improbidade administrativa dos agentes polÍticos …

79
Marcelle Gonçalves Rodrigues IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS EM FACE DA CORRUPÇÃO CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO ARAÇATUBA 2019

Upload: others

Post on 14-Nov-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

Marcelle Gonçalves Rodrigues

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS

EM FACE DA CORRUPÇÃO

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO

ARAÇATUBA

2019

Page 2: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

Marcelle Gonçalves Rodrigues

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS

EM FACE DA CORRUPÇÃO

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como

requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel

em Direito à Banca Examinadora do Centro

Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Renato

Alexandre da Silva Freitas.

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO

ARAÇATUBA

2019

Page 3: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

Marcelle Gonçalves Rodrigues

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS

EM FACE DA CORRUPÇÃO

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como

requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel

em Direito à Banca Examinadora do Centro

Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Mestre

Renato Alexandre da Silva Freitas.

Aprovado em ____de ______________de ______

BANCA EXAMINADORA

Centro Universitário Toledo

Page 4: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

“Tentar algo e fracassar é, pelo menos

aprender. Não fazer a tentativa é sofrer a

inestimável perda do que poderia ter sido”.

Geraldo Eustáquio

Page 5: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

Desejo prestar aqui os meus mais sinceros agradecimentos para a realização deste

trabalho. Assim, agradeço a Deus em primeiro lugar, a base de minha fé e de tudo aquilo

que acredito, graças a ele obtive forças para percorrer este caminho.

Aos meus pais, que são os responsáveis por todos os ensinamentos de vida e

valores adquiridos. Estiveram presentes em todos os momentos de amadurecimento, me

fortalecendo e incentivando, e principalmente, oferecendo todo o suporte para minha

edificação profissional e humana.

Ao meu namorado, que me acompanhou desde o princípio deste trabalho, estando

sempre ao meu lado, apoiando-me com todo amor e toda confiança necessária, para que

pudesse dar o melhor de mim.

Aos meus leais amigos, que me ajudaram em toda minha capacitação e formação

acadêmica, com pequenos gestos e grandes feitos, demonstrando todo o companheirismo

que fora fundamental neste processo.

Ao meu ilustre professor, coordenador e querido orientador Renato Freitas, por

depositar em mim credibilidade, pelos ensinamentos e toda dedicação recebida. E também,

por ser o professor do qual possuo maior admiração intelectual e pessoal.

Desejo também agradecer a todos aqueles que contribuíram para que, direta ou

indiretamente, fosse possível a conclusão desta etapa inesquecível de minha vida. O

começo de um futuro promissor. Muito obrigada.

Page 6: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

RESUMO

Desde os primórdios do estabelecimento da sociedade como um povo, o ato de corrupção

esteve presente. Principalmente observa-se tal postura inidônea dos governantes, estes que

aproveitam de seus cargos e poderes conferidos, para usurpar ou desviar verbas públicas

para proveito próprio ou benefícios de outrem. No presente trabalho, abordar-se-á a

improbidade administrativa em face dos agentes políticos, através dos meios de pesquisa

bibliográfica e estudos sobre a temática abordada, será estudado no primeiro capítulo,

sobre a administração pública, desde seus princípios, conceitos e sua eventual

responsabilidade em face dos seus agentes que compõe a administração. No segundo

capítulo será estudada a corrupção e suas diversas faces, apontando conceito histórico,

surgimento, leis e formas de coibição de tal fato. No terceiro capítulo, será relatada a

configuração da improbidade administrativa, descrevendo os sujeitos ativos e passivos, a

lei que rege tal instituto, suas modalidades e a responsabilidade advinda de sua prática.

Ademais, após o efetivo estudo e seus mais diversos apontamentos relevantes, será feita

uma conclusão sobre a temática.

Palavras-chave: Improbidade; Administração; Agentes; Políticos.

Page 7: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

ABSTRACT

From the earliest days of establishing society as a people, the act of corruption was present.

Above all, such an inident attitude of the rulers, who take advantage of their positions and

powers conferred, to usurp or divert public funds for their own benefit or the benefits of

others. In the present work, the administrative improbity will be approached in the face of

the political agents, through means of bibliographical research and studies on the subject,

will be studied in the first chapter, on the public administration, from its principles,

concepts and its eventual responsibility of its agents who make up the administration. In

the second chapter will be studied the corruption and its several faces, pointing out

historical concept, emergence, laws and ways of restraining this fact. In the third chapter, it

will be reported the configuration of administrative improbity, describing the active and

passive subjects, the law that governs such institute, its modalities and the responsibility

derived from its practice. In addition, after the actual study and its most relevant notes, a

conclusion will be made on the subject.

Keywords: Impropriety; Irregularity; Administration; Agents; Politicians.

Page 8: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 10

1.1 Conceito de administração pública ............................................................................ 12

1.2 Princípios da administração pública ......................................................................... 17

1.2.1 Princípio da legalidade ............................................................................................... 19

1.2.2 Princípio da impessoalidade ....................................................................................... 20

1.2.3 Princípio da moralidade administrativa ...................................................................... 21

1.2.4 Princípio da publicidade ............................................................................................. 23

1.2.5 Princípio da eficiência ................................................................................................ 25

1.2.6 Princípio da supremacia do interesse público ............................................................ 26

1.2.7 Princípio da probidade administrativa ........................................................................ 28

1.3 Agentes públicos .......................................................................................................... 29

1.3.1 Agentes políticos ........................................................................................................ 31

II CORRUPÇÃO ............................................................................................................... 33

2.1 Conceito de corrupção ................................................................................................ 34

2.3 Bem jurídico tutelado .................................................................................................. 35

2.4 Lei 12.846/13 – lei anticorrupção ............................................................................... 36

2.6 Proteção contra a corrupção ...................................................................................... 37

III IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ..................................................................... 39

3.1 O surgimento da LIA – n.º 8.429/1992 ......................................................................... 41

3.1.1 Natureza jurídica da ação judicial de improbidade .................................................... 43

3.1.2 Meras irregularidades ................................................................................................. 46

3.2 Sujeitos ativos ............................................................................................................... 47

3.2.1 Situações especiais dos agentes políticos ................................................................... 50

3.2.2 Procedimento Administrativo ..................................................................................... 54

3.3 Sujeitos passivos ........................................................................................................... 57

3.4 Teoria da cegueira deliberada .................................................................................... 59

3.5 Modalidades de improbidade administrativa ........................................................... 60

3.5.1 Dos atos de improbidade administrativa que resultam em enriquecimento ilícito ..... 61

3.5.2 Dos atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário ................... 64

Page 9: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

3.5.3 Dos atos de improbidade administrativa decorrentes de concessão ou aplicação

indevida de benefício financeiro ou tributário ..................................................................... 69

3.7.3 Dos atos de improbidade administrativa que ferem os princípios da administração . 70

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 73

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 75

Page 10: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

10

INTRODUÇÃO

Ao analisar as questões problemáticas em meio ao processo de globalização, destaca-

se entre essas, os problemas de ordem governamental, devido à má operacionalidade dos

agentes que são responsáveis por seu funcionamento. Estes problemas estão em grande parte

associados aos entes estatais, em todas as esferas de poderes que, não optam por seguir as

diretrizes dos parâmetros descritos pelos princípios constitucionais explícitos ou implícitos,

que regem a administração pública, promovendo um desequilíbrio de forma reiterada.

De tal fato, tais problemas referentes a corrupção ocorrem dentro da administração,

em uma das suas formas, o próprio locupletamento indevido. Assim, as consequências do

ciclo natural ilícito geram os mais diversos prejuízos dentro da sociedade, que impossibilitam

o desenvolvimento social humano, o crescimento na infraestrutura estatal, o progresso

econômico, mais investimentos adequados destinados a finalidade real, entre outras questões

de ordem pública essenciais a sadia qualidade de vida e a dignidade da pessoa humana.

No tocante as formas de corrupção em seu sentido mais amplo, partimos de uma

reflexão mais profunda, ao dizer que os atos de corrompimento acontecem a todo instante, na

medida em que os cidadãos cobram diretrizes e funcionalidade da administração, porém, não

efetivam o respeito ao próximo.

Ao longo do tempo, a ideia de honestidade como qualidade torna-se cada vez mais

intrínseca na construção cultural, visto que, a mesma deve ser entendida como valor moral e

individual, ou seja, virtudes essenciais aos agentes que atuam pelo Estado.

Tendo em consideração a suma importância deste tema nos dias atuais, faz-se

necessário uma melhor compreensão do que é a improbidade administrativa, quais as suas

formas de ocorrência e as sanções a serem imputadas em tais condutas, diferenciando das

hipóteses de corrupção ativa e passiva, a fim de determinar os efeitos legais na esfera cível,

administrativa e penal.

O presente estudo, buscará explicitar de forma sucinta as hipóteses de acometimento

da improbidade administrativa e as previsões legais presentes no ordenamento jurídico

brasileiro acerca da punibilidade.

A explanação do tema abordado fora feita através de métodos de pesquisas

bibliográficas em renomadas doutrinas, casos fáticos, sobre a perspectiva dos pontos mais

Page 11: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

11

relevantes. Desta forma, a exposição do tema tem o intuito de elucidar o entendimento em

cada capítulo objetivamente.

No primeiro capítulo será feita a exposição sobre a administração pública como um

todo, desde sua origem conceitual e terminológica, evidenciando os princípios constitucionais

que direcionam sua sistematização corporativa, além disso, demostrar a caracterização dos

agentes públicos que a compõe, destacando a figura dos agentes políticos e suas

peculiaridades.

No segundo capítulo será estudada a corrupção e suas diversas facetas dentro do

âmbito administrativo, apontando o conceito histórico, o bem jurídico tutelado, os aspectos

legislativos preventivos e repressivos, e também, suas consequências em meio a preocupação

do estado com a criação de meios de coibição e proteção.

No terceiro capítulo, de forma mais detalhada, será explicada a configuração da

improbidade administrativa em face da lei n.º 8.429/92 que rege tal instituto, de modo a

entender as diferentes posições doutrinárias quanto a sua natureza, abordando em contraponto

as questões sobre as meras irregularidades. Neste mesmo capítulo serão estudados os agentes

ativos e passivos dentro da ação de improbidade administrativa, nas suas espécies de atos que

causem enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário, decorrentes de concessão ou aplicação

indevida de benefício previdenciário ou tributário, bem como os atos que ferem os princípios

norteadores da administração pública e suas penalidades em decorrência da devida

responsabilização. Ademais, após o efetivo estudo e seus mais diversos apontamentos

relevantes, será feita uma conclusão sobre a temática escolhida.

O enfoque principal do presente trabalho, dentre os agentes públicos, encontra-se nos

agentes políticos em face da corrupção. Estes que são autoridades de suma importância, como

os membros do poder executivo e legislativo, dos ministros do Estado e dos secretários nas

unidades da federação. São responsáveis por desempenhar suas atividades e atribuição de

poderes devido à emanação de vontade do povo, conferidos em mandatos de tempo

determinado.

Portanto, é primordial que exista transparência nos atos administrativos, bem como

resultado nos fatos ilícitos, a apropriada responsabilização nos aspectos internos

administrativos ou na esfera judicial.

Além do mais, a coletividade deposita em seus governantes a confiança e crê na

probidade do Estado, promovendo os deveres e assegurando direitos e as garantias

constitucionais, com o objetivo de construir caminhos para as seguintes gerações, alicerçados

de prosperidade.

Page 12: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

12

I ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O presente trabalho abordará os aspectos da improbidade administrativa, sendo essa

uma modalidade de corrupção. Para que se obtenha um melhor entendimento sobre a

temática, surge a necessidade de conceituar a administração pública e os agentes que a

compõe.

O enfoque essencial está na figura dos agentes políticos, estes dividindo-se nas três

esferas do poder executivo, como instrumentos da atuação estatal em benefício da

coletividade.

1.1 Conceito de administração pública

No consolidado pensamento filosófico é cediço que o homem é lobo do homem

(HOBBES, 2014). Logo, embora o humano tenha a necessidade de viver em sociedade, a

convivência não é pacífica, ensejando incontáveis pretensões resistidas.

Como forma de resolver as lides sociais, o homem pactuou, isto é, contratou a

existência do Estado. Por meio deste, o convívio social é regulamentado, administrado e

julgado, surgindo respectivamente, as funções legislativa, executiva e judiciária do Estado.

Dentre estas funções, a pesquisa em leitura foca na questão administrativa. Esta, por

sua vez, pode ser compreendida sob o prisma formal, bem como material. Formalmente, os

órgãos da administração são utilizados para conceituá-la, já em sentido material, as funções da

administração ganham destaque.

Na realidade, o caráter pretensamente autoritário do Direito Administrativo foi

abrandado pelos princípios vigentes no Estado liberal, uma vez que a autoridade era

limitada pelo reconhecimento de direitos individuais garantidos pelo Poder

Judiciário ou por uma jurisdição administrativa independente do Poder Executivo

(DI PIETRO, 2018, p. 5).

Logo, com isso em mente, a Administração Pública deverá ser compreendida como a

responsável pela execução das políticas do estado. Entretanto, existem inúmeros

posicionamentos e critérios acerca da definição do que é a administração pública dentro do

ramo do direito administrativo.

Page 13: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

13

Para Ruy Cirne Lima, “o Direito Administrativo é o ramo do direito positivo que,

específica e privativamente, rege a administração pública como forma de atividade” (1982, p.

25-26).

Deste modo, se faz necessário a junção de vários entendimentos doutrinários para que

se possa compreender as várias designações abordadas dentro do direito administrativo,

delimitando os aspectos essenciais para a sua efetiva regulamentação.

Na tentativa de conceituar o Direito Administrativo, a doutrina indica vários

critérios que servem de parâmetros para a difícil tarefa de abordar esse ramo do

direito público. Não o caso, aqui, de trazermos baila critérios e conceitos, de

modo a estabelecermos uma exaustiva discussão. Vamos nos limitar a dizer que o

Direito Administrativo um conjunto de normas e i io sistematizados que

regem a atividade administrativa, bem como os g o e agentes que integram a

d i i t a o i a de sorte a realizar concretamente as suas finalidades.

(PIRES, 2013, p. 1).

Dentro do aspecto doutrinário, para estabelecer as diretrizes necessárias para

conceituar o direito administrativo, os mais diversos autores estabelecem em suas obras, os

devidos critérios que se distinguem conforme os pensamentos de cada segmento dogmático.

Hely Lopes Meirelles, define como o “ o ju to harmônico de princípios jurídicos que

regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e

imediatamente os fins desejados pelo E tado” (2003, p. 38).

Deve-se observar, além da necessidade dos elementos criteriosos dentro de cada

conceito, a finalidade e a objetivação da criação deste ramo. A própria finalidade da temática

assemelha-se as razões do funcionalismo administrativo.

Celso Antônio Bandeira de Mello também define o direito administrativo,

conceituando como “o ramo do direito público que disciplina a função administrativa, bem

como pessoas e órgãos que a exe e ” (2013, p. 37).

Em razão desta grande dimensão em sua abrangência conceitual, o direito

administrativo em síntese, disciplina a sua própria sistematização, sendo de grande valia a

importância acerca da legislação que ordena, regulamenta e predispõe os direitos e deveres

fundamentais.

Marçal Justen Filho diz que o direito administrativo é “o conjunto das normas

jurídicas de direito público que disciplinam as atividades necessárias à realização dos direitos

fundamentais e a organização e o funcionamento das estruturas estatais e não estatais

encarregadas de seu de e e ho” (2013, p. 35-36).

Page 14: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

14

Em breve síntese, além dos conceitos relevantes para uma melhor compreensão da

atividade pública sobre este vasto ramo do direito público, a organização dentro do poder

estatal desencadeia a necessidade destes princípios e critérios básicos, para que assim, em

meio as peculiaridades de cada conceito, a ideia central seja estabelecer um parecer eficaz,

ocasionando um entendimento sólido sob o papel a ser desempenhado pelo direito

administrativo.

O Direito Administrativo é o ramo do direito positivo que, específica e

privativamente, rege a administração pública como forma de atividade; define as

pessoas administrativas, a organização e os agentes do Poder Executivo das

politicamente constituídas e lhes regula, enfim, os seus direitos e obrigações, umas

com as outras e com os particulares, por ocasião do desempenho daquela atividade

(DI PIETRO, 2018, p. 74 apud LIMA, 1982, p. 25-26).

Contudo, ao observar a essência do direito administrativo, observa-se que o seu

conteúdo possui diversas variações ao longo do tempo. Para o doutrinador vanguardista,

conceituar o direito administrativo decorre de uma atividade árdua que exige a observância de

vários aspectos fundamentais.

Poderíamos, inicialmente, definir o Direito Administrativo como a ciência jurídica

que analisa as regras e os i io que regem a d i i t a o i a mas

faltaria esclarecer o que deve ser entendido por “ d i i t a o i a” que possui

uma acepção subjetiva e outra objetiva (ARAGÃO, 2013, p. 19).

No ordenamento jurídico brasileiro, o entendimento acerca da administração divide-se

entre o sentido amplo no aspecto subjetivo e o sentido estrito no aspecto objetivo. No sentido

objetivo, a administração seria a própria atividade administrativa, sendo sua finalidade a

efetivação dos serviços públicos que satisfaçam as necessidades coletivas.

No direito brasileiro, constituem objeto do Direito Administrativo, sendo por ele

regulado e estudado nos livros de doutrina, os seguintes temas: a) Administração

Pública, em sentido subjetivo, para abranger as pessoas físicas e jurídicas, públicas e

privadas, que exercem a função administrativa do Estado; aí entram os órgãos

administrativos que integram a Administração Direta, as entidades da Administração

Indireta, os agentes públicos; b) Administração Pública em sentido objetivo, ou seja,

as funções administrativas do Estado, a saber, serviço público, polícia

administrativa, fomento, intervenção e regulação; d) o regime jurídico

administrativo, abrangendo as prerrogativas, privilégios e poderes da Administração

(a chamada puissance publique dos franceses), necessários para a consecução do

interesse público, bem como as restrições necessárias à garantia dos direitos

individuais, em especial as representadas pelos princípios da Administração Pública;

e) os vários desdobramentos do poder de polícia e do princípio da função social da

propriedade, incidentes sobre a propriedade privada, como as diversas formas de

intervenção do Estado na propriedade privada (limitações administrativas,

tombamento, desapropriação, requisição, servidão administrativa, dentre outras); f) a

Page 15: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

15

discricionariedade administrativa, especialmente sob o aspecto dos limites de sua

apreciação pelo Poder Judiciário; g) os meios de atuação da Administração Pública,

abrangendo os atos e contratos administrativos, inclusive o processo da licitação; aí

se incluem as várias modalidades de acordos de vontade firmados pela

Administração Pública, como as diferentes formas de concessão (de serviço público,

de obra pública, de uso de bem público, patrocinadas e administrativas, estas duas

últimas como espécies de parcerias público-privadas), os convênios, os termos de

parceria, os contratos de gestão e outros instrumentos congêneres; h) os bens

públicos das várias modalidades e respectivo regime jurídico, inclusive quanto às

formas de sua utilização por particulares; i) o processo administrativo e respectivos

princípios informadores; j) a responsabilidade civil do Estado; k) a responsabilidade

das pessoas jurídicas que causam danos à Administração Pública; l) o controle da

Administração Pública, nas modalidades de controle administrativo, legislativo e

jurisdicional; m) a improbidade administrativa. (DI PIETRO, 2018, p. 70).

