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IMPLICAÇÕES DA URBANIZAÇÃO EM FEIRA DE SANTANA: O ATUAL DESENHO DA RUA BARÃO DO RIO BRANCO A PARTIR DE UMA ANÁLISE SOCIAL, ECONÔMICA E TERRITORIAL. Eduardo Oliveira Miranda Geógrafo, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – PPGDCI/UEFS. [email protected] Hellen Mabel S. Silva Geógrafa, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – PPGDCI/UEFS. [email protected] Luciel Passos de Oliveira Licenciado em Geografia e graduando em Bacharelado em Geografia/UEFS. [email protected] RESUMO Na década de 1970, foi implantado no município de Feira de Santana o Centro Industrial do Subaé. Antes desse período, a cidade já passava pelo processo de modernização imposto pela aristocracia, a qual optou pela desvalorização da cultura local – a cultura sertaneja – tida como ultrapassada. O processo de urbanização foi acentuado com a destruição de antigas rugosidades, construção de avenidas e a (re)configuração do espaço urbano. Para entender a terminologia “urbanização” nos apropriamos dos estudos de Costa (1985) e Paviani (1992). Chegamos à conclusão de que a urbanização não deve ser encarada apenas pelo crescimento demográfico, associam-se a esse critério as questões históricas e geográficas de cada localidade. Nesta direção, o artigo analisa as transformações urbanas produzidas em Feira de Santana, com foco na Rua Barão do Rio Branco, centro urbano, levando em consideração os projetos modernizantes. O objetivo central é discutir os fatores que levam a perda da identidade histórica e cultural do logradouro escolhido. Dividimos o artigo em duas partes, que se complementam ao final: a primeira intenta compreender como o processo de urbanização influencia na modificação da paisagem e a segunda identifica e mapeia as antigas rugosidades que tiveram as suas funções modificadas. PALAVRAS-CHAVE: Urbanização, Rua, Identidade Cultural.

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IMPLICAÇÕES DA URBANIZAÇÃO EM FEIRA DE SANTANA: O ATUAL DESENHO DA RUA BARÃO DO RIO BRANCO A PARTIR DE UMA ANÁLISE SOCIAL,

ECONÔMICA E TERRITORIAL.

Eduardo Oliveira MirandaGeógrafo, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – PPGDCI/UEFS. [email protected] Hellen Mabel S. SilvaGeógrafa, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – PPGDCI/UEFS. [email protected] Luciel Passos de OliveiraLicenciado em Geografia e graduando em Bacharelado em Geografia/UEFS. [email protected]

RESUMO

Na década de 1970, foi implantado no município de Feira de Santana o Centro Industrial do Subaé. Antes desse período, a cidade já passava pelo processo de modernização imposto pela aristocracia, a qual optou pela desvalorização da cultura local – a cultura sertaneja – tida como ultrapassada. O processo de urbanização foi acentuado com a destruição de antigas rugosidades, construção de avenidas e a (re)configuração do espaço urbano. Para entender a terminologia “urbanização” nos apropriamos dos estudos de Costa (1985) e Paviani (1992). Chegamos à conclusão de que a urbanização não deve ser encarada apenas pelo crescimento demográfico, associam-se a esse critério as questões históricas e geográficas de cada localidade. Nesta direção, o artigo analisa as transformações urbanas produzidas em Feira de Santana, com foco na Rua Barão do Rio Branco, centro urbano, levando em consideração os projetos modernizantes. O objetivo central é discutir os fatores que levam a perda da identidade histórica e cultural do logradouro escolhido. Dividimos o artigo em duas partes, que se complementam ao final: a primeira intenta compreender como o processo de urbanização influencia na modificação da paisagem e a segunda identifica e mapeia as antigas rugosidades que tiveram as suas funções modificadas.

PALAVRAS-CHAVE: Urbanização, Rua, Identidade Cultural.

1. INTRODUÇÃO

A urbanização é um tema que desperta interesse em diversas áreas do conhecimento científico, recebendo contribuições de sociólogos, antropólogos, urbanistas, economistas e geógrafos. Sendo esse um dos fatores que dificulta uma conceituação universal para o termo.

