inclusÃo escolar e bullying nas escolas: quando a inclusÃo se torna uma exclusÃo
DESCRIPTION
Trabalho que ainda está em andamento realizado pelos alunos do primeiro e segundo ano de Licenciatura em Ed. Especial da Universidade Federal de São Carlos aceito no Quarto Congresso Brasileiro de Ed. Especial.Entre os autores eu estou inseridoTRANSCRIPT
INCLUSÃO ESCOLAR E BULLYING NAS ESCOLAS: QUANDO A
INCLUSÃO SE TORNA UMA EXCLUSÃO1
TIAGO DOS SANTOS MATRICARDI2
DIEGO VIRGILIO DE SOUZA2
LUCAS MALACHIAS2
DANILO GOMES DA SILVA2
IASMIN ZANCHI BOUERI3
Universidade Federal De São Carlos
Eixo temático: 14. Práticas de inclusão escolar
Categoria: Pôster
RESUMO
A violência física sempre foi muito estudada e condenada, pois deixava marcas e cicatrizes visíveis em suas vitimas. Mas atualmente outro tipo de agressão tem feito parte da mídia brasileira, a violência verbal e emocional. Todas elas têm sido estudadas internacionalmente, mas apenas na atualidade que estão sendo observadas pelos pesquisadores brasileiros. A pesquisa tem como proposta discutir no contexto escolar e principalmente nas aulas de educação física o tema bullying, com todos os envolvidos. Para isso utilizaremos um estudo profundo sobre o tema, suas classificações e modos de atuação, como também entrevistas semi-estruturadas e realização de questionários com diferentes participantes (alunos, professores e diretores). Uma análise qualitativa será feita com todo o material coletado. Com isso será concluída a pesquisa e será elaborada uma devolutiva as escolas com sugestões e dicas de como realizar um trabalho coletivo não somente para amenizar e combater o bullying, mas como conscientizar as pessoas a não praticarem este ato de violência muitas vezes velado.
Palavras-chave: Bullying. Violência. Aluno com Necessidades Educacionais Especiais.
1.Este trabalho está sendo desenvolvido na disciplina Processos Investigativos, do curso de
Licenciatura em Educação Especial, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Amélia Almeida e Márcia Duarte, docentes do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos, pela Ms. Iasmin Zanchi Boueri, aluna de doutorado do PPGEES/UFSCar, Carla Airela Rios Vilaronga, pedagoga do curso de Educação Especial e Aline Pillegi, aluna de mestrado do PPGEES/UFSCar. 2 Alunos do primeiro e segundo semestre da graduação de Educação Especial/UFSCAR.
3 Mestre em Educação Especial, aluna de doutorado do PPGEES/UFSCar e monitora da
disciplina.
INTRODUÇÃO
Decidimos enfocar no tema sobre bullying e atividades físicas, depois
que tivemos uma aula introdutória sobre a disciplina de Processos
Investigatórios em Educação Especial: Planejamento de Trabalho Cientifico, \e
fizemos uma discussão sobre temas gerais de interesse para pesquisa
envolvendo os grupos dos graduandos. Na separação dos grupos juntaram-se
pessoas interessadas no mesmo tema.
Os pesquisadores decidiram aprofundar o tema depois de pesquisarem
e lerem reportagens sobre alunos que sofreram bullying, entre portadores ou
não de necessidades especiais. Foram escolhidas as aulas de educação física,
pois quando se trata de inclusão escolar, são estes ambientes os quais o
bullying ocorre com maior freqüência, não apenas por parte dos alunos, mas
também de professores e da diretoria.
Bullying, segundo Oliveira (2007), é um termo em forma de gerúndio
inglês, cujo autor é chamado de Bully, que, em português, muitas vezes é
traduzido como valentão, mas de forma errônea, já que em dicionários ele
significa ―uma pessoa valente, cheia de coragem‖ e, quase nunca, os Bullys
são dotados dessas características, já que praticam um ato covarde contra
outras pessoas.
Rego (2006) reconhece que o tema ainda é pouco abordado
cientificamente e isso deveria mudar, visto o perigo dos efeitos destas práticas
e os altos índices de ocorrência. Segundo ele, em outros países ―(...) um terço
dos alunos já sofreram bullying e um a cada quatro estudantes foram vitimados
por um(a) médico(a), e um a cada seis por um(a) enfermeiro(a)‖. Mostra
também que o bullying é uma prática não vinda só de outros alunos, mas
também dos próprios funcionários da escola (professores, inspetores, etc).
Todos os autores consultados que exploraram este tema concordam que
o bullying deve ser combatido, pois pode causar um mal imenso para as
vítimas e até mesmo para os próprios bullys.