Neste mesmo aspecto, observa-se também a atuação do Estado por intermédio da

polícia administrativa que coíbe os direitos e as liberdades dos indivíduos em benefício da

coletividade. Além disso, a atividade administrativa pode ocorrer através de fomento, que é

uma forma de incentivo a atividade privada que tenha por objetivo a utilidade pública.

Nas situações de colaboração entre particular e Poder Público h um elemento

público, que diz respeito atividade, e outro privado, relacionado ao sujeito que

realiza tal atividade. Esse duplo aspecto determina uma das peculiaridades dessas

decisões: os particulares, ao desempenharem um serviço público, sujeitam-se ao

poder disciplinar da Administração Pública; ao mesmo tempo, eles também têm o

direito de desempenharem suas atribuições sem interferências indevidas da

Administração Pública (MARQUES NETO, 2013, p. 175).

A atuação a respeito da administração, desdobra-se pela intervenção direta ou indireta,

que incluem todas as formas de atuação do Estado que interferem no setor privado.

A Administração Pública se coloca como dispositivo executivo a serviço de todo o

Estado, que se desagrega em um nível institucional, como uma extensão da

organização política, e em um nível operativo, que tem sua atuação condicionada

pelo arcabouço normativo geral do Estado (PROCOPIUCK, 2013, p. 14).

Isto posto, significa que embora a Administração Pública tenha nascido no contexto da

ação estatal para se definir no “o que faze ” mais tarde, ao renascer nos Estados Unidos, a

preocupação se generalizou no “ o o faze ” (PROCOPIUCK, 2013, p. 15).

A intervenção direta acontece por meio das empresas estatais, enquanto a intervenção

indireta ocorre por meio de regulamentação e fiscalização da atividade econômica.

Assim, compõem a Administração Pública, em sentido subjetivo, todos os órgãos

integrantes das pessoas jurídicas políticas (União, Estados, Municípios e Distrito

Federal), aos quais a lei confere o exercício de funções administrativas. São os

órgãos da Administração Direta do Estado (DI PIETRO, 2018, p. 82).

Page 16: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

16

Assim, no sentido subjetivo a administração pública é composta por pessoas jurídicas,

órgãos e agentes que atuam de forma direta ou centralizada e indireta ou descentralizada.

Administração Pública direta se apresenta como um complexo de órgãos integrados

na estrutura administrativa do Estado, a chamada Administração Pública indireta ou

descentralizada é o conjunto de entidades com personalidade jurídica própria,

criadas ou autorizadas por lei, na forma do art. 37, XIX, da Constituição Federal,

com autonomia financeira e administrativa, prestadoras de serviços públicos ou

exploradoras de atividades econômicas, vinculadas ao Poder Executivo (FAZZIO

Jr., 2016, p. 26).

Quando atua na forma direta, a atividade administrativa ocorre pelas próprias pessoas

políticas, através dos seu diversos órgãos e agentes, ou seja, os servidores efetivam o próprio

processo de sua atuação. Está presente no âmbito federal, estadual e municipal.

Importante ressaltar que, dentro dos entes responsáveis há uma hierarquia que

representa um vínculo de subordinação entre os órgãos e agentes e por outro lado, existe a

desconcentração que é responsável pela divisão interna das devidas competências.

Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro “em sentido material ou objetivo, a Administração

Pública pode ser definida como a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob

regime jurídico total ou parcialmente público, para a consecução dos interesses coletivos”

(2018, p. 82).

Na forma indireta, a atividade administrativa consiste na transferência dessas

atividades para outras pessoas jurídicas responsáveis.

Sublinhando, a Administração indireta é a personificação da descentralização

extragovernamental por outorga. Compreende as extensões personalizadas do

Estado, pessoas jurídicas de direito público (autarquias e fundações do Poder

Público) e pessoas jurídicas de direito privado (sociedades de economia mista,

empresas públicas e fundações públicas com personalidade privada) (FAZZIO Jr.,

2016, p. 26).

As pessoas jurídicas são criadas por entes federados, num processo que caracteriza o

sistema de terceirização de serviços, onde existe uma vinculação concreta à respectiva

administração direta, porém com personalidade jurídica própria.

A Administração Pública em sentido amplo abrange o Governo e a Administração

Pública em sentido restrito. O primeiro é formado pelo alto escalão do Poder,

agentes políticos que possuem alto grau de discricionariedade na prática de seus

atos, que são normalmente baseados na Constituição Federal. É o responsável pela

elaboração das políticas públicas do País. Já a Administração Pública em sentido

Page 17: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

17

mais restrito é formada por diversos órgãos da Administração Direta e pelas

entidades da Administração Indireta, tendo mais a função de operacionalizar e

executar os programas de Governo, realizando efetivamente a gestão da coisa

pública, ou seja, a função administrativa (COUTINHO, 2015, n.p.).

A administração tem o dever de prezar a atuação eficaz, vinculada à lei e à norma

técnica, efetivando o modus operandi.

O corpo administrativo é estruturado de modo que sua divisão de competências efetive

um eficaz funcionamento da máquina estatal, seja quando a atuação ocorre diretamente ou

indiretamente.

A divisão de competências garante uma melhor eficiência na governabilidade

gestacional do sistema corporativo.

1.2 Princípios da administração pública

Conforme exposto acima, a função administrativa tem por escopo executar a lei,

atingindo assim a prestação do serviço público e o desejo do administrado. Para tanto, o

administrador segue um modelo normativo.

De fato, norma é gênero das espécies, princípios e regras. Primeiramente, é imperioso

conceituar os princípios, para que posteriormente, apresentar-se-á os que são inerentes à

administração pública.

As regras, espécies das normas, impõem uma conduta num determinado território sob

um especifico tempo, isto é, até que regra posterior a revogue tácita ou expressamente (LINB,

art. 2º).

Os princípios, por outro lado, sofrem maior abstração, e não comportam revogação,

portanto, eternos. Deste conceito, depreende-se a importância dos princípios.

Exatamente por essa importância que, para esta pesquisa, é imprescindível o

aprofundamento dos princípios administrativos. Entende-se que os princípios são as bases

fundamentais que condicionam todo o corpo da estrutura administrativa.

Os princípios ainda desempenham importante papel na limitação da

discricionariedade administrativa, que significa liberdade de apreciação, pela

Administração Pública, dos aspectos de oportunidade e conveniência que lhe foram

conferidos pela lei. Trata-se de liberdade limitada pela legalidade, considerada em

sentido amplo, de modo a abranger os princípios e os valores consagrados implícita

ou expressamente no ordenamento jurídico (DI PIETRO, 2018, p. 74).

Page 18: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

18

Pois bem, o direito administrativo é o alicerce da essência da administração pública.

No entanto, é um ramo do ordenamento jurídico que possui ausência de codificação, ou seja, a

autonomia desta espécie de direito é regida pelos princípios que a norteiam.

Os princípios constitucionais, conforme assinalei no livro Princípios constitucionais

reguladores da administração pública, são: [...] normas jurídicas primárias ou

superiores de eficácia imediata, plena e imperativa, hegemônicas em relação às

demais normas (constitucionais e infraconstitucionais) do sistema normativo, que, de

um lado, expressam os valores transcendentais da sociedade e o conteúdo essencial

da Constituição e, de outro, predefinem, orientam e vinculam a formação, o

conteúdo, a aplicação e a exegese de todas as demais regras que compõem o

ordenamento jurídico (PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 20).

A falta de codificação não restringe o desenvolvimento e sua autonomia, os princípios

designam a sua progressão em face da realidade, sendo uma premissa maior à luz do

regimento da lei constitucional.

É de suma importância atentar-se a finalidade dos princípios. De acordo com os

ensinamentos de Robert Alexy (2009), as regras restringem-se apenas a sua aplicação, já os

princípios admitem o sopesamento.

Por conseguinte, para a concretude e eficácia das regras estabelecidas dentro do

âmbito legislativo em face do direito administrativo, se faz preciso a observância das linhas

gerais dos valores atribuídos aos princípios constitucionais, que são atualmente determinantes

em todos os aspectos da administração.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao

seguinte (BRASIL, Constituição Federal, 1998).

Assim, direciona o parâmetro de São Paulo, em sua constituição, a atuação da

Administração Pública, artigo 111: “A administração pública direta, indireta ou fundacional,

de qualquer dos Poderes do Estado, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação e interesse público” (BRASIL,

Constituição Estadual, 1989).

Essa nova disposição no artigo está na redação dada pela Emenda Constitucional n.º

21, de 14/2/2006. Assim, pode-se concluir que independente da esfera administrativa, o

Page 19: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

19

regime atual é composto através de prerrogativas e sujeições que incorporam a real

necessidade da coletividade.

1.2.1 Princípio da legalidade

Tal princípio em sua visão mais moderna, principalmente nos procedimentos que

envolvam a juridicidade, encontra aplicabilidade em toda atividade administrativa que inclua

o processo de licitação.

O administrador público é executor e somente pode fazer aquilo que a lei permite ou

autoriza, e nos limites dessa autorização. A legalidade da ação não está resumida na

ausência de oposição à lei, mas pressupõe autorização dela como condição de sua

ação, uma vez que o sistema legal constitui fundamento jurídico de toda ação

administrativa (PALUDO, 2017, p. 36).

É um princípio limitador da atuação da gestão do ente público, sendo uma garantia de

eventuais condutas abusivas ou ilícitas por parte do estado em face dos prováveis

administradores.

O princípio da legalidade constitui o fundamento e a essência do estado de direito,

no qual as leis governam, e não os homens (máxima: rule by the law, not by men do

direito inglês). Pode ser sintetizado no aforismo “a Administração Pública somente

pode atuar em conformidade com a norma jurídica (secundum legem)”

(PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 21).

Assim sendo, fixa-se a ideia da existência do princípio da legalidade para que, a

atuação da administração seja compreendida no sentido estrito em conformidade com a lei, de

um modo mais amplo, deve esta atuação limitar-se também aos princípios e ao ordenamento

jurídico como um todo.

Este princípio, juntamente com o de controle da Administração pelo Poder

Judiciário, nasceu com o Estado de Direito e constitui uma das principais garantias

de respeito aos direitos individuais. Isto porque a lei, ao mesmo tempo em que os

define, estabelece também os limites da atuação administrativa que tenha por objeto

a restrição ao exercício de tais direitos em benefício da coletividade (DI PIETRO,

2018, p. 97).

Page 20: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

20

Permanece a ideia da vinculação dos atos administrativos, em seus direitos e

obrigações, os entes administrativos devem respeitar o que há disposto no ordenamento

jurídico brasileiro, observando as imposições e restrições ao administrator e seus agentes

frente à máquina estatal.

1.2.2 Princípio da impessoalidade

Na visão de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, acerca do princípio da impessoalidade diz

que, “no primeiro sentido, o princípio estaria relacionado com a finalidade pública que deve

nortear toda a atividade administrativa” (2018, p. 103).

Esta visão principal sobre a finalidade pública, serve primordialmente como alicerce

para as questões administrativas, especificamente no sentido da responsabilidade por parte do

Estado, em face das condutas delituosas dos agentes, estabelecendo um liame objetivo sobre o

administrador hiperssuficiente.

No segundo sentido, o princípio significa, segundo José Afonso da Silva, baseado na

lição de Gordillo que “o atos e provimentos administrativos são imputáveis não ao

funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa da

Administração Pública, de sorte que ele é o autor institucional do ato (DI PIETRO,

2018, p. 103 apud SILVA, 2003, p. 647).

Tal princípio visa que a atuação da administração pública ocorra de modo a não

beneficiar ou prejudicar nenhum sujeito determinado, assim, prevalecer a impessoalidade.

No dizer de Cármen Lúcia Antunes Rocha: O princípio da impessoalidade da

Administração Pública traduz-se na ausência de marcas pessoais e particulares

correspondentes ao administrador, que, em determinado momento, esteja no

exercício da atividade administrativa, tornando-a, assim, afeiçoada a seu modelo,

pensamento ou vo tade” (PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 22 apud ROCHA, p. 147-

148).

Esta responsabilidade fica a encargo dos próprios detentores da atividade

administrativas que devem coibir qualquer forma de promoção pessoal dos agentes públicos.

Artigo 37, § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos

órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social,

dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção

Page 21: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

21

pessoal de autoridades ou servidores públicos (BRASIL, Constituição Federal,

1998).

Em conformidade com o entendimento de Alexandre de Moraes (PALUDO, 2017, p.

36 apud MORAES, 2015, n.p.), o autor Augustinho Vicente Paludo descreve que o princípio

da impessoalidade faz com que o administrador seja um executor do ato da vontade estatal.

Assim, conclui-se que a manifestação de vontade dos agentes públicos, em nome da

administração, seja alicerçada de imparcialidade, extinguindo qualquer benefício pessoal.

1.2.3 Princípio da moralidade administrativa

Embora haja discussão sobre sua existência, a problemática consiste quanto ao seu

conceito, visto que, a ideia de moral pode ser absorvida pelo princípio da legalidade.

No entanto, antiga é a distinção entre Moral e Direito, ambos representados por

círculos concêntricos, sendo o maior correspondente à moral e, o menor, ao direito.

Licitude e honestidade seriam os traços distintivos entre o direito e a moral, numa

aceitação ampla do brocardo segundo o qual non omne quod licet honestum est (nem

tudo o que é legal é honesto) (DI PIETRO, 2017, p. 108).

Assim dispõe o artigo 37, § 4º da Constituição Federal de 1998: “Os atos de

improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função

pública, a indisponibilidade de bens e ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal

cabível”.

Nesse ponto, anteriormente segundo a posição do entendimento da época, a

moralidade não possuía autonomia no exame para a efetiva punição do agente infrator. No

entanto, o legislador inovou perante a aplicabilidade das sanções punitivas, englobando

atualmente a apreciação em face dos atos ilegais em decorrência da imoralidade,

aperfeiçoando a punibilidade eficaz com base no princípio da moralidade administrativa.

Autores mais antigos, considerando a moral administrativa como algo relacionado à

disciplina interna da Administração, entendiam que o seu controle também só podia

ser feito internamente, excluída a apreciação pelo Poder Judiciário. Este só

examinaria a legalidade dos atos da Administração; não o mérito ou a moralidade

(DI PIETRO, 2018, p. 119).

Page 22: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

22

Em suma, nos atos administrativos passíveis de sanções punitivas deve ser verificada a

existência da imoralidade e da ilegalidade. Ou seja, todos os agentes devem estar atuando em

consonância com a moral, com a legalidade e principalmente com os bons costumes do que se

espera para a existência de uma boa administração.

[...] Ele cita o caso do comerciante que quer denunciar o competidor desleal que não

paga os impostos, o do estudante que “ o a” nos exames, o do professor que não

ensina, e em geral o de todos aqueles que exercem uma atividade qualquer sem

dedicação, sem responsabilidade, sem vocação, sem espírito de servir à comunidade.

Acrescenta ele que “a dupla moral implica o reconhecimento de que o sistema não

deve ser cumprido fiel nem integralmente, que ele carece de sentido; é o

parassistema o que dá realidade e sentido obrigacional às condutas i dividuai ” (DI

PIETRO, 2018, p. 119 apud GORDILLO, 1982, p. 74-78).

Ofender o princípio da moralidade por parte dos agentes acarretará sanções de

natureza política, administrativa, civil e penal, e também a suspensão do gozo dos direitos

políticos.

A moralidade significa a ética da conduta administrativa; a pauta de valores morais a

que a Administração Pública, segundo o corpo social, deve submeter-se para a

consecução do interesse coletivo. Nessa pauta de valores insere-se o ideário vigente

no grupo social sobre, v.g., honestidade, boa conduta, bons costumes, equidade e

justiça (PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 23).

O controle jurisdicional da moralidade administrativa já havia sido introduzido no

direito constitucional brasileiro, mas era restrito ao exercício da ação popular.

O princípio da moralidade também está contido na Constituição Federal. Trata-se da

moralidade administrativa; é a partir dela que o Estado define o desempenho da

função administrativa, segundo uma ordem ética acordada com os valores sociais

prevalecentes e voltada à realização dos seus fins (PALUDO, 2017, p. 36).

O artigo 5º, LXXIII, da Constituição Federal prevê que qualquer cidadão tem

atribuição e legitimidade para propor ação popular que impugne ato lesivo à moralidade

administrativa.

Artigo 5º LXXIII – Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que

vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado

participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e

cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do

ônus da sucumbência.

Page 23: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

23

Deste modo, tal princípio tem como primazia a exigência de que os atos praticados

pelo agente público sejam regidos em ética, onde pode-se remeter a ideia de honestidade

intrínseca do ser humano, pautada entre o legal e o ilegal.

1.2.4 Princípio da publicidade

Este princípio demonstra o dever de tornar transparentes e públicos todos os atos

praticados por agentes que integram a administração pública.

Publicidade a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus

efeitos externos. Importante se faz registrar que a obediência ao princípio da publicidade não

significa, tão somente, publicação na imprensa oficial (PIRES, 2013, p. 5).

É importante ressaltar que tal princípio, em meio ao mundo globalizado, se faz

essencial para que exista transparência nos atos administrativos, de modo que permita a

coletividade a segurança jurídica em virtude dos direitos assecuratórios que o Estado tem

dever de salvaguardar.

Entende-se pelo princípio da publicidade o acesso difuso do público às informações

relativas às atividades do Estado, seja pela divulgação na imprensa (oficial ou

particular) ou na Internet, seja pela prestação de contas dos órgãos ou das entidades

públicas, seja pelo fornecimento de dados de interesse geral ou individual, quando

requeridos, sob pena de responsabilidade (PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 24).

Deste princípio decorrem direitos previstos na Constituição Federal, como o direito à

informação, o direito às certidões e o habeas data.

De qualquer sorte, a publicidade requisito de eficácia de qualquer ato

administrativo, assegurando seus efeitos externos, de modo a propiciar seu

conhecimento e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral. A

publicidade abrange toda atuação estatal, propiciando o conhecimento dos atos j

concluídos, como também daqueles em formação. Publicidade implica transparência

(PIRES, 2013, p. 5).

O direito ao acesso à informação está previsto na Lei n.º 12.527 de 18 de novembro de

2011. Assim, dispõe o artigo 3º sobre seus procedimentos:

Page 24: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

24

Art. 3o – Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar o direito

fundamental de acesso à informação e devem ser executados em conformidade com

os princípios básicos da administração pública e com as seguintes diretrizes:

I - Observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção;

II - Divulgação de informações de interesse público, independentemente de

solicitações;

III - Utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da

informação; IV - Fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na

administração pública;

V - Desenvolvimento do controle social da administração pública.

Conforme predispõe a lei, amparada juntamente com a previsão constitucional, é

essencial que o poder público efetive medidas que garantam a eficácia da publicidade,

garantindo primordialmente o acesso à informação.

Atualmente, os meios de comunicações têm sido utilizados em vastas proporções de

modo a difundir o desenvolvimento nos procedimentos administrativos, observados os

princípios da administração e os procedimentos legais, que devem atentar-se objetivamente

por duas vertentes, tanto sobre o livre acesso sobre os atos de interesse público, e por outro

lado, sob a proteção do sigilo nos casos específicos que restringem aos seus detentores legais.

O direito às certidões, artigo 5º, XXXIV, “a” e “ ” da Constituição Federal de 1988:

Artigo 5º, XXXIV – São a todos assegurados, independentemente do pagamento de

taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra

ilegalidade ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e

esclarecimento de situações de interesse pessoal;

O direito de habeas, artigo 5º, LXXII, “a” e “ ” da Constituição Federal de 1988:

Artigo 5º LXXII – conceder-se-á habeas data:

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,

constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de

caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,

judicial ou administrativo;

No sentido amplo da abrangência do princípio da publicidade, todos os atos

administrativos a serem adotados pelos agentes públicos, devem ser efetivados de maneira

que prezem por efetividade, permitindo que a coletividade tenha ciência de sua procedência.

