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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL E LAMINITE EM BEZERROS MESTIÇOS PELA ADMINISTRAÇÃO INTRARRUMINAL DE OLIGOFRUTOSE Antônio Dionísio Feitosa Noronha Filho Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva GOIÂNIA 2017

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Page 1: INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL E ...sio...primária, no caso acidose ruminal, e por alterações histológicas indicativas de inflamação aguda e comprometimento de membrana

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL E

LAMINITE EM BEZERROS MESTIÇOS PELA ADMINISTRAÇÃO

INTRARRUMINAL DE OLIGOFRUTOSE

Antônio Dionísio Feitosa Noronha Filho

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Franco da Silva

GOIÂNIA

2017

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ANTÔNIO DIONÍSIO FEITOSA NORONHA FILHO

INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL E

LAMINITE EM BEZERROS MESTIÇOS PELA ADMINISTRAÇÃO

INTRARRUMINAL DE OLIGOFRUTOSE

Tese apresentada para obtenção do título de

Doutor em Ciência Animal junto à Escola de

Veterinária e Zootecnia da Universidade

Federal de Goiás

Área de concentração:

Patologia Clínica e Cirurgia Animal

Linha de pesquisa:

Alterações clínicas, metabólicas e toxêmicas

dos animais e meios auxiliares de diagnóstico

Orientador:

Prof. Dr. Luiz A. Franco da Silva – EVZ/UFG

Comitê de orientação:

Profa. Dra. Maria C. S. Fioravanti–EVZ/UFG

Prof. Dr. Paulo H. J. da Cunha – EVZ/UFG

GOIÂNIA

2017

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vii

Dedico esse trabalho a meus pais, Antônio Dionísio

e Maria Piedade, e a minha irmã, Ana Clara

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viii

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a Deus por permitir inúmeras benções em minha vida,

entre elas a formação profissional e acadêmica;

Agradeço meus pais, Maria Piedade Bueno Teixeira e Antônio Dionísio

Feitosa Noronha, e minha irmã, Ana Clara Bueno Teixeira Feitosa Noronha, por sempre

terem me apoiado em todos os momentos;

Agradeço ao meu orientador, professor Luiz Antônio Franco da Silva, por

todo o acompanhamento, desde o mestrado, no qual pude aprender bastante, além de

partilhar da amizade e respeito;

A Sabrina Lucas Ribeiro de Freitas, pela amizade e por ter compartilhado o

desafio que representou este trabalho;

Aos companheiros da república, Carlos Vinicius de Miranda Faria e Thiago

Nogueira Marins, pela amizade fraterna, os momentos de descontração e o apoio frente

aos desafios;

Aos amigos da pós-graduação Danilo Rodrigues Ferreira, Fernanda

Figueiredo Mendes, Paulo José Bastos Queiroz e Danilo Conrado Silva, pelo

companheirismo ao longo desses anos;

Aos alunos da graduação, hoje quase todos colegas, que participaram

diretamente do projeto, sempre com seriedade e boa vontade, Lucas Alves Rodrigues

Martins, Damila Batista Caetano, Marina Magalhães Rezende, Luíza Costa Barcelos;

Josyanne Rodrigues de Freitas, João Messias Carvalhaes Filho, Daniela Ferreira Cordeiro

Gomes, Lucas Andrade Mendes, Maria Madalena dos Santos Costa e Laiz Alves Pereira.

Sem vocês esse trabalho não passaria de mais um projeto no papel;

A professora Marina Pacheco Miguel, pela inestimável ajuda com as

avaliações histológicas;

A professora Heloísa Maria Mendes Falcão, pela inestimável ajuda nas

biópsias de casco;

Ao comitê de orientação, a professora Maria Clorinda Soares Fioravanti e

professor Paulo Henrique Jorge da Cunha pelas sugestões ao longo de todas as etapas do

projeto;

Ao Hospital Veterinário da EVZ/UFG, nas pessoas do professor Paulo

Henrique Jorge da Cunha e professora Danieli Brolo Martins, pelo apoio na execução do

projeto;

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ix

A dona Vilda, uma verdadeira mãe, e ao Agapita e o Aníbal, pelo apoio

prestado ao longo do experimento;

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa

concedida;

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo

apoio financeiro ao projeto;

A Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, por

ter me proporcionado, desde a Residência, inúmeras oportunidades de aprendizado e

crescimento;

Aqueles de quem eu eventualmente me esqueci, minhas sinceras desculpas.

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x

“Encontrar a verdade é difícil, e o caminho é acidentado. Como

buscadores da verdade, o melhor é não julgar e não confiar

cegamente nos escritos dos antigos. É preciso questionar e

examinar criticamente o que foi escrito, por todos os lados. É

preciso aceitar apenas o argumento e a experiência, em vez do

que qualquer pessoa diz, pois todo ser humano é vulnerável a

todos os tipos de imperfeição. Como buscadores da verdade,

devemos suspeitar e questionar nossas próprias ideias ao

investigarmos fatos, para evitar preconceitos ou pensamentos

descuidados. Sigam este caminho e a verdade vos será revelada”

Ibn al-Haytham (Alhazen)

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xi

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..............................................................1

1. Introdução, justificativa e objetivos...............................................................................1

1.1. Objetivos.....................................................................................................................3

2. Revisão de literatura ......................................................................................................5

2.1. Estrutura e função do dígito bovino ...........................................................................5

2.2. Patogenia da laminite bovina......................................................................................8

2.3. Acidose ruminal e laminite .........................................................................................9

2.4. Alterações circulatórias na laminite bovina..............................................................11

2.5. Metaloproteinases de matriz .....................................................................................12

2.6. Achados macro e microscópicos da laminite bovina................................................13

2.7. Aspectos metodológicos da pesquisa em laminite bovina ........................................13

Referências ......................................................................................................................20

CAPÍTULO 2 – ARTIGO DE REVISÃO: INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE

RUMINAL EM BOVINOS .............................................................................................26

Introdução ........................................................................................................................27

Aspectos gerais sobre a acidose ruminal .........................................................................28

Prejuízos econômicos decorrentes da acidose ruminal....................................................28

Etiopatogenia da acidose ruminal ....................................................................................29

Aspectos relacionados ao diagnóstico da acidose ruminal ..............................................32

Indução de acidose ruminal .............................................................................................32

Aspectos metodológicos dos protocolos de indução de acidose ruminal ........................33

Avaliação de parâmetros ruminais ..................................................................................34

Protocolos de indução de acidose ruminal aguda ............................................................37

Acompanhamento clínico em quadros de acidose aguda induzida .................................38

Protocolos de indução de acidose ruminal subaguda ......................................................39

Aplicações dos protocolos de indução de acidose ruminal .............................................40

Considerações finais ........................................................................................................41

Referências ......................................................................................................................42

CAPÍTULO 3 –CARACTERIZAÇÃO DA ACIDOSE RUMINAL E DA FASE INICIAL

DA LAMINITE INDUZIDAS POR OLIGOFRUTOSE EM BEZERROS MESTIÇOS

.........................................................................................................................................47

Resumo ............................................................................................................................47

1. Introdução ....................................................................................................................48

2. Materiais e métodos .....................................................................................................50

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xii

3. Resultados....................................................................................................................54

4. Discussão .....................................................................................................................60

5. Conclusão ....................................................................................................................64

Referências ......................................................................................................................65

CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................69

ANEXO I .........................................................................................................................71

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xiii

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

FIGURA 1 - Regiões externas do casco bovino, vistas palmar (A) e dorsal (B). .............5

FIGURA 2 – Corte sagital do dígito bovino com a derme e epiderme de cada segmento 6

FIGURA 3 – Estrutura da inulina, similar a oligofrutose, se diferindo desta apenas pelo

maior número de monômeros de frutose ....................................................17

CAPÍTULO 2

FIGURA 1 – Sequência de alterações químicas e microbianas características da acidose

ruminal aguda. AGV: ácidos graxos voláteis .............................................30

FIGURA 2 – Sequência de alterações químicas e microbianas características da acidose

ruminal subaguda .......................................................................................31

FIGURA 3 – Componentes de sistema de aferição contínua de pH ruminal ..................36

FIGURA 4 – Manejo alimentar nos dias de indução de acidose subaguda ....................40

CAPITULO 3

FIGURA 1 – Biópsia da região da muralha do casco de bovino. .................................... 53

FIGURA 2 – Fotomicrografias de fragmentos do dígito de bovinos. Fragmento da região

da muralha de animal do grupo GE evidenciando edema perivascular.

Coloração HE, aumento de 10X ................................................................... 58

FIGURA 3 – Fotomicrografias de fragmentos do dígito de bovinos. Fragmento de região

da coroa de animal do grupo GP evidenciando infiltrado inflamatório

subepidérmico. Coloração HE, aumento de 4X............................................ 58

FIGURA 4 – Fotomicrografias de fragmentos do dígito de bovinos. A – Fragmento de

coroa de animal do grupo GE evidenciando destacamento multifocal discreto

da membrana basal. B - Fragmento de muralha de animal do grupo GP

evidenciando irregularidades da membrana basal. Coloração PAS, aumento

de 40X ........................................................................................................... 59

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 3

TABELA 1 - Médias e desvio padrão de frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR),

movimentos ruminais em cinco minutos (MR), temperatura retal (T°C) e tempo de

preenchimento capilar (TPC) para bezerros recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP)

e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em 2014. ................... 55

TABELA 2 - Médias e desvio padrão de pH ruminal e momento de término de redução do azul

de metileno (AM) para bezerros recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg

de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em 2014. .................................. 55

TABELA 3 - Médias e desvio padrão de hematócrito (HCT) e proteína plasmática (PTN) para

animais recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no

Município de Goiânia, em 2014. ....................................................................... 56

TABELA 4 - Médias e desvio padrão dos valores de pH sanguíneo, pressão de CO2 (PCO2),

bicarbonato (HCO3), excesso de base (BE) e intervalo aniônico (AG) para animais

recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município

de Goiânia, em 2014. ....................................................................................... 56

TABELA 5 - Escores de alterações histológicas, em amostras de casco, coroa e muralha dorsal,

de bezerros que receberam 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose

(GE), no Município de Goiânia, em 2014. ......................................................... 57

TABELA 6 – Escores de alterações histológicas em amostras de casco, coroa e muralha dorsal

do casco, agrupados por membro pélvico e torácico, para bezerros recebendo 13 g/kg

de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em

2014. .............................................................................................................. 59

TABELA 7 - Escores de alterações histológicas em amostras da coroa e muralha dorsal do casco,

agrupados por coroa e muralha, para bezerros recebendo 13 g/kg de oligofrutose

(GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE), no Município de Goiânia, em 2014. ........... 59

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ARSA Acidose ruminal subaguda

ALRA Acidose láctica ruminal aguda

MMP Metaloproteinases de matriz

CHD Claw horn disruption

FC Frequência cardíaca

FR Frequência respiratória

MR Motilidade ruminal em cinco minutos

AM Azul de metileno

HCT Hematócrito

PTN Proteína plasmática

pH Potencial hidrogeniônico

PCO2 Pressão parcial de CO2

HCO3 Bicarbonato

BE Excesso de base

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RESUMO

Entre as doenças que acometem bovinos em sistemas de alta produtividade estão a acidose

ruminal e a laminite. Objetivou-se inicialmente realizar revisão de literatura sobre

indução experimental de acidose ruminal em bovinos e, posteriormente, avaliar o quadro

de acidose ruminal e da fase inicial de laminite induzidas pela administração de

oligofrutose em bezerros. Nos diferentes protocolos de indução podem ser avaliados

aspectos fermentativos e clínicos da acidose ruminal, nas formas aguda e subaguda. Para

o estudo, utilizaram-se seis bezerros mestiços (Bos taurus X Bos indicus) de um ano de

idade. Inicialmente usaram-se três animais em um grupo piloto (GP) recebendo

oligofrutose na dose de 13 g/kg e em seguida um grupo experimental (GE) recebendo na

dose de 17 g/kg. Avaliaram-se alterações clínicas, laboratoriais e histológicas do casco.

A sobrecarga de oligofrutose provocou acidose ruminal caracterizada por baixo pH em

ambos os grupos. Observou-se também acidose metabólica com redução de pH, PCO2,

bicarbonato e excesso de base. Não se observou aumento da sensibilidade dos cascos ou

claudicação. Apesar disso, muitos animais apresentaram apatia e marcha mais lenta,

possivelmente devido a acidose metabólica. Histologicamente observaram-se alterações

circulatórias e infiltrado inflamatório na derme, irregularidades de membrana basal e

alterações morfológicas na camada basal da epiderme. O protocolo de indução de laminite

com administração intrarruminal de oligofrutose se mostrou eficaz em bezerros mestiços

de um ano. Na fase inicial a laminite se caracterizou por sinais clínicos da enfermidade

primária, no caso acidose ruminal, e por alterações histológicas indicativas de inflamação

aguda e comprometimento de membrana basal e epiderme.

Palavras-chave: Bovino, acidose metabólica, claudicação, casco, histologia dos dígitos

ABSTRACT

Among diseases of cattle in intensive production systems are rumen acidosis laminitis. It

was produced initially a literature review about experimental induction of rumen acidosis

and after this, was evaluated rumen acidosis and initial phase of laminitis in calves, both

induced by intrarruminal administration of oligofructose. In the different protocols, in

both acute and subacute forms of acidosis, are usually evaluated fermentative and clinical

aspects. In the study were used six crossbred male calves (Bos taurus X Bos indicus)

aging one year and weighting 175 ± 22,6 kg. Initially were used three animals in a pilot

group (GP), receiving oligofructose in the dose of 13g/kg and after this, three animals

were used as experimental group (GE) receiving oligofructose in the dose of 17 g/kg.

Were evaluated parameters from clinical exam, hematocrite, plasmatic protein, blood gas

analysis and histology of hoof samples. Oligofructose overload induced rumen acidosis

in both groups. It was also observed metabolic acidosis with reduction of blood pH,

PCO2, bicarbonate and base excess. Was observed neither elevation in hoof sensibility

nor lameness. Despite this, many animals presented apathy and slower gait, possibly due

to metabolic acidosis. In histologic evaluation, were observed circulatory changes and

inflammatory infiltrate in dermis, irregularities in basement membrane and morphologic

changes in basal epidermis. Protocol for laminitis induction with intrarruminal

administration of oligofructose in crossbred calves was well succeeded. In the initial

phase, laminitis was characterized by clinical signs of the primary disease, in this case

rumen acidosis, and histologic lesions indicative of acute inflammation and compromise

of basement membrane and basal epidermis.

Keywords: Bovine, hoof, hoof histology, lameness, metabolic acidosis

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CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1. Introdução, justificativa e objetivos

Nas últimas décadas os rebanhos de bovinos vêm passando por mudanças que

resultam em produtividade cada vez maior, tanto na produção de carne quanto na

produção de leite. Esse fenômeno, que ocorre ao redor do mundo, também se faz presente

na pecuária brasileira1,2. Apesar dos benefícios obtidos por essas transformações e do

melhor desempenho zootécnico apresentado pelos rebanhos em geral, algumas

enfermidades tipicamente associadas à intensificação do sistema de produção se tornaram

mais comuns, especialmente aquelas de caráter nutricional e metabólico, como acidose

ruminal e a cetose3,4.

Acidose ruminal é um desequilíbrio da fermentação ruminal associada ao

consumo de grande quantidade de carboidrato de rápida fermentação. O distúrbio se

caracteriza pela acidificação acentuada e prolongada do conteúdo ruminal5. Em função

do consumo de carboidratos de alta fermentação, animais criados em sistemas intensivos

de produção são mais susceptíveis à acidose ruminal. Essa indigestão pode ocorrer nas

formas aguda e subaguda. Na forma aguda a acidose se caracteriza por sinais clínicos

evidentes como distensão ruminal com liquido, diarreia, desidratação e apatia. Os animais

nesse estado requerem tratamento clínico ou, em algumas situações, cirúrgico6. Na forma

subaguda, a acidose não provoca sinais clínicos específicos, entretanto, a longo prazo o

desequilíbrio na fermentação ruminal pode causar prejuízos à saúde do animal na forma

de rumenite e paraqueratose, abscessos hepáticos, comprometimento da função imune e

doenças de casco5,7-9.

Juntamente com a acidose ruminal, as doenças de casco constituem um grupo

de enfermidades que também vem comprometendo os rebanhos bovinos ao redor do

mundo1,10-12. Em função da dor, os animais se locomovem e comem menos, fatores que

combinados levam a diversos desdobramentos e causam prejuízos aos produtores. Vacas

leiteiras com doença podal diminuem a produção, perdem peso, tem sua eficiência

reprodutiva comprometida, estão predispostas a outras enfermidades e consequentemente

tem uma vida produtiva mais curta, sendo muitas vezes descartadas precocemente1,13. Nos

rebanhos de corte, as doenças de casco podem ser observadas tanto em confinamentos

quanto em sistemas de criação extensiva8,14. Quando os rebanhos de cria são manejados

extensivamente e se emprega amonta natural, touros podem apresentar lesões no casco

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2

comprometendo seriamente sua função como reprodutores14-16. Outro aspecto importante

sobre as doenças de casco é o significativo impacto negativo no bem-estar animal dos

bovinos, especialmente na pecuária leiteira17,18. Nos rebanhos leiteiros já se constataram

diversas alterações comportamentais secundárias à claudicação como menor ingestão de

alimentos, maior tempo em decúbito, menor oposição a animais dominantes do mesmo

lote e epressão de comportamento de estro atenuada19.

Como causa dessas enfermidades são apontados fatores microbiológicos,

metabólicos e ambientais atuando isoladamente ou em conjunto. Uma das enfermidades

podais mais comuns é a laminite, considerada uma doença sistêmica com manifestação

local nos dígitos20-22. A laminite pode se manifestar de forma clínica, subclínica ou

crônica levando a claudicação grave ou lesões como hemorragia de sola, úlcera de sola,

úlcera de pinça e doença da linha branca8,21,23. É uma doença de etiologia complexa e que

vem sendo estudada há muito tempo. Na sua etiologia considera-se a interação de fatores

nutricionais e metabólicos, especialmente associados à acidose ruminal8,20,21,24. Apesar de

aparentemente simples, demonstrar e compreender a relação entre acidose ruminal e

laminite, não tem se mostrado tarefa simples para a comunidade científica veterinária11,25-

28.

Uma das formas de se estudar a laminite é a sua indução experimental . Os

protocolos usados na tentativa de indução de laminite bovina envolveram sobrecarga com

grãos, ou administração de substâncias possivelmente envolvidas na patogenia da

enfermidade como ácido lático, histamina e endotoxinas. Os resultados não se mostraram

muito consistentes. Apesar de apresentarem alterações nos dígitos, nem sempre os

animais desenvolveram claudicação ou mesmo os critérios para indicar a ocorrência da

enfermidade foram pouco claros7,8,25-29.

O protocolo com administração intrarruminal de oligofrutose, desenvolvido

na última década, tem se mostrado o mais promissor na indução da laminite em bovinos,

considerando a acidose ruminal como um dos principais fatores envolvidos na patogenia

da doença7,8. Muitos animais testados desenvolveram claudicação e maior sensibilidade

no casco, características da enfermidade, e alterações microscópicas nos dígitos,

detectadas histologicamente ou por outras metodologias. Apesar disso, alguns não

desenvolveram claudicação ou não apresentaram alterações microscópicas indicativas de

laminite7,8,29-32.

Essa situação leva a necessidade de mais estudos utilizando esse protocolo,

testando diferentes situações como o uso de animais jovens ou com padrão racial

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3

representativo do rebanho nacional. Uma categoria animal que poderia ser testada é a de

animais jovens, já desmamados. Apresentam um trato digestório semelhante ao do adulto,

peso corporal baixo em relação ao adulto, mais fácil o manejo, ocupam menos espaço e

requerem menores investimentos financeiros. Existem também relatos de ocorrência de

laminite nessa categoria de bovinos21,33,34.

