incentivos fiscais e financeiros-fiscais -...

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FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM DIREITO INCENTIVOS FISCAIS E FINANCEIROS-FISCAIS: UMA ANÁLISE JURÍDICA SOB A ÓTICA DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O CASO FUNDAP (BRASIL 1988 – 2005) Ricardo Soneghet Batalha Campos dos Goytacazes – RJ 2005

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FACULDADE DE DIREITO DE CAMPOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

MESTRADO EM DIREITO

INCENTIVOS FISCAIS

E

FINANCEIROS-FISCAIS: UMA ANÁLISE JURÍDICA SOB A ÓTICA

DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O CASO FUNDAP

(BRASIL 1988 – 2005)

Ricardo Soneghet Batalha

Campos dos Goytacazes – RJ

2005

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Ricardo Soneghet Batalha

INCENTIVOS FISCAIS

E

FINANCEIROS-FISCAIS:

UMA ANÁLISE JURÍDICA SOB A ÓTICA

DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O CASO FUNDAP

(BRASIL 1988 – 2005)

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Direito da Faculdade de Direito

de Campos – RJ, como requisito básico para

a obtenção do título de Mestre em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Aurélio Pitanga Seixas Filho

Campos dos Goytacazes – RJ

2005

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Dedicatória

À minha amada mãe Clara, com quem

aprendi os valores da determinação, da

esperança e principalmente da fé.

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Agradecimentos

Aos meus queridos Mestres, professores

desta honrada instituição, dos quais me

orgulho profundamente de ter feito parte

de suas memoráveis lições de Direito e de

vida ao longo deste inesquecível curso de

Mestrado.

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RESUMO BATALHA, Ricardo Soneghet. Incentivos Fiscais e Financeiros-fiscais – Uma análise jurídica sob a ótica do desenvolvimento regional: o caso FUNDAP (BRASIL 1988 – 2005). 2005. 138 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito de Campos – RJ. 2005. O presente trabalho busca trazer a lume uma discussão aberta que ocorre na área do Direito Tributário e que confronta de forma loquaz diferentes posições acerca do tema. Trata-se da controvertida questão da distinção entre incentivos fiscais e incentivos financeiros-fiscais, onde buscar-se-á demonstrar que, sob o ponto de vista econômico, diminuição da carga tributária sobre as unidades empresariais produtivas são espécies do mesmo gênero. Sobre o FUNDAP – Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias, notadamente nosso estudo de caso, faremos uma descrição minuciosa a partir de seu funcionamento prático até a sua natureza jurídica. No que tange à extensão do trabalho e sua natureza de dissertação, é evidente que não se intentará a hercúlea tarefa de se esgotar o tema, nem, de forma definitiva, aplainar as desavenças que se espraiam sobre a matéria, conquanto irrestrito respeito às doutas divergências que inspiram a mesma. Palavras-chave: Direito Tributário; Incentivos Fiscais; Incentivos Financeiros-fiscais; Carga Tributária; FUNDAP.

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ABSTRACT

BATALHA, Ricardo Soneghet. Incentivos Fiscais e Financeiros-fiscais – Uma análise jurídica sob a ótica do desenvolvimento regional: o caso FUNDAP (BRASIL 1988 – 2005). 2005. 138 s. Text (Master’s Degree in Private Relations Law, Constitution and Business) – Faculdade de Direito de Campos. 2005. This study approaches the distinction between FISCAL INCENTIVES and FINANCIAL INCENTIVES looking for to demonstrate, starting from the Juridical relationships established with the state, federal being, representing some times as a simple civil creditor, other times as disclaiming to a fiscal income fully linked, that fundamental difference exists among these institutes under the aegis of the applicability of the same ones in face of the regional development and of the call FISCAL WAR. In this sense FUNDAP will be presented FOUND FOR THE DEVELOPMENT OF THE PORT ACTIVITIES OF ESPÍRITO SANTO, as study of case of the handling of the financial incentive as instrument of support of the constitutional beginning that it prioritizes the regional development.

Key-words: Fiscal Incentives; Financial Incentives; FUNDAP; Fiscal Income; Fiscal Law; Regional Development.

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1 – ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA CONSTITUCIONAL

TRIBUTÁRIO BRASILEIRO E DO ORÇAMENTO E OS DIREITOS

FUNDAMENTAIS...................................................................................................... 12

1.1 FUNDAMENTOS DO ESTADO E DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA ... 12

1.1.1 O sistema constitucional tributário brasileiro ...................................... 12

1.1.2 As funções fiscal e extrafiscal do tributo na Constituição ................... 16

1.1.3 Competência legislativa-tributária na Constituição ............................. 21

1.1.4 O papel do Estado no fomento do desenvolvimento .......................... 27

1.1.5 Receita pública e legitimação de despesas ........................................ 30

1.2 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A TRIBUTAÇÃO ............................. 33

1.2.1 O princípio da igualdade ..................................................................... 33

1.2.1.1 Aspectos históricos ............................................................................ 37

1.2.2 O direito à equalização regional com base no princípio

da igualdade .................................................................................................. 40

1.2.3 O princípio da legalidade .................................................................... 41

1.2.3.1 Aspectos históricos ............................................................................ 43

1.2.4 Tributação e distribuição de renda ...................................................... 46

1.2.4.1 A Constitucionalidade das Políticas distributivas intra-regionais

e o princípio Constitucional da redução das desigualdades sociais

e regionais ..................................................................................................... 48

1.2.5 Os privilégios odiosos ......................................................................... 53

CAPÍTULO 2 – OS CONCEITOS DE INCENTIVOS FISCAIS E INCENTIVOS

FINANCEIROS-FISCAIS ......................................................................................... 55

2.1 INCENTIVOS FISCAIS ............................................................................ 55

2.1.1 Conceito e Natureza Jurídica ................................................................ 55

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2.2 INCENTIVOS FINANCEIROS-FISCAIS .................................................. 62

2.2.1 Conceito e natureza jurídica ................................................................. 62

CAPÍTULO 3 - O FUNDAP ............................................................................... .......69

3.1 BREVE HISTÓRICO DO FUNDAP – FUNDO DE DESENVOLVIMENTO

DAS ATIVIDADES PORTUÁRIAS ................................................................. 70

3.1.1 O Surgimento da Lei do FUNDAP na década de 70: seus objetivos

e fins .............................................................................................................. 70

3.2 FUNDAP – FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

PORTUÁRIAS – FUNCIONAMENTO ............................................................ 72

3.2.1 Objetivos ............................................................................................... 73

3.2.2 Premissas básicas para operação no FUNDAP ................................... 73

3.3 ATIVIDADES NÃO FINANCIÁVEIS ......................................................... 74

3.4 CONDIÇÃO DOS FINANCIAMENTOS .................................................... 74

3.5 PRAZOS E ENCARGOS ......................................................................... 75

3.5.1 Prazos ................................................................................................... 75

3.5.2 Encargos ............................................................................................... 75

3.6 GARANTIAS ............................................................................................ 75

3.7 PENALIDADES .........................................................................................76

3.8 SOLICITAÇÃO OU RENOVAÇÃO DO REGISTRO ................................ 76

3.9 ICMS NAS OPERAÇÕES FUNDAP ....................................................... 77

3.10 SOLICITAÇÃO DE FINANCIAMENTO .................................................. 78

3.11 COMPROVAÇÃO DO RECOLHIMENTO DO ICMS ............................. 79

3.12 LIBERAÇÃO DOS FINANCIAMENTOS ................................................ 79

3.13 INVESTIMENTOS VINCULADOS AOS FINANCIAMENTOS ............... 81

3.14 LEILÃO FUNDAP .................................................................................. 82

3.15 OBJETIVO ............................................................................................. 83

3.15.1 Condições de participação ................................................................. 84

3.16 DIMENSÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO SISTEMA FUNDAP E SUA

CONTRIBUIÇÃO PARA A ECONOMIA DO ESPÍRITO

SANTO............................................................................................................ 84

3.16.1 O incentivo do sistema FUNDAP como alternativa ao carro-chefe da

economia capixaba: o mercado cafeeiro ....................................................... 87

3.16.1.1 Incentivo para os municípios ........................................................... 87

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3.17 ESTATÍSTICAS DO CRESCIMENTO DO ESTADO DO ESPÍRITO

SANTO NOS 32 ANOS DE EXISTÊNCIA DO SISTEMA FUNDAP .............. 88

3.18 A NATUREZA JURÍDICA DO INCENTIVO ORIUNDO DO SISTEMA

FUNDAP ........................................................................................................ 90

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 94

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 97

ANEXO A – LEGISLAÇÃO .................................................................................... 100

LEI N.º 2.508, de 22.05.70 ........................................................................... 101

LEI N.º 5.245, de 03.07.96 ........................................................................... 105

DECRETO N.º 163-N, de 15.07.71 .............................................................. 111

LEI N.º 6.668, de 15.06.2001 ....................................................................... 125

ANEXO B – TABELAS, GRÁFICOS E MAPA ...................................................... 128

TABELA 01 .................................................................................................. 129

TABELA 02 .................................................................................................. 131

TABELA 03 .................................................................................................. 133

TABELA 04 .................................................................................................. 134

TABELA 05 .................................................................................................. 135

TABELA 06 .................................................................................................. 136

Gráfico 01 – 1.º Semestre de 2004 ............................................................. 137

Gráfico 02 – 2.º Semestre de 2004 ............................................................. 137

Mapa ............................................................................................................138

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca trazer a lume uma discussão aberta que

ocorre na área do Direito Tributário e que confronta de forma loquaz diferentes

posições acerca do tema.

Trata-se da controvertida questão da distinção entre incentivos fiscais e

incentivos financeiros-fiscais, onde buscar-se-á demonstrar que, sob o ponto de vista

fático, diminuição da carga tributária sobre as unidades empresariais produtivas,

estes são espécies do mesmo gênero.

Sob o prisma microeconômico das entidades produtivas que deles se

beneficiam, estaríamos diante da redução de impostos, propiciando o atendimento

de princípios programáticos publicados na Constituição, especialmente nos arts. 3.º

e 170, que serão freqüentemente apresentados neste trabalho.

Por força do tema que abarcará um estudo de caso, notadamente o

FUNDAP – Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias, este deverá ser

necessariamente descrito, para que, a partir de seu funcionamento prático,

possamos aquilatar de sua natureza jurídica.

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Em virtude das questões que se impõem ao tema, em especial a da

legalidade e de princípios como o da igualdade tributária, com atenção virada para

que eventuais incentivos criados por lei não se constituam em privilégios odiosos,

que conspurcam o obrigatório tratamento eqüitativo entre contribuintes, estaremos

voltados para a natureza extrafiscal do tributo.

Esta função jurídica é, sem sombra de dúvida, essencial para que

resultados econômicos sejam alcançados, e não é errôneo afirmar, com fundamento

na pesquisa empreendida, que esta função constitui verdadeiro e real instrumento

de política econômica.

Em virtude da escolha da senda da extrafiscalidade será de grande

importância a abordagem da temática de natureza jurídico-econômica, não apenas

no que tange aos fatos, mas aos princípios desta natureza abarcados por nossa

Constituição, o que não é estranho para a ciência jurídica.

Na verdade, há uma imbricação epistemológica na matéria da

extrafiscalidade que é detectada como real conjunção metodológica entre a Ciência

do Direito e a Ciência Econômica, pois se a uma compete examinar e aquilatar de

sua funcionalidade Jurídico-Legal e a outra concorre da sua instrumentalidade

prática, obviamente que os resultados finais interessam a ambas.

No que concerne ao prisma jurídico, que por óbvio é o cerne deste

trabalho, estas espécies possuem, como demonstraremos, fundamentos e naturezas

jurídicas distintas, pois o incentivo fiscal puro opera pelo lado da Receita, via

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renúncia explícita à exação, sendo que o financeiro-fiscal, na maioria das vezes,

transita pelo lado da despesa, alocando rubricas orçamentárias para destinação de

recursos aos participantes de um determinado programa ou fundo, o que é o caso

específico do FUNDAP.

No que se refere à extensão do trabalho e sua natureza de dissertação,

é evidente que não se intentará a hercúlea tarefa de se esgotar o tema, nem, de

forma definitiva, aplainar as desavenças que se espraiam sobre a matéria,

conquanto irrestrito respeito às doutas divergências que inspiram a mesma.

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1 ASPECTOS RELEVANTES DO SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO

BRASILEIRO E DO ORÇAMENTO E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS

1.1 FUNDAMENTOS DO ESTADO E DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

1.1.1 O sistema constitucional tributário brasileiro

O estudo dos princípios constitucionais tributários demanda,

previamente, a compreensão de sistema, o seu conceito e suas subdivisões no

tocante ao sistema jurídico.

O conceito de sistema poderia inicialmente ser veiculado como um

conjunto harmônico de proposições unitárias, relacionadas entre si e voltadas para

um objetivo comum.

Desta forma, como o fenômeno do direito é um fenômeno de

linguagem, podemos trabalhar com o conceito de sistema enquanto conjunto de

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elementos unitários, proposições unitárias e o seu complexo de relações que, por

interagir, permite a completude do sistema.

Assim, não é falso afirmar que existe uma intrínseca relação entre

sistema, ordem e linguagem, que, na definição de JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA

FONSECA1 seria conclusão de que “O estudo de uma ordem jurídica leva

necessariamente à visão do Direito como fenômeno cultural e mais especificamente

como fenômeno de linguagem”.

Acrescente-se a esta contribuição que esta linguagem, conquanto

positivada, é a manifestação da própria Lei que, apropriada em seu conjunto,

constituir-se-ia no sistema.

Por esta visão macroscópica, conjunto de leis em aposição harmônica

formando um sistema, temos que dada a diversidade ínsita à nossa tradição jurídica

romano-germânica, esta, em sua complexidade, formaria volumes cada vez maiores

de informações (linguagem), que se agregariam naturalmente dentro de sistemas.

Não se pode confundir o exposto com idéia de subsistemas, posto que

aceito o conceito de “sub”, estaríamos admitindo uma hierarquização valorativa dos

sistemas jurídicos integrantes do todo. O que no prisma jurídico seria impensável,

uma vez que o contexto é admitido apenas enquanto forma operativa.

1 LEOPOLDINO DA FONSECA, João Bosco. Direito Econômico. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 47.

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Sendo assim, o fato de existir um Sistema Constitucional superior

operando a harmonização de toda a legislação, não autoriza a apreciação de que as

normas cíveis, criminais ou administrativas, por exemplo, seriam, sob o ponto de

vista valorativo, subsistemas inferiorizados. O que, de fato, são sistemas dentro do

sistema, em face da especialização de cada um dos matizes de Direito.

Neste sentido, absolutamente pertinente a lição de PAULO DE

BARROS DE CARVALHO2, que assevera:

Se pudermos reunir todos os textos do direito positivo em vigor no Brasil, desde a Constituição Federal até os mais singelos atos infralegais, teremos diante de nós um conjunto integrado por elementos que se inter-relacionam, formando um sistema.

A distinção supra encontra imediata conexão com a idéia de um

sistema constitucional hierarquizado de cima para baixo, no que toca aos comandos

gerais, sem compromisso com a já aludida valoração subjetiva dos sistemas legais

integrativos da pirâmide, que seria para PAULO BONAVIDES3 o seguinte:

O sistema constitucional teria por conteúdo, primeiro, a Constituição propriamente dita, segundo, as leis complementares previstas pela Constituição, terceiro, todas as leis ordinárias que, do ponto de vista material, se possam reputar constitucionais, embora não estejam no texto da Constituição formal.

Ocorre que a tipologia de nossa Carta Matriz, que se assenta em um

modelo descritivo e minucioso das mais diferentes manifestações das relações

jurídicas (efetivamente lá capitulada), cria uma verdadeira e real pinacoteca legal,

onde cada quadro nos leva a um real sistema individualizado dentro do conjunto de

regras e comandos legais positivados, que é nossa Mater Legis.

2 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 13. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 10. 3 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 81.

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Essa minudente (e capitulada) descrição dos sistemas legais

transportou ao fenômeno da constitucionalização de Direitos em ramos que

tradicionalmente não encontravam ali sua origem, senão apenas esteio, como o

Direito Civil.

Inegável então que, diante deste caráter, o Direito Tributário –

historicamente um Direito que sempre encontrou ali a sua origem, em face de sua

explícita tipologia de proteção a conquistas que remetem às origens do

constitucionalismo, como a legalidade estrita do tributo – tivesse evidenciado a

criação de um real e constitucional sistema.

Assim, as regras de índole tributária que se encontram estampadas na

Constituição formam o que tradicionalmente é denominado SISTEMA

CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO, por ser ao mesmo tempo a origem objetiva de

regras Tributárias, pois, nossa constituição não apenas descreve competências, mas

também institui objetivamente Tributos e igualmente esteio primitivo da legalidade

das regras alocadas abaixo do Sistema Tributário.

Com efeito, de forma precisa e objetiva, ROQUE ANTONIO CARRAZA4

descreve:

A Constituição, como já vimos, é a base de todo nosso Direito Público, notadamente de nosso Direito Tributário. De fato, no Brasil, por força de uma série de particularidades, as normas tributárias são, por assim dizer, o corolário dos princípios fundamentais consagrados na Lei Maior.

4 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 41.

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Como se pode constatar, a noção de Sistema é ínsita à idéia de

funcionalidade da ordem Jurídica, in casu, Jurídico-Tributária.

1.1.2 As funções fiscal e extrafiscal do tributo na Constituição

Função fiscal é a função do tributo, que tem por principal objetivo

promover a arrecadação de recursos financeiros para o Estado. Função extrafiscal é

a função atribuída ao tributo, pelo qual o Estado visa interferir no domínio

econômico. Isto não quer dizer que este não arrecade recursos para o Estado. Os

recursos são conseqüências da existência do tributo. No entanto, para ter função

extrafiscal, o tributo tem de ser criado, principalmente, para interferir no domínio

econômico.

A questão de saber se o tributo deve ter apenas função fiscal, ou

arrecadatória, ou se deve ter função extrafiscal, prestando-se como instrumento de

intervenção no domínio econômico, é uma discussão aparentemente de pouca

utilidade prática para a ciência jurídica, estando mais adstrita à interpretação

econômica dos resultados do pagamento das exações tributárias. O fato é que todo

o tributo, direta ou indiretamente, espraia seus resultados no domínio econômico,

seja de forma objetiva, como o IPI, Imposto sobre produtos industrializados, com sua

seletividade e resultados evidentes em termos de política industrial, seja o imposto

sobre a renda, que em nosso país influi diretamente sobre o volume da massa

salarial disponível para consumo e poupança.

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Neste sentido, a disciplina Jurídico-Tributária enquanto ramo do Direito

e a economia se encontram com especial interesse na matéria Tributo, em face de

sua assunção como objeto de interesse às questões fiscais, o que, para RICARDO

LOBO TORRES5 seria – inclusive – uma necessidade epistemológica desta,

aludindo:

Intuitivo que assumindo a Economia a postura de ciência valorativa, teria que se abrir à pesquisa interdisciplinar e se relacionar mais estreitamente com o direito, até como conseqüência da superação da dicotomia antes existente no plano objetivo entre Direito e Economia ou da consideração daquele como superestrutura desta. É assunto dos nossos dias o estudo da Teoria Econômica do Direito, que desborda o método e o objetivo da Teoria Jurídica da Economia.

Assim, a questão da extrafiscalidade do Tributo assume extraordinário

sentido comum para ambas as disciplinas por possuir inegável matiz jurídico e

evidente instrumentalidade econômica.

E RICARDO LOBO TORRES6 prossegue, ensinando que:

Desde os problemas especificamente econômicos, como os da extrafiscalidade, do desenvolvimento e dos impostos conjunturais, passando pelos temas gerais do federalismo fiscal, do sistema tributário, da redistribuição de rendas, até as perguntas básicas sobre a legitimidade e a reforma da Constituição Financeira, tudo depende da integração e do relacionamento entre as duas disciplinas.

Extrafiscalidade é então o emprego dos instrumentos (por quem os

tenha à disposição), com finalidade de não apenas auferir receita para os cofres

públicos, mas de disciplinar comportamentos, “tendo em vista alcançar objetivos

econômicos ou sociais". Igualmente, os ensinamentos de HUGO DE BRITO

5 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 12. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 28. 6 Id., ibid.

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MACHADO7 ao delimitar seu objetivo na interferência no domínio econômico,

buscando um efeito diverso da simples arrecadação de recursos financeiros:

A função das contribuições sociais, em face da vigente Constituição, decididamente não é a de suprir o Tesouro Nacional de recursos financeiros. Neste sentido pode-se dizer que tais contribuições têm função parafiscal, algumas, e extrafiscal, outras. As contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas, bem como as contribuições de seguridade social, ostentam nítida função parafiscal (...). As contribuições de intervenção no domínio econômico, por seu turno, vinculam-se ao órgão do Poder Público incumbido de desenvolver ações intervencionistas, ou de administrar fundos decorrentes da intervenção estatal na economia.

Em igual sentido, como indutora de comportamentos e direcionamento

de decisões, podemos coligir a lição de AURÉLIO PITANGA SEIXAS FILHO8, que

aduz:

[...] o legislador aproveita uma possível redução na carga tributária do contribuinte para induzi-lo (incentivá-lo) a fazer uma determinada atividade, preenchendo dessa forma uma função relevante na sociedade, que, sem a isenção extrafiscal, não seria feita, pelo menos, naquele momento.

Observa-se então que a exação tributária não possui o condão de

apenas suprir os cofres públicos dos recursos necessários para as tarefas

administrativas. Ela possui, com efeito, natureza de instrumento de intervenção no

domínio econômico, buscando, portanto, resultados que sejam previamente

deliberados como forma de decisão de políticas públicas.

Neste aspecto é na função extrafiscal onde o tributo desempenha,

aparentemente, um ofício extrajurídico, não especificamente legalista, mas também

espargindo seus efeitos para além das simples considerações acerca da natureza

Jurídica do Tributo, não se constituindo, porém, a despeito dos efeitos desta função,

em uma atividade não jurídica.

7 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 49. 8 SEIXAS FILHO, Aurélio Pitanga. Teoria e Prática das Isenções Tributárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 114.

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Ocorre que, muitas das vezes, as conseqüências do uso extrafiscal do

tributo são absolutamente jurídicas, posto que em total sintonia com o comando do

sistema constitucional, como descreveremos em capítulo próprio.

Não obstante tal fato, inexorável que a função arrecadatória pura e

simples, como sendo a atividade plenamente vinculada de exigência da exação

fiscal, constitui-se na alma da apreciação do tributo enquanto categoria Jurídica

pura.

Explicando mais objetivamente, a função fiscal do Tributo é a

manifestação mais profunda de sua apropriação como categoria do Direito, pois a

operação de cobrança, orientação, fiscalização é toda vinculada ao ordenamento,

não importando para a administração as conseqüências do pagamento do tributo em

si, mas sim sua legalidade.