Decidimos abordar a urbanização ancorada nos estudo de Costa (1985), que entende esse processo desencadeado com as transformações no espaço e na sociedade. Essa perspectiva, no nível histórico, necessita de um estudo da divisão social do trabalho, no momento em que a população que habitava o meio rural visualiza na cidade um novo paradigma social e decide deixar o campo. Associado a essa constatação, apresentamos a concepção de Paviani (1992), a qual compreende que a urbanização não deve ser interpretada apenas com o segmento populacional, mas em consonância com o “contexto geográfico e das formas que assume o próprio processo de produção e consumo”. (p. 279)

As discussões sobre o processo de urbanização envolvem diversos autores, com variações teórico-conceituais. Alguns defendem que a urbanização está atrelada a industrialização, outros afirmam que se deve ao fator demográfico. No momento, não temos a intenção de discutir essa problemática.

Vamos nos ater em entender como as transações econômicas têm provocado, há algumas décadas, modificações no espaço urbano em várias partes do globo. Em Feira de Santana (Figura 1) a situação é semelhante, com os impactos visíveis na paisagem urbana, sobretudo, no centro urbano e comercial, área que apresenta algumas rugosidades1 referentes ao desenvolvimento histórico do município.

Figura 1: Município de Feira de Santana – BA.

Fonte: OLIVEIRA, Luciel Passos.

1 Terminologia aplicada por Milton Santos (1980, p. 138) para apresentar de que forma as construções humanas servem como herança espacial: “ “as rugosidades nos oferecem, mesmo sem tradução imediata, restos de uma divisão de trabalho internacional, manifestada localmente por combinações particulares do capital, das técnicas e do trabalho utilizados (...) O espaço, portanto, é um testemunho; ele testemunha um momento de um modo de produção pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na paisagem criada”.

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A influência da economia na configuração espacial se acentuou a partir da década de 1970, período em que foi instalado o Centro Industrial do Subaé (CIS). Nessa década o município apresentava 190.076 habitantes, após 42 anos a população conta com 542.476 habitantes2. Isso significa que em apena 40 anos triplicou o contingente de moradores devido aos projetos de modernização implantados, provocando grandes mudanças econômicas, políticas e sociais:

O Centro Industrial do Subaé, implantado em 1970, impõe uma nova realidade, pois mesmo havendo anteriormente já em funcionamento, este localiza-se mais concentrado e com unidades fabris de maior porte, necessitando-se por parte do espaço urbano a assimilação da nova realidade, que propõe transformações à cidade. (FREITAS, 1998, p. 17)

Nesta direção, o artigo analisa as transformações urbanas produzidas em Feira de Santana, com foco na Rua Barão do Rio Branco, centro urbano, levando em consideração os projetos modernizantes. O objetivo central é discutir os fatores que levam a perda da identidade histórica e cultural do logradouro escolhido. Dividimos o artigo em duas partes, que se complementam ao final: a primeira intenta compreender como o processo de urbanização influencia na modificação da paisagem, e a segunda identifica e mapeia as antigas rugosidades que tiveram as suas funções modificadas.

A escolha dessa rua se deve ao fato de residirmos na mesma e desde a infância acompanhar a (re)organização desse espaço. Além disso, essa via representa um dos mais importantes pontos nodais3, que viabiliza o deslocamento de veículos, pessoas e mercadorias. Outro ponto que justifica o nosso interesse por essa via está atrelado a sua relevância histórica, a qual faz referências ao antigo e ao mesmo tempo o atual.

Para alcançar os objetivos desse trabalho, utilizamos alguns processos metodológicos. Inicialmente, realizamos um levantamento bibliográfico com a finalidade de encontrar um número significativo de produção textual científica sobre o tema. Em outro momento realizamos uma caminhada pela via estudada e fotografamos a paisagem, principalmente, as rugosidades que foram demolidas para construção de estacionamentos e edifícios. Em seguida, produzimos as figuras com o auxílio do registro fotográfico. Posteriormente, relacionamos todo o material encontrado, o qual fundamentou a elaboração desse artigo.

2. ASSIM SE INICIOU FEIRA DE SANATAN: BREVE RELATO HISTÓRICO E CONTEMPORÂNEO

O município de Feira de Santana localiza-se a leste do estado da Bahia, numa área denominada de agreste baiano. Tem a sua origem com a construção de duas capelas nas terras da fazenda Sant’Ana dos Olhos d’Água, de propriedade do casal Domingos Barbosa Brandão e Ana Brandão, fazenda localizada na “estrada das Boiadas, três léguas ao sul do arraial de São José das Itapororocas” (POPPINO, 1968, p.19). Essa localidade servia de ponto de encontro entre os viajantes que se deslocavam pelo interior do nordeste brasileiro, sobretudo, por tropeiros que comercializavam produtos oriundos do alto sertão baiano.

