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Informativo 575-STJ (19/12/2015 a 04/02/2016) Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.400.152-PR; REsp 1.173.304-SP. Leia-os ao final deste Informativo. ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS Acumulação de cargo de tradutor de LIBRAS com de professor. SERVIDORES PÚBLICOS Inexistência de obrigatoriedade de a Administração Pública atender a requisição de servidores formulada pela DPU. DIREITO CIVIL BEM DE FAMÍLIA Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção da punibilidade pelo cumprimento do sursis processual. RESPONSABILIDADE CIVIL Hipótese de inexistência de responsabilidade civil da mãe de menor de idade causador de acidente. PROMESSA DE COMPRA E VENDA Validade da cláusula contratual que transfere o pagamento do laudêmio ao promitente-comprador. PARTILHA Partilha de quotas de sociedade de advogados em caso de separação/divórcio. DIREITO EMPRESARIAL SOCIEDADES EMPRESÁRIAS Prazo decadencial para desconstituir deliberação societária excludente de sócio minoritário. Formação de quórum deliberativo necessário à exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada. DIREITO PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Embargos de declaração com efeitos infringentes não podem ser recebidos como pedido de reconsideração. EXECUÇÃO FISCAL Encargo do art. 1º do DL 1.025/69 incide mesmo em execuções fiscais propostas contra pessoas jurídicas de direito público. PROCESSO COLETIVO Não é possível a repropositura de ação coletiva de direitos individuais homogêneos julgada improcedente, ainda que por falta de provas. CORRIGIDO REsp 1.540.855-RS

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Informativo 575-STJ (19/12/2015 a 04/02/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.400.152-PR; REsp 1.173.304-SP. Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS Acumulação de cargo de tradutor de LIBRAS com de professor. SERVIDORES PÚBLICOS Inexistência de obrigatoriedade de a Administração Pública atender a requisição de servidores formulada pela DPU.

DIREITO CIVIL

BEM DE FAMÍLIA Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção da punibilidade pelo

cumprimento do sursis processual. RESPONSABILIDADE CIVIL Hipótese de inexistência de responsabilidade civil da mãe de menor de idade causador de acidente. PROMESSA DE COMPRA E VENDA Validade da cláusula contratual que transfere o pagamento do laudêmio ao promitente-comprador. PARTILHA Partilha de quotas de sociedade de advogados em caso de separação/divórcio.

DIREITO EMPRESARIAL

SOCIEDADES EMPRESÁRIAS Prazo decadencial para desconstituir deliberação societária excludente de sócio minoritário. Formação de quórum deliberativo necessário à exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Embargos de declaração com efeitos infringentes não podem ser recebidos como pedido de reconsideração. EXECUÇÃO FISCAL Encargo do art. 1º do DL 1.025/69 incide mesmo em execuções fiscais propostas contra pessoas jurídicas de direito

público. PROCESSO COLETIVO Não é possível a repropositura de ação coletiva de direitos individuais homogêneos julgada improcedente, ainda

que por falta de provas.

CORRIGIDO REsp 1.540.855-RS

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DIREITO PENAL

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Reiteração criminosa no crime de descaminho e princípio da insignificância. HOMICÍDIO Incidência da qualificadora do motivo torpe em relação ao mandante de homicídio mercenário.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA Encontro fortuito de diálogos envolvendo autoridade com foro privativo e demora na remessa das interceptações

para o Tribunal competente para investigar o titular do cargo.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE RENDA Portador de cegueira monocular e isenção de imposto de renda.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ Conversão da aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez e recebimento do adicional de

grande invalidez.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS Acumulação de cargo de tradutor de LIBRAS com de professor

Importante!!!

É possível a acumulação de um cargo público de professor com outro de intérprete e tradutor da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.547-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público? REGRA: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos. EXCEÇÕES: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:

XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;

Feita essa lembrança, imagine a seguinte situação hipotética: João é tradutor de LIBRAS (língua utilizada por deficientes auditivos para se comunicarem) concursado, trabalhando, no período matutino, em um instituto federal de educação. Posteriormente, ele foi aprovado também no concurso de professor da Universidade Federal (somente no período da noite), mas, no momento da sua posse, surgiu uma dúvida:

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João poderá acumular o cargo de tradutor de LIBRAS do instituto federal com o cargo de professor da Universidade Federal? Considerando que existe compatibilidade de horários, esta acumulação é lícita? SIM. É possível a acumulação de um cargo público de professor com outro de intérprete e tradutor da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.547-RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 15/12/2015 (Info 575). A acumulação, neste caso, é autorizada pela alínea "b" do inciso XVI do art. 37 da CF/88: "b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;" Tradutor e intérprete de LIBRAS é cargo técnico O STJ reconheceu que tradutor e intérprete de LIBRAS é um cargo "técnico" para fins de enquadramento na exceção constitucional. Isso com fulcro nos arts. 6º e 7º da Lei nº 12.319/2010, que regulamenta a profissão. A legislação brasileira reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras como um sistema linguístico de comunicação, cuja formação profissional deve ser fomentada pelo poder público para fins de viabilizar a comunicação com a pessoa portadora de deficiência e, consequentemente, promover sua inclusão nas esferas sociais. O Decreto nº 5.626/2005 e a Lei nº 12.319/2010 deixam claro que o exercício da profissão de tradutor e intérprete de Libras exige conhecimentos técnicos e específicos relativos a um sistema linguístico próprio, totalmente diferente da Língua Portuguesa, mas a esta associada para fins de viabilizar a comunicação com pessoas portadoras de deficiência. Mas o cargo de tradutor e intérprete de LIBRAS não exige curso superior... Mesmo assim ele pode ser considerado como um cargo técnico? SIM. O conceito de "cargo técnico ou científico" não exige, necessariamente, que se trate de um cargo de nível superior. O STJ entende que cargo técnico ou científico, para fins de acumulação com o de professor, nos termos do art. 37, XVII, da CF/88, é aquele para cujo exercício sejam exigidos conhecimentos técnicos específicos e habilitação legal, não necessariamente de nível superior (STJ. 5ª Turma. RMS 20.033/RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 15/02/2007). Definição de cargo técnico Cargo técnico "é aquele que requer conhecimento específico na área de atuação do profissional, com habilitação específica de grau universitário ou profissionalizante de 2º grau" (STJ. 2ª Turma. RMS 42.392/AC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/02/2015). É aquele que exige da pessoa um conjunto de atribuições ligadas ao conhecimento específico de uma área do saber. Segundo já decidiu o STJ, somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele exigir, no desempenho de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de alguma área do saber. Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica. Nesse sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível médio, não se enquadram no conceito constitucional (STF. 1ª Turma. RMS 28497/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/5/2014. Info 747). Definição de cargo científico Cargo científico "é o conjunto de atribuições cuja execução tem por finalidade a investigação coordenada e sistematizada de fatos, predominantemente de especulação, visando a ampliar o conhecimento humano." (STJ. 5ª Turma. RMS 28.644/AP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/12/2011).

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SERVIDORES PÚBLICOS Inexistência de obrigatoriedade de a Administração Pública

atender a requisição de servidores formulada pela DPU (obs: somente interessa para concursos federais)

O art. 4º da Lei nº 9.020/95 estabeleceu o seguinte:

Art. 4º O Defensor Público-Geral da União poderá requisitar servidores de órgãos e entidades da Administração Federal, assegurados ao requisitado todos os direitos e vantagens a que faz jus no órgão de origem, inclusive promoção.

Parágrafo único. A requisição de que trata este artigo é irrecusável e cessará até noventa dias após a constituição do Quadro Permanente de Pessoal de apoio da Defensoria Pública da União.

Esta obrigatoriedade trazida pelo dispositivo acima já se encerrou.

A Administração Pública Federal não está mais obrigada a atender toda e qualquer requisição de servidor público efetuada pelo Defensor Público-Geral da União na forma do art. 4º da Lei nº 9.020/95.

STJ. 1ª Seção. MS 17.500-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 9/12/2015 (Info 575).

Imagine a seguinte situação adaptada: João é servidor público concursado do Ministério da Saúde. O Defensor Público-Geral Federal requisitou do Ministério da Saúde a cessão de João para que ele trabalhe na DPU ante a falta de pessoal no referido órgão público federal. O Ministério da Saúde indeferiu a cessão do servidor para o órgão requisitante. Diante disso, João impetrou mandado de segurança alegando que a decisão do Ministro é ilegal por ter violado o parágrafo único do art. 4º da Lei nº 9.020/95, que "dispõe sobre a implantação, em caráter emergencial e provisório, da Defensoria Pública da União". Veja o que preconiza o dispositivo:

Art. 4º O Defensor Público-Geral da União poderá requisitar servidores de órgãos e entidades da Administração Federal, assegurados ao requisitado todos os direitos e vantagens a que faz jus no órgão de origem, inclusive promoção. Parágrafo único. A requisição de que trata este artigo é irrecusável e cessará até noventa dias após a constituição do Quadro Permanente de Pessoal de apoio da Defensoria Pública da União.

O STJ concordou com os argumentos do impetrante? O Ministério da Saúde era obrigado a ceder o servidor para a DPU? NÃO. A Administração Pública Federal não está mais obrigada a atender toda e qualquer requisição de servidor público efetuada pelo Defensor Público-Geral da União na forma do art. 4º da Lei nº 9.020/95. STJ. Corte Especial. MS 17.500-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 9/12/2015 (Info 575). A Lei nº 9.020/95, como a própria ementa dizia, tinha por objetivo implantar, "em caráter emergencial e provisório", a Defensoria Pública da União. Por isso, houve a previsão expressa do caráter obrigatório da requisição, na forma do parágrafo único do art. 4º. Ocorre que a situação atual é sensivelmente diversa daquela que, em 1995, motivou a previsão legislativa. Com efeito, em 2010 a DPU abriu seu primeiro concurso público para o provimento de cargos de nível superior e médio. Já em 2015 adveio o segundo concurso. Assim sendo, embora a requisição, em 1995, fosse irrecusável, tem-se que a própria previsão legal de requisição estabeleceu um termo final para sua vigência: 90 dias após a constituição do quadro de apoio da Defensoria.

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Como na atualidade já expirou o prazo daquele primeiro concurso para provimento de cargos junto à Defensoria e como até mesmo um segundo concurso foi aberto em 2015, resulta que aquela situação precária que a Lei nº 9.020/95 procurou remediar com a possibilidade de requisição de servidores de outros órgãos e entidades da Administração Pública Federal não mais persiste, ao menos não naquela dimensão que em 1995 foi determinante para que a legislação admitisse que a requisição fosse irrecusável. Observe-se que não só a Defensoria, mas toda a Administração Pública deve observância aos preceitos que determinam eficiência, de modo que não pode a Defensoria, sob o argumento de prover a eficiência da instituição na prestação de assistência jurídica aos necessitados, provocar um déficit ilimitado de eficiência nos demais setores da Administração Pública Federal.

DIREITO CIVIL

BEM DE FAMÍLIA Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção da

punibilidade pelo cumprimento do sursis processual

Na execução civil movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem de família adquirido com o produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão condicional do processo.

Aplica-se, no caso, a exceção prevista na primeira parte do inciso VI do art. 3º da Lei nº 8.009/90 ("por ter sido adquirido com produto de crime").

A Lei nº 8.009/90 permite a penhora do bem de família adquirido com produto de crime sem que para isso precise existir condenação na esfera criminal.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.091.236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

Espécies de bem de família No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família: a) bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil); b) bem de família legal (Lei nº 8.009/90). Bem de família legal O bem de família legal consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar. Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de família convencional). Proteção conferida ao bem de família legal O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na Lei nº 8.009/90. Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: João cometeu o crime de estelionato (art. 171 do CP) contra a empresa "X", obtendo, com isso, R$ 200 mil de vantagem ilícita em prejuízo da vítima.