O Mestre AURÉLIO PITANGA SEIXAS FILHO9 resume de forma

relevante os elementos permeáveis desta função, asseverando:

Na medida em que as pessoas estão sujeitas ao cumprimento de um dever legal, o órgão administrativo com atribuição sobre esse dever legal tem o correspectivo dever legal de exigir o seu cumprimento. O Fisco tem o dever legal de exigir que o contribuinte pague o devido, podendo, para o exercício dessa função, utilizar poderes que são derivados e próprios da norma jurídica.

Temos então, na função fiscal, a manifestação da relação Jurídico-

tributária de per si sendo aquela que se desenvolve entre os Administrados-

9 SEIXAS FILHO, Aurélio Pitanga. Princípios Fundamentais do Direito Administrativo Tributário: (A função fiscal). 2. ed., 4. t. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 5.

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contribuintes e o Estado que necessita dos recursos gerados por estes para o

funcionamento da máquina estatal.

Ainda na lição do citado Mestre AURÉLIO PITANGA SEIXAS FILHO10,

depreende-se a explicitação deste fenômeno jurídico:

Necessitando o Estado de obter receita para custeio de suas atividades, impõe, através de norma jurídica, a determinados cidadãos, o dever de pagar uma quantia em dinheiro, desde que pratiquem determinados fatos devidamente especificados na lei impositiva.

Assim, a função fiscal é a espécie de função que em um critério

valorativo objetivo interessa ao Direito Tributário, sendo seu substrato especial e

principal de estudo, o que estampa SACHA CALMON NAVARRO COÊLHO11,

aduzindo que: “Importante é o momento da imposição; o motivo jurídico da

percepção do gravame pelo Estado. Tributo é prestação pecuniária imposta aos

particulares, isto é sério, seriíssimo.”

Como podemos observar na afirmação supra, o Tributo em si possui

duas funções diferenciadas, possuindo, ambas, fundo e fundamento jurídicos, a

despeito da evidente diferença entre as mesmas, em especial na forma de

abordagem destas perante a norma.

10 SEIXAS FILHO, Aurélio Pitanga. Teoria e Prática das Isenções Tributárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 1. 11 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Teoria Geral do Tributo, da Interpretação e da Exoneração Tributária. 3. ed. São Paulo: Dialética, 2003, p. 92.

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1.1.3 Competência legislativa-tributária na Constituição

A competência tributária apenas pode ser exercida mediante a lei,

conforme o princípio da legalidade tributária. Com efeito, ROQUE ANTONIO

CARRAZA12 esclarece:

Competência tributária é a aptidão para criar, in abstracto, tributos. No Brasil, por injunção do princípio da legalidade, os tributos são criados, in abstracto, por meio de lei (art. 150, I, da CF), que deve descrever todos os elementos essenciais da norma jurídica tributária.

Neste sentido, não é equivocado afirmar que a idéia de Competência

Tributária derivando da lei estaria inserida à idéia de Estado Soberano, aquele que

se legitima para exigir a exação e, no caso brasileiro, se corporifica no

estabelecimento do Estado Federativo, princípio pétreo da Carta Matriz.

A organização estatal na forma federativa, possuindo sua gênese na

Carta Constitucional, incorpora subjetivamente não apenas a idéia de distribuição

dos poderes de competência das espécies tributárias, mas também a imutabilidade

da ordem federativa.

O conceito federativo, apropriado por nossa ordem histórico-

constitucional, possui grau elevado de complexidade operativa, seja no plano

político, seja no plano jurídico, conforme destacada lição de CELSO RIBEIRO

BASTOS13, que conceitua:

INCLUIR A CITAÇÃO E UMA PÁGINA SOMENTE, INCLUINDO MAIS UMA FRASE..ESPAÇO A Federação é, igualmente, a forma mais sofisticada de se organizar o poder dentro do Estado. Ela implica uma repartição delicada de

12 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 328. 13 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 217.

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competências entre o órgão do poder central, denominado “União”, e as expressões das organizações regionais, mais freqüentemente conhecidas por “Estados-Membros”.

Desta partição resulta uma estratificação de competências, que

derivadas da Constituição fundadora do Estado, possuem grau elevado de

imutabilidade, onde o já citado Mestre CELSO RIBEIRO BASTOS14 alude: “Essa

partilha de competência entre a União e os Estados é bastante rígida, visto que se

apresenta esculpida na própria Constituição Federal, razão pela qual nem por

intermédio de emenda à Constituição pode ser alterada.”

A constatação da imutabilidade da estrutura federativa do estado

nacional é encerrada de forma taxativa por ROQUE ANTONIO CARRAZA15, que

assevera: “enquanto a atual Constituição estiver irradiando efeitos, é

terminantemente proibida proposta de emenda constitucional que, ainda que por via

transversa, colime suprimir ou modificar nossa Federação.”

Se por um lado a Federação é um pacto que, em seu cerne, preceitua

a constituição e existência dos Estados-Membros – e é estruturada fática e

legalmente de forma a não existir possibilidade de mutação – por outro, a partição

dos resultados da carga Tributária geral torna-se extremamente dinâmica no caso

brasileiro e deriva de uma estrutura de cooperação entre Estados-Membros, Distrito

Federal e municípios, sob a coordenação da União que, por força da Constituição,

possui o poder geral de instituir as espécies tributárias por meio do Congresso

Nacional.

14 Id., ibid. 15 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 108.

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Assim sendo, o Estado brasileiro admite a outorga de competências

gerais à União para legislar com foros de obrigatoriedade para os demais entes,

sobre uma vasta gama de matérias. Tal modo de proceder empresta, segundo

valoração feita pelo próprio constituinte originário, uniformidade àquelas matérias,

sobre apresentar agilização na adoção de medidas prescritivas, dentro daquela

generalidade, e da atribuição ao ente político de maior amplitude, da condução da

política legislativa macro a ser veiculada naquelas normas gerais.

A visão geral aqui apresentada se coaduna com a idéia de dar

uniformidade e, sobretudo, organicidade ao sistema tributário, visando – a partir do

trato federativo originário, verberado pelos órgãos representativos dos agentes

políticos da União, seja da massa de contribuintes, Câmara dos Deputados, seja dos

entes políticos, Senado – se possa construir e fazer funcionar um sistema lógico.

Esta almejada funcionalidade se espraia não apenas no que tange à

função fiscal em si, mas também na já descrita função extrafiscal. Ela não será

buscada apenas no aspecto meramente arrecadatório, estando esta também

adstrita às políticas públicas necessárias à implementação dos comandos

constitucionais que determinam, por exemplo, a necessária intervenção do Estado

na supressão das desigualdades regionais, fundamento da ordem econômica e

social, vis-à-vis, o art 170, inciso VII da Constituição Federal de 1988.

Deste modo, a consolidação de um sistema de Competências na forma

adotada em nosso ordenamento Constitucional deve, necessariamente, incorporar

não apenas uma visão de sua funcionalidade arrecadatória, mas também a sua

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função de gerador de recursos para implementação das demais responsabilidades

adunadas pela ordem econômica, fundada pela nossa Carta Magna.

De forma dialética, temos que as competências tributárias indicadas na

Constituição devem ser tratadas não apenas como indicativos dos poderes de cada

ente federativo na instituição e cobrança dos tributos.

Deve-se também considerar a extrafiscalidade inata à natureza das

diferentes espécies tributárias criadas por estas mesmas competências ao instituir

as exações. Apropriada esta questão em silogística interpretação com os deveres

derivados da ordem econômica para os entes federativos, nos defrontaremos com o

dever que tem o Estado, lato sensu, em, ao instituir e cobrar a exação, o fazê-lo

sempre buscando o cumprimento dos deveres estatuídos na Constituição Federal.

A visão externada, na opinião do Professor FERNANDO AURELIO

ZILVETI16, fornece, com uma abordagem bem objetiva, o encadeamento do padrão

Tributário extrafiscal e a necessidade de se adunar a atividade estatal às regras do

padrão Constitucional:

Por meio da extrafiscalidade, o Estado pratica a justiça social, não necessariamente a justiça fiscal. Pode desenvolver suas políticas setoriais para atingir as mais diversas atividades do cidadão, mesmo sem conteúdo econômico, sempre que sua intervenção se faça necessária.

Sem adentrar-se na enumeração específica das competências

estampadas na Constituição, a partição tradicional das competências Tributárias

pode e deve ser apreciada, a partir do papel de coordenação inicial da União, como

16 ZILVETI, Fernando Aurelio. Princípios de Direito Tributário e a Capacidade Contributiva. São Paulo: Quartier Latin, 2004, p. 190.

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a distribuição das possibilidades arrecadatórias, por meio das diferentes espécies

tributárias, almejando o conteúdo não apenas finalístico da norma, mas também a

consecução dos objetivos maiores da ordem econômica, na qual se funda o Estado

nacional e do qual cada ente político é caudatário.

Definitivamente, com referência às intenções do legislador, este

“persegue, em primeiro plano, finalidades de política econômica ou política social,

normas indutoras de relevante importância para a Administração”, no sentir de

FERNANDO AURELIO ZILVETI17.

Como se pode observar, aditivamente ao que determinam as

Competências Tributárias, legitimados se encontram os entes da Administração

para, dentro dos parâmetros e contrafreios que a própria Constituição Federal impõe

utilizar de sua competência tributária para, dentro do conceito de extrafiscalidade,

buscar os meios de intervir e tornar a ordem econômica mais justa, anseio explícito

do poder derivado18.

Sob esta ótica, temos a eficiência do próprio sistema Constitucional

como controle, pois a utilização voluntarista e em confronto com os princípios legais

e constitucionais encontra no plano fático a possibilidade de intervenção do

17 ZILVETI, Fernando Aurelio, op. cit., p. 192. 18 Segundo RONALDO POLETTI, não houve, portanto, qualquer Poder Constituinte “originário”, porém e tão-somente o “derivado”, i. é, o que já havia, atribuído ao Congresso, antes da citada Emenda Constitucional n. 26. POLETTI, Ronaldo Rebello de Brito. Controle da Constitucionalidade das Leis. 2. ed., 7. t. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 89.

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Supremo Tribunal Federal, órgão que efetiva o Controle da Constitucionalidade das

Leis no seu aspecto formal19.

Cite-se como exemplo a utilizada progressividade de IPTU pelo

município do Rio de Janeiro, que foi reputada inconstitucional pelo STF20, que

impediu, por força dos princípios gerais adstritos a essa espécie tributária, a

aplicação de uma principiologia que, em tese, buscava configurar um critério de

justiça tributária, ao criar alíquotas diferenciadas dependendo da localização do

imóvel.

Como visto, as competências Tributárias na Constituição e seus

próprios controles propiciam que os entes federativos, dentro de um enfoque

sistêmico e devidamente apropriado dos princípios gerais do Direito Tributário, se

protejam dos elementos constitutivos de cada tributo, visando não apenas lhes dar o

caráter de função meramente arrecadatória, mas também os objetivos consagrados

na ordem econômica.

19 Conforme leciona BONAVIDES: “O controle formal é, por excelência, um controle estritamente jurídico. Confere ao órgão que o exerce a competência de examinar se as leis foram elaboradas de conformidade com a Constituição, se houve correta observância das formas estatuídas, se a regra normativa não fere uma competência deferida constitucionalmente a um dos poderes, enfim, se a obra do legislador ordinário não contravém preceitos constitucionais pertinentes à organização técnica dos poderes ou às relações horizontais e verticais desses poderes, bem como dos ordenamentos estatais respectivos, como sói acontecer nos sistemas de organização federativa do Estado.” BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 268. 20 Súmula n. 668 – “É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana”.

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1.1.4 O papel do Estado no fomento do desenvolvimento

A Constituição da República institui como objetivo básico da existência

do próprio Estado brasileiro que este busque a erradicação da pobreza e a

diminuição das desigualdades regionais21.

A permanente perseguição a este estatuto deve nortear a atividade do

administrador público, seja de que instância de poder este for, e independente de

qual ente federativo este se localizar.

Por se tratar de fundamento pétreo da fundação de nosso Estado, não

é exagero afirmar que este deve ser um dos nortes da administração.

É evidente que esta responsabilidade, este poder-dever, cresce

conforme vamos alçando os degraus da pirâmide da estruturação administrativa da

Federação Brasileira, podendo menos o município e muito mais a União Federal.

Estamos diante de verdadeiro princípio constitucional, que deve ser

apreciado e interpretado em harmonia com a ordem e o Sistema Tributário

Constitucional descrito supra, pois, neste diapasão o Estado, lato sensu, deve ser

apropriado como um agente econômico, o que é irrefutável, em face das

caracterizações de fiscalidade e extrafiscalidade das categorias tributárias, e suas

conseqüências na ordem econômica.

21 CF/88: “Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; (...)”

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Esta principiologia necessária, fincada nas disposições iniciais da Carta

Constitucional e descrita minuciosamente no capítulo da ordem econômica22, é o

corolário teleológico dos capítulos anteriores, que disciplinam a Ordem Tributária e a

Ordem Financeira, conhecendo, obviamente o Constituinte, que sem atividade

econômica não há tributo, nem ao menos Estado.

JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA23 alude de forma clara

sobre a principiologia básica que, adiante, dará suporte à constatação de que o

Estado quando tributa o faz não apenas como agente político – Função Fiscal – mas

também como agente Econômico – Função Extrafiscal – agindo e interagindo com o

mercado econômico, amoldando e norteando o mesmo em direção às políticas

públicas desejáveis. Leciona o Mestre:

O art. 170 traça a estrutura geral do ordenamento jurídico econômico. Este tem como fundamento a valorização do trabalho humano e a livre iniciativa.

Aceitos tais fundamentos, a Constituição estabelece a finalidade de toda a atuação através de políticas econômicas, qual seja a de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social.

A idéia de Justiça surge aqui não como uma abstração, mas como um

comando concreto a ser efetivado pela atuação do Estado, seja ele de qualquer

instância ou escala no poder da República, ressaltada a primazia da União por força

da já citada estrutura federativa.

22 “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) VII – redução das desigualdades regionais e sociais; (...)” 23 LEOPOLDINO DA FONSECA, João Bosco. Direito Econômico. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 87.

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Ainda JOÃO BOSCO LEOPOLDINO DA FONSECA24, direcionando

para o princípio que ora se deseja ressaltar, o da diminuição das desigualdades

regionais e sociais, aduz o seguinte:

Também esse princípio da ordem econômica e financeira está em sintonia com os objetivos estabelecidos no art. 3.º da Constituição, que preconiza a erradicação da pobreza e a marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais, bem como ainda a promoção do bem de todos, dentro de um quadro de garantia do desenvolvimento de âmbito nacional. A Declaração do Rio, no Princípio 5, impõe a necessidade de se eliminar as diferenças de desenvolvimento. Diz este princípio: “Princípio 5 Todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, devem cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, de forma a reduzir as disparidades nos padrões de vida e melhor atender as necessidades da maioria da população do mundo.”

Como podemos observar há um comando expresso, estampado no

princípio acima, para que os agentes públicos persigam os objetivos, sendo que por

outro lado inexiste alusão a que seja este ou aquele o ente Federativo imiscuído de

tal mister, sendo então que deparamo-nos não apenas com a possibilidade, mas

com a consistência Jurídico-Constitucional de que as demais instâncias de poder

(Estados, DF e municípios) dentro das limitações estabelecidas na própria Carta

efetivem sua intervenção neste plano, respeitadas as limitações derivadas do

próprio sistema, no caso, a atuação extrafiscal da cobrança do tributo.

Portanto, a juridicidade destas intervenções possui estribo no que a

própria Constituição determina como forma de atuar, visando a diminuição das

desigualdades sociais e regionais, observando sempre as limitações legais

derivadas das competências constitucionalmente estabelecidas.

24 LEOPOLDINO DA FONSECA, João Bosco, op. cit, p. 93-94.

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1.1.5 Receita pública e legitimação de despesas

O enfoque dado às noções sobre os princípios gerais que

consubstanciam o interesse do presente trabalho logrou indicar que, no que tange à

Receita Pública geral e plenamente vinculada derivada das mais diferentes espécies

tributárias, possui, dentro das características apontadas, o condão de efetivar os

aportes necessários à efetivação dos objetivos da Administração.

Neste sentido, os Tributos em geral fornecem a maior parte dos

recursos necessários ao funcionamento do Estado, constituindo-se em sua principal

receita.

Observa-se então que, sob o ponto de vista epistemológico, a noção

de Tributo é contida obviamente pelo Direito Financeiro, interessando a esta

disciplina o seu aspecto de exação enquanto possibilidade de se firmar a Receita

Pública. Não serve, contudo, para a matéria, o aspecto da natureza do Tributo, sua

juridicidade ou não perante o ordenamento, mas sua eficácia arrecadatória.

Para RICARDO LOBO TORRES25 o Direito Financeiro pode ser

conceituado como:

[...] um conjunto de normas e princípios que regulam a atividade financeira. Incumbe-lhe disciplinar a constituição e a gestão da fazenda pública, estabelecendo as regras e procedimentos para obtenção da receita pública e a realização dos gastos necessários à consecução dos objetivos do Estado.

25 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 12. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 12.

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Este aspecto de realização dos gastos necessários ao cumprimento

dos objetivos do Estado é de sobeja importância para o entendimento do caso ora

em estudo e dos elementos que deste se quer focar.

A principiologia inicialmente adotada, e que possuirá seu seguimento

adiante, possui todo o seu apoio de fundamentação no Direito Tributário, que na

verdade é uma espécie, com aguda especialização em direção da análise da

categoria Tributo, lato sensu, do Direito Financeiro.

ROBERTO WAGNER LIMA NOGUEIRA26, em relevante trabalho sobre

a matéria, alude que:

O Direito Financeiro e o Tributário são estudados como ramos autônomos apenas com vistas a facilitar a compreensão do objeto, são critérios classificatórios, no entanto, não podemos olvidar que não pode existir regra jurídica independente da totalidade do sistema jurídico.

Como é possível depreender não existe distinção segura e autonomia

válida entre as disciplinas, articulando-se apenas uma separação meramente

didática.

Desta maneira e pela própria natureza integrativa do Direito, os

aspectos ligados ao presente estudo de caso derivam da natureza híbrida do

instituto-gênero Incentivo, seja ele fiscal ou financeiro-fiscal, espraiando sua

fundamentação lógico-formal e legal para diferentes áreas do Direito, e não apenas

junto ao Direito Tributário.

26 NOGUEIRA, Roberto Wagner Lima. Direito Financeiro e Justiça Tributária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 12.

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O pano de fundo deste trabalho, iniciado com a descrição do sistema

Tributário-Constitucional, para apontar as responsabilidades do Estado no fomento

do desenvolvimento, e na presente indicação dos aspectos de Direito Financeiro,

funda-se na exata pluralidade de fundamentos que acompanham os princípios

jurídicos nos tempos atuais.

Na verdade, essa multiplicidade de aspectos deriva da própria natureza

dogmática da Constituição, chamada de cidadã por Ulisses Guimarães, que institui

Direitos e aponta deveres ao Estado, todos eles derivados de uma ambição de bem-

estar social.

Assim, a disciplina Jurídico-Tributária, no dizer de ROBERTO

WAGNER LIMA NOGUEIRA27, caminha para que:

Temas como o da justiça fiscal, da redistribuição de rendas, do federalismo financeiro, da moralidade nos gastos públicos voltem a ser examinados sob a perspectiva da Ética, Ética Tributária, da Filosofia Política e da Teoria da Justiça que recuperam seu prestígio na pós-modernidade.

Esta característica pós-moderna das categorias de Direito Tributário,

em especial os institutos ora estudados em sua complexa estrutura, é a própria

manifestação do que, em prosseguimento, o citado Professor ROBERTO WAGNER

LIMA NOGUEIRA 28 alude:

Na pós-modernidade prevalece o complexo, o híbrido, o plural, logo, tanto o direito tributário quanto o financeiro dialogam entre si, para juntos, declararem a justeza ou não dos valores arrecadados e gastos a título de despesas públicas. Daí porque ressai forte no pós-positivismo o Princípio Constitucional do Justo Gasto do Tributo Afetado (que mais adiante será trabalhado), princípio este que transita à vontade em ambas searas, sem

27 NOGUEIRA, Roberto Wagner Lima. Direito Financeiro e Justiça Tributária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 13. 28 NOGUEIRA, Roberto Wagner Lima, op. cit., p. 13-14.

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qualquer pretensão à exclusividade de ramo, senão apenas o forte desejo de dar eficácia ao princípio maior da Justiça Tributária.

Constitui então princípio geral de Direito Financeiro-Tributário o justo

gasto, sendo que indubitavelmente a idéia estampada na Constituição de

equalização das desigualdades regionais, já abordada, é conseqüência natural de

uma apropriação justa, de uma visão sobre as categorias ora em estudo de forma a

conduzi-las a uma apropriação que lhes robusteça a Juridicidade.

Desta forma, apontada em orçamento despesas que caminhem na

direção dos fins almejados pela Constituição de diminuição de desigualdades

regionais, corporifica-se a juridicidade e consistência deste perante os princípios

gerais ora em exame.

1.2 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A TRIBUTAÇÃO

1.2.1 O princípio da igualdade

O princípio da igualdade vem expresso no art. 5.º da Constituição

brasileira29 e pode ser considerado o sustentáculo de todo o nosso sistema Jurídico-

legal, fundando que está a própria noção de democracia que permeia o desejo de

um Estado ideal.

O título que trata dos direitos e garantias fundamentais do cidadão – no

caput do art. 5.º da nossa Carta Magna – denota a importância deste princípio,

29 "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”

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revelando o seu conteúdo valorativo de princípio diretriz de nosso ordenamento

jurídico.

Importa ressaltar que a idéia de igualdade estampada na Constituição

não é meramente formal, no aspecto de consideração subjetiva desta como pilar

para a construção da estrutura legal, sendo então, neste aspecto, um princípio geral

da ordem legal, como assevera MANOEL MESSIAS PEIXINHO30: “Os princípios

fundamentais se identificam com os valores supremos previstos em todas as

constituições, expressos em valores culturais, poéticos que se traduzem nas

intenções que formam o núcleo material da Constituição.”

Estes princípios se aplicam à esfera tributária de modo integral, sendo,

inclusive, inspiradores de alguns princípios constitucionais tributários, como o

princípio da capacidade contributiva e, no dizer de ROQUE ANTONIO CARRAZA31,

a norma tributária deve pautar-se sempre sob este aspecto:

A lei tributária deve ser igual para todos e a todos deve ser aplicada com igualdade. Melhor expondo, quem está na mesma situação jurídica deve receber o mesmo tratamento tributário. Será inconstitucional – por burla ao princípio republicano e ao da isonomia – a lei tributária que selecione pessoas, para submetê-las a regras peculiares, que não alcançam outras, ocupantes de idênticas posições jurídicas.