2 Dados disponíveis no site do IBGE: < http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=29 >3 Para Lynch (1997, p. 52-53), os pontos nodais: “são pontos, lugares estratégicos de uma cidade através das quais o observador pode entrar, são focos intensivos para os quais ou a partir dos quais ele se locomove. Podem ser basicamente junções. Locais de interrupção do transporte, um cruzamento ou uma convergência de vias, momentos de passagem de uma estrutura a outra”.

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Ao entorno das capelas de Santa Ana e de São Domingos ocorria toda segunda-feira a comercialização entre os viajantes e os moradores das fazendas vizinhas. A atividade comercial logo despontou o que favoreceu a ampliação territorial e o povoamento das terras da fazenda, principalmente, com a construção de casas de pedras. Com a expansão comercial e populacional, a pequena cidade recebeu investimentos com a construção de estradas para o transporte de animais, produtos agrícolas, transporte populacional e acesso a outras regiões do país4.

É inquestionável que Feira de Santana, desde o seu início, possui vocação comercial. Esse foi o fator decisivo no seu desenvolvimento, já que a aristocracia do gado5 feirense ao perceber a ascensão comercial resolveu povoar aquelas terras com investimento político em obras de adequação urbana. Decisões estabelecidas nos século XIX e XX podem ser constatadas atualmente, como afirmam Azevedo e Oliveira (2011, p.1832):

Feira de Santana é considerada a maior cidade do interior do estado da Bahia. E, por conta do número da sua população, (...) e da variedade de bens e serviços oferecidos na sua micro e mesorregião, se estabelece como importante cidade de médio porte baiana. Está localizada entre dois importantes domínios morfoclimáticos, a caatinga e os mares de morros que abrange o litoral baiano.

Com a implantação do Centro Industrial do Subaé - CIS, a cidade ganha novos ares e os aspectos identitários passam a ser encarados como ultrapassados. As reformas urbanas atendiam à concepção que a elite feirense entendia e visualizava de cidade moderna. A ordem da classe dominante era a de destruir e (re)construir edifícios, abrir avenidas e implementar novos símbolos de modernidade no desenho urbano. Freitas (1998) constata que o CIS, apesar de contar com equipamentos modernos, não se configura como o principal setor da economia local:

Não se pode negar a importância do CIS para o processo de industrialização da cidade e a capacidade que este dispõe de exercer atração populacional, mesmo não sendo o setor mais significativo da economia feirense. O aparecimento de novos bairros, a partir da sua implantação em 1970 é um dos mais fortes indicadores do seu poder de atração, apesar de não possuir condições de absorver grande parte da mão-de-obra local ou migrante, pois é a partir desta década que se forma uma periferia urbana crescente em Feira de Santana, explicando que a cidade está propensa ao crescimento populacional. (p.34)

Atualmente, Feira de Santana encontra-se com a população superior aos 500 mil habitantes e foi enquadrada em 2011 como uma Região Metropolitana (Figura 2), a partir do decreto aprovado pela Assembléia Legislativa no dia 16 de junho, na forma da Lei Complementar n° 35, sancionada pelo governador Jaques Wagner. Dessa forma, o processo de modernização se intensificou, tendo em vista as transformações na paisagem urbana. O desenho da cidade não para de ser remodelado, sobretudo, com a forma de distribuição residencial determinada pelos agentes privado e público, ou seja, os condomínios residenciais são os responsáveis pela criação de novos bairros, o que acarreta uma série de transtornos. O município não dispõe um Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal com a participação popular, com isso,

4 Análise desenvolvida por Ppoppino (1968).5 O termo aristocrata do gado foi utilizado originalmente por Sidney Oliveira (2011) em seu texto “A vertigem do tempo nas memórias fotográficas da Avenida Senhor dos Passos”. Material presente nos anais do III Encontro Nacional de Estudos da Imagem.

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o ordenamento territorial está sujeito as determinações dos grupos hegemônicos, os quais decidem de que forma devem projetar o uso e ocupação do solo.

