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Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO CIVIL BEM DE FAMÍLIA Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado. CONTRATO DE SEGURO Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado mesmo que este tenha dado quitação integral para o autor do dano. ARBITRAGEM Competência para declarar nulidade de cláusula de compromisso arbitral. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. DIREITO DE VIZINHANÇA Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas. DIREITO DO CONSUMIDOR CONCEITO DE CONSUMIDOR É inaplicável o CDC ao contrato de franquia. PROTEÇÃO CONTRATUAL É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços educacionais. PRÁTICA ABUSIVA Instituição não pode negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular porque ele tem outros débitos anteriores, relativos a outro curso. PROTEÇÃO EM JUÍZO Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten. DIREITO EMPRESARIAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação judicial aprovado por maioria pela assembleia geral de credores. DIREITO PROCESSUAL CIVIL AGRAVO DE INSTRUMENTO É possível que as peças do agravo de instrumento sejam entregues em DVD.

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Informativo 591-STJ (04 a 18/10/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO CIVIL

BEM DE FAMÍLIA Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado. CONTRATO DE SEGURO Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado mesmo que este tenha dado

quitação integral para o autor do dano. ARBITRAGEM Competência para declarar nulidade de cláusula de compromisso arbitral. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº

9.307/96. DIREITO DE VIZINHANÇA Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CONCEITO DE CONSUMIDOR É inaplicável o CDC ao contrato de franquia. PROTEÇÃO CONTRATUAL É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços educacionais. PRÁTICA ABUSIVA Instituição não pode negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular porque ele tem outros débitos anteriores,

relativos a outro curso. PROTEÇÃO EM JUÍZO Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao

consumidor sobre produtos com glúten.

DIREITO EMPRESARIAL

RECUPERAÇÃO JUDICIAL Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação judicial aprovado por maioria pela

assembleia geral de credores.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AGRAVO DE INSTRUMENTO É possível que as peças do agravo de instrumento sejam entregues em DVD.

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EMBARGOS DE TERCEIRO Desconstituída penhora indevida, em regra, não haverá condenação do embargado em honorários se o imóvel

ainda estava no nome do antigo proprietário. PROCESSO COLETIVO Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfico de veículos pesados no Município. Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao

consumidor sobre produtos com glúten.

DIREITO PENAL

CLONAGEM DE CARTÃO DE CRÉDITO Clonagem de cartão de crédito ou débito antes da entrada em vigor da Lei nº 12.737/2012.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÃO O advogado suspenso dos quadros da OAB não tem direito a recolhimento em sala de Estado Maior. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO Não se aplica a Súmula 337 do STJ se a denúncia foi julgada totalmente procedente e pela pena em concreto um

dos delitos foi extinto pela prescrição. COMUTAÇÃO DE PENA Condenado que pratica falta grave nos 12 meses antes da publicação do decreto de indulto natalino não terá

direito ao benefício mesmo que a homologação ocorra após o decreto.

DIREITO TRIBUTÁRIO

PROCESSO TRIBUTÁRIO O § 2º do art. 12 da Portaria 643/2009 da PGFN é ilegal. PIS/PASEP/COFINS Juiz não pode extinguir execução fiscal de ofício invocando a inconstitucionalidade do art. 3º, § 1°, da Lei nº

9.718/98.

DIREITO CIVIL

BEM DE FAMÍLIA Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado

Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família."

A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o único imóvel COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Espécies de bem de família No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família: a) bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil); b) bem de família legal (Lei nº 8.009/90).

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Bem de família legal O bem de família legal consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar. Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de família convencional). Proteção conferida ao bem de família legal O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na Lei nº 8.009/90. Situação 1: João possui em seu nome um único imóvel, qual seja, um apartamento que está alugado para terceiro por R$ 2 mil. Ele e sua família, por sua vez, moram em uma casa alugada em um bairro mais simples, pagando R$ 1 mil. A renda recebida com a locação é utilizada para pagar o aluguel da sua casa e para a subsistência da família. João está sendo executado e o juiz determinou a penhora do apartamento que está em seu nome. Esta penhora poderá ser desconstituída invocando a proteção do bem de família? SIM. Veja o que diz o seguinte enunciado:

Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família. STJ. Corte Especial. Aprovada em 28/06/2012, DJe 01/08/2012.

A Lei conceitua o que seja imóvel residencial para fins de impenhorabilidade:

Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil.

Desse modo, pela redação legal, somente seria impenhorável o imóvel próprio utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. No entanto, o STJ ampliou a proteção ao bem de família, conforme pudemos observar pela Súmula 486. Assim, se um casal, uma entidade familiar ou mesmo uma pessoa solteira e sozinha, possui um imóvel residencial “X” e o aluga, pela redação da lei ele não seria bem de família legal e poderia ser penhorado. Entretanto, o STJ afirma que esse imóvel poderá ser considerado também impenhorável desde que cumpridos os seguintes requisitos:

O imóvel alugado seja o único do devedor;

A renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia. O STJ assim decide porque entende que, em uma interpretação teleológica e valorativa, o objetivo da norma é o de garantir a moradia familiar ou a subsistência da família. Situação 2: Pedro possui em seu nome um único imóvel, qual seja, uma sala comercial que está alugada para uma empresa, que explora no local uma loja, pagando ao proprietário R$ 2 mil.

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Ele e sua família, por sua vez, moram em uma casa alugada, pagando R$ 1 mil. A renda recebida com a locação é utilizada para pagar o aluguel da sua casa e para a subsistência da família. Pedro está sendo executado e o juiz determinou a penhora da sala comercial que está em seu nome. Esta penhora poderá ser desconstituída invocando a proteção do bem de família? SIM. É impenhorável o único imóvel comercial do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar. STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Se você observar bem a redação da Súmula 486 do STJ verá que esta situação 2 não está abrangida na proteção por ela conferida. Em outras palavras, a redação literal do enunciado protege como bem de família apenas o imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros (não inclui o imóvel comercial). No entanto, seguindo uma tendência, o STJ, nesta decisão, ampliou a abrangência da súmula 486 e entendeu que o imóvel comercial também pode gozar da proteção como bem de família caso esteja locado para terceiro e a renda obtida seja utilizada para o pagamento da moraria do proprietário.

CONTRATO DE SEGURO Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado

mesmo que este tenha dado quitação integral para o autor do dano

Importante!!!

Em regra, mesmo que o proprietário do veículo segurado tenha dado termo de quitação ou renúncia ao causador do sinistro, a seguradora continuará tendo direito de ajuizar ação regressiva contra o autor do dano e de ser ressarcida pelas despesas que efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado.

Ex: o segurado combina com o causador do dano que este irá pagar apenas o valor da franquia do seguro, em troca de um termo de quitação. A seguradora paga, então, os prejuízos e poderá cobrar do causador do dano porque ela tem direito à sub-rogação por força de lei (art. 786, CC) e este acordo não é eficaz perante ela (art. 786, § 2º).

Exceção: a seguradora não terá direito de regresso contra o autor do dano caso este demonstre que indenizou realmente o segurado pelos prejuízos sofridos, na justa expectativa de que estivesse quitando, integralmente, os danos provocados por sua conduta. Neste caso, protege-se o terceiro de boa-fé e a seguradora poderá cobrar do segurado com base na proibição do enriquecimento ilícito.

Ex: o causador do dano paga todas as despesas do segurado e recebe um termo de quitação; de má-fé, o segurado, mesmo já tendo sido indenizado, aciona o seguro para consertar seu carro. Se a seguradora ajuizar ação regressiva contra o causador do dano, ele poderá provar que pagou integralmente as despesas e, neste caso, a ação será julgada improcedente. Protege-se a boa-fé do terceiro.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.533.886-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Imagine a situação hipotética: Carla, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo na traseira do carro de João. Este ficou com pena de Carla, que estava muito nervosa, e propôs a ela o seguinte: "eu tenho seguro; então, você paga apenas a franquia do meu seguro e ele vai custear as despesas com o conserto dos dois carros. Não precisa se preocupar."

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No mesmo instante, João ligou para a seguradora, que recomendou que ele fizesse um boletim de ocorrência e tirasse fotos da batida. No dia seguinte, João e Carla se encontraram. Ela deu o dinheiro referente à franquia e ele, em contrapartida, assinou uma declaração dizendo que renunciava ao direito de postular qualquer reparação pelos danos sofridos. João entregou à seguradora o dinheiro da franquia e os dois veículos foram consertados. Dois meses depois, Carla é citada como ré em uma ação regressiva proposta pela seguradora. A autora cobra R$ 10 mil referentes ao custo do conserto dos dois veículos. Carla apresenta contestação alegando que o proprietário do automóvel segurado, por ocasião do sinistro, renunciou ao direito de postular qualquer reparação pelos danos então sofridos. Dessa maneira, não havendo direito de crédito do credor primitivo (segurado), não pode a seguradora cobrar o ressarcimento, já que ela não pode se sub-rogar de um direito que não existe. Um caso semelhante a este, que é muito comum no dia-a-dia, chegou até o STJ. O que decidiu o Tribunal? A seguradora terá direito de ser ressarcida pelo conserto mesmo tendo o segurado assinado este termo de quitação ou renúncia? SIM. Previsão legal da sub-rogação O Código Civil prevê que a seguradora que paga a indenização sub-roga-se nos direitos do segurado. Confira:

Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano.

Isso também já estava consagrado na jurisprudência:

Súmula 188-STF: O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro.

O art. 786 consiste, portanto, em espécie de sub-rogação legal, específica para o contrato de seguro de dano. Vale ressaltar que esta sub-rogação opera-se de pleno direito, independentemente da vontade do devedor originário, ou seja, do causador do dano ao bem segurado. Vale ressaltar que este direito da seguradora de se sub-rogar tem relevância social porque na sociedade de risco que vivemos hoje em dia é cada vez maior a importância dos contratos de seguro. Se a seguradora tiver garantias de que poderá ser ressarcida pelo real causador do dano, isso será levado em consideração no momento do cálculo do prêmio que é cobrado dos segurados. Em tese, quanto menores as garantias que a seguradora tiver, maior será o valor do prêmio, o que prejudica a sociedade em geral. Daí se extrai a relevância social de proteção ao direito de sub-rogação do segurador. Ineficácia do termo de renúncia firmado pelo proprietário do bem segurado Ao disciplinar a sub-rogação no art. 786, o Código Civil previu, de forma expressa e inequívoca, a ineficácia, perante o segurador, de atos de disposição praticados pelo segurado juntamente ao autor do dano. Veja:

Art. 786 (...) § 2º É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os direitos a que se refere este artigo.

Desse modo, eventual termo de renúncia ou quitação outorgado pelo segurado ao terceiro causador do dano não impede o exercício do direito de regresso pelo segurador. O legislador buscou proteger o direito do segurador de ser ressarcido da quantia que gastou para indenizar o segurado. Assim, se o segurado optou por acionar o seguro, cobrando a garantia contratada, não lhe cabe firmar com o causador do dano qualquer tipo de transação que possa importar na extinção ou diminuição do direito

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de regresso do segurador. Se o fizer, o ato será absolutamente ineficaz em relação ao segurador, como peremptoriamente determina o art. 786, § 2º, do CC.

No exemplo dado, o acordo celebrado entre João e Carla é válido e eficaz entre eles (contratantes). No entanto, não se pode admitir que os efeitos dessa avença sejam estendidos ao segurador que, além de não ter participado do ajuste, possui, por força de lei, o direito de ser reembolsado de todos os valores gastos com o reparo do bem sinistrado.

Normas de caráter público Dada a importância social do contrato de seguro, as normas insertas no art. 786, caput e § 2º, do Código Civil, ao assegurarem a sub-rogação do segurador nos direitos que competirem ao segurado contra o autor do dano, independentemente da vontade daquele, revestem-se de caráter público, não havendo como um ato negocial do segurado excluir a prerrogativa outorgada por lei ao segurador.

Em suma, a regra é a seguinte: Mesmo que o segurado tenha outorgado termo de quitação ou renúncia ao causador do sinistro, o segurador terá direito de ser ressarcido, em ação regressiva contra o autor do dano, pelas despesas que efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado.

Situação excepcional de má-fé do segurado e boa-fé do autor do dano A regra foi acima exposta. No entanto, a prática demonstra que pode acontecer uma situação na qual se revela a má-fé do segurado e a boa-fé do autor do dano. Imagine o seguinte: Pedro, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo na traseira do carro de João, que não revela que tem seguro. Pedro assume para João que realmente foi culpado do acidente e que irá pagar o conserto. No dia seguinte, João mostra um orçamento da oficina e Pedro lhe entrega o dinheiro. Em contrapartida, João assinou uma declaração dando quitação integral. Ocorre que João, de má-fé, aciona o seguro pedindo o conserto do carro, o que é feito. Em seguida, a seguradora ajuíza ação regressiva contra Pedro cobrando a quantia gasta para consertar o carro do segurado. Nessa hipótese específica e excepcional, o STJ entende que o terceiro (em nosso exemplo, Pedro), ao ser demandado na ação regressiva, poderá se eximir do ressarcimento das despesas com o bem sinistrado, bastando que, nos termos do art. 373, II, do CPC, prove que já realizou a reparação completa dos prejuízos causados, apresentando o recibo assinado pelo segurado ou eventuais documentos que comprovem o custeio das despesas. Neste caso, o juiz deverá julgar improcedente o pedido regressivo formulado, restando à seguradora a alternativa de demandar contra o próprio segurado, por locupletamento ilícito, tendo em vista que, em evidente ato de má-fé contratual, requereu, indevidamente, a cobertura securitária mesmo já tendo sido indenizado diretamente pelo autor do dano. Protege-se aqui o terceiro de boa-fé, que pagou indenização ao segurado na justa expectativa de que estivesse reparando, por completo, os danos que causou com seu ato.

Conclusão Em regra, mesmo que o proprietário do veículo segurado tenha dado termo de quitação ou renúncia ao causador do sinistro, a seguradora continuará tendo direito de ajuizar ação regressiva contra o autor do dano e de ser ressarcida pelas despesas que efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado. Exceção: a seguradora não terá direito de regresso contra o autor do dano caso este demonstre que indenizou realmente o segurado pelos prejuízos sofridos, na justa expectativa de que estivesse quitando, integralmente, os danos provocados por sua conduta. Neste caso, protege-se o terceiro de boa-fé e a seguradora poderá cobrar do segurado com base na proibição do enriquecimento ilícito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.533.886-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

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ARBITRAGEM Competência para declarar nulidade de cláusula de compromisso arbitral

Importante!!!

O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que essa questão tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro?

Regra: Não. Segundo o art. 8º, parágrafo único da Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de judicializar a questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve formular esse pedido ao próprio árbitro.