Isso significa que administrar pressupõe atuar com transparência de critérios e

procedimentos, isto é, que o serviço administrativo só se desenvolve por meios

públicos. Nesse contexto, a opacidade torna-se incompatível com o exercício de

Page 25: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

25

qualquer prestação republicana. Fins públicos e meios transparentes de atuação

(FAZZIO Jr., 2016, p. 93).

Como premissa geral, todo ato administrativo deve ser pautado de acordo com o

princípio da publicidade, no entanto se admitirá exceções nos casos de segurança do Estado,

segurança da sociedade e intimidade dos envolvidos.

1.2.5 Princípio da eficiência

O princípio da eficiência tem como objetivação, efetivar diretrizes que prezem por

uma administração gerencial, que busque atos administrativos fundados na economicidade,

reduzindo os desperdícios desnecessários, visando a qualidade da administração estatal, para

assim gerar rendimento progressivo.

A negligência e o amadorismo não têm lugar na Administração Pública, mas não há

como esconder que, em diversos setores, ainda vicejam condutas administrativas

assinaladas pela imperícia e pela desorganização, circunstância que, se não pode ser

relegada ao esquecimento dos órgãos controladores, também não pode ser objeto de

radicalismos punitivos, senão de aprimoramentos correcionais. A isquemia de

formação político-jurídica e a carência técnica, de boa parcela dos servidores, devem

ser tidas em conta, na avaliação de suas condutas, desde que não evidenciem má-fé

(FAZZIO Jr., 2016, p. 93).

Antonio Cecílio Moreira Pires salienta que “a Emenda Constitucional 19/98,

denominada Reforma Administrativa, tornou expresso mais um princípio a ser observado pela

d i i t a o i a o princípio da eficiência” (PIRES, 2013, p. 5).

A eficiência é o ideal de toda organização, mas não se resume a um ideal. É um

atributo essencial às formações administrativas. A Administração Pública não é um

ornamento nem existe para não funcionar. Seu fim justificado é a medida de sua

atuação. O dever de bem administrar, que sintetiza a eficiência, decorre do princípio

republicano, segundo o qual quem administra gere o que pertence à sociedade. Por

sinal, de conformidade com esse mesmo princípio, a programação e a realização de

projetos administrativos é, hoje, uma imposição da LC n.º 101/2000 (FAZZIO Jr.,

2016, p. 96).

Em resumo, ao pautar o princípio da eficiência, observa-se a necessidade de que todos

os atos administrativos procedam com base na celeridade e qualidade, para que assim haja um

funcionamento da máquina estatal cada vez melhor.

Page 26: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

26

Agora a eficiência é princípio que norteia toda a atuação da Administração Pública.

O vocábulo liga-se à ideia de ação, para produzir resultado de modo rápido e

preciso. Associado à Administração Pública, o princípio da eficiência determina que

a Administração deve agir, de modo rápido e preciso, para produzir resultados que

satisfaçam as necessidades da população. Eficiência contrapõe-se a lentidão, a

descaso, a negligência, a omissão – características habituais da Administração

Pública brasileira, com raras exceções (PAZZAGLINI, 2018, p. 27 apud

MEDAUAR, 2014, p. 147).

Em síntese, no contexto geral da administração estatal, deve salientar-se a necessidade

de a gestão pública estar condicionada à observância dos princípios norteadores.

Por isso, há que se precisar a dimensão da diretriz da eficiência, como o faz

Alexandre de Moraes ao registrar que impõe à Administração Pública e seus agentes

“a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma

imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em

busca da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais necessários

para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitar-se

desperdícios e garantir-se uma maior rentabilidade o ia ” (FAZZIO Jr., 2016, p. 97

apud MORAES, 2015, p. 317).

Tal ideia presume o dever uma boa administração, mantendo o equilíbrio entre a

legalidade e a eficiência.

Hely Lopes Meirelles fala na eficiência como um dos deveres da Administração

Pública, definindo-o como “o que se impõe a todo agente público de realizar suas

atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno

princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada

apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e

satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus e o ” (DI

PIETRO, 2017, p. 114, apud MEIRELLES, 2003, p. 102).

A eficiência em face da atual administração gerencial preza pelo bem da coletividade e

também pela busca de resultados positivos e pelo exercício funcional íntegro, bem como a

satisfação da sociedade e da mesma maneira a oportunidade e a conveniência para o Estado.

1.2.6 Princípio da supremacia do interesse público

Existem outros princípios constitucionais que estão presentes no ordenamento jurídico

de forma expressa e implícita. O princípio da supremacia do interesse público é um deles.

Page 27: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

27

Na verdade, a expressão interesse público está muito consumida. Seja pela sua

indeterminação natural, seja pela plurivocidade de sua utilização, deve ter seu

significado aquilatado conforme sua maior ou menor identificação com a vontade

social que gerou a ordem jurídica. O Estado detém o interesse público, à medida

que, por sua atuação, realmente busca cumprir os desígnios da vontade social que o

criou (FAZZIO Jr., 2016, p. 124).

Maria Sylvia Zanella Di Pietro diz que “esse princípio está presente tanto no momento

da elaboração da lei como no momento da sua execução em concreto pela Administração

Pública. Ele inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa em toda a sua atuação”

(2017, p. 96). Assim, o princípio do interesse público considera-se presente em todos os atos

da administração.

Interesse público é conceito jurídico indeterminado de valor, que expressa o

interesse da coletividade (reconhecido pela maioria dos seus integrantes) de

perseguir, alcançar, manter e aperfeiçoar os bens que ela almeja. Esses bens da

comunidade traduzem-se na expressão bem comum (PAZZAGLINI, 2018, p. 28).

Sua aplicação prática é feita com compatibilidade aos direitos fundamentais, pautada

ainda na razoabilidade e no princípio da dignidade da pessoa humana.

Os atos de improbidade administrativa investem contra o interesse público, na

medida em que desvelam uma incontornável subversão da função pública, mediante

a substituição do interesse social ou interesse público propriamente dito, por outro

de qualquer índole (FAZZIO Jr., 2016, p. 125).

Desse entendimento, decorre o princípio da “i di o i i idade do interesse i o”.

Por conseguinte, considera-se uma breve conclusão de que a supremacia do interesse público

resguarda os interesses da coletividade, sendo estes indisponíveis.

A partir desta premissa entende-se que essa relação se interliga diretamente com a

legalidade e a proteção primária do interesse público. Aduz ainda que tal princípio tem o

intuito de proteção da sociedade. Assim, a autoridade administrativa que salvaguarda os

direitos da sociedade têm autonomia para exercer os poderes a si conferidos e outorgados por

lei.

Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello “ ig ifi a que sendo interesses

qualificados como próprios da coletividade – internos ao setor público – não se

encontram à livre disposição de quem quer que seja, por inapropriáveis. O próprio

órgão administrativo que os representa não tem disponibilidade sobre eles, no

sentido de que lhe incumbe apenas curá-los – o que é também um dever – na estrita

conformidade do que dispuser a intentio egi ”. Mais além, diz que “a pessoas

Page 28: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

28

administrativas não têm, portanto, disponibilidade sobre os interesses públicos

confiados à sua guarda e realização. Esta disponibilidade está permanentemente

retida nas mãos do Estado (e de outras pessoas políticas, cada qual na própria esfera)

em sua manifestação egi ativa” (DI PIETRO, 2018, p. 1071 apud MELLO, 2015,

p. 76).

Tal princípio visa direcionar e funcionar como parâmetro para efetivar a competência

do Estado, de modo que através da estrutura administrativa e por meio de seus instrumentos

normativos consiga-se atender às necessidades da coletividade.

1.2.7 Princípio da probidade administrativa

O referido princípio não tem previsão expressa na Constituição Federal, deste modo é

classificado como um princípio implícito. Expõe que os atos administrativos por seus agentes

públicos serão efetuados com celeridade, ou seja, onde a honestidade permanecerá intrínseca

no exercício das funções.

O princípio constitucional da probidade administrativa, como ressaltado, impõe aos

agentes públicos, na gestão das atividades, negócios e bens públicos, o dever

jurídico de agir com honestidade, lisura e honradez. E a sua transgressão, isto é, o

desvirtuamento da função pública devido à conduta desonesta ou de má-fé do agente

público, configura improbidade administrativa (PAZZAGLINI, 2018, p. 28).

A conduta do servidor público não poderá decorrer de atos que impliquem em

benefício próprio ou de outrem, garantindo que não exista usurpação da função ou de

qualquer tipo de aproveitamento em razão desta.

A improbidade administrativa, como ato ilícito, vem sendo prevista no direito

positivo brasileiro desde longa data, para os agentes políticos, enquadrando-se como

crime de responsabilidade. Para os servidores públicos em geral, a legislação não

falava em improbidade, mas já denotava preocupação com o combate à corrupção,

ao falar em enriquecimento ilícito no exercício do cargo ou função, que sujeitava o

agente ao sequestro e perda de bens em favor da Fazenda Pública (DI PIETRO,

2018, p. 1008).

A palavra “improbidade” deve ser entendida e compreendida em seu sentido amplo.

Dentro do seu gênero, encontrar-se-iam as condutas que não observaram os princípios da

legalidade e moralidade administrativa, como se estas fossem espécies, consequentemente,

passíveis de punição.

Page 29: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

29

Dessa forma, as condutas dos agentes que celebrem a probidade em face do erário,

atingem um bem comum e promovem o desenvolvimento do país.

1.3 Agentes públicos

O principal conceito de agente público encontra-se no artigo 2º da lei de improbidade

administrativa, sendo esta n.º 8429/92. Assim dispõe:

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce,

ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,

contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,

emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

O conjunto da administração pública é composto por pessoas. Estas pessoas são os

servidores públicos responsáveis por tomarem decisões políticas e administrativas, que são

vinculadas à lei ou à norma técnica, ocorrendo de maneira hierarquizada dentro dos entes

estatais. Isto posto, acontece tanto no sentido amplo quanto no sentido estrito.

O conceito legal de agente público, para o fim de caracterizar o réu na ação civil de

improbidade, permite alcançar toda pessoa que exerce, permanentemente, ou

transitoriamente, com ou sem remuneração, em virtude de qualquer forma de

investidura ou vínculo, cargo, emprego ou função na Administração Pública direta e

indireta, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de ente para cuja criação

ou custeio o erário haja concorrido ou concorra, ou, ainda, de ente subvencionado,

beneficiado ou incentivado por órgão público (FAZZIO Jr., 2016, p. 47).

Assim, a compreensão da figura do agente público, objetivamente, tem a finalidade

essencial de especificar aos quais serão imputados a caracterização dos atos de improbidade

administrativa, observando a premissa maior deste estar prestando um serviço a administração

pública, direta ou indiretamente.

Na definição de Hely Lopes Meirelles, agentes públicos “ o todas as pessoas físicas

incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma função e tata ” (PIRES,

2013, p. 73 apud MEIRELLES, 2004, p. 75).

Em termos conceituais, propriamente ditos, a figura do agente público contém

algumas peculiaridades. Agente pública caracteriza-se por um gênero que se divide em

espécies, de acordo com o entendimento majoritário, por exemplo, como os servidores

Page 30: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

30

estatais, particulares em colaboração, agentes políticos, além de outras subespécies. Porém,

essas classificações possuem correntes que divergem em vários entendimentos doutrinários.

Com efeito, contempla todas as pessoas físicas que, de qualquer modo, com ou sem

vínculo empregatício, definitiva ou transitoriamente, exerçam alguma função

pública ou de interesse público, remunerada ou não, nos órgãos e entidades das

administrações direta e indireta do Poder Executivo dos entes da Federação; nos

Poderes Judiciário e Legislativo nas esferas de sua atuação; nos Ministérios Públicos

Federais, Estaduais e Distritais; nos Tribunais de Contas da União, Estados e

Municípios; nas empresas incorporadas ao patrimônio público; nas empresas

privadas dependentes de controle direto ou indireto do Poder Público; e nas

entidades privadas de interesse público (PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 10).

Como colocado, a figura do agente público está presente em todas as esferas estatais,

sendo imprescindível acontecer dentro do funcionalismo estatal, independentemente da forma

direta ou indireta.

Na visão de Alexandre Santos de Aragão os “ ervidores públicos são espécies de

agentes públicos que atuam na d i i t a o i a em caráter profissional, havendo ainda,

além deles, os agentes políticos e os particulares em colaboração com o Poder Público” (2013,

p. 521-522). Vale ressaltar, que a participação e a colaboração por parte de cada um destes

integrantes revelam a importância de um sistema probo e íntegro.

Por assim dizer, a operacionalidade da máquina pública se desenvolve através de um

conjunto de atos realizados por estes agentes, que devem assumir um compromisso ético,

independentemente de sua aferição de poderes, ressaltando-se que cada ação gera

consequências em larga escala e muitas vezes irreparáveis.

Agente público é o servidor, funcionário, empregado ou mandatário. Na doutrina, há

diversas classificações de agentes públicos, observando critérios variados de

diferenciação entre as diversas categorias. A mais simples é a que os agrupa em: 1.

agentes políticos; 2. agentes administrativos; 3. particulares colaboradores com a

Administração (FAZZIO Jr., 2016, p.48).

Em decorrência dessa amplitude acerca dos conceitos, dos diversos entendimentos e

das definições dos agentes públicos, estes assemelham-se sobre a presença no âmbito da

classificação dos agentes, sobre a existência dos funcionários que atuam de forma indireta.

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro “agente público é toda pessoa física que

presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Administração Indireta” (2018, p. 671).

Essa nova visão sobre o agente público em face das pessoas jurídicas da

administração, tem respaldo no artigo 37 da Constituição Federal. Sendo assim, as ações

executadas por funcionários integrantes, por exemplo, de autarquias, fundações ou empresas

Page 31: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

31

públicas, bem como das sociedades de economia mista, serão ações efetuadas por agentes

públicos em razão da atribuição de suas atividades.

Para Marino Pazzaglini Filho, a classificação dos agentes públicos se subdivide em

quatro categorias: a) agentes políticos; b) agentes autônomos; c) servidores públicos; e d)

particulares em colaboração com o Poder Público (2017, p. 10).

Por breves considerações de renomados doutrinadores, entende-se que a classificação

dos agentes públicos tende a seguir uma distinção interpretativa, porém com mesmo cunho

ideológico.

1.3.1 Agentes políticos

Dentro da classificação dos agentes públicos, encontra-se o enfoque do presente

estudo, os agentes políticos. Estes são os responsáveis em exercerem funções típicas de

governo, que estão relacionadas em sua grande maioria com funções de gerenciamento, sendo

de suma importância tal competência em face da direção estatal.

Os agentes políticos são os titulares dos cargos estruturais na organização política do

país. Suas atribuições são fixadas na Constituição Federal e em leis complementares,

uma vez que tais pessoas não guardam vínculo empregatício com o Estado. Podem

ser eleitos, nomeados mediante concurso público ou simplesmente exercentes de

cargos de confiança. Por exemplo, os parlamentares, os juízes de direito, os

membros do Ministério Público, os ministros e secretários de Estado, os membros

das cortes de contas e os auxiliares diretos do Poder Executivo, embora alguma

classificação os compreenda na categoria agentes autônomos (FAZZIO Jr., 2016,

p.48).

Importante ressaltar que, estes agentes, salvo as exceções, assumem seus cargos

através de eleição, ou seja, desempenham sua atuação durante um mandato fixo.

Na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello adota um conceito mais restrito,

“agentes políticos são os titulares dos cargos estruturais à organização política do

País, ou seja, são os ocupantes dos cargos que compõem o arcabouço constitucional

do Estado e, portanto, o esquema fundamental do poder. Sua função é a de

formadores da vontade superior do E tado.” Para ele, são agentes políticos apenas o

Presidente da República, os Governadores, os Prefeitos e respectivos auxiliares

imediatos (Ministros e Secretários das diversas pastas), os Senadores, os Deputados

e os Vereadores (DI PIETRO, 2017, p. 679 apud MELLO, 1975, p. 7 e 2015, p. 251-

252).

Page 32: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

32

A questão da definição dos agentes políticos está impreterivelmente associada as

questões de função e de governo presentes na atuação administrativa. Fato que, liga as

questões de ordem dos aspectos subjetivos e objetivos da atividade estatal.

Existem várias figuras que atuam no papel de agente político, a exemplos: Presidente

da república, governadores, prefeitos, ministros, secretários de Estado e parlamentares.

Essas funções políticas ficam a cargo dos órgãos governamentais ou governo

propriamente dito e se concentram, em sua maioria, nas mãos do Poder Executivo, e,

em parte, do Legislativo; no Brasil, a participação do Judiciário em decisões

políticas praticamente inexiste, pois a sua função se restringe, quase exclusivamente,

à atividade jurisdicional sem grande poder de influência na atuação política do

Governo, a não ser pelo controle a posteriori (DI PIETRO, 2018, p. 678).

De tal forma deve ser observado que, esses agentes, assim como os demais, incorrem

na segurança jurídica do governo, pautando seus referidos atos e obrigações. Salienta-se que,

todas as condutas que estiverem em desacordo com os princípios norteadores da gestão

pública, serão passíveis de punição.

Tal prudência por parte do legislador constituinte, prevê formas de distinções quanto a

punibilidade, distinguindo a competência e as lesões que se enquadram em crimes de

responsabilidade, por conseguinte, as sanções pertinentes aos atos de improbidade

administrativa.

É certo que membros de qualquer parlamento (federal, estadual ou municipal)

praticam, em regra atos legislativos típicos, o que não os inibe de realizar atos

administrativos e, nesse aspecto, violando os princípios administrativos, incorrerem

em atos de improbidade (FAZZIO Jr., 2016, p.48).

A lei de improbidade administrativa, n.º 8.429/1992, aplicar-se-á a todos os agentes

políticos pertencentes aos poderes do Estado, ressalvados os casos específicos e suas

particularidades.

Page 33: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

33

II CORRUPÇÃO

Para uma melhor compreensão do que é a improbidade administrativa em face da

corrupção, é necessário diferenciar e conceituar cada qual, especificando em si os seus pontos

de semelhança e suas peculiaridades, principalmente em face das diferenciações técnicas

quanto as suas terminologias e suas possíveis sanções legais em termos de responsabilização

cível, administrativa e penal.

Frisa-se que o entendimento em relação a origem da corrupção encontrasse inexato,

visto que, tais práticas lesivas baseadas na imoralidade e ilegalidade ocorrem desde os

primórdios do mundo.

Igualmente, além da maior percepção do fenômeno, a corrupção passou a ter uma

maior incidência nas economias atuais pelo aumento dos fluxos comerciais

internacionais dando ensejo a um maior número de oportunidades para a realização

de negócios mediante sua prática, como para obtenção de licenças e outros

privilégios etc. (GRECO FILHO, 2015, p.15 apud MURIEL PATINO, 2004, p. 27 e

ss.).

A convivência do povo em sociedade ao passar do tempo, devido aos mais diversos

problemas da globalização, disseminou a ideia de locupletamento ilícito, que perdura até os

dias atuais. Deste modo, se faz imprescindível analisar os aspectos de sua concepção,

terminologia e quais as consequências de sua existência e reiteração de seu ciclo vicioso para

o progresso da humanidade.