Figura 2: Mapa da Região Metropolitana de Feira de Santana – BA.

Fonte: OLIVEIRA, Luciel Passos.

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3. A RUA: VARIAÇÕES COTIDIANAS

O nosso estudo abarca uma via que apresenta dinâmica complexa e diversificada. Destarte, identificamos alguns estudiosos que realizaram produções sobre o termo “rua”. Em seu texto, Ueda (2006), aponta que Lefebvre (1971) entende a rua como uma estrutura que se repete e muda cotidianamente. “Ela [a rua] representa, na nossa sociedade, a vida cotidiana- os lugares de trabalho, de residência, os lugares de distração. Ela é mais que um lugar de passo, de interferências, de circulação e de comunicação”. (UEDA, 2006, p.143)

No mesmo texto, Ueda apresenta três pontos de vista que auxiliam a compreender a rua: social, econômico e territorial. Do ponto de vista social, a rua abarca a diversidade de classes e extratos sociais. Em relação ao ponto de vista econômico, encontra-se o diferenciador, visto que nem todos podem consumir os serviços e produtos oferecidos. Já o ponto de vista territorial e de territorialidade, “a rua oferece inúmeros diferenciais e podemos encontrar diferentes grupos étnicos, com diferentes culturas que se reúnem para falar de seu povoado, recordar seu passado, etc”. (ibidem, p. 144)

Outra definição que se encaixa com o nosso objeto de estudo está presente na abordagem proposta por Gourdon (1999)6 que analisa a rua como um espaço que exprime a articulação entre os agentes sociais privado e público. O autor, ainda assinala que a rua pode mudar de função, deixando de ser residencial para comercial.

As contribuições desses autores ampliaram a nossa visão acerca da relevância de uma rua na dinâmica sócio-espacial de uma cidade. Assim como Ueda percebemos que a Rua Barão do Rio Branco pode ser analisada por três pontos de vista interdependentes.

4. ESTUDO DE CASO: A RUA BARÃO DO RIO BRANCO NO CENTRO DE FEIRA DE SANTANA – BA.

A Rua Barão do Rio Branco localizada na região central da cidade é testemunha das mudanças ocorridas em Feira de Santana. Esta via inicialmente reproduzia a função residencial, porém com o crescimento econômico, assim como o crescimento populacional, foram fatores que contribuíram para a perda da sua função (SOUZA, 1996).

Atualmente, a função comercial é predominante, por conta do grande número de lojas, consultórios, clínicas e escritórios. Novas construções estão surgindo, tendo como conseqüência a demolição de antigos casarões datados do início do século XX, testemunhas do processo de modernização imposto pela elite local.

Na pesquisa de campo nos surpreendemos com a real situação dos prédios, sendo que boa parte já foi demolido para a construção de estacionamentos (Figura 4). Contabilizamos ao todo seis estacionamentos rotativos que cobram em média 3,00 reais por hora. Conversamos com alguns empresários, os quais relataram que a demolição era necessária para criar vagas de estacionamento e garantir ao cliente segurança, já que na rua o carro pode ser roubado, furtado ou sofrer algum tipo de vandalismo.

6 Interpretação retirada do texto de Ueda (2006) “A construção, a destruição e a reconstrução do espaço urbano na cidade de Porto Alegre do início do século XX”.

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Desde 1950 que essa rua vem passando por transformações na sua paisagem o que reflete, também, na identidade cultural, já que a cultura sertaneja, responsável por fundar o vilarejo que se transformou na atual cidade, sofre com o descaso e desvalorização dos seus elementos. A destruição das antigas rugosidades provoca um desconforto nos autores desse texto. Os três são professores de Geografia e percebem que a história material da cidade deve ser preservada para que as próximas gerações entendam, visualmente, como se originou a sua localidade. Para Oliveira (2011, p. 2641):

A destruição ou substituição de referenciais visuais do passado existente no espaço urbano por novas construções causou uma espécie de vertigem, onde mesmo a promessa técnica como garantia de futuro promissor desgastou-se pela destruição dos elementos que representariam os elos entre o presente e as temporalidades já passadas. Restou à memória de Feira de Santana valer-se das fotografias antigas para restaurar fragmentos de sua história pujante que se transformou à medida que a urbe se projetava para o futuro.

Figura 4: Demolição de antigas rugosidades.

Fonte: OLIVEIRA, Luciel Passos.

