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RELATÓRIO DE PESQUISA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Outubro de 2010

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RELATÓRIO DE PESQUISA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

Outubro de 2010

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RELATÓRIO FINAL

COORDENAÇÃO

Profª. Drª. Edinusia Moreira C. Santos

ELABORAÇÃO

Profª. Drª. Edinusia Moreira C. Santos

Prof. Ms. Agripino Souza Coelho Neto

Prof. Dr. Onildo Araújo da Silva

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

Outubro de 2010

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EQUIPE DE TRABALHO

Nome Entidade Função

Edinusia Moreira Carneiro

Santos

Universidade Estadual de Feira de

Santana

Coordenadora

Onildo Araujo da Silva

Universidade Estadual de Feira de

Santana

Vice-coordenador

Agripino Souza Coelho

Neto

Departamento de Educação -

Campus XI-UNEB

Pesquisador

Gilca Carneiro CODES-Sisal

Representante da

Instituição

Parceira

Ranusio Santos Cunha

Cooperativa Valentense de

Crédito Rural Ltda.-COOPERE

Representante da

Instituição

Parceira

Allan Tiefiesee Fundação de Apoio aos

Trabalhadores e Agricultores

Familiares da Região do Sisal e

Semi Árido da Bahia-FATRES

Representante da

Instituição

Parceira

Virgínia Araujo Lima

Santana

Fundação de Apoio ao

Desenvolvimento Sustentável e

Solidário da Região Sisaleira-

FUNDAÇÃO APAEB

Representante da

Instituição

Parceira

Taise da Silva Costa Departamento de Educação -

Campus XI-UNEB

Bolsista de

Iniciação

Cientifica

Vagna Brito de Oliveira Departamento de Educação -

Campus XI-UNEB

Bolsista de

Iniciação

Cientifica

Tiago Moraes Cerqueira Universidade Estadual de Feira de

Santana

Bolsista de Iniciação

Cientifica

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Divanice da Paixão

Ferreira

Universidade Estadual de Feira de

Santana

Bolsista de

Iniciação

Cientifica

Josete Figueredo

Vasconcelos

Universidade Estadual de Feira de

Santana

Bolsista de

Iniciação

Cientifica

Wilma Paim das Virgens

Maia

Universidade Estadual de Feira de

Santana

Bolsista de

Iniciação

Cientifica

Joselane da Rocha

Brandrão

Universidade Estadual de Feira de

Santana

Bolsista de

Iniciação

Cientifica

Ana Carolina Ribeiro Universidade Estadual de Feira de

Santana

Bolsista de

Iniciação

Cientifica

Davi Andrade Santos

UNOPAR Pesquisador

Local

Eliane Cruz Maciel

Departamento de Educação -

Campus XI-UNEB

Pesquisador

Local

Adriana Oliveira da Silva

UNOPAR Pesquisador

Local

Vangigleide Silva Santos UNOPAR Pesquisador

Local

Adineide Oliveira dos Anjos Departamento de Educação -

Campus XI-UNEB

Pesquisador

Local

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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1. Introdução

Esse relatório organiza e registra o trabalho realizado pelo Grupo de

Pesquisa em Geografia e Movimentos Sociais (GEOMOV/DCHF/UEFS) para a

concretização da pesquisa intitulada “Inclusão Social e Desenvolvimento no

Território do Sisal: Diagnóstico e Construção de Mecanismos de Apoio ao

Fortalecimento da Ação das Associações e Cooperativas”, que, financiada pela

Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), tem o objetivo

de analisar o atual estágio das associações e das cooperativas no Território do

Sisal e fortalecer as ações dessas entidades a partir da implantação de um

Centro de Pesquisa e Apoio à Gestão das Associações e Cooperativas.

Ressaltamos que é um texto mais descritivo e baseado nos dados em si,

com objetivo de oferecer uma visão mais centrada nas respostas dos

entrevistados e menos nas análises dos pesquisadores. Essas análises serão

divulgadas no livro Tecendo a associação, tecendo a inclusão social: o caso do

Território do Sisal, a ser publicado nos próximos meses, pois já se encontra na

gráfica e em processo de revisão.

Nessa pesquisa analisamos o associativismo e o cooperativismo no

Território do Sisal, contando para isso com uma equipe de geógrafos da

Universidade Estadual de Feira de Santana e da Universidade do Estado da

Bahia, além de outros profissionais, agrônomos, pedagogos e administradores,

que representam as entidades parceiras no projeto. Do ponto de vista teórico

assume que as associações e as cooperativas são entidades que embasam

suas ações nos princípios do trabalho coletivo, da democracia e da justiça

social, por isso a pesquisa pode impulsionar através de suas ações de apoio a

inclusão social e ao desenvolvimento, o fortalecimento das entidades

existentes.

Assim, diagnosticamos a situação das associações e cooperativas

existentes no Território do Sisal, com o objetivo de montar mecanismos de

apoio à gestão das mesmas. Dessa forma, pretendemos contribuir para que as

ações dessas entidades possam provocar a inclusão social e o

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desenvolvimento. Desenvolvimento entendido como um processo integrado e

que inclui os aspectos sociais como elemento central, pois as experiências ao

longo da história demonstraram que apenas investimentos em infra-estrutura

não ocasionam desenvolvimento na perspectiva integradora, é preciso investir

nas pessoas, na melhoria das condições de vida.

Assim, esse relatório contextualiza as idéias de território e região,

aplicadas à área de estudo ao longo dessas últimas cinco décadas, situa a

origem do Território do Sisal no contexto da política territorial brasileira,

caracteriza o processo produtivo do sisal, apresenta uma síntese dos aspectos

econômicos e sociais do território em questão e registra o número de

associações e cooperativas, categorizadas de acordo com critérios

desenvolvidos pela nossa equipe de trabalho e apresenta um amplo

diagnóstico do tecido associativista dos 20 municípios do Território do Sisal.

1.1 Do processo de investigação

A investigação que ora apresentamos o resultado teve origem na

concretização de uma parceria entre diversas instituições que concorreram ao

edital temático do semi-árido, na FAPESB, e obtiveram financiamento para

realização de suas etapas, a saber:

Primeira fase - foi centrada na caracterização do Território do Sisal,

através de dados secundários, com a realização de pesquisa bibliográfica e

documental. Além disso, foi realizada também a identificação e categorização

das associações e cooperativas, com a utilização de um amplo levantamento

dos dados registrados nos cartórios dos fóruns de cada município e/ou na

Corregedoria Geral de Justiça do Estado da Bahia.

Segunda fase - a aplicação de um questionário a um representante de

cada associação e cooperativa. Desse questionário resultou um banco de

dados (que pode ser acessado em www.uefs.br/geomov) que foi o suporte para

o desenvolvimento de todas as outras etapas da pesquisa. É importante

ressaltar que a aplicação do questionário foi atribuição dos pesquisadores

locais, a tabulação foi atribuição dos bolsistas de iniciação cientifica, sempre

sob a coordenação de um professor pesquisador. Além disso, nessa fase, foi

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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construído o primeiro relatório de pesquisa com a análise dos dados obtidos.

Nesse caso o trabalho ficou por conta dos pesquisadores. Esse relatório foi

suporte para a execução da fase posterior.

Terceira fase - preparação das ações necessárias a implantação do

Centro de Pesquisa e Apoio à Gestão do Associativismo e do Cooperativismo

através da identificação dos principais problemas enfrentados pelas

associações, da identificação de entidades desativadas, da identificação das

principais possibilidades visualizadas pelos líderes das entidades.

De posse do conhecimento registrado no relatório anterior a pesquisa

entra na sua quarta fase que é a implantação do Centro de Pesquisa e Apoio à

Gestão, com a realização de atividades já envolvendo diretamente as

associações anteriormente identificadas e previamente selecionadas. Essa

fase será realizada pelos professores pesquisadores e pelos representantes

das entidades parceiras e pretende gerar ações de intervenção direta na

realidade pesquisada, a avaliação dos impactos imediatos dessa intervenção e

a construção dos mecanismos de manutenção do Centro de Pesquisa e Apoio

após a finalização desse projeto.

A ação deve ser matéria prima para reavaliação do percurso realizado,

dando suporte para requalificar o conhecimento produzido. Ao final da

execução das primeiras ações do Centro de Pesquisa e Apoio, a equipe

realizara um outro relatório com a análise da fase, mas pretende-se que a ação

do centro seja efetivada por tempo indeterminado, enquanto ele ainda tiver

função relevante.

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2. Origens e contextos do surgimento da política de territórios

rurais no Brasil.

No âmbito das políticas territoriais brasileiras, dois conceitos geográficos

foram erguidos à condição de aporte teórico-metodológico. Tradicionalmente o

conceito de região apoiou o planejamento e a gestão pública e privada,

carregando a concepção de “regionalização como instrumento de ação”

(DUARTE, 1980; CORRÊA, 1986) em conformidade com as teorias do

desenvolvimento econômico de matriz neoclássica. Neste prisma, diversas

políticas de desenvolvimento regional foram levadas a efeito, especialmente no

Nordeste brasileiro. Esses pressupostos fundamentaram a elaboração de

diversas divisões regionais e a criação de um aparato público para planejar e

executar políticas de desenvolvimento regional, bastante marcantes na história

da Região Nordeste do Brasil, conforme evidenciaram as obras de Oliveira

(1977), Andrade (1988), Burztyn (1987), Carvalho (1987), Carvalho (1988) e

Castro (1992).

No início do século XXI, o conceito de território passou a constituir-se em

referencial central na política e gestão territorial do Estado brasileiro. A análise

dos documentos oficiais que apresentam as concepções basilares e as práticas

adotadas informa a constituição de uma nova escala de governança territorial

ou unidade de planejamento e intervenção estatal, que vem sendo confundida

com a escala regional, intermediária entre as instâncias de poder político-

administrativo municipal e dos estados federados. No entanto, a dinâmica do

processo de estruturação das novas políticas do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA) tem proposto novas denominações, a exemplo dos chamados

“territórios rurais”, “territórios da cidadania” e “territórios da identidade”, que

carregam junto concepções teóricas e uma carga de significados que passam a

ser incorporados pelas comunidades territoriais. As mudanças incorporam

outras perspectivas de condução da política e do planejamento governamental

amparado em novas formas de relacionamento com a sociedade civil, como

fica evidenciado na idéia de território que vem sendo gestada no contexto do

MDA.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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Esta perspectiva, construída na escala nacional, vem sendo incorporada

pelo Governo da Bahia – em função do alinhamento político-partidário com o

governo central – tornando-se base para o levantamento de dados e para a

elaboração de políticas públicas no estado da Bahia.

A mudança de região para território também evidencia uma tentativa de

incorporação de um discurso não mais focado no coronelismo, mas sim na

ação de movimentos sociais de base como MOC, APAEB, FATRES, CODES,

entre outros.

Ao longo do século XX, e mais notadamente, entre as décadas de 1950

a 1980, a concepção de planejamento e execução das políticas territoriais

assumiu uma linha centralizada, autoritária e vertical, conforme destacam os

estudos de Burztyn (1987), Carvalho (1987) e Gonçalves Neto (1996).

Caracterizou-se pela concentração das decisões na escala do poder central,

pela condução das decisões sem discutir com a sociedade civil, e pelo

distanciamento físico e de interesses, entre o lugar da decisão e os lugares da

materialização das ações.

Essas perspectivas podem ser verificadas na política de criação de

perímetros irrigados pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São

Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) (COELHO NETO, 2004), na atuação do

Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), nas frentes de

emergência e em programas estatais como o POLONORDESTE e PROTERRA

(BURZTYN, 1987), e mesmo na atuação da Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) (OLIVEIRA, 1977).

Nas últimas décadas do século XX, num cenário marcado pela

redemocratização política e contestação da eficiência do Estado em gestar o

território nacional, acentuado pela predominância do ideário neoliberal e

ampliação da atuação dos movimentos da sociedade civil organizada, ocorre

embates e avanços nas discussões sobre a gestão territorial. Dagnino (2004)

apresenta uma leitura desse contexto, identificando dois movimentos que

operam dialeticamente formando uma confluência perversa, unindo e opondo,

de um lado:

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[...] o projeto neoliberal que se instala em nossos países ao longo das últimas décadas e, de outro, um projeto democratizante, participativo, que emerge a partir das crises dos regimes autoritários e dos diferentes esforços nacionais de aprofundamento democrático (Dagnino, 2004. p. 140) (o autor refere-se aos países da América Latina – grifo nosso).

Esse é um longo processo que decorre dos esforços de organização da

sociedade civil, da ação coletiva de uma gama diversificada de grupos,

movimentos sociais e inúmeras organizações que lutaram pela solução de

graves problemas de exclusão sócio-econômica da sociedade brasileira, pela

cidadania, democracia, respeito às diferenças culturais e autonomia política de

diversos segmentos sociais (SHERER-WARREN, 1999). Esses movimentos

originaram-se na esteira da atuação sindicalista, dos partidos de esquerda e da

vertente progressista da Igreja Católica (ALBUQUERQUE, 2004).

Esse cenário ganha novos contornos, com o processo de

redemocratização política e do amparo legal-institucional viabilizado pela

Constituição de 1988. Verificam-se mudanças importantes nas últimas

décadas, no âmbito da política e da sociedade, com o surgimento e ampliação

de espaços públicos de discussão e decisão política, o fortalecimento da

atuação da sociedade civil organizada, ampliação da ação dos movimentos

sociais, ampliação dos fenômenos de associativismo e cooperativismo,

ampliação das redes sociais de solidariedade em escala regional, nacional e

global, entre movimentos sociais, ONG’s e a população, ampliação dos fóruns

sociais de debate sobre relevantes questões públicas, com a participação de

diversos segmentos representativos da sociedade e com a presença de

integrantes do Estado. Esses processos ajudam construir o envolvimento da

sociedade civil, redefinindo as relações Estado-Sociedade (NOGUEIRA, 2005).

Esse contexto ilustra a implantação do Programa Nacional de

Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (PNDSTR), proposto pelo

MDA, cuja estruturação pressupõe a construção de projeto político e de gestão,

compartilhadas pelos diversos agentes territoriais, sejam as instituições

públicas, organizações não-governamentais, entidades de classe, associações,

cooperativas, enfim, todo um conjunto de atores que produzem, vivem e

interagem no território.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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O referido programa originou-se de uma linha de ação do Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) que destinava

recursos para a construção de obras e aquisição de serviços comunitários,

durante o período de 1997 e 2002. A proposta trabalhava com a idéia de

promoção do desenvolvimento, valorizando a escala municipal,

instrumentalizados numa gestão estruturada em Conselhos Municipais de

Desenvolvimento Rural (CMDR).

Com o Governo Lula, o programa ganha outra dimensão com a

elaboração de um conjunto de diretrizes que passam a referenciar a política e a

gestão territorial no Brasil, ampliando as fronteiras da pasta do MDA e da ação

do governo central, tornando-se fundamento para atuação governamental num

plano mais geral, e incorporado na esfera de atuação dos estados federados.

A concepção de política e gestão territorial que fundamenta o PNDSTR

encontra-se centrada na construção de uma nova institucionalidade que recebe

o nome de território, apoiando-se na idéia de promoção do desenvolvimento

territorial, no estabelecimento do espaço rural como foco de atuação, e da

gestão social como princípio que pretende garantir o envolvimento da

sociedade civil no processo de construção política. Nesta perspectiva suas

diretrizes pressupõem:

a) Criação de colegiados territoriais, compreendidos como

espaços públicos ou arenas decisórias, que se configuram como

uma nova governança territorial;

b) Criação de mecanismos de participação e construção do

protagonismo da sociedade civil, para fortalecer os processos de

descentralização política e estímulo à autogestão dos territórios;

c) Construção e fortalecimento de redes de articulação de

atores, instituições e programas para condução do processo de

gestão das políticas territoriais.

Esse processo tem influência nas relações de poder, antes o

planejamento regional geralmente embasava seu exercício na ação de uma

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elite política extremamente articulada a elite econômica e com pouco ou

nenhuma ligação com os movimentos populares ou mesmo pouco sensíveis às

reivindicações dos trabalhadores, agora a proposta é o exercício do poder de

decidir através de “arenas públicas”, deslocando tanto a forma quanto o

conteúdo da decisão. Temos que questionar ainda se realmente essa nova

forma proposta, a partir das ações do MDA, implica em efetiva mudança. Essa

é ainda uma questão que teremos que nos debruçar num futuro bem próximo.

Assim, a formação dos territórios na política do governo federal tem

como base os municípios. Os limites do recorte territorial se definem a partir da

adesão ou saída dos municípios, dos respectivos colegiados ou conselhos

territoriais. Os critérios de demarcação têm se conduzido pelas relações

políticas no interior do recorte espacial instituído como território e pelo

sentimento de pertencimento e identificação a mesma realidade.

Atualmente a Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT),

especialmente criada para coordenar a política territorial do MDA, identifica a

existência de 160 territórios rurais (40% na região Nordeste), abrangendo 4.297

municípios (24% na região Nordeste), dados que demonstram a expressão,

atualidade e relevância do fenômeno para a sociedade brasileira1.

