incÊndios - a função dos combatentes na preservação dos vestígios

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Licenciatura em Protecção Civil Projecto Final de Curso Filipe Augusto Ferreira . Leiria, 30 de Junho de 2010 ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios -

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Projeto final da licenciatura em PROTEÇÃO CIVIL. Aborda a importância dos bombeiros na preservação dos vestígios, com vista a uma cabal investigação criminal quanto às causas/autoria.

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Page 1: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

Licenciatura em Protecção Civil

Projecto Final de Curso

Filipe Augusto Ferreira

.

Leiria, 30 de Junho de 2010

ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO

INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA

INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios -

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira II

INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA

ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO

CURSO DE PROTECÇÃO CIVIL

3º Ano – 2º semestre

PROJECTO EM PROTECÇÃO CIVIL

INCÊNDIOS

A FUNÇÃO DOS COMBATENTES NA PRESERVAÇÃO DOS

VESTÍGIOS

Unidade Curricular: PROJECTO EM PROTECÇÃO CIVIL

Orientador: José Manuel Moura

Discente: Filipe Augusto Ferreira (aluno n.º 1633)

Leiria, 2010.Jun.30

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira III

AGRADECIMENTOS

À minha esposa e filhos, pela paciência, compreensão e apoio dado não só na elaboração

do presente projecto, como em toda a vivência académica desde o início do Curso de

Protecção Civil que agora termina.

À Direcção Nacional da Polícia Judiciária, à Escola da Polícia Judiciária, ao Coordenador

de Investigação Criminal, António Carvalho e aos Especialistas-Adjuntos no Gabinete de

Polícia Criminalística da Polícia Judiciária de Leiria, José Vaz e Bruno Faria, pelo aval,

abertura e capacidade de transmissão de conhecimentos.

Aos demais profissionais com know-how na área dos incêndios, designadamente ao ex-

Comandante Operacional Municipal de Leiria, Cunha Lopes, ao mestre Principal Florestal,

Regino Martins e ao Adjunto Distrital de Operações de Socorro de Leiria, Artur Granja, pela

partilha de experiências e bibliografia de referência.

Ao professor Manuel Moura, enquanto orientador do projecto, pelo grau de exigência e rigor

implantado (que lhe é característico), pelo apoio e acompanhamento de todo o trabalho.

Aos colegas de curso e a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, possibilitaram a

realização do presente projecto.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira IV

RESUMO

O presente trabalho foi elaborado, tendo em conta uma lacuna existente no domínio do

combate a incêndios (urbanos/industriais, florestais e veículos automóveis), referente à

preservação e tratamento genérico dos vestígios encontrados nos locais dos incêndios,

mormente por parte dos combatentes, numa perspectiva daqueles serem determinantes e

esclarecedores para a investigação das suas causas.

O trabalho é dividido em duas componentes principais:

I. Abordagem teórica e sistemática sobre a ciência do fogo (fenomenologia da

combustão e características dos tipos de incêndios);

II. Abordagem prática, com a criação de duas ferramentas (outputs), que os

intervenientes no combate de incêndios, essencialmente Corpos de Bombeiros

(adiante identificados como CBs), mas também, no caso dos incêndios florestais,

outros combatentes com as mesmas funções, designadamente o Grupo de

Intervenção Protecção e Socorro da Guarda Nacional Republica (adiante designado

por GIPS/GNR), a Força Especial de Bombeiros (adiante designada por FEB) e os

Sapadores Florestais (adiante designada por SF), possam utilizar de forma simples

e expedita nas sua actuação inicial e registar uma série de informações pertinentes

e essenciais para uma futura investigação das causas, mormente no que diz

respeito ao tratamento dos vestígios observados em cada cenário:

a. Uma Ficha de Procedimentos (adiante identificado como FP);

b. Uma Ficha de Campo (adiante identificado como FC);

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira V

ABSTRAT

This project was prepared, taking into account a gap in the field of fire fighting

(urban/industrial, forestry and motor vehicles), related to the preservation and generic

treatment of the traces found at the fire scene, especially by figthings, in a perspective of

being decisive and enlightening for the investigation of its causes.

Is divided into two main components:

I. Theoretical and systematic approach about the science of fire

(phenomenological combustion and characteristics of the types of fires);

II. Practical approach, with the creation of two tools (outputs), that those involved in

fighting fires, mainly House Figthers, but also in case of forest fires, other figthings

with the same function, namely the Intervention Group Protection and Relief of

National Guard Republic, a Special Forces Fire and Sappers Forestry, can use a

simple and expeditious in its initial action and register a series of relevant and

essential for future research into the causes, especially with regard to treatment of

the remains found in each scenario:

a. Procedures Notebook;

b. Field Notebook.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira VI

INDICE GERAL AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................... III RESUMO ...................................................................................................................................... IV ABSTRAT ....................................................................................................................................... V INDICE GERAL ............................................................................................................................... VI ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................................................... VII LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS ..................................................................................... VIII

I – PARTE TEÓRICA ............................................................................................................................ 1

1. ENQUADRAMENTO DO PROJECTO .................................................................................... 2 1.1. ENQUADRAMENTO ACADÉMICO .............................................................................. 2 1.2. PORQUÊ DA ESCOLHA DO TEMA OBJECTIVOS ...................................................... 2 1.3. METODOLOGIA ........................................................................................................ 4 1.4. CALENDARIZAÇÃO DO PROJECTO ............................................................................. 4

2. CONTEÚDO TEÓRICO ........................................................................................................ 5 2.1. FENOMENOLOGIA DA COMBUSTÃO ......................................................................... 6 2.2. TRANSMISSÃO DE CALOR ......................................................................................... 9 2.3. TIPOS DE INCÊNDIOS – caracterização genérica ...................................................... 10 2.4. DINÂMICA GERAL DE UM INCÊNDIO ....................................................................... 12 2.5. INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS .................................................................................. 14 2.6. CLASSIFICAÇÃO DA CAUSALIDADE .......................................................................... 15 2.7. TEORIA DOS VESTÍGIOS .......................................................................................... 16 2.8. MOMENTOS DA INVESTIGAÇÃO ............................................................................. 17

II – PARTE PRÁTICA ......................................................................................................................... 21

3. GENERALIDADES ............................................................................................................. 22 3.1. MATERIAL NECESSÁRIO – Kit básico ....................................................................... 23 3.2. O PONTO DE INÍCIO (PI).......................................................................................... 25 3.3. FICHA DE PROCEDIMENTOS (FP) – vd. ANEXO II...................................................... 26 3.4. FICHA DE CAMPO (FC) – vd. ANEXO III .................................................................... 27

4. TIPO DE INCÊNDIOS ........................................................................................................ 28 4.1. ABORDAGEM E ACTUAÇÃO DOS COMBATENTES - generalidades ........................... 29 4.2. URBANOS/INDUSTRIAIS ......................................................................................... 31 4.3. FLORESTAIS ............................................................................................................ 33 4.4. VEÍCULOS AUTOMÓVEIS ........................................................................................ 36

5. A INVESTIGAÇÃO DOS INCÊNDIOS EM PORTUGAL .......................................................... 38 6. CONCLUSÕES .................................................................................................................. 42 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 43

ANEXO I (entrevistas pessoais realizadas com diversos profissionais contactados - suas valências e

competências) ……………………………….………………………………………………….……………..…….…… 46 ANEXO II (Ficha de procedimentos - FP) ………….……………..…………………………………………………..….. 51 ANEXO III (Ficha de Campo - FC) …………..……………………………………………………………………….………… 58 ANEXO IV (Codificação e definição das categorias das causas dos incêndios florestais, ex-DGRF).……………………..………….…………………….……….….………………………….……. 61 ANEXO V (álbum fotográfico) ……………………………….……………………..……….………….……………………… 64

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira VII

ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1: triângulo do fogo .................................................................................................................... 6

Fig. 2: produtos resultantes da combustão ........................................................................................ 7

Fig. 3: tipos de vestígios .................................................................................................................. 16

Fig. 4: princípios da investigação de incêndios ................................................................................. 23

Fig. 5: tipificação legal de incêndio .................................................................................................. 38

Fig. 6: sistematização das primeiras fases da investigação das causas dos incêndios ........................ 39

Fig. 7: elementos da PJ no Teatro de Operações (incêndio industrial) .............................................. 40

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira VIII

LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS

à priori Exp latina: inicialmente, desde início

AFN Autoridade Florestal Nacional

ANPC Autoridade Nacional de Protecção Civil

CBs Corpos de Bombeiros

CDOS Comando Distrital de Operações de Socorro

cfe., cfr. Abreviatura de conforme

continuum Exp latina: de forma continuada, seguimento, encadeamento

COS Comandante das Operações de Socorro

croquis Exp francesa: esboço, esquema, desenho ou rascunho

e.g., v.g. Exp latina: por exemplo (exemplī grātia)

ENB Escola Nacional de Bombeiros

EPIs Equipamentos de Protecção Individual

EPN Equipa de Protecção da Natureza

ESTG Escola Superior de Tecnologias e Gestão

FEB Força Especial de Bombeiros

GDH Grupo Data Hora

GIPS Grupo de Intervenção Protecção e Socorro

GNR Guarda Nacional Republicana

GPC Gabinete de Polícia Criminalística

IFN Inventário Florestal Nacional

IJ Inspecção Judiciária

in loco Exp latina: presencialmente

IPL Instituto Politécnico de Leiria

ISLA Escola Superior de Línguas e Administração

LPC Laboratório de Polícia Científica

modus operandi

Exp latina: modo de actuação

OPCs Órgãos de Polícia Criminal

PI Ponto de Início

PJ Polícia Judiciária

SEPNA Serviço Especial de Protecção da Natureza e Ambiente

SF Sapadores Florestais

SI Sistema de Incêndio

TO Teatro de Operações

vd. Exp latina: veja, vê (vidé)

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Filipe Augusto Ferreira 1

I – PARTE TEÓRICA

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Filipe Augusto Ferreira 2

1. ENQUADRAMENTO DO PROJECTO

1.1. ENQUADRAMENTO ACADÉMICO

O presente trabalho insere-se na unidade curricular de “Projecto em Protecção Civil”, do 3º

ano, 2º semestre, do curso de “Protecção Civil”, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão

(adiante designada como ESTG), do Instituto Politécnico de Leiria (adiante designado como

IPL) e constitui assim o projecto final desta licenciatura.

Tal como previamente sugerido e posteriormente autorizado pela coordenação da Unidade

Curricular (adiante designada como UC), o presente trabalho foi realizado individualmente

pelo discente em apreço, tendo em conta o estipulado no respectivo regulamento (vd. o

consignado no ponto 5.4 do parágrafo – Candidaturas).

O tema foi escolhido pelo discente e não de entre aqueles previamente indicados pela

coordenação, tendo em conta a prerrogativa consignada no ponto 3.2 do parágrafo -

Propostas. Tal tema, como referido anteriormente, vem ao encontro de uma lacuna

existente ao nível dos Corpos de Bombeiros (adiante identificados como CBs).

1.2. PORQUÊ DA ESCOLHA DO TEMA OBJECTIVOS

Tendo em conta dois principais momentos de um incêndio – o seu combate/extinção e a

consequente averiguação das causas -, importa alertar, consciencializar e dotar os

bombeiros e demais combatentes, de conhecimentos e ferramentas com vista ao

tratamento de todos os vestígios essenciais e pertinentes existentes no local do sinistro,

que contribuam para a determinação das respectivas causas. Só depois destas prioridades

é que, numa fase subsequente, se pondera sobre a determinação das causas.

Os incêndios, pela sua natureza destrutiva, tendem a consumir a prova da sua ignição à

medida que progridem. Assim, as investigações ficam comprometidas e muitas vezes os

cenários de incêndio são destruídos pelas acções inerentes aos bombeiros e, no caso dos

incêndios florestais, ao GIPS/GNR, FEB e SF, cujas principais prioridades são o seu

combate rápido/eficaz e o socorro/salvaguarda de vidas e bens.

O relato dos combatentes envolvidos, enquanto testemunhas oculares do comportamento

do incêndio, é pois importante para a investigação das causas. Por um lado porque são os

primeiros intervenientes a chegar ao local e por outro, porque podem alterar o cenário

original, dada a necessidade de combater o sinistro.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 3

Assim, se tiverem esta consciência e o saber adequado, poderão contribuir de forma cabal

para o esclarecimento das circunstâncias que estiveram na origem do incêndio.

É esta interligação entre os combatentes do incêndio e a investigação que conduzirá a

uma profícua determinação das causas.

Do levantamento realizado, constatou-se que nada ou pouco existe oficializado neste

âmbito, mormente junto dos Corpos de Bombeiros.

É assim objectivo final deste trabalho, facultar aos combatentes uma ferramenta básica,

com uma linguagem acessível e prática, que não necessite de grandes conhecimentos

técnicos para a sua utilização, que concorra para uma cabal investigação das causas dos

incêndios.

O output do projecto consistirá assim de:

“Não compete (…) aos bombeiros investigar as causas dos incêndios. Porém, é sua

responsabilidade desenvolver todos os esforços para apoiar a investigação, nomeadamente

preservando todos os vestígios e prestando todas as informações que forem solicitadas

pelas autoridades. Muitas vezes, pequenos factos ou objectos que parecem não ter

significado são extremamente úteis para quem tem a difícil tarefa de investigar” 1.

É pertinente salientar que no âmbito do presente trabalho, somente será abordada a prova

real/material (tratamento dos vestígios). A chamada prova testemunhal, complementar na

investigação das causas dos incêndios, deverá ser abordada noutro âmbito.