Além da idade, seria interessante a realização de protocolo de indução em

animais zebuínos ou mestiços (Bos taurus X Bos indicus), que compõem a maior parte

do rebanho nacional. Todos os protocolos de indução de laminite encontrados na literatura

utilizaram animais taurinos, de raça pura ou mestiços (Bos taurus X Bos taurus)7,8,25-28.

Apesar de não haverem relatos de estudos de indução experimental em zebuínos, ou

mestiços, na literatura consultada7,8,25-28, sabe-se que a laminite ocorre nesses animais,

tanto em sistemas de produção de corte35 quanto de leite36.

Além da escolha do animal, outro aspecto que poderia ser melhor explorado

nos estudos é a caracterização da fase inicial da doença. O período entre o fator

desencadeante e o surgimento de sinais clínicos de laminite é denominado fase

prodrômica, ou de desenvolvimento. Nesse período, já bem descrito na espécie

equina37,38, apesar de não serem observados sinais característicos da lamintie, como

claudicação, ocorrem alterações sistêmicas e locais nos dígitos8,37,39. Adicionalmente,

podem surgir sinais de outras enfermidades envolvidas, como a acidose ruminal 7,8. O

melhor entendimento dessa fase permitiria a adoção de medidas mais eficientes de

monitoramento e, talvez, até de tratamento precoce, como também já ocorre no

cavalo38,40,41.

Considerando a demanda por mais informações sobre aspectos da laminite

em bovinos, um estudo empregando oligofrutose na indução da enfermidade em animais

mestiços (Bos taurus X Bos indicus), com ênfase na fase prodrômica, poderia gerar

informações de grande importância para sua prevenção e controle no nosso meio.

1.1. Objetivos

Com esse trabalho objetivou-se avaliar alterações clínicas, ruminais,

hemogasométricas e histológicas da acidose ruminal e da fase prodrômica da laminite em

bezerros mestiços (Bos taurus X Bos indicus) submetidos a protocolo de indução

experimental com administração intrarruminal de oligofrutose, tendo como objetivos

específicos:

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4

Realizar revisão de literatura sobre protocolos de indução experimental de acidose

ruminal;

realizar avaliação clínica, escore de claudicação e sensibilidade digital em bezerros

após administração intrarruminal de oligofrutose;

avaliar parâmetros do suco ruminal;

identificar alterações de hematócrito, proteína plasmática e hemogasometria;

descrever lesões histológicas de fragmentos do casco.

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5

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Estrutura e função do dígito bovino

A compreensão da estrutura e função do dígito é essencial para o melhor

entendimento dos eventos patológicos que ocorrem no seu interior 21,42. O dígito bovino

compreende a extremidade dos membros torácicos e pélvicos e envolve as estruturas

distais à articulação metacarpo/metatarsofalangeana dos terceiros e quartos

metacarpo/metatarso. Aproximadamente na altura da articulação interfalangeana distal o

dígito passa a ser envolvido pelo estojo córneo, chamado comumente de casco, que é uma

camada epidérmica modificada, sendo altamente espessada e queratinizada. O casco é

uma estrutura rígida sobre a qual os membros apoiam seu peso e que forma uma barreira

impermeável ao ambiente para proteger suas estruturas internas. Externamente o casco

pode ser dividido nas regiões de coroa, parede ou muralha, axial e dorsal, linha branca,

sola e talão 42 (Figura 1).

FIGURA 1 - Regiões externas do casco bovino, vistas palmar

(A) e dorsal (B).

Internamente ao estojo córneo tem-se a derme que encobre a terceira falange,

osso sesamoide distal, tendão extensor digital, tendão flexor digital profundo e coxim

digital. Todos os segmentos do casco são camadas epidérmicas que dependem de uma

derme subjacente para sua nutrição celular. Ao corte sagital pode-se observar o par, derme

e epiderme, formando as distintas regiões do casco42,43 (Figura 2).

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FIGURA 2 – Corte sagital do dígito bovino com a derme e epiderme de cada segmento

Fonte: Modificado de Budras44

Apesar de ser uma estrutura rígida, internamente o casco é ricamente

vascularizado. A irrigação do casco se dá pelas artérias digital palmar/plantar III que se

dividem em artéria digital palmar/plantar própria III e IV. As arteríolas formam ramos

terminais que irrigam a derme de todo o casco. O leito capilar é drenado por uma rica

rede de vênulas que confluem originando as veias digital dorsal e digital palmar/plantar

abaxial e axial 45. Em diversas regiões do casco existem comunicações diretas entre

arteríolas e vênulas chamadas anastomoses arteriovenosas (AVA). Quando fechadas, as

AVA permitem que todo o sangue aferente pelas arteríolas chegue a derme, quando

abertas desviam parte do sangue diretamente para as vênulas sem passar pelo leito capilar.

As AVA são um mecanismo de regulação da perfusão do dígito e permite adaptações a

mudanças de temperatura e pressão no interior do mesmo. Acredita-se que uma

desregulação na ação das AVA, e até sua proliferação, sejam parte da fisiopatologia da

laminite46.

Diversas forças estão envolvidas no interior do casco visando manter a

integridade e o bom funcionamento de suas estruturas e tecidos. A terceira falange é

envolvida pela derme digital. Suportando o peso do membro, a tendência natural do osso

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7

seria o afundamento dentro do casco. Porém, caso isso ocorresse, a derme abaixo da face

solear da falange seria comprimida. Considerando que a derme é um tecido ricamente

inervado e vascularizado, essa compressão pela falange provocaria lesões na derme e

consequentemente dor ao animal47. Para garantir a estabilidade mecânica da terceira

falange dentro do casco, e consequentemente a integridade da derme subjacente, existem

duas estruturas estabilizadoras, o coxim digital e o aparato suspensório da falange21.

O coxim digital é composto por cilindros de tecido adiposo envoltos por

tecido conjuntivo que correm paralelamente abaixo da face solear da terceira falange. A

cada passada do animal, o coxim auxilia na absorção de impacto bem como na

transmissão de forças lateralmente, da sola para as paredes axial e abaxial48,49. O aparato

suspensório consiste em uma rede de fibras colágenas que, abaxialmente, se insere na

face lateral da terceira falange e na outra extremidade na membrana basal da transição

derme/epiderme do segmento laminar. Estas estruturas permitem que a dinâmica de

forças dentro do dígito durante a passada ocorra sem comprometimento da derme, camada

interna sensível do casco29,43.

O estojo córneo cresce e se desgasta continuamente mantendo sua forma

aparentemente inalterada. O processo pelo qual as células da camada basal da epiderme

se diferenciam para formarem a camada córnea se chama queratinização50. Nesse

processo as células morrem e se amontoam na camada córnea, sendo chamadas de

queratinócitos. Além de se afastarem da membrana basal, os queratinócitos produzem e

acumulam queratina no seu interior, bem como cemento intercelular, que mantem a

adesão entre as células. O que faz as células se modificarem e se afastarem da membrana

basal é a contínua divisão celular que ocorre na camada basal. Células jovens surgem e

empurram células mais antigas para o exterior. A camada mais externa da epiderme,

camada córnea, forma uma verdadeira parede com os queratinócitos, como tijolos,

amontoados e aderidos uns aos outros pelo cemento intercelular21.

Para que o processo de queratinização ocorra adequadamente é necessária que

a derme, subjacente à epiderme, se encontre íntegra. Isso porque a epiderme, apesar de

possuir uma camada interna viva e em constante divisão, é avascular e o oxigênio mais

os nutrientes necessários para seu metabolismo chegam por difusão da derme ,

atravessando a membrana basal. Portanto, a formação de um estojo córneo saudável é

inteiramente dependente da integridade da derme subjacente. Como consequência,

processos patológicos da derme digital, como a laminite, afetam diretamente o aporte de

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8

oxigênio e nutrientes à epiderme e dessa forma interferem na queratinização e,

consequentemente, na formação do tecido córneo42,50,51.

2.2. Patogenia da laminite bovina

O termo laminite significa literalmente inflamação das lâminas, camada

laminar da derme digital, porém, como todos os segmentos dérmicos são acometidos, um

termo mais preciso seria pododermatite asséptica difusa. A laminite ocorre nas formas

clínica, com claudicação grave nos quatro membros; subclínica, na qual eventos

patológicos na derme levam em longo prazo à formação de lesões no estojo córneo como

úlcera de sola e doença da linha branca; e crônica, na qual ocorre deformação

característica do estojo córneo, com alongamento e concavidade exagerados da muralha

dorsal. Considera-se que as diferentes formas clínicas apresentem uma base patológica

semelhante, vindo a se diferir especialmente na intensidade com que ocorrem e em

decorrência de determinados fatores de risco7,21.

O fator de risco mais comumente associado à laminite é a acidose ruminal.

Alterações hormonais durante o parto, cetose em vacas leiteiras, enfermidades como

mastite e metrite e pisos abrasivos, principalmente de concreto, também seriam fatores

associados à laminite, especialmente na forma subclínica. Os fatores desencadeantes da

afecção levam a alterações inflamatórias da derme digital que resultam na perda da

estabilidade mecânica da terceira falange e no comprometimento da queratinização no

estojo córneo. Esses dois fatores ocorrem simultaneamente, cada um em graus variados

de intensidade dependendo de uma série de fatores internos e externos ao animal. Esta

interação resulta em diferentes apresentações clínicas da laminite bovina20,52-54.

O período entre o início da ação dos fatores desencadeantes e o surgimento

dos primeiros sinais clínicos da laminite, nas suas diferentes formas, é denominado fase

de desenvolvimento ou fase prodrômica. Neste período, apesar de não serem observados

sinais clínicos, estão ocorrendo alterações microscópicas internamente no casco, como

alterações circulatórias, infiltrado de células inflamatórias e ativação de proteases7,8,36,55.

A duração da fase prodrômica é variável, de um a dois dias nos casos de laminite clínica

e de dois a três meses nos casos de laminite subclínica7,8,21,50,56. O melhor entendimento

das alterações que ocorrem na fase de desenvolvimento da laminite pode levar a novas

possibilidades de tratamento precoce, minimizando a severidade dos sinais clínicos que

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9

venham a surgir. Na espécie equina isso já é adotado com o uso de antiinflamatórios e

crioterapia40,41.

A instabilidade da terceira falange dentro do casco está relacionada à perda

de sua ancoragem na junção derme/epiderme. Dependendo da localização e da extensão

da perda de ancoragem, a terceira falange pode se deslocar de diferentes maneiras dentro

do estojo córneo. Pode ocorrer um movimento de rotação em diferentes eixos, com

afundamento do ápice da falange ou de uma de suas laterais, ou um movimento de

afundamento da falange de maneira uniforme, sem desvio de seus eixos. Em qualquer das

situações, ao se projetar em direção ao solo a falange comprime o cório abaixo de sua

face solear. Esta compressão causa inflamação e, eventualmente, necrose da derme solear,

provocando ruptura de vasos sanguíneos e dor ao animal. Os componentes sanguíneos

extravasados são incorporados na epiderme e tecido córneo47,57.

Além da perda da estabilidade mecânica da terceira falange, outro efeito da

laminite é o comprometimento na queratinização. A alteração na derme também leva

naturalmente a alterações na epiderme da sola prejudicando a formação de porções de

tecido córneo nesse segmento do casco. O tecido córneo produzido é de menor qualidade,

o que se manifesta como amolecimento e desgaste acentuado do casco50,51.

Eventualmente ocorre interrupção temporária na queratinização com formação de solas

duplas e sulcos côncavos na muralha, denominados linhas de estresse. Clinicamente, a

soma de focos de hemorragia e necrose da derme mais comprometimento na

queratinização se manifestam na forma de hemorragias, hematomas e úlceras de sola,

pinça ou linha branca11,21,43.

O surgimento de lesões na superfície do estojo córneo costuma ocorrer de

dois a quatro meses após a ocorrência das alterações mais internas na derme e epiderme

profunda36,57. Essa forma da enfermidade com formação de lesões focais como úlcera de

sola e doença de linha branca representa a laminite subclínica. O processo inflamatório

agudo, intenso e simultâneo em todos os dígitos provoca dor e claudicação severa no

animal, representando a laminite clínica. Além da claudicação podem ser notadas áreas

eritematosas no dígito, inclusive em porções despigmentadas do casco 7,21,27.

2.3. Acidose ruminal e laminite

Um dos principais fatores relacionados à laminite em bovinos é a acidose

ruminal. Endotoxinas, ácido lático e histamina são apontados como elementos lesivos ao

cório digital e são associados à acidose ruminal30,34,58,59. A acidose ocorre pela ingestão

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excessiva de carboidrato de rápida fermentação, principalmente o amido presente em

grãos. Sistemas intensivos de produção de bovinos de corte e de leite comumente usam

grande quantidade de carboidrato de alta fermentação na dieta dos animais, favorecendo

a ocorrência de acidose ruminal4,60. O distúrbio fermentativo pode ocorrer de duas formas,

acidose ruminal subaguda (ARSA) e acidose lática ruminal aguda (ALRA). Na ARSA, a

dieta rica em carboidratos de alta fermentação leva a fermentação mais intensa no

ambiente ruminal com maior produção de ácidos graxos voláteis que, temporariamente,

se acumulam reduzindo o pH e causando a acidose ruminal subaguda. Após algumas

horas, os ácidos graxos voláteis são absorvidos e o pH ruminal retorna aos valores

fisiológicos. Esse quadro se repete diariamente sem aparentemente comprometer a saúde

do animal. A acidose ruminal subaguda é a forma mais comum da doença e causadora de

maiores prejuízos5,61.

Na sua forma aguda, a acidose ocorre com menos frequência, porém de forma

muito mais grave para o animal. Geralmente ocorre pela ingestão excessiva de

carboidratos de alta fermentação de uma única vez. A falta de adaptação prévia do animal

ao consumo de grande quantidade de concentrado também é um fator de risco para

ALRA. Nesta forma da indigestão ocorre rápida proliferação de bactérias produtoras de

ácido lático que levam a redução drástica do pH ruminal6. Quando o animal é previamente

adaptado ao consumo de grande quantidade de concentrado, além das bactérias

produtoras de ácido lático, há tempo também para proliferação de bactérias consumidoras

do ácido, de modo que ele não se acumula5,60. Quando não há adaptação à introdução de

concentrado na dieta, as bactérias lactolíticas não se desenvolvem suficientemente para

evitar o acúmulo de ácido lático. O ambiente ruminal excessivamente ácido leva ao

desaparecimento da maior parte das bactérias comumente encontradas no rúmen, sendo

essas gradativamente substituídas por outro grupo de bactérias, lactobacillus spp., que

produz ainda mais ácido lático. Este ciclo vicioso leva ao acúmulo de grandes quatidades

de ácido lático que passa a ser absorvido levando à acidose metabólica60,62.

Nas duas formas de acidose ocorrem alterações importantes que fazem com

que o desequilíbrio fermentativo no rúmen tenha desdobramentos sistêmicos, como a

endotoxemia5. A dieta rica em concentrado induz alterações na microbiota que resultam

na liberação de grande quantidade de lipopolissacarídeos, também conhecidos como

endotoxinas9,11. Endotoxinas são componentes da membrana externa de bactérias Gram

negativas e são liberadas em maior quantidade no meio quando ocorrem grandes ciclos

de proliferação e morte dessas bactérias, como ocorre na acidose ruminal. Após a

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absorção, as endotoxinas podem ativar mecanismos da imunidade inata, induzindo a

produção e liberação de diversas citocinas e proteínas de fase aguda como amiloide sérica

A e haptoglobina 9,58,63.

Apesar da ênfase na acidose ruminal, outras enfermidades como mastite,

metrite e pleuropneumonia também podem cursar com endotoxemia64,65 e,

aparentemente, também predispõem a ocorrência de laminite. Dependendo da quantidade

de endotoxinas circulantes, o organismo pode entrar num quadro denominado

endotoxemia que, entre outros efeitos, afeta a grande circulação bem como a

microcirculação em regiões muito irrigadas, como o dígito27. Além dos efeitos da

microcirculação, é possível que endotoxinas estejam indiretamente associados, pela

ativação de neutrófilos, à liberação e ativação de proteases chamadas metaloproteinases

de matriz (MMP). Acredita-se que essas enzimas tenham papel importante na patogenia

da laminite, tanto em bovinos quanto na espécie equina21,66,67.

Além das endotoxinas, outros fatores associados à acidose ruminal e

apontados com possível participação na patogenia da laminite são a histamina e o ácido

lático30,59. A histamina é formada no rúmen de bovinos alimentados com dietas ricas em

concentrado e com elevado teor proteico pela descarboxilação do aminoácido histidina.

Essa reação seria realizada pela bactéria Allisonella histaminiformis, além de bactérias do

gênero Lactobacillus. Após a produção, grandes quantidades são absorvidas e podem

causar alterações hemodinâmicas no casco, levando a laminite24. O ácido lático,

produzido e absorvido nos quadros agudos da indigestão por grãos, além de causar

acidose metabólica pode levar a lesões no endotélio vascular bem como interferir no

funcionamento de neutrófilos. As lesões de endotélio vascular, ao ocorrerem no interior

do dígito, permitem o extravasamento de plasma e células sanguíneas, comprometendo a

perfusão. Um dos efeitos observados no funcionamento dos neutrófilos sob influência do

ácido lático é a liberação de MMP, que podem degradar a membrana basal e o aparato

suspensório do dígito30,39,55,68.

2.4. Alterações circulatórias na laminite bovina

Diferentes agentes como endotoxinas, histamina e ácido lático comprometem

de alguma forma a perfusão dos dígitos. Durante o desenvolvimento da laminite costuma

ser observada vasoconstrição na derme e, em alguns casos, são observadas também lesões

endoteliais27,69. No segmento venoso a vasoconstrição diminui a drenagem sanguínea da

região, permitindo o acúmulo de sangue, que associado a lesões endoteliais causadas por

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endotoxinas e ácido lático, levam ao extravasamento de sangue para o espaço intersticial

aumentando a pressão no mesmo. Outro fator importante é a formação de trombos

induzida pela ação de endotoxinas, prejudicando o fluxo sanguíneo. Essas alterações

produzem áreas de hemorragia, edema e isquemia na derme. Como o interior do casco é

pouco expansível, ocorre aumento acentuado da pressão dentro do dígito, prejudicando

ainda mais os tecidos e sensibilizando receptores de dor presentes na derme21,57. Quando

esse quadro ocorre de forma abrupta e acentuada em todos os dígitos, o animal apresenta

a forma clínica da laminite, com claudicação severa associada a todos os membros7,31.

Esse conjunto de alterações circulatórias pode resultar em áreas de degeneração e necrose

na derme, bem como prejudicar a chegada de oxigênio e nutrientes à epiderme49.

2.5. Metaloproteinases de matriz

Na patogenia da laminite, concomitantemente, ou em seguida às alterações

na derme digital, ocorre progressiva degradação das fibras de colágeno que fazem parte

do aparato suspensório da terceira falange47. As enzimas responsáveis por essa

degradação são as metaloproteinases de matriz (MMP), que são dependentes de cálcio e

atuam no remodelamento e degradação da matriz extra celular70. As MMP estão presentes

em células inflamatórias, endoteliais, queratinócitos e células do próprio tecido

conjuntivo. Podem ser liberadas em excesso sob determinados estímulos locais, como

hipóxia, ou sistêmicos como endotoxinas ou ácido lático30,68,71.