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Ficou demonstrado por transações bancárias que, com o dinheiro auferido, João comprou uma casa. O Ministério Público ofereceu denúncia contra o acusado, tendo ele aceitado proposta de suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95). João cumpriu todas as condições impostas, menos a de reparação do dano (art. 89, § 1º, I, da Lei nº 9.099/95) porque o juiz criminal entendeu que ele não possuía recursos para ressarcir a vítima. Como houve cumprimento das condições no período de prova, o juiz criminal extinguiu a punibilidade. A empresa vítima, contudo, não se conformou em ficar no prejuízo e ingressou com ação de indenização por danos materiais contra João cobrando os R$ 200 mil. O pedido foi julgado procedente, transitou em julgado e iniciou-se o cumprimento de sentença. O juiz da vara cível determinou a penhora da casa de João, mas este alegou, em impugnação, que o referido imóvel é bem de família e, portanto, impenhorável. A tese de João foi aceita? A casa em questão é impenhorável? NÃO. Na execução civil movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem de família adquirido com o produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a suspensão condicional do processo. STJ. 4ª Turma. REsp 1.091.236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015 (Info 575). No caso, aplica-se a exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) VI — por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

O mencionado inciso VI especificou duas hipóteses distintas de exceção à impenhorabilidade, quais sejam: a) bem adquirido com produto de crime; b) para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. A situação narrada acima amolda-se à primeira parte do inciso VI (adquirido com produto de crime), circunstância que afasta expressamente a impenhorabilidade do bem de família. Não é necessária sentença penal condenatória A defesa de João sustentou que, para o imóvel ser penhorado, seria necessário, antes, uma sentença penal condenatória. O STJ refutou esse argumento. A primeira parte do inciso VI (adquirido com produto de crime) não exige a prévia existência de sentença penal condenatória. Esta só é exigida realmente na segunda hipótese do dispositivo. Assim, a Lei nº 8.009/90 permite a penhora do bem de família adquirido com produto de crime sem que para isso precise existir condenação na esfera criminal. Se tivesse havido sentença absolutória Apesar de não ter ficado expresso no julgado, vale ressaltar que a situação seria diferente se o réu tivesse sido absolvido no processo criminal com fundamento no art. 386, I e IV, do CPP. Nestes casos, a sentença penal absolutória faria coisa julgada no cível (vincularia o juízo cível). A sentença de extinção da punibilidade pelo cumprimento das condições impostas na suspensão condicional do processo não é absolutória e não nega a existência do fato nem a sua autoria.

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RESPONSABILIDADE CIVIL Hipótese de inexistência de responsabilidade civil da mãe

de menor de idade causador de acidente

A responsabilidade dos pais por filho menor (responsabilidade por ato ou fato de terceiro) é objetiva, nos termos do art. 932, I, do CC, devendo-se comprovar apenas a culpa na prática do ato ilícito daquele pelo qual são os pais responsáveis legalmente (ou seja, é necessário provar apenas a culpa do filho).

Contudo, há uma exceção: os pais só respondem pelo filho incapaz que esteja sob sua autoridade e em sua companhia; assim, os pais, ou responsável, que não exercem autoridade de fato sobre o filho, embora ainda detenham o poder familiar, não respondem por ele.

Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade, residia permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor - sobre quem apenas o pai exercia autoridade de fato - não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o filho.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/12/2015 (Info 575).

Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria foram casados e tiveram um filho (Lucas). O casal se divorciou. Lucas ficou morando com o pai em Florianópolis e Maria mudou-se para Curitiba. Vale ressaltar que, mesmo morando em Curitiba, Maria continuou detendo poder familiar sobre o filho. Determinado dia, Lucas, com 17 anos, aproveitou-se do fato de que o pai havia saído de casa e pegou o carro escondido, sem autorização, para dar uma volta. Durante o passeio acabou atropelando Carla, que sofreu vários ferimentos. Carla poderá cobrar indenização de João pelos danos a ela causados por seu filho? O pai do autor do ilícito tem responsabilidade civil neste caso? SIM, nos termos do art. 932, I, do Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

João poderá isentar-se da responsabilidade alegando que não teve culpa? NÃO. A responsabilidade civil nos casos do art. 932 do CC é objetiva (independentemente de culpa). Veja:

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.

Enunciado 451 - CJF: A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida.

As bancas de concurso também consideram que a responsabilidade do terceiro é objetiva neste caso:

"(Juiz TJ/TO 2007 CESPE) A responsabilidade civil por ato de terceiro permite estender a obrigação de reparar o dano a pessoa diversa daquela que praticou a conduta danosa, desde que exista uma relação jurídica entre o causador do dano e o responsável pela indenização. Nessa hipótese, a responsabilidade é objetiva." (CERTO)

Segundo o STJ, o fundamento para essa responsabilidade objetiva está na chamada "teoria do risco". Vale ressaltar que, mesmo após indenizar a vítima, o pai do menor causador do dano não poderá cobrar de volta do filho o valor que pagou:

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Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.

A vítima precisará comprovar a culpa para ser indenizada? A vítima terá que provar a culpa do causador do dano (no caso, Lucas, o filho menor de idade). O que não será necessário é demonstrar a culpa do terceiro responsável pelo causador do dano (seu pai, João). Veja como o tema já foi cobrado em prova:

"(DPE/PR 2014) Ainda que a responsabilidade por fato de terceiro seja objetiva em relação aos pais, incumbe ao ofendido provar a culpa do filho menor que estiver sob a autoridade ou em companhia daqueles e que seja o causador do dano, com o que estará configurado o dever de indenizar." (CERTO)

E Maria, mãe do adolescente, que morava em outra cidade, poderá ser responsabilizada neste caso? NÃO. A mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade, residia permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor - sobre quem apenas o pai exercia autoridade de fato - não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o filho. STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/12/2015 (Info 575). Autoridade é diferente de poder familiar O inciso I do art. 932 do CC exige, para responsabilizar os pais, que os filhos menores estejam "sob sua autoridade e em sua companhia". "Autoridade" não é sinônimo de "poder familiar". Poder familiar é um conjunto de direitos e deveres conferido aos pais com relação ao filho menor de 18 anos (não emancipado), dentre eles o poder de dirigir a criação e a educação, de conceder consentimento para casar, de exigir que preste obediência, e outros previstos no art. 1.634 do CC. "Autoridade" é expressão mais restrita que "poder familiar" e pressupõe uma ordenação, ou seja, que o pai ou mãe tenha poderes para organizar de forma mais direta e imediata a vida do filho. Todo pai/mãe que tem autoridade sobre o filho, possui também poder familiar. Mas o contrário não é verdadeiro, ou seja, nem todo pai/mãe que possui poder familiar tem necessariamente autoridade sobre o filho. Assim, por mais que a mãe ainda permanecesse com o poder familiar (que não foi perdido por ela estar em outra cidade), o certo é que ela não detinha "autoridade" sobre o filho. A mãe que não exerce autoridade de fato sobre o filho, embora ainda detenha o poder familiar, não deve responder pelos danos que ele causar. Precedentes em sentido um pouco diverso Vale ressaltar que o tema acima é polêmico, havendo precedentes mais antigos em sentido um pouco diverso do que foi decidido. Confira um deles:

(...) 1. Os pais respondem civilmente, de forma objetiva, pelos atos dos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia (artigo 932, I, do Código Civil). 2. O fato de o menor não residir com o(a) genitor(a) não configura, por si só, causa excludente de responsabilidade civil. 3. Há que se investigar se persiste o poder familiar com todas os deveres/poderes de orientação e vigilância que lhe são inerentes. Precedentes. (...) (STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 220.930/MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 09/10/2012)

Em provas de concurso, deve-se adotar o julgado mais recente, noticiado no Info 575.

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PROMESSA DE COMPRA E VENDA Validade da cláusula contratual que transfere o pagamento do laudêmio ao promitente-comprador

É válida cláusula inserta em contrato de promessa de compra e venda de imóvel situado em terreno de marinha que estipule ser da responsabilidade do promitente-adquirente o pagamento do laudêmio devido à União, embora a referida cláusula não seja oponível ao ente público.

STJ. 4ª Turma. REsp 888.666-SE, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

TERRENOS DE MARINHA

O que são terrenos de marinha? Terrenos de marinha são “todos aqueles que, banhados pelas águas do mar ou dos rios e lagoas navegáveis (estes últimos, exclusivamente, se sofrerem a influência das marés, porque senão serão terrenos reservados), vão até a distância de 33 metros para a parte da terra contados da linha do preamar médio, medida em 1831” (CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Administrativo. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 417). Os terrenos de marinha são bens da União (art. 20, VII, da CF/88). Isso se justifica por se tratar de uma região estratégica em termos de defesa e de segurança nacional (é a “porta de entrada” de navios mercantes ou de guerra). Enfiteuse (ou aforamento) José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito Administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 1311) explica que, em algumas regiões, a União permitiu que particulares utilizassem, de forma privada, imóveis localizados em terrenos de marinha. Como essas áreas pertencem à União, o uso por particulares é admitido pelo regime da enfiteuse (aforamento), que funciona, em síntese, da seguinte forma:

a União (senhorio direto) transfere ao particular (enfiteuta) o domínio útil;

o particular (enfiteuta) passa a ter a obrigação de pagar anualmente uma importância a título de foro ou pensão.

O particular (enfiteuta) pode transferir para outras pessoas o domínio útil que exerce sobre o bem? SIM. Tome-se o seguinte exemplo: João reside em uma casa localizada dentro de um terreno de marinha, possuindo, portanto, apenas o domínio útil sobre o bem e pagando, anualmente, o foro. Ocorre que ele quer se mudar. Diante disso, poderá “vender” o domínio útil para outra pessoa. A pessoa que transferir o domínio útil do imóvel terá que pagar algum valor para a União? SIM. A legislação estabelece que a pessoa, antes de efetuar a transferência, deverá pagar 5% do valor do domínio útil à União. Assim, em nosso exemplo, João terá que recolher em favor da União 5% do valor do domínio útil de sua casa pelo simples fato de ela estar localizada em terreno de marinha. Esse valor é chamado de laudêmio e seu pagamento está previsto no art. 3º do Decreto-Lei nº 2.398/87:

Art. 3º Dependerá do prévio recolhimento do laudêmio, em quantia correspondente a 5% (cinco por cento) do valor atualizado do domínio pleno e das benfeitorias, a transferência onerosa, entre vivos, do domínio útil de terreno da União ou de direitos sobre benfeitorias neles construídas, bem assim a cessão de direito a eles relativos.