Na Bahia, os diversos órgãos da gestão pública (Superintendência de Estudos

Econômicos e Sociais da Bahia – SEI e Secretaria da Agricultura, Irrigação e

Reforma Agrária - SEAGRI) estão trabalhando com a demarcação dos

“territórios de identidade” alinhados com posição da Coordenação Estadual dos

Territórios (CET), elaborada em 2007, que reconhece 26 territórios de

identidade.

1 Dados obtidos em 10 de agosto de 2008 no endereço eletrônico: http://www.mda.gov.br/sdt.

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3. O Território do Sisal

O Território do Sisal é composto atualmente por 20 municípios: Monte

Santo, Itiúba, Cansanção, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Tucano, Araci,

Teofilândia, Biritinga, Ichú, Lamarão, Serrinha, Barrocas, Candeal, Conceição

do Coité, Retirolândia, Valente, Santa Luz e São Domingos (mapa 01),

localizados no semi-árido baiano e identificados com a cadeia produtiva da

agave sisalana, espécie vegetal xerófila conhecida popularmente apenas como

sisal.

A denominação Território do Sisal, em substituição a tradicional Região

Sisaleira, origina-se nas novas propostas de políticas territoriais adotadas pelo

Estado brasileiro a partir de 2003, com a criação do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF), e no ano seguinte, com a

implantação do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de

Territórios Rurais (PNDSTR), no âmbito do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA).

A proposta mais efetiva de demarcação da Região Sisaleira foi

elaborada pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR),

abarcando 27 (vinte e sete) municípios do semi-árido baiano (mapa 02),

envolvendo quase a totalidade dos municípios que hoje compõem o Território

do Sisal.

Essa delimitação regional apoiou-se na concepção de regiões

econômicas, tradicional divisão regional elaborada pela Secretaria de

Planejamento, Ciência e Tecnologia (SEPLANTEC), adotada por longo tempo

como unidade de planejamento e para fins de levantamento de informações

dos órgãos governamentais do estado da Bahia. Esse processo de

regionalização significou recortar o estado da Bahia a partir das

homogeneidades conformadas pelos sistemas produtivos que indicariam uma

economia regional.

O espaço atualmente demarcado como Território do Sisal começa a se

forjar a partir da década de 1930 com a progressiva estruturação da cadeia

produtiva do sisal.

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MAPA 01

TERRITÓRIO DO SISAL NO CONTEXTO DO ESTADO DA BAHIA – BRASIL. 2008.

Elaboração: Onildo Araújo da Silva

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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MAPA 02

REGIÃO SISALEIRA DO ESTADO DA BAHIA – BRASIL. 2008.

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Apesar da existência de certa diversificação de atividades

agropecuárias, com destaque para a ovinocaprinocultura e os cultivos próprios

da agricultura de subsistência, foi a introdução do agave sisalana2, sua

expansão geográfica e crescimento de sua importância econômica como

atividade produtiva, que conformou e configurou o espaço reconhecido como

Região Sisaleira da Bahia (SANTOS, 2007).

Relevante destacar que a posição que o sisal passa gradativamente a

ocupar no contexto regional vai oferecer também elementos para a construção

de uma identidade e um sentimento de pertencimento regional. Essa idéia de

pertencimento a região sisaleira é constatada por Silva (1999) quando trabalha

a questão da imagem de Nordeste nos municípios de Valente, São Domingos e

Retirolândia. Segundo esse estudo parte dos alunos da 8ª série das escolas

públicas utilizava a região sisaleira como referência de pertencimento.

O Território do Sisal tem se singularizado no âmbito das políticas

territoriais, em face da inserção e adesão as concepções e diretrizes do

PNDSTR do MDA, bem como pelos resultados efetivos que tem alcançado na

implantação desta proposta. Essa preeminência decorre do nível de

organização e do protagonismo dos agentes sociais e pelas condições sociais

historicamente construídas, apontadas como precursoras do arranjo político-

institucional pretendido pela política estatal.

A construção da nova institucionalidade no Território do Sisal é produto

das transformações mais amplas ocorridas na sociedade brasileira, bem como

das condições particulares que foram forjadas regionalmente. Esse processo é

produto da mobilização e atuação de diversos agentes sociais que vêm

contribuindo para tessitura deste território e para a perspectiva de construção

da territorialidade.

Contribuiu pioneiramente nesse processo, o Movimento de Organização

Comunitária (MOC), organização não-governamental que surge em 1967,

através do trabalho da Igreja Católica, cuja atuação priorizou o apoio à

organização política da sociedade civil, ocupando-se centralmente da

mobilização e formação política de lideranças e do estímulo ao surgimento e

2 Planta originária da península de Yukatan, no México, trazida para a Bahia, por Horácio Urpia

Júnior (PINTO, apud SANTOS, 2007).

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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autonomização de entidades da sociedade civil (OLIVEIRA e COELHO NETO,

2008).

Outra organização que exerce um papel seminal no processo de

organização comunitária e no desenvolvimento de vários municípios do

Território do Sisal (SANTOS; 2007) é a Associação de Desenvolvimento

Sustentável e Solidário da Região Sisaleira, que surge como entidade regional

na década de 1980 – com a denominação de Associação dos Pequenos

Agricultores do Estado da Bahia (APAEB), municipalizando-se na década

seguinte.

A entidade tem trabalhado no sentido da mobilização e organização

dos esforços dos pequenos produtores de sisal, adquirindo enorme expressão

em face dos resultados alcançados:

a organização produtiva dos pequenos agricultores;

a diversificação de atividades em torno da cadeia produtiva do

sisal;

a valorização das potencialidades e produtos regionais;

a construção de redes de solidariedade;

o reforço do sentimento de pertencimento; e

a reorganização do espaço regional.

Essas questões foram detidamente analisadas por Santos (2000, 2002,

2007, 2010b) que destaca, ainda, a influência da APAEB para a

reorganização espacial do município de Valente e para o desenvolvimento da

região sisaleira, além da influência da associação em outras entidades que a

apresentam como modelo a ser seguido.

Mais recentemente, destaca-se a Cooperativa Valentense de Crédito

Rural (SINCOOB-COPERE), formalmente fundada em 1993, como

desdobramento da atuação da APAEB-Valente com o objetivo de “promover a

economia solidária, através da prestação de serviços financeiros e assistência

técnica, visando o desenvolvimento sustentável da região sisaleira do estado

da Bahia” (www.sicoobcoopere.coop.br. Acesso em 10 de maio de 2009). A

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cooperativa possui atualmente 12.251 cooperados e agências distribuídas em

três municípios do Território do Sisal (Conceição do Coité, Valente e

Retirolândia), três municípios do Território da Bacia do Jacuipe (Nova Fátima,

Gavião e Quixabeira) e um no Território Piemonte da Diamantina (Capim

Grosso), buscando oferecer crédito mais barato aos produtores e viabilizando

suas as atividades produtivas.

Outra entidade que tem marcante influência é a Fundação de Apoio aos

Trabalhadores e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semi Árido da

Bahia (FATRES) que é uma sociedade civil, cuja missão é:

[...] contribuir para a construção do desenvolvimento social e ambientalmente sustentável, voltado para a melhoria das condições sociais de vida dos agricultores e agricultoras familiares da região semi-árida da Bahia, visando a sua permanência na unidade produtiva familiar numa perspectiva de fortalecimento da agricultura familiar (http://www.fatres.org/fatres.php. Acesso em 10 de maio de 2009).

A atuação da entidade envolve a mobilização, articulação e

assessoramento dos diversos sindicatos de trabalhadores rurais dos

municípios do Território do Sisal e sua articulação externa com outras

entidades regionais da sociedade civil.3

A atuação dessas e outras organizações e a ação de políticas públicas

de erradicação da pobreza, engendraram um processo de mobilização e

organização da sociedade civil, formando um diversificado tecido associativista

e cooperativista, conforme demonstrou Santos (2010a).

Esse conjunto de fatores culmina na construção de um ambiente

político-institucional favorável ao debate, ao levantamento de demandas e a

criação de alternativas centradas na idéia de desenvolvimento local.

É neste contexto que é gestada a criação do Conselho Regional de

Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia

(CODES-SISAL), em 2002.

3 As informações foram obtidas em 25 de fevereiro de 2008 no endereço eletrônico:

http://www.fatres.org/index.php

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

19

Essa entidade é composta (quadro 01) por representantes das 20 (vinte)

prefeituras municipais, de 4 (quatro) órgãos governamentais, 24 (vinte e quatro)

entidades da sociedade civil – ONG’s, associações, cooperativas e sindicatos

de trabalhadores rurais, e 01 (uma) empresa de transportes rodoviários

(CODES-SISAL, 2007).

Valendo-se da instituição da política territorial do MDA, através do

PNDSTR, o CODES/SISAL tem ocupado um papel relevante na estruturação

do Território do Sisal, aglutinando as aspirações e as propostas de

desenvolvimento territorial, constituindo-se num colegiado que articula uma

rede diversificada de agentes territoriais, com seus conflitos, valores,

propósitos e interesses, inerentes ao exercício da política.

A experiência da estruturação do Território do Sisal se mostra

enigmática e emblemática pelas particularidades estruturais e pela condição

histórica que se forjou nesse recorte espacial.

O enigma se configura, por um lado, pela existência de um contexto de

prevalência do uso da seca e das adversidades físicas, durante décadas, para

justificar a constante ampliação da pobreza e da miséria, da precariedade das

condições sócio-econômicas e do conservadorismo político, cuja história

brasileira registra a produção dos processos de cooptação e clientelismo

político, passividade e conformismo social. E por outro lado, pela constituição

de uma emblemática institucionalidade, centrada na amplitude do processo de

mobilização e organização da sociedade civil, na formação de complexas e

diversificadas redes sociais que se articulam nas escalas regional, nacional e

internacional.

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QUADRO 01 ENTIDADES INTEGRANTES DO CODES SISAL

Poder Público Sociedade Civil

Prefeitura Municipal de Araci Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Araci - APAEB Araci

Prefeitura Municipal de Barrocas Associação dos Pequenos Agricultores do Município de

Serrinha - APAEB Serrinha

Prefeitura Municipal de Biritinga Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da

Região Sisaleira - APAEB Valente

Prefeitura Municipal de Candeal Agência Regional de Comercialização do Sertão da Bahia -

ARCO Sertão

Prefeitura Municipal de Cansanção Centro de Apoio às Iniciativas Comunitárias do Semi-Árido da Bahia -

CEAIC

Prefeitura Municipal de Conceição do Coité Cooperativa de Beneficiamento e Comercialização - COOBENCOL

Prefeitura Municipal de Ichu Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão - COOPERAFIS

Prefeitura Municipal de Itiúba Cooperativa de Produção de Jovens da Região do Sisal -

COOPERJOVENS

Prefeitura Municipal de Lamarão Cooperativa dos Apicultores do Semi-árido Baiano - COOPMEL

Prefeitura Municipal de Monte Santo Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

da Região do Sisal e Semi-árido da Bahia - FATRES

Prefeitura Municipal de Nordestina Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais - MMTR

Prefeitura Municipal de Queimadas Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

de Ichu - STRAF Ichu

Prefeitura Municipal de Quijingue Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

de Itiúba – STRAF Itiúba

Prefeitura Municipal de Retirolândia Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

de Monte Santo - STRAF Monte Santo

Prefeitura Municipal de Santa Luz Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

de Queimadas - STRAF Queimadas

Prefeitura Municipal de São Domingos Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

de Quijingue - STRAF Quijingue

Prefeitura Municipal de Serrinha Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

de Santa Luz - STRAF Santa Luz

Prefeitura Municipal de Teofilândia Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

de Serrinha – STRAF Serrinha

Prefeitura Municipal de Tucano Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares

de Tucano - STRAF Tucano

Prefeitura Municipal de Valente Associação de Rádios Comunitárias do Sisal - ABRAÇO Sisal

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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Entidades de Apoio (governamentais e não-governamentais)

Agência de Desenvolvimento Solidário – ADS Bahia

Banco do Nordeste do Brasil - BNB - Agência Feira de Santana

Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA - Gerência Regional de Serrinha

Federação das Cooperativas de Crédito de Apoio a Agricultura Familiar - FENASCOOB

Movimento de Organização Comunitária – MOC

Rede de Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semi-Árido - REFAISA

Universidade do Estado da Bahia – UNEB - Campus XIV

Vicariato São Matheus

Departamento Nacional de Obras Contra Seca - DNOCS

FONTE: CODES, 2007

Essas redes já são produtoras de um protagonismo das associações e

cooperativas como agentes territoriais que influenciam na condução de seus

interesses, no processo de gestão do território e na própria condução de seus

destinos. Esse processo se articula com a ação do MDA na busca por uma

nova forma de gestão territorial, exemplo disso é verificarmos que em 2004:

O Plano Safra para a agricultura familiar 2004-2005 da Região Nordeste foi lançado em Valente, Bahia, um dos municípios que integram o Território do Sisal, do qual fazem parte dezenove comunidades que estão entre as mais pobres do país, em uma das regiões mais áridas do estado (MDA, 2005, p. 24, grifo nosso). Foram lançadas as novas bases de apoio ao Território do Sisal, uma experiência bem sucedida de organização e cooperativismo, que merece a mesma atenção dos demais territórios em fase de estruturação (MDA, 2005, p. 25, grifo nosso).

As informações descritas acima, que fazem parte da publicação

Territórios Rurais, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, reforçam o grau

de pioneirismo adquirido pelo Território no Sisal, que devido as suas condições

construídas, aderiu de modo singular a proposta de implantação da política

territorial do Estado. Independentemente do caráter promocional da publicação,

a superposição e convivência das condições estruturais desse território e a

força da experiência organizativa da sociedade local/regional se mostra

desafiadora como fenômeno a ser compreendido.

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Portanto, a idéia da existência de um Território do Sisal é relativamente

recente. Até o final da década de 1990 os municípios que compõem o que hoje

denominamos de Território do Sisal normalmente eram enquadrados como

pertencentes à Região Sisaleira da Bahia. Essa mudança de foco ocorre com

as novas diretrizes adotadas pelo governo federal a partir da administração do

Partido dos Trabalhadores e foi reforçada com o governo do PT no Estado da

Bahia a partir de 2007.

Outro fator relevante, não simplesmente por uma questão climática, é

constatarmos que todos esses municípios estão inseridos no semi-árido

baiano, espaço diferenciado em função da construção histórica do espaço

centrada na ação de combate, por um lado, e de convivência com a seca, por

outro. Ou seja, o espaço semi-árido possui índices pluviométricos aceitáveis,

entre 600 e 800 mm anuais, mas o regime de chuva concentra a precipitação,

principalmente no verão, o que demanda uma ampla capacidade de armazenar

água para a convivência com os meses de estiagem.

Esse aspecto ainda está associado à existência de ciclos de estiagem,

que origina, em todo o Nordeste brasileiro, os mecanismos políticos e

econômicos denominados de indústria da seca (SILVA, 2008).

Portanto, o território alvo desse estudo faz parte de um espaço

diferenciado, um espaço que está inserido no Nordeste semi-árido do Brasil,

possui uma identidade nordestina associada a uma outra identidade construída

ao longo de décadas em função da predominância da atividade de plantio e

beneficiamento da agave sisalana.

A palavra sisal denomina tanto uma planta quanto a fibra que essa

planta origina. A planta, com predominância para a agave sisalana, é xerófila e

se adaptou extremamente bem as condições de semi-aridez. Da palha dessa

planta é possível obter uma fibra forte, de boa textura e biodegradável,

normalmente utilizada para a produção de fios e cordas. Como é uma planta

resistente à seca e essa fibra obtém boa remuneração no mercado nacional e

internacional, seu cultivo transformou-se no pilar básico da economia de vários

municípios baianos.

O processo produtivo do sisal tem características peculiares pois

envolve uma fase rural e uma fase urbana. Esse processo de beneficiamento,

de acordo com a figura 03, elaborada por SANTOS (2010a), resulta num ciclo

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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produtivo que se realiza tanto no espaço urbano quanto rural, criando uma rede

imediata, com fluxos bem demarcados e específicos, conforme identificado e

analisado pela autora quando afirma:

A lavoura de sisal foi explorada durante todo o século XX, sobretudo para o desfibramento do vegetal, com o objetivo de exportação da fibra que é utilizada como matéria prima nas diversas indústrias. O processo produtivo nessa lavoura (figura 03) se inicia com o plantio de um campo de agave sisalana que após cerca de quatro anos está pronto para começar a ser cortado. Cortam-se as folhas laterais da planta, conhecida regionalmente como palha, deixando as folhas centrais para que a planta produza novas palhas. Depois de cortada, a palha é transportada até um local onde está a máquina de desfibrar conhecida como “paraibana”, localmente chamada simplesmente de motor. Uma vez desfibrada, a fibra resultante é transportada para uma área onde é estendida ao sol, depois de seca é embalada em fardos e segue para as batedeiras, que são indústrias onde ocorre a seleção e alisamento da fibra. Da batedeira a fibra sai pronta para ser vendida como matéria-prima para outras regiões brasileiras e/ou para o mercado externo. A exportação ainda é o maior destino do sisal beneficiado regionalmente, no entanto, essa fibra pode também ser novamente beneficiada na própria região, resultando na produção de cordas, fios, mantas, tapetes, entre outros. Desse processo, ainda resulta o resíduo, a bucha, o pó e o sumo, que são subprodutos não aproveitados em escala comercial (SANTOS, 2010. p. 55-56).

