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IRENE VICENTE DE ARRUDA INCLUSÃO DE ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS EM ESCOLAS REGULARES: SENTIDOS PRODUZIDOS POR PROFESSORAS DE ESCOLAS REGULAR E ESPECIAL Mestrado em Psicologia Educacional Centro Universitário FIEO UNIFIEO São Paulo 2014

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IRENE VICENTE DE ARRUDA

INCLUSÃO DE ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS EM ESCOLAS

REGULARES: SENTIDOS PRODUZIDOS POR PROFESSORAS DE

ESCOLAS REGULAR E ESPECIAL

Mestrado em Psicologia Educacional

Centro Universitário FIEO – UNIFIEO

São Paulo

2014

IRENE VICENTE DE ARRUDA

INCLUSÃO DE ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS EM ESCOLAS

REGULARES: SENTIDOS PRODUZIDOS POR PROFESSORAS DAS

ESCOLAS REGULAR E ESPECIAL

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca

Examinadora do Curso de Pós-Graduação em

Psicologia Educacional, do Centro Universitário

Fieo, para obtenção do título de mestre em

Psicologia Educacional.

Linha de Pesquisa: Ensino e Aprendizagem no

Contexto Social e Político.

Orientadora: Profa. Dra. Marisa Irene Siqueira

Castanho

Centro Universitário FIEO - UNIFIEO

São Paulo

2014

FICHA CATALOGRÁFICA

ARRUDA, Irene Vicente de. Inclusão de alunos deficientes mentais em escolas

regulares: sentidos produzidos por professoras das escolas regular e especial.

Irene Vicente de Arruda. Osasco. 165 Fls. Dissertação (Mestrado em Psicologia

Educacional) – Curso de Pós Graduação em Psicologia Educacional, Centro

Universitário FIEO, São Paulo.

Palavras – Chaves: Deficiência Mental, Educação Especial, Educação Inclusiva,

Professoras, Sentidos.

IRENE VICENTE DE ARRUDA

INCLUSÃO DE ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS EM ESCOLAS

REGULARES: SENTIDOS PRODUZIDOS POR PROFESSORAS DAS

ESCOLAS REGULAR E ESPECIAL

Aprovado em: 10/04/2014

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________

Profa. Dra. Marisa Irene Siqueira Castanho – UNIFIEO

_________________________________________________

Prof. Dr. José Maria Montiel – UNIFIEO

___________________________________________________

Profa. Dra. Eda Marconi Custodio – Universidade de São Paulo

DEDICATÓRIA

À minha querida avó Joana Luiza de Oliveira

e minha mãe Maria Pereira da Silva que são

exemplos de muita garra e determinação para

minha vida.

AGRADECIMENTOS

. A querida Profa. Dra. Márcia Siqueira Andrade que na entrevista para o ingresso no

Mestrado me disse “o mais difícil você já tem que é saber escrever”, mas quanto

ainda engatinhei para chegar até o final.

. A instigadora Profa. Dra. Marisa Irene Siqueira Castanho pela imensa paciência em

me ouvir, entender, corrigir e redefinir os meus questionamentos.

. A Sras. Diretoras: Iracy Ribeiro da Silva e Vera Cruz que permitiram que minha

pesquisa fosse feita em suas respectivas escolas.

. A minha cunhada Zulmira Aparecida Borges de Arruda que me acompanhou desde

o início e me apoiou sempre.

. As professoras, Juliana, Cristina, Célia Maria, Eliene, Áurea, Lúcia, Gisele,

Josimeire, Aparecida, Vanda Maria, Vera, Francisca, Cláudia, Alice e Cleuza que

aceitaram fazer parte e foram fundamentais para a minha pesquisa.

. E ao meu querido aluno OZIAS, o causador de uma nova produção de sentido e

significação na minha vida profissional na área de educação especial.

RESUMO

ARRUDA, Irene Vicente de.

Inclusão de alunos deficientes mentais em escolas regulares: sentidos produzidos

por professoras das escolas regular e especial. São Paulo, 2014, 165 fls.

Dissertação (Mestrado em Psicologia Educacional) – Curso de Pós Graduação em

Psicologia Educacional. Centro Universitário FIEO. São Paulo.

Esta pesquisa teve por objetivo apreender os sentidos produzidos por professoras

de escolas regular e especial sobre a inclusão de alunos com deficiência mental em

escolas regulares. Optou-se por um processo de análise com base em Franco

(2007), González Rey (2005), Aguiar e Ozella (2006), tendo em vista a

contextualização e as experiências vividas como um dos principais requisitos para

garantir a relevância dos sentidos produzidos por elas e manifestados em suas

expressões verbais. Os dados coletados na aplicação do questionário e posterior

entrevista individual foram analisados e sustentados pelos fundamentos teóricos

metodológicos da perspectiva sócio-histórica. Numa primeira etapa, 15 professoras

participaram respondendo a um questionário que possibilitou traçar um perfil das

participantes quanto a dados pessoais, de formação, de atuação profissional e

sócio-econômicos, bem como sobre questões específicas a respeito da inclusão de

alunos deficientes mentais em escolas regulares. A segunda etapa foi constituída

por entrevistas semiestruturadas individuais, feitas com quatro professoras. As

expressões subjetivas foram organizadas e articuladas às condições contextuais e

históricas das professoras, chegando-se aos núcleos de significação sobre a

inclusão de deficientes mentais em escolas regulares, a partir de relatos pessoais

sobre suas trajetórias de vida e como profissionais da área de deficiência mental.

Concluiu-se que o enfrentamento dessa demanda de inclusão na escola regular é

cercado de dúvidas e receios, sugerindo a necessidade de mudanças desafiadoras

para as professoras (formação, preparo e atitude) e para a escola (recursos

financeiros, humanos e acessibilidade) de maneira a garantir que os direitos

apregoados nas políticas públicas sejam efetivamente concretizados na prática.

Palavras chave: Deficiência Mental, Educação Especial, Educação Inclusiva,

Professoras, Sentidos.

ABSTRACT

ARRUDA, Irene Vicente de.

Inclusion of intellectual disability students in regular schools: senses produced by

teachers of regular and special schools. São Paulo, 2014, 166 pp. Dissertation

(Master's degree in Educational Psychology) – Postgraduate course in Educational

Psychology. Centro Universitário FIEO. São Paulo.

The purpose of this study was to understand the senses produced by regular and

special schools teachers on the inclusion of students with intellectual disability in

regular schools. We opted for a process of analysis based on Franco (2007),

González Rey (2005), Aguiar and Ozella (2006), considering the context and

experiences lived as one of the main requirements to ensure the relevance of the

senses produced by them and which manifest in their verbal expressions. The data

collected in the implementation of the questionnaire and subsequent interview were

unfolded and supported by methodological theoretical foundations of socio historical

perspective. At a first step, fifteen participants responded to a questionnaire

constituted of closed-ended questions on personal data, training, professional

experience and socio economic aspects, besides open-ended questions addressing

the concept of inclusion and compulsory registration of children with special needs in

regular school. The second step consisted of individual semi-structured interviews of

four participant teachers. The subjective expressions were organized and assembled

to the structured contextual and historical conditions of the teachers, reaching the

nuclei of signification which enabled reveling the senses produced from anecdotal

personal reports about their life trajectories and as professionals in the field of

intellectual disability. We conclude that face this demand for inclusion on regular

school is surrounded by doubts and fears, pointing out to a challenging changes for

the teachers (training, preparing and attitudes) and the school (financial and human

resources and accessibility) so the rights proclaimed in public policies are guaranteed

and effectively implemented in practice.

Key-words: Intellectual Disability, Special Education, Inclusive Education, Teachers,

Senses.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Caracterização das professoras da escola regular e especial quanto à

faixa etária ............................................................................................................... 80

Quadro 2 – Caracterização das professoras da escola regular e especial quanto à

graduação ............................................................................................................... 81

Quadro 3 – Caracterização das professoras de escola regular e especial quanto ao

tempo de atuação .................................................................................................... 82

Quadro 4 – Cursos em andamento ......................................................................... 83

Quadro 5 – Interesses por cursos referentes à deficiência mental - DM................. 84

Quadro 6 – Conceito de inclusão por parte das professoras de escola regular e

especial .................................................................................................................... 85

Quadro 7 – Opiniões das professoras sobre como as professoras das escolas

regular e especial a respeito da obrigatoriedade de matrícula do deficiente mental de

sete a 14 anos na escola regular ............................................................................. 87

Quadro 8 – Constatações das professoras de escola regular e especial quanto à

existência ou não da inclusão do deficiente mental de zero a 14 anos na escola

regular ...................................................................................................................... 89

Quadro 9 – Opiniões das professoras de escola regular e especial a respeito da

entrada de alunos deficientes mentais na sua sala de aula .................................... 91

Quadro 10 – Opinião das professoras de escola regular e especial quanto ao

fechamento das escolas especiais........................................................................... 93

Quadro 11 – Opinião das professoras de escola regular e especial quanto à abertura

da Sala de Atendimento Educacional Especializado - SAEE.................................... 95

Quadro 12 - Experiências de inclusão das professoras das escolas regular e

especial..................................................................................................................... 97

Quadro 13 – Organização de pré-indicadores a partir de entrevista – Leda

................................................................................................................................ 103

Quadro 14 – Organização de pré-indicadores a partir de entrevista – Laura

................................................................................................................................ 110

Quadro 15 – Organização de pré-indicadores a partir de entrevista – Mara

................................................................................................................................ 118

Quadro 16 – Organização de pré-indicadores a partir de entrevista – Rosa

................................................................................................................................ 122

QUADRO 17 – Organização e Indicadores a partir dos pré-indicadores

................................................................................................................................. 128

QUADRO 18 - Organização de Núcleos de Significação a partir dos indicadores

................................................................................................................................. 129

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13

2 DEFICIÊNCIA MENTAL ....................................................................................... 19

2.1 BREVE REVISÃO HISTÓRICA E CONCEITUAÇÃO DA DEFICIÊNCIA

MENTAL ..............................................................................................................19

2.2 DIAGNÓSTICO ................................................................................................... 24

2.3 ETIOLOGIA......................................................................................................... 29

2.4 IMPLICAÇÕES PARA AS AÇÕES EDUCACIONAIS......................................... 31

3 EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA.......................................... 38

3.1 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL............................................ 38

3.2 A INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA..... 44

3.3 EDUCAÇÃO ESPECIAL..................................................................................... 51

3.4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA.................................................................................... 63

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................. 77

4.1 CAMPO DA PESQUISA E PARTICIPANTES .................................................. 77

4.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ................. 77

4.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS................................................ 78

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 80

5.1 PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA ................................................................... 80

5.2 SEGUNDA ETAPA DA PESQUISA ..................................................................101

5.2.1 APRESENTAÇÃO DAS PROFESSORAS ENTREVISTADAS ......................101

5.2.2 PROCESSO DE ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ......................................... 102

5.2.2.1 Núcleos de Significação ...........................................................................129

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 151

REFERÊNCIAS....................................................................................................... 157

ANEXO

Anexo 1 – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas do Centro Universitário

FIEO.

13

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho de pesquisa em Psicologia Educacional se propõe a fazer uma

reflexão sobre a inclusão de alunos deficientes mentais em escolas regulares a partir

da visão de professoras de escolas especiais e de escolas regulares tendo como

fundamento teórico o sócio interacionismo proposto por Vygotsky1 e a literatura

referente à história da deficiência mental, da educação especial e da inclusão.

O interesse por este tema partiu de experiência profissional da pesquisadora

na área de deficiência mental e da constatação de dificuldades encontradas por

parte de professoras de escolas especiais, quando tinham que encaminhar alunos

para escolas regulares, em processo de inclusão, bem como as de escolas

regulares, ao receber esses alunos em suas salas de aula.

Essas dificuldades ficaram mais evidentes quando da publicação do Plano

Nacional de Educação – PNE, Lei 10.172/01 (BRASIL, 2001) que estabeleceu as

metas para a educação das pessoas com necessidades educacionais especiais,

dentre as quais se destaca a “garantia de ensino fundamental obrigatório de 9 anos

a todas as crianças de 6 a 14 anos, assegurando o seu ingresso e permanência com

qualidade na escola e a conclusão desse ensino”, à medida que for sendo

universalizado o atendimento na faixa de 7 a 14 anos.

Outro documento importante na direção da inclusão dos alunos deficientes

nas salas regulares foi a publicação da Resolução SE no. 11, de 31 de janeiro de

2008, transformada no Decreto no. 6571 de 17 de setembro de 2008, que veio

dispor sobre o atendimento escolar de alunos que apresentam necessidades

educacionais especiais, que “far-se-á preferencialmente, em classes comuns da

rede regular de ensino, com apoio de serviços especializados organizados na

própria unidade escolar, ou, ainda em centros de apoio regionais” (BRASÍLIA, 2008),

revogado pelo Decreto 7611 de novembro de 2011, que dispõe sobre a educação

especial e o atendimento educacional especializado (BRASILIA, 2011).

1 Independente da forma como os autores pesquisados grafam o nome de Vygotsky, neste trabalho

de pesquisa será utilizada a escrita com dois y.

14

Desde as décadas de 1980 e 1990, o Brasil, baseado em Declarações

Mundiais que tratavam da Educação Especial, como a Declaração Mundial sobre

Educação para Todos (UNESCO, 1990) e a Declaração de Salamanca (BRASIL,

1994), vinha tomando uma série de medidas na direção do desenvolvimento de

políticas sociais, como a necessidade de construção, adaptação e desenvolvimento

de equipe para sala de atendimento adequado à Educação Especial e a preparação

de recursos humanos voltados para promover a integração e a participação do

deficiente, combatendo a exclusão e com isso levando a uma evolução dos seus

direitos.

No Brasil, o atendimento educacional das pessoas com deficiências foi

construído em separado da educação oferecida à população que não apresentava

diferenças ou características explícitas que a caracterizasse como “anormal”. A

Educação Especial foi apresentada como uma modalidade do sistema regular de

ensino, mas que muitas vezes se apresentou sem a interlocução com a educação

comum. Assim, de acordo com Kassar (2000), a educação para as pessoas com

deficiência materializou-se na existência de um sistema educacional paralelo, de

modo que o atendimento de alunos com deficiência ocorreu de modo incisivo em

locais separados dos outros alunos, em lugar de ser concebida de modo a propiciar

ao educando com necessidade especial o direito de acesso à escola pública.

A Declaração Mundial sobre Educação para Todos (UNESCO, 1990) define

em seu artigo 3º, item 5 que “as necessidades de aprendizagem das pessoas

portadoras de deficiências requerem atenção especial, necessitando tomar medidas

que garantam igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer

tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo”. Como exemplo

dessas medidas tomadas no Brasil, temos o Decreto 914/93 – Política Nacional para

a integração das Pessoas Portadoras de Deficiência – que se tornou a Lei 8.742/93

de 07/01/1993 – Lei Orgânica de Assistência Social - LOAS – (BRASIL, 1993), cujo

principal objetivo era a proteção social das camadas menos favorecidas, entre elas o

deficiente mental, partindo do princípio da universalidade do direito e garantias

mínimas, proporcionando um salário mínimo por mês, desde que a família não

tivesse outra fonte de renda. A alteração da lei 8.742/93 pela Lei 12.435 de 6 de

julho de 2011 passou a considerar esse benefício de forma continuada como

Prestação Continuada da Assistência Social – BPF–LOAS (BRASÍLIA, 2011), o que

15

pode ser visto como avanço na garantia de cuidados e assistência às pessoas com

deficiência.

A Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994) reconhece a necessidade da

urgência do providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos com

necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino - inclusão.

Dentro das prerrogativas do documento, a escola deverá ter orientação inclusiva

dentro de uma pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer suas

necessidades especiais, facilitar e encorajar a participação de pais nos processos de

planejamento e tomada de decisão quanto a serviços referentes às necessidades

educacionais especiais, garantir programa de treinamento de professores, tanto em

serviço como durante a formação incluindo a educação especial dentro das escolas

inclusivas.

Portanto, o princípio fundamental da escola inclusiva é que todas as crianças

devem aprender juntas, construindo a solidariedade entre crianças com

necessidades educacionais especiais e seus colegas, independentemente de

quaisquer dificuldades e diferenças que elas possuem. Como decorrência das

prerrogativas a respeito dos direitos garantidos pelos documentos oficiais referentes

à inclusão, algumas questões se tornaram a preocupação central nesta pesquisa:

como as professoras de escolas especiais e regulares se posicionam em relação à

inclusão do aluno deficiente mental? Em decorrência dessa questão, outras duas se

evidenciam. Quais as dificuldades segundo as professoras de escolas especiais e

regulares em relação à inclusão de deficientes mentais em escola regular? Quais os

subsídios necessários para a viabilização da inclusão do deficiente mental em escola

regular, segundo as mesmas professoras?

De acordo com Sanches-Ferreira, Lopes-dos-Santos e Santos (2012, p. 553),

as questões atuais em torno da deficiência, da incapacidade e da funcionalidade

“tornaram-se, nas últimas décadas, importante foco de discussão e de elaboração

conceitual, com a produção de um corpo de saberes que confere legitimidade

científica a uma visão mais positiva e dignificante das condições de deficiência e de

incapacidade”. Assim, hoje está aberto um caminho para modelos mais dinâmicos

na consideração da deficiência mental “como o resultado do desajustamento entre

as funcionalidades do indivíduo e as solicitações dos cenários onde ele é chamado a

participar” (p. 554).

16

Historicamente em todo mundo, o diferente sempre foi colocado à margem

da educação sendo atendido em separado ou simplesmente excluído do processo

educativo. Até a década de 1960, a educação de pessoas com deficiência mental no

Brasil também não fugia do padrão ocorrido no mundo inteiro, a exclusão.

A adoção do conceito de necessidades educacionais especiais baseadas nas

Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica Nacional, por

meio da Resolução CNE/CEB no. 2 de 11 de setembro de 2001 (BRASIL, 2001),

representou um avanço e um marco na perspectiva do ensino quanto à atenção à

diversidade na educação no Brasil, implicando a necessidade de construir

coletivamente as condições para atender os alunos deficientes, dando origem ao

caminho da mudança para a educação ser inclusiva, passando a exigir a

participação de toda a sociedade neste novo momento educacional.

O resultado deste novo momento educacional quanto à inclusão das crianças

com deficiência mental em escola regular, em oposição à prática de exclusão, que

as consideram como incapazes, dá origem a muitas discussões em relação às

políticas inclusivas: ampliando a concepção brasileira a respeito do que se considera

necessidade especial, englobando também pessoas que apresentam deficiências

não relacionadas a causas orgânicas, mas também a aspectos socioculturais;

centrando-se nos eixos da organização sócio-política necessária para viabilizar e

dos direitos individuais do público a que se destina; promovendo a inclusão das

crianças com deficiência mental em escola regular, em oposição à prática de

exclusão, que as considera como incapazes. No entanto, estas discussões exigem

uma mudança de paradigma que causará necessariamente alterações na prática

educativa em todo o sistema educacional, terminando por exigir mudança em toda

comunidade escolar em relação ao deficiente mental.

Um levantamento da literatura a respeito da inclusão escolar possibilitou

encontrar tanto autores favoráveis como autores desfavoráveis à inclusão. Dentre os

favoráveis, Mendes, Almeida e Toyoda (2011), relatam sobre um projeto

desenvolvido no período de 2004 a 2011, cujo objetivo era investigar as

possibilidades do trabalho colaborativo na formação de estudantes de uma

universidade e a formação continuada de professores de crianças com necessidades

educacionais especiais, tendo como resultado que a consultoria colaborativa pode

gerar efeitos importantes, principalmente em relação às mudanças nas práticas de

17

professores de alunos com necessidades educacionais especiais em suas salas de

aula do ensino regular. As autoras concluíram que há necessidade de mudanças

desafiadoras para os professores, de abandono do papel tradicionalmente individual

e do controle absoluto da sala de aula, começando a agir de forma a compartilhar

objetivos, tomadas de decisões, instruções, responsabilidades, avaliação da

aprendizagem, resolução de problemas e tudo o que envolve a administração da

sala de aula.

Dentre os autores desfavoráveis, Zuchetti (2011) apresenta projeto que teve

como objetivo evidenciar questões que emergiam no cotidiano da formação

acadêmica no interior da sala de aula e nos seminários de Práticas do currículo do

curso de Pedagogia, em que a autora ministrava aulas. Os resultados evidenciaram

algumas inquietações: a inclusão voltada somente para os sujeitos com

necessidades educacionais especiais (exclusão dos demais sujeitos); o pouco

conhecimento acadêmico dos professores, com desconhecimento no trato das

questões sobre o aluno especial; a não consideração dos alunos como

colaboradores no processo de ensino aprendizagem; a prática de ensino e

aprendizagem centrada na figura do professor que parecia não estar disposto a

mudar, faltando conhecimento ou não sabendo como proceder para compartilhar a

ação pedagógica com o coletivo da sala; o pouco contato da escola (direção,

coordenação, professores em geral) com os pais; e por último a força da lei

determinando a inclusão na escola, o acesso pela obediência às normas, faltando a

cultura do pertencimento como quesito para uma melhor efetividade social.

Pesquisas como essas confirmam a necessidade de uma mudança da

postura do professor e da escola para trabalhar com mais efetividade com a

educação inclusiva. Assim, o objetivo que se propôs nesta pesquisa foi coletar e

analisar informações fornecidas por professoras de escolas regular e especial, em

relação à proposta da inclusão de alunos deficientes mentais em escolas regulares.

O processo de investigação desenvolveu-se no Município da grande São

Paulo, em escola de Educação Especial e em escola municipal de educação

fundamental, tendo sido entrevistadas nove professoras de uma escola regular e

seis professoras de uma escola especial por meio de um roteiro de entrevista semi-

estruturada, cujos conteúdos eram pertinentes ao tema em estudo e cujas respostas

18

após a análise detectavam a visão das professoras a respeito da inclusão de

deficientes mentais em escolas regulares.

As discussões foram contextualizadas a partir de subsídios teóricos obtidos

por meio de revisão da literatura referente à: Deficiência Mental, História da

Deficiência, Educação Especial e Inclusão. Os estudos realizados por Vygotsky

sobre defectologia (VAN DER VEER e VALSINER, 1985) e sua visão histórico-

cultural sobre o desenvolvimento humano e os processos de mediação social e

instrumental da aprendizagem (VYGOTSKI, 2007) também subsidiaram as

discussões finais.

Este trabalho de pesquisa apresenta a seguinte estrutura: introdução que se

configura como primeiro capítulo, o capítulo 2 sobre a história da deficiência mental

e conceituação; o capítulo 3 sobre a educação especial; o capítulo 4 sobre a

inclusão; capítulo 5 apresenta os procedimentos metodológicos da pesquisa de

campo; o capítulo 6 resultados e discussões e por fim são apresentadas as

considerações finais.

19

2 DEFICIÊNCIA MENTAL

2.1 BREVE REVISÃO HISTÓRICA E CONCEITUAÇÃO DA DEFICIÊNCIA MENTAL

A questão da deficiência sempre existiu, o medo da diferença e do

desconhecido foi responsável em grande parte pela discriminação sofrida pelas

pessoas com deficiência, principalmente com relação às pessoas com deficiência

mental. Essa questão transformou-se num angustioso problema quando deixou de

ser uma preocupação para a intimidade de muitas famílias para converter-se num

autêntico problema social.

Desde Itard (Jean Marc Gaspard Itard, 1774-1838), cuja relevância baseou-se

na narrativa do caso de uma criança, Victor, encontrada na floresta em 1800,

diagnosticada como portadora de danos mentais irreversíveis pelo médico Philippe

Pinel, e que foi acompanhada por Itard, ocorreram iniciativas educacionais para a

população com deficiência mental – DM.

Como destaque, Esquirol sob a influência de Pinel, avançou sugerindo o

termo idiotia. Para ele idiotia era resultado de carências infantis ou condições pré e

peri-natais problemáticas, já o cretinismo deveria ser utilizado para casos mais

graves. A definição de Esquirol é importante porque idiotia deixa de ser uma doença,

pois ele a trata como um estado e o critério para avaliá-la é o rendimento escolar.

Com isso legitima o ingresso do pedagogo na área de estudo da deficiência mental,

pois até este momento, século XIX, o envolvimento dele era na educação da criança

normal.

Muitas pesquisas foram registradas e geraram o acúmulo de conhecimentos

em diferentes tempos históricos. No entanto ainda há interrogações sobre as

possibilidades de aprendizagem de pessoas com deficiência mental, o que justifica o

interesse dos pesquisadores nessa área.

A origem da palavra “Deficiência” vem do latim deficiens, do verbo deficere,

cujo significado é “falha”, aquele que não consegue fazer; como um corpo imperfeito,

erro da natureza, segundo Alves (1998). Ao consultar o dicionário (FERREIRA,

2008) encontram-se os seguintes significados da palavra deficiência: 1) Falta, falha,

carência, 2) Imperfeição, defeito. 3) Insuficiência. Assim, o termo “deficiência” é

comumente usado para designar a falha de algo, seja em qualquer área: física,

mental, sensorial, comportamental ou outra, uma anormalidade, algo que foge à

regra ou do padrão.

20

No século XIX na França, surge a necessidade de diagnosticar as crianças

em decorrência do traço comum do transtorno considerado inerente a elas, que

resultava nas poucas possibilidades de intervenção educativa, tendo como

consequência a preocupação em definir inteligência, que poderia distinguir as

crianças com deficiência mental das ditas normais. Inteligência vem do latim

intelligentia, que deriva de inteligere. A origem etimológica do conceito de

inteligência faz referência a quem sabe escolher: a inteligência permite, portanto

selecionar/escolher as melhores opções na hora de solucionar uma questão. A

inteligência abarca a capacidade de entender, assimilar, elaborar informações e usá-

la de forma adequada e pode ser aprendida e/ou treinada, e é reduzida no deficiente

mental.

Em 1905, Alfred Binet (1857-1911) médico, pedagogo e psicólogo recebeu a

solicitação do Ministro da Instrução Pública da França, para que desenvolvesse um

teste para a avaliação das crianças na faixa escolar com poucas possibilidades de

intervenção educativa. O desenvolvimento do teste solicitado foi facilitado tendo em

vista que Alfred Binet, em 1892, já havia sido colocado em contato com crianças

portadoras de deficiências mentais, através de Théodore Simon (1873-1961) da área

de psiquiatria, no hospital em Perray-Vancluse (Paris) e com isso foi despertado nele

o interesse por essa população (FERNANDES, 2002).

Consequentemente, para Alfred Binet além do contato já feito com essas

crianças, seu interesse por essa clientela, mais o pedido do Ministro da Instrução

Pública Francesa, resultou no desenvolvimento de uma escala métrica de

inteligência, que media a capacidade intelectual dessas crianças e cuja finalidade

maior era de separar as que deveriam ser educadas nas escolas regulares daquelas

que não poderiam frequentá-las, em decorrência do resultado obtido na avaliação

(FERNANDES, 2002).

Assim, Alfred Binet foi considerado o criador do primeiro teste de inteligência

(escala métrica), sendo este o ponto de partida para os atuais testes de avaliação da

inteligência e tendo como consequência a posterior generalização dos mesmos que

passaram a ser utilizados no mundo inteiro e cujo objetivo era situar as pessoas em

um determinado nível, comparando-as ao restante da população. Em 1916, foi

publicada pela Universidade de Stanford, Estados Unidos da América (EUA) uma

versão aprimorada dos testes da escala métrica de Alfred Binet, feita por Lewis

21

Madison Terman, com essa versão foi introduzido o conceito de quociente de

inteligência, representando a idade mental multiplicada por 100 e dividida pela idade

cronológica, dando origem ao termo quociente de inteligência – QI (FERNANDES,

2002).

A França, mesmo mantendo a aplicação dos testes nas décadas de 1940 e

1950, começou a levar em consideração as influências sociais e culturais que

poderiam determinar um funcionamento intelectual deficitário, com a inclusão dos

conceitos de adaptação social e de aprendizagem em relação ao atraso intelectual,

reforçando as possibilidades de intervenção, abrindo com isso espaço para a

concepção de que a deficiência poderia ser motivada por falta de estímulo adequado

ou por processos de aprendizagem incorretos.

Nesse período, mesmo com a difusão da prática do uso de testes de

inteligência no mundo, o que se observou no Brasil em relação à deficiência mental

foi a grande dificuldade de diagnosticá-la, o que exigiu e levou a uma série de

revisões do seu conceito como, por exemplo a medida do coeficiente de inteligência

(QI), que foi usada durante muito tempo para definição de caso.

De acordo com o Manual de Psiquiatria (ALMEIDA, LARANJEIRA, DRACTU,

1978), o campo global da inteligência era chamado campo das “funções superiores”

e o nível de comprometimento dessas funções eram estabelecidos por avaliação

clínica. O prejuízo intelectual era igualmente definido por níveis de gravidade do

mais leve ao mais grave, com a seguinte nomenclatura: debilidade mental,

imbecilidade e idiotia. Essa nomenclatura extrapolou o âmbito médico e passou a ter

uma referência pejorativa cotidiana, o que levou ao uso do termo “oligofrenia” como

uma opção substitutiva. A palavra se origina do grego oligos = pouco e phren =

espírito. Portanto, oligofrenia e a debilidade mental passaram a ser chamadas de

“oligofrenia leve”, a imbecilidade de “oligofrenia moderada” e a idiotia, de “oligofrenia

grave” (SANTIAGO, 2005). A preocupação com a nomenclatura foi acompanhada

pelos esforços em educar e melhor caracterizar os alunos com deficiências

cognitivas. Neste contexto, advieram a educação especial e os testes psicométricos.

Estes permitiram um fortalecimento da noção de inteligência e a educação especial

trouxe uma nova perspectiva prognóstica ao campo das oligofrenias. A partir desse

avanço os níveis de comprometimento da inteligência passaram a ser concebidos

22

como níveis de atraso no desenvolvimento, ou seja, níveis de retardo (SANTIAGO,

2005).

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1980, revisão 1993) através da

Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens – CIDID

incorpora categorias que correspondem às consequências duradouras das doenças

e propõe três níveis para defini-las: deficiência, incapacidade e desvantagem social

(OMS, 1980 revisão 1993). A deficiência foi definida como qualquer perda ou

anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. A

incapacidade foi definida como qualquer restrição ou falta de habilidade (resultante

de uma deficiência) para realizar uma atividade na forma considerada normal por um

ser humano, representando a objetivação de uma deficiência e como tal reflete um

distúrbio na pessoa. A desvantagem foi definida como derivada de uma

incapacidade ou deficiência, limitando o cumprimento de um papel que é normal

para um indivíduo (dependendo da idade, sexo e fatores socioculturais), referindo-se

ao valor atribuído à situação ou experiência individual, quando sai do normal,

caracterizada por uma discordância entre o desempenho ou condição individual e a

expectativa no próprio indivíduo ou do grupo do qual é membro. A desvantagem

representa, assim, a socialização de uma incapacidade ou deficiência e, como tal,

reflete as consequências para o indivíduo: culturais, econômicas e ambientais, que

decorrem da presença da incapacidade ou deficiência (OMS, CIDID, 1993).

No entanto, a Política Nacional da Educação Especial, em 1994 define a

deficiência como aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física,

mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras podem ter restringida

sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com

transtornos globais do desenvolvimento: alunos com autismo, síndromes do espectro

do autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação

demonstram potencial elevado em qualquer das áreas, isoladas ou combinadas:

intelectual, acadêmica, etc. necessitando, por isso, de recursos especializados para

desenvolver mais plenamente o seu potencial e/ou superar ou minimizar as suas

dificuldades (BRASIL, 1994b).

Agora Organização Mundial de Saúde (OMS), através do Programa de Ação

Mundial para Pessoas com Deficiência, publicado em 1997, define a deficiência

como “toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica,

23

fisiológica ou anatômica (OMS, 1997)”. A definição descrita de deficiência baseada

na Convenção de Guatemala (1999) e promulgada no Brasil pelo Decreto 3956/2001

significa uma restrição física, mental ou sensorial de natureza permanente ou

transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da

vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social (BRASIL, 2001,

Art. 1). Em 2001, a Organização Mundial de SAÚDE – OMS revisou a classificação

que passou a não conter mais uma sucessão linear dos níveis, passando a indicar a

interação entre as funções orgânicas, as atividades e a participação social,

destacando a função global da pessoa em relação aos fatores contextuais e do

meio, re-situando-a entre as demais e rompendo o isolamento. Essa definição

atualizada induziu a substituição da terminologia “pessoa deficiente” para pessoa em

situação de deficiência (ASSANTE e PLAISANGE, 2000). Com isso foi possível

mostrar a vantagem de integrar os efeitos do meio nas apropriações da capacidade

de autonomia da pessoa com deficiência, passando a mesma a ter duas

possibilidades: sentir-se discriminada ou acolhida no ambiente que a cerca (OMS,

2001). Além das demais definições é encontrada a conceituação proposta pela

American Association of Mental Retardation – AARM (2002) refere-se à

incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento

intelectual quanto no comportamento adaptativo expresso em habilidades

conceituais, sociais e práticas e o surgimento desta redução cognitiva antes dos

dezoito anos.

Em 2008, a Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação

Inclusiva elaborada pela Secretaria de Educação Especial (SEESP), definiu os

alunos com deficiência como: aqueles que têm impedimentos de longo prazo, de

natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas

barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na

sociedade (BRASIL, 2008). Ao se comparar a definição de “alunos com deficiência”

abordada pela Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(2008) com a definição dada pela Convenção de Guatemala (BRASIL, 1999) nota-se

que ambas descrevem a deficiência como limitações físicas, sensoriais ou mentais

que impedem ou restringem certas atividades do ser humano na participação da

sociedade ou da escola. Como resultado da deficiência em geral, o sujeito na

maioria das vezes apresenta dificuldades ou nítido atraso em seu desenvolvimento

24

neuropsicomotor, aquisição da fala e outras habilidades que afetam seu

comportamento adaptativo. Já a deficiência mental não se esgota na sua condição

orgânica e/ou intelectual e nem pode ser definida por um único saber, pois é uma

interrogação e objeto de investigação de inúmeras áreas de conhecimento, como

por exemplo: psiquiatria, psicologia, pedagogia, psicopedagogia, etc.

2.2 DIAGNÓSTICO

Ao longo da história já foram utilizadas expressões como idiotia, cretinismo,

debilidade, imbecilidade (oligofrenia), retardamento, entre outras para definir as

pessoas com deficiência. As pessoas portadoras de síndromes que incluíam essas

características eram chamadas de excepcionais, deficientes mentais e, atualmente,

de pessoas com necessidades especiais. O retardamento mental é uma área muito

complexa, com tantas e tão diversas causas e graus de variação, que parece

impossível incluir toda diversidade nela contida. Em decorrência dessa

complexidade e do típico atraso apresentado pelo indivíduo em relação à deficiência

mental, a Organização Mundial de Saúde – Classificação Internacional de Doenças

e Problemas Relacionados à Saúde - CID-10 (OMS, 1980, revisão 1993), utiliza a

expressão Retardo Mental, definida como uma parada no desenvolvimento ou

desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual, caracterizado por um

comprometimento durante o período de desenvolvimento das faculdades

responsáveis pelo nível global de inteligência, isto é: funções cognitivas, linguagem,

motricidade e do comportamento social. É importante observar que as definições

para o Retardo Mental não se restringem somente à escala de QI, mas se esforçam

para elencar critérios e habilidades considerando aspectos culturais e educacionais.

As pessoas com necessidades especiais dentro da classificação de retardo

mental são dependentes de cuidadores, e a fim de minimizar os problemas

decorrentes da deficiência, terminam necessitando de atendimento multiprofissional,

incluindo: médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo,

pedagogo, psicopedagogo, etc. Frente a esta necessidade há muitos anos está

sendo utilizada a expressão estimulação ou intervenção precoce que irá auxiliar os

profissionais já descritos acima no acompanhamento dessas pessoas especiais.

Dentre os vários recursos que podem ser utilizados para definir o diagnóstico

de Deficiência Mental e identificar a síndrome genética ou natureza da lesão que

25

causou o dano cerebral à criança temos, por exemplo, algumas técnicas da clínica

médica e psicológica como: Avaliação de Desenvolvimento, Exame Neuropsicomotor

e Teste de Inteligência ou Quociente de Inteligência (QI). Outra questão a ressaltar

refere-se à dificuldade de se estabelecer um diagnóstico diferencial entre doença

mental e a deficiência mental. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria –

(ABP, 1999), doença mental caracteriza-se como uma variação mórbida do normal,

capaz de produzir prejuízo no desempenho global da pessoa, nos âmbitos: social,

ocupacional, familiar e pessoal, englobando diagnósticos de psicose e psicose

infantil, onde o aluno detém os instrumentos intelectuais necessários, mas apresenta

um funcionamento comprometido. Já na deficiência mental, o aluno apresenta

desenvolvimento intelectual reduzido ou incompleto, não tendo os instrumentos

necessários à boa compreensão de todas as partes do todo.

O Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM IV,

1995), na 4ª edição, prevê três critérios para a realização do teste diagnóstico, com

ênfase no conceito de funcionamento adaptativo: 1 – característica essencial do

retardo é o funcionamento intelectual significativamente inferior à média; 2 –

acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo

menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida

domésticas, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários,

autossuficiência, trabalho, lazer, saúde e segurança; 3 – início deve ocorrer antes

dos 18 anos (DSM IV, 1995, p. 391). Além das definições gerais, o diagnóstico

também pressupõe a especificação quanto ao nível de gravidade do atraso mental

do aluno, sendo quatro os níveis de gravidade, podendo ser especificados, refletindo

o nível de prejuízo intelectual: leve, moderado, severo e profundo (DSM IV, 1995, p.

40). A localização do nível de gravidade do retardo do aluno entre os quatro níveis é

feita principalmente pela delimitação do seu coeficiente de inteligência – QI. O QI é

avaliado por testes psicométricos, chamados “baterias” ou escala de inteligência.

Estes testes são padronizados, sua aplicação é individual e dentre elas são citadas

pelo DSM IV (1995) as Escalas Weschler de Inteligência para crianças (revisado), a

Escala de Inteligência Stanford-Binet; e a Bateria Kauffman de avaliação para

crianças.

Segundo a Classificação Internacional de Doenças - CID 10 – 4ª. Revisão

(OMS, 2003, p. 361), o retardo pode acompanhar outro transtorno mental ou físico,

26

ou ocorrer de modo independente subdividindo este grupo em quatro categorias de

gravidade (leve, moderada, severa e profunda) em função da sua capacidade

intelectual. Segundo Kaplan (2002), o retardo mental pode ser diagnosticado em

pessoas com QI’s de aproximadamente 70 ou abaixo dele e se elas demonstrarem

déficits significativos em pelo menos duas áreas de funcionamento adaptativo. O

funcionamento adaptativo é entendido como a efetividade com que o indivíduo

realiza sua independência e a responsabilidade social esperada para sua idade e

ambiente cultural. Este funcionamento seria regulado por inúmeras variáveis, como

por exemplo: educação, oportunidades sociais e afetivas, características individuais

da personalidade, transtornos mentais e eventuais condições médicas (KAPLAN,

SADOCK E GREBB, 2002). Portanto, além da dificuldade de definição e do

diagnóstico, a questão da deficiência mental não se define apenas por várias

mudanças já ocorridas na nomenclatura, pois sua abrangência é muito maior: ela é

terminológica (uso e estudo do termo), conceitual (modo de ver, ponto de vista) e

política (politikós = aquilo que é da sociedade, interesse do homem enquanto

cidadão), de acordo com Bueno (2004).

Mendes (1995) também concorda que, apesar de tantos avanços em relação

à definição de deficiência, ainda há uma grande imprecisão pela diversidade

existente entre a população identificada nesta categoria e os instrumentos utilizados

que não correspondem à demanda composta pelas inúmeras deficiências existentes

em nosso país. O autor chama a atenção para estudos mais recentes que procuram

analisar a questão das dificuldades de escolarização dos deficientes mentais aliadas

às questões do histórico do fracasso escolar das camadas mais populares em nosso

país. Esses estudos mostram que a escolarização faz parte da exclusão dos alunos

das camadas mais baixas e do direito de uma educação de qualidade, seja por meio

de uma educação regular ou especializada, instaurando com isso uma seleção do

processo educativo para essa população (MENDES, 1995).

Incapazes para os padrões modernos de escolarização, tendo em vista a

disseminação da escolarização para praticamente toda a população, os

intelectualmente inferiores, muito deles que até este momento não o eram, tendo em

vista que as exigências eram outras, tornaram-se diferentes, merecedores de

tratamento especial, pois para muitas dessas crianças o fracasso escolar foi

frequentemente o primeiro sintoma de funcionamento intelectual inadequado, uma

27

vez que até ingressarem na escola eram consideradas por suas famílias como

crianças normais (BUENO, 2004). O que se evidenciava então, como descrito por

Bueno (2004) era que parte da anormalidade intelectual verificada na escola

somente após o ingresso nela era que determinava e caracterizava os alunos como

deficientes. Assim, crianças classificadas como retardadas mentais não eram

consideradas como tal na fase pré-escolar, passando a sê-las no primeiro ano do

ensino fundamental. A partir de 2008 as crianças em idade pré-escolar, aos quatro

anos já podem ter um atendimento educacional especializado para ajudá-las no seu

desenvolvimento biopsicossocial (BRASIL, 2008).

A questão do diagnóstico é importante, pois decorre da forma como ele é feito

e os resultados que oferece que se pode estimar na população a incidência de

casos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Censo

Demográfico realizado em 2010, de 190.755.799 de habitantes da população

brasileira, 24% ou 45,6 milhões de indivíduos tinham algum tipo de deficiência

(IBGE, 2010), tendo sido consideradas deficiências permanentes: visual, auditiva,

motora, mental e intelectual de acordo com seu grau de severidade. Desta

população com deficiência, 1,4% ou 2.670.582 de pessoas eram deficientes

mentais. A deficiência mental foi descrita pelo IBGE, como o retardo no

desenvolvimento intelectual e caracterizada pela dificuldade que a pessoa tem de se

comunicar com outros, de andar, de fazer atividades domésticas, aprender,

trabalhar, brincar, etc, ocorrendo até 18 anos de idade. Não foram consideradas pelo

IBGE como deficiência mental: as perturbações mentais como autismo, neurose,

esquizofrenia e psicose (IBGE, 2010). Conforme informações do IBGE o conceito de

deficiência vem se modificando para acompanhar as inovações na área da saúde e

a forma como a sociedade se relaciona com a parcela da população que apresenta

algum tipo de deficiência. Dessa forma, a abordagem da deficiência evoluiu do

modelo médico que considerava somente a patologia física e o sintoma associado

que dava origem a sua incapacidade, para um novo sistema como a Classificação

Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF, divulgada pela

Organização Mundial de Saúde – OMS. Em 2001, a CIF passou a entender a

incapacidade como resultante tanto da limitação das funções e estruturas do corpo

quanto da influência de fatores sociais e ambientais sobre essa limitação.

28

No Censo de 2010 com a inovação do conceito de deficiência (IBGE, 2010)

as perguntas formuladas procuraram identificar as deficiências (visual, auditiva,

motora e mental), com seus graus de severidade. Com isso, foi possível conhecer a

parcela da população com deficiência severa, que se constitui no principal alvo das

políticas públicas voltadas para a população com deficiência que apresentam

maiores problemas quando da sua inclusão. Com essa inovação o Censo de 2010,

em comparação ao de 2000, se deu pela adequação da evolução do conceito de

deficiência (IBGE, 2010). Comparando o Censo de 2000 com o de 2010, constata-se

que aumento da população de 169.799.170 para 190.755.799 habitantes, é

acompanhado do aumento da população deficiente de 14,5% ou 24,6 milhões de

pessoas com deficiência, para 23,9 % ou 45,6 milhões de indivíduos que

apresentavam algum tipo de deficiência.

