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INFERÊNCIA DO POTENCIAL DE OCORRÊNCIA DA CLASSE ÁREA ÚMIDA E ANÁLISE COMPARATIVA DA VERIFICABILIDADE EM CAMPO PARA O PROJETO RADIOGRAFIA DA AMAZÔNIA Introdução ao Geoprocessamento – SER 300 Prof. Antonio Miguel Vieira Monteiro INPE, São José dos Campos. Junho, 2013 Aluno: Gabriel Thomé Brochado Resumo. O Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro está realizando o mapeamento sistemático na Amazônia Legal através do projeto Radiografia da Amazônia, o qual tem sido responsável pela geração de produtos cartográficos da região do vazio cartográfico. Contudo, ainda persistem alguns problemas metodológicos a serem superados. Este trabalho aborda o mapeamento das feições da classe Área Úmida, para as quais ainda não foi desenvolvida uma metodologia de extração consistente. É proposto um método que objetiva tornar o custo operacional da verificação em campo das áreas úmidas mais baixo e, a partir das observações de campo, o aprimoramento de metodologias de sua extração automática. O método divide-se me duas etapas. Na primeira áreas de potencial ocorrência de áreas úmidas são identificadas a partir de uma abordagem fuzzy. Na segunda etapa o resultado da primeira é combinado com variáveis logisticamente relevantes utilizando-se uma ferramenta de suporte à decisão. O resultado do método nos permite inferir as áreas úmidas mais propícias à verificação em campo. Palavras-chave: Áreas úmidas, fuzzy, Amazônia, radiografia, radar.

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INFERÊNCIA DO POTENCIAL DE OCORRÊNCIA DA CLASSE ÁREA ÚMIDA

E ANÁLISE COMPARATIVA DA VERIFICABILIDADE EM CAMPO PARA O

PROJETO RADIOGRAFIA DA AMAZÔNIA

Introdução ao Geoprocessamento – SER 300

Prof. Antonio Miguel Vieira Monteiro

INPE, São José dos Campos.

Junho, 2013

Aluno: Gabriel Thomé Brochado

Resumo. O Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro está realizando o mapeamento sistemático na Amazônia Legal através do projeto Radiografia da Amazônia, o qual tem sido responsável pela geração de produtos cartográficos da região do vazio cartográfico. Contudo, ainda persistem alguns problemas metodológicos a serem superados. Este trabalho aborda o mapeamento das feições da classe Área Úmida, para as quais ainda não foi desenvolvida uma metodologia de extração consistente. É proposto um método que objetiva tornar o custo operacional da verificação em campo das áreas úmidas mais baixo e, a partir das observações de campo, o aprimoramento de metodologias de sua extração automática. O método divide-se me duas etapas. Na primeira áreas de potencial ocorrência de áreas úmidas são identificadas a partir de uma abordagem fuzzy. Na segunda etapa o resultado da primeira é combinado com variáveis logisticamente relevantes utilizando-se uma ferramenta de suporte à decisão. O resultado do método nos permite inferir as áreas úmidas mais propícias à verificação em campo.

Palavras-chave: Áreas úmidas, fuzzy, Amazônia, radiografia, radar.

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1 INTRODUÇÃO

O Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro em convênio

com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia

(CENSIPAM, 2008) está realizando o projeto de mapeamento sistemático na

Amazônia Legal conhecido como Radiografia da Amazônia, o qual visa gerar

produtos cartográficos na escala 1:50.000 do vazio cartográfico (CORREIA,

2011). No projeto, são utilizados para a realização do mapeamento dados

SAR nas bandas X e P, os quais são provenientes do sensor OrbiSAR-1.

Dentre as classes de feições a serem mapeadas está a classe Área Úmida, a

qual é definida como uma área que contém água à superfície

permanentemente, porém em uma quantidade não comparável a uma massa

d'água (CONCAR, 2010). No decorrer do projeto, vários métodos foram

testados para a extração de feições desta classe utilizando-se somente os

dados de radar nativos do projeto, todavia não foi encontrada uma

metodologia consistente. De maneira geral, a delineação desta classe

dependia da interpretação visual das ortoimagens radar e do MDT nativo do

projeto, o qual é gerado por processamento interferométrico das imagens

SAR (MOURA; CORREIA, 2011). Este nível de intervenção humana era

indesejado, pois além de não atender as necessidades da produção

cartográfica em termos de prazos de entrega dos produtos, tornava a

aquisição destas feições não padronizada, uma vez que, sendo empregados

diferentes interpretadores, diferentes resultados poderiam ser encontrados.

