do Bitcoin. Fonte: Adaptado de KHATWANI (2017).

    Acesso em 26/11/2017.

    3.6 MINERAO

    Para que as transaes sejam confirmadas, preciso que haja mineradores que

    as validem. Esse mtodo descentralizado e participativo de aprovao de compras,

    vendas e transferncias consiste no diferencial do Bitcoin, pois ressalta a possibilidade

    de autorregulao sem o uso de instituies governamentais, bancos e terceiros para

    controlar a criptomoeda.

    Mineradores so os programadores que validam e montam o Blockchain. Para

    isso, eles associam as novas transaes a correntes j existentes de acordo com a

    criptografia do Bitcoin. Essa criptografia identificada pelo hash especfico do bloco

    montado, sendo possvel alterar apenas um nmero em seu cdigo, denominado nonce.

    Com isso, o minerador pode calcular repetidos hashes do bloco, alterando apenas o

    nonce a cada tentativa.

    O hash dos blocos tem um tamanho pr-estabelecido de acordo com o nmero

    de blocos a serem minerados e com o nmero de mineradores atuantes. De acordo com

    a taxa de minerao, o Bitcoin altera o valor mximo do hash para aumentar ou reduzir

    o esforo computacional de minerao. Para isso, assume-se que o bloco de Bitcoin

    deve levar, em mdia, 10 minutos para ter seu nonce encontrado. Caso a taxa de

  • 16

    minerao esteja elevada, reduz-se o tamanho mximo do hash, limitando as

    possibilidades de codificao dos programadores.

    Ao adicionar transaes para um bloco, um minerador gera um tipo especial de

    transao de forma a indicar para a rede essa atividade para que seja enviado a ele o

    prmio de minerao. Junto com todas as transaes registradas, geram-se nmeros

    nonce aleatrios, que so unidos para executar a funo hash. Caso o valor do hash

    esteja abaixo do valor alvo, o usurio anuncia que criou o bloco, transmitindo-o junto

    com o nonce. Com isso, os outros usurios podem verificar o bloco ao executar a mesma

    funo hash. (WANG & LIU, 2015)

    A cada minerao bem sucedida, o minerador recebe 25 Bitcoins como forma de

    recompensa operao. Esse valor deve ser reduzido pela metade assim que o nmero

    de blocos ultrapassar 210 mil desde a ltima reduo para interromper a emisso de

    moedas e, com isso, uma possvel inflao.

    Alm de funcionar como mtodo de validar transaes sem a presena de uma

    instituio governamental, banco ou terceiro, a minerao e sua recompensa motivam

    a adeso de usurios ao Bitcoin. Alm do prmio por bloco (block reward), o minerador

    tambm pode ser bonificado com o troco da operao caso ele no tenha sido

    especificado por transaes e taxas.

    3.7 TROCO

    O fato de o Bitcoin ser uma moeda criptogrfica no significa que funcione como

    papel-moeda com a existncia de carteiras que guardem dinheiro at sua transferncia.

    Bitcoin no indica seu saldo por usurio, sendo a quantia de cada usurio identificada

    por suas transaes apenas. Para usar as Bitcoins, o software gerenciador precisa

    apontar uma transao especfica de onde as moedas foram recebidas.

    Por exemplo, caso o usurio A receba trs moedas de Bitcoin (BTC) de um

    usurio B, e mais duas moedas de Bitcoin de um usurio C, e queira usar quatro

    moedas, o software do Bitcoin iniciar uma transao que identifica como "origem"

    essas duas transaes anteriores, que somam 5 BTC. A moeda Bitcoin restante o

    troco que tambm enviado com destino para o usurio A.

    Essa ausncia de saldo por usurio evita que haja grande exerccio do sistema

    em calcular todas as carteiras do mercado. Enquanto isso, ao se especificar a origem

    das moedas, a verificao por parte do sistema se torna simples, identificando as

  • 17

    transaes nas quais a moeda foi utilizada. Para que no haja transao dupla utilizando

    a mesma moeda, o Bitcoin considera a ordem em que cada transao foi minerada,

    invalidando a segunda operao.

    O envio do troco no automtico, sendo gerenciado pelo software. Caso no

    seja informada a transao de troco, a moeda restante seria transferida para o

    minerador que inclui a transao no Blockchain. Isso significa que essa recompensa

    pode se somar ao prmio por bloco e taxa de minerao.

    3.8 TAXA

    Diferente do troco, que pode se tornar um prmio para o minerador se a

    transao no tiver sido identificada de forma correta, o recebimento da taxa indicado

    de forma proposital pelos negociantes.

    Para estimular o minerador a processar transaes, comum oferecer um

    determinado valor em Bitcoins, conhecido como taxa. Ela dada pela diferena entre o

    valor total das entradas e o valor total das sadas. No processo de busca de um novo

    bloco, todas essas diferenas so somadas e enviadas a um endereo informado pelo

    minerador.