1 in, CASTRO, Carlos F. et ABRANTES, José Barreira. “Combate a incêndios urbanos e industriais, vol. X: Manual de Formação Inicial do Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2005, pág. 54

Uma Ficha de Procedimentos (FP): trata-se de uma enumeração de cuidados a

observar, verificações e procedimentos a ter perante cenários de incêndios, bem

como identificação de eventuais vestígios;

Uma Ficha de Campo (FC): onde constarão dados essenciais e preliminares do

incêndio, a qual deverá ser preenchida pelos primeiros intervenientes institucionais

de combate a chegar ao local e ficará a cargo do primeiro Comandante das

Operações de Socorro (adiante designado por COS). Tal FC deverá ser, assim que

possível, entregue aos elementos encarregues da investigação das causas do

incêndio

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Filipe Augusto Ferreira 4

1.3. METODOLOGIA

Para a elaboração do presente trabalho, tiveram-se em conta as orientações e a

estruturação típica de um trabalho científico 2.

O método utilizado foi essencialmente de pesquisa e ainda algum trabalho de campo

(designadamente entrevistas e recolha de dados estatísticos).

A pesquisa efectuada conduziu à recolha e compilação de informação junto de algumas

entidades e especialistas na área dos incêndios.

Consistiu também na recolha de informação de fontes bibliográficas e consultas de diversos

sites na internet.

Para além disso, numa componente de trabalho de campo, foram entrevistados diversos

profissionais na área, recolhendo-se as suas experiências e o seu saber.

1.4. CALENDARIZAÇÃO DO PROJECTO

Para a elaboração do presente projecto foram determinantes alguns momentos/etapas,

bem como o contacto com algumas entidades/especialistas, realizados durante o presente

semestre (Março a Junho/2010), dos quais se dá conta no seguinte quadro:

2 Fonte: BELO, J. L. de Paiva. “Metodologia científica: manual para a elaboração de textos académicos, monografias, dissertações e teses”. Universidade Veiga de Almeida – UVA. Rio de Janeiro, 2005 e ANDRADE, M. Margarida de. “Introdução à metodologia do trabalho científico”. São Paulo: Editora Atlas, 1999.

Data Descrição Contacto

01.MAR Apresentação do projecto pela coordenação

03.MAR Indicação do tema à coordenação

22.MAR 1ª Reunião com orientador José Manuel Moura, Docente

23.MAR 2ª Reunião com orientador José Manuel Moura, Docente

06.ABR Recolha pessoal de informação Regino Martins, Mestre Principal do SEPNA/GNR - Leiria

12.ABR Recolha pessoal de informação António Carvalho, Coordenador da PJ, responsável pela formação na área dos incêndios

02.MAI Recolha pessoal de informação Nuno Cunha Lopes, Engenheiro Mecânico, ex-Comandante dos Bombeiros Municipais de Leiria

26.ABR 3ª Reunião com orientador José Manuel Moura, Docente

19.MAI Apresentação intercalar do José Manuel Moura, Docente

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Filipe Augusto Ferreira 5

2. CONTEÚDO TEÓRICO

“O fogo foi talvez a maior descoberta de toda a humanidade. A criatura que pela primeira

vez recolheu o fogo e depois aquela que, muito mais tarde, o acendeu e conseguiu manter,

pertence à espécie Homo erectus (já na era Quaternária). Há cerca de 1,5 milhões de anos,

mergulhou um ramo na lava em fusão de um vulcão, ou recuperou uma brasa após um

incêndio de causa natural (raio) e tentou de alguma forma manter acesa a chama. O fogo é

então a luz que ilumina e o calor que alimenta. É em torno desta realidade que o homem se

desenvolveu e assim moldou a sociedade.”3

Ao longo dos tempos o homem aprendeu assim a dominar o fogo. Porém, tal como tudo, é

impossível controlar a natureza, com todos os seus caprichos.

Desta forma, quando o homem na sua ânsia de querer dominar a natureza, perde o

controlo do fogo, quer no tempo, quer no espaço, propicia um processo com consequências

mais ou menos gravosas incêndio.

Para se compreender toda a dinâmica inerente a um incêndio, importa quanto antes, que

todos os intervenientes, e essencialmente o investigador, tenham grandes conhecimentos

sobre o comportamento do fogo.

3 In, Círculo de Leitores. “Memória do mundo – das origens ao ano 2000”. Ed. LAROUSE. Lisboa, 2000

projecto

24.MAI Recolha pessoal de informação Unidade de Informação e Investigação da PJ, em Lisboa

14.JUN Recolha pessoal de informação Gabinete de Perícia Criminalística da PJ, em Leiria

15.JUN Recolha pessoal de informação Artur Granja, ex-Delegado e Coordenador do SMPC – Marinha Grande

21.JUN 4ª Reunião com orientador José Manuel Moura, Docente

24.JUN 5ª Reunião com orientador José Manuel Moura, Docente

30.JUN Entrega do projecto

07.JUL APRESENTAÇÃO DO PROJECTO

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Filipe Augusto Ferreira 6

2.1. FENOMENOLOGIA DA COMBUSTÃO

Considerando que um incêndio é pois uma combustão química não controlada no espaço e

no tempo, seja, um fogo não circunscrito, para evitar que ocorra e se propague é

necessário conhecer os seus fundamentos e alguns conceitos a ele ligados.

Da mesma forma, na óptica do presente projecto, pretende-se que os combatentes saibam

e consigam interpretar todas as chamadas marcas dos incêndios no terreno, de forma a

determinar de forma mais rigorosa possível o seu Ponto de Início (adiante designado por

PI).

O TRIÂNGULO DO FOGO

Na leitura dos indicadores no terreno, há que determinar de imediato qual(ais) o(s) tipo(s)

de combustível(eis) presente(s) e qual o tipo de material que concorreu para a inflamação

do incêndio. Ou seja, qual o elemento susceptível de arder, de alimentar a combustão,

como móveis, tecidos ou papéis e muitas vezes líquidos acelerantes como gasolina,

podendo assim apresentar-se nos estados: gasoso, líquido ou sólido.

Quanto ao comburente, importa averiguar se está presente (antes e depois do incêndio). Se

existe algum gás que alimente a combustão. Geralmente sob a forma de oxigénio presente

no ar ambiente (cerca de 21%), que é consumido pela combustão e que se pode alimentar

pela abertura de portas e janelas, por exemplo.

“O oxigénio por si só não arde, mas ajuda a alimentar ou manter a combustão”4.

A concentração mínima no ar necessária para que um incêndio se inicie é de 16%.

Completando a trilogia do fogo, haverá que determinar se existiu alguma fonte de ignição

ou energia de activação. Está assim completo o chamado Triângulo do Fogo (vd. fig. 1) 5.

4 Apontamentos fornecidos em sede de aula pelo docente da Unidade Curricular “Prevenção e Controlo de Incêndios”, do 3º ano, 1º semestre da licenciatura em Protecção Civil da ESTG/IPL - Leiria 5 Idem nota anterior

Fig. 1: triângulo do fogo

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 7

Numa perspectiva mais prática, urge então saber ou averiguar se existiu algum mecanismo,

dispositivo ou outra forma de fornecimento de energia ou calor ao material combustível, de

forma a emanar vapores suficientes para que se inicie a ignição.

É esta energia de activação que se torna necessário determinar e que pode ter várias

origens:

Origem térmica (meios de ignição, radiação solar, superfícies quentes);

Eléctrica (resistência, arco voltaico, faísca, estática, relâmpago);

Mecânica (chispas provocadas pelo manuseamento de ferramentas, atrito entre

duas peças, resultantes de um motor em movimento);

Reacções químicas (limalha de ferro com óleo)

A par de todos os factores anteriormente referidos poder-se-á afirmar que o

desenvolvimento do fogo é algo exponencial, uma vez que, à medida que a combustão

avança, o aumento de temperatura divide mais as moléculas (existe a presença de radicais

livres), aumentando a temperatura do incêndio e a reacção em cadeia tetraedro do

fogo.

Numa perspectiva de combate, enquanto existir combustível e comburente suficientes e se

mantiver a fonte de energia, a reacção em cadeia persiste 6.

PRODUTOS RESULTANTES DA COMBUSTÃO (vd. fig.2) 7:

Outra percepção que os combatentes deverão ter, diz respeito à existência e características

dos produtos resultantes da combustão que possam observar-se no local, como sejam:

6 Apontamentos fornecidos em sede de aula pelo docente da Unidade Curricular “Prevenção e Controlo de Incêndios”, do 3º

ano, 1º semestre da licenciatura em Protecção Civil da ESTG/IPL - Leiria 7 Fonte: VIEITO, Rui M. T. et GUIMARÃES, Sérgio A. N.. “Manual de actuação em situações de incêndio e geradoras de pânico”. Arcos de Valdevez - Maio.2004

Fig. 2: produtos resultantes da combustão

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 8

Tais características poderão à partida indicar se a combustão foi ou não completa:

Completa, se todos os elementos do combustível se combinam com o oxigénio, não

restando nos produtos da combustão nenhum;

Incompleta, quando a quantidade de oxigénio que entra na combustão é menor que

a necessária, aparecendo nos produtos da combustão outros combustíveis (H2O,

CO2, CO, N2O, HCN, H2S, NH3, Cl2, etc.):

Mais perceptíveis de imediato através dos sentidos humanos (cheiro e visão), são o fumo e

as chamas, respectivamente.

São porventura estas as primeiras características mais evidentes. Um combatente com

alguma sensibilidade e conhecimentos poderá desde logo analisar tais características

visíveis, o que constituirá certamente uma mais-valia para uma avaliação preliminar:

FUMO

É formado devido à combustão incompleta dos combustíveis. Constituído

essencialmente por partículas sólidas em suspensão na atmosfera.

As suas características dependem: do tipo, quantidade, forma e distribuição do

combustível, da quantidade do comburente, da intensidade da fonte de radiação

e da temperatura do ambiente envolvente que vão condicionar a duração do

incêndio.

A sua intensidade e cor, são porventura as características mais evidentes

aquando da chegada a um incêndio:

Branco ou cinzento claro muito oxigénio. O combustível arde

livremente;

Negro ou cinzento escuro elevada temperatura, mas pouco oxigénio;

Amarelo, roxo ou violeta existência de gases tóxicos

Por outro lado torna-se numa condicionante ao combate porquanto:

Diminui a visibilidade no Teatro de Operações (adiante designado por

TO) desorienta o combatente;

Implica maior tempo de exposição a produtos tóxicos;

Dificulta as evacuações;

Gera pânico e desorganização.

CHAMA

É a parte luminosa do fenómeno da combustão. Trata-se de uma zona de gases

incandescentes visíveis em redor do material combustível.

A sua intensidade depende do tipo e da quantidade de combustível, bem como

da quantidade de comburente.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 9

Também a sua cor pode ser indicativa:

Amarela indica a presença de elevada percentagem de oxigénio;

Azul pouca percentagem de oxigénio.

2.2. TRANSMISSÃO DE CALOR

POR CONDUÇÃO

A energia, através de um corpo bom condutor de calor, é transferida para outro. Esta

transferência é mais notória, quanto mais condutor for o corpo (ex. metais).

POR RADIAÇÃO

A energia é transferida de forma omnidireccional através do ar, suportada por

infravermelhos e ondas magnéticas.

Esta maneira do calor se propagar, justifica o porquê do sol nos aquecer ou o

funcionamento dos micro-ondas. No primeiro caso, entre o sol e a terra existe um enorme

vazio e no segundo caso, não se vê nada em brasa, contudo os alimentos são aquecidos.

POR CONVECÇÃO

A energia é transferida pela movimentação do ar e dos líquidos aquecidos pela combustão.

A diferença de densidade dos gases quentes e frios provoca correntes de ar.

POR PROJECÇÃO

Considera-se ainda mais esta classe de propagação, a qual se caracteriza pela

transferência de material/massa incandescente ou inflamado que se desprende de um

corpo em combustão e são projectadas à distância atingindo outros corpos e provocando

novos focos de incêndio.

São exemplo disso, a deslocação de animais a arder e outro material rolante ou que se

desloque (aquando de incêndios florestais).

ATRAVÉS DA CORRENTE ELÉCTRICA

A corrente eléctrica ao passar por qualquer substância produz calor – é o chamado efeito

térmico da corrente. Ou seja, a transformação de energia eléctrica em energia calorífica.

Este fenómeno é vulgarmente denominado por efeito de JOULE 8.

Os condutores de corrente eléctrica são geralmente fios em metal. Quando sujeitos a um

grande sobreaquecimento, inflamam o material condutor que os isola do exterior,

8 James Prescott Joule (1818 – 1889), físico.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 10

transmitindo assim o calor produzido (exemplo disso é a quantidade de ligações a

determinada tomada ou as deficientes instalações eléctricas).

2.3. TIPOS DE INCÊNDIOS – caracterização genérica

Os incêndios não são todos do mesmo tipo. Essencialmente dependem e são assim

tipificados de acordo com o material que entra em combustão (sua natureza) ou o local

onde ocorrem.

No presente trabalho optou-se por abordar genericamente somente três tipos de incêndios

mais comuns e significativos em Portugal, com a consciência porém que todos os restantes

são derivações específicas daqueles (e.g. em navios, aeronaves, comboios,

estabelecimentos comerciais, estabelecimentos de hotelaria/restauração):

Urbanos/Industriais

“Um incêndio urbano é a combustão, sem controlo no espaço e no tempo, dos materiais

combustíveis existentes em edifícios, incluindo os constituintes dos elementos de

construção e revestimento. O mesmo tipo de acidente numa instalação industrial, designa-

se por incêndio industrial” 9

Os incêndios urbanos/industriais são em regra mais fatais que os restantes, mormente os

florestais.

"Todos os dias há incêndios em habitações, indústrias e transportes. Mas o fenómeno é

pouco visível" 10

De facto, é nos meios urbanos que se concentra o maior número de pessoas, quer para

viver, quer mesmo para trabalhar. É no interior das edificações em geral que se encontram

equipamentos sensíveis como o gás e a electricidade, que deverão estar limpos e mantidos

em segurança.

É no interior das habitações que se verificam as principais causas dos incêndios urbanos –

utilização de velas, cigarros, aquecedores, sobrecargas eléctricas, etc. -, causas

essencialmente humanas, ora por descuido, ignorância ou mesmo por falta de alternativas

em usar equipamentos mais seguros.