Além disso, a escassez de amostras de campo, devido ao seu alto custo de

coleta e às dificuldades logísticas inerentes ao ambiente amazônico, fez com

que as metodologias desenvolvidas não pudessem ser comparadas com

verdades de campo.

Tendo em vista este problema, o presente trabalho propõe um método

composto de duas etapas. A primeira visa à identificação automática de

áreas de potencial ocorrência da classe Área Úmida por meio de uma

abordagem fuzzy. A segunda visa à identificação das áreas mais propícias à

verificação no terreno, combinando, com o auxílio de um algoritmo de

suporte à decisão, o resultado da primeira etapa com a proximidade das

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potenciais áreas úmidas a feições lógisticamente relevantes.

O resultado desta análise poderá ser utilizado no planejamento do

levantamento de dados de campo do projeto, viabilizando a verificação de

feições da classe Áreas Úmidas a um menor custo operacional, dando

subsídios para o desenvolvimento de metodologias mais eficientes para sua

extração automática.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A identificação automática de áreas de potencial ocorrência da classe Área

Úmida levou em consideração a declividade e as distâncias horizontal e

vertical à drenagem mais próxima para cada ponto da área de estudo, pois

áreas úmidas são mais prováveis de ocorrerem em áreas planas (LI; CHEN,

2005) e, segundo Rennó et al. (2008), pontos com grandes distâncias

horizontais, mas com pequenas distâncias verticais às dreangens são

indicativos de extensas áreas planas conectadas às drenagens, áreas

pantanosas.

A classe Área Úmida é definida como área que possui permanentemente

água, porém com níveis não comparáveis a de uma massa d'água. Esta

classe também está relacionada com a presença de vegetação do tipo brejo

ou pântano e cultivo irrigado. A classe Área Úmida difere da classe Terreno

Sujeito à inundação, a qual é definida como áreas sujeitas à inundação

sazonal (CONCAR, 2010). Portanto, as regiões úmidas adjacentes aos rios

principais não foram alvo deste estudo, e, pelo contrário, foi necessário que o

método desenvolvido tivesse a capacidade de discernir entre as duas

classes. Para isto, ao invés da distância horizontal às linhas de drenagem foi

utilizada a distância a um buffer ponderado das drenagens. O buffer foi

ponderado pela ordem das drenagens de forma que as drenagens de

maiores ordens, ou seja, as que estão ligadas a um maior número de

drenagens, apresentassem um buffer maior do que as drenagens de ordem

menor (Figura 2.1). Procurou-se desta maneira que o potencial de ocorrência

da classe Área Úmida nas regiões adjacentes aos rios principais, onde

geralmente ocorrem terrenos sujeito à inundação, fosse menor do que o

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potencial das regiões adjacentes a drenagens de menor ordem, como as

áreas próximas às nascentes, por exemplo.

A geração da grade de potencial de ocorrência da classe Área Úmida se deu

pela combinação, por meio de operadores fuzzy, das grades numéricas

referentes a cada variável (declividade e distâncias horizontal e vertical à

drenagem mais próxima). As grades de cada variável foram geradas a partir

do MDT nativo do Projeto Radiografia da Amazônia e normalizadas antes da

operação fuzzy. A grade de distâncias horizontais à drenagem mais próxima

foi gerada pelo algoritmo HAND (RENNÓ et al., 2008), e, para simplificar a

terminologia, nos referimos a esta grade simplemente por HAND (Height

Above Nearest Drainage) no restante trabalho.

Na segunda etapa do método, foram geradas grades numéricas para cada

variável logística considerada, as quais foram ponderadas juntamente com a

grade de potencial de ocorrência de áreas úmidas para gerar uma grade

numérica de áreas ótimas. No caso deste trabalho foram consideradas a

proximidade de cada ponto às localidades e à rede hidrográfica. Os pesos da

ponderação foram definidos por meio da utilização do algoritmo de apoio à

decisão Analytic Hierarchy Process (SAATY, 2008).

O fluxograma da metodologia (Figura 2.1) mostra a cadeia de processos

executados e os dados de entrada e saída de cada um deles. Foi criada

também a modelagem de um banco de dados no padrão OMT-G (BORGES

et al., 2001), a qual mostra os tipos de dados utilizados e o relacionamentos

entre as categorias criadas para a execução do método (Figura 2.2).