No momento em que Maquiavel se dispõe a trabalhar sobre o conceito, o polo da

negatividade era ocupado tanto pela noção de fortuna – não tanto, ainda,

diretamente, a do dinheiro, mas a da roda, a da incerteza e da sujeição aos humores

do mundo – quanto pela noção de corrupção. A virtude era o oposto da fortuna e dos

seus jogos imprevistos; e era também, num sentido complementar a este, o oposto da

corrupção dos i io . Em bom rigor, possível dizer que a fortuna surgia na

altura a emprestar o rosto ao lugar que, por tradição, cabia corrupção. Foi nestes

exatos termos que a parelha virtude corrupção foi incorporada na versão florentina

do pensamento político republicano (MARTINS, 2013, p. 71 apud POCOCK, 2003).

Na atualidade, abordando especificamente o contexto nacional, a figura dos

governantes, estes em sua maioria sendo os agentes políticos, está extremamente associada

popularmente a usurpação e desvio de verbas destinadas ao poder público.

Page 34: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

34

2.1 Conceito de corrupção

Ao abordar a temática da improbidade administrativa admite-se popularmente que tal

pratica seja sinônima da própria corrupção, interpretando num sentido mais amplo da própria

palavra. Os estudos acerca dos critérios efetivados dentro da dogmática jurídica traduzem

numa diferenciação mais precisa quanto aos feitos e consequências de tais práticas.

Segundo Vicente Greco Filho “A corrupção, no sentido de obtenção de vantagem

indevida em virtude do exercício de função pública, fenômeno milenar” (GRECO FILHO,

2015, p.15).

É essencial entender a diferença tanto da responsabilidade da improbidade

administrativa quanto a responsabilidade dos atos de corrupção ativa e passiva.

No atual ordenamento jurídico, as figuras típicas da corrupção passiva e da corrupção

ativa, estão previstas no Código Penal Brasileiro de 1940. Assim, descreve sua tipificação

quanto as devidas penalidades:

Corrupção passiva - Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou

indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,

vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei n.º

10.763, de 12.11.2003)

Corrupção ativa - Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário

público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei n.º

10.763, de 12.11.2003)

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou

promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo

dever funcional.

Pelo exposto, diante de uma breve análise, entende-se que a descrição típica das

formas penais restringe o termo “ o u o” tão somente em rols taxativos. A similaridade

entre o conceito de corrupção e improbidade administrativa vai além destas formas.

Entende-se que, o termo da corrupção usado como sinônimo da improbidade

administrativa, engloba não apenas a suscetibilidade do ser humano em ser corrompido,

traduzindo-se na venalidade dos agentes públicos, contrapõe todas as formas, seja por ação ou

omissão, que ferem os princípios da administração pública que norteiam o funcionamento

governamental.

Page 35: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

35

Os atos de improbidade administrativa, em suas modalidades, como os que resultam o

enriquecimento ilícito, os que causam prejuízo ao erário, os que são provenientes de

concessões ou aplicações indevidas de benefício financeiro ou tributário, bem como os que

ferem os princípios da administração pública, são passíveis de responsabilização de natureza

cível, que é regulamentada pela referida lei n.º 8.429/92.

Observa-se que, a administração pública em defesa dos princípios, tem seu respaldo

jurídico, como demonstra a Constituição Federal de 1988, no artigo 37, §4º: “Os atos de

improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função

pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação

previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.

Desta forma, há uma previsão legal para que eventualmente proponha-se ação penal

nas hipóteses em que for necessária a responsabilização por parte daquele qual causou o

prejuízo, sem que exista qualquer omissão em razão da punibilidade do feito.

2.3 Bem jurídico tutelado

Como já elucidado, os crimes contra a administração pública merecem maior proteção

do que os crimes comuns, visto que o prejuízo ao erário afeta de forma direta toda a

coletividade.

Nessa linha, Francisco Octávio de Almeida Prado ressalta que: Para a

configuração do enriquecimento ilícito não é necessária a verificação de dano ou

prejuízo ao erário. Na verdade, o bem jurídico protegido é a probidade na

administração, e esse bem é agredido sempre que o agente público se desvia dos fins

legais a que está atrelado, em contrapartida à percepção de vantagem patrimonial.

Poderá, é certo, resultar prejuízo ao erário de uma conduta tipificada pelo art. 9º.

Esse prejuízo, no entanto, não compõe as figuras típicas de enriquecimento ilícito e

será irrelevante para a caracterização das infrações, conquanto possa ter relevância

para a dosagem das sanções cabíveis (CF, art. 12, parágrafo único) (PAZZAGLINI

FILHO, 2018, p. 53 apud PRADO, 2001. p. 72).

A função da punibilidade em face dos agentes corruptos é atentar-se a efetiva

proteção da própria administração pública, quanto de sua moralidade e probidade, de forma a

resguardar a funcionalidade pública e promover a respeitabilidade do corpo de integrantes que

atuam em nome desta.

Page 36: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

36

2.4 Lei 12.846/13 – lei anticorrupção

Em meio as circunstâncias das quais foram relatadas e vivenciadas ao longo de uma

construção cultural, exposto pelas mais diversas mídias, houve a indispensabilidade da criação

de um instituto que regulamentasse a responsabilização de forma objetiva.

Surgiu então um novo instrumento frente ao estado para auxiliar na responsabilização

de sanções punitivas no âmbito administrativo e civil sobre os atos praticados pelas empresas

conta a administração pública, sendo tal lei n.º 12.846/13, denominada como Lei

Anticorrupção ou Lei da Empresa Limpa, sancionada em 1 de agosto de 2013.

O Código Penal, além de outras leis esparsas, já punem os crimes praticados contra a

Administração Pública, alcançando, porém, as pessoas físicas. A Lei de Improbidade

Administrativa (Lei no 8.429, de 2-6-92) significou considerável avanço em termos

de combate à corrupção, porém punindo especificamente as pessoas físicas (agentes

públicos e terceiros que pratiquem atos de improbidade), ainda que determinadas

penas possam também ser aplicadas a pessoas jurídicas. Ainda merece menção a

chamada Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar no 135, de 4-6-10), voltada para as

pessoas físicas, para torná-las inelegíveis. Também a Lei de Licitações (Lei no

8.666, de 21-6-93) define ilícitos administrativos e crimes, bem como as respectivas

sanções, em matéria de licitações e contratações efetuadas pela Administração

Pública, aplicando-se as sanções administrativas tanto a pessoas físicas como às

jurídicas (DI PIETRO, 2018, p. 1040).

Na visão de Carla Veríssimo, ao analisar a lei anticorrupção, não explicita a distinção

entre as sanções de natureza administrativa e penal, seja de forma qualitativa ou quantitativa,

que essas diferenciações não são baseadas em critérios substanciais acompanhados de

requisitos objetivos. Em sua obra relata ainda que, essa opção qualitativa e quantitativa é feita

opcionalmente pelo próprio legislador brasileiro.

Assim, estaremos basicamente contrapondo a via administrativa de

responsabilização, entendida como aquela que impõe uma sanção no âmbito de um

processo administrativo, que é instaurado, conduzido e julgado por uma autoridade

administrativa, com a via penal de responsabilização, entendida como aquela que é

instaurada pelo impulso de um órgão oficial de acusação, perante o Poder Judiciário,

sendo julgada por um juiz e/ou por um tribunal (VERÍSSIMO, 2017, p. 182).

A referida lei, trouxe em seu propósito inicial as possibilidades de punição mais

severas aos sujeitos corruptos empresariais que associam aos agentes públicos, atrelando-se

em condutas lesivas ao erário, em âmbito nacional ou internacional.

Page 37: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

37

Para tanto, o normativo em questão enfeixou, fundamentalmente, dois tipos distintos

de sanções: um, de natureza administrativa, e outro, de natureza judicial. Ambos

possuem em comum a repercussão desfavorável, financeira e patrimonial, para

aquela pessoa jurídica que tenha se inserido nas hipóteses consideradas atos lesivos

praticados contra a d i i t a o i a (PESTANA, 2016, p. 3).

Deste modo, a inovação jurídica trouxe a legislação brasileira mais abrangentes para

punir os corruptos e também aquele que são corrompidos. Anteriormente, a punição era

destinada e restrita apenas aos que recebessem propina.

Conclui-se que a lei anticorrupção serve como paradigma da intensificação da coerção

estatal, assim, sendo um reflexo das necessidades de adotar-se de novos instrumentos

jurídicos que propiciem medidas punitivas mais eficazes.

2.6 Proteção contra a corrupção

Pelo relato prévio das consequências da corrupção administrativa, entende-se que esta

deve ser prevenida e repreendida quanto aos seus efeitos nocivos.

A Lei Anticorrupção amplia a responsabilização nas esferas administrativa e civil,

na medida em que alcança as pessoas jurídicas, inclusive as que resultarem de

alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão societária (art. 4o);

e alcança também os respectivos dirigentes, com previsão expressa da

desconsideração da personalidade jurídica (arts. 3o e 14) (DI PIETRO, 2018, p.

1040).

Entretanto, a possibilidade de erradicar a corrupção em face da improbidade

administrativa, demonstra ser fato impossível, visto que a sua problemática atual gerou

consequências irreversíveis dentro do corpo estatal.

O problema da corrupção, assim, amplo, envolvendo, na verdade, qualquer

locupletamento indevido decorrente da prática de ato ilegal ou mesmo antiético para

beneficiar alguém ou facilitar alguma atividade, ainda que legítima de outrem, ou,

ainda, comportar-se de maneira indevida para obter algum benefício para si ou para

outrem, ainda que sem conteúdo econômico. Nesse sentido amplo, por exemplo,

também seriam atos de corrupção do empregado que assina o livro de presença por

outro ou o funcionário que pula a catraca controladora de entradas e saídas para

burlar a vigilância de horário de expediente (GRECO FILHO, 2015, p. 16).

Page 38: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

38

Posto isto, concretiza o entendimento de ser essencial a proteção sob a administração

pública, sendo que tais formas de tutela devem ser um objetivo da própria administração, por

meios de previsões legais, executadas pelos agentes e colaboradores que atuarem em

benefício da atual e futuras gerações.

A busca pela probidade deve ocorrer independentemente dos danos que já são

suportados historicamente, assim, consequentemente, através de políticas públicas

responsáveis, enfatizar a prevenção e a sensibilização do papel primordial daqueles que

compõe o corpo administrativo, inibindo e coibindo as condutas lesivas ao erário.

A moralidade é uma excelente aliada na busca da finalidade do ato, do interesse

público, do ato discricionário, na análise de desvios de finalidade". Assim, se a

moralidade administrativa não for cumprida, vai haver violação do postulado e com

isso, justifica a identificação de lesão à probidade administrativa prezada pelo texto

constitucional (FIGUEIREDO, 1999, p. 91).

Um ponto importante, reluz na questão da conscientização popular que define mais

eficácia quanto aos valores e principalmente a fé pública naquilo que dispõe os princípios em

razão da virtude e da moralidade.

A finalidade da atividade discricionária deve ser o interesse público, sendo que

jamais deverá se desvirtuar da essência da intenção de seguir os princípios da

Administração Pública. A liberdade conferida ao administrador público para os atos

discricionários, em alguns casos, é preciso que a conduta do administrador atinja a

finalidade contida na lei, sendo que haverá casos em que tal conduta não poderá ser

empregada, sob pena de burla ao princípio da segurança jurídica (MELLO NETO,

2003, p. 16).

A legislação traz um arcabouço de várias previsões quanto a tipicidade dentro da

questão da improbidade administrativa. Tem um caráter protecionista e inflexível quantos á

tolerância a corrupção, sendo considerados crimes potencialmente mais graves que exigem

uma maior sanção, com a finalidade de reduzir a impunidade.

Page 39: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

39

III IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Ao enfrentar os problemas existentes da sociedade moderna, nos deparamos com um

dos maiores males da história, sendo esta a corrupção. Esta, está diretamente relacionada com

os aspectos negativos derivados da globalização, ocasionando um retardamento no

desenvolvimento social.

Assim, ao analisar as consequências da corrupção especificamente dentro da estrutura

governamental, salienta-se a improbidade administrativa, que por sua vez, pode ser

compreendida em diversos sentidos, mas ilustra-se num apogeu de má-fé. Nas céleres

palavras de Marino Pazzaglini Filho, elucida-se tal entendimento:

Portanto, a conduta ilícita do agente público para tipificar ato de improbidade

administrativa deve ter esse traço comum ou característico de todas as modalidades

de improbidade administrativa: desonestidade, má-fé, falta de probidade no trato da

coisa pública. Nesse contexto, a improbidade administrativa constitui violação ao

princípio constitucional da probidade administrativa, isto é, ao dever do agente

público de agir sempre com probidade (honestidade, decência, honradez) na gestão

dos negócios públicos (2018, p. 1).

Desta forma, para melhor compreender a problemática dentro deste breve estudo, é

necessário assimilar a expressão “i o idade administrativa”, que possui vários

entendimentos devido ser usada vulgarmente no cotidiano em vários contextos midiáticos.

Na lição de Cármen Lúcia Antunes Rocha (2000, p. 920) a probidade administrativa

“ o ta com um fundamento não apenas moral genérico, mas com a base de moral jurídica,

vale dizer, planta-se ela nos princípios gerais de di eito”.

Primeiramente deve ser entendida a sua própria origem gramatical, que advém do

latim, definida inicialmente por “improbitate”, que se interpreta em sinônimo de

desonestidade, perfídia, deslealde, falseamento, mentira, falsificação, em suma, a falta de

honestidade e aquilo que ofende a moralidade1.

Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto (2009, p. 105) “e qua to a moral comum é

orientada por uma distinção puramente ética, entre o bem e o mal, distintamente, a moral

administrativa é orientada por uma diferença prática entre a boa e a má ad i i t a o”.

No entanto, pode-se dizer que em termos de moralidade e improbidade administrativa

existem divergências conceituais quanto ao tratamento semântico e doutrinário, onde surgem

1 Nesse sentido: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua

portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 1.086 e 1.640.

Page 40: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

40

correntes que defendem ou não o tratamento sinônimo entre as duas vertentes, enquanto que

para alguns o termo “i o idade” deve ser entendido de forma mais abrangente.

Isso, significa que embora exista uma coexistência de tais princípios, a mera distinção

encontra-se no ponto de que a moralidade está mais relacionada com os valores sociais que

são imprescindíveis no comportamento esperado dos agentes públicos. Assim, ressalta o autor

Marcio Pestana em sua obra:

Falar em moralidade administrativa se referir aos valores que a realidade

contextual espera e exige da d i i t a o i a numa movimentação dialética

que, a cada dia, vai sofrendo mutações, fruto da rica realidade e da experiência

diuturnamente vividas pelo homem (2014, p. 218).

Observa-se que o princípio da moralidade fora estabelecido através de uma

construção social baseada num consenso de valores intrínsecos, que são espelhos de como

espera-se que o ser humano seja para com o próximo. Dessa maneira, a população se coloca

como detentora de direitos em face do Estado que tem o papel de resguardá-los e protege-los

em virtude do próprio progresso, sendo necessário colocar a probidade como essência da

administração.

Quando se exige probidade ou moralidade administrativa, isso significa que não

basta a legalidade formal, restrita, da atuação administrativa, com observância da lei;

é preciso também a observância de princípios éticos, de lealdade, de boa-fé, de

regras que assegurem a boa administração e a disciplina interna na Administração

Pública (DI PIETRO, 2017, p. 1003).

Ao interligar toda essa acepção sobre a moralidade com o gerenciamento

governamental, têm-se como consequência, no contexto administrativo, as ações cometidas

pelos agentes públicos como a simplificação prática do que significa a improbidade

administrativa.

Em outras palavras, o conceito primordial do real significado da improbidade

administrativa está na consumação efetiva dos atos considerados ilícitos e imorais, que ferem

os princípios norteadores da administração pública.

Não obstante a dificuldade na conceituação da improbidade administrativa, o termo

pode ser compreendido como o ato ilícito, praticado por agente público ou terceiro,

geralmente de forma dolosa, contra as entidades públicas e privadas, gestoras de

recursos públicos, capaz de acarretar enriquecimento ilícito, lesão ao erário ou

violação aos princípios que regem a Administração Pública (NEVES; OLIVEIRA,

2018, p. 8).

Page 41: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

41

Portanto, o intuito de tipificar tais ocorrências em suas formas, demonstram a

preocupação com o funcionalismo público, precavendo e evitando incongruências futuras que

possam ferir direta ou indiretamente os princípios da administração pública.

3.1 O surgimento da LIA – n.º 8.429/1992

As tipificações acerca das condutas penalizáveis contra os atos de improbidade

administrativa encontram-se com fundamento na Constituição Federal de 1988, no artigo 37,

§4º. Porém, tal regulamentação legislativa considera-se de eficácia limitada2, sendo necessário

a inserção de legislação posterior que atribuísse a garantia de seu exercício.

O controle que o Poder Legislativo exerce sobre a Administração Pública tem que se

limitar às hipóteses previstas na Constituição Federal, uma vez que implica

interferência de um Poder nas atribuições dos outros dois; alcança os órgãos do

Poder Executivo, as entidades da Administração Indireta e o próprio Poder

Judiciário, quando executa função administrativa. Não podem as legislações

complementar ou ordinária e as Constituições estaduais prever outras modalidades

de controle que não as constantes da Constituição Federal, sob pena de ofensa ao

princípio da separação de Poderes; o controle constitui exceção a esse princípio, não

podendo ser ampliado fora do âmbito constitucional (DI PIETRO, 2017, p. 921).

Assim sendo, fora sancionada a lei n.º 8.429 de 02 de junho de 1992, conhecida como

a lei da improbidade administrativa, compreendida como a norma que dispõe sobre as devidas

sanções que são aplicáveis aos agentes públicos a respeito da venalidade no exercício de sua

função, atribuição, mandato ou emprego, ao corromper-se por meio do enriquecimento ilícito,

prejuízo ao erário e pela violação dos princípios da administração pública. Sobre tal instituto

aborda Marino Pazzaglini Filho, sobre a lei de improbidade administrativa:

A LIA dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de

improbidade administrativa, disciplinando os atos de improbidade administrativa em

três categorias: atos que importam enriquecimento ilícito do agente público (art. 9º),

atos que causam prejuízo efetivo ao Erário (art. 10) e atos que atentam contra os

princípios da Administração Pública (art. 11), cominando-lhes sanções políticas,

civis e administrativas (art. 12). Ademais, define os sujeitos ativos e passivos dos

atos de improbidade, cuida dos procedimentos investigatórios desses atos e regula a

ação civil de improbidade administrativa. Dispõe, também, sobre declaração de

bens, prescrição e infração penal (2018, p. 5).

2 Nesse sentido dispõe Alexandre de Moraes: [...]Por fim, normas constitucionais de eficácia limitada são

aque a que a e e ta “a i a i idade i di eta ediata e eduzida o que o e te i ide tota e te o e

esses interesses, após uma normatividade u te io que he de e vo va a a i a i idade” (2017, p.11).

Page 42: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

42

Ainda na visão de Marino Pazzaglini Filho (2018), as normas pré-existentes a lei de

improbidade administrativa, como a lei n.º 3.164/57 (conhecida por Lei Pitombo-Godói Ilha)

e a lei n.º 3.502/58 (conhecida por Lei Bilac Pinto), limitavam-se a disciplinar apenas quanto

ao enriquecimento ilícito, de modo que a LIA considerou tratar desta problemática como uma

espécies dentre os tipos de atos de improbidade administrativa juntamente com o prejuízo ao

erário e os atos que atentem contra os princípios da administração pública.