Outro dado relevante do Censo de 2010 refere-se às informações sobre as

matrículas de alunos com deficiência mental: os números divulgados apontam para

218.271 alunos com deficiência mental matriculados em escolas e classes especiais

e 484.332 em classes regulares do ensino fundamental como alunos incluídos. É

possível traçar um paralelo entre o aumento de matrículas de alunos com deficiência

mental no ensino fundamental registrado no CENSO de 2010 em relação aos dados

fornecidos pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisas Educacionais – INPE,

(2012), tanto em classes e escolas especiais com os matriculados em classes

comuns, constatando-se que o total de matrículas por etapas e modalidades em

2012, na educação básica foi de 50.545.050, sendo 29.702.498 – (58,76%) no

ensino fundamental regular; 199.656 – (0,40%) em classes e escolas especiais e de

620.777 - (1,23%) de alunos com deficiência em classes comuns (alunos incluídos) -

(INEP, 2012).

Desta forma, frente aos dados fornecidos pelo Censo 2010 e do INEP 2012,

constata-se que é cada vez maior o número de alunos com deficiência matriculados

nas escolas regulares, fazendo parte das classes comuns onde pode ou não existir

ainda o atendimento educacional especializado.

29

2.3 ETIOLOGIA

É importante mencionar que em muitos casos apesar da utilização de

recursos sofisticados na realização do diagnóstico de crianças, não se chega a

definir explicitamente a causa de deficiência mental.

A deficiência mental pode ter várias causas, entre as principais estão: fatores

genéticos, que atuam antes da gestação, onde a origem da deficiência já está

determinada pelos genes ou herança genética. São fatores ou causas do tipo

endógeno, pois atuam no interior do próprio ser. Há dois tipos de causas genéticas:

Geneopatias - são síndromes que produzem alterações de metabolismo e

Cromossomopatias – são síndromes devidas a anomalia ou alterações nos

cromossomos.

Os fatores genéticos sejam cromossômicos ou genes estão classificados em

síndromes que recebem o nome dos seus identificadores (síndrome de Down,

síndrome de Hett), podendo ser hereditários (recessivos ou dominantes) ou

associados às gametogêneses (síndrome de Down).

A deficiência mental é resultado, em grande parte dos casos, de uma

alteração na estrutura cerebral, provocada por fatores genéticos, na vida intrauterina,

no nascimento ou no período pós-natal. Cerca de 40% dos casos estudados dessas

alterações ainda não é conhecida ou identificada e quando analisado o espectro de

patologias que tem a deficiência mental como expressões de seu dano nos

deparamos com um conjunto de doenças significativas, podendo ser citada uma das

mais comumente conhecidas: a Síndrome de Down, que não é uma doença, mas

sim uma anomalia (Trissomia do Cromossomo 21) sendo necessário o exame de

sangue – Cariótipo - para confirmação dessa anomalia (RODRIGUES e

PIAZENTIN, 2008). Em 2012 a incidência de nascimentos de crianças com síndrome

de Down no Brasil, aconteceu para um bebê a cada 600 a 800 nascimentos,

independentemente da classe social, cor, religião ou raça, conforme informado no

Portal Brasil de 26 de setembro de 2012 (BRASIL, 2012).

Os elementos pré-natais são fatores endógenos ocorridos antes do

nascimento do bebê resultantes dos seguintes problemas: desnutrição materna, má

assistência à gestante, doenças infecciosas, intoxicações, perturbações psíquicas,

infecções, e embriopatias (atuam durante os três primeiros meses de gestação),

fetopatias (atuam a partir do 3º mês de gestação), genéticos, etc.

30

As causas perinatais e neonatais são aquelas ocorridas desde a gestação até

o momento imediatamente após o parto do recém-nascido, apresentando-se como

má formação congênita. Nestes casos teremos como causa: infecções, má

assistência e traumas de parto, anóxia (ausência de oxigênio no cérebro); ou hipóxia

(sofrimento causado pela baixa concentração de oxigênio no cérebro) prematuridade

e baixo peso, icterícia grave do recém-nascido, incompatibilidade de RH entre mãe e

recém-nascido. Já os elementos pós-natais são fatores exógenos, aqueles que

atuam após o parto, no recém-nascido, resultando dos seguintes problemas:

desnutrição, desidratação grave, carência de estimulação global, infecções por vírus

(ex. rubéola) ou por bactéria (ex. sífilis), convulsões, anoxia (asfixia, parada

cardíaca), intoxicações exógenas (envenenamento), acidentes, etc. (RODRIGUES e

PIAZENTIN, 2008).

Portanto, a distinção encontrada entre causas “exógenas” (externas) e

“endógenas” (internas) foi um grande passo a mais para a revisão definitiva da

“incurabilidade” como traço básico para as definições das deficiências. O diagnóstico

correto dos fatores que causam a deficiência mental no momento do nascimento

(causas endógenas e exógenas) pode não só amenizar os sintomas (prevenção

secundária) e até mesmo evitar o dano cerebral dependendo do caso.

Outro fator importante para amenizar os sintomas da deficiência mental é a

intervenção pedagógica frente às dificuldades psicomotoras, sensoriais, de relações

sociais, de autonomia e de linguagem, pois quanto mais cedo ocorrer essa

intervenção, melhores e maiores serão os resultados que irão auxiliar essa criança

com deficiência.

A partir da década de 1960, houve uma mudança no campo da educação

especial, em decorrência de nova concepção dos transtornos do desenvolvimento e

da deficiência, da consideração da situação interna, para uma situação externa, dos

fatores ambientais e principalmente as respostas que a escola pode proporcionar ao

deficiente. O déficit observado em relação ao deficiente mental, a partir do resultado

da experiência educativa, passa a evidenciar que a escola venha a intervir para

favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos com alguma

característica “deficitária”.

31

2. 4 IMPLICAÇÕES PARA AS AÇÕES EDUCACIONAIS

Refletindo sobre as ações educacionais que se tornaram importantes para

a história da deficiência mental, pode-se destacar Vygotsky (VAN DER VEER e

VALSINER, 1996), cujos trabalhos com deficientes surdo-cegos mostraram a

importância da ação social e dos educadores no seu desenvolvimento. Vygotsky,

nascido em 1896, falecido em 1934, médico e psicólogo, pioneiro na noção de que o

desenvolvimento das funções psicológicas superiores, atenção, memória,

pensamento e linguagem ocorrem em função das interações sociais e condições de

vida, definida por ele como abordagem sócio-interacionista, pode ser considerado

um marco quando se trata de educação especial.

Vygotsky (2007) refutava tanto a idéia de que o controle do ambiente poderia

predizer comportamentos, como a da maturação das estruturas orgânicas como

explicação dos processos que constituem o pensamento humano, defendendo a

interdependência entre aspectos orgânicos e ambientais e que um aspecto não iria

sobrepujar o outro. Para Vygotsky (2007), o indivíduo não é o resultado de um

determinismo cultural, ou seja, não é uma “tábula rasa”, um ser passivo, que só

reage frente às pressões do meio, mas um sujeito que realiza uma atividade

organizadora em sua intervenção no mundo, capaz de mudar a própria cultura. É,

portanto, na relação dialética com o mundo que o sujeito se constitui e se liberta.

De acordo com Rego (1997), Vygotsky a origem e a evolução do psiquismo

humano, as relações entre indivíduos e sociedade, ressaltando a importância de que

o processo de conhecer fosse estudado em um contexto sócio-histórico e cultural,

portanto que o biológico e o racional não estão dissociados. O homem é visto como

alguém que transforma e é transformado, nas relações produzidas em uma

determinada cultura (REGO, 1997).

Segundo Vygotsky (2007), a influência no desenvolvimento dos sujeitos é

exercida pelo meio onde eles vivem, tomando como referência o ambiente cultural

no qual eles vivem desde o nascimento, tirando o foco do desenvolvimento dos

fatores físicos e psíquicos e concentrando-o em aspectos sociais, observando que

as mudanças que ocorrem nos sujeitos ao longo de seu desenvolvimento, estão na

somatória da sociedade, da cultura e da sua história. É na troca com outros sujeitos

e consigo próprio que os conhecimentos são internalizados e também os papéis e as

32

funções sociais, o que permite a constituição de conhecimentos e de sua

consciência, tratando-se, portanto de um processo que caminha do plano social

(relações interpessoais) para o plano individual interno (relações intrapessoais),

(VYGOTSKY, 2007). De acordo com Vygotsky (2007) há dois níveis de

desenvolvimento: um real e outro potencial – e, ambos, precisam ser considerados

na prática pedagógica. Torna-se então importante observar que quando o aluno não

consegue fazer uma determinada tarefa sozinho, mas que poderia fazer com ajuda

do professor, ou de um colega, ele está mostrando que em seu nível de

desenvolvimento proximal já há alguns aspectos, noções e conceitos acerca da

aprendizagem que está se efetivando. Com isso percebe-se que o nível de

desenvolvimento de um aluno, não pode ser determinado apenas pelo que

consegue produzir de forma independente, mas é importante conhecer o que ele

consegue realizar com a ajuda de outras pessoas. Portanto, através de experiências

de aprendizagem, compartilhadas e mediadas, é possível atuar na zona de

desenvolvimento proximal do aluno (VIGOSTKY, 2007).

A aprendizagem ocorre com facilidade quando o aluno interage com outros, já

que é através dos outros que as relações entre sujeito e objeto de conhecimento são

estabelecidas. As aulas participativas podem ser discussões de grupo, quando os

alunos opinam, apresentam hipóteses, classificam, estabelecem comparações,

fazem observações. Durante essas aulas, tem que haver um “clima” de sala de aula

amigável, mesmo que variável, para que haja respeito por posições contrárias.

Devem ser valorizados os conhecimentos prévios porque são os fatores mais

importantes que influem na aprendizagem, levando-se em consideração que estes

conhecimentos abrangem tanto informações sobre os conteúdos a serem

aprendidos como conhecimento que, de maneira direta ou indireta, estão

relacionados ou podem relacionar-se com ele. Considera-se que a aprendizagem de

um novo conteúdo é produto de uma atividade mental construtivista realizada pelo

aluno.

O pensamento que Vygotsky defendia em relação às crianças deficientes era

que deveriam ser integradas na sociedade, vivendo junto com as pessoas normais.

Outro aspecto relevante também mencionado por Vygotsky era a cooperação entre

todas as crianças, (normais e com deficiência) ultrapassando com isso os limites da

pedagogia individualista, chegando à pedagogia social. Portanto, com base nos

33

fundamentos teóricos de Vygotsky é possível compreender a ênfase na importância

da educação social de crianças deficientes, baseada na afirmação de que a

deficiência em si não afeta as interações com o meio físico e sim as relações sociais

por elas vivenciadas é que terminam por afetar o potencial de desenvolvimento

dessas crianças. Vygotsky acreditava ainda que o desenvolvimento das crianças que

possuem deficiência mental dá-se da mesma forma que o desenvolvimento de

crianças não deficientes. Para ele seria fundamental identificar as peculiaridades do

desenvolvimento dos sujeitos com deficiências e a partir desse conhecimento

organizar uma ação pedagógica significativa a esses sujeitos (apud VAN DER VEER

e VALSINER, 1996).

As intervenções pedagógicas para os sujeitos com necessidades especiais

deveriam se destacar, segundo Vygotsky (2007) pela ação nas funções psicológicas

superiores, a partir do conceito de zona de desenvolvimento proximal definida como

a distância entre a passagem de um nível de desenvolvimento real para outro nível

de desenvolvimento potencial. É possível se acreditar na capacidade de

aprendizagem de todos os sujeitos, discordando das concepções teóricas que

defendiam a estagnação e cristalização da capacidade intelectual dos alunos com

deficiência mental, pois segundo ele, todo ser humano apresenta ao nascer

possibilidade de progresso intelectual, que todas as pessoas nascem com uma

capacidade única, a capacidade de aprender (VIGOTSKY, 2007).

Desde o início da educação especial, os educadores e psicólogos se

preocuparam muito com o desenvolvimento real do aluno através de testes e

escalas para determinar o seu nível de desenvolvimento. Durante a aplicação de

testes não era oferecido nenhum tipo de ajuda, mantendo-se o aplicador neutro e

com isso medindo o desempenho do aluno. Ao final do processo, procurava-se

compatibilizar erros e acertos, sem levar em consideração o processo que foi

vivenciado pelo aluno para resolver as questões propostas. No século XXI, ainda há

práticas que valorizam somente o nível de desenvolvimento real, considerando o

produto final, isto é, o que os alunos conseguem responder e não como conseguem

chegar às respostas dadas.

As políticas atuais de educação inclusiva encontram na teoria de Vygotsky os

principais argumentos para sua defesa, pois ao se possibilitar aos alunos com

diferentes ritmos de desenvolvimento que interajam em espaços não segregados irá

34

proporcionar: a realização de um ensino que se adiantará à aprendizagem oferecerá

a eles desafios constantes, trabalhará na zona de desenvolvimento potencial dos

alunos, transformando aprendizagens potenciais em conhecimentos reais.

É importante salientar a importância do planejamento pelo educador de

atividades que promovam o desenvolvimento dos processos mentais superiores,

entendendo-se esses processos como atenção, memória, percepção, linguagem e

não como coeficiente intelectual. O educador pode possibilitar vivências desafiantes,

com a estimulação dos alunos com deficiência mental, através da resolução de

problemas o que permitirá a passagem do seu nível de desenvolvimento real para o

potencial, como também prever situações em que os alunos, trabalhando de forma

cooperativa estabeleçam trocas qualitativas entre si. Como consequência dessa

formulação, percebe-se a necessidade da ressignificação da educação especial em

alguns de seus importantes aspectos: os profissionais da educação regular e da

educação especial juntamente com familiares e as pessoas com várias deficiências

passam a pensar na possibilidade de desenvolver uma prática constitutiva do

sistema comum de educação especial, num processo integrado e não mais como

práticas isoladas.

De acordo com a abordagem sócio-interacionista, a escola oferece conteúdos

e desenvolve modalidades de pensamentos bastante específicos, tem um papel

diferente e insubstituível na apropriação do sujeito da experiência culturalmente

acumulada. A escola representa o elemento imprescindível para a realização plena

do desenvolvimento dos indivíduos, já que promove um modo mais sofisticado de

analisar e generalizar os elementos da realidade: o pensamento conceitual. As

atividades são sistematizadas, têm uma intenção deliberada e compromisso explícito

(legitimado historicamente) em tornar acessível o conhecimento formalmente

organizado.

Refletindo sobre a história da deficiência mental, seu diagnóstico, sua

concepção e suas ações sociais e educacionais, ressaltam-se algumas questões

importantes em relação à educação da pessoa com deficiência mental:

1ª Questão: refere-se aos estigmas que acompanham a avaliação/diagnóstico. A

concepção de deficiência mental não pode e não deve somente se limitar a um olhar

clínico (diagnóstico), que impõe uma condição impeditiva na aprendizagem e

35

desenvolvimento e mais, reforça a ideia de que a dificuldade principal de não

aprender é uma responsabilidade do aluno que foi considerado deficiente.

2ª Questão: decorre da avaliação/diagnóstico na atualidade e as necessidades para

o encaminhamento adequado. Para alunos com deficiência mental, a Educação

Especial durante décadas, manteve as mesmas características do ensino regular

desenvolvido em escolas regulares (caráter substitutivo) com utilização de práticas

adaptativas, limitando-se ao treinamento dos alunos nas atividades de vida diária,

repetitivas e descontextualizadas, sendo esses alunos neste período subdivididos

nas categorias: educacionais, treináveis, educáveis, limítrofes e dependentes, com a

finalidade da inserção familiar e social.

Segundo alguns críticos desta prática substitutiva de ensino, esta lógica do

concreto que se baseou na repetição alienante, teve como resultado negativo o

impedimento do acesso das pessoas com deficiência mental ao plano abstrato e

simbólico da compreensão, negando com isto a sua capacidade de estabelecer uma

interação simbólica com o meio, favorecendo o empobrecimento da condição destas

pessoas com deficiência mental em lidar com o pensamento, raciocinarem, criarem e

inovarem, tudo que é próprio da ação do conhecer.

3ª Questão: o diagnóstico deve ser um diferencial para o planejamento e ação e não

a exclusão. A evolução do interesse pela escolarização dos deficientes mentais

pode então ser diferenciada da lógica do concreto (repetição) através das políticas

públicas, chegando aos nossos dias como inclusão (complementar e suplementar de

ensino) dos mesmos em todos os níveis escolares, da creche até a faculdade. Ao

ser abordada a inclusão educacional de alunos com Deficiência Mental, que difere

da inclusão de outros tipos de alunos (ex. distúrbio de aprendizagem) e as

necessidades nela implicadas, tornou-se necessário analisar as peculiaridades da

Deficiência Mental, em função do desenvolvimento cognitivo e que se dá

formalmente na escola, dando origem ao planejamento de ações que não excluam

as crianças com deficiência mental.

4ª Questão: a crítica ao comportamento adaptativo. A escola, enquanto instituição

voltada para a promoção de ensino/aprendizagem tem dentre várias funções, a de

36

definir a Deficiência Mental, como condição diferenciadora de certos alunos em

relação aos demais, quando frustra o desempenho desse papel da forma como é

estabelecido, criando um grande mal estar para a escola, direção, professores em

geral e a família do aluno em questão.

Por outro lado, é a própria escola, que desde o âmbito da Educação Infantil,

onde as atividades lúdicas são predominantemente vivenciadas pelos alunos, que

permitiu ao aluno especial uma crescente autonomia e uma mais complexa interação

com o mundo que está ao seu redor. Esta mesma escola pode programar caminhos

para a superação ou minimização de riscos para os alunos Deficientes Mentais,

podendo oferecer oportunidades de interação com estímulos vitais, formação de

vínculos afetivos que serão fundamentais para o desenvolvimento global do aluno

especial. Por conseguinte, passando da Educação Infantil, de onde as experiências

que ocorrem nos primeiros anos de vida escolar são essenciais para o

desenvolvimento, sendo um período crítico para a constituição do Sistema Nervoso

Central, enquanto aparato físico para a aprendizagem e em especial para o aluno

deficiente mental, cuja prioridade neste período é o lúdico; para o Ensino

Fundamental, onde este novo período de desafios será a conquista do acesso à

cultura em que almeja estar incluída a alfabetização, um marco de referência para

todo o restante da vida escolar, além da leitura e da escrita, junto com o domínio da

matemática e outras áreas do conhecimento, que abrirão novos horizontes cada vez

maiores a serem explorados por ele, é que se observam com maior clareza as

dificuldades do aluno especial em acompanhar os demais alunos.

Deste modo, é fundamental a premência de investimentos em experiências

educativas essenciais para o desenvolvimento, viabilizando a construção da

inteligência, prevenindo limitações nessa construção. Por isso deve-se considerar

que, embora o desenvolvimento geral seja previsível, há características pessoais

únicas, que irão configurar, nas interações cotidianas, uma personalidade irrepetível,

com suas variações no ambiente, indo ao encontro da teoria sócio construtivista de

Vygotsky. As crianças com deficiência mental não são iguais, da mesma maneira

que não o são as demais crianças. Com isto sua individualização exige atenção e

investimento afetivo.

37

Os apontamentos acima mencionados poderão dar subsídio para auxiliar uma

mudança em relação à pessoa com deficiência mental e se constituir em futuros

indicadores de que essas pessoas possuem um desenvolvimento que segue o

mesmo processo das demais pessoas, porém com certas peculiaridades, que

poderão ser conhecidas e/ou reconhecidas pelo professor para poder interagir,

propondo atividades facilitadoras que poderão auxiliar na aprendizagem destes

alunos com deficiência. Desse modo, é importante que os professores do ensino

regular ultrapassem o caráter meramente clínico-pedagógico em relação aos alunos

que possuam diagnóstico definido de deficiência mental, tornando o trabalho

pedagógico importante para esses alunos. É também importante que os professores

consigam superar as práticas desenvolvidas na década de 1970, quando os

atendimentos eram realizados em instituições especializadas e visavam à

reabilitação do indivíduo deficiente, para que o mesmo pudesse ser reintegrado à

sociedade. Essa concepção acabava recaindo sempre sobre o aluno como o único

responsável por sua não aprendizagem, não levando em consideração, por

exemplo, as relações familiares, os fatores sociais e econômicos.

Atualmente, com uma nova percepção sobre a deficiência mental, cada

professor pode aliar-se à concepção sócio-interacionista de aprendizagem e olhar

para seus alunos como sujeitos produzidos a partir das interações que estabelecem

ao longo do seu desenvolvimento.

38

3 EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA

3.1 BREVE HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

A fim de compreender a história da educação especial, compreende-se a

importância de ressaltar alguns fatos que merecem destaque na história da

Educação no Brasil. Em pleno século XXI, segundo a Organização para Cooperação

e Desenvolvimento Econômico - OCDE, o Brasil é o 15º país que mais gasta com

educação no mundo, mas só aparece em 53º de um total de 65 países, constatando-

se, portanto, em relação à qualidade da educação, que o Brasil, apesar de ser um

dos maiores investidores do mundo, não necessariamente acompanha na mesma

proporção uma melhora no desempenho dos estudantes.

A questão educacional sempre esteve relegada a um segundo plano, visto

que o Brasil está entre os últimos países do mundo no desempenho escolar. De

acordo com Rogonesi, em texto de 1997, nunca existiu uma política educacional

comprometida com a democratização educacional. O descompromisso histórico do

Estado não passa de produto de político, no qual ele se coloca claramente a favor

dos interesses de uma determinada classe dominante (ROGONESI, 1997).

Ao longo do século XIX, no Brasil, a instituição escolar foi lentamente se

fortalecendo. No entanto, segundo Faria Filho (2000), o afastamento da família em

relação à escola e à educação dos filhos constitui uma preocupação, principalmente

em relação às camadas populares. Esse é um problema que, de acordo com o autor,

deve ser analisado historicamente, pois pode ser uma das explicações para muitos

problemas no campo da educação (FARIA FILHO, 2000).

De acordo com Bello (2001), a educação brasileira não é de difícil

compreensão, pois evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem observadas ao

longo da passagem do tempo. A primeira ruptura observada na educação deu-se

com a chegada dos portugueses ao Brasil, pois trouxeram um padrão de educação

próprio da Europa, apesar das populações que aqui viviam possuírem características

próprias de se fazer educação (BELLO, 2001).

Nos primeiros anos da descoberta do Brasil, a educação era promovida pelos

jesuítas, que aqui chegaram. Sabemos hoje, que a escola imperial tomou de

empréstimo da educação jesuíta, junto com a noção de classe e de sala de aula,

com os exercícios de analogia, com o domínio do corpo e a disciplina do silêncio – o

exercício da repetição e as virtudes pedagógicas da memória. A boa memória estava

39

implícita na pedagogia dos exercícios, no papel atribuído aos manuais, na cópia de

trechos de grandes textos a serem imitados, nos programas e práticas que limitavam

a diversidade de experiências e personalidades (MORAES, CATANI, VIDAL,

BARROS, SOUZA, HILSDORF, PILETTI, PRAXEDES, KISHIMOTO, SOUSA, 2003).

O formato do catolicismo, feito de perguntas e respostas padronizadas,

tornou-se um modelo educacional e as avaliações escolares demonstravam esse

estereótipo que perpetuou durante séculos chegando até nós. Memorizar era a

forma de o professor ensinar aquilo que não sabia, de o aluno aprender o que não

entendia, de os examinadores avaliarem o que não compreendiam, pensando que

um dia encontrariam sentido do que aprenderam de cor (MORAES et al, 2003).

Após a expulsão dos jesuítas a educação brasileira passou por um período de

estagnação, percebido por Portugal e que teve como consequência em 1772 a

criação de uma taxação (subsídio literário) para manutenção dos ensinos: primário e

médio. Nesta época os professores geralmente não tinham preparação para a

função, já que eram improvisados e mal pagos, pois nem sempre as taxas cobradas

para essa manutenção eram recolhidas. Esses professores eram nomeados por

indicação de bispos e se tornavam vitalícios de suas aulas régias. Como resultado

dessas mudanças no início do século XIX a educação brasileira estava reduzida a

praticamente nada (BELLO, 2001).

Somente com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, a história da

educação passou a ganhar complexidade. Em 1824, foi outorgada a primeira

Constituição Brasileira cujo Art. 179 promulgava que “a instrução primária é gratuita

para todos os cidadãos” (BRASIL, 1824), mas a educação continuou a ter uma

importância secundária. Em 1826, com a preocupação em relação à educação,

foram instituídos quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceus,

Ginásios e Academias. Em 1827 um projeto de lei previu o exame de seleção de

professores, para nomeação e abertura de escolas para as meninas, (BELLO, 2001).

Com a Proclamação da República em 1889, observou-se que a educação

brasileira não sofreu um processo de evolução que pudesse ser considerado

marcante ou significativo em termos de modelo. A partir deste momento histórico,

surgiu a intenção de transformar o ensino em formador de alunos para cursos

superiores, substituindo a predominância literária pela científica. Como resultado,

40

houve o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino

enciclopédico.

A Revolução de 1930 foi o marco para a entrada do Brasil no mundo

capitalista de produção, exigindo com isso uma mão de obra especializada e um

investimento na educação, sendo criado nesta época o Ministério dos Negócios da

Educação e Saúde Pública (MES), sendo definida neste período a competência na

educação, cabendo a ele a responsabilidade, o controle e a promoção da educação

e tendo como consequência o sancionamento de decretos organizando o ensino

secundário e as universidades brasileiras.

A partir de 1934, a Nova Constituição (BRASIL, 1934) dispôs pela primeira vez

que a “educação é direito de todos” devendo ser ministrada pela família e pelos

Poderes Públicos. Em 1935 surge a 1ª Escola Normal do Brasil, em Niterói, mas

infelizmente outra vez os resultados educacionais obtidos foram ínfimos.

A partir do momento que foi outorgada em 1937 uma nova Constituição

(BRASIL, 1937), foi mantida a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário e

da frequência, terminando por ficar explícita em seu texto a sugestão da preparação

de um maior contingente de mão de obra para as novas atividades capitalistas

abertas pelo mercado, enfatizando o ensino pré-vocacional e profissional. Também

dispunha como obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas

normais, primárias e secundárias; com ênfase por um trabalho mais manual, no

ensino profissional para as classes menos favorecidas e o intelectual para as

classes mais favorecidas (BRASIL, 1937). O ensino colegial foi dividido em clássico

e científico, perdendo o caráter de preparatório para o ensino superior, passando a

se preocupar mais com a formação geral com predominância literária, mas a

preferência dos alunos do ensino colegial em 90% dos casos ainda era fazer o curso

científico ao invés do clássico (BELLO, 2001). Neste período foi criado o Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI (1942) que terminou valorizando o

ensino profissionalizante.

A nova Constituição de 1946 (BRASIL, 1946) determinou a obrigatoriedade de

se cumprir o ensino primário e deu competência à União para legislar sobre as

diretrizes e bases da educação nacional, voltando o preceito de que “a educação é

direito de todos”. Neste ano foi fundado o Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial – SENAC.

41

No ano de 1948, o Brasil assinou a Declaração Universal dos Direitos

Humanos, que garantiu em seu artigo 26: “Todo ser humano tem direito à instrução”.

A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A

instrução elementar será obrigatória. Os pais têm prioridade de direito na escolha do

gênero de instrução que será ministrada a seus filhos, (UNESCO, 1948).

A partir de 20 de dezembro de 1961 foi promulgada a Lei 4024/61, que fixou

as Diretrizes de Educação – LDB, que definiu: “A educação é direito de todos e será

dada no lar e na escola” e em seu Art. 88 definiu: “A educação dos excepcionais

deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de

integrá-los na comunidade” (BRASIL, 1961). Observa-se que foi a primeira vez que

foi citada pela Constituição Brasileira a educação de aluno especial. Esta Lei foi

revogada pela Lei 9.394/96 (BRASIL, 1996).

A partir do momento em 1967 que foi outorgada nova Constituição que

determinou em seu Artigo 168: a educação como direito de todos deve será dada no

lar e na escola, assegurada à igualdade de oportunidade. Em seu parágrafo 3º Item I

– o ensino dos sete aos quatorze anos é obrigatório para todos e gratuito nos

estabelecimentos primários oficiais. Este período propiciou a grande expansão das

universidades brasileiras. Foi criado o vestibular classificatório para acabar com os

candidatos que tiravam notas suficientes para aprovação, mas não conseguiam

vagas (candidatos excedentes). Foi criado também neste período o Mobral para

combater o analfabetismo, mas não atingiu o objetivo proposto, sendo extinto.

No ano de 1968 foi feita a reforma universitária, visando a modernização e

expansão das instituições públicas, representando um avanço na educação superior

brasileira, ao constituir um modelo organizacional único para as universidades

públicas e privadas (BRASIL, 1968).

A partir de 1971, foi instituída a Lei 5.692/71, Lei de Diretrizes e Bases da

Educação - LDB, que determinou em seu Artigo 9º: os alunos que apresentam

deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto

à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento

especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de

Educação. Em seu Artigo 20 determinou que: o curso de 1º grau será obrigatório dos

sete aos 14 anos, cabendo aos Municípios promover anualmente, o levantamento da

população que alcance a idade escolar e proceder à sua chamada para matrícula.

42

Esta lei teve também como características importantes: a formação educacional

profissionalizante e na área do aluno especial trouxe um retrocesso jurídico, pois

reforçou as escolas especiais (BRASIL, 1971).

Os professores, neste período, impedidos de atuarem em suas funções, viram

profissionais de outras áreas distantes do conhecimento pedagógico, passarem a

assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em nome do saber

pedagógico. Ainda hoje isto ocorre quando se observa que há um déficit de

professores nas áreas de ciências exatas: matemática, física e química, sendo essas

vagas preenchidas por engenheiros, tecnólogos, etc.

A partir de 1973 foi criado pelo Ministério de Educação e Cultura - MEC, o

Centro Nacional de Educação Especial – CENESP, responsável pela gerência da

educação especial no Brasil, mas neste período não se efetivou uma política pública

de educação para todos, permanecendo as políticas especiais para tratar do tema

educação de alunos com deficiência.

Com a Constituição de 1988, que em seu Art. 205, definiu: “a educação é

direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a

colaboração da sociedade...”. Em seu Art. 206, parágrafo IV estabeleceu:

“gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais”; parágrafo V –

“valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma de lei,

planos de carreira com ingresso exclusivamente por concurso público...” (BRASIL,

1988). No seu Art. 208, estabelece nos itens: I - a educação básica obrigatória dos

quatro aos dezessete anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para

todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; III – atendimento

educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede

regular de ensino; IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até

cinco anos de idade; VII – atendimento ao educando por meio de programas

suplementares, de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência

saúde (BRASIL, 1988). Mas o que se observa, tanto na educação quanto em relação

aos professores não condiz com que é proposto na Constituição.

A partir do ano de 1990, o Brasil assinou a Declaração Mundial de Educação

para Todos, Declaração de Jomtien, (UNESCO, 1990) que afirmou que “toda pessoa

tem direito à educação” e em seu Artigo 3º, item 5, citou que: as necessidades

básicas de aprendizagem das pessoas com deficiências requerem atenção especial,

43

sendo necessário tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação à

essas pessoas com qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema

educativo. No Artigo 7 afirmou: ser fundamental o papel dos educadores e da

família, salientando que as condições de trabalho e a situação social do docente

devem ser urgentemente melhoradas (UNESCO, 1990).

No ano de 1990 o Brasil também assinou a Lei 8.069/90- o Estatuto da

Criança e do Adolescente – ECA (BRASILIA, 1990), que dispõe sobre a proteção

integral e o respeito da prioridade absoluta à criança e ao adolescente nas políticas

públicas. No ECA em seu Art. 2º: considera-se criança, para os efeitos de Lei, a

pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e

dezoito anos de idade. No seu Art. 3º: a criança e o adolescente gozam de todos os

direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral

de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as

oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental,

moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Em seu Art. 7º:

a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a

efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o

desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. No Art.

53: a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania... Art. 54:

item III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino, parágrafo 1º: o acesso ao ensino

obrigatório é direito público subjetivo (o poder da vontade humana que reconhecido

pela ordem jurídica, tem por objeto um interesse – educação); e em seu Art. 55

define: os pais ou responsável tem a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos

na rede regular de ensino. No art. 129 item V – obrigação de matricular o filho ou

pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar; item VI – obrigação

de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado.

Com o Estatuto da Criança e do Adolescente fica explícita a responsabilidade

dos pais quanto a matricular seus filhos em escola regular, acompanhar sua

frequência escolar e também encaminhar para tratamento especializado quando o

caso assim exigir e quando não o fizer é passível de sofrer penalidades.

44

3.2 A INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E DA EDUCAÇÃO Inclusiva

A partir de 1994 o Brasil assinou a Declaração de Salamanca, que usou como

fundamento proclamado na Declaração Universal de Direitos Humanos – “base de

luta universal contra a opressão e a discriminação, defende a igualdade e a

dignidade das pessoas, reconhecendo os direitos e as liberdades humanas que

devem ser aplicadas a cada cidadão do mundo” (ONU, 1948), reafirmou o

compromisso da Declaração Mundial sobre Educação para Todos, “todos tem direito

a educação” e que qualquer pessoa portadora de deficiência tem o direito de

expressar seus desejos com relação à sua educação (UNESCO, 1990).

Ainda no ano de 1994 no Brasil também foi publicada a Política Nacional de

Educação Especial, orientando para a integração escolar dos alunos especiais que

possuem condições de acompanhar o ritmo dos alunos normais e desta forma

terminou por manter a responsabilidade da educação dos alunos especiais,

exclusivamente no âmbito da educação especial.

Com isso reconheceu a necessidade de ser providenciada a educação para

crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro de um

sistema regular de ensino, reendossou a Estrutura de Ação em Educação Especial e

frente a isto, devendo todos ser acomodados dentro de uma pedagogia centrada na

criança, pedagogia inclusiva, que traz em seu bojo a concepção da Educação

Inclusiva. Ela que irá combater atitudes discriminatórias, formando comunidades

acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e defendendo o direito de

inclusão dos alunos com necessidades especiais no sistema regular de ensino.

Outra medida significativa tomada no ano de 1998 pelo Ministério da Educação e

Cultura, MEC, foi o lançamento do documento contendo as adaptações que

deveriam ser feitas nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s a fim de colocar

em prática estratégias para a educação de alunos com deficiência.

A partir de 1999 o Brasil assinou o Decreto 3.298/99 que dispôs sobre a

Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência,

regulamentou a Lei 7.853/89 que definiu em seu art. 24 item I – matricula

compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos... de pessoas

portadoras de deficiência capazes de se integrar na rede regular de ensino. Item II –

a inclusão, no sistema educacional, da educação especial como modalidade de

educação escolar que permeia transversalmente todos os níveis e as modalidades

45

de ensino. Foi a 1ª vez que em documentos ligados à deficiência foi abordada a

palavra transversalidade, termo que na educação, é entendida como uma forma de

organizar o trabalho didático onde alguns temas são integrados nas áreas

convencionais de forma a estarem presentes em todas elas. O conceito de

transversalidade surgiu no contexto dos movimentos de renovação pedagógica,

quando os teóricos conceberam que é necessário redefinir o que se entende por

aprendizagem e repensar também os conteúdos que se ensinam aos alunos,

(MENEZES e SANTOS, 2002).

No Item IV do Decreto 3.298/99 foi definida – oferta obrigatória e gratuita, da

educação especial em estabelecimentos públicos de ensino. Paragrafo 1º– definiu:

educação especial é a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente

na rede regular de ensino para educandos com necessidades educacionais

especiais, entre elas o portador de deficiência. Parágrafo 3º – a educação do aluno

com deficiência deverá iniciar-se na educação infantil, a partir de zero ano. No artigo

29 – item II – capacitação dos recursos humanos, professores, instrutores e

profissionais especializados (BRASIL, 1999).

Alicerçado na Convenção de Guatemala de 1999, o Brasil em 2001,

promulgou o Decreto no. 3.956/2001, afirmando no artigo II o seu objetivo: prevenir e

eliminar todas as formas de discriminação contra pessoas portadoras de deficiência

e propiciar a sua plena integração na sociedade. Como resultado deste Decreto foi

obtida a exigência de uma reinterpretação da Educação Especial, com relação a

diferenciação necessária para promover a eliminação das barreiras impeditivas,

quanto ao acesso à escola regular dos alunos com deficiências.

No ano de 2001, o Brasil assinou a Resolução CNE/CEB No. 2, que em seu

Art. 1º, instituiu as Diretrizes Nacionais para a educação de alunos que

apresentavam necessidades educacionais especiais, na Educação Básica, em todas

as suas etapas e modalidades. Em seu parágrafo único: “o atendimento dos alunos

especiais terá início nas creches, na educação infantil e pré-escolas, assegurando-

lhes os serviços de educação especial sempre que se evidencie, mediante avaliação

e interação com a família e a comunidade, a necessidade de atendimento

educacional especializado” (BRASIL, 2001). As Diretrizes ampliaram o caráter da

educação especial para realizar o atendimento educacional especializado

complementar ou suplementar em relação à educação, mas ao admitir a

46

possibilidade de que educação especial pudesse vir a substituir o ensino regular,

terminou não fortalecendo a adoção de uma política de educação inclusiva na escola

pública regular.

Foi esta a 1ª vez que em documentos ligados à educação especial foi

assegurado após avaliação, o atendimento educacional especializado desde a

creche até a pré-escola para alunos que desse atendimento precisassem, conforme

Resolução CNE/CEB no. 2.

O Brasil assinou em 2002, a Resolução CNE/CEB no. 1, de 2002, que definiu

em seu Art. 12 – o exercício da docência da Educação Básica e as resoluções 1 e

2/2002 do Pleno Conselho Nacional de Educação, a respeito da formação de

professores em nível superior para a Educação Básica, preparando-os para, entre

outros objetivos, “o acolhimento e o trato da diversidade” (BRASÍLIA, 2002).

Desde 2003, o Ministério da Educação criou o “Programa Educação Inclusiva:

Direito à Diversidade”, aprovado em 2005, cujo objetivo foi a formação de gestores

e educadores para atuar na disseminação da Educação Inclusiva, tendo como

princípio garantir o direito dos alunos com necessidades especiais não só do seu

acesso mas também de sua permanência nas escolas regulares (BRASIL, 2005).

Observa-se então pela 1ª vez através do documento “Programa Educação Inclusiva”

a preocupação não só da formação dos educadores, mas também de gestores o que

irá ajudar no processo inclusivo que serão aos poucos implantados na rede escolar,

alterando o olhar sobre os alunos com necessidades especiais.

Em 2004 foi reafirmado o direito à escolarização com ou sem deficiência no

ensino regular, pelo Ministério Público Federal através do documento “O acesso de

Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular”,

apresentando através deste documento um diferencial para a construção de um

sistema educacional inclusivo, com uma análise da legislação existente referente à

educação especial, orientações pedagógicas, que discutiam a prática dos

educadores e onde foi defendida a transformação da escola regular em um ambiente

sem discriminação em relação a qualquer criança. Aos poucos através de políticas

públicas, no Brasil, vão se constituindo as bases que irão compor a educação

inclusiva em todas as escolas regulares.

A datar de 2006 a Secretaria dos Direitos Humanos, o Ministério da

Educação, o Ministério da Justiça e a UNESCO lançaram o Plano Nacional de

47

Educação em Direitos Humanos que objetivou fomentar, no currículo da educação

básica, temáticas às pessoas com deficiência e desenvolveu ações afirmativas que

possibilitassem inclusão, acesso e permanência na educação superior. Neste

momento observa-se a preocupação não só com ensino até o segundo grau, mas

ela se estende até o curso superior, como possibilidade de formação do aluno com

deficiência.

Também em 2006 foi aprovada pela Organização das Nações Unidas a

Convenção das Pessoas com Deficiência, da qual o Brasil é signatário,

estabelecendo que os Estados Parte devam assegurar um sistema de educação

inclusiva em todos os níveis de ensino, compatível com a meta da inclusão total

adotando as seguintes medidas, conforme Artigo 24, item 2:

a) as pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional sob

alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do

ensino fundamental gratuito pela alegação de deficiência;

b) as pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental inclusivo,

de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na

comunidade em que vivem.

Com essas medidas através de políticas públicas fica cada vez mais evidente

a preocupação em propiciar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis,

gratuita, de qualidade e que não haja exclusão de nenhum aluno.

Em 2007, é elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria

Ministerial no. 555, prorrogada pela Portaria no. 948/2007 a “Política Nacional de

Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, com a finalidade de

acompanhar os avanços das lutas sociais e também com o objetivo de construir

políticas públicas que irão produzir uma educação de qualidade para todos os

alunos tendo em vista que a educação inclusiva está fundamentada na concepção

de direitos humanos, que afirma a igualdade e diferença como valores que não

podem ser separados, pois os alunos com deficiência passam por exclusão dentro e

fora da escola (BRASIL, 2007a).

Foi lançado também em 2007 pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC –

o Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE/2007, cujo objetivo foi melhorar a

Educação do País em todas as etapas, sendo a prioridade a educação básica, que

48

abrangeu do Ensino Infantil ao Médio e definiu “investir na educação básica é

investir na educação profissional e na educação superior”. No item sobre Educação

Especial o PDE teve como ação monitorar a entrada e permanência na escola de

pessoas com deficiências, em especial, crianças e jovens de zero a dezoito anos e

também definiu a formação dos professores para a educação especial, a

implantação de Salas de Recursos Multifuncionais e a acessibilidade arquitetônica

dos prédios escolares (BRASIL, 2007b).

O que foi constatado é que a cada política pública aprovada, os direitos das

pessoas com deficiência se tornaram mais abrangentes, desde escola gratuita e de

qualidade, a proposta da não exclusão sob qualquer pretexto, a permanência de

crianças de zero a dezoito anos na escola regular, a implantação das Salas de

Recursos Multifuncionais além da acessibilidade arquitetônica dos prédios. Esse

conjunto de medidas foi tomado visando à inclusão do aluno, com deficiência ou não

na escola regular.

No ano de 2008, foi assinado o Decreto Legislativo 186/2008 que ratificou a

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência com status de emenda

constitucional e reconheceu em seus vários itens que mencionaremos abaixo

(BRASÍLIA, 2008c):

e) A deficiência é um conceito em evolução e que resulta da interação entre pessoas

com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a

efetiva participação delas na sociedade em igualdade de oportunidades frente às

demais pessoas;

j) A necessidade de promover e proteger os direitos humanos de todas as pessoas

com deficiência, inclusive daquelas que necessitam de maior apoio;

k) Mesmo com diversos instrumentos e compromissos as pessoas com deficiência

continuam a enfrentar barreiras contra sua participação como membros iguais da

sociedade e violações de seus direitos humanos em todas as partes do mundo;

v) A importância da acessibilidade aos meios físicos, social, econômico e cultural, à

saúde, à educação e a informação e comunicação, possibilitando todos os direitos e

liberdades fundamentais.

x) A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem o direito de receber

a proteção da sociedade e do Estado.

49

Ainda em 2008 o Brasil assinou o Decreto 6.751/2008, que dispõe sobre o

Atendimento Educacional Especializado e em seu Art. 2º – I – definiu: prover

condições de acesso e participação no ensino regular; II – garantir a

transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III – assegurar

condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de ensino. Em seu Art.

3º – I – implantação de salas de recursos multifuncionais; II – formação continuada

de professores para atendimento educacional especializado; III – formação de

gestores, educadores e demais profissionais da escola para a educação inclusiva

(BRASILÍA, 2008a).

No mesmo ano, foi assinado o documento “A política de Educação Especial

na perspectiva da Educação Inclusiva”. (BRASÍLIA, 2008b), que tinha por objetivo: o

acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos

globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares,

garantindo:

A - Atendimento educacional especializado;

B - Formação de professores para o atendimento educacional especializado e

demais profissionais da educação para a inclusão escolar;

C - Participação da família e da comunidade.

Esses documentos acima mencionados estabelecem que devam ser

assegurados sistemas educacionais inclusivos em todos os níveis de ensino

(BRASÍLIA, 2008b).

No ano de 2009 foi assinada a Resolução CNE/CEB No. 4 (BRASILIA, 2009),

que resolveu em seu Art. 1º – os sistemas de ensino devem matricular os alunos

com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e em seu Art. 2º: O

Atendimento Educacional Especializado - AEE tem como função complementar ou

suplementar a formação do aluno. Em seu Art. 3º: a educação especial se realiza

em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, tendo o AEE como parte

integrante do processo educacional. Esta Resolução estabeleceu as Diretrizes

Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica.