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Figura 2.1 – Fluxograma do método

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Figura 2.2 – Modelo OMT-G do banco de dados

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2.1 Materiais

Os insumos deste trabalho foram baixados do Banco de Dados Geográficos

do Exército (BDGEx - http://www.geoportal.eb.mil.br/mediador/), da página do

IBGE (http://www.ibge.gov.br) e da página do USGS (http://landsat.usgs.gov).

Foram baixados do BDGEx os MDT, com resoluções de 5 metros, relativos

aos MI (Mapa Índice) 0348-1, 0348-2, 0348-3, 0348-4 (escala 1:50.000) e a

carta topográfica vetorial de MI 0348 (escala 1:100.000). Foi baixado da

página do IBGE o cadastro de localidades no formato vetorial, referente ao

ano de 2010.

Utilizou-se, com a finalidade de comparar os resultados obtidos pela

inferência de potencial de ocorrência de áreas úmidas, duas imagens

Landsat TM e as ortoimagens da banda P na polarização HH nativas do

Projeto Radiografia da Amazônia.

A carta topográfica vetorial relativa ao MI 0348 foi publicada em 2010 e está

estruturada conforme a ET-EDGV (CONCAR, 2010). As classes

HID_Trecho_Drenagem_L e HID_Trecho_Massa_Dagua_A para compor a

hidrografia utilizada na etapa de inferência das áreas ótimas conforme o item

2.5 deste trabalho.

Os programas utilizados foram o SPRING 4.3.3, onde foram implementados

o modelo do banco de dados e os operadores fuzzy e foram gerados os

mapas de distâncias; o TerraViewHidro 0.3.3 onde a partir do MDT foram

extráidas automaticamente as drenagens e o HAND; o Quantum GIS 1.8.0-

Lisboa e o ENVI 4.7 por meio dos quais foram manipuladas as grades

númericas.

2.2 Geração dos dados

Os MDT baixados no BDGEx foram mosaicados e reprojetados, resultando

em um MDT abrangendo a região relativa ao MI 0348, o qual foi reamostrado

para uma resolução de 50 metros, utilizando o interpolador vizinho mais

próximo. A reamostragem foi realizada, pois considerou-se que para o estudo

em questão a resolução de 5 metros não contribuiria significativamente para

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a qualidade do resultado, uma vez que a menor dimensão das áreas úmidas

prevista de ser adquirida para uma escala de 1:50.000, segundo a ET-ADGV

é de 62.500 metros quadrados (CONCAR, 2011). Além disso, a

reamostragem colabora para diminuir o custo computacional.

O MDT resultante foi utilizado para gerar a rede de drenagens da área de

estudo e as grades de declividade (em graus) e o HAND, ambos com

resolução de 50 metros. As drenagens geradas apresentam maiores detalhes

do que aquelas contidas na classe HID_Trecho_Drenagem_L da carta

vetorial de MI 0348, porém não foram utilizadas na etapa de inferência de

áreas ótimas por motivos que estão detalhados em no item 2.5. A ordem das

drenagens que compõe a rede foi utilizada para a geração de um buffer

ponderado, onde a distância de buffer para cada drenagem é igual a 50

vezes a sua ordem. Este buffer ponderado foi utilizado na etapa da geração

da grade de potencial de ocorrência da classe Área Úmida, conforme

explicado no item 2 deste trabalho.

Figura 2.1 – Comparação entre as drenagens e o buffer ponderado pela ordem

O HAND não forcene resultados para as região dos limites do MDT,

causando o efeito exposto na Figura 2.2. Por este motivo, todos as grades

geradas neste trabalho tiveram que ser recortadas segundo os limites do

HAND.

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Figura 2.2 – Comparação dos limites entre o MDT (à esquerda) e HAND (à direita)

Foram geradas grades de distâncias ao buffer ponderado das drenagens, à

hidrografia oriunda da carta topográfica vetorial e às localidades do cadastro

do IBGE, com resoluções de 50 metros. Nestas grades o valor de cada pixel

é a distância à feição mais próxima de um conjunto de feições referência. A

grade de distância às localidades do IBGE, foi gerada para o enquadramento

com coordenadas do canto inferior esquerdo iguais a 2° S e 66,5° O e canto

superior direito iguais a 0,5° S e 65,5° O para abranger as localidades

próximas à área de estudo, tendo em vista que não há nenhuma dentro dos

limites do MI 0348.