    TAYLOR (2013) indica que enquanto o prmio de minerao consiste em 25

    Bitcoins, a taxa mdia declarada de um quarto de Bitcoin por bloco. Segundo o autor,

    conforme o passar dos anos, o prmio tende a reduzir conforme indicado, enquanto as

    taxas por transao aumentariam por conta do maior incentivo necessrio para os

    mineradores. Com a maior quantidade de transaes, ser necessrio oferecer maior

    bonificao para que haja prioridade na minerao.

    Todos esses modos de bonificao por minerao acabam por criar um mercado

    de grande concorrncia entre os mineradores para maximizar seu prmio ao atingir uma

    maior frao de taxa de hash. Com isso, mineradores desenvolveram solues

    sofisticadas como Bitcoin ASIC accelerators, pois buscam aumentar sua receita

    elevando a taxa de soluo de hash (GHash/s), enquanto reduzem seus custos

    operacionais de acordo com a eficincia de energia (GHash/J). (VILIM et al., 2016).

    Dessa forma, percebe-se a formao de diferentes participantes e interaes na

    rede de Bitcoin. Alm de usurios que buscam investir e comprar bens utilizando a

    criptomoeda, existem mineradores que so bonificados tanto de forma automtica pelo

  • 18

    software quanto pelos demais usurios de acordo com sua capacidade de comprovar a

    transao e inseri-la no blockchain.

    A recompensa por bloco, o troco e as taxas so mtodos de pagamento para

    incentivar a economia colaborativa dos mineradores. Porm, por no haver uma

    estrutura central que gerencie seus usurios/colaboradores, a criao de um sistema

    autorregulatrio se torna fundamental.

    3.9 PROOF OF WORK

    Para que as mineraes confirmem as transaes e essas validaes possam

    ser consideradas consensuais sem que haja reembolso e maiores imbrglios, foi

    implementado o sistema proof of work.

    O sistema proof of work, ou prova de trabalho, um modelo proposto por

    DWORK & NAOR (1993), apresentado na 12a Conferncia Internacional de Criptologia,

    em 1992. Originalmente, foi idealizado para combater o envio de e-mails indesejados

    atravs da apresentao de prova de que certa quantidade de trabalho foi realizada, a

    fim de que o destinatrio aceite a mensagem. Este sistema foi posteriormente

    implementado em 1997, chamado Hashcash.

    O sistema Proof of work no Hashcash foi implementado por meio da funo de

    custo. Ela baseada nas descobertas, por parte de usurios, de colises de hash parcial

    em todos 0 bits na k-bit string 0, em que k o tamanho de sada do hash. A partir de

    problemas computacionais, exigido esforo computacional do cliente para resolver os

    hashes de funes escolhidas aleatoriamente pelo usurio sem que o servidor se

    beneficie do processo. A funo pblica e pode ser validada pelos demais clientes,

    gerando maior segurana para todos, alm de haver registro de tempo para cada

    transao e token, de forma a evitar que se comprem dois itens com a mesma moeda

    (double-spending) (BACK, 2002). Dessa forma, o software e os usurios podem se

    certificar da validade e legalidade da transao aps a funo de custo ser descoberta.

    No Bitcoin, o Proof of Work implementado com o incremento de um nonce em

    um bloco at que o valor encontrado gere um hash que comece com um nmero de

    zero bits. Aps isso, no possvel modificar o bloco sem que o esforo computacional

    seja refeito e, caso mais blocos estejam inseridos posteriormente na cadeia, todos os

    hashes teriam que ser encontrados novamente, o que dificulta o sucesso de hackers

    que teriam que refazer diversas operaes. Com a regra de um voto por CPU, a maior

  • 19

    cadeia de blocos ser considerada a melhor Proof of Work, j que maior esforo

    computacional foi necessrio para formul-la. (NAKAMOTO, 2008)

    3.10 BLOCO E CORRENTE DE BLOCOS

    As transaes de Bitcoins so validadas e registradas de acordo com o sistema

    Proof of Work ao serem conectadas a blocos. Para serem atreladas aos blocos,

    necessrio calcular o hash do respectivo bloco de forma a associ-lo ao blockchain,

    uma corrente em que todas as transaes da moeda digital esto cadastradas.

    Caso haja duas mineraes simultneas de um bloco, apenas o hash de um

    bloco formado ser referenciado por transaes futuras, enquanto o outro ser

    considerado um bloco rfo. Se alguma transao for includa apenas no bloco rfo,

    ela deve ser novamente minerada, o que pode significar um perodo acima de 30

    minutos antes de ser oficialmente agregada ao blockchain. Por isso, recomendvel

    aguardar cerca de 6 novos blocos se juntarem corrente para que se confirme a

    transao.

    Esse processo evita o double-spending, em que um usurio poderia utilizar os

    mesmos Bitcoins para duas transaes diferentes. Um usurio mal-intencionado, com

    isso, seria obrigado a refazer no apenas o trabalho para computar o bloco original, mas

    tambm todos os seguintes na sua corrente de blocos (KARAME et al., 2015).