Tanto à referida lei quanto outros antecedentes normativos buscam disciplinar o corpo

administrativo, de forma a erradicar a irrespeitabilidade frente ao Estado e determinar o

comprometimento dos atuais integrantes da estrutura administrativa, estimulando o trato com

a coisa da coisa pública com transparência e seriedade.

Não basta, no entanto, a existência de normas de combate à improbidade

administrativa se a respectiva efetivação não for adequada. O manuseio do arsenal

jurídico, complexo e heterogêneo, é igualmente fundamental para a prevenção e a

punição daqueles que atentarem contra os valores consagrados no ordenamento

jurídico. Em razão da pluralidade de repercussões dos atos de improbidade, que

acarretam consequências nas esferas penal, política, cível e administrativa, o

ordenamento prevê diversos procedimentos e sanções que podem – e devem – ser

utilizados de forma harmoniosa, tendo em vista a necessidade de máxima

efetividade das normas éticas (NEVES; OLIVEIRA, 2018, p. 11).

Tal situação emblemática, fora detalhada por Daniel Amorim Assumpção Neves e

Rafael Carvalho Rezende Oliveira (2018, p. 17), acerca do julgamento e processamento da

LIA, onde é importante ressaltar que, após o surgimento da lei apresentada, fora colocada em

pauta a discussão quanto a sua constitucionalidade, sendo o objeto da ADI 2.182/DF proposta

pelo PTN (Partido trabalhista Nacional).

A emblemática da discussão seria a não observância perante as duas Casas

Legislativas, do qual aqueles que defendiam a sua inconstitucionalidade salientavam que a

norma deveria ter sido objeto de debate conforme a previsão da própria Constituição Federal.

A mensagem presidencial resultou no Projeto de Lei n. 1.446/1991, sendo relator o

Deputado o Gibson, tendo sido apresentadas aproximadamente três centenas de

emendas, as quais abrangiam desde a forma at as mais curiosas variações de

conteúdo. As discussões no Congresso Nacional tiveram o mérito de ampliar o

alcance do Projeto o igi io possibilitando o surgimento de texto que abrangia

outras duas espécies de improbidade administrativa: o dano ao erário e a violação

aos i io administrativos, hodiernamente previstos, respectivamente, nos arts.

10 e 11 da Lei n. 8.429/1992 (GARCIA; ALVES, 2016, p. 303).

Page 43: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

43

Atualmente, prevalece majoritariamente o entendimento de total constitucionalidade,

sendo de suma importância sua existência para que exista efetividade do combate à

impunidade.

3.1.1 Natureza jurídica da ação judicial de improbidade

Ao estudar primordialmente à natureza dos atos de improbidade administrativa

observa-se que há uma divergência doutrinária de posicionamentos. Os autores dividem-se na

classificação de natureza cível ou natureza o ti o-administrativa. Há também uma minoria

doutrinária que acredite na natureza penal de tais sanções.

Atualmente, em relação a classificação da ação judicial de improbidade administrativa,

a doutrina tem um entendimento solidificado quanto ser de natureza cível pública, contudo,

respeitado os limites da a Lei no 7.347, de 24-7-85. Portanto, esta é a interpretação do

Ministério Público, de acordo com a própria jurisprudência (DI PIETRO, 2017).

A ação civil pública define-se como um processo coletivo, dirigido para conseguir a

tutela coletiva, de uma só vez, em favor de um determinado grupo, de interesses ou

valores comuns de todos os integrantes, e de valores e interesses públicos e que

integram o domínio do Poder Público (RIZZARDO, 2014).

Seguem nesta mesma linha de raciocínio grande parte da doutrina, cada qual com sua

particularidade. Na concepção de Emerson Garcia, ao analisar as sanções dispostas na lei de

improbidade administrativa, identifica a natureza cível das sanções, porém ressalva a questão

da análise posterior sobre as regras gerais que devem ser utilizadas sobre a questão prática de

competência (GARCIA; ALVES, 2016).

A classificação quanto a natureza da ação, deve-se ao fato das consequências advindas

de outros ramos jurídicos, que se traduzem nas responsabilidades criminais, administrativas,

bem como as cíveis, sem prejuízo de concorrente.

A natureza das medidas previstas no dispositivo constitucional está a indicar que a

improbidade administrativa, embora possa ter consequências na esfera criminal, com

a concomitante instauração de processo criminal (se for o caso) e na esfera

administrativa (com a perda da função pública e a instauração de processo

administrativo concomitante) caracteriza um ilícito de natureza civil e política,

porque pode implicar a suspensão dos direitos políticos, a indisponibilidade dos bens

e o ressarcimento dos danos causados ao erário (DI PIETRO, 2018, p. 1018).

Page 44: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

44

Na visão de Fábio Medina Osório, o cunho da administrativo das penalidades

aplicadas sugere sua própria natureza administrativa, dessa forma firma o seu

posicionamento:

O ilícito da improbidade administrativa, desenhado na Constituição Federal, tem

natureza administrativa, sendo administrativas suas sanções. É verdade, porém, que,

sociologicamente, a improbidade, não exatamente a improbidade administrativa,

poderia projetar-se partindo de outros ramos do direito sancionador, chegando a

receber tratamento autônomo, eis que existem searas nas quais também existe a

figura da improbidade. Juridicamente, pode-se falar em múltiplos deveres de

probidade. O dever de probidade administrativa é o que resulta atrelado às sanções

veiculadas pelo direito administrativo, no caso da LGIA (2007, p. 228).

Porém, esses respectivos posicionamentos acerca dos atos praticados são resultados,

principalmente, pelo ponto da prático das sanções adequadas a cada conduta infratora.

A natureza civil dos atos de improbidade administrativa decorre da redação

constitucional, que é bastante clara ao consagrar a independência da

responsabilidade por ato de improbidade administrativa e a possível

responsabilidade penal, derivadas da mesma conduta (MORAES, 2017, p. 391).

A classificação de sua natureza é determinante na observância da aplicabilidade do rito

procedimental de cada órgão jurisdicional competente.

Percebe-se que há sanções previstas na lei que não constam do § 4º do art. 37 da

Constituição. Essa previsão legal de outras sanções, como multa e proibição de

contratar com o Poder Público, não é de forma nenhuma ilegítima. Leis podem

perfeitamente estabelecer sanções pela prática de atos ilícitos em geral. Ademais, a

enumeração do § 4º do art. 37 da Constituição não é taxativo; consiste ela, isso sim,

num rol de consequências mínimas atribuídas à prática de atos de improbidade

administrativa (ALEXANDRINO; PAULO, 2009, p. 833/834).

A competência em face de sua natureza penal, cível ou administrativa, define os

aspectos procedimentais, processamento e julgamento, de acordo com as previsões

legislativas.

De modo mais comum, dirige-se esta ação para a tutela coletiva de interesses de uma

grande camada da população, em grande parte das vezes de valor ínfimo,

considerando-se danos de bagatela, que seria insuficiente para motivar um indivíduo

a propor isoladamente a ação. Todavia, na dimensão coletiva, adquire relevo social e

econômico, por atingir milhares de pessoas (RIZZARDO, 2014).

Page 45: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

45

Assim, na análise do caso concreto, é viável averiguação da conduta do agente em

pauta para que possa ser posta a lei adequada, como, por exemplo, assemelham-se em suas

tipificações a própria lei de improbidade administrativa com a lei n.º 1079/50, que prevê o

crime de responsabilidade.

A Constituição Federal recepcionou a Lei 1.079/50 em sua integralidade, eis uma

assertiva válida. E a falta de probidade na administração segue sendo delito de

responsabilidade, na tradição republicana. O que se expõe, não obstante, é o

questionamento sobre se essa figura, aquela que encontra previsão expressa no art.

85, V, CF, é idêntica àquela que encontra tipificação no art. 37, § 4º, da mesma CF.

Essa é a pergunta em debate perante toda a nação brasileira, desde o advento da

própria LGIA, em 1992, mas já antes disso, diante da Carta Magna promulgada em

outubro de 1988. Independentemente do veredicto do STF, essa questão poderá

continuar em aberto, até mesmo pelo modelo de sistema difuso de

constitucionalidade e também porque não é raro que os Ministros do STF, na

grandeza que caracteriza a Corte, revejam seus posicionamentos (OSÓRIO, 2007, p.

244).

Em suma, de uma forma simples, a ação de natureza pública tem a finalidade de

proteger e defender a coletividade, assim dispõe a Constituição Federal de 1988: “Art. 129.

São funções institucionais do Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil

pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros

interesses difusos e coletivos”. Ademais, o poder público por meio de seus órgãos

jurisdicionais fez com que fosse possível a aplicação em cada esfera, sem que houvesse

prejuízo quanto a condenação.

Não obstante a realidade legislativa descrita, a doutrina, de forma amplamente

majoritária, entende que a ação de improbidade administrativa tem natureza civil. É

no mesmo sentido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça. Como lembra a

melhor doutrina, o art. 37, § 4.º, da CF, ao prever as sanções imputáveis ao ato de

improbidade administrativa, expressa que sua aplicação em ação específica para tal

fim não prejudica a ação penal, o que permite a conclusão de não ter a ação de

improbidade administrativa natureza penal (NEVES; OLIVEIRA, 2018, p. 137).

Sobre a vertente das ramificações deste tema, originalmente crê-se que esta possua

caráter punitivo, como assim prevê as leis de responsabilizadoras que tem o escopo de

sancionar perante os infratores suas respectivas punições.

A atividade administrativa, de forma correlata observância das prescrições legais,

deve render obediência aos valores que defluem do sistema, normalmente

condensados sob a epígrafe do princípio da moralidade. A densificação desse

princípio, cujo conteúdo deflui de normas explícitas e implícitas, representa, como j

fora visto, tarefa extremamente delicada e complexa, o que consequência

inevitável de seu alto teor de abstração. Por tal motivo, são extremamente relevantes

Page 46: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

46

as iniciativas que buscam elaborar diretrizes básicas para nortear a atuação dos

agentes públicos (GARCIA, 2014, p. 187).

No entanto, a lei de improbidade administrativa possui um caráter preventivo, ou seja,

prevê as penalidades as condutas ilícitas com a finalidade de mitigar sua realização.

3.1.2 Meras irregularidades

Salienta-se que, a responsabilização por improbidade administrativa não se confunde

com as meras irregularidades provenientes do risco da própria atividade administrativa.

Em não poucos acórdãos, a má-fé sobreposta ao dolo, perdendo a sua própria

individualidade. De acordo com essa simbiose existencial, a má-fé nada mais seria

que a má-intenção, vale dizer, o objetivo deliberado de afrontar a norma proibitiva

implícita no tipo sancionador e eventualmente expressa no estatuto jurídico da

categoria. Daí a conclusão de que meras irregularidades administrativas, destituídas

de potencial lesivo, não seriam alcançadas pela Lei n. 8.429/1992 (GARCIA, 2014,

p. 176).

Assim o agente que cometer essas meras irregularidades, por meio de erros toleráveis

ou faltas disciplinares que não resultem em graves prejuízos, deve ser responsabilizado dentro

da esfera administrativa, sendo a forma adequada mais adequada ao caso conforme prevê o

procedimento administrativo, ressalvado o direito ao contraditório e a ampla defesa, que são

amparados constitucionalmente.

Improbidade administrativa, pois, é mais que singela atuação desconforme com a

fria letra da lei. Em outras palavras, não é sinônimo de mera ilegalidade

administrativa, mas de ilegalidade qualificada pela imoralidade, desonestidade, má-

fé. Em suma, pela falta de probidade do agente público no desempenho de função

pública (PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 2).

Não seria viável e legal, que as meras irregularidades ensejassem uma ação de

improbidade administrativa, visto que, para tal hipótese seria necessário a comprovação do

elemento subjetivo no momento da conduta transgressora.

A má-fé também foi associada ao conhecimento da ilicitude, compondo, junto com o

dolo, o elemento subjetivo do ato de improbidade administrativa. Nessa linha, a

acumulação remunerada de cargos públicos, devidamente amparada por pareceres

jurídicos sustentando a juridicidade da contratação, consubstanciaria mera

Page 47: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

47

irregularidade, não ato de improbidade administrativa, isso em razão da ausência de

dolo ou má-fé por parte do contratado (GARCIA, 2014, p. 177).

Conclui-se que, este posicionamento objetiva a repressão dos agentes públicos que

atentarem contra a administração, de forma que a conscientização consiga melhores

resultados no funcionamento público.

A finalidade do combate constitucional à improbidade administrativa é evitar que os

agentes públicos atuem em detrimento do Estado, pois como já salientava Platão, a

punição e afastamento da vida pública dos agentes corruptos pretende fixar uma

regra proibitiva, de que os servidores públicos não se deixem “i duzi por preço

nenhum a agir em detrimento dos interesses do E tado” (MARQUES et al, 2016, p.

23 apud PLATÃO, 1994, p. 117).

Porém, para que seja realmente necessária a movimentação do poder judiciário e toda

a burocracia envolvida, visto que, nos dias atuais em todas as instâncias são inúmeros

processos e demandas jurídicas, considera-se essencial analisar as circunstâncias concretas no

plano real, em virtude de custeio do funcionalismo estatal, que, para ensejar uma causa

jurídica deve conter a legitimidade quanto ao interesse sobre a defesa de direitos notáveis e

significativos.

3.2 Sujeitos ativos

Após a efetivação da violação da norma legislativa diante do ato administrativo, surge

dentro do contexto da relação administrativa a ação judicial. Dentro desta lide existem dois

elementos, que são ora os responsáveis pelas lesões cometidas ora aqueles que são os

detentores dos direitos infringidos, respectivamente sujeitos ativo e passivo.

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, deve-se estar presente os seguintes

elementos, para a devida aplicação das sanções correspondentes a lei de improbidade

administrativa:

a) sujeito passivo: uma das entidades mencionadas no artigo 1o da Lei no 8.429;

b) sujeito ativo: o agente público ou terceiro que induza ou concorra para a prática

do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta

(arts. 1o e 3o);

c) ocorrência do ato danoso descrito na lei, causador de enriquecimento ilícito para o

sujeito ativo, prejuízo para o erário, atentado contra os princípios da Administração

Pública ou concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário; o

Page 48: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

48

enquadramento do ato pode darse isoladamente, em uma das quatro hipóteses, ou,

cumulativamente, em duas, três ou quatro;

d) elemento subjetivo: dolo ou culpa (DI PETRO, 2007, p. 1012).

Os sujeitos ativos no ensejo das condutas desonestas administrativamente são

quaisquer agentes públicos, como demostra a lei n.º 8.429/92, em seu artigo 2º:

Art. 2° da Lei 8429/92: Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo

aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,

nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou

vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo

anterior.

Segundo Alexandre Mazza (2017, p. 826) “em síntese, conclui-se que a Lei n.

8.429/92 aplicável: a) a todas as categorias de agentes públicos; b) a não agentes, desde que

induzam, concorram ou se beneficiem dos atos de improbidade, ou ainda sejam sucessores

daquele que praticou a conduta punível”.

Ao utilizar a expressão agente público, o art. 2.º da Lei 8.429/1992 pretendeu

abarcar toda e qualquer espécie de agente. Além dos agentes públicos de direito, que

possuem vínculos formais com a Administração, a norma abrange, também, os

denominados agentes de fato, que desempenham atividades públicas sem vínculo

formal com o Estado (NEVES; OLIVEIRA, 2018, p. 44).

Sendo assim, é de suma importância ressaltar que, mesmo que a figura do agente ser

servidor público ser essencial a configuração da LIA, não exime os partícipes ou coautores de

suas devidas responsabilidades.

De forma correlata extensão conferida ao conceito de agente público pelo art. 2o

da Lei n. 8.429/1992, o que em muito alargou a esfera de incidência da lei, também

o extraneus que concorrer ou se beneficiar da prática ilícita e ta sujeito às sanções

cominadas ao improbo (GARCIA, 2014, p. 365).

Tal qual, dispõe de forma concisa o artigo 3º da LIA: “ disposições desta lei são

aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra

para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou

indireta”.

No entanto, a doutrina não tem admitido a responsabilidade civil do Estado pelos

danos causados por agentes de fato necessários, uma vez que não se pode invocar,

aqui, a teoria da aparência. Nada obsta, contudo, que o Estado seja responsabilizado

pelo mau funcionamento do serviço que gerou a calamidade e incentivou a atuação

do agente de fato. Exemplo: os sinais de trânsito, em cruzamento movimentado,

Page 49: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

49

param de funcionar e um particular (agente de fato necessário) tenta normalizar o

caos do trânsito, emitindo “o de ” aos motoristas dos veículos, não evitando,

porém, a colisão de dois veículos. No caso, o Estado poderá ser responsabilizado

pelo mau funcionamento do serviço (quebra do sinal de trânsito) e não propriamente

pela atuação do agente de fato (NEVES; OLIVEIRA, 2018, p. 44).

Como a própria lei define as hipóteses onde aqueles que não são agentes públicos

incorreram na responsabilização, é válido ressaltar o entendimento jurisprudencial do

Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre a inviabilidade de propositura de ação civil

diretamente contra o particular, sem que haja concomitância da figura de um membro público

integrante da administração pública.

Nesse sentido, a 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp.

1.405.748 (21/5/2015), extinguiu a ação de improbidade proposta isolada- mente

contra o ator Guilherme Fontes pela demora na conclusão do filme “ hat – o Rei

do B a i ”. “ Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou nesta

quinta- -feira (21) recurso do Ministério Público Federal (MPF) que pedia a

condenação do ator e diretor Guilherme Fontes por improbidade administrativa. O

motivo foi a captação de recursos oriundos de renúncia fiscal para produção do filme

„ hat – O Rei do Brasil „ que não havia sido concluído at o ajuizamento da ação.

agora, depois de quase 20 anos de produção, o filme e t com lançamento

anunciado para este ano. Seguindo a jurisprudência consolidada no STJ, a maioria

dos ministros entendeu que particulares não podem responder sozinhos a ações com

base na Lei de Improbidade Administrativa (LIA), sem que também figure como réu

na ação um agente público responsável pela prática do ato considerado improbo. O

particular responde como participante do ato. Segundo a posição vencedora na

Turma, o conceito de agente público previsto no artigo 2o da LIA deve ser

interpretado restritivamente, impedindo seu alarga- mento para alcançar particulares

que não se encontram no exercício de função estatal. (MAZZA, 2017, p. 827).

Consequentemente, diante destas condutas, o poder estatal prevê a importância de

regulamentação legislativa específica que corresponda a devida punição sobre essas

irregularidades dentro do sistema de gestão do Estado em faces dos agentes públicos.

O conceito de agente público, para os efeitos da LIA, é mais abrangente do que o

comumente adotado em outros institutos do Direito Público. Com efeito, contempla

todas as pessoas físicas que, de qualquer modo, com ou sem vínculo empregatício,

definitiva ou transitoriamente, exerçam alguma função pública ou de interesse

público, remunerada ou não, nos órgãos e entidades das administrações direta e

indireta do Poder Executivo dos entes da Federação; nos Poderes Judiciário e

Legislativo nas esferas de sua atuação; nos Ministérios Públicos Federais, Estaduais

e Distritais; nos Tribunais de Contas da União, Estados e Municípios; nas empresas

incorporadas ao patrimônio público; nas empresas privadas dependentes de controle

direto ou indireto do Poder Público; e nas entidades privadas de interesse público

(PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 9).

Page 50: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

50

Dentro desse gênero de agentes públicos, como já fora mencionado, encontrasse o

enfoque do presente trabalho, sendo a espécie dos agentes políticos que compõe o sistema

organizacional brasileiro administrativo em sua esfera executiva.