Exceção: compromissos arbitrais patológicos. O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a nulidade dessa cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é resolvido por um terceiro. Regulamentação

A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei n. 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema. Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... - uma cláusula prevista no contrato, - de forma prévia e abstrata, - por meio da qual as partes estipulam que - qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato - será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). Exemplo: "Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de Arbitragem)."

A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei n. 9.307/96:

Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: “X” e “Y” celebram um contrato e estipulam, no pacto, uma cláusula compromissória, ou seja, uma previsão contratual na qual as partes dizem que qualquer conflito futuro relacionado com o ajuste será resolvido por meio de arbitragem. Após um tempo, “X” e “Y” começam a discordar quanto ao cumprimento do contrato. “X” ajuíza ação anulatória na vara cível da Justiça Estadual, alegando que essa cláusula arbitral é nula.

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O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que essa questão tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro? REGRA: NÃO. Segundo a Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de judicializar a questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve formular esse pedido ao próprio árbitro, nos termos do art. 8º, parágrafo único:

Art. 8º (...) Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.

Assim, por expressa previsão legal, não pode a parte ajuizar ação anulatória para desconstituir acordo com base na nulidade da cláusula compromissória ali presente antes de submeter o assunto ao árbitro. Luiz Antônio Scavone Júnior explica esse art. 8º, parágrafo único: “O significado do dispositivo, portanto, indica que qualquer alegação de nulidade do contrato ou da cláusula arbitral, diante de sua existência e seguindo o espírito da lei, deve ser dirimida pela arbitragem e não pelo Poder Judiciário. A lei pretendeu, neste sentido, "fechar uma brecha" que permitiria às partes, sempre que alegassem a nulidade da cláusula arbitral ou do contrato, ignorar o pacto de arbitragem e acessar o Poder Judiciário para dirimir o conflito. Em resumo, ainda que o conflito verse sobre a nulidade do próprio contrato ou da cláusula arbitral, a controvérsia deverá ser decidida inicialmente pela arbitragem e não pelo Poder Judiciário, (...)” (Manual de Arbitragem. 4ª ed. São Paulo: RT, 2010, p. 87). Isso é conhecido como aplicação do princípio da kompetenz-kompetenz (competência-competência) considerando que compete ao próprio árbitro dizer se ele é ou não competente para conhecer aquele conflito. Assim, se a parte está alegando que a cláusula compromissória é nula e que a questão não deve ser submetida à arbitragem, quem primeiro deverá examinar a questão é o próprio árbitro. Veja as palavras da Ministra Nancy Andrighi sobre o tema: "A kompetenz-kompetenz (competência-competência) é um dos princípios basilares da arbitragem, que confere ao árbitro o poder de decidir sobre a sua própria competência, sendo condenável qualquer tentativa, das partes ou do juiz estatal, no sentido de alterar essa realidade. Em outras palavras, no embate com as autoridades judiciais, deterá o árbitro preferência na análise da questão, sendo dele o benefício da dúvida. Dessa forma, a resolução de questões litigiosas fica a cargo do árbitro e, para isso, não exige a lei que o ato jurídico seja válido ou imune a nulidades ou causas supervenientes de ineficácia, como se defende na espécie. Ao contrário, a questão litigiosa pode ser justamente a ineficácia do ato jurídico. Nessas circunstâncias, a jurisdição arbitral não se desloca, pois legalmente é o árbitro quem detém competência para dirimir essas matérias assim como para decidir sobre sua própria competência. Essa prioridade não apenas se perfila com os princípios que circundam o instituto da arbitragem e com a sistemática introduzida pela Lei nº 9.703/96, que se censuram atos de protelação ou afastamento do rito arbitral, como também assegura a proposta de tornar o procedimento, uma vez eleito pelas partes, uma alternativa segura e incontornável de resolução de conflitos, limitando a atuação do Poder Judiciário à execução da sentença arbitral." (MC 14.295/SP, DJe 13/06/2008). Vale ressaltar que não haverá prejuízo à parte porque, mesmo se o árbitro considerar que a cláusula é válida (e julgar a arbitragem), essa questão da nulidade poderá ser apreciada pelo Poder Judiciário em momento posterior. Isso porque, para fazer cumprir a sentença arbitral, o credor terá que ajuizar uma execução judicial. Nesse momento, o devedor poderá se defender por meio de embargos à execução

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alegando a nulidade da cláusula arbitral e, consequentemente, da sentença arbitral. Nesse sentido é a jurisprudência do STJ: Segundo a Lei de Arbitragem (art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 9.307/96), se a parte quiser arguir a nulidade da cláusula arbitral, deverá formular esse pedido, em primeiro lugar, ao próprio árbitro, sendo inadmissível que ajuíze diretamente ação anulatória. STJ. 3ª Turma. REsp 1.302.900-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 9/10/2012. As questões relacionadas à existência de cláusula compromissória válida para fundamentar a instauração do Juízo arbitral devem ser resolvidas, com primazia, por ele, e não pelo Poder Judiciário. Nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei de Arbitragem, a alegação de nulidade da cláusula arbitral, bem como do contrato que a contém, deve ser submetida, em primeiro lugar, à decisão do próprio árbitro, sendo prematura a apreciação pelo Poder Judiciário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.696-PI, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/08/2016. EXCEÇÃO: O STJ relativizou esta regra e decidiu que se a nulidade da cláusula compromissória for muito evidente, será possível ao Poder Judiciário declarar a sua invalidade mesmo sem que este pedido tenha sido formulado, em primeiro lugar, ao próprio árbitro. Veja trecho da ementa e fique atento para a expressão "compromisso arbitral patológico", que poderá ser cobrada em sua prova:

O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a nulidade dessa cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). Trata-se de exceção à regra geral de prioridade do Juízo arbitral.

ARBITRAGEM Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia

deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96

Importante!!!

A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato de adesão.

Segundo o art. 4º, § 2º da Lei nº 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente:

• tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou

• concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.

Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96.

Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Veja comentários em Direito Empresarial.

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DIREITO DE VIZINHANÇA Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas

O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, independentemente do consentimento deste, para receber águas provenientes de outro imóvel, desde que não existam outros meios de passagem de águas para a sua propriedade e haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho prejudicado.

Trata-se de direito de vizinhança assegurado pelo art. 1.293 do Código Civil.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.616.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/9/2016 (Info 591).

Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa agropecuária 1 é vizinha da empresa agropecuária 2, cada uma ocupando uma fazenda. Do lado esquerdo da empresa 1 existe um açude (represa) e do lado direito fica a empresa 2. A empresa 2 precisa de água para fazer a irrigação da lavoura de arroz em sua propriedade. Ocorre que o único local com água disponível na região é o referido açude. A empresa 2 entrou em contato com a empresa 1 pedindo para construir um aqueduto que liga a represa até a sua propriedade. Para isso, seria necessário que alguns canos passassem pelo subsolo da empresa 1, sendo, portanto, oferecida uma indenização por conta disso. A empresa 2 não concordou. Diante disso, a empresa 2 ajuizou ação pedindo que a empresa 1 fosse condenada a tolerar a passagem da água por meio de aqueduto, mediante indenização a ser arbitrada pelo juiz. Na petição inicial, a requerente demonstrou que este é o único meio de obter água para a sua propriedade. Veja na imagem abaixo o que a autora pediu na ação:

O pedido da empresa 2 é amparado pelo ordenamento jurídico? SIM. O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, independentemente do consentimento deste, para receber águas provenientes de outro imóvel, desde que não existam outros meios de passagem de águas para a sua propriedade e haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho prejudicado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.616.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/9/2016 (Info 591). Direito de propriedade e sua função social O direito de propriedade, sob a ótica civilista e constitucional moderna, deve atender a sua função social, não consistindo mais, como anteriormente, em um direito absoluto e ilimitado. Assim, o direito de propriedade está limitado por outros direitos de terceiros igualmente protegidos pelo

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ordenamento jurídico. Direitos de vizinhança como limitações aos direitos de propriedade O direito de propriedade pode ser limitado, por exemplo, pelos chamados direitos de vizinhança. Direitos de vizinhança são restrições impostas pela lei ao exercício da propriedade com o objetivo de assegurar uma convivência harmoniosa entre os donos e ocupantes de imóveis vizinhos. Desse modo, o direito de vizinhança é o conjunto de regras que o legislador previu para resolver conflitos entre proprietários de prédios vizinhos, o que se mostra extremamente comum. Vale ressaltar que os direitos de vizinhança não se aplicam apenas para imóveis contíguos, ou seja, que estão lado a lado. Algumas vezes eles poderão incidir para resolver conflitos entre prédios que estão próximos, mas não são colados. Os direitos de vizinhança estão regulamentados pelos arts. 1.277 a 1.313 do Código Civil. Direito de vizinhança é diferente de servidão

DIREITOS DE VIZINHANÇA SERVIDÕES

Surgem da lei (são impostos pela lei). Constituem-se por meio de: a) declaração expressa do proprietário; b) testamento; ou c) usucapião.

Possuem natureza de limitações legais ao exercício do direito de propriedade.

Possuem natureza de direito real sobre coisa alheia.

Não necessitam de um título constitutivo nem precisam ser registrados em cartório.

Só se formam se o título constitutivo (acordo) for registrado no Registro de Imóveis.

As limitações são impostas reciprocamente, ou seja, tanto um vizinho como o outro deverão respeitar os direitos de vizinhança.

Existe um prédio dominante e um serviente. Apenas o dono do prédio dominante tira utilidade do prédio serviente.

Têm por objetivo evitar um dano ao proprietário do prédio prejudicado. A utilização de parte da propriedade alheia é essencial para que o titular do prédio vizinho possa aproveitar o seu imóvel.

Não há uma necessidade imperativa. inafastável, essencial. As servidões têm por objetivo conceder uma maior facilidade (utilidade) ao prédio dominante.

Direito à água O direito às águas e a seu curso e transporte é matéria de inegável importância para a sobrevivência das pessoas, dos animais e também para a indústria, especialmente a agrícola. Pensando nisso, o Código Civil trouxe um artigo tratando sobre o assunto e que ampara a pretensão da empresa autora. Confira:

Art. 1.293. É permitido a quem quer que seja, mediante prévia indenização aos proprietários prejudicados, construir canais, através de prédios alheios, para receber as águas a que tenha direito, indispensáveis às primeiras necessidades da vida, e, desde que não cause prejuízo considerável à agricultura e à indústria, bem como para o escoamento de águas supérfluas ou acumuladas, ou a drenagem de terrenos. § 1º Ao proprietário prejudicado, em tal caso, também assiste direito a ressarcimento pelos danos que de futuro lhe advenham da infiltração ou irrupção das águas, bem como da deterioração das obras destinadas a canalizá-las. § 2º O proprietário prejudicado poderá exigir que seja subterrânea a canalização que atravessa áreas edificadas, pátios, hortas, jardins ou quintais. § 3º O aqueduto será construído de maneira que cause o menor prejuízo aos proprietários dos imóveis vizinhos, e a expensas do seu dono, a quem incumbem também as despesas de conservação.

Desse modo, o direito à água, sob a ótica do Direito Civil, é um direito de vizinhança. A legislação garante aos proprietários de imóveis que não sejam abastecidos por água o direito ao aproveitamento dessa riqueza natural, nas condições do artigo acima transcrito.

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Nesse sentido é a interpretação da doutrina: “(...) a passagem por terreno alheio do aqueduto é permitida pela lei e independe do consentimento do vizinho; trata-se de imposição legal que atende ao interesse social e na qual só se especifica uma indenização para evitar que seja sacrificada a propriedade individual.” (WALD, Arnoldo. Direito das Coisas. 9ª ed. São Paulo: RT, 1993, p. 165). A obrigatoriedade da sujeição ao direito do vizinho às águas é também ressaltada pelo art. 1.294 do CC, que prevê a aplicação ao aqueduto das regras da passagem de cabos e tubulações, a qual é obrigatória, conforme as regras dos arts. 1.286 e 1.287 do CC. Este deverá ser o único meio de obter água Para que seja garantido o direito previsto no art. 1.293 do CC, é fundamental que o titular do imóvel não tenha outro meio de acesso às águas. Se houver outra forma viável, não deve ser reconhecido este direito de vizinhança, pois, neste caso, a passagem do aqueduto seria uma mera "utilidade". Vimos acima nas distinções entre direito de vizinhança e servidão, que se a situação representar mera utilidade, estaremos diante de servidão, o que exigiria o consentimento do titular do prédio serviente, nos termos do art. 1.378 do CC. No exemplo dado, a construção do aqueduto atravessando o imóvel da ré era o único meio pelo qual a primeira empresa poderia ter acesso à água, o qual é imprescindível para a irrigação do plantio de arroz. Diante disso, constata-se que, de fato, trata-se de direito de vizinhança, inerente à propriedade de imóveis vizinhos, cuja única exigência para exercício é o pagamento de prévia indenização.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CONCEITO DE CONSUMIDOR É inaplicável o CDC ao contrato de franquia

A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas previstas no CDC.

A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado.

O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Contrato de franquia A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes termos:

Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.

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O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa do Consumidor? O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em relação ao franqueador? NÃO. A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas previstas no CDC. A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

PROTEÇÃO CONTRATUAL É válido o desconto de pontualidade presente em contratos de serviços educacionais

Importante!!!

O denominado "desconto de pontualidade", concedido pela instituição de ensino aos alunos que efetuarem o pagamento das mensalidades até a data do vencimento ajustada, não configura prática comercial abusiva.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.814-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/10/2016 (Info 591).

Obs: sobre este tema, importante reler o REsp 832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/8/2015 (Info 572) que traz um entendimento ligeiramente diferente em determinado aspecto.

Imagine a seguinte situação hipotética: Centro Educacional "Bom Saber" é uma escola de ensino fundamental e médio. O valor da mensalidade é R$ 1.000,00. No entanto, para quem paga até a data do vencimento, a instituição confere um desconto e a prestação cai para R$ 900,00. E se a pessoa pagar depois da data do vencimento, ou seja, com atraso? Neste caso, haverá multa moratória de 2% sobre o valor "cheio" da mensalidade, ou seja, multa de 2% de 1.000 = R$ 20,00. Recapitulando: Valor da mensalidade = 1.000 Valor se pagar até a data do vencimento = 900 Valor se pagar depois da data do vencimento 1.020 (mais juros). ACP proposta pelo MP O Ministério Público ajuizou ação civil pública contra o colégio afirmando que este "desconto de pontualidade" concedido, na verdade, seria uma multa camuflada. O raciocínio do MP foi o seguinte: o valor "real" da mensalidade é R$ 900. Se a pessoa se atrasa, ela pagará R$ 1.020, ou seja, uma "multa disfarçada" de R$ 120,00, que equivale a 13,33% de 900. Logo, para o Parquet, a intenção da escola é cobrar uma mensalidade de R$ 900,00 e uma multa de 13,33%. Esta conduta seria, portanto, ilegal considerando que seria uma forma de burlar a proibição contida no § 1º do art. 52 do CDC, que afirma que a multa não poderá ser superior a 2%:

Art. 52 (...) § 1º - As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação .

A tese defendida pelo MP foi acolhida pelo STJ? O chamado "desconto de pontualidade" deve ser

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considerado uma prática abusiva? NÃO. O denominado "desconto de pontualidade", concedido pela instituição de ensino aos alunos que efetuarem o pagamento das mensalidades até a data do vencimento ajustada, não configura prática comercial abusiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.814-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/10/2016 (Info 591). O "desconto de pontualidade", também chamado de "abono de pontualidade" possui uma característica em comum com a multa moratória: ambos têm por objetivo reforçar na parte contratante a vontade de cumprir a sua obrigação, ou seja, de pagar a mensalidade em dia. No entanto, apesar de terem este ponto de semelhança, não se pode dizer que o desconto de pontualidade seja uma multa disfarçada. A multa contratual tem um caráter coercitivo e punitivo. O desconto de pontualidade, por outro lado, possui natureza de prêmio, incentivando o contratante a realizar um comportamento positivo ("sanção premial"). É absolutamente possível a coexistência de sanções negativas e de sanções positivas em um contrato. Não há e nem poderia haver proibição nesse sentido, na medida em que tais disposições incitam justamente o cumprimento voluntário das obrigações contratuais assumidas. Para o STJ, a tese defendida pelo MP, além de desconsiderar as cláusulas que foram estipuladas pelas partes contratantes, propõe que o Estado, no âmbito de uma relação privada, estipule o "preço ideal" pelos serviços prestados pela instituição de ensino, como se possível fosse mensurar todas as variáveis mercadológicas que o empresário/fornecedor leva em conta para definir o preço de seus serviços, em indevida intervenção no domínio econômico. Além disso, o procedimento adotado pela escola, ao invés de representar onerosidade excessiva, consiste, na verdade, em benefício ao consumidor. A previsão do desconto de pontualidade estimula o cumprimento da obrigação avençada, o que vai ao encontro dos interesses de ambas as partes contratantes. De um lado, representa uma vantagem econômica ao consumidor que efetiva o pagamento tempestivamente (colocando-o em situação de destaque em relação ao consumidor que paga com atraso) e, em relação à instituição de ensino, propicia um adiantamento do valor a ser recebido. Proibir o "desconto de pontualidade" contribuiria para que houvesse uma elevação do preço das mensalidades escolares, considerando que aumentaria o risco de inadimplência das instituições de ensino. JULGADO DA 4ª TURMA UM POUCO DIFERENTE ENVOLVENDO CONTRATO DE LOCAÇÃO

Sobre o tema "desconto de pontualidade", penso que é preciso relembrarmos um julgado do STJ de 2015 envolvendo contrato de locação. Explicarei abaixo. Imagine a seguinte situação hipotética: João é inquilino (locatário) de um apartamento pertencente a Pedro (locador). No contrato está previsto que o valor do aluguel é de R$ 1.200, mas se houver pagamento até o dia do vencimento, haverá um abatimento (desconto) e o valor é reduzido para R$ 1.000. A isso se chama de "bônus de pontualidade" ou "desconto de bonificação ". No contrato também é prevista multa de 10% em caso de atraso. Esse desconto de bonificação é válido?

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SIM. Nos termos do art. 17 da Lei nº 8.245/91, as partes têm liberdade para convencionar o aluguel, prevalecendo o que elas contrataram, de acordo com seus interesses e necessidades, sendo vedada, apenas, a estipulação em moeda estrangeira e a vinculação à variação cambial ou ao salário mínimo. Desse modo, o desconto para pagamento pontual do aluguel (abono de pontualidade) é, em princípio, liberalidade do locador, em obediência ao princípio da livre contratação, representando um incentivo concedido ao locatário, caso venha a pagar o aluguel em data convencionada. Referido bônus tem, portanto, o objetivo de induzir o locatário a cumprir corretamente sua obrigação de maneira antecipada. João atrasou o pagamento. Surgiu, então, uma dúvida: o valor de 10% da multa deverá incidir sobre o valor cheio (R$ 1.200) ou sobre o valor com desconto (R$ 1.000)? Sobre o valor com desconto. Na hipótese em que, na data de vencimento, o valor do aluguel seja cobrado com incidência de desconto de bonificação, a multa prevista para o caso de atraso no pagamento deverá incidir sobre o valor do aluguel com o referido desconto. STJ. 4ª Turma. REsp 832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/8/2015 (Info 572). A incidência da multa sobre o valor cheio somente seria permitida se o valor do desconto fosse para pagamentos em data anterior à do vencimento. Ex.: o vencimento é dia 05; para quem paga até o dia 05, o valor é R$ 2.000; no entanto, para quem paga até o dia 01, há um desconto e o aluguel será de R$ 1.700; a multa, contudo, somente incide se a pessoa pagar depois do dia 05 (data do vencimento); neste exemplo, o valor da multa poderia incidir sobre o valor cheio (R$ 2.000), isso porque aqui teríamos realmente um desconto para pagamentos antes do vencimento. Se, contudo, o desconto é para pagamentos dentro do vencimento, na verdade, o valor com desconto é o preço real do aluguel e, sobre ele é que deve incidir a multa. Desse modo, muito cuidado no momento da prova para ver como a questão será cobrada. Isso porque, neste novo julgado (REsp 1.424.814-SP), o STJ não mais exigiu que o desconto fosse apenas para quem pagou antes da data do vencimento. Mesmo quem pagar no dia do vencimento, terá direito ao abono, que continua sendo válido.

PRÁTICA ABUSIVA Instituição não pode negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular

porque ele tem outros débitos anteriores relativos a outro curso

Importante!!!

Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em vestibular em razão de inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado por ele na mesma instituição.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.583.798-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2016 (Info 591).

Imagine a seguinte situação hipotética: João era aluno do curso de Administração de Empresas da faculdade privada "Étude". Depois de estudar dois anos, ele começou a ter dificuldades financeiras para pagar o curso e o abandonou, ficando, contudo, com um débito de 4 mensalidades. Alguns meses depois, fez novo vestibular para a mesma faculdade e foi aprovado para o curso de Direito. Ao tentar fazer a sua matrícula, esta foi recusada pela instituição sob o argumento de que há um débito pendente do curso anterior e que precisa ser pago antes da inscrição no novo curso. Diante disso, João impetrou mandado de segurança contra o dirigente da faculdade particular afirmando

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que a presente recusa violou o Código de Defesa do Consumidor. Cabe mandado de segurança neste caso? De quem será a competência para julgar? Cabe mandado de segurança porque a conduta do dirigente de faculdade particular que indefere matrícula para curso superior é considerada como ato de autoridade, já que ele atua no exercício de função pública delegada da União (STJ. 2ª Turma. REsp 725.955/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 08/05/2007). A competência é da Justiça Federal neste caso, conforme se percebe pelo quadro-abaixo que resume a problemática segundo o entendimento do STJ:

Instituição de ensino superior FEDERAL

Instituição de ensino superior ESTADUAL/MUNICIPAL

Instituição de ensino superior PARTICULAR

MS ou outras ações: Justiça Federal.

MS ou outras ações: Justiça Estadual.

MS: Justiça Federal. Outras ações: Justiça Estadual.

(...) A competência para o julgamento de causas relativas a instituição de ensino superior particular, nos casos que versem sobre questões privadas relacionadas ao contrato de prestação de serviços firmado entre a instituição de ensino superior e o aluno (por exemplo, inadimplemento de mensalidade, cobrança de taxas, matrícula), em se tratando de ação diversa à do mandado de segurança, é, via de regra, da Justiça comum, não havendo interesse da União no feito, o que afasta a sua legitimidade para figurar na ação. (...) STJ. 2ª Turma. REsp 1295790/PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 06/11/2012.

O CDC pode ser aplicado na relação jurídica mantida entre aluno e instituição de ensino superior? SIM. O contrato de prestação de serviços educacionais está sujeito às disposições contidas no Código de Defesa do Consumidor - CDC. A prestação de serviços educacionais caracteriza-se como relação de consumo. O estudante é um consumidor de serviços educacionais. STJ. 3ª Turma. REsp 1155866/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/02/2015. Falando de forma abstrata, sem analisar ainda o caso concreto, é possível que a instituição de ensino particular se recuse a renovar a matrícula do aluno inadimplente? Ex: Pedro está devendo 4 mensalidades; a faculdade pode se recusar a matriculá-lo no período seguinte caso ele não pague? SIM. O tema é tratado pelos arts. 5º e 6º da Lei nº 9.870/99 e as regras podem ser assim resumidas:

Os alunos já matriculados possuem, em regra, direito à renovação das matrículas, observado o calendário escolar da instituição, o regimento da escola e as cláusulas contratuais;

Os alunos que estejam inadimplentes há mais de 90 dias estão sujeitos a sanções legais e administrativas e podem ser desligados.

Contudo, esse desligamento por inadimplência somente pode ocorrer ao final do ano letivo ou, no caso de ensino superior, ao final do semestre letivo quando a instituição adotar o regime didático semestral.

Assim, o aluno inadimplente não pode ser desligado durante o período de aulas.

Se a inadimplência for maior que 90 dias, a instituição tem o direito de se recusar a renovar sua matrícula para o semestre ou ano seguinte.

O que a instituição financeira não pode fazer com o aluno inadimplente:

proibir que ele faça provas;

reter seus documentos escolares;

aplicar quaisquer outras penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento.

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Os estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior deverão expedir, a qualquer tempo, os documentos de transferência de seus alunos, independentemente de sua adimplência ou da adoção de procedimentos legais de cobranças judiciais (art. 6º, § 2º da Lei nº 9.870/99).

Veja julgado do STJ sobre o tema:

4. O aluno, ao matricular-se em instituição de ensino privado, firma contrato oneroso, pelo qual se obriga ao pagamento das mensalidades como contraprestação ao serviço recebido. 5. O atraso no pagamento não autoriza aplicarem-se ao aluno sanções que se consubstanciem em descumprimento do contrato por parte da entidade de ensino (art. 5º da Lei 9.870/99), mas a entidade está autorizada a não renovar a matrícula se o atraso é superior a noventa dias, mesmo que seja de uma mensalidade apenas. (...) STJ. 2ª Turma. REsp 725.955/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 08/05/2007.

Voltando ao exemplo hipotético dado no início. A instituição agiu corretamente ao negar a matrícula de João no curso de Direito considerando que sua inadimplência quanto às mensalidades do curso de Administração era superior a 90 dias? NÃO. Neste exemplo, não se está falando em renovação de matrícula, mas sim na constituição de uma nova relação jurídica, ainda que na mesma instituição de ensino. Logo, não se aplicam os arts. 5º e 6º da Lei nº 9.870/99, uma vez que tais dispositivos tratam apenas de renovação de matrícula, ou seja, do caso da pessoa que já está no curso, deixa de pagar e, por isso, pode ser impedida de renovar sua matrícula para o semestre seguinte. Não se mostra razoável que se faça uma interpretação extensiva dos arts. 5º e 6º de modo a prejudicar o consumidor, em especial aquele que almeja a inserção no ambiente acadêmico. Assim, a conduta da instituição de negar a matrícula inicial do aprovado no vestibular porque ele tem outros débitos anteriores, relativos a outro curso, não tem respaldo legal. A eventual cobrança de valores em aberto poderá ser realizada, porém pelos meios legais ordinários, não se admitindo a pretendida negativa de matrícula.

Resumindo: Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em vestibular em razão de inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado por ele na mesma instituição. STJ. 2ª Turma. REsp 1.583.798-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2016 (Info 591).

PROTEÇÃO EM JUÍZO Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten

Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há pelo menos 1 ano.

Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.

Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:

É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.

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STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Vide comentários em Direito Processual Civil.

DIREITO EMPRESARIAL

FRANQUIA Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia

deverá ser observado o art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96

Importante!!!

A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim, é um contrato de adesão.

Segundo o art. 4º, § 2º da Lei nº 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente:

• tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou

• concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.

Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96.

Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

CONTRATO DE FRANQUIA

A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra (franqueado) o direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou serviços, podendo, ainda, haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o franqueado. O contrato de franquia está regido pela Lei nº 8.955/94, que conceitua esse pacto nos seguintes termos:

Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.

O contrato firmado entre o franqueado e o franqueador é regido pelo Código de Defesa do Consumidor? O franqueado poderá invocar o CDC para discutir seus direitos em relação ao franqueador? NÃO. A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas previstas no CDC. A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado. O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os

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comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591). O contrato de franquia é um contrato de adesão? SIM. O contrato de franquia é um contrato de adesão. "Caracterizam-se os contratos de adesão pela desigualdade entre as partes contratantes: basicamente, uma das partes, o policitante, impõe à outra – o oblato – as condições e cláusulas que previamente redigiu. Não existe, assim, discussão a respeito do teor do contrato e suas cláusulas, de modo que o oblato cinge-se a anuir à proposta do policitante. Tais contratos supõem, antes de mais nada, a superioridade econômica de um dos contratantes, que fixa unilateralmente as cláusulas contratuais; o contratante economicamente mais fraco manifesta seu consentimento aceitando, pura e simplesmente, as condições gerais impostas pelo outro contratante; a proposta é, de regra, aberta a quem se interessar pela contratação; e a oferta é predeterminada, uniforme e rígida." (CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. São Paulo: Atlas, 3ª ed., 2009, p. 106) Mas o contrato de franquia não é um contrato de consumo... Não importa. Essa confusão, aliás, é um erro comum em muitos estudantes. Nem todo contrato de adesão é um contrato de consumo e nem todo contrato de consumo é de adesão. São conceitos diferentes. Portanto, o contrato de franquia não é um contrato de consumo, mas, mesmo assim, é um contrato de adesão. CLÁUSULA ARBITRAL NO CONTRATO DE FRANQUIA

Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é resolvido por um terceiro. Regulamentação

A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei n. 9.307/96, havendo também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema. Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória, também chamada de cláusula arbitral, é... - uma cláusula prevista no contrato, - de forma prévia e abstrata, - por meio da qual as partes estipulam que - qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato - será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal). Exemplo: "Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96 e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da Câmara de Arbitragem)."

A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei n. 9.307/96:

Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

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A cláusula compromissória é válida?

REGRA: a cláusula compromissória é VÁLIDA.