Existem diferentes tipos de MMP, as que mais foram estudadas na laminite

bovina foram a 2 e 9. A MMP 9 é associada à inflamação, sendo liberada por células

inflamatórias, como os neutrófilos, ao passo que a MMP2 não é necessariamente

associada à inflamação, sendo liberada por células do próprio tecido conjuntivo67,72. Ao

avaliar o colágeno da derme digital exposto a concentrações crescentes de MMP 2 e 9,

observou-se degradação concentração dependente73. As formas 2 e 9 das MMP foram

identificadas em tecido ulcerado na região derme/epiderme74. A identificação do tipo de

colagenase atuante permitiu a identificação de fatores de risco para lesões do estojo

córneo, conhecidas como claw horn disruption (CHD), não necessariamente associados

ao processo inflamatório característico da laminite. A avaliação da derme digital de vacas

antes e após o parto indicou ativação de MMP 2, não associada à inflamação, ao passo

que não foi detectada a presença de MMP 972. Nesse estudo foi sugerido que a ação de

hormônios como estrógeno e relaxina poderiam induzir o remodelamento do tecido

conjuntivo na derme digital. A relaxina atua no tecido conjuntivo das estruturas

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associadas ao canal do parto. Sua ação auxilia a dilatação do canal do parto, que é

essencial para a passagem do feto. No dígito poderia aumentar a expressão das MMP

resultando em degradação e lassidão do aparato suspensório com perda da estabilidade

mecânica da terceira falange72,75.

2.6. Achados macro e microscópicos da laminite bovina

Além do histórico, exame do ambiente e exame físico, a avaliação macro e

microscópica de peças anatômicas de animais submetidos a eutanásia ou abatidos também

é uma ferramenta na avaliação da laminite nos rebanhos. Macroscopicamente, na

superfície do estojo córneo podem ser observadas deformações características do casco

como alongamento acentuado da pinça com redução da altura do talão além de sulcos na

muralha abaxial e axial, conhecidos como linhas de estresse. Na sola podem ser

observadas lesões secundárias à laminite subclínica como erosões e ulcerações na pinça,

linha branca ou sola21,36,56. Internamente, o casco pode ser avaliado por destacamento do

estojo córneo ou por corte sagital do mesmo. Na derme que recobre a terceira falange

podem ser observadas áreas de hiperemia, hemorragia e necrose76-78. Histologicamente

podem ser observadas na derme alterações circulatórias como edema, hiperemia,

trombose e hemorragias além de infiltrado leucocitário. Na epiderme são observados

alongamento das projeções entre derme e epiderme, áreas de irregularidade e

destacamento da membrana basal e alterações no formato do núcleo das células

epidermais da camada basal29,31,36,56.

2.7. Aspectos metodológicos da pesquisa em laminite bovina

A complexa etiopatogenia e o envolvimento de muitos fatores de risco na

laminite estimulam constantemente novas pesquisas que buscam o melhor entendimento

dos mecanismos que ligam os fatores de risco até o desenvolvimento das lesões. Na

investigação pela maior compreensão sobre a doença, uma das metodologias de estudo

foram as tentativas de indução do quadro. Como a acidose ruminal foi um dos primeiros

fatores associados à laminite, tentou-se a indução dessa pela sobrecarga de carboidratos

de rápida fermentação, induzindo diretamente a acidose ruminal7,8,26,28,30,79, ou pela

administração de fatores relacionados à acidose como histamina28 ou endotoxinas25,27.

Na tentativa de se induzir laminite, avaliaram-se as alterações metabólicas em

bezerros da raça Holandesa de quatro meses de idade recebendo quatro dietas

combinando 88% ou 44% de concentrado com 15% ou 20% de proteína bruta. O

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concentrado era composto por farelo de milho, grão de cevada, melaço e farelo de soja e

o volumoso por silagem de milho e silagem de alfafa26. Avaliou-se lactato ruminal e

sérico, pH ruminal, ácidos graxos voláteis totais no rúmen, temperatura do casco e

radiografia da extremidade do membro visando avaliar possível rotação da terceira

falange. Apesar de apresentarem acidose ruminal e metabólica, os animais não

apresentaram claudicação ou outro sinal indicativo de laminite. Não foram observadas

alterações radiográficas sugestivas de laminite clínica e as alterações na temperatura dos

dígitos não puderam ser explicadas pelas dietas. Entretanto, ao se reavaliarem os mesmos

animais após três meses foram observados sinais de laminite subclínica como sulcos na

parede do casco e erosão da sola26.

Os aspectos hemodinâmicos do dígito foram avaliados em novilhos

recebendo grande quantidade, 3,5% do peso corporal, de mistura de farelo de trigo,

cevada e aveia. Para a avaliação os animais foram submetidos a anestesia geral. Após um

intervalo que variou de seis a oito horas, foram aferidas a pressão sanguínea de artéria e

veia digital, pressão capilar, resistência vascular total e resistência pré e pós capilar 79.

Comparando com animais do grupo controle, que receberam apenas água, observou-se

elevação da pressão capilar e elevação da resistência pós capilar. Os autores consideraram

que constrição venosa seria a responsável pelas diferenças observadas79. No mesmo

estudo, após a avaliação hemodinâmica colheram-se amostras de cório laminar e, na

avaliação por PCR, observaram maior expressão de interleucina-1, uma citocina pró-

inflamatória, nos animais que receberam concentrado em comparação aos animais do

grupo controle80.

Alguns estudos tentaram induzir laminite utilizando fatores relacionados à

acidose ruminal, como histamina e endotoxinas. Em estudo sobre a ação da histamina

como indutora de laminite, foram utilizados bovinos taurinos machos de até dois anos28.

Os animais foram divididos em três grupos experimentais: animais com livre acesso a

dieta com alto teor de concentrado após período de jejum; administração de difosfato de

histamina por cânula implantada na artéria digital comum; associação dos dois primeiros

grupos dos dois tratamentos. No primeiro grupo os animais apresentaram sinais de

acidose ruminal como diarreia, aparente dor nos cascos, com os animais cruzando os

membros e preferindo se manter em decúbito. Essa alteração foi observada com 24 horas

de avaliação, porém, teve curta duração, 12 horas após já não era observada. No segundo

grupo, observaram-se elevação nas pressões de artéria e veia digital, além de dor e edema

discretos nos dígitos que cessaram 24 horas após início da avaliação. Nos animais do

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terceiro grupo, as alterações hemodinâmicas foram semelhantes comparando com o

segundo grupo, mas com maior intervalo de claudicação (29 a 110 dias). O desconforto

nos dígitos foi maior naquele que recebeu aplicação direta de histamina. Segundo os

autores, laminite pode ser induzida de forma consistente pelo fornecimento de grande

quantidade de concentrado mais a administração de histamina por via intravascular na

artéria digital comum. Elevações nas pressões de artéria e veia digital foram apontados

como fatores essenciais para a ocorrência de laminite28.

A ação de endotoxinas como causadoras de laminite foi avaliada em vacas da

raça Holandesa25. Os animais foram divididos em três grupos e receberam aplicações de

endotoxinas por três dias. No primeiro grupo, os animais receberam a primeira aplicação

por via intradérmica, na parede torácica e as duas seguintes por via intravenosa em bolus.

No segundo grupo, a primeira aplicação também foi intradérmica e as duas seguintes

foram intravenosas, porém, em infusão contínua durante 15 horas. No terceiro grupo os

animais receberam as endotoxinas por infusão contínua. Os animais dos dois primeiros

grupos foram submetidos a eutanásia 72 horas após a indução e os do terceiro grupo cinco

semanas. Foram avaliados aspectos clínicos, contagem de leucócitos, testes de

coagulação e histologia de amostras dos dígitos. Os animais apresentaram alterações

sistêmicas como taquicardia, taquipneia e febre. Observaram-se leucopenia, diminuição

na contagem de plaquetas e aumento no tempo de coagulação. Nenhum animal apresentou

sinais sugestivos de laminite como claudicação ou dor nos dígitos. Histologicamente

observaram-se áreas de congestão, hemorragia, trombose e infiltrado de leucócitos.

Mesmo com as alterações histológicas, o protocolo não foi considerado eficaz na indução

de laminite clínica25.

Outro estudo foi realizado avaliando utilizando endotoxinas para avaliar as

alterações nos dígitos27. Foram utilizados um animal da raça Holandesa e três mestiços

(Bos taurus X Bos taurus) com idades variando de 12 a 18 meses, dois machos e duas

fêmeas. Em um animal foi administrada dose de endotoxina na artéria metatarsal dorsal

e nos outros animais a mesma dose foi aplicada por via intravenosa na jugular.

Realizaram-se biópsias do casco cinco e quinze dias após a indução. Depois de cinco

semanas os animais foram submetidos a eutanásia e colheram-se amostras do casco27. Os

animais apresentaram alterações sistêmicas como taquipneia, hipersalivação e aumento

das frequências de micção e defecação. Apesar disso não se observou claudicação nos

animais. Foram observadas alterações vasculares na derme, áreas de separação entre

derme e epiderme além de alterações degenerativas em células basais. Mesmo não

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provocando claudicação, os autores consideraram o protocolo eficaz na indução de

pododermatite asséptica27.

Os protocolos até então descritos demonstraram fatores que acompanham a

laminite como lesões histológicas e alterações hemodinâmicas. Apesar disso, na maioria

dos trabalhos não se observou claudicação ou desconforto digital. Dessa forma continuou-

se a busca por um protocolo mais consistente para indução experimental de laminite na

espécie bovina. Um protocolo bem sucedido para a indução do quadro foi o uso de

oligofrutose intrarruminal8. A indução de laminite por oligofrutose foi validada

inicialmente na espécie equina81 e ainda é usada nos protocolos experimentais para essa

espécie82,83. Oligrofrutose é um carboidrato de reserva presente em muitos vegetais como

chicória, trigo, banana e alho e é usada na indústria de alimentos como prebiótico. É um

polímero de D-frutose com até dez unidades e que inicia a cadeia com uma molécula de

glicose. Possui estrutura semelhante à inulina, se diferindo desta apenas pelo número

menor de monômeros de frutose84 (Figura 3).

FIGURA 3 – Estrutura da inulina,

similar a oligofrutose,

se diferindo desta

apenas pelo maior

número de monômeros

de frutose Fonte: Bosscher et al.85

Gramíneas de clima temperado também podem apresentar elevadas

concentrações de oligofrutose, especialmente sob determinadas condições climáticas8. Na

espécie equina, apesar de poder induzir laminite, não necessariamente induz quadro de

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abdômen agudo, o que seria esperado em modelos de sobrecarga por grãos82,86. Em

bovinos, a fermentação da oligofrutose pela microbiota ruminal pode provocar acidose

ruminal e metabólica caso o açúcar esteja presente em grande quantidade.

Secundariamente, observa-se nos animais laminite7,8,30. A dose de oligofrutose usada no

estudo na espécie equina foi baseada no hipotético consumo máximo de gramíneas

temperadas com alto teor de oligofrutose81. No estudo com bovinos os autores não

deixaram claro como chegaram as doses8, mas como muitos participaram do estudo em

equinos81, supõe-se que empregaram o mesmo critério.

O primeiro estudo sobre indução de laminite bovina com oligofrutose utilizou

12 novilhas de raças leiteiras8, divididos em dois grupos: experimental e controle. O

grupo experimental foi subdividido em três subgrupos, cada um com uma dose de

oligofrutose, 13 g/kg, 17 g/kg e 21g/kg. No trabalho inicial sobre a oligofrutose na espécie

equina, a dose foi calculada baseada no consumo máximo da gramínea, com alto teor de

oligofrutose, pelo equino81. No primeiro trabalho com a espécie bovina8, os autores não

descreveram como chegaram as doses e os trabalhos subsequentes empregaram as

mesmas doses do primeiro7,29,30,63. Provavelmente empregaram a mesma estimativa que

no trabalho com equinos81, o consumo, mas isto não está explicitado.

Inicialmente os autores submeteram os animais a um período de adaptação de

três dias ao longo dos quais os animais receberam 30% da dose total, divididos em dois

tratos diários com 5% da dose em cada trato. No dia seguinte os animais receberam uma

sobrecarga de oligofrutose com os 70% restante da dose. Os animais do grupo controle

receberam apenas água. Foram avaliados aspectos clínicos, laboratoriais, de fluido

ruminal e histológicos. Os dois animais que receberam a menor dose foram submetidos a

eutanásia 72 horas a pós a sobrecarga de oligofrutose e os demais animais 48 horas após8.

Observou-se que os animais desenvolveram sinais de acidose ruminal e metabólica.

Sensibilidade digital foi observada a partir de 33 horas e claudicação foi observada a partir

de 39 horas. Dos seis animais que receberam oligofrutose, quatro apresentaram

claudicação8.

Após a eutanásia desses animais, foram colhidas amostras para avaliação

histológica dos dígitos. Os principais achados foram alongamento das lâminas, as

interdigitações entre derme e epiderme, alterações circulatórias e infiltrado de leucócitos

na derme, áreas de irregularidades e de destacamento na membrana basal31. Em função

dos resultados clínicos e laboratoriais os autores consideraram o protocolo eficaz na

indução de laminite aguda em bovinos8,31.

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O protocolo foi repetido em um experimento utilizando oito novilhas da raça

Holandesa. Empregou-se a dose de oligofrutose de 17 g/kg, fornecida da mesma forma

que o protocolo original. Os mesmos sinais de acidose ruminal e metabólica foram

observados e claudicação foi evidenciada a partir de 30 horas após a sobrecarga com

oligofrutose7. Apesar de ter confirmado a eficácia do protocolo de indução de laminite

em bovinos, os autores observaram que a maioria dos animais apresentou distensão

inespecífica da articulação társica, começando a partir do segundo dia. A partir do terceiro

dia a distensão foi gradativamente cessando nos animais. Argumentou-se que apesar do

protocolo ter sido eficaz na indução de laminite, a alteração articular pode ter contribuído

para a claudicação7. Nesse estudo os animais não foram submetidos a eutanásia ao final

do experimento, os mesmos foram mantidos a pasto e após uma semana não se observou

mais claudicação. Após um período de recuperação mais longo, não informado, os

animais foram mandados para uma fazenda onde aparentemente apresentaram vida

produtiva normal até 17 meses após o término do experimento7.

Outros estudos foram conduzidos visando avaliar diferentes aspectos da

indução de acidose ruminal e laminite em bovinos com o uso de oligofrutose, como

aspectos biomecânicos dos dígitos29, proteínas de fase aguda63 e mudanças na função de

neutrófilos30. Apesar de sempre seguirem o protocolo original8, em um desses estudos os

autores relataram apenas a ocorrência de acidose ruminal, não comentando sobre eventual

claudicação nos animais30. Além disso, nos primeiros trabalhos8,29, também se

observaram casos de animais que receberam oligofrutose não terem apresentado

claudicação ou não terem apresentado lesões histológicas. Esse tipo de achado reforça a

necessidade de novos estudos empregando a oligofrutose, especialmente em condições

nacionais. Vários fatores podem influenciar na resposta dos animais à indução de laminite

por indução de acidose ruminal. Peso, raça e até mesmo a dieta prévia ao experimento

podem interferir nos resultados observados29,62,87.

Um aspecto importante em protocolos de indução de doenças são os critérios

adotados para determinar a ocorrência da enfermidade. No caso da laminite bovina, onde

a própria definição da doença não é consenso entre pesquisadores11,58,75,88 isso pode

causar confusão na interpretação de resultados. Ao se testar um protocolo, espera-se a

surgimento de sinais clínicos do quadro agudo, o que nem sempre acontece8. Nesse caso,

pode ser que o protocolo realmente não seja eficaz ou indique que, apesar de não causar

a forma clínica da laminite, pode causar alterações microscópicas no casco compatíveis

com a forma subclínica27. No caso da indução experimental de laminite, mesmo

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19

adotando-se critérios de avaliação clínica bem definidos, não se pode desconsiderar a

ocorrência de alterações detectáveis por outras metodologias como microscopia ou

técnicas moleculares31,32,36.

Além da avaliação dos aspectos relacionados ao dígito, muitos protocolos de

indução de laminite em bovinos levam a alterações sistêmicas que podem por em risco a

vida do animal, especialmente acidose metabólica secundária à acidose ruminal7,8,30. Para

o acompanhamento desses desequilíbrios, preservando a segurança do animal, são usadas

algumas técnicas de monitoração como a avaliação do conteúdo ruminal, hematócrito,

proteína plasmática e hemogasometria. Esses testes permitem avaliar a magnitude das

principais alterações decorrentes da acidose ruminal, diminuição do pH ruminal,

hemoconcentração e acidose metabólica7,8,62,87.

Outro fator importante nos estudos envolvendo indução de laminite em

bovinos é a escolha dos animais. É interessante que o grupo experimental reflita a

população à qual o estudo se destina. Na literatura consultada, todos os protocolos para

indução de laminite utilizaram animais taurinos (Bos taurus taurus), puros ou

mestiços7,8,25-28,30. No Brasil, não se pode ignorar a participação dos animais zebuínos

(Bos taurus indicus) e seus mestiços na formação do rebanho nacional, em diferentes

regiões e sistemas de produção, seja de corte35 ou de leite89. Além disso, sabe-se que

doenças de casco como a laminite pode ocorrer nesses animais35,36. Já foram estudadas

diferenças entre animais zebuínos e taurinos com relação à acidose ruminal

experimentalmente induzida62,90. Sabe-se também que existem diferenças

microestruturais nos dígitos de zebuínos e taurinos. Observou-se que bovinos da raça Gir

possuíam em seus dígitos túbulos córneos com maiores diâmetro, espessura da camada

de células tubulares e densidade de túbulos quando comparados com animais da raça

Holandesa91,92. É possível que essas diferenças quanto a resposta a acidose ruminal e

quanto a aspectos microscópicos dos dígitos entre zebuínos e taurinos também se reflitam

na laminite. Evidencia-se, desse modo, a necessidade de estudos sobre a laminite nos

zebuínos ou seus mestiços.

Além do aspecto racial, a idade dos animais é um ponto importante. Apesar

das lesões de casco serem observadas com mais frequência em animais adultos, já em

fase produtiva, existem relatos da ocorrência de laminite em bovinos jovens, mesmo

bezerros33,34. Nos estudos de indução experimental são usados com mais frequência

animais jovens, geralmente novilhas7,8,30. Um trabalho chegou a usar bezerros de

aproximadamente quatro meses26. A dificuldade de se conseguir um número significativo

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20

de vacas com o mesmo número de lactações e sem histórico de problemas clínicos talvez

seja também um dos motivos para a escolha por animais mais jovens, ainda em fase não

produtiva. Outras vantagens do estudo em bezerros são a maior facilidade de manejo e

menores custo e necessidade de espaço.

Apesar de muitos estudos envolvendo o tema, ainda restam questionamentos

importantes sobre laminte bovina que requerem melhor esclarecimento. A exata

etiopatogenia, a adequada caracterização da fase prodrômica, o quadro clínico em animais

de diferentes grupos raciais são alguns desses questionamentos. Estudos a campo podem

gerar respostas não muito precisas, ou que não possam ser extrapoladas para outros

contextos. Dessa forma, a indução experimental em condições controladas é uma opção

de estudo onde aspectos importantes da laminite bovina poderiam ser avaliados com mais

cuidado. Dentre os diversos protocolos já testados, o uso de oligofrutose é o mais recente

e o que vem apresentando maior eficácia. Novos estudos com esse protocolo podem

explorar outros aspectos como a indução da enfermidade em diferentes grupos raciais ou

a melhor caracterização da fase prodrômica da enfermidade.

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CAPÍTULO 2 – ARTIGO DE REVISÃO: INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE

RUMINAL EM BOVINOS

INDUÇÃO EXPERIMENTAL DE ACIDOSE RUMINAL EM BOVINOS

Antônio Dionísio Feitosa Noronha Filho1, Danilo Ferreira Rodrigues2, Morgana Pontes Abreu3, Jéssica Alves da Silva3, Luiz Antônio Franco da Silva2

1- Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil.

[email protected]

2- Professor do Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil.