PROMESSA DE COMPRA E VENDA

O que é uma promessa de compra e venda? A promessa de compra e venda (ou compromisso de compra e venda) é... ­ uma espécie de contrato preliminar

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­ por meio do qual uma pessoa (promitente vendedor) se compromete a vender o seu bem ­ ao promissário comprador, após este pagar integralmente o preço que foi ajustado. Trata-se de um contrato preliminar porque, após o promitente comprador pagar integralmente o preço, as partes ainda irão celebrar um outro contrato, qual seja, de compra e venda. Obs.: alguns autores, como Nelson Rosenvald, diferenciam as expressões compromisso e promessa de compra e venda. Para a maioria da doutrina e da jurisprudência, contudo, são terminologias sinônimas. Obrigações assumidas pelas partes O promissário comprador assume uma obrigação de dar, consistente no pagamento do preço combinado (normalmente de forma parcelada). O promitente vendedor, por sua vez, assume uma obrigação de fazer, qual seja, assinar e outorgar escritura pública de compra e venda em favor do promissário comprador após este pagar integralmente o preço. Forma A promessa de compra e venda pode ser celebrada por instrumento público ou particular (art. 1.417 do CC). O contrato principal (compra e venda) que será assinado após o pagamento integral do preço, se envolver bem imóvel de valor superior a 30 salários mínimos, deverá ser feito por escritura pública (art. 108 do CC). CONTRATO QUE PREVEJA QUE O PROMITENTE-COMPRADOR IRÁ PAGAR O LAUDÊMIO

Imagine a seguinte situação hipotética: João celebrou contrato de promessa de compra e venda com determinada imobiliária. Por meio do contrato, a imobiliária (promitente vendedora) comprometeu-se a vender a João um apartamento em edifício situado em terreno de marinha. Em contrapartida, João obrigou-se a pagar o valor de R$ 600 mil, parcelados em 60 meses. Além disso, havia uma cláusula (8.1) no contrato prevendo que as despesas referentes ao laudêmio devido à União seriam pagas pelo promitente-adquirente da unidade. Algum tempo depois, João ingressou com ação judicial pedindo que esta cláusula 8.1 fosse declarada nula de pleno direito porque violaria a legislação (DL 2.398/87), já que o dever legal de pagar o laudêmio é do titular do domínio útil que o está transferindo, ou seja, o dever seria do promitente vendedor. A tese de João foi aceita? É ilegal a cláusula que transfira para o promitente-comprador o dever de pagar o laudêmio? NÃO. O recolhimento do laudêmio em favor da União, em se tratando de transferência onerosa, é obrigação legal decorrente de uma relação jurídica, regida por regras do direito administrativo, entre o proprietário do domínio direto (a União) e o proprietário do domínio útil do imóvel (o particular). Isso não impede, contudo, que os particulares (promitente-adquirente e promitente-vendedor) combinem entre si, em uma relação meramente contratual e privada, que um deles (promitente-adquirente) é quem irá pagar o laudêmio. Esse ajuste contratual envolve direitos disponíveis e não viola qualquer norma jurídica, sendo, portanto, válida (art. 104 do CC 2002). Assim, é perfeitamente possível e lícito estipular-se, para validade no negócio, a inversão da obrigação no que diz respeito ao pagamento do laudêmio devido à União, mesmo porque, para esta, o que importa é que haja o recolhimento da quantia em favor do Tesouro Nacional, não importando a origem do dinheiro. Vale ressaltar que esse tipo de negociação contratual ocorre com frequência envolvendo a obrigação de pagar impostos. É o caso, por exemplo, do contrato de locação, no qual, normalmente, existe uma cláusula prevendo que caberá ao inquilino (e não ao proprietário/locador) o encargo de pagar o IPTU incidente sobre o imóvel.

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Esta cláusula contratual é eficaz perante a União? Se, por suposição, não seja pago o laudêmio e a União cobre o valor da imobiliária (promitente-vendedora), esta poderá isentar-se do pagamento alegando que é dever do promitente-comprador? NÃO. A referida cláusula contratual é válida (não tem nenhum vício no plano de validade), mas é ineficaz perante a União. Este ajuste obriga apenas as partes contratantes, não sendo oponível à União porque esta mantém com o titular do domínio útil uma relação jurídica diversa, de cunho legal. Resumindo: É válida cláusula inserta em contrato de promessa de compra e venda de imóvel situado em terreno de marinha que estipule ser da responsabilidade do promitente-adquirente o pagamento do laudêmio devido à União, embora a referida cláusula não seja oponível ao ente público. STJ. 4ª Turma. REsp 888.666-SE, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

PARTILHA Partilha de quotas de sociedade de advogados em caso de separação/divórcio

Na separação judicial, sujeitam-se à partilha as quotas de sociedade de advogados adquiridas por um dos cônjuges, sob o regime da comunhão universal de bens, na constância do casamento.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.288-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/11/2015 (Info 575).

Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria eram casados sob o regime da comunhão universal de bens e, em 2009, decidiram se separar judicialmente. Na época, João era sócio de um grande escritório de advocacia (sociedade de advogados). Vale ressaltar que João ingressou no escritório, ou seja, passou a ter as quotas da sociedade de advocacia, durante o período em que estava casado com Maria. Quando foi ser realizada a partilha, Maria exigiu a metade das quotas sociais pertencentes a João. O marido contestou afirmando que uma sociedade de advogados é uma sociedade de pessoas para o exercício da profissão comum aos seus sócios (a advocacia). Logo, não se pode aplicar a ela o mesmo tratamento de uma sociedade empresária. Além disso, Maria nem mesmo é advogada e não poderia ingressar na sociedade. E, então, Maria terá direito à metade das quotas pertencentes a João na sociedade? As quotas que ele adquiriu durante o casamento irão ser divididas com a mulher no momento da partilha? SIM. Na separação judicial, sujeitam-se à partilha as quotas de sociedade de advogados adquiridas por um dos cônjuges, sob o regime da comunhão universal de bens, na constância do casamento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.288-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/11/2015 (Info 575). As quotas sociais, seja de uma sociedade empresarial, seja de uma sociedade simples, são dotadas de expressão econômica e não se confundem com a atividade econômica desenvolvida pela sociedade (objeto social). Quota social é a parcela do capital social (expresso em moeda corrente nacional) que será, segundo o contrato social, obrigatoriamente integralizada pelo pretenso sócio. O objeto da sociedade, por outro lado, consiste na finalidade para a qual esta foi constituída. Dessa forma, a participação societária distingue-se da atividade econômica desenvolvida pela sociedade.

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No caso, a aquisição das quotas sociais da sociedade de advogados pelo marido ocorreu durante a constância do casamento, cujo regime de bens era o da comunhão universal. Desse modo, se a obtenção da participação societária decorreu naturalmente dos esforços e patrimônios comuns dos então consortes, sua divisão entre os cônjuges, por ocasião de sua separação, é medida de justiça e consonante com a lei de regência. A única preocupação, no caso, é a de preservar o caráter personalíssimo da sociedade de advogados, não se podendo atribuir a qualidade de sócio para terceiro (no caso, a mulher, que nem é advogada). Isso violaria a denominada affectio societatis. Diante disso, devem ser adotadas outras soluções, como conferir à mulher participação nos lucros, indenizá-la pelo valor das quotas, fazer a dissolução da sociedade etc. O que não se pode é excluir seu direito sobre o conteúdo econômico das quotas. O Código Civil de 2002, ao disciplinar a partilha das quotas sociais em razão da separação judicial ou do divórcio, deixou claro que o cônjuge possui direito sobre as quotas adquiridas pelo outro cônjuge na constância do casamento. A solução adotada pelo Código, nestes casos, foi a de conferir ao cônjuge o direito de receber a divisão periódica dos lucros. Veja:

Art. 1.027. Os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge do que se separou judicialmente, não podem exigir desde logo a parte que lhes couber na quota social, mas concorrer à divisão periódica dos lucros, até que se liquide a sociedade.

Veja o que diz a doutrina sobre o tema:

"[...] o direito do cônjuge que está se separando cinge-se à parcela dos lucros que o sócio (ex-cônjuge) receberá na divisão periódica dos lucros até a dissolução da sociedade. De fato, o direito do cônjuge que está se separando cinge-se à parcela dos lucros que o sócio (ex-cônjuge) receberá na divisão periódica da liquidação social. Apenas quando a sociedade estiver sendo dissolvida é que o separado poderá participar da divisão dos bens componentes do capital social. Observe-se que se as cotas foram, todas, adquiridas na constância do casamento, o separando fará jus à metade do lucro percebido periodicamente. No entanto, se, durante a constância houve, apenas, um aumento de cotas, receberá proporcionalmente àquela cota que ajudou a adquirir." (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 3ª ed. Lumen Juris: Rio de Janeiro, 2011, p. 157).

DIREITO EMPRESARIAL

SOCIEDADES EMPRESÁRIAS Prazo decadencial para desconstituir deliberação societária excludente de sócio minoritário.

Formação de quórum deliberativo necessário à exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada.

É de 3 anos o prazo decadencial para que o sócio minoritário de sociedade limitada de administração coletiva exerça o direito à anulação da deliberação societária que o tenha excluído da sociedade, ainda que o contrato social preveja a regência supletiva pelas normas da sociedade anônima. Esse prazo está previsto no art. 48 do Código Civil.

Para a fixação do quórum deliberativo assemblear necessário à aprovação da exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada, não se pode computar a participação deste no capital social, devendo a apuração da deliberação se lastrear em 100% do capital restante, ou seja, tão somente no capital social daqueles legitimados a votar.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.459.190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

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Imagine a seguinte situação hipotética: Determinada sociedade limitada é formada por dez sócios: Ricardo (sócio 1), Pedro (sócio 2), Paulo (sócio 3), Carlos (sócio 4) e assim por diante. João é o sócio 10. João possui 20% do capital social e os demais sócios somados possuem os 80% restantes. Vale ressaltar que o contrato social desta sociedade prevê que ela se constitui sob a forma de sociedade limitada, mas que, supletivamente, devem ser aplicadas as regras inerentes às sociedades anônimas. O contrato social também estabelece que o quórum mínimo para aprovação da exclusão de sócio é de 85% das quotas da sociedade. Certo dia, os sócios 1 a 9 convocaram uma assembleia para deliberar sobre a exclusão de João. A exclusão de sócio está tratada no art. 1.085 do CC:

Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa causa. Parágrafo único. A exclusão somente poderá ser determinada em reunião ou assembléia especialmente convocada para esse fim, ciente o acusado em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do direito de defesa.

A partir da leitura do dispositivo acima, podem ser mencionados os seguintes requisitos formais e materiais necessários para que ocorra a expulsão extrajudicial de sócio minoritário: a) deliberação da maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social; b) colocação da sociedade em risco pela prática de atos de inegável gravidade; c) previsão expressa no contrato social; e d) cientificação do excluendo. Os requisitos acima foram preenchidos e, na assembleia convocada, foi aprovada a exclusão de João por justa causa (art. 1.085 do CC). Isso aconteceu em janeiro de 2010. Ação de declaração de nulidade da assembleia Em julho de 2012, ou seja, dois anos e meio depois, João ingressou com ação pedindo a declaração de nulidade da assembleia realizada. Segundo argumentou o autor, houve um vício quanto ao quórum. Isso porque o contrato social exige quórum mínimo de 85% das quotas para aprovação da exclusão de sócio e ele, João, possuía 20% das quotas. Logo, sua exclusão foi aprovada com um quórum de 80%, inferior, portanto, à previsão contratual. Em contestação, os demais sócios alegaram o seguinte: 1) A ação proposta está fulminada pela decadência. Segundo o contrato social, a presente sociedade rege-se supletivamente pelas normas das sociedades anônimas. De acordo com o art. 286 da Lei nº 6.404/76 (Lei das S/A), é de 2 anos o prazo para ajuizar ação anulatória de deliberação assemblear que exclui sócio minoritário. Veja:

Art. 286. A ação para anular as deliberações tomadas em assembleia-geral ou especial, irregularmente convocada ou instalada, violadoras da lei ou do estatuto, ou eivadas de erro, dolo, fraude ou simulação, prescreve em 2 (dois) anos, contados da deliberação.

2) No cálculo do quórum mínimo de 85% deverão ser excluídas as quotas do sócio cuja exclusão está sendo debatida. Em outras palavras, o sócio cuja exclusão se discute está impedido de votar. Logo, este 85% é dos votos dos demais sócios.

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O argumento 1 dos sócios foi acolhido pelo STJ? A referida ação tem prazo de 2 anos realmente? NÃO.

É de 3 anos o prazo decadencial para que o sócio minoritário de sociedade limitada de administração coletiva exerça o direito à anulação da deliberação societária que o tenha excluído da sociedade, ainda que o contrato social preveja a regência supletiva pelas normas da sociedade anônima. STJ. 4ª Turma. REsp 1.459.190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

Este prazo encontra-se previsto no parágrafo único do art. 48 do CC, que estabelece:

Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.