A idéia de igualdade é definitivamente um pilar de nosso estado

Democrático de Direito. Ela não deve ser apropriada apenas com olhares

subjetivistas e formais de estabelecimento de parâmetro para a construção

normativa.

30 PEIXINHO, Manoel Messias. A Interpretação da Constituição e os Princípios Fundamentais – Elementos para uma Hermenêutica Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 112. 31 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 59.

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Pensamos que a idéia de igualdade inserida na norma deve ser

visualizada como um objetivo a ser perseguido para a consecução dos próprios

deveres impostos ao Estado na Constituição da República.

A visão simplista afasta a idéia de que a igualdade seria mero discurso

vazio, desviado da ação ou, como bem assevera DANIELA RIBEIRO DE

GUSMÃO32: “A máxima ‘todos os homens são iguais’ só encontra sentido se as

desigualdades fáticas existentes entre os entes forem abstraídas, com intuito de

equipará-los em algum sentido ou em relação a um critério previamente

determinado.”

Sendo assim, os critérios adequados à apreciação ao discurso buscam

sua determinação em uma atuação proativa do ente estatal na busca da igualdade

na sua categoria material.

Não podemos negar que a igualdade material – seja entre cidadãos,

seja entre entes federativos – possui em si uma impossibilidade intrínseca.

Ocorre que sua mera perseguição, como ideal político por si só, já

garante uma sinergia estabilizadora das desigualdades, concorrendo para diminuí-

las, o que é determinante para o cumprimento dos princípios gerais da República33,

já aludidos supra, o que é constatado por MARCIANO SEABRA DE GODOI34, que

entende tal situação como um fato notório, lecionando o seguinte:

32 GUSMÃO, Daniela Ribeiro de. Incentivos Fiscais, Princípios da Igualdade e da Legalidade e Efeitos no Âmbito do ICMS. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 22. 33 “Art. 3.º Constituem-se objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) III – Erradicar a pobreza, a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; (...)” 34 GODOI, Marciano Seabra de. Justiça, Igualdade e Direito Tributário. São Paulo: Dialética, 1999, p. 111.

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É fato notório que o ideal político da igualdade é positivado, com maior ou menor detalhamento, na generalidade das constituições do mundo contemporâneo, mais precisamente no capítulo dos direitos fundamentais do cidadão. Vejam-se os seguintes exemplos: Constituição brasileira

“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

Art. 5º (inserido no Título relativo aos direitos e garantias fundamentais) “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;(...)”.

Pode-se verificar, sem grande esforço, que não será possível construir

uma sociedade livre, justa e solidária, se a prática dos atos necessários a se

alcançar tal escopo não estiver inspirada pelo pressuposto da igualdade.

Da mesma forma, ao se pretender erradicar a pobreza e a

marginalização deve-se partir do princípio de que as vítimas de tais situações são

iguais àqueles que as superaram, tendo o mesmo direito à ascensão social.

Por força do já citado art. 3.º, inciso IV da Constituição Federal de 1988

temos como princípio Federativo a igualdade entre Estados e Regiões. Tal comando

está presente na finalidade de "reduzir as desigualdades sociais e regionais".

Podemos observar que no inciso IV o princípio da isonomia

resplandece com todas as luzes. Se a pretensão é promover o bem de todos, é

porque todos são iguais, seja qual for a origem, a raça, o sexo, a cor, ou a idade e,

extensivamente, a região.

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Portanto, é silogístico que se todos devem ser iguais, vislumbra-se que

em virtude de sua distribuição espacial na nação, as diferentes regiões devem ser

igualmente equalizadas, visando o comando maior da igualdade.

1.2.1.1 Aspectos históricos

O princípio geral da igualdade se confunde com a própria idéia de

Estado de Direito.

Na Declaração dos Direitos do Homem, que precede a Constituição

Revolucionária Francesa, podemos constatar o princípio basilar da igualdade35.

GEORGES BURDEAU, citado pelo Mestre ALBERTO NOGUEIRA36,

alude a esta realidade histórica, lecionando que:

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789-1791 é um preâmbulo à Constituição, no qual seus autores entenderam por bem expor os princípios de filosofia política sobre os quais sua ordem será fundada. No entanto, no seu espírito, não se trata de estabelecer somente os direitos dos cidadãos franceses, mas os direitos do homem entre si. E é isto que dá alcance universal à Declaração.

Observe-se que o primado da idéia de igualdade, sob a ótica Jurídico-

Constitucional, remonta a época do século XVIII e permeou toda uma gama de

processos revolucionários, muitos deles desencadeados pela iniqüidade sob a ótica

Tributária de distinção entre classes, pessoas e onde os privilégios odiosos eram a

prática corrente.

35 Em conseqüência, a Assembléia Nacional reconhece e declara em presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes Direitos do Homem e do Cidadão: (...) “1.º – Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” 36 BURDEAU, Georges apud NOGUEIRA, Alberto. A Reconstrução dos Direitos Humanos da Tributação. Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 42-43.

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Efetivamente, as luzes sobre as trevas Jurídico-políticas de então

receberam o nome reconhecido de Iluminismo e espraiaram seus efeitos nas mais

variadas localidades no Velho Mundo e no Novo Mundo.

A idéia do legalismo irrestrito à tutelar os mais simples Direitos, entre

eles o seu pilar principal, a igualdade, finca-se certamente na noção liberal do termo

e pode ser dissociada entre uma função material e formal, sendo a primeira de

especial interesse.

PAULO BONAVIDES37 alude ao tema o seguinte:

A noção jurídica e formal de uma Constituição tutelar de direitos humanos parece, no entanto, constituir a herança mais importante e considerável da tese liberal. Em outras palavras: o princípio das Constituições sobreviveu no momento em que foi possível discernir e separar na Constituição o elemento material de conteúdo (o núcleo da ideologia liberal) do elemento formal das garantias (o núcleo de um Estado direito). Este, sim, pertence à razão universal, traz a perenidade a que aspiram as liberações humanas.

Ratificamos que a noção histórica e liberta de igualdade, sob o ponto

de vista material, possui direta conexão com o enfoque do princípio sob a ótica do

Direito Tributário.

Na época em que foi formulado o princípio, de evidente transição do

antigo regime para o início de implantação do Estado de Direito, era sobeja a

injustiça Tributária, sendo certo que determinadas instâncias e classes se

encontravam isentas de Tributo.

37 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 23.

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Os atores sociais responsáveis pelos movimentos revolucionários,

notadamente a burguesia emergente, necessitavam não apenas de que a igualdade

fosse um mero discurso formal na nova e nascente ordem jurídica, mas sim

elemento material que objetivasse tal igualdade como comando basilar para

instrumentalizar todas as demais regras jurídicas, sobretudo as tributárias.

Esta origem e visão históricas da idéia de igualdade,

fundamentalmente um direito humano, encontra sua constatação na lição do Mestre

RICARDO LOBO TORRES 38, que assevera:

O conceito de direitos individuais foi muito usado pelos franceses e americanos e talvez fosse o preferido dos brasileiros. Pode ser empregado como sinônimo de direitos humanos ou fundamentais, apesar de guardar intimidade maior com a visão individualista dos albores do liberalismo, que não distinguia as liberdades coletivas e que desconhecia o conceito de pessoa, muito mais abrangente e próximo do social que o de indivíduo.

Como nos indica o eminente professor, a idéia de igualdade estava

eivada do conteúdo individualista típico dos primórdios do liberalismo econômico e

político, divorciada da idéia de coletivo, que hoje permeia os modernos

ordenamentos jurídicos e consagra este como sujeito de direitos.

Evidenciado então que hodiernamente não pode o Princípio da

Igualdade ser apropriado apenas e tão-somente como a idéia formal aposta em sua

origem histórica, o que é efetivamente repudiado por nosso sistema Constitucional,

servindo este, igualmente, para fundar a perspectiva de busca da mesma, conforme

explicitado na Carta Matriz.

38 TORRES, Ricardo Lobo. Os Direitos Humanos e a Tributação: Imunidades e Isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 10.

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1.2.2 O direito à equalização regional com base no princípio da igualdade

Conforme aludido supra, a igualdade propalada no comando

Constitucional em consonância com o princípio da redução das desigualdades

regionais e sociais forma o vínculo de fundamentação que dá corpo às iniciativas

estatais de interferência para equalização do problema.

É inegável que o desenvolvimento econômico no espaço do Estado

brasileiro – considerado aí suas sub-regiões e, em especial, os estados federados –

é absolutamente assimétrico.

Este fenômeno, de natureza eminentemente econômica, é a matriz

conceitual e fática no qual se assenta o princípio jurídico.

Sob o enfoque econômico do tema, WERNER BAER39 assevera o

aspecto histórico da questão, aludindo este movimento como ínsito ao processo

histórico de maturação de nossa matriz produtora, que produziu não apenas

concentração vertical da renda, entre classes, mas também espacial ao afirmar que:

A desigualdade espacial no crescimento e na distribuição de renda tem sido uma característica da economia brasileira desde os tempos coloniais e cada um dos ciclos de exportação de produtos primários do passado beneficiou uma ou outra região específica.

AMÉRICO LUÍS MARTINS DA SILVA40 constata tal fato notório ao

afirmar: “Quanto a redução das desigualdades regionais, isto não pode se reduzir a

39 BAER, Werner. A Economia Brasileira. São Paulo: Nobel, 1996, p. 284. 40 SILVA, Américo Luís Martins da. A Ordem Constitucional Econômica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1996, p. 73.

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letra morta no contexto constitucional, uma vez que este problema realmente existe

e é notório.”

Podemos observar da assertiva de AMÉRICO LUÍS que a atuação,

tendo em vista a notoriedade e gravidade da questão, deve ser proativa.

Sob esta ótica, a busca da igualdade, enquanto conceito a ser

perseguido para a obtenção da diminuição dos desequilíbrios, aparece como um

verdadeiro pilar fundamentador da ação estatal.

1.2.3 O princípio da legalidade

O princípio da legalidade é o que podemos denominar como o pilar

central sobre o qual se assenta toda a idéia de legalidade interna ao Estado

Democrático de Direito.

Com efeito, podemos afirmar que sem a legalidade em sentido amplo,

não estaríamos vivendo sob a égide do sistema de proteção aos Direitos típicos do

Governo das leis e não dos homens, o que é o divisor de águas histórico entre um

padrão de administrar divorciado da idéia de que os padrões de comportamento e

ação – sejam dos governados, sejam dos governantes – estejam limitados pela Lei

garantidora dos Direitos.

Na verdade, a legalidade é o prisma e sustentáculo dos Direitos, o que

se objetiva na positivação das regras, o que historicamente é apontado por Thomas

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Jefferson, um dos líderes da Revolução Americana, que em aforismo clássico

asseverava que “uma Declaração de Direitos é um privilégio do povo contra qualquer

governo na terra, geral ou particular, e nenhum governo justo deve recusá-lo, ou

basear-se em interferências”.

Este conceito clássico de Declaração nada mais é do que a origem da

própria idéia de fixação positivada de Direitos básicos, ou pétreos, na visão hodierna

que deu origem ao constitucionalismo de nossos tempos. RONALDO POLETTI41

alude a este respeito que:

Onde houver constituições rígidas e escritas, nos regimes democráticos, elas fazem a lei do Estado e dos cidadãos, acarretando a hierarquia das leis (todas a ela devem submeter-se), que, no fundo, resulta da aplicação do princípio da legalidade. Este princípio fundamenta a supremacia da Constituição, a lei que está acima das outras leis.

Sendo assim, a legalidade é o esteio e limite para a instituição de

obrigações e direitos dentro de um estado democrático tradicional, sendo então

absolutamente válida a conclusão de que não se poderia tratar de forma distinta a

instituição de tributos, ao revés, tem o princípio da legalidade para estes o condão

de verdadeira garantia para o cidadão, de modo que milita este como base, por

assim dizer, da disciplina tributária.

Neste sentido, absolutamente pertinente a intervenção de ISO

SCHERKERKEWITZ42, que alude:

Na maior parte dos países democráticos um tributo só pode ser instituído por lei. No nosso país esta é uma determinação constitucional. Lei é o resultante do processo legislativo pelo qual o povo, por intermédio de seus

41 POLETTI, Ronaldo Rebello de Britto. Controle da Constitucionalidade das Leis. 2. ed., 7. t., rev. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 53. 42 SCHERKERKEWITZ, Iso Chaitz. Sistema Constitucional Tributário. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 32.

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representantes, aprova ou não a pretensão estatal de instituir um novo tributo.

Conclui-se então que este princípio, pedra basilar da disciplina

Tributária, encontra seu básico fundamento no próprio espírito da Democracia,

sendo, certamente, a sua própria razão de ser como diapasão de direitos básicos,

mas também comando limitador da sanha tributante, conforme ensina PAULO DE

BARROS CARVALHO43: “A diretriz da legalidade está naquela segunda acepção,

isto é, a de norma jurídica de posição privilegiada que estipula limites objetivos.”

A exata percepção deste sentido limitante e ao mesmo tempo

garantidor do princípio da legalidade se manifesta de forma clara quando da

apreciação de suas origens históricas.

1.2.3.1 Aspectos históricos

Certamente, o desejo e a necessidade objetiva de se limitar e dar

padrões definidos à instituição de Tributos deriva não apenas de uma vontade

meramente legalista, mas funda suas raízes na necessidade que tem o nascituro

regime capitalista de possuir mínimas regras perenes que permitam dar uma direção

segura no que tange ao planejamento, sem interferências do bel-prazer do Príncipe,

que nesta nova ordem deveria se submeter ao império da Lei.

DANIELA RIBEIRO DE GUSMÃO44 aponta este senso histórico-jurídico

do princípio ao afirmar que: 43 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 13. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 149. 44 GUSMÃO, Daniela Ribeiro de. Incentivos Fiscais, Princípios da Igualdade e da Legalidade e Efeitos no Âmbito do ICMS. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 9.

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O seu sentido histórico decorreu da necessidade de se subordinar o governante ao ordenamento jurídico, eliminando os favoritismos e os desejos pessoais. Substituiu-se a vontade individual do monarca pela vontade geral, materializada na lei, elaborada pelos representantes do povo, na condução dos negócios públicos.

Certamente, os representantes aludidos pela autora supra no caso

focado, circunscreviam-se na classe burguesa, que então buscava transformar sua

hegemonia econômica em política, visando a consolidação do modo de produção

capitalista.

Não é sem razão histórica que os principais movimentos

revolucionários de base iluminista, que deram origem ao chamando estado Moderno,

buscavam seu estilo na idéia irrestrita de legalidade, conforme já aludido supra no

aforismo de Thomas Jefferson.

Este representante e pensador da Revolução Americana externa sua

posição de forma subjetiva, pois o conceito seria objetivado com a idéia de

legalidade Tributária estampada na Carta Norte-americana.

O Magistério de LUIZ EMYGDIO ROSA JUNIOR45 corrobora esta leitura ao

afirmar:

Posteriormente, a Constituição Federal dos Estados Unidos, de 1787, em seu art. I, seção 8.ª, conferiu ao Congresso, órgão de representação popular, a competência exclusiva para fixar e cobrar exações, direitos, impostos e tributos. Finalmente, a “Declaração de Direitos”, de 1789, em seu art. 13, exigiu a aprovação dos impostos por órgão de representação popular. Hodiernamente o princípio da legalidade tributária encontra-se expresso em quase todas as Constituições vigentes.

45 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Tributário. 18. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 278.

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Não obstante a manifestação explícita e articulada da Revolução

Americana e da Revolução Francesa, no que toca a consagração do princípio da

legalidade como verdadeira base lógica do sistema jurídico burguês nascente, o

Estado de Direito, os comportamentos legalistas no que tange ao controle dos

tributos remontam para tempos mais distantes na linha histórica.

Já na chamada Idade Média manifestações neste sentido podiam ser

detectadas conforme podemos depreender da lição de ISO SCHERKERKEWITZ46,

que afirma:

O princípio da legalidade é mais remoto do que se imagina. Bem antes da Magna Carta inglesa já existia a exigência da consulta ao povo para a criação de novos impostos. Poderemos, com base em Victor Uckmar, citar alguns exemplos: em 1188, para enfrentar as despesas da cruzada contra Saladino, foi decidida a aplicação de um tributo de 10% sobre a renda, a cargo tanto dos leigos como do clero.

O quase natural movimento dos súditos de então levaria a elaboração

da denominada MAGNA CARTA, que em 1215 na Grã-Bretanha estipulou limites e

forma para a instituição de tributos, como nos ensina RICARDO LODI RIBEIRO47

informando:

O marco histórico da primeira declaração de direitos contra a tributação arbitrária exigida pelo monarca foi a Magna Charta, em 1215, ocasião em que os barões feudais ingleses impuseram ao Rei João Sem Terra a exigência de aprovação pelo Commune Consilium Regis para haver a cobrança de tributos, exceto quando estes fossem destinados ao pagamento do resgate do rei, caso este caísse cativo em suas guerras; para armar seu filho primogênito como cavaleiro e para pagar o dote de casamento de sua filha mais velha, mas desde que cobrados em medida razoável (art. XIII, da Magna Charta).

46 SCHERKERKEWITZ, Iso Chaitz, op. cit., p. 31. 47 RIBEIRO, Ricardo Lodi. Justiça, Interpretação e Elisão Tributária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 26.

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Em se lançando uma análise lógico-sistêmica, não desprezando a

apreciação histórica, temos que o Princípio da Legalidade é absolutamente

imbricado com a idéia de igualdade, pois, a manifestação da posição deste conceito

(de que todos se encontram no mesmo patamar Jurídico perante o novo império, o

da lei) tem o condão de garantir que, instituído por esta, seja o Tributo funcional e

atenda aos desejos da nova ordem que nasce, e da nova classe dominante, sempre

ao cotejo do ideal igualitário, o verdadeiro pilar do Estado de Direito.

1.2.4 Tributação e distribuição de renda

Derivadas das idéias de igualdade e estabilização das desigualdades,

sejam regionais ou de classe, o ideal de distribuição de rendas, como já

demonstrado anteriormente, encontra firme assento Constitucional.

A distribuição de renda se encontra erigida como princípio na

Constituição brasileira, valendo a precisa intervenção de ROBERTO WAGNER LIMA

NOGUEIRA48 a descrever o Princípio da Redistribuição de Rendas: “Este princípio

possui base empírica no art. 1.º, inciso III e art. 3º, incisos I a IV, da Constituição

Federal. Não atua ele no campo da vertente da receita pública, mas sim no da

despesa pública.”

Como podemos depreender, ROBERTO NOGUEIRA eleva, de forma

absolutamente conveniente, a necessidade de se interpretar a questão do

48 NOGUEIRA, Roberto Wagner Lima. Direito Financeiro e Justiça Tributária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 29.

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desenvolvimento como esteio da principiologia pétrea e constitucional da dignidade

humana, ao aludir o inciso III, art 1.º da Carta Constitucional.

Desta forma, apreciado o conceito da dignidade humana ao cotejo do

ideal geral de justiça, temos que a ação do Estado deve buscar sempre as ações

que permitam eliminar as desigualdades, sejam elas regionais ou sociais, o que, no

modo de produção capitalista, só é propiciado pelo desenvolvimento econômico.

Esta lógica programática é abarcada pelo nosso sistema constitucional,

que determina, no art. 3.º da Constituição, que o desenvolvimento nacional precede

a erradicação das desigualdades, vis-à-vis, o inciso II e o subseqüente inciso III.

O diapasão da erradicação das desigualdades seria então o necessário

desenvolvimento econômico, elevado ao patamar de princípio, com seus

necessários instrumentos de ação no plano fático, conforme leciona RICARDO

LOBO TORRES49:

Justiça e igualdade se relacionam ainda no campo do princípio do desenvolvimento econômico, que entende melhor com a vertente dos incentivos fiscais e da extrafiscalidade que com a da tributação segundo a capacidade contributiva. As discriminações e os privilégios na concessão das isenções, restituições de impostos, subvenções e subsídios, em nome do desenvolvimento econômico, que examinaremos oportunamente, tornaram-se um dos mais importantes e difíceis problemas do intervencionismo estatal, pela inevitabilidade das desigualdades.

Conforme elucida o ilustre Mestre acima, a questão da necessária

contemplação do ideal de justiça e igualdade passa obrigatoriamente pelo

desenvolvimento econômico, olvidando-se na matéria a maior complexidade face ao

que determina a própria Constituição, pois, ao se perseguir os objetivos aludidos,

49 TORRES, Ricardo Lobo. Os Direitos Humanos e a Tributação: Imunidade e Isonomia. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 273.

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esta senda deve se submeter aos outros ditames desta, evitando-se que o objetivo

finalístico seja distorcido por excessos, com a criação de privilégios odiosos em

matéria tributária, assunto que será abordado adiante.

1.2.4.1 A Constitucionalidade das políticas distributivas intra-regionais e

o princípio constitucional da redução das desigualdades sociais e regionais

A necessidade de distribuição de rendas no caso brasileiro tomou ares

de comando Constitucional como objetivo a ser perseguido pelo Administrador

público.

Este comando, corporificando vontade expressa do legislador, baseia-

se não apenas em um sentido subjetivo de justiça, mas em fatos que exsurgem,

desde seu descobrimento, da realidade histórica da formação econômica brasileira.

O modelo exportador de produtos primários, que conheceu diferentes

ciclos até o 1.º surto de industrialização do país, comandado pelo 1.º Governo

Vargas, engendrou no território nacional um modelo contracionista de renda, seja em

sua verticalidade, no que tange às diferentes classes sociais, seja em sua

horizontalidade, entendido aí como a distribuição da riqueza nacional em suas

diferentes regiões.

WERNER BAER 50 constatou tal fato ao afirmar:

Enquanto a economia brasileira estava voltada basicamente às exportações, a distribuição regional da renda era determinada pelo tipo de

50 BAER, Werner. A Economia Brasileira. Trad. Edite Sciulli. São Paulo: Nobel, 1996, p. 290.

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produtos primários predominantemente exportados. Quando, porém, a principal fonte de crescimento foi internalizada, as taxas de crescimento e desenvolvimento regional desiguais tenderam a se perpetuar ou, às vezes, até a aumentar.

Este movimento perverso, que gerou a tradicional e histórica

desigualdade regional no Brasil e inspirou várias políticas de incentivos, marcou de

forma efetiva a elevação do combate à pobreza e à desigualdade regional ao

patamar constitucional.

A inspiração no substrato fático de uma realidade avassaladora de

pobreza e desigualdades obteve sua força a partir do quadro histórico de atraso de

regiões, como o Norte e o Nordeste, beneficiários das tradicionais intervenções no

que tange ao planejamento regional.