De acordo com o site brasileiro da ABRAPIA (Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência) bullying compreende
Colocar apelidos
Ofender
Zoar
Gozar
Encarnar
Sacanear
Humilhar
todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem
sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s),
causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de
poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de
poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da
vítima.
Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar
todas as situações de Bullying possíveis, o quadro, a seguir na Tabela 1,
relaciona algumas ações que podem estar presentes:
Tabela 1. Descrição das ações que podem estar presentes na prática do Bullying.
Outro ponto que não podemos esquecer é a importância das aulas de
educação física, Rodrigues (2003) diz em seu texto que:
A ‗dispensa‘ das aulas é bem a expressão da dificuldade real que os
professores têm de criar alternativas positivas e motivadoras para alunos
com dificuldades. A dispensa surge, por regra, sem que o professor seja
consultado, sem que sejam estudadas outras hipóteses e […]
freqüentemente com algum alívio do professor que se sente pouco
capaz de dar resposta positiva ao caso, em face dos seus recursos e da
informação e formação de que dispõe. Caberia aqui lembrar que,
quando um aluno tem dificuldades, por exemplo, em Língua Portuguesa,
a solução passa freqüentemente por intensificar as suas oportunidades
AÇÕES QUE PODEM ESTAR PRESENTES NA PRÁTICA DO Bullying
Colocar apelidos Fazer Sofrer Agredir Ofender Discriminar Bater Zoar Excluir Chutar Gozar Isolar Empurrar Encarnar Ignorar Ferir Sacanear Intimidar Roubar Humilhar Perseguir Quebrar Pertences Assediar Amedrontar Dominar Aterrorizar Tiranizar
de aprendizagem; porém, por mais dificuldades que evidencie, ele não
pode ser dispensado desta disciplina. Em se tratando de educação
física, por outro lado, se evidenciar dificuldades, ele pode ser
dispensado. Isto é, sem dúvida, menosprezo pela educação física.
Assim podemos concluir que nossa pesquisa tem como meta principal
colaborar para a divulgação do tema bullying, e pensar em alternativas para
educar as gerações futuras, pois desta forma poderemos garantir uma
educação de qualidade e com um comportamento adequado perante o
contexto escolar e toda a sociedade.
OBJETIVO
Verificar, por meio de relatos de professores, diretores e alunos, quais as
estratégias utilizadas para prevenção do bullying, seus efeitos e conseqüências
no meio escolar de crianças com necessidades educacionais especiais em
atividades escolares que envolvam a aula de educação física
MÉTODO
Após um período de estudo e pesquisa bibliográfica nossa pesquisa pretende
utilizar o método qualitativo, com entrevistas e questionários a professores,
diretores e alunos. Assim poderemos compreender modos de como esta
prática de bullying ocorre e alguns modos de como ela pode ser combatida.
Participantes: Estão sendo participantes deste estudo seis professores de
educação fundamental (1ª a 5ª ano) da rede publica que tenham em sua sala
alunos com necessidades educacionais especiais e que lecionem aulas de
educação física. Um diretor de uma escola municipal que tenha alunos com
necessidades educacionais especiais incluídos nas salas de aula regulares.
Seis alunos com necessidades educacionais especiais e 12 alunos com
desenvolvimento típico.
Local: está sendo efetuada em uma escola municipal da cidade de São Carlos
– SP, com ensino fundamental (1ª a 5ª ano).
Materiais e equipamentos: estão sendo utilizados: papéis, canetas,
computador, impressora, cartuchos de tinta, mp3 com gravador de voz e meios
de locomoção.
Instrumentos: Serão utilizados três instrumentos, sendo um roteiro de
entrevista semi-estruturada para professores; um roteiro de entrevista semi-
estruturada para diretor e; um questionário com alunos. O roteiro de entrevista
para professores terá como objetivo pesquisar e discutir sobre o tema e tentar
encontrar modos de combater tais abusos. O roteiro de entrevista com
diretores terá como objetivo ver e analisar como a escola está se programando
sobre o assunto e tentar encontrar modos de combater o bullying. O
questionário com alunos foi retirado do site da instituição KIDSCAPE e tem
como objetivo estudar casos de bullying entre alunos com necessidades
educacionais especiais ou desenvolvimento típico na sala comum e nas aulas
de atividades físicas.
Procedimentos éticos: foi solicitada a para realização da pesquisa a secretaria
de educação do município e foi preenchido o protocolo para submissão ao
Comitê de Ética com Pesquisa em Seres Humanos da UFSCar. Após
aprovação, os participantes foram convidados a participar da pesquisa e
assinaram o Termo de Consentimento Livre esclarecido.