Segundo entende a doutrina, este art. 48 é uma norma que se aplica também às sociedades limitadas. Logo, não existe omissão na legislação que rege as sociedades limitadas. Não havendo omissão, não há motivo para se aplicar, supletivamente, o art. 286 da Lei nº 6.404/76 (Lei das S/A).

(...) Sendo a exclusão extrajudicial fruto de uma deliberação da assembléia ou da reunião de sócios, incide, no caso, o art. 48, parágrafo único do Código Civil, que, inserido nas disposições gerais sobre as pessoas jurídicas, aplica-se também às limitadas. Com base nesse dispositivo, poderá o sócio excluído pleitear a anulação da decisão de exclusão extrajudicial, alegando que a mesma não foi tomada conforme a lei ou o contrato social, ou ainda que foi eivada de erro, dolo, simulação ou fraude. Tal ação sujeita-se, nos termos do parágrafo único do referido art. 48, ao prazo de decadência de três anos. (...) (CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil: parte especial: do direito de empresa, vol. 13. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 321)

E o argumento 2 foi aceito? No cálculo do quórum mínimo deveria ser excluída a participação societária do sócio cuja exclusão se discute? SIM.

Para a fixação do quórum deliberativo assemblear necessário à aprovação da exclusão de sócio minoritário de sociedade limitada, não se pode computar a participação deste no capital social, devendo a apuração da deliberação se lastrear em 100% do capital restante, ou seja, tão somente no capital social daqueles legitimados a votar. STJ. 4ª Turma. REsp 1.459.190-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

O § 2º do art. 1.074 do CC, com fundamento no princípio da moralidade e do conflito de interesses, veda expressamente, que o sócio participe de votação de matéria que lhe diga respeito diretamente, como é o caso da deliberação na qual se discuta a sua exclusão, haja vista que atinge diretamente sua esfera pessoal e patrimonial. Confira o dispositivo legal:

Art. 1.074 (...) § 2º Nenhum sócio, por si ou na condição de mandatário, pode votar matéria que lhe diga respeito diretamente.

Portanto, para fins de quórum de deliberação, não pode ser computada a participação no capital social do sócio excludendo (sócio que está sendo excluído), devendo a apuração se lastrear em 100% do capital restante, isto é, daqueles legitimados a votar, sob pena de tornar-se inútil a deliberação. No caso concreto, percebe-se que, sem contar as quotas de João, a sua exclusão da sociedade foi aprovada, na verdade, por 100% do capital social, acima, portanto, do quórum mínimo exigido no contrato.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Embargos de declaração com efeitos infringentes não podem

ser recebidos como pedido de reconsideração

Importante!!!

Atualize seu livro de 2014 (p. 800)

Os embargos de declaração, ainda que contenham nítido pedido de efeitos infringentes, não devem ser recebidos como mero "pedido de reconsideração".

Tal proceder é incabível por três razões principais:

a) não atende a nenhuma previsão legal, tampouco aos requisitos de aplicação do princípio da fungibilidade recursal considerando que pedido de reconsideração nem é previsto na lei nem pode ser considerado recurso;

b) traz surpresa e insegurança jurídica ao jurisdicionado, pois, apesar de interposto tempestivamente o recurso cabível, ficará à mercê da subjetividade do magistrado;

c) acarreta ao embargante grave sanção sem respaldo legal, qual seja, a não interrupção de prazo para posteriores recursos, aniquilando o direito da parte embargante, o que supera a penalidade objetiva positivada no § 2º do art. 1.022 do CPC 2015.

STJ. Corte Especial. REsp 1.522.347-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/9/2015 (Info 575).

Embargos de declaração Os embargos de declaração são uma espécie de recurso, sendo julgados pelo próprio órgão que prolatou a decisão. Ex.: os embargos de declaração opostos em face de uma sentença são julgados pelo próprio juiz que proferiu a decisão. O prazo dos embargos de declaração é de 5 dias. Hipóteses de cabimento Veja as hipóteses de cabimento dos embargos de declaração conforme o novo CPC:

Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I — esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II — suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III — corrigir erro material.

Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que: I — deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento; II — incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º.

Três observações importantes sobre o art. 1.022 do CPC 2015:

ficou expressamente previsto que cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial. Antes, diante da literalidade do art. 535 do CPC 1973, havia entendimentos de que não caberia embargos de declaração contra decisões interlocutórias. Com o novo CPC, não há dúvidas de que isso é possível;

o conceito do que seja “omissão” para fins de embargos de declaração foi ampliado;

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foi acrescentada uma nova hipótese de embargos de declaração, que já era admitida pela jurisprudência: situação em que se verifica um “erro material” na decisão.

Efeito modificativo dos embargos de declaração (“embargos de declaração com efeito infringente”) Em regra, a função dos embargos de declaração não é a de modificar o resultado da decisão, fazendo com que a parte que perdeu se torne a vencedora. Essa não é a função típica dos embargos. Os objetivos típicos dos embargos são: a) esclarecer obscuridade; b) eliminar contradição; c) suprir omissão; d) corrigir erro material. Vale ressaltar, no entanto, que muitas vezes, ao se dar provimento aos embargos, pode acontecer de o resultado da decisão ser alterado. Quando isso acontece, dizemos que os embargos de declaração assumem um efeito infringente. Interrupção do prazo recursal Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso (art. 1.026 do CPC 2015). Ex.: juiz prolatou uma sentença. Logo, a parte prejudicada teria o prazo de 15 dias para interpor o recurso cabível para o caso (apelação). No entanto, essa parte vislumbrou a existência de uma contradição no pronunciamento judicial. Desse modo, antes de interpor a apelação, decidiu opor embargos de declaração. Somente quando o juiz julgar esses embargos é que começará a contar o prazo de 15 dias para a apelação. Vale ressaltar que os embargos de declaração, ainda que rejeitados, interrompem o prazo recursal. Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João ajuizou ação de indenização contra Pedro, tendo o juiz proferido sentença negando o pedido. Contra esta decisão, o autor possuía, em tese, duas opções de recurso: a) apelação; b) embargos de declaração. João interpôs embargos de declaração com pedido de efeitos infringentes, alegando que o juiz afirmou que a tese proposta pelo autor não é acolhida pela jurisprudência, sendo que existiriam julgados do STJ que embasariam o pedido do requerente. O juiz afirmou que o embargante não apontou a existência de nenhuma obscuridade, contradição, omissão ou erro material, razão pela qual o objetivo do autor seria apenas a reconsideração da sentença. Assim, o magistrado recebeu os embargos de declaração como se fossem um "pedido de reconsideração" e recusou-se a alterar o teor da sentença. Diante disso, João interpôs apelação. Ocorre que o magistrado não conheceu da apelação afirmando que ela era intempestiva. Isso porque a parte prejudicada pela decisão opôs embargos de declaração sem apontar nenhuma obscuridade, contradição, omissão ou erro material, mas apenas pedindo a reconsideração do que foi decidido. Assim, na visão do juiz, o que o embargante fez foi formular um pedido de reconsideração (que não tem previsão no CPC), utilizando o nome de “embargos de declaração”. Em tal caso, diante do desvirtuamento do instituto, o magistrado entendeu que esses “embargos de declaração” não teriam o condão (poder) de interromper o prazo para os demais recursos. Em outras palavras, esses embargos não deveriam ser conhecidos e a parte ainda teria perdido o prazo para interpor o recurso que seria cabível (apelação). O raciocínio adotado pelo juiz é aceito pela jurisprudência atual do STJ? Os embargos de declaração, se forem opostos com pedido de efeitos infringentes e sem apontar obscuridade, contradição, omissão ou erro material, podem ser recebidos como se fossem um "pedido de reconsideração" (o que acarreta a perda do prazo para os demais recursos)? NÃO. Os embargos de declaração, ainda que contenham nítido pedido de efeitos infringentes, não devem ser recebidos como mero "pedido de reconsideração". STJ. Corte Especial. REsp 1.522.347-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/9/2015 (Info 575).

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Pedido de reconsideração não tem previsão legal e não é recurso Os embargos de declaração são um recurso expressamente previsto no CPC e, ainda que contenham indevido pedido de efeitos infringentes, não se confundem com mero pedido de reconsideração. Se os embargos de declaração foram tempestivamente opostos, ainda que tenham pedido de efeitos infringentes, não devem ser recebidos como "pedido de reconsideração", porque tal mudança não atende a nenhuma previsão legal, tampouco a requisito de aplicação de princípio da fungibilidade, pois este último (pedido de reconsideração) não é recurso. Proteção da confiança como corolário da segurança jurídica Se fosse permitido que o julgador recebesse os embargos de declaração como se fosse pedido de reconsideração, isso iria trazer enorme insegurança jurídica ao jurisdicionado, pois, apesar de ele ter interposto tempestivamente o recurso cabível, ficaria à mercê da subjetividade do magistrado, que poderia puni-lo com a perda do prazo para os demais recursos por considerar que os embargos tinham a intenção de rediscutir a matéria. Deve-se, portanto, negar essa possibilidade em nome da proteção da confiança como corolário da segurança jurídica. Excepcionalmente, é possível a mudança do julgado por meio de embargos Excepcionalmente, é possível a modificação do julgado por meio dos embargos de declaração, desde que ele seja omisso, obscuro, contraditório ou tenha algum erro material, de forma que, a partir de sua integração, o fundamento desta acarrete, necessariamente, a alteração da decisão. Multa do art. 1.022, § 2º do CPC 2015 Se não houver vício a ser sanado, mas apenas a pretensão do recorrente em rediscutir a decisão, o julgador poderá aplicar a multa prevista no art. 1.022, § 2º, do CPC 2015, desde que fique caracterizado que o embargante estava com intuito de procrastinar (prolongar indevidamente o processo):

Art. 1.026. (...) § 2º Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente a dois por cento sobre o valor atualizado da causa. § 3º Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será elevada a até dez por cento sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final. § 4º Não serão admitidos novos embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores houverem sido considerados protelatórios.

Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo nessa hipótese do § 2º, haverá interrupção do prazo para os demais recursos. O que pode ser considerado como embargos de declaração manifestamente protelatórios? Podemos apontar duas hipóteses de embargos de declaração manifestamente protelatórios: 1ª) O recorrente não aponta, de forma concreta, nenhuma das hipóteses de cabimento (obscuridade, contradição ou omissão), ficando bem claro que seu objetivo foi apenas o de prolongar indevidamente o processo. 2ª) O recorrente visa rediscutir matéria já apreciada e decidida pela Corte de origem em conformidade com súmula do STJ ou STF ou, ainda, precedente julgado pelo rito do recurso repetitivo ou da repercussão geral. Receber os embargos como se fossem pedido de reconsideração é punição muito severa Surpreender a parte recebendo os embargos de declaração como pedido de reconsideração acarreta para o embargante uma gravíssima sanção sem previsão legal, qual seja, a não interrupção de prazo para posteriores recursos, situação que supera, em muito, a penalidade prevista no § 2º do art. 1.022 do CPC 2015.