3- Acadêmica de Medicina Veterinária da Escola de Veterinária e Zootecnia,

Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil.

Recebido em: 30/09/2013 – Aprovado em: 08/11/2013 – Publicado em: 01/12/2013

RESUMO

A alta produtividade observada atualmente na bovinocultura de corte e de leite se deve em grande parte ao manejo nutricional que incluiu o fornecimento de dietas com altos teores de concentrado. Apesar de permitir melhores índices zootécnicos, esse tipo de dieta predispõe os animais à ocorrência de acidose ruminal, um desequilíbrio fermentativo com diversos efeitos sistêmicos secundários. Uma das maneiras de se estudar este desequilíbrio é a indução da acidose, podendo ser avaliados aspectos como pH ruminal, produtos finais da fermentação, microbiota e efeitos sistêmicos como desequilíbrio ácido-base ou ativação do sistema imune. Existem protocolos específicos para indução de acidose ruminal aguda ou subaguda, sendo caracterizados pelo tipo de substrato utilizado, quantidade, modo de fornecimento e tipo de avaliação. A indução de acidose ruminal requer rigor na aplicação do protocolo e avaliação das variáveis, do contrário podem ocorrer variações indevidas nos resultados. Os protocolos de indução de acidose ruminal permitem um maior conhecimento da sua etiopatogenia, bem como a avaliação de novas abordagens no tratamento e controle desse importante distúrbio digestivo dos bovinos. PALAVRAS-CHAVE: Experimentação animal, nutrição, ruminantes, acidose

metabólica

EXPERIMENTAL INDUCTION OF RUMEN ACIDOSIS IN CATTLE

ABSTRACT

High yieldings observed in beef and dairy cattle production are largely attributed to nutritional management, specifically diets with high concentrate content. Despite

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improving productivity, this type of diet predispose animals to the occurrence of rumen acidosis, a fermentative imnbalance with many secondary systemic effects. One of the ways to study this imbalance is acidosis induction, permitting evaluation of aspects like rumen pH, final products of fermentation, microbiote and systemic effects like acid-base imbalance and immune system activation. There are specific protocols for induction of acute and subacute acidosis, differing in the substrate used, quantity, method of supplementation and type of evaluation. Rumen acidosis induction requires strictness in the application of the protocol and variables evaluation, otherwise can happen some unexpected interferences. Protocols for rumen acidosis induction allows better knowledge on its ethiopatogeny and new approaches to the treatment and control of this important digestive disturbance of cattle. KEYWORDS: Animal experimentation, nutrition, ruminant, metabolic acidosis

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a bovinocultura, seja de corte ou de leite, vem se aperfeiçoando cada vez mais, visando produzir em maior quantidade, com qualidade e em menor período de tempo. Nessas circunstancias, os criatórios requerem maior atenção aos manejos sanitário e nutricional. Considerando os vários aspectos envolvidos nessa evolução da atividade, um dos que vem permitindo maior expressão do potencial zootécnico dos animais é a nutrição, especialmente o fornecimento de dietas com altos teores de grãos. Esses alimentos possuem maior densidade energética, possibilitando maiores índices de produtividade por parte dos animais. Porém, os bovinos, como outros ruminantes, são anatomicamente e fisiologicamente adaptados para uma dieta composta predominantemente por alimentos fibrosos (RUSSEL & RYCHLIK, 2001; NAGARAJA, 2011).

Quando se oferece uma dieta com altos teores de grãos, pode-se desenvolver um desequilíbrio fermentativo denominado acidose ruminal, que dependendo da intensidade, pode-se apresentar de forma aguda ou subaguda (OWENS, 2011; LEAN et al., 2013). Em sua forma aguda os sinais clínicos são mais severos, exigindo intervenção rápida e podendo resultar no óbito do animal (VAN METRE et al., 2005; ORTOLANI et al., 2010). A forma subaguda da acidose é considerada a mais comum, não possuindo sinais clínicos específicos. Porém, sabe-se que pode provocar lesões no epitélio ruminal, abscessos hepáticos além de interferir na função imunológica, metabolismo energético, de minerais e predispor ao surgimento de doenças digitais (ZEBELI & METZLER-ZEBELI, 2012; BICALHO & OIKONOMOU, 2013).

Considerando a crescente demanda por maior produtividade e eficiência dos sistemas produtivos, o uso de grãos, às vezes em grande quantidade, é uma necessidade na maioria dos sistemas intensivos de produção de bovinos. Porém, uma das principais consequências desse manejo é a alta ocorrência de acidose ruminal, seja aguda ou subaguda, e doenças relacionadas como a laminite e desequilíbrios metabólicos (AMETAJ et al., 2010; NAGARAJA, 2011). Portanto, o estudo dos processos fermentativos no ambiente ruminal bem como da patogenia das lesões decorrentes da acidose ruminal torna-se necessário para melhor compreensão dos mesmos. Diversos protocolos de indução foram desenvolvidos e vem sendo empregados no estudo da acidose ruminal, visando melhor entendimento dos

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aspectos nutricionais e clínicos relacionados ao distúrbio fermentativo (ORTOLANI, 1995, KRAUSE & OETZEL, 2005; ORTOLANI et al., 2010; ZEBELI et al., 2012).

Dependendo do que se deseja avaliar, existem variações importantes quanto à forma de indução e acompanhamento da acidose ruminal, sendo útil, portanto, o conhecimento sobre as possibilidades dos diferentes protocolos. O entendimento aprofundado desses aspectos auxilia na criação de soluções para a prevenção e tratamento tanto da acidose ruminal quanto dos demais eventos secundários (MARUTA et al., 2008; DANSCHER et al., 2009; RODRIGUES, 2009; LI et al., 2012). Assim, devido à importância do tema, das consequências imediatas e tardias do problema e devido aos prejuízos econômicos causados aos criatórios, mesmo diante de inúmeros estudos sobre o tema, ainda existem dúvidas que precisam ser esclarecidas.

Esse trabalho objetivou discorrer sobre os protocolos de indução de acidose ruminal em bovinos com ênfase nos aspectos metodológicos gerais e nas diferenças entre estudos em acidose aguda ou subaguda.

ASPECTOS GERAIS SOBRE A ACIDOSE RUMINAL

O rúmen é uma câmara de fermentação que aproveita substratos, quase

sempre de origem vegetal para produção de ácidos orgânicos, metano, dióxido de carbono, amônia e proteína microbiana. A microbiota presente no rúmen e o bovino têm uma relação simbiótica na qual o animal provê substrato e condições microambientais adequadas às bactérias e protozoários presentes, e estes por sua vez, fermentam o alimento ingerido aumentando a disponibilidade de nutrientes para o animal. Desequilíbrios no processo de fermentação ruminal prejudicam não só a produtividade como também podem levar a diversas alterações clínicas (RUSSEL & RICHLYK, 2001; NAGARAJA, 2011; JAMI et al., 2013).

A acidose ruminal pode ser definida como um distúrbio fermentativo no rúmen associado à ingestão de grande quantidade de carboidratos não estruturais rapidamente fermentáveis. As principais formas clínicas são a acidose lática ruminal

aguda (ALRA), com redução acentuada do pH (pH<5.0) e a acidose ruminal subaguda (ARSA) caracterizada por episódios transitórios de redução do pH ruminal a níveis não tão baixos quanto na forma aguda (5.0<5.5) (NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007; KLEEN & CANNIZZO, 2012).

Prejuízos econômicos decorrentes da acidose ruminal

Os prejuízos econômicos decorrentes da acidose ruminal se devem ao

óbito de animais, nos casos agudos, e a redução de desempenho e ocorrência de alterações secundárias, como as doenças digitais, nos casos de acidose subaguda. Por ser a forma mais frequente, a acidose subaguda é a que causa mais prejuízos. Em rebanhos de engorda confinados nos Estados Unidos, SCHWARTZKOPFGENSWEIN et al., (2003) estimaram um prejuízo de variando de U$ 15,00 a U$ 20,00 por animal. Em rebanhos leiteiros de alta produção, também nos Estados Unidos, GARRET et al., (1999) estimaram as perdas em aproximadamente em U$ 1,12 por animal por dia e PLAIZIER et al., (2009) estimaram o prejuízo em U$ 400,00 por animal ao longo da lactação.

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Etiopatogenia da acidose ruminal

A acidose ruminal é um desequilíbrio na fermentação de carboidratos. Na

célula vegetal esse grupo de biomoléculas pode ser dividido em carboidratos estruturais e não estruturais. Dentre os primeiros, um dos principais é o amido, que representa a reserva energética das células vegetais. Os carboidratos estruturais, como a celulose e a hemicelulose, fazem parte da parede celular vegetal. A acidose ruminal é causada por excesso de carboidratos não estruturais e falta de carboidratos estruturais. Ambos, amido e celulose, são polímeros de glicose, sendo que a diferença entre os dois está na conformação da ligação entre os monômeros deste monossacarídeo. No rúmen a fermentação de ambos geram basicamente os mesmos produtos, porém, em proporções e taxas distintas. A maior parte dos monossacarídeos, resultantes da hidrólise dos polissacarídeos, é convertida a piruvato após uma série de reações. Este pode então seguir várias rotas metabólicas para formação de produtos mais oxidados, como acetato e butirato ou mais reduzidos, como propionato e lactato. A proporção em que cada ácido graxo volátil é produzido depende do perfil da microbiota ruminal, que por sua vez, depende principalmente da dieta ingerida (KOZLOSKI, 2011; VALADARES FILHO & PINA, 2011).

O desequilíbrio fermentativo pode se desenvolver nas formas aguda ou subaguda dependendo de sua magnitude e do tipo de ácido acumulado (NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007; OWENS, 2011; KLEEN & CANNIZZO, 2012). A acidose aguda se caracteriza pelo acúmulo de ácido lático no rúmen secundário à ingestão de quantidade excessiva de carboidratos não estruturais. Num primeiro momento, o aumento na oferta de nutrientes favorece a proliferação de todos os grupos bacterianos e a produção de grande quantidade de ácidos graxos voláteis. Porém, essa grande quantidade de ácidos se acumula, pois ultrapassa a capacidade total de absorção de ácidos graxos voláteis pelo epitélio ruminal, provocando uma redução inicial do pH (GOAD et al., 1998; NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007; KLEEN & CANNIZZO, 2012). Paralelamente, há produção e acúmulo de glicose no rúmen, que aumenta a osmolaridade de seu conteúdo prejudicando ainda mais a absorção de ácidos graxos voláteis pelo epitélio ruminal (OWENS, 2011). Nesse ambiente ligeiramente mais ácido, se proliferam bactérias produtoras de ácido lático, especialmente Streptococcus bovis e Lactobacillus spp. Por ser mais forte que os

ácidos graxos voláteis, o ácido lático induz uma redução mais acentuada no pH ruminal (NOCEK, 1997; CALSAMIGLIA et al., 2012).

Nesse momento o ambiente torna-se desfavorável para bactérias fibrolíticas e lactolíticas e se observa um ciclo vicioso com proliferação de bactérias tolerantes à ambientes ácidos (Lactobacillus spp.) que produzem ainda mais ácido

(Figura 1) (NOCEK, 1997; CALSAMIGLIA et al., 2012). O excesso de ácido lático no rúmen, somado ao acúmulo de glicose, aumentam ainda mais a osmolaridade do conteúdo ruminal, ficando maior que a do plasma. Essa diferença de osmolaridade faz com que quantidades significativas de liquido corporal se desloquem para o rúmen, causando hipovolemia. Paralelamente, parte do ácido lático acumulado no rúmen é absorvida pelo organismo gerando acidose metabólica (ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010).

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FIGURA 1 – Sequência de alterações químicas e

microbianas características da acidose ruminal aguda. AGV: ácidos graxos voláteis Fonte: Adaptado de NOCEK (1997)

A acidose subaguda é caracterizada pelo acúmulo de ácidos graxos voláteis. Da mesma forma que na ALRA, a entrada de grande quantidade de carboidratos não estruturais permite a proliferação de todos os grupos bacterianos, produção de grande quantidade de ácidos graxos voláteis e consequente redução do pH ruminal (GOFF, 2006; NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007; CALSAMIGLIA et al., 2012). A diferença é que neste caso o acúmulo de ácidos não é tão acentuado, não se sobrepondo aos mecanismos de regulação do pH ruminal. Entre estes mecanismos podem ser citados a saliva, rica em tampões fosfato e bicarbonato, liberada durante a ruminação, a presença de bactérias que utilizam o ácido lático para produção de ácidos graxos voláteis, especialmente Selenomonas ruminantium e Megasphera eldesnii, e a própria capacidade de absorção de ácidos graxos voláteis pelo epitélio

ruminal (Figura 2). Na ARSA, o pH se reduz a níveis não fisiológicos, entre 5.0 e 5.5, temporariamente, sendo regulado pelos mecanismos compensatórios (PLAIZIER et al., 2009; FERNANDO et al., 2010; DIJKSTRA et al., 2012).

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FIGURA 2 – Sequência de alterações químicas e microbianas

características da acidose ruminal subaguda Fonte: Adaptado de NOCEK (1997)

Tanto na forma aguda quanto na subaguda, são liberadas no rúmen e

absorvidas pelo organismo quantidades variadas de lipopolissacarídeos (LPS), componentes da parede celular de bactérias Gram negativas. Os LPS também são conhecidos como endotoxinas e acredita-se que desempenham papel importante na etiopatogenia da acidose ruminal (NAGARAJA et al., 1978; GOZHO et al., 2005; PLAIZIER et al., 2012). Na acidose ruminal aguda instala-se quadro clínico severo caracterizado por desidratação e acidose metabólica podendo ser observados distensão abdominal com líquido, diarréia, desidratação, taquicardia, taquipnéia, depressão de estado mental, podendo o animal evoluir para estado comatoso e óbito (DIRKSEN, 2005; RADOSTITS et al., 2007; ORTOLANI et al., 2010). Podem ser observados também rumenite, formação de abscessos hepáticos, laminite aguda e quadro neurológico decorrente da acidose metabólica e polioencefalomalácia (VASCONCELOS & GALYEAN, 2008; DANSCHER et al., 2009, ORTOLANI et al., 2010).

Na forma subaguda, os sinais são inespecíficos, podem ser observados episódios esporádicos de diarréia e inapetência, não sugerindo uma causa evidente. A longo prazo observa-se que os animais mais sujeitos à ARSA demonstram menor desempenho zootécnico. Além disso, podem ser observadas também lesões na parede ruminal, rumenite e paraqueratose, formação de abscessos hepáticos e maior incidência de lesões digitais relacionadas a laminite (PENNER et al., 2011; KLEEN & CANNIZZO, 2012; BICALHO & OIKONOMOU, 2013; LEAN et al., 2013).

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Aspectos relacionados ao diagnóstico da acidose ruminal

O diagnóstico da acidose ruminal deve se fundamentar na identificação do animal, anamnese, exame físico e de conteúdo ruminal (DIRKSEN, 2005). Exames complementares e avaliação do ambiente e manejo alimentar também podem facilitar diagnóstico, especialmente quando muitos animais estão acometidos. Na identificação do animal, deve-se lembrar de que em algumas fases da produção os animais estão mais propensos a desenvolver acidose ruminal.

Em bovinos de aptidão leiteira, o período após o parto é considerado de maior risco, pois os animais passam de uma dieta de período seco, com nenhum ou menores teores de concentrado, para uma dieta de lactação com maiores teores de concentrado (LEAN et al., 2013). Para animais de engorda confinados, são considerados períodos de especial risco a entrada dos bovinos no confinamento, quando muitas vezes a adaptação para nova dieta não é feita de maneira adequada (NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007). Na anamnese deve-se questionar principalmente sobre a fase de produção do animal, a dieta fornecida regularmente e a rotina de manejo alimentar. Deve-se questionar também sobre circunstâncias acidentais como o fornecimento de quantidades excessivas de concentrado ou o acesso dos animais a depósitos e sacos de ração.

Os sinais clínicos e achados laboratoriais variam de acordo com a gravidade da acidose bem como do tempo transcorrido entre o início do desequilíbrio até o exame. No exame físico do animal com acidose lática frequentemente são observados distensão abdominal do lado esquerdo com predomínio de líquido no rúmen, hipomotilidade ou mesmo atonia ruminal, desidratação, diarreia, taquicardia e taquipnéia. Podem ser observados também depressão do estado mental, podendo o animal se encontrar em decúbito e estado comatoso (DIRKSEN, 2005; RADOSTITS et al., 2007).

O principal exame no diagnóstico da acidose ruminal é a avaliação do conteúdo ruminal. Observam-se alterações em seu aspecto, que se torna mais claro com aspecto leitoso, odor característico, pH reduzido, com valores em torno de 5.0 ou menores para acidose aguda e entre 5.5 e 5.0 para forma subaguda, aumento no tempo de redução do azul de metileno e redução ou ausência de protozoários (DIRKSEN, 2005; KLEEN & CANNIZZO, 2012; DIJKSTRA et al., 2012). No hemograma pode ser observado aumento no valor do hematócrito, indicando desidratação. O exame de hemogasometria pode indicar acidose metabólica com redução dos valores de pH sanguíneo, bicarbonato e excesso de base (ORTOLANI et al., 2008; DANSCHER et al., 2009; ORTOLANI et al., 2010).

Na acidose ruminal subaguda, o diagnóstico deve envolver avaliação da dieta e manejo alimentar, avaliação de amostra do conteúdo ruminal de número representativo de animais e observação de alta incidência de complicações associadas à acidose como doenças digitais ou abscessos hepáticos observados nos abatedouros (OETZEL, 2004; NORDLUND et al., 2004; VECHIATO, 2009; KLEEN & CANNIZZO, 2012).

INDUÇÃO DE ACIDOSE RUMINAL

Os conhecimentos sobre a acidose ruminal quase sempre foram obtidos pela indução experimental do quadro, o que atualmente ainda é uma abordagem comumente utilizada (HUBER, 1969; De VRIES et al., 2008; LI et al., 2012; STEELE

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et al., 2012; PETRI et al., 2013). A indução do quadro em condições controladas permite o estudo de diferentes aspectos como a influência da dieta e do manejo alimentar, variações fermentativas e microbiológicas no trato gastrointestinal, alterações fisiológicas, diferenças de susceptibilidade racial até técnicas de tratamento individual de casos agudos ou controle dos casos subagudos envolvendo rebanho (COE et al., 1999; ROWN et al., 2000; SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003; ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010; RODRIGUES 2009; PETRI et al., 2013). As características dos protocolos são flexíveis e devem ser adequadas de modo a atender aos questionamentos do estudo (NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007).

Aspectos metodológicos dos protocolos de indução de acidose ruminal

De acordo com SAMPAIO (2007) são considerados princípios básicos da

experimentação animal a repetição das unidades experimentais, a uniformidade dos animais experimentais, a casualização das unidades experimentais, a uniformidade na aplicação dos tratamentos e a uniformidade do meio. A indução de acidose ruminal apresenta algumas peculiaridades quanto a esses aspectos. O grande número de parâmetros avaliados, a necessidade de acompanhamento e, às vezes, intervenção intensivas, dificuldades inerentes com a manipulação dos bovinos e os altos custos de manutenção dos animais, e eventualmente dos tratamentos, fazem com que, geralmente, não se utilizem um grande número de animais nos diferentes estudos (NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007). ORTOLANI et al., (2010) ao avaliarem diferenças clínicas entre taurinos e zebuínos com acidose lática ruminal aguda induzida utilizaram cinco animais de cada grupo racial.