    Aps avaliar o funcionamento do Bitcoin e compreender as relaes entre os

    usurios do software, torna-se fundamental compreender como o mercado, em sua

    maioria, visualiza o Bitcoin e quais so as expectativas, pois a quebra dessas pode

    ocasionar grandes perdas para os usurios e para a inovao. Enquanto os mineradores

    percebem na criptomoeda uma oportunidade de receber dinheiro a partir da economia

    colaborativa, os demais clientes a encaram por diversas perspectivas. De acordo com

    o propsito identificado pela maioria de seus usurios, as tendncias do Bitcoin podem

    se alterar. Por conta disso, interessante avaliar a natureza do Bitcoin de forma a definir

    seus usos, suas limitaes, seu potencial e seu futuro.

    4. NATUREZA DO BITCOIN

    Muito se tem debatido sobre a verdadeira natureza do Bitcoin. At ento, o nico

    consenso a que se chegou que a nova tecnologia preserva algumas caractersticas

  • 20

    de naturezas diferentes. Segundo WANG & VERGNE (2017), estudos quantitativos

    acerca do preo do Bitcoin demonstram que a moeda reside em um meio termo entre

    um ativo financeiro e uma moeda, o que significa ento que o uso de teorias econmicas

    sobre ativos financeiros e moedas relevante para seu entendimento. Essa afirmao

    leva ento expectativa de que se a oferta do bem cresce, seu preo deve diminuir -

    efeito esse esperado para uma moeda, segundo VASCONCELLOS (2006).

    Os autores afirmam ainda que o Bitcoin tambm pode ser visto como uma

    commodity. Vale ainda ressaltar que, apesar de dividirem caractersticas semelhantes,

    possvel verificar algumas diferenas, como por exemplo, o fato de o Bitcoin ser uma

    representao de valor enquanto uma commodity carrega consigo valor.

    Para verificar se o Bitcoin considerado uma moeda ou um ativo, GLASER et

    al. (2014) levanta a hiptese de que, se os usurios focam no aspecto de pagamento,

    seria possvel identificar uma correlao significativa entre o nmero de novos

    participantes e o volume da rede. Enquanto houvesse um uso maior da criptomoeda

    como ativo financeiro, os clientes tenderiam a mant-la em seu portflio, sem que os

    preos fossem influenciados por notcias negativas, mas apenas positivas, j que

    estariam com um investimento mais arriscado de longo prazo.

    Com a utilizao de regresses para formular modelos com fatores como trfego

    do Wikipdia, volume de trocas, termos autorregressivos alm de controles temporais

    de efeitos e retornos com lag at sete, o autor concluiu que h maior percepo do

    Bitcoin como ativo por parte de seus usurios. Isso pode ser justificado devido

    descoberta de que o ingresso de novos usurios modifica o volume trocado em cmbio,

    mas no dentro do blockchain, o que significa que optam por manter suas criptomoedas

    para valorizar. Essa poupana estimulada conforme h notcias positivas quanto ao

    Bitcoin, enquanto se mantm estvel mesmo com a ocorrncia de eventos negativos

    mundiais como roubos. Dessa forma, verifica-se o aspecto especulativo dos

    investidores do Bitcoin, de acordo com GLASER et al. (2014).

    Muitos entusiastas da criptomoeda declaram que seu valor consiste na confiana

    depositada na sua estrutura descentralizada. Por isso, MAURER et al. (2013) apontam

    que o Bitcoin, nesse caso, no se assemelha a uma commodity, cujo valor se deriva do

    material do qual feito, mas de teorias de crdito de dinheiro. O investimento no Bitcoin

    para obter liberdade e privacidade poderia ser identificado como um mtodo de obter

    credibilidade pessoal, em que se estabelecem mltiplas relaes diretas e annimas.

  • 21

    Da mesma forma, VELDE (2013) tambm aponta que no h valor intrnseco no

    Bitcoin. Semelhante moeda fiduciria, seu valor derivado da confiana depositada

    na aceitao do mercado e no governo, que substitudo pelas regras do software no

    caso da criptomoeda. Uma moeda fiduciria, diferente de uma moeda fiat, no

    declarada como oficial, o que significa que pode ser recusada como meio de pagamento.

    Por isso, a aceitao de grande parte da populao se faz necessria para que se

    obtenha valor.

    KRUGMAN (2011) tambm considera o Bitcoin como moeda, revelando que se

    trata de uma nova tentativa de estabelecer o padro-ouro em que a oferta de moeda

    fixa sem ser influenciada por impresso de cdulas. Entretanto, em sua opinio, o

    experimento das criptomoedas revela que o padro-ouro significativamente vulnervel

    depresso, inflao e poupana exagerada.

    J YERMACK (2013) opta por avaliar o Bitcoin no vis das propriedades

    clssicas de uma moeda, que seriam: Meio de troca, Unidade de conta e Reserva de

    valor.