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A inesperada perda do prazo recursal é uma penalidade por demais severa, contra a qual nada se poderá fazer, porque encerra o processo. Assim, o recebimento dos aclaratórios como pedido de reconsideração aniquila o direito constitucional da parte ao devido processo legal e viola, ainda, o princípio da proibição da reformatio in pejus. Inexiste maior prejuízo para a parte do que a perda da possibilidade de recorrer, assegurada na lei processual, apresentando seus argumentos às instâncias superiores, com a legítima finalidade de buscar a reforma de julgado que entende equivocado. O recebimento dos aclaratórios como pedido de reconsideração padece de, ao menos, duas manifestas ilegalidades, sendo a primeira a ausência de previsão legal para tal sanção subjetiva, e a segunda a "não interrupção do prazo recursal", aniquilando o direito da parte embargante e ignorando a penalidade objetiva, estabelecida pelo legislador no § 2º do art. 1.022 do CPC 2015. Situações em que os embargos de declaração não irão interromper o prazo para os demais recursos: Vimos acima que, mesmo que os embargos de declaração sejam opostos com o objetivo de rediscutir a matéria (o que não é função típica dos embargos) e mesmo que eles não apontem obscuridade, contradição, omissão ou erro material, ainda assim tais embargos deverão ser conhecidos e, se for o caso, rejeitados. Portanto, haverá interrupção do prazo para os demais recursos. O máximo que o julgador poderá fazer é aplicar a multa por terem sido protelatórios. Existem, no entanto, duas hipóteses em que os embargos de declaração não deverão ser conhecidos e, como consequência, não irão interromper o prazo (a parte embargante irá perder o prazo para os demais recursos). São elas: 1) Quando os embargos de declaração forem intempestivos (tiverem sido opostos fora do prazo); 2) Não serão admitidos novos embargos de declaração se a parte já tiver apresentado dois embargos anteriormente e estes tiverem sido considerados protelatórios (§ 4º do art. 1.026 do CP 2015). Nesse sentido:

Enunciado nº 361 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC): Na hipótese do art. 1.026, § 4º, não cabem embargos de declaração e, caso opostos, não produzirão qualquer efeito.

EXECUÇÃO FISCAL Encargo do art. 1º do DL 1.025/69 incide mesmo em execuções fiscais

propostas contra pessoas jurídicas de direito público

O encargo previsto no art. 1º do DL 1.025/69 incide nas execuções fiscais promovidas pela União contra pessoas jurídicas de direito público.

Incide o encargo do art. 1º do DL 1.025/69 nas execuções fiscais promovidas pela União, independentemente do polo passivo da demanda ser ocupado por particular ou por ente público

STJ. 2ª Turma. REsp 1.540.855-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 17/12/2015 (Info 575).

Execução fiscal Execução fiscal é... ­ a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF, Municípios e suas respectivas

autarquias e fundações) ­ para cobrar do devedor ­ créditos (tributários ou não tributários) ­ que estão inscritos em dívida ativa.

Informativo 575-STJ (19/12/2015 a 04/02/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19

Encargo do art. 1º do DL 1.025/69 Quando os Estados, o DF ou os Municípios propõem uma ação de execução fiscal, eles irão cobrar, além da dívida principal, juros e multa moratórios, que serão um percentual sobre o montante principal. Até aí, tudo bem, nenhuma peculiaridade. O interessante é que, quando a União ajuíza uma execução fiscal, ela irá cobrar do executado:

a dívida principal, acrescida de juros e multa; e

um valor de 20% sobre o montante principal, conhecido na praxe forense como "encargo de 20%", sendo esta verba prevista no art. 1º do Decreto-lei nº 1.025/69.

Esse encargo passa a ser devido a partir do instante em que ocorre a inscrição em Dívida Ativa da União. Desse modo, quando a dívida é inscrita, já se acrescenta estes 20% e eles serão cobrados junto com o principal, os juros e a multa na execução fiscal proposta pela União. Como este encargo é pouco conhecido, é comum as pessoas que estão sendo executadas pela União acharem que o valor está maior por conta destes 20%. No entanto, tal encargo possui previsão no DL 1.025/69, que se encontra em pleno vigor com status de lei ordinária. Se o devedor embargar e os embargos forem rejeitados, ele não terá que pagar honorários advocatícios, já que o encargo do DL 1.025/69 os substituem Se a pessoa que está sendo executada pela União decidir apresentar embargos à execução e estes forem rejeitados, ela não terá que pagar novos honorários advocatícios. Isso porque o encargo do DL 1.025/69 já substitui os honorários. Existe uma súmula do extinto Tribunal Federal de Recursos (que foi substituído pelo STJ com a CF/88) afirmando isso. Veja:

Súmula 168-TFR: O encargo de 20% do Dec.-lei 1.025/69, é sempre devido nas execuções fiscais da União e substitui, nos embargos, a condenação do devedor em honorários advocatícios.

Atualmente incide o encargo não apenas em caso de execuções fiscais propostas pela União, mas também por suas autarquias e fundações Vale ressaltar que este encargo só incidia em execuções fiscais promovidas pela União, não sendo aplicado caso a ação executiva seja proposta por entidades federais (exs: INSS, IBAMA). Esta situação mudou com a edição da Lei nº 11.941/2009, que acrescentou, na Lei nº 10.522/2002, o § 1º do art. 37-A com a seguinte redação:

Art. 37-A. Os créditos das autarquias e fundações públicas federais, de qualquer natureza, não pagos nos prazos previstos na legislação, serão acrescidos de juros e multa de mora, calculados nos termos e na forma da legislação aplicável aos tributos federais. § 1º Os créditos inscritos em Dívida Ativa serão acrescidos de encargo legal, substitutivo da condenação do devedor em honorários advocatícios, calculado nos termos e na forma da legislação aplicável à Dívida Ativa da União. § 2º O disposto neste artigo não se aplica aos créditos do Banco Central do Brasil.

Assim, os créditos inscritos em Dívida Ativa envolvendo não apenas a União, mas também suas autarquias e fundações, passaram a ser acrescidos do encargo legal de 20%, que poderá ser cobrado na execução fiscal. Destinação dos recursos Atualmente, os recursos arrecadados com o encargo previsto no art. 1º do DL 1.025/69 são destinados a cobrir as despesas efetuadas para arrecadar (cobrar) a dívida ativa da União, incluindo projetos de modernização e despesas judiciais (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 7.711/88). Assim, esse encargo é utilizado para o aparelhamento e aperfeiçoamento da arrecadação fiscal da União.

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Natureza jurídica O encargo do art. 1º do DL 1.025/69 possui, portanto, dupla natureza jurídica: a) Serve como encargo legal destinado a fomentar, desenvolver e aperfeiçoar os meios para a arrecadação fiscal (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 7.711/88). É uma forma de remuneração das despesas com os atos judiciais para a propositura da execução. b) Substitui os honorários sucumbenciais que seriam pagos pelo devedor em favor da Fazenda Nacional caso o executado apresentasse e perdesse os embargos à execução (Súmula 168-TFR); A pergunta que surge, agora, é a seguinte: se a União ajuizar execução fiscal contra um Estado-membro (fazenda pública estadual), incidirá também neste caso o encargo do art. 1º do DL 1.025/69? O Estado-membro executado é obrigado a pagar o referido encargo? SIM. O encargo previsto no art. 1º do DL 1.025/69 incide nas execuções fiscais promovidas pela União contra pessoas jurídicas de direito público. STJ. 2ª Turma. REsp 1.540.855-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 17/12/2015 (Info 575). O fato de a Fazenda Estadual estar no polo passivo da execução fiscal não afasta a incidência do encargo contido no art. 1º do DL 1.025/69 porque esta é uma regra especial que prevalece sobre as regras do CPC que tratam sobre honorários e demais verbas de sucumbência. Em outras palavras, incide o encargo do art. 1º do DL 1.025/69 nas execuções fiscais promovidas pela União, independentemente do polo passivo da demanda ser ocupado por particular ou por ente público.

PROCESSO COLETIVO Não é possível a repropositura de ação coletiva de direitos individuais homogêneos

julgada improcedente, ainda que por falta de provas

Importante!!!

Após o trânsito em julgado de decisão que julga improcedente ação coletiva proposta em defesa de direitos individuais homogêneos, independentemente do motivo que tenha fundamentado a rejeição do pedido, não é possível a propositura de nova demanda com o mesmo objeto por outro legitimado coletivo, ainda que em outro Estado da federação.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.302.596-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/12/2015 (Info 575).

Imagine a seguinte situação hipotética: A Associação de Defesa da Saúde ajuizou, na Justiça Estadual de São Paulo, ação civil pública contra a empresa "XXX" pedindo que ela fosse condenada a indenizar os danos morais e materiais causados aos consumidores que adquiriam o medicamento "YY", que faria mal ao coração, efeito colateral que teria sido omitido pela fabricante. Trata-se, portanto, de demanda envolvendo direitos individuais homogêneos. O pedido foi julgado improcedente em 1ª instância sob o argumento de que a autora não conseguiu provar o alegado (insuficiência de prova). Houve apelação para o TJSP, que manteve a sentença. A associação não recorreu contra o acórdão, que transitou em julgado. Seis meses depois, a Associação Fluminense de Defesa do Consumidor propôs, na Justiça Estadual do Rio de Janeiro, ação civil pública com o mesmo objeto, ou seja, pedindo a condenação da empresa por danos morais e materiais pela venda do medicamento.

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O juiz extinguiu a demanda sem resolução do mérito acolhendo a preliminar de coisa julgada, diante do fato de o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ter julgado ação civil pública idêntica à presente. A associação recorreu contra a decisão do juiz afirmando que só haveria coisa julgada se a primeira ação coletiva tivesse sido julgada procedente. Como foi julgada improcedente, não haveria coisa julgada. Para tanto, ela fundamentou seu recurso no art. 103, III, do CDC:

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará coisa julgada: III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do artigo 81. Obs: o inciso III do parágrafo único do art. 81 trata sobre os direitos individuais homogêneos.

A tese da associação está correta? É possível a repropositura da demanda ainda que a ação coletiva já tenha sido julgada improcedente em outro Estado por falta de provas? NÃO. Após o trânsito em julgado de decisão que julga improcedente ação coletiva proposta em defesa de direitos individuais homogêneos, independentemente do motivo que tenha fundamentado a rejeição do pedido, não é possível a propositura de nova demanda com o mesmo objeto por outro legitimado coletivo, ainda que em outro Estado da federação. STJ. 2ª Seção. REsp 1.302.596-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/12/2015 (Info 575). Art. 103, III, do CDC Realmente, uma leitura precipitada do inciso III do art. 103 do CDC poderia levar à equivocada conclusão de que apenas em caso de procedência da ação coletiva seria proibida a nova propositura de ação coletiva idêntica. Esta, contudo, não é a interpretação dada pelo STJ. O inciso III deve ser lido em conjunto com o § 2º, que estabelece:

§ 2º Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

Interpretando o inciso III em conjunto com o § 2º do art. 103, o STJ chegou à seguinte conclusão: 1) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada PROCEDENTE: a sentença fará coisa julgada erga omnes e qualquer consumidor pode se habilitar na liquidação e promover a execução, provando o dano sofrido. 2) Se a ação coletiva envolvendo direitos individuais homogêneos for julgada IMPROCEDENTE (não importa o motivo): 2.a) os interessados individuais que não tiverem intervindo no processo coletivo como litisconsortes (art. 94 do CDC) poderão propor ação de indenização a título individual. Ex: os consumidores do medicamento que não tiverem atendido ao chamado do art. 94 do CDC e não tiverem participado da primeira ação coletiva poderão ajuizar ações individuais de indenização contra a empresa. 2.b) não cabe a repropositura de nova ação coletiva mesmo que por outro legitimado coletivo (não importa se ele participou ou não da primeira ação; não pode nova ação coletiva). Veja o que a doutrina diz sobre o tema:

"(...) A diferença de redação entre os incisos I e II, do art. 103 e o inciso III, do mesmo art. 103, reside em que, nas duas primeiras hipóteses, admite-se que, se julgada improcedente por insuficiência de provas e em face de nova prova, que ocorra repropositura da ação coletiva pela inocorrência de coisa julgada, o que não se passa com o caso do inciso III, do art. 103. (...) No caso de improcedência, independentemente do fundamento respectivo, portanto, é possível que os