O próprio processo produtivo favorece a articulação entre agentes

diferenciados que cooperam e conflitam pela constituição de seus territórios. É

comum, portanto, o hábito de associar-se para melhorar esse ou aquele

aspecto da cadeia produtiva. Porém, esse hábito deriva já de uma longa luta e

tradição desencadeada pelo impulso histórico da influência da Igreja Católica e

do Movimento de Organização Comunitária (MOC).

Outro ponto importante no processo produtivo do sisal é a ampla

necessidade de deslocamento da fibra em suas diversas etapas, o que cria

uma intensa relação interna na área do Território do Sisal e dessa com

espaços chave no Estado da Bahia e no exterior, a exemplo de Salvador com

seu porto que exporta a produção de sisal para a Europa e Estados Unidos da

América. Observando detalhadamente o mapa 03 percebemos que os

Municípios que compõem o Território do Sisal estão satisfatoriamente

interligados por rodovias estaduais.

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FIGURA 03

ESQUEMA DO PROCESSO PRODUTIVO DA LAVOURA SISALEIRA

Fonte: SANTOS, 2010.

Essas rodovias se interligam a BR 116, principal via de acesso a Feira

de Santana e, conseqüentemente ao resto do Brasil, uma vez que essa cidade

baiana é o principal entroncamento rodoviário do Nordeste Brasileiro. A opção

brasileira pela rodovia implica, no Território do Sisal, no uso intenso de

caminhões para transportar toneladas de sisal e outros produtos derivados.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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MAPA 03

TERRITÓRIO DO SISAL. ESTADO DA BAHIA – BRASIL. 2008.

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Internamente os municípios se interligam através da BA 120, que liga

Monte Santo, Queimadas, Santa Luz, Valente, Retirolândia e Conceição do

Coité, entre si e com a BA 409, que por sua vez liga Conceição do Coité a

Serrinha e a BR 116. Esse é o eixo principal por onde a maior parte dos

produtos da cadeia do sisal é escoada e onde estão localizados os municípios

mais importantes do ponto de vista econômico: Valente e Conceição do Coité,

e administrativo (Serrinha).

Outro eixo importante é o da BR 116 que interliga os municípios de

Tucano, Araci e Teofilândia ao município de Serrinha. A partir de Serrinha o

acesso a BR 116, como já salientamos, é porta de saída para Feira de Santana

e Salvador e para os demais estados do Brasil.

Os outros municípios estão interligados a BA 120 ou a BR 116 por

rodovias estaduais, como a BA 381 que liga Itiuba a Cansanção e liga

Quijingue a BR 116, a BA 365, que liga São Domingos a Valente, a BA 411 que

liga Candeal e Ichu ao Município de Serrinha, a BA 233 que liga Biritinga a

Serrinha e a BA 400 que liga Lamarão a BR 116. Vale salientar que os

Município de São Domingos e Candeal estão facilmente interligados a BR 324

uma das principais estradas federais que corta a Bahia.

Outro fator relevante é a distância relativamente pequena entre as sedes

dos municípios. São cidades próximas com boa capacidade de articulação

entre si. Alem disso, os povoados estão interligados por uma ampla rede de

estradas não pavimentadas, que também servem de ligação entre os

municípios alvo dessa pesquisa.

Outro aspecto a considerar é a inexistência de uma estrutura viária

centrada em ferrovias ou hidrovias. No primeiro caso a única ferrovia existente

não tem condições estruturais de escoar a produção, no segundo caso os rios

não são naturalmente navegáveis e a opção pela construção de canais não se

justifica. Logo, o ideal seria mesmo a substituição da opção rodoviária pela

ferroviária. Inclusive com a revitalização da ferrovia que já existe isso, é claro,

depois de uma análise técnica apurada, que dê conta de justificar

investimentos nesse setor.

O Território do Sisal é importante não apenas por sua contribuição

econômica, através da cadeia produtiva do sisal, mas também porque tem sido

historicamente, lócus do fortalecimento dos movimentos sociais na Bahia, de

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

27

formas não governamentais de ação. Há uma mobilização das pessoas em

torno de associações e cooperativas, de movimentos que se organizam, como

aqueles ligados a FATRES, ao CODES, ao MOC, ao MMTR, ao MST, enfim, as

diversas formas de organização para contribuir com a melhoria de vida das

pessoas e com o desenvolvimento.

Estando num espaço semi-árido as ações no território devem considerar

a água como fator limitante, devem considerar então a possibilidade de

conhecer a dinâmica da natureza para aperfeiçoar os mecanismos de interação

entre a sociedade e natureza no sentido da promoção de um envolvimento

solidário, capaz de atuar e preservar.

No território predominam rochas do embasamento cristalino associado

aos sedimentos da Bacia Tucano-Jatoba, solos podzolicos e litólicos,

recobertos por pequenas áreas dispersas de caatinga, vegetação original que

foi substituída por pastagens, plantio de sisal e pequenas áreas de agricultura

de subsistência, com predomínio para os cultivos de milho, feijão e mandioca.

O pasto é a expressão do predomínio do latifúndio e o pequeno cultivo a

expressão da minifundização. Alias essa é uma dualidade histórica, na qual o

próprio cultivo de sisal está inserido.

O mapa 04 apresenta a rede hidrográfica. O destaque é a

predominância da bacia do rio Itapicuru, principal fonte de água para os

municípios do território. Porém, a sub-bacia do rio Jacuipe, que é afluente do

rio Paraguaçu, um dos mais importantes rios da Bahia, contribui com as suas

águas para a Adutora do Sisal, que abastece os municípios de Valente, São

Domingos e Retirolândia. Além disso, as água subterrâneas do aqüífero de

Tucano são fundamentais para abastecer os demais municípios.

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MAPA 04

REDE HIDROGRÁFICA DO TERRITÓRIO DO SISAL.

ESTADO DA BAHIA – BRASIL. 2008.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

29

As bacias são formadas por rios intermitentes e ainda não possuem a

gestão de suas áreas já adequadas aos novos marcos regulatórios da política

nacional de recursos hídricos. A lei existe, mas na prática verificamos

dificuldades no seu processo de aplicação.

Outro aspecto importante, ainda com ênfase no processo produtivo do

sisal, é a área plantada com a agave sisalana, pois expressa uma realidade

que centraliza o processo produtivo em alguns municípios. A análise das

figuras 01 e 02 permitem identificar os municípios que possuem a maior área

plantada de sisal e fazer a seguinte distinção:

Grupo de maior área plantada – Santa Luz, Conceição do

Coité, Valente e Araci, com mais de 8.000 mil hectares de área plantada;

Grupo intermediário - Queimadas, Itiúba, São Domingos,

Retirolândia, Barrocas e Nordestina, com mais de 4.000 e menos de

8.000 mil hectares plantados;

Grupo com pequenas áreas plantadas (de 1 a menos de

4000 mil hectares plantados) – Cansanção, Monte Santo, Teofilândia,

Quijingue, Tucano, Candeal, Ichu e Serrinha.

Além disso, constatamos que nos municípios de Lamarão e Biritinga não

se verifica mais a existência de plantações de sisal, justificando-se a inclusão

desses municípios no referido território em função de um histórico de intensa

articulação com a área sisaleira.

No entanto, não basta plantar o sisal, é preciso beneficiá-lo. No Território

do Sisal esse processo de beneficiamento criou horizontalidades que tem muita

influência na configuração do espaço, pois articula objetos e ações com

objetivos bem definidos e constituem territórios de atuação de empresas,

associações, cooperativas e demais movimentos sociais, numa ampla gama de

cooperação e conflito que fazem e refazem, cotidianamente, cada lugar que o

constitui.

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MUNICÍPIOS DO TERRITÓRIO DO SISAL: PLANTAÇÃO DE SISAL. 2005

0 0 40

60 190

350

600

760 1

.800

2.5

00 4.0

00

4.0

00 6

.000

6.0

00

6.4

00

6.5

00

10.4

00

11.5

00

18.0

00

18.5

00

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

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ga

Lam

arã

o

Serrin

ha

Ichu

Candeal

Tucano

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jingue

Teofilâ

ndia

Monte

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Cansanção

Barro

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Retiro

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Itiúba

Queim

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nte

Conceiç

ão d

o C

oité

Santa

luz

VA

LO

R(h

a)

Figura 02

Bahia. Muncípios com área plantada com sisal a partir de 1000

hectares. 2005.

1.0

00

1.2

00

1.2

00

1.8

00

1.8

00

2.5

00

4.0

00

4.0

00

5.0

00

5.2

00

5.5

00

6.0

00

6.0

00

6.0

00

6.4

00

6.5

00

6.5

00

10.4

00

11.5

00

13.7

70

18.0

00

18.5

00

68.3

00

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

40.000

45.000

50.000

55.000

60.000

65.000

70.000

75.000

Caf

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do

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po F

orm

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Hecta

res

Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal. 2005.

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

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Essa rede é mais ampla que a própria delimitação do Território do Sisal,

pois verificamos que o município que mais planta sisal na Bahia (figura 02) é o

município de Campo Formoso, com 68.300 hectares plantados em 2005.

Esse município pertence ao território denominado Piemonte Norte do

Itapicuru, mas tem intensa relação com o Território do Sisal, aliás, como

também acontece com os outros municípios produtores que estão fora desse

território, com destaque para Jacobina, Mirangaba, Morro do Chapéu,

Ourolândia, Várzea Nova e Umburanas.

Campo Formoso envia a maior parte do sisal que produz para ser

beneficiado nos municípios de Conceição do Coité, Valente, São Domingos e

Retirolândia. É comum empresários desses municípios atuarem diretamente no

plantio, na compra e no primeiro beneficiamento do sisal, em municípios que

não pertencem ao Território do Sisal. Além disso, esses municípios produtores

fazem parte da antiga Região Sisaleira da Bahia, mas não foram incluídos no

novo Território do Sisal justamente porque não mais fazem parte da rede mais

ampla que é capaz de estruturar um território, pois contribuem apenas com

suas terras para plantar sisal, sendo que em muitos casos essas terras

pertencem a empresários radicados nos municípios do Território do Sisal ou a

seus parceiros diretos.

Esse nosso argumento é reforçado quando analisamos os dados do

quadro 02 e da figura 03 e não verificamos nenhuma indústria de

beneficiamento de fibra de sisal instalada nos municípios produtores que estão

fora do Território do Sisal.

Aliás, os dados demonstram que das 24 empresas cadastradas no guia

industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia em 2009, 70,8%

estão localizadas em municípios do Território do Sisal, mas extremamente

concentradas, pois, além de Conceição do Coité, que detêm 37,5% dessas

empresas, apenas os municípios de Retirolândia, Valente, São Domingos,

Santa Luz e Teofilândia possuem unidades de beneficiamento do sisal.

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QUADRO 02

EMPRESAS QUE FABRICAM PRODUTOS DERIVADOS DO SISAL SEGUNDO O GUIA INDUSTRIAL DO ESTADO DA BAHIA (FIEB). 2009.

Razão Social Nome Fantasia

Produtos Município

1. Cordebras Ltda Cordebras Fio de sisal Camacari

2. Cotesi do Brasil Com, Ind de

Fios e Participações Ltda.

Fio de sisal Conceição do Coité

3. Fibra Comercio e Exportação de Sisal Ltda

Fibra Fibra de sisal, Refugo de sisal, Bucha de sisal

Conceição do Coité

4. Fibraex Indústria Comercio e

Exportação Ltda.

Fibra de sisal Conceição do Coité

5. Sisaex Ind

Com e Exportação Ltda.

Sisaex Fibra de sisal

beneficiada

Conceição do

Coité

6. Hamilton Rios Industria Comercio e

Exportação Ltda.

Hamilton Rios

Fibra de sisal beneficiada

Conceição do Coité

7. Ramos Mota

Comercio e Exportação de Sisal Ltda

Sisaleira

Ramos Mota

Beneficiamento de

sisal

Conceição do

Coité

8. Sisaleira Amanda Ltda

Sisaleira Amanda

Beneficiamento de sisal

Conceição do Coité

9. Sisaleira Gonçalves Araújo Ind

Com e Exp Ltda

Sisaleira Gonçalves

Araújo

Beneficiamento de sisal

Conceição do Coité

10. Sisalgomes Ind

Com e Lavoura Ltda

Sisalgomes Fio de sisal, Corda de

sisal, Corda de polietileno, Fibra de sisal

Conceição do

Coité

11. Brasil Composite

Ind e Com de Artefatos de

Fibras Ltda

Brasil Composite

Isolador elétrico padrão, Forma para concreto, Mandala de

sisal.

Lauro de Freitas

12. Sisal Rios

Comercio e Industria Ltda

Sisal Rios Beneficiamento de

fibra de sisal

Nova Fátima

13. Embrafios Industria Comercio e

Exportação Ltda.

Embrafios Fio de sisal, Corda de sisal

Retirolândia

14. Sisalandia Fios

Naturais Ltda

Sisalandia Fio e corda de sisal,

Sisal beneficiado, Barbante de sisal, Fio agrícola (baler twine).

Retirolândia

Continua

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

33

Continuação

15. Tecelagem de

Sisal da Bahia Exp e Imp Ltda

Tecsal

Ltda

Fibra de sisal, Tela de

sisal, Saco de sisal, Manta de sisal, Fio de sisal

Salvador

16. Cordafios Ind e Com de Produtos

Texteis Ltda

Cordafios Fio de polipropileno, Corda de

polipropileno, Corda de polietileno, Corda

de poliamida Corda torcida de sisal, Fio de sisal.

Salvador

17. Companhia Sisal do Brasil -

Cosibra

Cosibra Fibra de sisal, Tapete de sisal, Fio agricola

de sisal (baler twine).

Santaluz

18. Bahia Mantas

de Sisal Ltda

Bahia

Mantas

Manta de sisal São

Domingos

19. FC Fio Corda

Industria e Comercio Ltda

FC Fio de sisal, Cabo de

sisal, Corda de sisal

São

Domingos

20. Sisalana S/A Industria e Comercio

Sisalana Fio de sisal para uso agricola, Corda de

sisal

Simões Filho

21. Jose Otaviano

de Oliveira

Sao Jose Beneficiamento de

sisal

Teofilandia

22. Associacao de Desenv Sust e

Solidario da Reg Sisaleira-Apaeb

Apaeb Tapete e carpete de sisal, Fio agricola

(baler), Fio natural/corda/barbant

e, Tela de sisal para polimento.

Valente

23. Cisnel Com e Ind de Sisal Nordeste Ltda

Cisnel Fio de sisal, Corda de sisal

Valente

24. Fisal Fibras de Sisal Araujo Ltda

Fisal Fibra de sisal Várzea Nova

FONTE: GUIA INDUSTRIAL DO ESTADO DA BAHIA (FIEB). www.fieb.org.br/guia - acesso em 27.02.2009.

Além disso, destacamos que 8,3% das empresas que beneficiam sisal

na Bahia estão concentradas em Salvador. Também os municípios de

Camaçari, Lauro de Freitas e Simões Filho aparecem com 4,2% das empresas

em cada município. Isso perfaz 20,9% de empresas beneficiadoras de sisal

instaladas na Região Metropolitana de Salvador, onde está concentrada a

maior parte da produção industrial do Estado da Bahia.

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Figura 03

Bahia. Número de empresas que fabricam produtos derivados do sisal por município. 2009.

Nova Fátima

4,2%

Santaluz

4,2%

Simões Filho

4,2%

Teofilandia

4,2%

Várzea Nova

4,2%

Retirolândia

8,3%

Salvador

8,3%São Domingos

8,3%

Valente

8,3%

Conceicão do Coite

37,5%

Lauro de Freitas

4,2%Camacari

4,2%

Fonte: www.fieb.org.br/guia. Acesso 27.02.2009.

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Inclusive, algumas dessas empresas fazem o 2º ou o 3º beneficiamento

do sisal que teve seu 1º ou 2º beneficiamento realizado nos municípios do

Território do Sisal.

Logo, a cadeia produtiva do sisal gera uma ampla rede, até exportar os

produtos ou vender para outras regiões do Brasil, vinculando o Território do

Sisal a Região Metropolitana de Salvador, aliás, é nesse espaço que estão

localizados os portos para escoar a produção. Além disso, o Território do Sisal

também se articula as demais áreas produtoras da Agave Sisalana localizadas

fora dos seus limites, principalmente através de redes de transporte de fibra e

de fluxo de capitais.

Essas redes influenciam circuitos de solidariedade entre as pessoas,

firmas e instituições que tem rebatimento nas questões ligadas ao

associativismo, mas, principalmente, ao cooperativismo, sendo comum uma

cooperativa ou uma associação ter seus tentáculos ampliados para além do

seu município de origem ou mesmo território de origem, como já destacamos

anteriormente para o caso do SICOOB-COOPERE.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

35

Outro fator a destacar é que as empresas situadas no Território do Sisal

produzem uma quantidade reduzida de derivados do sisal com relação ao

potencial da planta, a exemplo de fios, tapetes e carpetes, manta de sisal,

barbante, fio agrícola, corda de sisal, refugo e bucha de sisal, ficando produtos

mais complexos como o isolador elétrico padrão, forma para concreto e

mandala de sisal a cargo da fábrica de Lauro de Freitas.