Peculiaridade 1: contratos de ADESÃO

Peculiaridade 2: contratos de CONSUMO

Peculiaridade 3: Dissídios individuais de TRABALHO

É válida, desde que o aderente: • tenha tomado a iniciativa de instituir a arbitragem; ou • concorde, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula (art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96).

Não é válida. O CDC estipula que é nula de pleno direito a cláusula que determina a utilização compulsória de arbitragem (art. 51, VII). Vale ressaltar, no entanto, que é possível compromisso arbitral nas relações de consumo (REsp 1.169.841-RJ).

Não é válida arbitragem nos dissídios individuais de trabalho, conforme entendimento pacífico do TST. Obs: é permitida a arbitragem no caso de dissídios coletivos de trabalho (art. 114, § 1º da CF/88).

É possível a previsão de cláusula compromissória em contratos de franquia? O contrato de franquia é uma espécie de contrato de adesão. Assim, só será válida cláusula compromissória em contrato de franquia se o aderente (franqueado):

tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou

concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.

Desse modo, aplica-se ao contrato de franquia a regra prevista no § 2º do art. 4º da Lei n. 9.307/96:

§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.

Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL Vinculação de todos os credores à determinação de plano de recuperação judicial

aprovado por maioria pela assembleia geral de credores

Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente representados pelas respectivas classes - optar, por meio de dispositivo expressamente consignado em plano de recuperação judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e reais existentes em nome dos credores na data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa determinação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591).

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado

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um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. FASES DA RECUPERAÇÃO

De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases: a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial. JUÍZO FALIMENTAR

A Lei nº 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual. PLANO DE RECUPERAÇÃO

Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de recuperação em falência. Este plano deverá conter: discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50); demonstração de sua viabilidade econômica; e laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional

legalmente habilitado ou empresa especializada. Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral de credores. Credores são avisados sobre o plano, podendo apresentar objeções Após o devedor apresentar o plano de recuperação, o juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixando prazo para a manifestação de eventuais objeções. Desse modo, os credores serão chamados a analisar esse plano e, se não concordarem com algo, poderão apresentar objeção. O prazo para os credores apresentarem objeções é de 30 dias. Se não houver objeção dos credores Caso nenhum credor apresente objeção ao plano no prazo fixado, considera-se que houve aprovação tácita. Nessa hipótese, não será necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o plano. Se houver objeção por parte dos credores Havendo objeção de algum credor, o juiz deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela decida sobre o plano de recuperação apresentado. A assembleia-geral, após as discussões e esclarecimentos pertinentes, poderá: a) aprovar o plano sem ressalvas; b) aprovar o plano com alterações; c) não aprovar o plano. Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, § 1º).

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Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação judicial, iniciando-se a fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de recuperação é aprovado pelos credores e apenas homologado pelo juiz. APROVADO O PLANO, OCORRE A NOVAÇÃO DOS CRÉDITOS ANTERIORES AO PEDIDO

A homologação do plano de recuperação judicial autoriza a retirada do nome da empresa recuperanda e dos seus respectivos sócios dos cadastros de inadimplentes, bem como a baixa de eventuais protestos existentes em nome destes? SIM. A Lei de Falências e Recuperação Judicial estabelece que o plano de recuperação judicial acarreta a novação dos créditos anteriores ao pedido:

Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.

Qual é a consequência jurídica de haver a novação dos créditos? A novação ocorre, dentre outras hipóteses, quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior (art. 360, I, do CC). Desse modo, o que o art. 59 está afirmando é que, quando o plano de recuperação judicial é homologado, as dívidas que o devedor (recuperando) possuía com os credores são extintas e substituídas por outras novas obrigações. Como a novação induz a extinção da relação jurídica anterior, substituída por uma nova, não será mais possível falar em inadimplência do devedor com base na dívida extinta (Min. Nancy Andrighi). Diante disso, não se justifica a manutenção do nome da recuperanda ou de seus sócios em cadastros de inadimplentes em virtude da dívida novada. Assim, “a novação extingue a dívida anterior; estando o autor adimplente quanto ao novo débito, é ilícita a inscrição em órgãos de proteção ao crédito fundamentada em inadimplemento de parcela vencida anteriormente à novação” (AgRg no Ag 948.785/RS, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe de 05.08.2008). Essa regra do art. 59 tem como norte a preocupação de recuperar a empresa em dificuldade financeira, atendendo ao chamado “princípio da preservação da empresa”. A novação decorrente da recuperação judicial implica a extinção de garantias que haviam sido prestadas aos credores? NÃO. A novação prevista no Código Civil extingue sim os acessórios e as garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364). No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei nº 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou seja, as garantias são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas “mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).

Novação do CC: em regra, extingue as garantias prestadas.

Novação da recuperação judicial: em regra, não extingue as garantias prestadas. Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral. STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2014 (Info 540). Exemplo:

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A sociedade GW Ltda. emitiu uma nota promissória em favor da empresa X. Gabriel (sócio da GW) figurou como avalista na nota promissória, ou seja, ele ofereceu uma garantia pessoal de pagamento da dívida. Ocorre que a sociedade GW Ltda. requereu recuperação judicial e o plano foi aprovado. A empresa X ajuizou, então, execução de título extrajudicial cobrando de Gabriel o valor da nota promissória vencida. Gabriel defendeu-se alegando que, como foi aprovado o plano de recuperação judicial, houve novação e a execução deveria ser extinta. Este argumento não deverá ser acolhido. A homologação do plano de recuperação judicial da devedora principal não implica a extinção de execução de título extrajudicial ajuizada em face de sócio coobrigado. Conforme já explicado, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas anteriores, as garantias (reais ou fidejussórias), como regra, são preservadas. Logo, o aval (garantia) prestado por Gabriel não foi extinto com a aprovação do plano. Diante disso, o credor poderá exercer seus direitos contra Gabriel (terceiro garantidor), devendo, portanto, ser mantida a execução proposta contra ele. Qual é o fundamento legal para essa conclusão?

O § 1º do art. 49 da Lei n. 11.101/2005:

§ 1º Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso.

O STJ reafirmou esse entendimento em recurso especial repetitivo, fixando a seguinte tese: A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei nº 11.101/2005. STJ. 2ª Seção. REsp 1333349/SP, Rel. Min.Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2014. Na I Jornada de Direito Comercial do CJF/STJ já havia sido aprovado enunciado espelhando a posição:

Enunciado 43: A suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende aos coobrigados do devedor.

O tema foi, inclusive, sumulado: Súmula 581-STJ: A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória. ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES PODERÁ DISPENSAR AS GARANTIAS PRESTADAS

Vimos acima que, na novação da recuperação judicial, em regra, não haverá a extinção das garantias prestadas. Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral. Indaga-se: a Assembleia Geral de Credores poderá dispensar as garantias que haviam sido prestadas por terceiros? SIM. Na deliberação do plano de recuperação os credores negociam com a empresa devedora e decidem a extensão de esforços e renúncias que estão dispostos a suportar, no intento de reduzir os prejuízos que se avizinham. Apesar disso não ser exigido pela lei, os credores poderão decidir dispensar as garantias real e fidejussórias se assim entenderem pertinente.

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Esta decisão da Assembleia vincula também os credores que não estavam presentes? SIM. Essa deliberação atinge a todos os credores, inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo. Todos eles, indistintamente, estarão vinculados a essa determinação. Nesse sentido é também a opinião da doutrina: "Em princípio, todos os credores anteriores ao pedido de recuperação judicial estão sujeitos aos efeitos do plano de recuperação aprovado em juízo. Mesmo os que haviam se oposto ao plano e votado por sua rejeição devem se curvar à decisão judicial respaldada na maioria dos credores. Não tem outra alternativa. Se no plano aprovado em juízo é prevista a substituição de determinada garantia real por outra de menor valor, o credor atingido simplesmente não tem meios para se opor ao mérito dessa medida, por mais que considere seus interesses injustamente sacrificados." (COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de Empresas. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 236) Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente representados pelas respectivas classes - optar, por meio de dispositivo expressamente consignado em plano de recuperação judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e reais existentes em nome dos credores na data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa determinação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591). É possível, em tese, que o Poder Judiciário faça o controle de legalidade do plano de recuperação judicial aprovado pela assembleia geral de credores? SIM. Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário, sem imiscuir-se na análise da viabilidade econômica da empresa em crise, promova controle de legalidade do plano de recuperação judicial. Esse controle de legalidade do plano de recuperação não significa a desconsideração da soberania da assembleia geral de credores. À assembleia geral de credores compete analisar, a um só tempo, a viabilidade econômica da empresa, assim como da consecução da proposta apresentada. Ao Poder Judiciário, por sua vez, incumbe velar pela validade das manifestações expendidas, e, naturalmente, preservar os efeitos legais das normas que se revelarem cogentes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.532.943-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 591).

ECA

INTERNAÇÃO Quando o art. 122, II, do ECA prevê que o adolescente deverá ser internado em caso "reiteração

no cometimento de outras infrações graves" não se exige um número mínimo

O ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar a internação do menor infrator com fulcro no art. 122, II, do ECA (reiteração no cometimento de outras infrações graves).

Logo, cabe ao magistrado analisar as peculiaridades de cada caso e as condições específicas do adolescente a fim de aplicar ou não a internação.

A depender das particularidades e circunstâncias do caso concreto, pode ser aplicada, com fundamento no art. 122, II, do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes

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tenha cometido apenas uma outra infração grave.

Está superado o entendimento de que a internação com base nesse dispositivo somente seria permitida com a prática de no mínimo 3 infrações.

STF. 1ª Turma. HC 94447, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 12/04/2011.

STJ. 5ª Turma. HC 332.440/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2015.

STJ. 6ª Turma. HC 347.434-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 27/9/2016 (Info 591).

Quais são as medidas socioeducativas que implicam privação de liberdade? • Semiliberdade; • Internação. Semiliberdade (art. 120 do ECA) Pelo regime da semiliberdade, o adolescente realiza atividades externas durante o dia, sob supervisão de equipe multidisciplinar, e fica recolhido à noite. O regime de semiliberdade pode ser determinado como medida inicial imposta pelo juiz ao adolescente infrator, ou como forma de transição para o meio aberto (uma espécie de “progressão”). Internação (arts. 121 e 122 do ECA) Por esse regime, o adolescente fica recolhido na unidade de internação. A internação constitui medida privativa da liberdade e se sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Pode ser permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. Se o interno completar 21 anos, deverá ser obrigatoriamente liberado, encerrando o regime de internação. Internação somente nas hipóteses do art. 122 do ECA O juiz somente pode aplicar a medida de internação ao adolescente infrator nas hipóteses taxativamente previstas no art. 122 do ECA, pois a segregação do adolescente é medida de exceção, devendo ser aplicada e mantida somente quando evidenciada sua necessidade, em observância ao espírito do Estatuto, que visa à reintegração do menor à sociedade (STJ HC 213778). Veja a redação do dispositivo:

Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I — tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II — por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III — por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

“Reiteração no cometimento de outras infrações graves” Ao se interpretar essa expressão, foi construída a tese de que, para se enquadrar na hipótese do inciso II do art. 122, o adolescente deveria ter cometido, no mínimo, três infrações graves. Assim, somente no terceiro ato infracional grave (após ter praticado outros dois anteriores) é que o adolescente receberia a medida de internação. A jurisprudência acolhe esse critério? NÃO. Tanto o STF como o STJ entendem que, para se configurar a “reiteração na prática de atos infracionais graves” (art. 122, II) não se exige a prática de, no mínimo, três infrações dessa natureza. Não

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existe fundamento legal para essa exigência. A exigência de no mínimo três infrações foi adotada durante muitos anos pela jurisprudência como forma de “abrandar” a aplicação do ECA, mas esse entendimento está atualmente superado. Em suma, o que vigora atualmente: O ECA não estipulou um número mínimo de atos infracionais graves para justificar a internação do menor infrator com fulcro no art. 122, II, do ECA (reiteração no cometimento de outras infrações graves). Logo, cabe ao magistrado analisar as peculiaridades de cada caso e as condições específicas do adolescente a fim de aplicar ou não a internação. A depender das particularidades e circunstâncias do caso concreto, pode ser aplicada, com fundamento no art. 122, II, do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes tenha cometido apenas uma outra infração grave. Está superado o entendimento de que a internação com base nesse dispositivo somente seria permitida com a prática de no mínimo 3 infrações. STJ. 5ª Turma. HC 332.440/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2015. STJ. 6ª Turma. HC 347.434-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 27/9/2016 (Info 591).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AGRAVO DE INSTRUMENTO É possível que as peças do agravo de instrumento sejam entregues em DVD

Importante!!!

As peças que devem formar o instrumento do agravo podem ser apresentadas em mídia digital (DVD).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.608.298-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016 (Info 591).

O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem, ou seja, é encaminhado diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo. Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de alimentos provisórios no valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a fixação dos alimentos provisórios. “A” interpõe agravo de instrumento contra a decisão do juiz de 1ª instância (juízo a quo) diretamente no Tribunal de Justiça (juízo ad quem).

O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser formado um “instrumento”, ou seja, um conjunto de documentos para que o Tribunal analise se as razões invocadas pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque o processo continua tramitando no juízo a quo e, para o juízo ad quem examinar as razões do recurso, será necessário que ele tenha cópias de alguns documentos presentes naqueles autos originários.

Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários documentos dos autos, juntá-los à petição e protocolá-los, como agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.

E quais são estes documentos? Estão previstos no art. 525 do CPC 1973 (art. 1.017 do CPC 2015). Fique atento para as partes em cinza porque são novidades:

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CPC 1973 CPC 2015

Art. 525. A petição de agravo de instrumento será instruída: I — obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; II — facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis.

Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída: I — obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; II — com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; III — facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.

O que acontece caso a parte agravante não junte algum dos documentos considerados obrigatórios? Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, o relator deverá, antes de considerar inadmissível o recurso, conceder o prazo de 5 dias ao agravante para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível (art. 1.017, § 3º do CPC/2015). Caso, mesmo intimado, o agravante não junte o documento faltante ou corrija o vício, aí sim deverá o relator julgar inadmissível o agravo de instrumento manejado. Imagine que o processo é físico (em papel). Mesmo assim, poderá o agravante juntar esses documentos acima listados em formato digital, ou seja, escaneados e salvos em um DVD? SIM. As peças que devem formar o instrumento do agravo podem ser apresentadas em mídia digital (DVD). STJ. 2ª Turma. REsp 1.608.298-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016 (Info 591). O art. 425, VI, do CPC/2015 prevê a validade das reproduções digitalizadas:

Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais: (...) VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento público ou particular, quando juntadas aos autos pelos órgãos da justiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pela Defensoria Pública e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por advogados, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulteração.