A realidade e as políticas positivas de intervenção sobre as

desigualdades para dirimi-las encontram no aponte de AMÉRICO LUÍS MARTINS

SILVA51 a seguinte afirmação:

Como se pode ver, a Região Norte e a Região Nordeste, respectivamente a de maior extensão territorial e a segunda mais populosa, em virtude de serem as regiões menos desenvolvidas do Brasil, requerem maior atenção do Estado e, por isso, serviram de inspiração ao legislador constituinte ao enumerar os princípios da ordem econômica no art. 170 da Constituição de 1988. Evidentemente o objetivo de reduzir as desigualdades regionais implica concessão de substanciais incentivos fiscais, maciços investimentos diretos por parte de órgãos públicos, infra-estrutura para instalação de novas indústrias e desenvolvimento das já instaladas, preferência nos recursos destinados ao crédito rural para essas regiões, outros incentivos que venham fomentar o crescimento da agricultura, da indústria, do comércio e de serviços, etc.

Observa-se então que dentro do cabedal de possibilidades

disponibilizadas ao administrador para consecução deste inegável Direito

51 SILVA, Américo Luís Martins da. A Ordem Constitucional Econômica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1996, p. 73.

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fundamental, posto que preambular em nossa Constituição, temos, no dizer do

Mestre citado, os incentivos fiscais e, igualmente, os investimentos diretos.

Concluímos, portanto, que para o cumprimento do comando

constitucional o Estado não pode ser mero observador, mas sim possuir atitude

proativa, de intervenção.

TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR52 exemplifica como esta atuação

necessária à chamada atividade de fomento pode ser abarcada:

No fomento, o Estado é agente, isto é, a Constituição lhe atribui uma característica ativa e não passiva. Não se trata, assim, de atuação apenas se provocado, mas de um papel próprio na cena econômica: não é público ouvinte, mas ator e diretor. O Estado-agente é conjunto de órgãos e atividades que, ao lado dos entes privados da sociedade civil, tem subsistência própria. Esta atuação, de um lado, sobre os bloqueios normativos do Estado de Direito (limites ao poder de tributar, descentralização de recursos, garantias da liberdade do cidadão). De outro, aquela atuação exige funções positivas. De uma parte, prestar serviços públicos, monopolizar setores, de outro, executar políticas de desenvolvimento, na medida em que o progresso econômico pressupõe um mundo compartilhado (afinal, sem os outros as propriedades não se transformam em capital). O incentivo como fomento, por meio de financiamentos, execução de obras, concessão de espaço físico etc. é instrumento básico dessa atuação. A exigência desta atuação do Estado é válida tanto para União como para os Estados-membros. O art. 25 da Constituição Federal determina que os Estados se organizem e se rejam pelas constituições e leis que adotarem, observados os princípios da própria Constituição Federal. Podemos então concluir que a atividade de fomento é fundamental para auferir os resultados almejados pelo legislador constitucional, no que tange ao anseio de se purgar a mora histórica que existe na distribuição espacial da riqueza no Brasil, sendo certo que esta atuação atende aos fins positivados nos arts. 3.º e 170 da Constituição Federal. (grifos no original)

Como se observa, sopesando as limitações adstritas à própria Carta

Constitucional, é deveras legítima, legal e, sobretudo, constitucional a ação estatal,

abarcadas aí todas as instâncias de poder da Federação, em particular a União e os

Estados, no sentido de promover de forma efetiva o desenvolvimento das regiões 52 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio; ZILVETI, Fernando Aurelio (Coord.). Direito Tributário: Estudos em Homenagem a Brandão Machado. São Paulo: Dialética, 1998, p. 283.

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51

tradicionalmente subdesenvolvidas, sejam as sub-regiões nacionais, sejam internas

aos estados da federação, como o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e o

Norte do estado do Espírito Santo, reconhecidas, ambas, como áreas de atuação da

SUDENE.

E SAMPAIO FERRAZ53 prossegue:

A exigência desta atuação do Estado é válida tanto para a União como para os Estados-Membros. O Art. 25 da Constituição Federal determina que os Estados se organizem e se rejam pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios da própria Constituição Federal. Neles estão englobados tanto os princípios fundamentais, isto é, instituidores, originariamente, da ordem constitucional, quanto princípios de organização, programáticos etc.

Esta autorização estampada na Carta Matriz, sob o ponto de vista

programático, delimita o campo de legitimidade e legalidade de iniciativas como o

FUNDAP, tomados por estado-membro, no caso o Espírito Santo.

Não podendo este comando legal ser olvidado, devendo então, na

abalizada opinião de AMÉRICO LUÍS MARTINS SILVA54, esta atitude constituir-se

em esforço objetivo, conforme leciona:

Quanto a redução das desigualdades regionais, isto não pode se reduzir a letra morta no texto constitucional, uma vez que este problema realmente existe e é notório. Os mais simples dados que se pode obter indicam decisivamente a enorme desigualdade que existe entre as regiões do Brasil. (grifos no original)

A precisa intervenção possui o condão de, sob o ponto de vista

doutrinário, estabelecer o pálio sobre o qual se desenvolverá a exposição de caso a

seguir: o FUNDAP. 53 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio; ZILVETI, Fernando Aurelio (Coord.). Op. cit., p. 283. 54 SILVA, Américo Luís Martins da, op. cit., p. 75.

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Com efeito, o estado do Espírito Santo é o mais pobre da região

Sudeste, como podemos constatar na tabela55 adiante:

Fonte: CNI – Confederação Nacional das Indústrias.

O estado do Espírito Santo possui participação de pouco mais de 2%

da renda nacional, o que não mudou muito nos últimos dez anos. E, se

considerarmos apenas a sua participação regional, é possível observar que a sua

renda é quase seis vezes menor do que a do Rio de Janeiro e a de Minas Gerais.

Desta forma, temos que os legítimos esforços de estabilização das

desigualdades regionais devem abarcar não apenas os movimentos, no sentido de

que estas sejam diminuídas nacionalmente, mas também intra-regionalmente, posto

que o resultado irá diretamente ao encontro do princípio estampado na Constituição.

55 CAVALCANTI, Carlos Eduardo G.; PRADO, Sérgio. Aspectos da Guerra Fiscal no Brasil. Brasília: IPEA / São Paulo: FUNDAP, 1988, p. 35.

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1.2.5 Os privilégios odiosos

No caminho da utilização da chamada extrafiscalidade na criação de

mecanismos de fomento e incentivos para o atendimento ao princípio do

desenvolvimento econômico e regional existe a legítima preocupação, que a criação

destes não propicie o estabelecimento de situações de desigualdades e benefícios,

que resvalem para a agressão da própria estrutura da legalidade e igualdade

instituídas pela Constituição.

O princípio do desenvolvimento econômico e a superação das

desigualdades, e as iniciativas práticas daí derivadas, não podem estabelecer

situação onde individualmente se esteja criando privilégios odiosos, que possuem

sua origem histórica justamente nas situações de desigualdades perpetradas

quando, outrora, não vicejava o princípio da igualdade.

Neste rumo, a Constituição criou os freios necessários, tornando nulos

tais excessos, como leciona o Mestre RICARDO LOBO TORRES56:

É nulo de pleno direito o privilégio fiscal odioso. Se o legislador conceder isenções ou quaisquer outros incentivos fiscais ou financeiros que não sejam razoáveis diante dos princípios da capacidade contributiva, da redistribuição de rendas, do desenvolvimento econômico, etc., terá praticado ato suscetível de anulação. Não cabe, absolutamente, cogitar-se da extensão do privilégio odioso a terceiros, a pretexto de se garantir a isonomia, como, aliás, já se declarou entre nós, inclusive no que pertine às questões de pessoal. O privilégio odioso, portanto, deve ser considerado inconstitucional, por ferir os direitos da liberdade dos contribuintes não contemplados, operando a declaração de nulidade ex tunc.

56 TORRES, Ricardo Lobo, op. cit., p. 305-306.

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Sendo assim, devemos sempre, ao analisar a instituição de um

benefício, se este (sob o prisma da igualdade) não criaria uma situação de excessivo

privilégio, mas, sobretudo, se os resultados da gênese de eventuais mecanismos

não traria os resultados legitimadores da efetiva intervenção no plano do

desenvolvimento econômico e diminuição das desigualdades regionais e sociais, o

que seria o pálio legitimador dos mesmos.

Tal fundamento será apontado subseqüentemente no estudo de caso,

para que se possa aquilatar da legalidade e funcionalidade do instituto FUNDAP, no

que tange aos objetivos perseguidos de alavanca ao desenvolvimento do estado do

Espírito Santo.

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2 OS CONCEITOS DE INCENTIVOS FISCAIS E INCENTIVOS FINANCEIROS-

FISCAIS

2.1 INCENTIVOS FISCAIS

2.1.1 Conceito e Natureza Jurídica

Conforme apresentado anteriormente, a questão relativa a natureza

epistemológica do gênero “incentivo” é para o Direito Tributário um dos temas mais

áridos.

Tal situação é consistente com a multiplicidade de ferramentas

jurídicas e econômicas criadas e demandadas pelo fenômeno do Estado Moderno e

Capitalista.

Esta nova conformação jurídica e econômica, derivada da derrota do

ancien régime, propicia para o Mestre RICARDO LOBO TORRES57 a criação do

estado fiscal moderno, de acordo com a lição seguinte:

57 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 12. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 28.

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O que caracteriza o surgimento do Estado Fiscal, como específica figuração do Estado de Direito, é o novo perfil da receita pública, que passou a se fundar nos empréstimos, autorizados e garantidos pelo legislativo e, principalmente, nos tributos – ingressos derivados do trabalho e do patrimônio do contribuinte – ao revés de se apoiar nos ingressos originários do patrimônio do príncipe.

Exasperando o preciso conceito do Mestre, poderíamos tecer a

assertiva de que o Estado Moderno seria o Estado dos tributos, onde seu

recolhimento como receita, pela função fiscal e sua manipulação enquanto função

extrafiscal, propiciaria as ferramentas necessárias à implementação de políticas

públicas vitais para o desenvolvimento dos estados, dentro das complexidades

inerentes à nova forma de produção.

Nesta linha de raciocínio, as criações de novos mecanismos de

atuação e intervenção estatal constituem-se em novas disciplinas econômicas,

baseadas na nascente estrutura Tributária e em novas perspectivas de justiça.

RICARDO LOBO TORRES58 segue lecionando de forma precisa:

Novas disciplinas econômicas como a Public Choice, a New Public Economic e a New Public Finance encontram nos tributos e na repartição dos custos dos serviços públicos o seu tema principal. A teoria da justiça econômica passa a ter na justiça tributária um de seus aspectos mais controvertidos.

Não há dúvida de que tal multiplicidade de aspectos e, sobretudo,

formas de se utilizar os tributos – convergindo para a tentativa de criação de uma

idéia de justiça tributária, partindo desta nova realidade econômica – criassem

dificuldades de toda a sorte no campo do conhecimento.

58 TORRES, Ricardo Lobo, op. cit., p. 8.

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No campo da extrafiscalidade, considerado praticamente um

instrumento de política econômica e adunado este papel à idéia de criação de uma

Justiça Tributária, temos nas mais diversas modalidades de incentivos,

hodiernamente criados, o campo fértil onde viceja tal complexidade que deriva,

certamente, da multiplicidade de espécies do gênero incentivo, muitas das vezes

espraiadas nas mais diversas instâncias de poder: União, Estados e Municípios.

Decerto que o tema, envolto nas questões relativas ao

desenvolvimento econômico, enquanto princípio, leva o administrador a se colocar

diante da sistemática necessidade de intervenção na realidade econômica e a lançar

mão de toda a sorte de mecanismos de fomento (muitos deles relacionados ora com

financiamentos diretos à produção, ora com renúncias fiscais) que levem ao um

atrativo adicional para a atividade econômica.

Esta opção – quase imposição de uma realidade econômica deletéria

em matéria de distribuição de rendas, aliada ao comando explícito da constituição –

determina a proliferação de iniciativas, que de toda a forma dificultam uma análise

reducionista do tema.

MARCOS ANDRÉ VINHAS CATÃO59 constata, em brilhante trabalho

sobre os incentivos fiscais, tal realidade. Vejamos:

A multiplicação de termos para definir ou ao menos circundar o seu campo de atuação dogmática faz com que seja tormentosa a intenção ou a pretensão de se delimitar o campo de atuação dos incentivos fiscais. Ou seja, ante a presença de redução, eliminação ou tratamento diferenciado da imposição fiscal, quais as vicissitudes que permitem afirmar que se está

59 CATÃO, Marcos André Vinhas. Regime Jurídico dos Incentivos Fiscais. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 51.

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diante de tal forma de desoneração, como já visto, fundada na função regulatória do tributo.

Estribado na função extrafiscal do tributo, ou regulatória do mesmo, no

sentir do autor supracitado, toda a plêiade de iniciativas na área dos incentivos

seriam muitas das vezes, sem o ser, equivocadamente relacionadas como incentivos

fiscais.

Visando trazer um início de equalização da questão e, sobretudo,

estabelecer formas seguras de conceituação do tema, a Doutrina Jurídico-Tributária

tem se esmerado por meio de vários autores nacionais e estrangeiros a compor

parâmetros de análise para o assunto.

SOUTO MAIOR BORGES, citado por MARCOS ANDRÉ VINHAS

CATÃO60, delimita:

A noção genérica de incentivos fiscais abrange ou pode abranger, além das isenções, outras espécies tributárias, como a alíquota reduzida (esta poderá ser reconduzida à categoria das isenções parciais ou reduções do tributo, que operam também pelo expediente técnico da redução da base de cálculo), bonificação, deduções para depreciação acelerada, suspensão do imposto, crédito do imposto para aplicação em determinados investimentos, etc. (grifos no original)

Podemos observar com clareza que a matéria possui uma diversidade

de hipóteses práticas, que propiciam uma multiplicidade de abordagens no que

tange a diminuições parciais, não-incidência e remições. GABRIEL LACERDA

60 BORGES, Souto Maior, “Subvenção Financeira. Isenção e Dedução Tributárias”. In: Revista de Direito Público. São Paulo, n. 41-42, 1978, apud CATÃO, Marcos André Vinhas. Regime Jurídico dos Incentivos Fiscais. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 14.

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TROIANELLI61, citando MARIA APARECIDA VERA CRUZ BRUNI DE MOURA no

que tange à não-incidência, alude de forma resumida que os incentivos fiscais,

são medidas fiscais que excluem total ou parcialmente o crédito tributário, aplicadas pelo Governo Central com a finalidade de desenvolver economicamente uma determinada região, ou um determinado setor de atividade. (grifos no original)

Ainda GABRIEL LACERDA TROIANELLI62, citando FRANCISCO

CALDERARO em sua percuciente pesquisa, segue conceituando:

Costuma-se denominar “incentivos fiscais” a todas as normas que excluem total ou parcialmente o crédito tributário, com a finalidade de estimular o desenvolvimento econômico de determinado setor de atividade ou região do país. Os incentivos fiscais são concedidos atualmente sob as mais variadas formas, tais como: imunidades, isenções, suspensão do imposto, reduções de alíquota, crédito e devolução de impostos, depreciação acelerada, restituição de tributos pagos, etc.; porém, todas essas modalidades têm como fator comum a exclusão parcial ou total do crédito tributário, ditadas com a finalidade de estímulo ao desenvolvimento econômico do país. (grifos no original)

Encontramos em FRANCISCO CALDERARO o parâmetro de que o

fundamento para o estabelecimento da espécie incentivo é o princípio do

desenvolvimento regional, não obstante a mera descrição das mais variadas

modalidades não se prestar para que, além de um elenco exauriente, se possa

perquirir a natureza jurídica da espécie.

É perceptível que as categorias isencionais como postas colocam-se

na estrita legalidade, no que a diminuição (ou inexistência de cobrança da exação)

estriba-se em atividade administrativa plenamente vinculada, pois, cobrado ao inteiro

61 MOURA, Maria Aparecida Vera Cruz Bruni de, “Incentivos Fiscais Através das Isenções”. In: Nogueira Barbosa (Coord.). Estudos de Problemas Tributários. São Paulo: José Bushatsky, 1971, p. 135, apud TROIANELLI, Gabriel Lacerda. Incentivos Setoriais e Crédito-Prêmio de IPI. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 17. 62 CALDERARO, Francisco R. S. Incentivos Fiscais à Exportação. São Paulo: Resenha Tributária, 1973, p. 17, apud TROIANELLI, Gabriel Lacerda. Incentivos Setoriais e Crédito-Prêmio de IPI. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 17-18.

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ou não, deve estar tal fato revestido do respeito ao princípio da legalidade.

Constituir-se-ia então em uma relação Jurídico-Tributária, o que para o Mestre

AURÉLIO PITANGA SEIXAS FILHO63 seria o seguinte:

Assim, a relação tributária deverá ser sempre uma relação jurídica, em que o sujeito ativo, órgão da administração fiscal, agirá em cumprimento de seu dever funcional de aplicador da lei tributária, e o sujeito passivo, contribuinte ou terceiro responsável, deverá ser compelido a cumprir a lei tributária.

Assim, subsumido ao império da lei, as técnicas isencionais, sejam

exclusões ou diminuições, vinculam a atividade do Administrador, criando um direito

subjetivo ao detentor da obrigação de pagar a exação, ou de não fazê-lo ou, ainda,

de pagá-la a menor.

Para PEDRO GUILHERME ACCORSI LUNARDELLI 64 seria uma

relação de crédito isencional da seguinte forma:

Diante disso, verificamos que “exclusão do crédito tributário”, a que se refere o aludido art. 175, inciso I, do Diploma Tributário, aponta para a relação jurídica correspectiva ao conseqüente da norma de isenção, dentro da qual aparecerá o direito subjetivo (relação de crédito isencional) de o contribuinte não cumprir a prestação (está permitido omitir a conduta de prestar), vinculado ao dever subjetivo (débito isencional) de o fisco não exigir tal prestação.

Neste sentido, com a criação de um direito subjetivo para o contribuinte

de não pagar, ou diminuir o tributo via estabelecimento em Lei, teríamos uma

espécie de diminuição objetiva do fato gerador, o que, na opinião de AURÉLIO

63 SEIXAS FILHO, Aurélio Pitanga. Princípios Fundamentais do Direito Administrativo Tributário: (A Função Fiscal). Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 139-140. 64 LUNARDELLI, Pedro Guilherme Accorsi. Isenções Tributárias. São Paulo: Dialética, 1999, p. 77.

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PITANGA SEIXAS FILHO65, em matéria de isenção, seria norma atingindo o critério

material das mesmas:

As normas isencionais que restringem a “regra-matriz” tributária atingindo-lhe o critério material, pela subtração do complemento, configuram o que a doutrina normalmente examina como isenções objetivas. Nas isenções objetivas o legislador retira da tributação as coisas, mercadorias, produtos, bens, etc., que compõem a matéria tributável do imposto. Alguns autores clássicos entendem que a isenção objetiva serve para delimitar negativamente o fato gerador.

Objetivando o conceito de incentivo fiscal, poderíamos, após as doutas

lições, estabelecer que a espécie do gênero incentivo seria aquela que, a partir do

campo da receita tributária, na origem da cobrança da exação, estabelece critérios

dentro da estrita aplicação da legalidade.

Sendo assim, incentivo fiscal é modalidade isencional na cobrança da

exação, seja ela total ou parcial, mediante supressão ou mitigação do valor de

alíquota, instituindo objetiva diminuição de carga fiscal.

Opera então na vertente da Receita Pública implicando em deliberada

renúncia a entrada de valores aos cofres públicos, tudo por via da representação

política, vis-à-vis o princípio da legalidade.

65 SEIXAS FILHO, Aurélio Pitanga. Teoria e Prática das Isenções Tributárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 34.

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2.2 INCENTIVOS FINANCEIROS-FISCAIS

2.2.1 Conceito e natureza jurídica

Incentivos como os já demonstrados, devem ser apercebidos como

gênero, partindo-se também para o entendimento do que parte da Doutrina

denomina como incentivos financeiros-fiscais.

A matéria jurídica possui em sua raiz epistemológica a necessidade de

dessumir as categorias em conceitos que possam ser demonstrados objetivamente

no mundo fático, laçando mão de seu instrumento básico, a linguagem, para tecer as

explanações sobre o apropriado.

Desta forma, além dos conceitos e espécie ora trabalhada, podemos

chamar estes incentivos de categorias ou figuras não-isencionais de “INCENTIVOS

FISCAIS E FIGURAS AFINS NÃO-ISENCIONAIS, tendo como subcategorias a

Restituição de Impostos – ‘Drawback’, Subvenções ou Subsídios, Remissão e a

Anistia”, conforme as palavras do Mestre AURÉLIO PITANGA SEIXAS FILHO66.

Esta útil classificação, abarcando com visão arguta a forma de

incentivo que não apenas assenta-se do lado da receita (o incentivo fiscal puro),

autoriza a análise e o aprofundamento da questão em direção às figuras ou espécies

de incentivos que se encontram agasalhados no lado da despesa pública.

66 SEIXAS FILHO, Aurélio Pitanga, op. cit., p. 55.

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A apropriação em questão não é de fácil estabelecimento, uma vez que

a Doutrina Tributária em geral pouco se debruçou sobre a temática, o que é

constatado por MARCOS ANDRÉ VINHAS CATÃO67, que corrobora:

Bastaria uma análise superficial sobre o objeto deste estudo e poder-se-ia concluir quase que de imediato que tanto o legislador quanto a doutrina e a jurisprudência ocuparam-se consideravelmente mais acerca dos incentivos que atuam na vertente da receita pública do que sobre os que atuam na esfera da despesa pública. (grifos no original)

Tal carência de material se funda certamente na percepção de parte da

Doutrina de que em estando o possível incentivo no lado da despesa pública,

mediante mera devolução, não teria este natureza de interesse da matéria Tributária,

o que podemos depreender da explicação de SACHA CALMON NAVARRO

COELHO68:

A devolução de tributo pago sem haver razão para a restituição, a não ser o intuito de exonerar total ou parcialmente o contribuinte, é considerada pela doutrina matéria estranha ao Direito Tributário. Alega-se estar no capítulo da despesa pública, já na área do Direito Financeiro, a sua sede jurídica. O entendimento é inobjetável. (grifos no original)

Neste prisma, a consolidação da percepção possui uma espécie de

blindagem, utilizando-nos do sentido em voga, que tornariam tais modalidades de

incentivos impermeáveis à matéria Jurídico-Tributária por força de um princípio desta

própria seara, ou o princípio da não-afetação da Receita Tributária, que no dizer de

LUIZ EMYGDIO F. ROSA JUNIOR69 “está expressamente consagrado no inciso IV

do art. 167 da CF, quando veda a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo

ou despesa, (...)”.

67 CATÃO, Marcos André Vinhas. Regime Jurídico dos Incentivos Fiscais. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 58. 68 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Teoria Geral do Tributo, da Interpretação e da Exoneração Tributária. São Paulo: Dialética, 2003, p. 202. 69 ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Tributário. 18. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 89.

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Ocorre que o fato de se estabelecer no lado da despesa – e levando

em conta que um tributo em si não pode estar direcionado a uma destinação

específica, ou rubrica orçamentária, para maior precisão – não desautoriza que esta

espécie de Incentivo, não tipicamente fiscal, mas financeiro-fiscal, dentro de suas

características particulares, inexista como categoria de interesse para a matéria

Jurídico-Tributária.