Isso reflete dois aspectos fundamentais: primeiro a incapacidade dos

empreendimentos de absorverem novas tecnologias que ampliem o leque de

opções e segundo o não aproveitamento industrial de outros subprodutos do

sisal como o resíduo e o sumo.

Dessa forma, apesar de não estar vivendo uma forte crise a economia

sisaleira possui uma limitação de crescimento que precisa ser enfrentada com

vigor, principalmente pelas ações estatais que visam reestruturar os Territórios

de Identidade.

Porém, a economia no Território do Sisal, apesar de baseada no

processo produtivo do sisal, possui outros três setores fundamentais: a

ovinocaprinocultura, a criação extensiva de gado bovino e o setor de extração

mineral. É preciso destacar também a existência de um amplo número de

pequenas propriedades que se dedicam ao clássico esquema de agricultura de

subsistência típico de áreas de clima semi-árido no Brasil, onde se consorciam

a plantação de milho, feijão e mandioca com pequenos criatórios de galinha

caipira e com a manutenção de um número reduzido de cabeças de gado

bovino, ovino, caprino ou suíno, além, é claro, da existência dos latifúndios da

pecuária extensiva.

Essas atividades se refletem na composição do PIB dos municípios,

como destacado na figura 04. A análise desse gráfico permite afirmar que

todos os municípios tiveram um incremento no seu PIB entre os anos de 2002

e 2006, porém com oscilações não muito significativas ao longo da série. Além

disso, verificamos que os municípios de Serrinha, Conceição do Coité, Tucano,

Monte Santo e Araci tiveram, em 2006 um PIB superior a 100 milhões de reais.

Apenas Serrinha e Conceição do Coité ultrapassaram a casa dos 200 milhões

de reais. Somente a título de comparação o PIB de Camaçari, Candeias e Dias

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D’avila, ambas na Região Metropolitana de Salvador, foi, respectivamente, da

ordem de 9 bilhões e 534 milhões, 2 bilhões e 236 milhões e de 1 bilhões e 332

milhões de reais.

Figura 04

Território do Sisal. Produto Interno Bruto a Preços Correntes por Município. 2002-2006.

-

50,00

100,00

150,00

200,00

250,00

300,00

Ichu

Lamarã

o

Cand

eal

São

Dom

ingos

Nord

estin

a

Retir

olând

ia

Biritin

ga

Bar

roca

s

Teofilân

dia

Que

imada

s

Quijin

gue

Itiúb

a

Valen

te

San

taluz

Cans

anção

Ara

ci

Mon

te S

anto

Tucan

o

Conc

eição

do C

oité

Ser

rinha

(R$ m

ilhões)

2002 2003 2004 2005 2006

Fonte: www.sei.ba.gov.br. Acesso 27.02.2009.

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Isso ilustra a intensa concentração da produção da riqueza na RMS,

como reflexo da concentração do setor industrial, de serviços e da

administração estatal. Dos 20 municípios do Território do Sisal 10 possuem PIB

inferior a 50 milhões de reais, o que expressa a contradição entre possuir um

produto capaz de gerar muita riqueza e a falta de capacidade política de tornar

isso viável. Outro fator relevante é destacarmos que mesmo essa riqueza

gerada nas atividades produtivas ainda é desigualmente distribuída em função

das péssimas condições de trabalho e de renda dos trabalhadores do sisal, das

mineradoras e das demais atividades econômicas.

Ou seja, se reproduz o clássico esquema baiano onde mesmo a pouca

riqueza produzida num espaço é absorvida por uma parcela reduzida que

detêm os meios de produção, com a predominância do salário mínimo ou

mesmo remunerações a ele inferior para os trabalhadores em geral.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

37

Logo, outro indicador importante para uma análise do Território do Sisal

é o Índice de Desenvolvimento Humano, uma vez que é um indicador que tem

como objetivo uma medida que supere a utilização de apenas indicadores

econômicos, como verificamos nas palavras da ONU, onde:

O conceito de Desenvolvimento Humano é a base do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), publicado anualmente, e também do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. Esse enfoque é apresentado desde 1990 nos RDHs, que propõem

uma agenda sobre temas relevantes ligados ao desenvolvimento humano e reúnem tabelas estatísticas e informações sobre o assunto. A cargo do PNUD, o relatório foi idealizado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq (1934-1998). Atualmente, é publicado em dezenas de idiomas e em mais de cem países (www.pnud.org.br/idh - acesso em 18 de março de 2009).

O Índice de Desenvolvimento Humano é, portanto, uma referência para,

historicamente, termos uma idéia se um determinado município criou condições

para que a vida das pessoas melhorasse e para uma comparação entre

municípios, como referência para a constante ampliação das ações que visem

melhorar a vida em cada município.

A figura 05 apresenta o IDH dos municípios do Território do Sisal, numa

série histórica que permite entender como cada município se comporta e fazer

comparação entre eles.

Um primeiro aspecto a destacar na figura 06 é que em 1970, com

exceção de Ichú, todos os demais municípios possuíam um Índice de

Desenvolvimento Humano abaixo de 0,300, o que é considerado um índice

ruim e reflete péssimas condições de vida da maioria da população. Além

disso, todos os municípios tinham índices muito próximos, entre 0,200 e 0,300,

refletindo uma situação generalizada de miséria e pobreza, mesmo o Território

do Sisal tendo vivido, nas décadas de 1960 e 1970, o tempo de ouro do sisal.

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Figura 05

Território do Sisal. Série Histórica do IDH.1970-2000.

0,000

0,100

0,200

0,300

0,400

0,500

0,600

0,700

0,800

Ara

ci

Biritin

ga

Can

deal

Can

sanç

ão

Con

ceição

do

Coité

Ichu

Itiúb

a

Lam

arão

Mon

te S

anto

Nor

destina

Que

imad

as

Qui

jingu

e

Ret

irolând

ia

San

talu

z

São

Dom

ingo

s

Ser

rinha

Teof

ilând

ia

Tuca

no

Valen

te

Municípios

1970 1980 1991 2000

Fonte: IPEA 1970/1980/1991/2000.

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Ocorre que a ampliação da produção de sisal e de sua exportação

generalizada, onde praticamente inexistia qualquer possibilidade de fabricação

de produtos derivados do sisal para agregar valor e gerar emprego fora do

campo, resultou na concentração extrema da renda nas mãos de uma elite que

se dedicava a compra e exportação do produto in natura, aos trabalhadores

restou o duro trabalho na “roça”, no campo de sisal, com baixíssima

remuneração e péssimas condições de trabalho.

Na década de 1970 ocorre uma sensível melhoria nos índices e alguns

municípios ultrapassam, no ano de 1980, o índice de 0,400. São eles os

municípios de Valente, Serrinha, Ichú, Retirolândia e Conceição do Coité, mas

esse é ainda um índice ruim. Na década de 1980 não houve melhoria nem

redução digna de destaque, como comprovam os números do ano de 1991.

Já os índices de 2000 indicam uma significativa melhora, já que todos os

municípios atingem índices superiores a 0,500, e parte desses atingem

patamares superiores a 0,600. Nessa década, uma confluência de fatores

contribuem para essas melhoras significativas:

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

39

retomada da lavoura sisaleira com ação fundamental de

associações (como a APAEB -Valente por exemplo) e cooperativas que

redirecionam fluxos de capital e trabalho, inclusive com a ampliação do

número de fábricas ligadas ao setor sisaleiro;

ação mais efetiva do Estado que, sob influencia desses

movimentos populares, fortalecidos pela ação do MOC, direcionam

programas para a lavoura sisaleira, para a ovinocaprinocultura e para

iniciativas de desenvolvimento local. Além disso, o Estado constrói a

Adutora do Sisal e o Sistema Integrado de Abastecimento de Água de

Tucano, garantindo água para as sedes e principais povoados dos

municípios do Território do Sisal. Além da construção da rede de

estradas estaduais que atualmente interliga todo o território;

consolidação da democracia e ampliação dos programas

do governo federal como o PETI e o bolsa escola no governo FHC; já no

governo Lula o bolsa família contribui para a redução da miséria

generalizada;

melhora significativa dos indicadores econômicos nacionais

com a estabilização da inflação e ampliação das possibilidades de

investimentos.

Esses são alguns aspectos que se interligam a outros em escala

nacional e permitem entender as significativas mudanças que implicaram na

melhoria dos índices municipais de desenvolvimento humano. Como nessa

última década o Brasil viveu significativa ampliação do emprego e ampliação da

renda dos mais pobres, espera-se que esses índices sejam ainda melhores em

2010.

Mesmo com essa significativa melhora, de maneira geral, os índices

refletem um médio desenvolvimento humano, o que indica a necessidade de

um amplo trabalho para que as pessoas que ainda se encontram em condições

de vulnerabilidade sejam protegidas pelo Estado e a maioria dos trabalhadores

deixem a condição de pobres.

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Acreditamos que esse processo só será garantido com a ampliação da

ação das associações, cooperativas, sindicatos e demais organizações da

sociedade civil, porque elas são capazes de interferir nas ações do Estado, que

é fundamental na consolidação de políticas de desenvolvimento. No território

do Sisal, como comprova esse relatório no tópico sobre associações e

cooperativas, essa rede é ampla e diversificada, de forma que seu

fortalecimento é uma tarefa de todos nós que trabalhamos por um Brasil menos

injusto e menos desigual.

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4. O tecido associativista e cooperativista no Território do

Sisal

Esse tópico apresenta os resultados do amplo levantamento de

dados que resultou no Banco de Dados do GEOMOV. É um cadastro com

1465 associações, uma parte dessas associações foi identificada como

inativas uma vez que conseguimos identificar um de seus membros que

informou a situação da entidade; outra parte sequer conseguimos

identificar algum representante. Desse total de 1486 foi possível encontrar

e entrevistar os representantes de 616 associações que estão ativas.

Com relação às cooperativas, que também eram foco da pesquisa,

ressaltamos que conseguimos listas incompletas e com muito atraso o que

impossibilitou a aplicação de todos os questionários. Logo, possuímos

apenas 6 questionários, o que é insuficiente para compor um banco de

dados. Dessa forma, pretendemos reapresentar um projeto de pesquisa

para focar exclusivamente o tecido cooperativista.

De acordo com a lista que recebemos dos cartórios é extremamente

ampla a natureza das associações e cooperativas e muito diversificados os

seus objetivos. Logo, criamos categorias para enquadrá-las de acordo com

o seguinte critério: aspecto principal que originou a reunião das pessoas

em torno de uma finalidade ou objetivo. Esse critério gerou as seguintes

categorias para as associações:

A - COMUNITÁRIA – congrega pessoas que buscam melhorar as

condições imediatas de vidas, resolvendo problemas articulado aos locais

onde vivem.

B - PRODUTIVA – congrega pessoas preocupadas em alavancar

setores específicos da produção de bens e serviços resolvendo problemas

da cadeia produtiva da qual participam.

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C - COMUNICAÇÃO – congrega pessoas para organizar e manter

em funcionamento serviços nas áreas de rádio-difusão, mídia impressa e

televisiva.

D - ORGANIZAÇÃO DE JOVENS – congrega jovens em torno de

questões ligadas ao desenvolvimento de atividades que atendam as

demandas da juventude.

E – EDUCAÇÃO – congrega pessoas para promoverem o

desenvolvimento através de um processo alternativo de educação.

F - CULTURAL - congrega pessoas em torno da resolução de

problemas vinculados a cultura em geral, como as festas populares, as

questões religiosas e a música.

G - INSTITUCIONAL – congrega pessoas que atendem a uma

demanda jurídica do Estado nas suas mais diversas esferas, onde é

obrigatório existir uma associação.

H - DE CLUBE – congrega pessoas em torno da resolução de

problemas de clubes esportivos, constituição de espaços de lazer e de

atividades vinculadas às pratica esportivas em geral.

I - BENEFICIENTE – congrega pessoas que já possuem condições

melhores do que aquelas que visam ajudar, ou seja, geram benefícios para

pessoas que não são os sócios imediatos.

J - DE CLASSE – congrega profissionais de uma determinada

atividade associados com a finalidade de defender interesses de classe.

L - RELIGIOSA – congrega pessoas em torno da resolução de

problemas vinculados a uma religião ou igreja em particular.

M – AMBIENTAL – congrega pessoas associadas com a finalidade

de desencadear ações para a preservação do ambiente.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

43

Já para as cooperativas o número de categorias foi bem menor, pois

existem em número reduzido e com finalidades bem mais especificas que

as associações. Logo, de acordo com o mesmo critério temos, para as

cooperativas, as seguintes categorias:

A - CRÉDITO – congrega pessoas que tem por finalidade benefícios

do setor financeiro, como acesso a crédito, redução de taxas de juros ou

ainda proteção diferenciada para seus investimentos.

B - PRODUTIVA – congrega pessoas que tem a finalidade de

dinamizar a produção e a comercialização de bens e serviços focados nas

suas atividades produtivas.

Estabelecida a categorização, em conformidade com as informações

oriundas das listagens dos cartórios de todos os municípios e tomando-se

como base as motivações que fizeram as pessoas se agregarem em torno

de objetivos comuns, organizamos as tabelas 01 e 02, para apresentar,

inicialmente, um panorama mais geral sobre a situação do associativismo e

cooperativismo no Território do Sisal.

De acordo com a tabela 01, existem registradas nos cartórios, 2.166

associações, que foram organizadas de acordo com a categorização

anterior, e, para efeito desta pesquisa, foram escolhidas as categorias

comunitária, produtiva, comunicação, organização de jovens e educação,

para aplicação de questionário. Esse recorte foi fundamentado na idéia de

que são associações dessas categorias que estão diretamente envolvidas

com ações que promovem a inclusão social e o desenvolvimento, com

rebatimento territorial. Isso resultou num universo de 1.465 associações.

Além disso, essa amostra foi definida em conjunto com os representantes

das entidades parceiras, sendo a amostragem aleatória. A análise da

tabela 02 permite constatar um flagrante predomínio das associações

comunitárias (73,74%) e produtivas (23,96%).

Assim, uma vez relatados os procedimentos de coleta de dados

passamos a apresentar os resultados organizados por itens. Importa

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relembrar que foram consideradas ativas 616 associações nos 20

municípios do Território do Sisal.

TABELA 01 NÚMERO DE ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS

REGISTRADAS NOS CARTÓRIOS DOS MUNICÍPIOS DO TERRITÓRIO DO SISAL. ESTADO DA BAHIA. 2009.

Município Número de

Associações

Número de

Cooperativas

1. Araci 286 5

2. Barrocas 43 0

3. Biritinga 48 0

4. Candeal 31 0

5. Cansanção 151 0

6. Conceição do Coité 189 4

7. Ichú 19 1

8. Itiúba 125 2

9. Lamarão 30 0

10. Monte Santo 180 0

11. Nordestina 57 1

12. Queimadas 95 3

13. Quijingue 71 0

14. Retirolândia 62 2

15. Santaluz 75 0

16. São Domingos. 37 0

17. Serrinha 207 13

18. Teofilândia 74 3

19. Tucano 272 4

20. Valente 114 0

Total 2166 38

Fonte: Listas dos cartórios de registro de imóveis dos municípios do Território do Sisal. Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

4.1 Instâncias de tomada de decisão e participação em fóruns

públicos

Uma associação, por lei, tem como instância máxima da tomada de

decisão a sua Assembléia Geral. No entanto, a rotina administrativa requer

decisões mais rápidas e que, em vários casos, podem e devem prescindir

de uma reunião com todos os associados. As decisões importantes

deveriam sempre ser tomadas nas Assembléias Gerais, pois é a mais

legitima forma de democratizar a definição dos rumos de uma entidade.

Entretanto, nem sempre esse mecanismo de ampla democratização

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

45

acontece, de forma que outras instâncias acabam tomando decisões

deveras importantes.

TABELA 02 NÚMERO DE ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS QUE FAZEM PARTE DO

UNIVERSO DA PESQUISA 2009.