Além disso, o CPC não exige que o agravante junte as peças originais. Desse modo, se ele apresentar as peças em formato eletrônico (mídia contendo imagens) acompanhada da declaração de autenticidade pelo advogado, tal apresentação deverá ser considerada válida, salvo se a parte adversária demonstrar que sejam inautênticas.

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EMBARGOS DE TERCEIRO Desconstituída penhora indevida, em regra, não haverá condenação do embargado em

honorários se o imóvel ainda estava no nome do antigo proprietário

Importante!!!

Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição judicial, os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da causalidade, responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não atualizou os dados cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela parte embargada, porém, na hipótese em que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem, apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para terceiro.

Ex: Pedro adquiriu uma casa por meio de contrato de promessa de compra e venda. Ocorre que não foi até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do título. O antigo proprietário do imóvel estava sendo executado e o credor, após consulta no cartório, indicou a referida casa para ser penhorada, o que foi aceito pelo juiz. Pedro foi informado da penhora e apresentou embargos de terceiro na execução provando que o referido imóvel foi por ele adquirido. O juiz acolheu os embargos e determinou o levantamento da penhora. A parte embargada não se opôs a isso. Na sentença dos embargos, o juiz deverá condenar Pedro a pagar honorários advocatícios em favor da parte embargada.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.452.840-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 591)

Imagine a seguinte situação hipotética: João era proprietário de um imóvel e fez uma promessa de compra e venda com Pedro. Por meio do contrato, João (promitente vendedor) comprometeu-se a vender a Pedro uma casa, localizada na Rua 02, nº 13, Centro. Em contrapartida, Pedro (promitente comprador) obrigou-se a pagar o valor do imóvel em 24 parcelas. O contrato previa que, após os pagamentos, Pedro deveria fazer a transferência do bem no Registro de Imóveis para seu nome, havendo, inclusive, uma procuração outorgada por João conferindo tais poderes. Pedro pagou todas as 24 parcelas e continuou morando na casa por ele adquirida. Ocorre que acabou esquecendo de ir até o Registro de Imóveis para providenciar a transcrição do título. Na linguagem popular, ele não foi até o cartório passar a casa para o seu nome. Execução contra o antigo proprietário João, antigo proprietário da casa, possuía débitos com a União e estava sendo executado. No processo de execução, João foi citado, mas não pagou a dívida. A Fazenda Nacional consultou, então, os cartórios em busca de bens em nome do devedor. O Registro de Imóveis informou à União que há uma casa localizada na Rua 02, nº 13, Centro registrada em nome de João. A exequente requereu, então, a penhora da casa para pagamento da dívida, o que foi deferido pelo magistrado. Embargos de terceiro Pedro, que mora na casa, foi informado da penhora e procurou um advogado. Este apresentou embargos de terceiro na execução provando que o referido imóvel foi adquirido por meio de um contrato de promessa de compra e venda e que, inclusive, todas as parcelas já foram pagas. Sobre o tema, vale a pena lembrar o seguinte enunciado: Súmula 84-STJ: É admissível a oposição de Embargos de Terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de

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imóveis, ainda que desprovido do registro. Vale ressaltar que os órgãos da advocacia pública federal não oferecem impugnação nem recorrem em tais casos, desde que não caracterizada a má-fé dos contratantes e o intuito de fraude à execução (IN AGU 05/2007). O juiz acolheu os embargos e determinou o levantamento da penhora incidente sobre a casa. No entanto, condenou Pedro a pagar honorários advocatícios em favor da União (embargada). A União concordou com a sentença e não recorreu. Pedro, por outro lado, apresentou recurso afirmando que, se os embargos foram julgados procedentes, ficando provado que ele estava certo, é a União quem deverá pagar os honorários advocatícios em favor dele. A sentença do magistrado foi correta? Afinal de contas, quem deverá pagar os honorários advocatícios neste caso? SIM. A sentença foi correta e quem deverá pagar os honorários é o embargante Pedro (atual proprietário). Princípio da causalidade O pagamento dos honorários advocatícios baseia-se no princípio da causalidade, ou seja, esta verba deverá ser paga por aquele que deu causa à propositura da ação. Assim, a sucumbência, para fins de arbitramento dos honorários advocatícios, tem por norte a aplicação do princípio da causalidade. No caso dos embargos de terceiro existe inclusive um enunciado que espelha este entendimento:

Súmula 303-STJ: Em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios.

Normalmente, constata-se que o sucumbente (quem perdeu) foi o responsável pela propositura da ação. Em outras palavras, como a parte perdeu, em regra, entende-se que foi ela quem deu causa ao ajuizamento da demanda. O pensamento é o seguinte: se não fosse ela, a ação não teria que ter existido; foi ela quem criou o "problema". Por essa razão, em regra, o sucumbente é condenado a pagar os honorários advocatícios. A isso chamamos de princípio da sucumbência (quem perdeu, paga). Assim, em geral, os princípios da sucumbência e da causalidade caminham juntos. Diz-se, inclusive que o princípio da sucumbência é uma forma de se cumprir o princípio da causalidade. Dito de outro modo: em geral, quem perdeu (princípio da sucumbência) é quem deu causa à demanda (princípio da causalidade). Algumas vezes, no entanto, pode-se constatar que a responsável pela existência da causa foi a parte vencedora. A parte venceu a demanda, mas foi uma atitude dela que fez com que o problema tenha surgido. Nestes casos, será o vencedor (e não o sucumbente) quem irá pagar os honorários advocatícios. Dizemos que o princípio da sucumbência cede espaço para o princípio da causalidade. Sobre o tema, veja os seguintes julgados do STJ:

(...) O princípio da causalidade não se contrapõe ao princípio da sucumbência. Antes, é este um dos elementos norteadores daquele, pois, de ordinário, o sucumbente é considerado responsável pela instauração do processo e, assim, condenado nas despesas processuais. O princípio da sucumbência, contudo, cede lugar quando, embora vencedora, a parte deu causa à instauração da lide. Se o credor indicou à penhora imóvel objeto de contrato de compra e venda não registrado, é iniludível que a necessidade do ajuizamento dos embargos de terceiro pelo adquirente é resultado da desídia deste em não promover o registro, providência que a par da publicidade do ato poderia evitar a indesejada constrição patrimonial, haja vista a eficácia erga omnes dos atos submetidos a registro. Assim, face ao princípio da causalidade, cabe ao terceiro-embargante, adquirente do imóvel, arcar com os consectários da sucumbência. STJ. 3ª Turma. REsp 303.597/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2001.

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(...) 1. Em regra, os ônus sucumbenciais devem ser aplicados em conformidade com o princípio da sucumbência. Entende-se, assim, que o sucumbente é considerado responsável pelo ajuizamento da ação, de maneira que deve ser condenado nas despesas processuais. Todavia, há casos em que, embora sucumbente, a parte não deu causa ao ajuizamento da ação, não devendo, por conseguinte, sobre ela recair os ônus da sucumbência. Nessas hipóteses, então, o princípio da sucumbência deve ser aplicado em consonância com o princípio da causalidade, segundo o qual as despesas processuais e honorários advocatícios devem ser suportados por quem deu causa à instauração do processo. 2. Em se tratando de embargos de terceiro, deve o magistrado, na condenação dos ônus sucumbenciais, atentar para os princípios da sucumbência e da causalidade, pois há casos em que o embargante, embora vencedor na ação, é o responsável por seu ajuizamento, devendo sobre ele recair as despesas do processo e os honorários advocatícios. A respeito do tema, a Corte Especial editou a Súmula 303/STJ, consignando que "em embargos de terceiro, quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios". (...) STJ. 1ª Turma. REsp 724.341/MG, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 02/10/2007.

Embargante foi o responsável pelo fato de o bem ter sido penhorado O adquirente, ao não providenciar a transcrição do título na repartição competente, permite que o bem adquirido fique em risco e possa ser submetido à indevida constrição judicial em ações propostas contra o antigo proprietário. As diligências realizadas pelo oficial de Justiça ou pela própria parte credora destinadas à localização de bens, no caso específico de bens sujeitos a registro (imóveis, veículos), são feitas mediante consulta aos Cartórios de Imóveis (Detran, no caso de veículos), razão pela qual é evidente que se tais cadastros estiverem com os nomes dos proprietários desatualizados, fatalmente haverá penhoras indevidas. Isso, não por "culpa" do credor, mas sim do adquirente. Desse modo, em regra, não pode ser responsabilizado pelos honorários advocatícios o credor que indica à penhora imóvel transferido a terceiro mediante compromisso de compra e venda não registrado no Cartório de Imóveis. Com a inércia do comprador em proceder ao registro, não havia como o exequente tomar conhecimento de uma possível transmissão de domínio . Resumindo: Desconstituição de penhora indevida incidente sobre imóvel pertencente a terceiro:

REGRA: não haverá condenação da parte embargada a pagar honorários advocatícios quando verificado que não foi registrada a alteração na titularidade dominial (no cartório ainda consta o antigo proprietário).

EXCEÇÃO: a parte embargada terá que pagar honorários advocatícios se, mesmo ciente de que houve transmissão da propriedade, opuser resistência e defender a manutenção da penhora (foi explicado no processo que houve a transferência e, mesmo assim, a parte credora continua insistindo na penhora).

Tese fixada pelo STJ para fins de recurso repetitivo: Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição judicial, os honorários advocatícios serão arbitrados com base no princípio da causalidade, responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não atualizou os dados cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela parte embargada, porém, na hipótese em que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem, apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para terceiro. STJ. 1ª Seção. REsp 1.452.840-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/9/2016 (recurso repetitivo) (Info 591)

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PROCESSO COLETIVO Cabe ACP com o objetivo de proibir tráfico de veículos pesados no Município

Importante!!!

É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear que Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem em perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.294.451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016 (Info 591).

Imagine a seguinte situação adaptada: O Promotor de Justiça da comarca "X" ajuizou ação civil pública contra o Município pedindo que este seja condenado em duas obrigações de fazer:

impedir que máquinas agrícolas e veículos pesados trafeguem no perímetro urbano; e

tornar transitável o anel viário da região. Anel viário, também chamado de rodoanel, é uma estrada construída no perímetro de grandes cidades ligando importantes vias de circulação de veículos com o objetivo de evitar que o tráfego afete as ruas menores. De acordo com o Ministério Público, o intenso trânsito de caminhões e máquinas agrícolas no perímetro urbano tem causado inúmeros acidentes fatais, além de problemas de saúde decorrentes de poeira e poluição sonora, entre outros. O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito afirmando que a ACP é meio processual inadequado para veicular este tipo de pretensão. Afirmou que o Poder Judiciário não pode ter ingerência sobre questões relacionadas com políticas públicas, uma vez que o Poder Público Municipal tem ampla liberdade para eleger as obras prioritárias de seu governo, sob pena de ofensa à discricionariedade do administrador e ao princípio da separação dos poderes. Segundo a jurisprudência do STJ, a decisão do magistrado foi correta? NÃO. É cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear que Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem em perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região. STJ. 2ª Turma. REsp 1.294.451-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 1/9/2016 (Info 591). Poder Judiciário pode intervir quando a Administração deixa de promover políticas públicas Os Poderes da República são independentes e harmônicos entre si (art. 2º da CF/88). O Poder Executivo tem prioridade na implementação de políticas públicas. No entanto, em termos abstratos, o ordenamento jurídico em vigor permite que o Poder Judiciário seja chamado a intervir em situações nas quais exista uma ação ou uma omissão ilegítima do administrador público. Assim, não é vedado ao Poder Judiciário debater o mérito administrativo. Se a Administração deixar de promover políticas públicas, de proteger hipossuficientes, de garantir o funcionamento dos serviços públicos, haverá vício ou flagrante ilegalidade a justificar a intervenção judicial (STJ. 2ª Turma. REsp 1176552/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/02/2011). ACP é o meio próprio de se buscar a implementação de políticas públicas com relevante repercussão social O STJ tem admitido o debate de políticas públicas no bojo de ações civis públicas propostas pelo MP:

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(...) O Ministério Público detém legitimidade ativa para o ajuizamento de ação civil pública que objetiva a implementação de políticas públicas ou de repercussão social, como o saneamento básico ou a prestação de serviços públicos. (...) STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 50.151/RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 03/10/2013.

No caso dos autos, a relevância social é mais que evidente. Há notícia de que o intenso trânsito dos caminhões e máquinas pesadas no perímetro urbano tem causado acidentes fatais e problemas de saúde aos munícipes. O ordenamento do trânsito de veículos no perímetro das cidades tem importância central nas sociedades modernas e repercute em inúmeros assuntos de interesse público.

Lei prevê a ACP como meio para discutir ordem urbanística O art. 1º, VI e o art. 3º da Lei nº 7.347/85 preveem que a ação civil pública é meio processual adequado para discutir temas relacionados com a ordem urbanística e para a obtenção de provimento jurisdicional condenatório de obrigação de fazer:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (...) VI - à ordem urbanística.

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Existe precedente do STJ afirmando que a ACP é ação adequada para discutir tema relacionado com a segurança no trânsito: STJ. 1ª Turma. REsp 725257/MG, Rel. Min. José Delgado, julgado em 10/04/2007. E quanto ao mérito? A ACP foi julgada procedente? O mérito ainda não foi examinado. O STJ decidiu apenas que a ACP proposta deverá ser conhecida, considerando que se trata de meio processual idôneo para veicular este tipo de pretensão. No mérito, ainda serão discutidas inúmeras outras questões, como por exemplo: saber se o Município dispõe de recursos suficientes para fazer a obra, se há necessidades ainda mais prementes da população, se existem formas alternativas de solucionar o problema etc.

PROCESSO COLETIVO Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações ao consumidor sobre produtos com glúten

Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há pelo menos 1 ano.

Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.

Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:

É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

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Quem são os legitimados para propor ação civil pública? O rol dos legitimados para a ACP está previsto no art. 5º da Lei nº 7.347/85:

Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Requisito da pré-constituição REGRA: como vimos acima, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há pelo menos 1 ano. EXCEÇÃO: este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido (§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada. Imagine agora a seguinte situação: Determinada associação de defesa do consumidor ajuizou ACP contra uma rede de lanchonetes requerendo que ela fosse obrigada a informar, nas embalagens e rótulos de seus produtos, sempre que houvesse a presença de glúten na composição. Isso com o objetivo de garantir a segurança dos portadores da doença celíaca. O juiz extinguiu a ação sem resolução do mérito afirmando que a associação autora não era parte legítima, já que não cumpriu o requisito do art. 5º, V, "a", da Lei nº 7.347/85 (pré-constituição há pelo menos 1 ano). A associação interpôs recurso contra a decisão e o tema chegou até o STJ.