2.3 Normalização dos campos

As grades geradas no trabalho foram normalizadas para que pudessem ser

aplicados operadores de lógica fuzzy sobre eles. A função de conversão foi

aplicada para cada grade (Eq. 2.1), onde x é o valor original do pixel, μ é

o valor transformado do pixel, vmin é o valor transformado mínimo, p é o

patamar e vmax é o valor transformado máximo, conforme os parâmetros

constantes da tabela Tabela 2.1

μ=vmin , se x=0

μ=xp

, se 0<x< p

μ=vmax , se x> p

(2.1)

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Tabela 2.1 – Valores mínimo, máximo e patamares para cada grade

Grade vmin p vmax

HAND 0,001 12 0,999

Declividade 0,01 2,5 0,99

Distância ao buffer ponderado 0,01 1500 0,99

Distância à hidrografia 0 6000 1

Distância às localidades 0 73500 1

Os valores dos patamares foram escolhidos de forma fossem maiores do que

aproxidamente 95% dos pixels da grade. Para o HAND, declividade e

distância ao buffer ponderado, atribuiu-se valores mínimo e máximo

diferentes de 0 e 1, respectivamente, para evitar que fossem zerados termos

do operador fuzzy Gama (Eq. 2.3), utilizado na etapa de geração da grade de

potencial de ocorrência de áreas úmidas.

2.4 Potencial de áreas úmidas por lógica fuzzy

A geração da grade de potencial de ocorrência da classe Área Úmida foi

realizada por meio de dois operadores fuzzy distintos, fuzzy AND e fuzzy

Gama. Os operadores foram aplicados às grades normalizadas de HAND,

declividade e distância ao buffer ponderado, resultando em grades numéricas

com resolução de 50 metros. Conforme visto no item 2, a ocorrência da

classe Área Úmida está relacionada a baixos valores de HAND e declividade

e a altos valores de distância ao buffer ponderado e níveis de cinza da

ortoimagem P. Portanto, nas operações fuzzy foram utilizados os

complementos do HAND e da declividade, ou seja, a unidade subtraída do

valor dos pixels normalizados.

O operador fuzzy AND é igual ao valor mínimo dentre os níveis de

pertinência de entrada para cada pixel (Eq 2.2), sendo apropriado para os

casos onde duas ou mais evidências devem estar presentes

simultaneamente para que a hipótese assumida seja verdadeira (BONHAM-

CARTER, 1994) . Portanto, o operador foi utilizado inferir áreas onde

haveriam baixos valores de HAND e declividade juntamente com altos

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valores de distância ao buffer ponderado e nível de cinza da ortoimagem P.

μ=MIN (μa ,μb ,μc , ...) (2.2)

O operador fuzzy Gama é composto pela soma algébrica fuzzy e produto

algébrico fuzzy elevados por um valor γ e seu complemento,

respectivamente (Eq 2.3). A escolha de baixos valores de γ causa a

diminuição dos níveis de pertinência resultantes enquanto valores altos de

γ causam em um efeito aumentativo (BONHAM-CARTER, 1994). Neste

trabalho foi utilizado γ=0,6 .

μ=(1−∏i=1

n

1μi)γ∗(∏

i=1

n

μi)(1−γ) (2.3)

2.5 Inferência de áreas ótimas

A grade de potencial de ocorrência de áreas úmidas, e as grades

normalizadas de distância à hidrografia e distância às localidades, foram

ponderados pelo método AHP (SAATY, 2008) para gerarem a grade de áreas

ótimas. Conforme visto no item 2, considerou-se uma área mais propícia à

verificação em campo quando está mais próxima das localidades e da

hidrografia e apresenta um maior potencial de ocorrência da classe Área

Úmida. Portanto, na ponderação realizada foram utilizados os complementos

das distâncias às localidades e hidrografia, ou seja, a unidade subtraída do

valor dos pixels normalizados. As drenagens extraídas automaticamente do

DTM não foram utilizadas nesta etapa, pois a hidrografia da carta vetorial foi

digitalizada a partir de imagens orbitais e considerou-se que se uma

drenagem é identificável por tal insumo é mais provável que este curso

d'água tenha uma dimensão suficientemente grande para que uma

embarcação militar leve possa navegá-lo. Já quanto às drenagens extraídas

automaticamente a partir do DTM nada pode se dizer a respeito da dimensão

do curso d'água.