9 in CASTRO, Carlos F. et outros. “Combate a incêndios urbanos e industriais, vol. X: Manual de Formação Inicial do Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2005, pág. 9 10 (Gomes, A., 2005)

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 11

Por outro lado, também têm influência as características das infraestruturas, no que diz

respeito à engenharia de construção (com materiais menos resistentes ao fogo) e

segurança contra incêndios (com a inexistência ou deficientes Sistemas de Incêndios e

planos/procedimentos de evacuação). É bastante comum a existência de habitações velhas

e degradadas, principalmente nos grandes centros históricos/urbanos, onde muitas vezes

por razões economicistas, não são feitos investimentos na remodelação ou reconstrução

adequada para fazer face à ocorrência de incêndios ou simplesmente por mera falta de

sensibilização ou formação cívica.

A particularidade dos incêndios industriais tem a ver com a quantidade e natureza dos

produtos existentes no seu interior, designadamente as suas características

físicas/químicas (toxicidade, reacção com a água, inflamabilidade, etc.)

Florestais

“Um incêndio florestal é a combustão, sem controlo no espaço e no tempo, dos materiais

combustíveis existentes nas áreas florestais” 11

Segundo o Inventário Florestal Nacional (adiante designado por IFN) 12:

Floresta é definida como sendo:

“Extensão de terreno com área ≥ 5000m2 e largura ≥ 20m, com um grau de coberto

(definido pela razão entre a área da projecção horizontal das copas e a área total da

parcela) ≥ 10%, onde se verifica a presença de arvoredo florestal que pelas suas

características ou forma de exploração tenha atingido, ou venha a atingir, porte arbóreo

(altura superior a 5 m), independentemente da fase em que se encontre no momento da

observação, incluindo os tipos de uso florestal indicados a seguir”.

Mato, como sendo uma:

“Extensão de terreno com área ≥ 5000m2 e largura ≥ 20 m, com cobertura de espécies

lenhosas de porte arbustivo, ou de herbáceas de origem natural, onde não se verifique

intervenção agrícola ou silvícola, que podem resultar de um pousio agrícola, constituir uma

pastagem espontânea ou terreno pura e simplesmente em regeneração natural”.

Arvoredo:

Conjunto florestal arbóreo da mesma espécie, sem condução silvícola, nem área

específica;

11 in CASTRO, Carlos F. et outros. “Combate a incêndios florestais, vol. XIII: Manual de Formação Inicial do Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2003, pág. 9 12 PORTUGAL, Autoridade Florestal Nacional. “Instruções para o trabalho de campo do Inventário Florestal Nacional”. Lisboa: Direcção de Unidade de Gestão Florestal, Janeiro.2009

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 12

Seara:

Espaço delimitado de produção cerealífera em que a sua espiga se encontre no local,

implantada na terra ou depois de ceifada, ainda depositada na terra.

Qualquer incêndio que ocorra fora destes locais específicos será juridicamente tipificado

como um crime de dano através do fogo (cfr. advém do Código Penal Português), como

mais adiante referido (vd. fig. 5).

Ao contrário dos incêndios urbanos/industriais, os florestais são os que causam mais

impacto social e económico (e não propriamente mais vítimas mortais).

Os bens produzidos pela via da actividade florestal, sustentam uma importante e integrada

cadeia industrial, baseada em recursos naturais, suportando por si, um forte sector de

exportação. Por conseguinte, a floresta e a actividade florestal em Portugal são uma

importante área da nossa economia, sendo assim compreensível que acarrete prejuízos de

grande monta.

Veículos automóveis

No presente trabalho focam-se em especial os incêndios ocorridos em veículos automóveis

terrestres a motor (ligeiros de passageiros e de mercadorias).

Em termos de metodologia de abordagem, numa perspectiva de investigação das causas, a

particularidade reside no facto de se tratar de espaços mais reduzidos e confinados, com

características muito particulares.

Um dos compartimentos – o motor -, produz corrente eléctrica e possui combustível.

Por outro lado, os demais órgãos e espaços possuem também corrente eléctrica, a sua

estrutura metálica é boa condutora e os seus interiores e revestimentos (estofos, tablier,

tapetes, forras, etc.) são de fácil combustão. O facto de existir uma grande superfície

envidraçada facilmente destrutível, contribui para uma sobre-oxigenação do espaço,

potenciando um aumento da intensidade e rapidez da propagação.

Estes factores dimensionais das viaturas (relativamente a edifícios e até a áreas abertas),

potenciam assim todos os fenómenos de propagação do fogo atrás referidos.

2.4. DINÂMICA GERAL DE UM INCÊNDIO

“Uma boa compreensão das fases de um incêndio, pode ajudar o investigador a entender o

que realmente aconteceu” 13

13 (LILLEY, 1997)

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 13

Pese embora cada incêndio seja específico e por isso diferente, existe um padrão de

comportamento idêntico entre ambientes com características estruturais de construção e

cargas térmicas semelhantes.

É pois a análise e compreensão das principais fases típicas do desenvolvimento de um

incêndio que ajudarão o investigador a entender o mesmo.

FASE INICAL - eclosão

Depende da qualidade e quantidade de combustível presente e ainda da disponibilidade de

abastecimento de ar.

Um incêndio inicia-se em determinado ponto (PI) e daí propaga-se para fora, consoante a

existência de diversos factores (vento, humidade, carga térmica dos combustíveis, etc., no

caso dos incêndios florestais). Desenvolver-se-á então na chamada zona de início.

Normalmente, se tais factores não forem significativos (principalmente o vento), no caso de

um incêndio florestal, p.e., assume uma configuração radial.

Nesta fase, o fogo não atinge normalmente grandes proporções, progredindo lentamente e

deixando mais materiais por queimar no local.

As marcas de queima no PI são geralmente mais profundas (pois é onde existe

carbonização mais intensa), mas não atingem grandes proporções, excepto se o fogo se

propagar para um material mais combustível nas imediações.

Em locais fechados (v.g. habitações), a altura dos tectos tem grande influência sobre o

desenvolvimento do incêndio, uma vez que aqueles mais baixos provocam uma

propagação mais rápida das chamas.

Nesta fase é relativamente fácil identificar o PI (e assim as causas), é ali visível um padrão

de queima em “V” e a maioria dos vestígios ainda estão intactos.

FASE CRESCENTE E DESENVOLVIDA

Fase em que a combustão se activa rapidamente, transmitindo-se ao material combustível

vizinho. É tanto mais intensa quanto maior a quantidade de combustíveis que concorrem

para a queima. É a fase de maior produção de chamas.

Em espaços fechados as paredes apresentam fuligem por acção das chamas, o padrão em

“V” é mais evidente em materiais combustíveis (v.g. madeiramento), decorrente das altas

temperaturas atingidas pelas incandescências (brasas) que podem atingir 1000ºC. A

carbonização é maior no PI, se comparado com a zona envolvente.

Por efeito do calor, a energia libertada é suficiente para provocar a combustão de todos os

materiais duma forma contínua e o calor libertado é mais ou menos igual à energia

dissipada.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 14

Porém, nesta fase, pelos efeitos generalizados que produzem, salientam-se os fenómenos

conhecidos por “FLASHOVER” 14.

De facto, se a energia dissipada for menor ou for mais lenta que aquela produzida, a

temperatura global do espaço aumenta até um valor máximo onde todos os materiais

combustíveis presentes atingem a sua temperatura de combustão 15

FASE FINAL

Nesta fase o combustível torna-se mais escasso, pelo que a queima em chamas é menor e

a presença de incandescência (brasas) é maior.

Como características (em termos de interesse investigatório), existe fuligem nas paredes

abaixo de 30cm, o padrão em “V” e os restantes vestígios da queima podem estar ocultos

pela deposição de material entretanto carbonizado. Sendo uma fase onde as temperaturas

não são tão intensas, a queima é normalmente mais longa e por consequência, menos

evidências estarão disponíveis.

2.5. INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS

Apontamento histórico

Desde os tempos romanos, as autoridades civis têm reconhecido a ameaça que

o fogo representa, não só para o bem-estar dos indivíduos, mas também, e

talvez mais importante, para o bem-estar e segurança da comunidade

como um todo.

Recorde-se que Roma, na noite de 18 para 19 de Julho de 64 d.C. (Depois de Cristo)

começou a arder, tendo os primeiros focos de incêndio ocorrido nuns armazéns perto do

Grande Circo. Já na altura a investigação das causas e, mais importante, a identificação

do(s) autor(es), marcaram um marco importante nesta vertente forense. O povo,

apercebendo-se da rapidez e dimensão fora do comum da progressão do incêndio,

aprontou-se a indiciar o próprio imperador Nero da sua autoria. Nunca foi possível prová-lo.

Ao invés, foram indiciados e condenados como autores, cerca de duzentos cristãos, os

quais foram transformados em tochas humanas, que serviram para iluminar as festas

oferecidas por Nero ao seu povo 16.

14 Ou combustão generalizada. O termo foi criado pelo cientista britânico P.H. Thomas, nos anos 60 15 Temperatura mínima à qual uma substância emite vapores em quantidade suficiente para que, em contacto com um comburente, se possa inflamar por acção de calor exterior, ardendo continuamente. 16 Retirado de: Círculo de Leitores. “Memória do mundo – das origens ao ano 2000”. Ed. LAROUSE. Lisboa, 2000, pág. 130-131

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 15

Finalidade – porquê investigar as causas ?!

“Onde houve fogo, sempre sobram cinzas.” (provérbio popular)

No contexto do presente trabalho, ousa-se completar:

“Onde houve fogo, sempre sobram cinzas …e vestígios.”

(citação completada pelo autor)

Uma das principais razões para se determinar a causa de um incêndio, é para se poderem

colher informações/estatísticas, promover acções, recomendar normas de conduta e ainda

efectuar alterações legislativas e/ou técnicas no domínio da protecção contra incêndios,

evitando-se assim que situações semelhantes ocorram ou, se ocorreram, existam os

mecanismos de detecção, prevenção e socorro mais adequados – vertente PREVENTIVA.

Por meio da investigação das causas, é possível saber se um determinado produto ou

material possui qualquer defeito de fabrico capaz de originar um incêndio ou que uma

determinada prática também concorra para este tipo de fatalidade.

Por outro lado, a investigação de um incêndio visa determinar se foi de origem criminosa ou

não. Tem como objectivo iniciar um processo-crime, através dos elementos de prova

recolhidos – vertente JUDICIAL.

2.6. CLASSIFICAÇÃO DA CAUSALIDADE

De entre os diversos tipos de incêndios abordados no presente trabalho

(urbanos/industriais, florestais e em veículos), importa quanto antes frisar as principais

fontes de ignição:

Origem térmica

Eléctrica

Mecânica

Química

Por outro lado e de uma forma genérica, poder-se-ão considerar as seguintes causas:

Negligentes

Acidentais

Naturais

Intencionais

Desconhecidas

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 16

2.7. TEORIA DOS VESTÍGIOS

Os vestígios são considerados geralmente como prova indiciária, porquanto levam a

conclusões mediante determinados procedimentos.

São assim modificações físicas ou psíquicas/comportamentais relacionadas com uma

conduta humana de acção ou omissão.

Classificação e Natureza

No caso de um local a analisar, se estivermos perante uma suspeita de crime, é aplicável o

célebre princípio de LOCARD 17 ou da troca:

“Entre o local e o autor, existe sempre transferência de material”

Fig. 3: tipos de vestígios18

Os vestígios informam assim:

Como decorreu o sinistro/facto

Quais as motivações

Quais as causas do sinistro/facto

Fornecem elementos do(s) seu(s) eventual(ais) autor(es)

Permitem a reconstituição (mental e física) do facto em si

17 Edmond Locard (1877 – 1966) foi um pioneiro na Ciência Forense, conhecido também como o Sherlock Holmes da França. Formulou o princípio básico da ciência forense: "Todo o contacto deixa uma marca", que ficou conhecido como o princípio de Troca de Locard 18 POLÍCIA JUDICIÁRIA. “Inspecção Judiciária – Manual de procedimentos””. 1ª Ed. Lisboa: Directoria Nacional, 2009. ISBN 978-989-96126-0-0

VESTÍGIOS

físicos/materiais

orgânicos

inorgânicos

morfológicos

visíveis

moldados

impressos positivos

negativos invisíveis

latentes

psíquicos/comportamentais

macroscópicos

microscópicos

verdadeiros

falsos

simulados

pseudo-vestígios

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 17

Podem classificar-se basicamente:

Quanto ao local onde podem ser encontrados:

No Ponto de Início (PI)

Nos acessos

Nas vítimas

Nos eventuais autores

Nos instrumentos ou materiais usados

Quanto à natureza:

Biológicos

Não biológicos

Tratamento

Entende-se como sendo as acções desenvolvidas num ciclo unidireccional, que tem como

objectivo analisar e tratar todos os vestígios com carácter probatório encontrados no local

do incêndio, garantindo a idoneidade dos mesmos e agilizar os trabalhos periciais.

O tratamento dos vestígios tem assim a ver com a forma como são trabalhados e

analisados.

Contudo, nem todos os vestígios são relevantes para uma investigação, pelo que deverão

ser criteriosamente seleccionados aqueles que poderão contribuir para uma cabal

identificação das causas, percepção do circunstancialismo geral e, eventualmente, conduzir

à identificação do(s) autor(es).

2.8. MOMENTOS DA INVESTIGAÇÃO

Uma investigação de incêndio inicia-se em qualquer instante mas, quanto mais cedo

acontecer, mais informações sobre o desenvolvimento e comportamento de um incêndio

serão conseguidas.

“A actuação do investigador inicia-se antes mesmo da extinção do incêndio, uma vez que

ele pode obter informações mais precisas sobre o sinistro quando ainda está a ser

combatido” 19

Desde logo, a presença do investigador no local do incêndio permitirá a obtenção de

valiosas informações sobre o seu desenvolvimento, bem como sobre como o que poderá

ser alterado devido à acção dos combatentes. Poderá de imediato aproveitar também para

19 (DEHAAN, 2005)

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 18

começar a recolher testemunhos (quer de pessoas no local, quer dos primeiros

combatentes a chegar).