    Quanto primeira caracterstica, o autor indica que as transaes de Bitcoin so

    raridades devido baixa adeso de comerciantes, do pequeno nmero de casas de

    cmbio com baixa liquidez, da dificuldade de reter dinheiro seguro no software e a

    impossibilidade de comprar em crdito. Em 2017, j so identificadas mais empresas

    inseridas no sistema de criptomoedas (na poca do artigo referenciado, apenas a

    Overstock havia aderido), maior nmero de casas de cmbio e novas possibilidades

    de contratos por meio do Bitcoin. Como exemplo de novas adeses, tem-se a Dell

    (HAMANN, 2014), Microsoft (IRRERA, 2017) e Paypal (ALVES, 2014), todas empresas

    relacionadas ao setor de tecnologia. Entretanto, ressalta-se que o nvel de transaes

    e de negociantes ainda consiste em um percentual significativamente baixo. J WOO et

    al. (2013) explicam que, caso haja uma alta adeso, o Bitcoin favorvel nesse conceito

    de moeda, pois seus custos de transao so inferiores por conta da falta de

    necessidade de uma instituio intermediria.

    Deve-se ressaltar que, de acordo com SCHEINKMAN & XIONG (2003), quando

    os custos de transao so pequenos, o valor da bolha e o componente de volatilidade

    extra so maximizados. Isso significa que, apesar de os baixos custos de transao do

    Bitcoin serem uma vantagem como moeda, na perspectiva de ativo, isso pode motivar

    a instituio de uma bolha. Como os custos so reduzidos, o volume de transao

    dentro do mercado da criptomoeda significativamente elevado, gerando mais

    transaes a partir de pequenas variaes de valor.

  • 22

    Como unidade de conta, YERMACK (2013) levanta a variabilidade do valor da

    criptomoeda, dificuldade ainda perceptvel em 2017. Por conta dela, no h segurana

    em comparar preos em diferentes instantes de tempo com base em Bitcoin. Com isso,

    fornecedores seriam obrigados a reavaliar seus preos em intervalos curtos de dias.

    Alm disso, o autor relata que o alto custo de um Bitcoin, se comparado maioria de

    produtos e servios, gera transtornos ao precificar as vendas, j que se torna necessrio

    indicar cerca de quatro ou mais nmeros decimais.

    A variabilidade da criptomoeda com uma crescente valorizao consiste em uma

    tima razo para que se invista como ativo financeiro, porm tambm prejudicial para

    a propriedade de reserva de valor. Com as flutuaes em seu preo, no possvel ter

    certeza de que o valor do Bitcoin permanecer estabilizado, sem haver perdas para

    consumidores em momentos futuros.

    O Bitcoin valorizou nos ltimos anos e gera uma grande preocupao sobre ser

    uma bolha, o que inibe sua propriedade de reserva de valor. Isso ressaltado medida

    que muitos pesquisadores e economistas buscam definir o valor do Bitcoin, em termos

    de suas correlaes com outros fatores econmicos e sua tendncia futura, gerando

    ainda mtodos e opinies discordantes.

    Percebe-se ento que o Bitcoin foi institudo com o propsito de se tornar uma

    moeda alternativa que evitasse instituies financeiras e governamentais. Para seus

    primeiros usurios, a descentralizao da moeda prometia retornar o poder financeiro

    para as mos do cidado comum. Porm, enquanto no houver um grande nmero de

    trocas e comerciantes atuantes na criptomoeda e seu valor sofrer significativas

    variaes em curtos perodos de tempo, o Bitcoin no contm as principais propriedades

    de uma moeda.

    A variao do valor do Bitcoin atrai investidores, que o percebem como

    oportunidades para lucrar em curtos perodos de tempo. Com isso, ao ser usado como

    investimento, sua natureza se torna semelhante de um ativo financeiro. Muitos

    usurios optam por comprar as criptomoedas para guard-las enquanto elas valorizam

    conforme maior pblico adere a elas. Isso foi verificado por ATHEY et al. (2016), que, a

    partir de estudos do Blockchain, indicaram que cerca de 65% dos usurios apenas

    promoveram uma nica transao. Dessa forma, sabe-se que, ao contrrio de um

    mercado comum em que as moedas so utilizadas como meio de troca, h um maior

    percentual de aplicao financeira em uma inovao com valor cada vez maior.

  • 23

    Essa valorizao constante motivou a crescente adeso de investidores, levando

    o Bitcoin a variar de $8.000 dlares at $11.000 dlares em uma semana em novembro

    de 2017 (CHENG, 2017b). Entretanto, essa volatilidade tambm se transforma em ponto

    negativo para investidores comuns, j que possvel uma sbita desvalorizao, como

    ocorreu logo aps a valorizao que levou ao pice de $11.155,20. Em 30 de novembro

    de 2017, a criptomoeda perdeu mais de 20% de seu valor em 24 horas aps ter atingido

    seu valor mximo com a quantidade mxima de usurios e ter seu nome mais

    pesquisado do que Trump no Google na semana anterior (RAMNARAYAN, 2017). Isso

    culminou em Lloyd Blankfein, presidente do Goldman Sachs, afirmando que algo que

    se move 20% em um dia no parece ser uma moeda. um veculo de perpetuao de

    fraude (MONAGHAN, 2017).