Município Número de Associações

Comuni

Tária

Produ

Tiva

Comuni

cação

Org de

Jovens

Educa

Cão Total

1. Araci 113 45 04 02 0 164

2. Barrocas 31 06 01 0 0 38

3. Biritinga 40 03 01 0 0 44

4. Candeal 22 06 0 0 0 28

5. Cansanção 47 84 01 0 0 132

6. Conceição do Coité 132 17 02 01 02 154

7. Ichú 14 01 01 0 0 16

8. Itiúba 93 15 0 0 0 108

9. Lamarão 13 02 0 0 0 15

10. Monte Santo 144 20 0 02 01 167

11. Nordestina 18 04 03 0 0 25

12. Queimadas 50 13 02 0 0 65

13. Quijingue 16 46 0 0 0 62

14. Retirolândia 50 03 01 0 0 54

15. Santaluz 40 24 02 0 0 66

16. São Domingos. 29 02 0 0 01 32

17. Serrinha 113 06 01 0 0 120

18. Teofilândia 41 04 01 0 0 46

19. Tucano 92 69 01 02 01 165

20. Valente 56 05 02 0 0 64

Total 1154 375 23 07 06 1465

Fonte: Listas dos cartórios de registro de imóveis dos municípios do Território do Sisal. Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Do ponto de vista legal as outras instâncias são: Conselho

Consultivo, Conselho Diretor e Conselho Fiscal. Além disso, a associação

pode realizar suas reuniões ordinárias e reuniões extraordinárias, cuja

diferença para a Assembléia Geral é que elas não têm o poder de modificar

aspectos estatutários da entidade. Para saber o grau de democratização da

tomada de decisão perguntamos ao representante de cada entidade qual

era a instância de tomada de decisão e obtivemos os seguintes resultados:

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A Assembléia Geral é a instância de tomada de decisão para

440 das 616 associações. Significa dizer que 71,4% das entidades têm

a prática de reunir todos os sócios (ou percentual definido pelo Estatuto

da Associação) na instância máxima, para decidir o que fazer. As

entidades que não tomam decisão nas assembléias gerais já nos

indicam um indício do uso da associação por pequenos grupos para

atender a interesses particulares ou mesmo do uso de uma entidade

por uma única pessoa, como políticos, por exemplo. Ocorre um

mecanismo onde o pequeno grupo ou uma pessoa faz sozinha a ata e

os seus “aliados” apenas assinam o que foi decidido. Em pesquisas

anteriores identificamos esse tipo de prática, o fato de 28,6% dos

representantes de associações assumirem que não tomam decisão nas

assembléias gerais apenas ratifica a existência desse tipo de “uso”

indevido da associação. Esse aspecto foi também verificado por

SANTOS (2010) que denominou as associações utilizadas para

interesses de pessoas ou grupos específicos de “associações de

papel”;

Em 190 entidades, o que perfaz 30,8% das associações, a

reunião do Conselho Diretor é reconhecida como instância de tomada

de decisão. Já com relação ao Conselho Fiscal em apenas 110 das 616

entidades o representante o considerou como instância para tomada de

decisão. Finalmente, consideramos que em um número ainda menor de

entidades, 29 que corresponde a apenas 4,7% das associações, os

representantes consideram o Conselho Consultivo uma instância de

tomada de decisão. Esses dados indicam que o Conselho Diretor é,

depois da Assembléia Geral o lócus de tomada de decisão. Não foi

incomum ouvirmos relatos sobre as dificuldades de fazer com que os

sócios participem, aliás quando perguntados sobre as principais

dificuldades encontradas para tocar uma associação muitos

representantes, como demonstramos nos dados da tabela 11,,

responderam ser a participação dos sócios um dos principais

problemas;

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

47

Com relação às reuniões 270 representantes (43,8%)

responderam que tomam decisões em reuniões ordinárias e apenas 20

(3,2%) responderam que tomam decisões em reuniões extraordinárias.

Isso é perfeitamente compreensível já que constatamos uma dificuldade

de reunir os sócios. Logo, as reuniões extraordinárias ficam

prejudicadas. As entidades têm usado o artifício da reunião no dia fixo,

como por exemplo, sempre último domingo de cada mês. Isso facilita,

pois também verificamos que as diretorias têm dificuldades de se

comunicar com seus associados.

Esses dados demonstram que para a maioria dos representantes a

tomada de decisão deve ser coletiva, se não for possível na Assembléia

Geral, cujo coro normalmente é mais difícil de obter, que seja na reunião

ordinária. No entanto, temos que considerar alto o número de entidades

que não usam a Assembléia Geral como instância de tomada de decisão.

Já com relação à participação dos conselheiros em fóruns públicos

identificamos a participação em quatro blocos principais:

1. Participação em movimentos sociais – em 316 das 616

entidades (51,3%) pelo menos um integrante da diretoria participa

de sindicatos, movimentos de organização comunitária ou mesmo

movimentos de luta pela reforma agrária, entre outros. Esses dados

são importantes porque já nos fornecem indícios de que as pessoas

estão se articulando em redes que visam fortalecer a ação das

associações. Não é incomum constatarmos ampla parceria entre

associações e sindicatos, por exemplo, principalmente os Sindicatos

de Trabalhadores Rurais (STR).

2. Conselhos municipais – com relação à participação nos

conselhos municipais verificamos que também em 316 (51,3%)

entidades, um integrante da diretoria participa de um conselho, seja

de saúde, de educação ou de desenvolvimento municipal. Essa

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presença tem já influenciado, em vários municípios, a qualidade da

interação com o poder público, principalmente municipal.

3. Redes de articulação – em 159 das 616 entidades

(25,8%) algum representante da diretoria participa de redes de

articulação, como por exemplo, a Agência Regional de

Comercialização (ARCO-sertão), a Rede de Produtoras Rurais da

Bahia e a Central das Associações.

4. Partidos políticos – quando perguntados se algum

integrante da diretoria participa de partido político como filiado, 132

representantes responderam ter companheiros participando de

partidos, o que perfaz um percentual de 21,4% de entidades onde

algum diretor é filiado. Entre os partidos citados destacamos o

Partido do Trabalhadores (PT), o Partido Progressista (PP) e o

Democratas (DEM).

A análise dos dados demonstra que já há uma significativa

participação das pessoas que fazem parte da diretoria em outros setores

importantes para a vida política em cada município, as pessoas que

“acumulam” participação se tornam líderes. É comum membros de

associações serem reconhecidos como competentes e enveredarem pelo

caminho da luta por um mandato de vereador ou mesmo prefeito. Num

território onde a oligarquia imperou por séculos, o surgimento de novas

lideranças, a partir da inserção em movimentos sociais, é benéfico para a

consolidação da democracia.

4.2 Atividades realizadas pelas associações

A atividade que uma associação realiza nos oferece a possibilidade

de compreender sua natureza, seus campos principais de atuação e a

forma como lida com seus associados. Com já ressaltamos, as

associações no Território do Sisal florescem num campo muito difícil onde

a maioria dos associados possui, normalmente, pouco nível de instrução e

dificuldade financeira, o que implica numa imediata articulação entre o ato

de associar-se e a expectativa de melhorar de vida via ação coletiva no

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

49

contexto da associação. As atividades realizadas (figura 06) refletem muito

bem esse aspecto, já que é o mutirão a atividade que aparece em 331 das

616 associações pesquisadas.

O mutirão já possui na sua base a concepção da ajuda

desinteressada ao outro ou ainda da ajuda mútua, onde o ajudado se

compromete a ajudar o outro num futuro próximo. SANTOS (2007) já havia

identificado o mutirão como a principal forma de concretização da ação no

contexto das associações do Território do Sisal.

Figura 06

Território do Sisal. Atividades que as associações realizam. 2009.

235

164150

93

3 1

331

0

50

100

150

200

250

300

350

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recreativas e

culturais

Cursos de

capacitação

Elaboração de

projetos

produtivos

Produção e

comercialização

de mercadorias

Intercâmbio com

outras

associações

Oficina de

comunicação

radiofônica

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

de a

ssocia

ções

Depois do mutirão, entre as atividades que as associações mais

realizam, aparecem as atividades recreativas e culturais como atividade

realizada em 235 das 616 associações pesquisadas. Essas atividades

estão associadas a manifestações da cultura sertaneja como as festas de

vaqueiros e fazendeiros, as festas juninas e aos torneios de integração a

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partir de eventos esportivos associados a festas que promovem lazer nos

fins de semana.

Em terceiro lugar aparecem os cursos de capacitação em 164 das

616 associações investigadas. São cursos oferecidos em parceria com o

poder público e com outras entidades da sociedade civil organizada. São

também cursos muito diversificados, desde a capacitação para a criação de

ovinos e caprinos, passando por cursos de corte e costura até os cursos de

formação de lideranças.

Essa diversidade está na dependência do grau de consolidação de

cada associação em articulação com a disponibilização de cursos pelos

parceiros, principalmente o poder público e entidades como o MOC e o

STR de cada município, ou seja, enquanto algumas entidades já têm seus

projetos consolidados e não priorizam mais a promoção de capacitação,

outras estão ainda solicitado auxílio para começar a organizar seus

associados em torno de projetos comuns.

Justamente por isso solicitamos que os representantes

especificassem quais cursos já tinham sido oferecidos aos seus

associados. O principal curso foi o de técnicas de convivência com o semi-

árido (105 das 616 entidades), seguido dos cursos realizados por

programas de assistência técnica (104 entidades) e de cursos de

qualificação produtiva (83 entidades). Outros três cursos merecem

destaque: os cursos de formação sócio-política (81 entidades), os cursos

ligados às atividades agropecuárias (78 entidades) e os cursos de

qualificação técnica/gerencial (56 entidades). Ainda foram citados também

cursos de assistência jurídica (10 entidades), de assessoria de

comunicação (7 entidades) e de gerenciamento dos recursos hídricos (6

entidades).

Outro item que se destaca com relação às atividades realizadas é a

elaboração de projetos produtivos, pois 150 das 616 associações

investigadas já elaboraram algum tipo de projeto que foi enviado a órgãos

públicos com a esperança da obtenção do financiamento. Verificamos que

nem sempre o projeto é aprovado a ponto dos representantes listarem,

entre os auxílios externos que a entidade precisa, o auxilio para elaborar

esses projetos. Entre os projetos aprovados e executados predominam

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

51

àqueles voltados para a construção de minifábricas e os projetos para

implantação de atividades nas áreas da apicultura, caprinocultura e

avicultura.

O item produção e comercialização de mercadorias aparece em 93

associações. Entre as mercadorias produzidas e comercializadas podemos

citar, como exemplo, tapetes, cordas e carpetes, beiju de tapioca, mel,

leite, artesanato, sabonete, entre outros. Destacamos que é um número

pequeno porque essa é uma atividade que pode resultar na independência

da associação com relação a agentes externos como o poder público ou os

atravessadores. Mesmo que receba algum auxílio externo ela consegue

gerar uma renda de forma independente. É também a atividade que abre

caminho para o surgimento de cooperativas, pois quando a associação tem

ampla ação na esfera produtiva ela percebe que os entraves jurídicos

dificultam a ampliação do processo de produzir e comercializar, surgindo a

cooperativa como uma opção.

Esse foi o caso clássico da COOPERE que surge da ampliação das

atividades da APAEB-Valente, uma vez que a associação possuía um

projeto chamado poupança APAEB, com o objetivo de poupar dinheiro dos

associados e ao mesmo tempo financiar os projetos produtivos da

associação que, em contrapartida, remunerava o valor depositado pelo

associado com juros condizentes com os da poupança dos bancos oficiais.

O crescimento dessa ação teve um entrave jurídico, pois uma associação

não pode realizar transações financeiras do porte descrito. A solução foi a

criação da cooperativa de crédito hoje conhecida como SICOOB-

COOPERE.

Uma outra atividade desenvolvida é o intercâmbio entre

associações, mas foi citada por apenas 3 entidades investigadas. Já a

oficina de comunicação radiofônica foi citada por apenas 1 das 616

entidades. Esses dados ratificam os argumentos de que praticamente

inexiste intercâmbio entre associações de um mesmo município ou ainda

entre as associações do Território do Sisal, no que se refere à realização

de atividades conjuntas.

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4.3 Bens que constituem o patrimônio das associações

Entre os bens que constituem o patrimônio das associações

aparecem itens variados, desde um fax até uma propriedade rural. Importa

destacar que os bens foram listados pelo representante, de sorte que uma

mesma associação possui vários bens de natureza diferente.

De acordo com os dados da figura 07 verificamos que a sede própria

é o bem que mais aparece, pois, 291 das 616 entidades já possuem uma

casa que usa como sede. A sede própria, e aqui lembramos que muitas

associações funcionam em prédios emprestados periodicamente por outras

entidades como escolas e igrejas, é um sonho que se realiza, pois a

construção da sede é citada por vários representantes como uma demanda

que a entidade busca resolver ou como auxilio externo que a entidade

necessita, ou seja, a construção da sede é sempre uma prioridade, os

representantes deixam evidente que ela é sinônimo de independência e de

identidade. O prédio, a casa ou mesmo um pequeno ponto com estilo

comercial é visto como uma referência, como o lugar para onde o sócio

deve encaminhar-se, como lugar da realização das reuniões e como lócus

da realização das atividades administrativas.

Mesmo sendo considerada central percebemos que apenas 47,2%

das entidades já possuem sua sede e verificamos que a construção da

sede é resultado, na maioria dos casos, do esforço dos próprios

associados através do uso do mutirão para a construção, e de eventos

beneficentes como bingos, rifas e leilões para a compra do material

necessário. Justamente por isso que separamos a sede de outros imóveis

como lojas, casas, sede de empreendimentos comerciais ou mesmo de

rádios comunitárias. Esses outros imóveis fazem parte do patrimônio de

151 entidades. Essas entidades estão mais consolidadas do ponto de vista

econômico e tem conseguido ampliar o patrimônio com a compra ou

mesmo a recepção de imóveis doados.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

53

Figura 07

Território do Sisal. Bens que constituem o patrimônio das associações. 2009.

291

197

151

88 84

41

21 17 10 9 8 8 7 6 3 3 2

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édicos Fa

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Ola

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Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Os equipamentos agrícolas constituem o patrimônio de 197

associações. Das 616 entidades, 32% possuem algum tipo de equipamento

de uso coletivo, como, por exemplo, trator, arado, máquina para feno ou

para separar resíduo de sisal ou ainda equipamentos para coleta de mel.

Esse dado aponta a importância das atividades econômicas de

caráter mais eminentemente rural no funcionamento da economia regional

e a predominância das atividades rurais como constitutivas da natureza

dessas associações. Essas considerações, de certo modo, encontram-se

alinhadas com as conclusões do estudo da SEI (2004), que apontam os

municípios do Território do Sisal como rurais, exceção feita aos municípios

de Serrinha e Conceição do Coité.

Entre os itens que constituem o patrimônio de um número

relativamente reduzido de associações, destacamos quatro: a propriedade

rural em 88 das 616 entidades; móveis para escritório em 84 entidades;

equipamentos de informática 41 das 616 entidades e automóveis em 21

das 616 entidades. Esses itens refletem uma mudança gradativa no perfil

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da associação, ou seja, aquelas diretamente ligadas às áreas rurais têm

comprado ou conseguido a doação de terras para uso coletivo,

normalmente utilizadas para criações de pequenos animais e na

agricultura. Algumas associações urbanas têm informatizado seu trabalho

administrativo e, em alguns casos, já em parceria com o poder público

disponibilizado infocentros para seus associados. Com relação aos

automóveis, esses têm sido conseguidos principalmente com convênios

com o poder público ou quando a associação produz e comercializa algum

produto cujo excedente já resultou na compra ou doação (normalmente

pelo poder público que pretende consolidar os empreendimentos já em

curso) de caminhões, utilitários e carros para uso administrativo. Porém, é

preciso ressaltar que se relacionarmos os dados ao número total de

entidades, percebemos que o percentual é muito baixo: 14,2% para

propriedades rurais, 6,6 % para equipamentos de informática e 3,4% para

automóveis.

Finalmente, gostaríamos de ressaltar que um número muito reduzido

de entidades possui bens como equipamentos eletrônicos (com destaque

para as associações classificadas como de comunicação, pois possuem

rádios comunitárias); equipamentos médicos (com destaque para

associações de povoados distantes das sedes dos municípios onde não

existe atendimento médico contínuo); equipamentos industriais (em

associações que possuem pequenas indústrias, com exceção da APAEB-

Valente que possui uma grande indústria e uma usina de beneficiamento

do sisal); olaria, poço artesiano, banco de sementes, etc. Esses dados nos

oferecem um panorama da diversidade de problemas que as associações

tem buscado resolver e de como esses bens acabam se tornando um elo

entre a entidade e o associado.

4.4 Benefícios conseguidos para os associados e para a comunidade

Esse item é de fundamental importância para a compreensão de

como as associações vem demandando ações do poder público, de várias

entidades não-governamentais e delas mesmas. Ou seja, quando

questionamos qual o tipo de beneficio a entidade já conseguiu e

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

55

disponibilizou para seus associados, percebemos que a maior parcela

desses benefícios deriva da parceria com o poder público.

Além disso, alguns itens acabaram beneficiando toda a comunidade

ou mesmo todo o município. A figura 08 apresenta os principais benefícios

e evidencia que a construção de cisternas aparece em primeiro lugar, pois,

foi um benefício conseguido por 237 das 616 entidades investigadas. É

perfeitamente compreensível que as associações, numa área de clima

semi-árido, priorizem mecanismos de armazenamento de água. Porém,

importa destacar que isso indica uma mudança de mentalidade, pois na

esfera dos recursos hídricos ainda aparece a água encanada (100

associações), a perfuração de poços artesianos (95 associações), e a

construção de barragens (28 associações) Esses dados indicam que as

ações reivindicadas pelas associações, ou mesmo efetivadas diretamente

por elas, buscam resolver em definitivo a falta d’água. Nenhuma entidade

listou carros pipas como benefício, apesar de sabermos que ainda se usa

esse tipo de recurso no Território do Sisal, ou seja, as associações estão

preocupadas em conviver com o semi-árido, buscando ações de caráter

mais efetivo e definitivo em contraste com as práticas assistencialistas e

paliativas, tradicionalmente adotadas pelas ações governamentais no

Território do Sisal.

Se articularmos esses dados ao item que identificou quais os tipos

de capacitação as associações viabilizaram para seus associados, vamos

identificar que 105 ofertaram o curso de técnicas de convivência com o

semi-árido, o que reforça nosso argumento de que algo novo está

acontecendo quando nos referimos ao clássico problema da indústria da

seca e suas mazelas políticas e econômicas.