A decisão do juiz foi correta, segundo o STJ? NÃO. O STJ entendeu que o juiz deveria ter dispensado o requisito temporal de 1 ano da associação, considerando que está presente no caso o interesse social evidenciado pela dimensão do dano e pela relevância do bem jurídico tutelado. É fundamental assegurar os direitos de informação e segurança ao consumidor celíaco, que se vê forçado a seguir uma dieta isenta de glúten, sob pena de sofrer graves riscos à saúde. Desse modo, a pretensão veiculada na ACP, em última análise, tem por objetivo a garantia de uma vida digna para esse grupo de pessoas.

Em resumo: É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos. STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Uma última pergunta correlata. Suponha que determinada associação, quando propôs a ACP, não tinha ainda 1 ano de constituição. No entanto, ela completa este tempo no curso do feito, antes que o juiz extinga o processo por ilegitimidade. Neste caso, a falta desse requisito é suprida? O magistrado poderá continuar com o processo? SIM. Em observância aos princípios da economia processual e efetividade da jurisdição, deve ser reconhecida a legitimidade ativa da associação que complete 1 ano de constituição durante o curso do processo (STJ. 3ª Turma. REsp 705.469/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/06/2005).

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DIREITO PENAL

CLONAGEM DE CARTÃO DE CRÉDITO Clonagem de cartão de crédito ou débito antes da entrada em vigor da Lei nº 12.737/2012

Importante!!!

A Lei nº 12.737/2012 acrescentou o parágrafo único ao art. 298 do CP prevendo o seguinte:

Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: (...)

Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito.

Ocorre que mesmo antes da edição da Lei nº 12.737/2012 a jurisprudência do STJ já considerava que cartão bancário poderia se amoldar ao conceito de "documento".

Assim, a inserção do parágrafo único no art. 298 do Código Penal apenas confirmou que cartão de crédito/débito é considerado documento, sendo a Lei nº 12.737/2012 considerada como lei interpretativa exemplificativa.

Logo, ainda que praticada antes da Lei nº 12.737/2012, a conduta de falsificar, no todo ou em parte, cartão de crédito ou débito é considerada como crime de falsificação de documento particular (art. 298 do CP).

STJ. 6ª Turma. REsp 1.578.479-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2/8/2016 (Info 591).

Imagine a seguinte situação hipotética: Em 2011, João falsificou 35 cartões magnéticos de débito de diversas instituições financeiras. Os cartões clonados seriam utilizados para a prática de furtos em contas bancárias. Ele iria utilizar para sacar dinheiro dos clientes do caixa eletrônico. Ocorre que João já estava sendo investigado e a Polícia, cumprindo mandado de busca e apreensão, apreendeu os cartões que estavam na casa do agente. Denúncia Em 2013, o Ministério Público denunciou o agente pela prática do crime previsto no caput do art. 298 do CPC (falsificação de documento particular):

Art. 298. Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

A defesa do réu alegou a seguinte tese: A Lei nº 12.737/2012 incluiu, no art. 298, um parágrafo único, prevendo:

Falsificação de cartão Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito.

Ora, se foi necessário que o legislador alterasse o tipo penal para dizer que cartão de crédito ou de débito é equiparado a documento particular isso significa que, antes da Lei nº 12.737/2012, o cartão de crédito ou de débito não era considerado documento particular. Logo, como a conduta do réu foi praticada em 2011, ou seja, antes da Lei nº 12.737/2012, esta alteração não poderá retroagir para alcançá-la já que se trata de novatio legis in pejus, sendo, portanto, irretroativa.

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Resumindo a tese da defesa: antes da Lei nº 12.737/2012, como não havia o parágrafo único do art. 298 do CP, falsificar cartão de crédito ou de débito não poderia ser tipificado como crime de falsificação de documento público (art. 298). Esta tese foi acolhida pelo STJ? NÃO. O conceito de documento abrange o cartão bancário A Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011) define documento como "unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato" (art. 4º, II). Desse modo, documento consiste no registro de uma informação não importante a natureza do suporte onde isso é feito. Logo, os dados (informações) gravados na tarja magnética de um cartão bancário constituem um documento para fins penais. Por que então houve a alteração legislativa? O "cartão de crédito" não é algo recente. No entanto, de uns anos para cá ele passou a ser utilizado de forma ainda mais acentuada, fazendo também com que surgissem mais crimes envolvendo esta ferramenta econômica. Diante disso, houve a necessidade de se estabelecer uma proteção penal mais significativa para essas relações. Mesmo antes da Lei nº 12.737/2012 STJ já considerava cartão bancário como documento O STJ, mesmo antes da entrada em vigor da Lei nº 12.737/2012, já entendia que o cartão de crédito ou de débito se enquadrava no conceito de documento particular para fins de tipificação da conduta, principalmente porque dele constam dados pessoais do titular e da própria instituição financeira (inclusive na tarja magnética) e que são passíveis de falsificação. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. HC 43.952/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/08/2006. Inclusão do parágrafo único do art. 298 foi apenas para reforçar Assim, a inserção do parágrafo único no art. 298 do Código Penal apenas ratificou e tornou explícito o entendimento jurisprudencial da época, relativamente ao alcance do elemento normativo "documento", clarificando que cartão de crédito/débito é considerado documento. Não houve, portanto, uma ruptura conceitual que justificasse considerar, somente a partir da edição da Lei nº 12.737/2012, cartão de crédito ou de débito como documento. A Lei nº 12.737/2012, neste ponto, foi apenas uma lei interpretativa que veio em apoio à própria jurisprudência já então dominante. Como a jurisprudência era uníssona em reconhecer que cartão bancário era documento para fins do caput do art. 298 do Código Penal, podemos concluir que a Lei nº 12.737/2012 apenas reproduziu, com palavras mais inequívocas, os julgados daquela época, tratando-se, portanto, de lei interpretativa exemplificativa. Resumindo: Mesmo antes da edição da Lei nº 12.737/2012, que acrescentou o parágrafo único ao art. 298 do CP, a jurisprudência do STJ já considerava que cartão bancário poderia se amoldar ao conceito de "documento". Assim, a inserção do parágrafo único no art. 298 do Código Penal apenas confirmou que cartão de crédito/débito é considerado documento, sendo a Lei nº 12.737/2012 considerada como lei interpretativa exemplificativa. Logo, ainda que praticada antes da Lei nº 12.737/2012, a conduta de falsificar, no todo ou em parte, cartão de crédito ou débito é considerada como crime de falsificação de documento particular (art. 298 do CP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.578.479-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2/8/2016 (Info 591).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÃO O advogado suspenso dos quadros da OAB não tem direito a recolhimento em sala de Estado Maior

O advogado só terá direito à prisão em sala de Estado-Maior se estiver no livre exercício da profissão, o que não é o caso se ele estiver suspenso dos quadros da OAB.

Assim, decretada a prisão preventiva de advogado, este não terá direito ao recolhimento provisório em sala de Estado Maior caso sua inscrição na ordem esteja suspensa.

STJ. 6ª Turma. HC 368.393-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/9/2016 (Info 591).

Prisão em sala de Estado-Maior A legislação prevê que os advogados e os integrantes de determinadas carreiras, se forem presos antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, possuem o direito de ficar recolhidos não em uma cela com grades, mas sim em uma sala de Estado-Maior. Veja a redação do art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB):

Art. 7º São direitos do advogado: V — não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar;

Obs.1: a expressão riscada “assim reconhecidas pela OAB” foi declarada inconstitucional pelo STF no

julgamento da ADI n.1.127/DF. Desse modo, não é a OAB quem tem o poder de definir se o local onde foi preso o advogado é ou não compatível com a definição de sala de Estado-Maior. Tal análise é feita pelo juiz/Tribunal que determinou a prisão.

Obs.2: esse direito só é garantido em caso de prisão provisória. Quando houver o trânsito em julgado da condenação, o cumprimento da pena deverá ocorrer em uma unidade prisional comum, como as demais pessoas.

Veja as carreiras que possuem a garantia de prisão em sala de Estado-Maior:

Magistrados LC 35/79

Membros do MP Lei 8.625/93

Membros da Defensoria LC 80/94

Advogados públicos federais 13.327/2016

Advogados Lei 8.906/94

Em que consiste sala de Estado-Maior? Segundo já explicou o ex-Ministro Nelson Jobim, a palavra “Estado-Maior” representa o grupo de Oficiais que assessora o Comandante das Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar. Logo, sala de Estado-Maior é o compartimento localizado na unidade militar que é utilizado por eles para o exercício de suas funções (Voto no HC 81632/SP, DJU em 21/3/2003). Essa mesma conclusão acima exposta é comungada pelo Ministério da Defesa, que afirma que não existe uma definição exata do que seja sala de Estado-Maior. Contudo, “aglutinando os costumes da lide castrense e alicerçado na definição de Estado-Maior, ou seja 'Estado-Maior — Órgão composto de pessoal militar qualificado, que tem por finalidade assessorar o comandante no exercício do comando' — glossário das Forças Armadas MD35-G-01 (4ª Edição/2007), pode-se dizer que 'sala de Estado-Maior' é um compartimento de qualquer unidade militar que possa ser utilizado pelo Estado-Maior para exercer suas funções”.

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Problema: inexistência de sala de Estado-Maior em diversas localidades A prática constata que a grande maioria dos Municípios brasileiros não possui salas de Estado-Maior, considerando que são poucas as localidades onde existem comandos de unidade militar das Forças Armadas. Além disso, nas unidades onde ela existe, normalmente só há uma sala desse tipo, sendo utilizado para os serviços militares. Logo, manter uma pessoa lá presa durante meses inviabilizaria o próprio funcionamento regular das Forças Armadas, que não poderiam utilizar a sala neste período. Diante disso, a jurisprudência conferiu uma interpretação teleológica ao dispositivo e passou a entender que, quando a lei fala que determinada pessoa deve ficar presa em sala de Estado-Maior, isso significa que ela deverá ficar recolhida em um gabinete (escritório), sem celas, sem grades, e que ofereça instalações condignas, com condições adequadas de higiene e segurança. Esse gabinete (sala) pode ser localizado em unidades prisionais ou em batalhões da Polícia Militar. Em outras palavras, os advogados, membros da Magistratura, MP e Defensoria Pública, quando forem presos provisoriamente, não precisam ficar em uma sala dentro do Comando das Forças Armadas, mas devem ser recolhidos em um local equiparado à sala de Estado-Maior, ou seja, em um ambiente separado, sem grades, localizado em unidades prisionais ou em batalhões da Polícia Militar, que tenha instalações e comodidades adequadas à higiene e à segurança do preso. STF. Plenário. Rcl 5826/PR e Rcl 8853/GO, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgados em 18/3/2015 (Info 778). Se o advogado estiver suspenso dos quadros da OAB, mesmo assim ele terá direito de ficar preso em sala de Estado Maior? NÃO. O advogado só faz jus a essa prerrogativa se estiver no livre exercício da profissão, o que não é o caso se ele estiver suspenso dos quadros da OAB. Assim, decretada a prisão preventiva de advogado, este não terá direito recolhimento provisório em sala de Estado Maior caso sua inscrição na ordem esteja suspensa. STJ. 6ª Turma. HC 368.393-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 20/9/2016 (Info 591). Este é também o entendimento do STF:

O Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94), em norma não derrogada pela Lei nº 10.258/2001 (que alterou o art. 295 do CPP), garante, ao Advogado, enquanto não transitar em julgado a sentença penal que o condenou, o direito de "não ser recolhido preso (...), senão em sala de Estado-Maior (...) e, na sua falta, em prisão domiciliar" (art. 7º, inciso V). - Trata-se de prerrogativa de índole profissional - qualificável como direito público subjetivo do Advogado regularmente inscrito na OAB - que não pode ser desrespeitada pelo Poder Público e por seus agentes, muito embora cesse com o trânsito em julgado da condenação penal. Doutrina. Jurisprudência. Essa prerrogativa profissional, contudo, não poderá ser invocada pelo Advogado, se cancelada a sua inscrição (Lei nº 8.906⁄94, art. 11) ou, então, se suspenso, preventivamente, o exercício de sua atividade profissional, por órgão disciplinar competente (Lei nº 8.906/94, art. 70, § 3º). (...) STF. 2ª Turma. HC 88702, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 19/09/2006.

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SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO Não se aplica a Súmula 337 do STJ se a denúncia foi julgada totalmente procedente

e pela pena em concreto um dos delitos foi extinto pela prescrição

O réu foi denunciado pela prática de dois crimes em concurso formal. A sentença condenou o agente pelos dois delitos. Em embargos de declaração foi reconhecida a prescrição da pretensão punitiva, pela pena em concreto, em relação a um dos crimes.

A pena mínima do delito que restou é igual a 1 ano. Mesmo assim, não se poderá conceder suspensão condicional do processo em relação a este crime remanescente.

A súmula 337 do STJ afirma: "É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva."

No caso, no entanto, a denúncia foi julgada totalmente procedente e somente após isso foi reconhecida a prescrição em razão da pena concreta. Assim, não houve procedência PARCIAL da pretensão punitiva, mas sim integral, não sendo caso de incidência da Súmula 337 do STJ.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.500.029-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/9/2016 (Info 591).

NOÇÕES GERAIS SOBRE A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Suspensão condicional do processo é: ­ um instituto despenalizador ­ oferecido pelo MP ou querelante ao acusado ­ que tenha sido denunciado por crime cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano ­ e que não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, ­ desde que presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77

do Código Penal).

Previsão legal A suspensão condicional do processo está prevista no art. 89 da Lei nº 9.099/95. No entanto, vale ressaltar que não se aplica apenas aos processos do juizado especial (infrações de menor potencial ofensivo), mas sim em todos aqueles delitos cuja pena mínima seja igual ou inferior a 1 ano, podendo, portanto, a pena máxima ser superior a 2 anos (ex: descaminho - art. 334 do CP). Período de prova Caso o acusado aceite a proposta, o processo ficará suspenso pelo prazo de 2 a 4 anos (período de prova), desde que ele aceite cumprir determinadas condições impostas pela lei e outras que podem ser fixadas pelo juízo. Período de prova é, portanto, o prazo no qual o processo ficará suspenso, devendo o acusado cumprir as condições impostas neste lapso temporal. O período de prova é estabelecido na proposta de suspensão e varia de 2 até 4 anos. Requisitos Para que seja possível a proposta de suspensão condicional do processo é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos:

o réu deve estar sendo acusado por crime cuja pena mínima é igual ou inferior a 1 ano;

o réu não pode estar sendo processado ou ter sido condenado por outro crime;

devem estar presentes os demais requisitos que autorizam a suspensão condicional da pena, previstos no art. 77 do Código Penal.

Observações quanto ao primeiro requisito:

Neste cálculo da pena, incluem-se eventuais qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de

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diminuição.

Súmula 723-STF: “Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.”