    Essa volatilidade transforma a criptomoeda em um ativo financeiro de risco,

    como uma ao ou commodity, em vez de assegurar a seus usurios propriedades de

    reserva de valor e unidade de conta. Com isso, uma maior porcentagem da populao,

    que aversa ao risco, vai evitar se inserir no mercado ou negociar por meio de Bitcoin,

    j que sua inteno poderia ser apenas se utilizar de um meio de pagamento em vez de

    investir. Com uma estrutura para se transformar em moeda, as elevadas expectativas e

    especulaes ao seu redor reduzem essa natureza, transformando-a semelhante a um

    ativo financeiro.

    A denominao comum de commodity aponta que um bem pouco

    industrializado, muitas vezes utilizado como matria-prima para produtos, indiferenciado

    cujo preo determinado de forma semelhante livre concorrncia pela lei da oferta e

    da demanda. Apesar de o Bitcoin no ser diferencivel, ele no carrega consigo valor,

    o que levanta dvidas de diversos economistas sobre sua classificao como

    commodity. Entretanto, pesquisadores apontam a criptomoeda como commodity

    sinttica ou digital devido a suas regras internas de oferta e procura, o valor que carrega

    e que a torna valiosa para investimento e sua utilizao similar ao ouro para

    investimentos e controle de mercado (SELGIN, 2015).

    Com naturezas diversas devido s disparidades entre seu propsito inicial e sua

    utilizao atual, o Bitcoin deve ser encarado como uma nova tecnologia. O Blockchain

    oferece diversos usos e aplicaes (pagamentos, contratos inteligentes, registro de

    transaes), cada uma trazendo consigo seu prprio valor. A criptomoeda uma

    alternativa para cidados desacreditados em suas instituies e para pases

    subdesenvolvidos sem controle monetrio. Para investidores que preveem futuras

  • 24

    oportunidades e valorizaes, o Bitcoin se torna tambm um ativo/commodity para ser

    includo em carteiras de investimento.

    Dessa forma, as diversas naturezas do Bitcoin atraem diversos tipos de

    empreendedores, comerciantes e investidores. Com atuaes abrangentes, o valor para

    a sociedade torna-se difcil de ser avaliado, enquanto as adeses so crescentes.

    Analistas verificam que, como investimento, a criptomoeda torna-se cada vez mais

    rentvel, enquanto muitos especialistas ressaltam que suas inovaes, melhorias e real

    valor podem decepcionar aqueles que esto eufricos com a criptomoeda.

    Aps se ter compreendido a mudana da natureza do Bitcoin para seus usurios

    e as suas finalidades atuais, deve-se avaliar o real interesse da populao na

    criptomoeda. A aceitabilidade do Bitcoin influenciada por seus investidores, que a

    encaram como um ativo financeiro, e por possveis empresas de comrcio e cidados-

    comum, que a desejam como uma forma alternativa de moeda. As anlises de

    informaes quanto a novas adeses e dos riscos que afastam novos usurios auxiliam

    na estimativa de sucesso que o Bitcoin pode atingir.

    5. ACEITABILIDADE DO BITCOIN

    Moeda, ativo, ao, commodity, o Bitcoin pode ser explorado com diversas

    finalidades por diferentes perfis de pessoas. Porm, sua contnua valorizao e ateno

    da mdia geram diferentes reaes quanto a cada tipo de apoiador e usurio da

    criptomoeda. Com abrangncia mundial, o pblico potencial do Bitcoin significativo,

    mas sua aceitabilidade varia conforme o interesse de cada usurio, de cada governo e

    com a intensidade de cada risco identificado pelo cidado.

    5.1 ACEITABILIDADE DOS USURIOS

    A era da digitalizao permite que os produtos e servios estejam disponveis

    para as populaes de todo o planeta Terra. O pblico potencial de um software como

    o Bitcoin se aproxima do total de habitantes do mundo. Porm, isso no significa que a

    sua natureza dbia nem sua prpria estrutura sejam capazes de atrair todos os cidados

    para essa nova forma de moeda.

    Com a gradual reduo de preos da tecnologia, a economia mundial se

    aproveita de uma transformao digital. DIAMANDIS (2015) acredita que as empresas

    exponenciais reagem em cadeia a 6Ds nessa nova era da informao, que so:

  • 25

    Digitalizar (Tornar seus negcios digitais, reduzindo seus custos); Decepo (Por

    crescerem exponencialmente, seu incio lento em comparao ao seu potencial);

    Disruptivo (A nova tecnologia cria um novo mercado por sua efetividade e baixo custo);

    Desmonetizar (Maior nmero de servios por custo prximo de zero); Desmaterializar

    (Unificar diversas funcionalidades em apenas um aplicativo); Democratizar (Mais fcil

    acesso a todos por conta do baixo custo, sem controle estatal ou institucional). A

    fundao do Bitcoin consiste na democratizao dos servios, digitalizando o dinheiro

    ao romper com a lgica dos bancos de modo a facilitar a prtica de diversos servios

    por cada usurio com transaes virtuais, sem que haja cobrana de tarifas excessivas.