Merece destaque também, a obtenção de financiamentos para

projetos, haja vista que 35,71% das associações pesquisadas (220 das 616

entidades) informam êxito no esforço de consecução de recursos oriundos

da aprovação de projetos.

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Figura 08

Território do Sisal. Principais beneficios conseguidos pelas associações para

os seus associados. 2009.

103 10086 84

95

54 4734 37

2813 11

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50

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Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

de a

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ções

Aqui é preciso ressaltar que os representantes disseram que suas

entidades são interlocutoras em projetos elaborados para o PRONAF e

para diversos órgãos públicos e secretarias do governo estadual ou mesmo

ministérios.

A melhoria das condições de trabalho foi listado por 103 entidades,

demonstrando uma crescente ampliação das associações que congregam

profissionais, ou mesmo de associações que, por serem formadas por

trabalhadores rurais, têm lutado pela introdução de novas tecnologias para

facilitar o trabalho no campo.

Como exemplo podemos citar a invenção e difusão do uso, pela

APAEB-Valente, de uma máquina para separar o resíduo do sisal da

bucha, facilitando o trabalho dos criadores de animais. Essa é uma questão

importante não apenas pela natureza política e social que encerra, mas,

também, pela visibilidade que alcançou em decorrência de estudos

acadêmicos e de documentários internacionais, tendo participado como

elemento de construção de uma imagem da atividade sisaleira.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

57

Outros itens aparecem listados por um número reduzido de

entidades, mas merecem destaque: a construção de casa de farinha

comunitária – 86 associações (principalmente a partir de parceria com a

CAR no programa Produzir); a energia elétrica – 84 associações

(principalmente no contexto do programa luz para todos do governo

federal); os utensílios para casa – 54 entidades, e as cestas básicas – 34

entidades (normalmente em parceria com a SECOMP no contexto dos

programas de combate a pobreza e da ação das Voluntárias Sócias da

Bahia); a construção de casas – 47 entidades, de banheiros – 13 entidades

e de equipamentos urbanos - 11 entidades - (em parceria com os governos

estadual e federal); e o empréstimo de equipamentos agrícolas – 37

entidades. Esse último item demonstra que nessas entidades os bens têm

sido disponibilizados de fato aos associados.

Além desses benefícios, outros foram listados por um número muito

reduzidos de entidades. São os seguintes: cursos de capacitação, desconto

na compra de mercadorias, energia solar, criação de pequenos animais,

reforma e ampliação de casas, distribuição de sementes, infocentro,

limpeza de espaços públicos e divulgação de informações de utilidade

pública, demonstrando uma gradativa ampliação da ação das entidades

investigadas.

Esses benefícios conseguidos evidenciam uma ampla articulação

das associações com o poder público. SANTOS (2007) já havia identificado

que a ação da CAR, no contexto do Programa Produzir, já tinha construído

uma parceria, forçada por uma diretriz do Banco Mundial, entre o poder

público estadual e a associação, pois as entidades tinham que definir em

que o dinheiro deveria ser aplicado. Com o governo Lula e o Governo

Wagner, ambos do PT, verificamos que alguns programas, como o de

construção de habitação popular, por exemplo, só são liberados para o

município se uma associação estivar envolvida no processo de execução.

Isso por um lado incentiva a participação popular na tomada de

decisão via associação e, por outro, torna ainda mais complexa a relação

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entre a associação e os políticos locais, pois, o uso da entidade como meio

de conseguir beneficio não é raro.

4.5 Meios de comunicação no contexto das associações

Esse item foi investigado a partir de duas questões: perguntamos

quais os meios de comunicação utilizados pela associação para se

comunicar com os seus associados e quais meios disponibilizados para

uso coletivo. Vivemos num contexto onde a ampliação do uso da tecnologia

digital já constitui uma nova sociedade que Castells (1996) denomina de

sociedade informacional, Milton Santos (1994) identifica um período

técnico-cientifico-informacional e Pierre Levy (1997) a sociedade digital.

Essa sociedade em rede reclama de todos nós o uso da linguagem

informática, do computador e da Internet, pois a informação é fonte de

produtividade. Logo, as associações também se inserem nesse contexto e

podem ser um elo para a disponibilização de um aparato digital aos seus

associados.

Quando perguntados quais meios de comunicação a sua entidade

utilizava para se comunicar com os sócios, os representantes responderam

diversas formas, algumas ainda surpreendentes em tempos de período

técnico-cintifico-informacional.

A figura 09 demonstra que das 616 entidades 394 utilizam o contato

direto e informal (64% das associações) e 187 (30,3% das associações)

ainda enviam recados por terceiros. Assim, constatamos que a

comunicação com os sócios fica normalmente a cargo do presidente ou

algum membro da diretoria que passa de casa em casa, de lugar em lugar,

convidando para as reuniões ou comunicando as decisões da associação,

quando não se consegue falar diretamente se manda um recado. Podemos

imaginar então o grau de informalidade das relações que se estabelecem

entre a diretoria da associação e os associados e o descompasso que esse

fenômeno causa na vida cotidiana das entidades que praticamente não tem

registro dessa comunicação, visto que apenas 165 entidades (26,7%)

utilizam oficio, carta ou memorando e apenas 4 associações (0,6%)

utilizam jornais e boletins informativos. Assim, falta a formalidade e o

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

59

registro necessário a organização de qualquer ação coletiva

institucionalizada o que influencia, inclusive, nas relações de poder

estabelecidas. Além disso, apenas 72 entidades (11,7%) utilizam contato

por telefone. Isso demonstra que as associações realmente não possuem

processos modernizadores de seus aparatos administrativos. Claro está

que, em muitos casos a comunidade é muito pequena, e o contato direto

oral informal é suficiente para avisar, mas esse processo não deixa

nenhum registro.

Porém, não é raro que as associações tenham dificuldades de

comunicação com os associados, principalmente aqueles que vivem em

lugares mais distantes e não tem acesso direto aos meios de comunicação

de ponta como a internet. Aliás, apenas 1 associação (0,16%) utiliza a

internet, evidenciando uma situação diferente com relação às empresas e

ao poder público, por exemplo.

Destacamos, no entanto, que não estamos convencidos de que o

modelo de sociedade fundado na tecno-ciência e nos valores da

modernidade correspondem ao que de melhor existe, mas olhando por

outro prisma, podemos identificar nessas práticas comunicativas

tradicionais, embora na contramão da sociedade ocidental moderna,

elementos de preservação de formas mais simples de sociabilidade, que

são capazes de reforçar a coesão numa comunidade, fazendo resistir

valores comunitários caros ao associativismo. Não se pode negar o

distanciamento possível que a frieza da comunicação digital pode produzir.

Não estamos convencidos de que seguir a avalanche da história técnica

atual é a melhor alternativa para essas comunidades e nem do contrário.

Logo, esse aspecto merece ser olhado com cautela e sem “certas” certezas

construídas por aqueles que superdimensionam o papel das tecnologias

digitais para as relações sociais nesse mundo dito moderno.

Finalmente, gostaríamos de destacar que o culto religioso é utilizado

por 33 entidades (5,3%) para passar avisos e comunicar questões ligadas

as associações, demonstrando uma pequena abertura de espaço pelas

religiões para as questões ligadas a organização da comunidade.

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Surpreende os indícios de que Igrejas protestantes também estão fazendo

parte desse processo. Nossos dados não nos permitem afirmar, mas,

levantar uma questão relevante: o crescimento do protestantismo tem

influenciado as relações entre a religião e a organização comunitária de

base?

Historicamente, a Igreja Católica sempre se envolveu com a

organização comunitária. Aliás, parte significativa dos padres da igreja

católica já estão envolvidos no processo de incentivar o associativismo.

Vários estudos já reconhecem o papel embrionário desempenhado pelo

trabalho pastoral da igreja católica como precursor do movimento

organizativo na sociedade brasileira, conforme afirmação abaixo:

Verifica-se determinada unanimidade nos estudos que se dedicaram a compreensão da região sisaleira, em localizar as origens do processo de organização da sociedade civil nesse recorte espacial no âmbito das mudanças mais gerais que se processaram no seio do trabalho pastoral da Igreja Católica. Com o advento do chamado catolicismo renovado que se configurou nos marcos da Teologia da Libertação, intensifica-se um redirecionamento no trabalho das pastorais rurais, incorporando uma dimensão fortemente política à perspectiva de evangelização que se reflete no plano local com a colocação em pauta da discussão dos problemas concretos enfrentados pelo pequeno agricultor em seu cotidiano (COELHO NETO, 2010, p. 313).

Logo, tanto a ampliação do papel da Igreja Católica no apoio e

fortalecimento do associativismo quanto a possível entrada das igrejas

protestantes nesse árduo campo da organização comunitária, pode resultar

num processo de fortalecimento do tecido associativista no Território do

Sisal.

Com relação aos meios disponibilizados para os associados (figura

10) verificamos que 14 entidades disponibilizam computador com internet

para seus associados (2,3%), mas dessas apenas 1 utiliza a Internet para

contactá-los, o que é aparentemente contraditório. Dizemos aparentemente

porque o fato de dispor dos equipamentos não significa a condição de

utilizá-los plenamente. Esses computadores e Internet são resultado,

principalmente de parcerias como o poder público estadual, que tem

implantado infocentros no interior da Bahia.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

61

Figura 09

Território do Sisal. Formas de comunicação da associação com os associados.

2009.

394

187

165

95

72

51

33

10

4

1

1

Contato direto oral informal

Recado por terceiros

Comunicado escrito (ofício, memorando, carta)

Através das emissoras de rádio

Contato por telefone

Através de mural informativo na sede da entidade

Através de avisos em cultos religiosos

Carro de som

Jonais/Boletim informativo

Autofalante comunitário

Contato por internet

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Figura 10

Território do Sisal. Meios de comunicação disponibilizados pela entidade para

os seus associados. 2009.

27

16

14

12

7

2

1

Programa de rádio

Serviço de apoio aos

correios

Computador com Internet

Telefone

Jornais e informativos

Serviço de autofalante

Fax

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

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Outros meios como programas de rádio (27 entidades), telefone (12

entidades) e serviços de apoio aos correios (16 entidades) aparecem em

número extremamente reduzido, mas temos que registrar que são

iniciativas que podem servir de exemplo para as associações que ainda

não criaram mecanismos para garantir melhor comunicação entre seus

associados e destes com o resto do mundo.

Assim, verificamos que as associações estão praticamente fora da

rede mundial de computadores, seus processos administrativos carecem

da inserção da informática e elas não têm se beneficiado das

possibilidades oferecidas pelos meios digitais. Entendemos que o processo

de informatização na sociedade brasileira é irreversível mas a forma como

as associações devem, ou não, se inserir nesse processo tem que ser

definida numa construção coletiva que envolva os próprios associados.

Vários representantes têm essa visão da inexistência ampla do uso

do computador, pois, quando perguntados se a entidade que representa

precisa de algum tipo de auxilio, eles responderam que precisam para

conseguir computadores. Outros, quando perguntados sobre a existência

de obstáculos ao desenvolvimento da região sisaleira identificaram a falta

de informação como um dos obstáculos e também disseram que superar a

falta de informação seria uma estratégia para se conseguir o

desenvolvimento. Finalmente, gostaríamos de destacar que quando

perguntados sobre as principais dificuldades para desenvolver o seu

trabalho na associação alguns representantes identificaram a ausência de

meios de transporte e comunicação.

4.6 Os principais parceiros das associações

As associações do Território do Sisal têm conseguido uma ampla

rede de articulação e uma eficiência no sentido de concretizar parcerias

que ajudem na efetivação do trabalho associativo. Quando perguntamos

quais entidades já foram parceiras em projetos realizados pela associação

os representantes listaram 63 entidades diferentes (tabela 03), mas

percebemos que muitas fazem parte do poder público nas esferas

municipal, estadual e federal. Aparecem também empresas estatais e

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

63

ONGs nacionais e internacionais. Isso evidencia a ampla rede que as

associações são capazes de ajudar a construir.

Entre as entidades parceiras das associações do Território do Sisal,

desataca-se a CAR, pois, 214 das 616 associações (34,7%) já realizaram

parcerias com essa agência do governo baiano e 69 associações (11,2%)

estavam executando ações através de convênios firmados em 2009. Essa

condição decorre de sua posição de comando no Programa Produzir,

largamente difundido no recorte espacial objetivado neste estudo. Essa

tendência se reforça com os números de parcerias estabelecidas com a

EBDA, pois, 117 das 616 associações (19%) já realizaram parcerias com

essa agência governamental e 37 associações (6%) estavam executando

ações através de convênios firmados em 2009, em decorrência do foco no

desenvolvimento rural que funda a ação desta referida agência.

Além disso, merece destaque a parceria com as prefeituras

municipais (87 associações tiveram parcerias e 32 possuíam parcerias

ativas em 2009), os STR’s dos municípios do Território do Sisal (82

associações já realizaram parceria e 32 possuíam parceria ativa em 2009),

o MOC (76 associações com parcerias já encerradas e 27 com parcerias

em andamento em 2009) e as parcerias com outras associações (65

entidades já estabeleceram parcerias com outras associações e 22

mantinham parcerias ativas em 2009).

Finalmente, destacamos o número reduzido de parcerias efetivadas

com as universidades (12 associações com parcerias encerradas e 3 com

parcerias ativas em 2009) e com as empresas privadas (18 associações

realizaram projetos em parceria até 2009 e 12 estavam com parceria em

andamento). Este último dado pode indicar certo descompasso das

empresas regionais em relação às tendências do capitalismo nas últimas

décadas, onde as estratégias de acumulação via inserção e patrocínio de

projetos e iniciativas das comunidades têm sido normalmente utilizadas.

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Tabela 03.

Entidades parceiras e número de projetos realizados. Associações do

Território do Sisal. Bahia. Brasil. 2009.

Entidade

Nº de projetos

realizados

Nº de projetos

em realização

1. ADESOL 1

2. APAEB 8

3. ARPA 4

4. ARTICULAÇÃO DO SEMIARIDO BRASILEIRO - ASA 4 2

5. ASCOOB 2 1

6. ASSOCIAÇÃO 65 22

7. BANCO DO BRASIL 5 1

8. BANCO DO NORDESTE DO BRASIL 7 3

9. CAIXA ECONÔMICA 2

10. CAR 214 51

11. CARITAS 2

12. CDM/FUMAC 22 9

13. CEAIC 2 2

14. CEAP 1

15. CENTRAL DAS ASSOCIAÇÕES DE ARACI 8 14

16. CERB 15 8

17. CESE 1 1

18. CODA MEL 1

19. CODES - SISAL 1

20. COELBA 4 4

21. COMISSÃO PASTORAL DA TERRA (CPT) 2

22. CONAB 12 13

23. COOPERATIVAS 16 9

24. CRAS 1

25. CUASD 1

26. DNOCS 3

27. EBDA 117 37

28. EFASA 1 1

29. EMBASA 2

30. EMBRAPA 1 1

31. FASE 2 2

32. FATRES 2 3

33. FETAG 1 3

34. FUNASA 1

35. HUMANA 1

36. IGREJA 7

37. INCRA 8 5

38. LBA 1

39. MDA 13 2

40. MFB YAMANA 1 1

41. MINISTÉRIO DA CULTURA 1 1

42. MOC 76 27

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

65

43. ODONTO MEGA MEN 1

44. PETROBRAS 2 2

45. PREFEITURA MUNICIPAL 87 33

46. REPRESENTANTES POLÍTICOS (DEPUTADOS, VERADORES) 1

47. SEBRAE 13 5

48. SECREATARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DA BAHIA (SECTI)

1 3

49. SECRETARIA DA AGRICULTURA DO ESTADO DA BAHIA - SEAGRI 2 3

50. SECRETARIA DA FAZENDA DO ESTADO DA BAHIA 1

51. SECRETARIA DE COMBATE À POBREZA – SECOMP 1 1

52. SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA 1

53. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA 1 2

54. SERIS 1

55. SESI 1

56. SETRAS 1

57. STR 82 32

58. SUAF 2 3

59. TELEMAR 2

60. UAPAC 4 5

61. UNAMS 1 3

62. UNIVERSIDADE 12 3

63. VOLUNTÁRIAS SOCIAS DA BAHIA 3

Total 850 327

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS. Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Logo, se somarmos as parcerias com órgãos públicos e empresas

estatais verificamos que este número perfaz um do total de 535 projetos

em parceria já executados até 2009 e de 185 em execução, o que

comprova que o parceiro principal ainda é o poder público. Assim, é preciso

ressaltar que as parcerias podem ser construídas sobre novas bases de

relações políticas mas não se pode perder de vista, a ameaça oriunda das

práticas arraigadas, pois, a relação com o poder público pode também

continuar oferecendo recursos para as práticas clientelistas que

alimentaram historicamente a vida política e societária brasileira,

conformando um conjunto de relações entre a sociedade e os poderes

públicos estabelecidos nos termos destacados por Faoro (1999 [1952]),

Leal (1997 [1975]) e Burztyn (1997) a partir de diferentes prismas.