Foram geradas grades de áreas ótimas para diferentes conjuntos de pesos

retornados pelo método AHP, com intuito de analisar o efeito de sua variação

no resultado final. A Tabela 2.2 mostra os pesos resultantes das

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comparações pareadas e o índice de consistência obtido para cada cenário.

Tabela 2.2 – Pesos e índices de consistência (IC) resultantes das comparações pareadas para cada cenário, onde (pot) é o potencial de ocorrência, (1-loc) e (1-hidro) são os complementos das distâncias às localidades e hidrografia, respectivamente.

Cenário (pot) (1-loc) (1-hidro) IC

1 0,540 0,297 0,163 0,008

2 0,655 0,250 0,095 0,016

3 0,769 0,147 0,084 0,016

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Grade de potencial de ocorrência de áreas úmidas

As grades originadas a partir dos operadores fuzzy AND e fuzzy Gama foram

comparadas entre si, com imagens orbitais ópticas e com a ortoimagem da

banda P nativa do Projeto Radiogradia da Amazônia.

As grades fuzzy AND e fuzzy Gama destacaram de maneira muito similar as

áreas com maiores potenciais das demais áreas, porém o fuzzy AND

apresentou limites mais rígidos (Figura 3.1) e valores de potencial inferiores

aos do fuzzy Gama (Figura 3.2). Pela questão da rigidez dos limites, decidiu-

se efetuar as etapas do trabalho somente para a grade fuzzy Gama.

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Figura 3.1 – Extrato das grades fuzzy AND (esquerda) e fuzzy Gama (direita)

Figura 3.2 – Extrato do fatiamento das grades fuzzy AND (esquerda) e fuzzy Gama (direita) em 5 classes de intervalos iguais a 0,2

A classe do fatiamento com os maiores potenciais (0,8 a 1,0) da grade fuzzy

Gama (em verde na Figura 3.2), foi vetorizada e sobreposta à imagens do

Landsat TM e ortoimagem da banda P. A banda mais importante do Landsat

TM para identificação de áreas úmidas é a banda 5 devido à sua capacidade

de discernir entre diferentes níveis de vegetação e de umidade do solo

(OZESMI; BAUER, 2002). Foram utilizadas duas imagens da banda 5 do TM

de datas distintas (janeiro e agosto de 2000), respectivas às estações

chuvosa e seca (Figuras 3.3 e 3.4).

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Figura 3.3 – Extrato da imagem Landsat TM da estação chuvosa sobreposta pelas áreas de maior potencial de ocorrência de áreas úmidas

Figura 3.4 – Extrato da imagem Landsat TM da estação seca sobreposta pelas áreas de maior potencial de ocorrência de áreas úmidas

As áreas de maiores potencial de ocorrência da classe Área Úmida, em

ambas as imagens, estão contidas ou próximas a regiões que apresentam

baixa resposta espectral e simultaneamente não são adjacentes aos rios. Isto

indica que, neste caso, o método tem potencial de identificar áreas úmidas e

diferenciá-las de terrenos sujeitos à inundação, segundo as definições da ET-

EDGV (CONCAR, 2010).

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Figura 3.5 – Extrato da ortoimagem da banda P sobreposta pelas áreas de maior potencial de ocorrência de áreas úmidas

De maneira geral, neste estudo, as áreas de maior potencial de ocorrência

de área úmida encontram-se nas adjacências de regiões apresentando

valores mais elevados de retroespalhamento na ortoimagem da banda P,

porém não se sobrepondo a estas regiões. Porém, houve áreas que se

sobrepuseram à regiões com baixo valores de retroespalhamento.

A relação das áreas úmidas com o retroespalhamento não é trivial, pois

fatores como o tipo de vegetação, banda de imageamento, polarização do

pulso, constantes dielétricas da vegetação e do solo influenciam no sinal de

retorno (KASISCHKE; BOURGEAU-CHAVEZ, 1997). Imagina-se que a

diversidade destes fatores na área de estudo tenha sido a causa de uma

coerência menor entre as áreas de maior potenciais e a ortoimagem da

banda do que entre as áreas de maior potencial e as imagens Landsat TM.