Procedimento de coleta de dados: os pesquisadores visitaram a escola e
convidaram os participantes a participarem da pesquisa, foram entregues os
termos de consentimento livre e esclarecido e assim que assinados serão
iniciadas a realização das entrevistas e dos questionários.
Com as crianças pretende-se reunir materiais para pesquisa utilizando o
questionário da KIDSCAPE (Organização premiada, conhecida por seu
trabalho em manter as crianças seguras, foi criada em 1985 pelo psicólogo
infantil Michele Elliott) entregues para alunos de ensino fundamental de escolas
da rede pública, após serem devolvidas as autorizações dos pais declarando
que seu filho pode participar do estudo. O questionário possui questões sobre
praticantes e vitimas dessa violência. Como não são todos os alunos com esta
idade que ainda sabem ler aplicaremos o questionário com os integrantes do
grupo interpretando as perguntas aos entrevistados, por ser um questionário
simples e com perguntas de múltipla escolha o fato de serem lidas as questões
não causará interferência na resposta do aluno.
Com os professores e diretor será desenvolvida uma entrevista sem que
os mesmos saibam o tema principal da pesquisa, assim poderemos analisar se
todos estão atualizados sobre o assunto e se possuem conhecimento sobre a
terminologia do bullying. Serão utilizadas perguntas sobre o funcionamento da
escola e quais os métodos utilizados por eles em relação à agressividade,
xingamentos e perseguições entre alunos. Será questionado quais as praticas
da diretoria da escola frente a estes casos e como os atos dos adultos perante
as crianças podem influenciar tais abusos
A pesquisa focará preferencialmente pessoas com necessidades
educacionais especiais que geralmente, além de sofrerem atos de bullying, são
excluídas das aulas de educação física.
Procedimento de análise de dados: Para a organização e descrição dos dados
do presente projeto será utilizada análise quantitativa e qualitativa.
―Os dados obtidos durante a consulta de fonte documental e a realização
das entrevistas serão analisados continuamente, de modo não linear,
mas constante, procurando identificar dimensões, categorias,
tendências, padrões, relações, desvendando-lhe o significado‖. (ALVES-
MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998).
Estes dados serão organizados em categorias de análises que serão
descritas posteriormente a leitura completa do material coletado. Até o
momento foram criadas as seguintes categorias: identificação e freqüência de
casos de bullying; práticas e estratégias da escola para lidar com bullying no
meio educacional; como a família do agressor lida com a escola. Em seguida
será verificada a ocorrência de tais categorias nas entrevistas de todos os
participantes, procurando catalogar freqüência e ocorrência do bullying.
Após a checagem de todas as entrevistas será realizada uma reflexão
que poderá ser feita sobre os efeitos do bullying. Os pesquisadores realizarão
uma palestra com objetivo de auxiliar os professores na elaboração de
estratégias para prevenção e formas de lidar com o bullying.
RESULTADOS ESPERADOS
A pesquisa encontra-se no início de sua coleta de dados, os
pesquisadores tiveram a oportunidade de visitar uma escola municipal e
realizar algumas entrevistas. Foram agendadas visitas a instituição e horário
para realizar as entrevistas com uma professora de educação física e a
diretora. De acordo com as categorias de análise foram encontrados os
seguintes resultados preliminares:
Identificação e freqüência de casos de bullying
Por meio do relato dos participantes, ao nos remetermos ao tópico
identificação e freqüência de casos de agressões física e moral, pode-se
observar que tais atos são freqüentes e geralmente ocorrem no momento do
intervalo e entrada dos alunos; pois nesse espaço busca o respeito do grupo.
Segundo a professora, há diversos casos de bullying incluindo alguns
que ela já presenciou, como no relato de um dos participantes “Xingamentos,
ofensas em ultimo caso violência física” (sic). A diretora em seus relatos
também presenciou alguns casos; agressões, xingamentos entre crianças são
os mais comuns.
De acordo com as entrevistas identificamos que tanto nos relatos da
professora e da diretora que a ocorrência da violência parte em maior
freqüência com meninos e aqueles que são agredidos são de ambos os sexos.