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interessados (que não tenham intervindo no processo) movam a sua ação individual, pois o fim objetivado no art. 103, inciso III e no art. 103, parágrafo segundo, é o de beneficiar tais interessados. Neste caso, a coisa julgada só atinge os legitimados de que trata o art. 82 (e, os que foram litisconsortes) na precedente ação coletiva, mas cujo poder de convicção tenha sido, nesta sede, tido como insuficiente. (...) Problema que se coloca é o de que este inciso III aludindo a que no caso de procedência haverá coisa julgada 'erga omnes', suscita a questão consistente em se saber se, no caso de improcedência, não haveria coisa julgada, sequer para ação coletiva idêntica; e, portanto, se seria viável a repropositura da mesma ação coletiva. Ora, o parágrafo segundo, do art. 103 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, prescreve que só os interessados que não intervierem, como litisconsortes, podem mover ação individual. Isto parece conduzir à conclusão de que é inviável a mesma ação coletiva, para a mesma finalidade, com ou sem nova prova. O texto do art. 103, inciso III, se linguisticamente lido, poderia suscitar dúvida. Isto porque se aí se diz que há coisa julgada 'erga omnes', apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas..., poder-se-ia, 'a contrario sensu', concluir que, no caso de improcedência (já que o objetivo seria 'apenas' o de beneficiar), inocorreria coisa julgada em relação à ação coletiva. Isto conduziria à implicação - se assim fosse - de que a mesma ação coletiva poderia ser novamente movida. Como a conclusão é dogmaticamente inaceitável e, tendo-se presente que, quando o legislador quis (e, o fez nos termos em que o quis) excluir a ocorrência de coisa julgada, o fez claramente (incisos I e II, deste art. 103), deve-se entender que há sempre coisa julgada. Para se explicar então o 'erga omnes', há de se entender a expressão com o sentido de que, se procedente, o benefício se estende a todos ou seja, todos os que são titulares de interesses ou direitos homogêneos. Mas, se improcedente, há coisa julgada, mas tomada, agora a expressão somente com o sentido de se referir ao(s) legitimado(s) que atuaram no processo, ou que nesse poderiam tê-lo feito também (i.e., os do art. 82)". (ARRUDA ALVIM. Código do consumidor comentado. 2ª ed. São Paulo: RT, 1995, p. 467-471)

Quadro-resumo:

SENTENÇA DIFUSOS COLETIVOS INDIVIDUAIS HOMOG

PROCEDENTE Fará coisa julgada erga omnes.

Fará coisa julgada ultra partes.

Fará coisa julgada erga omnes.

IMPROCEDENTE COM EXAME DAS PROVAS

Fará coisa julgada erga omnes. Impede nova ação coletiva. O lesado pode propor ação individual.

Fará coisa julgada ultra partes. Impede nova ação coletiva. O lesado pode propor ação individual.

Impede nova ação coletiva. O lesado pode propor ação individual se não participou da ação coletiva.

IMPROCEDENTE POR FALTA DE PROVAS

Não fará coisa julgada erga omnes. Qualquer legitimado pode propor nova ação coletiva, desde que haja prova nova.

Não fará coisa julgada erga omnes. Qualquer legitimado pode propor nova ação coletiva, desde que haja prova nova.

Impede nova ação coletiva. O lesado pode propor ação individual se não participou da ação coletiva.

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AÇÃO EXIBITÓRIA Impossibilidade de utilização de ação exibitória como substitutiva de habeas data

Não é cabível ação de exibição de documentos que tenha por objeto a obtenção de informações detidas pela Administração Pública que não foram materializadas em documentos (eletrônicos ou não), ainda que se alegue demora na prestação dessas informações pela via administrativa.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.741-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 3/12/2015 (Info 575).

Imagine a seguinte situação hipotética: Maria é pensionista de seu falecido esposo e requereu da Administração Pública que esta fornecesse certidão e planilha detalhada contendo os valores que seriam devidos ao ex-servidor a título de proventos, desde fevereiro de 2006, se vivo estivesse. Segundo alegou Maria, tais documentos seriam utilizados para instruir futura ação pedindo a revisão de sua pensão. Não houve resposta da Administração, razão pela qual ele propôs ação cautelar de exibição de documentos pedindo a expedição da certidão e da planilha com as informações solicitadas. O meio processual escolhido pela autora foi adequado? NÃO. Não é cabível ação de exibição de documentos que tenha por objeto a obtenção de informações detidas pela Administração Pública que não foram materializadas em documentos (eletrônicos ou não), ainda que se alegue demora na prestação dessas informações pela via administrativa. STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.741-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 3/12/2015 (Info 575). Para o STJ, é certo que a Administração Pública tem o dever de prestar, em tempo razoável, informações aos interessados, conforme determina o art. 5º, XXXIV, "b", da CF/88 e o art. 1º da Lei nº 9.051/95:

Art. 5º (...) XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Art. 1º As certidões para a defesa de direitos e esclarecimentos de situações, requeridas aos órgãos da administração centralizada ou autárquica, às empresas públicas, às sociedades de economia mista e às fundações públicas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, deverão ser expedidas no prazo improrrogável de quinze dias, contado do registro do pedido no órgão expedidor. Art. 2º Nos requerimentos que objetivam a obtenção das certidões a que se refere esta lei, deverão os interessados fazer constar esclarecimentos relativos aos fins e razões do pedido.

No entanto, o meio processual utilizado não foi correto. A ação de exibição destina-se à obtenção de documentos já existentes que se encontram em poder da pessoa que se recusa a fornecê-los. Portanto, não há como admitir o pedido de exibição de documentos que não existem, como no caso, em que a autora requer a confecção de certidão e planilha contendo informações que ainda deverão ser apuradas pelo demandado. O verbo "exibir" não possui o mesmo significado de "expedir" ou "confeccionar".

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Assim, repetindo: não é cabível a ação de exibição de documentos que tenha por objeto informação não materializada em documento (coisa). O entendimento acima exposto permanece válido com o novo CPC, que trata sobre a ação de exibição de documento ou coisa nos arts. 396 a 404. Veja que o Código exige que já exista um documento ou coisa a ser exibido:

Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre em seu poder.

Não se pode alargar a concepção da ação de exibição de documento para abarcar informações ainda não materializadas. Isso porque o direito à informação, neste caso, pode ser buscado pela via própria, qual seja, o habeas data (art. 5º, LXXII, da CF/88).

DIREITO PENAL

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Reiteração criminosa no crime de descaminho e princípio da insignificância

Importante!!!

A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente recomendável.

Assim, pode-se afirmar que:

Em regra, não se aplica o princípio da insignificância para o agente que praticou descaminho se ficar demonstrada a sua reiteração criminosa (criminoso habitual).

Exceção: o julgador poderá aplicar o referido princípio se, analisando as peculiaridades do caso concreto, entender que a medida é socialmente recomendável.

STJ. 3ª Seção. EREsp 1.217.514-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 9/12/2015 (Info 575).

Princípio da insignificância e descaminho A jurisprudência afirma que é plenamente possível a aplicação do princípio da insignificância para o crime de descaminho (art. 334 do Código Penal). Existe algum limite máximo de valor para que possa ser aplicado o princípio da insignificância no descaminho? SIM. A jurisprudência criou a tese de que nos crimes tributários (dentre eles, o descaminho), para decidir se incide ou não o princípio da insignificância, será necessário analisar, no caso concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser pagos. Qual é o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários (incluindo o descaminho)? • Para o STJ: R$ 10 mil (art. 20 da Lei nº 10.522/2002). • Para o STF: R$ 20 mil (valor atualizado pelas Portarias 75 e 132/2012 do MF). Além do valor do tributo (critério objetivo), existem outros aspectos que devem ser considerados pelo julgador? SIM. Para a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de descaminho, o STJ afirma que devem ser preenchidos dois requisitos:

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objetivo: valor inferior a R$ 10 mil (STJ) ou R$ 20 mil (STF);

subjetivo: em regra, o agente não pode se tratar de criminoso habitual (reiteração criminosa). Segundo afirmou o STJ, o princípio da insignificância é verdadeiro benefício na esfera penal, razão pela qual não há como deixar de se analisar o passado criminoso do agente, sob pena de se instigar a multiplicação de pequenos crimes pelo mesmo autor, os quais se tornariam inatingíveis pelo ordenamento penal. Imprescindível, assim, o efetivo exame das circunstâncias objetivas e subjetivas do caso concreto, porquanto, de plano, aquele que reitera e reincide não faz jus a benesses jurídicas. Agente que reiteradamente comete descaminho poderá ser beneficiado com o princípio da insignificância? • Regra: NÃO. Em regra, não se aplica o princípio da insignificância para o agente que praticou

descaminho se ficar demonstrada a sua reiteração criminosa (criminoso habitual). • Exceção: o julgador poderá aplicar o referido princípio se, analisando as peculiaridades do caso

concreto, entender que a medida é socialmente recomendável. Conclusão do STJ: A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente recomendável. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.217.514-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 9/12/2015 (Info 575).

HOMICÍDIO Incidência da qualificadora do motivo torpe em relação ao mandante de homicídio mercenário

Importante!!!

O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa" (inciso I do § 2º do art. 121) em relação ao executor do crime de homicídio mercenário não qualifica automaticamente o delito em relação ao mandante, nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo que o tenha levado a empreitar o óbito alheio seja torpe.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.209.852-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

Imagine a seguinte situação hipotética: João ofereceu R$ 10 mil para Pedro matar Carlos, o que foi feito. O Ministério Público denunciou João (mandante) e Pedro (executor) imputando a ambos o crime de homicídio qualificado, com base no art. 121, § 2º, I, do CP:

Homicídio qualificado § 2º Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

Esta espécie de homicídio é chamada pela doutrina de “homicídio mercenário” ou “por mandato remunerado”. O objetivo do legislador foi o de punir mais gravosamente a pessoa que comete o delito pela "cupidez, isto é, pela ambição desmedida, pelo desejo imoderado de riquezas." (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. São Paulo: Método, 2014). Tese da defesa do mandante A defesa de João (mandante) alegou que não poderia ser a ele imputado o inciso I do § 2º do art. 121 do CP porque esta qualificadora (mediante paga ou promessa de recompensa) diz respeito ao executor,

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sendo uma circunstância subjetiva, de caráter pessoal, e que, portanto, não se comunica ao mandante. Invocou, para tanto, o art. 30 do CP:

Art. 30. Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.

Tese do MP O Ministério Público, por sua vez, refutou este argumento afirmando que sempre que um homicídio for praticado mediante paga ou promessa de recompensa, a qualificadora do inciso I do § 2º do art. 121 do CP deverá ser aplicada automaticamente tanto para o executor como para o mandante.

O que decidiu o STJ?

"A paga ou a promessa de recompensa" é uma circunstância acidental do delito de homicídio, de caráter pessoal e, portanto, incomunicável automaticamente aos coautores do homicídio.

No entanto, não há proibição de que esta circunstância se comunique entre o mandante e o executor do crime, caso o motivo que levou o mandante a encomendar a morte tenha sido torpe, desprezível ou repugnante.

Em outras palavras, o mandante poderá responder pelo inciso I do § 2º do art. 121 do CP, desde que a sua motivação, ou seja, o que o levou a encomendar a morte da vítima seja algo torpe. Ex: encomendou a morte para ficar com a herança da vítima.

Por outro lado, o mandante, mesmo tendo encomendado a morte, não responderá pela qualificadora caso fique demonstrado que sua motivação não era torpe. Ex: homem que contrata pistoleiro para matar o estuprador de sua filha. Neste caso, o executor responderá por homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I) e o mandante por homicídio simples, podendo até mesmo ser beneficiado com o privilégio do § 1º.