É preciso ressaltar que as entidades que já foram parceiras, em sua

maioria, continuam realizando projetos, de sorte que a redução do número

de projetos não significa a redução da intensidade da parceria, pois,

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computamos todos os projetos realizados até 2009 que já tinham sido

finalizados (números do primeiro item da tabela) e os projetos que estão

em andamento. Assim, percebemos que os principais parceiros continuam

os mesmos: a CAR, a EBDA, STR, as prefeituras municipais, outras

associações e o MOC: Essas entidades têm auxiliado as associações ao

mesmo tempo em que são por elas auxiliadas quando necessitam de apoio

para legitimar seus projetos e programas perante a sociedade. Além disso,

não é rara a parceria entre elas gerando projetos que contam com as

associações para a sua execução.

É importante salientar que essas parcerias têm influenciado

sobremaneira na construção do patrimônio das associações, na melhoria

da infra-estrutura dos municípios e na melhoria da renda e qualidade de

vida de pessoas das mais diversas comunidades. É evidente, e esse

estudo comprova isso, que a associação é capaz de reestruturar a relação

de uma comunidade com o poder público, de mobilizar as pessoas para a

resolução autônoma de problemas comunitários ou ainda de influenciar no

fortalecimento da democracia ao trabalhar com a gradativa melhoria da

qualidade da participação popular na tomada de decisão.

Uma outra possível relação é a classificação dos parceiros por

grupo. Aqui utilizamos o seguinte agrupamento: entidades do grupo

movimentos sociais, entidades do grupo órgãos e empresas públicas e o

grupo das entidades do setor privado.

No grupo dos movimentos sociais (tabela 04) o destaque fica com o

MOC e o STR, pois são apontados como sendo os principais parceiros das

associações. Aliás, o amplo papel do MOC já tinha sido identificado por

SANTOS (2007), inclusive, destacando depoimentos de presidentes de

associações. Merece destaque também a parceria entre associações, uma

prática que, no nosso entendimento, deve ser incentivada e ampliada.

Já no grupo dos órgãos e empresas públicas (tabela 05) a CAR se

destaca como maior parceiro das associações. A CAR tem sido desde 1993, a

partir da reestruturação do Programa de Apoio ao Pequeno Produtor (PAP) e

da efetivação do Programa Produzir, pois o Banco Mundial para financiar os

projetos exigiu a participação de associações locais, utilizada como meio na

operacionalização de projetos e programas do governo do Estado da Bahia

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

67

que tem a participação popular na tomada de decisão. Isso fez com que a

própria CAR buscasse as associações, daí seu papel destacado.

Tabela 04. Parceiros das associações e número de projetos realizados e em realização.

Entidades do grupo movimentos sociais. Território do Sisal. Bahia. Brasil.

2009.

Entidade

Nº de projetos realizados

Nº de projetos em realização

1. STR 82 32

2. MOC 76 27

3. ASSOCIAÇÃO 65 22

4. COOPERATIVAS 16 9

5. APAEB 8

6. CENTRAL DAS ASSOCIAÇÕES DE ARACI 8 14

7. IGREJA 7

8. ARPA 4

9. ARTICULAÇÃO DO SEMIARIDO BRASILEIRO - ASA 4 2

10. UAPAC 4 5

11. ASCOOB 2 1

12. CARITAS 2

13. CEAIC 2 2

14. COMISSÃO PASTORAL DA TERRA (CPT) 2

15. FASE 2 2

16. FATRES 2 3

17. ADESOL 1

18. CESE 1 1

19. CODA MEL 1

20. CUASD 1

21. EFASA 1 1

22. FETAG 1 3

23. HUMANA 1

24. LBA 1

25. MFB YAMANA 1 1

26. SERIS 1

27. UNAMS 1 3

28. CEAP 1

29. CODES - SISAL 1

Total 297 130

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS. Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

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Tabela 05 Parceiros das associações e número de projetos realizados e em realização.

Entidades do grupo órgãos e empresas públicas. Território do Sisal. Bahia. Brasil.

2009. Entidade Nº de projetos

realizados Nº de projetos em realização

1. CAR 214 51

2. EBDA 117 37

3. PREFEITURA MUNICIPAL 88 33

4. CDM/FUMAC 22 9

5. CERB 15 8

6. MDA 13 2

7. CONAB 12 13

8. UNIVERSIDADES PÚBLICAS 12 3

9. INCRA 8 5

10. BANCO DO NORDESTE DO BRASIL 7 3

11. BANCO DO BRASIL 5 1

12. DNOCS 3 0

13. VOLUNTÁRIAS SOCIAS DA BAHIA 3 0

14. CAIXA ECONÔMICA 2 0

15. PETROBRAS 2 2

16. SECRETARIA DA AGRICULTURA DO ESTADO DA BAHIA - SEAGRI 2 3

17. SUAF 2 3

18. CRAS 1 0

19. EMBRAPA 1 1

20. FUNASA 1

21. MINISTÉRIO DA CULTURA 1 1

22. SECREATARIA DE CIÊNCIA E TEC. DO ESTADO DA BAHIA (SECTI) 1 3

23. SECRETARIA DE COMBATE À POBREZA – SECOMP 1 1

24. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA 1 2

25. SETRAS 1

26. EMBASA 0 2

27. SECRETARIA DA FAZENDA DO ESTADO DA BAHIA 0 1

28. SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DA BAHIA 0 1

Total 535 185

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS. Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Finalmente, no pequeno grupo do setor privado (tabela 06) destaca-

se o SEBRAE e a COELBA, mas o número de parceiras é extremamente

reduzido. Ou seja, quando se trata de parceiros é mesmo o setor público o

grande alvo, principalmente porque é o Estado que detém o dinheiro

público, alvo das associações quando se trata de cobrar infraestrtura e

serviços essenciais para as suas comunidades locais, e entidades dos

movimentos sociais que, se não entram com o dinheiro, ajudam nas

questões organizativas.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

69

Tabela 06.

Parceiros das associações e número de projetos realizados e em realização. Grupo

entidades privadas. Território do Sisal. Bahia. Brasil. 2009.

Entidade Nº de projetos realizados

Nº de projetos em realização

1. SEBRAE 13 5

2. COELBA 4 4

3. SESI 1

4. ODONTO MEGA MEN 1

5. TELEMAR 2

Total 18 12

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS. Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

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5. ASSOCIATIVISMO E DESENVOLVIMENTO

Esse capítulo deste relatório analisa os dados relacionados a visão que

os representantes têm sobre o desenvolvimento e sobre como a sua entidade

atua com relação a ele. Perguntamos se existem obstáculos ao

desenvolvimento e quais seriam os mecanismos para superação dos mesmos.

Além disso, perguntamos quais as demandas a entidade buscava resolver

naquele momento de aplicação do questionário, quais auxílios ela necessita e

quais as dificuldades encontradas para desenvolver o trabalho associativo. O

resultado nos fornece um diagnóstico bastante amplo que apresentamos a

seguir.

5.1 Obstáculos ao desenvolvimento

Com relação a questão do desenvolvimento optamos por fazer, aos

representantes das associações, perguntas abertas. A intenção era captar a

forma como o representante lida com a questão e seus desdobramentos para o

trabalho da associação. Assim, perguntamos se existem obstáculos ao

desenvolvimento do Território do Sisal e, caso positivo, quais eram esses

obstáculos. Dos 616 presidentes questionados 479 (77,7%) responderam que

sim e 137 que não existem obstáculos. Assim, os 479 presidentes passaram a

listar esses obstáculos. Tabulamos esses dados e apresentamos na tabela 07.

Verificamos uma variação significativa nas respostas, o que nos leva a inferir

que a idéia de desenvolvimento varia desde a sua relação imediata com as

questões econômicas até sua relação com os impositivos da natureza.

Analisando a tabela 07 percebemos que o principal obstáculo

identificado é a seca ou falta de chuva (55 dos 479 presidentes – 11,5%).

Acreditamos que esse dado ainda reflete a construção do mito da necessidade

no Nordeste brasileiro (Castro, 1992) onde está evidente a construção, por

parte da elite política regional, a idéia de que a seca é causa da miséria e da

fome no semi-árido brasileiro.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

71

Tabela07 Obstáculos ao desenvolvimento do Território do Sisal segundo os representantes das associações. 2009. Obstáculo ao desenvolvimento Número de

presidentes

1. Seca/falta de chuva 55

2. Falta de incentivo do governo 31

3. Falta de apoio dos políticos 30

4. Falta de apoio aos pequenos produtores 29

5. Desemprego 25

6. Falta de informação/conhecimento 25

7. Falta de incentivo a produção do sisal 23

8. Burocracia para conseguir projeto governamental 19

9. Falta de financiamento 20

10. Baixo preço do sisal 19

11. Falta de mobilização para buscar projetos 14

12. Politicagem/Brigas políticas 14

13. Não aprovação dos projetos enviados 11

14. Falta de assitencia técnica 10

15. Falta de integração entre as organizações e o poder público 10

16. Falta de apoio da Prefeitura 10

17. Cultura assitencialista 8

18. Falta de organização das comunidades 8

19. Falta de organização do poder público 7

20. Falta de conhecimento e articulação para conseguir recursos finaceiros

6

21. Falta de parceria entre entidades e poder público 6

22. Falta de valorização do sisal e demais produtos regionais 6

23. Forma de execução das política pública 7

24. Fatores ambientais 6

25. Falta de vontade política 6

26. Os atravessadores 6

27. Falta de gestão governamental com definição territorial 5

28. Falta de apoio do poder público 5

29. Concentração de ações em alguns municípios 4

30. Demandas maiores que os recursos públicos 4

31. Falta de infra-estrutura (saúde, educação,água encanada) 4

32. Falta de projetos 4

33. Falta de parcerias entre órgãos governamentais 4

34. Falta de recursos financeiros 4

35. Má distribuição de renda 4

36. Pequena capacidade associativa e cooperativa 4

37. Falta de apoio às pequenas entidades 4

38. Exploração inadequada do meio ambiente 3

39. Falta de compromisso com as associações 3

40. Falta de ação/articulação das entidades da sociedade civil organizada

3

41. Falta de compromisso das autoridades com as associações 3

42. Falta de incentivo à geração de emprego e renda 3

43. Falta de diálogo entre a elaboração e a execução de projetos 3

44. Concentração dos projetos governamentais nas cidades 2

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45. Distância das comunidades para as cidades 2

46. Falta de industrias para trabalhar com o sisal 2

47. Falta de comunicação com o poder público 2

48. Concorrência entre as entidades 2

49. Concentração da renda gerada pela cultura sisaleira 1

50. Competição entre os movimentos sociais e o poder público 1

51. Dificuldade para plantar sisal 1

52. Dificuldade de acessar recursos em função da inadinplência do Município

1

53. Desvios de projetos 1

54. Distância entre a sede do CODES e os municípios do Território

1

55. Disputa entre as entidades da sociedade civil 1

56. Falta de cooperativas 1

57. Falta de competência dos orgãos públicos 1

58. Estreita relação entre a Coordenação do Território e o poder público

1

59. Falta de conhecimento das associações para defender seus projetos no CODES

1

60. Falta de industrias 1

61. Falta de investimento na educação 1

62. Falta de articulação do CODES com a base 1

63. Falta de políticos sérios 1

64. Inadinplência das prefeituras 1

65. Lentidão dos programas governamentais 1

66. Má governança 1

67. Inadequação dos projetos enviados pelo governo 1

68. Interferência do poder público no trabalho das associações 1

69. Falta de mecanismos para conviver com o semiárido 1

70. Falta de representantes do Território no poder público 1

71. Falta de capacitação dos dirigentes das entidades 1

72. Falta de preparação técnica para acessar recursos públicos 1

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Esse discurso, já duramente criticado e combatido (Silva 1999), foi tão

amplamente difundido, e ainda hoje é utilizado principalmente pelos políticos da

velha oligarquia baiana, que foi internalizado passando a fazer parte de um

imaginário construído sobre o Nordeste onde a falta d´água é a matéria prima

para negar a ação social e legitimar a miséria pela vontade de Deus, senhor da

natureza sacralizada, que manda chuva quando quer.

Num contexto onde boa parte dos presidentes de associações são

pequenos agricultores semianalfabetos, essa imagem ainda é forte e difícil de

ser negada. Daí a direta relação entre seca e desenvolvimento, ou seja, o

desenvolvimento é sinônimo de melhorias na condição econômica e na

qualidade de vida, mas é a seca que sempre atrapalha a ação do homem, a

cerca sinônimo da concentração fundiária, não é citada ou mesmo vista como

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

73

culpada. Naturaliza-se o problema. Do ponto de vista acadêmico essas

concepções deterministas já foram superadas e colocaram em xeque esse tipo

de discurso e não podemos aceitar sem duras críticas a ampliação dessa visão

que articula fenômeno natural, economia e desenvolvimento.

Os outros dois maiores obstáculos, contraditoriamente, são a falta de

incentivo do governo (31 representantes – 6,5%) e a falta de apoio dos políticos

(30 representantes – 6,3%), trazendo à luz a outra face do problema: se não é

a seca é a ação do governo que é ineficiente. Interessa ressaltar que esses

representantes se excluem ou excluem suas associações, criando uma

metáfora onde o desenvolvimento é sempre imaginado como presente de um

ser externo e sua não efetivação é “culpa” de algo superior: ou o poder de

Deus que não quer mandar a chuva ou o poder “dos políticos e dos governos”

que não olham para seus comandados.

Além disso, outros itens bastante destacados foram a falta de apoio aos

pequenos produtores, o desemprego, a falta de informação/conhecimento, a

falta de incentivo à produção do sisal e a falta de financiamento. Ou seja, são

listados aspectos relacionados principalmente as questões econômicas, mas,

sempre com um caráter de dependência (sobretudo da ação do Estado que

precisa incentivar, financiar, apoiar) e de atribuição do problema ao que é

externo ao contexto.

Como já tínhamos perguntado sobre os obstáculos ao desenvolvimento,

também perguntamos aos presidentes quais seriam os mecanismos para

superar os obstáculos que eles identificavam. Importante ressaltar que dos 616

sujeitos argüidos, 137 já tinham respondido que não existem obstáculos ao

desenvolvimento. A esses temos que somar 56 presidentes que responderam

que não souberam indicar mecanismos para superação dos obstáculos que

identificaram. Logo, 193 presidentes não responderam essa questão (31,3 %

dos presidentes questionados). Assim, 423 presidentes identificaram

mecanismos para superação dos obstáculos ao desenvolvimento (tabela 08),

desses 43 responderam que a solução é articular as pessoas (10,1 % dos que

responderam a questão). É importante destacar essa perspectiva, porque

estamos escutando a voz de líderes comunitários que, fundamentados na sua

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lida cotidiana, nos respondem que a solução para um dado problema não está

fora do contexto, não vem da ação de agentes externos, como empresas ou

governos, mas sim da articulação das pessoas em torno de uma causa comum.

Em segundo lugar 36 presidentes responderam que a solução é a valorização

da cultura sisaleira: Também aqui o foco está na valorização de algo que já é

apropriado localmente, já que a cadeia produtiva do sisal é a base econômica

da maioria dos municípios. Em terceiro lugar aparece a mobilização conjunta

poder público e sociedade civil (resposta de 33 presidentes), ratificando a idéia

de que esses presidentes não isentam a ação da comunidade na solução dos

problemas.

Tabela 08 Mecanismos para superar os obstáculos ao desenvolvimento do Território do Sisal segundo os representantes das associações. 2009.

Macanismo Frequência 1. Articulação das pessoas 43

2. Valorizar a cultura sisaleira 36

3. Mobilização entre poder público e sociedade civil 33

4. Apoio governamental através de crédito 31

5. Concientização dos políticos 29

6. Construir canais de irrigação/aguadas/perfuração de poços 25 7. Presença maior do governo do Estado para auxiliar a elaboração de projetos 17

8. Capacitação ligada a socialização dos associados 16

9. Contratação de técnicos 15

10. Fortalecimento do associativismo/organização das associações 14

11. Maior aproximação entre os três poderes 11

12. Implantação de indústrias 10

13. Geração de emprego e renda 9

14. Existência de um núcleo para acompanhar os projetos enviados 9 15. Cuidar mais do meio ambiente(reflorestaamento, cuidados com a água) 8

16. Maior divulgação das políticas públicas 7

17. Valorização do pequeno produtor 8

18. Apoio do governo e/ou de outras associações 6

19. Integração entre entidades 6

20. Autonomia para as associações 5 21. Reordenação política administrativa do território colocando o CODES como central 5

22. Maior atuação dos governantes municipais 5

23. Criar mecanismos para a sociedade civil ter maior poder de decisão 4

24. Evitar a ação do atravessador 4

25. Utilizar novos mecanismos de convivência com o semiárido 4

26. Não repondeu 4

27. Maior empenho dos políticos 4

28. Orientação técnica para o trabalho com o sisal 4

29. Capacitação para o trabalho/escolas técnicas 4

30. Separar os movimentos sociais da interferência política 4

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

75

31. Buscar projetos 3

32. Implantar batedeiras comunitárias 3

33. Maior organização dos orgãos públicos 3

34. Promover palestras para discutir o desenvolvimento 3

35. Superar a falta de informação 3

36. Melhor atuação dos Conselhos Municipais 3

37. Mais políticas públicas 3

38. Criar cooperativas 4

39. Eleger pessoas competentes 2

40. Reuniões com representantes do governo 2

41. Educação de qualidade 2

42. Ação fiscalizadora com relação aos políticos 1

43. Apoio às comunidades 1

44. Adutora para distribuir água potável 1

45. Assessoria para fazer intermediação com o governo 1

46. Articulação dos municípios 1

47. Acabar com a perseguição política às associações 1

48. Capacitação e valorização dos professores 1

49. Capacitação 1

50. Criar Secretaria de Agricultura Municipal 1

51. Diminuir a burocracia estatal 1

52. Eleger prioridades jà que os recursos são limitados 1

53. O CODES poder acessar diretamente os recursos 1

54. Mais empréstimo a fundo perdido 1

55. Pedir a Deus que mande chuva 1

56. Projetos para melhorar a qualidade de vida 1

57. Subdivisão do CODES 1

58. Naior articulação do CODES com a base 1

59. União e cobrança pela sociedade 1

60. Reforma agrária 1

61. Melhorar o ensino 1

62. Oferecer mais cursos de capacitação 1

63. Utilizar a água para gerar indústria 1

64. Conseguir o SIF 1

65. Regionalizar as entidades 1

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS. Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Logo em seguida aparecem duas respostas que remetem a agentes

externos – apoio governamental através de crédito (31 preseidentes), e

conscientização dos políticos (29 presidentes). A partir desse item o número de

ocorrências de uma mesma resposta diminui. Observamos que as soluções

apresentadas são as mais diversas, pois, identificamos 65 respostas diferentes.