O conceito de Hely Lopes Meirelles inclui na categoria: Chefes do Executivo, ou

seja, o Presidente da República, os Governadores de Estados e do Distrito Federal e

os Prefeitos; seus auxiliares diretos: Ministros, Secretários de Estado e de

Município; os Membros do Poder Legislativo: Senadores, Deputados e Vereadores;

os membros do Poder Judiciário: magistrados em geral; os membros do Ministério

Público: Procuradores da República, Promotores Públicos e Procuradores de Justiça;

os membros dos Tribunais de Contas: Ministros e Conselheiros; os representantes

diplomáticos e demais autoridades que atuem com independência funcional no

desempenho de atribuições governamentais, judiciais ou quase-judiciais, estranhas

ao quadro do serviço público (NOHARA, 2017, p. 698 apud MEIRELLES, 2009, p.

77).

Este entendimento tem um contraponto adotado por outros doutrinadores como Maria

Sylvia Zanella Di Pietro, José dos Santos Carvalho Filho e Celso Antônio Bandeira de Mello.

Para estes autores, como dispõe em sua obra, Irene Patrícia Nohara (2017, p.698), os agentes

políticos simplificar-se-iam em “Chefes dos Poderes Executivos: Presidente da República,

Governadores de Estado e do Distrito Federal e Prefeitos, e seus auxiliares imediatos, isto é,

Ministros e Secretários de Estado; e Parlamentares: Senadores, Deputados e Vereadores”.

Isto posto, concretiza a ideia de que as autoridades frente ao poder executivo

demonstram a grandiosidade do funcionalismo público, visto que, a realidade expõe os casos

de corrupção, contradizendo a posição de destaque e privilégio associadas a estes agentes, que

de certa forma deveriam relacionar-se com a imprescindibilidade da venalidade.

3.2.1 Situações especiais dos agentes políticos

Diante da regra, sempre nos deparamos com os casos excepcionais, como no tema

abordado não é diferente. Dentro da questão dos sujeitos ativos no ato de improbidade

administrativa, há hipóteses em que as sanções serão diversas do que a regra geral determina.

Nos casos de deputados e senadores que pratiquem atos de improbidade, estes não

sofrerão com a perda da função pública, que, necessariamente, levariam à perda dos

respectivos mandatos (DI PIETRO, 2018).

Page 51: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

51

Por consequência disto posto, compreende-se que essas prerrogativas em face dos

agentes políticos têm respaldo constitucional, garantindo a essas pessoas um tratamento

diferenciado dos demais agentes públicos, que no caso concreto podem sofrer a sanção de

perda da função pública.

No entanto, não pode ser aplicada a sanção de perda da função pública, que

implicaria a perda do mandato, porque essa medida é de competência da Câmara dos

Deputados ou do Senado, conforme o caso, tal como previsto no artigo 55 da

Constituição. Mas o artigo 15, inciso V, da Constituição inclui entre as hipóteses de

perda ou suspensão dos direitos políticos a “i o idade administrativa, nos termos

do art. 37, § 4o”. Assim, nada impede que se imponha a pena de suspensão dos

direitos políticos ao Deputado Federal ou ao Senador, em ação civil por improbidade

administrativa. Nesse caso, a perda do mandato será “de a ada pela Mesa da Casa

respectiva, de oficio ou mediante provocação de qualquer de seus membros ou de

partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defe a”

(conforme art. 55, § 3o, da Constituição) (DI PIETRO, 2018, p. 1023).

Por conseguinte, determina a própria Constituição Federal, em seu artigo 55, esta

imposição:

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I - Que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;

II - Cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;

III - Que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões

ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;

IV - Que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

V - Quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição;

VI - Que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.

§ 1º É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no

regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso

Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.

§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara

dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação

da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional,

assegurada ampla defesa.

§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da

Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros ou

de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.

§ 4º A renúncia de parlamentar submetido a processo que vise ou possa levar à perda

do mandato, nos termos deste artigo, terá seus efeitos suspensos até as deliberações

finais de que tratam os §§ 2º e 3º.

Outra situação excepcional é a do Presidente da República. Neste caso, não poderá

haver diante da ação de improbidade administrativa a punição de perda da função e também,

não poderá aplicar a suspensão dos direitos políticos. Esta previsão especial justifica-se com a

redação do artigo 52 da Constituição Federal:

Page 52: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

52

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I - Processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de

responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha,

do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;

II - Processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do

Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o

Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de

responsabilidade;

III - Aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de:

a) magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;

b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da

República;

c) Governador de Território;

d) presidente e diretores do Banco Central;

e) Procurador-Geral da República;

f) titulares de outros cargos que a lei determinar;

IV - Aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em sessão secreta, a

escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente;

V - Autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos

Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

VI - Fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante

da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

VII - Dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e

interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas

autarquias e demais entidades controladas pelo poder público federal;

VIII - Dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em

operações de crédito externo e interno;

IX - Estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

X - Suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por

decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;

XI - Aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do

Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato;

XII - Elaborar seu regimento interno;

XIII - Dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação

ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei

para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na

lei de diretrizes orçamentárias;

XIV - Eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.

XV - Avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em

sua estrutura e seus componentes, e o desempenho das administrações tributárias da

União, dos Estados e do Distrito Federal e dos Municípios.

Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente

o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será

proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com

inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das

demais sanções judiciais cabíveis.

A partir da leitura e análise deste artigo, é preciso compreender que, apesar das

prerrogativas que tais autoridades possuem, poderão responder por improbidade

administrativa.

De acordo com o a concepção restritiva, não basta a previsão de suas atribuições no

texto constitucional para que os agentes sejam considerados como políticos. A

caracterização dos agentes políticos depende, em regra, do preenchimento de alguns

requisitos, tais como: a) o acesso ao cargo político ocorre por meio de eleição,

Page 53: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

53

conferindo maior legitimidade democrática para o exercício de suas funções (em

alguns casos, determinados agentes políticos não serão investidos por meio de

eleição, mas serão nomeados por agentes eleitos para ocuparem cargos em comissão,

como ocorre, por exemplo, na investidura dos Ministros e Secretários estaduais e

municipais que são nomeados pelos respectivos Chefes do Executivo); b) a função

política possui caráter transitório, tendo em vista o princípio republicano, e será

exercida por prazo determinado (mandato); e c) as decisões políticas fundamentais

de Estado, caracterizadoras da função política, envolvem, primordialmente, a

alocação de recursos orçamentários e o atendimento prioritário de determinados

direitos fundamentais (NEVES; OLIVEIRA, 2018, p. 46).

Primeiramente, antes mesmo do processamento e julgamento descritos no artigo

citado, deverá ser realizado o juízo de admissibilidade de tais autoridades, que tem previsão

no artigo 86 da Constituição Federal:

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da

Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo

Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos

crimes de responsabilidade.

§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:

I - Nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo

Supremo Tribunal Federal;

II - Nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado

Federal.

§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver

concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular

prosseguimento do processo.

§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o

Presidente da República não estará sujeito a prisão.

§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser

responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

No entanto, a lei de improbidade administrativa irá ter sua aplicabilidade de uma

forma mais limitada as autoridades especiais, visto que elas não poderão incorrer nas mesmas

sanções que são adotadas de formas gerais.

Essa conclusão resulta muito clara do parágrafo único do artigo 52, que limita a

competência do Senado à aplicação da pena de perda do cargo com inabilitação, por

oito anos, para o exercício de função pública, “ e prejuízo das demais sanções

judiciais a vei ”. Vale dizer: sem prejuízo de sanções outras, como as que

decorrem da prática de crime comum ou de ilícitos civis, como ocorre com a

improbidade administrativa (DI PETRO, 2018, p. 1023).

Essas prerrogativas explanam na diferenciação adotas pelo poder constituinte nas

diretrizes do controle jurisdicional. Apesar disso o desempenho político depende

inevitavelmente dessas medidas adotadas pelo poder Judiciário.

Page 54: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

54

3.2.2 Procedimento Administrativo

A lei de improbidade administrativa trata em seu Capítulo V sobre o procedimento

administrativo e também sobre o processo judicial. Em seu artigo 14, dispõe o rol dos

legitimados para a instauração dentro deste contexto:

Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade administrativa competente

para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de

improbidade.

§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e assinada, conterá a

qualificação do representante, as informações sobre o fato e sua autoria e a indicação

das provas de que tenha conhecimento.

§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em despacho

fundamentado, se esta não contiver as formalidades estabelecidas no § 1º deste

artigo. A rejeição não impede a representação ao Ministério Público, nos termos do

art. 22 desta lei.

§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata

apuração dos fatos que, em se tratando de servidores federais, será processada na

forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei n.º 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e,

em se tratando de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos

disciplinares.

Vale dizer que, para instauração da ação de improbidade administrativa, não é

necessário que exista primordialmente o procedimento administrativo, visto a autonomia nos

âmbitos jurídicos. O artigo 15 da LIA tipifica a realização prática procedimental:

Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Ministério Público e ao

Tribunal ou Conselho de Contas da existência de procedimento administrativo para

apurar a prática de ato de improbidade.

Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho de Contas poderá, a

requerimento, designar representante para acompanhar o procedimento

administrativo.

Consequentemente, após o conhecimento por parte do Ministério Público, e,

averiguada as circunstâncias da materialidade, aplicar-se-á as sanções aos agentes públicos

infratores, pois a finalidade de antecipação por parte do Estado será de resguardar o

patrimônio público.

Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao

Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo

competente a decretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro que tenha

enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e

825 do Código de Processo Civil.

Page 55: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

55

§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio de

bens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado no exterior,

nos termos da lei e dos tratados internacionais.

Preliminarmente, o início da propositura da ação inicial deverá ser por parte do

Ministério Público ou a pessoa jurídica interessada, como estabelece a lei 8429/92, em seu

artigo 17, vejamos:

Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério

Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da

medida cautelar.

§1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput.

§2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações necessárias à

complementação do ressarcimento do patrimônio público.

§3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Ministério Público, aplica-se,

no que couber, o disposto no § 3o do art. 6

o da Lei n

o 4.717, de 29 de junho de 1965.

(Redação dada pela Lei n.º 9.366, de 1996)

§4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará

obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.

§ 5º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações

posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

(Incluído pela Medida provisória n.º 2.180-35, de 2001)

§ 6º A ação será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios

suficientes da existência do ato de improbidade ou com razões fundamentadas da

impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação

vigente, inclusive as disposições inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo

Civil. (Incluído pela Medida Provisória n.º 2.225-45, de 2001)

§ 7º Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a

notificação do requerido, para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser

instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias. (Incluído

pela Medida Provisória n.º 2.225-45, de 2001)

§ 8º Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão

fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do ato de

improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita. (Incluído

pela Medida Provisória n.º 2.225-45, de 2001)

§ 9º Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar contestação.

(Incluído pela Medida Provisória n.º 2.225-45, de 2001)

§ 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo de instrumento.

(Incluído pela Medida Provisória n.º 2.225-45, de 2001)

§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequação da ação de

improbidade, o juiz extinguirá o processo sem julgamento do mérito. (Incluído pela

Medida Provisória n.º 2.225-45, de 2001)

§ 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos processos regidos por

esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o, do Código de Processo Penal. (Incluído

pela Medida Provisória n.º 2.225-45, de 2001)

§ 13. Para os efeitos deste artigo, também se considera pessoa jurídica interessada o

ente tributante que figurar no polo ativo da obrigação tributária de que tratam o § 4º

do art. 3º e o art. 8º-A da Lei Complementar n.º 116, de 31 de julho de 2003.

(Incluído pela Lei Complementar n.º 157, de 2016)

Sobre a questão do processo administrativo em face da prescrição, a LIA dispõe

especificamente sobre a questão, onde o artigo 23 da LIA descreve as sanções e os devidos

prazos para a propositura:

Page 56: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

56

Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem

ser propostas:

I - Até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou

de função de confiança;

II - Dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares

puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo

efetivo ou emprego.

III - Até cinco anos da data da apresentação à administração pública da prestação de

contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1o desta Lei.

(Incluído pela Lei n.º 13.019, de 2014)

Para uma análise mais específica e restrita aos casos dos agentes políticos, a

interpretação em seu sentido amplo do artigo 23 da referida lei de improbidade administrativa

se faz imprescindível, visto que, a elucidação sobre os aspectos da propositura da ação deve

atentar-se elucidando essencialmente a questão do inciso III em face do posicionamento do

Supremo Tribunal Federal.

A Lei n. 8.429/92 não faz qualquer restrição do seu alcance quanto aos agentes

políticos. Pelo contrário. O art. 23, ao tratar da prescrição da ação de improbidade,

afirma que o prazo para propositura de cinco anos após o término do “exe io de

a dato” de cargo em comissão ou de função de confiança. A simples referência a

“ a dato” j autoriza a conclusão de que a lei pretende punir também os agentes

políticos que praticam ato de improbidade administrativa. Entretanto, o Supremo

Tribunal Federal, no julgamento da Reclamação Constitucional n. 2.138, de 13-6-

2007, passou a entender que a Lei de Improbidade não se aplica aos agentes

políticos quando a mesma conduta j for punida pela Lei dos Crimes de

Responsabilidade – Lei n. 1.079/50 (MAZZA, 2017, p. 829).

Interessante ressaltar que, a Constituição Federal estabeleceu a regulamentação das

normas prescricionais. Todavia, estes prazos serão aplicáveis as penalidades que não

envolvam o ressarcimento aos cofres públicos, havendo nesta hipótese a imprescritibilidade.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda

Constitucional n.º 19/98)

§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por

qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas

as respectivas ações de ressarcimento.

Objetivando-se uma melhor compreensão desta casuística, transcreve-se neste presente

estudo, trechos singulares do julgado da Reclamação n.º 2.138/2007, onde suscita-se a

questão da não aplicabilidade da lei de improbidade administrativa aos casos onde já houve a

aplicação do crime de responsabilidade:

Page 57: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

57

EMENTA: E . DA E DO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CRIME DE

RESPONSABILIDADE. AGENTES . I. PRELIMINA- RES.

E E DE ORDEM.

1. Improbidade administrativa. Crimes de responsabilidade. Os atos de improbidade

administrativa são tipificados como crime de responsabilidade na Lei n. 1.079/1950,

delito de caráter o ti o-administrativo.

2. Distinção entre os regimes de responsabilização o ti o-administrativa. O sistema

constitucional brasileiro distingue o regime de responsabilidade dos agentes

o ti o dos demais agentes públicos. A o titui o não admite a concorrência

entre dois regimes de responsabilidade o ti o-administrativa para os agentes

o ti o o previsto no art. 37, § 4o (regulado pela Lei n. 8.429/1992), e o regime

fixado no art. 102, I, c (disciplinado pela Lei n. 1.079/1950). Se a competência para

processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4o) pudesse abranger

também atos praticados pelos agentes o ti o submetidos a regime de

responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art.

102, I, c, da o titui o (Rcl 2.138/DF, Tribunal Pleno, j. em 13-6-2007, Rel. Min.

Nelson Jobim, Rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes).

Diante de tal decisão fundamentada por parte dos julgadores, demonstrou que o órgão

se atentou oportunamente para que não exista a ocorrência do bis in idem, ou seja, uma

repetição da sanção sobre um mesmo fato. E esse entendimento, para que se efetive na

prática, deve ser imprescindível que o agente esteja entre os puníveis pela Lei 1079/50

(Presidente da República, Ministro de Estado, Procurador Geral da República, Ministro do

STF, Governador e Secretário de Estado), além do que, a conduta estar tipificada nas duas leis

(MAZZA, 2017).

Em suma, o legislador constituinte efetivou de maneira clara e concisa, as hipóteses

onde os agentes políticos sofrerão as devidas sanções, especificando detalhadamente para que

estes não incorram novamente em sanções descabidas e já aplicadas.

3.3 Sujeitos passivos

Após a lesão por parte dos sujeitos ativos em face do bem jurídico tutelado, encontra-

se no outro lado os sujeitos passivos. A identificação dos sujeitos passivos ocorrerá com a

disposição legal, que elenca as entidades lesionadas, no artigo 1º da Lei n. 8.429/1992, verbis:

Art. 1º Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou

não, contra a d i i t a o direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Territórios, de

empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou

Page 58: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

58

custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do

patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta Lei.

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta Lei os atos de

improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção,

benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de g o público, bem como daquelas

para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de

cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a

sanção patrimonial repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

De uma forma mais concisa, os sujeitos passivos na ação de improbidade

administrativa serão, por exemplo, aqueles que sofrem o prejuízo por parte do infrator, seja

direta ou indiretamente, junto ao Estado.

Para Emerson Garcia (2014, p. 313) “tratando-se de norma de natureza cogente, cuja

aplicação o possa ser afastada pela vontade dos interessados, qualquer que seja o bem

atingido, o Estado sempre e ta presente como sujeito passivo formal, j que a norma violada

fora por ele e tatu da”.

Esta breve consideração implica diretamente nas questões de ordem pública, sendo o

Estado sempre presente nos casos os quais versarem sobre a temática de seu interesse. Isto

posto, interliga-se diretamente com todos os integrantes, visto que o “E tado” nos casos de

improbidade será sempre o maior lesado, considerando que este atua em nome da

coletividade.

O art. 1º da LIA enumera os órgãos ou entidades que podem ser vítimas de

improbidade administrativa praticada por agentes públicos, servidores e empregados

que integram seu quadro de pessoal. O traço semelhante entre eles reside em suas

atribuições de gestão de verbas públicas e de exercício de atividades públicas ou

privadas de interesse público (PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 5).

Como o próprio artigo mencionado dispõe sobre as vítimas da improbidade, relativiza-

se este conceito as lesões diretas e indiretamente, independentemente da forma da qual é

acometida, o ato ilícito provocará a desestabilização nos cofres públicos.

Destaca ainda DI PIETRO (2007, p. 629) que, “além da sanção patrimonial, os

agentes das entidades paraestatais (incluídas as do terceiro setor) ficam sujeitos a todas as

demais sanções previstas no artigo 37, § 4º, da Constituição Federal e na própria Lei no

8.429/92”.

Por consequência da disposição constitucional, os atos atentatórios devem ser

penalizados na figura de seus agentes, de modo a suprir qualquer prejuízo, por menor que

seja.

Page 59: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

59

Em suma, como bem anotado pelo E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:

Nos termos do artigo 1º da Lei Federal n.º 8.429, de 1992, onde houver um único

centavo em dinheiro público envolvido, a lei terá incidência, independentemente de

a entidade exercer atividade de natureza pública ou privada (PAZZAGLINI FILHO,

2018, p. 8).

A intepretação sobre os sujeitos passivos devem estar a margem de conclusões

incongruentes, visto que devido a concretização do ato só poderá dar-se na ocorrência do

detrimento do patrimônio da entidade lesionada.

3.4 Teoria da cegueira deliberada

Em 09/04/2014, em julgamento de uma apelação cível (n. 009252-56.2010.8.26.073)

de improbidade, foi aplicada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo ao caso concreto a teoria

da cegueira deliberada, conhecida como a teoria do avestruz ou demais variações.

No caso examinado pelo TJ/SP, o Ministério Público ajuizou ação de improbidade

administrativa contra o prefeito e um instituto privado em razão de super-

faturamento na contratação, sem licitação, de serviços médicos para plantões nos

prontos-socorros municipais. De acordo com o relator do recurso, desembargador

João Batista Morato Rebouças de Carvalho, “ o outro lado, em relação ao ilícito

administrativo praticado neste caso concreto, perfeitamente adequada a aplicação da

Teoria da Cegueira Deliberada, na medida em que os corréus fingiram não perceber

o superfaturamento praticado com a nova contratação por intermédio de Termo de

Parceria, com objetivo único de lesar o patrimônio público, o havendo agora como

se beneficiarem da própria to eza” (MAZZA, 2017, p. 831/832).