Resumindo: O reconhecimento da qualificadora da "paga ou promessa de recompensa" (inciso I do § 2º do art. 121) em relação ao executor do crime de homicídio mercenário não qualifica automaticamente o delito em relação ao mandante, nada obstante este possa incidir no referido dispositivo caso o motivo que o tenha levado a empreitar o óbito alheio seja torpe. STJ. 6ª Turma. REsp 1.209.852-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

Obs: existem entendimentos em sentido diverso, mas, como este é o último julgado sobre o tema, é provável que seja cobrado assim na prova.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA Encontro fortuito de diálogos envolvendo autoridade com foro privativo e demora na remessa

das interceptações para o Tribunal competente para investigar o titular do cargo

Importante!!!

Durante interceptação telefônica deferida em primeiro grau de jurisdição, a captação fortuita de diálogos mantidos por autoridade com prerrogativa de foro não impõe, por si só, a remessa imediata dos autos ao Tribunal competente para processar e julgar a referida autoridade, sem que antes se avalie a idoneidade e a suficiência dos dados colhidos para se firmar o convencimento acerca do possível envolvimento do detentor de prerrogativa de foro com a prática de crime.

STJ. 6ª Turma. HC 307.152-GO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/11/2015 (Info 575).

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Imagine a seguinte situação hipotética: Havia uma investigação conduzida pela Polícia Federal envolvendo um famoso "bicheiro". O Juiz Federal autorizou a interceptação das conversas telefônicas mantidas por este investigado. Durante as interceptações, constatou-se que este investigado conversava muitas vezes com um determinado Senador da República, demonstrando que existia entre eles uma amizade íntima, inclusive com favores que este "bicheiro" praticava em prol do Parlamentar. Vale ressaltar que o telefone interceptado era o do "bicheiro" (alvo da investigação) e não o do Senador. Cerca de nove meses depois da primeira conversa entre o "bicheiro" e o Senador, o Juiz responsável pelo caso entendeu que havia indícios de que o parlamentar poderia também estar envolvido nas atividades criminosas, razão pela qual remeteu os diálogos interceptados para o STF a fim de que aquela Corte autorizasse, se assim entendesse pertinente, a realização de investigações contra o Senador. Posteriormente, a defesa do Parlamentar impetrou habeas corpus alegando que os diálogos interceptados entre ele e o "bicheiro" foram ilegais, já que autorizados por um juiz de 1ª instância (quando a competência para investigar Senador é do STF). Segundo argumentou o advogado, a partir do momento em que o "bicheiro" manteve contato com o Senador, o juiz de 1ª instância deveria ter imediatamente remetido os autos para a Corte competente (STF), não podendo ter esperado 9 meses para fazer isso. Diante deste fato, pediu a declaração de nulidade das provas colidas.

A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? NÃO. Durante interceptação telefônica deferida em primeiro grau de jurisdição, a captação fortuita de diálogos mantidos por autoridade com prerrogativa de foro não impõe, por si só, a remessa imediata dos autos ao Tribunal competente para processar e julgar a referida autoridade, sem que antes se avalie a idoneidade e a suficiência dos dados colhidos para se firmar o convencimento acerca do possível envolvimento do detentor de prerrogativa de foro com a prática de crime. STJ. 6ª Turma. HC 307.152-GO, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/11/2015 (Info 575).

O fato de o investigado cujo telefone estava sendo monitorado ter mantido simples conversa ou mesmo sinais claros de amizade e contatos frequentes com um Senador não pode, por si só, levar à conclusão de que o Parlamentar participaria do esquema criminoso objeto da investigação. Assim, a simples captação de diálogos de quem detém foro especial com alguém que está sendo investigado por práticas ilícitas não pode conduzir, tão logo surjam conversas suspeitas, à conclusão de que a referida autoridade também participa da atividade criminosa, sendo necessário aguardar um pouco para se avaliar com mais cautela antes de se encaminhar os autos para o Tribunal com competência para julgar a autoridade.

Em verdade, há de se ter certo cuidado para não se extraírem conclusões precipitadas ante a escuta fortuita de conversas. Em certos casos, a existência de proximidade espúria da autoridade pública com as pessoas investigadas somente vai ganhando contornos na medida em que a investigação se aprofunda, sem que seja possível ao magistrado delimitar, imediatamente, a ocorrência dessa relação. Somente com a continuidade por determinado período das interceptações, mostra-se possível serem alcançados resultados mais concludentes sobre o conteúdo das conversas interceptadas.

Com base nesses argumentos, deve-se concluir que a remessa imediata (precipitada) ao STF/STJ/TJ/TRF de toda e qualquer conversa em que surja a presença de uma autoridade com foro privativo traz três consequências negativas que devem ser evitadas: a) implica prejuízo à investigação dos fatos;

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b) representa sobrecarga acentuada aos Tribunais; c) faz surgir suspeitas prematuras sobre a autoridade cuja honorabilidade e respeitabilidade perante a opinião pública são determinantes para a continuidade e o êxito de sua carreira.

Por fim, outro argumento que refuta a alegação de nulidade está no fato de que a lei não prevê um prazo para que o juízo de 1ª instância encaminhe os autos ao Tribunal competente e, além disso, a jurisprudência não condena, de forma rígida, ou seja, com nulidade, eventuais atrasos na prática de atos processuais. Ao contrário, até mesmo quando há desrespeito aos prazos procedimentais em processos envolvendo réus presos, é consolidado o entendimento jurisprudencial no sentido de não ser reconhecido o constrangimento ilegal, ante critérios de razoabilidade, sobretudo quando se cuida de processos ou investigações com particular complexidade, envolvendo vários réus ou investigados. Portanto, é possível afirmar que, tão somente em um claro contexto fático do qual se possa com segurança depreender, a partir dos diálogos dos investigados com pessoa detentora de foro especial, que há indícios concretos de envolvimento dessa pessoa com a prática de crime(s), será imperativo o envio dos elementos de informação ao tribunal competente.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE RENDA Portador de cegueira monocular e isenção de imposto de renda

Importante!!!

Os proventos de aposentadoria ou reforma percebidos por portador de cegueira monocular também são isentos de imposto sobre a renda.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.553.931-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

Isenção de imposto de renda sobre os proventos da aposentadoria para doentes graves O imposto de renda é regido pela Lei nº 7.713/88. Esta Lei prevê que as pessoas portadoras de neoplasia maligna ou outras doenças graves e que estejam na inatividade não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos recebidos a título de aposentadoria, pensão ou reforma (art. 6º, XIV). Em palavras mais simples: pessoas portadoras de doenças elencadas pela legislação não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos que receberem a título de aposentadoria, pensão ou reforma. Para ter direito à isenção do imposto de renda, é necessária a cumulação de dois requisitos pelo contribuinte: a) receber proventos de aposentadoria, pensão ou reforma; e b) estar acometido de uma das doenças arroladas no dispositivo legal. Veja a previsão legal:

Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos percebidos por pessoas físicas: XIV — os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma;

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Vimos acima que uma das situações que gera direito à isenção diz respeito à pessoa que possui cegueira. Indaga-se, no entanto, esta isenção abrange apenas a cegueira bilateral ou também a unilateral? O portador de cegueira monocular tem direito à isenção do imposto de renda com base no art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88? SIM.

Os proventos de aposentadoria ou reforma percebidos por portador de cegueira monocular também são isentos de imposto sobre a renda. STJ. 1ª Turma. REsp 1.553.931-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

O art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 fala apenas em cegueira, ou seja, não faz distinção entre cegueira binocular e monocular para efeito de isenção de imposto sobre a renda. Além disso, de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), da Organização Mundial de Saúde, que é adotada pelo SUS e estabelece as definições médicas das patologias, a cegueira não está restrita à perda da visão nos dois olhos, podendo ser diagnosticada a partir do comprometimento da visão em apenas um olho. Assim, mesmo que a pessoa possua visão normal em um dos olhos, poderá ser diagnosticada como portadora de cegueira (H54.4). Diante disso, deve-se entender que a isenção abrange o gênero patológico "cegueira", não importando se atinge a visão nos dois olhos ou apenas em um deles.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ Conversão da aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez e

recebimento do adicional de grande invalidez

Importante!!!

Exemplo 1. Pedro aposentou-se por tempo de serviço/contribuição em 2012. Fica em casa sem trabalhar. Em 2015, durante um passeio de carro, sofre acidente e perde as duas pernas; ele poderá requerer o aumento de 25% do valor recebido a título de aposentadoria, aplicando-se o art. 45 da Lei nº 8.213/91 por analogia?

NÃO. O segurado já aposentado por tempo de serviço e/ou por contribuição que foi posteriormente acometido de invalidez que exija assistência permanente de outra pessoa não tem direito ao acréscimo de 25% sobre o valor do benefício a que o aposentado por invalidez faz jus em razão de necessitar dessa assistência (art. 45, caput, da Lei nº 8.213/91). Isso porque o mencionado dispositivo legal restringiu sua incidência ao benefício de aposentadoria por invalidez, não podendo, assim, ser estendido a outras espécies de benefícios previdenciários (STJ. 1ª Turma. REsp 1.533.402-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 1º/9/2015. Info 569).

Exemplo 2. João aposentou-se por tempo de serviço/contribuição em 2012. Um ano depois, ele é convidado para voltar a trabalhar. Como está aposentado por tempo de serviço, não há nenhum impedimento quanto a isso. Em 2015, ele sofre um acidente no trabalho e perde as duas pernas; ele poderá requerer que sua aposentadoria por tempo de serviço seja convertida em aposentadoria por invalidez, acrescida do aumento de 25% do art. 45?

SIM. O segurado aposentado por tempo de serviço que sofreu, após retornar à atividade laboral, acidente de trabalho que lhe causou absoluta incapacidade, gerando a necessidade da assistência permanente de outra pessoa, tem direito à transformação da aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez e, com a conversão, ao recebimento do adicional de 25% descrito no art. 45 da Lei n. 8.213/1991 a partir da data de seu requerimento administrativo.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.475.512-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

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ADICIONAL DE GRANDE INVALIDEZ

Aposentadoria por invalidez A aposentadoria por invalidez é um benefício previdenciário pago ao segurado que for considerado incapaz, de forma permanente, para o exercício de trabalho que lhe garanta a subsistência. Encontra-se previsto no art. 42 da Lei nº 8.213/91:

Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.

Adicional de 25% para aposentado que necessite de assistência permanente de terceiros ("adicional de grande invalidez") O art. 45 da Lei nº 8.213/91 prevê o seguinte adicional:

Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).

Ex.: João trabalhava na iniciativa privada e, portanto, contribuía para o RGPS, administrado pelo INSS. Após vários anos, João foi acometido de uma doença que o deixou incapacitado total e permanentemente para o trabalho. Diante disso, ele foi aposentado por invalidez. O INSS calculou o valor do benefício com base nas contribuições de João e constatou que ele teria direito a uma aposentadoria de R$ 1.000,00 por mês. Ocorre que na perícia médica ficou provado que João ficou em estado vegetativo, de forma que precisará da assistência permanente de outra pessoa para realizar suas atividades diárias. Logo, sobre o valor calculado deverá ser acrescido um adicional de 25%. Assim, João receberá R$ 1.250,00 de aposentadoria. Sobre o adicional acima, gostaria de explicar duas situações apreciadas pelo STJ e que são bem parecidas, mas guardam diferenças entre si. SITUAÇÃO 1: APOSENTADO POR TEMPO DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO QUE, SEM VOLTAR AO TRABALHO, FICA INVÁLIDO

Repare que o art. 45 acima fala que o adicional será devido no caso de aposentadoria por invalidez. No entanto, indaga-se: se a pessoa foi aposentada por tempo de serviço ou tempo de contribuição e algum tempo depois torna-se inválida, precisando do auxílio permanente de terceiros, ela poderá requerer, por analogia, o mencionado adicional? Ex.: Pedro aposentou-se por tempo de serviço/contribuição em 2012. Fica em casa sem trabalhar. Em 2015, durante um passeio de carro, sofre acidente e perde as duas pernas; ele poderá requerer o aumento de 25% do valor recebido a título de aposentadoria, aplicando-se o art. 45 por analogia? NÃO. O segurado já aposentado por tempo de serviço e/ou por contribuição que foi posteriormente acometido de invalidez que exija assistência permanente de outra pessoa não tem direito ao acréscimo de 25% sobre o valor do benefício a que o aposentado por invalidez faz jus em razão de necessitar dessa assistência (art. 45, caput, da Lei nº 8.213/91). Isso porque o mencionado dispositivo legal restringiu sua incidência ao benefício de aposentadoria por invalidez, não podendo, assim, ser estendido a outras espécies de benefícios previdenciários. Esse foi o entendimento firmado pelo STJ a respeito do tema. STJ. 1ª Turma. REsp 1.533.402-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 1º/9/2015 (Info 569). Obs.: a TNU possui julgados em sentido contrário ao do STJ, ou seja, entendendo ser possível aplicar o art. 45 da Lei nº 8.213/91 aos aposentados por tempo de serviço e/ou tempo de contribuição. Contudo, em provas, deve-se adotar a posição do STJ.