Súmula 243-STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

Aplica-se também nos casos em que a pena cominada for só de multa (STF HC 83.926) e também nas hipóteses em que a pessoa for acusada da prática de contravenção penal.

Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não é possível suspensão condicional do processo mesmo que a pena seja igual ou inferior a 1 ano.

ANÁLISE DA SÚMULA 337 DO STJ

O STJ possui o seguinte enunciado:

Súmula 337-STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.

Vimos acima que só cabe suspensão condicional do processo se o crime pelo qual a pessoa foi acusada possuir pena mínima inferior ou igual a 1 ano. Desclassificação do crime Algumas vezes pode acontecer de a pessoa ser denunciada por um crime que não admite suspensão condicional do processo (pelo fato de a pena mínima ser superior a 1 ano) e, ao final, o juiz percebe que aquela imputação estava incorreta e que o réu praticou crime diferente, cuja pena mínima é igual ou inferior a 1 ano. Ex: o réu foi denunciado por contrabando, crime previsto no art. 334-A do CP. Como a pena mínima do contrabando é de 2 anos, no momento da denúncia não cabia ao MP oferecer suspensão condicional do processo. Houve toda a instrução e, ao final, o juiz constata que a mercadoria importada não era proibida e que, na verdade, o agente poderia tê-la importado, mas desde que pagasse regularmente os impostos devidos, o que não aconteceu. O magistrado conclui, portanto, que a conduta se amolda ao descaminho, delito que permite suspensão condicional do processo porque a pena mínima é de 1 ano (art. 334). Nesta situação, o juiz deverá intimar o MP para, diante da nova classificação jurídica, oferecer ao réu a proposta de suspensão condicional do processo. Repare que como a instrução já acabou, o magistrado poderia, em tese, condenar o réu por descaminho. No entanto, isso não seria justo porque em virtude da imputação equivocada feito pelo MP o acusado ficou privado de aceitar um benefício despenalizador que é, na maioria das vezes, mais benéfico do que ser condenado. Pensando nessa situação, o STJ editou, em 2007, a Súmula 337 afirmando que se houver desclassificação do crime, será cabível a suspensão condicional do processo. Em 2008, o legislador, percebendo que este entendimento jurisprudencial está correto, resolveu alterar o CPP a fim de deixar isso expressamente previsto. Foi, então, incluído o § 1º ao art. 383, com a seguinte redação:

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. § 1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. (Incluído pela Lei nº 11.719/2008).

Procedência parcial da pretensão punitiva Vimos também que, no cálculo da pena mínima inferior ou igual a 1 ano, deverá ser incluído o aumento decorrente de concurso material, formal ou crime continuado. Assim, não caberá suspensão condicional

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do processo se a pessoa cometeu dois ou mais crimes em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, e a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassa o limite de 1 ano (Súmula 243 do STJ). Ex: o MP denuncia o agente pela prática de descaminho (art. 334) em concurso formal com a falsidade ideológica (art. 299). A pena mínima do descaminho e a pena mínima da falsidade ideológica são iguais a 1 ano, quando isoladamente consideradas. No entanto, para fins de suspensão, elas deverão ser contadas aplicando-se a regra do concurso formal (art. 70). Logo, deverá haver aumento de 1/6 até 1/2. Enfim, havendo este aumento, não caberá suspensão porque a pena mínima ultrapassa 1 ano. Pode acontecer, no entanto, de o MP denunciar o réu por dois ou mais crimes supostamente praticados em concurso material, formal ou em continuidade delitiva e, o juiz, ao final da instrução, perceber que este concurso ou continuidade não cabe naquele caso concreto. Desse modo, desaparece o óbice que havia para a concessão da suspensão condicional e o benefício deverá ser oferecido mesmo já estando, em tese, no final do processo. Ex: o MP denuncia o réu pela prática de descaminho (art. 334) em concurso formal com a falsidade ideológica (art. 299). Ao final da instrução, o juiz constata que o documento falso foi utilizado unicamente para praticar o crime de descaminho e que não poderá mais ser empregado em nenhum outro delito (perdeu sua potencialidade lesiva). Neste caso, segundo a jurisprudência, o falso deverá ser absorvido pelo crime-fim (descaminho). Em outras palavras, a acusação quanto à falsidade ideológica deverá ser julgada improcedente, mantendo-se apenas a imputação de descaminho. Mais uma vez, não seria justo condenar direto o réu por descaminho sem lhe oferecer o benefício da suspensão do processo já que ele só não teve direito a essa proposta por causa da imputação do MP que foi excessiva. Pensando nessa situação, o STJ preconiza, na Súmula 337, que, em caso de procedência parcial da pretensão punitiva, será cabível a suspensão condicional do processo.

Veja novamente a redação da Súmula 337 para verificar se compreendeu bem o tema:

Súmula 337-STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.

PRESCRIÇÃO PELA PENA EM CONCRETO E SÚMULA 337

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João foi denunciado pela pratica dos crimes do art. 2º da Lei nº 8.176/91 e do art. 55 da Lei nº 9.605/98, em concurso formal:

Art. 2º Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpacão, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo. Pena: detenção, de um a cinco anos e multa.

Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Repare que a pena mínima dos dois delitos é inferior a 1 ano. No entanto, no momento da denúncia o acusado não teve direito à suspensão condicional do processo porque foi a ele imputado concurso formal de crimes (Súmula 723-STF). Ao final da instrução, o réu foi condenado pela prática dos dois delitos. Ocorre que a defesa percebeu que, pela pena em concreto, houve prescrição do crime do art. 55 da Lei nº 9.605/98. Diante disso, o advogado, por meio de embargos de declaração, requereu que seja declarada extinta a punibilidade pela prescrição em relação ao delito do art. 55 da Lei nº 9.605/98 e, em consequência, como só sobrará o crime do art. 2º da Lei nº 8.176/91, que seja oferecido ao réu o benefício da suspensão

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condicional do processo, aplicando-se a Súmula 337 do STJ. A tese da defesa foi acolhida pelo STJ? NÃO. A declaração de extinção da punibilidade, no caso, deu-se pela pena em concreto. Portanto, foi necessária uma prévia condenação, na qual foi fixada a reprimenda. Somente a partir deste quantum concreto, verificou-se qual seria o prazo prescricional, dentre aqueles inscritos no art. 109 do CP e, uma vez constatado o cumprimento do lapso, declarou-se extinta a punibilidade do crime do art. 55 da Lei nº 9.605/98. Conclui-se, então, que, primeiro, a denúncia foi julgada totalmente procedente e somente após isso foi reconhecida a prescrição em razão da pena concreta. Assim, não houve procedência PARCIAL da pretensão punitiva, mas sim integral, não sendo caso de incidência da Súmula 337 do STJ. Em suma: Após a sentença penal que condenou o agente pela prática de dois crimes em concurso formal, o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva em relação a apenas um dos crimes em razão da pena concreta (art. 109 do CP) não autoriza a suspensão condicional do processo em relação ao crime remanescente. STJ. 6ª Turma. REsp 1.500.029-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/9/2016 (Info 591). O STF também já decidiu nesse sentido:

(...) In casu, o paciente foi condenado à pena de 1 (um) ano e 1 (um) mês de reclusão e 10 (dez) dias-multa pela prática do crime de alteração de aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido (art. 63 da Lei nº 9.605/1998) e à reprimenda de 1 (um) mês e 15 (quinze) dias de detenção pela prático do delito de desobediência (CP, art. 330) pelo juízo a quo, decisão confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Todavia, em sede de embargos de declaração opostos pela defesa, a Corte Regional reconheceu a prescrição da pretensão punitiva em relação ao crime de desobediência, o que não autoriza a suspensão condicional do processo, que ser oportunizada quando do oferecimento da denúncia. Ademais, a prescrição, nestas situações, não se equipara às situações jurídicas que autorizam a sursis processual constantes da Súmula nº 337/STJ (“É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva””). (...) STF. 1ª Turma. RHC 116399, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/06/2013.

COMUTAÇÃO DE PENA Condenado que pratica falta grave nos 12 meses antes da publicação do decreto de indulto

natalino não terá direito ao benefício mesmo que a homologação ocorra após o decreto

O benefício da comutação de penas previsto no Decreto de indulto natalino deve ser negado quando o apenado tiver praticado falta disciplinar de natureza grave nos 12 meses anteriores à publicação do Decreto, mesmo que a respectiva decisão homologatória tenha sido proferida posteriormente.

Assim, não terá direito de comutação de pena, o apenado que praticar falta grave no lapso de 12 meses anteriores à publicação do Decreto Presidencial, desde que homologada a falta, ainda que a decisão seja posterior ao Decreto.

STJ. 3ª Seção. EREsp 1.549.544-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/9/2016 (Info 591).

STF. 2ª Turma. RHC 133443/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04/10/2016 (Info 842).

STF. 2ª Turma. HC 132236/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/8/2016 (Info 837).

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Indulto e comutação de pena O indulto é um benefício concedido por Decreto do Presidente da República por meio do qual os efeitos executórios da condenação são apagados (deixam de existir). Comutação é o mesmo que indulto parcial, ou seja, ocorre quando o Presidente da República, em vez de extinguir os efeitos executórios da condenação, decide apenas diminuir a pena imposta ou substituí-la por outra mais branda. Assim, temos: a) indulto pleno: quando extingue totalmente a pena. b) indulto parcial: quando somente diminui ou substitui a pena. Neste caso, é chamado de comutação. Indulto natalino É bastante comum o Presidente da República editar um decreto, no final de todos os anos, concedendo indulto e comutação de pena. Esse decreto é conhecido como “indulto natalino”. No decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena. Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação adaptada: Em 24/12/2013, foi publicado o Decreto 8.172/2013 concedendo indulto a todos os indivíduos que se enquadravam nas hipóteses ali descritas. No momento em que o Decreto foi publicado, João estava cumprindo pena por ter sido condenado com trânsito em julgado pela prática do crime X. O advogado de João formulou pedido ao juiz das execuções penais para que reconhecesse ter ele direito à comutação de pena. O juiz, contudo, negou o pedido sob o argumento de que João praticou, em 05/11/2013, falta grave, circunstância que impede a concessão do benefício, conforme previsto no art. 5º do Decreto 8.172/2013:

Art. 5º A declaração do indulto e da comutação de penas previstos neste Decreto fica condicionada à inexistência de aplicação de sanção, reconhecida pelo juízo competente, em audiência de justificação, garantido o direito ao contraditório e à ampla defesa, por falta disciplinar de natureza grave, prevista na Lei de Execução Penal, cometida nos doze meses de cumprimento da pena, contados retroativamente à data de publicação deste Decreto.

Desse modo, o art. 5º do Decreto 8.172/2013 (publicado em 24/12/2013) prevê que a pessoa não pode ser beneficiada com o indulto se tiver recebido sanção disciplinar grave no período de 24/12/2013 até 24/12/2012. Argumento da defesa A defesa não concordou com a decisão e argumentou o seguinte: João realmente praticou a falta grave em 05/11/2013. No entanto, esta somente foi homologada em 05/03/2014, ou seja, em data posterior à publicação do Decreto (24/12/2013). Para a defesa, o art. 5º só impede a concessão do indulto/comutação se a homologação judicial da falta grave ocorreu antes da publicação do Decreto 8.172/2013. A tese da defesa é acolhida pela jurisprudência do STF/STJ? NÃO.

O benefício da comutação de penas previsto no Decreto de indulto natalino deve ser negado quando o apenado tiver praticado falta disciplinar de natureza grave nos 12 meses anteriores à publicação do Decreto, mesmo que a respectiva decisão homologatória tenha sido proferida posteriormente. Assim, não terá direito de comutação de pena, o apenado que praticar falta grave no lapso de 12 meses anteriores à publicação do Decreto Presidencial, desde que homologada a falta, ainda que a decisão seja posterior ao Decreto.

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STJ. 3ª Seção. EREsp 1.549.544-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/9/2016 (Info 591). No mesmo sentido: Se o condenado praticou falta grave no período de 12 meses antes da publicação do decreto de indulto natalino, ele não poderá receber o benefício mesmo que a homologação judicial desta sanção disciplinar tenha ocorrido em data posterior à publicação do decreto. STF. 2ª Turma. HC 132236/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/8/2016 (Info 837). Se fosse exigido que a homologação judicial ocorresse antes da publicação do decreto, as faltas graves praticadas próximas ao final do ano acabariam não tendo reflexo sobre o indulto natalino, considerando que não haveria tempo suficiente para apurar o cometimento desta falta grave, conferindo ampla defesa e contraditório. Uma vez que se exige a realização de audiência de justificação, assegurados o contraditório e a ampla defesa, não faz sentido que a homologação judicial deva ocorrer dentro do prazo de 12 meses, sob pena de nem sequer haver tempo hábil para a apuração de eventual falta grave praticada em data próxima à publicação do Decreto.

DIREITO TRIBUTÁRIO

PROCESSO TRIBUTÁRIO O § 2º do art. 12 da Portaria 643/2009 da PGFN é ilegal

Apenas alguns concursos federais!

Independentemente de renegociação das dívidas em que o devedor figure como corresponsável, é possível renegociar, com base no art. 8º da Lei nº 11.755/2008, as dívidas em que ele figure como devedor principal.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.534.487-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 29/8/2016 (Info 591).

Securitização da dívida rural brasileira Na década de 90, muitos produtores rurais obtiveram empréstimos junto a instituições financeiras, em especial o Banco do Brasil. Ocorre que chegou a data do vencimento e a maioria deles não conseguiu pagar as dívidas. Essa situação atingiu seu ápice no ano de 1995 quando o Banco do Brasil apresentou enorme prejuízo decorrente da alta inadimplência dos produtores rurais. Diante deste cenário, a União, preocupada tanto com os prejuízos do banco como com a situação dos produtores rurais, decidiu "comprar" esses créditos do Banco do Brasil, subrogando-se na posição de credor e, em seguida, instituiu um programa de renegociação das dívidas, com parcelamentos, remissões e alongamento dos prazos de pagamento. Essa operação ficou conhecida como securitização da dívida rural brasileira. Neste período inicial do programa, destacam-se três atos normativos:

Lei nº 9.138/95, que autorizou a "equalização dos encargos financeiros" para os créditos rurais.

Resolução nº 2.238/96, do Conselho Monetário Nacional, que regulamentou a formalização das operações de renegociação de crédito rural.

Resolução nº 2.471/98, do CMN: os produtores rurais que aceitassem aderir ao programa de alongamento de suas dívidas deveriam "comprar" (promessa de pagamento) títulos emitidos pelo Tesouro Nacional com valor de face equivalente à sua dívida a ser renegociada e repassá-los aos bancos credores. Dessa forma, o banco ficaria com os títulos do Governo como garantia dos seus

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créditos. Em outras palavras, é como se a União tivesse falado aos bancos: fiquem com estes títulos emitidos pelo Tesouro Nacional como garantia e se os produtores rurais não lhe pagarem, vocês podem cobrar da União os valores nele estampados.