Em 2011 o Brasil assinou o Decreto 7.611, que decretou em seu Art. 1º – I –

garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação

e com base na igualdade de oportunidade; III – não exclusão do sistema

50

educacional sob alegação de deficiência; IV – garantia de ensino fundamental

gratuito; VII – oferta de educação preferencialmente na rede regular de ensino. Em

seu Art. 2º, parágrafo 1º – I – atendimento educacional especializado será

complementar ou suplementar à formação de estudantes com deficiência, transtorno

globais de desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na

frequência dos estudantes às salas de recursos multifuncionais (BRASÍLIA, 2011a).

A partir de 2012 o Brasil assinou a Lei no. 1, Lei 12.764 de 27 de dezembro

de 2012 que em seu Art. 2º definiu: as pessoas com transtornos do espectro autista

são consideradas pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais; em seu Art.

3º considerou como direito das pessoas com espectro autista: I – a vida digna, a

integração física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o

lazer. Parágrafo único: em caso de comprovada necessidade, a pessoa com

transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular, terá

direito a acompanhante especializado (BRASIL, 2012).

Como síntese do exposto, pode-se afirmar que a educação brasileira tem um

princípio, um meio e fim bem demarcado e facilmente observável, sendo sua

evolução em saltos desordenados, em diversas direções, onde em cada período

determinado teve características próprias.

A despeito da evolução na tentativa de acompanhar o que as agências

internacionais prescrevem para a educação de qualidade para todos, Bello (2001)

relembra é que os alunos, em geral, não aprendem o que as escolas se propõem a

ensinar e em 2002 foi demonstrado através de uma avaliação que 59% dos

estudantes que concluíam a 4ª série do Ensino Fundamental não sabiam ler ou

escrever. Na evolução da História da Educação brasileira a próxima ruptura

precisaria implantar um modelo educacional que fosse único, que atendesse as

necessidades de nossa população, com qualidade e que fosse eficaz.

O que se observa em relação ao sistema de ensino regular e para a

sociedade brasileira é a necessidade premente que os direitos garantidos por

Políticas Públicas, deixem de ser somente isto e passe a ser a construção de

respostas educacionais que atendam as necessidades dos alunos com deficiência.

As mudanças a ser implantadas devem ser responsabilidade tanto da sociedade,

quanto do poder público, pois as políticas falam em ensino gratuito e de qualidade

desde zero até dezoito anos, resultando com isso em melhora de vida para todas as

51

pessoas envolvidas no processo educacional e com isso retornando para a própria

sociedade toda a evolução que houver por parte dos envolvidos (MANTOAN e

ARANTES, 2006).

3.3 EDUCAÇÃO ESPECIAL

Nenhum homem é igual ao outro; cada um tem as suas próprias

especificidades. A humanidade porem não consegue lidar de forma sadia, madura e

consciente com esse conceito. Sempre houve pessoas vítimas de abusos de poder,

de superioridade ou que de alguma forma, por serem consideradas indesejáveis,

ameaçadoras, à ordem social, foram excluídas ou afastadas seja por sexo, raça,

religião, política ou até mesmo pela idade (BRASIL, 2007). Esse estigma se estende

também às pessoas portadoras de deficiências e essa mesma realidade obscura e

confusa procura “afastar” e “excluir” os indesejáveis cuja presença perturba e

ameaça a ordem social. Os indivíduos com deficiências, vistos como doentes e

incapazes, sempre estiveram em situação de maior desvantagem, ocupando a

posição de alvos de caridade popular e da assistência social e não de sujeitos com

direitos sociais, entre os quais se inclui o direito à educação. Ainda hoje, constata-se

a dificuldade de aceitação do diferente no seio familiar e social, principalmente do

portador de deficiências múltiplas e graves, que na escolarização apresentam

dificuldades acentuadas de aprendizagem.

Em todo mundo, durante muito tempo, o diferente foi colocado à margem da

educação: o aluno com deficiência era atendido apenas em separado ou então

simplesmente excluído do processo educativo, com base em padrões de

normalidade; a educação especial, quando existente, também se mantinha apartada

em relação à organização e provisão de serviços educacionais. Percorrendo os

períodos da história universal, desde os mais remotos tempos, evidenciam-se teorias

e práticas sociais segregadoras, inclusive quanto ao acesso do saber, onde a

pedagogia da exclusão tem origens remotas e as variadas tentativas de

educabilidade da pessoa com deficiência mental eram realizadas tendo em vista a

cura ou eliminação da deficiência através da educação.

A escola tradicionalmente se caracterizou pelo princípio teórico básico de

tratar todos da mesma maneira e pela visão da educação que delimitou a

escolarização como privilégio de um grupo e exclusão do outro, sendo legitimada

52

nas políticas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social, cujo resultado foi

considerado mais como desajuste do sistema e produto natural de seu dinamismo

do que da discriminação (BRASIL, 2007a).

Com o processo de democratização da escola, com a perspectiva de inserção

social mais abrangente, apoiada no tratamento igual dos diferentes, firmada na

existência de um mecanismo comum a todos, evidenciou-se o paradoxo

inclusão/exclusão quando os sistemas de ensino universalizavam o acesso, mas a

igualdade esteve longe de ser efetivada, pois continuavam excluindo indivíduos e

grupos considerados fora dos padrões homogeneizadores da escola, obtendo como

resultado a exclusão automática do deficiente mental. Portanto, de formas distintas,

a exclusão (afastar, omitir) tem apresentado características comuns nos processos

de segregação (separar, dividir, o estabelecer de forma comum de vida, de

aprendizagem e de trabalho entre pessoas deficientes e não deficientes) e

integração (ser participante, fazer parte), onde se pressupõe a seleção,

naturalizando o fracasso escolar (BRASIL, 2007a).

Quando dirigimos o nosso olhar para a história da Educação Especial no

Brasil, verificamos que a evolução do atendimento educacional especial irá ocorrer

com características diferentes daquelas observadas nos países europeus e norte-

americanos (MENDES, 1995). De uma maneira geral as ideias vindas da Europa

eram adaptadas por um Estado imperial e escravocrata onde a educação de

pessoas com deficiência não encontrou espaço para existir.

Inicialmente foi evidenciada na história da educação Especial no Brasil, uma

fase marcada pela negligência, em que havia uma ausência total de atendimento.

Os deficientes eram abandonados, perseguidos e eliminados devido às suas

condições atípicas, e a sociedade legitimava essas ações como sendo normais.

Entre os séculos XVIII e XIX no Brasil, não existia nenhum interesse pela educação

de pessoas consideradas idiotas e imbecis, persistindo a era da negligência

(MENDES, 2000).

No período Imperial, de 1822 a 1888, iniciou-se no Brasil, o tratamento de

doentes mentais em hospitais psiquiátricos, onde se misturavam doentes mentais e

deficientes mentais, pois não havia distinção entre eles.

O marco histórico do início da educação especial no Brasil, foi estabelecido

no período final do século XIX, com a criação do Instituto dos Meninos Cegos, em

53

1854 (hoje Instituto Benjamin Constant) e do Instituto dos Surdos Mudos (hoje

Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES) em 1857, ambos no Rio de

Janeiro, por iniciativa do governo Imperial (BUENO, 2001). Esses institutos tinham

caráter assistencialista, ou seja, sua política era de “favor”. Devido a diversos

conflitos, de cunho social, moral e econômico, estes institutos com o tempo

começaram a sofrer um processo de deterioração. Em 1874 foi criado o Hospital

Juliano Moreira na Bahia, dando início a assistência aos indivíduos com Deficiência

Mental. Assim, no período imperial, a Educação Especial se caracterizou por ações

isoladas e o atendimento se referiu mais as deficiências visuais e auditivas e, em

menor quantidade, às deficiências físicas. Em relação à deficiência mental houve um

silêncio quase absoluto.

Entre os séculos XVIII e início do século XIX, de acordo com Mendes (1995),

existia pouco interesse pela educação de pessoas consideradas idiotas e imbecis,

persistindo a era da negligência (MENDES, 2000), pouco tendo sido feito em relação

à deficiência mental, levando-se em consideração que ela não era considerada nem

como uma ameaça social nem como uma degenerescência da espécie, sendo a sua

concepção definida como se tratando de uma doença em geral atribuída à sífilis,

doenças venéreas e falta de higiene. A deficiência era atribuída aos infortúnios

ambientais, apesar da crença em uma concepção organicista e patológica.

Como esclarecimento a palavra idiota mencionada várias vezes neste texto e

cuja origem grega “idiotes” significa “pessoa leiga, com falta de habilidade

profissional”; e que com o passar do tempo passou a ser considerada como “uma

pessoa ignorante, simples” e já no uso da psiquiatria passou a ser “indivíduo

mentalmente deficiente, com grau avançado de atraso mental”. Esta última definição

é que passou a ser utilizada de forma costumeira por todas as pessoas leigas.

Interessante sobre o tema é a leitura do livro “O Idiota” (um epiléptico de bom

coração) de Fiódor Dostoiévski.

A partir de meados do século XIX a história da educação no Brasil começou a

ser mudada em relação às pessoas com deficiência mental onde, médicos e

pedagogos daquela época já começavam a acreditar na possibilidade de educar os

indivíduos considerados ineducáveis. Mas, apesar da crença na educabilidade,

infelizmente neste momento o cuidado era meramente assistencialista e

institucionalizado, por meio de asilos e manicômios (MENDES, 2006).

54

Enquanto o movimento pela institucionalização dos deficientes mentais, em

vários países, era crescente com a criação de escolas especiais comunitárias e de

classes especiais em escolas públicas, no nosso país havia uma despreocupação

com a conceituação, identificação e classificação dos deficientes mentais. Então,

começou-se lentamente a utilização das metodologias desenvolvidas por Jean Marc

Itard (1774 - 1838), Edward Seguin (1812 - 1880) e Maria Montessori (1870 - 1956),

para ensinar as pessoas denominadas deficientes mentais que se encontravam em

instituições. A defesa da educação dos deficientes mentais neste período no Brasil

visava à economia para os cofres públicos, pois assim evitava a segregação destes

em manicômios, asilos ou penitenciárias (JANNUZZI, 1992).

De forma lenta, após a Proclamação da República (1889), a educação

especial foi se expandindo; em 1903, o Hospital D. Pedro II (Bahia) instalou o

Pavilhão Bourneville, para tratamento de doentes mentais; em 1923 foi criado no

Hospital do Juqueri o Pavilhão de Menores e em 1927 o Instituto Pestalozzi de

Canoas (BUENO, 1993).

O interesse pelo deficiente mental se refletia também em uma preocupação

com a higiene. Para Bueno (1993), essa preocupação foi interpretada como início de

um processo de segregação pelos especialistas do aluno diferente, visto que a

escolaridade passou a ser algo abrangente. Este interesse dos médicos pela pessoa

com deficiência teve maior repercussão após a criação dos serviços de higiene

mental e saúde pública, dando origem à inspeção médico escolar em vários estados

brasileiros e no ano de 1911 em São Paulo. Neste início da história da educação

especial no Brasil, Jannuzzi (1992) identificou duas vertentes: médica, subordinada

ao médico com o diagnóstico no âmbito das práticas escolares e a pedagógica que

dependia também do médico através do diagnóstico, mas que enfatizava os

princípios pedagógicos, portanto ambas desaguavam na vertente médica.

Temos então Ulisses Pernambuco de Melo Sobrinho, médico psiquiatra,

professor e psicólogo (1892 – 1943), como um dos primeiros representantes, a

estudar a deficiência mental no Brasil, enfatizando a necessidade do atendimento

médico-pedagógico e criando uma equipe multidisciplinar para trabalhar com as

crianças com deficiência. Os médicos foram os primeiros a estudar as características

das crianças com prejuízos mais graves, criando instituições para estas crianças

junto aos sanatórios psiquiátricos. Em 1900, foi apresentada no 4º Congresso

55

Brasileiro de Medicina e Cirurgia uma monografia de Carlos Eiras, com o título “A

Educação e Tratamento Médico Pedagógico dos Idiotas”, que falava sobre a

necessidade pedagógica dos deficientes mentais (PEREIRA e SOUZA, 1994).

No início do século XX são trazidos para o Brasil professores e psicólogos

europeus para ministrar cursos para professores, entre eles chegou a Minas Gerais,

em 1929, Helena Antipoff, uma psicóloga russa que se radicou no país e influenciou

o panorama nacional da educação especial, sendo responsável pela criação de

serviços de diagnósticos, classes e escolas especiais. Em 1932 ela criou a

Sociedade Pestalozzi localizada em Minas Gerais, que se expandiu por todo o país

em 1945. Neste período havia a preocupação com a identificação e educação dos

estados anormais da inteligência, resultando na criação e desenvolvimento de

classes especiais em escolas públicas e a formação de pessoas para trabalhar com

essa clientela visando oferecer à pessoa deficiente uma educação à parte. Houve

também reformas pedagógicas, com a entrada da psicologia na educação, passando

a ser difundido o uso de testes de inteligência para identificar os deficientes mentais.

As futuras vertentes psicopedagógicas foram influenciadas pelas reformas da

educação de pessoas com deficiência no Brasil. A partir daí se observa maior

preocupação no panorama nacional com a identificação dos casos leves de

“anormalidade da inteligência” nas escolas regulares, uma vez que os casos mais

graves já eram a priori considerados rejeitados pela escola pública (JANNUZZI,

1992).

Até 1930, a deficiência fundamentava-se nos modelos de diagnósticos:

médico e social. O modelo médico diferenciava a doença (situação temporária) da

deficiência (situação irreversível), já o social identificava a diferença na inadequação

da sociedade de incluir todos sem exceção, sendo que os que não se encaixavam

no modelo de êxito eram segregados em espaços separados para que não

interferissem no aprendizado dos demais. Após 1930 houve o aparecimento da

expressão “ensino emendativo” com o significado de corrigir “a falta”, “tem defeito”,

portanto suprir as falhas decorrentes da anormalidade (JANNUZZI, 2004). Ao

estudar a educação de pessoas deficientes mentais no Brasil, até por volta de 1935,

Jannuzzi (2004) concluiu:

1) Não houve solução escolar para os deficientes mentais;

56

2) A concepção de deficiência mental englobou diversas e variadas crianças, com

comportamentos divergentes das normas sociais estabelecidas pela sociedade e

então veiculadas nos padrões escolares;

3) A classificação ficava ao nível do discurso, sendo pouca aplicada tendo em vista a

descolarização geral das crianças.

Entre a década de 1930 e 1940 ocorreram várias mudanças na educação

brasileira, como por exemplo, a expansão do ensino primário e secundário, a

fundação da Universidade São Paulo, etc. Podemos dizer ainda que a educação do

deficiente mental neste período não era considerada um problema a ser resolvido,

pois a preocupação era mais com a educação das pessoas normais. A partir daí,

apesar do descaso observado na atuação do governo, começaram a surgir às

preocupações em relação à educação das pessoas deficientes mentais (BUENO,

1993). Nesse período, o número de entidades, em sua maioria particular, aumentou

de forma significativa visando o atendimento dos deficientes. Com relação aos

deficientes mentais surgiram em 1932 as Sociedades Pestalozzi de Minas Gerais e

do Rio de Janeiro, em 1936 da fundação Dona Paulina de Souza Queiroz, em São

Paulo, em 1941, surgiu a Escola Especial Ulisses Pernambuco e a Escola Alfredo

Freire, no Recife (BUENO, 1993).

Observa-se ainda a predominância na escola da despreocupação com a

conceituação, classificação e a criação de serviços que atendiam a clientela dos

deficientes mentais. A pequena seleção dos anormais na escola era em função de

critérios baseados em defeitos pedagógicos e os escolares eram considerados como

“subnormais intelectuais”, caracterizados como aqueles com a atenção fraca,

memória lenta, decisão difícil e credibilidade insuficiente (BUENO, 1993).

No ano de 1939, Helena Antipoff criou uma escola para crianças excepcionais

na fazenda do Rosário, em Itibirê, Minas Gerais, que pretendia integrar a escola à

comunidade rural, dando inicio ao complexo Educacional da Fazenda do Rosário

(CAMPOS, 2003). Além disso, participou do movimento que culminou na

implantação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, em 1954 e

também na formação de um grande número de profissionais para a área da

Educação Especial.

No panorama mundial, a década de 1950, foi marcada por discussões sobre

os objetivos e qualidades dos serviços educacionais especiais. No Brasil, este

57

período foi marcado pela negligência ou omissão por parte do governo em relação à

deficiência e a produção teórica referente à deficiência esteve restrita aos seus

meios acadêmicos, com escassas ofertas de atendimento educacional para os

deficientes mentais (MENDES, 1995). Nas décadas de 1950 e 1960, foram abertos

alguns institutos ligados aos deficientes: cegos e surdos. Nestes institutos, além da

aquisição da linguagem, propunha-se a formação profissionalizante dos alunos

através de habilidades manuais, por exemplo: torneiro, empalhador, etc.

Entre 1948 e 1961, no Brasil a educação especial foi influenciada pela criação

dos conselhos estaduais de educação e a cooperação financeira assegurada por lei

às escolas privadas, havendo com isso, uma grande expansão no número de

estabelecimentos de ensino especial para portadores de deficiência mental, das

escolas e classes especiais nas escolas públicas e de escolas especiais

comunitárias privadas sem fins lucrativos (MENDES, 2000). No ano de 1957, foi

assumido explicitamente pelo governo federal, o atendimento educacional aos

indivíduos que apresentavam deficiência, em âmbito nacional, com a criação de

campanhas voltadas especificamente para este fim.

A partir de 1960 foi criada a “Campanha Nacional de Educação e Reabilitação

de Deficientes Mentais (CADEME). A CADEME tinha a finalidade de promover em

todo território Nacional, “educação, treinamento, reabilitação e assistência das

crianças retardadas e outros deficientes mentais de qualquer idade e sexo”

(MAZZOTTA, 1996). Na década de 1960 também chegou ao Brasil um movimento,

vindo de países europeus, com a difusão nos países da América do Norte e do Sul,

tentando sensibilizar professoras, pais e autoridades em favor da integração

educacional dos alunos com algum tipo de deficiência em escola regular. Com isso

foi permitido um atendimento mais específico para os deficientes: classes especiais,

salas de recursos, escolas especiais, etc.

Com a criação da Lei no. 4.024/61 de Diretrizes e Bases da Educação - LDB,

em cujo texto apareceu a expressão “a educação de excepcionais” em que previu o

instrumento legal, para acelerar, coordenar e orientar os esforços de toda a

Educação no Brasil, e em cujo Artigo 88 mencionou: “a educação de excepcionais

deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação a fim de

integrá-lo na comunidade” e no Artigo 89: “A educação de excepcionais, receberá

dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsa de estudo, empréstimo e

58

subvenção” (BRASIL, 1961). Esta Lei tem sua atenção voltada para o ensino,

resultando em escolas que não educam, somente instruem. Segundo Mazzotta

(1990) a promulgação desta lei foi o marco inicial das ações oficiais do poder público

na área da educação especial, que antes se restringiam às iniciativas isoladas no

contexto da política educacional, tendo como exemplo, as instituições Pestalozzi e

as APAE’s.

Ao longo da década de 1960, ocorreu o fortalecimento da iniciativa privada,

com a criação de instituições de natureza filantrópicas sem fins lucrativos, resultando

com isso na omissão do governo em relação à educação pública, percebendo-se

que a partir daí as parcerias feitas junto ao governo eram financiadas com recursos

da área de assistência social, permitindo assim ao governo, ser exonerado da sua

responsabilidade em relação à educação. Em 1962, a fundação da “Federação

Nacional das APAE’s”, ajudou a implantação de políticas de orientação

psicopedagógica, médica e social específicas para a deficiência mental.

Este fortalecimento da iniciativa privada resultou na maior expansão do

número de escolas de ensino especial já vista no país. Em 1969, havia mais de 800

estabelecimentos de ensino especial para deficientes mentais, sendo cerca de

quatro vezes mais do que a quantidade existente no ano de 1960. A evolução no

serviço de assistência ao deficiente mental resultou em um acréscimo significativo

de estabelecimentos para pessoas com deficiência mental, sendo a rede de serviços

compostas em 74% por classes especiais, a maioria delas em escolas estaduais

(JANNUZZI, 1992). As instituições especializadas compunham cerca de um quarto

dos serviços e era em torno de 80% dos casos de natureza privada.

Houve um crescimento do índice de reprovação dos alunos ditos normais.

Sobre isso, Jannuzzi (1992) esclareceu que enquanto a sociedade civil se

organizava para achar soluções para o problema de escolaridade dos deficientes

mentais, a escola pública estendeu as matrículas às classes populares. Com isso

observou-se uma nítida relação diretamente proporcional entre o aumento da

oportunidade de escolarização para classes mais populares e a implantação de

classes especiais para os casos considerados de deficiência mental leve nas

escolas públicas, tendo em vista um crescimento significativo do índice de

reprovação e de evasão, sendo então feita uma associação entre o fracasso escolar

59

e o grau de deficiência mental leve (JANNUZZI, 1992). Como a repetência era

considerada critério básico para o diagnóstico da deficiência mental, o

encaminhamento de indivíduos com baixo rendimento escolar para os serviços de

educação especial foi ampliado, pois na época não havia um abrangente serviço que

conseguisse fazer a avaliação e diagnóstico de toda essa população; e frente a isto,

sem surpresa, constatou-se com o passar do tempo, que havia uma significativa

representação da população de nível sócio-econômico baixo nos serviços de ensino

especial no Brasil, mas que não eram deficientes (FERREIRA, 1989).

O conceito de deficiência estava sendo confundido com os problemas sociais

ligados à pobreza, ao fracasso escolar, sendo os alunos pobres e repetentes que

mobilizaram mais a educação especial nas escolas públicas do país, servindo de

justificativa para a implantação de classes especiais. Como consequência, a grande

maioria dos alunos pobres e repetentes se tornava deficientes quando entravam

para escola, o que justificava o fracasso escolar, com o discurso da existência de

limitações, diferenças ou deficiências (FERREIRA, 1989).

A partir do momento em 24 de janeiro de 1967, que foi promulgada a Nova

Constituição, permitiu estender a educação de 07 a 11 anos para de 07 a 14 anos,

tornando-se obrigatória para todas as crianças brasileiras, inclusive para as crianças

especiais.

No do ano de 1968, foi promulgada a Lei 5.540/68. Neste momento já havia

uma proposta solicitando aos educadores um atendimento diferenciado ao aluno

especial, mas a proposta legal não explicitou preocupações relacionadas à

Educação Especial. De acordo como Decreto no. 63.223/68, o Brasil assinou a

Convenção Relativa à Luta Contra a Discriminação no Campo do Ensino, adotada

pela Conferência Geral da Organização Educacional, Científica e Cultural das

Nações Unidas (UNESCO, 1960), com medidas para lutar contra os diversos

aspectos da discriminação no ensino e assegurar a igualdades de tratamento,

confirmando a tendência de respeitar as características e cada pessoa em especial

no processo ensino-aprendizagem.

No momento em 1971 é promulgada a Lei 5.692/71 (BRASIL, 1971) que

altera a LDB de 1961, ao definir “tratamento especial” para os alunos com

60

deficiências mentais, terminando por não promover a organização de um sistema de

ensino capaz de atender às necessidades educacionais especiais e acaba

reforçando o encaminhamento dos alunos para as classes e escolas especiais. Esta

Lei em seu Artigo 9º definiu a clientela de educação especial como alunos que

apresentavam deficiências físicas, ou mentais, os que se encontravam em atraso

considerável quanto à idade regular de matrícula, dando a educação especial, uma

identificação com os problemas do fracasso escolar evidenciados com a expansão

da rede pública na década de 1960 (KASSAR, 1998). Deve-se ressaltar que antes

da década de 1970, já haviam aparecido às primeiras organizações não

governamentais no campo de assistência, apoiadas pelo setor público de assistência

social, inauguradas na década de 1940, com a criação do Conselho Nacional de

Serviço Social (CNSS) e a Legião Brasileira da Assistência (LBA) que

posteriormente assumiram o papel do financiamento das instituições privadas, de

assistência à deficiência.

Na década de 70, nos países desenvolvidos ampliam-se as discussões e

questionamentos sobre a integração dos deficientes mentais na sociedade. No

Brasil, esta fase de integração da criança deficiente mental no processo educativo,

fundamentava-se no fato de que a criança deveria ser educada até o limite de sua

capacidade. De acordo com Mendes (1995), a defesa das possibilidades ilimitadas

do individuo e a crença de que a educação poderia fazer uma diferença significativa

no desenvolvimento e na vida das pessoas apareceu desde o movimento filosófico

posterior à Revolução Francesa. Desse momento em diante o conceito de

educabilidade do potencial do ser humano passou a ser aplicado também à

educação das pessoas que apresentavam deficiência mental.

A partir de 1973, foi aprovado o Decreto 72.425/73 que criou o Centro

Nacional de Educação Especial (CENESP), passando a ser o 1º Órgão Educacional

do Governo Federal, responsável pela definição da política de educação especial,

além da implantação dos primeiros cursos de formação de professores na área de

Educação Especial ao nível de 3º Grau e os primeiros programas de pós-graduação

ligados à educação especial (BUENO, 2002).

No momento em 1977 que foi criado o Ministério da Previdência e Assistência

Social, formalizou diretrizes para ação no campo do atendimento a “excepcionais”,

61

dispondo sobre atendimento integrado com ações complementares de assistência

médico-psico-social e de educação especial, definindo e delimitando sua clientela,

decidindo sobre diagnóstico, encaminhamento, supervisão e controle, reforçando o

caráter assistencial mais do que educativo de atendimento.

A prática da integração social no cenário mundial teve seu maior impulso a

partir dos anos 80, como reflexo dos movimentos de luta pelos direitos dos

deficientes, surgindo novas iniciativas quanto à educação especial. No Brasil, essa

década representou também um tempo marcada por muitas lutas sociais

empreendidas pela população marginalizada.

Em 1985 foi criado pelo governo federal um comitê para planejar e traçar

políticas de ações conjuntas na questão dos portadores de deficiência e problemas

de conduta, integrando-os na sociedade.

Em 1986 foi lançado o “Plano Nacional de Ação Conjunta” e instituída a

coordenadoria para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) que

passou a decidir sobre a atuação da administração Federal, quanto às pessoas com

deficiência física. No mesmo ano é criada a Coordenação Nacional para Integração

da Pessoa Portadora de Deficiência; em 1990 a Secretaria Nacional de Educação

Básica assumiu a responsabilidade na implementação da política de educação

especial (MENDES, 2000).

As mudanças sociais ainda que mais nas intenções do que nas ações, foram

se manifestando em diversos setores e contextos e, sem dúvida alguma, o

envolvimento legal nestas mudanças foi de fundamental importância. Nesse sentido,

a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, estabeleceu a integração escolar

enquanto preceito constitucional, preconizando o atendimento aos indivíduos que

apresentavam deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, garantindo o

direito ao atendimento educacional especializado.

Com isso pode-se dizer que ficou assegurado pela Constituição Federal

Brasileira (1988) o direito de todos à educação, garantindo, assim, o atendimento

educacional de pessoas que apresentavam deficiência mental, com o agravante de

esse acesso servir mais para a legitimação da marginalidade social do que à

ampliação das oportunidades educacionais para essa população.

62

Olhando a história da Educação Especial até a década de 1990, constatam-se

pequenas conquistas em relação à educação dos indivíduos que apresentavam

deficiência mental, observando-se uma política mais assistencialista do que

educacional. Para Bueno (1993), na década de 1990 ainda era mínimo o acesso à

escola regular para alunos com deficiência com 1,5% a 2,0% de matriculados,

servindo mais para legitimar a marginalidade social do que à ampliação das

oportunidades educacionais de crianças com necessidades educacionais especiais

(BUENO, 1993). No sistema educacional brasileiro, as escolas especiais

filantrópicas não asseguravam a escolarização ou a classe especial nas escolas

estaduais, que eram utilizados mais como mecanismo de exclusão do que de

escolarização (FERREIRA, 1989).

Com referência aos currículos desenvolvidos nas classes especiais, pareciam

limitar-se ao desenvolvimento de programa de prontidão, num modelo remediativo,

focando os problemas centrados no indivíduo, cuja incapacidade escolar, estivesse

ligada aos processos cognitivos. A função da didática escolar era ver a infantilidade

do aluno com deficiência, supondo que ele deveria aprender habilidades típicas do

nível pré-escolar, adquirindo com isso prontidão para a alfabetização. A estratégia

utilizada era treinar os alunos em atividades preparatórias com ênfase na repetição

(FERREIRA, 1993).

Como resultado deste modelo remediativo, os alunos eram segregados

(isolados, com o fim de isolar e evitar contato) em ambientes educacionais, sendo

rotulados de deficientes e tratados como crianças pré-escolares. A educação

oferecida acrescentava-lhes um duplo ônus: o rótulo e o estigma da deficiência e

consequentemente a exclusão social, através de uma educação de qualidade

inferior (FERREIRA, 1993).

As classes e escolas especiais deste período eram baseadas no princípio da

segregação educacional, transformando o ensino especial num espaço de legítima

exclusão e descriminação social, num forte mecanismo de seletividade social, na

escola pública de primeiro grau e em decorrência disso, surgindo às críticas e as

restrições por diversos segmentos da sociedade em relação à educação especial

frente à educação regular (FERREIRA, 1993).

63

Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei no.

8.069/90 (BRASÍLIA, 1990), da Declaração de Educação para Todos (UNESCO,

1990) e Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994) documentos já citados, tem início

o debate da educação inclusiva que se opõe ao discurso da integração e essa nova

postura passa a influenciar a formulação das políticas da educação inclusiva.

Encontram-se após as referências, em ordem cronológica, a sequência de

documentos, leis, decretos, resoluções que se firmaram no âmbito da educação

brasileira e que demonstram o longo caminho que o Brasil vem percorrendo para

conseguir efetivar as prerrogativas presentes no anseio da educação inclusiva.

3. 4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Partindo do que já se apresentou anteriormente sobre a evolução da

educação especial, pretendemos enfatizar sua perspectiva na questão da educação

inclusiva ocorrida no mundo e também no Brasil.

O movimento em favor da inclusão escolar é mundial tendo se iniciado nos

Estados Unidos da América (EUA), quando foi instituída a primeira Lei Pública de no.

94.142, de 1975, “O Ato de Educação de Todas as Crianças Deficientes” (EUA,

1975), que foi ao encontro da defesa dos direitos dos então denominados portadores

de deficiência frequentar as instituições de ensino regular dando início ao movimento

mundial pela inclusão. Esta Lei garantia em seus itens: 1) prestação de serviços de

Educação Especial a todos que dela necessitarem; 2) maior precisão da tomada de

decisões quanto ao fornecimento dos serviços aos deficientes; 3) maior precisão e

clareza quanto aos critérios de avaliação na tomada de decisões no âmbito da

educação especial.

Esse movimento nos Estados Unidos sobre defesa dos direitos das pessoas

com deficiência cruzou com as discussões sobre saúde mental. O movimento

antimanicomial atingiu primeiro as instituições que faziam o atendimento contínuo

dos deficientes, em escolas residenciais e asilos, onde os familiares abandonavam

os deficientes, mas concluiu-se com o tempo que este tipo de atendimento não

funcionava. Em função disto surgiram novos serviços médicos, assistenciais e

educacionais (EUA, 1975).

Em um primeiro momento, nos EUA, pensou-se que só a integração física do

aluno com deficiência dentro da escola regular seria suficiente para sua educação,

64

mas com o passar do tempo percebeu-se que somente isso não era suficiente.

Notou-se então que a integração de pessoas com deficiência, em contextos sociais

mais amplos, não era problema do sujeito, da família ou da escola, era um problema

de toda a sociedade (EUA, 1975).

Esta Lei deu início à inserção dos deficientes na escola regular de ensino nos

EUA. Em 1986, crianças com deficiências leves e moderadas começaram a ser

inseridas nas classes regulares, junto com os alunos comuns. Em 1991, O Ato de

Educação para os Indivíduos com Deficiência – IDEA ampliou as propostas da Lei

Pública 94.142 de 1975 dos EUA: a criança norte americana deficiente só sairá da

classe regular e, portanto da escola normal, se a natureza da severidade do seu

caso assim o exigir.

Em 1997, a legislação garantiu à educação pública e gratuita nos EUA, assim,

a situação da educação inclusiva passou a ser considerada sinônimo de inclusão,

pois já estava prevista em lei e fornecia um suporte praticamente integral aos

sujeitos e às suas famílias.

Este movimento pela inclusão deflagrado em 1975 nos EUA envolveu

diversos países, inclusive o Brasil, na defesa do direito de todas as crianças e jovens

à educação, condenando toda forma de segregação e exclusão e constituindo um

paradigma educacional inclusivo fundamentado na concepção dos direitos humanos.

Desencadeou uma ação política, social e pedagógica em defesa do direito de todos

os alunos estarem juntos aprendendo e participando, sem nenhum tipo de

discriminação, baseado na concepção de direitos humanos, avançando em relação

à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da

produção da exclusão dentro e fora da escola (BRASIL, 2007a).

É necessário lembrar que, historicamente no Brasil, a escola regular se

caracterizou pela visão em que a escolarização foi por certo tempo um privilégio de

um grupo, excluindo os demais. Com a democratização da escola, evidenciou-se o

paradoxo inclusão/exclusão quando os sistemas de ensino passaram a universalizar

o acesso, mesmo assim excluindo indivíduos considerados fora dos padrões

homogeneizadores da escola (BRASIL, 2007a). Portanto, na educação brasileira, de

forma distinta dos EUA, a inclusão/exclusão apresentou características comuns nos

processos de integração/segregação, que pressupunham a seleção educacional,

naturalizando o fracasso escolar.

65

As escolas regulares no Brasil, frente ao desconhecimento e à busca imediata

para resolver a premência da observância do direito de todos à educação, precisou

buscar alternativas para os alunos com deficiência mental. Pela falta de preparo da

escola em atender a essa demanda, encaminhou-os para salas especiais,

resultando com isso na manutenção do caráter substitutivo da Educação Especial na

educação regular, principalmente em relação aos alunos com deficiência mental. Ao

fazer todas essas adaptações de âmbito educacional, o professor interferiu de fora

para dentro, submetendo os alunos ao que ele supunha que fossem capazes de

aprender.

Portanto, na concepção da escola inclusiva, a adaptação ao conteúdo escolar

foi realizada pelo próprio aluno, resultando em sua emancipação intelectual, sendo

que ele próprio assimilou o novo conhecimento de acordo com suas possibilidades,

ao incorporá-lo ao que já conhecia. Frente ao exposto a educação não se estruturou

na perspectiva da inclusão e do atendimento às necessidades educacionais

especiais dos alunos deficientes mentais, ela simplesmente se limitou a cumprir o

princípio constitucional que previa a igualdade de condições para o acesso e

permanência na escola e a continuidade nos níveis mais elevados de ensino.

A educação inclusiva assumiu então espaço central no debate entre

sociedade contemporânea e espaço escolar quando reconheceu as dificuldades

enfrentadas pelo sistema de ensino, que mostravam a necessidade de controlar as

práticas discriminatórias, pois não se podia incluir em determinado grupo alguém

que a ele já pertencia, mas apenas aquele que se encontrava excluído, ou seja, para

haver inclusão houve necessidade de existir exclusão. Houve então a necessidade

de se criar alternativas para superá-las, pois o papel da escola foi e será conseguir a

superação da lógica da exclusão (BRASIL, 2007a).

Com a inclusão escolar, verificou-se também a necessidade de mudanças na

escola regular, pois o número de alunos categorizados como deficientes mentais foi

ampliado, incluindo nesta categoria todos os alunos que apresentavam qualquer tipo

de dificuldade no rendimento escolar e também os que não conseguiam seguir as

normas disciplinares da escola, resultando em exclusão generalizada.

Considerando-se que as pessoas se modificam continuamente transformando

o contexto educacional no qual estão inseridas, esse dinamismo exigiu uma situação

pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância

66

dos ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os alunos.

As pessoas com deficiência tinham o direito do acesso ao ensino fundamental

inclusivo, de qualidade e gratuito em igualdade de condições com as demais

pessoas ditas normais na comunidade em que viviam.

A necessidade de uma escola inclusiva exigiu a construção de sistemas

educacionais inclusivos, organização de escolas e classes especiais foram

repensadas; implicando em uma mudança estrutural e cultural destas escolas para

que todos os alunos tivessem suas especificidades atendidas.

Nos últimos anos, as políticas brasileiras foram organizadas na modalidade

de ensino da Educação Especial a partir da perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2007). De acordo com esta perspectiva, a escolarização dos alunos

considerados público alvo da Educação Especial, deveria ocorrer no ensino comum,

mas por muito tempo a Educação Especial organizou seus serviços de forma

substitutiva ao ensino comum, atuando como um sistema paralelo de educação,

sendo que o lócus deste sistema situava-se em espaços separados e considerados

especializados, como: classes, escolas e instituições especiais (BRASIL, 2007a).

A escola inclusiva passou a exigir a mudança dos papéis tradicionais dos

professores para se tornarem mais próximos dos alunos, na captação das suas

maiores dificuldades. Ela também propôs a integração com a comunidade, sendo os

pais, considerados parceiros essenciais no processo de inclusão de seus filhos com

necessidades especiais (BRASIL, 2007a).

No final da década de 1980, no Brasil, por meio do paradigma da inclusão,

iniciou-se um movimento, com base no princípio de igualdade de oportunidade nos

sistemas sociais, incluindo a instituição escolar. Esse movimento no âmbito

educacional teve como preceito o direito de alunos com deficiência frequentarem a

escola regular e a valorização da diversidade, de forma que as diferenças

passassem a ser parte do estatuto da instituição escolar e todas as formas de

construção da aprendizagem, fossem consideradas no espaço escolar.

Percebeu-se então que a proposta da educação inclusiva foi e ainda é

controversa, embora muitos avanços já tenham sido alcançados. Pode-se dizer que

essa luta teve um grande impulso a partir da Constituição Federal promulgada em

1988 (BRASIL, 1988) e que garantiu a educação inclusiva ao afirmar que “o

atendimento educacional, às pessoas com necessidades especiais (NEE), deverá

67

ocorrer em rede regular de ensino”. Daí decorreu a necessidade da promulgação de

ações, consoantes com as políticas para o movimento inclusivo.

Na década de 1990, a inclusão escolar no Brasil, influenciada por diretrizes

internacionais, com base nos princípios da Declaração de Salamanca (BRASIL,

1994), foi se constituindo como proposta prioritária na legislação brasileira em

relação aos alunos deficientes, partindo do pressuposto que a educação inclusiva se

caracterizou como uma ampliação de acesso à educação dos grupos historicamente

excluídos em função de sua classe, etnia, gênero, idade, deficiência, etc.

Desde a Declaração de Salamanca (1994), observa-se que o termo

necessidade educacional especial assim como a expressão educação inclusiva

passaram a abranger desde pessoas com dificuldades de aprendizagem

decorrentes de condições econômicas e socioculturais, até pessoas com algum tipo

de deficiência.

O conceito de educação inclusiva foi, portanto entendido como um processo

amplo, no qual a escola devia ter condições estruturais (físicas, de recursos

humanos qualificados e financeiros) para acolher e promover condições

democráticas de participação dos alunos com necessidades educacionais especiais

no processo de ensino-aprendizagem. Este conceito definia um processo no qual a

escola podia promover não só o acesso e a permanência, mas também o

aproveitamento social e escolar do aluno com deficiência, levando em consideração

as singularidades de cada um, com ou sem apoio especializado.

O acompanhamento pedagógico do aluno com déficit cognitivo é apontado

por diferentes autores como um dos grandes desafios para a educação, que se

habituou a trabalhar com o aluno ideal, dentro de um padrão predominantemente

nacional, baseado em um modelo único de ensino-aprendizagem, sem considerar a

diversidade humana e as possibilidades de escolarização de pessoas com

deficiência mental (BRASIL, 2007a).

Em 1996, a Lei de Diretrizes da Educação Nacional, Lei 9.394/96 em seu

artigo 59, informou que os sistemas de ensino deveriam assegurar aos alunos:

currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas

necessidades e assegurando a terminalidade específica àqueles que não atingiram

o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas

deficiências (BRASIL, 1996).

68

No ano de 2001, a Lei 10.172/2001, Plano Nacional de Educação – PNE

destacou que “o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a

construção de uma escola inclusiva que garantisse o atendimento à diversidade

humana”. Quando se estabeleceu que os sistemas de ensino deveriam favorecer o

atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, constatou-se um

déficit referente à oferta de matrículas para alunos com deficiência nas classes

comuns do ensino regular, à formação docente, à acessibilidade física e ao

atendimento educacional especializado (BRASIL, 2001a).

A Resolução CNE/CEB no. 2/2001, acompanhando o processo de mudança

educacional, determinou em seu artigo 2º que os sistemas de ensino deveriam

matricular todos os alunos, cabendo às escolas, organizarem-se para o atendimento

aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as

condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. As diretrizes

ampliaram o caráter da educação especial para realizar o atendimento especializado

complementar a escolarização. Porém, ao admitir a possibilidade de substituir o

ensino regular, as diretrizes não potencializaram a adoção de uma política de

educação inclusiva na rede pública de ensino, prevista em seu artigo 2º (BRASIL,

2001b).

A Resolução CNE/CP no. 1/2002, “Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação de Professores de Educação Básica, em Nível Superior”, determinou que

as instituições de ensino superior devessem prever, em sua organização curricular,

formação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemplasse

conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais

especiais (BRASIL, 2002).

No ano de 2003, foi implantado pelo Ministério da Educação e Cultura –

MEC, o Programa Educação Inclusiva, direito à diversidade, apoiando a

transformação dos sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos,

promovendo um amplo processo de formação de gestores e educadores, para a

garantia do ensino de acesso de todos à escolarização, à oferta de atendimento

educacional especializado e à garantia de acessibilidade.

Em relação à formação dos professores é importante ressaltar os dados do

censo escolar de 1998 em comparação ao ano de 2006, que são mencionados a

seguir. De acordo com o Censo Escolar/MEC/INEP, realizado regularmente em

69

escolas regulares no ano de 1998 e acompanhando os indicadores de educação

especial, os dados obtidos com relação à formação inicial dos professores que

atuavam nesta área, que 3,2% professores possuíam o ensino fundamental, 51%

ensino médio e 45,7% ensino superior. Já no Censo Escolar de 2006, dos 54.625

professores nessa função, 0,62% registram ensino fundamental, 24% ensino médio,

75,2% ensino superior. Neste mesmo ano 77,8% desses professores declararam ter

curso específico nessa área de conhecimento (CENSO ESCOLAR, 2006).

Essas informações obtidas pelo Censo Escolar são utilizadas para traçar um

panorama nacional de educação básica e servem de referência para a formulação

de políticas públicas e execução de programas na área de educação.

A partir de março de 2004, foi implantada a Lei 10.845/04 que garantiu o

atendimento educacional especializado aos alunos que não dispunham de

habilidades para a inclusão no ensino regular. Assegurou também a inclusão

progressiva das pessoas com necessidade educacional especial – NEE – em

classes do ensino regular.

Disso decorreu que a educação inclusiva passou a ser um processo amplo

que abrangeu a inclusão de pessoas com deficiências ou distúrbios de

aprendizagem em classe regular de ensino em todos os seus graus, amparado em

um conceito mais amplo de sociedade inclusiva, que foi além dos pressupostos da

inclusão social, que estava fundado no princípio da universalidade dos direitos

sociais, cujo conceito de cidadania não podia ser um conjunto de direitos

naturalmente garantidos somente porque transformado em lei.

Assim a educação inclusiva, também devia ser uma ação coletiva voltada

para pessoas singulares inseridas em um contexto sociocultural que abarca as

diversidades humanas, cuja amplitude convocou escola, família, comunidade e

educadores para participarem (BRASIL, 2004).