Quando nos referimos aos alunos com necessidades educacionais
especiais os resultados não são diferentes, pois em ambas as entrevistas
observamos que raramente acontece, mas citando o trecho da professora
―Houve um caso com uma aluna portadora de síndrome de down, que sofria
bullying por parte dos colegas da sua sala de origem, a mesma não queria
mais entrar na sala, mas o quadro foi revertido colocando-a em outra sala,
onde as crianças a respeitavam não por ser deficiente, mas por ser capaz de
se desenvolver também.‖
Práticas e estratégias da escola para lidar com bullying no meio educacional
Nos dados obtidos foi verificado que a diretora e a professora relataram
que todos os casos de violência física e moral são encaminhados para a
direção. Com relação a violência moral primeiro busca-se resolver com
diálogos. No entanto os números de violência física são muito mais freqüentes
na diretoria e por ser mais aparente e expressar o dia-a-dia em que vivem.
A professora em sua entrevista diz que as medidas a serem tomadas
primeiramente por ela antes do encaminhamento a diretoria são ―profundo
dialogo com o agressor, vitima, e com familiares de ambos.‖ E as medidas
tomadas posteriormente pela escola são de acordo com o relato de uma das
participantes que ―a escola busca trazer a família a frente do problema, para
que todos possam se responsabilizar pela educação de seus filhos, pois a
orientação cabe a família, mas muitas vezes são delegadas somente a
escola.‖. Já nos relatos da diretora podemos afirmar que as medidas tomadas
pela escola são as mesmas descritas pela professora.
Ambas afirmam durante a entrevista que as estratégias de prevenção
adotadas para evitar a violência escolar são a utilização de palestras com o
conselho tutelar, através de artigos e matérias especificas do meio escolar,
assim trabalhando com os alunos cartazes e discussões sobre o tema.
Segundo a diretora os acontecimentos de violência dentro de sua escola
diminuíram consideravelmente, mas só podemos dizer isso por causa do
trabalho realizado pela mesma e a ajuda financeira e estrutural, assim
possibilitando uma maior aproximação da comunidade junto ao corpo docente,
e hoje a diretora relata que os alunos conseguem participar de eventos
organizadamente e têm uma rotina de sala.
Como a família do agressor lida com a escola
As frases que são comumente utilizadas são ―Não sei mais o que fazer
com este menino... não passo com a vida dele‖ (sic) ou então ―pode mandar
para o conselho tutelar” (sic) outros chegaram para as professoras e disseram
que a mesma podia bater, beliscar, colocar de castigo caso precisassem
quando aprontam.
Com relação a este fato os participantes relataram conversar com as
famílias e verificar alternativas de instruir estes familiares, o que muitas vezes
acaba sendo difícil tarefa.
Como uma breve consideração final, pois pretendemos dar continuidade
a coleta dos dados para que desta forma seja possível investigar as causas
destes fatos junto aos professores e diretores e também conversar com os
próprios alunos para certificarmos sua posição frente a situação enfrentada.
Faz-se importante destacar que este projeto pretende levantar a
problemática de estudo e verificar quais as práticas podem ser adotadas por
profissionais que desenvolvam atividades em ambientes escolares para que
seja possível diminuir a ocorrência do bullying nas escolas e proporcionar um
ambiente escolar mais saudável e menos excludente aos alunos.
REFERÊNCIAS
CONSTANTINI, Alessandro. Bullying: como combatê-lo? Prevenir e
enfrentar a violência entre os jovens. Trad. Eugenio Vinci de Morais. São
Paulo: Editora Itália Nova, 2004. 224 p.
FANTE, C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e
educar. 2ª edição Editora. Campinas-SP: Verus 2005. 224 p.
NJAINE, K.; MINAYO, M. C. S. Violência na escola: identificando pistas para a
prevenção. Revista Interface: Comunicação, Saúde, Educação, v.7, n.13,
p.119-134, 2003.
REICHEL, S. Violência institucionalizada. In: RIO GRANDE DO SUL
(GOVERNO). Assembléia Legislativa. Comissão de Cidadania e Direitos
Humanos. Violência doméstica. Rio Grande do Sul, s.d. p.8-22.
NOGUEIRA, P. L. Estatuto da criança e do adolescente comentado: Lei 8.069
de 13 de julho de 1990. São Paulo: Saraiva, 1998.
OLWEUS, D. Modelo do programa de combate ao Bullying do Profº Dan
Olweus.
Disponível em:
http://modelprograms.samhsa.gov/pdfs/FactSheets/Olweus%20Bully.pdf.
Acessado em: 09 de Abril 2010.
THOMÉ, C. Estudo mostra efeitos de humilhação de jovens. Jornal Folha de
São Paulo, 2004.
TAYLOR, Maurren. Bullying e o Desrespeito. São Paulo. Artmed. 2006.
Kidscape. You can beat bullying — A guide for young people, 2005.
www.kidscape.org.uk/assets/downloads/ksbeatbullying.pdf. Acessado em: 02
de julho de 2010.