Essa teoria aplicada ao caso concreto é de origem norte-americana – willful blindness3

– que se trata basicamente, de uma forma simplificada, referenciar-se ao comportamento do

animal avestruz, que para não ver o que está acontecendo esconde sua cabeça embaixo da

terra, assim, de uma forma similar aos agentes que intencionalmente omitem-se quando

deparam-se com as condutas ilícitas, em troca de obter alguma vantagem ou benefício

(MAZZA, 2017).

O fundamento dessa teoria reside no fato de que caso o agente possa ter a

consciência sobre origem ilícita do dinheiro e escolha não buscar essa informação de

forma mais aprofundada, demonstra, nitidamente, indiferença em relação ao bem

3 e e e tido di õe exa d e azza “[...] eo ia o te-a e i a a de o i ada “ig o ia de i e ada”

(“wi fu i d e ”) “ eguei a i te io a ” ou “teo ia da i t u õe do ave t uz” (“o t i h i t u tio ”)

(2017, p. 831).

Page 60: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

60

jurídico protegido, da mesma forma que demonstra indiferença quem age com dolo

eventual por fazer a representação mental do resultado e, embora não o queira

diretamente, assume o risco de produzi-lo. Essa semelhança de comportamento do

agente possibilita a punição de quem deliberadamente cega-se para a origem ilícita

do dinheiro. São dois os requisitos para a aplicação dessa teoria: em primeiro lugar,

a consciência por parte do agente de que os valores possam ter origem ilícita; em

segundo lugar, que o agente, deliberadamente, crie mecanismos que obstem a sua

plena consciência da origem ilícita do dinheiro ou deixe de buscar informações que

lhe permitam concluir por tal origem. (SILVA, 2017, n.p.).

No entanto, tal teoria não possui predominância no ordenamento jurídico, nem mesmo

embasamento normativo para sua aplicabilidade, sendo apenas um caso isolado dentro de uma

vasta imensidão de decisões judiciais.

3.5 Modalidades de improbidade administrativa

A ideia primordial do fato da improbidade administrativa caracteriza-se como o

resultado dos comportamentos inadequados dos agentes públicos que agem desconformidade

com as previsões legais no âmbito da administração pública.

Porém, estes comportamentos ilegais e ilícitos diversificam-se em algumas

modalidades, segundo o particular entendimento legislativo.

Assim, a conduta ilícita do agente público para tipificar ato de improbidade

administrativa deve ter esse traço comum ou característico de todas as suas

modalidades: desonestidade, má-fé, falta de probidade no trato da coisa pública. E

essa ausência de honestidade, retidão, integridade na gestão pública, nas hipóteses

de atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito (art. 9º)

e que atentam contra os princípios da Administração Pública (art. 11), pressupõe a

consciência da ilicitude da ação ou omissão praticada pelo administrador (dolo).

Apenas nos casos de atos de improbidade administrativa lesivos ao Erário (art. 10)

poderá ser suficiente, para sua configuração, a ação ou omissão ilícita culposa, ou

seja, o descumprimento inescusável de dever de ofício, com propósito desonesto,

causador de involuntário dano ao Erário, por não se conduzir o agente público

infrator com a atenção e a diligência reclamadas pela função pública por ele exercida

(PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 2).

A lei 8.924/92, que disciplina sobre a improbidade administrativa, classifica essas

modalidades em seus artigos 9º, 10 º e 11º, dispondo além disso assim, as devidas condutas

que serão tipificadas de acordo com a análise do procedimento administrativo, para serem

configuradas adequadamente em sua respectiva espécie.

Page 61: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

61

3.5.1 Dos atos de improbidade administrativa que resultam em enriquecimento ilícito

Os atos que importam em enriquecimento ilícito são considerados pelo ordenamento

jurídico, a forma mais gravosa e reprovável frente as modalidades dos tipos de modalidade de

improbidade administrativa.

De acordo com o entendimento doutrinário e jurisprudencial, isso posto, se deve

essencialmente a reprovabilidade em face conduta ilícita do agente público que se baseia na

própria torpeza e imoralidade.

Configura-se esse tipo de improbidade administrativa quando o agente público

(político, autônomo, servidor público ou particular em colaboração com o Poder

Público) aufere dolosamente vantagem patrimonial ilícita, destinada para si ou para

outrem, em razão do exercício ímprobo de cargo, mandato, função, emprego ou

atividade na administração pública (direta ou indireta, incluindo a fundacional) dos

entes da Federação e dos poderes do Estado, inclusive em empresas incorporadas ao

patrimônio público, em entidades para cuja criação ou custeio o Erário haja

concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual. E,

também, em entidades privadas de interesse público que recebem ou manejam

verbas públicas (PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 52).

Dessa forma, dispõe a lei 8429/92, em seu artigo 9º:

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento

ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício

de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art.

1° desta lei, e notadamente:

I - Receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer

outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,

gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser

atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente

público;

II - Perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição,

permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas

entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;

III - Perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação,

permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal

por preço inferior ao valor de mercado;

IV - Utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou

material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores

públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V - Receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para

tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de

contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de

tal vantagem;

VI - Receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para

fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer

Page 62: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

62

outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de

mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º

desta lei;

VII - Adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou

função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à

evolução do patrimônio ou à renda do agente público;

VIII - Aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou

assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser

atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente

público, durante a atividade;

IX - Perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de

verba pública de qualquer natureza;

X - Receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente,

para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;

XI - Incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou

valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta

lei;

XII - Usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do

acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

A questão do enriquecimento ilícito possuía previsão legislativa no ordenamento

jurídico brasileiro, antes mesmo da lei específica de improbidade administrativa, quando

tratava do tema no âmbito do Decreto-lei n.º 3.240, de 8.5.41, que previa aos agentes punições

como o sequestro e perda de bens em favor da Fazenda Pública (DI PIETRO, 2018).

As constituições anteriores, sendo a de 1946 e 1967, também mostraram sua

preocupação diante da situação emblemática, abordavam especificamente sobre a aplicação

das sanções e em decorrência dos atos uma extensão mais severa ao agente público ímprobo.

A inclusão do princípio da moralidade administrativa na Constituição foi um reflexo

da preocupação com a ética na Administração Pública e com o combate à corrupção

e à impunidade no setor público. Até então, a improbidade administrativa constituía

infração prevista e definida apenas para os agentes políticos. Para os demais, punia-

se apenas o enriquecimento ilícito no exercício do cargo. Com a inserção do

princípio da moralidade na Constituição, a exigência de moralidade estendeu-se a

toda a Administração Pública, e a improbidade ganhou abrangência maior, porque

passou a ser prevista e sancionada com rigor para todas as categorias de servidores

públicos e a abranger infrações outras que não apenas o enriquecimento ilícito (DI

PIETRO, 2017, p. 1003).

Todavia, só foi possível a adequação dos atos de improbidade administrativa através

de lei específica, com a materialidade da evolução do direito positivo brasileiro,

demonstrando uma expressão da necessidade jurídica da época até os dias atuais. Nesse

sentido, elucida o pensamento de Irene Patrícia Nohara:

Portanto, reiteramos que é fundamental o (re)conhecimento da grandeza da teoria

dos atos administrativos (especialmente após suas derradeiras conquistas), que

consagra, a partir da evolução que sofreu, um instrumental jurídico imprescindível

para a garantia dos direitos dos administrados e simultaneamente para a boa

Page 63: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

63

consecução do interesse geral por parte da Administração Pública, que, do ponto de

vista da edição de atos imperativos, também deve poder submeter, conforme as

garantias do devido processo legal, o interesse recalcitrante do particular ao interesse

público primário, especialmente quando o Estado se depara com a necessidade de

praticar um ato que beneficia, segundo o que permite o ordenamento jurídico, a

coletividade (2017, p. 172).

Por isso, após a reformulação do ordenamento jurídico no meio administrativo, foi

possível a adequação da responsabilidade sobre os casos que retratavam o enriquecimento

ilícito. Entretanto, atualmente, na concepção de alguns doutrinadores, como Marino

Pazzaglini Filho, para caracterização do enriquecimento ilícito são necessários alguns

requisitos:

Os atos de improbidade administrativa que importam em enriquecimento ilícito

exigem, para sua caracterização, a ocorrência dos seguintes requisitos mínimos:

• recebimento de vantagem patrimonial indevida por agente público, acarretando, ou

não, dano ao erário;

• vantagem decorrente de comportamento ilícito do agente;

• ciência do agente da ilicitude (dolo) da vantagem obtida; e

• nexo causal entre o exercício funcional abusivo do agente e a indevida vantagem

por ele auferida (2018, p. 52).

Mesmo com a existência das punições cíveis, penais e administrativas, os agentes que

se enquadrarem na redação do artigo 9º, estarão concorrendo, de forma exclusiva ou

cumulativa, nas proporções das condutas, as penalidades do artigo 12, I, da lei 8429/92I:

Art. 12. I - Na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente

ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função

pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa

civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com

o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de dez anos;

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a

extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

É preciso salientar que, para que se enquadre nesta hipótese de modalidade de

improbidade administrativa, a conduta do agente público infrator deve essencialmente

configurar a vantagem patrimonial indevida. Exemplifica-se de melhor maneira, Daniel

Amorim Assumpção Neves e Rafael Carvalho Rezende Oliveira:

Exemplo: particular, que preenche os requisitos legais, requer ao Poder Público a

emissão de licença para construir, ato administrativo vinculado. O agente público

competente, no entanto, exige determinada quantia em dinheiro, sem previsão legal,

para acelerar a emissão da mencionada licença. Nesse caso, restou configurado o

Page 64: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

64

enriquecimento ilícito, em virtude da exigência da vantagem indevida, mesmo que

não tenha havido qualquer prejuízo financeiro ao Estado (2018, p. 82).

Essa tipificação específica, deve-se ao fato de que, caso a prática do crime seja apenas

baseada em “ e a o e a” não configuraria o enriquecimento indevido.

São comumente identificados quatro requisitos essenciais para a verificação do

enriquecimento indevido: a) o enriquecimento de alguém, o qual pode ser de ordem

material, intelectual ou moral; b) o empobrecimento de outrem, quer seja positivo

(ex.: perda patrimonial) ou negativo (ex.: o pagamento de um serviço prestado); c)

ausência de justa causa, vale dizer, o enriquecimento deve ser desvinculado do

direito, o podendo advir da vontade do empobrecido, ou decorrer de obrigação

preexistente ou da lei; d) nexo-causal entre o enriquecimento e o empobrecimento,

sendo que cada um destes ele- mentos deve estar ligado ao outro em uma relação de

causa e efeito (GARCIA, 2014, p. 383).

Por fim, além dos requisitos primordiais que a doutrina descreve, esta espécie dentro

da lei de improbidade administrativa pressupõe a ocorrência do ato ilícito, sendo necessário

que haja a comprovação da manifestação de vontade (dolo) do agente público ou de terceiros.

3.5.2 Dos atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário

Tais atos estão relacionados aos casos onde há uma lesão substancial ao erário, ou

seja, a consumação de atos prejudiciais aos recursos financeiros da administração pública.

O segundo tipo de ato de improbidade, cujas hipóteses estão exemplificativamente

indicadas no art. 10 da LIA, envolve condutas de gravidade intermediária. Trata-se

de casos em que o agente público causa lesão ao erário por meio de qualquer ação

ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,

malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades públicas

mencionadas na Lei (MAZZA, 2017, p. 835).

As hipóteses previstas no artigo 10 da LIA descrevem várias formas para a

configuração da conduta ilícita que causem, seja de forma direta ou indiretamente, o efetivo

prejuízo ao erário, determinando a conclusão que o legislador estabeleceu um patamar

intermediário em a respeito das lesões a administração.

Pedro da Silva Dinamarco (2001, p. 291) salienta que “ato lesivo é todo aquele

portador de dano efetivo e concreto ao patrimônio de alguém. É preciso examinar o ato tal

como ocorrido, tratando em seguida de saber se dele decorreu dano”.

Page 65: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

65

Em relação a este enquadramento tipificado em lei, na espécie de dano ao erário,

surgem premissas menores que buscam caracterizar mais explicitamente e assim puni-las, as

condutas que, embora sejam prejudiciais aos cofres públicos não ensejam diretamente o

enriquecimento indevido daquele que cometera os atos atentatórios à administração.

O pressuposto central para tipificação do ato de improbidade, no caso, é a ocorrência

de lesão ao erário, sendo irrelevante o eventual enriquecimento ilícito do agente

público ou do terceiro. Exemplo: agente público que realiza operação financeira de

grande risco, sem autorização legal, causando perda financeira aos cofres públicos.

Além da ocorrência da lesão ao erário, o ato de improbidade tipificado no art. 10 da

LIA exige a comprovação do elemento subjetivo (dolo ou culpa) do agente e o nexo

de causalidade entre sua ação/omissão e o respectivo dano ao erário (NEVES;

OLIVEIRA, 2018, p. 88).

O intuito da expressão “ e o aos cofres i o ” pode provocar a compreensão

errônea de ser sinônima de “ e o ao patrimônio i o” porém, este último por considerar-

se numa expressão mais ampla dentro do contexto geral, englobaria outros bens e recursos do

sistema de financeiros do poder da administração pública.

Em rigor técnico, erário e patrimônio público o designam objetos idênticos, sendo

este mais amplo do que aquele, abrangendo-o. Entende-se por erário o conjunto de

bens e interesses de natureza econômico-financeira pertencentes ao Poder Público

(rectius: União, Estados, Distrito Federal, Municípios, entidades da d i i t a o

indireta e demais destinatários do dinheiro público previstos no art. 1o da Lei n.

8.429/1992) (GARCIA, 2014, p. 412).

A partir disso, constrói-se a ideia de que, só incorrerá nesta hipótese efetivamente

quando a conduta ilegal do agente público gerar, comprovadamente, danos materiais aos

cofres públicos.

Além da ilegalidade, é requisito de sua configuração a ocorrência de efetivo dano

material aos cofres públicos. Nem o prejuízo presumido, nem o dano moral servem

para sua caracterização. Pelo contrário, sem a prova da perda patrimonial certa não

se verifica esse tipo de improbidade administrativa, restando ao autor da ação civil

respectiva responsabilizar o agente público, desde que comprove que sua conduta

funcional antijurídica, com a índole de má-fé, infringiu os princípios constitucionais

reguladores da Administração Pública, por violação do art. 11 da LIA

(PAZZAGLINI FILHO, 2018, p. 71).

O artigo 10 da Lei 8.429/92, com as devidas alterações propostas pela nova

regulamentação da Lei 13.019/2014, descreve os atos que causam lesão ao erário. A lei arrola

as condutas que, dentro desta modalidade, são pertinentes e essencialmente provocam danos

efetivos ao patrimônio público:

Page 66: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

66

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades

referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

I - Facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio

particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes

do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

II - Permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,

rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades

mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou

regulamentares aplicáveis à espécie;

III - Doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que

de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de

qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das

formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;

IV - Permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do

patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a

prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;

V - Permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por

preço superior ao de mercado;

VI - Realizar operação financeira sem observância das normas legais e

regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;

VII - Conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das

formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

VIII - Frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para

celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los

indevidamente; (Redação dada pela Lei n.º 13.019, de 2014) (Vigência)

IX - Ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou

regulamento;

X - Agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz

respeito à conservação do patrimônio público;

XI - Liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou

influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

XII - Permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

XIII - Permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,

equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de

qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de

servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.

XIV - Celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de

serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades

previstas na lei; (Incluído pela Lei n.º 11.107, de 2005)

XV - Celebrar contrato de rateio de consórcio público sem suficiente e prévia

dotação orçamentária, ou sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído

pela Lei n.º 11.107, de 2005)

XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incorporação, ao patrimônio

particular de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos

transferidos pela administração pública a entidades privadas mediante celebração de

parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à

espécie; (Incluído pela Lei n.º 13.019, de 2014) (Vigência)

XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,

rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela administração pública a entidade

privada mediante celebração de parcerias, sem a observância das formalidades legais

ou regulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei n.º 13.019, de 2014)

(Vigência)

XVIII - Celebrar parcerias da administração pública com entidades privadas sem a

observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

(Incluído pela Lei n.º 13.019, de 2014) (Vigência)

Page 67: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

67

XIX - Frustrar a licitude de processo seletivo para celebração de parcerias da

administração pública com entidades privadas ou dispensá-lo indevidamente;

(Incluído pela Lei n.º 13.019, de 2014) (Vigência)

XIX - Agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações de

contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas;

(Incluído pela Lei n.º 13.019, de 2014, com a redação dada pela Lei n.º 13.204, de

2015)

XX - Agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise das prestações de

contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas;

(Incluído pela Lei n.º 13.019, de 2014) (Vigência)

XX - Liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com

entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de

qualquer forma para a sua aplicação irregular; (Incluído pela Lei n.º 13.019, de

2014, com a redação dada pela Lei n.º 13.204, de 2015)

XXI - Liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com

entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de

qualquer forma para a sua aplicação irregular. (Incluído pela Lei n.º 13.019, de

2014) (Vigência)

Importante ressaltar que, dentro das modalidades de atos de improbidade previstas na

lei de improbidade administrativa, especificamente, as lesões ao erário são as únicas que

podem ocorrer de forma culposa ou dolosa, ou seja, o artigo 10 da LIA previu a situação onde

excepcionalmente o elemento subjetivo a ser caracteriza será a culpa.

Em regra, a configuração da improbidade administrativa depende do dolo do agente

público ou do terceiro, mas o art. 10 da Lei 8.429/1992, excepcionalmente,

mencionou a culpa como elemento subjetivo suficiente para configuração da

improbidade. Igualmente, o art. 5.º da Lei, ao tratar da lesão ao erário, admitiu

condutas comissivas ou omissivas, dolosas ou culposas. Parte da doutrina argumenta

que a instituição legal da modalidade culposa da improbidade administrativa seria

inconstitucional, uma vez que o art. 10, caput, da Lei de Improbidade

Administrativa, teria extrapolado os termos do art. 37, § 4.º, da CRFB, para punir

não apenas o agente desonesto, mas, também, o inábil. Nessa linha de raciocínio, a

legislação infraconstitucional não poderia “i ova ” para considerar ato de

improbidade aquele praticado de forma involuntária ou de boa-fé (NEVES;

OLIVEIRA, 2018, p. 90).

Como já mencionado, as hipóteses de modalidades de improbidade administrativa

possuem a vertente de serem configuradas na conduta dos agentes públicos pela forma dolosa,

ou seja, quando a ação acontece intencionalmente, prevendo o resultado e estando consciente

de possíveis e futuras consequências que serão observadas a respeito da infração cometida.

Para Marino Pazzaglini Filho (2018, p. 73) “i o idade lesiva ao erário dolosa

acontece quando o autor do ato ilícito catalogado como ato ímprobo está consciente da

antijuridicidade de sua ação ou omissão funcional e do resultado danoso ao erário que dela

sobrevirá”.

Excepcionalmente, quando o legislador menciona a possibilidade de tipificar a

conduta de configuração de ato de improbidade administrativa que gere de alguma forma

Page 68: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

68

prejuízo ao erário, seja de modo doloso ou culposo, naturalmente significa a ampliação das

possíveis e eventuais ilicitudes, visto que, considerar-se-á tanto a ação quanto a omissão que

será analisada na comprovação da inabilidade ou inaptidão.