Já em 2006, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,

estabeleceu que as pessoas com deficiência não fossem excluídas do sistema

educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não

fossem excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de

deficiência.

Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passou a integrar

a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às

70

necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais

de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, atuando de forma articulada

com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais

especiais desses alunos, pela atual “Política Nacional de Educação Especial na

perspectiva da Educação Inclusiva”, cujo preceito foi o de que todas as crianças e

adolescentes deviam ser matriculados no ensino comum, intensificando o

movimento de inclusão. Com base nessa perspectiva, dispositivos normativos

passaram a vigorar, com o intuito de fundamentar e assegurar a inclusão escolar

(BRASÍLIA, 2008a), garantindo: 1) transversalidade da educação especial desde a

educação infantil até a educação superior; 2) continuidade da escolarização nos

níveis mais elevados do ensino; 3) formação de professores para o atendimento

educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão

escolar; 4) participação da família e da comunidade; 5) acessibilidade nos

mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; 6)

articulação intersetorial na implantação das políticas públicas.

A educação especial dentro da perspectiva inclusiva ofereceu apoio e

serviços, de caráter complementar e/ou suplementar, que visavam garantir a

participação e a construção da aprendizagem desses alunos na escola regular.

Para a implementação dessa Política prevista no Decreto no. 6.751/2008

(BRASIL, 2008b), a Resolução CNE/CEB no. 4/2009, no art. 4º definiu o público alvo

que deveria ser matriculado no atendimento educacional especializado, AEE como: I

– Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo de

natureza física, intelectual, mental ou sensorial; II – Alunos com transtornos globais

do desenvolvimento: aqueles que apresentam um quadro de alterações no

psicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou

estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição aluno com autismo clássico,

síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância

(psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. III – Alunos com

habilidades/superdotação; aqueles que apresentam um potencial elevado e grande

envolvimento com as áreas de conhecimento humano, isoladas ou combinadas:

intelectual, psicomotora, artes e criatividade (BRASIL, 2009).

O atendimento educacional especializado (AEE) tem como função identificar,

elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as

71

barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as necessidades

específicas. Este atendimento é realizado mediante a atuação de profissionais com

conhecimentos específicos.

As atividades desenvolvidas neste atendimento diferem daquelas realizadas

na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização, completando e/ou

suplementando a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na

escola e fora dela. Este atendimento deve estar articulado com a proposta

pedagógica do ensino comum.

Dentre as atividades de atendimento educacional especializado são

disponibilizados programas de enriquecimento curricular, o ensino da linguagem e

códigos específicos de combinação e sinalização e tecnologia assistiva (BRASIL,

2008b).

A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera tanto o

conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto às

possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica

processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu

progresso individual, prevalecendo os aspectos qualitativos que indiquem

intervenções pedagógicas do professor, no auxílio do cotidiano escolar.

Nota-se que a legislação de ensino especial apresenta uma contradição: de

um lado o convencionamento que a legislação específica pode resultar em aumento

da segregação e estigmatização dos indivíduos com a crítica que se fez sobre a

escola especial e do outro a crença que a referência legal seria um patamar

mínimo para assegurar o atendimento de direitos básicos dos deficientes, inclusive

na educação de 7 a 14 anos quando todos deveriam estar preferencialmente

matriculados em escola regular (BRASIL, 2008b).

Constata-se, com isso, que se tornam cada vez mais necessárias leis gerais,

permitindo que pessoas, deficientes ou “normais”, façam parte da sociedade, com o

direito da igualdade de oportunidades. Da mesma forma, a educação inclusiva

deflagrou o esgotamento das práticas tradicionais de educação especial de ser

sistema paralelo substitutivo do ensino comum, ocorrido em escolas especiais e

classes especiais durante muito tempo.

A inclusão escolar denunciou o esgotamento das práticas da escola comum,

com base no modelo transmissivo do conhecimento, na espera pelo aluno ideal, na

72

padronização dos resultados esperados pela avaliação classificatória, no currículo

organizado de forma disciplinar e universal na repetência, na evasão, nas turmas

organizadas por série, enfim, em tantos outros elementos que compõem o universo

das práticas escolares.

Com o advento da inclusão tornou-se necessária à definição do papel de cada

participante do processo educacional: aluno, professor, direção, escola, etc., pois a

educação para todos exige atuação de todos os envolvidos sem nenhuma

superposição, cabendo à escola especial complementar e/ou suplementar a escola

comum, ajudando a construir o saber universal.

A escola regular desenhada para todos, inclusive para os deficientes mentais,

foi aquela que reconheceu que cada aluno é diferente e o seu desafio foi o de

valorizar estas diferenças para o enriquecimento da ação pedagógica, tendo em

vista que cada criança é uma criança, devendo-se considerar o contexto educacional

ao que estava inserida, suas habilidades, dificuldades, gostos, desejos, preferências,

etc. (BRASIL, 2008a).

Com a inclusão, verificou-se também a necessidade de mudanças na escola

regular, pois o número de alunos categorizados como deficientes mentais foi

ampliado, abrangendo todos que não demonstravam bom rendimento escolar e

também os que não conseguiam seguir as normas disciplinares da escola,

resultando em exclusão generalizada.

Consequentemente, há a necessidade da escola redesenhar-se para atender

a todos em suas especificidades: os professores deverão passar por mudanças na

forma de atuação na área pedagógica em relação aos deficientes mentais e também

em relação aos demais alunos que também apresentam dificuldades em

acompanhar a sala de aula regular (BRASIL, 2008a).

Por fim, em 2011, observam-se mudanças significativas em relação ao

atendimento do aluno com necessidades especiais conforme Lei 12.435, de 17 de

novembro de 2011 (BRASIL, 2011b), que definiu em seu Art. 1º:

I - Garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem

discriminação e com base na igualdade de oportunidades;

II - Aprendizado ao longo de toda a vida;

III - Não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência

73

IV - Garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, assegurada adaptações

razoáveis de acordo com as necessidades individuais;

VII - Oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de ensino;

Parágrafo 1º. – Para fins deste Decreto, considera-se público alvo da educação

especial às pessoas com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e

com altas habilidades ou superdotação.

O atendimento educacional especializado – AEE é a partir desse Decreto,

complementar e/ou suplementar à formação dos estudantes com deficiência,

transtorno global do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo

e na frequência dos estudantes às salas de recursos multifuncionais.

Os objetivos do AEE asseguram condições para a continuidade de estudos

nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino, por meio dos seguintes itens:

Parágrafo 1º - Para fins deste Decreto, os serviços de que trata o caput serão

denominados atendimento educacional especializado, compreendido como o

conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados

institucional e continuamente, prestado das seguintes formas:

I – Complementar à formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais

do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na frequência

dos estudantes às salas de recursos multifuncionais.

Art. 3º: São objetivos do atendimento educacional especializado prover condições

de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de

apoio especializado do acordo com as necessidades individuais dos estudantes. IV –

Assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e

modalidades de ensino.

Art. 5º: A União prestará apoio técnico e financeiro, com a finalidade de ampliar a

oferta do atendimento educacional especializado, matriculados na escola pública de

ensino regular.

Parágrafo 2º – O apoio técnico e financeiro contemplará as seguintes ações:

V - A formação de gestores, educadores e demais profissionais da escola para

educação na perspectiva da educação inclusiva, particularmente na aprendizagem,

na participação e na criação de vínculos interpessoais.

Art. 8º – O Decreto 6.949/2009 (BRASIL, 2009a) passou a ter as seguintes

alterações a partir de 17 de novembro de 2011:

74

Art. 14 – Parágrafo 1º – serão consideradas, para a educação especial, as

matrículas na rede regular de ensino, em classes comuns ou em classes especiais

de escolas regulares e em escolas especiais ou especializadas.

A educação inclusiva será a educação para todos, visando reverter o percurso

da exclusão, e a escola será inclusiva quando transformar, a postura, as atitudes e a

mentalidade dos educadores e da comunidade escolar em geral, para aprender a

lidar com o heterogêneo e conviver naturalmente com as diferenças, e o sistema de

ensino conseguir dar respostas às necessidades educacionais de todos os alunos

(BRASIL, 2011b).

As questões teóricas do processo de inclusão têm sido amplamente

discutidas por estudiosos da área de Educação Especial, no entanto pouco se tem

feito no sentido de sua aplicação prática. O como incluir tem sido a maior

preocupação de pais, professores e estudiosos, considerando que a inclusão só se

efetivará se ocorrem transformações estruturais no sistema educacional (BRASIL,

2011b). A educação inclusiva tem por princípio o reconhecimento e a valorização

das diferenças humanas o que requer das escolas ambientes com condições de

garantir acesso, participação, interação e autonomia para todos os alunos. Acolher

as diferenças é fazer da escola um espaço em que ninguém se sinta excluído.

A convivência com as pessoas com deficiência convida a uma reflexão sobre

as diferenças, as limitações e possibilidades de quem faz a observação. De certa

maneira todos têm limitações, aprender a lidar com as diferenças leva ao

desenvolvimento de atitudes mais tolerantes e positivas frente aos obstáculos do

dia-a-dia. Embora seja necessário considerar as limitações que as deficiências

impõem é imprescindível considerar o lado sadio de cada criança (BRASIL, 2011b).

Esse paradigma é associado à pós-modernidade como resposta a uma

necessidade cultural e social. O saber é construído na sociedade, se esta se

modifica, a construção do saber também se transforma. Dessa maneira, a

adequação das formas de construção do saber torna-se indispensável para a justiça

e equidade (BRASIL, 2011b).

Segundo a perspectiva de Vygotsky (2007) para a qual o desenvolvimento é

um processo mediatizado, em que as zonas de desenvolvimento potencial (atividade

realizada com limitação hoje) poderão ser transformadas em zonas de

desenvolvimento atual (desempenho da função com autonomia), é oportuno

75

considerar o contexto sócio histórico e cultural no qual o sujeito está inserido. Muitas

vezes o entorno pode ser mais prejudicial para um bom desempenho das funções

que a limitação possa trazer. É preciso, pois, perceber as reais necessidades da

criança a partir de sua singularidade, para então buscar estratégias de promoção de

autonomia e independência no desempenho de seus papéis sociais.

O foco dos professores em relação à educação especial na perspectiva da

educação inclusiva deve ser embasado no conhecimento que ele deve ter do

desenvolvimento típico, na avaliação dos limites e possibilidades da criança que ele

atende para que a partir de então, junto com o conhecimento da história de vida e

subjetividade da criança possa identificar os caminhos a serem trilhados rumo ao

seu máximo desenvolvimento e aprendizagem.

A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na

concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores

indissociáveis e que avança em relação à ideia de igualdade formal ao

contextualizar as circunstâncias da produção da exclusão dentro e fora da escola

(BRASIL, 2008a).

No momento atual estão sendo implantadas as Salas de Apoio Educacional

Especializado (SAEE), através das professoras especializadas, cujo papel é dar

suporte para as professoras das escolas regulares, para as famílias e de mediadoras

entre os alunos e a escola regular (BRASIL, 2011b).

Observa-se atualmente que as professoras da escola regular estão se

organizando para receber esse aluno especial e as professoras das SAEE’s também

estão se estruturando, pois essas salas de atendimento são muito recentes, exigindo

que elas passem por novas formações, reciclagens, etc, para aos poucos ir

entendendo e conquistando seu espaço na área educacional, tendo em vista que no

passado as salas especiais foram desativas por não conseguirem demonstrar qual a

função e a sua importância na educação especial (BRASIL, 2011b).

Através dos movimentos sociais que reivindicava mais igualdade entre todos

os cidadãos e a superação de qualquer tipo de discriminação, incorporou-se também

ao sistema educacional regular, buscando fórmulas que facilitassem a integração

dos alunos com algum tipo de deficiência. Isto produziu uma reflexão na educação,

na qual a própria escola deveria assumir sua responsabilidade diante dos problemas

de aprendizagem (BRASIL, 2008b).

76

Com isto as escolas inclusivas supõem uma maneira mais radical de entender

a resposta educativa à diversidade dos alunos baseando-se na defesa de seus

direitos à integração e na necessidade de promover uma profunda reforma das

escolas, que torne possível uma educação de qualidade para todos os alunos, sem

nenhum tipo de exclusão (BRASIL, 2008b).

As escolas inclusivas ajudam na passagem da deficiência para as

necessidades educativas especiais, deslocando a responsabilidade dos problemas

de aprendizagem do aluno para a escola. Esta nova escola irá se utilizar de um novo

modelo teórico, baseado fundamentalmente nos direitos de todos os alunos, sem

exclusão, à educação comum em escolas inclusivas. Para que as escolas inclusivas

se consolidem, é preciso abordar a mudança do sistema educativo em seu conjunto,

com a mudança de atitude em todas as pessoas que têm alguma intervenção no

âmbito educativo (BRASIL, 2011b).

Existem alguns problemas que podem dificultar a inclusão: o primeiro diz

respeito a como garantir um ensino diferenciado no ensino comum; outro se refere a

como cumprir com as exigências de escolarização para todos, por último, como

envolver os professores por meio do compromisso e da formação para que eles

desenvolvam os recursos especiais necessários à educação da pessoa com

deficiência mental.

Essas e outras são as questões que orientaram esta pesquisa e que levaram

a buscar o ponto de vista de professoras tanto de escolas regulares como da

educação especial, em relação à inclusão dos alunos com deficiência mental nas

classes regulares.

77

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

4.1 CAMPO DA PESQUISA E PARTICIPANTES

Esta pesquisa foi realizada em duas escolas, uma de Educação Especial e

outra de Ensino Fundamental, a primeira localizada na grande São Paulo, em bairro

de classe média, funciona em dois períodos, manhã e tarde, com um quadro de dez

professoras em cada período, total de 20 sendo em sua maioria professoras efetivas

e algumas contratadas e atende aproximadamente 200 alunos na faixa etária acima

de 14 anos. A segunda escola localizada na periferia da grande São Paulo, dentro

de uma favela, funciona em dois períodos, manhã e tarde, com um quadro total de

50 professores, atende uma clientela de aproximadamente 1200 alunos do 1º ao 5º

anos do Ensino Fundamental I. Esta escola vem atendendo, desde 2008, o processo

de inclusão segundo a resolução SE n. 11/2008 (SÃO PAULO, 2008).

Essas escolas foram escolhidas em função de serem públicas e de se

destacarem na Secretaria de Educação da grande São Paulo, como escolas de

referência, a primeira da Educação Especial e a segunda, da Educação Inclusiva.

Quanto à escolha das professoras participantes, a partir de um primeiro

contato autorizado pelas respectivas diretoras das escolas, ocorreu a participação da

pesquisadora em reuniões de Horas Trabalhadas Pedagógicas – HTP. Nessas

reuniões foram apresentados os objetivos da pesquisa e as professoras que se

dispuseram a participar receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –

TCLE, de acordo com o projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética e um

questionário que foi posteriormente recolhido. A aprovação pelo Comitê de Ética

encontra-se no Anexo 1.

As professoras que consentiram em participar totalizaram 15 professoras,

sendo seis da escola especial e nove da escola regular.

4. 2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Em relação aos procedimentos de coleta de dados, foram realizados em duas

etapas, a primeira constituiu-se da aplicação de um questionário com algumas

questões fechadas referentes a dados pessoais, de formação e de atuação

profissional e outras referentes ao tema pesquisado, abordando: o conceito de

inclusão; a opinião a respeito da obrigatoriedade de matrícula das crianças com

necessidades especiais na escola regular; a opinião sobre o fechamento da escola

78

especial; a opinião sobre as salas de apoio educacional especializado - SAEE e

sobre as experiências relativas à inclusão.

Numa segunda fase foram realizadas entrevistas semiestruturadas a partir

dos conteúdos expressos nas respostas dadas aos questionários. Para esta

segunda etapa da pesquisa foram selecionadas duas professoras da escola especial

e três da escola regular, a partir dos seguintes critérios:

- Tempo de formação

- Tempo de exercício no ensino fundamental das escolas regulares ou das

escolas especiais

- Com experiência no atendimento de crianças com necessidades especiais,

prioritariamente deficientes mentais.

A esses critérios somou-se também a disponibilidade de participar da

entrevista. Como uma delas não teve disponibilidade, as participantes finais foram

quatro: duas em cada uma das modalidades, escola regular e escola especial.

4.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

As respostas ao questionário foram organizadas em quadros, alguns referentes

à caracterização das participantes quanto à idade, formação acadêmica e

continuada, tempo de atuação profissional e outros que possibilitaram concentrar as

respostas dadas quanto ao conceito que apresentaram sobre a inclusão, seus

pontos de vista sobre a obrigatoriedade da matrícula dos alunos com necessidades

especiais nas escolas regulares e as demais questões de interesse desta pesquisa.

As entrevistas gravadas e transcritas passaram pelo processo de análise com

base em Franco (2007), González Rey (2005) e Aguiar e Ozella (2006). Para Franco

(2007) a contextualização deve ser considerada como um dos principais requisitos

para garantir a relevância dos sentidos produzidos pelas participantes, a partir de

suas experiências vividas e de como se manifestam em suas expressões verbais.

Assim, a autora propõe que a palavra e as expressões usadas são o ponto de

partida da análise, uma vez que “toda palavra falada, escrita ou sensorial contém,

potencialmente, uma grande quantidade de informações sobre seu autor” (FRANCO,

2007, p. 25). Também para Aguiar e Ozella (2006), a palavra se insere numa

79

narrativa contextualizada, ou seja, “é da palavra pelo contexto que se apreendem as

condições histórico-sociais que a constituem” (p. 229).

As palavras e expressões destacadas das falas e narrativas das participantes

são consideradas pré-indicadores pela importância enfatizada nas respostas.

Segundo González Rey (2005) são esses pré-indicadores que se constituem como

primeiras hipóteses do processo construtivo-interpretativo da análise.

A partir dos pré-indicadores, por semelhanças, aproximações, contradições ou

complementaridade são originados os indicadores que, de acordo com González

Rey (2005, p. 145) “são aqueles elementos que adquirem significado graças à

interpretação do pesquisador, isto é, que seu significado não é acessível, de forma

direta à experiência”, mas decorre do trabalho de leitura e de interpretação do

pesquisador.

Por último, na sequência do processo de análise, também por sucessivas

articulações dos indicadores por semelhanças, oposições ou complementaridade,

passa-se à construção de núcleos de significação, como aproximação aos sentidos

produzidos pelas participantes sobre o tema abordado. Para Aguiar e Ozella (2006),

é nesse momento que se inicia, efetivamente, o processo de análise que avança do

empírico para o interpretativo, apesar de todo o procedimento ser, desde o início da

entrevista, um processo construtivo/interpretativo. “Os núcleos resultantes devem

expressar os pontos centrais e fundamentais que trazem implicações para o sujeito,

que o envolvam emocionalmente e que revelem as suas determinações

constitutivas” (p. 231).

Dessa forma, evidenciaram-se os principais pontos detectados a respeito da

visão das professoras sobre a inclusão de deficientes mentais em escolas regulares,

a partir de relatos pessoais sobre suas trajetórias de vida e como profissionais da

área de deficiência mental, que puderam ser confrontados com a literatura

pesquisada sobre o assunto.

80

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5. 1 PRIMEIRA ETAPA DA PESQUISA

A seguir apresentam-se os quadros através dos quais foram organizadas as

respostas dadas pelas professoras das escolas regular e especial no questionário

aplicado.

No Quadro 1: apresentam-se as informações que possibilitam caracterizar as

professoras da escola regular e especial quanto à fixa etária.

Quadro 1: Caracterização das professoras das escolas regular e especial quanto à

faixa etária

FAIXA ETÁRIA

Professoras de

Escola Regular

Professoras de

Escola Especial

N % N %

28 - 35 4 44,44 1 16,66

36 - 44 2 22,22 0 0,00

45 - 53 2 22,22 2 33,33

54 - 60 1 11,11 3 50,00

TOTAL 9 100,00 6 100,00

Quanto à faixa etária, na escola regular, quatro professoras (44,44%) estão

na faixa de 28 a 35 anos; duas (22,22%) estão na faixa de 36 a 44 anos; duas

(22,22%) na faixa de 45 a 53 anos e uma (11,11%) na faixa de 54 a 60 anos. Assim,

as professoras da escola regular situam-se, em sua maioria, na faixa de 28 a 35

anos.

Na escola especial, uma professora (16,66%) está na faixa de 28 a 35 anos;

duas (33,33%) estão na faixa de 45 a 53 anos e três (50,00%) estão na faixa de 54 a

60 anos. Assim, as professoras da escola especial situam-se, em sua maioria, na

faixa de 54 a 60 anos.

No Quadro 2: Apresentam-se as informações que possibilitam caracterizar as

professoras das escola regular e especial quanto a graduação.

81

Quadro 2 – Caracterização das professoras da escola regular e especial quanto à

graduação.

Professoras de Professoras de

GRADUAÇÃO PEDAGOGIA Escola Regular Escola Especial

N % N %

1982 - 1987 0 0,00 1 16,66

1988 - 1993 0 0,00 1 16,66

1994 - 1999 4 44,44 2 33,33

2000 - 2005 1 11,11 0 0,00

2006 - 2012 4 44,44 1 16,66

Não informou 0 0,00 1 16,66

TOTAL 9 100,00 6 100,00

Em relação à formação, todas as professoras da escola regular são

graduadas em Pedagogia, sendo quatro delas (44,44%) com graduação entre 1994

e 1999, quatro (44,44%) entre 2006 e 2012 e uma (11,11%) entre 2000 e 2005.

Assim as professoras da escola regular situam-se, em sua maioria em sua

formação, entre 1994 e 1999; e entre 2006 e 2012.

Quanto às professoras da escola especial são todas também graduadas em

Pedagogia, sendo uma (16,66%) com graduação entre 1982 e 1987, uma (16,66%)

entre 1988 e 1993, duas (33,33%) entre 1994 e 1999, uma (16,66%) entre 2006 e

2012; e uma (16,66%) não informou o ano da formação. Assim, a maioria das

professoras da escola especial situa-se em sua formação, entre os anos de 1994 e

1999.

No Quadro 3 apresentam-se informações das professoras das escolas

regular e especial quanto ao tempo de atuação profissional.

82

QUADRO 3 – Caracterização das professoras das escolas regular e especial quanto

ao tempo de atuação

TEMPO DE ATUAÇÃO

Professoras de Professoras de

Escola Regular Escola Especial

N % N %

04 a 10 2 22,22 1 16,66

11 a 16 3 33,33 1 16,66

17 a 22 3 33,33 0 0,00

23 a 28 1 11,11 2 33,33

29 a 36 0 0,00 1 16,66

Não respondeu 0 0,00 1 16,66

TOTAL 9 100,00 6 100,00

Quanto ao tempo de exercício no Magistério, dentre as professoras da escola

regular, duas (22,22%) atuam entre 04 e 10 anos; três (33,33%) atuam entre 11 e 16

anos; três (33,33%) atuam entre 17 e 22 anos e uma (11,11%) atua entre 23 e 28

anos. Assim a maioria das professoras da escola regular situa-se entre 11 e 22 anos

de atuação profissional.

Dentre as professoras da escola especial, uma (16,66%) atua entre 04 e 10

anos; uma (16,66%) atua entre 11 e 16 anos; duas (33,33%) atuam entre 23 e 28

anos; uma (16,66%) entre 29 e 36 anos; e uma (16,66%) não respondeu. Assim, a

maioria das professoras da escola especial situa-se entre 23 e 28 anos de atuação

profissional.

Em síntese, a maioria das professoras da escola regular está na faixa de 28 a

35 anos, concluiu o curso de Pedagogia em dois períodos distintos, um de 1994 e

1999 e outro de 2006 a 2012; o tempo de atuação profissional no Magistério está

entre 11 e 22 anos. Na escola especial, a maioria está na faixa de 54 a 60 anos,

concluíram o curso de Pedagogia entre os anos de 1994 e 1999 e o tempo de

atuação no Magistério está entre 23 e 28 anos.

No Quadro 4 apresentam-se as informações a respeito das professoras das

escolas regular e especial, quanto a cursos de andamento.

83

Quadro 4: Cursos em andamento

Professoras de P Professoras de

ESTÃO FAZENDO CURSO Escola Regular Escola Especial

N % N %

Psicopedagogia 1 11,11 0 0,00

Psicomotricidade 1 11,11 0 0,00

Letramento e alfabetização 1 11,11 0 0,00

Gestão Escolar 0 0,00 1 16,66

SUBTOTAL 3 33,33 1 16,66

Não estão fazendo 6 66,66 5 83,33

TOTAL 9 100,00 6 100,00

Dentre as professoras da escola regular, seis (66,66%) não estão fazendo

nenhum curso e três (33,33%) estão com cursos em andamento, sendo os cursos

de Psicopedagogia, Psicomotricidade e Letramento e Alfabetização.

Quanto às professoras da escola especial, cinco (83,33%) não está fazendo

nenhum curso e uma (16,66%) está fazendo curso de gestão escolar.

Em síntese, a maioria das professoras tanto da escola regular como da escola

especial não estão fazendo nenhum curso. No entanto, comparativamente, o

percentual de professoras de escola regular que está fazendo curso (33,33%) é

relativamente maior que o das professoras de escola especial (16,66%).

O Quadro 5 apresenta as informações das professoras das escolas regular e

especial, quanto ao interesse em fazer cursos referentes à deficiência mental – DM.

84

QUADRO 5 - Interesses por cursos referentes à deficiência mental - DM

Professoras de Professoras de

INTERESSE Escola Regular Escola Especial

N % N %

Libras 2 22,22 1 16,66

Mestrado 0 0,00 1 16,66

Neurolinguística/Neurociências 0 0,00 1 16,66

Psicopedagogia 1 11,11 0 0,00

Curso sobre Deficiência Mental dentro da

Pedagogia 1 11,11 0 0,00

Curso para ensinar Deficiente mental 1 11,11 0 0,00

Conhecimento nas práticas para jovens

que saem da escola regular 0 0,00 1 16,66

SUBTOTAL 5 55,55 4 66,64

SEM INTERESSE

Já fiz vários cursos 1 11,11 1 16,66

NÃO EXPLICOU O MOTIVO 2 22,22 1 16,66

NÃO RESPONDEU 1 11,11 0 0,00

SUBTOTAL 4 44,44 2 33,33

TOTAL 9 100,00 6 100,00

A maioria das professoras da escola regular, cinco (55,55%), responderam

que têm interesse em cursos; sendo que dessas, duas professoras (22,22%) têm

interesse em fazer curso de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS para surdos; uma

(11,11%) tem interesse em fazer Psicopedagogia; uma (11,11%) têm interesse em

fazer curso de Deficiência Mental dentro da Pedagogia; uma (11,11%) tem interesse

em curso para ensinar deficientes mentais. Das quatro professoras (44,44%) que

não têm interesse, duas (22,22%) não explicaram o motivo; uma (11,11%)

respondeu que já fez vários cursos; e uma (11,11%) não respondeu.

Assim, a maioria das professoras da escola regular informa ter interesse em

fazer cursos ligados à deficiência mental – DM.

A maioria das professoras da escola especial, quatro (66,64%) respondeu ter

interesse em cursos; sendo que dessas, uma (16,66%) respondeu ter interesse em

fazer curso de LIBRAS; uma (16,66%) em fazer mestrado; uma (16,66%) em fazer

85

curso em neurolinguística e neurociências; uma (16,66) quer aprofundar

conhecimento na prática de ensino para jovens deficientes mentais acima de 14

anos de idade. Das duas professoras (33,33%) que responderam não ter interesse

em cursos, uma (16,66%), respondeu que já fez vários cursos; e uma (16,66%) não

explicou o motivo.

Assim, a maioria das professoras da escola especial informa ter interesse em

fazer cursos ligados à deficiência mental – DM.

Em síntese, nos dois grupos, tanto das professoras de escola regular

(55,55%) como no das professoras da escola especial (66,64%) há interesse em

fazer cursos ligados à deficiência mental, mas em termos de percentual o interesse

maior é constatado nas professoras da escola especial.

O Quadro 6 apresenta o ponto de vista das professoras das escolas regular

e especial quanto ao conceito de Inclusão.

QUADRO 6 – Conceito de inclusão por parte das professoras de escola regular e

especial

CONCEITOS ATRIBUIDOS

Professoras de Professoras de

Escola Regular Escola Especial

N % N %

Permitir, dar condições: igualdade, interação,

participação e inserção de todos os alunos,

4 40,00 0 0,00

DM ou não no ambiente escolar

Incluir socialmente no ambiente escolar 3 30,00 0 0,00

Incluir no processo ensino/aprendizagem 2 20,00 0 0,00

Aceitar o sujeito com suas diferenças 1 10,00 0 0,00

Convivência social e respeito à diversidade 0 0,00 2 33,33

Inserção em todos os aspectos e locais 0 0,00 2 33,33

Troca de conhecimento, buscando alternativas

de socialização 0 0,00 1 16,66

Poder de exercer cidadania 0 0,00 1 16,66

TOTAL 10 100,00 6 100,00

Nota: Total de respostas é maior que o número de professoras da escola regular, pois se computou mais de uma resposta por professora.

86

Dentre as professoras da escola regular, quatro (40,00%) utilizam o termo

incluir, como igualdade, participação, interação e inserção no ambiente escolar;

três (30,00%) utilizaram o termo incluir para explicar a inclusão no ambiente

escolar; duas (20,00%) utilizaram o termo incluir no processo de

ensino/aprendizagem; uma (10,00%) como a aceitação do sujeito com suas

diferenças. Assim, a maioria das professoras da escola regular utilizou o termo

incluir como igualdade, participação, interação e inserção no ambiente escolar.

Dentre as professoras da escola especial, para duas delas (33,33%) a

inclusão se explicou pelos termos convivência social e respeito à diversidade; duas

(33,33%) utilizaram o termo inserção; uma (16,66%) utilizou o termo poder e

cidadania e uma (16,66%) referiu-se à troca de conhecimento como alternativa à

socialização. Assim, a maioria das professoras da escola especial utilizou o termo

incluir pelos termos da convivência social e respeito à diversidade e também como

inserção.

Segundo a definição de Mantoan (1997) “integração é processo, é fenômeno

complexo que vai muito além de colocar ou manter excepcionais em classes

regulares, é parte do atendimento que atinge todos os aspectos do processo

educacional” (1997, p. 11). Já inclusão é o termo que se encontrou para definir uma

sociedade que considera todos os seus membros como cidadãos legítimos,

portanto, para a autora a inclusão é uma inovação.

O Quadro 7 apresenta as opiniões sobre como as professoras das escolas

regular e especial vêm a obrigatoriedade de matrículas de sete a 14 anos na escola

regular dos alunos deficientes mentais.

87

QUADRO 7 – Opiniões das professoras de escola regular e especial a respeito da

obrigatoriedade de matrícula do deficiente mental de sete a 14 anos na escola

regular

Professoras de Professoras de

OPINIÕES Escola Regular Escola Especial

CONTRA N % N %

Necessidade de rever a obrigatoriedade

quando não houver o desenvolvimento do

aluno/só se for de forma digna e responsável

5 45,45

0

0,00

Pouca formação dos professores versus

quantidade de alunos na sala de aula 1 9,09 0 0,00

Falha na avaliação pedagógica do aluno 1 9,09 0 0,00

Não se sabe para onde irá o DM após os 14

anos. 1 9,09 0 0,00

Necessário qualidade e estar apta escola e

professor 0 0,00 1 14,28

Necessário planejamento de um mundo

melhor para os alunos DM 0 0,00 1 14,28

Não deveria haver exclusão do aluno DM na

escola regular/na sociedade 0 0,00 2 28,57

Nem sempre a inclusão obrigatória é boa para

o aluno DM 0 0,00 1 14,28

SUBTOTAL 8 72,72 5 71,43

A FAVOR

Direito da pessoa deficiente, boa para a

família, batalha conquistada 2 18,18 2 28,57

SUBTOTAL 2 18,18 2 28,57

NÃO EXPLICOU 1 9,09 0 0,00

TOTAL 11 100,00 7 100,00

Nota: Total de respostas é maior que o número de professoras das escolas regular e especial se computou mais de uma resposta por professora.

Das professoras da escola regular, oito (72,72%) são contra a obrigatoriedade,

sendo que cinco (45,45%) afirmam que ela só deveria ocorrer de forma digna e

responsável, pois se não há desenvolvimento do aluno haveria necessidade de se

rever a obrigatoriedade de matrículas de sete a 14 anos de alunos com deficiência

mental nas escolas regulares; uma (9,09%) refere-se a pouca formação das

professoras versus o grande número de alunos por sala como dificuldade para o

88

atendimento obrigatório dos alunos com DM; uma (9,09%) refere-se à falha na

avaliação pedagógica do aluno; uma (9,09%) afirma preocupação a respeito da

continuidade do atendimento educacional após os 14 anos de idade. Dentre as

professoras da escola regular, três são a favor (27,27%), sendo que duas (18,18%)

referem ser um direito de a pessoa deficiente ter acesso ao ensino regular, bom para

a família, uma conquista obtida; e uma (9,09%) não explicou.

Na escola especial, cinco professoras (71,43%) são contra a obrigatoriedade,

sendo que duas (28,57%) afirmam que não deveria haver exclusão dos alunos com

deficiência na escola regular nem na sociedade; uma (14,28%) necessária qualidade

e estar apta tanto à escola quanto o professor; e uma (14,28%) necessário

planejamento de um mundo melhor para os alunos DM e uma (14,28%) que nem

sempre a inclusão é boa para o aluno; duas (28,57%) são a favor da

obrigatoriedade, por que é um direito da pessoa deficiente, boa para a família,

batalha conquistada.

Em síntese, tanto as professoras da escola regular (72,72%) como as

professoras da escola especial (71,43%) expressam-se de forma contrária à

obrigatoriedade de matrículas de alunos DM de zero a 14 anos na escola regular.

No Quadro 8 apresentam-se as opiniões das professoras das escolas regular e

especial, a respeito da existência ou não da inclusão do DM na escola regular

89

QUADRO 8 - Opiniões das professoras de escola regular e especial quanto à

constatação da existência da inclusão do deficiente mental de zero a 14 anos na

escola regular

Professoras de Professoras de

OPINIÕES Escola Regular Escola Especial

SIM N % N %

Inclusão gradual, desenvolvendo habilidades e

capacidades do DM para adaptação das partes

3 14,28 0 0,00

envolvidas: professores e alunos

Problemas existem em toda sociedade 1 4,76 0 0,00

Permite a comunidade participar 1 4,76 0 0,00

Quando aluno demonstra bom comportamento 0 0,00 1 12,50

Escola se abrindo, mas engatinhando nos

atendimentos inclusivos 0 0,00 2 25,00

Quando não há resistência do professor em

receber o aluno DM 0 0,00 1 12,50

SUBTOTAL 5 23,81 4 50,00

NÃO

Falta de preparo e formação dos professores 7 33,33 3 37,50

Falta espaço físico / material pedagógico

adequado 7 33,33 0

0,00

Escola não preparada para atender e menor

número de alunos por sala regular 0 0,00 1 12,50

SUBTOTAL 14 66,66 4 50,00

PARCIAL

Inclusão dentro de limitações, pois DM tem

vários níveis e as vezes não há desenvolvimento 2 9,52 0 0,00

SUBTOTAL 2 9,52 0 0,00

TOTAL 21 100,00 8 100,00

Nota: Total de número de respostas é maior que o número de professoras das escolas regular e especial, pois computaram-se mais de uma resposta por professora.

Das professoras da escola regular, quatorze (66,66%) responderam que não

ocorre inclusão dos alunos DM na escola regular, sendo que, sete (33,33%) por falta

de preparo e formação dos professores; sete (33,33%) por falta de espaço físico e

90

material pedagógico adequado. Dentre as cinco (23,81) professoras da escola

regular que respondem que ocorre a inclusão na escola regular, três (14,28%)

argumentam que ela é gradual, desenvolvendo capacidades e habilidades do DM

para a adaptação das partes envolvidas: professores e alunos; uma (4,76%) que os

problemas existem em toda sociedade; uma (4,76%) que existe quando permite à

comunidade participar; duas (9,52%) responderam que a inclusão é parcial; que

existe a inclusão dentro de limitações, pois o DM tem vários níveis e às vezes não

há o desenvolvimento do aluno.

Quanto às professoras da escola especial, quatro (50,00%) responderam que

não ocorre inclusão, sendo que três (37,50%) por falta de preparo e formação dos

professores; uma (12,50%) que escola não está preparada para atender os alunos

com deficiência e deveria haver menor número de alunos por sala de sala regular.

Dentre as professoras da escola especial, quatro (50,00%) responderam que ocorre

a inclusão, sendo que duas (25,00%) responderam que as escolas estão se abrindo,

mas ainda engatinhando nos atendimentos inclusivos; uma (12,50%) quando o aluno

demonstra bom comportamento; uma (12,50%) quando não há resistência do

professor em receber o aluno DM.

Conclui-se, portanto, que a maioria das professoras da escola regular afirma

que não está ocorrendo à inclusão, pois ainda existem vários obstáculos e as

professoras da escola especial estão divididas entre as que afirmam ocorrer a

inclusão e as que afirmam não ocorrer a inclusão.

No Quadro 9 apresentam-se as respostas das professoras das escolas

Regular e Especial, referentes à consideração das entrevistadas quanto à entrada

de alunos deficientes mentais em sua sala de aula.

91

QUADRO 9 – Opinião das professoras de escola regular e especial a respeito da

entrada de alunos deficientes mentais na sua sala de aula

Professoras de Professoras de

PONTO DE VISTA Escola Regular Escola Especial

A FAVOR N % N %

Necessário desde que possa atender sua

especificidade

0 0,00 2 28,57

Desafio/aprendizagem para aprimorar e rever

a prática pedagógica 2 20,00 1 14,28

Incluir socialmente, fazendo interação com os

outros alunos/trabalhar de forma diferenciada 2 20,00 0 0,00

Receber/atender todos os alunos iguais sem

tirar tempo dos outros 30 alunos normais 1 10,00 0 0,00

Receber bem, mas fico insegura em como agir 1 10,00 0 0,00

Natural, pois é um aluno com desejos de

aprender e ensinar 1 10,00 0 0,00

Professor em busca de desafios e aluno com

vontade de algo novo 0 0,00 2 28,57

Proveitoso para o aluno DM 1 10,00 0 0,00

Recebo com o maior prazer 0 0,00 1 14,28

SUBTOTAL 8 80,00 6 85,71

CONTRA

Muito trabalhoso para o professor e difícil

(salas numerosas, heterogêneas) 1 10,00 0 0,00

Não trabalho em sala regular 0 0,00 1 14,28

SUBTOTAL 1 10,00 0 0,00

Não respondeu 1 10,00 0 0,00

TOTAL 10 100,00 7 100,00

Nota: Total de número de respostas é maior que o número de professoras da escola regular e especial, pois se computou mais de uma resposta por professora.

Quanto à entrada de alunos DM na sua sala, oito (80,00%) professoras da

escola regular responderam ser a favor; sendo que duas (20,00%) consideram ser

um desafio/aprendizagem para aprimorar a prática pedagógica; duas (20,00%)

entendem que é positiva a entrada de alunos DM em sua sala de aula para a

socialização, a interação com os outros alunos por meio de um trabalho

diferenciado; uma (10,00%) afirma receber/atender todos os alunos iguais sem tirar

92

tempo dos outros 30 alunos normais; uma (10,00%) que recebe bem, mas fica

insegura em como agir; uma (10,00%) que vê de forma natural a entrada do aluno

DM em sua sala de aula, pois é um aluno com desejos de aprender e ensinar; uma

(10,00%) que é proveitoso para o aluno DM. Somente uma (10,00%) respondeu ser

contra, pois considera ser muito trabalhoso para o professor e difícil, pois as salas

são numerosas e heterogêneas.

Das professoras de escola especial, seis (85,71%) responderam que são a

favor da entrada de alunos DM em sua sala de aula; sendo que duas (28,58%) vêm

como necessário desde que o aluno possa ser atendido nas suas especificidades;

duas (28,58%) afirmam que há uma complementação entre o professor em busca de

novos desafios e o aluno com vontade de aprender algo novo; uma (14,28%) vê

como desafio/aprendizagem para aprimorar prática pedagógica; e uma (14,28%) que

recebe com o maior prazer. Uma (14,28%) respondeu negativamente por não

trabalhar em sala regular.

Portanto, a maioria das professoras da escola regular (80,00%) considera

como positiva a entrada dos alunos DM em suas salas e (85,71%) das professoras

da escola especial também consideram positiva a entrada do aluno especial na sala

regular, havendo um equilíbrio entre elas.

No Quadro 10 apresenta-se a opinião das professoras das escolas regular e

especial quanto ao fechamento das escolas especiais.

93

QUADRO 10 - Ponto de vista das professoras de escola regular e especial quanto

ao fechamento das escolas especiais

Professoras de Professoras de

OPINIÕES Escola Regular Escola especial

CONTRA N % N %

Atitude drástica e impensada há casos em que a

escola regular não tem condições de atender

4 36,36 0 0,00

Ruim, política de imposição tira o direito da criança

ao tratamento e às especificidades, inclusive oficinas 1 9,09 1 12,50

Escola especial atende aluno DM com grave 1 9,09 1 12,50 comprometimento/mais de 60 anos/precisa de

acompanhamento individual

Aluno DM deveria frequentar 1/2 período de escola

especial e 1/2 período de escola regular 1 9,09 0

0,00

Escola especial deveria ser Centro de Pesquisas 0 0,00 1 12,50

Escola especial deveria ser respeitada

Com tristeza, dor, falta percorrer um longo caminho

para receber o aluno DM 0 0,00 2 25,00

Escola especial possui profissional qualificado 0 0,00 1 12,50

SUBTOTAL 7 63,63 7 87,50

A FAVOR

Todos tratados da mesma forma na escola especial,

segregação impedindo percepção das diferenças, 3 27,27 0 0,00

sem espaço para conviver

As escolas não estão fechando, estão se adequando

conforme a Lei 1 10,00 1 12,50

SUBTOTAL 4 36,36 1 12,50

TOTAL 11 100,00 8 100,00

Nota: total de número de respostas é maior que o número de professoras das escolas regular e especial, pois computaram-se mais de uma resposta por professora.

Das professoras da escola regular, sete (63,63%) das professoras

manifestaram-se contrárias ao fechamento; sendo que quatro (36,36%) acreditam

que o fechamento é uma atitude drástica e impensada, há casos em que a escola

regular não tem condições de atender; uma (9,09%) que é ruim, política de

imposição, tira o direito da criança ao tratamento e às especificidades, inclusive

oficinas; uma (9,09%) que a escola especial atende aluno DM com grave

94

comprometimento (alunos com mais de 60 anos); uma (9,09%) porque os alunos DM

deveriam frequentar meio período em escola especial e meio período em escola

regular; quatro (36,36%) consideraram o fechamento da escola especial como

positivo; sendo que três (27,27%) acreditam que todos são tratados da mesma forma

na escola especial, provocando segregação e impedindo percepção das diferenças,

sem espaço para conviver; uma (9,09%) acredita que as escolas não estão

fechando, estão se adequando conforme a Lei.

Quanto às professoras da escola especial, sete (87,50%) consideraram uma

medida negativa; sendo que uma (12,50%) afirma ser ruim, uma política de

imposição, tirando o direito da criança ao tratamento e às especificidades, inclusive

oficinas; uma (12,50%) que a escola especial atende aluno DM com grave

comprometimento (alunos com mais de 60 anos); duas (25,00%) vêm com tristeza,

apesar de achar certa a abertura das escolas regulares e consideram faltar um longo

caminho para a escola regular estar preparada para receber o aluno DM; uma

(12,50%) afirma que a escola especial deveria ser Centro de Pesquisas; uma

(12,50%) que a escola especial deveria ser respeitada; uma (12,50%) que a escola

especial possui profissionais qualificados; uma (12,50%) das professoras afirma que

o fechamento é positivo, pois as escolas não estão fechando, estão se adequando

conforme a Lei.

Em síntese, a maioria das professoras da escola regular (63,63%) como as

professoras da escola especial (87,50%) vêm como negativo o fechamento da

escola especial, mas comparativamente, a porcentagem é maior no caso das

professoras da escola especial.