Tendo em vista os resultados obtidos, entende-se que o método pode ser

aperfeiçoado se for considerada a altura da vegetação, que pode ser obtida

pela diferença entre os MDS e MDT nativos do Projeto Radiografia da

Amazônia (CORREIA, 2011). No caso da aplicação prática do método, a

verificação em campo das áreas úmidas permitirá que o modelo seja

ajustado para garantir maior eficácia à inferência. Não é necessário que seja

utilizado um modelo único, uma vez que dada a extensão da área do Projeto

Radiografia da Amazônia, é de se esperar que um modelo se aplique melhor

a certas regiões do que outras.

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3.2 Grade de áreas ótimas

As grades de áreas ótimas dos cenários 1, 2 e 3 foram comparadas. Para

facilitar a visualização das nuances, as grades foram representadas em uma

escala de cores que parte dos tons mais "frios" para os mais "quentes",

significando baixos e altos valores na grade de área ótimas, respectivamente

(Figura 3.6).

Figura 3.6 – Extrato das grades de áreas ótimas em escala de cores; cenários 1 (esquerda), 2 (centro) e 3 (direita)

Percebeu-se que as grades dos cenários 2 e 3 são muito semelhantes,

apresentando pouca diferença entre as representações, porém a grade do

cenário 1, não apresenta os tons em vermelho presentes nos outros

cenários. No que diz respeito à diferença entre os pesos atribuídos ao

potencial de ocorrência da classe Área Úmida, a diferença entre cenários 2 e

3 é praticamente a mesma do que a dos cenários 1 e 2, portanto era de se

esperar que a atenuação nos tons vermelhos fosse mais tênue. Este efeito

pode ter sido causado em parte por um maior peso atribuido à proximidade à

hidrografia no cenário 1, o qual é quase o dobro do peso do cenário 3. Porém

o cenário 2 apresenta um peso muito próximo ao do cenário 1, e não

apresenta esta atenuação acentuada em relação ao cenário 3. Acredita-se

que à medida que o peso atribuído ao potencial de ocorrência de áreas

úmidas se aproxima de 0,5 e deixa de ter predominância sobre os outros

fatores a atenuação dos valores da grade de áreas ótimas é intensificada.

Foram comparadas também, utilizando-se a mesma escala de cores, a grade

de potencial de ocorrência da classe Área Úmida com a grade de áreas

ótimas resultante do cenário 2 (Figura 3.7).

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Figura 3.7 – Comparação entre a grade de potencial de ocorrência da classe Área Úmida (direita) e a grade de áreas ótimas (esquerda) em escala de cores

A região à sudeste da região de estudo apresenta maior presença de áreas

com elevados potenciais de ocorrência de áreas úmidas do que a região à

sudoeste; contudo, quando consideramos os fatores logísticos, devido à

distância à localidade mais próxima, a região à sudoeste torna-se mais

indicada para verificação em campo do que a região sudeste. Este exemplo

mostra como as variáveis logísticas consideradas podem impactar na

decisão de qual área deve ser verificada.

No caso da aplicação prática deste método os pesos poderão ser melhor

ponderados, pois a verificação em campo das áreas úmidas indicadas pela

grade de potencial de ocorrência possibilitará a avaliação da sua eficácia e

sua decorrente importância em relação aos outros fatores considerados.

O método de inferência das áreas ótimas apresenta a vantagem de ser

flexível, podendo outras informações consideradas relevantes, como por

exemplo a localização de bases operacionais temporárias, pontos de

ressuprimento, caminhos, trilhas e rede rodoviária quando presente, serem

incorporadas ao processo decisório bastando que sejam geradas e

normalizadas suas respectivas grades de distâncias.

4 CONCLUSÃO

O método proposto apresentou resultados relevantes no que diz respeito à

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identificação de áreas com maior potencial de ocorrência da classe Área

Úmida, apresentando correlação com áreas de baixa resposta espectral na

banda 5 das imagens TM. As áreas de maior potencial também

apresentaram certa correlação com os tons de cinza da ortoimagem da

banda P, porém esta relação necessita ser estudada mais

pormenorizadamente devido à complexidade da interação do sinal radar com

a diversidade de alvos da Amazônia.

A flexibilidade do método permite que ele possa ser facilmente aprimorado

ou customizado a particularidades do planejamento de uma campanha de

levantamento específica. Trabalhos futuros visando o aperfeiçoamento do

método devem ser realizados incoporando a altura da vegetação como uma

variável para a geração da grade de potencial e também considerando outras

variáveis logísticas na geração da grade áreas ótimas. Além disso, o método

deve ser aplicado à outras áreas de estudo, apresentando características

distintas de vegetação, hidrografia, relevo e presença antrópica.

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