Ainda sobre o assunto, THOEFNER et al., (2004) induziram acidose ruminal seguida de laminite em 12 novilhas de raças de aptidão leiteira. O grupo tratamento contendo seis animais, teve de ser subdividido em três subgrupos de dois animais para a avaliação de três diferentes doses da fonte de carboidrato. DANSCHER et al., (2009), também induziram acidose ruminal seguida de laminite em novilhas e optaram por não formar um grupo controle, sendo que os animais foram avaliados antes e após a indução, de modo que cada indivíduo serviu como seu próprio controle. EMMANUEL et al., (2008), ZEBELI & AMETAJ (2009) e IQBAL et al., (2009) ao avaliarem diferentes aspectos de acidose ruminal subaguda induzida em fêmeas empregaram oitos animais, também sem formação de grupos controle.

A uniformidade na aplicação de tratamentos e animais também pode ser um aspecto decisivo nos resultados dos estudos. Tem-se maior segurança no fornecimento uniforme da dieta, o que muitas vezes faz parte do protocolo de indução, quando os animais são alimentados individualmente. Para animais que sãoagrupados em lotes e alimentados em conjunto, podem ocorrer variações acentuadas de consumo entre os animais, especialmente devido a efeitos de dominância, o que por sua vez pode interferir indevidamente nos resultados (SCHWARTZKOPF-GENSWEIN et al., 2003; NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007).

Quanto à uniformidade dos animais, podem ser observadas variações significativas quando se empregam animais de diferentes pesos ou grupos raciais, especialmente nos protocolos de indução de ALRA. ORTOLANI (1995) observou discrepância entre animais mais leves e mais pesados quanto aos efeitos da indução de ALRA com uso de sacarose. Quando a dose foi calculada baseada apenas no peso corporal, os animais mais leves apresentaram sinais discretos de acidose, enquanto

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os animais mais pesados apresentaram quadro clínico mais grave. O autor formulou então uma equação baseada no peso metabólico que permitiu a indução do quadro de maneira uniforme em animais de diferentes pesos.

DANSCHER et al., (2009) ao induzirem ALRA e laminite usando oligofrutose, também observaram diferenças significativas quanto ao pH ruminal, frequência cardíaca e excesso de base entre animais mais leves e mais pesados, com os últimos sempre apresentando valores mais alterados. Quanto aos aspectos raciais, foram observadas em diversos trabalhos diferenças de aspectos clínicos entre zebuínos e taurinos com ALRA (MARUTA & ORTOLANI, 2002; ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010). Portanto, a uniformidade dos animais avaliados deve ser levada em consideração para evitar variações indesejadas nos resultados.

Avaliação de parâmetros ruminais

A acidose ruminal caracteriza-se por redução do pH ruminal abaixo de

limites fisiológicos devido ao acúmulo de ácidos orgânicos. Enquanto na forma aguda se observa acúmulo de ácido lático, na forma subaguda observa-se acúmulo de ácidos graxos voláteis, mas não de ácido lático (NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007; OWENS, 2011). Consequentemente, a aferição destes parâmetros é comumente realizada na avaliação dos protocolos de indução da acidose. Existem diferentes técnicas para obtenção do fluido ruminal para análise. Este pode ser obtido por sondagem ororruminal, ruminocentese e obtenção dieta através de cânula. A técnica menos invasiva é a utilização de sonda ororruminal e posterior aspiração de conteúdo. Existem diferentes modelos específicos para aspiração de conteúdo ruminal (DIRKSEN, 1993; DUFFIELD et al., 2004).

A grande desvantagem da obtenção de conteúdo ruminal por meio de sondagem ororruminal é a contaminação do conteúdo com saliva, alcalina, o que causa interferência significativa na avaliação do pH ruminal, indicando valores acima dos reais (DUFFIELD et al., 2004). Portanto, em situações experimentais o acesso direto ao rúmen é preferível para obtenção de amostras fidedignas do seu conteúdo. A grande maioria dos estudos envolvendo indução de acidose ruminal utiliza animais fistulados, facilitando a obtenção de amostras (ORTOLANI et al., 2010; ZEBELI et al., 2012). As amostras obtidas diretamente do rúmen podem ser avaliadas com pHmetro (GARRET et al., 1999; KRAUSE & OETZEL, 2005).

Em animais não fistulados, outra técnica de se obter acesso direto ao rúmen para colheita de amostra é a ruminocentese. Identifica-se área aproximadamente 15 centímetros caudo-ventral à junção costocondral da última costela. Após preparação cirúrgica introduz-se agulha diretamente no saco ventral do rúmen e se aspira o conteúdo para análise. São utilizadas agulhas de pelo menos dez centímetros de comprimento (GARRET et al., 1999; GIANESELLA et al., 2010). Por ser um procedimento invasivo, o bovino está sujeito a complicações após ruminocentese como a formação de abscesso local ou a ocorrência de peritonite. Além disso, o estresse do animal associado à punção pode impedir a realização do procedimento (DUFFIELD et al., 2004).

Para se realizar a ruminocentese, empregando bloqueio anestésico local visando evitar dor e estresse no animal associado à punção, MIALON et al., (2012) não observaram diferença quando comparado à realização do procedimento sem o bloqueio anestésico. GARRET et al., (1999) empregaram com sucesso cloridrato de xilazina para facilitar a contenção e realização do procedimento nos bovinos. Porém,

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mesmo utilizando sedação, DUFFIELD et al., (2004) não conseguiram conter adequadamente alguns animais para realizar a ruminocentese.

A acidose aguda é facilmente detectada, pois provoca quadro clínico evidente, observando-se sinais como desidratação, taquicardia, diarreia, apatia e distensão abdominal. Esses sinais são comumente observados em valores de pH ruminal próximos ou inferiores a 5.0 (ORTOLANI, 1995; NAGARAJA & LECHTENBERG, 2007; OWENS, 2011). Porém, a detecção de acidose ruminal subaguda não é tão óbvia, mesmo em situação experimental. Os sinais associados a ARSA são inespecíficos e muito diversos. Podem ser observados episódios esporádicos de inapetência ou discreta redução na ingestão, diarreia transitória, lesões digitais relacionadas a laminite ou observação de abscessos hepáticos já no abatedouro. Portanto, a detecção de ARSA experimentalmente induzida se baseia não apenas na avaliação do pH ruminal num dado momento, mas deve avaliar o comportamento desta variável num dado intervalo de tempo sendo registrados o valor médio do pH neste período, o valor mínimo e a quantidade de tempo abaixo de um limiar considerado diagnóstico de acidose subaguda (KEUNEN et al., 2002; KRAUSE & OETZEL, 2005; KHAFIPOUR et al., 2009).

Por se tratar de uma condição intermediária entre um estado fisiológico sem alterações clínicas e um estado bem caracterizado clinicamente, considera-se como apresentando ARSA o animal cujo pH ruminal esteja dentro de um determinado intervalo. Não existe consenso, porém, quanto a esses valores. Aceitase como limite inferior valores de pH próximos ou abaixo do 5.0, nesse caso a ocorrência simultânea de sinais clínicos de ALRA delimitam com mais clareza quando se passa de um quadro subagudo para um agudo. O limite superior para detecção de ARSA, porém, é mais difícil de ser determinado, pois em valores de pH ruminal ligeiramente acima ou abaixo o animal não apresenta sinais clínicos evidentes que diferenciem ARSA dos níveis fisiológicos. Os pesquisadores NAGARAJA & LECHTENBERG (2007) consideraram valores entre 5.5 e 5.0 como indicativos de ARSA. Já OWENS (2011) indicou valores entre 5.6 e 5.2, enquanto DIRKSEN (2005) considerou valores entre 5.5 e 5.2.

Por ser uma condição intermitente e que se repete diariamente, muitos estudos consideram não somente o valor do pH num dado momento, mas também a quantidade de tempo em que esse pH se encontra abaixo de um determinado limiar. Essa interação de pH e tempo seria clinicamente mais relevante, pois a exposição a concentrações excessivas de ácidos graxos voláteis no rúmen por maiores intervalos de tempo tenderiam a causar maiores alterações tanto locais quanto sistêmicas. Diversos trabalhos consideram como indicativo de ARSA valores de pH inferiores a 5.6 por mais de 180 minutos ao longo do dia. Esses trabalhos utilizaram eletrodos portáteis implantados no interior do rúmen para avaliação contínua. Estes dispositivos permitem que os valores de pH possam ser aferidos em intervalos tão curtos quanto um segundo ao longo de todo o dia, sendo registrados para posterior análise (Figura 3) (GOZHO et al., 2005; ALZAHAL et al., 2007; GOZHO et al., 2007; KHAFIPOUR et al., 2009).

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FIGURA 3 – Componentes de sistema de aferição contínua

de pH ruminal: Unidade de gravação de dados (a), sonda de junção (b), conector de peso (c), peso de aço inoxidável (d), eletrodo para aferição de pH (e), tubo protetor (f), conectores de plástico (g), registrador de dados (h), caixa do registrador (i), cinto (j), dispositivo portátil de leitura com cabo (k) Fonte: ALZAHAL et al., (2007).

Além do pH ruminal, a dosagem de lactato e ácidos graxos voláteis também permite uma melhor caracterização da acidose bem como maior entendimento sobre os efeitos secundários. Deve-se levar em consideração que as concentrações dos ácidos orgânicos são extremamente variadas em função da microbiota ruminal pré-existente, do desafio imposto no protocolo de indução e do tempo de colheita. A concentração de lactato total pode ser avaliada por teste colorimétrico (MARUTA & ORTOLANI, 2002), cromatografia liquida de alta eficiência (KRAUSE & OETZEL, 2005) ou cromatografia gasosa (KHAFIPOUR et al., 2009; LI et al., 2012). As técnicas de cromatografia também são usadas para medição das concentrações de ácidos graxos voláteis (KRAUSE & OETZEL, 2005; KHAFIPOUR et al., 2009; COLMAN et al., 2010).

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As concentrações ruminais de lactato geralmente são baixas nos quadros de ARSA, não ultrapassando 2 mmol/L (BEVANS, et al., 2005; KHAFIPOUR et al., 2009; COLMAN et al., 2010). Nos casos de ALRA os valores são maiores, o que é esperado, pois é justamente o acúmulo de ácido lático que produz a acidificação do conteúdo ruminal. MOMCILOVIC et al., (2000) observaram valores de até 90 mmol/L, MCLAUGLHIN et al. (2009) obtiveram valores de até 70 mmol/L e NAGARAJA & TITGEMEYER (2007) descreveram valores de 50 até 120 mmol/L. Por outro lado, BROWN et al., (2000) obtiveram valores menores, 37.1 mmol/L.

Com relação aos ácidos graxos voláteis totais, na ARSA é esperado aumento dos mesmos, já que nesse caso estes são os responsáveis pela acidificação do conteúdo ruminal. BLANCH et al., (2009), COLMAN et al., (2010) e LI et al., (2012) observaram valores de até 126 mmol/L, 138 mmol/Le 164 mmol/L, respectivamente. Todos os autores observaram aumentos na concentração total de ácidos graxos, nas proporções de propionato, butirato e redução de acetato. Na ALRA, MOMCILOVIC et al., (2000) observaram valores variando de 20 a 70 mmol/L e NAGARAJA & TITGEMEYER (2007) descreveram valores abaixo de 100 mmol/L.

Protocolos de indução de acidose ruminal aguda

Acidose ruminal aguda pode ser induzida pelo fornecimento ou deposição

intrarruminal de grandes quantidades de carboidrato não fibroso. Diferentes fontes de carboidrato como farelo de trigo, cevada, aveia, milho, amido de milho, dextrose, oligofrutose e sacarose já foram utilizados para indução de ALRA, individualmente ou em combinação (ORTOLANI, 1995; THOEFNER et al., 2004; NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007). As diferenças entre protocolos dizem respeito basicamente ao tipo de substrato fornecido, seu processamento e dose. Previamente à indução, os animais costumam ser deixados em jejum, para que no momento da indução haja espaço suficiente no rúmen para deposição do substrato, geralmente em grande quantidade. Além disso, os animais costumam ser alimentados com dietas compostas exclusivamente por volumoso, ou por baixos teores de concentrado. Essa dieta permite que as bactérias utilizadoras de lactato se mantenham em baixas concentrações e, por outro lado, a inclusão de pequena quantidade de concentrado permite a manutenção de maior população bacteriana produtora de ácido lático (ORTOLANI, 1995; BROWN et al., 2000; THOEFNER et al., 2004; NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007; DANSCHER et al., 2009).

BROWN et al., (2000) induziram ALRA em novilhos taurinos com o fornecimento de milho floculado na dose de 3% do peso corporal. O valor mínimo de pH ruminal, 5.0, foi observado três dias após a indução. MOMCILOVIC et al., (2000) induziram ALRA em bezerros na tentativa de induzir laminite clínica. Os animais recebiam dieta contendo aproximadamente 45% de concentrado fornecida duas vezes ao dia, de manhã e de tarde. Na véspera da indução, os animais receberam apenas o alimento pela manhã e só voltaram a receber alimento no dia seguinte, quando passam a receber dieta contendo 88% de concentrado. Na sequência, 24 horas após o fornecimento da dieta de indução, os animais apresentaram valores mínimos de pH ruminal, em torno de 4.8.

ORTOLANI (1995) desenvolveu protocolo de indução com o fornecimento de sacarose. O autor descreveu que ao usar uma dose fixa de 12,5 gramas de sacarose por quilograma de peso vivo do animal, podem ocorrer distorções no grupo experimental. Para animais mais leves, essa dose pode ser muito baixa, não induzindo

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a resposta esperada. Porém, para animais mais pesados essa dose pode ser muito alta provocando quadro clínico severo. O autor desenvolveu então uma dose baseada no peso metabólico (BW0,75) corrigido, Y= 1057 + 43.1BW0,75 em gramas de sacarose. Essa correção permitiu a indução de ALRA com valores de pH ruminal em torno de 4.1, após 20 horas de indução, tanto para animais leves (170-301 kg) quanto para animais pesados (450-660 kg). Outros trabalhos utilizaram essa metodologia, porém reduzindo o valor total de sacarose em 15% de modo a minimizar os efeitos da ALRA (ORTOLANI et al., 2008; ORTOLANI et al., 2010; RODRIGUES, 2009). Com essa redução RODRIGUES (2009) observou valores médios de pH ruminal de 4.4 20 horas após a indução.

Outro açúcar empregado na indução de ALRA é a oligofrutose, uma frutana presente em muitas gramíneas (THOEFNER et al., 2004). O objetivo específico desse tipo de protocolo é a indução de laminite clínica. Diferentes estudos foram bem-sucedidos tanto na indução de ALRA quanto na de laminite (THOEFNER et al., 2004; DANSCHER et al., 2009; TADICH, 2011). THOEFNER et al., (2004) empregaram três diferentes doses de oligofrutose, 13, 17 e 21 g/kg. Cinco por cento da dose total era fornecida duas vezes ao dia por três dias antes do dia da indução de modo a adaptar a microbiota à nova fonte de carboidrato. Para a menor dose, observou-se o valor mínimo de pH de 4.7, em torno de nove horas após indução. Para as maiores doses os valores mínimos foram de 4.5 para ambas as doses em torno de 28 horas após indução. DANSCHER et al., (2009) utilizando dose de oligofrutose de 13g/kg observaram valor médio de 4.3 às 18 horas após indução.

Acompanhamento clínico em quadros de acidose aguda induzida

Em todos os protocolos citados, os animais apresentam sinais clínicos decorrentes da acidose ruminal aguda e de acidose metabólica. São observadas diarreia, desidratação, taquicardia, taquipneia, apatia e depressão de estado mental. Laboratorialmente observa-se acidose metabólica caracterizada por redução nos valores de pH sanguíneo, bicarbonato e excesso de base. No planejamento do experimento, é necessário se determinar um critério para intervenção, ou seja, quando realizar-se-á um tratamento de suporte nos animais acometidos, ou o término do experimento (NAGARAJA & TITGEMEYER, 2007). A desidratação e acidose metabólica decorrentes da ALRA induzida podem chegar num ponto irreversível ocorrendo óbito de animais, mesmo com o tratamento de suporte (DANSCHER et al., 2009).

Segundo NAGARAJA & TITGEMEYER (2007) é recomendável o tratamento de suporte quando o conteúdo ruminal atinge valores abaixo de 4.5. ORTOLANI (1995) realizou intervenção nos animais na vigésima hora após indução, quando o conteúdo ruminal ácido foi retirado, fez-se transfaunação e, de acordo com a avaliação clínica do animal, fez-se fluidoterapia intravenosa com solução de Ringer com Lactato e solução salina a 0,9%. MOMCILOVIC et al., (2000) forneceu aos bezerros por via oral solução eletrolítica alcalinizante às 48 horas após indução. THOEFNER et al., (2004) interviram nos animais quando estes apresentaram hematócrito superior a 42%, realizando fluidoterapia intravenosa, ou excesso de base menor que -8mM, realizando infusão intravenosa de solução de bicarbonato de sódio. DANSCHER et al., (2009) forneceram tratamento de suporte com soluções intravenosas de Ringer com acetato e bicarbonato de sódio as 18 e 24 horas após indução e borogluconato de cálcio 18 horas após indução.

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Protocolos de indução de acidose ruminal subaguda

Os protocolos de indução de acidose ruminal subaguda costumam ser mais

complexos, pois o objetivo é obter um pH ruminal dentro de uma faixa específica sem necessariamente induzir sinais clínicos e que, na medida do possível, mimetizem as condições de ocorrência de ARSA dentro de cada sistema de produção (GOAD et al., 1998; KEUNEN et al., 2002; KRAUSE & OETZEL, 2005). De acordo com NAGARAJA & TITGEMEYER (2007), a ARSA pode ser induzida com relativa segurança de não causar quadros agudos, fornecendo ao animal de uma só vez concentrado na dose correspondente a 1,5% de seu peso corporal. Ao contrário dos protocolos de indução de ALRA, não se deseja uma produção excessiva de ácido lático, podendo ser usados animais adaptados à dieta rica em concentrado, o que torna o modelo de indução de ARSA mais próximo das situações observadas nos sistemas intensivos de produção.

Existem protocolos de indução de ARSA validados em bovinos de corte ou de leite. GOAD et al., (1998) desenvolveram um protocolo para novilhos de engorda adaptados a dietas ricas em concentrado ou volumoso. Os animais foram divididos em dois grupos de acordo com o tipo de adaptação desejado. Os grupos adaptados a concentrado e volumoso receberam dieta composta por 80% ou 20% de concentrado, respectivamente. Cada dieta foi fornecida em dois tratos diários numa quantidade total que representasse 1,75 X a energia líquida de mantença para aquela categoria animal.

Para indução da acidose os animais foram mantidos em jejum por 24 horas. Nos três dias subsequentes os animais de ambos os grupos receberam dieta de indução composta exclusivamente de concentrado também em dois tratos diários, de modo que em cada trato fosse fornecido concentrado na quantidade suficiente para prover 1,75 X a energia líquida de mantença, totalizando 3,5 X a energia liquida de mantença por dia. O conteúdo ruminal foi avaliado logo antes do fornecimento da dieta de indução e posteriormente a cada 12 horas por três dias em que os animais receberam a dieta de indução. Em ambos os grupos, o pH ruminal atingiu valores abaixo de 5.6 aproximadamente após 36 horas do início da indução. Em 48 horas ambos os grupos atingiram os valores mínimos de pH, com diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, 5.4 para o grupo adaptado à volumoso e 5.2 para o grupo adaptado à concentrado (GOAD et al., 1998).

Os protocolos de indução de ARSA podem ter duração variada, de alguns dias a semanas. KEUNEN et al., (2002) desenvolveram um protocolo de indução para vacas de aptidão leiteira composto de quatro semanas, sendo designadas as semanas um e três, adaptação, e as semanas dois e quatro, indução. Durante as semanas de adaptação os animais recebiam dieta padrão ad libitum contendo 62%

de volumoso misturados a 38% de concentrado, tendo o consumo monitorado diariamente. Nas semanas de indução, 25% da quantidade média consumida na semana anterior foi fornecida na forma de pellets compostos de 50% de trigo e 50%

de cevada e o consumo da dieta padrão foi regulada em intervalos ao longo do dia (Figura 4).