Porém, não possuindo os CBs investigadores, nem sendo essa a sua missão (reservada às

autoridades policiais), dificilmente alguém com essas competências acompanhará as

equipas de primeira intervenção no local.

Geralmente são assim os bombeiros (e outros combatentes no caso dos incêndios

florestais), quem primeiro chegam ao local, fazendo com que lhes sejam imputadas

algumas responsabilidades, ou pelo menos, seria desejável que assim acontecesse.

Importa salientar que é sempre o elemento mais graduado do primeiro veículo de

intervenção – Comandante das Operações de Socorro (adiante designado por COS) -,

quem tem a obrigação de, entre outras tarefas, gerir as acções no terreno e, em

sintonia com o objectivo do presente trabalho, assegurar também que a área inicial

seja devidamente preservada com vista a uma futura Inspecção Forense.

OBSERVAÇÃO PRELIMINAR DO LOCAL

“Enquanto se aproximam de um local do incêndio, os elementos das equipas de primeira

intervenção devem mentalmente anotar as condições do incêndio e actividades em redor e,

assim que possível, documentá-las em suporte permanente (e.g. anotações escritas,

gravações áudio/vídeo, etc.) …As observações das equipas de primeira intervenção,

constituem assim informação pertinente para a investigação. À medida que esta se

desenvolve, tais informações podem constituir um ponto de partida para a preservação e

recolha de prova forense” 20

Tendo em conta a “Marcha Geral de Operações” 21, a investigação iniciar-se-á logo com o

reconhecimento e aproximação ao local, dado poderem existir logo condições de

avaliação do incêndio. Dever-se-ão ter em conta, e.g.:

Anotação do local (coordenadas geográficas), GDH (Grupo Data e Hora);

Condições meteorológicas (humidade, temperatura e, principalmente a intensidade

e direcção do vento);

A existência de vítimas e eventuais testemunhas (bem como os seus

comportamentos);

20 Tradução de: U.S. Department of Justice, “Fire and Arson Scene Evidence: a Guide for Public Safety Personnel”, June 2000, pág. 13 21 Procedimentos sequenciais que visam o debelar de uma situação de protecção, socorro e combate (designadamente a incêndios)

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 19

A referência a veículos que abandonem o local, transeuntes ou actividades em

redor;

Características das chamas e fumo (e.g. volume, cor, altura, sua localização e sua

direcção e intensidade);

Tipo de uso, características e estrutura do local;

As condições e o estado dos sistemas de detecção e alarme de incêndios;

PRESERVAÇÃO DO LOCAL

“Os vestígios num cenário de incêndio assumem diferentes formas e estados, alguns dos

quais efémeros (…) Os elementos das equipas de primeira intervenção devem perceber

pois que as acções de salvamento e de supressão do incêndio podem afectar de forma

adversa as diferentes formas e estados dos vestígios no local e assim providenciar a sua

preservação (…)” 22

Após a avaliação das condições de segurança e o estabelecimento dos meios de acção,

em simultâneo com o ataque ao incêndio (circunscrição, domínio e extinção), prevalecendo

sempre o mesmo princípio relativamente à missão do COS, dever-se-á identificar e localizar

a área do início.

Tal tarefa, se por vezes é fácil e logo perceptível, outras nem por isso. Reitera-se pois a

importância da avaliação inicial, no sentido de se aferir onde e como está o incêndio

aquando da chegada das equipas de primeira intervenção a fim de restringir uma

determinada zona em concreto.

Identificada a área de início, importa delimitá-la e sinalizá-la convenientemente.

Esta área ficará assim salvaguardada até ao final do debelar do incêndio, podendo então

ser posteriormente analisada.

Após a detecção de eventuais vestígios, dever-se-á proceder de forma a preservá-los,

tendo em consideração a “Teoria dos Vestígios” (abordada mais adiante no presente

trabalho).

Não será demais relembrar que cabe ao COS a missão de assegurar isso mesmo –

segurar e controlar a área, designadamente:

Montando um perímetro de segurança em redor da área sensível (e.g. usando fitas);

Controlando o acesso de pessoas estranhas à mesma;

Registando informações pertinentes.

22 Tradução de: U.S. Department of Justice, “Fire and Arson Scene Evidence: a Guide for Public Safety Personnel”, June 2000, pág. 16

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 20

APÓS A EXTINÇÃO DO INCÊNDIO

Terminada a fase de combate – circunscrição, domínio e extinção -, assim que o acesso for

seguro, embora ainda com eventuais combustões e ainda antes da fase de rescaldo, é

altura do investigador observar o interior da área inicial e recolher as primeiras impressões.

DURANTE O RESCALDO

Esta fase caracteriza-se pela remoção de escombros e matéria ardida, a fim de se

detectarem eventuais materiais em combustão ocultos que necessitem de ser extintos.

É nesta fase que são muitas vezes detectados vestígios importantes para a determinação

das causas. É importante que o trabalho de rescaldo seja o mais criterioso possível,

diminuindo ao máximo a quantidade de material removido e até mesmo registando o local

exacto onde se encontrava antes de ser retirado.

Muitas vezes se verifica que, na impossibilidade de se efectuar tal remoção, é usual optar

por um encharcamento da área com água ou outro agente extintor.

Deve-se observar sempre o princípio:

“Pouco fogo… pouca água. Muito fogo… muita água” 23

São estes procedimentos de extinção e de escolha apropriada do agente extintor (em

termos quantitativos e qualitativos), que devem ser controlados pelo COS de forma a não

ser prejudicial, quer à segurança estrutural do local, dos combatentes, quer ainda a uma

futura investigação das causas.

Mais uma vez, o desejável seria que estivesse presente o investigador, podendo mesmo

orientar os combatentes em tal tarefa.

Nessa impossibilidade, terão de ser então os “soldados da paz” 24 a ter essa consciência e

saber.

APÓS O RESCALDO

Depois do cenário do incêndio estar seguro e salvaguardado, o investigador tem condições

para poder começar uma análise mais abrangente, verificando os padrões do incêndio

(leitura e interpretação dos indícios no terreno), de forma a perceber qual foi o seu

desenvolvimento e a partir daí, determinar o seu PI.

É então naquele ponto que deverá focar as suas atenções, em busca de vestígios que

conduzam ao apuramento da(s) causa(s).

23 Citação do docente da Unidade Curricular “Prevenção e Controlo de Incêndios”, do 3º ano, 1º semestre da licenciatura em Protecção Civil da ESTG/IPL - Leiria 24 Designação por que são carinhosamente conhecidos os bombeiros pela população em geral

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 21

II – PARTE PRÁTICA

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 22

3. GENERALIDADES

Pretende-se nesta parte prática do trabalho, estabelecer um conjunto sistemático de

observações, elementos, procedimentos e actuações a ter em conta por parte de todos os

combatentes, com vista à identificação e preservação de vestígios probatórios.

Na verdade, tendo em conta o ciclo de detecção, alerta e despacho de meios de combate,

como já sobejamente referido anteriormente, os bombeiros (ou o GIPS/GNR, FEB ou SF,

no caso de incêndios florestais), são os primeiros elementos institucionais de combate a

chegar ao local do incêndio.

É pois desde logo numa fase inicial de todo o processo que tais combatentes

desempenham um papel fundamental:

É assim embebido deste espírito de missão que o COS tem a responsabilidade de

observar, registar e salvaguardar qualquer elemento suspeito aquando da chegada ao local

e enquanto não comparecerem os elementos afectos à investigação.

Mais, terá a incumbência de proceder à recolha e acondicionamento de qualquer vestígio

julgado pertinente, caso exista a possibilidade do mesmo vir a ser destruído ou deteriorado

por acção de diversos factores, mesmo antes da chegada da investigação.

“A investigação de um incêndio segue uma cadeia cronológica de eventos, estabelecido

pelas testemunhas, pelo cenário em si e pelos exames laboratoriais” 25

25 In SEITO, Alexandre e outros. “A segurança contra incêndio no Brasil”. S. Paulo: projecto Editora, 2008. ISBN 978-85-61295-00-4

Na preservação da área inicial e consequentemente do seu PI (único passível

de ser sujeito a exame para determinação das causas);

Como testemunho técnico sobre a causalidade factual.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 23

26

3.1. MATERIAL NECESSÁRIO – Kit básico

Cada viatura de primeira intervenção, para além dos Equipamentos de Protecção Individual

(adiante identificados como EPIs) de cada elemento, deverá possuir um conjunto básico de

ferramentas/utensílios simples, práticos e funcionais particularmente direccionados para o

tratamento de vestígios, tais como:

Fita plástica balizadora – preferencialmente com a identificação do CB;

01 (uma) caixa de alumínio de dimensões 590x390x350mm

01 (uma) pá de pedreiro

01 (uma) picareta com cabo pequena

01 (um) pequeno machado

01 (um) martelo de bola

20 (vinte) bandeirolas triangulares (que devem ser colocadas indicando o

sentido tomado pelas chamas)

Ferramentas de medição:

o 01 (uma) fita-métrica (5m)

o 01 (uma) fita métrica de rolo (25m)

o 01 (um) medidor de distâncias por ultra-sons com laser

Ferramentas de corte:

o 01 (um) alicate de corte lateral

o 01 (um) de corte universal

o 01 (uma) faca ou X-acto

o 01 (uma) tesoura multiuso (de corte borracha/placa/fibras)

26 SEITO, Alexandre e outros. “A segurança contra incêndio no Brasil”. S. Paulo: projecto Editora, 2008. ISBN 978-85-61295-00-4. Pág. 335

Cadeia cronológica de eventos

estabelecida pela testemunha

Cadeia cronológica de eventos

estabelecida pelo cenário

Cadeia cronológica de eventos estabelecida pelos exames

laboratoriais

Declarações das testemunhas sobre um

evento num determinado

tempo

Posição dos objectos, das portas e janelas.

Profundidade de penetração da carbonização. Estado

dos materiais, etc.

Coincidência da cadeia cronológica de eventos

Fig. 4: princípios da investigação de incêndios

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 24

o 01 (um) serrote de madeira

o 01 (uma) serra de corte de ferro

01 (um) bloco de notas

Lápis e canetas (marcadores e permanentes)

Papel absorvente

Algodão

01 (uma) pipeta média

01 (uma) pipeta grande

01 (um) magnete

02 (duas) pinças metálicas

01 (um) compasso metálico

01 (uma) lupa de mão

02 (dois) pincéis

02 (dois) frascos de vidro médios com tampa (250ml)

02 (dois) frascos de vidro grandes com tampa (750ml)

02 (duas) caixas de cartão médias;

02 (duas) caixas de cartão grandes;

02 (dois) sacos de nylon (250x500mm)

02 (dois) sacos de nylon (300x600mm)

01 (uma) lanterna Maglight

01 (uma) máquina fotográfica digital

01 (um) aparelho GPS Garmin portátil

Carta militar da zona (1:25000)

01 (um) transferidor circular

01 (um) termómetro digital com sensor ultra rápido

01 (um) anemómetro de turbina, de pás ou copo

01 (um) termo-higrógrafo (medição da humidade relativa)

Obviamente tal material é aquele considerado ideal e suficiente, tendo em conta sempre o

princípio que os vestígios são efémeros e deverão ser por isso o mais rapidamente possível

recolhidos e preservados.

A lista supra mencionada foi compilada e organizada pelo autor, tendo como base os

diversos contactos tidos com fontes ligadas à investigação de incêndios.

Mais uma vez se refere que deverão ser os primeiros intervenientes institucionais

responsáveis pelo combate, que, logo após a sua chegada ao local, deverão proceder à

recolha e preservação das provas no PI, sempre que exista a possibilidade das

mesmas se perderem (por acção dos elementos ambientais, meteorológicos, humanos,

etc.) antes da chegada dos elementos da investigação.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 25

3.2. O PONTO DE INÍCIO (PI)

Como já amplamente mencionado, a determinação geográfica do PI reveste-se de

primordial importância para a averiguação das causas de um incêndio.

“Se não se conseguir determinar o PI, tão pouco se conseguirá apurar as causas” 27

Para tal ter-se-ão que ter em conta factores como:

Os testemunhos dos primeiros intervenientes a chegar ao local, bem como de

eventuais outras pessoas que ali encontrem ou tivessem estado;

A análise e interpretação de todos os fenómenos químicos e físicos inerentes ao

fenómeno da combustão e propagação, visando estabelecer as condições em que

teve lugar a ignição;

Existência de dispositivos/artefactos incendiários;

De facto, muitas vezes um só vestígio e/ou um só testemunho pode ser essencial para a

investigação das causas mas, regra geral, um só elemento não é suficiente. Torna-se

necessário correlacionar sistematicamente vários aspectos.

Tratamento dos vestígios

Já anteriormente abordados, os vestígios eventualmente encontrados no PI, constituem

prova em sede judicial e podem conduzir à cabal identificação do(s) autor(es) do incêndio

em questão e vinculação dos mesmos ao facto criminoso.

É vital assim assegurar a fiabilidade dessa mesma prova, quer através de um tratamento

sistemático e rigoroso no local, quer consequentemente num regime de transmissão dessa

mesma prova pelos diversos intervenientes – chain custody 28.

Tal processo desenvolve-se em duas fases teoricamente distintas, embora inseridas num

continuum de actividade, funcionalmente inseparáveis:

1ª FASE – passível de ser realizada por qualquer combatente

1º. Pesquisa e localização;

2º. Identificação, isolamento e preservação do local;

3º. Realização de fotos e croquis gerais;

4º. Balizamento (protecção) e numeração individualizada dos vestígios no PI;

27 (NFPA, 1995) 28 Cadeia de Custódia

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 26

Necessário o seu balizamento sistemático, de forma a serem facilmente

identificáveis por todos os intervenientes no local, de forma a preservá-los.