Em visão oposta, corroborando a necessária simplificação do tema e

procurando estabelecer na senda tributária apenas os incentivos típicos estribados

nas vertentes da receita, PEDRO GUILHERME ACCORSI LUNARDELLI70 sustenta

que eventuais contratos estabelecendo vínculos obrigacionais para recebimento de

incentivos, via repasses orçamentários e conseqüente celebração de contratos,

trariam e desviariam o interesse do estudo destes pela matéria estritamente

tributária. Externa sua opinião da seguinte forma:

A celebração de eventual contrato entre o contribuinte e o Poder Público que, por exemplo, imponha-lhe a prestação de ter esta ou aquela conduta, não permite sustentar que esta característica (a contratualidade) transfira-se para o âmbito das isenções tributárias. O contrato, quando celebrado, gera recíprocos direitos e deveres para a Administração Pública e o particular, os quais estarão sendo regulados pelas diretrizes do direito administrativo. Em outras palavras, este contrato consiste no conjunto de enunciados a partir dos quais verificamos fato e relação jurídica, ambos subordinados às regras daquele ramo do direito. (grifo no original)

Com todo o respeito que merece a visão do ilustrado Mestre PEDRO

LUNARDELLI, o fato de existir uma relação obrigacional subjacente ao incentivo não

desautoriza a sua apreciação enquanto categoria do Direito Tributário, pois, este se

encontra inserido no Direito Financeiro, conforme já aludido supra e lecionado por

70 LUNARDELLI, Pedro Guilherme Accorsi. Isenções Tributárias. São Paulo: Dialética, 1999, p. 134.

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RICARDO LOBO TORRES71, que ensina que estes incentivos, apesar de operarem

no lado da despesa pública, possuem distinção meramente Jurídico-formal,

afirmando o seguinte:

[...] operam na vertente da receita estão em simetria e podem ser convertidos em privilégios financeiros, a gravar a despesa pública. A diferença entre eles é apenas jurídico-formal. A verdade é que a receita e a despesa são entes de relação, existindo cada qual em função do outro, donde resulta que tanto faz diminuir-se a receita pela isenção ou dedução, como aumentar-se a despesa, pela restituição ou subvenção, que a mesma conseqüência será obtida: o empobrecimento do ente público e o enriquecimento do contribuinte.

Com efeito, as modalidades exoneratórias, sejam elas via renúncia ou

via devolução a título de incentivo, possuem o condão de apresentar o mesmo

resultado econômico, objetivando uma diminuição de custos do contribuinte e, em

sendo este uma unidade econômica produtiva, a concessão do referido incentivo

pode estar legitimada em virtude dos princípios do desenvolvimento econômico e da

diminuição das desigualdades, conceitos já apresentados, pois esta pode

representar empregos e um retorno em termos de resultados práticos que suplantem

a efetiva diminuição dos valores entesourados aos cofres públicos.

Esta é a visão do Mestre AURÉLIO PITANGA SEIXAS FILHO72, que

alude:

Nesta ordem de idéias, desde que os critérios discriminatórios tenham finalidade de atender outros princípios constitucionais programáticos, ou, até mesmo, suprir, preencher ou desenvolver necessidades da realidade econômica e social que não privilegiem setores específicos ou isolados da sociedade, os incentivos fiscais não estarão ferindo o princípio da isonomia.

71 TORRES, Ricardo Lobo. Os Direitos Humanos e a Tributação. Rio de Janeiro: Renovar, 1995, p. 293-294. 72 SEIXAS FILHO, Aurélio Pitanga. Teoria e Prática das Isenções Tributárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 116.

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Quanto aos resultados, sob o prisma meramente econômico, parece

claro que estamos diante do mesmo gênero incentivos, em virtude de seus

resultados no plano fático e conforme as já colacionadas lições, uma conjunção

derivada de sua origem comum, o Direito financeiro, independentemente de ser a

espécie fiscal ou financeira.

Parece então que a abordagem econômica faz convergir as duas

vertentes doutrinárias para o veio comum da visão de que estamos diante de duas

espécies do mesmo gênero, em especial se fundados no atendimento legítimo de

demandas socioeconômicas adequadas aos moldes dos princípios constitucionais

listados.

No campo de sua operacionalidade, DANIELA RIBEIRO DE

GUSMÃO73 aborda os impactos concorrenciais dos incentivos tributários, enquanto

gênero, da seguinte forma:

De acordo com um trabalho elaborado pelo IPEA/FUNDAP, os benefícios tributários podem impactar as relações concorrenciais porque “dada a escolha privada preferencial da empresa, os benefícios fiscais têm, não apenas que cobrir o custo adicional envolvido no deslocamento, mas têm, na realidade, que superá-los a ponto de oferecer um prêmio. Se não o fizer, a empresa estaria trocando uma situação ótima natural por outra equivalente, mas dependente de apoio do setor público, o que evidentemente tem riscos adicionais”.

Assim sendo, estamos diante da criação de amparo a medidas

propiciadoras de desenvolvimento econômico, tomadas sob o ponto de vista da

atração de investimentos a um determinado locus, o que é exatamente o objetivo do

caso que será estudado e descrito a seguir: o FUNDAP.

73 GUSMÃO, Daniela Ribeiro de. Incentivos Fiscais, Princípios da Igualdade e da Legalidade e Efeitos no Âmbito do ICMS. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 82.

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Neste mister, o objeto do estudo, no momento histórico adequado,

buscou, por meio de engenhosa operação financeira, atrair ao estado do Espírito

Santo investimentos que propiciassem a alavancagem de desenvolvimento regional,

necessária à supressão de desigualdades, propiciando um financiamento de

imposto, via orçamento a título de incentivo.

RICARDO VARSANO, citado por DANIELA RIBEIRO DE GUSMÃO74,

compreende o resultado prático da medida ao aludir:

[...] se a devolução do imposto tiver valor superior ao do aumento (de custos envolvidos no deslocamento), é vantajoso do ponto de vista privado instalar a empresa no estado A (que concede o benefício), pois isto lhe confere uma vantagem em relação aos seus competidores em B, que pode se traduzir em maior lucro por unidade vendida ou ampliação de sua fatia no mercado. (grifos no original)

Apropriado que o resultado prático da concessão de um incentivo, seja

fiscal ou financeiro-fiscal, impacta o retorno econômico de um investimento, podendo

ser um diferencial no momento de tomada de decisão para a efetivação deste.

Conceituando que existe fundamento e arrimo Constitucional para que

dos resultados esperados efetive-se o ideal de igualdade, desenvolvimento

econômico e que, dentro da legalidade, não se erija um verdadeiro privilégio odioso,

temos então a legitimação destas modalidades de incentivos.

No capítulo seguinte (estudo de caso) procurar-se-á dirimir a natureza

do Incentivo concedido pelo FUNDAP, buscando, ao final, estabelecer sua natureza

Jurídica – se Incentivo Fiscal puro, Financeiro-Fiscal ou, ainda, se estariam

74 VARSANO, Ricardo, “Planejamento e Políticas Públicas”. In: Revista de Direito Público. São Paulo, n. 41-42, 1978, p. 25, apud GUSMÃO, Daniela Ribeiro de. Incentivos Fiscais, Princípios da Igualdade e da Legalidade e Efeitos no Âmbito do ICMS. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 83.

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autorizados, sob o ponto de vista epistemológico, a implantação e o estabelecimento

do conceito de incentivo financeiro puro.

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3 O FUNDAP

Através do sistema FUNDAP, as empresas com sede no estado do

Espírito Santo que realizam operações de importação de produtos não tradicionais –

na forma da legislação, por intermédio dos portos do Estado – são habilitadas a

receber financiamento, com prazos e juros bem abaixo do mercado, sem correção

monetária, de valor equivalente a 7,2% a 9% do valor das saídas de mercadorias do

estabelecimento cadastrado, na condição de aplicar, no mínimo, 7% desse

financiamento em investimentos no próprio Estado.

O Espírito Santo é o estado brasileiro que oferece o mais alto grau de

acessibilidade econômica para o mercado externo, pois apresenta na atualidade um

coeficiente de abertura que é medido pela relação entre valor total das importações

ou exportações sobre o produto interno bruto, superior ao dos demais estados da

Federação. Este grau de competitividade somente foi alcançado mediante a criação

do mecanismo estadual de incentivo, conhecido por FUNDAP – Fundo de

Desenvolvimento das Atividades Portuárias.

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3.1 BREVE HISTÓRICO DO FUNDAP – FUNDO DE DESENVOLVIMENTO

DAS ATIVIDADES PORTUÁRIAS

3.1.1 O Surgimento da Lei do FUNDAP na década de 70: seus objetivos e

fins

Com o desenvolvimento e as radicais mudanças neste momento

político, derivados do chamado milagre econômico, que infelizmente deixou seus

órfãos, entre eles o Espírito Santo e sua economia cafeeira em crise, o Fundo de

Desenvolvimento das Atividades Portuárias – FUNDAP foi criado pela Lei n.º

2.50875, de 22.05.1970, alterada pela Lei n.º 2.592, de 22.06.1971 e regulamentada

pelo Decreto n.º 163, de 15.07.1971, seguindo-se a partir desta data com várias

outras alterações, editadas ora sob a forma de decretos, ora sob a forma de normas

administrativas, tais como a Lei n.º 2.696/72, Lei n.º 4.202/88, Lei n.º 4.972/94 e

Decretos n.º 557-E/72, 316/72, 449/73, 456/78, 114/78, 2.012/80, 2.085/85 e

2.449/87, além de Portarias, Decisões e outras tantas normas de cunho

administrativo que alteram prazo de recolhimento do ICMS, garantias e aprovação

de projetos.

Tendo como gestor dos recursos financeiros o BANDES – Banco de

Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, o FUNDAP ainda passou por diversas

modificações, sendo a última através da Lei n.º 5.245, de 03.07.9676.

75 Vide Anexo A – Legislação. 76 Id.

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71

Da legislação referida, conclui-se que o Governo do Espírito Santo

pretendeu ampliar a renda do setor terciário do Estado através do incremento e da

diversificação das importações e exportações pelo Porto de Vitória, e mais, pela

ampliação da renda dos setores primário e secundário do Estado, através da

promoção de novos investimentos em diversos tipos de projetos77.

O estado do Espírito Santo buscou, através do incremento do seu giro

comercial, um aumento de sua receita tributária para atender aos reclamos de

custeio e capital do orçamento público, o que foi auferido ao longo da

implementação do sistema78.

Desta forma são outorgados financiamentos aos importadores e

exportadores, em valores distintos da parcela do custo da operação sobre a qual

incide o ICMS e aos devidos contratos de financiamento feitos com o Governo, por

mediação do BANDES.

É dado prazo de carência e amortização para pagamento dos

financiamentos com incidência de juro de 1% ao ano, sendo que uma parte do

financiamento concedido fica adstrita ao término de projeto, qualquer que seja a

área previamente aprovada pelo órgão gestor do fundo, delegado aos mutuários a

seleção dos projetos, os quais investirão, mediante mecanismos de comprovação

da aplicação dos recursos liberados, sob pena de aplicação de eventuais

penalidades pelo descumprimento das exigências feitas pelo BANDES.

77 O elenco descritivo das atividades incrementadas encontra sua descrição exauriente adiante. 78 Vide Anexo B – Tabelas, Gráficos e Mapa – Gráfico 01.

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72

A legislação moderadora do ICMS do Espírito Santo erige que, nas

operações de importação gerenciadas pelo sistema do FUNDAP, o imposto

estadual é diferido, não incide no momento do desembaraço aduaneiro de

mercadoria importada, incidindo somente em etapa posterior, quando da

subseqüente saída do estabelecimento do importador, em razão da venda, no

mercado interno.

3.2 FUNDAP – FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

PORTUÁRIAS – FUNCIONAMENTO

Ratificamos que empresas com sede no Estado, que realizam

operações de importação de produtos não tradicionais – sendo estes o que o

Estado já produz, na forma da legislação, através dos portos do Espírito Santo –

são habilitadas a receber financiamento, com prazo total de 25 anos, sendo que

cinco anos são fixados como de carência e vinte anos para amortização da dívida79.

O juro do financiamento está fixado em 1% ao ano, sem correção

monetária. O valor liberado corresponde, no mínimo, a 7,2% e, no máximo, a 9% do

valor de saída das mercadorias do estabelecimento cadastrado80.

Finalmente, a empresa beneficiária/tomadora do financiamento fica

obrigada a aplicar 7%, ou mais, do valor do financiamento em investimentos no

Estado81.

79 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 5. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005. 80 Id., ibid., p. 5. 81 Id., ibid., p. 10.

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73

3.2.1 Objetivos

O FUNDAP tem por objetivo ampliar a renda do setor terciário do

estado do Espírito Santo, através do incremento e diversificação do intercâmbio

comercial com o exterior; e dos setores primário e secundário, por intermédio da

promoção de novos investimentos em projetos agropecuários, industriais, de pesca,

de turismo, de florestamento e reflorestamento, de serviço, de saúde, de educação,

na área social, de transporte, de infra-estrutura não-governamental, de construção,

de natureza cultural ou de comércio82.

3.2.2 Premissas básicas para operação no FUNDAP

O FUNDAP alcançará seus objetivos mediante aplicação dos recursos

que o constituem através de operações entre o BANDES, na qualidade de gestor

financeiro, com empresas que exerçam atividade exclusiva de comércio exterior, em

financiamentos às operações de intercâmbio comercial que: a) estejam sujeitas ao

pagamento do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e

Prestações de Serviços de Transporte, Interestadual e Intermunicipal, e de

Comunicação (ICMS) ao estado do Espírito Santo; b) sejam efetuadas por

empresas que tenham sede no estado do Espírito Santo.

82 Id., ibid., p. 10-11.

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74

3.3 ATIVIDADES NÃO FINANCIÁVEIS

Devido suas características de incentivo com base no volume de ICMS

gerado pela empresa beneficiária, o FUNDAP veda a comercialização ao seu

amparo de determinadas mercadorias, ditas de comércio tradicional, tais como café,

farinha de trigo e aço83.

Tais restrições são compreensíveis e necessárias, pois, não se

justifica o incremento, via FUNDAP, de operações que por si sós movimentam

grandes volumes financeiros, além da incapacidade do Estado em dispor de

recursos para atender a demanda de financiamentos oriundos da comercialização

de produtos com grande peso na balança comercial.

3.4 CONDIÇÃO DOS FINANCIAMENTOS

O Poder Executivo do Estado fixará os percentuais, observados os

limites máximos e mínimos, de modo a ajustar os financiamentos às condições

operacionais do FUNDAP e às variações de conjunturas, preservando sua

viabilidade econômica e financeira.

83 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 17-18. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005. O quadro completo, bem como suas exceções, das mercadorias não beneficiárias do sistema FUNDAP pode ser visto no Anexo A.

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75

3.5 PRAZOS E ENCARGOS

3.5.1 Prazos

Os contratos de financiamento celebrados entre as empresas que

operam com o FUNDAP obedecerão a prazos de carência e de amortização de

cinco e de vinte anos, respectivamente84.

3.5.2 Encargos

Juro de 1% ao ano sem correção monetária. O pagamento do principal

e os encargos dos valores financiados serão efetuados em parcelas anuais e

sucessivas.

3.6 GARANTIAS

Em cada operação de financiamento serão exigidas pelo BANDES as

seguintes garantias: I – fiança dos sócios da empresa financiada e/ou terceiros; II –

caução em dinheiro ou título de renda fixa de emissão ou aceitos pelo BANDES, ou

ainda títulos públicos, desde que os valores reais sejam preservados,

correspondentes a, no mínimo, 7% do valor financiado85.

84 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 5. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005. 85 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 6. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005.

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76

A garantia prevista no item II será substituída pelos títulos

representativos dos investimentos previstos no art. 3.º da Lei n.º 2.592, de 22 de

junho de 1971, com redação dada pela Lei n.º 5.245, de 03 de julho de 1996.86

3.7 PENALIDADES

Não será permitida a concessão de financiamento à conta do FUNDAP

às empresas que estiverem com qualquer débito de tributo ao Estado do Espírito

Santo vencido há mais de 30 dias87.

O descumprimento de qualquer obrigação prevista na Lei n.º 2.592/71

(ou a prática das infrações fiscais previstas nos incisos I, alíneas “a” e “b”, e III,

alíneas “c” e “g” do art. 1.º da Lei n.º 4.550/91, de 05 de setembro de 1991)

importará vencimento antecipado do contrato de financiamento, com imediata

exigibilidade das obrigações de dar e de fazer, nele ajustado.

3.8 SOLICITAÇÃO OU RENOVAÇÃO DO REGISTRO

Para se credenciarem aos financiamentos à conta do FUNDAP, as

empresas solicitarão registro junto ao BANDES, encaminhando a documentação

que este vier a exigir88.

86 Vide Anexo A – Legislação. 87 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 6. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005. 88 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 6-7. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005.

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77

O registro da empresa somente será deferido pelo BANDES após

comprovação de sua regularidade jurídico-legal, contábil, administrativa, cadastral e

capacidade financeira para fazer jus aos financiamentos.

O certificado de registro emitido pelo BANDES fixará o limite

operacional de cada empresa e a validade do registro será de 12 meses, devendo a

empresa, em tempo hábil, renová-lo; e ainda, durante sua vigência, manter

atualizada a documentação apresentada ao BANDES.

As solicitações de registro somente serão protocoladas no BANDES

com documentação de cadastro e operacional completas, devidamente conferidas

pelas áreas competentes do BANDES89.

Para renovação de registro e aumento de limite operacional, a

documentação completa deverá, sem prejuízo no disposto no item anterior, ser

apresentada ao BANDES pelo menos 45 dias antes do vencimento do registro em

vigor.

3.9 ICMS NAS OPERAÇÕES FUNDAP

O ICMS, nas importações e exportações realizadas ao abrigo da Lei

n.º 2.508/70 e suas alterações posteriores, fica diferido para o momento em que

ocorram as saídas das mercadorias.

89 Id., ibid., p. 7.

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78

O recolhimento do ICMS será efetuado até o 26.º dia do segundo mês

subseqüente àquele em que ocorrerem as operações realizadas por contribuintes

vinculados ao FUNDAP, observando ainda o seguinte: a) nos meses em que o

vigésimo sexto dia não for considerado dia útil bancário, o recolhimento deverá ser

efetuado no dia útil bancário imediatamente anterior; b) no mês de fevereiro,

excepcionalmente, o recolhimento deverá ser efetuado até o antepenúltimo dia útil

bancário do mês90.

As principais alíquotas do ICMS, previstas na legislação tributária

estadual, são de 12% nas operações interestaduais e 17% dentro do Estado.

Quanto a outras alíquotas internas, devem ser consultados os artigos

27 e 28 da Lei n.º 4.217/8991, bem como os artigos 68 e 69 do RICMS, que dispõem

sobre as alíquotas de ICMS quanto às operações realizadas no Espírito Santo.

3.10 SOLICITAÇÃO DE FINANCIAMENTO

As empresas registradas no FUNDAP poderão requerer o

financiamento até o término do 5.º mês após o mês do faturamento, base de

cálculo, desde que o faturamento tenha ocorrido sob a vigência do respectivo

registro. A documentação para financiamento deverá ser entregue ao BANDES, no

90 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 8. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005. 91 Vide Anexo A – Legislação.

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79

período compreendido entre os dias 06 e 15 de cada mês. Os financiamentos serão

decorrentes das operações realizadas e enquadradas previamente pelo BANDES92.

O valor mínimo para contratos de financiamentos FUNDAP será igual

ao valor em reais correspondente a R$ 10.000,00.

3.11 COMPROVAÇÃO DO RECOLHIMENTO DO ICMS

Até dois dias após o recolhimento do ICMS, a empresa beneficiária do

FUNDAP deverá apresentar ao BANDES documento original com a autenticação

bancária.

Com o intuito de preservar o sistema e evitar fraudes e desvios, o

BANDES só fará a liberação do financiamento após a comprovação e confirmação

do recolhimento do tributo93.

3.12 LIBERAÇÃO DOS FINANCIAMENTOS

A liberação dos valores constantes dos contratos de financiamento

será autorizada após comprovação das seguintes condições: a) registro do contrato

no Cartório de Registro de Títulos e Documentos da Comarca de Vitória; b) quitação

tributária referente à exportação ou respeitante à comercialização da importação.

92 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 9. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005. 93 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 9-10. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005.

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80

Se as empresas optarem pelos serviços do BANDES para o registro

dos contratos de financiamento FUNDAP em cartório, os custos cartorários e

administrativos serão cobrados, a título de ressarcimento, na respectiva guia de

liberação.

A legislação do FUNDAP não define a data para liberação do

financiamento. Entretanto, os repasses da Secretaria da Fazenda para o BANDES

têm ocorrido até o último dia do mês seguinte à quitação tributária.

O BANDES libera o financiamento no dia seguinte ao recebimento dos

recursos da SEFA (Secretária de Fazenda do Estado do Espírito Santo) através de

depósito em conta corrente da empresa junto ao Banco do Estado do Espírito Santo

S/A (BANESTES).

Para maior segurança das operações, a empresa deverá manter

atualizado o número de sua conta corrente do BANESTES junto ao BANDES e

qualquer alteração deverá ser informada através de correspondência protocolada e

com reconhecimento de firma dos representantes da empresa.

Ao creditar os recursos, o BANDES emitirá Guia de Liberação

contendo as informações do montante do crédito liberado, número do contrato, data

e respectivas deduções (caução de 7% e custas do registro do contrato em

cartório). O original da Guia de Liberação estará disponível para a empresa no dia

seguinte à efetivação do crédito94.

94Internet: Manual Operacional do FUNDAP / BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, p. 8. Em <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso: 18.10.2005.

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3.13 INVESTIMENTOS VINCULADOS AOS FINANCIAMENTOS

A empresa mutuária do FUNDAP deverá investir, no mínimo, 7% do

valor do financiamento até o último dia do exercício seguinte ao da contratação em

projeto de sua escolha, dentro da seguinte lista:

• industrial;

• agropecuário;

• de pesca;

• de turismo;

• de florestamento e reflorestamento;

• de serviço;

• de saúde;

• de educação;

• social;

• de transporte;

• de infra-estrutura não-governamental;

• de construção;

• de natureza cultural;

• de comércio previamente aprovado pelo órgão gestor do Fundo;

• em ações de emissão do BANDES.

É garantido à mutuária o arbítrio quanto a seleção dos projetos.

Contudo, é vedada a aquisição de terras com recursos do FUNDAP destinados a

investimentos.

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82

O Poder Executivo poderá acrescentar por decreto novas atividades,

além das estabelecidas na Lei, assegurando em favor dos mutuários o arbítrio,

quanto a seleção dos projetos e a forma de participação dos mesmos.