    Seu crescimento se acelera medida que maior quantidade de pblico e comrcio o

    aderem por conta de efeito de rede.

    De acordo com RUMELT (2011), efeito de rede aumenta o valor de um produto

    conforme h maior quantidade de usurios. Similar economia de escala, mas, em vez

    de reduzir os custos do produtor, h maior interesse em pagar caro pelo servio. Esse

    fator ocorre principalmente em mdias sociais ou negcios cujo modelo indica interaes

    de ponta-a-ponta como o Bitcoin. Isso ocorre em decorrncia da criao de mais

    possibilidades de interaes e atividades medida que o pblico adere.

    Por conta disso, importante avaliar a aceitabilidade e a adeso ao software.

    KRISTOUFEK (2013) comparou o nmero de pesquisas em sites como Wikipdia e

    Google com o preo do Bitcoin entre 2012 e 2014 e validou que h correlao

    bidirecional, pois tanto o preo incentiva o maior nmero de procura de informaes,

    quanto essa pesquisa eleva o preo do Bitcoin se este estiver com tendncia positiva

    de crescimento. Alm disso, o autor verifica que, caso a bolha tenha estourado e os

    preos estejam reduzindo, esse aumento de procura tambm proporciona a maior

    variao negativa, o que representa um ambiente propcio de bolha. KIM et al. (2016)

    reiteram que comentrios positivos de usurios em comunidades relevantes de

    criptomoedas afetam significativamente as flutuaes de preos de Bitcoin. Os autores

    obtiveram melhores correlaes para o Bitcoin, apesar de terem testado para as demais

    criptomoedas, por conta da maior quantidade de comentrios, respostas e

    visualizaes.

    Ao mesmo tempo em que o nmero de usurios cresce, muitos afirmam que a

    aceitao da moeda est reduzindo. CHAPARRO (2017) informou que um grupo de

    analistas da empresa Morgan Stanley gerou uma nota em julho de 2017 sobre a

    aceitao virtualmente de zero da criptomoeda no que tange a comerciantes. O banco

    aponta trs razes para a baixa aceitao apesar da elevada adeso: a primeira seria

  • 26

    a tendncia a poupar por conta de sua valorizao de mercado, inibindo a tendncia a

    consumir; outra razo seria a dificuldade de tornar as transaes rpidas e baratas ao

    atingir largas escalas; por fim, no percebem que haveria incentivos suficientes para

    que os comerciantes possam aderir a essa forma de pagamento.

    J NAIR & CACHANOSKY (2017) apontam a existncia de polticas para que

    haja maior nmero de transao e de utilidade para os usurios da criptomoeda,

    principalmente para comerciantes. Segundo os autores, em 2016, ocorreram alguns

    incentivos para os consumidores, com uma aplicao chamada Foldapp, que oferecia

    20% de desconto para cada compra no Starbucks, j que comprava cartes de presente

    no usados do site da empresa com desconto, repassando esse ganho em parte para

    o consumidor.

    WILLIAMS (2017) indica outras 5 grandes empresas que aderem ao Bitcoin de

    forma direta: Overstock, DISH Network, Microsoft, Intuit e Paypal. Porm, apesar disso,

    o autor ressalta que a volatilidade da criptomoeda, combinada com a possvel imposio

    de regulao, ainda afasta muitos comerciantes do negcio devido incerteza gerada.

    Mesmo com as incertezas e baixa aceitao atual, h especulaes de novas

    adeses de multinacionais criptomoeda brevemente. Com boatos sobre a

    incorporao do Bitcoin nas transaes da Amazon em setembro de 2017, em cerca de

    um ms o preo da moeda passou de $3.874 para $5.678 (GREENE, 2017). Em

    Novembro de 2017, novos rumores surgiram com a aquisio de trs domnios online

    pela Amazon (amazonethereum.com, amazoncryptocurrency.com,

    amazoncryptocurrencies.com), o que indicou certa tendncia da empresa de aderir

    inovao, ao proteger o uso de domnios referentes a criptomoedas (KIM, 2017).

    Em termos de mercado financeiro, em julho de 2017, a Comisso de Negociao

    de Contratos Futuros de Commodities (CFTC), agncia independente do governo norte-

    americano que regula mercado de futuros e opes, autorizou que uma plataforma de

    trocas de criptomoedas (LedgerX LLC) fosse registrada como uma agncia de cmbio

    oficial de derivativos acordados em criptomoedas (RUSSO, 2017). Essa regulao e

    permisso para mercado de contratos envolvendo Bitcoin faz com que a moeda e sua

    volatilidade influenciem ainda mais o mercado e a precificao e outros derivativos.