5º. Realização de fotos de pormenor (com testemunho métrico 29):

Depois de terem sido feitas fotos gerais (vd. ponto b)), importa realizar fotos

de pormenor, se possível à escala e de diferentes ângulos e aproximações,

enquadrando-os com outros eventualmente existentes no local;

6º. Recolha, preservação e acondicionamento adequado;

Importa proteger determinados vestígios particularmente vulneráveis (quer

por acção dos combatentes do fogo aquando da sua extinção, quer por

condições climáticas e até do próprio incêndio) e dar prioridade na sua

recolha.

2ª FASE – da responsabilidade da investigação

7º. Transporte;

8º. Elaboração de croquis (de pormenor);

9º. Elaboração de relatório de correlação/análise.

Ambas as fases têm como objectivo final a “visualização” do cenário possível, o seu

desenvolvimento, a interpretação das circunstâncias factuais (apuramento das causas) e,

eventualmente, a identificação do(s) autor(es), no caso de intenção criminosa.

3.3. FICHA DE PROCEDIMENTOS (FP) – vd. ANEXO II

Consiste numa folha de tamanho A5, elaborada pelo autor especificamente para o presente

projecto, são referentes a cada cenário/tipo de incêndio em estudo (urbanos/industriais,

florestais e em veículos automóveis), onde se elencam:

Na parte da frente, uma série de cuidados e observações gerais;

No verso, uma série de procedimentos respeitantes à actuação no PI.

Servem de guia ou orientação para os combatentes, sempre com a finalidade de

salvaguardar os vestígios de carácter probatório que ali se possam encontrar.

Tal FP, a par com a FC (Ficha de Campo) que deverá ser preenchida pelo COS,

consubstanciarão uma base essencial para o início da investigação das causas do

incêndio.

À semelhança do Kit básico, deverá estar na viatura de primeira intervenção ao combate.

29 Geralmente são objectos com escala conhecida ou mesmo pequenas réguas ou folhas escaladas metricamente, que servem para “testemunhar” a grandeza do vestígio

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 27

Assim, face a determinado vestígio observado, em determinado cenário de incêndio, o

combatente socorrer-se-á da FP a fim de identificar a natureza e o tipo de tal vestígio, bem

como a forma como o mesmo deverá ser tratado.

Por fim, preencherá a FC que entregará assim que possível aos elementos afectos à

investigação das causas.

Em termos procedimentares, tendo sempre presente que a zona-alvo da investigação é o

PI, dever-se-ão observar os seguintes princípios:

3.4. FICHA DE CAMPO (FC) – vd. ANEXO III

As informações preliminares recolhidas aquando da chegada ao local do incêndio são

importantes porquanto:

Ajudam a “fixar” por escrito todo o cenário envolvente que de outra forma seria difícil

reter mentalmente (v.g. para depois transpor para o relatório da ocorrência de cada

CBs);

Ajudam a relembrar os acontecimentos, as situações ou as circunstâncias;

Permitem transmitir aos investigadores dados concretos e essenciais para iniciar

uma investigação das causas;

São essenciais para elaborar um outline que servirá de base para a elaboração do

relatório final sobre as causas;

1. O material combustível que existia no PI já ardeu, pelo que tal zona não constitui

mais perigo, sendo por isso desnecessária a intervenção dos bombeiros;

2. O PI não deve ser encharcado com água, principalmente com recurso a

agulhetas de jacto de alta pressão. Se necessário, utilizar água na forma

pulverizada;

3. O PI não deve ser rescaldado/mexido;

4. Não se deve recolher material/objectos suspeitos mas sim protegê-

los/preservá-los;

5. Ter especial atenção aos materiais/objectos passíveis de terem servido como

fonte de ignição;

6. Cintar/balizar devidamente o PI responsabilidade da equipa de primeira

intervenção (COS)

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 28

Ajudam o combatente se eventualmente for necessário testemunhar em sede de

audiência de julgamento no tribunal, ajudando os decisores judiciais numa mais

concreta avaliação do circunstancialismo e posterior decisão.

De uma forma clara, simples e objectiva, as notas de campos devem ser tomadas assim

que observados os factos pertinentes e deverão responder às questões: O quê, Onde,

Quando, Quem, Como e Porquê.

Para que sejam úteis, as notas deverão observar o seguinte:

Ser legíveis: tanto para o combatente como para qualquer pessoa, designadamente

afecto à investigação. Deverão conter palavras completas;

Sintéticas: utilização de frases curtas, evitando pareceres ou comentários

rebuscados ou técnicos que dificultarão a interpretação;

Descritivas: palavras que descrevam com exactidão o observado. Por exemplo,

escrever “fósforo queimado”, ao invés de “objecto queimado”. A elaboração do

croquis é sempre uma mais-valia;

Exactidão: com indicação precisa das datas/horas, nomes, locais, condições

meteorológicas, condições do terreno, identificação de meios de transportes

(matrículas, etc.), bem como respectiva localização em mapas/croquis;

Factuais e objectivas: devem cingir-se ao essencial e serem claras. Opiniões ou

pareceres pessoais devem ser omitidas, bem como informações extrínsecas.

Os primeiros rascunhos ou notas preliminares escritas, mesmo depois de passadas a limpo,

não devem ser destruídas a não ser que se tenha a certeza de já não serem precisas.

4. TIPO DE INCÊNDIOS

Comum aos três tipos de incêndios abordados no presente trabalho, é a importância de

uma observação preliminar por parte da Equipa de Primeira Intervenção quando se

aproxima do local do sinistro.

As informações preliminares então retidas e recolhidas são depois espelhadas na FC que é

entregue aos investigadores.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 29

4.1. ABORDAGEM E ACTUAÇÃO DOS COMBATENTES - generalidades

É necessário que, ainda antes de chegar ao local de início do incêndio, os elementos da

equipa de primeira intervenção estejam atentos a todo um conjunto de evidências/indícios,

quer no interior da área ardida, quer também no exterior (acessos e imediações).

Aspectos físicos

Observar se existem barricadas, árvores derrubadas, cabos ou outros obstáculos

que impeçam a chegada dos combatentes e que configurem à priori (desde início)

uma intenção deliberada;

Observar se existem condições artificiais criadas para facilitar a propagação do

fogo:

o Por vezes os incendiários colocam calços nas portas e janelas a fim de

oxigenar o local; arrancam estuque em paredes de miolo de madeira; furam

paredes ou tectos para aumentar a rapidez de propagação;

o Outro modus operandi (modo de actuação) é a colocação de ferros de

engomar ligados sobre uma peça de roupa, proporcionando a inflamação do

mesmo passado um tempo;

Referenciar viaturas que se afastem do local, principalmente aquelas que se

tornarem suspeitas;

Existência de rastos de pneus ou pegadas;

Saber se as entradas em determinada habitação/estrutura estão fechadas, abertas

ou arrombadas (portas, janelas, etc.) distribuição e posição de vidros partidos;

o Cortinas corridas ou janelas e portas tapadas com cobertores, são técnicas

comuns utilizadas pelo incendiário para atrasar a descoberta do fogo;

As ameaças aos vestígios geradas pelo combate (utilização de agentes

extintores desproporcionados ou inadequados);

As pessoas que acederam a tal área e possibilidade de a terem contaminado ou

destruído alguns vestígio;

Ter em conta os cheiros e odores, principalmente aqueles conhecidos (v.g.

gasóleo);

Saber onde e quantos focos de incêndios se verificaram;

Aferir se existiu remoção ou alteração de mobiliário;

Considerar a possibilidade de uma burla às seguradoras face:

o À ausência de roupas, haveres, mobiliários e bens pessoais, no interior de

residências;

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 30

o Desaparecimento de mercadorias, acessórios, maquinaria, registos

documentais, em unidades industriais;

Saber se houve sabotagem ou danos nos dispositivos de prevenção e combate

de incêndios, bem como anti-roubo;

Lesões por queimadura e padrões de destruição nas roupas de eventuais vítimas;

Ter em conta todo um tratamento dos vestígios no local do incêndio e

principalmente aqueles encontrados no ponto de início:

o Rastilhos entre fogos feitos de fios ou cordões embebidos em acelerantes,

detonadores ou dinamite, pólvora negra, algodão em rama ou desperdício de

linho, aparas em madeiras, etc.;

o Velas utilizadas para incendiar maquinaria e rastilhos:

Se existem resíduos de cera de vela ou parafina no ponto de origem;

o Fósforos atados e envoltos em cigarros, funcionando como dispositivos

retardadores da ignição;

o Produtos químicos comuns – permanganato de potássio, fósforo, glicerina,

etc.;

o Vasilhame contendo combustível acelerador e amostras de líquidos

inflamáveis ou combustíveis (provocam danos específicos, queimaduras

mais profundas e maiores infiltrações no terreno);

o Trapos, vestuário, cortinas, desperdícios ou mesmo papel embebido em

material acelerante.

Vertente humana

Concomitantemente, não deve ser menosprezada a vertente humana. Seja, todo um

conjunto de procedimentos e actuações referentes a pessoas:

Registo de entrada e saída de pessoas:

o Movimento de entrada e saída (ou tentativa de saída) de pessoas estranhas

ao local proceder à sua identificação e averiguar o motivo da presença ou

interesse;

o Mesmo fora do perímetro de actuação, devem-se ter em conta movimentos

ou comportamentos e conversas estranhas proceder à sua identificação;

Observação das pessoas presentes:

o Detalhes e pormenores do seu comportamento, das suas roupas,

correlacionando-os com a leitura do cenário;

Alguns autores do crime tendem a intervir directamente no combate

ao incêndio e até à investigação (v.g. os incendiários assistem com

frequência ao incêndio que provocam e ao movimento das viaturas

de socorro e combate);

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 31

Segurança do local (PI) até à chegada dos investigadores

Não permitir o acesso ou permanência de pessoas estranhas ou não autorizadas

(nem que para tal seja necessário impor o uso de alguma firmeza ou, em caso

extremo, solicitar ajuda às autoridades);

O ideal seria destacar pelo menos dois elementos para salvaguardar o PI;

Na impossibilidade, solicitar a presença de elementos da autoridade policial

competente:

o Devem permitir a entrada somente a pessoas autorizadas, fazendo constar

tal registo em relação própria;

o Não permitir que seja subtraído qualquer elemento de prova do seu interior

4.2. URBANOS/INDUSTRIAIS

Na abordagem ao local de um incêndio urbano/industrial, antes de mais, porque se tratam

de edificações, dever-se-á ter em conta a segurança dos investigadores e demais

intervenientes.

Neste caso a Inspecção Judiciária 30 (adiante designada por IJ) não se torna urgente, na

medida em que o local geralmente está preservado, dada que já se encontra confinado e

delimitado estruturalmente.

Determinação do PI

Determinar se o fogo teve origem no exterior do edifício, procurando áreas

queimadas e com marcas de fumo no telhado, portas e janelas. Procurar qualquer

abertura que possa ter produzido corrente de ar, susceptível de influenciar a

propagação do fogo;

Tratando-se pois, à partida, de um espaço fechado, uma primeira abordagem será no

sentido de averiguar se existiu violação do domicílio, ou lugar vedado ao público,

observando se as entradas naturais (portas e janelas) foram ou não violadas/forçadas;

Noutra etapa há que averiguar se existiam condições para o incêndio se auto-iniciar,

por exemplo, analisando o sistema eléctrico, ou outro que possa, sem intervenção

humana, provocar a ignição.

30 Advém do art.º 171º, n.º 1, do Código de Processo Penal a definição de IJ ao local (seu exame)

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 32

Existem depois outros indícios e observações a ter em conta, designadamente para

interpretar o desenvolvimento e dinâmica do fogo:

Identificar a cor das chamas e o volume de fuligem nos momentos iniciais do

combate;

Observar a reacção do fogo à água:

o Um jacto de água directamente aplicado no ponto onde foram derramados

líquidos inflamáveis, fará com que o líquido flutue à superfície, reacenda e

continue a arder, alastrando o fogo;

Procurar o compartimento com maior grau destruição (devido a uma exposição mais

lenta e prolongada);

Procurar a zona do tecto com maior dano (resultante da transmissão de calor por

convecção – sentido ascendente da progressão):

o Na perpendicular dessa zona, interpretar marcas e identificar materiais

carbonizados ao mais baixo nível;

o Averiguar se existe combustível líquido acelerante (pelo cheiro ou mesmo

visivelmente), nomeadamente por debaixo de soalhos, juntas, etc.;

Procurar a direcção do fluxo do calor;

Homogeneidade na carbonização dos combustíveis (decorrente do sentido e

intensidade da propagação);

Resíduos da combustão das cinzas:

o Distinguir o negro de fuligem e o negro de carbonização;

Marcas de carbonização com a configuração concêntricas nos materiais;

Vertente das chamadas “marcas de pele de crocodilo”:

o Um fogo rápido e intenso deixa tais marcas e bolhas lisas e brilhantes nas

superfícies de madeira expostas, enquanto um fogo lento deixa marcas mais

lisas;

Quebra de lascas:

o As superfícies de betão, cimento ou tijolo podem quebrar quando expostas a

calor intenso;

Procurar um padrão de incêndio bem definido:

o Normal será em forma de “V” com o vértice orientado para baixo;

o Geralmente coincidente com o ponto de carbonização a um nível mais baixo;

o Com um grande ângulo significa uma combustão lenta. Com um ângulo mais

fechado, significa uma combustão mais rápida;

Paralelamente, dever-se-ão adoptar alguns procedimentos que visam precisamente

manter inalterável o PI:

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 33

Evitar o rescaldo nos forros;

Não remover corpos (vítimas humanas carbonizadas), materiais ou objectos na área e

PI;

Preservar todos os objectos/materiais passíveis de funcionarem como energia de

activação;

Causas mais comuns

As causas mais vulgares são: o cozinhar, o fumar, o aquecimento, as velas, os candeeiros

a gás e a petróleo, a instalação eléctrica, os aparelhos eléctricos, algumas actuações de

crianças e idosos e a falta de cuidado com as lareiras.

4.3. FLORESTAIS

A particularidade dos incêndios florestais prende-se com a natureza do combustível que

arde (combustível essencialmente vegetal) e a sua localização (meio rural/florestal).