No Quadro 11 apresentam-se as respostas das professoras das escolas

regular e especial a respeito da abertura da Sala de Atendimento Educacional

Especializado – SAEE nas escolas regulares. Importante relembrar que a SAEE

refere-se às salas de apoio dentro das escolas regulares, no contraturno, com no

máximo 15 alunos, complementando e/ou suplementando as práticas da sala

regular, com professores especializados.

95

Quadro 11- Opinião das professoras de escola regular e especial quanto à abertura

da Sala de Atendimento Educacional especializado – SAEE

Professoras de Professoras de

OPNIÕES Escola Regular Escola Especial

A FAVOR N % N %

Apoio necessário apresenta progresso no 3 27,27 0 0,00

desenvolvimento do DM

Importante - sana dificuldades do aluno na

sala de aula regular 2 18,18 0 0,00

Profissional tem formação específica para

tratar do DM 1 9,09 0 0,00

Professora também recorre a este espaço 2 18,18 1 12,50

quando tem dúvidas, medos, podendo mudar

práticas pedagógicas , “luz no fim do túnel”

“Válvula de escape”, tanto para aluno DM

como para a professora da sala regular 1 9,09 1 12,50

Espaço para garantir a inclusão 1 9,09 1 12,50

Necessários mais profissionais para

atendimento do DM 0 9,09 1 12,50

SUBTOTAL 10 90,90 4 50,00

CONTRA

Distante do ideal para alunos e familiares 0 0,00 1 12,50

Grande passo, mas não cura 0 0,00 1 12,50

Como ocorre no contra turno não dá para

acompanhar o aluno DM na sala regular 1 9,09 1 12,50

SUBTOTAL 1 9,09 3 37,50

Não respondeu 0 0,00 1 12,50

TOTAL 11 100,00 8 100,00

Nota: Total de número de respostas é maior que o número de respostas de professoras das escolas regular e especial pois computaram-se mais de uma resposta por professora.

Das professoras da escola regular, dez (90,90%) que responderam ser a favor

da abertura da sala de atendimento educacional especializado – SAEE; três

(27,27%) responderam tratar-se de um apoio necessário, que leva ao progresso no

desenvolvimento do DM; duas (18,18%) responderam ser importante por sanar

dificuldades do aluno na sala regular; uma (9,09%) que o profissional da SAEE tem

formação específica para tratar do DM; duas (18,18%) que é um espaço para a

96

professora da sala regular para recorrer quando tem dúvidas, medos, podendo

mudar as práticas pedagógicas, “uma luz no fim do túnel”; uma (9,09%) afirma ser

“uma válvula de escape”, tanto para o aluno DM como para a professora da sala

regular; uma (9,09%) que é um espaço para garantir a inclusão. Somente uma

(9,09%) manifestou-se contra a abertura da SAEE porque ela ocorre no contraturno

e não dá para acompanhar o aluno DM na sala regular.

Das professoras de escola especial, quatro (50,00%) são a favor da sala de

apoio educacional especializado, sendo que (12,50%) afirma ser um espaço para a

professora recorrer quando tem dúvidas, medos, podendo mudar práticas

pedagógicas; uma (12,50%) que é “uma válvula de escape”, tanto para o aluno DM

como para a professora da sala regular; uma (12,5%) que é um espaço para garantir

a inclusão; uma (12,5%) que são necessários mais profissionais para atendimento.

Dentre as três (37,50%) professoras que se mostraram contrárias à sala de apoio

especializado; uma (12,50%) afirma ser distante do ideal para alunos e familiares;

uma (12,5%) que é um grande passo, mas não cura; e uma (12,5%) como ocorre no

contraturno, não dá para acompanhar o aluno na sala regular. Uma (12,50%)

professora na sala regular não respondeu.

Em síntese, a maioria das professoras da escola regular (90,90%) e da escola

especial (50,00%) se manifesta a favor da sala de atendimento educacional

especializado. Dentre as professoras da escola especial, 37,50% são desfavoráveis,

pois para elas a SAEE é distante do ideal para alunos e familiares, que é um grande

passo, mas não cura e como ocorre no contraturno, não dá para acompanhar o

aluno.

O Quadro 12 apresenta as experiências das professoras da escola regular e

especial relativas à inclusão em suas escolas.

97

Quadro 12 – Experiências de inclusão das professoras das escolas regular e

especial

Professoras de Professoras de

RELATOS POSITIVOS Escola Regular Escola Especial

N % N %

Aluno avançou com ajuda da professora de

SAEE

2 16,66 0 0,00

Aluno avançou com a ajuda da família 1 8,33 0 0,00

Alegria dos alunos DM por frequentarem

escola regular 1 8,33 0 0,00

Vários casos de alunos bem adaptados, com

2 16,66 0 0,00 progresso na aprendizagem, no relacionamento

e boa evolução ao término de cada ano

Com ajuda necessária dos funcionários do apoio

para banho e alimentação 1 8,33 0 0,00

Professoras são bem formadas na escola especial

e no SAEE 1 8,33 1

16,67

Inclusão ao contrário, com abertura de sala

regular na escola especial 0 0,00 1 16,67

Alunos encaminhados para mercado de trabalho 0 0,00 2 33,33

Inclusão ao contrário, com abertura de sala 0 0,00 1 16,67

regular na escola especial

TOTAL 8 66,66 4 66,67

RELATOS NEGATIVOS

Aluno com pouco e sem avanço por falta de

ajuda da família e dos pais 2 16,66 0 0,00

Alunos agressivos exigem trabalho diferenciado

com eles e com a turma 1 8,33 0 0,00

SUBTOTAL 3 25,00 0 0,00

Não respondeu 1 8,33 2 33,33

TOTAL 12 100,00 6 100,00

Nota: total de número de respostas é maior que o número de professoras da escola regular, pois computaram-se mais de uma resposta por professora.

Quanto à experiência de inclusão na escola regular, oito (66,66%)

apresentaram relatos favoráveis; sendo que duas (16,66%) afirmaram que aluno

98

avançou com ajuda da professora da SAEE; uma (8,33%) que houve avanço com

ajuda da família; uma (8,33%) por constatar a alegria dos alunos DM ao

frequentarem a escola regular; duas (16,66%) comentaram os vários casos de

alunos bem adaptados, com progresso na aprendizagem, no relacionamento e boa

evolução ao término de cada ano; uma (8,33%) que houve ajuda dos funcionários de

apoio para banho e alimentação; uma (8,33%) que afirma serem bem formadas as

professoras da escola especial e da SAEE. Dentre as três (25,00%) que

apresentaram relatos negativos, duas (16,66%) constataram alunos com pouco ou

sem avanço por falta de ajuda da família e dos pais; uma (8,33%) referiu-se a alunos

agressivos, que exigem trabalho diferenciado com eles e com a turma. Uma (8,33%)

professora não respondeu.

Quanto à experiência de inclusão na escola especial, quatro (66,67%) das

professoras da escola especial apresentaram relatos positivos; sendo que uma

(16,66%) respondeu que as professoras são bem formadas na escola especial e na

SAEE; duas (33,33%) que os alunos foram encaminhados para mercado de

trabalho; uma (16,66%) que existe inclusão ao contrário, com abertura de sala

regular na escola especial. Duas (33,33%) professoras não responderam.

Há um equilíbrio de relatos positivos nos dois grupos, com 66,66% de

professoras de escola regular e 66,67% de professoras da escola especial. No

entanto, somente no grupo das professoras de escola regular aparecem relatos

negativos em 25,00% delas. Outro dado relevante é que no grupo da escola

especial, em relação ao grupo da escola regular aparece uma preocupação com a

qualidade da formação do DM em oficinas pedagógicas, professoras bem preparada

para a inserção no mercado de trabalho, ou seja, uma preocupação implícita quanto

ao aluno com mais de 14 anos, portanto aqueles que já saíram do fundamental II.

Como síntese dos dados coletados nesta primeira etapa da pesquisa, por

meio da aplicação do questionário, constata-se das nove professoras participantes

da escola regular, que a maioria está na faixa etária entre 28 a 35 anos, tem

experiência relativa à inclusão e também acredita nela, sua formação é em

Pedagogia, em dois períodos distintos de 1994 a 1999 e de 2006 a 2012, têm entre

11 e 22 anos de experiência na área educacional e atualmente a minoria está com

curso em andamento, embora a maioria afirme que gostariam de fazê-los ligados à

Deficiência Mental. Quanto às professoras da escola especial, a maioria está na

99

faixa de 54 a 60 anos, também têm experiência em relação à inclusão, sua formação

é em Pedagogia cursada entre 1994 e 1999, têm experiência na área educacional

de 23 a 28 anos e, atualmente não estão com nenhum curso em andamento, com

exceção de uma, embora afirmem que gostariam de fazê-los ligados à Deficiência

Mental. Assim, as professoras de escola especial tem uma faixa etária mais elevada,

têm maior tempo de atuação no magistério e sua formação no curso de Pedagogia

ocorreu na década de 1990.

À formação acadêmica poderia se acrescentar o baixo resultado quanto à

realização de cursos em andamento, da ordem de 33,33% entre as professoras de

escola regular e de 16,66% entre as da escola especial, embora afirmem que têm

interesses em fazer cursos específicos para trabalhar com deficiência mental.

Se, de um lado, todas têm formação em nível superior para atuarem na

Educação Básica e com isso cumprem o previsto na Resolução CNE/CEB no 1, de

2002 (BRASÍLIA, 2002), de outro, falta muito no que tange à formação específica e

preparo das professoras para lidarem com a demanda da inclusão, prevista na

mesma Resolução.

Os dados desta pesquisa confirmam os dados do Censo Escolar de 2006, de

que 75,2% dos professores entrevistados tinham o Ensino Superior, no entanto,

estão bastante abaixo dos 77,8% de professores que declararam, no Censo Escolar

de 2006, ter curso específico nessa área de conhecimento – educação especial,

com ênfase em inclusão educacional.

Quanto ao conceito de inclusão, metade das professoras de escola regular,

ou seja, cinco delas utilizam-se do próprio termo “incluir” para sua definição, o que

parece caracterizar uma tautologia. As professoras de escola especial utilizam-se de

termos como “convivência na diversidade” e “inserção em todos os aspectos e

locais”, parecendo mais assertivas na definição.

De qualquer forma, parecem faltar critérios claros para o entendimento do que

é a inclusão e do quanto ela implica efetivamente no reconhecimento da diversidade

de propostas educacionais dentro da escola que venham efetivamente garantir que

as necessidades específicas dos diferentes alunos venham a ser atendida, de

acordo com a Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva

(BRASIL, 2007). Esse sentido de inclusão está presente em 40% das professoras de

escola regular e em nenhuma das de escola especial.

100

Quanto à obrigatoriedade da matrícula de alunos especiais na escola regular,

de acordo com legislação atual, em especial o Decreto 6571 de 2008, as

professoras da escola regular têm uma visão negativa, alegando que há

necessidade de se rever a obrigatoriedade quando não houver o desenvolvimento

do aluno DM na sala regular e afirmam que não existe a inclusão, pois falta preparo

e formação dos professores, espaço físico adequado e material pedagógico; são

também contrárias ao fechamento da escola especial, pois vêm à medida como

drástica e impensada, pois há casos que a escola regular não tem condições de

atender; veem como positiva a criação da Sala de Atendimento Educacional

Especializado – SAEE como um apoio necessário tanto para os alunos como para

os professores e consideram a entrada de alunos especiais em suas salas de aula

como um desafio e aprendizagem para aprimorar a prática pedagógica para

conseguir trabalhar de forma diferenciada.

As professoras da escola especial também se mostram contrárias à

obrigatoriedade por lei, da matrícula de alunos especiais na escola regular, uma vez

que consideram que não deveria haver exclusão do aluno DM na escola regular e na

sociedade, pois nem sempre a inclusão obrigatória é boa para o aluno; são também

contrárias ao fechamento da escola especial, mas por outros motivos, como: tristeza,

apesar de considerarem certa a abertura da escola regular para o DM, com pesar

porque a escola especial deveria ser respeitada, por possuir profissionais

qualificados e que a escola especial deveria se transformar em centro de pesquisa.

Em relação à criação das salas de atendimento educacional especializado – SAEE

são favoráveis e consideram a necessidade de mais profissionais especializados e a

importância desse espaço para garantir a inclusão e como apoio para a professora

da escola regular. Quanto à entrada de alunos DM é vista por este grupo de

professoras como positiva, desde que possa atender às especificidades desses

alunos, uma vez que o aluno tem necessidade de algo novo o que é um desafio ao

professor.

Ao responderem a respeito de experiências de inclusão em suas escolas, as

professoras de escola regular destacam que houve avanços com ajuda das

professoras da SAEE, com vários casos de alunos bem adaptados, com progresso

na aprendizagem, no relacionamento e boa evolução ao término de cada ano; no

entanto apontam também casos de pouca evolução por falta de apoio da família e

101

dos pais. As professoras da escola especial relatam como positivos os casos dos

alunos encaminhados ao mercado de trabalho.

Ao final do questionário, as professoras tiveram a oportunidade de

acrescentar outras informações que julgassem relevantes e que não foram

organizadas em quadros, como as questões anteriores. Dessas informações se

destacam que elas vão ao encontro das respostas dadas nas questões anteriores.

Em relação às professoras da escola regular, elas afirmam: que a inclusão é

importante, mas preocupam os casos graves de deficiência mental - DM, que é

importante ter material pedagógico adequado, também é importante a participação

familiar e que é possível a evolução do DM com avanço social e pedagógico. As

professoras de escola especial trazem os seguintes comentários finais: que é

necessária a participação de profissional qualificado para acompanhar o DM na

escola regular, manifestam preocupação com o DM jovem e adulto, que deveriam ter

outro espaço como os centros de referência para o seu atendimento e que as

professoras de sala regular deveriam receber cursos obrigatórios sobre deficiência

mental - DM. Afirmam preocupação com a possibilidade de que os alunos DM

fiquem desassistidos na sala regular, que haja resistências de professoras em

receber o aluno DM na sala regular e de mães de alunos que relutam em confiar no

atendimento de seus filhos pelos agentes de inclusão, para alimentá-los e trocar

fraldas quando necessário.

Ou seja, essas informações confirmam que o enfrentamento da demanda é

cercado de dúvidas e receios, confirmado em estudos levantados para esta

pesquisa, como os de Mendes, Almeida e Toyoda (2011) e de Zuchetti (2011) e de

Mantoan e Arantes (2006), que sugerem que há necessidade de mudanças

desafiadoras para professores (formação, preparo, atitude) e para a escola de

maneira a garantir que os direitos apregoados nas Políticas Públicas sejam

efetivamente concretizados na prática.

5. 2 SEGUNDA ETAPA DA PESQUISA

5.2.1 Apresentação das professoras entrevistadas

Inicialmente, apresenta-se cada sujeito pesquisado por meio de uma síntese

que foi produzido a partir do conjunto de dados disponibilizados durante a pesquisa.

102

Ressalta-se ainda que o nome de cada participante foi trocado por um nome

fictício a fim de resguardar o anonimato.

Leda, professora de educação fundamental I em uma escola regular, há

dezesseis anos nesta mesma escola, onde começou como professora de educação

de jovens e adultos – EJA. Formada em magistério em 1989, em pedagogia, com

licenciatura em administração e pós-graduação em deficiência mental. Em 2013

estava fazendo curso de alfabetização, letramento e alfabetização – através do

Plano Nacional de Alfabetização na Idade Certa - PNAIC, oferecido pela Prefeitura.

Leda tem 44 anos, casada e mãe três filhos já casados.

Laura, professora de educação fundamental l, formada no magistério, em

pedagogia, concluiu em 2002, com habilitação em gestão escolar entre 2007 e

2008, pretende voltar a estudar e completar o curso de psicologia iniciado no

princípio de sua formação, por satisfação pessoal. Casada, mãe de dois filhos

casados, um de vinte e oito anos e um de vinte e dois, sendo um analista de

sistemas e o outro fazendo história na Universidade de São Paulo.

Mara, professora de alunos deficientes mentais em uma escola especial,

Formada em teatro, atriz profissional, formada em pedagogia pela Universidade

Metodista de Piracicaba em 1983, com habilitação em deficiência mental e também

em psicopedagogia pela Universidade de Sorocaba. Mara, além dessas formações,

fez cursos na área de teatro, relacionados à educação do deficiente intelectual.

Atualmente está concluindo o curso de enfermagem cujo objetivo de havê-lo

cursado, foi o desejo de saber mais sobre saúde, sem a intenção de deixar de atuar

como professora especializada em deficiência mental. Mara tem 47 anos é casada,

mãe de três filhos, com idades de sete, doze e dezesseis anos.

Rosa, professora de alunos deficientes mentais em uma escola especial.

Formada pelo magistério, em pedagogia com especialização na área de deficiência

mental e visual pela Universidade de São Paulo em 1983, também em

psicopedagogia no Colégio Estela Mares, em 1991. Rosa tem 62 anos é viúva e

mãe de dois filhos casados.

5.2.2 Processo de análise das entrevistas

103

Quadro 13 - Organização de pré-indicadores a partir de entrevista de Leda.

Pré-indicadores

1) Formação acadêmica Magistério em 1989, Pedagoga, bacharel em administração, pós em educação especial [...], em 2013 fazendo curso do PNAIC – Plano Nacional de Alfabetização, Letramento e Alfabetização Infantil na Idade Certa [...]. Eu estudei, meu pai era pescador, minha mãe dona de casa, eu sou do interior da Bahia e a única profissão que a gente tinha era magistério, era uma das profissões que todo mundo almejava [...]. Eu estudei em colégio de freiras durante a minha adolescência e eu queria devolver o que eu aprendi na minha profissão de professora, todo conhecimento que adquiri e queria devolver desta forma, agradecer desta forma [...]. Que a gente possa aprender, não é nem aprender, para que possa melhorar aquilo que a gente já sabe, porque é um conhecimento que a gente já tem, mas agora a gente aprende a colocar todo esse conhecimento com outras práticas pedagógicas (referindo-se ao PNAIC) [...]. Todas as vezes que eu tenho oportunidade de fazer algum curso ligado a qualquer área do conhecimento, mas que venha auxiliar a minha prática pedagógica, em sempre me encaixo, eu sempre estou fazendo na área escolar. [...] Depois quando começaram a vir as crianças especiais na minha sala eu comecei a fazer mais cursos, a me interessar [...]. Então para mim todos eles são especiais. Mas aquele que me exige mais, o que vi além do meu papel de professora, mas é assim, a criança com necessidades especiais [...] cada vez que vem uma criança com uma dificuldade maior eu vou ter que estudar mais, eu vou aprender muito mais como ser humano, uma porque a gente pensa que numa determinada idade a gente já viu tudo, que já sabe de tudo, de repente coloca um desafio para você e você fala caramba, eu não sabia nada, agora que eu estou vendo, eu não sabia nada, agora que eu estou aprendendo isso, e você sempre aprende alguma coisa com qualquer pessoa seja deficiente ou não [...].

2) Pretensão Acadêmica Eu gostaria, mas agora não está mais no meu pensamento fazer um mestrado, na área de Alfabetização [...] para tentar trazer um pouco do que a gente sabe e procurar aprender mais, desenvolver alguma coisa que possa melhorar o trabalho de alfabetização, porque eu acredito na educação e eu acredito ainda que a base é a que vai fortalecer o que essa criança possa vir a aprender [...].

3) Experiência Profissional Comecei a exercer a profissão de professora em 1996 na Prefeitura de Osasco, permaneço na mesma escola até hoje, iniciei como professora do EJA (Educação de Jovens e Adultos) e atualmente sou professora do ensino fundamental I [...]. Eu sempre quis ser professora.

[...] Quando eu tinha uma sala de aceleração, com dezesseis alunos especiais. Era a sala do [...] que ninguém queria e dava mais trabalho, naquela época três tinham laudo e os outros nenhum tinha, um tomava Gardenal, outro era psicológico, outro era mental, eram vinte e cinco alunos (total) que colocaram numa sala a parte da escola, onde hoje é a sala dos professores (sala atrás do pátio da escola). Depois quando começaram a vir crianças especiais, as professoras falavam eu não quero, esta sala dá muito trabalho. A direção falava, Leda, você tem como ficar com fulano, ficar com sicrano (aluno deficiente mental). Eu dizia ter tenho não, eu fico, eu fui ficando, ficando e aí eu fui me acostumando, Ficava com o que sobrava, (alunos DM) sempre foi assim [...]. Tive a 1ª sala de aceleração, tive a 2ª sala de aceleração [...]. O

104

aluno especial entrou na minha vida desde que entrei nesta profissão, a gente percebe pelos alunos do EJA, quem não conseguiu completar a sua educação, não conseguiu estudar, completar a sua educação porque alguma coisa tem, minha mãe dizia, ele é rude, é uma família de gente rude, olha lá, é uma de gente grande, estão todos grandes e não falam, mas não é, tinham dificuldades, alguns não poderiam naquela época aprender, eram os problemas que não foram diagnosticados (deficiência mental).

4) Experiência Pessoal com aluno DM Tenho exemplo na família, dois primos que são deficientes mentais, eles ficam presos, isolados [...]. Eu tive um aluno deficiente mental, Paulo o amor da minha vida. [...]. Meu aluno Paulo, era carinhoso, gostava de brincar, tentava fazer as atividades, ele gostava o tempo todo de vir até a minha mesa me pedir ajuda, “prô” me ajuda, e os colegas o tempo todo se preocupavam. Paulo já fez, Paulo quer ir ao banheiro, Paulo vem, vem. Eu acho que é uma coisa de ser humano [...], vou te falar mais, Paulo tinha dezesseis anos e a minha sala a maioria tinha oito, nove anos. Era sala do 3º ano quando Paulo esteve nesta escola. Foi em 2009, ele ficou comigo um ano, o outro ano outra professora pegou porque eu fui para a coordenação de um Projeto do Governo Federal, Mais Diferenças, então ei tive que deixá-lo [...]

5) Professora: como se vê (professora/pessoa) Eu me considero uma professora legal, gosto de aprender [...]. Eu sou uma professora que gosta de estar sempre por dentro do novo, não que largue minhas experiências antigas, meu livros, eu vou adaptando experiências antigas, meu livros, eu vou adaptando, o que aprendi lá com o que eu estou aprendendo de novo aqui, como eu posso melhorar meu trabalho na sala de aula. Só que eu também sou chata, eu não gosto de ver ninguém, quando eu percebo que um professor esta sendo humilhado eu sempre compro a briga, eu não gosto, e quero sempre que veja o outro lado, procuro ver o lado positivo das pessoas, não abaixo a cabeça para tudo, o que falam que eu não concordo eu bato na tecla e vou dando minhas opiniões, porque acho que não é desse jeito, que precisa melhorar, ai eu controlo o meu discurso. Acho que sou uma professora legal. Porque meus ex-alunos, a maioria dos pais aqui foram meus alunos e eles sempre tentam colocar os filhos comigo, com a professora Leda, A professora Leda ainda está ai, então coloca com ela. Quando eles me vêm eles falam nossa professora Leda, que bom estar com a senhora, nem acreditei que era a senhora que de novo está aqui, então eu acho que faço um bom trabalho, eu considero um excelente trabalho, eu tento dar o melhor de mim, mesmo que às vezes todas as condições não estejam a favor, mas eu sempre procuro dar o melhor, o meu melhor. [...] Mas aquele que me exige mais, o que vai além do meu papel de professora, dá uma soma de médico, psicólogo, se transforma em político [...] você tem que aconselhar, porque você percebe os problemas [...]. Eu me sinto como se eu fosse uma fada, um poder tão grande nas mãos quando vejo meus alunos adultos, até mesmo crianças. Lendo, aprendendo, tendo um avanço para ele tão pequeno, mas para mim é tão grande, eu me sinto uma fada [...]. Eu fico feliz quando meus alunos também conseguem chegar ao mesmo ponto (comparando o filho que fez faculdade). Eu falo para eles todos os dias, que quero vê-los bem, talvez alguns não chegue a altos cargos, mas que tenham uma boa situação de vida, uma boa família, que aprendam alguma coisa comigo, que possam passar e compartilhar aquilo que eu aprendi. Que aprenda todos os dias, que eu aprenda com eles também [...].

6) Dificuldade como professora de aluno especial com aluno DM e da Sala de Atendimento Educacional Especializado.

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[...] Você vê a mãe que você encaminha não é atendida em lugar nenhum, eu não vejo as mães que eu encaminho quando retornam para mim, eu não vejo elas trazerem para mim nada, falam professora eu não fui atendida, a grande maioria não consegue ser atendida [...]. Se juntarmos a professora da sala (regular), a professora do AEE, o corpo técnico, a mãe e a criança, tem uma saída, porque a gente só vê os problemas, ninguém vê os avanços, ninguém se junta para falar dos avanços, ninguém se junta para mostrar os progressos, mostrar as coisas boas mesmo, só vem para mostrar o que a gente deixou de fazer, o que a gente não está fazendo, ou as intrigas, as brigas do professor com a família ou com o aluno. Perde-se com isso o grande momento da educação especial [...]. A gente sabe que não existe parceria, porque quando a gente faz um relatório das crianças que não tem laudos, mas que você detecta que vai além então pede para você fazer a caracterização da turma, aí você faz a caracterização do aluno [..] você coloca no papel o problema, no 1º bimestre, 2º bimestre, 3º bimestre, você faz relatório, ai chega o 4º bimestre e você fala para a mãe, seu filho está assim, assim, que tal você o levasse para o psicólogo, você tem uma lista de onde é grátis, de onde é R$ 30,00 e este aqui é R$ 100,00. Já conversei bastante com o aluno sobre a UNIP, a UNIP já abriu espaço, leva lá e tudo, no posto de saúde aí ela volta para mim e ela fala professora o posto de saúde não tem psiquiatra infantil, aí mãe fica sem chão, onde ela pode ser atendida de forma gratuita, tem como levar, não tem gratuito, aí você ouve a coordenação falar assim, a psicóloga que tinha no posto do seu bairro, porque eu moro aqui, saiu porque não tinha demanda, mentira porque a gente manda os alunos para lá [...] Os professores tem que se virar porque a criança usa lápis especial, o professor que tem que ir atrás. Tem que falar que a carteira não está boa [...] tem que procurar o Seu Joaquim para fazer uma carteira, pega um cano, pega isso, ai a gente corre [...]. Ai você tem um aluno com deficiência visual, então eu quero vários materiais que eu possa trabalhar com ele, que seja um plano mais elevado, que exija fotos, porque no livro didático é impossível, então você percebe que esse material não tem [...].

7) Desafio de ser professora de aluno deficiente mental [...] o professor é a figura mais importante da sala de aula dependendo do jeito como o professor encara o outro que está do outro lado da mesa, todos os seus alunos seguirão seus passos, então se eu tenho um aluno mesmo que ele seja um deficiente mental grave, um caso que obrigue eu ser mais tolerante, com que eu seja mais ativa, com que eu seja mais humana então depende do meu papel, aquilo que ele vai se transformar, então não é que eu vou fazer milagre, mas eu posso achar outras maneiras de que ele se sinta bem naquele ambiente escolar, de que ele se sinta parte da minha sala de aula, parte dos meus alunos que ele conviva bem durante o período escolar nem que o período escolar naquele momento seja de duas, de três, de quatro ou cinco horas, mas depende também de como eu encaro o problema que o meu aluno tem, porque se eu não souber lidar comigo mesma, se eu tiver problema relacionado a problemas também mentais, o professor quando ele está como eu posso dizer esgotado na profissão, quando já não está vendo futuro, quando não sonha mais então ele tem a tendência de não olhar só a pessoa que tem problema mental, mas ele olha tudo de uma maneira negativa. [...] depois quando começaram a vir crianças especiais, as professoras me falavam eu não quero, está sala dá muito trabalho [...] eu fui conversando com os professores, e no começo houve muita resistência, aí os professores foram se acomodando, não que a resistência não continue, continua mas de maneira mais branda agora, agora a gente percebe, agora a gente fala só o meu dá trabalho, só eu tenho [...] a gente fala o seguinte, olha pessoal, problemas todo mundo tem, não é só você que tem esse aluno que tem essa especialidade, todos tem, imagina se a gente for colocar para fora ou brigar e mandar para casa toda vez que ele der

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problema o que não vai ser [...]. Quando a gente acredita e tenta mudar alguma coisa a gente consegue.

8) Conceito de inclusão Incluir para mim é você dar oportunidade de qualquer pessoa, de qualquer cidadão, de criança ou adulto poder inserir o meio onde ele não está acostumado, que ele ainda não circule que ele ainda não esteja inserido, não importando se a defasagem dele seja o intelecto, um problema físico, um problema de doença, não importa, mas deixá-lo conviver com outras pessoas que não são deficientes, que não tenham as dificuldades que ele tenha porque o ser humano não é perfeito, todo mundo tem suas dificuldades e suas diferenças. Sempre pensei assim e contínuo, pensando assim. Não mudei minha concepção [...]. Acho que é a oportunidade de todo mundo poder conviver com o outro tem que ter. É um direito. Sempre pensei assim e continuo pensando assim. Não mudei minha concepção. Sabe minha mãe sempre disse para um cuidar do outro (irmãos). [...]. Eu acho possível (inclusão) porque o ser humano é aquilo que a sociedade quer que seja então é assim, há deficiências mais sérias, mais graves, mas que existe e convive com o ser humano. [...] Eu acho que não deveria só trazer a criança para a escola, deveria dar oportunidade, que essa criança tivesse outras maneiras de ser ajudada, porque a maior parte na maioria das vezes a gente faz, a gente procura fazer o melhor, mas eu acho que precisa de muito mais [...]. Eu acredito em educação inclusiva.

9) Quem deve ser incluído [...] Mas que todas as crianças, não só especiais, os portadores de necessidades especiais ou que tenha deficiência, eu vi um termo outro dia, que tenham necessidades extras é uma necessidade a mais, nenhuma criança vem com bula, nenhuma criança vem com diário de bordo, de como cuidar, como fazer e as pessoas antes quando detectava algum problema, seja físico, não sabia como agir [...].

10) Sobre a obrigatoriedade da matrícula do aluno especial na escola regular

A obrigatoriedade tirou da família o medo, tirou da família a vergonha, tirou da família a falta, não é nem a falta, é a responsabilidade de ter por seu filho, entender que seu filho tem um problema, mas que todas as crianças não só especiais ou os portadores de necessidades especiais tem [...]. A história médica mostra isso, a própria sociedade não aceitava, escondia, matava. Essas pessoas eram aprisionadas e viviam muito tempo assim [...]. Agora havendo a obrigatoriedade, a escola obriga, o poder público obriga, faz com que as pessoas sejam apenas pessoas, são exigidos dos quem têm necessidades especiais mas eles também precisam conviver que não é nada de anormal [...] que não é nenhum bichinho, coitadinho dele. Olha lá as crianças hoje, o preconceito existe na cabeça dos adultos porque as crianças, essas não vêm deficiência, essa diferença, tão forte na sala de aula [...]. As crianças [...] não vejo as crianças assim, pela minha experiência as crianças não tem preconceito e se a gente não disser para ela que a criança é especial ela não percebe, a não ser que você fique batendo na mesma tecla, é especial, não aprende por que é isso, não aprende porque é aquilo, porque até então se você não falar eles não percebem [...]. A obrigatoriedade é positiva, positiva, independente da gravidade. Acho que a oportunidade de todo mundo poder conviver com o outro, tem que ter. Um direito, sempre pensei assim e continuo pensando assim, não mudei minha concepção.

11) Obstáculos à inclusão Os professores estão enlouquecendo. Às vezes a gente vê quantos professores estão com problemas mentais, ai, ouvir a voz de uma criança sem poder conviver

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com outros professores, a gente percebe que houve um grande número de professores que já estão se aposentando não por idade, mas por doença e outras doenças como diabetes, pressão alta, problemas mentais, psicológicos, porque as vezes não consegue aguentar o pacote, porque o pacote é muito pesado o fardo é muito pesado. [...] Se eu tiver o meu problema relacionado a problema também mental [...] o professor quando ele está como eu posso dizer, esgotado na profissão, quando já não está vendo futuro, quando não sonha mais, então ele tem a tendência de não olhar não só a pessoa que tem o problema mental, mas ele olha tudo de uma maneira negativa [...]. Não é o problema com a deficiência mental, é o problema de desencanto com a profissão. Quando a gente acredita, tenta mudar alguma coisa a gente consegue [...], eu acho assim é uma coisa de ser humano [...]. Eu acho que o laudo só atrapalha o trabalho do professor, vou falar para você por que. Com esta história de laudo, faz com que o professor, de um lado atrapalha, de outro lado, se for um professor atento a isso, ele vai trazer o laudo mais como uma ferramenta na sua aprendizagem, por quê? Eu digo que ele atrapalha, quando uma pessoa vê o laudo médico, desiste e fala são tantas necessidades, tem que fazer tanta coisa, aqui fala que ele não vai aprender, aqui diz que vai ser difícil, a pessoa vai usar o laudo como uma barreira da aprendizagem. Tem outras (professoras) que olham o laudo e fala espera ai, está dizendo aqui que a criança não pode, vai ser difícil ela aprender, ser alfabetizada, vai ser difícil ela conviver com os outros, mas eu vejo outros exemplos de pessoas que não tinham esse laudo e o professor conseguiu fazer diferente, então eu posso tentar, então o laudo só me ajuda quando eu olho lá, vejo o diagnóstico e procuro outras atividades que possam me ajudar a superar o problema. É o que eu vejo no laudo.

12) Visão sobre a Escola Especial

A escola especial não adiantava nada, ficava lá um monte de indivíduos da mesma idade, pelo resto da vida, às vezes 50, 60 anos, convivendo com aquele pessoal, não tinha nada de novo, não viam como era a outra parte da sociedade, não conviviam com pessoas consideradas normais [...].

13) Experiências positivas na escola especial com deficiente mental e na Sala de Apoio Educacional Especializado – SAEE

Mas também tem professores que tiram de letra, que a cada desafio consegue melhorar, conseguem levar na boa, estão na profissão porque gostam, porque é mais importante quando a gente faz aquilo que gosta, não quer dizer que a gente não liga para salário, é que o retorno do que você faz é tão bom, tão bom, que se torna uma fortuna na vida da gente, assim (não aguentou mais e caiu no choro), [...]. Hoje para você ser professor tem que gostar de ser professor, tem que aprender a compartilhar, está aqui porque gosta, todas as vezes que saio da minha casa eu fico feliz de ver as pessoas [...]. É assim, quando você tem um projeto de vida e sabe que ele é especial para você e vai beneficiar a vida de outras pessoas, a gente procura sempre indicar alguém que a gente sabe que vai continuar o seu trabalho, achar alguém do seu perfil. Quando a gente percebe que tem pessoas que estão sobrando na escola e você precisa sair e vê que a pessoa tem o mesmo perfil e trabalha igual a mim, as crianças vão gostar mais, a gente vai encaixando, fala o fulano, não, não vai dar certo, procura colocar uma pessoa assim, a direção, ela sempre ouve [...]. É. Eu tenho vários casos mais o Paulo foi o caso mais grave, pela idade, pela convivência. É, mas eu tive o Luiz. eu tive o Eduardo. Ele só dormia porque tomava medicamento muito forte. O Luiz, era muito agressivo, quebrava a sala inteira. A família não aceitava e eu tive que pedir licença da escola no começo do ano [...]. Eu tive uma família inteira, cinco alunos, todos eles passaram por mim, todos cinco tomavam Gardenal, eram muitos violentos.

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Diagnosticado atualmente, tenho dois; um que é deficiente físico [...], mas ele está aprendendo aos poucos. É do segundo ano [...]. Eu tenho o outro com diagnóstico, pergunta o nome da mãe ele não sabe, ele não consegue gravar. Ele não tem memória de coisas imediatas, nem de coisas antigas. Então você pergunta uma coisa para ele, ele não sabe. Ele não sabe que o nome dele é Pedro. Você percebe um grau bem grande assim [deficiência]. Ele foi encaminhado para avaliação, mas não tive retorno cobro, mas não tenho retorno [...]. Ele não está sendo acompanhado por ninguém e a mãe não conseguiu levá-lo porque estava desempregada, ia tentar a UNIP, mas ela até agora não ligou e a gente vai fazendo o trabalho que pode. Tenho uma menina com problema de fono, ela tem a língua bem presa, no começo ela tinha muita dificuldade em se comunicar, a outra professora do ano passado veio falar comigo, que a mãe é lutadora, onde manda a mãe ir ela vai, agora ela vai passar pelo médico para fazer uma operação. Tenho o Gustavo, tenho a Leandra, que pelo que a gente leu sobre autismo, tem um leve autismo, ela é muito inteligente e conversando com a mãe ela também acha, mas a gente percebe que ela fala muito sozinha, que tem dificuldade, fica parada muito tempo, não se envolve com os outros colegas, ela (mãe) procurou tratamento para ela (filha), mas não conseguiu nada até agora. Nenhum destes casos está sendo acompanhado pelo AEE [...].

14) Sobre a Sala de Apoio Educacional Especializado - SAEE A gente sabe que onde a criança passa o maior tempo é com o professor (sala regular), porque na Sala Polo (SAEE) ela vem num horário diferenciado e se ela não tiver Laudo não vem hora nenhuma, porque só atende com Laudo. Foi uma discussão que a gente teve, porque antes as salas (SAEE) eram assim, a gente fazia relatório e conversava com a professora (do atendimento), com a coordenação, olha eu tenho um aluno assim, eu desconfio que ele tenha autismo, preciso de auxílio eu gostaria de ouvir uma segunda opinião, eu não sou médico, eles também não são, mas com alguém que entende do assunto para ver se eu estou certa para que eu possa renovar o meu trabalho, construir um outro trabalho que possa atender essa criança (começa a chorar) ai a professora que estava lá vinha e falava: olha professora me mandaram o fulano mas eu acho que fulano é problema de disciplina, não tem nada com ele, mas fulano eu já chamei a mãe, conversei com a mãe, já encaminhei para tal lugar, mas hoje em dia não existe mais isso. Hoje em dia é tudo laudo [...]. Então eu tinha muita esperança neste espaço, nas SAEE Polo (uma escola atende várias escolas ao redor), mas agora até estão atrapalhando nosso trabalho pedagógico, porque às vezes a gente perde tanto tempo para brigar com as pessoas, porque a gente pensa assim, têm uma criança, tem o AEE, a gente queria que o AEE viesse até nós, conversasse comigo, me dissesse se o que eu estou fazendo está certo, pelo menos é uma coisa legítima, coisa correta, ou se eu tiver algum problema de como ajudar aquela criança, tem mais uma pessoa para me ajudar, para conversar comigo e a gente vê hoje as salas polo do AEE não estão fazendo mais isso. Não. Eu vejo uma coisa muito assustada, é como se existe duas crianças, uma que vai para o AEE e a outra que fica na sala de aula (regular), porque para mim a criança é uma só, a que fica na sala de aula e do AEE, porque partilhar problema é bem mais prazeroso, porque se eu converso com você, meu aluno está assim, assim, ele falou você pode fazer desse jeito, posso melhorar, eu fiz desse jeito, vamos tentar de outro jeito, quanto mais você troca, mais conversa com outro, você aprende mesmo que você ache a outra pessoa seja tão leigo quanto você, você acaba aprendendo alguma coisa, este afastamento, que existe um relatório no computador, você abre o relatório e lê, é uma coisa muito informal, eu acho que o ser humano precisa ainda, graças a Deus dessa troca, dessa conversa, de você

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poder respirar e às vezes só desabafar com o outro, eu acho que ainda precisa de você sentar [...]. Acho que esse é o papel, quando ela se candidata a um cargo público, precisa dar retorno do cargo, eu aceitei, no momento que eu escolhi ser orientadora da SAEE, professora do AEE, eu escolhi, ninguém me colocou lá, então se eu estou lá eu tenho um conhecimento que vai além, não estou falando do conhecimento científico, estou falando do conhecimento de algo que eu quis fazer com boa vontade [...] Aquilo não é compartilhado (conhecimento de línguas, cursos), fecha a porta e fica lá, aquilo tem que ser expandido, o que as outras pessoas fazem, só aparece a turma da SAEE, do corpo técnico, as professoras não conseguem superar, resolver o problema, ai aparece todo mundo.[...] Eu tenho um com diagnóstico, pergunta o nome da mãe ele não sabe, ele não consegue gravar [..] ele não sabe que o nome dele é Pedro [..]. Ele foi encaminhado para avaliação (SAEE), mas não tive retorno, cobro, mas não tenho retorno. Desde fevereiro e até agora não tive retorno (outubro). Ele não está acompanhado por ninguém [...]. Tenho o Gustavo, tenho a Leandra [...]. Nenhum desses casos está sendo acompanhado pela SAEE. Até agora não (outubro).

15) Sobre as mães/família do aluno deficiente mental [...] você tem que ouvir a história da mãe, a história do pai ou da avó, de alguém da família, você tem que aconselhar, o professor hoje ele é, às vezes pai, mãe e avó que é a família, ele é o medico, o psicólogo, o fonoaudiólogo, ele é tudo na vida de um aluno, na vida da própria família, [...] às vezes quando você chama para conversar, eles têm tantos problemas, eles pensam que a gente pode resolver os problemas, vem na escola para serem ouvidos, não tem outro lugar para ir [...] se eu fosse mãe e de repente tivesse uma criança com deficiência, eu tenho certeza que lutaria para que meu filho estivesse na escola, que meu filho convivesse com outras crianças, mesmo que ele tivesse problema, porque problema todo mundo tem [...]. A família quando vem, a maioria não aceita, ou está cansada demais [...], por que as mães não sabem onde levar, não tem dinheiro para levar longe, não tem dinheiro para pagar consulta, não tem convênio médico, isto é a realidade dura [...]

16) O agente de inclusão (Ausente)

17) Aprendizagem do aluno DM [...] O aluno especial é o nosso maior desafio, porque eu acho que você tem que trabalhar os seus valores, aquilo que você aprendeu de uma pessoa que tinha deficiência forte, ou de uma maneira negativa ou de uma maneira positiva depois de você derrubar todos os seus tabus e refazer tudo para que você pudesse ajudar uma criança, não um cidadão doente, mas a uma criança, um adulto, um adolescente, então assim, você quebrar os tabus, com coisas que você acreditava, tinha uma verdade absoluta, que o deficiente mental não fazia nada, eu tinha os meus tios que estão lá e eu vejo o Paulo, eu ponho meu nome em vários papéis e ele vai lá e pega para mim, ele vai lá e pega o nome dele e vai atrás para mim. Paulo, vamos até o mar ele vai até lá, ele não conhecia, eu falo Paulo vai pular, ele começa desengonçado e depois ele já está mais forte, depois, é tudo isso, mas as outras pessoas, o pai, a família, não enxergam como avanço, mas eu enxergo. De repente Paulo fala banheiro e vai, eu falo pode ir sozinho e ele vai (Leda bate na mesa). Eu vejo que ele consegue retornar, as crianças não vão buscar, Paulo consegue chegar até a sala de aula, é um avanço, mas você só consegue perceber se falar. E para eu falar com você eu tenho que conviver dialogar com você, trocar experiência, só no computador colocar isso, dizer que ele não andava, que ele não sabia quem era ele, não é a mesma coisa. É o olhar.

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18) Recursos pedagógicos para a aprendizagem do aluno DM

Tudo que vem é para a SAEE. Então chega jogos é para a SAEE, TV, materiais, vem alguns materiais é para a SAEE.

19) Sobre o fechamento da escola especial Eu adorei. Eu adorei. A escola especial não adiantava nada, ficava lá um monte de indivíduos da mesma idade, pelo resto da vida, às vezes 50, 60 anos, convivendo com aquele pessoal, não tinha nada de novo, não viam como era a outra parte da sociedade, não conviviam com pessoas consideradas normais [...].