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07:00: 2 kg de dieta padrão

11:00-11:30: Animais com acesso a dieta

padrão

15:00-15:30: Animais com acesso a dieta

padrão

09:00-09:30 –

2/3 do total de pellets

13:00: 1/3 do

total de pellets

17:00: Restante

da dieta padrão fornecida pelo resto do dia

FIGURA 4 – Manejo alimentar nos dias de indução de acidose subaguda

Fonte: Adaptado de KEUNEN et al., (2002)

O pH ruminal era monitorado continuamente por meio de eletrodos implantados no saco ventral do rúmen. Os autores consideraram como indicativo de ARSA valores de pH inferiores a 6.0 Nas semanas de indução, dois e quatro, obteve-se um pH médio diário de 6.11. Observou-se um tempo médio diário de pH abaixo de 6.0 de 10,66 horas, significativamente maior que o observado nas semanas de adaptação, de 5,3 horas (KEUNEN et al., 2002).

Outro protocolo de indução de acidose subaguda em vacas de aptidão leiteira foi o desenvolvido por KRAUSE & OETZEL (2005). Este protocolo foi composto por quatro períodos experimentais. O primeiro consistiu de quatro dias de dieta composta por aproximadamente 50% de volumoso ad libitum. O segundo período

consistiu de um dia de redução de 50% na dieta oferecida. O terceiro período, indução propriamente dita, consistiu de fornecimento da dieta consumida diariamente no primeiro período acrescida de 20% dessa mesma quantidade na forma de pellets

compostos de 50% de trigo e 50% de cevada. O quarto período consistia de mais dois dias de avaliação com o fornecimento da dieta do primeiro período na mesma quantidade. O pH mínimo observado foi 5.1 durante o dia de indução, como o animal permanecendo, em média, 8,26 horas com pH ruminal abaixo de 5.6, tempo consideravelmente maior que o observado no primeiro período, de 1,1 hora.

Aplicações dos protocolos de indução de acidose ruminal

O estabelecimento de protocolos de indução de acidose ruminal permitiu o

melhor entendimento sobre sua etiopatogenia bem como suas consequências tanto para a saúde quanto a produtividade dos bovinos. Diversos estudos foram conduzidos avaliando equilíbrio hídrico e ácido-base na acidose ruminal aguda, a relação entre acidose ruminal e doenças digitais e a influência da acidose no sistema imune e metabolismo. ORTOLANI et al., (2010) induziram quadro de acidose aguda por meio de sacarose em bovinos das raças Gir e Jersey visando encontrar diferenças clínicas nos dois grupos raciais. Foi observado que os animais da raça Gir apresentaram maior grau de desidratação, porém o quadro clínico foi considerado pior nos bovinos Jersey, pois apresentaram acidose metabólica mais acentuada, com maiores níveis sanguíneos de lactato-D e menores de pH. O pior quadro clínico nos animais da raça Jersey foi justificado em função da maior depressão de estado mental observada e da maior quantidade de bicarbonato que teve de ser empregada para correção da acidose metabólica.

Diversos trabalhos já associaram acidose ruminal à ocorrência de doenças digitais, especialmente laminite (NORDLUND et al., 2004; GOFF, 2006; BICALHO &

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OIKOMONOU, 2013). Alguns trabalhos foram realizados visando induzir laminite por meio de indução de acidose ruminal. MOMCILOVIC et al., (2000) induziram acidose ruminal em bezerros com fornecimento de dieta rica em concentrado, porém não foram bem-sucedidos na indução de laminite. Já THOEFNER et al., (2004) adaptaram um protocolo de indução de laminite na espécie equina com o uso de oligofrutose, um polímero da frutose presente em diversas espécies vegetais, incluindo algumas gramíneas.

O fornecimento do açúcar foi eficaz na indução de acidose ruminal aguda e laminite em bovinos, diagnosticada por claudicação acentuada, aumento da sensibilidade digital e alterações histológicas (THOEFNER et al., 2004; THOEFNER et al., 2005). Porém, os autores não souberam explicar como esse modelo de indução de laminite foi bem-sucedido, e outros estudos anteriormente realizados com sobrecarga de concentrado não o foram. Posteriormente, outros autores repetiram com sucesso o modelo experimental de indução de laminite, mas também não souberam explicar a maior eficácia desse protocolo em comparação a outros (DANSCHER et al., 2009).

Recentemente, diversos estudos vêm avaliando os reflexos da acidose ruminal no sistema imune. A grande produção de lipopolissacarídeos no rúmen de animais com acidose faz com que parte dessas endotoxinas seja absorvida estimulando uma resposta imune inata (LI et al., 2012; ZEBELI & METZLER-ZEBELI, 2012). Sob influência das endotoxinas, macrófagos produzem citocinas como interleucina1, interleucina 6 e fator de necrose tumoral α, que por sua vez induzem a liberação de proteínas de fase aguda pelos hepatócitos como amiloide séria A, haptoglobulina, proteína C reativa e proteína ligante de lipopolissacarídeo (GOZHO et al., 2005, GOZHO et al., 2007; KHAFIPOUR et al., 2009; ZEBELI & AMETAJ, 2009; DANSCHER et al., 2011).

Acredita-se que as citocinas e proteínas de fase aguda liberadas em resposta a endotoxemia possam influenciar negativamente a saúde e produtividade dos bovinos reduzindo, por exemplo, produção total e teor de gordura no leite (ZEBELI & AMETAJ, 2009; COLMAN et al., 2010). Acredita-se também que a resposta aguda secundária a endotoxemia possa estar envolvida direta ou indiretamente na etiopatogenia de algumas importantes doenças como a retenção de envoltórios fetais, o deslocamento de abomaso, hipocalcemia e lesões digitais secundárias à laminite (AMETAJ et al., 2010; DANSCHER et al., 2011; BICALHO & OIKOMONOU, 2013)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A indução de acidose ruminal permite a avaliação de diferentes aspectos

da alteração, elucidando questões sobre influência da dieta e manejo alimentar, o desequilíbrio fermentativo no rúmen bem como desequilíbrio hídrico e ácido-base sistêmicos. Existem diferentes protocolos validados para indução de acidose ruminal aguda ou subaguda, e a escolha deve levar em consideração os objetivos do estudo.

Na indução de acidose ruminal aguda deve-se ter especial cuidado com o tratamento de suporte dos animais em função das severas alterações sistêmicas que podem ocorrer. Em função de possíveis fontes de variação não previstas no estudo, na indução de acidose ruminal subaguda deve-se atentar para o controle rigoroso na execução do protocolo de indução e avaliação das variáveis.

Os diferentes protocolos de indução permitem avaliar não somente a acidose ruminal, mas também implicações secundárias como alterações no

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metabolismo, sistema imune e predisposição a doenças digitais. Além disso, a indução de acidose ruminal também permite a avaliação de medidas de tratamento e controle.

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CAPÍTULO 3 –CARACTERIZAÇÃO DA ACIDOSE RUMINAL E DA FASE INICIAL

DA LAMINITE INDUZIDAS POR OLIGOFRUTOSE EM BEZERROS MESTIÇOS CHARACTERIZATION OF RUMEN ACIDOSIS AND INITIAL PHASE OF LAMNITIS

INDUCTED BY OLIGOFRUCTOSE IN CROSSBRED CALVES

RESUMO

Uma das formas de se estudar a laminite bovina é sua indução experimental por meio do

fornecimento de grande quantidade de carboidrato de alta fermentação. O protocolo mais eficaz

até o momento foi o uso de oligofrutose. Objetivou-se avaliar aspectos clínicos e histológicos

dos dígitos de bovinos na indução experimental de acidose ruminal e laminite usando

oligofrutose. Utilizaram-se seis bezerros mestiços (Bos taurus X Bos indicus) de um ano dos

quais três foram usados inicialmente em grupo piloto (GP) e posteriormente os outros três em

grupo experimental (GE). Os animais em GP e GE receberam oligofrutose por via intrarruminal

nas doses de 13 e 17 g/kg respectivamente. Os animais foram avaliados clinicamente por 28

horas e fragmentos de coroa e muralha abaxial dos dígitos foram colhidos para histologia 30

horas após a indução. Foram identificados sinais de acidose ruminal e metabólica como

distensão ruminal com liquido, diarreia e baixo pH ruminal. Os resultados de hemogasometria

indicaram baixos pH, excesso de base e bicarbonato. Os animais não apresentaram claudicação

entretanto, observaram-se apatia e marcha mais lenta, atribuídas à acidose metabólica.

Histologicamente foram observadas lesões características de laminite como alterações

circulatórias e infiltrado inflamatório na derme, irregularidades e áreas de destacamento da

membrana basal e alterações morfológicas de células da epiderme basal. Considera-se que o

protocolo foi eficaz em provocar laminite em bezerros mestiços e que a fase de

desenvolvimento da enfermidade se caracteriza por sinais da doença primária, acidose ruminal

e lesões histológicas de laminite nos dígitos.

Palavras-chave: acidose metabólica, claudicação, histologia dos dígitos

ABSTRACT

One way to study laminitis is the experimental induction by means of rumen acidosis induction.

Most effective protocol until now was the use of oligofructose. The objective of this study was

to evaluate clinical and hoof histological changes in the experimental induction of rumen

acidosis and laminitis in calves using oligofructose. Were used six crossbred (Bos taurus X Bos

indicus) yearling calves from which three were initially used as a pilot group (GP) and, in

posterior moment, the remain three as an experimental group (GE). Animals in GP and GE

received intrarruminal oligofructose in the doses of 13 and 17 g/kg respectively. Calves were

evaluated clinically for 28 hours and at 30th hour post induction were harvested samples from

coronary and abaxial wall regions of the hoof for histologic evaluation. Animals showed signs

of rumen and metabolic acidosis like rumen distension with fluid, diarrhea, low rumen pH and,

at blood gas analysis, low pH and bicarbonate. Lameness was not observed however, some

animals had a slower gait and apathy, possibly due to metabolic acidosis. Microscopically, were

found typical lesions of laminitis like circulatory changes and inflammatory infiltrate in the

dermis, irregularities and areas of detachment at basement membrane and morphologic changes

in cells from basal epidermis. The protocol was considered successful to induce laminitis in

crossbred calves and developmental phase of the disease is characterized by signs of the primary

disease, rumen acidosis, and histologic lesions typical of laminitis in the digits.

Keywords: metabolic acidosis, lameness, hoof histology

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1. Introdução

A crescente produtividade apresentada pelos bovinos ao longo das últimas décadas

veio acompanhada pela maior ocorrência de enfermidades associadas ao sistema de produção

como por exemplo as indigestões e as enfermidades podais1,2. Dentre as indigestões, destaca-

se a acidose ruminal, desequilíbrio fermentativo causado pela ingestão de quantidade excessiva

de carboidrato rapidamente fermentável. A acidose ruminal pode ocorrer de forma aguda ou

subaguda3,4. Na forma aguda ocorrem sinais como distensão ruminal, diarreia desidratação e

depressão de estado mental, decorrente de desidratação e acidose metabólica5-7. Na forma

subaguda, os animais não apresentam sinais clínicos evidentes, entretanto associa-se a esse

quadro diversas complicações como rumenite e paraqueratose ruminal, abscessos hepáticos,

polioencefalomalacia, interferência na função imune e laminite3,4,8-10.

Uma das principais maneiras de estudar a acidose ruminal é sua indução

experimental, tanto na forma aguda quanto na subaguda4. Os protocolos envolvem a

combinação de carboidratos de alta fermentação com esquemas de fornecimento que favoreçam

o desequilíbrio fermentativo como longo jejum prévio ou dieta prévia sem concentrado para

impedir a adaptação da microbiota4. Nos protocolos são estudados diferentes aspectos da

enfermidade como a dinâmica da microbiota11, alteração no equilíbrio ácido-base6,12,13, função

imune9 e fatores desencadeadoes de laminite5,7,14. A laminite é uma das principais enfermidades

digitais dos bovinos e é caracterizada pela inflamação da derme digital. Além da acidose

ruminal, acredita-se que fatores hormonais e ambientais estejam envolvidos em sua patogenia 15-

17. Na forma clínica, o animal apresenta acentuada claudicação em todos os membros5,7. Na

forma crônica o casco apresenta-se alongado e com acentuada concavidade na parede,

denominado “achinelado”15. Na forma subclínica, as alterações nos tecidos vivos do casco

antecedem em dois a três meses o surgimento de lesões dolorosas como úlceras de sola e doença

de linha branca18-20.

Acredita-se que as mudanças fermentativas que caracterizam a acidose ruminal

levam a produção e absorção de substâncias que podem atuar localmente na derme e epiderme

dos dígitos7,8,21,22. Alguns dos fatores que são gerados na acidose ruminal e poderiam causar a

laminite são a histamina, ácido lático e endotoxinas. Isoladamente, ou em conjunto,

provocariam lesões vasculares e degradação do aparato suspensório da terceira falange no

interior do dígito22-25. O período entre o fator desencadeante e o surgimento dos sinais clínicos

é denominada fase prodrômica, ou fase de desenvolvimento, sendo bem estudada na espécie

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equina26-28. Na espécie bovina, o período prodrômico possui duração variada5,7,18, devido ao

fato de que os protocolos experimentais de indução empregados nem sempre resultam em sinais

clínicos específicos de laminite clínica, como claudicação e sensibilidade digital 14,25,29. Nos

casos em que se observou claudicação, esta ocorreu a partir do segundo dia5,7. Além disso, sabe-

se que na laminite subclínica, esse período de desenvolvimento de lesões sem sinais clínicos

aparentes pode levar meses15. Geração de conhecimento mais específico sobre as alterações da

laminite bovina na fase de desenvolvimento é importante pois além de permitirem um

diagnóstico precoce, antes de sinais mais evidentes da laminite como a claudicação, permitem

medidas terapêuticas mais efetivas, como ocorre na espécie equina, com o uso de

antiinflamatórios e crioterapia30,31.

As pesquisas sobre laminite bovina empregam diferentes metodologias como

estudos epidemiológicos, indução experimental e até cultura de tecidos5,32-34. Dentre esses, a

indução da laminite permite o controle de diferentes variáveis que influenciam no surgimento

das lesões bem como a avaliação de diferentes aspectos da etiopatogenia5,24,35-37. Considerando

a conhecida relação entre acidose ruminal e laminite, objetivou-se produzir a doença

locomotora pela indução do desequilíbrio fermentativo. Apesar de aparentemente simples, essa

abordagem nem sempre produziu os resultados esperados. Alguns protocolos não foram

eficazes, outros foram mas falharam ao serem reproduzidos em outros estudos7,15. O protocolo

que vem apresentando resultados mais consistentes é a indução de acidose ruminal com uso de

oligofrutose5,7. Esse foi um protocolo aplicado inicialmente em equinos38 e, posteriormente,

em bovinos5,7,23. A oligofrutose é um polímero de frutose com até dez subunidades do açúcar,

e que está presente em alimentos como a chicória, trigo e banana, além de gramíneas de clima

temperado7,39.

Mais estudos envolvendo oligofrutose se fazem necessários, pois, os realizados até

o momento empregaram pequeno número de animais, o que é comum nesse tipo de

experimento. Observa-se também que o peso e propriedade de origem podem influenciar nos

resultados e nem todos os animais que receberam oligofrutose desenvolveram claudicação ou

apresentaram lesões histológicas5,7,24,36,40. O peso e a dieta prévia dos animais são parâmetros

que podem interferir nos resultados de indução de acidose ruminal4,12. Além das diferenças de

protocolo empregados, um aspecto importante e pouco explorado nos estudos sobre acidose

ruminal e laminite são as diferenças raciais, com exceção feita a estudos sobre indução

experimental de acidose aguda6,13. Não foram encontrados na literatura consultada5,7,15 estudos

sobre indução experimental de laminite em bovinos zebuínos, ou mesmo mestiços (Bos taurus

X Bos indicus).

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Os zebuínos e seus mestiços respondem por grande parte do rebanho nacional, tanto

de corte41 quanto de leite42. Em pesquisa com extensionistas que prestam assistência a

confinamentos, observou-se que 77% das propriedades confinam bovinos da raça Nelore e 55%

confinam animais mestiços. Na pecuária leiteira, a maior parte do rebanho é composta por

animais cruzados (Bos taurus X Bos indicus), principalmente da raça Girolando, respondendo

por aproximadamente 80% da produção nacional43. A laminite é citada como importante

problema de saúde nesses animais, tanto de aptidão leiteira18 quanto de corte, especialmente

nos confinamentos onde os bovinos recebem dieta com alto teor de concentrado41. Sabe-se que

zebuínos e taurinos podem responder de forma diferente a indução experimental de acidose

ruminal6,13 e que possuem diferenças microscópicas na estrutura dos cascos44,45. Essas

diferenças podem se refletir também na laminite, de ocorrência natural ou induzida

experimentalmente, o que reforça a necessidade de estudos sobre a laminite nesses animais.

O estudo das alterações ocorridas no período de desenvolvimento da enfermidade,

entre a acidose ruminal e a claudicação, permitiriam a adoção de melhores protocolos de

monitoramento e tratamento precoce dos animais do rebanho. Uma opção de estudo que poderia

auxiliar no esclarecimento da enfermidade nesse estágio de desenvolvimento, seria em bezerros

desmamados mestiços. Uma das vantagens do estudo em animais jovens é a facilidade de

manipulação, acompanhamento clínico dos animais e o menor custo.

Com o presente trabalho objetivou-se avaliar, por parâmetros de exame físico,

laboratoriais e histológicos, o protocolo de indução de acidose ruminal e laminite, empregando

a oligofrutose e estudar seus efeitos sobre o cório laminar na fase prodrômica da enfermidade,

usando bovinos mestiços de um ano como modelo experimental.

2. Materiais e métodos

O estudo foi desenvolvido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de

Goiás, no ano 2014. O projeto foi avaliado e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de

Animais da UFG (CEUA/UFG), tendo recebido o protocolo de número 26/2013. Foram

utilizados seis bezerros, mestiços (Bos taurus x Bos indicus) com idade aproximada de 12 meses

e peso médio de 175 ± 22,6 kg. Três meses antes do início do estudo os animais foram

submetidos à ruminostomia com implantação de cânula ruminal com 8,89 cm de diâmetro

interno (KEHL®, São Carlos, Brasil). Os bezerros foram mantidos em piquetes contendo

gramínea Brachiaria decumbens e eram suplementados com feno de gramínea Tifton 85. Na

composição da dieta ainda constava suplemento mineral e água era fornecida à vontade.

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Três animais foram empregados em estudo preliminar, formando o grupo piloto

(GP), no qual receberam oligofrutose (Oligofrutose®, Viafarma®, São Paulo, Brasil)

intrarruminal na dose de 13 g/kg. Após as avaliações no grupo piloto os três animais restantes

compuseram o grupo experimental (GE), recebendo oligofrutose na dose de 17 g/kg por via

intrarruminal. O protocolo e as doses adotados para administração de oligofrutose basearam-se

na literatura consultada7. O estudo, tanto para o grupo piloto quanto para o grupo experimental,

foi dividido em três fases. Na fase I, durante três dias os bovinos receberam 10% da dose

calculada de oligofrutose por dia, dividida em dois momentos com 5% cada, totalizando 30%.

Nesse período, de acordo com a literatura, não eram esperados sinais clínicos5,7, portanto, eram

consideradas doses para adaptação da microbiota ruminal7. No quarto dia, início da fase II, os

bezerros receberam os 70 % restantes de uma vez, sendo considerado marco zero para o início

das alterações clinicas 5,7. Tanto na fase I quanto na fase II, a oligofrutose administrada foi

diluída na concentração de 80% em água morna. A fase III se iniciou 30 horas após a fase II e

consistia na colheita de fragmentos do casco para exame histológico.