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Outra característica encontrada na via estudada é a verticalização (Figura 5) com a construção de prédios comerciais, que demonstra segundo Souto (2003), que a circulação de capital está se intensificando.

Figura 5: Verticalização na Rua Barão do Rio Branco.

Fonte: OLIVEIRA, Luciel Passos.

Os pontos de vista expostos por Ueda (2006) foram empregados na observação das dinâmicas sócio-espaciais desencadeadas. O ponto de vista social, aplicado na Rua Barão do Rio Branco verificou que nessa via circula todos os tipos de pessoas das mais variadas classes e gêneros. Isso se deve ao fato de representar um dos pontos nodais mais relevantes do centro urbano.

Do ponto de vista econômico, os bens e serviços oferecidos variam desde a classe C a A, por exemplo, existem consultórios médicos com preços populares, em contrapartida, encontram-

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se outras clínicas em que uma única consulta ultrapassa o valor de um salário mínimo. Outro exemplo são as lojas de roupas, em algumas para ter acesso é necessário marcar horário, enquanto em outras os preços são acessíveis a classe C e B.

A análise final está no ponto de vista territorial, onde o valor sentimental é atribuído a localidade. Os moradores mais antigos se reúnem ocasionalmente para rememorar as lembranças, as quais remetem ao passado da rua calma e segura.

Portanto, a Rua Barão do Rio Branco é uma via que faz parte da história de Feira de Santana e que teve a sua função, apenas residencial, modificada para comercial com resquícios de moradias. A cultura materializada com o tempo vem sendo substituída por novas arquiteturas, caracterizando uma nova imagem, com desenhos que negam a sua origem.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade é um espaço que abarca a cultura e história da sua população, principalmente a materialização da cultura, que de fato é a mais fácil de ser observada. No entanto, as modificações provocadas no espaço geográfico são mais intensas do que na cultura imaterial de um povo, já que a todo o momento a paisagem é modifica e recebe uma nova configuração.

O espaço urbano de Feira de Santana, principalmente a rua analisada nesse material, tiveram a sua funcionalidade drasticamente invertidas, sobretudo, com a ascensão do comércio, um dos pontos fortes da economia desde o surgimento do município.

A coleta dos dados em campo demonstrou que algumas rugosidades da Rua Barão do Rio Branco foram demolidas para atender aos interesses de grupos capitalistas, e que os seus objetivos fogem da valorização da identidade local. As novas rugosidades são inspiradas em modelos que nada remetem ao passado e muito menos a cultura local.

Referências

AZEVEDO, Livia Dias. OLIVEIRA, Lysie dos Reis. Recortes de imagens urbanas da cidade de Feira de Santana, Bahia, Brasil. In: Anais do III Encontro Nacional de Estudos da Imagem. Londrina – PR, 03 a 06 de maio de 2011.

COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia a Republica : momentos decisivos. 3. ed São Paulo: Brasiliense, 1985

FREITAS, Nacelice Barbosa. Urbanização em Feira de Santana: influencia da industrialização 1970 - 1996. 1998. 189 p Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia.

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GOURDON, J-L. Rue/voie spécialisée: formas urbaines en opposition. Espaces et Sociétés. Paris: L‘Harmattan, no. 96,1999, pp. 51-66.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

OLIVEIRA, Sidney de Araújo. A vertigem do tempo nas memórias fotográficas da Avenida Senhor dos Passos. In: Anais do III Encontro Nacional de Estudos da Imagem. Londrina – PR, 03 a 06 de maio de 2011.

PAVIANI, Aldo. Urbanização: Impactos ambientais da população. Humanidades, Brasília, v. 9, n 3, p. 278-283, 1992.

POPPINO, Rollie E. Feira de Santana. Salvador, Ba: Ed. Itapuã, 1968.

SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da critica da geografia a uma geografia critica. 1. ed São Paulo: HUCITEC, 1978.

SOUTO, Alberto Soares. O crescimento urbano moderno. Rio de Janeiro: UFRJ. 2003.

SOUZA, Marcelo Jose Lopes de. Urbanização e desenvolvimento no Brasil atual. São Paulo: Ática, 1996.

UEDA, Vanda. A construção, a destruição e a reconstrução do espaço urbano na cidade de Porto Alegre do início do século XX. pp. 141 – 150. GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 19, p.141 - 150, 2006.

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