20) Alternativas ao fechamento da escola especial/inclusão [...] Então aí é que eu acho que o poder público peca é onde o poder público tira esse foco, talvez hoje não tenha, talvez pelo tanto que ganha com o aluno especial, recebendo uma verba extra, parece que não há interesse na escola que ele se desenvolva [...]. O que acho que peca muito: a escola e o poder público deviam fazer convênio com faculdades, convênio com postos de saúde, eu já vi, em Diadema uma vez, eu lembro uma vez eu assisti palestra lá, eles faziam uma rede de proteção à criança [...]. Eu acho que o poder público devia fazer isso, fazer parcerias, com tantas coisas na educação, porque não fazer parcerias. Falta parceria e acho que é uma coisa bem fácil de resolver [...]. Onde a professora quando percebia uma criança com um problema sério aí eles faziam uma rede de proteção eles acionavam a escola, o professor, o aluno, a família, aí vem: psicólogo para a família, para o professor, para o aluno, aí você indica, aí vai para a rede de saúde, aí você vai enviar para o pediatra, pediatra atende, então toda aquela rede, seja EJA, vai para o CAPS, vai para aquela rede de proteção. A escola poderia mandar daqui a lista de alunos para o posto de saúde, o posto de saúde agenda o dia e manda para as mães. Se cada escola pudesse fazer isso, entre 1200 alunos a gente tem o que, 60 alunos que precisam de cuidados mais especiais e a gente se encontra de mãos atadas [...]. O poder público precisa ainda se preocupar muito mais, não é só com cursos para o professor, mas mais maneiras para a criança especial, como tem a criança e o adolescente, uma rede de proteção, uma rede de proteção para crianças com dificuldade de aprendizagem, para crianças com necessidades especiais, essa rede tem que ser construída, a escola ainda vai ser o centro disso tudo, porque tudo começou ai, que outras parcerias devem vir para a escola, se juntar e interligar interesse para ajudar essas crianças. Eu acredito e apoio essa ideia.

Quadro 14 – Organização de pré-indicadores a partir de entrevista de Laura

Pré-indicadores 1) Formação acadêmica

Comecei o curso de psicologia, mas não terminei (problemas financeiros) [...]. Neste momento eu só tinha o ensino médio [...]. Então eu fui fazer o Magistério para ter uma profissão, porque não tinha conseguido terminar psicologia. Só aí terminei o Magistério porque foram somente dois anos de complementação [...]. Fiz pedagogia em 2002, com habilitação em gestão escolar em 2008 [...]. Esse curso era da Prefeitura. Era o Mais Diferenças, era no Centro de Formação, eu fiz. Sabe, mas era aquela coisa, você faz o curso, mas chega à sala de aula, sabe é você que tem que tocar a coisa, o curso não ensina nada, você só vai ouvir desabafos de colegas, na realidade nesse curso a gente só escutava desabafo, sei lá eu [...]. O curso durou dois anos [...]. Eu não me lembro, mas era assim, tinha reuniões. Na verdade não era curso eram reuniões para professores que tinham alunos de inclusão. Nesta

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época eu estava no pré (EMEI) e fiz pelo prézinho, eu tinha um aluno (DM) e quando mudei para outra escola que eu peguei pré de novo, tinha também (aluno DM), todo ano tem [...].

2) Pretensão acadêmica Eu gostaria de terminar o Curso de Psicologia, que eu acho que tem a ver não? . Esse sim. Seria por satisfação pessoa não mais profissionalmente, por que [...]. Seria mais uma satisfação pessoal porque é uma coisa que eu gosto muito. Na realidade eu escolhi a profissão de psicologia [psicóloga], eu adorava, eu gostava muito tanto [...]. Uma prima do meu marido ela faleceu e eu não conheci pessoalmente, ela falava que eu era a psicóloga dela, ela ligava, eu ouvia, foi uma coisa que eu gostei muito, só que naquela época era tudo muito difícil, eu não tinha condições financeiras para pagar, e eu estava trabalhando e desisti da faculdade [...] porque não estava conseguindo terminar psicologia [...] não voltei nem para a faculdade de psicologia [...] apesar que ainda gosto muito, ainda leio e adoro livros de psicologia, ainda gosto muito dessas coisas [...]. É uma coisa que não sei, eu atraio muito [...].

3) Experiência Profissional Sou professora há 23 anos, leciono desde 1989 [...] Na realidade eu não escolhi a profissão, eu fui escolhida (professora). A minha tia que já era professora, mas que já atuava como diretora de escola, falou para mim então você vai dar aula e vai ganhar seu dinheiro, ai eu fui ganhando meu dinheiro e fui ficando, entrei para trabalhar em um banco, acabei saindo do banco [...]. A minha tia começou a falar, vai dar aula, que é legal [...]. Ai minha tia passou para diretora de escola [...]. Aí eu comecei a fazer cadastro na escola do estado, fui fazendo cadastro e peguei algumas aulas como eventual, ai fui tomando gosto, sai do que banco que estava trabalhando até então e assumi a profissão de professora [...]. Acabei gostando da sala de aula [...].

4) Experiência Pessoal com aluno DM Eu acho que cheguei a comentar com você sobre minha irmãzinha especial, ela está com 50 anos, e ela continua na escola especial. É a vida dela aquela escola, aquelas crianças, se tirarem aquela escola daquelas crianças, como tiraram alguns, mas tem alguns que se tirar vai tirar o chão, eu vejo que ali hoje não tem mais tudo isso, mas na época, tinha ortopedista, dentista, psicopedagogo, psicólogo, neurologista, minha irmã tinha, tinha tudo isso, coisas que as crianças na escola não tem [...]. Ela é adotiva inclusive. A Débora (irmã) se você dá alguma coisa concreta ela tem muita dificuldade, mas a medida que você vai exercitando, chega uma hora que sai, lógico, o simples, você entendeu? Mas ela tem um bloqueio tão grande que todo esse tempo ali na escola especial ela não consegue fazer nada sozinha, então você vê a criança [...]. Minha irmãzinha vai. Ela estuda a tarde, no período das 13:20 até 17;30 horas [...], nossa quando chega 6ª feira ela fica triste. Aquilo é a vida dela. Quando chega 6ª feira já fala: ai, já vai ter sábado e domingo de novo. Porque lá eles têm baile, nossa lá eles se divertem, eles aprendem, tem recreação, tem tudo lá. Poderia até não ter período todo, mas ter aquela escola como apoio para essas crianças, para eles é um reforço [...]. Como no caso da minha irmãzinha se tivesse que acontecer ela iria para o EJA, já imaginou minha irmãzinha se tivesse que soltar, ela não consegue fazer nada sozinha, alguém teria que levá-la para a escola e a minha mãe que hoje está fazendo 83 anos, levar e buscar? Você entendeu? Essa criança, quem cuida dela, ai eu digo a Débora, ela ai na escola especial ela vai e volta com a perua [...] Não pega em casa, pega na esquina, mas na esquina a Débora fica numa boa, é pertinho. Deixa na porta de casa, porque quando chega já está

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escurecendo, aí minha mãe já sai (pai tem 86 anos) [...]. Para minha irmã a escola é mais uma distração porque o tempo que ela está nessa escola especial [...] faz 30 anos. Mas o que essa escola é para ela, é a vida dela, apesar de que a Débora mudou muito. [...] Quando minha mãe adotou ela ficava na cadeira [...]. Se você olhar essa menina comendo de garfo e faca você não acredita, é a coisa mais linda sabe uma coisa assim, sabe ela teve muitos progressos, já falei para você nesta parte do comportamento. Ela não dá trabalho, é uma menina educada, ela é um doce de pessoa só que ela tem as preferências dela. Já teve fases dela ficar agressiva, demora, mas vem [...]. Ela sofria muito quando minha mãe adotou, ela era uma menina que era muito judiada e foi por isso que minha mãe adotou, porque sabia que ela estava sendo muito judiada, teve um tempo a alguns anos atrás que ela, essa pessoa que cuidava dela que se não arrumasse alguém para cuidar dela ia jogar no rio Tietê porque essa pessoa arrumou um namorado e esse namorado não queria a menina, a minha mãe soube por uma vizinha, minha mãe foi buscar, e quando foi buscar e quando foi agora em 2009, 2010, minha mãe foi chamada na escola especial, lá tem psicóloga, lá tem também psicopedagogo que queria saber por que minha mãe queria jogar a Débora dentro do rio, minha mãe falou, no rio, aquela menina é a razão da minha vida, não, porque outro dia ela chegou e chorou dizendo que a senhora ia jogar ela na rua [...]. Ela estava atribuindo para minha mãe [...]. Teve uma vez que ela bateu na minha mãe, mas isso é uma coisa muito difícil porque ela é uma menina muito boazinha, mas a gente fica com receio, então, mas ela ficando na escola especial ela fica assim, é a vida dela. Então a gente pensa Deus me livre se tirar a Débora dessa escola [....] como aconteceu com a minha irmã que já foi para uma escola regular, ela chegava até machucada em casa, então eu acho que tem muito por evoluir. [...] Tem uma vizinha lá que ela teve um problema de parto e ela tem dois filhos especiais, dois meninos, mas não são gêmeos, teve um depois engravidou de novo e o outro também é especial, ela teve sangramento, esses dois meninos você tem que ver as coisas que eles fazem na oficina lá na escola especial, em madeira, pintura [...]. Devem ter a mesma faixa de idade da minha irmãzinha (50 anos), devem ter a mesma faixa de idade, por aí. Só que eles conseguem fazer, eu vejo que no concreto eles desenvolvem conseguem fazer mais,

5) Professora: como se vê (professora/pessoa) [...] As pessoas ainda me procuram, quanto tem qualquer problema como se eu estivesse exercendo (profissão de psicóloga) [...]. As pessoas quando tem qualquer coisa veêm me procurar para conversar, eu me sinto bem, se não ajudar, pelo menos ouvir [...].

6) Dificuldade como professora de aluno especial O José precisava de uma atenção individual mesmo, ficar junto com ele, precisava de uma atenção e eu não podia fazer isso [...]. Então você pega uma sala de aula com três inclusões e 35 alunos [...]. Em 2011 eu tinha 33 alunos e três inclusões. É humanamente impossível chamar isso de inclusão, de forma nenhuma (foi se alternado e ficando irritada) como conseguir dar atenção, isto sem contar que era uma sala escolhida a dedo, eu estava chegando, eu tinha na época um aluno, o Fábio que jogava tudo, era meu aluno na mesma sala, fora as três inclusões [...]. Então não teve assim, vai preparar para receber em um ano, você vai receber as crianças do 1º ano e então o que você faz, enfeita a sala, você põe bichinho, você vai acolher a criança, você vai acolher a criança. Mas o que foi feito quando chegou à escola regular para acolher essas crianças? Nenhum preparo, não teve treinamento que ensinasse como lidar porque se hoje colocar uma deficiente auditiva – DA na mina sala eu não sei falar em Libras o problema é meu, você entendeu? Acho que essas crianças mereciam muito mais do que recebem e olha que eu não atribuo

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isso aos professores porque a gente vê o esforço que os professores fazem para acolher, para tentar fazer por essas crianças, porque o professor, ele vê tudo que é progresso, mas o professor, a função dele é alfabetizar, no fundo ele acaba ficando frustrado porque não consegue alfabetizar, mesmo com todo progresso que teve, ele quer no fundo, ele escreve o nome dele hoje, falando no meu aluno do ano passado, ele separa as peças, você percebe principalmente quando ele começa a abstrair, mas para ele chegar a abstrair ele tem que passar por muito concreto primeiro, entendeu? Eu vejo ainda que tem muito para crescer, muito, eu vejo que é uma coisa indispensável esse apoio paralelo [...]. Chegou uma hora que ele falava, professora me dá uma folha de sulfite e eu dava, ele pegava a folha de sulfite, ele construía, veja só, ele riscava no sulfite homenzinhos, recortava e ele construía os bonecos dele assim [...]. Na sala de aula ai eu vou obrigar essa criança a escrever, vendo que ele estava assim, ele fazia, eu dava o lápis, eu tentei, eu tentei, ela até copiava, embaixo, o que eu escrevia, por exemplo, a letra A só que dois minutos depois ele não sabia mais o que era, entendeu? Então a gente vai associando, a gente vai e é nesse sentido que eu falo que a criança perde [...]. Não, eu [...] sem surpresas, porque na nossa escola não sei por conta de ser Polo é muito difícil não ter, teve um ano, eu tinha três inclusões na minha sala e um é diferente do outro, tanto é que eu tive o Roberto [...]. Não, ele foi para uma escola estadual, para o 6º ano o que eu acho uma judiação, ele no meio daqueles adolescentes, ele foi em 2012, eu tinha o Roberto (síndrome de Down), eu tinha o K., tinha o J. [...]. Quer dizer ai você vê um monte de professores ficando doentes e ninguém sabe por porque é cômodo falar que a inclusão está acontecendo (voz completamente alterada). Mas a que preço? [...]. Aluno não tem atenção que ele necessita [...].

7) Desafio de ser professora de aluno deficiente mental Você pega um PC. O aluno PC precisa muito mais de você do que outra criança e aí o que você faz numa situação dessas? Sabe eu estive no prézinho que tinha as crianças, eu fui fazer um curso no Mais Diferenças e tinha uma professora que estava dizendo que tinha um aluninho, que não parava sentado porque não tinha firmeza no corpinho aí [...]. A própria professora na época do Mais Diferenças ensinou, fizeram uma espécie de um cinto não sei, que prendia essa criança na cadeira para ele ficar sentada. Sabe essa professora ficava muito encima dessa criança para ela não desiquilibrar, porque ela se batia, então em uma sala com 35 alunos fica complicado isso (mais a PC). Eu acredito que essa criança precisa sim estar inserida, estar incluída socialmente, agora pedagogicamente eu acho muito difícil porque para entrar numa sala regular, entra aqui em qualquer sala que você quiser que tenha aluno de inclusão e veja se tem um cantinho do aluno atrás com jogos para ele, jogos apropriados para desenvolver a coordenação motora dele, o material pedagógico apropriado para essa criança, não tem [...].

8) Conceito de inclusão Eu acho que incluir é fazer parte, é estar inserido naquele contexto, naquele ambiente, naquela aprendizagem partindo para o lado pedagógico, então eu acho que para você fazer uma inclusão, olhando dentro da sala de aula, não é simplesmente pegar o aluno e colocar lá dentro, junto com 34 alunos e falar inclui, não é isso. Para eu, incluir é você dar oportunidade para esse aluno, desenvolver tanto pedagogicamente quanto psicologicamente, quanto coordenação motora é você conseguir trabalhar tudo isso [...]. Então eu vejo assim, você incluir uma criança na escola regular, é uma inclusão social, pedagógica não é eu não acredito, eu não, porque a professora que diz que consegue dar atenção, a gente dá óbvio, você dá atenção para todos, mas essa criança precisa de uma atenção especial [...]. Eu acredito que essa criança precisa

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sim, ser inserida, estar incluída socialmente, agora pedagogicamente eu acho muito difícil porque para você entrar numa sala regular entra aqui em qualquer sala que você quiser que tenha aluno de inclusão e veja se tem lá um cantinho do aluno lá atrás, com jogos para ele, jogos apropriados para desenvolver a coordenação motora dele, o material pedagógico apropriado para essa criança, não tem, o que acontece [...] você chega ao ensino fundamental eles já percebem isso (deficiência), no prézinho eles se ajudam, é uma coisa muito bonita [...], não é inclusão, não da forma como é feita [...]. Eu falo de dar o que essa criança precisa para ela crescer, porque não adianta ter uma criança, ter uma inclusão dentro da minha sala de aula [...]. Por isso que eu falo quando a inclusão é leve, você consegue incluir a criança sim, mas quando a inclusão é mais pesada, não sei se é esse o termo, eu acho que aí a criança, aí ela perde [...] é cômodo falar que a inclusão está acontecendo (voz completamente alterada). Mas como, a que preço [...] não sou contra a inclusão, mas eu acho que a inclusão está mal feita. [...]. Muitas salas tem inclusão, eu acredito [...]. Para a inclusão precisa ter sala com menor número de alunos. Que as escolas tivessem um suporte para essas coisas realmente como estou falando [...]. Eu vejo assim, para ter essa inclusão normalmente tinha que ter mais preparo, as salas estarem prontas, eu vejo como uma coisa que caiu de paraquedas no colo das escolas, vai ter, vai ter, acabou [...]. Não sou contra não, mas acho que ainda tem muito que mudar para conseguir atender essas crianças como elas merecem [...] eu acho que tem muito para evoluir [...] porque a maior parte da inclusão que se faz hoje é uma inclusão social. Cadê esse material concreto, cadê essa inclusão? [...]. Os alunos de inclusão deveriam frequentar o SAEE, não é verdade? [...].

9) Quem deve ser incluído Você pega uma PC [...]. Eu acredito que essa criança precisa sim estar inserida [...]. Eu falo quando a inclusão é leve, você consegue incluir a crianças sim, mas quando a inclusão é mais pesada, não sei se é esse o termo, eu acho que ai a criança perde [...] Eu tinha um aluno (DM) no pré (EMEI – Escola Municipal de Educação Infantil), [...] por isso que eu falei para você que a gente não vê um aluno de inclusão como uma coisa extraordinária, como uma coisa diferente, a gente, o vê como parte do grupo mesmo, é igual [...].

10) Sobre a obrigatoriedade da matrícula do aluno especial na escola regular Eu concordo. Eu concordo, é o que eu estou falando, porque essas crianças tem que estar junto com outras crianças, quando você vai inserir uma criança dessas, você tem que ter a responsabilidade de cuidar dessa criança, como ela merece ser cuidada, eu vejo assim [...]. Quando eu falo na responsabilidade de cuidar não é tomar conta. Eu falo de dar o que essa criança precisa para crescer [...]. Se for obrigatório para uma deficiência média eu acredito, eu acredito, mas aquelas crianças que tem uma deficiência mais grave, que necessitam de mais apoio e mais ajuda aí eu acho que deixa muito a desejar [...]. Que as escolas tivessem suporte para essas crianças realmente como eu estou falando, talvez não precisassem, seria maçante frequentar um período aqui e outro lá na escola especial, mas que essas crianças talvez que essas crianças pudessem ficar um período menor na escola regular, que tivesse transporte para fazer isso, tipo assim essa perua traz esse aluno aqui, ele fica duas horas e daqui ele vai direto para a escola especial (foi tirado o nome da escola) [...]. Mas eu acho que essa criança precisa aprender você entende, então dependendo do grau de deficiência dessa criança ela até aprende, ela progride, se ela tiver, por exemplo, vamos supor que ela fica aqui na escola regular, em um período e no outro período (escola especial) [...].

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11) Obstáculos da inclusão A maior parte dessas crianças acaba ficando por conta dos colegas, aí a criança sai e o coleguinha vai buscar, sei que não é isso [...]. O outro aluno, é legal ele ajuda, é muito legal essa situação, a gente vê muito essa situação do colega ajudar. È muito comum sabe, eu trabalhei no pré e trabalhei no ensino fundamental e deu par ver bem isso [...]. Uma coisa que eu aprendi é que o preconceito, você não tem, você adquire, você não nasce com ele. Você chega a uma escola do pré, não tem isso da criança ser especial, de ser de inclusão, no prézinho , eles se ajudam, é uma coisa muito bonita [...] era uma coisa que a professora não conseguia ainda era coisa do prézinho, eram coisas simples [...]. Além do professor da classe comum, não ter preparo para isso, ele não tem nem material, nem tempo, fica complicado, fica complicado eu acho. Eu não vejo a inclusão como ela é feita não. Você professora às vezes vai para a sala de aula e às vezes pega uma inclusão, a professora tem que ter essa consciência, eu vou soltar um caderno e um lápis na mão desse menino e qual o estado dele, porque não vai haver nenhum progresso, ele não vai, ao passo que quando ele separava as peças que no processo que eu queria, nossa que legal [...].

12) Visão sobre a escola especial [...] Eles (referindo-se aos alunos na escola especial) tem esse período, é um trabalho que, nossa eu não sei, o material, a oficina, tudo aquilo que tem na escola especial é tudo muito rico aquilo lá, não sei se ainda é por conta que mudou tudo, mas era tudo muito rico e o trabalho que os alunos faziam, eles pintavam as atividades manuais, tinha oficina de madeira, tudo, quer fazer era uma coisa que era mão na massa mesmo, aqui não tem isso [...]. Ai tem essa assistência lá, ai essa perua traz (para a escola) e leva de volta para casa, só que isso vai muito dinheiro não, será que não valeria a pena gastar esse dinheiro? [...]. Lá tem psicóloga, tem psicopedagoga [...]. Se a criança fica aqui na escola regular em um período e no outro numa AACD, por causa da deficiência você vai ver o processo dessa criança, tem uma professora aqui que a filha dela é especial, tem deficiência inclusive física, a filha dela frequenta a escola regular e frequenta a AACD. Eu não sei exatamente se tem problema cognitivo, eu acho que tem. Você percebe que há progresso porque está trabalhando o motor, a coordenação motora, tudo aquilo da criança também [...] você põe na AACD só casos extremos, a AACD não pega, não consegue abraçar todo mundo [...].

13) Experiências positivas na escola especial com aluno DM e na Sala de Apoio Educacional Especializado - SAEE

Teve, teve sim evolução pedagógica, mas eu acho que se eu tivesse conseguido ficar mais com ele teria sido maior. Teria sido maior. Ou então se fora da sala ele tivesse outro trabalho, um trabalho paralelo, voltado para ele eu acredito que ele teria evoluído mais, porque eu estou na escola do estado também, eu não estou direto aqui e no estado, agora tem as auxiliares, eu tenho visto umas coisas muito legais ali, a auxiliar quando a classe vem para a biblioteca, a auxiliar vem, então a professora está dando aula sobre livros, sobre tal, muitas vezes ele não consegue participar, mas a auxiliar, está ali do lado [...] é isso, é. Está ali do lado, quando todos sentam para cada um ler seu livrinho, então a professora, vai ajudando a todos e a auxiliar senta com esse aluno e ela lê para ele, vai mostrando as figuras, para ele não ficar inseguro, coisa que a professora numa sala de 35 alunos ela não consegue, porque ela está trabalhando outros assuntos de determinadas leituras com os outros alunos [...], o ano passado foi aquele aluninho que eu estava contando que a mãe veio perguntar se não tinha nada no caderno. E o ano passado só tinha esse. Ele estava com suspeita de autismo, mas era um aluno assim. O autista consegue aprender em

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outro tempo, mas ele precisa de mais atenção e tanto é que uma vez ele estava com a professora do AEE e ele falou que ia dar fim na vida dela. Você percebe? Essa criança precisa de muita atenção sabe e ele progrediu bastante, tanto que chegou uma época, ele mora aqui perto. Se dependesse de mim ele não iria, estou parecendo à mãe da novela, porque isso é uma coisa que eu brinco com a minha mãe por conta dessa minha irmãzinha, enquanto professora a gente tem que deixar eles voarem e quando ela veio conversar comigo, como ele podia ir, perguntei se tinha que atravessar a rua, sabe aquelas coisas assim, ele mora aqui pertinho, no início eu ficava ais nervosa que ela, depois eu percebi que ele realmente dava conta. Ele conseguiu. Agora para alfabetizar já não deu, não é. Mas ele teve progressos de outras formas. Teve bastante progresso. É aquela coisa, teve bastante progresso primeiro, para depois alfabetizar [...] é, mas ela entendeu quando eu expliquei para ela, falei não, não é desse jeito que eu trabalhava com ele na sala. Falei não, expliquei o jeito que eu trabalhava na sala, das lições que ele fazia, falei dos bonequinhos que ele cortava [...]. Ela não comentou se ele fazia isso em casa. Em casa ele ficava mais na dele brincando, assistindo TV, entendeu? Foi assim, então ela não sei talvez ela tenha observado mais, não sei [...] mas eu não estava sentindo essa segurança ainda você vê que engraçado? Só que depois ele mostrou que estava bem capaz [...]. A mãe falou que ele melhorou bastante em relação ao que ele era antes, e vou liberá-lo para ele ir sozinho par casa. Ele estava no quarto ano. Ela liberou para ele ir para casa sozinho, ela deu a liberação, eu ficava insegura, você acredita? [...] a mãe autorizou. Ela veio conversar comigo, como ele podia ir. Autorizou, no início eu acho que eu ficava mais nervosa que ela depois eu percebi que ele realmente dava conta [...]. Era aquela coisa, minha irmãzona não deu conta. Ele conseguiu.

14) Sobre a Sala de Atendimento Educacional Especial Eu vejo como pequeno. Têm muitos casos, eu não sei se estas salas atende só com diagnóstico, eu acredito que não, se for só com diagnóstico ai furou de novo, mas eu vejo que a demanda é muito grande, porque você vê uma sala aqui atende quantas escolas aqui da redondeza. Espaço físico para a professora, eu acho pequeno, pelo menos aqui nesta escola, mas a professora atende, conversa, mas é um espaço muito pequeno, talvez se fosse um espaço maior, onde a criança tivesse mais liberdade e mais espaços como esse, não só esse [...].

15) Mães/família do aluno com deficiência mental A mãe falou que ele melhorou bastante em relação ao que ele era antes e vou liberá-lo para ir sozinho para casa [...]. Foi assim, talvez tenha observado mais, não sei, mas foi ela que autorizou ele ir embora sozinho. Ela sentiu, mas eu (professora da sala regular) não estava sentindo essa segurança ainda, você vê que engraçado? A mãe veio conversar comigo e falou para mim, ela falou, eu vejo que ele progrediu, que ele está mais calmo, sabe, ela notou a diferença no comportamento dele, só que eu percebo que no caderno dele não tem nada escrito, a senhora não está dando nada para ele fazer então, você entendeu, então, existe assim coisas que quando você coloca a criança na escola especial até os próprios pais esperam mais acredito, não sei.

16) Agente de inclusão Agora colocaram essas agentes de inclusão, agora até que melhorou. Porque antes era só com laudo e a gente sabe que a maioria das crianças não tem laudo. Para elas poderem pegar as crianças tinham que ter laudo. Elas não ficam com a criança também, elas levam no banheiro e tal, às vezes essas crianças, eu não sei, a gente percebe que chega uma hora, por isso que a vezes elas fogem da sala, chega uma hora que eles não conseguem, eles tem um outro tempo, alguns deles, o tempo

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deles, não é verdade? Tem um tempo que elas (agentes de inclusão) ficariam um pouco com eles (alunos), sei lá, uma brincadeira, alguma coisa, mas elas não podem fazer, eles têm que ficar dentro da sala de aula, você entendeu?

17) Aprendizagem do aluno DM [...] Em 1989, foi por volta de 1990, no tempo em que as escolas estaduais tinham salas especiais, não sei se você lembra. Teve no estado em algumas delas, as escolas regulares, dentro delas tinham as salas especiais e eu peguei substituição e cheguei a ficar na sala especial, era um tiquinho de aluno, bem poucos alunos [quinze]. Então tinha assim um quartinho, dentro da sala mesmo tinha um quartinho, que tinha jogos, brinquedos, tinha o caderno, tinha tudo. Sabe, era outro ambiente, era uma sala e o que acontecia? As professoras davam aulas nessas salas, quando o aluno começava a professora percebia que eles estavam começando a se distrair, que iam conseguir, eram transferidos para a sala regular. Eu tive um aluno na sala regular, que era grandinho até que ele tinha vindo da classe especial e ele já estava começando a ser alfabetizado, já estava bem naquela época, não sei se ainda tem na Lapa, acho que é, tinha um curso profissionalizante para esses alunos e esse menino entrou, os pais levaram e ele foi aprender a função, a profissão de padeiro. Tinha que vê-lo explicar como funcionava, mas era a mão na massa, uma coisa assim, esse menino me marcou demais, essa experiência me marcou demais, porque ele adquiriu uma profissão. Depois que terminou o ano, mas ele ia lá para essa escola, faziam os pães, não sei se comiam ou eles vendiam, eu sei se você visse a satisfação, o brilho nos olhos porque ele conseguia fazer, fui eu que fiz esse pão professora, olha a gente põe, eu então perguntava, como você faz? No começo ele se enrolava, mas depois ele começava a falar, a gente põe isso, a gente põe aquilo professora, ele não conseguia me dar a receita toda, à medida que vai se repetindo, acredito que chegará um tempo que ele teria a receita na cabeça de como fazer o pão, é isso que eu falo [...]. Ao passo que quando ele separava as peças no processo que eu queria nossa que legal você sabe ai sim [...]. Ele separa as peças, você percebe principalmente quando ele começa a abstrair, mas para chegar a abstrair ele tem que passar por muito concreto primeiro, entendeu?

18) Recursos pedagógicos para a aprendizagem Só consegue progresso com material concreto e às vezes o material concreto que eu tenho é pouco, isto sem contar que eu não disponibilizo do tempo suficiente para sentar com essa criança para ver o desenvolvimento dela, eu vou sentar um pouquinho, fora isso ela acaba ficando com outras crianças o que tem que ficar também, mas você quer mais, eu tive um aluno o ano passado e ele só aprendia com material concreto, até nesse sentido eu falo, então o que eu fazia, eu pegava joguinhos para ele fazer seriação, sabe, para ele montar [...].

19) Fechamento da escola especial É um absurdo, eu acho que isso se chama exclusão. Você está excluindo essas crianças desse reforço, da escola, porque assim como a criança na sala regular tem direito ao SAP – Sala de Apoio Pedagógico, você vê, não acontece para todos, a criança especial também tem direito ao reforço dela, o reforço voltado para ela [...]. Ninguém quer fechar, deixa meio período para atender essas crianças (mais período na escola regular), vamos por neurologista, vamos por psicólogo, vamos tentar ajudar a escola, já nem falo a criança, vamos ajudar a escola a ajudar essas crianças [,,,]

20) Alternativas ao fechamento da escola especial/inclusão Você já imaginou uma escola onde você monta uma cozinha e vai aprender a

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fazer o que gosta (exemplo fazer pão)? Meninas poderão aprender outras coisas, eles (alunos) seriam úteis, seria bom não seria? [...]. Quem sabe pegar essas crianças (DM) e levar para a escola regular voltada para elas, com atividades feitas diretamente para elas [...].

Quadro 15 - Organização de pré-indicadores a partir de entrevista de Mara. Pré-indicadores

1) Formação acadêmica Teatro, sou atriz profissional, pedagoga pela Universidade Metodista de Piracicaba, em 1993, com habilitação do magistério para deficientes mentais, psicopedagoga pela Universidade de Sorocaba, cursos afins na área de teatro relacionados à educação do deficiente intelectual, estou terminando o curso de enfermagem na área de saúde [...] com o desejo de saber mais sobre saúde (não pretende sair da área da educação especial).

2) Pretensão acadêmica Mestrado em educação com o tema mãe do deficiente acima de 15 anos que foi para a inclusão, após o fundamental II. Eu queria pesquisar como é este mundo excludente [...].

3) Experiência profissional Como professora de ciências, a experiência foi boa como professora de ciências [...]. Eu trabalhava na escola estadual da 5ª série até o colegial (2º grau). A escola estadual não consegue sugerir, propor coisas boas para esses professores [...]. Por isso saí e vou continuar na escola especial [...]. Por enquanto [...].

4) Experiência pessoal com aluno deficiente mental No meu caso, eu vivi isto em casa, minha mãe nunca aceitou a deficiência de minha irmã. Ela aceitou, mas nunca minha irmã foi para a escola especial [...]. Foi um dia e nesse dia saiu chorando (mãe). Ela não entra na APAE. Este lugar ela não entra, aqui não vai ficar, minha mãe falou [...]. Para mim, foi desconfortável, eu viver com minha irmã na mesma escola, era muito difícil, eu quase nem falava que tinha uma irmã. No começo a gente tinha que ficar juntas, mas depois, fui progredindo e ela não [...]. Foi a melhor coisa que a minha mãe fez por ela, porque ela tem a vida dela. Não aprendeu a ler com fluência, nem fazer matemática [...]. Mas ela tem autonomia, com o crochê dela, com as coisas que ela resolve fazer e faz, não trabalha fora, mas sempre inventando coisas. Uma autonomia que ela não teria se fosse para a APAE eu acho, hoje quando ela tem 48 anos [...].

5) Professora - como se vê (professora/pessoa) Apesar de estar enquadrada no perfil da professora que se acomodou, acho confortável estar aqui dentro da escola especial, acho cômodo [...]. Eu acredito friamente falando que estou dentro deste perfil ainda (2013), não saí da escola especial e fui lá fora trabalhar a inclusão realmente, pois aqui todos são deficientes e estou neste mundo, neste gueto [...] É confortável estar aqui [...].

6) Dificuldade como professora de aluno especial Tem resistência do professor [...]. É uma batalha grande em conseguir transformar tudo isso e contentar famílias, alunos e professores [...].

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7) Desafio de ser professora de aluno deficiente mental

É desafiador, como um desafio, um grande quebra cabeça, você tem que refletir muito e tentar entrar nesse mundo desse aluno deficiente para que o aprendizado aconteça [...]. Quando você tem um aluno deficiente ao lado de um aluno não deficiente, você tem um desafio de mostrar um mundo real, não um mundo protegido, produzido, um faz de conta [...].

8) Conceito de inclusão

Não é só estar junto com o outro, mas trocar com o outro, aprender com o outro, ensinar também o outro. A inclusão tem vários lados [...]. Que está aprendendo não só regras de conviver, mas que tem que ser também o nosso saber, o saber acumulado, ele também precisa [...].

9) Quem deve ser incluído Tem várias pessoas que tem que ser, pode e deve ser incluídas. A inclusão do deficiente seja qual for a deficiência, do negro, do obeso, do feio, do velho e do pobre [...].

10) Sobre a obrigatoriedade da matrícula do aluno especial na escola regular Com alegria, porém sentindo que falta muito para se conseguir uma inclusão de verdade para esses alunos. É um caminho que tem que ser aberto, foi aberto, mas muito tem que se fazer para este (aluno) estar lá dentro, seja de qualidade e não só como dizem socialização do deficiente, ele também tem que aprender dentro da escola.

11) Obstáculos à inclusão Tem professores que não conseguem entender, perceber um caminho para mostrar para esses alunos que são deficientes aprender, encontrar um caminho que eles possam aprender junto com os outros. Existe este caminho. Ele barra na questão do currículo [...]. Pois quando a gente vai para a escola regular e tenta conversar com certos professores e os especialistas do ensino fundamental II, é muito triste, é muito difícil, é muito difícil chegar, são poucos os que conseguem se abrir. Os professores não queriam os alunos deficientes mentais, isto provocava tristeza, angústia, depressão, quando você não consegue conversar com esses professores [...]. O deficiente acima de 15 anos, parece que aí está o maior nó [...]. Após o fundamental I é o grande nó da inclusão, quando passa do 5º, 6º ou 1º ano do ensino fundamental II [...]. Não é só como dizem a socialização do deficiente, não é só estar com o outro, dizer ah! Ele convive, ele tem amigos, mas o que ele está aprendendo ali? [...] essa inclusão não aconteceu para eles, eles tiveram que ficar em casa [...]. Este caminho é barrado pelo currículo [...]. Com o fundamental I ainda tem suporte, é mais confortável [...] o fosso maior se dá quando ele sai do fundamental I, ou quando saíram do fundamental I (5º ano) não se adaptaram [fundamental II], e logo eles ficavam dentro de casa [... ]. Alguns ficam agressivos, começam a maltratar a mãe e o pai [...]. Porque os filhos estão há muitos anos após os 14 anos dentro de casa, sem nenhum trabalho, sem atividades, sem amigos, só TV e criando quadros psiquiátricos. [...]. É ai a parede elástica, um paredão, bate e volta é o caminho de sair, de cair e ficar dentro de casa, na frente da TV, os filhos começam a ficar agressivos, apáticos, perdem algumas habilidades que poucos tinham e que querem ter. Tem casos que as mães entraram com processo no Ministério Público e através do Juiz conseguiram voltar para escola especial, mas poucos voltaram [...]. Pouquíssimas escolas particulares tem experiência de abrir as

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portas para o deficiente mental [...]. (Em relação ao aluno cadeirante): [...] tem transporte inseguro, mobilidade insegura, eles não conseguem andar nem mesmo na calçada, agora eu tive que ir junto senão ele tropeçava na calçada, são excludentes [...]. São coisas simples, as mães de filhos de cadeiras de rodas, as mães ficam aqui (escola especial) porque elas dizem que nunca vão deixar seus filhos andarem sozinhos nos ônibus, do jeito que eles são inseguros, senão, como disse uma mãe, eu vou mandar minha filha aqui na escola para no dia seguinte fazer o enterro dela? Sozinha sem ela [...].

12) Visão sobre a Escola Especial O nosso olhar é de nostalgia, é de saudade da escola especial [...] mas vejo também como um lado meu vaidoso, uma vaidade, que “pena que não tenha mais a escola especial”, mas pelo lado da zona de conforto que era estar na escola especial [...]. Um mundo protegido, um mundo às vezes mais artificial, protegido mesmo, provocava um certo conforto porque tem também a questão do controle, porque o professor controla mais os alunos quando são deficientes [...]. Porém só pensa nele, o lado do professor, não vê o lado do aluno [...]. Um mundo de faz de conta [...] ela se torna um meio seguro também para os pais, por que lá fora não se abriu realmente para essas pessoas [...] ver seus filhos aqui e estar aqui também como professora [...].

13) Experiências positivas na escola especial com aluno DM e na Sala de Apoio Educacional Especializado - SAEE

Aqui na escola especial tem um trabalho superinteressante, foi do apoio a preparação para o trabalho. A experiência é fantástica ver a aluna Carla, que cantava muito bem aqui, mas saiu da escola, agora só está no trabalho, ela é empacotadora do Walmart e está lá até hoje, conseguiu várias coisas, compra várias coisas, tem uma vida digna. Foi levada para lá, passou no teste e está lá há quatro anos, até hoje [...].

14) Sobre a Sala de Apoio Educacional Especializado - SAEE Eu vejo como um respiro para essas crianças que vem para a inclusão [...]. O olhar que deveria ser mais delicado, para essa questão, para esse aluno que está ali, no meio de crianças [...]. Podemos dizer inteligentes, sem deficiência, mas tem esse profissional que tem que ser sensível, para dizer para esse professor da sala regular, ou melhor, sugerir meios de como trabalhar, de como lidar realmente com esses alunos, vejo como um trabalho de suma importância [...]. Tenho minha curiosidade de rever, mas faz tempo que eu não vejo essas professoras [...]. Queria saber como anda essa história toda [...].

15) As mães do DM/família do aluno com deficiência mental Eu vejo muitas mães virem desesperadas achando que vou fazer alguma coisa, matricular seus filhos (escola especial) porque seus filhos não se adaptaram na escola regular e ficavam só em casa. Muitos pais vêm pedir uma vaga [...]. Elas vêm procurar o ponto de cultura para cursos; teatro, fotografia, ou dança e poucos informática, é mais cursos artísticos [...]. Tem pais que fazem cursos junto com seus filhos [...]. Ela vem (na escola especial), ela cuida, ela ajuda a troca [...], elas continuam aqui cuidando de seus filhos, mesmo que em certo momento, de certa distância, a maioria de prontidão para cuidar de seus filhos, por medo, por segurança, [...] idade [...] ônibus [...], elas (mães) queriam matricular na escola especial, porque os filhos que saíram daqui (escola especial)... Muitos pais vêm aqui pedir vaga [...] as mães tinham medo e aconteciam coisas na escola estadual [...], no fundamental II da escola pública que não tem suporte e

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pouquíssimas escolas regulares tem experiência de abrir a porta para o deficiente intelectual [...].

16) O agente de inclusão Tem o agente de inclusão, mas a mãe que alimenta seus filhos e ajuda na troca.

17) Aprendizagem do aluno DM Já vi alunos deficientes aprendendo ciências junto com os outros alunos sem deficiência, mas de maneira diferente, fazendo teatro, aprendendo ciências, fazendo modelagem, o mesmo conteúdo, mas dentro de uma linguagem que falasse mais perto dele, que eles pudessem entender porque acho que o aprendizado é primordial dentro de uma escola [...]. São jovens [...] na faixa de 16, 17 anos [...] se tiver vaga no ponto de cultura já pode se matricular [...]. Pode escolher duas oficinas, teatro e dança, são cursos livres [...]. Pode voltar e fazer o ponto de cultura [...]. Muitos estão voltando para a escola especial, através do ponto de cultura [...] São cursos livres que não são longos [...]. No ponto de cultura são duas horas para cada encontro, podendo fazer dois cursos, podendo frequentar aqui quatro vezes na semana, por duas horas cada encontro [...]. Tem duas possibilidades: o ponto de encontro e a escola que ele pode ficar o período total. Na escola especial o aluno pode ficar o período total a semana inteira.

18) Recursos pedagógicos para a aprendizagem do aluno DM

(Ausente)

19) Sobre o fechamento da escola especial O fechamento [...]. Friamente, algo muito bom [...]. Bom [...]. Eu vejo como uma coisa boa [...] o fim da escola especial [...]. Doloroso, porém mal necessário, mas um mal mais que é necessário. Para o mundo ver que existe o deficiente, para um mundo se abrir para essas diferenças, se adaptar e fazer adaptações para esse deficiente poder viver de verdade [...]. O final da escola especial não é um mal, mas é um bem necessário [...]. Mas também um mal porque, por enquanto tem um tempo histórico, é um bem o fim da escola especial [...], vamos ter que ter a paciência histórica para ver o mundo se modificar para essas pessoas que estão indo lá fora, que estavam escondidas, mas elas existem, mas elas vão aparecer com o fim da escola especial e mostrar suas caras [...].

20) Alternativas ao fechamento da escola especial/inclusão [...] Existe um grupo de trabalho que está montando um novo projeto para a escola especial, para esses alunos que foram incluídos, mas não se adaptaram [...]. Tem um grupo aqui nesta escola que está tentando montar desde 2009 o Projeto Piloto dessas oficinas e agora pensa num projeto real que talvez aconteça no ano que vem, talvez daqui há dois anos, o tal Centro de Cultura, Centro de Convivência [...]. No Centro de Convivência o aluno vai estar aqui duas horas, duas vezes na semana, ou quatro vezes, não sei como vai ser, pois o tempo dele aqui vai ser reduzido [...]. Na questão da exclusão dessas outras, desses outros equipamentos da prefeitura que são excludentes [...]. Você tem um esporte, esporte que não inclui, mas no Centro de Convivência eu acredito que vão estar todas as secretarias se empenhando [...]. Temos o Centro de Cultura, o Centro de Convivência e Lazer não existe ainda [...]. Acho que ai se daria o fechamento da escola especial [...]. Eles iriam escolher, porque se acontecer essa história, vão ficar menos tempo aqui, vai ser difícil porque eles irão ficar menos tempo aqui [...]. Seria muito difícil,

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porque é confortável ficar aqui, é bom, seguir suas vidas (pais), fazendo o seu cotidiano, seu caminho e seu filho ficam aqui por quatro horas [...].

Quadro 16 – Organização de pré-indicadores a partir de entrevista de Rosa. Pré-indicadores

1) Formação acadêmica Magistério, pedagogia em 1982, na área em deficiência mental e visual pela USP; em 1991 psicopedagogia no Colégio Estela Mares, em 2013 fiz um semestre sobre autismo online.

2) Pretensão acadêmica Fazer curso de Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, ou outros cursos menores que não sejam muito longos [...], como mestrado ou pós-graduação [...]. Temos sim que ter mais cursos de capacitação, deste estilo que está sendo o Lugar de Vida sobre autismo, mas não só cinco encontros sabe uma questão de estudo, eu não voltei a estudar por estar muito caro. Propor outras situações que nos dê mais estruturas. Eu me formei há 28 anos, hoje é tudo muito diferente, eu não parei, eu sempre estou fazendo uma coisa aqui, outra ali, eu acho que faz muita falta sim [...] que a gente deveria ter mais cursos de capacitação, cursos mesmos, não só palestras [...].