    Alm disso, a maior bolsa de derivativos, a CME, por meio de seu presidente e

    diretor executivo, Terry Duffy, anunciou a inteno de introduzir contratos de futuros de

    bitcoins. Conforme o comunicado para a imprensa, Duffy acredita que o CME Group

    um lar natural para esse novo veculo que apresenta aos investidores transparncia,

  • 27

    descoberta de preo e capacidade de transferncia de riscos (CMEGROUP, 2017). De

    acordo com CHENG (2017a), os limites de flutuao de preo sero especiais, sendo

    de 7 e 13 por cento acima ou abaixo a estabelecidos previamente alm de prevenir

    trocas alm da escala de 20%. Esse range similar ao permitido para ndices de aes

    de futuros americanos, mas, segundo o autor, podem ser mais relevantes devido

    famosa volatilidade da criptomoeda e pode reduzir as preocupaes do investidor sobre

    operar em Bitcoin.

    Essa crescente quantidade de participantes foi prevista por MAULDIN (2014) ao

    discutir com Barry Silbert, fundador do Bitcoin Investment Trust. Foram descritas cinco

    fases na adoo da criptomoeda, sendo elas: Fase de Experimentao (experimentos

    de hackers e desenvolvedores com o cdigo); Fase de Early Adopters (Primeiros

    investidores criando empresas com foco em Bitcoin); Fase de Venture Capital (Capitais

    de risco passariam a investir no Bitcoin); Fase de Wall Street (Estimaram que em 2015

    instituies e bancos investiriam na criptomoeda, o que ainda no ocorreu em 2017, j

    que o presidente do Goldman Sachs, por exemplo, afirma que o Bitcoin no uma

    moeda, mas uma modo de perpetuao de fraudes por conta de sua alta volatilidade

    (MONAGHAN, 2017); Fase de adoo mundial de consumidores (momento de

    popularizao da criptomoeda). Apesar de haver uma tendncia de maior adeso, ainda

    em 2017 no houve a continuidade das fases de aceitao conforme planejado, o que

    revela que as expectativas para o Bitcoin no se realizaram por enquanto.

    5.2 ACEITABILIDADE DOS GOVERNOS

    Apesar de ser a maior economia mundial, ressalta-se que no se deve verificar

    a aceitabilidade do Bitcoin apenas na perspectiva dos Estados Unidos. Outros pases

    receberam a criptomoeda com diferentes medidas e permisses. O governo chins, em

    setembro de 2017, optou por proibir seus cidados de trocar criptomoeda em casas de

    cmbio alm de ilegalizar a arrecadao de fundos de start-ups chinesas por oferta

    inicial de moeda (ICO) (RAPOZA, 2017). Apesar desse banimento, que fez o preo do

    Bitcoin cair de $5.000 para $3.000, com as regulaes favorveis ao Bitcoin, evitando

    manipulao de mercados e limitando a oferta de novas moedas, nos Estados Unidos

    e no Japo, o preo da principal criptomoeda voltou a crescer at superar $7.000 no

    incio de novembro de 2017 (MOURDOUKOUTAS, 2017).

    Assim como os Estados Unidos, o Japo tem uma participao significativa no

    mercado de Bitcoin, consistindo em metade do volume global de trocas da moeda,

  • 28

    enquanto os Estados Unidos compem um quarto. Alm disso, mais de 4.500 lojas no

    pas permitem pagamentos por meio de Bitcoins (FUJITA & WONG, 2017). Esses dois

    pases se anteciparam para regulamentar e aceitar a nova tecnologia e, com isso,

    ofereceram oportunidades mais seguras para empreendedores e investidores.

    De acordo com SMYTH (2017), as leis do Japo indicaram que qualquer cmbio

    de moeda alternativa ou negcio de transferncia de dinheiro torna-se reconhecido

    como mtodo legal de pagamento e deve ser supervisionado por regulaes da agncia

    de servios financeiros. O autor tambm indica que a Austrlia deve adotar as mesmas

    medidas para reduzir a lavagem de dinheiro e os riscos para os seus cidados nesse

    mercado.

    Contrrio a esses pases, o Reino Unido ainda no regulamentou o Bitcoin,

    tratando-o como dinheiro privado. Cathy Mulligan, co-diretora do Centro de Pesquisa e

    Engenharia de Criptomoeda do Colgio Imperial de Londres, embasa essa afirmao

    com base na inexistncia de cobrana de VAT (imposto correspondente ao ICMS) no

    valor do cmbio de Bitcoin para libra esterlina, mas apenas em sua comisso (REES,

    2017). J o Bank of England entende que as criptomoedas so diferentes de moedas

    como dlar e libra esterlina porque elas apenas atuam como dinheiro para um nmero

    limitado de pessoas, apesar de teatros e mercados de cervejas artesanais j aceitarem

    bitcoins no Reino Unido (INMAN, 2017).