Se o foco de incêndio for detectado no início, pode-se identificar mais rapidamente a área

de início e consequentemente o seu PI.

Se por qualquer razão o incêndio já tem grandes proporções, existem assim vários hectares

de área ardida a considerar e a analisar.

Importa então saber e interpretar o comportamento do fogo, que progride tendo em conta

as condições meteorológicas, declive do terreno e qualidade/quantidade de combustível.

Determinação do PI

Tal como já referido neste trabalho, o fogo progride sempre para fora do local onde se

inicia (geralmente, no tipo de incêndio em apreço, em forma oval ou circular se as

condições de propagação forem constantes, designadamente o vento e o declive);

Por outro lado, junto do PI o fogo não atinge grandes proporções, progredindo

devagar e deixando marcas no solo;

O seu avanço mais ou menos rápido é influenciado pelos factores já mencionados

(condições meteorológicas, declive do terreno e qualidade/quantidade de combustível).

Importa assim ler os indicadores (ou marcas) da direcção do fogo no terreno, tendo em

conta dois pressupostos:

À medida que se aproxima do PI, o indicador/vestígios/marca torna-se mais

pequeno;

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 34

Ao determinar qual a direcção da propagação do fogo, deve seguir-se sempre

aquela que possui mais indicadores.

Indicadores mais relevantes:

Caules de gramíneas:

Quando o fogo se aproxima de um caule de uma gramínea, este aquece e carboniza

primeiro de um lado, que fica reduzido e enfraquecido, podendo eventualmente

inclinar-se para a fonte de calor;

Combustíveis vegetais protegidos:

O fogo com queima lenta só irá queimar o lado da vegetação virada para o lado de

aproximação;

Escavados:

Acontece normalmente à parte de um tronco, arbusto ou capim virado contra o vento

(direcção da propagação). Fica mais carbonizado daquele lado, enquanto do outro,

mantém-se mais intacto;

Aparência escamada “marcas de crocodilo”:

Normalmente encontrada nos postes, cercas, tábuas, estruturas, marcos, etc. Pode

ser larga ou pequena, brilhante ou escura. Escamas grandes e brilhantes fogo

quente e rápido. Escamas escuras fogo lento e não muito quente. A maior

profundidade de carbonização indica o lado da proveniência do fogo;

“Congelação de ramos”:

Quando as folhas e pequenos ramos aquecem, têm tendência a ficar mais macios e

facilmente soltos pelo vento. Costumam ficar viradas para a mesma direcção, à

medida que vão arrefecendo após o fogo;

Manchas e fuligem:

As rochas e outros materiais não combustíveis expostos ao fogo ficam manchados e

com fuligem daquele lado;

Dever-se-ão adoptar alguns procedimentos que visam manter inalterável o PI:

Não proceder ao rescaldo da área de início e assim do PI;

Não recolher materiais ou objectos na área e no PI;

Preservar todos os objectos/materiais passíveis de funcionarem como energia de

activação;

Cintar ou balizar a área do PI (e não somente o PI), com recurso a fita balizadora

(que deverá constar do Kit da equipa de primeira intervenção), preferencialmente com

inscrição identificadora do CB.

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 35

Causas mais comuns

Segundo a ex-Direcção Geral de Recursos Florestais (DGRF), agora Autoridade Nacional

Florestal (AFN), a classificação das causas de incêndios tem a seguinte estrutura

hierárquica (vd. ANEXO IV):

1. USO DO FOGO

11. Queima de lixo

12. Queimadas

13. Lançamento de foguetes

14. Fogueiras

15. Fumar

16. Apicultura

17. Chaminés

2. ACIDENTAIS

21. Transportes e comunicações

22. Maquinaria e equipamento

23. Explosivos

24. Soldaduras

25. Disparos de caçadores

26. Exercícios militares

27. Outras

3. ESTRUTURAIS

31. Conflitos de caça

32. Danos provocados pela vida selvagem

33. Alterações no uso do solo

34. Pressão para venda de material lenhoso

35. Limitação ao uso e gestão do solo

36. Contradições no uso e fruição dos baldios

37. Instabilidade laboral nas actividades de detecção, protecção e combate aos

incêndios florestais

38. Outras

4. INCENDIARISMO

41. Manobras de diversão

42. Brincadeiras de crianças

43. Irresponsabilidade de menores

44. Provocação aos meios de combate

45. Conflitos entre vizinhos

46. Vinganças

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 36

47. Piromania

48. Vandalismo

49. Outras

5. NATURAIS

55. Raio

56. Outras

6. NÃO DETERMINADAS

4.4. VEÍCULOS AUTOMÓVEIS

Poder-se-á pensar, à priori, que um incêndio num veículo automóvel que se desenvolva

muito rapidamente, indicia acto criminoso. Porém, não será bem assim.

Os automóveis modernos possuem cada vez mais tipos e quantidades de materiais

altamente inflamáveis, capazes de provocar uma tal dimensão de danos, pelo que não será

necessário alimentar o incêndio com qualquer líquido acelerante como a gasolina.

A análise dos padrões de fogo ou o grau de destruição deve ser feita com muita cautela.

As interpretações ou conclusões advindas devem ser sempre correlacionadas com a

eventual prova testemunhal existente, análises laboratoriais e registos de manutenção da

viatura (onde constem o tipo, data e/ou eventuais falhas mecânica ou eléctricas

detectadas). Deve-se estar ainda minimamente familiarizado com a realidade automóvel

(estrutura, mecânica e funcionamento).

Com um determinado tipo de combustível e uma fonte de ignição, o tamanho relativamente

pequeno de um veículo pode originar uma mais rápida propagação das chamas do que, por

exemplo, numa habitação.

A intensidade do fogo tende a destruir eventuais vestígios indiciadores das causas.

Determinação do PI

No caso dos veículos automóveis, as queimaduras ou danos padrões existentes nos

painéis da carroçaria, no compartimento do motor, nos pneus e no interior do veículo

são muitas vezes utilizados para localizar o PI e consequentemente para a determinação

de causa do incêndio.

Adoptar-se-ão então alguns procedimentos que visam localizar em que parte do veículo

começou o fogo:

Aferir qual a zona de maior carbonização;

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 37

Se toda a carroçaria estiver queimada de forma uniforme, ponderar possibilidade de

ter sido regada com líquido combustível no tejadilho (o qual escorreu depois,

penetrando no interior através de frisos e aberturas do veículo);

Observar se junto das rodas (em cima/debaixo do pneu) ou compartimentos das

mesmas existem vestígios de líquidos acelerantes ou qualquer material neles

embebidos (papéis enrolados, trapos, desperdícios, etc.);

Averiguar se a entrada para fornecimento de combustível está intacta (com

tampa) ou se ali existe algum tipo de material inflamável (mecha de pano, p.e.);

Observar se o fogo partiu do interior (analisando os frisos, grelhas e orifícios

próprios do veículo ou a quebra/projecção de vidros para fora);

Averiguar se a zona mais carbonizada coincide com material ou sistemas

eléctricos (bateria, caixa de fusíveis, comutadores, disjuntores, etc.) curto-circuito;

Procurar eventuais dispositivos/engenhos incendiários no interior e arredores do

veículo;

Causas mais comuns

Fugas de combustível

Causas eléctricas (má manutenção)

Criminosas/dolosas

Incêndio na estrutura onde está parqueado

Cigarros/beatas caídas no habitáculo

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 38

5. A INVESTIGAÇÃO DOS INCÊNDIOS EM PORTUGAL

Em Portugal existem essencialmente dois Órgãos de Polícia Criminal (adiante identificados

como OPCs) que investigam as causas dos incêndios: PJ e GNR.

Quando a origem do incêndio é desconhecida e/ou se presume de índole criminosa, cabe

à PJ a investigação (cfr. competência reservada, advinda do art.º 7º., n.º 3, al. f), da Lei

49/2008, de 27.Ago – “Lei de Organização da Investigação Criminal”).

Os restantes casos cabem na esfera de competências do SEPNA/GNR.

Quadro legislativo:

Fig. 5: tipificação legal de incêndio

Tal como tem vindo a ser abordado, o principal mecanismo desencadeador de uma

investigação é a chamada IJ, que não é nem mais nem menos que o exame sistemático do

local.

Basicamente, quando ocorre um incêndio, raramente é a PJ a primeira entidade a chegar

ao local. Geralmente são os bombeiros, outros OPCs (PSP ou GNR) ou mesmos os

Serviços Florestais quem ali chegam em primeiro lugar.

Se a causa for desconhecida ou duvidosa, é solicitada a comparência da PJ, como acima

mencionado.

OCORRÊNCIA

(sempre que se verifique uma ignição / combustão)

CRIME DE INCÊNDIO

(vd. art.º 272º do Código Penal Português)

CRIME DE DANO

(vd. art.º 212º do Código Penal Português)

CONTRA-ORDENAÇÃO

DL 17/2009

(regulamenta o uso do fogo florestal)

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 39

Independentemente de tal circunstância, é sempre aberta uma investigação, cuja

competência está perfeitamente definida por lei (vd. Fig. 5).

Um dos pressupostos é o montante dos danos ou prejuízos estimados.

De facto, sempre que ascendem as 50 UC 31, considerado Valor Elevado (cfr. art.º 202º, al.

a), do Código Penal Português), a investigação passa a ser da competência reservada da

PJ.

Nos restantes casos a investigação é desenvolvida pela GNR, Serviços Florestais e até

pela PSP (na sua área jurisdicional).

Assim de forma encadeada e sistemática temos:

Fig. 6: sistematização das primeiras fases da investigação das causas dos incêndios

Significa isto que, cabe à PJ, na maioria das vezes, a confirmação da existência de indícios

de dolo ou de mera negligência.

Ressalvada pois esta triagem inicial, a própria investigação do crime de incêndio encerra

em si algumas vicissitudes. Partindo do pressuposto que a investigação do crime de

incêndio pretende, em última instância, conduzir à cabal identificação do(s) autor(es) do

facto criminoso, é com o exame ao local ou locais onde o incêndio teve o seu início (a já

referida IJ), que começa a investigação, procurando-se logo aí encontrar e recolher os

primeiros indícios da autoria dolosa do crime.

31 Unidade de Conta Processual (UC): é a quantia monetária equivalente a um quarto do valor do Indexante dos Apoios Sociais (IAS – LEI 53-B/2006, 29.Dez), arredondada à unidade Euro. Para 2010 = 105€.

NOTÍCIA DO INCÊNDIO

• Tomada de conhecimento da ocorrência, por qualquer meio (por se tratar de um "potencial" crime público

INSPECÇÃO JUDICIÁRIA

• Realizada por OPCs com formação técnica adequada:

• PJ (Brigadas de Investigação de Incêndios);

• GNR:

• SEPNA;

• EPN (ex-Corpo Nacional da Guarda Florestal)

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

SUBSEQUENTE

• Conforme previsto na Lei da Organização Criminal. A desenvolver:

• Pela PJ, nos casos de acção DOLOSA;

• Pela GNR nos casos de acção NEGLIGENTE / ACIDENTAL

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“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 40

A IJ engloba assim um conjunto de actos in loco caracterizados pela sua elevada

complexidade técnica, os quais permitirão extrair conclusões relativamente à origem e ao

modo como determinado incêndio se iniciou, sendo que a fundamentação científica das

conclusões alcançadas poderá sempre ser confirmada por exames laboratoriais efectuados

por peritos do Laboratório de Polícia Científica (adiante designado por LPC) da PJ.

Como tem vindo a ser referido neste trabalho, nesta fase importa realçar sobretudo a

dificuldade em determinar o meio de ignição, que poderá ser desde um mero isqueiro ou

fósforo a outros materiais facilmente perecíveis ou destrutíveis.

Em resumo, é este conjunto de materiais de carácter probatório (exames, perícias e

testemunhos) que, isolada ou conjuntamente, permite num número significativo de

investigações, não só concluir pela origem intencional de um incêndio, como identificar o(s)

seu(s) autor(es) e seguidamente conhecer as motivações do seu comportamento criminoso.

No âmbito da Protecção Civil, a PJ tem pois um papel relevante, na medida em que a sua

colaboração ocorre quando a gravidade da situação o exige e enquadrada por legislação

específica (já atrás mencionada).

Nessa altura, a coordenação das acções e dos meios da PJ, ao nível do Comando Nacional

e Operações de Socorro (CNOS), é assegurada, designadamente, através de um oficial de

ligação, colocado em regime de permanência na Autoridade Nacional de Protecção Civil

(ANPC).

Também ao nível distrital, no CDOS, na fase mais crítica para ocorrência dos incêndios

florestais, existe um oficial de ligação da PJ (assim como da GNR, este em permanência).

Fig. 7: elementos da PJ no Teatro de Operações (incêndio industrial)

Page 49: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 41

A missão da PJ tem assim várias vertentes:

Determinação das causas dos incêndios, designadamente através da

componente técnica (do LPC);

Vincular eventuais autores, através da prova forense;

Recolher informações preliminares de eventuais suspeitos em regiões

vulneráveis e ainda no TO aquando da ocorrência de incêndios;

Elaborar estudos estatísticos e definir sectores socioeconómicos com maiores

vulnerabilidades;

Definir o perfil padrão, sócio-psicológico do incendiário português.

Page 50: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 42

6. CONCLUSÕES

Com a elaboração do presente trabalho, deu-se cumprimento ao requisito exigido para a

avaliação da Unidade Curricular “PROJECTO EM PROTECÇÃO CIVIL”.

Não se pretendeu dissertar teoricamente sobre um tema ou assunto, mas foi-se mais além,

dando uma aplicabilidade do estudo efectuado, designadamente no âmbito da actuação de

todos os agentes intervenientes no combate aos incêndios (no caso em concreto, urbanos,

florestais e em veículos automóveis terrestres).