Para efeito do investimento, a empresa mutuária submeterá ao

BANDES, para análise e aprovação do Conselho de Administração, projetos próprios

ou indicará projetos de terceiros, nos prazos estabelecidos pela lei.

Para se beneficiar dos investimentos a empresa titular do projeto será

constituída sob a forma de Sociedade Anônima e a empresa mutuária participará

acionariamente da empresa titular do projeto.

As ações e os títulos representativos do investimento são inalienáveis

enquanto caucionados, estendendo-se esta condição às bonificações que forem

atribuídas a seus titulares.

O projeto para se tornar apto a receber recursos originários do

FUNDAP deverá ser analisado e aprovado pelo BANDES.

3.14 LEILÃO FUNDAP

Os contratos de financiamento com recursos do FUNDAP poderão ser

periodicamente objeto de oferta pública, visando a liquidação antecipada dos

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83

mesmos, observadas as seguintes condições95: I – pagamento em moeda corrente

equivalente a, no mínimo, 15% dos saldos devedores dos contratos de

financiamento apurados na data da liquidação; II – que estejam realizados os

investimentos decorrentes desses contratos, exigidos na forma da Lei, ou que sejam

depositados no Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A (BANDES) os

respectivos recursos para cumprimento dessa obrigação; III – os contratos poderão

ser cedidos mediante leilão, observado o preço mínimo estabelecido, conforme item

I supra.

O Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo fará os LEILÕES

ADMINISTRATIVOS FUNDAP, do tipo maior lance ou oferta, nos termos da Lei n.º

8.666/93, de 21.06.93, para cessão dos direitos referentes aos contratos de

financiamento com recursos desse fundo, como autoriza a Lei n.º 5.245/96,

regulamentada pelo Decreto n.º 4.003/96.

3.15 OBJETIVO

Cessão dos direitos decorrente de contratos de financiamento,

celebrados pelo BANDES com recursos do FUNDAP, mediante pagamento à vista

de, no mínimo, 15% do valor de cada lote.

Entende-se por valor de lote a soma dos saldos devedores dos

contratos (liberados) que o compõe, calculados até a data do leilão, nas condições

contratuais. 95 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 15-16. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005.

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84

3.15.1 Condições de participação

Poderá participar da licitação qualquer pessoa física ou jurídica que

atenda às exigências do edital do Leilão, sendo vedado a participar da licitação

empregado ou membro de órgão estatutário do BANDES. Não será admitida a

participação de concorrentes em consórcio96.

3.16 DIMENSÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO SISTEMA FUNDAP E SUA

CONTRIBUIÇÃO PARA A ECONOMIA DO ESPÍRITO SANTO

Somente a partir da segunda metade dos anos 1970 a indústria

superou os índices de desenvolvimento da agricultura no estado do Espírito Santo.

No período 1985-1999 a indústria já representava 36,2% do PIB e a agricultura

14,7%, enquanto os serviços reduziam a sua participação relativa e representavam

49,1%. Nesse período, o crescimento da participação da indústria no PIB já não

tinha muito a ver com as iniciativas originadas pela indução dos incentivos locais,

como no início da década. O gênero que mais cresceu foi o da indústria extrativa

mineral, que quase triplicou sua participação na composição do valor da

transformação industrial em uma década, passando de 10,07% para 28,02%, de

1970 para 1980, respectivamente. Em termos de ramo dentro do gênero da

indústria de transformação, o de papel e papelão foi o que mais cresceu, elevando

sua participação na composição do valor da transformação industrial, de zero para

19,05%.

96 Internet: Manual Operacional do FUNDAP/BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A, p. 15. Disponível em: <http://www.bandesonline.com.br/downloads/fundap04.doc>. Acesso em: 18.10.2005.

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85

Esse novo patamar de participações setoriais puxou a produção

industrial no PIB Estadual daquele período. O crescimento do gênero indústria

extrativa correspondia às usinas de pelotização construídas pela CVRD e o

crescimento do ramo papel e papelão referia-se ao início da contabilização

operacional da Aracruz Celulose. Enquanto isso, o crescimento modesto do ramo

metalurgia na década de 1970 contrastou com o salto verificado na década

seguinte, quando em apenas cinco anos triplicou sua participação na composição

do gênero transformação industrial, passando de 9,67%, em 1980, para 29,27% em

1985. Foi a indicação da entrada em operação da CST, em 1983.

Se, por um lado, as políticas federais de erradicação dos cafezais nos

anos 1960 e as demais políticas voltadas para a agricultura – específicas para a

pecuária, o reflorestamento, a borracha e a cana-de-açúcar (para o Pró-álcool) –

induziram as transformações no campo, o II PND, nos anos 1970, contribuiu para a

promoção da produção da indústria, transformando a base produtiva estadual, que

se diversificava com a ampliação da planta.

Em termos espaciais, não mudou a direção convergente dos fluxos

econômicos induzidos ainda no século XIX para promover Vitória a centro dinâmico

estadual. O que se constata é que a capital, além de deixar de ser a cidade de um

único município e ganhar dimensões metropolitanas, passou a ser centro de

comércio exterior, não só de produtos agrícolas, mas também e, fundamentalmente,

de produtos industriais semi-elaborados. Não houve nenhum tipo de inversão do

sentido da rede urbana estadual. Aumentou a concentração de investimentos na

região metropolitana relativamente aos outros espaços do território estadual.

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86

Considerando os limites dos incentivos locais anteriormente

mencionados e a história da formação econômica estadual, foi importante o papel

histórico dos incentivos financeiros na promoção do desenvolvimento regional.

Não há dúvida de que os incentivos financeiros foram responsáveis

pela implantação de um número razoável de empresas, principalmente aquelas

vinculadas à atividade industrial. O que se percebe, no entanto, é que o processo de

diversificação industrial no Espírito Santo apresentou-se descontínuo, incompleto e

desarticulado. Esse dado sugere que, do ponto de vista da política de

desenvolvimento regional, as iniciativas tiveram como propósito criar unidades

industriais. A despeito disto, foram engendrados no período de existência do

FUNDAP novas opções de investimentos e direcionamento dos recursos.

Estas experiências coincidiram com a formação de novos empresários,

hoje bem-sucedidos, que nasceram no período de mudanças e que também vieram

a utilizar os incentivos estaduais. Registra-se, no entanto, que a história

mercantilista que marcou forte e visivelmente a economia no Espírito Santo até os

anos cinqüenta está hoje muito presente no empresariado, na sua mentalidade e na

sua prática, porém, não de forma tão transparente como antigamente, porque faz

uso de uma nova roupagem. Ora está transvertido de industrial, ora de moderno,

comerciante com incursões nas atividades de logística. Isto é possível perceber no

discurso dos mesmos personagens e no de seus representantes, alojados no

governo e nas federações empresariais. Nos anos 1970 a palavra de ordem era

industrialização, como alternativa à crise (dita, da erradicação dos cafezais).

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87

3.16.1 O incentivo do sistema FUNDAP como alternativa ao carro-chefe da

economia capixaba: o mercado cafeeiro

3.16.1.1 Incentivo para os municípios

Os municípios que ficam com 25% de todo o ICMS gerado no Estado

foram os grandes beneficiários do salto na arrecadação em 2001. Dos R$ 2,41

bilhões apurados, nada menos que R$ 602,5 milhões foram distribuídos para as

prefeituras, dentro de seus índices de participação no bolo do imposto. Vitória, que

detém participação de 21,69%, ficou com R$ 130,68 milhões, a maior fatia individual

do bolo dos municípios. Os municípios também ficam com 25% do ICMS do

FUNDAP. O produto importado, portanto, rendeu R$ 222,5 milhões para as

prefeituras, o equivalente a 36,92% de todo o ICMS repassado pelo Estado97.

Esta foi a melhor arrecadação anual (em reais) do FUNDAP nos trinta

anos de existência. O desempenho positivo do sistema deve ser atribuído à

competência desta nova classe de empresários.

Com a arrecadação histórica obtida em 2001, o sistema FUNDAP,

pode-se dizer, deixa nos cofres públicos do Espírito Santo 1 milhão de reais por dia.

Desse valor, 60% (R$ 600 mil) vão para os municípios e 40% (R$ 400 mil) vão para

o Estado.

97 Vide Anexo B – Tabelas, Gráficos e Mapa – Tabela 01.

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Dos R$ 887 milhões arrecadados em 2005, o equivalente a 25% (R$

221,8 milhões) vão para os municípios e R$ 77,7 milhões (10% em média) vão para

os cofres do Estado. Do valor arrecadado, 65% correspondem ao financiamento e,

desse total, um percentual de 10% (cerca de R$ 57,6 milhões) é originário de leilões

dos saldos destes financiamentos. Estes valores aumentaram ainda mais no ano de

200498.

Boa parte do bom desempenho da arrecadação de ICMS deve ser

atribuída à Lei n.º 6.668/01, que obrigou as empresas “fundapianas” a

desembaraçarem as cargas no Espírito Santo, independente do porto de

desembarque das mercadorias. Esta exigência legal resultou em incremento

também da arrecadação de tributos federais, como Imposto de Importação (II) e

Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Como provam os números, é absolutamente funcional o sistema para

a arrecadação do Estado.

3.17 ESTATÍSTICAS DO CRESCIMENTO DO ESTADO DO ESPÍRITO

SANTO NOS 32 ANOS DE EXISTÊNCIA DO SISTEMA FUNDAP

O sistema de incentivos criado pelo Fundo de Desenvolvimento das

Atividades Portuárias (FUNDAP), não deve deixar de existir, mas sim, ser

repensado e aprimorado para contribuir ainda mais com o crescimento econômico

do Estado. Destaca-se a importância do sistema de incentivos financeiros – o

98 Id., ibid.

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FUNDAP – para o desenvolvimento capixaba, visto que, além de atrair empresas

que lá se fixam, o FUNDAP garante boa parte do ICMS recebido pelos municípios,

chegando ao patamar de 25% desta receita99.

O estado do Espírito Santo concede financiamentos para empresas

com sede em seu território, onde os respectivos valores financiados são investidos

em projetos industriais, agropecuários, turismo e o desenvolvimento da atividade

pesqueira.

Mencionado financiamento é administrado pelo Banco de

Desenvolvimento do Espírito Santo S/A (BANDES), que também fiscaliza a

finalidade ou utilização dada aos recursos. Os valores relativos ao faturamento do

contribuinte espírito-santense são utilizados como referencial pelo banco, para

aferição do valor a ser concedido. Quanto maior o faturamento, tanto maior será o

financiamento concedido.

Como podemos perceber, o sistema FUNDAP propiciou e propicia ao

longo de sua existência, a implementação de inegável incremento ao

desenvolvimento econômico do estado do Espírito Santo, contribuindo para a

diminuição de sua desigualdade perante os demais estados da federação, no que

tange à participação no PIB geral, criando empregos e aumentando a arrecadação

de ICMS.

99 Vide Anexo B – Tabelas, Gráficos e Mapa – Gráficos 01 e 02.

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3.18 A NATUREZA JURÍDICA DO INCENTIVO ORIUNDO DO SISTEMA

FUNDAP

Após a explicitação técnica do funcionamento do sistema, efetivada

acima, restou claro que o incentivo originado do FUNDAP funciona, em apertada

síntese, de forma a que o sujeito passivo da obrigação Tributária somente possa ter

acesso ao financiamento do BANDES após a quitação in totum do Tributo.

Desta forma, opera-se antes do acesso a qualquer crédito à extinção

da relação Tributária por seu pagamento.

Subseqüentemente surge nova relação, de natureza civil, entre o

outrora sujeito passivo da obrigação de pagar o ICMS do produto importado, via

FUNDAP, e o estado, ora representado pela pessoa jurídica de direito privado, o

BANDES.

Para o perfeito entendimento desta questão é válido que se frise este

aspecto: extinção da relação Tributária.

Analisemos o entendimento do ilustre doutrinador PAULO BARROS DE

CARVALHO100, quando enfatiza:

Ao serem confrontadas as possibilidades teóricas de extinção das relações jurídicas, devemos ter ciência que a própria relação jurídica, entendida como nexo abstrato mediante o qual uma pessoa, chamada de sujeito ativo, tem o direito subjetivo de exigir uma prestação, enquanto outra, designada de sujeito passivo, está encarregada de cumpri-la, nasce, como vimos, da ocorrência do fato típico descrito no antecedente da proposição

100 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 13 ed., ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 74-75.

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$

normativa. No percurso da sua existência pode experimentar mutações, que interferem nos elementos que a compõem ou nas gradações de sua eficácia. E depois se extingue, por haver realizado seus objetivos regulares da conduta ou por razões que o direito positivo estipula [...].

E continua com o seu raciocínio, explicando que:

Quadra examinar o fenômeno jurídico que se opera na extinção de tais vínculos, para podermos bem compreender o desaparecimento das obrigações tributárias. Se a unidade irredutível das relações jurídicas é formada por dois sujeitos (pretensor e devedor) e um objeto, presos entre si por nexos que conhecemos, parece-nos que o melhor caminho para sabermos da desintegração dessa entidade é procurarmos indagar o modo pelo qual desaparecem seus elementos integrativos, bem como as relações que os unem, posto que tais elementos e tais vínculos dão a compostura atômica dos liames jurídicos que fazem surdir direitos e deveres correlatos. Façamos uma representação gráfica:

Decompõe-se a figura obrigacional ora reproduzida: • � pelo desaparecimento do sujeito ativo; • � pelo desaparecimento do sujeito passivo; • � pelo desaparecimento do objeto; • � pelo desaparecimento do direito subjetivo de que é titular o sujeito pretensor, que equivale à desaparição do crédito; • � pelo desaparecimento do dever jurídico cometido ao sujeito passivo, que equivale à desaparição do débito. (PAGAMENTO) Qualquer hipótese extintiva da relação obrigacional que possamos aventar estará contida, inexoravelmente, num dos cinco itens que enumeramos. Carece de possibilidade lógica imaginar uma sexta solução, precisamente porque esta é a fisionomia básica da existência de um vínculo de tal natureza. Advertimos que no direito positivo brasileiro, no que se refere às obrigações tributárias, não há prescrições que contemplem a extinção do objeto prestacional, estritamente considerado. Entretanto, todos os demais casos de desaparecimento de elementos integrativos ou dos nexos que os enlaçam se encontram previstos, indicados pelo legislador, pelos nomes técnicos correspondentes. Dito isto, claro está que desaparecido o crédito, decompõe-se a obrigação tributária, que não pode subsistir na ausência desse nexo relacional que atrela o sujeito pretensor ao objeto e que consubstancia seu direito subjetivo de exigir a prestação. O crédito tributário é apenas um dos

Direito subjetivo S

Crédito

Dever jurídico S

Débito

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aspectos da relação jurídica obrigacional, mas sem ele inexiste o vínculo. Nasce no exato instante em que irrompe a obrigação e desaparece juntamente com ela101.

O Código Tributário Nacional enuncia em seu art. 156 dez causas

extintivas da obrigação tributária, começando exatamente com: I) o pagamento; II) a

compensação; III) a transação; IV) a remissão; V) a prescrição e a decadência; VI) a

conversão de depósito de renda, entre outras mais; o que desvela de forma

contundente que no caso do FUNDAP a relação Tributária está extinta pelo

pagamento, anterior à concessão de qualquer recurso por parte do Estado.

O Mestre SACHA CALMON NAVARRO COÊLHO102, citando

FERNANDO ALBINO DE OLIVEIRA, assevera, ao examinar a questão dos

incentivos fiscais, que:

Esta, então tenderia a nominar toda uma gama de modos exonerativos, transmudando-se em gênero o que hoje é espécie. Albino de Oliveira dá-nos uma mostra da doutrina que vimos de referir: “O termo isenção usado pelo legislador constituinte na redação do § 6.º, do art. 23, numa interpretação sistemática da Constituição, deve ser ampliado de modo a compreender quaisquer benefícios tributários, entendidos estes como sendo os concedidos no âmbito da relação jurídica obrigacional entre fisco e contribuinte, antes de sua extinção pelo pagamento do imposto. Tal ampliação, entretanto, não permite abarcar também as vantagens financeiras, outorgadas em momento lógico e cronologicamente posterior ao da extinção do crédito tributário (...)”.

Como exposto, o FUNDAP somente realiza qualquer financiamento em

momento posterior à extinção da relação tributária, sendo que neste aspecto não

poderia ele ser considerado com incentivo fiscal, mas sim financeiro-fiscal e quem

sabe, até dada a sua característica econômica, em um incentivo financeiro simples,

101 Id., ibid. 102 OLIVEIRA, Fernando Albino de, “Isenções do ICM”. In: Revista de Direito Público 27/230, 1974, apud COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Teoria Geral do Tributo, da Interpretação e da Exoneração Tributária. São Paulo: Dialética, 2003, p. 227.

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completamente deslocado da questão tributária, apesar de sua não desnaturação

conquanto incentivo concedido pelo lado da despesa.

A natureza econômica que autoriza uma análise neste sentido funda

suas raízes em uma questão que não pode passar despercebida. Os recursos

orçamentários destinados ao FUNDAP, para serem operados pelo BANDES, no ano

de 2004, alcançaram o valor de R$ 532.931.555103.

No mesmo ano, o ICMS gerado nas operações via FUNDAP atingiu em

dólares norte-americanos o valor de US$ 1.254.552.000,90, o que convertido para

nossa moeda, pela cotação média do dólar norte-americano no ano, no valor de R$

2,715104, alça um valor de R$ 3.406.108.680,00, ou seja, para cada real investido foi

gerado um recolhimento de R$ 6,392.

É patente que, sob o ponto de vista econômico, o financiamento do

FUNDAP é um sucesso e certamente que tal questão fornece material suficiente

para uma pesquisa aprofundada na área no que tange a este índice de imputação

de crescimento no recolhimento do ICMS no Estado desde sua criação em 1971.

Desta forma, em estando do lado da despesa e não representando

renúncia fiscal típica, ou categoria isencional como que em boa parte da Doutrina,

inegável que estamos diante de um incentivo financeiro-fiscal de sucesso.

103 Internet: Disponível em: <http://www.planejamento.es.gov.br/web/Or%E7amentos/2004/qdd04.pdf>. Acesso em: 20.10.2005. 104 Internet: Disponível em: <http://www5.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao>. Acesso em: 20.10.2005.

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94

CONCLUSÃO

No presente trabalho buscou-se, ao expor o sistema FUNDAP,

demonstrar dentro de sua sistemática que este, enquanto incentivo, possui a

característica básica de ser um incentivo que milita pelo lado da despesa pública.

Com efeito, a procura a estes recursos orçamentários, por parte do

beneficiário, ocorre se, e somente se, a exação tributária do ICMS estiver satisfeita e

devidamente recolhida aos cofres públicos. Extinta, portanto, a relação jurídico-

tributária pelo fenômeno do pagamento.

Assim sendo, o recurso deve ser, em parte, direcionado para

aplicações delimitadas dentro de uma cadeia produtiva que interesse às políticas

públicas de desenvolvimento do estado do Espírito Santo, sendo conditio sine qua

non que o projeto beneficiário dos recursos se circunscreva ao Estado, bem como a

empresa mutuária ali esteja.

Os resultados econômicos auferidos no período de existência do

FUNDAP, desde 1971, lograram êxito em desenvolver parte significativa do Estado,

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melhorando as perspectivas de inserção no competitivo mercado nacional e no

mercado global.

Por outro lado, os objetivos colimados se encontram em perfeita

sintonia com os comandos programáticos da constituição no que tange aos

princípios do desenvolvimento econômico e eliminação das desigualdades regionais

e sociais, pela promoção de crescimento do PIB interno e expansão da oferta de

empregos, o que torna o sistema absolutamente legal e legítimo.

Por não se constituir em incentivo fiscal puro, por não operar na

vertente da receita e sim da despesa, não encontra óbice para seu funcionamento

em nosso sistema Constitucional-tributário.

Do mesmo modo, por se revestir de legalidade em sua forma e

conteúdo, milita a seu favor a presunção de legitimidade, que se espraia pela força

de seus resultados (fortemente estribados nos princípios Constitucionais acima

aludidos).

Neste sentido, inegável que o mesmo não desrespeita o princípio

histórico da igualdade, pois não cria situações que levem a crer que estejamos

diante de privilégios odiosos. Qualquer crença nesta direção se dilui diante do fato

de que o FUNDAP contribuiu e contribui para plantar crescimento e distribuição de

renda, inclusive por não ser norma isencional que incida sobre determinado tributo,

mas sim, financiamento que deve ser pago, mesmo com desconto, tratando-se este

de relação de Direito Privado.

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Significativo então que o sistema, fundado na legalidade e seguindo o

pálio de nossa Constituição, tenha auferido resultados significativos na senda do

gênero incentivo, o que lhe garante a legitimidade e constitucionalidade.

Por conseguinte, é válido indagar se o mesmo, dada as suas

especificidades, não se constituiria em um incentivo financeiro simples, tendo em

vista que seus resultados multiplicadores são inegáveis.

Finalmente, demonstrada a consistência e legalidade do sistema

FUNDAP, restam apenas perquirir as questões adstritas às suas especificidades que

dariam origem a uma nova categoria do gênero incentivo, o que certamente

estimularia o aprofundamento deste estudo.

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97

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ANEXO A – LEGISLAÇÃO

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LEI N.º 2.508, de 22.05.70

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: faço saber que a

Assembléia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1.º - Fica o Poder Executivo autorizado a criar, junto ao Conselho de

Desenvolvimento Econômico do Estado (CODEC), um fundo especial denominado

Fundo para o Desenvolvimento das Atividades Portuárias (FUNDAP), cujos recursos

serão destinados a promover o incremento das exportações e importações através

do Porto de Vitória.

Art. 2.º - o FUNDAP será constituído por recursos financeiros provenientes de

dotações constantes na Lei de Orçamento Anual do Estado e créditos adicionais a

ele destinados; transferências realizadas por entidades da Administração Indireta

relacionadas com a atividade Portuária e que tenham sua receita acrescida em

virtude dos financiamentos de que trata esta lei; amortização dos financiamentos

concedidos; e de outras fontes definidas em Decreto do Poder Executivo.

Art. 3.º - A gestão dos recursos financeiros do FUNDAP caberá ao Banco de

Desenvolvimento do Espírito Santo S/A - BANDES e seu orçamento será aprovado

em ato do Governador do Estado, ouvido o Conselho de Desenvolvimento

Econômico (CODEC).

Parágrafo Primeiro - Na indicação dos órgãos encarregados da elaboração do

Orçamento do Estado dos recursos a serem destinados ao FUNDAP, o BANDES

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considerará a projeção da receita dos tributos estaduais relacionados com a

importação e exportação de modo a compatibilizar o total dos financiamentos

concedidos com o incremento da Receita Tributária deles decorrentes.