Em sentido semelhante, Sérgio de Andréa Ferreira afirma que a culpa referida no art.

10 da Lei 8.429/1992 é a denominada “ u a o ie te” não sendo suficiente a

“ u a i o ie te” para configuração da improbidade administrativa. Enquanto a

culpa inconsciente é aquela que deriva da negligência, imprudência e imperícia, a

culpa consciente é aquela em que o agente prevê o resultado, mas achou que o

mesmo não iria acontecer (NEVES; OLIVEIRA, 2018, p. 92 apud FERREIRA,

2005, p. 1098).

Essas condutas, sejam omissivas ou comissivas, ensejam as penalidades reproduzidas

no artigo 12, inciso II da LIA, sendo aplicadas isolada ou cumulativamente, destarte:

Art. 12. II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou

valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda

da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento

de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o

Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de cinco anos;

Contudo, em casos específicos, as sanções de perda do cargo/ suspensão dos direitos

políticos, só irão produzir os respectivos efeitos legais após o devido processo legal e o

trânsito em julgado em face da sentença condenatória.

Descreve o artigo 18 da lei 8429/92: “ sentença que julgar procedente ação civil de

reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento

ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo

ilícito”.

Em relação, especificamente nos casos dos agentes políticos, ressalta-se a

particularidade na aplicação das devidas sanções que serão admitidas tão somente após o

trâmite legal juntamente com o período para possíveis recursos. Assim, as reparações serão

baseadas na própria determinação judicial que ao analisar proporcionalmente a lesão ao

patrimônio público, sancionará de forma mais adequada e razoável.

O sujeito ativo da improbidade administrativa poderá ser atingido em diferentes

direitos: o de propriedade, pela perda dos bens ou valores ilicitamente acrescidos ao

seu patrimônio e pela obrigação de reparar os prejuízos causados; o de exercer os

direitos políticos, que de certa forma engloba o de exercer função pública, já que não

se pode conceber que uma pessoa privada dos direitos políticos, ainda que

transitoriamente, possa continuar a exercer mandato ou ocupar cargo, emprego ou

Page 69: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

69

função dentro da Administração Pública. Na realidade, a principal penalidade é a

suspensão dos direitos políticos; as demais praticamente constituem efeitos civis e

administrativos da penalidade maior; isso para não falar na sanção penal, se for o

caso, e que independe da aplicação das demais, conforme está expresso no artigo 37,

§ 4o, da Constituição (DI PIETRO, 2017, p. 1026).

No processamento e julgamento destas autoridades, o juiz ou autoridade competente

da causa irá avaliar a extensão do dano ao erário, podendo, no entanto, a partir dos princípios

da proporcionalidade e razoabilidade, aplicar as sanções na fase investigatória. Desta forma,

dispõe o artigo 20º da LIA:

Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se

efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá

determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou

função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à

instrução processual.

Por fim, as circunstâncias presentes neste rol de penalidades aplicáveis, demonstra a

intenção do legislador em dissipar o exercício ilegal por parte dos agentes políticos que

contribuem com os prejuízos causados ao Estado, seja de maneira direta ou indiretamente.

3.5.3 Dos atos de improbidade administrativa decorrentes de concessão ou aplicação

indevida de benefício financeiro ou tributário

Com a alteração pela Lei Complementar n.º 157/16, foi inserido no repertório de

modalidades de atos de improbidade administrativa o artigo 10-A, que deste modo determina:

Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão

para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que

dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar n.º 116, de 31 de julho

de 2003. (Incluído pela Lei Complementar n.º 157, de 2016)

Tal lei referida no artigo mencionado acima refere-se a questão do Imposto sobre

Serviços de Qualquer Natureza, sendo este o objeto a ser tratado nos casos de improbidade

administrativa, nos limites que traz a lei complementar.

Veja-se que não é a concessão ou aplicação indevida de qualquer benefício tributário

que é tratada como ato de improbidade administrativa, mas apenas aquele que diz

Page 70: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

70

respeito ao imposto de que trata a Lei Complementar n.º 116/03. No entanto, pode

ocorrer que a concessão ou aplicação de benefício tributário, pertinente a outros

impostos, cause dano ao erário ou desrespeite os princípios da Administração

Pública, hipóteses em que a outorga poderá enquadrar-se nos artigos 10 ou 11 da Lei

n.º 8.429/92 (DI PIETRO, 2017, p. 1020).

Para a tipificação do elegido no artigo, a conduta deverá atentar com o disposto ao

caput do artigo 10-A da Lei 8429/92 e § 1.º do art. 8.º-A da Lei Complementar 116/03,

juntamente com a Lei Complementar 157/16, que diz:

Art. 8.º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza é de

2% (dois por cento).

§ 1.º O imposto não será objeto de concessão de isenções, incentivos ou benefícios

tributários ou financeiros, inclusive de redução de base de cálculo ou de crédito

presumido ou outorgado, ou sob qualquer outra forma que resulte, direta ou

indiretamente, em carga tributária menor que a decorrente da aplicação da alíquota

mínima estabelecida no caput, exceto para os serviços a que se referem os subitens

7.02, 7.05 e 16.01 da lista anexa a esta Lei Complementar.

As sanções estão no artigo 12, inciso IV da Lei 8429/92 que diz: Na hipótese prevista

no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito)

anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício financeiro ou tributário concedido.

3.7.3 Dos atos de improbidade administrativa que ferem os princípios da administração

Os atos de improbidade que ferem os princípios da administração pública estão

enumerados no artigo 11 da LIA, quais sejam:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios

da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - Praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele

previsto, na regra de competência;

II - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que

deva permanecer em segredo;

IV - Negar publicidade aos atos oficiais;

V - Frustrar a licitude de concurso público;

VI - Deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da

respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o

preço de mercadoria, bem ou serviço.

Page 71: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

71

VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação de

contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas.

(Redação dada pela Lei n.º 13.019, de 2014) (Vigência)

IX - Deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidade previstos na

legislação; (Incluído pela Lei n.º 13.146, de 2015) (Vigência)

X - Transferir recurso a entidade privada, em razão da prestação de serviços na área

de saúde sem a prévia celebração de contrato, convênio ou instrumento congênere,

nos termos do parágrafo único do art. 24 da Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de

1990. (Incluído pela Lei n.º 13.650, de 2018)

Embora exista previsão quanto as penalidades em face do artigo 11 da LIA, as

hipóteses já mencionadas nos artigos anteriormente, sempre irão, direta ou indiretamente,

atentarem contra os princípios, implícitos ou explícitos, da administração pública.

Logo, a figura da improbidade administrativa por transgressão a princípio

constitucional que rege a Administração Pública está contida nas normas principais

que definem tipos mais graves de improbidade (arts. 9º e 10). E, por isso, sua

aplicação subordina-se à não aplicação daquelas. Em síntese, pode dizer-se que a

norma do art. 11 constitui soldado de reserva (expressão do saudoso jurista Nelson

Hungria), configurando-se pelo resíduo na hipótese da conduta ilegal do agente

público não se enquadrar nas duas outras categorias de improbidade (PAZZAGLINI

FILHO, 2018, p. 120).

Há um entendimento por parte do Superior Tribunal de Justiça acerca da propositura

de ação contra mera irregularidade ou descumprimento do dever legal.

Esse posicionamento sustenta que para configuração do ato de improbidade

administrativa seria necessário um elemento baseado na conduta ardilosa, ou seja, a própria

má-fé do agente que resultasse em inequívoca gravidade. Vejamos:

No caso específico do art. 11 (improbidade por violação de i io ) necessária

cautela na exegese das regras nele insertas, porquanto sua amplitude constitui risco

para o intérprete induzindo-o a acoimar de ímprobas condutas meramente

irregulares, suscetíveis de correção administrativa, posto ausente a má-fé do

administrador público e preservada a moralidade administrativa. In casu, evidencia-

se que os atos praticados pelos agentes públicos, consubstanciados na alienação de

remédios ao Município vizinho em estado de calamidade, sem prévia autorização

legal, descaracterizam a improbidade stricto sensu, uma vez que ausentes o

enriquecimento ilícito dos agentes municipais e a lesividade ao erário. A conduta

fática o configura a improbidade. que se comprovou nos autos que os

recorrentes, agentes o ti o da Prefeitura de Diadema, agiram de boa-fé na

tentativa de ajudar o município vizinho (...). cediço que a má-fé premissa do ato

ilegal e ímprobo. Consectariamente, a ilegalidade só adquire o status de improbidade

quando a conduta antijurídica fere os i io constitucionais da d i i t a o

i a coadjuvados pela má-fé do administrador. A improbidade administrativa,

mais que um ato ilegal, deve traduzir, necessariamente, a falta de boa-fé, a

desonestidade (ARAGÃO, 2013, p. 646).

Page 72: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

72

As penalidades, dentro desta modalidade de ato de improbidade administrativa têm

previsão legal no artigo 12, inciso III da LIA, podendo ser cumuladas, assim descritas:

Art. 12. III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda

da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento

de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e

proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

Nas palavras de José dos Santos Carvalho Filho (2003, p. 1154) “será inevitável o

recurso aos princípios da razoabilidade, para aferir-se a real gravidade do comportamento, e

da proporcionalidade, a fim de proceder-se à dosimetria punitiva”. Esta explicação quanto a

conduta da aplicação da lei, justifica, essencialmente, a observância em face dos princípios

constitucionais, para que não exista abuso de poder.

A previsão que traz a lei maior, considera-se uma forma de garantir a tutela da ordem

pública, objetivando através desses aspectos subjetivos, nortear o funcionalismo e seu

desenvolvimento.

Page 73: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

73

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma vez que se apresenta uma problemática dentro de qualquer contexto, para que se

busque uma solução, deve atentar-se primordialmente, a raiz inicial de sua origem, e

consequentemente, chegar ao menos perto de alternativas que possam ser cabíveis dentro

desta situação. A problemática do presente estudo encontra-se dentro dos atos de improbidade

administrativa dos agentes públicos, especificamente dos agentes políticos em face da

corrupção, que atualmente representa um dos maiores males da sociedade moderna.

Para compreender esse obstáculo no desenvolvimento da administração e também da

própria coletividade, que infelizmente decorre por gerações, é preciso entender o sistema atual

e sua hierarquização, quais as normas aplicáveis e as lacunas dentro do que foi pautado sobre

a punibilidade.

Inicialmente dentro da estrutura organizacional da administração, e a justificativa de

assim existir, conceitualmente é fundamentada sob a exegese do direito positivo, em atribuir

ao Estado poderes em executar, legislar e judicializar as relações jurídicas com base nos

princípios, estes atualmente garantidos constitucionalmente.

Assim, é fundamental entender o significado das premissas jurídicas para que se possa

relacionar com a evolução dogmática. Desta forma, à luz dos princípios constitucionais,

direcionou-se as legislações no âmbito administrativo. No entanto, a globalização e suas

consequências dentro do direito positivado evidenciaram a necessidade de normas que fossem

mais específicas do que as existentes, que objetivassem o dever ser, regulamentando com

caráter preventivo e punitivo.

A lei n.º 8429/92, conhecida como a lei da improbidade administrativa, retratou essa

necessidade pretérita e atual, na esfera administrativa, de regulamentar as relações que

versassem sobre a sistemática do funcionalismo público. Essa normatização trouxe amparo

para coibir principalmente atos atentatórios ao patrimônio púbico, que concretizam a

corrupção por meio de comportamentos que dão mais descréditos a respeitabilidade no

funcionalismo estatal, acreditando num entendimento popular de tolerância a impunibilidade

de autoridades do Estado.

Essa nova diretriz jurídica tipificou as sanções para aqueles que de fato tiverem

condutas em desconformidade com a lei, descrevendo em seus capítulos legais a respeito do

procedimento e processamento.

Page 74: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

74

No entanto, esta norma jurídica, prevê situações especiais, onde sua aplicabilidade,

especialmente em face dos agentes políticos, possui tratamento excepcional, garante-se

naturalmente prerrogativas que servem de suporte para acobertamento de malfeitores.

Em meio ao cenário atual e o desenvolvimento social e jurídico, a preocupação com

tratamentos de caráter punitivo deve ser primordial, visto que, embora tais autoridades

possuam grandes direitos em razão de suas funções, devem estas, na mesma forma

responderem e arcarem com suas responsabilidades sem disparidade dos demais agentes, de

forma igualitária.

Ressalta-se também que, a efetividade e celeridade dentro dos casos já existentes de

atos de improbidade administrativa sirva de exemplos para as gerações futuras. Embora seja

um trabalho árduo, há a necessidade de uma nova proposta para promover penalidades mais

gravosas e mais severas, uma temática que deve ser colocada em pauta, onde a razão atual

assegure a não disseminação da ideia de imunização legislativa.

Essencialmente, a erradicação da venalidade no ambiente corporativo e seus

malefícios traduz numa utopia governamental, porém, o pragmatismo deve conter alternativas

de progresso social, para que ao longo do tempo obtenha-se respaldo jurídico, garantindo a

sociedade esperança para o futuro da nação que deve estar em segurança.

Page 75: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

75

REFERÊNCIAS

ALEXANDRINO, Marcelo; VICENTE, Paulo. Direito Administrativo Descomplicado. 17ª

ed. São Paulo. Método, 2009.

ALEXY, Robert. Os direitos fundamentais e a democracia no paradigma procedimental

do direito de Jurgen Habermas. Tradução de Geraldo de Carvalho e Revisão de Amadeu

Moreira Fontenele Neto. In. Jurgen Habermas, 80 anos (Organização de Gunter Frankerberg e

Luiz Moreira). Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009.

ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de direito administrativo. – 2.ed. rev., atual. e

ampl. Rio de Janeiro. Forense, 2013.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 5

de outubro de 1988. Disponível em: https://bit.ly/1bIJ9XW. Acesso em fevereiro de 2019.

BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional n.º 19, de 04 de junho de 1998. In:

Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988.

BRASIL. DECRETO-LEI N.º 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942. Lei de Introdução

às normas do Direito Brasileiro. Rio de Janeiro, 4 de setembro de 1942, 121o da

Independência e 54o da República. Disponível em: https://bit.ly/2JN4Ss2. Acesso em

fevereiro de 2019.

BRASIL. LEI N.º 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992. Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992;

171° da Independência e 104° da República. Disponível em: https://bit.ly/2CfB1U9. Acesso

em fevereiro de 2019.

BRASIL. Senado Federal, RJ. Obras completas de Rui Barbosa. V. 41, t. 3, 1914.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro,

Lumens Juris, 10ª Edição, 2003.

Page 76: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

76

COSTA, Adriano Soares da. Teoria da inelegibilidade e o direito processual eleitoral. Belo

Horizonte: Del Rey, 1998.

COUTINHO, Alessandro Dantas; RODOR, Ronald Kruger. Manual de Direito

Administrativo. Volume Único. São Paulo, Editora Método, 2015.

CRETELLA JÚNIOR, José. Os cânones do direito administrativo. Revista de Informação

Legislativa. Brasília, ano 25, n.º 97/5.

DENHARDT, Robert B.; CATLAW, Thomas J. Teorias da Administração Pública.

Tradução da 7º Edição norte-americana. Cengage Learning, 2017.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 31. ed. rev. atual e ampl. – Rio de

Janeiro: Forense, 2018.

FAZZIO Jr., Waldo. Improbidade Administrativa Doutrina, Legislação e Jurisprudência.

4º Edição, revista, atualizada e ampliada. Editora Atlas LTDA, 2016.

FIGUEIREDO, Marcelo. O controle da moralidade na Constituição. São Paulo: Malheiros,

1999.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da

língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FRANÇA, Phillip Gil. Controle da Administração Pública. Combate à Corrupção,

discricionariedade administrativa e regulação econômica. Antropologia social em sua

plenitude. 4º Edição. Editora Saraiva, 2016.

GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 8ª. ed. São

Paulo. Editora Saraiva, 2014.

GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. 3ª ed. Rio de

Janeiro: Lumen Juris, 2006.

GRECO FILHO, Vicente; RASSI, João Daniel. O combate corrupção e comentários

Lei de Responsabilidade de Pessoas Jurídicas (Lei n. 12.846, de 1o de agosto de 2013).

São 12Paulo: Saraiva, 2015.

Page 77: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

77

HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de Um Estado Eclesiástico e

Civil. Tradução por Rosina (Português). 1ª Edição. São Paulo: Editora: Martin Claret, 2014.

JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005; 9. ed.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 8.

ed. São Paulo: Dialética, 2001; 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

LIMA, Ruy Cirne. Princípios de direito administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1982.

MARQUES NETO, Floriano de Azevedo et al. Direito e Administração Pública. Estudos

em homenagem a Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Editora Atlas, 2013.

MARQUES, Mauro Campbell, et al. Improbidade administrativa: temas atuais e

controvertidos. Rio de Janeiro. Editora Forense, 2016

MARTINS, Rui Cunha. A hora dos cadáveres adiados: corrupção, expectativa e processo

penal. São Paulo: Atlas, 2013.

MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 7. ed. São Paulo. Saraiva, 2017.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2003.

MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 30. Ed. São Paulo:

Malheiros, 2013.

MELLO NETO, José Baptista de. O Tribunal de Contas no Exercício do Controle dos

Atos de Admissão de Pessoal: um instrumento de garantia dos direitos do cidadão.

Dissertação não publicada: UFPE/CCJ/FD, 2003.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 31. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33. ed. rev. e atual. até a EC n.º 95, de 15

de dezembro de 2016 – São Paulo: Atlas, 2017.

Page 78: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

78

MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 15. ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2009.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção; OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Manual de

improbidade administrativa: direito material e processual. 6.ª ed. rev., atual. e ampl. –

Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

NOHARA, Irene Patrícia. Direito administrativo. 7. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas,

2017.

OSÓRIO, Fabio Medina. Teoria da Improbidade Administrativa: má gestão: corrupção:

ineficiência. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

PALUDO, Augustinho Vicente. Administração pública. 6. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro:

Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa Comentada.

Aspectos constitucionais, administrativos, civis, criminais, processuais e de

responsabilidade fiscal. 7ª Edição, Revista e Atualizada. São Paulo: Editora Atlas, 2018.

PESTANA, Marcio. Direito administrativo brasileiro. 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2014.

PESTANA, Marcio. Lei anticorrupção: exame sistematizado da Lei n. 12.846/2013.

Barueri, SP: Manole, 2016.

PIRES, Antonio Cecílio Moreira. Direito administrativo. 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2013.

PROCOPIUCK, Mario. Políticas Públicas e Fundamentos da Administração Pública.

Análise e avaliação, governança e redes de políticas, administração judiciária. Editora

Atlas, 2013.

RIZZARDO, Arnaldo. Ação civil pública e ação de improbidade administrativa. 3. ed.

rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Improbidade administrativa e finanças públicas.

Boletim de Direito Administrativo. Dezembro de 2000.

Page 79: IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS AGENTES POLÍTICOS …

79

SÃO PAULO. Constituição (1989). Constituição do Estado de São Paulo. Diário Oficial do

estado de São Paulo, São Paulo, 6 out. 1989.

SILVA, Aline Cunha da. O crime de lavagem de dinheiro: uma introdução. In: Âmbito

Jurídico, Rio Grande, XX, n. 163, agosto 2017. Disponível em: https://bit.ly/1rVBNrR.

Acesso em fevereiro de 2019.

VERÍSSIMO, Carla. Compliance: Incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São

Paulo: Editora Saraiva, 2017.