Vale ressaltar também que a União transferiu para si o risco das operações. Assim, os créditos passaram a ser cobrados como dívida pública pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), implicando, em caso de inadimplemento, a inclusão do débito em Dívida Ativa da União . De lá até os dias atuais, houve ainda pelo menos mais umas seis leis e inúmeras resoluções instituindo novas regras de renegociações das dívidas. Quando chegava perto da data do vencimento, o Governo percebia que a inadimplência continuava e concedia novos prazos e condições. Ainda hoje se discute no Congresso Nacional um novo projeto de lei renegociando tais dívidas. Obs: o tema renderia um livro e envolve aspectos não apenas relacionados com o Direito, mas também com economia. Dessa forma, a exposição acima foi extremamente simplória. Tecnicamente, o correto nem seria dizer que a União "comprou" esses créditos. No entanto, como não é necessário aprofundar o assunto porque esta parte inicial não é cobrada em concursos, o que foi exposto é apenas para que você entenda o motivo de estas dívidas terem se transformado em créditos tributários da União. Lei nº 11.775/2008 Disse acima que foram editadas uma série de normas tratando sobre o assunto. Uma delas foi a Lei nº 11.775/2008, que instituiu medidas de estímulo à liquidação ou regularização de dívidas originárias de operações de crédito rural e de crédito fundiário. O art. 8º da Lei nº 11.755/2008 prevê a possibilidade de renegociação de dívidas originárias de operações de crédito rural inscritas em Dívida Ativa da União. Portaria 643/2009 A Procuradoria da Fazenda Nacional editou a Portaria nº 643/2009 para orientar os Procuradores e os devedores sobre como fazer essa renegociação. O § 2º do art. 12 desta Portaria prevê que o devedor só poderá renegociar as dívidas em que ele figure como devedor principal se ele também renegociar as dívidas em que é devedor corresponsável. Veja:

Art. 12. A consolidação dos débitos incluirá todas as inscrições originárias de operações de crédito rural descritas no art. 1º existentes em nome do devedor no mês do pedido de adesão aos benefícios desta Portaria. (...) § 2º Serão incluídos na consolidação tanto os débitos em que o devedor figura como responsável principal quanto aqueles em que figura como co-responsável.

Portaria exigiu mais do que a Lei Ocorre que ao se analisar a redação do art. 8º da Lei percebe-se que não se exigiu que a renegociação de dívida deveria englobar também aquelas em que o devedor figura como corresponsável. Logo, o art. 12, § 2º, da Portaria 643/2009 da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional extrapolou o Poder Regulamentar, ao prever que, na negociação da dívida, deverão constar tanto os débitos em que o devedor figura como responsável principal quanto aqueles em que figura como corresponsável, o que o torna ilegal. Os atos normativos administrativos gerais não podem extrapolar seu poder regulamentar, sob pena de tornarem-se ilegais. Desse modo, o §2º do art. 12 da Portaria 643/2009 da PGFN foi além do delimitado pelo art. 8º da Lei 11.755/2008, ao incluir na consolidação da renegociação os débitos em que o devedor figura como devedor principal e aquele em que figura como corresponsável (avalista).

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PIS/PASEP/COFINS Juiz não pode extinguir execução fiscal de ofício invocando a inconstitucionalidade do art. 3º, § 1°, da Lei nº 9.718/98

A declaração de inconstitucionalidade do art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/1998, pelo STF, não afasta automaticamente a presunção de certeza e de liquidez da CDA, motivo pelo qual é vedado extinguir de ofício, por esse motivo, a Execução Fiscal.

Três razões para isso: 1) existem casos em que a base de cálculo apurada do PIS e da Cofins é composta integralmente por receitas que se enquadram no conceito clássico de faturamento; 2) ainda que haja outras receitas estranhas à atividade operacional da empresa, é possível expurgá-las do título mediante simples cálculos aritméticos; 3) eventual excesso deve ser alegado como matéria de defesa, não cabendo ao juízo da Execução inverter a presunção de certeza, de liquidez e de exigibilidade do título executivo.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.386.229-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 591).

Os chamados PIS e COFINS são duas diferentes “contribuições de seguridade social”. Atualmente, o PIS é chamado de PIS/PASEP. PIS/PASEP O sentido histórico dessas duas siglas é o seguinte:

PIS: Programa de Integração Social.

PASEP: Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público. O PIS e o PASEP foram criados separadamente, mas desde 1976 foram unificados e passaram a ser denominados de PIS/PASEP. COFINS Significa Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social. A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88. Lei nº 9.718/98 A Lei nº 9.718/98 previu o seguinte:

Art. 2º As contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, devidas pelas pessoas jurídicas de direito privado, serão calculadas com base no seu faturamento, observadas a legislação vigente e as alterações introduzidas por esta Lei.

Segundo a Lei, faturamento = receita bruta. Até aí, tudo bem. O problema foi quando o legislador conceituou o que seria receita bruta. Isso estava no § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98. Confira:

§ 1º Entende-se por receita bruta a totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade por ela exercida e a classificação contábil adotada para as receitas. (Atualmente revogado pela Lei nº 11.941/2009)

Inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98 O Fisco fez lançamento e constituiu inúmeros créditos tributários utilizando este fato gerador, conforme a

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definição dada pelo § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98. Ocorre que diversas empresas não se conformaram e questionaram a constitucionalidade desse dispositivo alegando que ele ampliou a base de cálculo do PIS e da COFINS, criando nova fonte de custeio da seguridade, sem lei complementar. O STF concordou com a tese dos contribuintes e decidiu que é inconstitucional a ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. STF. Plenário. RE 585235 QO-RG, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 10/09/2008 (repercussão geral). Extinção de ofício das execuções ficais Havia milhares de execuções fiscais propostas pela União cobrando o PIS e a COFINS com base nos critérios previstos no § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98. Inúmeros juízes federais começaram a extinguir de ofício tais execuções com base na decisão do STF. Alegaram que a certidão de dívida ativa apresenta como fundamento legal o § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98 e, como este foi declarado inconstitucional, esta CDA não possui liquidez, certeza e exigibilidade. O STJ concordou com este procedimento? NÃO. A declaração de inconstitucionalidade do art. 3º, § 1º, da Lei n. 9.718/1998, pelo STF, não afasta automaticamente a presunção de certeza e de liquidez da CDA, motivo pelo qual é vedado extinguir de ofício, por esse motivo, a Execução Fiscal. STJ. 1ª Seção. REsp 1.386.229-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 591). Realmente o conceito de receita bruta dado pelo legislador foi muito elástico e abrangeu quantias que não deveriam ter sido aí incluídas. No entanto, não se pode extinguir todas as execuções fiscais envolvendo PIS e Cofins, mesmo que mencionem o referido § 1º. Foram apontadas três razões para isso: 1) existem casos em que a base de cálculo apurada do PIS e da Cofins é composta integralmente por receitas que se enquadram no conceito clássico de faturamento. Em outras palavras, nem todas as empresas possuíam faturamento que abrangia as verbas incluídas pelo § 1º do art. 3º. Se o faturamento e a receita bruta do contribuinte forem equivalentes - o que ocorre quando o sujeito passivo tributário possui apenas receitas operacionais -, a declaração de inconstitucionalidade não produzirá qualquer efeito prático, nada havendo a retificar na certidão de dívida ativa, devendo a execução prosseguir normalmente. 2) ainda que haja outras receitas estranhas à atividade operacional da empresa, é possível expurgá-las do título mediante simples cálculos aritméticos. Desse modo, não faz sentido extinguir a execução se apenas a parte indevida poderá ser excluída. 3) eventual excesso deve ser alegado como matéria de defesa, não cabendo ao juízo da Execução inverter a presunção de certeza, de liquidez e de exigibilidade do título executivo. Assim, a despeito da inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98, a CDA conserva seus atributos.

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EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (PGE/MS 2014) É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a

renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família. ( ) 2) É impenhorável o único imóvel comercial do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado

unicamente ao pagamento de locação residencial por sua entidade familiar. ( ) 3) O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite previsto

no contrato de seguro. ( ) 4) A despeito de o segurado ter outorgado termo de quitação ou renúncia ao causador do sinistro, o segurador terá

direito a ser ressarcido, em ação regressiva contra o autor do dano, das despesas havidas com o reparo ou substituição do bem sinistrado, salvo se o responsável pelo acidente, de boa-fé, demonstrar que já indenizou o segurado pelos prejuízos sofridos, na justa expectativa de que estivesse quitando, integralmente, os danos provocados por sua conduta. ( )

5) Discorra sobre o princípio da competência-competência na arbitragem e sua relação com o compromisso arbitral "patológico".

6) (PGM São Luís 2016 FCC) Tratando-se do direito de propriedade, de acordo com o Código Civil, as limitações do direito de vizinhança se impõem somente a imóveis contíguos. ( )

7) (Promotor MP/SC 2014) A passagem forçada é direito de vizinhança que não exige registro, enquanto que a servidão é um direito real sobre coisa alheia e tem sua constituição com o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Enquanto a passagem forçada decorre da lei e é uma limitação ao direito de propriedade, a servidão limita o domínio e constitui-se mediante declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e subsequente registro no Cartório de Registro de Imóveis. ( )

8) O proprietário de imóvel não tem direito de construir aqueduto no terreno do seu vizinho, sem o consentimento deste, para receber águas provenientes de outro imóvel, ainda que não existam outros meios de passagem de águas para a sua propriedade. ( )

9) (Juiz TJ/GO 2012 FCC) No contrato de franquia um empresário, denominado franqueador, detentor de marca ou produto, concede, mediante remuneração, o seu uso a outra pessoa, denominada franqueado, que a explorará mediante vínculo empregatício com o franqueador. ( )

10) (Juiz TJDFT 2016 CESPE) Aplicam-se, na relação entre o franqueador e o franqueado, os princípios e as normas protetivas do CDC, sendo, por força da presumida hipossuficiência do consumidor aderente (franqueado), nula a cláusula de eleição de foro, estipulada em favor do franqueador, em contrato de franchising firmado por adesão. ( )

11) Em que consiste o "desconto de pontualidade"? Trata-se de prática comercial abusiva, vedada pelo Código de Defesa do Consumidor?

12) O contrato de prestação de serviços educacionais está sujeito às disposições contidas no Código de Defesa do Consumidor - CDC. ( )

13) Instituição de ensino superior não pode recusar a matrícula de aluno aprovado em vestibular em razão de inadimplência em curso diverso anteriormente frequentado por ele na mesma instituição. ( )

14) Discorra sobre o requisito da pré-constituição para ajuizamento da ação civil pública. 15) (Promotor MP/GO 2014) De acordo com a Lei da Ação Civil Pública, o requisito da pré-constituição das

associações há pelo menos 1 (um) ano para propor ação civil pública, constitui requisito imprescindível, não podendo ser dispensado pelo juiz mesmo diante da relevância do bem jurídico a ser protegido. ( )

16) (Juiz TJ/MS 2015) Quanto à ação civil pública, o requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. ( )

17) É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de glúten em alimentos. ( )

18) (Juiz TJ/PR 2013) Em matéria de proteção contratual, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, é nula de pleno direito a cláusula contratual relativa a fornecimento de produtos e serviços que determine a utilização compulsória de arbitragem. ( )

19) (Juiz TJ/SP 2013) Somente o Poder Judiciário pode decidir acerca da validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória, de sorte que, em caso de tal alegação, o Tribunal Arbitral deve submeter a questão ao juiz togado competente. ( )

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20) Não é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de franquia. ( ) 21) Se, no âmbito de Assembleia Geral de Credores, a maioria deles - devidamente representados pelas respectivas

classes - optar, por meio de dispositivo expressamente consignado em plano de recuperação judicial, pela supressão de todas as garantias fidejussórias e reais existentes em nome dos credores na data da aprovação do plano, todos eles - inclusive os que não compareceram à Assembleia ou os que, ao comparecerem, abstiveram-se ou votaram contrariamente à homologação do acordo - estarão indistintamente vinculados a essa determinação. ( )

22) A depender das particularidades e circunstâncias do caso concreto, pode ser aplicada, com fundamento no art. 122, II, do ECA, medida de internação ao adolescente infrator que antes tenha cometido apenas uma outra infração grave. ( )

23) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) A medida socioeducativa de internação comporta prazo determinado não superior a três anos, devendo o juiz considerar, na sentença, o fato de ter havido, ou não, reiteração no cometimento de infrações graves. ( )

24) (Promotor MP/SP 2012) A medida socioeducativa de internação só poderá ser aplicada quando se tratar de ato infracional cometido por criança ou adolescente, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, por reiteração no cometimento de outras infrações graves e por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. ( )

25) As peças que devem formar o instrumento do agravo podem ser apresentadas em DVD. ( ) 26) (Juiz TJ/SP 2014) Em embargos de terceiro, pouco importa quem deu causa à constrição indevida para fins de

suportar a condenação em honorários advocatícios. ( ) 27) Nos embargos de terceiro cujo pedido foi acolhido para desconstituir a constrição judicial, os honorários

advocatícios serão arbitrados com base no princípio da causalidade, responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este não atualizou os dados cadastrais. Os encargos de sucumbência serão suportados pela parte embargada, porém, na hipótese em que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem, apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter a penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para terceiro. ( )

28) Não é cabível ação civil pública proposta por Ministério Público Estadual para pleitear que Município proíba máquinas agrícolas e veículos pesados de trafegarem em perímetro urbano deste e torne transitável o anel viário da região. ( )

29) Se praticada antes da Lei nº 12.737/2012, a conduta de falsificar, no todo ou em parte, cartão de crédito ou débito não pode ser considerada como crime de falsificação de documento particular (art. 298 do CP). ( )

30) O advogado só terá direito à prisão em sala de Estado-Maior se estiver no livre exercício da profissão, o que não é o caso se ele estiver suspenso dos quadros da OAB. ( )

31) (Juiz Federal TRF4 2012) É incabível a suspensão condicional do processo na hipótese de procedência parcial da pretensão punitiva, tendo em vista que sua admissibilidade regula-se pelo teor da denúncia, tal qual esta é deduzida pelo Ministério Público. ( )

32) (DPE/PR 2014) É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva. ( )

Gabarito

1. C 2. C 3. C 4. C 5. - 6. E 7. C 8. E 9. E 10. E

11.- 12.C 13.C 14.- 15.E 16.C 17.C 18.C 19.E 20.E

21.C 22.C 23.E 24.E 25.C 26.E 27.C 28.E 29.E 30.C

31.E 32.C