Os bezerros foram avaliados antes de iniciar a fase I e durante 28 horas a partir do

início da fase II, quando receberam a sobrecarga de oligofrutose, 70% da dose. Antes da fase I

foram realizados exame físico e do fluido ruminal. As avaliações durante a fase II ocorreram a

cada quatro horas, sendo a primeira avaliação denominada T0, composta pelo exame físico

geral, avaliação de marcha e da sensibilidade digital e análises laboratoriais, que incluiram

exame do fluido ruminal, avaliação do hematócrito, quantificação da proteína plasmática e

hemogasometria. Em todos as colheitas, as amostras de fluido ruminal foram obtidas

diretamente do rúmen após abertura da cânula ruminal, sendo avaliadas as características

organolépticas, pH e realizada a prova de redução do azul de metileno46.

Em seguida foram realizadas as análises de claudicação e de sensibilidade digital de

acordo com metodologias citadas na literatura7,47. Na avaliação da locomoção, os animais eram

analisados ao percorrerem em linha reta pequeno percurso em piso de concreto. O avaliador se

posicionava lateralmente ao percurso quando então atribuía um escore de acordo com a

gravidade da claudicação que o animal pudesse apresentar (Quadro 1). Para a avaliação da

sensibilidade digital, o membro torácico era erguido por um auxiliar e o examinador

pressionava a sola dos dois dígitos em diferentes pontos usando uma pinça de casco. Se não

houvesse reação, era atribuído escore 1. Havendo reação discreta era atribuído escore 2 e

havendo reação acentuada era atribuído escore 37. Tanto o escore de locomoção quanto o de

sensibilidade digital foram avaliados sempre pelo mesmo avaliador.

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52

QUADRO 1 – Escore de claudicação em bovinos47

Escore Denominação Descrição

1 Normal Animal com o dorso reto quando parado em posição quadrupedal

e caminhando. Passo normal

2 Claudicação leve Animal com dorso reto em posição quadrupedal e arqueado ao

caminhar. Passo normal

3 Claudicação

moderada

Animal com dorso arqueado quando parado e caminhando. Passo

encurtado de um ou mais membros

4 Claudicação evidente

Animal com dorso arqueado quando parado e caminhando.

Locomoção alterada com um passo de cada vez ou evitando o

apoio de um membro

5 Claudicação severa Somado aos sinais anteriores, o animal reluta ou tem dificuldade

de apoiar um ou mais membros mesmo quando parado

As amostras destinadas a avaliação do hematócrito e proteína total eram de sangue

venoso colhido em tubo contendo ácido etilenodiaminotetracético (EDTA). Após

homogeneização e centrifugação, o hematócrito foi aferido em tabela medidora e a proteína

plasmática avaliada em refratômetro. A hemogasometria foi feita com sangue venoso colhido

em seringa heparinizada e os valores foram obtidos após homogeneização da amostra e

avaliadas em hemogasômetro de bancada (COBAS B 121®, Roche Diagnóstica, São Paulo -

SP, Brasil).

Após 28 horas do início da fase II, os animais receberam tratamento de suporte com

retirada do conteúdo ruminal e fluidoterapia intravenosa com solução de Ringer com lactato e

solução de bicarbonato de sódio a 5% para tratamento da acidose metabólica. A quantidade de

solução de bicarbonato administrada foi calculada de acordo com o déficit de bicarbonato,

parâmetro avaliado na hemogasometria. Após duas horas com este tratamento de suporte

encerrava-se a fase II e se iniciava a fase III, na qual os animais foram sedados e submetidos à

biópsia de casco tendo em vista a realização de avaliação histológica. Para proceder a colheita

das amostras os bovinos foram sedados com cloridrato de xilazina a 2% (Anasedan®, Ceva

Brasil, Paulínia-SP, Brasil) na dose de 0,2 mg/kg, e posicionados em decúbito dorsal. Para a

colheita de amostras, foram selecionados o dígito lateral do membro pélvico direito e o dígito

medial do membro torácico direito. As extremidades distais dos membros locomotores

avaliados foram inicialmente lavadas com água e sabão. Em seguida, tanto as regiões da banda

coronária como da parede do casco foram preparadas cirurgicamente com iodopovidona tópico

e álcool. A veia digital dorsal foi puncionada empregando-se scalp, tamanho 21, e na sequência

foram aspirados 10 mL de sangue e infundidos o mesmo volume de cloridrato de lidocaína a 2

% sem vasoconstritor (Lidovet®, Bravet, Engenho Novo, Brasil).

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53

Foram colhidos fragmentos da região coronária e da muralha abaxial. Para a biópsia

da região coronária, foi selecionado um local, aproximadamente três centímetros lateral à

margem dorsal do casco, região de transição dorsal entre paredes axial a abaxial. Foi realizada

tricotomia proximamente ao local de retirada bem como aplicação de mais três ml de cloridrato

de lidocaína a 2 % no tecido subcutâneo ao redor do sítio de biópsia. Com uso de bisturi, pinça

e tesoura, foi retirado fragmento retangular de aproximadamente dez por cinco milímetros. Para

a biópsia da região da muralha, o estojo córneo foi gradativamente desgastado com lixadeira

verificando-se frequentemente a complacência da parede com pinça bem como a coloração da

mesma. Quando tornava-se macia, afundando levemente sob pressão, realizava-se a biópsia

delimitando-se inicialmente o fragmento com bisturi e, em seguida, retirando-o como uso do

lamelótomo Falcão-Faleiros48 (Figura 1).

FIGURA 1 – Biópsia da região da muralha do casco de bovino. Demarcação do fragmento com auxílio

de bisturi (A). Área do fragmento a ser retirado delimitada por linha tracejada (B). Retirada

do fragmento com auxílio de lamelótomo (C)

O processo iniciava-se com a delimitação de três lados de um retângulo usando uma

lâmina de bisturi que era introduzida até se atingir a falange. Pelo quarto lado, não seccionado,

se introduzia o lamelótomo Falcão-Faleiros8 perpendicularmente até atingir o osso,

direcionando-o em seguida no sentido do corte oposto. Dessa forma o fragmento era removido

com todas as camadas da derme, transição entre derme e epiderme, camada viva da epiderme e

parte da camada córnea desgastada. Após a retirada dos fragmentos, aplicava-se percloreto de

ferro (Friezol Estankasangue®, Pinus, Jundiaí, Brasil), polvilhava-se cloridrato de

oxitetraciclina em pó sobre as feridas (Terramicina Pó®, Pfizer) e aplicavam-se algodão

ortopédico e ataduras envolvendo o casco. Os curativos continuaram sendo trocados a cada dois

dias até completa cicatrização.

As amostras colhidas foram fixadas em formol tamponado a 10%, processados

rotineiramente e corados pela hematoxilina e eosina (HE) e ácido periódico de Schiff (PAS).

Um mesmo avaliador realizou a análise histológica às cegas usando microscópio ótico comum

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54

na objetiva de 10X. Na coloração de HE, foram avaliados na derme, hiperemia, hemorragia,

edema e infiltrado inflamatório18,40. Para esses parâmetros foram atribuídos os escores 0 –

ausente, 1 – raro, 2 – discreto, 3 – moderado, 4 – acentuado18. Na epiderme avaliaram-se necrose

celular e alterações morfológicas nos núcleos das células. Para necrose celular consideraram-

se os mesmos escores que os usados na avaliação da derme. Para o escore de alterações

morfológicas atribuiu-se 1- cerca de 50% de células com núcleo oval perpendicular a membrana

basal e 50% de células com núcleo redondo; 2- predominância de células epidérmicas com

núcleo redondo, 3- predominância de células com núcleo alongado e achatado ou com ausência

de núcleo18. Nas amostras coradas pelo PAS avaliaram-se áreas de irregularidades e

destacamento da membrana basal representado pela separação entre células basais e membrana

basal18,40. Atribui-se escores de forma semelhante à realizada na avaliação da derme, com

valores de 0 a 418.

Para cada parâmetro, considerou-se a média de todas as amostras de cada animal e,

posteriormente, avaliaram-se-se separadamente membros pélvicos e torácicos e regiões de

muralha e coroa, dentro de cada grupo. Em todas as avaliações, exames físico, laboratoriais e

histológicos, os dados foram avaliados por estatística descritiva49.

3. Resultados

A frequência cardíaca, temperatura retal e tempo de preenchimento capilar não

apresentaram alterações expressivas em nenhum dos grupos. A frequência respiratória se

elevou em ambos os grupos oito horas após a indução mas diminuiu gradativamente nos

momentos seguintes. A motricidade ruminal se reduziu em ambos os grupos chegando a

próximo de zero no grupo GE 20 horas após a indução (Tabela 1). Ao longo das 28 horas de

avaliação clínica os animais dos dois grupos não apresentaram claudicação ou sensibilidade

digital. Apesar disso, foi observado em alguns animais marcha mais lenta associada a apatia.

O conteúdo ruminal apresentou alterações em todos os parâmetros avaliados

(Tabela 2). O odor e a coloração do conteúdo se modificaram. No início a coloração era verde

oliva e o odor aromático. No decorrer das avaliações, o odor passou a ácido e a coloração a

leitoso, levemente amarelado. Observou-se acúmulo de líquido no rúmen, de forma mais

acentuada no GE. No GP o pH ruminal mínimo foi de 5,32 e no GE o pH mínimo foi de 4,6.

Em ambos os grupos se observou que a partir de certo momento, 16:00±14:24 horas em GP e

9:20±2:20 horas em GE, não havia mais redução do azul de metileno. Em ambos os grupos se

observou elevação gradativa dos valores de hematócrito e proteína plasmática (Tabela 3).

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55

TABELA 1 - Médias e desvio padrão de frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR),

movimentos ruminais em cinco minutos (MR) e temperatura retal (T°C) para bezerros

mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg

de oligofrutose (GE).

Fase I

Fase II

T0 T4 T8 T12 T16 T20 T24 T28

FC

GP 45,00

±3,00

51,00

±6,08

60,00

±13,86

58,00

±7,00

54,00

±8,89

52,00

±5,00

51,00

±9,54

51,67

±3,21

49,00

±4,58

GE 43,00

± 2,65

42,67

±7,57

51,67

±11,68

53,00

±4,36

46,00

±3,46

50,67

±13,61

60,67

±1,15

62,00

±25,53

56,00

±7,21

FR

GP 24,33

±4,73

14,33

±4,73

23,33

±7,02

30,00

±3,61

18,67

±3,51

14,67

±3,06

18,00

±5,29

11,33

±4,16

17,00

±2,65

GE 25,30

±4,16

10,33

±2,31

23,00

±10,44

26,67

±5,77

18,00

±2,65

12,33

±5,77

11,67

±3,21

13,33

±3,06

16,33

±7,51

MR

GP 4,70

±1,53

5,33

±0,58

4,33

±0,58

3,67

±1,53

4,00

±1,73

5,00

±1,00

4,00

±1,73

4,50

±0,71

3,00

±1,73

GE 4,00

±1,73

5,33

±0,58

2,00

±1,00

4,00

±0,00

3,33

±3,06

1,33

±0,58

0,33

±0,58

2,33

±1,15

1,33

±2,31

T°C

GP 38,30

±0,77

36,77

±1,04

38,37

±0,15

39,17

±0,5

38,83

±0,51

37,53

±0,7

36,97

±0,95

36,77

±1,63

38,43

±0,38

GE 38,20

±0,26

36,47

±0,51

37,67

±0,87

38,30

±0,14

38,20

±0,2

36,80

±1,82

36,43

±0,81

35,77

±1,10

37,43

±0,51

TABELA 2 - Médias e desvio padrão de pH ruminal para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus)

recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE).

Fase Fase II

I T0 T4 T8 T12 T16 T20 T24 T28

pH

GP 6,71

±0,29

6,89

±0,11

5,72

±0,49

5,32

±0,57

5,38

±1,43

5,57

±1,47

5,97

±1,41

5,88

±1,95

6,78

±0,68

GE 6,92

±0,02

6,69

±0,10

5,50

±0,06

5,14

±0,43

4,83

±0,36

4,70

±0,35

4,6

±0,27

5,24

±1,31

5,62

±0,86

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56

TABELA 3 - Médias e desvio padrão de hematócrito (HCT) e proteína plasmática (PTN) para bezerros

mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de

oligofrutose (GE).

Fase I

Fase II

T0 T4 T8 T12 T16 T20 T24 T28

HCT

GP 29,30

±4,16

30,33

±2,31

29,67

±2,08

30,00

±1,73

33,33

±2,89

33,33

±4,16

35,67

±5,51

36,67

±7,02

35,67

±6,43

GE 31,66

±2,08

32,67

±3,51

33,00

±2,00

33,33

±3,06

33,00

±2,65

40,33

±5,69

45,00

±4,25

46,00

±3,75

38,67

±5,13

PTN

GP 7,73

±0,32

7,90

±0,62

8,13

±0,93

7,80

±1,40

8,13

±1,44

8,27

±1,51

8,57

±1,46

8,53

±2,00

8,67

±2,06

GE 7,40

±0,10

7,60

±0,20

7,67

±0,31

7,63

±0,35

8,07

±0,70

8,07

±0,64

8,80

±0,55

8,60

±0,44

7,87

±0,46

Na hemogasometria foi observada em ambos os grupos redução dos valores de pH

sanguíneo, PCO2, bicarbonato e excesso de base ao longo das avaliações (Tabela 4). Observou-

se que os animais do grupo GE já iniciaram a primeira avaliação com valores indicativos de

acidose metabólica.

TABELA 4 - Médias e desvio padrão dos valores de pH sanguíneo, pressão de CO2 (PCO2),

bicarbonato (HCO3) e excesso de base (BE) para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos

indicus) recebendo 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE).

T0 T4 T8 T12 T16 T20 T24

pH

GP 7,38

±0,12

7,39

±0,10

7,35

±0,14

7,32

±0,19

7,26

±0,16

7,23

±0,21

7,24

±0,22

GE 7,29

±0,08

7,32

±0,07

7,28

±0,05

7,21

±0,04

7,12

±0,03

7,08

±0,01

7,07

±0,03

PCO2

GP 41,00

±5,01

41,53

±6,27

36,57

±9,16

36,00

±7,39

37,80

±16,84

34,90

±10,7

35,23

±10,65

GE 29,03

±9,86

28,63

±7,07

36,57

±9,83

21,50

±2,77

19,57

±3,31

18,33

±3,48

20,07

±1,68

HCO3

GP 24,83

±8,54

25,80

±8,87

21,63

±10,45

20,10

±10,14

19,23

±12,16

16,53

±9,65

17,43

±10,45

GE 14,50

±7,81

14,90

±6,39

13,80

±6,46

8,47

±1,50

6,23

±0,65

5,33

±0,90

5,73

±0,76

BE

GP -0,33

±9,50

0,73

±9,51

-3,53

±11,59

-5,60

±12,3

-7,50

±13,48

-10,40

±12,4

-9,43

±13,32

GE -10,80

±8,16

-9,90

±6,83

-11,63

±6,38

-17,60

±2,02

-21,20

±0,17

-22,80

±0,62

-22,63

±1,16

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57

Quanto à biópsia de casco, a técnica empregada se mostrou adequada e possibilitou

a obtenção de amostras viáveis para avaliações histológicas. Nos locais de colheita ocorreu

discreta hemorragia, que foi contida por compressão no local com gaze e utilizando-se agente

hemostático. Nos dias subsequentes à biópsia os animais não apresentaram claudicação.

Na avaliação da derme, foram detectados alterações edema e infiltrado inflamatório

em ambos os grupos (Tabela 5). O edema foi predominantemente perivascular (Figura 3). O

infiltrado inflamatório, além de também perivascular, ocorreu especialmente próximo à junção

derme-epiderme (Figura 3). Hemorragia e hiperemia foram observados poucas vezes em ambos

os grupos. Na epiderme observaram-se alterações morfológicas nos núcleos das células

epidérmicas basais. Necrose celular foi observada apenas no GE. Foram observados

irregularidades e destacamento na membrana basal em todos os grupos (Figura 4).

TABELA 5 - Escores de alterações histológicas, em amostras de casco, coroa e muralha dorsal, de

bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) que receberam 13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE).

Grupo Escores

Hiper. Hemor. Edema Inf. Infl. Morte cel. Cam.basal M. basal

GP 0,14 ±0,38 0 1,86 ±0,38 1,14 ±1,07 0 1,14±0,39 0,57 ±1,13

GE 0,17 ±0,39 0,33 ±0,78 1,75 ±0,75 1,25 ±0,96 0,5 ±0,67 2,08 ±0,9 1,17 ±0,94

Hiperemia (Hiper.); hemorragia (Hemor.); edema; infiltrado inflamatório (inf. Infl.); morte de células

epidérmicas basais (Morte cel.); alteração morfológica de células epidérmicas basais (Cam. basal) e

alterações morfológicas de membrana basal (M.basal)

Na comparação entre membros pélvicos e torácicos (Tabela 6), a maior parte dos

escores oscilou de zero, ausente, a um, raro. No GE, para a maior parte dos parâmetros, os

valores foram maiores nas amostras de membro torácico. No GP não foi observada essa

distribuição. Na comparação entre regiões de muralha ou coroa (Tabela 7), não se observou um

padrão de diferença entre as regiões.

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58

FIGURA 2 – Fragmento da região da muralha de animal do grupo GE

evidenciando edema perivascular (cabeça de seta). Coloração

HE, aumento de 10X

FIGURA 3 – Fragmento de região da coroa de animal do grupo GP

evidenciando infiltrado inflamatório subepidérmico (setas).

Coloração HE, aumento de 10X

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59

FIGURA 4 – Fotomicrografias de fragmentos do dígito de bovinos. A – Fragmento de coroa de

animal do grupo GE evidenciando destacamento multifocal discreto da membrana

basal (seta). B - Fragmento de muralha de animal do grupo GP evidenciando

irregularidades da membrana basal (cabeça de seta). Coloração PAS, aumento de 40X

TABELA 6 – Escores de alterações histológicas em amostras de casco, coroa e muralha dorsal do casco,

agrupados por membro pélvico e torácico, para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo

13 g/kg de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE).

Grupo Lesão (%)

Hiper. Hemor. Edema Inf. Infl. Mor.cel.ep. Cam.basal M. basal

GP

torácico 0 0 2 1±1,15 0 1,25±0,50 0,25±0,50

GP

pélvico 0,3±0,58 0 1,67±0,58 1,33±1,15 0 1 1±1,73

GE

torácico

0,17±0,41 0,67±1,03 1,67±0,82 1,5±1,05 0,83±0,75 2,33±1,03 1,33±1,03

GE

pélvico

0,17±0,41 0 1,83±0,75 1±0,89 0,17±0,41 1,83±0,75 1±0,89

Hiperemia (Hiper.); hemorragia (Hemor.); edema; infiltrado inflamatório (inf. Infl.); morte de células epidérmicas basais (Morte cel.ep.); alteração morfológica de células epidérmicas basais (Cam basal) e alterações morfológicas de membrana basal (M.basal)

TABELA 7 - Escores de alterações histológicas em amostras da coroa e muralha dorsal do casco,

agrupados por coroa e muralha, para bezerros mestiços (Bos taurus x Bos indicus) recebendo 13 g/kg

de oligofrutose (GP) e 17 g/kg de oligofrutose (GE).