Parágrafo Segundo - A Secretaria da Fazenda, a Secretaria Executiva do CODEC e

a Administração do Porto de Vitória, fornecerão ao BANDES os elementos

necessários ao estabelecimento da previsão orçamentária de que trata este artigo.

Art. 4.º - Os financiamentos a que se refere esta lei poderão atingir até 10% (dez por

cento), da parcela do custo da operação sobre a qual incida o Importo de Circulação

de Mercadorias.

Art. 5.º - Os contratos de financiamento feitos com Governo, por intermédio do

Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A - BANDES, cumprirão entre

outras, as seguintes condições:

a) - prazos máximos de carência e de amortização de 5 (cinco) e de 20 (vinte) anos,

respectivamente;

b) - juros máximos de 6% (seis por cento) ao ano.

Art. 6.º - Os financiamentos de que trata esta lei destinar-se-ão:

a) - no sentido de exportação à mercadorias e equipamentos que, nos últimos 10

(dez) anos não tenham excedido a 5% (cinco por cento) do total em cruzeiros

exportados em cada ano pelo Porto de Vitória;

b) - no sentido da importação, prioritariamente a matérias-primas destinadas à

industrialização e a equipamentos industriais.

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Art. 7.º - Fica o Poder Executivo autorizado a abrir, para o exercício de 1970, o

Crédito Especial de NCr$ 2.000.000,00 (dois milhões de cruzeiros novos) destinado

a constituir os recursos iniciais do FUNDAP.

Parágrafo Único - Os recursos para a abertura do Crédito serão resultado da

diferença entre os recursos previstos na Receita do Orçamento do Estado para o

exercício de 1970, oriundos dos fundos de que trata o Artigo 25 da Constituição do

Brasil e as parcelas dos mesmos efetivamente atribuídas ao Espírito Santo na

distribuição ser feita pelo Ministério do Planejamento.

Art. 8.º - Até que se iniciem as transferências de recursos do Governo Federal para o

Espírito Santo à conta dos Fundos referidos no artigo anterior fica o Poder Executivo

autorizado a prover recursos para o FUNDAP através de operações de crédito por

antecipação da receita.

Art. 9.º - Os saldos verificados na conta do FUNDAP em cada exercício serão

automaticamente transferidos para o exercício seguinte.

Parágrafo Único - Os saldos orçamentários não transferidos para o Fundo até o final

do exercício serão escriturados em "Restos a Pagar" com prescrição após o período

de dois anos.

Art. 10 - Pela gestão dos recursos do FUNDAP será atribuída ao BANDES a

remuneração de 50% (cinqüenta por cento) dos juros pagos pelos mutuários.

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Art. 11 - Ficam transferidas ao ativo e passivo do FUNDAP as operações

contratadas com fundamento nos decretos números 6-N e 19-N, respectivamente de

16.06.1969 e 15.10.1969.

Art. 12 - Esta lei entrará em vigor a partir de 1º de janeiro de 1970.

Art. 13 - Revogam-se as disposições da Lei nº 2.398, de 30.01.1969, no que

colidirem com as desta lei e as demais disposições em contrário.

Ordeno, portanto, a todas as autoridades que a cumpram e a façam cumprir como

nela se contém.

O Secretário do Interior e Assuntos da Justiça faça publicá-la, imprimir e correr.

Palácio Anchieta, em Vitória, 22 de maio de 1970.

CHRISTIANO DIAS LOPES FILHO

PAULO AUGUSTO COSTA ALVES

ÁUREO ANTUNES

JOSÉ CARLOS PEREIRA NETTO

Selada e publicada nesta Secretaria do Interior em Assuntos da Justiça do Estado

do Espírito Santo, em 22 de maio de 1970.

WALESKA SANTOS BARCELLOS

Chefe da Seção de Expediente e Documentação

-----------------------------------

Publicado no DOES de 02.07.79.

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105

LEI N.º 5.245, de 03.07.96

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Faço saber que a Assembléia legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art 1.º - O artigo 4.º da Lei n.º 2.508, de 22 de maio de 1970, com a redação que lhe

deu o artigo 6.º da Lei n.º 4.972, de 17 de novembro de 1994, passa a vigorar com a

seguinte redação:

" Art. 4.º - Os funcionamentos a que se refere esta Lei terão valor máximo de 9 %

(nove por cento) e no mínimo 7,2% (sete vírgula dois por cento) da operação,

considerando-se:

a) na importação, o valor da saída das mercadorias do estabelecimento importador;

e,

b) na exportação, o valor das mercadorias constantes da guia de exportação visada

pela DECEX ou pela Delegacia da Receita Federal, conhecimento de embarque ou

contrato de câmbio liquidado."

Art. 2.º - O Artigo 5.º da Lei n.º 2.592, de 22 de junho de 1971, alterando pelas Leis

n.º 4.761, de 18 de janeiro de 1993 e 4.972, de 17 de novembro de 1994, passa a

vigorar com a seguinte redação:

"Art. 5.º - Em cada operação de financiamento, serão exigidas as seguintes

garantias:

I - fiança dos sócios da empresa financiada e/ou terceiros;

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106

II - caução em dinheiro ou títulos de renda fixa de emissão ou aceitos pelo BANDES,

títulos públicos desde que preservem seu valor real, no valor correspondente a, no

mínimo, 7 % (sete por cento) do valor financiado.

Parágrafo Primeiro - A critério do BANDES, poderá ser aceita fiança bancária em

substituição à caução prevista no inciso II deste artigo.

Parágrafo Segundo - A garantia prevista no inciso II será substituída pelos títulos

representativos dos investimentos previstos no artigo 3.º da Lei n.º 2.592, de 22 de

junho de 1971, com a redação dada por esta Lei."

Art. 3.º - O "caput" do artigo 3.º da Lei n.º 2.592/71, alterado pelas Leis n.º 4.761/93

e 4.972/94 e suas respectivas alíneas, passam a vigorar com a seguinte redação,

acrescentando-se-lhes os parágrafos 9.º, 10, 11 e 12:

"Art. 3.º - A empresa mutuaria do FUNDAP deverá investir, no mínimo 7% (sete por

cento) do valor do financiamento até o último dia do exercício seguinte ao da

contratação, em projeto industrial, agropecuário, de pesca, de turismo, de

florestamento e reflorestamento, de serviço, de saúde, de educação, social, de

transporte, de infra-estrutura não governamental, de construção, de natureza cultural

ou de comércio previamente aprovado pelo órgão gestor do fundo, ou ainda, em

ações de emissão do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A - BANDES,

assegurado à mutuaria o arbítrio quanto a seleção dos projetos.

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107

Parágrafo Nono - Não havendo comprovação do investimento exigido neste artigo

até a data estabelecida, o valor correspondente será depositado e retido no

BANDES para ser utilizado na integralização do seu capital, em nome da empresa

depositante, salvo se a opção da empresa mutuaria recair em projeto que tenha sido

apresentado ao BANDES para análise há mais de três meses da data da opção e

que ainda não tenha sido aprovado pelo mesmo, hipótese em que o prazo

estabelecido no ‘caput’ deste artigo prorrogar-se-á automaticamente por mais três

meses a contar da data da decisão quanto ao projeto.

Parágrafo Décimo - É vedada a aquisição de terras com recursos FUNDAP

destinado a investimentos.

Parágrafo Décimo Primeiro - O Poder Executivo poderá acrescentar, por decreto,

novas atividades, além das estabelecidas no ‘caput’ deste artigo, assegurado em

favor dos mutuários o arbítrio, quanto a seleção dos projetos e a forma de

participação dos mesmos.

Parágrafo Décimo Segundo - Ficam eliminadas as restrições para efeito de

investimentos, contidas no artigo 3.º da Lei n.º 4.761/93."

Art. 4.º - O Poder Executivo fixará os percentuais de que trata o artigo 4.º da Lei n.º

2.508, de 22 de maio de 1970 , observados os limites máximos e mínimos, de modo

a ajustar os financiamentos às condições operacionais do FUNDAP às variações de

conjunturas, preservando sua viabilidade econômica e financeira.

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Art. 5.º - Os contratos de financiamento com recursos FUNDAP, poderão ser

periodicamente, objeto de oferta pública, visando a liquidação antecipada dos

mesmos, observadas as seguintes condições:

I - pagamento em moeda corrente equivalente a, no mínimo, 10% (dez por cento),

dos saldos devedores dos contratos de financiamento apurados na data da

liquidação;

II - que estejam realizados os investimentos decorrentes desses contratos, exigidos

na forma da Lei ou, que sejam depositados no Banco de Desenvolvimento do

Espírito Santo S/A - BANDES, os respectivos recursos para comprimento dessa

obrigação;

III - os contratos poderão ser cedidos mediante leilão observado o preço mínimo

estabelecido no inciso I deste artigo.

Art. 6.º - Dos ingressos mensais feitos à conta FUNDAP serão destinados, no

mínimo, 2% (dois por cento) e no máximo 5 % (cinco por cento) para capitalização

do BANDES.

Parágrafo Único - A Secretaria de Estado da Fazenda transferirá esses recursos

mensalmente para o BANDES juntamente com aqueles destinados à liberação dos

financiamentos.

Art. 7.º - A empresa registrada no FUNDAP poderá requerer o financiamento até o

término do quinto mês após o mês do faturamento, base de cálculo, desde que o

faturamento tenha ocorrido sob vigência do respectivo registro.

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Art. 8.º - Fica vedada a concessão de financiamento à conta do FUNDAP, as

empresas que estiverem com qualquer débito de tributo ao Estado do Espírito Santo,

vencido a mais de 30 (trinta) dias.

Art. 9.º - Ficam revogados o parágrafo único do artigo 7.º da Lei n.º 2.592/71 e o

artigo 6.º da Lei n.º 4.761/93.

Art. 10.º - Fica criado o Conselho de Avaliação do FUNDAP - CAF, composto pelos

seguintes membros:

I - Secretário de Estado da Fazenda;

II - Presidente do BANDES;

III - Representante do SINDIFISCAL-ES;

IV - Representante da Associação dos Municípios do Espírito Santo - AMUNES;

V - Representante do SINDIEX;

VI - Representante da Assembléia Legislativa.

Parágrafo Primeiro - O Conselho será presidido pelo Secretário de Estado da

Fazenda e no seu impedimento pelo Presidente do BANDES.

Parágrafo Segundo - Cada membro titular do CAF terá suplente que o substituirá em

caso de impedimento.

Parágrafo Terceiro - Os membros do CAF não serão remunerados por sua atuação.

Art. 11.º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

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Art. 12.º - Revogam-se as disposições em contrário.

Ordeno, portanto, a todas às autoridades que a cumpram e a façam cumprir como

nela as contém.

O Secretário de Estado da Justiça e da Cidadania faça publicá-la, imprimir e correr.

Palácio Anchieta, em Vitória, 03 de julho de 1996.

VITOR BUAIZ

Governador do Estado

PERLY CIPRIANO

Secretário de Estado da Justiça e da Cidadania

ROGÉRIO SARLO DE MEDEIROS

Secretário de Estado da Fazenda

--------------------------------

Publicada no DOES de 03.07.96, quarta-feira, pg. 01.

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DECRETO N.º 163-N, de 15.07.71

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, usando de atribuição legal.

D E C R E T A:

CAPÍTULO I

DO FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES PORTUÁRIAS

Art. 1.º - O FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES PORTUÁRIAS -

FUNDAP, criado de acordo com a Lei n.º 2.508, de 22.05.70, alterada pela Lei n.º

2.592, de 22.06.71, tem por objetivos.

a) ampliar a renda do setor terciário do Estado, através do incremento e

diversificação do intercâmbio comercial com o exterior;

b) ampliar a renda dos setores primário e secundário do Estado através da

promoção de novos investimentos em projetos agropecuários, industriais, de pesca

ou de turismo. (vide art. 2.º da Lei 4.202, de 20.12.88)

Art. 2.º - Constituem recursos do FUNDAP:

a) dotações orçamentárias e créditos suplementares estaduais;

b) dotações orçamentárias de outras entidades públicas;

c) remuneração decorrente do capital investido pelo Estado na condição de

concessionário do Porto de Vitória, apurada conforme estabelece cimento no Artigo

1.º, Parágrafo 2.º do Decreto Federal n.º 54.255, de 23 de novembro de 1964;

d) amortização dos financiamentos concedidos na forma da Lei n.º 2.506, de 22 de

maio de 1970, alterada pela Lei n.º 2.592, de 22 de junho de 1971;

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e) revogado pelo disposto no art. 2.º da Lei n.º 3.062, de 05/07/76, com a nova

redação dada pela Lei n.º 5.318, de 18/12/96.

Art. 3.º- Cabe ao BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO S/A -

BANDES a gestão financeira do FUNDAP, sendo-lhe atribuída a remuneração

correspondente a 50% (cinqüenta por cento) remuneração dos juros pagos pelos

mutuários.

Art. 4.º - Para a quantificação das dotações orçamentárias a serem consignadas

anualmente ao FUNDAP, o BANDES encaminhará à Secretaria Executiva do

Conselho de Desenvolvimento Econômico do Estado - CODEC, à época da

elaboração da proposta orçamentária:

a) relação e valor dos financiamentos concedidos através do FUNDAP e sua

projeção até o final do exercício correspondente;

b) avaliação do incremento ou da desaceleração, previsto para o exercício seguinte,

dos financiamentos referidos na alínea antecedente;

c) fluxo do retorno dos financiamentos e receita líquida, previstas nas para o

exercício seguinte.

Parágrafo Único - O BANDES manterá controle sistemático da execução

orçamentária do FUNDAP de modo a identificar, em tempo hábil, qualquer

insuficiência da dotação orçamentária anual, encaminhando ao CODEC exposição

fundamentada dos montantes de créditos suplementares necessários.

Art. 5.º - Os saldos verificados na conta do FUNDAP, em cada exercício, serão

automaticamente transferidos para o exercício seguinte.

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Parágrafo Único - Os saldos orçamentários não transferidos para o FUNDAP, até o

final do exercício, serão escriturados em "Restos a Pagar", com prescrição após o

período de 2 (dois) anos.

Art. 6.º - A Secretaria da Fazenda autorizará o Banco do Estado do Espírito Santo

S.A. - BANESTES a transferir, da conta do Estado do Espírito Santo para a do

FUNDAP, o valor dos contratos celebrados pelo BANDES, dentro da dotação

consignada no orçamento do exercício e suas ampliações por abertura de créditos

suplementares.

Parágrafo Primeiro - A transferência prevista neste artigo somente se efetivará se a

receita líquida creditada ao Estado do Espírito Santo, pelas operações de

intercâmbio comercial referidas no artigo 4.º da Lei n.º 2.508, de 22 de maio de

1970, alterada pela Lei n.º 2.592, de 22 de junho de 1971, for igual ou superior ao

valor do contrato assinado junto ao BANDES.

Parágrafo Segundo - O BANESTES informará à Contadoria Geral do Estado, para

fins de registro e controle, sobre cada lançamento efetuado na forma deste artigo.

CAPÍTULO II

DOS FINANCIAMENTOS À CONTA DO FUNDAP

SEÇÃO I - Das Condições Gerais

Art. 7.º - O FUNDAP alcançará seus objetivos mediante a aplicação dos recursos

que o constituem, através de contrato de financiamento celebrado pelo BANDES na

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qualidade de gestor financeiro, com empresas que exerçam atividades de comércio

exterior, em financiamento às operações intercâmbio comercial que:

a) estejam sujeitas no pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias

(ICM) ao Estado do Espírito Santo;

b) não se refiram aos produtos tradicionais do intercâmbio comercial com o exterior

(café, cacau, madeira, trigo) e outros que venham a ser fixados pelo Estado;

c) sejam efetuadas por empresas que tenham sede no Estado do Espírito Santo.

Art. 8.º - Os financiamentos de que trata o artigo anterior observarão as seguintes

condições:

a) Valor - até 10% (dez por cento) das operações considerando-se, na importação o

valor das notas fiscais das saídas das mercadorias do estabelecimento importador e,

na exportação, o valor das mercadorias constantes da guia de exportação visada

pela CACEX ou pela Delegacia da Receita Federal, conhecimento de embarque ou

contrato de câmbio liquidado;

b) Prazos - máximo de carência e de amortização de 5 (cinco) anos, e de 20 (vinte)

anos, respectivamente;

c) Encargos Financeiros - máximo de 3% (três por cento) ao ano, na carência, e

máximo de 6% (seis por cento) ao ano sobre o saldo devedor durante a amortização;

d) Reembolso - pagamento do principal e encargos em parcelas anuais e

sucessivas;

e) Garantias:

- Notas Promissórias emitidas pela Empresa mutuária e avalizadas por seus

Diretores e/ou sócios majoritários, representativas do valor do principal e encargos

financeiros;

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- Caução de Certificados de Depósito a Prazo Fixo ou outros títulos a critério do

BANDES equivalente a 10% (dez por cento) do valor do financiamento, substituídos,

até o final do exercício seguinte ao da contratação, pela caução das ações

representativas do investimento tratado no Capítulo III deste regulamento

equivalente a 50% (cinqüenta por cento) do financiamento.

Parágrafo Único - Por ato do Governador do Estado, serão fixados, para cada

exercício financeiro, os tetos máximos dos valores percentuais incidentes sobre as

operações a que alude o Art. 4.º da Lei n.º 2.508, de 22 de maio de 1970, com a

redação dada pela Lei n.º 2.592, de 22 de junho de 1971, definidores dos

financiamentos a serem concedidos, bem assim, de seus encargos financeiros e

prazos.

Art. 9.º - Será conferida preferência ao financiamento, às operações que:

a) sejam relativas a mercadorias que, na exportação tenham como origem e, na

importação, como destino;

- o território estadual;

- a área de influência do Porto de Vitória, definida pela sua Superintendência:

b) no sentido da importação, refiram-se a bens de capital e bens intermediários;

c) no sentido da exportação, utilizem embarcação de bandeira nacional;

d) possuam contrato de câmbio negociado na Praça de Vitória.

Art. 10.º - O BANDES considerará vencida antecipadamente a dívida contratual,

além dos casos fixados na legislação civil, quando corrente:

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a) inadimplemento de quaisquer obrigações contratuais por parte da empresa

mutuária;

b) não realização do investimento mínimo de 50% (cinqüenta por cento) do valor do

financiamento em projeto aprovado pelo Governo do Espírito Santo nas condições e

prazos estabelecidos pela Lei n.º 2.592, de 22 de junho de 1971, pelo ato

aprobatório e pelas exigências contidas neste Decreto;

c) não substituição da garantia contratual a que se refere o Parágrafo 1º do artigo 5º

da Lei n.º 2.592, de 22 de junho de 1971;

d) prática dolosa de infração fiscal prevista nos itens II, alínea b, VII e VIII do artigo

90 da Lei n.º 2.261, de 30 de dezembro de 1966, com a redação que lhe foi dada

pela Lei n.º 2.418, de 26 de junho de 1969.

Parágrafo Primeiro - O vencimento antecipado da dívida importará no pagamento

imediato do valor total do financiamento, acrescido dos juros vencidos, com

conseqüente rescisão contratual.

Parágrafo Segundo - Excetuar-se-ão do pagamento antecipado a que alude o

parágrafo antecedente, as importâncias efetivamente investidas, salvo quanto a

infração da alínea c deste artigo.

Parágrafo Terceiro - A rescisão contratual, com antecipação da dívida implicará na

incidência da multa convencional de 10% (dez por cento) sobre principal e

acessórios cobráveis em processo contencioso ou administrativo.

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SEÇÃO II - Do Registro da Empresa

Art. 11 - Para se credenciarem aos financiamentos à conta do FUNDAP, as

empresas solicitarão registro junto ao BANDES, encaminhando a documentação que

vier a ser exigida por esse órgão.

Art. 12 - O registro da empresa somente será deferido pelo BANDES, após

comprovação de sua regularidade jurídico-legal, contábil, administrativo, cadastral e

de capacidade financeira para fazer jus aos financiamentos.

Art. 13 - O certificado de registro a ser emitido pelo BANDES fixará o limite

operacional de cada empresa para se habilitar aos financiamentos à conta FUNDAP.

Parágrafo Primeiro - O capital realizado da empresa não poderá ser inferior a 2%

(dois por cento) do seu limite operacional.

Parágrafo Segundo - Para a fixação do limite operacional, o BANDES considerará,

apenas o valor do principal das operações a serem convencionadas.

Parágrafo Terceiro - O limite fixado poderá ser ampliado à medida da realização do

capital da empresa e da evolução de outros indicadores de capacidade financeira

adotados pelo BANDES.

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Parágrafo Quarto - A validade do registro é de 12 (doze) meses, devendo a

empresa, a seu tempo, renová-lo e, durante sua vigência, manter atualizada a

documentação apresentada e demais elementos fornecidos ao BANDES.

SEÇÃO III - Do Enquadramento das Operações

Art. 14 - As empresas registradas submeterão Carta-Intenção ao BANDES

solicitando enquadramento prévio nas normas do FUNDAP, de cada operação de

importação e/ou exportação, observando as exigências que vierem a ser fixadas por

aquela instituição financeira.

Art. 15 - O enquadramento concedido pelo BANDES implica na verificação da

disponibilidade orçamentária do FUNDAP e destaque de crédito para a operação

pleiteada.

Parágrafo Primeiro - O enquadramento da operação quando deferido pelo BANDES,

tendo em vista as prioridades fixadas pelo artigo 9º deste Regulamento, indicará:

a) a parcela da operação que poderá ser financiada;

b) os encargos financeiros que indicarão sobre o financiamento;

c) os prazos de carência e de amortização.

Parágrafo Segundo - O certificado de enquadramento será documento indispensável

à habilitação ao financiamento, por parte da empresa.

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SEÇÃO IV - Do Financiamento às Operações

Art. 16 - As empresas registradas no BANDES só poderão submeter 1 (uma)

solicitação de financiamento por quinzena, relativa às operações de exportação, e às

saídas das mercadorias provenientes das operações de importação ocorridas

durante a quinzena.

Parágrafo Primeiro - Os financiamentos a que se refere este artigo caput, serão

decorrentes das operações realizadas e enquadradas, previamente, pelo BANDES.

Parágrafo Segundo - As notas fiscais das operações da saída das mercadorias a

serem financiadas serão acompanhadas de demonstrativo referente à importação.

Art. 17 - As solicitações de financiamento só serão contratadas pelo BANDES, à

conta do FUNDAP, após atendimento das exigências contidas na legislação

aplicável e nas normas internas daquele órgão.

Parágrafo Único - A liberação dos valores constantes dos contratos de financiamento

será autorizada após comprovação das seguintes condições:

a) registro do contrato no Cartório de Registro de Títulos e Documentos da Comarca

de Vitória;

b) quitação tributária referente à exportação ou comercialização da importação;

c) pagamento de Imposto sobre Operações Financeiras.