3) Experiência profissional Sou professora de educação especial há 28 anos [...]. Eu sempre gostei, sempre achava interessante a área de professora [...]. Fui ao Lugar de Vida inclusive para ver o que eles tinham lá. Tratam de autismo. Eu conheci o Lugar de Vida há muito tempo, quando ele funcionava dentro da USP. Tive contato com eles. Fiz curso lá porque como eu tinha classe especial e na época eles me mandavam alunos autistas, só que não era comentado o autismo, eu só percebia que os alunos davam muito trabalho. O Lugar de Vida me dava assessoria toda 6ª feira. Então meio que eu fiz um curso com o Lugar de Vida sobre autismo. Eles me mostravam onde estava a falha, onde estava acertando, onde poderia melhorar [...]. Foi uma fase muito boa. Só que depois que o Lugar de Vida saiu da USP, eu percebi que os cursos ficaram muito caros, isso não permitiu fazer cursos [...]. Tem uma escola do Estado próximo à minha escola. Já fui algumas vezes no HTP da escola do estado para explicar o que era autismo, o que era Asperger, que tinha lá e eles não tem preparo algum e nós temos uma menina que ela foi perdendo a visão e do mês de agosto até dezembro ela ficou cega de vez e foi justo na época que ela ia entra no estado. Então o estado não sabe o que faz [...]. No estado não chegou ainda a se preparar e se organizar, por isso entram em pânico [...]. E nós demos toda assessoria para a família e para essa menina, que era o LARAMARA, começo do uso de Braile, só que quando chega à sala do estado esbarrou, agora a menina é ouvinte (...). Tem um menino que é Asperger que eles (professores) estavam percebendo que o menino não queria parar na sala de aula estadual, que o menino estava dando trabalho [...]. Ele continua na escola estadual [...].

4) Experiência pessoal com aluno deficiente mental [...] tinha a curiosidade desde pequena por crianças especiais, porque a minha vizinha no interior era uma menina especial e me incomodava muito porque ela ficava fechada num quartinho, tinha um portão e ela só ficava ali no quartinho, tinha um colchão, ai ela gritava, chorava, ela ria e muitas vezes eu ia lá do lado de cá do portão eu dava a mão para ela. Eu gostaria de saber na época como ela pensava como

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ela me enxergava. Incomodava-me muito ela ficar presa, porque eu achava que ela parecia muito um bichinho. Ela ficava presa num cercado [...]. Isto me levou para ter essa curiosidade, será que todos os especiais viviam daquele jeito e como minha cidade era muito pequena eu só conhecia essa menina, depois de adulta que eu fui ter contato com outras crianças e adultos. Mas aí tive vontade de saber, por isso fui para essa área [...].

5) Professora - como se vê (professora/pessoa)

A gente é um pouco psicólogo, um pouco padre, um pouco médico, um pouco mãe, você tem uma série de responsabilidades, principalmente quando alguém vem te procurar, a família.

6) Dificuldade como professora de aluno especial

De manhã nós temos dois autistas de seis anos. À tarde, acho que por coincidência tem seis alunos [...]. Tem Down, tem autista PC tem aí uma turminha grande [...]. Eu atendo no contra turno [...]. Tenho oito alunos [...]. Olha eu acho que precisa ter um jogo de cintura. Nem sempre é para todas as crianças que vai funcionar, eu vou contar dois exemplos: a escola de manhã tem uma cadeirante com seis anos, a escola a tarde tem uma cadeirante com sete anos, a da a tarde é a avó que toma conta, então a perua leva uma vez só, então a perua leva só a tarde e para ela vir de manhã no contra turno, tem que vir a pé. E quando a avó chega à escola eu atendo primeiro a avó, eu dou água, ela senta, ela precisa se refrescar, para depois eu atender a criança, então não funcionou. Então a da manhã que seria atendida à tarde, também é cadeirante, então ela tem como ser atendida no contraturno, então nós fizemos, um combinado na escola, eu atendo a cadeirante da manhã e a minha amiga atende a cadeirante da tarde (próprio turno). Então a minha sai da sala das 11:00 as 12:00 horas, já não está perdendo conteúdo e a da tarde também, ela sai da sala regular das 17:20 às 18:20 horas, já é um horário que já não vai atrapalhar [...]. É desta forma, mas foi só nesse caso porque tinha as duas cadeirantes (bate na mesa) e as duas com problemas sérios, que vem pela rua, vêm subindo, rua que não tem asfalto e a cadeira que empurra, é o sol, tanto que uma delas, um dia chegou e estava chuviscando, ela estava com um saco de lixo vestido porque não tinha nem capa de chuva, avó pegou um saco de lixo e vestiu na menina. Então você fala gente isso é desumano, se eu posso atender no horário, não vamos brincar de atender [...]. Olha eu vou falar dessa cadeirante, que seria no contraturno, então é a avó que a leva na escola [...]. Eu a atendo das 11:00 as 12:00 horas (turno), duas vezes por semana [...]. A gente almoça junto, porque a gente trabalha a parte dela comer sozinha porque ela é uma PC e deu um resultado muito bacana e a avó também percebeu que mudou o vocabulário da menina, que ela ficou muito esperta, é isso que me deixa feliz [...]. Eu passo uma pasta para ela trabalhar em casa com a menina, porque ela quer lição de casa, então eu monto uma pasta de atividade, ela leva para casa, e isto só me veio reforçar o que eu penso... Na hora que a gente vai para o almoço, vou eu a avó e a menina, a gente senta do lado, ajuda a pegar na colher, ela tem um aparelho, uma tala, então ela vai comendo, ela presta atenção, olha o prato, foi um trabalho que na verdade estende mais que a sala de aula [...]. Por uma razão ou outra, a menina tem uma tem uma simpatia muito grande por mim, ela não quis continuar à tarde, a menina tem sete anos, olha o combinado que eu precisei para a avó não perder a perua leva e traz [...]. Colocar mais AEE nas escolas, eu atendo três escolas e não dou conta da demanda, ao invés de eu atender alunos duas horas duas vezes por semana, eu atendo uma hora duas vezes por semana para poder dar tempo de atender o outro. Porque antes atender uma hora do que a criança ficar sem atendimento, então eu acho que tem que ter mais AEE sim [...].

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7) Desafio de ser professora de aluno deficiente mental

Para mim é normal. Não tem diferença. Não percebo diferença. Alias acho que é um grande prazer porque é sempre uma novidade que está chegando, é uma criança que a gente não conhece, é uma caixinha de surpresa, o relatório está ali, mas nem sempre o relatório é como a criança vai agir na sua frente e eu costumo dizer que a criança é um laboratório, você é que vai descobrindo o que ela quer, o que ela sabe, é ela que encaminha você para as atividades que você vai dar. Não é aquilo que eu quero dar, é ela que vai demonstrando o que ele gosta, é preferência dela [...].

8) Conceito de inclusão

Olha, inclusão não é só colocar o aluno dentro de uma sala. Inclusão é a participação do aluno, é ele estar incluído dentro da sala, dentro do contexto da sala, na informática, na educação física, na hora da merenda, no pátio, ele ser um aluno como todos os outros, não é ser o diferente, mesmo aquele que é cadeirante, que chama a atenção e tudo mais, mas ele ser o aluno de dentro da escola.

9) Quem deve ser incluído Olha, eu acho que de certa forma nos dá segurança (referindo-se ao laudo), porque eu não posso chutar que ele é autista, não, isto nem o psicólogo vai dar, você pode até perceber que ele é autista, que ele tem todo o comportamento de um autista, mas ele precisa passar pelo neurologista para lhe falar que é autista, a partir do momento que você recebe o laudo que ele é autista, ele lhe dá um norte de como trabalhar com ele (incluído) [...]. Tem casos que você precisa de laudo. Uma criança que é psiquiátrica, um desses graves, gente você fica sem saber por aonde eu vou com essa criança? O que ela tem? Tendo-se um laudo me dá um norte para o trabalho [...].

10) Sobre a obrigatoriedade da matrícula do aluno especial na escola regular

Eu acho bárbaro. Acho que eles precisam sim, estar dentro da escola, a gente tem experiência de quanto eles melhoram, o quanto faz bem esse social e a maioria só tem esse espaço, porque a mãe não leva para passear, não leva no parque, não leva em lugar nenhum. Então, o único lugar para essa criança é a escola. Lógico que eu vou apontar que tem alguns casos quando chega aos 12, 13 anos, a gente não sabe o que fazer porque eles já terminaram até o 5º ano, eles têm o direito de fazer duas, três vezes o 5º ano, e depois?

11) Obstáculos à inclusão Olha na escola estadual não existe inclusão. Quando eles entram no 6º ano para frente não tem [...]. A escola estadual (estado) não está preparada, não tem lugar para colocar esses jovens, então todo trabalho de inclusão que nós fazemos do pré (EMEI) até o 5º ano quando chega na hora da saída (fundamental I), não é que está perdido, mas a gente fica sem saber o que fazer [...], aí entra em pânico a mãe, entra em pânico como nós professoras do AEE [...]. Tem uma escola do estado próximo à minha escola, fui lá algumas vezes ao HTP para explicar o que era autismo, o que era Asperger, tinha um aluno lá e eles (professores) não têm preparo algum [...]. No estado não tem professor especializado. O estado não chegou ainda a se preparar e se organizar, por isso entra em pânico [...]. Eu aí fui comentar que ele era um autista, mas que ele era um Asperger, que ele tem uma habilidade incrível

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por um lado e outros não, mas era para ser respeitado porque aos poucos ele ia entrosando com o grupo, porque ele tem um problema social, como ele é um menino muito bonito, ele ia acabar se entrosando com o grupo da escola [...]. Ele continua na escola (regular) [...]. Porque ele é Asperger gesticula muito bem, fala muito bem, os esses e os erres, o vocabulário bom, nossa ele é muito lindo [...]. Nossa, elas precisam com urgência de cursos para poder aprender a trabalhar com eles, embora muitas não queiram saber (referindo-se às professoras de escola regular) [...]. Mas acho que deveria ser obrigatório um curso geral, como foi obrigatório o professor fazer pedagogia [...]. Cobrança de pedagogia, por não? O professor para trabalhar de 1º ao 5º ano tem que fazer um curso para lidar com as crianças especiais, online ou não, vindo duas vezes por semana, porque elas recebem o aluno e falam eu não tenho a menor noção de por onde começar, tem que ter, elas ficam mais tempo com a criança que nós, eu levo em HTP, eu estou ali sempre próxima, mas eu sou muito pouco, eu acho que elas precisam de ajuda [...].

12) Visão sobre a Escola Especial [...] Mas precisa dar uma limpada na escola especial, ela precisa ser modificada, ela tem que ter uma proposta diferente do que está aí. Que os alunos tivessem uma natação, uma hidro, mais o lado esportivo, umas oficinas que proporcionassem que não fosse aquela coisa mecânica que eles têm que fica ali sempre a mesma coisa, que fosse diferente, uma horta, uma proposta diferenciada, que eles saíssem daqui e fossem em um parque Chico Mendes fazer a horta, que o ônibus levasse, amanhã é outro grupo, hoje tem uma aula de dança, dar um giro, não é uma sala que eles vem com a mochila, entram sentam-se (bate na mesa), com a mesma professora, com o mesmo tipo de aula o ano inteiro. Eles deveriam passar por várias salas (bate na mesa de novo), mas não ficar em um lugar fixo, numa sala como fica hoje, (escola especial) nos moldes de uma escola tradicional antiga [...]. Exatamente. Temos condições de fazer essa mudança [escola especial] sem mandar os meninos embora.

13) Experiências positivas na escola especial com aluno DM e na Sala de Atendimento Educacional especializado- SAEE

Eu acho que no geral a sala está bem (SAEE). Tenho oito alunos. Tem alunos mais difíceis, tenho um autista que estou com ele há quatro anos [...]. Ele só queria ficar no chão, ele só queria brincar, fazia birra, ele queria um determinado brinquedo, eu já queria guardar, ele jogava no chão, era um autista bem difícil, não falava absolutamente nada, era aquilo que ele queria, chutava armário, chutava porta, hoje não, ele entra, é uma graça, então eu vejo foi uma mudança muito grande para mim, para a mãe [...] sabe, foi assim, muito bacana. Hoje é um prazer recebê-lo [...]. O aluno é um ser humano e que está aqui pedindo ajuda. Então a gente tem que dar ajuda sim [...].

14) Sobre a Sala de Apoio Educacional Especializado - SAEE Eu acho ótimo. Acho que veio dar uma estrutura melhor para os professores de sala regular, elas têm um apoio, com as professoras da SAEE. Elas podem contar na hora do choro, na hora da birra, na hora do surto, na hora que a criança não acompanha, todo mundo faz as atividades mas esse especial não faz, então a professora do AEE, ela tem exatamente esse lado, dela fazer a ponte com a professora e dar assessoria ao aluno especial dentro da sala e colaborar com a inclusão [...]. A professora (sala regular) faz HTP à noite e eu encontro muito pouco [...] mas faço a troca (informações) com a professora do AEE da tarde (ela passa as informações para a professora da sala regular sobre a aluna, pois o atendimento é

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no contra turno) [...]. A SAEE não é só pedagógica, não é só troca de experiência com o professor, você tem que trazer o pai e a mãe para a sala de aula [...]. O AEE não pode ser quadradinho, isto pode isto não pode (bateu na mesa) tem situações que você precisa fazer sim [...] e está pedindo ajuda [...]. Então a gente tem que ajudar sim [...]. Aparece professora chorando, falando não quero aquele menino na minha sala, pelo amor de Deus, não sei o que faço. Então até você acalmar a professora, dar atividades diferenciadas, sentar do lado do aluno e mostrar para ela (professora da sala regular), que é assim mesmo [...] a professora é um ser humano [...]

15) As mães do DM/família do deficiente mental [...] a mãe dificílima [...] A mãe percebeu que ele começou a falar [...]. A mãe foi difícil porque ela não aceita deixar o menino, menino que está com 13 anos, amarrar o sapato, trocar de roupa, isto para ela é muito difícil, esses vínculos que ela teve que cortar, foi muito choro, muita discussão, muita orientação e agora ela está começando a perceber, porque eu indiquei para ela um psiquiatra [...]. Ela dá comida na boca, ela que dá banho, ela tirou a chupeta dele no ano de 2012, ela tirou a mamadeira dele em 2012 [...]. Ela dizia não me pergunte, para, para lá vem você fazendo essas coisas, não quero saber [...] ela sentava [...] não, não quero conversar, não quero saber, você sabe que eu não dou conta, não vou conseguir, aí com muito choro, com muita coisa [...]. Ela dormia com o menino e o pai dormia em outro quarto. E para tirar isso foi muito difícil. Ela chorou muito [...]. Passar o menino para o outro quarto para ela dormir com o marido foi difícil [...]. A mãe foi difícil porque ela é exigente [...] muitas vezes precisou chamar o marido (pai do aluno) [...]. Ele vinha [...]. Teve uma vez que ele falou, não fica incomodando a minha esposa, deixa ela, ela sabe o que faz com aquele menino [...]. O pai tem dois metros e dois centímetros, falei, ele vai ficar do seu tamanho [...] você acha que ela vai dar banho em um homem de dois metros? [...]. Você tem que trazer o pai e a mãe para a sala de aula [...]. Além disso, eu falo que entrei dentro da casa dela (mãe do DM). Sempre perguntando quem está passando a manteiga no pão do menino [...]. Nós ficamos amigas, mas eu cobrando dela. Para, deixe-o descascar a banana [...].

16) O agente de inclusão (Ausente)

17) Aprendizagem do aluno DM

Olha, se ele é especial ele não vai acompanhar o mesmo conteúdo, mas ele pode estar próximo, a professora está dando matemática, ele não vai fazer as continhas e os problemas da lousa, mas ele pode estar com jogo de dominó, um jogo de quebra cabeça, então ele é inserido de uma forma diferenciada, mas ele está, ele pode estar pintando cubos, mexendo com algum material pedagógico [...]. Tenho um autista que eu estou com ele há quatro anos [...] eu peguei tão firme com ele na alfabetização e na linguagem (bate na mesa) e na comunicação alternativa, que hoje ele já fala alguma coisa: não, quero, dá, papá, mamã, oi, então várias palavrinhas [...]. Ele começou a falar e o desenvolvimento pedagógico dele me surpreendeu porque qualquer coisa que eu dava para ele desenhar, ele só fazia risco, era risco, risco, hoje, lógico que foi todo um trabalho desenvolvendo, hoje eu dou um desenho, por exemplo, abacaxi, eu dou todas as letras do alfabeto e aqui encima está escrito abacaxi, ele vai letra por letra e monta a palavra abacaxi [...]. Então ele está tendo a percepção da escrita com o desenho e com as letras, às vezes tiro uma letra e ele diz: não, vai lá e coloca. Então ele está percebendo a escrita, está fazendo a comparação. Posso colocar o nome dele, da

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mãe e de qualquer fruta [...] eu dou a gravura e a palavra ele copia direitinho, não consegue colar, a parte motora dele é muito difícil, mas com as fichas ele faz. Isso então foi um sucesso. A semana passada eu dei folhinha para ele, já estava terminando a aula, eu falei, faz um desenho bem bonito, para mim, ele fez várias bolinhas pela primeira vez, todas com olho e boca, ele nunca tinha feito isso e a hora que eu olhei sabe quando você às vezes não dá muito sentido para coisa, quando eu olho, essas bolinhas tinham olhos e boca (bate na mesa), ele já está se enxergando [...]. Ele está percebendo, eu percebi foi uma evolução muito bacana [...]. Ela é uma PC e deu um resultado muito bacana e a avó também percebeu que mudou o vocabulário da menina, que ela está muito mais esperta e eu tenho uma variedade muito grande de material pedagógico e isso que me deixou feliz porque eu passo uma pasta para ela trabalhar em casa, para (avó) trabalhar com a menina, porque ela quer lição de casa, então eu monto uma pasta de atividades, ela leva para casa e isto vai reforçar o que eu penso (aprendizagem) [...].

18) Recursos pedagógicos para a aprendizagem do aluno DM [...] jogo de dominó, quebra cabeça, cubos [...]. Na minha escola o AEE tem mais material pedagógico e fornece para a professora da sala regular [...]. Tem algumas coisas que na escola regular tem a mais, como exemplo: material dourado, na escola tem oito, então eu preciso emprestar (SAEE), mas eu posso emprestar um dominó diferente que eu confecciono que ele vai usar, que ele vai brincar. Eu empresto, ela leva e no final da aula ela me devolve porque no dia seguinte a outra sala está precisando. As salas que eu tenho contato e que tem aluno especial eu empresto. Eu tenho uma variedade muito grande de material [...].

19) Sobre o fechamento da escola especial/inclusão Eu não gostaria que fechasse não [...]. Eu não digo escola especial, escola especial não tem que existir, tem que existir uma mudança, tem que existir um trabalho diferenciado, com esses meninos que estão ai, a gente fala meninos, mas tem alunos de 50, 60 anos, portanto, não pode fechar as portas e falar vocês vão ficar em casa, sentados no sofá o resto da vida, não é por aí [...].

20) Alternativas ao fechamento da escola especial Eu acho que tem a questão política, entra a parte financeira, porque não vai sair barato. Uma mudança dessa não sai barato e ninguém que abraçar a causa. Ficaria caro, ficar mais caro e é o tal negócio, infelizmente é o tipo de aluno que não dá retorno financeiro para o estado. Eles não pagam impostos, eles dão despesas, eles usam o neurologista, usam o médico, usam dentista, vai usar a professora da hidroginástica, da ecoterapia e que retorno eles dão? Então a parte política, fecha os olhos. Eles são cidadãos, eles têm tanto direito quanto o outro (normal), eles tem o LOAS (um salário mínimo), mas o LOAS ainda é pouco. É. É pouco.

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QUADRO 17 – Organização de Indicadores a partir dos pré-indicadores

PRÉ-INDICADORES INDICADORES

1) Formação Acadêmica 2) Pretensão Acadêmica

1) Formação Acadêmica

3) Experiência Profissional 4) Experiência pessoal com

aluno Deficiente Mental

2) Experiência pessoal e profissional com o aluno Deficiente Mental

5) Professora: como se vê 6) Dificuldade como professora

de aluno deficiente mental 7) Desafio de ser professora de

aluno deficiente mental

3) Ser Professora de aluno Deficiente Mental

8) Conceito de Inclusão 9) Quem deve ser incluído

4) Conceito de Inclusão

10) Sobre obrigatoriedade da matrícula de alunos DM na escola regular

11) Obstáculos à Inclusão

5) Obrigatoriedade da matrícula versus obstáculos da inclusão

12) Visão da Escola Especial 13) Experiências positivas da

Escola Especial/inclusão 14) Sobre a sala de Apoio

Educacional Especializado

6) Escola Especial versus Sala de Apoio Educacional Especializado

15) Lugar Família do aluno DM 16) Lugar do Agente de Inclusão

na Inclusão

7) Lugar da Família e do agente de inclusão na inclusão

17) Aprendizagem do aluno DM 18) Recursos pedagógicos para

aprendizagem do aluno DM

8) Sobre as possibilidades de aprendizagem do aluno DM

19) Fechamento da escola especial

20) Alternativa de atendimento do aluno DM

9) Fechamento e alternativa de atendimento do aluno DM

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QUADRO 18 - Organização de Núcleos de significação a partir dos indicadores

INDICADORES (AGLUTINADOS) NÚCLEO DE SIGNIFICAÇÃO

1) Formação acadêmica 2) Experiência pessoa e profissional

com aluno DM 3) Ser professora do aluno DM

1) Condições de vida que levaram à formação como professora e ao ser professora de aluno DM

4) Conceito de Inclusão 5) Obrigatoriedade da Matrícula na

escola regular de aluno DM X Obstáculos de Inclusão

2) O ideal e o real do processo de

inclusão do aluno DM

6) Escola Especial x Sala de apoio Educacional especializado – SAEE

7) O lugar da família e do agente de inclusão na aprendizagem do aluno DM

8) Sobre as possibilidades de aprendizagem do aluno DM

3) Escola Especial x SAEE: possibilidade de aprendizagem do aluno DM

9) Sobre o Fechamento da Escola Especial e Alternativa ao fechamento da escola especial

4) Fechamento da Escola Especial e alternativa de atendimento do aluno DM

5.2.2.1 Núcleos de Significação:

O primeiro núcleo de significação “Condições de vida que levaram à

formação como professora e ao ser professora de aluno DM” resultou da

aglutinação de três indicadores: Formação acadêmica; Experiência

pessoal/profissional com aluno Deficiente Mental; Ser professora de aluno DM.

Entendeu-se que a produção de sentidos seja qual for o objeto de questão, exige a

consideração dos elementos do contexto histórico-social.

Leda, em relação a sua formação e vivências pessoais e profissionais, afirma:

“Magistério [...] Pedagoga [...] pós-graduação em educação especial [...], em 2013

fazendo curso do PNAIC – Plano Nacional de Alfabetização, Letramento e

Alfabetização Infantil na Idade Certa [...]”. Conta um pouco de sua condição

pregressa de vida, que parece estar na base de sua escolha e interesse em ser

professora: “Eu estudei, meu pai era pescador, minha mãe dona de casa, eu sou do

interior da Bahia e a única profissão que a gente tinha era magistério, era uma das

profissões que todo mundo almejava [...] e queria devolver o que eu aprendi na

minha profissão de professora, todo conhecimento que adquiri e queria devolver

130

desta forma [...]. Depois quando começou a vir as crianças especiais na minha sala

eu comecei a fazer mais cursos, a me interessar [...] cada vez que vem uma criança

com uma dificuldade maior eu vou ter que estudar mais, eu vou aprender muito mais

como ser humano”.

A respeito de sua vivência como professora, as experiências desde o início da

atuação profissional, parecem ter sido sempre com alunos com necessidades

especiais, não propriamente o DM, como relata: “Comecei a exercer a profissão de

professora em 1996 [...] permaneço na mesma escola até hoje, iniciei como

professora do EJA (Educação de Jovens e Adultos) e atualmente sou professora do

ensino fundamental I [...]. Quando eu tinha uma sala de aceleração, com dezesseis

alunos especiais. Era a sala [...] que ninguém queria e dava mais trabalho, naquela

época três tinham laudo e os outros não tinham [...] colocaram numa sala à parte da

escola [...] sala atrás do pátio da escola. Depois quando começaram a vir crianças

especiais, as professoras falavam eu não quero, esta sala dá muito trabalho [...]. Eu

fui ficando, ficando e aí eu fui me acostumando. Ficava com o que sobrava, (alunos

DM) sempre foi assim [...]. Tive a 1ª sala de aceleração, tive a 2ª sala de aceleração

[...]. O aluno especial entrou na minha vida desde que entrei nesta profissão”.

Essa condição de submissão parece continuar presente na forma como se vê

como professora do aluno DM e nas dificuldades que afirma enfrentar: “[...] eu acho

que faço um bom trabalho [...] eu tento dar o melhor de mim mesmo que às vezes

todas as condições não estejam a favor [...] o que vai além do meu papel de

professora, dá uma soma de médico, psicólogo, se transforma em político [...] você

tem que aconselhar, porque você percebe os problemas [...]. Eu me sinto como se

eu fosse uma fada, um poder tão grande nas mãos quando vejo meus alunos

adultos, até mesmo crianças. Lendo, aprendendo, tendo um avanço para ele tão

pequeno, mas para mim é tão grande, eu me sinto uma fada [...]”. Eu falo para eles

todos os dias, que quero vê-los bem, talvez alguns não chegue a altos cargos, mas

que tenham uma boa situação de vida, uma boa família, que aprendam alguma

coisa comigo, que possam passar e compartilhar aquilo que eu aprendi [...]. Você vê

a mãe que você encaminha não é atendida em lugar nenhum [...]. Se juntarmos a

professora da sala (regular), a professora do AEE, o corpo técnico, a mãe e a

criança, tem uma saída, porque a gente só vê os problemas, ninguém vê os avanços

[...] só vem para mostrar o que a gente deixou de fazer [...]. Perde-se com isso o

131

grande momento da educação especial [...]. Os professores tem que se virar [...] o

professor que tem que ir atrás. [...]. Ai você tem um aluno com deficiência visual,

então eu quero vários materiais que eu possa trabalhar com ele [...] então você

percebe que esse material não tem [...]. O professor é a figura mais importante da

sala de aula [...], se eu tenho um aluno mesmo que ele seja um deficiente mental

grave, um caso que obrigue eu ser mais tolerante, mais ativa, mais humana então

depende do meu papel [...] depende de como eu encaro o problema que o meu

aluno tem, porque se eu não souber lidar comigo mesma [...]. O professor quando

ele está [...] esgotado na profissão, quando já não está vendo futuro [...] não sonha

mais então ele tem a tendência de [...] olhar tudo de uma maneira negativa [...].

“Quando a gente acredita e tenta mudar alguma coisa a gente consegue”.

Laura apresenta os seguintes conteúdos em sua fala: “Comecei o curso de

psicologia, mas não terminei (problemas financeiros) [...]”. Então eu fui fazer o

Magistério para ter uma profissão [...]. Fiz pedagogia [...]. Fiz um curso [...] na

verdade não era curso eram reuniões para professores que tinham alunos de

inclusão [...]. Sabe, mas era aquela coisa, você faz o curso, mas chega à sala de

aula, é você que tem que tocar a coisa, o curso não ensina nada, você só vai ouvir

desabafos de colegas [...]. O curso durou dois anos [...]. Eu gostaria de terminar o

Curso de Psicologia, que eu acho que tem a ver não? Esse sim. Seria por satisfação

pessoal [...]. Sou professora há 23 anos [...]. Na realidade eu não escolhi a profissão,

eu fui escolhida (professora). A minha tia que já era professora, mas que já atuava

como diretora de escola, falou para mim então você vai dar aula e vai ganhar seu

dinheiro [...]. Aí eu comecei a fazer cadastro na escola do estado [...], peguei

algumas aulas como eventual, fui tomando gosto [...] e assumi a profissão de

professora [...]. Acabei gostando da sala de aula [...].

Laura traz sua vivência pessoal com a deficiência mental: “Eu acho que

cheguei a comentar sobre minha irmãzinha especial, ela está com 50 anos [...]

continua na escola especial [...]. É a vida dela aquela escola [...]. Ela é adotiva

inclusive [...], tem um bloqueio tão grande que todo esse tempo ali na escola

especial ela não consegue fazer nada sozinha [...] lá eles têm baile, tem recreação,

nossa lá eles se divertem, eles aprendem, tem tudo lá. Poderia até não ser período

todo, mas ter aquela escola como apoio para essas crianças, para eles é um reforço

[...]. Para minha irmã a escola é mais uma distração porque o tempo que ela está

132

nessa escola especial [...] faz 30 anos”. Essa vivência pessoal parece ter sido

fundamental na valorização do trabalho realizado pela escola especial, em relação

ao aluno com DM.

Quanto à sua experiência como professora de aluno DM, seu relato parece

mais um desabafo: “[...] Então você pega uma sala de aula com três inclusões e 35

alunos [...] É humanamente impossível chamar isso de inclusão, de forma nenhuma

[...] como conseguir dar atenção [...]. Eu estava chegando, eu tinha na época um

aluno, o Fábio que jogava tudo, era meu aluno na mesma sala, fora as três inclusões

[...]. Então não teve assim [...] nenhum preparo, não teve treinamento que ensinasse

como lidar porque se hoje colocar uma deficiente auditiva – DA na minha sala eu

não sei falar em Libras o problema é meu, você entendeu? Acho que essas crianças

mereciam muito mais do que recebem e olha que eu não atribuo isso aos

professores porque a gente vê o esforço que os professores fazem para acolher,

para tentar fazer por essas crianças [...] mas o professor, a função dele é alfabetizar,

no fundo ele acaba ficando frustrado porque não consegue alfabetizar [...] aí você vê

um monte de professores ficando doentes e ninguém sabe porque. Porque é

cômodo falar que a inclusão está acontecendo [...] Mas a que preço? [...] Você pega

um PC, o aluno PC ele precisa muito mais de você do que outra criança e aí o que

você faz numa situação dessas? [...] então em uma sala com 35 alunos fica

complicado isso (mais a PC). Eu acredito que essa criança precisa sim estar

inserida, estar incluída socialmente, agora pedagogicamente eu acho muito difícil

porque para entrar numa sala regular, entra aqui em qualquer sala que você quiser,

que tenha aluno de inclusão e veja se tem um cantinho do aluno atrás com jogos

para ele, jogos apropriados para desenvolver a coordenação motora dele, o material

pedagógico apropriado para essa criança, não tem [...]”.

Para Leda e Laura, ambas as professoras de escola regular, as condições de

vida que as levaram às formações como professoras e a serem professoras de aluno

DM, mostram que as decorrências da vida acabaram por direcioná-las para a

formação e a atuação. Uma vez dentro das escolas, foram se submetendo à entrada

de alunos com necessidades especiais em suas salas de aula, sem que, no entanto

tivessem preparo e formação suficiente para assumirem tal demanda. As condições

materiais e sociais da história de vida de Leda parecem trazer suporte para a

valorização da figura do professor e da importância de seu papel na educação das

133

crianças, em especial as com DM. No caso de Laura, não se apreende tal destaque,

mesmo porque sua realização profissional e pessoal não está colocada no

magistério, mas sim, na psicologia. Em ambas, no entanto, ressalta como aspecto

central do núcleo de significação do ser professora de aluno DM o risco do

adoecimento, agravado pelo conjunto de situações (salas numerosas, falta de

material pedagógico, falta de preparo dos professores, falta de acolhimento dos

serviços de saúde, entre outros).

No caso das professoras de escola especial, tem-se Mara e Rosa. Na fala de

Mara, algumas expressões destacadas de sua entrevista mostram uma trajetória

desde a formação que foi gradativamente levando-a ao atual momento como

professora de escola especial: “Sou atriz profissional, pedagoga [...] com habilitação

do magistério para deficientes mentais, psicopedagoga [...] cursos afins na área de

teatro relacionados à educação do deficiente intelectual [...]. Fazer Mestrado em

educação com o tema mãe do deficiente acima de 15 anos que foi para a inclusão.

[...]. Eu queria pesquisar como é este mundo excludente [...]”. Além dessa formação,

Mara relata sua experiência pessoal familiar com uma irmã deficiente mental: “Eu

vivi isto em casa, minha mãe nunca aceitou a deficiência de minha irmã, ela nunca

foi para a escola especial e não entrou na APAE. Foi desconfortável viver com minha

irmã na mesma escola [...]. No começo a gente tinha que ficar juntas, mas depois fui

progredindo e ela não” [...]. “Foi a melhor coisa que a minha mãe fez por ela, porque

ela tem a vida dela. Não aprendeu a ler com fluência, nem fazer matemática [...].

Mas ela tem autonomia [...] com as coisas que ela resolve fazer e faz, não trabalha

fora, mas sempre inventando coisas. Uma autonomia que ela não teria se fosse para

a APAE [...]”.

Quanto à forma como se vê como professora de escola especial, afirma:

“Apesar de estar enquadrada no perfil da professora que se acomodou, acho

confortável estar aqui dentro da escola especial, acho cômodo [...]. Eu acredito

friamente falando que estou dentro deste perfil ainda, não saí da escola especial e

fui lá fora trabalhar a inclusão realmente, pois aqui todos são deficientes e estou

neste mundo, neste gueto [...]. Tem resistência do professor [...]. É uma batalha

grande em conseguir transformar tudo isso e contentar famílias, alunos, professores

[...]. É desafiador, como um desafio, um grande quebra cabeça, você tem que refletir

muito e tentar entrar nesse mundo desse aluno deficiente para que o aprendizado

134

aconteça [...]. Quando você tem um aluno deficiente ao lado de um aluno não

deficiente, você tem um desafio de mostrar um mundo real, não um mundo

protegido, produzido, um faz de conta [...]”.

Na vivência de Rosa destacam-se pontos aproximados às experiências de

Mara. Rosa afirma, em relação a sua formação: “Magistério, pedagogia [...] na área

em deficiência mental e visual [...] psicopedagogia [...] um semestre sobre autismo

online [...]. Fazer curso de Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS [...] eu não parei, eu

sempre estou fazendo uma coisa aqui, outra ali, eu acho que faz muita falta sim [...]

a gente deveria ter mais cursos de capacitação, cursos mesmos, não só palestras

[...]. Sou professora de educação especial há 28 anos [...]. Eu sempre gostei, sempre

achei interessante a área de professora [...]. Eu conheci o Lugar de Vida

(atendimento de alunos autistas) há muito tempo, quando ele funcionava dentro da

USP. Tive contato com eles. Fiz curso lá porque como eu tinha classe especial e na

época eles me mandavam alunos autistas [...]. Eles me mostravam onde estava a

falha, onde estava acertando, onde poderia melhorar [...]. Foi uma fase muito boa

[...]. Tem uma escola do Estado próximo à minha escola. Já fui algumas vezes no

HTP da escola do estado para explicar o que era autismo, o que era Asperger [...] o

estado não chegou ainda a se preparar e se organizar [...]”.

Quanto a sua experiência pessoal com aluno deficiente mental, lembra-se de

uma situação que parece ter sido significativa em sua vida: “[...] tinha a curiosidade

desde pequena por crianças especiais, porque a minha vizinha no interior era uma

menina especial e me incomodava muito porque ela ficava fechada num quartinho

[...] tinha um colchão, ai ela gritava, chorava, ela ria e muitas vezes eu ia lá do lado

de cá do portão eu dava a mão para ela. Eu gostaria de saber na época como ela

pensava como ela me enxergava. [...]. Mas aí tive vontade de saber, por isso fui para

essa área [...]”.

Em relação a como se vê como professora de aluno com DM, ressalta sua

experiência de atendimento nas Salas de Atendimento Educacional Especializado –

SAEE: “A gente é um pouco psicólogo, um pouco padre, um pouco médico, um

pouco mãe, você tem uma série de responsabilidades, principalmente quando tem

alguém que vem te procurar, a família [...]. Eu atendo no contra turno [...]. Tenho oito

alunos [...]. Eu acho que precisa ter um jogo de cintura [...] nós fizemos um

combinado na escola, eu atendo a cadeirante da manhã e a minha amiga atende a

135

cadeirante da tarde no próprio turno [...] mas foi só nesse caso porque tinha as duas

cadeirantes e as duas com problemas sérios (de locomoção) [...]. Então você fala,

gente isso é desumano, se eu posso atender no horário, não vamos brincar de

atender [...] a gente almoça junto, porque a gente trabalha a parte dela comer

sozinha porque ela é uma PC e deu um resultado muito bacana e a avó também

percebeu que mudou o vocabulário da menina, que ela ficou muito esperta, é isso

que me deixa feliz [...] eu atendo três escolas e não dou conta da demanda, ao invés

de eu atender alunos duas horas duas vezes por semana, eu atendo uma hora duas

vezes por semana para poder dar tempo de atender o outro. Porque antes atender

uma hora do que a criança ficar sem atendimento, então eu acho que tem que ter

mais Atendimento Educacional Especializado – AEE, sim [...]”. Para Rosa, o

atendimento do aluno DM “é normal. Não tem diferença [...]. Aliás, acho que é um

grande prazer porque é sempre uma novidade que está chegando, é uma criança

que a gente não conhece [...]. O relatório está ali, mas nem sempre o relatório é

como a criança vai agir na sua frente e eu costumo dizer que a criança é um

laboratório, você é que vai descobrindo o que ela quer, o que ela sabe, é ela que

encaminha você para as atividades que você vai dar. Não é aquilo que eu quero dar,

é ela que vai demonstrando o que ela gosta, é preferência dela [...]”.

As condições de vida que levaram à formação e ao ser professoras de aluno

DM, no caso destas duas entrevistadas, parecem ter sido determinantes na escolha

da profissão e na carga afetiva positiva com a qual a desempenham. As motivações

pessoais destacam-se na forma como elas se implicam com a educação das

crianças com necessidades especiais, valorizando cada uma nas suas capacidades

de aprendizagem e encontrando soluções frente aos obstáculos. Assim, ressalta

como aspecto central do núcleo de significação do ser professora de aluno DM, o

prazer e a satisfação pelo reconhecimento de que esse aluno aprende e avança

dentro das suas possibilidades e limitações.

Para a formação de um segundo núcleo de significação “O ideal e o real do

processo de inclusão do aluno DM”, foram aglutinados os indicadores: Conceito

de Inclusão e Obrigatoriedade de matrícula de aluno DM na escola regular x

Obstáculos da inclusão. Para Leda, incluir “[...] é você dar oportunidade de qualquer

pessoa, de qualquer cidadão, criança ou adulto poder se inserir no meio onde ele

não está acostumado, ainda não circule [...], não importando se a defasagem dele

136

seja o intelecto, um problema físico, um problema de doença [...], mas deixá-lo

conviver com outras pessoas que não são deficientes, que não tenham as

dificuldades que ele tenha. [...]. É um direito [...]. Eu acho possível (inclusão) porque

o ser humano é aquilo que a sociedade quer que seja. Eu acredito na educação

inclusiva”.

Ainda em relação à inclusão, Leda destaca que “[...] não deveria só trazer a

criança para a escola, deveria dar oportunidade que essa criança tivesse outras

maneiras de ser ajudada [...], a gente procura fazer o melhor, mas eu acho que

precisa de muito mais [...], quem deve ser incluído são todas as crianças [...]”.

Leda menciona que a obrigatoriedade da matrícula do aluno especial na

escola regular “[...] é positiva, independente da gravidade. [...]. A obrigatoriedade

tirou da família o medo [...], a vergonha [...] a responsabilidade [...] por [...] entender

que seu filho tem um problema, mas que todas as crianças não só as especiais têm

[...]. Agora havendo a obrigatoriedade, a escola obriga, o poder público obriga, faz

com que as pessoas sejam apenas pessoas [...] que precisam conviver que não há

nada de anormal. [...] as crianças não têm preconceito e se a gente não disser para

ela que a outra criança é especial ela não percebe [...]. O preconceito existe na

cabeça dos adultos porque as crianças, essas não vêm deficiência [...]”. Como

destaque Leda narra os obstáculos enfrentados pelos professores: “[...] o laudo só

atrapalha o trabalho do professor, vou falar para você por que [...] se for um

professor atento [...], vai trazer o laudo mais como uma ferramenta na sua

aprendizagem, porquê? [...] ele atrapalha, quando uma pessoa vê o laudo médico,

desiste e fala [...] que ele não vai aprender, [...] que vai ser difícil, [...] vai usar o

laudo como uma barreira da aprendizagem [...]. Pessoas que não tinham esse laudo

e conseguiram fazer diferente, [...] eu posso tentar, [...] o laudo só me ajuda quando

eu olho lá, vejo o diagnóstico e procuro outras atividades que possa me ajudar e

superar o problema [...]”.

A inclusão de alunos DM na escola regular vista por Laura é: “[...] fazer parte,

estar inserido naquele contexto, naquele ambiente, naquela aprendizagem [...], não

é simplesmente pegar o aluno e colocar lá dentro da sala de aula, junto com 34

alunos e falar: incluí [...]. É você dar oportunidade para esse aluno se desenvolver

tanto pedagogicamente quanto psicologicamente, [...] é você conseguir trabalhar

tudo isso [...], estar incluído socialmente. Agora pedagogicamente acho muito difícil

137

porque para você entrar numa sala regular [...], que tenha aluno de inclusão, veja se

tem lá um cantinho do aluno [...], material pedagógico apropriado [...], não tem, o que

acontece [...] não é inclusão, não da forma como é feita [...]. É cômodo falar que a

inclusão está acontecendo, mas como, a que preço [...] eu não sou contra a inclusão

[...], está mal feita [...]. Precisa ter sala com menor número de alunos. Que as

escolas tivessem [...] mais preparo [...], eu vejo como uma coisa que caiu de

paraquedas no colo das escolas vai ter, acabou [...]. Não sou contra (inclusão), mas

acho que ainda tem muito que mudar para conseguir atender essas crianças como

elas merecem [...] muito para evoluir [...]. A maior parte da inclusão que se faz hoje é

uma inclusão social. Cadê esse material concreto, cadê essa inclusão? [...]. Os

alunos de inclusão deveriam frequentar o SAEE, não é verdade? [...]”.

Em sua narrativa Laura exemplifica alguns casos de inclusão: “Uma PC [...]

acredito que essa criança precisa sim estar inserida [...], aluno (DM) da EMEI

(Educação Infantil) [...]. A gente não vê um aluno de inclusão como uma coisa

extraordinária, [...] diferente, você o vê como parte do grupo mesmo [...]”.

Em relação à obrigatoriedade da matrícula do aluno especial na escola

regular Laura comenta: “Eu concordo [...] essas crianças têm que estar junto com

outras crianças [...]”, quando você vai inserir uma criança dessas, você tem que ter a

responsabilidade de cuidar dessa criança, [...] não é tomar conta [...] é dar o que

essa criança precisa para crescer [...]. Se for obrigatório [...] dependendo do grau de

deficiência [...], até aprende, ela progride; mas aquelas crianças que têm uma

deficiência mais grave, que necessitam de mais apoio e mais ajuda [...] acho que

deixa muito a desejar [...], se essas crianças pudessem ficar um período menor na

escola regular [...], frequentar um período aqui (escola regular) e outro lá na escola

especial [...] que tivessem transporte [...], essas crianças precisam aprender [...].

Como obstáculos da inclusão Laura descreve que “a maior parte dessas

crianças acaba ficando por conta dos colegas [...], a gente vê muito essa situação do

colega ajudar. É muito comum sabe, trabalhei na (EMEI) e [...] no ensino

fundamental e deu para ver bem isso [...], o preconceito você não tem, você adquire,

você não nasce com ele. Você chega a uma escola [...] não tem isso da criança ser

especial, de ser de inclusão [...]”. Laura narra outro obstáculo relevante: “Além do

professor da classe comum, não ter preparo [...], material, tempo, fica complicado

[...]. Eu não vejo a inclusão como ela é feita não. Você, professora às vezes vai para

138

a sala de aula [...] pega uma inclusão [...], tem que ter consciência [...] não vai haver

nenhum progresso [...]”.