Algumas delas até poderiam ser agrupadas em categorias, mas, preferimos

manter fidelidade ao que respondeu o presidente.

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5.2 Demandas e dificuldades

Outro aspecto que investigamos foi aquele relacionado a atual

preocupação principal da associação, ou seja, qual a demanda (ou demandas)

a entidade estava buscando resolver naquele momento da investigação. Como

podemos verificar na tabela 09, o número de demandas é amplo e variável

chegando a 88 itens citados.

Importa verificar que a água encanada é, ainda, a demanda

fundamental, pois 170 (27,6%) dos 616 representantes responderam que

buscavam conseguir a água encanada como um benefício para a comunidade.

Sabemos que essa é uma demanda que se concretiza junto a órgãos da

administração pública, como a EMBASA, principalmente, e não é incomum a

intervenção de grupos políticos nesse processo. Também a segunda demanda,

energia elétrica, resposta de 89 representantes (14,4%) também está implicada

nesse complexo processo onde a influência política continua sendo central.

Tabela 09

Principais demandas que a entidade busca resolver segundo os

representantes das associações. 2009.

Tipo de demanda Frequência

1. Água encanada 170

2. Enérgia elétrica 89

3. Melhorar a renda da comunidade/geração de emprego e renda 78

4. Construir cisternas 63

5. Sanitários/Banheiros 42

6. Melhorar a qualidade de vida 41

7. Construir a sede 33

8. Trator 32

9. Construção de casa de farinha 31

10. Saúde e educação 31

11. Orelhão público/posto telefônico 28

12. Posto de saúde 22

13. Construir barragem 21

14. Construir casas 20

15. Saneamento básico (Coleta de lixo) 20

16. Melhorar as estradas 18

17. Organizar melhor a associação 18

18. Cursos de capacitação 18

19. Conseguir poço artesiano 17

20. Conseguir máquinas/equipamentos agrícolas 15

21. Não tem demanda 15

22. EscolaCreche 15

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

77

23. Quadra poliesportiva 13

24. Estruturar a comercialização para não depender do atravessador 14

25. Inclusão digital (centro digital) 11

26. Pavimentação de ruas 11

27. Ampliar número de associados/melhorar a participação 9

28. Automóvel para a comunidade 8

29. Reforma de casas 8

30. Evitar evasão dos associados 6 31. Conseguir auxílio doença, maternidade e aposentadoria para os associados 5

32. Conseguir mais parceiros 5 33. Conseguir melhoria na infra-estrutura pública (Iluminação pública, quebra molas, ponte, melhoria nas estradas) 4

34. Integrar mais as associações 4

35. Melhorar a participação dos sócios 4

36. Cestas básicas 4

37. Pagar a dívida da associação 4

38. Construção de jardin/praça 3

39. Construir galpão 3

40. Conseguir aração de terras 3

41. Reforma da sede 3

42. Assistência técnica para os agricultores 2

43. Alterar o estatuto/legalizar a associação 2

44. Conseguir uma casa do mel 2

45. Construção de cozinha comunitária 2

46. Cuidar melhor do meio ambiente 2

47. Construir Igreja 2

48. Doação de sementes 2

49. Fábrica de cerâmica 2

50. Organização do fundo de pasto 2

51. Títulos de terra 2

52. Banco de sementes 2

53. Reforma da sede 2

54. Segurança 2

55. Fundar uma cooperativa 2

56. Atualizar prestação de contas 1

57. Capacitação da diretoria 1

58. Conseguir mais autonomia para a associação 1

59. Conseguir atorização para funcionamento da rádio 1

60. Conseguir propriedade rural 1

61. Construir a levada de uma aguada 1

62. Conseguir casa do mel 1

63. Conseguir carroça 1

64. Conseguir licença ambiental 1

65. Conseguir livros para a biblioteca 1

66. Construção de centro cultural 1

67. Desenvolver parcerias com escolas 1

68. Energia solar (placas) 1

69. Empréstimos a fundo perdido 1

70. Eleger nova diretoria 1

71. Frente de trabalho 1

72. Incentivar os jovens a voltar a estudar 1

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73. Organização do assentamento 1

74. Políticas públicas voltadas para os jovens 1

75. Realizar mutirões 1 76. Resolver a inclusão do povoado em um município (limite administrativo) 1

77. Assistência técnica para os agricultores 1

78. Utensílios para casa 1

79. Recuperação da cultura do sisal 1

80. Recuperação de cisternas 1

81. Unidade de Jornada Ampliada 1

82. Buscar recursos 1

83. Resolver problemas políticos 1

84. Não sabe 1

85. Resolver a questão do assentamento no INCRA 1

86. Criação de uma central de associações 1

87. Reflorestar as margens dos brejos 1

88. Equipamentos para apicultura 1

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Os outros itens principais demandados são: melhorar a renda da

comunidade/geração de emprego e renda, construir cisternas, sanitários e

banheiros, melhorar a qualidade de vida, construir a sede, trator, construção de

casa de farinha, saúde e educação, orelhão público/posto telefônico, posto de

saúde, construir barragem, construir casas, saneamento básico (coleta de lixo).

Também perguntamos aos representantes das associações quais

auxílios a entidade necessita (tabela 10). A maioria (303 dos 616

representantes – 49,2%) respondeu necessitar de auxílio para conseguir

melhoria para os sócios, ou seja, a visão de que a associação deve voltar-se

para suas demandas internas é predominante. Em segundo lugar auxílio para

conseguir recursos financeiros, seguido de auxílio para elaboração de projetos.

Tabela 10

Principais auxílios que a entidade necessita segundo os representantes

das associações. 2009.

Tipo de auxílio Frequência

Auxilio para conseguir melhoria para os associados 303

Recursos financeiros 156

Não sabe 83

Para elaboração de projetos 60

Para construir a sede 30

Para conseguir trator/máquinas agrícolas 29

Parcerias para organização interna 24

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

79

Capacitação técnica para trabalhos da associação 18

Computador/Centro de informática 15

Recursos humanos 10

Assistência técnica 8

Para conseguir móveis para a sede 8

Para conseguir Internet 4

Para melhorar a sede 3

Automóvel 2

Assessoria jurídica 2

Assessoria contábil 3

Para trabalhar formas de qualificação dos produtores 2

Parceria para promover formação 2

Apoio da universidade 1

Criar cooperativa 1

Fiscalização do período da pesca 1

Para passar informações para a comunidade 1

Para conseguir espaço cultural 1

Para pagar dívida na Receita 1

Não respondeu 1

Resolver a questão do pertencimento da comunidade (município) 1

Resolver dívidas com o INCRA 1

Livros 1

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS. Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Também perguntamos sobre as dificuldades encontradas para

desenvolver o trabalho da entidade (tabela 11). A principal resposta indicou a

pequena participação dos sócios, seguida da falta de recursos financeiros e da

cultura associativista. Esses dados apontam a necessidade ainda presente de

difusão mais ampla nas comunidades da idéia do trabalho cooperativo e

solidário que pressupõe o principio associativo, que nos parece de certo modo

restrito a atuação muitas vezes isolada das lideranças comunitárias.

Esse aspecto da falta de participação dos sócios revela algumas

nuances do associativismo na área em questão: a constituição de associações

a partir da ação estatal (SANTOS, 2010); a constituição de associações por

influência de líderes políticos; a centralização na administração de

determinadas associações e mesmo a pouca tradição de participação em

fóruns públicos.

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Tabela 11

Principais dificuldades encontradas para desenvolver o trabalho da

associação segundo os representantes das associações. 2009.

Dificuldades encontradas para desenvolver o trabalho Frequência

Pequena participação dos sócios 157

Falta de recursos financeiros 134

Falta de cultura associativista 89

Não conseguir aprovar projetos 49

Falta de pagamento das mensalidades 44

Falta parceria com o poder público 39

Falta de sócios capacitados para assumir funções na associação 32

Falta de incentivo do poder público 29

Falta da sede 24

Falta de parceiros 22

Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS.

Fonte: Trabalho de campo realizado de 11/2008 a 9/2009.

Acreditamos que esses aspetos são, em grande medida, responsáveis

pela constante reclamação, de grande parte de líderes de associações, de que

a participação deixa a desejar. Já a falta de recursos financeiros tem sido

problema apenas naquelas associações onde a mobilização não conseguiu

recriar mecanismo de captação de recursos, ou seja, existem recursos a serem

captados junto aos órgãos públicos e mesmo através da ação da associação

que vende parte daquilo que seus sócios produzem, o que verificamos é que

em muitas entidades os associados esperam que “o governo mande recursos”,

mas na maioria isso não foi apontado como problema.

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

81

6. Considerações Finais

Esse relatório evidenciou um processo fundamental: a construção, numa

dada porção do espaço, de uma nova forma de gerir o território em busca do

desenvolvimento, articulando agentes das entidades da sociedade civil com a

ação do governo federal e estadual.

No Território do Sisal identificamos um processo de estruturação

produtiva, política e social onde o “novo” peleja com o “velho” em busca de

novos rumos para uma sociedade que não mais tem aceitado a idéia da seca

como a causa da miséria da maioria. Esse novo recria o discurso de

convivência com o semi-árido e expõe as mazelas do velho coronelismo e da

indústria da seca. Obviamente que se trata de um processo em construção,

convivendo desse modo com as rugosidades sociais que continuam a

obstaculizar as mudanças históricas em curso. Essas rugosidades podem ser

consideradas como forças reativas que se encontram instaladas nas práticas

sócio-políticas e nos sistemas de valores que atravessam o corpo social.

Esse amplo conjunto de dados analisados no âmbito desse relatório

reflete de algum modo, a conflitualidade criativa desses processos sinalizando

mais que contradições, as ambigüidades que marcam o atual e complexo

tecido social regional. Os dados apontam a existência de um fenômeno

expressivo no contexto do Território do Sisal, que pode ser lido como sinal de

novos tempos e de novas possibilidades históricas que se apresentam. Alguns

estudos (SILVA, 1993; SANTOS, 2000, 2002, 2007; NASCIMENTO, 2000) já

indicaram evidências das transformações que se processaram nas últimas

décadas na realidade regional e o associativismo é apontado numa posição de

protagonismo potencial no conjunto de alternativas para o enfrentamento das

condições sócio-econômicas ainda bastante desfavoráveis no Território do

Sisal e na busca de soluções para os problemas concretos e materiais de vida

das comunidades regionais.

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APÊNDICES

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Nº. DO QUESTIONÁRIO: _____ DATA: ____/____/2008 PESQUISADOR: ____________________

A. IDENTIFICAÇÃO DA ENTIDADE:

( ) ASSOCIAÇÃO ( ) COOPERATIVA

RAZÃO SOCIAL: ______________________________________________________________

ENDEREÇO: _______________________________________________________________

SIGLA: E-MAIL:

TELEFONE: FUNÇÃO DO ENTREVISTADO

B. PERFIL DA ENTIDADE:

ANO DE FUNDAÇÃO: Nº. DE SÓCIOS:

1. Qual o objetivo da entidade?

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

_____________________________________________

2. Quais as instâncias de tomada de decisão da entidade?

( ) Assembléia Geral. Periodicidade: ___________ Dia: _____________

( ) Reuniões Ordinárias. Periodicidade: ___________ Dia: _____________

( ) Reuniões do Conselho Diretor. Periodicidade: ___________ Dia: _____________

( ) Reuniões do Conselho Consultivo. Periodicidade: ___________ Dia: _____________

( ) Reuniões do Conselho Fiscal. Periodicidade: ___________ Dia: _____________

( ) Outros (quais? __________________________________________________________).

3. Os conselheiros participam de fóruns públicos?

( ) Conselhos municipais (Quais?)_____________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

( ) Movimentos Sociais (Quais?) ______________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

( ) Redes de articulação (Quais?)______________________________________________________________

( ) Partidos. (Quais?) _______________________________________________________________________

(....) Outros. (Quais?)_________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

C.CARACTERIZAÇÃO DA ENTIDADE:

4. A entidade realiza que atividades?

(....) Atividades recreativas e culturais

(....) Produção e comercialização de mercadorias

(....) Mutirões

(....) Cursos de capacitação

(....) Elaboração de projetos produtivos

Outras. Quais?

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5. O que a entidade possui?

Tipo Tipo Quant Quais

( ) Sede Própria.

( ) Móveis de Escritório.

( ) Telefone.

( ) Fax.

(....) Equipamentos de

informática

( ) Automóvel.

( ) Propriedade rural.

( ) Equipamentos agrícolas

( ) Imóvel

(....) Posto de Comercialização

_____________________________

_____________________________

_____________________________

_____________________________

_____________________________

Outros. Quais?

6. Que benefícios a entidade conseguiu para seus filiados?

( ) Construção de casas.

( ) Construção de cisternas.

( ) Perfuração de poço artesiano.

( ) Construção de casa de farinha comunitária.

( ) Água encanada.

( ) Melhorias nas condições de trabalho. (quais?)

( ) Empréstimo de equipamentos agrícolas. _____________________________________________________

( ) Financiamento de projetos produtivos. ______________________________________________________

( ) Utensílios para casa _____________________________________________________________________

( ) Desconto na compra de mercadorias ________________________________________________________

( ) Outros (quais?) _________________________________________________________________________

7. Quais as formas de comunicação com os filiados (para convocar reuniões, informar decisões e ações da

entidade)?

(....) Comunicado escrito (ofício, memorando, carta)

( ) Contato direto oral informal

( ) Recado por terceiros

( ) Contato por telefone

( ) Contato por internet

( ) Através das emissoras de rádio

(....) Através de mural informativo na sede da entidade

( ) Jornais/Boletim informativo

( ) outros: (quais?)

8. Quais meios de comunicação são disponibilizados pela entidade para uso de seus filiados?

(....) Computador com Internet

( ) Telefone

( ) Serviço de apoio aos correios

( ) Programa de rádio

( ) Jornais e informativos

(....) Fax

( ) outros: (quais?)

9. Os filiados da entidade receberam algum tipo de capacitação? ( ) Sim ( ) Não

Quais?

( ) Elaboração de projetos.

( ) Assistência Técnica.

( ) Assistência Jurídica.

( ) Assessoria de Comunicação.

( ) Qualificação técnica/gerencial

( ) Formação sócio-política

( ) Outros (quais?)

10. Quais entidades/órgãos foram parceiros nas atividades que desenvolveram? Ano

ENTIDADE PROJETO OBJETIVO INÍCIO CONC.

CAR

EBDA

STR

CDM/FUMAC

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Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal – GEOMOV/DCHF/UEFS.

89

MDA

MOC

ASSOCIAÇÃO

(Quais?)

COOPERATIVA

(Quais?)

PREFEITURA

MUNICIPAL

UNIVERSIDADE

(Quais?)

OUTRO (Qual?)

OUTRO (Qual?)

OUTRO (Qual?)

11. Quais entidades/órgãos são parceiros nas atividades que desenvolvem?

ENTIDADE PROJETO OBJETIVO INÍCIO FASE

CAR

EBDA

STR

CDM/FUMAC

MDA

MOC

ASSOCIAÇÃO

COOPERATIVA

UNIVERSIDADE

(Quais?)

PREFEITURA

MUNICIPAL

OUTRO (Qual?)

OUTRO (Qual?)

OUTRO (Qual?)

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D. QUESTÕES RELACIONADAS AO DESENVOLVIMENTO:

12. Existem obstáculos ao desenvolvimento do Território do Sisal? ( ) Sim ( ) Não

Quais?

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

13. Quais estratégias considera que podem ser efetivas para a superação dos obstáculos identificados na questão 12?

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

14. Quais as dificuldades encontradas pela entidade para desenvolver o seu trabalho.

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

15. Quais as principais demandas que a entidade tem buscado resolver?

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

16. Quais os objetivos a entidade deseja alcançar a longo prazo?

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

17. Quais os tipos de auxilio externo que a entidade mais necessita?

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

18. Na sua opinião o que os filiados esperam dessa entidade? Ela tem conseguido corresponder? Por que?

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

Observações

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__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

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