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CAPÍTULO III

DOS INVESTIMENTOS VINCULADOS AOS FINANCIAMENTOS DO FUNDAP

Art. 18 - As empresas que forem financiadas com recursos do FUNDAP ficarão

obrigadas a investir, pelo menos, 50% (cinqüenta por cento) do valor do

financiamento, até o último dia do exercício seguinte ao da contratação, em projeto

industrial, agropecuário, de pesca ou de turismo, previamente aprovado pelo

Governo do Espírito Santo, assegurado, em seu favor, o arbítrio quanto à seleção

dos projetos e à forma de participação nos mesmos.

Parágrafo Único - Para os efeitos do investimento a que alude este artigo, caput, a

empresa mutuária submeterá, à Secretaria da Indústria e Comércio, projetos

próprios ou indicará projetos de terceiros, nos prazos estabelecidos pela Secretaria.

Art. 19 - A Secretaria da Indústria e Comércio procederá a análise dos projetos

apresentados pela empresa mutuária, compatibilizando-os com a política de

desenvolvimento regional integrado adotada pelo Governo do Estado.

Art. 20 - A Secretaria da Indústria e Comércio emitirá Certificado de Aprovação, que

estabelecerá, entre outras condições essenciais, o prazo final para a execução e

comprovação do investimento aprovado.

Art. 21 - A Secretaria da Indústria e Comércio aprovará a execução do projeto

mediante análise dos documentos comprobatórios submetidos pela empresa titular

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do projeto, recorrendo, ainda, à avaliação física e auditoria contábil, sempre que

necessário.

Parágrafo Único - A Secretaria da Indústria e Comércio emitirá, em favor da empresa

mutuária, Certificado da Conclusão do Investimento vinculado ao financiamento

FUNDAP, inclusive avaliação patrimonial das ações representativas do investimento.

Art. 22 - Caso o investimento relativo à parcela de 50% (cinqüenta por cento) do

financiamento concedido não esteja comprovada até o final do exercício seguinte ao

da contratação, a empresa mutuária depositará no BANESTES a totalidade do valor

a ser investido ou a parcela restante, até 31 de dezembro, em conta vinculada ao

projeto e somente movimentada mediante autorização da Secretaria da Indústria e

Comércio, sob as penas fixadas na Lei n.º 2.592, de 22 de junho de 1971.

Parágrafo Único - Não se aplica às empresas que façam recolhimentos referidos

neste artigo o disposto na alínea b do artigo 10 deste Regulamento.

Art. 23 - Para se beneficiar dos investimentos estabelecidos por este Regulamento, a

empresa titular do projeto será constituída sob a forma de sociedade anônima.

Parágrafo Único - A empresa mutuária participará acionariamente da empresa titular

do projeto.

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Art. 24 - As ações e os títulos representativos do investimento são inalienáveis

enquanto caucionados, estendendo-se esta condição às bonificações que forem

atribuídas a seus titulares.

Parágrafo Único - Havendo comprovado interesse público e a critério da autoridade

competente, poderão ser substituídas as ações caucionadas em garantia de

financiamento para execução de projeto indicado, por ações de projeto próprio,

mantidas as mesmas garantias.

Art. 25 - Os investimentos disciplinados neste Capítulo são reconhecidos pelo

Estado do Espírito Santo como recursos próprios da empresa titular do projeto, para

o efeito de contrapartida à obtenção de incentivos fiscais e financiamentos.

CAPÍTULO IV

DOS CONTRATOS DE GARANTIA

Art. 26 - As empresas especializadas em intercâmbio externo poderão requerer ao

Estado do Espírito Santo, através da Secretaria da Indústria e Comércio, a garantia

da continuidade das operações de FUNDAP, pelo prazo máximo de 4 (quatro) anos.

Parágrafo Primeiro - O contrato a que se refere este artigo tornará automático o

registro da empresa junto ao BANDES pelo prazo de sua vigência, fixará o limite

operacional para efeito da habilitação aos financiamentos, assegurará o

enquadramento de que trata o caput do artigo 15, mas não eximirá a empresa da

obrigação do artigo 14, para efeito de fixação das indicações do parágrafo 1º do

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artigo 15 e nem a libertará da observância das regras estabelecidas para os

financiamentos e os investimentos vinculados.

Parágrafo Segundo - Os contratos previstos neste artigo terão eficácia somente após

sua aprovação pela Assembléia Legislativa.

Art. 27 - Nos contratos de garantia as empresas assumirão o compromisso de

realizar uma programação mínima anual de operações de importação e/ou

exportação, sob pena de rescisão do contrato de garantia e demais penalidades

fixadas.

Art. 28 - Na hipótese de extinção do FUNDAP, dentro do prazo de vigência do

contrato de garantia, não terão as empresas beneficiárias, qualquer direito à

indenização ou reparação de qualquer natureza, assegurando apenas, o Estado, a

ampliação dos incentivos do Artigo 1º da Lei nº 2.469, de 28 de novembro de 1969,

para 10% (dez por cento) durante o período restante do contrato.

CAPÍTULO V

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 29 - A Secretaria da Indústria e Comércio e o BANDES, nas áreas de suas

respectivas competências, poderão baixar instruções complementares a este

Regulamento e convencionar prestação mútua de serviços.

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Art. 30 - Para o exercício financeiro de 1971 fica definido que a parcela máxima a ser

financiada é de 9,5% (nove vírgula cinco por cento) sobre o valor das operações.

Art. 31 - Ficam revogados os decretos n.º 101-N, de 30 de dezembro de 1970 e 126-

N, de 9 de março de 1971 e demais disposições em contrário.

Art. 32 - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Vitória-ES, 15 de julho de 1971.

ARTHUR CARLOS GERHARDT SANTOS

Governador do Estado

LEVY PINTO DE CASTRO

Secretário da Fazenda

SENATILHO PERIN

Secretário da Indústria e do Comércio

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LEI N.º 6.668, de 15.06.2001

Publicada no DOES de 16.05.2001, pg. 01

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Faço saber que a Assembléia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1.º - O art. 4.º da Lei n.º 2.508, de 22 de maio de 1970, com a redação que deu

o Art. 6.º, da Lei 4.972, de 17 de novembro de 1994, posteriormente alterado pelo

Art. 1.º da Lei n.º 5.245, de 03 de março de 1996, passa a vigorar com a seguinte

redação:

"Art. 4.º - Os financiamentos a que se refere esta Lei terão valor de 8% (oito por

cento) da operação, considerando-se:

a) na importação, o valor das saídas das mercadorias efetuadas pelo

estabelecimento importador;

b) na exportação, o valor das mercadorias constantes da guia de exportação visada

pela DECEX ou pela Delegacia da Receita Federal, conhecimento de embarque ou

contrato de câmbio liquidado."

Art. 2.º - Fica vedada a concessão do financiamento, previsto no Art. 4.º da Lei n.º

2.508, de 22 de maio de 1970 e suas alterações posteriores, para as empresas que

estiverem com débito de qualquer natureza perante as Fazendas Federal, Estadual

e Municipal.

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Art. 3.º - Fica vedada a concessão do financiamento previsto no Art. 4.º da Lei n.º

2.508, de 22 de maio de 1970 e suas alterações posteriores, para as empresas que

efetuarem o desembaraço aduaneiro fora do Estado do Espírito Santo.

Art. 4.º - O imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre

Prestações de Serviços de Transportes Interestadual e Intermunicipal e de

Comunicações – ICMS realizadas ao abrigo da Lei n.º 2.508, de 22 de maio de 1970

e alterações posteriores, fica diferido para o momento em que ocorrer as saídas das

mercadorias.

Parágrafo Único – O diferimento a que se refere o "caput" deste artigo só será

concedido quando as mercadorias importadas ao abrigo da Lei n..º 2.508, de 22 de

maio de 1970 e alterações posteriores, forem desembaraças no Estado do Espírito

Santo.

Art. 5.º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art 6.º - Ficam revogados os artigos 6.º, 7.º e 8.º da Lei n.º 5.245/96, bem como

todas as disposições legais contrárias a esta Lei.

Ordeno, portanto, a todas as autoridades que a cumpram e a façam cumprir como

nela se contém.

O Secretário de Estado da Justiça faça publicá-la, imprimir e correr.

Palácio Anchieta, em Vitória, 15 de maio de 2001.

JOSÉ IGNÁCIO FERREIRA

Governador do Estado

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EDSON RIBEIRO DO CARMO

Secretário de Estado da Justiça

ANTONIO HENRIQUE WANDERLEY DE LOYOLA

Secretário de Estado do Governo

JOÃO LUIZ DE MENEZES TOVAR

Secretário de Estado da Fazenda

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ANEXO B – TABELAS, GRÁFICOS E MAPA

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TABELA 01

O ICMS GERADO NAS OPERAÇÕES FUNDAP

E SEUS PRINCIPAIS BENEFICIÃRIOS

PERÍODO: 1971-2004

Em US$ Mil

FATURAMENTO ICMS % DO ICMS PRINCIPAIS BENEFICIÁRIOS DO

ICMS - FUNDAP

ANOS EMPRESAS TOTAL FUNDAP / FINANCIMAENTOS Q. P.

MUNICÍPIOS

DO FUNDAP ARRECADADO

ICMS FUNDAP

TOTAL À EMPRESAS NO ICMS

1971 11.140,0 19.892,86 1.336,8 6,7 1.114,0 267,4

1972 60.906,0 32.027,70 7.308,7 22,8 6.090,6 1.461,7

1973 114.477,0 45.714,61 13.737,2 30,1 11.447,7 2.747,4

1974 163.541,0 62.619,40 19.624,9 31,3 16.354,1 3.925,0

1975 77.868,0 59.365,69 9.344,2 15,7 7.786,8 1.868,8

1976 112.640,0 75.470,69 13.516,8 17,9 11.264,0 2.703,4

1977 114.780,0 87.954,02 13.773,6 15,7 11.478,0 2.754,7

1978 139.213,0 116.740,46 16.705,6 14,3 13.921,3 3.341,1

1979 349.091,0 121.107,03 41.890,9 34,6 34.909,1 8.378,2

1980 588.090,0 181.742,98 70.570,8 38,8 58.809,0 14.114,2

1981 379.431,0 169.451,88 45.531,7 26,9 37.943,1 9.106,3

1982 275.529,0 170.342,50 33.063,5 19,4 27.552,9 6.612,7

1983 154.275,0 118.749,20 18.513,0 15,6 15.427,5 3.702,6

1984 139.721,0 116.758,50 16.766,5 14,4 13.972,1 3.353,3

1985 67.242,0 143.322,20 8.069,0 5,6 6.724,2 1.613,8

1986 74.360,0 199.624,16 8.923,2 4,5 7.436,0 1.784,6

1987 163.547,0 158.143,76 19.625,6 12,4 16.354,7 3.925,1

1988 165.832,0 164.733,77 19.899,8 12,1 16.583,2 3.980,0

1989 268.582,2 324.244,13 32.229,9 9,9 24.172,4 8.057,5

1990 286.828,9 418.728,30 34.419,5 8,2 25.814,6 8.604,9

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1991 424.483,3 375.648,97 50.938,0 13,6 38.203,5 12.734,5

1992 466.110,0 396.689,36 55.933,2 14,1 41.949,9 13.983,3

1993 496.802,2 397.441,78 59.616,3 15,0 44.712,2 14.904,1

1994 1.981.045,1 1.012.076,35 245.649,6 24,3 160.239,4 61.412,4

1995 4.325.749,5 1.552.314,61 535.280,9 34,5 378.177,2 133.820,2

1996 3.490.367,2 1.225.761,61 431.606,2 35,2 282.798,8 107.901,6

1997 5.340.386,6 1.515.499,67 658.912,9 43,5 426.881,5 164.728,2

1998 4.175.580,8 1.475.860,00 521.505,3 35,3 335.585,7 130.376,3

1999 3.023.816,0 854.292,22 301.755,0 35,3 241.346,2 93.572,6

2000 2.882.972,5 1.088.500,32 380.165,4 34,9 230.637,8 88.345,9

2001 2.749.102,8 1.026.033,61 378.322,5 36,9 218.694,8 83.974,5

2002 1.941.154,5 808.209,85 234.867,2 29,1 151.699,7 58.546,6

2003 2.087.890,8 940.739,04 253.573,3 27,0 166.959,1 63.393,3

2004 3.646.930,7 1.254.552,90 394.227,3 31,4 260.601,5 98.536,3

Total 40.739.486,1 16.710.354,1 4.947.204,3 29,6 3.343.642,7 1.218.532,6

Fonte: Os valores financiamentos ICMS - FUNDAP, período 1971-1993, extraídos do livro "Política Industrial e Localização de Investimentos",

de Guilherme H. Pereira, EDUFES (1998). Dados faturamento e valor financiamentos, período 1994-2004, são do BANDES. Demais

estimativas dos autores.

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TABELA 02 ÍNDICE DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS NA QUOTA PARTE DO ICMS

Em %

ORDEM MUNICÍPIO 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

01 AFONSO CLÁUDIO 0,669 0,897 0,742 0,794 0,776 0,719 0,676 0,636

02 ÁGUA DOCE DO NORTE 0,401 0,404 0,371 0,336 0,324 0,333 0,336 0,333

03 ÁGUIA BRANCA 0,317 0,420 0,395 0,410 0,378 0,365 0,366 0,375

04 ALEGRE 0,630 0,659 0,586 0,596 0,608 0,594 0,557 0,515

05 ALFREDO CHAVES 0,406 0,365 0,357 0,380 0,352 0,348 0,336 0,302

06 ALTO RIO NOVO 0,219 0,247 0,204 0,189 0,197 0,196 0,182 0,184

07 ANCHIETA 1,351 1,352 1,512 1,983 2,229 2,192 2,054 2,284

08 APIACÁ 0,214 0,230 0,272 0,239 0,276 0,239 0,243 0,243

09 ARACRUZ 7,169 5,292 4,795 6,405 7,965 7,311 6,881 7,951

10 ATÍLIO VIVÁCQUA 0,353 0,326 0,333 0,339 0,370 0,357 0,379 0,374

11 BAIXO GUANDU 1,476 1,520 1,554 1,498 1,370 1,304 1,230 1,182

12 BARRA DE S. FRANCISCO 0,771 0,781 0,765 0,773 0,755 0,727 0,748 0,755

13 BOA ESPERANÇA 0,396 0,391 0,395 0,403 0,461 0,454 0,445 0,417

14 BOM JESUS DO NORTE 0,230 0,232 0,223 0,268 0,260 0,233 0,227 0,207

15 BREJETUBA 0,180 0,180 0,452 0,547 0,534 0,449 0,362 0,330

16 CACH. DO ITAPEMIRIM 4,048 4,185 4,176 4,022 3,855 3,728 3,517 3,508

17 CARIACICA 3,569 3,517 3,386 3,454 3,268 3,273 3,341 3,323

18 CASTELO 0,839 0,907 0,961 1,008 0,946 0,838 0,865 0,998

19 COLATINA 2,996 3,205 3,086 2,622 2,363 2,413 2,184 2,018

20 CONCEIÇÃO DA BARRA 1,219 1,219 0,889 0,819 0,784 0,802 0,893 0,896

21 CONCEIÇÃO DO CASTELO 0,344 0,379 0,399 0,399 0,382 0,391 0,441 0,533

22 DIVINO DE SÃO LORENÇO 0,166 0,126 0,127 0,154 0,145 0,163 0,200 0,195

23 DOMINGOS MARTINS 0,994 0,928 0,950 1,024 1,065 0,981 0,987 0,997

24 DORES DO RIO PRETO 0,202 0,130 0,144 0,174 0,176 0,176 0,147 0,155

25 ECOPORANGA 0,834 0,839 0,782 0,769 0,743 0,746 0,820 0,856

26 FUNDÃO 0,453 0,426 0,372 0,380 0,359 0,333 0,307 0,270

27 GOVERNADOR LINDENBERG - - - 0,320 0,320 0,320 0,565 0,526

28 GUAÇUÍ 0,636 0,418 0,396 0,387 0,384 0,469 0,479 0,416

29 GUARAPARI 0,909 0,893 0,896 0,781 0,700 0,701 0,721 0,700

30 IBATIBA 0,369 0,294 0,429 0,531 0,572 0,528 0,519 0,462

31 IBIRAÇU 0,274 0,270 0,277 0,297 0,272 0,238 0,260 0,257

32 IBITIRAMA 0,231 0,159 0,235 0,342 0,346 0,286 0,265 0,265

33 ICONHA 0,318 0,307 0,305 0,327 0,305 0,297 0,283 0,269

34 IRUPI 0,321 0,273 0,318 0,397 0,369 0,340 0,282 0,258

35 ITAGUAÇU 0,365 0,375 0,402 0,412 0,397 0,343 0,329 0,335

36 ITAPEMIRIM 0,646 0,820 0,669 0,586 0,536 0,516 0,571 1,029

37 ITARANA 0,293 0,293 0,314 0,335 0,353 0,295 0,256 0,282

38 IÚNA 0,702 0,472 0,520 0,667 0,669 0,609 0,509 0,492

39 JAQUARÉ 0,695 0,625 0,754 0,835 0,912 1,139 1,379 1,474

40 JERÔNIMO MONTEIRO 0,263 0,192 0,176 0,179 0,177 0,184 0,194 0,206

41 JOÃO NEIVA 0,486 0,483 0,457 0,463 0,491 0,510 0,515 0,507

42 LARANJA DA TERRA 0,390 0,329 0,293 0,331 0,356 0,339 0,317 0,313

43 LINHARES 2,931 3,333 3,238 3,243 3,235 3,595 3,803 3,680

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44 MANTENÓPOLIS 0,395 0,417 0,349 0,344 0,344 0,352 0,343 0,336

45 MARATAÍZES 0,210 0,210 0,362 0,341 0,316 0,314 0,313 0,298

46 MARECHAL FLORIANO 0,457 0,619 0,725 0,699 0,623 0,706 0,737 0,649

47 MARILÂNDIA 0,353 0,404 0,409 0,418 0,411 0,383 0,406 0,388

48 MIMOSO DO SUL 0,652 0,654 0,706 0,763 0,761 0,702 0,668 0,645

49 MONTANHA 0,491 0,461 0,387 0,359 0,409 0,533 0,534 0,518

50 MUCURICI 0,231 0,306 0,238 0,250 0,286 0,281 0,289 0,273

51 MUNIZ FREIRE 0,551 0,429 0,445 0,499 0,517 0,497 0,460 0,437

52 MUQUI 0,454 0,309 0,349 0,342 0,323 0,316 0,324 0,327

53 NOVA VENÉCIA 1,328 1,272 1,257 1,163 1,129 1,134 1,145 1,068

54 PANCAS 0,707 0,693 0,667 0,713 0,622 0,531 0,547 0,581

55 PEDRO CANÁRIO 0,382 0,442 0,405 0,373 0,408 0,427 0,463 0,482

56 PINHEIROS 0,456 0,466 0,516 0,531 0,496 0,526 0,562 0,566

57 PIÚMA 0,223 0,231 0,253 0,256 0,248 0,245 0,237 0,214

58 PONTO BELO 0,140 0,140 0,173 0,209 0,207 0,187 0,201 0,237

59 PRESIDENTE KENNEDY 0,390 0,350 0,294 0,274 0,274 0,270 0,306 0,306

60 RIO BANANAL 0,758 0,828 0,782 0,747 0,687 0,616 0,558 0,543

61 RIO NOVO DO SUL 0,245 0,249 0,237 0,231 0,236 0,241 0,256 0,255

62 SANTA LEOPOLDINA 0,647 0,686 0,618 0,532 0,526 0,478 0,499 0,465

63 SANTA MARIA DE JETIBÁ 1,017 1,059 1,031 1,063 1,029 1,132 1,091 1,131

64 SANTA TEREZA 0,779 0,906 0,779 0,729 0,729 0,658 0,642 0,595

65 SÃO DOMINGOS DO NORTE 0,250 0,278 0,272 0,227 0,234 0,250 0,284 0,311

66 SÃO GABRIEL DA PALHA 0,719 0,869 0,677 0,533 0,512 0,539 0,644 0,646

67 SÃO JOSÉ DO CALÇADO 0,288 0,300 0,316 0,347 0,334 0,347 0,365 0,334

68 SÃO MATEUS 1,854 1,687 1,759 1,776 1,873 1,710 1,731 1,902

69 SÃO ROQUE DO CANNÃ 0,260 0,260 0,312 0,342 0,320 0,290 0,277 0,293

70 SERRA 11,723 11,738 12,557 12,606 13,453 13,511 12,901 13,720

71 SOORETAMA 0,402 0,402 0,414 0,493 0,466 0,433 0,419 0,429

72 VARGEM ALTA 0,590 0,631 0,693 0,633 0,604 0,566 0,523 0,532

73 VENDA NOVA DO IMIGRAN. 0,575 0,635 0,684 0,660 0,612 0,640 0,693 0,768

74 VIANA 1,907 1,423 1,137 1,175 1,045 0,913 1,023 1,183

75 VILA PAVÃO 0,260 0,257 0,237 0,251 0,256 0,265 0,309 0,330

76 VILA VALÉRIO 0,160 0,160 0,535 0,551 0,520 0,534 0,589 0,506

77 VILA VELHA 5,889 5,854 5,920 6,122 6,158 6,491 6,192 5,781

78 VITÓRIA 23,982 25,682 25,598 23,030 21,697 22,608 23,498 21,643

TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: Secretaria de Fazenda do ES.

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TABELA 03

Perfil Regional – Somatório das finanças dos municípios que compõem a microrregião Caparaó Síntese da receita orçamentária dos municípios 2003

Fonte dos dados: Balanços Municipais. * exclusive valores deduzidos para formação do FUNDEF. Banco de Dados IPES

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TABELA 04

Perfil Regional – Somatório das finanças dos municípios que compõem a microrregião Pólo Colatina Síntese da receita orçamentária dos municípios 2003

Fonte dos dados: Balanços Municipais. * exclusive valores deduzidos para formação do FUNDEF. Banco de Dados IPES

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TABELA 05

Perfil Estadual – Somatório das finanças públicas dos municípios Espírito Santo Síntese das receitas orçamentárias municipais 2003

Fonte dos dados: Balanços Municipais. * exclusive valores deduzidos para formação do FUNDEF. Banco de Dados IPES

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TABELA 06

Perfil Regional – Somatório das finanças dos municípios que compõem a microrregião Metropolitana Síntese da receita orçamentária dos municípios 2003

Fonte dos dados: Balanços Municipais. * exclusive valores deduzidos para formação do FUNDEF. Banco de Dados IPES

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Gráfico 01 – 1.º Semestre de 2004

O FUNDAP NA QUOTA PARTE DO ICMS MUNICIPAL 1º Sem. 2004

Fonte : Secretaria da Fazenda do Estado do Espirito Santo.

179%

221%

Gráfico 02 – 2.º Semestre de 2004

O FUNDAP NA QUOTA PARTE DO ICMS MUNICIPAL 2º Sem. 2004 Fonte : Secretaria da Fazenda do Estado do Espirito Santo

174%

226%

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MAPA