As professoras, Leda e Laura, ambas do Ensino Fundamental I, concordam

com a inclusão de alunos DM na sala regular do ensino fundamental, mas divergem

em quem deve ser incluído. Leda acredita que todas as crianças deveriam ser

incluídas, que deveria ser dada oportunidade para que fossem ajudadas, mas Laura

apesar de concordar com a inclusão descreve que depende do grau, pois as

crianças com deficiência mais leve teriam condições de serem incluídas, mas as

crianças com deficiência mais grave não, porque não haveria progresso na maneira

como ela vê que a inclusão está sendo feita. Também em relação à obrigatoriedade

da matrícula das crianças na sala regular há uma discordância, pois Leda acha

positiva a obrigatoriedade, independente da gravidade, mas Laura menciona que há

necessidade de cuidar dessas crianças, dando a elas o que elas precisam e

depende também do grau de gravidade para elas permanecerem ou não na escola

regular. Quanto aos obstáculos mencionados, as duas professoras, Leda e Laura,

concordam que ainda faltam vários itens para que haja inclusão, começando com o

preconceito do adulto, a falta de material pedagógico apropriado, menor número de

alunos por sala de aula, suporte e preparo dos professores e que as crianças

deveriam frequentar a SAEE desde a EMEI. Além de todos esses itens, Leda

menciona mais um como sendo importante para ela: o laudo, que dá segurança em

casos mais graves. Assim, pode-se considerar que, o foco central neste núcleo de

significação é a distância ressaltada por ambas entre o ideal e o real do processo de

inclusão do aluno DM.

Quanto às duas professoras de escola especial, Mara e Rosa, destacam-se

os principais conteúdos de seus relatos que resultam neste segundo núcleo de

significação. Para Mara “Incluir não é só estar junto com o outro, mas trocar,

aprender e ensinar também com o outro. [...]. Estar aprendendo não só regras de

conviver, mas [...] também o nosso saber, o saber acumulado [...]”. Em sua visão

“várias pessoas [...] podem e devem ser incluídas [...] o deficiente, seja qual for a

deficiência, o negro, o obeso, o feio, o velho e o pobre [...]”.

Para Mara a importância sobre a obrigatoriedade da matrícula do aluno

especial na escola regular é descrito “com alegria, porém sentindo que falta muito

para se conseguir uma inclusão de verdade para esses alunos. É um caminho [...]

139

aberto, mas muito tem que se fazer para este (aluno) estar lá dentro, [...] que seja de

qualidade e não só [...] socialização do deficiente, pois ele também tem que

aprender dentro da escola”.

Mara refere-se aos obstáculos à inclusão como sendo “professores que não

conseguem entender, perceber um caminho [...] para esses alunos que são

deficientes aprender [...], juntos com os outros [...]. Ele (o professor) barra na

questão do currículo [...]. Quando a gente vai para a escola regular e tenta conversar

com [...] professores e os especialistas do Ensino Fundamental II, é muito triste [...],

difícil chegar, são poucos os que conseguem se abrir [...] não queriam os alunos

deficientes mentais, isto provoca tristeza, angústia [...]”. Também como obstáculo

Mara menciona “[...] O deficiente acima de 15 anos [...] aí está o maior nó [...] o

fundamental I ainda tem suporte, [...] o ensino fundamental II, não [...]. É só

socialização do deficiente, [...] o que ele está aprendendo ali? [...] Inclusão não

aconteceu para eles, eles têm que ficar em casa [...], alguns ficam agressivos,

começam a maltratar a mãe e o pai [...] estão (em casa) há muitos anos [...] , sem

nenhum trabalho, sem atividades, sem amigos, só TV e criando quadros

psiquiátricos. [...]. Tem casos que as mães entraram com processo no Ministério

Público e através do juiz conseguiram voltar para escola especial, mas poucos

voltaram [...]. Pouquíssimas escolas particulares têm experiência de abrir as portas

para o deficiente mental [...]”. Mara ressalva como ponto de destaque, além dos

alunos DM, o aluno cadeirante, pois apresenta maior número de obstáculos: “[...]

tem transporte inseguro, mobilidade insegura, eles não conseguem andar nem

mesmo na calçada”.

Rosa afirmou: “inclusão não é só colocar o aluno dentro de uma sala [...]. É a

participação do aluno, é ele estar [...] dentro do contexto da sala, na informática, na

educação física, na hora da merenda, no pátio, ele ser um aluno como todos os

outros [...]”. Para que ocorra a inclusão, Rosa comenta que em alguns casos “[...]

precisa de laudo. Uma criança que é psiquiátrica, um desses casos graves [...] você

fica sem saber [...] por onde eu vou com essa criança? O que ela tem? [...]. Nos dá

segurança, [...] não posso chutar que ele é autista [...], nem o psicólogo [...], ele

precisa passar pelo neurologista para lhe falar que é autista [...] você recebe o laudo

[...] que lhe dá um norte de como trabalhar com ele [...]”.

140

Outro ponto de significância para Rosa é a obrigatoriedade da matrícula do

aluno especial na escola regular: “Eu acho bárbaro! (Aprovando a lei). [...] Eles

precisam estar dentro da escola, a gente tem experiência de quanto eles melhoram,

[...] faz bem esse social e a maioria só tem esse espaço, porque a mãe não leva

para passear, [...] no parque, [...] em lugar nenhum [...], o único lugar para essa

criança é a escola. [...]. Tem alguns casos [...] aos 12, 13 anos, a gente não sabe o

que fazer [...] já terminaram o 5º ano, eles têm o direito de fazer duas, três vezes o

5º ano, e depois? [...] Na escola estadual não existe inclusão (subentendendo o

Ensino Fundamental II). A escola estadual não está preparada, não tem lugar para

colocar esses jovens, então todo trabalho de inclusão [...] do pré (EMEI) até o 5º

ano [...] não é que está perdido, mas a gente fica sem saber o que fazer [...], aí

entra em pânico a mãe [...], professoras do AEE [...]. Eles (referindo-se aos

professores de escola regular) não têm preparo algum [...]. No estado não tem

professor especializado [...] precisam com urgência de cursos para poder aprender a

trabalhar com eles, embora muitos não queiram saber [ ..]. Mas acho que deveria

ser obrigatório um curso geral [...]. O professor para trabalhar de 1º ao 5º ano tem

que fazer um curso para lidar com as crianças especiais, [...], porque [...] falam eu

não tenho a menor noção de por onde começar [...] então, tem que ter, eles ficam

mais tempo com a criança que nós [...], eu acho que precisam de ajuda [...]”.

As professoras da escola especial, Mara e Rosa em relação ao núcleo de

significação “O ideal e o real do processo de inclusão do aluno DM”, têm como

ponto de vista concordante em relação à inclusão, que não se trata somente de

favorecer a convivência social, mas de efetivamente atendê-lo em suas

necessidades educacionais e de aprendizagem, um direito ao saber acumulado.

Rosa ainda menciona a importância do laudo que nos casos mais graves termina

dando segurança para o professor no acompanhamento desse aluno e que o

problema da inclusão é maior no Ensino Fundamental II pela falta de preparo dos

professores. Ou seja, também para estas professoras da escola especial, como as

duas anteriores da escola regular, embora a inclusão seja um caminho aberto, há

ainda muito que fazer para o aluno DM estar incluído, necessitando de maior

qualidade, não só a socialização para aprender dentro da escola.

Para a formação de um terceiro núcleo de significação “Escola Especial x

SAEE: possibilidade de aprendizagem do aluno DM” foram aglutinados três

141

indicadores: Escola Especial x SAEE; O Lugar da Família e do Agente de Inclusão

na aprendizagem do aluno DM; Sobre as possibilidades de aprendizagem do aluno

DM. Dentre as professoras de escola regular, Leda destaca sua visão sobre a

Escola Especial dizendo: “Escola especial não adiantava nada, ficava lá um monte

de indivíduos da mesma idade, pelo resto da vida, às vezes 50, 60 anos, convivendo

com aquele pessoal, não tinha nada de novo, não viam como era a outra parte da

sociedade, não conviviam com pessoas consideradas normais [...]”. E, quanto à sala

de apoio especializado, afirma: “Eu tinha muita esperança neste espaço, nas SAEE

Polo (uma mesma escola que atende várias escolas ao redor), mas agora até estão

atrapalhando nosso trabalho pedagógico, [...] queria que o AEE viesse até nós,

conversasse comigo, me dissesse se o que eu estou fazendo está certo, [...]

legítimo, correto, [...] como ajudar aquela criança [...], as salas polo do AEE não

estão fazendo isso [...]. É como se existissem duas crianças, uma que vai para o

AEE e a outra que fica na sala de aula (regular). [...] A criança é uma só [...], partilhar

problema é bem mais prazeroso, [...] quanto mais você troca, mais [...] aprende,

mesmo que você ache que a outra pessoa seja tão leiga quanto você [...]”. Sua

crítica ao professor da SAEE é nítida: “[...] Quando ela se candidata a um cargo

público, precisa dar retorno do cargo [...], eu escolhi ser orientadora [...], professora

do AEE [...], ninguém me colocou lá, então [...] se eu tenho um conhecimento que

vai além [...] do conhecimento científico [...] não é compartilhado [...], fecha a porta e

fica lá, aquilo tem que ser expandido [...] não aparece o que as outras pessoas

fazem, só aparece a turma da SAEE, do corpo técnico, as professoras (sala regular)

não conseguem superar, resolver o problema [...]”. Sobre os recursos pedagógicos

para a aprendizagem do aluno DM: “Tudo que vem é para a SAEE [...] jogos [...], TV,

materiais [...]”.

Leda deixa claro que, quanto às possibilidades de aprendizagem do aluno DM

depende de “[...] professores que tiram de letra, a cada desafio conseguem melhorar

[...], estão na profissão porque gostam [...], é mais importante quando a gente faz

aquilo que gosta [...], o retorno do que você faz é tão bom [...]. Hoje para você ser

professor tem que gostar [...], tem que aprender a compartilhar. [...] Fico feliz [...]

quando você tem um projeto de vida [...] e vai beneficiar a vida de outras pessoas

[...]”. E acrescenta sua experiência com vários casos de inclusão, [...] “Paulo foi o

caso mais grave, pela idade, pela convivência [...]. O Eduardo, só dormia porque

142

tomava medicamento muito forte. O Luiz era muito agressivo, quebrava a sala

inteira. A família não aceitava e eu tive que pedir licença da escola [...], uma família

inteira, cinco alunos, [...] eram muito violentos [...]. Diagnosticados atualmente, tenho

dois, um que é deficiente físico [...], ele está aprendendo aos poucos e outro [...],

pergunta o nome da mãe ele não sabe, ele não consegue gravar [...]. Então você

pergunta uma coisa [...], ele não sabe. Ele não sabe que o nome dele é Pedro [...].

Ele foi encaminhado para avaliação [...] cobro, mas não tenho retorno [...]. Ele não

está sendo acompanhado por ninguém e a mãe não conseguiu levá-lo porque

estava desempregada [...]. Tenho o Gustavo, a Leandra [...], ela é muito inteligente

[...], ela tem [...] um leve autismo, [...] a mãe também acha, ela procurou tratamento

para ela (filha) mas não conseguiu. Nenhum destes casos está tendo

acompanhamento pelo AEE [...]”. Além disso, ainda aponta o problema da

necessidade do laudo: “A gente sabe que onde a criança passa o maior tempo é

com o professor (sala regular), porque a Sala Polo (SAEE) ela vem num horário

diferenciado e se ela não tiver laudo não vem hora nenhuma, porque só atende com

laudo. [...] Antes [...], a gente fazia relatório e conversava com a professora (de

SAEE) [...] com a coordenação, [...] tenho um aluno assim [...] preciso de auxílio eu

gostaria de ouvir uma segunda opinião, eu não sou médico, ela também não [...],

alguém que entende do assunto para ver se eu estou certa [...] que possa atender

essa criança, ai a professora que estava lá [...] falava: olha professora [...] fulano é

problema de disciplina [...], mas beltrano eu já chamei [...] conversei com a mãe, já

encaminhei [...], não existe mais isso [...] é tudo laudo [...]”.

Leda comenta sobre as atitudes e comportamento das mães/família do aluno

deficiente mental: “[...] Vem na escola para serem ouvidos, não tem outro lugar para

ir. A família quando vem, [...] não aceita, ou está cansada demais [...], as mães não

sabem onde levar [...], não tem dinheiro para pagar consulta, não tem convênio

médico, isto é a realidade dura [...] se eu fosse mãe e [...] tivesse uma criança com

deficiência, [...] lutaria para que meu filho estivesse na escola, que [...] convivesse

com outras crianças, mesmo que ele tivesse problema, porque problema todo

mundo tem [...]”.

Em relação à aprendizagem do aluno DM Leda afirma: “[...] O aluno especial

é o nosso maior desafio [...] você tem que trabalhar os seus valores, [...] derrubar

todos os seus tabus [...] ajudar uma criança, não um cidadão doente [...], um adulto,

143

um adolescente [...], uma verdade absoluta, que o deficiente mental não fazia nada,

[...] o pai, a família, não enxergam como avanço, mas eu enxergo. Como de repente

[...] Paulo fala banheiro e vai [...] sozinho [...]. Eu vejo que ele consegue retornar,

[...], é um avanço, mas você só consegue perceber se você falar [...] conviver e

dialogar [...] trocar experiência [...]”.

Laura, diferentemente de Leda, destaca em sua visão sobre a Escola

Especial: “[...] Eles (alunos na escola especial) têm [...] material, é tudo muito rico,

[...], eles pintavam, tinha oficina de madeira [...] era mão na massa mesmo, aqui não

tem isso (escola regular) [...]. Tem essa assistência lá [...], perua traz (para a escola)

e leva de volta para casa, só que isso vai muito dinheiro não, será que não valeria a

pena gastar esse dinheiro? [...] Lá tem psicóloga, tem psicopedagoga [...]. Se a

criança fica aqui na escola regular em um período e no outro numa AACD [...] você

vai ver o processo [...], tem uma professora aqui que a filha dela é especial [...]

frequenta a escola regular e frequenta a AACD [...]. Você percebe que há progresso

porque está trabalhando [...] a coordenação motora [...] você põe na AACD só casos

extremos, a AACD não pega, não consegue abraçar todo mundo [...]”. E, sobre a

Sala de Atendimento Educacional Especial, afirma: “Eu vejo como pequeno. Têm

muitos casos, eu não sei se estas salas atendem só com diagnóstico, eu acredito

que não [...] mas eu vejo que a demanda é muito grande, porque [...] uma sala aqui

atende quantas escolas da redondeza. Espaço físico para a professora, eu acho

pequeno, pelo menos aqui nesta escola, mas a professora atende, conversa [...]

talvez se fosse um espaço maior, onde a criança tivesse mais liberdade e mais

espaços como esse [...]”.

Laura comenta sobre a aprendizagem do aluno DM: “[...] Em 1990 [...], as

escolas estaduais tinham salas especiais [...], peguei substituição e eu cheguei a

ficar na sala especial [...] eram [...], bem poucos alunos (quinze), dentro da sala

mesmo tinha um quartinho, que tinha jogos, brinquedos, tinha o caderno, tinha tudo

[...]. As professoras davam aulas nessa sala [...] percebiam que eles estavam

começando a se distrair, que iam conseguir, eram transferidos para a sala regular.

Eu tive um aluno na sala regular [...] tinha vindo da classe especial e ele já estava

começando a ser alfabetizado [...] não sei se ainda tem na Lapa, [...] um curso

profissionalizante [...] e esse menino entrou, os pais levaram e ele foi aprender [...] a

profissão de padeiro. [...], era a mão na massa [...], esse menino me marcou demais

144

[...], porque ele adquiriu uma profissão [...]. Ele ia lá para essa escola, fazia os pães

[...], se você visse a satisfação, o brilho nos olhos porque ele conseguia fazer [...]. À

medida que ia repetindo, acredito que chegaria um tempo que ele teria a receita na

cabeça de como fazer o pão [...] você percebe principalmente quando ele começa a

abstrair, mas para chegar a abstrair [...], só consegue progresso com material

concreto e às vezes o material concreto que eu tenho é pouco [...]”.

Ao referir-se a um aluno autista, comenta a importância do olhar da mãe

quanto aos progressos de socialização, no entanto, as críticas quanto ao processo

de aprendizagem escolar: “[...] A mãe falou que ele melhorou bastante em relação

ao que ele era antes e irá liberá-lo para ir sozinho para casa [...]. Foi assim, talvez

tenha observado mais, não sei, mas foi ela que autorizou ele ir embora sozinho. Ela

sentiu, mas eu (professora da sala regular) não estava sentindo essa segurança

ainda, você vê que engraçado? A mãe veio conversar comigo e falou [...] eu vejo

que ele progrediu que está mais calmo, [...] só que eu percebo que no caderno dele

não tem nada escrito, a senhora não está dando nada para ele fazer então, você

entendeu, existe assim coisas [...] os próprios pais esperam mais acredito, não sei

[...]”.

Quanto aos agentes de inclusão, Laura vê como favorável o apoio recebido

pelas professoras da escola regular: “Agora colocaram esses agentes de inclusão,

agora até que melhorou [...]. Elas não ficam com a criança [...] elas levam no

banheiro e tal, às vezes essas crianças, [...] a gente percebe que chega uma hora

[...] eles (os alunos) fogem da sala [...] eles têm outro tempo [...] não é verdade? Tem

um tempo que elas (agentes de inclusão) ficariam um pouco com eles, sei lá, uma

brincadeira, alguma coisa, mas elas não podem fazer, eles (os alunos) têm que ficar

dentro da sala de aula, você entendeu?” [...].

A constituição deste terceiro núcleo de significação, no caso das professoras

de escola regular entrevistadas, se dá na oposição entre a valorização e

desvalorização das possíveis parcerias que levariam ao efetivo processo de

desenvolvimento e de aprendizagem dos alunos DM. Essa

valorização/desvalorização parece estar relacionada ao próprio sentimento de

desvalorização pessoal e profissional. Leda demonstra uma visão negativa da

escola especial e também da SAEE; não se refere aos agentes de inclusão,

atualmente presentes no espaço escolar; destaca e valoriza somente os próprios

145

resultados obtidos com os vários alunos DM com os quais já trabalhou e trabalha,

sem o reconhecimento do apoio dos demais profissionais existentes dentro (SAEE,

agente de inclusão) e fora da escola (profissionais da saúde), bem como dos pais.

Laura, contrariamente, vê a escola especial como um espaço especializado e rico,

com as condições e recursos que são disponibilizados para o aluno DM; a SAEE,

embora vista como espaço físico pequeno, atende demanda e dá suporte à

professora da sala regular; valoriza a presença dos agentes de inclusão e reconhece

o olhar da família no processo de acompanhamento do desenvolvimento do aluno.

As professoras de escola especial, Mara e Rosa, em relação aos conteúdos

deste terceiro núcleo de significação, apresentam os seguintes destaques. A visão

de Mara sobre a Escola Especial é: “O nosso olhar é de nostalgia, é de saudade [...]

mas vejo como [...], vaidade, que pena que não tenha mais a escola especial [...],

zona de conforto [...] que era estar na escola especial [...]”. Um mundo protegido, [...]

artificial [...] o professor controla mais os alunos quando são deficientes [...]. Só

pensa nele, o lado do professor, não vê o lado do aluno [...] um mundo de faz de

conta [...] seguro também para os pais, por que lá fora não se abriu realmente para

essas pessoas [...]. A Sala de Apoio Educacional Especializado – SAEE é descrita

por Mara como: “Um respiro para essas crianças que vem para a inclusão [...]”. “O

olhar que deveria ser mais delicado [...], para esse aluno que está ali, no meio de

crianças [...], inteligentes, sem deficiência [...], ser sensível, [...], sugerir meios de

como trabalhar, de como lidar realmente com esses alunos, vejo como um trabalho

de suma importância [...]”.

Essa visão da escola especial como lugar seguro e protegido é reforçada

quando Mara descreve a posição das mães do DM: “Eu vejo muitas mães virem

desesperadas [...] matricular seus filhos (na escola especial) porque [...] não se

adaptaram na escola regular e ficavam só em casa [...]. Elas vêm procurar o ponto

de cultura para cursos: teatro, fotografia, ou dança e informática [...]. Tem pais que

fazem cursos junto com seus filhos [...]. Elas vêm, [...] elas ajudam na troca, [...] elas

continuam aqui cuidando de seus filhos [...], de certa distância, [...] de prontidão [...] ,

por medo, por segurança [...]”. Mara menciona que na escola especial tem agente de

inclusão, “[...] mas a mãe ainda alimenta seus filhos e ajuda na troca”.

A aprendizagem do aluno DM é descrita por Mara da seguinte maneira: “Já vi

alunos deficientes aprendendo ciências junto com os outros alunos sem deficiência,

146

mas de maneira diferente, fazendo teatro [...], fazendo modelagem, o mesmo

conteúdo, mas dentro de outra linguagem [...], o aprendizado é primordial dentro de

uma escola. [...]. São jovens [...]. Muitos estão voltando para a escola especial,

através do ponto de cultura [...]. São cursos livres que não são longos [...] e a escola

que ele pode ficar o período total [...], a semana inteira [...]”.

Em relação à Escola Especial, Rosa comenta: “[...] precisa dar uma limpada

[...], precisa ser modificada [...], uma proposta diferente do que está aí. Que os

alunos tivessem uma natação, uma hidro, mais o lado esportivo, umas oficinas [...]

que não fosse aquela coisa mecânica que eles têm, [...] sempre a mesma coisa, que

fosse diferente, uma horta, uma proposta diferenciada, [...] saíssem daqui e fossem

em um parque Chico Mendes fazer a horta, que o ônibus levasse, amanhã é outro

grupo, [...] aula de dança, dar um giro, não é uma sala [...] vem com a mochila,

entram sentam-se, com a mesma professora, o mesmo tipo de aula o ano inteiro.

Eles deveriam passar por várias salas, [...] não ficar em um lugar fixo, numa sala

como fica hoje [...] nos moldes de uma escola tradicional antiga [...]. Temos

condições de fazer essa mudança (escola especial) sem mandar os meninos

embora”. Quanto à Sala Atendimento Educacional especializado- SAEE, Rosa

refere-se à sua própria experiência: “[...] No geral a sala está bem (SAEE). Tenho

oito alunos. Tem alunos mais difíceis, tenho um autista que estou com ele há quatro

anos [...]. Só queria ficar no chão, só queria brincar, fazia birra, [...] era um autista

bem difícil, não falava [...], chutava armário, [...] porta, hoje não; ele entra [...], foi

uma mudança muito grande para mim, para a mãe [...] muito bacana. Hoje é um

prazer recebê-lo [...] o aluno é um ser humano e que está aqui pedindo ajuda. Então

a gente tem que dar [...]”. Rosa ainda comenta sobre a SAEE: “Eu acho ótimo. Acho

que veio dar uma estrutura melhor para os professores de sala regular, elas têm

apoio, com as professoras da SAEE. Elas podem contar na hora do choro, da birra,

do surto, que a criança não acompanha [...], ela tem exatamente esse lado, fazer a

ponte com a professora e dar assessoria ao aluno especial dentro da sala e

colaborar com a inclusão [...]. Não é só pedagógico, [...] troca de experiência com o

professor, [...] trazer o pai e a mãe para a sala de aula. [...] O AEE não pode ser

quadradinho [...], tem situações que você precisa fazer sim [...] ajudar sim [...].

Aparece professora chorando [...], não quero aquele menino na minha sala, [...], não

sei o que faço. Então até você acalmar a professora, dar atividades diferenciadas,

147

sentar do lado do aluno e mostrar para ela (professora da sala regular), que é assim

mesmo [...] a professora é um ser humano [...]”. Em relação aos recursos

pedagógicos para a aprendizagem do aluno DM, Rosa comenta que possui muitos

recursos “[...] jogo de dominó, quebra cabeça, cubos [...] mas o AEE tem mais

material pedagógico e fornece para a professora da sala regular [...]”. As salas que

eu tenho contato e que tem aluno especial eu empresto. Eu tenho uma variedade

muito grande de material [...].

Rosa comenta sobre as mães do DM: “[...] mãe dificílima [...] A mãe

percebeu que ele começou a falar [...] ela não aceita deixar o menino, [...] com 13

anos, amarrar o sapato, trocar de roupa, [...], esses vínculos que ela teve que cortar,

foi muito choro, muita discussão, muita orientação [...] indiquei para ela um psiquiatra

[...] Ela dá comida na boca, [...] banho, ela tirou a chupeta dele e a mamadeira dele

em 2012. [...]. Ela dormia com o menino e o pai dormia em outro quarto. E para tirar

isso foi muito difícil. Ela chorou muito [...]. Passar o menino para o outro quarto para

ela dormir com o marido foi difícil [...]”.

Com relação à aprendizagem do aluno DM Rosa comenta: “[...] se ele é

especial ele não vai acompanhar o mesmo conteúdo [...] ele não vai fazer as

continhas e os problemas da lousa, mas ele pode estar com jogo de dominó, um

jogo de quebra cabeça, então ele é inserido de uma forma diferenciada, [...] ele pode

estar pintando cubos, mexendo com algum material pedagógico [...]. Tenho um

autista que eu estou com ele há quatro anos [...], peguei tão firme com ele na

alfabetização e na linguagem e na comunicação alternativa, [...] ele começou a falar

e o desenvolvimento pedagógico dele me surpreendeu [...] foi todo um trabalho

desenvolvido [...]. Ele está tendo a percepção da escrita com o desenho e com as

letras [...], está fazendo a comparação. Posso colocar o nome dele, da mãe e de

qualquer fruta [...] ele copia direitinho, não consegue colar, a parte motora dele é

muito difícil, mas com as fichas ele faz. Isso então foi um sucesso. [...] Foi uma

evolução muito bacana [...]”.

As duas professoras de escola especial a vêm naquilo que ela favorece no

desenvolvimento do aluno DM, por meio de oficinas diferenciadas: teatro, dança,

horta, informática, fotografia e outras. Para Mara isto já se apresenta como uma

realidade e para Rosa, como aquilo no que a escola especial deveria se transformar.

Quanto à SAEE, Mara reconhece seu valor, mas ressalta a necessidade de que

148

tenha um olhar mais delicado e sensível para trabalhar com esses alunos, enquanto

Rosa vê a SAEE como uma realidade em relação ao apoio que oferece ao aluno, ao

professor e à família. Ambas percebem atitudes regredidas nos pais do aluno DM, as

quais Mara parece justificar pelo não atendimento das necessidades do aluno pela

escola regular, o que faz com que eles retornem buscando acolhida na escola

especial. Já Rosa, vê que os pais devem ser trabalhados para dar um salto

qualitativo no entendimento de que, para que haja desenvolvimento do aluno DM, há

necessidade de que superem medos e inseguranças e vejam seus filhos como

capazes.

Para a formação de um quarto núcleo de significação “Fechamento da

Escola Especial e Alternativas de atendimento do DM” foram aglutinados os dois

indicadores que constituem sua denominação: Fechamento de Escola Especial; e

Alternativas de atendimento do DM). Apresentam-se os conteúdos destacados por

Leda, professora de escola regular: “Eu adorei (o fechamento da escola especial) [...]

não tinha nada de novo, não viam como era a outra parte da sociedade, não

conviviam com pessoas consideradas normais [...]”. Em relação à alternativa de

atendimento do aluno DM Leda, apresenta uma solução: “[...] Eu acho que o poder

público peca [...], talvez pelo tanto que ganha com o aluno especial, recebendo uma

verba extra [...]. Não há interesse na escola que ele se desenvolva [...] a escola, o

poder público deviam fazer convênio com faculdades, com postos de saúde [...]. A

professora quando percebia uma criança com um problema sério [...] fazia uma rede

de proteção, eles acionavam, a escola, o professor, o aluno, a família, vinha:

psicólogo para a família, para o professor, para o aluno; você indica, vai para a rede

de saúde, você vai enviar para o pediatra, pediatra atende [...], vai para aquela rede

de proteção. A escola poderia mandar daqui a lista de alunos para o posto de saúde,

[...] agenda o dia e manda para as mães. Se cada escola pudesse fazer isso, entre

1200 alunos [...] 60 alunos que precisam de cuidados mais especiais e a gente se

encontra de mãos atacadas [...]. O poder público precisa ainda se preocupar muito

mais, não é só com cursos para o professor, mas para a criança especial, a criança

com dificuldade de aprendizagem e o adolescente, uma rede de proteção [...], tem

que ser construída, a escola ainda vai ser o centro disso tudo [...]. Outras parcerias

devem vir para a escola, se juntar e interligar interesse para ajudar essas crianças.

Eu acredito e apoio essa ideia”.

149

Contrariamente, Laura destaca sua visão sobre o fechamento da Escola

Especial: “É um absurdo, eu acho que isso se chama exclusão. Você está excluindo

essas crianças desse reforço [...], como a criança na sala regular tem direito ao SAP

– Sala de Apoio Pedagógico [...] a criança especial também tem direito [...] do reforço

voltado para ela [...]. Ninguém quer fechar. Deixa meio período para atender essas

crianças (meio período na escola regular mais período na escola especial), vamos

por neurologista [...], psicólogo, [...] ajudar a escola [...] a ajudar essas crianças [...]”.

Como alternativa ao fechamento da escola especial, Laura comenta: “Você já

imaginou uma escola onde você monta uma cozinha e vai aprender a fazer o que

gosta (exemplo fazer pão)? Meninas poderão aprender outras coisas, eles (alunos)

seriam úteis, seria bom não seria? [...] Quem sabe pegar essas crianças (DM) e

levar para a escola regular voltada para elas, com atividades feitas diretamente para

elas [...]”.

As duas professoras de escola regular divergem na forma como constroem

este núcleo de significação. Para Leda a solução está no poder público e em

parcerias em nível macro, entre os diversos setores interligados: da escola, da

família e da saúde. Laura vê a solução no plano micro das interrelações entre a

própria escola regular e a escola especial.

Mara, professora de escola especial afirma: “O fechamento [...] friamente, algo

muito bom [...] o fim da escola especial [...] doloroso [...], um mal mais que

necessário. Para o mundo ver que existe o deficiente, [...] para se abrir para essas

diferenças, se adaptar [...], para esse deficiente poder viver de verdade [...]. Tem um

tempo histórico [...], vamos ter que ter a paciência histórica para ver o mundo se

modificar para essas pessoas [...], que estavam escondidas, mas elas existem, elas

vão aparecer com o fim da escola especial e mostrar suas caras [...]. Acho que aí se

daria o fechamento da escola especial [...]. Seria muito difícil, porque é confortável

(para os pais) ficar aqui [...]”. Mara menciona alternativa ao fechamento da escola

especial: “[...]. Existe um grupo de trabalho que está montando um novo projeto para

a escola especial, para esses alunos que foram incluídos, mas não se adaptaram

[...]. Tem um grupo [...] que está tentando montar desde 2009 o Projeto Piloto [...] e

agora pensa num projeto real [...] daqui a dois anos, o tal Centro de Cultura, Centro

de Convivência. [...] o tempo dele aqui vai ser reduzido [...]. Na questão da exclusão

[...] outros equipamentos da prefeitura são excludentes [...]. Você tem [...] esporte

150

que não inclui, mas no Centro de Convivência [...] vão estar todas as secretarias se

empenhando [...]”.

Rosa apresenta sua visão sobre o fechamento da Escola Especial: “Eu não

gostaria que fechasse não [...], escola especial não tem que existir, tem que existir

uma mudança, tem que existir um trabalho diferenciado, [...] tem alunos de 50, 60

anos, portanto, não pode fechar as portas e falar vocês vão ficar em casa, sentados

no sofá o resto da vida, não é por aí [...]”. Com referência à alternativa ao

fechamento da escola especial, diz: “Tem a questão política, [...] a parte financeira

[...]. Uma mudança dessa não sai barato e ninguém quer abraçar a causa. Ficaria

caro [...] é o tipo de aluno que não dá retorno financeiro para o estado. Eles não

pagam impostos, eles dão despesas, [...] e que retorno eles dão? Então a parte

política, fecha os olhos. Eles são cidadãos, eles têm tanto direito quanto os outros

(normais), eles têm o LOAS (um salário mínimo), mas o LOAS ainda é pouco [...]”.

As duas professoras de escola especial constroem este núcleo de

significação pela concordância nas mudanças necessárias para a estruturação da

escola especial para que ela possa atender a uma nova demanda de necessidades

de formação e desenvolvimento desse grupo de alunos DM, por meio de projetos

diferenciados, em especial para os que têm maior faixa etária.

Vale destacar que tanto as professoras de escola regular como as de escola

especial abordam a questão dos custos que demandariam o envolvimento de

efetivas parcerias e a garantia de infraestrutura para o atendimento educacional de

qualidade para uma população que gera gastos e não dá o retorno esperado por

uma sociedade como a nossa, na qual prevalece a expectativa de normalidade e

produtividade.

151

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Resgata-se aqui o objetivo desta pesquisa, a saber, apreender os sentidos

produzidos por professoras de escolas regular e especial sobre inclusão de alunos

deficientes mentais em escolas regulares. Vale também ressaltar que tal apreensão

foi realizada por meio dos núcleos de significação, que movimenta as categorias de

significado e sentido. Fazem-se então, considerações sobre os achados

depreendidos da análise dos referidos núcleos.

Para a realização desta análise tomou-se como elemento chave o conjunto de

significações produzidas pelas professoras sobre a realidade social, na qual se dão

suas concretas vidas que terminaram por levá-las a atuarem profissionalmente na

área de magistério com a possibilidade de trabalharem com alunos com deficiência

mental.

As participantes da pesquisa, mediante verbalização sobre os processos que

constituíram ou constituem sua realidade, ao mesmo tempo em que expressaram

conteúdos sobre esses mesmos processos, puderam também, examiná-los, criticá-

los e apropriarem-se deles noutra condição de consciência produzindo acerca deles,

quem sabe, novos sentidos. É importante reiterar que, ao relatarem suas vivências e

expectativas, as participantes da pesquisa falaram de suas necessidades, motivos,

que levaram a escolher este percurso acadêmico-profissional, bem como para agir

de um ou outro modo, em suas trajetórias de vida.

A partir dos conteúdos e das expressões extraídas nas duas etapas da

pesquisa, a primeira por meio de questionário e a segunda, das entrevistas

individuais, procurou-se avançar do empírico para o interpretativo, fazendo a

trajetória das expressões para o sentido. Pelos núcleos de significação, objetivou-se

compreender, pela perspectiva sócio-histórica, cada participante, como sujeito

concreto e ativo capaz de produzir sentidos, sobre as múltiplas produções possíveis,

na realidade em que vive.

Em relação ao primeiro núcleo de significação, “condições de vida que

levaram à formação e ao ser professoras de aluno DM”, como síntese da

primeira etapa, os dados mostram que as professoras de escola regular pertencem a

uma faixa etária menor quando comparadas às professoras de escola especial; com

isso têm menos tempo de exercício no magistério e mais cursos acadêmicos.

152

Mesmo assim, no grupo de professoras de escola regular o tempo mínimo de

atuação é de 11 anos e nos dois grupos falta formação específica e preparo para

lidarem com a demanda da inclusão. Quando do momento da entrevista, fica

evidente pela fala das duas professoras de escola regular que a opção pelo

magistério foi determinada por circunstâncias externas, como falta de outras opções

ou por influência de familiares; por sua vez, as duas professoras de escola especial

aludem a convivência familiar ou pela presença na vizinhança com criança

deficiente. Nas duas professoras de escola regular, a forma como foram exercendo o

magistério e recebendo alunos com deficiência em suas salas foi circunstancial.

Já, as professoras de escola especial parecem ter escolhido a profissão pela carga

afetiva positiva que as motiva a se implicar com a educação das crianças com

necessidades especiais, e nela permanecer.

Pôde-se perceber como as professoras das escolas regular e especial se

justificam e se posicionam em relação às suas impressões e expectativas

profissionais, por um lado valorizam seu papel como educadoras, por outro se vêm

pouco reconhecidas e tendo que enfrentar muitas dificuldades no exercício da

profissão. Acredita-se que, assim, avançou-se na compreensão dos elementos que

constituem suas necessidades profissionais e pode-se compreender a subjetividade

expressa por cada uma delas e apreender como produzem variados sentidos sobre

a inclusão de alunos deficientes mentais em escolas regulares. A partir das

respostas ao questionário, depois reiteradas pelas entrevistas, apreende-se a falta

de critérios claros para o entendimento do que é a inclusão e do quanto ela implica

efetivamente no reconhecimento da necessidade da diversidade de propostas

educacionais dentro da escola. Assim, em relação ao segundo núcleo de

significação, estabelece-se uma distância entre “O ideal e o real do processo de

inclusão do aluno DM”, apreendidos a partir dos seguintes conteúdos analisados.

As professoras dos dois grupos oscilam quanto à obrigatoriedade de matrícula de

alunos especiais dentro da escola regular, ao mesmo tempo em que concordam,

também discordam, alegando faltar preparo e formação dos professores, espaço

físico adequado e material pedagógico e, assim, o aluno com DM nem sempre é

atendido em suas necessidades. Também são contrárias ao fechamento da escola

especial, pois vêm a medida como drástica e impensada, pois há casos que a escola

regular não tem condições de atender; as professoras de escola especial ainda

153

acrescentam fortes motivos afetivos como pesar e tristeza por esse fechamento. Em

ambos os grupos, a Sala de Atendimento Educacional Especializado – SAEE é vista

de maneira positiva, consideram a necessidade de mais profissionais especializados

e a importância desse espaço para garantir a inclusão e como apoio para a

professora da escola regular. Quanto ao atendimento por elas de alunos DM é vista

como positiva, desde que possam atender às especificidades desses alunos, uma

vez que o aluno tem necessidade de algo novo o que é um desafio ao professor.

Desta maneira, tanto as professoras da escola regular quanto às da escola especial,

embora acreditem que a inclusão seja um caminho aberto muito há de se fazer para

o aluno DM estar incluído, necessitando de maior qualidade, não só a socialização

para aprender dentro da escola.

Na continuidade da análise observa-se ainda oposição entre valorização e

desvalorização das possíveis parcerias que levariam ao efetivo processo de

desenvolvimento e de aprendizagem dos alunos DM, que parece estar relacionada

ao próprio sentimento de valorização/desvalorização pessoal e profissional. Incluem-

se nessas parcerias a família, os agentes de inclusão, os serviços de saúde da

comunidade, além da própria parceria entre a escola especial e os profissionais

especializados das SAEE das escolas regulares. A análise desses conteúdos

trazidos pelas participantes se sintetiza no núcleo de significação “Escola Especial

x SAEE: possibilidade de aprendizagem do aluno DM”. As professoras que têm

sentimentos de desvalorização mostram uma tendência em também desvalorizar

essas parcerias, apontando nelas aspectos negativos de falta de apoio e de

adequação, recaindo nelas mesmas a possibilidade de desenvolver as

aprendizagens dos alunos com DM. As que não desvalorizam, mostram expectativas

idealizadas sobre as contribuições dessas várias parcerias.

Quanto ao último núcleo de significação, “Fechamento da Escola Especial e

Alternativa de atendimento do DM” e, decorrente do anterior, as soluções

propostas pelas professoras participantes de escola regular vêm marcada pela

idealização, da necessidade de se estabelecerem parcerias no âmbito do poder

público, com a criação de redes de proteção na comunidade envolvendo diversos

setores interligados: da escola, da família e da saúde; ou de se estabelecerem

planos de atendimento do aluno DM nos dois âmbitos, da escola regular e da escola

especial. As duas professoras de escola especial entendem que está na própria

154

modificação da escola especial por meio de criação de oficinas especializadas e

atividades formadoras diferenciadas a solução para o atendimento do aluno com

necessidade especial. Nos dois casos, as professoras reconhecem que não há

interesse para essas soluções, uma vez que elas demandam investimento de

recursos e garantia de infraestrutura para o atendimento educacional especializado,

o que gera custos e não dá o retorno esperado por uma sociedade como a nossa,

na qual prevalece a expectativa de normalidade e produtividade.

Embora deva se considerar a limitação de uma pesquisa como esta, que

incluiu um universo reduzido de participantes, os resultados confirmam estudos de

outros autores, como os de Mendes, Almeida e Toyoda (2011) e de Zuchetti (2011) e

de Mantoan e Arantes (2006), que sugerem que há necessidade de mudanças

desafiadoras em relação à formação, preparo e desenvolvimento de novas atitudes

por parte de professores; em relação à escola, como desenvolvimento de recursos

pedagógicos, espaços, propostas educacionais, aumento do contingente de

professores especializados e formação de professores; para a garantia dos direitos

apregoados nas Políticas Públicas em forma de legislação pertinente e sua

concretização na prática.

O que foi constatado também através das narrativas das professoras

entrevistadas de escolas regular e especial foi o ingresso em suas salas de aula

desde o início da atuação profissional como professoras (18 e 23 anos na escola

regular e 13 e 28 anos na escola especial) de alunos com deficiência mental,

inclusive com suas próprias vivências pessoais. Percebe-se com isso que a escola

regular já vem matriculando alunos com deficiência mental há muito tempo, sendo

que nem todos possuem laudos médicos o que facilita para algumas e dificulta para

outras professoras a sua atuação, exigindo uma atuação diferenciada das mesmas.

Com relação ao fato acima mencionado, outro dado relevante se tornou

evidente, onde se pode observar que ao comparar o Censo de 2000 com o de 2010,

constata-se que houve um aumento significativo da população deficiente de 14,5%

ou 24,6 milhões, para 23,9% ou 45,6 milhões de indivíduos com algum tipo de

deficiência, em função da forma mais abrangente como a população brasileira foi

entrevistada, levando-se em consideração também as influências sociais ocorridas

nessa população. Com esse aumento do número de deficientes e em cumprimento

do Decreto 7611, que determina que todas as crianças deverão ser matriculadas na

155

escola regular, haverá a procurar cada vez maior por parte dos pais por novas

matrículas de seus filhos.

Essa entrada cada vez maior de alunos com deficiência mental permite notar

um crescente interesse em possibilitar a entrada e a permanência com qualidade

aos alunos com deficiência em escolas regulares, sendo este dado constatado

através do Censo de 2010, quando foi feita referência ao número de 218.271 alunos

matriculados com deficiência mental em escolas e classes especiais 484.382 de

alunos em classes regulares do ensino fundamental considerados como alunos

incluídos, fazendo parte das classes comuns onde pode ou não existir ainda o

atendimento educacional especializado.

Com isso nota-se nitidamente uma preocupação por parte do governo

ressalvada no Decreto 7611, que vai de encontro a algumas questões e

preocupações levantadas pelas professoras de escolas regular e especial tendo em

vista a proposta do ensino fundamental gratuito e compulsório com as adaptações

de acordo com as necessidades individuais, facilitando sua efetiva educação, apoio

das professoras especializadas em atendimento educacional especializado – AEE,

formação continuada de professores, para alunos com deficiência mental (deficiente

físico, auditivo e visual), a proposta de formação de gestores, educadores e demais

profissionais da escola para a educação na perspectiva da educação inclusiva,

particularmente na aprendizagem e na participação e na criação de vínculos

interpessoais, desta forma todas as profissionais da educação e não somente os

professores irão se preparar para essa transformação escolar e evolução da

educação inclusiva.

Ainda em relação às propostas feitas pelo Governo, temos a criação de uma

das Leis mais recentes que visam a inclusão, a Lei 12764, de dezembro de 2012,

propondo proteção à pessoa com transtorno do espectro autista que é atualmente

considerada pessoa com deficiência e o incentivo à formação e à capacitação de

profissionais especializados no atendimento a essa pessoa, bem como a pais e

responsáveis e nos casos de comprovada necessidade, esses alunos incluídos nas

classes comuns de ensino regular, terão direito a acompanhante especializado.

Atualmente as professoras de escolas regulares e especial já contam com a ajuda

do agente de inclusão, mas com sua atuação limitada pela sua formação

educacional que se atem as questões de higiene pessoal e alimentação.

156

O que foi observado ao longo da história da educação especial e da educação

inclusiva foi a implantação de várias Leis, Decretos e Resoluções com a finalidade

de garantir um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação

e com base na igualdade de oportunidade e também promover a educação inclusiva

de todas as pessoas com necessidades especiais, inclusive as que apresentam grau

de severidade acentuada em suas deficiências e também já se torna evidente a

preocupação com a formação continuada dos professores.

Desta forma, finalizo informando que as prerrogativas propostas pelas

políticas públicas tem ido ao encontro das necessidades das pessoas com

deficiência em geral e em particular as com deficiência mental, parecendo haver

ainda um longo caminho a ser percorrido até atingir o que essas pessoas precisam e

merecem para suas vidas.

157

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

Anexo 1 – Aprovação do Comitê de ética em Pesquisa do Centro Universitário

FIEO

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