A realidade do combate aos incêndios, ultrapassa ou sobrepões-se geralmente à realidade

da investigação das suas causas, dado que o objectivo primordial dos diferentes

combatentes naqueles cenários, é precisamente debelar as chamas de forma célere e

eficaz e socorrer/salvaguardar vidas e bens. Aqueles são os primeiros intervenientes a

chegar ao local e pela necessidade de combater o sinistro, podem alterar o cenário original

de forma a comprometer futuras investigações das suas causas.

Os outputs ora produzidos (Ficha de Procedimentos e Ficha de Campo), constituem-se

como ferramentas básicas de trabalho, numa linguagem acessível e prática, que não

necessitam de grande técnica para a sua utilização e servem para alertar, consciencializar

e dotar os bombeiros e demais combatentes, de conhecimentos e procedimentos com vista

ao tratamento de todos os vestígios essenciais e pertinentes existentes no local do sinistro,

que contribuam para a determinação das respectivas causas.

É esta dictomia entre os combatentes do incêndio e a investigação que conduzirá a

resultados profícuos.

Como anseio futuro, pretende-se que este projecto sirva como base para uma discussão e

formação em torno da importância dos combatentes, no que diz respeito à preservação de

vestígios, designadamente ao nível de quadros de comando (bombeiros, GIPS/GNR, FEB e

SP).

Só assim, com esta conjugação de esforços pessoais e interinstitucionais, é que se

conseguirão obter resultados satisfatórios e, em última análise, JUSTIÇA.

“Os combatentes deverão ter cada vez mais uma atitude preventiva e não tão

somente reactiva” 32

32 Citação do discente

Page 51: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 43

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OBRAS DE REFERÊNCIA

ANDRADE, M. Margarida. “Introdução à metodologia do trabalho científico”. São

Paulo: Editora Atlas, 1999;

BELO, J. L. de Paiva. “Metodologia científica: manual para a elaboração de textos

académicos, monografias, dissertações e teses”. Universidade Veiga de

Almeida – UVA. Rio de Janeiro, 2005;

CARVALHO, Josefa B. et LOPES, José P. “Classificação de incêndios florestais.

Manual do utilizador”. Lisboa: DGF, 2001;

CASTRO, Carlos F. e outros. “Combate a incêndios florestais, vol. XIII: Manual de

Formação Inicial do Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2003;

CASTRO, Carlos F. e outros. “Combate a incêndios urbanos e industriais, vol. X:

Manual de Formação Inicial do Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2005;

Círculo de Leitores. “Memória do mundo – das origens ao ano 2000”. Ed. LAROUSE.

Lisboa, 2000;

Grupo Nacional Coordenador dos Fogos Florestais (NWCG) – versão portuguesa.

“Manual para determinação das causas dos incêndios florestais”.

Ago.1989;

GUERRA, António M. et COELHO, José A. et LEITÃO, Ruben E. “Fenomenologia da

combustão e agentes extintores, vol. VII: Manual de Formação Inicial do

Bombeiro”. 2ª Ed. Sintra: ENB, 2006;

MOURA, J. “Apontamentos das aulas ministradas – Prevenção e Controlo de

Incêndios”. ESTG/IPLeiria (2009/2010);

NOON, Randall K. “A Pocket Guide to Arson and Fire Investigation”. Factory Mutual

Engineering Corp., 3rd ed., 1992. ISBN 0-8493-0911-5;

POLÍCIA JUDICIÁRIA. “Curso de técnicas de investigação de incêndios”. Lisboa:

INPCC, Abr.1996;

POLÍCIA JUDICIÁRIA. “Inspecção Judiciária – Manual de procedimentos””. 1ª Ed.

Lisboa: Directoria Nacional, 2009. ISBN 978-989-96126-0-0;

POLÍCIA JUDICIÁRIA. “Manual para determinação das causas dos incêndios

florestais”. Grupo Nacional Coordenador dos Fogos Selvagens (NWCG).

Lisboa: INPCC, Ago.1989;

Page 52: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

“INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios”

Filipe Augusto Ferreira 44

SEITO, Alexandre e outros. “A segurança contra incêndio no Brasil”. S. Paulo:

projecto Editora, 2008. ISBN 978-85-61295-00-4;

U.S. Department of Justice, “Fire and Arson Scene Evidence: a Guide for Public

Safety Personnel”, June 2000;

DOCUMENTOS ELECTRÓNICOS

NFPA (1995). “Guide for Fire and Explosion Investigations”. Trad. ALARCÓN,

Alfonso. Ed: MAPFRE (921-1995). ISBN 84-7100-915-3 (acessível no site:

http://www.nfpa.org/aboutthecodes/AboutTheCodes.asp?DocNum=921);

PORTUGAL, Autoridade Florestal Nacional. “Instruções para o trabalho de campo

do Inventário Florestal Nacional”. Lisboa: Direcção de Unidade de Gestão

Florestal, Janeiro.2009 (acessível no site: http://www.afn.min-

agricultura.pt/portal/ifn/resource/ficheiros/ifn/MCAMPO_IFN_Final.pdf);

VIEITO, Rui M. T. et GUIMARÃES, Sérgio A. N.. “Manual de actuação em situações

de incêndio e geradoras de pânico”. Arcos de Valdevez - Maio.2004

(consultado a 2010.04.18 no site:

http://www.epralima.com/inforadapt2europe/manuais/manual3.pdf);

LEGISLAÇÃO

Decreto-Lei n.º 22/2006, de 02 de Fevereiro. Diário da República I Série-A. N.º 24

(2006.02.02), pág. 786 – Criação do SEPNA e GIPS na GNR;

Decreto-Lei n.º 241/2007, de 21 de Junho. Diário da República I Série-A. N.º 118

(2007.06.21), pág. 3925 – Regime Jurídico dos Bombeiros;

WEBGRAFIA

Site: http://www.univ-ab.pt/formacao/sehit/curso/incendios/uni1/fogo.htm/ (acedido em

2010.04.18);

Site: http://www.interfire.org/ (acedido em 2010.04.18)

Page 53: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

45

ANEXO I

Súmula das entrevistas pessoais realizadas com diversos profissionais contactados

(suas valências e competências)

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46

NOME REGINO MARTINS DATA DO CONTACTO 06 de Abril de 2010

LOCAL Leiria

COMPETÊNCIAS Mestre Florestal Principal do extinto Corpo Nacional da Guarda-Florestal, em 2006 foi transferido para o quadro da GNR, integrando uma Equipa de Protecção da Natureza (EPN), do SEPNA/GNR de Leiria (após a extinção do Corpo Nacional da Guarda Florestal em 2006, cfe. art.º 5º do DL 22/2006, de 02.Fev, referente à criação do SEPNA e GIPS).

Com cerca de 23 anos de experiência na área dos incêndios florestais, concretamente nos concelhos de Porto de Mós, batalha, Leiria e Marinha Grande. Esta competência territorial abrange o Parque Nacional da Serra de Aire e Candeeiros (PNSAC) e ainda as Matas Nacionais de Leiria, Pedrógão e Urso.

Súmula dos dados recolhidos

Em caso de incêndio florestal, depois de detectado e dado o alerta, a par dos bombeiros, os elementos da GNR Territorial geralmente são os primeiros elementos da investigação das causas a chegar ao local.

Quanto a estes, sem grande formação na área, apontam geralmente como causa dolosa ou então desconhecida.

Ao nível da EPN, deparam-se desde logo com algumas dificuldades:

Alguma falta de sensibilização e conhecimentos por parte dos bombeiros o que leva a menosprezar a área de início;

Na maioria dos casos, não têm cuidado a lidar com o PI:

o Não o conseguem localizar, pois falta formação na leitura e interpretação das marcas de progressão do fogo no terreno;

o Não o salvaguardam, passando nele viaturas, equipamentos ou ferramentas (mangueiras estendidas p.e.);

o Inundam-no abundantemente com água, por vezes com agulhetas de jacto, ao invés de chuveiro, levantando o solo e destruindo eventuais vestígios;

Manifestou agrado pela iniciativa quanto ao presente projecto, realçando a necessidade de uma maior responsabilização por parte dos primeiros intervenientes no combate, na salvaguarda do PI.

Indicou os condicionalismos materiais de que os CBs padecem, mormente quanto a equipamentos/ferramentas básicas e que actualmente não são assim tão inacessíveis em termos monetários, tal como aparelho GPS e máquina fotográfica para equipar as viaturas de primeira intervenção ou de comando.

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47

NOME ANTÓNIO CARVALHO DATA DO CONTACTO 12 de Abril de 2010

LOCAL Lisboa

COMPETÊNCIAS Coordenador de Investigação Criminal da Polícia Judiciária.

Responsável pela 2ª Secção na Directoria de Lisboa e Vale do Tejo (investigação de incêndios) e formador mais credenciado da PJ nesta área.

Tem colaborado activamente na formação quer dos elementos afectos à investigação, quer mesmo junto da ENB e outras entidades policiais portuguesas e estrangeiras.

Súmula dos dados recolhidos

Como tónica principal, a ideia de que o PI é fulcral para a investigação das causas e por isso deverá ser o máximo possível preservado:

Já não volta a arder;

Não deve ser rescaldado, para que não se destruam os vestígios ali existentes;

Os bombeiros (e demais combatentes), deverão ter cada vez mais uma atitude pró-activa e não aquela que actualmente têm – reactiva.

A ciência da investigação das causas dos incêndios é multidisciplinar, envolvendo conceitos de diversas especialidades.

Dever-se-á possuir bons conhecimentos de fenomenologia da combustão, comportamento do fogo, leitura e interpretação das marcas no terreno.

Pese embora o tema tratado no presente projecto, tenha sido abordado em sede da ENB, o facto é que nunca foi conseguido uma implementação de algo em concreto no terreno, de uma forma prática e acessível a qualquer combatente.

Assim, entende que a ora iniciativa é um ponto de partida para mais uma abordagem ao tema.

Facultou alguma (pouca) documentação sobre esta dinâmica dos incêndios, compilada por si e transmitida em diversas sedes formativas.

Quiçá devido ao tempo limitado da entrevista, não foi transmitida muita informação, mas sim tópicos de trabalho.

Salienta-se ainda a menção à importância de um documento do tipo Folha de Auto de Notícia que, no caso do presente trabalho, é materializada numa Folha de Campo.

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48

NOME NUNO CUNHA LOPES DATA DO CONTACTO 02 de Maio de 2010

LOCAL Leiria

COMPETÊNCIAS Capitão-de-fragata da Marinha aposentado desde 1998. Engenheiro mecânico formado pela Escola Naval.

Foi Comandante Operacional Municipal de Leiria, entre 1998 e Set.2007.

Actualmente é docente do Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA) de Leiria, nas áreas de Higiene e Segurança no Trabalho

Súmula dos dados recolhidos

Depois de ter sido colocado ao corrente do objectivo do presente projecto final em PC, aplaudiu a iniciativa, adiantando desde logo que era um trabalho algo ambicioso, dadas algumas dificuldades ou barreiras perspectivadas.

Possuidor de grande bagagem de conhecimentos técnicos em diversas áreas ligadas à PC, fez uma pequena contextualização histórica dos bombeiros e suas missões.

Enumerou algumas dificuldades naturais na implementação do projecto em si:

A baixa instrução escolar que a maior parte dos bombeiros ainda possui e que poderá condicionar o entendimento e consequente preenchimento das “Fichas de Campo” propostas. Segundo o ora entrevistado: “há muita gente que não sabe ler nem escrever…”;

A inexistência de uma cultura de investigação das causas: o combatente anseia e está motivado para combater as chamas. O facto de não ter contacto visual com as mesmas, enquanto bombeiro, não lhe perece tão digna a tarefa: “querem olhar sempre para as chamas”. Não se considera tão operacional – tem a ver com questões sociais/culturais;

Quanto a alguma instrumentalização, tal como objectivado no projecto em apreço, apontou algumas dificuldades, precisamente dada a fraca escolaridade, conhecimentos técnicos e até sensibilidade para lidar com equipamentos mais sensíveis (v.g. o anemómetro de copo);

Nem sempre é possível determinar com exactidão o PI de um incêndio, sendo para tal necessário que o combatente conheça o fundamental das marcas de propagação no terreno.

Identificada a área provável do início, perspectiva alguma dificuldade em manter ali algum combatente a preservar o local até à chegada dos elementos da investigação, precisamente pelos motivos apontados anteriormente o querer apagar as chamas. É pois difícil passar a mensagem da importância de tal tarefa.

Relativamente aos incêndios urbanos, o mais comum é encharcar todo o local com água, inclusive o PI. É uma mentalidade difícil de mudar aquela de imediatamente combater o incêndio com água em abundância. Segundo o mesmo, com alguma ironia, referiu que: “…não se apagam os fogos... afogam-se”.

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49

NOME ARTUR MANUEL SILVA GRANJA DATA DO CONTACTO 15 de Junho de 2010

LOCAL Marinha Grande

COMPETÊNCIAS Possui uma vivência de 27 anos de bombeiros, onde chegou a ser Ajudante de Comando.

Entre outros, possui o “Curso de Investigação de Causas de Incêndio” (Policia Judiciária/E.N.B.).

Exerceu durante 12 anos as funções de Delegado e Coordenador do Serviço de Protecção Civil da Câmara Municipal da Marinha Grande.

Actualmente é Adjunto de Operações Distritais (CDOS – Leiria).

Súmula dos dados recolhidos

Fruto da sua grande experiência operacional e consequente contacto com a realidade inerente à investigação das causas, apresentou alguns case studies

vividos.

Realçou a importância da determinação do PI e, por parte dos bombeiros, a forma como deverão identificá-lo, abordá-lo e essencialmente preservá-lo.

Enumerou algumas situações de falta de conhecimento, cuidado, sensibilidade e até de profissionalismo por parte de muitos combatentes quanto àquela realidade inerente ao PI, quer na fase de ataque e protecção, quer principalmente na fase de rescaldo (vd. Marcha Geral de Operações).

Da mesma forma mencionou casos ocorridos, onde foi necessário proceder à salvaguarda de vestígios importantes, mesmo antes da chegada dos investigadores, dada a possibilidade de desaparecerem.