Grupo Lesão (%)

Hiper. Hemor. Edema Inf. Infl. Mor.cel.ep. Cam basal M. basal

GP

muralha 0,33±0,57 0 1,67±0,57 0 0 1,33±0,57 0

GP

coroa 0 0 2 2 0 1 1±1,41

GE

muralha

0,33±0,55 0,67±1,03 2,33 ±0,51 0,5±0,55 0,5±0,83 2±0,89 1,5±1,05

GE

coroa

0 0 1,17±0,4 2±0,63 0,83±0,75 2,17±0,98 0,85±0,75

Hiperemia (Hiper.); hemorragia (Hemor.); edema; infiltrado inflamatório (inf. Infl.); morte de células epidérmicas

basais (Morte cel. ep.); alteração morfológica de células epidérmicas basais (Cam. basal) e alterações morfológicas de membrana basal (M.basal)

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60

4. Discussão

Previamente a fase I, os animais não apresentaram alterações de fluido ruminal, o

que é compatível com a condição de criação a pasto sem suplementação com concentrado46. No

período de avaliação da fase II, 28 horas, não se observaram sinais específicos de laminite como

claudicação ou sensibilidade digital. Ocorreram sinais clínicos da enfermidade primária,

acidose ruminal e metabólica e alterações microscópicas nos dígitos indicativas de laminite,

caracterizando esse período como a fase prodrômica da enfermidade. Outros estudos, nos quais

se utilizou oligofrutose com o propósito de induzir acidose ruminal e laminite, indicaram que

os primeiros sinais de claudicação iniciaram 39 horas após indução7 e no intervalo de 30 a 48

horas após administração do carboidrato 5, compatíveis com o presente estudo onde também

não ocorreu claudicação no primeiro dia após a sobrecarga com o açúcar. Entretanto, todos os

estudos até o momento utilizaram animais taurinos, puros ou mestiços5,7,14,25,29. Não foram

encontradas na literatura referências sobre estudos em animais zebuínos ou mesmos mestiços

(Bos taurus X Bos indicus). Considerando que são conhecidas diferenças entre taurinos e

zebuínos nas respostas a protocolo de indução de acidose ruminal6,13 e em aspectos

microscópicos dos dígitos44,45, é possível que também existam diferenças importantes

relacionadas a laminite entre os grupos raciais e seus cruzamentos.

Sobre a ausência de claudicação nos dias subsequentes à indução, provavelmente

houve relação com a retirada de todo o conteúdo ruminal alterado 28 horas após a indução.

Com o esvaziamento do rúmem, cessou-se a absorção de substâncias potencialmente lesivas ao

cório digital. Nos demais estudos nos quais os animais não tiveram o conteúdo ruminal retirado

e o rumem não foi lavado, a permanência da ingesta pode ter beneficiado a absorção mais

prolongada dessas substâncias, favorecendo a claudicação associada a laminite 5,7. Mas, apesar

de não ter sido observada claudicação ou sensibilidade digital no período de avaliação, alguns

animais apresentaram marcha mais lenta associada a apatia. Acredita-se que esse efeito é

resultado da redução do estado de consciência que pode ocorrer na acidose metabólica50. A

acidose metabólica que se desenvolve nos ruminantes com acidose ruminal se deve a absorção

de lactato tanto na forma dextrógera, D-lactato, quanto na forma levógera, L-lactato, a partir do

rúmen14,51. Acredita-se que o organismo não metabolize o D-lactato tão eficientemente quanto

o L-lactato52,53. Provavelmente os sinais neurológicos associados a acidose por D-lactato se

devam a interferência no metabolismo energético do tecido encefálico. D-lactato prejudicaria a

metabolização de piruvato e L-lactato54,55, importantes substratos energéticos nos neurônios 56.

O déficit de produção de energia nos tecidos encefálicos pode levar ao surgimento dos sinais

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61

clínicos como depressão do estado mental, ataxia e falta de resposta a estimulação do reflexo

palpebral54.

Conforme esperado5,7,24, após a administração da sobrecarga de oligofrutose,

observou-se redução acentuada do pH ruminal, chegando a patamares compatíveis com acidose

aguda no grupo experimental e acidose subaguda no grupo piloto. Essa redução no pH se deve

intensa produção de lactato, nas formas D e L, resultantes da fermentação da oligofrutose pela

microbiota24,57. Após atingirem o valor mínimo, a gradual elevação do pH ruminal

provavelmente foi resultado da ação das bactérias consumidoras de lactato, como Selenomonas

ruminantium ou Megasphera eldesnii, e à absorção pela parede ruminal do lactato produzido3.

Valores menores para o pH ruminal, em relação ao presente estudo, foram relatados em outros

trabalhos que usaram a oligofrutose para induzir a acidose ruminal. Quando a dose do açúcar

foi de 13 g/kg observaram-se pH de 5,07 e 4,224 enquanto para a dose de 17 g/kg foram

registrados 4,57 e 4,35. Acredita-se que os valores mais elevados para o pH observados no

presente estudo tenha relação com o peso médio menor dos animais, pois em outras pesquisas

o peso médio dos bovinos era de 4087, 3755 e entre 280 e 31024. A influência do peso nos efeitos

da acidose ruminal já foi observada em estudos empregando sacarose12 e mesmo a oligofrutose5.

Além do reduzido pH ruminal, outra alteração observada foi a redução na

motilidade ruminal, quase ausência no GE. A redução da motilidade ruminal é um efeito

esperado da acidose ruminal3,6, inclusive quando esse quadro for estabelecido pela

administração de oligofrutose5,7. Na acidose ruminal aguda, a redução do pH aumenta a fração

não ionizada dos ácidos graxos voláteis (AGV) e, como o epitélio ruminal possui receptores

para a forma não ionizada dos AGV, a apresentação dessas substancias em maiores níveis

exerce efeito inibitório sobre a centro gástrico na medula oblonga, resultando em

hipomotilidade ruminal50,58.

No presente estudo, o grupo que recebeu a maior dose de oligofrutose, 17 g/kg,

desenvolveu acidose metabólica com apenas 30% da dose total. Considerando que previamente

à indução os animais se encontravam a pasto sem suplementação com concentrado e com

conteúdo ruminal dentro dos parâmetros fisiológicos, infere-se que as alterações metabólicas

decorreram da administração intrarruminal de oligofrutose, conforme observado em outros

trabalhos5,7,24. Já foi demonstrado que a adição de frutose na dieta eleva consideravelmente a

produção de ácido lático no rúmen, quando comparada ao amido59. Além de contribuir para

redução do pH ruminal, parte deste lactato é absorvido causando a acidose metabólica5,7,24. Em

outro protocolo com uso de oligofrutose, também foi observada redução nos níveis de excesso

de base durante os três dias em que os animais receberam os 30% da dose sem, entretanto,

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62

chegar ao valores compatíveis com acidose metabólica7. Também já foi observado o contrário,

a não influência dessas subdoses de oligofrutose na ocorrência de acidose metabólica7.

Apesar dos animais no GE apresentarem acidose metabólica no momento em que

receberam a maior parte da dose de oligofrutose, o pH ruminal se encontrava dentro do valor

de referência. Infere-se que o distúrbio fermentativo se regularizou mais rápido que o sistêmico.

O mesmo comportamento foi observado após a administração dos 70 % restantes de

oligofrutose, elevação do pH ruminal e persistência da acidose metabólica ao final do período

de avaliação. As diferentes respostas entre os estudos podem refletir aspectos raciais dos

animais pois taurinos e zebuínos podem reagir de forma diferente à acidose metabólica após

acidose ruminal6. Considerando a grande participação de zebuínos, e seus mestiços, no rebanho

nacional41,42 percebe-se a necessidade de mais estudos sobre as alterações metabólicas desses

animais frente aos distúrbios fermentativos como a acidose ruminal.

A redução da PCO2, observada em ambos os grupos, por elevação de frequência

ou amplitude respiratória, favoreceu a elevação do pH sanguíneo aos limites fisiológicos, sendo

considerada um mecanismo compensatório46,60. Quanto a frequência respiratória e PCO2,

observou-se que o maior valor de FR ocorreu oito horas após a sobrecarga de oligofrutose

enquanto que os menores valores de PCO2 ocorreram somente 20 horas após. Acredita-se nesse

caso que a elevação na frequência respiratória foi relacionada a temperatura ambiental. O valor

máximo ocorreu às 14:00, um período mais quente no dia. A redução da PCO2, com valores

mínimos 20 horas após a sobrecarga de oligofrutose, indicou que o mecanismo respiratório

atuou por aumento da amplitude dos movimentos respiratórios e não necessariamente por

aumento de frequência respiratória. Observaram-se, pelo contrário, reduzidos valores de

frequência respiratória, abaixo do intervalo de referência46, em vários momentos em ambos os

grupos. Valores decrescentes de frequência respiratória ao longo de 24 horas também foram

observadas em outro estudo sobre indução de acidose ruminal em bovinos6. É possível que essa

redução na frequência respiratória se deva a depressão do centro respiratório em função da

severa acidose instalada61.

Nos animais do presente estudo, optou-se pelo tratamento de suporte em momento

pré-determinado. O momento da intervenção clínica nos animais submetidos a indução

experimental de acidose ruminal pode se basear em momentos pré-determinados ou nas

alterações dos parâmetros de hemogasometria 5,7,12,14. O esvaziamento do conteúdo ruminal

cessou a absorção de substâncias produzidas em maior quantidade na acidose ruminal como

ácido lático, endotoxinas e histamina, que poderiam ser prejudiciais ao organismo. Associada

a fluidoterapia intravenosa, contendo bicarbonato para corrigir a acidose metabólica62, impediu-

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se a deterioração do quadro clínico e o surgimento de possíveis complicações, como o óbito por

exemplo, conforme relatado por outros autores5,7. Nos dias subsequentes, os bezerros

retomaram o apetite e comportamento normal confirmando a eficácia do tratamento de suporte.

Com relação a biópsia dos fragmentos do casco, a integridade das amostras obtidas

confirmaram a eficácia da técnica usada na obtenção dos espécimes clínicos48. A técnica de

biópsia do casco conforme executada aqui permitiu a avaliação seriada das alterações no

interior do casco, sem a necessidade de eutanásia dos animais, o que já é feito em estudos sobre

laminite equina63. As alterações histológicas observadas na derme dos dígitos nos bovinos que

receberam oligofrutose intrarruminal como edema, infiltrado inflamatório, alterações

morfológicas da epiderme basal e alterações de membrana basal, são compatíveis com o

processo inflamatório desencadeado pela sobrecarga ruminal propiciada pelo carboidrato.

Achados semelhantes já foram descritos em protocolos de indução experimental com

oligofrutose40, endotoxinas25,29 e casos de ocorrência natural18,64,65. O infiltrado inflamatório

predominantemente monocítico foi descrito em outros trabalhos36,40,29 , deduzindo-se que é um

achado comum nos dígitos de bovinos após administração de oligofrutose.

Os achados histológicos nos casos de laminite se assemelham entre os diferentes

trabalhos, mesmo considerando diferenças de grupos raciais, idade dos animais, protocolo de

indução usado e tempo de colheita5,14,18,25,29,40. No presente trabalho foram empregados animais

mestiços (Bos taurus X Bos indicus). Considerando a semelhança das lesões de laminite sob

diferentes condições, é possível que em zebuínos não sejam diferentes entretanto, estudos são

necessários para confirmar isso. A pouca diferença entre as amostras de membros pélvicos e

torácicos em ambos os grupos sugere que, num primeiro momento, as alterações ocorrem

uniformemente entre os membros, refletindo o caráter sistêmico da enfermidade. Apesar disso,

é conhecida a maior incidência de lesões secundárias à laminite subclínica nos membros

pélvicos15,20,32. É possível que fatores biomecânicos estejam relacionados15. Esse pode ser

considerado um achado importante pois outros estudos com oligofrutose avaliaram apenas

membros torácicos36,40

As alterações histológicas observadas na derme digital, alterações circulatórias e

inflamatórias, podem ter relação com alguns fatores desencadeantes da acidose ruminal,

incluindo a histamina22,66, ácido lático23,24 e lipopolissacarídeos9,29. Esses componentes, quando

depositados de forma mais acentuada são apontados como responsáveis pelas alterações na

microcirculação do dígito, como vasodilatação, abertura de anastomoses arteriovenosas, edema

e trombose, além de interferir na migração e função das células de defesa como os

neutrófilos9,15,21,22,29,67. As alterações de membrana basal observadas, áreas de irregularidade e

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destacamento da epiderme, possivelmente se deveram a ação de proteases que atuam sobre

componentes da membrana basal, como fibras colágenas. Alterações de membrana basal com

ativação de metaloproteinases foram observadas em 12 horas após tratamento com oligofrutose

em equinos63,68, sendo um dos prováveis mecanismos para o ocorrência das lesões observadas

no presente estudo. As alterações morfológicas observadas nas células basais epidérmicas

provavelmente são decorrentes das falhas no aporte de oxigênio e nutrientes, secundários às

alterações circulatórias nos dígitos69. Alterações semelhantes foram observadas em casos

espontâneos e experimentais de laminite, além de estudos in vitro5,18,64.

Os resultados aqui obtidos indicam que bovinos mestiços (Bos taurus X Bos

indicus) de aproximadamente um ano desenvolvem acidose ruminal e metabólica após

sobrecarga intrarrumial de oligofrutose, requerendo tratamento de suporte. A acidose

metabólica observada leva a apatia e em alguns animais a marcha mais lenta, o que não significa

claudicação. Observou-se também que o protocolo usado, em dose de 17 g/kg, pode

desencadear acidose metabólica que persiste por mais tempo que a acidose ruminal.

Paralelamente às alterações ruminais e metabólicas foram observadas alterações microscópicas

nos dígitos compatíveis com laminite. A não observação de claudicação ou sensibilidade digital

no período de avaliação indica que essas lesões correspondem a fase prodrômica da

enfermidade. Na prevenção da laminite associada a acidose ruminal em animais mestiços (Bos

taurus X Bos indicus), os bovinos devem ser monitorados não apenas com relação à

claudicação, mas também com relação aos sinais decorrentes da indigestão como a distensão

abdominal, diarreia e a apatia. Os resultados são semelhantes a outros protocolos de indução de

acidose ruminal e laminite, mas que estudaram apenas animais taurinos. São necessários mais

estudos nas mesmas condições envolvendo animais zebuínos, pois esse tipo de estudo seria

especialmente importante nos confinamentos de engorda considerando a grande participação

de animais Bos indicus, principalmente o Nelore, nesses rebanhos41.

5. Conclusão

A administração intrarruminal de oligofrutose em bezerros mestiços de um ano

como modelo experimental para indução de acidose ruminal e laminite aguda resulta em

acidose ruminal e metabólica e lesões histológicas compatíveis com laminite.

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CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelos resultados obtidos, o protocolo de indução de laminite foi considerado eficaz

em bezerros mestiços. Em muitos estudos observou-se pouca clareza na definição de haver ou

não ocorrido a enfermidade. Tem-se a impressão de que se não houve claudicação não se pode

afirmar que houve laminite. Entretanto, muitos dos mesmos trabalhos observaram outras

alterações provavelmente relacionadas a alteração no casco. Deve-se considerar que, diferente

da espécie equina, nos bovinos, a laminite nem sempre se apresenta da mesma forma, com

quadro dramático de claudicação pouco tempo depois do evento desencadeante. É possível que

muitos protocolos ao tentarem induzir laminite clínica, conseguiram na verdade induzir outra

forma da enfermidade, a laminite subclínica, que também pode ser descrita. Isso não diminui a

importância dos trabalhos, considerando que o quadro subclínico, caracterizado por suas lesões

secundárias, é um sério problema nos bovinos, especialmente os leiteiros.

Alterações não necessariamente relacionadas a claudicação também devem ser

consideradas no momento de dizer se ocorreu ou não a laminite, principalmente as alterações

histológicas que parecem ser consistentes entre os trabalhos. O momento e forma da

manifestação clínica da laminite induzida experimentalmente, claudicação grave ou alterações

de estojo córneo, talvez dependa de mais fatores que ainda não foram devidamente considerados

na pesquisa como, por exemplo, um maior tempo de avaliação. Sob essa perspectiva, muitos

estudos considerados malsucedidos, total ou parcialmente, talvez não tiveram seus resultados

devidamente apreciados. Provavelmente resultado da expectativa de reproduzir um quadro

clínico semelhante, e com a mesma facilidade, ao que se consegue na espécie equina, na qual

existem diversos protocolos validados.

Outro aspecto importante abordado no presente trabalho foi o grupo racial estudado.

O gado zebuíno, puro ou seus mestiços, responde pela maior parte do rebanho nacional.

Historicamente sua grande vantagem não era a alta produtividade, comparada a das raças

taurinas, e sim a resistências ao clima e a algumas doenças do ambiente tropical. Nos dias de

hoje, o zebuíno é criado cada vez mais em sistemas de alta produção, especialmente no gado de

corte com o regime de engorda nos confinamentos. Da mesma forma vem crescendo o uso do

cruzamento industrial na pecuária de corte. Na pecuária leiteira o cruzamento entre o zebuíno

e o taurino já é consagrado. Apesar de literatura abundante sobre enfermidades de produção em

bovinos, relativamente pouco material existe sobre os zebuínos e seus cruzados. Provavelmente

as respostas não mudem muito, mas são necessários os experimentos para comprovar isso. Esse

quadro naturalmente se aplica também as doenças podais, principalmente a laminite.

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Sobre a indução de acidose ruminal aguda e laminite em bovinos, um dos aspectos

desse trabalho que pode ser destacado é a obtenção de material dos dígitos. Poucos estudos

realizaram biópsia de casco, sendo a grande maioria das amostras obtidas de animais abatidos

ou submetidos a eutanásia. A biópsia de casco abre algumas possibilidades de estudo para as

doenças digitais. A primeira, e mais evidente, é a possibilidade de obtenção de amostras sem a

morte do animal, o que é um aspecto ético importante. Pode-se destacar também a possibilidade

de realização de colheitas seriadas, permitindo-se avaliar a evolução das lesões nos mesmos

animais ao longo do tempo. Esta abordagem poderia ser empregada em vacas leiteiras para

avaliar diferentes momentos do ciclo de lactação, ou mesmo lactações subsequentes, e no gado

de corte permitiria, por exemplo, avaliar os animais na entrada e ao longo do período de

confinamento até o abate. Organizar as informações sobre as diferentes lesões em uma linha do

tempo permitiria a adoção de diferentes abordagens clínicas dependendo do momento. Para a

espécie equina esse conhecimento já existe. Sabe-se, por exemplo, que na fase aguda o

tratamento medicamentoso é essencial, enquanto numa fase mais crônica os casqueamento e

ferrageamento terapêuticos tem um peso maior na recuperação do animal.

Entender a evolução da laminite, desde o fator desencadeante até o surgimento dos

sinais clínicos, é algo que ainda falta nos estudos sobre laminite bovina. Normalmente as

doenças de casco em bovinos são consideradas apenas a partir do momento em que o animal

apresenta claudicação. Mesmo existindo escores de claudicação que permitem a identificação

de alterações sutis, a claudicação mais acentuada ainda costuma ser o ponto de partida para o

tratamento dos animais. Naturalmente nessa fase os resultados nem sempre são os esperados, o

que resulta em muitos animais sendo descartados dos rebanhos. No presente trabalho, a fase de

desenvolvimento da laminte foi caracterizada pelos sinais da acidose ruminal e pelas alterações

microscópicas nos dígitos. Essas alterações foram principalmente indicativas de processo

inflamatório. Poderia se pensar no uso de medicamentos anti-inflamatórios nos animais como

forma de se minimizar, ou mesmo evitar, os sinais clínicos como claudicação ou maior

sensibilidade do dígito. Nas propriedades observa-se o uso indiscriminado de antimicrobianos,

enquanto que anti-inflamatórios e analgésicos não são adotados com a mesma avidez. O uso

orientado desses medicamentos poderia melhorar a condição dos animais portadores de

laminite, ou alguma de suas sequelas. Para se fazer esse tipo de recomendação, entretanto, são

necessários mais estudos, principalmente considerando a diversidade de animais e sistemas de

produção nos quais os bovinos são criados no Brasil.

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ANEXO I