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SITUAÇÃO 2: APOSENTADO POR TEMPO DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO QUE VOLTA A TRABALHAR E DEPOIS FICA INVÁLIDO

Imagine agora a situação um pouco diferente. João aposentou-se por tempo de serviço/contribuição em 2012. Um ano depois, ele é convidado para voltar a trabalhar. Como está aposentado por tempo de serviço, não há nenhum impedimento quanto a isso. Em 2015, ele sofre um acidente no trabalho e perde as duas pernas; ele poderá requerer que sua aposentadoria por tempo de serviço seja convertida em aposentadoria por invalidez, acrescida do aumento de 25% do art. 45? SIM. O segurado aposentado por tempo de serviço que sofreu, após retornar à atividade laboral, acidente de trabalho que lhe causou absoluta incapacidade, gerando a necessidade da assistência permanente de outra pessoa, tem direito à transformação da aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez e, com a conversão, ao recebimento do adicional de 25% descrito no art. 45 da Lei n. 8.213/1991 a partir da data de seu requerimento administrativo. STJ. 2ª Turma. REsp 1.475.512-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/12/2015 (Info 575). No exemplo dado acima, João deverá procurar o INSS requerendo a conversão de sua aposentadoria por tempo de serviço/contribuição em aposentadoria por invalidez (com a inclusão do adicional de 25%). Caso o INSS indefira o pedido, o segurado deverá intentar ação judicial e o Poder Judiciário irá conceder a referida conversão de forma retroativa à data do requerimento administrativo. Qual a diferença entre as duas situações? Por que no segundo caso o segurado terá direito ao adicional? Porque o segurado voltou ao mercado de trabalho e estava na ativa no momento da invalidez. Para o STJ, o acréscimo de 25%, denominado adicional de grande invalidez, é exclusivo da aposentadoria por invalidez. Assim, não é possível estendê-lo a outras espécies de aposentadoria, sob pena de se comprometer o equilíbrio atuarial e financeiro do regime. No primeiro caso, o segurado estava aposentado por tempo de serviço. Se fosse concedido o adicional, estaríamos estendendo o adicional para essa espécie de aposentadoria, o que é vedado. Na segunda hipótese, ele também estava aposentado por tempo de serviço, mas voltou a trabalhar. Logo, estando na ativa, é possível converter a aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez e, com isso, incluir o adicional de 25%, que irá incidir não sobre a aposentadoria por tempo de serviço (que deixará de existir), mas sim sobre a aposentadoria por invalidez. E por que no primeiro caso não é possível converter a aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez? Porque o segurado, para fazer jus à aposentadoria por invalidez, deve estar trabalhando no momento em que ocorreu a incapacidade (ou ao menos, deve estar em gozo do auxílio-doença). Se ele não estiver na ativa, não se pode converter sua aposentadoria por tempo de serviço em aposentadoria por invalidez.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

DIREITO DESPORTIVO. CONTRIBUIÇÃO DE SOLIDARIEDADE E ENTIDADE DE PRÁTICA DESPORTIVA NÃO FILIADA À CBF E À FIFA. A entidade de prática desportiva não filiada à CBF e à FIFA, ainda que pertencente ao Sistema Nacional de Desporto, não faz jus à contribuição de solidariedade prevista no Regulamento FIFA - mecanismo de ressarcimento de custos provenientes da formação de atleta profissional -, ressalvados eventuais direitos contratuais pactuados diretamente com entidades filiadas.

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A FIFA, juntamente com a UEFA e a FIFP (sindicatos dos jogadores europeus), editou o "Regulamento sobre o Estatuto e as Transferências de Jogadores FIFA" (2000/2001). Nesse "Estatuto FIFA", encontram-se os mecanismos de indenização por formação de atletas profissionais, ou seja, o ressarcimento dos custos com a formação do atleta, na hipótese em que há transação internacional. Realmente, clubes de países reconhecidos como reveladores de talentos, como Brasil, Argentina, Costa do Marfim, Gama, Camarões e outros, por não possuírem a estrutura dos clubes europeus, acabavam sendo vítimas do intenso assédio sobre seus jovens jogadores sem que se pudessem ser equanimemente ressarcidos pela abrupta transferência dos seus jovens atletas. Assim, com o intuito de incentivar os clubes de futebol a investir nas categorias de base e formar atletas profissionais, bem como proporcionar aos clubes formadores de atletas um retorno ao investimento realizado no jogador durante todo período de formação (12 aos 21 anos de idade), o novo "Estatuto FIFA" criou mecanismos de indenização pela formação de atletas profissionais em favor das entidades de prática desportiva no que tange à transferência de atletas profissionais, quais sejam: (a) indenização pela formação; e (b) mecanismo de solidariedade. Prevista no Capítulo VII do referido Estatuto, a indenização pela formação de jovem jogador profissional FIFA é o mecanismo pelo qual se indeniza toda entidade de prática desportiva, denominado "clube formador", que contribuiu para a formação profissional do atleta que vier a ser objeto de transferência internacional de clube até que ele complete 23 anos (idade limite), de forma a permitir a recuperação do investimento realizado na formação do jogador. A outra forma de ressarcimento dos custos com a formação do atleta profissional é o mecanismo de solidariedade, previsto no Capítulo IX do Regulamento FIFA, que é devida aos clubes formadores sempre que se operar a transferência de um atleta profissional durante a vigência do seu contrato de trabalho, independentemente de sua idade (toda carreira do atleta). Nesse contexto, em ambos mecanismos de ressarcimento dos custos com a formação do atleta profissional, exige-se como requisito básico para incidência do instituto da compensação, que o atleta seja profissional, devendo ter contrato de trabalho com clube filiado à Confederação Nacional associada à FIFA. Esclarecidas, assim, as características dos dois mecanismos de indenização dos clubes formadores pelas transferências dos atletas profissionais, previstos no Regulamento FIFA, deve-se estabelecer se eles se aplicam a entidades de prática desportiva não filiadas à Confederação Nacional de Futebol, associada da FIFA. De fato, a Lei Pelé, ao estabelecer as normas gerais do desporto, não tem força, por si só, para gerar obrigações aos clubes filiados a Confederação Nacional de Futebol, associada da FIFA, com o fim de estender, a entidades de prática desportiva não filiadas, os mecanismos de indenização impostos pelo Regulamento FIFA, salvo disposição contratual. Inclusive, a Lei Pelé sofre críticas pela doutrina justamente no sentido de que se perdeu uma grande oportunidade de uma maior regulamentação do desporto, atenuando-se a visão eminentemente privada da organização e prática do desporto no país. De qualquer modo, o STF, ao analisar a alegação de inconstitucionalidade acerca do tratamento diferenciado estabelecido pelo Estatuto do Torcedor para atletas profissionais e não-profissionais frente ao disposto no inciso I do art. 217 da CF (ADI 2.937-DF, Plenário, DJe 29/5/2012), refutou a alegada inconstitucionalidade ao argumento de que a Lei impugnada se destinou a reger ações apenas no plano do desporto profissional e que a própria Constituição impôs essa distinção no inciso III do art. 217. No campo infraconstitucional, destaca-se o art. 2º da Lei Pelé, donde se vislumbra o desporto como direito individual, deixando ao ente público a obrigação de fomentar sua atividade. No art. 13 do mesmo diploma legal, na Seção de que trata do Sistema Nacional do Desporto, há previsão de quem o congrega, elencando as pessoas físicas e jurídicas de direito privado, tendo por objetivo promover e aprimorar práticas desportivas de rendimento. Do referido artigo, destaca-se, ainda, o inciso VI, que não exige que as entidades de prática desportiva sejam filiadas a ligas, federações, confederação ou ao COB, como condição para integrar o Sistema Nacional do Desporto. Conforme acima descrito, pode-se concluir que a Lei Pelé, enquanto legislação regulamentadora do desporto, criou um sistema de organização e estruturação da prática esportiva nacional. Com efeito, a referida lei não prevê direito ao ressarcimento dos custos com a formação de atleta profissional, garantindo tão somente a integração/participação de entes privados (filiados ou não) na prática do desporto nacional, inseridos, sim, no Sistema Nacional de Desporto. Em suma, a entidade de prática desportiva não filiada a CBF, embora integrante do Sistema Nacional de Desporto, não faz jus ao

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ressarcimento dos custos com atleta profissional, previsto no Regulamento FIFA, ressalvados direitos contratuais pactuados diretamente com entidades filiadas. REsp 1.400.152-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 15/12/2015, DJe 2/2/2016.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CABIMENTO DE EMBARGOS À ADJUCAÇÃO. Cabem embargos à adjudicação sob alegação de não ter sido excluída da obrigação exequenda a capitalização de juros conforme determinado pela sentença proferida em anteriores embargos à execução. Os embargos à arrematação e à adjudicação são conhecidos pela doutrina e jurisprudência como embargos de segunda fase, uma vez que a legislação processual condicionou sua utilização à discussão de nulidades ou irregularidades supervenientes à penhora. Com efeito, o rol de matérias que podem ser objeto dos embargos de segunda fase, entre eles, o de adjudicação (art. 746 do CPC, com redação dada pela Lei n. 11.382/2006) deve ser tido como exemplificativo. Essa linha de raciocínio é a que se mostra mais consentânea com a nova sistemática processual implementada pela Lei n. 11.382/2006 no CPC, voltada a tornar o processo de execução um instrumento mais eficiente e efetivo, com aptidão para uma tutela jurisdicional lógica, razoável, célere e efetiva. A referida mudança legislativa objetivou assegurar a justiça da execução, conferindo aos embargos à adjudicação a função primordial de dotar o executado de instrumento específico contra defeitos processuais e defesas de mérito novas, que não existiam no momento em que lhe era dado opor embargos de primeira fase, assim como fato extintivo, modificativo ou impeditivo da obrigação que tenha ocorrido após o momento de oposição dos embargos de primeira fase. Quanto ao ponto, o STJ já se manifestou favoravelmente à possiblidade de arguição de quaisquer matérias ligadas às nulidades absolutas (REsp 262.654-RS, Quarta Turma, DJ 20/11/2000). A partir da entrada em vigor do novo CPC, não haverá, sequer, a especificação atual, podendo as matérias a serem alegadas para a nulidade da adjudicação, arrematação e alienação por petição nos autos ou por meio de ação autônoma. De mais a mais, preceitua o inciso I do art. 618 do CPC que é nula a execução "se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível (art. 586)". REsp 1.173.304-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/10/2015, DJe 1º/2/2016.