Alertou para a lacuna formativa existente no seio da generalidade dos combatentes, relativamente a este tipo de sensibilização – preservação dos vestígios -, bem como a algum manifesto desinteresse ou facilitismo.

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50

ANEXO Ii

FICHA DE PROCEDIMENTOS

(FP)

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FICHA DE PROCEDIMENTOS (FP)

51

Incêndios urbanos/industriais

Cuidados e observações gerais:

Na abordagem do local, antes de mais, porque se tratam de edificações, dever-se-á ter em conta a segurança dos combatentes;

Privilegiar a salvaguarda das vidas humanas;

Ter especial atenção a movimentos suspeitos (de pessoas ou veículos);

Determinar se o fogo teve origem no exterior do edifício, procurando áreas queimadas e com marcas de fumo no telhado, portas e janelas.

Averiguar se existiu violação do domicílio ou lugar vedado ao público (se as portas ou janelas foram ou não violadas/forçadas);

Se existiam condições para o incêndio se auto-iniciar (p.e., analisando o sistema eléctrico, ou outro que possa, sem intervenção humana, provocar a ignição);

Se destruição maciça do compartimento, de dentro para fora, pouca carbonização e eventual cheiro a gás, desconfie de explosão;

Observar qual o compartimento ou sector com maior grau de carbonização Ponto de Início (PI)

Sempre que possível, no ataque directo a tal PI usar um agente extintor espumífero, ou em alternativa, água sob a forma pulverizada – a água é o pior “inimigo” dos vestígios;

Preencher correctamente a Ficha de Campo (FC) e, juntamente com eventuais vestígios, entregá-la o mais breve possível aos elementos da investigação das causas do incêndio.

Page 60: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

FICHA DE PROCEDIMENTOS (FP)

52

Incêndios urbanos/industriais

Actuação no PI:

O material combustível que ali existia já ardeu (desnecessária por isso nova intervenção dos bombeiros);

O PI não deve ser encharcado com água, rescaldado ou mexido, principalmente forros ou soalhos ou coberturas;

Não recolher materiais/objectos suspeitos mas sim protegê-los / preservá-los;

Ter especial atenção aos materiais/objectos passíveis de terem servido como fonte de ignição;

Cintar/balizar devidamente a área envolvente do PI responsabilidade do COS, preferencialmente com fitas identificadoras do CB (restringir acesso);

No caso de eventuais vestígios serem susceptíveis de se perderem antes da chegada da investigação, fotografá-los e, se não for possível protegê-los, proceder à sua recolha e acondicionamento: Pegadas/rastos visíveis colocar caixas/abrigos por cima ou colocar

barreiras; Amostra de material eventualmente impregnado com acelerante

líquido (papéis parcialmente queimados ou fósforos, trapos, cinzas, madeira, etc.) recolher individualizadas para sacos de nylon, fechados de forma estanque;

Se líquido combustível visível com recurso a pipeta recolher para frascos;

Dispositivos/artefactos incendiários colocar em caixas de cartão devidamente fixos (para manter a sua configuração e integridade);

Eventuais garrafas/recipientes/embalagens susceptíveis de terem contido acelerante líquido de combustão recolher para sacos de nylon;

Preservar sempre o(s) quadro(s) eléctrico(s), não projectando água ou mexer nele;

Efectuar reportagem fotográfica ampla do local (se possível);

Page 61: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

FICHA DE PROCEDIMENTOS (FP)

53

Incêndios em veículos automóveis

Cuidados e observações gerais:

Na abordagem ao veículo em chamas, ter em conta a segurança da

equipa, face à possibilidade da ocorrência de uma explosão ou ainda à possibilidade do mesmo se encontrar destravado e em plano inclinado;

Retirar eventuais materiais combustíveis existentes em seu redor;

Na aproximação, averiguar se existem vidros inteiros no chão (por vezes, consequência de uma temperatura alta no interior do habitáculo, o vidro frontal pode ser compelido/projectado e, dependendo na dureza do mesmo, pode ficar intacto no pavimento junto da viatura);

Proceder à extinção com recurso a agentes adequados (evitar a utilização de água, principalmente na forma de jacto);

Ao abordar as entradas, verificar se estavam fechadas à chave. Localizar as chaves das portas/ignição (colocadas na ignição!?);

Não retirar do habitáculo materiais/objectos suspeitos, papéis ou outro material;

Ter especial atenção aos materiais/objectos passíveis de terem servido como fonte de ignição;

Não remover eventuais vítimas humanas (carbonizadas);

Preencher correctamente a Ficha de Campo (FC) e, juntamente com eventuais vestígios, entregá-la o mais breve possível aos elementos da investigação das causas do incêndio.

Page 62: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

FICHA DE PROCEDIMENTOS (FP)

54

Incêndios em veículos automóveis

Actuação no PI:

Aferir a zona de maior carbonização. Se coincidir com bateria, caixa de fusíveis, comutadores, disjuntores, etc. suspeitar de curto-circuito;

Se a carroçaria (na sua parte exterior) estiver queimada de forma uniforme, suspeitar que possa ter sido regada com líquido combustível no tejadilho;

Junto das rodas (em cima/debaixo do pneu) ou compartimentos das mesmas existem vestígios de líquidos acelerantes ou qualquer outro material impregnado com eles (papéis enrolados, trapos, desperdícios, etc.)?;

Aferir se o orifício para abastecimento de combustível está intacto (com tampa) ou se ali existe algum tipo de material inflamável (mecha de pano);

Observar se o fogo teve início no interior (analisando frisos, grelhas e orifícios próprios do veículo ou a quebra/projecção de vidros para fora);

Procurar eventuais dispositivos/engenhos incendiários no interior e arredores do veículo;

Cintar/balizar devidamente a área envolvente ao veículo (não permitir acesso de pessoas estranhas), preferencialmente com fitas identificadoras do CB:

No caso de eventuais vestígios que estiverem no exterior do veículo, serem susceptíveis de se perderem antes da chegada da investigação, fotografá-los e, se não for possível protegê-los, proceder à sua recolha e acondicionamento: o Pegadas/rastos visíveis/vidros colocar caixas/abrigos por cima ou

colocar barreiras; o Amostra de material eventualmente impregnado com acelerante líquido

(papéis parcialmente queimados ou fósforos, trapos, cinzas, madeira, etc.) recolher individualizadas para sacos de nylon, fechados de forma estanque;

o Se líquido combustível visível com recurso a pipeta recolher para frascos;

o Dispositivos/artefactos incendiários colocar em caixas de cartão devidamente fixos (para manter a sua configuração e integridade);

o Eventuais garrafas/recipientes/embalagens susceptíveis de terem contido acelerante líquido de combustão recolher para sacos de nylon;

Se possível, efectuar reportagem fotográfica ampla do veículo (em todos os ângulos), enquadrado do meio onde foi encontrado;

Page 63: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

FICHA DE PROCEDIMENTOS (FP)

55

Incêndios florestais

Cuidados e observações gerais:

Sua particularidade prende-se com a:

Natureza do combustível que arde (combustível essencialmente vegetal);

Sua localização (meio rural/florestal); Importa saber e interpretar o comportamento do fogo, que progride tendo em conta:

Condições meteorológicas;

Declive do terreno;

Qualidade/quantidade de combustível;

O fogo progride sempre para fora do local onde inicia (geralmente em

forma oval ou circular se as condições de propagação forem constantes);

Junto do PI o fogo não atinge grandes proporções, progredindo devagar e deixando marcas no solo;

Ler os indicadores (ou marcas) da direcção do fogo no terreno, tendo em conta dois pressupostos:

À medida que se aproxima do PI, o indicador torna-se mais pequeno;

Ao determinar qual a direcção da propagação do fogo, deve seguir-se sempre aquela que possui mais indicadores.

Preencher correctamente a Ficha de Campo (FC) e, juntamente com eventuais vestígios, entregá-la o mais breve possível aos elementos da investigação das causas do incêndio.

Page 64: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

FICHA DE PROCEDIMENTOS (FP)

56

Incêndios florestais

Indicadores/marcas no terreno:

Cuidados no PI:

Caules de gramíneas (tendem a inclinar-se para a fonte de calor); Combustíveis vegetais protegidos (queima lenta só queima lado do calor); Escavados (observados na parte de um tronco, arbusto ou capim virado

para calor). Fica mais carbonizado daquele lado, enquanto do outro, mantém-se mais intacto;

“marcas de crocodilo” (postes, cercas, tábuas, estruturas, marcos, etc.). Maior profundidade de carbonização fonte calor: Escamas grandes e brilhantes fogo quente e rápido; Escamas escuras fogo lento e não muito quente;

“Congelação de ramos” (folhas e pequenos ramos aquecem, têm tendência a ficar mais macios e facilmente soltos pelo vento. Costumam ficar viradas para direcção do fogo, à medida que vão arrefecendo);

Manchas e fuligem (rochas e outros materiais não combustíveis expostos ao fogo ficam manchados e com fuligem daquele lado);

Não proceder ao rescaldo da área de início e assim do PI; Não recolher materiais ou objectos na área e no PI; Preservar todos os objectos/materiais passíveis de funcionarem como

energia de activação; Procurar eventuais dispositivos/engenhos incendiários; Cintar ou balizar a área do PI (e não somente o PI), com recurso a fita

balizadora (que deverá constar do Kit da equipa de primeira intervenção), preferencialmente com inscrição identificadora do CB.

No caso dos vestígios no exterior do veículo, serem susceptíveis de se perderem antes da chegada da investigação, fotografá-los e, se não for possível protegê-los, proceder à sua recolha e acondicionamento: Pegadas/rastos colocar caixas/abrigos por cima ou colocar barreiras; Amostra de material eventualmente impregnado com acelerante líquido

(papéis parcialmente queimados ou fósforos, trapos, cinzas, madeira, etc.) recolher individualizadas para sacos de nylon, fechados de forma estanque;

Se líquido combustível visível com recurso a pipeta recolher para frascos; Dispositivos/artefactos incendiários colocar em caixas de cartão

devidamente fixos (para manter a sua configuração e integridade); Eventuais garrafas/recipientes/embalagens susceptíveis de terem contido

acelerante líquido de combustão recolher para sacos de nylon;

Se possível, efectuar reportagem fotográfica ampla do veículo (em todos os ângulos), enquadrado do meio onde foi encontrado.

Page 65: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

57

ANEXO IiI

FICHA DE CAMPO

(FC)

Page 66: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

58

FICHA DE CAMPO (FC)

IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL PELA RECOLHA

Nome: Posto/Categoria: Data:

Corpo de Bombeiros: Contacto: Hora:

Assinatura

DADOS GERAIS DO INCÊNDIO

Data/hora da eclosão: Tipo

Hora comunicação à equipa: Urbano Veículo automóvel Matrícula:

Hora chegada ao local: Industrial Embarcação Designação:

Hora de saída: Florestal Aeronave Designação:

Entidades presentes no local:

ÁREA DE INÍCIO (AI)

Toponímia Condições Meteorológicas à chegada

Designação/rua: Temperatura (ºC):

Freguesia: Humidade Relativa (%):

Concelho: Velocidade do Vento (Km/h):

Distrito: Direcção do vento: N NE E SE S SO O NO

FLORESTAL URBANO INDUSTRIAL TRANSPORTE

Localização exacta do Ponto de Início (PI): Conhecida Desconhecida

Moradia Prédio Tipo: Veículo automóvel Matrícula: Andar: Divisão: Produtos químicos:

Folha IGCE (1:25000) n.º: Embarcação Designação:

Coordenadas GAUSS/UTM: Coordenadas GPS (WGS84):

Localização: Meio citadino Meio rural

Localização: Meio citadino Meio rural Zona industrial

Aeronave Designação:

CARACTERÍSTICAS DO PI (em termos forenses) CROQUIS DA ÁREA DE INÍCIO

Tipo de acesso: Fácil Difícil Junto a via de comunicação: Não ; Sim :

Distância (m): Tipo de via:

Junto a povoação (até 300m); Não ; Sim

Vestígios encontrados no PI: Fósforos ; isqueiro ; velas ; Artefacto incendiário ; Restos de cigarros ; Vidros ; combustível vegetal seco especificamente colocado ; Outro:

Combustível líquido acelerante: Gasolina ; Petróleo ; Álcool Outro: Estado: derramado ; acondicionado em quê:

Testemunhas com informações pertinentes: Nome: Contacto: Nome: Contacto: Nome: Contacto:

CONFIGURAÇÃO DA PROPAGAÇÃO (florestais)

Causa aparente: Acidental ; Natural ; Negligência ; Intencional

Preservado o PI e seus vestígios? Não Sim , como:

Page 67: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

59

FICHA DE CAMPO (FC)

OBSERVAÇÕES ADICIONAIS:

Page 68: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

60

ANEXO IV

Codificação e definição das categorias das causas dos incêndios florestais

(ex-DGRF)

Page 69: INCÊNDIOS - A função dos combatentes na preservação dos vestígios

61

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ANEXO V

Álbum fotográfico

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INCÊNDIOS URBANOS/INDUSTRIAIS

Explosão (gás butano)

Curto-circuito

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Sobreaquecimento (circuito eléctrico)

Fogo posto

PI

PI

PI

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Por descuido

Pontos de início

PI PI

PI PI

PI

PI

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INCÊNDIOS FLORESTAIS

Delimitação do PI

Ignição com fósforos

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Artefactos incendiários

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Material plástico que serviu de acelerante

Pinha que serviu para alimentar combustão

Dispositivos incendiários retardadores (com cigarro e fósforos)

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Rastilhos encontrados em garrafas com combustível líquido (“cocktail molotov”)

Exemplos de fotografias a vestígios (no local)

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INCÊNDIOS EM VEÍCULOS AUTOMÓVEIS TERRESTRES

Curto-circuito

Fogo posto: através da introdução de material inflamável na entrada do combustível

Fogo posto: regado com líquido acelerante

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Fogo posto: quebra de vidro com introdução de material inflamável

Fogo posto: colocação de material inflamável junto de rodas