    Outro pas que considera o Bitcoin como dinheiro privado a Alemanha, cujo

    ministro financeiro reconheceu sua capacidade de unidade de conta. Dessa forma, a

    moeda identificada como um instrumento financeiro que pode ser usado em impostos,

    taxas e trocas sendo submetido a regras do governo (CLINCH, 2013).

    A Rssia assumiu posturas contraditrias em relao ao Bitcoin. De incio, houve

    proibio de sua utilizao no territrio russo, mas, aps cerca de um ano, seu ministro

    financeiro anunciou a regularizao das criptomoedas como securities (REUTERS,

    2017). KHRENNIKOV (2017) enfatizou o interesse do pas nas criptomoedas ao revelar

    que um dos conselheiros de Internet do presidente Vladimir Putin co-dono de uma

    empresa que investiu cerca de 100 milhes de dlares em empreendedores de Bitcoin

    russos a fim de adquirir uma parcela do market-share anteriormente da China.

    No Brasil foi instituda uma comisso para analisar regras para operaes com

    moedas virtuais em maio de 2017. Os parlamentares vo analisar a possibilidade de

    incluso das moedas virtuais e dos programas de milhagem das empresas areas na

    definio de arranjos de pagamento sob a superviso do Banco Central. (AGNCIA

    https://www.cnbc.com/akiko-fujita/https://www.cnbc.com/hollie-wong/
  • 29

    CMARA NOTCIAS, 2017). Com isso, pretende-se reduzir os riscos das criptomoedas

    contra a estabilidade financeira da economia, proteger os usurios e evitar suas

    atividades ilegais.

    As preocupaes no que tange expanso do mercado de criptomoedas so

    justificadas pelos governos dos pases. No apenas se insere uma nova moeda

    impossvel de ser gerenciada pelo Estado, o que pode afetar significativamente a

    economia, mas tambm existem diversos riscos aos quais seus cidados se submetem.

    A regulao da criptomoeda permite com que se mantenha a soberania do Estado ao

    mesmo tempo em que se protege a sua populao.

    5.3 RISCOS RELACIONADOS AO BITCOIN

    Enquanto apoiadores do Bitcoin enfatizam seu carter descentralizado e seu

    valor fundamentado na confiana de seus usurios, nota-se que a aceitabilidade ainda

    baixa. Essa insegurana quanto criptomoeda ocorre por conta principalmente da

    variabilidade atual, que compromete sua propriedade de meio de troca e a f de

    negociantes em sua estabilidade.

    Para investidores interessados no risco e em seu retorno, o aumento do preo

    do Bitcoin considerado uma valorizao merecedora de investimento. J para o

    cidado comum e para o comrcio, que buscam maior segurana em suas transaes

    financeiras e na manuteno de seus recursos, essa variao da criptomoeda

    considerada perigosa, como a utilizao de uma moeda de um pas instvel.

    Apesar das discordncias em relao ao uso e natureza do Bitcoin, as

    discusses sobre o Bitcoin no so polarizadas entre investidores e comerciantes.

    Outros riscos e desconfianas so ressaltados pelo pblico e identificados por diversos

    pesquisadores da criptomoeda.

    A descentralizao do Bitcoin atrai um significativo pblico que deseja reduzir

    sua dependncia em relao a bancos e governos. Porm, as desvantagens dessa

    caracterstica no devem ser desconsideradas. Sem uma autoridade central para

    regular e acompanhar as transaes, muitos problemas podem ser ocasionados, como

    ilegalidades, roubos ou ataques especulativos, que gerariam efeitos globais sem haver

    modelos legislativos para mitigar e regulamentar essa rea (ROGOJANU & BADEA,

    2014).

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    HAMEED (2016) aponta o ataque de 51%, o problema de double-spending e

    transaes poeira. Os mecanismos j existentes no Blockchain para garantir a

    identificao e pagamento da transao so eficientes, mas acabam tornando as trocas

    mais lentas, obrigando os usurios a esperarem por cerca de 10 minutos pela

    confirmao. VELDE (2013) reitera que a obrigao de esperar 10 minutos ou at uma

    hora para se assegurar que a transao foi validada no Blockchain acaba por limitar o

    uso do Bitcoin como moeda, pois esta deve permitir trocas instantneas. As transaes

    poeira eram consequncias de transferncias mnimas de 1 Satoshi, que aumentava

    significativamente o Blockchain, tornando-o mais lento e ineficiente. J o ataque de

    51% um temor de inmeros possveis clientes devido poltica descentralizada e, em

    muitos lugares, desregulamentada. Por no haver uma organizao liderando e

    representando o Bitcoin, caso mais da metade de mineraes e confirmaes se tornem

    monopolizadas por um grupo de pessoas, esses mineradores seriam capazes de

    controlar o mercado.

    Outro fator que afasta possveis negociantes da criptomoeda a dvida sobre a

    aceitao dos governos. Muitos acreditam que, assim que ocorrerem mais transaes

    de Bitcoin, os pases tornaro ilegal a sua circulao. Diferentemente de um mercado

    competitivo em que